Ensaio Sobre Inducao e o Problema Da Inducao

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Texto sobre indução e problema da Indução

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  • A Induo, a Deduo e o Problema da Induo.

    Resumo: Breve exposio sobre o mtodo indutivo-dedutivo e as questes sobre sua

    justificativa; o chamado problema da induo.

    1. Introduo

    O poder e o impacto que a cincia adquiriu nas sociedades industriais- mais

    especificamente no ps Segunda Guerra Mundial- inegvel. Tornou-se de uso

    prtico e corriqueiro o uso do argumento comprovado cientificamente como um

    argumento de autoridade, de tal maneira que a verdade cientifica detenha uma

    superioridade que lhe intrinsecamente caracterstica.

    Em grande parte, esta confiana na verdade cientfica repousa na crena da

    infalibilidade de seus mtodos, como uma maneira imparcial e objetiva de entender

    a realidade e de assim chegar a concluses gerais sobre a natureza, que sob uma

    correta anlise permitem previses e explicaes sobre uma gama de fenmenos

    relacionados grande teoria a qual se concluiu.

    Neste artigo, discute-se brevemente o mtodo indutivista, largamente justificado,

    por exemplo, por Newton. O mtodo indutivista ou apenas indutivismo se

    fundamenta na experincia como nica base segura a qual o conhecimento poderia

    se estabelecer, e a partir de ento, a deduo lgica permitiria atingir as previses e

    explicaes desejadas. Posteriormente, discutir-se- as tentativas de se justificar o

    mtodo e como estas justificativas bem como o mtodo revelam-se incoerentes

    como maneira de se realizar a cincia.

    2. A Induo

    Desde a Grcia Antiga, bero da civilizao ocidental, existe uma preocupao

    com a validade do conhecimento, qual deveria ser a considerada a base para o

    conhecimento seguro como aquele obtido atravs das demonstraes dos gemetras;

    poderia ser este norte a razo (mito da caverna) ou a experincia (5 sentidos).Nesse

    sentido , acabou por prevalecer a experincia, como uma viso demonstrativa da

    cincia, retomada de Aristteles e defendida pela revoluo cientfica do sec. XVII

    como segue da clebre citao de Newton Hypothesis non fingo:

  • Porm, ainda no pude deduzir a razo dessas propriedades da gravitao a partir

    dos fenmenos e no invento hipteses. Pois tudo aquilo que no deduzido a partir

    dos fenmenos deve ser chamado de hiptese, e hipteses, quer metafsicas, quer

    fsicas, quer de qualidades ocultas, quer mecnicas, no tem lugar na filosofia

    experimental. Nessa filosofia, as proposies so deduzidas a partir dos fenmenos,

    tornadas gerais por induo.

    O mtodo da induo consiste, ento, na observao da realidade, ou seja, da

    natureza que cerca o observador. Este, em posse de seus sentidos, deve realizar as

    observaes ausentes de quaisquer ideias pr-concebidas e com um grande cuidado

    de modo que possa coletar fatos singulares- e.g., o ponto de ebulio do lcool

    depende da presso. O processo que torna os fatos singulares em fatos gerais (leis e

    teorias) a induo- e.g., o ponto de ebulio de qualquer substncia depende da

    presso. Este passo, na lgica indutivista, para que seja vlido e, portanto, consista

    em uma verdade cientfica deve seguir:

    1) Um grande nmero de observaes deve ser realizado (experincias).

    2) As experincias devem ser realizadas em uma grande variedade de

    condies.

    3) Nenhum fato singular pode contradizer a lei universal (no h espao

    para excees).

    3. A Deduo

    Em posse da lei ou de uma afirmao universal sobre um fenmeno, pode-se,

    pois, utilizando o silogismo e ferramentas matemticas, obter resultados como as

    explicaes e previses anteriormente referidas. Contudo, deve-se observar que

    dada uma assertiva, a deduo permite o encontro de concluses totalmente lgicas

    mesmo que as assertivas fossem falsas, em outros termos, a deduo nada pode

    inferir sobre a natureza das assertivas, sejam falsas ou verdadeiras.

    A deduo apenas fornece concluses a partir das premissas dadas (afirmaes),

    no podendo ser usado como um critrio que possibilite construir um conhecimento

    cientfico e, neste vis, distinguindo-se da induo.

    4. O problema da Induo

    Ao descrever o mtodo indutivista na cincia, torna-se intrigante pensar nas

    justificativas que garantem que este mtodo funcione e que mais profundamente,

  • seja este, o caminho demonstrativo to desejado para as cincias naturais pelos

    grandes cientistas como Aristteles, Kepler, Galileu e Newton.

    Todavia , quando retornamos as condies que o indutivismo segue para que a

    induo de experincias seja vlida , quer utilizemos um argumento lgico ou da

    experincia, cairemos em incoerncia que depe o indutivismo da maneira posta

    neste texto como forma de estabelecimento do conhecimento cientfico.

    Imagine que para um dado fenmeno A observou-se milhes de dados que

    confirmam que uma determinada caracterstica B est presente; no existe razo

    analtica que garanta que a prxima observao de A, B esteja presente.

    Os dados, por mais extensos que sejam, sero sempre infinitos e uma teoria ou

    afirmao universal, por definio, sempre trata de infinitas situaes, logo, o

    raciocnio indutivista inconsistente, mesmo sob uma interpretao probabilstica.

    Voltando ao mesmo fenmeno A, chegamos a um problema semelhante quando

    tratamos de verificar os fenmenos sobre uma ampla variedade de condies, mas

    neste ponto, em adio ao problema de reduzir um conjunto infinito de variantes em

    uma situao finita destas, tem-se que, assumindo essa posio, implicitamente

    toma-se um observador com um pr-conhecimento ao experimento, o que no

    indutivismo inconcebvel.

    Por fim, tentar justificar a induo pelo seu sucesso na histria da cincia como

    j demonstrado no sc. XVII por David Hume, justificar a induo pela induo,

    pois, como a induo mostrou-se aceitvel em determinadas ocasies, ela sempre

    ser aceitvel, e usar-se de tal argumento circular no fomenta base lgica e temos,

    portanto , a necessidade de se procurar uma maneira melhor de definir ou interpretar

    a prtica cientfica e as suas bases filosficas.

    Referncias Bibliogrficas:

    Chalmers, Alan F.O que cincia

    afinal?. Editora Brasiliense, 1993.

    Hume, David. Treatise in Human

    Nature, part III. London: Dent,

    1939

    Nagel, Ernst. Cincia: Natureza e

    Objetivo. So Paulo: Editora da

    Universidade de So Paulo, 1975.

    Newton, Isaac. Philosophiae

    Naturalis Principia Mathematica

    (1687) Livro III, Esclio geral.