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INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO: A ESCOLHA DA ESCOLA PELOS PAIS Dissertação apresentada à Escola Superior de Educação de Lisboa para obtenção do grau de mestre em Ciências de Educação – Especialização em Administração Escolar Sílvia Alexandra Rodrigues Alves da Vinha Setembro 2012

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  • INSTITUTO POLITCNICO DE LISBOA ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAO DE LISBOA

    ENTRE O PBLICO E O PRIVADO: A ESCOLHA DA ESCOLA PELOS PAIS

    Dissertao apresentada Escola Superior de Educao de Lisboa para obteno do grau de mestre em Cincias de Educao Especializao em

    Administrao Escolar

    Slvia Alexandra Rodrigues Alves da Vinha

    Setembro 2012

  • INSTITUTO POLITCNICO DE LISBOA ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAO DE LISBOA

    ENTRE O PBLICO E O PRIVADO: A ESCOLHA DA ESCOLA PELOS PAIS

    Dissertao apresentada Escola Superior de Educao de Lisboa para obteno do grau de mestre em Cincias de Educao Especializao em

    Administrao Escolar

    SOB ORIENTAO DA PROFESSORA DOUTORA HELENA SANT'ANA

    Slvia Alexandra Rodrigues Alves da Vinha

    Setembro 2012

  • Existem variadssimas frmulas hoje que permitem aprender diferentemente do passado () Mas o mais importante no so as tecnologias em si mesmas, mas os novos caminhos que abrem no acesso a fontes diferenciadas de conhecer e de saber.

    Carneiro, R. et al (1998)

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    i

    Agradecimentos Esta tese no teria sido possvel sem a colaborao, orientao e constante disponibilidade da Professora Doutora Helena SantAna, que acolheu este trabalho de braos abertos, demonstrando entusiamo e apoio desde que o projeto lhe foi apresentado. O meu sincero Muito Obrigado.

    Agradeo ao meu marido, Pedro, pelo seu amor, pacincia e apoio incondicional, nomeadamente nas horas incontveis que disponibilizou na rea da estatstica e esclarecimento de dvidas, dando-me sempre fora e nimo para continuar.

    minha filha, Beatriz, que, ainda dentro do meu ventre me transmitiu fora e coragem para seguir em frente e a todos os lindos momentos que me proporciona.

    minha me, Maria, pelos sacrifcios, pelo carinho e pelo amor incondicional que sempre manifestou, sendo um exemplo de vida encorajador a nunca desistir dos nossos sonhos e projetos de vida.

    minha irm, Ana Isabel, pela amizade, carinho e apoio demonstrado ao longo da vida, em especial pelas horas disponibilizadas na ajuda do tratamento estatstico dos dados recolhidos.

    minha famlia, que se privou em muitas situaes da minha presena, que sempre me deu apoio, nimo e fora para continuar, sendo o meu suporte nos momentos mais difceis e mostrando-me que o caminho sempre em frente, o meu eterno obrigado.

    Um apreo muito especial s escolas objeto deste estudo, nomeadamente diretora da escola pblica e diretora da escola privada que, de forma to generosa, acolheram este projeto, disponibilizando-se para as entrevistas como tambm para o fornecimento de toda a informao relativa s escolas e sem as quais este trabalho no teria sido possvel.

    Tambm agradeo aos Encarregados de Educao dos alunos do 1 ano de escolaridade das escolas em estudo, pela generosa colaborao no preenchimento dos inquritos.

    Agradeo igualmente a todas as pessoas que, de alguma forma, estiveram envolvidas neste processo de entrega dos inquritos aos Pais. O meu bem-haja a todos.

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    Resumo A investigao descrita surgiu de uma curiosidade natural da investigadora pela temtica em estudo, tendo como objetivo aferir, empiricamente as atuais expetativas parentais relativamente escola pblica e escola privada na entrada dos alunos para o 1 ano de escolaridade.

    Numa primeira fase foi realizada uma reviso bibliogrfica no sentido de aprofundar o tema em estudo, tomando igualmente conhecimento das investigaes j realizadas sobre este assunto. No sentido de fundamentar esta temtica foram realizadas entrevistas s diretoras de duas escolas, uma pblica e outra privada, e entregues inquritos aos pais dos alunos a frequentar o 1 ano de escolaridade. Esta estratgia permitiu-nos recolher informaes sobre as prticas realizadas quer pelos pais quer pelas escolas, identificando perspetivas diferentes e encontrando pontos em comum que todos os pais tm na escolha da escola, verificando-se assim se as expetativas parentais vo ao encontro das estratgias aplicadas pelas escolas.

    Esta discusso trata-se de uma discusso atual e importante dado aplicar-se realidade da nossa sociedade e pretende aferir a credibilidade dos pais relativamente ao sistema educativo em duas escolas com caractersticas socioeconmicas semelhantes e localizadas na mesma rea geogrfica.

    As expetativas parentais de ambas as escolas, muito embora diferentes, so correspondidas, refletindo formas de pensar bem como algumas das prioridades dos Pais e Encarregados de Educao em relao ao sistema de ensino pblico e privado. A anlise dos resultados da investigao permitem-nos verificar que a escolha de uma escola pblica e privada depende das expetativas parentais face ao tipo de organizao educativa. Foi realizada igualmente uma anlise estatstica para agregao dos dados que intitulmos de grau de satisfao, por forma a termos uma viso mais clara das reais expetativas da escolha de uma escola.

    Palavras-chave: Educao, Escolha Parental, Expetativa, Escola Pblica, Escola Privada

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    iii

    Abstract This investigation emerged from the investigators natural curiosity, on these issues. The main goal of this work is to find empirically the parents expectation about public and private school, when choosing the first school for their children.

    In an initial stage, bibliographic revision was made, taking into consideration investigations from other authors, in order to go further on this issue and be aware of the state of the art on these matters. This study was based on interviews made to school directors, one from a private and another from a public school. In addition, questionnaires were delivered to all first year students parents. This strategy allowed us to identify the valuable best practice on schools organization, identifying and comparing parents perspectives about school, reinforcing the main value that the parents expectations are always aligned with schools strategies.

    This is a current and important discussion which reflects our society main concerns. It aims to assert parents credibility in public and private educational systems, in a study made in two schools located in the same geographical area and with the same socioeconomic status.

    The parents expectations for either school, although different, were met by the schools, reflecting different thoughts and parents perspectives concerning public and private educational system.

    The investigation allowed us to ascertain that the parents decision of choosing a private or public school depends on the educational organization parents expectations. In this work, statistical analysis were included and created Satisfaction Level variable definition, to obtain a clearer perspective of real parents expectations when choosing a school.

    Key Words: Education, Parental Choice, Expectation, Public School, Private School.

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    ndice Geral Agradecimentos ................................................................................................................. i

    Resumo ............................................................................................................................. ii

    Abstract ............................................................................................................................ iii

    Introduo ......................................................................................................................... 1

    Captulo 1 - Enquadramento Terico Conceptual ........................................................... 3

    1.1. A escola em constante mudana ............................................................................ 3

    1.1.1. Democratizao da educao e massificao do ensino ................................. 3

    1.1.2. O carcter organizacional da escola ................................................................ 7

    1.1.3. Finalidades e saberes escolares ....................................................................... 9

    1.1.4. Currculo escolar ........................................................................................... 10

    1.1.5. Recursos humanos - Relao pedaggica (Escola - Famlia) ....................... 12

    1.1.6. Recursos materiais......................................................................................... 14

    1.1.7. Corpo docente ............................................................................................... 15

    1.2. As Escolhas Parentais .......................................................................................... 17

    1.2.1. A livre escolha entre o pblico e privado ...................................................... 17

    1.2.2. Expectativas dos Pais em relao Escola Pblica e Escola Privada no 1 ano de escolaridade ................................................................................................. 22

    Captulo 2 - Enquadramento Metodolgico ................................................................... 24

    2.1. Instrumentos de recolha de dados / Metodologia aplicada .................................. 25

    2.1.1. Pr-teste ......................................................................................................... 25

    2.2. Desenho da investigao ...................................................................................... 27

    2.3. Identificao da amostra ...................................................................................... 29

    2.4. Caracterizao do objeto de estudo...................................................................... 30 2.4.1. Nmero de alunos: ........................................................................................ 32

    2.4.2. Pessoal docente e no docente: ..................................................................... 33

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    v

    2.5. Caracterizao do meio envolvente ..................................................................... 34

    Captulo 3 Apresentao e anlise de dados recolhidos atravs dos inquritos e das entrevistas realizadas na escola privada e na escola pblica .......................................... 35

    3.1. Caracterizao da amostra ................................................................................... 36

    3.1.1. Idade .............................................................................................................. 36

    3.1.2. Profisso ........................................................................................................ 37

    3.1.3. Local de residncia / Proximidade da escola ................................................ 38

    3.1.4. Agregado familiar ......................................................................................... 39

    3.1.5. Habilitaes literrias .................................................................................... 40

    3.2. Motivos das escolhas parentais - Razes que levam os pais a escolherem as escolas para os seus filhos no 1 ano de escolaridade. ................................................ 42

    3.3. Grau de satisfao das expectativas ..................................................................... 60

    3.3.1. Grau de satisfao relativamente ao Currculo Escolar: ............................... 63

    3.3.2 Grau de satisfao relativamente aos Recursos Humanos. ......................... 66

    3.3.3. Grau de satisfao relativamente Relao Pedaggica ........................... 70

    3.3.4 Grau de satisfao relativamente ao Corpo Docente .................................. 74

    3.3.4.1. Avaliao do Professor .......................................................................... 76

    3.3.4.2. Possveis diferenas entre professor escola privada e pblica .............. 77

    3.3.5. Grau de satisfao relativamente Organizao Escolar.............................. 81

    3.3.6. Grau de satisfao relativamente aos Recursos Materiais ......................... 83

    Concluses ...................................................................................................................... 88

    Limitaes do estudo .................................................................................................. 91

    Referncias Bibliogrficas .............................................................................................. 92

    Anexos ............................................................................................................................ 95

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    ndice de tabelas

    Tabela 1: Evoluo das taxas de escolarizao por idades entre 1960 e 2009......4

    Tabela 2: Taxas de reteno e desistncia no ensino bsico entre 2004 e 20095

    Tabela 3: Nveis de escolaridade efetiva da populao ativa com habilitaes iguais ou inferiores ao secundrio em 2001......5

    Tabela 4 Triangulao de dados...24

    Tabela 5 - Etapas do estudo.26

    Tabela 6 Desenho da investigao....28

    Tabela 7 Amostra..29

    Tabela 8 Nmero de alunos da Escola Pblica e Privada.32

    Tabela 9 Nmero de turmas da Escola Pblica e Privada....32

    Tabela 10 Nmeros referentes ao Pessoal Docente e No Docente da Escola Pblica e Privada.33

    Tabela 11 Significados de 1 Ciclo do Ensino Bsico, segundo perspectiva de Pais da Escola Pblica e Privada..43

    Tabela 12 Viso das Diretoras da Escola Pblica e Privada sobre as Finalidades da Escola ..44

    Tabela 13 Viso das Diretoras da Escola Pblica e Privada sobre as Representaes de Escola...44

    Tabela 14 Viso das Diretoras da Escola Pblica e Privada sobre as Preocupaes Parentais...46

    Tabela 15 Razes de escolha de escola no 1 ano de escolaridade da Escola Pblica e Privada, segundo a perspetiva das diretoras....46

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    vii

    Tabela 16 Itens / razes de escolha mencionados nos inquritos.47

    Tabela 17 Razes de escolha de escola no 1 ano de escolaridade da Escola Pblica e Privada, segundo a perspetiva dos Pais...49

    Tabela 18 Pesos das respostas considerados para clculo do grau de satisfao.62

    Tabela 19 Frmula de clculo do grau de satisfao (mdia ponderada).62

    Tabela 20 Viso das Diretoras da Escola Pblica e Privada sobre o Programa da Escola...65

    Tabela 21 Viso das Diretoras da Escola Pblica e Privada sobre os Investimentos Prioritrios da Escola...69

    Tabela 22 Viso das Diretoras Pblica e Privada sobre as Formas de Participao na Escola...71

    Tabela 23 Viso das Diretoras da Escola Pblica e Privada sobre os Meios de Comunicao entre Escola Famlia..72

    Tabela 24 Viso das Diretoras da Escola Pblica e Privada sobre as Possveis Dificuldades na relao Escola Famlia73

    Tabela 25 Viso das Diretoras da Escola Pblica e Privada sobre Critrios de Seleo dos Professores77

    Tabela 26 Viso das Diretoras da Escola Pblica e Privada sobre diferenas entre professor da escola pblica/privada.78

    Tabela 27 Aspetos diferenciadores mencionados pelos Pais da Escola Pblica e Privada nos Inquritos.79

    Tabela 28 Aspetos menos positivos dos professores da Escola Pblica e contraponto s caractersticas dos professores da Escola Privada...80

    Tabela 29 Horrio da Escola Pblica e Privada...82

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    viii

    Tabela 30 Instalaes/Infraestruturas da Escola Pblica e Privada..84

    Tabela 31 Maiores expetativas dos pais da Escola Pblica e Privada..87

    ndice de grficos

    Grfico 1: Inquritos devolvidos na Escola Pblica....29

    Grfico 2: Inquritos devolvidos na Escola Privada...29

    Grfico 3: Idade dos Pais da Escola Pblica...36

    Grfico 4: Idade dos Pais da Escola Privada...36

    Grfico 5: Profisses dos Pais da Escola Pblica37

    Grfico 6: Profisses dos Pais da Escola Privada38

    Grfico 7: Local de residncia dos Pais da Escola Pblica.38

    Grfico 8: Local de residncia dos Pais da Escola Privada.38

    Grfico 9: Agregado Familiar dos Pais da Escola Pblica..39

    Grfico 10: Agregado Familiar dos Pais da Escola Privada39

    Grfico 11: Habilitaes Literrias dos Pais da Escola Pblica..40

    Grfico 12: Habilitaes Literrias dos Pais da Escola Privada..40

    Grfico 13: Escola Pblica A escolha da escola como fator decisivo para o futuro42

    Grfico 14: Escola Privada A escolha da escola como fator decisivo para o futuro42

    Grfico 15: Cdigo de cores dos grficos...48

    Grfico 16: Escola Pblica Razes de escolha da escola no 1 ano de escolaridade...48

    Grfico 17: Escola Privada Razes de escolha da escola no 1 ano de escolaridade...48

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    Grfico 18: Escola Pblica e Privada: Razes de escolha da escola no 1 ano de escolaridade.49

    Grfico 19: Escola Pblica Possibilidade de optar pela Escola Privada..50

    Grfico 20: Escola Pblica Formas de conhecimento da escola..53

    Grfico 21: Escola Privada Formas de conhecimento da escola..53

    Grfico 22: Escola Privada Possibilidade de optar pela Escola Pblica..54

    Grfico 23: Escola Pblica Diferenas entre Professor de Escola Pblica e Privada..56

    Grfico 24: Escola Privada Diferenas entre Professor de Escola Pblica e Privada..56

    Grfico 25: Escola Pblica Caractersticas de um Professor57

    Grfico 26: Escola Privada Caractersticas de um Professor...57

    Grfico 27: Escola Pblica Satisfao das expetativas60

    Grfico 28: Escola Privada Satisfao das expetativas60

    Grfico 29: Grfico de exemplo considerado para clculo do grau de satisfao...62

    Grfico 30: Grfico final, aps efetuados o clculo do grau de satisfao..63

    Grfico 31: Grau de satisfao relativamente ao Currculo Escolar64

    Grfico 32: Grau de satisfao relativamente aos Recursos Humanos...67

    Grfico 33: Grau de satisfao relativamente Relao Pedaggica..70

    Grfico 34: Grau de satisfao relativamente ao Corpo Docente...75

    Grfico 35: Escola Pblica Diferenas entre Professor Escola Pblica/Privada..79

    Grfico 36: Escola Privada Diferenas entre Professor Escola Pblica/Privada..79

    Grfico 37: Grau de satisfao relativamente Organizao Escolar.81

    Grfico 38: Grau de satisfao relativamente aos Recursos Materiais...85

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    x

    ndice de siglas

    DPubl Diretora da Escola Pblica

    DPriv Diretora da Escola Privada

    IPubl X - Inqurito nmero X da escola pblica

    IPriv X Inqurito nmero X da escola privada

    ndice de anexos Anexo I - Guio da entrevista Diretora da Escola Pblica

    Anexo II - Guio da entrevista Diretora da Escola Privada

    Anexo III - Anlise de contedo da entrevista Diretora da Escola Pblica

    Anexo IV - Anlise de contedo da entrevista Diretora da Escola Privada

    Anexo V - Quadro com palavras-chave das Entrevistas realizadas s duas diretoras das escolas.

    Anexo VI - Questionrio entregue aos Pais/Encarregados de Educao da Escola Pblica

    Anexo VII - Questionrio entregue aos Pais/Encarregados de Educao da Escola Privada

    Anexo VIII Resultados dos questionrios entregues aos Pais das Escolas Pblica e Privada (anlise grfica)

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    1

    Introduo

    O presente trabalho contextualiza-se no mbito de um Curso de Mestrado realizado na rea da Administrao Escolar, sob a orientao da Escola Superior de Educao de Lisboa.

    O tema de investigao que se pretende desenvolver Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais tem como finalidade responder questo;

    Quais as motivaes subjacentes escolha parental quanto Escola Pblica e Escola Privada?

    Permitindo, desta forma, conhecer as razes pelas quais as famlias, nomeadamente os pais, escolhem uma escola para seus educandos no 1 ano de escolaridade do Ensino Bsico, baseando-se no dilema entre a Escola Pblica e a Escola Privada, traduzindo, desta forma as expetativas que esto subjacentes a essa escolha e que influenciam a opo dos pais nesta fase escolar dos seus educandos.

    Com a investigao no terreno pretendem-se encontrar algumas respostas e fazer uma reflexo referente a este caso particular, sendo por esse motivo considerado um estudo de caso. Neste sentido as respostas e concluses que se iro retirar desta investigao s podero ser relativas a este estudo especfico, no sendo possvel generalizar a outros casos.

    A hiptese central que se coloca, a qual vamos tentar confirmar ou infirmar a seguinte:

    A escolha de uma escola pblica ou privada depende das expectativas parentais face ao tipo de organizao educativa.

    Esta investigao tem como ponto de partida o conhecimento direto da investigadora, devido experincia profissional no sector educacional privado, sendo um incentivo na abordagem deste tema, pois durante a convivncia com pais, tem sido frequente encontrar famlias neste dilema, geralmente motivados por questes monetrias, fazendo srios sacrifcios para manterem os seus filhos em escolas privadas. No entanto,

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    em muitos casos, as suas escolhas so motivadas por diversas razes de fundo e sobre essas razes que se vai incidir a minha investigao.

    Trata-se de um tema atual e bastante pertinente, tendo vindo a ser alvo do interesse de diversos investigadores, dada a frgil situao econmica e financeira em que muitas famlias se encontram presentemente, e ser uma realidade e um dilema que surge naturalmente nos pais, no incio da escolaridade obrigatria dos seus filhos. A questo primordial colocada baseada sobretudo na realidade atual dos pais que conseguem ter capacidade, com maior ou menor esforo, de ter acesso escola privada, ou, por outro lado, mesmo com alguma capacidade econmica, optam pela escola pblica. Desta forma, proponho-me refletir sobre diversos aspetos como, o que mais valorizado pelos pais numa organizao escolar, em que se baseiam para fazerem a escolha da escola e qual a relevncia dada a essa escolha para a vida futura dos seus educandos.

    Sendo um estudo de caso, este ir focar-se em duas escolas, uma escola pblica e uma escola privada, situadas no mesmo meio envolvente onde, atravs da metodologia adotada, de carcter qualitativo e quantitativo, se iro recolher os dados necessrios que permitiro a concretizao desta investigao.

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    Captulo 1 - Enquadramento Terico Conceptual

    1.1. A escola em constante mudana

    1.1.1. Democratizao da educao e massificao do ensino

    A escola, ao longo dos tempos, tem vindo a ser vista de diferentes formas, muito devido s polticas educativas que tm sido aplicadas em Portugal e que se encontram em constante evoluo.

    Com a alterao legislativa que se foi verificando, foram melhorando as condies para se alargar a escolaridade como uma condio para aumentar as reais qualificaes dos jovens.

    Assistiu-se, a partir de 1960, a um conjunto de polticas educativas, que visam uma expanso da oferta educativa e apostando grandemente na inovao educativa, no que diz respeito nomeadamente interao das escolas e nos processos renovadores e criativos por parte dos professores. Esta criatividade por parte das escolas, mencionada por Canrio (2005) e que constitui um aspeto muito valorizado pelo CERI (OCDE), veio refletir-se em mudana, baseada na retificao permanente dos objetivos e das formas de ao nas escolas por parte dos professores.

    O princpio da escolaridade obrigatria foi institudo em Portugal em 1870, sendo efetivamente estabelecido em 1964, aps algumas alteraes. Esta escolaridade obrigatria traduziu-se na frequncia obrigatria da escola para todas as crianas entre os 7 e os 15 anos de idade, tal como referido por Rodrigues (2010).

    Nesta poca, a escola era vista como um potencial para o crescimento pessoal e

    coletivo, defendendo-se a ideia de que a um acrscimo de escolarizao corresponderia a um acrscimo de desenvolvimento. Segundo este autor outro sinal de progresso foi a democratizao de acesso ao ensino, o que proporcionou um caminho para a justia e para a igualdade de oportunidades. (Canrio, 1998, p.15)

    Para Grcio (1986), citado por Diogo (2008) Portugal assiste demasiado tarde a um desenvolvimento da escolarizao de massas pois somente a partir dos anos 50 que o

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    crescimento comea a ser visvel no sistema de ensino portugus, passando por diversas fases e aproximando-se cada vez mais de outros pases europeus. Esta mudana passa pela evoluo das mentalidades das famlias em relao importncia da escola e das suas repercusses ao nvel do futuro pessoal e profissional.

    Segundo Rodrigues (2010), em 1970 torna-se efetiva a escolaridade obrigatria bsica alargada e gratuita, sendo o objetivo alongar a escolaridade para todas as crianas. No entanto, faltavam as infraestruturas necessrias para a concretizar esta meta, visando a expanso do sistema educativo e adaptando-o constantemente ao nmero crescente de alunos ao longo dos anos.

    Idade 1960 1965 1970 1974 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2009

    6 anos 20 35 24 37 100 100 100 100 100 100 100

    7 anos 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

    8 anos 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

    9 anos 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

    10 anos 96 100 99 100 96 100 100 100 100 100 100

    11 anos 73 74 97 97 93 100 100 100 100 100 100

    12 anos 50 56 84 88 86 97 100 100 100 100 100

    13 anos 23 27 69 76 75 84 94 100 100 100 100

    14 anos 16 23 35 45 57 67 78 96 100 100 100

    15 anos 13 20 29 39 39 57 68 94 93 91 100

    16 anos 12 19 24 32 34 42 54 82 87 82 100

    17 anos 10 14 20 28 36 38 52 74 74 73 85

    Tabela 1: Evoluo das taxas de escolarizao por idades entre 1960 e 2009. Fonte: GEPE Estatsticas de Educao (Rodrigues, M., 2010)

    Os nveis de escolarizao foram aumentando, no evitando, no entanto, um aumento do desemprego e da excluso social que foi crescendo tanto em Portugal como em outros pases, num grau em alguns casos mais acentuado do que no nosso pas.

    Com a divulgao do Recenseamento Geral da Populao conseguimos tirar algumas elaes como um decrscimo das habilitaes literrias da populao ativa em alguns anos. De acordo com a tabela 1, podemos notar uma evoluo quase constante das taxas de escolarizao. No entanto, de salientar que nas idades compreendidas entre os 10 e os 13 anos de idade existe um decrscimo de 1974 para 1980 e que desde 1990 se visualiza uma maior inconstncia nos dados apresentados.

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    Na dcada de 70 assistimos igualmente passagem de uma escola de elite para uma escola de massas o que veio dar origem a uma uniformidade de conhecimentos e a uma certa homogeneidade. No entanto, segundo Dias (1998), essencial que, se por um lado existe a necessidade de dar oportunidade a todas as crianas de terem acesso ao ensino de qualidade, tendo particular ateno s crianas com dificuldades de aprendizagem, igualmente importante que no se descuide das crianas que conferem uma maior apetncia para outros conhecimentos mais cientficos, com o perigo de se sentirem desmotivados e pouco identificados com o ensino que lhes transmitido, sendo obrigados a contentar-se com programas de estudo que, em geral, tm progressivamente sido enfraquecidos no seu contedo (Dias, 1998, p.45)

    2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 2007/08 2008/09

    1 ano 0 0 0 0 0 0

    2 ano 12,2 11,4 9,6 8,2 7,4 7,4

    3 ano 5,4 4,4 3,6 3,4 3,2 3,1

    4 ano 7,6 6 5,2 4,8 4,6 3,6

    Total 6,5 5,6 4,7 4,2 3,9 3,6

    Tabela 2: Taxas de reteno e desistncia no ensino bsico entre 2004 e 2009. Fonte: GEPE, Estatsticas da Educao (Rodrigues, M., 2010)

    Completo Incompleto A frequentar

    1 ciclo 1.217.312 202.642 6.720

    2 ciclo 601.059 151.128 3.950

    3 ciclo 354.760 208.952 15.686

    Secundrio 560.108 418.171 48.401

    Total 2.733.239 980.893 74.757

    Tabela 3: Nveis de escolaridade efetiva da populao ativa com habilitaes iguais ou inferiores ao secundrio em 2001. Fonte: Rodrigues, M., 2003 (2010)

    com a Constituio da Repblica Portuguesa de 1976, que se consagra a descentralizao administrativa, assistindo-se democratizao do poder (art. 239), tendo vindo a ser reforada com a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) (Lei 14/86, de 14 de Outubro), onde se verificam e fortalecem os apoios econmicos, se

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    reforam os recursos educativos e a liberdade e igualdade no acesso e no sucesso de todos ao ensino. Este conceito de democratizao surge na LBSE, citado em Formosinho (2004, p.7), da seguinte forma:

    ... uma distribuio de poder nas decises educativas, atravs da descentralizao dos rgos e da participao popular na definio da poltica e na direo e gesto dos estabelecimentos de ensino.

    Segundo este autor, a partir de 1982 viveu-se uma poca de desenvolvimento no que diz respeito aos trabalhos de investigao sobre os processos de mudana nos estabelecimentos de ensino, apostando na modernizao de bibliotecas e de recursos. Comea a ser visvel a partir desta altura, o aparecimento de novos programas de estudos e mtodos pedaggicos, sendo definido por Lowe, J. & Istance, D. (1992) como uma poca caracterizada pela expanso (crescimento quantitativo) e pelo alargamento do acesso aos estudos a novos extratos da populao (igualdade de oportunidades). Estas caractersticas explicam muito naturalmente o renovar da ateno relativamente qualidade. (Lowe, J. & Istance, D., 1992)

    Segundo os mesmos autores, o termo qualidade pode ter vrios sentidos. Pode evocar simplesmente uma caracterstica ou um atributo. Os dicionrios definem como grau mais ou menos elevado de uma escala de valores ou ainda atributo, carcter, propriedade.

    Para se poder avaliar a qualidade de um sistema escolar deve-se ter em conta as suas finalidades, pois a qualidade ser tanto mais elevada quanto mais se aproximar dos seus prprios objetivos. No que diz respeito qualidade das aprendizagens, possvel se definir os parmetros de qualidade para a organizao curricular e para os programas. Um exemplo disso so as iniciativas no domnio da educao para a cidadania bem como as reestruturaes que se esto a verificar como o Novo Programa de Matemtica e de Lngua Portuguesa, cujo principal objetivo a melhoria da qualidade das aprendizagens nestas reas disciplinares bsicas e essenciais (Rodrigues, 2010, p.23).

    A partir dos finais dos anos 80, nota-se uma inteno da Administrao Educacional em abandonar uma prtica de tomada de deciso a nvel central e adotar uma uniformizao ao nvel de todo o territrio, estimulando as escolas para tomar decises concordantes

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    com as causas nacionais de educao. Desta forma e, atravs do Dec. Lei n. 43/89, de 3 de Fevereiro, estabelece-se o regime de autonomia dos estabelecimentos de ensino, com as suas especificidades e prticas diferenciadas (Formosinho, 2004).

    Com o Dec. Lei n. 172/91, de 10 de Maio, referente Avaliao do Novo Regime de Administrao Escolar, desenvolvida pelo Conselho de Acompanhamento e Avaliao (CAA), assiste-se a um alargamento do ordenamento do novo modelo de administrao, direo e gesto das escolas, a todos os nveis de ensino de todas as escolas. No entanto, com o Despacho Normativo n. 27/97, de 2 de Junho, que se impulsiona a estratgia de agrupar os estabelecimentos do pr-escolar e do 1 ciclo do ensino bsico, visando a construo de escolas entendidas como unidades organizacionais com uma dimenso humana razovel e dotadas de rgos prprios de administrao e gesto, capazes de deciso e assuno de autonomia (Formosinho, 2004, p.14).

    Para Canrio (2005) com o processo de democratizao e massificao da escola que possvel assinalar o ponto de viragem que marca o irreversvel rompimento do equilbrio que caracterizava a escola de certezas e a evoluo para uma perda de coerncia da escola.

    1.1.2. O carcter organizacional da escola

    Nem sempre a escola foi entendida como uma organizao. Na realidade esta uma viso recente nas investigaes sobre a escola, assim como na literatura organizacional e da administrao educacional, onde a escola j no considerada uma pea separada de um grande sistema (macro organizao), mas um sistema em constante movimento. Lima (1992) utiliza uma metfora dentro das teorias da organizao, definindo a escola como um organismo vivo, em constante construo, com nome prprio e localizada num determinado espao geogrfico.

    Neste sentido e, segundo Etzioni, citado por Lima (1992, p.44) podemos entender por organizao unidades sociais devotadas primacialmente consecuo de metas especficas. Unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construdas e reconstrudas, a fim de atingir objetivos especficos.

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    A escola considerada como uma organizao onde so identificados os principais elementos da morfologia organizacional: tem objetivos, clientes (pais) e um pblico alvo a quem deve corresponder, satisfazendo certas necessidades.

    A considerao da escola como uma organizao vem realar a forma prpria, a individualidade de cada estabelecimento, cada um com as suas caractersticas e prticas especficas. Este aspeto vem facilitar a compreenso e a importncia da articulao Escola-Famlia.

    Segundo Nvoa (1992, p.2) e baseando-se em estudos organizacionais sobre a escola:

    A escola encarada como uma instituio dotada de uma autonomia relativa, como um territrio intermdio de deciso no domnio educativo, que no se limita a reproduzir as normas e os valores do macro sistema, mas que tambm no pode ser exclusivamente investida como um micro universo dependente do jogo dos seus atores sociais em presena.

    Formosinho (1989) refere-se a este tema de uma forma aprofundada e que est estritamente ligado ao regime jurdico de gesto e administrao das escolas, no Dec. Lei. n. 172/91 de 10 de Maio. Como tal, e de acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo, a escola integra-se nos servios que o Estado presta ao Pas de duas formas possveis: atravs um servio perifrico do Estado, onde o poder pertence ao Estado, sendo-lhe feita a prestao de contas; e um servio autnomo, onde o poder est centrado na comunidade. So dois modelos bastantes diferentes, quanto ao centro do poder onde se podem distinguir duas concees de democracia: a democracia representativa (Estado) e a democracia participativa (comunidade).

    A partir de 1970, perante uma certa ingovernabilidade das sociedades modernas, assistiu-se a uma tendncia de diminuir o peso do Estado, considerado demasiado na sua verso original (Estevo, 1998), indo desta forma ao encontro do pensamento liberal Liberalismo, que segundo Holanda (2001, p.16) se pode definir como:

    expresso de uma viso de mundo, [o liberalismo] est alicerado no princpio de liberdade individual e fundamentado na racionalidade iluminista (...). E parte do pressuposto de que o homem totalmente livre para objetivar-se por si s.

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    Como modo de vida e como teoria do Estado, estabelece normas de proteo aos cidados contra perturbaes alheias ao cumprimento da lei.

    Uma das crticas feitas por Estevo (2000, p.40) ao conceito do liberalismo que a regulao social se deve fundar menos sobre conceitos e valores de pretenso universal e abstrata e mais sobre a consolidao de prticas sociais efetivamente igualitrias.

    A liberalizao e a privatizao de certos servios, nomeadamente da educao, d origem a instituies mais competitivas, reformulando a forma como o Estado intervm na sociedade civil. Desta forma, a privatizao pretende uma diminuio do poder do estado, tendo este uma interveno cada vez menor junto da sociedade, e visando uma maior competitividade, produtividade, eficincia e modernizao (Estevo, 1998).

    Para atingir estas metas devemos ter em conta mltiplos fatores que esto presentes na escola e nas aprendizagens, como as finalidades e saberes escolares, o currculo escolar, os recursos humanos e materiais e o corpo docente. Se a escola conseguir melhorar nestes aspetos no sentido de aperfeio-los e adequ-los aos alunos mais diversos, natural que desempenhe cada vez mais o papel fundamental de unificao cultural, lingustica e poltica, preparando os cidados para a insero na diviso social do trabalho.

    1.1.3. Finalidades e saberes escolares

    As finalidades de um sistema escolar devem servir de indicador para avaliar a qualidade, sendo cada vez maior quanto mais prxima estiver dos objetivos traados anteriormente.

    Os docentes recebem turmas completamente heterogneas, no podendo organizar o trabalho de uma s forma. No entanto, hoje as necessidades e prioridades so, entre outras, integrar os alunos de forma a fomentar a incluso social, proporcionar uma aprendizagem eficaz, dirigida a alunos com diversas experincias, conhecimentos e expectativas muito diferentes, onde o especfico de cada aluno seja tido em conta.

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    Para alm disso, com a diversidade de realidades escolares, difcil generalizar, quer em medidas implementadas quer em metodologias aplicadas nas escolas, apesar do reconhecido esforo que as instituies tm demonstrado face complexidade e gravidade dos problemas existentes em muitas escolas. Nesse sentido importante uma interveno urgente como a implementao dos programas de formao contnua e de interveno social para combater a excluso social e tentar colmatar algumas carncias e lacunas por parte das famlias. (Alada, 1998).

    1.1.4. Currculo escolar

    A qualidade do ensino tambm determinada pela forma como os programas esto a ser planeados, como esto a ser aplicados e como so avaliados na sua implementao.

    A palavra Currculo currere vem do latim e significa carreira, como um percurso dentro do processo ensino e aprendizagem que vai moldando os contedos realidade vivida pelos educandos. O Currculo Escolar essencial para que a organizao da instituio e, essencialmente, do professor seja efetiva e para que se planifiquem e estruturem as aprendizagens e as atividades tendo em vista o grupo de alunos, de forma a tornar o ensino mais eficaz, melhorando-o e centrando a ateno dos alunos nos assuntos mais importantes, fazendo a ligao com a vida ativa e a sociedade. Tal como Lowe, J. & Istance, D. (1992, p.212), afirmam a conceo mais importante do curriculum :

    a de um tronco comum, porque uma das principais condies da qualidade do ensino que todas as crianas quaisquer que sejam a sua origem tnica e o seu local de residncia, tenham a possibilidade de atingir um nvel aceitvel no domnio dos conhecimentos tericos e prticos essenciais.

    O Currculo Nacional do Ensino Bsico transmite s instituies escolares uma srie de competncias essenciais, de carcter geral e especfico, que devem ser apreendidas pelos alunos ao longo dos trs ciclos do Ensino Bsico. Cada ciclo tem as suas competncias estabelecidas, que vo ao encontro das suas especificidades enquanto fase do percurso escolar mas tambm pretende proporcionar uma articulao entre os

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    diferentes ciclos, dando asas ao conceito de aprendizagem ao longo da vida. Segundo Jorge Sampaio (1998) o principal valor da escola a transmisso dos conhecimentos, da cultura e ensinar os alunos a comunicarem e a viverem em conjunto.

    Aguiar, Carneiro e Cabao (2002) defendem este conceito de aprendizagem ao longo da vida referindo-se, de uma forma mais abrangente, ao currculo escolar, como:

    - programas de ensino ou planos de estudo corpo de conhecimentos cientficos, tecnolgicos e culturais, necessrios adaptao do aluno ao meio fsico e social em que est inserido;

    - conjunto de competncias cognitivas, sociais e relacionais que estimulam as aprendizagens acadmicas e do desenvolvimento global do aluno;

    - sistema de valores pessoais, sociais e religiosos defendidos pela escola;

    - prticas religiosas adotadas por cada instituio escolar no desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem. (Aguiar, Carneiro e Cabao, 2002, citados por Monge, 2004, p.53)

    Para que esta caminhada seja planificada o melhor possvel necessrio que esteja sintonizada com a poltica educativa em vigor. Durante o mandato do XVII Governo, onde se defende o servio pblico como o caminho da incluso e da igualdade de oportunidades, definiram-se determinadas medidas para atingir certos objetivos, que Rodrigues (2010, p.20) refere:

    - melhorar a equidade e diminuir as desigualdades escolares;

    - promover a qualidade das aprendizagens e a modernizao das escolas;

    - obter ganhos de eficincia na gesto dos recursos educativos.

    Apesar do Currculo Escolar ter uma base orientadora comum e sintonizada com os objetivos da poltica educativa e concedidos nos Parmetros Curriculares Nacionais, o que se verifica que, devido dimenso territorial do nosso pas e diversidade cultural existente, cada escola pode construir e adaptar o seu currculo, pois s a escola tem conhecimento da realidade que vive e das verdadeiras dificuldades e necessidades dos

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    alunos, valorizando as dimenses sociais e relacionais, em consonncia com as aprendizagens acadmicas, tericas e prticas.

    1.1.5. Recursos humanos - Relao pedaggica (Escola - Famlia) Com os desafios constantes que so colocados na rea da educao, importante que reconheamos que o papel da escola essencial mas que no pode substituir o Estado, a sociedade e as famlias. Num sentido mais lato, a relao pedaggica abrange os intervenientes diretos e indiretos no processo pedaggico, sendo neste caso, a relao entre a escola e a famlia.

    A presena das famlias na escola traduz-se, antes de mais, na expanso da procura de ensino, fenmeno que se acelera e universaliza a partir do final da 2 guerra mundial, conduzindo massificao do ensino. Deste modo, o crescente investimento das famlias verifica-se em Portugal sobretudo a partir dos anos 50. A partir desta altura, segundo Diogo (2008) assiste-se a uma mudana de mentalidades, pois os pais, muitos sem escolaridade, que antes no se interessavam em mandar os filhos para a escola, comeam a sentir maior preocupao pela educao dos seus filhos, desejando que eles cumpram, pelo menos, a escolaridade obrigatria. Segundo este autor, nos anos 90 progride-se para outro patamar pois os pais comeam a desejar e a incentivar os seus educandos a prosseguir os seus estudos, chegando o mais longe possvel e aspirando um futuro melhor.

    O investimento das famlias em matria de escolaridade, na viragem do sc. XXI, representa um cenrio profundamente distinto daquele que marcou as primeiras dcadas do sculo passado (Diogo, 2008). Segundo Berthelot (1983), citado por Diogo (2008), a escola confere uma funo social de reproduo das competncias necessrias ao aparelho socioeconmico, atravs da transmisso do saber e por esse motivo a escolarizao um modo de socializao (p.17, 18).

    Muitos dos estudos realizados apontam para a importante influncia da famlia no sucesso escolar dos alunos, chegando algumas investigaes desenvolvidas pelos EUA a defender a ideia de que a escola e a famlia exercem efeitos diferentes no sucesso

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    escolar dos alunos (Diogo, 2008). Uma prova disso foi uma investigao mencionada por este autor que demonstrou que, em tempo de frias, os alunos monetariamente mais favorecidos apresentavam maiores evolues do que os menos favorecidos. J em tempo de aulas, o dito estudo demonstrava que a evoluo nas aprendizagens era equivalente nos dois meios educativos, concluindo ainda que o efeito da classe social no aproveitamento escolar mais elevado no incio da escolaridade, nomeadamente, nos dois primeiros anos de ensino e que as classes mais elevadas apresentavam melhores resultados devido no s escola, mas sobretudo refletindo o esforo e dedicao da famlia.

    Nos anos 50 e 60, para Forquin (1997), citado por Diogo (2008), algumas dessas investigaes desenvolvidas pelos pases anglo-saxnicos, tiveram como foco de estudo as famlias e a sua influncia na educao, centrando-se no sistema de valores, as prticas educativas e no clima familiar. Estes trs aspetos so essenciais para o sucesso integral dos alunos, pois transmitem elementos base para a formao humana e social do cidado.

    A boa relao entre a escola e a famlia um importante elemento estruturante para a escola, para os pais bem como para os educandos, pois no caso de existirem divergncias muito acentuadas entre uma destas entidades, estas iro refletir-se nos alunos. Para alm dos fatores existentes em comum, frequente e at saudvel encontrarmos diferenas, ajudando o outro a encontrar melhores solues e respostas. Cabe escola fomentar esta importante relao, chamando os pais escola e dando conhecimento da progresso dos alunos, tornando-os desta forma participantes no processo de aprendizagem.

    Segundo Marques (2001), os estudos feitos em diversos pases nas ltimas trs dcadas demonstram que quando os pais se envolvem na educao dos filhos, eles obtm melhor aproveitamento escolar (p. 19). Ele defende ainda que com esta parceria, se devem unir esforos, partilhar objetivos pois encarar os pais como rivais algo que impede a unio de esforos e a partilha de objetivos, com graves prejuzos para o aluno. (p. 12)

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    Embora quando se fale em colaborao pensemos na comunicao entre o professor e os pais, existem variadas formas de colaborar, como o apoio social e psicolgico dado pelos servios de apoio social escolar e dos servios de psicologia e orientao vocacional. Nem sempre esta relao pacfica pois para Marques (2001, p. 19) Muitos professores muitas vezes, limitam-se a ser mensageiros das ms notcias muitos pais s so chamados pelo professor quando os filhos revelam problemas de aprendizagem ou de indisciplina. importante que a colaborao seja mais abrangente, ou seja, que a escola se aproxime cada vez mais dos pais, envolvendo estes nas diversas atividades de apoio educativo, realizadas em casa ou na escola.

    Apesar das mudanas sociais e polticas que se foram sentindo ao longo do tempo as escolas ainda se mantiveram presas a padres tradicionais de relacionamento com o exterior, limitando-se a reunies trimestrais, reunies com as Associaes de Pais no caso da escola pblica e a algumas atividades festivas ao longo do ano letivo.

    De acordo com Marques (2001, p. 28) a escola pode ultrapassar os obstculos colaborao se comear a encarar os pais como parceiros que so os primeiros responsveis pela educao dos filhos. Esta partilha de responsabilidades na educao dos educandos poder dar origem segundo este autor a uma valorizao dos aspetos que os unem, extinguindo os aspetos que os separam. Para a figura paternal esta aproximao muito benfica pois Os pais melhoram as suas competncias como educadores e aprendem a conhecer melhor os seus filhos.

    importante que, uma vez encontradas as dificuldades e os obstculos existentes entre a escola e a famlia, se procure encontrar respostas para que estas sejam superadas e com isso haver uma melhoria na qualidade do ensino e uma maior proximidade entre as duas instituies, para benefcio dos educandos. Somente tendo conhecimento das dificuldades se poder melhorar e super-las da melhor forma.

    1.1.6. Recursos materiais

    Uma das medidas da poltica educativa que se tem verificado uma modernizao das escolas e um melhoramento muito considervel dos equipamentos e das infraestruturas

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    educativas. Um dos exemplos a prpria escola pblica onde foi realizado este estudo, que no ano anterior sofreu obras de modernizao, bem como um aumento dos seus recursos materiais.

    Segundo Lowe, J. & Istance, D. (1992), existe a noo muitas vezes que h um desperdcio de recursos por estes serem utilizados sem critrios. As propostas das escolas, em alguns casos, no correspondem aos oramentos concedidos s instituies, sendo esta falta de coordenao alvo de algumas crticas.

    O aumento da qualidade dos recursos materiais no pode ser encarado como sinal de sucesso do processo ensino - aprendizagem, mas , sem dvida, um forte contributo para a melhoria da qualidade e fator motivador para os alunos. Diversos pases tm vindo a investir nesta rea nos ltimos anos, at porque para determinadas autoridades escolares nacionais, regionais e locais a melhoria da qualidade passa necessariamente por um aumento dos recursos (Lowe, J. & Istance, D., 1992, p. 217)

    Em muitos casos nas escolas que os alunos passam a maior parte do dia e por isso importante que existam condies para poderem estar e aprender. Para alm disso tm acesso a recursos como por exemplo, informticos, onde em outros ambientes no teriam contacto possvel.

    Este caminho de proporcionar o contacto com estes avanos tecnolgicos poder ser um incentivo para as crianas e jovens continuarem a querer progredir e at adquirir novas ferramentas para a vida ativa e profissional.

    1.1.7. Corpo docente

    Ao longo da ltima dcada a funo do professor tem vindo a modificar-se, muito devido s exigncias que se tm verificado, para as quais muitas vezes o professor no se encontra apto para lhes fazer face.

    A forma como os professores vem a presena dos pais na escola tambm difere pois alguns professores encaram a sua presena como uma interferncia no seu trabalho enquanto outros acham-na como uma mais-valia e um elemento enriquecedor.

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    Segundo Marques (2001, p. 38), para os professores conseguirem acompanhar as modificaes temporais, -lhes exigido uma atitude diferente de h uns anos atrs, com o desempenho de novas funes pois para este autor, os docentes

    tm uma vida profissional muito desgastante em termos psicolgicos, estando sujeitos a um stress maior do que a maioria dos outros profissionais. A fadiga psquica e fsica tem vindo a crescer, nos ltimos anos, pelo facto de terem de lidar com populaes estudantis cada vez mais heterogneas e com padres de civilidade muito baixos

    Segundo um caso de uma professora, mencionado por Rodrigues (2010), que num debate pblico sobre a poltica educativa falou da sua experincia enquanto docente, esta reconhecia o insucesso escolar e o abandono precoce com os diversos problemas sociais inerentes mas considerava que a escola e os docentes no poderiam resolver esses problemas sozinhos.

    Deste modo, a profisso de docente considerada atualmente uma profisso desgastante psicologicamente, que tem vindo a aumentar consoante as realidades e que exigem o desempenho de novas funes pois os professores enfrentam turmas difceis, muito heterogneas, com alunos com pouca vontade de estudar e alguns mal preparados, acabando por influenciar a motivao dos melhores. Para alm deste facto, a autoridade do docente posta em causa por diversas vezes bem como a existncia de mecanismos legais que protegem os alunos faltosos e que impedem a escola de aplicar as devidas sanes (Marques, 2001).

    No perodo entre a aprovao do Estatuto da Carreira Docente (ECD) em 1990 e sua implementao em 2005, foram sendo feitas diversas alteraes. Aps estes anos verificou-se que foram sentidos no percurso do professor impactos positivos mas tambm impactos menos positivos, quer na estruturao interna e no desenvolvimento do grupo profissionalcomo na organizao do trabalho docente e no funcionamento das escolas na gesto dos recursos pblicos do sistema educativo. (Rodrigues, 2010, p. 264)

    Com todos estes fatores, a competncia e a entrega dos professores docncia imprescindvel para um ensino de qualidade. S desta forma os alunos iro sentir que o

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    professor est ali para eles, a dar o seu melhor. A figura de professor extremamente importante na escola, devendo esta ser melhor reconhecida na sociedade.

    De acordo com a diversidade sociocultural que se comeou a verificar nas escolas no decurso dos anos, os professores viram-se obrigados a desenvolver estratgias inovadoras de forma a cativar e ajudar os alunos, melhorando a qualidade do seu desempenho.

    Para Rodrigues (2010, p. 278) a qualidade do trabalho dos professores o fator mais influente na qualidade das aprendizagens e que por esse motivo natural que a regulao do ingresso na profisso e do desenvolvimento na carreira, bem como das condies de exerccio profissional, meream uma continuada reflexo e acompanhamento que permitam o seu aperfeioamento e adequao s necessidades do sistema educativo.

    No entanto, cabe ao professor inserir-se da melhor forma na escola qual pertence, dando o melhor de si em todas as situaes. A cultura organizacional presente na escola deve ajudar o docente a maximizar as suas potencialidades, estimulando as prticas que testemunhem criatividade e inovao.

    1.2. As Escolhas Parentais

    1.2.1. A livre escolha entre o pblico e privado

    O princpio de liberdade de aprender e de ensinar, no sistema legislativo, est assegurado pela lei e consiste no livre acesso a todos os estabelecimentos de ensino que contribuem para o desenvolvimento do sistema educativo nacional, sem discriminao de natureza econmica, social ou regional (Ensino Privado: No Oficial)

    A liberdade de ensino aparece, segundo Pinto (1993), na Constituio atual de duas formas: uma que consagra a liberdade de aprender e ensinar (art. 43), sendo mais correto para o autor referir antes, liberdade de aprender e liberdade de ensinar, e outra que consagra os direitos sociais (art. 73 e 74), referentes educao e ao ensino. neste contexto de constante mudana que se comea a olhar para a escola de diversas

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    formas. Comea a surgir uma escola de todos e para todos, assistindo-se a uma emergncia de lgicas de ao no sentido de regular a oferta educativa.

    Os pases mais industrializados, como os Estados Unidos, tm como linha condutora das suas reformas educativas a introduo de regras para aplicar em contextos educativos organizacionais (S, 2002). De acordo com a teoria deste autor, as organizaes educativas vivem numa sadia competio potenciada pelas polticas de escolha da escola pelos pais, levando a uma melhoria dos recursos quer humanos quer materiais e estimulando a excelncia acadmica em benefcio de todos.

    Uma das formas de construir um mercado educativo, suportado nestas prticas sociais e na liberdade de aprender e de ensinar, consiste na escolha das escolas pelas famlias, nomeadamente entre as escolas pblicas e as escolas privadas (Barroso et al, 2006). Ideia esta que reforada pelos defensores da livre escolha, citados por este autor, defendendo que a liberdade de escolha da escola um direito parental. Segundo os defensores, a privatizao da oferta educativa bem como a livre escolha da escola, ao introduzirem mecanismos de competitividade e de responsabilidade, representam duas formas possveis de melhorar a qualidade das escolas e os resultados das mesmas. Por outro lado, os opositores da livre escolha, citados pelo mesmo autor, contestam esta ideia, fundamentando-a de diversas maneiras, entre elas, dizendo que esta liberdade de escolha d origem a um reforo da estratificao social e tnica entre as escolas, evidenciando a existncia de sinais de estratificao e segregao provocados pela escolha da escola, facto este que lanou a preocupao entre os defensores da livre escolha.

    A dicotomia entre o pblico e o privado tem sido um tema muito estudado por pensadores de diferentes reas do saber, sendo considerada a sua coexistncia um pouco conflitual, segundo Freud (1978), citado por Estevo (1998), dado tentarem conseguir um certo domnio um sobre o outro. Carlos Estvo (2000) considera mesmo que a separao liberal entre pblico e privado pode despolitizar a esfera privada face esfera pblica e at restringir o conceito de igualdade e o de justia.

    Apesar das diferentes perspetivas polticas, que influenciam os tipos de educao, fundamental a defesa dos valores da igualdade de oportunidades, da liberdade de

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    escolha e da eficincia que geralmente se procura numa escola, indo ao encontro da definio de escola de Berthelot (1983), citado por Diogo (2008). Segundo outro ponto de vista, esta garantia de uma oferta educativa homognea e equilibrada, visando a igualdade de oportunidades, veio colocar em causa o respeito pela diversidade e especificidade dos alunos e de suas comunidades de origem (Barroso et al, 2006).

    No entanto, de acordo com o ideal de educao citado por Diogo (2008) e vendo a escola como um agente socializador fundamental para o desenvolvimento da criana na sociedade, que as famlias tomam a deciso de escolher uma escola para os seus educandos, tendo como objetivo principal proporcionar a melhor escolarizao possvel. Esta deciso surge naturalmente, aps dvidas e inquietaes que culminam numa deciso final.

    Para Estevo (1998), a deciso das famlias, nomeadamente dos pais, encarada como um processo que confirma o direito dos pais de participarem nas decises educativas, optando pelo modelo de educao que se adapta melhor aos objetivos dos educadores para os seus educandos.

    Em Portugal, quando se fala na escolha da escola, poder-se mencionar que ao escolher a escola pblica, esta escolha encontra-se condicionada pela legislao em vigor, tal como visvel na Republicao do despacho n. 14 026/2007, publicado no Dirio da Repblica, 2. srie, n. 126, de 3 de Julho de 2007, alterado pela retificao n. 1258/2007, publicada no Dirio da Repblica, 2. srie, n. 155, de 13 de Agosto de 2007, respeitante distribuio dos alunos pelas escolas pblicas e agrupamentos escolares. Segundo o art. n. 3.1., alnea a), deste despacho:

    No ato de matrcula ou de renovao de matrcula, o aluno ou o encarregado de educao deve indicar, por ordem de preferncia e sempre que o nmero de estabelecimentos de educao pr escolar ou de ensino existentes na rea o permita, cinco estabelecimentos cuja frequncia pretendida, devendo a mesma subordinar -se:

    a) No caso da educao pr -escolar e do ensino bsico, aos agrupamentos de escolas ou estabelecimentos de educao ou de ensino no agrupados em cuja

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    rea de influncia se situe a residncia ou a atividade profissional dos pais ou encarregados de educao, ou ainda ao percurso sequencial do aluno

    No entanto algumas famlias, que tm uma realidade financeira favorvel, tm a oportunidade de optar pelo que realmente desejam para os seus filhos, colocando-os em escolas privadas ou, por outro lado, optando por colocar os seus filhos em escolas pblicas.

    Esta opo revela e traduz o tipo de educao que pretendem para os seus educandos, bem como as convices e expectativas que cada famlia tem em relao escola escolhida.

    Segundo Lowe, J. & Istance, D. (1992), a possibilidade de os pais escolherem a escola da sua preferncia ser um incentivo para que os pais se interessem mais pela educao dos seus filhos, aumentando as possibilidades dos alunos mais desfavorecidos e contribuindo desta forma para uma melhoria dos resultados escolares e do prprio funcionamento da escola, ou seja, uma melhoria na qualidade do ensino.

    A simplificao de processos a reduo da complexidade do sistema de ensino deve ser para a sociedade portuguesa uma das suas prioridades, sendo essencial para o progresso e desenvolvimento de qualquer pas. Para Ravara (1998, p. 89) A qualidade da formao um elemento chave na qualidade de desenvolvimento. Segundo este autor uma forma de contrabalanar as falhas de qualidade de formao atravs da famlia e da comunidade. No entanto, quando a famlia, por algum motivo, no contribui de forma substancial para esta formao, a escola sente um aumento da sua responsabilidade no sentido de formar cidados (Ravara, 1998).

    Para Lowe, J. & Istance, D. (1992), a palavra qualidade pode ter diversas representaes dependendo dos objetivos do ensino, ou seja, dos resultados que se pretendem alcanar. Os objetivos dos sistemas escolares atuais devero ter em conta todos os alunos, com as suas especificidades e dificuldades, o que poder variar de escola para escola, no querendo isso significar uma perda na qualidade do ensino. Estes objetivos estabelecidos pelos sistemas escolares podem ainda ir refletir as expetativas da sociedade.

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    21

    Segundo Barroso (2003) a livre-escolha da escola um dos instrumentos mais poderosos para a criao de um mercado educativo. Todas as polticas educativas tm como objetivo de produzir mudanas voluntrias nas pessoas, pela interiorizao de normas e sua aplicao. A regulao das polticas focada por diversos autores, entre eles Barroso (2005), citado por Melo (2009), que descreve este conceito como um conjunto de mtodos e aes definidas para conseguir atingir determinados objetivos, j estabelecidos sob a forma de normas e regras. No contexto das polticas pblicas Barroso (2006, p. 12) define regulao como modos como so produzidas e aplicadas as regras que orientam a ao dos atores e o modo como estes autores se apropriam delas e as transformam.

    No entanto com a evoluo destas polticas, existem determinados pontos do sistema atual que so alvo de algumas crticas como o de negar aos pais o seu direito mais importante: o direito livre escolha da escola para os seus filhos (Marques, 2001).

    O 1 ciclo do Ensino Bsico considerado por muitos a base de toda a escolaridade. nesta fase que os pilares de toda a aprendizagem so construdos e iro fortalecer-se ao longo de todo o percurso escolar. Tal como est referido nas Competncias gerais do Currculo Nacional do Ensino Bsico, a educao bsica tem como referentes os pressupostos da lei de bases do sistema educativo, que so necessrios vida em sociedade de cada cidado e que so trabalhados ao longo deste ciclo de forma muito direta e consistente.

    Por estes motivos, a altura da entrada na escola dos filhos para o 1 ano de escolaridade um momento de inquietude e de ansiedade para os pais e encarregados de educao. As expectativas em relao escola onde iro colocar os seus educandos devero ser elevadas. No entanto, estas expectativas podero ou no ser correspondidas posteriormente, no decorrer da escolaridade.

    Caso haja possibilidade de optar por uma escola privada, podero ou no faz-lo. Este fator depende das expectativas que os pais tm em relao escola pblica e escola privada. Verifica-se alguns pais que, embora tenham possibilidade de pagar uma escola privada, preferem colocar o seu filho na escola pblica perto de casa, pois confiam e delegam confiana na instituio. Por outro lado, alguns pais preferem pr o seu

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    22

    educando na escola privada, nem que isso signifique um grande esforo financeiro para toda a famlia. So estes fatores que iremos abordar mais pormenorizadamente no desenvolvimento deste trabalho.

    1.2.2. Expectativas dos Pais em relao Escola Pblica e Escola Privada no 1 ano de escolaridade

    A palavra expectativa, que significa situao de quem espera a ocorrncia de algo, ou sua probabilidade de ocorrncia, em determinado momento, vem do latim medieval expectativa, feminino substantivado do latim medieval ex(s)pectativus,a,um (documentado em latim medieval no sentido gratia expectativa), derivado do radical ex(s)pectatum, supino1 do verbo ex(s)pectre, "estar na expectativa de, esperar, desejar, ter esperana"; o vocbulo penetrou no portugus provavelmente por influncia do francs expectative (1461), "espera de alguma coisa, espera que repousa numa promessa ou numa probabilidade", feminino substantivado do adjetivo expectatif, "que d o direito de esperar". [Cf. Dicionrio Eletrnico Houaiss] Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa

    A escolha das escolas para os educandos desta forma uma fonte de grandes inquietaes para as famlias, pois com esta deciso esto a depositar na instituio uma grande confiana que reflete quer a forma de pensar quer as diferentes expectativas parentais. Segundo Lowe, J. & Istance, D. (1992, p. 211) os ndices de que se dispe levam no s a pensar que a sociedade espera cada vez mais da escola, mas tambm que as suas expectativas so diversas e por vezes contraditrias. Neste sentido e de forma a fazer face s expetativas no s parentais mas de toda a sociedade, os autores referidos defendem que os sistemas de ensino devero encontrar formas de conseguir equilibrar trs aspetos, sendo eles a preocupao em satisfazer o pblico-alvo, permitir s escolas terem a sua autonomia criativa, bem como ter em conta a competncia profissional dos docentes (Lowe, J. & Istance, D., 1992, p. 208)

    De acordo com o estudo desenvolvido por Monge (2004), baseado na comparao entre escolas pblicas e privadas, as expectativas parentais em relao s escolas do 1 ciclo

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    23

    do Ensino Bsico, esto estritamente relacionadas com as questes de segurana fsica e emocional dos seus educandos, perante a violncia cada vez mais presente no nosso quotidiano. Outra das questes focadas na investigao referida a crescente preocupao dos pais com as instalaes, horrios e proximidade, assistindo-se a uma maior ateno em relao escola. No entanto, salienta-se de acordo com a anlise dos dados recolhidos neste estudo que os pais da escola privada tm, em relao a alguns aspetos, uma exigncia maior do que os pais de uma escola pblica.

    Tendo em conta que existem crticos que acusam o sistema atual de negar aos pais o direito de escolherem livremente a escola para os seus filhos, Marques (2001) afirma que a livre escolha da escola teria vantagens significativas, dando alternativas, opes e concorrncia. Uma das vantagens seria o surgimento de um mercado de educao, dando origem a uma maior diversidade de respostas e adequando as diversas ofertas educativas aos interesses pblicos escolares. Com estas medidas e com a possibilidade de os pais exercerem a sua escolha, as escolas melhores sobressaem, sendo reconhecidas publicamente e recebendo cada vez mais alunos. Em contrapartida, as escolas menos eficazes perderiam alunos. Apesar de existir uma vontade em tornar esta escolha possvel, o que se admite nas escolas privadas, isto no se verifica na escola pblica, estando confinada legislao estipulada. No entanto as expectativas que os pais depositam na escola onde colocam os seus filhos existem e variam consoante as situaes. Estas expectativas resumem o grau de satisfao dos pais, que determina o grau de cumprimento dos objetivos previamente estabelecidos pelos pais. As figuras parentais tm, na sua grande maioria, j definido um projeto de escolarizao para os seus filhos, reflexo de uma imagem j construda por eles em relao escola, como resultado da sua prpria experincia de vida. Esse projeto espelha os objetivos e as finalidades que os pais pretendem atingir para os seus educandos.

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    24

    Captulo 2 - Enquadramento Metodolgico

    Neste captulo abordamos os procedimentos relativos metodologia utilizada na elaborao deste estudo de caso.

    Segundo Cronbach e tal., (1980) e Patton (1990), citados por Carmo e Ferreira (1998), a combinao de metodologias permite, atravs da triangulao de dados, tornar a investigao mais consistente e mais rigorosa. Tendo em conta a problemtica desta investigao, aplicmos duas tcnicas de recolha de dados de carcter qualitativo e quantitativo, pelo que ser um estudo de caso misto.

    No entanto, para Lima e Pacheco (2006), o problema que define qual o quadro conceptual a desenvolver e o quadro metodolgico a ser aplicado na investigao. Esta triangulao entre o problema, teoria e mtodo, como vemos no esquema seguinte, fundamental para que se consigam atingir os objetivos propostos para a investigao.

    Tabela 4: Triangulao de dados

    Problema Entre o pblico e o privado: a escolha da escola pelos pais

    Teoria

    Enquadramento terico conceptual

    Mtodo Enquadramento Metodolgico

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    25

    2.1. Instrumentos de recolha de dados / Metodologia aplicada

    Para investigar quais as expectativas dos pais em relao escola pblica e privada, optmos pela realizao de inquritos, utilizando perguntas diretas e fechadas, de forma facilitar o preenchimento e expor as principais ideias e valncias envolvidas no tema em estudo, contendo, no entanto, tambm algumas perguntas mais abertas, onde os pais so convidados a apresentar as suas opinies, que podero ser tambm objeto de anlise.

    Contudo, para alm da viso dos pais importante conhecer mais sobre a perspetiva das direes das escolas sobre esta temtica, de forma a complementar e correlacionar a informao recolhida, tendo por isso sido realizadas duas entrevistas, uma diretora da escola pblica e outra entrevista diretora da escola privada.

    O mtodo qualitativo, usado atravs das entrevistas, possibilitou uma pesquisa interpretativa e crtica, onde se enaltece o processo de investigao (Esteves, citado por Lima, 2006), enquanto o mtodo quantitativo, realizado atravs dos questionrios, permitiu observar os factos de forma rigorosa, com uma linguagem mais exata e formal (Esteves, citado por Lima, 2006). Este estudo, por ir ao encontro de realidades mltiplas, conduziu necessariamente a perspetivas mltiplas.

    2.1.1. Pr-teste

    Antes de entregar os questionrios nas escolas, tornou-se necessrio testar a estrutura e a compreenso das questes apresentadas bem como a coerncia do prprio questionrio, atravs de um pr-teste. Neste sentido foram entregues dez inquritos a dez pais escolhidos aleatoriamente e que no pertenciam amostra. Este pr-teste foi muito importante pois serviu para identificar algumas lacunas existentes, referentes compreenso de algumas questes, sendo estas posteriormente devidamente corrigidas.

    Apesar das correes, todos os pais participantes neste pr-teste consideraram o inqurito bem estruturado e acessvel ao nvel da compreenso das questes.

    Aps esta fase, os inquritos foram distribudos pelos pais dos alunos do 1 ano, tendo sido acompanhados por uma carta de apresentao (Anexos VI e VII), onde se explicou a investigao em curso, esclarecendo o objetivo principal do estudo Conhecer as

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    26

    expectativas dos Pais e Encarregados de Educao em relao escola pblica e privada.

    Neste sentido, os pais inquiridos responderam de forma pronta e generosa s questes sobre os motivos que os levaram a escolher a referida escola para o seu educando no 1 ano de escolaridade, entregando novamente os inquritos ao remetente. No entanto, notaram-se dificuldades neste processo, verificando-se inquritos que no foram preenchidos.

    Foram utilizadas duas tcnicas de recolha de dados, apresentando de seguida uma grelha com as etapas percorridas na realizao da presente investigao:

    Tabela 5: Etapas do estudo

    As entrevistas foram realizadas aos respetivos diretores das duas escolas mencionadas, sendo-lhes entregue previamente o guio da entrevista. Ambas as entrevistas foram realizadas nas instalaes das respetivas escolas.

    Tornou-se pertinente e necessrio trazer para a anlise que se segue algumas

    intervenes das diretoras de ambas as escolas, afirmaes estas que foram retiradas das

    Tcnicas Amostra Contactos Data da

    aplicao

    Anlise de dados

    Duas

    entrevistas

    Diretora da escola

    privada

    Secretria da

    Direo: Email

    Realizada dia 5 de Maio de

    2010 Anlise de

    Contedo Diretora do

    Agrupamento

    Coordenadora

    1 Ciclo: Email

    Realizada dia

    12 de Maio de

    2010

    Inquritos

    Pais dos alunos

    do 1 ano da

    escola privada

    Secretria da

    Direo: Email

    Entregues na

    escola dia 5 de Maio de 2010 Programa de

    Estatstica

    SPSS Pais dos alunos do 1 ano da

    escola pblica

    Coordenadora

    1 Ciclo: Email

    Entregues na

    escola dia 2 de

    Maio de 2010

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    27

    entrevistas realizadas. De forma a ser mais fcil a identificao das duas pessoas entrevistadas ao longo do trabalho, escolheram-se siglas para as duas diretoras, sendo:

    Diretora da escola pblica DPubl

    Diretora da escola privada DPriv

    Foram escolhidas tambm siglas para identificar os inquritos, depois de devidamente numerados, como por exemplo:

    Inqurito nmero X da escola pblica IPubl X

    Inqurito nmero X da escola privada IPriv X

    Partindo dos dados recolhidos, procedemos anlise de contedo das entrevistas sendo, segundo Esteves (2006) uma tcnica possvel para o tratamento da informao recolhida.

    Nos questionrios, utilizmos o programa de estatstica SPSS de forma a analisarmos os respetivos dados obtidos. Foi igualmente usada a anlise documental, na medida em que se foi recorrendo consulta de legislao. Quanto s questes de resposta aberta, estas foram tratadas atravs da tcnica anlise de contedo (Bardin, 1977).

    Conduziu-se a investigao baseando-me na proposta de Quivy e Campenhoudt (2005): pergunta de partida, explorao, problemtica, construo do desenho de investigao, anlise das informaes recolhidas e concluses.

    2.2. Desenho da investigao

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    28

    Hiptese Central:

    A escolha de uma escola pblica ou privada depende das expectativas parentais face ao tipo de organizao educativa.

    Enquadramento Terico - Conceptual

    Construo dos instrumentos de recolha de dados

    Entrevistas:

    - Diretor de uma Escola Pblica

    - Diretor de uma Escola Privada

    Inquritos a Pais de crianas que frequentam o 1 ano de escolaridade do Ensino Bsico:

    - Turmas do 1 ano de uma Escola Pblica - Turmas do 1 ano de uma Escola Privada

    Escolha das escolas onde aplicar os instrumentos de pesquisa

    Entrega e Recolha da Informao

    Anlise de dados: Anlise de Contedo e SPSS

    Concluses

    Pergunta de Partida:

    Quais as motivaes subjacentes escolha parental quanto Escola Pblica e Escola Privada

    Entre o Pblico e o Privado: A escolha da escola pelos

    Estado da Arte

    Tabela 6: Desenho da investigao

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    29

    2.3. Identificao da amostra

    Para este estudo foram escolhidas duas escolas, uma pblica e uma privada, ambas situadas na regio centro de Lisboa.

    A populao alvo dos inquritos das escolas em estudo referente ao nmero total de alunos a frequentar o 1 ano de escolaridade. Na escola pblica a populao de 88 alunos e na escola privada a populao de 73 alunos, sendo entregues o nmero de inquritos correspondentes aos pais. Este contato com os pais no teria sido possvel sem a colaborao das escolas, pois foi com a autorizao das respetivas direes e por intermdio dos docentes dos alunos que os inquritos, foram enviados aos Encarregados de Educao dentro de envelopes fechados. A devoluo dos inquritos decorreu de igual forma.

    Tabela 7: Amostra

    De acordo com a informao recolhida, verificou-se uma considervel diferena no nmero de inquritos devolvidos, devidamente preenchidos, pela escola pblica e privada, como podemos verificar de forma mais imediata atravs dos grficos seguintes.

    55

    69%

    25

    31%

    Inquritos Escola Pblica

    respondidos no respondidos

    30

    41%

    43

    59%

    Inquritos Escola Privada

    respondidos no respondidos

    Escolas

    Nmero total de alunos a

    frequentar o 1 ano de

    escolaridade

    Nmero de inquritos

    entregues escola

    Nmero de inquritos

    devolvidos, devidamente preenchidos

    Percentagem de inquritos devolvidos

    Pblica 88 alunos 80 55 69%

    Privada 73 alunos 73 30 41%

    Grfico 2: Inquritos devolvidos na Escola Privada

    Grfico 1: Inquritos devolvidos na Escola Pblica

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    30

    Tendo em conta o nmero total de inquritos entregues na escola pblica 80 e na escola privada 73 verificamos que os pais da escola pblica responderam de forma mais expressiva (69%) do que os pais da escola privada (41%).

    A amostra, representada por 55 pais da escola pblica e por 30 pais da escola privada, respondeu de forma annima aos inquritos, no sendo possvel saber a sua identificao. Foi com agradvel surpresa que se verificou que a maioria dos pais preencheu totalmente o inqurito em papel, dispensando algum do seu tempo e dando respostas mais extensas e relevantes. Um dos motivos para esta adeso ser, sem dvida, a boa vontade dos pais e tambm o facto de este ser um tema interessante, diretamente relacionado com os seus filhos e com a sua educao.

    2.4. Caracterizao do objeto de estudo

    As duas escolas escolhidas para realizar este estudo, acederam prontamente colaborar com a investigao. Ambas as instituies escolares encontram-se situadas na regio centro de Lisboa, estando geograficamente perto uma da outra. Este facto torna-se importante neste estudo, para que tenha igual peso na anlise, um dos principais motivos pela escolha da escola: a proximidade da escola em relao residncia e local de trabalho dos pais.

    A escola privada uma escola catlica, com mais de 70 anos de existncia, lecionando desde o pr-escolar at ao secundrio, sendo um colgio com boas infraestruturas e um espao muito abrangente situada no centro da cidade.

    A escola pblica onde se aplicou o estudo pertence a um agrupamento vertical desde o ano letivo 2007/2008, sendo uma escola tambm reconhecida pela sua histria. As instalaes do agrupamento, composto por trs edifcios, foram sujeitas a obras de recuperao em 2008/2009, disponibilizando neste momento aos seus alunos e funcionrios boas condies ao nvel das infraestruturas. "A nvel de edifcio e instalaes, que foram renovados recentemente, houve um acrescer de qualidade" (DPubl).

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    Embora o edifcio da escola bsica no se encontre no edifcio da sede de agrupamento, situa-se muito perto da sede.

    Apesar de as duas escolas lecionarem desde o pr-escolar at ao secundrio, no caso da escola pblica a insero do Jardim de Infncia no agrupamento uma situao recente, ou seja, desde 2009/2010.

    Ambas as instituies escolares oferecem uma diversidade de instalaes, de forma a fazer face aos servios e atividades que colocam as dispor dos alunos.

    Segundo a informao recolhida junto das escolas, ambas tm sala de apoio ao estudo, tendo igualmente algumas atividades. No entanto, poderemos dizer que a escola privada apresenta uma maior diversidade de atividades, como Ballet, Natao, Matemtica Divertida, Tnis, Judo, Clube de Informtica, Voleibol, Clube de Teatro, Basquetebol, entre outros.

    De acordo com a informao recolhida, so duas escolas onde as expectativas parentais so relativamente elevadas, existindo um elevado nmero de alunos a frequentar o ensino secundrio bem como um investimento claro na sua educao para futuro prosseguimento de estudos. Tal como confirmado pelas respetivas diretoras nas suas entrevistas:

    cerca de noventa e muitos por cento o que quer que os filhos vo para a faculdade, sem dvida alguma. (DPriv)

    os nossos pais aqui tm a perspetiva de os filhos irem prosseguir os estudos, investem muito na educao deles, se eles depois correspondem ou no Mas que h uma expectativa muito elevada h e no por acaso que querem esta escola e s vezes no querem outras (DPubl)

    Foram igualmente cedidas por ambas as escolas dados relativos aos alunos e funcionrios (corpo docente e no docente), de forma a podermos enquadrar melhor, quer as escolas, quer a prpria populao alvo deste estudo.

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    32

    2.4.1. Nmero de alunos:

    Escolas

    Nmero total de alunos a frequentar desde o Pr-Escolar at ao Secundrio

    Nmero total de alunos a frequentar o 1 ciclo do Ensino

    Bsico

    Nmero total de alunos a frequentar o 1 ano de

    escolaridade

    Pblica 1448 alunos 329 Alunos 88 alunos

    Privada 1424 alunos 339 alunos 73 alunos

    Tabela 8 Nmero de alunos da Escola Pblica e Privada

    Atravs do quadro podemos verificar que as duas escolas tm um nmero total de alunos muito prximo, havendo apenas uma diferena de 24 alunos, desde o Pr-Escolar at ao Secundrio. No 1 ciclo a diferena de apenas 10 alunos.

    Escolas

    Nmero de turmas Pr-

    Escolar

    Nmero de turmas

    1 Ciclo

    Nmero de turmas

    2 Ciclo

    Nmero de turmas

    3 Ciclo

    Nmero de turmas

    Secundrio

    Pblica 2 14 12 13 16

    Privada 9 12 10 14 12

    Tabela 9 Nmero de turmas da Escola Pblica e Privada

    Atravs do quadro anterior podemos visualizar a distribuio dos alunos pelas turmas, dado importante para ter uma noo da quantidade de salas de aula que so necessrias para acolher todos os educandos.

    Tendo em conta o nmero total de alunos no 1 ciclo e o nmero de turmas possvel aferir que as duas escolas tm uma capacidade a nvel de instalaes (nmero de salas) relativamente semelhante, de forma a poder receber e acomodar todos os alunos.

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    33

    2.4.2. Pessoal docente e no docente:

    O corpo docente de ambas as escolas pode considerar-se estvel h alguns anos, sendo um objetivo das escolas reter os professores que consideram ser adequados s necessidades bem como ao perfil da escola. Este objetivo mais fcil de atingir pela escola privada pois tem possibilidade de contratar diretamente os docentes. No entanto. no caso da escola pblica, embora no exista esta segurana, a maior parte dos professores pertence ao quadro de nomeao definitiva. Se considerarem, no entanto que o professor se enquadra no perfil da escola e dos alunos, existe a possibilidade de continuarem na mesma escola, como refere a DPubl se podemos reconduzir, reconduzimos, se acharmos que no vale a pena reconduzir no reconduzimos.

    Relativamente escola privada tambm se verifica a preocupao de manter um corpo docente bom e estvel, tal como confirma a respetiva diretora a grande maioria dos nossos professores so professores j c no colgio, h bastantes anos e portanto, alguns j foram professores de mes que nos procuram (DPriv)

    Escolas Nmero total de professores Nmero de

    professores do 1 Ciclo

    Nmero de funcionrios

    Pblica 136 14 31 (1 ciclo)

    Privada 127 13 108 (total)

    Tabela 10 Nmeros referentes ao pessoal docente e no docente da Escola Pblica e Privada

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    2.5. Caracterizao do meio envolvente

    As duas escolas em estudo pertencem mesma freguesia, encontrando-se implantadas num meio urbano com uma diversidade de ofertas educativas, quer a nvel de ensino pblico, quer de ensino privado.

    Esto inseridas no centro da cidade de Lisboa, numa zona onde as condies socioeconmicas dos residentes so elevadas, facto este bastante importante para o estudo em causa, tentando isentar o fator financeiro que muitas vezes decisivo para escolher uma escola privada.

    Ambas as escolas esto inseridas numa rea de pouco fluxo residencial mas com uma grande concentrao de atividades tercirias, ou seja, tendo como atividades econmicas mais abundantes, o comrcio e os servios.

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

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    Captulo 3 Apresentao e anlise de dados recolhidos atravs dos inquritos e das entrevistas realizadas na escola privada e na escola pblica Todos os instrumentos de recolha de dados, nomeadamente os inquritos (anlise quantitativa) bem como as entrevistas (anlise qualitativa), foram adaptadas aos objetos de estudo e informao que se pretende recolher, tendo como objetivo principal responder pergunta de partida:

    Quais as motivaes subjacentes escolha parental quanto Escola Pblica e Escola Privada?

    Neste sentido, nesta parte do trabalho, realizamos anlise mais focada nos resultados obtidos atravs das respostas dadas pelos pais s questes relacionadas com a escolha da escola para os seus filhos e importncia atribuda a esta fase das suas vidas. Em simultneo, analisamos os testemunhos presentes nas duas entrevistas realizadas s diretoras de ambas as escolas, elaborando assim um estudo mais completo e que tenha em conta as duas perspetivas.

    Num primeiro momento far-se- uma caracterizao da amostra, analisando os seguintes aspetos: idade, profisso, local de residncia/proximidade da escola, agregado familiar e habilitaes literrias.

    De seguida, iremos analisar as preocupaes e as expetativas parentais, mencionando as razes que levaram cada pai e me a escolher a escola do seu filho, trazendo tambm para a anlise a opinio da direo das escolas.

    Num terceiro momento, faremos uma anlise do grau de satisfao dessas expetativas, verificando se estas foram ou no atingidas.

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    36

    3.1. Caracterizao da amostra

    3.1.1. Idade

    Na escola pblica em anlise, verificamos uma percentagem significativa de mes com 40 anos. Os pais encontram-se maioritariamente entre os 37 e os 42 anos de idade, existindo uma grande percentagem de mes com 40 anos de idade.

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    27 29 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 50 55 58

    Idade Pai

    Idade Me

    Grfico 3: Idade dos pais da Escola Pblica

    A idade das mes e dos pais da escola privada ronda maioritariamente os 38 e os 39 anos de idade. Sendo a percentagem maior referente aos pais com 39 anos.

    0

    2

    4

    6

    34 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49

    Idade Pai

    Idade Me

    Grfico 4: Idade dos pais da Escola Privada

  • Entre o Pblico e o Privado: a escolha da escola pelos pais

    37

    3.1.2. Profisso

    Como j referido, a investigao presente teve em conta a localizao geogrfica de ambas as escolas, localizadas na regio centro de Lisboa, pertencendo ao mesmo meio envolvente e tendo em conta as suas caractersticas. O meio envolvente de ambas as escolas caracterizado por ter como atividades econmicas maioritariamente ligadas ao comrcio e aos servios. Existe um variado conjunto de empresas, diversos organismos pblicos, onde alguns pais podero trabalhar.

    Observando o grfico da escola privada e pblica nota-se um leque variado de atividades profissionais.

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    Ac

    ess

    or

    Ac

    ess

    or

    Pe

    da

    g

    gic

    o

    Ad

    min

    istr

    ad

    or

    Ad

    vo

    ga

    do

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