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João Neves/Victor Gaião Página 1 1 MANUAL DE EXECUÇÃO DA ESCAIOLA “ESCAIOL”

ESCAIOLA OU

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MANUAL DE EXECUÇÃO DA ESCAIOLA

“ESCAIOL”

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ESCAIOLA OU “ESCAIOL”

No intuito de ajudar a preservar uma técnica tradicional em vias de se perder,

existente em todo o país, mas com maior incidência na região Algarvia, resolvemos

criar este manual de apoio à execução.

A escaiola ou “escaiol”, como é referido pelos algarvios, é um acabamento usado em

paredes exteriores e interiores. Insere-se nos acabamentos à base de cal, pois este é o

único ligante empregue.

O seu emprego, hoje em dia, é muito limitado devido à falta de operários que o saibam

executar. Os que o sabiam fazer já se encontram em avançada idade e é através deles

que conseguimos recolher as informações técnicas para a execução deste tipo de

acabamento, que é uma pena vir a perder-se.

Esta forma de expressão já existe há muitos anos, desde a ocupação romana, na

península ibérica. A sua execução visa o isolamento dos paramentos e a decoração dos

mesmos. Os temas dessa decoração são em geral a imitação do fingido de pedras de

mármore e de arenitos.

A sua técnica de execução é muito similar à técnica da escaiola e dos fingidos de

mármore. A diferença prende-se essencialmente com os materiais empregues, pois na

sua execução são apenas utilizadas areia e terras naturais, cal apagada por imersão e

pigmentos naturais.

As suas principais anomalias são as infiltrações de águas na base (paredes) quer por

capilaridade subindo dos solos, quer por infiltrações, por deficiências das coberturas.

Encontram-se ainda bastantes exemplos em perfeito estado de conservação. Cremos

que os proprietários e as autarquias deviam tudo fazer para os manter e incentivar a

sua prática, como testemunha da arquitectura e da cultura regional.

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Ilustração 1 (Casa algarvia) - Paderne

Ilustração 2 (Casa algarvia) - Faro

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Os materiais

Os materiais empregues são:

A areia- deve ser limpa, isenta de matérias orgânicas, pedaços de árvores ou carvão. A

areia destinada às camadas finais da escaiola deve ser crivada muito fina peneiro de

0,5mm.

As terras- obtidas nas proximidades da obra devem ter alguma argila e crivadas muito

finas, com um crivo que permita apenas a passagem de grânulos de 0,5mm

(apresentar-se em estado de quase pó). É difícil descrever qual a mais indicada pois só

os muitos anos de experiencia nos permitem perceber se é a indicada ao trabalho a

realizar. É importante que a terra a empregar contenha uma quantidade de

aproximadamente 70% de argilas. Estas terras têm ainda influência na textura da base,

pois toma a cor da rocha de que estas provêm.

A cal- cal branca apagada e crivada com uma antecedência de alguns meses (quanto

mais tempo, melhor o desempenho). De preferência cal em pedra em vez de cal

micronizada.

Ilustração 3 (Apagar a cal)

Definição

A cal virgem, na verdade o óxido de cálcio, também conhecida como cal viva, quando

em contacto com água torna-se o que chamamos de cal hidratada, na reacção

CaO+H2O+Ca(OH)2. Este processo de transformação liberta muito calor, conhecido

popularmente como caldeamento.

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A cal é um material de baixo custo, disponível no mercado, e de larga utilização na

construção civil, sobretudo na pintura barata para produção de argamassa de

revestimento, assentamento de tijolos ou pintura.

Características

As características da cal são:

•Estado físico – sólido;

•Forma- pó fino;

•Cor- branca;

•Odor- Inodora;

•P e s o- 74,1 g/molécula;

•PH a 25ºC- 12,4;

•Densidade- 2,34 g/cm3;

•Solubilidade água, glicerol;

•Pureza- 90 %;

Em função de algumas propriedades que possui, devemos ter em conta algumas

características importantes para sua utilização:

•Endurece facilmente em contacto com o ar;

•Quando utilizada em argamassa de revestimento, não deve receber outra camada

superior antes de alguns dias para que endureça;

•Em geral encontrada no mercado em sacos de 5, 20, 25 e 40Kg;

•Deve ser apagada em bidões de chapa e crivada, de preferência, logo após o seu

caldeamento;

•A cal reduz a permeabilidade da argamassa, aumenta a sua plasticidade e a

trabalhabilidade;

•Diminui o custo da argamassa.

Ilustração 4 (Apagar a cal)

70%

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Para apagar a cal deve:

- Deitar água limpa no bidão até cerca de 70% da capacidade do mesmo;

- Deve escolher as pedras de maior dimensão e se necessário parti-las com um martelo

ou com um maço;

- Deve mexer continuamente e ir adicionando mais pedras de cal, até obter uma massa

homogénea.

Nota: Um bidão de 200 litros leva aproximadamente 4 a 5 arrobas de cal.

Ilustração 5 (Passar a cal)

CABAÇO

PASSADOR PREVIAMENTE MOLHADO

TABUINHAS

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Pigmentos- de preferência obtidos de terras naturais. São empregues as cores que se

podem obter e a sua combinação de acordo com o tipo de padrão a executar.

Ilustração 6 (Exemplos de alguns pigmentos)

Actualmente pode-se comprar-se na maior parte das drogarias especializadas.

Existem pigmentos naturais (orgânicos e inorgânicos) e sintéticos.

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O pó de jaspe (talco) industrial, obtido igualmente em drogarias, que serve para o

polimento final dos paramentos

As ferramentas

Ilustração 7 (Colher de folha)

Ilustração 8 (Colher de pedreiro de bico)

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Ilustração 9 (Talocha plástica)

Talocha de madeira

Ilustração 10 (Lisosa)

Ilustração 11( Colher de afagar)

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Ilustração 12 (Colher de brunir)

Ilustração 13 (Pinceletas)

Ilustração 14 (Esponjas naturais)

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Ilustração 15 (Lápis de carvão)

Ilustração 16 (Régua)

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Ilustração 17 (Baldes)

Ilustração 18 (Crivo)

A Técnica de execução da escaiola.

A escaiola é aplicada sobre um reboco previamente executado em argamassa à base

de cal. Não se deve utilizar sobre rebocos de cimento.

O reboco deve ter apenas o acabamento resultante do desempeno com a régua e já

estar suficientemente firme para que possa receber os barramentos.

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Ilustração 19 (Parede desempenada em reboco de cal)

Antes de iniciar a escaiola, deve prepara a massa de barramento da 1ª camada que

deve ser constituida por uma argamassa de cal e terra previamente testada e crivada,

por crivo de 0,5mm, nas proporções de um volume de cal para um volume de terra.

Esta massa deve ser calculada em função da área a revestir, para não ter de voltar a

fazer mais massa.

A sua aplicação pode ser efectuada com a talocha ou com a lisosa metálica, apertando

bem a massa e o seu desempeno feito com a talocha ou com a desempenadeira, para

que não tenha uma espessura superior a 1mm/2mm.

De seguida e após verificar que a camada já se encontra em fase de presa, preparar a

massa para a 2ª camada que deve ser constituida por um traço nas proporções de 60%

de cal e 40% de terra. Esta camada tem a finalidade de aproximar mais a massa da

base da fase do afagamento, ficando com o menor número de poros possível.

Esta camada não deve ser superior a aproximadamente 0,8mm, o que é possível visto

a densidade da pasta.

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Ilustração 20 (Exemplo de padrão possível)

Após a estabilização desta camada, deve aplicar um barramento utilizando apenas a

pasta de cal devidamente crivada e afagá-la com a lisosa ou com a colher de afagar de

estucador de forma a preencher todos os poros, que possam restar da camada

anterior, puxando-a muito bem.

Se esta camada não ficar devidamente compacta e lisa, pode aplicar nova passagem de

forma a regularizar a superfície.

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Ilustração 21 (Padrões possíveis)

Após a regularização de toda a superfície, com a ajuda de uma régua e de um nível,

deve marcar as imitações das juntas das pedras com um lápis de carvão.

De seguida, começa por preparar os pigmentos que escolheu para decorar o painel e

aplica-os sobre a superfície já regularizada com a ajuda de uma esponja natural, de um

pincel fino, de uma pena ou até com a espátula, em função do elemento decorativo.

Após esta primeira composição, e se pretender imitar veios da pedra ou limites de

placas, marca-os com um pincel fininho com a configuração que entender.

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Ilustração 22 (Exemplo de desenho possível)

Com uma boneca de pano, cheia de pó de jaspe e aplicando-a sobre a superfície,

polvilha a mesma e, com a ajuda da colher de brunir, afaga toda a superfície em

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movimento circulares apertando bem, até que toda a superfície fique suficientemente

polida e com a textura que imaginou.

Ilustração 23 (Padrões possíveis)

No desenvolvimento do revestimento é possível interromper o desenho da decoração

recorrendo-se ao traçado da imitação de placas de pedra, com a marcação no

paramento dos limites com o lápis de carvão e não deixando remates visíveis na

continuação no dia seguinte.

Há que ter em atenção as selecções das terras e manutenção dos traços das massas de

barramento, para que todo o paramento fique com a mesma textura de acabamento.

Seleccionando para o efeito as quantidades necessárias à execução do paramento, o

que não é muito difícil visto não serem necessárias grandes quantidades.

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Ilustração 24 (Padrões possíveis)

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Ilustração 25 (Padrões possíveis)

Ilustração 26 (Exemplo de imitação de mármores)