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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA ENTIDADE MANTENEDORA: INSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINA Diretoria: Agnello Correa de Castilho ...............................Presidente Ana Maria de Moraes Gomes............................Diretora Vice-Presidente Wellington Werner .............................................Diretor Primeiro Secretário Lélia Monteiro de Melo Bronzeti ........................Diretora Segunda Secretária Alberto Luiz Cândido Wust ...............................Diretor Primeiro Tesoureiro José Severino ....................................................Diretor Segundo Tesoureiro Osni Ferreira (Rev.) ...........................................Chanceler Eleazar Ferreira .................................................Reitor

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TERRA E CULTURA, ANO XX, Nº 39 i

CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA

ENTIDADE MANTENEDORA:INSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINA

Diretoria:

Agnello Correa de Castilho ...............................Presidente

Ana Maria de Moraes Gomes............................Diretora Vice-Presidente

Wellington Werner.............................................Diretor Primeiro Secretário

Lélia Monteiro de Melo Bronzeti ........................Diretora Segunda Secretária

Alberto Luiz Cândido Wust ...............................Diretor Primeiro Tesoureiro

José Severino ....................................................Diretor Segundo Tesoureiro

Osni Ferreira (Rev.) ...........................................Chanceler

Eleazar Ferreira .................................................Reitor

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1TERRA E CULTURA

Ano XX - nº 39 - julho a dezembro de 2004

CONSELHO EDITORIAL

PRESIDENTE

Tadeu Elisbão

CONSELHEIROS

Ademir Morgenstern Padilha

Damares Tomasin Biazin

João Juliani

Joaquim Pacheco de Lima

José Martins Trigueiro Neto

Juliana Harumi Suzuki

Maria Eduvirges Marandola

Marisa Batista Brighenti

ISSN 0104-8112

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TERRA E CULTURA, ANO XX, Nº 39 v

CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA

REITOR:

Dr. Eleazar Ferreira

PRÓ-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO:Profª. Vera Lúcia Lemos Basto Echenique

COORDENADORA DE CONTROLE ACADÊMICO:Profª. Isabel Barbim

COORDENADORA DE AÇÃO ACADÊMICA:

Profª. Vera Aparecida de Oliveira Colaço (até 30/09/04)

PRÓ-REITOR DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO:

Prof. Nardir Antonio Sperandio

COORDENADOR DE PROJETOS ESPECIAIS E ASSESSOR DO REITOR:Prof. Reynaldo Camargo Neves

COORDENADOR DE PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS:

Prof. Tadeu Elisbão

COORDENADORES DE CURSOS DE GRADUAÇÃO:

Administração Prof. Luís Marcelo MartinsArquitetura e Urbanismo Prof. Gílson Jacob BergocCiências Biológicas Prof. João Antônio Cyrino ZequiCiências Contábeis Prof. Eduardo Nascimento da CostaDireito Prof. Osmar Vieira da SilvaEnfermagem Profª. Damares Tomasin BiazinFarmácia Profª. Lenita Brunetto BrunieraFisioterapia Profª. Gladys Cely Faker LavadoNutrição Profª. Flávia Hernandez FernandezPedagogia Profª. Marta Regina Furlan de OliveiraPsicologia Prof. João JulianiSecretariado Executivo Profª. Izabel Fernandes Garcia de SouzaTecnologia em Proc. de Dados Prof. Adail Roberto NogueiraTeologia Prof. Rev. Silas Barbosa DiasTurismo Prof. João dos Santos Filho

Rua Alagoas, nº 2.050 - CEP 86.020-430Fone: (0xx43) 3375-7400 - Londrina - Paraná

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SUMÁRIO

EDITORIAL ...................................................................................................... 1

O PARANÁ E O FUTURO DO MERCOSUL................................................ 3Adalberto BrandalizeLuiz Santo Brogiato

ESTRATÉGIA EMPRESARIAL – UMA QUESTÃO DE VIDA OU MOR-TE ................................................................................................................. 19Adalberto Brandalize

OS IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO DO TRABALHO...................................................................................................................... 32Ângela Maria de Sousa Lima

EDUCAÇÃO BRASILEIRA: REFLEXÕES E PERSPECTIVAS ............. 50Agnaldo Kupper

POR UMA PROPOSTA DE ALFABETIZAÇÃO CIDADÃ COM CRIAN-ÇAS SURDAS ............................................................................................ 61Renate Huhmann Klein

ESTRUTURAÇÃO DE AULA PRÁTICA BASEADA NA GERMINAÇÃODE SEMENTES DE Vellozia flavicans Mart. ex Schult (VELLOZIACEAE )...................................................................................................................... 71 Dario Palhares

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AVALIAÇÃO DOS RELACIONAMENTOS FAMILIAR E SOCIAL E DASEXPECTATIVAS DO NOVO MODELO DE INTERVENÇÃO JUNTO APACIENTES DO CAPS ............................................................................. 77Mariana FincoPaula SolciVanessa RochaCarmen Garcia de Almeida

CIÚME: NORMAL OU DOENTIO ? ........................................................... 85Ariane DuarteCláudia FuriattiFernanda ValentimMerilu LonghinMaria Cecília Balthazar

ANÁLISE CRÍTICA TEÓRICA DA EVOLUÇÃO DO CONCEITO DECLIMA ORGANIZACIONAL ................................................................. 91Maria Aparecida Ferreira de AguiarEdelvais Keller

AS ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO E O SUPORTE PARA UMAVIDA MELHOR ATRAVÉS DA CRENÇA RELIGIOSA ................... 114Ricardo Baracho dos AnjosJosé Antônio Baltazar

AS RELAÇÕES FAMILIARES, A ESCOLA, E SUA INFLUÊNCIA NODESENVOLVIMENTO INFANTO-JUVENIL E NA APRENDIZAGEM.................................................................................................................... 126José Antonio BaltasarLúcia Helena Tiosso Moretti

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OS HACKERS E A PIRATARIA CIBERNÉTICA ............................... 136Carlos Francisco Borges Ferreira PiresRogério Martins de PaulaSimone Vinhas de OliveiraRenata Silveira de PaivaYeza Bozo ToninFernanda Dias FrancoValkíria Aparecida Lopes Ferraro

ATENDENDO À KPA REQUISITOS DO CMM ATRAVÉS DO RUP E FER-RAMENTAS RATIONAL ....................................................................... 145 Fábio Luiz GambarottoAdemir Morgenstern Padilha

HIPERVOLEMIA E FLEBITE RELACIONADAS À ADMINISTRAÇÃODE MEDICAMENTOS............................................................................ 155Marcelo Ruela de OliveiraAndréia Bendine Gastaldi

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EDITORIAL

TERRA E CULTURA nesta ocasião dá a público este seu Nº 39 comple-

tando a sua programação editorial para o corrente ano de 2004, o 20º da sua

existência profícua, sempre semeando idéias e fazendo pensar.

Nos últimos anos o Centro Universitário Filadélfia (UniFil) expandiu-se

sobremaneira e consolidou ainda mais a sua posição no cenário educacional do

país e, da mesma forma a Revista também viu-se robustecida.

Cresceu a relação de instituições de ensino superior (IES) e de pesquisa que

passaram a figurar na mala-direta para recebimento de exemplares a cada edição.

O ingresso desses novos destinatários deu-se por iniciativa das próprias Institui-

ções, que formalizaram o seu interesse através das respectivas bibliotecas.

Neste contexto TERRA E CULTURA vê ampliar a sua área de abrangência

a cada ano, fato que consubstancia um dos seus objetivos, claramente estabeleci-

do pelo Conselho Editorial. Paralelamente têm sido firmados contratos de permu-

ta com Instituições que também publicam periódicos de divulgação científico-

cultural, o que é muito salutar para a UniFil, e também para os novos parceiros.

O N.º 39 está rico e atraente através dos 14 artigos que foram selecionados

para integrá-lo. Mesmo assim a Revista encontra-se permanentemente receptiva a

críticas e sugestões, bem como a contribuições na forma de novos artigos para

compor os Nº 40, 41 ........

O Conselho Editorial

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1

O PARANÁ E O FUTURO DO MERCOSUL* Adalberto Brandalize ** Luiz Santo Brogiato

RESUMO

Historicamente, o início do MERCOSUL se deu em 1947 com Simão Bolívar,com este cidadão pregando uma integração continental entre as nações. Apósmais de 50 anos, podemos afirmar que o MERCOSUL é uma realidade. É verdadeque há alguns acidentes de percurso, mas são todos removidos, graças à boa von-tade de nossos representantes. Os processos de integração econômica regionalacarretam mudanças significativas no sistema de relações industriais na respecti-va região. O processo de redemocratização de vários países do continente fez comque antigas rivalidades não mais existissem, trazendo como conseqüência o fatode nações como a Argentina e o Brasil passaram a defender literalmente aintegração, mais especificamente, o Cone-Sul, na América do Sul, face à proximi-dade geográfica e às afinidades culturais. O Comércio entre as nações, represen-tado pelas Exportações, é a alavanca do crescimento e do desenvolvimento dospaíses, uma vez que o Capital de Investimento anda escasso e com elevado custo.As ações do Estado do Paraná têm procurado fazer avançar o processo de desen-volvimento da economia, com base na reestruturação e expansão competitivas daeconomia internacional, como forma de estimular a criação de empregos, o au-mento da renda e a elevação, de modo sustentável, do padrão de vida da popula-ção. O presente estudo enfoca os principais países parceiros e os produtos quevêm aumentando nos últimos anos a sua participação nas exportações do Paraná,bem como busca demonstrar a importância das exportações para o Paraná e paraos países membros do MERCOSUL.

PALAVRAS-CHAVE: MERCOSUL; Exportações; Integração; ParceirosComerciais.

* Administrador de Empresas. Professor Universitário e de Pós-Graduação. Consultor Empresarial.Mestre em Administração. Pesquisador e autor de artigos científicos. Executivo, palestrante, autor deprojetos de extensão. Coordenador Acadêmico de Pós-Graduação. Conciliador do Tribunal de Justiçado Estado do Paraná. E-mail: [email protected] - www.professorbrandalize.hpg.com.br** Economista. Professor Universitário e de Pós-Graduação. Mestrando em Administração pela UEL.Consultor Empresarial. Especialista em Qualidade Total e Gerência de Marketing. Palestrante, Pes-quisador e Executivo. Coordenador Acadêmico e de Pós-Graduação. Conciliador do Tribunal deJustiça do Estado do Paraná.E-mail: [email protected]

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ABSTRACT

Historically, the beginning of MERCOSUL occurred in 1947, with SimonBolivar preaching in favor of a continental integration among the nations. Afterover 50 years, we can affirm that MERCOSUL is a reality. It is true that someincidents exist, but they are all removed thanks to the good will of our representatives.The regional economical integration processes cause significant changes in the systemof industrial relationships in the given area.The re-democratization process of severalcountries of the continent put an end to the old rivalries, making the nations likeArgentina and Brazil to literally start advocating for integration, particularly theSouth Cone, in South America, due to their geographical proximity and the culturallikeness. The Trade among the nations, represented by the Exports, is the growthand development lever of the countries, since the Investment Capital has been scarceand of a high cost. The actions of the State of Paraná have been trying to promoteadvancement in the process of economy development based on the competitiverestructuring and expansion of international economy as a form of stimulating thecreation of jobs, income increase, and the elevation, in a sustainable way, of thepopulation’s standard of living. The study focuses on the main partner-countriesand the products that have increased, in the last years, their participation in theexports of Paraná. It also tries to demonstrate the importance of the exports to theState of Paraná and to the member-countries of MERCOSUL.

KEY-WORDS: MERCOSUL; Exports; Integration; Commercial Partners.

INTRODUÇÃO

Este artigo objetiva proporcionar um exercício de análise prospectiva sobreo itinerário futuro do Estado do Paraná em relação ao MERCOSUL, com base emuma discussão não exaustiva dos principais problemas e oportunidades que secolocam para a sua evolução política e econômica.

Em 1947, surge o Tratado Interamericano de Ajuda Recíproca (TIAR); em1960, a Associação Latino-Americana de Livre Comércio – ALALCA; em 1961,a Assistência Recíproca Petroleira Estatal Latino-Americana; em 1968, a Associ-ação Latino-América de Instituições Financeiras para o Desenvolvimento; em 1969,o Grupo Andino; em 1975, o Sistema Econômico Latino-Americano – SELA; em1980, a Associação Latino-America de Integração – ALADI.

Verifica-se que, durante décadas, boa parte do crescimento da maioria dospaíses da América Latina sofreu influência do modelo da Comissão Econômica

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para a América Latina e o Caribe, e tinha como base a substituição das importa-ções, com a ajuda de um Estado centralizador e indutor do processo de industria-lização e de produção.

Mas, no início da década de 80, em meio aos problemas da dívida externa edo impacto crescente da globalização dos mercados, além da importância de no-vas tecnologias, este modelo desmoronou-se.

O Brasil vem gradativamente, nos últimos anos, assumindo uma posição devanguarda nas negociações para minimizar as diferenças em relação aos países/parceiros. É inevitável salientar a posição geográfica privilegiada do Estado doParaná em relação ao MERCOSUL.

“Não obstante essa realidade, do ponto de vista de suas possi-bilidades efetivas e potenciais de desenvolvimento, não sepoderia recusar o fato de que o Brasil detém, de fato, a chaveestratégica do itinerário político e econômico do MERCOSULno século XXI, mesmo considerando-se que este país não os-tenta, objetivamente, nenhum comportamento econômico “im-perial” e que ele se tenha despido de qualquer veleidade polí-tica uniteralista ao engajar-se decisivamente no projetointegracionista com a Argentina a partir de meados dos anos80” (CASELLA, 2000:15).

Ë importante observar que a América Latina recebeu grande parte dos inves-timentos estrangeiros realizados em países em desenvolvimento - na década de90, 80%. Como exemplo verifica-se que, em 1991, foram recebidos trinta e seisbilhões de dólares. Demonstrando confiabilidade do sistema financeiro interna-cional em relação à região, essas tendências permanecem nos dias atuais.

O objetivo da consolidação dos blocos é substituir a concorrência entre na-ções pela concorrência entre regiões, mas também há toda uma estratégia de defe-sa para a formação de outros blocos de mercado, garantindo a sobrevivência dosque já existem.

Devido às proximidades culturais de formação de Estado e de nacionalida-de, o MERCOSUL está a caminho de superar as dificuldades econômicas, políti-cas e jurídicas peculiares a países em desenvolvimento, buscando adaptação aostempos modernos, possibilitando, assim, um projeto comunitário dotado de gran-de vitalidade econômica, social e cultural.

Assistimos, atualmente, a grandes mudanças no que se refere ao EstadoModerno frente às novas experiências de integração econômica, e a uma constan-

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te reorganização dos espaços regionais e blocos econômicos; portanto, é uma re-organização do capital mundial que, em última análise, é resultante do processode globalização/internacionalização das economias regionais.

Este estudo pretende, além de breve relato sobre a evolução histórica doMERCOSUL, fornecer informações no tocante aos produtos e parceiros comerci-ais mais importantes do Estado do Paraná, bem como um panorama do comércioexterior paranaense, com o intuito de servir de material de apoio a empresas,profissionais ou instituições que possuam em seu rol de ações, alguma atividaderelacionada ao tema aqui dissecado.

DESENVOLVIMENTO

1. Breve Retrospectiva Histórica

O MERCOSUL é uma tentativa de atingir o mais alto nível de integraçãoeconômica, encetada, originalmente, por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai,nos termos do conteúdo do “Tratado para Constituição de Mercado Comum”,assinado em Assunção, aos 26 de março de 1991, e emendado pelo “protocoloadicional ao Tratado de Assunção sobre a estrutura institucional do MERCOSUL”,assinado em Ouro Preto, aos 17 de novembro de 1994. Dois novos países, naqualidade de membros associados, Bolívia e Chile, acoplaram-se ao modeloquadripartite, após o término do período inicial de transição.

O Projeto MERCOSUL, segundo seus idealizadores, foi criado para consti-tuir-se na realização do mercado comum sub-regional e, segundo o primeiro Tra-tado de Assunção, deveria ter entrado em funcionamento em primeiro de janeirode 1995, o que efetivamente não aconteceu. Não é, entretanto, objetivo do presen-te trabalho aprofundar-se nesta direção.

Era de se esperar que os países integrantes já pudessem ter definido, pelomenos, um sistema de paridade cambial com faixas mínimas de variação, entre aspertinentes moedas de cada país, bem como um afinamento das legislações e umavelocidade maior nas ações de derrubar as barreiras alfandegárias e legais.

2. MERCOSUL x ALCA

Faz-se necessário aventar a hipótese da dissolução do MERCOSUL com aALCA, e é notório que a ALCA não tem os mesmos objetivos integracionistas doMERCOSUL, embora os Estados Unidos possuam objetivos bem mais amplos.Neste sentido, citamos a seguir um, dentre outros entraves, nesse processo:

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“... a julgar pelas assimetrias persistentes e por uma certa bus-ca de vantagens unilaterais, como parece ser a tentativa doParaguai de preservar os aspectos mais distorcivos de sua atualcondição de ‘entreposto aduaneiro’ da produção eletrônica debaixa qualidade, que é despejada em seu território a partir depaíses asiáticos emergentes.” (CASELLA, 2000:20).

O Brasil tem se mostrado reticente aos interesses da ALCA, e tem,concomitantemente, buscado desenvolver e avançar nas estratégias doMERCOSUL, pois se nota o interesse dos Estados Unidos em obter vantagenscom a ALCA e em negociar o que é de seu exclusivo interesse. Portanto, os auto-res deste trabalho visualizam como perspectiva mais real a evolução doMERCOSUL e, como tem sido acenado nos últimos meses, o interesse de agrega-ção de outros países sul-americanos.

Existe uma nova realidade: o nascimento de um novo nível de negociaçãocoletiva no âmbito de mercados comuns ou blocos econômicos é, pois, decorrên-cia das mudanças estruturais que afetam as indústrias, e mudanças de percepção,por parte das organizações sindicais, gestores de capital, conhecimento e tecnologia.

3. Futuro do MERCOSUL

As opções mais prováveis que se apresentam situam-se no campo de seuaprofundamento interno. Conforme citado por Casella, essas opções situam-senos terrenos econômico e comercial, no âmbito de sua extensão regional, no es-forço das ligações com outros blocos econômicos mundiais e no apoio que oMERCOSUL deve e pode buscar no multilateralismo comercial, como condiçãode seu sucesso regional e internacional, enquanto exercício de diplomaciageoeconômica. O problema da soberania nacional e sua transformação é comple-xo, e seu estudo envolve a consideração de uma série de fatores, além de serextremamente polêmico, devido às realidades, diferenças regionais e políticasprotecionistas.

O MERCOSUL é uma realidade econômica de dimensões continentais. So-mando uma área total de pouco menos de 12 milhões de quilômetros quadrados, oque corresponde a mais de quatro vezes a União Européia, o MERCOSUL repre-senta um mercado potencial de 200 milhões de habitantes e um PIB acumulado demais de 1 trilhão de dólares, o que o coloca entre as quatro maiores economias domundo, logo atrás do Nafta, da União Européia e do Japão.

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O MERCOSUL é um dos principais pólos de atração de investimentos domundo. As razões para este sucesso não são poucas: o MERCOSUL é, ao mesmotempo, a quarta economia mundial e a principal reserva de recursos naturais doplaneta. Suas reservas de energia estão entre as mais importantes, em especial asde minério e as hidroelétricas. Sua rede de comunicações é desenvolvida e passapor constante processo de renovação. Mais de dois milhões de quilômetros deestradas unem nossas principais cidades e nossas populações viajam através demais de seis mil aeroportos. As perspectivas futuras do setor das comunicaçõessão extremamente promissoras com a privatização, pois a exploração deste mer-cado é muitas vezes maior.

O futuro deste fenômeno enseja um processo integracionista no Cone Sul,conforme observado na Europa, e visa permitir o estabelecimento de uma coope-ração e coordenação política institucionalizada, e poderá, até mesmo, desembo-car, a longo prazo, em um processo semelhante ao da Europa-92, e envolver asdiversas dimensões: união econômica (moeda e banco central); coordenação dasegurança comum; ampliação da área social (direitos individuais e coletivos).

4. Produtos e Países do MERCOSUL e suas Relações Comerciais

Em relação ao ano de 2002, as exportações paranaenses, evidenciando osprincipais países de destino, estão dispostas no Quadro 1-Principais destinos -2002, e, como se pode observar, os países sul americanos com maior intercâmbiocomercial são: Argentina (13), Paraguai (17) e Chile (20). Pelo quadro, pode-seconcluir que há muito a ser feito para a efetivação do comércio no MERCOSUL.

Sobre o mesmo ano de 2002, as exportações paranaenses, evidenciando osprincipais produtos, estão dispostas no Quadro 2-Principais Produtos - 2002, e,como pode ser observado, exportou-se muito produto sem industrialização ou semi-industrializado, processo esse que agrega pouco valor, e que traz menor riqueza,além de não gerar os empregos correspondentes ao processo de manufaturamento.

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ORDEM PAÍSES US$ %

1 Estados Unidos 1.013.021.651 17,772 China 421.518.564 7,393 França 324.321.498 5,694 Reino Unido 308.084.634 5,405 Países Baixos (Holanda) 276.663.953 4,856 Alemanha 264.313.224 4,647 Espanha 241.580.324 4,248 Itália 193.126.500 3,399 México 177.680.965 3,12

10 Rússia, Federação da 149.521.801 2,6211 Irã, República Islâmica do 143.571.286 2,5212 Coréia, República da (Sul) 138.064.697 2,4213 Argentina 137.259.362 2,4114 Japão 125.419.752 2,2015 Arábia Saudita 116.623.581 2,0516 Portugal 113.099.599 1,9817 Paraguai 97.594.592 1,7118 Hong Kong 87.123.374 1,5319 Índia 84.432.186 1,4820 Chile 78.214.991 1,37

Sub-total 4.491.236.534 78,79Demais Países 1.208.962.841 21,21T O T A L 5.700.199.375 100

Quadro 1 – PRINCIPAIS DESTINOS – 2002.

FONTE: ALICEWEB/SECEX.

Decompondo a pauta das exportações paranaenses em grupos de produtos,evidencia-se, primeiramente, o comportamento do complexo soja, que acentuouainda mais a sua participação, passando a responder por 34,27% do total exporta-do pelo Estado. Os embarques de soja em grão e na forma de óleo foram os quegeraram maiores adicionais de receita, significando acréscimos de 27,87% e42,73%, respectivamente.

O Gráfico 1 – Histórico das Exportações Paranaenses para a Argentina, de-monstra queda no volume de US$ no período de 2000 a 2002, decorrente do agra-vamento da crise econômica da Argentina, principal parceiro no MERCOSUL.Porém, este cenário apresenta sensível recuperação em 2003.

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ORDEM DESCRIÇÃO / PRODUTOS US$ %1 OUTROS GRÃOS DE SOJA, MESMO TRITURADOS 856.200.522 15,022 BAGAÇOS E OUTROS RES. SÓL.EXTR DE ÓLEO DE SOJA 756.894.551 13,283 AUTOMÓVEIS, MOTOR EXPLOSÃO, 1.500 CM3, 3000, ATÉ 6 PAS. 605.015.348 10,614 ÓLEO DE SOJA, EM BRUTO, MESMO DEGOMADO 266.859.156 4,685 OUTROS MOT. EXPLOSÃO, P/ VEÍC, CAP 87, SUP. 1.000 CM3 261.988.955 4,606 MILHO EM GRÃO, EXCETO PARA SEMEADURA 232.357.585 4,087 PEDAÇOS E MIUDEZAS, COMEST. GALOS/GALINHAS, CONG. 184.389.147 3,238 OUTRAS MADEIRAS COMP., COM FOLHAS DE ESP. 6MM. 161.625.179 2,849 CARNES GALOS/GALINHAS, NÃO CORTADAS EM PED. CONG. 146.907.817 2,5810 AÇÚCAR DE CANA, EM BRUTO 128.549.624 2,2611 MADEIRAS CONÍFERAS, SERR./CORT. FLS.ETC - ESP 6MM. 103.575.397 1,8212 AUTOM. MOTOR DIESEL, 1.500 CM3, ATÉ 2.500, ATÉ 6 PAS. 97.213.082 1,7113 CAFÉ SOLÚVEL, MESMO DESCAFEINADO 83.597.389 1,4714 CONSUMO DE BORDO – COMBUST. E LUBRIF. P/EMB. 70.882.715 1,2415 MOLDURAS DE MAD., P/QUADROS, FOTOG., ESP., ETC. 70.328.841 1,2316 INJETORES PARA MOTORES DIESEL OU SEMI-DIESEL 53.889.787 0,9517 OUTRAS CARNES DE SUÍNOS CONGELADAS 46.301.171 0,8118 PORTAS, RESPEC. CAIXILHOS, ALIZARES E SOLEIRAS MAD. 39.588.386 0,6919 BOMBAS INJET. COMB. P/ MOTOR DIESEL/SEMI 39.121.620 0,6920 OUTROS ÓLEOS DE SOJA 38.221.501 0,67

SUB-TOTAL 4.243.507.773 74,44

DEMAIS PRODUTOS 1.456.691.602 25,56

T O T A L 5.700.199.375 100,00

QUADRO 2 – PRINCIPAIS PRODUTOS – 2002.

FONTE: ALICEWEB/SECEX.

GRÁFICO 1 – HISTÓRICO DAS EXPORTAÇÓES PARANAENSES PARAA ARGENTINA - PERÍODO DE 2000 A 2003.

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

Seqüência1 474.302 356.534 137.259

2.000 2001 2002

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Em 2003, um fator positivo foi o aumento de 86,37% das vendas para oMERCOSUL, especialmente para a Argentina, com crescimento de 141,30%,passando de US$ 79,2 milhões, em 2002, para 191,1 milhões, nos primeiros oitomeses de 2003, conforme demonstrado no Quadro 3 - PRINCIPAIS PARCEIROSCOMERCIAIS DO PARANÁ.

O Estado do Paraná é responsável por 16,80% do superávit brasileiro (US$15.132,0 milhões), representando o 2º maior superávit de todos os estados brasi-leiros, sendo que a participação do Estado nas exportações brasileiras saltou, de7,87% nos primeiros oito meses de 2002, para 10,43% em igual período de 2003.

O Estado do Paraná é o 3º estado exportador, com US$ 4.748,4 milhões –10,32%; o Rio Grande do Sul é o 2º estado exportador, com US$ 5.060,5 – 11,12%do total brasileiro; e o Estado de São Paulo, o 1º estado exportador, que mesmoassim reduziu a sua participação no total das exportações brasileiras, de 34,00%para 31,14%. O crescimento de suas exportações colocou o Paraná na disputapelo segundo lugar no ranking nacional, juntamente com Minas Gerais e RioGrande do Sul. O primeiro lugar é de São Paulo.

QUADRO 3 - PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS DO PARANÁ.JANEIRO A AGOSTO

ORDEM PRINCIPAIS PAÍSES 2003 2002 Variação% (A/B)

2002 2003 US$/F.O.B.(A)

%s/Tota

l

US$/F.O.B.(B)

%s/Total

01º. 01º. Estados Unidos 667.291.935 14,05 652.980.936 22,40 2,1909º. 02º. China, Rep. Pop. da 600.808.791 12,65 88.495.311 3,04 578,9204º. 03º. Alemanha 323.169.794 6,81 141.398.091 4,85 128,5505º. 04º. Paises Baixos (Holanda) 232.929.552 4,91 135.603.845 4,65 71,7707º. 05º. Espanha 201.869.155 4,25 109.947.846 3,77 83,6002º. 06º. Reino Unido 201.328.065 4,24 205.289.822 7,04 -1,9316º. 07º. Irã, Rep.Islâmica do 196.262.197 4,13 54.042.136 1,85 263,1713º. 08º. Argentina 191.067.275 4,02 79.181.074 2,72 141,3008º. 09º. Itália 174.108.858 3,67 102.108.468 3,50 70,5103º. 10º. França 154.896.966 3,26 166.692.275 5,72 -7,0811º. 11º. Rússia, Fed. da 134.007.703 2,82 80.654.364 2,77 66,1513º. 12º. Coréia do Sul 127.188.776 2,68 70.053.297 2,40 81,5618º. 13º. Arábia Saudita 102.398.229 2,16 40.064.663 1,37 155,5806º. 14º. México 95.099.007 2,00 110.740.781 3,80 -14,1210º. 15º. Japão 80.084.467 1,69 87.799.450 3,01 -8,7915º. 16º. Paraguai 78.143.702 1,65 56.547.739 1,94 38,1919º. 17º. Hong Kong 75.097.665 1,58 39.687.402 1,36 89,2220º. 18º. Canadá 74.121.928 1,56 34.109.053 1,17 117,3124º. 19º. Índia 60.454.474 1,27 26.184.740 0,90 130,8817º. 20º. Chile 55.089.529 1,16 44.247.015 1,52 24,5036º. 21º. Romênia 51.409.869 1,08 10.827.382 0,37 374,8121º. 22º. Bélgica 47.175.830 0,99 32.923.248 1,13 43,2948º. 23º. Indonésia 44.238.756 0,93 5.493.657 0,19 705,2725º. 24º. África Do Sul 44.193.420 0,93 25.938.780 0,89 70,38

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Elaboração: FIEP - Centro Internacional de Negócios do Paraná.Fonte: MDIC – Minist. Desenv., Ind. e Com., SECEX – Sec. Com. Exterior – Sist.AliceWeb.

Destacamos o crescimento das exportações nos primeiros oito meses de 2003,por países de destino, em valores absolutos, comparados com o mesmo períododo ano anterior:

CHINA – 2º parceiro comercial do Paraná em 2003 – passando de US$88.495 mil para US$ 600.808 mil, crescimento de US$ 512.313 mil (578,92%).Produtos em destaque: Soja em Grão, Motores para Veículos, Óleo de Soja Brutoe Refinado, Bombas Injetoras, Papéis de Camada Múltipla, Madeira Serrada,Couros Bovinos;

ALEMANHA – 3º parceiro em 2003 - de US$ 141.398 mil para US$ 323.169mil; crescimento de US$ 181.771 mil (128,55%). Produtos em destaque: Soja emGrão, Carnes de Frango, Injetores para Motores a Diesel, Farelo de Soja, MadeiraCompensada, Café não Torrado e Café Solúvel;

IRÃ – 7º parceiro em 2003 - de US$ 54.042 mil para US$ 196.262 mil,crescimento de US$ 142.220 mil (263,17%). Produtos em destaque: Óleo de SojaBruto, Soja em Grão, Milho em Grão, Papel/Cartão Kraftliner, Carnes de Frango;

ARGENTINA – Já é o 8º parceiro em 2003 - de US$ 79.181 mil para US$191.067 mil; crescimento de US$ 111.886 mil (141,30%). Produtos em destaque:Automóveis com Motor a Explosão/Diesel, Máquinas e Aparelhos para Colheita,Papéis/Cartões Kraft e Cuche, Tratores, Motores a Explosão, Refrigeradores/Con-geladores.

26º. 25º. Taiwan (Formosa) 43.424.033 0,91 25.101.444 0,86 72,9923º. 26º. Marrocos 32.824.672 0,69 27.759.340 0,95 18,2527º. 27º. Suécia 32.727.825 0,69 18.440.211 0,63 77,4814º. 28º. Portugal 31.078.966 0,65 69.857.565 2,40 -55,5135º. 29º. Emir. Árabes Unidos 27.934.172 0,59 10.890.878 0,37 156,4970º. 30º. Tailândia 27.389.120 0,58 2.346.498 0,08 N/A39º. 31º. Israel 24.350.408 0,51 8.686.852 0,30 180,3144º. 32º. Senegal 23.048.870 0,49 6.035.675 0,21 281,8841º. 33º. Dinamarca 21.827.307 0,46 7.924.808 0,27 175,4338º. 34º. Coveite 20.110.068 0,42 9.155.147 0,31 119,6637º. 35º. Equador 18.630.636 0,39 10.224.384 0,35 82,2246º. 36º. Angola 18.610.111 0,39 5.923.027 0,20 214,2032º. 37º. Porto Rico 18.503.236 0,39 14.714.401 0,50 25,7555º. 38º. Malásia 17.039.648 0,36 4.459.223 0,15 282,1228º. 39º. Uruguai 16.577.868 0,35 17.612.043 0,60 -5,8734º. 40º. Colômbia 16.446.510 0,35 13.580.899 0,47 21,10

SUB-TOTAL 4.402.959.393 92,71 2.653.723.770 91,01 65,92DEMAIS PAÍSES 345.466.606 7,29 261.910.956 8,99 31,90TOTAL GERAL 4.748.425.999 100,00 2.915.634.726 100,00 62,86

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Como podemos verificar, a Argentina, que em 2002 estava na 13ª colocaçãoem termos de parceria comercial, com a recuperação ora desencadeada por suaeconomia, já aparece, nos primeiros oito meses de 2003, na 8ª colocação, e, apersistir este crescimento, ao final de 2003, deverá ocupar a 5ª ou 4ª colocação,assumindo, assim, posição de destaque no cenário das exportações. Destacamostambém a participação do Paraguai, em 17º lugar, do Chile, em 20º, do Uruguai,em 39º e da Colômbia, em 40º lugar. Vale ressaltar que nossos parceiros doMERCOSUL são potenciais importadores, podendo doravante melhorar signifi-cativamente suas participações na pauta de exportação brasileira.

Observa-se no quadro 04 – Evolução do Resultado dos Principais BlocosEconômicos, que o Superávit da Balança Comercial Brasileira em relação aoMercosul vem crescendo segundo um percentual relativo muito superior aos de-mais blocos econômicos.

QUADRO 4 - Evolução do Resultado dos Principais Blocos Econômicos.

No crescimento percentual ocorrido em 2003, em relação a 2002, destaca-mos o Mercosul, com 63,68%. Este crescimento se deveu à recuperação econômi-ca da Argentina, principal parceira do Bloco. Em segundo lugar, está a UniãoEuropéia, seguida pelos Estados Unidos. Vale ressaltar a importância do cresci-mento de 12,01% dos Estados Unidos, uma vez que este é o principal parceirocomercial do Brasil. Não podemos deixar de relatar também o crescimento doMercado Asiático, do qual a China já é nosso 2º parceiro comercial.

O relacionamento comercial entre o Brasil e o Mercosul e, particularmente,o Estado do Paraná, está em franca expansão, devendo chegar ao final de 2003 avalores próximo a 7 milhões de dólares.

BLOCOS ECONÔMICOS 2003 % 2002 % % Cresc.

UNIÃO EUROPÉIA - UE 12.973.888.703 24,6 10.944.023.714 25,2 18,55

ESTADOS UNIDOS (INCLUSIVEPORTO RICO)

12.647.952.668 24 11.292.117.659 26 12,01

ÁSIA (EXCLUSIVE ORIENTEMÉDIO)

8.720.032.582 16,5 6.380.042.373 14,7 36,68

ALADI (EXCLUSIVE MERCOSUL) 5.045.391.867 9,56 4.701.362.637 10,8 7,32

MERCADO COMUM DO SUL -MERCOSUL

3.868.676.109 7,33 2.363.545.064 5,43 63,68

DEMAIS BLOCOS 9.534.402.696 18,1 7.836.998.794 18 21,66

52.790.344.625 100 43.518.090.241 100

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Destacamos, a seguir, nos gráficos 02 e 03, a evolução do Balanço Comerci-al Brasileiro e Paranaense no período de 2000 até a 1ª semana de novembro de2003, verificando o alto grau de crescimento do saldo comercial. É importantetambém destacarmos que no Paraná houve um crescimento muito acelerado dasexportações e, em contrapartida, a importação sofreu reduções significativas.

Gráfico 2 – Evolução da Balança Comercial Brasileira.

Gráfico 3 – Evolução da Balança Comercial Paranaense.

-10000

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

EXPORTAÇÃO 55086 58223 60362 61900

IMPORTAÇÃO 55837 55572 47241 41127

SALDO COML -751 2651 13121 20773

2000 2001 2002 2003

-1000

0

1000

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3000

4000

5000

6000

7000

EXPORTAÇÕES 4392 5318 5700 6152

IMPORTAÇÕES 4685 4930 3333 2870

SALDOCOMERCIAL -293 388 2367 3282

2000 2001 2002 2003

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Observa-se, comparativamente, nas balanças comerciais brasileiro eparanaense, que a evolução do saldo comercial vem crescendo, com quedas subs-tanciais no volume das importações e crescimentos nas exportações, e, mais espe-cificamente, no caso paranaense do balanço de pagamento, se evidencia uma evo-lução tal que o saldo supera as importações a partir do ano 2002.

De janeiro a outubro, o superávit da balança comercial chegou a US$ 3,228bilhões, ou 58,64% a mais sobre o mesmo período de 2002 (US$ 2,035 bilhões);é também o melhor resultado do Estado em todos os tempos.

O representante da Secretaria Estadual de Indústria, Comércio e Assuntosdo Mercosul, Santiago Gallo, lembrou que 42 dos 50 principais produtos da pautade exportação do Paraná apresentaram aumento no acumulado do ano. “O cresci-mento do comércio internacional paranaense dobrou em menos de 10 anos”, de-clarou Gallo.

5. Vantagens e Desenvovimento do MERCOSUL

5.1. Vantagens• O Brasil conta com um grande e desenvolvido parque industrial, que supe-

ra os dos outros 4 países do bloco, e o Paraná está em grande destaque.• No turismo, as praias paranaenses atraem uma grande quantidade de ar-

gentinos e uruguaios no período de verão, e Foz do Iguaçu, da mesmaforma, atrai por suas belezas naturais, através das Cataratas do Iguaçu.Conseqüentemente, o MERCOSUL propicia uma integração maior nestesetor.

• A entrada de produtos dos outros países, com baixo custo, pode, até certoponto, ajudar para que aconteça uma queda de preços, já que existe umacompetição pelo melhor preço e qualidade.

• As empresas paranaenses poderão, cada vez mais, expandir seus merca-dos, com a consolidação do bloco, de uma forma muito mais facilitada.

• Os países que compõem o MERCOSUL estão despertando maiores inte-resses para investimentos estrangeiros, uma vez que o tamanho do merca-do é considerável, fazendo com que a economia de cada país cresça aindamais.

• A interação econômica também propicia um aumento na oferta de mão-de-obra qualificada, e, particularmente no Paraná, esta qualificação está emandamento e é preocupação constante por parte dos empresários.

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5.2. Desvantagens

• A agricultura da Argentina possui vantagens em relação à brasileira, poisseus solos são mais férteis que os nossos.

• A língua pode se tornar um entrave, já que 4 países falam espanhol; entre-tanto, o Brasil, que fala português, possui a maior população.

• A moeda única que, como a língua, se não for bem discutida, poderátornar-se um problema para o desenvolvimento do MERCOSUL.

• A cultura fica ameaçada porque há vários contrastes de país para país, e,possivelmente, haja um conflito neste setor. Por vivenciar a cultura deoutro país, a do nosso país pode perder sua importância.

• A infra-estrutura da Argentina e do Chile conta com boas rodovias e por-tos bem equipados, todos em excelentes condições para o escoamento daprodução.

6. Conclusões

O MERCOSUL é mais uma tentativa integracionista que se faz na AméricaLatina, envolvendo o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai, possibilitando,em caso positivo, aumento do mercado consumidor, além de maiores chances departicipação na economia mundial. Não podemos deixar de considerar a integração,também, do Chile e da Bolívia.

Devido à proximidade cultural, de formação do Estado de Direito e da naci-onalidade, o MERCOSUL, caso se superem as dificuldades econômicas, políticase jurídicas peculiares a países em desenvolvimento que buscam sua adaptação aostempos modernos, poderá vir a ser um projeto comunitário dotado de grande vita-lidade social e cultural. Observa-se também que o MERCOSUL é um instrumentode conciliação entre alguns países da América do Sul (Argentina, Brasil, Paraguaie Uruguai) e, somente com essa união de várias economias, será possível a obten-ção de tecnologias mais avançadas e investimentos mais vantajosos a um preçomais reduzido. Porém, os países que não estiverem preparados para abertura demercado sofrerão com a vinda de produtos estrangeiros no mercado interno paraconcorrer com produtos nacionais. Outro fator preocupante é o descrédito dosinvestidores internacionais com relação às crises que ocorrem em países da Amé-rica Latina, acabando por comprometer todo o bloco econômico do MERCOSUL.

Na hipótese da dissolução do MERCOSUL face à implementação e implan-tação da ALCA, devemos observar que os objetivos integracionistas doMERCOSUL não serão os mesmos, embora os Estados Unidos possuam objeti-vos bem mais amplos. O Brasil tem se mostrado reticente aos interesses da ALCA

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e, concomitantemente, tem buscado se desenvolver e avançar nas estratégias doMERCOSUL.

O Paraná, por estar em situação extremamente estratégica, é o maior benefi-ciado sob os pontos-de-vista econômico e de oportunidades. Sob o ponto-de-vistaeconômico, já pudemos sentir, nos últimos mese, os efeitos de uma economia comcerta estabilidade dentro do bloco econômico, uma vez que a Argentina, o Brasil,o Paraguai e o Uruguai convergem para a estabilidade política. As dificuldadeseconômicas de cunho estrutural, com apoio dos mecanismos internacionais, como,por exemplo, o FMI, tendem a se normalizarem. Esta normalização possibilitará apaises como o Brasil e a Argentina encontrarem novamente o caminho para odesenvolvimento, possibilitando uma melhoria na qualidade de vida dos cida-dãos. Sob o ponto de oportunidades, este é o momento e a hora para que as empre-sas se profissionalizem, agregando valor a seus produtos, aumentando os postosde trabalhos e aproveitando todas as possibilidades que a lei oportuniza, visandoaumentar a produção.

A exportação de bens e serviços é, na verdade, a grande saída para o proble-ma de falta de capital que o país sofre. O Paraná já está na frente.

O MERCOSUL é o caminho mais curto e compensador para o nosso Estado,pois, basta atravessarmos a fronteira, para estarmos integrados. A vontade políti-ca de nossos governantes deve obedecer a uma tendência natural, a integração.Este é o caminho e a solução, de imediato, para nossos problemas, quer de ordemeconômica, quer de ordem cultural, quer de ordem política ou institucional. Ocomércio é o grande elo de ligação entre as nações co-irmãs.

As negociações para a consolidação do MERCOSUL em 2003 acumularamum significativo avanço. Exemplificando: por ocasião da última reunião de Cúpu-la do Mercosul, em Assunção, 18 de junho de 2003, o Brasil apresentou propostaspara a constituição de um programa de médio prazo para o Mercosul, abrangendo:a) o programa para consolidação da união aduaneira e para o lançamento do mer-cado comum; b) os objetivos para 2006; c) o programa político, social e cultural,programa da união aduaneira; d) o programa de base para o mercado comum; e e)o programa da nova integração.

A diversidade cultural, a fertilidade do solo, o crescimento econômico e oscostumes de sua gente fazem do Paraná um estado sui generis e o coloca emprivilegiada situação no cenário nacional.

Projetando os dados acima, chegamos à estimativa para 2007 das exporta-ções paranaenses que, mantidas as proporções, estarão em, aproximadamente, US$11 bilhões.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1

ESTRATÉGIA EMPRESARIAL – UMA QUESTÃODE VIDA OU MORTE

* Adalberto Brandalize

RESUMO

As instituições de ensino superior com cursos de Administração, incentiva-das pela avaliação anual, e as empresas pressionadas pela necessidade de se man-terem competitivas no mercado, e ainda considerando o compromisso com a for-mação de profissionais qualificados e atualizados, precisam rever alguns funda-mentos, e também pensar estrategicamente na tarefa de formação e/ou aperfeiço-amento de executivos.

PALAVRAS-CHAVE : Estratégias; Executivo; Mercado; Cliente.

ABSTRACT

Motivated by the annual evaluation and the companies by the need to keepbeing competitive in the market, and considering the commitment with the qualifiedand updated professionals’ formation, teaching institutions with businessadministration courses need to review some foundations and also think strategicallyin the formation and/or improvement of executive personnel.

KEY-WORDS: Strategies; Executive Personnel; Market; Customer.

* Graduado em Administração de Empresas pela UEL. Mestrando em Administração-Gestão deNegócios/UEL. Especialista em Finanças e O&M. Ex-executivo e consultor empresarial. Docenteda UniFil nos Colegiados de Administração, Ciências Contábeis e Processamento de Dados. E-Mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

Na edição do provão para os Cursos de Administração de Empresas de 2001,pôde ser, facilmente, constatado que boa parte das questões abordou o pensamen-to estratégico. Em palestra recente proferida pelo Professor Eduardo Botelho, esteafirmou que o governo dos Estados Unidos gasta mais dólares em reciclagem deexecutivos do que na formação. Quanto gasta o governo brasileiro?

O treinamento e a reciclagem de executivos é uma das áreas mais críticas daadministração. A falta de estruturação das atividades típicas de um executivo servecomo barreira para a formulação e desenvolvimento de programas destinados, es-pecialmente, ao treinamento e à reciclagem dos corpos de níveis médio e superiornas empresas.

Uma característica predominante entre os detentores de poder nas empresasé que estas pessoas, geralmente, contam com uma formação específica e de nívelsuperior e, às vezes, pós-graduação, além de um razoável acúmulo de experiênciana gestão de algum tipo de negócio, departamento ou setor da empresa. Alémdisso, estas pessoas dispõem de pouco tempo. Outro fator de influência é que,devido ao fato de elas executarem tarefas tão distintas e não repetitivas, fica-secom a impressão de que seria praticamente impossível treiná-las em um espaço detempo razoável e com a profundidade necessária.

Os executivos devem pensar estrategicamente; portanto, precisam estar trei-nados para isto e a empresa precisa possuir um plano estratégico consistente e ágil.Por que as empresas fazem planos estratégicos? Quantas fazem um plano estratégi-co adequado às suas necessidades? Antes de responder à interrogação anterior, defi-ne-se a seguir o conceito de estratégia e, em seguida, o que são planos estratégicos:

Conceito de Estratégia: “O conceito de estratégia nasceu da necessidade derealizar objetivos em situações de concorrência, como acontece na guerra, nos jo-gos e nos negócios. A realização do objetivo significa anular ou frustrar o objetivodo concorrente, especialmente quando se trata de inimigo ou adversário que estáatacando ou sendo atacado. A palavra estratégia, também envolve certa conotaçãode astúcia, de tentativa de enganar ou superar o concorrente com a aplicação dealgum procedimento inesperado, que provoca ilusão ou que o faz agir como nãodeveria, mas segundo os interesses do estrategista” (MAXIMIANO, 2000:392).

Plano Estratégico: “Planejar é uma estratégia para aumentar as chances desucesso em um mundo de negócios que muda constantemente. É evidente que osplanos estratégicos não são uma garantia. O planejamento estratégico não é umaciência que mostra o que é certo ou errado em relação ao futuro. O planejamentoestratégico é um processo que prepara você para o que está por vir. A elaboraçãode um plano aumenta a probabilidade de que, no futuro, a sua empresa esteja no

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lugar certo na hora certa” (TIFFANY/PETERSON, 1998:9).Sabe-se que, para se chegar a uma boa estratégia, o ponto de partida é ter um

objetivo correto, que é, simplesmente, um excelente retorno sobre o investimentode longo prazo. Por mais simples que pareça, o certo é que muitas empresas detodo mundo não conseguem entender realmente este objetivo central da empresa.Geralmente, contentam-se com objetivos de curto prazo, mais fáceis de alcançar,mas que não permitem ver além do amanhã e, portanto, pouco ou nada têm deestratégia.

A estratégia da maioria das empresas está contida no plano/ planejamentoestratégico, que pode ser conceituado como um processo gerencial que possibilitaao executivo estabelecer o rumo a ser seguido pela empresa, com vistas a obterum nível de otimização na relação da empresa com o seu ambiente.

A pesquisa espelhada no Gráfico 1, realizada pela Consultoria Bain &Company, com 4.137 executivos de empresas de 15 países, e publicada na RevistaExame de 23/09/98, ano 32, nº 20, constante de um artigo de Nelson Blecker,evidencia o trabalho estratégico como a ferramenta de gestão mais utilizada pelasempresas em 1997, com utilização de 90%.

Gráfico 1 – As Ferramentas de Gestão.

Fonte: Consultoria Bain & Company.

Planejamento estratégico

Benchmarking

Pagamento por desempenho

Competências essenciais

Estratégia de crescimento*

Medida de satisfação do cliente

Qualidade total

Reengenharia

Que estão em alta...

1993 1997 * Introduzido em 1996

67%64%

72%60%

86%79%

61%

52%67%

70%78%

70%86%

90%

...e as que estão em baixa

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A metodologia utilizada para desenvolvimento do presente estudo foi o empre-go de levantamentos bibliográficos, estatísticas publicadas, observação sistemática,Internet e contatos informais com executivos da região de Londrina. Foi efetuada aanálise crítica, identificando, ordenando e construindo o texto, com objetivo de abor-dar o parecer do autor e informações atuais sobre o tema. O tipo de pesquisa adotadofoi o levantamento de dados em fontes secundárias e coleta de experiências.

1. CONFLITOS, ERROS E ACERTOS NAS ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS

Os últimos vinte anos geraram inúmeros exemplos de amargas lições. Nin-guém foi poupado: Empresas e mercados, empresários e consumidores, governantese governados, patrões e empregados. Através de antagonismos que geraram obje-tivos e interesses individuais e, às vezes, opostos, todos entenderam que fatorescomo recessão, globalização, responsabilidade social, tecnologia, ambientalismo,ecologia, etc., poderiam uni-los ou colocá-los em oposição ou rivalidade.

As diferenças e as novas forças em jogo expõem os conflitos, afastam aspartes e agem como fatores desintegradores das relações sociais. Não revelam,contudo, suas causas e, poucas vezes, promovem soluções e indicam caminhos oualternativas. Estes conflitos raramente produzem vencedores, e nos levam a umareflexão que deve ser serena e desapaixonada a respeito dos elementos que asoriginaram e à criação de estratégias para harmonização de necessidades e expec-tativas, às vezes, antagônicas.

Esses conflitos, quanto à estratégia empresarial, podem estar, por exem-plo, nos consumidores para quem dois aspectos são decisivos: a queda darenda familiar e a redução do nível de emprego. A combinação simultânea ecruel dessas variáveis desencadeia um comportamento defensivo, como: re-dução de despesas, maior sensibilidade a preços, maior atenção aos seusdireitos, redução do volume de compras, adiamento de serviços, busca depromoções, diminuição da preferência por marcas tradicionais, opção porpreços e versões básicos, modelos econômicos e embalagens múltiplas commenor número de unidades. Finalmente, o consumidor acaba por reduzir aquantidade e a variedade de itens e marcas.

Esta nova postura e comportamento do consumidor promovem conseqüên-cias óbvias na formulação de estratégias no ambiente empresarial, a saber, a redu-ção no volume/quantidade e, conseqüentemente, nas vendas e receita, aumentan-do a proporcionalidade dos custos operacionais, reduzindo o giro dos estoques.As empresas menos ágeis e com um quadro profissional de menor competência,assistem ao desaparecimento de seus ganhos financeiros. Concomitantemente, as

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medidas de combate à inflação e o enrijecimento da política monetária acabampor comprometer as margens de operação, e assim as peças contábeis e financei-ras da empresa demonstram os resultados da falta de confiança e instabilidade dapolítica governamental.

Em contrapartida, as estratégias vencedoras, que levarem em conta o fatode que as dificuldades não admitem vacilações e as empresas, cada uma ao seumodo, deverão reagir rapidamente, através de decisões voltadas para: qualidadede produtos e serviços, contenção de custos, desmobilização de ativos,descentralização das unidades de operações e ampliação dos prazos de paga-mento aos fornecedores, conveniências ao consumidor, concentração de com-pras e promoção dos ganhos de escala, obviamente, observando as tendênciasde responsabilidade social e ambiental.

Para ilustrar este conjunto de ações, relacionam-se a seguir alguns setoresonde este processo torna-se mais latente: supermercados, postos de combustíveis,indústria automobilística, setor financeiro, lojas de departamentos e as “pontocom”. A maioria das empresas, que existem somente na Internet, ocupam esselugar privilegiado, porque as grandes empresas demoram demais para incorporartecnologia e modernizar suas operações.

2. ADMINISTRAÇÃO: TEORIA X PRÁTICA

Um dilema constante e sempre presente é como encontrar a dosagem ade-quada entre o desenvolvimento de conceitos teóricos em administração e a utili-zação desses conceitos através de aplicações práticas nos mais diferentes camposde atuação.

Existem inconveniências no mais tradicional método de ensino, a exposiçãooral e preleção, embora não seja possível, em alguns casos, abdicar totalmente deseu uso em determinadas situações. Já há muito tempo parece haver um consensoentre os especialistas de que, para o ensino superior e treinamento de executivos,tal metodologia deve ser reduzida ao mínimo indispensável. Alguns casos, quan-do se desprezou o conhecimento teórico, os resultados apresentaram-se inconsis-tentes e muito aquém do esperado. Portanto, o aconselhável é a busca de um equi-líbrio harmônico entre teoria e prática.

Um fator de sucesso, de significativa importância para o executivo e acadê-mico, é a habilidade e o conhecimento para lidar com os desafios dos Sistemas deInformação Estratégicos, como segue:

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“O uso estratégico da tecnologia da informação permite queos gerentes considerem os sistemas de informação sob umanova luz. A função dos sistemas de informação não é maismeramente uma necessidade das operações, ou seja, um con-junto de tecnologias para processar transações de negócios,apoiar processos empresariais e manter os registros da empre-sa. Ela vai além do suprimento auxiliar de informações e fer-ramentas para a tomada de decisões gerenciais. Agora, a fun-ção dos SI pode ajudar os gerentes a desenvolverem armascompetitivas que utilizam a tecnologia da informação paraimplementar uma multiplicidade de estratégias competitivaspara vencer os desafios das forças competitivas enfrentadaspor toda a organização.”(O’BRIEN, 2001:308).

O autor do artigo “O amanhã já chegou”, Schwartz, explica que o cenário éum processo facilmente reconhecível que pode ser aplicado por pessoas ou em-presas grandes ou pequenas. Mas a dinâmica é tal que as pessoas vão repeti-losempre, sintonizando melhor as decisões, elaborando mais cenários, fazendo otrabalho de levantamento de dados e pesquisa apropriados, revendo a história esuas aplicações. Estes cenários podem ser excessivamente distantes, dependendode como foram previstos. Eles podem ser dissimulados, cruzados e recombinadosde maneiras inesperadas.

Cita o autor que imaginar cenários implica em perceber o futuro no presente.O cenário manipula dois mundos: o dos fatos e o das percepções. Seu objetivo étransformar informações que têm importância estratégica em novas percepções.Ao projetar as decisões no ambiente da empresa e imaginar o futuro da mesma,estamos pensando estrategicamente, avaliando as decisões e seus efeitos nos ob-jetivos e resultados dessa empresa.

Todas as organizações são diferentes e todos os executivos gostariam delevar suas conversas estratégicas com base em cenários que estivessem de acordocom suas idéias. Vejamos a seguir o Quadro 1 – “Como construir cenários – oitopassos e conselhos úteis”, desenvolvido pelo autor, com base no artigo escrito porPeter Schwarts, na revista HSM-Management de abril-junho de 2000, nº 20, sob otítulo “O amanhã já chegou”.

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Quadro 1 – Como construir cenários – oito passos e conselhos úteis.

Fonte: Revista HSM-Management, nº 20, maio-junho 2000,artigo “O amanhã já chegou”, autor Peter Schwartz.

PASSO CENÁRIO

1 Identifique a questão ou decisão central.

2 Determine as forças críticas no ambiente.

3 Faça uma lista das forças principais que exercem alguma influência sobre osfatores-chave identificados.

4 Classifique-as quanto à ordem de importância e grau de incerteza.

5 Defina a lógica do cenário: os vetores em torno dos quais haverá mudança.

6 Discorra sobre cada um dos elementos em jogo.

7 Indique as conseqüências dessa análise para a questão ou decisão central.

8 Estabeleça os indicadores que marcarão a evolução em direção a um outrocenário.

CONSELHOS ÚTEIS

- Mantenha sempre em mente a mecânica dos três cenários tradicionais: o otimista, o

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3. APRIMORAMENTO DO EXECUTIVO

No ambiente empresarial, o executivo pode ser especialista em determinadaárea ou pode ser um generalista; porém, entende-se que a função de um executivoé a de tomar decisões. Reproduz-se a seguir o texto sobre tomadores de decisão:

“Os tomadores de decisões nas organizações são racionais?Examinam cuidadosamente os problemas, identificam todosos critérios relevantes, utilizam a criatividade para identificartodas as alternativas viáveis e, diligentemente, avaliam todas,para encontrar a que otimizará o resultado? Em algumas situ-ações, sim. Quando quem toma decisão se defronta com umproblema com poucos cursos de ação alternativos e quando ocusto de avaliar alternativas é baixo, o modelo racional forne-ce uma descrição bastante precisa do processo de decisão. Mastais situações são exceção. A maioria das decisões no mundoreal não segue o modelo racional. As pessoas, normalmente,se contentam em achar uma solução aceitável ou razoável parao seu problema, em lugar de encontrar uma solução otimizante.Dessa forma, os tomadores de decisão, geralmente, fazem usolimitado de sua criatividade. As escolhas tendem a confinar-se às imediações do sintoma do problema e da alternativa cor-rente. Além disso, embora um número crescente de tomadoresde decisão conheça e seja capaz de utilizar a análise quantita-tiva, eles raramente o fazem. E quando o fazem, quase sempreé para apoiar objetivamente decisões que foram tomadassubjetivamente. Como recentemente concluiu um especialistaem processos de decisão: ‘A maioria das decisões importantessão tomadas por meio de julgamento e não por um modeloprescritivo definido.’” (ROBBINS, 2000:66).

Portanto, o que diferencia um bom executivo de um executivo “comum” é asua capacidade de tomar decisões. Para aprimorar o desempenho de um executi-vo, deve-se enfatizar seu treinamento e reciclagem no processo de tomada dedecisões. Isto exige o desenvolvimento de algumas capacidades por parte dosexecutivos: capacidade de análise, capacidade de planejamento e capacidade deimplementação. A contínua prática em tomar decisões aumenta o conhecimento ea experiência de todos os fatores relevantes envolvidos nessas decisões.

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No planejamento e desenvolvimento de um programa de treinamento ereciclagem de executivos, deve-se buscar metodologias que sejam capazes de de-senvolver e aprimorar essas habilidades, de maneira mais eficiente.

Ao analisar o histórico recente, encontram-se, principalmente após a décadade 70, as contribuições dos especialistas nas diferentes áreas da administraçãoque começam a valorizar a preocupação de integrar esses conhecimentos, buscan-do ressaltar o aspecto estratégico como de fundamental importância para o me-lhor posicionamento das empresas no ambiente competitivo em que são inseridas.

O principal papel dos executivos será saber relacionar as capacidades e osrecursos que as empresas detêm, a fim de garantir a criação de uma vantagemcompetitiva sustentável.

4. MÉTODOS DE ENSINO E O PENSAR ESTRATEGICAMENTE

Tempos atrás, o surgimento do ensino programado, inicialmente pareceu seruma alternativa válida, mas, ao que tudo indica, não apenas o treinamento especí-fico de executivos, mas também para a educação em geral, ele não apresentouresultados significativos.

Em seguida, foi desenvolvida a metodologia da discussão em pequenos gru-pos, através de seminários e/ou workshops, reuniões de brainstorming, tentandorecuperar uma das alternativas da administração, a análise dos problemas a en-frentar por várias pessoas ou especialistas, partilhando entre si diferentes experi-ências, opiniões e pontosde-vista. Workshops (DIC. AURÉLIO ELETRÔNICO,1999): “Reunião de trabalho, ou de treinamento, em que os participantes discuteme/ou exercitam determinadas técnicas.” Brainstormig (BATEMAN/SNELL,1998:526): “Processo em que os membros de um grupo geram tantas idéias arespeito de um problema quanto puderem; as críticas são evitadas até que todas asidéias sejam propostas.”

O método do caso constitui-se em uma evolução natural, certamente um dosprincipais métodos ativos de ensino na área da administração e, talvez, o maisidentificado com esta área do conhecimento. Bem utilizado, pode estimular o trei-nando a pensar estrategicamente. É indiscutível a contribuição da discussão decasos na formação e no desenvolvimento de milhares e milhares de executivos emtodo o mundo. Vale ressaltar a experiência da Universidade de Harvard, nos Esta-dos Unidos, e da Fundação Getúlio Vargas, no Brasil, no desenvolvimento e apli-cação do método do caso.

Variações da metodologia de estudo de caso foram testadas e aplicadas: ométodo de elaboração de projetos e o método do aprendizado em ação. A utiliza-

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ção de rotação no trabalho também se constitui em um exemplo de desenvolvi-mento de executivos dentro desses tipos de métodos.

Estamos experimentando o processo de simulação, ou jogo de empresas, oqual procura criar uma analogia ou aproximação de uma situação real. Pode-seafirmar que o jogo de empresas se aproxima de um estudo de caso, mas com duascaracterísticas adicionais básicas: o feed-back e a dimensão temporal. O feed-back tem como característica distintiva a capacidade de experimentação, além deque as pessoas envolvidas podem avaliar os erros e acertos das decisões tomadas.Os jogos de empresa exercitam o trabalho em grupo e simulam a competitividadeinerente à vida empresarial; portanto, trazendo aspectos envolvidos no dia-a-diados negócios que são: envolvimento interpessoal e competição.

5. ORGANIZAÇÃO: ESTRATÉGIA VOLTADA PARA O CLIENTE

Inicialmente será utilizada a citação de SWARTZ (2000:56): “Num mundo in-certo, em constante e vertiginosa mudança, planejar o futuro pode ser um exercícioestratégico estimulante e, ao mesmo tempo, tranqüilizador.” Os cenários que se apre-sentam permitem analisar, a longo prazo, um mundo onde reina a incerteza, sendo queesta capacidade é fundamental para o executivo e para o acadêmico de Administração.

Em artigos, livros e revistas, algumas das frases mais citadas hoje em dia são: “Aorganização deve estar voltada ao cliente”, “Quem manda é o cliente”, “Vamos sur-preender o cliente”, e outras frases de efeitos semelhantes. Preparar estrategicamentea organização para aproveitar a competência do cliente exigirá uma reforma dos siste-mas tradicionais de gestão e das estruturas organizacionais. Inicialmente, os padrõesda nova economia precisam levar em conta o capital intelectual e humano.

Os princípios contábeis geralmente aceitos e adotados por todas as empresasforam projetados para negócios estáveis, que privilegiavam ativos fixos, comoestoque, terreno e construções; outros investimentos como treinamento são trata-dos como despesas. Mas a competência dos consumidores é um ativo intangível edeve ser tratada como capital.

As empresas terão que colocar em prática a avaliação de desempenho depessoas e negócios, com base em resultados, em vez de se apoiarem em revisõesperiódicas de orçamentos. Os instrumentos tradicionais foram projetados paraenfocar os custos como principais determinantes de preço. Porém, o consumidorobrigou as empresas a ajustarem seus custos e estratégias com base no preço queele está propenso a pagar e os sistemas atuais não estão preparados para atender àreconfiguração constante da cadeia de suprimentos, resultante da multiplicidadede canais de distribuição.

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Esta estratégia empresarial tem que avaliar as conseqüências de uma con-corrência que tem o mercado como “juiz”, conseqüências estas que serão aindamais drásticas. Negociar e dialogar com uma base de clientes diversificada, côns-cia de seus direitos e poder, em constante evolução em vários canais, exigirá mui-ta flexibilidade organizacional.

Os papéis dentro da organização de cada área, não poderão ser encaradoscomo estáveis; as organizações terão que reconfigurar seus recursos constante-mente: pessoal, infra-estrutura, tecnologia e capital, para acompanhar a evoluçãoe mudanças constantes do mundo dos negócios e, assim, fazer frente aos desafiose oportunidades que aparecerão.

É previsível que a necessidade de criação de uma organização flexível pro-voque traumas emocionais em funcionários desatualizados da empresa. É menostraumatizante impor novas metas de práticas organizacionais a novas empresas doque a negócios estabelecidos. A experiência nos mostra que abrir uma nova em-presa é sempre mais fácil do que mudar uma antiga; mas a mudança é uma questãode sobrevivência.

No momento, o grande desafio para a alta gerência é prover a organizaçãode estabilidade, ao mesmo tempo em que promove mudanças. A única maneira deconseguir isso é desenvolvendo um sólido conjunto de valores organizacionais.Pode parecer paradoxal, mas mudanças rápidas também exigem um centro está-vel. Os subordinados precisam confiar e ver capacidade na tomada de decisão deseus comandantes. Embora os produtos, serviços, canais e negócios possam mu-dar impunemente, os seres humanos precisam de âncoras emocionais.

Um foco igualmente importante é o explicitado a seguir:

“Empresas excelentes sabem como se adaptar e responder aum ambiente continuamente mutante, praticando planejamentoestratégico orientado para o mercado. Sabem como desenvol-ver e manter o equilíbrio entre seus objetivos, recursos, habili-dades e oportunidades. Adotam o processo de planejamentoestratégico em nível corporativo, de negócio e de produto. Osobjetivos desenvolvidos em nível corporativo descem aos ní-veis em que os planos estratégicos dos negócios e os planos demarketing são preparados para guiar as atividades das empre-sas. O planejamento estratégico envolve ciclos repetidos deanálise, planejamento, implementação e controle.” (KOTLER,1996:91).

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O executivo, ao tomar decisões estratégicas, trabalha observando o merca-do, os objetivos da empresas, as ameaças e oportunidades dos ambientes interno eexterno, sempre com o objetivo de obter o melhor resultado para a empresa alongo prazo.

6. CONCLUSÕES

Em outra época, havia tempo de sobra para planejar e implementar estratégi-as, sobretudo porque não era difícil prever os próximos passos da concorrência.Hoje, a revolução à nossa volta é notável. Também é notável o papel desempenha-do pelas corporações em busca do êxito de uma campanha, pelo conhecimento epelos ativos intelectuais. São esses os fatores que definirão o papel dos executivose, se forem abordados como exigem as circunstâncias, derrubarão as fronteirasque separam as pessoas das organizações.

As decisões tomadas, estrategicamente, e de forma adequada, além de criarorganizações em que os recursos possam ser reconfigurados de forma transparen-te, com o menor esforço possível, voltados para o atendimento do cliente e comqualidade, certamente, são o atalho para o sucesso de um empreendimento empre-sarial.

Os executivos precisam estar preparados para conviver com a constantemudança de seus negócios, sem traumas, enquanto identificam os desafios quetêm à sua frente. O novo mercado vai valorizar aqueles que tiverem a capacidadede negociação e colaboração. Aprender, ensinar e transferir conhecimentos entrediversas áreas será uma habilidade importante, aliada à capacidade de atrair ereter os funcionários certos.

As mudanças na estratégia e no modo de pensar são demonstradas historica-mente com muita propriedade, como segue:

“No passado, a relação entre uma empresa e seus concorrentes era como umteatro tradicional: os atores ficavam no palco, com papéis claramente definidos, eo público, depois de pagar ingresso, sentava calma e passivamente na platéia paraassistir à peça. No mundo dos negócios, fabricantes, distribuidores e fornecedoresconheciam e seguiam rigidamente papéis bem definidos de relacionamento em-presarial. Hoje a coisa mudou. A concorrência leva a um movimento semelhanteao do teatro experimental dos anos 60 e 70: todos – e os clientes entram aqui comdestaque – podem participar da ação principal.” (PRAHALAD e RAMASWAMY,2000:42).

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A empresa moderna, através de sua administração, terá como nova metacriar o futuro, aproveitando a competência, em uma rede avançada que incluatambém os clientes. Construirá os cenários mais propícios para os resultados delongo prazo.

Há muitas empresas que se dão por satisfeitas em redigir a lista de seuspontos fortes e fracos, apesar de este ponto-de-vista ser obsoleto. Toda empresaprecisa de um estrategista, cuja função é procurar influir na estrutura do setor deatividade no qual opera, e não, simplesmente, aceitar as regras impostas. A maio-ria das universidades e faculdades precisa urgentemente rever seus currículos eredirecionar os cursos de Administração para uma formação direcionada à estra-tégia empresarial.

As empresas e instituições de ensino que pretendam vencer, hoje e futura-mente, não têm alternativa: ou implementam estratégias inovadoras ou perderãoespaço para os concorrentes atentos a estes pontos cruciais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AURÉLIO, Dicionário Eletrônico - Século XXI, Versão 3.0, novembro de 1999.BATEMAN, Thomas S.; SNELL, Scott A. Administração - Management – Cons-truindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998.BECKER, Nelson, Revista Exame, 23/09/98, ano 32, nº 20, 1998.KOTLER, Philip. Administração de marketing: análise, planejamento,implementação e controle. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1996.MAXIMIANO, Antonio Cezar Amaru. Teoria geral da administração. 2.ed. SãoPaulo: Atlas, 2000.O’BRIEN, James A. Sistemas de informação e as decisões gerenciais na era daInternet. São Paulo: Saraiva, 2001.PRAHALAD, C. K.; RAMASWAMY, Venkatram. Como incorporar as compe-tências do cliente. HSM-Management, maio-junho 2000, p.42, nº 20.ROBBINS, Stephen P. Administração - mudanças e perspectivas. São Paulo:Saraiva, 2000.SCHWARTZ, Peter. O amanhã já chegou. HSM-Management, maio-junho 2000,p.56, nº 20.TIFFANY, Paul; PETERSON, Steven D. Planejamento estratégico - Série paradummies. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

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1

OS IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO NO MUNDODO TRABALHO

1 Ângela Maria de Sousa Lima

RESUMO

O artigo que segue faz uma discussão a respeito da relação trabalho eglobalização. Para tanto, perpassa, rapidamente, pelo debate das mudanças nomundo do trabalho, pela centralidade do estudo do trabalho nas Ciências Sociaise pela análise de alguns impactos da globalização, sobretudo na esfera econômi-ca, sobre esse mesmo trabalho. Um dos principais objetivos do texto está emdemonstrar como a emergência da sociedade global e as modificações que estatem provocado nas relações capitalistas de produção, principalmente no Brasil,têm levado as Ciências Sociais a repensarem suas análises em torno dessas pro-blemáticas.

PALAVRAS-CHAVE: Globalização; Centralidade do Trabalho; Flexibi- lização; Terceirização; Crise Societária e Analítica.

ABSTRACT

This paper intends to discuss the relation between labor and globalization;therefore, it mentions the debate on the changes in the labor world, the centralityof labor study in social sciences, and also the analyses of some globalizationimpacts, mainly economic one, on such labor. One of the main goals of this paperis to demonstrate how the emergence of global society and the changes it has beenprovoking into capitalist relation of production, mainly in Brazil, have made thesocial sciences to think over their analyses related to these matters.

KEY-WORDS: Globalization; Centrality of Labor; Flexibility; Contractor; Societal and Analytical Crises.

1 Especialista em Sociologia e Sociologia da Educação (UEL). Mestre em Sociologia Política (UFPR).Doutoranda em Ciências Sociais (UNICAMP). Professora de Fundamentos Sócio-antropológicosda Educação, no Instituto Superior de Educação Mãe de Deus de Londrina.E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

A globalização econômica evidenciou com mais intensidade os novos meca-nismos ideológico-políticos e econômicos utilizados pelo capital para intensificara produção e, ao mesmo tempo, sufocar a organização dos trabalhadores. Atravésde estratégias de retroalimentação do capital, tais como: a terceirização, aflexibilização, a informalidade, a busca por mão-de-obra barata, o controle dequalidade, entre outras, ela colaborou para o aumento da precarização, da explo-ração do trabalho e do trabalhador brasileiro.

Com o incremento da exportação, empresários de vários setores, vêm inves-tindo em agilidade e aumento do volume de produção para poder atender à de-manda externa. Para tanto, priorizam a automação, empregando cada vez menospessoas, ou seja, investem em atividades de capital intensivo com poucos traba-lhadores qualificados.

Isso nos leva a pensar que a globalização atinge inúmeras questões soci-ais, sobretudo aquelas que se referem ao trabalhador e ao trabalho, e mais, quea raiz dos principais problemas sociais vivenciados pelos mesmos tem suaorigem no modo de produção capitalista que, apesar das crises e dasretroalimentações sofridas, mantém inalterada a sua base exploratória. Po-rém, é possível pensar que há formas de intervenção político-social, cultural eeconômica neste processo.

A atualidade da categoria trabalho

Com a influência maciça dos computadores e dos softwares, passamos apresenciar discursos que tentam provar que entramos, com a globalização, emum mundo onde não mais existirão trabalhadores. Peter Drucker (apud,BERTOLINO, 1997, p.20) ajuda a ilustrar bem a voz ideológica doempresariado nesse momento: “O desaparecimento da mão-de-obra como fa-tor chave da produção emergirá como o crítico assunto pendente da sociedadecapitalista.”

Sobre esse suposto fim do trabalho, FRIGOTTO afirma que o grau de extra-ção da mais-valia continua voraz e o que se libera não é o tempo livre, mas tempode desemprego, de trabalho precário e de aumento de sobrantes. “Na tese do mer-cado auto-regulado há consumidores soberanos que livremente tomam suas deci-sões otimizadas. Na perspectiva do pós-modernismo, no limite, cada um é suateoria, é sua utopia e é seu projeto histórico.” (2000, p.12).

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Nesse sentido, também diz Antunes (apud BERTOLINO, 1997, p.19):

“Supor a generalização dessa tendência (a substituição da mão-de-obra por máquinas) sob o capitalismo contemporâneo – neleincluído o enorme contingente de trabalhadores do TerceiroMundo – seria um enorme despropósito e acarretaria comoconseqüência inevitável a própria destruição da economia demercado, pela incapacidade de integralização do processo deacumulação do capital. Não sendo nem consumidores, nemassalariados, os robôs não poderiam participar do mercado. Asimples sobrevivência da economia capitalista estaria, dessemodo, comprometida.”

Marx, em O Capital, (apud BERTOLINO, 1997, p.21) já havia previsto es-tas mudanças.

“Sob sua forma máquina [...] o meio de trabalho se torna ime-diatamente o concorrente do trabalhador. A máquina cria umapopulação supérflua, isto é, inútil para as necessidades mo-mentâneas da exploração capitalista [...] em determinado graude desenvolvimento, um progresso extraordinário na produ-ção pode ser acompanhado de uma diminuição não só relativacomo absoluta do número de operários empregados.”

MARX e ENGELS (1998) também já haviam demarcado, no Manifesto doPartido Comunista, que a burguesia não pode existir sem revolucionar continua-mente os instrumentos de produção, e, por conseguinte, as relações de produção.

Portanto, diferente de como pontua Claus OFFE (1989) - de que a esfera dotrabalho e da produção perdeu sua capacidade de estruturação e de organização,liderando, deste modo, novos campos de ação, marcados por novos atores e poruma nova racionalidade - a centralidade do trabalho e da produção ainda se cons-titui em um fato sociológico fundamental para os sociólogos contemporâneos.

Não compartilhamos com OFFE (1989) da idéia de que o trabalho tem setornado objetivamente disforme e subjetivamente periférico, e nem com a afirma-ção de que a cultura cognitiva não está mais relacionada primeiramente com odesenvolvimento das forças produtivas.

Da mesma forma, questionamos a teoria de Habermas quando descreve adinâmica das sociedades modernas, não como um antagonismo enraizado na

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esfera da produção, mas como uma colisão entre os subsistemas de ação racio-nal-intencional, mediados pelo dinheiro e pelo poder, de um lado, e um mundo-da-vida-cotidiana, que resiste obstinadamente a estes sistemas, de outro. Em umoutro grupo de análise, podemos citar, para fins de contestação, as teorias soci-ológicas de Foucault, de Touraine e de Gorz, de que a fábrica não é o centro derelações de dominação, nem o local dos mais importantes conflitos sociais; queos parâmetros sociais e econômicos do desenvolvimento social foram substitu-ídos por uma autoprogramação da sociedade; e que, nas sociedades ocidentais,tornou-se altamente enganoso equiparar o desenvolvimento das forças produti-vas e a emancipação humana.

A Sociologia de Gorz também parece não explicar as atuais mudançasocorridas no mundo do trabalho. Gorz considera, por exemplo, que o trabalhodeixou, há muito tempo, de fazer parte da liberdade do homem ou da sua iden-tificação com sua atividade e passou para o reino da necessidade. Na sua pers-pectiva, o neoproletário passou a ser determinado pelo trabalho que “...nãopertence aos indivíduos que o executam e não é a sua atividade própria: per-tence ao aparelho de produção social, é repartido e programado por esse apa-relho e permanece externo aos indivíduos aos quais se impõe.” (GORZ, 1987,p.90).

Na visão do autor do presente ensaio, a libertação do proletário, difundidapor Marx, torna-se impossível, pelo fato de o proletário pós-industrial não encon-trar no trabalho social a fonte de seu poder possível como vê nele, a realidade dopoder dos aparelhos e de seu próprio não-poder (GORZ, 1987, p.91). Nessa pers-pectiva, o trabalho, a cada dia, passa a ser exterior ao homem; aliena e inverte suarelação com o homem; ao invés de existir para o homem, o homem passa a existira partir dele, tornando-se seu dependente e escravo.

Para GORZ, a evolução tecnológica não se apresenta como maneira de umaapropriação de produção social pelos produtores e, sim, caminha no sentido deuma abolição dos produtores sociais, de uma marginalização do trabalho social-mente necessário sob o efeito da revolução informática (1987, p.91).

O trabalho produtivo não está em extinção e nem a classe trabalhadora (pro-letariado). É verdade que o trabalho passou por diversas metamorfoses. O traba-lho, ao longo das décadas, se reorganiza e se readapta aos processos e modos deprodução implantados pelo capitalismo, favorecendo sua manutenção.

Como explica ANDRADE FILHO, o trabalho é uma expressão fundante dohomem. Pelo trabalho, o homem potencializa o caminho da humanização e proje-ta seu futuro em uma nova forma de sociabilidade. O autor investiga o trabalhocomo ação transformadora das realidades, em uma resposta aos desafios da natu-reza, relação dialética entre teoria e prática. Pelo trabalho, entende, “...o homem

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se autoproduz, alterando sua visão de mundo e de si mesmo, do mundo econômi-co, político e social, com perspectivas éticas e direitos econômicos dehumanização.” (1999, p.29).

São inúmeros os tipos atuais de trabalho a serem estudados. Do mesmo modo,novas condições de trabalho vão sendo definidas e instituídas por intermédio dodesenvolvimento científico e tecnológico, de acordo com os interesses econômi-co-políticos. O significado do trabalho apresenta seus termos impostos por deter-minado tipo de produção. Como mostra ANTUNES (2002), o trabalho demonstrahoje formas contemporâneas de vigência, nova configuração de classe trabalha-dora, inovadas formas de interpenetração entre as atividades produtivas e as im-produtivas, entre o sistema fabril e de serviços, entre as laborativas e de concep-ção e entre o conhecimento científico.

Continua sendo fenômeno pertinente às Ciências Sociais a centralidade domundo do trabalho e a positividade do trabalho na vida humana, apesar das pro-fundas mudanças que ocorrem em seu conteúdo, divisão e relação, ao longo doprocesso produtivo do sistema capitalista.

Parece não ter ocorrido ainda a tão propagada substituição do trabalho pelaciência, ou a substituição da produção de mercadorias pela esfera da comunica-ção, da informação. O neoliberalismo e a reestruturação produtiva na era da acu-mulação flexível são respostas dadas pelo capitalismo para tentar sanar as crisespor ele mesmo geradas. São conseqüências dessa retroalimentação do capital: oaumento da exploração e da jornada de trabalho, o desemprego estrutural, o traba-lho precarizado e a preocupação extremada com a produção de mercadorias, de-gradando cada dia mais a relação entre o homem e a natureza (ANTUNES, 2002).

A nova lógica do sistema produtor de mercadorias vem convertendo a con-corrência e a busca pela produtividade em um processo destrutivo que tem geradouma imensa precarização do trabalho e o aumento monumental do exército indus-trial de reserva. Vivemos atualmente diante de um quadro crítico no que diz res-peito ao mundo do trabalho e à lógica do capital, caracterizando, entre outrosproblemas, formas concretas de (des)socialização humana e de fetichização dasformas de representações vigentes (Idem, 2002, p.16).

Como bem mostra ANTUNES (1996), a crise da sociedade do trabalho abs-trato, que cria valores de troca, não pode ser entendida como a crise que inviabilizao trabalho como fonte primeira, ponto de partida de uma sociedade emancipada.

Pensamos que o trabalho, como também afirma CASTEL, continua sendouma referência não só economicamente, mas também psicológica, cultural e sim-bolicamente dominante, como provam as reações dos que não o têm (1998, p.578).

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Neoliberalismo, globalização e algumas mudanças no mundo do trabalho

Nossa intenção metodológica é repensar, neste item, alguns dos impactos daglobalização e do neoliberalismo sobre o mundo do trabalho. Sabemos, porém,que, nesta brevíssima retomada histórico-sociológica, sacrificaremos a análise sobreas transformações no mundo do trabalho, que se efetuam no processo de mudan-ças, por exemplo, do sistema fordista norte-americano ao pós-toyotismo japonês.

Para iniciá-lo, lembramos que, em face da crise enfrentada pelo modo deprodução capitalista, no final do século XX, a política neoliberal desponta deforma a defender leis estritamente mercadológicas, acenando com o fim do Esta-do de Bem-Estar-Social, da estabilidade de emprego, com o nascimento do Esta-do Mínimo, com o corte abrupto das despesas previdenciárias e gastos em geralcom as políticas sociais (SILVA, 2002, p.42).

Fundamental, mas não unívoca, a tese neoliberal funda-se em algumas pos-turas de ação, tais como: a retirada do Estado da economia; a idéia do EstadoMínimo; a restrição dos ganhos de produtividade e garantias de emprego e estabi-lidade de emprego; a volta das leis de mercado sem restrições; o aumento dastaxas de juros para aumentar a poupança e arrefecer o consumo; a diminuição dosimpostos sobre o capital e diminuição dos gastos e receitas públicas e, conseqüen-temente, dos investimentos em políticas sociais (FRIGOTTO, 2000, p.80).

Nesse contexto, o Estado assume um papel abstencionista, a burguesiamonopolista é favorecida, o Estado reduzido cede espaço para as empresasmultinacionais e estas passam a exercer um controle sem paralelo sobre os recur-sos globais, a mão-de-obra e os mercados (RIFKIN, 1995).

Segundo TOLEDO (1997, p.84), o neoliberalismo existente não é senão oEstado do grande capital que, por meio da derrota da classe operária, impôs ruptu-ras ou limitações aos pactos corporativos do pós-guerra, implantou uma nova dis-ciplina fabril e uma austeridade salarial, também nos gastos sociais, descontandosobre os trabalhadores os custos das crises. A política neoliberal adotada pelosistema capitalista apresenta a economia como válvula mestra da vida humana,estabelecendo valores e necessidades independentemente do caráter, de modo adeterminar a identidade social e, principalmente, pessoal do homem.

Novamente são processadas mudanças na identidade pessoal do novo tipode trabalhador que se quer constituir. Esse processo “...mascara e fetichiza, al-cança crescimento mediante a destruição criativa, cria novos desejos e necessida-des, explora a capacidade do trabalho e do desejo humanos, transforma espaços eacelera o ritmo da vida.” (HARVEY, 1992, p.307).

É nesse quadro, totalmente opressor para o trabalhador, que, a partir dosanos 80, passamos a vivenciar uma flexibilização ainda maior da produção. O

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termo globalização relaciona-se agora a um fenômeno econômico que apresenta aimagem de uma única economia, de um único interesse. Em seu nome, “...a movi-mentação internacional dos capitais é liberada, o setor público produtivo éprivatizado ou desmantelado e a política monetária prioriza a estabilidade dospreços em detrimento do crescimento econômico.” (SINGER, 2000, p.119).

Segundo Singer, o excesso de oferta de força de trabalho solapa nesse mo-mento as organizações sindicais e confere aparente credibilidade à tese liberal deque todas as conquistas legais de direitos trabalhistas causam a diminuição dademanda por trabalho assalariado. Com a introdução da tecnologia no mundo dotrabalho, várias alterações se efetivam ao longo do processo mediante relações deprodução, possibilitando que uma nova ordem social se promova e adentre navida da sociedade. A tecnologia favorece a reconfiguração de valores pessoais eestruturais da sociedade.

A tecnologia e a ciência escondem as relações sociais que as produzem,impondo um novo tipo de organização do trabalho. Traçando um paralelo entre asprimeiras tecnologias industriais e as novas, baseadas no computador, pode-seafirmar que ambas substituíram parcialmente o trabalhador, quer trocando suaforça muscular por máquinas, quer substituindo a própria mente humana, colo-cando máquinas” inteligentes” no lugar dos seres humanos em toda a escala deatividade econômica (RIFKIN, 1995, p.5).

A categoria não-trabalho surge no momento em que passa a se fazer presen-te o desemprego tecnológico. A eliminação de várias frentes de trabalho e suanão-substituição é um dos resultados do avanço tecnológico. Nesse quadro deter-minado por questões econômicas e políticas, apenas quem possui qualificaçãoprofissional consegue espaço de atuação, mesmo lembrando que esse mercadonão garante trabalho para todos aqueles que aderem à capacitação e flexibilizaçãodos conhecimentos. Nesse contexto, conceitos como globalização, flexibilização,reengenharia, nova gestão, qualidade total, trabalho enriquecido, ciclos de con-trole de qualidade se traduzem por métodos que buscam otimizar tempo, espaço,energia, matéria e trabalho vivo, proporcionando o aumento da produtividade, aqualidade dos produtos.

Em relação à qualidade total, ela apresenta como princípios a negação dadurabilidade das mercadorias, pela redução da vida dos produtos, favorecendo odesperdício e a destrutividade. O processo de qualidade total é um processo deorganização do trabalho, cuja finalidade essencial, real, é a intensificação dascondições de exploração da força de trabalho (ANTUNES, 2002, p.53).

Esse projeto de recuperação da hegemonia atinge as mais diversas esferasda sociabilidade, exacerbando o individualismo contra as formas de solidariedadee atuação coletiva e social, ocultando a dominação política. Como bem mostra

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DIAS (1999, p.80), nas formações sociais capitalistas, a naturalidade aparente doeconômico oculta a dominação política e impede que as classes subalternas to-mem consciência desse processo e realizam a construção de sua identidade, deseus projetos. Segundo o mesmo autor, no campo de forças do Estado burguês,todo o jogo aparece como se dando entre indivíduos genéricos, abstratos, semhistoricidade. O ocultamento da dominação política é uma necessidade objetiva.Assim, a aparência da liberdade individual é fundamental para a fluidez da formade dominação, o que torna possível apresentar a liberdade de uma classe comosendo a de todas as demais. Continua o autor, pela supressão máxima da liberdade(compra-venda de força de trabalho = exploração), cria-se a individualidade polí-tica, permitindo o ocultamento da opressão (construção do consenso). Afinal, comonos leva a pensar Dias, a liberdade de mercado, sob o capitalismo, é uma aparên-cia necessária.

Com a liberalização dos processos de relações políticas e industriais, duran-te o final da década de 80, nas fábricas brasileiras podemos observar a introduçãode um modelo de produção “mais desenvolvido”, a expressão just-in-timetaylorizado chega a ser usada por alguns para descrever uma fábrica parcialmentemodernizada em que aos trabalhadores eram dadas novas tarefas, mas dentro dasquais eles continuavam sob condições altamente monitorizadas e pressionadas(HUMPHREY, 1993, p.255 e 256).

Os estudos sobre o processo de exploração do e no trabalho, têm sido enri-quecidos por diversos recortes e abordagens no sentido de explicitar os mais vari-ados elementos que interferiram e interferem nesse processo, não só no Brasil,mas em diversos países no mundo. Mas partimos da premissa de que, por maisque visualizemos significativos impactos da globalização sobre o mundo do tra-balho, continua viva, para nós, a defesa do pressuposto de que este fenômeno(trabalho) continua sendo central às Ciências Sociais.

A título de ilustração, lembramos as pesquisas de HIRATA e PRETECEILLE(2002). Os autores discutem os principais modelos teóricos dos estudos sobre areestruturação econômica na França e as formulações acerca da exclusão,precarização, flexibilização e insegurança no e do trabalho. Salientam que, apesardo crescimento do desemprego e da redução dos postos de trabalho, a maioria dospesquisadores franceses reafirma a centralidade do trabalho que, mesmo ausente,continua a ser tomado como referência na construção das identidades sociais. Umdos pontos centrais destacados pelos autores é a “dupla transformação do trabalhoaparentemente paradoxal”, ou seja, de uma parte, os modelos de organização exi-gem estabilidade e envolvimento dos indivíduos no processo de trabalho (autono-mia, iniciativa, responsabilidade, comunicação) e, de outra, os vínculosempregatícios que se tornam cada vez mais precários e instáveis. Os autores des-

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cobrem que, atrás desse paradoxo, há, na verdade, uma degradação das condiçõesde trabalho e uma forte intensificação do trabalho, ocasionando sérios problemasà saúde, uma vez que o apelo ao subjetivismo e o envolvimento do trabalhadornão o poupam de sofrer.

Na mesma linha de pensamento, há as pesquisas de FRANCO (2002). Oautor reforça a tese de que se está longe o fim do trabalho e que o processo cres-cente de precarização das condições de trabalho decorre do excesso, e não dafalta, de trabalho. Suas atenções se voltam, sobretudo, às pesquisas sobre o Karoshi(morte súbita por excesso de trabalho) no Japão.

Mesmo que a flexibilização e a precarização do trabalho sintetizem os diver-sos processos de transformações e de inovações no âmbito da organização dotrabalho, das políticas de gestão e no campo de mercado de trabalho, como fenô-menos que se mundializaram, tais fenômenos apresentam especificidades nacio-nais e, mesmo, regionais. As mutações no mundo do trabalho, de forma maisabrangente, afetam as localidades, as organizações menores, a vida real dos traba-lhadores envolvidos diferentemente, interferindo no processo real de trabalho, nanova sociabilidade, na identidade de classe, na nova solidariedade e na maiorintensificação-exploração do trabalhador(a).

Nesse processo de retroalimentação, de inferência de novos valores (capita-listas) na subjetividade do trabalhador, gera-se, processualmente, uma sociabili-dade desejável pelo capital.

O trabalhador passa a ter dificuldade hoje de se identificar enquanto classe,torna-se confuso entre empregado e empreendedor, entre trabalhador terceirizadoe trabalhador permanente; já que emprega outras pessoas no fabricação domésti-ca, na maioria das vezes, seus próprios familiares e amigos e divide o ambiente detrabalho com colegas oriundos dos mais diferentes tipos de contrato. O mesmopassa a se alimentar com uma enganosa liberdade e autonomia, que esconde umaideologia de exploração, com piores condições de trabalho, maior jornada, ausên-cia de direitos, arduamente conseguidos pela luta de classes.

Um dado, para o Brasil, que nos ajuda a compreender os impactos daglobalização no mundo do trabalho está no aumento da relação produtividade/exclusão do trabalhador no mercado de trabalho. Apesar de os dados não seremmuito atuais, BERTOLINO (1997, p.19) nos dá uma idéia desses impactos. Comodetalha o autor, de 1985 a 1990, a produtividade na indústria nacional andou paratrás ao ritmo de 0,4% ao ano. Em compensação, de 1990 a 1995, segundo o IBGE,a produtividade aumentou em 49,5%. Em 1996, o aumento foi de 13,1%, em re-corde histórico. O autor se pergunta: “Qual é a explicação para essa mudançabrusca na capacidade de produção da força de trabalho brasileira?” Segundo ele,em primeiro lugar estão os investimentos em tecnologia, com a importação maci-

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ça de máquinas e equipamentos dotados de alta capacidade tecnológica. A segun-da explicação repousa nas técnicas de organização do trabalho. O envolvimentodos funcionários com a gestão da produção, proporcionou substanciais aumentosde produtividade, com redução de quadro. “O sistema de equipes de trabalho che-ga a ponto de trabalhar sem a figura do chefe imediato, com liberdade para fixar oritmo da produção, contratar ou demitir colegas e discutir as melhorias no proces-so.”, ilustra o autor (Idem).

Outros dois motivos ajudam a explicar o aumento da produtividade, de acor-do com BERTOLINO (1997, p.20): as horas extras e a terceirização. Existe tam-bém o fenômeno da “terceirização para fora”, quando uma empresa passa a trazermais componentes do exterior, em vez de fabricá-los internamente. Aliás, qual-quer que seja o fator, aumento da produtividade significa intensificação da explo-ração assalariada.

Como explica BERTOLINO (1997, p.20):

“As máquinas modernas por si só não são capazes de aumen-tar a produtividade. Elas obrigam os trabalhadores a acelerar avelocidade das operações. Com as novas técnicas de organiza-ção do trabalho, muitas vezes, os intervalos de paradas sãoeliminados. Além da energia muscular, o trabalhador é obriga-do a uma concentração maior, o que ocasiona desgaste psico-lógico. A tensão emocional é constante e as doenças profissi-onais crescem assustadoramente. São novas formas de explo-ração assalariada.”

BERTOLINO (1997, p.20) demonstra que o aumento da produtividade nãoé um recurso novo do capital. A cooperação simples nas oficinas capitalistas nasquais o processo de trabalho realizava-se ainda com a técnica manual do artesão,a manufatura em que ainda predominava a técnica artesanal, mas já com a divisãodo trabalho, e a grande indústria baseada no sistema de máquinas, já representa-vam três fases históricas fundamentais do desenvolvimento industrial para a ele-vação da produtividade. A substituição das máquinas a vapor por outras movidasa diesel e a eletricidade, combinadas com a adoção de técnicas tayloristas-fordistas,também elevaram a produtividade de forma extraordinária, acrescenta o autor.

Segundo BERTOLINO (1997, p.22), milhões de pessoas em todo o mundojá foram excluídas do mercado de trabalho formal. Por outro lado, o aumento deprodutividade implica em aumento de renda. O problema está na forma como essarenda é apropriada e o ponto central não está no tamanho da classe operária, masno seu papel histórico.

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Com a globalização, caminhamos juntos com dois “monstros”, a exclusão eo poder da ideologia neoliberal, o primeiro, vítima do segundo. Para FRIGOTTO(2000, p.11), na forma específica que assume na virada do século, a globalizaçãoexplicita, de um lado, uma espécie de vingança do capital contra a luta históricados trabalhadores, e suas vitórias parciais em barrar-lhe a violência; e, de outro, oaprofundamento da contradição entre o avanço extraordinário das forças produti-vas e o caráter opaco das relações sociais.

Como mostra o autor, neste contexto, a ideologia neoliberal opera com umaforça poderosa buscando, a um tempo, ocultar as contradições e construir umsenso comum da via única e inevitável da nova (des)ordem mundial, tentando, atodo custo, minar a esperança de um projeto societário de caráter socialista.

E, neste contexto, vivemos, segundo FRIGOTTO (2000, p.11), uma crisesocietária;

“Por mais paradoxal que pareça, na base desta crise está funda-mentalmente a crise do capital que, para manter-se e recuperartaxas históricas de exploração, desmantela, sob o ideário neoliberalda desregulamentação e privatização, os direitos sociais conquis-tados pelos trabalhadores, de forma assimétrica em diferentespartes do mundo, especialmente neste último século.”

Os mecanismos utilizados pelas empresas para sair das crises precisam sercontextualizados nos mecanismos usados pelo capital para se refazer a cada abaloeconômico.

No Brasil, outro impacto da globalização sobre o trabalho, sem dúvida, está nofato da flexibilização ter flexibilizado também os direitos sociais, duramente con-quistados pelas lutas dos trabalhadores. A expansão do mercado em escala mundialos atingiu, particularmente. Segundo RÚDIGER (2003, p.42), estamos diante deuma crise do direito do trabalho estreitamente ligada à desconstrução e à reorgani-zação do trabalhador coletivo em escala mundial, com seus desdobramentos na es-fera jurídica pelo esfarelamento do regramento da relação de emprego em múltiplasformas atípicas de normatização das relações de trabalho, um trabalho que é contra-tado no mercado mundial por meio de formas jurídicas diversificadas e flexíveis.

A autora lembra que a atual situação do mercado de trabalho é apenas apa-rentemente flexível e desregulamentada. Ocorre que a retirada do Estado comopoder regulador do mercado de trabalho e o enfraquecimento dos sindicatos comorepresentantes, inclusive jurídicos, dos trabalhadores, somente fortalecem o po-der corporativo das grandes empresas. Através da tecnologia da informação, as

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organizações empresariais conseguem controlar muito mais eficazmente a açãodos trabalhadores; propalam, então, uma falsa flexibilidade do trabalho.

Ao inserir-se no mercado global, o Estado brasileiro, especialmente a partirda Constituição de 1988, perde gradativamente seu monopólio de promulgar re-gras, o que leva a uma particularização e privatização da regulação jurídica, noque tange à questão dos direitos dos trabalhadores. As organizações das empre-sas, nos moldes da descentralização produtiva, faz com que as precárias relaçõesde trabalho ganhem uma legitimidade que antes não possuíam. Segundo RÚDIGER(2003), coincidência ou não, a partir dos anos 1990, o discurso da flexibilidade noajuste econômico tem seu correspondente no discurso jurídico da flexibilizaçãodo direito do trabalho, principalmente a partir do momento que as empresas pas-sam a organizar, de forma sistemática, o emprego toyotista de mão-de-obra.

No campo científico, por mais que creiamos que o referencial teórico-políti-co marxista é o que melhor responde, cientificamente e na prática, aos temascorrelacionados ao capitalismo em curso, concordamos com FRIGOTTO (2000),quando aponta que, nesse período de crise societária, surge também uma crise dascategorias de análise e dos referenciais teóricos, que buscam apreender esse mo-vimento histórico.

Featherstone desafia a sociologia a “...teorizar e encontrar formas de investi-gação sistemática que ajudem a clarificar estes processos globalizantes e estas for-mas destrutivas de vida social que tornam problemático o que por muito tempo foivisto como objeto mais básico da sociologia: a sociedade concebida quase exclusi-vamente como o Estado-Nação bem delimitado.” (apud SANTOS, 2002, p.26).

Sobre essa crise de categoria de análise, argumenta IANNI (1994, p.147)dizendo que, no limiar do século XXI, as Ciências Sociais se defrontam com umdesafio epistemológico novo. Segundo ele, pela primeira vez somos desafiados apensar o mundo como uma sociedade global, ou seja, o pensamento científico, emsuas produções mais notáveis, elaborado primordialmente com base na reflexãosobre a sociedade nacional, não é suficiente para apreender a constituição e osmovimentos da sociedade global, sociedade esta ainda não suficientemente reco-nhecida e decodificada.

Para IANNI (1994), a sociedade global apresenta desafios empíricos emetodológicos, ou históricos e teóricos, que exigem novos conceitos, outras ca-tegorias e diferentes interpretações. Segundo ele, o conhecimento acumulado so-bre a sociedade nacional não é suficiente para esclarecer as novas configuraçõesde uma realidade que é sempre internacional, multinacional, transnacional, mun-dial e propriamente global, mesmo porque, como o próprio autor elucida, a socie-dade global não é a mera extensão quantitativa e qualitativa da sociedade nacio-nal.

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Como mostra SANTOS (2002), olhando o processo de globalização, pareceque estamos perante um fenômeno multifacetado com dimensões econômicas,políticas, culturais, religiosas e jurídicas interligadas de modo complexo. Por estarazão, as explicações monocausais e as interpretações monolíticas deste fenôme-no parecem pouco adequadas.

Sobre essa crise, que ocorre também nas explicações científicas sobre a so-ciedade nacional/mundial, explicita RÚDIGER (2003, p.43), “O problema cen-tral que o fenômeno da globalização coloca para as ciências sociais é a dissociaçãodo conceito de sociedade do Estado nacional. Com o desenvolvimento dos meiosde comunicação e das empresas multinacionais, as sociedades deixam de operarno contexto das relações intersocietárias para ser analisadas dentro de uma novabase de contextualização teórica.”

A fábrica global sugere uma transformação quantitativa e qualitativa do ca-pitalismo, além de todas as fronteiras, e subsumindo, formal ou realmente, todasas outras formas de organização social e técnica do trabalho, da produção e dareprodução ampliada do capital. Toda a economia nacional, seja qual for, torna-seprovíncia da economia global. O modo capitalista de produção entra em uma épo-ca propriamente global, e não apenas internacional ou multinacional. Assim, omercado, as forças produtivas, a nova divisão internacional do trabalho, a repro-dução ampliada do capital desenvolvem-se em escala mundial. É uma globalizaçãoque, progressiva e contraditoriamente, subsume real ou formalmente outras e di-versas formas de organização das forças produtivas, envolvendo a produção ma-terial e espiritual (IANNI, 1994, p.12 e 13).

Ainda para o mesmo autor, a fábrica global instala-se além de toda e qual-quer fronteira, articulando capital, tecnologia, força de trabalho, divisão social eoutras forças produtivas. Acompanhada pela publicidade, a mídia impressa e ele-trônica, a indústria cultural, misturada em jornais e outros veículos de comunica-ção, dissolve fronteiras, agiliza os mercados, generaliza o consumismo, provoca adesterritorização e a re-territorização das coisas, gentes e idéias, promove oredimensionamento de espaços e tempos (IANNI, 1994, p.14).

“A fábrica global é tanto metáfora, quanto realidade, altamen-te determinada pelas exigências da reprodução ampliada docapital. No âmbito da globalização, revelam-se, às vezes, trans-parentes e inexoráveis os processos de concentração e centra-lização do capital, articulando empresas e mercados, forçasprodutivas e centros decisórios, alianças, estratégias eplanejamentos de corporações, tecendo províncias, nações econtinentes, ilhas e arquipélagos, mares e oceanos.” (IANNI,1994, p.12 e 13).

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Esse momento de crise serve também para que a ideologia neoliberal apro-veite para tentar firmar teses do fim do socialismo e emergência do pós-modernis-mo. RUMMERT (2000, p.15) fala que esse projeto neoliberal está tentando difun-dir um ethos empresarial para a sociedade. Diríamos, para alguns, um chamadoprojeto de modernidade, ou ainda, um projeto de pós-modernidade.

Em síntese, a globalização econômica é sustentada pelo consenso econômi-co neoliberal, cujas três principais inovações institucionais são: restrições drásti-cas à regulação estatal da economia, novos direitos de propriedade internacionalpara investidores estrangeiros, inventores e criadores de inovações susceptíveisde serem objeto de propriedade intelectual (Robinson, apud SANTOS, 2002, p.31),subordinação dos estados nacionais às agências multilaterais, tais como o BancoMundial, o FMI e a Organização Mundial do Comércio. Isso, sem contar que sãoos países periféricos e semiperiféricos os que mais estão sujeitos às imposições doreceituário neoliberal, uma vez que este é transformado pelas agências financei-ras multilaterais em condições para a renegociação da dívida externa, através dosprogramas de ajustamento estrutural. Mas, dado o crescente predomínio da lógi-ca financeira sobre a economia real, mesmo os estados centrais, cuja dívida públi-ca tem vindo a aumentar, estão sujeitos às decisões das agências financeiras, ouseja, das empresas internacionalmente acreditadas para avaliar a situação finan-ceira dos Estados e os conseqüentes riscos e oportunidades que eles oferecem aosinvestidores internacionais (SANTOS, 2002, p.31).

Considerações finais: repensando algumas propostas de intervenção

A bibliografia dedicada a pensar propostas de intervenção na relação traba-lho/globalização é imensa. Não temos a pretensão de esgotá-la neste pequenoartigo. Uma proposta, porém, gostaríamos de destacar. Estamos nos referindo àobra “Para além do Capital”, de István Mészáros. Sabemos que o objetivo dograndioso estudo não é debater diretamente este fato; no entanto, relendo-o, ousa-mos retirar deste uma proposição de saída para os problemas que enxergamos narelação trabalho/globalização.

Para Mészáros, o capital só será extinto com o advento do sistema comunalde produção e consumo. Neste, deverá, efetivamente, desaparecer a divisão hie-rárquica do trabalho, de tal maneira que todos os agentes sociais gozarão de situ-ação igualitária; assim, um novo sociometabolismo passará a ter vigência.

Essa alternativa socialista de Mészáros implica na regulação pelos própriosprodutores das metas do processo de trabalho, com eliminação dos planos impostosde cima; a distribuição da força de trabalho e dos bens produzidos se fará por con-senso coletivo, afastando tanto a prepotência do poder político quanto a anarquia do

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mercado. Segundo sua perspectiva, os produtores serão motivados por incentivosmorais e materiais; os membros da sociedade assumirão responsabilidades voluntá-rias no exercício de suas funções, suprimindo a irresponsabilidade institucionalizada,própria de todas as variedades do capital (apud GORENDER, 2003, p 7).

Uma questão importante, a nosso ver, que Meszáros coloca nesta obra, éuma crítica acertada das utopias marxianas acerca da sociedade socialista, emparticular, aquelas que se referem à messiânica atribuição ao proletariado da mis-são histórica da auto-redenção, com simultânea redenção da humanidade. Só atítulo de ilustração, lembramos que esta questão também é trabalhada porCASTORIADIS (1979). Esse último autor tece uma crítica sobre a tão propaladamissão, que denomina de a-histórica, mítica e pré-estabelecida, que Marx e osmarxistas direcionam à classe proletariada, a saber, de romper com as relaçõescapitalistas de produção, e questiona se o colapso da sociedade capitalista real-mente se dará no socialismo. A questão central de Castoriadis neste texto: “Dúvi-das na história das lutas operárias”, é mostrar a importância do fazer processual eda ação política da classe operária que também luta implicitamente contra o capi-talismo, desmontando-o e corroendo-o por dentro. Sobre a valorização do fazeroperário, enxergando-os enquanto sujeitos políticos atuantes e como atores soci-ais, e sobre a importância de vermos a luta da classe trabalhadora em movimento,que pode se expressar sob múltiplas dimensões, inclusive contra opressões espe-cíficas dentro do capitalismo, também escreve Weffort, em “Participação e Con-flito Industrial: Contagem e Osasco, 1968” (1971), e em “Sindicatos e Política”(1975) (apud PAOLI; SÁDER; TELLES, 1984, p.148-149).

Retornando à questão primeira de Meszáros, lembramos uma entrevista que oautor concedeu ao Caderno Mais da Folha de São Paulo, em 9 de junho de 2002.Perguntado sobre a distinção “capital” e “capitalismo”, o autor enuncia que o capi-tal não poder ser derrubado/abolido, como se imagina freqüentemente, nem se podeabolir o Estado e o trabalho enquanto tais. Para ele, só o capitalismo pode ser derru-bado/abolido, e mesmo isso apenas em bases estritamente temporárias, pois a or-dem pós-capitalista permanece exposta ao perigo da restauração, se o necessáriotrabalho de erradicação não for perseguido desde o início, em todas as dimensões daprodução e reprodução, desde funções metabólicas imediatamente materiais até as-pectos culturais mais mediados envolvidos nos intercâmbios individuais e societais.

Quanto à relação ciência e técnica no sistema de comando do capital,Meszáros entende que, de fato, a superação/erradicação do capital é impensávelsem a superação da divisão hierárquica do trabalho social. Vemos, mais uma vezaqui, para o autor, que esta não pode ser simplesmente abolida, nem mesmo pormedidas políticas imbuídas das mais sinceras intenções, enquanto não encontrar-mos alternativas viáveis para as práticas sociometabólicas herdadas, agora

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reidificadas nas bem conhecidas formas de dominação e subordinação. Segundo Meszáros (apud NOBRE, 2002, p.12), muito da chamada “com-

plexidade” no sistema capitalista, ou seja, a falta de transparência de suas inter-relações produtivas e distributivas, deve-se à necessidade de ocultar, não apenasdos capitalistas que competem entre si, mas, muito mais importante, do seu anta-gonista social: o trabalho, o que não deveria ser ocultado de maneira alguma emuma ordem reprodutiva organizada racionalmente. Na teoria de Meszáros, “domi-nar a complexidade” é, portanto, o mesmo que retomar o controle do processo dereprodução social. Esconder-se por trás de um conceito de complexidade “social-mente neutro”, em nome de “nossa ciência e tecnologia”, é obviamente fugir aoproblema.

A proposição de Mészáros, que segue, nos permite fechar o presente artigocom a sensação imediata de missão cumprida, dado a complexidade que é falarsobre propostas de intervenção na relação trabalho/globalização na Sociologia dehoje. Para o referido autor, “...com relação à grande tarefa histórica da superaçãodo capital como um modo de controle sociometabólico que tudo engloba, temosque enfrentar um processo, em curso, de erradicação e reestruturação, paralelo àtransformação bem sucedida das funções reprodutivas do sistema em alternati-vas com sentido e humanamente realizáveis.” (apud NOBRE, 2002, p.13). Gri-fo nosso.

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1

EDUCAÇÃO BRASILEIRA: REFLEXÕES EPERSPECTIVAS

* Agnaldo Kupper

RESUMO

O quadro educacional brasileiro é negro. De um lado, a educação públicaminguando, apesar da atenção dispensada nos últimos anos. De outro lado, oensino proporcionado por instituições particulares ganha espaço; porém, sem so-lucionar os graves problemas da educação do país, pois eleva a exclusão social.Pensar em uma educação cidadã torna-se difícil devido aos métodos de seleçãoempregados para o ingresso no ensino superior. É difícil, assim, prever o destinodo sistema educacional brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Brasileira; Problemas; Estrutura; Pers-pectivas Futuras.

RESUMEN

El cuadro educativo brasileño es sombrío. Por un lado, la educación públicatiende a decrecer, a pesar de la atención dispensada en los últimos años. Por otrolado, la enseñanza proporcionada por las instituciones particulares gana espacios,sin embargo no consigue solucionar los graves problemas de la educación delpaís, pues eleva aún más la exclusión social. Pensar en una educación para elciudadano se torna difícil debido a los métodos de selección para el ingreso a laenseñanza superior. Se vuelve difícil, de esta manera, prever el destino del siste-ma educativo brasileño.

PALABRAS CLAVES: Educación Brasileña; Problemas; Estructura; Pers-pectivas Futuras.

* Docente do Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Docente no Ensino Médio, e cursos pré-vestibulares. Autor de livros didáticos e paradidáticos. Diretor pedagógico de instituição de ensinomédio em Londrina. Docente do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Doutorando na área deHistória e Sociedade. Chefe do Centro de Estudos e Pesquisas da SEMA-PR. Diretor do Ateneu –Ensino Médio e Vestibulares. Escritor.E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

Talvez a definição mais comum que se dê à educação seja esta: “Processopelo qual se procura desenvolver as potencialidades da pessoa humana e integrá-la na comunidade a qual pertença.” Esta é uma definição clássica, sendo impossí-vel precisar seu autor.

No decorrer da História e nas mais diversas sociedades, os processos e obje-tivos educacionais se diferenciam enormemente, de acordo com complexos fato-res culturais. Nas civilizações antigas do Oriente, visava-se com a educação asupressão da individualidade e a conservação do passado. Aos gregos, no entanto,a função da educação era, ao contrário do mundo oriental, dar ênfase ao desenvol-vimento individual e aos aspectos estéticos e intelectuais (entre a maioria dascidades-estado). Na Idade Média, a educação ocidental sujeitou-se à religião. Noséculo XX, o desenvolvimento das ciências sociais, sobretudo da Psicologia, co-locou novos problemas para a educação e tal desenvolvimento foi responsável porinúmeras transformações; neste sentido, nomes como John Dewey, Jean Piaget eMaria Montessori, destacam-se.

Neste início de século XXI, em uma sociedade competitiva, supostamenteglobalizada em estruturas capitalistas, indagamos qual seria o futuro da educação,já que, ao que parece, o sistema educacional (particularmente no Brasil) não con-segue acompanhar as transformações aparentes. Pedagogos e educadores pare-cem perdidos entre o que é atual e o que é necessário para o futuro.

Os vestibulares, em especial, tornam-se fundamentais ou se estruturam comoentraves para as metas de um processo educacional não excludente e pleno?

É o que procurarei discutir.

OS ÚLTIMOS CEM ANOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Em outubro de 2003, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística anun-ciou dados que permitem projetar conclusões a respeito do século 20. Uma com-pilação dos dados nos trará a consideração que, no século em questão, o Brasilaumentou sua riqueza, mas não a dividiu; ou seja, a concentração de renda é abusiva:aquele 1% mais rico dos brasileiros ganhando praticamente o mesmo que a meta-de da população mais pobre.

No que tange à educação, tais levantamentos nos trazem números assustado-res: a taxa de matriculados até o ensino médio passa de 21%, em 1940, para 86%,em 1998. Como se percebe, em 1940, a escola era para poucos.

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A principal característica da educação brasileira no século 20 foi amassificação do acesso ao ensino fundamental e médio, em que pesem a manuten-ção da seletividade e não levando em consideração a qualidade educacional, emespecial, a perda de nível no ensino público.

De 1940 para 1960, a proporção de alunos matriculados no ensino fundamen-tal e médio (usando os temas da atualidade) saltou de 21 para 31%. Foi só a partir dadécada de 60 que as matrículas cresceram em um ritmo maior do que o aumento dapopulação em idade escolar. A proporção chegou a 58% em 1978 e a 86% em 1998.O resultado: reduziu-se a taxa de analfabetismo, apesar da manutenção de um altoíndice nos dias atuais, com destaque para os analfabetos funcionais.

De qualquer forma, cremos que a democratização do ensino fundamental emédio só ocorrerá quando houver melhora da qualidade. A disseminação falseia averdade educacional, ou seja, a massificação do ensino vem acompanhada pelaperda de virtude.

O NÚMERO DE ANALFABETOS CAI 60% ENTRE 1970 E 2000:

Taxa de analfabetismoPopulação de 15 anos ou mais

Númerode analfabetos

13,6

20,1

25,5

33,6

39,6

50,5

56

64,9

65,1

2000

1991

1980

1970

1960

1950

1940

1920

1900

é

De 1991 para 2000,pela primeira vez nahistória dos censosbrasileiros, o númeroabsoluto deanalfabetos diminuiu.

6.348.869

11.401.715

13.269.381

15.272.632

15.964.852

18.146.977

18.716.847

19.233.758

16.294.889

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O ACESSO À EDUCAÇÃO AUMENTOU:

COMPARAÇÃO COM OUTROS P AÍSES:

86%

58%

31%

21%

1998

1978

1960

19403.313.384

7.996.348

23.992.222

42.761.085

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DIVISÃO DOS ESTUDANTES:

* Projeção da Unesco.** Apenas os principais cursos. Fontes: IBGE e Unesco.*** Primário, 1º grau ou ensino fundamental? A confusão com essas nomenclaturas se deve a

duas reformas na legislação educacional. Em 1971, o antigo primário (1ª a 4ª série) passoua ser conhecido como 1º grau e ganhou mais quatro séries, englobando também o antigoginásio (5ª a 8ª série). O secundário virou o 2º grau, sendo formado pelas três séries poste-riores ao 1º grau. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação passou a chamar o1º grau de ensino fundamental, e o 2º grau, de ensino médio.

É POSSÍVEL PREVER O FUTURO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA?

Os problemas da educação brasileira são tantos e tão graves que fica difícilprever seu futuro.

A gravidade do sistema é tal que, para percebê-la, basta focarmos nos últimosnúmeros oficiais do Ministério da Educação: 38% dos brasileiros podem ser consi-derados analfabetos funcionais, ou seja, não conseguem utilizar a leitura e a escritana vida cotidiana. Pior ainda: 8% dos brasileiros são absolutamente analfabetos.1

O analfabetismo está longe de ser o único problema da educação do país,embora seja o maior reflexo da complexidade da situação. Ainda é grande a quan-tidade de crianças em idade escolar fora do contexto educacional e persiste aseletividade da escola brasileira (quando boa parte de nossas crianças é expulsados bancos escolares, o que se deve, entre outros fatores, à inadequação do calen-dário escolar). Outros problemas relevantes insistem em atormentar o quadro edu-cacional do país: o número insuficiente de prédios escolares (inadequados para oensino em sua essência), as péssimas condições salariais dos profissionais da edu-cação pública, os parcos investimentos na reciclagem discente e as difíceis condi-ções gerais de trabalho oferecidas aos professores.

1 Dados anunciados nos vários veículos de comunicação do país em setembro de 2003. Fonte:IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística).

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Poderíamos continuar a desfilar problemas e mais problemas. Estes, cre-mos, são suficientes por serem amplamente ilustrativos.

A educação brasileira, apesar das ações otimistas dos últimos anos, apresen-ta um quadro negro no que tange à estrutura. Mesmo os números apresentadospelo censo 2000 não nos deixam aliviados.

Os pessimistas podem ressaltar que nove em dez crianças de zero a três anosnão freqüentam creche. Podem argumentar que cerca de um terço da populaçãoabsoluta brasileira (31,4%) com mais de dez anos de idade, não completou sequero primeiro ciclo do ensino fundamental, que vai até a 4ª série. Os dados mostramtambém que 59,9% da população com mais de dez anos não completaram oitoanos nos bancos escolares.2

Os otimistas, por outro lado, podem comparar os números do censo de 2000com os do censo de 1991. Aí, claro, vê-se avanço: a taxa de escolaridade cresceu emtodas as faixas etárias. Na faixa de cinco a seis anos, saltou de 37,2% para 71,9%;entre os que possuem de sete a quatorze anos, o país atingiu 94,9% das crianças naescola (era de 79,5% em 1991); o número dos que faziam curso de alfabetizaçãosaltou de 79 mil em 1991 para 536 mil em 2000; no topo da pirâmide educacional,o número de mestrandos e doutorandos saltou de cinquenta e dois mil em 1991 paraduzentos e dezoito mil em 2000, um incremento de 319%. Porém, apenas 6,8% dapopulação brasileira com mais de 25 anos possui diploma universitário.3

Mas números são números. E números, por si só, não refletem qualidade.No entanto, a crise educacional não é só brasileira, é mundial; muito menos

na estrutura, muito mais nos caminhos.No mundo contemporâneo, rico é quem tem conhecimento. Daí a indaga-

ção: a escola sabe guiar os alunos para a construção do conhecimento, em especi-al no Brasil, com seus problemas estruturais crônicos?

Identificamos como quatro os pilares da educação: conhecer, fazer, convi-ver, ser. No que tange ao pilar conhecer, o dividimos em: aprender e pensar. Aí éque mora o problema: a escola sabe fazer pensar?

O mundo do trabalho capitalista espera conhecimento técnico, polivalência,atualização, cultura, comunicação, capacidade de trabalho em equipe, mobilida-de, previsão de cenários, transferência de conhecimentos, promoção de mudan-ças, criações, criticidade, iniciativa, ética, solidariedade, responsabilidade, justi-ça. Muita coisa, não é mesmo? Este mesmo mundo do trabalho não espera um serdemocrata, mas humanista e múltiplo.

2 Recenseamento de 2000, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em núme-ros completos, em 2002.3 Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgados em 2003.

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As discussões dos teóricos da educação acabam sendo remetidas às mesmasconclusões: o aluno deve ser o agente do saber; a interdisciplinaridade é funda-mental; o desenvolvimento das habilidades, competências, inteligências, atitudese valores são indispensáveis, com o professor devendo ser um especialista noprocesso de aprendizagem.

Com tanta teoria, professores e coordenadores escolares, não só ficam per-didos, como passam a se considerarem incompetentes. Pior para as coordenaçõesescolares, normalmente vistas como culpadas pelo processo.

Na forma como a educação é hoje discutida e avaliada em sua aplicação,arriscamos a dizer que, em muitas instituições de ensino particular, há mera trocade valores monetários, com os pais querendo acreditar no que compram e as esco-las, deste tipo, querendo fazer acreditar no que vendem. A educação trocável pordinheiro.

Com tanta teoria e pouca praticidade no fazer educação, afirmamos que vi-vemos em um mundo educacional onde prevalecem as mentiras na maioria dasinstituições que se propõem a fazer, gerar ou “dar” educação.

Mesmo parecendo não querer, a escola sabe que precisa adaptar-se à socie-dade da informação, já que, nos dias atuais, o simples acúmulo de conhecimentosnão é garantia de sucesso profissional. Assim, vem o dilema: a escola deve educarpara o mercado ou para a vida? Eis a dúvida maior neste início de século XXI.

Preocupado com o papel da escola, o governo Fernando Henrique Cardoso(1994-2002) editou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) em 1996,conferindo maior autonomia às escolas, desejando vê-las vinculadas ao mundo daprática social e do trabalho. Pela LDB, os conteúdos apresentam três alicerces:competências, habilidades e atitudes; onde é competente quem sabe aprender, éhábil quem sabe fazer, e possui atitude quem sabe conviver, trazendo-nos a trocade experiência calcada em relações horizontais professor-aluno, como principalparadigma. Espera-se, assim, mais do professor. Aí está o problema: é necessárioreciclar esta figura que se tornou principal, ou seja, o docente. No caso do Brasil,com uma estrutura pública falha, dá-se “cobertura” a esta peça essencial? Difícilé fazer uma previsão otimista perante a estrutura vigente, quando o futuro daeducação passa, obrigatoriamente, pelo professor.

Com tantos desafios, cabe uma outra indignação: a escola é justa ao encheras cabeças dos alunos com conteúdos que pouco interessam? É correto exigirtanto esforço dos discentes por quase nada. Afirmamos que não cabe mais aquelaescola tradicional, onde professores ensinam com base em um programa pré-esta-belecido, programa este normalmente ditado por pessoas há muito fora das salas-de-aula. Não cabe mais o ensino fragmentado e fragmentador. O conteúdo, o mé-todo e a gestão escolar precisam ser aperfeiçoados evolutivamente para que te-

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nhamos perspectivas na educação, para que saiamos do “faz de conta”. Uma novavisão de ser humano deve ser inserida no aluno, caso contrário este a obterá forados bancos escolares.

Foi-se o tempo da escola pública reconhecida. Foi-se o tempo em que aescola particular era ruim. A pública perdeu-se no tempo; a particular ganhou oseu espaço. Mas a escola pública pode ser recuperada, pois possui as característi-cas para tal: é popular, é aberta e não sofre tanta interferência do desejo dos pais,estando, portanto, mais acessível a inovações. A infância e a adolescência sãomais intensas nas camadas sociais menos privilegiadas. Nas escolas particulares,crianças são transformadas em alunos; nos estabelecimentos públicos de ensino,em pessoas. Lev Vygotsky (1896-1934) afirmava que “O aprendizado é fruto dainteração social”, assim como Montessori (1870-1952) já nos alertava: “É precisoseguir a criança”, defendendo a estruturação, pela educação, de pessoas indepen-dentes; e criar pessoas autônomas é exigência no mundo globalizado atual.

EDUCAÇÃO QUE SE CORRIGE

Qual o futuro de uma educação “corrigida” por cursos pré-vestibulares?Até pelo fato de, de certa forma, este autor sobreviver deles, ficamos muito

tranqüilo para afirmar: “Os cursinhos são urubus de uma educação conteudista eviciada.” Esta é uma afirmação pesada, mas que não deixa de ser verdadeira, atéporque os cursos pré-vestibulares possuem a fama de corrigirem o processo edu-cacional, deixado de lado pela educação que se quer cidadã.

A educação enfocada na essência não permite, atualmente, que o ser adquirauma vaga no ensino superior (em especial público), já que, para tanto, exige ain-da, o conteudismo, mesmo que busque certa criticidade. Neste sentido, os cursi-nhos fazem a festa! Este é um erro de quebra de seqüência, como se o que foi feitoaté então não tivesse valido a pena, como se a educação bem intencionada nãoservisse para muita coisa.

Eliminar o vestibular? Como? Sei que, ao eliminá-lo, as escolas estariamlivres para conduzir, guiar e até se ajustarem ao ensino. Ainda hoje, infelizmente,“forte” é a escola que faz seus alunos ingressarem em universidades de grandeconcorrência. Enquanto houver vestibular, ninguém estará livre para educar, parafazer e aprender. Por outro lado, sem os vestibulares, o ensino fundamental emédio não teriam qualquer exigência de nível. Ingressar nas universidades com ohistórico escolar seria perigoso, até porque as escolas não possuem o mesmo nívelde seriedade.

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Rubem Alves4 sugere, informalmente, o sorteio para o ingresso no ensinosuperior. O que pode soar como ironia, deixa de assim parecer quando o educadoralerta que, sem a obrigação dos vestibulares, “...as despesas com os cursinhospassariam a remeter-se como recursos para a criação de excelentes universidadesparticulares, sem ônus para o governo.” O mesmo Rubem Alves afirma que “...apósum ano de tortura inútil a que o aluno é submetido, caso não passe, vem o senti-mento de injustiça, depois o de inveja.” Algo a se pensar. Se o sorteio para asvagas no ensino superior, proposto por Alves, é injusto, o curso de adequaçãovestibulocrata também o é.

O fato é que não se pode sonhar com a educação positiva enquanto a fórmulade ingresso nos cursos de ensino superior passar pelos exames admissionais. Eismais um entrave para se eliminar na busca da educação justa e humana.

EDUCAÇÃO E CIDADANIA

A democracia brasileira depende, entre outros, da educação para se aprimo-rar. Tal democracia é frágil, a começar pelas nossas cabeças, quando nos compor-tamos mais como votantes do que como eleitores. Mostra-se frágil também ao nãorespeitar as chamadas minorias, ao permitir a concentração dos meios de comuni-cação (o que desestimula o respeito à pluralidade de opiniões), ao não aceitar arotatividade ampla dos governantes (em que pese a eleição de Luís Inácio Lula daSilva para a Presidência da República, em 2002), ao condicionar certa passivida-de de boa parte da população brasileira. Este quadro só mudará, cremos, se antesde tudo vencermos as graves desigualdades sociais e os obstáculos impostos àeducação plena. Para tanto, não se pode pensar em uma educação excludente.

Não contribuindo para isto, assistimos hoje à proliferação exagerada dasescolas particulares, que tomam o espaço do ensino público, em uma clara trans-ferência de funções, por ter se tornado o Estado, obsoleto no setor. E por que istoacontece? Porque as famílias com razoáveis condições materiais sabem que aeducação tornou-se o instrumento (talvez único) de ascensão social em uma soci-edade de poucas oportunidades e que tende a limitá-las ainda mais

Porém, até mesmo as instituições particulares, na luta pela sobrevivência nomercado, portam-se parecidamente com clubes, impedindo que a escola executesua verdadeira função: construir relações de convivência com pessoas diferentesem opiniões e interesses, ou seja, produzir conhecimento. Ao contrário, a escola

4 Rubem Alves, educador e psicanalista, em artigo escrito para a Folha de São Paulo (CadernoSinapse, nº 17, de novembro/2003).

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passa a ser vista como boa (em uma sociedade altamente competitiva), caso con-siga fazer com que seus alunos ultrapassem as barreiras impostas pelos vestibula-res. Assim sendo, próprio de uma estrutura capitalista, a escola passa a interessara simples consumidores. E conhecimento, reconhecimento de direitos, relaçõesde confiança, solidariedade e respeito, acabam ficando em segundo plano.

Nos extremos, entre a educação insuficiente e a camuflada de autêntica, aeducação questiona-se: Como planejar uma educação futura sendo a base alta-mente precária?

Quem faz o discurso da educação, se o programa (ou currículo) normalmen-te vem de cima para baixo? Em que pesem as diretrizes e parâmetros curricularesnacionais, os conteúdos escolares são fardos a serem carregados, assim como arenovação metodológica que tais diretrizes e parâmetros impõem. A Constituiçãode 1988, em vigor, em seu artigo 206, estipula um ensino baseado no pluralismode idéias e de concepções pedagógicas. Pede-se o conhecimento baseado na com-preensão de conceitos científicos, na busca de novos conhecimentos. Para tanto,deve-se eliminar as disciplinas do currículo, dando lugar à aprendizagem por pro-jetos. Pela situação da educação brasileira aqui apresentada, se vista sob conceitogeneralizado e global, existem condições para tal? Com tantos problemas envol-vendo as estruturas educacionais, podemos praticar o pensado? Qual é o agentemotivador?

O que faz de um professor um bom profissional? Talvez o interesse, talvezgostar do que faz (dois itens que se completam). Para que a ferramenta não seperca, é preciso valorizá-la. Parecem-nos pouco suficientes, ainda, programas comoo CAPEMP (Coordenação de Aperfeiçoamento de Professores do Ensino Médioe Educação Profissional), o PROBEEM (Programa Brasileiro de Apoio ao Educa-dor do Ensino Médio) e a proposta do Governo Federal de transformar o FUNDEPem Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Básico (FUNDEB), englo-bando a educação do ensino fundamental e a do ensino médio. Claro, são ações,mas que merecem aprofundamento teórico.

Como fazer uma revolução na educação para podermos ter perspectivas re-ais para a mesma? Dando condições gerais básicas a alunos e docentes. Não faloem tecnologia avançada, mas em bases reais humanas. E, creio, estamos distantesdisto. Discutir conceitos é pouco. Perdoe a nossa visão pessimista.

A escola democrática, onde o filho do porteiro do prédio estudava com ofilho do grande engenheiro, advogado, médico, ou algo que o valha, acabou. Aescola democrática desmoronou. O ensino público, empreendedor em essênciapela condição da mescla social, desfez-se, particularizou-se.

Saiamos da teoria. Invistamos na prática e na verdade.

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CONCLUSÕES

Triste é vasculhar tudo que foi aqui exposto e pensar nas crianças que, inge-nuamente, divertem-se – sejam pobres ou ricas – e colocam nas mãos dos pais ouresponsáveis, impotentes, suas perspectivas de futuro em uma sociedade altamen-te competitiva.

Aos pais mais preocupados (ou que podem se preocupar) vem a questão: oque fazer? Educar para o aprimoramento das potencialidades natas ou preparar acriança para o que exige o mercado? Talvez tudo a seu tempo. Algo para o ensinofundamental, outro algo para o ensino médio. Ou seja, a leveza natural, primeiro;o trauma da cobrança, depois.

O fato é que, não podendo haver a escolha por um único caminho, o natural,o da valorização das potencialidades, constrói-se um ser fragmentado.

Uma vida educacional um tanto quanto hipócrita (para não dizeresquizofrênica) só cessará no dia em que a educação brasileira for construída embases sólidas. Com tantos problemas estruturais, fica difícil planejá-la, pela faltado mínimo. Assim, do jeito em que está, a escola é seletiva, quando não deveriaser. Dentro deste cenário, os números e as estatísticas ficam em segundo plano.

Ou a educação brasileira estrutura-se em bases reais, o que, a nosso ver,passa também pelo fim dos vestibulares e, conseqüentemente, dos cursos pré-vestibulares, ou estaremos, perpetuamente, não podendo pensar a educação atra-vés dos seus fins. Não o fazendo, saibamos conscientemente: nunca seremos de-mocráticos, nunca melhoraremos como pessoas. Uns são e serão, outros, não!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1984.GADOTTI, M. Educação e poder – Introdução à pedagogia do conflito. SãoPaulo: Cortez, 1982.INFORZATO, Hélio. Fundamentos sociais e educação. São Paulo: Nobel, 1971.RAMALHO, J. P. Prática educativa e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

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POR UMA PROPOSTA DE ALFABETIZAÇÃO CIDADÃCOM CRIANÇAS SURDAS

1 Renate Huhmann Klein

RESUMO

O artigo que segue pretende analisar teoricamente a importância do pro-cesso de alfabetização das crianças portadoras de surdez, demonstrando comoeste processo pode auxiliar no fortalecimento de suas conquistas sociais.Correlacionado a isto, o texto tem a intenção de demonstrar como uma propostade ensino formal para a criança especial pode estar interligada a um projeto deeducação-cidadã mais amplo, para nós, condição imprescindível à igualdade deoportunidades que deve ser propiciada à criança portadora de surdez, que aindahoje, infelizmente, sofre o peso do preconceito social.

PALAVRAS-CHAVE: Criança Portadora de Surdez; Educação Especial;Cidadania; Alfabetização.

ABSTRACT

The present article intends to analize in theory the importance of theeducation in first grade elementary school for deaf children showing how thisprocess of instruction of reading and writing could help to fortify their socialconquests. The text also intends to demonstrate how to bind a proposal of formaleducation for special children with a wider project of civil education which weconsider an indenyable condition for the equality of opportunities which must beoffered to the deaf children because, up to this day, these children suffer fromsocial prejudices.

KEY-WORDS: Deaf Children; Special Education; Citizenship; Work Offer.

1 Acadêmica do 5º. Período do Curso Normal Superior do Instituto Superior de Educação Mãe deDeus. Estagiária voluntária do ILES - Londrina. E-mail: [email protected], Orientandadas professoras Ângela Maria de Sousa Lima e Andréia Maria Cavaminami Lugle. Este artigo éresultado de um primeiro trabalho de revisão bibliográfica da proposta de monografia da autora, emprocesso de elaboração, sobre a temática da alfabetização/educação de crianças surdas em Londri-na.

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INTRODUÇÃO

Neste estudo será enfocada a alfabetização de crianças portadoras de surdez.Ainda hoje existe, infelizmente, uma grande dificuldade de inclusão destas pessoasà sociedade. Muitas sofrem discriminações pelo fato de serem consideradas dife-rentes. Devolver a elas a condição de exercer a cidadania, com direitos e deveresque lhes proporcionem bem-estar e integração igualitária no meio em que vivem, éuma das prioridades a serem conquistadas, principalmente por nós, educadores.

O acesso a essas informações ficaria mais democrático se fossem oferecidoscursos de formação profissional para as pessoas com surdez, e divulgados atravésde noticiários televisivos, bem como outros meios de transmissão, utilizando-selegenda e/ou língua de sinais. Ocorre que existe um receio, de ambas as partes, dese comunicar, pois os surdos têm medo da rejeição e as pessoas ouvintes, de nãose fazerem entender.

É necessário que haja uma interação entre as duas línguas, para que a pessoacresça, desenvolvendo completamente suas capacidades cognitivas, lingüísticas,afetivas e políticas. Às vezes, o limite do alcance dessa educação restringe-se aonão acesso à rede de ensino, e, em outros casos, ao superprotecionismo dos pais.Disso pode decorrer outro problema: sem se comunicar, as chances ficam reduzi-das, e ainda maior será a dificuldade para entrar no mercado de trabalho, ficando,portanto, excluída deste processo social. Algumas comunidades sofrem ainda coma falta de profissionais preparados plenamente para assumirem o compromisso deintroduzir os surdos na sociedade, enquanto cidadãos, dando a eles o direito deconhecerem sua segunda língua (a portuguesa).

Autores como DORIA (1961) e, recentemente, SKLIAR (1997) estudarammais amplamente a educação de surdos; porém, a especificidade de nosso estudoestá em mostrar a alfabetização da criança surda, afirmando que esta formaçãoacadêmica dará a ela o direito de exercer melhor a sua cidadania.

Parte-se do princípio de que as instituições de ensino precisam permitir àcriança surda a aquisição de duas línguas: a de sinais (comunicação surda - 1ªlíngua) e a oral, dos ouvintes. Para que isto ocorra é necessário que a criança tenhacontato com as duas línguas e sinta a necessidade de aprender e de utilizar ambas.Somente aplicar a língua oral é comprometer o futuro da criança surda. É tambémarriscar o seu desenvolvimento cognitivo e pessoal; é negar-lhe a possibilidade dese identificar culturalmente com os dois mundos aos quais ela pertence. É negar-lhe a cidadania, incluindo aí seus direitos e deveres. Tendo este contato com asduas línguas, a criança surda terá muito mais recursos do que se conviver comapenas uma. Nunca é demais saber uma outra língua, já que para ela isto se faznecessário para que consiga se comunicar com os “dois mundos”.

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Assim, percebe-se a importância e a responsabilidade que, enquanto educa-dores, temos em facilitar a comunicação destas crianças com a sociedade ouvinte,esclarecendo seus direitos como cidadãs que são.

A escola, como representante de um tipo de cultura socialmente construídae elaborada, é responsável também pela inclusão igualitária e humanística destaspessoas. Esse trabalho pode se iniciar pelo tipo de alfabetização de crianças sur-das que se defenda; dito de outra forma, uma inclusão precisa vir acompanhada deuma proposta de alfabetização que seja, para as crianças, um veículo para o forta-lecimento de seus direitos enquanto cidadãs.

Comunicação, educação e linguagem

Não se tem registro de quando os homens começaram a desenvolver comu-nicações que pudessem ser consideradas línguas. Hoje, a humanidade está dividi-da nos espaços geográficos delimitados politicamente e cada nação tem sua lín-gua ou línguas oficiais. Um exemplo de país com dois idiomas oficiais é o Cana-dá, que possui o inglês e o francês.

Mas, em todos os países, existem minorias lingüísticas que, por motivos deetnia ou migração, mantêm suas línguas de origem.

Quando se fala em bilingüismo, podemos citar dois tipos: o social e o indivi-dual. O social refere-se a uma comunidade que, por algum motivo, precisa utilizarduas línguas; e o individual é a opção de um indivíduo para aprender outra língua,além da sua materna. Geralmente, os membros das minorias lingüísticas se tor-nam indivíduos bilíngües por estarem inseridos em comunidades lingüísticas queutilizam línguas distintas (FELIPE, 2001, p.96).

Em todos os países, os surdos são minoria lingüística mas, não devido àimigração ou à etnia. Eles são minoria lingüística por se organizarem em associa-ções onde o fator principal de integração é a utilização de uma língua gestual-visual por todos os associados.

A integração reside no fato de terem um espaço onde não há repressão desua condição de surdo, podendo se expressar da maneira que mais os satisfaz,mantendo entre si uma situação prazerosa no ato de comunicação.

Quando imigrantes vão para outros países, a língua que levam geralmente éa língua oficial de sua cultura, sendo respeitada enquanto língua no país para ondemigram. Mas, a língua dos surdos, por ser de outra modalidade, gestual-visual, epor ser utilizada por pessoas consideradas “deficientes” pelo fato de não pode-rem, na maioria das vezes, se expressar como ouvintes, era desprestigiada até bempouco tempo, proibida de ser usada nas escolas e na casa de criança surda compais ouvintes.

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Para Felipe (2001, p.96), este desrespeito, fruto de um desconhecimento,gerou um preconceito. Pensava-se que este tipo de comunicação dos surdos nãopoderia ser considerado uma língua e, se os surdos ficassem se comunicando pormímicas, eles não aprenderiam a língua oficial de seu país. Mas as pesquisas queforam desenvolvidas na Europa e nos Estados Unidos mostraram o contrário.

Se uma criança deficiente auditiva puder aprender a língua de sinais da suacomunidade surda, na qual está inserida, ela terá mais facilidade para aprender alíngua oral-auditiva da comunidade ouvinte, à qual também pertencerá porque,nesse aprendizado em que não pode ouvir os sons que emite, ela já traráinternalizado o funcionamento e as estruturas lingüísticas de uma língua de sinais,podendo receber, em seu processo de aprendizagem, um feedback que serviu dereforço para adquirir uma língua por processo natural e espontâneo.

Isso ocorre porque todas as línguas se edificam a partir de universos cultu-rais, variando apenas em termos da modalidade oral-auditiva ou gestual-visual egramáticas particulares, transformando-se a cada geração em conseqüência dacultura da comunidade lingüística que a utiliza. É preconceito e ingenuidade di-zer, hoje, que uma língua é superior a qualquer outra, não podendo elas ser classi-ficadas em desenvolvidas, subdesenvolvidas ou, ainda, primitivas.

As línguas se transformam a partir das comunidades lingüísticas que as uti-lizam. Uma criança surda precisará se integrar à comunidade surda de sua cidadepara poder ficar com um bom desempenho na língua de sinais dessa comunidade.

Como os surdos estão em duas comunidades, precisam de uma e da outra.Na perspectiva sócio-antropológica, busca-se trabalhar a leitura e a escrita de umasegunda língua para que o aluno surdo, dentro de uma dinâmica comunicativa einteracional, se utilize dessa língua.

O importante para o surdo é chamá-lo ao diálogo, para que, em um processode interação, chegue à construção de significados e evidencie múltiplas compre-ensões e representações de mundo. Para isso, é preciso que se crie um ambientebilingüístico e social adequado às condições da criança surda.

A fim de que sejam dadas condições para que a criança surda aprenda umasegunda língua, é necessário fazer um estudo em que se envolvam fatores sócio-interacionistas que necessitam estar presentes no seu cotidiano.

Um dos fatores é a língua de sinais, pois, em um contexto sócio-interacionista,fica evidente que, para dominar a segunda língua, que é a escrita da língua portuguesa,é imprescindível ter adquirido normalmente a primeira, que, neste caso, é a língua dossinais. Por intermédio de ambas, haverá um desenvolvimento normal da linguagem.

Vygotsky (apud SKLIAR, 1997, p.120-121), em sua concepção sobre a sur-dez e a educação dos surdos, definiu este problema de desenvolvimento comouma das mais complexas questões teóricas da pedagogia científica. Vygotsky, ci-

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tado na mesma obra (1997), se interessou muito cedo por esse tema e, no ano de1924, escreveu alguns artigos. Reuniu textos de diversos autores para compor osseus próprios. Naquela década, anos 20, os surdos e suas escolas públicas estavam“sumidos” e Vygotsky dizia que estas estavam na maior pobreza pedagógica.

Em relação ao problema da língua de sinais na educação dos surdos,esse teórico se posicionava claramente. Falava que a língua de sinais é o

meio natural de comunicação e o instrumento do pensamento dos surdos. Apoliglossia (várias línguas), ou seja, a habilidade de se usarem várias formas delíngua oral e língua de sinais, é a forma mais eficiente para o desenvolvimento dacriança surda. A língua de sinais, assim como a língua oral, é uma das formas maisimportantes de ensinar a criança surda (apud, SKLIAR,1997, p.120-121).

Vygotsky (apud, SKLIAR, 1997, p.120-121) criticava os métodos de ensinoda língua oral, mostrando que o ensino da linguagem ao surdo está construído emcontradição com a sua natureza; também duvidava que a língua de sinais fosseuma verdadeira linguagem a serviço da formação dos surdos e um instrumentopara a medição de processos psicológicos.

Alfabetização cidadã com crianças surdas

Quando se reflete sobre a alfabetização de pessoas surdas, normalmente sepensa na dificuldade do estabelecimento da relação da escrita com o som (grafema-fonema) para pessoas que não adquirem uma língua oral de forma natural. Anali-sando assim, as pessoas surdas deveriam aprender a escrever o português combase na oralidade.

Além da alfabetização, os alunos surdos devem estar inseridos em um pro-cesso de aprendizagem da leitura e escrita do português, sua segunda língua. Umasegunda língua pressupõe uma primeira, isto é, a Língua Brasileira de Sinais deveser pressuposta para o ensino da língua portuguesa para os surdos.

A educação das pessoas portadoras de deficiência auditiva, assim como dequalquer cidadão, tem como finalidade promover o desenvolvimento daspotencialidades de todos os alunos. A apropriação dos conhecimentos acumuladosno decorrer de suas vidas ajuda, e muito, para que as crianças nas suas escolas,possam aprender e demonstrar suas habilidades e, ao mesmo tempo, manejar bem oconhecimento que também as humaniza, dando-lhes oportunidades para que pos-sam ter uma maior integração na sociedade, onde não ocorra a exclusão delas.

No século XX, foram criadas as condições que permitem a extensão da cida-dania para a esfera social, conforme o desenvolvimento dos direitos sociais eeconômicos referentes ao direito à educação, ao bem-estar, à saúde, ao trabalho,entre outros mais; em suma, dizem respeito às condições para a construção dacidadania social (GENTILI, 2001).

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Além do direito à educação, aos meios de sobrevivência, da escolha de profis-são, existe o respeito do outro, que se traduz na integração do indivíduo na sociedade,no respeito à sua individualidade e no proporcionar-lhe a independência para traçarseu próprio caminho na vida, e, conseqüentemente, viver plenamente a cidadania.

Assim sendo, educar para o exercício da cidadania significa transmitir atodos os direitos que formalmente lhes são reconhecidos. Neste ponto, a educaçãodeveria ser vista como um mecanismo de difusão, de socialização e do reconheci-mento dos direitos civis, políticos e sociais que definem o campo da cidadania.

A cidadania implica sempre em uma ética cidadã. A questão fundamentalreside em definir as ações pedagógicas que, dentro ou fora da escola, sejam maisconscientes e coerentes com os princípios éticos que as sustentam.

A formação de cidadãos é um desafio ético e político. Pensar na educação dacidadania significa pensar em valores, normas e direitos, legais e morais, que confi-guram a práxis cidadã e que, indissoluvelmente, devem construir a prática educativa.

Ser surdo é saber que se pode falar com as mãos e aprender uma língua oral-auditiva através delas; é conviver com pessoas que, em um universo de barulhos,deparam-se com pessoas que estão percebendo o mundo, principalmente, pelavisão; isso faz com que eles sejam diferentes e, não necessariamente, deficientes.

A diferença está no modo de aprender o mundo, que gera valores, comporta-mento comum compartilhado e tradições sócio-interativas.

A surdez, dentro da história, provoca discussões. O seu significado socialestá ligado à ausência da linguagem comum no meio em que vivemos, ou seja, alíngua oral. Por muitos séculos, os portadores de surdez foram ignorados social-mente, chegando a se acreditar que eles não pensassem. Acreditava-se que ossurdos tinham que falar para serem integrados à sociedade.

A preocupação com a educação dos surdos só começou por volta do séculoXVI, quando se reconheceu que eles deveriam ter uma língua própria, baseada emsinais, além da escrita.

Atualmente busca-se uma maior interação dessas pessoas dentro das esco-las e dentro da sociedade.

Falar em cidadania é falar de um tema muito amplo e complexo. Seu concei-to parece vincular-se diretamente à idéia de direitos e deveres.

De acordo com relatos do documento “Direitos como cidadãos” (2003), to-das as pessoas, sem distinção, deveriam ter acesso à educação, à saúde e ao traba-lho, que é o mínimo de dignidade que uma pessoa precisa ter para assim poderacessar a esses direitos.

Precisamos estar atentos e capazes para distinguir o que são direitos e garan-tias legais, para que não sejamos enganados e para que usufruamos de nossosdireitos.

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A igualdade de oportunidades deveria existir para todos, sem haver “dife-renças”. Deveria existir uma política social igual para todos, sem distinção.

As pessoas ditas “diferentes” necessitam ser independentes sem que preci-sem ser assistidas por outras. Elas precisam ser incluídas como cidadãs capazes eautônomas.

As autoridades competentes e a sociedade deveriam ter uma maior consci-ência da gravidade dessa situação. Deveriam exigir o cumprimento das leis que aíestão e serem conscientes que o cidadão, com ou sem deficiência, deve ser infor-mado e alertado de seus direitos e, assim, ser respeitado, para que possa caminharsozinho e fazer avançar sua vida sem assistencialismo.

A Constituição da República Federativa do Brasil (1988, cap. II, artigo 22,XIII, p.36), assegura a cidadania a todos, sem distinção. Partindo disso é quepodemos incluir as pessoas surdas como cidadãos. São sujeitos com direitos edeveres iguais a qualquer outra pessoa. A Constituição Federal (1988, cap. II,artigo 24, XIV, p.38), garante proteção e integração social às pessoas portadorasde deficiências, para que o deficiente adquira proteção e seja integrado à socieda-de onde vive. Esta mesma Constituição (1988, cap. III, artigo 208, III, p.142) citaque é assegurado o “atendimento educacional aos portadores de deficiência, pre-ferencialmente na rede regular de ensino”, garantindo que eles tenham direito àescolaridade, independentemente de suas diferenças.

Ainda na Constituição (1988), encontramos no cap. II, artigo 7º, p.24, oseguinte: “Proibe-se qualquer discriminação no tocante a salário e critérios deadmissão do trabalhador portador de deficiência.” Isso assegura-lhe um empregono mercado de trabalho, tendo pleno direito como cidadão que é.

Dentro do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990, cap. I, artigo 11, § 1º,p.3) encontramos que “...a criança e o adolescente portadores de deficiência recebe-rão atendimento especializado” no que se refere ao Direito à Vida e à Saúde. Aqui,mais uma vez, vemos que tais pessoas têm seus direitos assegurados como cidadãos.

Quanto à educação, no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990, cap.IV, artigo 53, III, p.10), assim como na Constituição de 1988, vê-se a garantia do“...atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, prefe-rencialmente na rede regular de ensino.”

Sobre o mercado de trabalho, o ECA (1990, cap V, artigo 66, p.12) diz que“...ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido.”

Na LDB-96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (2002, cap. V,artigo 58, 59 e 60, (§1º ao 3º), 59 (do I ao V) e 60 no parágrafo único, p.17 e 18),encontramos leis que asseguram um espaço aos portadores de deficiências. Sãoleis direcionadas para educandos portadores de necessidades especiais, que dãoapoio especializado à escola regular para atender tais educandos. Eles terão aten-

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dimento escolar em classes e serviços específicos se não houver integração emclasses comuns do ensino regular. Terão educação especial de zero aos seis anosdurante a educação infantil. Terão assegurado ensino específico, de acordo comas necessidades especiais, professores especializados para um atendimento apro-priado, bem como professores que capacitem esses educandos a ingressarem emclasses comuns. Terão ainda educação especial para o mercado de trabalho, visan-do sua integração na vida em sociedade e igualdade nos programas sociais suple-mentares para o ensino regular.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p.46) afirmam que a autono-mia não é realizada individualmente, mas em um processo coletivo, e implica naconstrução de valores e atitudes.

A criança não é um ser passivo que aceita tudo que lhe é transmitido semcontestar; e este é um ponto positivo. Através desta atitude, ela questionará, bus-cando construir seu potencial de modo que tenha um aprendizado eficaz e, sobre-tudo, com responsabilidade.

Isto leva o aprendiz à reflexão e, em sua vivência, ao amadurecimento,assumindo a sua autonomia, estabelecendo de modo participativo a sua atuaçãona sociedade.

As leis são muito generalistas quando se trata dos deficientes; não percebemque estas pessoas possuem necessidades diferentes. É necessário conhecer e respei-tar mais a língua dos sinais, pois os surdos dependem dela para se comunicar.

A Língua Brasileira de Sinais, diferente da oral, tem, nos gestos e no siste-ma visual, a sua forma de comunicação. A regulamentação dela foi oficializadapela Lei 10.436 e já está em vigor há dois anos, sem ser cumprida. Esse tempoainda se mostra insuficiente para garantir cidadania aos surdos, que representam2% da população brasileira. Esta lei oficializa uma 2ª língua para o Brasil, a Li-bras (FOLHA DE LONDRINA, 05/05/04, s/ p).

A lei determina que os serviços públicos garantam atendimento e tratamentoadequado aos portadores de necessidades especiais, o que não os obriga a terintérpretes mas que torna possível o atendimento a estas pessoas, pessoas brasilei-ras que ainda estão sem direito à cidadania dentro da sua vivência cotidiana.

Isto também ocorre nas escolas que ainda não possuem capacitação e estru-turas suficientes para permitir a inclusão de surdos no Ensino Regular.

A obrigatoriedade da inclusão da Libras nos cursos de formação de Educa-ção Especial em nível médio e superior também é fixada pela Lei Federal nº 10.436,mas o ensino público, hoje, ainda não tem estrutura suficiente para atender a estetipo de educando.

Existe uma lei que beneficia a esses brasileiros, mas, na prática, ela não temfuncionado. Isto é muito triste, pois retarda o processo de cidadania plena destas

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pessoas.Tudo isto contribui, dentro da questão da educação de surdos, para que

consigam seu espaço dentro da sociedade, assegurando-lhes, assim, os direitospara o exercício da cidadania, graduados e capazes, assumindo tarefas como qual-quer cidadão.

O grande desafio da escola é a superação da discriminação e a oferta deoportunidades para conhecer a riqueza da diversidade cultural que compõe opatrimônio brasileiro, valorizando a trajetória particular dos grupos especiais quese inserem na sociedade. A identidade surda é fundamentada pela consideraçãode que “...a escola tem a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos oacesso aos saberes lingüísticos, necessários para o exercício da cidadania, direitosinalienáveis de todos.” (PPP, 2000, p.15).

A escola precisa ajudar na conscientização política, histórica e social doeducando, para que este possa participar do processo de construção da sociedade.Os princípios deferidos na sua formação são a estética da sensibilidade, a políticada igualdade, a ética da identidade, questões que ajudam a garantir o exercíciopleno da cidadania por parte de todos, sem distinção.

CONCLUSÕES

É um desafio para o surdo viver em uma sociedade cada vez mais socialmen-te excludente. Esta não é uma luta individual, mas uma luta de pais, familiares eprofessores e, para que seja efetiva, necessitará da atuação e mobilização de todaa sociedade, inclusive da escola.

Um retrato dessa exclusão social está na discriminação que ocorre, mesmoque a lei proteja, porque, muitas vezes, não é cumprida. Infelizmenteainda há casos em que a criança especial, ou a própria família, desconhece seusdireitos e, por ignorá-los, não os cobra, ficando assim sem o acesso a eles. Porisso, há a necessidade de a escola e os educadores esclarecerem, informarem,conscientizarem, trazerem para as crianças vivências que demonstrem, com exem-plos vivos, que a discriminação é uma doença social que precisa ser extinta urgen-temente.

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ESTRUTURAÇÃO DE AULA PRÁTICA BASEADA NAGERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Vellozia flavicans

Mart. ex Schult (VELLOZIACEAE) * Dario Palhares

[Description of an experimental class based on the germination of Velloziaflavicans Mart. ex Schult (Velloziaceae) seeds]

RESUMO

É descrita e discutida uma aula prática sobre resistência de sementes a altastemperaturas. Sementes de Vellozia flavicans (Velloziaceae) e de Phaseolus vulgaris(Leguminosae) foram postas para germinar após terem sido submetidas durante umminuto a água fervente e durante 2, 5 ou 10 minutos a 80ºC, a seco. Para obtenção dealta temperatura a seco, duas panelas de alumínio, cheias de água, foram levadas àfervura. Uma delas foi esvaziada e posta a boiar sobre a água fervente da outra. Ne-nhuma semente imersa em água em ebulição germinou. P. vulgaris apresentougerminabilidade semelhante ao controle com dois minutos de tratamento térmico seco.Acima desse tempo, nenhuma semente germinou. V. flavicans teve germinabilidadesemelhante ao controle em todos os tratamentos térmicos a seco. O desenho experi-mental é simples e ilustra aspectos básicos da fisiologia de sementes.

PALAVRAS-CHAVE: Velloziaceae; Leguminosae; Vellozia flavicans;Phaseolus vulgaris; Germinação; Altas Temperaturas.

ABSTRACT

An experimental class about seed resistance to high temperatures is described.Vellozia flavicans (Velloziaceae) seeds and Phaseolus vulgaris (Leguminosae)seeds were put to germinate after being treated with boiling water for one minuteor for 2, 5 or 10 minutes at 80ºC of dry temperature. To obtain high dry temperature,two pans were used to boil water. One of them was emptied and put to float on theboiling water of the other. None of the seeds immersed in boiling water germinated.With the two-minute treatment, P. vulgaris presented similar germination to thecontrol, while with longer treatments, no germination occurred. V. flavicans

* Médico graduado pela Universidade de Brasília - UnB. Mestre em Botânica pela Universidade de Brasília.Bolsista de Iniciação Científica pelo PIBIC/CNPq. Ex-Professor do Curso Pré-Vestibular da ASFUB.E-mail: [email protected]

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exhibited similar germination to the control with all dry treatments. The experimentis very simple and illustrates some basic aspects of seed physiology.

KEY-WORDS: Velloziaceae; Leguminosae; Vellozia flavicans; Phaseolus vulgaris; Germination; High Temperatures.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho consiste na descrição e proposta da montagem de umaaula prática voltada para alunos de cursos técnicos de agricultura ou alunos degraduação na área das ciências da vida, e se baseia na comparação da germinaçãode sementes de Vellozia flavicans (Velloziaceae) e Phaseolus vulgaris L.(Leguminosae) após exposição a temperaturas elevadas.

As Vellozia s.p comumente ocorrem de maneira endêmica, apresentando,por vezes, estruturas adaptativas especializadas (MENEZES, 1971). No DistritoFederal e arredores, foram identificadas cerca de 10 espécies, das quais Velloziaflavicans, popularmente conhecida como canela-de-ema, é a mais freqüente(JATOBÁ, 2001). Desde a descrição do gênero, por Vandelli, foi percebido que asVelloziaceae ocupam densamente os campos onde crescem, chamados classica-mente de campos de Vellozia (FREIRE, 1983; MELLO, 1991).

Dados preliminares acerca das sementes de V. flavicans, obtidos no Labo-ratório de Termobiologia da Universidade de Brasília, mostram que a espécieapresenta sementes de germinabilidade ao redor de 95%, com uma velocidademédia de germinação de aproximadamente seis dias (conforme a temperatura deincubação), e que toleram temperatura de até 100ºC a seco, sem perda degerminabilidade. Pouco se conhece sobre as estratégias dessa monocotiledôneapara ocupação do ambiente. Aparentemente, trata-se de uma espécie cujas semen-tes não permanecem dormentes nas condições de armazenagem. As altas tempe-raturas não funcionam como estímulo à germinação; pelo contrário, evidenciamuma forma de resistência das sementes a essa agressão.

Metodologia

Sementes de V. flavicans foram obtidas no Parque Nacional de Brasília eestocadas em frascos de vidro tampados, em ambiente fresco, seco e sombreado.Os experimentos ocorreram entre seis meses e um ano após a coleta e foram repe-tidos três vezes para a estruturação desta aula prática.

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Sementes de Phaseolus vulgaris, adquiridas no comércio varegista (super-mercado) com um tempo inferior a seis meses desde a colheita, foram selecionadasmediante a exclusão daqueles grãos de aspecto “chocho” ou visivelmente danifi-cados.

Amostras de dez sementes de cada espécie foram submetidas aos seguintestratamentos, resultando em doze grupos experimentais:

-Controle;-imersão em água fervendo por um minuto;-80º C a seco por 2, 5, 10 e 20 minutos;Para a obtenção da temperatura seca de 80ºC foi adotado o seguinte artifí-

cio: levaram-se ao fogo duas panelas de alumínio com água. Após franca ebuliçãoda água de ambas as panelas, uma delas era esvaziada e, imediatamente após,colocada para boiar sobre a água fervente da outra. Esperavam-se alguns minutospara a total evaporação dos resquícios da água e media-se a temperatura do fundoda panela. As sementes eram então despejadas e espalhadas de modo a haverpleno contato com o fundo.

Após o tratamento, as sementes foram mantidas em recipientes com algo-dão hidrófilo ou gaze esterilizada, sempre umedecidos com água potável. Todasos conjuntos

ficaram guardados em uma varanda, expostas, desta forma, às variaçõesnaturais de temperatura e luminosidade, porém protegidas de chuva. Após sete equatorze dias desde o início do experimento, eram executadas as contagens donúmero de sementes germinadas em cada grupo.

Resultados

O acompanhamento dos artefatos experimentais mostrou uma temperaturaestável, no fundo da panela, de 80ºC, durante meia hora de medições. A Tabela 1mostra as germinabilidades verificadas ao final do período de observação.

Discussão

O delineamento experimental teve por objetivo a montagem de uma aulaprática. Dessa maneira, foram simplificadas as contagens de germinação de se-mentes para sete e quatorze dias, ao invés de contagens diárias, o que seria com-patível com a rotina atual dos cursos técnicos e de graduação, em que os alunos sededicam a várias disciplinas ao mesmo tempo.

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Da mesma forma, procurou-se simplificar o experimento, trabalhando comamostras pequenas e um artifício simples para obtenção de altas temperaturas, etambém colocando para germinar em ambiente bastante natural. Um laboratórioque disponha de estufas, ou de câmaras de luz e temperatura, poderá lançar mãodesses recursos, no sentido de controlar os dois fatores físicos que, sabidamente,influenciam a germinabilidade e a velocidade de germinação de sementes. Emtodo caso, as duas espécies crescem satisfatoriamente, sem maiores deficuldades,nas condições climáticas do local onde se delineou e ensaiou esta aula prática.

A vegetação do cerrado, exposta freqüentemente a queimadas, é compostade algumas plantas adaptadas à agressão por fogo. Estratégias vegetais para so-brevivência nesse ambiente incluem: rebrotamento pós-queimada, quebra dedormência de sementes pela ação do fogo ou resistência de sementes a altastemperaturas (BELL, 1994; BORGHETTI, 2000; MORENO & OECHEL, 1991).Adaptação de plantas a ecossistemas submetidos a queimadas recorrentes nãosignifica imunidade total ao fogo. HANLEY et al. (2001) expuseram sementes deespécies do Mediterrâneo a altas temperaturas e constataram que, a partir de 120ºCpor 5 minutos, ocorre grande perda de viabilidade.

Para diversos ecossistemas submetidos a queimadas recorrentes, comumentesão descritas espécies cujas sementes exigem altas temperaturas para ocorrer aquebra da dormência, ou para as quais a exposição prévia a temperaturas elevadasresulta em aumento das taxas de germinação (ROJAS et al. 1998). As espécies decerrado, tais quais a planta estudada neste trabalho, mais tipicamente produzemsementes que são apenas resistentes ao fogo, sendo excepcional a qualidade dequebra de dormência ou estímulo ao crescimento após exposição a altas tempera-turas (CARVALHO & RIBEIRO, 1994; MOREIRA, 2000).

Algumas considerações devem ser feitas a respeito deste projeto de aula: osfrutos de V. flavicans contêm grandes quantidades de sementes secas, de superfí-cie irregular, aproximadamente 2 mm. de comprimento, que, provavelmente, seespalham sob a ação do vento. Portanto, são de fácil obtenção e armazenagem;contudo, o manuseio exige pinças para maior precisão do procedimento. A radículaé igualmente pequena, e sua visualização pode ser facilitada mediante o uso delupas. Os dois primeiros dias de embebição são, particularmente, um período crí-tico para a correta manutenção da umidade, devido à grande absorção de águapelas sementes (GARCIA & DINIZ, 2003).

A proposta da aula poderia ser assim sintetizada: uma primeira etapa de idaa um campo de Vellozia, para coleta de frutos maduros. Depois, no laboratório,realização do tratamento térmico acima descrito. Os grupos de alunos se revezari-am para manter úmidas as sementes: uma vez ao dia, colocando água, se necessá-rio. Finalmente, leitura dos dados ao sétimo e ao décimo quarto dias e discussões

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a respeito de: resistência das sementes, ambiente onde as espécies crescem, estra-tégias evolutivas de produção de sementes, conceito de viabilidade, degerminabilidade, exercício de levantamento de hipóteses para explicar as diferen-ças e o porquê de as sementes resistirem a 80ºC em ambiente seco, mas não à águaem ebulição (provavelmente, sendo as sementes permeáveis à água, absorvem-nafervente, matando o embrião).

Em conclusão, o desenho experimental aplica-se perfeitamente a uma aulaprática. É de concepção simples, facilmente exeqüível e ilustra aspectos interes-santes da fisiologia das sementes.

Agradecimentos

Agradeço ao Prof. Augusto César Franco e também ao Prof. Fabian Borghetti,pela colaboração prestada na preparação deste artigo.

Tabela 1: Germinabilidades em cada grupo experimental, aos catorze dias de experimentação.

P. vulgaris V. flavicans

Controle 60 a 80% 70 a 100%

Água fervente 0 0

2 minutos a seco 60 a 80% 70 a 100%

5 minutos a seco 0 60 a 100%

10 minutos a seco 0 80 a 100%

20 minutos a seco 0 70 a 100%

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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AVALIAÇÃO DOS RELACIONAMENTOS FAMILIAR ESOCIAL E DAS EXPECTATIVAS DO NOVO MODELODE INTERVENÇÃO JUNTO A PACIENTES DO CAPS

* Mariana Finco * Paula Solci

* Vanessa Rocha** Carmen Garcia de Almeida

RESUMO

A redução das internações em manicômios vem diminuindo desde 1987,aumentando, desta forma, a quantidade de hospitais-dia e oficinas terapêuticasque parecem proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes durante otratamento. O presente estudo foi realizado com pacientes do CAPS, com o obje-tivo de avaliar seu relacionamento familiar, social e suas expectativas, bem comoa eficácia desse novo modelo de intervenção. Foram sujeitos da pesquisa 11 pes-soas do sexo feminino e 21 do sexo masculino, com idades variando entre 15 e 55anos. A coleta de dados foi feita através de um instrumento contendo 20 questões.Os principais sintomas inicialmente apresentados pelos pacientes do CAPS fo-ram: sentimentos de tristeza, depressão e dores no corpo. O tratamento recebidofoi avaliado como satisfatório, enquanto o relacionamento familiar e social foiavaliado como bom, atendendo assim às expectativas de que esse novo modelo deintervenção possa ser considerado eficaz no tratamento da doença mental.

PALAVRAS-CHAVE: Hospital-Dia; Doença Mental; Tratamento.

ABSTRACT

The reduction of internments in psychiatric hospitals have been decreasingsince 1987, increasing, that way, the amount of day-hospitals and therapeuticworkshops that seem to provide a better life quality to the patients during thetreatment. This study was carried out with CAPS’s patients aiming at evaluatingtheir family and social relationships, and their expectations, as well as theeffectiveness of this new intervention model. They were 11 female subjects and

* Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia - UniFil.** Docente do Curso de Psicologia da UniFil. Orientadora da pesquisa. Doutora em Psicologia.E-Mail: [email protected]

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21 male subjects, their ages ranging from 5 to 55 years. The collection of data wasmade through a questionnaire containing 20 questions. The principal symptomsinitially presented by the CAPS’s patients were: feelings of sadness, depressionand pains in the body. The treatment administered was evaluated as satisfactory,while the family and social relationships were evaluated as good, meeting theexpectations that this new intervention model can be considered effective in thetreatment of the mental diseases.

WORD-KEY: Day-Hospital; Mental Disease; Treatment.

1. INTRODUÇÃO

Segundo DRUMOND e CASARE (2002), a reforma psiquiátrica iniciou-seno Brasil no final da década de 1970, através de um movimento dos trabalhadoresem Saúde Mental, tecendo críticas, opondo resistência e apresentando projetos demudanças para as instituições e práticas psiquiátricas. Em 1980, houve o movi-mento da Reforma Sanitária e, juntos, estes movimentos passaram a estruturarmudanças no sistema de saúde.

Em 1987 aconteceu a I Conferência Nacional de Saúde Mental, iniciando adesinstitucionalização, acabando com os manicômios, o que resultou na criaçãode várias estruturas extra-hospitalares de atendimento psiquiátrico, como hospi-tais-dia, lares para abrigo e oficinas terapêuticas.

De acordo com SANTOS (1997), pode-se direcionar a história da saúdemental para os movimentos que inspiraram a criação de um novo modelo de trata-mento da doença mental, o CAPS.

Conforme o autor citado acima, CAPS é um Centro de Atenção Psicossocial,que constitui um serviço contratado, atendendo a problemas da saúde mental indi-vidual e coletiva, oferecendo serviços multidisciplinares a seus pacientes. Essainstituição oferece tratamento aos sintomas, com uma assistência aberta, intensi-va e continuada aos pacientes, atendendo a demandas espontâneas da populaçãodeficiente em saúde mental em seus centros de saúde e também a pacientes daregião, encaminhando e recebendo clientela de serviços ambulatoriais, hospitala-res e de oficinas protegidas.

A proposta do CAPS não é a de separar o indivíduo da sociedade e, sim, demantê-lo inserido nela. Ele se diferencia dos hospitais tradicionais pelo fato detratar de toda a família, através de reuniões semanais, oferecidas aos pacientesinternados no hospital-dia e de curta permanência.

De acordo com o site: (www.lincx.com.br), uma em cada seis pessoas apre-

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senta em algum momento da vida, distúrbios mentais que interferem no seu dia-a-dia. Muitas pessoas relutam em procurar serviços de saúde mental, devido aoestigma de apresentar problemas emocionais.

A doenças mentais têm efeitos desfavoráveis sobre os cuidadores, pois criauma atmosfera pouco amistosa e tende a inibir as manifestações de solidariedadee amparo que as famílias desejam receber dos profissionais e da comunidade.

Atualmente, o que se preconiza é a orientação e o apoio aos familiares. Osestudos sobre a emoção expressada, demonstram como a família interfere na evolu-ção do quadro clínico, no número e no tempo médio das internações. Existe umconsenso de que a intervenção familiar influi favoravelmente no curso das doenças.

Entre as doenças mais freqüentes no CAPS, encontram-se: histeria, psicosee depressão.

- Histeria: é o termo que designa genericamente as neuroses comsintomatologia corporal exuberante. É um transtorno emocional caracterizado porum exagero considerável da sugestibilidade, evidenciada pelo fato de surpreendera plasticidade da personalidade.

- Psicose: é uma alteração grave na função psicológica do indivíduo, queacarreta deficiência na capacidade para distinguir, avaliar e apreciar a realidade.

- Depressão: é uma doença do “corpo como um todo”, que compromete cor-po, humor e pensamento. Ela afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme,como se sente em relação a si própria e como pensa sobre as coisas.

2. OBJETIVOS

GERAL: O objetivo deste trabalho foi o de investigar os comportamentos depacientes submetidos a um novo modelo de intervenção psiquiátrica.

ESPECÍFICOS: - Identificar as dificuldades apresentadas pelos pacientes; - Avaliar o relacionamento social dos pacientes dentro e fora da Instituição; - Avaliar o relacionamento familiar dos pacientes; e - Investigar expectativas e satisfação dos pacientes em relação ao tratamento.

3. METODOLOGIA

Sujeitos: 32, sendo 21 do sexo masculino e 11 do sexo feminino.Local: CAPS – Centro de Atendimento Psicossocial de Londrina.Material: Questionários aplicados em duas etapas.

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4. PROCEDIMENTOS

Foram realizadas visitas quinzenais ao CAPS, por três estagiárias da disci-plina Estágio III – Núcleo Comum. Nessas visitas, as estagiárias fizeram observa-ções, entrevistas e aplicaram questionários para coleta de dados junto aos pacien-tes. Em uma primeira etapa, os questionários foram aplicados a 4 pacientes daInstituição, escolhidos pela psicóloga Ana Emília. Em uma segunda etapa, os ques-tionários foram elaborados, aplicados a 32 pacientes e, em seguida, os dados fo-ram analisados.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tabela 1: Distribuição dos sujeitos de acordo com o grau de satisfação como tratamento recebido.

Os dados apresentados na Tabela 1 mostram que todos os sujeitos do sexomasculino (100 %) estão satisfeitos com o tratamento recebido na Instituição,seguidos da maioria do sexo feminino (82%), que também relatou estar satisfeita.Segundo DRUMOND E CASARE (2002), o CAPS tem como objetivo: prevenirrotulação, estigma e cronificação; prevenir desamparo e outras formas dealheamento, garantindo permanência de vínculos sociais. A partir dos dados apre-sentados, verifica-se que os pacientes do CAPS estão satisfeitos com o tratamen-to, e isto parece dever-ser ao fato de serem respeitados e não ficarem confinados aum só lugar, podendo desenvolver relações sociais e afetivas.

Sexo Feminino Sexo Masculino

Satisfação com tratamento Fac. F % Fac. F %

Sim 9 82 21 100

Não 2 18 0 0

Total 11 100 21 100

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Tabela 2: Distribuição dos sujeitos de acordo com a avaliação do relaciona- mento familiar atual.

A tabela acima indica que 38% das mulheres entrevistadas avaliam comobom o relacionamento familiar, e 15%, como regular. Os dados do sexo masculi-no indicam que 44% avaliaram como bom o relacionamento, e 31% como ótimo.

Os dados desta pesquisa mostram que a maioria dos entrevistados, de ambosos sexos, relatou ter bom relacionamento familiar. A família é responsável pelaeducação e formação. Um bom convívio é eficaz na vida de qualquer pessoa.Segundo SOARES (2002), o ser humano não existe, a não ser na relação, sendoque a família representa um papel importante na saúde mental.

De acordo com DRUMOND E CASARE (2002), o CAPS oferece tratamen-to do sintoma com uma assistência aberta, intensiva e continuada aos pacientes,que podem apresentar variados processos psíquicos, como: dar autonomia ou im-pedimento para uma vida saudável. A ênfase dada pela Instituição é pautada nospacientes em seu meio familiar.

Sexo Feminino Sexo Masculino

Relacionamento familiar atual Fac. F % Fac. F %

Péssimo 0 0 0 0

Ruim 1 8 1 4

Regular 2 15 2 9

Bom 5 38 10 44

Ótimo 2 15 7 31

Isolamento 1 8 1 4

Melhorou 1 8 1 4

Com mulher é conflituoso 0 0 1 4

Distante, entendeu a própria situação e eles

estão cada vez mais distantes

1 8 0 0

Total 13 100 23 100

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Tabela 3: Distribuição dos sujeitos de acordo com a avaliação do relaciona- mento social atual.

Os dados apresentados na tabela acima mostram que a maioria dos entrevis-tados do sexo feminino (73%) avaliou o seu relacionamento social como bom,seguidos de 18%, que avaliaram ser ótimo, enquanto que a maioria dos entrevista-dos do sexo masculino (57%) avaliou o relacionamento atual como bom, sendoque 14% avaliaram-no como ótimo.

Ainda segundo a tabela acima, podemos observar que os sujeitos (femininose masculinos) avaliam como ótimo o relacionamento social após sua inserção naInstituição. Segundo MACEDO (2003), deve-se dar preferência ao tratamentoambulatorial, em que os pacientes freqüentam a instituição e retornam no final dodia a suas casas. Com isto, é provável que tenham uma reintegração adequada, epassem a ter uma vida normal quando retornarem à comunidade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando os dados obtidos, podemos constatar que a maioria dos pacien-tes procurou tratamento nesta Instituição devido a sintomas por eles apresenta-dos, como tristeza e depressão, sendo que boa parte deles já havia recebido trata-mento em outras instituições tradicionais.

Pode-se perceber que a metodologia de tratamento tradicional utilizada, nãofoi efetiva na resolução da sintomatologia por eles apresentada, o que os levou abuscar uma forma alternativa de tratamento, a oferecida pelos hospitais-dia. As-

Sexo Feminino Sexo Masculino

Relacionamento social atual Fac. F % Fac. F %

Péssimo 0 0 1 5

Ruim 0 0 1 5

Regular 1 9 2 9

Bom 8 73 12 57

Ótimo 2 18 3 14

Melhorou 0 0 1 5

Estagnado, não tem relacionamento social 0 0 1 5

Total 11 100 21 100

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sim, pudemos detectar que aqueles que precisam de tratamento psiquiátrico estãobuscando também esta nova forma de atendimento, sendo que um dos diferenciaisem relação aos outros hospitais é que, este não faz uso de internações, podendo opaciente retornar para casa e, assim, não interromper o contato com a família. Umoutro diferencial é a participação da família nas reuniões, com objetivo de acom-panhar o tratamento, recebendo informações e orientações de como lidar com amedicação e com os próprios pacientes.

Constatou-se também que o novo tratamento recebido pelos pacientes pare-ce estar contribuindo para a satisfação destes e atingindo também suas expectati-vas de melhora do quadro patológico apresentado. A satisfação com o tratamentopode ser percebida através dos relatos que citam estarem recebendo cuidados semperderem a liberdade, como ocorre em hospitais psiquiátricos tradicionais, ondeficam o dia inteiro, sem contato externo, sedados, em um ambiente onde não ocor-rem distrações. O CAPS, por sua vez, possui uma estrutura que oferece atividadesdiárias, planejadas para o entretenimento e a recuperação dos pacientes. Dentreelas, destacamos os passeios realizados em diferentes locais da cidade, oficinaslúdicas, terapia ocupacional, salão de beleza e a realização de festas em diferentesperíodos do ano, com a participação de familiares e amigos.

Este novo modelo de intervenção proporciona aos pacientes, contato sociale familiar durante o tratamento, nos quais eles recebem um preparo psicológicoque favorece o ajustamento às mais diversas situações de vida, ensinando-os alidar com as adversidades do mundo externo, contribuindo para melhorar areinserção social e familiar. Os pacientes relataram que o relacionamento famili-ar, classificado por muitos como sendo bom, melhorou com o decorrer do trata-mento oferecido pelo CAPS. Esta informação confirma a importância do trata-mento do doente com a participação e o acompanhamento dos familiares, paraque este seja satisfatório. Com isto, pode-se também pensar em uma recuperaçãomais rápida e estável dos pacientes, pois estes estarão amparados, e sentirão comoo papel da família é importante para ajudar na recuperação de um enfermo.

Além do contato com os familiares ser satisfatório para os pacientes, pode-se pensar que os assuntos que eles conversam entre si, no dia-a-dia, mostram partede sua realidade, da liberdade que sentem em contarem a respeito do que está lhesacontecendo. Isto pôde ser confirmado quando os entrevistados passaram a infor-mação de que o assunto mais discutido em família é saúde e depois, religião.

Um dado interessante que poderá ser investigado posteriormente está relaci-onado com a internação de homens e mulheres, pois os familiares das mulheresinternadas participam mais de seus tratamentos, quando comparado com a partici-pação dos familiares de internos do sexo masculino.

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Pode-se então concluir que este novo modelo de tratamento que está sendooferecido no hospital-dia, em questão neste estudo, está tratando efetivamentedos quadros patológicos apresentados pelos pacientes, sendo que a maioria delesmostrou-se satisfeita com o tratamento recebido e apta para avaliá-lo, bem comoavaliar a situação na qual se encontram durante a internação.

Estes pontos devem ser enfatizados, pois, em um tratamento psiquiátricotradicional com internação, isolamento e fortes medicações, os pacientes poderi-am não ter condições de avaliar seu relacionamento familiar e social, nem compará-los, pois estariam, de certa forma, alienados e não inseridos no cotidiano com oqual estavam acostumados. Aqui podemos então ressaltar novamente a eficáciado tratamento oferecido pelo CAPS.

Antes da realização deste trabalho, alguns mitos, crenças e concepções so-bre o doente e a doença mental permeavam o nosso cotidiano. O contato com essanova metodologia de intervenção permitiu-nos rever conceitos anteriormente es-tabelecidos, levando-nos a encarar o doente mental de uma forma mais humanizada,o que, com certeza, produzirá modificações em nossa postura profissional, contri-buindo, assim, para uma melhor compreensão do doente, da doença mental e deformas diferenciadas de intervenção.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DRUMOND, Camila Zaina; CASARE, Maria Giovana Sanches. CAPS -Um NovoModelo de Assistência a Saúde Mental. Londrina; 2002 (Trabalho de Conclu-são de Curso em Serviço Social – UEL).COSTA, Juarez Soares. Trabalho apresentado em mesa redonda do VI Congres-so Brasileiro de Psiquiatria Clínica - Campinas, SP, em 14 de junho de 2002.http://www.sppc.med.br/mesas/juarescosta.htm - Acesso em 20 abr. 2003.CID-10.DSM-IV.SANTOS, Antônio W. G. dos. Avaliação Crítica dos Centros e Núcleos deAtenção Psicossocial no Nordeste: Perfil Organizacional dos Serviços. Forta-leza: UECE. (Dissertação de Mestrado), 1997.www.lincx.com.br/orientaçaomental/saudementa.html - Acesso em 12 jun. 2003.

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1

CIÚME: NORMAL OU DOENTIO ? * Ariane Duarte

* Cláudia Furiatti* Fernanda Valentim

* Merilu Longhin** Maria Cecília Balthazar

RESUMO

É elaborado um estudo teórico-prático sobre o ciúme normal e o patológico. Oobjetivo deste trabalho foi identificar as características do ciúme normal e do patoló-gico em pessoas com idade a partir de 16 anos. A coleta de dados foi realizada combase em questionários que foram aplicados em uma população aleatória. As respostasobtidas foram divididas em 2 categorias: pessoas com comportamentos e atitudes deciúme normal e pessoas com comportamentos e atitudes de ciúme patológico. Combase na análise dos resultados, mais da metade dos participantes desta amostra de-monstraram ser pessoas que conseguem lidar com o ciúme como um sentimento nor-mal, sem que este venha a interferir em seus relacionamentos de forma destrutiva.

PALAVRAS-CHAVE: Ciúme; Normal; Patológico.

ABSTRACT

A theoretical-practical study about normal and pathological types of jealousy.The objective of this paper was to identify the features of normal and pathologicaljealousy of people over 16 years of age. The data collection was made by meansof answers of a questionnaire and interviews, provided by a random population.The answers were divided into 2 categories: c people with behaviors and attitudesof normal jealousy and people with behaviors and attitudes of pathological jealousy.Result analyses showed that over half of the subjects can deal with jealousy as anormal feeling, without its destructive interference in their relationships.

KEY-WORDS: Jealousy; Normal; Pathological.

* Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.E-mail: [email protected]** Docente da disciplina Estágio do Núcleo Comum III no Curso de Psicologia da UniFil. Especi-alista em Psicologia Clínica pela Universidade Estadual de Londrina – UEL.E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

“Estado emocional caracterizado pela ansiedade, sentimento de amor e de-sejo de obter a segurança e a ternura que uma segunda pessoa demonstra a umaterceira.” (DICIONÁRIO DE PSICOLOGIA, 1978, p.53).

O ciúme é um sentimento normal no ser humano. Esse sentimento é universale inato, proveniente do desejo da exclusividade no amor de determinada pessoa.

O ciumento duvida da possibilidade do “todo-ter”, a saber, ainda que tenha-mos um relacionamento, ele ou ela nunca será todo-nosso.

Para LACAN (1966), o ciúme é um sentimento ligado a um tipo bem particu-lar de experiência: “...uma identificação com o irmão pendurado no seio da mãe.”

Muitos autores consideram o ciúme como uma espécie de temor, que serefere ao desejo que temos de conservar algum bem, variando apenas de acordocom o objeto de desejo.

Existem pessoas que não conseguem expressar o ciúme, geralmente porqueforam fortemente reprimidas na infância, por alguma circunstância. Demonstraresse sentimento seria por em risco o afeto que lhes dedicavam. O ciúme é, muitasvezes, a manifestação caótica de elementos reprimidos no inconsciente, que vãodesde uma “louca” auto-estima, até um sentimento de culpa, passando por inúme-ras possibilidades de transformação. O ciúme não se assume, ele se fere e se refu-gia, tendo uma lógica que é participar do inconsciente.

Surgindo de diversas formas, há sempre em sua origem um sentimento dealguém se sentindo inferiorizado, desprezado, minimizado, excluído por outroalguém. É na incerteza e na insegurança, baseado apenas em suposições, que ociúme se instala.

O ciúme pode ser classificado em três categorias diferentes. A primeira per-tence ao ciúme normal, visando proteger a pessoa de um sentimento maior deangústia; podendo também ser vivenciado de forma bissexual, ou seja, além de terciúme do parceiro perdido e raiva do rival, a pessoa pode ter também uma atraçãonão reconhecida pelo outro do mesmo sexo.

Uma segunda categoria, citada por LACHAUD (1995), que já poderia pas-sar como neurótica, está lastreada na vivência universal do triângulo edipiano;em suas implicações na competitividade que nasce no indivíduo ao ter que dispu-tar o amor da mãe com o pai, ou, no caso das meninas, do pai com a mãe. Freud jáhavia situado o rival que suscita o ciúme fraterno, em suas análises dos sonhos demorte de um ser querido; na elaboração do complexo de Édipo (morte do progeni-tor do mesmo sexo), o desejo de morte é igual à identificação. No início da vidado ser humano, de fato, a noção do próprio corpo não existe; aquele ou aquela quesofre de ciúme nos mostra o quanto o outro faz falta.

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Na terceira categoria aparece o ciúme paranóide.“Paranóia: psicose caracterizada, sobretudo, por ilusões físicas. É um siste-

ma delirante durável, com ilusões de perseguição e grandeza, originado naesquizofrenia paranóide. Os ressentimentos são profundos e o paranóico, geral-mente, procura atacar aqueles que estiveram presentes em seus conflitos, muitasvezes, por inclusão na fantasia. O paranóico se caracteriza também pelo seuegocentrismo e, em muitos casos, por bom nível de inteligência e vivacidade men-tal.” (DICIONÁRIO DE PSICOLOGIA, 1978, p.207).

Em sua forma mais maligna e delirante, o ciúme paranóide poderá descobrir asfantasias subjacentes, que são exatamente a própria infidelidade ou o objeto de desejo:ser-lhe infiel. Para uma pessoa que padeça de ciúme delirante, que está dentro daforma clássica paranóide, o rival se torna alvo de toda parte ruim dessa pessoa.

Há ainda casos em que o ciúme se torna patológico, doentio, tornando-seuma obsessão descontrolada. Traz para quem o sente, sentimentos negativos, comoo de perda, e para o objeto de seu ciúme, um sofrimento ainda maior.

O ciúme é, pois, uma prova de perda; o próprio sujeito se perde do resto,pois, na identificação com o que ele acreditava ser o objeto do desejo do “outro”,algo vacila dentro de seu próprio ser. Essa identificação pode ser um bom modelodo “objeto amado”.

Freud já afirmava que o ciúme se compõe essencialmente do “leito”, pelador causada pelo objeto que achamos ter perdido, e pela humilhação narcísica.

Enfim, o ciúme entra na relação vindo de fora, podendo ameaçar, desestruturarou romper a relação amorosa quando está “tudo bem”, trazendo como conseqüên-cia de um para o outro, a vingança, a traição, a morte, as questões de fidelidade, ainveja e a frigidez.

O interesse pelo tema justifica-se por ser um sentimento que permeia todoser humano e todos os vínculos afetivos. Aparece nas relações conjugais, amoro-sas, rivalidades fraternais e até nas relações sociais.

Um dos pontos principais a ser investigado é a diferença entre o ciúme nor-mal e o patológico. E, pensando nessa questão, é que nos preocupamos em exami-nar o tema e seus reflexos nas relações humanas.

Ao empreender a pesquisa inicial, através de uma busca de títulos mais re-centes, evidenciou-se a carência de estudos sobre o assunto. À exceção de Freud,muito pouco se tem escrito sobre o ciúme.

Em 1922, escreveu Freud, o ciúme é um estado afetivo normal.Um amor sem ciúme seria sinal de um ciúme bem recalcado pelo sujeito. O

qual é observado na política familiar e social. A respeito do ciúme normal, dizFREUD (1922): “Ao dito ciúme normal, o ciumento busca a confissão, cabelos,marcas, cheiros, barulho, são testemunhas mudas, logo irrefutáveis. Tudo sinaliza

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para designar o culpado. E o culpado é o outro. É uma dor ressentida de saber oude crer que o objeto de amor está perdido. Este ciúme está ligado ao sexual, impli-ca em um terceiro. E existem dois registros, o narcisismo e a homossexualidade.”

Segundo Freud e Lacan, “...o sujeito só pode se amar através do OUTRO” –Outro fora EU.

O ciumento não suporta a satisfação do outro, tampouco seu gozo. Procura equer tudo. Procura privar o outro daquilo de que ele goza. Em outras palavras, ociumento tende para o narcisismo total e absoluto. Sem falhas. Ele nega osignificante da falta do outro.

Os ciúmes são sintomas que não podemos, de modo algum, camuflar emuma cura. Não devemos ignorá-los. Eles correspondem a um desconhecimento dafalta fundamental, a ausência de defesa contra esta falta.

METODOLOGIA

O objetivo do trabalho é identificar as características que diferenciam o ciú-me normal do patológico. Para tanto, foi realizada uma pesquisa através de ques-tionário, com sujeitos com idade acima de 16 anos, na cidade e Londrina e região.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos referem-se às respostas de entrevistados, cujas idadesvariaram de 16 a 51 anos, sendo que 23% eram mulheres, 77% eram homens;solteiros em sua maioria; com 47,5% com nível de escolaridade superior; 35%com segundo grau completo ou incompleto, e 17,5% com primeiro grau completoou incompleto. Chamou a atenção o fato de apenas 2,5% das pessoas terem oprimeiro grau incompleto.

A baixa escolaridade pode determinar a exuberância de sinais e sintomas deciúmes sem disfarces ou pudores. Nasce uma interrogação: “As pessoas com es-colaridade formal reprimem o ciúme ou realmente não o sentem?” Esta é umaquestão que merece maior investigação.

Em situações cotidianas, tais como encontrar um ex-parceiro, 60% das pes-soas reagiriam naturalmente; 27,5% sentiriam-se desconfortáveis; 17,5% podemser considerados ciumentos, sendo que 10% ficariam transtornados e 7,5%, per-turbados, assumindo assim sintomas de ciúmes.

Quanto à permissão para o parceiro sair com os amigos, 40% dos entrevista-dos nunca ou quase nunca permitiriam, o que demonstra um grau de possessividadeexagerado, contrariando os dados anteriores e podendo corroborar com a idéia dodisfarce em pessoas mais escolarizadas.

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No que se refere a contatos telefônicos, 92,5% dos entrevistados parecemnão se preocupar com o interlocutor, interrogando apenas quem era ou qual o teorda conversa; e 70% nunca ou quase nunca investigam as ligações do celular doparceiro; 20% o fazem às vezes; 7,5% dos entrevistados, por outro lado, denunci-aram respostas sintomáticas de ciúmes: sempre checam o celular.

Quanto a conversas com alguém na rede de computadores, 53% agiriamnormalmente, 20% se aborreceriam ou iriam investigar; 10% reportaram que de-penderia do teor da conversa e que isso acarretaria dificuldades ao relacionamen-to; 5% responderam que não saberiam o que fazer ou, simplesmente, não respon-deram. Revelaram-se ciumentos os restantes 12,5%, dentre os quais 5% teriamreações de desenlace ou de sérias alterações, como brigas, raiva e mágoa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contrariando as expectativas inicias, o presente trabalho demonstrou quepoucas pessoas assumem ter características de ciumentos patológicos.

No decorrer desta pesquisa observou-se que a entrevista é o método maisprodutivo para a coleta de dados neste caso, pois permite obter informações maisdetalhadas, enquanto que, nos questionários, as respostas, muitas vezes, mostra-ram-se contraditórias, dificultando uma análise mais profunda e fidedigna.

As respostas contraditórias podem ser ilustradas na questão onde a maiorparte dos entrevistados respondeu que nunca permitiria que o parceiro saísse comos amigos, mas que reagiria naturalmente se encontrasse o parceiro com um(a)ex-namoradoa(a).

Houve dificuldade para se estabelecer uma base teórica sólida, é escassez dereferências bibliográficas que aprofundem o tema, dificultando a obtenção de umariqueza em detalhes sobre determinados aspectos das pessoas ciumentas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, Moacir. Vida a dois.1.ed. São Paulo: Integral, 1991.DORIN, E. Dicionário de Psicologia; abrangendo terminologia de ciênciascorrelatas. São Paulo: Melhoramentos, 1978, 300p.DREKURS, L. Rudolf. Psicologia do casamento. 20.ed. São Paulo, 1949.LACHAUD, Denise. Ciúmes. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2001, 148p.SILVA, T. Regina et al.. Ciúme: o medo da perda. São Paulo: Ática, 1996.ZIMERMAN, David. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Ale-gre: Artmed, 2001, p.69 a 315.

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1

ANÁLISE CRÍTICA TEÓRICA DA EVOLUÇÃO DOCONCEITO DE CLIMA ORGANIZACIONAL

* Edelvais Keller** Maria Aparecida Ferreira de Aguiar

RESUMO

A proposta do trabalho é desenvolver uma análise crítica teórica da evolu-ção do conceito de clima organizacional tendo, como base, estudos empíricos eautores que trouxeram contribuição para a evolução do conceito, especialmente,estudiosos do comportamento organizacional, das relações grupais e das organi-zações. Esta análise descritiva não se propõe a ficar somente na descrição, masem ser um exercício hermenêutico crítico. A justificativa para este estudo funda-menta-se no crescente interesse, pelas organizações, pelo clima organizacionalcomo mecanismo de gestão de recursos humanos, de melhoria de produtividade eda qualidade de vida no trabalho e nas organizações. A análise teórica críticaoferece indicadores não só da evolução do conceito, mas das características doque se entende por clima organizacional, o que possibilita a compreensão do fe-nômeno e das suas vicissitudes, além de facilitar a criação de metodologias ade-quadas para intervenção neste fenômeno. O estudo trabalha algumas distinçõesentre clima e cultura organizacional, possibilitando, com isto, estabelecerparâmetros e metodologias para seus estudos específicos.

PALAVRAS-CHAVE: Empresa; Trabalho; Clima Organizacional.

ABSTRACT

The purpose of the present work is to develop a critical theoretical analysisof the evolution of the concept of organizational atmosphere based on empiricstudies and authors that contributed to the evolution of the concept, particularlyexperts in organizational behavior, in group and organizational relations. Thisdescriptive analysis intends not only to describe but also to be a criticalhermeneutical exercise. The justification for this study is based on the increasing

* Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Mestre em Psicolo-gia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Doutoranda em Psicologia Clí-nica pela PUC-SP. E-mail: [email protected]** Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo – USP. Docente do Programa de Mestradoem Administração da PUC-SP. Psicóloga organizacional.

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interest, by the organizations, on the organizational atmosphere as a mechanismin the management of human resources, in the improvement of productivity andlife quality in the workplace and in the organizations. The critical theoreticalanalysis offers indicators not only for the evolution of the concept but also for thecharacteristics of what is understood by organizational atmosphere, making itpossible for an understanding of the phenomenon ands its specificities, besidesfacilitating the creation of adequate methodologies for intervention in suchphenomenon. The study also comprises some distinctions between organizationalatmosphere and culture, providing the establishment of parameters andmethodologies for their specific studies.

KEY-WORDS: Enterprise; Work; Organizational Environment.

INTRODUÇÃO

O clima organizacional tem sido considerado fator de relevância para a ges-tão organizacional. As mudanças conseqüentes do processo de globalização, es-pecialmente os processos de internacionalização das organizações, que trazem noseu bojo drásticas alterações nas relações internas, têm atraído a atenção de pes-quisadores para o fenômeno do clima organizacional, incentivando seu estudo.VÁZQUEZ (1996) apresenta significativos dados históricos a respeito do estudodo clima organizacional, e alguns dos quais podem ser apresentados paracontextualizar historicamente a evolução do estudo do clima nas organizações.

De acordo com VÁZQUEZ (1996), as primeiras pesquisas consideradas cien-tíficas sobre o estudo do clima organizacional remontam à década de 1930. Nosanos de 1935, 1939 e 1951, a obra de Kurt Lewin serve de estímulo crescente parao interesse pelo contexto social. De modo específico, o trabalho experimental delaboratório, realizado junto com Lippitt e White, sobre os estilos de liderança grupal,introduz o “clima” como vínculo entre a pessoa e o ambiente, e, como tal, clima serefere às distintas situações que se originam como conseqüência da utilização dostipos de liderança. O caminho para o estudo do clima organizacional estava aberto.

Os estudos anteriores à década de 1980 não permitiram definir o clima demodo uniforme, o que levou os estudiosos a uma série de comentários críticos, e aduvidar de sua utilidade, especialmente a partir do impulso sobre estudos focadosna cultura organizacional, no mesmo período. O crescimento do desenvolvimentosobre o conceito de “cultura organizacional” é uma outra questão que se apresentapara a elucidação dos estudiosos: se clima e cultura são conceitos que secomplementam ou são diferentes, e em que medida a cultura prevalece ou influi

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sobre o clima, ou ainda, se cultura é outro termo para designar clima, questõeslevantadas por Erickson, em 1987, de acordo com VÁZQUEZ (1996).

Na visão deste último autor, durante muito tempo os termos clima e culturaforam utilizados de forma intercambiável. Por exemplo, para Katz e Kahn, em1983, toda organização cria sua própria cultura ou clima. Ainda que a proximida-de dos dois conceitos seja grande, a diferenciação sugere outra questão: se a cul-tura determina o clima, e vice-versa.

A partir de Schneider, em 1985, começam a surgir posturas integradorasentre os conceitos de clima e cultura. O tratamento metodológico a que são sub-metidas as variáveis diferem em ambos os conceitos. No estudo do clima, tendema ser usados métodos quantitativos; e no estudo da cultura, métodos qualitativos.Conforme VÁZQUEZ (1996), a dinâmica da formação e troca desses dois concei-tos mostra semelhanças e diferenças, e se admite que estudos de clima e culturapodem se beneficiar mutuamente, sendo que, através das forças das semelhançase diferenças, foi possível a compreensão de um por meio do outro.

Depois da Segunda Guerra Mundial, devido à preocupação dos governoscom o espírito que reinava no exército e na população, se encontra o clima associ-ado com conceitos como “moral” no trabalho. Surgem os primeiros estudos quetentam captar esse espírito ou estado mental, entendido geralmente como concei-to de grupo. Desde então, o termo clima é usado como conceito metafórico, deri-vado da meteorologia. A palavra passou a ser usada em relação às organizações,transportando-se analogicamente para elas. Dessa forma, passou-se a estudar oclima das organizações através de dados obtidos por meios objetivamentemensuráveis, e que descrevem como as condições se apresentam durante um de-terminado período de tempo. Payne e Pugh, em 1976, levam a analogia de climaatmosférico ao clima organizacional nas organizações, de maneira coerente, sen-do a idéia do clima como um enlace dos níveis individual e organizacional deanálise, entre os quais se estabelece uma inter-relação. Para eles, as atitudes e oscomportamentos dos indivíduos, as variáveis estruturais e processuais e o meioambiente estão na base do clima (VÁSQUEZ, 1996).

Para complementar essa breve retrospectiva histórica, OLIVEIRA (1995)também contribui com alguns dados. Para esse autor, a expressão “clima”, paradesignar a “atmosfera” ou o “ambiente interno” da empresa, é relativamente nova,mas sua idéia fundamental é mais antiga, pois, ao longo das várias décadas nodecorrer do século XX, as teorias e práticas gerenciais foram se transformandopelas contribuições de muitos estudiosos do tema, sendo que a noção de climainterno, mesmo sem ser assim designada, foi também se modificando e se requin-tando, associada a vários movimentos representativos de escolas de gerência quedão ênfase aos aspectos humanos na organização.

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OLIVEIRA (1995) refere-se ao clima organizacional como “clima interno”e afirma que essa idéia já estava embutida na proposta da Escola das RelaçõesHumanas, na década de 1930. Segundo ele, provavelmente, o experimento deHawthorne foi a primeira ocasião em que o clima interno tenha sido estudado.Depois disso, de quando em quando, ele reaparecia nas décadas posteriores, de1950 e 1960, aliado a dois movimentos significativos de teorias gerenciais: umdeles, marcado pelos modelos de gerência desenvolvidos por teóricos comoMacGregor, Likert, Argyris, Reddin, e posteriormente por Hersey e Blanchard; eum outro movimento, em que surgem os estudos denominados de “laboratórios decomportamento” ou “de sensibilidade”, e outros, chamados de “desenvolvimentoorganizacional”, desenvolvidos a partir das propostas iniciais de Kurt Lewin, Bennise Beckhard. Os teóricos que implantaram a idéia da grade gerencial, Blake eMouton, estavam ligados a ambos os movimentos, fazendo a ponte entre os doisgrupos de estudiosos. Nessa época, ainda não se falava em “clima nas organiza-ções”, mas já havia uma constante preocupação com ele.

Conforme OLIVEIRA (1995), a partir desses movimentos nas teoriasorganizacionais, surgiram outros novos e rápidos movimentos, que se misturaramuns aos outros, e têm se mantido dessa forma. Em outros desdobramentos, o climainterno passou a ser um grande objeto de estudo das teses de qualidade de vida notrabalho, círculos de qualidade, programas de qualidade total, e, mais recente-mente, da cultura corporativa. A partir de então, o clima interno das organizaçõesjá não pode mais ser ignorado.

Mariz de OLIVEIRA (1996) também aponta alguns dados históricos sobre aquestão do clima organizacional. Para ele, o surgimento de novas teoriasorganizacionais, consideradas em um contínuo evolutivo e aliadas à psicologiasocial, tem fornecido subsídios para a análise e a adaptação do homem ao seucampo organizacional. Nos anos 1960 e, mais acentuadamente, na década de 1970,surgiu, com a Teoria dos Sistemas, a preocupação com modelos abertos de organi-zação. Para os teóricos sistêmicos, a organização é vista em razão de comporta-mentos inter-relacionados, havendo uma tendência para atribuir maior destaqueaos papéis exercidos pelos indivíduos.

Conforme esse autor, é nessa conjuntura que surgiu, na literatura das teoriassobre as organizações, o conceito de “clima organizacional”, abrindo uma novadimensão na busca de explicações para o desempenho humano nas organizações.A partir dessa constatação por parte de diferentes pesquisadores do assunto, sur-gem os estudos sobre as relações existentes entre o clima organizacional e outrosaspectos significativos da vida das organizações, tais como: motivação, satisfaçãono trabalho, liderança, produtividade, rotatividade, moral, estresse, desempenho.Assim, o clima organizacional passou a ser considerado uma variável importante

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a ser estudada por todos quantos se interessam pela busca de explicações para odesempenho humano nas organizações.

OBJETIVO

O objetivo do presente artigo é realizar uma análise crítica teórica da evolu-ção do conceito de clima organizacional, tomando como referência autores quetrouxeram contribuição para a evolução do conceito nas teorias organizacionais.

PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS

Apresentação de uma análise descritiva da evolução do conceito de climaorganizacional que não se limite a ficar na descrição, mas que esteja comprometi-da com um exercício hermenêutico crítico sobre o tema.

A evolução dos conceitos e estudos científicos sobre clima organizacional

As pesquisas iniciais de caráter científico sobre o clima organizacional se desen-volveram nos Estados Unidos da América, sendo que foram evoluindo à medida queevoluíam as teorias organizacionais. De acordo com alguns estudiosos do assunto,que reviram os aspectos históricos e a evolução do conceito de clima organizacional(EKVALL, 1985; VÁZQUEZ, 1996; Mariz de OLIVEIRA, 1996), os conceitos apre-sentados na literatura científica podem ser divididos em três abordagens distintas:primeira abordagem - os conceitos enfatizam somente os atributos organizacionais;segunda abordagem - os conceitos dão destaque aos atributos organizacionais e àpercepção dos membros da organização; terceira abordagem - os conceitos passam adar ênfase aos atributos individuais e à percepção dos indivíduos.

Segundo Mariz de OLIVEIRA (1996), a primeira utilização do conceito declima organizacional tem sido atribuída a Halpin e Croft, que a apresentam em1963, em um estudo sobre o referido tema. Porém, o termo foi usado, pela primei-ra vez, por F. G. Cornell, em um artigo publicado em março de 1955, intitulado“Administração socialmente perceptiva”, no qual o conceito apresentado maisparece pertencer à segunda abordagem. O clima organizacional foi definido entãocomo “[...] uma complexa combinação de interpretações (ou percepções, comopreferem os psicólogos) das pessoas sobre seus trabalhos ou papéis na organiza-ção, suas interações com as outras pessoas, e suas interpretações dos papéis dasoutras pessoas na organização” (Cornell, apud Mariz de OLIVIERA, 1996, p.16).

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Já VÁZQUEZ (1996) afirma que o primeiro conceito formal sobre climaorganizacional, devido à sua importância histórica, pertence aos autores Katz eKahn, formulado em 1966, com a predominância de atributos organizacionais,desta forma:

“O clima organizacional é o resultante de um número de fato-res que se refletem na ‘cultura total’ da organização e se refereà organização como globalidade. O clima organizacional podeentender-se como o sistema predominante de valores de umaorganização, mediante o qual os investigadores pretendemchegar à identificação do mesmo e conseguir que, combinan-do os climas com as características pessoais dos indivíduos, aorganização seja mais efetiva.” (Katz e Kahn, apud VAZQUEZ,1966, p.41).

Primeira Abordagem: Conceitos com predomínio dos atributosorganizacionais

Na primeira abordagem de formulação de conceitos de clima organizacional,segundo Mariz de OLIVEIRA (1996) e EKVALL (1985), segundo os quais seprivilegiam os atributos organizacionais, a forma de mensuração é múltipla e seconsidera o clima organizacional como um conjunto de atributos organizacionaisou propriedades mensuráveis através de vários métodos. As variáveis que consti-tuem o clima organizacional nessa abordagem são compostas dos seguintes as-pectos: tamanho da organização, estrutura, níveis da autoridade, complexidade dosistema, e assim por diante. Os estudiosos representantes dessa abordagem sãoEVAN (1953), LAWRENCE e LORSH (1957), PRIEN e ROMAN (1971) e PUGHet al. (1969). Um conceito de clima representativo dessa linha de pensamento éapresentado em 1964, por Forehand e Gilmer: “O clima organizacional é um con-junto de características que descrevem uma organização, as quais: a) distinguemuma organização de outras organizações; b) são relativamente duradouras no tem-po; e c) influenciam o comportamento das pessoas na organização.” (Forehand eGilmer, apud EKVALL, 1985, p.97 ; VÁZQUEZ, 1996, p.41; Mariz de OLIVEI-RA, 1996, p.19).

Tagiuri, em 1968, afirma que os elementos psicológicos do conceito deForehand e Gilmer estariam em consonância com os que caracterizam a visão declima como uma característica do ambiente total, e apresenta a sua definição: “Oclima é uma qualidade relativamente duradoura do ambiente total que: a) é

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experenciada por seus ocupantes; b) influi em seu comportamento; c) pode serdescrita em termos de valores de um conjunto particular de características (ouatributos) da organização.” (Tagiuri, apud VÁZQUEZ, 1996, p.42; Mariz de OLI-VEIRA, 1996, p.19; SANTOS, 2000, p.39).

O conceito de clima organizacional de Katz e Kahn, anos mais tarde, conti-nua sendo apresentado pelos autores com predominância de fatores organizacionais,da seguinte forma:

“Toda organização cria sua própria cultura ou clima, com seuspróprios tabus, costumes e usanças. O clima ou cultura do sis-tema reflete tanto as normas e valores do sistema formal comosua reinterpretação no sistema informal. O clima organizacionaltambém reflete a história das porfias internas e externas, dostipos de pessoas que a organização atrai, de seus processos detrabalho e ‘leiaute’ físico, das modalidades de comunicação edo exercício da autoridade dentro do sistema.” (KATZ eKAHN, 1976, p. 85).

Esses conceitos concebem o clima como uma realidade organizacional, den-tro de uma clara tradição que considera o clima um atributo organizacional comexistência independente das percepções dos indivíduos. Essa abordagem prevale-ceu nos conceitos e estudos de clima organizacional durante os anos 1980 até adécada de 1990.

Um conceito também considerado por VÁZQUEZ (1996), pertencente àprimeira abordagem, é o que se refere ao clima organizacional como:

“O ambiente humano dentro do qual realizam o seu trabalhoos empregados de uma companhia. Este se refere ao ambientede um departamento, uma unidade importante da companhia,como por exemplo, uma sucursal, ou da organização comple-ta. O clima não se vê nem se toca, mas tem uma existênciareal. Da mesma forma que o ar de uma casa, rodeia e afetatudo que ocorre dentro da organização. Por sua vez, o clima sevê afetado por quase tudo que ocorre dentro dela, como im-pressões digitais ou flocos de neve, as organizações pelos seusmétodos de ação em sua totalidade, constituem o seu clima.”(Davis, apud Mariz de OLIVEIRA, 1996, p.23).

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Segunda Abordagem: Conceitos com predomínio dos atributosorganizacionais com mensuração da percepção dos indivíduos

A segunda abordagem de conceitos de clima organizacional, com enfoqueem atributos organizacionais, passa a estudar o clima, considerando-o e avalian-do-o através de recursos perceptuais dos membros organizacionais. Os estudosrepresentativos dessa linha são de LITWIN e STRINGER (1968), LIWTIN (1971)e PRITCHARD e KARASICH (1973). Entre esses autores, um dos conceitos maisreferenciados na literatura é: “Um conjunto de propriedades mensuráveis do am-biente de trabalho, percebido direta ou indiretamente pelas pessoas que vivem etrabalham neste ambiente, e que influencia a motivação e o comportamento des-sas pessoas” (Liwtin e Stringer, apud Mariz de OLIVIERA, 1996, p.20).

Nessa mesma perspectiva, o conceito de clima apresentado somente porLITWIN (1971) é o seguinte: “Clima organizacional é a qualidade ou propriedadedo meio ambiente organizacional que: a) é percebida ou experimentada pelosmembros da organização; e b) influencia o seu comportamento;” (LITWIN, 1971,p.111).

O conceito de Pritchard e Karasich se refere ao clima como uma qualidaderelativamente permanente, pressupondo que clima organizacional:

“[...] é a qualidade relativamente permanente do ambiente in-terno de uma organização, que distingue uma organização daoutra: a) é resultante do comportamento e política dos mem-bros da organização, especialmente da alta administração; b) épercebido pelos membros da organização; c) serve como basepara interpretar a situação; d) atua como fonte de pressão paradirecionar a atividade.” (Pritchard e Karasich, apud Mariz deOLIVEIRA, 1996, p.20; SANTOS, 1999, p.29; SANTOS,2000, p.39-40).

Ainda no âmbito dos conceitos da segunda abordagem, segundo Mariz deOLIVEIRA (1996), encontra-se o conceito apresentado em 1970 por Campbell etal., segundo o qual o clima organizacional é visto de forma peculiar por essesautores, pois, enquanto outros pesquisadores afirmam seemr os elementos críti-cos do clima organizacional as percepções individuais sobre a organização, essesteóricos os apontam como sendo uma variável situacional ou organizacional deefeito principal, afirmando que o clima organizacional é:

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“[...] um conjunto de atributos específicos de uma organiza-ção particular que pode ser influenciado pelo modo como aorganização se relaciona com seus membros e seu ambiente.Para cada membro, em particular, dentro da organização, oclima toma a forma de um conjunto de atitudes e expectativasque descrevem a organização em termos, tanto de característi-cas estáticas (tal como o grau de autonomia), como de variá-veis comportamentais de resultado ou eventos de saída.”(Campbell et al., apud EKVALL, 1985, p.97; VAZQUÉZ, 1996,p.43; Mariz de OLIVEIRA, 1996, p.20; SANTOS, 1999, p.29;SANTOS, 2000, p.40).

Terceira Abordagem: Conceitos com predomínio de atributos individuais commensuração baseada na percepção dos indivíduos

Dentro da terceira abordagem de formulação de conceitos de climaorganizacional, o enfoque mais voltado para atributos individuais envolve amensuração perceptiva dos indivíduos. Dessa forma, vê-se o clima como um con-junto resultante das percepções individuais e das percepções globais manifesta-das pelos indivíduos na organização, avaliadas através de recursos perceptuais.Os estudos que representam essa abordagem são dos seguintes autores: Schneider(1972, 1973), Schneider e Bartlett (1968) e Schneider e Hall (1972), conformeMariz de OLIVEIRA (1996).

De acordo com essa abordagem, os conceitos de clima envolvem os aspec-tos psicológicos das percepções e expressam uma nova visão sobre a organização.Pertencentes à terceira abordagem, se encontram conceitos dos estudiosos que sereferem a aspectos cognitivos individuais e psicológicos presentes no climaorganizacional. Os conceitos de clima organizacional passam a reunir, então, no-vas características:

“[...] são representações cognitivas do indivíduo em relação aeventos e situações relativamente recentes, expressadas porele, que refletem o significado psicológico e a significância dasituação para o indivíduo, bem como as percepções que secriam, que são uma função de componentes históricos, a sa-ber, esquemas cognitivos que refletem experiênciasidiossincráticas de aprendizagem.” (James e Sells, apudVÁZQUEZ, 1996, p.46).

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Em 1975, Schneider apresenta o seu conceito de clima com base na teoriacognitiva, e, a partir dele, os autores entram em controvérsia sobre a classificaçãodo seu conceito. Mariz de OLIVEIRA (1996) o classifica como pertencente àsegunda abordagem, àquela que privilegia os atributos organizacionais e utilizamedidas perceptuais. Porém, para EKVALL (1985), o conceito de Schneider podeser enquadrado na linha de pensamento da terceira abordagem, a qual dá ênfaseaos atributos individuais e onde a mensuração é realizada de acordo com a per-cepção individual e grupal. Esse conceito é apresentado assim:

“As percepções de clima são descrições molares psicologica-mente significativas que as pessoas podem admitir para carac-terizar as práticas e os processos de um sistema. Por suas prá-ticas e processos um sistema pode criar muitos climas. As pes-soas percebem os climas porque as percepções molares atuamcomo quadros de referência para a obtenção de algumacongruência entre o comportamento e as práticas e processosdo sistema. Contudo, se o clima recompensa e sustenta a exi-bição das diferenças individuais, as pessoas em um mesmosistema não irão se comportar igualmente. Além disso, porquea satisfação é uma avaliação pessoal do sistema, as pessoas nosistema tenderão a admitir menos sobre sua satisfação do quesobre suas descrições do clima do sistema.” (Schneider, apudMariz de OLIVEIRA, 1996, p.20-21).

A partir da terceira abordagem, os conceitos de clima organizacional pas-sam a ser apresentados com a inclusão das percepções individuais e dos sub-grupos sobre a situação organizacional, segundo as quais o indivíduo, isolada-mente, interpreta os acontecimentos para compreendê-los, sendo que a soma dosdados revela a percepção grupal dos membros organizacionais como um todo.

O conceito apresentado por Kolb et al. é considerado por Mariz de OLI-VEIRA (1996) como pertencente a essa terceira abordagem, isto é, à categoriados conceitos com enfoque em atributos individuais, originado dos estudos dospesquisadores Litwin e Stringer, cujos conceitos de clima foram classificados comopertencentes à segunda abordagem. Nessa perspectiva, os autores apresentam oclima organizacional como sendo: “As interações dos padrões de motivos dosmembros de uma organização, combinam-se com os estilos de liderança das pes-soas-chave da organização, com suas normas e seus valores e com a estrutura daorganização para criar o clima psicológico da mesma.” (KOLB et al., 1978, p.76).

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Para esses últimos autores, é importante que os administradores compreen-dam o conceito de clima organizacional, porque é através de sua criação que sepode manejar a motivação de seus empregados. A eficiência da organização podeser aumentada por meio da criação de um clima organizacional que satisfaça àsnecessidades de seus membros e, ao mesmo tempo, canalize esse comportamentomotivado, na direção dos objetivos organizacionais. Na opinião de Kolb et al.,porém, a motivação não é o único enfoque que pode nortear o clima dentro de umaorganização:

“Embora uma compreensão da motivação humana seja valio-sa para o administrador em atividade, vimos que a motivaçãonão é o único determinante do comportamento. [...] Pelo seucomportamento, pelas políticas, pelos procedimentos, pelossistemas de recompensa e pelas estruturas que eles criam, osadministradores podem influenciar significativamente o cli-ma motivacional de uma organização.” (KOLB et al., 1978,p.82).

Esses mesmos autores afirmam que, ao escolher um sistema administrativoe uma estrutura organizacional, uma organização deve considerar a interação en-tre as seguintes variáveis:

a) as pessoas na organização, suas capacidades e seus moti-vos;b) as tarefas organizacionais e os tipos de comportamentosnecessários para a realização mais eficiente dessas tarefas;c) o ambiente externo à organização e as exigências que elefaz à organização, em termos de criatividade, flexibilidade,qualidade, etc.;d) o clima organizacional, enquanto determinado pelos estilosde liderança da administração da organização.

Para KOLB et al. (1978), o objetivo do planejamento organizacional é com-binar as pessoas com as tarefas que requeiram e inspirem seus motivos e habilida-des e planejar tarefas referentes às exigências e oportunidades ambientais. A vari-ável mais maleável das quatro é o clima organizacional, por servir como um ins-trumento administrativo efetivo para integrar a motivação individual com os obje-tivos e tarefas da organização.

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“A eficiência da organização pode ser aumentada através dacriação de um clima organizacional que satisfaça às necessi-dades de seus membros e, ao mesmo tempo, canalize esse com-portamento motivado na direção dos objetivosorganizacionais.” (KOLB et al., 1978, p.76).

James e Jones (apud EKVALL, 1985) enfatizam em 1974 uma distinçãoteórica relevante: clima como atributo organizacional seria designado como “cli-ma organizacional”, e se utilizaria o termo “clima psicológico” nos estudos emque as descrições individuais são reconhecidas e usadas como unidades de análi-se, como característica individual. Dessa forma, foram ficando mais claros osconteúdos e as posições dos investigadores, sendo que alguns chegaram denomi-nar esta distinção de “discrepância climática”.

“Em outras palavras, o que se estuda é a diferença entre oclima psicológico de cada indivíduo e o clima organizacionalcomo um todo, e o efeito desta diferença sobre as atitudes,sentimentos e comportamentos individuais na organização. Estadiscrepância na percepção do clima afeta a satisfação e a exe-cução no trabalho.” (EKVALL, 1985, p.99).

Sobretudo, em virtude dos diversos conceitos de diferentes autores descritoscomo pertencentes às três abordagens contextualizadas historicamente, que estu-dam o clima nas organizações, na opinião de Mariz de oliveira (1996), o conceitode clima organizacional permanece indefinido. Segundo ele, os resultados da in-vestigação que realizou sobre a evolução dos conceitos são contraditórios, e nãoexiste total concordância quanto à conceituação do constructo, seus determinantesou sua significação.

Conceitos de Clima Organizacional segundo Pesquisadores Brasileiros

Os conceitos de clima organizacional encontrados na literatura publicada porautores nacionais são muitos e contêm variáveis distintas associadas ao clima, e querecebem ênfases que seguem as mesmas tendências dos conceitos postulados pelosautores internacionais. Os primeiros conceitos que surgiram em nosso país dão pre-dominância aos atributos organizacionais, especialmente à cultura organizacional,enquanto os posteriores enfatizam os atributos individuais e de grupos, ao conside-

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rarem aspectos como: a satisfação no trabalho, os relacionamentos interpessoais notrabalho, a saúde ocupacional e a qualidade de vida no trabalho.

SOUZA (1978) é a autora brasileira considerada como pesquisadora pionei-ra nos estudos científicos de clima organizacional em nossas organizações, inici-ados em meados dos anos 1970, e foi uma das que mais investigou esse tema nopaís até o momento. SOUZA (1980) afirma que o interesse pelo estudo de climaorganizacional tomou feição científica na década de 1970. Antes disso, as refe-rências eram de caráter geral e, muitas vezes, implícitas. Para essa pesquisadora,o clima organizacional é um fenômeno resultante de elementos da culturaorganizacional, e possui três elementos: tecnologia, pressão das normas e aceita-ção dos afetos. Ela apresenta o seu conceito de clima organizacional com essescomponentes da seguinte forma:

“Clima organizacional é um fenômeno resultante da interaçãodos elementos da cultura. É uma decorrência do peso de cadaum dos elementos culturais e seu efeito sobre os outros dois.A excessiva importância dada à tecnologia leva a um climadesumano; a pressão das normas cria tensão; a aceitação dosafetos, sem descuidar os preceitos e o trabalho, leva a climasde tranqüilidade, confiança, etc. E, como cada um dos três ele-mentos culturais é formado por diversos componentes, sãoinúmeras as combinações possíveis entre eles, criando-se cli-mas de maior ou menor rigidez, realização ou emocionalidade.O clima é uma resultante das variáveis culturais. Quando estassão alteradas, ocasionam alterações no clima. Curiosamente,o clima é mais perceptível do que as suas fontes causais. Écomparável a um perfume: percebe-se o efeito, sem conheceros ingredientes, embora às vezes seja possível identificar al-guns deles.” (SOUZA, 1978, p.37-38).

Na opinião dessa autora, popularmente, o termo “clima” é usado sem difi-culdades de compreensão, do ponto de vista científico; no entanto, sua definição émais difícil, e os autores divergem em sua conceituação. O conceito de climaproposto por ela é bastante referenciado na literatura nacional, sendo apresentadona maioria dos estudos nacionais a respeito do tema “clima organizacional”.

Quanto à importância do estudo de clima nas organizações, essa autora afir-ma também que: “Estudos de clima organizacional são particularmente úteis, por-que fornecem um diagnóstico geral da empresa, bem como indicações de áreas

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carentes de uma atenção especial. Não basta ‘sentir’ que o clima está mau, é pre-ciso identificar onde, porque e como agir para melhorá-lo” (SOUZA, 1982, p.14).

Para SOUZA (1978), as variáveis que interferem no comportamento humanosão múltiplas, difíceis de medir e, além disso, mutantes, sendo que, no entanto, oadministrador não pode ignorá-las, já que estão presentes no processo empresarial.

De acordo com GUTIERREZ (1988), evidenciam-se as necessidades deentender como as pessoas componentes de qualquer organização percebem asmúltiplas mudanças que ocorrem, tanto no nível de ambiente externo como nointerior da própria organização, e como reagem a elas. Para tanto, destacam-se,como um importante auxílio para o manejo e a administração, os estudos que vêmsendo realizados sobre o clima organizacional.

Na opinião de RICHTER (1982), uma das formas pouco difundidas entrenós, mas que traz muitas contribuições para o conhecimento e o manejo do funci-onamento das organizações, é o estudo do clima organizacional, o qual, apesar darelevância do assunto, só passou a ser tratado cientificamente a partir da décadade 1970, totalizando, hoje ainda, um pequeno número de pesquisas.

Conforme XAVIER (1984), entende-se por clima o fenômeno resultante daintegração entre as personalidades individuais e as exigências funcionais peculia-res que ocorrem na organização. Daí por que afirmar que o clima organizacional éo reflexo característico que distingue uma organização de outras, consideradasnão somente quanto às suas estruturas físicas, mas também quanto às suas atitu-des e aos tipos de comportamentos que elas provocam no homem que trabalhadentro delas.

OLIVEIRA (1995) refere-se ao clima organizacional como clima interno.Segundo esse autor, tal clima jamais é algo claramente definido. Ao contrário, édifuso, incorpóreo como uma espécie de fantasma, que se manifesta no dia-a-diadas organizações, em uma confusa trama de ações, reações e sentimentos jamaisexplicitados. Para esse autor, devido à diversidade interpessoal einterdepartamental, existem vários climas internos manifestando-seconcomitantemente na organização. A realização de pesquisas junto aos funcio-nários, no intuito de avaliar seu perfil socioeconômico e seu grau de motivação,satisfação e integração, pode trazer subsídios para a análise das diferençassubculturais.

“Clima interno é o estado em que se encontra a empresa ouparte dela em dado momento, estado momentâneo e passívelde alteração, mesmo em curto espaço de tempo, em razão denovas influências surgidas, e que decorre das decisões e ações

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pretendidas pela empresa, postas em prática ou não, e/ou dasreações dos empregados a essas ações ou à perspectiva delas.Esse estado interno pode ter sido influenciado por desdobra-mentos em novos acontecimentos, decisões e ações internas.Esse estado pode ser levantado e compreendido em suas cau-sas, manifestações e efeitos, por meio de técnicas apropriadasde pesquisa. Sua descrição inclui a menção a decisões, opini-ões, atitudes e/ou comportamentos dos empregados. Estes po-dem ser vistos como um agregado de indivíduos que se com-portam em unidade entre si, como coletividade dotada de pa-drões culturais e/ou defendendo interesses próprios.” (OLI-VEIRA, 1995, p.47).

Segundo RESENDE e BENAITER (1997), o tema “clima organizacional”tem sido objeto de estudos por parte de especialistas da psicologia organizacionale da administração, por tratar-se de um fenômeno comportamental cujo entendi-mento tem desafiado os estudiosos. Nos últimos tempos, tem aumentado o inte-resse pelo assunto em virtude da crescente tomada de consciência da sua relaçãocom o desempenho e os resultados das organizações.

Segundo RESENDE e BENAITER (1997, p.52), o clima organizacionalexpressa “A situação de um determinado momento da empresa que reflete asatisfação, o ânimo, os interesses, comportamentos e comprometimentos dosempregados, e os reflexos positivos ou negativos disso nos resultadosorganizacionais.”

O enfoque que Resende e Benaiter pretendem dar ao clima organizacionalleva em conta as variáveis humanas, sociais, comportamentais e organizacionaisque afetam os resultados das empresas, o que os leva a definir o clima organizacionalcomo “A percepção que a coletividade dos empregados tem da organização, emvirtude da experimentação do conjunto de seus valores, crenças, atitudes, relacio-namentos (interno/externo), manifestações de autoridade, estrutura, processos epolíticas, e da forma pela qual eles reagem a este contexto” (RESENDE eBENAITER, 1997, p.52).

Esses autores afirmam que o clima reflete, tanto a história como as circuns-tâncias das organizações, que, por sua vez, influenciam o comportamento daspessoas que nelas trabalham. O clima também pode ser influenciado por fatoresexternos, quando estes afetam direta ou indiretamente as pessoas. São exemplosdessa influência situações tais, como: custo de vida elevado, instabilidade econô-mica e de negócios, crises sociais, etc.

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Para SROUR (1998), o clima organizacional não apanha os modosinstitucionalizados de agir e pensar.

“Seu eixo consiste em capturar a ‘temperatura social’ que pre-valece na organização em um instante bem preciso.Corresponde a um corte sincrônico ou a um flagrante fotográ-fico, condensa a somatória de opiniões e de percepções cons-cientes dos membros, traduz as tensões e os anseios do pesso-al — o ‘moral da tropa’, o ânimo presente. O climaorganizacional mapeia o ambiente interno que varia segundo amotivação dos agentes, apreende suas reações imediatas, suassatisfações e suas insatisfações pessoais; desenha um retratodos problemas que a situação do trabalho, a identificação coma organização e a perspectiva de carreira eventualmente pro-vocam; e, por fim, expressa a distribuição estatística das atitu-des coletivas ou da atmosfera social existente como metáforade um momento determinado. Dependendo do estado de âni-mo que predomina em cada subunidade de uma organização,vários microclimas podem coexistir. [...] Por ser subjetivo, oclima não representa as regularidades simbólicas dacoletividade, indica apenas uma ‘pulsação’ da culturaorganizacional, um flash de sua conjuntura.” (SROUR, 1998,p.176).

Esse mesmo autor ressalta que não são intercambiáveis os conceitos de cul-tura organizacional e de clima organizacional e compara ambos os conceitos. Noentender dele, não se pode, então, confundir uma descrição instantânea dos mal-estares ou do nível de satisfação dos indivíduos com os padrões culturais da orga-nização, com suas práticas recorrentes ao longo do tempo. Em contraposição, asculturas organizacionais constituem sistemas de referências simbólicas e moldamas ações de seus membros segundo um certo figurino. Ao servir de elo entre opresente e o passado, contribuem para a permanência e a coesão da organização.E, diante das exigências que o ambiente externo provoca, diante das necessidadesde integração interna que se renovam de maneira incansável, formam um conjun-to de soluções relativas à sobrevivência, à manutenção e ao crescimento da orga-nização.

CODA (1992, 1997) evidencia a importância da percepção e do atendimen-to das necessidades dos indivíduos, sujeitos de uma pesquisa de clima

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organizacional. Esse autor apresenta uma visão que parece mais próxima à tercei-ra abordagem de conceitos, na qual enfatiza a questão da satisfação no trabalho,dando ênfase à percepção dos indivíduos. Para esse autor, o clima origina-se deKlima e significa tendência, inclinação. Dessa forma, o

“Clima Organizacional reflete, então, uma tendência ou incli-nação a respeito de até que ponto as necessidades da organiza-ção e das pessoas que dela fazem parte estariam efetivamentesendo atendidas, sendo esse aspecto um dos indicadores daeficácia organizacional. A Pesquisa de Clima Organizacionalé o instrumento pelo qual é possível atender mais de perto àsnecessidades da organização e do quadro de funcionários àsua disposição, à medida que caracteriza tendências de satis-fação ou de insatisfação, tomando por base a consulta genera-lizada aos diferentes colaboradores da empresa. Caso surjamnecessidades críticas em termos de atendimento, um Progra-ma de Ação pode ser delineado para dar início a medidas que,nesse caso, apresentariam um cunho fortemente estratégico,por tentar considerar as variáveis comportamentais relevantesà situação.” (CODA, 1997, p.99).

A pesquisa de clima organizacional, conforme CODA (1992, 1997),permite identificar a maneira como cada um se sente em relação à empresa ondetrabalha. Para se tornar efetiva, tal pesquisa deve resultar da decisão política porparte da alta direção quanto a objetivos, itens a ser sondados, forma como seráanunciada na empresa e, acima de tudo, como serão gerenciados os resultados.

“É, em resumo, um Levantamento de Opiniões que caracteri-za uma representação da realidade organizacional consciente,uma vez que objetiva retratar o que as pessoas acreditam estaracontecendo em determinado momento na organizaçãoenfocada. Dessa forma, o papel deste tipo de pesquisa é tornarclaras as percepções dos funcionários sobre itens que, casoapresentem distorções indesejáveis, podem acabar afetandonegativamente o nível de satisfação destes funcionários na si-tuação de trabalho.” (CODA, 1992, p.12).

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Para os pesquisadores Rizzatti e Colossi, clima organizacional abrange pro-priedades de motivação humana. Eles formulam o seu conceito da seguinte for-ma:

“O termo clima organizacional refere-se, especificamente, àspropriedades motivacionais do ambiente organizacional, ouseja, àqueles aspectos que levam à provocação de diferentesespécies de motivação. Representa, portanto, uma soma deexpectativas geradas em uma situação e é um fenômeno degrupo, resultante e característico de uma coletividade. É umconceito que engloba, tanto os fatores humanos e materiais,como os abstratos, resultante do convívio humanoinstitucional.” (RIZZATTI e COLOSSI, 1998, p.78).

Segundo esses mesmos autores, o clima organizacional passou a serconsiderado uma variável potencialmente importante a ser estudada por todosaqueles que buscam explicações, objetivando uma maior qualidade em organiza-ções, seja com o intuito de propiciar a melhoria contínua do desempenho e umamaior satisfação no trabalho, seja visando a identificação das características pas-síveis de aprimoramento constante.

De acordo com os mesmos pesquisadores, uma forma melhor de compreen-der o conceito de clima organizacional é considerar algumas de suas proprieda-des, tanto através do estudo de aspectos conceituais, quanto através da análise eda definição de modelos específicos para a pesquisa de clima em determinadasorganizações. Para esses estudiosos, do ponto de vista teórico, o tema é relevanteporque estuda o funcionamento da organização através de um elenco de variáveisentrelaçadas, fugindo da abordagem unilateral e linear. Do ponto de vista pragmá-tico, ainda segundo os autores citados, a análise do clima serve para identificaronde se situam as grandes deficiências das organizações e mostrar em que direçãopossíveis esforços devem ser envidados na busca de soluções que venham a favo-recer uma melhor integração e compatibilidade entre as metas individuais einstitucionais, o que, em conseqüência, pode se traduzir em um melhor desempe-nho, tanto do pessoal quanto da organização como um todo.

Conforme GRAÇA (1999), é preciso que os administradores tenham ouvidosinteressados e olhos atentos para o comportamento das pessoas no trabalho. Isso sóserá possível quando estiverem convencidos, sensibilizados, da importância dosrecursos humanos e do clima de suas organizações. Para esse autor, só é excelente aempresa que estende excelência à qualidade de vida de seus funcionários. O autor

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acredita que as pessoas, componentes de qualquer organização, percebem as múlti-plas mudanças que ocorrem, tanto no nível de ambiente externo como no interior daprópria organização, e reagem a elas, de forma que a eficiência da organização podeser aumentada pela criação de um clima organizacional que satisfaça às necessida-des de seus membros e, ao mesmo tempo, canalize esse comportamento motivado,na direção dos objetivos organizacionais, criando um “clima de realização”.

“Pode, pois, o clima organizacional ser traduzido por aquiloque as pessoas costumam chamar de ambiente de trabalho ouatmosfera psicológica, que envolve a relação entre empresa ecolaboradores, traduzida no clima humano das organizações.”(GRAÇA, 1999, p.9).

Na visão desse autor, pode-se constatar que o diferencial competitivo deuma organização, em um ambiente de maior disponibilização de técnicas etecnologias, ocorrerá a partir do comprometimento das pessoas, tornando estraté-gico o conhecimento de expectativas, motivações, necessidades e níveis de satis-fação dos indivíduos, perante a organização, para a eficácia organizacional.

Para SANTOS (1999, 2000), a teoria e o diagnóstico do clima organizacionaldevem ser desenvolvidos para que a relação indivíduo–organização seja continu-amente ajustada. Na sua opinião, embora estudos de clima organizacional sejamparticularmente úteis, pois ajudam a entender melhor a dinâmica da relação indi-víduo–organização, eles têm sido, muitas vezes, negligenciados como instrumen-tos de gestão estratégica nas instituições de pesquisa e desenvolvimento.

Para essa autora, o assunto é complexo, uma vez que suas característicasmultifacetárias, a resistência dos indivíduos sujeitos à indagação e a baixa dispo-sição das organizações em querer pôr a descoberto seus valores internos, são algu-mas justificativas fornecidas por tais organizações para inibir o estudo do seuclima. Ao realizar um processo de investigação científica do clima organizacionalem uma instituição pública de pesquisa e desenvolvimento, essa mesma autoramanifesta que acredita que as instituições de pesquisa, como sistemas produtoresde bens e serviços, visam atingir certos níveis de eficácia e eficiência, a fim degarantir a sua continuidade. Segundo essa pesquisadora, a eficácia pode seralcançada pela adaptação da organização à dinâmica de seu ambiente externo.

Tachizawa et al. relacionam o clima organizacional à satisfação: “O grau desatisfação demonstrado pelos membros da uma organização na qual a motivação éfator fundamental para a realização dos trabalhos” (TACHIZAWA et al., 2001,p.241).

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Conforme tais autores, na mesma obra, clima organizacional também:

“É o ambiente interno em que convivem os membros da orga-nização, estando portanto, relacionado com o seu grau de mo-tivação e satisfação. É influenciado pelo conjunto de crençase valores que regem as relações entre essas pessoas, determi-nando o que é ‘bom’ ou ‘ruim’ para elas e para a organizaçãocomo um todo. Assim, o clima organizacional é favorável quan-do possibilita a satisfação das necessidades pessoais, e desfa-vorável quando frustra a realização dessas necessidades.”(TACHIZAWA et al., 2001, p.239).

Conforme esses autores, enquanto a cultura organizacional se mantém durantetoda a existência de uma empresa ou, pelo menos, durante parte dela, apontando oscaminhos a serem seguidos em determinadas etapas, o clima organizacional se mo-difica conjunturalmente. Os momentos por que passam as organizações em face dasdificuldades do mercado e das muitas crises que o país atravessa, a adoção de mo-dernas tecnologias que dispensam pessoas, a contenção nas políticas de salários ebenefícios, o aumento de exigências aos empregados, todos esses são fatores quepodem alterar o clima de uma organização e comprometer os seus resultados.

Também de acordo com esses autores, a pesquisa de clima organizacionaldeve abordar: entendimento da missão, crenças e valores, chefia e liderança, rela-ções interpessoais e salários e benefícios. A avaliação desses elementos deve servista como um importante instrumento estratégico para o planejamento eficaz dasorganizações. A pesquisa de clima busca fornecer informações sobre a atitude dopúblico interno com relação à organização, ou seja, suas expectativas, sua integração,em um determinado contexto. Nesse aspecto, a atitude deve ser entendida envolven-do os aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais do indivíduo.

Conclusões sobre a análise crítica teórica da evolução do conceito de climaorganizacional

Conforme BECK (1997), a globalização transforma o cotidiano das nações,das organizações e das pessoas, de tal forma que não se pode negar a sua realidadebem como a sua força e a sua violência enquanto processo gerador de mudanças:o incerto, o inesperado, a ausência de controle e limites, fazem da globalizaçãouma geradora permanente de riscos e incertezas em todas as esferas. Na esferaeconômica, enormes quantias de dinheiro mudam em segundos de um país para o

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outro, provocando instabilidade econômica de dimensão jamais imaginada. Asrepentinas quedas das bolsas de valores ocorridas em vários países e centros eco-nômicos, muitas vezes, provocadas por percepções econômicas, políticas ou soci-ais, nem sempre fundamentadas, são ingredientes desse processo.

Segundo o autor, quanto à dimensão técnica da globalização, na esfera datecnologia, o desenvolvimento se dá de uma forma e com uma rapidez jamaisalcançadas: diferentes áreas são atingidas pelo surgimento de novas tecnologias,tendo como marco de radicalização de mudança a tecnologia da informação, queprovocou uma profunda revolução no cenário do mundo, nas esferas social, eco-nômica, industrial e política, bem como na vida das pessoas.

O desenvolvimento da tecnologia da informação e do transporte de massamudou o conceito de tempo e espaço. A informação, de forma contínua eindiscriminada, provoca conseqüências desestruturantes, tanto para os indivíduoscomo para a sociedade, pois, nesse processo, as pessoas são expostas a novosconhecimentos, crenças, hábitos, valores e culturas diferenciadas, e são atingidase contagiadas por eles (BECK,1997).

Diante disso, o clima organizacional que reina nas organizações vem sofren-do influências dessas macromudanças mundiais, que, por sua vez, afetam as orga-nizações e diante das quais não se pode ficar indiferente.

A partir da revisão histórica e da análise crítica teórica sobre a evolução doconceito de clima organizacional, pode-se supor que tal conceito ainda não foi total-mente definido e vem se adaptando historicamente às diversas teorias organizacionaise concepções que os estudos científicos têm dado em relação aos aspectos do com-portamento humano nas organizações. Entretanto, o clima organizacional tem per-manecido como importante tópico de pesquisa. Moran e Volkwein (apud Mariz deOLIVEIRA, 1996) acreditam que as evidências demonstram o relacionamento en-tre o clima organizacional e outras variáveis organizacionais, tais como satisfaçãono trabalho, desempenho no trabalho, comunicação de grupo, liderança, estrutura,compromisso e desempenho organizacional.

Esses pesquisadores estão convencidos da necessidade de unificar os níveisde análise micro e macro, com o objetivo de promover o entendimento dessefenômeno organizacional: o clima tem sido considerado útil para esforços de de-senvolvimento organizacional; a motivação e o comportamento dos indivíduostêm sido influenciados pelo clima organizacional. Por outro lado, os resultadosempíricos demonstram que o clima exerce um efeito significativo sobre o desem-penho organizacional, e a evolução do conceito incorpora uma perspectiva quedesloca as análises em direções opostas, desde as mais estáticas, que enfocamqualidades estruturais da organização, até as mais dinâmicas, que enfocam osprocessos da organização.

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As três abordagens de conceitos apresentadas, que foram acompanhando asteorias organizacionais e as teorias sobre o comportamento organizacional, não de-vem se esgotar por aqui. Entende-se que as pesquisas sobre a gestão das pessoas nasorganizações vão continuar sendo realizadas e, provavelmente, darão lugar a novasabordagens conceituais sobre o imbricado tema “clima organizacional”. As tendên-cias apontam que os futuros conceitos e as próprias pesquisas sobre climaorganizacional estarão cada vez mais voltados para as percepções, os sentimentos eas opiniões das pessoas e dos grupos humanos que fazem parte do mundo corporativo,pois se tem caminhado na direção da valorização dos membros das organizaçõescomo seres humanos dignos de sua condição humana e biopsicossocial.

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AS ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO E OSUPORTE PARA UMA VIDA MELHOR ATRAVÉS DA

CRENÇA RELIGIOSA

* Ricardo Baracho dos Anjos** José Antônio Baltazar

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivos descobrir quais as determinantesque levam uma pessoa a seguir uma religião e também mostrar a influência dareligião no comportamento das pessoas, bem como enfatizar o aspecto terapêuticoda religião funcionando como um suporte para o enfrentamento das adversidadesda vida. Esse tema surgiu devido à ação do autor como líder religioso, e à inquie-tação diante de tantos movimentos religiosos estarem ocorrendo nos últimos anos.Foi idealizado um questionário com 10 perguntas e aplicado a 96 pessoas, sendo48 homens e 48 mulheres, entre 18 e 65 anos de idade, residentes na cidade deLondrina-PR. O trabalho percorreu algumas teorias, como a de Freud, Jüng, Viorste Frankl. Freud abordou a religião como sendo o lugar das nossas patologias;Jüng mostrou a religião inserida nos arquétipos; Viorst falou sobre a reconexãoatravés da religião; e Frankl, que foi o objeto principal do presente trabalho, con-tribuiu com a Logoterapia, segundo a qual, a descoberta do sentido para a vida éo que impulsiona as pessoas a uma vida melhor. Os resultados dos gráficos mos-tram as hipóteses levantadas e provam ser uma realidade a necessidade do ho-mem crer em algo para ter um alívio e um suporte. Foi colocada a proposta de quea religião pode ser o sentido da vida, fazendo com que as pessoas tenham umcomportamento saudável e um melhor enfrentamento de seus problemas da vida.

PALAVRAS-Chave: Psicologia-Religião; Religiosidade; Fé.

* Academico do Curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Pastor da IgrejaPresbiteriana Independente do Jardim Leonor. Formado em Teologia pelo Seminário TeológicoRev. Antônio Godoy Sobrinho.E-mail: [email protected]** Docente do Curso de Psicologia da UniFil. Mestre em Educação pela UNOESTE – PresidentePrudente. Psicólogo clínico.E-mail: [email protected]

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ABSTRACT

The present work aims at discovering the main reasons for a person tofollow a certain religion, and also at showing the influence of religion in the people’sbehavior, besides emphasizing the therapeutic aspect of the religion working as asupport for the person to face life’s adversities. The theme occurred due to theauthor’s action as a religious leader and his uneasiness regarding so many religiousmovements that have been going on recently. A questionnaire was built with 10questions and applied to 96 people, being 48 men and 48 women, aged between18 and 65, residing the city of Londrina-PR.

The work discusses some theories, such as Freud’s, Jüng’s, Viorst’s, andFrankl’s. Freud approached religion as the place of our pathologies; Jüng showedreligion inserted in archetypes, Viorst talked about reconnection through religion,and Frankl, the main object of the present work, contributed with Logotherapy,according to which the discovery of the meaning of life is what impels peopletowards a better life. The result on the graphs show the hypothesis raised andman’s real need to have faith in something in order to have a relief and a support.A proposal is made that religion can be the meaning of life, providing people witha healthier behavior and a better chance to face the daily problems.

KEY-WORDS: Psychology-Religion; Religiousness; Faith.

INTRODUÇÃO

A questão da religião vem sendo amplamente discutida há muitíssimos anos.Observando estudos já realizados, vimos que os homens antigos tinham seus obje-tos de devoção, seus escritos nas cavernas, para se referirem a seus deuses. Nosprimeiros séculos, vimos a grande dominação da igreja antiga, aliada ao ImpérioRomano, momento este no qual todos estavam abaixo das leis que a igreja ditava.Depois, no século XVI, houve a Reforma Protestante e o surgimento dos chamadosprotestantes; isso sem contar os movimentos no oriente, com o budismo, o espiritis-mo, entre tantos e tantos grupos religiosos que existem. Este breve histórico nos fazchegar aqui ao Brasil, onde a diversidade de expressões religiosas é surpreendente.

E chegando ao nosso contexto, surgiu o interesse em estudar este tema, emanalisar as alterações do comportamento e o suporte para uma vida melhor atravésda crença religiosa, ou seja, analisar como ocorre a transmissão desse discurso deadesão a um grupo religioso, qual é a visão que as pessoas têm da divindade e qualsignificado elas dão às leis e estatutos de sua religião. Também há no presentetrabalho, o interesse em observar se existe a crença de que a religião, realmente,

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modela vários tipos de caráter e se as pessoas demonstram confiança de que areligião dá um suporte para uma vida melhor.

Para isso, pesquisaremos essas determinantes, influências e crenças na re-gião onde estamos, a cidade de Londrina. Londrina é a terceira cidade do Sul dopaís e tem como uma das suas características uma grande e variada expressãoreligiosa, com várias denominações e templos espalhados pela cidade. O presentetrabalho está fundamentado nos seguintes teóricos: Sigmund Freud, Carl GustavJüng, Judith Viorst, Viktor Emil Frankl, entre outros, mas nosso foco principalestá em Frankl.

Antes de entendermos o movimento religioso, devemos entender que o atode crer sempre existiu. Cremos em idéias, em pessoas, em movimentos e em di-vindades. Vemos que em todas as expressões religiosas ocorre um fator funda-mental, e esse fator é o da religião entendida e vivida como um suporte, como uminstrumento de ajuda, de apoio, de motivação, de descanso. Tendo como base essaidéia, podemos entender esse suporte como um preenchimento de um vazio inter-no, ou uma ajuda, devido à não capacidade de realização de maneira autônoma.Para explicar essa necessidade de um suporte, contaremos com a ajuda de JudithVIORST (2000) em seu livro Perdas Necessárias.

VIORST (2000) diz que em nossa vida passamos por várias perdas e queestas são necessárias para nosso crescimento e para nossa socialização. Mas diztambém que todas essas perdas da vida podem não ser bem vividas se a principalperda da vida, que é frustrante - a separação da mãe via cordão umbilical e aseparação da mãe através do aparecimento da própria identidade - não for bemsuperada. Ela diz que revivemos a perda da mãe com as demais perdas da vida, eem toda a vida buscamos o caminho inverso, ou seja, o caminho da simbiose, dorestabelecimento da paz, do porto seguro. Esta é a busca do amparo.

Esse desamparo cria uma busca pelo “outro”, e esse vazio pode ser preen-chido de várias maneiras, conscientes ou inconscientes. Começa uma busca pelaconexão, ou re-conexão.

“Nossa busca dessa conexão - da restauração da integraçãototal - pode ser um ato de doença ou de saúde, pode ser umafuga temível do mundo ou um esforço para expandi-lo, podeser deliberada ou inconsciente. Por meio do sexo, por meioda religião, da natureza, da arte, por meio das drogas, dameditação, até com o exercício físico, tentamos obscurecer asfronteiras que nos separam. Tentamos escapar da prisão daseparação. Às vezes conseguimos.” (VIORST, 2000. p.34).

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De vários caminhos para essa conexão, temos o caminho da religiosidade,isto é, um deus que pode nos proteger, cuidar, direcionar, confortar, etc. Não é atoa que essa divindade é chamada de pai, mãe, senhora, entre outros nomes. Te-mos outros exemplos dessa busca da conexão com a mãe. Como já falamos, essabusca pela conexão não é só pela religião, mas pelas drogas, pelo álcool, entreoutras coisas. E a pessoa pode buscar essa conexão durante a vida toda, mesmo nameia-idade, ou indo até à velhice.

Temos também um outro caminho para essa busca da religiosidade, que tem aver com a questão da não aceitação da individualidade. É a fuga das culpas atravésde um mecanismo de defesa chamado projeção. FREUD (1913), em sua obra Toteme o Tabu - Animismo, Magia e Onipotência de Pensamentos, fala sobre a transi-ção do pensamento humano, enfatizando a necessidade do sentimento religioso. Elefala sobre os primeiros conceitos que o homem teve do mundo à sua volta comonecessidade de ter um controle sobre ele. Assim sendo, apareceu o termo ‘animista’,que é a doutrina das almas, ou seja, a existência do caráter humano nos objetosinanimados. No início, o homem tinha o controle das coisas à sua volta. A transiçãodessa fase animista para a religiosa aconteceu, justamente, devido ao questionamentodas atitudes do homem através desse domínio. O homem descobriu que nem todasas fontes de prazer são aceitas pelos outros e isso gera culpa; por exemplo, “mataralguém” não é algo aceito pelos outros, há conseqüências não saudáveis. Esses sen-timentos de culpa geraram muitos conflitos nos homens e isso fez surgir a projeção,ou seja, o caminho do animismo para a religião é a projeção.

O homem sentiu a necessidade de projetar seus desejos proibidos em umaterceira pessoa. Podemos então entender que o motivo da busca de uma religião -além do já discutido, que é a busca pela conexão devido ao vazio da perda, dacastração, da solidão - é também o de ter os seus erros individuais explicadossocialmente, com o objetivo de ser aceito no grupo, ficar sem culpas e responsabi-lidades, e reprimir certos sentimentos ruins. Essa projeção não é somente em en-tidades, mas em pessoas, instituições, etc.

A onipotência de pensamentos não é alcançada e, devido a isso, é criado umser onipotente, que vai salvar o homem, livrá-lo da culpa. A projeção das coisasboas acontece através de um vínculo com Deus, é uma relação extrema, pois,sozinho o homem não consegue nada. É afirmar que tudo que acontece é segundoa vontade de Deus. Exemplos de projeções para livrar-se das culpas são muitocomuns. Devido ao descontrole, a projeção gera uma personalidade obsessiva.

Esse tipo de religião serve para controlar os impulsos; a religião vira umsuperego muito rígido. É comum em pessoas dessas características demonstraremuma grande piedade para compensar os maus pensamentos. Além de livrar o ho-mem da culpa, a projeção serve para que o homem enfrente o problema fora dele

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mesmo. A religiosidade é tomada como uma maneira de camuflar muitas patolo-gias.

Outro teórico que nos ajuda na compreensão do sentimento religioso é Jüng.Ele segue um caminho, que é diferente do de Freud, dizendo que na constituiçãodo aparelho psíquico há o chamado inconsciente coletivo. Nele está a experiênciada espécie que está em nós, experiências vividas durante a história pelos nossosantepassados que são importantes para a sobrevivência. Esse inconsciente coleti-vo funciona como uma usina que armazena todas as experiências da nossa espé-cie. A essas marcas da espécie ele dá o nome de arquétipo, que é ligado ao incons-ciente coletivo. O ser-humano tem vários arquétipos (mãe, filho, sábio) que sãoimportantes para o desenvolvimento dos nossos papéis. Assim sendo, o medo éum arquétipo, isto é, nascemos com o medo, não o medo como fobia, mas ummedo que cria mecanismos de defesa, cria um alarme para podermos reagir.SILVEIRA (2000) diz que os arquétipos são “...resultantes do depósito das im-pressões superpostas deixadas por certas vivências fundamentais, comuns a to-dos os seres humanos, repetidas incontavelmente através de milênios”.

Nesse campo dos arquétipos, Jüng fala do arquétipo sombra, que nos leva adesenvolver o inconsciente, e é nesse arquétipo que encontramos o sentimentoreligioso. Jüng é o primeiro psicólogo a falar que o homem vai além dos outrosanimais devido à religiosidade. Há nesse arquétipo sombra, uma potencialidadeque impulsiona o ser humano a procurar uma entidade/deus e com ela se relacio-nar através do ritual chamado religioso. Para Jung, todo ser humano crê em algu-ma coisa, e o homem precisa crer para descobrir o porquê das coisas.

“A noção de arquétipo, postulando a existência de uma basepsíquica comum a todos os seres humanos, permite compre-ender por que em lugares e épocas distantes aparecem temasidênticos nos contos de fadas, nos mitos, nos dogmas e ritosdas religiões, nas artes, na filosofia, nas produções do incons-ciente de um modo geral - seja nos sonhos de pessoas nor-mais, seja em delírios de loucos.” (SILVEIRA, 2000, p.69).

Ele fala da importância dos símbolos dogmáticos presentes na igreja, poissão dispositivos de segurança e meios de defesa espirituais, que o protegem con-tra a experiência imediata das forças enraizadas no inconsciente, e que esperamsua libertação (JÜNG, 1999, p,53). Nisso encaixa-se a maioria das pessoas queprecisam dos símbolos de fé para reforçar a sua religiosidade.

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Mas o grande nome que deixamos para o final desta parte e que realmentecolaborou para a definição dos nossos objetivos é o de Viktor Emil Frankl. Franklfoi discípulo de Freud e Adler e foi o criador da Logoterapia (Psicoterapia Exis-tencial Humanista), que é conhecida como a terceira Escola Vienense dePsicoterapia e que não é uma solução para o dilema da humanidade,”... mas umatentativa de encontrar um sentido para a vida de cada pessoa, na sua realidade,em seu sofrimento, em sua existência, muitas vezes desprovida de propósitos.”(GOMES, 1992, p.27).

Frankl começou a trabalhar com grupos de jovens de Viena, pois foi consta-tado que havia um alto número de suicídios nessa faixa etária e, com isso, eledesenvolveu a Logoterapia, que seria a técnica para ajudar a pessoa a encontrar o“para quê” viver, encontrar o sentido para a vida individual. Esse sentido seria oestímulo para se viver. Com seu trabalho ele conseguiu fazer com que o índice desuicídios caísse bastante entre os jovens. Na segunda guerra, ele começou a traba-lhar com os prisioneiros, seguindo a Logoterapia nos campos de concentraçãopara que, se os prisioneiros encontrassem o sentido das suas vidas, então poderi-am suportar todos aqueles momentos difíceis da guerra.

Com isso, ele criou a técnica chamada DERREFLEXÃO, ou seja, se alguémestá em um momento difícil da vida, mas se tem projetos para o futuro, então conse-guirá superar esses momentos difíceis. Os prisioneiros eram motivados a pensar noreencontro com a família, com o trabalho e isso os motivava a superar as adversida-des. As pessoas atendidas por ele sobreviveram ao holocausto. A partir daí, Frankldeu um sentido muito importante à psicossomática, principalmente na resiliência.

Dentro de cada um de nós existe Deus, e ele faz com que tenhamos umaparte que nunca adoece; existe a possibilidade da cura, da solução, do fim daangústia. Esse é o sentido para a vida. Logoterapia quer dizer “sentido da cura” eé uma ciência que acredita na liberdade humana. Isso Frankl afirmava ao defenderque o homem é que determina o inconsciente, discordando de Freud, que entendiaque é o inconsciente que determina o homem. Para Frankl, o ser humano é respon-sável pelas coisas que faz e tem toda a capacidade de se superar, acionando o queestá dentro de si mesmo, adormecido. Ele entendia que o ser-humano tem umareligiosidade inconsciente, pois, nos campos de concentração, em meio à angús-tia, ele percebeu que uma fé surgia, uma esperança no futuro fazia brotar o sentidoda vida, a crença em Deus que parecia estar oculta. A isso ele chamou de dimen-são noética ou espiritual humana.

Com toda esta fundamentação teórica, queremos enfatizar que as alteraçõesdo comportamento e o suporte para uma vida melhor através da crença religiosa,são obtidos devido ao sentido da vida que a pessoa encontra na religião. E na vidareligiosa as pessoas encontram motivação, suporte necessário para uma vida me-

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lhor, com objetivos, realizações e criatividade. E, com base nessas informações daLogoterapia, queremos destacar a religiosidade como sendo o sentido da vida daspessoas.

OBJETIVO GERAL

O principal objetivo deste trabalho é analisar as determinantes presentes naescolha de uma prática religiosa e seus reflexos na comunidade, através do estilode vida e do comportamento.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

-Descobrir o que Deus representa para as pessoas;-Constatar o tempo da prática religiosa;-Identificar se houve influências para essa prática;-Definir o que Deus representa para as pessoas;-Descobrir o que a Bíblia representa para as pessoas;-Verificar se a religião exerce influência no comportamento;-Verificar se a religião é encarada como um auxílio, um suporte;-Descobrir o que o dirigente religioso representa para o seguidor;-Identificar se houve mudanças de religião;-Verificar se houve o recebimento de bênçãos ou milagres.

METODOLOGIA

Amostra

Participaram desta pesquisa cidadãos que moram na cidade de Londrina/PR.Foram entrevistadas, ao todo, 96 pessoas, sendo 48 homens e 48 mulheres, comfaixa etária de 18 a 65 anos, tendo ou não concluído o Ensino Fundamental, Mé-dio ou Superior. Esta pesquisa foi inserida na metodologia de pesquisa de campocom a utilização de um questionário.

Local de realização

A pesquisa foi realizada na cidade de Londrina/PR.

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Analisando as respostas, chegamos aos resultados e, para facilitar a compre-ensão, dividimos os sujeitos em seis grupos, de acordo com as seguintes faixasetárias: 1) Homens (18 a 33 anos); 2) Mulheres (18 a 33 anos); 3) Homens (34 a49 anos); 4) Mulheres (34 a 49 anos); 5) Homens (50 a 65 anos) e 6) Mulheres (50a 65 anos).

A primeira pergunta feita para todos foi: O que representa a religião paravocê? Para todos os grupos, a primeira resposta escolhida foi “Fé” , com umamédia de 40,33%; e a segunda resposta de maior ocorrência entre todos foi “Pro-teção”, com uma média de 17, 66%. Em todas as faixas etárias, a maior incidên-cia de porcentagem na resposta “Fé” foi do grupo de Homens e Mulheres de 50 a65 anos, com 53 e 55%, respectivamente. Em “Proteção” , a maior porcentagemfoi obtida no grupode Homens de 34 a 49 anos, com 23%.

A segunda pergunta foi: Há quanto tempo você é praticante da sua reli-gião? Em todos os grupos, a primeira resposta escolhida foi “Desde a infância”,com uma média de 69,16%; e a segunda resposta foi “Desde a adolescência”,com 27,33% de média. Em “Desde a adolescência”, houve maior incidência derespostas na subamostra de Homens de 34 a 49 anos, com 30%.

A terceira pergunta foi: Você foi influenciado por quem? A primeira res-posta de todos os grupos foi “Família” , com uma média de 85,83%. A segundaresposta foi “Amigos” , com 13,25%.

A quarta pergunta foi: O que Deus representa para você? A primeira res-posta foi “Pai” , mas não se deu em todos os grupos; mesmo assim houve umamédia de 27,75%. Os grupos que não responderam “Pai” (Mulheres de 18 a 33anos; Mulheres de 34 a 49 anos) escolheram a segunda resposta mais marcada,que foi “Protetor” , com 20,66% de média das escolhas.

A quinta pergunta foi: O que a Bíblia significa para você? A primeira res-posta, que apenas um grupo não escolheu (Mulheres de 50 a 65 anos), foi “Umguia de fé e prática”, com uma média de 56,6%. As mulheres de 50 a 65 anosescolheram como primeira resposta, a que foi a segunda escolhida pelos outrosgrupos: “Um elo de ligação com Deus”, que teve como segunda opção, umamédia de 38%.

A sexta pergunta foi: A religião pode exercer influência sobre o comporta-mento das pessoas? Houve uma unanimidade na escolha da primeira resposta,que foi “Sim” , e obteve uma média de 97,16%. No grupo das Mulheres de 50 a 65anos, houve a escolha da resposta “Não” , perfazendo uma média de 2,83%.

A sétima pergunta foi: A religião é um grande suporte para uma vida me-lhor? Todos os grupos tiveram como primeira resposta a alternativa “Sim” , que

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obteve uma média de 88,83%. A maior incidência de respostas foi entre os Homensde 50 a 65 anos, com 100% de escolha para a alternativa “Sim” . A resposta “Não”teve uma média de 11,16%, com maior incidência entre os Homens de 18 a 33 anos.

A oitava pergunta foi: O que o dirigente religioso representa para você? Amaior concentração de respostas foi na alternativa “Um mensageiro da pala-vra” , com uma média de 38,25%. Os grupos de Homens e Mulheres de 18 a 33anos tiveram como primeira resposta a alternativa “Um ser humano falível”, queobteve uma média de 19,33%.

A nona pergunta foi: Você já mudou de religião? Em todos os grupos aescolha primeira caiu na alternativa “Não” , com uma média de 76,83%. A alter-nativa “Sim” teve uma média de 23,16%.

E, por fim, a décima pergunta foi: Você já recebeu alguma bênção ou mila-gre? Em todos os grupos a primeira escolha caiu na alternativa “Sim” , com umamédia de 80,5%, destacando que, nos grupos de Homens e Mulheres de 50 a 65anos, a escolha foi de 100%. A alternativa “Não” teve uma média de 19,5%.

Com todas essas respostas, podemos, realmente, constatar que o ato de crerfaz parte do ser-humano. E, adentrando o campo da religião, podemos ver atravésdesses resultados que a necessidade de crer faz parte de uma gama das necessida-des do homem. O “Inconsciente Coletivo” - que é o local onde está armazenada aexperiência da espécie, que é importante para a nossa sobrevivência - é quemmantém na espécie esse desejo de crer, de ter fé em alguém. Isso se concretiza nopresente trabalho, pois, para a maioria, a religião significa ter fé.

E fé é um instrumento usado para que o homem possa colher coisas boas emsua vida. Há uma ligação muito forte entre fé e bênção. E a maioria dos entrevis-tados relatou ter recebido alguma bênção ou milagre em sua vida. Falar do Incons-ciente Coletivo de Jüng é falar dos arquétipos, que são as marcas da espécie hu-mana, importantes para o desenvolvimento dos nossos papéis. Mesmo que existaesse sentimento em cada um de nós, é necessário que ele seja despertado. Estamosexternando isso para destacar a importância da família na transmissão do senti-mento religioso. Isso porque, em nossa pesquisa, pudemos constatar que a adesãoa um determinado grupo religioso, bem como a sua permanência nele, deveu-se àfunção da família em transmitir a fé; o outro aspecto a destacar sendo que issovem da infância. A família é a primeira sociedade do homem; é nela que o carátercomeça a se formar, é ali que o Superego - que Freud descobriu - começa a seconstruir, e também o sentimento religioso.

Pudemos ver também a figura do pai idealizado na divindade, um pai quefunciona como um suporte para a vida. A maioria dos entrevistados disse queDeus representa um pai e um protetor. Judith VIORST (2000) chama a isso dereconexão, ou seja, uma reconexão com o que antes havia uma conexão. Há vári-

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os caminhos para a reconexão com a mãe que foi perdida no nascimento, e umadessas está na religião, onde há a busca de um refúgio, de um protetor.

Essa presença do pai intensifica-se através da palavra divina que é a Bíblia.Há um grande respeito a esse símbolo. Em nossa pesquisa, a maior parte dasrepostas foi que a Bíblia é “Um guia de fé e prática”, vindo em segundo lugar queela é “Um elo de ligação com Deus”. Jüng falou da importância dos símbolosdogmáticos, nos quais a Bíblia se encaixa, dizendo que eles são “...dispositivos desegurança e meios de defesa espirituais, que o protegem contra a experiênciaimediata das forças enraizadas no inconsciente, e que esperam sua libertação.”(JÜNG, 1999, p.53).

Viktor Frankl descobriu uma grande fórmula para que as pessoas pudessematravessar os momentos difíceis, assumindo um novo comportamento. Ele criouuma técnica chamada DERREFLEXÃO, que consiste em elaborar projetos para ofuturo e que esses sirvam de motivadores para as lutas do presente. Para agüentara luta, deve-se ter caminhos para a vida. A crença e a vida religiosa podem serelementos de geração de esperança nas pessoas. Muitas pessoas, que, por váriosmotivos, não encontram razão para as suas vidas, podem fazê-lo através da crençae da religiosidade.

Seguindo essa idéia, vemos o povo brasileiro, que sofre muitas coisas, massempre crê que tudo vai melhorar. E nessa crença, vão superando muitos obstácu-los, alegando que tudo isso é “força de Deus, de Nossa Senhora, de Padim Ciço”,entre outros. Elas encontram o sentido para a vida, e de maneira muito saudável, eisso é possível. Religião não é simplesmente o depósito das nossas patologias,como dizia Freud, ou o ópio do povo, como disse Marx. Infelizmente, há oscharlatães e as igrejas financeiras que alienam e mantêm as doenças nas pessoas.

O sentido para a vida, tendo como base a vida religiosa e a crença, pode darao homem suporte adequado para a orientação de seu caráter, de sua emoção e desuas responsabilidades. Uma crença religiosa saudável é aquela que vem sendoplantada desde a tenra idade, com a supervisão familiar, com a discussão dasdúvidas, visando o crescimento, e que torne o homem bem esclarecido sobre o seupapel na sociedade, gerando o bem-estar dos outros, a começar pelo seu próprio.Esse é um grande suporte que a crença religiosa pode produzir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pudemos ver que a crença religiosa é algo presente nas pessoas. Mesmoreconhecendo que muitas coisas mudaram no que se refere ao discurso do sagrado(muitas pessoas se declaram ateístas), ainda assim vemos uma valorização da vida

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religiosa. Mesmo que a pessoa não mude de religião ou não a pratique muito, vemosque ela está na religião transmitida pela família. E mesmo que a pessoa não acredite noCristianismo, ela se incorpora a outros grupos que também são religiosos e a levam aum deus. Ou seja, ter fé e confiança - sem medir a intensidade - é algo comum entre aspessoas, e sendo bem realizado, pode trazer muitos benefícios.

Em todos os grupos entrevistados, pudemos ver a valorização do sagrado.Vimos também que seus símbolos são elementos que fazem parte da nossa espé-cie e de suas culturas. Mesmo observando faixas etárias diferentes, chegamos àconstatação de que a religião é um símbolo de proteção e de busca do equilíbrioemocional e social.

Para Freud, a religião era o depósito das patologias; para Jüng era o traçodiferenciador do homem em relação aos outros animais; para Viorst era uma dasvárias maneiras de reconexão. Preferimos concordar com Jung, no que se refereaos arquétipos, ou seja, os traços da nossa espécie, que são armazenados para onosso próprio bem. Somos da opinião de que o sentimento religioso é um arquéti-po e que, se o unirmos com a Logoterapia de Frankl, podemos ter uma receitaagradável para encararmos a vida.

A Logoterapia aplicada à religião pode fazer desta uma grande comunidadeterapêutica, onde as pessoas apresentam suas lutas e dores na busca de estratégiaspara um melhor enfrentamento das crises a que somos sempre submetidos. Real-mente, as alterações do comportamento e o suporte para uma vida melhor sãopossíveis com a DERREFLEXÃO através da crença religiosa. Esperamos que opresente trabalho possa despertar futuros pesquisadores para irem, cada vez mais,além nesse interessantíssimo tema.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOMES, J.C.V. A Psicoterapia Existencial Humanista de Viktor Emil Frankl.São Paulo: Edições Loyola, 1992.JÜNG, C. G. Psicologia e religião. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.FREUD, S. Totem e o tabu (1913). In: FREUD, S. Obras completas da EdiçãoStandard. Volume XIII. Rio de Janeiro: Imago, 1969.SILVEIRA, N. Jüng: vida e obra. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2000.VIORST, J. Perdas necessárias. São Paulo: Melhoramentos, 2000.

BIBLIOGRAFIA ADICIONAL RECOMENDADA

FREUD, S. Moisés e o Monoteísmo (1937-1939). In: FREUD, S. Obras comple-tas da Edição Standard. Volume XXIIII. Rio de Janeiro: Imago, 1969.MIELNIK, I. Higiene mental do comportamento humano. São Paulo: EDART- São Paulo, Livraria Editora Ltda., 1975.SCHNEIDER, K. Psicopatologia Clínica. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1965.UNIFIL - CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA. Jornadas de Psicologiada Unifil. A ética e a ciência na cotidianidade da Psicologia, Londrina, 1999 e2000. In: SILVËRIO, L.G. A cotidianidade da relação psicologia e religião.Considerações históricas e ética profissional. p.80-84.

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AS RELAÇÕES FAMILIARES, A ESCOLA, E SUAINFLUÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO INFANTO-

JUVENIL E NA APRENDIZAGEM

* José Antônio Baltasar ** Lúcia Helena Tiosso Moretti

RESUMO

A disfunção familiar e suas repercussões na formação de sintomas em crian-ças e adolescentes no contexto escolar são assuntos amplos e complexos que mere-cem ser apresentados e pesquisados, em vista do nível elevado de crianças e jovensque apresentam dificuldades nesse campo do conhecimento. O objetivo desta pes-quisa foi compreender a formação dinâmica do contexto familiar e seus reflexos nodesenvolvimento infanto-juvenil e escolar. A metodologia que norteou o presenteestudo foi a de Estudo de Caso, baseada nos pressupostos da psicanálise. A amostrada pesquisa foi composta por 13 famílias e 14 escolares, situados na faixa etária de10 a 15 anos, apresentando queixas de dificuldades de aprendizagem. O estudo foirealizado no Serviço de Psicologia da UniFil – Centro Universitário Filadélfia emLondrina, Paraná, durante o ano de 2003. Para composição dos dados diagnósticosforam utilizados os seguintes instrumentos: Anamnese; a Hora do Jogo diagnóstica;Entrevistas com os adolescentes; Avaliação Familiar, segundo Soifer (1983); Le-vantamento da História Familiar dos pais; Entrevistas com Professores; e TécnicasProjetivas Gráficas: Procedimentos de Desenhos de Família com Estórias; Elabora-ção de laudos psicológicos; Entrevistas devolutivas aos pais e aos adolescentes eRecomendações Terapêuticas. Todos os dados foram analisados quantitativa e qua-litativamente. Concluímos que o prolongamento e a intensidade dos distúrbios nosescolares indicam a formação de um processo neurótico. As atitudes inadequadasdos genitores foram as principais responsáveis pela formação de distúrbios na con-duta da criança e do adolescente em desenvolvimento. Os pais devem observaratentamente que a presença de sintomas em seus filhos pode significar problemas

* Docente do Curso de Psicologia da UniFil. Mestre em Educação pela UNOESTE – PresidentePrudente. Psicólogo clínico.E-mail: [email protected]** Doutora em Psicologia. Pós-Doutorada em Psicologia Clínica pela USP-SP. Ex-docente do Cur-so de Psicologia da UniFil. Ex-docente do Curso de Psicologia da Universidade Estadual de Lon-drina – UEL.E-mail: [email protected]

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emocionais que devem ser levados a sério, e devem buscar orientação profissionale especializada. Os distúrbios elencados nesta pesquisa refletiram dificuldade ge-nérica para a aprendizagem escolar ou para a conduta escolar normal.

PALAVRAS-CHAVE: Disfunções Familiares; Família; Escola.

ABSTRACT

The family dysfunction and its repercussions on the development of symptomsin children and adolescents at school context are wide and complex subjects thatdeserve to be presented and researched, in sight of the high level of children andyoung-adults that present difficulties in this area of knowledge. The objective ofthis research was to understand the dynamical formation of the family context andits reflexes on the child-youth and school development. The methodology thatguided the present study was the Case Study, based on the Psychoanalysis theory.The sample used in this research was composed of 13 families and 14 students,aged between 10 and 15 years, with complaints of learning difficulties. The researchwas placed at the UniFil Psychological Service, at UniFil–Centro UniversitárioFiladélfia - in Londrina, Paraná, during the year of 2003. For the composition ofthe diagnosis data, the following instruments were used: Anamnesis; the GameTime diagnosis; Interviews with adolescents; Family Evaluation, according toSoifer (1983); Survey of the parents’ Family History; Interviews with Teachers;and Graphic Projection Techniques: Drawing Procedures of Families with Stories;Elaboration of psychological reports; returnable Interviews to the parents and tothe teenagers; and Therapeutic Recommendations. All the data was analyzedquantitatively and qualitatively. We conclude that the extension and the intensityof the students’ disturbances indicate the development of a neurotic process. Theinadequate attitudes of the genitors were the main responsible for the developmentof disturbances on the child and adolescent behavior in their growth. The parentsought to observe attentively that the presence of symptoms in their children maymean emotional problems that must be taken seriously and they have to seekprofessional and specialized orientation. The disturbances listed in this researchreflected the general difficulty on school learning or on normal school behavior.

KEY-WORDS: Family Dysfunction; Family; School.

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INTRODUÇÃO

A dinâmica familiar de crianças e jovens com problemas de conduta é carre-gada de muitos conflitos, nos quais os mesmos têm, como missão, realizar osdesejos e sonhos perdidos dos pais, inclusive suas incapacidades (de ser modelo,de amar, de demonstrar afeto, de relacionamento, de cuidados, etc.).A funçãopaterna e sua injunção na personalidade dos filhos colocam ordem no caos, evi-tando o desamparo e se traduzindo em segurança.

A disfunção familiar e suas repercussões na formação de sintomas em crian-ças e adolescentes no contexto escolar são assuntos complexos que merecem serpesquisados, em vista do elevado número de crianças e jovens que apresentamdificuldades nesse campo do conhecimento.

SOIFER (1983) aborda algumas configurações familiares que podem desen-cadear o surgimento de sintomas em todos os membros da família, tais como: umaseparação conjugal; prisão de um dos pais; enfermidades na família; gestação eadoção indesejada; pais alcoolistas; usuários de drogas; mães com depressão pós-parto; entre outras.

A família é definida como estrutura social básica, com entrejogo diferencia-do de papéis, integrada por pessoas que convivem por tempo prolongado, em umainter-relação recíproca com a cultura e a sociedade, dentro da qual se vai desen-volvendo a criatura humana, premida pela necessidade de limitar a situaçãonarcísica e transformar-se em um adulto capaz, sendo a defesa da vida seu objeti-vo primordial. As funções básicas da família podem ser sintetizadas em duas:ensino e aprendizagem. (SOIFER, 1983)

WINNICOTT (1989) fala da importância dos pais no desenvolvimento salu-tar do bebê, enfatizando, principalmente, a mãe, como primeira cuidadora, que,por sua vez, também precisa ser cuidada, ou seja, ter condições adequadas paradar suporte ao filho. Para ele, o holding serve para descrever uma conduta emoci-onal da mãe a respeito de seu filho. Ao redor dos êxitos e fracassos deste holdingsituam-se os diferentes graus de perturbação psíquica. Em famílias nas quais oprocesso de desenvolvimento é vivenciado como ameaçador, os padrões deinteração e as funções individuais tornam-se, aos poucos, enrijecidos, até que,finalmente, a patologia da criança se instala.

O estudo da família e sua importância na estruturação de sintomas em seusmembros tem sido abordado por vários estudiosos que acreditam que as condi-ções nas quais ocorre o desenvolvimento da criança determinam uma intrincadasérie de relações intersubjetivas, estruturadoras de redes de fantasias e de signifi-cados que só podem ser corretamente avaliadas se forem incluídas em umapsicodinâmica familiar.

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SOIFER (1983) aponta a incidência do papel da família na enfermidade dacriança, concluindo que é difícil classificar um único membro como doente emuma família, e propondo-se a estudar o entrejogo das relações familiares e suasignificação para o aparecimento da “doença” em um paciente identificado. Nacomplexa relação do indivíduo e sua família, nessa extensa identificação, relaçãode aprendizagem afetiva, o indivíduo irá registrar uma gama de sentimentos in-conscientes e desconhecidos, que podem ter efeitos prejudiciais e inibidores, queguardam segredos e mitos de família.

A aprendizagem se inicia no lar, com atividades básicas nas quais a famíliaensina o respeito, o amor e a solidariedade, o que é básico para a convivênciahumana, e social e para estabelecer o equilíbrio entre os impulsos de destruiçãointernos. A criança chega à escola levando consigo aspectos constitucionais evivências familiares; porém o ambiente escolar será também uma peça fundamen-tal em seu desenvolvimento.

KÜPFER (2000) comenta que o ato de educar está no cerne da visão psica-nalítica do sujeito. É pela educação que um adulto marca seu filho com marcas dedesejo; assim, o ato educativo pode ser ampliado a todo ato de um adulto dirigidoa uma criança. A escolha da escola pela família é um ponto que requer avaliaçãopara que se possa entender o que levou a família a tal decisão, quais as fantasias eexpectativas, se considerarmos que cada instituição, bem como as famílias, têmtambém suas características e peculiaridades; algumas têm um sistema mais “rígi-do”, outras são mais “flexíveis”.

A família precisa saber por que optou por esta ou aquela escola, o que tornanecessário conhecer a instituição tanto quanto possível. As escolas não são orga-nizadas para receber “qualquer criança”, assim como as crianças não necessitamde se adaptar a “qualquer escola”. A função da escola é educar, isto é, conforme osignificado etimológico da palavra, “colocar para fora” o potencial do indivíduo,e oferecer um ambiente propício ao desenvolvimento dessas potencialidades; aocontrário de ensinar, que significa in + signo, ou seja, colocar “signos para den-tro” do indivíduo.

OUTEIRAL e CEREZER (2003) relatam que a escola e a educação vivemum momento de perplexidade, sem definição de como conciliar as necessidadesde uma sociedade em mudança permanente (com contestação, transformações emudanças de paradigmas e valores) e uma proposta educacional que prepare “ohomem do futuro”. Temos de pensar, então, que nem sempre a escola “tem razão”,e que, muitas vezes, a apreciação do adolescente é correta. A escola é feita porindivíduos (professores, supervisores, orientadores e diretores são “pessoas”) quelidam melhor, ou pior, com determinadas situações. Os pais têm que estar atentospara situações que se derivam desses fatos.

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O que confere à escola importância vital no processo de desenvolvimento doadolescente é o fato de ela ter características de ser uma simulação da vida, naqual existem regras a serem seguidas, mas que podem ser transgredidas sem quese sofram as conseqüências impostas pela sociedade, e ser esta uma oportunidadede aprender com a transgressão.

Deve-se levar em conta, também, que a relação do aluno com a escola éafetada pela significação que os pais dão a ela, aos estudos de seu filho e às rela-ções dele com os demais alunos. Pais que tenham sido submetidos a umaescolarização muito rígida podem, inconscientemente, buscar uma escola permis-siva que “compense” a sua vivência escolar de sofrimento. Podem, por outro lado,fazer com que seus filhos sofram tanto quanto eles e “passem” por tal situaçãopara poderem se tornar “tão educados” quanto eles.

Objetivos

• Compreender a formação dinâmica do contexto familiar e seus reflexosno desenvolvimento infanto-juvenil e escolar;

• Efetuar levantamento e estudo dos conflitos familiares e seus reflexos emforma de sintomas em crianças e adolescentes;

• Realizar psicodiagnóstico familiar e individual;• Indicar recomendações terapêuticas à escola, à família e seus membros;• Desenvolver processo psicoterápico.

Metodologia

A pesquisa foi realizada segundo a Metodologia de Estudo de Caso.

População Amostrada

1. Participaram deste estudo 13 famílias da cidade de Londrina, que procu-raram o Serviço de Psicologia, buscando ajuda para os filhos que apresentavamdificuldades escolares e de aprendizagem; 2. 14 escolares, 8 do sexo masculino e6 do feminino, situados na faixa etária de 10 a 15 anos, cursando da 2ª à 7ª sériedo ensino fundamental.

Local de Realização

A pesquisa foi realizada no Serviço de Psicologia da UniFil – Centro Uni-versitário Filadélfia, na cidade de Londrina (PR), no período de fevereiro a de-zembro de 2003.

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Procedimento de Coleta e Análise dos Dados

A coleta dos dados contou com a colaboração de 3 docentes, supervisores deestágio, e de 11 estagiários que cursavam o 5º ano de Psicologia da UniFil –Centro Universitário Filadélfia, de Londrina, durante o ano letivo de 2003. Otrabalho obedeceu às seguintes etapas:

- Leitura e seleção das triagens realizadas no ano de 2002 e início de 2003,nas quais estavam as queixas relacionadas aos problemas de desenvolvimentoinfanto-juvenil com repercussão no contexto escolar;

- Seleção das triagens para uma entrevista inicial com os pais das crianças edos adolescentes, visando explicar o trabalho a ser desenvolvido com a família;

- Seleção dos instrumentos utilizados na coleta de dados: Anamnese (reali-zada com os pais das crianças e dos adolescentes); A Hora do Jogo Diagnóstica -Entrevistas com os adolescentes - Avaliação familiar – Aplicação da prova Proce-dimentos de Desenhos de Famílias com Estórias (TRINCA, 1991) - Realização deentrevistas com professores - Composição dos dados diagnósticos - Entrevistasdevolutivas aos pais, às crianças, aos adolescentes e aos professores - Recomen-dações terapêuticas - Tratamento psicoterápico.

Resultados e Discussão

Em 35,71% dos casos, foi observada ausência de um significante paternopresente que colaborasse na educação do filho junto à mãe. Dos casos analisados,28,57% apontaram mães solteiras que tinham a responsabilidade de educar e cui-dar de seus filhos. A separação dos pais, de 28,57% dos entrevistados, mostrouser um problema para a dinâmica familiar. Dos 14 casos descritos, 28,57% dospais eram alcoolistas; a presença de um pai agressivo e violento e a criança tendoque conviver com a situação de conflito, estiveram presentes em 21,43% dos ca-sos.

Dos 14 escolares, 57,14% sofreram, pelo menos uma, reprovação escolar;50,0% apresentaram baixa auto–estima; 42,86% exibiram angústia e ansiedade;42,86% demonstraram problemas de relacionamento na escola; 28,57% tiveramdificuldades de relacionamento com professores; e 28,57% apresentaram rendi-mento escolar baixo. A agressividade foi observada em 57,14% dos jovens; pro-blemas de relacionamento na escola foram apontados em 42,85%; ausência delimites, em 28,54%; e 7,14% da amostra haviam furtado dinheiro dos pais, come-tido vandalismo social, desinteresse generalizado, etc.

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Conclusões

Muitos conflitos neuróticos da infância, da adolescência e dos adultos jo-vens podem estar ligados à patologia dos sistemas familiares. As atitudes dos paise da família costumam propiciar seu estabelecimento. São famílias que apresen-tam falhas nos valores morais, e sérias tendências a transgressões éticas e dasnormas sociais: a criança cresce entregue a si mesma, sendo-lhe permitido quefaça qualquer coisa, mesmo com o risco de um acidente, e só o que importa é quenão incomode os demais. Crianças e adolescentes “pedem limites” e estes os aju-dam a organizarem suas mentes. Os adultos poderão também ter dificuldades emcolocar “limites” em função de problemas passados com seus próprios pais, tendosido “reprimidos” nas suas infâncias e adolescências.

Muitos acreditam que as crianças que procedem de famílias “disfuncionais”ou “carentes” são incapazes e desmotivadas, e destinadas a falhar na sua escolari-dade, tendo o seu futuro já predeterminado na sociedade.

Os pais têm a responsabilidade de fazer parte do processo educacional deseus filhos, não somente os professores e demais componentes da escola. A esco-la deve ter uma mentalidade aberta, procurando conhecer e entender as necessida-des e interesses reais de seus alunos, suas famílias e comunidade; e ser dela parteintegrante e não uma ilha elitista e formal. As interações informais entre pais eprofessores, baseadas no respeito mútuo e clareza de comunicação, podem forta-lecer a colaboração e o engajamento dos pais e educandos nos objetivos e ativida-des da escola, evitando assim a alienação.

As atitudes inadeqüadas dos pais foram as principais responsáveis pela for-mação de distúrbios de conduta dos jovens. Tais distúrbios refletiram-se em difi-culdade genérica para a aprendizagem escolar e/ou para a conduta escolar normal.

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OS HACKERS E A PIRATARIA CIBERNÉTICA* Carlos Francisco Borges Ferreira Pires

* Rogério Martins de Paula * Simone Vinhas de Oliveira

* Renata Silveira de Paiva* Yeza Bozo Tonin

* Fernanda Dias Franco** Valkíria Aparecida Lopes Ferraro

RESUMO

O presente trabalho tem o objetivo de apresentar os diferentes tipos de inva-sores cibernéticos, suas características e níveis de periculosidade. Aborda o pro-blema atual da pirataria, o surgimento dos arquivos MP3, sua repercussão pelaInternet, e como o mercado atual está enfrentando a situação. Não somente aindústria fonográfica sofre prejuízos; o problema atinge também a indústria desoftwares. Por fim, procura-se fazer um paralelo dos fatos analisados, evidenci-ando que a pirataria não é um problema que se encontra isolado, estando intima-mente ligado a uma condição social, cultural e econômica.

PALAVRAS-CHAVE: Internet; Hacker; Invasão; Pirataria; Software; MP3;Prejuízos; Conscientização.

ABSTRACT

The present work aims at presenting the different kinds of Internet invasions,their characteristics and levels of peril. It approaches the current problem of piracy,the appearance of MP3 archives, their great acceptation on the Internet, and theway current market id facing the situation. The piracy problem does not targetonly the phonographic industry but also the production of software. Finally, thereis the preoccupation to show that piracy is not an isolate problem. It is closelylinked to social, cultural, and economical conditions.

* Acadêmico(a) do Curso de Direito da Universidade Estadual de Londrina – UEL.** Docente do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Mestre em Direito das Relações Sociaispela Universidade Estadual de Londrina - UEL. Doutora em Direito das Relações Sociais pelaPUC-SP. Professora Adjunto-B do Curso de Graduação em Direito Civil. Docente do Curso deMestrado em Direito Negocial da UEL.E-mail: [email protected]

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KEY WORDS: Internet; Hacker; Invasion; Piracy; Software; MP3; Damage; Awareness.

INTRODUÇÃO

Quando algum assunto sobre pirataria cibernética é discutido, a figura dohacker é imprescindível. A presença dessa personagem é marcante por todo ouniverso da Internet. Além disso, a simples pronúncia da palavra “hacker” está,atualmente, relacionada aos piores e mais experientes invasores que navegam pelarede.

Esta idéia, por sua vez, não está completamente errada, mesmo porque essesinvasores são realmente muito experientes e competentes nas suas atividades, sendoelas lícitas ou ilícitas. Dessa forma, por serem os mais populares piratas da Internet,os hackers ficam em uma posição muito delicada, uma vez que tomam para sitoda a culpa dos transtornos ocorridos na Internet.

Da mesma maneira que existe diferença entre piratas, bucaneiros, corsáriose flibusteiros, existem diferenças entre os tipos de invasores de computadores.Uns menos, outros mais terríveis que os famosos hackers.

A presente pesquisa analisará os diferentes tipos de invasores, os problemasatuais sobre pirataria cibernética, bem como o fator comum entre os dois.

1- DIFERENTES INVASORES

Newbies ou Wannabe:Estes são os principiantes. Não conhecem programação de computadores.

Aprendem uma técnica ou outra e, devido a elas, se consideram grandes invaso-res. Aprenderam a usar alguns programas já prontos para descobrir senhas e inva-dir sistemas com servidores fracos. Geralmente, são usuários domésticos que cos-tumam causar problemas com os usuários de programas de bate-papo, como chate ICQ. Devido a seus escassos conhecimentos, é fácil para uma pessoa se defen-der desses invasores.

Lammers:Lamer significa novato. Essa é a forma pela qual estes invasores são conhe-

cidos pelos Hackers. São considerados uma versão mais apurada dos newbies, porconhecerem um pouco mais de programação de computador e técnicas de”hackerismo”. Eles podem causar um pouco mais de dor de cabeça aos usuáriosdomésticos e às pequenas empresas. Geralmente preferem trabalhar sozinhos.

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Carders:Conhecem muito bem sobre programação de computador e possuem gran-

des técnicas, inclusive técnicas próprias, de “hackerismo”.

Os carders são os hackers especializados em roubos de números de cartõesde crédito, bem como seu uso ilícito para realizarem compras pela Internet. Cau-sam grandes estragos e são, tecnicamente, muito difíceis de serem localizados.Esses especialistas costumam fazer seus ataques direcionados às operadoras decartões de crédito.

Hackers:“Hacker” é a palavra destinada àqueles invasores que são capazes de achar

falhas em um sistema e consertá-las. Aliás, são pessoas que possuem uma grandefacilidade de análise e assimilação para com o computador. Sabem que não existesistema que não possua falhas. Para encontrá-las, utilizam as mais variadas técni-cas, mesmo porque, quanto mais variado é o conhecimento, mais valioso este setorna. Muitas vezes, esses operadores chegam a criar seus próprios programaspara que possam invadir determinado sistema com mais eficiência.

Não atacam computadores domésticos; as empresas são seus alvos preferi-dos. Quando atacam, causam pouco ou nenhum dano; contudo, é raro não conse-guirem as informações que buscam.

Crackers:Estes, sim, são perigosos. Os crackers não se diferem muito dos hackers,

salvo pela sua sede de destruição. O prazer deles está em invadir computadores ecausar o maior prejuízo possível pela Internet. São conhecidos como os “CyberTerroristas”.

Geralmente deixam recados malcriados por onde passam e destroem tudoque vêem pela frente.

Também são atribuídos aos crackers programas que retiram travas emsoftwares, bem como os que alteram suas características, adicionando ou modifi-cando opções, muitas vezes relacionadas à pirataria.

Phreakers:Estes invasores são os hackers especializados em telefonia. Dentro de suas

principais atividades, estão as ligações gratuitas, reprogramação de centrais tele-fônicas ou instalação de escutas (algo como: a cada vez que o telefone da vítimatocar, o dele também tocará e a conversa poderá ser ouvida normalmente).

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O grande problema é que esses invasores são praticamente impossíveis de selocalizar, pois são capazes de forjar outros culpados para suas ações e permanece-rem invisíveis quando rastreados. Os danos causados por esse tipo de invasãopodem ser extremamente drásticos.

2- PIRATARIA E O PROBLEMA DOS MP3

Os dicionários explicitam que constitui “pirataria” todo ato de se copiar obracomercializável sem autorização de seu criador.

Na realidade, a obra não possui a necessidade de ser particularmentecomercializável, uma vez que, de acordo com a legislação pátria, constitui crimeeditar obra literária, artística ou científica, sem autorização do autor, como estáexpresso na lei Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre os direitosautorais no país. O simples plágio já constitui crime.

Mesmo que a pirataria no país venha diminuindo em números, estes ainda seencontram elevados e os prejuízos causados são igualmente terríveis, chegando a atingircifras relevantes. Neste aspecto, encontram-se dois produtos que poderiam ser enqua-drados como os mais procurados pelo público e, como corolário natural, os maiorescausadores dos atuais índices de produtos pirateados: os softwares e as músicas.

Os softwares são os programas de computador. O cidadão, ao comprar umsoftware não adquire o direito de propriedade sobre a obra. Somente cabe-lhe usá-la, pois obteve apenas uma licença de uso exclusivo. Tendo adquirido um exem-plar original, o usuário poderia copiá-lo e comercializá-lo, unicamente, se obti-vesse uma autorização anterior do autor.

Além destes detalhes supra mencionados, vale lembrar que cada pacote desoftware possui um número de registro. Isto significa que cada software só podeser usado em apenas uma máquina ao mesmo tempo. Utilizá-lo em uma outramáquina, mesmo que seja da mesma empresa, constitui pirataria. Contudo, algunsprogramas, devido a cláusulas em seus contratos, permitem o seu uso, limitado,em outras máquinas.

Segundo a Software & Information Industry Association (SIIA), em parceriacom o Business Software Alliance (BSA), nos últimos cinco anos, os prejuízoscausados pelos piratas de softwares foram estipulados em 59 bilhões de dólares.Um outro instituto independente estima que, somente no ano passado, o prejuízoultrapassa a casa dos US$ 12 bilhões.

De acordo com a ABES (Associação Brasileira das Empresas de Softwares),a taxa de pirataria de programas de computador no país atinge a marca de 56%,com perdas próximas a US$ 920 milhões. Segundo a associação, os dez paísescom maiores prejuízos são, respectivamente, Estados Unidos, Japão, Inglaterra,

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Alemanha, China, França, Canadá, Itália, Brasil e Holanda, que, juntos, represen-tam 70% das perdas globais. Na Rússia, China e Paraguai, a pirataria interna estáacima de 80% do que é vendido ao público.

No que tange às músicas, em particular, depois da criação dos arquivos MP3e a possibilidade de trocas pelos internautas, o problema se tornou muito maior.

Um arquivo de MP3 nada mais é do que um arquivo compactado da música.Muito mais fácil de se trabalhar e de espalhá-los pela rede. O divisor de águasneste aspecto foi o programa conhecido como Napster. Este é um simples progra-ma de compartilhamento de arquivos, que se tornou tão prejudicial à indústriafonográfica que até bandas, como a americana “Metallica”, foram ao judiciáriopedir a proibição do programa, ou então que os responsáveis pelo mesmo cobras-sem pelas músicas fornecidas. Hoje, o Napster encontra-se obsoleto, mas outrosprogramas de compartilhamento de arquivos estão no mercado, podendo ser cita-dos o KaZaa e o WinMX como sendo os mais conhecidos.

Não existe uma maneira do governo controlar quem é usuário deste tipo denegócio, mesmo porque, no Brasil, não é crime o internauta copiar arquivos musi-cais apenas para uso próprio, sem a intenção de reproduzi-los e comercializá-los.A única forma de garantir a proteção de arquivos musicais na rede é apostar emsistemas de segurança, tais como criptografia e senhas. O acesso a um arquivoMP3 pelo internauta se restringiria a somente escutar a música. Copiá-la e espalhá-la seria, no caso, impossível.

Devido a esta incrível forma de chegada da Internet e dos arquivos MP3,várias gravadoras brasileiras estão se adaptando à nova situação.

A Internet é uma ótima opção para mostrar lançamentos. Através da políticada degustação, as gravadoras fornecem parte ou até faixas inteiras de seus lança-mentos para atiçarem os compradores. De toda sorte, esta é uma tática muito per-tinente, pois, uma pesquisa recente da Nielsen/NetRatings, com internautas ame-ricanos, mostrou que os maiores compradores de CD´s originais são aqueles quefazem downloads de músicas. Por outro lado, gravadoras como a Paradoxx Music,mesmo acreditando que a Rede é uma forte ferramenta para a divulgação, nãodisponibiliza nenhuma faixa completa de seu catálogo.

Não obstante esta manobra da indústria fonográfica significar uma atualiza-ção de seus negócios, buscando uma nova alternativa no mercado, a opinião não éunânime. Gravadoras de menor porte e de menor poder dentro do mercado, sãoprejudicadas com os MP3. A saída encontrada foi a divulgação gratuita de algu-mas faixas pela Rede.

A Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos (APDIF) ex-plica que constitui ilegalidade, nacional e internacional, não somente sites, mastodos os serviços que permitem armazenagem, distribuição, busca, comércio e

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execução de músicas através da Internet.Dessa forma, mesmo que constitua, de acordo com a legislação, contraven-

ção utilizar músicas da Internet para consumo próprio, o usuário não cometeriapirataria se navegasse por sites de gravadoras que disponibilizassem graciosa-mente seus materiais originais.

3 - A PIRATARIA COMO PROBLEMA ONTOLÓGICO

A pirataria, contudo, não pode ser vista de maneira isolada. As áreas darealidade atingidas por sua prática, significam mais do que apenas o desrespeitoaos direitos autorais ou a falta de educação em relação à produção intelectual.

O problema está envolvido nas esferas social, cultural e econômica. Social,porque é inimaginável uma sociedade desenvolvida sem a presença da tecnologiada informática. Cultural, pois existe uma grande discrepância entre um produtooriginal e seu similar pirateado. Por fim, o problema é também econômico, pois,além de todo o contexto conflituoso, o usuário, muitas vezes, não tem condiçõesde adquirir o produto original.

No que tange aos softwares, pode-se afirmar que o computador tornou-sealgo imprescindível em qualquer ambiente de trabalho. Nos dias de hoje, é umaferramenta praticamente obrigatória. Nesse ponto, um cidadão que começa suapequena empresa e necessita informatizá-la pagaria por um computador novo algoem torno de R$ 1.500. Para comprar todos os softwares necessários, gastaria maisR$ 3.000. Um total de R$ 4.500 para um único computador! Por outro lado, essemesmo cidadão não gastaria R$ 200 para adquirir os mesmos programas pirateados.Com base na situação financeira da sociedade brasileira atual, é fácil adivinharqual seria a saída escolhida, tendo como verdade, não tão absurda, que o cidadãosente-se obrigado a adquirir produtos piratas para que possa ter alguma chance nomercado de trabalho, tendo em vista a sua condição de emergência.

Não há sombra de dúvidas que a produção de um software abrange váriosoutros fatores, como: cifras bilionárias, geração de empregos e a necessidade deum conhecimento técnico extremamente específico. Todavia, a grande responsá-vel pelo domínio da informática em todo o mundo, analisando-se através de umavisão mais realista, é a pirataria. Se não existissem tantos produtos piratas, varian-do desde programas até computadores inteiros, haveria um número muito menorde micros, uma vez que o número de pessoas capazes financeiramente de adquirirtal produto seria, conseqüentemente, muito menor.

Um relativismo sátiro, chegando quase a uma dicotomia própria da épocacontemporânea: a pirataria e a indústria da informática estão, a cada dia, cami-

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nhando ligadas por laços mais estreitos.Já a indústria fonográfica está em uma posição sutilmente diferente. Compa-

rando os preços médios, em dólares, de CD´s em todo o mundo, o Japão é o paísque os vende pelo maior preço: algo em torno de US$ 22. O Brasil, o que os vendemais barato, variando entre US$ 12 e US$ 14.

De toda a sorte, esta pesquisa nos parece mal formulada, uma vez que oprincipal ponto a ser analisado, não é o preço do CD em si, mas sim, quanto é arenda do cidadão para que possa comprar o produto. O importante é o preço rela-tivo dentro do mercado.

Mesmo tendo um dos mais baixos preços do mundo, o CD produzido ecomercializado no Brasil significa quase 13% do valor do salário mínimo do país.Um trabalhador que ganha um salário mínimo por mês não tem condições decomprar sequer um CD original, mesmo porque seu similar pirata é encontrado nafaixa dos cinco reais.

O cantor e compositor brasileiro, Lobão, não mais possui contrato com gra-vadora alguma. De acordo com o cantor, as gravadoras beneficiam-se através deuma política de exploração em relação ao artista. Atualmente, Lobão possui umagravadora independente, vende seus CD’s em bancas de jornal com valor de, apro-ximadamente, sete reais. Explica que seu lucro, vendendo o CD por este preço, émaior do que se o vendesse por trinta reais através de uma gravadora.

O problema da pirataria é mais complexo do que parece. Especialistas utili-zam-se de argumentos, como a falta de educação da população, para fundamentara prática do uso de produtos piratas e o desrespeito aos direito autorais.

Mas, se os arquivos MP3 são tão perigosos para a indústria fonográfica,como se explica o nível crescente no mercado (de 15,5% em 2001, para 20,3%,em 2002) de aparelhos eletrônicos capazes de tocar arquivos de MP3? Por que odesrespeito é somente daqueles que utilizam CD´s piratas e não daqueles quefabricam os aparelhos que os reproduzem, estimulando o consumo da pirataria?

O problema já atinge tamanha proporção que a União Européia criou umaagência para combater a pirataria e os hackers. O novo órgão coordenará esforçospara uma maior segurança na Internet, diante de seu uso crescente por parte deempresas e indústrias do antigo continente.

Porém, não é necessário atravessar o oceano para se encontrar terríveishackers e criminosos virtuais. O Brasil conquistou o título de maior laboratóriodo cybercrime em todo o mundo, segundo um levantamento feito pela empresabritânica, mi2g. Os criminosos brasileiros agem nos mais variados campos, comoroubo de identidade, fraudes de cartões de crédito, violação de propriedade inte-lectual e protestos políticos.

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Outro recorde alcançado pelos piratas brasileiros foi o número de grupos dehackers na lista TOP 10 (os dez mais ativos). O Brasil, simplesmente, ocupa todasas posições (informações que datam de novembro de 2002). Por este motivo, alíngua oficial do “movimento hacker” na Internet é o português.

CONCLUSÕES

Este artigo não faz nenhuma apologia aos produtos piratas ou à prática dohackerismo. A população não é a maior culpada por isso, mas a principal vítimada exploração econômica. O valor de seu dinheiro sofre uma desvalorização tre-menda e o valor dos produtos, ao contrário, sobe de maneira que, ou a maioria dapopulação adquire o produto pirata, ou simplesmente não adquire produto algum.Infelizmente, são poucos os afortunados que podem se dar ao luxo de ter somenteprodutos originais.

Por outro lado, um ponto que é de extrema relevância: se a pessoa que é fã esimpatiza com tal artista ou banda, por exemplo, utilizar seus conhecimentos dehacker para piratear ou adquirir o similar pirata, quem estaria disposto a adquiriro produto original? Quem incentivaria o artista ou o produtor de software senãoos consumidores que admiram o seu trabalho?

O dia em que questões como as aqui discutidas se tornarem sem importân-cia, podemos ter certeza que não mais haverá criação alguma, e tudo continuarádo jeito que se encontrava antes. A conscientização é o caminho mais árduo aser transpassado, mas, com certeza, é o que trará melhores resultados em umfuturo próximo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ATENDENDO À KPA REQUISITOS DO CMMATRAVÉS DO RUP E FERRAMENTAS RATIONAL

* Fábio Luiz Gambarotto** Ademir Morgenstern Padilha

RESUMO

O CMM, Modelo de Capacidade e Maturidade, desenvolvido pela CarnageMellon University, estabelece práticas de Engenharia de Software relacionadascom aspectos gerenciais, organizacionais e técnicos. Quando essas práticas sãoseguidas rotineiramente, as organizações se capacitam para atingir metasestabelecidas de controle de custos, cronograma e produtividade [2]. Já o RUP éum framework de processo de software que oferece uma abordagem, baseada emdisciplinas, para atribuir tarefas e responsabilidades dentro de uma organizaçãode desenvolvimento [3]. O objetivo do presente artigo é avaliar como o RUP aten-de à KPA requisitos do CMM-SW e, a partir dessa avaliação, realizar ummapeamento detalhado das disciplinas, artefatos e ferramentas necessários paraatingir as metas, compromissos, habilidades, atividades, medições e análises, everificação da implementação, necessários para atender aos requisitos desta KPA.

PALAVRAS-CHAVE : CMM; KPA; Requisitos; RUP.

ABSTRACT

CMM, the Capacity Maturity Model, powered by Carnage Mellon University,establishes practices of Software Engineering related to managerial, organizational,and technical aspects. When these practices are routinely followed, theorganizations are enabled to reach established goals of cost control, schedule andproductivity [2]. The RUP, on the other hand, is a software process frameworkthat offers an approach based on disciplines to attribute tasks and responsibilitieswithin a development organization [3]. The objective of this work is to evaluatehow the RUP matches the KPA requirements of the SW-CMM and, based on

* Graduado em Tecnologia de Processamento de Dados (TEC) pelo Centro Universitário Filadélfia– UniFil. Especialista em Engenharia de Software com UML. E-mail: [email protected]**Docente do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Mestre em Ciência da Computação pelaUniversidade de Campinas – UNICAMP. Consultor em Tecnologia da Informação. Orientador dapesquisa. E-mail: [email protected]

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such evaluation, to carry out a detailed mapping of the disciplines, devices, andtools necessary to reach the goals, commitments, abilities, activities, measurementsand analyses, and implementation verification, necessary to match the KPArequirements.

KEY-WORDS: CMM; KPA; Requirement; RUP.

1. INTRODUÇÃO

Ao ganharem rapidamente maturidade e profissionalismo, os serviços dedesenvolvimento de software e de componentes em regime de fábrica, registramum significativo crescimento na demanda, tornando-se competências corriquei-ras nos portifólios de numerosos provedores de soluções de Tecnologia da Infor-mação. [1]

É nesse cenário de aquecimento, que as metodologias de gestão mais avan-çadas, visando à obtenção do máximo de qualidade nos projetos, como o modeloCMM1, emergem como um importante diferencial competitivo dentro da comuni-dade de engenharia de software, balizando cada vez mais as atividades do setor.

É assim que o modelo CMM, sistematizado pelo SEI no esforço de mapearas melhores práticas mundiais de desenvolvimento de software, é apontado pelosespecialistas como referência no preenchimento dos requisitos de qualidade. Emsíntese, o objetivo desse modelo é fazer com que o contingente de profissionaisalocados em um dado projeto trabalhe sob processos cíclicos, padronizáveis emensuráveis, os quais, independentemente da qualidade do produto final, susten-tem, por si só, os níveis de serviços. O CMM confere, por conseguinte, maiorprevisibilidade aos processos, comprovando a sua maturidade. Este modelo visaser um guia para avaliação e melhoria de processos de software, divididos em 18áreas-chave de processo, distribuídos em 5 níveis de maturidade.

O presente artigo propõe-se a abordar a primeira área-chave de processo donível 2 do CMM (Gerenciamento de Requisitos) e como satisfazê-la através doRUP2 e ferramentas Rational.

1CMM: Capability Maturity Model – Modelo de Capacidade e Maturidade, desenvolvido pelo SEI(Software Engineering Institute), sediado na Carnegie Mellon University, em Pittsburgh, Pennsylvania,Estados Unidos.2RUP: Rational Unified Process – Processo Unificado Racional.

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2. C M M

O CMM estabelece práticas de Engenharia de Software relacionadas comaspectos gerenciais, organizacionais e técnicos. Quando estas práticas são segui-das rotineiramente, as organizações se capacitam a atingir metas estabelecidas decontrole de custo, cronograma e produtividade. [2]

Esse modelo, basicamente, fornece 5 níveis de maturidade para processosde software (Inicial, Repetitivo, Definido, Gerenciado e Em Otimização). Cadaum desses níveis apresenta fundamentos sucessivos para a melhoria contínua doprocesso. Os níveis de maturidade fornecem prioridades claras, as quais orientama seleção de algumas atividades de melhoramento que, quando implementadas,possibilitam a evolução da maturidade do processo de desenvolvimento.

No nível Inicial, o processo de desenvolvimento é desorganizado e até caó-tico. Poucos processos são definidos e o sucesso depende de esforços individuaise heróicos.

No nível Repetitivo, os processos básicos de gerenciamento de projeto estãoestabelecidos e permitem acompanhar custos, cronograma e funcionalidade. Épossível repetir o sucesso de um processo utilizado anteriormente em outros pro-jetos similares.

No nível Definido, tanto as atividades de gerenciamento quanto de engenha-ria do processo de desenvolvimento de software estão documentadas, padroniza-das e integradas em um padrão de desenvolvimento da organização. Todos osprojetos utilizam uma versão aprovada e adaptada do processo padrão de desen-volvimento de software da organização.

No nível Gerenciado, são coletadas medidas detalhadas da qualidade do pro-duto e processo de desenvolvimento de software. Tanto o produto quanto o pro-cesso de desenvolvimento de software são entendidos e controladosquantitativamente.

No nível Em Otimização, o melhoramento contínuo do processo é consegui-do através de um “feedback” quantitativo dos processos e pelo uso pioneiro deidéias e tecnologias inovadoras.

Exceto no nível 1, todos os níveis são detalhados em KPAs3. Essas áreassão, exatamente, aquilo em que a organização deve focar para melhorar o seuprocesso de desenvolvimento de software. Para que uma empresa possa se quali-ficar em um determinado nível de maturidade CMM, deve estar realizando osprocessos relacionados às áreas-chave daquele determinado nível.

3KPA: Key Process Area – Área Chave de Processo.

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3. RUP

O RUP é um framework de processo de software. Ele oferece uma aborda-gem baseada em disciplinas para atribuir tarefas e responsabilidades dentro deuma organização de desenvolvimento. [3]

Seu objetivo é transformar os requisitos do usuário em sistema de software.Sua característica fundamental é a de ser baseada em componentes, ou seja, osoftware desenvolvido é formado por componentes de software que se comuni-cam através de interfaces bem definidas.

O desenvolvimento de software efetuado através do RUP é incremental ecada incremento é desenvolvido utilizando-se de quatro fases: iniciação, elabora-ção, construção e transição. A isto se chama ciclo de desenvolvimento. Após afase de transição, o produto pode voltar a percorrer cada uma das fases, constitu-indo a fase de evolução, na qual se produz uma nova geração do produto.

• Iniciação: fase de compreensão do problema e da tecnologia através dadefinição dos casos de uso mais críticos;

• Elaboração: fase de descrição da arquitetura do software na qual os re-quisitos que mais impactam na arquitetura são capturados em forma decasos de uso;

• Construção: fase na qual o software é construído e preparado para atransição para os usuários. Além do código propriamente dito, tambémsão produzidos os casos de teste e a documentação;

• Transição: fase de treinamento dos usuários e transição do produto parautilização.

Cada uma das quatro fases do RUP é adicionalmente dividida em iterações efinalizada com um ponto de checagem que verifica se os objetivos daquela faseforam alcançados. Toda iteração é organizada em disciplinas, que são conjuntosde atividades realizadas por responsáveis que produzem artefatos. As principaisdisciplinas são descritas a seguir:

• Modelagem de Negócios: provê um entendimento comum entre os envol-vidos no projeto, sobre quais os processos de negócio que devem ser apoi-ados.

• Requisitos: objetiva capturar os requisitos que serão atendidos pelo pro-duto de software. Nas fases de iniciação e elaboração, a ênfase será maiornesta disciplina.

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• Análise e Design: objetiva compreender mais precisamente os use casesdefinidos na disciplina de requisitos, produzindo um modelo já voltadopara a implementação, que deverá estar adequado ao ambiente deimplementação.

• Implementação: objetiva a organização do código em termos deimplementação de subsistemas, implementa as classes e objetos em ter-mos de componentes, testa os componentes em termos de unidades e inte-gra os códigos produzidos.

• Teste: objetiva analisar, através de testes, se os requisitos foram atendidose certificar de que os defeitos serão removidos antes da implantação.

• Implantação: objetiva produzir releases do produto e entregá-los aos usu-ários finais. Isto pode incluir atividades de beta-teste, migração de dadosou software existente e aceitação formal.

A Figura-1 mostra a página inicial do RUP, onde são exibidas as quatro fasesde desenvolvimento e suas disciplinas.

Figura-1: RUP – Fases e Disciplinas.

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4. A DISCIPLINA DE REQUISITOS DO RUP

Segundo o RUP, um requisito é definido como uma condição ou uma capa-cidade com a qual o sistema deve estar de acordo. [4]

Entretanto, requisitos não se referem apenas à funcionalidade desejada paraum sistema ou software (requisitos funcionais), mas também se referem às ques-tões não funcionais (requisitos não funcionais).

Existem vários tipos de requisitos. Um modo de categorizá-los é descritocomo o modelo FURPS+ [5], usando o acrônimo FURPS (Funcionalidade,Usabilidade, Confiabilidade, Desempenho e Suportabilidade) para descrever asprincipais categorias de requisitos com suas respectivas subcategorias.

A Figura-2 mostra o workflow de Requisitos do RUP e apresenta suasatividades, que consomem e produzem artefatos.

5. ATENDENDO A KPA REQUISITOS ATRAVÉS DO RUP

O modelo CMM define, para cada área-chave de processo, metas, compro-missos, habilidades, atividades, medições e análises, e a verificação daimplementação específica para cada uma delas.

Na tabela seguir, será apresentado um mapeamento detalhado de como oRUP atenderá à KPA Requisitos do CMM.

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Tipo Requisito Artefato/Ferramenta/Atividade Disciplina

Metas Meta 1

Meta 2

Plano de Gerenciamento de Requisitos,

Modelo de Casos de Uso, Visão, Rational

Rose, Requisite Pro, Clear Quest

Requisitos

Caso de Desenvolvimento Ambiente

Compromissos Compromisso 1 Plano de Gerenciamento de Requisitos,

Modelo de Casos de Uso, Requisite ProRequisitos

Habilidade 1 Plano de Gerenciamento de Requisitos

Habilidade 2Modelo de Casos de Uso,

Requisite Pro

Requisitos

Plano de Desenvolvimento de Software Gerência de ProjetoHabilidade 3

Plano de Gerenciamento de Requisitos Requisitos

Habilidades

Habilidade 4Guia de Modelagem de Casos de Uso, Guia de

FerramentasAmbiente

Atividade 1 Avaliação de Resultados

Atividade 2

Baseline, Modelo de Casos de Uso,

Solicitações dos Principais Envolvidos, Clear

Quest

Requisitos

Atividades

Atividade 3Solicitação de Mudança, Plano de

Gerenciamento de Configuração

Gerência de

Configuração e

Mudança

Plano de Gerenciamento de Requisitos,

Modelo de Casos de UsoRequisitos

Medições e

AnálisesMedição 1

Plano de Iteração, Plano de Métricas, Project

Console, Soda, Requisite Pro

Gerenciamento de

Projeto

Plano de Gerenciamento de Requisitos Requisitos

Registro de RevisãoGerenciamento de

ProjetoVerificação da

Implementação

Verificação 1

Verificação 2

Verificação 3Solicitação de Mudança

Gerência de

Configuração e

Mudança

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O Plano de Gerenciamento de Requisitos tem por objetivo descrever adocumentação de requisitos, os tipos de requisitos e seus respectivos atributos,especificando as informações e os mecanismos de controle que devem ser coletadose usados para avaliar, relatar e controlar mudanças nos requisitos do produto.

O Modelo de Casos de Uso é um modelo das funções pretendidas do siste-ma e seu ambiente, e serve como um contrato estabelecido entre o cliente e osdesenvolvedores. O Modelo de Casos de Uso é usado como fonte de informaçõesessenciais para atividades de análise, design e teste.

O documento Visão define a visão que os envolvidos têm do produto a serdesenvolvido, em termos das necessidades e características mais importantes. Essedocumento fornece uma base de alto nível - algumas vezes contratual - para osrequisitos técnicos mais detalhados por conter uma descrição dos requisitos cen-trais pretendidos. Também pode conter uma especificação de requisitos formais.

A Disciplina de Ambiente produz o Caso de Desenvolvimento, que docu-menta a metodologia para o projeto baseado nos padrões e políticas organizacionais.Esta metodologia inclui políticas, ferramentas e técnicas a serem utilizadas emtodo o projeto de desenvolvimento de software.

A Disciplina de Ambiente apresenta também guias e manuais que são úteisnessa habilidade, como o Guia de Modelagem de Casos de Uso, que descrevecomo modelar os casos de uso, e o Guia de Ferramentas, que descreve comousar as ferramentas utilizadas nessa Área-Chave de Processo, abordando infor-mações de instalação, versão, parâmetros de configuração, limitações na funcio-nalidade e a funcionalidade que o projeto decidiu não usar, artifícios, integraçãocom outras ferramentas, incluindo procedimentos a serem seguidos, software aser usado e princípios a serem aplicados.

A Disciplina de Gerência de Projeto produz o Plano de Desenvolvimento deSoftware, que é um artefato composto e abrangente que reúne todas as informaçõesnecessárias ao gerenciamento do projeto. Ele inclui vários artefatos separados, de-senvolvidos durante a Fase de Iniciação, e é mantido durante todo o projeto.

As Solicitações dos Principais Envolvidos contém qualquer tipo de solici-tação dos clientes, usuários finais, pessoal de marketing, em relação ao sistemaque será desenvolvido. Ele também pode conter referências a qualquer tipo defonte externa com a qual o sistema deve estar de acordo.

Uma Solicitação de Mudança é um artefato formalmente submetido, que éusado para rastrear todas as solicitações dos envolvidos (inclusive novas caracterís-ticas, solicitações de melhoria, conserto de defeitos, mudança de requisitos, etc.),junto com as informações de status relacionadas durante todo o ciclo de vida doprojeto. Todo o histórico de mudanças será mantido com a Solicitação de Mudança,o que inclui todas as mudanças de estado, datas e motivos para as mudanças.

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A Disciplina de Gerência de Configuração e Mudança produz o Plano deGerenciamento de Configuração, que descreve todas as atividades doGerenciamento de Controle de Configuração e Mudança (CCM) que serão execu-tadas durante o ciclo de vida do produto ou do projeto. Ele detalha o cronogramade atividades, as responsabilidades atribuídas e os recursos necessários, comoequipes, ferramentas e computadores.

A Disciplina de Gerenciamento de Projeto produz o Plano de Iteração, queé um conjunto de atividades e tarefas divididas por seqüência de tempo, comrecursos atribuídos e dependências de tarefas, para a iteração; é um plano sofisti-cado. É muito utilizado pelo Gerente de Projeto, para planejar tarefas e atividadesde iteração, programar necessidades de recursos e acompanhar o andamento emrelação ao cronograma.

Também, nessa disciplina, é produzido o Plano de Métricas, que define asmetas de medição, as métricas associadas e as métricas primitivas a serem coletadasno projeto para monitorar o seu andamento, e o Registro de Revisão, que é criadopara capturar os resultados da revisão de um artefato de projeto. Um Registro deRevisão é o formulário que é preenchido para cada revisão.

Sobre as ferramentas Rational, temos o Rational Rose, que é uma ferramentagráfica para desenvolvimento e modelagem de componentes, o Requisite Pro, paracontrole dos requisitos, e o Clear Quest, para controle das mudanças dos mesmos.

CONCLUSÕES

O Gerenciamento de Requisitos constitui-se em uma atividade central e com-plexa para os projetos de desenvolvimento de software. O principal objetivo doprocesso de definição de requisitos é concluir, com êxito, um acordo entre quemsolicita e quem desenvolve, estabelecendo, clara e rigorosamente, o que deveráser produzido.

Este trabalho mostrou que, além de um processo claro de definição de requi-sitos, é importante o processo de Gerência de Requisitos, haja vista que os mes-mos sofrem evoluções (refinamentos e modificações) ao longo do projeto. Obser-vou-se que o CMM apresenta uma clara preocupação com este aspecto, definindouma KPA especificamente para esta disciplina.

Ao longo deste trabalho, foi evidenciado que o RUP apresenta todas as fer-ramentas necessárias para o processo de Gerência de Requisitos. Ao contrário doque se pensava inicialmente, apenas as disciplinas de Modelagem de Negócios eRequisitos não são suficientes para atender à KPA Requisitos do nível 2 do CMM.Foram necessários o emprego de ferramentas automatizadas (ReqPro, Rational

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Rose, Clear Case e Clear Quest) e artefatos de outras disciplinas (Gerência deProjetos, Ambiente e Gerência de Configuração e Mudanças). A tabela apresenta-da mostrou um resumo do tipo de requisito utilizado para atender à KPA Requisi-tos: os artefatos, ferramentas e atividades, e a qual disciplina os mesmos perten-cem,

Finalmente, pôde-se comprovar que as atividades, papéis e ferramentas apre-sentadas pelo RUP mostraram-se suficientes para atender à KPA Requisitos doCMM.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] UEHARA, Irineu. Software: Qualidade Total. Revista e-Manager, São Paulo,p.14-18, nov., 2002.[2] FIORINI, Soeli T.; STAA, Arndt Von; BAPTISTA, Renan Martins. Engenha-ria de Software com CMM. Rio de Janeiro: Brasport, 1998.[3] MACHADO, Cristina A. Filipack; REINEHR, Sheila dos Santos;CALSAVARA, Alcides; BURNETT, Robert Carlisle. Aderência do RUP à Nor-ma NBR ISSO/IEC 12207. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba,2000.[4] RATIONAL SOFTWARE CORPORATION. RUP. Versão 2002.05.00. 2001.[5] GRADY, Robert. Practical software metrics for project management andprocess improvement. Prentice Hall, 1992.

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HIPERVOLEMIA E FLEBITE RELACIONADAS ÀADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS*

** Marcelo Ruela de Oliveira*** Andréia Bendine Gastaldi

RESUMO

O presente artigo trata-se de um levantamento bibliográfico que tem porobjetivo trazer conhecimento científico sobre hipervolemia e flebite relacionadasà administração de medicamentos. A iniciativa para o estudo partiu da necessida-de de se levar informações aos profissionais que trabalham com a administraçãode medicamentos, desta forma enriquecendo o seu saber e aperfeiçoando a suaprática. O estudo bibliográfico levanta conhecimentos de fisiologia do sistemacardiocirculatório e de farmacologia, ressaltando as vias de administração demedicamentos, seu destino, efeitos químicos no organismo e volume de adminis-tração, associados ao quadro do paciente. Procurou-se investigar aspectosanatomofisiológicos importantes do sistema circulatório, assim como o mecanis-mo de ação, absorção e distribuição dos medicamentos, justificando a importân-cia do saber científico para uma assistência de enfermagem isenta de erros e da-nos ao paciente. Em suma, objetivou-se oferecer subsídios ao profissional quepresta cuidados relacionados à administração de medicamentos.

PALAVRAS-CHAVE: Administração de Medicamentos; Hipervolemia;Flebite.

* Trabalho de revisão bibliográfica desenvolvido como monografia de conclusão do Curso Espe-cialização em Unidade de Terapia Intensiva do Centro Universitário Filadélfia - UniFil. ** Enfermeiro graduado pela UniFil. Especialista em Unidade de Terapia Intensiva pela UniFil.E-mail: [email protected]*** Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Docente doCurso Especialização em Unidade de Terapia Intensiva da UniFil. Orientadora da pesquisa. Mestreem Assistência de Enfermagem pelas UFSSC/UFPR.E-mail: [email protected]

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ABSTRACT

The present article is a bibliographic research that aims at bringing scientificknowledge on hypervolumetry and phlebitis concerning the administration ofmedications. The motivation for this study came from the need to provideknowledge to the professionals who work with the administration of medication,enhancing their knowledge and improving their skill. The bibliographic studybrings knowledge on the cardio-circulatory system and om pharmacology,emphasizing the administration mode of medications, their destination, chemicaleffects on the human organism, and volume to be administrated, considering thepatient’s general condition. The search was focused on important anatomic-physiologic aspects of the circulatory system, as well as aspects of the medications’action mechanism, absorption, and distribution, justifying the importance ofscientific knowledge to a nursing care exempt of errors and damage to the patient,offering subsidies to the professional whose duty relates to the administration ofmedications.

KEY-WORDS: Administration of Medications; Hypervolumetry; Phlebitis.

INTRODUÇÃO

Os medicamentos, de uma forma geral, são administrados com o objetivo delevar um efeito benéfico ao paciente. Geralmente isto acontece na tentativa deresolução de algum problema orgânico. A droga é administrada conforme indica-ção médica e está ligada diretamente ao problema do paciente. Pode também serusada na profilaxia de alguns problemas que poderiam vir a acontecer com o paci-ente. Seja qual for a intenção da administração de medicamentos, a grande maio-ria das drogas apresenta algum efeito colateral. Podemos dizer, então, que drogasou medicamentos produzem efeitos benéficos, o que é o objetivo da sua adminis-tração, mas também podem causar efeitos maléficos, os chamados efeitos colaterais.

Todos os medicamentos têm o que se chama, em um curioso eufemismo, de“efeito secundário” e “contra-indicação”. Há de se ter cautela na administraçãodos medicamentos, observando seus efeitos benéficos, efeitos secundários e con-tra-indicações. Assim, pode-se avaliar a eficácia do medicamento para determina-do paciente (DUPUY & KARSENTY, 1979).

A administração de medicamentos e drogas é uma das atividades desenvol-

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vidas pela enfermagem que mais requer conhecimento. Esse conhecimento estárelacionado, não só ao preparo, mas também a como administrar e como evitarcomplicações. É importante o saber técnico para se executar a implementaçãoterapêutica, bem como o saber teórico, necessário para reconhecer problemas re-lacionados à terapêutica medicamentosa.

MANETTI et al. (1998), considerando as diversas ocorrências com medica-ção na enfermagem, citam alguns autores que relatam inúmeras ocorrências, como:administração de drogas a pacientes trocados, omissão e excesso de doses, cálculosde dosagens errôneos, vias de administração incorretas e aplicação de drogas in-compatíveis, expondo o paciente e profissionais a risco de acidentes e suas implica-ções.

Em se tratando de Unidades de Terapia Intensiva, alguns fatos, como gravi-dade e instabilidade do quadro clínico apresentado pelo paciente, quantidade ediversidade de drogas prescritas, o próprio estresse do ambiente, falta de recursoshumanos e, em alguns casos, o despreparo do funcionário, interferem na adminis-tração de medicamentos. Com isso, a assistência perde qualidade e o pacientepadece com os erros. Infelizmente, pode-se afirmar que este tipo de iatrogenia éfreqüente em muitos hospitais, o que acarreta sérias conseqüências para o pacien-te, o profissional e a instituição.

Frente aos diversos problemas relacionados à administração de medicamen-tos, destacam-se dois que se relacionam de forma direta ao volume de diluição e àvelocidade de administração de cada medicamento: o surgimento de hipervolemiae flebites.

Relacionado ao volume de diluição, pode surgir a hipervolemia. Este estadoé decorrente do excessivo ganho de líquidos pelo paciente, ou seja, a perda delíquidos é muito inferior ao ganho. Como problemática ao paciente, surgem asobrecarga cardíaca e o edema pulmonar, principalmente nos pacientes cardiopatase nefropatas.

O excesso do volume de líquidos pode estar relacionado à simples sobrecar-ga hídrica ou à diminuição da função dos mecanismos homeostáticos responsá-veis pela regulação do equilíbrio hídrico (SMELTZER & BARE, 2002).

Na flebite, há irritação do endotélio vascular, e os sinais e sintomas são:rubor, calor, edema e dor local. O surgimento de flebite reflete uma administraçãoinadequada de medicamentos, contaminação do sistema, ou então uma sensibili-dade aumentada do paciente para com o medicamento administrado.

“A flebite é definida como a inflamação de uma veia, devido a uma irritaçãoquímica e/ou mecânica. A incidência de flebite aumenta conforme o período detempo em que a linha EV é mantida no local, conforme a composição do líquido oumedicamento (especialmente seu pH e tonicidade)” (SMELTZER & BARE, 2002).

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Fundamentando o estudo

Toda droga administrada ao paciente, independente da sua via de adminis-tração, irá realizar seu efeito. A diferença nesse processo está no tempo que adroga leva para realizar seu efeito, considerando as diferentes vias de administra-ção. A mesma droga pode ser administrada por mais de uma via, podendo sermudada, também, a forma de apresentação. A melhor indicação para o pacienteirá determinar a via de administração, o que tem grande importância na relaçãoefeito da droga/benefício para o paciente. O percurso realizado pelas moléculasda droga dentro do organismo envolve a sua absorção, distribuição e eliminação.

Para ROSCHLAU & KALANT (1991), as drogas podem ser administradaspor determinadas vias e serão absorvidas por alguns sítios corpóreos, como: pele,mucosa oral, estômago e intestino, cólon e reto, epitélio pulmonar, veia, artéria,fluído cerebroespinhal e, algumas cavidades do corpo. Cada sítio desses irá con-duzir, de forma particular, os processos de absorção, distribuição e eliminação dofármaco. Com as injeções, conta-se com as vantagens de absorção mais rápida emais segura da droga, possibilitando também a seleção mais exata da dose. Emgeral, trazem desvantagens, como a necessidade de rigorosa assepsia para evitarinfecções e a possibilidade de dor para o paciente.

O organismo humano necessita de hidratação constante, uma vez que a mai-or parte do nosso corpo é constituída por líquidos. As perdas de líquido peloorganismo são freqüentes, como também deve ser providenciada a reposição. Aorigem da água está na ingestão de líquidos e na própria produção do organismo,através do seu metabolismo. A aquisição de água pelo organismo deve estar rela-cionada às perdas. Observa-se que, quando há aumento na ingestão de líquidos,também ocorre aumento nas perdas, sendo que a principal via de excreção delíquidos é a renal. Existem também outras vias, como a respiratória e a percutânea,sendo o ganho de líquidos obtido somente pela ingestão oral ou, no caso doshospitais, pelas vias oral, enteral e parenteral.

A água presente no corpo provém de duas fontes principais: 1) ingestão delíquidos ou de água contida nos alimentos ingeridos, que chega a cerca de 2.100ml/dia; e 2) síntese no corpo, proveniente da oxidação dos carboidratos, o quepode chegar a cerca de 200 ml/dia. O que não se considera como constante é aingestão de líquidos, pois isso varia de indivíduo para indivíduo, e também édependente do clima. As perdas de líquidos acontecem por diferentes vias corpo-rais. As perdas insensíveis referem-se à evaporação a partir do trato respiratório eda difusão através da pele. Juntos, concentram uma perda diária de cerca de 700ml/dia. Pelas fezes também ocorre perda de água. O volume chega a cerca de 100ml/dia e pode atingir litros, no caso de diarréias. Os rins constituem o meio pelo

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qual ocorre a maior perda de água pelo corpo (GUYTON & HALL, 2002).Quando da internação do paciente, devem ser avaliadas as suas condições

hemodinâmicas para que se possa estabelecer a carga hídrica a ser administrada.Normalmente, esse procedimento é realizado pelo médico e as prescrições, tantodo soro de hidratação e/ou reposição, quanto da diluição dos medicamentos, é deseu critério. O enfermeiro, no entanto, deve acompanhar a evolução do paciente,observando seu grau de hidratação, condições hemodinâmicas e balanço hídrico.Com isso, é possível avaliar as funções cardíaca, renal e hepática. Dentro dobalanço hídrico deve-se considerar todo ganho do paciente, seja ele por infusãoendovenosa, ingesta hídrica por via oral ou infusão de líquidos por sondas.

Quando o paciente está recebendo infusão endovenosa, o volume que elerecebe é calculado desde o soro de hidratação e/ou reposição até as mais diversasmedicações que necessitam de diluição. O soro de hidratação e/ou reposição é deinfusão contínua e um de seus objetivos é manter o acesso venoso permeável. Ovolume desse soro é variado e está também relacionado ao seu tempo de infusão.A determinação desse procedimento também é de caráter médico. No entanto, opreparo, administração e controle da infusão são de responsabilidade da enferma-gem. Da mesma forma, a enfermagem faz a diluição dos medicamentos (antibió-ticos, antiinflamatórios, antiácidos, etc.) para que não prejudique a função renal eevite a irritação do endotélio vascular.

Diante de um quadro de hipervolemia em desenvolvimento, é essencial re-pensar o volume de líquidos administrados pelas diferentes vias de entrada. Ospacientes submetidos a uma ampla farmacoterapia recebem muitos medicamen-tos que necessitam de diluição e infusão controlada. Grande parte desses medica-mentos é diluída em 50 ml de SG 5% ou SF 0,9%, para ser administrada em umtempo de 30 a 50 minutos; no entanto, existem outros, como alguns antibióticos,que necessitam de um volume maior de diluição devido à sua toxicidade e possi-bilidade de irritação do endotélio vascular, mas devem se aplicados no mesmotempo de infusão. O excesso de líquido intravascular condiciona o enfermeiro aconter o volume de entrada; entretanto, o tempo de infusão das drogas, conside-rando as condições do paciente, deixa de ser relevante e podemos, portanto, estendê-lo um pouco mais. Sendo assim, para um medicamento diluído em 50 ml e admi-nistrado em 30 minutos, podemos fazê-lo em 50 minutos com volume de diluição40% menor (30 ml). Já com o soro de hidratação e/ou reposição, pode-se dimi-nuir o seu volume, aumentar o tempo de infusão, ou associar os procedimentos,lembrando que o tempo máximo de permanência de uma solução em infusão é de24 horas, pois, além disso, pode levar à contaminação.

Quando o paciente está em uso de dieta enteral, a avaliação deve ser feitajunto ao médico e ao nutricionista. Devem ser avaliadas as necessidades nutricionais

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do paciente, procurando saber se é possível diminuir o volume líquido da dieta. Oque podemos implementar de imediato é reduzir o volume de hidratação após adieta e, frente ao quadro de hipervolemia, apenas lavamos a sonda com água apósa administração da dieta, para evitar obstrução da mesma.

Na avaliação da hipervolemia, o profissional de enfermagem mede o volu-me de líquido ingerido e o débito em períodos de tempo regulares. Deve-se tomaro peso diário do paciente. A ausculta pulmonar é outro dado importante namonitorização do quadro hipervolêmico. Os sinais de edema podem denunciar oinício do quadro. O acúmulo de líquido surge nos tornozelos dos pacientes quedeambulam, e na região sacral daqueles acamados. A medida do perímetro dosmembros com fita graduada permite avaliar o ganho de líquido do paciente(SMELTZER & BARE, 2002).

A flebite envolve reações químicas, provocando a irritação do endotéliovascular. No momento do exame, procura-se pela presença de dor, a qual será umsinal objetivo e relatado pelo paciente. Os sinais subjetivos são: a presença dehiperemia, calor, edema local e, em alguns casos, destaque da linha venosa, o quemais tarde irá caracterizar-se como fleboesclerose. A concentração do medica-mento administrado e a sua natureza estão diretamente relacionados ao desenvol-vimento do processo. Algumas medidas são de fundamental importância. A con-centração do medicamento pode ser controlada pela velocidade de infusão, volu-me de diluição, ou com a associação destes procedimentos. Na presença de umquadro hemodinâmico preservado, deve-se diluir o medicamento em um volumemaior de soro glicosado 5% ou soro fisiológico 0,9%, conforme prescrição médi-ca, mantendo o gotejamento. Nessa situação, o volume adequado de diluição paracada medicamento, somado ao volume constante de hidratação, minimiza osurgimento de flebites, já que o medicamento chega ao endotélio vascular menosconcentrado.

Quando a hemodinâmica do paciente está prejudicada, seja por nefropatias,cardiopatias ou outra condição clínica, não é recomendável aumentar o volume dediluição, o que poderia levar a uma sobrecarga circulatória; portanto, apenas sediminui o gotejamento, diminuindo também o volume de diluição. O medicamen-to, por ter sido diluído em menor volume, estará mais concentrado, precisando,assim, de maior tempo de infusão. Quando se prolonga a entrada do medicamentona rede venosa, o mesmo chega ao endotélio mais lentamente, permitindo que osoro de hidratação e/ou reposição, somado ao fluxo sangüíneo local, propicie umamelhor diluição do medicamento, minimizando seus efeitos lesivos ao endotélio.

Outras situações relacionadas ao desenvolvimento de flebites dizem respei-to à contaminação do sistema, quer seja na manipulação dos equipos, quer sejapela longa permanência do mesmo sistema de equipos junto ao paciente. O im-

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portante é a monitorização constante das condições clínicas do paciente, obser-vando-se sua farmacoterapia para que seja possível minimizar o surgimento deflebites.

A observação constante da região onde se encontra a punção venosa é defundamental importância, pois evita o agravamento do processo inflamatório.Importante lembrar que, tanto para os pacientes conscientes, quanto para os in-conscientes, a detecção da flebite em seu início fica por conta do nosso poder deobservação, já que os pacientes conscientes nem sempre se queixam de dor nolocal da punção venosa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A administração de medicamentos, em princípio um benefício para o paci-ente, também pode lhe causar danos. A retrospectiva dos cuidados com a adminis-tração de medicamentos nos leva à análise da importância do conhecimento teóri-co associado ao desenvolvimento da prática. Sendo assim, devemos sustentar quea prática da administração de medicamentos está associada à análise do quadroclínico do paciente, cabendo esta tarefa ao enfermeiro, que também administra omedicamento. O surgimento e desenvolvimento dos quadros de hipervolemia eflebite são de fácil detecção, sendo necessária somente a observação constante dopaciente. Os cuidados implementados com administração dos medicamentos cons-tituem a etapa de prevenção.

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