8
NOTAS DE ANÁLISE MATEMÁTICA III-D A Equação Secular Departamento de Matemática FCT-UNL António Patrício

Equação Secular

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Equação Secular

Citation preview

  • NOTAS DE ANLISE MATEMTICA III-D

    A Equao Secular

    Departamento de Matemtica

    FCT-UNL

    Antnio Patrcio

  • NOTAS DE ANLISE MATEMTICA III-D A equao secular 1

    A EQUAO SECULAR

    Existem vrios mtodos para resolver sistemas homogneos de equaes diferenciais ordinrias

    lineares de primeira ordem com coeficientes constantes. Um desses processos utiliza a denominada

    equao secular, a qual uma equao diferencial (ordinria) associada ao polinmio caracterstico da

    matriz do sistema. y

    Considere-se o sistema homogneo de equaes diferenciais ordinrias lineares de primeira ordem com

    coeficientes constantes,

    XXX =AAAXXX (1)

    ou

    XXX(t) =AAAXXX(t),

    onde(1)

    XXX(t) :=

    x1(t)

    x2(t)

    ...

    xn(t)

    , XXX(t) :=

    x1(t)

    x2(t)

    ...

    xn(t)

    e AAA :=

    a11 a12 a1n

    a21 a22 a2n...

    .... . .

    ...

    an1 an2 ann

    Mn(R)

    (x1(t), x2(t), . . . , xn(t) so as funes incgnitas e n N).

    As solues do sistema (1) so as sequncias de n funes,

    (1,2, . . . ,n),

    onde j : R R, com j = 1, . . . , n, tais que:

    1) para cada j = 1, . . . , n, existe j(t), para todo t R;

    2) para todo t R,

    1(t)

    2(t)

    ...

    n(t)

    =

    a11 a12 a1n

    a21 a22 a2n...

    .... . .

    ...

    an1 an2 ann

    1(t)

    2(t)

    ...

    n(t)

    .

    bem conhecido (veja-se, por exemplo, Boyce [3]) que o conjunto das solues do sistema (1) um espao

    vectorial real de dimenso finita n N. Por outro lado, no que respeita existncia e unicidade de soluo

    (veja-se, novamente, Boyce [3]), para cada ponto (t0, (b1, b2, . . . , bn)) RRn, existe uma, e uma s, soluo

    (1,2, . . . ,n) do sistema (1) que satisfaz as condies inicias:

    1Estamos a denotar o conjunto das matrizes quadradas de ordem n N com entradas no conjunto R por Mn(R).

    Antnio Patrcio Dez-2009 (V1)

  • 2 A equao secular NOTAS DE ANLISE MATEMTICA III-D

    1(t0)

    2(t0)

    ...

    n(t0)

    =

    b1

    b2...

    bn

    .

    Definio. Considerado o sistema (1), o polinmio caracterstico da matrizAAA o polinmio(2) de grau n N

    na indeterminada ,

    pAAA() := |AAA IIIn| =

    a11 a12 a13 a1n

    a21 a22 a23 a2n...

    ......

    . . ....

    an1 an2 an3 ann

    R[].

    Chama-se equao secular associada ao sistema de equaes diferenciais (1) equao diferencial (ordinria)

    linear com coeficientes constantes e de ordem n N,

    pAAA(D)u = 0,

    onde pAAA(D) designa o operador diferencial com coeficientes constantes associado ao polinmio pAAA().

    Exemplo 1. Considerando o sistema de equaes diferenciais,

    x = x y

    y = x +y

    x

    (t)

    y (t)

    =

    1 11 1

    q

    AAA

    x(t)y(t)

    , (2)

    tem-se

    pAAA() =

    1 1

    1 1

    = 2 2+ 2,

    pelo que

    0 = pAAA(D)u = (D2 2D + 2)u = u 2u + 2u

    a equao secular associada ao sistema (2).

    Estamos em condies de enunciar:

    Proposio 1. Se a sequncia (1,2, . . . ,n) uma soluo do sistema de equaes diferenciais (1), ento

    para cada j {1, . . . , n}, a funo j soluo da equao secular,

    pAAA(D)u = 0.

    2Estamos a denotar o conjunto dos polinmios na indeterminada com coeficientes reais por R[].

    Antnio Patrcio Dez-2009 (V1)

  • NOTAS DE ANLISE MATEMTICA III-D A equao secular 3

    Prova. Por uma propriedade conhecida da teoria das matrizes (cf. Apostol [1]),

    adj(AAA)AAA = |AAA|IIIn.

    Em particular

    adj(AAA IIIn)(AAA IIIn) = |AAA IIIn|IIIn.

    Pelas propriedades dos operadores diferenciais com coeficientes constantes,

    adj(AAADIIIn)(AAADIIIn) = |AAADIIIn|IIIn

    e, desta forma,

    pAAA(D)

    1

    2...

    n

    = |AAADIIIn|IIIn

    1

    2...

    n

    = adj(AAADIIIn)(AAADIIIn)

    1

    2...

    n

    = adj(AAADIIIn)

    AAA

    1

    2...

    n

    1

    2...

    n

    =

    0

    0...

    0

    ,

    como se pretendia mostrar.

    Exemplo 2. Determine-se a soluo do problema de valores iniciais:

    x = x y

    y = x +y

    e

    x(0) = 1

    y(0) = 0. (3)

    Ora, pelo Exemplo 1,

    Antnio Patrcio Dez-2009 (V1)

  • 4 A equao secular NOTAS DE ANLISE MATEMTICA III-D

    u 2u + 2u = 0 (4)

    a equao secular associada a este sistema de equaes diferenciais e, como fcil concluir,

    u(t) = Aet cos t + Bet sen t (A, B R)

    a sua soluo geral. Se (1(t),2(t)) for a soluo do problema de valores iniciais (3), ento, em particular,

    pela Proposio 1, as funes 1(t) e 2(t) so solues da equao secular (4). Logo,

    1(t) = A1et cos t + B1e

    t sen t e 2(t) = A2et cos t + B2e

    t sen t,

    para certas constantes reais A1, A2, B1 e B2. Ora,

    1 = 1(0) = A1

    0 = 2(0) = A2

    =

    1(t) = e

    t cos t + B1et sen t

    2(t) = B2et sen t

    .

    Por outro lado, da primeira equao do sistema (3) resulta, para todo t R,

    (et cos t + B1et sen t) = (et cos t + B1e

    t sen t) (B2et sen t)

    B1 = 0

    B2 = 1.

    Finalmente, 1(t)2(t)

    =

    e

    t cos t

    et sen t

    a soluo procurada.

    Exemplo 3. Determine-se a soluo geral do sistema de equaes diferenciais,

    XXX =

    2 1 3

    0 2 1

    0 0 2

    XXX +

    1 t

    1+ 2t

    0

    , (5)

    sabendo-se que

    XpXpXp(t) :=

    t

    t

    0

    uma soluo particular deste sistema. Ora, neste exemplo,

    2 1 3

    0 2 1

    0 0 2

    = (2 )3,

    Antnio Patrcio Dez-2009 (V1)

  • NOTAS DE ANLISE MATEMTICA III-D A equao secular 5

    pelo que a equao secular do sistema homogneo associado ao sistema (5) a equao diferencial,

    (2D)3u = 0, (6)

    a qual admite a soluo geral

    u(t) = Ae2t + Bte2t + Ct2e2t (A, B,C R)

    Se (1,2,3) for uma soluo arbitrria do sistema homogneo associado ao sistema (5), ento, pela

    Proposio 1, 1,2 e 3 so solues da equao secular (6). Logo, para todo t R,

    1(t)

    2(t)

    3(t)

    = e

    2t

    A1

    A2

    A3

    + te

    2t

    B1

    B2

    B3

    + t

    2e2t

    C1

    C2

    C3

    ,

    para certas constantes reais A1, A2, A3, B1, B2, B3, C1, C2 e C3. Ora,

    1(t)

    2(t)

    3(t)

    = e

    2t

    2A1 + B1

    2A2 + B2

    2A3 + B3

    + te

    2t

    2B1 + 2C1

    2B2 + 2C2

    2B3 + 2C3

    + t

    2e2t

    2C1

    2C2

    2C3

    e, por outro lado,

    1(t)

    2(t)

    3(t)

    =

    2 1 3

    0 2 1

    0 0 2

    e

    2t

    A1

    A2

    A3

    + te

    2t

    B1

    B2

    B3

    + t

    2e2t

    C1

    C2

    C3

    = e2t

    2A1 +A2 + 3A3

    2A2 A3

    2A3

    + te

    2t

    2B1 + B2 + 3B3

    2B2 B3

    2B3

    + t

    2e2t

    2C1 + C2 + 3C3

    2C2 C3

    2C3

    .

    Ento, necessariamente,

    A2 = B1 + 6C1, A3 = 2C1, B2 = 2C1, B3 = 0, C2 = 0 e C3 = 0

    e, por conseguinte,

    1(t)

    2(t)

    3(t)

    = A1

    e2t

    0

    0

    + B1

    te2t

    e2t

    0

    + C1

    t2e2t

    6e2t + 2te2t

    2e2t

    (A1, B1, C1 R)

    a soluo geral do sistema homogneo associado ao sistema (5). Logo,

    Antnio Patrcio Dez-2009 (V1)

  • 6 A equao secular NOTAS DE ANLISE MATEMTICA III-D

    XXX =

    t

    t

    0

    +A1

    e2t

    0

    0

    + B1

    te2t

    e2t

    0

    + C1

    t2e2t

    6e2t + 2te2t

    2e2t

    (A1, B1, C1 R)

    a soluo geral do sistema completo (5).

    Referncias

    [1] Apostol, T.M., Calculus, Vol. 2, John Wiley & Sons, Inc., 2a Ed., 1969.

    [2] Birkhoff, G. & Rota, Gian-Carlo, Ordinary Differential Equations, John Wiley & Sons, Inc., 4a Ed., 1989.

    [3] Diprima, R. e Boyce, W.E., Elementary Differential Equations and Boundary Value Problems, John Wiley & Sons,

    Inc., 8a Ed., 2005.

    Antnio Patrcio Dez-2009 (V1)