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7/30/2019 Espao de Transio: Interfaces da Gesto Territorial em Rio Branco
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PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO BRANCO
ZONEAMENTO ECONMICO, AMBIENTAL, SOCIAL E CULTURALDE RIO BRANCO - ZEAS
Relatrio de Consultoria
Relatrio Final da Temtica
ESPAOS DE TRANSIO:INTERFACES DA GESTO TERRITORIAL
EM RIO BRANCO
Gisela de Andrade BrugnaraConsultora
Rio Branco - AcreJulho de 2008
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SUMRIO
Apresentao 05
1. Introduo 06
2. Urbanismo na Amaznia - pensamento local e outras vises 08
2.1 Floresta - cidade / Cidade floresta 08
2.2 Pensamento local 09
2.3 Cidade florestal espaos de transio 102.4 Florestania, cidade florestal, ecologia urbana: trs termos, uma
idia integradora
11
3. Uma cidade amaznica 12
3.1 A formao recente do mosaico urbano de Rio Branco 12
3.2 Uma cidade amaznica no sculo XXI 18
4. O Plano Diretor de Rio Branco 22
4.1 Eixos temticos e macro-zonas municipais 22
4.2 Zoneamento urbano 23
4.3 Zoneamento rural e Zona Rururbana 24
4.4 reas especiais o elo para aespacializao do conceito 27
4.5 Planos e programas 29
5. Do Plano Diretor ao ZEAS e vice-versa 31
5.1 Recomendaes 31
5.2 Casos crticos Plos Agro-florestais e intervenes urbanas
de grande escala
38
5.3 Consideraes finais 46
Referncias bibliogrficas 48
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Lista de Figuras
1 Evoluo da ocupao urbana em Rio Branco 14
2 Evoluo da ocupao urbana em Rio Branco - sobreposio 16
3 Municpio de Rio Branco e rea de entorno 17
4 Plano Diretor de Amsterdam, 1935 20
5 Macrozoneamento Municipal 23
6 Zoneamento Urbano 23
7 Zoneamento Rural 24
8 Composio fundiria rural 25
9 rea urbana e fragmentao do entorno 25
10 reas de Especial Interesse Ambiental 26
11 reas Especiais: parques ribeirinhos no rio Acre e igaraps So
Francisco, Batista e Judia
29
12 Vazios urbanos 30
13 APA Raimundo Irineu Serra 33
14 APA Lago do Amap 3415 APA do So Francisco 35
16 Viveiro de mudas para reflorestamento com espcies nativas 38
17 PA Hlio Pimenta e PA Geraldo Fleming AC10 40
18 Fazenda Humait, adjacncias dos PAs H. Pimenta e G. Fleming 41
19 PA Benfica 41
20 Margens do igarap So Francisco: presso de ocupao sobre
a mata restante
42
21 Margens do So Francisco: ocupao recente de grande escala
conjunto habitacional Edson Cadaxo
44
22 Escala e implantao: obra governamental s margens do So
Francisco - conjunto Edson Cadaxo
46
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Lista de Tabelas
1 Populao Acre, 1970-2002 13
2 Populao Regional do Baixo Acre, 1970-2002 13
3 Populao Rio Branco, 1996-2002 13
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Apresentao
1
Este relatrioaborda oportunidades de interao entre o Plano Diretor
de Rio Branco e o ZEAS. Trata das relaes aparentes entre as zonas urbana e
rural e do estabelecimento de zonas de transio, no intuito de apontar possveis
caminhos para fortalecer a integrao entre as diversas realidades espaciais
presentes no municpio, vislumbrando um maior equilbrio intra-regional. Traz
para dentro do ZEAS algumas diretrizes definidas no Plano Diretor para as
macro-zonas que esse estabeleceu no municpio.
O objetivo trazer algumas consideraes sobre como humanizar o
processo de urbanizar em uma cidade amaznica e incrementar a qualidade de
vida local, especificamente, por meio de um estreitamento da articulao do
espao da cidade com as reas de seu entorno imediato, criando espaos de
transio e procurando, por esse fio condutor, contribuir para tornar cada vez
mais evidente a identidade dessa cidade como herana recebida e sonho de sua
populao.Como metodologia, foi feito o cruzamento de alguns artigos da lei do
Plano Diretor e seus mapas resultantes com idias e conceitos orientadores.
As referncias utilizadas foram fontes bibliogrficas, imagens
(fotografias, mapas, imagens de satlite, aerofotos verticais, imagens Google
Earth), entrevistas semi-estruturadas, dados institucionais do Estado e
Prefeitura, alm de reunies integradoras entre a equipe da prefeitura e
consultores do eixo Cultural-Poltico deste ZEAS.
1 Verso revisada em outubro de 2009.
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1. Introduo
Apesar de pautado na perspectiva histrica sobre o uso da terra,
organizao do espao e processo de urbanizao no estado do Acre e em sua
capital Rio Branco, este artigo no faz uma anlise retrospectiva a no ser
brevemente, para os anos mais recentes. Considera-se que essa est melhor
documentada em trabalhos mais especficos cujas referncias so utilizadas
para vincular algumas propostas formuladas. Sugere-se, como leitura adicional,
os artigos sobre o processo de urbanizao no estado (SILVA, 2002), cidades
do Acre (BRUGNARA, 2006) e sntese histrica do municpio de Rio Branco
(NEVES, 2006). Aqui, parte-se j do ano de 2006, um momento aps a
aprovao da reviso do Plano Diretor de Rio Branco.A Lei no. 1.611, de 27 de outubro de 2006, instituiu o novo Plano
Diretor do municpio de Rio Branco, elaborado em um ano e meio de trabalho
por equipe tcnica interdisciplinar em colaborao com a sociedade local (RIO
BRANCO, 2006). Diante do cenrio catico que se observa na conformao da
cidade, dar cabo de um trabalho dessa natureza nesse prazo um feito notvel.
Farto material foi produzido, organizando dados e informaes sobre o
municpio, que podero ser ainda utilizados por longo tempo na atualizao de
propostas de organizao territorial. O processo de elaborao tambm de
aprendizado, para os tcnicos, para a comunidade, para os administradores
pblicos e, portanto, no estanque. Haver muitos momentos de reviso,
adequao e complementao de tarefas.
O ZEAS um primeiro momento para rever eventuais lacunas ou
enfatizar oportunidades abertas no Plano Diretor. E, particularmente, este
relatrio - que trata, dentro do eixo Cultural-Poltico, da interface entre os dois
instrumentos de planejamento e gesto territorial do municpio - evidencia uma
oportunidade vislumbrada por entre os 247 artigos da recente lei:
estabelecer para Rio Branco o conceito integrador de cidade
florestal, para o qual alguns parmetros devero ser alcanados num futuro
breve, com o duplo objetivo de manter viva a memria de sua paisagem original
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- sobre a qual se assenta sua identidade - e sustentar uma determinada
aglomerao com qualidade de vida.
A sugesto apresentada pode ser assim resumida:
Conceito: Rio Branco: cidade florestal.
Meta: alcanar, em (xxx) anos, uma proporo (a determinar) de reas
verdes em relao rea construda da zona urbana e de seu
entorno imediato.
Instrumentos:
passivo ambiental (determinao do ZEE-Fase II);
APPs reas de Preservao Permanente e APAs reas de
Proteo Ambiental (legislao federal);
parques ribeirinhos (Plano Diretor de Rio Branco); quintais florestais, hortas urbanas (propostas anteriores).2
Para investigar a possibilidade de aplicao do que se sugere, foi feito
o cruzamento de alguns artigos da lei do Plano Diretor e seus mapas resultantes
com idias e conceitos orientadores deste artigo, alcanando-se, assim, sua
proposta final:
humanizar o processo de urbanizar em uma cidade amaznica,
aumentando a proporo de reas verdes em relao ao espao
construdo, repovoando a cidade de floresta, criando espaos de
transio: uma conexo fsica no excludente, mais permevel,
entre rea rural e urbana.
A fuso de Plano Diretor e ZEAS deve evidenciar, portanto, os
espaos de passagem entre as reas rural e urbana e esclarecer quais so,
onde esto e sua funo como tal. Dessa forma, sugere-se que a proposta de
Zona Rururbanado Plano Diretor seja reformulada para a definio de algumas
zonas, no necessariamente contnuas, como espaos de transio.
2 Duas questes urgentes que permanecem pendentes no municpio destacam-se comoimplicaes decorrentes, pr-requisitos para o alcance da meta sugerida: resolver as pendnciasfundirias e definir um sistema de recuperao das guas. Ambas constam dos Planos eProgramas fundamentais do Plano Diretor, indicados aqui no final do Captulo 4: Plano municipalde saneamento ambiental e Plano de regularizao fundiria(RIO BRANCO, 2006).
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O Captulo 3.2 seleciona alguns desses espaos a partir de
indicaes contidas no Plano Diretor para que, na fase de prognsticos do
ZEAS, sejam mais um elemento a considerar na composio do mapa de
gesto.
2. Urbanismo na Amaznia pensamento local e outras vises
2.1 Floresta cidade / Cidade floresta
O arquiteto e urbanista Lcio Costa, numa sntese clara - mas nem
por isso sempre evidente, afirma que urbanizar consiste em levar um pouco da
cidade para o campo, e trazer um pouco do campo para dentro da cidade(COSTA, 2003, p.115). Simples assim, ensina o que temos dificuldade extrema
de praticar: que o planejamento urbano no se restringe zona urbana, mas que
deve evidenciar, organizar, direcionar um sistema equilibrado de troca entre
espaos com estruturas e funes distintas porm complementares.
A histria urbanstica brasileira demonstra que o planejamento
urbano, quando h, dificilmente consegue ir alm da linha imaginria que marca
num mapa o permetro urbano como se fosse um muro que separa da cidade
todo o seu entorno rural. Como alertam as autoras:
Enquanto no se pensar na questo da sedentarizao de grupos humanosem termos mais amplos, e a poltica adotada oficialmente desconsiderar queo inchao urbano, nas grandes cidades, tem seu correlato na desarticulaodos espaos rurais e das pequenas cidades que no tm como oferecer osmeios de sobrevivncia populao, o impasse para dar melhorescondies de vida no ter resultados duradouros a longo prazo (ORTIZ eHUE, 1987, p.225).
Uma outra e no menor dificuldade diz respeito tentativa de
padronizao dos modos de organizao espacial. O gegrafo Carlos Walter P.
Gonalves argumenta que h muitas Amaznias na regio amaznica e que,
mesmo com a predominncia de dois padres de organizao espacial um
anterior dcada de 60 do sculo XX (rio-vrzea-floresta), no perodo
extrativista, o outro dominante aps os projetos militares de integrao nacional
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(estrada-terra firme-subsolo) - h uma pluralidade de situaes coexistindo e
compondo um mosaico altamente diversificado que dificultam a tipificao (v.
Figura 8) (GONALVES, 2006).
Essa complexidade e dinamismo das estruturas scio-espaciais
tambm expressa pelos pesquisadores em planejamento regional e geografia
urbana, citados abaixo:
Na Amaznia, a busca por um modelo fundamental intimidante. A fronteiramuda-se, molda-se e comea novamente de lugar pra lugar em um tumultode irregularidades locais. (...) Categorias dicotmicas estabelecidas entre orural e o urbano tornaram-se problemticas quando aplicadas Amaznia,dados os complexos e regionalmente heterogneos padres de migraolocal. (BROWDER e GODFREY, 2006, pp. 29, 33).
2.2 Pensamento local
A idia acreana de florestania, elaborada na ltima dcada, parece
concordar com Lcio Costa ao considerar a permeabilidade entre os limites, os
espaos diferenciados, a convivncia de diversos grupos tnicos, o tempo
presente e a memria. Segundo Antonio Alves, florestania para alm da
verso simplista de levar cidadania para a floresta - um sentimento orientador
para as escolhas humanas na Amaznia e expressa a no separao entre
homem e natureza: a floresta no nos pertence, ns que pertencemos a ela
(ALVES, 2002, p.129).
Jos Fernandes do Rgo denomina as cidades do Acre de cidades
florestaise demonstra - pela anlise evolutiva do modo de ocupao e de uso do
espao na cidade - que essa diviso no existe para a maioria de seus
moradores. Estes so urbanos apenas recentemente e, portanto, ainda mantm
na memria o espao florestal e seu modo de nele viver reproduzindo, no
espao urbano, situaes de uma outra realidade ambiental: Ns fizemos a
ruptura entre a caracterizao rural ou urbana do espao: o que temos um
espao florestal3(RGO, 2006).
3 A citao refere-se a notas desta autora sobre uma palestra de Rgo durante oficina com a equipe tcnica
do Plano Diretor de Rio Branco.
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2.3 Cidade florestal espaos de transio
Essa anlise de Rgo foi utilizada no relatrio desta autora sobre as
cidades do Acre no Zoneamento Ecolgico-Econmico do Estado - ZEE-Fase II,
que conclui: A adoo do conceito de cidades florestais pode ser o passo inicial
para romper com a tradicional barreira que separa o espao urbano do rural pois
trs, j na denominao, a complementaridade espacial como fundamento para
o zoneamento e configurao do territrio(BRUGNARA, 2006).
A afirmao de Lcio Costa enfatiza a permeabilidade e interao
entre espaos de destinao diferenciada como razo do ato de urbanizar. E
essa linha de raciocnio, em sintonia com o pensamento local contemporneo,
que orienta aqui a busca de quais seriam os espaos articuladores dessaorganizao territorial pautada no alcance da paz e da qualidade de vida.
Outro conceito orientador o de ecologia urbana, trabalhado por
Roberto Burle Marx em seus projetos de paisagismo de grandes reas, nas
quais procura valorizar tanto a flora regional como a funo social do espao
pblico. Seus parques e jardins so referidos como espaos de passagem,
justamente uma rea de transio que flui entre o espao construdo e aquele da
natureza.
Quando se pensa em termos modernos de planejamento urbano, uma dasmaiores preocupaes a de assegurar a presena de reas verdes, paraque o habitante entre em contato com a natureza e no se sinta perdido namassa de concreto que, aos poucos, vai se apoderando dos espaos aindalivres das grandes cidades(MARX, 2004, p. 181).
Burle Marx acredita que a desumanizao das cidades pelo acmulo
de problemas de toda ordem e grandeza responsvel pela incompreenso de
como poderia ser uma cidade ideal e atribui s reas verdes papel
preponderante em restabelecera essncia da vida urbana, o carter coletivo dascidades:
Estou convencido de que o jardim comunal, praa ou parque, ter umaimportncia maior na nossa vida, na busca de um equilbrio relativo, dentrodessa instabilidade da civilizao. Ter carter social, educativo, cientfico(MARX, 2004, pp. 209,210).
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2.4 Florestania, cidade florestal, ecologia urbana: trs termos, uma idia
integradora
A breve conceituao acima e uma ltima citao de Burle Marx
enfatizam o propsito deste artigo: valorizar os espaos naturais e sua
penetrao no espao construdo como expresso do dilogo entre a floresta e a
cidade, nesta cidade cujo nome homenageia um diplomata que tem por nome
um elemento marcante da natureza regional.
O amor pela terra, mais que atravs de discursos inflamados, demonstra-se
pela valorizao das coisas regionais. Se em cada cidade se trouxessem
para o ambiente urbano os elementos da paisagem regional, as cidades
estariam melhor integradas em seus stios, e a flora autctone, ou pelomenos parte dela, perpetuada(MARX, 2004, p. 205).
Rio Acre e a arquitetura do perodo extrativista. Nesse panorama, no hpredominncia entre casario e vegetao: h fuso.Foto: acervo digital do Memorial dos Autonomistas (ACRE, 2006).
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3. Uma cidade amaznica
3.1 A formao recente do mosaico urbano de Rio Branco
As cidades da Amaznia so, em geral, o oposto da imagem
idealizada que se tem da regio. Nada da pureza das guas, da pujana do
verde, do convvio equilibrado entre homem e natureza. Elas so o retrato cruel
de anos de descaso e decises equivocadas sobre o uso da terra, de
incompreenso ecolgica, de desrespeito ao saber local, de valorizao de
padres externos, de injustia social, enfim, de uma srie de fatores histricos
que formaram o quadro atual de favelas, desemprego, guas contaminadas,
doenas, violncia. A degradao segue uma tendncia para a qual no h maislugar nem recursos, embora continue a presso descaracterizadora.
Hoje, a Amaznia se oferece ao Brasil como sua grande rea deexpanso, para a qual inevitavelmente milhes de brasileiros j esto setransladando e continuaro a se transladar no futuro. A floresta vem sendoatacada em toda a sua orla e tambm desde dentro num movimentodemogrfico poderoso, movido por fatores econmicos e ecolgicos. Maisda metade da populao original de caboclos da Amaznia j foi desalojadade seus assentos, jogada nas cidades de Belm e Manaus. Perde-se,assim, toda a sabedoria adaptativa milenar que essa populao haviaaprendido dos ndios para viver na floresta (RIBEIRO, 1997, p. 308).
Darcy Ribeiro cita as grandes capitais Belm e Manaus, mas Rio
Branco, apesar do porte menor, pelos dados demogrficos que apresenta,
tambm um claro exemplo da violncia com que se deu a onda mais recente de
ocupao da Amaznia. E contundente: o municpio de Rio Branco concentra
quase metade da populao atual do estado do Acre (46,16%) e ostenta uma
taxa de urbanizao de 91,9% - ndices alcanados num perodo de apenas 30
anos, como demonstram as tabelas a seguir.
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Tabela 1. Populao Acre, 1970-2002populao 1970 1980 1991 1996 2000* 2002*
total 215.299 301.303 417.718 483.593 557.882 615.285rural 155.992 169.134 159.198 168.322 186.659 190.101
urbana 59.307 132.169 258.520 315.271 371.223 425.184
grau de urbanizao 27,5 43,9 61,9 65,2 66,5 69,1Fontes: SAWYER, D. R., 2000. pp.62, 64
* GOETTERT, J. D., SILVA, S. S., ROCHA, K. S., 2005
Tabela 2. Populao Regional do Baixo Acre, 1970-2002populao 1970 1980 1991 1996 2000* 2002*
total 83.977 136.061 230.400 276.876 277.009 359.848rural 48.399 43.757 51.086 60.347 70.093
urbana 35.578 92.304 179.314 216.529 289.755
grau de urbanizao 42,4 67,8 77,8 78,2 80,52Fontes: SAWYER, D. R., 2000. pp.61, 62, 64
* GOETTERT, J. D., SILVA, S. S., ROCHA, K. S., 2005
Tabela 3. Populao Rio Branco, 1996-2002populao 1970 1980 1991 1996 2000* 2002*
total / / / 228.990 253.059 283.995rural / / / 27.510 26.761 23.056
urbana / / / 201.480 226.298 260.939
grau de urbanizao / / / 87,9 89,4 91,9Fontes: SAWYER, D. R., 2000. p. 67-69
* GOETTERT, J. D., SILVA, S. S., ROCHA, K. S., 2005
Como observado por Donald Sawyer, os dados populacionais de Rio
Branco no so comparveis entre 1991 e 1996 por causa da criao de novos
municpios em 1992, desmembrados da Capital (SAWYER, 2.000, p. 67). No
entanto, uma comparao entre as tabelas 2 e 3 d a noo da polaridade de
Rio Branco em relao s cidades de seu entorno quanto concentrao
populacional.
A evoluo da ocupao urbana em Rio Branco e seu aumento
vertiginoso entre as dcadas de 70 e 90, demonstrados nas tabelas, so melhor
ilustrados pelas figuras abaixo.
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Figura 1. Evoluo da ocupao urbana em Rio Branco
ANOS 30
Fotos: acervo digital do Memorial dos Autonomistas (ACRE, 2006); acervo DERACRE.
ANOS 30
ANOS 50
ANOS 2000
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Figura 1a. Evoluo da ocupao urbana em Rio Branco, 1948-2005
1948 1961 1970
1990 1994
2000 2005
Fonte: mapas de diagnstico do Plano Diretor de Rio Branco, 2006.
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Num esforo em organizar cada vez mais a documentao sobre o
municpio, importante que, posteriormente, se faa uma complementao e
readequao da figuras acima de maneira a ilustrar a histria de ocupao
urbana em Rio Branco como proposto por Marcos Vincius das Neves, em artigo
que sintetiza essa evoluo em 05 perodos (NEVES, 2006):
1 - De seringal a cidade (1882-1908)2 - Uma cidade dividida (1909-1940)3 -Colnias-bairros: uma cidade em expanso (1941-1970)4 -Invases-bairros: uma cidade em exploso (1970 / 1998)5 - Obras estruturantes (1999-2005)
De qualquer modo, o 3. e 4. perodos assinalados pelo autor e j
ilustrados nos mapas apresentados - so decisivos como perspectiva histrica
para a compreenso da formao do espao urbano no municpio: um, fruto de
planejamento interno, o outro, resultado desastroso de planejamento equivocado
e elaborado externamente, cujas conseqncias constituem hoje um enorme
desafio gesto territorial, a comear pela questo fundiria.
Rio Branco possui 60% de seu territrio urbano e 40% da poro rural
ainda no regularizados (PARREIRA, 2007). Sua histria recente de ocupao
deu origem ao mosaico atual de irregularidades, claramente refletido no desenho
aleatrio formado por bairros que surgem ano a ano, como bem demonstra a
figura abaixo, resultado da sobreposio das imagens da Figura 1.
Figura 2. Evoluo da ocupao urbana em Rio Branco - sobreposio
Fonte: mapas de diagnstico do Plano Diretor de Rio Branco, 2006.
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Juntamente com Rio Branco, Plcido de Castro e Senador Guiomar,
os novos municpios de Acrelndia, Bujari, Capixaba e Porto Acre compem a
regional do Baixo-Acre, a regio mais desmatada do estado. As imagens que
seguem oriundas de fotos de satlite recentes corroboram a citada afirmao
de Darcy Ribeiro e ilustram o grau de transformao da paisagem natural no
municpio e em sua rea de entorno. Entretanto, Rio Branco ainda conserva
74% de sua rea como floresta, concentradamente a oeste e sudoeste.
Figura 3. Municpio de Rio Branco e rea de entorno
Fonte: mapas de diagnstico do Plano Diretor de Rio Branco, 2006.
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.
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3.2. Uma cidade amaznica no sculo XXI
Diante da composio atual, do mosaico fragmentado resultante das
interferncias humanas, da tendncia de degradao, resta levar (ou trazer)
para a cidade um pouco da paisagem original. Reconquistar a paisagem tendo
como aliada a memria ainda presente na populao.
fundamental um esforo de reintegrao, de recuperao, de
educao. Um ato de planejamento de longo prazo: retorno da floresta eliminada
ao espao da cidade. Refluxo das guas limpas. Um pouco de sombra e brisa.
Uma cidade florestal de fato, no apenas por seu entorno longnquo ou sua
situao geogrfica, mas tambm aquela onde se pratica o que se pode chamar
de urbanismo tropical.O Plano Diretor deu a partida, deixando vislumbrar em suas diretrizes
um possvel conceito orientador, uma meta a perseguir, tendo como objetivo
uma nova configurao da paisagem urbana, menos afogada, menos sufocada
pelo concreto, mais orgnica, livre e aberta integrao com o espao natural:
Parque do So Francisco;
Parque da orla do rio Acre;
Desocupao dos fundos de vale;
reas de Proteo Ambiental -APAs;
Recuperao das reas de Preservao PermanenteAPPs.
Todos esses elementos marcam a penetrao da floresta no espao
da cidade, numa clara inteno de recuperao do ambiente natural e de
humanizao do ambiente urbano.
Essas, portanto, so as zonas rururbanas - que prope-se mudar
tanto de lugar como de denominao: zonas de passagem, de transio...
Algumas contnuas, por vezes ilhas, um desenho ao acaso dos movimentos da
natureza e da conformao do mosaico da ocupao humana.
Espontaneamente, sero mais marcantes onde as territorialidades forem mais
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definidas. Induzidas, nos casos indicados como emergenciais - por exemplo, na
proteo de mananciais, das nascentes de bacias hidrogrficas, das margens e
espaos de oscilao das guas dos rios - so fruto de projeto e, portanto,
desenhadas.
Os espaos das vias de penetrao da mata na cidade so uma
maneira de dar sustentao ambiental ao crescimento urbano ou at mesmo
limit-lo. Vale a pena lembrar o exemplo da cidade de Amsterdam, na Holanda,
citado por Leonardo Benevolo como um dos casos de sucesso do planejamento
urbano (BENEVOLO, 2007).
Em 1935, Amsterdam lanou um plano para direo do crescimento,
calculado at o ano 2000 com projees de crescimento demogrfico e
demanda sucessiva por novas moradias. Ficou estabelecido que quando acidade atingisse um determinado nmero de habitantes ela no mais poderia
crescer, devendo esse novo contingente populacional ser absorvido pelos
municpios vizinhos. Novos bairros foram projetados para serem construdos em
perodos determinados pelo plano e em zonas especficas. Seu desenho
detalhado somente era definido poca de sua construo, por equipes de
arquitetos diferentes em cada caso. Entretanto, o plano j fixava as propores
entre o espao ocupado pelas edificaes, as reas verdes, as vias de trnsito
de veculos e vias de pedestres e bicicletas. As reas verdes integram a
paisagem urbana em igual proporo s reas construdas, com funo
harmonizadora do espao e da vida coletiva.
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Figura 4. Plano Diretor de Amsterdam, 1935
Pontilhado: NOVOS BAIRROS Preto: ZONAS VERDES
As reas verdes integram a paisagem urbana em igual proporo s reasconstrudas, com funo harmonizadora do espao e da vida coletiva.
Casos como esse evidenciam que h outros modelos de pensamento
do que pode ser uma cidade, que planejamento urbano projeto de futuro e no
simples reao para atender um crescimento desenfreado. A expanso urbana
permitida a cada vez que se definir um novo permetro deve ser justificada pela
inteno de projeto e no pelas curvas de grficos de tendncias. Contudo,
tambm evidente a necessidade de que seja feito em sintonia com o
planejamento regional, com alinhamento de propostas, como se procura fazer no
momento no estado do Acre. Rio Branco deve chamar seus municpios vizinhos
para projetar e pactuar um futuro mais pacfico, recomendao esta, inclusive,
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do documento de diretrizes estratgicas para elaborao do ZEAS (REGO,
2005).
A composio entre espao construdo e espao natural em um
desenho descontnuo, pressupe a descentralizao de infra-estrutura e
servios, de forma que a cidade tenha zonas mais autnomas, embora
interligadas. Algo como fortalecer as vilas mantendo-as como tais, porm
dotando-as de todos os servios necessrios ao seu funcionamento e conexo
segura com a zona central adensada. Assim, evita-se o crescimento da mancha
contnua e sufocante de pavimentao do solo, introduzindo aqui e ali aberturas
ventiladas e horizontes visuais mais distantes.
Uma referncia s cidades-jardim do fim do sculo XIX, modelo
urbanstico que preconizava uma relao mais ntima entre cidade e campo,limitando a extenso contnua das malhas urbanas como oposio aos
problemas comuns da aglomerao excessiva.
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4. O Plano Diretor de Rio Branco
4.1 Eixos temticos e macro-zonas municipais
O zoneamento de Rio Branco orientou-se por 03 eixos temticos
discutidos com a populao quanto a situaes futuras que se pretende
alcanar:
Rio Branco mais justa e legal - para questes de regularizao
fundiria, vazios urbanos e funo social da propriedade;
Rio Branco mais segura e organizada - para definies do cdigo
de obras, reas de risco e nova diviso de bairros;
Rio Branco mais integrada, humana e produtiva - para tratar daintegrao entre as zonas rural e urbana.
O Plano Diretor compreende o municpio pelo agrupamento de
diversas reas em 04 grandes unidades territoriais, na escala 1:200.000, de
acordo com as diretrizes elaboradas para uso e ocupao do solo:
MZCU- Macrozona de Consolidao Urbana
MZUE- Macrozona de Urbanizao Especfica
MZEU- Macrozona de Expanso Urbana
MZR - Macrozona Rural
Fica claro, j no macrozoneamento, que sua abordagem enfatiza a
zona urbana, dividindo-a em 03 macrozonas em contraposio nica e
extensa macrozona rural. H que se considerar, contudo, que para o
cumprimento dos prazos exigidos pela legislao federal, o Plano Diretor no
teria condies nem tcnicas e nem financeiras de diagnosticar e propor
diretrizes para a gesto de todo o extenso territrio municipal. A tarefa de
detalhar a zona rural ficou ento para o ZEAS para, posteriormente, incluir suas
diretrizes como lei complementar no Plano Diretor.
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Figura 5. Macrozoneamento municipal
Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006
4.2 Zoneamento urbano
As macrozonas urbanas, em aproximao para escala 1:30.000,
esto divididas em 05 zonas de uso definidas como:
ZPHC Zona de Preservao Histrico-Cultural ZOP - Zona de Ocupao Prioritria ZUQ - Zona de Urbanizao Qualificada ZOC - Zona de Ocupao Controlada
ZEU - Zona de Expanso UrbanaFigura 6. Zoneamento Urbano
Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006
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4.3 Zoneamento rural e Zona Rururbana
A Macrozona Rural compreende 04 zonas, embora ainda definidas
em escala 1:200.000 e redirecionadas para legislao especfica quanto aos
parmetros de uso e ocupao do solo:
ZU- Zona Rururbana
ZF- Zona Florestal
ZA- Zona Agropecuria
ZR- Zona Ribeirinha
Figura 7. Zoneamento Rural
Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006
O ZEAS deve confrontar esse resultado do zoneamento rural do
Plano Diretor com o mosaico de composio territorial ilustrado pelo mapa
abaixo, no qual se observa uma grande alternncia de usos do solo: seringais,
fazendas, colnias, projetos de assentamento, glebas, reas especiais e reas
sem classificao.
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Figura 8. Composio fundiria rural
Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006 LTR 05 - Situao fundiria rural
E ainda, confrontar as imagens seguintes - que mostram a rea
urbana e a paisagem extremamente fragmentada de seu entorno imediato - com
a possibilidade de se definir a Zona Rururbana tal como est: uma faixa
contnua de 03 kilmetros a partir do novo permetro proposto para a Zona
Urbana.
A alta taxa de fragmentao do entorno indica a quase
impossibilidade em dar tratamento nico para uma faixa contnua, o que sugere
um mapeamento mais detalhado considerando a interpenetrao entre reas
rurais e urbanas de maneira descontnua.
No Captulo.5 esto algumas sugestes preliminares para modificar o
tratamento de Zona Rururbana para Zonas de Transio, incluindo tanto reas
do entorno como aquelas j elencadas pelo Plano Diretor como especiais, alm
de ilhasno interior da prpria zona urbana.
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Figuras 9 e 9a. rea urbana e fragmentao do entorno 2003 e 2006
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.
Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal dePlanejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento.
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4.4 reas especiais o elo para a espacializao do conceito
Outro nvel de detalhamento, em escala variada, destaca algumas
reas especiais, como, entre outras, as reas de Desenvolvimento, de
Interesse Social, de Interesse Ambiental, de Requalificao Urbana.
As reas de Especial de Interesse Ambiental (art.196), objeto de
legislao especfica, constituem a melhor oportunidade de integrao entre
as zonas rural e urbana, evidenciada tanto pelas diretrizes propostas no Plano
Diretor como por meio dos planos e programas especiais sugeridos para estas e
outras reas. Sua definio tem por objetivos a conservao, uso sustentvel,
recuperao ambiental e proteo dos mananciais. Compreendem as APAs
Irineu Serra, Amap e So Francisco, a RESEX Chico Mendes, os parquesChico Mentes e Capito Ciraco, o Horto Florestal, as APPs dos principais
cursos dgua, as regies de mananciais e do aqferono 2. Distrito.
Figura 10. reas de Especial Interesse Ambiental
Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006 ANEXO XIII.
Elas se unem a outras reas especiais como a rea de
Requalificao Urbana das Margens do Rio Acre (art.155) e as reas
Receptoras de reas Verdes (art.189) Igaraps So Francisco, Batista e Judia,
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cujo objetivo constituir um sistema pblico interligado de reas verdes e
implantar parques lineares junto s APPs.
Figura 11. reas especiais: parques ribeirinhos no rio Acre e igaraps So
Francisco, Batista e Judia
Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006 ANEXO XII.
Alm dessas, os lotes no edificados mapeados no diagnstico do
Plano Diretor como vazios urbanos, apresentam potencial para Zonas de
Transio.
A Figura 12 ilustra a distribuio desses lotes na rea urbana,
predominantemente a oeste, ao longo do eixo da BR 364, e mais esparsamente,porm com reas de dimenses nada desprezveis, ao norte do igarap So
Francisco e ao sul do rio Acre.
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Figura 12. Vazios urbanos
Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006 LTU-09.
Os vazios urbanos podem adquirir usos diversos, a depender de
suas dimenses e do grau de articulao dos lotes com a regio em que se
situam: se no interior de bairros residenciais, como no caso da grande rea entre
o Mocinha Magalhes e Rui Lino; se s margens de vias expressas; se prximos
igaraps ou ainda junto s suas nascentes, como no caso da grande rea
entre ao bairros Floresta e Bahia. No Captulo.5 so apresentadas algumas
sugestes de uso para essas reas, transformando-as em Zonas de Transio,
com a finalidade de evitar que venham a se transformar em reas edificadas.
4.5 Planos e programas
O Plano Diretor determina 04 eixos de planos e programas especiais:
Gesto dos Recursos Naturais
Desenvolvimento do Turismo Sustentvel
Estruturao Urbana e Infra-estrutura
Reduo das Desigualdades Sociais
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Entre esses, alguns planos e aes previstos so transversais e
interessam especialmente aos propsitos deste artigo:
Consolidao do Sistema Municipal de Unidades de Conservao;
Recuperao das APPs e cursos dgua;
Planos de bacias hidrogrficas
Requalificao das margens do rio Acre
Arborizao;
Reurbanizao dos espaos livres pblicos dos bairros;
Parques lineares de fundos de vale;
Regularizao dos ncleos rurais;
Plano municipal de saneamento ambiental;
Regularizao fundiria.Como considerado anteriormente neste relatrio, os dois ltimos so
estratgicos para possibilitar o xito de uma gesto sustentvel. E so
igualmente complexos para serem solucionados no curto prazo. Entretanto,
como um desdobramento imediato do Plano Diretor, a administrao atual j
conta com um grupo de trabalho especfico para a questo fundiria, no mbito
da recm criada Secretaria de Urbanismo (PARREIRA, 2007).
Quanto ao saneamento - questo de sade humana e ambiental,
problema srio em todas as cidades brasileiras, crtico nas cidades amaznicas
permanece ainda por solucionar, principalmente no que se refere coleta e
tratamento de esgotamento sanitrio. Um contraponto a ttulo de exemplo o
caso de Boa Vista, capital de Roraima, que, j h uma dcada, contava com
30% de rede coletora de esgoto instalada com sistema de tratamento, conforme
relata a engenheira civil Maria Edileusa dos Santos que trabalhou por seis anos
na implantao do sistema local (SANTOS, 2008).
Os parques lineares podero realmente transformar a paisagem da
cidade, estabelecendo corredores interligados as denominadas reas
receptoras de reas verdes - e proporcionar lazer de qualidade para os
moradores. Resta conseguir fazer com que margeiem guas limpas.
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5. Do Plano Diretor ao ZEAS e vice-versa
5.1 Recomendaes
Como j descrito, h oportunidades abertas pelo Plano Diretor quepodem ser orientadas pela conceituao aqui defendida e mais detalhadas pelo
ZEAS, com o objetivo de incluso posterior na Lei do Plano Diretor.
Sugere-se redefinir a Zona Rururbana tal como proposta no Plano
Diretor para Zonas de Transio, que podem ser descontnuas,
considerando como tais:
APAs reas de Proteo Ambiental;
APPs reas de Preservao Permanente
Parques ribeirinhos;
Fundos de vale;
Vazios urbanos.
De imediato por j terem suas reas decretadas, as APAs devem
ser objeto de estudos mais detalhados para seu bom funcionamentocomo tal e, principalmente, para satisfazer as necessidades dos
moradores que requisitaram sua demarcao.
A prpria legislao federal, no Artigo.15 da Lei do SNUC Sistema
Nacional de Unidades de Conservao da Natureza, conceitua a APA como uma
unidade territorial adequada para interface entre as reas urbana e rural:
A rea de Proteo Ambiental uma rea em geral extensa, com um certograu de ocupao humana, dotada de atributos abiticos, biticos, estticosou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populaes humanas, e tem como objetivos bsicos proteger adiversidade biolgica, disciplinar o processo de ocupao e assegurar asustentabilidade do uso dos recursos naturais(BRASIL, 2002, p.18).
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Figuras 13 e 13a. APA Raimundo Irineu Serra anos 2003 e 2006
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.
Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal de
Planejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento.
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Figuras 14 e 14a. APA Lago do Amap anos 2003 e 2006
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.
Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal dePlanejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento.
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Figura 15. APA do So Francisco
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.
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Recomenda-se que as APAs no municpio sejam consideradas pelo
ZEAS como zonas de transio prioritrias, por conta das presses
geradas por sua natural condio de ambigidade.
Uma ao imediata a elaborao dos planos de manejo para suas
reas, determinao legal que ainda no foi cumprida. A decretao
da APA sem o plano de manejo gera situaes de muita incerteza
para os moradores e, em alguns casos, prejudica at a manuteno
das motivaes iniciais para sua criao.
Eu aceitei assinar a proposta da APA porque achei que ia trazer maissegurana para ns, para proteger nossa propriedade da ao de invasores.
Mas s tenho visto mesmo mais problema, com pessoas querendo impedirque a gente siga nossas tradies como o caso da fogueira de So Joo,hoje ameaada de no poder mais existir da maneira como nos foi deixadapor Raimundo Irineu Serra. Isso aqui tudo j foi campo. Se hoje tem algumamata porque deixamos ela crescer novamente. E fizemos isso sempretirando dela o que a gente precisa.
Dona Peregrina Gomes Serra, moradora e proprietria rural na APARaimundo Irineu Serra (SERRA, 2007)
Na APA Raimundo Irineu Serra, APARIS zona rural prxima
cidade includa no permetro urbano em 2006 pelo Plano Diretor - comumouvir-se tiros durante a noite: so caadores clandestinos. Roados e outras
plantaes esto desaparecendo por conta das invases. H lixo
principalmente animais mortos e sucata - depositado clandestinamente a cu
aberto em vrios pontos ao longo da estrada principal. Propriedades privadas
so invadidas por grupos para construo de moradias urbanas. H um srio
problema de falta dgua no vero, quando os poos domsticos secam e quase
todas as famlias moradoras tm que recorrer compra dgua de caminhes
pipa.
A situao de presso externa no muito diferente na APA Lago do
Amap, criada por demanda dos moradores para proteo contra invases,
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pesca ilegal, retirada de madeira e areia, depsitos de lixo no lago. Hoje a
associao de moradores enfrenta novos desafios:
Durante muito tempo vivemos isolados e sossegados, mas agora vivemos
sob presso urbana que precisa ser controlada e contida.Empresrios imobilirios e da construo civil, bem como madeireiros eagentes de turismo esto de olho em nossa rea, at porque esta ficou maisvalorizada com a decretao da APA. Nossa preocupao maior com oanel virio de Rio Branco que, embora no passe perto do lago, facilita oacesso regio despertando interesse de ocupao. Esto sendoanunciados projetos de condomnio, loteamentos, construo de armaznse planos de explorao turstica em clubes de lazer (AMPREA, 2006).
Os moradores da APARIS esperam da prefeitura a extenso dos
servios de distribuio de gua encanada e tratada, cujas obras -
iniciadas em junho de 2008, com ligao at a Vila Custdio Freire -
j foram concludas, mas o servio ainda no foi efetivado. Nas reas
mais distantes, talvez o estudo de um sistema descentralizado de
abastecimento domstico possa ser mais exeqvel num espao de
tempo menor, como a construo pela prefeitura de poos artesianos
coletivos, administrados pela comunidade.
A construo de fossas spticas nas moradias deve ser ao
fundamental na rea de sade, como parte do programa de
saneamento. A maioria das casas resultado da auto-construo - se
abastece de poos muitas vezes contaminados pela proximidade com
fossas comuns.
Alternativa de renda: pequenas propriedades rurais no entorno da
cidade, como os plos agro-florestais e as colnias situadas nasAPAs, podem desenvolver coletivamente ou no, em parceria com o
poder pblico - o cultivo de mudas de espcies florestais para
abastecer as reas de reflorestamento na cidade e regies prximas
(Figura 16).
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Figura 16. Viveiro de mudas para reflorestamento com espcies nativas
Foto: Elias Sahade Jnior.
O viveiro acima fica em uma pequena propriedade rural no interior do
estado de So Paulo. Produz anualmente 2 milhes de mudas de diversas
espcies da Mata Atlntica e cerrado, com potencial para produzir 3 milhes, em
uma rea de 1,8 hectares. A produo toda direcionada para projetos dereflorestamento (SAHADE Jr., 2007).
Os vazios urbanos, zoneados como reas de Transio, tm
potencial para adquirir funes diversas. Estudos detalhados para
definir o uso mais apropriado em cada caso podem ser feitos a partir
do mapa de gesto, considerando alternativas de reflorestamento
com diversos graus de adensamento: floresta urbana, para fins de conservao e pesquisa;
jardins ou hortos florestais, com finalidade educativa e de lazer;
parques com equipamentos de lazer e esportivos;
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usos produtivos, como cultivo de mudas ou de hortas
comunitrias, de acordo com propostas j existentes da prefeitura
atravs da SAFRA;
ou ainda, uma combinao de usos complementares, abrigando
conjuntos residenciais em blocos de dois ou trs pavimentos,
parques ajardinados e matas ciliares (se prximo a igaraps), a
exemplo do que ocorre em parte do igarap do Bind, junto ao
conjunto Eldorado, na cidade de Manaus (fotos abaixo):
5.2 Casos crticos Plos Agro-florestais e intervenes urbanas degrande escala
O programa de imagens Google Earth uma ferramenta de grande
auxlio para estudos de territrio. As imagens abaixo mostram situaes crticas
de intervenes desastrosas no ambiente natural para fins produtivos. Foram
aqui destacadas porque indicam um certo descontrole no uso e ocupao de
reas muito prximas cidade, podendo ser justificativas futuras para uma
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discutvel expanso urbana. Algumas delas, como os Plos Agro-florestais -PAs,
foram planejadas h cerca de 15 anos para serem uma faixa de produo horti-
fruti-granjeira para abastecimento local. At hoje, os nveis projetados no foram
atingidos, muitos moradores detm empregos urbanos e a proposta inicial vem
se descaracterizando juntamente com o territrio.
Estudos detalhados esto sendo feitos por este ZEAS em outros
relatrios, que devero apontar orientaes mais precisas sobre novos rumos
para os Plos Agro-florestais. Aqui, ressalta-se apenas a necessidade de
reviso urgente, seja da proposta de uso ou das aes de operacionalizao,
para coibir que venham a se transformar em novas periferias urbanas.
As figuras 17, 18 e 19 ilustram as intervenes em seqncia nos
cursos dgua e barragens de nascentes nas propriedades rurais do entornoimediato zona urbana. Mais adiante, as figuras 20, 21 e 22 chamam a ateno
para o potencial degradador da ocupao irrestrita e/ou de grande escala em
reas delicadas como as margens do igarap So Francisco, dentro da cidade.
Figura 17. PA Hlio Pimenta e PA Geraldo Fleming - AC 10
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.
H um aude praticamente ao fundo de cada lote.
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Figura 18. Fazenda Humait, adjacncias dos PAs Hlio Pimenta e GeraldoFleming - AC 10
Nascentes barradas
Figura 19. PA Benfica
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.
Seqncia de audes: barragem de um igarap
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A figura abaixo, j na rea urbana, demonstra a ocupao mata
adentro, em faixa nas margens do igarap So Francisco, uma pr-ilha, aos
fundos do Jardim Tropical: bairroAdalberto Arago.
Figura 20. (a e b) Margens do igarap So Francisco presso sobre a mata
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.
Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal dePlanejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento.
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Os crculos marcados indicam as reas que sofreram invaso da
ocupao sobre a mata ciliar restante, no breve perodo de 03 anos. notvel a
fragilidade desse ambiente em confronto com a presso urbana.
A imagem mostra ainda uma considervel rea de mata, na foz do
So Francisco junto ao rio Acre, com potencial para ser transformada em uma
floresta urbana protegida, como um segundo marco da recuperao do
Igarap, na extremidade oposta da APA do So Francisco.
Um pouco mais rio acima, observa-se a mesma presso de ocupao
e desmatamento, nesse caso sob a influncia de uma obra governamental
(Figuras 21a, 21b e 22).
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Figura 21a. Margens do So Francisco: ocupao recente de grande escala- conjunto habitacional Edson Cadaxo. 2003 e 2006
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.
Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal dePlanejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento
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Figura 21b. Margens do So Francisco: ocupao recente de grande escala- conjunto habitacional Edson Cadaxo. 2003 e 2006
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003
Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal de
Planejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento
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Figura 22. Escala e implantao: obra governamental s margens do SoFrancisco - conjunto Edson Cadaxo. 2003 e 2006
Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.
Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal de Planejamento,
Diviso de Informaes e Georreferenciamento
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O conjunto residencial Edson Cadaxo uma obra governamental de
habitao, implantada s margens do So Francisco. um estudo de caso
interessante porque inclui um elenco de fatores que, combinados, elevam o grau
de impactos negativos de uma interveno no espao desse tipo:
ocupao da faixa de rea de Preservao Permanente;
implantao perpendicular ao rio, sem acompanhar as curvas de
nvel do terreno;
padro de ocupao pouco eficiente quanto ao aproveitamento de
rea e qualidade espacial;
sistema de execuo de obra com prvio desmatamento total do
terreno.
5.3 Consideraes finais
O exemplo da Figura.22 traz uma indagao a ser feita nos
momentos de deciso do poder pblico: ser que o atendimento de uma
demanda social - habitao, no caso - deve priorizar apenas a eficincia
econmica? Obviamente, esse um fator importante: recursos financeiros so
escassos e a demanda alta. No entanto, essa necessidade poderia ser uma
oportunidade para se experimentar e desenvolver modelos que embutem uma
idia, uma inteno espacial, uma proposta de desenho urbano tropical, de
moradia adequada aos costumes locais, de vida coletiva.
Os aspectos qualitativos, subjetivos, abstratos devem compor o
sistema de referncias de um projeto em igual valor queles quantitativos,
prerrogativa, alis, do ZEAS no eixo Cultural-Poltico. Retomando Lcio Costa,
este argumenta que os desejos e necessidades do homem como ser coletivo (os
fatores quantitativos, tarefa do engenheiro) nem sempre coincidem com os
desejos e necessidades desse mesmo homem como ser individual (os fatores
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qualitativos, tarefa do arquiteto) e que cabe, ento, ao urbanista resolver essa
contradio essencial (COSTA, 2003, p.116).
No tarefa fcil, nem tampouco apenas dos urbanistas. Hoje, a
participao da sociedade e de equipes tcnicas multidisciplinares nos
programas de zoneamento, planejamento territorial, planos diretores so
condio prioritria para garantir o sucesso das aes projetadas, alm de ser
uma determinao legal.
A prefeitura j adota um programa de gesto participativa por meio
dos conselhos das regionais, que so somente urbanos, contudo. Os conselhos
das APAs devem ser includos no programa, a fim de que se amplie a
abrangncia dos pactos promovendo maior integrao entre zonas
diferenciadas.Ser preciso ainda estar equipada tecnicamente para educar,
fiscalizar e projetar os bairros, a infraestrutura e a autonomia das regies mais
distantes do centro, evitando que a cidade se espalhe indefinidamente sendo
desenhada pelos loteamentos clandestinos, que seus cursos d'gua sejam
engolidos pela ocupao e que suas reas ainda semi-rurais sejam
transformadas em periferias urbanas.
As reas de transio devem permanecer ambguas, simbolizando a
convivncia por meio de sua paisagem suave e sem rupturas: nem urbana, nem
rural, nem s concreto, nem s floresta, fazendo a ponte entre floresta e cidade,
entre tempos remotos e modos de vida ainda por vir.
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