345
EDNO OLIVEIRA DOS SANTOS ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA SUMÁRIO Prefácio, 11 ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO, 15 1.1 Conceitos básicos, 16 1.1.1 Ciclo operacional, 16 1.1.2 Ciclo financeiro, 17 1.1.3 Giro de caixa, 18 1.1.4 Caixa operacional, 19 1.2 Análise do capital de giro, 20 1.2.1 Estrutura do balanço patrimonial, 20 1.2.2 Conceitos de capital de giro, 22 1.2.3 Índices de liquidez, 23 1.2.4 Índices de estrutura, 24 1.2.5 Cálculo dos índices, 25 1.3 Planejamento e controle do capital de giro, 26 1.3.1 Necessidade de capital de giro, 26 1.3.2 Reserva de capital de giro, 29 1.3.3 Redução da necessidade de capital de giro, 30 1.4 Problemas especiais de capital de giro, 30 6 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA 1.4.1 Sazonalidade das vendas, 31 1.4.2 Ciclo operacional longo, 31 1.4.3 Insuficiência de capital de giro, 32 Questões, 34 Exercícios, 34 2 ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER, 36 2.1 Política de crédito, 36

Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

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EDNO OLIVEIRA DOS SANTOS

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

SUMÁRIO

Prefácio, 11

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO, 15

1.1 Conceitos básicos, 16

1.1.1 Ciclo operacional, 16

1.1.2 Ciclo financeiro, 17

1.1.3 Giro de caixa, 18

1.1.4 Caixa operacional, 19

1.2 Análise do capital de giro, 20

1.2.1 Estrutura do balanço patrimonial, 20

1.2.2 Conceitos de capital de giro, 22

1.2.3 Índices de liquidez, 23

1.2.4 Índices de estrutura, 24

1.2.5 Cálculo dos índices, 25

1.3 Planejamento e controle do capital de giro, 26

1.3.1 Necessidade de capital de giro, 26

1.3.2 Reserva de capital de giro, 29

1.3.3 Redução da necessidade de capital de giro, 30

1.4 Problemas especiais de capital de giro, 30

6 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

1.4.1 Sazonalidade das vendas, 31

1.4.2 Ciclo operacional longo, 31

1.4.3 Insuficiência de capital de giro, 32

Questões, 34

Exercícios, 34

2 ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER, 36

2.1 Política de crédito, 36

2.1.1 Conceitos básicos, 37

2.1.2 Elementos de uma política de crédito, 40

2.1.3 Planejamento e avaliação de política de crédito, 42

2.2 Análise de crédito, 44

Page 2: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

2.2.1 Técnicas de análise de crédito, 45

2.2.2 Implementação da análise de crédito, 48

2.2.3 Administração do risco de crédito, 49

2.2.4 Limitações da análise de crédito, 49

2.3 Administração da cobrança, 50

2.3.1 Fatores organizacionais, 51

2.3.2 Fatores econômicos, 51

2.3.3 Análise e controle, 52

Questões e problemas, 53

Exercício, 54

3 ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA, 56

3.1 Planejamento de caixa, 57

3.1.1 Fluxo de caixa, 57

3.1.2 Gerenciamento de dados do fluxo de caixa, 64

3.1.3 Soluções para a imprecisão do fluxo de caixa, 66

3.2 Controle de caixa, 67

3.2.1 Princípios para aplicação das sobras de caixa, 67

3.2.2 Administração do déficit de caixa, 69

3.2.3 Controle das oscilações de caixa, 71

3.3 Aspectos econômicos da administração de caixa, 71

3.3.1 Resultado financeiro do deslocamento de um fluxo de caixa, 72

3.3.2 Determinação do caixa ótimo, 72

Questões e problemas, 73

Exercício, 74

SUMÁRIO 7

4 FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO, 76

4.1 Elementos de juros, 76

4.2 Juros simples, 77

4.2.1 Cálculo de juros simples, 78

4.3 Juros compostos, 71

4.3.1 Cálculo de juros compostos, 82

4.4 Taxas equivalentes, 87

4.4.1 Cálculo de taxas equivalentes, 88

Page 3: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

4.5 Taxa real e nominal, 90

4.5.1 Cálculo da taxa real, 90

4.6 Séries de pagamentos, 92

4.6.1 Cálculos com séries, 93

Exercícios, 99

5 INFLAÇÃO E TAXAS DE JUROS, 101

5.1 Inflação, 101

5.1.1 Índices de inflação, 102

5.1.2 Indexadores especiais, 104

5.1.3 Inflação interna, 106

5.1.4 Análise comparativa dos índices, 106

5.2 Atualização monetária, 106

5.2.1 Cálculo da atualização monetária, 107

5.2.2 Deflacionamento, 108

5.3 Taxas de juros, 113

5.3.1 Tipos de taxas, 114

5.3.2 Taxas de juros de investimento e financiamento, 116

Exercícios, 117

6 FINANCIAMENTOS, 119

6.1 Conceitos básicos, 119

6.1.1 Alavancagem financeira, 120

6.1.2 Índices de endividamento, 121

6.1.3 Custo de capital, 123

6.1.4 Limite de endividamento, 125

8 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

6.2 Fontes de financiamento, 127

6.2.1 Financiamentos de curto prazo, 127

6.2.2 Financiamentos de longo prazo, 130

6.2.3 Debêntures, 131

6.2.4 Leasing, 133

6.3 Custo efetivo de um financiamento, 134

6.3.1 Financiamento com taxa prefixada, 135

6.3.2 Financiamento com correção cambial, 135

Page 4: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

6.3.3 Custo expresso na forma de taxa desconto, 136

6.3.4 Efeito do imposto de renda, 136

6.3.5 Custo efetivo com base no fluxo de caixa, 138

6.4 Administração do risco de financiamentos, 138

6.4.1 Risco de taxas de juros, 139

6.4.2 Risco de câmbio, 141

Questões e problemas, 142

7 ANÁLISE DE INVESTIMENTOS, 144

7.1 Conceitos básicos, 144

7.2 Elaboração do projeto de investimento, 147

7.2.1 Investimentos, 147

7.2.2 Projeção das entradas de caixa, 148

7.2.3 Projeção das saídas de caixa, 148

7.2.4 Montagem do fluxo de caixa, 149

7.3 Métodos simplificados de análise de investimentos, 149

7.3.1 Tempo de retorno, 150

7.3.2 Tempo de retomo descontado, 151

7.3.3 Taxa de retorno contábil, 152

7.4 Métodos analíticos de análise de investimentos, 153

7.4.1 Taxa interna de retorno, 154

7.4.2 Valor presente líquido, 155

7.4.3 Custo periódico equivalente, 156

7.5 Comparação dos métodos de análise de investimentos, 158

Questões e problemas, 158

Exercícios, 159

suMÁRIo 9

8 ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS, 162

8.1 Fundamentos de custos, 162

8.2 Classificação dos custos, 165

8.3 Apuração de custos, 171

8.3.1 Custeio por absorção integral, 171

8.3.2 Custeio direto, 173

8.3.3 Custo-padrão, 175

Page 5: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

8.3.4 Custeio RKW, 176

8.3.5 Custeio ABC, 176

8.3.6 Apuração de custos para tomada de decisão, 182

8.4 Análise de custos, 185

8.4.1 Análise vertical, 186

8.4.2 Análise horizontal, 186

8.4.3 Análise de custo por atividade, 187

8.4.4 Análise quantitativa de custos, 188

8.5 Redução de custos, 188

8.5.1 Técnicas de redução de custos, 189

8.5.2 Redução de custos como um processo de investimento, 192

Questões, 193

Exercício, 195

9 ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS, 197

9.1 Administração estratégica de preços, 198

9.1.1 Preço de curto prazo, 198

9.1.2 Preço de longo prazo, 198

9.1.3 Política de preços, 199

9.2 Formação de preços, 202

9.2.1 Métodos práticos, 203

9.2.2 Margem sobre custo unitário total, 203

9.2.3 Margem de lucro sobre o preço de venda, 205

9.2.4 Retorno sobre investimento, 206

9.2.5 Método misto, 211

9.2.6 Formação de preço nas vendas a prazo, 212

9.3 Formação de preços contratuais, 214

9.3.1 Conceitos básicos, 214

9.3.2 Cálculo do preço ajustado, 215

9.3.3 Cotação de preço em situação de capacidade ociosa, 218

Questões, 219

Exercícios, 221

10 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

10 ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO, 224

Page 6: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

10.1 Planejamento do lucro, 224

10.1.1 Estimativa de resultado pelo método orçamentário, 225

10.1.2 Estimativa de resultado com base em demonstrações contábeis pro jetadas, 228

10.1.3 Estimativa de resultado pelo método direto, 230

10.1.4 Análise do ponto de equilíbrio, 232

10.1.5 Alavancagem operacional, 237

10.2 Análise e controle do lucro, 238

10.2.1 Lucratividade da empresa, 239

10.2.2 Lucratividade de produtos e serviços, 241

10.3 Controle do lucro, 242

10.3.1 Análise da insuficiência de lucro, 242

10.3.2 Medidas para a recuperação dos lucros, 246

10.3.3 Saneamento financeiro, 248

Questões, 251

Exercício, 252

Bibliografia, 253

PREFÁCIO

A Administração Financeira tem sido de importância crescente para as em presas de pequeno e médio porte. O sucesso empresarial demanda cada vez mais o

uso de práticas financeiras apropriadas.

Durante anos, a Administração Financeira da pequena e média empresa foi meramente executiva, consistindo basicamente em receber e pagar e, por isso, era considerada uma simples extensão da administração geral. Esse quadro mudou, surgindo maiores exigências para as funções financeiras em virtude da crescente complexidade da economia brasileira e da expansão e sofisticação de nosso merca do financeiro.

O ensino tradicional de Administração Financeira enfatiza a maximização da riqueza do acionista, o gerenciamento da estrutura de capital da empresa e o pro cesso de fusões e incorporações. Esse enfoque é aplicável primordialmente às em presas de capital aberto, que atuam num mercado de capitais desenvolvido e, as sim, não atende às efetivas necessidades da pequena e média empresa brasileira. Além disso, a abordagem usual do ensino de Administração Financeira só cobre as funções financeiras vinculadas à tesouraria, não tratando das funções de controla dona (custos, preços e administração do lucro), em que se localizam as maiores ca rências da pequena e média empresa.

Este livro apresenta a base de conhecimentos sobre finanças aplicáveis à ad ministração da pequena e média empresa brasileira. Ele é fruto de minha intensa

12 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Page 7: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

vivência por mais de 20 anos com a atividade de treinamento e consultoria econô mico-financeira em empresas dos mais variados portes. Ao longo desses anos, pude identificar as reais necessidades de conhecimentos sobre finanças requeridos pelas empresas de pequeno e médio porte.

O livro, ao longo de seus 10 capítulos, destina-se a transmitir uma visão abrangente e objetiva de finanças, com ênfase em seus aspectos práticos, necessá rios à administração da pequena e média empresa.

O Capítulo 1 trata da administração do capital de giro, reconhecidamente um dos assuntos cruciais para as organizações de menor porte. Embora a administra ção de contas a receber e de caixa façam parte da administração do capital de giro, por conveniência didática foram tratados em capítulos separados (2 e 3). A admi nistração de contas a receber enfatiza os aspectos da análise e do risco de crédito. No capítulo sobre administração de caixa, foi dada especial atenção ao fluxo de caixa, uma das mais importantes ferramentas de planejamento financeiro.

O Capítulo 4 apresenta os fundamentos de cálculo financeiro, com um enfoque essencialmente objetivo e com ênfase em seus aspectos financeiros. A inflação, com seus principais índices e técnicas de atualização monetária, bem como as ta xas de juros são tratadas no Capítulo 5.

O Capítulo 6 trata da administração de financiamentos, concentrando-se nas atividades de planejamento e análise. Os pontos descritivos do tema foram reduzi dos ao mínimo, tendo em vista as freqüentes mudanças que ocorrem nas principais linhas de crédito em nosso sistema financeiro.

A análise de viabilidade econômica de novos empreendimentos é tratada no

Capítulo 7, onde é enfatizada a prevalência da qualidade das projeções de entra das e saídas de caixa sobre as metodologias de cálculo da rentabilidade.

O Capítulo 8 versa sobre custos, utilizando urna abordagem gerencial, mais produtiva para a pequena e média empresa do que a tradicional Contabilidade de Custos, e com a vantagem de dispensar o leitor da necessidade de um maior emba sarnento de conhecimentos contábeis.

O processo de análise e formação de preços é mostrado no Capítulo 9, onde os vários métodos de precificação utilizados são comparados e avaliados. Nesse capí tulo, é demonstrado como as empresas podem aumentar a flexibilidade da formu lação da política de preços para seu m de produtos ou serviços.

O Capítulo 10 aborda a administração do lucro, apresentando processos de planejamento, avaliação e controle. Nele também é abordada a questão do sanea mento financeiro, de fundamental importância para qualquer programa de recu peração de lucro.

Para o leitor interessado em todos os ternas apresentados no livro, sugere-se

que os capítulos sejam lidos na seqüência apresentada, já que ela obedece ao enca

suMÁRIo 13

deamento lógico dos assuntos expostos. Entretanto, todos os capítulos são essen cialmente independentes uns dos outros.

Page 8: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Espero que este livro contribua para ajudar os gestores das empresas de pe queno e médio porte em sua luta pela sobrevivência e crescimento num mercado turbulento e fortemente competitivo, em que o conhecimento de finanças empre sariais tem, sem dúvida, vital importância.

O Autor

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL

DE GIRO

Durante a fase de avaliação econômica que precede a abertura da empresa, a principal preocupação é com a determinação da rentabilidade do empreendimen to. Nesse estágio, as atenções voltam-se primordialmente para os ativos perma nentes (máquinas, equipamentos, imóveis etc.), com estimativas de longo prazo que envolvem sua vida útil, custos e receitas gerados.

Quando a empresa entra em operação, o gestor financeiro transfere sua prioridade para o capital de giro, entidade representada pelos ativos circulantes. Essa alteração de foco acontece porque o capital de giro é bastante suscetível às mudan ças que acontecem continuamente no ambiente econômico em que a empresa atua.

Assim, grande parte do tempo do gestor financeiro é destinada à solução de problemas de capital de giro, como financiamento de estoques, gerenciamento da inadimplência de clientes e administração das insuficiências de caixa. Esses pro blemas podem ser minimizados ou mesmo evitados por meio de uma administra ção de capital de giro que valorize a prevenção de sua ocorrência.

Neste capítulo, a administração de capital de giro é tratada sob a óptica de

análise e planejamento. Esse enfoque pretende dar melhor contribuição para a

prevenção dos problemas de capital de giro.

1

16 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

1.1 CONCEITOS BÁSICOS

As necessidades de capital de giro para uma empresa dependem de determi nadas características de seu processo de produção ou de operação. Essas caracte rísticas são representadas por alguns conceitos simples, mas bastante úteis ao ge renciamento do capital de giro.

As hipóteses simplificadoras utilizadas em alguns desses conceitos não com prometem sua utilidade na administração do capital de giro ou mesmo em ativida des mais complexas, como a recuperação do lucro.

1.1.1 Ciclo operacional

Para entendermos o significado de ciclo operacional de uma empresa, vamos considerar o exemplo de uma indústria, O processo operacional completo da in dústria abrange a seqüência de atividades de compra de matérias-primas, paga mento aos fornecedores, produção, estocagem, venda e recebimento das vendas.

Page 9: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O intervalo de tempo gasto na execução de todas essas atividades é denomi nado ciclo operacional. Ele representa o número de dias transcorridos entre a com pra de matérias-primas ou produtos e o recebimento da venda dos produtos fabri cados ou comercializados. A Figura 1.1 ilustra o conceito de ciclo operacional.

Recebimento

de vendas

Ciclo operacional = 90 dias

Prazo de estocagem = 50 dias

Dias O 30 50 90

1 Prazo de _____ L-_ Prazo de

pagamento 1 recebimento

Compra de Pagamento Venda de

matéria-prima de compra produto

Figura 1.1 Ciclo operacional.

Examinando a Figura 1.1, concluímos que a duração do ciclo operacional é

afetada por fatores como produção, operação e também por suas práticas comer ciais e financeiras, que envolvem prazos de pagamento e recebimento.

A duração de cada fase integrante do ciclo operacional tem influência sobre o

volume de recursos financeiros consumidos ou imobilizados na operação da em presa.

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO 17

1.1.2 Ciclo financeiro

O ciclo financeiro é o intervalo de tempo entre os eventos financeiros ocorri dos ao longo do ciclo operacional, representados pelo pagamento a fornecedores e

pelo recebimento das vendas.

No caso de uma indústria, supondo que a fabricação comece imediatamente após a compra da matéria-prima e que a venda seja realizada logo após a fabrica ção, o ciclo financeiro é calculado com base no prazo de fabricação e nos prazos de pagamento de compras e de recebimento das vendas.

Numa empresa varejista, o prazo de estocagem e os prazos de pagamento e

recebimento definem seu ciclo financeiro.

O ciclo financeiro de uma empresa prestadora de serviços, na maioria dos ca sos, é afetado apenas pelos prazos de pagamento e recebimento.

Como as empresas têm prazos diferentes para pagamento aos fornecedores e

recebimento dos clientes, o ciclo financeiro é determinado com base nos prazos

médios de pagamento e de recebimento. A Figura 1.2 representa o ciclo financeiro.

Page 10: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Recebimento

de vendas

Ciclo financeiro = 60 dias

Dias o 30 50 90

Prazo de Prazo de

Compra de pagamento Pagamento Venda de recebimento

matéria-prima de compra produto

Figura 1.2 Ciclo financeiro.

Para o cálculo do ciclo financeiro de uma empresa, é necessário considerar as

seguintes variáveis:

• Prazo médio de pagamento a fornecedores (PP).

• Prazo médio de fabricação/estocagem (PE).

• Prazo médio de recebimento das vendas (PR).

O ciclo financeiro (CF) é calculado pela seguinte fórmula:

1 CF=PE+PR—PP 1

Quando a empresa opera sem estoques, como é o caso da maioria das empre sas prestadoras de serviço, o prazo médio de produção e estocagem (PE) é conside

18 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

rado igual a zero. Na empresa varejista, o prazo médio de produção e estocagem corresponderá apenas à idade média de seus estoques, já que esse tipo de empresa não tem processo de produção.

Exemplo: A empresa VXZ apresenta os seguintes prazos médios em seu pro cesso de compra, produção e vendas:

• Prazo de fabricação e estocagem (PE) = 50 dias.

• Prazo de pagamento (PP) = 30 dias.

• Prazo de recebimento (PR) 40 dias.

Seu ciclo financeiro tem o seguinte número de dias:

CF = PE + PR — PP

CF = 50 + 40—30

CF = 60

1.1.3 Giro de caixa

O giro de caixa é um parâmetro relacionado com o ciclo de caixa que indica quantas vezes, ao longo de um ano, ocorre o revezamento do caixa da empresa.

Se se considera 360 o número de dias de um ano, o giro de caixa (GC) é dado

Page 11: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

pelo quociente entre 360 e o ciclo financeiro (CF):

GC 360 ± CF 1

Com base nos dados já apresentados, o giro de caixa da empresa VXZ é:

GC = 360 ÷ CF

GC = 360 ± 60 = 6

O valor calculado para giro de caixa da empresa VXZ indica que, ao longo do ano, seu caixa se reveza seis vezes.

A fórmula de cálculo do giro de caixa indica que quanto menor for o ciclo fi nanceiro, maior será o giro de caixa. E desejável que a empresa tenha alto giro de caixa, de modo que reduza sua necessidade de capital de giro, como será mostrado na seção seguinte.

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO 19

1.1.4 Caixa operacional

O volume mínimo de recursos financeiros de que uma empresa precisa para o giro de suas operações é denominado caixa operacional. Esse parâmetro represen ta o capital de giro mínimo necessário a um volume de vendas.

Um método simples para cálculo do caixa operacional consiste em dividir o valor da projeção de desembolso anual de caixa (DAC) pelo giro de caixa (GC). Esse cálculo requer a projeção de lucro da empresa para o ano e também da desti nação desse lucro. A projeção de desembolso anual deve abranger o pagamento a fornecedores e o desembolso com custos operacionais.

A fórmula para cálculo da caixa operacional é a seguinte:

1 CO = DAC ± GC 1

Para ilustrar o cálculo da caixa operacional, considerando a empresa VXZ

com as seguintes características:

• Desembolso anual de caixa (DAC) = R$ 600.000,00.

O desembolso anual de caixa compõe-se de R$ 360.000,00 referentes a paga mento a fornecedores e R$ 240.000,00 referentes a custos operacionais desembol sáveis mensalmente.

• Prazo médio de pagamento (PP) = 30.

• Prazo médio de produção e estocagem (PE) = 90.

• Prazo médio de recebimento das vendas (PR) = 60.

Seus parâmetros de caixa são os seguintes:

a) Ciclo financeiro

CF = PE + PR — PP

CF = 90 + 60— 30 = 120

b) Giro de caixa

Page 12: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

GC = 360 ± CF

GC = 360 ÷ 120 = 3

c) Caixa operacional

CO = DAC ÷ GC

CO = 600.000 ÷ 3 = 200.000

20 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

O Quadro 1.1 ilustra a formação da caixa operacional dessa empresa. Como admitimos que todo o lucro será retirado, as entradas de caixa serão iguais às

saídas, cerca de R$ 50.000,00/mês.

Quadro 1.1 Caixa operacional — Valores em R$ 1.000,00.

Movimento de recursos

.

financeiros

Mes

1

2

3

4

5

6

7

...

12

1. Entradas de caixa

1.1 Recebimento de vendas

50

50

50

...

50

2. Saídas de caixa

...

2.1 Pagamento de compras

Page 13: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

30

30

30

30

30

30

30

...

30

2.2 Custos operacionais

20

20

20

20

20

20

20

...

20

3. Saldo de caixa

—50

—50

—50

—50

O

O

O

...

O

4. Saldo de caixa acumulado

—50

—100

—150

Page 14: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

—200

—200

—200

—200

...

—200

1.2 ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO

A estrutura do capital de giro e a ligação entre seus vários componentes de pende do setor de atuação da empresa e também de parâmetros, como seu ciclo operacional e ciclo financeiro. Esta seção apresenta o detalhamento do capital de giro, as variáveis que o afetam e os parâmetros que permitem prever sua evolução a curto e médio prazo.

1.2.1 Estrutura do balanço patrimonial

Para adequada compreensão do capital de giro da empresa, é recomendável

entender a estrutura de seu balanço patrimonial.

O balanço reflete a situação patrimonial da empresa em determinado mo mento e constitui-se do ativo, passivo e patrimônio líquido.

No ativo, estão incluídos os bens — dinheiro em caixa, depósitos bancários,

imóveis, instalações e equipamentos — e os direitos da empresa, representados pe los valores que ela tem a receber de terceiros. ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO 21

O passivo compreende as obrigações da empresa para com terceiros, repre sentadas por fornecedores, salários, impostos e financiamentos.

O patrimônio líquido representa os recursos financeiros dos sócios ou acio nistas aplicados na empresa sob a forma de capital inicial e reinvestimento de

lucros.

A estrutura do balanço é composta de duas colunas. A coluna da esquerda

corresponde ao ativo, O passivo e o patrimônio líquido ficam na coluna da direita.

A escrituração contábil é realizada pelo sistema de partidas dobradas e, por

isso, os valores do ativo originam-se do passivo e do patrimônio líquido. Assim, o

balanço patrimonial contém a seguinte identidade:

ATIVO = PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO

A legislação sobre balanços utiliza um conceito abrangente para passivo, co locando o patrimônio líquido como um subgrupo deste. Assim, nos balanços o to tal do ativo é igual ao total do passivo.

O ativo é composto de três subgrupos principais: ativo circulante, ativo reali zável a longo prazo e ativo permanente.

Page 15: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Do ativo circulante constam as disponibilidades financeiras (caixa, bancos,

aplicações financeiras de liquidez imediata), duplicatas, títulos a receber e esto ques.

No ativo realizável a longo prazo, estão registrados os bens e direitos com rea lização posterior ao encerramento do exercício seguinte.

O ativo permanente compõe-se de ativo imobilizado (bens móveis e imóveis), investimentos (participações acionárias) e diferido (despesas referentes a resulta dos futuros).

Três subgrupos compõem o passivo: passivo circulante, passivo exigível a

longo prazo e patrimônio líquido.

O passivo circulante abrange fornecedores, instituições financeiras, salários, impostos e taxas a recolher. As exigibilidades futuras são lançadas no passivo cir culante quando seu vencimento ocorre no máximo até o encerramento do exercí cio social seguinte.

Do exigível a longo prazo constam as obrigações com vencimento posterior

ao encerramento do exercício social seguinte.

Na composição do patrimônio líquido, incluímos o capital, as reservas e os lu cros suspensos. O valor do patrimônio líquido é igual ao total do ativo subtraído do passivo exigível e, assim, indica o valor que efetivamente pertence aos sócios da empresa.

22 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

O Quadro 1.2 apresenta um balanço simplificado de uma empresa hipotética que denominamos VXZ.

Quadro 1.2 Balanço patrimonial da empresa l'XZ em 31-12-XX- R$ 1,00.

Ativo Passivo

Circulante Circulante

Caixa e bancos 2.612,00 Fornecedores 191.328,00

Aplicações financeiras 43.458,00 Impostos e contribuições 25.479,00

Contas a receber 66.304,00 Instituições financeiras 43.267,00

Estoques 97.908,00 Outras contas a pagar 7.347,00

Total do ativo circulante 210.282,00 Total do passivo circulante 267.421,00

Realizável a longo prazo 3.095,00 Exigível a longo prazo 59.908,00

Permanente Patrimônio líquido

Participações 24.333,00 Capital socjal realizado 132.344,00

Imobilizado 273.202,00

Lucros acumulados 51.239,00

Total do ativo permanente 297.535,00 Total do patrimônio líquido 183.583,00

Total do ativo 510.912,00 Total do passivo 510.912,00

Page 16: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

1.2.2 Conceitos de capital de giro

Uma empresa utiliza para seu funcionamento recursos materiais de renova ção lenta, como as instalações, equipamentos e imóveis - denominados capital fixo ou permanente - e recursos materiais de rápida renovação, como os estoques de matérias-primas e produtos que formam seu capital circulante.

Os recursos materiais de renovação rápida são denominados capital de giro. No balanço patrimonial da empresa, o capital de giro é representado pelo ativo cir culante ou ativo corrente, composto pelas disponibilidades financeiras, contas a receber e estoques.

O capital de giro líquido é igual ao ativo circulante menos o passivo circulan te. Quando é positivo, corresponde ao volume de fundos de longo prazo (emprésti mos e recursos próprios) aplicados no financiamento de estoques e contas a rece ber. Se for negativo (passivo circulante maior do que ativo circulante), significa que a empresa estará financiando seus ativos permanentes com recursos financei ros de curto prazo, o que denota um quadro de risco.

O capital de giro precisa de recursos para seu financiamento, como acontece com o capital permanente representado pelos imóveis e instalações físicas. Dessa forma, quanto maior for o capital de giro, maior será a necessidade de financia mento, seja com recursos próprios, seja com recursos de terceiros.

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO 23

A quantidade de capital de giro utilizado por uma empresa depende de seu vo lume de vendas, de sua política de crédito comercial e do nível de estoques que ela

precisa manter. Esses três fatores podem variar independentemente uns dos outros.

Uma expansão de capital de giro em decorrência do aumento de vendas é considerada um fato normal. Provavelmente, o incremento de vendas provoque crescimento dos estoques e de contas a receber. O custo decorrente do aumento do capital de giro é considerado como um dos investimentos necessários à expansão das vendas.

Quando o capital de giro aumenta em virtude do crescimento dos estoques,

ou das duplicatas a receber sem o correspondente crescimento das vendas, traduz

uma situação de administração inadequada.

1.2.3 Índices de liquidez

Esses índices permitem prever a capacidade financeira da empresa para liqui dar seus compromissos financeiros no vencimento, fornecendo uma indicação de sua capacidade de manter seu capital de giro no volume necessário à realização de suas operações.

Embora sejam bastante utilizados nas empresas para avaliações externas - principalmente para clientes e fornecedores -, os índices de liquidez também po dem ser aplicados na avaliação da própria empresa, permitindo realizar um moni toramento de seu capital de giro.

A interpretação desses índices pode ser feita comparando-os com os de outras

empresas, ou analisando sua evolução ao longo do tempo na própria empresa.

Page 17: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Existem vários índices de liquidez financeira, mas aqui serão apresentados

apenas aqueles de significado mais relevante.

a) Índice de liquidez corrente

O índice de liquidez corrente indica a capacidade da empresa para liquidar seus compromissos financeiros de curto prazo. Como ele estabelece a relação en tre ativo circulante e passivo circulante, quanto maior for o índice, melhor será a situação financeira da empresa. E calculado pela fórmula:

Ativo circulante

Indice de liquidez corrente = ________________

Passivo circulante

Como esse índice considera todos os valores incluídos no ativo circulante, ele não faz diferenciação sobre a qualidade dos componentes desse ativo. Desse modo, considera que, se necessário, os estoques seriam prontamente transforma dos em dinheiro.

24 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

O valor ideal do índice depende do setor em que a empresa atua e de seu ciclo financeiro. Como regra, considera-se satisfatório um índice de liquidez corrente

maior do que um.

b) Índice de liquidez seca

O índice de liquidez seca avalia a capacidade da empresa para liquidar suas dívidas de curto prazo, considerando seus ativos de maior liquidez. Reconhecida- mente, os estoques são a parcela do ativo circulante com menor liquidez. Por isso, são excluídos do ativo circulante quando se quer calcular o índice de liquidez seca. Sua fórmula de cálculo é:

Ativo circulante - Estoques

Indice de liquidez seca = __________________________

Passivo circulante

Como acontece com o índice de liquidez corrente, o valor ideal do índice de li quidez seca depende do setor da empresa e de suas características operacionais. Por exemplo, uma empresa com forte sazonalidade em suas vendas terá um índice de liquidez seca baixo no período em que precisa carregar altos volumes de esto que, sem que isso represente um sinal de ameaça para seu quadro financeiro.

1.2.4 Índices de estrutura

Os índices de estrutura indicam a posição relativa de cada um dos elementos

constituintes do capital de giro em relação ao valor total desse capital de giro.

A interpretação desses índices pode ser feita em termos de sua evolução tem poral na empresa ou pela análise comparativa com outras empresas.

Os principais índices de estrutura de capital de giro são:

a) Índice de participação das disponibilidades

Page 18: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Indica a representatividade das disponibilidades financeiras - principalmen te aplicações financeiras de liquidez imediata - na estrutura do capital de giro. Nas empresas que recebem suas vendas antes do pagamento das compras, como acon tece no setor varejista, esse índice tende a ser elevado. A fórmula de cálculo desse índice é:

Disponibilidades

Indice de participaçao das disponibilidades = _______________

Ativo circulante

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO 25

b) Índice de participação dos estoques

Representa o peso dos estoques em relação ao capital de giro. Um índice ele vado pode significar excessiva imobilização em estoques, ou, ainda, um pequeno

volume de contas a receber. E dado pela seguinte fórmula:

Índice de participação dos estoques = Estoques

Ativo circulante

c) Índice de participação de contas a receber

Esse índice mostra a participação da carteira de duplicatas da empresa sobre o total do capital de giro. Quando é muito alto pode significar que a empresa está adotando uma política agressiva de crédito comercial, ou que ela enfrenta alto ín dice de inadimplência. E calculado do seguinte modo:

- Contas a receber

Indice de partlclpaçao de contas a receber = _______________

Ativo circulante

d) Índice de financiamento

Esse parâmetro informa qual o percentual do capital de giro que está suporta do por empréstimos bancários. Um índice baixo pode indicar que a empresa está utilizando principalmente financiamento dos fornecedores em lugar de linhas de crédito bancário. Também pode refletir uso normal de financiamento de fornece dores ao lado de uma boa situação de caixa que lhe permite dispensar os financia mentos bancários para capital de giro. Sua fórmula de cálculo é:

Financiamentos

Indice de financiamento = _____________

Ativo circulante

1.2.5 Cálculo dos índices

Considerando o balanço da empresa VXZ apresentado na seção 1.2.1, seus ín dices de liquidez e estrutura são os seguintes:

Ativo circulante 210.282

Liquidez Corrente = . = _______ = 0,79

Page 19: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Passivo circulante 267.421

26 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Ativo circulante - Estoques 112.374

Liquidez seca = = = 0,42

Passivo circulante 267.421

- . . .. Disponibilidades 46.070

Participaçao das disponibilidades = ______________ _______ = 0,22

Ativo circulante 210.282

o - Estoques 97.908

Parncipaçao dos estoques = _______ = 0,47

Ativo circulante 210.282

- Contas a receber 66.304

Participaçao de contas a receber = = = 0,32

Ativo circulante 210.282

Financiamentos 43.267

Indice de financiamento = = = 0,21

Ativo circulante 210.282

1.3 PLANEJAMENTO E CONTROLE DO CAPITAL DE GIRO

De posse das conclusões da análise financeira, o gestor financeiro tomará as

medidas necessárias de planejamento e controle para eliminar eventuais impro priedades no dimensionamento, estruturação e utilização do capital de giro.

1.3.1 Necessidade de capital de giro

O correto dimensionamento da necessidade de capital de giro é um dos maio res desafios do gestor financeiro. Essa tarefa requer visão abrangente do processo de operação da empresa, de suas práticas comerciais e financeiras, além de dados sobre prazos de cobrança e recebimento.

Elevado volume de capital de giro irá desviar recursos financeiros que pode riam ser aplicados nos ativos permanentes da empresa. Todavia, capital de giro

muito reduzido restringirá a capacidade de operação e de vendas da empresa.

Ao dimensionar seu capital de giro, a empresa deve observar os seguintes

princípios:

o O capital de giro deve ser minimizado até o ponto em que não traga restrições às vendas e à lucratividade da empresa. Por exemplo, não

manter estoques desnecessariamente elevados.

Page 20: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

o A parcela permanente do capital de giro deve ser financiada com recur sos financeiros permanentes (passivo exigível de longo prazo e patri mônio líquido). Já a parcela flutuante do capital de giro pode ser finan ciada com recursos financeiros de curto prazo (passivo circulante).

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO 27

O dimensionamento do capital de giro também depende de projeções de resultado. Em geral, a geração de lucro fornece recursos para finan ciar o capital de giro. Em determinados casos, porém, existe significativa diferença entre resultado e caixa. Nessa situação, a projeção de resulta do terá menor impacto sobre o dimensionamento do capital de giro.

Quando a empresa está em fase de expansão acelerada, o adequado di mensionamento do capital de giro tem sido um dos fatores-chaves para o sucesso de seu crescimento. A mesma atenção dispensada à análise de viabilidade econômica dos novos projetos de investimento também deve ser dada ao planejamento e dimensionamento das necessidades de capital de giro.

A necessidade de capital de giro pode ser estimada de dois modos: com base

no ciclo financeiro, ou utilizando os demonstrativos contábeis.

a) Necessidade de capital de giro com base no ciclo financeiro

Esse método de estimativa da necessidade de capital de giro é aplicável a uma

empresa em fase de implantação, por ainda não dispor de demonstrações contábeis.

A necessidade de capital de giro corresponde ao caixa operacional, cuja me todologia de cálculo foi apresentada na seção 1.1.4.

Os parâmetros relacionados com o ciclo financeiro (prazo médio de paga mento a fornecedores, prazo médio de fabricação/estocagem e prazo médio de re cebimento das vendas) podem ser administrados de modo que forneçam determi nado valor de capital de giro. Nesse caso, é necessário desenvolver uma análise in versa, já que o capital de giro passa a ser meta e não mais conseqüência daqueles fatores.

A projeção da necessidade de capital de giro utilizando esse método não pro duz resultados satisfatórios para empresas que têm forte sazonalidade em suas vendas. Isso acontece porque o método pressupõe que as despesas projetadas anuais são distribuídas uniformemente ao longo do ano.

b) Necessidade de capital de giro com base no balanço patrimonial

Na seção 1.2.2, o capital de giro foi definido como a diferença entre o ativo

circulante e o passivo circulante.

Nem todo valor do capital de giro assim calculado representa efetiva necessi dade de investimento, O ativo circulante contém contas transitórias - caixa, ban cos, aplicações financeiras de curto prazo. No passivo circulante, também são tran sitórios os empréstimos e financiamentos de curto prazo. Essas contas transitórias não estão relacionadas à necessidade de investimento em capital de giro.

28 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Page 21: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

É possível calcular a necessidade de capital de giro (Ncg) de uma empresa

com base em seu balanço patrimonial.

O cálculo da Ncg é efetuado com apoio nos seguintes parâmetros, obtidos da reclassificação de algumas contas do balanço patrimonial:

Ativo permanente (Ap): é formado pelos itens de longo prazo do ati vo. Seu valor é igual à soma dos seguintes itens: realizável a longo prazo,

investimento, imobilizado e diferido.

Ativo operacional (Ao): representa os recursos utilizados nas opera ções da empresa que dependem das características de seu ciclo operacio nal. E composto pelos estoques, duplicatas a receber e os outros itens do ativo circulante que têm natureza permanente.

Ativo flutuante (AD: corresponde aos itens de curtíssimo prazo do ati vo circulante que não têm vinculação direta com as operações da empresa:

caixa, bancos e aplicações financeiras

Passivo permanente (Pp): é formado pelas contas de longo prazo do

passivo e representa a fonte permanente de recursos financeiros da empre sa. É igual à soma do exigível a longo prazo com o patrimônio líquido.

Passivo operacional (Po): representa as contas do passivo vinculadas

ao ciclo operacional da empresa. E composto pelas contas referentes a for necedores, salários, encargos, impostos e taxas.

Passivo flutuante (Pfj: corresponde aos itens de curtíssimo prazo do passivo circulante que não têm vinculação direta com as operações da em presa: empréstimos, financiamentos e outras obrigações financeiras de curtíssimo prazo.

ANecessidade de Capital de Giro (Ncg) é calculada da seguinte forma:

Ncg = Ativo operacional - Passivo operacional

O Capital de Giro (Cg) calculado com base nessa reclassificação de contas será:

Cg = Passivo permanente - Ativo permanente

Denomina-se Efeito tesoura (Et) o valor do Capital de Giro (Cg) que excede a

Necessidade de Capital de Giro (Ncg):

Et = Capital de Giro - Necessidade de Capital de Giro

O Efeito tesoura (Et) também corresponde à diferença entre o ativo flutuante (AD e o passivo flutuante (Pfl.

Et = Ativo Flutuante - Passivo Flutuante

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO 29

Exemplo: Calcular a Necessidade de Capital de Giro, o Capital de Giro e o Efei to Tesoura da empresa Alfa-Beta, cujo balanço está apresentado no Quadro 1.3.

Quadro 1.3 Balanço da empresa Alfa-Beta - R$ 1.000,00.

Page 22: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Ativo Passivo

Caixa 250,00 Empréstimos 100,00

Aplicações financeiras 200,00 Fornecedores 350,00

Contas a receber 400,00 Salários e encargos 150,00

Estoques 450,00 Impostos e taxas 100,00

Imobilizado 1.800,00 Exigível a longo prazo 200,00

Patrimônio líquido 2.200,00

Total 3.100,00 3.100,00

Ativo Permanente (Ap) = 1.800,00

Passivo Permanente (Pp) = 200,00 + 2.200,00 2.400,00

Ativo Operacional (Ao) = 400,00 + 450,00 = 850,00

Passivo Operacional (Po) = 350,00 + 150,00 + 100,00 = 600,00

Ativo Flutuante (AD = 250,00 + 200,00 = 450,00

Passivo Flutuante (Pf) = 100,00

Necessidade de Capital de Giro (Ncg):

Ncg = Ao - Po = 850,00 - 600,00 = 250,00

Capital de Giro (Cg):

Cg = Pp -Ap = 2.400,00 - 1.800,00 = 600,00

Efeito Tesoura (Et):

Et = Af- Pf = 450,00 - 100,00 = 350,00

1.3.2 Reserva de capital de giro

O capital de giro é fortemente influenciado pelas incertezas inerentes a todo tipo de atividade empresarial. Por esse motivo, a empresa deveria manter uma re serva financeira para enfrentar os eventuais problemas que podem surgir.

Quanto maior a reserva financeira alocada à manutenção do capital de giro,

menores seriam as possibilidades de crises financeiras.

Deve ser lembrado que somente os ativos permanentes proporcionam a ren tabilidade satisfatória para a empresa. A rentabilidade obtida pela reserva de capi tal de giro aplicada no mercado financeiro normalmente é menor do que a conse guida na atividade-fim da empresa.

30 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Aparentemente, existiria conflito entre a prudência no gerenciamento do ca pital de giro e a rentabilidade empresarial. Quanto maior a proteção dada ao capi tal de giro sob a forma de manutenção de uma reserva financeira, menor seria a rentabilidade empresarial sobre o total dos recursos financeiros empregados.

Page 23: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Na realidade, esse conflito não existe. Caso a empresa decida não fazer ne nhuma reserva financeira para o capital de giro e canalize os recursos correspon dentes para sua atividade-fim, estará expondo-se a um maior risco financeiro, pois poderá vir a ter problemas de capital de giro.

Não deve ser esquecido que a rentabilidade da empresa pode esperar por uma recuperação de lucros. Entretanto, o capital de giro não pode esperar. Ele é prioritário. Sem o lucro, a empresa fica estagnada ou encolhe, mas sem capital de giro, ela desaparece.

1.3.3 Redução da necessidade de capital de giro

Vimos que um ciclo financeiro curto permite maior giro de caixa, que, por sua

vez, implica menor necessidade de caixa operacional ou capital de giro.

Uma alternativa para a insuficiência de capital na fase de implantação ou de

operação da empresa seria, portanto, obter uma redução de seu ciclo financeiro.

Como também já foi visto, o ciclo financeiro depende de três fatores: prazo de

pagamento das compras, prazo de produção ou estocagem e prazo de recebimento

das vendas.

Os prazos de pagamento de compras e de recebimento das vendas são deter minados pelas condições de mercado. Apenas alterações provisórias desses prazos poderiam ser conseguidas de negociações com fornecedores e clientes. Por esse motivo, as medidas financeiras para encurtamento do ciclo financeiro são pouco eficazes.

Apenas o encurtamento do prazo de produção ou estocagem poderia fazer mu danças significativas e duradouras sobre o ciclo financeiro da empresa. Essas medi das, entretanto, estão fora do escopo da área financeira, exigindo o concurso das áreas técnicas, como produção, operação ou logística para sua implementação.

Diversas técnicas especiais podem proporcionar encurtamento da etapa de

produção ou operação e, em conseqüência, do ciclo financeiro da empresa. Entre

essas técnicas, estão Just in Time (JIT) e Administração Total da Qualidade.

1.4 PROBLEMAS ESPECIAIS DE CAPITAL DE GIRO

Nesta seção, serão abordados alguns problemas de capital de giro, de ocor rência não generalizada, e apresentadas alternativas de solução.

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO 31

1.4.1 Sazonalidade das vendas

Determinadas empresas têm normalmente suas vendas distribuídas de modo

irregular ao longo do ano, o que caracteriza um processo sazonal de vendas.

Quando o perfil da sazonalidade é previsível - por exemplo, 50% das vendas da empresa concentram-se no último trimestre do ano -, o problema da adminis tração do capital de giro é sensivelmente mais simples, desde que a empresa man tenha adequado planejamento financeiro.

Page 24: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

As principais missões do planejamento financeiro com vistas no dimensiona mento do capital de giro num quadro de vendas sazonais serão projetar o fluxo de

caixa e o resultado da empresa em base anual.

Quando não existe o planejamento financeiro, os resultados excepcional mente bons, verificados no período de vendas elevadas, são confundidos, freqüen temente, com uma tendência permanente, e a provisão de reservas para o período de vacas magras deixa de ser feita.

Uma empresa com vendas sazonais, ao fazer seu planejamento financeiro para evitar surpresas com o capital de giro durante a redução de vendas, provavel mente precisará manter uma reserva sob a forma de aplicações financeiras de alta liquidez.

O valor dessas aplicações seria bem maior do que as aplicações normais de so bra de caixa. O prazo de aplicação das reservas também seria mais longo, não ne cessitando ser diário, como acontece com as sobras normais de caixa. Por esses motivos, essas aplicações exigem maior esforço da administração financeira para maximizar sua rentabilidade.

1.4.2 Ciclo operacional longo

A empresa com um ciclo operacional longo tem maior necessidade de capital

de giro e habitualmente precisa de maior rentabilidade sobre as vendas para com pensar o elevado custo de financiamento do capital de giro.

O problema do ciclo operacional longo faz-se sentir quando acontecem mu danças estruturais no mercado da empresa, fazendo com que a maior duração do ciclo, até então um dado normal, transforme-se num empecilho ao desenvolvi mento dos negócios.

Quando isso acontece, a solução exigirá alteração significativa nos proces sos de produção, operação, comercialização e também no mix de produtos ou

serviços.

No Brasil, durante muitos anos, o ciclo operacional longo das livrarias era

uma característica normal desse tipo de negócio, sem causar impactos sobre sua

viabilidade econômica.

32 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Com a elevação do custo do dinheiro verificada a partir dos anos 80, esse Seg mento empresarial passou a enfrentar dificuldades para financiar seu capital de giro. Em conseqüência, muitas livrarias pequenas encerraram suas atividades e algumas grandes redes acrescentaram outros produtos de maior giro a sua pauta de vendas.

Na atividade de serviços, o problema do ciclo operacional longo é contornado com o recebimento do serviço prestado mediante um cronograma de eventos, con tratualmente estabelecido. Dessa forma, quando o serviço é concluído, ele pratica mente já foi recebido. As atividades de construção civil e construção naval são exemplos típicos de atividades de serviço com ciclo operacional longo.

Uma parcela significativa da atividade agropecuária tem ciclo operacional longo. Criação de gado e reflorestamento são exemplos de atividade com ciclo operacional longo. Nesses

Page 25: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

casos, a grande necessidade de recursos para financiar capital de giro por longos períodos chega a confundir-se com investimento perma nente. A solução típica consiste em utilizar recursos próprios ou financiamentos.

1.4.3 Insuficiência de capital de giro

Vários fatores podem contribuir isoladamente ou em conjunto para que o vo lume de capital de giro seja insuficiente para o funcionamento normal da empresa.

Os principais são os seguintes:

o Redução de vendas.

o Crescimento da inadimplência.

o Aumento das despesas financeiras.

o Aumento de custos.

Além da manutenção da reserva financeira, como mencionado na seção

1.3.2, as seguintes medidas permitirão a eliminação ou prevenção da insuficiência

de capital de giro:

a) Controlar a inadimplência

A inadimplência dos clientes de uma empresa pode decorrer do quadro eco nômico geral do país ou de fatores no âmbito da própria empresa.

No primeiro caso, a contração geral da atividade econômica tende a aumentar

a inadimplência. Nessa situação, a empresa tem pouco controle sobre o problema.

Quando a inadimplência é decorrente de práticas de crédito inadequadas, es tabelecidas pela própria empresa, a solução é menos difícil. Basicamente, será pre ciso dar mais atenção à qualidade das vendas do que a seu volume.

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO 33

b) Não financiar o capital de giro a qualquer custo

Na tentativa de suprir a insuficiência de capital de giro, muitas empresas utili zam empréstimos de custo elevado. Como regra, qualquer dinheiro captado a um cus to maior do que 1,17% ao mês (ou 15% ao ano) em termos reais é incompatível com a rentabilidade normal da empresa, que é de 15% ao ano, também em termos reais.

O financiamento de capital de giro a uma taxa real maior do que 1,17% ao mês pode resolver o problema imediato de caixa da empresa, mas cria outra difi culdade, a liquidação da dívida.

c) Alongar o perifi do endividamento

Quando a empresa consegue negociar um prazo maior para o pagamento de suas dívidas, ela adia as saídas de caixa correspondentes e, portanto, melhora sua situação de capital de giro. Embora a ajuda seja provisória, permitirá que a empre sa possa esperar por uma melhora em seu quadro econômico.

Page 26: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Também, nesse caso, é importante atenção especial para o custo do alonga mento de prazo. Ele precisa ser suportado pela rentabilidade da empresa.

d) Reduzir custos

A implantação de um programa de redução de custos tem efeito positivo so bre o capital de giro da empresa, desde que não traga restrições a suas vendas ou à

execução de suas operações.

Uma vez que a empresa com problema de capital de giro também estará com

sua capacidade de investimento comprometida, a redução de custos por meio de

processos como modernização, automação ou informatização não será possível.

Diante de uma crise de capital de giro, o programa de redução de custos tem

natureza compulsória e seu grande desafio é identificar os itens de gastos que pos sam ser cortados sem grandes prejuízos para as atividades da empresa.

e) Encurtar o ciclo operacional

Quando a empresa encurta seu ciclo operacional, suas necessidades de capi tal de giro são reduzidas.

Numa indústria, a redução do ciclo operacional acarretará menor tempo para produzir e, em conseqüência, para vender. No comércio, essa redução significa um giro mais rápido dos estoques. Na atividade de serviços, a redução do ciclo econômico equivale a trabalhar com um cronograma mais curto para a execução dos serviços.

Como visto, a redução do ciclo operacional não é uma função tipicamente fi nanceira. Ela requer o apoio de funções como produção, operação e logística.

34 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

QUESTÕES

1. Sobre que elementos de seu ciclo operacional a empresa tem liberdade de ação?

2. Por que um ciclo financeiro curto acarreta alto giro de caixa?

3. Que medida poderia trazer redução permanente e eficaz do ciclo financeiro?

4. Qual o ciclo financeiro de uma empresa que tem giro de caixa de quatro vezes por ano?

5. Uma empresa tem um prazo de fabricação/estocagem de 50 dias, prazo de pa gamento de 40 dias e prazo de recebimento de 20 dias. Qual seu ciclo de caixa?

6. Qual a principal limitação do índice de liquidez corrente?

7. Que índice tenderia a ser mais estável ao longo do tempo: o índice de partici pação das disponibilidades, ou o índice de participação dos estoques?

8. Demonstre que o capital de giro é igual ao passivo permanente menos o ativo permanente (contas reclassificadas).

9. Qual a relação existente entre a necessidade de capital de giro e o próprio capital de giro quando o efeito tesoura é zero? E quando o efeito tesoura é negativo?

Page 27: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

10. Uma necessidade de capital de giro elevada acarreta alto índice de liquidez corrente. Certo ou errado?

EXERCÍCIOS

1. Análise do capital de giro

O Quadro 1.4 representa o balanço da empresa Q-Giro, recentemente levan tado. Os principais dados desse balanço mostram clara tendência de estabilidade

quando comparados com os balanços dos dois anos anteriores.

Com base nos dados desse balanço, responda às seguintes questões:

a) Qual o valor do capital de giro da empresa?

b) Alguma parcela do capital de giro está sendo financiada com recursos de longo prazo (exigível a longo prazo ou patrimônio líquido)?

c) Qual o valor do índice de liquidez seca? Como você interpreta o índice calculado?

d) Considerando que no setor em que atua essa empresa, a relação entre capital de giro e capital total (ativo circulante sobre ativo total) é, em

média, 0,27, como você avalia essa relação na Q-Giro?

e) Com base apenas nos dados apresentados, seria possível avaliar a ade quação do volume de estoques dessa empresa?

ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO 35

Quadro 1.4 Balanço patrimonial da empresa Q-Giro - R$ 1,00.

Ativo Passivo

Circulante Circulante

Caixa e bancos 1.455,00 Fornecedores 26.888,00

Aplicações financeiras 11.345,00 Impostos e contribuições 8.679,00

Contas a receber 28.323,00 Instituições financeiras 51.435,00

Estoques 35.665,00 Outras contas a pagar 1.968,00

Total do ativo circulante 76.788,00 Total do passivo circulante 88.970,00

Realizável a longo prazo 4.025,00 Exigível a longo prazo 42.111,00

Permanente Patrimônio líquido

Participações 11.438,00 Capital social realizado 67.666,00

Imobilizado 123.444,00 Lucros acumulados 16.948,00

Total do ativo permanente 134.882,00 Total do patrimônio liquido 84.614,00

Total do ativo 215.695,00 Total do passivo 215.695,00

2. Necessidade de capital de giro e efeito tesoura

Uma empresa apresenta os seguintes dados em seu balanço:

Page 28: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Ativo Passivo

Caixa 1.000,00 Empréstimos 2.000,00

Aplicações financeiras 2.000,00 Fornecedores 1.000,00

Contas a receber 3.000,00 Salários e encargos 3.000,00

Estoques 4.000,00 Impostos e taxas 1.000,00

Realizável a longo prazo 2.000,00 Exigível a longo prazo 4.000,00

Imobilizado 8.000,00 Patrimônio líquido 9.000,00

Total 20.000,00 20.000,00

Com base nesses dados, calcule:

a) A necessidade de capital de giro.

b) O efeito tesoura.

2

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS

A RECEBER

Um dos componentes mais expressivos do capital de giro de uma empresa são as contas a receber provenientes de suas vendas a prazo. A administração de con tas a receber a ser tratada neste capítulo aborda principalmente o crédito comer cial concedido às pessoas jurídicas.

Uma boa administração de contas a receber deve incluir, além da execução,

as funções de planejamento e controle, para que as vendas pelo crédito comercial

proporcionem resultados efetivos.

A cobrança é a principal função operacional de contas a receber. A formula ção da política de crédito e o acompanhamento de seus resultados são as funções

típicas de planejamento e controle de contas a receber.

2.1 POLÍTICA DE CRÉDITO

Para a empresa vendedora, o prazo de pagamento concedido a seus clientes

representa uma operação financeira denominada crédito comercial.

O conjunto das condições sob as quais a empresa efetua suas vendas a prazo constitui sua política de crédito comercial.

As diretrizes de uma política de crédito comercial têm por objetivo atingir de terminadas metas financeiras e comerciais. Desse modo, a política de crédito comer cial da empresa está subordinada a suas estratégias de marketing e de finanças.

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER 37

A política de crédito de uma empresa, por meio de seus diversos elementos,

afeta de modo significativo sua participação no mercado, seu capital de giro, sua

Page 29: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

situação de caixa e sua rentabilidade.

O principal efeito de uma política de crédito é seu impacto sobre a lucrativi dade da empresa. Esta será afetada pelo custo do financiamento do capital de giro, pela rentabilidade das vendas e pelo percentual de perda com devedores incobrá veis.

Se a empresa adotar uma política de crédito liberal, conseguirá maior volume

de vendas às custas de maior risco de inadimplência. Ao contrário, uma política de

crédito restritiva trará baixo risco de inadimplência, mas reduzirá as vendas.

Uma política de crédito ótima seria aquela capaz de incentivar ao máximo as vendas com o mínimo de perdas por inadimplência. Existem alguns métodos teóri cos para otimizar a política de crédito. Entretanto, a utilidade prática desses méto dos fica comprometida, porque eles exigem que a empresa conheça a probabilida de de perda com dívidas incobráveis.

Teoricamente, é possível realizar simulações para verificar o resultado de po líticas alternativas de crédito. Para isso, são usadas estimativas de vendas a crédi to, margens de lucro e probabilidades de perdas com dívidas incobráveis.

Quanto melhor for a situação financeira da empresa, mais liberdade ela terá para estabelecer sua política de crédito. Nesse caso, ela não precisará seguir os pa drões de crédito do setor em que atua, podendo aproveitar todo o potencial de ga nho do mercado.

2.1.1 Conceitos básicos

A seguir, são apresentados os conceitos utilizados nos diversos tópicos deste

capítulo.

O conceito de margem de contribuição será aprofundado no Capítulo 10 - Administração do Lucro.

a) Prazo médio de cobrança

Dependendo das condições de mercado, a empresa pode conceder a seus clientes prazos de pagamento diferenciados de acordo com o tipo de produto. O prazo médio de cobrança de uma empresa é a média ponderada dos prazos de re cebimento de suas vendas pelo crédito comercial. E calculado do seguinte modo:

pmc=

VT

38 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

onde: Pmc = prazo médio de cobrança

V V V ..., V,, = valores a receber pelos prazos P P P ..., VT = valor total a receber

P P P ..., P = prazos de recebimento

Exemplo: Calcular o prazo médio de cobrança de uma empresa cujas vendas mensais têm a seguinte composição de valores e prazos:

R$ 300.000,00 a 30 dias

Page 30: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

R$ 100.000,00 a 10 dias

R$ 200.000,00 a 50 dias

Usando a fórmula de cálculo, temos:

Pmc - ( x 30) + (100.000 x 10) + (200.000 x 50

- 600.000

Pmc = 33,33 dias

b) Giro de Contas a Receber

O giro de contas a receber é o parâmetro que indica quantas vezes no ano acontece a rotação do estoque de contas a receber. E calculado da seguinte forma:

Gcr = 360 ± Pmc

onde: Gcr = Giro de Contas a Receber

Pmc = Prazo médio de cobrança

Tomando-se os dados do exercício anterior, o giro de contas a receber é:

Gcr = 360 ± 33,33 = 10,80

O parâmetro calculado indica que o estoque de contas a receber dessa empre sa gira aproximadamente 11 vezes num ano.

c) Investimento em Contas a Receber

O parâmetro que representa o valor dos recursos financeiros gastos especifi camente para comprar ou produzir, para então vender pelo crédito comercial, é

denominado investimento em contas a receber.

Considerando que o custo fixo é independente do volume de produção, ou

operação da empresa, o investimento em contas a receber corresponde aos custos

variáveis, aqueles que são efetivamente incorridos para produzir ou operar. Assim,

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER 39

o valor do investimento direto efetuado pela empresa em contas a receber é menor do que o valor desse contas a receber.

O cálculo do investimento em contas a receber é realizado da seguinte forma:

Icr = Cv ÷ Gcr

onde: Icr = investimento em contas a receber

Cv = custo variável de contas a receber

Gcr = giro de contas a receber

Considerando o custo de contas a receber como um dado já definido, o valor do investimento nesse ativo dependerá de seu giro. Como o giro de contas a rece ber depende do prazo médio de cobrança, quanto maior for este último, maior será o investimento em contas a receber.

Page 31: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Exemplo: As vendas de uma empresa têm um prazo médio de cobrança de 45 dias. O valor de suas vendas anuais é R$ 1.200.000,00 e o custo variável é de 60%

do valor dessas vendas. Seu investimento em contas a receber será:

Giro de contas a receber:

Gcr = 360 ÷ 45 = 8

Custo variável das contas a receber:

Cv = 0,6 x 1.200.000,00 = 720.000,00

Investimento em contas a receber:

Icr = 720.000 ÷ 8 = 90.000,00

d) Margem de contribuição

A diferença entre o preço de venda e o custo variável por unidade de um pro duto ou serviço é chamada margem de contribuição unitária.

O somatório das margens de contribuição de todos os produtos ou serviço de uma empresa resulta num valor destinado a cobrir os custos fixos e proporcionar o

lucro.

O planejamento e a avaliação de decisões referentes à política de crédito co mercial utiliza o conceito de margem de contribuição.

A margem de contribuição unitária é calculada pela seguinte fórmula:

Mc = Pv - Cvu

onde: Mc = margem de contribuição unitária

Pv = preço de venda

Cvu = custo variável unitário

40 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

2.1.2 Elementos de uma política de crédito

Uma política de crédito contém diretrizes de natureza mercadológica e finan ceira que têm efeito sobre vários parâmetros econômico-financeiros da empresa. Volume de vendas, necessidade de capital de giro, disponibilidade de caixa e gera ção de lucro são alguns dos parâmetros afetados pela política de crédito.

A hierarquização dos mencionados parâmetros para fins de formulação da

política de crédito varia de empresa para empresa. Além disso, uma política de cré dito pode não ter objetivos permanentes.

Por sua vez, os vários elementos de uma política de crédito precisam ter sua

importância hierarquizada, o que varia de empresa para empresa, ou de setor para

setor.

Os principais elementos de uma política de crédito são descritos a seguir.

Page 32: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

a) Prazo de recebimento

O prazo concedido aos clientes para fazer seus pagamentos é um dos pilares da política de crédito de uma empresa, pois afeta vários de seus parâmetros econô micos.

Em determinados setores empresariais, o prazo de pagamento concedido aos

clientes é padronizado. Assim, as empresas do setor terão pouca liberdade para fi xar prazos de pagamentos menores do que o padrão, sob pena de perder mercado.

A concessão de prazos de pagamento maiores do que os praticados no setor

poderá ser adotada, desde que a situação financeira da empresa vendedora o per mita.

O alongamento dos prazos de pagamento para os clientes acarreta maior in vestimento em contas a receber, com reflexos na necessidade de capital de giro da

empresa e nos custos financeiros correspondentes.

b) Critérios de aprovação de crédito

As empresas adotam critérios variados para aprovar a concessão de crédito

comercial a um novo cliente.

O critério dominante entre as pequenas e médias empresas para aprovação de crédito é a análise do cadastro da empresa candidata à compra a prazo.

Num estágio intermediário de avaliação de crédito, são acrescentadas à análise

do cadastro algumas informações complementares da empresa em avaliação, como,

por exemplo, seu faturamento, perspectivas comerciais e principais clientes.

O estágio mais avançado de avaliação de crédito acrescenta às informações de cadastro um completo estudo econômico-financeiro da empresa candidata ao

crédito comercial. Esse estudo é denominado análise de crédito.

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER 41

Com base nas informações extraídas das demonstrações contábeis da empre sa avaliada, a análise de crédito fornece um prognóstico de sua situação econômi co-financeira, que permite conhecer antecipadamente sua capacidade de pagar seus credores num futuro próximo.

c) Limite de crédito

Para reduzir o risco com possível inadimplência dos clientes, a empresa ven dedora precisa estabelecer um valor máximo de venda para cada um deles.

O valor do crédito comercial concedido a uma empresa precisa estar compatí vel com sua situação financeira. Assim, ele deve ser coerente com o valor do patri mônio líquido e das vendas da empresa candidata ao crédito.

A justificativa para a fixação de um limite superior de crédito para cada clien te é perfeitamente aceitável. Entretanto, não existe um critério confiável para a de terminação do limite superior de crédito.

Page 33: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Algumas empresas limitam a concessão de crédito comercial a 50% do patri mônio líquido da empresa compradora, mas não existe comprovação de que esse

limite percentual seja o adequado.

Também deve ser levado em conta que uma mesma empresa pode comprar a

crédito de vários fornecedores, e as empresas vendedoras não costumam conhecer

o valor dessas compras.

Na prática, o limite superior de crédito acaba sendo fixado de forma subjeti va, com base na análise do caso específico.

A fixação de um valor mínimo de crédito é praticada porque a empresa ven dedora incorre em custos fixos (emissão dos documentos de cobrança, tarifa ban cária para a cobrança etc.) para realizar uma operação de crédito.

A justificativa para o estabelecimento de um valor mínimo de crédito é que o lucro gerado por uma operação de venda a crédito precisa cobrir os custos adicio nais gerados pela venda. Esses custos precisariam ser cobertos pelo lucro gerado pela operação que lhes deu origem.

Embora largamente utilizada, a política de valor mínimo de crédito não tem embasamento rigoroso. Ela pode ser contestada com o argumento de que os custos de processamento e recebimento de duplicatas já estariam diluídos por todas as vendas e, portanto, cobertos pelos preços praticados.

As empresas que praticam a política de valor mínimo de venda a prazo não fa zem cálculo rigoroso do custo de processamento e recebimento de duplicatas. Por

isso, o valor mínimo é estabelecido de forma empírica.

42 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

d) Condições financeiras do crédito

Uma política de crédito precisa definir as condições financeiras da venda a

prazo, tais como descontos por pagamento antecipado e juros de mora para os pa gamentos efetuados com atraso.

Apesar de as condições financeiras do crédito serem, geralmente, considera das elementos acessórios da política de crédito, elas podem ter grande influência

sobre o quadro financeiro da empresa vendedora.

Quando o cliente antecipa um pagamento para obter um desconto, está fa zendo uma aplicação financeira. Essa operação representa captação de recursos fi nanceiros para a empresa vendedora. Desse modo, uma taxa de desconto maior do que a taxa de aplicação no mercado financeiro e menor do que a taxa de captação de recursos financeiros será interessante para as duas partes.

Tendo em vista as significativas diferenças entre taxa de captação e taxa de aplicação no Brasil, existe espaço para que a taxa de desconto para antecipação de pagamento seja fixada num valor mutuamente vantajoso para as empresas vende dora e compradora.

Page 34: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A fixação de juros de mora para o pagamento de duplicatas em atraso precisa atender a dois requisitos. Primeiro, os juros de mora devem ser maiores do que os juros bancários para não estimularem atrasos voluntários. Depois, esses juros não devem ser extorsivos para não afetar o relacionamento comercial com os clientes.

e) Tratamento dispensado aos clientes inadimplentes

A política de crédito também estabelece as ações a serem tomadas em relação

ao clientes inadimplentes.

Métodos de cobrança e critérios para protesto de duplicatas vencidas são es tabelecidos pela política de crédito da empresa.

No passado, havia tendência generalizada das empresas a dispensar trata mento duro aos clientes inadimplentes. Entretanto, essa prática perdeu seu prestí gio, dando lugar à filosofia de negociação.

2.1.3 Planejamento e avaliação de política de crédito

O prazo de pagamento concedido ao cliente e o grau de rigor na concessão de crédito têm efeitos conflitantes sobre o resultado da empresa.

Quando a empresa vendedora aumenta o prazo de pagamento concedido aos clientes, ocorre aumento das vendas, mas em contrapartida aumenta o volume de contas a receber. O lucro esperado pelo aumento das vendas precisa ser compara do com o acréscimo do custo-oportunidade do investimento em contas a receber.

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER 43

Se a empresa adotar uma política de crédito mais liberal, também haverá expansão das vendas e aumento do volume de contas a receber. Nesse caso, não haverá aumento do prazo de cobrança. O lucro adicional da expansão das vendas precisa ser comparado com o acréscimo do custo-oportunidade do investimento em contas a receber e com as perdas geradas pelas dívidas incobráveis, oriundas de uma política de crédito mais liberal.

A implantação ou alteração de uma política de crédito comercial precisa ser

precedida de análise que indicará o resultado esperado.

A maior dificuldade para a avaliação dos resultados de uma política de crédito é estimar o crescimento das vendas e das perdas com inadimplência. Um meio de contornar essa situação é avaliar os resultados de algumas hipóteses de correlação entre os elementos da política de crédito, o aumento das vendas e a inadimplência.

Os exemplos seguintes mostram como fazer a análise do resultado de uma

alteração na política de prazo de pagamento concedido ao cliente e de mudança

no critério de aprovação de crédito.

a) Efeito de mudança no prazo de cobrança

Suponhamos que uma empresa esteja com alguma capacidade ociosa e pretenda aumentar o prazo de pagamento concedido a seus clientes de 30 para 60 dias, estimando que essa mudança provoque crescimento de 10% nas vendas, que atualmente são de R$ 900.000,00 por ano.

Page 35: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A margem de contribuição dessa empresa é de 30% sobre o valor das vendas e o custo-oportunidade do capital imobilizado é de 15% ao ano. O Quadro 2.1 apresenta o resultado do aumento do prazo de cobrança (aumento da margem de contribuição menos aumento do custo-oportunidade do investimento em contas a receber).

Quadro 2.1 Resultado do aumento do prazo de cobrança.

Cobrança

.

30 dias

Cobrança

.

60 dias

,

Acrescimos

Vendas anuais

900.000,00

990.000,00

Margem de contribuição (30%)

270.000,00

297.000,00

27.000,00

Giro de e/receber

12

6

Investimento em contas a receber (*)

52.500,00

115.500,00

Custo-oportunidade do investimento em

9.450,00

e/receber

7.875,00

17.325,00

Resultado do aumento de prazo de cobrança

17.550,00

(*) (70% das vendas - giro de contas a receber).

Page 36: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

44 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

b) Efeito de mudança no critério de aprovação do crédito

Suponhamos agora que essa mesma empresa pretenda afrouxar os padrões usados para liberação de crédito a seus clientes. Com essa medida, ela espera conseguir aumento de 5% nas vendas, que atualmente são de R$ 900.000,00 por ano. Em contrapartida, ela estima um aumento de 1 para 2% no percentual de perdas com clientes inadimplentes.

A margem de contribuição da empresa e o custo-oportunidade do capital

continuam sendo, respectivamente, de 30% sobre as vendas e 15% ao ano. O

prazo de cobrança é de 30 dias, antes e depois do afrouxamento do crédito.

O Quadro 2.2 apresenta o resultado da mudança no critério de aprovação do crédito (aumento na margem de contribuição menos aumentos no custo-oportuni dade do investimento em contas a receber e em perdas com devedores incobráveis).

Quadro 2.2 Avaliação do resultado de liberação do crédito.

S/ liberação C/ liberação Acréscimos

Prazo de cobrança 30 dias30 dias

Vendas anuais900.000,00 945.000,00

Margem de contribuição (30%) 270.000,00 283.000,00 13.500,00

Giro de c/receber 12 12

Investimento em contas a receber (*) 52.500,00 55.125,00

Custo-oportunidade do investimento

em c/ receber 7.875,00 8.268,75 393,75

Perdas com devedores incobráveis

(1 e 2% s/ vendas) 9.000,00 18.900,00 9.900,00

Resultado da liberação do crédito 3.206,25

(*) (70% das vendas ÷ giro de contas a receber).

2.2 ANÁLISE DE CRÉDITO

A política de crédito trata das condições gerais de concessão de crédito aos

clientes. A decisão de conceder crédito a determinado cliente requer avaliação

específica desse cliente.

Análise de crédito é uma técnica de previsão que permite à empresa vende dora estimar a capacidade de pagamento a curto prazo do pretendente ao crédito.

A utilização da análise de crédito é justificada pelo fato de que apenas a análise

cadastral não é suficiente para avaliar a capacidade de pagamento do pretendente.

Qualquer análise de cadastro informa apenas uma situação passada. A análi se de crédito permite que a empresa vendedora tenha alguma estimativa sobre a

Page 37: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

situação financeira futura de um pretendente com um cadastro recomendável.

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER 45

A análise de crédito não é um método exato para avaliação do risco de crédi to. Desse modo, não deve ser encarada como um guia infalível para apoiar as deci sões de concessão de crédito.

Embora seja uma ferramenta muito útil, a análise de crédito tem algumas li mitações, como será mostrado adiante neste capítulo.

2.2.1 Técnicas de análise de crédito

A análise de crédito para empresas utiliza a análise das demonstrações contá beis como principal elemento de apoio. A análise de crédito para pessoas físicas é menos técnica, porque é realizada com um conjunto menor e mais incerto de infor mações.

Para que a decisão de crédito possa ter melhor embasamento, os aspectos

quantitativos da análise de crédito devem ser adicionados a informações de natu reza qualitativa.

Em geral, observa-se na análise de crédito a preponderância dos aspectos

quantitativos sobre os qualitativos. Entretanto, não há comprovação de que essa

prática produza melhores resultados.

a) Análise das demonstrações contábeis

Com base nos índices obtidos da análise das demonstrações contábeis, é pos sível estimar se uma empresa conseguirá pagar suas dívidas.

Os índices utilizados pertencem a três grupos: índices de liquidez, índices de

endividamento e índices de rentabilidade.

Para fins de avaliação, os índices dividem-se em dois grupos: quanto maior,

melhor e quanto menor, melhor.

No grupo quanto maior, melhor, estão os índices de liquidez e rentabilidade.

Os índices de endividamento pertencem ao grupo quanto menor, melhor.

Os índices de liquidez foram apresentados no Capítulo 1 - Administração de Capital de Giro. Os índices de endividamento estão mostrados no Capítulo 6- Fi nanciamentos. Os de rentabilidade constam do Capítulo 10 - Administração do Lucro.

A análise das demonstrações contábeis fornece com facilidade prognósticos quando a situação financeira da empresa analisada é muito boa, ou muito ruim. Sua maior dificuldade é projetar o futuro de uma empresa quando seus índices es tão situados numa faixa intermediária de qualidade.

Não existem padrões para os vários índices obtidos com a análise das de monstrações contábeis. Sua interpretação exige do analista capacidade de obser vação e conhecimento do setor empresarial em que atua a empresa.

46 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Page 38: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

b) Modelos estatísticos de análise financeira

Quando os índices obtidos da análise das demonstrações contábeis são todos positivos, ou todos negativos, o prognóstico é imediato. Por exemplo, se uma em presa tem boa liquidez, rentabilidade satisfatória e baixo grau de endividamento, sua avaliação de crédito será positiva.

Muitas vezes, porém, os diversos índices apresentam resultados desencontra dos. Uma empresa pode possuir bom índice de rentabilidade, ao lado de alto grau de endividamento e índices ligeiramente satisfatórios de liquidez. Nesse caso, a conclusão da análise de crédito é bem mais difícil.

Uma solução para o problema dos índices de análise financeira com índices fi nanceiros desencontrados é a utilização de modelos estatísticos de análise finan ceira.

Esses modelos baseiam-se numa técnica estatística denominada Análise Dis criminante, que correlaciona a ocorrência de falência de uma empresa a determi nadas combinações de índices financeiros por elas apresentados.

Cada modelo estatístico de análise financeira fornece determinado fator para

a empresa analisada. Dependendo do valor desse fator, é possível prever se a em presa se tomará insolvente num horizonte de um a três anos à frente.

No Brasil, os dois modelos estatísticos de análise financeira mais conhecidos

foram desenvolvidos por Stephen Charles Kanitz e José Pereira da Silva.

O modelo de Stephen Charles Kanitz é aplicável a empresas de qualquer setor e utiliza cinco índices financeiros. Já o estudo de José Pereira da Silva utiliza dois modelos, um para empresas comerciais e outro para empresas industriais e infor ma a possibilidade de ocorrer a insolvência em até três anos subseqüentes àquele a que se referem as demonstrações contábeis analisadas.

O modelo de Kanitz é o seguinte:

F = (0,05 x 11) + (1,65 x 12) + (3,55 x 13) - (1,06 x 14) - (0,33 x 15)

sendo: F = fator de insolvência

Lucro Líquido

11 = Indice de rentabilidade do capital proprio = _________________

Patrimônio Líquido

Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo

12 = Indice de liquidez geral = ________________________________________

Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo

Ativo Circulante - Estoques

13 = Indice de liquidez seca = __________________________

Passivo Circulante

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER 47

Page 39: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Ativo Circulante

14 = Indice de liquidez corrente =

Passivo Circulante

Exigível Total

15 = Indice de endividamento total =

Patrimônio Líquido

Para a interpretação do fator de insolvência, são consideradas três faixas de

risco:

o Baixa probabilidade de insolvência: quando F maior que O.

o Pequena probabilidade de insolvência: F entre - 3 e O.

o Alta probabilidade de insolvência: F menor que - 3.

Existem outros modelos baseados em análise discriminante, principalmente desenvolvidos por pesquisadores norte-americanos. Dadas as particularidades da economia de cada país, os modelos de previsão de insolvência apoiados em análise discriminante não têm aplicação universal.

c) Pontuação de crédito

As decisões de crédito a pessoas físicas utilizam um processo de análise dife rente daquele empregado para as empresas.

Uma decisão de crédito pessoal necessita da análise de um extenso leque de

fatores que podem afetar a capacidade de pagamento do proponente.

Os métodos simples de análise de crédito pessoal baseados apenas no históri co de crédito do pretendente têm-se revelado insatisfatórios.

Uma técnica de análise de crédito pessoal mais poderosa é conhecida como

pontuação de crédito (credit scoring) . Foi desenvolvida há alguns anos nos Estados

Unidos e hoje sua utilização é universal.

O sistema de pontuação de crédito representa um refinamento do método tradi cional de avaliação de análise de crédito pessoal, que é um processo muito intuitivo.

O funcionamento do sistema de pontuação de crédito baseia-se no tratamen to estatístico de um conjunto de dados sobre o comportamento de uma amostra de

tomadores de crédito.

Pelo tratamento estatístico dos dados é possível correlacionar várias caracterís ticas dos tomadores de crédito com o pagamento de seus débitos. Ainda com base

nessa mesma análise estatística, são atribuídas pontuações a essas características.

A análise baseia-se no tratamento estatístico dos dados do proponente - valor e tipo dos créditos contratados, histórico de pagamentos, registros de ações de co brança etc., - e

Page 40: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

compara essas informações com o comportamento de pessoas com perfil similar. Cada fator favorável recebe uma pontuação que vai formar o score de

48 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

crédito do candidato. Um relatório de crédito é então gerado, fornecendo a pon tuação do proponente.

O sistema de pontuação de crédito pode ser utilizado por empresas especiali zadas, ou operado pela empresa usuária.

2.2.2 Implementação da análise de crédito

A análise de crédito pode ser conduzida pela própria empresa usuária, ou ser

contratada de entidades especializadas.

A manutenção de um departamento para efetuar toda a análise de crédito só se justifica economicamente quando a empresa tem grande volume de vendas. A prática mais comum é a empresa adquirir as informações básicas para a decisão de crédito de empresas especializadas, e avocar para si a decisão de crédito.

Quando a empresa realiza todo o trabalho de análise de crédito, o porte da empresa analisada determinará o grau de dependência de fontes específicas para a obtenção de dados e informações. Se a empresa analisada tem ações negociadas em bolsa de valores, ela é obrigada a manter uma política de abertura de informa ções ao público.

As empresas de grande porte, ainda que de capital fechado, têm naturalmen te uma grande visibilidade, o que permite que sua situação financeira seja de co nhecimento geral.

As informações sobre as pequenas e médias empresas têm naturalmente me nor grau de abertura, o que torna sua análise mais difícil. A análise de crédito para essas empresas pode ser auxiliada por informações obtidas de bancos, clientes e fornecedores.

A análise de crédito efetuada por empresas especializadas produz um conjun to consolidado de informações sobre a empresa analisada, unificando assim as vá rias informações necessárias à concessão de crédito.

Um relatório típico de uma empresa especializada em análise de crédito contém:

o Índices financeiros de solvência, endividamento, rentabilidade da em presa analisada e distribuição estatística desses índices entre as empre sas do mesmo setor.

o Informações comerciais (apontamento ou protesto de títulos).

o Informações mercadológicas.

Outro fator a ser considerado na análise de crédito é a qualidade da adminis tração da empresa examinada. E sabido que empresas que têm administração insa tisfatória têm um potencial de risco maior. Além disso, esse risco não pode ser quantificado.

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER 49

A decisão sobre concessão de crédito, mesmo quando tomada com base nas técnicas da análise de crédito, sempre comportará alguma dose de intuição. Ne nhum número é completo o suficiente para abranger todos os fatores envolvidos na decisão de crédito.

Page 41: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A experiência da empresa vendedora com a concessão de crédito é extrema mente valiosa para orientar suas decisões e permite que ela aperfeiçoe continua mente seu processo de aprendizado sobre a arte de conceder crédito.

2.2.3 Administração do risco de crédito

Quando a análise de crédito não recomenda a concessão de crédito comercial

ao proponente, a empresa vendedora pode contornar o problema solicitando do

comprador a apresentação de garantias reais.

Os principais instrumentos utilizados como garantia de crédito são o aval, a fiança bancária e a caução. Dos três instrumentos de garantia mencionados, a fian ça bancária é o único que tem um custo explícito para a empresa compradora que a contrata. A caução, representada por depósito em títulos ou dinheiro, terá direito a remuneração correspondente a uma aplicação no mercado financeiro.

Embora os instrumentos de garantia de crédito possam reduzir ou eliminar o risco de inadimplência, sua utilização é trabalhosa e tende a emperrar a operação de venda a crédito. Por esse motivo, essas garantias devem ser utilizadas em situa ções especiais e não como uma prática comercial rotineira.

O risco associado ao crédito comercial também é afetado pelo grau de concen tração das vendas a crédito pelos clientes. Uma empresa que tem suas vendas distri buídas de forma mais ou menos equilibrada entre vários clientes terá naturalmente risco menor do que aquela que tem vendas concentradas em poucos clientes.

Caso suna a concentração de vendas em determinado cliente, ou num grupo

reduzido de clientes que represente percentual significativo do faturamento da

empresa, a análise de crédito deverá ser mais rigorosa.

2.2.4 Limitações da análise de crédito

Não obstante seu crescente prestígio, a análise de crédito tem algumas limita ções. Como acontece com toda técnica de previsão, a análise de crédito tem como principal objetivo fornecer as melhores estimativas possíveis acerca do futuro. Entretanto, não existe metodologia de previsão que consiga precisão total em seus prognósticos.

Como mostramos, um dos principais suportes da análise de crédito é a análise das demonstrações contábeis. Essa ferramenta, somada a outros fatores, é respon sável pelas limitações da análise de crédito. As principais causas dessas limitações são as seguintes:

50 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

a) Desatualização dos demonstrativos contábeis

As demonstrações contábeis retratam o quadro econômico-financeiro da em presa em determinada data. Assim, quando o balanço é publicado, seus dados mostram uma situação financeira passada. Esses dados são utilizados pela análise de crédito para fazer suas previsões acerca da empresa analisada. Em muitos ca sos, a análise de crédito é efetuada com base em um balanço com quase um ano de defasagem.

b) Qualidade das demonstrações contábeis

Page 42: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Para que a análise de crédito seja eficaz, os dados de balanço utilizados preci sam estar corretos para expressar a verdadeira situação financeira da empresa

analisada.

Presumivelmente, a validação das demonstrações contábeis por um auditor independente torna-as mais confiáveis. Entretanto, a maioria das empresas de pe queno e médio porte não tem suas demonstrações financeiras auditadas. Apesar disso, essas demonstrações contábeis têm aceitação generalizada.

c) Impossibilidade de previsão de mudanças bruscas

A análise de crédito não consegue captar mudanças bruscas que eventual- mente venham a acontecer na situação financeira de uma empresa. Crises agudas na economia do país e alterações repentinas e acentuadas do mercado da empresa são exemplos de fatores que não podem ser previstos pela análise de crédito.

Quando a análise de crédito faz um prognóstico da situação financeira de

uma empresa, fica implícito que ele será válido desde que sejam mantidas as prin cipais condições econômicas existentes no momento de sua formulação.

A'guns setores econômicos estão naturalmente sujeitos a maior grau de insta bilidade. Por exemplo, empresas que produzem commodities, ou que utilizam tec nologia avançada em seu processo de operação são mais propensas a sofrer altera ções repentinas em sua situação financeira.

2.3 ADMINISTRAÇÃO DA COBRANÇA

A última etapa do trabalho do administrador na atividade de contas a receber

é a administração da cobrança.

Embora seja uma atividade fundamentalmente operacional, a cobrança tam bém requer planejamento e controle para torná-la eficaz.

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER 51

2.3.1 Fatores organizacionais

As vendas a prazo de uma empresa podem ser recebidas em carteira ou por meio do sistema bancário. A escolha da forma de cobrança dependerá de fatores específicos da empresa vendedora, como estrutura organizacional, custo opera cional, filosofia de marketing etc.

A estrutura organizacional do setor de cobrança depende do tipo de cobrança

usado pela empresa (em carteira ou bancária), do perfil de seus clientes (grandes

ou pequenas empresas) e de seu grau de informatização.

O tipo de cobrança bancária também afeta a estrutura organizacional do se tor de cobrança. Geralmente, grandes empresas têm sistemas de contas a pagar que dispensam os fornecedores de colocar os títulos em cobrança. O pagamento é efetuado mediante crédito na conta corrente indicada pelo fornecedor. Se parcela significativa dos clientes de uma empresa usa esse tipo de contas a pagar, ela terá um contas a receber mais enxuto.

Page 43: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Boa parte da força de trabalho existente na atividade de cobrança ainda é uti lizada na realização de atividades repetitivas. Com o avanço da tecnologia de co municação, o processo de cobrança tende a simplificar-se e a diminuir custos ope racionais.

2.3.2 Fatores econômicos

Quando a cobrança é efetuada em carteira, seu custo é representado pelos

dispêndios da empresa com a operação do sistema de pessoal e apoio. Essa forma

de cobrança, como já mencionado, tende ao desaparecimento.

A cobrança bancária tem um custo que é cobrado mediante uma tarifa explí cita, ou retenção da cobrança, ou de parte dela por um dia.

Outra alternativa para os bancos receberem pelo serviço de cobrança bancá ria é remunerar a cobrança retida por uma taxa de juros inferior àquela praticada

no mercado.

A quantificação do custo da cobrança bancária pode ser feita sem dificulda des quando o relacionamento com a instituição financeira não inclui outras opera ções, como captação ou aplicação de recursos financeiros a taxas diferentes daque las de mercado.

Quando não houver custo de cobrança disfarçado no custo de outras opera ções, é possível calcular o custo médio unitário de cobrança por título, em bases

prospectivas ou retrospectivas. A fórmula seguinte permite fazer esse cálculo:

( - ir) x Tr

Cct = __________

n

52 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

onde: Cct = custo de cobrança por título (valor médio)

ia = taxa de juros das aplicações financeiras sob a forma unitária (média

diária)

ic = taxa de juros da cobrança retida sob a forma unitária (média diária)

Tr = total retido da cobrança (média diária)

n = total de títulos em cobrança (média diária)

Exemplo: Uma empresa manteve ao longo de determinado mês uma média diária de 26 duplicatas em cobrança. O valor médio diário de cobrança retida foi de R$ 68.000,00. Nesse mês, as aplicações financeiras da empresa renderam uma taxa média diária líquida de 0,052% ao dia. No acordo com o banco, ele libera 100% da cobrança um dia após o recebimento e paga a título de remuneração da cobrança retida apenas 40% da taxa média das aplicações da empresa no dia.

Solução:

Taxa média diária da remuneração da cobrança: 0,4 x 0,052% = 0,0208%

Page 44: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Custo médio unitário de cobrança de duplicata:

Cct - ( - ir) x Tr - ( - 0,000208) x 68.000 - O 72

- n - 26

O custo da cobrança bancária tende a ser menor que o da cobrança em cartei ra. Isso acontece porque os bancos têm economia de escala na prestação desse ser viço, pois operam para um grande número de empresas.

No caso da cobrança em carteira, o custo operacional também envolve, além

do recebimento dos cheques, sua movimentação e controle.

2.3.3 Análise e controle

A eficiência do processo de cobrança é avaliada pelos índices de desempenho,

relacionando valores, prazos e outros dados de contas a receber em atraso. Esses

índices são comparados com metas estabelecidas, ou com padrões predefinidos.

a) Prazo médio de atraso na cobrança

O prazo médio de atraso no recebimento de duplicatas pode ser calculado do

seguinte modo:

Pma = (V T x P + (V ± T x P + (V ± T x P + ... + (V ± T x P)

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER 53

onde: Pma = prazo médio de atraso

V V V ..., V = valores de cobrança com atraso nos prazosP P P ...,

T = total da cobrança em atraso

Exemplo: Uma empresa tem a seguinte posição de cobrança em atraso:

R$ 30.000,00 a 15 dias

R$ 200.000,00 a 5 dias

R$ 70.000,00 a 30 dias

Como o total de cobrança em atraso é de R$ 300.000,00, seu prazo médio de

cobrança em atraso é:

Pma = (30.000 - 300.000 x 15) + (200.000 ÷ 300.000 x 5) +

+ (70.000 ÷ 300.000 x 30)

Pma = 11,8 dias

QUESTÕES E PROBLEMAS

1. Que condições precisam ser atendidas para que um afrouxamento nos padrões de concessão de crédito acarrete aumento dos lucros da empresa vendedora?

2. As perdas decorrentes de liberação dos padrões de crédito podem ser com pensadas com o aumento do custo financeiro embutido no preço para paga mento a prazo?

Page 45: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

3. As vendas de uma empresa têm a seguinte distribuição: 20% avista, 38% a 30 dias e 42% a 45 dias. Qual é seu prazo médio de cobrança? E seu giro de con tas a receber?

4. A margem de contribuição média de uma empresa é de 35% sobre o valor de suas vendas cujo volume anual é de R$ 720.000,00. Das vendas, 40% são efe tuados a vista e 60% para recebimento em 30 dias. Qual o valor de seu inves timento em contas a receber?

5. Uma indústria dispõe de expressiva folga de caixa e, por isso, com o objetivo de aumentar as vendas, decidiu usá-la para alongar o prazo médio de paga mento concedido a seus clientes. Qual o parâmetro apropriado para medir o aumento de custo decorrente dessa decisão?

6. Uma empresa varejista está com um estoque de produtos para venda excessi vamente elevado. Decide aumentar temporariamente o prazo de pagamento concedido a seus clientes, sem promover nenhum acréscimo no preço. Quais são os custos a serem afetados por essa decisão e como eles se comportarão?

54 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

7. A margem média de contribuição de uma empresa é de 28% sobre as vendas. Que efeito acarretará sobre seu resultado um aumento de 6% em suas vendas?

8. Que opção teria uma empresa para não estabelecer um valor mínimo de cré dito e compensar as perdas acarretadas por um custo de processamento

maior do que o lucro da operação de venda a crédito com valor reduzido?

9. Assinale as afirmações corretas:

São elementos de uma política de crédito:

(a) Desconto por antecipação de pagamento.

(b) Análise dos demonstrativos contábeis.

(c) Cruzamento de informações comerciais.

(d) Fixação de limite de crédito por cliente.

10. O desconto concedido por antecipação de pagamento pode ter sua taxa deju ros fixada num valor igual à taxa média de aplicação financeira sem risco. Por

que essa prática pode não ser atrativa para o cliente?

11. A análise das demonstrações contábeis de uma empresa mostrou alto índice de rentabilidade do capital próprio e de grau de endividamento ao lado de baixo índice de liquidez. Uma explicação para essa configuração de índices poderia ser a eficiência na utilização de capital de terceiros?

12. "O sucesso da análise de crédito exige de quem a elabora um bom conheci mento da macroeconomia do país e a capacidade de formular previsões eco nômicas acertadas." Está correta essa afirmação?

13. "Uma decisão de crédito baseada num modelo estatístico de análise financei ra pode revelar-se inapropriada. Isso acontece porque esses modelos não conseguem eliminar a incerteza subjacente às decisões de crédito." Essa afir mação é correta?

Page 46: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

14. Qual a principal vantagem do sistema de pontuação de crédito em relação ao método tradicional de avaliação de crédito baseado exclusivamente no histó rico de pagamentos do proponente?

15. Qual a principal desvantagem econômica para a empresa compradora apre sentar a fiança bancária como garantia de crédito para seu fornecedor?

EXERCÍCIO

Decisão sobre ampliação de crédito comercial

A empresa ACR é uma indústria de confecções femininas populares, com atua ção nacional. Sua produção é vendida em lojas e pequenos magazines.

AACR tem um patrimônio líquido de R$ 1,1 milhão, vendas anuais de R$ 2,4

milhões, margem de contribuição de 12% e lucro líquido de 7% sobre as vendas.

ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER 55

Sua administração estabeleceu que a taxa de atratividade da empresa, a ser usada

na avaliação econômica das decisões, é de 15% ao ano.

A empresa BMF Fashion, uma rede de magazines com seis lojas, é o segundo maior cliente da ACR. Ela solicitou à ACR um aumento de 80% no volume de suas compras para pagamento em 30 dias. Atualmente, as compras da BMF Fashion repre sentam 15% das vendas da ACR. Assim, caso a proposta de aumento das compras seja aceita, ela passará a responder por aproximadamente 24% das vendas da ACR.

Uma vez que a ACR está operando no limite de sua capacidade de produção, só poderá atender ao pleito da BMF Fashion, transferindo para esta parte da pro dução que é colocada para outros clientes. A área de vendas estima para esse gru po de clientes uma provisão de perdas com dívidas incobráveis da ordem de 2% das vendas. No caso da ACR, esse percentual hoje é nulo.

Com base nas informações anteriores, responda às seguintes questões:

1. Considerando que a ACR suspenderia as vendas à BMF Fashion após dois me ses de inadimplência, qual o valor máximo da perda que a ACR poderia so frer, caso não recebesse essas vendas?

2. Tomando-se por base seu patrimônio líquido e lucro anual, a perda citada no item anterior teria impacto significativo para a ACR?

3. Caso a proposta da BMF Fashion venha a ser aceita e supondo que o crédito comercial junto à ACR seja normalmente recebido, qual o resultado financei ro dessa decisão em bases anuais, incluindo a eliminação das perdas com dí vidas incobráveis dos clientes que serão substituídos pela BMF Fashion?

3

ADMINISTRAÇÃO DE CAIxA

A administração de caixa numa empresa abrange as atividades de planeja mento e controle das disponibilidades financeiras que é a parcela do ativo circu lante representada pelos depósitos nas contas correntes bancárias e aplicações fi nanceiras de liquidez imediata.

Page 47: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Em virtude de a Contabilidade utilizar o princípio da competência para a rea lização de seus registros, existe uma natural defasagem entre o resultado contábil

e a efetiva situação de caixa da empresa.

Em diversas ocasiões, o administrador financeiro precisa fazer nítida distin ção entre a geração de caixa e de lucro na empresa. Para isso, as informações pro duzidas pela Contabilidade são insuficientes. Cabe à Administração de Caixa pro duzir e utilizar os dados sobre o dinheiro disponível na empresa.

Outra característica da Contabilidade é que ela não precisa apurar resultados

por períodos muito curtos, como um dia ou semana. Entretanto, o administrador

financeiro precisa conhecer a situação do caixa diária ou semanalmente.

Um sistema especial de informações, com destaque para o fluxo de caixa, for nece as informações de que necessita a administração financeira, mas que não po dem ser obtidas com base nas demonstrações contábeis.

ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA 57

3.1 PLANEJAMENTO DE CAIXA

A administração de caixa começa com o planejamento de caixa, atividade que

consiste em estimar a evolução dos saldos de caixa da empresa. Essas informações

são fundamentais para a tomada de decisões.

A necessidade de planejamento de caixa está presente tanto em empresas

com dificuldades financeiras, como naquelas bem capitalizadas.

Para as empresas com problemas financeiros, o planejamento de caixa é o pri meiro passo no sentido de buscar seu equacionamento. Nas empresas em boa si tuação financeira, o planejamento de caixa permite-lhes aumentar a eficiência no uso de suas disponibilidades financeiras.

O planejamento de caixa não é uma atividade fácil, pois lida com grande dose de incerteza. Entretanto, seus benefícios compensam largamente os esforços des pendidos em sua implementação.

3.1.1 Fluxo de Caixa

O fluxo de caixa é um instrumento de planejamento financeiro que tem por objetivo fornecer estimativas da situação de caixa da empresa em determinado pe ríodo de tempo à frente.

As necessidades de informações sobre os saldos de caixa podem ser em base diária para o gerenciamento financeiro de curto prazo, ou períodos mais longos, como mês ou trimestre, quando a empresa precisa fazer um planejamento por pra zo maior.

O fluxo de caixa é o instrumento capaz de traduzir em valores e datas os di versos dados gerados pelos demais sistemas de informação da empresa.

1- Finalidades do Fluxo de Caixa

Page 48: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

As projeções de caixa da empresa têm várias finalidades. A principal delas é

informar a capacidade que a empresa tem para liquidar seus compromissos finan ceiros a curto e longo prazo.

Outras finalidades do fluxo de caixa são:

a) Planejar a contratação de empréstimos e financiamentos

A contratação de linhas de crédito para suprir as necessidades da empresa

precisa ser feita no tempo e quantidade certos.

58 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

A maioria das linhas de crédito requer algum tempo para sua negociação e

contratação. Por esse motivo, a empresa precisa saber antecipadamente quando

vai usar recursos de terceiros.

O valor das linhas de crédito também precisa ser definido corretamente. Quando a empresa não tem boa previsão de suas necessidades de recursos de ter ceiros, por medida de segurança, tende a contratar em excesso. Entretanto, esse procedimento acarreta perdas, pois os recursos excedentes serão aplicados a uma taxa de juros bem menor do que seu custo.

As duas informações, quando e quanto contratar de financiamentos, podem

ser obtidas do fluxo de caixa.

b) Maximizar o rendimento das aplicações das sobras de caixa

No mercado financeiro, as taxas de juros por unidade de tempo (anuais, men sais etc.) crescem com o prazo de aplicação. Esse crescimento é devido à tendência do investidor em exigir uma taxa de juros maior para poder aplicar seu dinheiro por prazos mais longos.

Quando a empresa não possui previsão sobre a evolução de seus saldos de

caixa, estes serão alocados em aplicações financeiras de resgate diário em que a

rentabilidade é bem menor do que numa de resgate mensal, por exemplo.

Se a empresa utiliza um fluxo de caixa, poderá haver ocasiões em que as pro jeções de caixa permitirão a ela fazer aplicações de sobras de caixa por períodos de

30 ou mais dias.

c) Avaliar o impacto financeiro de variações de custos

Em determinadas situações, a empresa pode ver-se obrigada a não repassar au mentos de custos, sob pena de perder mercado. Nessas condições, ela já decidiu de an temão assumir as perdas acarretadas pelo não repasse do aumento de custos. As infor mações fornecidas pelo fluxo de caixa servirão para mostrar como a decisão de operar com prejuízo ou lucros reduzidos impactará a situação financeira da empresa.

d) Avaliar o impacto financeiro de aumento das vendas

Quando o valor das vendas da empresa aumenta rapidamente, em virtude de

Page 49: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

melhora dos preços, ou aumento da quantidade colocada no mercado, é necessá rio projetar o impacto sobre a posição de caixa.

As informações geradas pelo fluxo de caixa permitirão que a empresa decida a melhor destinação para o excesso de caixa. Aplicá-lo no mercado financeiro, liqui dar dívidas antecipadamente ou fazer investimentos permanentes na expansão ou melhoria dos processos de operação são algumas das alternativas possíveis, depen dendo dos saldos de caixa e respectivo cronograma informados pelo fluxo de caixa.

ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA 59

II- Características do fluxo de caixa

Os principais fatores determinantes do formato do fluxo de caixa são o prazo

de cobertura, sua utilização e a disponibilidade de recursos humanos e materiais a

serem alocados a sua implantação e operação.

Na elaboração de um fluxo de caixa, os seguintes aspectos precisam ser consi derados:

a) Prazo de cobertura e período de informação

Um fluxo de caixa projeta o saldo de caixa para um horizonte de tempo (se mana, mês, ano etc.) que é chamado prazo de cobertura.

Quando o fluxo de caixa tem um prazo de cobertura de uma semana até três meses, é considerado de curto prazo. Se o prazo de cobertura fica entre 91 dias e um ano, o fluxo de caixa é de médio prazo. Um fluxo de caixa de longo prazo tem um prazo de cobertura superior a um ano.

A unidade de tempo em que se divide o prazo de cobertura do fluxo de caixa é

denominada período de informação. Um fluxo de caixa com prazo de cobertura

mensal habitualmente tem um período diário de informação.

A formatação de fluxo de caixa mais comum tem prazo de cobertura de 30

dias corridos e período de informação de um dia.

As combinações entre prazo de cobertura e período de informação mais usuais

são as seguintes:

Prazo de cobertura

Período de informação

Semana

Dia

Quinzena

Dia

Mês

Dia ou semana

Page 50: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Trimestre

Dia, semana ou mês

Semestre

Mês

Ano

Mês ou trimestre

b) Grau de detalhamento das entradas e saídas de caixa

Os dados sobre entradas e saídas de caixa podem ser apresentados de forma

resumida ou detalhada. A medida que aumenta o número de funcões do fluxo de

60 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

caixa, ele precisará ter maior nível de detalhamento para as entradas e saídas de

caixa.

É recomendável que os objetivos do fluxo de caixa limitem-se às informações

sobre a posição de caixa da empresa. Assim, o fluxo de caixa não deve incluir fun ções de controle financeiro.

O fluxo de caixa contém as principais entradas e saídas de caixa periódicas (diárias, semanais, mensais etc.), o estoque inicial de dinheiro da empresa (caixa, depósitos bancários à vista e aplicações financeiras de liquidez diária) e o saldo de caixa no final de cada período de informação (dia, semana, mês etc.).

c) Grau de precisão

O grau de precisão dos dados do fluxo de caixa varia em função de seu prazo de cobertura.

Para o fluxo de caixa mensal, uma variação de até 10% entre os valores pre vistos e realizados é considerada satisfatória. Já no caso de fluxo de caixa trimes tral, semestral ou anual, uma margem de variação de até 15% é aceitável.

d) Funções do fluxo de caixa

O fluxo de caixa deve ser apenas um instrumento de planejamento financei ro. Outras funções como controle da inadimplência, controle bancário, ou mesmo

controle de gastos não devem ser objeto do fluxo de caixa.

Caso a administração financeira precise dos controles financeiros menciona dos, deverá obtê-los de relatórios específicos.

e) Item "diversos"

É recomendável que o item diversos - tanto em entrada como em saída de cai xa - não ultrapasse 10% do respectivo total de entradas e de saídas. Se esse per centual não for observado, a utilidade do fluxo de caixa fica bastante comprometi da, já que passa a ter um dado genérico, não identificado especificamente, com va lor substancial.

f) Dinâmica do prazo de cobertura

Page 51: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O fluxo de caixa de curto prazo pode estar estruturado por prazos de cobertu ra correspondentes a um calendário fixo (dia 1 a 30 do mês), ou por prazos corri dos (5 a 5, 6 a 6 etc.). Usualmente, o fluxo de caixa de curto prazo é apresentado para um período de cobertura corrido.

ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA 61

Por exemplo, um fluxo de caixa mensal com prazo de cobertura corrido e período de informação diário altera sua data inicial e sua data final diariamente. No dia 5 de um mês, o fluxo de caixa cobrirá esse dia 5 até o dia 5 do mês seguin te. No dia 6, abrangerá esse dia até o dia 6 do mês seguinte, e assim sucessiva- mente.

Geralmente, o fluxo de caixa de longo prazo tem o prazo de cobertura com

base no calendário fixo.

III - Relações básicas no fluxo de caixa

Em determinado período de informação, existe a seguinte relação entre os elementos de caixa:

Saldo Inicial de Caixa + Entrada de Caixa - Saída de Caixa =

= Saldo Final de Caixa

Além da relação anterior, há a seguinte relação secundária:

O saldo inicial de caixa de um período de informação é igual ao saldo final de caixa do período anterior.

W - Exemplos de fluxo de caixa

O Quadro 3.1 apresenta um fluxo de caixa de curto prazo, com o prazo de co bertura de 30 dias corridos e período de informação diário. No Quadro 3.2, está apresentado um fluxo de caixa de longo prazo, tendo um prazo de cobertura de um ano e período de informação mensal.

Habitualmente, o fluxo de caixa não inclui o acompanhamento da realização das projeções. Assim, não tem as colunas projetado, realizado e variação. Já o or çamento de caixa, que é tipicamente uma ferramenta de controle, geralmente con tém os valores projetados, realizados e a variação.

62 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Quadro 3.1 Fluxo de caixa de curto prazo - empresa varejista.

Prazo de cobertura mensal e período de informação diário.

Elementos

Dias

1. Entradas de caixa

04/01

05/01

...

Page 52: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

03/02

04/02

Recebimento de vendas a vista

Recebimento de vendas faturadas

Recebimento de vendas com cartão de crédito

Recebimento de vendas pelo crediário

Operações_de_crédito

Resgate de aplicações financeiras

Juros de aplicações financeiras

Recebimento_de_aluguéis

Aporte_de_capital

Outras entradas de caixa

1.1 Total das entradas

2. Saídas de caixa

Fornecedores

Prestadores_de_serviços

Folha de_pagamento

Encargos sociais

Impostos

Antecipação_de_pagamentos

Juros de financiamentos

Pagamento_de_principal

Despesas bancárias

Pagamento_de_aluguel

Água, luz, gás, telefone e internet

Realização_de_aplicações_financeiras

Outras saídas

2.1 Total_das_saídas

3. Saldo de caixa gerado (1.1 - 2.1)

4. Saldo inicial de caixa

5. Saldo inicial de aplicação financeira diária

6. Aplicação ou resgate

7. Saldo inicial de permanência em bancos

Page 53: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

8. Variação da permanência em bancos

9. Saldo_final_de_aplicações_diárias_(5_+_6)

10. Saldo final de permanência em bancos (7 + 8)

Saldo_final_de_caixa_(4_+_9_+_10)

ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA 63

Quadro 3.2 Fluxo de caixa de longo prazo - empresa industrial e de serviços.

Prazo de cobertura anual e período de informação mensal.

Elementos

Meses

1. Entradas de caixa

O1/XX

02/XX

...

11/XX

12/XX

Recebimento de vendas de produtos

Recebimento de vendas de serviços

Operações_de_crédito

Resgate de aplicações financeiras

Juros de aplicações financeiras

Recebimento_de_aluguéis

Aporte_de_capital

Outras entradas de caixa

1.1 Total das entradas

2. Saídas de caixa

Fornecedores

Prestadores de serviços

Folha de_pagamento

Encargos sociais

Impostos

Antecipação_de_pagamentos

Juros de financiamentos

Pagamento_de_principal

Page 54: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Despesas bancárias

Pagamento de aluguel

Água, luz, gás, telefone e Internet

Realização de aplicações financeiras

Outras saídas

2.1 Total das saídas

3. Saldo de caixa gerado (1.1 - 2.1)

4. Saldo inicial de caixa

5. Saldo inicial de aplicações financeiras

6. Aplicação/resgate de aplicações financeiras

7. Saldo inicial de permanência em bancos

8. Variação da permanência em bancos

9. Saldo final de aplicações diárias (5 + 6)

10. Saldo final de permanência em bancos (7 + 8)

Saldo final de caixa_(4_+ 9 +_10)

64 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

3.1.2 Gerenciamento de dados do fluxo de caixa

O fluxo de caixa é um receptor dos dados financeiros gerados por todas as áreas da empresa. Projeções de recebimentos de vendas e pagamentos de com pras, pessoal, serviços de terceiros, juros, impostos, receitas e gastos diversos são informações importadas de diversas áreas da empresa pelo fluxo de caixa.

Quando os mencionados dados estão nos sistemas informatizados da empre sa, sua importação pelo fluxo de caixa é menos trabalhosa, visto que pode haver in tegração entre os sistemas, de modo que automatize o fluxo de dados.

Se os sistemas da empresa não permitem essa integração, os dados precisarão ser impressos de seus sistemas geradores e então serão novamente digitados para alimentar o fluxo de caixa. Desse modo, a não-integração dos sistemas provoca custos e esforços adicionais para a operação do fluxo de caixa.

Mesmo quando a interligação existe, as informações geradas pelos diversos sis temas da empresa nem sempre estão no formato necessitado pelo fluxo de caixa.

Em muitos casos, a administração de caixa precisa fazer suas próprias proje ções com base nos dados atuais e naqueles referentes ao passado.

A Figura 3.1 ilustra um sistema de informações genérico integrado ao fluxo

de caixa.

Vendas

Contas a receber

Page 55: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Compras

Contas a pagar

__________________________ Fluxo de caixa

Folha de pagamento

Financiamentos

Contratos

Tributos e taxas

Figura 3.1 Sistema de informações do Fluxo de Caixa.

ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA 65

Os principais dados do fluxo de caixa e respectivo detalhamento são os se guintes:

a) Projeções de receita de vendas

Dependendo do prazo de cobertura do fluxo de caixa, será necessário incluir

estimativas de vendas ainda não realizadas.

As receitas de vendas a realizar são projetadas com base na previsão de ven das físicas e dos respectivos preços. As projeções do quantitativo de vendas são efe tuadas pela área comercial da empresa e podem fazer parte de seu orçamento anual.

As projeções de preços de venda são efetuadas pela área financeira ou comer cial, de acordo com a prática da empresa.

b) Projeções de recebimentos da cobrança

As estimativas de recebimento de cobrança dos clientes representam as pro jeções de entradas de caixa de curto prazo, e sua principal fonte éo sistema de con tas a receber.

Como o índice de pontualidade de pagamento dos clientes não é 100%, é pre ciso fazer ajustes nos números fornecidos pelo contas a receber. Para isso, é neces sário dispor dos percentuais históricos de recebimento pontual da cobrança.

Em algumas empresas, a inadimplência dos clientes tem proporções signifi cativas e afeta consideravelmente os números do fluxo de caixa.

O recebimento antecipado da cobrança pode ocorrer quando a empresa ado ta uma política de desconto para os clientes que antecipam pagamentos. Nesse caso, uma análise estatística pode ajudar a fazer as estimativas de recebimento an tecipado.

e) Projeções de desembolsos com compras e serviços

Os pagamentos a fornecedores e prestadores de serviço formam o principal

item de saída de dinheiro num fluxo de caixa.

Os desembolsos relativos a compras e serviços, com pagamento já programa do, são informados pela área de contas a pagar. Os desembolsos apenas contratados ou previstos são informados pelas áreas de compras e contratos. Se a empresa tem planejamento orçamentário, ele poderá auxiliar na previsão desses desembolsos.

Page 56: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

66 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

d) Projeções de despesas com pessoal

As projeções de despesas com pessoal são as menos sujeitas a incertezas, por que o quantitativo de pessoal é relativamente estável e o valor dos salários pode

ser previsto com razoável precisão.

Os dados do sistema de folha de pagamento podem ser utilizados pelo fluxo

de caixa sem modificações substanciais.

e) Despesas financeiras

As fontes de dados referentes a despesas financeiras são os contratos de em préstimo e financiamento firmados pela empresa.

Tanto os financiamentos de curto, como os de longo prazo têm seus crono gramas e condições de pagamento definidos, permitindo a obtenção dos dados de

pagamento de principal e juros.

3.1.3 Soluções para a imprecisão do fluxo de caixa

O fluxo de caixa destina-se a produzir estimativas numéricas que são usadas para apoiar a tomada de decisões. Naturalmente, a qualidade dessas decisões de penderá do grau de precisão dessas estimativas.

As informações do fluxo de caixa estão sujeitas à natural imprecisão de toda atividade de planejamento. Por isso, é necessária a adoção de medidas especiais para que o fluxo de caixa proporcione um nível apropriado de precisão e seja efeti vamente útil.

Algumas medidas capazes de melhorar a precisão das projeções do fluxo de

caixa, ou diminuir as dificuldades para lidar com sua incerteza são:

a) Utilizar análise de sensibilidade

O formato tradicional do fluxo de caixa produz uma única projeção, apesar da incerteza que a envolve. Em muitos casos, é preferível utilizar mais de uma pro jeção, vinculando cada uma delas a determinada hipótese.

Embora o uso dessa técnica aumente a quantidade de informações a serem

utilizadas pelo fluxo de caixa, as projeções geradas permitem uma tomada de deci são com mais convicção.

Suponhamos que o fluxo de caixa de uma empresa indique que em determi nado dia o saldo de caixa tem um valor mais provável, um pessimista e outro oti mista:

o Saldo otimista: R$ 230.000,00.

o Saldo mais provável: R$ 210.000,00.

o Saldo pessimista: R$ 190.000,00.

ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA 67

Page 57: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Em muitos casos, uma decisão é tomada com mais segurança com base na in formação de que o saldo de caixa, com certeza, poderá oscilar entre R$ 190.000,00 e R$ 230.000,00. Considerar apenas o saldo de caixa provável (como ocorre com o fluxo de caixa tradicional, com uma única previsão) tornaria a tomada de decisão mais difícil.

b) Utilizar tratamento estatístico de dados

Em alguns casos, os sistemas de informação da empresa não conseguem pro duzir dados apropriados para uso no fluxo de caixa. Uma solução para esse proble ma pode ser o tratamento estatístico das séries históricas de dados para formular as projeções.

c) Criar a ifiosofla de planejamento para o fluxo de caixa

Para que o fluxo de caixa gere dados de boa qualidade, é necessário que a em presa tenha uma cultura de planejamento. Desse modo, será possível gerar dados

e informações úteis, apesar de toda a incerteza.

3.2 CONTROLE DE CAIXA

A atividade de controle de caixa lida com as questões referentes à sobra ou in suficiência de caixa, além de buscar a distribuição adequada dos saldos de caixa

dentro do prazo de cobertura.

O controle de caixa não é uma atividade desvinculada do planejamento de cai xa. De fato, as duas atividades são complementares e interagem continuamente.

3.2.1 Princípios para aplicação das sobras de caixa

Em circunstâncias normais, toda empresa mantém algum volume de dinhei ro disponível sujeito a variações diárias. Esse dinheiro funciona como reserva de

caixa da empresa e sua manutenção é recomendável.

Outras empresas, por venderem a vista e pagar seus fornecedores a prazo,

tendem a manter um volume elevado de disponibilidades financeiras.

Nos dois casos mencionados, o dinheiro disponível é aplicado no mercado fi nanceiro, habitualmente em investimentos sem risco e de curto prazo.

No sistema financeiro brasileiro, existe grande diferença entre as taxas de ju ros da captação e da aplicação de recursos financeiros. Esse fato deve ser explora do adequadamente nas decisões de investimento das sobras de caixa.

68 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Os seguintes princípios devem orientar as aplicações das sobras de caixa de

uma empresa:

a) Aplicar em investimentos sem risco

Toda decisão de investimento defronta com a escolha entre risco e rentabili dade, fatores que variam em sentido inverso.

As aplicações das sobras de caixa são temporárias, às vezes por uma dia ape nas e, por isso, devem ser canalizadas para ativos financeiros sem risco.

Page 58: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Quando a empresa mantém permanentemente em caixa um valor significati vo devido à natureza de seu negócio, deve aumentar ligeiramente sua exposição

ao risco em troca de melhor rentabilidade.

b) A precisão do fluxo de caixa afeta o retorno dos saldos de caixa

Nos casos em que os saldos de caixa informados pelo fluxo de caixa não são

confiáveis, haverá necessidade de manter sobras de caixa ociosas ou fazer aplica ções financeiras de resgate diário.

Por exemplo, uma empresa prevê para os próximos 30 dias que seu caixa es tará sempre positivo e seu valor mínimo será R$ 820.000,00. O desejável seria aplicar esse valor por 30 dias. Se o saldo previsto não é confiável, a empresa redu zirá o valor aplicado para deixar uma margem de segurança, ou fará uma aplica ção diária. Nos dois casos, a rentabilidade será menor.

c) O prazo de cobertura do fluxo de caixa afeta o retorno dos saldos de caixa

É o prazo de cobertura que define o horizonte de visibilidade do fluxo de cai xa. Assim, à medida que aumenta esse prazo, cresce a visibilidade dos saldos de

caixa, permitindo melhor alocação de eventuais sobras de dinheiro.

d) Aplicações fora do mercado financeiro podem ser atrativas

As sobras de caixa podem ser aplicadas vantajosamente fora do mercado fi nanceiro. Se uma empresa usa seu caixa para antecipar pagamentos a fornecedo res, poderá obter uma taxa de desconto bem maior do que a rentabilidade das apli cações financeiras.

As sobras de caixa também podem ser usadas para o financiamento de clien tes, com o alongamento do prazo de pagamento, mediante a cobrança de encargos financeiros. A taxa de juros cobrada pode ser bem maior do que a auferida nas apli cações financeiras.

ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA 69

e) Usar financiamentos pode ser vantajoso

Em alguns casos, o saldo de caixa pode ser insuficiente para completar um pe ríodo exato de aplicação. Se a diferença for pequena, pode ser vantajoso utilizar fi nanciamento de curtíssimo prazo para completar o prazo.

Suponhamos que o fluxo de caixa de uma empresa indica que nos próximos 28 dias corridos ela terá determinado valor mínimo de caixa. A partir do 2 dia, o saldo de caixa se tornará negativo, e a empresa precisará cobri-lo com emprésti mos de curtíssimo prazo.

Caso a aplicação por 30 dias seja mais rentável do que a aplicação diária (nor malmente acontece isso), a empresa poderá completar os dois dias faltantes com empréstimo de curto prazo. A taxa a maior recebida pela aplicação a 30 dias é sufi ciente para cobrir com vantagem os juros pagos pelos dois dias de utilização es pontânea de empréstimo de curto prazo.

A forma ideal de financiamento para esse caso é o crédito automático em con ta corrente, como as operações de conta garantida.

Manter uma margem de segurança

Page 59: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Mesmo quando o fluxo de caixa gera dados confláveis, é recomendável man ter pequena margem de folga nas aplicações das sobras de caixa para prevenir

eventuais erros de previsão.

Ajustificativa para a manutenção da margem de folga nas sobras de caixa é a grande diferença entre as taxas de captação e aplicação. Se a empresa, com dinhei ro aplicado, mas indisponível para saque, precisar recorrer a uma linha de finan ciamento de curtíssimo prazo para cobrir um déficit de caixa, pagará bem mais por esse empréstimo do que obterá de rendimento na aplicação.

3.2.2 Administração do déficit de caixa

A insuficiência de caixa é o primeiro sintoma da existência de problemas fi nanceiros na empresa.

Vários fatores, isolados ou em conjunto, podem contribuir para o surgimento de insuficiência de caixa numa empresa. Entres esses fatores, podem ser citados:

inadimplência dos clientes, queda nas vendas, prejuízo nas operações, desembol sos extraordinários, crescimento das despesas com juros etc.

A solução permanente dos problemas de caixa exige mudanças profundas na empresa. Um problema de caixa é quase sempre reflexo de problema maior com o capital de giro da empresa. A administração financeira pode dar contribui ções limitadas à insuficiência de caixa, porque as medidas a seu alcance têm ação restrita.

70 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

As medidas no âmbito da administração financeira para a solução dos proble mas de caixa são as seguintes:

a) Aceleração das entradas de caixa

Desde que não acarrete perda de mercado, a redução do prazo de faturamen to é a ação mais direta para acelerar as entradas de caixa.

Em virtude de o preço das vendas faturadas embutir uma taxa de juros, a re dução do prazo de faturamento implica o expurgo dessa taxa de juros, reduzindo,

assim, o preço de venda.

A antecipação do recebimento das faturas também pode ser sugerida em vez de ser unilateral, mediante o oferecimento de um desconto à empresa comprado ra. Esse desconto precisa ser competitivo em relação às taxas existentes no merca do para aplicações financeiras de prazo semelhante ao prazo da antecipação do pagamento.

b) Agilização do processo de recebimento e depósito

É uma medida de natureza operacional destinada a encurtar o prazo entre os

pagamentos efetuados pelos clientes e sua disponibilização para a empresa.

Se a empresa tem cobrança em carteira, a medida consiste em agilizar o pro cesso de depósito dos cheques recebidos.

Page 60: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Tratando-se de cobrança bancária com retenção para o banco cobrador a títu lo de remuneração, a solução consiste em tentar obter do banco a liberação da re tenção ou parte dela. Essa solução, quando aceita pelo banco, terá um custo explí cito, já que ele exigirá uma compensação pela antecipação da cobrança.

e) Retardamento e suspensão das saídas de caixa

Uma solução natural para os problemas de caixa é o retardamento ou suspen são das saídas de caixa.

Entre os retardamentos de saídas de caixa da empresa, estão os pagamentos a

fornecedores, prestadores de serviço, impostos e taxas. Essa medida também acar retará o surgimento de custos financeiros e multas.

Para os pagamentos de fornecedores e prestadores de serviço, é possível re negociar o alongamento dos prazos de pagamento mediante o pagamento de cus to financeiro.

ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA 71

Outra solução mais radical para a insuficiência de caixa é a suspensão do pa gamento. Esse procedimento, entretanto, tem vários inconvenientes: prejudica a

imagem da empresa e sua relação com os credores.

d) Renegociação dos financiamentos

O alongamento do perfil da dívida da empresa permite adiar ou diluir as saídas de caixas referentes a seu pagamento.

As operações de engenharia financeira são utilizadas para proporcionar o

reescalonamento personalizado da dívida da empresa.

3.2.3 Controle das oscilações de caixa

As oscilações acentuadas dos saldos de caixa e também suas constantes mu danças de sinal - positivo e negativo - são desaconselhadas por dois motivos.

O fato de as taxas de captação serem bem maiores do que as de aplicação tor nam as inversões do sinal do saldo de caixa desvantajosas financeiramente. Pode acontecer que as poucas vezes em que o saldo de caixa fica negativo acarrete paga mento de juros sobre empréstimos de curto prazo usados para financiá-lo em valor superior aos juros obtidos enquanto o caixa está positivo.

Do ponto de vista administrativo, as oscilações nos saldos de caixa tendem a

criar um impacto desfavorável sobre o trabalho na área financeira.

As oscilações do fluxo de caixa podem ser eliminadas com o deslocamento

dos saldos positivos para aqueles dias em que existem déficits de caixa.

O primeiro ponto a ser examinado é a existência de concentração de desem bolsos em poucas datas. Quando isso acontece, tende a provocar o surgimento de

pontos de estrangulamento no fluxo de caixa.

Page 61: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

As medidas destinadas a reduzir as variações nos saldos de caixa devem pro duzir efeitos permanentes e, por isso, não são de natureza financeira. Podem ser alterações no processo de produção ou operação e nos cronogramas de compras e vendas.

3.3 ASPECTOS ECONÔMICOS DA ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA

Algumas medidas da administração de caixa são motivadas por seus aspectos

econômicos, principalmente aqueles relacionados a custos.

Desse modo, uma decisão no âmbito da administração de caixa pode ser justi ficada mediante uma análise de custo-benefício.

72 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

3.3.1 Resultado financeiro do deslocamento de um fluxo de caixa

A antecipação ou o retardamento de um fluxo de caixa provoca, respectiva- mente, um ganho ou uma perda financeira para a empresa. Por exemplo, se o go verno autoriza a mudança de data de recolhimento de um imposto, do dia 30 para o dia 5 do mês seguinte, produzirá um ganho financeiro para a empresa con tribuinte.

O resultado financeiro de uma alteração permanente no fluxo de recebimen to ou pagamento pode ser calculado do seguinte modo:

( +j -1

r = a

(1 +jY i

onde: r = resultado do deslocamento de caixa

c = valor do deslocamento de caixa

n = número de dias do deslocamento do fluxo de caixa

i = taxa de juros diária calculada com base na taxa de atratividade da empresa

Exemplo: Uma empresa demora três dias para depositar os cheques recebi dos em suas lojas. Uma alteração nos procedimentos internos permite encurtar esse prazo para um dia. O valor médio total dos cheques recebidos diariamente é R$ 42 mil. A taxa de atratividade dessa empresa é de 0,05% ao dia. O valor do ga nho proporcionado pelo encurtamento permanente de dois dias no prazo para de pósito dos cheques é:

( +iY'-l

r = a

(1 +

1 00005v 1

r = 42.000 x 0,0005 x ' ' ' - (1 + 0,0005)2 x 0,0005

r = 42.000 x 0,0005 x 1,9985

r = 41,96

3.3.2 Determinação do caixa ótimo

Page 62: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Um dos objetivos da administração de caixa é conseguir o nível ótimo de cai xa para a empresa. E recomendável que a empresa tenha um bom grau de liquidez,

mas esse deve ser limitado porque tem um custo.

ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA 73

Os ativos permanentes das empresas têm retorno maior do que os ativos cor- entes, como é o caso das disponibilidades financeiras. Assim, quando uma empre a mantém um saldo de caixa elevado, aumenta sua proteção contra imprevistos, nas reduz a rentabilidade média de seus ativos.

Um mesmo volume de vendas pode ser obtido de vários volumes de caixa. O

nenor volume de caixa que pode ser mantido para gerar certo volume de vendas é

nível ótimo de caixa.

Existem vários modelos matemáticos para calcular o volume ótimo de caixa. )s mais conhecidos baseiam-se na existência de um custo fixo operacional para :ada operação de aplicação ou resgate e esse custo precisa ser cotejado com o ren limento das aplicações.

Esses modelos possuem fundamentos teóricos e abordagem de difícil confir nação prática.

A maioria das empresas não utiliza métodos matemáticos para determinar o

iolume de caixa ótimo. Isso é feito de modo intuitivo, muitas vezes com base no

xocesso de tentativa e erro.

QUESTÕES E PROBLEMAS

1. Assinale as afirmações corretas:

a) Para aumentar a precisão do fluxo de caixa, é obrigatório diminuir seu prazo de cobertura.

b) Antecipar pagamento a fornecedores é sempre mais vantajoso do que fa zer aplicações no mercado financeiro.

c) Manter um saldo de caixa permanentemente elevado diminui a rentabili dade do ativo total da empresa.

d) O prazo de cobertura mínimo para um fluxo de caixa é uma semana.

2. Genericamente falando, o valor das receitas financeiras diárias em relação às outras entradas de caixa é significativo?

3. Quando a empresa gera lucro em suas operações, como ele será retratado pelo fluxo de caixa?

4. Em circunstâncias normais, qual o item de maior valor total ao longo do pra zo de cobertura do fluxo de caixa?

5. Em determinado mês, em que diferem o valor dos encargos sociais lançados no fluxo de caixa e aquele apropriado pela contabilidade da empresa?

6. Por que um fluxo de caixa com prazo de cobertura curto não otimiza a aplica ção das sobras de caixa?

Page 63: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

7. Explique como a antecipação de pagamentos a fornecedores pode ser vanta josa para a empresa compradora e vendedora.

74

10.

11.

12.

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Quando é que a antecipação do recebimento de faturas dos clientes é econo micamente vantajosa para a empresa vendedora?

Por que os saldos de caixa oscilantes são indesejáveis?

Uma empresa vende através de cheques R$ 84.000,00 em média por dia e desse total 85% são representados por cheques de valor menor do que R$ 100,00. Uma norma administrativa estabelece que os cheques inferiores a R$

100,00 sejam depositados no terceiro dia, contado a partir de seu recebimen to, para permitir que seu processamento seja mais confiável. Se considerar mos que esses cheques poderiam ser depositados no segundo dia após o rece bimento, qual o valor total da perda da empresa com o procedimento atual?

Numa empresa, ocorrem entradas de caixa durante todos os dias, incluindo fins de semana e feriados. As saídas de caixa só acontecem durante os dias úteis. Seu fluxo de caixa pode abranger apenas os dias úteis?

Qual a utilidade do fluxo de caixa para uma empresa em boa situação finan ceira?

EXERCÍCIO

A AC3 é uma empresa varejista que elabora um fluxo de caixa com prazo de cobertura de seis dias úteis (do ponto de vista bancário), de segunda a segunda (dia 1 a dia 6) e período de informação diário. Essa empresa funciona de segunda a sábado, embora suas saídas de caixa só aconteçam de segunda a sexta-feira. Por isso, as entradas de caixa ocorridas aos sábados são lançadas no fluxo de caixa na segunda-feira seguinte.

Diariamente, as entradas rotineiras de caixa da AC3 originam-se de três fon tes: recebimento das administradoras de cartões de crédito das vendas realizadas nessa modalidade; vendas a vista com dinheiro e cheque; recebimento dos che ques pré-datados referentes a vendas anteriores.

Os dados históricos da AC3 indicam as seguintes estatísticas:

0,1% dos cheques recebidos de clientes nas vendas a vista são devolvi dos pelo sistema bancário, por algum tipo de problema. Do total desses cheques devolvidos, 40% representam perda definitiva (cheques falsifi cados, sem fundos etc.). Os outros 60% são reapresentados à compensa ção e recebidos, em média, 10 dias após a data do primeiro depósito.

o 0,3% dos cheques pré-datados referentes a vendas a prazo são devolvi dos pelo sistema bancário por falta de fundos. Desses cheques 20% são recuperados 15 dias após o primeiro

Page 64: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

depósito. Os outros 80% repre sentam créditos problemáticos, de recebimento incerto e demorado.

8.

9.

ADMINISTRAÇÃO DE CAD(A 75

Todos os cheques com vencimento imediato e o numerário recebidos num dia

são depositados no dia seguinte.

Por um acordo operacional com o banco onde os cheques são depositados,

eles são considerados como disponíveis no dia seguinte, independentemente do

valor.

AAC3 projeta para o próximo prazo de cobertura (segunda a segunda ou dia

1 a dia 6 do fluxo de caixa) as seguintes entradas e saídas de caixa:

• Média diária de vendas a vista: R$ 3.600,00 em cheques e R$ 2.100,00 em dinheiro, de segunda a sexta-feira. Aos sábados, há acréscimo de

22% sobre esses valores.

• Depósito de cheques pré-datados recebidos: R$ 3.241,00, R$ 3.490,00, R$ 4.233,00, R$ 3.788,00, R$ 2.744,00, R$ 4.570,00 (este último va lor refere-se a sábado e segunda-feira).

• Recebimento de administradores de cartões de crédito: R$ 2.537,00, R$ 2.890,00, R$ 3.128,00, R$ 2.901,00, R$ 2.837,00 e R$ 5.873,00.

• Resgate de uma aplicação de CDB no valor de R$ 16.320,00 e reaplica ção imediata de 40% desse valor, no dia 3.

• Recebimento de créditos em atraso: R$ 8.900,00 no dia 4.

Saídas de caixa previstas:

• Fornecedores: R$ 1.701,00, R$ 1.902,00, R$ 1.990,00, R$ 1.807,00, R$ 2.013,00 e R$ 2.701,00.

• Impostos e taxas: R$ 7.300,00 no dia 4.

• Folha de pagamento: R$ 42.734,00 no dia 2.

• Juros de financiamento de longo prazo: R$ 2.899,00 no dia 2.

• Outras saídas de caixa: R$ 1.400,00 no dia 2 e R$ 1.458,00 no dia 5.

Com base nos dados fornecidos, elabore o fluxo de caixa da empresa AC3, para informar o saldo de caixa gerado diariamente, o saldo de caixa acumulado dia a dia e o saldo final de caixa no final do sexto dia do fluxo de caixa. O saldo ini cial de caixa, no começo do primeiro dia, é R$ 48.276,00.

Não devem ser consideradas no fluxo de caixa as despesas bancárias sobre a

Page 65: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

movimentação financeira nem os rendimentos das aplicações financeiras de liqui dez diária.

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO

FINANCEIRO

Este capítulo apresenta os elementos de cálculo financeiro mais utilizados na administração financeira da pequena e média empresa. A apresentação da matéria

está baseada na calculadora financeira HP-12C, de maior aceitação no Brasil.

Uma parte dos temas é tratada de forma que permita que os cálculos também possam ser realizados sem uma calculadora financeira, mas que tenha a função exponencial (yX ou x- As séries de pagamentos, devido a sua maior complexida de, exigem a utilização da calculadora financeira HP-12C.

4.1 ELEMENTOS DE JUROS

No cálculo financeiro, são utilizados os elementos relacionados a seguir.

a) Capital

O valor emprestado ou aplicado, em qualquer operação de financiamento ou investimento, é denominado capital ou principal.

4

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 77

b) Juro

O valor recebido pelo capital a título de remuneração é denominado juro. O dono do capital, ao emprestá-lo, renuncia temporariamente a seu uso e, por isso,

faz jus a um prêmio que é representado pelo juro.

c) Taxa de juros

É a relação percentual entre o juro e o capital que lhe deu origem, em uma

unidade de tempo — dia, mês, ano etc. A taxa de juros pode ser expressa de duas

formas:

• Taxa de juros percentual: é a que representa os juros sobre cada R$ 100,00. Por isso, é acompanhada pelo símbolo de percentagem (%). Assim, se os juros a cada R$ 100,00 são de R$ 15,00 por ano, dizemos que a taxa de juros percentual é de 15% ao ano. A taxa percentual é usada nos cálculos com as funções financeiras das calculadoras.

• Taxa dejuros unitária: quando os juros são expressos por cada R$ 1,00, dizemos que a taxa de juros é unitária. Nesse caso, não é acompanhada pelo símbolo de percentagem. Se cada R$ 100,00 rendem R$ 15,00 por ano, cada R$ 1,00 renderá R$ 0,15. Dizemos que a taxa unitária é 0,15 por ano. A taxa unitária é utilizada nos cálculos de juros com o uso de fórmulas.

d) Prazo

Page 66: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

É o número de unidades de tempo (dias, meses, anos etc.) em que o capital é emprestado ou aplicado. Em alguns cálculos financeiros, como será mostrado na seção 4.6.1, o elemento a ser considerado não é o prazo da operação, mas o núme ro de pagamentos ou recebimentos.

e) Montante

A soma do capital com os juros é denominada montante. Um conceito mais

abrangente de montante define-o como o valor futuro de determinado capital, a

uma taxa de juros e em determinado prazo.

4.2 JUROS SIMPLES

Quando, numa operação financeira, apenas o capital inicial é remunerado,

dizemos que ela está sujeita ao regime de juros simples. Desse modo, os juros gera-

78 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

dos em cada período de tempo não são acrescidos ao capital inicial para geração de

juros nos períodos seguintes.

O regime de juros simples é utilizado em poucas operações financeiras no Brasil, geralmente em prazos curtos.

Mesmo quando uma operação financeira é realizada a juros simples, sua avalia ção final em termos de rendimento ou custo é sempre efetuada ajuros compostos.

Os juros simples têm as seguintes características:

• Os juros gerados em cada período de aplicação são iguais.

• Os juros gerados são proporcionais ao tempo de aplicação. Assim, quando o prazo de empréstimo é dobrado, o valor dos juros também

dobrará.

Os elementos utilizados no cálculo de juros simples serão representados pe los seguintes símbolos:

Capital: PV

Juros: J

Taxa de Juros: i

Prazo: n

Montante: M

4.2.1 Cálculo de juros simples

Em cada unidade de tempo, o valor dos juros (J) é igual ao capital (PV) multi plicado pela taxa (i):

J — PVi

Page 67: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Uma vez que os juros simples são proporcionais ao prazo de empréstimo do capital, após (n) períodos de tempo o valor total dos juros será igual ao valor dos juros de um período (PVi) multiplicado por (n). A fórmula para cálculo de juros simples é, portanto:

1 J=PVin (F.4.1)

Nessa fórmula de juros, deve ser observado o seguinte:

• A taxa de juros deve ser colocada na fórmula sob a forma unitária. Por exemplo, se for 14%, na fórmula deverá ser colocado 0,14.

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 79

• A taxa de juros e o prazo devem referir-se à mesma unidade de tempo. Assim, se a taxa de juros for anual, o prazo a ser posto na fórmula tam bém deverá ser expresso em anos.

Fórmula de montante

Como o montante é igual à soma do capital com os juros, tem-se:

M = PV + J

Substituindo (J) pelo valor dado na fórmula (F.4.1), vem:

M = PV + PVin

Logo: __________________

M = PV(1 + in (F.4.2)

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

A HP-12C possui funções financeiras que permitem calcular o valor dos juros simples e o respectivo montante. Entretanto, é necessário converter a taxa de juros para uma base anual e o prazo para dias. Por isso, para o cálculo de juros simples, é menos trabalhoso utilizar as fórmulas F.4.1 e F.4.2.

Deixe a calculadora com quatro decimais no visor, teclando f 4.

a) Cálculo dos juros

Calcule o valor dos juros produzidos por um capital de R$ 30.000,00 aplicado

a juros simples de 2% ao mês, durante três meses.

Dados:

Capital (PV) = 30.000

taxa de juros mensal (i) = 2% (percentual) ou 0,02 (unitária)

prazo (n) = 3 meses juros (J) =?

Solução:

Usando a fórmula de juros (F.4.1), tem-se:

J = PVin

J = 30.000 x 0,02 x 3

80 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Page 68: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Para efetuar o cálculo, deve ser teclado:

30000

ENTER

0,02

x

3

x

Resultado: 1.800,0000

b) Cálculo dos juros considerando o ano civil

Calcule o valor dos juros produzidos por um empréstimo de R$ 21.000,00

concedido pelo prazo de 24 dias, ajuros simples de 12% ao ano, e considerando o

ano civil para fins de cálculo da taxa diária.

Dados:

Capital (PV) = 21.000

taxa de juros anual (i) = 12% ano (percentual) ou 0,12 (unitária) prazo (n) = 24 dias

juros (J) =?

Usando a fórmula de juros (F.4.1)

J = PVin

Calculando a taxa de juros diária, considerando o ano civil (365 dias), vem:

= 0,12 ÷ 365 = 0,0003

Logo:

J = 21000 x 0,0003 x 24

Para efetuar o cálculo deve ser teclado:

21000

ENTER

0,0003

x

24

x

Resultado: 15 1,2000

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 81

c) Cálculo do montante

Calcular o montante obtido por R$ 300.000,00 aplicados a juros simples de

Page 69: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

2% ao mês pelo prazo de três meses.

Capital (P1’) = 300.000

Taxa de juros (i) 2% (percentual) ou 0,02 (unitária)

Prazo (n) = 3 meses

Montante (M) = ?

Solução:

M = P17 (1 + in)

Logo:

M = 300.000,00 (1 + 0,02 x 3)

Efetuando o cálculo:

300000

ENTER

1

ENTER

0.02

ENTER

3

x

+

x

Resultado: 318.000,00

4.3 JUROS COMPOSTOS

A maioria das operações financeiras obedece ao regime de juros compostos,

em que tanto o principal, como os juros gerados nos períodos intermediários ge ram novos juros.

Mesmo naquelas poucas operações referenciadas a juros simples, sua real

avaliação é feita pelo regime de juros compostos.

82 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Usaremos os seguintes símbolos para representar os elementos utilizados no

cálculo de juros compostos:

Capital ou Valor Presente: PV

Taxa de juros: i

Prazo: n

Page 70: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Juros: J

Montante ou valor futuro: FV

4.3.1 Cálculo de juros compostos

O montante obtido do capital (PV), em função de uma taxa de juros (i), em certo prazo (n) é dado pela seguinte fórmula:

FV = PV(1 + j)fl (F.4.3)

Observações sobre a fórmula de montante (F.4.3):

• A fórmula permite calcular um elemento quando são dados os outros três.

• A taxa de juros (i) deve ser expressa na forma unitária (por exemplo, 5% é colocado na fórmula como 0,05).

• A taxa de juros (i) e o prazo (n) devem referir-se à mesma unidade de tempo.

Os juros (J) são iguais à diferença entre o montante (FV) e o capital (PV):

J FV-PV

Substituindo (FV) por seu valor na fórmula (F.4.3):

J = PV (1 + j)fl _pV

Finalmente, colocando (PV) em evidência, tem-se:

1 J=PV((1+i (F.4.4)

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 83

Cálculos com as funções financeiras da HP-12C

Para utilizar as funções financeiras da HP-12C em cálculos financeiros, deve

ser observado o seguinte:

• A letra C deve constar da parte inferior do lado direito do visor. Desse modo, caso existam prazos fracionários, também serão calculados pelo sistema de juros compostos. Se a letra C não estiver no visor, tecle STO EEX para trazê-la.

• Tecle f FIN para zerar as memórias financeiras. Os dados poderão ser introduzidos em qualquer ordem.

Quando o principal e o montante forem alimentados, precisarão ter si nais contrários. Se apenas um desses elementos for introduzido, pode rá ter sinal positivo ou negativo.

• A taxa de juros deve ser colocada na forma percentual. Por exemplo, 14% é teclado como 14.

• Quando n é o elemento procurado, o resultado mostrado no visor será sempre inteiro. Quando o valor calculado para n for fracionário, ele será arredondado para o número inteiro imediatamente superior e mostrado no visor.

• Caso seja necessário conferir os elementos introduzidos, tecle RCL se guido da tecla do elemento desejado. Por exemplo, teclando RCL n, o

valor de n será apresentado no visor.

Page 71: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

• A calculadora não possui função financeira para o cálculo direto do valor dos juros gerados por um capital. Para isso, é preciso calcular o montante

e deste subtrair o capital para obter os juros ou usar a fórmula F.4.4.

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

Deixe a calculadora com quatro decimais no visor, teclando f 4.

a) Cálculo do montante

Qual o valor do montante obtido de um capital de R$ 100.000,00 aplicado a

uma taxa de 6% ao ano durante 15 anos?

Dados:

capital ou valor presente (PV) = 100.000,00

taxa de juros anual (i) = 6% (percentual) ou 0,06 (unitária) prazo (n) 15 anos

montante ou valor futuro (FV) = ?

84 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Solução 1: usando as funções financeiras da HP-12C

f FIN

100000 CHS PV

15 n

6i

FV

Resultado: 239.655,8193

Caso o capital fosse introduzido com o sinal positivo, o montante calculado

surgiria no visor com o sinal negativo.

Solução 2: usando a fórmula de montante (F.4.3)

FV = PV (1 + j)fl

FV 100.000 (1 + 0,06)15

100000 ENTER

1 ENTER

0.06 +

l5Yx

x

Resultado: 239.655,8193

b) Cálculo do capital

Qual o valor do capital que aplicado durante cinco anos, a uma taxa de juros

Page 72: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

de 9% ao ano, produziu um montante de R$ 69.238,08?

Dados:

prazo (n) 5 anos

taxa de juros anual (i) = 9% (percentual) ou 0,09 (unitária) montante ou valor futuro (FV) = 69.238,08

valor presente (PV) = ?

Solução 1: usando as funções financeiras da HP-12C

f FIN

69238,08 CHS FV

5n

9i

pv

Resposta: 45.000,0013

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 85

Solução 2: usando fórmula de montante (F.4.3)

FV = PV (1 + iY’

69.238,08 = PV (1 + 0,09)5

PV = 69.238,08 (1 + 0,09)5

Efetuando o cálculo:

69238,08 ENTER

1 ENTER

0.09 +

5 \

Resposta: 45.000,0013

e) Cálculo da taxa

Um capital de R$ 410.000,00 foi aplicado durante quatro anos a uma taxa

anual de juros, tendo gerado um montante de R$ 645.142,94. Determine essa taxa

anual de juros.

Dados:

capital ou valor presente (PV) = 410.000,00 prazo (n) = 4 anos

montante ou valor futuro (FV) = 645.142,94 taxa de juros anual (i) = ?

Solução 1: usando as funções financeiras da HP-12C

f FIN

Page 73: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

410000 CHS PV

645142,94 FV

4n

Resposta: 12,0000

86 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Solução 2: usando fórmula de montante (F.4.3)

W = PV (1 + i)fl

645.142,94 410.000 (1 + i)

645.142,94 ÷ 410.000 = (1 +

1,5735 = (1 +

(1 + i) = 1,5735

Para calcular o valor de (i), é preciso extrair a raiz quarta de ambos os membros

da igualdade. Para isso, dividem-se os expoentes de cada membro por 4. Tem-se:

(1 + i) 1,5735”

1 + i = 1,57351

= 1,5735’

Efetuando o cálculo:

1.5735 ENTER

4 1/x

Yx

1—

Resposta: 0,1200 ou 12%.

d) Cálculo do prazo

Um capital de R$ 20.000,00 foi aplicado durante certo número de anos a uma

taxa de 9% ao ano e produziu um montante de R$ 51.608,52. Por quantos anos

esse capital esteve aplicado?

Dados:

capital ou valor presente (PV) = 20.000,00 taxa de juros anual (i) = 9% (percentual) ou 0,09 (unitária) montante ou valor futuro (FV) = 51.608,26 prazo em anos (n) = ?

Solução 1: usando as funções financeiras da HP-12C

f FIN

20000 CHS PV

9i

Page 74: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

5 1608.26 FV

n

Resposta: 11,0000

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 87

Solução 2: usando a fórmula de montante (F.4.3)

FV = PV (1 + j)fl

51.608,26 = 20.000 (1 + 0,09)

51.608,26 ÷ 20.000 = l,09’

1,09 = 2,5804

Tomando-se logaritmos de ambos os membros, e considerando que o logarit mo de uma potência é igual ao expoente multiplicado pelo logaritmo da base,

vem:

n x Ln 1,09 = Ln 2,5804

n = Ln 2,5804 ± Ln 1,09

Efetuando o cálculo:

2.5804 g LN

1.09 g LN

Resposta: 10,9999

4.4 TAXAS EQUIVALENTES

Consideremos as seguintes opções para aplicação de R$ 100,00 a juros com postos:

• Aplicação a uma taxa anual de 26,82% pelo prazo de um ano.

• Aplicação a uma taxa de 2% ao mês com reaplicação mensal até com pletar o prazo de um ano.

No final de um ano, cada alternativa gerará o montante de R$ 126,82.

As taxas 26,82% ao ano e 2% ao mês são denominadas taxas equivalentes,

porque produzem com base no mesmo capital (R$ 100,00), aplicado pelo mesmo

prazo (um ano), o resultado igual (R$ 126,82).

Usaremos dois conceitos de taxas equivalentes:

• Taxa Equivalente Maior

É a taxa referente ao período de tempo maior. No exemplo dado, é a

taxa de 26,82 ao ano.

88 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Taxa Equivalente Menor

Page 75: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

É a taxa referente ao período de tempo menor. É a taxa de 2% ao mês no exemplo.

Outros conceitos relacionados a taxas equivalentes

As expressões seguintes significam calcular a Taxa Equivalente Maior:

• Capitalizar uma taxa.

• Mensalizar ou anualizar uma taxa.

• Projetar uma taxa.

As expressões seguintes significam calcular a Taxa Equivalente Menor:

• Descapitalizar uma taxa.

• Calcular a taxa média geométrica.

• Calcular a taxa pro-rata temporis pelo critério exponencial ou pelo re gime de juros compostos. Pro-rata temporis significa proporcional ao

tempo.

4.4.1 Cálculo de Taxas Equivalentes

Sejam:

iM = Taxa Equivalente Maior sob a forma unitária im = Taxa Equivalente Menor sob a forma unitária

n = número de períodos menores (a que se refere a Taxa Equivalente Menor) contidos no período maior (a que se refere a Taxa Equiva lente Maior). Por exemplo, se a Taxa Equivalente Menor for mensal e a Taxa Equivalente Maior a ser calculada for anual, (n) será igual a 12 (um ano tem 12 meses).

Partindo do conceito de taxas equivalentes e usando a fórmula de montante a

juros compostos (fórmula F.4.3), demonstram-se as seguintes fórmulas para cál culo da Taxa Equivalente Maior (ÍM) e da Taxa Equivalente Menor (im):

Fórmula para a Taxa Equivalente Maior:

iM= (1 + im)fl—1I (F.4.5)

Fórmula para a Taxa Equivalente Menor:

im = (1 + iM)h/’t (F.4.6)

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 89

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

Coloque a calculadora com quatro decimais no visor. A letra C deve estar no visor. Caso contrário, deve ser teclado STO EEX para colocá-la no visor. Sem a letra C no visor, a calculadora trabalha com o sistema de juros simples nos períodos fra cionários.

a) Cálculo da Taxa Equivalente Maior

Calcular a taxa trimestral equivalente a 3% ao mês.

Dados:

Page 76: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Taxa Equivalente Menor (im) = 3% a.m. ou 0,03

número de períodos menores (n) = 3 (1 trim. = 3 meses)

Taxa Equivalente Maior (LM) =?

Usando a fórmula de Taxa Equivalente Maior (F.4.5)

ÍM = (1 + im)fl — 1

iM = (1 + 0,03)3 — 1

Efetuando o cálculo:

1 ENTER 0,03 + 3 Y’ 1 —

Resultado no visor: 0,0927 ou 9,27%

b) Cálculo da Taxa Equivalente Menor

Calcular a taxa mensal equivalente a 12,6825% ao ano.

Dados:

Taxa Equivalente Maior (i.M) = 12,6825% a.a. ou 0,126825

número de períodos menores (n) = 12 (1 ano = 12 meses)

Taxa Equivalente Menor (im) =?

Usando a fórmula de Taxa Equivalente Menor (F.4.6)

im = (1 + iM)”— 1

im = (1 + 0,126825)1 — 1

Efetuando o cálculo:

1 ENTER 0,126825 + 12 1/x Yx 1 — Resultado no visor: 0,0 100 ou 1%

90 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

4.5 TAXA REAL E NOMINAL

A taxa de juros nominal é a taxa total de retorno ou de custo de um investi mento ou financiamento, respectivamente. Ela engloba a taxa de juros reais e a

taxa de inflação.

Uma taxa nominal, quando descontada da taxa de atualização monetária,

fornece a taxa real.

4.5.1 Cálculo da taxa real

A taxa de juros real é calculada com base na taxa de juros nominal e na taxa

de inflação. Sejam:

iN = taxa nominal iA = taxa de atualização monetária iR taxa real

Pelo conceito de taxa nominal, tem-se:

1 + iN = (1 + iA) x (1 + iR)

Page 77: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A taxa nominal é calculada pela fórmula:

iN = ((1 + iA) x (1 + iR)) — 1 1 (F.4.7)

A taxa real é:

iR = ((1 + iN) ÷ (1 + iA)) — 1 (F.4.8)

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

a) Cálculo da taxa real

Uma aplicação financeira rendeu 17, 70% num ano em que a inflação foi 7%.

Qual sua taxa real?

Dados:

taxa nominal (iN) = 17,70% ou 0,1770

taxa de atualização monetária (iA) = 7% ou 0,07

taxa real (iR) =

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 91

Solução: usando a fórmula da Taxa Real (F.4.8), tem-se:

iR=((1 +iN)÷(1 +iA))-1

Logo:

iR = ((1 + 0,1770) ± (1 + 0,07)) — 1

1 ENTER 0,1770 +

1 ENTER 0,07 +

÷1— Resultado no visor: 0,10 ou 10%

b) Cálculo da taxa nominal

Um título rendeu 6% de variação monetária e 4% de juros reais. Qual a taxa

de rendimento nominal desse título?

Dados:

taxa de atualização monetária (iA) = 6% ou 0,06

taxa real (iR) = 4% ou 0,04

taxa nominal (11V) =?

Solução: usando a fórmula da taxa nominal (F.4.7), tem-se:

LW ((1 +iA)x (1 +iR))—1

ÍN = ((1 + 0,06) x (1 + 0,04)) — 1

Efetuando o cálculo:

1 ENTER 0,06 +

1 ENTER 0,04 +

Page 78: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

xl— Resultado no visor: 0,1024 ou 10,24%

92 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

4.6 SÉRIES DE PAGAMENTOS

Um conjunto de pagamentos ou recebimentos que ocorrem em intervalos

iguais e sucessivos de tempo (ano, semestre, mês etc.) é denominado série de pa gamentos.

As prestações de um financiamento ou os depósitos de um plano de investi mento são exemplos de séries de pagamentos. Cada pagamento ou recebimento é

denominado termo da série.

As séries de pagamentos também são denominadas rendas certas ou anuida des.

Os tipos de séries de pagamentos são os seguintes:

• Série Uniforme

É a série de pagamentos em que os termos são iguais. Por exemplo, as oito prestações mensais iguais da compra financiada de um eletrodo méstico formam uma série de pagamentos uniforme.

• Série Variável

É uma série de pagamentos que tem seus termos diferentes. Freqüente mente, os termos dessa série guardam alguma relação entre si, como uma variação aritmética ou geométrica.

Um financiamento imobiliário cujas parcelas observam uma razão de decréscimo é uma série de pagamentos variável.

• Série Limitada

Uma série de pagamentos é limitada quando seu número de termos é

finito. As séries de pagamentos citadas anteriormente são limitadas.

• Série Ilimitada

É a série que tem um número de termos infinito. Por exemplo, todo processo de automação gera uma economia mensal permanente de custo de pessoal. Os valores dos custos mensais de pessoal economiza dos formam uma série de pagamentos ilimitada.

• Série Postecipada

É a série de pagamentos em que os termos ocorrem no final de cada pe ríodo. Essa série também é denominada série de fim de período, ou sé rie com termos vencidos.

O financiamento de um televisor em seis parcelas mensais, em que a primeira parcela vence um mês após a data da compra, é uma série de pagamentos postecipada.

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 93

Série Antecipada

É a série de pagamentos em que os termos ocorrem no início de cada período. Também é denominada série de início de período, ou série com termos antecipados.

Page 79: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O financiamento de um televisor em seis parcelas mensais, em que a primeira parcela vence na data da compra, é uma série de pagamentos antecipada.

4.6.1 Cálculos com séries

Os elementos utilizados no cálculo de séries serão representados pelos se guintes símbolos:

Elemento Símbolo

Termo PMT

Número de termos n

Taxa de juros i

Valor presentePV

Valor futuro FV

A série de pagamentos mais utilizada é a que tem as características do tipo

uniforme, limitada e postecipada.

O valor futuro de uma série de pagamentos uniforme, limitada e poste cipada é igual à soma dos valores futuros de cada um de seus termos.

O gráfico seguinte ilustra o significado do valor futuro de uma série uniforme limitada postecipada:

FV =?

1

1 2 n—1 n

PMT PMT PMT PMT

Aplicando-se a fórmula de montante a juros compostos (fórmula F.4.3) a

cada um dos termos da série, demonstra-se que seu valor futuro é dado pela se guinte fórmula:

FV=PMT((1+i) (F.4.9)

94 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Quando na fórmula de valor futuro da série (F.4.9) substitui-se (FV) por seu

valor em função de (PV) dado pela fórmula de montante (F.4.3), obtém-se a fór mula que relaciona o termo da série (PMT) e seu valor presente (PV):

FV=PV(1+i) (1)

Substituindo-se (1) em (F.4.9), tem-se:

PV (1 + i)fl = PMT((1 + j)fl — 1) ÷ 1

Logo:

PMT((1 + i) —1 (F.4.1O)

(1+i)

Page 80: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Cálculos com a HP-12C

As fórmulas referentes a séries de pagamentos são grandes e tornam traba lhosos e lentos os cálculos. Além disso, o cálculo da taxa de juros efetuado pelas fór’ seria impraticável na maioria dos casos por exigir a resolução de uma equação de grau elevado. Por isso, os cálculos com séries de pagamento devem ser realizados com as funções financeiras da HP-12C.

As funções financeiras da calculadora automatizam o processo de cálculo efe tuado pelas fórmulas apresentadas.

Os procedimentos de cálculo com a HP-12C são os seguintes:

• Tecle (f FIN) para apagar os registradores financeiros.

• Os elementos dados poderão ser introduzidos em qualquer ordem.

• A taxa de juros (1) deverá ser colocada sob a forma percentual (por exemplo, 18% é introduzido como 18).

• A taxa de juros (i) e a periodicidade dos termos devem referir-se a uma mesma unidade de tempo. Caso contrário, será preciso fazer a equiva lência de taxas.

• Se apenas um dos elementos monetários (PV, PMT e FV) for introduzi do, ele poderá ter o sinal positivo ou negativo. Nesse caso, se a solução procurada for um dos outros dois elementos monetários, ela será apre sentada no visor com o sinal contrário ao do elemento introduzido. Se dois desses elementos monetários forem introduzidos, deverão ser ali mentados com sinais contrários.

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 95

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

Na resolução dos exercícios em que o sinal dos elementos for facultativo, será

utilizado o sinal que conduza a um valor positivo para a solução.

a) Cálculo do valor futuro (FV) com base no termo (PMT)

Qual o valor futuro gerado por 36 depósitos mensais iguais e consecutivos de

R$ 3.000,00, se o primeiro deles for efetuado daqui a um mês, considerando uma

taxa de juros de 0,5% ao mês?

Dados:

série postecipada (END)

número de termos ou depósitos (ri) = 36

depósito ou termo (PMT) = 3.000

taxa de juros (i) = 0,5%

valor futuro (FV) =

Solução:

f FIN

Page 81: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

gEND

36 n

3000 CHS PMT

0.5 i

FV

Resposta no visor: 118.008,3149

b) Cálculo do valor do termo (PMT) com base no valor futuro (FV)

Qual o valor de cada um dos 15 depósitos iguais, mensais e consecutivos, se o primeiro for efetuado daqui a um mês, necessários para gerar no final de 15 meses um valor futuro de R$ 96.581,3732, considerando uma taxa de juros de 1% ao mês?

Dados:

série postecipada (END)

número de depósitos ou termos (n) = 15

taxa de juros (i) = 1%

valor futuro (FVJ = 96.581,3732

depósito ou termo (PMT) = ?

96 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Solução:

f FIN

gEND

15 n

li

96581,3732 CHS FV

PMT

Resposta no visor: 6.000,00

c) Cálculo do valor do termo (PMT) com base no valor presente (PV)

Um financiamento de R$ 12.000,00 deve ser pago em 24 parcelas mensais, iguais e sucessivas, a uma taxa de juros de 1% ao mês; o vencimento da primeira parcela ocorrerá um mês após a concessão do financiamento. Qual o valor dessas parcelas mensais?

Dados:

série postecipada (END)

número de parcelas ou termos (n) = 24

taxa de juros (i) = 1%

valor presente (PV) = 12.000,00

Page 82: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

parcela ou termo (PMT) = ?

Solução:

f FIN

gEND

24 n

12000 CHS PV

li

PMT

Resposta no visor: 564,8817

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 97

d) Cálculo do valor presente (PV) a partir do termo (PMT)

Qual o valor presente (hoje) de uma série de 10 pagamentos mensais, iguais e

consecutivos de R$ 1.000,00, visto que o primeiro pagamento ocorrerá daqui a um

mês, considerando uma taxa de juros de 3% ao mês?

Dados:

série postecipada (END)

número de pagamentos ou termos (n) = 10

pagamento ou termo (PMT) = 1.000,00

taxa de juros (i) = 3%

valor presente (PV) =

Solução:

f FIN

gEND

10 n

1000 CHS PMT

3i

pv

Resposta no visor: 8.530,2028

e) Cálculo da taxa de juros

Um financiamento de R$ 9.706,86 será pago em cinco prestações iguais de

R$ 2.000,00, vencendo a primeira um mês após a data do financiamento. Qual a

taxa de juros desse financiamento?

Dados:

Page 83: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

série postecipada (END)

valor presente (PV) = 9.706,86

número de prestações ou termos (n) = 5

prestação ou termo (PMI) = 2.000

taxa de juros (i) = ?

98 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Solução:

f FIN

gEND

5n

9706,86 PV

2000 CHS PMT

Resposta no visor: 1,0000

f) Série antecipada - Cálculo da taxa de juros

Um financiamento de R$ 9.706,86 deve ser pago em cinco prestações iguais

de R$ 2.000,00, vencendo a primeira na data da concessão. Qual a taxa de juros

desse financiamento?

Dados:

série antecipada (BEGIIV)

financiamento (PV) = 9.706,86

número de prestações ou termos (n) = 5

prestação ou termo (PMT) = 2.000

taxa de juros (i) =

Solução:

f FIN

g BEG

5n

9706,86 PV

2000 CHS PMT

Resposta no visor: 1,5101

FUNDAMENTOS DE CÁLCULO FINANCEIRO 99

EXERCÍCIOS

Page 84: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

1. Um débito foi liquidado com 14 dias de atraso. Por esse atraso foram cobra dos juros simples de 5,2% ao mês. O valor total do débito mais os juros atin giu R$ 167.964,00. Qual o valor original do débito?

2. Um empréstimo de R$ 81.000,00 gerou juros de R$ 1.474,20 calculados a uma taxa de juros simples de 4,2% ao mês. Quantos dias foram considerados

no cálculo dos juros?

3. Um financiamento de R$ 12.000,00 foi concedido pelo prazo de 120 dias para ser pago a uma taxa de juros simples de 6% ao ano. Determine o valor do

montante pago no vencimento do empréstimo.

4. Um banco concedeu um empréstimo de emergência a seu cliente no valor de R$ 140.000,00 para ser pago 22 dias depois, pelo valor de R$ 143.080,00.

Qual a taxa de juros cobrada mensalmente pelo sistema de juros simples?

5. Qual o valor dos juros gerados por um capital de R$ 42.000,00, aplicado du rante 15 meses, a juros compostos de 1% ao mês?

6. Um investidor deseja dobrar seu capital, aplicando no mercado financeiro num prazo de cinco anos. Que taxa de juros compostos anual ele precisará

conseguir em seus investimentos para atingir esse objetivo?

7. Quanto deve aplicar hoje um investidor para resgatar R$ 8.300,00 dentro de

24 meses, sabendo-se que sua aplicação renderá 0,5% ao mês pelo sistema de

juros compostos?

8. Um banco concedeu um empréstimo de R$ 3.600,00 a um cliente, pelo prazo de 70 dias. O banco cobra uma taxa de juros compostos de 4% ao mês. Para períodos menores do que um mês, o banco cobra a mesma taxa, só que pelo sistema de juros simples. Qual o valor do pagamento total que esse cliente fará ao banco por ocasião da liquidação do empréstimo?

9. Um empréstimo foi concedido a juros compostos de 3% ao mês pelo prazo de quatro meses, tendo gerado juros no valor de R$ 627,54. Qual o valor desse

empréstimo?

10. Foram aplicados R$ 4.800,00 durante 36 meses num investimento que pro porcionou uma rentabilidade de 12% ao ano. Qual o valor de resgate dessa

aplicação?

11. Qual a taxa anual equivalente a 4% ao trimestre?

12. Qual a taxa mensal equivalente a 79,59% ao ano?

13. Partindo de uma taxa de 4% ao mês, calcule a taxa pro-rata temporis para 15 dias, pelo regime de juros compostos.

14. Em determinado mês, a variação de um índice de atualização monetária foi de 3,24%. Qual a taxa de variação desse índice aplicável por dia útil, conside rando que o mês tem 22 dias úteis?

Page 85: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

100 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

15. Uma aplicação financeira paga uma taxa de juros de 0,5% ao mês. Qual a taxa de juros anualizada?

16. Qual o valor da taxa de 6,12% ao mês descapitalizada para um mês?

17. Uma aplicação financeira rendeu em determinado período 6,28% a título de atualização monetária e 5,38% de juros. Qual a rentabilidade nominal da

aplicação nesse período?

18. Um terreno foi comprado por R$ 28.312,00 e vendido 42 meses depois por R$ 50.407,20. Durante esse período, a inflação acumulada foi de 22,62%.

Qual a taxa de lucratividade real do imóvel no período?

19. Um banco concedeu um financiamento a um cliente pelo prazo de um mês e cobrou juros de 5,14% ao mês. Durante esse mês, a taxa de inflação foi de

0,87%. Qual a taxa real de juros anual desse financiamento?

20. Num período de cinco anos, um investimento apresentou uma taxa de renta bilidade nominal de 46,46%. Durante esse período, a inflação acumulada foi

de 37,0 1%. Qual a taxa média real mensal de juros no período?

21. Uma financeira usa um coeficiente de 0,0758 17 para cada R$ 1,00 que finan cia em 18 prestações mensais, iguais e sucessivas, com a primeira vencendo 30 dias após a data da compra. Qual a taxa de juros cobrada nesse financia mento?

22. Uma loja de eletrodomésticos vende uma geladeira a vista por R$ 880,00 ou em quatro parcelas mensais de R$ 233,75, sendo a primeira paga no ato da

compra. Qual a taxa de juros cobrada?

23. Um financiamento imobiliário no valor de R$ 62.000,00 foi contratado em

144 prestações mensais, iguais e sucessivas, a uma taxa de 1% ao mês. Qual o

valor da prestação?

24. Se uma pessoa investir R$ 200,00 por mês, durante 60 meses consecutivos, começando o primeiro depósito daqui a um mês, quanto terá no final dos 60

meses, sabendo-se que essa aplicação rende 0,5% ao mês?

INFLAÇÃO E TAXAS

DE JUROS

Uma das características da economia brasileira é a convivência com um gran de número de indicadores de inflação e de taxas de juros, sintomas de sua comple xidade. Devido a várias distorções na regulamentação econômica do país, também encontramos taxas de juros utilizadas como indicadores de inflação em várias ope rações financeiras.

Mesmo com a redução das taxas de inflação verificada a partir da segunda

metade da década de 90, o administrador financeiro ainda enfrenta o problema da

Page 86: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

atualização monetária.

A escolha do índice apropriado de atualização monetária, ou da taxa de juros que funcionará como indexador e a avaliação do impacto da não-atualização mo netária de elementos como demonstrações contábeis e preços de venda são alguns dos problemas enfrentados pelo administrador financeiro.

Desse modo, torna-se necessário entender as características dos principais ín dices de inflação e de taxas de juros existentes em nossa economia, bem como os

cálculos com eles realizados.

5.1 INFLAÇÃO

Os índices de inflação medem a variação dos preços de um conjunto de bens e

serviços em determinada área geográfica e em determinado período de tempo.

5

102 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Os diversos índices de inflação podem diferir quanto a sua composição, ao período de coleta de dados, à metodologia de cálculo e à faixa de renda do consu midor pesquisado. Várias entidades, públicas e privadas, efetuam o cálculo dos ín dices de inflação.

5.1.1 Índices de inflação

Nesta seção, são apresentados os índices de inflação mais utilizados no am biente empresarial. Deve ser registrado que o número de índices de inflação calcu lados no Brasil é bem maior do que aquele aqui apresentado.

a) Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI)

o Índice Geral de Preços — Disponibilidade Interna (IGP-DI) é calculado pela Fundação Getúlio Vargas e é a média ponderada de três outros índices apurados por essa instituição: Indice de Preços por Atacado (IPA), com peso de 60%, Indice de Preços ao Consumidor, com peso de 30%, e Indice Nacional de Custo da Cons trução Civil (INCC), com peso de 10%.

Calculado desde o final da primeira metade do século passado, o IGP-DI é o

mais antigo dos índices de inflação existente no Brasil.

Devido a sua composição, o IGP-DI é o índice que mais se aproxima da infla ção verificada nas empresas. Por esse motivo, esse índice tem ampla preferência

sobre os demais, como indicador de inflação em estudos econômico-financeiros.

b) Índice Geral de Preços para o Mercado - IGP-M

O Índice Geral de Preços para o Mercado também é calculado pela Fundação Getúlio Vargas e utiliza a mesma base de dados do IGP-DI, porém mudando o in tervalo de coleta para o período situado entre o dia 21 do mês anterior e o dia 20 do mês de referência.

Como a pesquisa de preços para o IGP-M termina 10 dias antes do fim do mês, é possível divulgar a variação do índice de um mês até seu último dia útil. Foi esse o motivo que levou à criação desse índice em 1985, para atender às necessidades do mercado financeiro.

Page 87: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Os percentuais acumulados de IGP-M e IGP-DI apresentam diferenças insig nificantes em períodos de um ano ou maiores, porque esses índices utilizam a mes ma base de dados.

INFLAÇÃO E TAXAS DE JUROS 103

c) Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC

Entidade apuradora: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(FIBGE).

Cobertura geográfica: regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Ale gre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Goiâ nia e Brasilia.

Classe de renda dos consumidores pesquisados: um a oito salários mínimos.

Período de coleta: primeiro ao último dia do mês de referência.

Composição do índice: alimentação e bebidas, habitação, artigos de residên cia, vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educa ção e comunicação.

Divulgação: em torno do dia 15 do mês seguinte ao de referência.

d) Índice de Preços ao Consumidor - Amplo (IPCA)

Entidade apuradora: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(FIBGE).

Cobertura geográfica: regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Ale gre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Goiâ nia e Brasilia.

Classe de renda dos consumidores pesquisados: 1 a 40 salários mínimos.

Período de coleta primeiro ao último dia do mês de referência.

Composição do índice: alimentação e bebidas, habitação, artigos de residên cia, vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educa ção e comunicação.

Divulgação: em torno do dia 15 do mês seguinte ao de referência.

e) Índice de Preços ao Consumidor - São Paulo - IPC

Entidade apuradora: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), ór gão da USP.

Cobertura geográfica: cidade de São Paulo.

Classe de renda dos consumidores pesquisados: dois a seis salários mínimos.

Período de coleta: primeiro ao último dia do mês de referência.

Composição do índice: alimentação, despesas pessoais, habitação, transpor tes, vestuário, saúde e cuidados pessoais e educação.

Divulgação: em torno do dia 10 do mês seguinte ao de referência.

104 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

O Índice de Custo de Vida - ICV - São Paulo

Entidade apuradora: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos So cioeconômicos.

Page 88: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Cobertura geográfica: cidade de São Paulo.

Classe de renda dos consumidores pesquisados: 1 a 30 salários mínimos.

Período de coleta: primeiro ao último dia do mês de referência.

Composição do índice: alimentação, habitação, transportes, comunicação,

vestuário, assistência à saúde e higiene, educação e cultura, equipamentos domés ticos, recreação e fumo, limpeza doméstica, higiene pessoal e despesas diversas.

Divulgação: em torno do dia 10 do mês seguinte ao de referência.

5.1.2 Indexadores especiais

Além dos índices de inflação, a economia brasileira utiliza outros indexado res. Alguns são derivados dos índices de inflação, enquanto outros originam-se de

taxas de juros praticadas no mercado financeiro.

O principal indexador oficial utilizado no Brasil foi a ORTN. Foi substituída pela OTN, depois pelo BTN e, por último, pela Taxa Referencial (TR).

Os principais indexadores especiais são os seguintes:

a) Taxa Referencial (TR)

A Taxa Referencial (TR) foi criada no Plano Colior II, no começo de 1991,

para substituir o BTN como indexador.

Embora seja utilizada como indexador, a TR não é derivada de nenhum índi ce de inflação. Ela representa a média das taxas de juros de CDB praticadas por um conjunto de grandes bancos, descontada da estimativa dos juros reais embutidos nessas taxas.

Ao criar a TR, o governo pretendeu abandonar o esquema de cálculo até en tão vigente, no qual a inflação de um mês era repassada para o indexador oficial do mês seguinte (ORTN, OTN e BTN). Esse objetivo seria atingido com a utilização das taxas de CDB, que, por serem prefixadas, projetam a inflação para um mês à frente, quebrando, assim, o vínculo com a taxa passada de inflação.

Como as taxas dos CDB incorporam, além da expectativa de inflação, uma

taxa de juros real, uma vez descontada esta última da taxa total dos CDB, teríamos

a taxa de inflação projetada pelo mercado que serviria então como indexador.

Entretanto, o processo de expurgo dos juros reais das taxas de CDB promovi do pelo governo não consegue ter a mesma dinâmica do mercado. Os juros reais

INFLAÇÃO E TAXAS DE JUROS 105

dos CDB podem apresentar variações muito rápidas ao longo de um mês, e o uso

de um redutor fixo acaba distorcendo o valor da TR em relação à inflação.

A’ém dessa dificuldade operacional, o governo tem administrado a TR com

outros objetivos macroeconômicos que conflitam com a intenção original desse in dexador.

b) Correção Cambial

Page 89: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O índice de correção cambial mede a variação do poder de compra da moeda nacional em relação ao dólar norte-americano.

A correção cambial não é rigorosamente um indexador, tanto que a legisla ção veda sua utilização como indexador na maioria das operações financeiras.

A correção cambial funciona como um indexador indireto nas operações de

captação de recursos em moeda estrangeira e nos custos e receitas da empresa re ferenciados em moeda estrangeira.

Assim, quando uma empresa contrata um financiamento em moeda estran geira, pressupõe que a variação cambial acompanhe a taxa da inflação. Também, quando assina um contrato de exportação com os preços referenciados em dólar, espera que a correção cambial não seja menor do que a taxa de inflação brasileira.

Até 1999, o Brasil adotou um sistema de taxa cambial fixa. O retrospecto de

longo prazo da correção cambial mostrava significativa defasagem em relação à

inflação brasileira.

O sistema de câmbio com livre flutuação adotado a partir de 1999 tornou mais complexa a previsão da relação entre a variação cambial e taxa de inflação,

mesmo a longo prazo.

Enquanto vigorou o sistema de câmbio fixo, a maioria das decisões empresa riais pressupunha igualdade entre taxa de câmbio e taxa de inflação, o que, entre tanto, efetivamente não acontecia.

Com o sistema de câmbio flutuante, é mais provável que a variação entre taxa

cambial e taxa de inflação seja bem menor, principalmente numa óptica de longo

prazo.

c) Unidade Fiscal de Referência (Ufir)

Implantada a partir de janeiro de 1992, a Ufir destina-se a atualizar moneta riamente os débitos fiscais federais. E derivada do Indice de Preços ao Consumidor

Ampliado (IPCA) do IBGE.

Desde que passou a ser atualizada anualmente, a Ufir deixou de ter correla ção direta com os índices de inflação. Isso se explica pelo fato de o governo procu rar desestimular o processo de reindexação automática que prevaleceu durante mais de 30 anos na economia brasileira.

106 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

5.1.3 Inflação interna

Um índice de preços ao consumidor reflete a variação dos preços de um con junto de bens e serviços comprados por um grupo de consumidores com determi nada faixa de renda.

Mesmo o IGP-DI, um índice geral de preços em que o Índice de Preços ao Con sumidor tem um peso de apenas 30%, pode não refletir adequadamente a variação

Page 90: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

do conjunto de bens e serviços comprados pela empresa.

Embora vários índices possam ser utilizados para representar a inflação das

empresas, esta pode ser muito diferente.

Caso a empresa precise saber com precisão sua taxa de inflação — denomina da inflação interna —, poderá apurá-la com base em levantamentos específicos.

A inflação interna pode ser utilizada para subsidiar a tomada de decisões,

realizar controle, ou efetuar análises especiais.

O processo de cálculo da inflação interna necessita da apuração de uma es trutura-padrão de custos para a empresa, da mesma forma que os índices de infla ção precisam da estrutura-padrão de gastos dos consumidores.

5.1.4 Análise comparativa dos índices

A análise dos principais índices de inflação no Brasil permite as seguintes

conclusões:

• O índice de custo de vida na cidade de São Paulo, apurado pelo Departa mento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos — Dieese —,

tem ficado sistematicamente acima dos demais índices de inflação.

• Enquanto a taxa de câmbio foi administrada pelo governo antes da adoção do câmbio flutuante — sua variação acumulada a longo prazo

sempre foi menor do que a de qualquer índice de inflação.

• A variação dos índices de inflação, uns em relação aos outros, é impre visível. Não existe nenhuma tendência definida para a evolução desses

índices, nem mesmo em longos períodos de tempo.

• A variação anual entre os índices de inflação foram significativas nos anos do lançamento de planos econômicos.

5.2 ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA

A atualização monetária de um valor entre duas datas consiste em incorporar

a ele o efeito da inflação verificada no período.

INFLAÇÃO E TAXAS DE JUROS 107

Também denominada correção monetária e indexação monetária, a atualiza ção monetária pode ser efetuada por várias razões:

• Exigências contratuais (financiamentos, aluguéis, preços etc.).

• Comparação de custos e preços históricos.

• Atualização de débitos de qualquer natureza.

Quando a atualização monetária é realizada para fins de análise comparati va, a empresa pode escolher o índice que julgar mais apropriado.

Page 91: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Como mencionado, o índice mais indicado para fazer atualização monetária

é o Indice Geral de Preços, segundo o conceito de Disponibilidade Interna (IGP-DI)

da Fundação Getúlio Vargas.

Em circunstâncias específicas, outros índices poderão ser utilizados. Por

exemplo, para atualização monetária de custos de pessoal, os índices de preços ao

consumidor são mais apropriados.

5.2.1 Cálculo da atualização monetária

O cálculo da atualização monetária pode ser realizado com base nos percen tuais de variação do índice de inflação ou dos números-índices que representam a

variação desse índice de inflação.

a) Atualização monetária com percentuais

A atualização monetária com percentuais segue os mesmos princípios do cál culo de valor futuro a juros compostos.

O cálculo da atualização monetária de um valor utilizando percentuais equi vale a determinar seu valor futuro, utilizando como taxa de juros o percentual de

inflação de cada período.

O valor atualizado é calculado do seguinte modo:

Va = Vb x (1 + x (1 + 12) ... (1 + I x (1 + I (F.5.1)

sendo: Va = valor atualizado

Vb = valor-base a ser atualizado

I 12, ..., I - , I = percentuais de variação do índice de inflação nos pe ríodos 1, 2, n — 1 e n, posteriores ao período do va lor-base

108 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

b) Atualização monetária com números-índices

Um número-índice é um parâmetro utilizado para indicar de modo indireto a

variação percentual da inflação em certo período de tempo.

Se o número-índice referente a um índice de inflação era 100 em determina do mês, e 101,4 no mês seguinte, a variação desse número-índice no período — 1,4% — representa a taxa de inflação desse mês seguinte.

A inflação medida pelos índices tradicionais é representada por núme ros-índices em valor absoluto. Já a variação da taxa de câmbio e da Ufir é represen tada por números-índices monetários.

O valor atualizado com base em números-índices é calculado da seguinte forma:

Va= Vbx (I (F.5.2)

sendo: Va = valor atualizado

Page 92: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Vb = valor-base a ser atualizado

= número-índice referente à data do valor-base = número-índice referente à data do valor atualizado

5.2.2 Deflacionamento

A comparação de valores referentes a datas diferentes requer que eles sejam

expressos em valores de uma mesma data, que pode ser atual ou passada.

Se expressarmos um valor referente a certa data para outra que lhe seja ante rior, usando determinado índice de inflação, estaremos efetuando seu deflaciona mento.

Por exemplo, o preço atual de um produto é R$ 107,00. Se quisermos deflacio nar esse preço para um ano atrás, precisamos descontar do preço a inflação desse período de um ano. Supondo que essa inflação tivesse sido de 7%, o valor deflacio nado para um ano atrás seria R$ 100,00.

O deflacionamento de valores também pode ser efetuado com o uso de per centuais, ou de números-índices que representam a variação da inflação.

a) Deflacionamento com percentuais

O deflacionamento com percentuais segue a mesma metodologia de cálculo de valor presente a juros compostos.

INFLAÇÃO E TAXAS DE JUROS 109

Para deflacionar um valor, utilizando percentuais, precisamos calcular seu

valor presente, utilizando como taxa de juros o percentual de inflação de cada pe ríodo.

O valor deflacionado é calculado da seguinte forma:

Vd = Vh ÷ ((1 + I >< (1 + 12) ... (1 + I x (1 + Ia)) (F.5.3)

sendo: Vd = valor deflacionado

Vh = valor-base

I 1 I -1’ = percentuais de variação do índice de inflação nos perío dos 1, 2, ii — 1 e n, anteriores ao período do valor-base

b) Deflacionamento com números-índices

O valor atualizado com base em números-índices é calculado da seguinte forma:

Vd = Vbx (I (F.5.4)

sendo: Vd = valor deflacionado

Vb = valor-base

I = número índice da data do valor-base

10 = número-índice da data do valor deflacionado

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

Page 93: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

1. O valor de um pagamento contratual está fixado em R$ 500,00. Deve ser atualizado por um percentual de 6,7%. Qual o valor atualizado?

Dados:

valor-base (Vb) = 500

taxa de inflação (Ii) = 6,7% ou 0,067

valor atualizado (Va) =

Solução:

Usando a fórmula de atualização monetária com percentuais (F.5.1), vem:

Va=Vbx(1+I

Va 500 x (1 + 0,067)

Va = 533,50

110 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

2. Um financiamento de R$ 12.400,00 está vencido há três meses. Determine seu valor atualizado, sabendo que a variação do índice de atualização foi 1,2% no primeiro mês, 0,25% no segundo e 0,46% no terceiro.

Dados:

valor-base (Vb) = 12.400,00

taxa do mês 1 (Ir) = 1,2% OU 0,012

taxa do mês 2 (‘2) = 0,25% ou 0,0025

taxa do mês 3 (13) = 0,46% OU 0,0046

valor atualizado (Va) =

Solução:

Usando a fórmula de atualização monetária com percentuais (5.1), vem:

Va = Vbx (1 + I x (1 + 12) ... (1 + I x (1 + I

Va=Vbx(1 + + +13)

Va = 12.400 x (1 + 0,012) x (1 + 0,0025) x (1 + 0,0046)

Va = 12.638,04

3. Em 30-4-1998, o preço de um serviço era R$ 7.460,00. Qual seu valor atuali zado em 30 de novembro do mesmo ano, considerando os seguintes valores

para o IGP-DI:

IGP-DI de abril/98 = 146,211

IGP-DI de novembro/98 = 145,79 7

Dados:

valor-base (Vb) = 7.460,00

Page 94: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

número-índice da data do valor-base (Ia) = 146,211

número-índice da data do valor atualizado (Ia) = 145,797

valor atualizado (Va) = ?

Solução:

Usando a fórmula de atualização monetária com números-índices (F.5.2),

vem:

Va = Vb x (I ÷ I

Va = 7.460 x (145,797 ÷ 146,211)

Va = 7.438,88

Observação: o valor atualizado tem um valor menor do que o valor-base, por que houve deflação no período.

INFLAÇÃO E TAXAS DE JUROS 111

4. O valor de um débito vencido no início de um trimestre era R$ 3.000,00. Atua lize esse valor para o fim do trimestre, com base na variação da taxa cambial,

considerando que:

taxa cambial no início do trimestre = 1,72 1

taxa cambial no fim do trimestre = 1,785

Dados:

valor-base (Vb) = 3.000,00

número-índice da data do valor-base (Ia) = 1,72 1

número-índice da data do valor atualizado (Ia) = 1,785

valor atualizado (Va) = ?

Solução:

Usando a fórmula de atualização monetária com números-índices (F.5.2),

vem:

Va = Vb x (I — ‘

Va = 3.000 x (1,785 ÷ 1,721)

Va = 3.111,56

5. O preço de um produto em novembro de determinado ano era R$ 2.340,00. Deflacione esse preço para julho do mesmo ano, considerando que a inflação entre esses meses foi 3,56%.

Dados:

valor-base (Vb) = 2.340,00

taxa de atualização monetária (Ia) = 3,56% OU 0,0356

Page 95: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

valor deflacionado (Vd) = ?

Solução: usando a fórmula de deflacionamento com a utilização de percen tuais (F.5.3), vem:

Vd = Vb ÷ ((1 + I X (1 + 12) ... (1 + I x (1 + 1,,))

Vd = 2.340,00 ÷ (1 + 0,0356)

Vd = 2.259,56

6. As compras de uma empresa em determinado mês atingiram R$ 45.000,00. Deflacione o valor dessas vendas para dois meses antes, considerando que os

dados de inflação são os seguintes:

mês n — 1: 1,0%

mês n — 2: 0,5%

112 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Dados:

valor-base (Vb) = 45.000

taxa do mês 1 (Ir) 1% OU 0,01

taxa do mês 2 (12) = 0,5% ou 0,005

valor deflacionado (Vd) = ?

Solução 1:

Usando a fórmula de deflacionamento com a utilização de percentuais

(F.5.3), vem:

Vd = Vb —((1 + I X (1 + 12) ... (1 + I x (1 + Ia))

Vd = 45.000 ÷ ((1 + 0,01) x (1 + 0,005))

Vd = 44.332,79

7. O custo operacional de uma empresa em julho de determinado ano atingiu R$ 18.002,00. Coloque esse valor a preços de fim de janeiro, considerando os

seguintes números-índices representativos da inflação:

janeiro: 104,10

julho: 108,22

Dados:

valor-base (Vb) = 18.002,00

número-índice da data do valor-base (Ia) 108,22

número-índice da data do valor deflacionado (Ia) = 104,10

valor deflacionado (Vd) = ?

Solução:

Page 96: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Usando a fórmula de deflacionamento com a utilização de número-índice

(F.5.4), vem:

Vd = Vb x (I I

Vd 18.002 x (104,10 ÷ 108,22)

Vd = 17.316,65

8. Os preços de uma ação no final de cada mês e as respectivas taxas de inflação

foram os seguintes:

Mês Preço Inflação

01 12 5,2%

02 13 6,0%

03 14,77 5,5%

Coloque os três valores a preços do final do segundo mês.

INFLAÇÃO E TAXAS DE JUROS 113

Solução:

Atualização do preço do primeiro mês:

valor-base (Vb) = 12

taxa de atualização monetária (1) = 6% ou 0,06

valor atualizado (Va) = ?

prazo (n) = 1 mês

[

Va 12 x (1 + 0,06) E ProfessOr

Va = 12,72 F. (31)3201-6926

Deflacionamento do preço do terceiro J t C brJ

valor-base (Vb) 14,77

taxa de atualização monetária (Ia) = 5,5% ou 0,055

valor deflacionado (Vd) = ?

prazo (n) = 1 mês

Calculando:

Vd = Vb (1 + I

Vd = 14,77 ÷ (1 + 0,055)

Vd = 14,00

Observe que a inflação do primeiro mês não precisou ser considerada e que o

preço da ação no segundo mês já está atualizado para essa data.

Page 97: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

5.3 TAXAS DE JUROS

Esta seção apresenta a classificação das taxas de juros por tipo e também as

principais taxas de juros utilizadas no mercado financeiro.

Boa parte da diversidade de tipos de taxas de juros é explicada pelos muitos

anos de inflação a que esteve sujeita a economia brasileira.

114 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

5.3.1 Tipos de taxas

A classificação de taxas apresentada nesta seção é necessária à análise das ta xas de juros praticadas nas operações financeiras de aplicação e captação de recur sos financeiros.

a) Taxa nominal

A taxa de juros nominal representa o percentual de rentabilidade de uma aplicação financeira ou de custo de uma operação de crédito. Assim, a inflação ve rificada ou projetada juntamente com os juros reais formam a taxa de juros nomi nal.

No Capítulo 4— Fundamentos de Cálculo Financeiro —, foi apresentada a me todologia de cálculo da taxa nominal.

b) Taxa real

Quando se desconta da taxa nominal de juros a inflação, tem-se a taxa real de

juros.

Nos países com longa tradição de estabilidade econômica, a determinação da

taxa de juros real não é uma prática generalizada. A taxa nominal é tratada como

se fosse a taxa real, na maioria das análises.

No Brasil, durante muitos anos, a inflação representava a grande parcela das taxas nominais. Por exemplo, em 1993, a taxa nominal de algumas linhas de crédi to foi de 3.129%. Desse total, apenas 15% era a taxa real. Esse dado ilustra a im portância do cálculo da taxa real.

No Capítulo 4— Fundamentos de Cálculo Financeiro —, foi apresentada a me todologia de cálculo da taxa real.

c) Taxa aparente e efetiva

É a taxa de juros informada numa operação financeira, mas, devido a suas ca racterísticas de cálculo, não representa a verdadeira taxa de juros paga ou auferi da. Esta é denominada taxa efetiva.

Exemplos de operações financeiras com taxa de juros aparente:

1. Uma instituição financeira realiza empréstimos a uma taxa de 5% ao

mês, mas cobra os juros antecipadamente. Nessas condições, para cada

R$ 100,00 emprestados, ela cobra antecipadamente R$ 5,00 de juros e

libera R$ 95,00 para o tomador. A taxa efetivamente cobrada é 5,2 6%.

Page 98: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

INFLAÇÃO E TAXAS DE JUROS 115

2. Um financiamento é concedido a uma taxa de 12% ao ano com capita lização mensal. Essa condição significa que a taxa de juros mensal é 1%

(12 ± 12). No entanto, quando alguém paga uma taxa de juros de 1%

ao mês, estará pagando 12,68% ao ano, que é a taxa equivalente a 1%

ao mês. Desse modo, 12% ao ano com capitalização mensal é uma taxa

de juros aparente e 12,68% ao ano é a efetiva.

Em alguns casos, a taxa aparente também é denominada taxa nominal e a taxa efetiva é denominada taxa real. Essas denominações diferem em significado daquelas apresentadas no Capítulo 4 que estão relacionadas com a inflação, ou atualização monetária.

d) Taxa prefixada

É uma taxa pactuada para vigorar durante um período futuro de tempo. Ge ralmente, a taxa prefixada compõe-se de uma parcela para a inflação projetada e

de outra para os juros reais.

Por exemplo, um CDB com prazo de vencimento de 30 dias é oferecido a uma taxa de 1,5% ao mês. No momento da emissão, a inflação está em 0,5% ao mês. A taxa de 1,5% ao mês é prefixada e destina-se a cobrir a atualização monetária para os próximos 30 dias, estimada em 0,5%, e oferecer uma taxa real de aproximada mente 1% ao mês.

e) Taxa pós-fixada

É a taxa conhecida no final do prazo da operação. Também é uma taxa nomi nal em que a parcela de juros reais geralmente é definida previamente, enquanto a parcela representativa da variação monetária só é conhecida no final do prazo da operação.

Desse modo, se tivermos um empréstimo que custa a variação monetária

mais juros de 14% ao ano, seu custo anual será uma taxa pós-fixada.

O Taxa bruta

É a taxa de juros antes dos impostos ou outros encargos que venham a incidir

sobre o rendimento.

As taxas de juros divulgadas para as aplicações financeiras são taxas brutas.

Como essas aplicações estão sujeitas a alíquotas diferentes de tributação e de ou tros encargos, a taxa bruta não pode ser usada para comparar sua rentabilidade.

116 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

g) Taxa líquida

A taxa de juros bruta ajustada pelo efeito dos impostos e outros encargos é de nominada taxa de juros líquida.

No caso das aplicações financeiras, o imposto de renda reduz a taxa bruta.

Nas operações de financiamento o imposto de renda pode reduzir ou aumentar a

Page 99: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

taxa bruta, conforme mostrado no Capítulo 6 — Financiamentos.

5.3.2 Taxas de juros de investimento e financiamento

Nos tópicos seguintes são descritas as principais taxas de juros utilizadas nas

aplicações financeiras e operações de crédito.

Foram omitidas propositadamente as características dessas taxas de juros

que sofrem freqüentes alterações.

a) Taxa de Juros de Longo Prazo — TJLP

A Taxa de Juros de Longo Prazo — TJLP é a taxa de juros aplicada aos financia mentos do BNDES. E administrada pelo governo, que estabelece pela legislação

sua forma de cálculo.

É uma taxa de juros nominal e, por isso, já incorpora uma estimativa de infla ção para o seu prazo de validade.

b) Taxa Selic

A taxa de juros utilizada como referência de rentabilidade para os títulos pú blicos é denominada Taxa Selic. A sigla Selic significa Sistema de Liquidação e

Custódia.

A taxa Selic é uma taxa de juros nominal e contém, portanto, atualização mo netária e juros reais.

c) Taxa CDI

É a taxa de juros praticada nas operações do mercado interbancário, nos Cer tificados de Depósitos Interfinanceiros, instrumento que permite uma instituição

financeira com disponibilidade de recursos financeiros emprestá-los a outra.

A taxa CDI é uma taxa de juros nominal e contém, portanto, atualização mo netária e juros reais.

Várias operações de crédito têm seu custo representado pela taxa CDI acre sci da de uma comissão (spread).

INFLAÇÃO E TAXAS DE JUROS 117

d) Taxa ANBID para CDB

A Associação Nacional dos Bancos de Investimento (ANBID) faz um levanta mento das taxas de Certificado de Depósito Bancário (CDB) e outras alternativas

de captação de recursos (RDB e CDI) e divulga sob a denominação de taxa ANBID.

Essa taxa de juros é utilizada para fixar contratualmente a rentabilidade de

alguns ativos financeiros e também o custo de algumas operações de crédito.

Embora seja uma taxa de juros nominal que contém a atualização monetária

projetada e juros, em alguns contratos essa taxa funciona como indexador puro,

Page 100: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

sofrendo um segundo acréscimo de juros reais.

e) Taxa Básica Financeira (TBF)

A média das taxas de juros dos CDB, apuradas pelo Banco Central nos maio res bancos, é denominada Taxa Básica Financeira (TBF).

A TBF serve de base de cálculo da Taxa Referencial (TR). Esta última é igual à

TBF menos o redutor aplicado pelo Banco Central.

EXERCÍCIOS

1. Há três meses, o preço de um serviço era R$ 1.240,00. Faça a atualização mo netária desse preço para hoje, considerando que as taxas de inflação foram de

0,21% no primeiro mês, 0,82 no segundo mês e 0,91% no terceiro mês.

2. Uma dívida com a Prefeitura tinha um valor de R$ 13.333,00 quando a uni dade fiscal utilizada em sua correção tinha o valor R$ 0,84. Determine o valor dessa dívida numa data em que o valor dessa unidade fiscal estava em R$

0,94.

3. O valor de um imóvel numa data era R$ 78.000,00. Deflacione esse valor para 24 meses antes, considerando que durante esse período a inflação acu mulada foi 13,4%.

4. O custo de produção de um eletrodoméstico atingiu R$ 345,00 num determi nado mês. Deflacione esse valor para três meses antes, considerando que du rante esse período ocorreram as seguintes taxas de inflação:

mês 1: 1,2%

mês 2: — 0,27%

mês 3: 1,46%

118 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

5. Há oito meses, o preço de um produto era de R$ 1.322,00. Atualize esse preço para a data de hoje, sabendo que os números-índices representativos da infla ção no período foram os seguintes:

número-índice da data passada = 146,21

número-índice de hoje 153,22

6. As vendas de uma empresa num determinado mês atingiram R$ 23.000,00. Deflacione o valor dessas vendas para dois meses atrás considerando que os

dados de inflação são os seguintes:

mês 1: 1,3%

mês 2: 0,4%

FINANCIAMENTOS

Os ativos de uma empresa — fixos e circulantes — permitem que ela realize suas operações e obtenha o lucro almejado. Existe uma correlação entre o valor

Page 101: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

dos ativos de uma empresa, o volume de operações e o lucro obtido.

O financiamento dos ativos pode ser efetuado com capital próprio e de tercei ros. A utilização de capital de terceiros é uma prática universal nas empresas, pois permite que sua implantação, funcionamento e expansão não dependa apenas do capital próprio.

O uso do capital de terceiros deve atender a duas condições básicas: seu custo deve ser compensador e a dosagem deve ser adequada de modo que limite o risco

da empresa.

A utilização de capital de terceiros é vantajosa quando seu custo é menor do que o retorno proporcionado pelos ativos da empresa. Mesmo com essa vantagem,

o risco do endividamento surge, porque o lucro de uma empresa é incerto.

Uma das tarefas cruciais do administrador financeiro é tomar as decisões de financiamento, escolhendo seu valor, custo e cronograma de pagamento apropria dos à situação específica da empresa.

6.1 CONCEITOS BÁSICOS

Os conceitos utilizados em administração de financiamentos e que requerem uma abordagem quantitativa para seu entendimento estão apresentados neste item.

6

120 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

6.1.1 Alavancagem financeira

A justificativa econômica para o uso de capital de terceiros baseia-se no con ceito de alavancagem financeira, que é o parâmetro que indica a relação entre a variação da rentabilidade do capital próprio e a variação da rentabilidade do in vestimento total.

A alavancagem financeira é positiva quando a utilização de capital de tercei ros produz uma rentabilidade do capital próprio maior do que a rentabilidade do investimento. Se a rentabilidade do capital próprio for menor do que a rentabilida de do investimento, a alavancagem financeira é negativa.

O exemplo seguinte ilustra o conceito de alavancagem financeira positiva. Uma empresa vai fazer um investimento de R$ 300.000,00, cujo retorno ope racional é de 20% ao ano. Tem duas opções para financiar esse investimento:

1. 100% com recursos próprios.

2. 50% com recursos próprios e 50% com financiamento que custa 10% ao ano.

O Quadro 6.1 mostra o efeito da alavancagem financeira positiva sobre a ren tabilidade do capital próprio.

Quadro 6.1 Alavancagem financeira positiva.

Item

Sem

Page 102: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

financiamento

Com

financiamento

Capital próprio

Capital de terceiros

Investimento total

Resultado operacional (antes dos juros)

Juros — 10% sobre capital de terceiros

Resultado após os juros

Rentabilidade sobre o capital próprio

300.000

O

300.000

60.000

O

60.000

20%

150.000

150.000

300.000

60.000

15.000

45.000

30%

Considere-se outra empresa que tem um retorno operacional de 8% sobre um investimento de R$ 300.000,00 e admitamos duas hipóteses de financiamento:

1. 100% com recursos próprios.

2. 50% com recursos próprios e 50% com financiamento que custa 10% ao ano.

FINANCIAMENTOS 121

O Quadro 6.2 mostra o efeito da alavancagem financeira negativa sobre a rentabilidade do capital próprio.

Quadro 6.2 Alavancagem financeira negativa.

Page 103: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Item

Sem

.

financiamento

Com

.

financiamento

Capital próprio

Capital de terceiros

Investimento total

Resultado operacional (antes dos juros)

Juros — 10% sobre capital de terceiros

Resultado após os juros

Rentabilidade sobre o capital próprio

300.000

O

300.000

24.000

O

24.000

8%

150.000

150.000

300.000

24.000

15.000

9.000

6%

Nesse caso, a utilização de financiamento reduziu a rentabilidade do capital próprio de 8 para 6% porque o custo do capital de terceiros (10%) é maior do que a

rentabilidade do investimento (8%).

6.1.2 Índices de endividamento

As decisões de financiamento também precisam levar em consideração, além

Page 104: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

do custo, as modificações a serem acarretadas sobre a estrutura de capital da em presa, ou seja, a participação de capitais próprios e de terceiros no financiamento dos ativos.

Para uso interno da empresa, os índices de endividamento fornecem indica dores do grau de risco acarretado pelos financiamentos. A administração financei ra também se preocupa com os índices de endividamento porque bancos, fornece dores e clientes também avaliam a solidez financeira da empresa com base nesses índices.

Não existem padrões universais para os índices de endividamento. A melhor

forma de interpretá-los é compará-los com a média setorial.

Exigível Total

a) Endividamento geral = _______________________________

Exigível Total + Patrimônio Líquido

Esse indicador mede o percentual de participação dos recursos de terceiros — representados pelo exigível total — soma do passivo circulante com o exigível a lon go prazo — no total de recursos utilizados pela empresa. Esse índice também está relacionado com o grau de alavancagem financeira da empresa.

122 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Um índice de endividamento geral elevado indica excesso de utilização de ca pital de terceiros. Na situação ideal, um valor elevado para esse índice deveria pro porcionar uma alavancagem financeira positiva, O risco do endividamento estaria sendo compensado pela maior rentabilidade do capital próprio.

Exigível Total

b) Capital de terceiros sobre capital proprio = ___________________

Patrimônio Líquido

É o índice que mostra a proporção existente entre os recursos de terceiros e os

recursos próprios. Um alto índice de endividamento geral conduz também a um

elevado índice de capital de terceiros sobre capital próprio.

Quando a relação entre capital de terceiros e capital próprio é alta, também

indica que a empresa está fortemente alavancada, exigindo maior observação tan to pela administração financeira como pelos analistas externos.

- . . Passivo circulante

c) Composiçao do endividamento = .

Passivo circulante + Exigivel a

Longo Prazo

Uma informação importante para a administração financeira é como as dívi das da empresa estão distribuídas entre o curto e o longo prazo. Essa informação é

fornecida pelo índice de composição do endividamento.

Page 105: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Um índice de valor igual a 0,5 significa que as dívidas estão distribuídas igual mente entre o curto e o longo prazo.

À medida que esse índice cresce ao longo do tempo, e o endividamento de

longo prazo não se altera de forma significativa, pode indicar uma deterioração da

situação financeira da empresa.

Dívidas financeiras

d) Endividamento financeiro = _________________ Exígivel Total

Parte da dívida financeira de curto prazo é representada por fornecedores, impostos a recolher e salários a pagar, que são itens de vencimento imediato e de valor final já definido. As dívidas financeiras, entretanto, por conta dos juros que podem ser flutuantes, não têm seu valor final conhecido. Por isso, é interessante conhecer o peso dessas dívidas sobre o endividamento total. O índice de endivida mento financeiro fornece essa informação.

Lucro antes das despesas financeiras e

Imposto de Renda

e) Cobertura dos juros = ________________________________

Despesas financeiras

FINANCIAMENTOS 123

Esse indicador expressa a capacidade da empresa para pagar suas despesas

financeiras com base no lucro operacional gerado.

Uma vez que os lucros estão sujeitos à variação, no cálculo desse índice deve ria ser considerada a média dos lucros, expurgada de fatores acidentais, quando

for o caso.

6.1.3 Custo de capital

O custo de capital de uma empresa pode ser definido como o custo dos recur sos financeiros de terceiros e próprios por ela utilizados.

Diversas decisões na empresa são tomadas com base em seu custo de capital.

Ele é utilizado para avaliar alternativas de investimento, como tomar decisões de

preço, escolher entre comprar e alugar.

Por exemplo, uma proposta de investimento só será efetivada caso o retor no esperado seja maior do que o custo de capital. Uma vez que a empresa utiliza diversas fontes de capital, é necessário conhecer o custo específico de cada uma delas.

a) Custo do capital de terceiros

O capital de terceiros é representado por empréstimos, financiamentos e títu los emitidos pela empresa.

Algumas fontes de financiamento não têm um custo explícito e seus dados de

Page 106: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

custo necessitam de alguns ajustes para se chegar a seu custo efetivo.

A seção 6.3 apresenta o detalhamento do cálculo do custo de capital de ter ceiros.

b) Custo do capital próprio

Para uma empresa que não tem ações em bolsas de valores, o custo do capital próprio é o custo-oportunidade atribuído por seus proprietários a esse capital. Nessas circunstâncias, o custo-oportunidade é um parâmetro de valor subjetivo, mas deve ser maior do que a taxa de retorno de longo prazo proporcionada por um investimento sem risco no mercado financeiro.

No Brasil, os dados indicam que a taxa de retorno real de longo prazo no mer cado financeiro é de 8% ao ano. Se se considerar o padrão universal de 7% ao ano para prêmio obtido nos investimentos de risco — como é o caso da atividade empre sarial —, chegar-se-ia à taxa de 15% ao ano para o custo-oportunidade do capital próprio nas pequenas e médias empresas.

124 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Outra alternativa para o estabelecimento do custo-oportunidade do capital próprio é a taxa histórica de rentabilidade da empresa. Para uma empresa com um histórico de sucesso, o custo-oportunidade do capital próprio pode ser representa do adequadamente por sua rentabilidade histórica.

c) Custo dos lucros retidos

Os lucros gerados pela empresa podem ser distribuídos aos donos ou reinves tidos nela própria.

A utilização dos lucros para reinvestimento é uma fonte de capital próprio e

seu custo é equivalente ao custo-oportunidade atribuído pelos proprietários.

Os mesmos critérios utilizados para fixação do custo do capital próprio po dem ser utilizados para determinação do custo dos lucros retidos.

d) Custo médio ponderado de capital

As empresas utilizam várias fontes de capital e cada uma tem um custo espe cífico. Para fins de tomada de decisão, o parâmetro a ser utilizado é o custo médio ponderado de capital. Ele é calculado com base no custo de cada fonte de capital, ponderado por seu percentual de participação no capital total da empresa.

O Quadro 6.3 contém a estrutura de capital de uma empresa, a participação percentual de cada fonte de capital e os custos correspondentes. O cálculo do custo médio ponderado de capital corresponde ao cálculo da média ponderada dos cus tos das fontes de capital.

Quadro 6.3 Estrutura de capital.

Participação Custo

Fonte de capital Valor

/o %

Recursos próprios 1.200.000,00 60,00 14

Page 107: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Financiamento de curto prazo 200.000,00 10,00 11

Financiamento de longo prazo 600.000,00 30,00 12

Total 2.000.000,00 100,00

O custo médio ponderado de capital (CMP) é:

CMP= (1.200÷2.000xO,14) + (200÷2.000xO,11) + (600÷2.000xO,12) =

= 0,131 ou 13,10%.

FINANCIAMENTOS 125

e) Custo marginal ponderado de capital

O custo médio ponderado de capital é afetado pela estrutura de capital da empresa e, por isso, pode ser alterado por toda nova decisão de financiamento.

O custo médio ponderado de capital decorrente de cada fonte adicional de capital é denominado custo marginal de capital.

O Quadro 6.4 ilustra o custo marginal de capital (novo custo médio pondera do de capital) produzido por uma mudança na estrutura de capital de empresa de corrente da contratação de um financiamento externo.

Quadro 6.4 Custo marginal de capital.

Participação Custo C. Ponderado

Estrutura de capital atual Valor %

Capital próprio 900.000,00 60,00 14 8,40

Financiamento de curto prazo 180.000,00 12,00 11 1,32

Financiamento doméstico de longo prazo 420.000,00 28,00 12 3,36

Total 1.500.000,00 100,00 13,08

Participação Custo C. Ponderado

Nova estrutura de capital atual Valor %

Capital próprio 900.000,00 50,00 14 7,00

Financiamento de curto prazo 180.000,00 10,00 11 1,10

Financiamento doméstico de longo prazo 420.000,00 23,33 12 2,80

Financiamento externo 300.000,00 16,67 8 1,33

Total 1.800.000,00 100,00 12,23

Ao avaliar um novo projeto de investimento, é necessário calcular o retorno marginal ponderado decorrente da aceitação desse projeto e compará-lo com o custo marginal ponderado de capital, considerando a alteração na estrutura de ca pital provocada pelo financiamento do projeto.

O projeto deverá ser aceito se o retorno marginal ponderado da empresa for maior do que o custo marginal ponderado de capital.

Page 108: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

6.1.4 Limite de endividamento

Uma empresa está sujeita ao risco econômico e ao risco financeiro, O risco econômico decorre do fato de a empresa possuir custos fixos operacionais e sua re ceita estar sujeita a variações. Mesmo que funcione com 100% de capital próprio, a empresa enfrenta o risco econômico, já que a receita obtida pode não ser suficiente para cobrir os custos.

126 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

O risco financeiro decorre da existência de despesas financeiras contratuais fixas, oriundas da utilização de capital de terceiros. Ele é caracterizado por um maior intervalo de variação do resultado (lucro ou prejuízo) diante de variações no resultado operacional.

Uma vez que a variação do resultado operacional correlaciona-se com o risco

econômico da empresa, quanto maior for este último, maior será o risco financeiro

decorrente do endividamento.

O Quadro 6.5 ilustra o risco financeiro de duas empresas sujeitas ao mesmo risco econômico, mas com graus de endividamento diferentes. A empresa A utiliza apenas capital próprio. A empresa B utiliza 50% de capital próprio e 50% de capi tal de terceiros, cujo custo é de 10% ao ano. São consideradas três hipóteses de re tomo operacional para as duas empresas: — 20%, 0% e 20% sobre o ativo total.

Quadro 6.5 Risco financeiro.

Capital próprio

Empresa A

(s/endividamento)

Empresa B

(c/endividamento)

200

200

200

100

100

100

Capital de terceiros

O

O

O

100

100

Page 109: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

100

Ativo total

200

200

200

200

200

200

Resultado operacional

—40

O

40

—40

O

40

Juros

O

O

O

10

10

10

Resultado após os juros

—40

O

40

—50

—10

30

Rentabilidade do capital próprio

—20%

0%

20%

Page 110: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

—50%

—10%

30%

Variação da rentabilidade (risco)

40%

80%

O Quadro 6.5 mostra que, na hipótese otimista, a empresa B tem uma renta bilidade de 30% sobre o capital próprio, conseguindo assim uma alavancagem fi nanceira positiva. Entretanto, quando a rentabilidade do ativo ou capital total si tua-se em O ou —20%, será maior do que a rentabilidade do capital próprio (—10 e

—50%). A empresa A, por não ser alavancada, tem a rentabilidade do capital pró prio exatamente igual à do capital total, em qualquer situação.

A corrente tradicional de administração financeira afirma que as empresas,

ao se endividarem, têm um custo médio de capital que não é constante.

Essa corrente de pensamento argumenta que o endividamento moderado re duz o custo de capital, já que os financiadores são indiferentes a ele. A redução do custo médio de capital acontece porque o financiamento em grau moderado tem um custo menor do que o capital próprio.

Quando o grau de endividamento assume grandes proporções, os financiado res passam a exigir taxas de juros mais elevadas para compensar o aumento do ris co, elevando, assim, o custo de capital da empresa.

FINANCIAMENTOS 127

Pelo exposto, a teoria tradicional acredita que a curva do custo médio de capi tal é inicialmente decrescente para depois se elevar à medida que cresce o endivi damento. Desse modo, o ponto em que o custo de capital atinge seu valor mínimo representa o grau de endividamento ideal, capaz de maximizar o resultado da em presa.

A teoria moderna, elaborada por Modigliani e Miller, estabelece que num

mercado de capitais perfeito o valor de uma empresa não é afetado pela sua estru tura de capital.

O modelo MM, como é conhecida a teoria moderna, estabelece que, continua mente, um menor custo de capital de terceiros decorrente do endividamento é contrabalançado por uma maior exigência de rentabilidade (custo) por parte dos acionistas para compensar o aumento do risco. Desse modo, o custo médio total de capital seria constante e, por isso, não haveria alavancagem financeira com o endividamento. O valor da empresa estaria vinculado ao valor de seus ativos, independentemente da combinação de passivos utilizada para financiá-los.

Entre os administradores financeiros parece haver uma preferência pela teo ria tradicional. Isso é confirmado pela preocupação das empresas em manter sob controle seu grau de endividamento, limitando os efeitos positivos da alavanca gem financeira. Além disso, há

Page 111: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

registros de empresas atuando em setores de alto crescimento que funcionam com um nível mínimo de endividamento. Se essas em presas acreditassem que o endividamento fosse irrelevante, iriam praticá-lo em alto grau.

6.2 FONTES DE FINANCIAMENTO

Após definir as diretrizes gerais da política de financiamento, o administra dor financeiro precisa identificar, avaliar e escolher as fontes de financiamento a

serem utilizadas pela empresa.

As alternativas de financiamentos dividem-se em dois grupos principais: as

de curto e as de longo prazo.

A captação de financiamentos pode ser feita no sistema bancário ou com o

lançamento no mercado financeiro de títulos emitidos pela própria empresa.

6.2.1 Financiamentos de curto prazo

São considerados financiamentos de curto prazo aqueles que têm uma matu ridade de até um ano. Esse tipo de endividamento destina-se a financiar o capital

de giro da empresa.

128 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

O principal problema da administração dos financiamentos de curto prazo é determinar o prazo de maturidade adequado para as necessidades da empresa. Se o financiamento tiver um prazo maior do que o necessário, acarretará uma perda financeira, já que o excesso será aplicado a taxas bem menores do que seu custo de captação.

a) Crédito comercial

O financiamento concedido pelos fornecedores ou prestadores de serviço na forma de prazo de pagamento tem um custo que na maioria dos casos não é expli citado. Esse custo é decorrente do desconto que a empresa obtém ao optar pelo pa gamento a vista.

Se o fornecedor ou prestador de serviços oferece um desconto alto para o pa gamento a vista ou antecipado, significa que o custo implícito do financiamento

para o prazo normalmente concedido é igualmente elevado.

A aceitação do desconto por parte da empresa pode ser entendido como uma

recusa em pagar o custo implícito cobrado pelo fornecedor. Assim, ela toma uma

decisão de investimento na liquidação antecipada do débito.

b) Crédito-automático em conta corrente

A utilização de crédito automático para cobrir os déficits de conta corrente — operações do tipo conta-garantida — pode ser utilizada vantajosamente em duas si tuações.

Num dos casos, a vantagem do crédito automático decorre do fato de que ele

é utilizado na medida exata de sua necessidade. Assim, não haveria sobras de cap tação a serem aplicadas a uma taxa de rentabilidade menor do que seu custo.

Page 112: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Outra situação em que o crédito automático em conta corrente pode ser van tajoso acontece quando a empresa tem disponibilidade para fazer uma aplicação financeira por um prazo ligeiramente menor do que o ideal, conforme apresenta do no Capítulo 3, seção 3.2.1.

c) Desconto de duplicatas

As operações de desconto de duplicatas têm seu custo expresso por uma taxa

de desconto que é menor do que o custo efetivo. Quando as taxas de juros estão em

níveis elevados, a diferença entre a taxa de desconto e o custo efetivo é expressiva.

A seção 6.3.3 mostra como transformar a taxa de desconto em custo efetivo

numa operação de captação de recursos financeiros.

FINANCIAMENTOS 129

d) Factoring

Numa operação defactoring, o risco do contas a receber é assumido pelafac tor — a empresa que financia a vendedora.

Se o risco — no todo ou em parte — da empresa vendedora em relação ao con tas a receber for objeto dofactoring e for repassado para afactor, o custo da opera ção não poderá ser comparado com o custo de outras operações de crédito, como por exemplo o desconto de duplicatas. Nesta última, o risco permanece integral mente com a empresa vendedora. Por esse motivo, o custo de uma operação defac toring é maior do que o de operações como desconto de duplicatas.

e) Vendor

Com uma operação de Vendor a empresa vendedora recebe a vista, ao passo que seu cliente paga a prazo à instituição financeira que executa a operação. Ao re ceber a vista, a empresa vendedora deixa de embutir juros no preço, como faz quando a venda é efetuada com prazo de pagamento concedido ao cliente.

Dependendo da situação tributária da vendedora, a não-inclusão de juros no preço de venda pode trazer-lhe economia fiscal. Esta acontece porque se os juros forem embutidos no preço, serão tributados como se fossem um acréscimo normal de receita, embora sejam, de fato, custos financeiros.

Nos casos em que a operação de Vendor proporciona economia fiscal, o custo

de captação efetivo é menor do que o informado pela instituição financeira.

1’) Adiantamento sobre contrato de câmbio (ACC)

A receita em dólares proveniente de uma exportação é recebida algum tempo

depois, quando ocorre a liquidação do contrato de câmbio correspondente.

Uma operação de ACC é uma linha de crédito concedida a uma empresa no momento do fechamento da exportação. Através do ACC, o exportador cede à ins tituição financeira o direito de receber os dólares da venda e recebe em troca, ante cipadamente, os reais correspondentes.

Page 113: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Uma operação de ACC implica em risco cambial para o exportador, pois o dó lar pode valorizar-se em relação ao real. Assim, fazendo o ACC, o exportador rece beria menos reais pelos dólares de sua exportação. O risco cambial do ACC pode ser administrado pelo exportador com operações de hedge nos mercados futuros.

130 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

g) Adiantamento sobre cambiais entregues (ACE)

Se a empresa antecipa na instituição bancária os reais correspondentes aos

dólares da exportação, quando ocorre a entrega dos documentos de embarque, a

operação é denominada Adiantamento sobre Cambiais Entregues (AGE).

h) Financiamento à exportação

A exportação de bens e serviços pode ser amparada por linhas de crédito con cedidas no Brasil por instituições financeiras públicas e privadas, O custo dessas li nhas de crédito está atrelado às taxas de juros vigentes no mercado internacional e à variação cambial.

i) Financiamento à importação

Existem no Brasil linhas de crédito para o financiamento da importação de

máquinas e equipamentos. O financiamento à importação também pode ser con cedido ou arranjado pelos próprios exportadores internacionais.

O custo dessas linhas de crédito está atrelado às taxas de juros vigentes no mercado internacional e à variação cambial.

6.2.2 Financiamentos de longo prazo

As linhas de crédito de longo prazo destinam-se a financiar os investimentos permanentes. Idealmente, essas fontes de recursos financeiros devem ter um cro nograma de pagamento compatível com a geração de caixa dos projetos por ela fi nanciados.

As fontes de financiamento de longo prazo à disposição das pequenas e mé dias empresas estão concentradas em diversos organismos governamentais.

As instituições financeiras privadas limitam-se a repassar os financiamentos

oriundos da poupança financeira estatizada. Isso acontece porque o sistema finan ceiro privado não capta recursos com o perfil de longo prazo.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social — BNDES é a prin cipal fonte de financiamentos de longo prazo no Brasil. Existe uma grande varie dade de linhas de crédito, com características diferenciadas de prazo, custos finan ceiros e formas de pagamento.

As principais características dos financiamentos do BNDES são as seguintes:

• Atividades financiáveis: indústria, comércio, serviços e agropecuária. Percentual financiável: variável, de acordo com a atividade financiada.

FINANCIAMENTOS 131

• Carência: variável, de acordo com a atividade financiada.

Page 114: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

• Prazo de pagamento: é determinado em função da capacidade de pa gamento do projeto ou da empresa.

• Custo: Dependendo da origem dos recursos captados, da área de apli cação e do valor do financiamento, pode ser expresso pela Taxa de Ju ros de Longo Prazo (TJLP), Libor ou Unidade Monetária do BNDES (UMBNDES), acrescidos de spread básico mais spread do agente finan ceiro.

• Garantias: Os financiamentos exigem a apresentação de garantias, e as mais usuais são as garantias reais (hipoteca, alienação fiduciária), pes soais (aval ou fiança) e Fundo de Aval às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Fampe).

• Processo de obtenção: Contratação direta no BNDES para as operações de valor superior ao limite mínimo estabelecido por esse banco. As operações de valor inferior ao limite mínimo são contratadas nas insti tuições financeiras credenciadas a fazer o repasse do crédito.

a) Financiamentos externos

A utilização de recursos financeiros externos para as empresas de pequeno e

médio porte é praticada, principalmente, mediante repasses amparados pela

Resolução n 63, conhecidos como “operação 63”.

Uma operação 63 consiste no repasse por uma instituição financeira de recur sos por ela captados no mercado externo. Embora esse custo de captação seja ge ralmente baixo, o custo da intermediação bancária, representado pelo spread co brado pelo banco, encarece bastante o custo final do financiamento para a empre sa tomadora.

Não existe restrição legal para que a empresa faça a captação direta em uma instituição financeira no exterior. Entretanto, para as empresas de pequeno e mé dio, essa possibilidade é remota, já que os credores internacionais preferem finan ciar empresas de grande porte e renome internacional. A’ém disso, os custos fixos de um financiamento internacional só o tornam viável para grandes valores.

6.2.3 Debêntures

Debêntures são títulos de crédito emitidos por uma sociedade anônima que

permite a captação de recursos financeiros de médio e longo prazo de vencimento.

Habitualmente, as debêntures são emitidas sem garantia real e, por isso, a

maioria das emissões é efetuada por empresas de grande porte, pois têm tradição e

liderança em seus campos de atuação.

132 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

As principais características de uma debênture são:

a) Tipo

Debêntures simples: são aquelas em que o resgate é efetuado em dinheiro.

Debêntures conversíveis: são aquelas em que o titular tem a opção de resga tá-las em dinheiro ou pela conversão do seu valor em ações da empresa emitente.

Page 115: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

b) Prazo de emissão

As debêntures são emitidas em prazos que variam habitualmente de dois a cinco anos. No entanto, elas contêm uma cláusula de repactuação da remuneração acordada. Se a empresa emitente e os subscritores não chegarem a um acordo na repactuação, as debêntures poderão ser resgatadas antes do prazo originalmente contratado.

e) Garantia

As debêntures podem ter os seguintes tipos de garantia:

• Garantia real: é a garantia representada por penhor ou hipoteca.

• Garantia flutuante: essa forma de garantia dá à debênture privilégio geral sobre o ativo da companhia, mas não impossibilita a negociação

dos bens que compõem esse ativo.

• Garantia subordinada: é a que só tem preferência sobre os acionistas. Em caso de liquidação da companhia, os credores quirografários terão

preferência sobre os debenturistas.

As debêntures também podem ser emitidas sem garantia, sendo então deno minadas “sem preferência”.

d) Custo

O custo das debêntures para a empresa emitente equivale à remuneração

paga aos subscritores acrescida das despesas de intermediação e administração. A

remuneração oferecida aos subscritores varia de acordo com a empresa emitente e

o nível das taxas de juros no país.

FINANCIAMENTOS 133

e) Agente fiduciário

Em qualquer emissão de debêntures existe a figura do Agente Fiduciário,

uma instituição financeira que representa os interesses dos debenturistas junto à

empresa emitente.

O Escritura

As diversas características de uma emissão de debêntures estão registradas

num contrato denominado escritura de debêntures. Nesse documento constam re quisitos, como valor do lançamento, prazo, taxa de juros, garantias.

A captação de recursos financeiros por meio da emissão de debêntures apre senta as seguintes vantagens:

• É uma fonte de financiamento independente do sistema bancário.

• Dependendo do conceito da empresa, ela pode conseguir um custo me nor do que aquele praticado no mercado financeiro.

Page 116: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

• A empresa pode escolher o prazo para liquidar sua dívida.

6.2.4 Leasing

As empresas podem utilizar máquinas e equipamentos sem precisar imobili zar capital, mediante a locação desses bens numa operação especial denominada

arrendamento mercantil ou leasing.

A operação de arrendamento mercantil mais comum é o ieasing financeiro. Esse tipo de ieasing envolve três entidades: a empresa fornecedora do bem, objeto do leasing; a empresa usuária do bem (arrendatária) e a instituição financeira (ar rendadora), que provê os recursos financeiros para o pagamento à fornecedora e seu financiamento à arrendatária.

Após o término do prazo da operação, a arrendatária pode devolver o bem ou ficar com sua posse mediante o pagamento de um valor previamente pactuado, o valor residual garantido. Esse valor residual também pode ser pago antecipada mente ou ter seu pagamento diluído ao longo da operação de leasing.

O Saie Lease Back é uma modalidade de leasing financeiro que gera recursos financeiros para uma empresa com a venda de seus ativos a uma empresa de iea sing e a simultânea transformação da vendedora em arrendatária desses mesmos ativos.

A segunda modalidade de arrendamento mercantil é o ieasing operacional. Neste, uma empresa fabricante de máquinas ou equipamentos está interessada em fazer a locação dos bens por ela produzidos, e seu interesse é basicamente comer cial e não financeiro como acontece com a empresa arrendadora no ieasing finan

134 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

ceiro. O contrato de leasing operacional pode ser rescindido e a arrendatária não

tem a opção de compra do bem no final do contrato.

Entre os argumentos citados a favor do leasing está a vantagem fiscal propor cionada, já que seus pagamentos são considerados despesas operacionais e, por tanto, podem reduzir o imposto de renda da arrendatária.

Entretanto, nem sempre o benefício fiscal do leasing supera aquele proporcio nado pela compra financiada do bem. Quando o bem é adquirido com financia mento, a empresa lança como despesa para fins de cálculo do lucro real a deprecia ção do bem e os juros pagos pelo financiamento utilizado para adquiri-lo.

Na operação de leasing, apenas as prestações são dedutíveis, uma vez que o

bem não é incorporado ao ativo da empresa.

Uma análise financeira da questão mostra que a vantagem fiscal do leasing em comparação com o financiamento não é generalizada. Para um mesmo valor, prazo e taxa de juros, a vantagem fiscal do leasing poderá ser maior ou menor do que a de um financiamento nas mesmas condições. Cada caso necessita de uma análise específica.

6.3 CUSTO EFETWO DE UM FINANCIAMENTO

Um financiamento, para ser contratado, requer que seu custo seja adequada mente determinado e então comparado com a referência ou meta utilizada pela

Page 117: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

empresa.

Devido às particularidades da economia brasileira, a maioria dos financia mentos tem seu custo expresso por uma taxa nominal. Entretanto, toda análise en volvendo investimentos e custo de capital é efetuada com base em taxas reais. O custo dos financiamentos também é afetado pelas taxas, despesas e encargos con tratuais pagos à parte dos juros.

Outro aspecto que afeta o custo efetivo de um financiamento é o imposto de renda. Os juros pagos pelas empresas são dedutíveis de sua receita tributável quando estão submetidas ao regime de lucro real. Já nos financiamentos interna cionais, é praxe o emprestador receber os juros do financiamento sem qualquer desconto do imposto de renda que o fisco brasileiro cobra sobre as remessas para o exterior.

Os tópicos seguintes apresentam alguns casos de cálculo do custo efetivo de financiamento. Por dois motivos deixou de ser incluído no cálculo do custo o efeito do IOF. Primeiro, a legislação que rege o IOF tem sofrido mudanças constantes, e que poderiam tornar rapidamente obsoletas as instruções apresentadas. Depois, em alguns casos — cálculo do custo do leasing, por exemplo — é necessária a monta gem do quadro de amortização do financiamento representado pelo leasing, o que foge ao escopo deste livro.

FINANCIAMENTOS 135

6.3.1 Financiamento com taxa prefixada

Se um financiamento é concedido a uma taxa prefixada — é a taxa que incor pora a inflação prevista e o juros reais —, será necessário fazer uma estimativa da

inflação para chegar ao valor da taxa real.

Para exemplificar, vamos considerar que uma empresa contratou um finan ciamento por um prazo de dois anos, a uma taxa de juros fixa de 13% ao ano, já com todos os encargos incluídos. Suponhamos que essa taxa seja administrada pelo governo e revista a cada trimestre em função de mudanças nas variáveis ma croeconômicas do país, incluindo inflação.

Esse financiamento deve ser avaliado por sua taxa de juros real a se verificar durante os dois anos. Em termos práticos, esse é um dos dilemas do administrador financeiro brasileiro. Nos países que têm uma tradição de baixas taxas de inflação, em geral, as taxas nominais são usadas nas análises sem precisar considerar a in flação.

Neste exemplo, é necessário estimar o comportamento da taxa real no pri meiro ano (ou trimestre) e supor que essa taxa se repetirá ao longo do prazo do fi nanciamento.

Vamos supor que o administrador financeiro dessa empresa estima que a taxa do financiamento se mantenha em 14% nos primeiros dois trimestres e caia meio ponto percentual nos dois trimestres seguintes. Além disso, ele estima que a taxa de inflação fique em 6% ao ano.

A taxa real desse financiamento projetada para o primeiro ano será:

(1,14 x 1,14 x 1,135 x 1,135)1/4 ÷ 1,06 = 1,0731 = 7,31% ao ano.

Essa taxa de 7,31% ao ano foi estimada para o primeiro ano e espera-se que seja repetida no segundo ano. Outra forma mais complexa de tratar o problema seria fazer outras

Page 118: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

estimativas para determinar a taxa de juros real para o segundo ano, abandonando a hipótese de repetição do valor verificado no primeiro ano.

Se a empresa estiver tributada pelo lucro real, precisará ainda fazer um novo

cálculo para apurar a redução de impostos proporcionada pelo pagamento dosju ros — como será mostrado adiante — para chegar ao custo efetivo do financiamento.

6.3.2 Financiamento com correção cambial

O problema do cálculo do custo real do financiamento é mais complexo quan do ele está atrelado à correção cambial. Será necessário estimar a variação da cor reção cambial em relação à inflação ao longo do prazo do financiamento.

Com o sistema de livre flutuação do câmbio praticado no Brasil, é difícil ava liar o comportamento da variação cambial em relação à inflação. Uma forma de

136 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

tratar o problema é estimar uma faixa de variação real da taxa de câmbio, ao longo

do prazo do financiamento.

Quando o prazo do financiamento sujeito à variação cambial é curto (um ano

ou menos) é mais fácil estimar a variação real da taxa de câmbio.

6.3.3 Custo expresso na forma de taxa desconto

Algumas operações de captação de recursos financeiros têm seu custo expres so por uma taxa de desconto aplicada sobre o valor contratado. Como exemplo te mos o desconto de duplicatas e o lançamento de títulos que têm seu custo repre sentado por uma taxa de desconto sobre o valor de face. O custo efetivo dessas operações é maior do que a taxa de desconto informada porque o desconto é rece bido pelo financiador antecipadamente.

O custo efetivo de um financiamento sujeito a desconto pode ser calculado do seguinte modo:

ie ((1 ± (1—id))—1)

sendo: ie = taxa efetiva unitária do financiamento por n períodos de tempo

id = taxa de desconto unitária por n períodos de tempo

6.3.4 Efeito do Imposto de Renda

Nas empresas tributadas pelo regime do lucro real, os juros são dedutíveis do

lucro tributável. Assim, o custo efetivo do financiamento é reduzido num percen tual correspondente à alíquota do imposto de renda da empresa.

Em função dessa dedução dos juros no cálculo do imposto de renda, o custo

efetivo de um financiamento contratado no país é calculado do seguinte modo:

ie = ic x (1—a)

sendo: ie = taxa efetiva de juros na forma percentual

ic = taxa de juros contratatada na forma percentual

Page 119: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

a = alíquota do imposto de renda na forma unitária

Nos financiamentos externos, a empresa pode pagar um valor maior do que os juros contratados para compensar a retenção efetuada pelo fisco brasileiro so bre as remessas de juros para aqueles países que não têm acordo sobre bitributa ção com o Brasil.

FINANCIAMENTOS 137

O custo efetivo de um financiamento externo é calculado como segue:

a) Empresa não tributada pelo lucro real:

ie = ic x (1 ÷ (1—ar))

sendo: ie = taxa de juros efetiva na forma percentual

ic taxa de juros contratual na forma percentual

ar = alíquota de imposto de renda sobre a remessa na forma unitária

Exemplo: Uma empresa contratou um financiamento a uma taxa de juros de 7,8% ao ano. As remessas para o credor desse financiamento estão sujeitas a uma alíquota de 15%. Essa empresa não está tributada pelo lucro real. O custo efetivo do financiamento será:

ie = 7,8 x (1 ± (1 — 0,15))

ie = 7,8 x 1,1765 = 9,1765%

b) Empresa tributada pelo lucro real

Como os juros pagos são dedutíveis da receita tributável, ocorre uma redução

no custo do financiamento externo. O cálculo é o seguinte:

ie = ((ic x ( 1 ÷ (1 — ar))) — (ai x ic)

onde: ie = taxa de juros efetiva na forma percentual

ic = taxa de juros contratual na forma percentual

ar = alíquota de imposto de renda sobre a remessa na forma unitária ai = alíquota do imposto de renda da empresa na forma unitária

Exemplo: Uma empresa contratou um financiamento externo a uma taxa de juros de 10% ao ano. As remessas de juros estão sujeitas a uma alíquota de imposto de renda de 25%. Essa empresa é tributada pelo lucro real a uma alíquota de 15%. O custo efetivo do financiamento é:

ie = (10 x (1 ÷ (1 — 0,25)) — (0,15 x 10)

ie = 11,8333

138 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

6.3.5 Custo efetivo com base no fluxo de caixa

Quando a operação de financiamento é complexa, envolvendo comissões, ta xas e encargos sobre a remessa, é necessário montar o fluxo de caixa para calcular

seu custo efetivo.

Page 120: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Exemplo: Uma empresa contratou um financiamento externo rio valor de R$ 2.000.000,00 a uma taxa fixa de 10% ao ano. Na assinatura do contrato serão descontadas uma comissão de 1,5% sobre o valor da operação, além de despesas no valor de R$ 18.000,00. O saldo devedor será amortizado em 10 parcelas semes trais iguais. Os juros semestrais serão calculados linearmente (5%), a partir de 10% ao ano. Sobre as remessas semestrais de juros incidirá imposto de renda de

25% que é absorvido pela empresa. A alíquota de imposto de renda da empresa é de 15%. O fluxo de caixa dessa operação está apresentado no Quadro 6.6.

Quadro 6.6 Fluxo de caixa de financiamento.

Amortiza- -

Financia- . - - 1. de renda Reduçao de Fluxo de

Semestre Comissoes çao do Juros

mento . . s/remessa 1. de renda caixa

principal

0 2.000.000 —48.000 1.952.000

1 —200.000 —100.000 —25.000 15.000 —310.000

2 —200.000 —90.000 —22.500 13.500 —299.000

3 —200.000 —80.000 —20.000 12.000 —288.000

4 —200.000 —70.000 —17.500 10.500 —277.000

5 —200.000 —60.000 —15.000 9.000 —266.000

6 —200.000 —50.000 —12.500 7.500 —255.000

7 —200.000 —40.000 —10.000 6.000 —244.000

8 —200.000 —30.000 —7.500 4.500 —233.000

9 —200.000 —20.000 —5.000 3.000 —222.000

10 —200.000 —10.000 —2.500 1.500 —211.000

Pelos dados da coluna fluxo de caixa e com a utilização de uma calculadora fi nanceira ou planilha eletrônica, encontra-se a taxa de juros semestral de 6,05%

que equivale a 12,47% ao ano.

6.4 ADMINISTRAÇÃO DO RISCO DE FINANCIAMENTOS

A taxa de juros ou de câmbio aplicada a um financiamento pode variar num

percentual além do desejável pela empresa, introduzindo um elemento de risco

que precisa ser controlado.

FINANCIAMENTOS 139

Os mercados financeiros nacional e internacional oferecem alternativas de

Page 121: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

proteção contra os riscos associados a um financiamento, e o administrador finan ceiro previdente procura utilizá-las.

Os mecanismos de proteção de risco existentes não podem proporcionar uma cobertura total contra as incertezas das taxas de juros e de câmbio. Além disso, se o risco for muito grande, decorrente de uma grande volatilidade das variáveis que afetam o custo do financiamento, sua cobertura toma-se muito cara ou incerta.

As operações com derivativos, envolvendo opções, contratos, termos e swaps são a base dos mecanismos de proteção contra os riscos de câmbio e juros. Essas operações são realizadas nas Bolsas de Futuros ou na forma de operações de bal cão em uma instituição financeira. No Brasil, a maioria das operações de derivati vos são efetuadas na BMF - Bolsa de Mercadorias e Futuros, situada na cidade de São Paulo.

6.4.1 Risco de taxas de juros

O risco de taxas de juros num financiamento está relacionado com a contrata ção de uma taxa de juros flutuante ou fixa, mas que possa variar em relação a uma

taxa utilizada como referência pela empresa tomadora do financiamento.

Se a empresa contrata um financiamento no país com uma taxa de juros prefi xada para determinado período de tempo, o custo real dependerá da evolução da taxa de inflação. Se a taxa de inflação ficar abaixo do valor esperado na contrata ção, a empresa terá perda porque a taxa de juros real será maior do que a original- mente estimada. Esse tipo de problema, entretanto, é raro e só poderia afetar os fi nanciamentos de curto prazo.

O risco mais freqüente decorre da contratação de uma taxa de juros flutuante que poderá atingir um valor acima do limite suportável pela empresa, principal mente nos financiamentos de longo prazo.

Existem três alternativas de proteção para o risco de taxas flutuantes. Uma vez que essas operações são praticadas em larga escala no mercado internacio nal, sua nomenclatura no Brasil permaneceu a mesma desse mercado: swap, cap e coilar.

a) Swap rate

Uma operação de swap significa trocar uma taxa flutuante, a libor por exem pio, por uma taxa fixa e vice-versa.

Suponhamos que uma empresa tenha contratado financiamento pela taxa li bor. No momento da contratação, a libor está em 6% ao ano e a empresa espera que ela comece a subir logo. A empresa também espera que a libor possa chegar a 7%, mas gostaria de pagar uma taxa fixa de 6,6% ao ano. Assim, procura uma insti

140 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

tuição financeira e faz uma operação de swap, trocando a taxa flutuante que no momento está em 6% por uma taxa fixa de 6,6%. Imediatamente, 6,6% ao ano passa a ser o custo do financiamento. Dependendo das perspectivas que o mercado tenha para a evolução da libor, a empresa poderá precisar fazer um desembolso extra para conseguir fazer o swap.

A instituição financeira que faz a operação de swap não assume o risco da

taxa de juros, mas o transfere para os especuladores que operam nos mercados fu turos.

Page 122: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

b) Cap rate

Se a empresa pretende limitar o valor da taxa de juros que pretender pagar, pode fazer uma operação de cap rate para a taxa de juros flutuante. Imaginemos que uma empresa tome um financiamento sujeito à prime rate (taxa de juros prati cada pelos bancos nos Estados Unidos para os clientes preferenciais) e cotada a 6,5% ao ano no momento da contratação. Essa empresa aceita pagar uma taxa de juros de até 7% ao ano. Então, fará uma operação de cap rate para 7% ao ano, fi cando com a obrigação de pagar as taxas de juros até esse patamar. O que passar de 7% será pago pela instituição financeira.

e) Coliar

Uma forma alternativa para administrar o risco das taxas de juros é a empresa

limitar os ganhos que poderia obter ante uma redução da taxa de juros.

Mediante uma operação denominada coilar, a empresa passa a ter um limite máximo (cap) até onde ela assume a taxa de juros. Além disso, a empresa assume o compromisso de pagar uma taxa mínima de juros (floor), ainda que no mercado o valor dessa taxa esteja menor. Qualquer redução dos juros abaixo da taxa mínima vai para a instituição financeira.

Suponha-se que uma empresa tenha contratado um financiamento externo à

taxa de juros flutuantes de 6,2% ao ano e faz um coilar com um limite superior de

6,7% e um limite inferior de 5,7%. Assim, a empresa só pagará juros até a taxa de

6,7% ao ano. O valor da taxa que ultrapassar esse limite será pago pela instituição

financeira que fez o coliar. Caso a taxa de juros venha a cair abaixo de 5,7%, a em presa continuará a pagar esse valor mínimo à instituição financeira que ficará com

a diferença.

A possibilidade de a instituição financeira ganhar com a redução da taxa de

juros reduz o custo da operação de collar para a empresa que busca proteção para

seu financiamento.

FINANCIAMENTOS 141

6.4.2 Risco de câmbio

A expectativa usual do tomador de um financiamento sujeito à variação cam bial é que ela não suba mais do que a inflação.

Uma vez que o Brasil utiliza o sistema de câmbio flutuante, a variação cambial depende da oferta e procura pela moeda norte-americana no mercado brasileiro. Assim, os financiamentos sujeitos à variação cambial possuem um risco que necessita de cobertura.

O princípio básico para a cobertura contra o risco cambial é efetuar uma ope ração financeira capaz de proporcionar um ganho quando a variação cambial for desvantajosa para o financiamento, obtendo assim uma compensação para a ele vação do custo cambial do financiamento.

Uma alternativa capaz de atender a esse objetivo é investir num ativo finan ceiro que se beneficie com a elevação da taxa de câmbio e que tenha um fluxo de caixa de rendimentos

Page 123: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

igual ao fluxo de caixa do financiamento. Entretanto, essa solução exigirá o investimento de R$ 1,00 para cada R$ 1,00 de financiamento. Na maioria dos casos, essa não é uma solução viável.

Uma segunda solução seria buscar a cobertura em operações com derivativos (opções, futuros, termo e swap). A vantagem da utilização dos derivativos é que a empresa que busca a cobertura não precisaria fazer um desembolso no valor do fi nanciamento que quer proteger.

Por exemplo, caso queira fazer a proteção com futuros, a empresa compraria

contratos de dólar. A elevação da taxa de câmbio geraria resultados nos contratos

futuros que compensariam o aumento do custo dos financiamentos.

A compra dos contratos não exigiria o desembolso de um valor igual ao da im portância a ser coberta, em virtude da mecânica de funcionamento dos mercados futuros. É exigido apenas uma margem de garantia para a operação que pode ser dada com outros títulos que a empresa disponha.

Quando a taxa de câmbio subir, a câmara de compensação da Bolsa de Futu ros creditará os ganhos provenientes da compra dos contratos.

A empresa também poderia comprar opções de compra da taxa cambial, com um desembolso bem menor do que o valor a ser protegido. Na hipótese de eleva ção da taxa cambial, o prêmio será valorizado e revendido, gerando o lucro neces sário à compensação da perda com o financiamento. Caso a taxa cambial venha a cair, haverá perda com as opções e ganho com o financiamento, de modo que o re sultado final será aproximadamente neutro.

142 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

QUESTÕES E PROBLEMAS

1. Qual é a relação recomendável entre risco econômico e risco financeiro numa empresa?

2. Por que a alavancagem financeira deve ser limitada, mesmo aumentando a rentabilidade do capital próprio?

3. Como se explica que o custo dos financiamentos de longo prazo seja maior do que os de curto prazo?

4. Em que situação é economicamente vantajoso fazer a liquidação antecipada de empréstimos ou financiamentos?

5. Os lucros gerados pela empresas são também uma fonte de financiamento. Em circunstâncias normais, o custo dessa fonte de financiamento deveria ser

maior ou menor do que o custo do capital de terceiros?

6. Os donos de uma empresa operando com uma mínima utilização de capital próprio (digamos 5%) sobre o capital total utilizado poderiam, teoricamente, obter uma rentabilidade muito alta sobre esse capital próprio. Como os cre dores da empresa poderiam interpretar esse fato?

Page 124: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

7. Poderia ser vantajoso para uma empresa muito bem capitalizada utilizar re cursos de terceiros para se financiar?

8. Que outro fator além do custo determina a escolha de um financiamento?

9. Por que o benefício fiscal do leasing pode ser menor do que aquele proporcio nado por um financiamento convencional?

10. Qual o principal fator de risco para um financiamento internacional?

11. A inflação alta favorece o endividamento da empresa?

12. Que relação o custo do capital próprio tem com a rentabilidade da empresa?

13. Que outros fatores além da taxa de juros afetam o custo efetivo de um finan ciamento?

14. Quais as alternativas para uma empresa proteger-se contra o risco cambial de seus financiamentos?

15. Uma empresa com baixo índice de endividamento financeiro estaria numa boa situação financeira?

FINANCIAMENTOS 143

16. Qual o custo efetivo de um financiamento externo contratado a uma taxa de juros de 8,1% ao ano por uma empresa tributada pelo lucro real pela alíquota de 25%, considerando que as remessas para o credor desse financiamento es tão sujeitas a uma alíquota de 15%?

17. Determine o custo efetivo de um financiamento contratado no país a uma taxa de juros de 16,2% ao ano por uma empresa tributada pelo lucro real à

alíquota de 15%.

18. O capital de uma empresa tem a seguinte composição: 60% é financiado com recursos próprios que têm um custo-oportunidade de 15% ao ano. Os 40% restantes são financiados com capital de terceiros, do qual 30% custa 12% ao ano e os 70% restantes custam 11% ao ano. Qualo custo médio ponderado de capital dessa empresa?

19. Uma empresa apresenta os seguintes valores em balanço: R$ 2,1 milhões de passivo circulante, R$ 1,8 milhões de exigível a longo prazo e R$ 4,4 milhões de patrimônio líquido. Determine os índices de endividamento geral e de ca pital de terceiros sobre capital próprio.

20. Determine a variação de rentabilidade de uma empresa com base nos se guintes dados: Capital próprio de R$ 200.000,00; Capital de terceiros de R$ 400.000,00; Custo do capital de terceiros igual a 12% ao ano; Resulta dos operacionais de - 20% e 20% sobre o capital total.

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

A prévia avaliação econômica das decisões de investimento é considerada uma tarefa imprescindível no ambiente empresarial. As decisões de investimento são importantes para a empresa porque envolvem valores significativos e geral mente têm um alcance de longo prazo.

O objetivo básico da análise de investimento é avaliar uma alternativa de ação ou escolher a mais atrativa entre várias, usando métodos quantitativos.

Page 125: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Quando a análise de investimento refere-se a uma decisão de grande enver gadura - um novo empreendimento ou a ampliação de umjá existente-, seu prog nóstico é decisivo para aceitação ou rejeição da proposta. Para decisões de menor expressão, como comprar ou alugar um equipamento, automatizar ou não deter minada tarefa, a conclusão da análise de investimento pode não ser o fator decisi vo para a escolha. Outros elementos, inclusive de natureza qualitativa, podem in fluenciar a decisão a ser tomada.

A tomada de decisão com base numa análise quantitativa não elimina a utili dade de fatores não numéricos e até mesmo a intuição do decisor para subsidiar a

escolha do caminho a seguir.

7.1 CONCEITOS BÁSICOS

Na elaboração de uma análise de investimentos, os conceitos mais utilizados

são os seguintes:

7

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 145

a) Projeto de investimento

Denomina-se projeto de investimento uma aplicação de capital com o objeti vo de obtenção de um benefício econômico compensador na forma de lucro ou re dução de custos.

Exemplos de projetos de investimento:

o Um novo empreendimento.

o Expansão de um empreendimento já existente.

o Substituição de máquinas e equipamentos.

o Mudanças nos processos de operação.

b) Fluxo de caixa

Para efetuar a análise econômica de um projeto de investimento, seus dados

de entradas e saídas de dinheiro são dispostos na forma de um quadro denomina do fluxo de caixa.

Os dados no fluxo de caixa são dispostos seqüencialmente em períodos de tempo, começando no momento zero, onde é registrado o investimento inicial. As entradas e saídas de caixa provenientes das operações são consideradas como ten do acontecido no final dos períodos de tempo a que se referem (mês ou ano).

A diferença entre entradas e saídas de caixa, período a período, inclusive o zero,

é colocada numa coluna do quadro denominada fluxo de caixa líquido. Com base no

fluxo de caixa líquido são efetuados os cálculos para a análise do investimento.

Suponha-se que um investidor queira avaliar a economicidade de um investi mento na compra de uma patente. O investimento será de R$ 420.000,00 e produ zirá uma receita anual de R$ 140.000,00 a título de royalties. Esse investidor preci sará desembolsar

Page 126: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

anualmente, R$ 30.000,00, referentes aos custos operacionais do investimento. O fluxo de caixa desse investimento está no Quadro 7.1.

Quadro 7.1 Fluxo de Caixa.

Ano

Entradas de

.

Caixa

.

Saidas de Caixa

Fluxo de Caixa

,

Liquido

O

-420.000

-420.000

1

140.000

-30.000

110.000

2

140.000

-30.000

110.000

3

140.000

-30.000

110.000

4

140.000

-30.000

110.000

5

140.000

Page 127: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

-30.000

110.000

146 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

c) Vida útil de um ativo

São denominados ativos os bens usados na operação de uma empresa, como

terrenos, imóveis, máquinas, equipamentos, marcas.

Para a avaliação econômica de um projeto de investimento, é necessário con siderar a vida útil de seus ativos.

Para um ativo não sujeito à manutenção, a vida útil é a sua própria duração.

Assim, se um móvel precisa ser substituído a cada dez anos, então essa será sua

vida útil.

Nos ativos sujeitos à manutenção, sua vida útil representa o período de tem po em que é vantajoso mantê-lo em uso, tomando-se por base sua confiabilidade, o custo de manutenção e o valor de revenda. Um veículo pode durar vinte anos, mas se torna antieconômico mantê-lo por mais de cinco anos. Assim, cinco anos é sua vida útil.

d) Valor residual de um ativo

O valor estimado de venda de um ativo no final de sua vida útil é denominado valor residual.

A estimativa do valor residual é efetuada com base na experiência da empre sa com ativos semelhantes ou em estudos especiais.

e) Período de análise

Para fins de cálculo da rentabilidade de um projeto de investimento, é preciso estabelecer um período de análise. Tratando-se de um empreendimento, o perío do de análise não significa a duração do negócio que é geralmente por prazo inde terminado.

Se num projeto de investimento todos os ativos têm a mesma vida útil, a du ração desta será o período de análise. Quando os ativos do projeto tiverem vidas úteis diferentes, o período de análise será o mínimo múltiplo comum das vidas úteis dos seus ativos.

Suponhamos que o projeto de investimento de uma indústria prevê seu fun cionamento num imóvel alugado e a utilização dos seguintes ativos:

• Máquinas e equipamentos com vida útil de 10 anos.

• Veículos com cinco anos de vida útil.

• Computadores com dois anos de vida útil.

O período de análise para esse projeto de investimento será de 10 anos, que é o mínimo múltiplo comum para os três períodos de vida útil.

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 147

7.2 Elaboração do projeto de investimento

Page 128: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A primeira etapa para a realização da análise de investimento é a elaboração

do respectivo projeto.

O projeto de investimento é composto pela sua descrição física (layout de uni dades de produção ou de operação), considerações de natureza mercadológica, cronograma de implantação do empreendimento, descrição das fontes de finan ciamento, além das seguintes estimativas:

• Investimentos permanentes (imóveis, máquinas, instalações etc.)

• Investimento em capital de giro (estoques, matérias-primas etc.)

• Valor das vendas ao longo do período de análise do projeto.

• Valor dos gastos ao longo do período de análise do projeto.

O detalhamento desses itens está apresentado nos tópicos seguintes desta se ção.

Os dados econômicos do projeto de investimento são utilizados para a mon tagem do fluxo de caixa necessário à sua avaliação econômica.

7.2.1 Investimentos

A projeção dos investimentos abrange as estimativas de gastos com compra

de direitos de utilização de marca, terrenos, construção civil, montagem de insta lações comerciais ou industriais, além da aquisição de máquinas e equipamentos.

Caso o cronograma dos gastos com investimentos seja maior do que um ano,

os valores serão lançados no fluxo de caixa com base nas parcelas de desembolso

anual.

Em cada ano será registrado o total gasto com o investimento, independente mente do mês em que tenham acontecido os respectivos desembolsos.

O capital de giro necessário à operação do projeto também faz parte da proje ção de investimentos. No final do período de análise, ocorre a recuperação do in vestimento em capital de giro, gerando a entrada de caixa correspondente.

As máquinas e equipamentos adquiridos através de importação terão seu cus to de investimento formado pelo valor pago ao fornecedor estrangeiro, acrescido

dos gastos de sua entrada no país (frete, impostos etc.).

Para todos os ativos utilizados é necessário dispor de uma estimativa de sua

vida útil bem como do valor residual.

148 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

7.2.2 Projeção das entradas de caixa

As entradas de caixa de um projeto dependem de três elementos básicos:

quantidades vendidas, preços unitários de venda e cronograma de entrada em

operação.

Page 129: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

As projeções de entradas de caixa são os dados mais Críticos para a avaliação

econômica de um projeto de investimento. Elas são o item de maior impacto sobre

o fluxo de caixa e também o de maior incerteza.

Habitualmente, um empreendimento não utiliza toda sua capacidade de ope ração desde o início de seu funcionamento. Assim, as entradas de caixa poderão

ser projetadas considerando o fator de operação estimado para cada ano.

A evolução dos preços — em valor real — dos produtos ou serviços vendidos também são variáveis sujeitas a oscilações ao longo do período de análise de um projeto de investimento. Havendo expectativa de aumento ou redução real desses preços, as respectivas estimativas serão incorporadas diretamente às entradas de caixa.

Se houver previsão de crescimento das vendas em decorrência de futuras ex pansões da capacidade de produção ou operação, as entradas e saídas de caixa cor respondentes podem ser consideradas como integrantes de um novo projeto de in vestimento, a ser analisado quando for implementado.

7.2.3 Projeção das saídas de caixa

As saídas de caixa de um projeto de investimento correspondem aos vários

dispêndios necessários ao seu funcionamento.

Para estimar as saídas de caixa de um projeto de investimento, é necessário projetar seus custos de operação e convertê-los da base de competência para a base de caixa. Como o projeto de investimento tem um período de análise longo — dez anos em média — e os dados são tratados em base anual, não há diferenças marcantes entre os custos (gastos projetados pelo regime de competência) e os de sembolsos (gastos projetados pelo regime de caixa).

Apenas a depreciação merece um cuidado especial quando se efetuam as pro jeções de saídas de caixa. Como será mostrado em detalhes no tópico sobre monta gem do fluxo de caixa, a depreciação não representa uma saída de caixa para fins de avaliação de investimentos. Isso acontece porque ela é um custo, mas não é um desembolso. Este aconteceu antecipadamente quando os ativos foram adquiridos. Dessa forma, quando se lança no fluxo de caixa a saída de dinheiro representada pelo investimento, a deprecíação está implícita neste valor.

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 149

7.2.4 Montagem do fluxo de caixa

Após a elaboração das projeções de investimentos, entradas e saídas de caixa,

pode-se efetuar a montagem do fluxo de caixa.

As seguintes regras aplicam-se ao processo de montagem do fluxo de caixa de

um projeto de investimento:

• As entradas e saídas de caixa periódicas distribuídas ao longo da uni dade de tempo (mês ou ano) do período de análise (número de anos) são acumuladas e consideradas como tendo acontecido no final da uni dade de tempo.

Page 130: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

• Se a empresa estiver sujeita à tributação pelo lucro real, a depreciação será incluída provisoriamente entre os custos do fluxo de caixa para fins de cálculo do imposto de renda projetado. Depois, a depreciação será somada às demais entradas de caixa para fins de cálculo do fluxo de caixa líquido.

• Se o projeto de investimento utilizar capital de terceiros para finan ciá-lo, haverá dois fluxos de caixa:

a) um fluxo de caixa para avaliar a rentabilidade do projeto indepen dente do uso de financiamento;

b) um fluxo de caixa para avaliar a rentabilidade do capital próprio, considerando os efeitos do financiamento.

7.3 MÉTODOS SIMPLIFICADOS DE ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Devido à facilidade de cálculo, é freqüente a utilização de métodos simplifi cados de análise de investimentos. Esses métodos utilizam apenas o valor do inves timento e seu lucro projetado para fazer a análise.

Os métodos simplificados de análise de investimento, apesar de sua simplici dade, apresentam as seguintes desvantagens:

• Podem conduzir a decisões de investimento erradas ou subotimizadas.

• Têm pouca aplicabilidade aos projetos de investimento com fluxo de caixa não convencional.

A grande aceitação dos métodos simplificados de análise de investimento en tre as pequenas e médias empresas tende a afetar negativamente a qualidade de suas decisões de investimento. Daí a importância do domínio e utilização dos mé todos analíticos que serão apresentados na seção 7.4. Um desses métodos, a Taxa Interna de Retorno, será citado como base de comparação com os métodos apre sentados na presente seção.

150 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

7.3.1 Tempo de retorno

Por este método, estima-se em quanto tempo ocorrerá a recuperação do capi tal investido em função do fluxo de caixa gerado. E habitual o cálculo do tempo de retorno com base no lucro contábil, apesar de essa prática distorcer o valor calcula do para esse parâmetro de avaliação. Isso acontece porque no cálculo do lucro con tábiljá é deduzida a parcela de depreciação que se destina a permitir a recupera ção do investimento.

Para um investimento simples, consistindo de um desembolso seguido por

uma série regular de fluxos de caixas, o tempo de retorno pode ser calculado do se guinte modo:

T=I÷E 1

onde: T = tempo de retorno em anos

1 = investimento

E = fluxo de caixa anual ou lucro contábil anual

Page 131: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Se os fluxos monetários não forem uniformes, o tempo de retorno acontecerá

no período de tempo em que seus valores acumulados (entradas de caixa ou lucros

contábeis) igualarem o valor do investimento.

O tempo de retorno é um parâmetro do tipo quanto menor, melhor. Um tem po de retorno baixo é decorrência de uma alta taxa de lucro sobre o investimento.

Para um projeto de investimento padrão (vida útil de dez anos e rentabilida de 15% ao ano), o tempo de retorno é de cinco anos quando calculado com base no fluxo de caixa e de aproximadamente oito anos se calculado com base no lucro contábil projetado, como mostrado no Quadro 7.2.

Quadro 7.2 Métodos de cálculo do tempo de retorno.

Ano

Fluxo de caixa do projeto

Lucro contábil do projeto (*)

0

-10,000.000,00

1

1.992.520,63

1.292.520,63

2

1.992.520,63

1.292.520,63

3

1.992.520,63

1.292.520,63

4

1.992.520,63

1.292.520,63

5

1.992.520,63

1.292.520,63

6

1.992.520,63

1.292.520,63

7

Page 132: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

1.992.520,63

1.292.520,63

8

1.992.520,63

1.292.520,63

9

1.992.520,63

1.292.520,63

10

1.992.520,63

1.292.520,63

Tempo de retorno

5,02

7,74

(*) Supondo que 70% do investimento é depreciável.

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 151

As limitações do tempo de retorno são:

• Não considera o valor do dinheiro no tempo.

• Não considera os fluxos de caixa após a recuperação do capital.

O Quadro 7.3 mostra que três projetos com rentabilidades bastante diferen ciadas (43%, 11% e 78% ao ano) têm o mesmo tempo de retorno.

Quadro 7.3 Tempo de retorno de projetos diferentes.

Ano

Fluxo de caixa

.

do projeto 1

Fluxo de caixa

.

do projeto 2

Fluxo de caixa

.

do projeto 3

0

Page 133: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

1

2

3

4

Tempo de

retorno (anos)

Taxa de retorno

—100.000,00

50.000,00

50.000,00

50.000,00

100.000,00

2

43%

—100.000,00

50.000,00

50.000,00

10.000,00

10.000,00

2

11%

—100.000,00

0,00

100.000,00

250.000,00

250.000,00

2

78%

7.3.2 Tempo de retorno descontado

Uma alternativa para diminuir a imprecisão do critério do tempo de retorno é

considerar os fluxos de caixa pelo seu valor presente. Esse método é denominado

tempo de retorno descontado (discounted payback).

Page 134: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O Quadro 7.4 apresenta o tempo de retorno descontado dos projetos apre sentados na seção 7.3.1, considerando uma taxa de desconto de 10% ao ano.

Quadro 7.4 Tempo de retorno descontado.

Fluxo de caixa

Fluxo de caixa

Fluxo de caixa

Ano

descontado

do projeto 1

descontado

do projeto 2

descontado

do projeto 3

o

1

2

3

4

Tempo de Retorno

—100.000,00

45.454,55

41.322,31

37.565,74

68.301,35

2,35

—100.000,00

45.454,55

41.322,31

7.513,15

6.830,13

3,83

—100.000,00

0,00

Page 135: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

82.644,63

187.828,70

1 70.753,36

2,09

152 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

A análise do quadro permite concluir que o tempo de retorno descontado faz uma classificação mais apurada dos projetos de investimento. Entretanto, não consegue mostrar como o projeto 3 (taxa interna de retorno de 78%) é muito me lhor do que o projeto 1 (taxa interna de retorno de 43%).

7.3.3 Taxa de retorno contábil

A taxa de retorno contábil é um parâmetro que mede a relação entre o lucro líquido contábil projetado e o investimento. Esse método tende a superdimensio nar a verdadeira rentabilidade do investimento que é medida adequadamente pela taxa interna de retorno.

Para um projeto de investimento típico (investimento seguido de fluxos de

caixa regulares), a taxa de retorno pode ser calculada do seguinte modo:

TR—L÷I

onde: TR = taxa de retorno contábil anual

L = lucro contábil anual

1 = investimento

Existem outras variantes para o cálculo da taxa de retorno contábil. As mais

comuns são:

a) Considerar o lucro contábil médio do projeto e seu investimento mé dio.

b) Considerar o fluxo de caixa ao invés do lucro contábil.

A taxa de retorno contábil ou qualquer de suas variantes pode trazer distor ções muito grandes à verdadeira rentabilidade de um projeto de investimento,

principalmente por não levar em conta o valor do dinheiro no tempo.

Embora seja um critério frágil para análise prospectiva de investimentos, a

taxa de retorno contábil é utilizada pelas empresas para fazer o acompanhamento

da rentabilidade de seus investimentos.

Quando a empresa faz a análise retrospectiva de seus investimentos, utiliza uma taxa de retorno contábil modificada porque considera o patrimônio líquido como investimento a ser avaliado e esse parâmetro é influenciado pelo lucro do exercício. O Quadro 7.5 compara a avaliação de investimentos pelo método da taxa de retorno contábil e da taxa interna de retorno (a ser apresentada no próxi mo item).

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 153

Quadro 7.5 Taxa de retorno contábil versus taxa interna de retorno.

Page 136: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Investimento: R$ 10 milhões

Vida útil: 10 anos

Valor residual: zero

Ano Receitas Custos Deprec.Lucro Fluxo de Patrimônio Taxa de Taxa interna

contábil caixa líquidoretornode retorno

contábil (%) (%)

a b c d=a—(b+c) e=d+c f=ptlq(ant)+d—c d ÷ f

1 2 2 1 —1 0 8 —13 23

2 3 2 1 O 1 7 0 23

3 6 2 1 3 4 9 33 23

4 6 2 1 3 4 11 27 23

5 6 2 1 3 4 13 23 23

6 6 2 1 3 4 15 20 23

7 6 2 1 3 4 17 18 23

8 6 2 1 3 4 19 16 23

9 6 2 1 3 4 21 14 23

10 6 2 1 3 4 23 13 23

Enquanto o método da Taxa Interna de Retomo mostra um valor único ao

longo do período de análise —23% ao ano —, a Taxa de Retorno Contábil apresenta

um valor a cada ano.

7.4 MÉTODOS ANALÍTICOS DE ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Os métodos analíticos empregados na análise de investimentos são a Taxa In tema de Retorno, o Valor Presente Líquido e o Custo Periódico Equivalente. Esses métodos são mais precisos do que os métodos práticos em decorrência de sua me todologia de cálculo. Essa precisão, entretanto, não consegue eliminar as incerte zas sobre os dados de entrada e saída de caixa.

A variável-chave para os métodos analíticos é a Taxa Mínima de Atratividade (TMA). Essa taxa é específica para cada empresa e significa a taxa de juros mínima aceitável quando ela faz um investimento ou a taxa de juros máxima a pagar por um financiamento.

A forma de determinação da TMA varia de empresa para empresa. Nos países que possuem um mercado de capitais desenvolvido, a fixação da TMA é feita em função do custo de capital das empresas, principalmente aquelas que têm ações em Bolsas de Valores. No Brasil, a maioria das empresas fixa essa taxa com base em uma decisão de sua administração.

154 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Page 137: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Geralmente, as empresas praticam uma TMA entre 12 e 15% ao ano. A TMA

de uma empresa é um parâmetro permanente e não é afetado pelas mudanças con junturais do ambiente econômico onde ela atua.

7.4.1 Taxa Interna de Retorno

Do ponto de vista financeiro, a Taxa Interna de Retorno (TIR) de um investi mento é o percentual de retorno obtido sobre o saldo do capital investido e ainda não recuperado. Matematicamente, a taxa interna de retorno é a taxa de juros que iguala o valor presente das entradas de caixa ao valor presente das saídas de caixa.

O método de cálculo da Taxa Interna de Retorno (TIR) é um processo intera tivo, já que se trata da resolução de uma equação, na maioria dos casos de grau ele vado. Para um projeto de investimento típico, o cálculo da TIR requer a solução de uma equação de grau 10.

Os algoritmos de cálculo usados pelas calculadoras financeiras e softwares consistem na utilização de um método para obter a solução para a equação corres pondente aos dados do fluxo de caixa alimentados e que representam os coeficien tes dos termos dessa equação.

Para ilustrar o significado financeiro da Taxa Interna de Retorno, suponha mos um investimento no valor de R$ 100.000,00, com três anos de vida útil e com uma geração anual de caixa no valor de R$ 40.211,48. Aplicada a metodologia de cálculo apropriada, encontraremos uma taxa interna de retorno de 10% ao ano.

O Quadro 7.6 apresenta a interpretação financeira da taxa interna de retor no. O valor de caixa gerado ano a ano tem duas aplicações: uma parcela servirá para formar um fundo de recuperação do capital, de modo a fornecer os R$ 100.000,00 no final dos três anos para a reposição do investimento. A outra parce la será o rendimento do saldo do investimento ainda não recuperado, existente no começo de cada ano.

Quadro 7.6 Detalhamento da Taxa Interna de Retorno.

Ano

1=(5)anterior

2

3=(2)—(4)

4

5=(1)—(3)

Saldo inicial do

investimento

Caixa

gerado

Recuperação do

investimento

Retorno do

Page 138: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

investimento

Saldo final do

investimento

1,00

100,00

40,21

30,21

10,00

69,79

2,00

69,79

40,21

33,23

6,98

36,56

3,00

36,56

40,21

36,55

3,66

0,00

Total

100,00

A taxa interna de retorno teria para a empresa o mesmo significado financei ro da taxa de juros de um empréstimo que ela concedesse para recebê-lo em um

certo número de parcelas.

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 155

Cálculo e Interpretação da Taxa Interna de Retorno

Consideremos um investimento de R$ 2.000.000,00 com uma geração líqui da de caixa estimada em R$ 639.555,68, ao longo de cinco anos de vida útil.

O cálculo da Taxa Interna de Retorno (TIR) executado tanto numa calculadora financeira como numa planilha eletrônica consiste em achar o valor de i (Taxa Inter na de Retorno) na equação que iguala o valor presente do fluxo de caixa a zero):

1 1

Page 139: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

639.555,68 x ‘— 2.000.000,00 = O

(1+i)

A solução dessa equação dá um valor de 0,18 (18%) para i, que é a Taxa Inter na de Retorno (TIR) do Projeto.

Quando a Taxa Interna de Retorno (TIR) é maior do que a Taxa Mínima de Atratividade (TMA), o investimento é vantajoso. Se a TIR e a TMA forem iguais, o projeto de investimento estará numa situação de indiferença. Caso a TIR seja menor do que a TMA, o projeto de investimento não será economicamente recomendável.

Entre vários projetos de investimento, o melhor será aquele que tiver a maior

TIR.

7.4.2 Valor Presente Líquido

O Valor Presente Líquido (VPL) de um investimento é igual ao valor presente do fluxo de caixa líquido, sendo, portanto, um valor monetário que representa a

diferença entre as entradas e saídas de caixas trazidas a valor presente.

O cálculo do valor presente do fluxo de caixa é efetuado com a utilização da Taxa Mínima de Atratividade (TMA) da empresa como taxa de desconto.

Cálculo e Interpretação do Valor Presente Líquido

Para calcular o VPL é necessário determinar o valor de uma função — o valor

presente das entradas de caixa menos o valor presente das saídas de caixa. Sua me todologia de cálculo é:

FCK FCX FCX

VPL= + + —‘o

(1 +i)’ (1 ÷i) (1 j)fl

sendo: VPL = valor presente líquido

FCX fluxo de caixa de cada período (1 até n)

l = investimento inicial

156 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Usando os dados do exemplo utilizado para cálculo da taxa interna de retorno

na seção anterior, e considerando uma TMA de 15% ao ano, temos o seguinte VPL:

VPL = 639.555,68 + 639.555,68 + 639.555,68 + 639.555,68 +

(1 +0,15) (1+0,15) (1 +0,15) (1 +0,15)2

+ 639.555,68 — 2.000.000 (1 +0,15)

VPL = 143.889,15

Quando Valor Presente Líquido (VPL) é maior do que zero, significa que o in vestimento é vantajoso, pois existe lucro econômico, já que o valor presente das entradas de caixa é

Page 140: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

maior do que o valor presente das saídas de caixa. Um VPL maior do que zero também indica que a taxa interna de retorno do projeto é maior do que a TMA da empresa.

Se o VPL for igual a zero, o investimento está numa situação de indiferença, pois o valor presente das entradas de caixa é igual ao valor presente das saídas de caixa. A Taxa Interna de Retorno será exatamente igual à Taxa Mínima de Atrativi dade.

Para um VPL menor do que zero, conclui-se que o investimento não é econo micamente atrativo, pois o valor presente das entradas de caixa sendo menor do que o valor presente das saídas de caixa significa a existência de prejuízo econô mico.

Na comparação entre vários projetos de investimento, o melhor será aquele

que tiver o maior Valor Presente Líquido.

Embora seja grande a aceitação do VPL como método de análise de investi mentos, ele tem uma limitação que é não permitir a completa visualização da atra tividade de um projeto de investimento quando analisado isolado ou em conjunto com outros. Ele indica se o investimento é ou não atrativo, mas sem mostrar as gra dações.

Pode acontecer de o investimento ter um pequeno VPL e ainda assim ser alta mente lucrativo.

A taxa interna de retorno permite que se visualize as gradações de atrativida de. Por exemplo, se a TMA da empresa é de 15% ao ano e o investimento tem uma

TIR de 30% ao ano, verifica-se com facilidade que o investimento é muito atrativo.

7.4.3 Custo periódico equivalente

O método do custo periódico equivalente é utilizado principalmente para a avaliação de propostas de investimento que geram a mesma receita. Assim, a esco lha da melhor alternativa deverá recair naquela que apresentar o menor custo.

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 157

O cálculo do custo periódico equivalente inclui o custo do investimento e os custos operacionais. Essencialmente, esse método consiste na transformação do fluxo de caixa formado por diferentes parcelas periódicas de custo num fluxo regu lar, com base na Taxa Mínima de Atratividade, permitindo a comparação entre as alternativas de investimento.

Exemplo: Uma empresa tem duas alternativas para automatizar seu processo de produção e sua Taxa Mínima de Atratividade é 14% ao ano.

a) Alternativa 1

Exige um investimento de R$ 4.300.000,00, terá uma vida útil de cinco anos,

o valor residual será igual a 5% do valor do investimento e os custo operacionais são de R$ 600.000,00 por ano.

b) Alternativa 2

Requer um investimento de R$ 5.200.000,00 com uma vida útil de cinco anos, valor residual de 8% sobre o valor do investimento e custos operacionais de R$ 470.000,00 por ano. O Quadro 7.7 apresenta o fluxo de caixa dos dois projetos de investimento.

Page 141: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Quadro 7.7 Fluxo de caixa das alternativas de automação.

Ano

Fluxo de caixa

Alternativa 1

Fluxo de caixa

Alternativa 2

0

1

2

3

4

5

4.300.000,00

600.000,00

600.000,00

600.000,00

600.000,00

385.000,00

5.200.000,00

470.000,00

470.000,00

470.000,00

470.000,00

54.000,00

Utilizando os métodos de cálculo de equivalência financeira, e considerando uma taxa de desconto igual à TMA dessa empresa, 14% ao ano, encontramos os se guintes valores de Custo Anual Equivalente:

Alternativa 1: R$ 1.819.993,29

Alternativa 2: R$ 1.921.740,49

Uma vez que as duas alternativas geram o mesmo benefício, a alternativa 1, por

ter o menor Custo Periódico Equivalente (R$ 1.819.993,29 por ano), é mais atrativa.

158 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

7.5 COMPARAÇÃO DOS MÉTODOS DE ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Page 142: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

São denominados projetos de investimentos convencionais aqueles em que o

fluxo de caixa não apresenta mudanças significativas ao longo do tempo, tanto de

valor como de sinal (positivo ou negativo).

Num projeto de investimento convencional típico acontece uma saída de cai xa (o investimento) seguida por entradas líquidas e regulares de caixa.

Em alguns projetos de investimento não convencionais, o fluxo de caixa pro duz duas taxas internas de retorno, mas nenhuma delas tem significado financei ro. A solução para resolver o impasse é utilizar uma taxa de desconto auxiliar para permitir a obtenção de um fluxo de caixa com apenas uma variação de sinal e en tão chegar a uma única taxa de retorno.

Os métodos do Valor Presente Líquido e do Custo Periódico Equivalente po dem ser aplicados sem restrições a qualquer tipo de fluxo de caixa.

Para fins de avaliação de investimentos com geração de valores diferentes de receita, o Valor Presente Líquido é o método preferido pelos autores de livros sobre finanças. Na prática empresarial, entretanto, a Taxa Interna de Retorno (TIR) des fruta uma maior aceitação. A razão é que o tipo de fluxo de caixa capaz de dificul tar a utilização da TIR não é encontrado com freqüência no mundo real.

A Taxa de Retorno Contábil é um indicador sem significado financeiro e, como regra, não deve ser utilizada. Ela apenas expressa a relação entre lucro e in vestimento, mas não informa o percentual efetivo de ganho. Essa informação é proporcionada pela Taxa Interna de Retorno (TIR)

É prática freqüente a empresa utilizar os métodos analíticos para fazer suas

avaliações de projetos de investimento e acrescentar uma avaliação com base no

Tempo de Retorno.

Deve ser ressaltado, que o grande problema na avaliação de investimentos

não é a metodologia de cálculo e sim a obtenção de dados confiáveis de entradas e

saídas de caixa.

QUESTÕES E PROBLEMAS

1. Qual a diferença entre fluxo de caixa e fluxo de lucros num projeto de investi mento?

2. Que tipo de movimentação de caixa para um projeto de investimento repre senta o valor residual de um ativo?

3. O capital de giro também é um investimento não depreciável. Como ele deve ser tratado no fluxo de caixa?

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 159

4. O período de análise de um projeto de investimento pode ser escolhido livre mente?

5. Como deve ser tratada a depreciação num fluxo de caixa de um projeto de in vestimento?

6. Qual a utilidade de um fluxo de caixa que desconsidera o financiamento utili zado pelo projeto de investimento?

Page 143: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

7. Enumere as limitações da análise de investimentos efetuada pelo critério do tempo de retorno.

8. Qual o tempo de retorno padrão para um projeto de investimento típico, to mando-se por base de cálculo seu fluxo de caixa?

9. O tempo de retorno descontado elimina as limitações do tempo de retorno tradicional?

10. Suponha que uma empresa estabeleceu sua Taxa Mínima de Atratividade (TMA) em 30 % ao ano, por uma decisão de sua administração. Que conse qüência esse nível de TMA teria sobre a avaliação econômica dos projetos dessa empresa?

11. Determinado projeto tem um Valor Presente Líquido (VPL) igual a zero. Esse valor de VPL significa que esse projeto não apresenta lucros?

12. Se um projeto de investimento tem uma Taxa Interna de Retorno (TIR) muito acima da Taxa Mínima de Atratividade (TMA), seu Valor Presente Líquido

(VPL) será elevado?

13. Qual a principal restrição ao uso do Valor Presente Líquido (VPL) na análise de investimentos?

14. Existe limitação da Taxa Interna de Retorno (TIR) para avaliar um investi mento convencional?

15. Qual o principal uso do critério da Taxa de Retorno Contábil em análise de in vestimentos?

EXERCÍCIOS

1. Análise de projeto de investimento sem financiamento

Um projeto de investimento comercial apresenta as seguintes estimativas de

investimentos, entradas e saídas de caixa.

• O empreendimento funcionará num imóvel alugado. O valor do aluguel é de R$ 6.000,00/mês e o valor do ponto comercial é R$ 180.000,00.

160 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Considere que em caso de renovação do contrato (tem um prazo de cin co anos), o valor do ponto permanecerá o mesmo. Na hipótese de encer ramento das atividades, o contrato seria repassado, permitindo a recu peração integral do valor investido no ponto.

• Haverá investimento em máquinas e equipamentos no valor de R$ 60.000,00, para os quais são estimados uma vida útil de 10 anos e valor

residual de 10%.

• O valor do investimento em capital de giro (basicamente estoques) é de R$ 50.000,00.

• As entradas de caixa estão estimadas em R$ 360.000,00 por ano, líqui das de impostos.

• As saídas de caixa, exclusive aluguel, estão estimadas em R$ 220.000,00/ano.

Com base nos dados fornecidos, elabore o fluxo de caixa necessário à avalia ção desse projeto de investimento pelo método da Taxa Interna de Retorno e Valor

Page 144: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Presente Líquido.

Questões:

• Qual a taxa Interna de Retorno desse projeto?

• Considerando que a empresa tem uma Taxa Mínima de Atratividade de 15% ao ano, qual o Valor Presente Líquido do projeto?

• Como eventuais incertezas (valor das luvas na renovação, projeções de receitas e despesas etc.) poderiam ser consideradas nessa avaliação?

• Como deve ser tratada a inflação ao longo do período de análise do projeto?

• Esse projeto de investimento poderia ser avaliado pelo critério do Tem po de Retorno? e pela Taxa de Retorno Contábil?

• Qual seria a Taxa Interna de Retorno caso consideremos:

a) uma redução de 10 % nas entradas de caixa acompanhada de uma redução de 5% nas saídas de caixa;

b) um aumento de 10% nas entradas de caixa acompanhado de um aumento de 3% nas saídas de caixa.

2. Análise de projeto de investimento com financiamento

Uma indústria está planejando expandir sua capacidade de produção com

um projeto de investimento em novas máquinas e equipamentos. Os dados desse

projeto de investimento são os seguintes:

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 161

• Valor do investimento em máquinas e equipamentos: R$ 1.325.000,00.

• Vida útil do investimento: 10 anos.

• Valor residual do investimento: 10%.

• Entradas mensais de caixa líquidas de impostos: R$ 359.166,00/ano

• Saídas mensais de caixa: R$ 88.000,00, exclusive juros.

• 20% do valor do investimento serão desembolsados imediatamente, com a utilização de recursos próprios. Os outros 80% (R$ 1.060.000,00) também serão desembolsados imediatamente e se originarão de um fi nanciamento a uma taxa de juros de 1% ao mês. O principal será amor tizado em 60 parcelas mensais, a partir do 13 mês da contratação, pois haverá uma carência de um ano, durante a qual somente os juros serão pagos. Em face desses dados, o fluxo de desembolso para o financia mento é o seguinte:

Meses 1 a 12: pagamento de juros mensais no valor de R$ 10.600,00.

Meses 13 a 72: pagamento de juros de R$ 10.600,00 no mês 13, sendo reduzido mês a mês pelo valor de R$ 176,66.

Amortização nos meses 13 a 72: R$ 17.666,66

Com base nesses dados, monte o fluxo de caixa desse projeto de investimento

Page 145: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

de modo a permitir o cálculo da taxa interna de retorno do capital próprio.

8

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS

A apuração, análise e controle de custos geram informações necessárias à to mada de decisões, como precificação, definição da carteira de produtos e serviços,

além da avaliação econômica de novos projetos de investimento.

O reconhecimento da importância das informações de custos é quase univer sal. Entretanto, a avaliação crítica dessas informações é, no geral, restrita.

A qualidade das informações de custo não condiz com sua importância em muitas empresas. Freqüentemente, essas informações são inadequadas para apoio à tomada de decisão. Em parte, o problema de informação de custo insatisfatória é explicado pela metodologia utilizada para produzi-la, ainda muito voltada para o atendimento de objetivos legais e fiscais.

Este capítulo contém uma abordagem gerencial para custos, visando tor ná-los mais Úteis ao processo de tomada de decisão.

8.1 FUNDAMENTOS DE CUSTOS

Os fundamentos em que se baseiam as técnicas de apuração, análise e contro le de custos são apresentados ao longo deste item. Os conceitos aqui apresentados

também seguem a abordagem gerencial adotada para o tema custos.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 163

a) Contabilidade de custos

É um método de apuração de custos com base na técnica contábil. Representa uma extensão da contabilidade tradicional, também chamada contabilidade financeira e, por isso, requér a realização de lançamentos contábeis, a observação dos princípios contábeis e da legislação específica.

A contabilidade de custos foi criada no início do século XX pelas grandes em presas industriais americanas e manteve-se intocada até meados da década de 50. A partir de então, alguns de seus pontos fracos passaram a ser criticados, dando origem a novas abordagens para custos.

b) Apuração extracontábil de custos

Mesmo que a empresa não possua um sistema de Contabilidade de Custos nos moldes tradicionais — como acontece com a maioria das empresas de pequeno e médio porte —, é possível apurar seus custos por meio de sistemas de custeio espe ciais.

A apuração extracontábil de custos pode produzir as informações de custo

para apoio à tomada de decisão na empresa quando ela não dispõe da Contabilida de de Custos tradicional.

c) Custo e despesa

A contabilidade de custos faz uma diferenciação entre custos e despesas para

Page 146: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

poder calcular o custo dos produtos vendidos e o resultado do período.

São considerados como custo os dispêndios efetuados para possibilitar a pro dução ou operação, como matéria-prima, embalagens, máquinas e pessoal da li nha de produção. Os dispêndios referentes à administração, vendas e financia mentos são considerados como despesas.

A diferença entre custos e despesas é obrigatória na Contabilidade de Custos

porque afeta a apuração do resultado contábil do período.

Quando a empresa não utiliza Contabilidade de Custos, a diferenciação entre custo e despesa não é obrigatória. Assim, é comum encontrarmos num sistema de apuração extracontábil de custos a designação de custo de administração em lugar de despesa de administração.

d) Depreciação

A depreciação é a perda de valor de um bem ocasionada por desgaste ou ob solescência. Nos dois casos, a perda de valor representa um custo do período em

que ela ocorre. O valor da depreciação depende de duas variáveis básicas: a vida

164 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

útil do bem e a velocidade com que ele perde valor em função do uso ou da obsoles cência.

Na Contabilidade de Custos, a depreciação é calculada por um método deno minado “depreciação linear”. Por esse método, o valor da depreciação anual é

igual ao valor depreciável do bem dividido pelo número de anos de sua vida útil.

O cálculo da depreciação linear é efetuado da seguinte forma:

D = (Va - Vr) ÷ n

sendo: Dl = depreciação linear anual

Va = valor de aquisição do bem Vr = valor residual

n = vida útil do bem em anos

Quando a depreciação é usada na apuração de custos para tomada de deci são, outros métodos de cálculo podem ser usados. O preferido entre os métodos al ternativos para cálculo da depreciação é denominado “Fundo de Amortização”.

O cálculo da depreciação pelo fundo de amortização considera o valor de re posição do bem como um montante a ser obtido de um plano de investimento com depósitos iguais e consecutivos que estarão rendendo uma taxa de juros. O valor de cada um desses depósitos (mensais ou anuais) corresponde ao valor da depreci ação.

O cálculo da depreciação pelo fundo de amortização é realizado do seguinte modo:

( Vr ___

D =iVa— ix

(1 +i)’ ) (1 +i)

Page 147: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

sendo: Df = depreciação anual do bem pelo fundo de amortização Va = valor de aquisição do bem

Vr = valor residual do bem

n = vida útil do bem em anos

= taxa de juros anual que representa o custo de oportunidade da empresa.

e) Avaliação de estoques

Quando diversas compras de um mesmo item (matéria-prima, material etc.)

são efetuadas a preços diferentes, surgem algumas alternativas para a fixação do

custo dos estoques consumidos desse item.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 165

Basicamente, existem dois métodos de apuração de custo dos estoques con sumidos: custo histórico e custo de reposição.

O custo de reposição é representado pelo atual valor de mercado do item comprado, sem qualquer consideração quanto ao valor de aquisição.

Já o custo histórico tem três alternativas de cálculo:

• Método do custo médio de aquisição (média simples ou ponderada).

• Método Peps (Fifo).

A sigla Peps representa as iniciais da expressão primeiro a entrar, pri meiro a sair. Em inglês, éfirst into, first out (Fifo). Assim, os itens con sumidos são custeados pelos preços mais antigos.

• Método Ueps (Lifo).

Ueps corresponde às iniciais da expressão “último a entrar, primeiro a sair”. Seu equivalente em inglês é last into,first out (Lifo). Os itens con sumidos são custeados pelos preços mais recentes que podem ser me nores do que os valores de reposição.

Os estoques devem ser avaliados por seu custo de aquisição, custo de reposi ção ou custo médio?

A resposta depende da utilização dada às informações de custo. A contabili dade de custos formal não tem escolha e faz a avaliação conforme as normas legais

vigentes.

Para fins de tomada de decisão, a empresa pode adotar o critério que julgar

mais adequado.

8.2 CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS

Os conceitos de custos apresentados nos tópicos seguintes são aqueles de

maior aplicação na apuração extracontábil de custos, utilizados basicamente para

fins gerenciais.

Page 148: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

a) Custo fixo

Alguns gastos são independentes da quantidade produzida ou vendida. Um

aumento ou redução nessa quantidade deixa inalterados esses gastos, que por este

motivo são denominados custos fixos.

Por exemplo, quando uma indústria aumenta sua produção sem alterar sua

estrutura de apoio, seu gasto referente à administração não será alterado e, por

isso, é um custo fixo.

166 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Como o custo fixo é constante em relação à quantidade total produzida ou

vendida, seu valor por unidade — denominado custo fixo unitário ou custo médio — flutuará em função dessa quantidade.

As principais utilizações do conceito de custo fixo são:

• Apuração de custos.

• Decisões de preço em situação de capacidade ociosa.

• Determinação do ponto de equilíbrio da empresa.

• Avaliação econômica de decisões com alcance de curto prazo.

• Implantação de programas de redução de custos.

b) Custo variável

Determinados gastos estão diretamente relacionados com o volume de pro dução ou nível de operação. Por exemplo, o gasto com matéria-prima cresce ante

um aumento da produção. Estes gastos são denominados custos variáveis.

O custo variável flutua em relação à quantidade total produzida ou ao volu me total de operações. Quando expresso em relação a uma unidade, o custo variá vel é denominado custo variável unitário ou custo variável médio e seu valor é constante.

O conceito de custo variável é empregado nos seguintes casos:

• Apuração de custos.

• Decisões de preço em situação de capacidade ociosa.

• Determinação do ponto de equilíbrio da empresa.

• Avaliação econômica de decisões com alcance de curto prazo.

• Análise da economicidade de processos operacionais.

• Implantação de programas de redução de custos.

c) Custo marginal

O custo marginal é o aumento sofrido pelo custo total (custo fixo mais custo variável) diante da produção ou venda de uma unidade adicional.

Page 149: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Quando ocorre a produção ou venda de uma unidade adicional, o custo fixo mantém-se constante e apenas o custo variável sofre aumento. O valor desse au mento é igual ao custo variável unitário. Assim, considerando a definição de custo marginal, ele é igual ao custo variável unitário.

Tendo em vista a identidade entre custo marginal e custo variável, esses dois

conceitos de custo têm a mesma utilização.

O Quadro 8.1 ilustra numericamente os conceitos de custo apresentados.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 167

Quadro 8.1 Custos fixo, variável e marginal.

Unidades

produzidas

Custo

fixo

total

Custo

variável

total

Custo total

Custo

fixo

unitário

Custo

variável

unitário

Custo

total

unitário

Custo

marginal

0

300,00

300,00

1

300,00

Page 150: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

100,00

400,00

300,00

100,00

400,00

100,00

2

300,00

200,00

500,00

150,00

100,00

250,00

100,00

3

300,00

300,00

600,00

100,00

100,00

200,00

100,00

4

300,00

400,00

700,00

75,00

100,00

175,00

100,00

5

300,00

500,00

Page 151: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

800,00

60,00

100,00

160,00

100,00

6

300,00

600,00

900,00

50,00

100,00

150,00

100,00

7

300,00

700,00

1.000,00

42,86

100,00

142,86

100,00

8

300,00

800,00

1.100,00

37,50

100,00

137,50

100,00

9

300,00

900,00

1.200,00

Page 152: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

33,33

100,00

133,33

100,00

10

300,00

1.000,00

1.300,00

30,00

100,00

130,00

100,00

1.400,00

1.200,00

1.000,00

800 00

600,00

400,00

200,00

O

Gráfico de Custos Totais

Unidades

Gráfico de Custos Unitários

400,00

350,00

300,00

250,00

R$ 200,00

150,00

100,00

50,00

o

1 3 5 7 9

Page 153: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

CT

cv

CF

1 3 5 7 9 11

Unidades

168 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

d) Custo direto

Alguns custos são exclusivos de determinados produtos ou serviços e por isso

são chamados custos diretos.

As matérias-primas e embalagens usadas na fabricação de um produto indus trial são exemplos de custos diretos. Para uma empresa varejista, o custo de aquisi ção de cada produto vendido é um custo direto.

Os custos diretos são utilizados principalmente para fins de apuração de

custos.

e) Custo indireto

Determinados gastos são compartilhados por mais de um produto, serviço ou

departamento. Não há uma identificação clara sobre a distribuição desses gastos

comuns — denominados custos indiretos — entre os produtos ou serviços.

Os gastos com aluguel do imóvel onde funciona a empresa é um exemplo típi co de custo indireto dos produtos por ela fabricados.

Um dos maiores problemas para a apuração de custos é fazer a distribuição dos custos indiretos entre produtos e serviços. A prática mais utilizada é fazer o ra teio dos custos indiretos pelos produtos ou serviços a partir de determinado crité rio, mas sempre será questionável.

Metodologias de apuração de custos mais modernas, como o custeio ABC,

buscam apurar os custos indiretos em bases menos discutíveis, com uma escolha

mais cuidadosa dos critérios de rateio.

O principal emprego do custo indireto é na apuração de custos.

O Custo histórico

O custo histórico significa o valor original de aquisição dos insumos utiliza dos na fabricação de produtos ou prestação de serviços.

Quando o custo histórico é acrescido dos efeitos da inflação, é denominado

custo histórico corrigido.

Suponhamos que uma empresa tenha em seu estoque um lote de peças de re posição comprado um ano atrás pelo preço de R$ 500,00. A inflação acumulada a

Page 154: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

partir da data da compra dessas peças é 10%. Com base nesses dados, temos:

Custo histórico: R$ 500,00.

Custo histórico corrigido: R$ 550,00 (R$ 500,00 mais 10%).

O custo histórico é utilizado pela contabilidade financeira e de custos em seus registros. Para fins de tomada de decisão, o custo histórico é pouco utilizado.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 169

g) Custo de reposição

O atual valor de mercado dos insumos adquiridos no passado para a fabrica ção de produtos ou prestação de serviços é denominado custo de reposição.

Suponhamos que uma empresa tenha um estoque remanescente de matéria- prima adquirida há seis meses por R$ 200,00 a tonelada. Hoje, o preço dessa mes ma matéria-prima está em R$ 220,00. Este último valor é o custo de reposição da matéria-prima.

O principal uso do custo de reposição é para fins de tomada de decisão. Geral mente, a contabilidade financeira e a de custos não podem utilizar o custo de repo sição em seus registros.

h) Custo afundado

É um custo desembolsado no passado e que por isso não é afetado por deci sões posteriores.

Suponhamos que uma empresa tenha feito uma contratação irretratável para utilizar um pavilhão por uma semana onde promoverá uma exposição. Nessas con dições, ela terá que pagar o valor combinado, quer realize ou não essa exposição. Na eventualidade de uma procura reduzida de estandes, o aluguel do pavilhão po derá até ser totalmente expurgado da planilha de custos para permitir a oferta de um preço menor aos expositores. Nesse caso, o custo do aluguel do pavilhão é um exemplo de custo afundado. Qualquer decisão — realizar ou não a exposição, por exemplo — será irrelevante para esse custo, pois ele não poderá ser evitado.

O custo afundado pode ser definido como um custo fixo em relação a um evento futuro. Ele é utilizado na avaliação econômica de decisões.

i) Custo incremental

O gasto que existirá se uma determinada decisão for tomada é denominado custo incremental. Também denominado custo evitável, o custo incremental é uti lizado para se quantificar o resultado econômico de uma decisão.

O custo incremental pode ser fixo, variável ou ainda uma combinação desses dois.

j) Custo-oportunidade

A maioria dos gastos de produção ou operação são explícitos e sua identifica ção é imediata. Há casos, entretanto, em que os custos não estão explícitos e, por

isso, não são identificados.

170 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Page 155: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Suponha-se que uma indústria tenha um galpão ocioso e resolva aproveitá-lo em um novo projeto. Na avaliação econômica desse projeto, o valor de mercado para o aluguel desse galpão deverá ser considerado como custo operacional do projeto. O valor desse aluguel representa um custo-oportunidade do galpão.

Quando uma empresa mantém estoques, há também o custo-oportunidade

do investimento que fica imobilizado na forma de estoque.

O custo-oportunidade mais representativo para uma empresa é o do investi mento em ativos permanentes (instalações, máquinas, equipamentos etc.).

Deve ser notado que todos os gastos operacionais incorridos na produção de bens ou serviços têm um custo-oportunidade (o dinheiro poderia ter sido aplicado no mercado financeiro). Como esses gastos são explícitos e geram um desembolso direto, têm seu custo-oportunidade representado pelos respectivos valores.

O custo-oportunidade é utilizado com as seguintes finalidades:

• Avaliação de investimentos.

• Decisões de preço.

• Decisões de comprar versus alugar.

1) Custo contábil

O custo apurado pela contabilidade das empresas ou mesmo por sistemas de apuração extracontábil não inclui o custo-oportunidade do investimento e de ou tros elementos. O custo assim calculado é denominado custo contábil.

O custo contábil é utilizado para fins de apuração do lucro da empresa — ge ralmente denominado lucro contábil — e avaliação de desempenho financeiro pela

óptica tradicional.

m) Custo econômico

Quando ao custo contábil adicionamos o custo-oportunidade do investimen to temos o custo econômico.

O capital investido é o item que não tem todo seu custo-oportunidade apura do pela contabilidade de custos. Parte desse custo-oportunidade é incluída no cus to contábil na forma de depreciação linear. O procedimento correto seria utilizar a amortização financeira do investimento em lugar da depreciação linear. Para che gar ao custo econômico, acrescentaríamos ao custo contábil os juros sobre o capi tal investido.

O custo econômico é utilizado para fins de avaliação de desempenho econô mico e para fins de fixação de preços. No primeiro caso, o custo econômico permite

que se apure o lucro econômico que é o verdadeiro resultado de uma empresa.

Na fixação de preços, quando se apura o custo econômico de um produto, ele

representa o preço de venda ideal desse produto.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 171

Page 156: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

8.3 APURAÇÃO DE CUSTOS

A apuração de custos numa empresa pode ser efetuada com objetivos contá beis e fiscais ou para apoiar a tomada de decisão.

Quando os custos são usados para objetivos contábeis e fiscais, utiliza-se uma metodologia de apuração padronizada e rígida porque ela deve obedecer aos dis positivos da legislação. O método de apuração de custos para fins contábeis e fis cais é denominado custeio por absorção integral.

Os custos utilizados para apoiar a tomada de decisão têm uma grande flexibi lidade de apuração, podendo a empresa usar o método que julgar mais apropria do. Os principais métodos são: custeio direto, custo-padrão, custeio RKW e custeio

ABC.

8.3.1 Custeio por absorção integral

O custeio por absorção integral é o método de apuração de custos usado pela Contabilidade de Custos para apuração do resultado contábil. Baseia-se na aplica ção dos princípios contábeis e obedece ao estabelecido na legislação societária e fiscal.

O custeio por absorção integral tem a seguinte rotina de apuração:

• Todos os gastos relacionados com a produção (fixos e variáveis) são considerados como custo dos produtos vendidos.

• A receita líquida de vendas (é igual à receita bruta de vendas deduzida dos impostos sobre vendas) menos o custo dos produtos vendidos for nece o lucro bruto do período.

• O lucro bruto menos os gastos do período — denominados despesas — fornece o lucro antes dos impostos e contribuições sobre a renda.

• Quando a produção do período não for totalmente vendida, haverá produtos em estoque a serem transferidos para o período seguinte. O valor desses produtos em estoque será formado por parcelas de custo direto (matéria-prima, materiais etc.) e de custo indireto (depreciação etc.).

• A distribuição ou rateio dos custos indiretos através de produtos ou serviços pode ser efetuada segundo uma grande variedade de critérios. A escolha de um critério de rateio baseia-se em alguma relação existen te entre o custo indireto e algum fator vinculado ao processo de produ ção ou operação. Como diversos fatores relacionam-se com o processo de produção ou operação, qualquer critério de rateio adotado será ar bitrário e, portanto, questionável.

172 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Os principais critérios para rateio de custos indiretos são os seguintes:

• mão-de-obra direta;

• quantidade produzida;

• área utilizada;

• consumo de energia elétrica;

Page 157: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

• valor do investimento na linha de produção;

• consumo de matéria-prima;

• preço de venda do produto;

• homem-hora utilizado;

• uma combinação dos critérios anteriores.

Exemplo de apuração de custos

A empresa BOMCUSTO apresentou os seguintes dados de custos, despesas,

produção e vendas durante dois anos seguidos:

Custo fixo total anual: R$ 60.000,00.

Custo variável unitário: R$ 3,00.

Despesa fixa anual de administração: R$ 30.000,00.

Despesa variável de administração: R$ 10.000,00 (R$ 1,00/unidade).

Preço de venda: R$ 15,00.

Primeiro ano: produção 10.000, vendas 9.000 e estoque final 1.000 uni dades.

Segundo ano: produção 10.000, vendas 11.000 e estoque final nulo.

Os estoques são avaliados pelo critério Peps (primeiro a entrar, primeiro a sair).

Resultado do primeiro ano:

Vendas líquidas (9.000 x 15,00)

135.000

(—) custo fixo dos produtos vendidos (9.000 x (60.000 10.000))

54.000

(—) custo variável dos produtos vendidos (9.000 x 3,00)

27.000

(=) Lucro bruto

54.000

(—) despesas fixas de administração

30.000

(—) despesas variáveis de administração

10.000

(=) Lucro

14.000

Valor do estoque final: 1.000 x ((60.000,00 ÷ 10.000) + 3,00) = 9.000,00

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 173

Page 158: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Resultado do segundo ano:

Vendas líquidas (11.000 x 15,00)

165.000

(—) custo fixo dos produtos fabricados e vendidos (10.000 x (60.000 ± 10.000))

60.000

(—) custo variável dos produtos fabricados e vendidos (10.000 x 3,00)

30.000

(—) custo dos produtos vendidos — estoque anterior (1.000 x 9,00)

9.000

(=) Lucro bruto

66.000

(—) despesas fixas de administração

30.000

(—) despesas variáveis de administração

10.000

(=) Lucro

26.000

8.3.2 Custeio direto

O custeio direto, também chamado custeio variável, considera que somente os gastos variáveis (custos e despesas) são considerados custos dos produtos ven didos. Assim, os gastos fixos não são considerados como custo dos produtos vendi dos, mas tratados como despesa e lançados contra o resultado do período.

O custeio direto tem a seguinte metodologia de cálculo:

• A receita líquida de vendas menos o custo variável dos produtos vendi dos é igual à margem de contribuição.

• A margem de contribuição menos os gastos fixos fornece o lucro antes dos impostos e contribuições sobre a renda.

A premissa básica do custeio direto é que somente os gastos variáveis decor rem da fabricação do produto. Os gastos fixos refletem a capacidade de produção

existente e independem do volume desta.

Quando a empresa utiliza o custeio direto, o valor da produção não vendida e

mantida como estoque é formado apenas por gastos variáveis.

O resultado contábil das empresas não pode ser apurado com base no custeio direto. Esse método de custeio só pode ser empregado com objetivos gerenciais.

Exemplo de apuração de custos

Page 159: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A empresa BOMCUSTO apresentou os seguintes dados de custos, despesas,

produção e vendas durante dois anos seguidos (foram usados os mesmos dados

174 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

mostrados no item anterior para permitir uma comparação entre os dois métodos

de custeio).

Custo fixo total anual: R$ 60.000,00.

Custo variável unitário: R$ 3,00.

Despesa fixa anual de administração: R$ 30.000,00.

Despesa variável de administração: R$ 10.000,00 (R$ 1,00/unidade).

Preço de venda: R$ 15,00.

Primeiro ano: produção 10.000, vendas 9.000 e estoque final 1.000 unida des.

Segundo ano: produção 10.000, vendas 11.000 e estoque final nulo.

Os estoques são avaliados pelo critério Peps (primeiro a entrar, primeiro a

sair)

Resultado do primeiro ano:

Vendas líquidas (9.000 x 15,00)

135.000

(—) custo variável dos produtos fabricados e vendidos (9.000 >< 3,00)

27.000

(—) despesa variável de administração dos produtos fabricados e

vendidos (9.000 x 1,00)

9.000

(=) Margem de contribuição para cobrir despesas fixas e lucro

99.000

(—) despesas fixas de produção

60.000

(—) despesas fixas de administração

30.000

( Lucro 9.000

Estoque final: 1.000 unidades x R$ (3,00 + 1,00) = R$ 4.000,00 Resultado do segundo ano:

Vendas líquidas (11.000>< 15,00)

165.000

(—) custo variável dos produtos vendidos (10.000 x 3,00)

Page 160: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

30.000

(—) despesa variável de administração dos produtos vendidos

(10.000>< 1,00)

10.000

(—) estoque do ano anterior (1.000 x 4,00)

4.000

(=) Margem de contribuição para cobrir despesas fixas e lucro

121.000

(—) despesas fixas de produção

60.000

(—) despesas fixas de administração

30.000

(=) Lucro

31.000

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 175

A análise comparativa dos sistemas de custeio por absorção integral e custeio

direto indica que as diferenças de resultado existem por causa da parcela produzi da que não é vendida e vai para os estoques.

Se considerarmos o período de dois anos, quando houve igualdade de produ ção e vendas (20.000 unidades), os lucros acumulados pelos dois métodos de cus teio foram iguais (R$ 40.000,00).

8.3.3 Custo-padrão

O sistema de custo-padrão consiste na apuração dos custos efetivos e sua com paração com os custos previamente estabelecidos como padrão para a empresa.

Os padrões de custos são estabelecidos por levantamentos especiais, utilizan do estudos técnico-econômicos.

A principal finalidade de um sistema de custo-padrão é servir como instru mento de controle, permitindo o acompanhamento da eficiência produtiva ou operacional da empresa e de seus departamentos, com a comparação do custo efe tivo com o custo-padrão.

Os custos previamente apurados e utilizados como custo-padrão funcionam

como uma meta a ser atingida pela empresa.

O sistema de custo-padrão pode ter outras utilizações, como as seguintes:

• Fornecer dados e informações para medição da produtividade da em presa.

• Auxiliar o acompanhamento das metas de custo estabelecidas.

• Facilitar o acompanhamento orçamentário.

Page 161: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

São utilizados padrões físicos e monetários no sistema de custo-padrão. As di vergências verificadas em relação a esses padrões são denominadas variâncias.

Os padrões físicos são determinados por estudos técnicos desenvolvidos pe las áreas de engenharia, produção, operação e logística. Os padrões monetários

são produzidos pela área contábil-financeira.

A utilização de padrões monetários e conseqüentemente do próprio sistema de custo-padrão exige estabilidade da moeda. Em ambiente de inflação alta, a ne cessidade de atualização monetária constante dos padrões monetários torna pro blemática a utilização de um sistema de custo-padrão.

O sistema de custo-padrão também engloba a apuração dos custos a serem comparados com os padrões preestabelecidos. Desse modo, o custeio-padrão pode ser integrado à contabilidade financeira. O papel de controle, conseguido do cál culo das variâncias, seria uma função adicional do sistema de custeio.

176 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

8.3.4 Custeio RKW

O sistema de custeio RKW surgiu na Alemanha no começo do século XX e é uma variação do sistema de custeio por absorção integral, já que também as despe sas são apropriadas ao custo dos produtos.

Esse sistema foi desenvolvido com o objetivo de permitir ao governo alemão

praticar um controle de preços. Com o custo apurado pelo sistema RKW acrescen tava-se a margem de lucro desejada para chegar ao preço de venda.

Com a adição das despesas ao custo de produção, os custos dos produtos ven didos passam a incorporar as despesas de administração e vendas, o que não acon tece no sistema de custeio por absorção.

Dada a metodologia de apuração, o custeio RKW é tipicamente um método

de apuração de custos para fins gerenciais. Ele não pode ser utilizado para fins de

avaliação de estoques e apuração de resultado.

No Brasil, os sistemas de custos gerenciais existentes em muitas empresas

usam o custeio RKW, embora sem essa denominação.

Sempre que uma empresa fixar seus preços com base nos custos, estará em pregando alguma variante do custeio RKW, já que as despesas também são trata das como custos dos produtos.

8.3.5 Custeio ABC

O sistema de custeio ABC (ActivityBased Costing) é uma metodologia de apu ração de custos desenvolvida na década de 80 e tem como principal característica uma alocação mais precisa dos custos indiretos de uma organização entre os pro dutos e serviços, com a utilização das diversas atividades necessárias à produção como base para alocação desses custos indiretos.

Page 162: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A Contabilidade de Custos foi criada nos Estados Unidos, na segunda década do século XX, pelas grandes empresas industriais (General Motors, General Elec tric etc.) e, após desfrutar grande aceitação durante 30 anos, passou a ser muito questionada a partir dos anos 50.

O tratamento dispensado aos custos indiretos sempre foi o ponto fraco da Contabilidade de Custos. A variedade de critérios de rateio, sempre arbitrários,

pode conduzir a valores de custos questionáveis.

Enquanto a participação dos custos indiretos era relativamente pequena em re lação ao custo total, as distorções causadas pelos custos indiretos eram aceitáveis.

À medida que os custos indiretos passaram a ter um peso muito grande na

composição do custo total, devido principalmente ao crescimento dos gastos com

automação, os critérios de rateio até então utilizados revelaram-se inadequados.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 177

Por conta dos problemas na apropriação dos custos indiretos, as empresas

passaram a sofrer distorções significativas em sua Contabilidade de Custos.

Entre as soluções desenvolvidas para enfrentar as dificuldades de alocação

dos custos indiretos, destaca-se o sistema ABC — Activty Based Costirig (Custeio Ba seado em Atividades).

O princípio básico do custeio ABC é que os recursos da empresa são gastos na realização das atividades e essas atividades são executadas para gerar produtos ou

serviços.

1— Diferença do sistema ABC para os sistemas tradicionais

Nos sistemas tradicionais de apuração de custos, a distribuição dos custos in diretos pelos produtos ou serviços é realizada de modo simplista, por rateios ba seados, principalmente, no volume de produção ou operação.

O rateio dos custos indiretos com base no volume de produção acarreta dis torções nos custos apurados, pois os custos indiretos nem sempre estão relacio nados com a produção. O sistema de custeio ABC pesquisa as atividades que de ram origem aos custos indiretos e as utiliza como base de alocação desses custos indiretos.

II- Benefícios do ABC

• Permite às empresas obter maior precisão na apuração dos seus custos, pois elimina as distorções causadas pelos rateios simplistas efetuados

pela Contabilidade de Custos convencional.

• Auxilia na identificação de custos tidos como “ocultos” pelos sistemas de custeio tradicionais.

• Possibilita a identificação de atividades que não agregam valor, o que é de grande utilidade no processo de redução de custos.

Page 163: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

• Permite que a empresa identifique quais são seus processos efetiva mente lucrativos.

III - Conceitos utilizados no sistema ABC

O sistema de custeio ABC utiliza alguns conceitos específicos em sua metodo logia de cálculo. São os seguintes:

a) Processo é um conjunto de atividades necessárias à fabricação de um pro duto ou prestação de um serviço. Os processos podem ser gerenciais, operacionais

ou de apoio.

178 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

São exemplos de processo a fabricação e comercialização de um produto, in ternação de uma paciente em um hospital, venda de uma viagem de turismo, esto cagem, compra, venda etc.

b) Atividades: são as tarefas necessárias à realização de um processo e que consomem recursos da organização. Exemplos de atividades:

• Para o processo de fabricação de um produto: corte, usinagem, monta gem, pintura etc.

• Processo de comercialização de um produto: emissão de pedido de compra junto ao fornecedor, recebimento, estocagem e colocação de

mercadoria na gôndola, atendimento no check-out etc.

• Processo de internação de uma paciente em um hospital: receber, re gistrar, alojar, fornecer alimentação e prestar atendimento ao pacien te, emitir, receber e dar baixa no documento de cobrança etc.

• Processo de venda de uma viagem de turismo: divulgação do serviço, recepção ao cliente, comunicação com a operadora, emissão dos docu mentos de reserva, emissão dos documentos de cobrança etc.

c) Recursos: são os insumos utilizados na realização das atividades.

Exemplos de recursos: matéria-prima, salários, depreciação, supervisão.

d) Direcionador de custo: é a base utilizada para alocação de custos pelas ati vidades. Representa o consumo de recursos por uma atividade. Substitui no cus teio ABC o papel desempenhado pelos critérios de rateio de custos indiretos no sis tema de custeio tradicional.

e) Direcionador de atividade: é o critério empregado para alocar as ativida des pelos produtos ou serviços.

IV - Implantação do custeio ABC

Antes da implantação do custeio ABC faz-se necessário definir os objetivos do

sistema, os dados de custo a serem obtidos, o nível de detalhamento desses dados

bem como sua aplicação.

A apuração de custos pelo sistema ABC é efetuada em duas etapas: a primeira

Page 164: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

é a alocação dos custos às atividades (custeio de processos). A segunda etapa con siste na alocação das atividades aos produtos ou serviços (custeio de objetos).

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 179

O roteiro básico de implantação do custeio ABC é o seguinte:

a) Identificação dos processos existentes na empresa

Os processos típicos de uma empresa são: engenharia de produto, fabricação,

operação, compras, logística, vendas. Cada um desses processos é realizado por

meio de um conjunto de atividades.

b) Definição das atividades em que se baseará o custeio

As atividades a serem especificadas e seu grau de detalhamento dependerão basicamente da utilização a ser dada aos dados de custo do sistema ABC. Outros fatores que também influem na definição das atividades em que se baseará o cus teio ABC são o custo e o tempo esperados para esse trabalho de especificação.

c) Levantamento dos custos vinculados às diversas atividades

A seqüência ideal de alocação de custos pelas atividades é alocação direta,

alocação por atividade e alocação por quantidade.

A alocação dos custos diretos às atividades não apresenta maiores dificulda des, já que a identificação é imediata.

Quando a alocação dos custos não puder ser feita de forma direta, será neces sário desenvolver análises especiais que permitam informar como cada atividade se relaciona com os custos em questão. Essas análises visam decifrar a ligação en tre o dispêndio de determinado recurso e as atividades que o utilizam.

Desse modo, só em último caso um custo será relacionado a uma atividade

com base na quantidade produzida, como acontece no rateio tradicional dos cus tos indiretos.

d) Identificação dos direcionadores de custo

Esta é a fase mais trabalhosa do custeio ABC. Ela consiste em fazer a distribui ção dos custos indiretos pelas atividades de forma criteriosa, com a utilização dos

direcionadores de custo.

O critério básico para a escolha de um direcionador de custo é que ele deve re lacionar-se logicamente com a atividade.

Na contabilidade de custos tradicional, a alocação dos custos indiretos é efe tuada por produto ou serviço, independentemente do critério de rateio utilizado. No custeio ABC, a alocação dos custos indiretos é feita primeiramente pelas ativi dades e depois estas são alocadas aos produtos e serviços. Além disso, a alocação dos custos indiretos pelas atividades é efetuada de forma analítica e criteriosa, de

180 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Page 165: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

modo que cada atividade receba os custos correspondentes aos recursos que efeti vamente utiliza.

e) Apuração do custo das atividades

As tarefas anteriores permitirão apurar o custo das atividades vinculadas aos vários processos utilizados pela empresa. O custo de uma atividade será igual ao somatório dos custos dos recursos consumidos. O custo de cada recurso consumi do é igual ao seu valor multiplicado pelo índice de consumo da atividade.

Exemplo de apuração de custos pelo sistema ABC:

A seguir, é apresentado um exemplo de apuração de custos numa indústria

com o sistema ABC e sua comparação com o custo apurado pelo sistema tradicio nal com a utilização de rateio dos custos indiretos.

Considerando o caráter introdutório da abordagem que estamos fazendo do

custeio ABC, o exemplo apresentado é bastante simples, pois visa ilustrar a utiliza ção do custeio ABC e compará-lo com o custeio tradicional

Dados da empresa:

• Produtos fabricados: P e P

• Volume de fabricação: 200 unidades/mês de P e 300 unidades/mês de P

• Total de custos de matéria-prima: R$10.000,00 para P e R$ 6.000,00 para P

• Total de custos diretos de mão-de-obra: R$ 60.000,00 para P e R$ 90.000,00 para P

• Despesas gerais administrativas (DGA): R$100.000,00.

• Critério de rateio do custo indireto (DGA) no custeio tradicional: utili zação de mão-de-obra direta por cada produto.

Dados para o custeio ABC:

• Atividade usada para distribuição do custo indireto (DGA): preparação de máquinas.

• Direcionador do custo indireto (DGA): números de preparações de máquinas.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 181

Número de preparações de máquinas necessárias ao processo: 05

Alocação da atividade preparação de máquinas ao processo de produção:

Fabricação de P — 4 preparações de máquinas.

Fabricação de P — 1 preparação de máquinas.

Apuração dos custos pelo método tradicional:

Rateio das despesas gerais administrativas (DGA):

Produto P (60.000 ± 150.000) x 100.000 40.000.

Produto P (90.000 ± 150.000) x 100.000 = 60.000.

Custo unitário de P ((60.000 + 10.000 + 40.000) ± 200) = 550.

Page 166: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Custo unitário de P = ((90.000 + 6.000 + 60.000) ÷ 300) = 520.

Apuração dos custos pelo método ABC:

Custo de preparação de máquina de P 100.000 ÷ 5 x 4 = 80.000.

Custo de preparação de máquina de P 100.000 ÷ 5 x 1 = 20.000.

DGA unitária de P 80.000 ÷ 200 400.

DGA unitária de P 20.000 ÷ 300 = 66,66.

Custo Unitário de P = ((60.000 + 10.000 + 80.000) ± 200) 750.

Custo Unitário de P = ((90.000 + 6.000 + 20.000) ± 300) = 386,66.

Comparação do custo pelos dois sistemas:

Produto Custeio Tradicional

Custeio ABC

P

550

750

520

386,66

O custeio ABC mostra que o produto P mesmo sendo produzido num volu me menor do que P exige maior quantidade de preparações de máquinas. Duran te a implantação do custeio ABC, foi identificado que o consumo do recurso DGA — ele representa o custo indireto — está relacionado com a atividade de preparação de máquinas. Assim, o produto P por usar a atividade preparação de máquinas quatro vezes mais do que o produto P receberá uma parcela de custo indireto au mentada na mesma proporção.

O custeio tradicional não consegue ver essa distribuição atípica da DGA por que a rateou proporcionalmente à utilização da mão-de-obra direta.

182 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

8.3.6 Apuração de custos para tomada de decisão

Quando a empresa precisa de dados de custo para fins de tomada de decisão, precisará dispor de um sistema especial de apuração de custos. Antes da implanta ção desse sistema especial de custos, será necessário estabelecer seus objetivos, que são geralmente variados.

A título de ilustração, são apresentados dois exemplos de apuração de custos,

um para indústria e outro para prestação de serviços.

A metodologia de apuração utilizada segue a filosofia básica do sistema de

custeio RKW, em que as despesas do período são tratadas como custo.

Page 167: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Quando a empresa apura custos para fins de determinação de resultado, utili za basicamente os dados verificados num determinado período passado (mês, tri mestre etc.). Os custos apurados para fins de tomada de decisão têm pouca vincu lação com o passado. São, antes de tudo, custos esperados. Por isso, são valores projetados com base em diversas premissas adotadas.

1 - Apuração de custo em empresa industrial

O exemplo escolhido é uma indústria de confecções femininas que fabrica calças, bermudas, blusas e vestidos, todos em tecido jeans. Essa empresa pretende

fazer a apuração de custos para obter as seguintes informações:

• O custo fixo desembolsável da empresa.

• O custo marginal de cada produto.

• O custo unitário de cada produto.

• A equação de custo operacional total da empresa.

As informações solicitadas são típicas de um sistema gerencial de custos. A

contabilidade de custos convencional não produz essas informações. O processo

de apuração dos custos é o seguinte:

a) O custo fixo desembolsável da empresa

A apuração desse custo deve tomar como base de tempo o ano civil. Isso se deve ao fato de que alguns custos não são desembolsáveis mês a mês regularmen te. Alguns encargos sociais sobre a folha de pagamentos, prêmios de seguros e anuidades diversas são exemplos de custos não desembolsados mês a mês.

O custo fixo desembolsável da empresa corresponde a seu custo fixo operacio nal calculado como descrito no parágrafo anterior, mas sem incluir a depreciação.

b) O custo marginal de cada produto

Para apurar o custo marginal de cada produto, é necessário identificar os cus tos variáveis de produção.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 183

Os principais itens de custos variáveis são os materiais (tecido, aviamentos, embalagem etc.) consumidos na fabricação de cada produto, além de alguns cus tos operacionais relacionados com o volume de produção (energia elétrica e ou tros).

Deve ser determinado um padrão de consumo de cada material empregado

por produto e seu respectivo preço, já ajustado do efeito de eventuais créditos tri butários a que a empresa tiver direito.

As matérias-primas e materiais poderão ser avaliados pelo custo de reposição

ou custo médio.

Page 168: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Caso os custos variáveis, principalmente os de maior significado como a matéria-prima, sofram muita flutuação, não é recomendável utilizar seu custo de reposição. A melhor opção seria considerar o custo médio esperado para um deter minado período à frente.

c) Custos unitários dos produtos

O custo unitário dos produtos fabricados compõe-se da parcela de custo mar ginal mais as parcelas de custos fixos de apoio administrativo e operacional.

A apuração dos custos unitários de cada produto requer os seguintes passos:

Determinação da capacidade de fabricação de cada um dos produtos com base nos recursos existentes (máquinas e mão-de-obra). A capaci dade de produção independe das quantidades vendidas. Portanto, se a empresa estiver vendendo abaixo de sua capacidade de produção, os valores desta é que deverão ser considerados para fins de apuração de custos. Se houver a expectativa de que as vendas ficarão sempre abaixo da capacidade de produção, poderá ser usado como base de cálculo o volume médio de vendas esperado a longo prazo, com a atual estrutura de custos fixos.

Apurar o custo horário de operação de cada máquina. Esse custo inclui os custos de pessoal de operação, manutenção, depreciação, consumo de energia elétrica etc.

Para calcular a depreciação, é preciso estimar o valor de mercado ou de substituição das máquinas e equipamentos e considerar o que for maior. Este valor, juntamente com a vida útil estimada e o valor resi dual, servirão de base para cálculo da depreciação. Esta poderá ser cal culada pelo método do fundo de amortização, gerando um valor me nor do que aquele obtido com a utilização da depreciação linear. A taxa de juros para cálculo da depreciação poderá ser de 15% ao ano.

• Levantar o tempo médio de utilização das diversas máquinas de cada produto.

184 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

• Apurar o custo operacional de cada produto com base no custo de ho ra-máquina e tempo médio de utilização por produto.

• Apurar os custos indiretos de apoio com base num valor padrão espera do. Esses custos abrangem administração, supervisão, informática etc.

• Fazer o rateio dos custos indiretos pelos produtos. O rateio poderá ser feito com base na capacidade média de fabricação de cada um dos qua tro produtos ou em outro critério mais apropriado, se houver.

d) A equação de custo operacional total

Essa equação relaciona o gasto total da empresa ante vários níveis de produ ção.

É necessário apurar o custo fixo total da empresa e o custo variável ou margi nal de cada produto.

A equação de custo operacional total tem o seguinte formato:

CT CF + Q + Q Q + Q

onde: CT = custo operacional total

CF = custo fixo total

Page 169: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Q = produção de calças multiplicada pelo respectivo custo marginal

Q = produção de bermudas multiplicada pelo respectivo custo marginal

Q = produção de blusas multiplicada pelo respectivo custo marginal

Q = produção de vestidos multiplicada pelo respectivo custo marginal

II — Apuração de custo em empresa prestadora de serviços

O exemplo a ser desenvolvido é o de uma empresa que realiza serviços de de detização em imóveis. Ela pretende implantar um sistema de custos que gere as se guintes informações:

• O custo marginal da dedetização de cada unidade.

• A equação de custo operacional da empresa.

A apuração do custo unitário de cada tipo de dedetização é desaconselhável nesse caso porque existem muitas combinações possíveis de operação (número de dedetizações de apartamentos, casas, salas de escritório etc. ao longo do ano). So mente se a empresa tivesse um número relativamente estável de execução de ser viços pelos vários tipos de unidades poderia ser apurado o custo unitário de cada uma delas.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 185

A metodologia para obtenção das informações de custos desejadas é a se guinte:

a) Custo marginal de dedetização de cada unidade.

Para apurar o custo marginal de dedetização de cada unidade, é preciso le vantar os custos variáveis de operação.

Os principais itens de custos variáveis são os produtos químicos utilizados no

processo de dedetização, além de alguns custos operacionais (transporte dos ope radores ao local de trabalho, custos sobre vendas etc.).

É preciso determinar o padrão de consumo de cada produto químico em cada

unidade dedetizada (apartamento, casa, escritório etc.), ainda que o preço do ser viço não seja diferenciado.

Os produtos químicos utilizados poderão ser avaliados pelo custo de reposi ção ou custo médio.

b) A equação de custo operacional total da empresa

Esta equação relaciona o gasto total da empresa diante de vários níveis de

operação. Ela é formada pelo custo fixo total da empresa e o custo marginal de

cada unidade dedetizada.

A equação de custo operacional total tem o seguinte formato:

CT = CF + Q + Q ... + Q,

onde: CT = custo operacional total

CF = custo fixo total

Page 170: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Q = número de serviços de dedetização do tipo 1 multiplicado pelo

respectivo custo marginal

Q = número de serviços de dedetização do tipo 2 multiplicado pelo

respectivo custo marginal

Q = número de serviços de dedetização do tipo n multiplicado pelo

respectivo custo marginal

8.4 ANÁLISE DE CUSTOS

A análise de custos é realizada para comparar e interpretar os dados de custos

apurados.

186 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

A apuração de custos informa quanto custou produzir determinado produto ou serviço. Pela análise de custos é possível saber se o custo apurado está elevado

ou não e ainda obter a justificativa de qualquer desvio em relação ao esperado.

O trabalho de análise de custos abrange as etapas de preparação dos dados de custos e sua interpretação.

A fase de preparação dos dados consiste na atualização monetária dos custos observados no passado visando sua comparação.

Para fazer a interpretação dos dados de custos, o analista precisa estabelecer relações de causa e efeito para as variações de custo encontradas.

A empresa pode usar os resultados da análise de custo com vários objetivos, como, por exemplo, a avaliação do desempenho econômico da empresa, acompa nhamento de metas de redução de custo e análise de sua competitividade.

8.4.1 Análise vertical

Por meio da análise vertical é possível dissecar a composição do custo em suas parcelas. O percentual de participação de cada uma dessas parcelas em rela ção ao total é avaliado em relação a determinado padrão para verificar a ocorrên cia de desvios.

O Quadro 8.2 apresenta um exemplo de análise vertical de custos.

Quadro 8.2 Análise vertical.

Custo apurado

Valor

%

Custo orçado

Valor

%

Material

Page 171: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

144,00

60,0

Material

136,00

60,18

Mão-de-obra

48,00

20,0

Mão-de-obra

42,00

18,58

Administração

16,00

6,7

Administração

20,00

8,85

Embalagem

8,00

3,3

Embalagem

12,00

5,31

Outros

24,00

10,0

Outros

16,00

7,08

Total

240,00

100,0

Total

Page 172: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

226,00

100,00

Os números obtidos com a análise vertical podem ser comparados com pa drões preestabelecidos ou médias setoriais.

8.4.2 Análise horizontal

A análise horizontal avalia a evolução temporal dos custos com o objetivo de

identificar tendências ou anormalidades.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 187

Para que custos de diferentes datas possam ser comparados, precisam ser

atualizados monetariamente para uma mesma data. Assim, é necessário escolher

um indexador apropriado.

Apesar da grande variedade de indexadores existentes na economia brasilei ra, o Indice Geral de Preços segundo o conceito de disponibilidade interna (IGP-DI), calculado pela Fundação Getúlio Vargas, é o índice mais indicado para medir a variação dos custos das empresas em geral.

A variação cambial é o índice menos indicado para comparar a variação de cus tos em moeda nacional porque não acompanha a variação da inflação no Brasil.

O Quadro 8.3 apresenta um exemplo de análise horizontal de custos em que estes foram expressos a preços da data mais recente para fins de comparação.

Quadro 8.3 Análise horizontal.

Data

Custo

histórico

Inflação em

12 meses

Fator de

atualização

Custo a preços

de dezembro/99

Dezembro/99

Dezembro/98

Dezembro/97

Dezembro/96

Dezembro/95

Page 173: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

8,33

8,22

8,01

7,80

7,00

19,99

1,71

7,48

9,33

1,00

1,20

1,22

1,31

1,43

8,33

9,86

9,77

10,21

10,01

Uma das dificuldades para interpretação dos dados de custo é estabelecer um valor-base adequado, quando o custo em análise apresenta flutuações significati vas no período.

8.4.3 Análise de custo por atividade

Os custos também podem ser analisados em termos das atividades operacio nais e de apoio referentes ao processo de produção ou de operação.

A análise de custo por atividade exige que os custos sejam apurados por ativi dade, mas não há obrigatoriedade de utilização do custeio ABC.

Qualquer sistema de custeio pode ser estruturado para fornecer dados de cus tos das atividades, facilitando assim o posterior processo de análise. Se o sistema de custeio existente não fornece dados de custo por atividade, será necessário pro ceder a um levantamento especial.

No exemplo de apuração de custos da indústria de confecções femininas

apresentado no item 8.3.6, caso se pretenda analisar o custo por atividade, seria

preciso apurar o custo do corte, costura, embalagem, vendas etc.

Page 174: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

188 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

O principal benefício da análise de custos por atividades é a obtenção de in formações sobre a eficiência econômica de processos operacionais. A fixação e a avaliação de metas como aumento da produtividade e da competitividade são em muito auxiliadas pela análise de custo de atividades.

8.4.4 Análise quantitativa de custos

Os custos também podem ser analisados em termos de quantidades consumi- das dos vários insumos usados na produção. Dada a natureza técnica dos levanta mentos necessários, a análise quantitativa dos custos é uma tarefa do escopo da engenharia industrial.

Existe uma correlação entre o consumo físico de determinados recursos e as características operacionais do parque produtivo da empresa.

Por exemplo, o crescimento do gasto de homem-hora na manutenção tem re lação com o grau de obsolescência das máquinas e equipamentos utilizados.

Os sistemas de custeio tradicionais, por enfatizarem o aspecto financeiro dos custos, não costumam gerar todas as informações necessárias à análise quantitati va dos custos.

8.5 REDUÇÃO DE CUSTOS

Depois da apuração de custos, a análise de custos pode indicar que os valores apurados estão elevados, exigindo que sejam reduzidos.

Mesmo sem a realização de análise de custos, a redução destes pode ser uma meta estabelecida pela empresa visando à obtenção de competitividade. Essa seria

uma redução de custos espontânea.

O processo de redução de custos também pode ser deflagrado de forma com pulsória, diante de crises financeiras que exigem a redução das saídas de caixa da

empresa.

A redução de custos compulsória é a mais freqüente e geralmente surge dian te de crises financeiras agudas. Nesse caso, a redução de custos costuma trazer

também efeitos negativos.

Sacrifício da qualidade do produto ou serviço, degradação dos processos ope racionais, diminuição do moral dos empregados, são algumas das conseqüências

negativas de uma redução de custos compulsória.

Vários estudos têm questionado a eficácia a longo prazo da redução de custos compulsória. Eles mostram que se a empresa consegue contornar a crise financei ra, muitos dos gastos suprimidos tendem a retornar com maior intensidade, indi cando que apenas foram comprimidos temporariamente.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 189

Entretanto, algumas empresas só conseguiram sobreviver após a adoção de

um vigoroso programa compulsório de redução de custos.

Page 175: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Redução de custos espontânea é o outro enfoque para o corte dos gastos

numa empresa. Essa forma de redução é usada quando a empresa adota uma filo sofia voltada para a busca de permanente competitividade.

A idéia central da redução de custos espontânea é buscar eficiência nos pro cessos e atividades da empresa. Não se trata apenas de reduzir as saídas de caixa. Ao contrário, muitos programas espontâneos de redução de custos acarretam au mento em investimentos destinados à obtenção de maior eficácia operacional.

Desse modo, a redução espontânea de custos está voltada para a expansão da

empresa, podendo mesmo representar um programa de investimento.

O Quadro 8.4 esquematiza os efeitos dos dois tipos de redução de custos so bre alguns aspectos da empresa.

Quadro 8.4 Efeitos da redução de custos.

Efeito

Redução espontânea

Redução compulsória

Caixa

Inicialmente negativo. Positivo a longo prazo.

Inicialmente positivo. Incerto a longo prazo.

Qualidade do produto

Sempre positivo.

Inicialmente negativo.

Custos

Positivo.

Positivo para alguns itens e negativo para outros.

Moral dos empregados

Positivo.

Variável.

Metas de expansão

Positivo.

Negativo.

Competitividade

Sempre positivo.

Incerto.

Capacidade de sobrevivência

Page 176: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Positivo.

Positivo.

Nesse capítulo será tratada a redução espontânea de custos. A redução com pulsória insere-se na filosofia de saneamento financeiro e será apresentada no Ca pítulo 10.

8.5.1 Técnicas de redução de custos

Reduzir custos significa fabricar um produto ou prestar um serviço de mesma qualidade com um menor valor de gastos. A redução de custos pode acontecer de duas formas. Numa delas, a empresa traz seus custos ao padrão do mercado. Isso acontece, por exemplo, quando a empresa elimina desperdícios.

A outra forma de redução de custos representa a quebra de um padrão de cus tos existentes no mercado, dando à empresa que a realiza grande vantagem com-

190 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

petitiva. Essa forma de redução de custos é conseguida com a introdução de mu danças estruturais no processo de produção ou de operação.

Nos tópicos seguintes são apresentados os três métodos de redução de custos

mais utilizados pelas empresas.

1- Análise de Valor

É uma técnica de redução de custos criada pela General Electric durante a Se gunda Guerra Mundial com o objetivo reduzir os custos de materiais que tinham

encarecido em decorrência do confronto.

A solução encontrada pela General Electric consistiu no desenvolvimento de

materiais alternativos de custo menor, mas que realizavam as mesmas funções da queles cujos preços tinham subido por causa da guerra.

Com o passar dos anos, a Análise de Valor foi aprimorada e seu campo de apli cação foi largamente ampliado. Ainda hoje, ela é considerada a mais poderosa fer ramenta de redução de custos.

A Análise de Valor identifica as funções de um produto ou de seus componen tes, apura o custo (valor) dessas funções e, com o emprego de técnicas de criativi dade, procura descobrir uma forma de executar aquelas funções a um custo mais reduzido.

A análise das funções de um produto utiliza diversas metodologias, sendo a mais usual a diagramação Fast (Functíon Analysis System Technique). As técnicas de criatividade mais usadas no desenvolvimento das soluções da Análise de Valor são o brainstorming e a cinética.

O potencial de redução de custos com a utilização da Análise de Valor é geral mente elevado. Há casos registrados de redução de custos da ordem de 80%.

Os exemplos mais simples de redução de custos pela análise de valor são o

emprego de insumos mais baratos — principalmente materiais — nos processos ope racionais da empresa.

Page 177: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O pneu sem câmara de ar é um bom exemplo da utilização da análise de valor na redução de custos. Diante da questão, qual a função da câmara de ar num pneu e de que outro modo essa mesma função poderia ser desempenhada a um custo menor, a técnica de análise de valor encontrou uma solução radical: eliminando a própria câmara.

A substituição da caneta-tinteiro pela caneta esferográfica também se inclui no escopo da análise de valor. As funções dos vários componentes de uma caneta tinteiro passaram a ser executadas por outros componentes de custo bem mais re duzido, dando origem à caneta esferográfica. Nesse caso, a dramática redução de custos proporcionada pela análise de valor mudou dramaticamente o perfil da in dústria de canetas, praticamente acabando com o mercado da caneta tinteiro como instrumento popular de escrita.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 191

II — Sistema de sugestões

Um sistema de sugestões pode ser utilizado para redução de custos, trazendo

resultados significativos. Por meio desse sistema, os empregados são incentivados

a produzir vários tipos de sugestões capazes de permitir economia para a empresa.

A recompensa pelas idéias implementáveis pode vir sob a forma de carta de

reconhecimento ou ser de natureza monetária, como é mais comum.

Quando a empresa adota o sistema de recompensa monetária, ela pode ser

dada sob a forma de um percentual da economia gerada pela sugestão, limitada a

um valor máximo.

O sucesso de um sistema de sugestões exige o engajamento da cúpula da ad ministração da empresa e um apropriado processo de comunicação junto aos em pregados.

III - Método da Solução Criativa de Problemas

Os trabalhos desenvolvidos pelos grandes especialistas mundiais em criativi dade, como Alex Osborn, Edward de Bono e W. J. J. Gordon, deram origem a uma

técnica denominada Solução Criativa de Problemas (SCP).

Um que vez que a redução de custos também consiste na solução de proble mas, o método SCP também pode ser utilizado.

O método SCP adaptado a problemas de redução de custo abrange as seguin tes etapas:

a) Definir os custos a reduzir

A identificação dos custos a serem reduzidos é o primeiro passo para a busca

da solução. Nesse estágio, são listados todos os itens de custo potencialmente pas síveis de redução, com vistas a uma posterior triagem.

Caso exista, a análise de custo pode ser utilizada para indicar os custos que es tão fora do padrão, para uma possível redução.

A redução dos custos a ser buscada precisa estar sob o controle da empresa e

ainda precisa ter uma relação custo-beneficio favorável.

Page 178: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

b) Analisar dados e informações

Com base no levantamento inicial dos custos com potencial de redução, é ne cessário levantar dados e informações sobre os custos a serem reduzidos. As se guintes questões, entre outras, podem ser levantadas sobre os custos listados na primeira etapa:

192 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

• O esforço de redução valerá a pena diante da economia a ser obtida?

• Que itens de custos estão sob controle da empresa?

• Que itens de custo são irredutíveis?

As duas etapas anteriores permitem que sejam estabelecidas metas de redu ção de custo factíveis e economicamente viáveis.

c) Desenvolver soluções

Para atingir as metas de redução de custos, são empregados métodos de cria tividade, como brainstorming, cinética e pensamento lateral.

O brainstorrning, o mais popular e mais poderoso método de criação de idéias, é conduzido em grupo e baseia-se na separação dos estágios de geração e avaliação de idéias. Na primeira fase, busca-se gerar o maior número possível de idéias, com a suspensão da crítica. Numa segunda etapa, as idéias passam por uma avaliação crítica até que sejam identificadas aquelas que correspondem à solução do problema.

d) Avaliar e implementar as soluções

Um solução gerada por um processo de criatividade precisa ser testada para

que a aplicabilidade seja confirmada.

Algumas vezes a solução escolhida revela-se impraticável durante a fase de

avaliação e então será descartada. Uma vez confirmada sua viabilidade prática, a

solução será implementada, fechando o ciclo do processo de redução de custos.

O método da Solução Criativa de Problemas guarda muita semelhança com a Análise de Valor, principalmente nas fases de pesquisa e implementação de solu ção.

8.5.2 Redução de custos como um processo de investimento

Há situações em que os custos elevados decorrem do tipo de processo produ tivo ou operacional utilizado. Por exemplo, processos baseados no trabalho ma nual são geralmente mais caros do que processos automatizados.

Quando a redução de custos requer mudanças estruturais profundas nos pro cessos usados pela empresa, passa a ser um problema de investimento.

Dada a magnitude dos custos e investimentos envolvidos, a meta de redução

de custos precisa ser suportada pela capacidade da empresa para realizar o investi mento e também pela lucratividade potencial desse investimento.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 193

Na redução de custos por meio de investimentos, o objetivo a ser atingido

Page 179: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

costuma ser facilmente visualizado, não exigindo técnicas especiais para pesquisa

da solução.

Entretanto, em alguns casos esse método de redução de custos pode-se cons-

tituir num desdobramento do método da Solução Criativa de Problemas.

QUESTÕES

1. Em relação a um quilômetro voado e a um assento oferecido num vôo, o custo

de combustível é, respectivamente:

( ) Um custo fixo e um custo variável.

( ) Um custo variável e um custo fixo.

( ) Um custo indireto e um custo direto.

( ) Um custo variável e um custo indireto.

2. Uma gravadora paga 10% do preço de venda de cada CD ao artista a título de

direito autoral. Para a gravadora, esse dispêndio é:

( ) Custo indireto.

( ) Parcela do custo variável unitário.

( ) Parcela do custo fixo unitário.

( ) Custo afundado.

3. Uma empresa mantém uma linha telefônica exclusiva para o atendimento

aos consumidores de todos os seus produtos pelo sistema de ligação gratuita.

Em relação a cada produto vendido, o gasto com a conta telefônica dessa li nha é um custo:

( ) Fixo direto.

( ) Fixo indireto.

( ) Variável direto.

( ) Variável indireto.

4. Numa determinada sessão de uma peça de teatro existem várias cadeiras va zias. A peça está sendo encenada num teatro do próprio produtor e, assim, não há pagamento de percentagem de bilheteria pelo uso do teatro. Nesta si tuação, qual o valor do custo marginal incorrido por esse produtor com cada novo espectador que vier assistir à peça nesta sessão?

5. Uma fábrica produz três tipos de fogão. Classifique cada um dos seguintes itens de custo em relação a cada um desses tipos de fogão.

194 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

• Chapas de aço usadas na estrutura do fogão.

• Depreciação de equipamentos usados na fabricação de todos os fo gões.

Page 180: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

• Prêmio de seguro de uma máquina usada exclusivamente na fabrica ção do único modelo de fogão de luxo.

6. Se as empresas só tivessem custos variáveis, como ficaria seu risco econômi co?

7. “Os custos unitários totais dos vários produtos fabricados por um empresa são tão mais precisos quanto maior for o peso dos custos indiretos na compo sição desses custos unitários.” Está correta a afirmação?

8. A depreciação representa em última análise a diluição ao longo do tempo do custo dos investimentos em determinados ativos. Por que não reconhecer o custo de depreciação de uma só vez, lançando-o pelo valor total dos respecti vos ativos?

9. O custo incremental decorrente de uma decisão será fixo ou variável?

10. Em circunstâncias normais, o lucro econômico será menor do que o lucro contábil. Você concorda com essa afirmação?

11. Uma empresa assistiu à redução continuada dos custos de seus produtos à medida que aumentou seu volume produzido, até atingir sua capacidade má xima de produção. Ainda assim, verificou que possui custos unitários mais elevados do que seus concorrentes. Qual a explicação para esse fato?

12. A afirmação “Todo custo variável é direto e todo custo fixo é indireto” é corre ta?

13. O custo-oportunidade do investimento não representa um desembolso para a empresa. Não reconhecê-lo aumentaria a competitividade da empresa?

14. O custo-oportunidade deveria ser calculado sobre o custo histórico ou o custo de reposição do investimento?

15. A avaliação de estoques pelo sistema Ueps num ambiente de inflação baixa poderia distorcer o resultado da empresa?

16. Qual a principal vantagem do sistema de custeio direto?

17. O custeio ABC também faz rateio de custos indiretos?

18. Cite três vantagens da redução de custos espontânea.

ADMINISTRAÇÃO DE CUSTOS 195

EXERCÍCIO

Uma metalúrgica fabrica um produto em três modelos: grande, médio e pe queno. Sua linha de produção é simples, formada pelas seções de corte, monta gem, acabamento e pintura.

A empresa funciona num imóvel alugado. O investimento em máquinas e

equipamentos usados na produção foi de R$ 182.000,00. Eles têm uma vida útil de

dez anos e valor residual nulo.

A capacidade de produção dessa empresa é a seguinte:

Modelo grande — 300 unidades/mês.

Modelo médio — 400 unidades/mês.

Modelo pequeno — 200 unidades/mês.

Page 181: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Os custos mensais administrativos da empresa são os seguintes:

Custos administrativos

Valor em R$

Aluguel

2.800,00

Pessoal administrativo (salários mais encargos sociais)

5.400,00

Gastos administrativos diversos

1.812,00

Serviços contratados

523,00

Impostos e taxas

428,00

Diversos

340,00

Total

11.303,00

Os custos de fabricação, considerando a capacidade de produção da empresa, são os seguintes:

Custos de fabricação

Valor em R$

Pessoal de operação (salário mais encargos)

11.340,00

Supervisão (salários mais encargos)

2.880,00

Energia elétrica

1.039,86

Manutenção

455,00

Outros

612,00

Total

16.326,86

Page 182: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O tempo de fabricação de cada modelo de fogão por dia de operação é:

Modelo pequeno: 1,6 horas.

Modelo médio: 3,6 horas.

Modelo grande: 2,8 horas.

196 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Os estudos existentes indicam o seguinte quadro de gastos de materiais por

cada unidade de produto:

Material

consumido

Preço

médio

Modelo grande

consumo — kg

Modelo médio

consumo — kg

Modelo pequeno

consumo — kg

Material 1

Material 2

Material 3

Material4

2,00

0,45

0,82

1,50

20

2

1

0,4

15

1,5

0,7

0,3

Page 183: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

10

1

0,4

0,2

Os custos de administração informados são todos indiretos, por serem co muns aos produtos fabricados. Apesar de alguns custos de fabricação (a energia elétrica, por exemplo) poderem ser identificados pelos produtos, optou-se por considerar todos os custos de fabricação como indiretos.

Devido à simplicidade do processo de produção e a homogeneidade da com posição dos produtos, o tempo de fabricação de cada um deles é considerado como

sendo o critério de rateio mais apropriado.

Com base nos dados e informações fornecidos, calcule o custo unitário de

cada produto, usando o método da depreciação linear.

9

ANÁLISE E FORMAÇÃO

DE PREÇOS

A formação de preços é o processo em que uma empresa, com base em seus

custos, estimativas de vendas e outras variáveis relacionadas com sua produção ou

operação, determina o preço ideal de venda de seus produtos ou serviços.

Por análise de preços entende-se a decomposição do preço de um produto ou

serviço — praticado pela empresa ou vigente no mercado — em suas parcelas de cus to e margem de lucro.

A análise de preços é efetuada para permitir a avaliação da lucratividade de

produtos e serviços já existentes ou novos, além da formulação de estratégias com petitivas.

Embora as decisões de preço possam estar inseridas na política de marketing

da empresa, elas têm um embasamento predominantemente econômico-finan ceiro.

Existem dois pontos de vista sobre a administração de preços. Um deles consi dera que apenas o mercado define os preços de qualquer organização. O outro pre coniza que boas decisões de preços dependem da realização de cálculo econômico. Essas duas visões são limitadas, pois não avaliam toda a extensão do problema.

O cálculo econômico é necessário para subsidiar as decisões de preços, embo ra eles nem sempre sejam os únicos fatores a serem considerados.

198 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

9.1 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA DE PREÇOS

A administração estratégica de preços tem por objetivo formular decisões de

Page 184: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

preços com base em múltiplos fatores, sendo os mais usuais os fatores de natureza

mercadológica e financeira.

Apesar de as decisões de preços poderem basear-se em uma variedade de cri térios, o aspecto financeiro sempre predominará, principalmente numa ótica de

longo prazo.

O preço é uma das variáveis fundamentais para tornar economicamente viá vel a oferta de bens ou serviços por parte de uma empresa. Assim, nenhum fator

será capaz de justificar a prática de um preço médio inadequado a longo prazo.

9.1.1 Preço de curto prazo

Um preço de curto prazo é aquele capaz de permitir o atendimento de um objetivo imediato — financeiro ou não —, mas sem perder de vista os objetivos da empresa a longo prazo. Por exemplo, uma empresa pode começar suas operações com uma política de preços reduzidos para serem elevados pouco a pouco até um patamar normal.

Embora essa estratégia seja de curto prazo, ela precisará estar inserida numa

visão de longo prazo, em que a obtenção temporária de menor receita já esteja pre vista sem afetar as metas de rentabilidade.

Na maior parte do tempo, os preços praticados para um produto ao longo de

seu ciclo de vida são preços de curto prazo. Entretanto, eles precisam ser economi camente viáveis a longo prazo.

9.1.2 Preço de longo prazo

O preço de longo prazo pode ser definido como o preço médio praticado para produtos ou serviços ao longo de seu ciclo de vida ou da vida útil do investimento

utilizado para viabilizar sua oferta.

A existência de dois conceitos de preço a longo prazo — um vinculado ao in vestimento e outro ao ciclo de vida do produto ou serviço — deve-se ao fato de que a duração da vida útil do investimento é geralmente menor do que a do ciclo de vida dos produtos ou serviços.

O preço de longo prazo vinculado ao investimento é definido no momento em que é realizada a avaliação econômica desse investimento. Espera-se que esse preço se mantenha ao longo da vida útil do investimento e proporcione o retorno sobe o investimento desejado.

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 199

Os fatores circunstanciais ao longo da vida útil do investimento podem fazer com que o preço médio efetivamente praticado seja diferente daquele valor inicial- mente planejado. Entretanto, esse preço médio precisa ser economicamente viá vel.

Ao longo do ciclo de vida do produto ou serviço, o preço pode ser alterado de vido a modificações no custo do investimento ou de outros fatores.

9.1.3 Política de preços

Page 185: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A política de preços de uma empresa é o conjunto de diretrizes que regulam

suas decisões de preços de curto e longo prazo, bem como as condições em que es ses preços são praticados.

O objetivo básico de toda empresa — a obtenção de um retorno satisfatório a longo prazo sobre os capitais nela investidos — tem uma influência marcante sobre

sua política de preços.

A análise de viabilidade econômica que precede a criação da empresa já con tém uma política de preços — os preços estimados. Estes, combinados com o volu me de vendas esperado, fornecem a projeção de receitas ao longo da vida útil do investimento, necessárias ao cálculo de sua rentabilidade.

A análise de viabilidade econômica também contempla outros fatores corre lacionados com o preço, como é o caso do nicho de mercado a ser explorado. Ou tros objetivos igualmente importantes, as metas de crescimento, também afetam a política de preços de uma empresa.

Considerando que durante a elaboração da análise de viabilidade econômica

o preço já foi definido, cabe perguntar qual seria a razão da empresa em manter uma política de preços depois que começa a funcionar.

A resposta a essa questão é que a oferta de produtos e serviços da empresa é um processo dinâmico. Ao longo da vida útil dos investimentos — objeto da análise de viabilidade econômica — é freqüente a eliminação de produtos e serviços e a in trodução de outros.

Desse modo, qualquer modificação nos preços praticados representa uma ree dição da análise de viabilidade econômica original.

A formulação de políticas de preços — também denominadas estratégias de preços — visa atender determinados objetivos da empresa, principalmente merca dológicos, mas sempre estará subordinada ao objetivo financeiro de longo prazo, que é a obtenção de uma taxa de retorno satisfatória para o investimento.

Por exemplo, uma empresa pode praticar uma estratégia de preços reduzidos visando conseguir uma parcela maior de mercado. Entretanto, a longo prazo, os resultados dessa estratégia deverão ser capazes de produzir retorno econômico sa tisfatório.

200 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Desse modo, a política de preços, mesmo quando parece ditada por razões

estratégicas ou mercadológicas, está ancorada num objetivo financeiro de longo

prazo.

Do que foi dito antes, conclui-se que a discussão sobre o enfoque que deve ba lizar a fixação de preços — financeiro ou mercadológico — é desprovida de sentido. A empresa é uma entidade econômica e, como tal, o lucro será sempre seu objetivo final.

As principais políticas de preços praticadas pelas empresas são listadas a se guir. E possível que uma empresa pratique ao mesmo tempo mais de uma dessas

políticas.

Page 186: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

a) Preço de penetração

Uma política utilizada por algumas empresas para facilitar sua entrada num determinado mercado é praticar um preço inicial mais baixo. Essa política leva em conta dois fatores importantes: a resposta da concorrência e sua meta de rentabili dade de longo prazo. Supostamente, na avaliação econômica preliminar, as per das causadas pelo menor preço praticado na fase de lançamento foram considera das. Ao longo da vida útil do investimento, espera-se que essas perdas sejam re compensadas pelos lucros posteriores.

b) Preço-nata

Uma política de preço diferente pode ser praticada pela empresa que tem um

produto com características que lhe permitem ser vendido por um preço mais alto

do que o normal durante sua fase inicial de introdução no mercado.

Nesse caso, espera-se que com o passar do tempo outros concorrentes surjam, forçando a redução do preço do produto pioneiro e, conseqüentemente, deixando seu lucro num nível normal. Também nessa hipótese, presume-Se que a avaliação econômica preliminar ao lançamento do produto levou em consideração esse per fil de lucros decrescentes.

c) Preço promocional

O preço de um produto ou serviço é avaliado por seus efeitos a longo prazo sobre o resultado da empresa. Entretanto, em determinadas circunstâncias, o pre ço pode ser reduzido, durante curtos períodos de tempo, tornado-se um preço pro mocional.

Uma característica importante do preço promocional é que ele não é contem plado na análise de viabilidade econômica preliminar. Sua adoção é uma medida

contingencial, ainda que baseada em razões econômicas.

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 201

Com muita freqüência, o preço promocional é adotado como uma política

que permite minimizar perdas imprevistas, como aquelas causadas por encalhe de

estoques devido à redução da demanda ou outros fatores.

Deve ser notado que o preço de penetração é também um preço promocional,

embora seja usado de forma mais planejada.

d) Preços em situação de capacidade ociosa

As empresas podem ter capacidade ociosa normal ou eventual. No primeiro

caso estão algumas atividades econômicas que têm variações naturais de deman da em função das estações do ano, dos dias da semana ou dos horários diários.

A capacidade ociosa eventual ocorre em razão de redução passageira na pro cura pelos produtos ou serviços da empresa, geralmente provocada por fatores ex ternos.

Para a situação de capacidade ociosa normal, pode ser adotada uma política permanente de preços reduzidos. A intenção subjacente a tal política é conseguir maior taxa média de utilização da capacidade operacional. A avaliação econômica preliminar pode cotejar essa

Page 187: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

política de preços. Por exemplo, um cinema pode ofe recer preços reduzidos para os dias da semana e horários de menor procura. Espe ra-se com essa política atrair, principalmente, aquelas pessoas que não iriam ao ci nema pagando o preço sem desconto.

Quanto à capacidade ociosa eventual, ela não pode ser contemplada na ava liação econômica preliminar. O preço com desconto será calculado quando a situa ção ocorrer.

e) Preços para venda financiada

Toda empresa tem um potencial de perdas por conta do risco de inadimplên cia em suas vendas a prazo. Outro tipo de risco presente nas vendas a prazo está re lacionado com as taxas de juros. O financiamento das vendas é efetuado com taxas prefixadas que representam o custo do dinheiro no momento da venda.

Caso ocorra uma elevação das taxas de juros durante o período do financia mento, haverá perda para a empresa vendedora, supondo que ela banque este fi nanciamento.

Com freqüência as empresas embutem no preço para venda uma parcela de custo para fazer face aos riscos de perdas por inadimplência e taxa de juros. A me todologia de cálculo dessa perda costuma ser mais empírica do que analítica. As condições de competição no mercado da empresa determinarão até que ponto seria possível repassar aos preços os mencionados riscos de perdas.

A seção 9.4.1 trata da formação de preço para venda financiada, mas sem o

tratamento do risco de inadimplência ou de taxa de juros.

202 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

O Preços para otimização

Como uma empresa pode praticar várias políticas de preço, é provável que

elas venham a interagir, determinando a necessidade de uma avaliação global vi sando à obtenção do resultado ótimo.

Um exemplo ilustrativo seria o caso de um varejista que pratica um preço úni co para venda à vista, venda em cartão de crédito ou a venda com cheques pré-datados. Embora algumas das modalidades de venda possam ser economica mente desfavoráveis ao preço único praticado, este poderia justificar-se com base no conceito de lucro médio esperado.

9.2 FORMAÇÃO DE PREÇOS

As técnicas de fixação de preços variam em função do porte da empresa, do setor em que ela atua e das condições de mercado. Apesar da variedade de méto dos de precificação, o fator custo de alguma forma está presente em todos eles. O que muda basicamente é o grau de precisão com que cada método relaciona preços a custos.

Em essência, cada método escolhe a base de custo (total, parcial, estimado ou

padronizado), apurada com base num nível estimado de produção ou operação, e

acrescenta uma margem de lucro.

Segundo o conceito de elasticidade da procura, quanto menor for o preço de

um produto, maior será o seu volume de vendas.

Page 188: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Considerando que, além do volume de vendas e do preço unitário, o custo

também é determinante do resultado, haveria um preço ótimo — nem muito alto

nem muito baixo — capaz de gerar o lucro máximo.

O Quadro 9.1 apresenta o volume ideal de vendas de uma empresa, aquele que produz o maior resultado possível, considerando as relações entre custo, pre ço e procura.

Quadro 9.1 Lucro em função do preço, procura e custo.

Preço

Volume

de

vendas

Custo

fixo

total

Custo

variável

unitário

Receita

c

t ‘

o a

Resultado

100,00

98,00

96,00

94,00

92,00

90,00

10.000

10.500

11.000

11.250

11.500

11.750

Page 189: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

300.000,00

300.000,00

300.000,00

300.000,00

300.000,00

300.000,00

50,00

50,00

50,00

50,00

50,00

50,00

1.000.000,00

1.029.000,00

1.056.000,00

1.057.500,00

1.058.000,00

1.057.500,00

800.000,00

825.000,00

850.000,00

862.500,00

875.000,00

887.500,00

200.000,00

204.000,00

206.000,00

195.000,00

183.000,00

170.000,00

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 203

A fixação do preço ótimo com base na análise apresentada no Quadro 9.1 não é, entretanto, uma prática utilizada pelas empresas em virtude das grandes dificul dades para se mensurar

Page 190: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

a elasticidade da procura. Os métodos de fixação de pre ços usados pelas empresas partem de um volume de vendas que já é considerado o ideal.

Outro aspecto importante a destacar é que nem todos os preços praticados pelas empresas mantêm uma fidelidade absoluta aos cálculos. Em algumas situa ções, os estudos de preços funcionam como balizadores para as decisões de preços que muitas vezes são tomadas experimentalmente.

9.2.1 Métodos práticos

Em determinados segmentos empresariais são empregados métodos bastan te simplificados para formação de preços. A maioria desses métodos consiste na aplicação de um fator multiplicador sobre a parcela mais significativa do custo de produção ou operação.

Alguns exemplos de métodos práticos para fixação de preços:

• Preço de refeição à la carte: custo dos materiais diretos (carnes, acom panhamentos etc.) multiplicado por cinco.

• Preço de capa de um livro: custo gráfico multiplicado por quatro.

A eficácia desses métodos no sentido de permitir decisões consistentes de

preços deixa muito a desejar.

Se a empresa tem alguma liberdade para fixar seus preços com base nos cus tos, os métodos práticos de formação de preços podem levar a decisões ruins, já que parcelas importantes do custo por não serem apuradas podem não ser cober tas adequadamente. O fator multiplicador tanto pode causar uma cobertura insu ficiente como um excesso de cobertura para os custos não identificados.

Quando o preço do produto é fixado com base num método prático, ele pode rá estar sendo vendido com prejuízo ou com excesso de lucro.

9.2.2 Margem sobre custo unitário total

O critério dominante para fixação de preços consiste na aplicação de uma margem sobre o custo unitário total. Essa margem destina-se a proporcionar o lu cro desejado pela empresa.

A margem a ser aplicada ao custo dos produtos pode ser única ou diferencia da por produto ou classe de produtos.

204 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Como há encargos incidentes sobre o preço de venda (impostos, comissões etc.), eles precisam ser considerados no cálculo do preço. O custo financeiro refe rente ao prazo de pagamento concedido aos clientes também é considerado na for mação do preço. Este último fator será apresentado no item 9.2.5.

No modelo de precificação com base na margem de lucro sobre o custo, o pre ço é igual à soma das seguintes parcelas:

• Custo unitário.

• Margem de lucro sobre o custo unitário.

• Encargos incidentes sobre o próprio preço (impostos, despesas etc.).

Page 191: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

• Custo financeiro pelo prazo de pagamento concedido ao cliente.

Cálculo do preço de venda a vista

Sejam,

Po = preço de venda a vista.

Ev = encargos sobre o preço de venda (em % por R$ 1,00)

Ctu = Custo total unitário.

Mc margem de lucro sobre o custo total unitário (em % por R$ 1,00)

A equação seguinte representa a relação entre o preço de venda a vista e as

parcelas que o formam:

Po = Ctu + Ctu.Mc + Po.Ev

ou:

Po - Po.Ev = Ctu + Ctu.Mc

Po(1-Ev)=Ctu(1 +Mc)

e,

1 Po=Ctu(1+Mc)÷(1-Ev

Exemplo:

O custo total unitário de um produto é R$ 300,00. Os encargos incidentes so bre as vendas desse produto somam 26%. O fabricante deseja vendê-lo com uma margem de lucro de 32% sobre o custo. Calcular o preço de venda para recebimen to a vista.

Preço de venda a vista:

Po = Ctu (1 + Mc) ± (1 —Ev)

Po = 300 (1 + 0,32) ± (1 — 0,26)

Po = 535,13

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 205

O método de formação de preços com base na margem de lucro sobre o custo não é objetivo em relação à rentabilidade do investimento.

A escolha de um percentual para margem de lucro é efetuada com base na

tradição ou experiência de outras empresas para as quais se supõe que aquelas

margens são capazes de proporcionar um retomo satisfatório para os investimen tos.

Entretanto, a adoção da margem de lucro com base na tradição contém duas possibilidades de erro: essa margem de lucro pode não ser a ideal para o próprio mercado; as condições específicas da empresa não combinarem com a margem de lucro praticada pelo mercado.

9.2.3 Margem de lucro sobre o preço de venda

Outro método de precificação consiste em estabelecer o preço com base no

Page 192: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

custo unitário apurado, mas com o objetivo de obter uma margem de lucro sobre

esse próprio preço a ser calculado.

A margem de lucro a ser aplicada ao preço de venda dos produtos pode ser

única ou diferenciada por produto ou classe de produtos.

Como há encargos incidentes sobre o preço (impostos, comissões etc.), eles precisam ser considerados no cálculo desse preço. O custo financeiro referente ao prazo de pagamento concedido aos clientes também é considerado na formação do preço.

No modelo de precificação com base na margem de lucro sobre o preço de

venda, o preço é igual a soma das seguintes parcelas:

• Custo unitário.

• Encargos incidentes sobre o próprio preço (impostos, despesas etc.).

• Margem de lucro sobre o preço.

• Custo financeiro pelo prazo de pagamento concedido ao cliente.

Cálculo do preço de venda a vista

Sejam:

Pv = preço de venda a vista

Ev = encargos sobre o preço (em % por R$ 1,00)

Ctu = Custo total unitário

Mp = margem de lucro sobre o preço (em % por R$ 1,00)

206 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

A equação seguinte representa a relação entre o preço e as parcelas que o for mam:

Pv = Ctu + Pv.Ev + Pv.Mp

ou:

Pv - Pv.Ev - Pv.Mp = Ctu

Colocando PV em evidência,

Pv (1 -Ev-Mp) = Ctu

e,

1 Pv=Ctu±(1-Ev-Mp

Exemplo: Uma indústria fabrica um produto cujo custo unitário é R$ 64,00. Os encargos incidentes sobre o preço de venda desse produto chegam a 22%. A in dústria deseja uma margem de lucro de 8% sobre o preço de venda. Calcular esse preço de venda para recebimento a vista.

O preço de venda a vista será:

Pv = 64,00 ÷ (1 — 0,22 — 0,08)

Page 193: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Pv = 91,43

Como acontece com o método de formação de preços com base na margem

sobre o custo, o da margem sobre o preço também não é objetivo em relação à ren tabilidade do investimento.

A escolha de um percentual para a margem de lucro é geralmente efetuada de

modo empírico com base na tradição ou da experiência de outras empresas.

9.2.4 Retorno sobre investimento

O critério de fixação de preços com base no retomo sobre o investimento eli mina os inconvenientes de falta de objetividade do método de margem sobre o custo ou sobre o preço porque considera diretamente a rentabilidade pretendida para o investimento.

Foi mostrado que quando a empresa usa a margem sobre o custo ou sobre o preço de venda, o retorno sobre o investimento pode ficar abaixo ou acima da meta desejada. Mesmo quando fica acima, pode não ser o desejável, pois pode sacrificar metas estratégicas como participação no mercado, por exemplo.

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 207

No modelo de precificação com base no retorno sobre o investimento, o preço

é igual à soma das seguintes parcelas:

• Custo unitário exclusive depreciação.

• Custo-oportunidade do investimento em base unitária (direto).

• Custo-oportunidade do investimento em base unitária (indireto).

• Encargos incidentes sobre o preço (impostos, despesas etc.).

A não-inclusão da depreciação entre os custos apurados deve-se ao fato de que ela estará incluída no custo-oportunidade do investimento. A’ém disso, a de preciação linear utilizada na apuração tradicional de custos é desnecessariamente elevada porque admite que os recursos financeiros da empresa têm rentabilidade nula.

Sejam:

Pv = preço de venda a vista

Ev = encargos sobre o preço de venda (em % por R$ 1,00)

Ctu = Custo total unitário, exclusive depreciação

Cd = Custo-oportunidade do investimento (direto por unidade)

Ci = Custo-oportunidade do investimento (indireto por unidade)

A equação seguinte representa a relação entre o preço e as parcelas que o for mam:

Pv = Ctu + Cd + Ci + Pv.Ev

ou:

Pv - Pv.Ev = Ctu + Cd + Ci

Page 194: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Colocando PV em evidência:

Pv (1 -Ev) = Ctu + Cd + Ci

e,

1 Pv—(Ctu+Cd+Ci)±(1-Ev

Cálculo do custo-oportunidade do investimento

Uma vez que os sistemas tradicionais de custeio não apuram o custo-oportu nidade do investimento, ele precisará ser calculado separadamente.

208 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

O investimento é realizado em ativos tangíveis (permanentes e circulantes) e também em ativos intangíveis (marcas, direitos de utilização etc.).

Os elementos necessários ao custo-oportunidade do investimento são os se guintes:

• Valor de aquisição dos ativos (Va).

• Valor residual dos ativos (Vr).

• Vida útil dos ativos em anos (n).

• Taxa de atratividade anual (i).

A taxa de atratividade é a taxa de juros real utilizada para calcular o custo oportunidade do investimento. E um parâmetro permanente estabelecido ou cal culado pela administração da empresa para avaliar ou monitorar decisões de in vestimento.

Dado um valor de investimento, seu custo-oportunidade compõe-se de duas

parcelas: a amortização (corresponde à depreciação pelo método do fundo de in vestimento) e a remuneração do investimento.

O custo-oportunidade pode ser calculado como um valor único, já engloban do a amortização e os juros ou separando essas duas parcelas.

O cálculo do custo-oportunidade aberto em suas parcelas é efetuado do se guinte modo:

a) Amortização (depreciação pelo método do Fundo de Amortização)

Considerando os elementos listados anteriormente e seus respectivos símbo los, e designando a amortização por A, ela é calculada da seguinte forma:

Vr _______

A=(Va—

(1+i) (1+i) —1

b) Remuneração do investimento

Considerando os elementos listados anteriormente e seus respectivos símbo los, e designando a remuneração do investimento porR, ela é calculada do seguin te modo:

R=(Va— Vr )xj

(1 + jY

Page 195: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 209

O cálculo do custo-oportunidade do investimento (Co) de forma fechada ob serva a seguinte fórmula:

Vr ( xi

A=(Va— )x

(1+i) (1+i) —1

A Tabela 9.1 permite o cálculo do custo-oportunidade do investimento líqui do (investimento total deduzido do valor presente da recuperação do Valor Resi dual). Assim, para utilizar a tabela, é necessário calcular o valor do investimento lí quido.

A fórmula de cálculo do valor do investimento líquido IL é a seguinte, onde os

demais símbolos têm o mesmo significado descrito anteriormente:

IL=(Va— Vr

(1 j)fl

Tabela 9.1 Fator para cálculo do custo oportunidade do investimento.

Taxa de juros — % ao ano

10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

2 0,5762 0,5839 0,5917 0,5995 0,6073 0,6151 0,6230 0,6308 0,6387 0,6466 0,6545

3 0,4021 0,4092 0,4163 0,4235 0,4307 0,4380 0,4453 0,4526 0,4599 0,4673 0,4747

4 0,3155 0,3223 0,3292 0,3362 0,3432 0,3503 0,3574 0,3645 0,3717 0,3790 0,3863

5 0,2638 0,2706 0,2774 0,2843 0,2913 0,2983 0,3054 0,3126 0,3198 0,3271 0,3344

6 0,2296 0,2364 0,2432 0,2502 0,2572 0,2642 0,2714 0,2786 0,2859 0,2933 0,3007

7 0,2054 0,2122 0,2191 0,2261 0,2332 0,2404 0,2476 0,2549 0,2624 0,2699 0,2774

8 0,1874 0,1943 0,2013 0,2084 0,2156 0,2229 0,2302 0,2377 0,2452 0,2529 0,2606

9 0,1736 0,1806 0,1877 0,1949 0,2022 0,2096 0,2171 0,2247 0,2324 0,2402 0,2481

10 0,1627 0,1698 0,1770 0,1843 0,1917 0,1993 0,2069 0,2147 0,2225 0,2305 0,2385

11 0,1540 0,1611 0,1684 0,1758 0,1834 0,1911 0,1989 0,2068 0,2148 0,2229 0,2311

12 0,1468 0,1540 0,1614 0,1690 0,1767 0,1845 0,1924 0,2005 0,2086 0,2169 0,2253

13 0,1408 0,1482 0,1557 0,1634 0,1712 0,1791 0,1872 0,1954 0,2037 0,2121 0,2206

14 0,1357 0,1432 0,1509 0,1587 0,1666 0,1747 0,1829 0,1912 0,1997 0,2082 0,2169

15 0,1315 0,1391 0,1468 0,1547 0,1628 0,1710 0,1794 0,1878 0,1964 0,2051 0,2139

16 0,1278 0,1355 0,1434 0,1514 0,1596 0,1679 0,1764 0,1850 0,1937 0,2025 0,2114

17 0,1247 0,1325 0,1405 0,1486 0,1569 0,1654 0,1740 0,1827 0,1915 0,2004 0,2094

18 0,1219 0,1298 0,1379 0,1462 0,1546 0,1632 0,1719 0,1807 0,1896 0,1987 0,2078

19 0,1195 0,1276 0,1358 0,1441 0,1527 0,1613 0,1701 0,1791 0,1881 0,1972 0,2065

Page 196: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

20 0,1175 0,1256 0,1339 0,1424 0,1510 0,1598 0,1687 0,1777 0,1868 0,1960 0,2054

25 0,1102 0,1187 0,1275 0,1364 0,1455 0,1547 0,1640 0,1734 0,1829 0,1925 0,2021

30 0,1061 0,1150 0,1241 0,1334 0,1428 0,1523 0,1619 0,1715 0,1813 0,1910 0,2008

35 0,1037 0,1129 0,1223 0,1318 0,1414 0,1511 0,1609 0,1707 0,1806 0,1904 0,2003

40 0,1023 01117 0,1213 0,1310 0,1407 0,1506 0,1604 0,1703 0,1802 0,1902 0,2001

45 0,1014 0,1110 0,1207 0,1305 0,1404 0,1503 0,1602 0,1701 0,1801 0,1901 0,2001

50 0,1009 0,1106 0,1204 0,1303 0,1402 0,1501 0,1601 0,1701 0,1800 0,1900 0,2000

210 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Exemplo de uso da tabela: calcular o custo-oportunidade de um investimento em máquinas e equipamentos no valor de R$ 626.000,00, com uma vida útil de dez anos, valor residual de 10% e considerando que a empresa tem uma taxa de atratividade de 15% ao ano.

Preparação dos dados:

Valor de aquisição = 626.000

Valor do investimento líquido:

626.000 — 0,1 x 626.000 = 610.526,23

(1 + 0,15)’°

Para encontrar o fator de cálculo do custo-oportunidade do investimento,

procura-se na tabela o valor correspondente a 10 anos e a taxa de juros de 15% ao

ano, o que dá 0,1993. O custo-oportunidade é:

0,1993 x 610.523,26 = 121.677,28

Exemplo de formação de preço

Uma empresa fabrica dois produtos, A e B, e seus dados de custos, investi mentos e produção são os seguintes:

Produção de A: 200 unidades/mês.

Produção de B: 300 unidades/mês.

Custo unitário de A (exclusive depreciação): 232,00.

Custo unitário de B (exclusive depreciação): 346,00.

Investimento: R$ 1.940.000,00, com vida útil de 10 anos, valor residual nulo e taxa de atratividade de 15% ao ano.

Encargos sobre o preço de venda: 21%

O custo-oportunidade do investimento é todo indireto e deverá ser rateado aos produtos com base na utilização de mão-de-obra direta pelos dois produtos

(44% para o produto A e 56 % para o produto B).

Solução:

Page 197: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Cálculo do custo-oportunidade do investimento em base mensal (com o uso

da tabela — 10 anos, 15%):

(1.940.000,00 x 0,1993) ± 12 = 32.220,16

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 211

Rateio do custo-oportunidade de capital:

Total alocado ao produto A: 0,44 x 32.220,16 = 14.176,82

Custo-oportunidade unitário do produto A: 14.176,82 ± 200 70,88

Total alocado ao produto B: 0,56 x 32.220,16 = 18.043,28

Custo-oportunidade unitário do produto B: 18.043,28 ÷ 300 = 60,14

Preço de venda do produto A:

Pv = (Ctu + Cd + Ci) ÷ (1 —Ev) = (232,00 + 70,88) ± (1— 0,21) = 383,39

Preço de venda do produto B:

Pv = (Ctu + Cd + Ci) ÷ (1 —Ev) = (346,00 + 60,14) ± (1—0,21) = 514,10

9.2.5 Método misto

Os preços podem ser fixados por um método misto, combinando retorno so bre o investimento e margem de lucro sobre o custo ou preço de venda.

A utilização do método misto tem por objetivo permitir a precisão do método

do retorno sobre o investimento aliada à simplicidade do método da margem de

lucro sobre o custo.

O método misto de fixação de preços envolve uma apuração inicial dos preços pelo método do retorno sobre o investimento. Depois dessa apuração inicial de preços, é feito um novo cálculo com o objetivo de determinar a margem de lu cro-padrão a ser aplicada ao custo dos produtos ou ao preço de venda.

Usando os dados do exemplo de formação de preços do item anterior, temos:

Preço de venda do produto A: 383,39

Preço de venda do produto B: 514,10

Margem sobre o custo unitário para o produto A (%):

((383,39 ± 232) — 1) x 100 = 65,25%

Margem sobre o custo unitário para o produto B (%):

((514,10 ÷ 346,00) — 1) x 100 = 48,58%

212 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

As margens calculadas podem ser utilizadas como padrão para os dois produ tos enquanto permanecerem as condições econômicas que produziram o custo

apurado.

Page 198: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

9.2.6 Formação de preço nas vendas a prazo

Os métodos de formação de preços apresentados até aqui trataram do preço para recebimento à vista.

Boa parte das vendas das empresas, entretanto, não é realizada à vista. Po dem ser vendas pelo crédito comercial, em que a empresa compradora dispõe de um prazo para pagá-las ou ainda podem ser vendas financiadas em parcelas para pessoas jurídicas ou físicas.

a) Preço a prazo com recebimento único

Quando a venda a prazo é para ser recebida em uma única parcela, a taxa de juros embutida só será conhecida pelo comprador se lhe for informado o preço

para compra à vista.

A taxa de juros embutida no preço de venda a prazo pode ser aquela que re presente o custo médio de captação vigente no mercado ou a taxa de rendimento

das aplicações financeiras.

Uma vez estabelecida a taxa de juros para venda a prazo, o preço pode ser cal culado pela seguinte fórmula:

Pp = Pv x (1 + o n/30

sendo: Pp = preço para recebimento a prazo

Pv = preço para recebimento a vista

= taxa de juros mensal na forma unitária

n = número de dias referente ao prazo de pagamento

b) Preço a prazo com recebimento parcelado

Quando a venda é efetuada para pagamento parcelado, a taxa de juros pode ser o fator diferenciador para o comprador avaliar o preço.

A taxa de juros embutida no preço para pagamento parcelado guarda uma re lação com as taxas vigentes no mercado para operações semelhantes, geralmente

operações de captação de recursos financeiros.

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 213

A fixação de preços para venda com recebimento parcelado abrange as se guintes situações:

a) Preço para parcelas iguais, a primeira um mês após compra A fórmula de cálculo para essa modalidade de venda financiada é a seguinte:

( + )fl x i

Pp = Pv x

(1 + iY — 1

sendo: Pp = preço para recebimento a prazo

Pv = preço para recebimento à vista

Page 199: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

= taxa de juros mensal na forma unitária n = número de parcelas mensais

b) Preço para parcelas iguais, a primeira no ato da compra A fórmula de cálculo para esse tipo de venda financiada é a seguinte:

Pv (

Pp= x

(1+i) (1+iY

sendo: Pp = preço para recebimento a prazo

Pv = preço para recebimento à vista

= taxa de juros mensal na forma unitária n = número de parcelas mensais

e) Preço para parcelas iguais, a primeira ii dias após compra

A fórmula de cálculo do preço para esse tipo de venda e considerando um nú mero de dias maior do que 30 entre a data da compra e a primeira parcela, é a se guinte:

Pp = Pv (1 + )d_3O x ( +1) x i

(1 + i) — 1

sendo: Pp = preço para recebimento a prazo

Pv = preço para recebimento à vista

= taxa de juros mensal na forma unitária n = número de parcelas mensais

d = número de dias entre a compra e a primeira parcela

214 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

9.3 FORMAÇÃO DE PREÇOS CONTRATUAIS

Ao firmar um contrato de prestação de serviços ou de venda de produtos, as empresas enfrentam certo grau de incerteza sobre as variáveis econômico-finan ceiras, principalmente a inflação futura.

O preço recebido ao longo do prazo contratual precisa manter seu valor real existente no início do contrato para que este assegure seu equilíbrio econômico.

A empresa fornecedora de bens ou prestadora dos serviços — a contratada — sente de forma mais imediata os efeitos de uma mudança desfavorável das condi ções econômicas dos contratos, na forma de perda da lucratividade.

Com muita freqüência, o contrato tem um peso significativo no faturamento da contratada e, conseqüentemente, em seu resultado econômico total.

A empresa compradora dos bens ou serviços — empresa contratante — por sua vez, sempre sofrerá algum impacto diante das mudanças no quadro econômico do contrato, ainda que estas sejam a seu favor. Quando esta última hipótese se verifica, embora a contratante obtenha algum ganho na forma de redução de custo, estará su jeita a perder na qualidade do bem ou serviço que está comprando. Numa situação ex trema, poderá deparar-se com a interrupção do fornecimento dos bens ou serviços.

Page 200: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A empresa contratante, em virtude de sua condição de compradora e de ter maior poder de barganha, pode impor condições acessórias ao preço contratual capazes de acarretar no futuro perdas econômicas para a contratada. Esta, por sua vez, com o objetivo de conseguir o contrato, pode oferecer preços economicamen te impraticáveis. No caso de licitações, esses preços impraticáveis muitas vezes atendem ao requisito legal de exeqüibilidade.

9.3.1 Conceitos básicos

Os conceitos seguintes são utilizados na formulação e análise dos preços pra ticados nos contratos:

• Preço base-zero: é o valor utilizado pela contratada em sua análise pre liminar para após alguns ajustes chegar ao seu preço-proposta.

• Preço ajustado: é o preço base-zero modificado pelas expectativas de perdas ou ganhos ao longo do contrato.

• Preço-proposta: é o preço cotado pela empresa para firmar o contrato. Pode ser o preço ajustado ou outro valor derivado deste. Eventualmente, a empresa concorrente a um contrato poderá cotar um preço-proposta menor do que o preço ajustado, com o objetivo de ganhar esse contrato.

• Preço básico: é o preço original inserido num contrato.

• Preço atualizado: corresponde ao preço básico atualizado monetaria mente na forma estabelecida no contrato.

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 215

9.3.2 Cálculo do preço ajustado

Após o cálculo do preço base-zero, a empresa levará em consideração o efeito

de alguns fatores para chegar ao preço ajustado, que é a base para o estabeleci mento do preço-proposta.

Para alguns desses fatores, é possível fazer de forma direta o cálculo do ajuste sobre o preço base-zero. Para outros, considerando a grande dose de incerteza so bre seu comportamento futuro, o cálculo do preço ajustado não pode ser efetuado de modo determinístico.

Consideraremos três fatores para chegar ao preço ajustado final (P e va mos supor que eles acontecerão cumulativamente.

a) Prazo de pagamento

É uma prática universal o comprador de bens e serviços receber do vendedor

um prazo para pagamento da fatura emitida.

O preço ajustado devido ao prazo de pagamento é dado pela seguinte fórmula:

P = Po x (1 + )fl/3O

sendo: Pci = preço ajustado pelo prazo de pagamento

Po = preço base-zero

Page 201: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

= taxa de juros mensal sob a forma unitária n = número de dias referente ao prazo de pagamento

b) Atraso no primeiro pagamento

Em determinados contratos, principalmente naqueles com a Administração

Pública, pode ocorrer um atraso no início do pagamento.

Quando o pagamento começa a ser efetuado, os atrasados podem ter dois ti pos de tratamento:

1. Pagamento de todo o volume de faturamento atrasado.

2. Pagamento apenas de um faturamento mensal, permanecendo sempre um saldo em atraso, cuja liquidação se estende para além do prazo fi nal do contrato.

216 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Na primeira hipótese, o percentual de ajuste de preço seria pequeno, pois as perdas se resumiriam ao atraso inicial. Já na segunda hipótese, haveria um esto que de faturas vencidas sendo continuamente rolado, acarretando uma perda mais significativa. Nesse caso, o preço ajustado seria:

1 Pa

sendo: Pa preço ajustado pelo atraso do início de pagamento

Pa = preço ajustado pelo prazo de pagamento

= taxa de juros mensal sob a forma unitária n = número de meses de atraso do início de pagamento

c) Atraso na atualização monetária

Quando a atualização do preço contratual ocorre atrasada em relação ao au mento verificado no custo do produto ou serviço, haverá uma perda para a contra tada.

Esse tipo de perda é típico dos contratos que têm reajuste anual de preços,

mas o fornecimento de produtos ou prestação de serviços se verifica ao longo de

todo o ano.

A magnitude da perda da contratada dependerá dos seguintes fatores:

• Tempo de atraso da atualização monetária.

• Taxa de inflação.

• Cronograma de execução e recebimento do contrato.

Os Quadros 9.1 a 9.3 contêm as simulações de perda em um contrato consi derando as seguintes premissas:

• A periodicidade de atualização do preço contratual é anual.

• Todos os custos da contratante aumentam mensalmente no mesmo percentual do índice de atualização monetária do contrato.

Page 202: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

• Três cronogramas de execução/recebimento: uniforme, concentrado no final ou no início do período de atualização monetária.

• A taxa de desconto da empresa contratada é igual a 15% ao ano.

• A taxa de inflação é de 6% ao ano.

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Page 203: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

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218 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Quadro 9.3 Execução/recebimento concentrada no início.

Inflação de 6% ao ano.

Mês

Preço

Recebido

Custo

Efetivo

Perda

Inflacionária

Valor presente da

perda inflacionária

0,5% ao mês

1,17% ao mês

Page 207: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

1

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100,49

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Page 208: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

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TOTAL

100,00

0,48

Uma vez estimado o nível esperado de inflação, o ajuste sobre o preço ba se-zero será efetuado tomando por base o cronograma do contrato. A fórmula de

ajuste é a seguinte:

Page 209: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Pa = Pa x (1 + pi)

sendo: Pa = preço ajustado pelo atraso na atualização monetária

Pa = preço ajustado pelo atraso do início de recebimento

pi = taxa unitária que representa o valor presente da perda inflacionária

Essa forma de abordagem do preço ajustado não cobre as perdas causadas por um eventual recrudescimento da inflação dentro do período de atualização monetária, supondo que essa elevação da inflação não seja repassada de imediato ao preço recebido.

9.3.3 Cotação de preço em situação de capacidade ociosa

O preço base-zero de um contrato corresponde à soma das seguintes par celas:

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 219

• Custos diretos: são os gastos que a empresa só incorre se executar o contrato.

• Custos indiretos: representam a parcela do custo fixo alocada ao con trato, mas sua ocorrência independe da execução do contrato.

• Impostos: referem-se aos tributos incidentes sobre a receita gerada pelo contrato.

• Lucro: é o retorno desejado para o contrato. Somado aos retornos dos demais contratos, fornece o retorno total da empresa.

Na hipótese de a empresa estar com capacidade ociosa de produção ou opera ção e supondo que a ocorrência desse evento não seja uma tendência de longo pra zo, ela poderia praticar um preço-proposta menor do que seu preço base-zero.

A redução do preço-proposta seria baseada na exclusão do custo fixo na for mação desse preço. Assim, a empresa poderia cotar um preço que cobrisse pelo

menos o custo marginal para atender ao objeto do contrato.

Após a exclusão do custo fixo do preço-proposta, não faz sentido manter a

parcela normal de rentabilidade que seria embutida no preço. A rentabilidade

seria substituída pela meta de minimização do prejuízo.

Assim, em lugar de rentabilidade, a empresa terá uma margem de contribui ção cujo valor será igual à diferença entre o preço-proposta e o custo marginal in corrido com a execução do contrato.

Embora seja economicamente justificável, a prática de um preço-proposta in ferior ao preço base-zero tem algumas restrições:

• Se o peso do custo indireto sobre o preço base-zero for muito grande, a retirada integral desse custo da composição do preço-proposta pode conduzir a valores aviltados aos olhos da contratante e ensejar que esta considere o preço-proposta inexeqüível.

• Para a empresa candidata ao contrato, a cotação de preço com base no custo marginal requer que sua capacidade ociosa continue a existir du rante o período de execução do contrato. Do contrário, a empresa esta ria sacrificando a possibilidade de conquistar um contrato mais lucrati vo algum tempo depois.

Page 210: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

QUESTÕES

1. Para que determinado produto seja vendido com lucro, a empresa fabricante multiplica o custo da matéria-prima gasta em sua fabricação por 7. Este méto do de precificação assegura a cobertura dos demais custos do produto?

2. Uma possível política de preços é aquela que se preocupa basicamente com a cobertura dos custos totais. Esse procedimento permite que alguns produtos

220 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

possam ser vendidos abaixo do custo, sendo subsidiados por outros mais lu crativos. Do ponto de vista estritamente financeiro, essa política poderia ser adotada por uma empresa?

3. Praticar margens de lucro reduzidas para conseguir maior volume de vendas pode ser uma política financeiramente correta?

4. Uma empresa fabrica os produtos A, B e C, cujos custos totais unitários (CTU) obedecem à seguinte relação:

CTU(A) > CTU(B) > CTU(C)

Essa empresa poderia fixar seus preços de modo a verificar as seguintes

relações:

P(A) > P(B) e P(B) <P(C)?

5. Um varejista estabelece seus preços usando um rigoroso critério PEPS (pri meiro a entrar, primeiro a sair) para avaliar seus estoques. Assim, se adquire um lote de produtos a R$ 100,00, fixa seu preço de venda em R$ 140,00 (margem de 40% sobre o custo), continuará praticando esse preço até que a última unidade seja vendida, mesmo que o fornecedor aumente o preço. Do ponto de vista financeiro existe algum erro nessa política de preços?

6. O custo unitário de um produto é R$ 320,00. Os encargos sobre o preço de venda atingem 22,3% e a empresa fabricante deseja uma margem de lucro de

8% sobre o preço de venda. Qual deve ser o preço de venda?

7. O custo unitário de um serviço é R$ 68,00. Os encargos sobre o preço de ven da atingem 19,8,% e a empresa prestadora desse serviço deseja uma margem

de lucro de 17% sobre o custo. Qual deve ser o preço desse serviço?

8. O preço para venda à vista de determinado produto é R$ 112,00. Qual deverá ser o preço para venda com recebimento em 40 dias, considerando uma taxa

de juros de 3% ao mês?

9. Uma empresa calcula que o preço de um produto para venda à vista é R$

434,00. Recalcule esse preço para venda em quatro parcelas iguais sem en trada, a primeira vencendo 30 dias após a compra, considerando uma taxa de juros de 2% ao mês.

10. A composição do preço de venda de um serviço tem as seguintes parcelas:

Page 211: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

custo unitário R$ 322,00; custo de capital R$ 48,88; encargos sobre vendas R$ 94,00. Suponha que a empresa prestadora queira manter esse preço, mas passar a referenciá-lo na forma de uma margem sobre o custo unitário. Man tidos todos os elementos dados inalterados, qual deverá ser a margem sobre o custo para chegar ao preço?

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 221

11. Em que situação o preço atualizado de um contrato é menor do que o preço base-zero?

12. Qual a diferença entre preço ajustado e preço base-zero?

13. O preço básico de um contrato pode ser igual ao preço base-zero?

14. Que motivo poderia levar uma empresa a praticar um preço básico menor do que o preço ajustado?

15. Quando um contrato tem seus preços reajustados anualmente, que elemento tem maior potencial de perda para quem recebe esses preços?

16. Em que situação praticar um preço-proposta menor do que o preço base-zero é economicamente justificável?

EXERCÍCIOS

1. Formação de preço no varejo

Dois irmãos estão planejando a montagem de uma pequena empresa varejis ta do ramo de utilidades para o lar. Eles desejam estabelecer uma margem única de lucro a ser aplicada sobre o custo de aquisição dos produtos vendidos para fins de formação dos preços de venda desses produtos.

Como os sócios dessa empresa pretendem obter determinado valor de lucro mensal, a fixação da margem de lucro sobre o custo dos produtos vendidos permi tirá determinar o volume de vendas necessário e ao mesmo tempo fornecer os pre ços que precisarão ser praticados. Com essas duas informações eles poderão ter uma boa avaliação da viabilidade do empreendimento.

Os dados de compras, custos, despesas e impostos dessa empresa são os se guintes:

Compras de produtos

102.000,00

Despesas de Aluguel

3.900,00

Pessoal e encargos

8.904,00

Energia elétrica

712,00

Água

150,00

Telefone

Page 212: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

390,00

Seguros

277,00

Manutenção

541,00

Serviços contratados

320,00

222 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Outros custos

1.237,00

Imposto de renda

1,2%

Contribuição social

0,96%

PIS

0,65%

Cofins

3%

ICMS — alíquota média

15,1%

Com base nos dados informados, que margem de lucro sobre o custo de com pra dos produtos a empresa deverá utilizar para calcular o preço de venda de cada produto, considerando que os donos da empresa desejam obter um lucro liquido de R$ 5.500,00/mês?

Que críticas podem ser feitas ao critério de fixação do lucro líquido pretendi do?

2. Formação de preço com base no retorno sobre o investimento

Uma empresa especializada em manutenção de automóveis está estudando a

viabilidade de realização de determinado tipo de teste em motores.

O teste em questão exigirá um investimento de R$ 842.000,00 em equipa mentos que têm uma vida útil de 10 anos e valor residual de 5%.

Sobre o preço do serviço incidirão encargos de vendas de 23,5%.

Os custos operacionais referentes ao teste são os seguintes:

Manutenção do equipamento: 3% ao ano sobre o preço de aquisição.

Energia elétrica: R$ 245,00/mês.

Page 213: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Custo de pessoal mais encargos com a operação: R$ 12.348,00.

Despesas de administração alocadas aos testes: R$ 1.342,00/mês.

A empresa estima que realizará 250 testes por mês. Considerando que essa

empresa utiliza uma taxa de juros de 15% ao ano para cálculo do custo de capital,

calcule o preço de cada teste para recebimento à vista.

3. Preço para capacidade ociosa

Uma metalúrgica pode produzir 100 unidades/mês de determinado produto.

Até recentemente ela vinha utilizando 100% de sua capacidade de produção e

vendia no mercado brasileiro toda a sua produção.

Devido a uma retração do mercado, a empresa sofreu uma redução de 50%

em suas vendas. Quando esse fato aconteceu, ela recebeu uma proposta para ex-

ANÁLISE E FORMAÇÃO DE PREÇOS 223

portar 30 unidades/mês do produto durante dois meses consecutivos pelo preço

de R$ 6.000,00 por tonelada.

O quadro seguinte apresenta os dados básicos de produção, preço e custos dessa empresa.

ITEM

VALOR

Capacidade de produção — unidades/mês

100

Preço de venda

12.000,00

Custo fixo mensal

320.000,00

Custo fixo unitário

3.200,00

Custo variável unitário

3.800,00

Com base nos dados apresentados, esta empresa deveria aceitar essa propos ta? Justifique numericamente a resposta.

‘o

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO

O lucro de uma empresa é administrado com base nas funções de planeja mento, análise e controle.

Page 214: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O planejamento do lucro consiste na elaboração de previsões de resultado com o objetivo de gerar informações ou estabelecer metas. A análise do lucro tem por objetivo avaliar o resultado, comparando-o com padrões ou metas estabeleci das. Já o controle do lucro destina-se a corrigi-lo quando é insatisfatório.

Vimos, no Capítulo 7, que numa análise de viabilidade econômica, os lucros

anuais projetados têm, em geral, valores constantes. Entretanto, o lucro efetivo

está sujeito a freqüentes oscilações.

O processo de administração do lucro não se restringe ao resultado global da empresa. Ele também pode abranger a rentabilidade de produtos, serviços, ativi dades e unidades organizacionais.

10.1 PLANEJAMENTO DO LUCRO

A administração do lucro tem início com o planejamento do resultado para

algum período de tempo à frente, geralmente o ano civil.

Algumas empresas fazem o planejamento do lucro através da elaboração do

orçamento de resultado. Outras, principalmente as empresas de menor porte, por

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 225

não realizarem o planejamento orçamentário, projetam o lucro mediante meca nismos mais simples, utilizando projeções de demonstração de resultados ou esti mativa direta de resultado.

10.1.1 Estimativa de resultado pelo método orçamentário

O resultado da empresa pode ser estimado com base em uma previsão orça mentária para um determinado período de tempo à frente.

Para a elaboração do orçamento de resultado, diversas variáveis, tanto inter nas como externas, precisam ser consideradas.

As variáveis externas são as primeiras a serem consideradas na elaboração do

orçamento, pois servem de base para a quantificação das variáveis internas.

As principais variáveis externas são: taxa de crescimento da economia e do

setor onde atua a empresa, taxa de inflação, taxas de juros e taxa cambial.

As variáveis internas mais utilizadas na elaboração do orçamento de resulta dos são: vendas, impostos sobre vendas, custos operacionais, despesas com ven das, despesas administrativas, despesas de pessoal, receitas e despesas financei ras, receitas e despesas extraordinárias, impostos e outros encargos sobre o fatura mento e a renda da empresa.

1- Orçamentos auxiliares

Nas empresas onde existe uma atividade de planejamento, existirão outros

orçamentos que funcionam como auxiliares do orçamento de resultado. Os princi pais orçamentos auxiliares são:

a) Orçamento de vendas

Page 215: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Este orçamento representa o ponto de partida para a elaboração dos outros

orçamentos auxiliares. Para a elaboração do orçamento de vendas, as estimativas

de quantidades a vender e seus respectivos preços são os dados mais importantes.

As projeções de volume de vendas são efetuadas com base em vários métodos

ou fontes de dados, entre os quais se destacam:

• Análise de tendências: relaciona as vendas das empresas com sua dis tribuição ao longo do tempo. Pressupõe que as vendas podem ser pre vistas com base em seu histórico. Por exemplo, se uma empresa apre senta uma taxa de crescimento de suas vendas da ordem de 7% ao ano, essa tendência seria utilizada na elaboração do orçamento anual de vendas.

226 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

• Análise de correlação: projeta as vendas com base na correlação entre a demanda de determinados bens e serviços e algumas variáveis eco nômicas. Por exemplo, as análises indicam forte correlação entre o consumo de combustíveis e energia elétrica e o crescimento da econo mia.

• Pesquisa de mercado: baseia as estimativas em sondagens de opinião com os principais compradores, com a utilização de questionários, en trevistas etc.

• Dados do planejamento estratégico: a previsão de vendas pode decor rer de metas já estabelecidas no planejamento estratégico da empresa, envolvendo a manutenção, o lançamento ou a retirada de produtos ou serviços de linha.

b) Orçamento de investimentos

Um dos desdobramentos do orçamento de vendas é o orçamento de investi mentos.

Os dispêndios programados para investimentos em ativos permanentes, em

decorrência de projetos de expansão, modernização ou substituição de equipa mentos, integram o orçamento de investimentos.

Este orçamento interage fortemente com o orçamento de custos operacionais

porque é a partir dele que os gastos como depreciação e manutenção podem ser

projetados.

O orçamento de investimentos também auxilia o trabalho de acompanha mento e controle do lucro, pois fornece dados necessários à avaliação do desempe nho econômico dos investimentos da empresa.

c) Orçamento de operações

Outro desdobramento do orçamento de vendas é o orçamento de operações. Este orçamento contém a estimativa do volume de produção ou operação da em presa, incluindo a movimentação da produção e a formação e utilização dos esto ques.

Na elaboração do orçamento de operações, podem estar considerados a polí tica de estoques e os recursos operacionais da empresa.

Page 216: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

d) Orçamento de compras

Uma vez definido o orçamento de operações, será possível estabelecer o orça mento de compras correspondente. Este orçamento lida com estimativas de volu mes e preços, contemplando assim, variáveis internas e externas à empresa.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 227

e) Orçamento de custos operacionais

O orçamento de operações também está associado a determinado volume de gastos, gerando o orçamento de custos operacionais.

Os gastos programados para pessoal, administração e operações são os prin cipais componentes do orçamento de custos operacionais.

Quando a empresa experimenta um crescimento substancial das operações em relação ao ano precedente, o orçamento de custos operacionais poderá reque rer a realização de estudos especiais de custo, visando obter previsões de melhor qualidade.

O orçamento de custos operacionais também pode ser elaborado com base nas metas estabelecidas pela administração, sem estar necessariamente vinculado ao orçamento de operações. Nesse caso, sua principal função é servir de instru mento de acompanhamento e controle de um programa de redução ou de metas de custos.

O Orçamento de pessoal

Os gastos com folha de pagamento, encargos sociais, treinamento e desenvol vimento da força de trabalho compõem o orçamento de pessoal.

Embora este orçamento esteja relacionado com o orçamento de operações,

ele também costuma ser formulado sob a óptica de controle. Assim, os gastos com

pessoal podem ser estimados com base em meta a ser atingida.

g) Orçamento de despesas administrativas

Esse orçamento contém basicamente os custos fixos da empresa e não tem li gação maior com o volume de vendas.

II— Montagem do orçamento de resultado

Com base nos orçamentos auxiliares é montado o orçamento de resultado.

Este orçamento poderá ter o formato de uma demonstração contábil de resultados

ou de um relatório de lucro sem formatação contábil.

Com freqüência, o sistema orçamentário é integrado aos sistemas contábeis e

de custo, permitindo maior eficiência na utilização de dados comuns aos três.

A Figura 10.1 é a representação gráfica da elaboração de estimativa de resul tado com base no orçamento da empresa.

228 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

10.1.2 Estimativa de resultado com base em demonstrações contábeis projetadas

Page 217: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

As empresas que não possuem uma atividade orçamentária formalmente or ganizada podem prever seu resultado com base em demonstrações contábeis pro jetadas.

Figura 10.1 Estimativa de resultado com base no orçamento.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 229

Para efetuar a projeção da demonstração de resultados, será necessário esti mar as vendas e, com base nelas, projetar os gastos para chegar ao resultado final.

A opção em estimar o resultado com base na demonstração projetada de re sultados significa, em última análise, escolher a metodologia contábil para reali zar esse trabalho.

Na projeção da demonstração de resultados, alguns gastos têm forte correla ção com as vendas e, por isso, podem ser estimados pelo uso de coeficientes pes quisados.

Alguns dispêndios — despesas financeiras, por exemplo — devem ser estima dos à parte, com base em dados e informações específicos. Assim, as despesas fi nanceiras podem ser estimadas com base nos cronogramas de pagamento dos cré ditos já contratados e a contratar.

O esquema típico de projeção da demonstração de resultados requer as se guintes estimativas:

a) Receita bruta de vendas (RBV).

b) Impostos sobre vendas (percentual padrão sobre RBV).

c) Custos dos produtos vendidos (percentual padrão sobre RBV).

d) Despesas e contribuições sobre vendas (percentual padrão sobre RBV).

e) Despesas gerais administrativas: estimadas com base naquelas verifi cadas no ano anterior, com a introdução de fatores de ajuste.

O Despesas financeiras: estimadas com base na dívida existente e a con tratar.

g) Imposto de renda e a contribuição social: estimados pela aplicação de um percentual padrão sobre a RBV quando a empresa é tributada pelo lucro presumido ou pelo Simples. Se a tributação for pelo lucro real, será necessário usar alguma estimativa com base na RBV, com a inclu são de eventuais fatores de ajuste.

Com base nas projeções mencionadas, chega-se às seguintes etapas para a es timativa do resultado:

Receita bruta de vendas

Menos Impostos sobre vendas

igual a receita líquida de vendas

Menos custo dos produtos vendidos igual a Lucro bruto

Menos despesas com vendas

Menos despesas gerais e despesas administrativas

230 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Menos despesas financeiras

Page 218: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

igual a lucro antes do Imposto de Renda e da Contribuição Social Menos Imposto de Renda e Contribuição Social

igual a Lucro líquido

Exemplo: Uma empresa pretende elaborar a projeção de resultado para o ano seguinte, com base nos seguintes dados:

Receita bruta de vendas (RBV): R$ 8.362.000,00.

Impostos sobre vendas: 19,7% sobre RBV.

Custo dos produtos vendidos: 62,3% sobre RBV. Despesas do ano anterior

(de vendas, gerais e administrativas): R$ 869.648,00.

Corte a ser aplicado às despesas: R$ 173.929,00.

Despesas financeiras: R$ 230.000,00.

Imposto de renda e contribuição social: 2,16% sobre RBV.

Solução:

Item

Estimativa

Valor

Receita bruta de vendas (RBV)

dado

8.362.000,00

— Impostos s/vendas

19,7% s/RBV

(1.647.314,00)

= Receita líquida de vendas

6.714.686,00

— Custo dos produtos vendidos

62,3% s/RBV

(5.209.526,00)

= Lucro bruto

1.505.160,00

— Despesas (vendas, gerais e admin.)

dado

(869.648,00)

+ Corte em despesas

Page 219: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

dado

173.929,00

— Despesas financeiras

dado

(230.000,00)

— Imposto de renda e Contrib. Social

2,16% s/RBV

(180.619,20)

= Resultado

398.821,80

10.1.3 Estimativa de resultado pelo método direto

Nas empresas de menor porte, a contabilidade é terceirizada e habitualmente

não realiza projeções de demonstração de resultados.

Desse modo, a projeção de resultado costuma ser efetuada diretamente, com

base nas estimativas de receitas e gastos correspondentes.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 231

O método direto de projeção de resultado é muito semelhante ao das proje ções de demonstração de resultados. As diferenças dizem respeito, principalmen te, ao tratamento dispensado a custos e despesas e que acabam refletindo-se no próprio resultado projetado.

Um princípio importante a ser observado na utilização do método direto de projeção de resultado é o da competência. Quando ele não é observado, o resulta do é apurado pelo regime de caixa e traz distorções significativas para o lucro pro jetado.

Se a projeção de resultado visa prever o lucro da empresa sem detalhamento,

poderá ser utilizado o método de custeio direto.

Exemplo: A empresa ALiO está formulando seu plano de lucro para o próxi mo ano e os dados correspondentes são os seguintes:

Produto

Unidades

A vender

Custo Direto

Unitário

Preço de

venda

Encargos

Page 220: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

s/vendas

%

P1

P2

P3

P4

P5

3200

3800

4400

2600

1600

19,00

26,60

30,40

34,20

36,10

50,00

70,00

80,00

90,00

95,00

8,70

8,70

8,70

8,70

8,70

Outros dados

Total de custos indiretos: R$ 362.400,00.

Total de despesas financeiras: R$ 54.199,00.

Os Quadros 10.1 e 10.2 contêm a projeção da margem de contribuição e de

lucro anual da empresa ALiO.

Quadro 10.1 Projeção da margem de contribuição.

Page 221: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Produto

Receita

bruta

Encargos

s/vendas

Receita

, .

liquida

Custos

.

diretos

Margem de

. . -

contribuiçao

P1

P2

P3

P4

P5

Total

160.000,00

266.000,00

352.000,00

234.000,00

152.000,00

1.164.000,00

13.920,00

23.142,00

30.624,00

20.358,00

13.224,00

101.268,00

146.080,00

Page 222: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

242.858,00

321.376,00

213.642,00

138.776,00

1.062.732,00

60.800,00

101.080,00

133.760,00

88.920,00

57.760,00

442.320,00

85.280,00

141.778,00

187.616,00

124.722,00

81.016,00

620.412,00

232 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Quadro 10.2 Projeção de resultado.

Item

Valor

Margem de Contribuição

Menos Custos indiretos

Menos Despesas Financeiras

Igual a Lucro líquido final

620.412,00

362.400,00

54.199,00

203.813,00

10.1.4 Análise do ponto de equilíbrio

Toda empresa precisa de certo volume de vendas para poder cobrir seus cus tos fixos, já que estes representam um encargo desvinculado do volume de produ ção. Desse modo, somente a partir de um determinado volume de vendas é que a empresa começará a ter lucro.

Page 223: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A análise do ponto de equilíbrio — também conhecido como break even point

ou ponto de ruptura — permite determinar o volume de vendas capaz de proporcio nar lucro zero, aquele ponto em que a receita da empresa iguala o seu custo total.

Quando as vendas da empresa se situarem acima do ponto de equilíbrio, ela

começará a ter lucro.

1 — Ponto de equilíbrio econômico

Para toda empresa existe determinado volume de vendas onde ocorre a igual dade entre sua receita total e seu custo total. Esse volume de vendas representa o

ponto de equilíbrio econômico da empresa.

Se considerarmos uma empresa que venda apenas um produto, seu ponto de

equilíbrio econômico dependerá dos seguintes fatores:

Lucro líquido — L

Receita total da empresa — R

Preço de venda (líquido de impostos) — P

Quantidade vendida — Q

Custo total — C

Custo fixo total — F

Custo variável unitário — V

No ponto de equilíbrio econômico, o lucro líquido deve ser igual a zero.

Assim, a seguinte relação deve existir:

L =R-C= O

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 233

Em conseqüência do lucro líquido nulo, a receita total deve ser igual ao custo

total:

R—C (1)

Detalhando a receita total em seus componentes, preço e quantidade, temos:

R=PQ (2)

O custo total, decomposto em custo fixo total mais custo variável total (custo variável unitário vezes quantidade), dá:

C=F+VQ (3)

Substituindo R (relação 2) e C (relação 3) na relação (1), vem:

PQ=F+VQ

ou:

PQ-VQ = F

Page 224: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Logo:

Q(P-V) =F

No ponto de equilíbrio, o volume de vendas, Q, será:

Q=F÷(P-V)

Exemplo: Uma empresa fabrica um produto cujo preço de venda é R$ 30,00, já líquido de impostos de qualquer natureza. O custo fixo da empresa é R$ 64.000,00 por mês e o custo variável unitário do produto é R$ 14,00. O ponto de equilíbrio será:

Q = F ± (P - V)

Q = 64.000 ± (30,00 — 14,00)

Q = 4.000

O Quadro 10.3 e a Figura 10.2 ilustram o cálculo do ponto de equilíbrio de uma empresa com um custo fixo de R$ 120.000,00, custo variável unitário de

R$ 10,00 e preço de venda igual a R$ 30,00.

234 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Quadro 10.3 Ponto de equilíbrio.

Q

Custo

.

Fixo

Custo

.,

Variavel

. .

Unitario

Custo

.,

Variavel

Total

Custo

Total

.

Receita

Total

Lucro

Page 225: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000

9.000

10.000

120.000,00

120.000,00

120.000,00

120.000,00

120.000,00

120.000,00

120.000,00

120.000,00

120.000,00

120.000,00

120.000,00

10

10

10

10

10

10

10

10

10

10

10

Page 226: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O

10.000,00

20.000,00

30.000,00

40.000,00

50.000,00

60.000,00

70.000,00

80.000,00

90.000,00

100.000,00

120.000,00

130.000,00

140.000,00

150.000,00

160.000,00

170.000,00

180.000,00

190.000,00

200.000,00

210.000,00

220.000,00

O

30.000,00

60.000,00

90.000,00

120.000,00

150.000,00

180.000,00

210.000,00

240.000,00

270.000,00

300.000,00

Page 227: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

—120.000,00

—100.000,00

—80.000,00

—60.000,00

—40.000,00

—20.000,00

0,00

20.000,00

40.000,00

60.000,00

80.000,00

400.000

350.000

300.000

250.000 total

200.000

150.000

100.000 Ponto de equilíbrio

50.000 _________

Figura 10.2 Ponto de equilíbrio econômico.

II — Ponto de equilíbrio em volume de vendas

A forma de cálculo apresentada para o ponto de equilíbrio é aplicável para a

empresa que tem apenas um produto ou serviço em sua carteira.

Como as empresas têm, de fato, uma carteira com vários produtos ou servi ços, o ponto de equilíbrio precisará ser calculado em termos de volume de vendas.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 235

Sejam:

V = volume de vendas.

MC = % de margem de contribuição média da empresa (é igual à receita

total menos custo variável total dividido pela receita total).

F = custo fixo.

No ponto de equilíbrio (lucro zero), teremos:

VMC - F 0

Page 228: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

e:

VMC=F

ou:

V=F—MC

Exemplo: Uma empresa varejista tem um custo fixo de R$ 21.000,00/mês. Sua margem de contribuição média (receita total menos custo variável total dividido

pela receita total) é de 30%. Seu ponto de equilíbrio em termos de vendas será:

PQ = 21.000,00 = 70.000,00

0,3

Verificação:

Custo fixo 21.000,00

Margem de contribuição: 30% de 70.000 = 21.000,00

Custo Variável Total = Receita Total — Margem de Contribuição

Custo Variável Total = 70.000,00 — 21.000,00 = 49.000,00

Custo Total = Custo Fixo + Custo Variável

Custo Total = 21.000,00 + 49.000,00 = 70.000,00

Lucro total = Receita Total — Custo Total

Lucro Total = 70.000,00 — 70.000,00 = O

Observe que no ponto de equilíbrio a margem de contribuição é igual ao cus to fixo, já que o lucro é zero.

Para avaliarmos se o ponto de equilíbrio expresso em valor monetário está

adequado, ele precisa ser comparado com o potencial de vendas da empresa.

Cada setor empresarial tem um ponto de equilíbrio ideal. Este representa um

percentual do potencial de vendas da empresa, considerando os recursos existentes.

236 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

III - Análise e interpretação do ponto de equilíbrio

Para ser avaliado, o ponto de equilíbrio deve ser comparado com a capacida de de produção ou operação. Quanto menor o ponto de equilíbrio, maior será a fa cilidade para a empresa gerar lucro.

O valor do ponto de equilíbrio varia em função do setor de atuação da empre sa. Existem atividades que requerem um valor de custos fixos relativamente alto e,

por isso, tendem a possuir um ponto de equilíbrio mais elevado.

l - Ponto de equilíbrio operacional

Page 229: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O ponto de equilíbrio pode ser calculado tomando-se por base o lucro operacio nal. Este lucro equivale ao lucro líquido antes do pagamento de juros e dos impostos.

Desse modo, para calcular o ponto de equilíbrio operacional, é preciso excluir

os impostos (são custos variáveis incidentes sobre o preço) e os custos financeiros

(parcela de custos fixos).

Quando a empresa está operando acima do ponto de equilíbrio operacional,

estará gerando resultados para cobrir seus custos financeiros e o pagamento de

impostos.

V - Ponto de equilíbrio de caixa

Como alguns custos não geram saídas de caixa — a depreciação é um exemplo —,

o ponto de equilíbrio pode ser calculado sem esses custos e, assim, indicar o volu me mínimo de vendas necessário à cobertura apenas das saídas de caixa.

A operação de uma empresa entre seu ponto de equilíbrio de caixa e o ponto

de equilíbrio econômico pode ser uma situação normal, principalmente durante o

início de operação de um projeto ou empreendimento.

Quando as vendas de uma empresa situam-se entre o ponto de equilíbrio de

caixa e o ponto de equilíbrio econômico, ela estará operando sem lucro, mas man tendo sua solvência por causa dos custos não desembolsados.

O cálculo do ponto de equilíbrio de caixa considera apenas os custos fixos de sembolsáveis. Ele obedece ao mesmo raciocínio utilizado para o cálculo do ponto de equilíbrio econômico em volume de vendas e pode ser calculado por meio da se guinte fórmula:

v=ÍD_

MC

sendo: V vendas no ponto de equilíbrio de caixa

FD = custo fixo desembolsável

MC % de margem de contribuição média da empresa (é igual à receita

total menos custo variável total dividido pela receita total)

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 237

VI- Controle do ponto de equilíbrio

Uma vez que o ponto de equilíbrio depende de três variáveis (custo fixo, pre ço e custo variável unitário), ele pode ser controlado a partir delas.

Para reduzir o ponto de equilíbrio e com isso diminuir o risco econômico da

empresa, existem as seguintes alternativas:

• Reduzir os custos fixos.

Page 230: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

• Aumentar a margem de contribuição (preço menos custo variável uni-. tário dos produtos vendidos).

• Manter inalteradas as margens de contribuição de cada produto, mas aumentar a venda de produtos com maior margem de contribuição.

As duas últimas medidas significam o aumento do lucro direto dos produtos.

Essa é uma meta difícil de alcançar porque depende basicamente de dois fatores fora

do controle da empresa: seus preços de venda e os preços dos insumos adquiridos.

Assim, a redução dos custos fixos é a alternativa mais factível para a redução

do ponto de equilíbrio. Para reduzir os custos fixos, existem duas opções.

A primeira requer a redução no volume de gastos fixos totais através de diver sas medidas. Entre estas estão a obtenção de maior racionalidade econômica para

a estrutura organizacional e a redução dos custos contratuais.

A segunda opção para redução dos custos fixos é a obtenção de economia de escala. Essa opção exige a realização de investimentos no aumento da capacidade de produção ou operação, o que pressupõe a existência de mercado para absorver as vendas adicionais. Essa medida visa reduzir o custo fixo unitário pela economia de escala obtida. O total dos custos fixos, naturalmente, aumentará.

10.1.5 Alavancagem operacional

Devido à existência de custos fixos na empresa, a variação de seus resultados

é diferente da variação das vendas.

A alavancagem operacional é o parâmetro que estabelece a relação entre va riação de vendas e variação do lucro antes do pagamento dos juros e dos impostos

sobre a renda.

Devido à alavancagem operacional, é possível, por exemplo, uma empresa

ter um aumento de 5% nas vendas e 20% nos lucros.

Tomando-se por base o volume de vendas, o grau de alavancagem operacio na! pode ser calculado pela seguintes fórmula:

v — cv

Ao=

(v —cv)—f

238 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

sendo: Ao = grau de alavancagem operacional

v = volume de vendas considerado como base de cálculo

cv = custos variáveis operacionais do volume de vendas v

f = custo fixo operacional (não incluem os juros)

Page 231: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Exemplo: Uma empresa está com um volume de vendas da ordem de R$ 200.000,00/mês e custos variáveis mensais de R$ 120.000,00 (60%). Seus custos

fixos atingem a R$ 60.000,00/mês.

O atual lucro operacional é de:

200.000,00 — 60.000,00 — 120.000,00 = 20.000,00

O grau de alavancagem operacional dessa empresa é:

v — cv200.000 — 120.000

Ao= = =4

(v — cv) — f (200.000 — 120.000) — 60.000

Esse grau de alavancagem significa que um percentual de aumento nas ven das acarretará um percentual quatro vezes maior de aumento no lucro operacio nal.

Verificação:

Um aumento de 20% nas vendas gerará uma receita de R$ 240.000,00

Custo variável (60% das vendas) = R$ 144.000,00

Resultado operacional (vendas menos custos fixos e variáveis):

240.000,00 — 144.000,00 — 60.000,00 = 36.000,00

Percentual de aumento do lucro: 36.000,00 -i- 20.000,00 = 1,8 ou 80%

Grau de alavancagem operacional: 80% — 20% = 4

10.2 ANÁLISE E CONTROLE DO LUCRO

O lucro da empresa precisa ser avaliado e, se não estiver num nível adequado, exigirá medidas de controle.

A análise do lucro tem um campo maior de utilização porque sua utilização

não está restrita à própria empresa. Credores, parceiros comerciais e investidores

também necessitam analisar o resultado da empresa.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 239

10.2.1 Lucratividade da empresa

Embora a análise do lucro seja efetuada com base em técnicas quantitativas,

existem algumas dificuldades conceituais para sua realização.

A análise da lucratividade pode referir-se à empresa ou ser específica para

produtos, serviços e departamentos. As empresas que já têm uma cultura de plane jamento preferem fazer os dois tipos de análise.

1- Índices de rentabilidade da empresa

Os diversos índices de rentabilidade da empresa podem avaliar seu resultado

em relação ao patrimônio líquido, ativo ou vendas.

Page 232: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O principal parâmetro utilizado para avaliação de resultado é o lucro líquido. Outro parâmetro que pode ser utilizado é o lucro operacional.

Os principais índices de rentabilidade são os seguintes:

a) Retorno sobre o ativo total

É um parâmetro que mede a eficiência econômica dos ativos utilizados nas

operações da empresa. Sua fórmula de cálculo é:

Lucro líquido

Retorno sobre o ativo total = ____________

Ativo total

Esse índice indica com que eficiência é utilizado o total do ativo. Quanto

maior o valor do índice, maior terá sido a eficiência operacional da empresa.

b) Retorno sobre o patrimônio líquido

É o parâmetro de avaliação da eficiência do capital próprio. Sempre que esse

índice for maior do que o índice de rentabilidade do ativo total, a utilização de ca pital de terceiros terá sido proveitosa para a empresa.

Dependendo do setor onde atua a empresa, o índice de rentabilidade do pa trimônio líquido oscila normalmente entre 10 e 20%. Em circunstâncias normais, o retorno sobre o patrimônio líquido é maior do que o retorno do ativo total por causa da alavancagem financeira obtida com o uso de capital de terceiros.

A fórmula de cálculo do retorno sobre o patrimônio líquido é:

• Lucro líquido

Retorno sobre o patrimomo liquido

Patrimônio liquido

240 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

c) Margem líquida sobre vendas

É o índice que expressa a lucratividade das vendas da empresa.

A margem líquida sobre vendas é um parâmetro de avaliação indireta do de sempenho econômico da empresa porque pressupõe que existe uma correlação en tre esse índice e o retorno sobre o capital próprio. Sua fórmula de cálculo é:

Lucro líquido

Margem liquida = ___________

Vendas

d) Índice DuPont (Retorno sobre o ativo)

Page 233: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A fórmula DuPont é um indicador que possibilita o desmembramento do índi ce de retorno sobre o ativo em dois outros índices para permitir melhor visualiza ção da eficiência da empresa. Esses dois índices são o retorno sobre as vendas e o giro do ativo total.

O índice DuPont permite identificar se o retorno sobre o ativo deveu-se à lu cratividade das vendas ou à eficiência na utilização do ativo. Sua fórmula de cálcu lo é:

Lucro líquido Vendas

Retorno sobre o ativo = x

Vendas Ativo total

e) Lucro econômico

O lucro líquido contábil é um dos mais tradicionais parâmetros de avaliação de desempenho econômico. Quando relacionado com o investimento total ou com

o patrimônio líquido, fornece as duas medidas clássicas de avaliação empresarial.

Entretanto, as limitações do lucro líquido contábil sempre foram conhecidas.

A principal delas é que o custo contábil não inclui o custo-oportunidade do capital

investido.

Uma empresa pode apresentar lucro líquido contábil, considerado satisfató rio pela óptica convencional, mas insuficiente quando se leva em conta o ganho que poderia ter obtido caso o patrimônio líquido estivesse investido no mercado fi nanceiro.

O lucro visto pelo ângulo econômico é o excedente da receita gerada em rela ção aos custos operacionais (custo contábil) acrescidos do custo-oportunidade do

capital investido, este calculado pela taxa de atratividade da empresa.

Desse modo, o lucro econômico é igual ao lucro líquido operacional deduzido

do custo oportunidade do capital investido.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 241

Mesmo com a grande aceitação do conceito de lucro econômico, existem

duas dificuldades principais para o seu cálculo: estabelecer a taxa de juros para o

cálculo do custo de capital e determinar o real valor do patrimônio líquido.

Quanto à taxa de juros, o mais lógico seria utilizar um valor médio que refle tisse uma tendência de longo prazo. Sobre o patrimônio líquido, os valores cons tantes da contabilidade costumam estar defasados do valor de mercado, ainda que sejam atualizados monetariamente.

Um valor de lucro econômico positivo significa que a empresa foi mais efi ciente em sua atividade do que teria sido aplicando no mercado financeiro. Quan do o lucro econômico é negativo, a interpretação se inverte.

10.2.2 Lucratividade de produtos e serviços

Mesmo quando o lucro global da empresa é considerado satisfatório, existe a

Page 234: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

necessidade de se fazer uma avaliação da lucratividade de produtos e serviços.

Muitas vezes, a empresa mantém produtos e serviços cujos resultados defici tários são compensados pelos lucros gerados por outros.

Para apurar a lucratividade de produtos e serviços, a empresa precisa ter um

sistema de apuração de custos montado especialmente para esse fim.

Como mostrado no Capítulo 8, a apuração dos custos unitários totais está su jeita a controvérsias em função do rateio dos custos indiretos.

Quando os custos indiretos não forem preponderantes na estrutura de custos da empresa ou seus critérios de alocação conduzirem a valores não confiáveis, po derá ser utilizado o custeio direto para avaliação da lucratividade de produtos e serviços.

A utilização do custeio direto fornece o lucro direto por produto, também co nhecido como margem de contribuição e que corresponde à diferença entre o pre ço de venda e o custo direto.

A margem de contribuição pode ser calculada sob a forma unitária ou total,

através dos seguintes modelos:

a) Margem de contribuição unitária

Sejam:

Pv = preço de venda

Cd = custo direto unitário

t = % de tributação incidente sobre cada R$ 1,00 de preço de venda

Mc = margem de contribuição unitária

242 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

A margem de contribuição unitária obedece à seguinte relação:

Mc=Pv-Pv.t-Cd 1

Exemplo: Um produto é vendido por R$ 412,00. Seu custo direto é de R$ 234,00 e os impostos incidentes sobre o preço de venda representam 27% deste.

Sua margem unitária de contribuição é:

Mc = Pv-Pv.t-Cd

Mc = 412,00 — 412.0,27 — 234,00 = 66,76

b) Margem de contribuição total

Sejam:

V = vendas totais

Cd = percentual de custo direto sobre cada R$ 1,00 de vendas

t = % de tributação incidente sobre cada R$ 1,00 de vendas

Mt margem de contribuição total

Page 235: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A margem de contribuição total obedece à seguinte relação:

Mt = V - Vt. - VCd

10.3 CONTROLE DO LUCRO

Com base nos parâmetros de avaliação do lucro, é possível determinar o grau

de adequação desse lucro para a empresa.

Se o lucro revela-se insatisfatório, será necessária a realização de uma análise

para poder identificar as causas do problema. Uma vez identificadas as causas da

insuficiência de lucros, será possível buscar as soluções.

10.3.1 Análise da insuficiência de lucro

Diversas causas isoladas ou em conjunto podem contribuir para que o lucro

da empresa seja inexistente ou insuficiente.

Tendo em vista que o lucro é igual à diferença entre receita total e custo total,

esses dois elementos são o ponto de partida para a identificação das causas de lu cro insuficiente.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 243

As medidas destinadas a promover a recuperação do lucro deverão ser toma das sobre os fatores que afetam a formação da receita total e do custo total da em presa.

Com o objetivo de dar maior eficiência aos esforços para recuperação do lu cro, é necessário que sejam identificadas previamente as variáveis que exigem

maior prioridade de ação.

As causas básicas de lucro insatisfatório são a redução de vendas e o aumento

de custos.

1- Redução de vendas

A redução de vendas é a causa mais freqüente de diminuição de lucros e pode

ser motivada pelos seguintes fatores:

a) Crescimento insatisfatório da economia do país

Na maioria das atividades econômicas, existe forte correlação entre o cresci mento da economia do país e o volume de vendas da empresa.

Ante um quadro de recessão econômica, a maioria das empresas tende a ex perimentar uma redução em suas vendas.

A taxa de crescimento da economia do país é uma variável fora do controle da

empresa e é, em geral, o fator de redução de vendas de mais difícil administração.

Naturalmente, as empresas em boa situação financeira resistem melhor a uma redução da atividade econômica. Poderão investir em propaganda ou na di versificação de suas

Page 236: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

atividades para responder à redução de vendas. Se adotar uma postura passiva, as reservas financeiras permitirão que opere algum tempo sem lucro ou mesmo com prejuízo.

b) Crescimento insatisfatório do setor da empresa

Em determinadas circunstâncias, mesmo diante de um quadro de crescimen to econômico do país em nível satisfatório, a redução nas vendas pode ser uma ten dência do setor onde atua a empresa.

Muitas empresas adotam uma solução preventiva para este tipo de problema

com a diversificação de suas atividades.

c) Entrada de um concorrente forte no mercado

O mercado do qual participa a empresa tem uma determinada capacidade de absorção. Assim, a entrada de um concorrente de porte absorverá parte do merca do atendido pelas empresas existentes.

244 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

d) Efeito substituição

Produtos e serviços de naturezas diferentes podem concorrer entre si por mo tivos como mudanças nos preços relativos e nas preferências do consumidor.

Pelo efeito substituição, as vendas de um produto podem ser reduzidas por que ele foi substituído num processo de concorrência indireta. Por exemplo, um consumidor pode substituir a entrada de um show pela compra de um livro, uma viagem por um eletrodoméstico e assim por diante.

Devido às suas características, o efeito substituição é, na maioria dos casos,

de difícil identificação.

e) Perda de qualidade ou características

Todo produto ou serviço tem um ciclo de vida onde, no último estágio, verifi ca-se uma diminuição natural de sua procura no mercado.

Em toda empresa novos produtos estão sendo lançados continuamente, en quanto outros vão envelhecendo e sendo retirados de linha. Quando a renovação da linha de produtos e serviços não é suficiente para compensar a retirada dos an tigos, a empresa sofrerá redução no seu volume total de vendas.

O Redução da produção

Diversos fatores alheios à vontade da empresa podem causar a redução de

sua produção com reflexos também sobre as vendas.

Entre os fatores capazes de reduzir a produção da empresa estão greves, in cêndios, acidentes operacionais, paralisação não programada, interrupção no su primento de matérias-primas, interrupção do escoamento.

II — Aumento de custos

Os custos elevados de uma empresa podem ser explicados por vários fatores.

Page 237: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Os principais são:

a) Inexistência de economia de escala

Quando uma empresa opera sem economia de escala, terá custos mais eleva dos do que o normal.

O problema mais freqüente relacionado com a economia de escala ocorre quando um ou mais concorrentes passam a tê-la. Isto permitirá a redução de seus

custos e, conseqüentemente, dos preços praticados.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 245

b) Aumento dos custos financeiros

Os custos financeiros das operações de crédito podem crescer em termos ab solutos ou relativos. No primeiro caso, a elevação das taxas de juros incidentes so bre as operações de crédito são as causas do aumento dos custos financeiros. Esse problema será tratado no tópico sobre saneamento financeiro (10.3.3).

O crescimento relativo dos custos financeiros acontece quando as receitas fi cam aquém do previsto quando da contratação das linhas de crédito.

c) Aumento dos custos de propaganda

Os gastos com propaganda são custos controláveis, já que dependem da von tade da administração da empresa. Assim, o aumento desses gastos acontece em

termos relativos, quando eles crescem a uma taxa maior do que as vendas.

d) Gastos extras (despesas judiciais, acidentes operacionais etc.)

O crescimento dos custos pode ser decorrente de gastos extras, como despe sas judiciais ou acidentes operacionais. Idealmente, esses custos deveriam estar

previstos nos processos de controle da empresa.

e) Perdas com inadimplência

Os créditos não recebidos em volume superior ao esperado refletem-se mi cialmente sobre a situação de caixa da empresa.

Os demonstrativos financeiros e os índices financeiros de liquidez e rentabili dade não refletem inicialmente os problemas causados pela inadimplência dos clientes. O motivo é que esses demonstrativos e índices refletem os números das vendas, sem considerar uma eventual inadimplência sobre parte delas.

f) Fraudes internas

Os problemas decorrentes de fraudes internas também não são capturados

pelos sistemas convencionais de informações financeiras da empresa.

Uma fraude nas vendas da ordem de 5% de seu valor total pode não chamar a

atenção imediatamente, mas é suficiente para acarretar sérios problemas financei ros para a empresa.

Page 238: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Em muitas empresas, esta é a causa de redução de lucro que mais demora a ser percebida. Em alguns casos, nunca é percebida. Desse modo, é necessário que a empresa disponha de bons sistemas de controle financeiro para prevenir e detectar fraudes contra suas finanças.

246 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

10.3.2 Medidas para a recuperação dos lucros

Uma vez identificadas as principais causas da redução de lucros, é necessária

a implantação de medidas capazes de atuar sobre essas causas.

Os efeitos sobre os lucros são mais eficazes quando são adotadas várias medi das de correção simultaneamente.

Algumas medidas típicas para a recuperação de lucros são as seguintes:

a) Aumentar as vendas

O crescimento das vendas é, na maioria dos casos, o fator mais importante para a recuperação da lucratividade da empresa. Quando ela está operando acima do ponto de equilíbrio — com seus custos fixos já cobertos—, a alavancagem propor cionada pelo aumento das vendas é mais intensa.

b) Otimizar a carteira de produtos e serviços

O surgimento de perdas ou lucro insatisfatório sempre suscita a necessidade de identificar produtos ou serviços que eventualmente estejam sendo vendidos

com prejuízo.

Os produtos lucrativos devem ter suas vendas incentivadas, ao passo que os

deficitários devem ter sua produção diminuída ou descontinuada.

c) Ampliar a carteira de produtos e serviços

Uma receita consagrada para os problemas de lucro insatisfatório é a introdu ção de novos produtos ou serviços no mercado.

Geralmente, essa é uma solução de implantação mais demorada e exige in vestimentos adicionais.

A ampliação da carteira de produtos é mais eficaz quando feita juntamente

com o enxugamento ou eliminação daqueles que são deficitários.

d) Adequar o produto às necessidades do mercado

Em alguns casos, os produtos ou serviços da empresa não atendem a todas

necessidades do consumidor. Assim, identificar tais necessidades e procurar aten dê-las, aumentará o potencial de vendas.

e) Criar novos usos para o produto ou serviço

Essa medida aumenta o mercado do produto ou serviço, ao explorar junto ao

consumidor a possibilidade de novos usos para os mesmos.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 247

Page 239: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Em algumas casos, os produtos ou serviços precisam sofrer alterações para

poderem ter novos usos.

f) Criar novos canais de venda

A redução de vendas pode acontecer por insuficiência ou inadequação dos ca nais de vendas utilizados. A criação de novos canais de venda permitirá um incre mento no volume vendido.

g) Aumentar a eficiência da força de vendas

Em muitas ocasiões, a redução de receita decorre da inadequação da força de

vendas da empresa. Esse fato se faz notar principalmente quando ocorrem mudan ças acentuadas na preferência dos consumidores.

O aumento da eficiência da força de venda tem um efeito muito positivo na recuperação das receitas da empresa.

h) Praticar preços mais competitivos

Preços pouco competitivos causam retração nas vendas. Assim, praticar pre ços menores ajudará na obtenção de um maior volume de vendas.

i) Melhorar a qualidade dos produtos

Se a qualidade do produto ou serviço estiver em desacordo com as expectati vas do cliente, as vendas serão afetadas. Todo incremento de qualidade terá um

efeito positivo sobre as vendas.

j) Promover a satisfação dos empregados

Sabe-se que empregados mais satisfeitos têm um potencial de contribuição

muito maior para a empresa.

Diversas estratégias são utilizadas pelas empresas no sentido de manterem seus empregados satisfeitos. Entre elas podem ser citadas a melhoria da remune ração e das instalações de trabalho, o oferecimento de perspectivas de desenvolvi mento profissional e a participação nos resultados.

1) Promover redução de custos

Nem sempre o motivo de redução de lucros está relacionado com a diminui ção de vendas. Custos elevados também podem afetar o resultado de uma empresa

mesmo quando suas vendas estão normais ou em expansão.

248 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

Toda redução de custos é mais eficaz do que o aumento das vendas no sentido

de favorecer a recuperação de lucro.

As técnicas de redução de custos foram apresentadas no Capítulo 8. O próxi mo item também trata da redução de custos.

10.3.3 Saneamento financeiro

Page 240: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Quando a empresa defronta-se com problemas de lucro, ocorre um reflexo imediato em seu quadro financeiro. No primeiro momento, como a geração de cai xa se torna insuficiente, a empresa tende a aumentar seu endividamento ou atra sar pagamentos. Essas duas medidas tendem a agravar ajá problemática situação de caixa. Nesse ponto, é possível que alguns fornecedores deixem de vender à em presa por medida de precaução.

As conseqüências da perda de fornecedores podem ser de dois tipos: a empre sa reduz a produção e conseqüentemente suas vendas ou procura novos fornece dores que provavelmente praticarão preços mais elevados. Nos dois casos, ocorre mais redução de lucros.

É muito comum em situações de crise todas as prioridades serem colocadas

para resolver o problema de caixa. Essa atitude, voltada exclusivamente para o

curto prazo, tende a trazer outros problemas a longo prazo.

Um processo de saneamento financeiro deve ser entendido como uma bata lha de muitas frentes. Na frente de caixa, é preciso estancar a sangria de dinheiro que acontece por várias razões. Na área comercial, é preciso desenvolver esforços para aumentar as vendas. Na área de controle, torna-se imperioso apurar e anali sar os custos de modo que forneça subsídios para uma possível redução. A área de administração de pessoal precisa desenvolver esforços para impedir a diminuição do moral da força de trabalho.

O plano de saneamento financeiro deve começar com um diagnóstico preciso das principais causas dos problemas enfrentados pela empresa. Essas causas cos tumam ser múltiplas. Assim, podem coexistir tanto causas estruturais como causas contingenciais. Todas elas merecem atenção.

Uma vez efetuado o diagnóstico, é necessário buscar soluções. Alternativas são levantadas e seus possíveis efeitos são quantificados. As soluções aventadas certamente enfrentarão restrições para sua implementação e que serão tanto maiores quanto maior for a extensão do problema de lucro insatisfatório. Nesse es tágio, é exigido da administração grande esforço de criatividade.

Após a escolha da solução, ela deve ser implementada. Freqüentemente, isso

se dá pelo processo de tentativa e erro. E óbvio que, quanto mais demorada for a

implantação da solução, mais vulnerável ficará a empresa.

A seguir, estão listadas algumas medidas gerais para o saneamento financei ro de uma empresa.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 249

a) Venda de ativos ociosos

Os ativos ociosos podem ser vendidos para permitir a geração de caixa. A principal desvantagem dessa medida é que sua implantação é geralmente demora da. Assim, a empresa não pode contar com essa alternativa para cobrir necessida des emergenciais de caixa.

b) Redução de estoques

Page 241: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

O investimento em estoques é uma forma de imobilização de capital. Desse modo, quando ocorre uma redução de estoques na empresa, é verificada uma ge ração de caixa.

A redução de estoques é uma medida de grande impacto sobre as atividades

principais da empresa, como produção e vendas. Por isso, sua implementação re quer a participação dessas áreas.

Tratando-se de uma empresa varejista, a redução de estoques elevados, mes mo com a concessão de desconto promocional, traz bons resultados.

e) Renegociação de contratos e condições comerciais

Os compradores costumam ter algum poder de barganha com seus fornece dores. Numa situação de crise, este poder deve ser utilizado para obter redução de

preços, melhores condições de pagamento, redução de encargos financeiros etc.

d) Recomposição de preços

Quando os preços praticados pela empresa estão defasados, sua recomposi ção a níveis reais permitirá a obtenção de maior volume de receita e, portanto,

maior volume de caixa.

Se os preços não estiverem defasados, a tentativa de aumentá-los pode pro vocar uma queda ainda maior nas vendas e agravar a situação financeira.

e) Redução de custos

Um programa de redução de custos conduz a um menor volume de saídas de

caixa e, em conseqüência, aumenta o volume de caixa.

Em situações de crise financeira, os custos fixos (custos administrativos, princi palmente) são os mais indicados para corte. A redução dos custos variáveis tem uma

implementação mais lenta, e muitas vezes, exige a realização de investimentos.

A recomendação básica para um programa de redução de custos é que ela não

seja feita de forma linear. Alguns itens de custos são vitais para a empresa e, por

isso, tentar reduzi-los pode trazer resultados desastrosos.

250 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

f) Engenharia financeira

Quando a empresa consegue um prazo maior para o pagamento de suas dívi das, ela adia as saídas de caixa correspondentes e, portanto, aumenta o volume de caixa. Embora o aumento do volume de caixa seja temporário, pode ser suficiente para que a empresa se ajuste financeiramente.

As operações de engenharia financeira costumam ser utilizadas com a finali dade de proporcionar o alongamento do perfil da dívida da empresa da maneira

mais apropriada possível.

g) Substituição de passivos

Page 242: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

A substituição de passivos permite trocar uma dívida por outra de menor cus to financeiro, mesmo sem alongamento de prazo. Na maioria dos casos, o novo fi nanciamento será usado para liquidar antecipadamente aquele já existente, pas sando a empresa a incorrer em menores custos financeiros com a nova linha de crédito.

h) Operação de Saie Lease Back

Com uma operação de Saie Lease Back a empresa vende alguns ativos e, ao

mesmo tempo, faz um contrato com o comprador para alugar esses ativos, de

modo a continuar a usá-los.

Devido às suas características, o Saie Lease Back funciona como uma forma de

financiamento de longo prazo, garantido pelos ativos da empresa.

A principal desvantagem do Saie Lease Back é que por não se tratar de uma

operação financeira padronizada, precisa ser desenvolvida individualmente para

cada empresa.

i) Aporte de capital próprio

Numa situação em que uma empresa precisa de dinheiro, tomar esse capital de terceiros na forma de empréstimo é uma solução de risco. Num determinado horizonte de tempo, o capital emprestado precisa gerar resultados capazes de per mitir o pagamento de juros e sua amortização.

Se, em vez de capital de risco a empresa conseguir o aporte de capital para

não ter compromissos contratuais com o pagamento de juros, ficará numa posição

muito mais confortável para enfrentar as dificuldades.

A opção mais viável é a admissão de novos sócios ou acionistas. Naturalmen te, os novos sócios ou acionistas terão reivindicações sobre os lucros da empresa. Entretanto, esse é o preço a ser pago para a obtenção de recursos financeiros com tantos aspectos positivos.

ADMINISTRAÇÃO DO LUCRO 251

j) Alienação de unidades ou carteiras de produtos não lucrativas

Uma empresa pode manter uma unidade operacional ou carteiras de produ tos não lucrativas, objetivando metas de longo prazo.

Numa situação de emergência, esses segmentos de negócios podem ser ven didos para permitir a geração de caixa. E evidente que esta decisão só deverá ser tomada caso esses negócios não tenham uma importância estratégica para a em presa.

1) Pedido de concordata

A última solução no processo de saneamento financeiro é o pedido de concor data. E uma medida dura, arriscada, com impactos fortes sobre a empresa. Entre tanto, quando todas as outras medidas tiverem sido insuficientes, esta pode ser a última tentativa para salvar a empresa.

QUESTÕES

Page 243: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

1. Qual a principal diferença metodológica entre a projeção do resultado com base no planejamento orçamentário e no método direto?

2. Se uma empresa tem um ponto de equilíbrio baixo em relação à sua capacida de de vendas, qual o efeito sobre sua rentabilidade?

3. O que pode ser feito para reduzir o ponto de equilíbrio de uma empresa?

4. Um baixo ponto de equilíbrio significa que a rentabilidade do capital próprio é elevada?

5. Uma empresa tem um ponto de equilíbrio de caixa muito abaixo do ponto de equilíbrio econômico. Que conclusão podemos tirar desse fato?

6. Por que uma empresa possui alavancagem operacional?

7. Qual o principal benefício da alavancagem operacional?

8. O grau de alavancagem operacional é único para toda a empresa?

9. Duas empresas de setores diferentes podem ter seu desempenho econômico comparado com base no retorno sobre o ativo?

10. Para fins de avaliação comparativa do desempenho econômico de duas em presas, qual a limitação do índice de retomo sobre vendas?

11. O índice de retomo sobre o patrimônio líquido pode ser usado indistintamen te para qualquer empresa?

252 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA

12. O índice DuPont é, em última análise, o mesmo índice de retorno sobre o ati vo. Por que usar o índice DuPont e não o retorno sobre o ativo?

13. Qual a diferença entre lucro econômico e lucro contábil?

14. Qual a principal vantagem da utilização da margem de contribuição para avaliar a lucratividade de produtos?

15. Que tipo de redução de custos seria de difícil implementação para uma em presa com lucro insatisfatório?

16. Que condição precisa ser verificada para que uma redução de preços propor cione uma recuperação de lucro?

17. Qual a medida mais eficaz para a recuperação dos lucros de uma empresa?

18. Apenas o saneamento financeiro é suficiente para a recuperação do lucro de uma empresa?

EXERCÍCIO

Uma empresa tem os seguintes dados de produção, vendas e custos diretos:

Produtos

Unidades

a vender

Custo Direto

Page 244: Edno Oliveira - Administracao Da Pequena Empresa

Unitário

Preço

de venda

Encargos

s/vendas

A

B

C

4.000,00

3.000,00

2.500,00

16,00

22,00

26,00

40,00

50,00

60,00

6,70

6,70

6,70

Além desses dados, essa empresa tem os seguintes valores de custos indiretos e despesas financeiras:

Custos fixos indiretos: R$ 128.020,00

Despesas financeiras: R$ 23.300,00

Com base nos dados fornecidos, calcule:

• O lucro anual da empresa.

• A rentabilidade de cada produto.