Escola NoVismo em Anisio Teixeira

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Texto de autoria de Anita Adas Gallo sobre o Escolanovismo e Anisio Teixeira

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O trabalho a ser desenvolvido integra-se ao projeto "Filosofia e Cincia no Discurso Educacional Renovador (Brasil: 1930-1960)", subsidiado pelo CNPq mediante bolsa de Produtividade em Pesquisa concedida ao orientador

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A NOO DE CIDADANIA EM ANSIO TEIXEIRAAnita Adas Gallo

A presente pesquisa insere-se no campo da Histria da Educao no Brasil, no perodo de 1930 a 1960, e busca contribuir para a compreenso do movimento renovador brasileiro atravs da anlise dos pressupostos democrticos educacionais de Ansio Teixeira. O intuito especfico da investigao compreender a idia de cidadania expressa no pensamento de Ansio Teixeira, entendendo cidadania como participao do indivduo nos destinos da sociedade, e considerando ser a educao o principal instrumento para alcanar essa meta.So analisados cinco textos de Ansio Teixeira, publicados em peridicos especializados da rea educacional, nas dcadas de 1930 e 1950: "Por que Escola Nova?" (Teixeira, 1930a) e "A Reconstruo do Programa Escolar" (Teixeira, 1930b), publicados na Revista Escola Nova, do Departamento de Educao do Estado de So Paulo, responsvel pela instruo pblica paulista; "O Processo Democrtico de Educao" (Teixeira, 1956) e "Variaes sobre o Tema da Liberdade Humana" (Teixeira, 1958), publicados na Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, peridico do INEP, e "Cincia e Arte de Educar" (Teixeira, 1957), publicado na Revista Educao e Cincias Sociais, do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Publicados por rgos representativos de difuso do iderio educacional do perodo, tais peridicos tiveram relevante papel formativo e informativo, repercutindo na discusso da problemtica educacional vigente.A anlise dos textos citados pretende oferecer subsdios para discutir a noo de cidadania, palavra muito utilizada atualmente mas de forma um tanto indefinida e vaga devido ao uso parcial do conceito em diversos setores da sociedade. No discurso atual, nota-se conotaes que muitas vezes ocultam interesses e omitem os reais fundamentos deste conceito. Assim, o discurso vigente pode estar veiculando expresses que apenas consolidam privilgios e simulam espao de atuao para as classes menos favorecidas. No mundo globalizado, a ordem a racionalidade econmica. Subordinada s leis de mercado, a sociedade vive hoje num emaranhado de valores individualistas, consumistas, no-ticos e aculturados. Perdeu-se a viso da coletividade, pr-requisito da noo de cidadania, ficando esta, ento, restrita ao direito de voto e aos direitos do consumidor. A investigao tem, como princpio, que o discurso educacional e as prticas por ele sugeridas no podem prescindir do esclarecimento quanto s implicaes polticas contidas no conceito de cidadania. Consideramos que esta noo encontra-se hoje em construo e que analisar Ansio Teixeira pode fornecer elementos para este processo, dada a sua nfase na formao de indivduos aptos a viver de forma plena em seu meio social. Acreditamos ser possvel encontrar no pensamento filosfico do autor grande contribuio para melhor entendimento da educao como caminho favorvel para o exerccio da cidadania.Para compreender o pensamento de Ansio Teixeira, devemos situ-lo no movimento educacional renovador brasileiro, cujas bases encontram-se no escolanovismo surgido em fins do sculo XIX, na Europa e nos Estados Unidos. Este movimento opunha-se s prticas pedaggicas tidas como tradicionais, visando uma educao que pudesse integrar o indivduo na sociedade e, ao mesmo tempo, ampliar o acesso de todos escola. O escolanovismo desenvolveu-se no Brasil no momento em que o pas sofria importantes mudanas econmicas, polticas e sociais. O acelerado processo de urbanizao e a expanso da cultura cafeeira trouxeram o progresso industrial e econmico para o pas, porm, com eles surgiram graves conflitos de ordem poltica e social, acarretando assim uma transformao significativa da mentalidade intelectual brasileira. No cerne da expanso do pensamento liberal no Brasil, propagou-se o iderio escolanovista.A Escola Nova brasileira foi marcada fundamentalmente pela inteno de socializar e normalizar os indivduos e pela democratizao do acesso escola. escola foi destinada a responsabilidade de reordenar a sociedade, atravs do ajustamento dos indivduos nova realidade, ou seja, s vicissitudes do mercado de trabalho e aos novos padres socioculturais. Estes traos tm permitido caracterizar o escolanovismo brasileiro como marcadamente guiado por intenes normalizadoras, racionalizadoras e disciplinadoras. Mas preciso reconhecer que tal movimento incorporou vrias vertentes do pensamento poltico e filosfico, sempre considerando a infncia como momento inicial do processo de transformao do indivduo em ser social. Segundo Cunha (1995, p. 48), O binmio indivduo-grupo - ou indivduo-sociedade - torna-se constante nas reflexes dos autores da poca. Ele aparece, via de regra, sugerindo que a escola, norteada por princpios de respeito vida social, no pode prescindir da compreenso dos atributos individuais do educando. Esse mesmo binmio tambm enunciado de modo alternativo, sugerindo que a educao, embora voltada para o aluno, como ser peculiar, no pode fugir s suas responsabilidades quanto organizao social.Esta inclinao socializadora do escolanovismo brasileiro traz a marca de certas concepes originrias de John Dewey (1859-1952), filsofo-educador norte-americano que, dando continuidade discusso vinda de Rousseau sobre a insero do indivduo na coletividade, visa a construo de uma sociedade democrtica. Dewey percebe a impossibilidade de uma sociedade democrtica instaurar-se espontaneamente. Por isso, acredita na educao como nico meio eficaz de alcanar a democracia, uma educao que respeite as caractersticas individuais de cada cidado, inserindo-o no seu grupo social como ser nico, mas parte integrante e participativa de um todo a ser construdo (Cunha, 2000).H em Dewey uma concepo de cidadania, ou seja, uma idia de participao do indivduo em sua comunidade e nessa concepo a escola tem papel fundamental. Ansio Teixeira, o mais importante seguidor das idias deweyanas no Brasil, v a sociedade em constante transformao, tanto social como econmica e politicamente. A escola, por sua vez, deveria formar indivduos aptos a refletir sobre e inserir-se nessa sociedade, considerando sua liberdade individual e sua responsabilidade diante do coletivo. Logo, o resultado da educao escolarizada deveria ser o indivduo integrado democracia, ou seja, o cidado democrtico. Teixeira v a sociedade como dinmica e em pleno curso de transformao. Ciente do momento propcio para a consolidao de uma sociedade mais justa e igualitria - a sociedade democrtica - prope no s a transformao dos conceitos bsicos educacionais, mas a reestruturao moral e social da sociedade. justamente nesse aspecto, e devido influncia de John Dewey, que Ansio Teixeira merece ser analisado como um pensador que se afasta daquela tendncia escolanovista racionalizadora e disciplinadora, acima mencionada. Para situar a noo de cidadania e o papel da escola em Ansio Teixeira, preciso, primeiramente, compreender a sociedade por ele almejada, pois acreditava ser a escola "uma rplica da sociedade a que ela serve" (Teixeira, 1930a, p. 15). Fundamentado em Dewey, Ansio Teixeira (1956, p. 7) prope uma sociedade em que haja o mximo de comum entre todos os grupos e, por isto, todos se entrelacem com idntico respeito mtuo e idntico interesse. As relaes entre todos os grupos e o sentimento de que todos tm algo a receber e algo a dar emprestam grande sociedade o sentido democrtico e lhe permite fazer-se o meio do desenvolvimento de cada um e de todos.Ora, numa sociedade democrtica no cabe um homem voltado exclusivamente para seus prprios interesses, portador de um saber esttico. O homem um ser social, um ser que desenvolver suas especificidades individuais, mas ciente de sua importncia e repercusso no mbito social. Porm, essa conscincia no inata, ela construda. Segundo Ansio, a escola local propcio para a construo desta conscincia social. Nela o indivduo adquire valores; nela h condies para formar o ser social. Como a escola visa formar o homem para o modo de vida democrtico, toda ela deve procurar, desde o incio, mostrar que o indivduo, em si e por si, somente necessidades e impotncias; que s existe em funo dos outros e por causa dos outros; que a sua ao sempre uma trans-ao com as coisas e pessoas e que saber um conjunto de conceitos e operaes destinados a atender quelas necessidades, pela manipulao acertada e adequada das coisas e pela cooperao com os outros no trabalho que, hoje sempre de grupo, cada um dependendo de todos e todos dependendo de cada um (Teixeira, 1956, p. 10).Ansio Teixeira sugere, ento, que a escola assuma seu papel formador, que formar o novo homem, um homem adequado ao mundo moderno industrializado rumo ao progresso. Mas este homem no o homem meramente disciplinado e automatizado. A escola deve ser agente da contnua transformao e reconstruo social, colaboradora da constante reflexo e reviso social frente dinmica e mobilidade de uma sociedade democrtica: o conceito social de educao significa que, cuide a escola de interesses vocacionais ou interesses especiais de qualquer sorte, ela no ser educativa se no utilizar esses interesses como meios para a participao em todos os interesses da sociedade... Cultura ou utilitarismo sero ideais educativos quando constiturem processo para uma plena e generosa participao na vida social (Teixeira, 1930b, p. 88-89).Logo, formar o ser social, para Teixeira, formar o homem democrtico, formar o cidado. Para alcanar tal objetivo seria preciso uma educao tambm democrtica. Percebe-se, ento, que a educao escolar para Ansio Teixeira, assim como para Dewey, considera o homem enquanto cidado ativo e participativo no seu grupo social, tema que nos remete ao desenvolvimento da cidadania, por meio da educao.Tendo como princpio que cidadania participao do indivduo nos destinos da sociedade, na qual o indivduo exercer seus direitos e deveres com responsabilidade e conscincia social, a educao pensada por Ansio Teixeira como processo para formar cidados, indivduos aptos a viver de forma plena - individual, poltica e socialmente - no seu grupo social.Assim como a democracia, a cidadania no nasce espontaneamente numa sociedade, sendo construda pela tomada de conscincia da coletividade. Cidadania implica direitos e deveres para com o grupo social. S ser cidado o indivduo que compreender-se como agente participativo e responsvel pela sociedade na qual se encontra. A escola campo frtil para o exerccio da cidadania, uma vez que a escola uma "micro-sociedade" (Teixeira, 1956, p. 6) de uma sociedade mais ampla. Na escola o indivduo deve ter condies para desenvolver sua capacidade de convivncia em grupo de forma harmnica, se o ambiente escolar for organizado para isto.

Referncias bibliogrficasCUNHA, M. V. A educao dos educadores: da Escola Nova escola de hoje. Campinas: Mercado de Letras, 1995.CUNHA, M. V. John Dewey, a outra face da Escola Nova no Brasil. In GHIRALDELLI JR, P. (org.). O que filosofia da educao?. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.TEIXEIRA, Ansio. Por que "Escola Nova"? Escola Nova, So Paulo, v. 1, n. 1, p. 8-26, out. 1930a._______________. A reconstruo do programa escolar. Escola Nova, So Paulo, v. 1, n. 2, p. 86-95, nov./dez. 1930b._______________. O processo democrtico de educao. Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, Rio de Janeiro, v. 25, n. 62, p. 3-16, abr./jun. 1956._______________. Cincia e arte. Educao e Cincias Sociais, Rio de Janeiro, v. 2, n. 5, p. 5-22, ago. 1957._______________. Variaes sobre a liberdade humana. Revista Brasileira de estudos Pedaggicos, Rio de Janeiro, v. 29, n. 69, p. 3-18, jan./mar. 1958.

Ttulo do TrabalhoNome do autor

Apresentao dos Objetivos da Pesquisa

Principais concluses da anlise desenvolvidaMetodologia de anlise das fontesPrincipais fontes consultadas