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Revista Mensal Outubro/2009 Preço: 7,00 J Vida Judiciária Contrato de doação com termo de autenticação 9 720002 009108 00962 Análise Responsabilidade médica: a informação a prestar ao paciente e o seu consentimento informado Em foco No limiar da medicina: o regime jurídico dos SPA Marcas & Patentes Direitos de autor: contrafacção de obra artística jurisprudência – Nulidade de contrato de trabalho de docência: Ilicitude do despedimento – Acidente de viação: direito a indemnização Legislação Regime jurídico do processo de inventário Preço - 7,00 J Nº 138 OUTUBRO DE 2009 Advogado espanhol José Angel Ruiz confirma aumento drástico de insolvências judiciais “A LITIGÂNCIA DISPAROU EM ESPANHA”

EntrevistaVidaJ_ JoseAngelRuiz

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    Anlise

    Responsabilidade mdica: a informao a prestar ao paciente e o seu consentimento informado

    Em foco

    No limiar da medicina: o regime jurdico dos SPA

    Marcas & Patentes

    Direitos de autor: contrafaco de obra artstica

    jurisprudncia

    Nulidade de contrato de trabalho de docncia: Ilicitude do despedimento

    Acidente de viao: direito a indemnizao

    Legislao

    Regime jurdico do processo de inventrio

    Preo - 7,00 J

    N 138OUTUBRO DE 2009

    Advogado espanhol Jos Angel Ruiz con rma aumento drstico de insolvncias judiciais

    A LITIGNCIA DISPAROU

    EM ESPANHA

  • Joo Lus Peixoto de Sousa

    Outubro/09 138 Revista MensalProprietrio

    Vida Econmica - Editorial, S.A.

    Rua Gonalo Cristvo, 14 r/c

    4000-267 Porto

    NIF 507 258 487

    Director

    Joo Carlos Peixoto de Sousa

    Coordenadora de edio

    Sandra Silva

    Paginao

    Flvia Leito

    Direco Comercial

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    Teresa Claro

    Madalena Campos

    Assinaturas

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    Fax. 217 937 748

    Impresso

    Uniarte Grfica / Porto

    Publicao inscrita no Instituto

    da Comunicao Social n 120738

    Empresa Jornalstica n 208709

    Periodicidade: mensal

    Reformas indispensveis

    Precisamos de uma reforma laboral importante, radical. A

    opinio manifestada em entrevista Vida Judiciria pelo

    advogado espanhol Jos Angel Ruiz, responsvel pelo agrupa-

    mento Prtica Legal.

    A necessidade de reforma laboral sentida em Espanha coloca-

    -se ainda com maior premncia em Portugal. Como as normas

    portuguesas so ainda mais rgidas em matria laboral, os

    efeitos sobre o nvel de desemprego so sentidos de uma forma

    mais lenta. Em Portugal, a taxa de emprego j ultrapassou os

    9%, mas em Espanha aproxima-se dos 20%. O efeito de trava-

    gem sobre o aumento do desemprego no grtis. Em Espanha,

    o impacto mais rpido, mas isso tambm permite acelerar o

    ajustamento e criar condies para que o emprego volte a crescer.

    Em Portugal, pelo contrrio, o crescimento do desemprego no

    to rpido mas as empresas continuam a perder competivida-

    de e no conseguem inverter to cedo a tendncia negativa na

    criao de emprego.

    Na comparao entre a situao concreta de Portugal e Espanha,

    Jose Angel Ruiz no destaca apenas a maior rigidez das normas

    laborais e refere a carga burocrtica e lentido no relacionamento

    entre os agentes econmicos e o Estado. Mas h tambm aspectos

    positivos que jogam a favor do nosso pas. o caso do regime de

    constituio de empresas e o registo comercial.

    Os progressos alcanados nestes domnios so importantes, mas

    no traduzem por si s vantagens comparativas face aos outros

    pases. Numa conjutura de crise como a actual, pouco adianta

    ter processos expeditos de criao de empresas se estas e as em-

    presas existentes so confrontadas com um conjunto de normas

    e exigncias onerosas e difceis de cumprir e que inviabilizam

    por si s a concretizao de projectos.

  • Advogado espanhol Jos Angel Ruiz confirma aumento drstico

    de insolvncias judiciais

    Em Foco No limiar da medicina: o regime jurdico dos SPA 9

    Actualidades

    Informaes jurdicas 11

    Registos & Notariado

    Contrato de doao com termo de autenticao 19

    Anlise

    Responsabilidade mdica 20

    Marcas & Patentes

    Direitos de autor 22

    Jurisprudncia

    Resumos de Jurisprudncia 35Jurisprudncia do STJ e das Relaes 39Sumrios do STJ 48

    LegislaoRegime jurdico do processo de inventrio 55Principal legislao publicada

    1 e 2 sries do Dirio da Repblica 61

    A litigncia disparou em Espanha

    VidaJudiciriaOutubro/2009

  • Vida Judiciria Outubro/2009

    Por Ana Santos Gomes

    Advogado espanhol Jos Angel Ruizconfirma aumento drstico de insolvncias judiciais

    A litigncia disparou em Espanha

    As insolvncias judiciais cresceram 226% no primeiro trimestrede 2009, revela Jos Angel Ruiz

    Para j Portugal no pode contar com o crescimento da economia espanhola para sair da actual crise.

    Jos Angel Ruiz, lder da Prctica Le-gal, que agrupa sociedades de advogados portuguesas e espanholas, traa um ce-nrio negativo do impacto da crise eco-nmica em Espanha e lamenta a ausn-cia de reformas estruturais que tivessem preparado o pas vizinho para o rebenta-mento da bolha imobiliria. O dfice vai disparar, o desemprego j est a subir e o nmero crescente de insolvncias est

    a aumentar consideravelmente a litign-cia judicial, revela o advogado espanhol.

    Vida Judiciria Como est a crise a afectar as empresas em Espanha? O nmero de falncias tem vindo a su-bir?

    Jos Angel Ruiz Sim, h mais fa-lncias do que antes. Os nmeros so de-molidores. S no primeiro trimestre deste ano as insolvncias judiciais cresceram 226% relativamente ao perodo homlo-go de 2008. Mas tambm temos outros indicadores que so muito significativos. O nmero de empresas dissolvidas, que

  • Vida Judiciria Outubro/2009

    no foi melhorada a previso para finais de 2009 e princpios de 2010. Aparente-mente, as economias dos pases desenvol-vidos tm uma perspectiva de retoma que em Espanha no existe ao dia de hoje.

    VJ Ento, como estima que a situ-ao evolua at ao fim de 2009?

    JAR Vai piorar. No somente no vamos ter uma correco como o resul-tado final de 2009 vai ser pior. De facto, at pelo contacto que tenho feito com os bancos, a ideia que em Espanha a recu-perao no se far antes de 2011.

    VJ Que factores provocam este agravamento em 2009?

    JAR Espanha foi um dos pases em que o rebentamento da bolha imobiliria foi mais grave. De facto, calculamos que neste momento temos casas construdas suficientes para responder procura nos prximos quatro ou cinco anos, e isso supondo que em Espanha no se constri nem mais uma casa at l. Se considerar-mos que, por muito pequena que seja a actividade econmica de construo, algo se construir nestes quatro ou cinco anos, o prazo para que se absorva o nmero de construes ter de ser de seis, sete ou mais anos. As vendas caram cerca de 50%. Por outro lado, verifica-se que a procura no elstica, ou seja, no h mais operaes de venda por se terem baixado os preos.

    VJ E o que espera de 2010?

    JAR Ser pelos menos como 2009. No se sentem sintomas de recuperao. Pergunta-se se a crise em Espanha bateu no fundo ou no, mas acho que existe um certo consenso de que a recuperao ser extremamente lenta.

    VJ H tambm uma crise de nimo entre os empresrios?

    JAR Diria que sim e sobretudo um sentimento de desesperana, de desni-mo, porque no se v uma perspectiva de melhorar a curto prazo. No h uma perspectiva num prazo razovel de que as coisas vo melhorar e portanto

    As economias dos pases

    desenvolvidos tm uma

    perspectiva de retoma que

    em Espanha no existe,

    lamenta o advogado espanhol

    No somente no vamos ter uma correco como o resultado final de 2009 vai ser pior, antecipa Jos Angel Ruiz

    simplesmente encerraram sem processo judicial e sem pagar aos seus credores, cresceu 4,1%. Ainda no primeiro trimes-tre, o nmero de empresas criadas em Es-panha caiu 34,6%, o que significa que, se unirmos o nmero de insolvncias com o nmero de empresas que se dissolvem margem dos tribunais e com a diminui-o da criao de empresas, creio que te-mos uma ideia aproximada do panorama econmico em Espanha neste momento. Isto foi o que se verificou no primeiro tri-mestre do ano, mas a tendncia no se alterou no segundo trimestre.

    VJ Esta situao poder agravar--se no segundo semestre?

    JAR Em nossa opinio, sim. H um estudo do Fundo Monetrio Interna-cional sobre a economia espanhola que afirma que somos o nico pas no con-junto dos pases desenvolvidos em que

  • Vida Judiciria Outubro/2009

    VJ A crise suspendeu projectos de internacionalizao?

    JAR De todo. De facto, os escrit-rios de advogados so um termmetro magnfico para medir a actividade das empresas e em todos os jornais econmi-cos e revistas jurdicas especializadas de Espanha se comenta que as grandes ope-raes desapareceram, sejam operaes de empresas espanholas l fora, sejam operaes de empresas estrangeiras em Espanha. H at um dado curioso. No primeiro quadrimestre, as exportaes espanholas caram pouco mais de 22% e as importaes caram 32% compara-tivamente ao perodo homlogo de 2008, portanto o nico indicador macroecon-mico que neste momento est a ser posi-tivo para Espanha em consequncia da crise a balana do exterior, porque es-tamos a importar menos do que estamos a exportar, porque a nossa economia e o consumo pararam. O rebentamento da bolha imobiliria j era previsto no in-cio de 2008, mas antes do Vero que os indicadores econmicos comeam a cair. O terceiro trimestre de 2008 foi mau e o quarto trimestre foi ainda pior.

    VJ A correco poder ser mais rpida ao nvel das importaes e exportaes?

    JAR Creio que no ser nada rpi-da, porque o consumo caiu em Espanha. Se no h consumo interno, no vamos importar.

    VJ Que sectores ainda vo resis-tindo, no que diz respeito a projec-tos de internacionalizao?

    JAR Todos os sectores esto muito afectados. Durante anos a economia es-panhola centrou-se na actividade imo-biliria. O presidente da Indra at j referiu que em Espanha gasta-se mais em lotaria e jogos de azar do que em in-vestigao tecnolgica. Nem o sector da construo de luxo conseguiu resistir.

    VJ E de fora para dentro no h nenhum sector que continue a apos-

    tar em Espanha para se internacio-nalizar?

    JAR Sim, pela experincia do nos-so escritrio, so as empresas orientais, nomeadamente da China, que o esto a fazer.

    VJ Que consequncias ter toda esta crise na economia espanhola?

    JAR Algumas consequncias j se esto a fazer sentir. Temos uma descida do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 4% e prev-se que em 2010 o PIB con-tinue a cair significativamente. A eco-nomia espanhola tem um problema es-trutural muito importante. Somos uma economia muito diferente das economias dos pases que nos rodeiam no sentido de que precisamos de uma taxa de cresci-mento do PIB muito maior do que a fran-cesa ou a alem para criar emprego. Com a descida perdemos mais emprego. Em 2008 comemos a ter problemas signifi-cativos com a curva de emprego, a partir de Julho de 2008 inverte-se a curva de crescimento de emprego e comeamos a destruir postos de trabalho.

    VJ - Qual o impacto social deste fe-nmeno?

    JAR A imprensa refere que teremos um milho de famlias que neste momen-to no tm rendimento.

    VJ frequente ouvir empresrios portugueses lamentar que a fiscali-dade na criao de empresas mais atractiva em Espanha do que em Portugal. Tem essa noo?

    JAR Penso que os impostos sociais e sobre o rendimento so bastante simi-lares em Portugal e Espanha. Tudo de-pende dos incentivos temporrios que existam para as start-ups. Em Espa-nha adoptou-se uma poltica que consis-te em empregar grandes quantidades de dinheiro pblico com dois fins: ajudar significativamente o sistema financeiro espanhol e introduzir dinheiro pblico na economia, fundamentalmente nas autarquias, para que no invertam os projectos de desenvolvimento. O proble-

    Existe um certo consenso de que a recuperao ser extremamente lenta, confirma o responsvel da Prctica Legal

  • Vida Judiciria Outubro/2009

    tante. Acho que a soluo no passa por subir nem manter os impostos.

    VJ em plena crise que se devem fazer essas reformas?

    JAR a nica maneira que temos para uma economia como a espanhola sair da crise. Espanha precisa de au-mentar significativamente a sua com-petitividade. No houve uma reforma profunda do sistema laboral, que ne-cessrio mudar. O problema do mercado laboral em Espanha e do prprio siste-ma fiscal a pouca flexibilidade. Temos de ter uma maneira de ajustarmos mais facilmente as empresas s circunstn-cias do mercado. Temos de incentivar a mobilidade geogrfica, temos de flexibi-lizar os horrios, temos de flexibilizar a contratao, temos de tornar mais com-patvel a formao no trabalho, temos de integrar mais as universidades com as empresas. Precisamos de uma mudan-a cultural.

    VJ Acredita que a legislao labo-ral poder mudar rapidamente?

    JAR No, porque um dos proble-mas que tem a economia ou a socieda-de espanhola neste momento o de que estamos a atravessar uma crise e no se est a realizar nenhuma reforma es-trutural de importncia, quando essas reformas deviam ter sido comeadas muito antes de a crise se ter iniciado. Permitiu-se criar a bolha imobiliria, permitiu-se que ela explodisse, estamos a sofrer o dano causado e continuamos a seguir em frente sem tomar nenhuma medida estrutural para que a economia espanhola mude.

    VJ Como que Espanha v a legis-lao laboral portuguesa?

    JAR Creio que o mercado laboral portugus menos flexvel do que o es-panhol.

    VJ Esse um factor que pesa mui-to na internacionalizao das em-presas espanholas em Portugal?

    Os escritrios de advogados

    so um termmetro

    magnficopara medir

    a actividadedas empresas,

    alega Jos Angel Ruiz

    ma que at data no se notou uma reactivao da economia e estamos a es-gotar a nossa possibilidade de injectar dinheiro pblico, pois estamos a dispa-rar o dfice. Temos a possibilidade de chegar ao fim do ano com um dfice de cerca de 10%. J estamos no limite do que podemos fazer e ainda no h sinais de reactivao.

    VJ Nem ao nvel de start-ups e de operaes de early-stage?

    JAR Em minha opinio, no pode-mos falar de start-ups quando vemos o estado das novas empresas e uma que-da de 86%. Neste momento, no existem start-ups em Espanha. Existe um sen-timento nos empresrios espanhis de que so necessrias reformas profundas. Neste momento no possvel encontrar empresas de capital de risco.

    VJ Como tem evoludo o mercado de seguro de crdito?

    JAR Em finais de 2008 algumas se-guradoras de crdito em Espanha esta-vam a pagar 2 euros de indemnizao por cada euro de prmio que recebiam. Nes-te momento esto a pagar 3 euros de in-demnizao por cada euro de prmio que cobram. E isto depois de uma conteno fortssima de riscos e de os prmios te-rem multiplicado por 2, 3 ou 4.

    VJ Em Portugal a taxa de sinistra-lidade ultrapassou os 100%.

    JAR Em Espanha foi de 200%.

    VJ No se poder contar com o mer-cado de seguro de crdito para revi-talizar as exportaes?

    JAR Penso que no.

    VJ O Governo espanhol poderia ter feito mais?

    JAR Penso que a economia espanho-la precisa de reformas estruturais profun-das. Precisamos de uma reforma laboral importante, radical. Creio que tambm precisamos de uma reforma fiscal impor-

  • Vida Judiciria Outubro/2009

    JAR Sim, as empresas espanholas no so excepo. Sempre que uma em-presa procura uma internacionalizao, leva em linha de conta a estabilidade do pas, a segurana do ordenamento jur-dico, a competitividade do seu merca-do laboral e o seu sistema financeiro e bancrio que a vai ajudar no seu finan-ciamento e com as estruturas do pas. Tudo isto ajuda a captar investimento estrangeiro.

    VJ Quais so os pontos fracos de Portugal a esse nvel?

    JAR Creio que a falta de flexibi-lidade do mercado laboral um ponto importante. A imagem da carga buro-crtica tambm chega aqui a Espanha. Em alguns aspectos h muito mais car-ga burocrtica e os trmites so muito mais lentos, embora haja aspectos que funcionam muito melhor em Portugal do que em Espanha, como por exemplo o sistema de constituio de empresas e o registo comercial. Por exemplo, aqui no tenho acesso informtico ao registo comercial. Em minha opinio, a evoluo informtica que se operou em Portugal foi excelente. Em Portugal j se apre-sentam os documentos em tribunal por via informtica. Em Espanha isso no existe. H alguns projectos e em certas reas esto a fazer-se algumas provas, mas no existe nenhuma implantao prtica. Aqui, para apresentar uma ac-o em tribunal tenho de enviar em pa-pel. Acho que totalmente favorvel a via electrnica. A Justia tem de passar pela informatizao.

    VJ E a advocacia, como sofre com a crise?

    JAR A advocacia uma parte da sociedade em que se integra. Verifica-se que houve uma mudana significa-tiva do tipo de trabalho que havia nos escritrios de advogados, por exemplo, no existem as grandes operaes, caiu muito a consultadoria e desenvolveram-se mais as reas de insolvncia, de tra-balho. A litigncia aumentou. De facto, uma das consequncias da nossa situa-

    o de crise foi o aumento das situaes de incumprimento de pagamentos, logo aumentaram os procedimentos de recla-mao judicial.

    VJ Acredita que a litigncia con-tra executivos de empresas poder aumentar?

    JAR provvel que sim, mas neste momento o incremento da litigncia em Espanha no tem de ver com problemas de responsabilidade, tem de ver com ques-tes laborais, com falta de pagamentos e com procedimentos de insolvncia.

    VJ A crise traz novos desafios para a advocacia?

    JAR Evidentemente, uma situa-o bastante diferente da que vivamos at h pouco tempo.

    VJ Quer dizer que, h dois ou trs anos atrs, era impossvel prever isto?

    Neste momento no existem start-ups em Espanha, revela o responsvel da Prctica Legal

    Precisamos de uma reforma laboral importante, radical, defende o responsvel da Prctica Legal

  • Vida Judiciria Outubro/2009

    JAR H uns trs anos participei numa conferncia onde se discutia se existia ou no sobreendividamento das famlias espanholas. Todos os oradores mantinham uma postura politicamente correcta: no tnhamos uma bolha imo-biliria, nem estvamos s portas de uma crise, nem ia ocorrer absolutamen-te nada nem existia um endividamento importante. Quando intervim, chamei para a ateno de tudo isto, do endivi-damento, das reformas estruturais, da bolha imobiliria e no fui muito bem visto. Hoje h conscincia de que exis-te uma bolha que afecta uma srie de sectores-chave: ferro, imobilirio e ce-rmica.

    VJ De que forma esta crise mudou o quotidiano da Prctica Legal?

    JAR Em Espanha, as coisas come-am por acontecer primeiro nas grandes cidades, logo o desafio chegou primeiro a Madrid e Barcelona e depois aos res-tantes escritrios. O nosso trabalho muito gratificante quando cresce com o nosso cliente, mas tambm nos custa ver, fora do ponto de vista econmico, que h clientes nossos em dificuldades econmicas e que ns no temos solues mgicas para eles.

    VJ Quantas pessoas trabalham ac-tualmente neste agrupamento?

    JAR Incluindo a equipa em Portugal [atravs da Lus S. Rodrigues & Associa-dos, que integra o agrupamento Prctica Legal], somos 174.

    VJ Qual o peso do mercado por-tugus na Prctica Legal?

    JAR Sensivelmente 35 a 38%.

    VJ O que representa para este agrupamento o mercado portugus neste momento?

    JAR O mercado portugus um mercado importante, por vrias razes. Do ponto de vista espanhol, Portugal o primeiro passo natural para a interna-

    cionalizao das empresas espanholas, j que um mercado prximo, um mercado amigo, um mercado culturalmente mui-to favorvel e grande parte das empre-sas espanholas que em tempo iniciaram um processo de expanso comearam por Portugal. Esse foi o seu primeiro contac-to com um mercado exterior. Quase no h empresas espanholas que se tenham expandido internacionalmente e que no tenham presena no mercado portugus, sobretudo os bancos, as seguradoras e as empresas industriais.

    VJ Para a advocacia, faz mais sen-tido funcionar como plo ibrico e no olhar para Portugal e Espanha como mercados individuais?

    JAR Sem dvida que se oferece um melhor produto ao cliente. E o cliente valoriza essa presena ibrica.

    VJ Como prev que vai evoluir esse posicionamento ibrico no fu-turo?

    JAR Penso que ter de haver uma integrao econmica maior entre os dois pases, pois partilhamos muitas carac-tersticas comuns. Neste momento te-mos problemas econmicos similares e Portugal tambm tem necessidade de fazer reformas estruturais profundas. Em segundo lugar, h um processo de integrao de empresas espanholas em Portugal e vice-versa. Por outro lado, h um aspecto psicolgico muito importan-te, em consequncia deste processo, que o aumento do conhecimento dos dois mercados que j no so vistos como dois mercados estranhos. Acho que um pro-cesso de integrao imparvel.

    VJ Terminada esta crise, ela tam-bm se transforma em oportunida-de?

    JAR Acontece sempre. H que cres-cer quando as coisas esto bem e cres-cer muitssimo em poca de crise. Por-tugal uma oportunidade magnfica. E isso, sem dvida, aplica-se tambm advocacia.

    O problemado mercado laboralem Espanhae do prprio sistema fiscal a pouca flexibilidade, acusa JosAngel Ruiz

  • Vida Judiciria Outubro/2009

    No limiar da medicina: o regime jurdico dos SPADaniel Torres Gonalves*

    A sade um direito fundamental, constitucio-nalmente protegido1. vasta a gama de disposies legais que visam assegurar o respeito pelo direito sade. Assim, a lei prev as possibilidades da de-nominada negligncia mdica, erro mdico, falta de consentimento informado, entre outras. Contudo, no mbito da sade surgiram novas realidades que a lei no previa. E, na falta de previso, no existe estatuio que sirva os interesses dos cidados, neste caso, quanto sua sade. Serve o presente artigo para abordar algumas dessas realidades SPA, ginsios e centros de bronzeamento.

    SPAOs SPA, ginsios, institutos de beleza e centros

    de bronzeamento so uma realidade j bem im-plementada em Portugal. S os SPA integrados em hotis e outros empreendimentos tursticos so hoje, no mnimo, 115. Contudo, o conceito de Day SPA est ainda mais vulgarizado, consistindo nos tratamentos existentes em lojas, cabeleireiros, esteticistas e outros, que sero num nmero bem supe-rior quele.

    Muitos problemas se levantam a este nvel, pois o regime de licencia-mento e fiscalizao no , de todo, claro ou sequer suficiente.

    A abertura de espaos para gi-nsios e centros de bronzeamento artificial, bem como cabeleireiros e institutos de beleza, foi abrangido pelo programa governamental de simplificao administrativa, de-nominado SIMPLEX. Pretendendo adoptar solues alternativas para facilitar as actividades econmicas, onde se incluem as referidas,2 veio-se eliminar a vistoria prvia laborao e emisso de alvar relativo ao fun-cionamento.3 Neste sentido, aquele que pretenda explorar um Spa limita-se a ter de apresentar uma declarao na respectiva cmara municipal e cpia na Direco-Geral da Empresa (DGE), na qual se responsabiliza que o estabelecimento cumpre todos os requisitos adequados ao exerccio da activida-de.4 Este regime, do Decreto-Lei n 259/2007,

    de 17 de Julho, veio substituir aquele previsto pelo Decreto-Lei n 370/99, de 18 de Setembro, que se mostrava mais exigente.

    O artigo 5 do Decreto-Lei n 259/2007 estabelece que os requisitos especficos a que deve obedecer a instalao e funcionamento dos estabelecimen-tos constam de portaria. Neste caso, trata-se da Portaria n 789/2007, que, quanto a Instalao e funcionamento dos estabelecimentos que prestam servios de bronzeamento artificial, remete para o Decreto-Lei n 205/2005, de 28 de Novembro. Este, no seu artigo 2, remete o regime da instalao dos estabelecimentos para o Decreto-Lei n 370/99. Sabendo que este foi revogado, no restam dvidas que o supracitado regime simplificado aplicvel aos estabelecimentos agora considerados.

    Nos estabelecimentos em questo essencial que haja acompanhamento por pessoal especializado. Estamos perante aparelhos complexos e que, se no forem correctamente manuseados, podem

    ter consequncias fatais para os seus utilizadores. Ora, o referido Decreto-Lei n 205/2005 obriga, no seu artigo 5, a que haja a presena de responsvel tcnico. Contudo, o seu artigo 22, relativamente formao tcnica desse responsvel tcnico, meramente estabelece que ele dever receber formao espe-cfica adequado ao exerccio dessa funo. Esta frase incua. O n 2 desse artigo 22 remete as matrias mnimas obrigatrias que integram o plano do curso de formao dos profissionais que trabalham nos cen-tros, bem como a identificao das entidades que podem ministrar este curso, so definidas para portaria. Para concluir este ciclo intermin-

    vel, resta referir que esta portaria, portaria con-junta dos Ministrios da Economia e da Inovao e Sade n 1301/2005, de 20 de Dezembro, no seu artigo 3, acaba por estabelecer que ao Instituto do Emprego e Formao Profissional, I. P. compete, em articulao com a Direco-Geral da Sade, a definio do perfil das competncias dos profissio-nais e do referencial de formao.

    Este emaranhado legislativo , quase, incompre-ensvel e, no final de contas, acaba por estabelecer

    Este emaranhado legislativo , quase, incompreensvel e, no final de contas, acaba por estabelecer muito poucos requisitos para regular uma matria to sensvel, visto lidar directamente com a sade dos consumidores.

  • 10Vida Judiciria Outubro/2009

    muito poucos requisitos para regular uma matria to sensvel, visto lidar directamente com a sade dos consumidores.

    Finalmente, quanto competncia para a fisca-lizao destes estabelecimentos, ela cabe ASAE. Segundo esta autoridade, entre o incio de 2006 e 31 de Agosto de 2008 foram fiscalizados 1012 ginsios health clubs, sendo que houve 125 suspenses, 17 processos-crime instaurados, 444 processos de contra-ordenao e, ainda, 9 detenes , culminan-do num total de 732 infraces.5 Porm, no esto disponveis informaes relativas aos motivos que levaram a tais infraces.

    O caso de EspanhaEm Espanha existe regulao especfica para os

    aparelhos de bronzeado, um dos temas mais sens-veis nesta matria. O Real Decreto 1001/2002, de 27 de Setembro, trata tanto da utilizao daqueles aparelhos como da sua venda. Logo partida, a abertura dos centros de bronzeado est sujeita a critrios mais apertados do que no nosso pas. Isto porque necessria a acreditao ante la Admi-nistracin competente, mediante una declaracin, la descriptin tcnica de los aparatos y materiales de que dispone, as como la formacin recibida por el personal de dicho estabelecimiento, declaracin que deber actualizarse cada vez que se produzca alguna modificacin. Mostra-se de especial re-levo o facto de ser exigida a entrega da informao relativa formao dos responsveis tcnicos pelos aparelhos.

    J quanto s exigncias da formao do pessoal, o n 1 do artigo 8 do referido Real Decreto em tudo semelhante ao artigo 22, n 1, do nosso Decreto-Lei 205/2005, acima transcrito. Contudo, na situao espanhola, tal disposio complementada pelo n 2 daquele artigo 8, que vem exigir a certificao de conhecimentos e aptides para trabalhar com os aparelhos de bronzeado. Exige, ainda, que a forma-o oferecida aos tcnicos verse sobre uma parte terica e outra prtica. De facto, no s se refere necessidade de o tcnico se familiarizar com o manejo dos aparelhos como tambm obriga a que aquele aprenda as propriedades, caractersticas fsicas de las radiociones UV, sus efectos biolgicos () y sus reacciones adversas.

    Outra diferena notvel entre as legislaes por-tuguesa e espanhola tem que ver com a informao fornecida ao utilizador. O artigo 19 do Decreto-Lei 205/2005 estabelece que o centro de bronzeamento est obrigado a afixar de forma permanente, clara e visvel, com caracteres facilmente legveis, em local imediatamente acessvel ao consumidor, um letreiro

    contendo informao destinada a possibilitar ao consumidor uma utilizao adequada do centro, dos aparelhos bronzeadores e do servio de bronze-amento. Ou seja, no existe qualquer referncia ao contedo daquela informao, i.e. o objecto das informaes a prestar. Por seu turno, o diploma es-panhol exaustivo na definio das informaes que devem ser prestadas. Por um lado, exige que haja um documento informativo a ser disponibilizado ao utilizador antes da exposio ao bronzeamento, onde constam um conjunto de dados relativos s radiaes e cuidados a tomar. Este documento ter de ser as-sinado pelo utilizador. Por outro lado, exigido que haja um quadro informativo na sala de recepo. de referir que o mpeto regulador do legislador es-panhol ter sido, porventura, excessivo. Note-se que o referido quadro informativo ter de estar colocado de forma que el tamao de los caracteres ser tal que a una distancia de 5 metros sea visible y facilmente legible (negrito nosso).

    Por fim, as entidades responsveis pelos centros de bronzeamento tero que assegurar a realizao de, pelo menos, uma reviso tcnica anual dos apa-relhos, a efectuar por organismo autorizado pela Administrao.

    Contudo, as exigncias legais no dizem tudo sobre a realidade espanhola. A verdade que um estudo realizado, em 2004, pela revista Consumer Eroski6, referia que somente 8% dos centros de bronzeamento do pas respeitavam a legislao. Dos estabelecimentos analisados, 67% apresentaram um resultado final de Muy Mal.

    A matria aqui tratada encontra-se no limiar da Medicina. No estamos perante tratamentos clnicos stricto sensu, o que levar o legislador a ter uma postura relaxada quanto aos requisitos legais a res-peitar. Porm, estamos perante tratamentos que po-dem ter consequncias para a sade e bem-estar dos seus utilizadores. Este facto deve alertar-nos para a necessidade de estarmos munidos de legislao, e meio de aplicar essa legislao, capaz de proteger os interesses dos utilizadores destes servios.

    * AdvogadoGabinete de Advogados

    Antnio Vilar & [email protected]

    www.antoniovilar.pt

    1 Artigo 64 da Constituio da Repblica Portuguesa.

    2 Anexo da Portaria n 791/2007, de 23 de Julho.

    3 Prembulo do Decreto-Lei n 259/2007, de 17 de Julho.

    4 Artigo 4, n 1, do mesmo Decreto-Lei.

    5 Dados de www.asae.pt

    6 Solariums incumplen la ley que los regula (Abril 2004) 76 Consumer, 4-9.

  • 11 Vida Judiciria Outubro/2009

    Informaes Jurdicas

    Criado o regime do mercado organizado de resduos

    Os mercados de resduos visam facilitar e promover as trocas comerciais de diversos tipos de resduos, assim como potenciar a sua valorizao e reintroduo no circuito econmico, diminuindo a procura de matrias-primas primrias e promovendo simbioses industriais. Recentemente foi aprovado o DL n. 210/2009, de 3.9, que estabelece o regime de constituio, gesto e funcionamento do mercado organizado de resduos, nos termos do regime geral da

    gesto de resduos. O diploma agora aprovado fornece um enquadramento legal para essas trocas comerciais, estabelecendo, nomeadamente, os requisitos para a credibilizao das transaces que ocorram nestes mercados, criando um conjunto de incentivos financeiros e administrativos que auxiliem a instalao dos mesmos. Estes incentivos so destinados s entidades gestoras das plataformas de negociao e aos potenciais utilizadores das mesmas produtores e operadores de resduos , incentivando a sua adeso aos mercados. Este novo regime vem ainda suprir as necessidades de regulao no mbito do acompanhamento e controlo, por parte da administrao, das actividades das entidades

    gestoras de mercados organizados de resduos, assim como da articulao entre as plataformas electrnicas dos mercados organizados e a plataforma SIRAPA (Sistema Integrado de Registo da Agncia Portuguesa do Ambiente), um desenvolvimento do Sistema Integrado de Registo Electrnico de Resduos (SIRER) previsto tambm no regime geral da gesto de resduos.De referir que o cumprimento deste novo regime compete Inspeco-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Territrio (IGAOT), Autoridade de Segurana Alimentar e Econmica (ASAE), Direco-Geral das Alfndegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo (DGAIEC) e s autoridades policiais.n

    Carta de conduo. Alteraes

    O DL n. 174/2009, de 3.8, veio introduzir alteraes ao DL n. 45/2005, de 23.2, que procedeu transposio das directivas comunitrias, relativas carta de conduo. Estas alteraes prendem-se com o modelo comunitrio da carta de conduo, introduzindo-se alteraes lista de cdigos comunitrios e nacionais, revendo-se igualmente alguns prazos previstos na lei interna que se mostraram inadequados para a implementao das medidas preconizadas, bem como as exigncias mnimas para o exame de conduo, de modo a melhorar o nvel da segurana rodoviria.n

    Campus de Justia de Vila Franca de Xira

    Na sequncia do Programa de Modernizao do Sistema Judicial foi aprovada a Resol. do Cons. Ministros n. 84/2009, de 11.9, que autoriza a a transferncia dos servios de justia de Vila Franca de Xira para o Campus de Justia de Vila Franca de XiraNa cidade de Vila Franca de Xira, os servios da Justia encontram-se instalados em quatro edifcios dispersos pela cidade. urgente dotar estes servios de justia de novas instalaes, devidamente dimensionadas e com condies funcionais prprias para o exerccio das funes que

    alojaro, bem como obedecendo a padres de segurana elevados.O terreno que ser doado pelo municpio de Vila Franca de Xira para o efeito situa-se na Lezria do Chinelo, Lezria das Cortes e Quinta da Cascata, freguesia de Vila Franca de Xira, com uma rea total de 7278 m2, e permite assegurar a concentrao de todos os servios, atravs da construo de um novo edifcio, proporcionando, portanto, melhores condies e maior operacionalidade, funcionalidade e segurana aos vrios servios.Para alm de autorizada a transferncia dos servios da justia de Vila Franca de Xira para o Campus de Justia de Vila Franca de Xira, o Instituto de Gesto Financeira e de Infra-Estruturas da Justia, I. P., est tambm autorizado a a dar incio ao procedimento de arrendamento dos equipamentos a construir. N

  • 12Vida Judiciria Outubro/2009

    Apoio na produo e transformao do leite

    No passado dia 8 do corrente ms de Setembro foram aprovadas as primeiras alteraes ao diploma que cria uma linha de crdito, com juros bonificados, dirigida s empresas do sector agrcola e pecurio e do sector florestal e s agro-indstrias.De acordo com o DL n. 218/2009, de 7.9, as empresas do sector agrcola e pecurio e das agro-indstrias cuja actividade se centra na produo e transformao do leite passam a beneficiar, em relao aos demais beneficirios, de um alargamento do prazo mximo do emprstimo, que passa para seis anos, vencendo--se a primeira amortizao no mximo at trs anos, e permitindo um perodo de carncia de capital de dois anos. n

    Desmaterializa-o dos processos nos tribunais administrativos e fiscais

    As recentes alteraes introduzidas ao diploma que define a sede, a organizao e a rea de jurisdio dos tribunais administrativos e fiscais visam dar mais um passo na concretizao da desmaterializao dos processos nos tribunais administrativos e fiscais. De acordo com o Sistema Informtico dos Tribunais Administrativos e Fiscais (SITAF), a tramitao dos processos nos tribunais da jurisdio administrativa e fiscal deveria passar a ser efectuada informaticamente. As alteraes ora introduzidas pelo DL n. 190/2009, de 17.8, vo mais longe, pretendendo a desmaterializao dos processos nos tribunais administrativos e fiscais. Criam-se agora as condies para que nos tribunais administrativos e fiscais deixem de ser impressas as peas, autos e termos do processo que no sejam relevantes para a deciso material da causa. Adequam-se as regras

    aplicveis tramitao processual nos tribunais administrativos e fiscais, possibilidade de serem efectuadas citaes e notificaes electrnicas entre mandatrios e entre tribunais e mandatrios, j em funcionamento nos tribunais judicias. Prev-se que a tramitao electrnica dos processos passe a abranger a remessa do processo administrativo ao tribunal, por parte das entidades demandadas.Assim, a tramitao dos processos nos tribunais da jurisdio administrativa e fiscal efectuada electronicamente, nos termos a definir por portaria do membro do Governo responsvel pela rea da justia. Tal regra aplicvel tambm s citaes e notificaes das partes e dos mandatrios judiciais, que so efectuadas electronicamente. Os documentos que possam ser digitalizados podem ser apresentados por transmisso electrnica de dados, podendo as partes ser dispensadas de remeter ao tribunal o respectivo suporte de papel e as cpias dos mesmos. Mantm-se, no entanto, o dever de exibir dos originais das peas processuais e dos documentos juntos pelas partes por transmisso electrnica de dados sempre que o juiz o determine.n

    Regime processual civil de natureza experimental. Aplicabilidade a novos tribunais

    As recentes alteraes introduzidas ao regime processual civil de natureza experimental pelo DL n. 178/2009, de 7.8, clarificaram o momento a partir do qual aplicvel a extenso deste regime a novos tribunais, determinada por portaria do Ministro da Justia. O regime

    processual civil de natureza experimental, criado em Junho de 2006, aplicvel s aces declarativas cveis a que no corresponda processo especial, aos procedimentos cautelares propostos a partir de 16 de Outubro de 2006 e s aces resultantes da apresentao distribuio de autos de injuno a partir dessa mesma data, desde que intentados nos Juzos de Competncia Especializada Cvel do Tribunal da Comarca de Almada, nos Juzos de Competncia Especializada Cvel do Tribunal da Comarca do Seixal, nos Juzos Cveis e Juzos de Pequena Instncia Cvel do Tribunal da Comarca do Porto.Tendo em vista o alargamento

    da aplicao deste regime a novos tribunais, foi agora alterado o diploma que procedeu aprovao do citado regime, com a finalidade de clarificar o momento a partir do qual aplicvel a extenso deste regime processual civil experimental a novos tribunais.Assim, de acordo com as citadas alteraes, o regime processual civil de natureza experimental aplica-se, ainda, s aces e aos procedimentos cautelares propostos a partir da data da entrada em vigor da citada portaria do Ministro da Justia e s aces resultantes da apresentao distribuio de autos de injuno a partir da mesma data.n

  • 13 Vida Judiciria Outubro/2009

    Empreendi-mentos tursticos

    No Conselho de Ministros de 5 de Agosto, foi aprovada primeira alterao ao Decreto-Lei n. 39/2008, de 7 de Maro, que aprova o regime jurdico da instalao, explorao e funcionamento dos empreendimentos tursticos.De acordo com as citadas alteraes procede-se a alguns ajustamentos neste regime, clarificando-se o contedo de algumas normas e adequando-

    -se as previses de outras actual conjuntura econmica. Assim, clarifica-se o conceito de recuperao de construes existentes no mbito dos empreendimentos de turismo no espao rural, a possibilidade de utilizao comercial da designao resort, bem como a dimenso das vias de circulao dos conjuntos tursticos.Paralelamente, consagra-se a possibilidade de instalao, em conjuntos tursticos, de edifcios autnomos, de carcter unifamiliar, com alvar de autorizao de utilizao para fins tursticos autnomos, quando tal seja admitido

    pelos instrumentos de gesto territorial aplicveis, e desde que a sua explorao seja assegurada pela entidade exploradora de um dos empreendimentos tursticos do conjunto turstico. Prev-se, ainda, a sujeio destas unidades de alojamento necessidade de cumprimento dos requisitos de instalao e de servio mnimos exigidos para as unidades de alojamento dos aldeamentos tursticos com a categoria de trs estrelas, bem como a obrigao de as mesmas estarem integradas no ttulo constitutivo do conjunto turstico (resort), e sujeitas ao pagamento da prestao peridica nele estabelecida.n

    Cinco novos Julgados de Paz

    No Conselho de Ministros do passado dia 27 de Agosto foi aprovada a criao dos seguintes cinco novos julgados de paz:- O Julgado de Paz do Agrupamento dos Concelhos de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo; - O Julgado de Paz do

    Agrupamento dos Concelhos de Alvaizere, Ansio, Figueir dos Vinhos, Pedrgo Grande e Penela; - O Julgado de Paz do Agrupamento dos Concelhos de Cmara de Lobos e Funchal; - O Julgado de Paz do Concelho de Loures; e - O Julgado de Paz do Agrupamento dos Concelhos de Odemira e Sines. Com a entrada em funcionamento destes novos cinco julgados de paz passaro a existir 29 julgados de paz em todo o pas. n

    Alteraes ao regime jurdico da identificao criminal e de contumazes

    No Conselho de Ministros de 20.8 foi aprovada a segunda alterao ao regime jurdico da identificao criminal e de contumazes e primeira alterao regulamentao dos ficheiros informticos em matria de identificao criminal e de contumazes.De acordo com as citadas alteraes, os diplomas ora alterados passam a contemplar expressamente as especificidades para o registo das condenaes das pessoas colectivas (nomeadamente quanto aos elementos de identificao; s regras de acesso informao; ao contedo dos certificados; ao cancelamento do registo; ou aos casos de fuso ou ciso de sociedades). n

    Novos Campus de Justia em Faro, lhavo e Nazar

    No Conselho de Ministros do passado dia 27 de Agosto foi autorizada a transferncia dos servios de justia de Faro para o Campus de Justia de Faro; a transferncia dos

    servios de justia de lhavo para o Campus de Justia de lhavo e a transferncia dos servios de justia de Nazar para o Campus de Justia de Nazar.O Campus da Justia de Faro, que integra todos os servios com excepo do Tribunal da Relao, instalado na Estrada da Senhora da Sade, freguesia de S. Pedro, o de lhavo, na Nossa Senhora do Pranto, na freguesia de S. Salvador, e o da Nazar, na Avenida Vieira Guimares. n

  • 14Vida Judiciria Outubro/2009

    Actividade de transporte e distribuio de valores. AlteraesNo passado dia 3 de Agosto foram aprovadas alteraes Port. n. 247/2008, de 27.3, que regula as condies aplicveis ao transporte, guarda, tratamento

    e distribuio de valores, por parte de entidades de segurana privada detentoras de alvar ou licena. De acordo com a Port. n. 840/2009, de 3.8, so agora adoptados sistemas inteligentes de neutralizao de notas no percurso de distribuio de valores, devendo os veculos ser equipados com estrutura prpria para o suporte desses meios. Por outro lado, no transporte de

    valores superiores a J 10 000, a tripulao mnima deve integrar trs elementos, com categoria profissional de vigilante de transporte de valores, um dos quais ser indistintamente o condutor, ou, em alternativa, integrar dois elementos com a mencionada categoria, desde que sejam adoptados sistemas inteligentes de neutralizao de notas no percurso de distribuio de valores. n

    Novo regime jurdico do apadrinhamento civil

    A Lei n. 103/2009, de 11.9, veio aprovar o regime jurdico do apadrinhamento civil, procedendo alterao do Cdigo do Registo Civil, do Cdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, da Lei de Organizao e Funcionamento dos Tribunais Judiciais e do Cdigo Civil. De acordo com o citado diploma, o apadrinhamento civil uma relao jurdica, tendencialmente de carcter permanente, entre uma criana ou jovem e uma pessoa singular ou uma famlia que exera os poderes e deveres prprios dos pais e que com ele estabeleam vnculos afectivos que permitam o seu bem-estar e desenvolvimento, constituda por homologao ou deciso judicial e sujeita a registo civil. Esta lei aplica-se s crianas e jovens que residam em territrio nacional. S podem apadrinhar pessoas maiores de 25 anos, previamente habilitadas para o efeito. Desde que o apadrinhamento civil apresente reais vantagens para a criana ou o jovem e desde que no se verifiquem os pressupostos da confiana com vista adopo, a apreciar pela entidade

    competente para a constituio do apadrinhamento civil, pode ser apadrinhada qualquer criana ou jovem menor de 18 anos, nomeadamente:- Que esteja a beneficiar de uma medida de acolhimento em instituio;- Que esteja a beneficiar de outra medida de promoo e proteco;- Que se encontre numa situao de perigo confirmada em processo de uma comisso de proteco de crianas e jovens ou em processo judicial.Tambm pode ser apadrinhada qualquer criana ou jovem menor de 18 anos que esteja a beneficiar de confiana administrativa, confiana judicial ou medida de promoo e proteco de confiana a instituio com vista a futura adopo ou a pessoa seleccionada para a adopo quando, depois de uma reapreciao fundamentada do caso, se mostre que a adopo invivel. Os padrinhos exercem as responsabilidades parentais, ressalvadas as limitaes previstas no compromisso de apadrinhamento civil ou na deciso judicial. Regra geral, os pais beneficiam dos direitos expressamente consignados no compromisso de apadrinhamento civil, designadamente:- Conhecer a identidade dos padrinhos;- Dispor de uma forma de contactar os padrinhos;- Saber o local de residncia do filho;

    - Dispor de uma forma de contactar o filho;- Visitar o filho, nas condies fixadas no compromisso ou na deciso judicial, designadamente por ocasio de datas especialmente significativas.O apadrinhamento civil pode ser da iniciativa do Ministrio Pblico; da comisso de proteco de crianas e jovens, no mbito dos processos que a corram termos; dos pais, representante legal da criana ou do jovem ou pessoa que tenha a sua guarda de facto e da criana ou do jovem maior de 12 anos. O apadrinhamento civil constitui-se por deciso do tribunal, nos casos em que esteja a correr um processo judicial de promoo e proteco ou um processo tutelar cvel, ou por compromisso de apadrinhamento civil homologado pelo tribunal. competente para a constituio do apadrinhamento civil o tribunal de famlia e menores ou, fora das reas abrangidas pela jurisdio dos tribunais de famlia e menores, o tribunal da comarca da rea da localizao da instituio em que a criana ou o jovem se encontra acolhido ou da rea da sua residncia. A constituio do apadrinhamento civil e a sua revogao so sujeitas a registo civil obrigatrio, efectuado imediata e oficiosamente pelo tribunal que decida pela sua constituio ou revogao.Este novo regime entra em vigor no dia seguinte ao da publicao da respectiva regulamentao.n

  • 15 Vida Judiciria Outubro/2009

    Reforo dos direitos dos pees e ciclistas

    Pela Resol. da Assemb. da Repblica n. 80/2009, de 14.8, a AR recomendou ao Governo que em sede de reviso do Cdigo da Estrada sejam reforadas as regras que garantam mais condies de segurana para a circulao de ciclistas e pees no ambiente rodovirio. n

    Aprovado o regime jurdico da deposio de resduos em aterro

    No passado dia 10 de Agosto foi aprovado o DL n. 183/2009, que estabelece o regime jurdico da deposio de resduos em aterro e os requisitos gerais a observar na concepo, construo, explorao, encerramento e ps-encerramento de aterros, incluindo as caractersticas tcnicas especficas para cada classe de aterros, transpondo as Directivas comunitrias nesta matria para a ordem jurdica interna.O regime jurdico ora aprovado tem por objectivos evitar ou reduzir os efeitos negativos sobre o ambiente da deposio de resduos em aterro, quer escala local, em especial a poluio das guas superficiais e subterrneas, do solo e da atmosfera, quer escala global, em particular o efeito de estufa, bem como quaisquer riscos para a sade humana. n

    Caracterizao de resduos urbanos

    A Port. n. 851/2009, de 7.8, em vigor desde 8 de Agosto, veio aprovar as normas tcnicas relativas caracterizao de resduos urbanos. De acordo com a citada Portaria, as entidades responsveis pela gesto de resduos urbanos devem assegurar a caracterizao:- Dos resduos urbanos produzidos na sua rea geogrfica de interveno, mesmo que parte deles sejam geridos por outra entidade;- Dos resduos urbanos depositados em aterros e tratados

    em instalaes de incinerao ou co-incinerao por si geridos, qualquer que seja a sua provenincia geogrfica.- Os resultados da caracterizao dos resduos urbanos depositados em aterro podem ser utilizados para a caracterizao bsica prevista no regime jurdico da deposio de resduos em aterro.A informao relativa caracterizao dos resduos urbanos, incluindo a sua composio fsica e os respectivos quantitativos, reportada pelas entidades responsveis pela gesto de resduos urbanos at 31 de Maro do ano seguinte quele a que os dados respeitam, atravs do Sistema Integrado de Registo da Agncia Portuguesa do Ambiente (SIRAPA).n

    Alteraes ao Cdigo da Estrada

    No passado dia 14 de Agosto entraram em vigor as recentes alteraes introduzidas ao Cdigo da Estrada, pela Lei n. 78/2009. De acordo com as

    citadas alteraes, permite-se agora o averbamento da habilitao legal para a conduo de veculos da categoria A1 carta de conduo que habilita legalmente para a conduo de veculos da categoria B, desde que os titulares tenham idade igual ou superior a 25 anos e sejam titulares de habilitao legal vlida para a conduo de ciclomotores.n

    Farmcia de oficina na Madeira

    No passado dia 15 de Agosto entrou em vigor o Dec. Legisl. Regional n. 25/2009/M, que adapta Regio Autnoma da Madeira o Decreto-Lei n. 307/2007, de 31 de Agosto, que estabelece o regime jurdico das farmcias de oficina. Este regime aplicvel Regio com as adaptaes e especificidades seguintes: decorrentes dos artigos seguintes.- As referncias feitas ao

    INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Sade, I. P. entendem-se reportadas na Regio Secretaria Regional dos Assuntos Sociais;- A referncia feita ao Servio Nacional de Sade entende-se reportada na Regio ao Servio Regional de Sade.A instaurao dos processos de contra-ordenao e a aplicao das coimas e sanes acessrias compete ao Secretrio Regional dos Assuntos Sociais. A instruo dos processos de contra-ordenao compete Inspeco Regional da Sade e Assuntos Sociais.n

  • 16Vida Judiciria Outubro/2009

    Medidas de simplificao para as sociedades comerciais e civis sob a forma comercial. Contas anuais consolidadas

    No passado dia 12 de Agosto foi aprovado o DL n. 185/2009, que transpe para a ordem jurdica interna a Directiva do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa s contas anuais de certas formas de sociedades, e s contas anuais e s contas consolidadas das empresas de seguros.Este diploma adopta, ainda, medidas de simplificao e eliminao de actos no mbito de operaes de fuso e ciso, alterando o Cdigo de Registo Predial, o Cdigo das Sociedades Comerciais, o Cdigo de Registo Comercial, o Estatuto dos Benefcios Fiscais, o Cdigo dos Valores Mobilirios, o Estatuto da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, o Regulamento Emolumentar dos Registos e do Notariado, o Cdigo da Insolvncia e da Recuperao de Empresas e o Regulamento do Registo Automvel.Este regime est orientado para garantir que a informao financeira de uma sociedade reproduza uma imagem autntica e verdadeira da respectiva situao econmico-financeira. Assim, no que concerne transparncia das transaces, o diploma ora aprovado vem impor a divulgao das operaes que envolvam, nomeadamente, os principais dirigentes da sociedade, cnjuges de administradores, accionistas minoritrios e outras partes relacionadas, sempre

    que sejam relevantes e sejam realizadas fora das condies normais de mercado. No entanto, as sociedades que, nas suas contas, publiquem informaes relativas s operaes com partes relacionadas, em conformidade com as normas internacionais de contabilidade adoptadas pela Unio Europeia, no devem ser obrigadas a prestar informaes suplementares por fora do citado diploma, dado que as informaes prestadas em conformidade com as normas internacionais de contabilidade j contm informao desenvolvida sobre esta matria.Estendendo esta transparncia ao domnio das operaes extrapatrimoniais, o DL n. 185/2009 vem impor a divulgao da natureza, do objectivo comercial e do impacte financeiro sobre a sociedade das operaes que esta tenha realizado e cuja contabilizao ocorra fora do balano.Tambm vem determinar que as sociedades com valores mobilirios representativos de dvida admitidos negociao em mercado regulamentado passem a incluir nos seus relatrios anuais informao relativa s medidas de governao da sociedade. Um aspecto particularmente inovador reside no facto de a sociedade poder adoptar um cdigo de governao distinto daquele que lhe imposto pela lei nacional, devendo, neste caso, divulgar as prticas de governao que aplica alm das legalmente previstas.No que respeita s medidas de simplificao do regime de fuses e cises, as inovaes agora introduzidas viabilizam a concluso dos processos de fuso entre empresas de forma mais rpida, em apenas um ms. Esta reduo de prazos resulta da prtica, em simultneo, de todos os actos preliminares necessrios fuso ou ciso: - o registo do projecto de fuso, a publicao do registo do projecto

    de fuso ou ciso, a publicao do aviso aos credores ou a convocatria da assembleia geral das sociedades a qual constitui tambm aviso aos credores -, correndo a partir da o prazo de um ms para que os credores se pronunciem, findo o qual a fuso ou a ciso podem ser registadas. Com efeito, com o registo do projecto de fuso ou ciso, a publicao do aviso aos credores passa a ser feita de forma oficiosa, automtica e gratuita e, sempre que o projecto de fuso ou ciso tenha de ser apreciado pelos scios das sociedades intervenientes, permite-se que a convocatria tenha lugar em simultneo com o registo do projecto de fuso ou ciso, tambm gratuitamente.Em segundo lugar, aprovam-se medidas que tornam mais fcil e simples a realizao de uma fuso ou de uma ciso: por um lado, permite-se a aplicao do regime simplificado de fuso por incorporao de sociedade detida a 90 % por outra, com garantia de que os scios detentores de 10 % ou menos do capital social da sociedade incorporada, que tenham votado contra o projecto de fuso em assembleia convocada para o efeito, se possam exonerar da sociedade, nos termos previstos no artigo 105. do Cdigo das Sociedades Comerciais; por outro lado, criam-se condies para a disponibilizao de modelos electrnicos de projectos de fuso ou ciso. Estes modelos, uma vez preenchidos e assinados digitalmente pelos gerentes ou administradores das sociedades intervenientes, so enviados imediata e electronicamente aos servios de registo, permitindo s empresas poupar 50 % do valor cobrado ao balco das conservatrias de registo de comercial atravs da utilizao dos servios de registo comercial online, em www.portaldaempresa.pt.Em matria de concesso de

  • 17 Vida Judiciria Outubro/2009

    benefcios fiscais reestruturao empresarial, estabelecem-se mecanismos mais eficientes e mais geis para uma mais rpida deciso da administrao fiscal quando, associado ao processo de fuso, exista um pedido relativo a estes.Cria-se a via electrnica como forma preferencial para envio do pedido de parecer prvio sobre a substncia da operao de reorganizao empresarial e a respectiva emisso pelo ministrio da tutela da actividade da empresa, o qual deve ser emitido no prazo mximo de 10 dias a contar do envio do pedido de parecer pelas empresas. Caso no seja emitido o parecer pelo ministrio da tutela da actividade da empresa no prazo de 10 dias, esse parecer sobre a operao de reorganizao empresarial

    considera-se positivo, nos termos apresentados pela empresa.Tendo em vista diminuir o prazo de deciso da administrao fiscal, elimina-se a necessidade de solicitar e obter pareceres da Autoridade da Concorrncia (AdC) e dos Institutos dos Registos e Notariado, I. P. (IRN, I. P.), para a concesso do benefcio fiscal e para a dispensa das taxas de registo. Com a eliminao dos pareceres da AdC e do IRN, I. P., conseguem-se obter ganhos substanciais de tempo na deciso da administrao fiscal em conceder benefcios fiscais s empresas que decidem desencadear uma operao de fuso ou ciso e eliminam-se actos administrativos que impunham encargos desproporcionados sobre o investimento e a criao de emprego.

    Introduz-se ainda a possibilidade de as empresas solicitarem a concesso dos benefcios fiscais reestruturao empresarial no momento do pedido de registo do projecto de fuso ou ciso, quando este seja promovido atravs da Internet. De referir a reduo dos custos administrativos directos com os processos de fuso ou ciso.Por um lado, os registos comerciais associados aos actos dos processos de fuso e ciso, so reduzidos e as publicaes que seja necessrio efectuar passam a ser gratuitas. Por outro, a taxa desses registos passa a incluir os registos de prdios, veculos e navios que seja necessrio realizar devido operao de fuso ou ciso e que, assim, deixam de representar um custo.n

    Regulamento da Habilitao Legal para Conduzir

    No Conselho de Ministros do passado dia 10 de Setrembro foi aprovado o Regulamento da Habilitao Legal para Conduzir.Este diploma pretende assegurar

    que o acto mdico de avaliao do candidato a condutor ou condutor seja o mais exaustivo possvel e tenha em conta o interesse dos avaliados e o da segurana rodoviria da comunidade. Assim, d-se especial enfoque ao exame oftalmolgico e prev-se a existncia de Centros de Avaliao Mdica e Psicolgica, responsveis pela avaliao da aptido fsica, mental e psicolgica. No sentido de

    elevar a eficcia da realizao de exames de conduo de veculos, alarga-se o mbito da competncia territorial dos centros de exame.Aprova-se, ainda, o contedo, a composio e a durao dos exames especiais de conduo, a composio dos exames para obteno de licenas de conduo de veculos de duas rodas e veculos agrcolas, reforando-se a componente comportamental.n

    Novo regime do trabalho no domiclio

    O novo regime jurdico do trabalho no domiclio, aprovado pela Lei n. 101/2009, de 8.9, entra em vigor no prximo dia 8 de Outubro.O novo diploma vem regular a prestao de actividade, sem subordinao jurdica,

    no domiclio ou em instalao do trabalhador, bem como a que ocorre para, aps comprar a matria-prima, fornecer o produto acabado por certo preo ao vendedor dela, desde que em qualquer caso o trabalhador esteja na dependncia econmica do beneficirio da actividade.O beneficirio da actividade no pode contratar trabalhador no domiclio para produo de bens ou servios na qual participe

    trabalhador abrangido pelas seguintes situaes:- reduo temporria do perodo normal de trabalho ou suspenso do contrato de trabalho por facto respeitante ao empregador, desde o incio do respectivo procedimento e at trs meses aps o termo da situao;- procedimento para despedimento colectivo ou por extino do posto de trabalho e at trs meses aps a cessao dos contratos de trabalho.n

  • 18Vida Judiciria Outubro/2009

    Polticas pblicas de turismo

    O DL n. 191/2009, de 17.8, veio concretizar o Programa do Governo que estabelecia a a necessidade de adopo de uma lei de bases do turismo que consagre os princpios orientadores e o objectivo de uma poltica nacional de turismo. O citado diploma vem, assim, estabelecer as bases das polticas pblicas de turismo, enquanto sector estratgico da economia nacional, e definir os instrumentos para a respectiva execuo. Quanto aos

    princpios gerais, reafirma-se a sustentabilidade ambiental, social e econmica do turismo, salienta-se a transversalidade do sector, aposta-se na garantia da competitividade das empresas e da livre concorrncia e assegura-se a participao dos interessados na definio das polticas pblicas. So apontadas como reas prioritrias de incidncia das polticas pblicas de turismo os transportes e as acessibilidades, maxime o transporte areo, a qualificao da oferta, a promoo, o ensino e formao profissional e a poltica fiscal, elegendo a competitividade dos agentes econmicos como factor determinante do desenvolvimento do turismo.n

    Estabelecimentos prisionais de Linh e Alcoentre requalificados

    J foi autorizada, em Conselho de Ministros de 27 de Agosto, a requalificao das instalaes do Estabelecimento Prisional de Alcoentre e do Estabelecimento Prisional do Linh. Pretende-se, assim, requalificar 145 celas do estabelecimento de Alcoentre e 117 celas do estabelecimento de Linh, de modo a que possam ser reactivadas no mais breve curto de espao possvel.n

    Novo regime de acidentes de trabalho vigora em Janeiro de 2010

    Foi j aprovada a regulamentao ao regime de reparao de acidentes de trabalho e de doenas profissionais,

    incluindo a reabilitao e reintegrao profissionais, conforme previsto no art. 284 do novo Cdigo do Trabalho. O novo regime, constante da Lei n. 98/2009, de 4.9, entra em vigor no dia 1 de Janeiro do prximo ano e aplicado ao trabalhador por conta de outrem de qualquer actividade, seja ou no explorada com fins lucrativos. Com o incio de vigncia da lei agora publicada ficam revogados os seguintes diplomas:- Lei n 100/97, de 13.9, que aprovou o regime jurdico, actualmente em

    vigor, dos acidentes de trabalho e das doenas profissionais;- Decreto-Lei n 143/99, de 30.4, que regulamentou a Lei n 100/97, de 13.9, no que respeita reparao de danos emergentes de acidentes de trabalho;- Decreto-Lei n 248/99, de 2.7, que procedeu reformulao e aperfeioamento global da regulamentao das doenas profissionais em conformidade com o regime aprovado pela Lei n 100/97, de 13.9. n

    CITIUS Ministrio Pblico. Obrigatrio s a partir de 1 de Fevereiro de 2010

    No mbito do projecto CITIUS, foi publicada a Portaria n. 1538/2008, de 30.12, que previa que, a partir de 4 de Maio de 2009, os magistrados

    do Ministrio Pblico passariam obrigatoraimente a enviar as peas processuais e documentos por via electrnica ao tribunal. Entretanto, foi manifestada a convenincia de um maior perodo de adaptao s novas funcionalidades do CITIUS - Ministrio Pblico, antes da produo de efeitos da entrega, exclusivamente por via electrnica, de peas processuais e documentos. Esssa obrigatoriedade j esteve agendada para 1 de Setembro de 2009. Contudo, a Portaria n. 975/2009, de 1.9, veio fixar em 1 de Fevereiro de 2010 a data da entrega de peas processuais

    e documentos pelo Ministrio Pblico, necessariamente, por via electrnica, sem prejuzo da sua utilizao facultativa, a ttulo experimental, antes dessa data.Assim, a entrega de peas processuais e documentos por transmisso electrnica de dados pelos magistrados do Ministrio Pblico aplica-se, a ttulo experimental, at 31 de Janeiro de 2010. A partir de 1 de Fevereiro de 2010 a utilizao da via electrnica, para a entrega de peas processuais e documentos, pelos magistrados do Ministrio Pblico passa a ser obrigatria.n

  • 19 Vida Judiciria Setembro/2009

    A doao o contrato pelo qual uma pessoa, por esprito de liberalidade e custa do seu patrimnio, dispe gratuitamente de uma coisa ou de um direi-to, ou assume uma obrigao, em benefcio do outro contraente.

    So trs os requisitos exigidos no art. 940 Cd. Civil para que exista uma doao:

    a) Disposio gratuita de certos bens ou direitos, ou assuno de uma dvida em benefcio do donatrio, ou seja, a atribuio patrimonial sem correspectivos;

    b) Diminuio do patrimnio do doador;c) Esprito de liberalidade.O Decreto-Lei n. 116/2008, de 4 de Julho, tornou

    facultativas as escrituras relativas a diversos actos da vida dos cidados e das empresas, entre outros a alienao e onerao de imveis, que podem ser titu-lados por documento particular autenticado (cfr art. 22. e art. 24.). De acordo com o art. 24., n. 1, do Decreto-Lei n. 116/2008, de 4 de Julho, os documen-tos particulares que titulem actos sujeitos a registo predial devem conter os requisitos legais a que esto sujeitos os negcios jurdicos sobre imveis, aplican-do-se subsidiariamente o Cdigo do Notariado.

    A minuta que seguir publicamos traduz um exem-plo de contrato de doao e do respectivo termo de autenticao.

    MINUTA DE CONTRATO DE DOAOENTRE

    PRIMEIRO [Identificao do(s) signatrio(s) ], doravante designado(s) por Doador(es).

    SEGUNDO [Identificao do(s) signatrio(s)], doravante designado(s) por Donatrio(s).

    celebrado o presente contrato de doao, que se rege pelas clusulas seguintes:

    Primeira: O(s) Primeiro(s) doa(m) ao(s) Segundo(s) o(s) seguinte(s) imvel/imveis:

    UM - fraco autnoma designada pela letra [X], correspondente ao [identificao da fraco autnoma, ex.: primeiro andar], destinada [fim da fraco, Ex. comrcio/habitao], do prdio urbano, sito na [morada], n. [n.], freguesia dos [freguesia], concelho de [concelho], descrito na [identificar CRP] Conservatria do Registo Predial de [concelho] sob o nmero [n.] da freguesia de [freguesia], com o registo de propriedade horizontal efectuado pela inscrio F- [n.], e a aquisio da fraco a favor do(s) Vendedor(es) pela inscrio G [n.], inscrito na respectiva matriz predial urbana sob o artigo [nmero do artigo matricial], com o valor patrimonial, correspondente fraco autnoma, de [montante] euros, e o valor atribudo de [montante] euros.

    Segunda: O(s) prdio(s) doado(s) encontra(m)-se livre(s) de quaisquer nus ou encargos.

    Terceira: O Imvel [tem alvar de autorizao de utilizao n. [n. ], emitido pela Cmara Municipal de [concelho] em [data] para [o prdio na sua totalidade ou apenas para a fraco autnoma ora transmitida .] / [foi inscrito na matriz em data anterior a 1951 pelo que est dispensado da respectiva licena de utilizao ].

    Quarta: O(s) donatrio(s) declara(m) aceitar a doao.

    Local

    Data

    Assinaturas:

    [assinaturas dos signatrios]

    TERMO DE AUTENTICAONo dia [dia] de [ms] de [ano], em [local], na [morada] , perante mim, [nome completo do profissional ou entidade que realizou o termo de autenticao, meno

    da respectiva qualidade, da cdula, se for o caso, e do domiclio profissional], compareceram:

    PRIMEIRO [Identificao do(s) signatrio(s) ; ]

    SEGUNDO [Identificao do(s) signatrio(s)],

    Verifiquei a identidade dos signatrios pela exibio dos respectivos documentos de identificao (ou por conhecimento pessoal/abonao).

    Os signatrios apresentaram o documento em anexo que um contrato de doao, tendo declarado que [j o leram/que esto perfeitamente inteirados do seu contedo] e o assinaram, e que o contedo do mesmo exprime a sua vontade [e/ou do(s) seus representado(s)].

    Verificado(s):

    Por consulta online - da Certido Permanente de Registo Predial, com o cdigo de acesso n. [n.]; da Caderneta Predial, verifiquei, respectivamente, os elementos registrais e os elementos matriciais do imvel objecto do contrato em anexo.

    Exibido(s):

    - [Certido de registo predial, passada pela [identificar servio de registo], em [data];

    - [Caderneta Predial/Certido de Teor matricial/ Comprovativo da declarao para inscrio ou actualizao de prdios urbanos na matriz (Modelo 1)] emitido em [data];

    - [Alvar de autorizao de utilizao [da fraco autnoma/prdio] n. [n. ], emitido pela Cmara Municipal de [concelho] em [data] para [o prdio na sua totalidade ou apenas para a fraco autnoma ora transmitida .] / [Certido da escritura notarial de compra e venda, onde consta a meno ao alvar de autorizao de utilizao [da fraco autnoma/prdio] n. [n. ], emitido pela Cmara Municipal de [concelho] em [data] para [o prdio na sua totalidade ou apenas para a fraco autnoma ora transmitida ] ou [Caderneta Predial/certido camarria, emitida pela [entidade] em [data] por onde foi verificado que o prdio urbano foi inscrito na matriz em data anterior a 1951, pelo que dispensada a exibio da respectiva licena de utilizao ];

    Foi liquidado o valor de euros, respeitante ao imposto do selo a que se refere a verba 15.8 da TGIS .

    O presente termo de autenticao foi lido e explicado aos signatrios, devendo, de seguida, ser obrigatoriamente depositado electronicamente em www.predialonline.mj.pt. .

    [assinaturas dos signatrios, demais intervenientes e do profissional/entidade autenticadora].

    Contrato de doao com termo de autenticao

  • 20Vida Judiciria Outubro/2009

    Responsabilidade mdica A informao a prestar ao paciente e o seu consentimento informado

    Por Daniel Torres Gonalves*

    Usualmente, quando se pensa na responsabili-zao do mdico, tem-se em mente a impercia e desmazelo do cirurgio ou um diagnstico deficien-temente realizado. Tende-se a associar essa respon-sabilizao com a denominada negligncia mdica. Porm, de forma diversa, poder vir um mdico a ser responsabilizado, mesmo depois de cumprir todos os requisitos tcnicos e at de ter curado o paciente. Est em questo o consentimento informado. O bem jurdico fundamental que o consentimento informado visa proteger a liberdade. Isto , o consentimento informado surge como um via para proteger a li-berdade do indivduo, nomeadamente no que toca autodeterminao quanto ao prprio corpo.

    A posio do paciente e do mdicoAntes de uma interveno na esfera do corpo do

    paciente, este dever conformar-se com ela, tendo a faculdade de a recusar. Contudo, para tal, mostra-se necessrio que o paciente tenha a informao necessria a uma consciente e capacitada deciso. No podemos esquecer a posio relativa do paciente neste contexto. Em primeiro lugar, ele um leigo. O paciente no , em princpio, formado em Me-dicina, e desconhece os termos tcnicos utilizados pelos mdicos. Alm disto, ele nunca perceber em toda a extenso a sua condio fsica, bem como as consequncias de uma qualquer interveno clnica. Poder ficar com uma noo, mais ou menos aproxi-mada, mas nunca na mesma medida do mdico. Em segundo lugar, o paciente uma parte no processo. Isto , no podemos descurar o facto de ser imposs-vel dissociar a condio de paciente da condio de decisor. A prpria condio fsica poder ter impacto no discernimento do paciente no momento de decidir, que pode ser incapaz de decidir de forma objectiva.

    Por tudo isto, neste contexto surge, com um inde-lvel relevo, o mdico. A este cabe esclarecer e ajudar o paciente na sua deciso. Como esclarece Joo Vaz Rodrigues, exigvel ao mdico um novo papel: o de facultar ao paciente os elementos imprescindveis para que este conhea e compreenda, no essencial, os dados do problema e possa, assim, exercer, cons-cienciosamente, o seu poder de deciso1.

    O conceito e a lei

    Para chegarmos a uma definio do conceito de consentimento informado podemos abrir mo da lei. O artigo 5 da Conveno sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina2, ratificada em 2000 por Portugal, estabelece que Qualquer interveno no domnio da sade s pode ser efectuada aps ter sido prestado pela pessoa em causa o seu consentimento livre e esclarecido. Esta pessoa deve receber previamente a informao adequada quanto ao objectivo e nature-za da interveno, bem como s suas consequncias e riscos. Por seu turno, o Cdigo Penal, no artigo 157, estabelece que o consentimento dado por um paciente s ser eficaz quando o paciente tiver sido devidamente esclarecido sobre o diagnstico e a n-dole, alcance, envergadura e possveis consequncias da interveno ou do tratamento.

    Tambm o Cdigo Deontolgico da Ordem dos Mdicos3 no descura esta temtica. Desde logo o ar-tigo 40 estabelece o princpio da Livre escolha pelo doente do mdico. O artigo 44 dispe que o doente tem o direito a receber e o mdico o dever de prestar o esclarecimento sobre o diagnstico, a teraputica e o prognstico da sua doena. No artigo seguinte estabelece-se que o consentimento s ser vlido se o doente tiver capacidade de decidir livremente. Das disposies consideradas, facilmente se conclui que no basta haver consentimento. No basta, sequer, que o consentimento seja informado. Para ser vlido o consentimento ter de ser informado, esclarecido e compreendido e tem de ser prestado de forma livre. Mas a sua delimitao no fica por aqui. A informa-o prestada ao paciente deve versar sobre o diag-nstico da sua condio, assim como sobre o objectivo e natureza da interveno que se pretende realizar. Por outro lado, o paciente tambm deve ser informa-do das possveis consequncias da interveno, tal como dos riscos que corre ao no a realizar. Tambm, os encargos econmicos que a interveno acarreta e as alternativas de tratamento devero fazer parte do esclarecimento a prestar ao paciente.

    O respeito pelo paciente, e pela sua autonomia pri-vada, faz parte da conduta exigvel ao mdico. Aten-tando definio de leges artis podemos concluir que o respeito pelo consentimento informado cabe dentro dessa definio. Parece claro que um mdico medianamente competente, prudente e sensato ir informar e obter o consentimento do paciente antes de uma interveno clnica.

  • 21 Vida Judiciria Outubro/2009

    O consentimento informado no Direito CivilA integrao da falta de consentimento na res-

    ponsabilidade civil por factos ilcitos no difcil de concretizar. Podemos, at, concluir que ela poder acontecer de duas formas distintas. Desde logo, o mdico que intervenha sem consentimento do pa-ciente estar a violar um direito de outrem por exemplo, o direito integridade fsica. Contudo, a ilicitude desta conduta ser afastada pelo consenti-mento do lesado, se existir, como estatui o art.340 do Cdigo Civil.

    Por outro lado, a conduta do mdico ser suscep-tvel de responsabilizao tambm pela violao de disposies legais. Desde logo, o mdico est obrigado a informar e obter o consentimento escla-recido do paciente pelo seu Cdigo Deontolgico, como vimos.

    Assim, perante o direito civil o consentimento in-formado acaba por se incluir na conduta geral profis-sional exigvel ao mdico. No fundo, isto significa que o respeito pelo consentimento do paciente se integra nas leges artis da Medicina. Como refere Guilherme de Oliveira, o consentimento informado constitui-se como aspecto de boa prtica clnica; isto , tratar bem no apenas actuar segundo as regras tcnicas da profisso mas tambm considerar o doente como um centro de deciso respeitvel4.

    O consentimento informado no Direito PenalA coincidncia do consentimento com as leges

    artis no acontece sempre. No Direito Penal os dois conceitos tm impacto diferenciado para a criminali-zao do agente mdico. A interveno mdica, mes-mo que viole a integridade fsica ou a vida do pacien-te, se tiver respeitado as leges artis, juntamente com outros pressupostos, nunca se chega a constituir como um acto tpico, crime de ofensa integridade fsica ou homicdio o artigo 150 do Cdigo Penal afasta a tipicidade da conduta do mdico. Contudo, neste conceito de leges artis no podemos integrar o consentimento. Pois, se o mdico respeitar as leis da arte mdica mas no tiver obtido o consentimento do paciente, ele responder pelo crime previsto no artigo 156 do Cdigo Penal, Intervenes e tratamentos mdico-cirrgicos arbitrrios.

    Para a verificao do acto tpico punvel pelo artigo 156 ter que se cumular a aplicabilidade do artigo 150 com a ausncia de consentimento, ou seja: cumprimento das leges artis sem que se verifique o consentimento do paciente. O legislador penal entendeu, ento, diferenciar o consentimento das leges artis. Estas relevam para o artigo 150, enquanto o consentimento interessa ao disposto no artigo 156. Neste sentido, Andr Dias Pereira5 aca-ba por distinguir as leges artis em sentido estrito referente ao conceito do artigo 150, das leges artis

    em sentido amplo que coincidiro com o conceito aplicvel no contexto do Direito Civil.

    Dever de informarAo mdico, como vimos, cabe um dever de informar

    o paciente informao esta que ter de anteceder o consentimento dado por aquele.

    No cumprimento do dever de informar, a infor-mao dever ser:

    - simples, devendo ser utilizadas expresses acessveis ao comum dos leigos6;

    - suficiente segundo Joo Vaz Rodrigues7, a informao dever ser: pontual, progressiva (crescente troca de dados), oportuna, neu-tral (salvaguardando liberdade de deciso do paciente).

    - esclarecida o paciente ter de compreender o sentido e alcance das informaes, e dever perceber as consequncias da sua deciso, bem como as alternativas que existam.

    O requisito da suficincia merece uma maior concretizao. Para a determinao, em cada caso, da quantidade de informao a prestar ao paciente, dever ser tido em conta um conjunto vasto de cir-cunstncias desde o nvel cultural do paciente at complexidade da questo mdica. Para definirmos quais os elementos que devem constar da informao a prestar, podemos abrir mo de diferentes conceitos.

    Afastando o padro mdico, bem como o padro do doente mdio, deveremos atentar ao padro sub-jectivo do doente. Segundo este padro, a suficincia da informao determina-se consoante o paciente em concreto. Assim, h informaes que podero ser irrelevantes para o paciente em abstracto, mas que para aquele em particular assumem importncia vital por exemplo, informaes quanto a possveis consequncias para a voz de uma cantora, ou para as mos de um pianista. Com isto, o mdico no fica onerado com a obrigao de investigar o concreto con-texto do paciente. Antes, ele dever ter em ateno as vicissitudes que conhea, devendo procurar descobrir as informaes que seja expectvel conhecer.

    *advogado Gabinete de Advogados

    Antnio Vilar & [email protected]

    www.antoniovilar.pt

    1 J. Vaz Rodrigues, O Consentimento Informado para o acto mdico no orde-namento jurdico portugus (elementos para o estudo da manifestao da vontade do paciente) (Coimbra Editora, 2001), p.17

    2 Conveno para a proteco dos Direitos do Homem e da Dignidade do Ser Humano face aplicao da Biologia e da Medicina: Conveno sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina publicada pela Resoluo da Assembleia da Repblica n1/2001, de 3 de Janeiro.

    3 Publicado pelo Regulamento n 14/2009, de 13 de Janeiro de 2009.4 G Oliveira, Temas de Direito da Medicina (Coimbra Editora, 1999), p.99.5 A. G. Dias Pereira, O Consentimento Informado na Relao Mdico-Paciente

    Estudo de Direito Civil (Coimbra Editora, 2004), pp.70-71.6 Ver nota 1, pp.241-242.7 Id.

  • 22Vida Judiciria Outubro/2009

    Direitos de autorContrafaco de obra artstica

    Acrdo do Tribunal da Relao de Lisboa Processo: 3501/05.0TBOER.L1-2, de 18 de Junho de 2009

    Sumrio: I- Na ausncia de conveno, pergunta sobre a titularidade do direito de autor nas obras por encomenda (arts. 14 e 15 do CDAC), responde a lei com duas presunes, a do n 2, segundo a qual a titularidade do criador intelectual e a do n 3 segundo a qual, se o nome do criador no for apresentado como o do autor, a titularidade do destinatrio da obra e esta ltima presuno prevalece sobre a anterior que apenas se aplicar em ltima anlise.II- A actividade de plgio supe a existncia de uma apropriao da criatividade de outrem, da expresso original de outro sujeito mesmo se disfarada sob uma diferente configurao e a sua apresentao como se se tratasse de uma obra prpria, trao diferenciador de outras figuras como a reproduo no autorizada, que incorpora uma comunicao fiel e exacta dos elementos e caractersticas do original, no negando a sua titularidade ao criador intelectual.III- Na actividade aferidora do plgio, torna-se necessrio identificar uma autntica ausncia de criao, ausncia de esforo criativo, e uma vez identificada essa ausncia devem ento ser ponderadas as coincidncias estruturais bsicas ou essenciais que podem denunciar o delito de plgio(Sumrio do Relator)

    Acordam os juzes na 2. seco Cvel

    do Tribunal da Relao de Lisboa

    I RELATRIOAPELANTE/AUTOR: B.....APELADAS/RS: F, S.A.; K, S.A.Todos com os sinais dos autos.Inconformado com a sentena de 15/05/2008 que

    julgou a aco totalmente improcedente e conse-quentemente absolveu os RR do pedido dela apelou o Autor em cujas alegaes conclui:

    1. As RR. com a sua actuao violaram inequivo-camente os direitos autoriais do aqui apelante;

    2. Direitos esses que incidem sobre a obra radiodi-fundida que criou e o sobre o guio que desenvolveu

    a ideia original que esteve na gnese daquela;3. Os programas das RR constituem evidente

    contrafaco dos Direitos do apelante;4. Contrafaco essa que constitui causa dos da-

    nos patrimoniais e morais supra invocados;5. O que no pode deixar de impor s RR o dever

    de indemnizar o Autor no montante peticionado;6. Perante isto resulta claro que a sentena

    proferida violou, entre outros, os arts. 17, 21, 196 e 211, todos do Cdigo do Direito de Autor e Direitos Conexos;

    Termos em que deve ser atendido, de acordo com o supra-peticionado, o pedido de reforma da sentena recorrida;

    Em contra-alegaes, em suma, conclui F..., S.A:1. A sentena de 30/06/2008 considerou em bem

    que data da suposta violao do direito que o Recorrente se arroga na aco sub iudice data da emisso do programa SS 2004 o Recorrente no era titular do alegado direito, ou, pelo menos, no logrou provar a titularidade do referido direito, conforme lhe competia nos termso do art. 342 do CCiv (CONCLUSES A E B)];

    2. Em face do exposto o Tribunal decidiu o que no merece qualquer censura que o Recorrente no demonstrou ter legitimao substantiva para po-der responsabilizar judicialmente as RR, julgando procedente a excepo de ilegitimidade activa do Autor alegada pelas RR em sede de contestao (CONCLUSO C)]

    3. A ttulo de questo prvia, cumpre referir, quanto s consideraes 10 a 22, mormente quanto ao facto de a sentena recorrida no ter sido elabo-rada pela Mma Juza que presidiu audincia de discusso e julgamento, que no art. 654 do CPC se regula o que acontece se algum dos juzes falecer, se impossibilitar, for transferido, promovido ou aposentado no decurso da audincia de discusso e julgamento e nem uma palavra para a hiptese to ou mais vulgar de esses impedimentos surgirem para o juiz depois de proferida a deciso da matria de facto; nos arts. 669 e 670 do CPC trata-se de todos os vcios e nulidades que podem afectar as senten-as e tambm no se v entre elas a que provenha do juiz que a profere no ter assistido discusso (CONCLUES D) E E)];

    4. O que obrigatrio que o Juiz que assistiu a todos os actos de instruo e discusso praticados na audincia final intervenha na deciso de facto, no sendo, porm, imperativo que tal Juiz venha depois

  • 23 Vida Judiciria Outubro/2009

    a proferir a sentena final neste sentido, o Acrdo do STJ de 10.11.1992, BMJ 431/576 ; a sentena no padece, por esse facto, de qualquer vcio ou nulidade (CONCLUSES F) e G)];

    5. O Recorrente invocou o seu alegado direito de propriedade artstica e intelectual registado na Ins-peco-geral das Actividades Culturais e na Sociedade Portuguesa de Autores, mas foi o prprio Recorrente que demonstrou a sua falta de legitimidade para inter-por a presente aco, atento o reconhecimento de que data dos factos aqui em causa nos quais o Recorrente pretende imputar s Recorridas a prtica de facto il-cito, no era titular de qualquer direito relativamente alegada obra denominada SS 2004, pretensamente da autoria de SC (CONCLUSES H) e I)];

    6. Na providncia cautelar intentada pelo recor-rente contra as ora recorridas em 16/04/04, com vista obteno de deciso que ordenasse a suspenso do programa SS 2004, o direito baseou-se num preten-so direito de autor sobre uma alegada obra de SC (a mesma que se refere no mbito dos presentes autos), o qual lhe teria transmitido os direitos de autor (pa-trimoniais) da decorrentes por contrato celebrado em 17/02/07; na sequncia da oposio apresentada na providncia em 12/05/05, veio o Recorrente a desistir das providncias em 24/05/04 por a F... ter demons-trado a inexistncia do direito em que pretensamente se baseou o Recorrente, uma vez que, por fora do art. 44 do CDADC, a transmisso total e definitiva do contedo patrimonial do direito de autor s pode ser efectuado por escritura pblica com identificao da obra e indicao do preo respectivo, sob pena de nulidade, nos termos do art. 289 do CCiv (CONCLU-SES J) K) e L];

    7. Os factos alegados na providncia cautelar so relevantes para escrutinar a posio do Recorrente nestes autos de recurso por manifesta m f por pre-tender fazer valer uma nova tese e toda uma nova estria, podendo ser conhecidos pelo Tribunal nos termos dos arts. 264/2 e 514/2 do CPC; o Recorrente veio reconhecer expressa e claramente nesta aco que s tendo adquirido por escritura pblica de 8/10/04 o contedo patrimonial do direito de autor sobre determinada obra ao seu pretenso autor originrio, data dos factos no era titular de qualquer direito de autor sobre a pretensa obra da alegada autoria de SC (CONCLUSES M), N), O)];

    8. Baseando o Recorrente a sua pretenso indemni-zatria na alegada violao por parte das Recorridas do seu suposto direito patrimonial de autor sobre uma obra SS, violao resultado da criao e emisso pelas recorridas do programa SS 2004, o qual foi exibido na televiso portuguesa muito antes de Ou-tubro de 2004, com gala final exibida televisivamente em ... de ... de 2004, porque o Recorrente s passou a deter a alegada titularidade dos direitos invocados a

    partir de 8 de Outubro de 2004, no sendo em ... de 2004 titular ou detentor de quaisquer direitos, nunca poderia ter sofrido quaisquer alegados danos da de-correntes, uma vez que a actuao das Recorridas a ser considerada ilcita nunca teria tido repercusses na sua esfera jurdica, mas apenas na esfera jurdica do eventual legtimo titular dos mesmos, no tendo por isso interesse em demandar, sendo parte ilegti-ma, o que determina a absolvio das Recorridas da instncia nos termso dos arts. 26, 494/e, 495 e 493/1 e 2 do CPC (CONCLUSES P), Q), R)];

    9. No h caso julgado formal quanto questo da legitimidade, face ao teor da deciso do saneador de fls. 500 e seguintes, considerando que, na sequncia da reforma processual de 1995/1996, a deciso de tabelar quanto legitimidade no faz caso julgado formal, atentas disposies dos arts. 510/3 e 672 do CPC (CONCLUSES S) e T)];

    10. Estando provado que o Autor teve nova ideia original para novo programa de televiso, porque uma ideia no uma realidade susceptvel de protec-o de direitos de autor, porque o que nestes autos se trata de saber se h obra juridicamente tutelvel e se os direitos a esta associados foram violados, por-que o Recorrente nunca alegou ser autor ou co-autor do programa, aquele facto provado no confere ao Recorrente a qualidade de criador da obra (autor); foi por o Recorrente no ter a qualidade de autor (criador) titular de direitos morais e patrimoniais da advenientes que teve de alegar tanto nesta aco como no procedimento cautelar que adquiriu os direitos de autor, por transmisso mediante escritura pblica de 8/10/04, distinguindo a lei, por isso a atribuio da autoria ou co-autoria que implica pela natureza uma atribuio originria do direito de autor da titularidade do direito de autor (CONCLUSES U), V), X), Y), Z)];

    11. Cumpriria ao Recorrente alegar factos que de-monstrassem qual a sua prestao susceptvel de pro-teco, numa pretensa obra em colaborao, pois no qualquer contributo que confere direitos de autor, pois h que existir um elemento criativo, pressupos-to essencial da respectiva atribuio e a formulao de uma ideia, ainda que original, no corresponde a tal contributo, o programa 0 que o Recorrente no ponto 26 das suas alegaes defende ser uma obra radiodifundida protegida autonomamente nos termos do art. 21 do CDADC, no mais que a fixao em videograma do guio, no se tratando como tal de uma obra autnoma, susceptvel de proteco por um novo direito de autor (CONCLUSES AA) a FF)];

    12. O facto alegado pelo Recorrente no ponto 24 das alegaes segundo o qual o programa ..... ter sido apresentado ao pblico no dia ... de Janeiro de 2004 no Casino ... no resulta de nenhum quesito e o que foi alegado e conduzido base instrutria e resultou

  • 24Vida Judiciria Outubro/2009

    provado foi que uma vez escrita a redaco do guio pelo indicado SC, seguiram-se ensaios, com registo dos mesmos em videocassete (resposta ao quesito 13), nada se tendo alegado e consequentemente de-monstrado quanto sua divulgao pblica, sendo que o programa ... equivale a forma de expresso possvel de parte do guio, repetida em novo suporte material sem perda de individualidade do guio, no representando uma nova criao, sendo certo que a mera fixao no per si critrio de proteco (CON-CLUSES GG) A LL);

    13. Mas ainda que a fixao videogrfica fosse uma obra radiodifundida susceptvel de proteco jus-autoral, o Recorrente no fundamenta elementos tendentes a possibilitar o apuramento da criativi-dade da nova obra enquanto obra autnoma e esta nova alegao constitui alegao de factos novos no supervenientes na medida em que contradizem a verso original trazida pelo Recorrente aos autos, agora em sede de recurso, relativamente aos quais no houve acordo das partes em conformidade com o disposto no art. 273 do CPC, razo pela qual devero ser considerados como no escritos (CONCLUSES MM) A PP)]

    14. A circunstncia de o Tribunal recorrido ter en-contrado uma coincidncia parcial entre o programa do Autor e pelo menos a primeira fase do programa das Rs e que era tambm objectivo do programa das Rs encontrarem uma mulher de sonho, tal no suficiente par se considerar qualquer ilcito nos presentes autos; a coincidncia parcial de objectivos, a apresentao do programa por um hum