ESCOLA SERIADA X ESCOLA ORGANIZADA EM …bdm.unb.br/bitstream/10483/9155/1/2014_HeloisaRosaDaviDiniz.pdf · Heloísa Rosa Davi Diniz Professor-orientador Erisevelton Silva Lima

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  • Ministrio da Educao

    Centro de Estudos Avanados Multidisciplinares

    Centro de Formao Continuada de Professores

    Secretaria de Educao do Distrito Federal

    Escola de Aperfeioamento de Profissionais da Educao

    Curso de Especializao em Gesto Escolar

    ESCOLA SERIADA X ESCOLA ORGANIZADA EM CICLOS: DESAFIOS E

    POSSIBILIDADES

    Helosa Rosa Davi Diniz

    Professor-orientador Erisevelton Silva Lima

    Professora-orientadora Mestre Sileda Maria Holanda de Sousa Almeida

    Braslia (DF), Julho de 2014

  • Helosa Rosa Davi Diniz

    ESCOLA SERIADA X ESCOLA ORGANIZADA EM CICLOS: DESAFIOS E

    POSSIBILIDADES

    Monografia apresentada para a banca

    examinadora do Curso de Especializao em

    Coordenao Pedaggica como exigncia

    parcial para a obteno do grau de

    Especialista em Gesto Escolar sob

    orientao do Professor-orientador Dr.

    Erisevelton Silva Lima e da Professora

    monitora-orientadora Mestre Sileda Maria

    Holanda de Sousa Almeida.

  • TERMO DE APROVAO

    Helosa Rosa Davi Diniz

    ESCOLA SERIADA X ESCOLA ORGANIZADA EM CICLOS: DESAFIOS E

    POSSIBILIDADES

    Monografia aprovada como requisito parcial para obteno do grau de Especialista em Gesto Escolar pela seguinte banca examinadora:

    Dr. Erisevelton Silva Lima

    UnB/SEEDF

    (Professora-orientadora)

    Mestre Sileda Maria Holanda de Sousa Almeida

    UnB/SEEDF

    (Monitora-orientadora)

    Profa. Mestre Abigail do Carmo Levino de Oliveira UnB/SEEDF

    (Examinadora externa)

    Braslia, 26 de julho de 2014

  • Dedico esse trabalho a minha famlia:

    companheiros de uma vida.

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus colegas de trabalho pela

    efetiva colaborao durante todo o ano de

    2013.

    E a todos aqueles que disponibilizam

    seus trabalhos para leitura e consulta na

    web.

  • As escolas: imensas oficinas, ferramentas de todos os tipos, capazes dos maiores milagres. Mas de nada valem para aqueles que no sabem sonhar. Os profissionais da educao pensam que o problema da educao se resolver com a melhoria das oficinas: mais verbas, mais artefatos tcnicos, mais computadores (ah! O fascnio dos computadores!). No percebem que no a que o pensamento nasce. O nascimento do pensamento igual ao nascimento de uma criana: tudo comea com um ato de amor. Uma semente h de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento o sonho. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intrpretes de sonhos.

    (ALVES, p.93, 2000)

  • RESUMO

    Esse trabalho objetivou apresentar duas maneiras de organizao do ensino: sries

    e ciclos, no intuito de apreciar as contribuies que cada uma delas tem a oferecer

    para a educao, bem como as dificuldades encontradas para que cada uma delas

    fosse implantada. Para mapear essas contribuies e dificuldades foram

    consideradas as opinies dos professores atuantes nas salas de aula. O cenrio

    escolhido foi uma escola pblica do Distrito Federal onde coexistem os dois

    primeiros ciclos para as aprendizagens, no ano de 2013 por ter sido o ano da

    implantao (voluntria) dos ciclos para II Bloco dos Anos Iniciais. A pesquisa seguiu

    uma abordagem qualitativa para atingir os seguintes objetivos: Avaliar a contribuio

    do sistema de ensino organizado em sries para a educao ao longo de sua

    existncia; Analisar a proposta de organizao em ciclo de aprendizagem; Comparar

    as duas formas de organizao de ensino, A observao de campo, a entrevista

    semiestruturada e o questionrio foram utilizados como instrumentos de coleta de

    dados. O referencial terico foi construdo luz de autores como: (SALES, 2009),

    (MAINARDES, 2009), (FREITAS, 2004), (PARENTE, 2010), (AUGUSTO, 2010),

    (REVELAT, 1999), (MIRANDA, 2005), (ALAVARSE, 2009), JACOMINI, 2009;

    PEREIRA, 2008) e (GOMES, 2005), entre outros. Os resultados da pesquisa

    revelaram que, apesar da organizao em ciclos no ser novidade, muitos

    professores da escola observada ainda no conhecem sua proposta na ntegra; os

    professores conhecem bem a organizao seriada e, grande parte, considera sua

    aplicao benfica para a educao; Tanto professores colaboradores, quanto

    estudiosos da educao pesquisados acreditam que qualquer poltica pblica para

    educao deve vir acompanhada de investimentos em recursos humanos e

    estruturais.

    PALAVRAS CHAVE: Organizao do ensino em sries. Organizao do ensino

    em ciclos. Contribuies. Desafios.

  • ABSTRACT

    This work aimed to present two ways of organization of teaching: grades and cycles.

    In order to appreciate the contributions that each has to offer for education, as well

    as the difficulties encountered so that each one was deployed. To map these

    contributions and difficulties were considered the opinions of scholars of education

    and acting teachers in the classrooms. The scenario chosen was a public school in

    the Federal District where the first two cycles to learning in the year 2013 as the year

    of implementation (volunteer) of the cycles for the Block II early years, III for the

    Cycle final years of elementary school and Semestralidade for the high school in D.F.

    The search followed a qualitative approach to achieve the following objectives: 1)

    Evaluate the contribution of the education system arranged in series to the lifelong

    learning of its existence, through published documents and the experience of

    teachers of the public education network of the d.f. 2) Analyze the proposed

    organization in learning cycle, through documents and studies submitted by

    intellectuals from the education to verify the possibility of its immediate application. 3)

    Compare the two forms of educational organization, aiming to list what each has to

    favors and enumerate its difficulties. Field observation, the semi-structured interview

    and the questionnaire were used as data collection instruments. Some official

    documents, also served as a source of information. To begin with there was a brief

    historical account on the Organization of teaching and organization in serial cycles.

    The theoretical framework was built in the light of such authors as: (SALES, 2009),

    (MACHARIA, 2009), (FREITAS, 2004), (relative, 2010), (AUGUST, 2010),

    (REVELAT, 1999), (MIRANDA, 2005), (ALAVARSE, 2009), JACOMINI, 2009;

    PEREIRA, 2008) and (GARCIA, 2005), among others. The survey results revealed

    that, despite the Organization in cycles is not new, many school teachers observed

    do not yet know its proposal in its entirety; teachers know the serial organization and

    large part, considers its application beneficial for education; Both teachers

    employees, as scholars of education surveyed believe that any public policy for

    education must be accompanied by investment in human and structural resources.

    Keywords: organization of teaching. Organization of teaching in cycles.

    Contributions. Challenges.

  • SUMRIO

    JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................. 14

    PROBLEMA .................................................................................................................................... 15

    HIPTESE...................................................................................................................................... 15

    OBJETIVO GERAL ....................................................................................................................... 15

    OBJETIVOS ESPECFICOS ....................................................................................................... 15

    I - BREVE HISTRICO DA EDUCAO .................................................................................. 16

    1- Possibilidades de organizao do sistema de ensino ........................................................ 17

    1.1- Organizao em sries ..................................................................................................... 17

    1.2 Organizao em ciclos ........................................................................................................... 18

    1.2.1- Polticas de no reprovao ............................................................................................. 20

    1.2.2 Modalidades da escola organizada em ciclos ................................................................ 25

    II. DIFERENAS MARCANTES ENTRE CICLOS E SRIES ............................................... 27

    III - METODOLOGIA ..................................................................................................................... 29

    IV- A ORGANIZAO DA ESCOLA SOB A TICA DO OBSERVADOR ........................... 30

    ANLISE DOS RESULTADOS ................................................................................................... 47

    BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 52

  • INTRODUO

    A cidade em que a pesquisa foi realizada surgiu a partir da modificao de

    uma agrovila, que foi cedida para produtores de hortifrutigranjeiros, em rea urbana

    com condomnios fechados, loteamentos e invases. H uma diviso interna na

    cidade, pois claramente se percebe as diferenas socioeconmicas dentro da regio

    atualmente considerada XXX Regio Administrativa do Distrito Federal. Uma parte

    maior formada por condomnios fechados e grandes construes. A parte menor

    caracterizada por pequenas construes, muitas reas so invadidas, cedidas ou

    alugadas. H lotes em que habitam at dez famlias. Raros so aqueles que

    possuem sua prpria casa demonstrando maior instabilidade.

    Em consequncia desse aumento populacional surgiram novas demandas

    estruturais dentre elas a necessidade de escolas. Havia apenas uma distava

    aproximadamente 14 quilmetros do local menos privilegiado da regio. As crianas

    dessa rea tinham que se deslocar a p at as escolas de Taguatinga. Houve ento,

    uma mobilizao da populao local orientada pela Presidente da Organizao

    Social, a Sra. Elisabeth Alves Medeiros. Alguns polticos foram convidados para

    debates com a comunidade e, no local, tomavam cincia das necessidades vividas

    pelos habitantes. Em 2009 surgiu o resultado desse esforo conjunto, comeou a

    construo de uma escola em uma rea aberta onde os moradores improvisavam

    um campo de futebol. No segundo semestre desse mesmo ano foi inaugurada a

    Escola Classe Renascer para atender a Educao Infantil e as sries/anos iniciais

    do Ensino Fundamental.

    A Escola Classe Renascer conta em suas instalaes com 15 salas, das

    quais 14 so utilizadas como salas de aula e uma foi destinada para laboratrio de

    informtica que est equipada com 17 computadores uma impressora e dois

    aparelhos de ar condicionado. Essas salas so divididas entre trs blocos, contendo

    cinco salas cada. A escola conta ainda com um bloco pedaggico-administrativo

    onde funciona a secretaria, o administrativo, a sala dos professores (subdividida

    para uso da mecanografia), a direo e a sala de leitura (subdividida para sala de

    reforo). H outro bloco com trs salas destinadas ao atendimento dos alunos que

    necessitam de um apoio diferenciado para aprendizagem: SOE, SEAA e Sala de

    Recursos. No h espao definido para a coordenao pedaggica, visto que todos

    os espaos foram utilizados para acolher a demanda dos alunos da comunidade. A

    escola possui uma cantina, um depsito de merenda, uma sala para os servidores e

    dois pequenos depsitos para armazenamentos gerais.

    Como opes de espao para uso coletivo, existem um parquinho, um ptio

    coberto e uma quadra de esportes, coberta recentemente, um banheiro masculino e

    um feminino para servidores, um banheiro para professores, um banheiro para

    professoras, um banheiro com 5 boxes para alunos, um banheiro com 5 boxes para

    alunas e um banheiro para portadores de necessidades especiais.

  • Para atender as demandas administrativas a escola possui dois

    computadores e uma impressora na secretaria e um computador e uma impressora

    na sala do administrativo. Para dar apoio ao trabalho didtico-pedaggico existem

    duas multifuncionais (uma para pequena demanda e outra para grande escala), dois

    computadores, duas duplicadoras e um projetor de multimdia. Esse equipamento

    fica localizado na sala dos professores. Tanto os computadores e impressoras,

    tanto os que servem parte administrativa quanto os que atendem ao pedaggico,

    esto conectados a uma rede wi-fi. As salas de aula esto equipadas com um

    aparelho de TV, um DVD e um ventilador, alm de armrios para as professoras.

    A Escola Classe Renascer oferta o ensino regular nos dois primeiros ciclos

    da educao bsica, assim discriminados e divididos:

    I Ciclo - Educao Infantil cinco turmas 129 alunos

    1 Perodo (4 anos): 2 turmas sendo uma no matutino e uma no vespertino;

    2 Perodo (5 anos): 3 turmas- sendo duas no matutino e uma no vespertino;

    II Ciclo I Bloco (BIA) 12 turmas 315 alunos

    1 Ano: 4 turmas sendo uma no matutino e trs no vespertino;

    2 Ano: 4 turmas duas no matutino e duas no vespertino;

    3 Ano: 6 turmas- trs no matutino e trs no vespertino;

    II Ciclo II Bloco 8 turmas 216 alunos

    4 Ano: 4 turmas duas no matutino e duas no vespertino;

    5 Ano: 4 turmas duas no matutino e duas no vespertino.

    As seis turmas de 3 ano foram reduzidas para atender aos alunos com

    necessidades especiais de aprendizagem (ANEE); Uma turma de 1 ano vespertino

    foi adaptada (10 alunos e duas professoras regentes) para receber um aluno

    portador de cardiopatia grave; O nmero de alunos passvel de variao

    dependendo da rotatividade;

    A escola conta com um quadro de profissionais misto entre efetivos,

    contratados temporariamente e terceirizados.

    Equipe gestora: uma diretora, uma vice-diretora, uma secretria escolar e um

    supervisor administrativo.

    Carreira magistrio: 27 professoras regentes 20 efetivas e 7 contratadas

    temporariamente; 5 professoras readaptadas atuando na sala de leitura; um

    professor readaptado atuando no laboratrio de informtica; duas professoras

    readaptadas atuando como apoio de direo.

  • Carreira assistncia: 2 tcnicos de gesto escolar na secretaria; uma agente de

    portaria; um funcionrio cedido por outro rgo para portaria.

    Equipe de apoio pedaggico: trs coordenadoras; uma orientadora educacional;

    uma pedagoga; uma psicloga; uma professora para a sala de recursos.

    Terceirizados: 4 vigilantes; duas merendeiras; 7 auxiliares de servios gerais.

    Um questionrio socioeconmico realizado pela escola revela que muitas

    dessas famlias so assistidas pelo governo e/ou pelas igrejas. A vida social e o

    lazer so bastante limitados restringindo-se, salvo algumas excees, s atividades

    promovidas pela escola, igrejas e administrao local. Esse mesmo levantamento do

    perfil socioeconmico - feito por meio de questionrio enviado para ser respondido

    em casa mostra que a renda dessas famlias varia entre menos de um (01) at trs

    (03) salrios mnimos em pelo menos 84% das famlias que devolveram os

    questionrios (40,73%).

    Tendo em vista esse resultado a escola conclui que o lazer das crianas fora

    da escola est limitado s brincadeiras de rua e aos programas televisivos. Diante

    dessas evidncias a escola tem buscado parcerias para promover aes sociais

    possibilitando a insero da famlia na escola, alm de proporcionar momentos de

    lazer e cultura.

    Uma pesquisa socioeconmica em territrios de vulnerabilidade social no

    Distrito Federal feita pela DIEESE em 2011 mede em 29,6% a vulnerabilidade social

    na Regio Administrativa de Vicente Pires. Mas, como vimos anteriormente, essa

    Regio apresenta uma diviso clara do ponto de vista socioeconmico. A Vila So

    Jos, onde a escola est localizada, considerada uma rea de risco social com

    altos ndices de violncia constatados pelas ocorrncias policiais, observados nos

    noticirios e, a escola tem a mais lamentvel das fontes de informaes: o relato das

    crianas. Entre os problemas mais corriqueiros encontramos o consumo e o trfico

    de drogas ilcitas e assassinatos. Apesar dessas constataes externas, at o

    momento, no h queixas de atitudes violentas ou uso de drogas dentro da escola.

    As crianas so afetivas e respeitosas. Aceitam e participam de todas as atividades

    propostas.

    Assim como em muitas outras escolas do Distrito Federal, a Escola Renascer

    encontra dificuldade de interao escola/famlia. Muitos ainda no conseguiram

    entender a importncia de sua participao nas etapas de planejamento, execuo e

    avaliao das aes da escola. Talvez seja esse o grande desafio dos educadores

    de nossa poca: definir, ou melhor, unir os papis da famlia e da escola

    proporcionando a vivncia da cidadania no espao escolar.

  • Os projetos

    A Escola Classe Renascer sustenta sua prtica educativa em quatro pilares

    bsicos: tica e Cidadania; Meio Ambiente; Diversidade Cultural e Convivncia

    Fraterna em Sociedade. Esses eixos esto divididos em bimestres e todos os

    projetos esto orientados por eles:

    Semeando valores: Cuida de mim, Respeito s diferenas, Bullying na escola, no;

    Festa regional popular (Festa Junina), Dona Terra, rvore nossa de cada dia,

    Africanidades, Melhor leitor... Futuro escritor, Multiplicadores do saber, Encontro com

    a famlia.

    As turmas de 1 ano contam com um projeto exclusivo de alfabetizao: De

    Histria em histria... Vou lendo o mundo.

    Todos os dados referentes escola esto baseados no ano letivo de 2013.

  • 14

    JUSTIFICATIVA

    A Secretaria de Estado de Educao do Distrito Federal lanou como

    proposta de trabalho para o ano letivo de 2013 a reorganizao do sistema de

    ensino em ciclos de aprendizagem. A implantao desse sistema causou polmica

    logo de incio, pois contrariou o Conselho de Educao pelo seu imediatismo sem

    debate junto comunidade escolar. O Ministrio Pblico foi acionado para resolver o

    impasse. Diante da situao deu seu parecer favorvel necessidade de ouvir a

    opinio dos pais e dos profissionais da educao antes da mudana acontecer.

    Essa polmica gerada em torno da forma de organizao de ensino nos faz

    refletir em algumas questes, at ento, pouco valorizadas pela maioria dos

    cidados comuns que formam as comunidades escolares: os altos ndices de

    reprovao, a evaso escolar e a dificuldade de aprendizagem. Esses problemas

    foram considerados normais por grande parte da sociedade que, de fato acredita, ou

    quer acreditar, que as causas das sucessivas reprovaes so causadas pelo

    desinteresse do aluno, pela sua falta de disciplina, porque ele no tem capacidade

    ou, ainda, porque a famlia no o acompanha.

    A SEDF, nos ltimos meses do ano de 2013, organizou conferncias pblicas

    consultivas sobre ciclos e semestralidades, nas diversas Coordenaes Regionais

    de Ensino do DF, no intuito de encaminhar propostas de aes para sua

    reformulao, implantao, acompanhamento e avaliao. Para subsidiar esses

    debates, as escolas tiveram oportunidade de discutir, no espao destinado s

    coordenaes coletivas, preencher e enviar um quadro-sntese dessa conferncia

    contendo espao para o registro das impresses dos segmentos quanto aos pontos

    de avano, as fragilidades, sugestes para reformulao, implantao,

    acompanhamento e avaliao das diversas dimenses e aspectos que compem a

    rotina escolar.

    Aps vrias conversas entre representantes da educao e do Conselho de

    Educao, foi publicada no DODF de 09 de dezembro de 2013 a Portaria N 285 que

    regulamenta o Projeto de Organizao Escolar em Ciclos para as Aprendizagens na

    Educao Infantil e Ensino Fundamental/ Anos Iniciais, aprovado em votao

    unnime pelo Conselho de Educao do DF. Sua implantao dever ser gradativa

    e por adeso, como no poderia deixar de ser em poca de gesto democrtica nas

    escolas. Posteriormente em 17 de dezembro o Conselho aprovou, tambm por

    unanimidade, o projeto para o terceiro ciclo formado pelos anos finais do ensino

    fundamental.

    Apesar dessa polmica gerada em torno do sistema de ciclos e

    semestralidade ter ocupado a mdia por diversas vezes, no houve preocupao

    quanto a esclarecer a proposta como um todo. Portanto, ainda hoje, comum

    encontrar quem no compreenda o que significa esse ousado passo dado rumo

  • 15

    transformao do conceito que se tem de educao enraizado h dcadas na

    cabea de todos ns. Dessa forma, esse trabalho tem como propsito aprofundar

    essa reflexo, na tentativa de elucidar o que vem a ser a organizao do ensino em

    sries e a organizao do ensino em ciclos de aprendizagem, fornecendo meios

    para que se possa avaliar os benefcios de cada uma para a educao pblica do

    DF.

    PROBLEMA

    Qual a melhor forma para garantir aprendizagem: ciclos ou sries?

    HIPTESE

    Para que qualquer iniciativa voltada para a melhoria da qualidade de ensino

    tenha xito necessrio uma caminhada longa rumo preparao do profissional e

    uma reestruturao na infraestrutura e recursos humanos. O trabalho realizado at o

    momento quanto formao profissional no surtiu o efeito desejado em muitos dos

    profissionais da educao que ainda acreditam que a classificao a melhor

    maneira de garantir o sucesso da educao.

    OBJETIVO GERAL

    Elucidar as prticas pedaggicas empregadas na organizao do ensino em

    sries e em ciclos de aprendizagens, por meio de estudo da literatura e depoimentos

    colhidos da prtica docente, para favorecer o entendimento da contribuio que

    ambos podem dar educao.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    Avaliar a contribuio do sistema de ensino organizado em sries para a

    educao ao longo de sua existncia, por meio de documentos publicados e

    da experincia de professores da rede de ensino pblico do D.F.

    Analisar a proposta de organizao em ciclo de aprendizagem, por meio de

    documentos e estudos apresentados por intelectuais da educao para

    verificar a possibilidade de sua aplicao imediata.

    Comparar as duas formas de organizao de ensino, visando listar o que

    cada uma tem de favorvel e enumerar suas dificuldades.

  • 16

    REFERENCIAL TERICO

    I - BREVE ANLISE DA EDUCAO

    Antes da Antiguidade Clssica a educao era informal e servia para transmitir

    os padres culturais de uma gerao outra por questes de sobrevivncia. Apenas

    com o advento da Civilizao Grega a educao formal passou a ser uma

    preocupao e, desde ento, um espao que privilegie a aprendizagem tornou-se

    uma necessidade. Essa educao privilegiada era destinada apenas classe

    dirigente ou para servir aos propsitos dessa. O instrutor era um filsofo cuja funo

    era ensinar artes, poltica, aritmtica e filosofia, visto que aos dirigentes no

    interessava ligar ensino profisso ou ao trabalho. (SALES, 2009). Na Idade Mdia,

    a educao ficava a cargo dos religiosos que assumiram o papel de educadores na

    tentativa de atrair os fiis, e para dedicar-se instruo da elite. Logo os benefcios

    da leitura e da escrita comearam a atrair novos adeptos como os polticos, os

    comerciantes e os grandes proprietrios rurais. Depois de algum tempo, frequentar

    uma escola passou a proporcionar prestgio dentro da sociedade. (SALES, 2009).

    A transio do modo de produo feudal para o capitalista trouxe consigo a

    necessidade de instrumentalizar os trabalhadores para esse novo sistema de

    produo. (MAINARDES, 2009). Era preciso instruir a classe operria para lidar com

    as mquinas. Para esse propsito, tomaram-se por base os modelos educacionais

    militares e religiosos, visto que os que detinham o poder necessitavam de um tipo

    especfico de mo-de-obra: o subordinado. A escola, mais uma vez, foi uma arma na

    mo dos poderosos para subjugar os trabalhadores, que aceitaram sua posio

    subordinada s regras da classe dominante. (SALES, 2009; FREITAS, 2004).

    Apesar dessas inovaes, somente no sculo XVIII, com a ebulio das

    ideias iluministas, o ensino deu seus primeiros passos rumo universalizao e

    assumiu a funo social de instruo. (MAINARDES, 2009; REVELAT, 1999). Na

    Frana, coube aos filsofos iluministas organizar o sistema de educao pblica.

    Essa primeira organizao defendia princpios at hoje respeitados como a

    gratuidade, a laicidade e a obrigatoriedade. O ensino deveria compor-se de quatro

    graus: primrio, secundrio, os institutos e os liceus; devendo todos os graus ser

    gratuitos, porm admitindo-se que, a princpio, o Estado poderia universalizar

    apenas o grau primrio. (MAINARDES, 2009). Outros seguiram os passos da Frana

    e quando o ensino tornou-se obrigatrio na maioria dos pases, comearam a surgir

    problemas como a falta de vagas, os altos ndices de reprovao, a evaso escolar

    e as dificuldades de aprendizagem. Tudo isso pode ser explicado pela rapidez que

    uma escola elitizada destinada a poucos teve que tornar-se um espao democrtico

    sem uma preparao necessria. (REVELAT, 1999).

    Assim, como na Europa, os religiosos foram os primeiros professores no

    Brasil (os jesutas) atendendo aos seus prprios propsitos e disseminando a cultura

  • 17

    elitista de subordinao das massas. Somente quatro sculos depois, no incio do

    sculo XX, os intelectuais brasileiros protagonizaram discusses mais profundas

    sobre a educao brasileira, preconizando movimentos que criticavam a educao

    tradicional e buscavam a universalizao do ensino no pas. (SALES, 2009).

    1- Possibilidades de organizao do sistema de ensino

    1.1- Organizao em sries

    As transformaes sociais e histricas so fatores que determinam o modo de

    organizao das escolas. (PARENTE, 2010; AUGUSTO, 2010). Porm, alguns

    pontos esto marcadamente presentes na trajetria da educao, como o caso da

    seleo, por exemplo. Na Idade Mdia ela j estava presente. No era feita por meio

    de exames que comprovassem aprendizado num determinado tempo ou contedo

    pr-estabelecidos. No entanto, ao aprendiz era permitido permanecer no espao

    destinado ao aprendizado at que seus recursos financeiros o sustentassem,

    somente os mais abastados poderiam ficar pelo tempo que quisessem ou at atingir

    suas prprias expectativas. Com o passar dos anos, a escola vai caminhando rumo

    organizao que conhecemos hoje. Num primeiro momento, os cursos livres foram

    sendo substitudos pela graduao dos estudos em graus e classes que

    funcionavam em um mesmo espao. Os grupos se reuniam em pontos diferentes da

    mesma sala. Para cada classe havia um professor.

    Na sequncia desse processo evolutivo, surge a delimitao dos tempos

    para as aprendizagens e dos espaos para agrupamento dos alunos. . (PARENTE,

    2010). No final do sculo XVI os tempos de aprendizagem j estavam definidos em

    anos, dias e horas e os contedos pr-estabelecidos para serem cumpridos dentro

    desse programa anual. Ao final de cada perodo, os alunos deveriam ser submetidos

    a exames seletivos para demonstrar ter aproveitado esse tempo.

    Vale lembrar que a organizao escolar, como a concebemos hoje, com

    delimitaes de tempo: ano letivo, horrio de aulas, calendrio escolar, programas

    de ensino rgidos e avaliaes seletivas so herana da modernidade e guardam em

    sua estrutura muito da influncia dos jesutas, com sua Companhia (sc. XVI), e de

    Comnio (sc. XVII), com sua Carta Magna. (PARENTE, 2010). De certa forma, foi

    da que surgiu a organizao em sries ou seriada que se caracteriza pela definio

    do tempo escolar em ano letivo, pela diviso dos contedos em sries, pela

    concepo de educao pautada na aquisio de conhecimentos e formao de

    habilidades, pela avaliao quantitativo-seletiva e pelo papel do professor de

    transmitir conhecimento.

    Nessa estrutura, os alunos so agrupados em sries anuais de acordo com o

    nvel de desempenho de cada um. Os conhecimentos so divididos em contedos

  • 18

    escolares adequados a cada srie e devendo ser ministrado por um professor no

    decorrer de um ano letivo. Ao final desse perodo, os alunos passam por uma

    avaliao quantitativa para demonstrar o quanto aprenderam e se esto aptos a

    frequentar a srie seguinte ou no. Para aqueles que no conseguiram aprovao

    haver uma nova chance no ano seguinte cursando a mesma srie. Eles sero

    agrupados com outro grupo de alunos que estiverem no mesmo nvel de

    conhecimento que eles, desconsiderando a idade. (AUGUSTO, 2010; MIRANDA,

    2005).

    Essa caracterstica de segregar aqueles considerados inaptos ou incapazes

    gerou no sistema educacional brasileiro problemas graves como os altos ndices de

    reprovao, a evaso escolar e a distoro de idade-srie, que se arrastam h

    dcadas, sem soluo. (AUGUSTO, 2010; MIRANDA, 2005; PARENTE, 2010).

    Apesar disso, h uma crena de que a escola sem essa rigidez no seria capaz de

    cumprir sua funo social de transmitir conhecimento.

    H uma concordncia de que a culpa pelo fracasso escolar do aluno que

    no se esfora o suficiente ou no capaz. Uma ferramenta poderosa nesse

    processo educacional seletivo a avaliao que, apesar de, explicitamente, ser um

    meio efetivo de verificao de aprendizagem, implicitamente oferece ao professor

    um instrumento de controle sobre os alunos. Freitas (2004) concluiu que O poder do

    professor se estabeleceu a partir do controle da avaliao do aluno.

    As opinies dos autores convergem para uma nica direo: a organizao

    de ensino tal qual ela existe hoje, com seu espao delimitado em salas de aula, com

    carteiras enfileiradas uma atrs da outra, ptio para recreao e blocos

    administrativos; tempos para as aprendizagens definidos em anos, semestres,

    bimestres, dias, horas e minutos; programas institucionais rgidos e avaliao

    seletiva fruto de um contexto histrico-social diferente do que vivemos hoje e

    necessita urgentemente ser adequado. Poucas instituies, na histria da evoluo

    humana, mantm princpios to rgidos e primitivos como a escola. Todos percebem

    que uma reforma educacional de base urgente, porm, h de se cuidar para que

    no seja inconsequente nem utpica, menos ainda precipitada para no se correr o

    risco de apenas substituir os meios de excluso.

    1.2 Organizao em ciclos

    Aps a constatao realista de que o modelo educacional vigente

    atualmente, na maioria das escolas brasileiras, no atende ao contexto social vivido

    por ns h muito tempo, fez-se necessrio voltar os esforos em busca de uma

    soluo possvel. o que os estudiosos da educao vm fazendo h dcadas. Os

    caminhos apontam na direo de um sistema de ensino que promova a incluso e

    ponha suas expectativas na construo da aprendizagem, garantindo, dessa forma,

    a igualdade de resultados.

  • 19

    O compromisso com a igualdade de oportunidades no acarreta, nem lgica nem politicamente, compromisso com a igualdade de resultados, que deve ser o grande objetivo de uma escola que se impe como necessria socialmente. (ALAVARSE, 2009, p. 37).

    A organizao em ciclos caminha em direo contrria seriao, que

    privilegia um grupo de alunos (a minoria) que possuem as mesmas condies para

    aprendizagem e seguem juntos em detrimento daqueles que, por diversas razes,

    no conseguem acompanhar esse grupo. O objetivo dos ciclos proporcionar

    oportunidade para que todos avancem juntos. Para que isso acontea, h de se

    respeitar a individualidade de aprendizagem de cada um, considerando as

    influncias sociais s quais esto submetidos, e conduzindo o processo pedaggico

    em uma rotina de planejamento, avaliao dos resultados e redirecionamento. Os

    tempos escolares tambm devem ser ampliados para que os alunos no estejam

    obrigados a mostrar rendimento a cada fim de ano, tendo a possibilidade de avanar

    no seu prprio ritmo dentro de um perodo maior. No decorrer desse tempo, devem

    ser propostas aes interventivas no sentido de auxiliar aqueles que apresentarem

    maiores dificuldades. (JACOMINI, 2009; PEREIRA, 2008).

    A desconstruo dessa escola erguida sobre o alicerce da transmisso de

    conhecimento para erguer outra centrada na aprendizagem no tarefa fcil e exige

    muito planejamento e prudncia. Desde o incio do sculo XX as autoridades

    polticas e educacionais preocupam-se com o rumo da educao no pas, pois

    desde ento, os altos ndices de reprovao estavam superlotando as escolas,

    prejudicando a oferta de vagas e causando prejuzos financeiros aos cofres pblicos.

    Algumas medidas radicais foram tomadas na tentativa de resolver o problema.

    A promoo em massa recomendada por Oscar Thompson, Diretor Geral

    de Ensino em 1921, foi uma delas.; um pouco antes disso, em 1918, Sampaio Dria,

    Diretor Geral da Instituio Pblica, recomendou a promoo de todos os alunos do

    1 para o 2 perodo, permitindo aos atrasados a repetio do ano somente no caso

    de sobrar vagas (Mainardes apud Almeida Junior, 1957, p.9).

    Um pouco mais a frente, nas dcadas de 1950 e 1960, a progresso

    automtica passou a ser vista, por alguns polticos e intelectuais, como uma soluo

    possvel para os elevados nmeros da reprovao e da evaso escolar, garantindo

    mais vagas e economia ao Estado. Ansio Teixeira e, o ento presidente, Juscelino

    Kubitschek acreditavam nessa alternativa. Almeida Junior e Dante Moreira Leite

    eram favorveis implantao, porm alertavam para a necessidade de se preparar

    os professores, de se investir na melhoria da infraestrutura das escolas e da reviso

    do currculo. Lus Pereira e Renato Jardim Moreira consideravam as condies

    precrias de funcionamento das escolas, o despreparo dos professores e o currculo

    inadequado como os verdadeiros viles da educao, dessa forma, de pouco

    adiantaria a progresso automtica se esses itens no fossem revistos.

    (MAINARDES, 2009).

  • 20

    Nesse ponto, existe uma unificao de ideias entre esses ltimos e os

    autores contemporneos. A soluo possvel para o problema da educao

    contempornea est no acompanhamento pedaggico e na adequao da escola s

    necessidades dos alunos, os espaos, as metodologias e os tempos devero estar

    voltados para atender s dinmicas individuais. Em resumo, os objetivos de

    aprendizagem so os mesmos para todos, escola cabe buscar espaos e

    estratgias para que todos os alunos atinjam esses objetivos em nove anos. Se no

    houver preparao profissional e suporte estrutural e administrativo das escolas, os

    objetivos do ciclo no sero alcanados. Ser apenas uma seriao com progresso

    automtica. (JACOMINI, 2009).

    No se pode levar uma proposta educacional ao sucesso se no houver a

    adeso dos principais atores dessa pea: os professores. Essa categoria tem se

    mostrado, em sua maioria, resistente a qualquer proposta que tire de suas mos o

    poder de aprovar ou reprovar. importante perceber que o professor precisa ser

    cativado, seduzido por essa nova forma de educar. Tambm, ele precisa ser

    treinado na arte de focar seu planejamento na aprendizagem, dessa forma, aos

    poucos, devagar alunos e professores passem a interagir dentro desse novo

    sistema. Para que uma iniciativa revolucionria, no sentido dos princpios histricos

    que regem a vida escolar, logre xito imprescindvel que se tenha a cumplicidade

    de seus principais integrantes: os professores, os alunos e suas famlias. (GOMES,

    2005).

    1.2.1- Polticas de no reprovao

    Partindo do princpio conclusivo de que a democratizao do acesso s

    escolas trouxe consigo a possibilidade de um conjunto heterogneo de alunos para

    dentro de seus espaos; e que essa mesma escola agrupou essa heterogenia de

    vidas em classes, considerando apenas a idade cronolgica de cada um; dividiu os

    contedos por srie; determinou um tempo nico para que todos aprendessem o

    que estava pr-estabelecido, fazendo uso de uma mesma metodologia e sendo

    avaliados pelos mesmos padres; e de que o resultado desse conjunto de medidas

    foi frustrante porque os alunos no atingiram o desempenho desejado, uns

    aprenderam mais e outros menos; e de que a soluo encontrada para isso foi a

    reprovao (apresentada como um ato generoso de dar um tempo a mais tempo

    queles que no aprenderam no tempo certo); e de que essa reprovao, algumas

    vezes, transformou-se na primeira de muitas e consequentemente levou aos graves

    problemas educacionais que vivemos at hoje, fica a impresso de que deve-se

    impulsionar uma busca por solues que apontam para polticas de no reprovao.

    (FREITAS, 2004; MAINARDES, 2009; JACOMINI, 2009)

    A progresso automtica foi uma das primeiras polticas de no reprovao

    e causou uma rejeio muito grande por parte da comunidade escolar,

  • 21

    principalmente dos educadores, que temiam a queda da qualidade da educao.

    Entretanto, deve-se compreender que a reprovao existe a dcadas e no resolveu

    o problema do baixo rendimento escolar, pois se h reteno, consequentemente h

    quem no aprendeu. A diferena est no fato de que, dessa maneira, a criana no

    aprendeu e ficou retida. E, para tranquilizar a conscincia de todos, ela ser

    premiada com uma nova chance e facilmente ser esquecida. Ao passo que se

    no houver reteno, ela avanar com essas dificuldades e ser rapidamente

    notada em uma classe onde se espera maior maturidade cognitiva e poder

    participar de intervenes com o objetivo de ajuda-la a superar essas dificuldades. .

    (JACOMINI, 2009).

    Vista por esse ngulo, a progresso automtica uma forma de evitar a

    excluso por meio da reprovao, porm, a garantia de aprendizagem s se dar se

    essa, ou qualquer outra, poltica de no reprovao, estiver acompanhada de um

    conjunto de medidas que vo, desde a ressignificao do tempo e espao escolar,

    preparao dos profissionais, medidas pedaggicas diferenciadas, estratgia de

    matrculas que privilegiem um nmero menor de alunos por sala, at a possibilidade

    de atendimento individualizado aos alunos com baixo rendimento. Em resumo,

    adotar polticas de no reteno implica em estudo, preparao prvia e

    investimentos. (Jacomini, 2009; PEREIRA, 2008; ALAVARSE, 2009).

    Alguns autores vistos anteriormente, Mainardes (2009) e Freitas (2004) e

    Alavarse (2009) afirmam que as polticas de no reprovao no so exclusivas do

    sculo XXI, h tempo elas vm sem sendo experimentadas adotando diferentes

    terminologias, evitando propositadamente o termo progresso continuada para evitar

    a rejeio imediata dos professores a essa proposta pelos motivos citados

    anteriormente. No Brasil, O Estado do Rio Grande do Sul foi o primeiro a

    experimentar uma poltica de no reteno, a qual chamou de Reforma da Educao

    Primria no ano de 1958. As classes iniciantes eram formadas baseadas na idade

    cronolgica das crianas. Para a os alunos j matriculados na escola a formao

    das classes considerava a idade e o rendimento. Nesse caso no havia reprovao,

    a criana que no atingisse o rendimento esperado era promovida e no perodo

    seguinte frequentaria uma classe de recuperao.

    Mainardes (2009) fala sobre a primeira experincia de no reprovao do

    Distrito Federal aconteceu em 1963 sob a dominao de Organizao do Ensino

    Primrio em Fases. O primrio foi dividido em trs fases. A Primeira fase englobava

    a 1 e a 2 sries, era dividida em quatro etapas de alfabetizao e a promoo para

    a segunda fase acontecia apenas quando o aluno completava a alfabetizao; a

    segunda fase era composta pela 3, 4 e 5 sries; e a terceira a 6 srie. Essa

    poltica justificava sua implantao como tentativa de sanar o alto ndice de

    reprovao nas 1s e 2s sries. Permaneceu por sete anos.

    A reprovao na 1 srie do ensino fundamental continuou preocupando os

    responsveis por coordenar o ensino pblico no DF que no desistiram de buscar

  • 22

    uma soluo para o problema. Em meados dos anos 80 surgiu o Ciclo Bsico de

    Alfabetizao (CBA), uma nova forma de organizar o ensino primrio que

    considerava os diferentes tempos e caractersticas de aprendizagem para os

    diferentes alunos. O perodo de alfabetizao foi dividido em trs nveis: iniciando,

    continuando e concluindo. Conforme o ritmo de aprendizagem do aluno poderia

    durar de dois a quatro anos. Ao final desse perodo o aluno deveria ter consolidado

    as habilidades da leitura e da escrita. Esperava-se que a grande maioria dos alunos

    vencesse essa etapa ao final de dois anos, mas, contrariando essas expectativas,

    um grande nmero de alunos permanecia dentro do ciclo aps os dois primeiros

    anos de frequncia escolar. Isso, associado falta de orientao e formao

    profissional, ausncia de debate com a comunidade escolar e insegurana dos

    professores acostumados a anos de seriao pode ter sido a causa do fracasso do

    CBA. (PEREIRA, 2008).

    Para Pereira (2008), a Escola Candanga foi outra tentativa de exorcizar o

    fantasma da reprovao. Surgiu em 1995 e foi organizada em trs fases de

    formao fundamentadas no desenvolvimento humano. Os alunos eram agrupados

    por idade: 6,7,8/9 anos 1 fase (infncia); 9,10,11/12 anos 2 fase (infncia para

    adolescncia); 12,13,14/15 anos 3 fase (parte da adolescncia). Essa experincia

    foi interrompida por motivos polticos, visto que o processo eleitoral, ocorrido em

    1998, deu vitria ao PMDB e Joaquim Domingues Roriz assumiu o cargo de

    governador do Distrito federal.

    Os problemas vividos pelo sistema educacional atravessam governos e

    governos sem soluo. Porm, no passam sem serem notados, pois, causam

    inquietao aos intelectuais da educao e prejuzos ao errio pblico, assim h

    sempre quem se preocupe com eles. Dessa forma, em 2005, surgiu, como proposta

    de educao inclusiva e democrtica, o Bloco Inicial de Alfabetizao (BIA). A

    ampliao do ensino obrigatrio de 8 para 9 anos passou a acolher os alunos de 6

    anos proporcionando-lhes maior tempo de escolaridade e permanncia na escola.

    Assim, a alfabetizao passa a acontecer na vida das crianas a partir dos 6 anos e

    se pretende que seja concluda aos 8 anos. Essas crianas so agrupadas dentro

    Bloco em trs etapas, por idade: I Etapa- 6 anos; II Etapa-7anos; III Etapa-8 anos.

    S possvel a reteno dentro do Bloco nos casos em que o aluno no tenha a

    frequncia mnima exigida de 75%, caso contrrio, a promoo automtica.

    Os alunos, ao longo do processo de alfabetizao devero participar de aes

    interventivas com vistas a ajud-los na superao das dificuldades. Ao final da III

    Etapa, aqueles que no desenvolverem as competncias esperadas podero ser

    retidos. importante ressaltar que essa proposta de ensino para a alfabetizao

    desenvolvida at hoje nas escolas do DF.

    Para que os objetivos do BIA sejam alcanados (consolidar as habilidades de

    leitura e escrita), algumas medidas e princpios devem ser observados:

  • 23

    Vale observar, no entanto, que ampliar o tempo e reorganizar os espaos

    da escola no garante a aprendizagem da leitura e da escrita;

    fundamental que outras intervenes sejam desenvolvidas a fim de garantir

    os objetivos do Bloco. (PEREIRA, 2008, p. 71)

    O dilogo que vem sendo tecido pelos autores ao longo dessa reflexo

    aponta para uma questo imprescindvel para o sucesso de qualquer tentativa de

    melhoria no ensino: a formao dos professores. O Distrito Federal possui uma

    categoria formada, em sua maioria, por profissionais que esto com suas prticas

    pedaggicas consolidadas pelos muitos anos de experincia na organizao

    seriada. Para que essa experincia pudesse ser posta a servio dessa proposta,

    seria necessrio que esses professores fossem seduzidos por essa nova maneira de

    pensar a educao, pois, se o professor no acreditar na proposta, seja ela qual for,

    ele no a executar na sala de aula e dessa forma, os frutos no sero colhidos.

    Isso indica, pois, que a formao continuada dos professores da escola organizada em ciclos deve receber ateno especial, considerando que a inteno desse tipo de organizao da escolaridade, alm de uma tentativa de superao da escola tradicional, indica que os professores precisam receber formao e um acompanhamento adequado para construir aprendizagens em conformidade com o ciclo: em relao com as questes pedaggicas, por exemplo. (PEREIRA, 2008 p. 74).

    A Secretaria de Educao do Distrito Federal oferece um apoio ao professor,

    que pretende promover a interao entre trs nveis para formao: a Escola de

    Aperfeioamento dos Profissionais da Educao (EAPE), o Centro de Referncia em

    Alfabetizao (CRA) e a Coordenao Pedaggica. (Pereira, 2008). Desde a

    implantao do BIA, a EAPE tem proporcionado oportunidades de formao para os

    professores, como mostra o quadro abaixo:

    CURSO

    ANO DURAO CRE PARTICIPANTES

    ALFABETIZANDO NO BIA

    2005 180 h CEI 650 profs.

    ALFABETIZANDO NO BIA

    2006 180 h TAG 429 profs.

    AVANANDO NA PRTICA PEDAGGICA

    2006 120 h CEI COORDENADO - RES

    FRUM DE COORDENADORES

    2006 - TAG 38 COORDENADORES

    A ALFABETIZAO NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS

    2007 120 h BRAZ GUAR TAG SAM CEI

    160 FORMADORES

    + DE 1300 ENVOLVIDOS

    ALFABETIZAO E LINGUAGEM PR-LETRAMENTO

    2010 120 h - -

    Fonte: Pereira (2008)

    O CRA foi criado para monitorar e subsidiar as aes pedaggicas relativas

    proposta de alfabetizao desenvolvida no mbito das escolas. Ao coordenador

  • 24

    pedaggico foi destinada a misso de organizar o trabalho junto ao grupo de

    professores.

    Apesar desse esforo dispensado, houve dificuldade de aceitao da nova

    proposto, pois faltou um dilogo anterior com o professorado para lhes fossem

    esclarecidos os objetivos dessa iniciativa e os motivos pelos quais sua implantao

    comear pela Ceilndia. Em resumo, os profissionais da ponta foram excludos de

    um momento crucial da proposta: o planejamento. Tornando-os meros executores.

    (Tolentino, 2007). Por esse motivo, quando surgiram os cursos de formao foram,

    de imediato, rejeitados. A falta de aes democrticas dificultou a adeso voluntria

    dos professores.

    A enturmao dos alunos dentro do Bloco segue a critrios de idade

    cronolgica sendo a I Etapa formada pelas crianas de 6 anos; a II Etapa as

    crianas de 7 anos e a III Etapa as crianas de 8 anos. Os alunos progridem

    livremente dentro do Bloco, sem reteno, ao final da III Etapa aqueles que no

    atingirem os objetivos de aprendizagem do Bloco podero ser retidos aps avaliao

    do Conselho de Classe. Vale lembrar que o aluno que no frequentar 75% das aulas

    poder ser retido em qualquer etapa. (Regimento Interno, 2009)

    de fundamental importncia que aes interventivas sejam pensadas e

    executadas durante todo o processo de alfabetizao no intuito de auxiliar os alunos

    que apresentem necessidades de aprendizagem especficas. O reagrupamento

    uma dessas aes e est previsto no documento que organiza o trabalho

    pedaggico do BIA Diretrizes Pedaggicas do Bloco Inicial de Alfabetizao

    (DPBIA). Privilegia o trabalho em grupo o que permite ao professor maior mobilidade

    no atendimento e maior interao entre os alunos. (DPBIA, 2012). Para que essa

    estratgia pedaggica obtenha xito, no momento do planejamento, que deve

    envolver todos os docentes e a equipe pedaggica da escola - coordenador, SEEA,

    OE, diretor e vice- diretor- deve-se considerar que separar os alunos por nveis e

    propor atividades especficas no suficiente, preciso criar oportunidades de

    interao, ou seja, atividades que possibilitem a troca de ideias (experincias) e

    proporcionem o dilogo.

    Essa troca de experincias pode acontecer, inclusive, entre os alunos de

    todas as turmas do Bloco (reagrupamento interclasse) envolvendo os diferentes

    professores e toda equipe pedaggica. O planejamento pode acontecer nos

    momentos da coordenao pedaggica, partindo da definio dos objetivos. A

    pluralidade de ideias muito importante nesse momento, pois ao traar o percurso

    que dever ser seguido cada professor poder associar suas habilidades

    sistematizao dos trabalhos, o que aumentar as chances de se obter um bom

    resultado. Lembrando que quanto maior o nmero de professores envolvidos e

    espaos disponveis, menor o nmero de alunos por grupo, fator facilitador dentro do

    processo de construo de conhecimento. Cada professor pode tambm promover

  • 25

    essa interao entre os alunos de sua turma (reagrupamento intraclasse)

    agrupando-os de acordo com critrios definidos por ele considerando aspectos como

    o nvel da psicognese da lngua escrita; dificuldades matemticas; produo de

    textos; ou interao social. (DPBIA, 2012). O reagrupamento deve acontecer ao

    longo do ano letivo de maneira contnua, flexvel, diversificada e dinmica.

    Alguns alunos apresentam dificuldades de aprendizagem especficas que no

    podem ser sanadas apenas com a participao nos reagrupamentos. Nesse caso,

    deve-se pensar em uma interveno imediata e pontual para auxiliar esses alunos.

    Essa estratgia definida nas Diretrizes Pedaggicas do BIA como projeto

    interventivo:

    a proposta de interveno complementar, de incluso pedaggica e de

    atendimento individualizado. (...) deve ser permanente na sua oferta,

    flexvel, dinmico e temporrio no atendimento aos estudantes.

    (DIRETRIZES PEDAGGICAS DO BIA, 2012, p. 65)

    A avaliao do processo de aprendizagem deve ser contnua e participativa.

    Desenvolvendo-se ao longo do processo privilegiando os aspectos qualitativos, de

    modo a promover a valorizao das aprendizagens, favorecendo um

    acompanhamento sistemtico do educando, que consiste em perceber seus e

    necessidades a fim de propor aes interventivas direcionadas.

    Jacomini (2009), Mainardes (2009), Freitas (2004) e Pereira (2008) afirmam

    que a observncia desses princpios somada a modificaes na escola, no que diz

    respeito s condies estruturais de funcionamento tendem a aproximar a escola

    pblica do ideal previsto por aqueles que almejam uma educao de qualidade, com

    caractersticas de incluso social.

    1.2.2 Modalidades da escola organizada em ciclos

    A poltica de promover todos os alunos surgiu em 1910, sob a denominao

    de progresso automtica, como forma de vencer os inconvenientes causados

    pelos autos ndices de reprovao (MAINARDES, 2009). Esse termo causou, e

    causa at hoje, grande rejeio comunidade escolar e, por esse motivo,

    normalmente evitado. Porm, Jacomini (2009) afirma que progresso automtica,

    como concebida em sua origem, significa o mesmo que progresso continuada. Que

    pode ser traduzida na possibilidade de avano dos alunos nos anos de escolaridade

    sem interrupo ou repetio. Freitas (2004) cita uma diferenciao de conceitos

    produzida por Bertagna (2003) em que a progresso automtica apenas uma

    maneira de manter a criana na escola, independente dos progressos, apenas por

    norma administrativa, ao passo que progresso continuada contempla ao aspecto

    pedaggico baseado na crena de que a criana progride no processo de

    aprendizagem mesmo que em ritmo prprio. Um pouco mais a frente em seu

    discurso, Freitas (2004, p.10) A progresso continuada no se contrape

  • 26

    seriao, como alguns creem. Ela simplesmente limitou o poder de reprovar que a

    avaliao formal tinha ao final de cada srie (...).

    Ciclos: inicial, intermedirio e final: Mainardes (2009) cita como exemplo

    dessa experincia de ciclos a rede estadual de So Paulo no ano de 1992. Essa

    modalidade de ciclos consistia em estruturar os oito anos do 1 grau em trs ciclos:

    Ciclo Inicial (1, 2 e 3 sries); Ciclo Intermedirio (4, 5 e 6 sries); Ciclo Final (7

    e 8 sries). A reteno s era possvel ao final de cada ciclo. A avaliao

    continuada e qualitativa. Relatrios semestrais e resultados conceituais: plenamente

    satisfatrio, satisfatrio e insatisfatrio.

    Ciclos de formao: os autores pesquisados definem a escola organizada

    em ciclos de formao como aquela que se baseia no princpio de que os seres

    humanos so diferentes entre si, assim como diferente o seu desenvolvimento,

    que no acontece ao mesmo tempo nem se d de maneira programada. Dessa

    forma, os tempos e espaos escolares devem ser organizados de maneira a

    adequar-se as fases do desenvolvimento humano respeitando as caractersticas

    biolgicas e culturais das crianas. (DAVID, 2006; FREITAS, 2004; ALAVARSE,

    2009).

    David (2006) completa essa definio dizendo que esse tipo de organizao

    foca a formao humana com nfase na cidadania. Acreditando que, por meio dessa

    formao integral, o sujeito ser capaz de trilhar seu prprio caminho em busca da

    realizao pessoal. Freitas (2004) e Alavarse (2009) falam sobre a adequao do

    currculo formal as fases do desenvolvimento humano, o que faz com que as

    crianas sejam agrupadas por sua faixa etria em funo dos ciclos da vida: infncia

    (6 a 9 anos); pr-adolescncia (9 a 12 anos) e adolescncia (12 a 14 anos).

    Ciclo de aprendizagem: nessa experincia, acredita-se que a incluso social

    se d por meio do aprendizado de competncias que instrumentalizam o sujeito para

    a vida. (DAVID, 2006). As modificaes no currculo, na avaliao e na organizao

    da escola so mais brandas. A durao do ciclo de dois ou trs anos, admitindo a

    possibilidade de reteno ao final de cada ciclo. considerada uma alternativa para

    vencer o fracasso escolar por direcionar seu foco para a aprendizagem. (STRUMEL,

    2012; ALAVARSE, 2009). Os esforos so voltados para que os alunos progridam

    por meio da aprendizagem construda dentro do perodo definido para o ciclo. Para

    que isso acontea como previsto, algumas mudanas tm que acontecer na

    estrutura e na gesto da escola; os objetivos de aprendizagem para cada ciclo tem

    que ser claros para os professores e para os alunos; tem-se que investir na prtica

    de uma pedagogia diferenciada e numa avaliao formativa e contnua, e em um

    trabalho coletivo. Os professores precisam ser lembrados como agentes importantes

    nesse processo e ser contemplados com uma formao continuada pronta a

    estabelecer um elo entre a teoria e a prtica.

  • 27

    O ciclo de aprendizagem a modalidade proposta para as escolas do DF. O

    Caderno de Perguntas e Respostas elaborado pela Secretaria de Estado de

    Educao (2013, p.2) assim o apresenta:

    O Ciclo de Aprendizagem uma organizao do tempo e espao escolar que visa o atendimento aos diferentes nveis de aprendizagem dos estudantes considerando a logica do processo. (...) Organizar o Ciclo de Aprendizagem nas Unidades Escolares, do 1 ao 5 ano, remete tambm a e pensar no trabalho pedaggico, sustentado na ao coletiva, com finalidade de que todos aprendam.

    II.DIFERENAS MARCANTES ENTRE CICLOS E SRIES

    Fica, claramente, definido no tpico anterior que, na viso dos estudiosos da

    educao, o sistema de ensino seriado diferencia-se basicamente do sistema de

    ciclo por sua caracterstica seletiva e excludente que se contrape s intenes

    democrticas da organizao da escola em ciclos. Porm, algumas dessas

    diferenas merecem mais destaque e sero relacionadas no quadro a seguir:

    CICLOS SRIES

    CONCEPO DE EDUCAO

    Focada na aprendizagem. Pautada na transmisso e recepo de conhecimentos que esto fragmentados em disciplinas estanques e descontextualizados.

    TEMPO ESCOLAR Organizado de modo a privilegiar os diferentes ritmos de aprendizagem.

    Mesmo tempo de aprendizagem para todos os alunos. Delimitado em um ano letivo.

    AVALIAO Contnua e formativa. Pensada para acompanhar a aprendizagem do aluno.

    Aprendizagem medida por meio de provas, testes e exerccios. Qualitativa, cumulativa, seletiva e excludente.

    PAPEL DO EDUCADOR Mediador no processo de construo do conhecimento.

    Transmissor de conhecimento.

    Adaptado de (MAINARDES, 2009), (PARENTE, 2010), (AUGUSTO, 2010), (MIRANDA, 2005), (JACOMINI, 2009).

    Augusto (2010) descreve a organizao de ensino seriada como sendo

    aquela que valoriza excessivamente a transmisso e recepo de contedos que

    so apresentados de forma fragmentada em disciplinas estanques e

    descontextualizadas. Miranda (2005) diz que a escola seriada orientada sobre o

    princpio de que o processo de ensino-aprendizagem se d pela aquisio de

    conhecimentos que so transmitidos pelo professor e aprendidos (ou no) pelos

    alunos. Em contrapartida, quando o ensino organizado dentro de perspectivas no

    excludentes que sejam favorveis ao desenvolvimento humano deve considerar a

    aprendizagem como principal objetivo desse processo (JACOMINI, 2009). Nesse

    caso, o professor deixa de ser o detentor absoluto do conhecimento e passa a

    desempenhar a funo de fomentar a curiosidade, de despertar o interesse e causar

  • 28

    dvidas para que os alunos possam construir, paulatinamente, o conhecimento;

    realizar suas prprias descobertas e relacion-las ao mundo. De maneira que o

    tempo de aprendizagem de cada um seja respeitado e interpretado dentro dessa

    organizao do ensino em ciclos como o tempo adequado a cada um (MAINARDES,

    2009), sem a limitao temporal existente na seriao.

    A avaliao fator importante quando se trata de diferenas entre as duas

    organizaes de ensino citadas acima. A seriao privilegia a avaliao

    classificatria que usa instrumentos como a prova, trabalhos e exerccios que devem

    totalizar um acumulado de pontos definidos previamente (AUGUSTO, 2010). Para

    Freitas (2002) a finalidade dessa avaliao excludente dar ao professor o poder

    sobre os alunos. Ao passo que, a organizao em ciclos pressupe uma avaliao

    contnua e formativa voltada para as aprendizagens de modo a atender aos

    diferentes nveis de aprendizagem (MAINARDES, 2009). Para que isso seja possvel

    necessrio que os alunos sejam acompanhados sistematicamente nas dificuldades

    que por ventura apresentarem ao longo de etapa dos ciclos propostos (ALVARSE,

    2009).

  • 29

    III - METODOLOGIA

    A inteno desse trabalho compreender o que vem a ser a poltica de

    organizao do ensino em sries e em ciclos, para que se possa ter uma ideia das

    contribuies que cada uma dessas propostas tem a dar para o ensino pblico.

    Dessa forma, importante saber o que pensam os especialistas no assunto e

    conhecer os mais recentes estudos feitos. Mas no menos importante considerar a

    opinio daqueles que trabalham a educao todos os dias onde ela acontece: nas

    escolas. Portanto, por se tratar de um tema to recente e to arraigado prtica

    docente a melhor maneira de investig-lo lanar mo de tcnicas que possam ser

    desenvolvidas no ambiente onde se fomentam as discusses e onde se concretizam

    ou no as polticas educacionais. Onde esto os agentes da educao.

    Para realizar este estudo monogrfico, utilizarei a pesquisa qualitativa que

    segundo Ludke e Andr (2012, p, 11-13) aquela que se realiza em ambiente real,

    onde as coisas acontecem, os dados so colhidos diretamente da fonte e analisados

    com base em um processo indutivo, sem nenhuma espcie de manipulao

    intencional do pesquisador. Pereira (2008) apud Haguete (2001) descreve a

    pesquisa qualitativa como sendo aquela que investiga um fenmeno em sua origem

    e ainda, aquela que possui carter dialgico e construtivo baseado nos significados

    e caractersticas das situaes pesquisadas levando em considerao os valores,

    crenas, opinies e atitudes das pessoas envolvidas.

    Para consolidar essa pesquisa a investigao deve amparar a construo de

    conceitos que elucidem o objeto de estudo de modo a levar o leitor a compreender

    os dois modos de organizao do ensino: sries e ciclos e entender porque foram

    causadores de polmica no ano de 2013.

    Para Ludke e Andr (2005) esse tipo de pesquisa deve primar por retratar

    a realidade por meio da interpretao do contexto e da pluralidade de ideias,

    possibilitando vrias fontes de informao. Essas caractersticas configuram uma

    investigao por meio de um estudo de caso. Alves Magazote e Gewandsznajder

    (2004, p.161) citados por Pereira (2008) complementam dizendo que no estudo de

    caso a coleta de dados tem a funo de ligar o que o pesquisador quer saber

    realidade por meio de uma grande variedade de procedimentos e instrumentos tais

    como: anlise de documentos, observao participante e entrevistas

    semiestruturadas entre outros.

    Portanto, aps considerar todos esses aspectos citados acima se optou

    por realizar uma pesquisa qualitativa associada ao estudo de caso, lanando mo do

    questionrio, da entrevista e da observao como instrumentos para a tessitura de

    argumentos que estabeleam relao com os objetivos especficos da pesquisa. A

    entrevista pode servir como um elo entre a crena do professor, sua prtica

    pedaggica e a proposta de organizao de ensino. O dilogo estabelecido entre a

    pesquisadora e as colaboradoras em torno do objeto de estudo dessa pesquisa

  • 30

    poder estimular novas reflexes sobre o tema. Dessa forma os dados coletados por

    meio dos instrumentos at aqui mencionados devero ser analisados de forma

    global de modo a jogar luz sobre o debate travado em torno da organizao do

    ensino em ciclos ou em sries.

    A relevncia da pesquisa ser realizada no cenrio principal onde se

    desenrola uma verdadeira dicotomia entre os defensores do sistema de organizao

    do ensino em sries e os defensores da organizao do sistema de ensino em ciclos

    me levou a escolher como palco de investigao a escola onde trabalho que aqui

    chamarei de Renascer, por se tratar de uma escola que atende da Educao Infantil

    ao 5 ano do Ensino Fundamental as ideias fervilham como em um turbilho. Por

    esse motivo, faz-se necessrio que o planejamento de aes da e na escola sejam

    feitos no coletivo para evitar que uns se sintam mais e outros menos privilegiados. E,

    foi dessa forma, por meio da manifestao de ideias e argumentaes favorveis e

    contrrias implantao dos Ciclos de Aprendizagem, que no incio do ano letivo de

    2013, decidiu-se em uma votao expressiva em que, aproximadamente, 70% dos

    presentes deram seu sim implantao dos Ciclos de Aprendizagem e acreditaram

    na proposta da SEEDF. Assim, a Escola Renascer passou a contemplar o I Ciclo

    correspondente Educao Infantil; e o II Ciclo que se subdivide em: I Bloco- Bloco

    Inicial de Alfabetizao e II Bloco o 4 e 5 anos. nesse ambiente interessante que

    foi realizada a pesquisa.

    IV- A ORGANIZAO DA ESCOLA SOB A TICA DO OBSERVADOR

    A referida escola est localizada em uma das cidades satlites do D.F.

    Conta com a colaborao de 77 funcionrios entre os quais esto profissionais da

    carreira magistrio concursados e contratados temporariamente, tcnicos de Gesto

    Educacional, um funcionrio cedido por outro rgo do GDF, uma agente de portaria

    e treze funcionrios terceirizados, sendo quatro vigilantes, duas merendeiras e sete

    auxiliares de servios gerais.

    A equipe gestora formada por uma diretora, uma vice-diretora, um

    supervisor (administrativo) e uma chefe de secretaria. A equipe pedaggica da

    escola formada pela diretora, vice-diretora, uma coordenadora para a Educao

    Infantil, uma coordenadora para o BIA, uma pedagoga, uma psicloga, uma

    professora da sala de recurso e uma orientadora educacional. O motivo da diretora e

    vice terem optado por um supervisor administrativo alto grau de envolvimento das

    duas com as questes pedaggicas. Toda essa equipe de trabalho para atender a

    aproximadamente 630 crianas (existe uma grande rotatividade da clientela)

    distribudas conforme o quadro abaixo:

  • 31

    BLOCO/SALA TURMA Matutino-vespertino

    N DE ALUNOS Matutino-vespertino

    ESPEFICIDADE Matutino-vespertino

    C1 - 1C - 27 - CC

    C2 5B 5D 26 32 CCI CC

    C3 5A 5C 26 26 CCI CCI

    C4 4A 4D 30 26 CC CCI

    B1 2A 2D 26 28 CCI CC

    B2 3A 3D 18 22 CII CCI

    B3 3B 3F 22 18 CCI CII

    B4 3C 3E 22 22 CCI CCI

    B5 4A 4C 26 26 CCI CCI

    A1 1PEA 1PEB 24 24 CC CC

    A2 2PEB 1B 28 09 CC CII

    A3 2PEA 2PEC 28 28 CC CC

    A4 1A 1D 28 28 CC CC

    A5 2A 2C 28 28 CC CC LEGENDA: CC- CLASSE COMUM; CCI- CLASSE COMUM INCLUSIVA; CII- CLASSE DE INTEGRAO INVERSA.

    As crianas tm acesso escola por um porto de pedestres que fica ao lado

    do porto de carros. Elas aguardam pelo sinal em uma rea de convivncia em

    frente secretaria guardadas pelo vigilante e o auxiliar de portaria. Cinco minutos

    antes do horrio estipulado para a entrada (matutino: 07h30min vespertino:

    13h00min) o auxiliar de portaria organiza duas filas para que eles se dirijam

    ordenadamente s salas de aula para onde o professor se dirige ao toque no sinal.

    Os pais podem acompanha-los at o espao de convivncia na entrada e peg-los

    na sala de aula no final do turno. Essa medida tomada para evitar o atropelo na

    entrada que prejudica o incio das atividades pedaggicas planejadas para o dia. Os

    professores esto disposio para atender os pais as teras e quintas no turno

    contrrio. Essa rotina alterada s sextas-feiras quando realizada a Hora Cvica,

    com apresentaes e execuo do Hino Nacional.

    O recreio um perodo de muita agitao e correria. Os alunos maiores e os

    menores dividem o mesmo espao e todos correm ao mesmo tempo causando

    vrios acidentes de pouca gravidade. No existem projetos de monitoria durante o

    recreio que observado pela equipe gestora e apoio de direo. Algumas

    alternativas, como a compra de brinquedos e jogos pedaggicos, foram tentadas

    com a inteno de que eles ficassem mais concentrados e diminussem o corre-

    corre. A orientadora preparou os alunos maiores para que, sob sua superviso,

    coordenassem a entrega desses brinquedos, porm, em pouco tempo de

    experincia, ela precisou se ausentar da escola e o Projeto Recreio Seguro no teve

    continuidade. A quadra de esportes que seria uma alternativa para atender essas

    crianas durante o recreio est em obras desde dezembro de 2012, quando a

    NOVACAP iniciou uma cobertura e ainda no concluiu, inutilizando aquele espao.

  • 32

    O recreio.

    Para continuar relatando essa observao do dia a dia da escola, falando

    agora mais intimamente do trabalho pedaggico ouamos Paulo Freire quando diz

    que a escola um lugar feita de gente, de eu e de ns. um lugar de encontros e

    desencontros, de chegadas e partidas, de instruo. Almeida (2002) continua essa

    definio dizendo que a escola o lugar onde as subjetividades se encontram. Os

    conflitos internos de um entram em contato com os dos outros. E o gestor a figura

    que deve mediar toda essa efervescncia. Estar inserida nesse espao proporciona

    boa oportunidade para a observao. Ter acesso ao Projeto Poltico-Pedaggico da

    escola, ao planejamento coletivo mensal, ao Projeto Interventivo, ao planejamento

    dos reagrupamentos e de todas as intervenes pedaggicas do ano permite uma

    viso macro de como se d o processo de aprendizagem: planejamento, execuo,

    avaliao e redirecionamento. Observar a sala de aula possibilita constatar a prtica

    pedaggica de cada professor, que direcionamento ele d para o que foi planejado

    coletivamente. Para atingir o fim a que se prope, a observao foi realizada nos

    diversos espaos-tempos da escola: nas coordenaes coletiva e individual, na sala

    de aula, nos Conselhos de Classe, nas reunies de pais, nos atendimentos da sala

    de recurso e equipe psicopedaggica e nas Avaliaes Institucionais previstas no

    Calendrio Escolar.

    O quadro de observao mensal pode ser assim representado:

    2 feira 3 feira 4 feira 5 feira 6 feira

    Atendimento da Equipe Psicopedaggica

    Coordenao individual BIA

    Curso Coordenao individual 4 e 5 anos

    Equipe Pedaggica

    50 minutos 3 horas 3 horas 3 horas 2 horas

    Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula

    50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos

    2 feira 3 feira 4 feira 5 feira 6 feira

    Atendimento da Sala de Recurso

    Coordenao individual BIA

    Estudo do Currculo

    Coordenao individual Ed. Infantil

    Equipe Pedaggica

    Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula

    50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos

    2 feira 3 feira 4 feira 5 feira 6 feira

  • 33

    Atendimento da Equipe Psicopedaggica

    Coordenao individual BIA

    Curso Coordenao individual 4 e 5 anos

    Equipe Pedaggica

    Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula

    50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos

    2 feira 3 feira 4 feira 5 feira 6 feira

    Atendimento da Sala de Recurso

    Coordenao individual Ed. Infantil

    Planejamento de Aes da Escola

    Coordenao individual 4 e 5 anos

    Equipe Pedaggica

    Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula

    A Coordenao Coletiva um espao conquistado pelos professores desde

    o ano de 2000 para realizar estudos. No ano de 2013 esse estudo foi direcionado

    pela Escola de Aperfeioamento dos Profissionais da Educao (EAPE) como parte

    do Projeto EAPE na Escola por meio do curso: Currculo em Movimento:

    Reorganizao do Trabalho Pedaggico nos Ciclos e Semestralidade, com carga

    horria quinzena. A outra quinzena foi subdividida entre o estudo do Currculo para

    preenchimento do Quadro Sntese ( avaliao do que deu certo e o que poderia ser

    modificado) e o planejamento das aes da escola. As quintas feiras foram

    destinadas formao do PNAIC (PROGRAMA NACIONAL DE ALFABETIZAO

    NA IDADE CERTA), para os professores do BIA e para a coordenao setorizada

    para os demais professores. As teras-feiras foram utilizadas para o planejamento e

    avaliao das aes coletivas da escola e das estratgias de interveno:

    reagrupamento e intervenes pontuais.

    Estudos na coordenao: Oficina de matemtica.

    O Conselho de Classe da Escola Renascer se rene a cada final de

    bimestre com a finalidade de avaliar o processo de aprendizagem dos alunos de

    cada turma. Verificar quais intervenes pedaggicas foram feitas e como eles

    responderam a elas. Sugerir novas estratgias quando for o caso. No Conselho do

    4 bimestre feita uma avaliao global para a aprendizagem dos alunos com vistas

    s primeiras intervenes do ano seguinte.

    Para Santos (2006, p. 34), as funes do Conselho de Classe se assemelham

    muito forma como vem acontecendo na escola observada. Conselho de Classe

  • 34

    se prope a avaliar a ao pedaggica e a aprendizagem, para que o trabalho do

    professor e do aluno seja reorganizado, a fim de detectar necessidades e buscar

    novos caminhos.

    Porm, esse mesmo Conselho, praticado na Escola Renascer adota outras

    caractersticas que se afastam do foco principal defendido por Dalben (1995, p.16):

    O Conselho de Classe guarda em si a possibilidade de articular os diversos segmentos da escola e tem por objeto de estudo o processo de ensino, que eixo central em torno do qual desenvolve-se o processo do trabalho escolar.

    Apesar do texto de Dalben no ter sido escrito recentemente bastante atual

    e pertinente na sua anlise. O fator que faz com que o grupo de trabalho da escola

    em questo se afaste desse propsito manter a prtica de discutir os aspectos

    comportamentais do aluno e as caractersticas peculiares de suas famlias como

    decisivos para seu xito na aprendizagem, afastando-se, de certa forma, do objetivo

    principal que o processo de ensino.

    Gostaria de registrar que o Conselho de Classe caminha na direo correta,

    pois, consegue reunir um bom nmero de profissionais: equipe gestora, SEAA, Sala

    de Recurso, Orientao Educacional e professoras da mesma etapa de ensino; e

    consegue analisar o trabalho desenvolvido e buscar alternativas de apoio

    aprendizagem. Falta caminhar no sentido de conquistar participao de outros

    seguimentos da comunidade escolar e fixar o olhar nas aprendizagens do aluno em

    suas conquistas e necessidades. Da forma como feito, o Conselho torna-se

    cansativo e pouco produtivo. Porm, como foi observado, a maioria das professoras

    concorda com essa metodologia, pois segundo elas, o nico momento que elas

    tm para compartilhar suas angustias.

    O cronograma dos Conselhos de Classe est representado no quadro abaixo.

    Anos I BIMESTRE II BIMESTRE III BIMESTRE IV BIMESTRE

    Ed. Infantil 16/04 25/06 24/09 03/12

    1 ano 17/04 26/06 25/09 04/12

    2 ano 18/04 27/06 26/09 05/12

    3 ano 23/04 02/07 01/10 10/12

    4 ano 24/04 03/07 02/10 12/12

    5 ano 25/04 04/07 03/10 13/12

    As Avaliaes Institucionais foram realizadas conforme previstas no

    Calendrio Escolar: 20/03, 12/06 e 13/11. A comunidade escolar participou por meio

    de questionrios que foram tabulados e registrados e slides para serem

    apresentados em forma de devolutiva nos dias indicados acima. Os alunos tambm

    deram sua opinio por meio de entrevista, questionrio e desenhos.

  • 35

    Educao Infantil

    BIA (I Etapa)

    BIA (II Etapa)

    4s e 5s anos

  • 36

    O II Bloco do II Ciclo construiu um grfico com os resultados da turma.

    Alguns dados desses resultados merecem destaque como mostramos no quadro

    abaixo:

    SEGUIMENTO AVALIADO COMENTRIO SUGESTO

    DIREO ORGANIZAR OS HORARIOS DE TRABALHO

    NO ULTRAPAAR 8 HS DE TRABALHO DIRIO

    COORDENADORAS COMPETENTES, CRIATIVAS E ATUANTES.

    NO SUBSTITUIR PROFESSORES AUSENTES.

    ORIENTAO EDUCACIONAL

    EXCELENTE MAIS UMA ORIENTADORA

    SALA DE LEITURA ATENDER MELHOR AOS ALUNOS, TER MAIS TOLERNCIA E ORIENT-LOS.

    TORNAR O ESPAO AGRADVEL PARA OS ALUNOS.

    SECRETARIA MAIOR RECEPTIVIDADE COM OS PAIS E PROFESSORES

    ORGANIZAR OS HORRIOS PARA ATENDER MELHOR.

    AUXILIARES - LIMPEZA ESCOLA LIMPA SEM PICHAES

    MELHOR A LIMPEZA DAS SALAS NO ENTRE TURNO.

    FONTE: SLIDES AVALIAO INSTITUCIONAL DA ESCOLA RENANCER.

    Esses comentrios e sugestes chamam ateno pela singeleza. Tudo

    parece ter soluo fcil e necessria, porm na prtica sabemos que dificilmente

    uma direo conseguir trabalhar oito horas por dia, ou um coordenador deixar de

    substituir ausncias, a limpeza das salas na troca dos turnos tem apenas meia hora

    para ser efetuada e os funcionrios correm muito para fazer o melhor possvel, eles

    dependem muito da organizao do professor que ocupa a sala no primeiro turno. E

    por fim, fazer com que colegas melhorem o trato humano tambm no tarefa fcil.

    As reunies de pais e mestres foram realizadas ao final de cada bimestre e

    constam com a seguinte dinmica: Uma parte comum a todos com a equipe

    pedaggica da escola onde so apresentadas as atividades realizadas naquele

    espao de tempo, normalmente os alunos apresentam de forma artstica aos pais o

    aprendizado que construram. Nessa ocasio a equipe gestora aproveita para avaliar

    com todos os presentes os encaminhamentos dados s questes administrativas,

    financeiras e pedaggicas.

    Aps essa introduo, os pais se dirigem s salas de aula para conversarem

    com os professores sobre as questes individuais de seus filhos. Esse um dia

  • 37

    destinado para atividades pedaggico-culturais nos dois turnos. A presena dos pais

    pequena em mdia quarenta a cinquenta pais comparecem no primeiro momento.

    A maioria vem apenas para conversar com os professores, ignorando a parte

    coletiva da reunio.

    Para relatar o trabalho dirio em sala de aula, vou dividi-lo em trs grandes

    grupos: a Educao Infantil, o BIA e 4s e 5s anos.

    Na Educao Infantil as professoras coordenam junto com a coordenadora e

    desenvolvem um trabalho voltado para os eixos prprios da fase, a autonomia, as

    linguagens e a psicomotricidade. Apesar de que cada professora adotar sua prpria

    metodologia, o trabalho segue uma mesma direo, a exceo da professora do 2

    perodo B que teve que se ausentar para cuidar da sade e foi substituda por duas

    outras, o que, de certa forma, fragmentou o trabalho.

    O BIA engloba o maior nmero de turmas da escola e a coordenadora

    trabalha muito para acompanhar as demandas. A Primeira Etapa tem um projeto de

    alfabetizao exclusivo De Histria em Histria... Vou Lendo o Mundo cujo trabalho

    se apoia em sequncias didticas que partem de livros literrios. A Segunda e a

    Terceira Etapas planejam juntas e seguem uma mesma linha de trabalho. Porm, na

    sala de aula cada professora segue sua metodologia e, nesse caso, faz uma grande

    diferena porque algumas so extremamente tradicionais e outras bem abertas e

    tolerantes com relao construo das aprendizagens. As primeiras no acreditam

    na avaliao formativa e as outras consideram benfica qualquer conquista da

    criana comparando-a apenas consigo mesma. O carisma da coordenadora

    influenciou muito no planejamento das aes interventivas e foi decisivo para a

    execuo dos reagrupamentos.

    Ainda falando do BIA, havia registros do ano anterior que apontavam para

    uma sria deficincia no letramento matemtico detectados pelos professores dos

    4s anos. Essa constatao levou a diretora a propor oficinas de matemtica para os

    alunos da 3 Etapa. A coordenadora realizou o jogo do tapetinho com os alunos nas

    salas para que as professoras dessem sequncia atividade tornando-a rotineira.

    No entanto, no houve continuao.

    As professoras dos 4s e 5s anos do turno matutino so companheiras de

    trabalho h muitos anos e trabalham de modo integrado, planejam juntas, executam

    juntas o planejamento e o avaliam juntas. Sempre assistidas pela coordenadora que

    comunga com elas o gosto pela leitura. O trabalho delas segue a princpios bem

    atuais como a contextualizao, a interdisciplinaridade e a integralidade. Est

    organizado de modo sempre iniciar a semana com um livro literrio e a partir dele

    explorar todas as reas do conhecimento sem forar uma relao que no exista. A

    coordenadora e as professoras desses anos esto sempre com material preparado

    duas semanas antes do dia marcado para a aplicao do planejamento. De forma

    que se alguma delas precisar se ausentar qualquer um pode dar continuidade ao

    trabalho.

  • 38

    A equipe gestora se programou para substituir as ausncias de professores

    de modo que as coordenadoras pudessem desenvolver seu trabalho mais

    tranquilamente. A coordenadora da Educao Infantil, por ter menos turmas sob

    seus cuidados, apenas cinco, prontificou-se a ajudar no rodzio das substituies.

    As equipes especializadas fazem um trabalho integrado de modo a atender

    o maior nmero possvel de casos encaminhados. A orientadora recebe as fichas,

    faz os primeiros contatos, assume aqueles que apresentam apenas problemas

    comportamentais e passa para observao do SEAA aqueles com dificuldades de

    aprendizagem. A psicloga e a pedagoga realizam os testes padronizados para

    investigar se a criana apresenta apenas uma dificuldade de aprendizagem ou se

    tem algum dficit intelectual (DI), ou ainda algum tipo de transtorno. As famlias dos

    alunos com suspeitas de transtornos so chamadas e aconselhadas a realizar

    exames clnicos para os quais j levam encaminhamento. A pedagoga auxilia

    aqueles que apresentam laudo mdico. Os demais so atendidos nas aes

    interventivas pontuais promovidas pela equipe pedaggica e no reforo escolar,

    oportunidade tambm oferecida a todos os ANEEs. Quando diagnosticado dficit

    intelectual, o aluno em encaminhado para a Sala de Recurso onde participa de

    intervenes especficas. A professora da sala de Recurso oferece apoio aos

    professores regentes desses alunos a fim de auxiliar no planejamento delas e na

    adequao curricular.

    O questionrio e a entrevista foram realizados de modo a tecer argumentos

    que estabeleam relao com os objetivos especficos da pesquisa.

    Para que se possa ter uma maior diversidade de opinies, as professoras

    colaboradoras foram escolhidas dos diferentes Blocos do II Ciclo. Para preservar a

    identidade das professoras os nomes usados so fictcios. Duas professoras do BIA,

    a professora Cintia que no acredita nos ciclos, mas trabalha com um 2 ano e a

    professora Anita que partidria dessa proposta e trabalha com um 1 ano. A

    professora Marlia do 4 ano e a professora Rita trabalha com um 5 ano e no

    concordam com a no reprovao (essa a opinio de todas as professoras que

    trabalham com o II Bloco). Tambm contriburam para a pesquisa a professora

    Elimara, coordenadora do BIA, a professora Rose, coordenadora dos 4s e 5s anos,

    e a professora Alice, da sala de recursos.

    A professora Cintia est dentro da faixa etria que compreende os 46 aos 55

    anos, possui 30 anos de magistrio, possui formao em Pedagogia e Letras e ps-

    graduao em Psicopedagogia e Administrao Escolar.

    A professora Marlia tem idade entre 36 e 45 anos, 24 anos de magistrio,

    formada em Pedagogia, ps-graduada em Administrao Escolar.

    A professora Rita tem idade entre 36 e 45 anos, 24 anos de magistrio,

    graduada em Pedagogia e ps-graduada em Educao Infantil e sries Iniciais.

  • 39

    A professora Alice (sala de recurso) tem idade entre 36 e 45 anos, 24 anos

    de magistrio, graduada em Pedagogia, ps-graduada em Psicopedagogia e em

    Educao Inclusiva.

    A professora Anita tem idade entre 36 e 45 anos, 23 anos de magistrio,

    graduada em Pedagogia e no cursou especializao.

    A coordenadora do BIA, professora Elimara, est na faixa etria que

    representa dos 36 a 45 anos, 20 anos na carreira magistrio, possui Licenciatura

    Plena em Educao Artstica, ps-graduada em Arte terapia na sade e educao.

    A professora Rose, coordenadora dos 4s e 5s anos tem entre 36 e 45 anos,

    25 anos de magistrio, graduada em Pedagogia e ps-graduada em Ludicidade na

    Educao.

    O quadro abaixo tem a finalidade de facilitar a interpretao da situao das

    professoras colaboradoras:

    NOME FUNO FAIXA ETRIA

    TEMPO DE MAGISTRIO

    GRADUAO PS-GRADUAO

    Cntia Professora 46 a 55 30 anos Pedagogia/Letras Psicopedagogia e Adm. Escolar

    Anita Professora 36 a 45 23 anos Pedagogia -

    Marlia Professora 36 a 45 24 anos Pedagogia Adm. Escolar

    Rita Professora 36 a 45 24 anos Pedagogia Ed. Infantil e Sries Iniciais

    Elimara Coordenadora 36 a 45 20 anos Ed. Artstica Arte terapia

    Rose Coordenadora 36 a 45 25 anos Pedagogia Ludicidade na Educao

    Alice Sala de Recurso 36 a 45 24 anos Pedagogia Psicopedagogia e Ed. Inclusiva

    Fonte: Questionrio

    A observao da prtica docente, da gesto e da rotina diria garante

    legitimidade interpretao dos dados coletados e facilita sua anlise.

    As informaes sobre a situao profissional das participantes da pesquisa

    no apontam caminhos rumo compreenso da diviso de opinies no tocante

    forma de organizar o ensino. Visto que todas so profissionais experientes com 20

    anos ou mais de carreira, todas so graduadas e ps-graduadas. A percepo

    dessa diferena de opinies veio logo no incio da observao quando em fevereiro,

    dia 19 para ser mais exata a equipe gestora reuniu todo grupo pedaggico da escola

    - os demais funcionrios foram convidados e os pais foram convidados, porm

    poucos compareceram - para decidir sobre a adeso ou no ao sistema de ciclos

    para os 4s e 5s anos.

    A diretora iniciou a reunio explicando o motivo pelo qual todos estavam ali

    reunidos e prosseguiu falando que a escola j trabalhava com a organizao em

    ciclos nos trs primeiros anos do Ensino Fundamental Anos Iniciais com o Bloco

  • 40

    Inicial de Alfabetizao e na Educao Infantil. Em seguida falou de maneira

    resumida que os 4s e 5s anos tinham a funo de sistematizar as aprendizagens

    consolidadas no BIA e que aderir ao sistema de ciclos para esses anos nada mais

    era que estender o trabalho realizado nesse bloco.

    [...] A diretora falou ainda sobre as aprendizagens significativas para o BIA e para os 4s e 5s anos e concluiu dizendo que nada havia de novo para a prtica pedaggica da escola e que as retenes no quarto e quinto ano foram mnimas no ano anterior. A vice-diretora apresentou os nmeros para comprovar essa fala. (Transcrito da Ata de Reunies da Escola Renascer).

    RENDIMENTO ESCOLAR DE 2012 3 ao 5 ANO

    ANO APROVADOS RETIDOS

    3 ANO 91 20

    4 ANO 84 09

    5 ANO 68 08 Fonte: Ata de Conselho de Classe Final.

    QUADRO DE DESENVOLVIMENTO PSICOGENDTICO

    ANO PS2 S A ALFABETIZADOS

    1 03 11 26 55

    2 02 04 12 68

    3 01 05 10 93 Fonte: Ata do Conselho de Classe Final.