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Entrevista: Marques Teixeira Investigação em Português: Co-morbilidade psiquiátrica em heroinodependentes de rua Avaliação de um modelo de educação pelos pares Actualidade: Programa de troca de seringas nas farmácias Substância em foco: Álcool Revista Mensal • 2 Euros SÓ PARA PROFISSIONAIS Agosto 2009

Entrevista: Investigação em Português · mento do toxicodependente com algumas influências de natureza contextual, sobretudo pessoas ligadas a determinado tipo de contextos específicos

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Entrevista:Marques Teixeira

Investigação em Português:Co-morbilidade psiquiátrica em

heroinodependentes de rua

Avaliação de um modelo de educação pelos pares

Actualidade:

Programa de troca de seringas nas farmácias

Substância em foco:

Álcool

Revi

sta

Men

sal •

2 E

uros

SÓ PARA PROFISSIONAISAgosto 2009

EDITORIAL 3

É de Pessoas que falamos…

Sou de uma geração que falava dos “droga-dos” como se estes fossem uns delinquent-es, culpados de todo o mal que a sociedade vivia. Uma Geração em que o senso comum tinha um discurso baseado na moral e nos bons costumes. Consumir drogas era um mau comportamento, era um vício que causava nefastos danos para a sociedade. Os consumidores de droga eram indi-víduos de mau carácter as ovelhas negras da sociedade e drogavam-se porque queriam.Quem não se recorda dos Slogans “ Droga, Loucura e Morte” ou a “Droga Mata.” Durante muitos anos o consumo de drogas estava criminalizado, estava relacionado com o mundo da marginalidade. Felizmente que apesar destes conceitos moralistas, foram surgindo um punhado de técnicos de saúde preocupados com esta prob-lemática e que começaram a tentar explicar o comportamento do toxicodependente a natureza e o seu contexto, o que não quer dizer que apesar da mudança deste paradigma na sociedade a imagem do toxicodependente não seja ainda estigma-tizada. Mas, fruto dessa intervenção, podemos hoje falar de pessoas em vez de drogados. Falar também de respostas, de estudos, de formação e investigação, e até de unidades certificadas de reconhecida qualidade.Hoje, conhecemos inúmeros técnicos com elevada formação académica, laboratóri-os que estudam o “cérebro”da toxicodependência e que muito tem contribuído para modificar o nosso pensamento acerca do fenómeno da toxicodependência.Estamos a falar de pessoas e de uma doença que hoje se conhece melhor apesar da sua complexidade, e sabe-se que algumas substâncias são de difícil controlo, o que quer dizer que apesar dos reconhecidos avanços ainda não fomos capazes de resolver tudo, ainda subsistem muitas dúvidas que possam explicar as razões que levam as pessoas ao consumo e as causas para que tal se verifique.Quando falamos de pessoas falamos do investimento na qualidade e na certificação de serviços, na articulação entre o conhecimento científico e nos processos de in-tervenção, falamos na formação como forma coerente de potenciar ganhos para o cidadão e a comunidade e desta forma assegurar uma melhor informação sobre o fenómeno da droga e da toxicodependência e sobre a sua evolução sobre as difer-entes consequências do seu mau uso.Recuar no tempo, ver os conceitos do passado, e a intervenção do presente, deixa-me com uma forte esperança de que com as ferramentas de hoje a sociedade sa-berá entender que a droga não é apenas um problema dos outros, das famílias dos outros, dos filhos dos outros, mas um problema de todos nós. E temos de ser nós a saber que não existem “drogados” mas sim pessoas que como nós querem vencer este difícil combate. E hoje estou firmemente decidido a produzir um discurso racio-nal contra a corrente do discurso jurídico e moral que alguns teimam em manter sobre as drogas. È de pessoas que estou a falar.

Sérgio Oliveira

Director

FICHA TÉCNICA:

Propriedade, Redacção e Direcção:

News-Coop - Informação e Comunicação, CRL

Rua António Ramalho, 600E

4460-240 Senhora da Hora Matosinhos

Publicação periódica mensal registada no ICS

com o nº 124 854. Tiragem: 12 000 exemplares

Contactos: 22 9537144

91 6899539

[email protected]

www.dependencias.pt

Director: Sérgio Oliveira

Editor: António Sérgio

Produção Gráfica: Ana Oliveira

Impressão: Ginocar - Indústria Gráfica, Lda.

ÍndiceEditorial .................................................. 3

Revista de Imprensa ................................ 4

Entrevista | Laboratório de Neuropsicofisiologia da FPCE da UP ........................................ 10

Investigação em Português |Marques Teixeira ..................................... 14

Investigação em Português | Sandra Completo .................................... 18

Actualidade | Associação Nacional das Farmácias ............ 20

Instituição de Referência | Laboratórios Azevedos.............................. 24

Substância em Foco | Álcool .................................................... 26

Actualidade | Tudo Sobre Rodas .....................................28

Evento | Drugs, health, justice - perspectives on race-equality ......................29

Evento | Iv Fórum de Prevenção das Dependências Con-sumos de Abuso Contemporâneos ...............30

4 REVISTA DE IMPRENSA

in Diário de Notícias, 20/08/2009

in Diário de Notícias, 21/08/2009

REVISTA DE IMPRENSA 5

Demoram muito?

in Portugal Digital, 22/08/2009

in Jornal de Notícias, 24/08/2009

6 REVISTA DE IMPRENSA

in Saúde na Internet, 18/08/2009

in LUSA no Sapo, 21/08/2009

Um bom princípio...

Estimado compañero:Conjuntamente, las Sociedades Científicas que tenemos el honor de presidir: la Sociedad Científica Española de Estudios sobre el Alcohol, el Alcoholismo y las otras Toxicomanías (Socidrogalcohol), Sociedad Española de Patología Dual (SEPD) y la Sociedad Española de Toxicomanías (SET), hemos preparado un estudio con el fin de poder determinar y mejorar el grado de adherencia al tratamiento de pacientes afectos de patología dual.Para que el proyecto sea viable, y tenga unos resultados representativos de la situación actual en nuestro país, resulta necesaria tu inestimable colaboración, como profesional que trabajas con pacientes afectos de dicha patología. Por ello, quisiéramos invitarte a que nos facilites tu opinión sobre la Adherencia al Tratamiento de Pacientes con Patología Dual, a través de la encuesta que ha sido elaborada para ese fin.Con la confianza de que consideras de interés la gran importancia este estudio, agradeceríamos nos facilites tu valoración cumplimentando la Encuesta que ha sido

elaborada al efecto, y a la que puedes acceder a través de internet en los siguientes sitios web: www.socidrogalcohol.orgwww.patologiadual.eswww.setox.orgLa coordinación de esta encuesta y el análisis de los resultados, serán realizados por una agencia especializada en este tipo estudios y cuyos resultados serán presentados debidamente en diferentes congresos que sobre esta materia tengan lugar en 2010.Agradeciendo de antemano tu atención y el tiempo que dediques hacia el mejor conocimiento de este aspecto tan relevante en el tratamiento de los pacientes adictos y su adherencia a los tratamientos. Recibe un cordial saludo, Julio Bobes, Néstor Szerman, José Pérez de los CobosSocidrogalcoholSEPDSET

REVISTA DE IMPRENSA 7

in Diário de Notícias, 01/09/2009

8 REVISTA DE IMPRENSA

in Diário de Notícias, 20/08/2009

REVISTA DE IMPRENSA 9

in Correio da Manhã, 23/08/2009

10 ENTREVISTA Laboratório de Neuropsicofisiologia da FPCE da Universidade do Porto

O “cérebro” da toxicodependênciaO Laboratório de Neuropsicofisiologia localiza-se nas instalações da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Inicialmente denominado “Laboratório de Psicofisiologia”, adop-tou a nova designação em 2008 de modo a enfatizar a neurociência cognitiva como abordagem científica da equipa de investigação. O Laboratório de Neuropsicofisiologia possui meios técnicos para realizar estu-dos do comportamento humano através de medidas fisiológicas periféricas, como o ritmo cardíaco e a acti-vidade eléctrica da pele e de medidas de sistema nervoso central, como o electroencefalograma ou potenciais evocados.Apresenta-se apetrechado com dois polígrafos, duas unidade de electroencefalografia (EEG), um holter, unidades de estimulação e com um conjunto de pacotes de software de estimulação e de tratamento e análise de dados psicofisiológicos.As principais linhas de investigação em que se encontra organizado incidem sobre a toxicodependência, a esquizofrenia e o comportamento criminal.O Laboratório também presta apoio à formação pré-graduada (na leccionação de aulas práticas) e pós-graduada (tendo sido realizadas várias investigações conducentes a teses de mestrado e de doutoramento).Para melhor conhecermos esta fonte de conhecimento sobre o fenómeno, entrevistámos um dos seus “cére-bros”, Marques Teixeira.

Em que medida será legítimo afirmar que a ciência modifica o nosso pensamento acerca da toxi-codependência?Marques Teixeira (MT) – Trata-se de uma questão interessante e que poderá ser respondida através de um percurso sobre a história deste laboratório, o Laboratório de Neuropsicofisiologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Inicialmente, quando arrancou, em 1983, era apenas um laboratório de Psicofisiologia, tendo abarcado um grande desafio. O discurso que, então, havia em Portugal e até noutros países europeus sobre as drogas era um discurso moralmente matizado e recheado de ideias do senso comum. Consumir drogas era um mau comportamento e o desafio que tínhamos consistia em tentar encontrar explicações para esse tipo de comportamento, partindo da análise sistemática de dados segundo o método científico.. Foi esse o desafio que nos orientou desde então, cujo resultado foi não só a produção de conhecimento científico sobre este tipo de comportamento, como à elaboração de um modelo explicativo, que designamos por “modelo neuro-emocional do consumo de drogas” que hoje orienta, no plano teórico, toda a investigação feita neste laboratório sobre as drogas. . Deste modo, acho que contribuímos para a mudança do olhar sobre as drogas em Portugal. Para além da termos feito recair um olhar científico sobre o fenómeno, centrado nos mecanismos cerebrais implicados neste comportamento, também fizemos incidir um olhar clíni-co, o que nos levou a considerar que a toxicodependência é um comportamento complexo, que em algumas circunstâncias se enquadra em comportamentos patológicos…

O que nos remete para a velha questão sobre se será ou não a toxicodependência uma doença…MT – Pois… Algumas manifestações de comportamento dos toxicodependentes são doença e outras não. De qualquer maneira, hoje temos ideias mais claras sobre estas diferenças. Em síntese, hoje temos um discurso muito mais racional sobre as drogas, em resultado de toda a produção da investigação científica ao longo destes 20 anos.

E nessa perspectiva mais moralista pensava-se que os toxicodependentes apenas se drogavam porque queriam…MT – Porque queriam, porque tinham mau carácter, porque eram as ovelhas negras da população normal. Havia já um discurso muito forte que era o discurso social, com algumas tentativas de explicar o comporta-mento do toxicodependente com algumas influências de natureza contextual, sobretudo pessoas ligadas a determinado tipo de contextos específicos ou que cresceram com grandes traumatismos. Mas, inicialmente, era mesmo: drogas-te porque és um mau tipo…

Em que medida contribuiu o estudo do cérebro para a alteração desse paradigma e para um en-tendimento mais pragmático da toxicodependência?MT – O estudo do cérebro foi um avanço grande e deve-se muito a Nora Volkow, que desenvolveu um excelen-te programa de investigação sobre o cérebro dos toxiciodependentes. E nós próprios, durante muitos anos, fomos o único centro que se dedicava à investigação biológica da toxicodependência, incluindo naturalmente o Cérebro. A premissa era simples: a droga actua através do cérebro, logo este deve ter um papel importante. Os efeitos comportamentais da droga manifestam-se porque a substância actua no cérebro. Então, é preciso perceber como actua, o que faz com que haja uma necessidade crescente das drogas e o que se passa no cé-rebro. O conhecimento do cérebro afigurava-se, na altura, como o conhecimento do órgão fundamental a partir do qual a substância modificava o comportamento e introduzia um determinado tipo de relações no mesmo. Era uma investigação difícil porque os paradigmas que dominavam a explicação da toxicodependência nada tinham a ver com biologia. Eram paradigmas ligados à psicodinâmica, por exemplo à psicanálise, que tentava explicar a toxicodependência de outra forma; os paradigmas sociais, o paradigma jurídico – repare que, no início, o tratamento dos toxicodependentes se situava no âmbito do ministério da justiça e só muito mais tarde passou para o ministério da saúde, o que revela, de alguma forma, a evolução dos paradigmas explicativos, da passagem de um comportamento desviante no sentido jurídico do termo para um comportamento da saúde, patológico. Portanto, o conhecimento e a explicação do fenómeno através dos efeitos sobre o cérebro dos toxicodependentes foi importante para trazer ainda mais racionalidade ao discurso.

Sendo uma doença do cérebro, poder-se-á concluir que se pode tratar, apesar de normalmente os toxicodependentes terem uma certa relutância em seguirem um tratamento?MT – É certamente uma doença que conhecemos melhor… Agora, pode não ter um tratamento completo… Sabemos hoje, por exemplo, que existem algumas substâncias que não conseguimos controlar completamen-te. Nós conseguimos controlar a necessidade dos opiáceos com antagonistas mas, por exemplo, em relação aos excitantes como a cocaína ou as anfetaminas ainda não conseguimos ter nenhum tipo de tratamento

Marques Teixeira

Um investigador de-senvolveu outra teoria interessante, o modelo da sensibilização à heroína, que dizia que havia indivíduos que, só com um consumo ficavam para toda a vida sensibilizados para a heroína, numa espécie de reacção imu-nológica.

Laboratório de Neuropsicofisiologia da FPCE da Universidade do Porto ENTREVISTA 11

eficaz a não ser o todo tratamento mais de natureza psicológica… Ainda não conseguimos resolver tudo. Conseguimos explicar e, de alguma forma, tentar dar sugestões para a prevenção, o que constitui um aspecto importante.

Fruto desse trabalho de produção científica com base na investigação, são mais as respostas ou as dúvidas acerca da génese da causa da toxicodependência no indivíduo?MT – Existem muitas dúvidas! Ainda está por resolver a questão da galinha e do ovo… Eu considero que a principal variável que leva ao início do consumo é a curiosidade. Uma curiosidade aguçada pela disseminação social, pelos ritos de passagem da puberdade para a adolescência ou para a idade adulta. No entanto, isso não é suficiente para explicar que alguém que tenha curiosidade e que experimente drogas, fique “agarrado” às mesmas. Para isso é preciso haver outras vulnerabilidades. Aquilo que sabemos é que há alguns sujeitos cujos cérebros apresentam formas de funcionamento que são mais vulneráveis do que outras. E também sabemos que essa vulnerabilidade tem alguma explicação genética.

No processo de investigação que está a realizar, estudou também os efeitos nocivos das drogas?MT – Um dos principais efeitos secundários a nível comportamental é também objecto do nosso estudo… O consumo de drogas não é hoje criminalizado mas foi-o durante muitos anos e quem quer adquirir droga tem que entrar no mundo da marginalidade. Sabemos que muitas consequências comportamentais do consumo de drogas se produzem a partir do comportamento desviante, da entrada na marginalidade e isso constitui também objecto do nosso estudo. Nós estudamos formas do comportamento desviante, algumas delas asso-ciadas à droga, outras não. Este laboratório tem essa componente. Quanto a efeitos no organismo, é algo de que não nos ocupamos muito. Esse é um objecto mais específico de outros grupos portugueses que estudam este fenómeno. Nós preocupamo-nos mais com o comportamento (naturalmente mediado pelo cérebro) e as consequências dos consumos sobre o mesmo.

É uma doença mental?MT – Não! A toxicodependência não é uma doença mental. Algumas consequências do consumo de drogas vêm na classificação internacional das doenças, que são perturbações decorrentes do abuso de substâncias. Alguns exemplos há que, por exemplo, do ponto de vista psiquiátrico são muito importantes, como as cha-madas “falsas bipolares”. Eu tenho encontrado muitos doentes que vêm com um diagnóstico de perturbação bipolar e o que realmente têm é uma “falsa bipolar”. São doentes que simulam uma alternância maníaco-depressiva em razão dos ritmos de consumo de excitantes, entre eles a cocaína. Algumas das pessoas que fazem estes consumos acabam por ficar doentes, ou com crises agudas de ansiedade, de pânico ou pertur-bações associadas e há, isso sim, uma grande comorbilidade associada aos consumos. Portanto, consumir drogas não é propriamente uma doença. Há, por um lado, uma grande comorbilidade associada e, por outro, algumas perturbações como, por exemplo, o síndrome de abstinência ou os efeitos tóxicos das drogas, que constituem consequências e que, neste caso, poderá representar uma doença grave que poderá, mesmo, resultar em morte.

Depois de um significativo percurso evolutivo acerca do entendimento da toxicodependência, já temos hoje a desejada abordagem ao fenómeno apenas centrada em evidências científicas, sem lugar para voluntarismos?MT – Não se pode hoje admitir voluntarismo, amadorismo ou mesmo o bom senso para tratar uma pertur-bação tão complexa. Os tratamentos e as diferentes estratégias da intervenção devem ser todas baseadas na evidência. Não há outra hipótese. Isso significa que têm que ser baseadas em estudos controlados que verificaram a sua eficácia, no sentido de verificar se, de facto, aquele tratamento é o melhor para aquela perturbação e de perceber as relações entre custo e benefício, se este tratamento custa muito para os efeitos que vai ter. E há que ter em conta que, de todas as pessoas que experimentam drogas, apenas cerca de 10 por cento necessitarão de tratamento. Um grande número de pessoas teve um contacto com drogas nalgum momento da sua vida. Dessas, algumas não fazem mais do que consumos recreativos, o que não é proble-mático; outras, passaram a ser abusadoras de drogas, o que poderá revelar-se ou não problemático; e outras passaram a ser toxicodependentes. E estes é que são os problemáticos. Se pegarmos neste universo todo e constatarmos quais são os toxicodependentes verificaremos que não andarão longe dos 10 por cento.

O que é a prevençãoMT – Prevenir significa evitar a probabilidade de ocorrência de um comportamento futuro. A prevenção de situações comportamentais é muito complicada porque não temos ainda verdadei-ros predictores de comportamentos. Não conseguimos dizer que se este factor estiver presente conduzirá a este comportamento. Ainda hoje dizemos que o melhor predictor do comportamento é o próprio comportamento. É conhecendo a história, o sujeito, a repetição de comportamentos, uma certa estereotipia ou pelo menos alguns padrões comportamentais, que nos permitem, probabilisticamente pensar que se houver uma situação daquele género ele poderá repetir aque-le comportamento. Portanto, é muito difícil elencarmos um conjunto de variáveis, ao ponto de dizermos que se estiverem presentes num determinado indivíduo podem induzir um comporta-mento.Até porque se tal acontecer noutro indivíduo poderá induzir outro tipo de comportamento. Daí a dificuldade da prevenção neste sentido mais individual mais dirigido para o sujeito. Outra dificuldade da prevenção: o efeito de uma campanha só é passível de ser avaliado cerca de uma década depois. Há um efeito diferido entre a acção que hoje se faz e os seus resultados, o que significa desde logo a dificuldade em avaliar o efeito e em convencer o investidor a fazê-lo. Depois, há tantos factores no meio que é difícil dizer, dez anos depois, que este efeito resultou da-quela acção. Ao longo da história da prevenção do consumo de drogas houve várias campanhas, desde a do Antigo Regime, Droga, Loucura e Morte, até campanhas mais soft que depois se rea-lizaram; houve alguns estudos, alguns dos quais realizados aqui, pelo Professor Jorge Negreiros, que sugeriram que algumas dessas campanhas, que pretendiam prevenir, mais não fizeram do que agudizar ainda mais o interesse. Mas tudo tem que ser validado cientificamente sob pena de não termos argumentos para reinvindicar dinheiro para a investigação…

A investigação é tão só o que distingue os países desenvolvidos dos não desenvolvidos. E não é só pelos recur-sos, mas também pelo papel que atribuem à investigação científica.

12 ENTREVISTA Laboratório de Neuropsicofisiologia da FPCE da Universidade do Porto

E a investigação, é encarada em Portugal como um custo?MT – Sim… Em Portugal e em todo o lado… A investigação não tem efeito imediato. Há uma décalage entre os resultados da investigação e a sua aplicação prática. Portanto, o investimento que se realiza hoje vai ter um impacto visível na economia e em termos sociais a longo prazo. E isso leva, por vezes, a pensar-se que a investigação é sobretudo uma despesa. Mas também se sabe que a investigação é tão só o que distingue os países desenvolvidos dos não desenvolvidos. E não é só pelos recursos, mas também pelo papel que atribuem à investigação científica.

Apesar de ter referido a mudança do paradigma reinante na sociedade acerca da imagem do toxicodependente, ainda hoje se sentem muitos focos de estigmatização. Que motivos sustentam um investimento em investigação nesta área tão problemática?MT – É por isso mesmo, por ser problemático (risos)… Nalgum tipo de investigação, a toxicodependência aparece-nos justamente como um objecto ideal porque, não sendo completamente patológico, ou seja, sen-do um comportamento desviante mas não necessariamente patológico, tocando em algumas circunstâncias na marginalidade e todas as questões comportamentais concomitantes, tocando nalguns casos no desvio patológico e na patologia comportamental, mental ou física e tendo, naturalmente, muito que ver com todos os aspectos relativos aos paradigmas sociais e culturais, é o objecto que toca em praticamente todas estas vertentes. É o objecto ideal, por exemplo, para desenvolvermos investigação no âmbito do paradigma biopsi-cossocial. E assim fizemos durante muitos anos, em que nós, Laboratório, estávamos associados ao Centro de Ciências do Comportamento Desviante, que tinha a droga, por exemplo, como objecto de estudo e que tinha uma equipa que olhava a droga sob o ponto de vista psicológico e outra sob o ponto de vista da ecologia social; nós incidiamos o nosso olhar sob o ponto de vista biológico. E no fim produzíamos um discurso que tentava compreender este fenómeno de uma forma abrangente, transdisciplinar.

Falou na diferença existente entre o uso e o abuso das drogas… Pergunto-lhe o que diferencia as legais das ilegais…MT – Sob o ponto de vista clínico, se quiser, não há nenhuma diferença. Não existe essa diferença na clínica. As drogas produzem efeitos bons e maus. Bons: o prazer, a analgesia; Maus: as consequências desse consu-mo (dependência, tolerância, etc.). Sob o ponto de vista dos efeitos, não estou a ver em que medida será mais danoso o consumo de haxixe do que o de álcool, por exemplo. Há 20 anos atrás, as pessoas que consumiam álcool e as que consumiam haxixe eram completamente diferentes e havia uma separação entre os tipos de pessoas que consumiam estas duas substâncias apesar de terem efeitos muito semelhantes…

Será o haxixe uma droga significativamente prejudicial para o cérebro?MT – Todas as drogas, em excesso, prejudicam o cérebro. Há uma teoria interessante, que sustenta que temos uma via comum, no cérebro, para o efeito de todas as drogas e que todas as drogas actuam estimu-lando essa via, a chamada via do reforço intracerebral. Seja o álcool, o haxixe, a heroína, a cocaína, o que for, todas essas substâncias actuam da mesma maneira, estimulando essa via. Sendo isto verdade, e há alguma sustentação para isso, podemos de alguma forma dizer que todas as drogas têm um efeito sobre o cérebro e, de alguma forma, o efeito aditivo, que é o mais negativo que podem ter.

No tratamento destas dependências assiste-se muitas vezes a resultados que não são muito claros face, sobretudo, a possíveis recaídas. Estará sempre presente a prevenção da recaída, enquanto preocupação fundamental dos técnicos e profissionais de saúde que intervêm na prevenção se-cundária?MT – A recaída deve ser prevenida desde o primeiro momento. Actualmente, não me debruço muito sobre a investigação ligada à prevenção, mas uma das coisas que se dizim e que ainda hoje se diz é que a prevenção, o tratamento e a reabilitação são momentos que não devem sersequenciais, mas sim simultâneos. Quando estou a tratar, tenho que estar simultaneamente a prevenir e a reabilitar. A recaída é um sintoma que faz parte do quadro. É impossível traçar o tratamento do toxicodependente sem uma recaída, portanto, não há que dramatizar. Por vezes, o problema é precisamente esse: o dramatismo, muitas vezes, com que a família o encara. A recaída faz parte do percurso. O que é preciso é que esta entre no plano do tratamento como outro sintoma qualquer e ser trabalhado nesse sentido.

Por que é que só algumas pessoas consomem drogas?MT – Não sei…

E se o consumo faz com que as pessoas se sintam bem, qual é afinal o problema?MT – O problema é que, a seguir, sentem-se mal. Mas há alguns estudos interessantes, sobretudo com hero-ína, em indivíduos cujos primeiros consumos eram horríveis, com vómitos, cheios de efeitos negativos e que,

Temos uma via co-mum, no cérebro, para o efeito de todas as drogas e que todas as drogas actuam esti-mulando essa via, a chamada via do reforço intracerebral. Seja o álcool, o haxixe, a he-roína, a cocaína, o que for, todas essas substân-cias actuam da mesma maneira, estimulando essa via.

Laboratório de Neuropsicofisiologia da FPCE da Universidade do Porto ENTREVISTA 13

mesmo assim, continuavam a repetir o consumo… O que significa que a repetição do consumo não se fazia exclusivamente por efeitos hedónicos da heroína, mas sim por algum tipo de adição que, mesmo em doses muito pequenas, em algumas personalidades vulneráveis, poderia funcionar. Um investigador desenvolveu outra teoria interessante, o modelo da sensibilização à heroína, que dizia que havia indivíduos que, só com um consumo ficavam para toda a vida sensibilizados para a heroína, numa espécie de reacção imunológica. Isto para dizer que não é verdade que seja só o efeito hedónico que provoca isso. De facto, há indivíduos que, não tendo esses efeitos, continuam a consumir e ficam “agarrados”.

A investigação que estão a desenvolver incide também sobre factores de risco associados?MT – Uma das investigações que se fez aqui tentava explicar se o cérebro do toxicodependente tinha alguma organização diferente do cérebro do não toxicodependente, o que constituiu na altura a minha tese de douto-ramento. Isso visava tentar encontrar um factor de risco. Ou seja, se eu definisse à partida uma diferença or-ganizativa entre o cérebro do toxicodependente versus o cérebro dos sujeitos de controle e se a conseguisse padronizar e identificar, podia definir um conjunto de indivíduos através desse padrão como sendo indivíduos em risco. A melhor maneira para se indicar intervenções precoces. Esta é uma das formas de poder estudar o risco, não no sentido clássico dos factores de risco, mas definir vulnerabilidades de natureza biológica que se-jam identificáveis. Se fosse possível identificar indivíduos em risco perante estes padrões, estes poderiam, por exemplo, estar sujeitos a uma maior vigilância. Nesta medida, também fazemos investigação sobre o risco.

O consumo continuado é um comportamento voluntário ou uma necessidade?MT – O consumo crónico é um consumo compulsivo quase… Não é voluntário, é uma necessidade biológica que visa manter o novo equilíbrio que a droga introduziu no cérebro.

Existe algum factor determinante que leve a que um ser fique dependente de uma droga?MT – A existência de um cérebro e de substâncias que activam as vias de reforço intracerebral são as condi-ções mínimas que algum ser fique dependente de drogas.

A Investigação em PortugalMT – Felizmente, a Investigação em Portugal está melhor… Está a melhorar, lentamente. Portu-gal não é um dos países modelo na Europa em matéria de investigação. Creio que a Inglaterra será o país mais desenvolvido a esse nível. Mas Portugal está a melhorar… Agora, eu sei falar sobre o estado da investigação aqui neste “cantinho” do Porto… Este Laboratório nasceu há 26 anos, não com o formato que possui hoje, mas que daí decorreu. Na altura, nasce com o objectivo de produzir um discurso racional, contra a corrente do discurso jurídico-moral que havia sobre as drogas. E penso que fomos os primeiros a produzir isso em Portugal. O Labo-ratório inseria-se num projecto mais amplo, o Centro do Comportamento Desviante, dirigido à altura pelo Professor Cândido Agra e que contava comigo, com o Professor Luís Fernandes e o Professor Jorge Negreiros. Entretanto, o Laboratório foi-se autonomizando, evoluindo, e hoje estamos organizados em linhas de investigação. São, essencialmente, duas grandes linhas: uma, que chamamos investigação fundamental, que é esta Investigação Laboratorial; e outra, a que chamamos Investigação Aplicada, mais dirigida à clínica. Não trabalhamos apenas na área das drogas, mas igualmente na área do comportamento criminal, até porque o nosso objecto, o comportamento desviante, é mais amplo, incluindo então as drogas, com o crime por um lado e a patologia mental por outro. No que respeita às drogas, temos uma linha de investigação designada Biologia do Comportamento Toxicodependente e temos um modelo de-senvolvido, em que as várias investigações vão aparecendo e sendo encaixadas e alinhavadas nas respectivas linhas. Nessa linha da Biologia do Comportamento Toxicodependente estamos a privilegiar um modelo que é a neuropsicofisiologia dos processos emocionais do toxicode-pendente. Estudamos o modo como funcionam no toxicodependente quer as emoções, quer as cognições. Neste modelo pretendemos perceber as relações existentes entre os processos cognitivos e os processos emocionais que possam explicar que haja algum tipo de organização cerebral que justifique a manutenção do comportamento do toxicodependente. Estamos mais preocupados com a manutenção do comportamento do que propriamente com o seu início. Para isso, estamos a usar uma medida, os potenciais evocados cognitivos, medidas muito fiá-veis, em algum sentido mais fiáveis até que o PET, com análises temporais mais apuradas so-bre o processamento da informação no cérebro. Analisamos esse processamento até aos 400 milissegundos após a aplicação de um estímulo e tentamos perceber como o cérebro processa diferentes estímulos, comparando isto entre o cérebro de toxicodependentes, naturalmente não intoxicados na altura do exame, com o cérebro de controles. No domínio da Investigação Aplicada, estamos a produzir investigação sobre a avaliação das consequências dos consumos de drogas – uma delas é o défice cognitivo. Não há dúvida de que, sobretudo os consumidores crónicos, têm défices maiores de algumas funções cognitivas comparativamente com os con-trolos (défice de atenção, memória, concentração…) Uma das preocupações, que corresponde a uma linha de investigação, consiste em avaliar esse défice em indivíduos com patologia dupla – doença mental e consumo de drogas. A intenção desta linha de investigação é permitir que se faça uma escolha criteriosa dos vários planos de intervenção e de reabilitação psicossocial destes indivíduos. Em função da definição do padrão de défice cognitivo destes doentes, tentar propor aos clínicos as linhas de remediação mais adequadas. Na Biopsicologia do Comporta-mento Aditivo, por exemplo, desenvolvemos dois projectos de investigação sobre organização cerebral nos toxicodependentes que nos forneceu dados para desenvolvermos um modelo que designamos Modelo Neuropsicofisiológico do Consumo Crónico de Drogas e que foi plasmado em cinco publicações e que deu origem a um projecto, desenvolvido sob o subsídio da Funda-ção Damião de Góis, aquele que constituiu o primeiro fundo para investigação sobre drogas em Portugal, concedido ao nosso Departamento já em 1985. Uma investigação que se chamava A Toxicodependência e a Auto-Organização. Desde então, nunca mais parámos…

O estudo do cérebro foi um avanço grande e deve-se muito a Nora Volkow, que desen-volveu um excelente programa de investiga-ção sobre o cérebro dos toxiciodependentes. E nós próprios, durante muitos anos, fomos o único centro que se de-dicava à investigação biológica da toxicode-pendência, incluindo naturalmente o Cé-rebro. A premissa era simples: a droga actua através do cérebro, logo este deve ter um papel importante.

14 INVESTIGAÇÃO EM PORTUGUÊS Marques-Teixeira e Pastor-Fernandes

Co-morbilidade psiquiátrica em heroinodependentes de ruaOs estudos de co-morbilidade psiquiátrica em toxicodependentes têm tido ampla divulgação, especial-mente em populações que recorrem a centros de atendimento especializados. Contudo, verificamos que determinadas populações de toxicodependentes, como sejam os de carreira e de rua, não têm sido devidamente estudados nem têm tido a necessária atenção no que diz respeito à co-morbilidade de perturbações psiquiátricas. Sabemos que os estudos realizados com diversas populações de toxicode-pendentes indicam taxas de co-morbilidade psiquiátrica que poderemos considerar elevadas, entre os 50% e os 70%, consoante os estudos (Herrman et al., 1989; Regier et al., 1990; Mueser et al., 1998; Dixon, 1999). Nos estudos que utilizaram o BSI (Derogatis, 1971) para avaliação dos sintomas psicopatológicos, foram encontrados prevalências elevadas nas dimensões “ideias paranóides” e “ob-sessivo-compulsivo” (Hervás et al., 2000). Em populações de toxicodependentes de rua (sem-abrigo) e com histórias longas de consumo de drogas, não há estudos de comorbilidade utilizando o BSI. En-contramos, no entanto, um estudo de Tessler e Dennis (1989, cit in Drake et al, 1991) referências a taxas de 10% a 20% de indivíduos sem-abrigo que são dualmente diagnosticados com doença mental grave e problemas de abuso de drogas ou álcool. O trabalho que aqui apresentamos foi realizado na Unidade de Perturbações Aditivas do Centro Hospitalar Conde Ferreira e tem como objectivos: a) avaliar a prevalência da co-morbilidade psiquiátrica nos toxicodependentes de rua na cidade do Porto, e b) definir perfis sintomáticos e de mal-estar psicológico nesse toxicodependentes.

Material e Métodos

ObjectivosAvaliar a prevalência da co-morbilidade psiquiátrica nos toxicodependentes de rua da cidade do Porto.Definir perfis sintomáticos e de mal-estar psicológico em toxicodependentes de rua.

DesenhoO estudo foi realizado na Unidade de Perturbações Aditivas do Centro Hospitalar Conde Ferreira – Porto. Trata-se de uma unidade que desenvolve a intervenção médica e psicológica de um programa comunitário de reabilitação e reinserção de toxicodependentes de carreira e de rua.É um estudo transversal, que inclui alguns dos indivíduos que frequentam o referido programa (164 heroi-nodependentes) e que foram observados no período pós-desintoxicação, quando estavam em tratamento ambulatório, ao longo do ano de 2003. Utilizando um sistema de amostragem consecutiva, a observação consistiu de (1) entrevista estruturada, com o objectivo de proceder à caracterização sóciodemografica e da história de consumo de substâncias psicoactivas, e (2) administração do Brief Symtom Inventory (BSI) (Derogatis, 1975), para avaliação de sintomatologia psicológica.

Marques-Teixeira JUniversidade do Porto

Porto, Portugal

Pastor-Fernandes RUnidade de Investigação em Saúde Mental e PsiquiatriaCentro Hospitalar Conde de

FerreiraPorto, Portugal

Marques-Teixeira e Pastor-Fernandes INVESTIGAÇÃO EM PORTUGUÊS 15

Instrumentos1. Entrevista Estruturada, que permite aceder a dados sóciodemograficos, história de consumos de subs-tância psicoactivas, tratamentos anteriores para toxicodependentes e história de saúde.2. BSI (Derogatis, 1975), medida multidimensional de mal-estar psicológico e somático, usada para ob-ter perfis sintomáticos detalhados. Trata-se de uma forma abreviada (53 itens) do SCL-90-R (Derogatis, 1983), com adaptação para a população portuguesa (Canavarro, 1995).O BSI apresenta as seguintes dimensões sintomáticas: Somatização; Obsessivo-Compulsivo; Sensibilida-de Interpessoal; Depressão; Ansiedade; Hostilidade; Ansiedade Fóbica; Ideação Paranoide e Psicoticismo. Para além destas dimensões foram constituídos três Índices Globais: IGG – Índice Global de Gravidade, indicador da reposta do nível de mal-estar experimentado pelo indivíduo; ISP – Índice de Sintomas Positi-vos, medida de intensidade do nível de mal-estar, informando sobre o estilo de resposta de mal-estar; e TSP – Total de Sintomas Positivos, amplitude do mal-estar emocional do indivíduo.

VariáveisVariáveis sóciodemograficas: sexo, idade, escolaridade e situação profissional.Variáveis ligadas ao consumo de drogas: tempo de consumo, via de administração e tratamentos ante-riores.Variáveis dependentes: pontuações directas obtidas nas nove dimensões sintomáticas do BSI e resultado do ISP.

Resultados

Características da amostraAs características da amostra são apresentadas no Quadro 1. Após análise dos resultados do BSI, par-ticularmente do Índice de Sintomas Positivos (ISP), a amostra (N=164) foi dividida em dois grupos. Os indivíduos que apresentam um ISP>1,7 (ponto de corte critério de perturbação psicológica (Canavarro, 1995) constituíram o grupo experimental (n=87; 53%da amostra inicial) e os indivíduos com ISP<1,7 constituíram o grupo de controlo (n=77; 47% da amostra inicial).Os indivíduos do grupo experimental apresentam uma idade média de 35,4 anos; maioritariamente do sexo masculino (87,4%); com 13,87 anos de consumo, em média; via de administração endovenosa em 62,7% dos casos; com frequência escolar entre 1 e 6 anos (81%) e taxa de desemprego de 97,5%. Em termos de tratamentos anteriores, 30,6% nunca tinham efectuado qualquer tratamento para a toxicode-pendencia.O grupo de controlo tem características muito semelhantes ao grupo experimental, apenas diferindo significativamente quanto à escolaridade (62% tem entre 5 e 9 anos de escolaridade).

Quadro 1: Características da amostra

Grupo experimental (n=87) Grupo de controlo (n=77)

Idademédia (anos)dp

35,416,62

33,05,06

Sexomasculinofeminino

87,4%12,6%

97,3%2,7%

Escolaridadesem1 a 4 anos5 a 6 anos7 a 9 anos10 a 12 anos

1,4%52,1%28,8%13,7%4,1%

0%33,8%25,0%36,8%4,4%

Situação Profissionalempregadodesempregadobaixa médicareformado

0%97,5%1,3%1,3%

1,5%95,5%3,0%0%

Tratamentos Anterioressimnão

69,4%30,6%

81,0%19,0%

Tempo de Consumomédia (anos)dp

13,875,43

13,8213,0

Via de AdministraçãoIVoutra

50,0%50,0%

62,7%37,3%

Os estudos indicam taxas de co-morbilidade psiquiátrica alta (entre 50-72%)(Herrman et al., 1989; Regier et al., 1990; Mueser et al., 1998; Dixon, 1999)

Os estudos que utiliza-ram o BSI (Derogatis, 1975) indicam alta prevalência nas dimen-sões ideias paranóides e obsessivo-compulsivo(Sanchex Hervas et al., 2000)

Em populações de toxi-codependentes de rua (sem-abrigo) não há estudos de comorbilida-de com a utilização do BSI

16 INVESTIGAÇÃO EM PORTUGUÊS Marques-Teixeira e Pastor-Fernandes

Co-morbilidade psiquiátrica

Os resultados obtidos nas 9 dimensões sintomáticas do BSI são apresentadas no Gráfico 1. À excepção da dimensão Sensibilidade Interpessoal, todas as dimensões do BSI apresentam diferenças altamente significativas (p<0,0001) ao comparar-se o grupo experimental com o de controlo.

GRÁFICO 1

No Gráfico 2 são comparadas as médias dos Índices Gerais por grupo, verificando-se que o grupo expe-rimental apresenta valores significativamente superiores relativamente ao IGG.

GRÁFICO 2

Mais de metade (53%) desta população apresenta indicadores de mal-estar psicológico (ISP > 1.7).

O sub-grupo com sintomatologia psiquiátrica apresenta valores significativamente superiores do IGG.

Marques-Teixeira e Pastor-Fernandes INVESTIGAÇÃO EM PORTUGUÊS 17

O Quadro 2 resume a distribuição das dimensões sintomáticas do grupo experimental, utilizando o critério de valores superiores a 1 na escala do BSI (tipo Likert).As dimensões psicopatológicas mais representadas no grupo experimental são os sintomas obsessivo-compulsivo, os sintomas depressivos, as ideias paranóides e a hostilidade.

Quadro 2: Distribuição das dimensões de co-morbilidade psiquiátrica no grupo experimental

n %

Obsessivo-Compulsivo 26 29,5

Depressão 16 18,8

Ideação Paranóide 13 14,8

Hostilidade 12 14,0

Psicoticismo 11 12,6

Somatização 7 8,0

Ansiedade 6 7,1

Ansiedade Fóbica 3 3,4

Sensibilidade Interpessoal 0 0

Conclusões e Discussão

Os resultados obtidos no nosso estudo, à semelhança dos diversos estudos de prevalência de co-morbili-dade psiquiátrica já citados (Herrman et al., 1989; Regier et al., 1990; Mueser et al., 1998; Dixon, 1999; Tessler e Dennis, 1989, cit in Drake et al, 1991), revelam uma prevalência de indicadores de mal-estar psicológico (ISP>1,7) de 53%. Verificamos também que o grupo com sintomatologia psiquiátrica (grupo experimental) apresentam valo-res significativamente superiores no Índice Global de Gravidade (IGG). Este grupo, ao apresentar valores superiores em todas as dimensões sintomáticas do BSI, com a excep-ção da Sensibilidade Interpessoal, afirma-se claramente como um grupo caracterizado por toxicodepen-dentes (heroinodependentes) com co-morbilidade psiquiátrica e que, de acordo com as dimensões psi-copatológicas mais representadas no estudo, podem ser duplamente diagnosticadas com perturbações obsessivo-compulsivas, depressivas, paranoides e de hostilidade. Relativamente às prevalências elevadas nas dimensões ideias paranoides e obsessivo-compulsivo os resultados encontrados no nosso trabalho coincidem com os estudos de Hervás et al. (2000), utilizando o mesmo instrumento de avaliação (BSI), numa amostra de cocainómanos. Concluímos que esta população de heroinodependentes de carreira e de rua, que encontramos nas ruas da cidade do Porto, apresenta uma prevalência alta de co-morbilidade psiquiátrica, com níveis de stresse elevados, o que nos remete para a necessidade de desenvolver e implementar estratégias clínicas espe-cíficas para atender à co-morbilidade associada a este tipo de toxicodependentes.

O grupo com sintomatologia psiquiátrica apresenta valores superiores em todas as dimensões do BSI, excepto na dimensão da sensibilidade interpessoal.

As dimensões mais representadas neste grupo são obsessivo-compulsiva, depressão, ideação paranóide e hostilidade.

18 INVESTIGAÇÃO EM PORTUGUÊS Sandra Completo

Avaliação de um Modelode Educação pelo Pares: Percepção dos Alunose dos Jovens UniversitáriosEsta investigação foi realizada no âmbito do Mestrado em Psicologia da Educação e Orientação da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, em colaboração com Lurdes Veríssimo e M. Carmo Carvalho. Foi genericamente motivado pelo interesse em contribuir para o domínio da avaliação de programas de prevenção em meio escolar, e pela oportunidade de avaliar, em particular, o “Programa Nacional de Educação pelos Pares” da Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a Sida”.Efectivamente, a implementação de programas de prevenção em meio escolar tem apresentado nas últimas décadas, e de acordo, com vários autores, um aumento significativo. Os mesmos tendem a reger-se por modelos muito distintos entre si, emergindo entre algumas opções, a referência à estratégia da Educação pelos Pares como encerrando benefícios significativos para a eficácia das intervenções ao nível da prevenção de comportamentos de risco e promoção de estilos de vida saudáveis (cf. por e.g. Ward, Hunter & Power, 1997; Turner & Shepherd, 1999; Walker & Avis, 1999; Backett-Milburn & Wilson, 2000). Não obstante, persistem ainda enormes lacunas ao nível da avaliação formal dos programas preventivos (Negreiros, 2000), razão pela qual nos pareceu pertinente e oportuno o investimento neste domínio de investigação. No nosso país, a integração da Educação pelos Pares en-quanto estratégia de prevenção em contexto escolar é recente, e tem no exemplo do referido programa da Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a Sida” uma referência digna de nota. A nossa pesquisa partiu, deste modo, das percepções dos alunos-alvo da intervenção oriundos de várias escolas do Grande Porto e dos jovens universitários-agentes de intervenção, analisando para o efeito dados de carácter qualitativo e quantitativo.

Características do “Programa Nacional de Educação pelos Pares”

Objectivos gerais: promover competências pessoais e sociais (auto-estima, auto-conceito, asser-•tividade, tomada de decisão, gestão de conflitos); prevenir comportamentos de risco, nomea-damente na área da sexualidade e uso e abuso de substâncias ilícitas; promover a adopção de estilos de vida saudáveis.Duração da Intervenção: cada grupo beneficia de uma intervenção de 3 anos (ao longo dos 7º, •8º e 9º anos de escolaridade). Em cada ano de intervenção são realizadas cerca de 10 sessões com duração de cerca de 90 minutos, em horário curricular.Agentes de intervenção: grupos de jovens universitários, supervisionados por um professor des-•tacado do Ministério da Educação. Previamente à implementação do programa, os jovens uni-versitários beneficiam de formação científica e pedagógica específicas. Prevê-se que no último ano de intervenção (9º ano), os alunos-alvo se transformem em agentes de intervenção dos seus pares (7º ano).

Sandra Marisa Completo

Formação:Licenciada em Psicologia; Mestrado em Psicologia da Educação e Orientação na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade

Católica Portuguesa.

Actividade Profissional: Psicóloga num Lar de Infân-cia e Juventude; Formadora

na ANTRAL

Email:[email protected]

Sandra Completo INVESTIGAÇÃO EM PORTUGUÊS 19

Método

Amostra e InstrumentosA amostra foi constituída por 91 alunos (Alvos) e 5 jovens universitários (Agentes) que participa-•ram no programa no ano lectivo 2007/2008. Os alunos frequentavam o 7º ano de escolaridade, estando distribuídos por 5 escolas do Grande Porto. De entre estes foram também selecciona-dos 5 alunos que, tal como na amostra de jovens universitários, responderam a uma entrevista semi-estruturada.

Foram utilizados três instrumentos para a recolha de dados: o questionário “Eu e os Outros” que •faz parte de um conjunto de instrumentos validados pelo Ministério da Educação para avaliar o programa e dois guiões de entrevista semi-estruturada (uma para os alunos e outra para os jovens universitários).

Procedimentos de recolha e análise dos dadosO questionário foi aplicado a 91 alunos antes e após a implementação do programa. As entrevis-•tas foram realizadas a 5 alunos e 5 jovens universitários no final do programa. Os dados recolhi-dos do questionário foram analisados quantitativamente através do software SPSS, enquanto que os dados das entrevistas foram tratados qualitativamente através de Análise de Conteúdo.

Resultados

QuantitativosNão se verificam diferenças muito significativas aquando da comparação dos resultados dos questioná-rios aplicados antes e após da implementação do programa. No entanto salientam-se alguns aspectos interessantes:

Os alunos apresentam uma auto-percepção muito positiva de si mesmos em ambos os momen-•tos; o mesmo se verifica em relação à percepção que consideram que os outros têm deles. Verificam-se estes aspectos através das questões do questionário “Como me vejo?” e “Como é que os outros me vêem?”, onde são encontradas percentagens muito elevadas em itens como exemplo “Alegre”; “Inteligente” e “Feliz”.

Os alunos conferem extrema importância aos amigos/grupo de pares, sendo que através dos •itens do questionário verificamos que os alunos teriam muita dificuldade em mudar de escola/amigos e têm quase sempre em conta a opinião dos amigos.

Podemos verificar que apesar de pequena, houve uma alteração positiva nas respostas dos •alunos referentes aos itens do questionário “Ajudar doentes com SIDA”; “Experimentar drogas” e “Não ter cuidados com a alimentação”. O que significa que após a intervenção é visível que alguns alunos adquiram aprendizagens relativamente a estes temas.

Após a implementação do programa é de salientar que os alunos referem de forma significativa •que “aprenderam coisas novas com os amigos”, o que remete para a relação que se criou entre os jovens universitários e os alunos.

QualitativosAlguns factores são destacados quer pelos alunos, quer pelos jovens universitários, que são per-•cebidos como essenciais para o sucesso do programa. Esses factores são o facto de os agentes de intervenção serem jovens universitários e o facto de os métodos de aprendizagem escolhidos para a administração do programa se basearem em metodologias interactivas que apelam à participação dos sujeitos. Os jovens universitários (agentes) destacaram ainda a relação que se cria devido à proximidade de idades o que na sua percepção facilitou o processo de partilha de experiências e esclarecimento de dúvidas, ao longo do programa.

Os alunos (alvos) consideraram que o programa teve um impacto muito forte para si, o que atri-•buem ao facto de perceberem as sessões como uma fonte de aprendizagem com aplicabilidade prática nos seus contextos de vida reais.

Do ponto de vista das limitações do programa referidas pelos jovens universitários (agentes), •destacam-se a desadequação dos intrumentos usados na avaliação do programa e a insuficiência da formação prévia de que são alvo.

Ambos os grupos referem que o número de sessões do programa deveria ser aumentado, uma •vez que os temas abordados beneficiariam de mais tempo na sua exploração.

Conclusões

Em jeito de conclusão, destacamos o contributo da pesquisa para um maior conhecimento sobre os benefícios esperados da utilização da Educação pelos Pares como estratégia de intervenção no contexto português. Do ponto de vista do programa em apreço, não podemos deixar de referir que existem algu-mas lacunas ao nível da planificação da avaliação do programa, na medida em que a avaliação tem em conta a implementação do programa (destina-se a fundamentar e modificar o programa) e apreciação da sua eficácia (visa determinar a sua qualidade, os seus efeitos ou resultados) (Almeida, 1990 p.20 cit in Fragoso, 2000). Como limitações deste estudo salientamos a restrição apenas ao 1ºano de intervenção, assim como a ausência de um grupo de controlo. Algumas sugestões nesse sentido seriam a inclusão de um grupo de controlo nos procedimentos de avaliação, assim como o alargamento da avaliação aos 3 anos de implementação do programa.

A implementação de programas de preven-ção em meio escolar tem apresentado nas últimas décadas, e de acordo, com vários au-tores, um aumento sig-nificativo. Os mesmos tendem a reger-se por modelos muito distin-tos entre si, emergindo entre algumas opções, a referência à estraté-gia da Educação pelos Pares como encerrando benefícios significativos para a eficácia das intervenções ao nível da prevenção de com-portamentos de risco e promoção de estilos de vida saudáveis.

20 ACTUALIDADE Associação Nacional das Farmácias

Programa de troca de seringas nas farmáciasQuando, em Outubro de 1993, o programa deu os primeiros passos o seu prazo de vigência era de apenas três meses. Um período em que foi assumido integralmente pela ANF.Mas os resultados extremamente significativos desde logo conseguidos determinaram a sua continuida-de, com o financiamento a ser, desde 1994, da responsabilidade do Ministério da Saúde, primeiro através da Comissão Nacional de Luta Contra a sida e, actualmente, da sua sucessora, a Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida.As farmácias, por acompanharem geograficamente a distribuição das populações, estão, desde o início, no centro do programa, constituindo – também pelas características do serviço que prestam – um espaço privilegiado para lidar com os seus destinatários.O programa foi sendo naturalmente adaptado à realidade, o que esteve na origem, em Dezembro de 1993, da criação de um posto móvel no bairro lisboeta do Casal Ventoso. A elevada afluência de utiliza-dores de drogas injectáveis assim o justificou.Outro posto viria a ser criado, em Novembro de 1998, no bairro da Curraleira, também em Lisboa. Ambos foram entretanto desactivados, mercê dos processos de realojamento naqueles bairros. Em funcionamen-to mantém-se o posto móvel que serve os concelhos da Amadora e de Odivelas, em parceria com as respectivas Câmaras Municipais.Outras parcerias se foram somando, nomeadamente com organizações não governamentais com activi-dade no apoio aos utilizadores de drogas injectáveis e na prevenção da sida.E em Julho de 1999, um protocolo entre os diversos parceiros, promulgado pela então ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira, reconhece o programa como cumprindo um dos objectivos do Plano Nacional de Luta contra a sida – prevenir a difusão do VIH na população consumidora de drogas por via endove-nosa – e um instrumento fundamental na redução de riscos prevista na Estratégia Nacional de Combate à Droga.O contributo das farmácias tem sido fulcral para este percurso, mas são muitas outras as estruturas e as vontades envolvidas, nomeadamente as cooperativas de distribuição farmacêutica, Codifar, Cofanor, Cofarbel, Cooprofar, Farbeira, Farcentro e União dos Farmacêuticos, os armazenistas Farmadeira e Pro-confar, a Cannon Hygiene de Portugal, empresa especializada em resíduos potencialmente perigosos que assegura a recolha dos contentores em que as seringas utilizadas são depositadas, e as 63 câmaras municipais que também colaboram na recolha desses contentores.

O sucesso do programa - mais de 43 milhões de seringas recolhidas Os resultados excederam todas as expectativas. Assim aconteceu desde o início e, ano após ano, os números demonstram que valeu a pena, que continua a valer a pena.Assim, em 15 anos, foram recolhidas 43.045.293 seringas, entre Outubro de 1993 e Dezembro de 2008.Os números espelham o sucesso do programa no que respeita ao seu objectivo mais imediato: evitar a partilha de seringas, agulhas e outro material usado na preparação de drogas injectáveis, bem como prevenir o abandono em espaços públicos e subsequente risco para a comunidade.Mas o programa tem subjacentes objectivos mais ambiciosos: prevenir a infecção por VIH/ sida e por outras doenças transmissíveis como a hepatite C, quer por via do consumo de drogas, quer por via da prática sexual. Foi este impacto que um estudo de avaliação efectuado em Junho de 2002 se propôs medir.E a conclusão não deixa margem para dúvidas: foram evitadas mais de sete mil novas infecções (por cada 10 mil utilizadores do programa em 1993), com um benefício (em recursos poupados) superior a 1.700 milhões de euros. Mais: se o programa tivesse começado um ano depois, esse “atraso” poderia ter representado mais 1.083 infecções por VIH/sida e uma despesa adicional de 270 milhões de euros.São razões de sobra para continuar. Razões de sobra para que as farmácias continuem envolvidas. A prevenção e a luta contra a sida são uma causa pública, em nome da saúde pública.Por maioria de razão, também uma causa dos farmacêuticos.

Foram evitadas mais de sete mil novas in-fecções (por cada 10 mil utilizadores do programa em 1993), com um benefício (em recursos poupados) su-perior a 1.700 milhões de euros. Mais: se o programa tivesse come-çado um ano depois, esse “atraso” poderia ter representado mais 1.083 infecções por VIH/sida e uma des-pesa adicional de 270 milhões de euros.

Associação Nacional das Farmácias ACTUALIDADE 21

João Cordeiro, Presidente da Associação Nacional das Farmácias

O nosso compromisso profissionalA razão de ser dos farmacêuticos e das farmácias são os doentes. O nosso compromisso profissio-nal é para com o bem-estar de cada um deles em particular e da saúde da comunidade em geral.E doentes são todos aqueles que necessitam de ajuda, não apenas medicamentosa, mas ajuda na recuperação do seu equilíbrio psíquico e fisiológico, na reintegração social, na mudança de com-portamentos – porque não? – de mentalidades. Esse é o nosso dever como profissionais de saúde que somos. Um dever profundamente alicerçado no código de ética que norteia a nossa actividade diária.Nesse âmbito, não há dúvida de que os utilizadores de drogas injectáveis necessitam de ajuda para voltarem a uma sociedade de que a adição os afastou.Ajudá-los – e foi esse o compromisso assumido por cada farmacêutico com o envolvimento da As-sociação Nacional das Farmácias e das suas associadas no programa “Diz não a uma seringa em segunda mão” – é igualmente contribuir para atenuar um grave problema de saúde pública. Porque é preciso não esquecer que a dependência das drogas transformou muitos deles em veículos de transmissão do VIH, pela frequência com que recorreriam a seringas usadas, logo potencialmente infectadas.A toxicodependência deixou de ser um problema individual, assumiu rapidamente contornos de um problema social a que as farmácias, enquanto estruturas de saúde vocacionadas para o serviço público, não podiam ser indiferentes. “Diz não a uma seringa em segunda mão” existe porque os far-macêuticos acreditaram – e a realidade provou-o – poderem contribuir para alterar comportamentos e ajudar à reintegração social dos utilizadores de drogas injectáveis. E também para sensibilizar a restante população para o facto da toxicodependência não ser necessariamente sinónimo de delin-quência, contribuindo para um outro olhar sobre o problema. Finalmente, pelo volume das seringas recolhidas – mais de 42 milhões desde o início do programa, em Outubro de 1993 – acreditamos estar a contribuir para reduzir os índices de seropositividade, ainda que esta convicção seja dificil-mente mensurável. De uma coisa estamos seguros: ainda que só uma seringa infectada tivesse sido recolhida, ainda que só uma vida tivesse sido poupada, teria valido a pena termos dito presente a este desafio. Este é, também, o nosso combate, esta é, também a nossa missão!O nosso compromisso profissional

João Cordeiro

“Diz não a uma serin-ga em segunda mão” existe porque os farma-cêuticos acreditaram – e a realidade provou-o – poderem contribuir para alterar compor-tamentos e ajudar à reintegração social dos utilizadores de drogas injectáveis.

Entre 1993 e Dezembro de 2008, foram recolhidas 43.045.293 seringas, das quais 30.317.392 nas far-mácias, 8.986.467 nas parcerias e 3.741.434 nos postos móveis. O número de seringas recolhidas au-mentou progressivamente até 1997, e decresceu até 1999. No período compreendido entre 2000 e 2001, verificou-se um ligeiro aumento no número de serin-gas recolhidas, que voltou a decrescer até 2003. Entre 2004 e 2007, a recolha diminuiu, até estabilizar, vol-tando a aumentar ligeiramente em 2008.

22 ACTUALIDADE Associação Nacional das Farmácias

Henrique de Barros, Coordenador para o VIH/Sida

Farmácias foram determinantesÉ, desde Agosto de 2005, o responsável pela Coordenação para o VIH/Sida. Epidemiologista de forma-ção e carreira, o Professor Henrique de Barros faz um balanço positivo do programa de troca de seringas e da participação das farmácias. Defende, aliás, que foram determinantes nestes 15 anos e apela ao seu envolvimento na promoção de comportamentos seguros e na prevenção da infecção.

O programa de troca de seringas acaba de completar 15 anos. Que balanço faz desta experi-ência e do seu impacto na saúde pública?Em primeiro lugar, devo salientar que o início do programa constituiu um acto de grande coragem e lucidez. E se pecou por alguma coisa foi por tardio. Na altura foi uma prova de grande capacidade de criar consensos, numa área que estava longe de ser consensual, e há que reconhecer que muito se deve à Professora Odette Ferreira.Entendo que o programa não deve ser visto isoladamente de outras medidas que também têm contribuído para o resultado final desejado, que é a diminuição da transmissão de doenças infecciosas entre os con-sumidores de drogas injectáveis. Falo de medidas como o programa alargado de substituição opiácea, nomeadamente com metadona.Além disso, a troca de seringas não tem apenas um efeito de diminuição das complicações associadas ao consumo de drogas. Em meu entender, pode ser um passo para alguma reestruturação na vida das pessoas, uma porta aberta para outras alternativas, a caminho da resolução da dependência.

O sucesso do programa mede-se pela troca de seringas mas também pelo impacto na redução da transmissão do VIH/Sida e de doenças como a hepatite C. É possível medir esse impacto?É difícil obter dados exactos sobre a redução do risco, mas existem indicadores – obtidos através de in-quéritos junto dos parceiros e dos utilizadores de drogas – que nos permitem conhecer comportamentos. Além de que existem modelos matemáticos que ajudam a perceber o impacto das medidas. A realidade é que há uma inequívoca associação temporal entre a introdução e implementação progressiva do pro-grama e a diminuição da infecção entre os consumidores de drogas injectáveis. Dizer quantas infecções se evitaram é um exercício falível. Mas sabemos que funcionou. Sabendo que os custos do programa, por ano, correspondem ao tratamento de 200 a 250 doentes, é fácil perceber que aquilo que se investe tem um retorno significativo. É um bom investimento. Além disso, sabemos que estamos a distribuir o mesmo número de seringas a um número menor de utilizadores, o que nos aproxima do objectivo de saúde pública que presidiu a este programa.

Como avalia a participação das farmácias e dos farmacêuticos no programa?Ter conseguido a participação de um número elevado de farmácias é um aspecto interessante do pro-grama português. E fazia todo o sentido, a vários níveis. As regras de funcionamento das farmácias justificavam o seu envolvimento na resposta social a este problema.E, depois, é preciso não esquecer que os toxicodependentes já podiam adquirir as seringas nas farmá-cias, nada os impedia. Ao longo do tempo as farmácias foram alargando o seu papel nesta área, nomea-damente com a participação na administração de metadona, ao abrigo de uma perspectiva mais holística na aproximação à solução do problema.Houve farmácias que entretanto deixaram de estar envolvidas e o programa foi sendo alargado a outras estruturas, com uma proporção actual na ordem dos 50 por cento para cada lado. É importante que as farmácias continuem implicadas, na medida em que constituem uma rede geográfica ampla, estando presentes onde outros parceiros não estão.

Henrique de Barros

Os custos do programa,por ano, correspondem ao trata-mento de 200 a 250 doentes, é fácil perce-ber que aquilo que se investe tem um retorno significativo. É um bom investimento.

Associação Nacional das Farmácias ACTUALIDADE 23

Odette Ferreira

Professora Odette Ferreira

Um programa tão polémico mas tão bem feitoÉ assim que, à distância de 15 anos, a Professora Odette Ferreira classifica o programa que nasceu da sua determinação e da sua convicção quando, em 1992, assumiu a presidência da então Comissão Nacional de Luta Contra a Sida. Um programa de saúde pública que mereceu, desde a primeira hora, a adesão das farmácias. Diz, aliás, que não seria possível sem as farmácias e a sua associação. E acredita que este foi um passo importante para o sector ser olhado com outros olhos.

Como nasceu o programa da troca de seringas?Nos anos 80, no regresso de um dos períodos de permanência em Paris (no Instituto Pasteur, onde integrava a equipa de Luc Montagnier, virologista francês que identificou o VIH1), vi-me confrontada com pedidos da polícia para analisar os resíduos contidos em seringas encontradas em locais públicos. Os to-xicodependentes procuravam, por exemplo, as praias para se injectarem e aí abandonavam as seringas. O mesmo acontecia depois dos grandes concertos de rock. E isso constituía uma ameaça para a saúde pública, pois qualquer pessoa se podia picar e infectar. Chegou, aliás, a acontecer e a polícia pedia-nos que analisássemos as seringas para ver se o sangue estava contaminado.Foi a partir daí que nasceu a ideia do programa. O que me motivou foi a defesa da saúde pública. O objectivo não era prevenir ou combater a toxicodependência, era reduzir riscos.

O que a levou a procurar o envolvimento das farmácias?Embora seja especialista em Análises Clínicas, sempre tive a ideia de que as farmácias estavam desapro-veitadas, pois sempre considerei que são o local ideal para transmitir mensagens de saúde pública.Havia nessa altura uma ideia errada sobre as farmácias. Defendo o conceito de farmácia comunitária, e não de farmácia de oficina, porque penso que o farmacêutico tem de chegar à comunidade, ele é o técnico de saúde mais próximo das pessoas.Quando idealizei o programa pensei logo nas farmácias, por serem um sector muitíssimo bem organiza-do. Sabia que se conseguisse que a ANF aprovasse tinha o caminho aberto.Assim foi e comecei a trabalhar com o Luís Matias. Fizemos reuniões descentralizadas para ver qual era a reacção dos farmacêuticos. Houve muitas adesões, mas também houve dúvidas, resistências que foi preciso vencer. Mas o facto é que conseguimos de imediato uma adesão superior a 90 por cento das farmácias.Devo dizer – e tenho-o afirmado publicamente – que este programa só pôde ser feito porque havia uma instituição extraordinariamente bem organizada. A classe tem uma dívida muito grande para com o João Cordeiro.As farmácias passaram a ser olhadas com outros olhos. E, goste-se ou não, não há área da saúde em que a população esteja tão satisfeita.

Quando idealizei o programa pensei logo nas farmácias, por se-rem um sector muitís-simo bem organizado. Sabia que se conseguis-se que a ANF apro-vasse tinha o caminho aberto.

24 INSTITUIÇÃO DE REFERÊNCIA Laboratórios Azevedos

O que é português é bomDesde o estabelecimento da botica Azevedo em 1775 até aos dias de hoje, o Grupo Azevedos regista no seu “livro de honra” a produção do primeiro medicamento em Portugal e a participação no pré-mio Nobel da medicina atribuído ao Professor Egas Moniz. Ao longo de mais de dois séculos, 234 anos, este grupo de referência nacional da indústria farmacêutica, pode reclamar uma posição de vanguarda no desenvolvimento farmacêutico. Entre muitas outras fórmulas galénicas, foi no seio do actual Grupo Azevedos que se produziu a primeira pomada de penicilina, e se introduziu o primeiro antibiótico contra a febre tifóide e a primeira vacina antipoliomielítica em Portugal.Actualmente, o Grupo Azevedos é um dos mais sólidos grupos farmacêuticos nacionais, tendo mesmo construído uma plataforma de lançamento para negócios de futuro e criado uma sólida referência na indústria farmacêutica. O mais antigo e experiente grupo farmacêutico português e um dos mais an-tigos da Europa opera com um conjunto de empresas complementares em todas as áreas do sector far-macêutico, desde a investigação e produção à logística e comercialização, nacional e internacional.Hoje, fazem parte do Grupo Azevedos as empresas Laboratórios Azevedos, Ferrer-Azevedos, DLA, Sofarimex e Laboris SGPS. Recentemente, o Grupo iniciou uma incursão sobre o campo das depen-dências patológicas, dando seguimento a uma tradição de posicionamento que privilegiara as áreas do sistema nervoso central e da psiquiatria, através do lançamento no mercado do genérico da buprenor-fina, em embalagens de 7 comprimidos e dosagens de 2 ou 8mg. Dependências entrevistou João David Miranda, Vice-Presidente desta instituição de referência da indústria farmacêutica portuguesa, que se orgulha por manter, como há 234 anos, 100 por cento dos seus capitais nacionais

Acredito que não será tão fácil sintetizar a história de um grupo farmacêutico com mais de dois séculos de existência como sintetizar moléculas ou desenvolver formulações…João Miranda (JM) - Pois… Efectivamente, somos um Laboratório que já conta com 234 anos. Tal como sucedeu com as demais empresas farmacêuticas da altura, começámos por ter pequenas farmá-cias no centro de Lisboa, ao que se sucedeu uma natural expansão. Apesar de todos estes anos de ex-periência, temos procurado em cada altura da história e evolução da indústria farmacêutica as melhores soluções enquanto empresa farmacêutica de capital 100 por cento nacional, visando as melhores formas de nos posicionarmos no mercado. Como somos fabricantes – temos a maior fábrica de medicamentos do País, a Sofarimex – a entrada no mercado dos genéricos constitui uma forma de evolução natural, enquanto grupo farmacêutico que somos. Como tal, temos desenvolvido contactos, temos lançado al-guns genéricos, sobretudo em parceria com outras companhias e, nesse sentido, podemos considerar o ano 2009 como decisivo, uma vez que decidimos arrancar formalmente com a estrutura de genéricos de marca Azevedos.

Em que áreas?JM - Nós temos, maioritariamente, produtos genéricos na área do sistema nervoso central, quer na área da psiquiatria quer na da neurologia, iremos ter um grupo de produtos na área da cardiologia e temos ainda um misto de produtos para outras áreas que vão desde os antibióticos a produtos para as doenças reumáticas e osteoarticulares. Desenvolvemos uma forte aposta na área do sistema nervoso central e da psiquiatria. Fizemo-lo, obviamente, porque surgiu a oportunidade de termos um forte portfólio de produtos nessa área mas essencialmente por se tratar de uma área em que acumulámos alguma experiência no passado e onde temos tido um contacto privilegiado ao longo destes anos na área da psiquiatria. Tivemos produtos na área da indução do sono e da depressão e, montando agora a área dos genéricos, foi com naturalidade e numa sequência lógica que apostámos nessa área.

É também conhecida a aposta do Grupo Azevedos numa nova linha na área das dependências patológicas, através da comercialização de um genérico da buprenorfina…JM - Sim… Especificamente nessa área, no campo das dependências, por intermédio de uma parceria, conseguimos ter o segundo genérico da buprenorfina a ser lançado no mercado. Dentro do negócio dos genéricos, não constitui habitualmente um produto muito atractivo para as grandes empresas. Mas, como disse, temo-nos focado em áreas específicas e o tratamento deste tipo de situações é, para nós, algo de novo mas que se enquadra precisamente na nossa estratégia de abordagem das doenças do foro psiquiátrico. Entendemos que seria um campo interessante e que nos permitiria também manter um determinado tipo de trabalho de proximidade com as especialidades, que é precisamente o que temos privilegiado e que continuaremos a privilegiar, sejam elas especialidades médicas hospitalares ou de clínica geral. Apesar de decidirmos entrar no negócio dos genéricos, manteremos o mesmo tipo de postura e abordagem junto da classe médica. Ou seja, oferecer um tratamento diferenciado, procurando satisfazer as necessidades da classe médica. É esse o caminho que temos vindo a trilhar ao longo dos anos e é essa abordagem de proximidade que queremos manter. E este é um produto que se adequa perfeitamente a esse tipo de abordagem e de proximidade com a classe médica, e que ao mesmo tempo constitui uma necessidade.

Quer dizer que também foram os médicos que motivaram o Grupo Azevedos a apostar nessa linha?JM - Sem dúvida!

Partiu de um diagnóstico, de uma auscultação junto dos médicos?JM - Partiu sobretudo de uma experiência de contactos que temos. Temos obviamente a nossa carteira de médicos de muitos anos de contactos e isso é algo de que não pretendemos abdicar. Existe uma conotação do negócio dos genéricos com algo despersonalizado, com um trabalho que não é passível de se fazer junto da classe médica quando, na verdade, no nosso ponto de vista, prevalece precisamente o

João Miranda

Laboratórios Azevedos INSTITUIÇÃO DE REFERÊNCIA 25

oposto. Mesmo junto da opinião pública, existe uma certa ideia de que os médicos se opõem significati-vamente à prescrição dos genéricos e eu, que também sou médico, não vejo de forma alguma que assim seja. O que os médicos pretendem, acima de tudo, é terem uma relação de confiança com a indústria farmacêutica. E foi esse tipo de relação que estabelecemos no passado e é isso que pretendemos man-ter, associado a uma abordagem de proximidade que nos permita entender as necessidades da classe médica.

Sabendo-se que existem outras sínteses usadas em terapêuticas de substituição opiácea, no-meadamente a metadona, que continua a ser o medicamento mais prescrito e que já existe também no mercado uma associação de buprenorfina com naloxona, que motivos sustentam essa aposta num genérico da buprenorfina?JM - A aposta na buprenorfina surgiu essencialmente como uma oportunidade, por intermédio de uma das empresas com que trabalhamos em parceria. É com essa empresa que trabalhamos outros produtos licenciados e foi a mesma que desenvolveu o produto. Entendemos que, nesta altura, este produto fazia sentido, o que não quer dizer que, no futuro, não venhamos, quer através do desenvolvimento próprio – porque também fazemos desenvolvimento de genéricos – quer através do trabalho de parcerias, não venhamos a alargar o nosso leque de opções.

Nomeadamente através de um trabalho de síntese de novas moléculas?JM - Efectivamente, não desenvolvemos esse trabalho de síntese molecular. O que desenvolvemos são essencialmente novas formulações galénicas. Caso haja oportunidade, desenvolveremos formulações neste âmbito de acção terapêutica e noutras áreas. Mas este produto surgiu essencialmente por uma questão de oportunidade. É um produto interessante, de nicho e, de alguma forma, tínhamos um histórico de trabalho na área da psiquiatria que não queríamos desperdiçar. Foi também uma forma de reentrarmos na psiquiatria, embora evidentemente num campo muito específico.

Quanto custará ao utente esse produto?JM - Temos dosagens de 2 e 8 mg, em embalagens de 7 comprimidos sublinguais. A dosagem de 2 mg custará ao utente 3,16 euros em regime normal e 2,41 euros em regime especial, enquanto a dosagem de 8 mg custará 9,24 euros em regime normal e 7,04 euros em regime especial.

Enquanto genérico, este produto será composto por mais que 75 por cento da substância activa?JM - Este produto tem as características farmacológicas que o fazem ser equivalente ao original. Essa é a base de um produto para ser aprovado como genérico. Por uma questão de credibilidade e de con-fiança, um dos documentos que pretendemos divulgar de imediato junto da classe médica são as cópias desse estudo de bioequivalência. Sobretudo neste tipo de situações, em que estamos a lidar com dosa-gens baixas e em que é preciso ter um controlo muito próximo sobre as dosagens dos medicamentos, para haver essa garantia de qualidade e essa credibilidade em relação ao medicamento, fazemos questão de, na abordagem à classe médica, disponibilizar todo esse estudo de bioequivalência para constatarem que a utilização desse genérico, do ponto de vista terapêutico, significa exactamente o mesmo que a utilização do medicamento original.

Existe uma conotação do negócio dos genéri-cos com algo desper-sonalizado, com um trabalho que não é pas-sível de se fazer junto da classe médica quan-do, na verdade, no nosso ponto de vista, prevalece precisamente o oposto.

26 SUBSTÂNCIA EM FOCO Álcool

Reduzir riscos associadosao consumo de álcoolPequenas alterações podem produzir uma grande diferença quando o que se pretende é reduzir as proba-bilidades de se sofrer problemas relacionados com o consumo de álcool. Nesta rubrica apresentamos algumas estratégias a adoptar. O esquema é simples: introduza algumas durante a primeira semana e agregue outras na semana seguinte.

Levar a “conta” Tenha noção de quanto bebe. Encontre alguma forma de o fazer que lhe sirva — como, por exemplo, levar consigo um cartão de 3x5” (polegadas) na sua carteira — para fazer marcas no calendário de cozinha ou utilizar um computador de bolso. Se tomar nota de cada copo antes de o beber, isso ajudá-lo-á a ir mais devagar sempre que necessite.

Contar e medir Conheça a medida de copo ou gole standard, para que possa contar os seus copos com precisão. Uma medida de um copo standard equivale a 35 cl. de cerveja, 25 cl. de licor de malte, 15 cl. de vinho de mesa ou 4.5 cl. de bebidas com 40% de conteúdo alcoólico. Meça os copos que beba em sua casa. Fora de casa, pode resultar difícil saber a quantidade de medidas de copo standard de um gole combinado. Para calcular, pode necessitar de pedir a “receita” ao barman.

Definir metas Decida quantos dias por semana deseja beber e quantos copos beberá nesses dias. Será sempre positivo eleger alguns dias em que não beba. Os bebedores com os índices de transtornos mais baixos devidos ao uso de álcool permanecem entre os seguintes limites.

Para homens saudáveis até 65 anos de idade:• não mais que 4 copos por dia• não mais de 14 copos por semana

Para mulheres saudáveis (e homens saudáveis com mais de 65 anos de idade):• não mais de 3 copos por dia e• não mais de 7 copos por semana

Dependendo do seu estado de saúde, o seu médico pode recomendar-lhe beber menos ou a abstinência

Ir lenta e espaçadamente Quando beber, faça-o com calma. Faça-o de pequenos goles. Não beba mais de um copo com álcool por hora. Alterne “espaçadores de copos” — copos sem álcool, como água, soda ou sumo — com copos que contenham álcool.

Incluir alimentos Não beba com o estômago vazio — coma algo para que o álcool seja absorvido mais lentamente pelo seu organismo.

Evitar “estímulos” O que faz disparar o seu impulso de beber? Se certas pessoas ou lugares o levam a beber mesmo quando não deseja fazê-lo, trate de evitá-los. Se certas actividades, horários do dia ou sentimentos disparam o impulso, planifique o que fará em vez de beber. Se beber em sua casa constitui um problema, tenha pouco álcool ou nenhum.

Planificar para controlar os impulsos Quando sentir um impulso, tenha em conta as seguintes opções: recorde os seus motivos para mudar; fale detalhadamente sobre o assunto com alguém da sua confiança; ou trate do mesmo modo que faria com uma onda si estivesse a surfar (“urge surf”): em vez de lutar contra o sentimento — e sabendo que rapidamente alcançará a crista e passará — aceite-o e contorne-o.

Conhecer o seu “Não” É possível que lhe ofereçam um copo em momentos em que não deseja beber. Ofereça de pronto um educado e convicente “Não, obrigado”. Quanto mais rapidamente puder dizer não a estas ofertas, menos propenso será a ceder. Se vacila, estará a dar tempo para pensar desculpas para aceitar.

Conselhos práticos adicionais para deixar de beber Se deseja deixar de beber de uma vez, as últimas três estratégias podem ajudá-lo. Além disso, poderá recorrer à ajuda a pessoas que possam estar desejosas de ajudar, como um cônjuge ou amigos não bebedores. Unir-se a Alcoólicos Anónimos ou a outro grupo de ajuda mútua é uma forma de adquirir uma rede de amigos que encontraram formas de viver sem álcool. Se depende de álcool e decide deixar de beber por completo, não o faça por sua própria conta. Para um bebedor empedernido, abandonar a bebida repentinamente pode provocar sérios danos colaterais, como ataques de apoplexia. Consulte um médico para planificar uma recuperação sem riscos.

O que é uma bebida standard? Nos Estados Unidos, uma bebida standard é todo o trago que contém 14 gramas de álcool puro (0.6 onzas ou 1.2 colheradas). De seguida, apresentam-se os equivalentes de uma bebida standard. As mes-mas são aproximações, já que diferentes marcas e tipos de bebidas variam entre si quanto ao conteúdo alcoólico.

Se deseja deixar de be-ber de uma vez, poderá recorrer à ajuda a pes-soas que possam estar desejosas de ajudar, como um cônjuge ou amigos não bebedores. Unir-se a Alcoólicos Anónimos ou a outro grupo de ajuda mútua é uma forma de adqui-rir uma rede de ami-gos que encontraram formas de viver sem álcool. Se depende de álcool e decide deixar de beber por completo, não o faça por sua pró-pria conta. Para um bebedor empedernido, abandonar a bebida re-pentinamente pode pro-vocar sérios danos co-laterais, como ataques de apoplexia. Consulte um médico para plani-ficar uma recuperação sem riscos.

Álcool SUBSTÂNCIA EM FOCO 27

cerveja ou refresco licor de malte vinho de mesa

bebidas de “licor forte”

(80-graduação alcoólica)

(tequilha, vodka, whisky, etc.)

˜ 5% álcool: 35 cl.

˜ 7% álcool: 25 cl.

˜ 12% álcool: 15 cl.

˜ 40% álcool: 4,5 cl.

Muitas pessoas desconhecem o que constitui uma bebida standard e, por esse motivo, não se dão conta de quantas bebidas standard contém o recipiente em que, geralmente, se vendem estas bebidas. Alguns exemplos são:

Cerveja — o número aproximado de copos standard em35 cl. = 164 cl. = 246 cl.. = 1.3115 cl. = 3.3

Licor de malte — o número aproximado de copos standard em35 cl. = 1.564 cl. = 2.546 cl. = 2115 cl. = 4.5

Vinho de mesa — o número aproximado de copos standard emuma garrafa standard de 750 ml. = 5

Bebidas alcoólicas de “licor forte” (80-graduação alcoólica) — o número aproximado de copos standard em

um cocktail = 1 ou mais*um quinto (72 cl..) = 17uma pinta (46 cl.) = 111.75 L = 39

*Nota: Pode ser difícil calcular a quantidade de bebidas standard servidas numa só bebida misturada que tenha sido preparada com licor forte. Dependendo de factores como o tipo de álcool e a receita, uma bebida misturada pode conter de uma a três ou mais bebidas standard.

Excerto da Publicação nº 07-3769-S de NIH

Quando sentir um im-pulso, tenha em conta as seguintes opções: recorde os seus motivos para mudar; fale deta-lhadamente sobre o as-sunto com alguém da sua confiança; ou trate do mesmo modo que faria com uma onda si estivesse a surfar (“urge surf”): em vez de lutar contra o sentimento — e sabendo que rapida-mente alcançará a cris-ta e passará — aceite-o e contorne-o.

28 ACTUALIDADE “Tudo Sobre Rodas”

Formação em Redução de RiscosA equipa do projecto “Tudo sobre rodas” iniciou uma acção de formação destinada a empresários e profissionais de bares que envolveu um significativo número de pessoas. Dependência quis saber da importância do mesmo e foi entrevistar Pedro Segurado gerente do BAR, Plano - B

Até que ponto a formação das pessoas que estão a trabalhar no estabelecimento é importante no funcionamento do BAR Pedro Segurado (PS) - A importância de saber com actuar cumprindo e fazendo cumprir a lei designadamente proibir a entrada a menores e consequentemente não lhes permitir o consumo de bebidas alcoólicas, por outro lado saber como actuar no caso de pessoas que estejam num estado avançado de embriaguez seja impedido de continuar a consumir apresentando outras alternativas, o que sendo uma tarefa muito difícil de gerir, é importante estar preparado para actuar perante estes casos. E isto é tanto ou mais importante, porque muitas das vezes é mais fácil optar pela via do facilitismo, do “deixa andar” do que tentar intervir com o objectivo de ajudar aquelas pessoas que vão ali para se divertirem e estar na conversa com os amigos.

Quem está atrás do balcão deve ser sensível e deve estar preparado para ajudar o consumidor a saber os riscos que corre pelo abuso da bebida?(PS)-Não é tarefa fácil, estar a aconselhar o cliente a que não deve misturar bebidas, até porque do outro lado eles pensam que não há problema, …” eu estou a controlar isto, eu sei o que estou a fazer, está tudo sob controlo” e nem sempre é fácil a quem está do outro lado do balcão gerir individualmente este tipo de situações.

Podemos dizer que o consumo de álcool é uma rotina, ou é ocasional pelo facto das pessoas quererem estar na conversa com os amigos?(PS)-A minha esperança sincera é que o façam porque se sentem bem-vindos a este espaço de convívio e prazer porque temos muitas outras ofertas para além do álcool como seja a música, a arte, um espaço de conforto onde as pessoas se sintam bem

A formação é importante para que as pessoas saibam diferenciar o consumo do abuso?(PS)-Eu acho que o primeiro passo a ser dado tem de ser do consumidor, ele tem de saber e ter a consciência de que o abuso do álcool pode causar graves e sérios problemas. E uma vez mais aqui se coloca a sensibilidade de quem está por detrás do balcão que o pode aconselhar e até não lhe fornecer mais bebidas, o que não impede que ele não vá beber a outro o lado. Eu penso que a formação é muito importante, e deveria ser alargada a todos os profissionais. Todos sabemos que o consumo do álcool é aceite e também temos que dizer que não é assim tão grande a quantidade de pessoas que frequentam os bares que são abusadores de álcool, apesar de reconhecer que há um longo caminho a percorrer para que as pessoas percebam as consequências do mau uso que alguns fazem do álcool.

O álcool está associado à noite. Já pensou que se pode ser noctívago conviver e estar com os amigos sem consumir álcool?(PS)-Vou ser sincero consigo, eu penso que isso é ainda um pouco utópico. Um estabelecimento que funcione durante a noite em horário alargado, está intrinsecamente ligado ao “copo”e logo ao álcool e um espaço que não o fizesse estava condenado ao fracasso sob o ponto de vista de sustentação económica. Isto não quer dizer que no futuro isto não se venha a modificar…agora vejo uma situação difícil.

Sabe que está para ser publicada a nova legislação que visa reduzir o consumo nocivo do álcool. Em que medida esta medida pode afectar a indústria da noite?(PS)-Não creio que a nova Lei venha a afectar economicamente os bares, agora penso que virá de certo modo normalizar e adequar algumas regras sobretudo na venda de bebidas a menores de 18 anos, e na defesa e promo-ção da saúde dos jovens. Por outro lado o público que frequenta o nosso bar tem idades superiores aos 25 anos de idade, o que no nosso caso como pode verificar pouco nos afecta. Agora no caso das discotecas as coisas podem ser um pouco diferentes porque estão orientadas para um público mais jovem, agora estou de acordo com os princípios de que os jovens não tenham o acesso facilitado ao consumo de bebidas alcoólicas.

A noite é mais perigosa que o dia?(PS)-A noite é diferente do dia e dá mais facilidades a uma serie de situações que eventualmente podem ou não considerar-se mais perigosas. As coisas que acontecem nada têm a ver com a noite apesar do contexto que a noite propícia, não creio que a noite seja um potenciador do perigo, apesar de reconhecer que em redor destes es-tabelecimentos e potenciados muitas vezes por uma falta de zelo da segurança possam ocorrer situações menos agradáveis e que depois são generalizadas. Também aqui à muita coisa a mudar. É preciso criar uma consciência de que não é só vender álcool, é mais do que isso, e deve ser feito de uma forma correcta e assumida das suas consequências.

A parceria com a equipa “ Tudo sobre Rodas” é uma mais-valia técnica ou um empecilho no negócio?(PS)-Não creio que seja um empecilho, nem que me prejudique o negocio, antes pelo contrario penso que é uma mais-valia, porque nos permite a mim e ao meu pessoal uma abordagem mais próxima de problemáticas mais directas, e a informação sobre o consumo do álcool e de outras substancias pode-nos ajudar a saber como intervir em casos que tais situações se verifiquem, por isso não vejo isto como entrave mas antes como uma mais-valia, e tenho pena que isto não seja feito duma forma mais sustentada e numa dimensão maior porque seria muito proveitoso para quem está afrente duma casa destas possa estar formado e informado de todas as problemáticas associadas. Acho que a formação deveria continuar para nos permitir ter acesso a informação de forma a poder-mos gerir os conflitos sejam de que natureza for. Por isso a minha esperança é a que estes projectos sejam mais abrangentes e continuem.

O associativismo da noite para quando?(PS)-È pertinente a questão. No nosso caso particular temos boas relações com outros bares e com as pessoas que nos rodeiam, todavia estamos inseridos num mundo de diferentes perspectivas e de interesses, o que tem dificultado o entendimento sobre associativismo. Nós temos um espírito de abertura com as pessoas e com as instituições e nem sempre isso é recíproco o quem dificulta o entendimento de todos quantos vivemos deste negócio mas o caminho faz-se caminhando e estou certo de que um dia também nós seremos capazes de nos entendermos.

Não é tarefa fácil, estar a aconselhar o cliente a que não deve misturar bebidas, até porque do outro lado eles pensam que não há problema.

Drugs, health, justice - perspectives on race-equality EVENTO 29

1º Dia Segunda-Feira, 2 Nov. 09 08.45 Abertura do Secretariado09.45 – 10.15 Boas-vindas e Abertura

Presidente do Supremo Tribunal de Justiça* Procurador-Geral da Republica Ministro da Justiça* Ministro da Saúde* Director do Observatório Europeu – OEDT – Dr Wolfgang Götz* Presidente da Câmara de Oeiras T3E UK - Kazim Khan T3E - Luís Patrício

10.15 – 11.30 SESSÃO PLENÁRIA: DESCONSTRUÇÃO DE «RAÇA» Definição de alteridade: a construção de raça, etnicidade e estatuto migrante

Presidente: Armando Leandro – Juiz Conselheiro, Jubila-do. Lisboa, POR. Intervenientes: Stephan Feuchtwang - LSE, Lon-dres, UK. Sarah Daynes - New School of Social Research, Nova York, EUA. David Ingleby - University of Utrecht. NED.

11.30 - 11.45 Pausa para café11.45 – 13.00 II SESSÃO PLENÁRIA: CONTEXTO POLÍTICO & IMPACTO

Presidente: Jean-Pierre Démange - T3E FRA.Intervenientes: Antoine Lazarus - Université de Paris XIII, FRA.Particularidades da Abordagem FrancesaTerry Williams - New School of Social Research, Nova Iorque, USA.A Experiência AmericanaJohn Kelloc - FRA, Viena, SUI.A panorâmica da UE sobre a luta contra o Racismo e a Xenofobia.Comentador: Karim Murji - Open University, UK.

13.00 – 14.15 Almoço14.15 – 15.30 III Sessão Plenária: RAÇA, DROGAS E JUSTIÇA

Conclusões do estudo de CONNECTIONS “Raça, drogas e justiça penal”Presidente: Luís Gamito- Psiquiatra, Lisboa, POR.Intervenientes: Neville Adams - T3E Middlesex University, UK.Kazim Khan - T3E Middlesex University, UK.Comentador: Alex Stevens - University of Kent, UK.

15.30 – 15.45 Pausa para café15.45 – 17.00 IV Sessão Plenária: RAÇA E GÉNERO “Toxicodependência e violência doméstica: preconceito racial”

Presidente: Júlio Machado Vaz – Universidade do Porto, POR.Intervenientes: Umberto Nizzoli, - Universidade de Bolo-nha, ITA.Florbela Ferreira*, DGSP, POR.*A confirmar

2º Dia Terça-Feira, 3 de Nov. 09 10.00 – 11.15 V SESSÃO PLENÁRIA: 1ª Fase do percurso – PRISÃO E REGIME DE TRATAMENTO NA PRISÃO

Presidente: Miguel Vasconcelos – Psiquiatra. Lisboa, POR. Intervenientes: Attila Juhasz - Director Provincial das pri-sões. Eger, Hun.Hector Duque – Responsável pela Prevenção nas pri-sões. Bogotá, COL.Santiago Rincón – Médico da prisão. Castellón, ESP. Gary WallaceComentador: Dr. Nuno Miguel. Psiquiatra. Lisboa, POR.

11.15 – 11.45 Pausa para café11.45 – 13.00 VI SESSÃO PLENÁRIA: 2ª Fase do percurso

- AVALIAÇÃO E OPÇÕES DE SENTENÇA (incluindo doenças infecciosas)

Avaliação e opções de sentençaPresidente: Laszlo Huszar - Director Geral das Prisões. HUN.Paula Quadros – DGSP, POR.Odete Maria Oliveira – Procuradora-Geral Adjunta no Su-premo Tribunal de Justiça – Lisboa, POR. Juan Carlos Araneda – Psicólogo. Investigador. CHI. Comentador:

13.00 – 14.00 Almoço14.00 – 15.30 VII SESSÃO PLENÁRIA: 3ª Fase do percurso - REGIMES DE TRATAMENTO (incluindo doenças in fecciosas)

Presidente: Etiene Vendy *– Psicólogo. Malmedy, BEL. Intervenientes: Eric Allouche – Psicologo. DEN.Andrej Kastelic – Psiquiatra. Lubljana, SLO.Antonio Chiarenza . Psicólogo. AUSL di Reggio Emilia, ITA.Equidade e qualidade do tratamento dos migrantes utili-zadores de droga no quadro de uma comunidade aliança: a experiência Emilia-Romagna.Comentador: Dr. José Pádua – Psiquiatra. Lisboa, POR.

15.30 – 15.45 Pausa para café15.45 – 17.00 VIII SESSÃO PLENÁRIA: 4ª Fase do percurso - LIBERTAÇÃO E REINTEGRAÇÃO SOCIAL

Presidente: António Costa – Psiquiatra. Lisboa, POR.Intervenientes: Mme. Saadia Yakoub, Psicóloga. Paris, FRA.Amélia Bentes – Psiquiatra. Porto, POR.Luís Monteiro – Director Estabelecimento Prisional Ponta Delgada Açores. POR.Comentador: *A confirmar

3º Dia Quarta-Feira, 4 de Nov. 09 10.00 – 11.15 IX Sessão Plenária: A EXPERIÊNCIA LATINO-AMERI CANA: ESPANHA, PORTUGAL E MINORIAS LATINO-AMERICANAS

Presidente: Dr Rafael Mateo Tari – Presidente da FIBED Fundación Ibero Americana de Estudios Jurídicos Socia-les – Madrid, ESP.Intervenientes: Syria de la Peña* - Medicina legal e foren-se. Madrid, ESP.Blanca Cavexo* - Advogada especialista em imigração. Lima. PER.Reynaldo Peters – Advogado. Ex-Ministro. La Paz, BOL. Juan Martinez*, VEN.

11.15 – 11.45 Pausa para café11.15 – 13.00 MESA REDONDA: VOZES DA COMUNIDADE E DOS UTILIZADORES

O mundo não nos pertence, foi alugado para os nossos filhosPresidente: Álvaro Laborinho Lúcio – Juiz Conselheiro, Ex Ministro. POR.Intervenientes: Elliot Albert Ross – International Network of People who Use Drugs (INPUD)Luís Patrício – Psiquiatra. T3E.

14.00 – 15.30 SESSÃO PLENÁRIA DE ENCERRAMENTO – IMPLAN TAÇÃO DA IGUALDADE

Presidente: Kazim Khan - T3E UKRepresentante do EMCDDADirector Geral da Saúde*Presidente do Instituto da Droga e da ToxicodependênciaDirector Geral Serviços Prisionais

DECLARAÇÃO DE CONSENSO

*A confirmar

Drugs, health, justice - perspectives on race-equality

2 - 4 de Novembro 09 I Lagoas Park I Oeiras

30 EVENTO IV Fórum de Prevenção das Dependências - Consumos de Abuso Contemporâneos

Iv Fórum de Prevenção das DependênciasConsumos de Abuso Contemporâneos

de 17 a 22 de SetembroDia 17 de Setembro09.00h Acreditação e distribuição de Pastas09.30h Sessão de Abertura

ILHA DO FAIAL

Painel I - Políticas de Prevenção e Poder Local10.30h As Políticas de Prevenção em Contexto RegionalPaula Costa, Directora Regional da Prevenção e Combate às Dependências10.50h Apresentação do Plano Municipal de Prevenção das Dependências 2009-2013; Maria do Céu Brito, Vereadora da Acção Social da Câmara Municipal da Horta11.10h Pausa para Café11.20h Programa de Fortalecimento de Famílias. Um projecto experimental inovador; Fátima Porto, médica, Presidente da CPCJ11.40h Projecto de Intervenção de Pares “Entra na Onda”Joana Silva, chefe do agrupamento 1314 do CNE-Pedro Miguel12.00h Tráfico e Consumo de Estupefacientes nas Ilhas do Canal – Proximidade Policial na Prevenção e Eficiência Investigatória na Responsabilização; Carlos Ferreira, comandante da Divisão da PSP, Horta12.30h Debate13.00h Pausa para almoço

Painel II - Consumo: O Legado da Sociedade ModernaMelhorar a Qualidade – Tratamento da Dependência de Álcool

14.00h Alcoholismo: Comprensión y Tratamientos da Dependencia Alcoholica y Estratégias para Preven-ción de la Recalida - Francisco Pascual - Medico de Condutas Adictivas. Subdirector médico Hospital de Elda. Membro da Junta Directiva de SOCIDROGALCOHOL.Valência – Espanha14.45h Mal Uso/Abuso de Psicoestimulantes y Patologías DualesProf. Juan J. Llopis Llacer - psiquiatra coordenador da Unidade de Condutas Adictivas Hospital General Caste-llon. Prof Universitat Jaime I. Castelló. Espanha15.30h Prevenção do Mau Uso de Bebidas com Álcool e de Substâncias SintéticasLuís Patrício, psiquiatra, fundador e correspondente português da Associação Europeia T3E 16.15h Debate16.30h Pausa para café

Painel III - Tratamento em Comunidades Terapêuticas17.00h La Professionnalisation des Soins dans les Communautés Thérapeutiques - Jean Pierre Démange – T3E – SATO Picardie (Service d’Aide aux toxicomanes de l’Oise) – France17.30h Debate: ENTRA NA ONDA… DE FORMA DIFERENTE; Local: Sociedade Amor da Pátria21.00h Concurso de bebidas sem álcool22.00h Baile; Orquestra Ligeira da Câmara Municipal da Horta; Organização: Sociedade Amor da PátriaAgrupamento CNE de Pedro Miguel

Dia 18 de Setembro9.30h às 17.30h Workshop; Local: Sociedade Amor da Pátria; De la Prévention à L’accès aux Soins: un Travail de Partenariat et de Réseau; Claude Lefèbre, conselheiro técnico do Director Geral do SATO-Picardie (Service d’Aide aux toxicomanes de l’Oise); Dirigido a técnicos de Acção Social, psicólogos, professores, educadores sociais; Relatora/tradutora: Valdeci Purim

ILHA DO PICO - MADALENA

Sexta-feira, dia 18 de Setembro09.00h Acreditação e distribuição de pastas09.15h Sessão de Abertura

Painel I - Dependências: Responsabilidade Comunitária e Poder Local09.30h Fundamentos de Intervenção Comunitária: a Comunidade como Agente Preventivo; Jesus Cartelle Fernandez, psiquiatra, chefe de serviço das toxicodependências, (Reveira, A Coruña), assessor para a qualida-de do IDT (Instituto da Droga e da Toxicodependência)10.30h Pausa para café10.45h O Papel da Família e dos Educadores na Prevenção das Dependências Fernando Mendes, psicólogo clínico, Presidente da IREFREA (Instituto Europeu de Investigação dos Factores de Risco na Criança e no Adolescente)11.45h Debate12.30h Pausa para almoço

Painel II - Tratamento da Dependência de Opiáceos: a Prática Clínica nos Açores14.30h Hepatite C - Manutenção com Brupreenorfina Experiência do Hospital da Horta; Fátima Pinto, médica do Hospital da Horta15.00h Avaliação do Programa de Apoio a Dependentes de Substâncias Psicoactivas; Maria João Viveiros, enfermeira do Centro de Saúde da Horta; Cláudia Rocha, Socióloga, IAS (Instituto de Acção Social)15.30h A experiência do tratamento com Suboxone no Madalena do Pico; Álvaro Manito, médico do Centro de Saúde da Madalena16.00h pausa para café16.15h A experiência no Centro de Adictologia de Angra Do Heroísmo; Paula Brum, médica 16.45h FALTA TÍTULO COMUNICAÇÂO; Filipe Machado, Director da Casa de Saúde de São Miguel.17.15h Debate

SÃO ROQUE DO PICO

Dia 18 de Setembro de 200909.00h Acreditação e distribuição de pastas

Painel III - Políticas de Prevenção e Poder Local10.00h As Políticas de Prevenção no Contexto Regional; Paula Costa, Directora Regional da Prevenção e

Combate às Dependências10.30h Apresentação do filme: “A minha vida dava um filme” – realizado pela APADIF – Projecto Trilhos Saudáveis e pelo CINECLUBE, com o apoio da Câmara Municipal da Horta11.00h Debate11.15h Pausa para café11.30h Projecto “Entra na Onda”; Joana Silva, Presidente do Agrupamento 1314 gdo CNE de Pedro Miguel12.00h Debate14.00h - 17.30h Workshop I; Prevenção das Dependências em Contexto Escolar; Fernando Mendes, psicólo-go clínico; Destinado a professores, psicólogos e auxiliares de acção educativa (20 participantes).14.00h - 17.30h Workshop II; Trabalhar com Jovens as Questões da Prevenção: Metodologias Inovadoras; Irma Brito, enfermeira, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra; Destinado a jovens entre os 14 e 17 anos (20 participantes)

LAJES DO PICO

Dia 19 de Setembro9.30h - 12.30h Workshop III; Dependencias: Una Visión Integradora y Comunitária; Jesús Cartelle Fernández, psiquiatra, Chefe de Serviço das Toxicodependências (Reviera, A Coruña);Assessor Nacional de Qualidade do IDTLas distintas perspectivas de prevención, tratamiento, reduccion de daños e integración social desde una optica socio-comunitariaTratamiento: compartiendo saberes y reponsabilidades Reducción de daños: asegurar unos mínimos Integración: hacia una sociedad integradora.Público-alvo: psicólogos, assistentes sociais e professoresRelator:

Painel IV - Políticas de Saúde e Promoção da Qualidade14.30h Alcoholismo: Comprensión y Tratamientos da Dependencia Alcoholica; Francisco Pascual - Medico de Condutas Adictivas. Subdirector médico Hospital de Elda; Miembro de la Junta Directiva de SOCIDROGAL-COHOL. Valência – Espanha.15.30h Enfoque actual del Alcoholismo. La Eficacia del Tratamiento Ante las Nuevas Demandas; Prof. Juan Llopis Llácer, psiquiatra coordenador da Unidade de Condutas Adictivas Hospital General Castellon. Prof Universitat Jaime I. Castelló. Espanha 16.30h Debate

ILHA TERCEIRA - PRAIA DA VITÓRIA

Dia 21 de Setembro9.00h Acreditação e distribuição das pastas

Painel I - Consumos de Abuso Contemporâneos9.30h Uso/Abuso de Psicoestimulantes en Entorno de Ocio Juvenil. De la Comprensión Cultural a la Terapeutica; Juan J. Llopis Llacer - psiquiatra coordenador da Unidade de Condutas Adictivas Hospital General Castellon. Prof Universitat Jaime I. Castelló Espanha10.30h Pausa para café 10.45h Alcoholismo: Comprensión y Tratamientos da Dependencia Alcoholica y Estratégias para Preven-ción de la Recalida; Francisco Pascual - Medico de Condutas Adictivas. Subdirector médico Hospital de Elda; Miembro de la Junta Directiva de SOCIDROGALCOHOL. Valência – Espanha 11.45h Melhorar a Qualidade – Tratamento da Dependência de Opiáceos; Actualização no tratamento com opióides; Jesus Cartelle Fernandez, psiquiatra, Chefe de Serviço das Toxicodependências, Reveira, A Coruña, Assessor Nacional de Qualidade do IDT 13.00h Pausa para almoço

Painel II - Tratamento em Comunidade Terapêutica14.30h La Professionnalisation des Soins dans les Communautés Thérapeutiques; Dr. Jean Pierre Déman-ge –Psicólogo. Director de SATO - Picardie, Presidente da Associação Europeia T3E, Toxicomanies, Europe Échange Études 15.30h Pausa para café15.45h De la Prévention à L’accès aux soins: un travail de partenariat et de réseau; Claude Lefèbre, Conselheiro técnico do Director Geral do SATO-Picardie16.45h A complementaridade entre os Serviços Públicos e as Respostas dos Sectores Social e Privado; João Goulão, Presidente do IDT17.30h Debate

ANGRA DO HEROÍSMO

Dia 22 de Setembro9.30 às 12.30h Workshop IV - Servicios de Salud - Pasos Hacia la Calidad; Jesus Cartelle Fernandez, psiquia-tra, Chefe de Serviço das Toxicodependências, Reveira, A Coruña, Assessor Nacional de Qualidade do IDT

Painel III - Intervenção Comunitária e Políticas Locais14.30h Desporto, Inclusão e Prevenção das Dependências; Rui Santos, Director Regional do Desporto15.00h Programa de Fortalecimento de Famílias. Um projecto experimental inovador; Fátima Porto, médica, Presidente da CPCJ15.30h Projecto de Intervenção de Pares “Entra na Onda”; Joana Silva, chefe do agrupamento 1314 do CNE-Pedro Miguel16.00h Pausa para café16.15h O Papel da Família e dos Educadores na Prevenção das Dependências Fernando Mendes, psicólo-go clínico, Presidente do IREFREA17.00h PORI (Plano Organizacional de Respostas Integradas); João Goulão, Presidente do IDT17. 30h Debate18.00h Sessão de Encerramento: Carlos César, Presidente do Governo Regional dos Açores; Miguel Correia, Secretário Regional da Saúde; Paula Costa, Directora Regional da Prevenção das Dependências; João Goulão, Presidente do IDT