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BIBLIOTECA Carlos Gabriel Guimarães éo Lobarinhas Piñeiro Pedro Henrique P. Campos (organizadores)

ENSAIOS DE HISTÓRIA ECONÔMICO-SOCIAL

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O Polis – Laboratório de História Econômico-social da Universidade Federal Fluminense –, que ora lança seu primeiro livro, tem também sua própria história e passou efetivamente por um longo processo de formação. O laboratório reflete, em última análise, as mudanças ocorridas no Departamento de história e no Programa de Pós-Graduação em nossa Universidade. Ademais, eu ousaria dizer que sua História reflete parte da história de minha vida, como da história de todos os colegas (de diferentes inserções acadêmicas) envolvidos em sua criação e no seu desenvolvimento.

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Mais recentemente, nos depar-tamentos de programas de pós-gra-duação em história das universidades brasileiras, manifestou-se a tendência da formação de laboratórios e núcle-os de pesquisa especializados em campos ou problemáticas dos estu-dos históricos. Na Universidade Fe-deral Fluminense, não foi diferente, surgindo, entre seus novos espaços de pesquisa, o POLIS - Laboratório de História Econômico-Social.

O POLIS tem organizado uma série de atividades que reúnem pro-fessores e estudantes de pós-gradua-ção e graduação da UFF e de outras universidades, num frutífero debate sobre as mais diversas temáticas do campo da História Econômico-So-cial. Agora, como resultado das suas discussões internas, esse laboratório traz ao público esta coletânea de dez textos, intitulada Ensaios de História Economico-Social: séculos XIX-XX, organizada por Carlos Gabriel Gui-marães, �éo Lobarinhas Piñeiro e Pedro Henrique Pedreira Campos.

Estes textos são bastante diversi-�cados, tanto do ponto de vista de seus temas e objetos, como também de suas abordagens teóricas e meto-dológicas, re�etindo a riqueza dos es-tudos contemporâneos acerca da História Econômico-Social. Sua divi-são em duas partes re�ete também o critério de organização cronológica, considerando os dois séculos aborda-dos. Os cincos textos da primeira parte (Século XIX) abordam, respec-tivamente: a problemática Histótia do Abastecimento na historiogra�a brasileira; as diversas interpretações relativas às temáticas do trabalho, da classe e da desigualdade na formação econômica do nosso país; a variável de acesso ao crédito por parte dos es-

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cravos da cidade do Rio de Janeiro na tentativa de obtenção de sua alforria; a continuidade do trá�co de escravos no litoral norte da Província do Rio de Janeiro mesmo após a sua derra-deira proibição em 1850; e a articula-ção de redes de aliança política local e regional a partir da atuação do Vis-conde de Araruama na construção do canal Campos-Macaé.

Os cinco textos da segunda par-te (Século XX) se referem às seguin-tes temáticas: a disputa pelo nascente mercado da eletricidade no Rio de Janeiro (antiga capital federal) em 1905 e sua repercussão na imprensa da cidade; a análise da atuação de du-as agências estatais, PND e PED, co-mo agentes institucionais de constru-ção da hegemonia do projeto priva-tista em nosso país, no período 1964-1974; uma re�exão ensaística a cerca das mais recentes políticas pú-blicas de privatização no Brasil; a mundialização �nanceira e a interna-cionalização do sistema bancário bra-sileiro nos anos de 1990; e a grande transformação na política dos Esta-dos Unidos, no �m do século XX, re-presentada pela crise do reformismo e o avanço do conservadorismo do projeto neoliberal e dos grupos ultra-direitistas.

Tenho certeza de que os leito-res encontrarão, nesses dez textos, diversas re�exões atuais e renovado-ras acerca das mais variadas temáti-cas da história econômico-social, que ajudarão a reforçar o interesse dos pesquisadores pro�ssionais por este campo de investigação e tam-bém a atrair, para ele, a atenção dos estudantes e dos novos pesquisadores

Luis Carlos Soares (agosto de 2011)

Carlos Gabriel Guimarães�éo Lobarinhas Piñeiro

Pedro Henrique P. Campos(organizadores)

9 788522 807758

ISBN 8522807758

Universidade Federal Fluminense

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© 2012 by Carlos Gabriel Guimarães, Théo Lobarinhas Piñeiro, Pedro Henrique P. Campos

Direitos desta edição reservados à EdUFF - Editora da Universidade Federal Fluminense - Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icaraí CEP 24220-900 - RJ - Brasil - Tel.: (21) 2629-5287 - Fax: (21) 2629- 5288 - www.editora.uff.br - E-mail: [email protected]

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora.

Catalogação na publicação: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071Capa e editoração eletrônica: Fabrício Trindade Ferreira ME

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação - CIP

E59 Ensaios de História Econômico-social: séculos XIX e XX / Carlos Gabriel Guimarães, Théo Lobarinhas Piñeiro, Pedro Henrique P. Campos (org.). – Rio de Janeiro : EdUFF, 2012. 192p. Inclui bibliografia ISBN: 978-85-228-0775-8 1. Economia – História – Sec. XIX. 2. Economia – História – Sec. XX. 3. Brasil – Condições econômicas. 4. Brasil – Condições sociais. 5. Historiografia. I. Guimarães, Carlos Gabriel. II. Piñeiro, Théo Lobarinhas. III. Campos, Pedro Henrique P.

CDU: 338(81)(091)

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEReitor: Roberto de Souza Salles

Vice-Reitor: Sidney Luiz de Matos MelloPró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação: Antonio Claudio Lucas da Nóbrega

Diretor da EdUFF: Mauro Romero Leal PassosSeção de Editoração e Produção: Ricardo Borges

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Comissão EditorialPresidente: Mauro Romero Leal PassosAna Maria Martensen Roland Kaleff

Eurídice FigueiredoGizlene Neder

Heraldo Silva da Costa MattosHumberto Fernandes Machado

Luiz Sérgio de OliveiraMarco Antonio Sloboda Cortez

Maria Lais Pereira da SilvaRenato de Souza Bravo

Rita Leal PaixãoSimoni Lahud GuedesTania de Vasconcellos

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ENSAIOS DE HISTÓRIA ECONÔMICO-SOCIAL

Séculos XIX e XX

Carlos Gabriel GuimarãesThéo Lobarinhas Piñeiro

Pedro Henrique P. Campos(organizadores)

Niterói, 2012

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À Eulália Maria Lahmeyer Lobo (em memória).

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SUMÁRIOPrefácio 9Geraldo Beauclair Mendes de Oliveira

Apresentação 11Os organizadores

SÉCULO XIX

A história do abastecimento e a historiografia brasileira 17Pedro Henrique Pedreira Campos

Interpretações sobre a formação econômico-social do Brasil 41Mônica Martins

El crédito para la manumisión de esclavos en Río de Janeiro entre 1840-1871 57Carlos Eduardo Valencia Villa

Corredor infame: tráfico e traficantes de africanos em praias fluminenses e capixabas, depois da lei de 1850. 77Walter Luiz Pereira

Canal Campos-Macaé (1845-1875): a Veneza Brasileira e a história política de um canal que não vingou 91Ana Lucia Nunes Penha

SÉCULO XX

A disputa pelo mercado de eletricidade do Distrito Federal: Guinle&Cia, a Rio Light e a imprensa carioca em 1905 109Cláudia Regina Salgado de Oliveira Hansen

PND e PED: Agentes e agências na construção da hegemonia do projeto privatista (1964-1974) 129Monica Piccolo Almeida

Breve ensaio acerca das políticas públicas de privatização no brasil recente 149Cezar Honorato

Mundialização financeira e internacionalização do sistema bancário brasileiro 159Rafael Vaz da Motta Brandão

A grande virada: a crise do reformismo e o avanço do conservadorismo nos Estados Unidos em fins do século XX 173Tatiana Poggi

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PrefácioO Polis – Laboratório de História Econômico-social da Universidade

Federal Fluminense –, que ora lança seu primeiro livro, tem também sua própria história e passou efetivamente por um longo processo de formação.

O laboratório reflete, em última análise, as mudanças ocorridas no Departamento de história e no Programa de Pós-Graduação em nossa Uni-versidade. Ademais, eu ousaria dizer que sua História reflete parte da histó-ria de minha vida, como da história de todos os colegas (de diferentes in-serções acadêmicas) envolvidos em sua criação e no seu desenvolvimento.

Indo às raízes do Laboratório, tudo começou com uma iniciativa da professora Eulália Lahmeyer Lobo, ao tempo em que orientava alunos na área de História Urbana e Industrial na pós-graduação. O nome POLIS cer-tamente daí derivou: POLIS – Laboratório de História Urbana e Industrial.

Grande parte do corpo docente do Departamento de História, diga-mos pelos anos de 1974 a 1985, somente possuíam formalmente o Mes-trado – e, em geral, pertenciam às primeiras turmas do próprio Programa de Pós-Graduação em História da UFF, iniciado por volta de 1970, com professores estrangeiros e de outras universidades brasileiras, particular-mente a Universidade de São Paulo. Era uma luta a saída de mestres para o almejado doutoramento, seja no exterior, seja na USP.

Esse período foi de uma “quase parada” do Laboratório de História Urbana e Industrial, com a saída de professores mais antigos do Programa de Pós-Graduação, já então com o doutoramento instituído. Foi quando então eu e o professor Almir Chaiban, (da antiga área de “América”) ten-tamos revigorar o POLIS, mantendo a antiga denominação de Laborató-rio de História Urbana e Industrial, conquanto inclinássemos os trabalhos para a História Econômica e Social.

Foi dentro da antiga Área de História Econômica, por mim por longo tempo coordenada, que o POLIS teve continuidade e nunca foi esquecido, mas careceu-se de um processo mais efetivo de organização. O momento era particularmente difícil e ainda vivíamos no âmbito dos estertores dos “anos de chumbo” (expressão seguramente criada para nomear um jornal de estudantes do Departamento de História).

Com a entrada dos professores Théo Piñeiro e Carlos Gabriel Gui-marães, houve um sopro de animação no laboratório. Por outro lado, foi surgindo e se ampliando o interesse de alunos de graduação e pós-gra-duação pelas pesquisas institucionais no campo da História Econômica. Ressalte-se que interesse sempre houve “desde os tempos mais remotos da UFF”. Grande interesse e até abnegação.

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al Mas a criação de instituições nacionais e internacionais na área de História Econômica, a intensificação dos congressos, o relacionamento mais estreito entre as universidades no estado do Rio de Janeiro (boa parte dos participantes do POLIS são de outras universidades) estão aprofun-dando os trabalhos em nosso campo.

As reuniões do laboratório tornaram-se mais sistemáticas – graças ao professor Pedro Campos –, acelerando-se o processo organizativo, crescen-do significativamente o número de participantes, o que animou cada vez mais a apresentação dos trabalhos e participação em congressos nacionais e internacionais, culminando com a organização de seus próprios eventos.

O presente livro tudo isso reflete, eis que todo o longo processo de afirmação e sedimentação ao longo dos anos do POLIS reproduziu-se e materializou-se nas diferentes inserções acadêmicas de seus autores, bem como na seriedade com que foram escritos os textos que o compõe.

Geraldo Beauclair

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ApresentaçãoO presente livro, uma coletânea de textos de professores e de douto-

randos pertencentes ao Polis, o laboratório de História Econômico-social da Universidade Federal Fluminense, tem como objetivo principal divul-gar a produção acadêmica relacionada à História Econômico-social, que nos últimos anos vem se revigorando e crescendo.

O Polis é vinculado ao Departamento de História da UFF e é com-posto por professores desse departamento, pós-graduandos de História da universidade, além de graduandos e membros de outras universidades. É um ambiente de discussão de textos clássicos e pesquisas na área de Histó-ria Econômico-social, realizando reuniões mensais, sempre com o debate de um texto de referência da área ou de um ensaio de um dos membros do laboratório. Tem ainda presença em seminários da Associação Nacional de História (a Anpuh) e também na Associação Brasileira de História Eco-nômica (ABPHE), além de organizar eventos próprios, sendo o primeiro deles realizado em 2011.

Dividido em duas partes, séculos XIX e XX, este livro apresenta ao leitor uma diversidade de temas e objetos, bem como uma diversidade teórica e metodológica, abarcando desde uma abordagem mais estrutural até a micro-história, como também de história de empresas e cliométrica.

Na primeira parte, século XIX, constam cinco textos. O primeiro texto, A história do abastecimento e a historiografia brasileira, de Pedro Campos, tem por objetivo fazer um balanço da produção historiográfica sobre o comércio de abastecimento na economia brasileira, enfocando o período colonial e imperial. Esse material analisado por Campos foi di-vidido em três gerações ou grupos: o primeiro texto, que marca a mais antiga produção sobre o assunto e que é restrito à USP, com uma perspec-tiva mais empírica, destacando-se a obra de Mafalda Zemella; o segundo, também restrito à USP, mas com uma abordagem que cruza negócios e política, muito influenciada por Sérgio Buarque de Holanda; e, finalmen-te, o terceiro, concentrado em dissertações e teses defendidas na UFF e UFRJ, com uma proposta mais totalizante, marcadamente influenciadas pelo movimento dos Annales, por meio das orientações de Maria Yedda Linhares e Ciro Flamarion Cardoso. Por fim, é feita uma conclusão sobre a contribuição da história do abastecimento para a historiografia nacional.

O segundo texto, Interpretações sobre a formação econômico-so-cial do Brasil, de Mônica Martins, doutora pelo PPGHIS/UFRJ e profes-sora do Departamento de História da UFRRJ, analisa e compara a produ-ção acadêmica acerca do tema trabalho e classe social no Brasil. A partir do trabalho pioneiro de Caio Prado Júnior e analisando as obras de Ciro Flamarion Cardoso, Katia Mattoso, João Fragoso, Lúcio Kowarick, José de

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al Souza Martins e outros, o texto promove um diálogo entre a História e a Sociologia, destacando as aproximações e distanciamento dos dois campos científicos das Ciências Humanas.

O terceiro texto, El crédito para la manumisión de esclavos en Río de Janeiro entre 1840-1871, de autoria de Carlos Valencia Villa, discute a questão da alforria (manumissão) dos escravos na cidade do Rio de Janeiro, no período 1840-1871. Apresentando uma extensa documentação primá-ria e utilizando a história quantitativa como método, o texto tem como prioridade o cálculo econômico das dívidas dos escravos para conseguir sua liberdade. Neste sentido, o acesso ao crédito por parte dos cativos consti-tuiu-se numa variável econômica importante para a compra da sua alforria.

O quarto texto, Corredor infame: tráfico e traficantes de afri-canos em praias fluminenses e capixabas, depois da lei de 1850, escrito por Walter Luiz Pereira, tem por objetivo analisar o tráfico ilegal de escravos a partir do estudo das trajetórias e das relações que permeiam os negócios dos atores ligados ao tráfico de africanos num dado espaço geo-gráfico demarcado, o Noroeste fluminense. Para tanto, a redução da escala proposta pela micro-história permite estudar uma complexa interseção de redes locais e seus anéis de conexão região que viria a ter uma ocupação mais densa a partir de meados do século XIX.

Finalizando esta parte, temos o texto, Canal Campos-Macaé (1845-1875): a Veneza Brasileira e a história política de um canal que não vingou, de Ana Lucia Nunes. Mediante a construção do canal de Campos--Macaé, uma obra que levou quase 40 anos para ser concluída, e tendo como principal artífice José Carneiro da Silva, Visconde de Araruama, pre-tende-se analisar a relação entre a localidade e o Império brasileiro. Mem-bro do Partido Conservador, e tendo ocupado vários cargos, o Visconde de Araruama constituiu uma rede de alianças local e regional, que possibilitou a construção do canal.

Na segunda parte do livro, temos também cinco textos. No primei-ro, A disputa pelo mercado de eletricidade do Distrito Federal: Guinle&Cia, a Rio Light e a imprensa carioca em 1905, de Cláu-dia Hansen, trata-se de analisar a disputa pelo mercado de eletricidade da cidade do Rio de Janeiro entre duas empresas: a Companhia Brasileira de Energia Elétrica, da família Grafée-Guinle, e a The Rio de Janeiro Light and Power (Rio Light), uma empresa canadense. Utilizando como docu-mentação os periódicos editados na cidade, a saber, Jornal do Commercio, O Paiz, Gazeta de Notícias, A Notícia e Correio da Manhã, a autora destaca que a disputa entre a Rio Light e a Guinle&Cia, na imprensa, só começou em 1905, depois que o ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas (MIVOP), Lauro Müller, negou a autorização para a The Rio de Janeiro Light and Power funcionar no Brasil.

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posO segundo texto, PND e PED: Agentes e agências na construção da

hegemonia do projeto privatista (1964-1974), de Monica Piccolo, trata da análise das duas agências estatais, o Plano Nacional de Desestatização e o Plano Estratégico de Desenvolvimento, e sua relação com o processo de privatização. Embora, como destaca a autora, o processo de privatização no Brasil tome como marco o governo Collor e sua continuidade com o governo FHC, tal processo só foi possível graças à atuação destas duas agências, cujas diretrizes resultaram na elaboração e introdução da política econômica responsável pelo fim do projeto desenvolvimentista, na qual as empresas estatais tinham um papel estratégico.

O terceiro texto, de Cezar Honorato, Breve ensaio acerca das políti-cas públicas de privatização no Brasil recente, analisa as políticas públi-cas de privatização promovidas pelo Estado brasileiro. Tendo como marco a crise do sistema de Bretton Woods e seu impacto sobre o Brasil na década de 1970, destaca as políticas públicas de privatização implementadas pelo Estado brasileiro em face da vitória do projeto liberal-conservador. Com ênfase no controle do déficit público e da inflação, o Estado brasileiro promoveu a privatização das estatais, a moeda de troca para a inserção do Brasil na globalização.

O quarto texto, Mundialização financeira e internacionalização do sistema bancário brasileiro, de autoria de Rafael Vaz da Motta Brandão, discute a internacionalização do sistema financeiro nacional na década de 1990, década esta de consolidação do novo sistema de acumulação capi-talista, denominado pelo economista francês François Chesnais de mun-dialização do capital (acumulação financeira-rentista). A partir do estudo dos bancos Santander, HSBC e ABN, que cresceram em participação no mercado bancário brasileiro, o texto destaca a importância destes bancos no interior da Febraban e no projeto de reforma bancária implementado pelo ministro da Fazenda Pedro Malan, do governo FHC.

Por fim, temos o texto A grande virada: a crise do reformismo e o avanço do conservadorismo nos Estados Unidos em fins do século XX, de Tatiana Poggi. Com uma extensa bibliografia e documentação, o texto destaca a transformação pela qual passou o Estado americano, com o avanço do conservadorismo em detrimento de um programa de reformas sociais. No entendimento da autora, o neoliberalismo norte-americano bem como o crescimento espetacular de organizações neofascistas de ultra direita são frutos de dois fatores conjugados: a reação ao fortalecimento do reformismo, especialmente às conquistas dos movimentos sociais e dos direitos civis a partir da década de 1950, e o avanço gradativo do processo de precarização da qualidade de vida.

Os organizadores

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A história do abastecimento e a historiografia brasileira

Pedro Henrique Pedreira Campos1

Este artigo2 aborda o que foi produzido academicamente até hoje no Brasil sobre história do abastecimento e qual a sua contribuição para a historiografia do país. Há, no entanto, algumas balizas. O foco principal do ensaio lida com trabalhos que abordam o comércio de abastecimento no Rio de Janeiro no século XIX. O recorte foi feito para que não se tivesse um objeto muito extenso para apresentação e análise. Algumas obras de outros recortes espaço-temporais serão abordadas, principalmente os tra-balhos clássicos dentro desse tema.

É importante frisar que há muito mais obras relativas à história do abastecimento do que as citadas dentro deste artigo. Inúmeros são os gru-pos que estudam, em cada estado, o abastecimento das diversas regiões do país em uma perspectiva histórica. O grande número de pesquisas sobre história do abastecimento se explica pelo próprio caráter regional que esse comércio adquiriu historicamente. Daí existirem inúmeras pesquisas que não poderão ser abordadas aqui.

A historiografia do abastecimento pode ser dividida em três grupos ou gerações.3 O primeiro, mais antigo e incipiente, inclui os trabalhos de Mafalda Zemella e Myriam Ellis sobre o abastecimento da região das mi-nas setecentistas. O segundo grupo, assim como o primeiro, vem da USP e é liderado por Sérgio Buarque de Holanda e Maria Odila Dias. Altamente inovador, eles abordam o período da independência do Brasil, dando uma nova interpretação para a emancipação política do país. O terceiro grupo, o mais amplo e o mais sistemático, é o grupo da história agrária desenvol-vido em Niterói e no Rio de Janeiro e tem a orientação geral da professora

1 Professor adjunto da UFRRJ e doutor em História Social pela UFF.2 Texto escrito originalmente em 2005, no âmbito do desenvolvimento parcial de minha pesquisa de mestrado que deu origem ao livro Nos Caminhos da Acumulação: negócios e poder no abastecimen-to de carnes verdes para a cidade do Rio de Janeiro (1808-1835). São Paulo: Alameda, 2010. Agrade-ço às bem-vindas sugestões do professor Théo Piñeiro, feitas no período de elaboração desse ensaio.3 A ideia de gerações, mais cabível do que a de grupos, foi sugerida pela professora Sônia Regina de Mendonça na apresentação de uma versão resumida deste artigo no Encontro Nacional de História da Anpuh de Londrina, no dia 22 de julho de 2005.

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al Maria Yedda Linhares. Esse grupo é o de maior produção, diferenciando-se por ter um método específico de pesquisa e por ser fortemente influencia-do pela história regional francesa.

Primeiro grupo ou geração – o abastecimento da região mineradora

Apesar de o tema do abastecimento não ser muito valorizado atual-mente na historiografia, a sua situação nem sempre foi essa. Prova disso é o fato de a primeira obra aqui abordada – o livro O Abastecimento da Capi-tania das Minas Gerais no século XVIII da professora Mafalda Zemella – ter sido a primeira tese de doutorado em História da Civilização Brasileira defendida no país, no ano de 1951. Foram três anos de pesquisa, com o uso de fontes de arquivos paulistas, mineiros e cariocas. A autora mostra um comércio de abastecimento com uma relevância bem maior do que afirmavam estudos anteriores. Demonstra como a exploração de ouro e diamantes na região das minas ativava uma produção e comércio em vários pontos da América portuguesa como a Bahia, o Rio de Janeiro, São Paulo, o sertão nordestino e também regiões da América espanhola. Da mesma forma, faz uma reinterpretação da Guerra dos Emboabas, entendendo que esse conflito girava muito mais em torno do abastecimento de gêneros primários do que do controle sobre as minas de ouro. Os reinóis, recém--chegados, especulavam com os gêneros alimentícios, gerando a fúria dos pioneiros paulistas, o que levou à guerra na região. Da mesma forma, a au-tora dá relevância à questão do abastecimento como problema secundário do movimento de Felipe dos Santos em 1720.4

O estudo de Zemella permite também a compreensão da ascensão do Rio de Janeiro e do Centro-Sul da América portuguesa no quadro da econo-mia colonial. A partir da abertura do Caminho Novo, ligando a cidade do Rio à região das minas, deu-se a emergência da capitania do Rio de Janeiro como principal região produtora de gêneros básicos para Minas Gerais. Da mesma forma, o porto do Rio de Janeiro passou a ser a porta de entrada e saída principal e oficial das minas, fazendo com que a cidade ultrapassasse Salvador em volume de importações e exportações e como principal porto negreiro da América portuguesa. Ainda, a autora explicita que a região das minas ficou altamente endividada com as praças portuárias, em especial a do Rio, o que leva essa cidade a ser o principal centro urbano da América portuguesa a partir de meados do século XVIII, passando, por isso, a ser capital da colônia. O eixo econômico colonial acabou por se deslocar gra-dualmente do Nordeste para o Centro-Sul ao longo do Setecentos.5

4 ZEMELLA, Mafalda. O Abastecimento da Capitania de Minas Gerais no século XVIII. 2ª ed. São Pau-lo: Hucitec, 1990. p. 17-27; 203-8; passim.5 Ibidem, p. 65-9; 97-114; 153-7.

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Mundialização financeira e internacionalização do sistema bancário brasileiro

Rafael Vaz da Motta Brandão 1

IntroduçãoO processo de internacionalização do sistema bancário brasileiro,

ocorrido a partir da segunda metade da década de 1990, teve como princi-pal resultado um aumento significativo da participação de bancos estran-geiros2. O crescimento do número de instituições financeiras controladas pelo capital externo ocorreu por diferentes formas: participação no capital de instituições bancárias nacionais, aquisição de instituições liquidadas, compra dos bancos estaduais nos processo de privatizações ou, ainda, pela ampliação da rede de bancos já existente no país.

O artigo tem como principal objetivo analisar o processo de inter-nacionalização do sistema bancário brasileiro, procurando estabelecer sua relação com a própria dinâmica das transformações do capitalismo con-temporâneo e do seu novo regime de acumulação de capital: a mundiali-zação financeira3.

A estrutura do texto está dividida em três partes. Inicialmente, é tra-çado um histórico do tratamento dado pela legislação brasileira acerca do capital estrangeiro no sistema financeiro nacional. Na segunda parte, é rea-lizada uma breve discussão teórica sobre a configuração deste novo regime de acumulação capitalista – a mundialização financeira –, marcada pela posição hegemônica assumida pelo capital financeiro. Na terceira parte,

1 Doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense. Bolsista do CNPq.2 Na Carta-Circular nº 2.345, o Banco Central do Brasil classifica os bancos estrangeiros que operam no sistema bancário brasileiro em três categorias: bancos estrangeiros, bancos privados nacionais com con-trole estrangeiro e bancos privados nacionais com participação estrangeira. São definidos como bancos estrangeiros aqueles que possuem sede localizada no exterior. Os bancos privados nacionais com controle estrangeiro são aqueles com maioria do capital votante pertencente, de forma direta ou indireta, a grupos estrangeiros. Como bancos privados nacionais com participação estrangeira são classificados aqueles em que, diretamente ou indiretamente, de 10% a 50% do capital votante pertence a bancos localizados no exterior. O Unibanco, por exemplo, em razão da forte participação de capital estrangeiro na sua composi-ção acionária era classificado como banco privado nacional com participação estrangeira.3 CHESNAIS, François. A Mundialização Financeira: gênese, custos e risco. São Paulo: Xamã, 1999; CHES-NAIS, François. A Teoria do Regime de Acumulação Financeirizado: conteúdo, alcance e interrogações. IN: Economia e Sociedade. Campinas, vol. 11, p. 1-44; CHESNAIS, François (Org.). A Finança Mundializa-da: raízes sociais e políticas, configuração e conseqüências. São Paulo: Boitempo.

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al por fim, são apresentados os casos de três grandes bancos estrangeiros4 que passaram a operar no sistema financeiro nacional no contexto da mundia-lização financeira: o HSBC, o ABN-Amro e o Santander.

A legislação brasileira e os bancos estrangeirosAté o início da década de 1960, a legislação previa a liberdade de

acesso de bancos estrangeiros ao sistema financeiro brasileiro, amparados pela Constituição de 1946, que eliminou a distinção entre bancos nacio-nais e bancos estrangeiros, permitindo, dessa forma, que o controle do capital de instituições financeiras pudesse estar sob o domínio único de grupos internacionais. Apesar disso, a participação do capital estrangeiro no sistema bancário nacional foi bastante reduzida: entre 1946 e 1960, apenas sete bancos estrangeiros passaram a operar no Brasil.

Com a reforma bancária de 1964/1965, a entrada de bancos estran-geiros passou a ser limitada. A Lei 4.595, de 31/12/1964, estabelecia que a entrada de bancos estrangeiros no Brasil só poderia ocorrer mediante prévia autorização do Banco Central ou por decreto presidencial. Aplicava--se, contudo, o princípio da reciprocidade.5 Por esse critério, só seriam autorizadas as operações de bancos estrangeiros de países que permitissem a entrada de bancos brasileiros em seus respectivos sistemas financeiros.

Dessa forma, no decorrer da década de 1970 – no contexto de um intenso processo de internacionalização bancária –, apesar das restrições na legislação brasileira, ampliou-se, de forma bastante significativa, a presen-ça de bancos estrangeiros no Brasil: para viabilizar a expansão de bancos brasileiros no exterior, sobretudo do Banco do Brasil, do BANESPA e do Banco Real, multiplicaram-se os acordos bilaterais e as autorizações permi-tindo a entrada de bancos estrangeiros baseados no princípio da reciproci-

4 Na Carta-Circular nº 2.345, o Banco Central do Brasil classifica os bancos estrangeiros que operam no sistema bancário brasileiro em três categorias: bancos estrangeiros, bancos privados nacionais com contro-le estrangeiro e bancos privados nacionais com participação estrangeira. São definidos como bancos estran-geiros aqueles que possuem sede localizada no exterior. Os bancos privados nacionais com controle es-trangeiro são aqueles com maioria do capital votante pertencente, de forma direta ou indireta, a grupos estrangeiros. Como bancos privados nacionais com participação estrangeira são classificados aqueles em que, diretamente ou indiretamente, de 10% a 50% do capital votante pertence a bancos localizados no exterior. O Unibanco, por exemplo, em razão da forte participação de capital estrangeiro na sua composi-ção acionária era classificado como banco privado nacional com participação estrangeira. 5 Segundo Maria Cristina Penido de Freitas, “o princípio da reciprocidade, definido pela primeira vez na Lei 4.131, de 02/09/1962, aplicava-se tanto às condições de entrada, quanto às atividades permitidas aos bancos estrangeiros. Estes estariam sujeitos às mesmas restrições ou proibições aplicáveis aos bancos bra-sileiros presentes ou interessados em estabelecer-se nas praças financeiras de suas matrizes”. FREITAS, M. C. de. Abertura do Sistema Bancário Brasileiro ao Capital Estrangeiro. IN: FREITAS, Maria Cristina Pe-nido de e PRATES, Daniela Magalhães. Abertura Financeira no Brasil nos Anos 90. São Paulo: FAPESP/FUNDAP/IPEA, 1999, p. 101.

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posdade.6 Desta forma, a presença de bancos estrangeiros no sistema bancário

brasileiro praticamente dobrou naquela década, passando de 15, em 1970, para 27, em 1980.

Com a promulgação da Constituição de 1988, a entrada de capital estrangeiro no sistema bancário brasileiro foi, em tese, proibida. Pelo arti-go 52 do Ato das Disposições Transitórias Constitucionais, ficaria vedada a abertura de novas agências de bancos internacionais, sendo proibido, também, o aumento da participação do capital estrangeiro em instituições financeiras com sede no país. Contudo, em parágrafo único do mesmo ar-tigo, ficava determinada que esta proibição não se aplicaria às autorizações que fossem consideradas de “interesse nacional”.

Assim, em agosto de 1995, com base na prerrogativa constitu-cional, o Ministério da Fazenda, através da Exposição de Motivo 311, encaminhou documento para o então presidente Fernando Henrique Cardoso, propondo que fossem utilizadas todas as medidas necessárias para reconhecer como de “interesse nacional” o aumento da participa-ção de grupos financeiros estrangeiros na economia brasileira. Entre os fatores destacados pelo ministro Pedro Malan, que justificavam a par-ticipação estrangeira na capitalização dos bancos privados nacionais e nos programas de privatização dos bancos públicos estaduais, estavam a introdução de novas tecnologias e a eficiência operacional e financeira dos bancos internacionais.

Pouco tempo depois da Exposição de Motivos 311, o Conselho Mo-netário Nacional, por intermédio da Resolução nº 2.212, eliminaria a exi-gência de que o capital mínimo para a operação de um banco estrangeiro no Brasil fosse o dobro do capital mínimo exigido para a operação de um banco nacional. A partir de então, os bancos estrangeiros passariam a ter o mesmo tratamento que os bancos nacionais para a realização de operações no sistema financeiro brasileiro.

Desta forma, a partir da segunda metade da década de 1990, medi-das de liberalização do fluxo de capitais, de desregulamentação do siste-ma financeiro e de privatização dos bancos públicos estaduais resultaram em um novo e intenso processo de internacionalização do sistema ban-cário nacional.

O processo de internacionalização do sistema bancário brasilei-ro pode ser observado na comparação da composição do ranking dos dez maiores bancos privados por total de ativos, entre junho/1994 e dezembro/2000.

6 MINELLA, Ary Cesar. Banqueiros: organização e poder político no Brasil. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo; São Paulo: ANPOCS, 1988, p. 230.

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al RANKING DOS DEZ MAIORES BANCOS PRIVADOS DO BRASIL POR TOTAL DE ATIVOS

Junho/1994 Junho/1994 Dezembro/2000 Dezembro/2000Ranking Bancos Ranking Bancos

1º Bradesco 1º Bradesco2º Itaú 2º Itaú3º Bamerindus 3º Santander (*)4º Nacional 4º Unibanco5º Unibanco 5º ABN-Amro6º Real 6º Safra7º Safra 7º HSBC8º BCN 8º BankBoston9º Lloyds 9º Citibank

10º Econômico 10º Sudameris(*) Inclui o Banco do Estado de São Paulo (BANESPA)

FONTE: BANCO CENTRAL DO BRASIL.

Segundo os dados fornecidos pelo Banco Central, em junho de 1994, somente um banco estrangeiro aparecia entre os dez maiores bancos priva-dos do Brasil: o Lloyds Bank (Lloyds TSB Group) ocupava a nona posição. Em dezembro de 2000, nada menos do que seis bancos estrangeiros apa-receriam entre as dez maiores instituições financeiras do país: Santander (Grupo Santander Central Hispano); ABN-Amro Bank (ABN-Amro Hol-ding NV); HSBC (HSBC Holding); BankBoston (Fleet Boston Financial Corporation); Citibank (Citigroup) e Sudameris (Banca Intesa SPA). Com exceção do Sudameris, todos os demais bancos estrangeiros estavam entre os cem maiores grupos econômicos presentes no Brasil.7

O crescimento da participação dos bancos estrangeiros na economia brasileira pode ser observado na análise do número total de instituições bancárias (públicas, privadas nacionais e privadas estrangeiras).

NÚMERO TOTAL DE INSTITUIÇÕES POR CONTROLE DE CAPITAL (1995/2000)

Instituições 1995 1996 1997 1998 1999 2000Bancos Públicos 32 32 27 23 19 19Bancos Privados

NacionaisEstrangeiros

21017337

19915940

19014545

18012258

17510867

17610770

Total de Bancos 242 231 217 203 194 195FONTE: BANCO CENTRAL DO BRASIL

7 MINELLA, Ary Cesar. Grupos financeiros no Brasil: um perfil econômico e sociopolítico dos maiores credores privados. IN: V Workshop Empresa, Empresários e Sociedade. Porto Alegre, 2006, p. 20.

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posEm 1995, havia 242 bancos (públicos e privados) no sistema bancá-

rio brasileiro. Deste total, apenas 37 eram bancos estrangeiros (15,2%). Em 2000, muito embora o número total de bancos tenha caído para 195, resultando em um processo de concentração no sistema bancário, a par-ticipação de instituições estrangeiras aumentaria não apenas em termos absolutos (passando para 70), como também aumentaria em termos per-centuais (passando para 35,8%).

Da mesma forma, é importante observar o aumento da participação percentual dos bancos estrangeiros no controle sobre as operações de cré-dito, passando de 5,7% em 1995 para 25,5% em 2000.

PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL NO CONTROLE SOBRE AS OPERAÇÕES DE CRÉDITO (1995/2000)

Instituições 1995 1996 1997 1998 1999 2000Bancos Públicos 62,3 58,4 52,6 53,7 48,0 39,6Bancos Privados

NacionaisEstrangeiros

37,732,05,7

41,632,98,7

47,435,611,8

46,331,315,0

52,032,020,0

60,434,925,5

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0FONTE: BANCO CENTRAL DO BRASIL

Além da análise quantitativa feita a partir dos dados fornecidos pelo Banco Central, o processo de internacionalização do sistema bancário brasileiro também pode ser observado através da participação dos ban-cos estrangeiros nas associações e entidades de representação de classe do setor financeiro.8 Em 2000, dos oito bancos que compunham a direto-ria da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) – a mais importante associação de classe do setor financeiro brasileiro –, quatro eram bancos estrangeiros (ABN-Amro, Santander, HSBC e Citibank). A FEBRABAN possui, ainda, uma diretoria específica para assuntos relacionados aos ban-cos estrangeiros, o Comitê Executivo de Bancos Internacionais. Além da FEBRABAN, é importante destacar a Associação Brasileira de Bancos In-ternacionais (ABBI), que atua na defesa dos interesses específicos de ban-cos e grupos financeiros estrangeiros presentes no Brasil.

8 MINELLA, A. Globalização e Associação de Bancos na América Latina. IN: Civitas - Revista de Ci-ências Sociais, vol. 3, nº 2, julho-dezembro, 2003, p. 255.

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al Um novo regime de acumulação capitalista: a mundialização financeira

O conceito de capital financeiro tem forte tradição no pensamento marxista a partir do trabalho publicado em 1910 por Rudolf Hilferding.9 No conceito formulado pelo economista austríaco, o capital financeiro – uma forma de capital totalmente distinta das outras – apresentava duas características centrais: a primeira é que é formado pela estreita ligação entre o capital industrial e o capital bancário e a segunda, é que só surge em uma fase determinada do capitalismo, devendo ser entendido como parte integrante do desenvolvimento dos grandes monopólios. O conceito de capital financeiro também ocupa lugar central no pensamento de Lênin, sendo entendido como algo intrínseco da etapa do capitalismo monopo-lista ou imperialismo. Segundo Lênin,“o capital financeiro [...] estende sua rede por todos os países do mundo [...]. Os países exportadores de capital dividiram o mundo entre si no sentido figurado da expressão. Mas o capi-tal financeiro levou à divisão real do mundo”.10

Atualmente, a discussão em torno do entendimento do capital financeiro para a compreensão do atual processo de acumulação de capital ganha nova importância a partir dos estudos de François Ches-nais, um dos principais pensadores sobre o papel desempenhado pelas finanças nas transformações do capitalismo contemporâneo, sobretudo as relações estruturais entre o poder do capital financeiro internaciona-lizado e as políticas de liberalização e desregulamentação dos mercados financeiros nacionais.11

As novas formas de acumulação capitalista, caracterizadas pela posi-ção hegemônica assumida pelo capital financeiro12 no sistema econômico internacional, representam o que François Chesnais define como “regime de acumulação predominantemente financeiro”.

9 GONÇALVES, R. Capital Financeiro e Poder Econômico. IN: Teoria & Debate. São Paulo, nº 41 (mai/jun/jul 1999), p.1. 10 LENIN, V. Imperialismo: fase superior do capitalismo. Obras escolhidas, Vol.1. São Paulo: Alfa Ôme-ga, 1979, p. 245.11 Segundo François Chesnais, “o atual regime institucional internacional de dominação do capital resul-ta do jogo combinado de dois processos que se reforçam mutuamente em um movimento de interação que já dura mais de trinta anos. De um lado houve o reaparecimento e a consolidação de uma forma específica de acumulação de capital, [...] na qual uma fração sempre mais elevada conserva a forma de dinheiro e pre-tende se valorizar pela via das aplicações financeiras nos mercados especializados. De outro, houve [...] a ela-boração e a execução de políticas de liberalização, de desregulamentação e de privatização”. CHESNAIS, F. (org.). A Finança Mundializada: raízes sociais e políticas, configuração e consequência. São Paulo: Boitem-po, 2005, p. 20.12 A forma dominante de capital no atual estágio de desenvolvimento do capitalismo, para François Chesnais, é o capital financeiro, concebido como a “fração do capital que se valoriza conservando a for-ma dinheiro”. CHESNAIS, F. A Emergência de um Regime de Acumulação Mundial Predominante-mente Financeiro. IN: Praga: Estudos Marxistas, São Paulo: HUCITEC, n. 3, 1997, p. 31.

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posO regime de acumulação predominantemente financeiro pode ser

entendido como aquele em que as finanças estão localizadas no centro das relações sociais e econômicas. Sua atuação se dá no sentido de multiplicar sua riqueza sem sair propriamente da esfera financeira.13 A principal carac-terística deste novo regime de acumulação reside na subordinação às ne-cessidades próprias das novas formas de centralização do capital-dinheiro, em que os principias agentes são os fundos de investimento, os fundos de pensão, as grandes seguradoras e os grandes bancos internacionais.

Sobre a dinâmica do capitalismo mundializado e financeirizado, Fran-çois Chesnais afirma que “sua arquitetura tem, principalmente, por objetivo, permitir a valorização em escala internacional de um capital financeiro sobre mercados desregulados que desenham o espaço da mundialização financeira”.14 Para o autor, os traços mais marcantes deste novo regime de acumulação ca-pitalista, na esfera macroeconômica, são taxas de crescimento do PIB muito baixas; sobrevalorização da moeda em relação a mercadorias e serviços; conjun-tura instável, marcada por crises financeiras (crise mexicana, crise russa, crise asiática etc.); alto nível de desemprego estrutural; rebaixamento dos salários das classes trabalhadoras; aumento dos índices de pobreza e miséria.

A emergência de um regime de acumulação com predominância financeira implicou a organização de um sistema de relações políticas e econômicas em escala global, cujo centro são as instituições financeiras com elevada capacidade de internacionalização de seu capital. Assim, a mundialização financeira é parte de um processo que envolve, necessa-riamente, a ampliação da liberalização do movimento internacional de fluxo de capitais, sendo apenas possível o seu funcionamento a partir de uma base internacional consolidada, possibilitando que as formas concentradas e centralizadas do capital financeiro internacional possam penetrar nas economias e nos mercados nacionais desregulados. Desta maneira, segundo Chesnais:

[...] este regime de acumulação (predominantemente financeiro) é apenas viável contanto que tenha uma base internacional tão larga quanto possível. As formas concentradas de dinheiro buscando investimentos financeiros vantajosos devem, ao mesmo tempo, atrair intensamente liquidez acrescida para os mercados financeiros onde acontecem as operações mais numerosas e mais vantajosas, desdobrando-se mundialmente, para se inserir em mecanismos

13 De acordo com François Chesnais, a valorização do capital financeiro ocorre dentro do processo que Marx analisou como sendo o ciclo curto de valorização do capital (D – D’). Contudo, como observa o economista francês, “a autonomia do setor financeiro nunca pode ser senão uma autonomia relati-va. Os capitais que se valorizam na esfera financeira nasceram – e continuam nascendo – no setor pro-dutivo [...]. A esfera financeira alimenta-se da riqueza criada pelo investimento e pela mobilização de uma força de trabalho de múltiplos níveis de qualificação”. CHESNAIS, F. A Mundialização do Capi-tal. São Paulo: Xamã, 1996, p. 41. 14 CHESNAIS, F. (Org) A Finança Mundializada: raízes sociais e políticas, configuração e consequência. São Paulo: Boitempo, 2005, p. 59.

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al locais de captação de frações de valor e mais-valia, que começaram por tomar forma de receitas primárias.15

A internacionalização do sistema bancário brasileiro

O Rabobank Nederlands foi a primeira instituição financeira estran-geira a se beneficiar da abertura do sistema bancário brasileiro após a Expo-sição de Motivos 311, sendo autorizado a operar no Brasil por decreto pre-sidencial em 8/8/1995. Na época, o banco holandês era o segundo maior banco de crédito cooperativo do mundo e já se encontrava presente no Brasil desde 1989, sob a forma de um escritório de representação. No mes-mo ano, o Banco Comercial S.A., do Uruguai, também receberia autori-zação para estabelecer operações no sistema bancário brasileiro. Em 1996, cinco outras instituições receberam permissão para operar no Brasil, entre elas, o Republic National Bank, na época, o 17º banco norte-americano por total de ativos. Em 1997, ocorreu a entrada de 13 novas instituições estrangeiras, entre bancos comerciais, bancos de investimento e financei-ras. É nesse ano, também, que observamos a entrada do primeiro grande banco estrangeiro no Brasil: o Hong-Kong and Shangai Bank Corporation (HSBC), pertencente ao grupo inglês financeiro HSBC Holding.

PRINCIPAIS AQUISIÇÕES DE BANCOS NACIONAIS POR BANCOS ESTRANGEIROS NO BRASIL (1997 - 2000)

Banco Nacional Vendido Data Banco Estrangeiro Comprador

Banco Bamerindus 02/04/1997 HSBCBanco Geral do Comércio 22/08/1997 Santander

Banco Boavista 04/12/1997 Banco Espírito Santo e Crédit Agricole

Banco Nordeste 30/03/1998 SantanderBanco Bandeirantes 22/05/1998 Caixa Geral de Depósitos

Banco América do Sul 30/07/1998 SudamerisBanco Real 13/08/1998 ABN-Amro

Banco Excel-Econômico 09/10/1998 Bilbao VizcayaBanco do Estado de

Pernambuco 17/11/1998 ABN-Amro

Banco Bozzano, Simonsen 18/05/2000 SantanderBanco Meridional 18/05/2000 Santander

Banco do Estado de São Paulo 20/11/2000 Santander

15 CHESNAIS, F. A Teoria do Regime de Acumulação Financeirizado: conteúdo, alcance e inter-rogações. IN: Economia e Sociedade. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2002, p. 20.

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posEm 1997, o HSBC compraria o Bamerindus, do qual já possuía uma

participação minoritária no capital da instituição brasileira de 6,14%. Des-de a estabilização monetária com o Plano Real, em 1994, e da consequente perda dos lucros com a inflação (floating), o Bamerindus apresentava pro-blemas de liquidez, tendo sofrido intervenção do Banco Central.

A “compra”, intermediada diretamente pelo então presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, deu-se da seguinte maneira: o HSBC pa-gou R$ 381,6 milhões ao Banco Central para receber, em troca, 1.241 agências, ativos superiores a R$ 10 bilhões e cerca de 2,8 milhões de cor-rentistas. No negócio, o HSBC ainda adquiriu a empresa de leasing, a distribuidora de títulos imobiliários e uma participação de 60% na segu-radora do Bamerindus, considerada uma das mais rentáveis do país. Em contrapartida, o HSBC receberia do Banco Central um total de R$ 431,8 milhões para saldar as dívidas trabalhistas e para “reestruturar” o Bamerin-dus (abertura de novas agências, compra de equipamentos e contratação de uma equipe de consultoria). Portanto, o HSBC não apenas recebeu o Bamerindus sem custo algum, como ainda recebeu dinheiro do Banco Central (R$ 50,2 milhões) para ter o controle do banco paranaense. Além disso, o Banco Central concederia, ainda, outras vantagens para o HSBC. Primeiramente, recuperou a parte insolvente do Bamerindus com recursos do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (PROER),16 no valor de R$ 5,7 bilhões. Com isso, de instituição quebrada, o Bamerindus tornou-se um banco “novo”. E foi esse banco “novo” que o HSBC adquiriu. Ainda assim, o banco inglês exigiu garantias do Banco Central de que não teria nenhum prejuízo caso algum rombo fosse eventualmente descoberto no Bamerindus. O Banco Central, então, acatando a exigência do HSBC, obrigou o Bamerindus a comprar R$ 1,27 bilhões em títulos da dívida externa brasileira. Os títulos ficariam à disposição do HSBC, como forma de garantia. Caso o HSBC se sentisse prejudicado, poderia vender os títulos como forma de ressarcimento.

Na entrevista dos novos controladores do Bamerindus, ficaria clara a natureza do negócio: o executivo destacado para presidir o HSBC-Bame-rindus, o britânico Michael Geoghegan, não falava português e iniciou sua apresentação – feita em inglês – desculpando-se por desconhecer o idioma. A venda do Bamerindus gerou protestos, especialmente por parte de seu ex-proprietário, o banqueiro e político José Eduardo Vieira de Andrade, um dos principais tesoureiros da campanha de Fernando Henrique Cardo-so, em 1994, à presidência da República.

O segundo grande grupo financeiro internacional a ampliar a sua participação na economia brasileira foi o holandês ABN-Amro Holding NV. Em 1971, ainda sob o nome de Banco Holandês Unido da América

16 O PROER consistia em um programa de intervenção e assistência financeira destinado à salvação de ban-cos privados nacionais em crise, mediante a transferência do controle acionário para outras instituições.

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al do Sul, iniciou suas atividades no Brasil, abrindo sua primeira filial na cidade de Santos e, logo depois, no Rio de Janeiro. Entre 1963 e 1970, ampliou sua presença no Brasil, adquirindo 100% das ações da Aymoré Créditos S.A.

Em junho de 1998, o ABN-Amro Bank adquiriu 40% do capital votante (ações ordinárias) e 70% do capital total (ações preferenciais) da holding Real S.A. Em novembro do mesmo ano, o Conselho Monetário Nacional aprovou a venda da totalidade das ações ordinárias para o ABN--Amro. A aquisição incluía o Banco Real S.A., a Companhia Real de Cré-dito Imobiliário e a Companhia Real de Valores – DTVM, em um total de dez áreas de negócios.

A venda do Banco Real (o quarto maior banco do país na época) para o holandês ABN-Amro Bank, por US$ 2 bilhões, anunciada um dia após a vitória do Brasil sobre a Holanda na semifinal da Copa do Mundo da França, indicava uma particularidade: pela primeira vez, um grande banco nacional, em excelentes condições financeiras, foi adquirido por um gigante estrangeiro (o ABN-Amro Bank era o oitavo maior banco do mun-do, presente em 71 países, sendo o maior banco estrangeiro a operar nos Estados Unidos).

A operação de venda do Real para um banco estrangeiro gerou gran-de insatisfação por parte dos banqueiros brasileiros. Hugo Dantas Pereira, vice-presidente da FEBRABAN, cobrou do governo um posicionamento claro sobre o que se pretendia com a reestruturação do sistema financeiro brasileiro. Roberto Setúbal, presidente da FEBRABAN e do Banco Itaú, criticou duramente o negócio. Em nome da entidade de classe, sugeriu que deveriam ser discutidos limites para a entrada de bancos estrangeiros no país. Em nome do grupo Itaú, acusou o banqueiro Aloysio Faria, anti-go dono do Real, de não ter dado oportunidade de oferta para os bancos nacionais para a compra do Real. Logo após as críticas de Setúbal, outro grande banqueiro brasileiro, Lázaro de Mello Brandão, presidente do Bra-desco, endossou as críticas à operação de venda do Real, que classificou como “pouco transparente”, acusando o governo e, principalmente, o Ban-co Central de favorecimento ao capital estrangeiro.

Pouco depois, em novembro de 1998, o ABN-Amro compraria 99,7% das ações do Banco do Estado de Pernambuco (BANDEPE), o que indicava, novamente, uma outra particularidade: pela primeira vez, um banco estrangeiro participaria do Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária (PROES), criado com o objetivo de privatizar os bancos públicos estaduais.

A terceira grande instituição financeira estrangeira a apresentar um crescimento elevado de participação no sistema bancário brasileiro foi o Banco Santander Central Hispano (BSCH), controlado pelo grupo San-

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postander Central Hispano. Entre 1997 e 2000, o banco espanhol realizou

uma série de aquisições no Brasil, representando a consolidação do proces-so de internacionalização do setor bancário e evidenciando o dinamismo da mundialização financeira, tal como descreve François Chesnais.

A compra, em janeiro de 1997, de 50,01% das ações do Banco Geral do Comércio (BGC), pertencente ao grupo Camargo Correia (que man-teve a posse dos outros 49,99% das ações), foi a primeira grande aquisi-ção do Santander no Brasil. Juntamente com a rede bancária, o Santan-der adquiriu também 51% de participação nas empresas ligadas ao banco (seguradoras, corretoras de câmbio e valores imobiliários, distribuidora, empresa de leasing e cartão de crédito). Em novembro de 1998, o banco espanhol adquiriu, após a autorização do Conselho Monetário Nacional, o restante das ações do Banco Santander Brasil (antigo Banco Geral do Comércio). Paralelamente, o grupo reforçou o capital do Banco Santander Brasil, com a transferência de R$ 220 milhões que estavam no Banco San-tander de Negócios, atingindo um total de ativos de R$ 650 milhões. Além disso, o Conselho Monetário Nacional também autorizou a ampliação do número de agências bancárias.

Em agosto de 1997, o Santander realizaria nova aquisição. O grupo espanhol comprou 50% do capital do Banco Nordeste do Estado de São Paulo, o que lhe garantiu o controle acionário da instituição. Com esta operação, a posição do banco espanhol no ranking dos bancos privados nacionais passou da 63ª para a 8ª posição, sendo responsável, sozinho, pelo controle de 2,4% do mercado bancário brasileiro, com US$ 7,4 bilhões em ativos e cerca de 7,2 mil funcionários. Com esta operação, o Santander ampliou o número de agências para 136, incluindo as 94 agências do Ban-co Nordeste. Um importante aspecto da aquisição do Nordeste é que não houve recursos estrangeiros envolvidos, diretamente, na operação, uma vez que o valor de US$ 250 milhões pelo banco foi pago com recursos que pertenciam ao Banco Geral do Comércio.

No ano 2000, o grupo espanhol comprou 97% do grupo financeiro Meridional (Banco Bozzano, Simonsen de Investimento e Banco Meridio-nal), quinto maior grupo financeiro do Brasil, com mais de 200 agências. A aquisição tornou o Santander o segundo maior banco estrangeiro do Brasil (ABN-Amro ocupava o primeiro lugar). Com este negócio, o grupo espanhol passaria a controlar R$ 22,6 bilhões em total de ativos e mais de 700 agências bancárias.

Ainda no ano 2000, o grupo espanhol, que já havia comprado qua-tro instituições financeiras nacionais, realizaria a sua maior aquisição com a compra do Banco do Estado de São Paulo (BANESPA), o maior banco estadual do Brasil, também participando, assim como a ABN--Amro, do PROES.

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al O leilão, realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ), em novembro, durou menos de 10 minutos. Os espanhóis pagaram R$ 7,05 bilhões, 281% acima do preço mínimo fixado (R$ 1,85 bilhões). Com a aquisição, o Santander praticamente dobrou os seus ativos no Brasil, incorporando 572 agências bancárias e quase 30 mil funcionários. Com isso, o Santander ultrapassaria o ABN-Amro, tornando-se o maior banco estrangeiro do sistema bancário brasileiro.

ConclusãoO sistema financeiro internacional passou importantes transforma-

ções no período recente. No sistema financeiro brasileiro, em particular, tais transformações tiveram como resultado uma maior concentração/cen-tralização bancária e um forte processo de internacionalização bancária. Neste artigo, procuramos apresentar uma breve reflexão sobre este último processo, o da internacionalização do sistema bancário brasileiro.

Para entendermos tal processo, procuramos estabelecer relação com as próprias transformações do capitalismo contemporâneo, marcado por uma nova fase de acumulação de capital: a mundialização financeira.

Tal fenômeno, no Brasil, se manifestou de maneira intensa a partir de medidas de liberalização dos fluxos de capitais, de políticas de desregu-lamentação financeira, além dos processos de privatizações. Desta forma, ao analisarmos o caso de três grandes bancos internacionais (HSBC, ABN--Amro e Santander), que passaram a operar no Brasil, buscamos compre-ender o processo de internacionalização do sistema bancário brasileiro a partir de sua relação com a nova fase do processo de acumulação de capital: a mundialização financeira.

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COLEÇÃO DA BIBLIOTECA EDUFF

NORBERTO OSVALDO FERRERASO cotidiano dos trabalhadores de Buenos Aires (1880-1920)

SELENE HERCULANOEm busca da boa sociedade

RAFAEL BORGES DEMINICIS E DANIEL AARÃO REIS FILHO (ORGS.)História do anarquismo no Brasil -V. 1

JAIR DE SOUZA RAMOSO poder de domar do fraco: construção de autoridade e poder tutelar na

política de povoamento do solo nacional

ÂNGELA MARIA DIAS DE BRITO GOMESCruéis paisagens

MARIALVA CARLOS BARBOSAPercursos do olhar: comunicação, narrativa e memória

SOLANGE COELHO VEREZALiteralmente falando: sentido literal e metáfora na metalinguagem

MARIZA DE CARVALHO SOARES (ORGANIZADORA)Rotas atlânticas da diáspora africana: da baía do Benim ao Rio de Janeiro

MÁRCIA MARIA MENENDES MOTTA (ORGANIZADORA)Terras lusas. A questão agrária em Portugal

RITA LEAL PAIXÃO E FERMIN ROLAND SCHRAMMExperimentação animal: razões e emoções para uma ética

VALÉRIA SALGADO De pedra e bronze: um estudo sobre monumentos – o monumento a Ben-

jamin Constant

ROSANE DA CONCEIÇÃO PEREIRADiscurso e publicidade: dos processos de identificação e alteridade pela pro-

paganda brasileira

ANA MARIA MAUADPoses e flagrantes: ensaios sobre história e fotografia

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DANIEL DE PINHO BARREIROSOs debates sobre a transição: idéias e intelectuais na controvérsia sobre a

origem do capitalismo

REGINA SOUZA GOMESRelações entre linguagem de jornal: fotografia e narrativa verbal

ANÉLIA MONTECHIARI PIETRANIExperiência do limite: Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath entre escritos e vividos

LUIS ANTONIO BAPTISTA E MARCELO SANTANA FERREIRAPor que a cidade? Escritos sobre experiência e subjetividade.

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PRIMEIRA EDITORA NEUTRA EM CARBONO DO BRASILTítulo conferido pela OSCIP PRIMA (www.prima.org.br) após a implementação de um Programa Socioambiental com vistas à

ecoeficiência e ao plantio de árvores referentes à neutralização das emissões dos GEE´s – Gases do Efeito Estufa.

Este livro foi composto na fonte Adobe Garamond Pro, corpo 11. Impresso na Global Print Editora e Gráfica, em papel pólen soft 80g (miolo) e cartão Supremo 250g (capa) produzidos em

harmonia com o meio ambiente. Esta edição foi impressa em junho 2012.

Page 38: ENSAIOS DE HISTÓRIA ECONÔMICO-SOCIAL

Mais recentemente, nos depar-tamentos de programas de pós-gra-duação em história das universidades brasileiras, manifestou-se a tendência da formação de laboratórios e núcle-os de pesquisa especializados em campos ou problemáticas dos estu-dos históricos. Na Universidade Fe-deral Fluminense, não foi diferente, surgindo, entre seus novos espaços de pesquisa, o POLIS - Laboratório de História Econômico-Social.

O POLIS tem organizado uma série de atividades que reúnem pro-fessores e estudantes de pós-gradua-ção e graduação da UFF e de outras universidades, num frutífero debate sobre as mais diversas temáticas do campo da História Econômico-So-cial. Agora, como resultado das suas discussões internas, esse laboratório traz ao público esta coletânea de dez textos, intitulada Ensaios de História Economico-Social: séculos XIX-XX, organizada por Carlos Gabriel Gui-marães, �éo Lobarinhas Piñeiro e Pedro Henrique Pedreira Campos.

Estes textos são bastante diversi-�cados, tanto do ponto de vista de seus temas e objetos, como também de suas abordagens teóricas e meto-dológicas, re�etindo a riqueza dos es-tudos contemporâneos acerca da História Econômico-Social. Sua divi-são em duas partes re�ete também o critério de organização cronológica, considerando os dois séculos aborda-dos. Os cincos textos da primeira parte (Século XIX) abordam, respec-tivamente: a problemática Histótia do Abastecimento na historiogra�a brasileira; as diversas interpretações relativas às temáticas do trabalho, da classe e da desigualdade na formação econômica do nosso país; a variável de acesso ao crédito por parte dos es-

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cravos da cidade do Rio de Janeiro na tentativa de obtenção de sua alforria; a continuidade do trá�co de escravos no litoral norte da Província do Rio de Janeiro mesmo após a sua derra-deira proibição em 1850; e a articula-ção de redes de aliança política local e regional a partir da atuação do Vis-conde de Araruama na construção do canal Campos-Macaé.

Os cinco textos da segunda par-te (Século XX) se referem às seguin-tes temáticas: a disputa pelo nascente mercado da eletricidade no Rio de Janeiro (antiga capital federal) em 1905 e sua repercussão na imprensa da cidade; a análise da atuação de du-as agências estatais, PND e PED, co-mo agentes institucionais de constru-ção da hegemonia do projeto priva-tista em nosso país, no período 1964-1974; uma re�exão ensaística a cerca das mais recentes políticas pú-blicas de privatização no Brasil; a mundialização �nanceira e a interna-cionalização do sistema bancário bra-sileiro nos anos de 1990; e a grande transformação na política dos Esta-dos Unidos, no �m do século XX, re-presentada pela crise do reformismo e o avanço do conservadorismo do projeto neoliberal e dos grupos ultra-direitistas.

Tenho certeza de que os leito-res encontrarão, nesses dez textos, diversas re�exões atuais e renovado-ras acerca das mais variadas temáti-cas da história econômico-social, que ajudarão a reforçar o interesse dos pesquisadores pro�ssionais por este campo de investigação e tam-bém a atrair, para ele, a atenção dos estudantes e dos novos pesquisadores

Luis Carlos Soares (agosto de 2011)

Carlos Gabriel Guimarães�éo Lobarinhas Piñeiro

Pedro Henrique P. Campos(organizadores)

9 788522 807758

ISBN 8522807758

Universidade Federal Fluminense

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