Espaço de Transição: Interfaces da Gestão Territorial em Rio Branco

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    PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO BRANCO

    ZONEAMENTO ECONMICO, AMBIENTAL, SOCIAL E CULTURALDE RIO BRANCO - ZEAS

    Relatrio de Consultoria

    Relatrio Final da Temtica

    ESPAOS DE TRANSIO:INTERFACES DA GESTO TERRITORIAL

    EM RIO BRANCO

    Gisela de Andrade BrugnaraConsultora

    Rio Branco - AcreJulho de 2008

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    SUMRIO

    Apresentao 05

    1. Introduo 06

    2. Urbanismo na Amaznia - pensamento local e outras vises 08

    2.1 Floresta - cidade / Cidade floresta 08

    2.2 Pensamento local 09

    2.3 Cidade florestal espaos de transio 102.4 Florestania, cidade florestal, ecologia urbana: trs termos, uma

    idia integradora

    11

    3. Uma cidade amaznica 12

    3.1 A formao recente do mosaico urbano de Rio Branco 12

    3.2 Uma cidade amaznica no sculo XXI 18

    4. O Plano Diretor de Rio Branco 22

    4.1 Eixos temticos e macro-zonas municipais 22

    4.2 Zoneamento urbano 23

    4.3 Zoneamento rural e Zona Rururbana 24

    4.4 reas especiais o elo para aespacializao do conceito 27

    4.5 Planos e programas 29

    5. Do Plano Diretor ao ZEAS e vice-versa 31

    5.1 Recomendaes 31

    5.2 Casos crticos Plos Agro-florestais e intervenes urbanas

    de grande escala

    38

    5.3 Consideraes finais 46

    Referncias bibliogrficas 48

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    Lista de Figuras

    1 Evoluo da ocupao urbana em Rio Branco 14

    2 Evoluo da ocupao urbana em Rio Branco - sobreposio 16

    3 Municpio de Rio Branco e rea de entorno 17

    4 Plano Diretor de Amsterdam, 1935 20

    5 Macrozoneamento Municipal 23

    6 Zoneamento Urbano 23

    7 Zoneamento Rural 24

    8 Composio fundiria rural 25

    9 rea urbana e fragmentao do entorno 25

    10 reas de Especial Interesse Ambiental 26

    11 reas Especiais: parques ribeirinhos no rio Acre e igaraps So

    Francisco, Batista e Judia

    29

    12 Vazios urbanos 30

    13 APA Raimundo Irineu Serra 33

    14 APA Lago do Amap 3415 APA do So Francisco 35

    16 Viveiro de mudas para reflorestamento com espcies nativas 38

    17 PA Hlio Pimenta e PA Geraldo Fleming AC10 40

    18 Fazenda Humait, adjacncias dos PAs H. Pimenta e G. Fleming 41

    19 PA Benfica 41

    20 Margens do igarap So Francisco: presso de ocupao sobre

    a mata restante

    42

    21 Margens do So Francisco: ocupao recente de grande escala

    conjunto habitacional Edson Cadaxo

    44

    22 Escala e implantao: obra governamental s margens do So

    Francisco - conjunto Edson Cadaxo

    46

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    Lista de Tabelas

    1 Populao Acre, 1970-2002 13

    2 Populao Regional do Baixo Acre, 1970-2002 13

    3 Populao Rio Branco, 1996-2002 13

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    Apresentao

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    Este relatrioaborda oportunidades de interao entre o Plano Diretor

    de Rio Branco e o ZEAS. Trata das relaes aparentes entre as zonas urbana e

    rural e do estabelecimento de zonas de transio, no intuito de apontar possveis

    caminhos para fortalecer a integrao entre as diversas realidades espaciais

    presentes no municpio, vislumbrando um maior equilbrio intra-regional. Traz

    para dentro do ZEAS algumas diretrizes definidas no Plano Diretor para as

    macro-zonas que esse estabeleceu no municpio.

    O objetivo trazer algumas consideraes sobre como humanizar o

    processo de urbanizar em uma cidade amaznica e incrementar a qualidade de

    vida local, especificamente, por meio de um estreitamento da articulao do

    espao da cidade com as reas de seu entorno imediato, criando espaos de

    transio e procurando, por esse fio condutor, contribuir para tornar cada vez

    mais evidente a identidade dessa cidade como herana recebida e sonho de sua

    populao.Como metodologia, foi feito o cruzamento de alguns artigos da lei do

    Plano Diretor e seus mapas resultantes com idias e conceitos orientadores.

    As referncias utilizadas foram fontes bibliogrficas, imagens

    (fotografias, mapas, imagens de satlite, aerofotos verticais, imagens Google

    Earth), entrevistas semi-estruturadas, dados institucionais do Estado e

    Prefeitura, alm de reunies integradoras entre a equipe da prefeitura e

    consultores do eixo Cultural-Poltico deste ZEAS.

    1 Verso revisada em outubro de 2009.

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    1. Introduo

    Apesar de pautado na perspectiva histrica sobre o uso da terra,

    organizao do espao e processo de urbanizao no estado do Acre e em sua

    capital Rio Branco, este artigo no faz uma anlise retrospectiva a no ser

    brevemente, para os anos mais recentes. Considera-se que essa est melhor

    documentada em trabalhos mais especficos cujas referncias so utilizadas

    para vincular algumas propostas formuladas. Sugere-se, como leitura adicional,

    os artigos sobre o processo de urbanizao no estado (SILVA, 2002), cidades

    do Acre (BRUGNARA, 2006) e sntese histrica do municpio de Rio Branco

    (NEVES, 2006). Aqui, parte-se j do ano de 2006, um momento aps a

    aprovao da reviso do Plano Diretor de Rio Branco.A Lei no. 1.611, de 27 de outubro de 2006, instituiu o novo Plano

    Diretor do municpio de Rio Branco, elaborado em um ano e meio de trabalho

    por equipe tcnica interdisciplinar em colaborao com a sociedade local (RIO

    BRANCO, 2006). Diante do cenrio catico que se observa na conformao da

    cidade, dar cabo de um trabalho dessa natureza nesse prazo um feito notvel.

    Farto material foi produzido, organizando dados e informaes sobre o

    municpio, que podero ser ainda utilizados por longo tempo na atualizao de

    propostas de organizao territorial. O processo de elaborao tambm de

    aprendizado, para os tcnicos, para a comunidade, para os administradores

    pblicos e, portanto, no estanque. Haver muitos momentos de reviso,

    adequao e complementao de tarefas.

    O ZEAS um primeiro momento para rever eventuais lacunas ou

    enfatizar oportunidades abertas no Plano Diretor. E, particularmente, este

    relatrio - que trata, dentro do eixo Cultural-Poltico, da interface entre os dois

    instrumentos de planejamento e gesto territorial do municpio - evidencia uma

    oportunidade vislumbrada por entre os 247 artigos da recente lei:

    estabelecer para Rio Branco o conceito integrador de cidade

    florestal, para o qual alguns parmetros devero ser alcanados num futuro

    breve, com o duplo objetivo de manter viva a memria de sua paisagem original

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    - sobre a qual se assenta sua identidade - e sustentar uma determinada

    aglomerao com qualidade de vida.

    A sugesto apresentada pode ser assim resumida:

    Conceito: Rio Branco: cidade florestal.

    Meta: alcanar, em (xxx) anos, uma proporo (a determinar) de reas

    verdes em relao rea construda da zona urbana e de seu

    entorno imediato.

    Instrumentos:

    passivo ambiental (determinao do ZEE-Fase II);

    APPs reas de Preservao Permanente e APAs reas de

    Proteo Ambiental (legislao federal);

    parques ribeirinhos (Plano Diretor de Rio Branco); quintais florestais, hortas urbanas (propostas anteriores).2

    Para investigar a possibilidade de aplicao do que se sugere, foi feito

    o cruzamento de alguns artigos da lei do Plano Diretor e seus mapas resultantes

    com idias e conceitos orientadores deste artigo, alcanando-se, assim, sua

    proposta final:

    humanizar o processo de urbanizar em uma cidade amaznica,

    aumentando a proporo de reas verdes em relao ao espao

    construdo, repovoando a cidade de floresta, criando espaos de

    transio: uma conexo fsica no excludente, mais permevel,

    entre rea rural e urbana.

    A fuso de Plano Diretor e ZEAS deve evidenciar, portanto, os

    espaos de passagem entre as reas rural e urbana e esclarecer quais so,

    onde esto e sua funo como tal. Dessa forma, sugere-se que a proposta de

    Zona Rururbanado Plano Diretor seja reformulada para a definio de algumas

    zonas, no necessariamente contnuas, como espaos de transio.

    2 Duas questes urgentes que permanecem pendentes no municpio destacam-se comoimplicaes decorrentes, pr-requisitos para o alcance da meta sugerida: resolver as pendnciasfundirias e definir um sistema de recuperao das guas. Ambas constam dos Planos eProgramas fundamentais do Plano Diretor, indicados aqui no final do Captulo 4: Plano municipalde saneamento ambiental e Plano de regularizao fundiria(RIO BRANCO, 2006).

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    O Captulo 3.2 seleciona alguns desses espaos a partir de

    indicaes contidas no Plano Diretor para que, na fase de prognsticos do

    ZEAS, sejam mais um elemento a considerar na composio do mapa de

    gesto.

    2. Urbanismo na Amaznia pensamento local e outras vises

    2.1 Floresta cidade / Cidade floresta

    O arquiteto e urbanista Lcio Costa, numa sntese clara - mas nem

    por isso sempre evidente, afirma que urbanizar consiste em levar um pouco da

    cidade para o campo, e trazer um pouco do campo para dentro da cidade(COSTA, 2003, p.115). Simples assim, ensina o que temos dificuldade extrema

    de praticar: que o planejamento urbano no se restringe zona urbana, mas que

    deve evidenciar, organizar, direcionar um sistema equilibrado de troca entre

    espaos com estruturas e funes distintas porm complementares.

    A histria urbanstica brasileira demonstra que o planejamento

    urbano, quando h, dificilmente consegue ir alm da linha imaginria que marca

    num mapa o permetro urbano como se fosse um muro que separa da cidade

    todo o seu entorno rural. Como alertam as autoras:

    Enquanto no se pensar na questo da sedentarizao de grupos humanosem termos mais amplos, e a poltica adotada oficialmente desconsiderar queo inchao urbano, nas grandes cidades, tem seu correlato na desarticulaodos espaos rurais e das pequenas cidades que no tm como oferecer osmeios de sobrevivncia populao, o impasse para dar melhorescondies de vida no ter resultados duradouros a longo prazo (ORTIZ eHUE, 1987, p.225).

    Uma outra e no menor dificuldade diz respeito tentativa de

    padronizao dos modos de organizao espacial. O gegrafo Carlos Walter P.

    Gonalves argumenta que h muitas Amaznias na regio amaznica e que,

    mesmo com a predominncia de dois padres de organizao espacial um

    anterior dcada de 60 do sculo XX (rio-vrzea-floresta), no perodo

    extrativista, o outro dominante aps os projetos militares de integrao nacional

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    (estrada-terra firme-subsolo) - h uma pluralidade de situaes coexistindo e

    compondo um mosaico altamente diversificado que dificultam a tipificao (v.

    Figura 8) (GONALVES, 2006).

    Essa complexidade e dinamismo das estruturas scio-espaciais

    tambm expressa pelos pesquisadores em planejamento regional e geografia

    urbana, citados abaixo:

    Na Amaznia, a busca por um modelo fundamental intimidante. A fronteiramuda-se, molda-se e comea novamente de lugar pra lugar em um tumultode irregularidades locais. (...) Categorias dicotmicas estabelecidas entre orural e o urbano tornaram-se problemticas quando aplicadas Amaznia,dados os complexos e regionalmente heterogneos padres de migraolocal. (BROWDER e GODFREY, 2006, pp. 29, 33).

    2.2 Pensamento local

    A idia acreana de florestania, elaborada na ltima dcada, parece

    concordar com Lcio Costa ao considerar a permeabilidade entre os limites, os

    espaos diferenciados, a convivncia de diversos grupos tnicos, o tempo

    presente e a memria. Segundo Antonio Alves, florestania para alm da

    verso simplista de levar cidadania para a floresta - um sentimento orientador

    para as escolhas humanas na Amaznia e expressa a no separao entre

    homem e natureza: a floresta no nos pertence, ns que pertencemos a ela

    (ALVES, 2002, p.129).

    Jos Fernandes do Rgo denomina as cidades do Acre de cidades

    florestaise demonstra - pela anlise evolutiva do modo de ocupao e de uso do

    espao na cidade - que essa diviso no existe para a maioria de seus

    moradores. Estes so urbanos apenas recentemente e, portanto, ainda mantm

    na memria o espao florestal e seu modo de nele viver reproduzindo, no

    espao urbano, situaes de uma outra realidade ambiental: Ns fizemos a

    ruptura entre a caracterizao rural ou urbana do espao: o que temos um

    espao florestal3(RGO, 2006).

    3 A citao refere-se a notas desta autora sobre uma palestra de Rgo durante oficina com a equipe tcnica

    do Plano Diretor de Rio Branco.

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    2.3 Cidade florestal espaos de transio

    Essa anlise de Rgo foi utilizada no relatrio desta autora sobre as

    cidades do Acre no Zoneamento Ecolgico-Econmico do Estado - ZEE-Fase II,

    que conclui: A adoo do conceito de cidades florestais pode ser o passo inicial

    para romper com a tradicional barreira que separa o espao urbano do rural pois

    trs, j na denominao, a complementaridade espacial como fundamento para

    o zoneamento e configurao do territrio(BRUGNARA, 2006).

    A afirmao de Lcio Costa enfatiza a permeabilidade e interao

    entre espaos de destinao diferenciada como razo do ato de urbanizar. E

    essa linha de raciocnio, em sintonia com o pensamento local contemporneo,

    que orienta aqui a busca de quais seriam os espaos articuladores dessaorganizao territorial pautada no alcance da paz e da qualidade de vida.

    Outro conceito orientador o de ecologia urbana, trabalhado por

    Roberto Burle Marx em seus projetos de paisagismo de grandes reas, nas

    quais procura valorizar tanto a flora regional como a funo social do espao

    pblico. Seus parques e jardins so referidos como espaos de passagem,

    justamente uma rea de transio que flui entre o espao construdo e aquele da

    natureza.

    Quando se pensa em termos modernos de planejamento urbano, uma dasmaiores preocupaes a de assegurar a presena de reas verdes, paraque o habitante entre em contato com a natureza e no se sinta perdido namassa de concreto que, aos poucos, vai se apoderando dos espaos aindalivres das grandes cidades(MARX, 2004, p. 181).

    Burle Marx acredita que a desumanizao das cidades pelo acmulo

    de problemas de toda ordem e grandeza responsvel pela incompreenso de

    como poderia ser uma cidade ideal e atribui s reas verdes papel

    preponderante em restabelecera essncia da vida urbana, o carter coletivo dascidades:

    Estou convencido de que o jardim comunal, praa ou parque, ter umaimportncia maior na nossa vida, na busca de um equilbrio relativo, dentrodessa instabilidade da civilizao. Ter carter social, educativo, cientfico(MARX, 2004, pp. 209,210).

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    2.4 Florestania, cidade florestal, ecologia urbana: trs termos, uma idia

    integradora

    A breve conceituao acima e uma ltima citao de Burle Marx

    enfatizam o propsito deste artigo: valorizar os espaos naturais e sua

    penetrao no espao construdo como expresso do dilogo entre a floresta e a

    cidade, nesta cidade cujo nome homenageia um diplomata que tem por nome

    um elemento marcante da natureza regional.

    O amor pela terra, mais que atravs de discursos inflamados, demonstra-se

    pela valorizao das coisas regionais. Se em cada cidade se trouxessem

    para o ambiente urbano os elementos da paisagem regional, as cidades

    estariam melhor integradas em seus stios, e a flora autctone, ou pelomenos parte dela, perpetuada(MARX, 2004, p. 205).

    Rio Acre e a arquitetura do perodo extrativista. Nesse panorama, no hpredominncia entre casario e vegetao: h fuso.Foto: acervo digital do Memorial dos Autonomistas (ACRE, 2006).

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    3. Uma cidade amaznica

    3.1 A formao recente do mosaico urbano de Rio Branco

    As cidades da Amaznia so, em geral, o oposto da imagem

    idealizada que se tem da regio. Nada da pureza das guas, da pujana do

    verde, do convvio equilibrado entre homem e natureza. Elas so o retrato cruel

    de anos de descaso e decises equivocadas sobre o uso da terra, de

    incompreenso ecolgica, de desrespeito ao saber local, de valorizao de

    padres externos, de injustia social, enfim, de uma srie de fatores histricos

    que formaram o quadro atual de favelas, desemprego, guas contaminadas,

    doenas, violncia. A degradao segue uma tendncia para a qual no h maislugar nem recursos, embora continue a presso descaracterizadora.

    Hoje, a Amaznia se oferece ao Brasil como sua grande rea deexpanso, para a qual inevitavelmente milhes de brasileiros j esto setransladando e continuaro a se transladar no futuro. A floresta vem sendoatacada em toda a sua orla e tambm desde dentro num movimentodemogrfico poderoso, movido por fatores econmicos e ecolgicos. Maisda metade da populao original de caboclos da Amaznia j foi desalojadade seus assentos, jogada nas cidades de Belm e Manaus. Perde-se,assim, toda a sabedoria adaptativa milenar que essa populao haviaaprendido dos ndios para viver na floresta (RIBEIRO, 1997, p. 308).

    Darcy Ribeiro cita as grandes capitais Belm e Manaus, mas Rio

    Branco, apesar do porte menor, pelos dados demogrficos que apresenta,

    tambm um claro exemplo da violncia com que se deu a onda mais recente de

    ocupao da Amaznia. E contundente: o municpio de Rio Branco concentra

    quase metade da populao atual do estado do Acre (46,16%) e ostenta uma

    taxa de urbanizao de 91,9% - ndices alcanados num perodo de apenas 30

    anos, como demonstram as tabelas a seguir.

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    Tabela 1. Populao Acre, 1970-2002populao 1970 1980 1991 1996 2000* 2002*

    total 215.299 301.303 417.718 483.593 557.882 615.285rural 155.992 169.134 159.198 168.322 186.659 190.101

    urbana 59.307 132.169 258.520 315.271 371.223 425.184

    grau de urbanizao 27,5 43,9 61,9 65,2 66,5 69,1Fontes: SAWYER, D. R., 2000. pp.62, 64

    * GOETTERT, J. D., SILVA, S. S., ROCHA, K. S., 2005

    Tabela 2. Populao Regional do Baixo Acre, 1970-2002populao 1970 1980 1991 1996 2000* 2002*

    total 83.977 136.061 230.400 276.876 277.009 359.848rural 48.399 43.757 51.086 60.347 70.093

    urbana 35.578 92.304 179.314 216.529 289.755

    grau de urbanizao 42,4 67,8 77,8 78,2 80,52Fontes: SAWYER, D. R., 2000. pp.61, 62, 64

    * GOETTERT, J. D., SILVA, S. S., ROCHA, K. S., 2005

    Tabela 3. Populao Rio Branco, 1996-2002populao 1970 1980 1991 1996 2000* 2002*

    total / / / 228.990 253.059 283.995rural / / / 27.510 26.761 23.056

    urbana / / / 201.480 226.298 260.939

    grau de urbanizao / / / 87,9 89,4 91,9Fontes: SAWYER, D. R., 2000. p. 67-69

    * GOETTERT, J. D., SILVA, S. S., ROCHA, K. S., 2005

    Como observado por Donald Sawyer, os dados populacionais de Rio

    Branco no so comparveis entre 1991 e 1996 por causa da criao de novos

    municpios em 1992, desmembrados da Capital (SAWYER, 2.000, p. 67). No

    entanto, uma comparao entre as tabelas 2 e 3 d a noo da polaridade de

    Rio Branco em relao s cidades de seu entorno quanto concentrao

    populacional.

    A evoluo da ocupao urbana em Rio Branco e seu aumento

    vertiginoso entre as dcadas de 70 e 90, demonstrados nas tabelas, so melhor

    ilustrados pelas figuras abaixo.

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    Figura 1. Evoluo da ocupao urbana em Rio Branco

    ANOS 30

    Fotos: acervo digital do Memorial dos Autonomistas (ACRE, 2006); acervo DERACRE.

    ANOS 30

    ANOS 50

    ANOS 2000

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    Figura 1a. Evoluo da ocupao urbana em Rio Branco, 1948-2005

    1948 1961 1970

    1990 1994

    2000 2005

    Fonte: mapas de diagnstico do Plano Diretor de Rio Branco, 2006.

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    Num esforo em organizar cada vez mais a documentao sobre o

    municpio, importante que, posteriormente, se faa uma complementao e

    readequao da figuras acima de maneira a ilustrar a histria de ocupao

    urbana em Rio Branco como proposto por Marcos Vincius das Neves, em artigo

    que sintetiza essa evoluo em 05 perodos (NEVES, 2006):

    1 - De seringal a cidade (1882-1908)2 - Uma cidade dividida (1909-1940)3 -Colnias-bairros: uma cidade em expanso (1941-1970)4 -Invases-bairros: uma cidade em exploso (1970 / 1998)5 - Obras estruturantes (1999-2005)

    De qualquer modo, o 3. e 4. perodos assinalados pelo autor e j

    ilustrados nos mapas apresentados - so decisivos como perspectiva histrica

    para a compreenso da formao do espao urbano no municpio: um, fruto de

    planejamento interno, o outro, resultado desastroso de planejamento equivocado

    e elaborado externamente, cujas conseqncias constituem hoje um enorme

    desafio gesto territorial, a comear pela questo fundiria.

    Rio Branco possui 60% de seu territrio urbano e 40% da poro rural

    ainda no regularizados (PARREIRA, 2007). Sua histria recente de ocupao

    deu origem ao mosaico atual de irregularidades, claramente refletido no desenho

    aleatrio formado por bairros que surgem ano a ano, como bem demonstra a

    figura abaixo, resultado da sobreposio das imagens da Figura 1.

    Figura 2. Evoluo da ocupao urbana em Rio Branco - sobreposio

    Fonte: mapas de diagnstico do Plano Diretor de Rio Branco, 2006.

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    Juntamente com Rio Branco, Plcido de Castro e Senador Guiomar,

    os novos municpios de Acrelndia, Bujari, Capixaba e Porto Acre compem a

    regional do Baixo-Acre, a regio mais desmatada do estado. As imagens que

    seguem oriundas de fotos de satlite recentes corroboram a citada afirmao

    de Darcy Ribeiro e ilustram o grau de transformao da paisagem natural no

    municpio e em sua rea de entorno. Entretanto, Rio Branco ainda conserva

    74% de sua rea como floresta, concentradamente a oeste e sudoeste.

    Figura 3. Municpio de Rio Branco e rea de entorno

    Fonte: mapas de diagnstico do Plano Diretor de Rio Branco, 2006.

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.

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    3.2. Uma cidade amaznica no sculo XXI

    Diante da composio atual, do mosaico fragmentado resultante das

    interferncias humanas, da tendncia de degradao, resta levar (ou trazer)

    para a cidade um pouco da paisagem original. Reconquistar a paisagem tendo

    como aliada a memria ainda presente na populao.

    fundamental um esforo de reintegrao, de recuperao, de

    educao. Um ato de planejamento de longo prazo: retorno da floresta eliminada

    ao espao da cidade. Refluxo das guas limpas. Um pouco de sombra e brisa.

    Uma cidade florestal de fato, no apenas por seu entorno longnquo ou sua

    situao geogrfica, mas tambm aquela onde se pratica o que se pode chamar

    de urbanismo tropical.O Plano Diretor deu a partida, deixando vislumbrar em suas diretrizes

    um possvel conceito orientador, uma meta a perseguir, tendo como objetivo

    uma nova configurao da paisagem urbana, menos afogada, menos sufocada

    pelo concreto, mais orgnica, livre e aberta integrao com o espao natural:

    Parque do So Francisco;

    Parque da orla do rio Acre;

    Desocupao dos fundos de vale;

    reas de Proteo Ambiental -APAs;

    Recuperao das reas de Preservao PermanenteAPPs.

    Todos esses elementos marcam a penetrao da floresta no espao

    da cidade, numa clara inteno de recuperao do ambiente natural e de

    humanizao do ambiente urbano.

    Essas, portanto, so as zonas rururbanas - que prope-se mudar

    tanto de lugar como de denominao: zonas de passagem, de transio...

    Algumas contnuas, por vezes ilhas, um desenho ao acaso dos movimentos da

    natureza e da conformao do mosaico da ocupao humana.

    Espontaneamente, sero mais marcantes onde as territorialidades forem mais

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    definidas. Induzidas, nos casos indicados como emergenciais - por exemplo, na

    proteo de mananciais, das nascentes de bacias hidrogrficas, das margens e

    espaos de oscilao das guas dos rios - so fruto de projeto e, portanto,

    desenhadas.

    Os espaos das vias de penetrao da mata na cidade so uma

    maneira de dar sustentao ambiental ao crescimento urbano ou at mesmo

    limit-lo. Vale a pena lembrar o exemplo da cidade de Amsterdam, na Holanda,

    citado por Leonardo Benevolo como um dos casos de sucesso do planejamento

    urbano (BENEVOLO, 2007).

    Em 1935, Amsterdam lanou um plano para direo do crescimento,

    calculado at o ano 2000 com projees de crescimento demogrfico e

    demanda sucessiva por novas moradias. Ficou estabelecido que quando acidade atingisse um determinado nmero de habitantes ela no mais poderia

    crescer, devendo esse novo contingente populacional ser absorvido pelos

    municpios vizinhos. Novos bairros foram projetados para serem construdos em

    perodos determinados pelo plano e em zonas especficas. Seu desenho

    detalhado somente era definido poca de sua construo, por equipes de

    arquitetos diferentes em cada caso. Entretanto, o plano j fixava as propores

    entre o espao ocupado pelas edificaes, as reas verdes, as vias de trnsito

    de veculos e vias de pedestres e bicicletas. As reas verdes integram a

    paisagem urbana em igual proporo s reas construdas, com funo

    harmonizadora do espao e da vida coletiva.

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    Figura 4. Plano Diretor de Amsterdam, 1935

    Pontilhado: NOVOS BAIRROS Preto: ZONAS VERDES

    As reas verdes integram a paisagem urbana em igual proporo s reasconstrudas, com funo harmonizadora do espao e da vida coletiva.

    Casos como esse evidenciam que h outros modelos de pensamento

    do que pode ser uma cidade, que planejamento urbano projeto de futuro e no

    simples reao para atender um crescimento desenfreado. A expanso urbana

    permitida a cada vez que se definir um novo permetro deve ser justificada pela

    inteno de projeto e no pelas curvas de grficos de tendncias. Contudo,

    tambm evidente a necessidade de que seja feito em sintonia com o

    planejamento regional, com alinhamento de propostas, como se procura fazer no

    momento no estado do Acre. Rio Branco deve chamar seus municpios vizinhos

    para projetar e pactuar um futuro mais pacfico, recomendao esta, inclusive,

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    do documento de diretrizes estratgicas para elaborao do ZEAS (REGO,

    2005).

    A composio entre espao construdo e espao natural em um

    desenho descontnuo, pressupe a descentralizao de infra-estrutura e

    servios, de forma que a cidade tenha zonas mais autnomas, embora

    interligadas. Algo como fortalecer as vilas mantendo-as como tais, porm

    dotando-as de todos os servios necessrios ao seu funcionamento e conexo

    segura com a zona central adensada. Assim, evita-se o crescimento da mancha

    contnua e sufocante de pavimentao do solo, introduzindo aqui e ali aberturas

    ventiladas e horizontes visuais mais distantes.

    Uma referncia s cidades-jardim do fim do sculo XIX, modelo

    urbanstico que preconizava uma relao mais ntima entre cidade e campo,limitando a extenso contnua das malhas urbanas como oposio aos

    problemas comuns da aglomerao excessiva.

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    4. O Plano Diretor de Rio Branco

    4.1 Eixos temticos e macro-zonas municipais

    O zoneamento de Rio Branco orientou-se por 03 eixos temticos

    discutidos com a populao quanto a situaes futuras que se pretende

    alcanar:

    Rio Branco mais justa e legal - para questes de regularizao

    fundiria, vazios urbanos e funo social da propriedade;

    Rio Branco mais segura e organizada - para definies do cdigo

    de obras, reas de risco e nova diviso de bairros;

    Rio Branco mais integrada, humana e produtiva - para tratar daintegrao entre as zonas rural e urbana.

    O Plano Diretor compreende o municpio pelo agrupamento de

    diversas reas em 04 grandes unidades territoriais, na escala 1:200.000, de

    acordo com as diretrizes elaboradas para uso e ocupao do solo:

    MZCU- Macrozona de Consolidao Urbana

    MZUE- Macrozona de Urbanizao Especfica

    MZEU- Macrozona de Expanso Urbana

    MZR - Macrozona Rural

    Fica claro, j no macrozoneamento, que sua abordagem enfatiza a

    zona urbana, dividindo-a em 03 macrozonas em contraposio nica e

    extensa macrozona rural. H que se considerar, contudo, que para o

    cumprimento dos prazos exigidos pela legislao federal, o Plano Diretor no

    teria condies nem tcnicas e nem financeiras de diagnosticar e propor

    diretrizes para a gesto de todo o extenso territrio municipal. A tarefa de

    detalhar a zona rural ficou ento para o ZEAS para, posteriormente, incluir suas

    diretrizes como lei complementar no Plano Diretor.

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    Figura 5. Macrozoneamento municipal

    Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006

    4.2 Zoneamento urbano

    As macrozonas urbanas, em aproximao para escala 1:30.000,

    esto divididas em 05 zonas de uso definidas como:

    ZPHC Zona de Preservao Histrico-Cultural ZOP - Zona de Ocupao Prioritria ZUQ - Zona de Urbanizao Qualificada ZOC - Zona de Ocupao Controlada

    ZEU - Zona de Expanso UrbanaFigura 6. Zoneamento Urbano

    Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006

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    4.3 Zoneamento rural e Zona Rururbana

    A Macrozona Rural compreende 04 zonas, embora ainda definidas

    em escala 1:200.000 e redirecionadas para legislao especfica quanto aos

    parmetros de uso e ocupao do solo:

    ZU- Zona Rururbana

    ZF- Zona Florestal

    ZA- Zona Agropecuria

    ZR- Zona Ribeirinha

    Figura 7. Zoneamento Rural

    Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006

    O ZEAS deve confrontar esse resultado do zoneamento rural do

    Plano Diretor com o mosaico de composio territorial ilustrado pelo mapa

    abaixo, no qual se observa uma grande alternncia de usos do solo: seringais,

    fazendas, colnias, projetos de assentamento, glebas, reas especiais e reas

    sem classificao.

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    Figura 8. Composio fundiria rural

    Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006 LTR 05 - Situao fundiria rural

    E ainda, confrontar as imagens seguintes - que mostram a rea

    urbana e a paisagem extremamente fragmentada de seu entorno imediato - com

    a possibilidade de se definir a Zona Rururbana tal como est: uma faixa

    contnua de 03 kilmetros a partir do novo permetro proposto para a Zona

    Urbana.

    A alta taxa de fragmentao do entorno indica a quase

    impossibilidade em dar tratamento nico para uma faixa contnua, o que sugere

    um mapeamento mais detalhado considerando a interpenetrao entre reas

    rurais e urbanas de maneira descontnua.

    No Captulo.5 esto algumas sugestes preliminares para modificar o

    tratamento de Zona Rururbana para Zonas de Transio, incluindo tanto reas

    do entorno como aquelas j elencadas pelo Plano Diretor como especiais, alm

    de ilhasno interior da prpria zona urbana.

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    Figuras 9 e 9a. rea urbana e fragmentao do entorno 2003 e 2006

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.

    Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal dePlanejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento.

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    4.4 reas especiais o elo para a espacializao do conceito

    Outro nvel de detalhamento, em escala variada, destaca algumas

    reas especiais, como, entre outras, as reas de Desenvolvimento, de

    Interesse Social, de Interesse Ambiental, de Requalificao Urbana.

    As reas de Especial de Interesse Ambiental (art.196), objeto de

    legislao especfica, constituem a melhor oportunidade de integrao entre

    as zonas rural e urbana, evidenciada tanto pelas diretrizes propostas no Plano

    Diretor como por meio dos planos e programas especiais sugeridos para estas e

    outras reas. Sua definio tem por objetivos a conservao, uso sustentvel,

    recuperao ambiental e proteo dos mananciais. Compreendem as APAs

    Irineu Serra, Amap e So Francisco, a RESEX Chico Mendes, os parquesChico Mentes e Capito Ciraco, o Horto Florestal, as APPs dos principais

    cursos dgua, as regies de mananciais e do aqferono 2. Distrito.

    Figura 10. reas de Especial Interesse Ambiental

    Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006 ANEXO XIII.

    Elas se unem a outras reas especiais como a rea de

    Requalificao Urbana das Margens do Rio Acre (art.155) e as reas

    Receptoras de reas Verdes (art.189) Igaraps So Francisco, Batista e Judia,

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    cujo objetivo constituir um sistema pblico interligado de reas verdes e

    implantar parques lineares junto s APPs.

    Figura 11. reas especiais: parques ribeirinhos no rio Acre e igaraps So

    Francisco, Batista e Judia

    Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006 ANEXO XII.

    Alm dessas, os lotes no edificados mapeados no diagnstico do

    Plano Diretor como vazios urbanos, apresentam potencial para Zonas de

    Transio.

    A Figura 12 ilustra a distribuio desses lotes na rea urbana,

    predominantemente a oeste, ao longo do eixo da BR 364, e mais esparsamente,porm com reas de dimenses nada desprezveis, ao norte do igarap So

    Francisco e ao sul do rio Acre.

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    Figura 12. Vazios urbanos

    Fonte: Plano Diretor do Municpio de Rio Branco, 2006 LTU-09.

    Os vazios urbanos podem adquirir usos diversos, a depender de

    suas dimenses e do grau de articulao dos lotes com a regio em que se

    situam: se no interior de bairros residenciais, como no caso da grande rea entre

    o Mocinha Magalhes e Rui Lino; se s margens de vias expressas; se prximos

    igaraps ou ainda junto s suas nascentes, como no caso da grande rea

    entre ao bairros Floresta e Bahia. No Captulo.5 so apresentadas algumas

    sugestes de uso para essas reas, transformando-as em Zonas de Transio,

    com a finalidade de evitar que venham a se transformar em reas edificadas.

    4.5 Planos e programas

    O Plano Diretor determina 04 eixos de planos e programas especiais:

    Gesto dos Recursos Naturais

    Desenvolvimento do Turismo Sustentvel

    Estruturao Urbana e Infra-estrutura

    Reduo das Desigualdades Sociais

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    Entre esses, alguns planos e aes previstos so transversais e

    interessam especialmente aos propsitos deste artigo:

    Consolidao do Sistema Municipal de Unidades de Conservao;

    Recuperao das APPs e cursos dgua;

    Planos de bacias hidrogrficas

    Requalificao das margens do rio Acre

    Arborizao;

    Reurbanizao dos espaos livres pblicos dos bairros;

    Parques lineares de fundos de vale;

    Regularizao dos ncleos rurais;

    Plano municipal de saneamento ambiental;

    Regularizao fundiria.Como considerado anteriormente neste relatrio, os dois ltimos so

    estratgicos para possibilitar o xito de uma gesto sustentvel. E so

    igualmente complexos para serem solucionados no curto prazo. Entretanto,

    como um desdobramento imediato do Plano Diretor, a administrao atual j

    conta com um grupo de trabalho especfico para a questo fundiria, no mbito

    da recm criada Secretaria de Urbanismo (PARREIRA, 2007).

    Quanto ao saneamento - questo de sade humana e ambiental,

    problema srio em todas as cidades brasileiras, crtico nas cidades amaznicas

    permanece ainda por solucionar, principalmente no que se refere coleta e

    tratamento de esgotamento sanitrio. Um contraponto a ttulo de exemplo o

    caso de Boa Vista, capital de Roraima, que, j h uma dcada, contava com

    30% de rede coletora de esgoto instalada com sistema de tratamento, conforme

    relata a engenheira civil Maria Edileusa dos Santos que trabalhou por seis anos

    na implantao do sistema local (SANTOS, 2008).

    Os parques lineares podero realmente transformar a paisagem da

    cidade, estabelecendo corredores interligados as denominadas reas

    receptoras de reas verdes - e proporcionar lazer de qualidade para os

    moradores. Resta conseguir fazer com que margeiem guas limpas.

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    5. Do Plano Diretor ao ZEAS e vice-versa

    5.1 Recomendaes

    Como j descrito, h oportunidades abertas pelo Plano Diretor quepodem ser orientadas pela conceituao aqui defendida e mais detalhadas pelo

    ZEAS, com o objetivo de incluso posterior na Lei do Plano Diretor.

    Sugere-se redefinir a Zona Rururbana tal como proposta no Plano

    Diretor para Zonas de Transio, que podem ser descontnuas,

    considerando como tais:

    APAs reas de Proteo Ambiental;

    APPs reas de Preservao Permanente

    Parques ribeirinhos;

    Fundos de vale;

    Vazios urbanos.

    De imediato por j terem suas reas decretadas, as APAs devem

    ser objeto de estudos mais detalhados para seu bom funcionamentocomo tal e, principalmente, para satisfazer as necessidades dos

    moradores que requisitaram sua demarcao.

    A prpria legislao federal, no Artigo.15 da Lei do SNUC Sistema

    Nacional de Unidades de Conservao da Natureza, conceitua a APA como uma

    unidade territorial adequada para interface entre as reas urbana e rural:

    A rea de Proteo Ambiental uma rea em geral extensa, com um certograu de ocupao humana, dotada de atributos abiticos, biticos, estticosou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populaes humanas, e tem como objetivos bsicos proteger adiversidade biolgica, disciplinar o processo de ocupao e assegurar asustentabilidade do uso dos recursos naturais(BRASIL, 2002, p.18).

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    Figuras 13 e 13a. APA Raimundo Irineu Serra anos 2003 e 2006

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.

    Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal de

    Planejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento.

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    Figuras 14 e 14a. APA Lago do Amap anos 2003 e 2006

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.

    Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal dePlanejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento.

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    Figura 15. APA do So Francisco

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.

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    Recomenda-se que as APAs no municpio sejam consideradas pelo

    ZEAS como zonas de transio prioritrias, por conta das presses

    geradas por sua natural condio de ambigidade.

    Uma ao imediata a elaborao dos planos de manejo para suas

    reas, determinao legal que ainda no foi cumprida. A decretao

    da APA sem o plano de manejo gera situaes de muita incerteza

    para os moradores e, em alguns casos, prejudica at a manuteno

    das motivaes iniciais para sua criao.

    Eu aceitei assinar a proposta da APA porque achei que ia trazer maissegurana para ns, para proteger nossa propriedade da ao de invasores.

    Mas s tenho visto mesmo mais problema, com pessoas querendo impedirque a gente siga nossas tradies como o caso da fogueira de So Joo,hoje ameaada de no poder mais existir da maneira como nos foi deixadapor Raimundo Irineu Serra. Isso aqui tudo j foi campo. Se hoje tem algumamata porque deixamos ela crescer novamente. E fizemos isso sempretirando dela o que a gente precisa.

    Dona Peregrina Gomes Serra, moradora e proprietria rural na APARaimundo Irineu Serra (SERRA, 2007)

    Na APA Raimundo Irineu Serra, APARIS zona rural prxima

    cidade includa no permetro urbano em 2006 pelo Plano Diretor - comumouvir-se tiros durante a noite: so caadores clandestinos. Roados e outras

    plantaes esto desaparecendo por conta das invases. H lixo

    principalmente animais mortos e sucata - depositado clandestinamente a cu

    aberto em vrios pontos ao longo da estrada principal. Propriedades privadas

    so invadidas por grupos para construo de moradias urbanas. H um srio

    problema de falta dgua no vero, quando os poos domsticos secam e quase

    todas as famlias moradoras tm que recorrer compra dgua de caminhes

    pipa.

    A situao de presso externa no muito diferente na APA Lago do

    Amap, criada por demanda dos moradores para proteo contra invases,

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    pesca ilegal, retirada de madeira e areia, depsitos de lixo no lago. Hoje a

    associao de moradores enfrenta novos desafios:

    Durante muito tempo vivemos isolados e sossegados, mas agora vivemos

    sob presso urbana que precisa ser controlada e contida.Empresrios imobilirios e da construo civil, bem como madeireiros eagentes de turismo esto de olho em nossa rea, at porque esta ficou maisvalorizada com a decretao da APA. Nossa preocupao maior com oanel virio de Rio Branco que, embora no passe perto do lago, facilita oacesso regio despertando interesse de ocupao. Esto sendoanunciados projetos de condomnio, loteamentos, construo de armaznse planos de explorao turstica em clubes de lazer (AMPREA, 2006).

    Os moradores da APARIS esperam da prefeitura a extenso dos

    servios de distribuio de gua encanada e tratada, cujas obras -

    iniciadas em junho de 2008, com ligao at a Vila Custdio Freire -

    j foram concludas, mas o servio ainda no foi efetivado. Nas reas

    mais distantes, talvez o estudo de um sistema descentralizado de

    abastecimento domstico possa ser mais exeqvel num espao de

    tempo menor, como a construo pela prefeitura de poos artesianos

    coletivos, administrados pela comunidade.

    A construo de fossas spticas nas moradias deve ser ao

    fundamental na rea de sade, como parte do programa de

    saneamento. A maioria das casas resultado da auto-construo - se

    abastece de poos muitas vezes contaminados pela proximidade com

    fossas comuns.

    Alternativa de renda: pequenas propriedades rurais no entorno da

    cidade, como os plos agro-florestais e as colnias situadas nasAPAs, podem desenvolver coletivamente ou no, em parceria com o

    poder pblico - o cultivo de mudas de espcies florestais para

    abastecer as reas de reflorestamento na cidade e regies prximas

    (Figura 16).

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    Figura 16. Viveiro de mudas para reflorestamento com espcies nativas

    Foto: Elias Sahade Jnior.

    O viveiro acima fica em uma pequena propriedade rural no interior do

    estado de So Paulo. Produz anualmente 2 milhes de mudas de diversas

    espcies da Mata Atlntica e cerrado, com potencial para produzir 3 milhes, em

    uma rea de 1,8 hectares. A produo toda direcionada para projetos dereflorestamento (SAHADE Jr., 2007).

    Os vazios urbanos, zoneados como reas de Transio, tm

    potencial para adquirir funes diversas. Estudos detalhados para

    definir o uso mais apropriado em cada caso podem ser feitos a partir

    do mapa de gesto, considerando alternativas de reflorestamento

    com diversos graus de adensamento: floresta urbana, para fins de conservao e pesquisa;

    jardins ou hortos florestais, com finalidade educativa e de lazer;

    parques com equipamentos de lazer e esportivos;

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    usos produtivos, como cultivo de mudas ou de hortas

    comunitrias, de acordo com propostas j existentes da prefeitura

    atravs da SAFRA;

    ou ainda, uma combinao de usos complementares, abrigando

    conjuntos residenciais em blocos de dois ou trs pavimentos,

    parques ajardinados e matas ciliares (se prximo a igaraps), a

    exemplo do que ocorre em parte do igarap do Bind, junto ao

    conjunto Eldorado, na cidade de Manaus (fotos abaixo):

    5.2 Casos crticos Plos Agro-florestais e intervenes urbanas degrande escala

    O programa de imagens Google Earth uma ferramenta de grande

    auxlio para estudos de territrio. As imagens abaixo mostram situaes crticas

    de intervenes desastrosas no ambiente natural para fins produtivos. Foram

    aqui destacadas porque indicam um certo descontrole no uso e ocupao de

    reas muito prximas cidade, podendo ser justificativas futuras para uma

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    discutvel expanso urbana. Algumas delas, como os Plos Agro-florestais -PAs,

    foram planejadas h cerca de 15 anos para serem uma faixa de produo horti-

    fruti-granjeira para abastecimento local. At hoje, os nveis projetados no foram

    atingidos, muitos moradores detm empregos urbanos e a proposta inicial vem

    se descaracterizando juntamente com o territrio.

    Estudos detalhados esto sendo feitos por este ZEAS em outros

    relatrios, que devero apontar orientaes mais precisas sobre novos rumos

    para os Plos Agro-florestais. Aqui, ressalta-se apenas a necessidade de

    reviso urgente, seja da proposta de uso ou das aes de operacionalizao,

    para coibir que venham a se transformar em novas periferias urbanas.

    As figuras 17, 18 e 19 ilustram as intervenes em seqncia nos

    cursos dgua e barragens de nascentes nas propriedades rurais do entornoimediato zona urbana. Mais adiante, as figuras 20, 21 e 22 chamam a ateno

    para o potencial degradador da ocupao irrestrita e/ou de grande escala em

    reas delicadas como as margens do igarap So Francisco, dentro da cidade.

    Figura 17. PA Hlio Pimenta e PA Geraldo Fleming - AC 10

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.

    H um aude praticamente ao fundo de cada lote.

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    Figura 18. Fazenda Humait, adjacncias dos PAs Hlio Pimenta e GeraldoFleming - AC 10

    Nascentes barradas

    Figura 19. PA Benfica

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.

    Seqncia de audes: barragem de um igarap

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    A figura abaixo, j na rea urbana, demonstra a ocupao mata

    adentro, em faixa nas margens do igarap So Francisco, uma pr-ilha, aos

    fundos do Jardim Tropical: bairroAdalberto Arago.

    Figura 20. (a e b) Margens do igarap So Francisco presso sobre a mata

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.

    Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal dePlanejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento.

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    Os crculos marcados indicam as reas que sofreram invaso da

    ocupao sobre a mata ciliar restante, no breve perodo de 03 anos. notvel a

    fragilidade desse ambiente em confronto com a presso urbana.

    A imagem mostra ainda uma considervel rea de mata, na foz do

    So Francisco junto ao rio Acre, com potencial para ser transformada em uma

    floresta urbana protegida, como um segundo marco da recuperao do

    Igarap, na extremidade oposta da APA do So Francisco.

    Um pouco mais rio acima, observa-se a mesma presso de ocupao

    e desmatamento, nesse caso sob a influncia de uma obra governamental

    (Figuras 21a, 21b e 22).

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    Figura 21a. Margens do So Francisco: ocupao recente de grande escala- conjunto habitacional Edson Cadaxo. 2003 e 2006

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.

    Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal dePlanejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento

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    Figura 21b. Margens do So Francisco: ocupao recente de grande escala- conjunto habitacional Edson Cadaxo. 2003 e 2006

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003

    Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal de

    Planejamento, Diviso de Informaes e Georreferenciamento

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    Figura 22. Escala e implantao: obra governamental s margens do SoFrancisco - conjunto Edson Cadaxo. 2003 e 2006

    Fonte: Imagem Google Earth, obtida em 2007. Foto provavelmente de 2003.

    Fonte: Aerofoto vertical, ano 2006. Acervo PMRB, Secretaria Municipal de Planejamento,

    Diviso de Informaes e Georreferenciamento

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    O conjunto residencial Edson Cadaxo uma obra governamental de

    habitao, implantada s margens do So Francisco. um estudo de caso

    interessante porque inclui um elenco de fatores que, combinados, elevam o grau

    de impactos negativos de uma interveno no espao desse tipo:

    ocupao da faixa de rea de Preservao Permanente;

    implantao perpendicular ao rio, sem acompanhar as curvas de

    nvel do terreno;

    padro de ocupao pouco eficiente quanto ao aproveitamento de

    rea e qualidade espacial;

    sistema de execuo de obra com prvio desmatamento total do

    terreno.

    5.3 Consideraes finais

    O exemplo da Figura.22 traz uma indagao a ser feita nos

    momentos de deciso do poder pblico: ser que o atendimento de uma

    demanda social - habitao, no caso - deve priorizar apenas a eficincia

    econmica? Obviamente, esse um fator importante: recursos financeiros so

    escassos e a demanda alta. No entanto, essa necessidade poderia ser uma

    oportunidade para se experimentar e desenvolver modelos que embutem uma

    idia, uma inteno espacial, uma proposta de desenho urbano tropical, de

    moradia adequada aos costumes locais, de vida coletiva.

    Os aspectos qualitativos, subjetivos, abstratos devem compor o

    sistema de referncias de um projeto em igual valor queles quantitativos,

    prerrogativa, alis, do ZEAS no eixo Cultural-Poltico. Retomando Lcio Costa,

    este argumenta que os desejos e necessidades do homem como ser coletivo (os

    fatores quantitativos, tarefa do engenheiro) nem sempre coincidem com os

    desejos e necessidades desse mesmo homem como ser individual (os fatores

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    qualitativos, tarefa do arquiteto) e que cabe, ento, ao urbanista resolver essa

    contradio essencial (COSTA, 2003, p.116).

    No tarefa fcil, nem tampouco apenas dos urbanistas. Hoje, a

    participao da sociedade e de equipes tcnicas multidisciplinares nos

    programas de zoneamento, planejamento territorial, planos diretores so

    condio prioritria para garantir o sucesso das aes projetadas, alm de ser

    uma determinao legal.

    A prefeitura j adota um programa de gesto participativa por meio

    dos conselhos das regionais, que so somente urbanos, contudo. Os conselhos

    das APAs devem ser includos no programa, a fim de que se amplie a

    abrangncia dos pactos promovendo maior integrao entre zonas

    diferenciadas.Ser preciso ainda estar equipada tecnicamente para educar,

    fiscalizar e projetar os bairros, a infraestrutura e a autonomia das regies mais

    distantes do centro, evitando que a cidade se espalhe indefinidamente sendo

    desenhada pelos loteamentos clandestinos, que seus cursos d'gua sejam

    engolidos pela ocupao e que suas reas ainda semi-rurais sejam

    transformadas em periferias urbanas.

    As reas de transio devem permanecer ambguas, simbolizando a

    convivncia por meio de sua paisagem suave e sem rupturas: nem urbana, nem

    rural, nem s concreto, nem s floresta, fazendo a ponte entre floresta e cidade,

    entre tempos remotos e modos de vida ainda por vir.

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