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MATERIAL DIDÁTICO
EPIDEMIOLOGIA E TOXICOLOGIA OCUPACIONAL
U N I V E R S I DA D E
CANDIDO MENDES
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010
Impressão e
Editoração
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SUMÁRIO
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO .......................................................................... 03 UNIDADE 2 – EPIDEMIOLOGIA ..................................................................... 06 UNIDADE 3 – TOXICOLOGIA ......................................................................... 22 UNIDADE 4 – PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA 31 UNIDADE 5 – O MEIO AMBIENTE LABORAL ............................................... 38 UNIDADE 6 – DISTÚRBIOS NEUROTOXICOLÓGICOS ................................ 43 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 56 ANEXOS .......................................................................................................... 59
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UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO
Dados de 2006 mostram que o Brasil é um recordista mundial de acidentes de
trabalhos com três mortes a cada duas horas e três acidentes de trabalho não fatais
a cada minuto (ALMEIDA, 2010).
Apenas de 2007 a 2008 - último ano com dados recolhidos pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) - as notificações de acidentes no desempenho
das funções cresceram 13,4%, passando de 659.523 registros para 747.663,
segundo informações do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho, publicação
conjunta dos ministérios da Previdência Social e do Trabalho e Emprego.
Historicamente, os registros de acidentes de trabalho vinham caindo de forma
gradual a partir de 1975, quando atingiram seu maior índice (1.916.187 acidentes).
Entretanto, esta redução foi estancada em 2001, quando o total foi o menor
registrado, com 340.251 acidentes. A partir de então, as ocorrências voltaram a subir
(JORNAL DO COMÉRCIO, 22/02/2010).
Em 2009, o número de acidentes de trabalho liquidados1 atingiu 740,7 mil
acidentes, o que correspondeu a uma queda de 4,4% em relação a 2008. A
assistência médica, a incapacidade temporária, a incapacidade permanente e os
óbitos decresceram, respectivamente, 3,0%, 4,6%, 0,4% e 11,4%. As principais
consequências dos acidentes de trabalho liquidados foram as incapacidades
temporárias com mais de 15 dias e com menos de 15 dias, cujas participações
atingiram 43,3% e 40,9%, respectivamente (BRASIL/MPAS, 2011).
Os números nos mostram vidas perdidas, famílias desprotegidas e custos
altíssimos para a Previdência Social do país, mas o que vem a ser mesmo um
acidente de trabalho e doenças relacionadas ao trabalho?
Acidentes de trabalho e doenças relacionadas ao trabalho são eventos
influenciados por aspectos relacionados à situação imediata de trabalho como o
1 Corresponde ao número de acidentes cujos processos foram encerrados administrativamente pelo
INSS, depois de completado o tratamento e indenizadas as sequelas.
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maquinário, a tarefa, o meio técnico ou material, e também pela organização do
trabalho e pelas relações de trabalho.
Em outras palavras, a saúde no trabalho é condicionada por fatores sociais,
econômicos, tecnológicos e organizacionais relacionados ao perfil de produção e
consumo, além de fatores de risco de natureza físicos, químicos, biológicos,
mecânicos e ergonômicos presentes nos processos de trabalho particulares.
Essa complexidade requereu a criação de uma Política Nacional de
Segurança e Saúde do Trabalhador (PNSST), de caráter interministerial, para
buscar a integralidade e articulação das ações desenvolvidas, assim como
estabelecer diretrizes, responsabilidades institucionais, financiamento, gestão,
acompanhamento e controle social nesse campo (BRASIL, 2004).
Dentre os profissionais que atendem aos anseios dessa política, temos o
Enfermeiro do Trabalho que entre outras funções:
programa e realiza ações de assistência básica e de vigilância à Saúde do
Trabalhador;
realiza investigações em ambientes de trabalho e junto ao trabalhador em seu
domicílio;
realiza entrevista com ênfase em Saúde do Trabalhador;
notifica acidentes e doenças do trabalho, por meio de instrumentos de
notificação utilizados pelo setor saúde;
planeja e participa de atividades educativas no campo da Saúde do
Trabalhador.
Para realizar seu trabalho com sucesso faz-se importante conhecer um pouco
da ciência que estuda quantitativamente a distribuição das doenças e seus fatores
condicionantes, a Epidemiologia, bem como ter noções básicas sobre a Toxicologia,
disciplina multidisciplinar do estudo dos efeitos adversos das substâncias químicas
sobre o organismo.
Completando as noções básicas de Epidemiologia e Toxicologia, faremos
uma breve análise do Perfil Epidemiológico da população brasileira, o meio ambiente
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laboral, onde cabem os “edifícios doentes” e apresentaremos alguns distúrbios
neurotoxicológicos.
Esperamos que apreciem o material e busquem nas referências anotadas ao
final da apostila subsídios para sanar possíveis lacunas que venha surgir ao longo
dos estudos.
Ressaltamos que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser
científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às
regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem
de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar,
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores,
incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma
redação original.
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UNIDADE 2 – EPIDEMIOLOGIA
Enquanto a Medicina Clínica dedica-se ao estudo da doença no indivíduo,
analisando caso a caso, a Epidemiologia estuda os fatores que determinam a
frequência e a distribuição das doenças em grupos de pessoas.
Historicamente, a Epidemiologia surgiu a partir da consolidação de um tripé
de elementos conceituais, metodológicos e ideológicos: a Clínica, a Estatística e a
Medicina Social. O objetivo final da Epidemiologia é produzir conhecimento e
tecnologia capazes de promover a saúde individual através de medidas de
alcance coletivo.
A epidemiologia originou-se das observações de Hipócrates feitas há mais de
2000 anos de que fatores ambientais influenciam a ocorrência de doenças.
Entretanto, foi somente no século XIX que a distribuição das doenças em grupos
humanos específicos passou a ser medida em larga escala. Isso determinou não
somente o início formal da epidemiologia como também as suas mais espetaculares
descobertas (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTRÖM, 2010).
Os achados de John Snow2 de que o risco de contrair cólera em Londres
estava relacionado ao consumo de água proveniente de uma determinada
2 John Snow identificou o local de moradia de cada pessoa que morreu por cólera em Londres entre
1848-49 e 1853-54 e notou uma evidente associação entre a origem da água utilizada para beber e as mortes ocorridas. A partir disso, Snow comparou o número de óbitos por cólera em áreas abastecidas por diferentes companhias e verificou que a taxa de mortes foi mais alta entre as pessoas que consumiam água fornecida pela companhia Southwark. Baseado nessa sua investigação, Snow construiu a teoria sobre a transmissão das doenças infecciosas em geral e sugeriu que a cólera era disseminada através da água contaminada. Dessa forma, foi capaz de propor melhorias no suprimento de água, mesmo antes da descoberta do micro-organismo causador da cólera; além disso, sua pesquisa teve impacto direto sobre as políticas públicas de saúde.
O trabalho de Snow relembra que medidas de saúde pública, tais como melhorias no abastecimento de água e saneamento, têm trazido enormes contribuições para a saúde das populações. Ficou ainda demonstrado que, desde 1850, estudos epidemiológicos têm identificado medidas apropriadas a serem adotadas em saúde pública. Entretanto, epidemias de cólera são ainda frequentes nas populações pobres, especialmente em países em desenvolvimento. Em 2006, houve em Angola 40 mil casos de cólera com 1.600 óbitos, enquanto no Sudão foram 13.852 casos e 516 mortes, somente nos primeiros meses do mesmo ano.
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companhia, proporcionaram uma das mais espetaculares conquistas da
epidemiologia. Os estudos epidemiológicos de Snow foram apenas um dos aspectos
de uma série abrangente de investigações que incluiu o exame de processos físicos,
químicos, biológicos, sociológicos e políticos.
A abordagem epidemiológica que compara os coeficientes (ou taxas) de
doenças em subgrupos populacionais tornou-se uma prática comum no final do
século XIX e início do século XX. A sua aplicação foi inicialmente feita visando o
controle de doenças transmissíveis e, posteriormente, no estudo das relações entre
condições ou agentes ambientais e doenças específicas.
Na segunda metade do século XX, esses métodos foram aplicados para
doenças crônicas não transmissíveis, tais como doença cardíaca e câncer,
sobretudo nos países industrializados. A epidemiologia atual é uma disciplina
relativamente nova e usa métodos quantitativos para estudar a ocorrência de
doenças nas populações humanas e para definir estratégias de prevenção e
controle.
Por exemplo, por volta de 1950, Richard Doll e Andrew Hill estudaram a
relação entre hábito de fumar e a ocorrência de câncer de pulmão entre médicos
britânicos. Esse trabalho foi precedido de estudos experimentais sobre o poder
carcinogênico do tabaco e por observações clínicas, relacionando o hábito de fumar
e outros possíveis fatores ao câncer de pulmão. Estudando coortes com longos
períodos de acompanhamento, eles foram capazes de demonstrar a associação
entre o hábito de fumar e o câncer de pulmão (BONITA; BEAGLEHOLE;
KJELLSTRÖM, 2010).
A coorte de médicos britânicos demonstrou ainda uma redução progressiva
na taxa de mortalidade entre indivíduos não fumantes nas décadas subsequentes.
Médicos fumantes que nasceram entre 1900-1930 morreram, em média, dez anos
mais jovens que os médicos não fumantes. Os efeitos nocivos do tabagismo estão
bem definidos, mas para a maioria das doenças diversos fatores podem contribuir
para sua ocorrência.
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Alguns desses fatores são essenciais para o desenvolvimento de certas
doenças, enquanto outros somente aumentam o risco de desenvolvê-las. Por essa
razão, novos métodos epidemiológicos são necessários para analisar essa relação.
Em países pobres, nos quais HIV/AIDS, tuberculose e malária são causas comuns
de morte, a epidemiologia das doenças transmissíveis tem sido de fundamental
importância. Esse ramo da epidemiologia tem se tornado importante em todos os
países em virtude do surgimento de novas doenças transmissíveis, tais como a
síndrome da angústia respiratória aguda (SARA), encefalopatia espongiforme bovina
e a pandemia de influenza. Nos últimos 50 anos, a epidemiologia tem se
desenvolvido consideravelmente e, hoje, o seu maior desafio é explorar os
determinantes de saúde e de doença, a maioria deles localizados fora do setor
saúde (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTRÖM, 2010).
Os mesmos pesquisadores acima, autores do clássico “Epidemiologia Básica”
recordam que o estudo de ENGELS “As Condições da Classe Trabalhadora na
Inglaterra em 1844” pode ser considerado o primeiro texto analítico da
Epidemiologia. Neste trabalho, o autor demonstrou, no contexto da Revolução
Industrial, que a exploração e o desgaste da classe trabalhadora deterioravam
profundamente as suas condições de saúde.
Na atualidade, a Epidemiologia mantém seu caráter essencialmente coletivo e
social, assim como vem ampliando o seu importante papel na consolidação de um
saber científico sobre a saúde humana, fornecendo subsídios para o planejamento e
a organização das ações de saúde e para a avaliação de programas, atividades e
procedimentos preventivos e terapêuticos.
Devido à crescente complexidade e abrangência da sua prática atual, Almeida
Filho e Rouquairol (2003) assim definem a moderna Epidemiologia:
Ciência que estuda o processo saúde-doença na sociedade, analisando a distribuição populacional e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração, e avaliação das ações de saúde.
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Preliminarmente, convém ressaltar que, devido ao seu caráter eminentemente
observacional, a moderna Epidemiologia estrutura-se em torno de um conceito
fundamental denominado “risco”, que pode ser definido como a probabilidade dos
membros de uma determinada população desenvolverem uma dada doença ou
evento relacionado à saúde em um período de tempo.
Em outras palavras, o risco é o correspondente epidemiológico do conceito
matemático de probabilidade e se operacionaliza quantitativamente sob forma de
uma proporção, levando em conta três dimensões: ocorrência de doença,
denominador de base populacional e tempo.
Para Almeida Filho e Rouquayrol (2003) risco é entendido pela epidemiologia
como a “probabilidade de ocorrência de uma doença, agravo, óbito, ou condição
relacionada à saúde (incluindo cura, recuperação ou melhora) em uma população ou
grupo durante um período de tempo determinado”. Em epidemiologia, o risco é
estimado sob forma de uma proporção matemática (ou seja, a razão entre duas
grandezas onde o numerador está contido no denominador), ou seja, um indicador.
Trabalhamos com percentagens (%) ou com razões de 1: 1.000; 1: 10.000; 1:
100.000; em eventos mais raros como câncer, AIDS, etc. Um indicador de risco pode
ser definido como uma proporção entre o número de pessoas acometidas por
determinado evento (numerador) e a população ou grupo estudado (denominador),
que para podermos usar em análises comparativas, devem ser especificados
fundamentalmente quanto a um determinado período de tempo, mas também quanto
à localidade, sexo e outras variáveis. Isto é, trabalhamos sempre com dados
relativizados. Os chamados indicadores de saúde são indicadores de risco utilizados
mais frequentemente para comparações do estado de saúde das populações
(PEREIRA, 2007).
Para entendermos as medidas de risco existentes, precisamos ter muito claro
as definições de agravo ou dano à saúde, de fator de risco e suas formas de
ocorrência:
Agravo ou dano à saúde pode ser entendido como um prejuízo à saúde de
um ou mais indivíduos, de uma coletividade ou população;
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Em termos de vigilância, dano pode referir-se também em determinado
produto, que, dependendo do tipo de utilização pode se colocar como um
fator de risco à saúde (medicamentos, alimentos, água, seringas, bolsas de
sangue, etc.). Usa-se também, o termo dano ambiental, referindo-se a
alterações e prejuízos ambientais; estes, também é claro, podem se tornar
fatores de risco à saúde (águas contaminadas, ar poluído, lixo mal
acondicionado ou destinado etc.).
Fatores de risco são os componentes que podem levar à doença ou contribuir
para o risco de adoecimento e manutenção dos agravos de saúde. Podem,
também, ser definidos como: “atributos de um grupo da população que
apresenta maior incidência de uma doença ou agravo à saúde em
comparação com outros grupos que não o tenha ou com menor exposição a
tal característica”, ou ainda, “um fator de risco, ou fator de exposição, é algum
fenômeno de natureza física, química, orgânica, psicológica ou social, no
genótipo ou fenótipo, ou alguma enfermidade anterior ao efeito que se está
estudando, que pela variabilidade de sua presença ou ausência está
relacionada com a doença investigada, ou pode ser causa de seu
aparecimento” (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2003).
Operacionalmente, as medidas típicas do risco são chamadas de incidência e
prevalência.
A incidência é a proporção de casos novos de uma dada patologia em uma
população delimitada, durante um período determinado de tempo. Já, a prevalência
é a proporção de casos (novos e antigos) de uma certa doença em uma população
delimitada, em um tempo determinado.
Cumpre destacar que a prevalência é uma medida de risco de grande
utilidade para os estudos epidemiológicos relacionados com a inspeção do trabalho
na área de segurança e saúde no trabalho.
A partir do conhecimento e do domínio desses conceitos básicos, a
investigação epidemiológica deve seguir um roteiro básico: a construção da questão
e formulação das hipóteses de pesquisa, a definição da estratégia de investigação, a
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seleção de técnicas de produção de dados, o trabalho de campo e a sistematização
e análise dos dados coletados. A formulação da hipótese resulta inicialmente da
construção de um quadro teórico baseado em um estudo cuidadoso da literatura
científica específica sobre um dado assunto.
Sua formulação propriamente dita deverá ser feita em termos probabilísticos,
de modo a antecipadamente indicar com precisão e objetividade a natureza das
medidas e a direção das associações em estudo.
Em relação à definição da estratégia de investigação, o instrumental da
Epidemiologia engloba quatro estratégias básicas de pesquisa – estudos ecológicos,
estudos de caso-controle, estudos de coorte, e estudos seccionais (ou de
prevalência) – sendo que:
Os estudos ecológicos abordam áreas geográficas, analisando
comparativamente indicadores globais, quase sempre por meio de correlação
entre variáveis ambientais (ou socioeconômicas) e indicadores de saúde. Um
exemplo de estudo ecológico é a investigação da ocorrência de correlação
entre concentração populacional e níveis de sintomatologia psiquiátrica, em
um setor de baixa renda e em vários bairros de uma capital nordestina;
Os estudos de caso-controle iniciam-se pelos doentes identificados (“casos”),
estabelecem “controles” (sujeitos comparáveis aos casos, porém não
doentes) para eles, e retrospectivamente procuram conhecer os níveis de
exposição ao suposto fator de risco. Esse tipo de estudo é de grande utilidade
para se abordar associações etiológicas com doenças de baixa incidência.
Um exemplo típico de estudo de caso-controle é aquele que demonstrou a
associação entre rubéola durante a gestação e malformações congênitas a
partir de casos de crianças portadoras de catarata congênita;
Os estudos de coorte consistem no inverso dos estudos de caso-controle,
pois partem da observação de grupos comprovadamente expostos a um fator
de risco suposto como causa de doença e prospectivamente observa o
aparecimento de doentes. Esse tipo de estudo é o único capaz de abordar
hipóteses etiológicas produzindo medidas de incidência. Exemplos clássicos
de estudo de coorte são o da associação entre o hábito de fumar e o câncer
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de pulmão e, entre o nível de colesterol no sangue e doenças
cardiovasculares;
Os estudos seccionais (ou de prevalência) observam o fator de risco e o efeito
num mesmo momento histórico e em populações de referência precisamente
delimitadas. Esse tipo de estudo tem sido o mais empregado na
Epidemiologia moderna e é o desenho de investigação mais útil para a
inspeção do trabalho na área de segurança e saúde. Um exemplo típico de
estudo seccional é o estudo da prevalência de certa doença profissional entre
trabalhadores de uma certa empresa ou de um certo ramo de atividade
econômica. Após definir a estratégia de investigação mais adequada em
relação aos objetivos da pesquisa, deve-se selecionar as técnicas de
produção de dados. As fontes desses dados podem ser secundárias (por
exemplo, o arquivo do serviço médico da empresa) ou pode-se obter dados
primários através da utilização de entrevistas ou aplicação de questionários.
A fase seguinte da investigação consiste no trabalho de campo, que na
verdade constitui-se no próprio processo de produção de dados referentes às
variáveis estudadas, através do emprego criterioso das técnicas de coleta dentro da
estratégia de investigação selecionada. Na última fase, realiza-se a sistematização e
a análise dos dados coletados de modo a abordar efetivamente o problema da
investigação, finalmente transformando dados em informação útil, através do teste
das hipóteses da investigação.
2.1 Epidemiologia e inspeção do trabalho na área de segurança e saúde:
aplicações práticas
Atualmente, parece consenso que a questão da segurança e saúde no
trabalho exige tanto uma abordagem individual (clínica) como coletiva
(epidemiológica).
A clínica, ao realizar diagnósticos individuais, caracteriza-se por ser um
método complexo, exaustivo e de natureza intensiva. Na definição de um “caso
clínico” de doença profissional estão envolvidos diversos exames e análises
clínico/laboratoriais, tornando-se inviáveis de serem aplicados a uma população.
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Por sua vez, a investigação epidemiológica fundamenta-se em técnicas de
coleta padronizadas, simplificadas e extensivas, passíveis de serem aplicadas a
uma população. Na definição de um “caso epidemiológico”, interessa, sobretudo,
testes e/ou técnicas que expressem a fase mais precoce possível da enfermidade,
evitando sua evolução grave e irreversível e promovendo o seu controle (MIRANDA,
1998).
Um exemplo típico e prático nos é dado por Miranda et al (1998), denominado
Projeto Benzeno:
A ocorrência, em 1990, de dois óbitos (um operador industrial e um médico do
trabalho) comprovadamente relacionados à exposição ocupacional ao benzeno
(benzenismo) em uma mesma empresa processadora, foi o evento sanitário
desencadeador do processo de investigação epidemiológica.
O programa constituiu-se em um estudo de prevalência com base na análise
de dados hematimétricos referentes a 7.356 trabalhadores de nove diferentes
empresas do Complexo Petroquímico de Camaçari, Bahia. O Hemograma completo
com contagem de plaquetas foi utilizado como indicador biológico de efeito da
exposição ao benzeno. Utilizando dados secundários dos arquivos dos serviços
médicos das empresas, numa primeira triagem, foram classificados como “suspeitos”
850 trabalhadores que apresentaram valores leucocitários abaixo de 5.000 e/ou
neutrófilos abaixo de 2.500. Posteriormente, para cada um destes trabalhadores
foram realizados três novos hemogramas, com intervalo de 15 dias. Numa segunda
triagem, após análise da história ocupacional e da série histórica dos exames
hematológicos, 216 trabalhadores foram classificados como “caso epidemiológico”
por apresentarem valores leucocitários abaixo de 4.000 e/ou valor de neutrófilos
abaixo de 2.000, e/ou valores decrescentes ao longo do tempo observados nas
séries históricas de hemogramas. Para todos esses 216 trabalhadores classificados
como “caso epidemiológico”, caracterizou-se evidente exposição ocupacional ao
benzeno, sendo que todos foram afastados da exposição e encaminhados ao
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mediante a emissão da Comunicação de
Acidente de Trabalho (CAT).
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Esses trabalhadores foram submetidos a criteriosa investigação hematológica
e tiveram reconhecido, pela perícia do INSS, o nexo causal para benzenismo. Os
resultados deste trabalho permitiram evidenciar o valor do método epidemiológico na
fiscalização trabalhista da área de segurança e saúde, pois a partir de dois casos
fatais de benzenismo foi possível promover a busca ativa de casos novos em outros
trabalhadores expostos. A ação fiscalizadora, consubstanciada em um método
inerente à prática prevencionista, possibilitou o afastamento de um significativo
número de trabalhadores de ambientes contaminados com benzeno, trabalhadores
estes portadores de lesões precoces e ainda em uma fase em que há alta
probabilidade de reversão da evolução fatal da enfermidade.
2.2 Epidemiologia ambiental e ocupacional
O ambiente humano é constituído por vários elementos básicos: o ar
respirado, a água bebida, o alimento consumido, o clima ao redor dos corpos e o
espaço disponível para movimentos. Além disso, existimos em um ambiente social e
cultural, que é de grande importância para nossa saúde física e mental.
A maioria das doenças é causada ou influenciada por fatores ambientais. O
entendimento da maneira pela qual um agente do meio ambiente interfere na saúde
é importante para o delineamento de programas de prevenção. A epidemiologia
ambiental fornece as bases científicas para o estudo e a interpretação das relações
entre o ambiente e a saúde nas populações.
A epidemiologia ocupacional lida especificamente com os fatores ambientais
no local de trabalho. As lesões físicas dependem fortemente de fatores presentes no
ambiente de trabalho ou de moradia, mas também são fortemente influenciadas por
fatores comportamentais. Normalmente a palavra “acidente” é aplicada aos eventos
que precederam um agravo à saúde, mas isso pode ser errôneo uma vez que a
palavra acidente implica ocorrência de um evento ao acaso ao invés de ser
resultante de uma combinação de fatores causais que poderiam ser prevenidos
(BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTRÖM, 2010).
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A saúde ocupacional e ambiental inclui um grande número de fatores causais
específicos e proximais. No caso de transporte e saúde, os fatores de risco mais
distais podem ser analisados usando-se a estrutura do modelo hierárquico abaixo,
proposto pela Organização Mundial de Saúde, para analisar os diferentes elementos
causais de prevenção e indicadores em relação a fatores de risco ambientais.
Modelo hierárquico de análise
Fonte: BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTRÖM (2010, p. 88)
A relação hierárquica dos fatores causais na saúde ambiental e ocupacional é
apresentada no Quadro abaixo:
Ordem hierárquica dos fatores causais em saúde ocupacional e ambiental
Fatores responsáveis pela atual tendência em
saúde/ambiente
Principais atividades humanas que afetam a
qualidade do ambiente
Qualidade pobre do ambiente: exposições e
risco
Dinâmica populacional
Urbanização
Pobreza e equidade
Lixo doméstico
Água potável
Uso da terra e
Poluição atmosférica
Alimentação
Solo
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Ciência e tecnologia
Padrões de consumo e de produção
Desenvolvimento econômico
desenvolvimento da agricultura
Industrialização
Energia
Moradia
Local de trabalho
Ambiente global
Fonte: BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTRÖM (2010, p. 146)
2.2.1 Impacto da exposição a fatores ambientais e o impacto em países de
baixa renda
Estimativas da carga global de doenças têm mostrado a contribuição das
exposições ambientais para a saúde. Entre 25% e 35% da carga global de doenças
pode ser devido à exposição a fatores ambientais.
Os principais problemas de saúde estão relacionados ao consumo de água
não tratada e à falta de saneamento, poluição do ar doméstico devido à queima de
biomassa na cozinha ou no aquecimento do domicílio, e à poluição atmosférica
oriunda dos motores dos veículos ou da geração de eletricidade nas cidades.
A carga de doenças ambientais é maior nos países com baixa renda do que
naqueles com alta renda, apesar de certas doenças não transmissíveis, tais como as
cardiovasculares e câncer, terem maior carga per capita em países de alta renda. As
crianças apresentam a maior carga de mortalidade, com mais de 4 milhões de óbitos
anuais causados por fatores ambientais, a quase totalidade deles nos países em
desenvolvimento. A taxa de mortalidade infantil por causas ambientais é 12 vezes
maior nos países de baixa renda do que nos de alta renda, indicando o ganho que
poderia ser alcançado se fosse estimulado que os ambientes se tornassem
saudáveis (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTRÖM, 2010).
2.2.2 Multicausalidade
Nos estudos epidemiológicos sobre fatores ambientais, as exposições são
frequentemente analisadas de forma isolada. Entretanto, é importante ter em mente
que existem inúmeros mecanismos através dos quais as exposições ambientais
podem influenciar o efeito de outras exposições. Multicausalidade e uma clara
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hierarquia das causas são, com frequência, evidentes; isto pode explicar diferenças
entre os resultados de estudos epidemiológicos conduzidos em diferentes locais. A
forma como uma exposição ambiental afeta um indivíduo pode também depender da
exposição a outros fatores de risco e características individuais, tais como:
Idade e sexo;
Fatores genéticos;
Presença de doença;
Nutrição;
Personalidade;
Condicionamento físico.
A epidemiologia ocupacional, geralmente, está preocupada com a população
adulta, jovem ou de meia-idade e, em geral, predominantemente masculina. Além
disso, na epidemiologia ocupacional a maioria das pessoas expostas está
relativamente saudável, pelo menos quando começam a trabalhar.
Fatores ambientais que podem afetar a saúde
Fator Exemplo
Psicológico Estresse, desemprego, mudança de turno de trabalho, relações humanas.
Biológico Bactérias, vírus, parasitas.
Físico Clima, ruído, radiação e ergonomia.
Acidental Situações perigosas, velocidade, uso de drogas e bebidas alcoólicas.
Químico Tabaco, produtos químicos, poeira, irritantes de pele, aditivos alimentares.
Fonte: BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTRÖM (2010, p. 146)
Ao contrário, estudos epidemiológicos sobre exposições ambientais
normalmente incluem crianças, pessoas idosas e doentes. Pessoas expostas na
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população geral são provavelmente mais sensíveis a tais fatores do que
trabalhadores na indústria. Isso é de grande importância quando os resultados de
estudos da epidemiologia ocupacional são usados para estabelecer padrões de
segurança para agentes ambientais específicos. Por exemplo, o efeito do chumbo
ocorre em menor nível de exposição em crianças do que em adultos.
O nível de chumbo no sangue é uma maneira aceitável de medir a exposição,
e os níveis apresentados para os dois diferentes desfechos em saúde são aqueles
que mais provavelmente protegeriam a maioria da população.
2.2.3 Exposição e dose
Os estudos epidemiológicos sobre o efeito de fatores ambientais,
frequentemente, lidam com fatores específicos que podem ser medidos
quantitativamente. Os conceitos de exposição e dose são particularmente
importantes na epidemiologia ambiental e ocupacional.
A exposição possui duas dimensões: nível e duração. Para fatores ambientais
que causam efeitos agudos, mais ou menos imediatamente após o início da
exposição, o nível atual da exposição irá determinar se o efeito vai ocorrer ou não.
Entretanto, muitos fatores ambientais produzem efeitos apenas após um longo
período de exposição. Isso acontece com produtos químicos que se acumulam no
organismo (por exemplo, cádmio) e outros agentes que tenham efeito cumulativo
(por exemplo, radiação ou ruído). Para esses agentes, o nível de exposição no
passado e a duração da exposição são mais importantes do que os níveis atuais. A
exposição total (ou dose externa) precisa ser estimada. Esta é frequentemente
obtida de forma aproximada a partir do produto da duração pelo nível de exposição.
Em estudos epidemiológicos, vários tipos de estimativas de exposição e dose
têm sido utilizados para quantificar a relação entre o fator ambiental e o nível de
saúde da população, podendo ser expressa apenas em termos de exposição (por
exemplo: número de cigarros fumados por dia).
A dose externa também pode ser expressa como uma medida combinada,
como por exemplo, maços/anos de cigarros fumados e fibras/ano (ou partículas/ano)
para o nível de exposição ao asbesto no local de trabalho. Às vezes uma medida,
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como, por exemplo, o fluxo de trânsito por hora em um determinado local ou o
consumo de petróleo por ano, é usada como indicadora da exposição à poluição do
ar. Essas variáveis podem, também, ser consideradas como indicadores de
“pressão” na hierarquia causal. Outros exemplos seriam o uso de pesticidas em uma
área ou o número de crianças morando em residências que foram pintadas com
tintas contendo chumbo.
2.2.4 Monitoração biológica
Se o fator ambiental em estudo é um agente químico, o nível de exposição e
a dose podem ser estimados, às vezes, através da medida da sua concentração em
fluídos orgânicos ou nos tecidos. Essa abordagem é chamada de monitoração
biológica. Geralmente, utiliza-se a urina e o sangue para essa monitoração, mas
para certos agentes químicos outros tecidos e fluídos podem ser de particular
interesse: o cabelo é muito útil para o estudo da exposição ao metilmercúrio, através
do consumo de pescados; a unha tem sido usada para estudar a exposição ao
arsênico; a análise de fezes pode dar uma estimativa da exposição recente a metais
através da alimentação (particularmente chumbo e cádmio); o leite materno é um
bom material para estudar a exposição a inseticidas organoclorados e outros
hidrocarbonetos clorados, tais como, difenil policlorado e dioxinas; e biópsias de
tecido adiposo, ossos, pulmão, fígado e rim podem ser usadas no estudo de
pacientes com suspeita de envenenamento.
2.2.5 Interpretação dos dados biológicos
A interpretação dos dados da monitoração biológica requer um detalhado
conhecimento da cinética e do metabolismo dos agentes químicos, incluindo dados
sobre absorção, transporte, acumulação e excreção. Devido à rápida excreção de
certos produtos químicos, apenas as exposições mais recentes podem ser medidas.
Às vezes, um tecido ou fluído dá uma boa indicação de exposição recente,
enquanto em outras ocasiões reflete a dose total. Uma vez que os agentes químicos
têm que ser absorvidos para alcançar um indicador biológico, a dose medida é
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também conhecida como dose absorvida ou dose interna que, ao contrário da dose
externa, é estimada a partir de medidas no ambiente.
2.3 Vigilância Epidemiológica
O objetivo primordial de se instituir sistemas de vigilância epidemiológica em
Saúde Pública é garantir o correto monitoramento das doenças.
Vigilância epidemiológica pode ser definida como um sistema contínuo de
coleta sistemática, análise e disseminação dos dados. Dessa maneira morbidade e
mortalidade podem ser reduzidas, melhorando-se as condições de saúde da
população (BAGATIN; ANTÃO; PINHEIRO, 2006).
Os resultados gerados pela vigilância epidemiológica podem ser úteis para
orientar ações imediatas em casos que tenham extrema importância em termos de
saúde pública - por exemplo, os casos de síndrome respiratória aguda grave (SARS)
que ocorreram recentemente na Ásia e no Canadá - mensurar a importância das
doenças, estudar fatores de risco e populações expostas, avaliar ações que estão
sendo implementadas facilitando a alocação de recursos de forma eficaz, identificar
a necessidade de implementação de novos programas e avaliar o desempenho dos
já existentes.
Para que esses programas sejam eficazes é necessária estrita colaboração
entre pneumologistas e profissionais de saúde pública. Diversos elementos são
essenciais para o funcionamento de programas de vigilância epidemiológica e
devem ser considerados na elaboração desses programas: profissionais
qualificados, armazenamento dos dados, controle de qualidade e manutenção
confidencial dos dados.
A análise de dados de vigilância epidemiológica pode não responder a todas
as questões relacionadas à epidemiologia das doenças ocupacionais, mas em
conjunto com dados de toxicologia, higiene industrial e resultados de investigações
nos locais de trabalho e na comunidade, possibilita a obtenção de informações
relevantes para os profissionais envolvidos na prevenção e controle das doenças
ocupacionais.
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Embora nenhum país tenha um sistema de vigilância epidemiológica para
doenças ocupacionais que seja totalmente abrangente e completo, existem diversas
fontes de dados que proporcionam valiosas informações sobre a frequência e causa
dessas doenças, as quais são descritas a seguir (BAGATIN, ANTÃO; PINHEIRO,
2006).
Dentre os usos da vigilância epidemiológica, Bonita, Beaglehole, Kjellström
(2010) inferem que a vigilância é uma característica essencial da prática
epidemiológica e pode ser usada para:
identificar casos isolados ou agrupados;
avaliar o impacto de eventos para a saúde pública e avaliar tendências;
medir fatores de risco para doenças;
monitorar a efetividade e avaliar o impacto de medidas de prevenção e
controle, estratégias de intervenção e mudanças nas políticas de saúde; e,
planejar e fornecer atenção aos doentes.
Além disso, ao estimar a magnitude de uma epidemia e monitorar a sua
tendência, os dados também podem ser usados para:
aumentar o comprometimento das pessoas;
mobilizar as comunidades; e,
defender a necessidade de maiores recursos.
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UNIDADE 3 – TOXICOLOGIA
3.1 Introdução à toxicologia geral
A toxicologia se ocupa da natureza e dos mecanismos das lesões tóxicas e
da avaliação quantitativa do espectro das alterações biológicas produzidos pela
exposição aos agentes químicos.
É a ciência que tem como objeto de estudo o efeito adverso de substâncias
químicas sobre os organismos vivos, com a finalidade principal de prevenir o
aparecimento deste efeito, ou seja, estabelecer o uso seguro dessas substâncias
químicas.
A toxicologia se apoia, então, em 3 elementos básicos:
1) o agente químico (AQ) capaz de produzir um efeito;
2) o sistema biológico (SB) com o qual o AQ irá interagir para produzir o efeito;
3) o efeito resultante que deverá ser adverso (ou tóxico) para o SB (LEITE;
AMORIM, 2008).
A Toxicologia é uma Ciência interdisciplinar e requer conhecimentos em
Química, Bioquímica, Patologia, Fisiologia, Epidemiologia, Imunologia, Ecologia e
Biologia Molecular, contribuindo para a Medicina Forense, Toxicologia Clínica;
Saúde Pública; Agricultura; Higiene Industrial; Ciências Ambientais e Segurança e
Medicina do Trabalho (MARTINS,
A toxicologia é uma ciência aplicada, ampla e complexa, tendo como objetivos
melhorar a qualidade de vida; proteger a saúde humana e do meio ambiente;
caracterizar e gerenciar o risco associado ao uso de compostos químicos e
estabelecer medidas de segurança. Por todas estas aplicações, é perceptível sua
importância social, política, científica e econômica.
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3.2 Divisão da toxicologia
Leite e Amorim (2008) e Martins (2010) apresentam duas divisões para a
Toxicologia, sendo a primeira de acordo com a natureza do agente tóxico ou a
maneira pela qual atinge o sistema biológico e a segunda, quanto aos campos de
trabalho.
A)Quanto a natureza do agente tóxico:
Toxicologia Ambiental - substâncias liberadas no ambiente.
Estuda efeitos nocivos de contaminantes ao organismo humano.
Ecotoxicologia - efeitos nocivos sobre populações e comunidades
das demais espécies de um ecossistema.
Toxicologia Ocupacional - estuda efeitos nocivos de agentes
químicos presentes no ambiente de trabalho; estabelece critérios
para exposição segura no ambiente laboral.
Toxicologia de Alimentos - estuda efeitos nocivos de substâncias
em alimentos (aditivos alimentares, praguicidas, toxinas
bacterianas, etc.) e estabelece índices de segurança para o
consumo.
Toxicologia de Medicamentos e Cosméticos - efeitos nocivos de
medicamentos e cosméticos ao organismo, devido ao uso
inadequado ou a sensibilidade individual (reações adversas ou
interações com outras substâncias).
Toxicologia Social - estuda efeitos nocivos de drogas ou fármacos
em virtude do uso não terapêutico.
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B)Quanto aos campos de trabalho:
Toxicologia Analítica (Química)
Toxicologia Clínica (Médica) Toxicologia Experimental
detecção do agente tóxico ou algum parâmetro relacionado a exposição
análise de: fluidos orgânicos, alimentos, água, ar, solo, ...
objetivos: reconhecer, diagnosticar e/ou prevenir intoxicações
métodos analíticos exatos, precisos e sensíveis (requer domínio de análise instrumental)
Atuação de profissionais de diversas formações
abrangência/finalidade: em todas as áreas da Toxicologia Forense (ocorrências policiais/legais)
Monitoramento terapêutico (determinação de fármacos em material biológico; correções de doses; efeitos adversos)
Monitoramento biológico (exposições ocupacionais)
Controle antidopagem (competições esportivas)
Diagnóstico de intoxicações agudas ou crônicas
Controle da farmacodependência (drogas psicoativas)
atendimento ao paciente intoxicado ou exposto a agentes tóxicos
diagnóstico clínico
aplicação de tratamento específico
estudos de elucidação de mecanismos de ação de agentes tóxicos sobre sistemas biológicos e os efeitos observados (avaliação da toxicidade)
utiliza diferentes espécies animais; segue normas padronizadas
informações obtidas permitem avaliar o risco sob determinadas condições de exposição
Ecotoxicologia: efeitos nocivos aos organismos de um ecossistema (testes em algas, bactérias, dafnias, abelhas, minhocas, peixes, etc.)
3.3 Variáveis de importância envolvidas em toxicologia
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• Variáveis físico-químicas da substância:
– Elemento químico / compostos (especiação)
– substância orgânica / inorgânica
– radicais presentes
– substância pura / compostos
– substância orgânica / inorgânica
– radicais presentes
– pKa
– biodisponibilidade
– coeficiente de partição Solvente/Água
• hidrossolubilidade / lipossolubilidade
– ação cumulativa
• conceito de “carga corpórea”
– tipo de aerodispersóides
• poeiras
• gases
• vapores FUMAÇA
• névoas
• neblinas
3.4 Alguns conceitos básicos
Toxicidade
É a capacidade, inerente a um agente químico, de produzir danos aos
organismos vivos, em condições padronizadas de uso. Uma substância muito tóxica
causará dano a um organismo se for administrada em quantidades muito pequenas,
enquanto que uma substância de baixa toxicidade somente produzirá efeito quando
a quantidade administrada for muito grande.
O conhecimento da toxicidade das substâncias químicas se obtém através de
experimentos em laboratório utilizando animais. Os métodos são empregados com
todo rigor científico com a finalidade de fornecer informações relativas aos efeitos
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tóxicos e, principalmente, para avaliar riscos que podem ser extrapolados ao
homem.
Os agentes químicos podem ser classificados, segundo HODGES &
HAGGARD, em 6 classes de toxicidade, de acordo com os valores de DL50 (Tabela
abaixo). Esta classificação é utilizada para consultas rápidas, qualitativas, com
finalidade de obter informações relativas à toxicidade intrínseca das substâncias.
Classificação quanto ao grau de toxicidade
A falha desta classificação está no fato dela se basear apenas na toxicidade
intrínseca da substância que é um parâmetro extremamente variável, sendo
influenciado por uma série de fatores, relacionados principalmente ao agente
químico, organismo e à exposição.
Em situações práticas não se deve conhecer somente a toxicidade das
substâncias, representadas geralmente pela DL50, pois tão importante como
conhecer a toxicidade dos agentes químicos, é conhecer e saber avaliar o risco
tóxico de uma substância química (LEITE; AMORIM, 2008).
Intoxicação
É um conjunto de efeitos nocivos representado pelos sinais e sintomas que
revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela interação do agente químico com o
sistema biológico. Corresponde ao estado patológico provocado pelo agente tóxico,
em decorrência de sua interação com o organismo.
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Logicamente, o efeito tóxico só será produzido, se a interação com o receptor
biológico apropriado ocorrer em dose e tempo suficientes para quebrar a
homeostasia do organismo. Existem, então, na grande maioria das vezes, uma série
de processos envolvidos, desde o contato do agente tóxico com o organismo, até o
sintoma clínico que revela esta interação. Isto permite dividir a intoxicação em 4
fases distintas, a saber:
1)Fase de Exposição – corresponde ao contato do agente tóxico com o
organismo. Representa a disponibilidade química das substâncias químicas e
passíveis de serem introduzidas no organismo.
2)Fase Toxicocinética – consiste no movimento do AT dentro do organismo.
É formada pelos processos de absorção, distribuição, armazenamento e eliminação
(biotransformação e excreção). Todos esses processos envolvem reações mútuas
entre o agente tóxico e o organismo, conduzindo à disponibilidade biológica.
3)Fase Toxicodinâmica – corresponde à ação do AT no organismo.
Atingindo o alvo, o agente químico ou seu produto de biotransformação interage
biologicamente causando alterações morfológicas e funcionais, produzindo danos.
4)Fase Clínica – corresponde à manifestação clínica dos efeitos resultantes
da ação tóxica. É o aparecimento de sinais e sintomas que caracterizam o efeito
tóxico e evidenciam a presença do fenômeno da intoxicação.
EFEITO TÓXICO
São os efeitos adversos causados por substâncias químicas. Assim, todo o
efeito tóxico é indesejável e nocivo. Mas, nem todos efeitos indesejáveis são tóxicos.
CLASSIFICAÇÃO DOS EFEITOS TÓXICOS
Efeito idiossincrático
As reações idiossincráticas correspondem às respostas quantitativamente anormais a certos agentes tóxicos, provocados por alterações genéticas. O indivíduo pode ter uma resposta adversa com doses baixas (não-tóxicas) ou então ter uma resposta extremamente intensa com doses mais elevadas. Exemplo: sensibilidade anormal aos nitritos e outros agentes metemoglobinizantes, devido a deficiência, de origem genética, na NADH-metemoglobina redutase.
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Efeito alérgico Reações alérgicas ou alergia química são reações adversas que ocorrem somente após uma prévia sensibilização do organismo ao AT, ou a um produto quimicamente semelhante.
Na primeira exposição, a substância age como um hapteno promovendo a formação dos anticorpos, que em 2 ou 3 semanas estão em concentrações suficientes para produzir reações alérgicas em exposições subsequentes.
Alguns autores não concordam que as alergias químicas sejam efeitos tóxicos, já que elas não obedecem ou apresentam uma relação dose/resposta (elas não são dose dependente). Entretanto, como a alergia química é um efeito indesejável e adverso ao organismo, pode ser reconhecido como efeito tóxico.
Efeito imediato, crônico e retardado
Efeitos Imediatos ou agudos são aqueles que aparecem imediatamente após uma exposição aguda, ou seja, exposição única ou que ocorre, no máximo, em 24 horas. Em geral são efeitos intensamente graves.
Efeitos crônicos são aqueles resultantes de uma exposição crônica, ou seja, exposição a pequenas doses, durante vários meses ou anos. O efeito crônico pode advir de dois mecanismos:
(a) Somatória ou Acúmulo do Agente Tóxico no Organismo - a velocidade de eliminação é menor que a de absorção, assim ao longo da exposição o AT vai sendo somado no organismo, até alcançar um nível tóxico.
(b) Somatória de Efeitos - ocorre quando o dano causado é irreversível e, portanto, vai sendo aumentado a cada exposição, até atingir um nível detectável; ou, então, quando o dano é reversível, mas o tempo entre cada exposição é insuficiente para que o organismo se recupere totalmente.
Efeitos retardados são aqueles que só ocorrem após um período de latência, mesmo quando já não mais existe a exposição. Exemplo: efeitos carcinogênicos que têm uma latência a 20-30 anos.
Efeitos reversíveis e irreversíveis
A manifestação de um ou outro efeito vai depender, principalmente, da capacidade do tecido lesado em se recuperar. Assim, lesões hepáticas são geralmente reversíveis, já que este tecido tem grande capacidade de regeneração, enquanto as lesões no sistema nervoso central (SNC) são geralmente irreversíveis, uma vez que as células nervosas são pouco renovadas.
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Efeitos locais e sistêmicos
O efeito local refere-se àquele que ocorre no local do primeiro contato entre o AT e o organismo. Já o sistêmico exige uma absorção e distribuição da substância, de modo a atingir o sítio de ação, onde se encontra o receptor biológico. Existem substâncias que apresentam os dois tipos de efeitos. (ex.: Benzeno, chumbo tetraetila, etc.).
Efeitos resultantes da interação de agentes químicos
O termo interação entre substâncias químicas é utilizado todas as vezes em que uma substância altera o efeito de outra. A interação pode ocorrer durante a fase de exposição, toxicocinética ou toxicodinâmica. Como consequência destas interações podem resultar diferentes tipos de efeitos:
Adição - É aquele produzido quando o efeito final de 2 ou mais agentes é quantitativamente é igual à soma dos efeitos produzidos individualmente.
Ex.: Chumbo e arsênio atuando a nível da biossíntese do heme (aumento da excreção urinária da coproporfirina).
Sinergismo - Ocorre quando o efeito de 2 ou mais agentes químicos combinados, é maior do que a soma dos efeitos individuais.
Ex.: A hepatotoxicidade, resultante da interação entre tetracloreto de carbono e álcool é muito maior do que aquela produzida pela soma das duas ações em separado, uma vez que o etanol inibi a biotransformação do solvente clorado.
Potenciação - Ocorre quando um agente tóxico tem seu efeito aumentado por atuar simultaneamente, com um agente “não tóxico”
Ex.: O isopropanol, que não é hepatotóxico, aumenta excessivamente a hepatotoxicidade do tetracloreto de carbono.
Antagonismo - Ocorre quando dois agentes químicos interferem um com a ação do outro, diminuindo o efeito final. É, geralmente, um efeito desejável em toxicologia, já que o dano resultante (se houver) é menor que aquele causado pelas substâncias separadamente. Existem vários tipos de antagonismo:
(a) Antagonismo químico (também chamado neutralização) - ocorre quando o antagonista reage quimicamente com o agonista, inativando-o.
Este tipo de antagonismo tem um papel muito importante no tratamento das intoxicações. Ex.: Agentes quelantes como o EDTA, BAL e penicilamina, que sequestram metais (As, Hg,
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Pb, etc.) Diminuindo suas ações tóxicas.
(b) Antagonismo funcional - ocorre quando dois agentes produzem efeitos contrários em um mesmo sistema biológico atuando em receptores diferentes. Ex.: Barbitúricos que diminuem a pressão sanguínea, interagindo com a norepinefrina, que produz hipertensão.
(c)Antagonismo não-competitivo, metabólico ou farmacocinético - é quando um fármaco altera a cinética do outro no organismo, de modo que menos AT alcance o sítio de ação ou permaneça menos tempo agindo. Ex.: Bicarbonato de sódio que aumenta a secreção urinária dos barbitúricos; fenobarbital que aumenta a biotransformação do tolueno, diminuindo sua ação tóxica.
(d)Antagonismo competitivo, não-metabólico ou farmacodinâmico - ocorre quando os dois fármacos atuam sobre o mesmo receptor biológico, um antagonizando o efeito do outro. São os chamados bloqueadores e este conceito é usado, com vantagens, no tratamento clínico das intoxicações.
Ex.: Naloxone, no tratamento da intoxicação com opiáceos. Atropina no tratamento da intoxicação por organofosforado ou carbamato.
Fonte: LEITE; AMORIM (2008)
3.5 Toxicologia Ocupacional
Segundo Nascimento (2008), Toxicologia Ocupacional é a área da toxicologia
aplicada aos princípios e métodos para identificação, gestão e controle dos
compostos químicos no ambiente de trabalho, visando o uso adequado e seguro de
agentes químicos, que ofereça um ambiente salubre ao trabalhador.
Esta área tem por objeto de estudo o trabalhador, enquanto a Higiene
Ocupacional, com a qual se complementa, estuda os ambientes ocupacionais. Para
fins de prevenção e retorno à atividade ocupacional quando acometido por alguma
intoxicação ou qualquer doença ocupacional é de fundamental importância a
caracterização da doença como profissional ou do trabalho, embora, para o
diagnóstico e tratamento, esta relação causal não tem influência na abordagem
terapêutica e nem no prognóstico.
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Nem sempre é fácil estabelecer o nexo causal entre a exposição ocupacional
e o aparecimento de agravos à saúde, portanto, ao Enfermeiro cabe monitorar
ambiente/trabalhadores junto com a equipe de profissionais que atua nesta área.
UNIDADE 4 – PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA
Vimos pontuando ao longo do curso sobre as mudanças processadas pela
humanidade ao longo de sua existência. Desde meados do século XX caminhamos
da sociedade industrial em direção à sociedade da informação e torna-se necessário
captar a natureza dessas transformações para perceber seus efeitos na
morbimortalidade dos trabalhadores.
A adoção de tecnologias de ponta, sem dúvida, reduziu a exposição a alguns
fatores de riscos ocupacionais em determinados ramos de atividade, mas gerou
outros riscos. Por exemplo, as inovações da informática aliadas a recentes formas
de organização dos processos de trabalho induzem ao uso excessivo e repetitivo de
determinados grupos musculares, levando a doenças do sistema
musculoesquelético que se disseminam em inúmeros ramos de atividade. A simples
elaboração de um material didático como este é um bom exemplo de utilização de
parte dos membros superiores (as mãos, a coluna, o tronco) que com o tempo, se
não adotado uma postura correta, o seu elaborador corre o risco de desenvolver
alguma doença profissional.
Os primórdios da divisão social do trabalho coincidem com as primeiras
descrições de doenças profissionais: silicose dos mineiros e dos trabalhadores da
pedra, saturnismo dos ceramistas por contato com sulfato de chumbo utilizado como
verniz, hidrargirismo dos manipuladores de mercúrio.
Na Europa, no final da Idade Média, a patologia do trabalho foi dominada
pelas doenças dos mineiros de metais preciosos, base da economia das nações.
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São dessa época as clássicas publicações de Agricola e Paracelso que tratavam
das doenças dos mineiros. A Revolução Industrial trouxe extensas transformações
em todas as áreas de atividade humana. A siderurgia e a metalurgia avançaram com
a oferta de metais sempre mais baratos e com o desenvolvimento da tecnologia para
sua fundição e purificação (MENDES, 1995).
Também em outros setores, os desdobramentos foram extensos. Para
alimentar os fornos das siderúrgicas houve necessidade de ampliar a produção de
carvão. A força de trabalho multiplicou-se. A Revolução Industrial concentrou dentro
dos ambientes confinados das indústrias as doenças decorrentes do trabalho.
Diferentes padrões de doenças podem ser bem caracterizados em períodos
de grande perturbação social como, por exemplo, a revolução agrícola do Neolítico,
os primórdios da urbanização, os períodos de grandes migrações, a expansão
mercantilista e colonial e a Revolução Industrial. Esses períodos com suas
características sociais específicas contribuíram no seu tempo para o virtual
desaparecimento ou para a emergência de determinadas doenças (WÜNSCH
FILHO, 2004).
A abordagem analítica da patocenose3 é mais abrangente que o modelo da
transição epidemiológica, pois permite apreender mais amplamente a complexidade
das relações entre elementos sociais e a ocorrência de doenças. É uma noção
dinâmica, não unidirecional e não linear (BARRETO, CARMO, 1995). Examina com
maior detalhe a evolução das doenças e as particularidades de suas manifestações
clínicas em distintos períodos históricos, e também de suas vinculações com
doenças predominantes no período precedente ao examinado. Nessa perspectiva, a
determinação social da doença, interpretação desenvolvida por epidemiologistas
latino-americanos ao contrastarem os perfis epidemiológicos de uma dada
3 O conceito de patocenose, proposto por Grmek, em 1969, designa o conjunto estruturado de
estados patológicos presentes em determinada população num período de tempo específico. As doenças se modificam, e não somente quanto à frequência, mas também nos seus aspectos clínicos e epidemiológicos. A patocenose seria, portanto, tributária do momento social e econômico da sociedade e seu estudo consiste no estabelecimento das relações sincrônicas das doenças em uma época histórica precisa. Todavia, simples constatações estatísticas são insuficientes: é necessário seguir igualmente suas modificações diacrônicas.
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sociedade em contextos históricos demarcados, aproxima-se da concepção de
patocenose.
Ao lado desta oscilação na prevalência de doenças, deve-se notar que os
principais problemas de cada época das sociedades mobilizam a atenção de seus
intelectuais. O relato do desenvolvimento dos estudos de fisiologia experimental na
América Latina por Garcia (1989) exemplifica essa situação. No Brasil agrário do
início do século XX, os problemas de transformação da energia humana não eram
considerados importantes, pois a força de trabalho era abundante e o que se
impunha era estudar as doenças que diminuíam a quantidade de trabalho por
unidade de tempo. Daí a concentração das pesquisas médicas no país nas doenças
tropicais e verminoses. Na Argentina, onde o desenvolvimento industrial foi anterior,
a história da fisiologia difere de outros países da América Latina. A situação social e
política facilitou o desenvolvimento da disciplina, institucionalizada no final do século
XIX para atender às demandas de normalização, exigidas pelo desenvolvimento
econômico. Posteriormente, a luta pela redução da jornada de trabalho fez recair na
escolha da fadiga patológica um objeto privilegiado de estudo da fisiologia. Em
síntese, o pensamento e o conhecimento médico também são influenciados pelo
processo de desenvolvimento das sociedades e certas doenças são mais bem
estudadas e compreendidas em períodos específicos da história (WÜNSCH FILHO,
2004).
4.1 Evolução dos riscos e doenças dos trabalhadores brasileiros
Segundo Wünsch Filho (2004), qualquer tentativa de estudar os agravos à
saúde relacionados ao trabalho no país é sempre parcial, pois não há uma
abordagem única que permita uma visão acurada de sua extensão. Os critérios para
definir a gravidade de uma situação e os vieses associados com as várias
abordagens utilizadas podem conduzir a grandes variações de estimativas.
No período anterior à década de 1970, as informações são esparsas e
provenientes de estudos de situações muito restritas. Desde então, os indicadores
de morbimortalidade dos trabalhadores provêm, em geral, dos dados organizados e
divulgados pelo Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS. Esses
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dados, porém, referem-se apenas aos trabalhadores do mercado formal da
economia (BRASIL, 2002).
Entre 1985 e 1997, a parcela dos ocupados pelo setor formal reduziu-se de
56% para 45%, em contraposição aos ocupados no setor informal que ascenderam
de 44% para 55% (DUPAS, 1998). Portanto, os dados provenientes do MPAS são
bastante limitados e cada vez menos representativos da força de trabalho brasileira.
Os inquéritos populacionais seriam uma outra fonte para avaliar a tendência
dos acidentes e das doenças acometendo os trabalhadores tanto do setor formal
quanto informal, entretanto o seu alto custo impede a realização de inquéritos
sequenciais que permitam análises sistemáticas e a construção de séries históricas.
Os acidentes e as doenças relacionadas ao trabalho têm um grande impacto,
não apenas na vida do indivíduo, mas na sociedade como um todo, como
pontuamos abaixo:
Para as empresas, esses eventos afetam o custo de produção e forçam a
elevação dos preços de bens e serviços, interferindo no conjunto da
economia;
Oneram o Estado pela atenção à saúde que precisa prover aos trabalhadores
afetados e pela ativação do sistema de previdência;
As pessoas mais próximas do trabalhador acidentado ou doente são os que
sofrem as principais consequências, pois as famílias acabam por assumir
grande parte dos custos na forma de redução de renda, interrupção do
emprego de familiares e gastos com acomodação no domicílio;
Os custos para a sociedade da morbidade e mortalidade relacionadas ao
trabalho, de acordo com estudos em diferentes países, têm sido estimados
entre 2% e 14% do produto interno bruto (PIB). No Brasil, Pastore (2000)
estimou que esses custos, incluindo todas as esferas onde repercutem,
seriam da ordem de R$ 20 bilhões ao ano. Esse valor situa-se bem abaixo
das cifras que seriam obtidas pela metodologia proposta pela Organização
Internacional do Trabalho (OIT), cujas estimativas indicam que, apenas com
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os acidentes de trabalho, os gastos podem chegar a representar 10% do PIB
de países subdesenvolvidos.
As informações oficiais disponíveis desde 1970, sobre doenças relacionadas
ao trabalho, dizem respeito apenas aos trabalhadores do setor formal da economia.
Entre 1980 e 2000, a notificação das doenças relacionadas ao trabalho
aumentou mais de 18 vezes. A prevalência das doenças relacionadas ao trabalho
modifica-se constantemente de acordo com as mudanças sociais e econômicas.
Atualmente, as lesões por esforços repetitivos (LER) e a perda auditiva
induzida por ruído (PAIR) constituem-se nas duas doenças mais notificadas entre as
relacionadas ao trabalho.
Duas doenças relacionadas ao trabalho, asma e transtornos mentais,
começam a destacar-se entre as demais e as tendências temporais de incidência
indicam que, nas próximas duas décadas, deverão assumir maior relevância
(WÜNSCH FILHO, 2004).
No caso específico dos trabalhadores rurais, estes inserem-se em distintos
tipos de processos produtivos, desde a produção familiar em pequenas
propriedades, passando pelo extrativismo, até os grandes empreendimentos
agroindustriais que se multiplicam pelas regiões do país e empregam, pelo menos
em parte, mão-de-obra com registro em carteira. Os agravos ocupacionais que
atingem essa parcela da população decorrem em grande parte do trabalho físico
excessivo. Acidentes com máquinas e animais peçonhentos são também bastante
comuns, bem como os envenenamentos por agrotóxicos e doenças respiratórias por
agrotóxicos e poeiras orgânicas.
Enfim, as inovações tecnológicas tornam obsoletas, muitas das antigas
profissões e os empregos gerados exigem qualificações específicas da força de
trabalho. São grandes as dificuldades dos trabalhadores para se adaptarem a tais
exigências de aperfeiçoamento constante e aos vários graus de mudanças que, em
geral, apresentam grande complexidade. Na sociedade da informática, aumenta o
trabalho noturno e a diversidade de padrões de horários interfere nos inúmeros
relógios biológicos que regulam a vida dos seres humanos. Os ambientes
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modificam-se e tornam-se muitas vezes bastante hostis pela competitividade que
promovem (WÜNSCH FILHO, 2004).
O efeito da intensa quantidade de informação sobre a cognição da população
trabalhadora não é em absoluto conhecida. Porém, tais demandas parecem ter
grande potencial para gerar sofrimento psíquico, pois exigem um rápido aprendizado
para o seu uso, grande pressão por economia de tempo, longos períodos de
trabalho, mudanças constantes de procedimentos, acúmulo de informação e
exigências do aumento de produtividade.
O trabalho em constante transformação e a instabilidade no emprego induzem
reações já identificadas em determinadas categorias profissionais e que se tornam
atitudes habituais, a exemplo de indivíduos que, embora doentes, continuam
trabalhando. Na era industrial, o sofrimento psíquico dos trabalhadores induzido pela
cadência das máquinas era descrito em termos mecânicos como desgaste (worn
out) ou fadiga (breakdown).
Atualmente, os trabalhadores estão de tal forma integrados aos ritmos da
cultura da informática que, ao apresentarem sintomas de estresse causados por
funções que exigem rápido e intenso conhecimento, diz-se estarem sofrendo
sobrecarga (overload) e, ao tornarem-se incapazes de enfrentar as demandas
geradas na rotina do dia-a-dia, entram em esgotamento (burnout) ou desconectam-
se (shut down). São eufemismos que refletem o quanto o trabalho e as reações dos
trabalhadores são identificados com a lógica da tecnologia (WÜNSCH FILHO, 2004).
Além da crescente prevalência de distúrbios mentais, outras doenças – a
exemplo da epidemia de distúrbios osteomusculares, atualmente a principal causa
de incapacitação e afastamento prematuro do trabalho, das alergias e das
manifestações de hipersensibilidade por exposição a múltiplos químicos, do câncer e
das doenças cardiovasculares – necessitam ser mais bem conhecidas nas suas
relações sincrônicas com o trabalho para a fundamentação de propostas de
intervenção.
Aspectos como a simultaneidade de ocorrência das LER e de sofrimento
emocional, talvez pelo fato de as populações expostas aos riscos de LER também
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estarem sujeitas a riscos à saúde mental (SATO, 2001), necessitam de
investigações mais aprofundadas por meio de perspectivas interdisciplinares.
No Brasil, a prevalência das velhas doenças profissionais, embora não
totalmente controladas, está sendo substituída por essas novas doenças e
síndromes.
Estratégias alternativas de ação devem ser pensadas e operacionalizadas. A
prática dominante hoje na saúde do trabalhador é ainda aquela da higiene
ocupacional voltada para proteção individual – a denominada abordagem de alto
risco. De fato, a complexidade dos vínculos entre trabalho e saúde sugere que a
estratégia de intervenção populacional, cujo objetivo é modificar o sistema de
relações que induz o aparecimento e manutenção de um determinado perfil de
morbimortalidade, possa ser mais efetiva.
Assim, sistemas de vigilância em saúde deveriam estar mais voltados e
preocupados com exposições deletérias e menos com a simples contabilização de
doenças, e operar integrados aos serviços de saúde dentro de uma base territorial.
O controle dos acidentes de trabalho fatais no país depende agora menos dos
enfoques tradicionais de segurança no trabalho e envolve, necessariamente,
medidas que melhorem a qualidade geral de vida urbana da população brasileira.
Assim, atividades com a participação da comunidade e cobrindo determinadas áreas
geográficas podem ser bastante resolutivas na prevenção de acidentes em geral e,
por extensão, de acidentes de trabalho (WÜNSCH FILHO, 2004).
As tecnologias inteligentes modificam o trabalho humano. Seu
desenvolvimento e uso representam etapas da evolução sociocultural da
humanidade e estão na base da globalização. Os atuais fundamentos da economia
global não podem ser considerados inevitáveis e incontroláveis na sua força
transformadora. Estabelecer limites de submissão ao mercado e à especulação
financeira, reorientando as trajetórias do capital para a inclusão dos indivíduos em
atividades socialmente saudáveis é uma tarefa necessária e dependerá da
organização das forças sociais. Nesse contexto, a saúde dos trabalhadores na
sociedade da informação será parte indissociável da conquista da qualidade de vida
e de saúde para o conjunto da população (WÜNSCH FILHO, 2004).
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UNIDADE 5 – O MEIO AMBIENTE LABORAL
5.1 A legislação vigente
Vimos ao longo do curso que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
trata da segurança e saúde do trabalhador no art.154 e seguintes do Tít. II, Cap.V e
no Tít. III (Normas Especiais de Tutela do Trabalho, além das Portarias do Ministério
do Trabalho e a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/90). Há ainda o Programa de
Controle Médico e de Saúde Ocupacional (PCMSO) e o Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais (PPRA), sem contar a obrigatoriedade das empresas terem que
instituir as CIPAs – Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (art.163,CLT).
Tudo visando a preservação da qualidade ambiental do local de trabalho.
O meio ambiente sadio do trabalho é um direito transindividual por ser um
direito de todo trabalhador, indistintamente, e reconhecido como uma obrigação
social constitucional do Estado, ao mesmo tempo em que se trata de um interesse
difuso, ou mesmo coletivo, quando se tratar de determinado grupo de trabalhadores.
A legislação também é clara ao postular que o meio ambiente do trabalho
enquadra-se nos casos protegidos pela Lei nº 7.347/85, que em seu art.1º, I,
estabelece a adequação da ação civil pública na proteção do meio ambiente e em
seu inciso IV inclui também o caso de danos causados a qualquer outro interesse
difuso ou coletivo, de forma que é plenamente viável falarmos na existência da Ação
Civil Pública para resguardar os direitos dos trabalhadores terem um ambiente de
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trabalho sadio e ecologicamente equilibrado como preceituado no art. 225 da
Constituição Federal.
Deste modo, estão legitimados para propor a ação civil pública acidentária
trabalhista, as pessoas de direito público e as entidades elencadas no art. 5º da Lei
7.347/85, dentre elas os sindicatos e o Ministério Público.
O empregador que por inobservância das normas de segurança do trabalho
não fornecer aos seus empregados um ambiente de trabalho sadio e,
consequentemente, vier a causar-lhes danos poderá sofrer ação civil pública para
que adapte seu estabelecimento e/ou pague multa, bem como poderá ter seu
estabelecimento fechado judicialmente, além de poder responder criminalmente.
Estará ainda sujeito a multas administrativas (art. 201, CLT), interdição do
estabelecimento ou equipamento (art. 161, CLT). Sem contar que poderá responder
por indenização, em se constando sua culpa e dano ao trabalhador, apuráveis
através da respectiva ação de indenização (art.7º,XXVIII, CF e art.159, Código Civil).
Ante o exposto, podemos concluir que o conceito de meio ambiente evoluiu
abrangendo atualmente além do fator natural e físico, o cultural, o artificial e meio
ambiente do trabalho. Quanto a este último, em especial, constata-se que tomou
conotação transindividual e de interesse difuso, possibilitando a sua proteção por
meio da ação civil pública com fulcro na Lei nº 7.347/85, tornando-se um importante
direito de todos os trabalhadores e da sociedade como um todo, além de um dever
do Estado de protegê-lo.
Por conseguinte, isto certamente levará as empresas a dar mais atenção ao
ambiente de suas instalações como escritórios e parques industriais, adequando-os
aos novos anseios mundiais de desenvolvimento e de qualidade de vida, o que só
trará vantagens diretas aos trabalhadores e indiretamente à toda sociedade
(SANTOS, 2000).
5.2 O fenômeno dos “edifícios doentes”
Desde o início da década de 1970, os trabalhadores de centenas de
modernos edifícios fechados na América do Norte e na Europa Ocidental têm
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relatado um complexo de queixas relativas à saúde e conforto. Esses edifícios são
comumente referidos como edifícios doentes e a epidemia de queixas de seus
ocupantes foi definida pela Organização Mundial da Saúde como “Síndrome do
Edifício Doente” (STERLING, COLLETT; RUMEL,1991).
Outra autora que discorre sobre o assunto é a Bióloga Eliana Buzelli (2006)
ao relatar que a má qualidade do ar interno dos edifícios passou a ser conhecida
mundialmente como a “Síndrome dos Edifícios Doentes”, resultado de uma
conjunção de fatores que vão desde os problemas no projeto até a má conservação
dos dutos, causando dois tipos básicos de contaminação: a biológica por fungos,
bactérias, vírus e protozoários e até mesmo aracnídeos como é o caso dos ácaros e
a química proveniente de gases liberados por produtos de limpeza, vernizes, tintas,
equipamentos de escritório, colas, aumento no nível de dióxido de carbono, etc.
O ar não proporciona crescimento microbiano, mas é um potente
disseminador. Por conter partículas de poeira e água, é capaz de transportar os
micro-organismos e expô-los em contato com as pessoas (PELCZAR et al, 1980
apud BUZELLI, 2006). Entretanto, os tipos de germes presentes são determinados
por fontes contaminantes, sendo os aparelhos de ar condicionado, na grande
maioria dos casos, um maximizador deste processo de contaminação, vários deles
não são frequentemente limpos e monitorados quanto as suas condições assépticas.
Dentro deste contexto, a poluição interna dos ambientes está se tornando
assunto de relevância em vários países, uma vez que existem confirmações
científicas correlacionando algumas doenças respiratórias e alérgicas aos sistemas
de ar condicionado e ventilação em estados precários de higiene e limpeza,
contribuindo para a disseminação de micro-organismos no ambiente (BUZELLI,
2006).
Edifícios doentes são identificados por uma alta prevalência de sintomas em
seus ocupantes, que incluem: dor de cabeça, problemas nos olhos (irritação, dor,
secura, coceira ou constante lacrimejamento), problemas nasais (constipação nasal,
coriza ou irritação nasal), problemas de garganta (secura, dor ou irritação),
problemas no tórax (sensação de opressão e dificuldade respiratória), fadiga e
letargia (sonolência e debilidade), anormalidades na pele (secura, coceira ou
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irritação), e problemas para manter a concentração no trabalho (STERLING,
COLLETT; RUMEL,1991).
Em alguns estudos relatados pelos autores acima, a prevalência de queixas
nos ocupantes dos edifícios fechados foi pelo menos o dobro que nos ocupantes dos
edifícios ventilados de forma natural. Outros sintomas como: erupção, irritação e
secura da pele, náusea, vertigem e problemas respiratórios (chiado, falta de ar e
sensação de opressão têm sido sugeridos como mais prevalente nos edifícios
fechados. Por último, em alguns edifícios têm havido aumento de abortos
espontâneos. Esses relatos não têm sido levados em consideração devido à
dificuldade de avaliação dos mesmos (STERLING, COLLETT; RUMEL,1991).
Usuários de locais com ar condicionado frequentemente apresentam ardência
e secura nos olhos, mal estar, dor de cabeça, fadiga e gripes constantes (KLINGER,
K.; Folha de São Paulo; ed. 21/12/2000), fato devido a não desinfecção do sistema
de ventilação.
Especialistas reconhecem que um edifício está doente quando 20% de sua
população apresenta sintomas de doenças alérgicas e pulmonares ocasionalmente
melhorando quando estão afastadas do local (KLINGER, K. Folha de São Paulo,
21/12/2000).
Para se ter a ideia da dimensão desse problema, a Organização Mundial da
Saúde (OMS) informa que os gastos gerados ao ano com os doentes é cerca de
cem bilhões de dólares/ano nos Estados Unidos devido ao absenteísmo, queda de
produtividade e intervenções na saúde, fatos que levaram a OMS a considerar esta
síndrome como uma questão de saúde ocupacional desde 1983.
Países como Estados Unidos realizam pesquisas sobre o assunto e segundo
a América Lung Associator (associação pulmonar americana), muitos americanos
despendem 90% de seu tempo dentro de prédios climatizados. Outros dados ainda
demonstram que o número de asmáticos cresceu 59% desde 1970, totalizando 9,6
milhões de doentes de asma, sendo os óbitos dados em 4400 casos ao ano, um
crescimento de 69% desde 1979 e hoje é considerado que cerca de 20% a 42% da
população urbana é alérgica. Os americanos gastam US$ 6,4 bilhões ao ano
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tratando pessoas com asma e a rinite alérgica responde por 45 milhões de faltas nas
escolas por ano (http://www.santalucia.com.br/torax/arcond-p.htm).
Do outro lado do mundo, na França, um total de 17 pessoas morreram em
consequência de uma epidemia de legionelose registrada de novembro de 2003 a
janeiro de 2004 na região de Pas de Calais, ao norte do país, segundo o balanço
definitivo divulgado pelas autoridades locais. (www.fundacentro.gov.br).
A Associação Paulista de Medicina também demonstrou uma crescente
ocorrência de ceratite amebiana. Essa infecção atinge o olho por um protozoário que
prolifera em água, muito encontrado nas bandejas que recolhem a condensação da
umidade do ar nos condicionadores, o número de pacientes atingidos saltou de dois,
em 1975, para 350, em 1990.
Em 1984, o World Health Organization Comitee (Comitê Mundial de
Organização da Saúde) emitiu um relatório informando que 30% dos prédios novos
e remodelados no mundo apresentam altas taxas de concentrações de poluentes
biológicos e químicos no ar interno (BUZELLI, 2006).
Dados da Health Buildings International mostra que o nível de poluição no
ambiente interno de alguns edifícios chega a ser cem vezes maior que o externo,
devido a pouca renovação do ar dos sistemas de ar condicionado em más condições
sanitárias.
Avaliando que uma pessoa adulta inala quinze mil litros de ar por dia e mais
da metade do tempo diário, encontra-se exercendo atividades em ambientes
internos com sistemas de ar condicionado, seja trabalhando, fazendo compras,
aulas de ginástica ou divertindo-se em cinemas e teatros, é possível concluir que a
qualidade do ar interno dos ambientes fechados pode afetar de modo significativo a
saúde humana.
Vale a pena lembrar que uma árvore isolada pode transpirar, em média, 400
litros de água por dia, produzindo um efeito refrescante equivalente a 5
condicionadores de ar com capacidade de 2.500 kcal cada e funcionando 20 horas
por dia (Guia de Planejamento da Arborização Urbana Cesp, CPFL e Eletropaulo).
Portanto, é de extrema importância avaliar muito bem quais são as vantagens de se
viver em um ambiente “fresquinho” porém, artificial (BUZELLI, 2006).
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UNIDADE 6 – DISTÚRBIOS NEUROTOXICOLÓGICOS
Vimos que a Toxicologia é uma ciência que envolve inúmeros sistemas
necessitando de uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, assim como são
inúmeras as substâncias químicas que podem causar distúrbios neurológicos ao
homem, igualmente o número de agentes tóxicos conhecidos ou com potencial
neurotóxico regulado pelas agências de controle ultrapassam os milhares.
Em 2007, a Comprehensive Environmental Response, Compensation, and
Liability Act (CERCLA) divulgou a lista principal de substâncias perigosas aos seres
humanos. Naquele momento foram totalizadas 275 substâncias sendo que 57 acima
dos 1000 pontos (AZEVEDO, 2010).
O objetivo da toxicologia ocupacional é a prevenção de efeitos adversos a
saúde do trabalhador que se origina da exposição no seu ambiente de trabalho.
Normalmente, é difícil estabelecer o nexo causal entre doença do trabalhador
e atividade laborativa. A indistinção clínica entre as doenças ocupacionais e não
ocupacionais, a dose e o intervalo entre a exposição e a doença, e, por último, a
multifatoriedade (incluindo fatores pessoais e ambientais), são motivos que explicam
essa dificuldade (AZEVEDO, 2010).
Nesse contexto, a Neurotoxicologia Ocupacional e Ambiental estuda os
distúrbios do Sistema Nervoso Central (SNC) e Periférico (SNP) decorrente da
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exposição aos mais variados agentes. Distúrbios neuromusculares, distúrbios do
movimento, doença do neurônio motor, doenças degenerativas, alterações cognitivo-
comportamentais e neurofisiológicas têm sido relacionadas a inúmeros agentes
tóxicos nos últimos anos.
Na prática clínica diária, inúmeras questões estão envolvidas no atendimento
ao paciente. Desde a sua chegada ao ambulatório, até aspectos regulatórios e
legais. A dificuldade em se determinar o agente tóxico envolvido e a ausência de
informações básicas para o entendimento do caso como a dose e o intervalo entre a
exposição e a doença, haja vista que são informações muitas vezes negligenciadas
pelo paciente ou empregador, aumentam a complexidade do atendimento
(AZEVEDO, 2010).
Por outro lado, parte dessa dificuldade advém da própria concepção das
bases científicas em que se realizam os estudos. Inúmeras restrições metodológicas
são impostas, até mesmo decorrente de questões éticas, o que dificulta
sobremaneira o avanço na compreensão de causa e efeito, e, em última análise, o
nexo causal.
Essas questões nos mostram que a rotina de um ambulatório de
Neurotoxicologia Ocupacional e Ambiental é cercada por inúmeras incertezas,
dentre outros motivos, por existir uma gama de agentes tóxicos distribuídos em
pesticidas, solventes orgânicos e pela falta de informação por parte de quem fez uso
deles.
É indiscutível a importância dos metais para a civilização humana. Todas as
formas de vida são afetadas pela presença dos metais. Dependendo da dose e da
forma química, podem ser danosos aos sistemas biológicos. A sua presença é
encontrada naturalmente ou decorrente de atividades antropogênicas presentes no
ar, água, solo e alimentos; o que sem dúvida tornará em algum momento inevitável a
exposição humana (SALGADO, 2008).
Das 10 substâncias mais perigosas aos seres humanos, divulgada em 2007
pela CERCLA, quatro são metais pesados. Os três metais mais tóxicos são o
arsênio, o chumbo e o mercúrio. O cádmio obteve a sétima colocação. Fatores
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químicos, a forma de exposição, a toxicocinética, o hospedeiro e os mecanismos
envolvidos contribuem para os efeitos adversos à saúde.
Apesar do sangue, urina, cabelo e técnicas de toxicologia molecular
constituírem biomarcadores de exposição aos metais, um indicador crítico de
retenção do metal é a sua meia-vida. A meia-vida biológica varia de acordo com o
tipo de metal e o órgão ou tecido acometidos.
6.1 Arsênio
O arsênio é a substância tóxica mais perigosa aos seres humanos (CERCLA,
2007). As exposições ocupacional e ambiental são as principais formas de
intoxicação, possuindo um elevado potencial carcinogênico. A população em geral
está exposta ao arsênio pela via oral, através da ingestão de água e alimentos
contaminados (SALGADO, 2008). É bem absorvido no trato gastrointestinal, com
boa distribuição corporal, usualmente metabolizado através do processo de
metilação, sendo excretado na urina, pele e suor .
Sua meia vida é de aproximadamente 10 e 30 horas para o arsênio ingerido e
metilado, respectivamente. Entre 50 a 80% é excretado em três dias. A presença
deste agente nas unhas e cabelo tem sido utilizado como biomarcador de exposição
tanto para exposição aguda quanto crônica, enquanto o arsênio urinário é um bom
indicador na fase aguda. As linhas de Mees que são bandas brancas transversais
cruzando as unhas podem aparecer seis semanas após a intoxicação (AZEVEDO,
2010).
A exposição aguda pode produzir uma encefalopatia com sinais e sintomas
como cefaleia, letargia, confusão mental, alucinação, crises convulsivas e coma. As
manifestações neurológicas decorrentes da intoxicação crônica pelo arsênio,
incluem: perda auditiva, alteração cognitivo-comportamental, síndrome de Guillain-
Barré e polineuropatia sensitivo-motora. Esta última é a manifestação mais
prevalente.
A neuropatia periférica pode surgir uma a duas semanas após a intoxicação.
Caracteriza-se por uma polineuropatia de predomínio sensitivo, inicialmente, com
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uma distribuição em meia e luva. Posteriormente, pode evoluir com sintomas
dolorosos do tipo fisgada ou pontada. A fraqueza muscular tem início proximal com
progressão distal e tende acometer mais os membros inferiores. O exame
histológico evidencia um padrão desmielinizante com regeneração Walleriana.
Alguns autores relataram a presença de déficit cognitivo em crianças e
adolescentes, apesar de haver a necessidade de mais estudos que corroborem
esses resultados.
O diagnóstico laboratorial consiste na dosagem do arsênio sérico e urinário,
sendo a urina colhida em até 24 horas. O nível sérico normal do arsênio é < 7 µg/dl
(Rafiee; Erickson, 2001).
Estima-se que os níveis urinários excretados sejam de 40 a 75% de DMA
(dimetilado-ácido cacodílico), 20 a 25% de arsênio inorgânico e 15 a 25% de MMA
(monometilado-ácido metilarsônico). Após um a três dias da adsorção
gastrointestinal do arsênio, cerca de 45 a 85% são excretados na urina e muito
pouco nas fezes.
Enquanto após a absorção do MMA e do DMA cerca de 75 a 85% são
excretados no primeiro dia na urina. Na fase aguda, o tratamento é sintomático com
especial atenção para reposição volêmica e controle pressórico.
A penicilamina ou o succímero (ácido 2,3 dimercaptosuccínico-DMSA) são
efetivos em remover o arsênio do organismo. O ácido dimercaptopropanosulfônico
(DMPS) também pode ser utilizado. O tratamento para a intoxicação crônica não tem
se mostrado efetivo, exceto por um limitado ensaio utilizando o DMPS (AZEVEDO,
2010).
6.2 Chumbo
O chumbo é utilizado pelos humanos há pelo menos 7.000 anos. Ocupa o
segundo lugar na lista das 20 substâncias mais perigosas de acordo com a CERCLA
(2007).
Sua intoxicação, também denominada saturnismo, pode acometer o SNC e
SNP de crianças e adultos. As principais vias de exposição na população em geral
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são os alimentos, a água e o ar; sendo este último um componente menor. Os
adultos adsorvem cinco a 15% do chumbo ingerido e usualmente retém menos de
cinco por cento do qual é absorvido. As crianças adsorvem 42% do chumbo ingerido
com 32% de retenção. Condições fisiológicas como a idade, gravidez, estado
nutricional, jejum, assim como as características físico-químicas do meio ingerido
como o tamanho das partículas, solubilidade e espécies de chumbo, são fatores
importantes que influenciam a eficiência da absorção do metal no trato
gastrointestinal (SALGADO, 2008).
As principais vias de absorção e excreção são os pulmões e rins,
respectivamente. Somente um por cento do chumbo sanguíneo está disponível para
distribuição. Os rins e fígado são os principais órgãos alvos, sendo posteriormente
redistribuído para os ossos e cabelo. A meia vida do chumbo sanguíneo é de
aproximadamente 30 dias. A fração do chumbo ósseo aumenta de acordo com a
idade variando de 70% na infância até 95% na fase adulta com uma meia vida de 20
anos. O chumbo no osso trabecular é mais lábil possuindo uma menor reabsorção
que o osso cortical. O chumbo liberado dos ossos pode contribuir com mais de 50%
do chumbo sanguíneo, e é uma fonte de exposição endógena significativa
(AZEVEDO, 2010).
O chumbo atravessa a membrana placentária e se correlaciona com o sangue
do cordão umbilical e a plumbemia (BLL); que é geralmente menor que a sua
concentração óssea. A principal via de excreção é renal, entretanto, a excreção fecal
através do trato biliar representa 1/3 da excreção total do chumbo absorvido.
O quadro neurológico pode ter início com uma BLL > 10 µg/dl, embora alguns
estudos evidenciaram um BLL < 5 µg/dl. Em crianças, na fase aguda, geralmente
apresentando um BLL > 70 µg/dl, podem apresentar letargia, vômitos, irritabilidade,
déficit de atenção, perda do apetite, desequilíbrio, dificuldade na coordenação
motora fina, diminuição do nível de consciência podendo evoluir para coma e morte.
Neste nível, a recuperação é acompanhada por sequelas como epilepsia, retardo
mental, e, em alguns casos, neuropatia óptica e cegueira. Observa-se ao exame
histopatológico importante edema cerebral com características citotóxicas.
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Na exposição crônica, há estudos que evidenciam através de testes
neuropsicológicos, diminuição dos índices de desenvolvimento mental e QI. A
intoxicação por chumbo no período gestacional ou durante o desenvolvimento
psicomotor da criança resulta em significante comprometimento do desempenho
intelectual. Nestas condições, evita-se o uso de água fluorada devido à possibilidade
de maior comprometimento cognitivo, pois há o aumento da plumbemia pela
recaptação e/ou facilitação do transporte do chumbo através da barreira
hematojugal.
Este desempenho pode se manter comprometido mesmo em adultos após os
50 anos de idade. Em crianças, a neuropatia periférica é menos frequente que nos
adultos, e há relatos de alteração auditiva subclínica. Nos adultos, a intoxicação
crônica por este agente manifesta-se principalmente por uma neuropatia periférica.
Caracteriza-se por uma polineuropatia sensitivo-motora de predomínio distal e nos
membros superiores. A queda do punho – raro nos dias atuais – é um sinal clássico
do comprometimento deste nervo. Mesmo com um BLL < 40 µg/dl, a
eletroneuromiografia (ENMG) apresenta diminuição da velocidade de condução e
aumento da latência distal. O chumbo pode acometer os nervos periféricos por ação
direta ou indiretamente através das insuficiências renal ou hepática.
Em muitos casos não há manifestação clínica, apesar das alterações à ENMG
estarem presentes. Aparentemente, na interação Ca-Pb haveria uma diminuição da
plumbemia com melhora dos sintomas sensitivos (AZEVEDO, 2010).
Alterações cognitivo-comportamentais são descritas em adultos,
especialmente quando expostos na infância e adolescência. Dificuldade de
concentração, memória e aprendizado são observados através de testes
neuropsicológicos. Curiosamente, as linhas de chumbo (bandas densas) observadas
em áreas ósseas como o fêmur, tíbia, rádio, patela, entre outros, podem estar
relacionadas com uma aceleração do declínio cognitivo. Apesar de controverso,
estudos apontam para uma dificuldade de relacionamentos interpessoais.
Alterações posturais e motoras são descritas com frequência. Instabilidade
postural é um sinal de comprometimento do lobo cerebelar anterior e das vias
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aferentes vestíbulo-cerebelar e espinocerebelar. Distúrbio do movimento como
parkinsonismo e coreoatetose também são descritos.
Em meio à violência urbana, ferimentos por arma de fogo podem causar
níveis sanguíneos elevados de chumbo, desde que em contato pleural ou sinovial. O
chumbo na gordura e músculo parece ser mal absorvido. Alguns relatos observaram
a presença de distúrbios do movimento em pacientes com projéteis de arma de fogo
alojados em articulação por longos períodos (WAHL; FRIEED, 2001).
Diversos agentes tóxicos, entre eles o chumbo, são associados à esclerose
lateral amiotrófica (ELA). O seu mecanismo está associado à substituição do
chumbo pelo cálcio em inúmeras reações intracelulares causando danos à
mitocôndria e a tecidos neurais, assim como aumentando a excitabilidade ao
glutamato.
Inúmeros estudos associaram a exposição crônica ao chumbo à alteração de
substância branca cerebral decorrente do maior risco de aterotrombose, hipertensão
arterial sistêmica (aumento da resistência vascular periférica), elevação do
colesterol, triglicerídeos e homocisteína. Alguns estudos observaram alterações
auditivas subclínicas ao potencial evocado auditivo de tronco cerebral (BERA).
Aparentemente, a lesão do chumbo não é no nervo periférico, mas sim no
tronco cerebral. O chumbo afeta o SNC e SNP por inúmeros mecanismos: atua
como um substituto do cálcio e/ou quebra de sua homeostase; altera a barreira
hemato-cerebral através da estimulação da proteína quiron C; e, inibe a modulação
colinérgica pelo glutamato e dopamina.
A investigação laboratorial demonstra anemia, pontilhado basófilo,
coproporfirinas urinárias aumentadas e hemólise. O tratamento consiste na quelação
e está indicado quando o BLL é > 60 µg/dl. O ácido dimercaptosuccínico (DMSA), o
edetato cálcico dissódico (EDTA) e o dimercaprol (BAL) são agentes quelantes
utilizados para esse fim. Em crianças, os critérios para tratamento também são
estabelecidos de acordo com o nível sérico.
6.3 Mercúrio
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O mercúrio é um dos melhores exemplos do movimento de metais no meio
ambiente. Está na atmosfera na forma de vapor de mercúrio decorrente do desgaste
natural da crosta terrestre, erupção vulcânica, evaporação do oceano e solo; assim
como atividades antropogênicas.
Eventualmente, é oxidado para a forma inorgânica de água-solúvel (Hg 2+) e
retorna para a superfície terrestre em forma de chuva. Neste momento, o metal pode
ser reduzido a vapor de mercúrio e retornar à atmosfera ou ser metilado por
microorganismos presentes em sedimentos nos leitos de rios ou oceanos. Esta
reação natural de biometilação produz o metilmercúrio (MeHg). Este entra na cadeia
alimentar aquática que por sua vez chega até aos mamíferos. O mercúrio possui três
formas químicas distintas: elementar , inorgânico e orgânico (SALGADO, 2008).
Do ponto de vista neurológico, o mercúrio pode produzir toxicidade,
principalmente, decorrente da exposição ao vapor de mercúrio e metilmercúrio.
Oitenta por cento do vapor de mercúrio é absorvido nos pulmões, ganhando a
corrente sanguínea e distribuindo-se rapidamente por todos os tecidos corpóreos
devido a sua elevada liposolubilidade. Após a sua oxidação, transforma-se em
mercúrio inorgânico. Aproximadamente, 10% do vapor de mercúrio é exalado dentro
de uma semana e aquele convertido em mercúrio inorgânico é excretado na urina e
fezes com uma meia vida entre um a dois meses.
Inicialmente, os sintomas podem ser inespecíficos. Esta condição foi
denominada por síndrome astênica vegetativa ou micromercurialismo, sendo
caracterizada por três ou mais dos seguintes achados clínicos: tremor (inicialmente
afetando as mãos e posteriormente generalizando-se), aumento da tireóide,
aumento da captação de radioiodo na tireóide, pulso lábil, taquicardia,
dermografismo, gengivite, alterações hematológicas ou aumento da excreção de
mercúrio urinário.
A tríade tremor, gengivite e eretismo (perda de memória, aumento da
excitabilidade, insônia, depressão e timidez) é a principal manifestação de
intoxicação pela inalação deste agente, condição também denominada
hidrargirismo. Esta condição estava presente na indústria de chapéus e feltros
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podendo ocasionar a “síndrome do chapeleiro louco”, que era caracterizada
principalmente por tremor e alterações psiquiátricas (AZEVEDO, 2010).
Através de testes neuropsicológicos alguns estudos evidenciaram dificuldade
de concentração e memória, em especial, em grupos potencialmente vulneráveis
como no polimorfismo do fator neurotrófico derivado cerebral (BDNF).
Neuropatia periférica também é descrita, caracterizando-se por uma
polineuropatia mista de predomínio sensitivo e distal. Parestesia ou hipoetesia com
costuma ser a apresentação. A ENMG evidencia diminuição da velocidade de
condução sensitiva-motora e aumento da latência distal
Alguns estudos evidenciaram alterações subclínicas da visão colorida mesmo
com níveis séricos de mercúrio abaixo dos limites biológicos ocupacionais. A
utilização do EEG com fotoestímulo pode auxiliar na detecção precoce do eretismo
caracterizado pelo aumento da amplitude das ondas em regiões posteriores do
cérebro.
O metilmercúrio é bem absorvido no trato gastrointestinal sendo distribuído
aos tecidos em aproximadamente 30 horas. Dez por cento é distribuído ao cérebro e
cinco por cento permanece no sangue.
Este agente acumula-se no cabelo e apesar da correlação sanguínea ser
proporcional, ela é 250 vezes maior. Assim,o cabelo tem sido utilizado como um
biomarcador de exposição ao metilmercúrio. Passa por extensa metabolização
hepática sendo excretado nas fezes (90%) e urina (10%) com uma ½ vida entre 45 a
70 dias.
A intoxicação por metilmercúrio é caracterizada por parestesia ao redor da
boca e lábios, ataxia e voz escandida. Outros sinais incluem: neurastenia (sensação
generalizada de fraqueza), espasticidade, tremor, perda auditiva e visual, podendo
haver alterações subclínicas detectadas ao BERA e potencial evocado visual (PEV),
respectivamente (AZEVEDO, 2010).
Em estágios finais, o paciente pode progredir para coma e morte. Observa-se
ao exame histopatológico, edema cerebral difuso com características citotóxicas
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evoluindo com destruição de substância cinzenta, necrose focal, fagocitose e
reposição de células gliais; consequentemente acarretando atrofia cerebral.
Inúmeros relatos de consumo de mariscos e peixes predadores (atum, peixe
espada e tubarão) estão associados à intoxicação por metilmercúrio. Até o
momento, ao contrário da intoxicação pelo chumbo, não há evidências que associem
a exposição ao metilmercúrio pré-natal ao atraso do desenvolvimento psicomotor em
crianças.
A doença de Minamata descrita no Japão, em 1956, que contaminou mais de
100.000 pessoas, ocorreu após o consumo de peixes contaminados por dejetos
industriais despejados nos leitos dos rios. O quadro clínico era caracterizado por
alteração cognitiva, ataxia cerebelar e neuropatia periférica. Após o consumo do
peixe contaminado os sintomas podiam evoluir por três a dez anos (AZEVEDO,
2010).
A investigação laboratorial consiste na coleta de urina 24 horas, eletrólitos,
uréia, creatinina e urinálise. O nível sérico normal de mercúrio é < 10g/L. O
tratamento consiste em agentes quelantes do mercúrio como a cisteína, EDTA, BAL
ou penicilamina. Alguns estudos observaram que o selênio pode ajudar a evitar os
efeitos tóxicos inerentes a este agente. Contudo, novos estudos são necessários
para corroborar este resultado.
6.4 Manganês
Nos últimos anos, o manganês tem sido um dos principais metais a ser
estudado. Manganismo é o termo que denomina a intoxicação crônica por este
metal.
Aproximadamente um a cinco por cento do manganês é absorvido no
organismo, sendo as principais vias a oral e a respiratória. A inalação de partículas
de manganês pode resultar em transferência direta para o tecido cerebral através do
sistema olfatório. É eliminado na bile e reabsorvido no intestino. Sua principal via de
excreção são as fezes.
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Alguns artigos observaram que em crianças sua exposição tóxica pode levar
à hiperatividade e déficit de aprendizado, possivelmente, decorrente de alterações
dos receptores dopaminérgicos e transporte de proteínas ao cérebro em regiões
relacionadas à atenção, aprendizado e controle de impulsos (AZEVEDO, 2010).
Nos adultos, as manifestações iniciais incluem cefaleia, insônia e espasmos
musculares. Com a progressão dos sintomas, quadros predominantemente
psiquiátricos se instalam; é a chamada loucura mangânica. Caracteriza-se por
comportamento compulsivo, labilidade emocional, alucinação visual, perda de
memória e declínio cognitivo. Também observa-se alteração em testes
neuropsicológicos, depressão, ansiedade e confusão mental.
Com a progressão do quadro aparecem distonia e sinais parkinsonianos
(hipocinesia, rigidez, tremor, disartia e festinação). O parkinsonismo secundário ao
manganismo, diferencia-se da doença de Parkinson pelos seguintes sintomas: início
precoce, distonia mais frequente, tendência a cair para frente e pobre resposta ao
tratamento com levodopa. As vias colinérgicas são essenciais para a fisiologia da
locomoção, cognição, emoção e comportamento. Todavia, não é surpresa que a
anatomia seletiva da maioria dos efeitos colinérgicos induzido pelo manganês é
compatível com o manganismo clínico, que envolve o comportamento da resposta
emocional, declínio da função cortical superior e distúrbio do movimento.
6.5 Cádmio
Ocupa o sétimo lugar na lista de substâncias tóxicas mais perigosas aos
seres humanos. Está presente nas baterias, em especial níckel-cádmio, e em
diversas outras fontes. Contudo, alimentos como os vegetais, arroz, trigo, mariscos e
tabaco são a principal via de exposição na população em geral (AZEVEDO, 2010).
É absorvido nos pulmões (5-35%) e no trato gastrointestinal (5-10%). Uma
vez absorvido é minimamente excretado e somente 0,001% do peso corporal é
excretado por dia pela urina e fezes. Sua ½ vida varia entre 10 a 30 anos.
Os estudos que avaliam a toxicidade do cádmio no sistema nervoso central e
periférico são escassos, e sua fisiopatogenia não é bem conhecida. Alguns estudos
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observaram alteração de testes neuropsicológicos nas áreas como atenção,
velocidade psicomotora e memória, contudo necessitam de mais estudos que
corroborem os seus resultados. A hiposmia é descrita por alguns pesquisadores,
sugerindo uma manifestação precoce de intoxicação. Até o momento, não há
tratamento específico para a intoxicação pelo cádmio.
6.6 Estanho
O estanho é considerado como um metal de toxicidade menor. Há evidências
de que os organoestânicos causam toxicidade aos seres humanos. Em
contrapartida, estudos apontam para um possível potencial terapêutico.
Os compostos estânicos dividem-se em dois grupos: inorgânico e orgânico. O
primeiro é pouco absorvido e rapidamente excretado tendo uma toxicidade
geralmente baixa. Os organoestânicos compreendem um grande grupo de
compostos organometálicos com uso comercial, incluindo desde catalizadores e
estabilizadores industriais até pesticidas utilizados na agricultura e atividades
aquáticas (AZEVEDO, 2010).
Os compostos organoestânicos são mais tóxicos, tendo como representantes
o monometilestanho (MMT), dimetilestanho (DMT) e trimetilestanho (TMT).
Este último é mais associado à intoxicação em seres humanos. É bem
absorvido pelo trato intestinal atuando como uma excitotoxina aguda. Em altos
níveis causa necrose neuronal. Afeta neurônios do sistema límbico incluindo o
hipocampo e o córtex entorinal.
Clinicamente, as manifestações de neurotoxicidade podem incluir cefaleia,
dificuldade com a memória e alteração de comportamento como agressividade,
desorientação e psicose. A apresentação neurotóxica mais frequente nos seres
humanos é uma síndrome límbica-cerebelar aguda. É caracterizada por zumbido,
insônia, depressão, afeto incongruente, defeitos na memória, confusão mental e
crise convulsiva. Observa-se uma lentificação ao EEG. As manifestações
neurológicas podem se apresentar agudamente ou permanecerem latentes por três
dias ou mais.
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Os possíveis mecanismos de ação incluem uma redução dos níveis de zinco
hipocampal, elevação extracelular do glutamato e diminuição da concentração do
ácido-aminobutírico. O estanho parece estar associado a mecanismos envolvidos
em doenças degenerativas, mas carece de estudos.
Por outro lado, o estanho aponta para um possível potencial novo agente
terapêutico voltado às doenças cérebro vasculares (DCVs) e oncológicas. Alguns
autores observaram que após a administração intravenosa do estanho (estanho-
mesoporfirina IX-SnMP) no acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCh)
experimental em cérebros de coelhos houve uma diminuição da perda neuronal
envolvida no processo consequente à siderose. Um estudo in vitro utilizando cultura
de células tumorais de glioblastoma multiforme exposta ao
trietilestanho(IV)lupinilsulfídeo hidroclorado (IST-FS) constatou necrose tumoral,
redução do tamanho celular, vacuolização do citoplasma e a presença de
macrófagos. No entanto, há que se realizar novos estudos que corroborem esses
resultados.
Apesar do nível sérico do organoestânico poder ser dosado, a forma mais
frequente é a amostra urinária.
Esta dosagem deve ser realizada, no máximo, em quatro a 10 dias após a
exposição. Os limites biológicos de exposição (BEIs) variam entre 0,1-0,2 mg/m3
para curta exposição.
Diversos outros metais são veiculados a distúrbios neurológicos. O cobre
apesar de estar associado a doenças hereditárias como a doença de Menkes,
Wilson e aceruloplasminemia hereditária, não afeta o sistema nervoso em condições
normais. Alguns artigos associam o alumínio a alterações cognitivo-comportamentais
(AZEVEDO, 2010).
Baseiam-se no fato de que, em modelo animal, a presença de alumínio nos
neurônios piramidais do hipocampo acarreta uma desregulação do balanço entre
citocinas/neutrófilos, contribuindo para a formação de enovelados neurofibrilares.
Por outro lado, não se pode afirmar sua implicação em encefalopatias ou doenças
degenerativas tipo Alzheimer.
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A Tabela em anexo mostra, de modo sintético, os distúrbios neurológicos
decorrentes da intoxicação por metais, considerando o agente (incluindo os acima
descritos), as fontes de exposição e as manifestações clínicas apresentadas.
Segundo estudos de Azevedo (2010), por diversos motivos, é mais simples
aferir causalidade em quadros de intoxicação aguda. A premissa da replicabilidade é
um dos pilares na formação da evidência científica. Todavia, quando se trata da
exposição crônica e em baixas doses por um determinado agente o inverso se
impõe.
Dificuldades éticas e metodológicas contribuem para isso. Nesses casos,
talvez haja a necessidade de uma mudança conceitual, no sentido de entender a
intoxicação crônica não como uma alteração exclusiva de um determinado órgão
alvo; e sim multisistêmica.
Existe um vasto campo a se percorrer na Neurotoxicologia Ocupacional e
Ambiental. A parceria entre pesquisa básica e epidemiologia clínica são parte
obrigatória deste caminho. Arsênio, chumbo, mercúrio, manganês, cádmio e estanho
são apenas alguns metais envolvidos nos distúrbios neurotoxicológicos, havendo a
necessidade de novos estudos a fim de determinar a real associação destes e
outros metais nos distúrbios crônicos do sistema nervoso central e periférico.
REFERÊNCIAS
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Fonte: Azevedo (2010)