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Índice
Introdução..................................................................................................................................1
Actos Bancários Em Especial....................................................................................................2
1. A Figura do Depósito “Comum”.....................................................................................2
1.1 Conceito:..................................................................................................................2
1.1.1 Deposito Irregular................................................................................................2
1.1.2 Deposito Mercantil...............................................................................................2
1.2 Depósito Bancário.......................................................................................................3
1.2.1 Conceito:..............................................................................................................3
1.2.2 Características......................................................................................................4
1.2.3 Principais Modalidades........................................................................................4
1.2.4 Regime e Natureza.....................................................................................................5
1.3 A convenção de cheque...............................................................................................6
1.3.1 Conceito:..............................................................................................................6
1.3.2 Regime Jurídico...................................................................................................7
1.3.3 Elementos do Cheque...........................................................................................7
1.3.4 Realização do cheque...........................................................................................8
1.3.4.1 O Contracto de cobrança em relação a Provisão..................................................8
1.3.5 Tipos de Cheque...................................................................................................9
1.3.5.4 Cheque sem Provisão ou “Fundo”.....................................................................10
1.4 O Giro Bancário........................................................................................................11
1.5 Transferência Bancaria..............................................................................................11
1.5.1 Conceito, Objecto e Intervenientes....................................................................11
1.5.2 O Regime...........................................................................................................12
1.5.3 Classificação das Transferências Bancarias.......................................................13
1.6 Emissão de Cartão Bancário......................................................................................14
1.6.1 Conceito:............................................................................................................14
1.6.2 O Contrato de adesão.........................................................................................14
1.6.3 Modalidades dos Cartões Bancários..................................................................15
Conclusão.................................................................................................................................17
Bibliografia..............................................................................................................................18
0
Introdução
O trabalho que a seguir se apresenta ostenta como tema: Os Actos Bancários em
especial”, enquadrando-se no Direito positivo, especialmente, no Direito Bancário.
Sob forma de trabalho de investigação científica, o mesmo é desenvolvido como o
culminar dos estudos feitos por um grupo de estudantes, com vista a desenvolver
bibliograficamente o tema acima apresentado, visto que os actos bancários em especial vêm
ilustrar em grande parte, as operações bancarias, no âmbito do direito da actividade das
instituições de crédito e sociedades financeiras e no seu relacionamento com os particulares, a
que se se traduz naquilo que se chama de direito bancário material.
Logramos, neste trabalho, como objectivo geral analisar os actos especiais pelos quais
se servem os bancos nas suas principais actividades de intermediação e aplicação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor
de propriedade de terceiros. Neste sentido abordaremos dos contractos que os bancos
celebram com os particulares, permitindo-os a realizar diversos actos com vista as diversas
operações bancarias requeridas ou não pelos particulares.
Estruturalmente, o trabalho apresentar-se-á em quatro capítulos: O primeiro,
inteiramente dedicado ao instituto do depósito bancário; o segundo visa estudar a situação da
convenção de cheque, serão aqui apontados e analisados os elementos desta convenção e as
suas modalidades; o terceiro capitulo cingir-se-á no esquema do giro bancário dando alusão
as transferências bancarias; e por fim no quarto e último capitulo, abordar-se-á sobre a figura
do cartão bancário e as suas modalidades.
1
Actos Bancários Em Especial
1. A Figura do Depósito “Comum”
1.1 Conceito:
À luz do Direito Civil o depósito é definido no art.1185, como “o contrato pelo qual
uma das partes entrega à outra uma coisa móvel ou imóvel para que a guarde e a restitua
quando for exigida”. Sendo regular, na medida que trata sobre coisa não fungível.
Segundo Menezes Cordeiro1, O contrato de depósito caracteristicamente vislumbra-se
como contrato “ituitu personae” realizado levando-se em consideração a pessoa da parte
contratada, isto é, baseiam-se, geralmente, na confiança que o contratante tem no contratado.
Só ele pode executar sua obrigação; gratuito (art.1186, CC), podendo figurar como oneroso
(art.1158, CC); é real, o que significa que este assume um carácter “quod constitutionem”,
isto é, produz efeitos reais, contendo como um dos elementos essências para a compleição
dos seus requisitos a entrega da coisa2; pode ser consensual ou formal, conforme o quantum a
depositar.
1.1.1 Deposito Irregular
“Diz-se irregular o depósito que tem por objecto coisas fungíveis” (art.1205º CC). Isto
é, o depósito irregular é aquele através do qual o depositário fica a distrito a restituição feita
em género (qualidade e quantidade) e não in natura (art.207º CC).
1.1.2 Deposito Mercantil
Depósito Mercantil é o depósito efectuado em género ou em mercadorias, destinadas a
qualquer acto de comércio um contrato bilateral, gerando obrigações para o depositante e
para o depositário, oneroso, uma vez que o depositário deve ser compensado pela guarda do
objecto que lhe é confiado, e real, só aperfeiçoado ou efectuado com a entrega da coisa.
“O depósito mercantil é um acto objectivamente comercial, originando um dever de
remuneração, ao contrário do depósito comum…”3
1 CORDEIRO, António Menezes; MANUAL DE DIREITO BANCÁRIO; 2ª Ed; Livraria Almedina; Coimbra; 2001; p.4762 TELLES, Inocêncio Galvão; MANUAL DOS CONTRATOS EM GERAL; 4ªEd; Coimbra Editora; 2002; p.464.3 WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; p.168
2
1.2Depósito Bancário
1.2.1 Conceito:
Nos termos da alinha g) do art.2 da lei 9/2004 de 21 de Julho, o Depósito é contrato
pelo qual uma entidade recebe fundos de outra, ficando com o direito de deles dispor para os
seus negócios e assumindo a responsabilidade de restituir outro tanto, com ou sem juro, no
prazo convencionado ou a pedido do depositante;
No entender do doutrinário Teodoro Waty4, o depósito bancário é aquele que é feito
em dinheiro, por um cliente (depositante), junto a um banco (depositário). Consiste numa
operação passiva dos bancos, quando o banco aparece como depositário e o cliente como
depositante. Trata-se de operação passiva porque nela o banco depositário, que recebe valores
em depósito efetuado pelo cliente depositante, se obriga a restituí-los quando solicitado por
este.
Em sede de Direito Bancário, como se refere José Abudo5, citando Menezes Cordeiro,
deverá reputar-se como bancário o depósito em que o cliente (depositante) entrega dinheiro
ao banco (depositário), podendo este dispor livremente do referido dinheiro, porém, com a
obrigação de o restituir quando aquele o quiser. Esta noção impregna o depósito bancário de
carácter irregular, isto porque, seguindo a orientação do art.1205 do CC, ao consistir o
depósito bancário no facto de o cliente (depositante) entregar dinheiro6 ao Banco,
caracteristicamente fungível segundo o art.207, CC, o banco pode aplica-lo como melhor lhe
aprouver, desde que, simplesmente restitua o equivalente quando o cliente o queira.
O objectivo do depósito bancário, sob a óptica do cliente, é a guarda ou custódia de
seu dinheiro, o investimento, com a percepção de frutos como juros e correcção monetária, e
a disponibilidade pela criação da moeda escritural ou bancária (lançamento que o banco faz a
crédito e o saldo credor). Na efetivação do depósito, o banco torna-se devedor, obrigando a
restituir-lhe, no tanto e no momento por eles exigido, parcial ou totalmente.
4 WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; p.1705 ABUDO, José Ibrahimo; O DEPÓSITO BANCÁRIO; in temas de Direito Bancário; 1° Vol.; 1ª Edição; Maputo; 1999; pag.403.6 O dinheiro é caracteristicamente fungível nos termos do art.207 do CC, na medida em que, livremente, pode ser substituível por outro. O que sucede na prática bancária é que o cliente, tendo efectuado o depósito, ao exigir apenas pretende que se lhe seja entregue outro tanto dinheiro, com o mesmo valor real comparativamente ao que depositara.
3
1.2.2 Características
A partir dos conceitos acima apresentados, compreendemos que ao se tratar de um
contrato de depósito bancário, está-se perante a um contrato real, unilateral, oneroso ou
gratuito:
- Real, porque só se aperfeiçoa ou efectuado com a entrega do dinheiro ao banco, a partir do
que se iniciam os efeitos do contrato, quais sejam, a transferência da propriedade do dinheiro
ao banco e a obrigação dele de restituir.
- Unilateral, na medida em que gera obrigações apenas para o banco, depositário dos valores.
O banco deve restituir o dinheiro quando solicitado, observadas as condições estabelecidas.
- Oneroso ou gratuito, na medida em que é uma operação que pode se revestir de
onerosidade ou não, conforme haja ou não pagamento de juros e outros benefícios para o
depositante.
1.2.3 Principais Modalidades
Segundo o doutrinário Teodoro Waty7, as principais modalidades do depósito
bancário são:
Depósito à Ordem ou A vista - Modalidade de depósito na qual o Banco fica
obrigado a restituir a qualquer momento o dinheiro que o cliente lhe confiou, isto é,
em qualquer momento o cliente pode realizar levantamentos da totalidade ou de parte
do dinheiro depositado, assim como acrescentar novas quantias ao depósito inicial;
Depósito com pré – aviso - modalidade que se caracteriza pelo facto de o depositante
se comprometer a não efectuar levantamentos sem avisar previamente, por escrito, o
Banco. A antecedência com que este aviso é feito é fixado no acto de celebração do
contrato entre Banco e o seu Cliente;
Depósito à Prazo/ de Poupança - caracteriza-se pelo facto do Banco poder dispor do
capital depositado por um período de tempo determinado, visto que o depositante se
compromete a não proceder a levantamentos antes do vencimento do prazo. O
depositante só saca depois de um determinado prazo, levando ele ao direito de receber
uma remuneração em juros e correcção monetária.
7 WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; p.170
4
1.2.4 Regime e Natureza
Como foi ilustrado acima, em sentido restrito o depósito bancário é um depósito feito
em dinheiro constituído junto a um banqueiro, pressupondo assim a abertura de uma conta
junto ao banqueiro, visto que trata-se de operações que surgem quase sempre associadas,
razão pela qual considera-se por regra que o banqueiro já deu o seu assentimento genérico na
abertura da conta.
No que diz respeito ao depósito a ordem, o doutrinário Meneses Cordeiro8 fala de uma
convenção de depósito anexada a da abertura de conta, que obriga o banqueiro a aceitar e
receber as diversas remessas feitas em dinheiro a título de depósito.
Geralmente a forma dos depósitos bancários esta condicionada por cláusulas
contratuais gerais, ao preenchimento de impressos (talões de depósito) ou a actuação de
esquemas informáticos. Observada a forma o acto de depósito e valido, sendo que pode
provar-se por qualquer via de direito.
No entender dos doutrinários Teodoro Waty e Meneses Cordeiro9, o depósito
bancário a ordem possui a natureza do depósito irregular; já nos depósitos a prazo/ de
poupança, distinguir-se-iam na sua, do depósito a ordem sendo que estes teriam a natureza
do mútuo, que resulta da ideia de lhes faltar a restituição ou a imediata disponibilidade,
própria dos depósitos a ordem. Porem, não podemos considerar o cliente que constituí um
depósito a prazo como um mutuante, mas sim um depositante, ainda que especial.
Concluído assim o doutrinário Teodoro Waty, que o depósito bancário é um contracto
unitário, típico, autónomo, muito próximo ao depósito regular.
8 CORDEIRO, António Menezes; MANUAL DE DIREITO BANCÁRIO; 2ª Ed; Livraria Almedina; Coimbra; 2001; p.478
9 WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; p.171
5
1.3A convenção de cheque
1.3.1 Conceito:
Segundo Teodoro Waty, a convenção de cheque é um contrato celebrado entre o
titular da provisão e a instituição bancária, pelo qual esta permite ao titular da provisão
movimentar os fundos à sua disposição por meio de emissão de cheque10. Por sua vez, o
cheque, ainda nos termos deste autor, é um meio de pagamento, pelo qual uma pessoa
(sacador ou emitente) ordena um banco (sacado), onde tenha fundos disponíveis (provisão) a
efectuar um pagamento em seu favor ou terceiro beneficiário (tomador ou beneficiário).
Neste Sentido a função do cheque é permitir que, uma vez aberta uma conta e constituído o
depósito à ordem respectivo, o seu titular possa dispor sobre os fundos por cheque.
Três desses intervenientes já foram referidos na definição de cheque. São eles:
O Sacador - a pessoa que ordena o pagamento do cheque;
O Sacado - a entidade a quem é ordenado que pague;
O Beneficiário - a pessoa -nominalmente conhecida ou não - a favor de quem
reverte o produto do cheque.
Há ainda a considerar mais dois intervenientes11:
O Endossante - a pessoa que, tendo o benefício do cheque, o transmite por
endosso a outra pessoa;
O Endossado - a pessoa que, por endosso, se torna o legítimo proprietário e,
portanto, o novo beneficiário do cheque.
O cheque, indubitavelmente, vislumbra-se como um meio seguro de pagamento,
revestido de suma importância, pelo facto de incorporar e representar valores altíssimos, o
que, como “última ratio”, só dinamiza o comércio jurídico. Como características,
marcadamente, o cheque patenteia-se pela literalidade, autonomia, circulabilidade e
incorporação.
10 WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; pag.30011 CORDEIRO, António Menezes; MANUAL DE DIREITO BANCÁRIO; 2ª Ed; Livraria Almedina; Coimbra; 2001; pag.483
6
Voltando à convenção de cheque, depreende-se, quanto aos elementos essenciais deste
negócio, segundo Menezes Cordeiro, amparado por José Mota do Amaral12, que,
subjectivamente intervêm o Banco e o seu cliente. Esta convenção pode ser tácita ou
expressa.
1.3.2 Regime Jurídico
O uso do cheque está regulamentado na Lei Uniforme do Cheque (LUC), resultante da
convenção de Genebra de 7 de Junho de 1930 e pela Lei 5/98 de 15 de Junho. Para além deste
instrumento de direito internacional, temos no nosso ordenamento jurídico, a Lei sobre a
dignificação do cheque e o respectivo regulamento.
1.3.3 Elementos do Cheque
No entender do doutrinário Meneses Cordeiro13, no cheque aparecem dois elementos
muito claros que directamente ditam a sua natureza, o primeiro relativo a ordem de
pagamento dirigida ao banqueiro, e o segundo relativo a obrigação cambitaria.
No tocante à ordem de pagamento, trata-se de um mandato, de uma procuração, de
uma autorização, de uma delegação de pagamento ou de uma ordem no sentido técnico. O
Sacador tem o direito de dar ordem de pagamento a um banco em virtude do contrato
celebrado anteriormente entre eles. Não obstante a falta ou insuficiência de provisão, os
bancos são obrigados a pagar ao portador, qualquer cheque emitido através de impresso por
eles fornecido, de montante não superior a 250000,00 Mt.14
No que diz respeito a obrigação cambitaria, Esta traduz-se no facto do beneficiário
poder exigir o pagamento ao sacador caso o banco se recuse a pagar, além disso, a obrigação
cambitaria surge incorporada no próprio cheque que assim funciona como título de crédito.
Na óptica de Teodoro Waty, o cheque possui elementos estruturais constituídos pelos
requisitos essenciais constantes no art.1 da Lei uniforme do cheque, e elementos acessórios
resultantes das suas declarações cambitarias tais como o saque, o endosso e o aval.
12 AIRES do AMARAL, José Mota; EMISSÃO E USO DE CHEQUE EM MOÇAMBIQUE; in temas de Direito Bancário; 1° Vol.; 1ª Edição; Maputo; 1999; pag.445.13 CORDEIRO, António Menezes; MANUAL DE DIREITO BANCÁRIO; 2ª Ed; Livraria Almedina; Coimbra; 2001; pag.48414 N° 1 do art.8 da lei 5/98 de 15 de Junho
7
- O Saque seria a declaração cartular pala qual o sacador da ordem de pagamento ao sacado,
criando assim o direito cambiário titulado pelo cheque, isto é, e com o saque que é emitido e
pode o cheque circular por mais beneficiários;
- O Endosso, é a declaração cambitaria pela qual o endossante (seu portador) transfere para o
endossado ou endossaria os direitos emergentes, legitimando a posse e garantindo, salvo
estipulação em contrário o pagamento;
- O Aval, é o acto pelo qual os signatários ou terceiros, garantem por escrito no título ou em
folha anexa, que o cheque será pago no todo ou em parte quando apresentado a pagamento
nos prazos legais.
1.3.4 Realização do cheque
1.3.4.1 O Contracto de cobrança em relação a Provisão
O Contrato de cobrança é um elemento associado do cheque. Este consubstancia-se no
acordo mediante o qual a instituição bancaria se obriga a proceder a todas as diligências
necessárias à cobrança de um cheque que, com esse fim, lhe for apresentado pelo possuidor
do cheque, efectivando-se assim a ordem de pagamento dada pelo sacador.
A Relação de provisão, surge na essência como condição económica do cheque
caracteriza-se pela existência de fundos numa determinada instituição bancaria a dispor do
sacador. Assim a emissão de cheque deve pressupor a existência de uma relação de provisão,
por forma a quando o beneficiário ou portador do cheque se dirija ao banco sacado, exista um
crédito, devendo o banco assegurar o direito do crédito do sacador e disponibilizar os fundos
necessários ao pagamento do cheque15.
1.3.4.2 Apresentação, prazo, lugar e revogação
O regime geral quanto a apresentação, prazo, lugar e revogação vem estabelecido
taxativamente nos artigos 28 e seguintes da Lei uniforme do cheque. Abarcando também a
questões relativas a revogação art.32 do mesmo diploma legal, as precauções que os que o
sacado deve ter na medida do pagamento do cheque e as modalidades de pagamento do
cheque constantes no art.34 da Lei uniforme do cheque16.
15 WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; pag.18016 Idem, pag.182
8
Em caso de falta de pagamento, pode recorrer-se a acção cambitaria declarativa ou
executiva, acção causal ou acção fundada no enriquecimento sem causa. Na acção cambitaria
seria a causa de pedir o próprio cheque, que constitui título executivo nos termos do art.51 e
53 do Código do Processo Civil (CPC)
1.3.5 Tipos de Cheque
1.3.5.1 Cheque Cruzado
Previsto nos artigos 37 e38 da LUC, Cheque Cruzado ou Cheque Barrado é o Cheque
em cuja face são desenhados dois traços paralelos e transversais, pelas quais obriga o sacado
a identificar o apresentante como portador legitimo17.
Cheque com cruzamento geral - Cheque cruzado que não tem nada escrito entre dois
traços paralelos.
Um cheque com cruzamento geral só pode ser pago pelo sacado:
A um seu cliente;
A um banqueiro (Banqueiro - é qualquer das instituições de crédito autorizadas a
exercer o Comércio Bancário)
Cheque com cruzamento especial - Cheque cruzado em que consta entre os dois traços
paralelos o nome de uma instituição de crédito.
1.3.5.2 Cheque "Para levar em Conta"
Previsto no art.39 da LUC, o segundo tipo de menção que pode surgir num cheque é a
menção "para levar em conta". É o Cheque cuja face se encontra aposta transversalmente a
menção "para levar em conta" ou outra equivalente. A menção "para levar em conta" não tem
de surgir entre traços paralelos, mais, na prática isso acontece com frequência.
Um cheque para levar em conta tem de ser, obrigatoriamente, creditado na conta do
seu legítimo beneficiário. Só depois será feito o pagamento através dessa conta, proibindo o
seu pagamento em numerário.18
17 WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; pag.18418 Idem.
9
1.3.5.3 Cheque Visado
Ao contrário do que acontece no cheque cruzado e para levar em conta - não resulta
de qualquer menção especial aposta pelo sacador ou por qualquer dos legítimos portadores.
É, no entanto, um cheque com particularidades especiais de pagamento.
Cheque visado é aquele em que o sacado (Banco), a pedido do sacador, garante a
provisão. Este cheque é imediatamente pago ao seu legítimo beneficiário, após se ter
procedido à sua identificação.19
O pedido de visto é feito em impresso apropriado que contém, além de outras indicações, a
assinatura do sacador, tal como consta da ficha de assinaturas.
O Banco pagador (o sacado) visa o cheque, pondo um carimbo de visto, autenticado com a
assinatura de dois procuradores (empregado com procuração ou mandato para assinar pelo
Banco; são normalmente superiores hierárquicos) ou mandatários e debita imediatamente o
cheque na conta do sacador.
O cheque que vai ser visado tem de conter todos os elementos identificativos - requisitos
essenciais - e é automaticamente debitado na conta do sacador.
Geralmente os Bancos não visam cheques ao portador. Só se deve pagar um cheque visado
depois de se ter conferido as assinaturas dos representantes legais do Banco sacado.
1.3.5.4 Cheque sem Provisão ou “Fundo”
O Cheque sem provisão é o cheque emitido, cuja conta sacada não dispõe de fundos
para o seu pagamento: também se costuma chamar «cheque sem cobertura» ou «cheque
careca». A emissão e entrega a alguém, como meio de pagamento, de um cheque sem
provisão, consubstancia um crime punido por lei. Porem convém esclarecer que não é crime a
emissão do chamado cheque pré-datado, se quem o emitiu provar que foi entregue antes da
data aposta no cheque. Contudo, apesar de não ser punido criminalmente, fica sujeito à
obrigação de regularização de modo a evitar a inibição do uso de cheques.20
19 WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; pag.18420 Idem
10
1.4 O Giro Bancário
O giro bancário e um conjunto de operações escriturais de transferência de fundos,
realizadas por um banqueiro, a pedido do seu cliente ou a favor dele.
O Giro advém do latim “gyrus”, do Grego “guros”, traduzido na ideia de um círculo, isto é,
o dinheiro circula em volta do banqueiro sem que necessariamente haja um movimento
material.21
Como se refere Teodoro Waty22, o contrato de giro bancário designa o conjunto de
operações escriturais de transmissão de fundos realizados pelo banco, solicitado pelo seu
cliente. Como ensina este autor, o giro bancário figurará, concomitantemente, como um
contrato quadro donde advirão variadíssimos contratos e operações bancárias. Porém, o giro
bancário pressupõe que, ab initio, tenha se celebrado o contrato de abertura de conta
bancária.
A o Conceito do giro bancário esta intimamente ligada ao da transferência bancaria,
visto que este giro bancário materializa-se principalmente mediante operações de
transferências bancarias internas e externas, pagamentos por conta bancaria e cobrança por
conta bancaria.
1.5 Transferência Bancaria
1.5.1 Conceito, Objecto e Intervenientes
Operação através da qual um cliente titular de conta aberta em certo Banco, dá a este
instruções para, por débito da sua conta creditar uma determinada importância a outrem,
cliente do mesmo Banco ou de outro. Isto é, transferência bancaria seria uma espécie de
contrato entre o ordenador (o que solicita a transferência bancaria) e o beneficiário (a favor
de quem a transferência foi efectuada) no qual se interpõe um banco (banco eminente), que
por instruções do ordenador seu cliente, vai tomar perante o beneficiário um compromisso de
pagamento, a vista ou a prazo, na condição que este lhe apresente.
21 CORDEIRO, António Menezes; MANUAL DE DIREITO BANCÁRIO; 2ª Ed; Livraria Almedina; Coimbra; 2001; pag.494
22 WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; pag.200.
11
O Objecto da transferência bancaria, seriam os fundos que neste sentido são
entendidos como a disponibilidade monetária de que um cliente de uma instituição bancaria
pode dispor, seja qual for a forma ou o suporte em que se encontrem representados. Os
fundos são reembolsáveis ou disponibilizáveis na medida em que as instituições bancarias
ficam vinculadas a entrega-los quando solicitadas, por via da entrega do numerário ou do
pagamento de um cheque dentre outros os meios passiveis de execução da transferência
bancaria.23
Nesta ordem de ideias, poderíamos constatamos que no esquema da transferência
bancaria actuam três entidades ou intervenientes:
O ordenador é a pessoa que dá a ordem de transferência.
O beneficiário é a pessoa que vai receber a transferência.
O executante é a instituição de crédito que efectua a ordem de transferência.
1.5.2 O Regime
Os bancos são muito solicitados pelos clientes para prestar os serviços de
transferência bancaria, por isso a sua credibilidade, quer junto do cliente quer junto do seu
correspondente, depende da maneira, da competência e da eficácia das suas regras. Sendo que
por regra geral os actos de transferência bancaria ou de fundos não estão sujeitos a forma
específica. Os bancos normalmente disponibilizam impressos aos seus clientes, para que estes
possam preencher de acordo com as operações de transferências que os clientes pretendam
realizar, ou disponibilizam meios informáticos (ATM24, centros telefónicos de atendimento
ao cliente), ou plataformas digitais (enderece electrónicos) para que se operem as ordens de
transferência mediante as pretensões dos clientes.
As ordens de transferências são executadas desde que haja fundos, podendo mesmo
concretizar-se exclusivamente por meios informáticos, com ou sem intermediação de cartões
e sem que o banqueiro seja chamado a manifestar qualquer vontade.25
23 WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; pag.20124 ATM - (abreviação de Asynchronous Transfer Mode) é uma tecnologia de rede baseada na transferência de pacotes relativamente pequenos chamados de células de tamanho definido. O tamanho pequeno e constante da célula permite a transmissão de dados pela mesma rede.25 Idem; pag.203
12
1.5.3 Classificação das Transferências Bancarias
Na óptica dos doutrinário Meneses Cordeiro e Teodoro Wat26 Existem diversas
classificações das transferência bancarias, porem, importa-nos destacar as seguintes:
Transferências "Conta-A-Conta" e "Entrega Para Terceiros"
- Numa transferência "conta-a-conta" - por débito da conta do ordenador, creditar-se-á a
conta do beneficiário.
- O ordenador pode, no entanto entregar a verba a ser transferida directamente na caixa.
Nesse caso está-se perante uma "entrega para terceiros".
Transferências Quanto ao Momento e a Conta a Creditar
- Pode ordenar-se uma transferência para ser realizada imediatamente; transferência que por
débito da conta do ordenador creditará de uma só vez uma única conta, a do beneficiário.
- Uma transferência pode ser diferida no tempo e determinar o crédito de uma ou de várias
contas; pode, ainda, o ordenador estabelecer que a sua conta seja num dia certo de cada mês,
por um certo montante, e não apenas de uma vez só - Transferência permanente.
Assim, o Banco procederá a um número limitado ou ilimitado de transferências,
conforme o que tiver sido decidido, em cada caso, pelo ordenador.
Transferências Intra e Inter-Bancárias
- Transferência Intra-bancária: a que se processa por débito duma conta num determinado
banco e crédito de outra conta no mesmo banco, estejam as contas no mesmo estabelecimento
ou em estabelecimentos diferentes.
- Mas uma transferência pode realizar-se também, entre bancos diferentes: é uma
transferência interbancária. É a que se processa por débito duma conta num determinado
banco e crédito doutra conta num banco diferente, encontre-se este na mesma praça do
ordenador ou em praças diferentes. (Praça-localidade onde se situa o estabelecimento
bancário).
26 CORDEIRO, António Menezes; MANUAL DE DIREITO BANCÁRIO; 2ª Ed; Livraria Almedina; Coimbra; 2001; pag.495WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda.; Maputo; 2011; pag.206
13
1.6Emissão de Cartão Bancário
1.6.1 Conceito:
É um instrumento de pagamento geralmente sob a forma de um cartão de plástico,
disponibilizado pela entidade emitente (o banco) ao titular da conta bancaria para que este,
através do acesso a uma rede de telecomunicações e com base na conta a que o cartão está
associado, adquira bens o serviços, efectue pagamentos, proceda a levantamentos de notas ou
realize outras operações. Estes constituem um elemento característico da actual prática
bancaria, na medida em que eles por parte vêm substituir o próprio cheque, possibilitando
mais a prática de operações mais diversificadas.27
Ele e emitido por conta de um banqueiro ou uma sociedade financeira ao titular de
uma conta bancaria que formalmente se mantem proprietário do mesmo que será identificado
pelo nome e por um numero. Comporta ainda uma margem magnética onde esses elementos
são inseridos com outros elementos de identificação (com relevo para código PIM28), e outros
como os relativos as operações que ele faculta ou das informações da sociedade financeira
eminente e por fim a assinatura do ciente proprietário do cartão.
1.6.2 O Contrato de adesão
Geralmente o contracto de adesão ao cartão bancário pressupõe a abertura de uma
conta na entidade bancaria designada por sociedade eminente. Este contrato deve conter todas
as normas que regulam as relações entre a entidade emitente e o titular do cartão, bem como
as condições gerais de utilização do cartão podendo constar em anexo as condições
susceptíveis de alteração mais frequente. O contrato deve ser lido completamente e com o
devido cuidado. São contratos obrigatoriamente redigidos em língua oficial de cada país, de
forma clara e facilmente compreensível e com apresentação gráfica que permita a sua leitura
por pessoas com acuidade visual média (ou seja, o tamanho da letra não deve dificultar a
leitura). Estes, consideram-se celebrados quando o titular recebe o cartão acompanhado de
cópia das condições contratuais por ele aceites.29
27 CORDEIRO, António Menezes; MANUAL DE DIREITO BANCÁRIO; 2ª Ed; Livraria Almedina; Coimbra; 2001; pag.51328 PIN – Abreviatura na lingue Inglesa (personal identification number), que no português significaria número pessoal de identificação.29 CORDEIRO, António Menezes; MANUAL DE DIREITO BANCÁRIO; 2ª Ed; Livraria Almedina; Coimbra; 2001; pag.514
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1.6.3 Modalidades dos Cartões Bancários
Conforme o doutrinário Menezes cordeiro30, os cartões bancários, de acordo com a função
principal que desempenham e a forma como os valores são movimentados, dividem-se em
três tipos:
- Cartão de débito
É um cartão que tem associada uma conta de depósitos à ordem. Quando o titular
utiliza este cartão para pagamentos, levantamentos de notas ou transferências, a conta de
depósitos é debitada pelo valor correspondente, o que significa que há uma redução do saldo
da conta por esse mesmo valor. Assim, este tipo de cartões caracteriza-se por desempenhar
essencialmente funções de débito.
- Cartão de crédito
É um cartão que tem associada uma conta-cartão e uma linha de crédito. Quando o
titular utiliza este cartão na função para a qual foi emitido, ou seja, para pagamentos ou
adiantamentos de dinheiro, está a beneficiar de um crédito concedido pela entidade emitente.
Assim, este tipo de cartões caracteriza-se por desempenhar essencialmente funções de
crédito.
- Cartão pré-pago
É um cartão que tem associado um montante pré-pago ou um saldo disponível no
próprio cartão, normalmente limitado a determinado valor. Quando é utilizado origina
reduções no valor pré-pago ou no saldo disponível. Este tipo de cartões caracteriza-se por
desempenhar funções pré-pagas.
Os cartões bancários, pelo modo como podem ser utilizados, dividem-se em dois
tipos:
- Cartão puro ou simples
É um cartão que desempenha exclusivamente um tipo de função que, de acordo com a
classificação anterior, pode ser de débito, de crédito ou pré-pago.
30 CORDEIRO, António Menezes; MANUAL DE DIREITO BANCÁRIO; 2ª Ed; Livraria Almedina; Coimbra; 2001; pag.516
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- Cartão dual ou misto
É um cartão que combina mais do que um tipo de função e, como tal, pode ter mais do
que uma conta associada. Tal é possível porque este tipo de cartões incorpora, no mesmo
cartão de plástico, um cartão de crédito e um cartão de débito ou um cartão de débito e um
cartão pré-pago ou um cartão de crédito e um cartão pré-pago. Em linguagem muito simples,
pode dizer-se que um cartão de crédito permite ao seu titular comprar hoje e pagar mais tarde;
um cartão de débito, comprar hoje e pagar hoje; um cartão pré-pago, pagar hoje e comprar
mais tarde; e um cartão dual ou misto, combinar várias das possibilidades anteriores.
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Conclusão
Apoios concluídos os estudos que contribuíram para a realização do presente trabalho,
concluímos que, na actividade dos bancos, a área mais estimulante e decisiva é a do direito
dos actos bancários, isto é, do direito da actividade das instituições de crédito e sociedades
financeiras, no seu relacionamento com os particulares, a que se chama direito bancário
material. Este é à partida, um direito contratual ou um direito de (determinados) contratos
bancários: ele submete-se ao direito das obrigações, com os desvios ditados pela natureza
comercial dos actos em causa e, ainda, com as especificidades propriamente bancárias, que
tenham aplicação.
Percebemos também que os actos bancários em especial, tem como pressuposto a
abertura de uma conta corrente, facto este que dará origem aos diversos actos bancários
consequentes as diversas relações que surgem entre os bancos e os clientes, a título de
exemplo encontramos o depósito e convenção de cheque.
Os actos bancários em especial, são verdadeiros contractos onde as partes envolvidas são o
banco e cliente que chegam a vários acordos de vontades, a um consenso, estabelecendo entre
si direitos e obrigações que tem como base o contracto da abertura da conta. Estes actos em
especial situam-se geralmente nas operações bancárias passivas onde os bancos se tornam
“devedores” de seus clientes.
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Bibliografia
ABUDO, José Ibrahimo; O DEPÓSITO BANCÁRIO; in temas de Direito Bancário; 1° .Vol;
1ª Edição; Maputo; 1999
AIRES do AMARAL, José Mota; EMISSÃO E USO DE CHEQUE EM MOÇAMBIQUE; in
temas de Direito Bancário; 1° Vol.; 1ª Edição; Maputo; 1999;
CORDEIRO, António Menezes; MANUAL DE DIREITO BANCÁRIO; 2ª Ed; Livraria
Almedina; Coimbra; 2001;
TELLES, Inocêncio Galvão; MANUAL DOS CONTRATOS EM GERAL; 4ªEdição;
Coimbra Editora; 2002;
WATY, Teodoro Andrade; DIREITO BANCÁRIO; VOL.I; W&W Editora Lda; Maputo;
2011
AIRES do AMARAL, José Mota; EMISSÃO E USO DE CHEQUE EM MOÇAMBIQUE; in
temas de Direito Bancário; 1°Vol; 1ª Edição; Maputo; 1999
LEGISLAÇÃO:
Constituição da República de Moçambique de 2004; Plural Editores; Maputo.
Lei nº 9/2004 de 21 de Julho (Lei das instituições de crédito e sociedades financeiras);
Código Comercial (Decreto-Lei n°2/2005, de 27 de Dezembro;
Decreto-Lei n°5/98, de 15 de Junho);
Aviso nº01/GBM/2003, de 26 de Fevereiro;
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