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Ensino de música na educação básica: algumas possibilidades metodológicas Resumo: Esta comunicação apresenta um panorama de alguns desafios para a implementação do ensino de música na educação básica, tomando como base à obrigatoriedade do ensino de música no componente curricular para a área de arte. Trago algumas reflexões que surgem no dia a dia de minha prática docente com o ensino de música em uma escola de educação básica da rede privada do município de Sinop/MT 1 . Para este trabalho, apresento uma sugestão de estratégias metodológicas para o ensino de música em sala de aula utilizando os avanços tecnológicos como ferramenta para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem em música. Palavras chave: educação musical escolar, práticas pedagógico-musical, metodologias de ensino de música, computador 1. Introdução Mesmo que a minha formação musical tenha sido teórica, prática, múltipla, e recebido uma orientação de diversos tipos de professores, assim como também ter me tornado bacharel em composição, e recentemente então mestre em Musicologia – o que tem sido preponderante em minha carreira musical é a atuação como professor de música há mais de vinte e cinco anos em escolas de música, conservatórios, e escolas de educação básica. E, na maior parte do tempo, meu olhar tem-se voltado para um ensino de música direcionado a um público diversificado. Como professor de música apresento, neste trabalho, algumas inquietações que surgem no dia a dia da minha atividade como docente em uma escola de educação básica confessional no município de Sinop/MT. As escolas de educação básica se deparam com algumas dificuldades pontuais no cenário nacional, como por exemplo, a ausência de profissionais preparados em número suficiente para atuar no mercado de trabalho. Ainda assim, o grande desafio na implantação da Lei 11.769/2008, consiste na dificuldade da implementação do ensino de música nas séries iniciais, uma vez que nem todos os discentes têm acesso a uma formação musical. Muitos desses professores, que fizeram o curso de pedagogia, não tiveram disciplinas que abordam sobre o ensino de artes/música no respectivo curso. Assim, a efetiva implantação do ensino de música, nos parâmetros da lei se afigura como um grande desafio. Portanto, tal propósito e atividade acarretarão uma conjuntura de esforços que deverão ser praticados pelo professor, como figura importante na retomada deste projeto da volta do ensino de 1 Colégio Regina Pacis é uma escola de educação básica confessional, dirigida pela instrução das Damas cristãs.

Ensino de música na educação básica: algumas possibilidades metodológicas

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Ensino de música na educação básica: algumas possibilidades metodológicas

Resumo: Esta comunicação apresenta um panorama de alguns desafios para a implementação do ensino de música na educação básica, tomando como base à obrigatoriedade do ensino de música no componente curricular para a área de arte. Trago algumas reflexões que surgem no dia a dia de minha prática docente com o ensino de música em uma escola de educação básica da rede privada do município de Sinop/MT1. Para este trabalho, apresento uma sugestão de estratégias metodológicas para o ensino de música em sala de aula utilizando os avanços tecnológicos como ferramenta para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem em música. Palavras chave: educação musical escolar, práticas pedagógico-musical, metodologias de ensino de música, computador 1. Introdução

Mesmo que a minha formação musical tenha sido teórica, prática, múltipla, e

recebido uma orientação de diversos tipos de professores, assim como também ter me

tornado bacharel em composição, e recentemente então mestre em Musicologia – o que tem

sido preponderante em minha carreira musical é a atuação como professor de música há

mais de vinte e cinco anos em escolas de música, conservatórios, e escolas de educação

básica. E, na maior parte do tempo, meu olhar tem-se voltado para um ensino de música

direcionado a um público diversificado. Como professor de música apresento, neste

trabalho, algumas inquietações que surgem no dia a dia da minha atividade como docente

em uma escola de educação básica confessional no município de Sinop/MT.

As escolas de educação básica se deparam com algumas dificuldades pontuais no

cenário nacional, como por exemplo, a ausência de profissionais preparados em número

suficiente para atuar no mercado de trabalho. Ainda assim, o grande desafio na implantação

da Lei 11.769/2008, consiste na dificuldade da implementação do ensino de música nas

séries iniciais, uma vez que nem todos os discentes têm acesso a uma formação musical.

Muitos desses professores, que fizeram o curso de pedagogia, não tiveram disciplinas que

abordam sobre o ensino de artes/música no respectivo curso. Assim, a efetiva implantação

do ensino de música, nos parâmetros da lei se afigura como um grande desafio. Portanto, tal

propósito e atividade acarretarão uma conjuntura de esforços que deverão ser praticados

pelo professor, como figura importante na retomada deste projeto da volta do ensino de 1 Colégio Regina Pacis é uma escola de educação básica confessional, dirigida pela instrução das Damas cristãs.

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música nas escolas de educação básica, o qual deverá munir-se de estratégias

metodológicas que possam provocar a interação com o aluno. Essas inquietações têm-me

levado a pensar que o educador musical deve apropriar-se de conteúdos, metodologias,

estratégias criativas, adequando-os às mais diversas situações apresentadas, na sala de aula,

tanto por alunos, quanto pelas atividades musicais prescritas na matriz curricular das

escolas.

2. Algumas reflexões e propostas metodológicas para o ensino de música

A educação básica corresponde a públicos distintos: educação infantil, ensino

fundamental e ensino médio. Sendo que, na educação infantil, que corresponde à faixa

etária de seis a dez anos, de certa forma, tem tido algum tipo de prática musical direta ou

indireta nesta fase do ensino. Porém, para os alunos do ensino fundamental (onze a

quatorze anos) e do ensino médio (quinze a dezessete anos), o professor terá seu grande

desafio nesta transição para a estabilização da disciplina como atividade constituída.

Diante desses desafios, questiono como desenvolver estratégias pedagógicas que

visem despertar o interesse dos alunos numa exposição coletiva, sabendo das diversidades

de suas preferências? Como ministrar conteúdos de música ou relacionados à música que

possam possibilitar o senso crítico na mente dos alunos a partir de suas preferências ou não

preferências?

As respostas estão dentro da sala de aula, estão na forma em que o conteúdo é dado,

estão na compreensão do caráter contextual que a música pode anexar em si – entender das

relações que a música possibilita – das relações entre as pessoas que ouvem, consomem,

tocam, que produzem, e neste caso que aprendem, ou podem aprender música. As respostas

estarão também nos contextos gerais desses alunos, nos contextos de suas vivências

familiares, bem como nos corredores sociais de que estes são oriundos e ou transitam.

Portanto a família, a roda de amigos, a internet, o mp4, os shows e os artistas preferidos

compõem ambientes que possibilitam aprendizado por vivência, uma manipulação

prazerosa de conteúdos musicais. Segundo Kraemer (2000),

A Pedagogia da Música ocupa-se das relações entre as pessoas e as músicas sob os aspectos de apropriação e de transmissão. Ao seu

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campo de trabalho pertence toda a prática músico-educacional que é realizada em aulas escolares e não escolares, assim como toda cultura musical em processo de formação. (KRAEMER, 2000, p. 51).

Considerando aspectos variáveis de eventos que ocorre em uma sala de aula, o

professor, ainda assim, pode contar com um norte e uma direção de atividades e

metodologias que possam contribuir, além da interação com os alunos. Essas variações

devem enriquecer, de forma que os conduza até o ponto pretendido para temática de seu

conteúdo. Urge para tal momento de implantação da Lei 11.769/2008, um conjunto de

estratégias que utilizem virtudes e qualidades como tolerância, respeito,

interdisciplinaridade, ausência de pré-conceito a gêneros musicais, interesse pelo diferente

no que tange a estilos musicais, valorização dos atributos intrínsecos e extrínsecos à música

em seus meios de produção, difusão e utilização.

Para o ensino fundamental, é necessário pensar em estratégias metodológicas que

explorem criatividade e desafios. Essas estratégias oferecerão oportunidades de

aprendizados de conteúdos. Nesta faixa etária, ainda sim, poderão ser repetidos enunciados,

exemplos e modelos com vistas ao treinamento e fixação de ideias. Os alunos, nessa fase,

estão em transição, caminhando ou estando na adolescência. Portanto, as formas inusitadas

e dinâmicas variadas de expor um conteúdo podem oferecer progressos diante do interesse

e motivação deles em aprender música.

Para o ensino médio, entendo que a prática e a vivência de conteúdos que abordem

música deverão tender às exposições que visem reflexão e crítica. Análises e apreciações

musicais podem ser um caminho para intersecção com outras disciplinas. Os vídeos (clipes

musicais) poderão oferecer uma opção imagética rica e atrativa. Além da análise musical de

arquivos de áudio, os vídeos anexam comportamentos e informação contextual. Avançando

em outras possibilidades, os alunos podem ter conteúdos musicais inter-relacionados com

História (datas, movimentos e compreensão sócio-cultural), Filosofia (conceitos e

pensamentos das escolas e correntes do pensamento) e Português (estilos de escrita,

gêneros literários, poesia e métrica).

O professor assumirá o papel de articulador de ideias, provocando nos alunos a

possibilidade fértil da criação, assim como da comunicação inter-relacionada entre os

próprios alunos e ele mesmo. Tal postura de articulador não deverá ser temerária, deverá

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ser motivadora e expansiva. O professor entenderá que seu conteúdo e sua metodologia

poderão ser moldados de acordo com a configuração e o cenário da aula. A comunicação e

as ideias que serão processadas e trocadas devem seguir uma linha mestra geral, mas esta

pode ser passível de ajustes, ajustes que podem ser contínuos no ambiente da aula.

Conforme Lawrence Grosseberg (1992),

Articulação é a construção de um conjunto de relações sobre outro conjunto de relações; ela envolve o desligamento e as desarticulações de conexões a favor de outras ligações e rearticulações. Articulação é uma luta contínua pela reposição de práticas dentro de um campo mutante de relações – o contexto – no interior do qual uma prática é localizada. (LAWRENCE GROSSBERG, 1992, p. 54)

Atividades e dinâmicas variadas facilitam o interesse e a motivação dos alunos. O

professor precisa, sempre, observar as articulações positivas, deve favorecê-las, e, ao

mesmo tempo descartar as não positivas, ou aquelas que por hora não são mais positivas,

desarticulando-as e possibilitando outras conexões. A seguir, apresento algumas sugestões

de atividades e temáticas dentre tantas outras possíveis, que podem ser apresentadas aos

alunos do ensino médio:

1) Temas e gêneros musicais de interesse dos alunos (hip hop, funk, rock, sertaneja)

2) Música e poesia (samba, bossa nova, letras e regras da poesia clássica)

3) Vídeos e introdução a artigos científicos (análise e discussão crítica)

4) Práticas musicais a partir de execuções dos alunos (formação de grupos e bandas

que contenham performances vocais instrumentais)

5) Apreciação musical de gêneros musicais brasileiros e contemporâneos

internacionais

6) Música e questões culturais (origens e movimentos sócio-culturais, música de

consumo, música como voz de protesto social contra o preconceito e dominação

econômica)

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3. Os avanços tecnológicos – o computador

O professor como articulador de conceitos e atividades deve considerar que para o

ensino, os meios instrumentais tecnológicos são ferramentas imprescindíveis pela sua

acentuada utilização nos dias de hoje. Os jovens se tornaram usuários das inovações

tecnológicas, e dessas inovações o computador é um aparelho em contínua massificação.

Como indivíduos desta sociedade, e usuários no amplo mercado de música, alunos e

professores dão projeção a esta importante ferramenta, que se afirma cada vez mais na

formação educacional e sedimentação cultural. Graças ao computador e a internet, Galízia,

(2009) diz que:

Nunca se consumiu tanta música quanto no momento histórico em que vivemos. Em função do atual momento histórico e dos argumentos apresentados, podemos pensar que a gravação, produção e distribuição musicais também podem ser consideradas maneiras de se lidar com música, direta ou indiretamente, mas que poderiam ser levadas em consideração no ensino escolar de música, já que estão presentes no cotidiano musical dos alunos (GALIZIA, 2009, p. 81).

Exige-se uma postura do professor cada vez mais aberta, não saudosista quanto ao

conteúdo e ferramenta de trabalho. Deve evitar só manipular conteúdos que lhe são

familiares e de sua preferência pessoal. Galizia alerta que “frequentemente o educador

musical pode limitar-se somente àquilo que lhe é familiar, em termos de estilos musicais,

garantindo-lhe segurança frente aos alunos”. (Galizia, 2009, p. 80). Do mesmo modo, ele

precisa exercer abertura quanto a tipo de ferramenta - as ferramentas tecnológicas – capazes

de produzir e executar música, as quais estão ao alcance dos alunos. O autor afirma ainda

que:

Além de permitir o consumo de muita música, esses mesmos avanços tecnológicos também permitem que se produza muita música. Atualmente, as crianças e jovens têm acesso a softwares capazes de gravar performances musicais com a mesma qualidade de um estúdio profissional, além de ferramentas e instrumentos virtuais que igualmente lhes permitem recriar a execução de uma

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banda inteira com apenas uma pessoa. Tudo isso em sua própria casa, a um custo quase zero de produção (GALIZIA, 2009, p. 80).

O professor precisa percorrer esse corredor dos avanços tecnológicos. Não pode

haver lentidão, saudosismo, pré-conceito, ou qualquer tipo de retardo nessa iniciativa. Esse

processo tecnológico precisa pertencer ao domínio do dia a dia do professor. Ele só poderá

estar preparado em termos básicos, se ele tornar-se um usuário das ferramentas mais

conhecidas e mais populares no computador. Os softwares só oferecem a via ferramental,

enquanto muita informação musical poderá ser produzida por eles. Assim, saber a respeito

das fontes ferramentais poderá ajudar no entendimento do produto musical (arquivos de

áudio, gravações e edições, bem como confecções de vídeos e clipes musicais, confecções

de partituras, arquivos midi). Mas sempre haverá a ressalva de que o professor precisará ser

aquele que gerenciará as direções das discussões, aquele que também caminhará no

aprendizado, e fará o aluno perceber os contextos e os valores extrínsecos à música.

4. Considerações Finais

O professor se configura como um articulador que deverá desenvolver a proposta de

ensino musical certificando-se de um tripé importante em suas ações – uma manipulação e

aprendizado musical utilizando conteúdos vivenciados pelos alunos, uma metodologia de

atividades dinâmicas e diversificadas com vistas a ativar motivação e interesse dos alunos e

uma utilização plena dos avanços tecnológicos da atualidade - computador, internet e as

mídias disponíveis do mercado. Ao refletir sobre estratégias metodológicas de ensino de

música para a educação básica, acredito que este trabalho poderá contribuir com a área de

educação musical para se pensar algumas possibilidades práticas em sala de aula.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GALIZIA, Fernando Stanzione. Educação musical nas escolas de ensino fundamental e médio: considerando as vivências musicais dos alunos e as tecnologias digitais. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 21 p. 76-83, 2009.

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LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O Ensino da Música no Ensino Fundamental: Um Estudo Exploratório. Belo Horizonte: PUC, 2001. 241f. Dissertação (Mestrado em Educação), Programa de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica. 2001.

KRAEMER, R. Dimensões e funções do conhecimento pedagógico-musical. Em Pauta, v.11, n.16/17, p.49-73, 2000.

GROSSBERG, Laurence. The Circulacion of cultural studies. Chicago: The University of Chicago Press, p. 36-54.1992.

SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. São Paulo: Moderna 2003