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En(m)Luto(a) Edno Gonçalves Siqueira Até ontem, um país do futuro... Agora, um futuro de um país de ontem. A Educação aqui sempre enjeitada, foi pra sarjeta e de lá pro invisível. Sua queda desafia os ideais, seu fracasso debocha da esperança. Invalidez é seu nome público. Tragédia é a distância entre a Lei e o diário nosso, mal escrito entre tantos empregos pro arremedo da dignidade da docência. Se essa peça é cômica, só o é porque no fim da impotência, resiste-se com um riso pálido de deboche. O drama é a mordaça na boca dos que antes professavam como natureza da profissão. O Ser professor esvaziou-se no roteiro sórdido do desdém do Estado; estado de penúria de seriedade. Atos dos apóstolos – da ruina. Subversão da sagrada escrita: A vida nas escolas!, título de um conto de ficção como narrativa de terror, aquele que é sinônimo do desumano. Os atores ultrajados resmungam, num coro silencioso, lamentos ao vento: Tiraram-nos a importância respeitosa – não fizemos nada! Subtraíram-nos o sustento – não refletimos com agudeza! Ultrajaram-nos legalmente – continuamos nos fingindo ilesos! Roubaram-nos as mãos, os pés, o coração e a voz – continuamos num trajeto zumbi! Crise é não reconhecer, ainda, que o precipício já havia começado. Séculos de aniversário!!! Comemorar não é celebrar! Comemorar é lembrar em conjunto, memórias do bem e do mal. Comemora-se o bem coletivo das conquistas, mas não se afasta as lembranças de tantos males. A memória dos fracassos é alguma garantia de seu exorcismo; é conjuro pra sua extinção e não retorno. O luto sepulta os laços havidos e respeita a memória. Mas, há lutos que não celebram a morte, nem celebram a ruína. Há lutos cujo preto é, como nas artes, reunião de todas as cores: Branco da pacificação de quem a entende como andar maduro; Verde de uma esperança estelar que ultrapassa o pesar; Amarelo do ouro que é vil metal necessário, mas que é símbolo solar de continuidade;

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At ontem, um pas do futuro...Agora, um futuro de um pas de ontem.A Educao aqui sempre enjeitada, foi pra sarjeta e de l pro invisvel.Sua queda desafia os ideais, seu fracasso debocha da esperana. Invalidez seu nome pblico.Tragdia a distncia entre a Lei e o dirio nosso, mal escrito entre tantos empregos pro arremedo da dignidade da docncia.Se essa pea cmica, s o porque no fim da impotncia, resiste-se com um riso plido de deboche.O drama a mordaa na boca dos que antes professavam como natureza da profisso. O Ser professor esvaziou-se no roteiro srdido do desdm do Estado; estado de penria de seriedade. Atos dos apstolos da ruina. Subverso da sagrada escrita: A vida nas escolas!, ttulo de um conto de fico como narrativa de terror, aquele que sinnimo do desumano.Os atores ultrajados resmungam, num coro silencioso, lamentos ao vento:Tiraram-nos a importncia respeitosa no fizemos nada!Subtraram-nos o sustento no refletimos com agudeza!Ultrajaram-nos legalmente continuamos nos fingindo ilesos!Roubaram-nos as mos, os ps, o corao e a voz continuamos num trajeto zumbi!Crise no reconhecer, ainda, que o precipcio j havia comeado. Sculos de aniversrio!!!Comemorar no celebrar! Comemorar lembrar em conjunto, memrias do bem e do mal. Comemora-se o bem coletivo das conquistas, mas no se afasta as lembranas de tantos males. A memria dos fracassos alguma garantia de seu exorcismo; conjuro pra sua extino e no retorno. O luto sepulta os laos havidos e respeita a memria. Mas, h lutos que no celebram a morte, nem celebram a runa. H lutos cujo preto , como nas artes, reunio de todas as cores: Branco da pacificao de quem a entende como andar maduro;Verde de uma esperana estelar que ultrapassa o pesar;Amarelo do ouro que vil metal necessrio, mas que smbolo solar de continuidade;Vermelho de guerra e de violncia dos argumentos honestos e que se sustentam na decncia;Azul de serenidade necessria, quase impossvel, transposio dos obstculos.Tudo junto, misturado, vira o preto do enluto, que no nosso caso, no s consternao, um potico e vvido escudo que se l: Em Luta!!!