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Eixo: Instituições Escolares 07
ESCOLAS POLIVALENTES NA DITADURA CIVIL-MILITAR:
MARCONO MODELO DE ENSINO PROFISSIONALIZANTE
OUINSTRUMENTOS DE PROPAGANDA DO REGIME?: O
PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO POLIVALENTE DE
ITUIUTABA- MG (1974-1985)
1Genis Alves Pereira de Lima– UFU
2Drº Sauloéber Társio de Souza– UFU
Resumo: Este texto apresenta resultados da pesquisa em torno da história da Escola
Estadual "Antônio de Souza Martins" - o Polivalente, na cidade de Ituiutaba-MG, no
período que abrange os anos de 1974 a 1985, e parte da observação do contexto de sua
criação legal, no período da Ditadura Civil-Militar, sendo este o fator da implantação
desse tipo de escola em nosso país.Tem como objetivo destacar processos históricos que
deixaram marcos em nossa sociedade, na vida dos atores que participaram das vivências
neste âmbito escolar, valorizando a identidade da instituição, bem como os
conhecimentos gerados para o campo da história da educação de nosso país e da região
em específico.É fato que o Brasil no contexto da Ditadura Civil-Militar, encontrava-
sesob influências internacionais que contribuíram para o seguimento de novos
paradigmas ideológicos; neste sentido a educação também foi articulada como um
mecanismoimportante para o alcance das novas propostas educacionais ligadas ao setor
industrial, com ênfase ao ensino técnico profissionalizante, forçando um alinhamento do
país à nova ordem econômica imposta pelo capitalismo monopolista. As escolas
Polivalentes surgem em meio a essa vertente pedagógica, tendo como principal
característica serem as precursoras da implantação do modelo educativo tecnicista do
regime, o qual se baseou nas relações entre o Brasil e Estados Unidos, por meio de
acordos entre MEC/ USAID (Ministério da Educação e Cultura/ United
StatesAgencyofInternationalDevelopmetn). Metodologicamente o estudo se pautou por
pesquisas bibliográfica, documentais e iconográficas e entrevistas com ex-gestores, ex-
alunos e ex-professores que tiveram participação em meio as vivências e experiências
da referida instituição. A escola Polivalente de Ituiutaba-MG, desde sua criação, contou
com boa infraestrutura diferenciando-se das demais escolas públicas criadas
anteriormente, marcadas pela precariedade de suas instalações, contou, portanto, com
1 Genis Alves Pereira de Lima, Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. E-mail:
2 Sauloéber Társio de Souza, Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. E-mail:
2
condições boas para efetivar, desde sua criação, práticas norteadoras de umaformação
pautada na qualidade do ensino ofertada aos seus alunos, desenvolvendo trabalho
integrado entre o ensino regular e o técnico, este último representava pequena parcela da
carga horária curricular, o que permite afirmar que a ambição profissionalizante dessas
escolas não foi exitosa, nesse quesito, como pretendia o governo civil-militar.
Palavras-chave: Instituições Escolares; Escolas Polivalentes; Ditadura Civil-Militar;
Ensino Profissionalizante.
Introdução
A pesquisa consiste no estudo sobre o processo de implantação das escolas
Polivalentes, e especificamente o da Escola Estadual “Antônio de Souza Martins ”- o
Polivalente, na cidade de Ituiutaba-MG, bem como da reflexão sobre a história dessa
instituição e dos atores que ali estiveram em parte de sua vivência.
Neste sentido, a proposta em buscar pesquisar essa escola Polivalente decorre da
compreensão do contexto que abrange sua criação (1974); o período do Regime Militar,
sendo este o marco da implantação das referentes escolas no país, e isso implica
compreender: Que educação a ser implantada nelas? A partir de que ou/de quem seriam
os interesses desse modelo de educação? Quais seriam os grupos sociais atendidos por
essas escolas? Quem eram as pessoas que compuseram parte dessa história? Estas são
algumas das indagações a serem investigadas nesta proposta de trabalho.
Investigar a referida instituição implicou, portanto, a busca pela reflexão dos
processos históricos que deixaram marcos em nossa sociedade, na vida dos gestores,
professores, alunos, além da própria valorização da identidade da instituição enquanto
provedora da educação, e assim das pessoas que por ali construíram um pouco da sua
história de vida naquele determinado período.
A proposta metodológica do trabalho aqui delineado se pautou ao início à
revisão bibliográfica, pela qual o pesquisador tem a possibilidade de expandir os
conhecimentos metodológicos, essenciais na investigação histórica, uma vez que as
mudanças ocorridas nas teorias metodológicas produziram embasamentos favoráveis ao
desenvolvimento das pesquisas históricas. Neste sentido, apontam Souza e Castanho
(2009, p.3):
3
As mudanças de ordem teórico-metodológica na investigação histórica
produziram efeitos positivos em diferentes aspectos da produção do
conhecimento, o que refletiu também na maneira de se fazer a história
da educação no Brasil, contribuindo para que este campo da ciência se
constituísse em espaço autônomo, com objeto próprio, mesmo que se
apoiando em outras disciplinas.
O procedimento metodológico para a investigação se compôs também em visitas
a Escola Polivalente e ao Acervo Cultural do Município, para o levantamento de
informações a partir dos documentos encontrados, além da análise das fontes,
compostas por documentos como o Regimento de implantação, caderno de Posse e
Exercício de professores, algumas matérias jornalísticas, publicações oficiais e
iconografia, bem como se apoiou em fontes orais em entrevistas com seis ex-alunas,
quatro ex-professores, uma ex-funcionária e um ex-diretor da escola, os quais
contribuíram relevantemente com as informações sobre o período em que ativamente
estiveram em meio ao interior da instituição3.
Alberti (2008, p.166) ao se referir sobre a relevância da História Oral no trabalho
de pesquisa:
Essa riqueza da História oral está evidentemente relacionada ao fato
de ela permitir o conhecimento de experiências e modos de vida de
diferentes grupos sociais. Nesse sentido, o pesquisador tem acesso a
uma multiplicidade de "histórias dentro da história", que dependendo
de seu alcance e dimensão, permitem alterar a "hierarquia de
significações historiográficas", no dizer da historiadora italiana Silvia
Salvatici. Outros campos nos quais a História oral pode ser útil são a
História do cotidiano (a entrevista de história de vida pode conter
descrições bastante fidedignas das ações cotidianas); [...]Histórias de
comunidades, como as de bairro, as de imigrantes, as camponesas etc,
podendo inclusive auxiliar na investigação de genealogias; História de
instituições, tanto públicas como privadas; registro de tradições
culturais, aí incluídas as tradições orais, e História da memória.
(ALBERTI, 2008, p. 166)
3 Todas as entrevistas foram previamente marcadas com data e horários específicos com os participantes.
Foram usados pseudônimos para os nomes dos entrevistados. Neste artigo especificamente serão
destacadas dentre as entrevistas realizadas, uma de cada parte constitutiva como exemplificação das
abordagens relativas à História Oral com os sujeitos entrevistados.
4
A referida autora ressalta que outra especificidade da História Oral é o fato desta
ter como um dos principais alicerces a narrativa, já que “um acontecimento vivido pelo
entrevistado não pode ser transmitido a outrem sem que seja narrado”. (ALBERTI,
2008, p. 170-171).
Já para Xavier (2005, p.2), a História Oral “é considerada como fonte identitária
de um povo, capaz de retratar as realidades, as vivências e os modos de vida de uma
comunidade em cada tempo e nas suas mais variadas sociabilidades” No entanto,
segundo este autor, é preciso que, ao trabalhar com as fontes orais, tenha-se a precaução
quanto a não priorizar somente estas, mas buscar redimensioná-las com fontes escritas,
visando chegar a uma investigação mais aprofundada no objeto de pesquisa.
A memória pode ser vista como uma busca de representações constitutivas de
culturas entre os povos. Neste sentido esse autor ressalta a importância da memória ao
se trabalhar com a História Oral:
Não se pode negar que, ultimamente, vários estudos são direcionados
para o estudo da memória. Já se disse que "um povo sem memória é
um povo sem história". Entende-se por esta expressão que não há
história sem memória. O discurso, hoje, sobre memória, enfoca que
ela é o encontro do passado no presente e que significa a identidade
cultural, a construção e a história de um povo. A memória representa a
forma de organização de uma nação, sociedade, comunidade, cidade
ou grupo social. É necessário ressaltar que a memória em debate é a
memória coletiva, pois, os indivíduos, não podem ser analisados
separadamente. Eles não vivem isoladamente e a memória, ao ser
retratada, será sempre de um grupo ou classe social. Deste modo,
entende-se que a memória individual é parte constitutiva e inseparável
da memória coletiva(HALBWACHS, 1990: 36).(XAVIER, 2005, p.
8).
Diante desse novo fazer metodológico sobre as instituições escolares, os estudos
temáticos referentes à estas tem se mostrado relevantes fontes de pesquisas, uma vez
que propicia o conhecimento relativo à própria identidade da instituição pesquisada,
bem como a valorização desta na sociedade, e sobretudo às vivências passadas pelos
atores que foram participantes em meio ao processo de construção da sua respectiva
historicidade.
5
Pode-se refletir sobre as inúmeras possibilidades de se buscar fazer a
História de Instituições Escolares, no entanto é pertinente nos indagarmos o porquê de
se fazer a história de uma determinada instituição. Sanfelice (2006) aponta alguns
pontos a serem considerados para a resposta, a qual segundo ele não é muito simples;
dentre os pontos destacam-se:
[...] As instituições escolares têm também uma origem quase sempre
muito peculiar. Os motivos pelos quais uma unidade escolar passa a
existir são os mais diferenciados. Às vezes a unidade surge como uma
decorrência da política educacional em prática. Mas nem sempre. Em
outras situações a unidade escolar somente se viabiliza pela conquista
de movimentos sociais mobilizados, ou pela iniciativa de grupos
confessionais ou de empresários. A origem de cada instituição escolar,
quando decifrada, costuma nos oferecer várias surpresas.
(SANFELICE, 2006, p, 23).
O trabalho de pesquisa historiográfica neste intuito, é produzido a partir da
interpretação que se faz do sentido que tais instituições escolares propiciaram aos
sujeitos enquanto nas formas que educaram, instruíram e contribuíram para a formação
ofertada, e que de algum modo estão preservadas na memória dos que vivenciaram
práticas no interior dessas instituições.
O pesquisador, assim ao adentrar o trabalho de pesquisa, deve se atentar para
uma profunda investigação, que compreende uma vasta dedicação entre o objeto e as
partes envolvidas; nesta análise metodológica proposta “é essencial indagar a origem
social e o destino profissional dos atores de uma instituição escolar para se definir o
sentido social da mesma; assim como é essencial analisar os currículos aí utilizados para
se compreender seus objetivos sociais”. (BUFFA e NOSELLA 2005, p.5083)
Diante desta perspectiva, se torna necessário, que o trabalho de investigação às
instituições escolares, abranja uma contextualização ampla de compreensão histórica.
Portanto, neste trabalho de pesquisa da história da Escola Estadual Antônio
Souza Martins- Polivalente, buscamos a construção de uma história propiciadora de
relevantes conhecimentos constituintes de parte de nossa história local e brasileira no
período empreendido em que o país se encontrava sob o regime da Ditadura Militar,
6
com o intuito de que esta poderá servir de apoio à maiores explanações posteriores na
área da historiografia referente às Instituições Escolares.
Desenvolvimento
1. As implicações oriundas do contexto político educacional brasileiro durante
o período do regime ditatorial
Ao procurar entender sobre a criação de uma instituição escolar, é buscar o
aprofundamento dos processos históricos que abrangem o contexto político, econômico,
cultural e social de um determinado período da história, dessa forma, torna-se favorável
uma breve abordagem do contexto histórico, ao qual há uma estreita relação entre
acontecimentos marcantes da história, entre as políticas internacionais que adentraram
nosso país, contribuindo para modos de organização no âmbito educacional brasileiro,
especificamente se tratando do período ao qual objetiva o presente trabalho: A 4Ditadura
Civil Militar, ocorrida entre os anos de 1964 a 1985.
Podemos destacar as interferências oriundas do contexto da Segunda Guerra
mundial entre os anos de 1934 a 1945, como marcantes às determinações econômicas,
políticas, sociais e consequentemente educacionais; uma vez que a partir de então, os
países considerados economicamente prejudicados passaram a ter a “ajuda” de
financiamentos dos Estados Unidos, bem como passaram também ao endividamento e
controle político até mesmo na educação, estando o Brasil à mercê dessas questões.
Este breve contexto remete às influências capitalistas de poder, exercidas pelos
Estados Unidos, que a partir de então cada vez se tornaram mais visíveis as relações de
linhagem capitalista, e consequentemente de empréstimos e dívidas aos quais o Brasil
4 O início da Ditadura Civil Militar teve como principal característica a inconformidade por parte dos
opositores, as propostas de governo de João Goulart, o então presidente com planos democráticos de
reformas, que favorecia as massas de trabalhadores; seus adversários assim em 31 de março de 1964 o
destituíram do poder com o Golpe Militar, resultando na permanência de governos militares no poder até
o ano de 1985. Neste período, fortes repreensões davam sustentação ao regime, e a oposição ao mesmo
era visto como ameaça nacional (ARAÚJO, 2010).
7
foi se submetendo ao mesmo, referente às negociações que se intensificavam no
mercado internacional.
Tal contexto deixou marcos na história brasileira, bem como na Educação, a
qual foi também negociada e submetida a financiamentos e modelos de ensino a serem
seguidos; sendo assim considerada como meio de poder ideológico e possível
manteadora da esfera social; no que diz respeito aos reflexos deixados pelo período
compreendido pela Ditadura Militar, no qual o autoritarismo e controle estiveram
presentes.
Em frente às propostas de implantação de um modelo educativo, pautado numa
lógica de produção capitalista, a qual favorecesse o controle social de homogeneidade;
destacam-se a USAID5. De acordo com Araújo (2007), a USAID estava diretamente
ligada à esfera da educação brasileira, com vistas a manifestar a "intenção em legitimar
um projeto de transformação modernizadora da educação imposta à capitalista.
Logicamente era uma visão de educação a partir do contexto da sociedade brasileira
dividida em classes" (ARAÚJO, 2007, p. 2).
Surge a partir dessas decisões, a implantação das Escolas Polivalentes no Brasil,
seguida da legalização da Lei 5.692/71, e nesta vertente, essas escolas se apresentaram
como uma proposta de ensino, com ênfase de promover o ensino garantindo a qualidade
de uma educação pautada no ensino profissionalizante, no qual se encontrava elevado
grau de prestígio educacional, uma vez que o aparato metodológico e prático contava
com um significativo diferencial, diante dos demais modelos em vigor.
2. Breve contexto da educação frente às propostas do ensino profissionalizante: a
Pedagogia Tecnicista no Brasil
Ao se propor buscar o entendimento sobre a compreensão sobre as práticas
pedagógicas e curriculares de um determinado contexto, implica buscar explicitar fatos
5USAID – Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional/ MEC – Ministério da
Educação e Cultura.
8
determinantes que ocorreram em cada momento histórico em uma sociedade, sendo
assim necessário relacioná-las a aspectos que estiveram estritamente ligados, como os
de ordem econômica, política e social do período em que se efetivaram tais práticas no
meio educacional. Nesse sentido, Mira in Romanowski (2009) ao se referirem sobre as
mudanças ocorridas na educação:
Para compreender as mudanças sofridas na educação, é preciso
relacioná-las com as questões políticas, sociais e econômicas do
momento histórico em que essas mudanças ocorreram. Da mesma
forma, é preciso, também, compreender os pressupostos teóricos
oriundos das relações sociais que fundamentaram propostas de
mudança. (MIRA in ROMANOWSKI, 2009, p. 10208).
Todavia, a década de 70 nos revela um período em que a Pedagogia Tecnicista
esteve à frente de um modelo implantando com maior intensidade na Educação
brasileira, uma vez que esta se encontrou diretamente vinculada ao trabalho pedagógico
escolar.
Tal modelo se caracterizou em vista da organização da necessidade da mão-de-
obra para o trabalho frente à sociedade que se encontrava nesse exato momento, em
meio ao crescimento capitalista industrial e consequentemente, aflorando o aumento das
produções que emergiam sob os interesses de um país economicamente mais
desenvolvido para o progresso.
Nesta perspectiva, ao analisar se realmente ocorreu uma Revolução em 1964, ou
seja, uma ruptura ao que diz respeito aos aspectos políticos e socioeconômicos no
Brasil, Saviani (2007, p. 362) coloca que a partir do Golpe Militar, desencadeado em
março de 1964, de fato a ruptura deu-se no nível político e não no socioeconômico, uma
vez que esta ruptura política buscou “preservar a ordem socioeconômica, pois se temia
que a persistência dos grupos que então controlavam o poder político formal viesse a
provocar uma ruptura no plano socioeconômico” (SAVIANI, 2007, p. 362).
Neste sentido, a Educação sofreu ajustes específicos a partir da concepção do
ensino proposto junto à formação técnica profissionalizante. De acordo com Saviani
(2007, p. 363), a concepção produtivista de Educação, teve como marco de abertura o
9
ano de 1969; a partir deste ano ocorreram reformas implementadas na área educacional
em virtude de aprovações que regulamentavam a incorporação destas reformas na
legislação.
MIRA in ROMANOWSKI (2009, p. 10210), colocam que “as reformas de
Ensino Superior (Lei 5540/68) e do Ensino Primário e Médio (Lei 5692/71 – que
instituiu o Ensino de 1º e 2º graus), decorrentes dos acordos MEC-USAID (1966) foram
representativas da influência da concepção tecnicista no contexto escolar”.
Especificadamente em relação aos objetivos da reforma do 1º e 2º graus as autoras
apontam:
A reforma do Ensino de 1º e 2º Graus teve por objetivo geral
“proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento
de suas potencialidades como elemento de auto-realização,
qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da
cidadania” (Brasil, 2009). Para tanto, ampliou a obrigatoriedade para 8
(oito) anos, aglutinando o curso primário e o ginasial e extinguiu a
separação entre escola secundária e escola técnica, criando o ensino
profissionalizante. (MIRA in ROMANOWSKI, 2009, p. 10211).
A Pedagogia Tecnicista é compreendida assim, tendo sua origem no Brasil a
partir da tendência produtivista, sob a aprovação da Lei n. 5692, de 11 de agosto de
1971, a qual buscou seu estendimento a todas as escolas do país.
Mediante tais indagações o presente trabalho buscou uma reflexão sobre essa
Pedagogia aplicada no âmbito da referida instituição pesquisada, a fim de estabelecer
uma relação entre o trabalho desenvolvido entre o ensino ali ofertado e aprendizagem
apreendida pelos ex-alunos que ali perpassaram parte do processo de formação, na qual
se pautou a voz ativa dos sujeitos que fizeram parte dessa história, pela pesquisa aqui
delineada.
3. A Escola Polivalente em Ituiutaba: um grande marco educacional e social
permeado de vivências, práticas e significados (1974-1985)
A história de uma instituição escolar não se restringe apenas ao seu fazer
burocrático, pedagógico e prático, mas vai muito além disso, uma vez que todas as
10
relações que a envolvem são advindas de processos interativos entre os atores que a
comporam em determinado período.
Nesta perspectiva, ao pesquisarmos sobre a historicidade de uma Instituição
Escolar, é imprescindível a consideração de que há em meio ao todo, um contexto
histórico-social representativo por distintas práticas que foram construídas e
estabelecidas, colocando-se como fontes indicativas para importantes compreensões
relativas aos processos constituintes da sua estrutura organizacional em meio à
sociedade.
As Escolas Polivalentes surgem em meio a essas vertentes pedagógicas, tendo
como principal característica serem as precursoras da implantação do modelo educativo
tecnicista, o qual se baseou nas relações econômicas entre o Brasil e Estados Unidos,
por meio de acordos entre MEC/USAID (Ministério da Educação e Cultura/United
StatesAgencyofInternationalDevelopment).
Dentre os objetivos das Escolas Polivalentes estava o de propiciar o ensino no
qual além das disciplinas regulares, abrangeria também as disciplinas de Práticas
Agrícola, Industrial, Comercial e Educação Para o Lar.
Em meio a este contexto histórico, a cidade de Ituiutaba recebe, assim, através
do PREMEM (Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio) em convênio com
o Estado, a implantação da Escola Estadual Polivalente “Antônio Souza Martins”,
situada em área central desta cidade. No entanto, esta Escola trazia um diferencial que a
distinguia das demais escolas também implantadas neste período: a proposta de ensino
curricular, bem como as metodologias aplicadas no processo de ensino e de
aprendizagem aos alunos.
Este marco constituinte ficou estabelecido por meio do Decreto Nº 16. 654, de
Outubro de 1974, de Criação das Escolas Polivalentes de 1º Grau.
A futura implantação desta instituição, como constatado em acervo histórico, foi
consideravelmente anunciada em Jornal da cidade quando ainda se encontrava em
processo de construção: "O Ginásio Polivalente será sem sombra de dúvidas, uma nova
11
arrencada de Ituiutaba no setor educacional e haverá de contribuir muito para com o
nosso desenvolvimento sócio-cultural e econômico" (Jornal de Ituiutaba, 4 de novembro
de 1973).
Figura 01: Notícia sobre a inauguração do Polivalente
Fonte: Acervo Cultural do Município.
Em outra matéria jornalística, revela-se que a instituição escolar era
ansiosamente aguardada pela comunidade local, carente de oportunidades educativas:
A instalação do Polivalente é de grande significação para nossa
comuna. É a concretização de um ideal, para a qual contribuíram a
administração anterior e a atual e os homens do governo ligados ao
setor da instrução pública. Ela virá a ajudar a resolver um dos grandes
problemas de nossa terra, qual seja o da falta de vagas para todos os
que desejam estudar. (Jornal de Ituiutaba, 21 de agosto de 1974).
É possível identificar a partir de sua arquitetura a ampla construção destinada a
suas atividades, bem como ao espaço de sua área física. Neste sentido, a construção
dessa Escola se constitui em um avanço de modernidade educacional da época, uma vez
12
que esta apesar de contar com todas essas especificidades era pública e visava atender
aos anseios da comunidade tijucana por mais oportunidades de escolarização,
especialmente na esfera pública.
Podemos refletir a partir dessa perspectiva, que o Colégio Polivalente, antes de
tudo se mostrava com o intuito de se apresentar como um diferencial, não apenas ao
setor educacional como também ao desenvolvimento cultural e econômico da cidade,
uma vez que, os processos advindos das relações econômicas fluíam em alta por meio
das indústrias que cada vez mais se instalavam no comércio ituiutabano. É
compreendido neste contexto, que este período do recorte temático aqui delineado, se
destaca como um dos mais fluentes no que diz respeito ao desenvolvimento industrial
que a cidade vivia até então, ou seja, as grandes indústrias vieram a se instalar em
Ituiutaba, consideravelmente no decorrer da década de 70.
Segundo constatações através de documentos locais investigados, nesta década a
cidade vivenciou uma grande expansão de progresso, uma vez que recebeu a criação de
importantes obras públicas, como o terminal rodoviário, implantação de rodovias e
aeroporto, o parque de exposições, bem como de indústrias de porte agrícola, pecuária,
pneus, adubos, cerâmicas, dentre outras, destacando-se dentre elas a Nestlé, sendo sua
instalação prevista na cidade, já no ano de 1974, a qual se mantém ativamente no
mercado de produção da cidade. Em destaque editorial de jornal da cidade referente à
tal crescimento industrial: "Já contamos com mais de 200 unidades industriais,
incluindo-se é claro, as máquinas de beneficiar arroz". (Cidade de Ituiutaba, 16-
17/07/1974).
Nesta perspectiva, a Escola Polivalente veio a ser implantada em meio a este
próspero crescimento industrial em Ituiutaba, a qual perpassava por grandes
investimentos que foram efetivados em prol do desenvolvimento econômico, sendo um
fator primordial para novas possibilidades do crescimento do mercado de trabalho, ao
passo que as atividades industriais buscavam se expandir neste município.
13
Esta Instituição foi assim compreendida no primeiro momento ao ensino de 1º
Grau desde sua implementação no ano de 1974, quando foram iniciadas suas atividades,
passando a partir do ano de 1984, a ser ofertado e ensino de 2º Grau.
Figura 02: Alunas (os) da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - Polivalente
Fonte: Acervo da Escola Estadual Antônio Souza Martins – Polivalente.
Deste modo, a Escola Polivalente se constituiu através do trabalho coletivo,
desenvolvido por meio das práticas formativas e realizadas entre os atores que estiveram
inseridos nessa instituição. Logo, podemos perceber através dos relatos de parte dos
sujeitos que tiveram participação nessa instituição, que significativas marcas estão
presentes na vida dos mesmos.
A partir dos depoimentos destes, foi possível a reflexão sobre os significados
construídos em meio as suas práticas experenciadas junto a esta escola, podendo
também ser vista suas considerações ao terem sido partícipes do processo histórico
educativo propiciado pelo Polivalente à população tijucana. Sendo assim oportuno uma
breve contextualização relativa a alguns dos entrevistados.
14
Ao falar sobre sua vida acadêmica, o Professor Valter relata que o seu processo
de contratação nesta escola, segundo ele, se deu por meio de seleção através de
vestibular, mediante sua formação no Curso de Licenciatura para Formação de
Professores destinado aos profissionais que atuariam nas Escolas Polivalentes, realizada
na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, na qual se especializou na área de
Práticas Agrícolas.
A escola segundo ele, contava com uma Gestão participativa, já que Diretor,
Vice, Supervisão, Orientação, Professores e Serviçais trabalhavam sempre em conjunto,
mantendo uma boa relação com todos da escola.
Quanto ao aspecto físico do Polivalente na época em que atuou nesta escola, ele
relatou que este era excelente, capaz de atender alunos e professores em todos os
aspectos, uma vez que contava com uma ampla estrutura tanto no ambiente interior,
com salas e laboratórios adequados ao trabalho pedagógico, quanto ao ambiente
exterior, o qual contava com vasta área para as práticas efetivadas com os alunos, como
a sua disciplina de Práticas Agrícolas, a qual no momento das aulas práticas era
realizada no espaço específico destinado às mesmas, como também quadras de esporte,
dentre outros.
Ele relatou que a escola contava com uma grande demanda de alunos e era
muito procurada pela população tijucana, segundo ele, vinham muitos filhos de
fazendeiros da região estudar no Polivalente, como também alunos de famílias
tradicionais da cidade. Sobre o perfil destes, na maioria, em sua consideração quanto o
nível socioeconômico, estava no nível da classe média.
Segundo o Professor, não havia casos de evasão desses alunos e quanto a
transferências, estas ocorriam apenas por motivo de mudança de família, já que quem
começava na 5ª série sempre terminava o curso que abrangia até a 8ª série. A
distribuição das vagas era organizada de modo a preencher o número correspondente ao
que a escola ofertava: “existiam na época 400 vagas por turno para as 4 áreas de
atuação – Agrícolas, Comerciais, Industriais e Educação Para o Lar. Havia exame de
seleção para todos os alunos”. (VALTER, 2015)
15
Neste sentido, os alunos já eram orientados a refletirem sobre a possível vocação
profissional, ou seja, a escola propiciava ao aluno a se conhecer e se identificar com as
ramificações propostas pelos cursos integrados ao ensino que este aluno frequentava no
decorrer de sua formação nas quatro séries abrangentes nesta escola.
Dentre as alunas que foram entrevistadas, todas residem neste município; estas
se fizeram integrantes em prol do processo de construção dessa história, bem como das
interpretações que foram sendo constituídas nessa trajetória em busca de significados
vividos na Escola Polivalente.
Ao falar sobre sua trajetória acadêmica, a ex-aluna Vanusa relata que começou a
estudar na Escola Polivalente no ano de 1976 na 5ª série, concluindo nesta até a 8ª, o
que de acordo com ela, era o que a escola oferecia, não possuindo nenhuma reprovação
neste período. Ao se referir sobre o ensino que o Polivalente ofertava, bem como das
disciplinas que compunham o currículo, o qual abrangia o ensino regular integrado ao
profissionalizante, Vanusa bem destaca a forma como estas eram organizadas mediante
as práticas ali vivenciadas por ela no período em que lá estudou:
O diferencial da escola era a oferta em concomitância com o ensino
regular, disciplinas de caráter profissionalizante. Não era
propriamente um curso independente, mas disciplinas que integravam
o currículo escolar. Essas disciplinas eram: Educação para o lar,
Técnicas Comerciais, Técnicas Industriais e Técnicas Agrícolas. As
matérias do ensino regular eram: Português, Matemática, História,
Geografia, Ciências, que dispunha de um magnífico laboratório todo
equipado e até as mesas eram diferenciadas das demais disciplinas,
pois a sala era específica. Educação Física, Educação Artística,
Inglês, Francês, Moral e Cívica OSPB - Organização Social e
Política do Brasil. Essas duas últimas substituíram as disciplinas de
filosofia e sociologia consideradas de caráter comunista e
reacionárias pelo governo militar, claro que entendi isso depois de
adulta.... As salas de aula eram todas específicas, por conta da
diversidade de cada disciplina, não somente para as disciplinas
profissionalizantes, mas as do currículo regular também. Sendo
assim os alunos que mudavam de sala a cada troca de horário, não os
professores. (VANUSA, 2015).
Segundo esta aluna, as avaliações eram realizadas sem muita distinção do que
temos atualmente, já que faziam provas de caráter somativa, mensais e bimestrais, como
16
|também trabalhavam em grupo, faziam cópias de conteúdos dos livros, “mas também
fazíamos trabalhos interessantes como dramatizações de livros de literatura,
maquetes,avaliações práticas de ciências no belíssimo laboratório, entre outros”.
(VANUSA, 2015)
Ao concluir sobre sua experiência e vivência formativa no Polivalente, Vanusa
relatou sua consideração quanto a qualidade do ensino que a escola buscou oferecer no
período de seus estudos:
No contexto do período e considerando a realidade das demais
escolas públicas, o Polivalente ofereceu sim uma educação
polivalente e de qualidade... foi uma escola de proeminência na
sociedade ituiutabana, principalmente por oferecer um ensino de boa
qualidade e de acesso a população de baixa renda. (VANUSA, 2015)
Considerando que escola se constitui como espaço educativo mediante aos
conhecimentos que são produzidos em meio às relações sociais que se estabelecem entre
os sujeitos, buscamos enfatizar a importância da participação dos funcionários que junto
a comunidade escolar constituem o processo organizacional educativo deste espaço.
A senhora Carla relatou que ao iniciar sua atividade profissional na Escola
Polivalente a sua adaptação foi tranquila porque era um ambiente muito bom, de acordo
com ela o desenvolvimento do seu trabalho era dinâmico “a gente chegava, varria,
fazia a organização das salas, ajudava na cantina, na área externa, ajudei também na
secretaria, rodando provas”. (CARLA, 2015)
Desse modo, a senhora Carla em seu depoimento relatou que a escola na época
promovia interações com a comunidade “era muito bom, lá tinha o Dia do Convívio,
com a participação dos pais, alunos e professores, nesse dia tinha almoço, recreação,
lanche”. (CARLA, 2015)
Ao se referir sobre sua consideração referente a vivência junto a todos que
faziam parte do Polivalente e as relações que lá foram constituídas, a senhora Carla
relatou que:
Sempre tive uma boa convivência com todos, não havia indiferença
entre diretor, professores, funcionários e alunos, parecia uma
família... também havia as regras na escola, e as advertências de
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acordo com o Regimento Interno para todos. Foi uma escola muito
importante para mim, eu cresci.(CARLA, 2015)
O ex-diretor Sandro, em seu depoimento, relatou que em sua carreira docente
lecionou em Goiânia, as disciplinas de Filosofia e Psicologia em 2º Grau, no entanto sua
ambição educacional sempre foi a de gerir uma escola técnica, até que foi convidado a
criar uma Escola Normal em Magistério em uma cidade do interior, através da qual ele
considera que o fez gostar e se identificar com a área da gestão:
[...] me aventurei e me apaixonei pela gestão administrativa escolar;
porque o que eu encontrei; um pessoal que não tinha visão nenhuma,
com uns costumes muito elementares de educação e mesmo de
família, [...] fiquei surpreso, mas falei aqui é o meu lugar, vou dar um
salto nisso. (SANDRO, 2015)
Neste sentido, o ex-diretor relatou que esta foi sua primeira experiência como
gestor na área educacional, na qual ele atuou até quando prestou concurso para o
Polivalente, no qual passou e posteriormente foi realizar o Curso de Administração
Escolar em Belo Horizonte, como aponta em seu depoimento:
[...] o processo seletivo foi o seguinte, uma seleção onde tinha mais de
400 pessoas concorrendo a 76 vagas, que eram para as novas escolas
que iam abrir, então eu consegui, daí tivemos que fazer o curso
específico para as escolas Polivalentes na Universidade Federal de
Belo Horizonte, fiz o curso de Administração Escolar. (SANDRO,
2015)
Como relatado pelo ex-diretor Sandro, a escola iniciou suas atividades com o
regime semestral no 2º semestre, em Setembro de 1974, o que veio a ser uma tremenda
surpresa, já que, segundo ele, foi um drama em relação a conseguir alunos e, o que
propuseram foi procurar e oferecer vagas para os alunos evadidos das escolas existentes,
bem como para quem não havia ainda se matriculado “então nós fizemos uma proposta
para 400 alunos e tivemos um atendimento para mais de 700 alunos, passavam pelo
exame de seleção, especificamente matemática e português”. (SANDRO, 2015)
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Referente ao exposto pelo ex-diretor Sandro, foi notícia em destaque do jornal
da cidade o anúncio sobre as vagas disponibilizadas na escola, como demonstra a
imagem abaixo:
Figura 03: Notícia sobre as vagas para inscrições no Polivalente
Fonte: Acervo Cultural do Município.
Nesta perspectiva, o ex-diretor Sandro, colocou que ao início a escola recebeu
muitos alunos que não haviam conseguido acesso as principais escolas de Ituiutaba,
dando-se atendimento a um grande número de alunos moradores de distintas áreas da
cidade, segundo ele, os alunos buscavam também o acesso a uma escola nova, bonita e
atraente.
Ao se referir sobre o ensino ofertado na escola, considerando que o mesmo
contava com o diferencial do curso técnico integrado ao ensino regular, o ex-diretor
relatou que este visava a uma preparação inicial para o aluno se apropriar de uma futura
descoberta, como relatado:
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Esse programa na época do PREMEM, ele deveria ser o que hoje
aspiram a formação técnica, começamos com uma iniciação
profissional, então ela funcionava de 5ª a 8ª série, e nós
trabalhávamos com o aluno o ensino acadêmico, com as disciplinas
comuns, o currículo comum e mais as de iniciação profissional, de
Artes Industriais, Educação para o Lar, Práticas Comerciais e
Práticas Agrícolas, para nível de 5ª série era simplesmente uma
iniciação ou uma apropriação para a pessoa descobrir uma
profissionalização, um futuro educacional, então era semestral, como
que funcionava, em dois anos os alunos passavam por semestre para
uma dessas práticas de iniciação profissional e na sétima série ele
definia por dois anos o que ele queria fazer, a cada semestre ia
passando por uma dessas práticas e depois na 7ª e 8ª ele definia.
(SANDRO, 2015)
No entanto, segundo ele, apesar da grade curricular contar um número
determinado para cada disciplina que compunha o currículo do Polivalente, a
preponderância era para as áreas de Português e Matemática. Desse modo, o ex-diretor
relatou que sempre houve uma certa competitividade entre outras escolas da cidade, ou
seja, havia as escolas consideradas as melhores para prepararem os alunos para o
vestibular, e assim começaram a descobrir que no Polivalente também isso era viável, já
que o ensino deste dava possibilidade para os alunos passarem nos vestibulares também.
O ex-diretor, nessa perspectiva, ao falar sobre o conceito de educação ofertada
na escola durante o período de sua gestão, relatou que sempre procurou desenvolver um
trabalho coletivo com todos da escola, pois segundo ele, em primeiro lugar ele tinha
uma proposta pedagógica para esta escola mediante sua concepção de educação, a qual
foi pautada nos ideais de Paulo Freire, o qual foi seu professor de Mestrado.
Sendo assim, o ex-diretor Sandro colocou que aprendeu muito nos estudos que
realizou sobre o pensamento de Paulo Freire, como também na qualidade de aluno deste
autor, tendo assim se identificado com a educação proposta por este educador, sob a
qual pensou em uma escola aberta para todos, alunos, professores, funcionários e
comunidade:
Eu tinha uma proposta, inclusive a proposta pedagógica do
Polivalente, a partir de 1974 era uma experiência que eu sonhava,
que eu visualizava muito o trabalho de Paulo Freire e me encantei e
estudei muito Paulo Freire e fui aluno dele depois no Mestrado em
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Campinas, então a minha proposta era uma escola aberta, uma escola
franca oficial com o aluno sendo o dono do saber, dos interesses, das
necessidades, tudo isso, mas uma escola atraente, agradável, tanto é
verdade que a fanfarra era aberta, era o xodó da escola, tinha 115
instrumentos na época, o esporte era outro atrativo mas ao mesmo
tempo o aluno sabia que era rigorosa e lá era lugar de estudo mesmo
que ela fosse aberta para o esporte aos sábados a vontade, para os
pais, para a família, nós tínhamos um convívio, todo semestre os pais
participavam e iam lá para a escola, chamava-se “um dia na escola
de seu filho”, então nós descobrimos coisas fantásticas... era um
processo tremendamente saudável, agradável e moderno. (SANDRO,
2015)
Neste sentido, o ex-diretor em seu depoimento ao falar sobre o tempo em que
atuou no Polivalente, ressaltou que embora o seu sonho de atuar em uma escola
profissionalizante talvez não tenha se concretizado como almejou, foi nesta escola que
ele vivenciou processos marcantes de sua vida ao sentir que colocou em prática aquilo
que acreditava alcançar no processo educacional enquanto educador:
O Polivalente foi o meu lar, foi lá que eu me realizei como educador,
foi lá que eu realizei um processo que eu acreditava de educação,
onde as matrizes que eu criei com Paulo Freire, com Moacir Gadotti,
com Rubem Alves que foram meus professores também de Mestrado,
com todo esse pessoal eu senti que a educação que eu acreditava, eu
conseguia passar para frente. No aspecto profissional ficou evidente
que foi uma realização tremendamente forte e eu consegui passá-la
para frente com muita maturidade, com muita confiança e com muita
segurança e os resultados, hoje você recebe do pessoal que passou
pela escola, que amadureceu com a gente que conviveu com a gente,
que assumiu com a gente, então eu não posso esquecê-los, como
jamais vou esquecer todo aquele pessoal que se envolveu comigo,
acreditou que ali tinha uma proposta que era diferente e nós fizemos
uma escola diferente, essa foi a minha gratificação. (SANDRO, 2015)
Portanto, de acordo com o ex-diretor Sandro, a sua experiência de atuação no
Polivalente no decorrer deste período, lhe propiciou muitas vivências marcantes. Como
demonstrado, tal experiência remete para uma história que tem sido construída e
constituída a partir de vínculos afetivos que foram vivenciadas em meio a Escola
Polivalente, os quais remetem os significados dessas vivencias que se encontram vivas
na memória dos sujeitos envolvidos.
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Considerações finais
Neste trabalho consideramos que, apesar do contexto político educacional mediante a
ênfase no Ensino Técnico Profissionalizante no período em questão, bem como na
intenção das Escolas Polivalentes no Brasil decorrente do processo de crescimento
industrial e à necessidade de mão-de-obra especializada para o mercado de trabalho, a
Escola Polivalente buscou efetivar, desde sua criação, práticas norteadoras de uma
formação pautada na qualidade do ensino ofertada aos seus alunos, desenvolvendo um
trabalho integrado ao ensino regular e técnico, considerando as especificidades das áreas
do conhecimento.
Tal questão remete para a importância do trabalho mediante a coletividade das partes
constituintes, o qual demonstrou ter sido incorporado às práticas educativas que
estiveram presentes no Planejamento desenvolvido nesta instituição; estas, por sua vez,
foram vividas e assimiladas pelos atores envolvidos no compromisso com a qualidade
da Educação dos seus educandos, não se restringindo a formação técnica profissional,
mas envolvendo também a formação intelectual, social e humana.
É visível a importância do trabalho desenvolvido nesta instituição, bem como no que se
refere à subjetividade relatada pelos sujeitos envolvidos nessa pesquisa histórica, a qual
nos possibilitou a reflexão de que os alunos consideram o Polivalente como uma Escola
que promoveu não apenas o ensino formal acadêmico, como também a construção da
história pessoal e humana vivida nessa instituição. Portanto, ao buscar enfatizar a
história desta escola, foi possível refletir sobre a origem de sua criação, sua rica
estrutura física e arquitetônica (que se diferenciava do histórico de criação de outras
instituições públicas de ensino locais), os atores envolvidos, as práticas vivenciadas, o
modelo e as concepções do ensino ofertado e, sobretudo os significados que se fazem
ainda presentes na vida dos sujeitos que perpassaram por esta instituição escolar. Fato
este que consideramos relevante para a História da Educação ao contemplarmos parte
dos processos constituintes das práticas educativas de nossa sociedade.
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Polivalentes no Brasil. Disponível em:
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