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Semanário Regional | Director Interino João Nazário Ano XXV | Edição 1437 | 26 de Janeiro de 2012 | Preço 1 Euro IVA incluído | JORLIS-Edições e Publicações, Lda. Parque Movicortes 2404-006 Azoia - Leiria | Tel 244 800 400 | Fax 244 800 401 | [email protected] | www.jornaldeleiria.pt O SEMANÁRIO DA REGIÃO E DO DISTRITO Estrada da Figueira da Foz, Lt 3, Lj 2 D GÂNDARA DOS OLIVAIS (Junto à Pastelaria Xodó) T. 244 854 333 TM. 912 042 201 Rua Capitão Mouz, de Albuquerque, N.º 59 LEIRIA (Junto ao Rei dos Frangos) T. 244 813 082 TM. 912 042 201 PUB PUB José Ribeiro Vieira 1943-2012 Depoimentos de Cavaco Silva, Ramalho Eanes, José Sócrates, Arnaldo Sapinho, Francisco Mafra, Henrique Neto, Rui Portugal Pedrosa, Fernando Gonçalves, Nerlei, António Sequeira, António Saraiva, Anabela Graça, Nuno Mangas, Narciso Mota, João dos Santos, David Fonseca, Francisco Figueiredo, Nuno Sardinha Um Homem de causas Págs. 2 a 15 e última

Especial José Ribeiro Vieira

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Um Homem de causas

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Page 1: Especial José Ribeiro Vieira

Semanário Regional | Director Interino João NazárioAno XXV | Edição 1437 | 26 de Janeiro de 2012 | Preço 1 Euro IVA incluído | JORLIS-Edições e Publicações, Lda.

Parque Movicortes 2404-006 Azoia - Leiria | Tel 244 800 400 | Fax 244 800 401 | [email protected] | www.jornaldeleiria.pt

O S E M A N Á R I O D A R E G I Ã O E D O D I S T R I T O

Estrada da Figueira da Foz, Lt 3, Lj 2 DGÂNDARA DOS OLIVAIS (Junto à Pastelaria Xodó)T. 244 854 333TM. 912 042 201

Rua Capitão Mouz, de Albuquerque, N.º 59LEIRIA (Junto ao Rei dos Frangos)T. 244 813 082TM. 912 042 201

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José Ribeiro Vieira 1943-2012

Depoimentos de Cavaco Silva, Ramalho Eanes,

José Sócrates, Arnaldo Sapinho,

Francisco Mafra, Henrique Neto, Rui Portugal Pedrosa, Fernando Gonçalves,

Nerlei, António Sequeira, António Saraiva,

Anabela Graça, Nuno Mangas, Narciso Mota, João dos Santos,

David Fonseca, Francisco Figueiredo,

Nuno Sardinha

Um Homem de causas

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2 | 26 de Janeiro de 2012 | JOSÉ RIBEIRO VIEIRA| 17.02.1943 / 20.01.2012 |

José o homem dos sonhos*

Ao José Vieira

As tuas mãos magoadas acordam o restolhosob a última árvore que criaste,uma oliveira, que é a mais sagrada de todase alumia o caminho quando a noite principia.

E agora José?Que é feito de nós que te esperamos quandoestás de partida para outro lugar ondea solidão se abre para o infinito?

Mas tu és o homem dos sonhos e sabes criar universos estranha e mansamente belos enquanto o relógio do tempo regista o futuro.

22.01.12Orlando Cardoso

* Ruy Belo

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| JOSÉ RIBEIRO VIEIRA| 17.02.1943 - 20.01.2012 | 26 de Janeiro de 2012 | 3

Até sempre Eng.º Vieira!

Amigo do coração para alguns e admirado pela maioria, havia tam-bém, naturalmente, quem com ele não tivesse a melhor relação. Nãoera consensual, como nunca é quem tem uma personalidade forte,mas uma coisa é certa: não era uma pessoa indiferente. A sua pre-sença fazia-se notar e a sua voz era ouvida, mesmo que com ela nãose concordasse. Era uma voz sincera e que espelhava convicções e

determinação, estando sempre receptivo a ouvir novas ideias e com elas reformular asua opinião. Não dizia o que não pensava fosse para agradar a quem fosse. Tinhacarácter e admirava pessoas que também o tivessem.Gostava de conversar. De ouvir e ser ouvido. Entusiasmava-se com as histórias quecontava e com as que ouvia. Quando a conversa evoluía para a discussão, principal-mente em questões profissionais, era muitas vezes duro e intransigente. O ambienteficava tenso e desconfortável, chegando por vezes ao confronto mais ríspido. Não dei-xava, no entanto, que o tempo desse corpo e dimensão às divergências do momento,tomando quase sempre a iniciativa de colocar uma pedra sobre o assunto, normal-mente sem a ele se referir. Bastava um telefonema com a sua voz amável e umas pala-vras soltas para tudo voltar à normalidade. Nada de rancores ou pedras no sapato.Nada de alongar o que não valesse a pena. O seu pensamento estava direccionadopara outras questões de mais nobre dimensão. A família, os amigos, o conhecimento,a actividade cívica e os projectos empresariais. Essa era a sua vida. O que lhe ocupa-va o espírito e dava prazer à alma. Para isso a sua disponibilidade era total. Nuncaera tarde para lhe ligar. Nenhum pedido era grande demais para lhe ser feito. Tinhadificuldade em dizer que não. Para os amigos, que eram muitos, estava sempre pre-sente. Nem a doença o impediu de responder a alguns convites, algumas vezes combastante sacrifício. Poucos dias antes de nos deixar, e sabendo bem já o que o espe-rava, continuava a falar das empresas, da NERLEI, dos projectos em curso. Continua-va a olhar para os outros, como sempre fez. Preocupado com as filhas. Com os ami-gos. Com os colaboradores.Deixou-nos, mas continuará presente. Além da obra mais física, ficará a imagem deum empreendedor incansável. De um lutador pela causa pública. De um Homem ínte-gro e leal. Ficará, principalmente, a recordação de um amigo generoso que gostava da vida, semdela muito exigir. Alguns livros, um copo de vinho, de preferência da Herdade doRocim, e os amigos por perto bastavam-lhe para uma tarde bem passada. Terá sidoassim o seu último bom momento, na véspera de Natal na Livraria Arquivo. Quempor lá passou nesse dia lembrar-se-á da imagem. Até sempre Eng.º Vieira!

João Nazário

Editorial

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4 | 26 de Janeiro de 2012 | JOSÉ RIBEIRO VIEIRA| 17.02.1943 / 20.01.2012 |

1963–1970 � Cursou a Academia Militar e o Instituto SuperiorTécnico, onde se licenciou emEngenharia Electrotécnica

1969� Fundou juntamente comfamiliares a Agricortes, empresa de comercialização de tractores e outros produtospara o sector agrícola

1978� Suspende a actividade de oficial superior do exércitocom a patente de Major

� Criação da Livraria Arquivo

1979-1982 � Vereador independente, eleitopelas listas do PS, na CâmaraMunicipal de Leiria. Foi membro da Assembleia Municipal de Leiria entre 1985 e 1987

1980� Mandatário distrital da candidatura do GeneralRamalho Eanes à presidênciada República

Uma vida bem vivida

José Ribeiro Vieira, 68anos, morreu na sexta-feira após a luta maisdifícil e inglória que tra-vou ao longo da sua vida.Um problema de saúde

fulminante interrompeu o seu per-curso empresarial e cívico inicia-do há mais de quatro décadas.Como antecipou há alguns meses,foi reformado pela natureza. “Seráela que me mandará parar”, afir-mou na altura.

Visivelmente fragilizado nasúltimas semanas, nunca deixou deacompanhar as empresas, partici-par em cerimónias públicas, ou deescrever a sua habitual crónica naúltima página deste jornal. Os últi-mos tempos só vieram confirmara determinação e perseverança quesempre o caracterizaram ao longoda vida, nunca se acomodando ao

Estudou engenharia, mas nunca exerceu. Foi militar, tendo abandonado a instituição para sededicar ao mundo dos negócios, onde foi um empresário de êxito. Teve uma forte intervençãocívica e política, sendo intransigente na manutenção da sua independência de pensamento e semnunca ter cedido à tentação dos cargos. Deixa uma marca na região de defesa pela causa pública.

mais fácil, nem aceitando nadacomo definitivo, como, aliás, escre-veu uma das suas principais refe-rências, Agostinho da Silva, numafrase colocada em local de desta-que nas instalações da Movicor-tes: “nada do que penso vejo comosatisfatório e definitivo”. José Ribei-ro Vieira era, de facto, um insatis-feito por natureza e terá sido essacaracterística que o levou até àAcademia Militar e ao InstitutoSuperior Técnico numa época enum contexto em que não eracomum prolongar os estudos. Maistarde, já na carreira militar, com aconfortável patente de Major e comum percurso seguro e tranquilopela frente, decide lançar-se noimprevisível mundo empresarial.Deixa o Exército para se dedicarexclusivamente à Agricortes, quetinha fundado nove anos antes

com o irmão e outros familiares.Passados três anos cria a Movi-cortes, avançando só pelo seu pépara um projecto que viria a serum dos mais importantes gruposempresariais da região. Começoucom tractores e equipamentos paraobras públicas, mas ao longo dosanos foi diversificando a sua acti-vidade para áreas tão distintas comoos sectores automóvel, livreiro,agrícola, da comunicação e viní-cola. Não mais parou, procuran-do os melhores produtos, interna-cionalizando as empresas, melho-rando as infra-estrtuturas e rodean-do-se de recursos humanos qua-lificados. Só nos últimos quatroanos, em contraciclo com a eco-nomia, inaugurou uma modernaadega na Herdade do Rocim, cons-truiu novas instalações em Ango-la e na Madeira, e requalificou todo

o Parque Movicortes, em Azoia,Leiria.

INTERVENÇÃO CÍVICAParalelamente à sua actividade

empresarial, Ribeiro Vieira mante-ve uma forte intervenção cívica,tendo passado pelos órgãos sociaisde diversas associações desporti-vas, culturais e empresariais. À datado seu falecimento era presidenteda Nerlei, vice-presidente do con-selho geral da AIP da CIP e presi-dente da Assembleia Geral da Adlei,mas foram muitas outras as insti-tuições a que esteve ligado, comoa União de Leiria, a Juve, o CITL,a Casa Museu João Soares ou oInstituto Pedro Nunes. Pedro Neto,ex-secretário-geral do Nerlei afir-ma que Ribeiro Vieira “era umapessoa com uma visão estratégicaímpar e convicções fortes, que pro-

curava de todas as formas atingiros seus objectivos. Para isso rodea-va-se de pessoas que pudessemajudar, relativamente às quais tinhaum espírito crítico e era muito exi-gente, para que no devido tempose atingissem os objectivos”.

“Tive o privilégio de trabalharcom ele de uma forma mais pró-xima na presente direcção da Ner-lei. Dos seus ensinamentos salien-to os que mais me marcaram: afrontalidade com que abordava osassuntos, a humanidade com quese preocupava com as pessoas e aatenção aos detalhes (que impor-tavam) e que se manifestava pre-ferencialmente na forma como orecordo... a conversar!”, apontaAntónio Poças, elemento da direc-ção da associação.

A sua actividade cívica maisconhecida será, porventura, a inter-

Com o General Ramalho Eanes, de quem foi mandatário distritalA primeira direcção da ADLEIComo aluno da Academia Militar (ao centro)

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Anotícia da morte chega como um soco e o pri-meiro pensamento vai para a família e para oseu sofrimento. Diga-se o que se disser nunca

estamos preparados para morrer ou para ver desapare-cer aqueles que nos são queridos; a dor pode variarcom o tempo e as circunstâncias, mas nunca tem cura.Para os amigos fica o choque, a perplexidade, a injus-tiça de ver partir antes de tempo alguém que admira-mos, quando na nossa ideia há ainda muitas coisaspor fazer, muitas expectativas por concretizar, muitosdebates por realizar, muitas amizades por desenvolver.Pouco a pouco cresce o vazio e a crescente consciênciada perda sem solução vai-se impondo.

A primeira reacção foi a de escrever, na tentativa demanter viva a memória, de recordar acontecimentospassados, ideias pressentidas, discussões havidas,divergências várias. Mas, rapidamente, tudo perde osentido e a fragilidade de todas essas coisas da vidaque não podem ser repetidas ou alteradas começa aimpor-se com a violência do facto irreversível, porisso desmesurado e cruel.

José Ribeiro Vieira teve uma vida cheia, multiface-tada por interesses diversificados e pelas actividadesmais variadas. Empresário construtor de ideias antesde ser criador de empresas, dividia-se em actividadessingularmente dissonantes: comércio, agricultura, cul-tura, jornalismo, movimento associativo, actividadepolítica, intervenção social Fundador da ADLEI, foilíder durante muitos anos do NERLEI e dirigente daAIP, tendo um papel central em tudo o que de novo elouvável aconteceu no concelho e distrito de Leiria.

Na vida política determinou-se mais por homens epor projectos políticos do que por ideologias e parti-dos. Como cronista debatia-se visivelmente, comomuitos de nós, entre o optimismo do empresário cria-dor de progressos e a realidade frequentemente desa-gradável de que todos somos rodeados. Foi sempre umapoiante indefectível do melhoramento humano e oInstituto Politécnico de Leiria vai sentir a sua falta e ajusteza do seu conselho.

Talvez que a sua obra mais emblemática, aquelacujo carinho era bem vivo, esteja na Livraria Arquivoe naquilo que este espaço foi pouco a pouco represen-tando no meio cultural da região. Por ali passam mui-tas ideias, homens, debates, livros, cultura viva e inter-ventiva. Será porventura ali, para além da família, quea memória de José Ribeiro Vieira será mais vezesrecordada com saudade. �

| JOSÉ RIBEIRO VIEIRA| 17.02.1943 - 20.01.2012 | 26 de Janeiro de 2012 | 5

1981� Fundação da Movicortes,direccionada na altura paraequipamentos de obras públicas, iniciando a relaçãocom a marca Benati em 1983

1989� Fundador da Adlei e membrodas suas três primeiras direcções. Foi presidente dadirecção entre 2008 e 2010 epresidente da Assembleia Geraldesde esse ano

1983-1984 � Presidente do Rotary Club deLeiria, tendo sido seu membroentre 1982 e 1995

1986-1988� Período de forte dinâmicaempresarial, com início darelação com a marca de tractores agrícolas Zetor, em 1986 e Fiori, em 1987.Em1988, criação das empresasMoviter, Terralis e Vimoter. Nomesmo ano surge a empresaJorlis, com a aquisição do título Jornal de Leiria

1992-1994� Aquisição da Guérin Máquinas e em consequênciadisso, do Parque Movicortesem Xabregas, Lisboa. No âmbito da Terralis início da relação com as marcas Hurlimann e Shibaura. AMoviter, passa a representar,em Portugal, as marcas Fiat-Hitachi e Hamm

venção política. Sem ambições acargos, recusou por diversas oca-siões encabeçar as listas do PS edo PSD à câmara de Leiria, comonão acedeu a ser candidato a depu-tado na Assembleia da República.Foi convidado e pressionado, masnão era essa a sua ambição. Antó-nio Sequeira, deputado do PS naAssembleia Municipal de Leiria,adianta que a morte de Ribeiro Viei-ra deixa um “tremendo vazio”, por-que era um homem que se “metiade corpo inteiro em tudo”. Segun-do o socialista, era um “homem decausas” e “adorava a política”. Enão tem dúvidas de que era “umpolítico por natureza, no bom sen-tido”, mas tinha “noção da impor-

“Uma empresa são projectos e pessoas. Gosto de lidar com pessoas e equipas,onde haja sonho e inovação

Um chefe é o quechefia e, muitasvezes, o que chateia

tância que a sua disponibilidaderepresentava para as empresas”.Para ele, “as empresas estavam emprimeiro lugar e o resto em segun-do”, salienta António Sequeira.

Gostava de intervir e de apoiarquem entendia ter melhores con-dições para os cargos, tendo as suasopções nem sempre sido bem com-preendidas pelos que lhe eram maispróximos. Decidiu mais pelas pes-soas do que pelas cores políticas.

A sua grande referência políti-ca era, nunca o escondeu, o Gene-ral Ramalho Eanes, de quem foimandatário distrital e por quemabraçou o PRD. Com a retirada deEanes da política, José Ribeiro Viei-ra apoiou, em diferentes momen-tos, Cavaco Silva, Ferro Rodrigues,José Sócrates e, a nível local, Isa-bel Damasceno. Também nuncaescondeu a admiração por Mário

Soares, com quem mantinha umarelação pessoal, o que o levou abs-ter-se de participar activamente nacampanha que opôs o actual Pre-sidente da República ao históricosocialista.

CAUSAS PÚBLICASNão foi só na política que José

Ribeiro Vieira lutou pelo que enten-dia serem os interesses da região.Foram várias as causas públicasque defendeu e pelas quais deu acara, desde o lobby pelo aeropor-to na OTA, até à reivindicação demais apoios para o tecido empre-sarial, passando pelo empenho naqualificação do Instituto Politéc-nico de Leiria, instituição que mui-

Memória de José Ribeiro Vieira

Henrique Neto,empresário

istrital

to estimava e que entendia ser deter-minante e estratégica para a região.

Tomás Oliveira Dias, fundadorda Adlei - Associação para o Desen-volvimento de Leiria -e do movi-mento pro-Ota, lembra que Ribei-ro Vieira foi um dos fundadoresdestes dois organismos e salientaa “extrema preocupação” que dedi-cava às causas públicas. “Colocousempre em cima o bem de Leiria edo País. Tinha da vida uma visãoque não se limitava à sua activi-dade profissional, que desempe-nhava muito bem. Foi um homemda política sem filiação partidáriae sempre com uma intervençãoactiva ao nível nacional e local.”

Segundo Tomás Oliveira Dias,

“não se satisfazia em apenas nego-ciar e ganhar dinheiro” e “intervi-nha o mais que podia”, disponibi-lizando meios sempre que era neces-sário através de uma “ajuda dis-creta”. O fundador da Adlei revelaainda que Ribeiro Vieira era umapresença assídua em reuniões infor-mais que abordavam uma série deproblemas da cidade de Leiria. “Eraum homem de grande estatura,inteligência e moral, prestou umgrande serviço ao País e à região,prescindindo do seu tempo para avida cultural e associativa.”

Ao longo dos anos foram mui-tos os contactos com quem estavamais perto do poder no sentido deinterceder pela região de Leiria que,como é sabido, tem sido algo esque-cida por Lisboa. Durante os anosque esteve à frente da Nerlei forammuitos os ministros que por ali pas-

Mandatário distrital da candidatura de Cavaco Silva, em 1995

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saram e que, de alguma forma,Ribeiro Vieira tentou comprome-ter com promessas para a região.

Neusa Magalhães, secretária-geral da Nerlei, lembra a formacomo se destacava entre pares, nãosó pelo conhecimento que tinhasobre os problemas das empresas,mas pela sua capacidade de ante-visão. Tais características, aliadasa um “espírito de missão inigua-lável” com que se entregava à Ner-lei, faziam dele um dirigente repu-tado, ouvido pela região e pelo País.“Era sempre convidado para inte-grar órgãos importantes, como aCIP ou a AIP, que reconheciamcomo a sua presença era enrique-cedora”, recorda Neusa Magalhães.

Também nas páginas deste jor-nal ficou vincada essa sua preo-cupação pela causa pública, sen-do recorrentes as orientações edi-toriais nesse sentido. Entendia queo Jornal de Leiria devia dar voz àsreivindicações e lutar ao lado dequem defendia os interesses daregião.

Os seus dias pareciam ir alémdas 24 horas, tantas eram as reu-niões, viagens e encontros em quese desdobrava, tendo sido muito otempo que roubou às suas empre-sas e família em favor das insti-tuições por onde passou e dos desa-fios políticos em que se envolveu.

A SUA CASANatural das Cortes, freguesia

rural de Leiria, Ribeiro Vieira eraoriundo de uma família de agri-cultores, pessoas simples, com algu-mas posses mas com pouca ins-trução.

Depois de passar pelo Liceu deLeiria, onde fez amigos para a vida,e por um colégio em Tondela, ingres-sou na Academia Militar, tendo--se mudado para Lisboa. Concluí-do o curso de Engenharia Electro-técnica, no Instituo Superior Téc-nico, e depois de uma passagempor Angola, continuou a viver emLisboa, onde desempenhou fun-ções no Serviço de Material doExército. Com a passagem à reser-va, com a patente de Major, mudou-se para Leiria, de onde não maissaiu. Não teve uma casa, mas simvárias. Além das que habitou, pas-sou horas a fio na Movicortes, naAzoia, mas era também muito pro-vável encontrá-lo no Maneta, res-taurante nas Cortes do seu gran-de amigo Luís. Mais recentemen-te, onde se sentia melhor era naLivraria Arquivo, a sua verdadei-ra casa dos últimos anos. Ali, erafrequente encontrá-lo em reuniões,em conversas com amigos ou sim-

O último AdeusFicou marcada pela emoção a

despedida a José Ribeiro Vieira,domingo, nas Cortes, de onde eranatural. A cerimónia contou com apresença de centenas de pessoas –família, amigos, colaboradores, habi-tantes locais, empresários, políti-cos, ex-ministros e personalidadesdiversas – que quiseram prestar-lheuma última homenagem.

A igreja foi pequena para aco-lher todos os que quiseram assistirà cerimónia religiosa, presidida porD. Serafim Ferreira e Silva, bispoemérito de Leiria-Fátima, e na qualesteve também Rui Acácio, párocodas Cortes. A entrada da urna naigreja foi acompanhada pela peçaAir on the G String, de Bach, inter-pretada na flauta e na guitarra clás-sica por Neuza Bettencourt e IldaCoelho,do Orfeão de Leiria. Ao lon-go da missa, os cânticos ficaram acargo do coro da paróquia.

D. Serafim Ferreira e Silva, entreoutros aspectos, salientou o espíri-to livre e pensador de Ribeiro Viei-ra, a sua inquietação e sede de conhe-cimento, o seu empreendedorismoenquanto empresário, dirigente asso-ciativo e homem de causas.

Depois da cerimónia, dois ami-gos fizeram os discursos fúnebres.O General Ramalho Eanes foi o pri-

meiro a falar, transmitindo as con-dolências do Presidente da Repú-blica, Cavaco Silva, que represen-tou na cerimónia. O general faloutambém em seu nome e da sua famí-lia, recordando o amigo e deixan-do à família palavras de alento.

Seguiu-se Orlando Cardoso, quehomenageou Ribeiro Vieira recor-dando os tempos em que andaramjuntos na escola e, mais tarde, oreencontro e o percurso conjuntoem diversos projectos. O cortejoseguiu para o cemitério das Cortes,à porta do qual estava uma forma-ção de militares, que dispararam21 tiros de salva, honra devida pelofacto de José Ribeiro Vieira ser ofi-cial superior do Exército Português,com a patente de Major.

JOVENS DAS CORTESPRESTAM HOMENAGEMNo domingo era dia das festivi-

dades em honra de São Sebastião,organizadas pelos jovens que come-moram 20 anos em 2012. Deve-riam ter começado às 11 horas, masforam adiadas para o início da tar-de devido às cerimónias fúnebres,nas quais muitos dos jovens fizeramquestão de marcar presença, comoforma de prestar homenagem a JoséRibeiro Vieira. �

Com José Sócrates e Catarina Vieira na inauguração da Herdade do Rocim

Confio nas virtudesdo trabalho, dadedicação, da vontade e do sonho

Se pudesse, seriaum observadorsocial e um viajante

1995� Mandatário distrital da candidatura do ProfessorCavaco Silva à presidência da República

1997- 2012� Presidente da NERLEI –Associação empresarial daRegião de Leiria e vice-presidente da AIP - Associação Industrial de Portugal de 1997 a 2002.Em 2009 voltou a assumir apresidência da direcção daNERLEI e, por inerência, avice-presidência da CIP – Confederação Empresarial de Portugal

1999 � Início da relação com as marcas alemãs Wirtgene a Vogele, líderes mundiais demercado em equipamentospara estradas

2000-2001� A Livraria Arquivo muda deinstalações e conceito, tornando-se num dos principaisdinamizadores culturais da região

� Início da relação com a Hitachi,marca japonesa de equipamentospara obras públicas

� Representação em Portugal damítica marca Moleskine

2002� Mandatário distrital do PSnas eleições legislativas, sendoAntónio Costa o cabeça de listapelo círculo de Leiria e FerroRodrigues o líder socialista.

plesmente a desfolhar livros, umadas suas maiores paixões. Leitorcompulsivo e com interesses emdiversas áreas, construiu uma biblio-teca assinalável. Dava grande impor-tância ao conhecimento e o quesabia nunca lhe chegava. Tentavaincutir esse gosto nos que lhe erammais próximos, oferecendo ao lon-go da vida muitas centenas de livrosaos seus amigos e colaboradores.Na sua opinião, um dos problemasdo País estava precisamente na fal-ta de conhecimento geral, do pou-co interesse generalizado por sabermais. Escreveu-o e disse-o muitasvezes, sendo essa uma preocupa-ção constante e a base de muitosconselhos. Talvez por isso, tenhatido sempre a disponibilidade paraapoiar projectos na área do sabere da cultura, sendo a própria Livra-ria Arquivo, com a sua galeria einúmeras iniciativas de âmbito cul-tural, o exemplo mais conhecido.Houve, no entanto, outros exem-plos disso, como a Casa da Reixi-da, a que se referem David Fonse-ca e João dos Santos em textosneste jornal, a colaboração com o

Colectivo a9)))), a quem cedeu ins-talações, e a atenção que teve comdiversos jovens artistas da regiãoa quem adquiriu algumas das pri-meiras obras.

“Uma pessoa disponível e desin-teressada materialmente. O inte-resse tinha-o pelo potencial dosoutros. Gostava muito de pessoasempreendedoras, aproximando-se delas e tentando potenciar assuas melhores qualidades. Pes-soalmente, senti isso muitas vezes,em especial, na Casa da Reixida,onde sempre houve muita liber-dade e respeito. Ajudou-nos sem-pre imenso através daquela capa-cidade que ele tinha de olhar paraos outros e fomentar o talento”,afirma o artista plástico, natural deLeiria, Nuno Sousa Vieira.

Como previa, a natureza obri-gou-o a parar, mas como dizia Fer-nando Pessoa, que tanto admira-va, “Viver não é necessário. Neces-sário é criar”. José Ribeiro Vieira jánão vive entre nós, mas o que crioué uma boa ajuda para que quemfica continue a criar. �

João Nazário

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Por razões que o espaço não me permiteexplicar, o falecimento do Eng.º J.Ribeiro Vieira foi, para mim, uma

autêntica “morte súbita”. É por isso queescrevo estas linhas com grande emoção euma inusitada tristeza.

Sabendo de antemão que este número doJL vai ser dedicado à sua memória, não fal-tarão depoimentos que atestem, muitomelhor do que eu o faria, a ilustre figura doempresário, do militar e do dirigente multi-facetado. Permitam-me então que evoqueapenas o conterrâneo e o amigo de sempre,cujas convivência e amizade sempre apre-ciei.

O Zé (foi assim que sempre o tratei), ape-sar de ter nascido, como eu, na freguesiadas Cortes, não frequentou a mesma escolaprimária que eu. Mas foi nos intervalos derecreio da missa e da catequese que nosconhecemos, julgo que logo desde tenra ida-de, no adro da igreja de Nossa Senhora daGaiola. Tão marcante foi essa convivênciaque, não obstante a diáspora, os amigos deentão se reúnem para conviver, todos osanos, na véspera da festa da Padroeira quese celebra no 1.º Domingo de Maio. Se orefiro aqui é porque sei quanto ele, o Zé,prezava o grupo e o convívio que “religiosa-mente” temos feito.

Depois da Primária iniciámos um percur-so comum de 5 anos em Leiria, para ondeíamos diariamente de bicicleta, ele para oLiceu, eu para a Escola Comercial. Já nessaaltura as nossas diferentes tendências e apti-dões se afirmavam e complementavam. Eu,no estudo aturado, ele cumprindo os míni-mos e procurando mais viver a vida social ede convívio. Não poucas vezes a Mãe deleme pedia: “dê bons conselhos ao meu Zépara que ele estude mais”. Eu dizia-lhe quesim, mas na verdade não a levava a sérionas suas preocupações, porque verificavaque o Zé cumpria no essencial e aproveitavabem as outras opções que a vida lhe (e nos)proporcionava.

Separámos-nos depois dois anos, parafazermos o 6.º e o 7º ano, ele em Tondela,eu no ICL em Lisboa, reduzindo-se o nossoconvívio às férias. E, finalmente, o reencon-tro dos dois em Lisboa, eu em Económicas

(na velha escola do Quelhas), ele na Acade-mia Militar/IST para cursar Engenharia.Nessa altura as nossas posições ideológicascomeçavam a divergir, embora sem prejuízoda indiscutível amizade que sempre nosuniu. Lembro-me de então discutirmos oregime e a iníqua guerra colonial, que eumuito contestava. Hoje penso, com satisfa-ção, que essas discussões sadias contribuí-ram seguramente para que o Zé se tornassemais tarde um valoroso militar de Abril!

Segue-se o percurso profissional deambos e o regresso do Zé, em boa hora, àterra natal onde construiu a obra de todosbem conhecida. Nesse tempo saliento ape-nas a compra do JL que praticamente refun-dou e desenvolveu e o fenómeno Arquivoque, com a ajuda da filha Alexandra, foi apedra no charco da cultura leiriense deentão. Confesso que me surpreendeu bas-tante, pela positiva, esta súbita viragem doZé para as coisas da escrita e da cultura, emsimultâneo com uma vida empresarial desucesso. Os seus editoriais, na última versãoas crónicas sem título, marcaram o jornalis-mo leiriense e era bom que o JL os editasseem livro, para os resgatar da efemeridade dopapel de jornal.

Fui por ele enredado, depois de muitasinsistências, nesta sua iniciativa jornalísti-co/cultural e por isso devo ao Zé este meuolhar atento que, há mais de 20 anos, dedi-co também às coisas de Leiria e do País. Naedição em livro, em 2006, de grande partedessas minhas crónicas, escreveu o Zé entãocoisas que só um grande amigo diz deoutro, nomeadamente: ser amigo como pou-cos sabem ser; ser um cidadão exemplar,humilde, inteligente e sensível, defensor dosvalores da família, da fraternidade, da ética,da liberdade de expressão e da pluralidadede opinião… Afinal, tudo o que ele semprefoi, e a que eu acrescento ainda um Pai“babado” de duas amorosas filhas e, maisrecentemente, de uma neta muito querida.Chegou, pois, a hora de lhe dizer que estasqualidades raras que me apontava são aque-las que eu sempre lhe reconheci e que, emgrande parte, com ele aprendi na nossa con-vivência de tantos anos. Só por isso, já lheficaria eternamente grato. Mas não esqueçotambém os afectos – palavra tão frequentena sua boca – e a grande amizade de umavida inteira.

Obrigado Zé. Que Deus te releve as gran-des virtudes e qualidades de que todosbeneficiámos e te conceda o descanso eter-no que tanto fizeste por merecer! �

Em memória de José Ribeiro Vieira

Francisco Mafraeconomista

A receber Mário Soares, como presidente do Conselho Geral do IPL

“O líder deve saberescolher muito bem o momento de intervir e saberesperar

Só serei reformado pela Natureza.Será ela que memandará parar

2003-2004 � No âmbito da Terralis, inícioda relação com as marcas de tractores LS e McCormick,para os territórios de Portugal,Espanha e Angola

� Mandatário distrital do PSpara as eleições Europeias

� Prémio Carreira atribuídopela ANJE

2005� Criação da Moviter España,como importadora da marcaHitachi para este país

� Mandatário distrital do PSnas eleições legislativas, comAlberto Costa como cabeça delista pelo círculo de Leiria eJosé Sócrates como líder dopartido.

2006-2008� Criação do Centro PorscheLeiria

� Inauguração da Herdade doRocim, no Alentejo

� Entrada no mercado deAngola, com a constituição da Movicortes Angola

2010� Construção de novas instalações, próprias, na Região Autónoma daMadeira

� Assume a presidência doConselho Geral do InstitutoPolitécnico de Leiria depois da demissão do professor Jorge Arroteia

2011� Requalificação do ParqueMovicortes, em Azoia, Leiria,construção de nova sede daMoviter

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Page 8: Especial José Ribeiro Vieira

Pediu-me o Senhor Presi-dente da República que orepresentasse nas exéquias

do Eng.º Vieira e apresentasse assuas sentidas condolências às suasfilhas Alexandra e Catarina, aosseus outros familiares e aos seuscolaboradores, e que a todos dis-sesse quanto estimava a admira-va o Eng.º Vieira pela sua intei-reza de carácter, pela sua capa-

cidade empreendedora, pelas suasqualidades de liderança, pela suagenerosa disponibilidade e empe-nho cívico, pela sua empenhadaacção em prol de uma sociedademais informada, culta e partici-pativa, nomeadamente atravésdo seu Jornal de Leiria e da suaLivraria Arquivo, verdadeiros cen-tros de difusão cultural. Pediu--me que a todos dissesse que a

ele a Nação fica a dever um pres-timoso e multifacetado trabalho,em especial no empreendorismoeconómico, cultural e na acçãocívico-política.�

Mensagem dirigida pelo Presidenteda República, lida na cerimónia fúne-

bre pelo General Ramalho Eanes emsua representação

8 | 26 de Janeiro de 2012 | JOSÉ RIBEIRO VIEIRA| 17.02.1943 / 20.01.2012 |

Depoimentos

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Depoimento

Inteireza de carácter

Cavaco SilvaPresidente da República

Tive o privilégio de conhe-cer o Eng.º Vieira e de, comele, manter uma longa e gra-

tificante interacção.Oportunidade tive, assim, de:Aperceber-me do seu bom e

forte carácter, da sua excelentepersonalidade;

Testemunhar a sua vocação ecapacidade empreendedora, a suaaptidão para aproveitar e desco-

brir oportunidades de negócios etransformá-las em sucesso;

Constatar a sua ousadiaempreendedora, o seu gosto pelorisco calculado, investindo mes-mo em áreas que se não situa-vam nos limites das suas com-petências distintivas;

Observar quão líder era e, ape-sar disso, quanto se preocupavaem tornar a sua liderança maiscompetente pelo saber e reflexão,mais virtuosa pelo exercício epelos efeitos na motivação detodos os seus colaboradores;

Verificar como respondia à suaresponsabilidade social (isto é,como procurava contribuir paraa preservação e desenvolvimen-to da sua Sociedade Civil, a dalocal e a nacional), quer na suaárea de domicílio, quer no pró-prio País.

Assim, relevante serviço pres-tou à sua sociedade (a de Leiria,Cortes e nacional), procurandotorná-la mais informada, maisesclarecida, mais participativa eculta, nomeadamente através doJornal de Leiria, de sua proprie-dade, e da sua Livraria Arquivo,verdadeiro e dinâmico centro cul-tural;

Testemunhar, ainda, e benefi-ciar, mesmo, do seu empenhocívico. Muitos foram os comba-tes políticos em que participou,os riscos que correu, sem espe-rar outra coisa que não fosse con-tribuir para a consolidação demo-crática, a realização do bemcomum.

Ribeiro Vieira era, como dis-se, um homem bom, de nobrecarácter, de excelsa personalida-de, a quem Leiria e o próprio País

muito ficam a dever.Os seus amigos, entre os quais,

com orgulho, me incluo, sentembem a perda, a grande perda que,também para eles, a morte doEng.º Vieira representa.

Às filhas, à Xana e à Catari-na, neste tão nefasto momento,um abraço do coração, meu, daminha mulher e dos nossos filhos,em especial do nosso filho Manuel,que nos últimos anos interactuaracom o Eng.º Vieira, e passara,desde então, a admirá-lo.

Aos seus outros familiares eaos seus colaboradores, as nos-sas sentidas condolências – asminhas, as da minha mulher e asdos nossos filhos. �

Discurso fúnebre do General Ramalho Eanes proferido

durante a cerimónia

Um Homem bom

António Ramalho EanesEx-Presidente da República

Quando há mais de 20 anosvim de Lisboa, onde estavatemporariamente, para uma

entrevista com o Engº José RibeiroVieira, não podia imaginar que nasduas horas de conversa que tive-mos, mais do que um emprego, esta-va a encontrar um amigo que memarcará para sempre. Nessas duasdécadas de de colaboração próxi-ma, aprendi a conhecer uma pes-soa densa, complexa, intransigen-te na defesa do que acreditava, fron-tal e corajosa na afirmação dos seusvalores e na preservação dos seusamigos. Em todos esses anos, tes-temunhei o seu genuíno e semprepresente interesse pela riqueza espi-ritual, que gostava que incutir nosque lhe eram próximos. Recordocom carinho as muitas conversasque tivemos, em horas e horas deviagem, os livros que me foi ofere-cendo sempre com um bilhete ami-go como anexo e ainda o partilharde alguns dos seus sonhos, para asempresas, para a região, para o País.

Exigente para com todos, sobre-tudo para os que lhe mereciam maisapreço, tinha afeto como uma dassua palavras preferidas e sabia expres-sá-lo. Em pequenos gestos, no dia-a-dia. Usava como poucos a pala-vra no fortalecimento de relações efazia da amizade uma ferramentada sua vida.

Trabalhar e conviver com o EngºRibeiro Vieira era uma tarefa a tem-po inteiro, intensa, presente e recon-fortante, muitas vezes sem horas,mas sempre no tempo certo.

Quando já perto do fim deste seucaminho, numa viagem de carro deLisboa para Leiria, me perguntou oque eu achava que ele gostaria deser, a resposta saíu-me, baixinho:acho que teria gostado de ser pro-fessor. Ele riu levemente e disse quesim.

O meu professor, da vida.Obrigado Engº Ribeiro Vieira. �

O professor

Arnaldo Sapinho Administrador do Grupo Movicortes

Luís DiasQuero deixar o meu agradecimentopelas muitas obras que o Eng. Vieiranos congratulou. Homens assim nãomorrem, porque serão recordados para sempre!

Rogério Paulo CamposUma grande perda sem duvida.

Viacelas VC É um homem, que irá fazer muita faltaao nosso País.

Gastão Oliveira NevesPerdemos um cidadão que discretamente defendia a nossa região.Um exemplo a seguir!

Catarina CarreiraUm exemplo a seguir. Descanse em paz...

Frederico VarinoUm exemplo para a nova geração deempresários e que a sua filosofia devida perdure em sua memoria no seu Grupo de Empresas.

Tó Mané MonteiroPerdi um grande amigo.

Cristina UrbanoVou sentir falta dos momentos degrande silêncio em que nos fazia passar a sua mensagem.....!!!! :)

António Sérgio Elias SilvaSem dúvida uma pessoa enorme...silencio-me com respeito.

Almerinda Cruz“O Homem vai a Obra fica". Um Grande Senhor que admiro muito...

Paula Félix Perdemos um grande Senhor. Era um Homem notável, empreendedor, visionário. Leiria está de luto.

Patricia MartinsSoube agora que partiu uma das pessoas que mais marcaram o meucrescimento como profissional e acimade tudo como pessoa humana... "Patrícia: Nunca percas essa força eesse sorriso ! Brilha com luz própria"Uma notícia que me deixa profundamente triste ! Até sempre "Sr. Engenheiro! "

José Ribeiro Vieira (à direita) com os pais e o irmão Na Zona Operacional de Angola, durante o estágio profissional, em1972

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Page 9: Especial José Ribeiro Vieira

| JOSÉ RIBEIRO VIEIRA| 17.02.1943 - 20.01.2012 | 26 de Janeiro de 2012 | 9

Tive o privilégio de ser amigodo Engº José Ribeiro Vieira ebeneficiar da sua sabedoria.

Conhecemo-nos há muitos anos,quando frequentámos o Liceu Nacio-nal de Leiria. O testemunho queaqui desejo expressar é tão-somen-te resultante do meu relaciona-mento com o meu querido AmigoZé Vieira, sendo incompleto e par-cial. Desde quando discorríamos,algumas vezes em saudável dis-cordância, sobre publicações, opi-niões pública e publicada, fiqueiimpressionado com a absoluta liber-dade de pensamento e acção doJosé Ribeiro Vieira. Não permitiaque nada nem ninguém se inter-pusessem entre ele e a sua cons-ciência. Sabia ouvir e estudava commétodo e profundidade todas asquestões e não era homem de semoldar a conveniências ou injus-tiças. Quem o quisesse ver com ascandeias às avessas era tentar inter-ferir com os seus valores ou comos procedimentos que julgava jus-tos. Enfim, um homem livre comopoucos.

Impressionava-me vivamente oseu sentido de entrega à causa públi-ca, quer a nível local, quer regio-nal, quer nacional e mesmo na áreada Lusofonia. Desde as sociedadesrecreativas, culturais, educacionaise humanitárias das Cortes e de Lei-ria e desta região, das associaçõesempresariais e de defesa de inte-resses sociais e políticos, nada lheera indiferente. Tudo o que, em suaopinião, contribuísse para o desen-volvimento de Portugal e dos por-tugueses beneficiava do seu con-tributo profícuo. Sempre a procu-rar unir, agregando interesses comunse desfazendo os mal-entendidos eincompreensões que os dificultam.O seu profundo amor à Pátria nãoera apenas resultante das virtudescastrenses que o formaram, mastambém resultava de uma espiri-tualidade muito própria que foi ali-

cerçada, basicamente, no conheci-mento aprofundada do pensamentoe da obra do Pe. António Vieira ede Agostinho da Silva.

Homem despojado de vaidades,realizava-se no trabalho e na bus-ca incessante de maior conheci-mento científico, histórico, filosó-fico ou estético que colocava sem-pre ao serviço do Homem e dahumanidade. Possuidor de uma vas-ta e sólida cultura era um enormeprazer ouvi-lo sobre as mais diver-sas matérias, provocar o contradi-tório mas sempre respeitando asopiniões, quando fundamentadas,dos seus interlocutores.

Era um Homem extremamentetolerante. Quantas vezes o vi irri-tado com artigos de opinião quecolaboradores permanentes publi-cavam no seu jornal… mantinhaas colaborações… e, algumas vezes,ainda os defendia de terceiros poispara ele era sagrado o direito deexpressar a opinião, mesmo quenão concordasse com ela… Tole-rância que manifestava nas maisvariadas facetas da vida humana.O respeito pela liberdade de cadaum fazia dele um homem despidode preconceitos, mas não admitin-do que a liberdade de cada ummolestasse a liberdade dos outros.

O Dever e a Honra, virtudes quecertamente desenvolveu na insti-tuição militar, eram o fio condutorda vida pessoal e profissional doJosé Ribeiro Vieira. Mas o que maisrealço no seu carácter, aquilo quemais me tocava, por ser tão raronos tempos que correm, era a soli-dariedade que manifestava para osque lhe estavam próximos. A suacapacidade de entrega, de apoio,de ajuda sempre que sabia ou pres-sentia que alguém precisava de umapalavra de apoio, de um abraço fra-terno ou da resolução de qualquerproblema pessoal ou profissional.Muitas vezes, a discrição com queo fazia nem sequer era percebidapelos próprios beneficiários da suaintervenção… Era assim o José Ribei-ro Vieira.

Por tudo o que escrevi e, tam-bém, por aquilo que não fui capazde expressar, o meu querido Ami-go Zé Vieira, através da memóriados seus exemplos, continuará aparticipar na minha vida e, certa-mente, nas vidas de muitos quetiveram a felicidade de privar comele. �

Depoimento

Um Homem livre e virtuoso

Rui Portugal Pedrosa

Sérgio CruzUm grande Homem.

Rute Pereira Lamento muito esta perda... foi umsenhor que tive o prazer de conhecerinfelizmente por causa da doença maso pouco tempo que tive com ele tiveconversas extraordinarias e muito cultas que me fizeram ver além de...que descanse em paz.

José RoqueMais um grande leiriense que partiu.

Micael SousaPartem os homens, ficam as obras e osexemplos.

Rui CordeiroUm bom amigo, uma grande perda. Asua energia continuara sempre presente entre nós.

Carla FerreiraUm visionário.

Pedro CustodioDa minha parte só me resta agradecer a oportunidade que tive deconhecer e conviver com o Empresário que considero a maior referência do Distrito de Leiria. Discreto, sensível, leitor culto e directo noseu discurso, abdicando de interesses partidários para defender o queentendia ser o melhor para o desenvolvimento da nossa Região. Admiro a capacidade de gerir o tempodedicado à causa pública e paralelamente ter criado e desenvolvidoum Grupo de Empresas de sucesso. Um grande exemplo sem par!

Paulo Alexandre TeixeiraSinto-me triste pelo que aconteceuQuando o vi da última vez, pelo Natal,notei-lhe a debilidade, mas não esperava este desfecho tão cedo. Émuito triste, porque era alguém quesabia o que precisava esta região. Fezo seu melhor e sempre o tive em altaestima. É uma enorme perda quevamos sentir por muitos anos.

José Luís PeixotoLamento profundamente essa enormeperda.

Luís MarquesOs amigos, a região e o País ficarãoirremediavelmente muito maispobres, Um muito obrigado por tudoo que fez. Um Homem que toda vidadefendeu e ajudou amigos e que ago-ra será recordado para sempre!Obrigado por tudo.

Filomena Leite PintoFicam boas memórias do trabalho naADLEI, dos seus artigos no JORNALDE LEIRIA ou dos apoios à Liga deAmigos da Casa Museu João Soares.Até sempre caro Engº Ribeiro Vieira.

Otraço de carácter que maisnitidamente se destacava napersonalidade de Jose Ribei-

ro Vieira era, sem dúvida, a suapaixão pelo conhecimento, o seuamor pelos livros, a sua ambição eexigência cultural que causava, aquem teve a sorte de o conhecer ecom ele conviver, a mais viva impres-são. Homem de espirito, sim. Mastambem homem de acção, conhe-cedor dos desafios da lideranca, daanimação de equipes, da realiza-ção e da obra concreta que dá sen-tido útil ao idealmente ambicio-nado. Pensamento e acção : Ribei-ro Vieira foi - e não sei que melhorse pode ambicionar - um homemà altura do seu tempo. À altura dassuas exigências, à altura dos seusdesafios.

Há, claro, uma dimensão públi-ca muito forte na sua vida. Cida-

dão interessado, nunca a politica eos assuntos públicos lhe foram indi-ferentes. Desprezava tanto o fac-ciosismo e o sectarismo ideológi-co, quanto se entregava com ale-gria e empenho a projectos comunse colectivos marcados pela simplese honesta procura do interesse geral.Todavia, sendo, hámuito, admira-dor da sua intervenção cívica, oque sempre provocava em mimenorme simpatia, era o seu jeitoencantador de homem generoso eafável, atento aos outros e com umtocante sentido de lealdade, quecomo sabe quem tem experiênciade vida, é o fundamento da ami-zade.

Jose Ribeiro Vieira teve umavida nobre. Nobre, não no sentidoda classe ou do nascimento, masno sentido de uma vida atenta ededicada, sempre pronta a ir mais

além, a superar-se, a transcendero que os outros esperam de nós e– ainda mais importante – a fazerum pouco mais, um pouco melhor,do que nós próprios esperamos denós.

No momento em que me asso-cio à sua família e aos seus ami-gos, partilhando a tristeza do desa-parecimento de quem sempre foipara mim um querido e dedicadoamigo, desejo também lembrar queRibeiro Vieira teve uma vida quemereceu ser vivida. E desejo tam-bem que essa lembrança – e esseexemplo – de uma vida digna ebem sucedida, nos possa, não ape-nas confortar, mas também inspi-rar nas escolhas, julgamentos edecisões que as vidas livres que,como ele, escolhemos viver, nosimpõem e nos exigem todos os dias.�

Depoimento

Uma vida que mereceu ser vivida

José SócratesEx-primeiro-ministro

Com as filhas no lançamento do vinho Vale da Mata e do livro Terra de Pinhal e Mar

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Page 10: Especial José Ribeiro Vieira

10 | 26 de Janeiro de 2012 | JOSÉ RIBEIRO VIEIRA| 17.02.1943 / 20.01.2012 |

Tive o grande privilégio deconhecer mais de perto o Eng.ºRibeiro Vieira nos últimos três

anos da sua vida. A imagem quetinha dele, antes de o conhecer, eraa de um homem duro, austero eautoritário. Desconhecia por com-pleto as características que, a parde uma disciplina herdada dos seustempos de militar, melhor o carac-

terizavam que eram, precisamen-te, a humanidade, a amizade e asolidariedade.

Líder de opinião respeitadíssi-mo, Ribeiro Vieira não se limitavaà palavra, ele era um líder nato, umestratega e um homem de acção.A economia e o associativismoempresarial (e outros) ficam a dever--lhe muito. A sociedade leiriensetem pois uma dívida enorme paracom Ribeiro Vieira que só conse-guirá pagar se souber honrar a suamemória. Mas não foi só no mun-do empresarial que ele se destacoude forma ímpar. A agenda da Arqui-vo há muito que saltou os murosdo concelho e galgou as fronteirasdo distrito alcançando um nívelmuitas vezes superior ao das gran-des livrarias nacionais. Ninguém

nem nenhuma instituição fez tan-to como ele pela cultura da nossacidade. É bom que a Câmara de Lei-ria se lembre disso e o reconheçaadequadamente.

Convidou-me por duas vezespara ir passar um fim-de-semanacom a família à sua quinta no Alen-tejo mas a importância de outrascoisas bem menos importantes deum director da Segurança Socialnão me permitiram ir. Por vezesnem nos apercebemos que deixa-mos passar ao lado as coisas maisimportantes da vida em prol deoutras, tantas vezes, “triviais”. Com-binámos várias vezes um almoçoentre nós que nunca veio a acon-tecer. Dizíamos frequentemente «umdia destes temos de ir almoçar».

Ficámo-nos por algumas tertú-

lias esporádicas que adensarammuito a tenra mas genuína amiza-de, o respeito e a admiração mútua.

Por deferência e amizade con-videi pessoalmente o Eng.º Vieiraa estar presente no lançamento domeu mais recente livro, no dia 26de Novembro em Pombal, semnenhuma expectativa que ele fos-se, dado o seu estado de saúde.Fiquei imensa e agradavelmentesurpreendido quando o vi entrar,já visivelmente debilitado, no Tea-tro-Cine em Pombal acompanha-do do João Nazário. Do João, ex--marido de uma das suas filhas,falou-me uma vez como se de umfilho se tratasse. Essa foi apenasuma de entre tantas outras demons-trações de grandeza que me deu aconhecer.

Falou-me também do seu velhosonho de criar uma fundação emtestamento, seguro de que uma dassuas filhas daria continuidade aoseu legado. Espero que tenha con-seguido concretizar esse objectivotal qual o idealizou.

As suas filhas, Catarina e Ale-xandra, eram o seu orgulho e a suavaidade, eram para ele Esparta eAtenas, iguais na sua condição,apesar de imensamente diferentes.E preocupava-o que alguma delaspudesse pensar que ele gostava maisda outra, mas não. Aqui fica o tes-temunho.

Espero que Cavaco Silva se lem-bre no próximo Dia de Portugal oquanto esta região e este país deveao grande homem que foi RIBEI-RO VIEIRA. �

Ribeiro Vieira

Fernando Gonçalves

Depoimentos

Há ocasiões em que lamen-tamos amargamente não tergénio para verbalizar, com

clareza, com capacidade de sínte-se e elegância, aquilo que nos vaina alma.

Assim, este testemunho poderáser egoísta e redutor (sei que nãofaltarão outros que saberão exal-

tar as qualidades do meu amigo),será sentimental (talvez piegas), tris-te mas não trágico, porque a suaobra tem que perdurar.

Na conjuntura actual compa-ra-se uma empresa a um navio,navegando em mar tempestuoso,e é claro que perder o capitão nes-tas circunstâncias não ajuda, masuma boa tripulação que conhece arota, pode levá-lo a bom porto.

A amizade verdadeira é um sen-timento ímpar, é um lume brando,é intensa mas serena.

Pode hibernar por longos inver-nos mas renasce e floresce semprenuma qualquer primavera, tão fir-me e tão genuína como nunca dei-xou de ser.

Não creio que cada um de nóstenha muitos “grandes amigos”,

aliás Aristóteles até exagerava dizen-do que “ter muitos amigos é nãoter nenhum”.

Eu tinha um grande amigo, quedesapareceu!

Daqueles que às vezes, a horasimprováveis, telefonava, ou vice--versa, sem motivo imperioso, semnovidades para transmitir, sem pedi-dos para fazer, sem eventos paramarcar, só para falar e ouvir, como tempo a fluir e o telemóvel a reve-lar trinta ou quarenta minutos deconversa.

O meu amigo era um homeminteiro que eu via sereno, mas sen-tia inquieto.

Um homem focado nos seusentusiasmos, quase vícios, a suaempresa “mãe”, a sua livraria, o seujornal, os seus vinhos. Toda a sua

vida girava neste âmbito, numasimbiose de gostos próprios, comoutros induzidos pela vocação dasfilhas, que ele sabiamente soubetornar convergentes com os seus.

O meu amigo adorava escrever.A sua crónica semanal neste seujornal era uma constante.

Mesmo quando o trabalho olevava para longe (só o trabalhoo levava para longe), mesmo quenos confins do mundo, a cróni-ca chegava. Só deixou de escre-ver em vésperas de viajar muitopara lá dos confins do mundo.Quem o estimava e sabia muitodoente, às quintas-feiras abor-dava o jornal pela última pági-na, procurando as “Crónicas semtítulo”, tremendo, como quemabre um envelope de análises ou

o relatório de uma ecografia.O músico, o escritor, o pintor,

desaparecem mas não morremenquanto a sua obra perdurar. Comos verdadeiros empresários o mes-mo se passa. Se os que ficam sou-berem preservar a sua obra, o meuamigo perdurará. Só não me aten-derá o telemóvel, o que me vai fazermuita falta.

Custa admitir o seu desapareci-mento, mas pior seria saber da suamorte! �

* O meu amigo apreciava imenso asinterpretações de Luciano Pavarotti, nomea-damente a ária “Una furtiva lacrima” deuma ópera de Donizetti. Foi um pretextopara escolher o título para estas palavras.

Uma lágrima furtiva*

António Sequeira

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Helena SantosLamento muito e vou sentir a falta dever este SENHOR sentado na sua mesado Café da Livraria Arquivo.

JF OliveiraQuando um homem neste mundo fazobra não por obrigação mas por devoção, ele nunca morre, fica eternoo sentimento, pois o que desaparece éo corpo, o espírito fica entre nós; setodos seguissem o exemplo o mundoque hoje conhecemos seria o paraíso.

Maria Luís PaulaLeiria, o país e o mundo ficaram maispobres.

Artur FerrazUma grande perda para a nossaRegião.

José Cruz PereiraVou sentir a falta de um grande serhumano.

Ricardo MoreiraLeiria fica definitivamente maispobre...

Paulo CaetanoMais uma exelente pessoa que nosabandonou...

Leonel MartoMais uma grande perda para o tecidoempresarial da região.

A. Filipe MatiasRecordo com saudade quando se iniciou, comigo, nas actividades associativas da nossa terra natal, asCortes. Um HOMEM DETERMINADO. Até sempre Eng. José Ribeiro Vieira.

Bruno HomemBastou-me apenas um ano e meio aviver em Leiria para descobrir que oEng. José Ribeiro Vieira era um sernotável. Era bom termos mais comoele.

Armindo FerreiraExemplo a seguir no campo empresarial e não só. Fontes-Cortes e concelho de Leiria principalmente,ficam mais pobres. A vida continua.

João Pedro SousaUma grande perda para a região emtodos os seus sentidos.

Alberto S. Silva, José Ribeiro Vieira, Jorge Martins, Fernando Villalobos, Rui Portugal, Moisés Jesus

Junto ao edifício que foi sede do Jornal de Leiria, nos últimos 10 anos

Com as filhas, Catarina e Alexandra Vieira, no lançamento do vinho Olho de Mocho rosé

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| JOSÉ RIBEIRO VIEIRA| 17.02.1943 - 20.01.2012 | 26 de Janeiro de 2012 | 11

Depoimentos

Conheço o engenheiro Viei-ra há cerca de 20 anos esempre o tratei por Sr. Enge-

nheiro. Só o tratei por Caro JoséRibeiro Vieira nas ocasiões emque lhe escrevi. Pela escrita par-tilhamos a importância que aspalavras têm.

Eu desconfio das palavras.Tenho observado o mundo a serconstruído sobre discursos quenão se adequam à vida e a vidaa ajustar-se à força a esses dis-cursos.

As palavras que o engenheiroVieira dizia e escrevia revestiamas suas intenções, que eram reais,livres e quase sempre a fazer féno futuro. Penso que as dizia eescrevia porque acreditava nelas.

Conheci o engenheiro Vieiranuma entrevista para este Jornale foi também assim que fiquei asaber como é que era ser entre-vistado: fiquei confuso, pois aentrevista acabou por ser umalonga e apaixonante conversaacerca do que somos. Como é que

foi possível conversar assim comum desconhecido? Eu penso quesei porquê.

Outras conversas se seguiramao longo dos anos e sempre sobreo mesmo assunto: o que somose nenhuma conversa passou semque falasse das suas duas filhas,a Xana e a Catarina.

Tive o meu primeiro atelier naReixida, numa casa cedida peloengenheiro Vieira. Uma casa intei-ra que foi mais tarde partilhadacom outros artistas e que se tor-nou pequena para o tamanho doque se passava lá dentro.

Em Leiria ainda está para nas-cer o projecto de alguma coisaparecida e tão generosa.

Estas histórias continuaram ao

longo de todos estes anos. Por vezes eu aparecia, só ou

com a Sofia, na Arquivo, aos sába-dos depois do almoço só para tero prazer de continuar a conversa.

Quando soube da sua doençapercebi que muita coisa estava aficar por dizer, que nunca lhe diriade viva voz Caro José RibeiroVieira e que o nascimento do meufilho tinha mais um significadopara o qual ainda não tenho pala-vras.

No Domingo passado, na mis-sa, ouvi a sua filha Catarina leruma parte da primeira Epístulade São Paulo aos Coríntios e atornar as palavras em carne e sen-ti um pesar e uma saudade imen-sos. �

José Ribeiro Vieira

João dos Santos

OEngenheiro Ribeiro Vieirafoi uma pessoa que, de cer-ta forma, acabou por fazer

parte do meu percurso e que tor-nou possível o primeiro impulsoda minha actividade musical atra-vés de um acto muito simples.

Algures em 1995, os Silence 4fizeram o seu primeiro ensaionuma casa na Reixida. Rodeadosde velas e instrumentos acústi-cos, foi a primeira vez que per-cebi o prazer absoluto de tocarmúsica. Foi lá que ensaiámostodas as canções dos dois álbunsque editámos, que reunimos edecidimos, que sonhámos mui-tas coisas que julgávamos impos-síveis. Existia nessa casa um movi-

mento constante de pintores, artis-tas plásticos, músicos e uma sériede pessoas com um interesse artís-tico comum, um local de encon-tro de forças criativas. De impro-viso e inesperadamente, todas ashoras (Dias? Semanas?) que pas-sei naquelas salas acabaram pormoldar muito do que seria o meufuturo, marcante até ao dia dehoje.

A “Casa da Reixida”, comotodos lhe chamávamos, foi umoásis apenas possível pela gen-tileza e generosidade do seu pro-prietário, o Engenheiro José Ribei-ro Vieira. Atento ao mundo artís-tico e às suas peculiaridades forados grandes centros, possibilitou

todas estas actividades com essagenerosidade algo rara para comuma juventude inquieta e curio-sa, seguindo atentamente os pas-sos de cada um. A casa, mencio-nada diversas vezes em entrevis-tas da banda como um local espe-cial e misterioso, tornou-se numdos símbolos da música intros-pectiva que gravámos, umainfluência invisível no pano defundo.

Aqui reitero o meu reconhe-cimento e agradecimento públi-co ao Engenheiro José RibeiroVieira no momento em que nosdeixa, com os mais sinceros eprofundos sentimentos a toda asua família e amigos. �

David Fonseca

Uma grande perda

Com Isabel Damasceno e Belmiro de Azevedo na Nerlei Com Vítor Constâncio num jantar-conferência, nas Cortes

Quando conheci o Eng.ºRibeiro Vieira? Salvo errona Assembleia Municipal

de Leiria. Ou na (re)fundação doJORNAL DE LEIRIA, quando meconvidou para colunista.

Pouco importa o pormenor.Antes disso já ele tinha sido

vereador da Câmara Municipal.E 'militar de Abril'. E já eraempresário.

Fizemos a par muitos anosde caminho. Nos jornais (cadaum no seu), na ADLEI, nos Con-gressos de Leiria e Alta Estre-madura, em campanhas eleito-rais...

Trabalhei mais directamentecom ele, por dois períodos, naJorlis. No JORNAL DE LEIRIA,no 'Correio de Pombal' e no'Região de Cister'.

Foi um homem importantepara a região e um homem inte-ressante no contacto pessoal.

Um homem que ajudou mui-ta gente, que se empenhou emmuitas causas, que ouvia mui-ta gente. Nem sempre fácil, masjusto.

Gostava do risco (dizia mui-tas vezes que não sabia traba-lhar sem concorrência). Gosta-va da sua terra. Por isso esteveem tanto 'sítio', por isso sonhouos jornais, por isso investiu emtanta coisa, por isso ajudou tan-ta gente, tantas associações.

Há muitos anos que aprendia respeitar o eng.º José RibeiroVieira, devo-lhe atitudes quemuito me sensibilizaram. Hojeperdi alguma coisa, mas gostode poder manter essas boasmemórias.

Leiria, a região e os seus habi-tantes devem muito ao cidadãoJosé Ribeiro Vieira. Mais do queprovavelmente imaginam. �

Leiria, em 20 de Janeiro de 2012 (corrigido em 22)

Depoimento

A Casa da Reixida

Francisco M. Figueiredo

Jorge PazMais um Grande HOMEM e um grandeEmpreendedor da nossa CIDADE!!!

André PortugalO Homem vai, a Obra fica. É umagrande perda.

Clara LeãoNão tive o privilégio de conhecer pessoalmente o Homem de quem sempre ouvi falar com respeito e admiração. Sei do muito que fez, seida sua grande cultura e sei da sua vontade de fazer bem. Vou sentir a fal-ta de o ver sentado na Arquivo.

Célia AlvesApesar de ter saído de Leiria há unsanos, há pessoas que ficam sempre namemória. Este senhor é uma dessaspessoas, com quem tive o prazer deprivar. Descanse em Paz.

Ana Paula AlvesLeiria, ficou mais pobre com a perdado Eng.º Ribeiro Vieira, homem devalores e dinamismo constante.

José AlvesMais uma perda humana irreparável,um cidadão praticamente insubstituí-vel...

Sabrina GenebraPorque será que nos parece que as pessoas boas partem mais cedo... Asfontes, as Cortes e Leiria ficaram maispobres. Esperamos que os seus seguidores mantenham o exemplo.

Nídia Nair MarquesA dedicação permanecerá.. através dasmuitas sementes... e dos novos frutos.

Anibal SantosUma grande perda para a sociedade,infelizmente morrem primeiro os bonsque os maus.

Nuno PereiraInfelizmente não privei o tempo suficiente com o Eng Vieira, mas tive oprazer de acompanhar de muito pertoo crescimento deste grande grupoempresarial devido à sua visão!

Freire da Paz RenatoHonra à memória de um homem que sedistinguiu dos demais pela sua personalidade e dedicação à cultura nanossa cidade. A ele presto a minhahomenagem.

Ana Paula Pinto LourençoUma perda tremenda!

Susana SequeiraPerdeu-se um grande HOMEM! Asfilhas perderam o pai, a empresa per-deu o líder, Leiria perdeu um homemque muito fez pela sua cidade, e per-di, também eu, um grande amigo,que sei que faria por mim tudo o quefaria pelas suas filhas. Todos os queprivámos com ele ficámos a dever-lhe algo! Adeus Sr.Engenheiro, atéum dia...

DR RIC

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DO

GR

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Page 12: Especial José Ribeiro Vieira

12 | 26 de Janeiro de 2012 | JOSÉ RIBEIRO VIEIRA| 17.02.1943 / 20.01.2012 |

OEng.º José Ribeiro Vieirafoi um dos fundadores daADLEI, tendo sido presi-

dente da direcção em 2008/2009e da assembleia-geral até à suamorte, o que muito nos orgulha.Muito respeitado pelo trabalhoque realizou, assumiu as maio-

res responsabilidades na dina-mização e definição da sua natu-reza como associação cívica.

Ele esteve nos nossos momen-tos mais importantes, nomeada-mente na realização dos seus con-gressos, procurando sempre uniros leirienses em volta de projec-tos que colectivamente se consi-deravam importantes para o desen-volvimento da região. O projec-to “Leiria região de excelência “que está, neste momento, a daros primeiros passos, partiu deuma ideia sua que apresentou naADLEI e que, neste momento, estáa ser desenvolvido em conjuntocom outros parceiros. Pretendia,com este projecto, afirmar Leiriacomo um espaço territorial capaz

de atrair pessoas e empresas qua-lificadas, nos aspectos cívico, cul-tural e económico, conhecido ereconhecido pela excelência dassuas organizações. Deseja-se,igualmente, criar pontes e umaatitude positiva que contagie pes-soas e as leve a participar acti-vamente na vida das organiza-ções e na vida social, desenvol-vendo um sentido crítico cons-trutivo e motivado para a parti-cipação cívica, dando sentido ecoerência a toda a nossa região.Foi este o desafio que nos dei-xou, sempre na busca da exce-lência.

Ribeiro Vieira foi um huma-nista, atento e preocupado coma qualidade de vida dos seus con-

cidadãos. A sua participação nosmais diversos espaços da inter-venção social e política foi umacto de cidadania desinteressa-da, procurando sempre servir enão servir-se, por isso, um gran-de exemplo. Ele foi um homemaberto aos outros, ao pulsar davida, à diversificação de saberes,dotado de uma sólida cultura queconhece o passado desta terra deque sempre se orgulhou.

José Ribeiro Vieira foi umapersonalidade que honrou a nos-sa região e o país. Que o seu exem-plo de cidadão de excelência fru-tifique, é a melhor forma de ohonrar. �

Um homem de excelência

Anabela GraçaPresidente da ADLEI

Depoimentos

Nada do que penso vejo comosatisfatório e definitivo”. Estepensamento de Agostinho

da Silva era bem a imagem do ami-go que agora nos deixa. Ao longoda sua vida foi sempre um espíri-to inquieto que raramente assumiaas coisas como absolutas.

Rara a vez se pronunciava o seunome sem que ele fosse de ime-diato reconhecido. Homem quevalorizava a AMIZADE, construiumuitos e bons amigos, dentro e fora

de portas e considerava que esseera o seu maior património.

Notável empresário de Leiria,detentor de um elevado sentido docoletivo e do bem comum, era, pelassuas grandes qualidades, convida-do a desempenhar múltiplos car-gos e a participar em inúmeras enti-dades. Convicto nas opiniões e depensamento livre, fazia do seu quo-tidiano uma tertúlia constante, par-tilhando conhecimento e saber, dis-cutindo opiniões e ideias.

Homem de uma cultura e memó-ria invejáveis era apreciador de umaboa conversa. Frequentemente trans-formava momentos de trabalho emaulas multidisciplinares, propor-cionando o enriquecimento cultu-ral de quem o acompanhava; exem-plo disso, as reuniões na NERLEI,verdadeiros fóruns culturais, quetão apreciados eram por todos nós,colegas de direcção, colaboradores

e amigos, esses, cujas relações tãobem sabia alimentar.

A sua acção à frente da NER-LEI fez desta associação uma refe-rência na região e no País. Fê-losempre de forma graciosa, entu-siástica, com uma grande alma ehumanidade próprias de um serhumano especial. Quem teve asorte de se cruzar com ele e par-tilhar as suas ideias e inquieta-ções, jamais o esquece.

Preocupado com os outros, comas empresas, com aqueles de quemsempre se rodeou, criou laços eafectos em todos os que com eleprivaram, porque o sentiam comoum amigo, mas também como umlíder, um orientador, alguém dequem se espera que indique o cami-nho, que dê força e ânimo. E eraisto que se esperava dele. Ele sabiaque este era o seu papel.

Tinha o condão de tocar as pes-

soas e ir buscar dentro delas capa-cidades que elas próprias desco-nheciam. Na gestão empresarialimpunha um rigor e uma exigên-cia ímpar que só ele sabia compa-tibilizar com a valorização da pes-soa, potenciando o desenvolvi-mento de cada um.

Por tudo o que foi, pelo legadoque nos deixou, pelo que repre-sentou para a NERLEI, para a regiãoe para o país e principalmente pelaamizade que nos dedicou, senti-mo-nos profundamente gratos ereconhecidos.

Fica-nos a memória e o exem-plo do empresário, do líder caris-mático, do amigo insubstituível. Éesta a memória que queremos hon-rar. Afinal “morrer, é apenas dei-xar de ser visto”. �

Perdemos um Amigo

A NERLEI

Raul Castro, José Ribeiro Vieira, José Paiva de Carvalho, Vítor Bento, Amado da Silva e Nuno Mangas num jantar-conferência organizado pelo Jornal de Leiria

O meu tio

OEng. José Ribeiro Vieira erameu tio. Foi das pessoas commais apurado espírito

empreendedor que conheci na minhavida, tendo erigido um conjuntode empresas de grande sucesso, quetêm hoje em dia um papel extre-mamente relevante na sociedaderegional. Foi também um empe-nhado activista político, um dedi-cado promotor da actividade cul-tural e um discreto apoiante deacções de cariz social. Todavia, nãoé isso que mais pesa na minhamemória. Recordo, sobretudo, outrascaracterísticas.

Recordo-o com um conversa-dor nato. Quando eu andava pelosmeus dez / doze anos, fui passarférias com ele, a minha tia Lurdese as minhas primas Xana e Cata-rina, à Praia da Rocha. A seguirao jantar, enquanto a minha tiadeitava as filhas, dávamos gran-des passeios na marginal da Praiada Rocha. Não sei do que falariamum adulto erudito (como ele) euma criança (como eu), mas seique conversávamos tempos infin-dos e, trinta anos volvidos, aindarecordo esses passeios de cumpli-cidade masculina e essas longasconversas.

Recordo-o também como umhomem de valores. Continuavaa cultivar os valores que são apa-nágio da Instituição Militar. Sãovalores com que, naturalmente,me identifico. Recordo a esse pro-pósito um jantar no Funchal, em1993. Eu estava colocado naMadeira a comandar uma lan-cha rápida de fiscalização da Mari-nha e o meu tio foi lá tratar denegócios. Convidou-me para jan-tar e o tema de conversa foramos valores. Lembro-me da ênfa-se que colocava na lealdade, pro-vavelmente o valor que mais pre-zava entre todos.

E recordo-o também como umhomem orgulhoso, de si próprio edos que prezava – com as filhas àcabeça. Nos últimos meses, sem-pre que me encontrei com ele, nalivraria Arquivo, interpelava-mede uma maneira que não era habi-tual:

- Olá Comandante, como estás?E depois, dirigindo-se aos que

o rodeavam, acrescentava, comvisível orgulho:

- Aqui o meu sobrinho Nuno éo Comandante da Sagres!

Pois bem tio, onde quer que este-ja, fique sabendo que esse orgulhoé recíproco e que o Nuno (ou oComandante, como me chamavanos últimos tempos) também temmuito orgulho em si! �

Depoimento

Nuno SardinhaComandante do Navio Sagres

RIC

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Page 13: Especial José Ribeiro Vieira

| JOSÉ RIBEIRO VIEIRA| 17.02.1943 - 20.01.2012 | 26 de Janeiro de 2012 | 13

Apresentação do Centro Porsche Leiria

Depoimentos

Omundo perdeu um Homem.Se tivesse de dizer algu-ma coisa sobre o desapa-

recimento do Eng.º Ribeiro Viei-ra e não tivesse mais espaço, erasó isto que diria. Mas tenho maisalgum espaço. Insuficiente parapoder dizer tudo o que gostariasobre aquele Homem, o que tive

oportunidade de aprender comele, a importância que teve paraa cidade e para a região. Fala-rei então um pouco da sua liga-ção ao Politécnico de Leiria.

O Eng.º Ribeiro Vieira estavaligado há muito ao IPL presi-dindo atualmente ao seu órgãomáximo, o Conselho Geral. Ante-riormente, já tinha lecionado eintegrado o Conselho Científicode uma das suas Escolas. Masaté podia não ter feito nada dis-to que continuaria a ser umHomem ligado ao IPL.

O Eng.º Ribeiro Vieira liga-va-se naturalmente às coisas queacreditava serem importantespara o bem de todos. Homemculto, conhecedor, sabedor eentusiasta, acreditava no valordo conhecimento e na sua impor-tância para o desenvolvimentode Leiria. A sua participação ati-va no IPL sempre se fez sentir,

exercesse ou não cargos. Era umHomem que não precisava decargos para lutar por aquilo emque acreditava. Usava a sua intui-ção. Era um conciliador. Os seussonhos eram o seu limite.

O mundo perdeu um Homem.E a primeira coisa que o mun-do deve fazer quando perde umHomem, é chorar. Depois, se qui-ser prestar-lhe verdadeira home-nagem, é prosseguir com a cons-trução dos seus ideais. Porque,como nos disse Sartre, "O homemnão é a soma do que tem, masa totalidade do que ainda nãotem”.

O Eng.º Ribeiro Vieira deixou-nos muitas coisas. Mas deixou-nos muitas mais para concreti-zar. É este caminho que, inspi-rados na sua memória, temos deagarrar. �

O Mundo perdeu um Homem

Um grande dirigente associativo

Nuno MangasPresidente do IPL

No âmbito das minhas fun-ções de Presidente daCâmara Municipal de Pom-

bal e, mais recentemente tambémna qualidade de Presidente daAMLEI, foram muitos os momen-tos em que privei pessoalmentee oficialmente com o Eng.º JoséRibeiro Vieira.

No entanto, o nosso relacio-namento não foi só de agora, vin-do de algumas décadas atrás.

Tendo eu já 44 anos de acti-vidade profissional e política, emefectividade de serviço e a licen-ciatura em Engenharia no Insti-tuto Superior Técnico de Lisboa,onde se licenciou o Engº JoséRibeiro Vieira, unia-nos tambémo facto de ter sido Oficial do Qua-dro Permanente da AcademiaMilitar quando eu era Oficial Mili-ciano.

No início da década de 80, sen-do minha intenção deixar de resi-dir em Lisboa para passar a viverem Leiria, com ele troquei impres-sões na perspectiva de poder vira ser seu colaborador na área damanutenção, aprovisionamento

e gestão de equipamentos indus-triais, incluindo o apoio técnicopós-venda aos seus clientes. Embo-ra tal não viesse a concretizar--se por eu ter aceite outro desa-fio, a sua personalidade e o seuperfil de homem empreendedore progressista sempre me mere-ceram o maior respeito e admi-ração.

Ao longo dos seus 68 anos deidade, foi sabendo afirmar-se nosseus relacionamentos com ele-vado sentido cívico, espírito demissão e de trabalho, enquantoser disciplinado e disciplinador,exemplo de exigência e de res-ponsabilidade.

Torna-se bastante emotivo paramim, perante os leitores do JOR-NAL DE LEIRIA, que dinamizoucom destacável profissionalismo,rigor, qualidade e inovação, podertransmitir em palavras o que mevai na alma em relação ao privi-légio que tive ao tê-lo como ami-go.

Creio que a memória destegrande Homem, com esta estir-pe e craveira, ficará perpetuadano tempo e para sempre, evi-denciando-se o seu carácter, ver-ticalidade, espírito ímpar deempreendedorismo e visão, comocrítico e bom observador que era,conhecedor da realidade nacio-nal e internacional.

Com a sua experiência de vidae sabedoria, sempre deu o rostopela defesa de todas as causas emque acreditava, exprimindo a suaopinião, em termos de cidadania,quanto ao rumo que Portugaldeveria trilhar politicamente,defendendo a boa gestão da cau-sa pública para que, com inova-ção e competência, o nosso paísse pudesse tornar mais prósperoe competitivo.

Com a sua inesperada parti-

da, a freguesia das Cortes que oviu nascer e crescer, toda a regiãode Leiria e Portugal devem ren-der-lhe uma justa homenagempública, de merecida gratidão.

Com certo orgulho, falava dofuturo das suas filhas e de algunscolaboradores mais próximos quemuito considerava. A sua visãoestratégica e visionária fazia comque tivesse sempre a esperança,a vontade e a preocupação depoder contribuir para um Portu-gal melhor a nível associativo,educativo, cultural, social e eco-nómico.

Obrigado Eng.º José RibeiroVieira, por tudo o que nos ensi-nou e fez, e ainda por todos osprojectos que iniciou e que terãocontinuidade enquanto estan-dartes da nossa região, cuja afir-mação a nível nacional a si tam-bém muito se deve.

Portugal, agora mais do quenunca, precisa de homens e mulhe-res com o seu perfil, para se tor-nar mais evolutivo, mais criati-vo, mais moderno, com maioresíndices de rentabilidade e pro-dutividade, com mais justiça sociale mais emprego, não obstante acrise relacional e de valores - etambém civilizacional - que con-duziu o país à actual crise finan-ceira que enfrentamos.

Enquanto fiel leitor da suacoluna semanal no JORNAL DELEIRIA, estou certo de que a suamarca perdurará, continuandoesta publicação a pautar-se porser um órgão de comunicaçãoisento, plural e de excelência.

Rendo ao meu particular ami-go, Eng.º José Ribeiro Vieira, aminha singela, sincera e sentidahomenagem, com uma saudaçãofraterna, infinita e do coração, dequem muito o admirava. �

Narciso MotaPresidente da AMLEI

Leiria e o país perderam umgrande dirigente associativo eempresário, José Ribeiro Vieira,presidente da NERLEI – Asso-ciação Empresarial da Região deLeiria.

José Ribeiro Vieira é o exem-plo do empresário que não abdi-cou de intervir em prol do desen-volvimento económico, quer atra-vés das empresas, que dinami-zou e dirigiu, quer através de umavida dedicada ao associativismoempresarial.

Foi através da sua intervençãoao nível associativo, na qualidadede Presidente da NERLEI e de mem-bro do Conselho Geral da CIP, queaprendi a observar a sua dedica-ção e competência à causa do asso-ciativismo, defendendo a sua regiãosem esquecer o país, posicionan-do a Associação Empresarial daRegião de Leiria como uma refe-rência ao nível do apoio dado àsempresas.

Não posso deixar ainda deenaltecer a intervenção cívica,que ao longo da sua vida abne-gadamente exerceu através deuma participação ativa em açõesde carácter político, destacando-se ainda como jornalista, autar-ca, professor e dinamizador deinstituições de natureza social.

Permitam-me também umareferência a uma sua faceta, segu-ramente menos conhecida entreos seus colegas empresários, deamante da cultura em geral e doslivros em particular, com espe-cial realce para a poesia.

A CIP – Confederação Empre-sarial de Portugal, e o seu presi-dente em particular, lamentam aperda de um colega, e recorda-rão sempre o seu exemplo decidadão empenhado e compro-metido e de empreendedor e defen-sor dos interesses das empresasda sua região. �

Depoimento

Disciplinado e disciplinador

António SaraivaPresidente da CIP

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Homenagem de três artistas

Pouco dotado para as artes, José Ribeiro Vieira admiravaquem possuía esse dom, principalmente os artistas maisjovens. Gostava de conversar e tentar perceber o que osartistas criavam. Ao longo da sua vida foi adquirindo diver-sas obras, muitas delas de jovens pintores da região, mastambém de artistas mais consagrados. Sem ser a sua princi-pal área de intervenção, não deixou de apoiar quem o pro-curou, cedendo instalações, apoiando iniciativas, patroci-nando exposições. Ficou célebre a Casa da Reixida que, emmeados dos anos 90 do século passado, cedeu a um conjun-to de artistas de diversas áreas – pintores, músicos, desig-ners – para desenvolverem os seus projectos. Foi nessa casaque, por exemplo, os Silence 4 deram os primeiros passos etocaram o primeiro concerto, como foi aí também que seiniciou o artista plástico Nuno Sousa Vieira, actualmenterepresentado em algumas importantes colecções internacio-nais.

David Fonseca, músico, e João dos Santos, pintor, profes-sor na ESAD e amigo de José Ribeiro Vieira, referem-se àimportância da Casa da Reixida nos textos que publicamosnesta edição do JORNAL DE LEIRIA. Foi, de facto, um pro-jecto muito interessante e, na altura, inovador na região. Oambiente que ali se sentia era especial, parecia um filme.

Posteriormente, José Ribeiro Vieira continuou a apoiar ea promover projectos culturais, de que são bons exemplos aprópria Livraria Arquivo ou a estreita colaboração com oColectivo a9)))).

O Jornal de Leiria pediu a três artistas que de alguma for-ma com ele se relacionaram a colaborarem nesta edição dehomenagem. Bruno Gaspar, João dos Santos e Tiago Baptis-ta apresentam nesta página que, de forma mais simbólicaou representativa, evocam José Ribeiro Vieira. �

João Nazário

Bruno Gaspar

Tiago Baptista

João dos Santos

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