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Ergonomia Em Bancários
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ENGENHARIA
INTERVENO ERGONMICA E
FISIOTERPICA COMO FATOR DE REDUO
DE QUEIXAS MSCULO- ESQUELTICAS EM
BANCRIOS
Lucy Mara Silva Ba
Porto Alegre
2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ENGENHARIA
INTERVENO ERGONMICA E
FISIOTERPICA COMO FATOR DE REDUO
DE QUEIXAS MSCULO- ESQUELTICAS EM
BANCRIOS
Lucy Mara Silva Ba
Orientador: Professor Doutor Fernando Gonalves Amaral
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Ivan Pacheco
Prof. Dr. Benno Becker Jnior
Profa. Dra. Thais de Lima Resende
Trabalho de concluso do Curso de Mestrado Profissionalizante em Engenharia como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Modalidade
Profissionalizante nfase em Ergonomia.
Porto Alegre
2005
Este Trabalho de Concluso foi analisado e julgado adequado para a obteno do ttulo de Mestre em ENGENHARIA e aprovado em sua forma final pelo Orientador e pelo Coordenador do Mestrado Profissionalizante em Engenharia, Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
____________________________________________ Prof. Fernando Gonalves Amaral, Dr.
Orientador Escola de Engenharia Universidade Federal do Rio Grande do Sul
_______________________________________ Profa. Helena Beatriz Bettella Cybis, Dr.
Coordenadora Mestrado Profissionalizante em Engenharia Escola de Engenharia Universidade Federal do Rio Grande do Sul
BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Ivan Pacheco PPGEP/UFRGS Prof. Dr. Benno Becker Jnior UFRGS Profa. Dra. Thais de Lima Resende
UNISINOS/RS
Companhias gastam milhes de dlares por ano na manuteno preventiva de suas mquinas. No vemos razo para no fazermos o mesmo com nossos funcionrios.
(Peter Thigpen, Presidente da Levi Strauss USA)
AGRADECIMENTOS
Aos trabalhadores do setor bancrio, que como em muitas outras atividades esperam, dia-
aps-dia, que o seu trabalho traga realizaes e no sofrimento. Em especial quero agradecer
ao meu orientador Prof. Dr. Fernando Gonalves Amaral, que com sua competncia e
principalmente dedicao, contribuiu em muito para a construo desta pesquisa.
RESUMO
Esta pesquisa compreende o estudo ergonmico no setor bancrio, dando nfase aos aspectos biomecnicos e posturais, desenvolvido junto a um grupo de funcionrios de uma instituio financeira localizada em Curitiba e Regio Metropolitana no Estado do Paran. Teve como objetivo contribuir para um melhor entendimento das questes relativas reduo de problemas e queixas msculo-esquelticas em instituies bancrias. A metodologia elaborada, foi aplicada em quatro etapas: anlise da demanda (levantamento das queixas e afastamentos devidos a suspeita de DORT; diagnose primria (compreendeu uma avaliao in loco dos problemas nos postos de trabalho e a aplicao de dois checklist, sendo um para anlise das condies de trabalho e outro para inspeo ergonmica quanto ao risco de tenossinovites e outras leses por traumas cumulativos, seguido de aplicao de dois questionrios: o de Corlett para avaliao da percepo de desconforto muscular durante a jornada de trabalho e de Qualidade de Vida no Trabalho QVT); aes corretivas primrias (palestras de sensibilizao com as chefias e com os trabalhadores, dinmicas de realizao de micropausas e orientaes individuais nos postos de trabalho com acompanhamento semanal durante trs meses em cada agncia). A ltima etapa, a avaliao geral da abordagem empregada, foi levada a efeito com nova aplicao dos questionrios de auto avaliao de Corlett e QVT. So apresentados resultados que evidenciam melhoria na percepo dos funcionrios sobre sintomas de dor e desconforto e tambm sobre Qualidade de Vida no Trabalho. Ficou evidente a necessidade do desenvolvimento de um processo continuado de educao em sade, visando a percepo corporal durante a jornada de trabalho e para que saibam gerenciar seu estilo de vida. Os resultados mostram tambm que uma das causas de queixas de dor ou desconforto dos trabalhadores eram biomecnicas e tensionais. Conclui-se que a instituio bancria se volta cada vez mais para os aspectos ergonomia e qualidade, por entender que, ela necessita oferecer uma qualidade superior de vida para seus trabalhadores, em seus ambientes de trabalho, para ento, e somente assim, poder oferecer qualidade a seus clientes. Para tanto, a ergonomia deve ser posta a servio do homem, buscando a adaptao das condies de trabalho ao homem, de forma saudvel, segura, confortvel e produtiva.
Palavras-chave: queixas msculo-esquelticas, percepo corporal, orientaes posturais.
ABSTRAT
This research understands the ergonomic study in the bank section, giving emphasis to the aspects biomechanics and of postures. It was developed with a group of employees of a financial institution close to Curitiba and Metropolitan Area, in the State of Paran. Its objective contributes for a better understanding of the relative subjects to the reduction of problems and muscle-skeletal complaints in financial institutions. The methodology was applied in four stages: analysis of the demand (rising of the complaints and due removals the suspicion of ODRW), primary diagnosis (it understood an evaluation in loco of the problems in the work positions and the application of two checklist, being one for analysis of the work conditions) and other for ergonomic inspection with relationship to the tenossinovites risk and other lesions for cumulative traumas, followed by the application of other two questionnaires: the one of Corlett for evaluation of the perception of muscular pain/discomfort during the work day and another of Quality of Life in the Workplace- QLW); actions primary correctives (sensibilization lectures with the leaderships and with the workers, dynamics of micropauses accomplishment and orientations individual postures in the work positions with weekly accompaniment for three months in each agency). The last stage, the general evaluation of the used approach, it was taken to effect with new application of the questionnaires of auto-evaluation of Corlett and QLW. The results presented evidence the improvement in the employees' perception about reduction of the pain symptoms and discomfort and also about Quality of Life in the Workplace. It was evident the necessity for the development of a continuous process of education in health, seeking the corporal perception during the work day and so that they know how to manage their lifestyle. The results also show that one of the causes of pain complaints or the workers' discomfort were biomechanics and tensional. It is concluded that the financial institution turns more and more for the ergonomic aspects and quality, for understanding that it needs to offer a superior quality of life for their workers in their work atmospheres, for then, and only like this, to offer quality to their customers. For that, the ergonomics should be put to the man's service, looking for the adaptation of the work conditions to the man, in a healthy way, safe, comfortable and productive. Key-words: muscle-skeletal complaints, corporal perception, orientations about the posture.
SUMRIO
LISTA DE ILUSTRAES..................................................................................................10
LISTA DE TABELAS............................................................................................................12
CAPTULO 1 INTRODUO ..........................................................................................13
1.1 - Apresentao do Tema.............................................................................................. 13 1.2 Objetivos .................................................................................................................. 14
1.2.1. Objetivo geral................................................................................................. 14 1.2.2 Especficos ................................................................................................... 14
1.3 Justificativa............................................................................................................... 15 1.4 - Delimitao do Estudo .............................................................................................. 15 1.5 Metodologia de Trabalho ......................................................................................... 16 1.6 Questo de Pesquisa ................................................................................................. 17 1.7 - Estrutura do Trabalho................................................................................................ 18
CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA ......................................................................19
2.1 Evoluo das Atividades Bancrias.......................................................................... 19 2.2 - Contextualizao do Servio Bancrio ..................................................................... 21 2.3 - Doenas Profissionais dos Bancrios........................................................................ 22 2.4 Qualidade de Vida no Trabalho................................................................................ 31 2.5 - Ergonomia Aplicada ao Servio Bancrio ................................................................ 37
2.5.1 - Conceitos ...................................................................................................... 37 2.5.2 Antropometria .............................................................................................. 38 2.5.3 - Atividade muscular....................................................................................... 40 2.5.4 - Posto de trabalho bancrio............................................................................ 41 2.5.5 Postura corporal ........................................................................................... 42
2.6 Educao para o Trabalho ........................................................................................ 45
CAPTULO 3 METODOLOGIA..........................................................................................49
CAPTULO 4 RESULTADOS .............................................................................................56
4.1 - Contextualizao da Empresa ................................................................................... 56 4.1.1 - As agncias ................................................................................................... 56 4.1.2 - Condies ambientais ................................................................................... 57
4.1.2.1 - O Ambiente arquitetnico.............................................................. 57 4.1.2.2 - O Ambiente trmico....................................................................... 57 4.1.2.3 - O Ambiente sonoro ........................................................................ 58 4.1.2.4 - O Ambiente luminoso .................................................................... 58
4.1.3. Caractersticas dos postos de trabalho ........................................................... 58 4.2 - Etapa 1 Anlise da Demanda ................................................................................. 60 4.3 - Etapa 2 - Diagnose Primria ..................................................................................... 60
4.3.1 Caracterizao da amostra ........................................................................... 60 4.3.2 Dados relativos a observao sistemtica .................................................... 64 4.3.3 - Aplicao de Checklist ................................................................................. 64
4.3.3.1 - Anlise das Condies de Trabalho nos Postos ............................. 65 4.3.3.2. Anlise dos Riscos de DORT.......................................................... 65
4.4 - Etapa 3 - Aes Corretivas Primrias ....................................................................... 66 4.5 - Etapa 4 Avaliao Geral da Abordagem Empregada............................................. 68
4.5.1 Percepo de Dor ou Desconforto ............................................................... 68 4.5.2. Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ...................................................... 74
CAPTULO 5 CONCLUSO...............................................................................................79
5.1 Consideraes Sobre os Resultados Alcanados...................................................... 79 5.2 Consideraes A Respeito da Abordagem Empregada ............................................ 81 5.3 Consideraes Finais e Indicaes para Estudos Futuros ........................................ 83
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .....................................................................................87
APNDICE A - CHECKLIST PARA ANLISE DAS CONDIES DE TRABALHO AO
COMPUTADOR ......................................................................................................................92
APNDICE B - CHECKLIST DE INSPEO ERGONMICA QUANTO AO RISCO DE
TENOSSINOVITES E OUTRAS LESES POR TRAUMAS CUMULATIVOS .................93
APNDICE C - QUESTIONRIO DE AUTO-AVALIAO SOBRE QUEIXAS DE DOR
OU DESCONFORTO DURANTE O TRABALHO................................................................95
APNDICE D QUESTIONRIO SOBRE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
COMO UM TODO...................................................................................................................98
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 Ocorrncias de DORT em instituies bancrias (perodo de 1993-1996).
Figura 2 - Fatores determinantes de qualidade de vida no trabalho.
Figura 3 Causas de desconforto postural.
Figura 4 Localizao das dores no corpo, segundo posturas inadequadas.
Figura 5 Recomendaes bsicas de preveno ao estresse.
Figura 6 Vcios de postura a serem evitados.
Figura 7 Situaes no-ergonmicas passveis de causarem DORT.
Figura 8 Etapas da pesquisa.
Figura 9 - Escala de percepo de dor/desconforto.
Figura 10: Escala de percepo da Qualidade de Vida no Trabalho.
Figura 11: Distribuio da amostra de faixa etria.
Figura 12 Classificao dos funcionrios da instituio quanto ao grau de escolaridade.
Figura 13 - Classificao dos funcionrios da instituio quanto ao tempo de empresa.
Figura 14 Observaes e orientaes individuais.
Figura 15 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo de
dor ou desconforto nos ombros (em percentuais)
Figura 16 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo de
dor ou desconforto nos cotovelos (em percentuais)
Figura 17 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo de
dor ou desconforto nos punhos (em percentuais)
Figura 18 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo de
dor ou desconforto nas mos (em percentuais)
Figura 19 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo de
dor ou desconforto nos membros inferiores (em percentuais)
11
Figura 20 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo de
dor ou desconforto na regio cervical (em percentuais)
Figura 21 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo de
dor ou desconforto na regio dorsal (em percentuais)
Figura 22 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo de
dor ou desconforto na regio lombar (em percentuais)
Figura 23 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo
sobre qualidade de vida no trabalho como um todo (em percentuais)
Figura 24 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo
sobre compensao financeira (em percentuais)
Figura 25 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo
sobre condies de trabalho (em percentuais)
Figura 26 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo
sobre uso e desenvolvimento das suas capacidades (em percentuais)
Figura 27 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo
sobre oportunidades de crescimento e segurana (em percentuais)
Figura 28 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo
sobre integrao social na organizao (em percentuais)
Figura 29 Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo
sobre constitucionalismo (em percentuais)
Figura 30 Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo
sobre espao social versus trabalho (em percentuais)
Figura 31 - Distribuio de frequncia dos funcionrios da instituio quanto a percepo
sobre relevncia da vida social no trabalho (em percentuais)
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuio de DORT (ou Leses por Traumas Cumulativos LTC) e prevalncia
dessas afeces entre as doenas ocupacionais nos Estados Unidos (perodo de 1981-1994).
Tabela 2 - Estatstica de acidentes e doenas do trabalho no Brasil, de 1970 a 2000.
Tabela 3 - Principais doenas do trabalho registradas em 2001 no Brasil.
Tabela 4 Freqncia de trabalhadores com DORT e sua proporo em relao a
trabalhadores com doenas ocupacionais em geral, atendidos em dois servios de referncia
em Sade do Trabalhador no ano de 1994.
Tabela 5 Medidas para um posto de trabalho.
Tabela 6 Composio da amostra.
Tabela 7 Condies dos postos de trabalho.
Tabela 8 Riscos de DORT.
13
CAPTULO 1 INTRODUO
1.1 - APRESENTAO DO TEMA
O trabalho tem um papel central em nossa sociedade, permitindo aos indivduos que
adquiram as mnimas condies necessrias para sobreviverem e venham a fazer parte da
sociedade. Apresenta-se, nesse contexto, como passaporte para a cidadania: concede ao
indivduo direitos e deveres.
No entanto, esse mesmo trabalho pode ser a causa de doenas que afetam o
trabalhador, em graus diferentes.
No caso do trabalhador bancrio, a globalizao da economia e o desenvolvimento
tecnolgico tm exigido uma rpida adaptao s condies laborais. Se antes ele comeava a
trabalhar em uma empresa bancria ainda adolescente, e ali trabalhava durante toda a vida, at
se aposentar, hoje isto no acontece. Isto, pelo fato de o mercado de trabalho ter-se tornado
muito dinmico e globalizado, trazendo como conseqncia mais evidente o enxugamento de
seus processos e dos postos de trabalho. Tais fatos implicaram em mudanas radicais nos
processos de trabalho e uma mudana na qualidade de vida dos trabalhadores (NAKAMURA,
2001).
Assim, em paralelo, a cultura das organizaes tomou como rotineira a adoo de
programas de qualidade de vida e promoo da sade nos locais de trabalho. Uma poltica
voltada para a qualidade de vida est baseada na premissa de que, para onde for a mente,
tambm ir o corpo. Ela reconhece o papel que a sade representa na vida das pessoas. A se
insere o conceito de ergonomia, que o de adaptar as condies do trabalho ao homem, e no
o contrrio (COUTO , 1995).
14
No trabalho bancrio, a ergonomia vem dando importante contribuio para a
melhoria das condies de trabalho. Entretanto, nem sempre isto possvel na prtica, em
funo de inmeras dificuldades operacionais, que vo desde insuficincia tcnica at
questes que dizem respeito educao para o trabalho, ou seja, para alcanar os benefcios
desejados, essa poltica precisa, necessariamente, conscientizar os indivduos sobre sua
responsabilidade pessoal pela manuteno da prpria sade e bem-estar. Isto, em ltima
anlise, significa que a sade e o bem estar dependem principalmente da capacidade
individual de gerenciamento dos hbitos do dia a dia (GONALVES, 1995).
V-se, ento a necessidade de transio para uma cultura organizacional que enfatize a
criao de sistemas de aprendizagem espontnea e renovao contnua, para assegurar a
vantagem competitiva. Tambm o momento imprescindvel da criao estratgica da sade
e bem estar para o entendimento das condies de plenitude do ser humano, no apenas no
trabalho, mas em todos os aspectos de sua vida.
1.2 OBJETIVOS
Os objetivos da pesquisa aqui relatada podem ser caracterizados como:
1.2.1. OBJETIVO GERAL
Verificar se um programa de ergonomia e fisioterapia pode contribuir para um
melhor entendimento das questes relativas reduo de problemas e queixas msculo-
esquelticas em instituies bancrias.
1.2.2 ESPECFICOS
Os objetivos especficos que se pretende alcanar so:
- Identificar entre uma populao de bancrios, qual a situao que impera quanto
s queixas de desconforto de origem msculo-esqueltica.
- Atravs de uma abordagem ergonmica e fisioterpica, avaliar as formas de
solucionar ou ainda amenizar as provveis situaes de risco biomecnicos.
- Sensibilizar os funcionrios para realizar a regulao postural de suas atividades.
15
- Comparar as situaes anterior e posterior sensibilizao postural e regulao
dos postos de trabalho.
- Avaliar a necessidade de um acompanhamento capacitado para efetivar a tomada
de conhecimento da conscincia corporal individual e coletiva.
1.3 JUSTIFICATIVA
As doenas ou disfunes associadas ao trabalho sempre existiram e so relatadas na
literatura desde a histria antiga. Porm, as necessidades empresariais atuais, associadas s
tenses da vida moderna elevaram estas disfunes em nveis que exigiram uma tomada de
posio por parte das empresas nas abordagens de solues.
Entre as doenas ou disfunes associadas ao trabalho dos bancrios destacam-se os
DORT (Distrbios Osteomusculares Relacionados com o Trabalho) que, nas ltimas dcadas,
vm adquirindo propores de epidemia, devido, principalmente, introduo generalizada de
novas tecnologias nos processos produtivos (BA, 2002).
Vrios fatores passaram a ser determinantes importantes dessas patologias, tais como:
excesso de jornadas de trabalho; falta de intervalos apropriados; posturas inadequadas para
desempenhar a atividade laboral; despreparo tcnico para execuo das tarefas; falta de
treinamento dos bancrios para utilizar adequadamente os mveis, equipamentos e utenslios
de trabalho para evitar a ocorrncia de DORT e ainda a desmotivao dos bancrios, que tem
sido um fator importante no contexto das mudanas no setor (ALMEIDA, 1995).
Tais consideraes justificam os objetivos desta dissertao, cujo foco principal
relatar um estudo de caso envolvendo os funcionrios de uma instituio bancria.
1.4 - DELIMITAO DO ESTUDO
Neste estudo foram abordadas as condies ergonmicas do trabalhador bancrio,
sob o ponto de vista do mobilirio, equipamentos e postura no trabalho, sem levar em
considerao as questes organizacionais do trabalho. Essa delimitao teve em vista a
16
necessidade de obteno de respostas mais imediatas, como base para se poder resolver a
posteriori os problemas detectados.
Tambm a organizao fsica (layout) no foi abordada, por fugir ao escopo da
pesquisa. Isto, devido ainda s mudanas de mobilirios e equipamentos, que foram realizadas
de 5 (cinco) anos para c nas agncias da instituio onde foram desenvolvidas a pesquisa.
Alm disso, foram tambm excetuadas a anlise do ponto de vista psicossocial.
Desta forma, abordado somente a questo do comportamento postural do usurio
na interface com o posto de trabalho e sua percepo quanto a Qualidade de Vida no Trabalho
relacionada com diminuio do quadro lgico.
1.5 METODOLOGIA DE TRABALHO
Ao realizar suas pesquisas e intervenes, a ergonomia lana mo de mtodos
especficos, que compreendem diferentes abordagens lgicas para o projeto de investigaes,
a escolha de uma variedade de tcnicas, tais como a construo de questionrios e escalas de
avaliao.
Os mtodos de pesquisa utilizados neste estudo foram a observao e a inquirio. A
observao um dos meios que o ser humano mais freqentemente utiliza no cotidiano, para
conhecer e compreender pessoas, coisas, acontecimentos e situaes. Enquanto mtodo de
pesquisa cientfica, a observao a base de comprovao de hipteses, porm, no resolve os
problemas de comprovao e nem mesmo elimina todas as dvidas (MORAES;
MONTALVO, 2000).
Neste estudo, foi empregada a observao na sua forma sistemtica, que tambm
recebe a denominao de planejada, estruturada ou controlada. Trata-se daquela que se realiza
em condies controladas para responder a propsitos previamente definidos. Ela requer
planejamento e necessita de operaes especficas, instrumentos e documentos particulares.
Segundo Moraes e MontAlvo (2000), o termo inquirio, no contexto da
pesquisa cientfica, implica a busca metdica de informaes e a quantificao dos resultados,
sempre que possvel. A inquirio pode ser feita atravs de entrevistas, verbalizaes,
17
questionrios e escalas de avaliao. Na presente pesquisa, foram utilizados questionrios e
escalas de avaliao.
Assim, o presente estudo baseou-se principalmente na aplicao de questionrios,
para verificar diversas questes sobre postos de trabalho e escalas de avaliao da percepo
do usurio em termos corporais e de Qualidade de Vida no Trabalho. Alm disso, ele pode ser
considerado como uma pesquisa-ao, devido s suas caractersticas de interao na
construo sistemtica das propostas de melhoria, em comum acordo com os participantes
observados e pesquisados.
1.6 QUESTO DE PESQUISA
Partindo do pressuposto de que os postos de trabalho foram todos modificados em
uma interveno ergonmica anterior, com a aquisio de mobilirio e material respeitando as
necessidades dos trabalhadores, mesmo assim, os bancrios continuavam apresentando
queixas de ordem msculo-esqueltica. Tais queixas podem induzir a formulao de trs
hipteses:
1) Os trabalhadores vm sendo submetidos a trabalhos repetitivos, prolongados, com
alto nvel de tenso neuromuscular.
2) Os trabalhadores no foram devidamente orientados para usufrurem totalmente
dos benefcios de um posto de trabalho ergonomicamente projetado.
3) Os dois fatores relacionados acima somam causas para o desencadeamento de
queixas msculo-esquelticas nos bancrios.
Logo, se ao considerar que a estrutura fsico-ambiental e organizacional nesta
instituio, eram aceitas como adequadas do ponto de vista ergonmico, pretendeu-se mostrar
a reduo de queixas msculo-esquelticas, atravs de um enfoque voltado para a educao
postural durante as atividades laborais.
Assim, foi necessrio um trabalho de conscientizao e capacitao dessas pessoas
sobre o uso individual da regulao postural e reas de alcance, durante suas atividades
laborais.
18
1.7 - ESTRUTURA DO TRABALHO
O trabalho est estruturado em cinco captulos, assim distribudos:
No captulo 1 apresentada a introduo do tema da pesquisa, os objetivos geral e
especficos, a justificativa, a delimitao do tema, a metodologia de trabalho, a questo de
pesquisa e a estrutura do trabalho.
O Captulo 2 apresenta a reviso bibliogrfica, onde so revisados, luz da
bibliografia especializada, os temas de interesse para a pesquisa, como a evoluo das
atividades bancrias em decorrncia da globalizao da economia, a contextualizao do
servio bancrio e as doenas profissionais que podem acometer essa categoria profissional. A
qualidade de vida no trabalho discutida, bem como a ergonomia aplicada ao servio
bancrio, abrangendo conceitos, antropometria, atividade muscular, posto de trabalho
bancrio e a importncia da postura na preveno de distrbios osteomusculares. Ao final do
captulo enfatizada a importncia da educao para o trabalho como um fator de reduo de
doenas ocupacionais.
J no Captulo 3 so apresentados os materiais e mtodos de trabalho que compem a
metodologia aplicada na pesquisa.
O Captulo 4 mostra os resultados do estudo de caso desenvolvido em uma
organizao bancria, abrangendo a contextualizao da empresa (as agncias, condies
ambientais e caractersticas dos postos de trabalho), bem como as diversas etapas: etapa 1
(anlise da demanda); etapa 2 (diagnose primria, que compreendeu a caracterizao da
amostra, dados relativos observao sistemtica, aplicao de checklists, aplicao escala
para avaliao da percepo do usurio quanto a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) e
desconforto postural, que foi feita a partir de questionrio proposto por Corlett); etapa 3
(aes corretivas primrias, que compreenderam palestras de sensibilizao e de
conscientizao, dinmicas e orientaes individuais nos postos de trabalho com
acompanhamento semanal por 3 (trs) meses) e, finalmente, a etapa 4 que compreendeu a
avaliao geral da abordagem empregada.
Finalmente, no Captulo 5 apresentada a discusso dos resultados obtidos na
pesquisa e as concluses do estudo. O trabalho encerrado com consideraes sobre os
achados oriundos da aplicao da metodologia proposta e indicaes para estudos futuros.
19
CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 EVOLUO DAS ATIVIDADES BANCRIAS
Os bancos acompanharam a evoluo tecnolgica e de processos ocorrida em todo o
mundo nos ltimos anos. Com a evoluo da economia, os bancos aplicam seus servios de
intermediao a parcelas cada vez maiores da populao economicamente ativa: salrios,
contas de servios pblicos, impostos, emprstimos, financiamentos e uma gama de outras
operaes so efetuadas via bancos. Alm dos diversos servios prestados, os bancos possuem
um papel ativo na economia, influenciando nas taxas de juros e no processo de acumulao
capitalista, assim como outros setores produtivos, mesmo nada produzindo materialmente
(ZAMBERLAN; SALERNO, l987).
Por outro lado, a evoluo observada no trabalho bancrio no parece muito
promissora. No passado, o trabalho bancrio oferecia certo grau de status, sendo visto como
um trabalho de cunho intelectual e as exigncias para o ingresso no setor iam no mximo at o
diploma de contabilidade, ao passo que, nos dias atuais, o que se percebe so trabalhos
rotineiros, parcelados e repetitivos.
Fleury (1983) considera que as empresas bancrias caracterizam-se por pertencerem
aos chamados conglomerados financeiros, ou seja, a grupos que englobam, alm do banco
comercial, seguradoras, bancos de investimentos, crdito imobilirio.
Ainda de acordo com Fleury (1983), o quadro poltico e econmico em que se insere
o sistema bancrio no Brasil, comeou a ser delineado a partir da Reforma Bancria e do
Programa de Ao Econmica do Governo, no perodo 1964-1966. A execuo destes
programas levou especializao das empresas do setor financeiro e reduo dos bancos
20
comerciais. Este fato gerou a formao dos conglomerados financeiros e um certo oligoplio
do setor.
A evoluo do setor foi alm, ocorrendo tambm no espectro de servios prestados.
Ao final da dcada de 60 a rede bancria foi autorizada a efetuar servios de arrecadao de
impostos e taxas, contribuies da previdncia social e outros fundos do governo. A partir de
ento, o nmero de servios prestados apresenta um crescimento sempre contnuo.
Evidencia-se dessa forma, os principais aspectos da evoluo do sistema bancrio
brasileiro: crescimento, disperso geogrfica e diversificao de servios.
A anlise do trabalho bancrio no Brasil, realizada por diversos autores (GARCIA,
1999; GRISCI, 2000; JINKINGS, 1995; LARANGEIRA, 1997), aponta para uma
desqualificao do trabalhador devido ao desenvolvimento tecnolgico e mudanas nas formas
de gesto. Os autores mostram que o domnio do saber da profisso, existente antes da dcada
de 30, foi degradando-se com o incio da mecanizao e intensificando-se com a introduo dos
computadores, estando esse processo intensamente ligado configurao econmica e social do
perodo.
Com a centralizao do processo administrativo, decorrente da evoluo citada, visto
que as administraes passaram a controlar um maior nmero de agncias, as empresas
intensificaram a padronizao das rotinas e atividades. Ainda, com relao segurana das
atividades, foram introduzidos diversos esquemas para checar o trabalho efetuado, que iam
desde a repetio de rotinas at sistemas de conferncia que envolviam o prprio cliente.
O trabalho bancrio sofreu, ento, profundas mudanas devido padronizao,
centralizao e ao controle das atividades. O processamento eletrnico das movimentaes
das agncias teve seu campo aberto a partir da padronizao das atividades e, com isto veio a
ruptura de algumas caractersticas do trabalho, relevantes no passado.
Em um estudo realizado por Hussenet (1990), fica evidenciado que a automao
apresenta algumas vantagens, tais como: melhoria da qualidade com velocidade e eficincia
do servio, aumento da disponibilidade de espao e a expanso da rea geogrfica, que pode
ser eficientemente servida por muitos postos de venda.
Apesar de todo desenvolvimento tecnolgico ocorrido no setor bancrio, o setor no
tem oferecido ao bancrio uma melhoria proporcional no nvel de qualidade de vida que este
21
desejaria. Ao contrrio, as expectativas dos bancrios quanto qualidade de vida no trabalho
esto cada vez mais acentuadas de forma negativa (ANTUNES, 2002).
2.2 - CONTEXTUALIZAO DO SERVIO BANCRIO
Neste incio de sculo, o campo de interesse das organizaes bancrias est
representado por produtividade, competitividade, qualidade, conteno de custos e
treinamento. Afinal, pessoas saudveis representam negcios tambm saudveis, lucros e
retorno de investimento. Assim, o grande capital da empresa representado por pessoas
capazes, aptas, hgidas, equilibradas, criativas, ntegras e motivadas.
Segundo Silva e de Marchi (1997, p.11) possvel referir-se ao contexto supracitado
como sade corporativa, que significa a soma das reas assistencial, ocupacional,
preventiva e de promoo da sade. Alm disso, esses autores enfatizam o interesse
fundamental da educao neste processo.
Neste sentido, o objetivo principal da educao conscientizar os indivduos, por
meio de processos educativos, da necessidade de serem capazes de gerenciar seu estilo de
vida, tornando-o mais saudvel, feliz e produtivo, independentemente do meio em que vivem
ou atuam (SILVA; DE MARCHI, 1997).
Em tal contexto, a ergonomia pode contribuir para melhorar este quadro, ao
desempenhar um importante papel, quando busca adaptar as condies de trabalho ao homem.
As definies de ergonomia so marcadas por uma viso do trabalho centrada sobre a
mobilizao fsica do ser humano. Os aspectos cognitivos so, freqentemente, considerados
como elementos exclusivos do segundo objetivo, referente eficcia. Qual seria ento a
relao entre cognio e sade? De Montmollin (1993), escreveu um dos textos a respeito
deste tema, segundo o qual so examinadas as ligaes entre cognio e sade, analisando as
relaes da sade com as capacidades do indivduo, a carga mental e o estresse.
Sabe-se que a atividade bancria atual marcada pelo estresse (psicolgico ou
cognitivo e postural). Dentro de um certo nmero de profisses, inclusive os bancrios, as
variaes (temporais) das exigncias conduzem s fases ditas excitantes, de produo
intensiva e que justificam parte do trabalho. Estas so, muitas vezes, valorizadas, apesar do
22
fato de estarem associadas a cargas de trabalho elevadas e geradoras de estresse. Em
concluso, o alvo da ao ergonmica no concebe situaes de trabalho a tal ponto
simplificadas que no necessitem de nenhuma competncia.
Pode-se ver, ento, claramente, como uma viso cognitiva da sade pouco
considerada. Apesar disso, da mesma maneira que considera os aspectos fisiolgicos, esta
viso diz respeito a inserir uma perspectiva de crescimento. A questo no , de fato, isolada:
como conceber um sistema de trabalho que permita um exerccio frutfero do pensamento? E
tambm: como conceber um sistema de trabalho que favorea o desenvolvimento das
competncias? Considerando que a no adaptao dos sistemas tem conseqncias que no se
limitam aos rendimentos instantneos, a atuao (performance). Alm disso, existem outros
rendimentos temporais que se exercem sobre a performance futura ou sobre a capacidade de
aprendizagem dos indivduos.
2.3 - DOENAS PROFISSIONAIS DOS BANCRIOS
No de hoje que as doenas profissionais ocupam a ateno dos pesquisadores. Os
Distrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - DORT, so referidos na reedio do
mdico Bernardino Ramazzini (1992), considerado o pai da Medicina do Trabalho, j no
incio do sculo XVIII em seu livro As Doenas dos Trabalhadores. Nessa obra o autor
descreve minuciosamente uma quantidade respeitvel de doenas relacionadas a mais de 50
profisses, inclusive aquelas denominadas Doenas dos Escribas. Ramazzini tambm
introduz na consulta mdica a pergunta: Qual sua ocupao? (ANTONALIA, 2001; RIO,
1998).
A literatura mdica mostra que, j em 1908, existiam descries de cibras em
telegrafistas que, mais tarde, foram reconhecidas como doenas ocupacionais pelo British
Workmans Compensation Act (RIO, 1998).
No Brasil, a Previdncia Social passou a reconhecer a tenossinovite do digitador
como doena ocupacional somente a partir de 1987, no porque j no houvesse farta
bibliografia internacional antes disso, mas porque somente nesse ano a presso social da
categoria dos digitadores obteve essa conquista (SETTIMI; SILVESTRE, 1995).
23
A importncia crescente desse conjunto de patologias pode ser ilustrada tambm pelo
surgimento de inmeras publicaes (livros, captulos de livros,, dissertaes de mestrado,
teses de doutorado e uma infinidade de artigos em revistas especializadas. (ASSUNO,
2003).
Nos Estados Unidos, observa-se um aumento expressivo nas ocorrncias de DORT,
como se pode observar na tabela 1.
Tabela 1: Distribuio de DORT (ou Leses por Traumas Cumulativos - LTC) e prevalncia dessas afeces entre as doenas ocupacionais nos Estados Unidos
Ano Freqncia % em relao s doenas ocupacionais
1981 22.600 18 1983 26.000 25 1984 34.700 28 1985 37.000 30 1987 72.900 38 1988 115.300 48 1989 146.900 52 1990 185.400 56 1991 223.600 61 1993 302.400 64
Fonte: United States Bureau of Labour Statistics, apud Maeno (1996)
Em 1993, no Canad e na Dinamarca, do total de casos de doenas ocupacionais,
50,5% e 45,6%, respectivamente, foram de DORT (MAENO et al., 1996).
Segundo Pastore (2001), Considerando-se que a Previdncia Social do Brasil
arrecada e gasta anualmente cerca de R$ 2,5 bilhes no campo dos acidentes do trabalho, as
empresas brasileiras estariam arcando com um custo adicional de R$ 10 bilhes o que, nos
leva a concluir que a precariedade da preveno dos riscos do trabalho custa a elas, R$ 12,5
bilhes por ano. Chega-se triste concluso de que os acidentes do trabalho no Brasil geram
uma despesa fenomenal que chega a casa dos R$ 20 bilhes por ano. Mesmo assim, esses
nmeros so subestimados. Calcula-se que 80% dos acidentes e doenas profissionais no
mercado de trabalho formal, especialmente, os de menor gravidade, no so notificados.
24
De acordo com as estatsticas da Previdncia Social, que servem de base para as
informaes oficiais do Ministrio do Trabalho e Emprego TEM, no ano de 2000, para um
total de 26.228.629 trabalhadores, ocorreram 287.500 acidentes do trabalho e 19.134 casos de
doenas relacionadas com o trabalho (tabela 2).
Tabela 2: Estatsticas de acidentes e doenas do trabalho no Brasil, de 1970 a 2000
Acidentes Anos
Trabalhadores Tpico Trajeto
Doenas
Anos 70 12.428.828 1.535.843 36.497 3.227 Anos 80 21.077.804 1.053.909 59.937 4.220 Anos 90 23.648.341 414.886 35.618 19.706
2000 26.228.629 287.500 37.362 19.134
Fonte: Anurio Brasileiro de Proteo (2002).
O cenrio das doenas no Brasil, registra queda de 20,1% nas ocorrncias, de 23,9
mil casos em 1999, para 19,1 mil em 2000. Embora esses nmeros possam suscitar
entusiasmo, as prprias autoridades reconhecem subnotificao e a excluso de mais de 60%
dos 70 milhes de trabalhadores que representam a Populao Economicamente Ativa. Para
contextualizar o problema, a Previdncia elabora as estatsticas de doenas com, base nos
Comunicados de Acidentes do Trabalho CAT (tabela 3).
Tabela 3: Principais doenas do trabalho registradas em 2001 no Brasil
Classificao Internacional de Doena CID
Quantidade
Sinovite e tenossinovite 5.659 Perda de audio por transtorno de conduo e/ou neurosensorial
1.518
Outros transtornos do ouvido interno 1.524 Leses do ombro 1.224 Dorsalgia 794 Mononeuropatias dos membros superiores 791 Outros 4.847
Fonte: Anurio Brasileiro de Proteo (2003).
25
Tabela 4 Freqncia de trabalhadores com DORT e sua proporo em relao a trabalhadores com doenas ocupacionais em geral, atendidos em dois servios de referncia em Sade do Trabalhador no ano de 1994.
Servio Nmero de
trabalhadores com DORT
Nmero de trabalhadores com
doenas ocupacionais
% de trabalhadores com
DORT
CEREST/SP 1046 1598 65,4NUSAT / Belo Horizonte 554 963 57,5Total 1600 2561
Fonte: CEREST/SP e NUSAT - Belo Horizonte respectivamente (1996)
Conforme tabela 4, os trabalhadores atendidos no Servio de Referncia em Sade
do Trabalhador, com diagnstico de DORT so, em sua grande maioria, jovens e mulheres,
dos mais diversos ramos de atividade e com as mais variadas funes/ atividades (MAENO,
1996).
Existem fortes razes para explicar esse aumento na ocorrncia de DORT. Entre
essas razes, as mudanas na organizao do trabalho, as mudanas decorrentes de diferenas
de pocas, que contribuem para mudar a prevalncia, a proporo numrica e importncia
social dos acometidos, as mudanas no perfil da populao trabalhadora, melhorias na
circulao da informao.
No que se refere aos fatores referentes organizao do trabalho, pode-se citar a
inflexibilidade e alta intensidade do ritmo de trabalho, execuo de grande quantidade de
movimentos repetitivos em grande velocidade, sobrecarga de determinados grupos
musculares, ausncia de controle sobre o modo e ritmo de trabalho, ausncia de pausas,
exigncia de produtividade, uso de mobilirio e equipamentos desconfortveis so apontados
como responsveis pelo aumento dos casos de DORT.
Quanto diferena de pocas, sabe-se que na Antigidade, os acometidos eram
servos ou escravos libertos e, em geral, a literatura bastante econmica quando fala de suas
vidas e de como adoeciam. Apenas por ocasio da Revoluo Industrial que os
trabalhadores comearam a adquirir importncia scio-econmica e seu adoecimento
26
comeou a ser objeto de estudo por parte da cincia. No caso dos DORT, a partir da segunda
metade do sculo XX proliferaram as descries de trabalhadores com problemas msculo-
esquelticos relacionados ao trabalho (MAEDA; HORIGUCHI; HOSOKAWA, 1982).
Atualmente, mudaram as formas de trabalhar, o nmero e a relevncia social das
pessoas acometidas, o que contribuiu para aumentar a visibilidade das LER/DORT.
Embora quadros de DORT j existissem antes, no eram considerados como
relacionados ao trabalho, nem tampouco ocorriam em grande nmero. No Brasil, desde o
reconhecimento da tenossinovite do digitador pela Previdncia Social, em 1987, o conceito
foi ampliado: muitas outras entidades mrbidas, alm da tenossinovite, passaram a ser
reconhecidas como decorrentes do trabalho e esse conjunto de patologias, que inclui a
tenossinovite do digitador, passou a ser chamado de Leses por Esforos Repetitivos ou
simplesmente LER e, mais tarde, DORT.
Outra razo significativa a contribuir para o aumento na incidncia de DORT o
aumento na circulao de informaes, que trouxe, como conseqncia, maiores
possibilidades de diagnstico. Atualmente, as informaes sobre DORT so cada vez mais de
domnio pblico, o que acaba facilitando a percepo dos trabalhadores sobre determinados
sintomas que em outros tempos passariam despercebidos, alertando-os para a procura da
assistncia mais precocemente.
Tambm razes econmicas determinaram o aumento na incidncia de DORT. Pela
primeira vez, um problema considerado decorrente do trabalho atinge a classe mdia em
grandes dimenses, fato que desperta o interesse da mdia e da sociedade em geral. A
incapacidade para trabalhar faz as pessoas procurarem tratamento em algum momento, o que
influencia o sistema pblico e privado de sade e, ao mesmo tempo, gera ausncias e
afastamento do trabalho. Alm disso, o problema to disseminado, que atinge trabalhadores
associados de convnios mdicos, o que amplia a rede de profissionais envolvidos. Considere-
se ainda que a faixa etria das pessoas acometidas de jovens e o quadro, freqentemente
incapacitante, preocupa mais ainda devido, principalmente, s conseqncias econmicas para
o pas e para os planos de sade, o que torna o problema alvo de ateno.
Atualmente, h maior espao social e cultural para a manifestao das pessoas com
DORT e outros quadros de queixas subjetivas e de difcil visualizao fsica. A prpria idia
27
de sade, bem-estar e qualidade de vida vem mudando com o tempo, exigindo da sociedade
uma resposta frente a esse problema.
No Brasil, o sistema nacional de informao do Sistema nico de Sade (SUS) no
inclui os acidentes de trabalho em geral e nem DORT, em particular, o que prejudica a
possibilidade de se ter dados epidemiolgicos que cubram a totalidade dos trabalhadores. Os
dados disponveis referem-se apenas aos trabalhadores do mercado formal. Ficam excludos
os trabalhadores do mercado informal, os funcionrios pblicos efetivos, empregados
domsticos e autnomos. Cabe ressaltar que esses dados se referem a critrios estabelecidos
pela Previdncia Social e so coletados com finalidades pecunirias e no epidemiolgicas.
Entende-se por DORT uma sndrome clnica caracterizada por dor crnica,
acompanhada ou no por alteraes objetivas, que se manifesta principalmente no pescoo,
cintura escapular e membros superiores em decorrncia do trabalho. Como se refere a
diversas patologias distintas, torna-se difcil estabelecer o tempo necessrio para uma leso
persistente passar a ser considerada crnica. Alm do que, a mesma patologia pode se instalar
e evoluir de forma diferente, de pessoa para pessoa, em funo dos fatores etiolgicos.
O termo DORT ser utilizado neste trabalho ao invs de LER (Leses por Esforo
Repetitivo). Estas compreendem patologias, manifestaes ou sndromes patolgicas que se
instalam insidiosamente em determinados segmentos do corpo, como conseqncia de
trabalho realizado de forma inadequada. Portanto, seu diagnstico deve se fundamentar em
uma boa anamnese ocupacional e em relatrios de profissionais que conheam a situao de
trabalho, permitindo a correlao do quadro clnico com a atividade ocupacional efetivamente
desempenhada pelo trabalhador. Logo, de acordo com o INSS (1997), surgiu a proposta da
nova terminologia DORT (Distrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho).
Estudos epidemiolgicos atuais comprovam que os DORT tm uma dimenso
multicausal. Estes estudos identificam entre os fatores causais os biomecnicos, ergonmicos,
psicossociais, organizacionais, individuais, metablicos e socioculturais.
Portanto, DORT tem um carter que no somente clnico, mas tambm
eminentemente social. Por esta razo, o que se preconiza no apenas a implantao de uma
ergonomia de concepo do posto de trabalho ou de uma ergonomia de correo, mas acima
de tudo, uma ergonomia de conscientizao, na qual o trabalhador aprenda a portar-se de
forma segura diante da situao de trabalho, sabendo qual a que colocar em risco a sua sade
28
e segurana, bem como os procedimentos a serem tomados para eliminar ou minimizar os
riscos.
Para melhor compreenso dos fatores etiolgicos dos DORT, Nascimento (2000)
dividiu de forma esquemtica os fatores etiolgicos, embora raramente se observe a
ocorrncia de um destes fatores de forma isolada. Na verdade, comum a combinao de
vrios fatores de risco:
a) Biomecnicos: posturas desfavorveis; fora excessivas (carga extrema e o impacto sobre
outras estruturas); compresso mecnica; repetitividade (trabalho montono; o nmero
de ciclos de trabalho efetuados por jornada de trabalho; tempo de ciclo menor de 30"
(trinta segundos) ou quando mais de 50% do tempo executada a mesma seqncia de
gestos (SILVERSTEIN, 1996); habilidade (fora de trabalho despreparada);
b) Fisiolgicos: hormnios; defeitos congnitos (costela supranumerria, etc.); fragilidade
do sexo feminino (mulheres so mais predispostas, numa proporo de 3 vezes mais que
os homens); estrutura osteoarticular; obesidade; traumatismos anteriores; gravidez; estado
geral de sade; diabetes; problemas oculares; altura; tamanho e forma do punho
(predisponentes);
c) Psicolgicos: estresse; atitude negativa em relao vida; perfil psicolgico;
desprazer/insatisfao dentro e fora do trabalho; desmotivao;
d) Hbitos e atividades da vida extra-trabalho: hobbies e atividades domsticas que exigem
dos membros superiores; ignorncia de como funciona o corpo humano; dupla jornada de
trabalho; indumentria; tabagismo; alcoolismo; estilo de vida; uso de contraceptivos;
estado civil; etc.;
e) Organizao do trabalho: pausas curtas ou inexistentes entre os ciclos de trabalho;
presso temporal; cadncia; exigncias e programas de incentivos produtividade; ritmo
de trabalho imposto pela gerncia ou linha de montagem (esteiras/Taylorismo/tempos e
movimentos); horas extras; trabalho montono e sem contedo; sobrecarga de produo
(provocados por picos de produo, gargalos, falta de programao, ou absentesmo);
estilo gerencial; falta de treinamento; etc.;
f) Posto de trabalho e ferramentas no-ergonmicas - as baixas temperaturas (no frio ocorre
uma maior vasoconstrio, com o propsito de evitar a perda de calor pelo organismo,
29
contribuindo para uma m circulao, favorecendo as leses); vibraes (especialmente
aquelas oriundas de ferramentas vibratrias com freqncias entre 31,5 e 1.000 Hz),
carga excessiva, etc. (NASCIMENTO, 2000).
Todos esses fatores se unem para fazer das doenas ocupacionais um complexo
quadro de degradao do indivduo, influenciando-o diretamente no equilbrio entre
corpo/mente/meio scio-econmico-cultural no qual est inserido e que imprescindvel para
que se tenha uma boa qualidade de vida.
As hipteses biolgicas sustentam que os quadros dolorosos crnicos so concretos,
ou seja, no se restringem fadiga muscular e so decorrentes de esforos repetitivos que, por
sua vez, produzem microtraumas cumulativos. Segundo Antonalia (2001, p.14), o principal
fenmeno social responsvel por essa patologia (DORT) foi a modernizao do trabalho,
determinando um aumento das tarefas manuais repetitivas, especialmente membros
superiores, ombros e regio cervical, como aconteceu com a atividade dos bancrios.
Em estudo realizado pelo NUSAT (Ncleo de Coordenao em Sade do
Trabalhador), abrangendo os atendimentos a trabalhadores portadores de DORT no perodo
de 1993 a 1996, ficou comprovada a alta incidncia de DORT em instituies bancrias
(bancos, caixas econmicas, etc.), como fica evidente na leitura da seguinte figura 1, referente
ao perodo de 1993 a 1996 (em percentuais):
Figura 1 - Ocorrncias de DORT em instituies bancrias (perodo de 1993-1996) Fonte: NUSAT (1996).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1993 1994 1995 1996
Instituio financeiraInd.material eletroeletrnicoServios de comunicaoLocao de bens mveisServios de sadeServios de utilidade pblica
30
Observa-se que, no perodo analisado, houve uma sensvel reduo no percentual de
ocorrncias de DORT nas instituies financeiras. Porm, no final do referido perodo ainda
predominava sobre outros ramos de atividade. Isto elege a atividade bancria como sendo
considerada de alto risco para os DORT.
De fato, nos ltimos anos, as importantes transformaes ocorridas no processo de
trabalho bancrio, com a informatizao e automao de grande parte das tarefas, resultaram
em conseqncias no menos importantes para o trabalhador bancrio. Entre essas, destaca-
se, alm dos DORT, o considervel aumento nos riscos de doenas provocadas pela
organizao do trabalho, tais como o estresse e as doenas mentais.
Ao mesmo tempo, a automao dos servios de atendimento ao pblico trouxeram
como conseqncia a desqualificao do trabalho bancrio, a reduo dos postos de trabalho,
a intensificao do ritmo de trabalho, a reduo de pessoal, o maior controle sobre o trabalho
atravs dos prprios equipamentos informatizados, atravs do nmero de autenticaes do
caixa. Porm, a maior conseqncia foi o esvaziamento das tarefas. Pode-se pressupor que
todos estes fatores contriburam para a desmotivao do trabalhador bancrio, como afirmam
Oliveira et al. (1997, p.83), quando apontam algumas caractersticas do trabalho bancrio
relevantes como causadoras de riscos de DORT:
A alienao do trabalho, a pouca capacidade de interferir no ordenamento das tarefas, o desconhecimento da finalidade das aes que executa, a presso da chefia e do pblico, fazem com que o bancrio esteja submetido a constante ansiedade, frustrao e tenso nervosa.
SANTOS (2001), apresenta um estudo sobre os aspectos ergonmicos no trabalho
bancrio, as inadequaes ergonmicas em postos de trabalho em agncias bancrias. O autor
manifesta sua preocupao com as condies de trabalho nos postos de trabalho
informatizados e automatizados, em funo das inadequaes da mquina ao homem.
31
2.4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Atualmente, a convergncia dos fatores ergonomia e qualidade vem se tornando cada
vez mais necessria para que a empresa possa promover a qualidade de vida no trabalho. Na
verdade, as organizaes esto se voltando cada vez mais para estes dois aspectos - ergonomia
e qualidade. Isto por entenderem que, para uma empresa sobreviver, ela necessita oferecer
uma qualidade superior de vida para seus trabalhadores, em seus ambientes de trabalho. Logo,
somente assim podero oferecer qualidade a seus clientes.
A relao do homem com o trabalho bastante complexa. O trabalho, mesmo sendo
encarado, muitas vezes, como um fardo pesado, vital para o homem. Atravs do trabalho, o
ser humano pode tirar proveito dos recursos naturais, podendo modificar a natureza, recri-la
ou destru-la, criando a sua histria. No caso do trabalhador bancrio, a qualidade de vida no
trabalho prejudicada pelo esvaziamento da profisso, conforme j abordado anteriormente.
Assim, com o rpido desenvolvimento tecnolgico, a qualidade de vida do bancrio
foi se deteriorando. As empresas, devido preocupao demasiada com os avanos
tecnolgicos, deixaram de enfocar o elemento humano, criando, muitas vezes, situaes
paradoxais: postos de trabalho ergonomicamente corretos em relao ao mobilirio, porm
com trabalhadores no treinados para utilizar esses recursos em seu prprio benefcio,
condies scio-econmicas injustas, sistemas administrativos com muita cobrana por metas,
tarefas montonas, rotineiras e alienantes.
Segundo Nakamura (2001), outro indicador da deteriorao da qualidade de vida no
trabalho bancrio o aumento dos ndices de DORT. Contudo, muitos administradores j
comeam a reconhecer a necessidade de criar condies adequadas para que seus
trabalhadores possam desenvolver seu potencial e sua criatividade. Enfim, para que haja
melhoria na qualidade de vida em suas atividades profissionais.
Porm, para que esta avaliao seja possvel, a qualidade deve ser definida do ponto
de vista do trabalhador bancrio, no que diz respeito qualidade de vida no trabalho,
conforme ele a apreende no seu dia a dia.
De acordo com Correa (1991), a melhoria da qualidade de vida no trabalho pode ser
traduzida como segurana, higiene, conforto, descanso, lazer, novos desenhos de cargos,
32
novas estruturas, melhor distribuio de trabalho, melhor remunerao, garantia de
desenvolvimento e treinamento.
Por outro lado, Albrecht (1992), entende que "se uma pessoa for bem remunerada,
tiver uma funo agradvel, mantiver uma relao positiva com seu superior e vislumbrar
oportunidades de progresso, ento a qualidade de vida no trabalho ser elevada para ela".
Complementa, ainda, afirmando que "o modo pelo qual seus funcionrios se sentem o modo
pelo qual os seus clientes iro se sentir".
Estas afirmaes permitem perceber que preciso ter um certo cuidado ao definir
qualidade de vida no trabalho, e que mais seguro e interessante obter o conceito de
qualidade de vida no trabalho junto aos trabalhadores. Os trabalhadores sabero identificar o
que esperam das condies de trabalho, com veracidade.
Albrecht (1992), entende que cada vez maior o nmero de organizaes usando o
conceito de qualidade de vida no trabalho como idia individual e unificadora para a
compreenso e administrao de seu ambiente interno. A qualidade de vida no trabalho,
segundo o mesmo autor, " o somatrio das experincias individuais do funcionrio com a
empresa, tal como ele as encara".
O mesmo Albrecht (1992, p.112), refora a importncia da qualidade de vida no
trabalho, afirmando:
uma organizao no pode ter um ambiente interno positivo e voltado para o sucesso quando a qualidade de vida no trabalho baixa para muitos de seus membros. Se os executivos deixarem de prestar ateno qualidade de vida no trabalho ou nunca aprenderem a pensar nesses termos, eles tero grandes dificuldades para conquistar a dedicao e o entusiasmo dos funcionrios.
Para Denton (1990, p.63),
A monitorao da qualidade dos servios importante, mas, isoladamente, no suficiente para assegurar o sucesso a longo prazo e a satisfao dos clientes. Os servios, mais que a fabricao, so dependentes de pessoas. Os servios no so gerados por mquinas, mas produzidos por pessoas.
33
Isto significa que a medio e a tecnologia so importante, mas o "ingrediente-
chave" para um bom servio so as pessoas, particularmente as que so ponto de contato.
De acordo com Albrecht (1992), se a organizao no liga para o funcionrio, no que
diz respeito qualidade de vida no trabalho, "porque deveria o funcionrio se importar com a
organizao?" E, complementa o autor, "Fica bastante difcil criar o sentimento de objetivo
comum necessrio para um programa de qualidade de servio quando h o senso de "ns e
eles" de parte tanto dos executivos quanto dos funcionrios". O autor vai mais alm,
defendendo o ponto de vista de que sentimentos negativos de parte dos funcionrios que tm
contato com clientes, tendem a contaminar a impresso da qualidade percebida pelo cliente no
momento desse contato. Portanto, se os funcionrios estiverem insatisfeitos, se tiverem a
impresso de que a empresa no liga para eles, muito difcil que tenham uma atitude
otimista, que sejam cordiais em seu relacionamento com os clientes".
Denton (1990) afirma, ainda, que a maioria das organizaes que fornecem servios
com qualidade capaz de melhorar a sua imagem de servios consistentes aos clientes por
meio de um treinamento constante e de programas de motivao. Para o autor, o que existe de
especial neste tipo de organizao a atmosfera de abertura e confiana entre os empregados
e a administrao. Por outro lado, o autor acredita que os administradores devem ensinar para
os empregados o entendimento bsico da companhia, pois entende que, indiretamente, a
satisfao dos clientes melhorada.
Denton (1990, p. 97) defende a tese de que
em servios, como em muitas outras reas, o que importa no tanto o que se faz, mas o nvel em que se faz. ...Qualidade em servios significa uso inteligente de incentivos, bem como um treinamento inteligente. Quando se treinam empregados, importante mostrar-lhes a conexo entre aes e resultados.
A qualidade de vida no trabalho deve ser definida em termos das percepes dos
trabalhadores. E uma elevada qualidade de vida no trabalho deve envolver pelo menos os
fatores descritos na figura 2.
34
- Um trabalho que valha a pena fazer.
- Condies de trabalho seguras.
- Remunerao e benefcios adequados.
- Estabilidade no emprego.
- Superviso competente.
- Feedback quanto ao desempenho no trabalho.
- Oportunidades para aprender e crescer no emprego.
- Uma possibilidade de promoo com base em mrito.
- Clima social positivo.
- Justia.
Figura 2 Fatores determinantes de qualidade de vida no trabalho (ALBRECHT, 1992)
De acordo com Albrecht (1992), cada um desses fatores representa um aspecto
importante da experincia global de trabalho de um indivduo, ou seja, a totalidade de sua
experincia como membro da organizao. Cada um deles desempenha um papel na
percepo do indivduo quanto a "como trabalhar ali".
Finaliza o autor, discorrendo sobre a importncia de se avaliar a qualidade de vida do
trabalhador. Ele afirma que "sendo possvel medir a qualidade de vida no trabalho, ser
possvel geri-la, e pode-se medi-la com grande facilidade".
A avaliao da qualidade de vida no trabalho de grande importncia para a
organizao. Segundo Moraes (1989), "a considerao dos fatores humanos, da
operacionalizao a partir da avaliao ergonmica da tecnologia, da operacionalizao da
tarefa e das condies de trabalho, torna-se uma varivel indispensvel para a qualidade
total".
Fica assim comprovado que muitas so as maneiras de se conceituar a qualidade de
vida no trabalho, porm acredita-se que somente uma anlise ergonmica do trabalho, onde,
alm de observaes nos diferentes postos de trabalho, so levados em conta a percepo que
os funcionrios tm sobre a qualidade de vida de seu trabalho que fornecer dados reais para
que alguma concluso possa ser tirada. E exatamente esse tipo de anlise que o presente
trabalho prope (Santos 2001).
35
J de acordo com Laville (1977), pode-se representar a atividade do homem no
trabalho por um modelo. Este modelo, apesar de muito simples, descreve as relaes que so
estabelecidas entre um operador e sua tarefa.
De um lado, no modelo, est o operador que recebe sinais e envia respostas. Os
materiais so as ferramentas, as mquinas, ou seja, as fontes de informao para o operador. O
operador, por sua vez, identifica estes sinais atravs de seus rgos sensitivos a viso, o tato,
a audio, etc. e toma uma deciso que ir modificar o estado inicial desses elementos
materiais. , ento, estabelecida uma sucesso de sinais e respostas entre os componentes da
tarefa e o homem em atividade. Desta maneira, o operador e a tarefa no podem ser estudados
isoladamente.
Por outro lado, as informaes que o operador recebe provm da tarefa e do seu meio
ambiente, mas so fortemente influenciadas pelas operaes mentais do operador. Assim, a
atividade mental prepara e comanda a atividade fsica e estas duas atividades so, portanto,
ligadas uma outra. Estas diferentes atividades do homem formam as componentes da carga
de trabalho.
Inmeros fatores influenciam as relaes entre o homem e a tarefa e modificam a
carga de trabalho. So estes fatores que constituem o campo de ao da ergonomia. Pode-se
citar, como exemplo, os fatores biomecnicos (postura do operador, fora excessiva,
repetitividade, habilidade), fisiolgicos (referem-se a caractersticas individuais),
psicolgicos, atividades do operador fora do ambiente de trabalho, organizao do trabalho
(pausas, horas extras, estilo de gerenciamento), posto de trabalho e ferramentas
(GONALVES, 1995).
As condies de trabalho podem ser estudadas segundo o ambiente e segundo a
organizao do trabalho. J as condies ambientais de trabalho, por sua vez, podem ser
estudadas com relao a trs aspectos: as condies fsicas, condies qumicas e condies
biolgicas de trabalho.
De outra forma, as condies fsicas de trabalho so identificadas por Laville (1976),
como: o ambiente arquitetnico, o ambiente trmico, o ambiente sonoro, o ambiente luminoso
e as vibraes.
36
No que diz respeito ao ambiente arquitetnico, este constitui o aspecto dimensional
do posto de trabalho, das ferramentas, das mquinas. Para que se determine corretamente as
dimenses do espao de trabalho necessrio que se tenha amplo conhecimento dos dados
antropomtricos e biomecnicos da populao dos usurios, e as exigncias da tarefa.
Tambm o ambiente trmico desenvolve importante papel na definio das
condies ambientais de trabalho. As condies climticas que so submetidos os postos de
trabalho devem ser levadas em conta, para que proporcionem ambiente de trabalho
confortvel ao homem, do ponto de vista trmico.
O ambiente sonoro e o ambiente luminoso so igualmente fatores importantes num
ambiente de trabalho. Os rudos esto presentes na maior parte dos ambientes de trabalho. Por
outro lado, a luminosidade de um ambiente no visa somente a segurana e a circulao mas
tambm o conforto visual do trabalhador. Os limites impostos pela ergonomia devem,
portanto, ser levados em conta. bom salientar que estes limites no so objetivos para serem
atingidos, mas so limites que no devem em absoluto, serem ultrapassados.
J, as vibraes ocorridas em ambientes de trabalho podem causar srios danos em
todas as partes do corpo do trabalhador. A ergonomia enumera os cuidados que devem ser
tomados em cada caso, porm, no h relatos no setor bancrio. Bem como as condies
qumicas que levam em conta o ambiente toxicolgico. Este se preocupa com os riscos de
poluio do meio ambiente. O Ministrio do Trabalho fixa os critrios e os limites de
exposio a serem respeitados, que so geralmente relacionados no PPRA Programa de
Preveno de Riscos Ambientais.
Nas condies biolgicas deve-se fazer observaes quanto ao ambiente
bacteriolgico. O ar condicionado, por exemplo, muitas vezes causador de doenas nos
trabalhadores por falta de uma manuteno adequada. A ergonomia alerta para este fato e
salienta os cuidados que devem ser tomados para segurana dos trabalhadores.
No caso das condies organizacionais de trabalho, o conjunto de dispositivos
sociais e tcnicos, que definem a repartio das tarefas num servio, numa empresa e, mesmo
no conjunto da sociedade .
De acordo com Santos (1993), as condies organizacionais de trabalho devem levar
em conta os mtodos de trabalho, a comunicao entre postos e dentro dos postos, os horrios
37
e turnos de trabalho, a formao dos trabalhadores, a tecnologia presente na organizao e a
poltica salarial.
Os mtodos de trabalho devem definir a repartio de funes, fixar as fronteiras
verticais e horizontais entre os postos, definindo o nvel de especializao necessria aos
trabalhadores. Para tanto, os mtodos de trabalho devem ser adaptados s exigncias tcnicas
e s competncias dos operadores, para que os operadores compreendam o que se passa e
ajam inteligentemente.
A organizao das comunicaes definir quem ir receber informaes e quem ir
emitir informaes, quais informaes devero ser emitidas ou recebidas e de que forma estas
comunicaes sero ativadas (de forma oral, escrita e gestual). necessrio haver dentro de
uma organizao, uma rede de comunicaes, que permita a transferncia sistemtica de
informaes.
Os horrios e turnos de trabalho definiro os turnos s equipes de trabalhos
adequados aos trabalhadores e organizao. J a formao determinar a desejada
qualificao dos trabalhadores, suas competncias e necessidade de treinamento, e a
tecnologia especificar condicionantes a nvel de software e de hardware. E, por fim a poltica
salarial definir os salrios dos trabalhadores.
2.5 - ERGONOMIA APLICADA AO SERVIO BANCRIO
2.5.1 - CONCEITOS
Buscou-se, aqui, os conceitos de Ergonomia que pudessem ser aplicados ao servio
bancrio, partindo-se do pressuposto que o bancrio um funcionrio com razovel grau de
instruo, o qual realiza um trabalho que exige qualificaes intelectuais.
Segundo o Conselho da Sociedade de Ergonomia da Frana, no XXIV Congresso
realizado em Paris, em 1988, a ergonomia permite uma nova percepo do funcionamento de
uma empresa, a partir da compreenso do trabalho do homem. Esta compreenso necessria
para conceber as situaes nas quais o operador tem domnio: - para seu equilbrio fsico,
mental e psquico e para uma melhoria do sistema.
Para Wisner (1987, p.26), a ergonomia :
38
um conjunto de conhecimentos cientficos relativos ao homem e necessrios para conceber os instrumentos, as mquinas e dispositivos de tal forma que possam ser utilizados com o mximo de conforto, de segurana e de eficincia, pelo trabalhador.
Em ergonomia, o binmio conforto-produtividade andam juntos. No possvel
imaginar-se somente o conforto, sem se pensar na produtividade e vice-versa, porque os
resultados seriam transitrios.
A ergonomia atualmente, considera o homem que trabalha no como um executor,
mas um operador. Ele um operador que adapta seu comportamento s variaes, tanto de
seu estado interno (fadiga) quanto dos elementos da situao (relaes de trabalho, variao
da produo, disfunes), ele decide melhores modos de proceder de modo que atenda seus
objetivos. Assim, sua atividade real difere sempre da tarefa prescrita pela organizao do
trabalho. Ele no responde a estmulos, mas expressa um saber e uma vivncia profissional
enraizados em uma histria individual e coletiva, inscrita em um contexto scio-econmico
pr-determinado.
A ergonomia busca adaptar as condies de trabalho ao homem e, para tanto, adota
ora uma abordagem paliativa, que visa compensao das deficincias das pessoas, ora uma
abordagem preventiva, que procura evitar a ocorrncia de situaes patognicas, isto
essencialmente visto sobre o ngulo da psicologia. A esta abordagem, associa-se uma
abordagem ativa, dito uma ao permite a cada um construir sua prpria sade, seu prprio
envelhecimento, dentro das melhores condies possveis (TEIGER; VILLATTE, 1983).
Os objetivos da Ergonomia devem estar voltados pesquisa das condies que no
apenas evitem a degradao da sade, mas, tambm, favoream a construo da sade. Esta
perspectiva ativa incapaz de ser focalizada prioritariamente pela ergonomia. Na maioria das
vezes, ela focalizada sobre uma viso instantnea do indivduo.
2.5.2 ANTROPOMETRIA
A antropometria trata de medidas fsicas do corpo humano. O que parece ser uma
tarefa fcil, para a qual bastaria ter uma rgua, trena e balana, na verdade no to simples,
pois uma populao contm indivduos dos mais variados tipos. Mudam tambm as condies
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em que essas medidas podem ser realizadas, tais como com ou sem roupa, com ou sem
calado, etc., o que tambm pode interferir nos resultados.
As medidas antropomtricas variam conforme a idade dos indivduos, a etnia e o
clima, o que faz pensar na dificuldade de se estabelecer medidas padro.
Com relao ao mobilirio, a NR 17 no determina a necessidade de um estudo
antropomtrico dos trabalhadores no sentido de lhes adequar os postos de trabalho. Porm,
concordamos com Diniz (1992) para quem o mobilirio deve ser concebido com regulagens
que permitam ao trabalhador adapt-lo s suas caractersticas antropomtricas; bem como
deve tambm permitir a alternncia de posturas (sentado, de p), uma vez que no existe
nenhuma postura fixa que seja confortvel. Sendo que em funo de que entre a populao de
trabalhadores h indivduos muito altos e muito baixos, o recomendvel que o mobilirio
permita uma regulagem que atenda a pelo menos 90% da populao.
Antes de se proceder s medidas antropomtricas, deve-se definir onde ou para qu
sero as mesmas utilizadas. No caso especfico da engenharia de postos de trabalho, a
antropometria ser a responsvel pelo dimensionamento de mobilirio e equipamentos.
Assim, segundo Iida (1998) um posto de trabalho para digitadores deve levar em conta pelo
menos cinco medidas crticas para o digitador sentado:
a) altura lombar (encosto da cadeira)
b) altura popltea (altura do assento)
c) altura do cotovelo (altura da mesa)
d) altura da coxa (espao entre assento e mesa)
e) altura dos olhos (posicionamento do monitor).
O espao de trabalho tambm merece ateno da antropometria, pois, embora seja
um espao imaginrio, necessrio para o organismo realizar os movimentos requeridos para
seu trabalho. No caso do digitador, alguns fatores devem ser considerados quando se estuda o
dimensionamento do seu espao de trabalho: postura, tipo de atividade manual e vesturio. De
modo geral, o dimensionamento do posto de trabalho deve estar intimamente relacionado com
40
a postura e nenhum deles pode ser considerado separadamente um do outro. Na tabela 5, so
sugeridas as seguintes medidas para um posto de trabalho:
Tabela 5 Medidas para um posto de trabalho
ALTURA DA MESA (70 cm) MNIMO (5% mulheres)MXIMO
(95% homens)
Altura popltea (assento - solo) 36 45
Altura do cotovelo (acima do assento) 18 30
TOTAL 53,6 74
Fonte: Iida (1998, p.137).
Outro importante fator a considerar no projeto de um posto de trabalho o assento,
que deve formar um conjunto integrado com a mesa. Os princpios bsicos so os seguintes:
a) existe um assento mais adequado para cada tipo de funo.
b) As dimenses do assento devem ser adequadas s dimenses antropomtricas.
c) O assento deve permitir variaes de postura.
d) O encosto deve ajudar no relaxamento.
2.5.3 - ATIVIDADE MUSCULAR
O estresse decorrente da execuo de fora, movimentos repetitivos ou manuteno
prolongada de postura pode levar fadiga muscular.
A fora considerada como um dos principais fatores de risco biomecnico
determinante de DORT. A fora empregada para executar a tarefa aumenta o risco de
distrbios em membros superiores especialmente se combinada com outros fatores de risco,
como, por exemplo, a repetitividade de movimentos. Os bancrios, portanto, esto expostos a
um elevado fator de risco, devido repetitividade de movimentos, apesar da tarefa exigir
baixo nvel de fora (GONALVES, 1995)
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2.5.4 - POSTO DE TRABALHO BANCRIO
Atualmente, grande nmero de postos de trabalho equipado e depende de
computadores. Num posto de trabalho tradicional de escritrio, o empregado executa tarefas
diferentes, fala ao telefone, cuida de arquivos, atende pessoas, etc. No caso de funcionrios
que trabalham com computadores, a pessoa permanece muito tempo em postura esttica, com
a ateno fixa na tela do monitor, em operaes altamente repetitivas.
A rotina do bancrio se situa entre os dois casos. O bancrio atende pessoas, recebe e
faz pagamentos, faz autenticaes, consultas via monitor, digita dados no teclado, etc.
Por esta razo, o projeto de um posto de trabalho bancrio exige ateno. Segundo
Iida (1998), as condies de trabalho no computador so mais severas e as inadaptaes
ergonmicas neste tipo de posto de trabalho provocam conseqncias bastante incmodas.
Elas se concentram na fadiga visual, nas dores musculares do pescoo e ombros e dores nos
tendes dos dedos. Essas dores, em casos mais graves, podem evoluir para tenossinovite,
doena ocupacional que pode incapacitar definitivamente o trabalhador para a tarefa de
digitao.
Para Iida (1998), estudos realizados, correlacionando as dores musculares com as
caractersticas do posto de trabalho, apresentaram as causas de desconforto (figura 3):
- altura do teclado muito baixa em relao ao piso.
- altura do teclado muito alta em relao mesa.
- falta de apoios adequados para os antebraos e punhos.
- cabea muito inclinada para a frente.
- pouco espao lateral para as pernas o operador desliza para a
frente, estendendo as pernas sob a mesa.
- posicionamento inadequado do teclado a mo tem uma
inclinao lateral (abduo) superior a 20 em relao ao
antebrao.
Figura 3 Causas de desconforto postural Fonte: Iida (1998)
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Ferreira e Mendes (2001) desenvolveram estudo onde avaliam a atividade de
atendimento ao pblico e prazer-sofrimento no trabalho. Esses autores citam pesquisas
realizadas por Mendes (1999), Mendes e Linhares (1996) e Mendes e Abraho (1996),
indicando que o prazer vivenciado quando o trabalho favorece a valorizao e
reconhecimento, especialmente, pela realizao de uma tarefa significativa e importante para
a organizao e a sociedade. Ferreira e Mendes acrescentam:
O uso da criatividade e a possibilidade de expressar uma marca pessoal tambm so fontes de prazer e, ainda, o orgulho e admirao pelo que se faz, aliados ao reconhecimento da chefia e dos colegas. As vivncias de sofrimento aparecem associadas diviso e padronizao de tarefas com subutilizao do potencial tcnico e da criatividade; rigidez hierrquica, com excesso de procedimentos burocrticos, ingerncias polticas, centralizao de informaes, falta de participao nas decises e no-reconhecimento; pouca perspectiva de crescimento profissional (FERREIRA; MENDES, 2001, p.99).
2.5.5 POSTURA CORPORAL
Quando incorreta, a postura que o bancrio assume e mantm durante sua jornada de
trabalho um fator relevante na etiologia dos DORT.
Segundo Gagey e Weber (2000), a American Academy of Orthopaedic Surgeons
define a postura como o arranjo relativo das partes do corpo.
De outra forma, a postura correta, fundamental para o bem-estar do ser humano,
consiste em um complexo processo que, para atingir o equilbrio, exige do indivduo uma
conscincia integral de seu corpo, de seus limites e de sua localizao correta no espao, ou
seja, a postura correta exige uma profunda maturao psicossomtica e espiritual.
De fato, a postura envolve uma associao integrada de fenmenos biomecnicos,
neurofisiolgicos e neuropsquicos que se interinfluenciam e se interagem a todo instante e
pode ser afetada por vrios outros fatores de ordem interna e externa.
Entre os fatores internos, deve-se considerar a importncia da informao
proprioceptiva cuja estimulao fundamental para a maturao do esquema corporal e a
regulao do equilbrio tnico-ocular-postural para a execuo dos movimentos mais simples.
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Neste ltimo caso, ressalta-se tambm a importncia extraordinria da informao visual,
sempre em relao direta com a informao proprioceptiva.
Entre os fatores de ordem externa, destacam-se os maus hbitos posturais de repouso,
de trabalho e de lazer, condicionados por idias errneas em matria de educao, de
ergonomia e de sade, que podem ser consideradas as grandes responsveis pelas posturas
desfavorveis que se observa.
Mveis e equipamentos ergonomicamente projetados, iluminao, ventilao, rudos,
etc., so fatores que devem ser analisados para o conforto do trabalhador. Avaliaes
antropomtricas, biomecnica, tambm. Porm, o trabalhador tem uma parcela de
responsabilidade para o sucesso desses fatores. E essa responsabilidade recai, em grande
parte, sobre a sua postura durante o trabalho, a qual, se inadequada, pode ser geradora de
DORT (RIO; PIRES, 2001).
Desta forma, mesmo em condies em que a mquina foi concebida adequadamente
do ponto de vista dimensional e de conforto, pode-se observar posturas desconfortveis e
inadequadas, que podem ter as seguintes desvantagens: enfraquecimento da musculatura
abdominal; leso nos discos intervertebrais e na musculatura da coluna e abdominal, lentido
e danos no sistema circulatrio como varizes e hemorridas, desenvolvimento de doenas na
coluna vertebral, tais como: osteofitose, artrose e encurvamento precoce, priso de ventre e
mau funcionamento intestinal (KNOPLICH, 1982).
Uma boa postura, por sua vez, traz as seguintes vantagens: possibilidade de se evitar
posturas antinaturais para o corpo, relaxamento das pernas, facilidade de funcionamento do
sistema de circulao sangneo, elevao da capacidade de concentrao e rendimento,
reduo do consumo de energia e melhorias do bem estar geral.
No caso do trabalhador bancrio, este passa grande parte do seu perodo laboral na
postura sentada. Segundo Iida (1998, p.85),
A posio sentada exige atividade muscular do dorso e do ventre para manter esta posio. Praticamente todo o peso do corpo suportado pela pele que cobre o osso squio, nas ndegas. (...) A postura ligeiramente inclinada para frente mais natural e menos fatigante que aquela ereta. O assento deve permitir mudanas freqentes de postura, para retardar o aparecimento da fadiga.
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Muitas vezes, projetos inadequados do posto de trabalho obrigam o trabalhador a
usar posturas inadequadas. Se estas forem mantidas durante algum tempo, podem provocar
dores localizadas no conjunto de msculos solicitados para a manuteno dessas posturas.
A Figura 4 seguinte apresenta a localizao das dores no corpo, conforme as posturas
inadequadas do trabalhador.
POSTURA RISCO DE DORES
Em p
Sentado sem encosto
Assento muito alto
Assento muito baixo
Braos esticados
Pegas inadequadas em ferramentas
Ps e pernas (varizes)
Msculos extensores do dorso
Parte inferior das pernas, joelhos e ps
Dorso e pescoo
Ombros e braos
Antebraos Figura 4 Localizao das dores no corpo, segundo posturas inadequadas FONTE: Iida (1998, p.85).
Durante uma jornada de trabalho, o trabalhador muda de postura centenas de vezes,
mudando, na mesma proporo, o conjunto de msculos acionados para cada postura. Por esta
razo, a anlise da postura, com o objetivo de promover correo postural, apresenta grande
dificuldade. A descrio verbal no prtica, pois se baseia em critrios nem sempre claros.
A fotografia tambm no muito prtica, pois representa apenas um registro instantneo. Tais
dificuldades levaram muitos autores a proporem mtodos prticos de registro e anlise de
postura.
Um desses mtodos foi proposto por Corlett e Manenica (apud IIDA, 1998),
dividindo o corpo humano em diversos segmentos, visando facilitar a localizao de reas em
que os trabalhadores sentem dores ou desconforto. Os prprios trabalhadores avaliam, de
forma subjetiva, o grau de desconforto que sentem em cada um dos segmentos indicados num
diagrama indicativo de partes do corpo. O ndice de desconforto classificado, indo de
extremamente confortvel ou sem dor at extremamente desconfortvel ou com muita
dor, marcado linearmente da esquerda para a direita, mostrando assim a necessidade de
percepo sobre as necessidades de alternncia postural e a prtica de micro pausas como
mecanismo regulador.
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Segundo Couto (2002), micropausas so perodos de descanso intercalados com as
atividades de trabalho, podendo variar de 10 (dez) segundos a 3 (trs ) minutos, e devem ser
realizadas uma vez a cada perodo mximo de uma hora, em momentos em que o funcionrio
no est atendendo um cliente, quando fala ao telefone, quando se desloca do seu posto de
trabalho para buscar documentos, etc.
2.6 EDUCAO PARA O TRABALHO
Uma parte importante de um programa de preveno o treinamento das pessoas a
respeito dos princpios bsicos da ergonomia e do uso do prprio organismo nas situaes
cotidianas de trabalho e fora dele. Isto pode ser alcanado com palestras de conscientizao,
as quais, porm, devem ser aplicveis ao cotidiano e, se possvel, com dinmica para a
percepo das informaes serem aproveitadas ao mximo.
Em nvel da fala, no caso dos treinamentos atravs de palestras de sensibilizao,
conscientizao, uma informao aproveitada em 5%, no sentido das pessoas lembrarem o
que foi dito aps algum tempo. Esse ndice de aproveitamento pode aumentar de 20% a 40%
se as pessoas conseguirem correlacionar a informao recebida ao seu dia a dia atravs de
exemplos apresentados nas palestras. E, se for proporcionada uma certa aplicao prtica
atravs de vivncias/percepo corporal durante as palestras, essas informaes sero
lembradas e aplicadas por 60% a 80% dos participantes no seu dia a dia pela aplicabilidade do
que foi dito e vivenciado. Alm disso, eles se to