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Enquadrando o Cordel: a circularidade entre Literatura Popular em Versos e Histórias em quadrinhos Autorais Independentes Savio Queiroz Lima 1 Introdução Faz parte do tecido social o imaginário preciso do cordel enquanto estrutura discursiva popular, fruto do povo e apreciado sem critérios demasiados tão naturais ao mundo normativo. O que, entretanto, não quer dizer que se trate de uma modalidade sem suas próprias regras e seus modelos de feitura. Muitas vezes as histórias em quadrinhos, fora de seu mercado, mais autorais, parecem seguir a mesma premissa de certa subversividade social. A literatura popular em verso, registro de uma tradição oral musicada, apoia-se nos alicerces da memória. Não apenas da memória que lhes permite a transmissão oral, em canções normalmente apresentadas ao público em praças e outros lugares de transito popular, mas a memória sobre registros de costumes, valores e importantes eventos regionais ou locais. Por sua natureza de memória, propõe-se a registrar um momento, pelo noticioso, pelo risível, pelas representações e valores próprios. Nisto, as semelhanças são bastantes significativas, de uma abrangência até óbvia da relação da produção humana com a sua representação da realidade, aos pontuais imaginários sociais de uma dada sociedade num dado momento. Concebe-se que “a cultura popular abrange todos os setores da vida de um livro de povo” (LUYTEN, 1983, p.8). Um exercício de diálogo entre as mídias faz-se aqui presente para entender um singular imaginário sobre seu parentesco direto. Não muito comuns, mas significativos, os discursos sobre as duas modalidades aqui analisadas, literatura popular em verso e narrativas gráficas em quadrinhos, se igualam em, ainda, deixar desconcertante o mundo 1 Mestrando em História do Brasil pela Universidade Salgado de Oliveira Universo, iniciado em 2015. Debruça questionamentos sobre histórias em quadrinhos e seus usos enquanto objeto e fonte de conhecimentos históricos. Membro da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS), escreve artigos para o site Quadro a Quadro sobre quadrinhos e história. [email protected].

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Enquadrando o Cordel: a circularidade entre Literatura Popular em Versos e

Histórias em quadrinhos Autorais Independentes

Savio Queiroz Lima1

Introdução

Faz parte do tecido social o imaginário preciso do cordel enquanto estrutura

discursiva popular, fruto do povo e apreciado sem critérios demasiados tão naturais ao

mundo normativo. O que, entretanto, não quer dizer que se trate de uma modalidade

sem suas próprias regras e seus modelos de feitura. Muitas vezes as histórias em

quadrinhos, fora de seu mercado, mais autorais, parecem seguir a mesma premissa de

certa subversividade social.

A literatura popular em verso, registro de uma tradição oral musicada, apoia-se

nos alicerces da memória. Não apenas da memória que lhes permite a transmissão oral,

em canções normalmente apresentadas ao público em praças e outros lugares de transito

popular, mas a memória sobre registros de costumes, valores e importantes eventos

regionais ou locais.

Por sua natureza de memória, propõe-se a registrar um momento, pelo noticioso,

pelo risível, pelas representações e valores próprios. Nisto, as semelhanças são bastantes

significativas, de uma abrangência até óbvia da relação da produção humana com a sua

representação da realidade, aos pontuais imaginários sociais de uma dada sociedade

num dado momento. Concebe-se que “a cultura popular abrange todos os setores da

vida de um livro de povo” (LUYTEN, 1983, p.8).

Um exercício de diálogo entre as mídias faz-se aqui presente para entender um

singular imaginário sobre seu parentesco direto. Não muito comuns, mas significativos,

os discursos sobre as duas modalidades aqui analisadas, literatura popular em verso e

narrativas gráficas em quadrinhos, se igualam em, ainda, deixar desconcertante o mundo

1 Mestrando em História do Brasil pela Universidade Salgado de Oliveira – Universo, iniciado em 2015.

Debruça questionamentos sobre histórias em quadrinhos e seus usos enquanto objeto e fonte de

conhecimentos históricos. Membro da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS),

escreve artigos para o site Quadro a Quadro sobre quadrinhos e história. [email protected].

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acadêmico diante de ambos. Por conta disso, sem pretender costumeiros bolodórios

comuns a escrita científica, faz-se proveitoso reaver os dois supracitados objetos.

Reaver enquanto objetos e fontes de análises sobre a realidade cultural e social,

tendo-os como expressões humanas legítimas. Tratados, ambos, como fontes

quantitativas, nos trazem transformações no imaginário social de forma historicizada.

Enquanto fontes qualitativas, nos permitem dialogar com aspectos menos explícitos da

realidade, fomentando um conhecimento mais aprofundado, um veio aproveitável na

rocha da história.

A literatura de cordel e os quadrinhos reconhecem-se enquanto fontes e objetos

que ainda desafiam os pesquisadores. Primeiro, pelas exigências singulares sobre a

extração de informações de ambas, cercadas de interdisciplinaridades. Segundo, por

tratarem-se de registros de uma dinâmica social persistente, mutável, que transforma

suas representações e seus discursos de acordo com as marés das sociedades de onde

dialogam.

Contando uma história em versos e quadros

A relação primeira para com o cordel, para muitas pessoas no Brasil,

principalmente no nordeste, é a praça. Ainda que não seja uma praça exatamente, mas

um epicentro humano, urbano ou rural, onde os olhares, andares e ouvidos sem

concentrem. Lá está, desde tempos imemoriais, o trovador contando e cantando histórias

para um abrangente público.

Nem tão imemoriais assim, esse tempo já foi interesse de investigação de

diversos pesquisadores, muitos deles com certa proximidade com o objeto, poetas ou

cantadores. Influenciando mutuamente, diversos trabalhos concordam com as heranças

europeias da Península Ibérica sobre os folhetos de poesia popular, correlacionando

comumente o seu nome2.

2 Sem delimitar definições taxativas ou mesmo imposições de datas, o pesquisador Gonçalo Ferreira da

Silva registra o século XVI como importante para a literatura de cordel. Sua pesquisa é branda, assume-se

distante das “filigranas veladamente arrogante dos eruditos” (SILVA, 2012, p. 15), mas faz um apanhado

dos dados mais comumente usados.

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O etnógrafo Mario Souto Maior, quando coordenador do Centro de Estudos

Folclóricos do Instituto Joaquim Nabuco, em Recife, acrescenta que, além da influência

inegável das culturas populares da região ibérica nas literaturas populares em versos,

como alcunha, tiveram "marcas que surgiram nos próprios países por influências

próprias que adaptaram a ideia original vinda da península" e que lhes deram singulares

identidades (MAIOR, 1976, p.7).

Na sua busca pelas origens das histórias em quadrinhos, o entusiasta Scott

McCloud adentra o passado feudal europeu. Em seu esforço de definir os quadrinhos e

dar-lhe uma história básica de construção, no primeiro capítulo de sua obra

Desvendando os Quadrinhos, McCloud apresenta as Torturas de Santo Erasmo, que

data em 1460, onde o popular personagem tem sua narrativa feita em imagens

sequenciadas e apresentadas ao público em folhas soltas (McCLOUD, 1995, p.16).

O formato em folhas soltas, o contato com o público de uma literatura popular,

sem as pretensões de seleto público, já bastam para fomentar as comparações entre

quadrinhos e cordel. Em algum ponto de suas origens, paira, desejosamente, a ideia de

familiaridade. O berço de sua origem comum, então, surge na forma de uma prensa que

lhes configura parentesco e o período onde tal tecnologia popularizou o trato textual e a

imagem xilogravada o seu marco temporal.

Por todo o mundo colonizado das Américas, onde as culturas portuguesas e

espanholas se fizeram presentes, tais produções existiram. São descendentes da “arte

dos poetas, nas mensagens dos profetas e na reflexão dos pensadores” (SILVA, 2012, p.

13) e tais “pliegos sueltos”, como ficaram chamadas em língua espanhola, ou seja, as

folhas soltas, tornaram-se populares e foram consumidas com certo apreço. Presentes no

Peru, na Nicarágua, no México, na Argentina, no Brasil, entre outras localidades,

possuem similaridades tamanhas que lhes é visível a hereditariedade3.

Mas o nome “cordel” causa certo incômodo aos estudiosos sobre essa literatura

popular. Justamente por que na busca de seu termo nas origens, esbarram em singulares

3 Em seu texto sintético, Gonçalo Ferreira da Silva lista autores e países que possuem a literatura popular

em verso e os músicos que as interpretam. Usando a onomástica para estudar as relações culturais que

envolvem tais culturas, Silva registra os termos “corrido” e “cumpuestos” para o texto escrito e

“versejador” ou “payador”, em espanhol, para o que no português brasileiro denominamos “cordel” e

“cantador” ou “repentista” (SILVA, 2012, p.17).

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peculiaridades. Diferente do termo francês, por exemplo, litteratura de colportage4, ou

do termo espanhol de pliegos suletos, em Portugal tal literatura popular em verso

ganhou o nome de literatura de cegos, por conta da lei metropolitana portuguesa de

Dom João V, em 1789, que autorizava a Irmandade do Menino Jesus dos Cegos de

Lisboa vender tais folhetos (MAIOR, 1976, p.7).

Apesar de existir o termo “cordel” na Espanha (MAIOR, 1976, p.7), ele ficou

cravado no imaginário contemporâneo sobre essa literatura popular brasileira. Na língua

castelhana, o termo define o formato em que tais produtos eram, e são, expostos em

bancas nas feiras livres, repousados equilibradamente sobre cordas, para apreciação dos

clientes, principalmente por suas chamativas capas. Resistem, tais revistas, aos modos

industriais, atendendo, ainda, uma quase manufatura, de forma barata, usando mais da

criatividade e autonomia de seus autores.

O verbete cordel chegou mais tardio, mas conquistou a aceitação, tornando-se

mais popular que o termo de origem em Portugal5. Seu registro mais antigo, de acordo

com SILVA (2012, p.16), foi do dicionário contemporâneo de Aulete, em 1881. Para

MAIOR (1976, p.5), porém, trata-se de um termo desdenhoso das elites intelectuais

sobre o "simples detalhe material", ou seja, sobre a estrutura física da banca e sua

arrumação em cordas. O autor acrescenta que "tal designação, além de imprópria e

importada, é inteiramente falsa" (MAIOR, 1976, p.5).

Novamente, os quadrinhos autorais reconhecem-se nos autorais folhetos de

literatura popular. Em ambos os casos, seus produtores estão envolvidos em sua edição,

publicação e venda, quando não, diretamente. Esse quadrinho ao estilo “do it yourself”6,

nomeado de fanzine em terras brasileiras, em produção local, culturalmente influenciada

e com a proatividade de seu autor, como os ‘poetas de gabinete”, são vendidos nas

“bancadas” fora de um mercado formal (SILVA, 2012, p.16).

4 Que significa literatura ambulante, pela natureza de suas vendas itinerantes, sem um lugar fixo

(MAIOR, 1976, p.7). 5 Colecionador brasileiro de literatura popular em verso e prosa, Arnaldo Saraiva tem, em seus “4.500

exemplares brasileiros e 870 portugueses” as ligações entre os dois polos separados pelo mar

(MEIRELES, 2014, p.1). Começou seu interesse por cordel na faculdade de Letras e hoje tem vasto

conhecimento sobre a literatura de cordel. 6 Longe da realidade moderna dos produtores de folhetos de literatura popular em verso, o termo é mais

próximo da realidade temporal do fanzineiro. O termo, oriundo da cena underground inglesa da segunda

metade do século XX, aplica-se aos trabalhos que fogem a lógica de modelo de mercado.

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Entretanto, o etnógrafo Mario Souto Maior reluta contra o termo, aceitando-o,

porém, após exaustiva reflexão. Essa literatura "resultante da inventiva de pessoas

analfabetas, semianalfabetas ou alfabetizadas até, mas que tem um público consumidor

quantitativamente maior do que a literatura considerada erudita" (MAIOR, 1976, p.5)

ele prefere definir como "literatura do povo" por carregar-se de "manifestação de cultura

popular" (MAIOR, 1976, p.6). Essa literatura é fruto primeiro de uma supremacia da

oralidade, como aconteceu com as canções de Homero e toda natureza noticiosa e de

memória.

Essa memória popular, "além de ser apresentada oralmente, ela também é escrita

e, consequentemente, impressa para poder ser consumida" (MAIOR, 1976, p.6).

Portanto, diferente da produção de fanzines7 mais comum, o cordel atende o registro de

uma memória que outrora haverá sido oral, normalmente cantada, para deleite de um

público transeunte de ágoras e praças, da antiguidade à idade média, aos tempos

modernos.

Mas sua universalidade se desfaz, oniricamente, quando se faz a máxima: O

cordel é o registro do imaginário e da memória do cabra. A partir deste ponto, é

imprescindível entender essa singularidade cultural brasileira. O cordel chega ao Brasil

como parte da rede cultural portuguesa na colônia, adentrando o mundo colonizado pelo

estado da Bahia8. Salvador foi, então, “ponto de convergência natural de todas as

culturas, ali permanecendo até 1763, quando foi transferida [a capital cultural] para o

Rio de Janeiro” (SILVA, 2012, p.18).

O cabra é fruto da onomástica relação entre o conceito de indivíduo, ou seja, de

identidade local, apropriação e adequação. Muito próximo do termo “cabrón” do

espanhol, conotando uma identidade de pertencimento inicialmente pejorativa, de

pessoa de má índole, sem caráter ou violento, que ganhou a leveza de identificação de

7 Fanzines são produções de histórias em quadrinhos isentas de responsabilidades e de tendências do

mercado de quadrinhos na Industria Cultural do entretenimento. São, normalmente, feitos com total

liberdade autoral e comercializados enquanto manufaturas, com técnicas e distribuições muito mais

próximas dos seus idealizadores. Por conta disso, entendidas como mais populares, afastadas de uma

produção empresarial formal. São independentes, o que não necessariamente lhes confere aceitabilidade,

mas lhes possibilita originalidade. 8 Faz-se, aqui, um significativo adendo: Mario Maior, como visto, afirma que "o vocábulo cordel nunca

foi usado no nordeste" e usando da linguística, explica que "o povo conhece cordão, que é corda fina,

delgada; ou fio, ou barbante" por isso, "o nordestino desconhece a designação literatura de cordel; todos

só conhecem folheto ou folhete, folheteiro (a pessoa que vende o folheto nas feiras e mercados),

folheteria (a tipografia que imprime e vende os folhetos)" (MAIOR, 1976, p.6).

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“sujeito”. O Cabra é o sujeito nordestino, vivente das regiões sertanejas, fortalecido

pelas agressões sociais e naturais da região nordeste do Brasil9. Esse cabra tem presença

forte nas narrativas dos folhetos de literatura popular brasileira.

Mas estamos falando, então, de uma rede de elementos, que vão do registro da

poesia, dos versos, em folhetos vendidos em praças e canções interpretadas por

violeiros. Tratamos de generalizar, sem pretensão de equívoco, mas com seu risco, as

duas tradições envolvidas, "a da literatura popular ibérica em prosa e verso e a prática

dos poetas improvisadores itinerantes do Nordeste brasileiro" (MAIOR, 1976, p.8).

Uma delas, o registro em papel, aproxima-se da produção de fanzines, mas a

outra, a oralidade de entreter, foge o máximo que pode de suas estruturas. A canção

agrada os iletrados e serve como incentivo para a venda do folheto, que tem a letra que

fora musicada para apreciação dos semi-letrados. Seguiram, porém, caminhos

diferentes, pois “a oral, precursora da escrita, engatinhou penosamente em busca de

forma estrutural” (SILVA, 2012, p.19), mas a escrita esbanjava, em ideias, temáticas

diversas.

Em sua grande parte, tratavam de fantasias inspiradas no imaginário feudal e

adequadas às realidades socioculturais que compõem o nordeste brasileiro. Esse

nordestino encontra-se como personagem nesta literatura popular em verso, reconhece

sua realidade social nos dramas, nas comedias, nas anedotas e nas notícias. São

"histórias com raízes na idade média", como os Doze pares da França, Príncipe Roldão,

Carlos Magno10 que "foram se abrasileirando" para confortar seus consumidores com

suas identidades (MAIOR, 1976, p.6).

Folhetistas e cantadores tinham, em seu repertório de narrativas, a fantasia

mesclada à realidade. Estudiosos dos cordéis, como Ariano Suassuna e Carlos Alberto

Azevedo, canonizaram listas temáticas dessas histórias que dialogavam com a memória

popular. Muitas dessas narrativas orais "foram passando de boca em boca" (MAIOR,

9 O caprino adaptou-se com êxito à região nordeste, majoritariamente cortada pelo sertão. O sertão

compreende semi-desertificação com regimes de secas sazonais. Como o animal, o nordestino também

suporta tais intempéries. 10 Tenho como exemplo o trabalho defendido por Daniel Corinto Lima Freire da Cruz, trabalho de

conclusão de curso em História na Universidade Católica do Salvador em 2009, que trata justamente dos

vestígios de memória do regime feudal sobre o mito carolíngio (DA CRUZ, 2009).

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1976, p.7) até tornarem-se canções nas vozes e violões dos trovadores e registros nas

poesias dos cordelistas.

Assim como a literatura popular francesa foi tema de curiosidade de Robert

Mandreau, a espanhola por Julio Caro Baroja, os dois autores supracitados brasileiros se

ativeram à literatura popular brasileira (SILVA, 2012, p.40). Tais temas, “ora

apoteóticos ora engraçadinhos” (MEIRELES, 2014, p.1), iam de “longos poemas

romanceados” a “sátiras políticas e sociais” (SILVA, 2012, p.22), também comuns às

produções de tiras semanais, charges, quadrinhos, casando interesses temáticos entre as

modalidades comunicativas.

Longe de enclausurar os temas sortidos que fazem enxurradas de folhetos, a

classificação busca ponderar os temas mais usuais. Ariano Suassuna, romancista e

dramaturgo bastante famoso por sua obra Auto da Compadecida, lista os ciclos:

Heroico, Maravilhoso, Religioso (ou moral), cômico (satírico e picaresco), histórico

(circunstancial), de amor e fidelidade (MAIOR, 1976). Boa parte desses temas lhes foi

útil nas suas poesias e narrativas.

Em obra posterior, Carlos Alberto Azevedo, sociólogo e afinco pesquisador,

altera a listagem de Suassuna levemente. Menos romântico e mais jocoso, produz a

seguinte listagem em ciclos: Utopia, marido logrado (corno), demônio logrado, bichos

falantes, obscenidades (e o duplo-sentido), maldições e castigos, heroico (e fantástico),

histórico (circunstancial), de amor e bravura, cômico satírico (MAIOR, 1976). Repete

parte dos ciclos já defendidos por Suassuna e elabora os demais.

Apesar de compartilhar temas narrativos, os quadrinhos e os cordéis não são

semelhantes por essas estruturas. Ambos possuem mecanismos próprios, linguagens

próprias, que fazem com que seus produtores enxerguem com mais eficiências as

singularidades de cada um. Marcos, vantagens, glosa e galopes (SILVA, 2012),

domínios dos trovadores populares, são exemplos de linguagens que os neófitos

certamente tem dificuldades em compreender11. O mesmo vale para a sarjeta e o o uso

do tempo em imagens nos quadrinhos (McCLOUD, 1995).

Cabe, então, buscar na produção da imagem a confluência de elementos e seus

usos para correlacionar as duas estruturas de comunicação. A arte autoral,

11 Entre outras singularidades de apropriação cultural, como os termos “verso” é estrofe e “pé” é verso

(MAIOR, 1976, p.14).

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aparentemente isenta de uma formalidade, equalizam os autores das xilogravuras

presentes nas capas dos folhetos de literatura popular e os autores das narrativas gráficas

das histórias em quadrinhos e capas de fanzines. A primeira vista, está clara a

familiaridade entre as linguagens visuais.

Um certo autodidatismo e liberdade criativa fazem a xilogravura e o desenho

livre realmente pertencerem a mesma família. Produzidos por técnicas diferentes,

entretanto, podem habitar sem desconfortos os mesmos espaços, levando em

consideração os seus mecanismos singulares. Mas eis que a xilogravura, ainda que

possa existir num suporte de narrativa gráfica sequenciada, não tem a mesma função nos

folhetos de cordéis.

As xilogravuras não possuem autonomia ou mesmo estrutura narrativa, sendo

somente ilustrações criativas da narrativa cantada perenizada na escrita em versos. São

imagens de estética autodidata, com elementos comuns que a aproximam e classificam

como arte naïf. A ingenuidade, do termo francês “naïf”, não está na escolha do tema

visual, mas pelo afastamento de uma consciência formal, escolarizada.

Há um claro distanciamento prático da mesma para com os quadrinhos,

enquanto estrutura midiática ou estrutura narrativa. Enquanto os quadrinhos firmam-se

como narrativas visuais onde a leitura dos quadros confere uma lógica, seja pela

passagem do tempo ou sequências narrativas mais complexas, as impressões

estampadas em matrizes de madeira são apenas ilustrações visuais atrativas à narrativa

textual interna.

Influenciam uns aos outros, numa dança cultural dinâmica que vem produzindo

quadrinhos sobre narrativas de cordéis ou mesmo apropriando-se da estética da

xilogravura. O artista Flavio Colin produziu quadrinhos desde os anos 50 pela editora

RGE, inicialmente adequando seu traço artístico para atender o mercado e

posteriormente assumindo identidade própria nos desenhos. Em trabalhos seus como O

Boi das Aspas de Ouro12 e Estórias Gerais13, Colin deu margens a sua “poética visual”

(PESSOA, 2012, p. 2). Mesmo influenciado por diversos artistas estrangeiros, Colin

12 Lançado pela Editora Escala em parceria com a editora Opera Gráphica em 1997. 13 Obra bastante inspirada nas literaturas regionais e interioranas brasileiras. Lançada em 2007 e 2011

pela Editora Conrad, fora encadernada especialmente pela Editora Nemo em 2012.

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produziu uma estilização singular14, com uma texturização bastante similar com as

impressões causadas na xilogravura.

Inovando não apenas na mimetização da estética da arte naïf, mas, também, nas

estruturas narrativas em versos, duas publicações são singulares. Um de seus autores é o

cordelista Fabio Sombra e o outro o quadrinhista João Marcos, ambos construíram uma

obra com narrativa visual e estruturas textuais específicas que a equalizam com

eficiência com os folhetos de literatura popular brasileira. A primeira é Sete Histórias de

Pescaria do Seu Vivinho15 e a segunda é A Pescaria Magnética do seu Vivinho e Outras

Histórias16, ambas com elementos diversos das duas linguagens: cordel e quadrinhos.

Com o diálogo estético e o uso prático na educação, mecanismo de

fortalecimento de ambas as culturas do cordel e dos quadrinhos, oficinas constroem uma

singular trajetória. Dentro da prática social, o projeto Fanzines nas Zonas de Sampa,

através de encontros e cursos em bibliotecas municipais de São Paulo, desde 2006,

dialoga quadrinhos e xilogravuras como prática artística e pedagógica17. Novamente,

temos a feitura de fanzines e cordéis dialogando métodos, materiais, tabuleiros.

Aproximação dos folhetos de cordéis para com os fanzines por sua manufatura

autoral e autônoma de seu criador e empreendedor, torna-se viável. É um exercício

frutífero, já que nos remete inegavelmente ao conceito de circularidade cultural. As

trocas materiais e imateriais estão presentes na conversação entre literatura popular em

verso e quadrinhos autorais, não entre duas classes antagônicas, mas enquanto classes

subalternas de realidades sociais distintas.

Em ambos os casos, os elementos populares e as adequações materiais sobre a

criatividade, particularizando cada espaço sem buscar-lhes uma pureza, atitude que seria

ilusória. Como no trato de Carlo Ginzburg em O Queijo e os Vermes, “não se está de

maneira alguma afirmando a existência de uma cultura homogênea” nem para o cordel e

nem para o fanzine, mas sem que tal relação se dê numa estrutura vertical interclasse,

14 Definida pelo pesquisador Alberto Ricardo Pessoa como segunda fase da obra de Flavio Colin, de onde

a estilização abraçou total liberdade e uma identidade sem escolas e difícil de seguir (PESSOA, 2012,

p.10). 15 Lançada pela Abacatte Editorial em 2011. 16 Também pela Abacatte Editorial e 2013. 17 Em 2012 o projeto ganhou o prêmio de Grande Contribuição no HQMIX, o concurso mais importante

da categoria no Brasil.

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mas horizontal entre grupos subalternos, quiçá, entre o rural e o urbano (GINZBURG,

1987, p. 32).

As impurezas que transcorrem as produções humanas não permite que façamos

definições parentais rigorosas sem que corramos os riscos das falácias. As histórias em

quadrinhos permearam diversas realidades sociais, culturalmente e temporalmente

estabelecidas, materializando em desenhos jocosos, inicialmente, os discursos e

imaginários sociais. Com a literatura popular em verso, foram as narrativas orais

noticiosas que se viram registradas e comercializadas18. Ambas, em específicos tratos,

são pluralidades alternativas diante das formalidades do letramento.

Afirmo, então, que cordel não é quadrinho, não possuem similaridades

suficientes para que possam se equiparar. Digo isso sabendo que causo tristezas e

incertezas aos entusiastas que o gostariam verdade. Mas se faz com alegria a

confirmação de que há traços de parentescos entre as duas modalidades narrativas a

ponto de promover o diálogo entre ambas e gerar proveitosos frutos. Traços, estes,

frutos de impermeabilidades que fazem com que compartilhem elementos, temáticas,

entre outras afinidades.

Seus traços estão nos fanzines e nas influências recíprocas e saudáveis que a

narrativa cantada e seu registro em folhetim fazem com a narrativa visual seqüencial.

Há, também, como visto, a proximidade noticiosa, onde charges e cordéis comungam na

arte de resumir ao povo os ocorridos mais significativos, dando-lhe prazer lúdico e

memória singular e plural.

Conclusão

Está claro no texto que é eleita a literatura de cordel enquanto objeto de análise,

sendo os quadrinhos convocados quando frutífera comparação. Não fora feito de tal

forma buscando hierarquizar ambas, senão, apenas, para tratar dos aspectos que possam

inicialmente ligar as duas estruturas narrativas ou mesmo lhes conferir similaridades.

18 Muitos autores em suas obras que se propuseram a pensar o cordel irão concordar com sua natureza

noticiosa. Joseph Luyten, base inegável para a construção deste artigo, equalizou a relação narrativa da

literatura popular em verso com a prática de registro de memória e divulgação de informações de

interesse comum (LUYTEN, 1983).

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Como os quadrinhos atualmente estão mais presentes em trabalhos acadêmicos19, talvez

seja, então, proveitoso (re)apresentar a literatura popular em verso a essa geração de

pesquisadores.

As novas gerações de pesquisa sobre histórias em quadrinhos avançam em

altaneira marcha, mas pouco se aventuram mais profundamente. Os trabalhos sobre tal

objeto-fonte são analises modéstias sobre o epitelial, evitando riscos demasiados ou

incursões arriscadas ou que lhes exijam mais instrumentos. Poucos e proveitosos

aventureiros o fazem, por isso mesmo é preciso abranger e dispersar os estudos, e os

encontros promovem ao menos a percepção disso.

Na escrita científica das ciências sociais, o exercício de análise pode ser feito aos

poucos, ora pontual, ora abarcante. Quando tratamos de discursos, faz-se mister

ponderar sobre os mesmos, buscando em diversos campos os instrumentos úteis aos

questionamentos surgidos. Em espaços com pouco tato sobre a literatura popular em

verso e sobre as narrativas em quadrinhos, tende-se a tecer comentários sobre ambas de

maneira superficial e bastante limitada. Para alguns, como exemplo, os cordéis são

primitivas histórias em quadrinhos, por conta de sua proliferação em folhetins e pelas

imagens em suas folhas primeiras.

Os discursos pré-concebidos, senão pré-conceituais, petrificam rapidamente um

imaginário que pode seguir ao desastroso, quando tratamos de conhecimento. Dado tal

perigo e um certo dever combativo do pesquisador, principalmente na área de história, é

necessária a interpretação dos discursos sob o prisma da racionalidade, sem perder de

vista a sensibilidade do investigador às peculiaridades inerentes aos mesmos

discursos20.

Para a leitura comparativa entre quadrinhos e literatura de cordel, a compreensão

do conceito de circularidade é enriquecedora. As duas estruturas narrativas de consumo

popular, ambas de entretenimento, reagem em seus registros de acordo com as

19 Pontua-se, aqui, eventos acadêmicos como as Jornadas Internacionais de Quadrinhos da USP, os

encontros da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS), entre outros, além do fato de

eventos de diversas áreas terem presentes comunicações onde o objeto e/ou a fonte são histórias em

quadrinhos. 20 Para tal conceito de sensibilidade, faço aqui a sugestão da leitura de dois trabalhos presentes num

mesmo volume: Pensar com o Sentimento, Sentir com a Mente, da Sandra Jatahy Pesavento;

Sensibilidade e Sociabilidade, de Jacques Leenhardt. Os dois textos presentes no livro Olhares Sobre a

História de organização de Alcides Freire Ramos, Maria Izilda Santos de Matos e Rosangela Patriota

(PESAVENTO, 2010; LEENHARDT, 2010).

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interferências e influências que a realidade promove através do imaginário social e as

vastas redes discursivas onde repousam.

As complexas relações pedem argumentos mais embasados e não apenas

discursos pedantes, ainda que sem intenções nefastas. Apesar de analisar as relações

entre cultura erudita e cultura popular e suas interseções, a fala de Carlo Ginzburg nos

favorece ao dizer que “muitas vezes vimos aflorar, através das profundíssimas

diferenças de linguagem, analogias surpreendentes” (GINZBURG, 1987, p.229), no

caso, entre quadrinhos e literatura de cordel.

Uma circularidade de elementos faz concreto o diálogo entre a literatura popular

dos cordéis e suas xilogravuras com as produções autorais, fanzines ou comerciais, de

histórias em quadrinhos. Autores de quadrinhos buscam nas narrativas encantadas da

literatura popular em verso as inspirações para suas narrativas, assim como os registros

em cordéis atualizam seus olhares sobre a realidade, inserindo novos elementos:

celulares, relações pessoais, pau de self, etc.

Mais do que simples correlato imagético, de onde a estética da xilogravura

influencia muitos quadrinhistas, vem o apelo lúdico noticioso. Na literatura de cordel,

na sua narrativa em verso ou mesmo na imagem carimbada, há deboche com a notícia,

como faz a charge. Há um tom inegável e singular do riso social culturalmente

localizado, significativo expressamente para seus interlocutores.

Histórias em Quadrinhos e Literatura de cordéis não são sinônimos, nem mesmo

quando compartilham diversos elementos. Suas dinâmicas, então semelhantes,

trabalham elementos que dialogam ricamente com seus leitores-consumidores,

reconhecendo-se, abraçando certo pertencimento. Podem ser populares, mas arriscam-se

a todo momento serem cultuados pelo letramento, pelo comercial, pelo hegemônico.

Demonstram uma dinâmica complexa, onde a “presença de fecundas trocas

subterrâneas, em ambas direções”, e não apenas entre alta e baixa cultura, já não lhes

podem mais assegurar domínios isentos de vazantes (GINZBURG, 1987, p. 230). Ainda

que não pertençam a um espaço do erudito, a circularidade eleva-as, outrora subalternas,

ao status de Cult, fazendo-as transitar livremente.

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