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244 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000. especial VII ENCONTRO NACIONAL DA MANDIOQUINHA-SALSA E I SE- MINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO FUMO, MILHO E MANDIOQUINHA-SALSA Rio Negro-PR, 23 a 25 de agosto de 2000. Apresentação Fausto F. dos Santos Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF O VII Encontro Nacional de Mandioquinha-salsa, promovido pelo Governo do Estado do Paraná/SEAB/ EMATER-PR; Prefeitura Municipal de Rio Negro, Souza Cruz e Embrapa Hor- taliças, teve como temas centrais o va- lor nutricional e aumento de consumo; mercado interno e externo; e uso de agroquímicos. Seus principais objetivos foram disponibilizar conhecimentos atu- ais para o manejo do cultivo da mandioquinha-salsa, possibilitando acesso às técnicas atuais que visam aten- der a um mercado cada vez mais com- petitivo e exigente e atualizar conheci- mentos a respeito do cultivo da mandioquinha-salsa, milho e fumo, numa mesma propriedade. A cultura da mandioquinha-sal- sa apresenta importância social e eco- nômica expressiva no Estado do Paraná, atualmente com 8.558 ha e 3.890 pro- dutores. As regiões onde seu cultivo é mais expressivo são a Suleste, com 50% da área do Estado, e Centroleste com a outra metade da área de cultivo. A re- gião Suleste, onde foi realizado o even- to, apresenta características interessan- tes para este cultivo, por estar inserida no sistema de agricultura familiar e in- tensivo uso de mão-de-obra, permitin- do o seu emprego na entressafra do fumo, apresentando área média por pro- dutor de 1,39ha, sendo uma excelente opção para rentabilidade dos pequenos produtores. A região Centroleste se ca- racteriza por cultivo em áreas extensas, média de 55ha por produtor, sendo o uso da mecanização bastante intenso. A im- portância econômica dessa hortaliça para o Paraná pode ser avaliada pela ex- pressiva participação dessa hortaliça, correspondendo a 8,7% do PIB Olericultura. Vale salientar que o Paraná é pioneiro na exportação de mandioquinha-salsa para o Japão, tanto na forma pre-cozida, embalada a vácuo para conservação à temperatura ambi- ente, como também pré-cozida e conge- lada. O estado possui duas grandes in- dústrias que processam essa hortaliça, uma visando o consumidor direto e ou- tra tem como público principal governos municipais para aplicação na merenda es- colar. O Encontro, que se realiza a cada dois anos, tem como objetivo principal congregar profissionais interessados na hortaliça, bem como produtores rurais, permitindo aos mesmos acesso aos avanços tecnológicos mais recentes. Desta forma tem sido cada vez mais ex- pressivo a participação da indústria de transformação, de pesquisadores, pro- fessores e extensionistas, estudantes e produtores rurais, culminando este ano com a participação do Centro Interna- cional de la Papa (CIP). Ao longo dos últimos anos a transferência de conhe- cimentos a produtores e extensionistas através desse evento, tem permitido mudanças importantes no setor produ- tivo, com adoção visível de tecnologias modernas. O VII Encontro teve como evento paralelo,prioritário para a região, o "I Se- minário de Integração Fumo, Milho e Mandioquinha-salsa", objetivando transferir conhecimentos existentes para a atividade agrícola destas culturas em uma mesma propriedade rural.

especial - SciELO · tivo do consumo de hortaliças mini-mamente processadas ou pré processa-das como as saladas prontas (“fresh cuts”) e de verduras, legumes e tubérculos com

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244 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

especial

VII ENCONTRO NACIONAL DA MANDIOQUINHA-SALSA E I SE-MINÁRIO DE INTEGRAÇÃO DO FUMO, MILHO EMANDIOQUINHA-SALSARio Negro-PR, 23 a 25 de agosto de 2000.

Apresentação

Fausto F. dos SantosEmbrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF

O VII Encontro Nacional deMandioquinha-salsa, promovido peloGoverno do Estado do Paraná/SEAB/EMATER-PR; Prefeitura Municipal deRio Negro, Souza Cruz e Embrapa Hor-taliças, teve como temas centrais o va-lor nutricional e aumento de consumo;mercado interno e externo; e uso deagroquímicos. Seus principais objetivosforam disponibilizar conhecimentos atu-ais para o manejo do cultivo damandioquinha-salsa, possibilitandoacesso às técnicas atuais que visam aten-der a um mercado cada vez mais com-petitivo e exigente e atualizar conheci-mentos a respeito do cultivo damandioquinha-salsa, milho e fumo,numa mesma propriedade.

A cultura da mandioquinha-sal-sa apresenta importância social e eco-nômica expressiva no Estado do Paraná,atualmente com 8.558 ha e 3.890 pro-dutores. As regiões onde seu cultivo émais expressivo são a Suleste, com 50%da área do Estado, e Centroleste com aoutra metade da área de cultivo. A re-gião Suleste, onde foi realizado o even-

to, apresenta características interessan-tes para este cultivo, por estar inseridano sistema de agricultura familiar e in-tensivo uso de mão-de-obra, permitin-do o seu emprego na entressafra dofumo, apresentando área média por pro-dutor de 1,39ha, sendo uma excelenteopção para rentabilidade dos pequenosprodutores. A região Centroleste se ca-racteriza por cultivo em áreas extensas,média de 55ha por produtor, sendo o usoda mecanização bastante intenso. A im-portância econômica dessa hortaliçapara o Paraná pode ser avaliada pela ex-pressiva participação dessa hortaliça,correspondendo a 8,7% do PIBOlericultura. Vale salientar que o Paranáé pioneiro na exportação demandioquinha-salsa para o Japão, tantona forma pre-cozida, embalada a vácuopara conservação à temperatura ambi-ente, como também pré-cozida e conge-lada. O estado possui duas grandes in-dústrias que processam essa hortaliça,uma visando o consumidor direto e ou-tra tem como público principal governosmunicipais para aplicação na merenda es-colar.

O Encontro, que se realiza a cadadois anos, tem como objetivo principalcongregar profissionais interessados nahortaliça, bem como produtores rurais,permitindo aos mesmos acesso aosavanços tecnológicos mais recentes.Desta forma tem sido cada vez mais ex-pressivo a participação da indústria detransformação, de pesquisadores, pro-fessores e extensionistas, estudantes eprodutores rurais, culminando este anocom a participação do Centro Interna-cional de la Papa (CIP). Ao longo dosúltimos anos a transferência de conhe-cimentos a produtores e extensionistasatravés desse evento, tem permitidomudanças importantes no setor produ-tivo, com adoção visível de tecnologiasmodernas.

O VII Encontro teve como eventoparalelo,prioritário para a região, o "I Se-minário de Integração Fumo, Milho eMandioquinha-salsa", objetivandotransferir conhecimentos existentes paraa atividade agrícola destas culturas emuma mesma propriedade rural.

245Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

A urbanização da população, a esta-bilização da moeda e seu maior po-

der de compra, juntamente com aglobalização da economia, está alteran-do os hábitos, gostos e preferências dosindivíduos, modificando seu estilo devida, impactando fortemente as deman-das de produtos alimentares. As pesso-as que vivem nas grandes cidades temmenos tempo para as refeições e a in-serção da mulher no mercado de traba-lho faz com que ela venha a ter menordisponibilidade para se dedicar ao pre-paro de alimentos e às compras.

Essas novas demandas dos consumi-dores de alimentos resultaram em fortecrescimento, nos últimos anos, do seg-mento de alimentação “fora do lar”, cujasvendas aumentaram 120% entre 1994 e1998, envolvendo 760 mil estabeleci-mentos que serviram 38 milhões de re-feições/dia em 1998, com destaque parao setor de refeições rápidas como as re-des de “fast food” e restaurantes “a qui-lo”. Também teve grande expansão o se-tor de empresas de “catering” tambémdenominado de refeições coletivas, quetem participação de 15% no segmento“fora do lar” e envolve as refeições paraempresas, hospitais, aviação, presídios,escolas e outros tipos de instituições.

Por outro lado, os consumidores pas-saram a ter acesso e comprar produtosalimentícios importados de melhor qua-lidade a preços competitivos. Apesar deboa parte da população brasileira aindanão ter conseguido satisfazer totalmen-te suas necessidades básicas de alimen-tação e nutrição, vem aumentando a pre-ocupação com saúde e segurança dosalimentos e a preferência por alimentosnutritivos e, se possível, que apresen-tem atributos medicinais. Em conseqü-ência, as tendências atuais do consumode hortaliças sinalizam para preferência

ALMEIDA, F.J. Incremento no consumo de mandioquinha-salsa. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 3, p. 245-246, novembro 2000. Palestra.

Incremento no consumo de mandioquinha-salsaConsumption increment of Peruvian carrot.Fernando José de AlmeidaEmbrapa Negócios Tecnológicos - Escritório de Campinas, Campinas-SP

Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza, marketing, uso culinário

Key-words: Arracacia xanthorrhiza, marketing, culinary uses

por produtos frescos e saudáveis, semresíduos de agrotóxicos, com ótimo as-pecto qualitativo, que voltem a ter o sa-bor original e sejam ricos em vitaminase sais minerais. Essas novas exigênciastem se refletido em aumento significa-tivo do consumo de hortaliças mini-mamente processadas ou pré processa-das como as saladas prontas (“fresh cuts”)e de verduras, legumes e tubérculos comselo de certificação de produto orgânico.

Como resultante dessas novas carac-terísticas do mercado vem ocorrendo ocrescimento acentuado dacomercialização de hortaliças porfrutarias, sacolões, e principalmente,pelas redes de super e hipermercados,com a preferência de aproximadamente50% dos consumidores dos principaiscentros urbanos por este tipo de varejo,exigindo produto diferenciado com qua-lidade e embalagens adequadas ao sis-tema de auto serviço e ao perfil dos cli-entes atendidos pelas lojas.

Dentro de todos esses aspectos domercado de hortaliças e considerando osatributos mais importantes para o consu-midor desses produtos, a mandioquinha-salsa não tem tido participação condizen-te com suas qualidades nutricionais nocardápio alimentar das pessoas, apesar deapresentar várias vantagens competitivasem relação a outras hortaliças. Sua fácildigestibilidade, seu valor energético emvista do alto teor de carboidratos, dosquais 80% de amido, aliado a excelentedisponibilidade de vitamina A, cálcio,fósforo e ferro além de outros elementoscomo vitaminas B

1, B

2, C, D, e E, potás-

sio, silício, enxofre, cloro, e magnésio, atorna ideal para dieta infantil, idosos, con-valescentes, atletas e consumidores quedesejam hortaliças ricas em vitaminas esais minerais. O consumo diário de 100gramas de mandioquinha-salsa supre a

necessidade diária de minerais de crian-ças, adultos, gestantes e nutrizes. Tam-bém o baixo uso de agrotóxicos durantea sua produção é uma importante vanta-gem em relação às demais hortaliças,como a batata, o tomate e a cenoura.

Poucas são as desvantagens compe-titivas da mandioquinha-salsa compara-da com outras hortaliças. A principaldelas é a baixa conservação em condi-ções naturais depois de colhida, vindoem segundo plano atualmente, seu pre-ço alto quando comparada com os pre-ços de outros legumes e tubérculos.

Considerando os cenários menciona-dos, um plano de marketing visandoincrementar o consumo damandioquinha-salsa deverá ter que con-siderar aspectos importantes e estratégi-as relacionadas com a definição dos mer-cados a ser atingidos e com o produto,distribuição, comunicação e preço. As-sim, deverão ser priorizados como seg-mentos de mercado: a) população infan-til, principalmente das creches, escolasmaternais e merenda escolar, que deman-dam “papinhas” e refeições com alto va-lor nutritivo e energético, ricas em vita-minas e sais minerais; b) população dafaixa etária acima de 60 anos que neces-sita de alimentos de fácil digestibilidadee também ricos em sais minerais e vita-minas; c) alimentação fora do lar, comdestaque para “fast food”, restaurantes“por quilo” e restaurantes industriais; d)empresas de “caterings” fornecedoras derefeições para indústrias, hospitais, avi-ação e outros consumidores empresari-ais; e) horticultura orgânica, comcertificação; f) hortaliças minimamenteprocessadas e pré-processadas; g) indús-tria de alimentos prontos para uso; h)novos produtos que possam utilizar amandioquinha-salsa, como pães, biscoi-tos e “chips”.

246 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

A organização dos produtores viaassociações ou cooperativas passa a serfundamental para viabilizar campanhaspara incremento do consumo e atuar nossegmentos da cadeia da horticultura si-tuados depois da propriedade rural, jámencionados no item anterior, incenti-vando a inclusão da mandioquinha-salsanos cardápios, coordenando a oferta eviabilizando contratos de garantia de for-necimento dos associados para as indús-trias de alimentos, supermercados, e de-mais segmentos de mercado já citados.

As ações de marketing relacionadascom o produto deverão dar prioridade àsua apresentação e qualidade, adequa-ção das embalagens, identificação detécnicas de conservação e novos usos.A venda do produto e os canais utiliza-dos para sua distribuição poderá ser fei-ta da maneira que o produtor achar maisconveniente podendo, por exemplo, sernegociada por ele ou através de sua as-sociação/cooperativa, diretamente comos supermercados, frutarias, indústriasde alimentos e restaurantes ou com ata-cadistas e “packinghouses”.

As ações de comunicação com omercado deverão ser feitas através decampanhas de divulgação das qualida-des nutritivas e medicinais da

mandioquinha-salsa e de formas não tra-dicionais de seu uso, dirigidas aos con-sumidores dos segmentos de mercadovisados, utilizando: a) canais de comu-nicação de instituições como a Embrapa,Ematers, empresas e institutos estadu-ais de pesquisa, Secretarias de Agricul-tura, e Prefeituras Municipais, junto àmídia de massa, especialmente redes detelevisão, rádios, jornais, revistas; b)produção e distribuição de materialpromocional como folhetos sobre o pro-duto e livro de receitas para o públicoem geral, vídeo e manual de instruçõescom receitas para merendeiras enutricionistas; c) degustação em super-mercados, frutarias, exposiçõesagropecuárias e programas de “cozinhana TV”; d) divulgação via Internet, eoutras formas de difusão e promoção.

Finalmente, as ações relacionadascom o preço para o consumidor final de-verão ter a preocupação de baixar custosatravés da utilização de cultivar adequa-da, como a “Amarela de SenadorAmaral”, do uso de mudas sadias, práti-cas culturais corretas durante a produção,e do manejo adequado na colheita e pós-colheita, transporte e entrega do produ-to, de forma a possibilitar a prática de pre-ços competitivos com outras hortaliças.

LITERATURA CITADA

EMBRAPA HORTALIÇAS. Informações sobrehortaliças - Mandioquinha-salsa. Disponívelna Internet em: http.//www.cnph.embrapa.br/bib/saibaque/mandioquinha.htm.

NEVES, M.F.; CHADDAD, F.R.; LAZZARINI,S.G. Alimentos - Novos tempos e conceitosna gestão de negócios. São Paulo: EditoraPioneira, 2000. 129p.

PINAZZA, L.A.; ALIMANDRO, R.Reestruturação no Agribusiness Brasileiro- Agronegócios no terceiro milênio. Rio deJaneiro: Revista Agroanalysis/FGV, 1999.280p.

SAABOR, A. Os supermercados e a produçãohortifrutícola. 3º Seminário Mercosul de Fru-tas e Hortaliças. Campinas, 2000.

SANTOS, F. F.; CARMO, C. A. S.Mandioquinha-salsa - Manejo cultural.Brasília: Embrapa/SPI, 1998. 79p.

SANTOS, F. F. Mandioquinha-salsa “Amarelade Senador Amaral”. Brasília, 1999. Dispo-nível na Internet em: http://www.cnph .embrapa .br /b ib / sa ibaque /mandioquinha.htm.

ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M.F. Economia& Gestão dos Negócios Agroalimentares.São Paulo: Editora Pioneira, 2000. 428p.

PEREIRA, A.S. Mandioquinha-salsa: alimento proteico, energético ou nutracêutico? Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 3, p. 246-249, novembro2000. Palestra.

Mandioquinha-salsa: alimento proteico, energético ou nutracêutico?Peruvian carrot: a source of protein, energy or a nutraceutic vegetable?Albano Salustiano PereiraEmbrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF

Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza, tecnologia de alimentos, nutrição

Key-words: Arracacia xanthorrhiza, food technology, nutrition

INTRODUÇÃO

Praticamente todos os dias aconte-cem nos diversos canais de televi-

são e na imprensa escrita discussõessobre os alimentos. São várias as opini-ões expressas, muitas delas vindas depessoas não especializadas, sobre assun-tos atuais como a qualidade nutricional,uso de aditivos, irradiação e ultimamen-

te sobre os transgênicos e nutracêuticos.Várias destas opiniões são tendenciosase incorretas, pois provêm de pessoascom algum interesse econômico. O tí-tulo “Mandioquinha-salsa: AlimentoProtéico, Energético ou Nutracêutico?”,busca oferecer uma opinião equilibradae uma compreensão precisa da compo-sição centesimal e aspectos nutritivos damandioquinha-salsa.

O advento da sociedade industrial ea vida nas grandes cidades produziramgerações de sedentários e estressadoscom péssimos hábitos alimentares. Porum lado, vivemos mais do que nossosantepassados, já que a ciência conseguiucontrolar a maior parte das doenças in-fecciosas, mas por outro passamos a so-frer de doenças degenerativas como hi-pertensão, problemas cardiovasculares,

F.J. Almeida.

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câncer, obesidade e osteoporose. Essamultidão, que se acostumou à praticidadedos alimentos industrializados, agorabusca também através dos alimentos evi-tar e combater doenças.

Embora há muito tempo se saiba queos alimentos têm um papel importantena manutenção da saúde e nalongevidade, nunca descobriu-se tantosobre seus componentes e sua ação emnosso organismo como nas duas últimasdécadas. Enquanto os polêmicostransgênicos pretendem revolucionar acadeia produtiva, um outro tipo de pro-duto chegou bem mais discretamenteaos supermercados e vem ganhando es-paço. São os chamados “alimentosnutracêuticos”, que mais que nutrir, tra-zem benefícios à saúde, através das ca-racterísticas normais de sua composição.Em outras palavras, estamos enfatizandoque esses alimentos além de cumpriremsua função nutricional básica, resultamem benefícios à saúde.

QUALIDADE NUTRITIVADOS ALIMENTOS

A qualidade nutritiva dos alimentosdepende fundamentalmente de sua com-posição ou balanço de nutrientes, dabiodisponibilidade dos diferentes nutri-entes e da presença ou ausência em suacomposição de substâncias tóxicas ouantinutricionais. Com exceção do leitematerno, o restante dos alimentos sãomais ou menos incompletos para satis-fazer as exigências da espécie humana.

Os cereais, as raízes e os tubérculossão alimentos ricos em carboidratos ede grande importância na alimentaçãoem todo mundo, particularmente comofonte de energia, embora os cereais pos-sam fornecer também quantidades sig-nificativas de proteínas, de minerais ede vitaminas. Nos países subdesenvol-vidos e em desenvolvimento a maioriadas calorias ingeridas vem doscarboidratos, particularmente o amido.

Alimentos como as carnes, os pei-xes, os produtos lácteos, os grãos e fari-nhas de algumas leguminosas são parti-cularmente ricos em proteínas e consi-derados as principais fontes desse nu-triente. Uma grande variabilidade naqualidade nutritiva das proteínas vaidepender, principalmente, da concentra-

ção e proporção relativa dosaminoácidos essenciais, que compõema proteína. Esse grupo de alimentos étambém fonte importante de outros nu-trientes como os óleos e gorduras, vita-minas e minerais de uma maneira geral.

As frutas e hortaliças constituemdois grupos importantíssimos de alimen-tos cuja função nutricional é, principal-mente, a de fornecer vitaminas e mine-rais. São alimentos de baixa densidadecalórica devido ao seu elevado conteú-do de água e baixos teores de gorduras,de proteínas e de carboidratos totais.Possuem teores intermediários de fibras,entre os cereais integrais e as carnes eprodutos refinados, sendo recomenda-dos como reguladores da digestão.

MÉTODOS DE AVALIAÇÃODA QUALIDADENUTRICIONAL

Os métodos mais utilizados paraavaliação da qualidade nutritiva dos ali-mentos podem ser agrupados em qua-tro categorias: métodos químicos, ensai-os biológicos, ensaios microbiológicose métodos clínicos.

Os métodos químicos nos dão, emgeral, as primeiras informações. Permi-tem avaliações em vários níveis dedetalhamento, como a composiçãocentesimal aproximada, que fornece osteores de seus principais constituintes(água, proteína, carboidrato, lipídios, fi-bras e cinzas); a determinação indivi-dualizada dos vários nutrientes indispen-sáveis como aminoácidos, ácidosgraxos, minerais, vitaminas e outros;escore químico de todos aminoácidosessenciais; digestibilidade da proteína invitro; lisina e metionina potencialmen-te biodisponíveis.

Os ensaios biológicos são testes dealimentação em que se usam animais ex-perimentais ou o próprio homem. Agrande vantagem é que se está determi-nando, diretamente, a biodispo-nibilidade dos nutrientes diretamentepara a espécie em teste. Em nutriçãohumana, porém, na maioria das vezes,isto não é possível pelos impedimentoslegais e éticos. Os ensaios biológicos sebaseiam no balanço metabólico e nocrescimento. Dentre os métodos que se

baseiam no balanço metabólico desta-cam-se o balanço de nitrogênio,digestibilidade, valor biológico e utili-zação líquida da proteína. Dentre osmétodos baseados no crescimento estãoo quociente de eficiência protéica, quo-ciente de eficiência líquida da proteínae quociente de utilização líquida da pro-teína. Ensaios com microrganismos po-dem ser usados para se determinar quan-titativa e qualitativamente vários tiposde nutrientes presentes nos alimentos,mas são mais usados para determinaraminoácidos e vitaminas. Qualquer queseja o nutriente a se determinar, é ne-cessário a existência de um microrga-nismo dependente deste nutriente. Avalidade de um determinado ensaiomicrobiológico terá sempre que ser con-firmado através de um ensaio biológicoou de um método clínico com a espéciealvo. Os métodos clínicos em particu-lar são os menos precisos, pois só mos-tram a ingestão do alimento e nem sem-pre o alimento é consumido de formapadronizada, e geralmente diferentespacientes podem fornecer resultadosdistintos para um mesmo alimento.

QUALIDADE NUTRITIVA DAMANDIOQUINHA-SALSA

A mandioquinha-salsa se caracteri-za como um alimento de função essen-cialmente energética, pois na sua com-posição centesimal destacam-se os teo-res de carboidratos em relação aos de-mais nutrientes (Tabela 1).

As proteínas são incompletas porqueapresentam, de modo geral, deficiência namaioria de seus aminoácidos essenciais,como todas aquelas de outras raízes e tu-bérculos, o que pode ser observado quan-do se compara a soma de aminoácidosessenciais (E/T%) da mandioquinha-sal-sa com a proteína padrão da FAO/WHO-1973 ou outra proteína de origem animal,por exemplo, o leite. O escore químicodos aminoácidos limitantes se apresentatambém muito baixo. Apesar de não ser-virem isoladamente como indicadores daqualidade nutricional, esses parâmetrosconfirmam, pelo menos como são incom-pletas essas proteínas (Tabela 2).

A mandioquinha-salsa é notada-mente excelente fonte de vitaminas e deminerais. Das vitaminas pode-se ressal-

Mandioquinha-salsa: alimento proteico, energético ou nutracêutico?

248 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

ComponentesComposição (mg/100g do material fresco)

Média VariaçãoUmidade 74,00 64,00 - 81,00Carboidratos 25,00 19,00 - 30,00Amido 23,00 17,00 - 26,00Açúcares Totais 1,70 0,70 - 2,00Proteínas 0,90 0,60 - 1,80Lipídios 0,20 0,20 - 0,30Cinzas 1,30 1,00 - 1,40Fibras 0,90 0,60 - 1,20Calorias 104 96,00 - 104,00

Tabela 1. Composição centesimal aproximada da mandioquinha-salsa.

Aminoácido M-salsa Leite FAO/WHO,1973 Escore

Ile 1,33 4,72 4,00 33,25

Leu 3,79 9,54 7,04 53,83

Lys 3,25 7,80 5,44 59,54

Met + Cys 2,86 3,33 3,52 81,25

Phe + Tyr 6,18 10,13 6,08 101,64

Thr 2,98 4,45 4,00 74,50

Trp 2,30 1,40 0,96 239,58

Val 3,05 5,78 4,96 61,49

(E/T%) 25,74 47,15 36,00

Tabela 2. Composição em aminoácidos essenciais da mandioquinha-salsa comparada às proteínas do leite e do padrão FAO/WHO (1973).

tar como as mais importantes as do com-plexo B (especialmente tiamina,riboflavina, niacina e piridoxina) e avitamina A, dos minerais presentes cál-cio, fósforo e ferro (Tabelas 3 e 4).

Dos carboidratos totais, a maior fra-ção corresponde ao amido, que representacerca de 80% e os açúcares totais a 6,0%.A mandioquinha-salsa é recomendadaem dietas para crianças, idosos e conva-lescentes, principalmente pelo seu con-teúdo de minerais e vitaminas do com-plexo B. Outros fatores determinantes doseu uso em dietas especiais são as carac-terísticas do seu amido que contem bai-

VitaminasComensais

Vit. A (U.I.) Tiamina (µµg)Riboflavina

(µµg) Niacina (mg)Piridoxina

(mg) Vit. C (mg)

1.800 8,00 4,00 3,45 0,03 23,00Crianças 1.500 0,5 1,0 - 1,8 8,0 - 15,0 0,5 - 1,2 30 - 35Adultos 5.000 1,0 - 1,4 1,5 - 1,8 15,0 1,4 - 2,0 40 - 45Gestantes 6.000 1,5 2,0 15,0 2,5 50 -55Nutrizes 8.000 2,0 2,5 20,0 2,5 80

Tabela 3. Principais vitaminas presentes e necessidades diárias recomendadas.

MineraisComensais

K (mg) Mg (mg) Ca (mg) Fe (mg) P (mg)2,4 64 65 9,5 55

NecessidadesCrianças 500 0,80 0,15 5,0 0,30Adultos 2.000 0,35 0,70 8,0 1,4Gestantes 2.000 0,35 1,00 12,0 2,0Nutrizes 3.000 0,35 1,00 12,0 2,0

Tabela 4. Principais minerais presentes e necessidades diárias recomendadas.

A.S. Pereira.

249Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

xo teor de amilopectina e ausência totaisde fatores antinutricionais que concorrempara sua alta digestibilidade.

A literatura recente cita vários atri-butos medicinais para as Umbelíferas,principalmente para a cenoura cujos atri-butos são reconhecidos desde 900 a.C.Reconhecidamente são controladoras deflatulência, reumatismo, desconfortomenstrual, halitose, diurese e reumatis-mo, apresentam propriedade expecto-rante, antiespasmódica e estimuladorasdo apetite. Os carotenóides, particular-mente o β-caroteno, conferem açõesquimiopreventivas e fotoprotetoras da

pele. Incontestavelmente a maior im-portância dos carotenóides, além da ati-vidade provitamínica, são suas proprie-dades antioxidantes que os tornam anti-carcinogênicas. Várias pesquisas desen-volvidas recentemente e inúmeras ou-tras em desenvolvimento têm mostradoque a cenoura, coentro, salsa, aipo enabo apresentam na sua composição te-ores consideráveis de terpenóides e ou-tros voláteis como: limoneno, sulfitos,2-nonenal, dihidrocumarina, cumarina,terpineno, terpinoleno, a-felandreno,flavonóides, mono, sesqui e triterpenos,todos reconhecidamente com ação

anticarcinogênica.

Finalizando, acredito que a man-dioquinha-salsa, apesar de pouco ou nãopesquisada sob esses aspectos, deveapresentar na sua composição teoresconsideráveis desses mesmos voláteisassim como as demais Umbelíferas eque doravante possamos considerá-lanão somente um alimento essencialmen-te energético, mas também um alimen-to nutracêutico. Acredito também queessas considerações finais possam ser-vir de incentivo a outros pesquisadores,pois assim sendo estaremos nos prepa-rando para a evolução que nos espera.

A produção de mudas é fase primor-dial para o sucesso do empreendi-

mento e deve ser tratada com redobradaatenção.

O plantio convencional consiste douso de mudas com a brotação cortada egrande tamanho de reserva, diretamen-te no local definitivo à profundidade decerca de 5cm. Como conseqüência des-se método de plantio, tem-se grandepercentual de falhas no “stand” e emer-gência desuniforme e, por conseguinte,desuniformidade no ponto de colheita.

Novas tecnologias estão sendodisponibilizadas aos produtores visan-do a melhoria da qualidade na produ-ção de mudas. O primeiro passo é a es-colha criteriosa de plantas matrizes, comboa sanidade e vigor. Preferencialmen-te, devem-se usar mudas juvenis, isto é,mudas ainda vigorosas e em pleno de-senvolvimento. O preparo inicial dasmudas consiste do destaque dosperfilhos e lavagem em água correntepara retirada do excesso de impurezas.

A manutenção das mudas, às vezesnecessária entre a colheita e o plantiosubseqüente, deve ser feita à sombra,

MADEIRA, N.R. Processos de obtenção de mudas de mandioquinha-salsa. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 3, p. 249-250, novembro2000. Palestra.

Processos de obtenção de mudas de mandioquinha-salsaMethods for production of Peruvian carrot plantletsNuno Rodrigo MadeiraUniversidade Federal de Lavras (UFLA), Depto. de Agricultura, C. Postal 37, 37200-000 Lavras- MG. E-mail: [email protected]

Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza, água, métodos, manejo

Key-words: Arracacia xanthorrhiza, water, methods, systems

após retiradas as raízes e as folhas, quan-do presentes, mantendo a base da plan-ta em contato com o solo. Deve-se mo-lhar, em média, duas vezes por semana.O tratamento fitossanitário das mudas éprática indispensável. Recomenda-se aimersão das mudas por 5 a 10 minutosem solução de água sanitária comerci-al, pela ação do hipoclorito de sódio, naproporção de 1 L de água sanitária para9 L de água, seguida de secagem.

Para o preparo da muda, efetua-se umcorte em bisel, visando a aumentar a áreade enraizamento, com ferramenta afiadae lâmina estreita, cortando a muda, semrachá-la, deixando-se pequeno tamanho dereserva. A base dos perfilhos pode seraproveitada, exigindo porém, coberturacom palhada para evitar o ressecamento enovo corte na base, tendo-se o cuidado denão inverter a posição de plantio.

PRÉ-ENRAIZAMENTO DEMUDAS

A técnica de pré-enraizamento demudas consiste em promover seuenraizamento em canteiros devidamen-

te preparados sob elevada densidade deplantio, de 5 a 10cm, por cerca de 45 a60 dias, para então realizar o transplantiopara o local definitivo.

Os canteiros para pré-enraizamentodevem possuir solo leve, com cerca de20cm de altura e largura em torno de 1m.É recomendável a adubação orgânica nabase de 5 a 10L.m-2 de esterco curtido ou1,5 a 3L.m-2 de cama de frango e aduba-ção química em torno de 100g.m-2 deNPK 4-30-16. Podem ser realizadas adu-bações foliares complementares. É inte-ressante o uso de cobertura morta compalhada sem semente, especialmente ne-cessária para a parte restante (base) dosperfilhos. A irrigação é indispensável,podendo ser efetuada por aspersão ou porgotejamento, e o controle de ervas dani-nhas também é fundamental. Quanto àépoca, o plantio pode ser efetuado o anotodo em regiões de clima ameno. O cul-tivo protegido em casas de vegetação outúneis é interessante quando o frio é in-tenso e há risco de geadas ou quando aschuvas são excessivas.

Quando as mudas estão bemenraizadas, entre 45 e 60 dias, procede-

Mandioquinha-salsa: alimento proteico, energético ou nutracêutico?

250 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

se ao arranquio com enxadão etransplantio à altura do coleto para o lo-cal definitivo, que deve ser previamenteirrigado. Após o transplantio, a irrigaçãodeve ser diária até o pegamento, sendocomum ocorrer murcha e perda de folhas.

O pré-enraizamento de mudas apre-senta as seguintes vantagens em relaçãoao plantio convencional:

• maximização do índice depegamento;

• redução de custos com tratosculturais, com maior controle da faseinicial da produção - 150 a 400 m2 deviveiro para 1 ha de plantio;

• eliminação da ocorrência deflorescimento precoce no campo;

• possibilidade de seleção apura-da de mudas;

• uniformização da colheita devi-do ao estresse causado à muda por oca-sião do transplantio;

• possibilidade de escalonamentoda produção.

PRÉ-BROTAÇÃO DE MUDAS

A pré-brotação de mudas é práticarecomendável quando não há a possibi-lidade de irrigação. Consiste da aberturade uma vala com cerca de 20cm de pro-fundidade, colocação das mudas em ca-madas com ± 5 a 10cm dentro de sacosde aniagem, cobertura com palhada, se-guida de terra. Deve-se manter a umida-de do solo. As mudas são, então,amostradas após cerca de 10 a 15 dias e,quando bem brotadas, efetua-se seudesenterrio e o plantio no local definiti-vo.

As mudas devem ser sadias e trata-das, dispostas em camadas não muitoaltas, o solo não deve estar muito mo-lhado e o desenterrio deve ser realizado

na época certa, ou seja, quando as mu-das estiverem iniciando a brotação e asraízes ainda inexistentes ou incipientes.O plantio deve ser feito em solo úmidoe sob clima ameno.

Em relação ao plantio convencionala pré-brotação de mudas tem por vanta-gens a uniformização da brotação e oaumento do índice de pegamento.

PERSPECTIVAS

• Cada vez maior atenção será des-tinada à produção de mudas de qualida-de.

• Definição de uma área própriapara a produção de mudas pelo produ-tor de mandioquinha-salsa, com mane-jo específico para esse fim.

• Especialização de produtores nafase de produção de mudas.

Na região sul do Paraná discute-semuito acerca do nome batata-sal-

sa ou mandioquinha-salsa. Em nossaopinião o nome batata-salsa serve pararaízes curtas e arredondadas parecendotubérculos, ao passo que mandioquinha-salsa se presta melhor para raízes longase cilíndricas. Produzir batata-salsa (re-donda e curta) é fácil, pois não são ne-cessários muitos cuidados técnicos, masestas lavouras nunca ultrapassam a pro-dutividade de 7.000 kg/ha. Por outro lado,para se chegar a uma alta produtividade,ou seja, produzir mandioquinha-salsa, énecessário atender alguns requisitos. Namaioria das vezes basta aplicar correta-mente o que já se sabe para que a produ-tividade aumente. Mas na medida em queisto acontece também são necessáriosmaiores cuidados, que chamaremos de

COSTA, G.P. Nutrição da cultura da mandioquinha-salsa. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 3, p. 250-252, 2000. Palestra.

Nutrição da cultura da mandioquinha-salsaNutrition of the Peruvian carrot cropGilmar Pinto da CostaEmater-PR, C. Postal 191, 83880-000 Rio Negro-PR. E-mail: [email protected]

Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza, adubação, nutrientes

Key-words: Arracacia xanthorrhiza, fertilizers, nutrients

“detalhes para alcançar alta produtivida-de”, que são os seguintes: preparo e qua-lidade das mudas; plantio correto; popu-lação de plantas; irrigação adequada; ro-tação de culturas e fertilidade equilibra-da do solo, sendo este último discutidocom mais detalhes a seguir.

ABSORÇÃO DE NUTRIENTESPELAS PLANTAS

No que se refere à absorção dos nu-trientes pelas plantas é importante ob-servar a umidade do solo, já que é estaque irá permitir a dissolução dos nutri-entes contidos nos adubos. Criando ummovimento ascendente a planta absor-ve a água pelas raízes e a perde pelasfolhas, através da evapotranspiração,absorvendo junto os nutrientes.

LEI DO MÍNIMO

A deficiência de um único elementopode ser limitante ao crescimento daplanta. A lei do mínimo, formulada peloquímico alemão Justus Von Liebig naprimeira metade do século passado, dizque este limite é imposto por aquele nu-triente cuja presença no solo ocorre emmenores proporções. Atualmente a leido mínimo já não tem o rigor de “lei”,mas ainda assim sua idéia básica nãodeve ser perdida de vista. Se um deter-minado fator, mesmo não se tratando denutrientes, exerce um poder limitantesério sobre o crescimento da planta, acorreção de um outro fator em deficiên-cia pode não produzir o efeito desejadoenquanto o primeiro não for corrigido.

N.R. Madeira.

251Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

CORREÇÃO DO SOLO

Como nossos solos são ácidos emsua origem, utiliza-se a incorporação decalcário para a correção deste inconve-niente. Mas a elevação do pH do solocausa um desequilíbrio em seus nutri-entes, disponibilizando alguns eindisponibilizando outros, existindoportanto um limite para este recurso. Éindispensável que as recomendações decalagem e adubação sejam feitas combase em análises de solo, obedecendoas seguintes etapas: amostragem corre-ta, ensaios de adubação, seleção de mé-todos de análise eficientes, bons labo-ratórios, relação adequada entre os teo-res encontrados nos solos e as respostasdas culturas aos nutrientes aplicados eestabelecimento de níveis de adubação.É evidente que a maioria dessas etapasdizem mais respeito aos que se dedicamao trabalho de pesquisa. Contudo, é im-portante que se tenha uma idéia geraldo conjunto de atividades relacionadasà análise de solo, e de como são feitasas recomendações de adubação a partirde seus resultados.

Todo processo de correção dependede como é realizada a amostragem, ra-zão porque é fundamental que esta sejafeita conforme os critérios recomenda-dos pelos laboratórios. Umaamostragem mal feita pode comprome-ter todo o trabalho subseqüente. Umaamostra representa um grande volumede solo e por isto é necessário que sejafeita com precisão. A amostragem é umaetapa crítica de todo o processo de aná-lise. Em geral, não pode ser repetida euma amostra mal coletada não revela,só pelo seu aspecto, se é ou não repre-sentativa da gleba amostrada. Um resul-tado de análise suspeito pode ser verifi-cado através da repetição da análise, masnão há possibilidade de corrigir erros deamostragem.

CALAGEM

O calcário deve ser incorporado aosolo da forma mais uniforme possível. Érecomendável que seja feita umagradagem, seguida de uma lavração euma nova gradagem, sempre com umaprofundidade mínima de 20cm. Tem-seobservado alguns erros, como incorpo-

rar com “pé-de-pato”, escarificador,gradão (“grade rome”), e até mesmo como arado de tração animal. Esta incorpo-ração é mal feita e vem ocasionando umasérie de problemas, principalmente asuper calagem na superfície, já que nãohá uma distribuição uniforme no perfil.Ao reduzir a profundidade de incorpora-ção de 20cm para 10cm usando a mesmaquantidade de calcário dobra-se a dosa-gem. Isto explica porque muitos solosapresentam, nos primeiros 10cm, defici-ência de alguns nutrientes e, ao mesmotempo, um pH muito alto. Uma ação pre-ventiva é não usar mais do que 5 ton/hade única vez por ano, parcelando acalagem principalmente na região sul doParaná, cujos solos possuem baixos teo-res de argila. O método de calagem maisusado na região é a saturação de basesentre 60 e 70%. A mandioquinha-salsa émuito exigente no equilíbrio Ca/Mg, quedeve ser mantido em 3 a 4 partes de cál-cio para uma de magnésio.

NUTRIENTES

É de grande importância que se co-nheçam as funções de alguns macro-nutrientes, como o nitrogênio, o fósfo-ro, o potássio, o cálcio, o magnésio e oenxofre. O nitrogênio (N) faz as plantascrescerem, e ocorre tanto nas formasorgânicas como nas inorgânicas; tam-bém faz parte de aminoácidos, enzimas,clorofila, ácidos nucleicos, sendo pre-dominante na formação das proteínas.O fósforo (P) é componente da ATP, dosácidos nucleicos e da fitina; está envol-vido nas reações de transferência deenergia, ativa o crescimento e tem altamobilidade na planta e baixa no solo. Opotássio (K) não faz parte do compostoorgânico das plantas, mas ativa a for-mação de enzimas importantes no me-tabolismo e no crescimento da planta;também está relacionado com ahidratação da planta e com o transportede carboidratos, e com a resistência aoacamamento, a doenças e a falta de água(reduz a perda d’água nos períodos se-cos). O cálcio (Ca) atua na formação efuncionamento da membrana celular, eno transporte de carboidratos das folhaspara as raízes, auxiliando noenraizamento; é importante para apermeabilidade da membrana das célu-

las e participa da lamela média na pare-de celular e faz parte da calmodulina. Omagnésio (Mg) é um dos componentesda clorofila, a partir da qual ocorre afotossíntese, atuando em reações detransferência de energia; também auxi-lia a absorção do fósforo. O enxofre (S)faz parte de alguns aminoácidos e suasproteínas, estando presente em vitami-nas e coenzimas; colabora na formaçãodo sistema radicular e quando ligado aocálcio favorece a migração deste aosubsolo, atraindo as raízes.

Como os micronutrientes ocorremnos solos em menores quantidades, ademanda de adubação que apresentamé mais importante para o desenvolvi-mento da planta que os macronutrientes,já que um pequeno desequilíbrio delescausa um grande prejuízo para a planta.O zinco (Zn), por exemplo, atua no pro-cesso da fotossíntese como catalisadorpara reguladores de crescimento daplanta; participa na formação do AIA -Ácido Indol Acético e atua em uma sé-rie de enzimas; também está relaciona-do à síntese do triptofano. O boro (B) éimportante para a divisão e atividadesdas células fixando o cálcio em suas pa-redes; contribui na reprodução das plan-tas e atua no transporte de açúcares eproteínas das folhas para os tecidos dereserva, na fecundação das flores e naformação das sementes, e também faci-lita a absorção de Ca, Mg, K e P. O co-bre (Cu) é um ativador enzimático, par-ticipa na fase reprodutiva e na respira-ção da planta, além de conceder-lhe re-sistência ao ataque de pragas e doenças.O manganês (Mn) tem importância nafotossíntese, participa da formação daclorofila, faz parte das enzimas envol-vidas na respiração e na síntese de pro-teínas, atuando no crescimento da plan-ta; também melhora o desenvolvimen-to das raízes e o aproveitamento de Ca,Mg e P. O molibdênio (Mo) entra nacomposição de duas enzimas que parti-cipam na assimilação e na fixação donitrogênio, melhorando o desenvolvi-mento das raízes e ajudando na absor-ção do Ca. O Ferro (Fe) faz parte dacomposição de várias enzimas e proteí-nas, uma das quais atua na assimilaçãodo nitrogênio e outra na fixação do ni-trogênio; também participa na formaçãoda clorofila.

Nutrição da cultura da mandiqouinha-salsa.

252 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

ADUBAÇÃO

Só muito recentemente amandioquinha-salsa passou a ter impor-tância como cultura de exploração eco-nômica, por isso são escassas as infor-mações básicas sobre a demandanutricional da planta.

Adubação de canteiro A tecnologiapreconizada pela Embrapa Hortaliçaspara o cultivo da mandioquinha-salsa,básica em nosso trabalho, recomenda autilização de mudas pré-enraizadas.Nesta concepção tecnológica a qualida-de das plantas começa nos canteiros.Para que tenhamos mudas de boa quali-dade são necessários muitos cuidados.Um deles é a adubação, devendo-se evi-tar excesso de nitrogênio para que nãoocorra o estiolamento das mudas. Usa-se geralmente 50 gramas/m2 da fórmu-la 02-30-10.

Adubação em lavoura A formamais econômica de realizar a adubaçãode plantio é aquela que é baseada na aná-lise de solo. Deve-se fugir das recomen-dações tipo “receitas de bolo”. Comoainda não foi feita nenhuma pesquisasobre adubação para o Estado do Paraná,apresentamos como sugestão o trabalhodesenvolvido pela Embrapa/CNPH (Ta-bela 1). Este método baseia-se nos ní-veis de nutrientes encontrados atravésda análise do solo.

Adubação nitrogenada de cober-tura O método utilizado para mudaspré-enraizadas obedece a seguinte se-

qüência: 1a cobertura aos 30 dias apóstransplante, com aplicação de 25 kg/hade N; 2a cobertura aos 60 dias após trans-plante, com aplicação de 25 kg/ha de N.Um cuidado especial deve ser tomadocom relação à adubação nitrogenada,pois a resposta apresentada pela culturapode ser indesejável. O excesso de adu-bação nitrogenada privilegia o desenvol-vimento da parte aérea causando preju-ízo na formação das raízes. Este cuida-do deve ser redobrado em solos com altoteor de matéria orgânica. Na maioria doscasos evita-se o seu uso na base da plan-ta na época do plantio. Como ainda nãofoi feito um estudo mais profundo so-bre os efeitos deste elemento, muitasvezes encontram-se alguns sinais de de-ficiência causada pelo temor de se usarN em excesso. Ainda pode ser usada aadubação orgânica na dosagem de 3 a12 ton/ha, conforme o teor de matériaorgânica do solo.

Pela sua importância para a cultura,dois micronutrientes essenciais merecemdestaque: o boro e o zinco. A deficiênciade zinco é causada pelo manejo inade-quado do solo, ou seja, principalmentepela calagem mal feita. Já o boro é im-portante na formação das raízes de re-serva. Como sugestão a recomendaçãoda tabela pode ser usada a cada dois anos.

Como distribuir o adubo na lavouraCom a utilização de mudas pré-enraizadas existe a vantagem de colo-car no solo plantas com raízes que vãoutilizar de imediato o adubo disponível.Quando se usam mudas não enraizadas

Níveis denutriente do solo

Dose (kg/ha no plantio)N P2O5 K2O

a Bórax Sulfato de zincoQualquer nível 60 300Baixo - 400 (0-15ppm) - 30 (0-0,6ppm) 10 (0-7,5ppm)Médio - 200 (15-20ppm) - 20 (0,6-0,9ppm) 5 (7,5-15ppm)Alto - 75 (20-50ppm) - 10 (0,9-1,5ppm) 5Muito alto - 50 (> 50ppm) - 10 (>1,5ppm) 5

Tabela 1. Recomendação de adubação para a mandioquinha-salsa no espaçamento de 80x40cm em solos do Distrito Federal (latossolovermelho escuro distrófico) no sistema de camalhões (1a aproximação). Fonte: Embrapa/CNPH, 1999.

(sem pré-enraizamento ou plantio dire-to) o adubo fica aproximadamente 30dias no solo sem ser utilizado pela plan-ta, o que ocasiona uma perda do adubo.Para que se obtenha a máxima eficiên-cia é necessário colocá-lo o mais próxi-mo possível das raízes, sem que entreem contato direto com elas. Para isto re-comenda-se que o adubo seja distribuí-do em uma das laterais da verga abertapara a formação do camalhão, de modoque quando a terra é removida o adubofica misturado, próximo mas sem con-tato com as raízes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como exposto anteriormente, aindaexistem muitas dúvidas sobre a nutri-ção da mandioquinha-salsa. Entretanto,aplicando-se adequadamente os conhe-cimentos existentes sobre manejo desolo certamente pode-se melhorar emmuito a produtividade atual. Na verda-de, são necessários pequenos detalhesjá pesquisados, mas ainda não assimila-dos como regra básica para o modo mo-derno de cultivo. Como apontado noinício, a nutrição é um dos detalhesnecessários para o aperfeiçoamento daprodutividade, mas é a sua combinaçãocom os demais fatores que vai fazer a di-ferença. Acreditamos no futuro desta cul-tura para a agricultura familiar, mas só vaipermanecer na atividade quem conseguirvolume de produção e maior número deraízes comerciais por planta para que acultura seja economicamente viável.

G.P. Costa.

253Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

SILVA, H.R.; MAROUELLI, W.A.; SILVA, W.L.C.; SANTOS, F.F. Irrigação - exigências da cultura da mandioquinha-salsa. Horticultura Brasileira, Brasília,v. 18, n. 3, p. 253-257, novembro 2000. Palestra.

Irrigação - exigências da cultura da mandioquinha-salsaIrrigation - demands of the Peruvian carrot cropHenoque Ribeiro da Silva; Waldir Aparecido Marouelli; Washington L. C. Silva; Fausto Francisco dosSantosEmbrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF. E-mail: [email protected]

Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza, água, métodos, manejo

Key-words: Arracacia xanthorrhiza, water, methods, systems

Ocorrência de deficiência de águadurante o desenvolvimento

vegetativo inicial e crescimento deraízes de reserva da mandioquinha-sal-sa constitui-se em fator limitante para aobtenção de produtividades elevadas eraízes comerciais de boa qualidade.Contudo, tanto quanto a falta, o exces-so também pode ser prejudicial uma vezque a cultura não tolera encharcamentodo solo.

Para o manejo adequado da água deirrigação é indispensável o conhecimen-to de parâmetros relacionados à planta,ao solo e ao clima, para determinar o mo-mento oportuno de irrigar e a quantidadede água a ser aplicada. Nesse sentido, aEmbrapa Hortaliças vem conduzindopesquisas para a determinação deparâmetros de irrigação damandioquinha-salsa para compor o sis-tema de produção desta hortaliça (Silvaet al., 1997; Luengo et al., 1997; Silva etal., 2000).

O objetivo desta palestra é levar a téc-nicos de extensão e produtores demandioquinha-salsa informações sobreos diversos aspectos da irrigação da cul-tura que influenciam o aumento de pro-dutividade e qualidade e que resultam emracionalização do uso de insumos, prin-cipalmente, água e energia.

MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO

A escolha do sistema de irrigaçãodeve ser baseada na viabilidade técnicae econômica do projeto, através da aná-lise detalhada e cuidadosa de fatores fí-sicos, agronômicos e econômicos, den-tre outros. Existem diferentes sistemasde irrigação, cada qual apresentandocaracterísticas próprias, com custos va-

riáveis, vantagens e desvantagens. De-pendendo da forma com que a água éaplicada às plantas, os sistemas podemser agrupados em superficiais,subsuperficiais, aspersão emicroirrigação.

Irrigação Superficial A irrigaçãosuperficial compreende os sistemas porsulcos, corrugação, faixas e inundação,nos quais a condução e a distribuiçãoda água é feita diretamente sobre a su-perfície do solo. Os sistemas superfici-ais estão entre aqueles que requeremmenores investimentos iniciais e uso deenergia. Eles se adaptam à maioria dossolos, com exceção daqueles com altataxa de infiltração, ou seja, solos areno-sos, mas requerem terrenos planos ousistematizados. Por não molharem a par-te aérea das plantas, os sistemas super-ficiais pouco interferem na aplicação deagrotóxicos.

Dentre os sistemas superficiais, opor sulcos é aquele com maior potenci-al pra irrigação da mandioquinha-salsa.A desvantagem desse sistema é o riscode encharcamento do solo junto àsraízes, o que pode favorecer uma sériede doenças de solo, principalmente emsolos arenosos.

Irrigação por Aspersão Aspersãoé o método em que a água é aplicada naforma de chuva, incluindo os sistemasconvencionais portátil, semiportátil epermanente, autopropelido, pivô central,dentre outros. A aspersão convencionaltêm sido o sistema mais utilizado parairrigação da mandioquinha-salsa.

Em relação aos sistemas superfici-ais, a aspersão requer menor uso de mão-de-obra e possibilita melhor distribui-ção de água sobre o solo. Pode ser usa-da para qualquer tipo de solo e em ter-

renos declivosos. Como desvantagem,apresenta maior uso de energia, sofre in-terferência do vento e, sob climas secose quentes, tem a eficiência reduzida pelaalta evaporação. Ainda, a água aplicadasobre a planta pode lavar agrotóxicosaplicados à folhagem e favorecer maiorincidência de doenças na parte aérea. Poroutro lado, a aspersão exerce um certocontrole sobre a proliferação de ácarospor derrubá-los ao solo provocando asua morte.

Microirrigação A microirrigaçãocompreende sistemas comogotejamento, xiquexique emicroaspersão, nos quais a água é apli-cada próximo à planta, em baixo volu-me e alta freqüência. Na microirrigação,a água também pode ser aplicada abai-xo da superfície do solo, junto às raízesda planta, através de tubos comgotejadores, tubos porosos ou cápsulasporosas enterradas.

Os sistemas de microirrigação sãocaracterizados pelo uso reduzido deenergia e mão-de-obra e eficiente usode água e fertilizantes. Estes sistemaspouco interferem nas práticas culturais,possibilitam o uso de água com certograu de salinidade, podem ser usados emsolos de diferentes texturas,declividades e salinos, bem como per-mitem automação total da irrigação. Asprincipais limitações são o alto investi-mento inicial, problemas de entupimen-to de gotejadores e requerimento de sis-temas de filtragem.

No caso de gotejamento subterrâneo,as principais vantagens são a menor in-terferência nos tratos culturais, reduçãonas perdas de água por evaporação eredução potencial na incidência de do-enças. Todavia, há maiores riscos de

254 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

entupimento devido à sucção de detri-tos na despressurização da rede e entra-da de raízes de plantas. Para minimizarestes problemas devem-se usar vento-sas, gotejadores com dispositivos anti-sucção e aplicar herbicidas apropriadosno sistema.

A Embrapa Hortaliças vem condu-zindo pesquisas com microirrigação, es-pecialmente fertirrigação viagotejamento e microaspersão, emmandioquinha-salsa (Silva et al. 2000).Os resultados são promissores em ter-mos de ganho de produtividade, quali-dade de raízes e redução de gasto commão-de-obra e energia para irrigação emgotejamento superficial e subterrâneo.Verificou-se também que as raízes po-dem ser colhidas de 2 a 3 meses antesque no sistema convencional de culti-vo, o que pode favorecer a colocaçãodo produto no mercado em momentosmenos competitivos e de melhor preço.Ainda com relação ao gotejamento, épreciso estar atento para a proliferaçãode pragas, principalmente ácaros, umavez que neste sistema as folhas não sãolavadas pela água de irrigação.

NECESSIDADE DE ÁGUA DAMANDIOQUINHA-SALSA

Para a determinação da necessidadehídrica da cultura, é necessário que se co-nheça alguns conceitos importantes doprocesso de perda de água pelas plantas.As plantas obtêm praticamente toda a águade que necessitam através do sistemaradicular. Ao processo de “perda” conjuntade água do solo e da planta para a atmos-fera dá-se o nome de evapotranspiração.Assim, a água evapotranspirada pela cul-tura deve ser totalmente reposta ao solosob pena de comprometer o desenvolvi-mento das plantas e o crescimento deraízes de reserva.

A evapotranspiração pode ser obti-da através de vários métodos diretos eindiretos. Aqui, somente será mencio-nado o método do tanque classe A emrazão do seu custo relativamente baixoe simplicidade de uso.

Método do tanque Classe A Naevaporação de uma superfície de águalivremente exposta como num tanqueclasse A, integram-se os efeitos dos di-ferentes fatores climáticos que influen-

ciam o processo de evapotranspiraçãodas culturas. Utilizando-se coeficientesobtidos empiricamente, pode-se estimara evapotranspiração do cultivo de refe-rência (ETo), mm/dia, a partir da eva-poração do tanque do tanque classe A,mm/dia, pela seguinte expressão:ETo=Eca*Kp. Valores de Kp dependemda velocidade do vento, umidade relati-va, tipo (solo circundado por grama ousolo nu) e tamanho da bordadura(Doorenbos & Pruitt, 1977), e podemser obtidos em Marouelli et al. (1996).

Por ser um método simples, de cus-to relativamente baixo, que possibilitaresultados satisfatórios e permite umaestimativa diária da evapotranspiração,o tanque classe A tem sido um dos mé-todos mais empregados em todo o mun-do para o obtenção da ETo. Um dos cui-dados que se deve ter quando da utili-zação de tanques de evaporação é evi-tar que animais bebam água no tanque,o que pode ocasionar erros significati-vos na estimativa da evaporação.

De posse da ETo, pode-se calcular aevapotranspiração da mandioquinha-sal-sa em mm/dia, a partir da seguinte expres-são: ET

m-salsa= ETo*Kc, onde Kc é o coe-

ficiente da cultura. Valores de Kc adapta-dos para diferentes estádios de desenvol-vimento da mandioquinha-salsa são: faseinicial (10 a 42 dias) = 0,55; fase vegetativa(43 a 180 dias) = 0,75; fase de crescimen-to de raízes (181 a 270 dias) = 1,00; fasede maturação (271 a 315 dias) = 0,75.

MANEJO DA IRRIGAÇÃO

A irrigação deve ser realizada quan-do a deficiência de água no solo for ca-paz de causar decréscimo acentuado nasatividades fisiológicas da planta e, con-seqüentemente, afetar o desenvolvimen-to e a produtividade. Na prática, este cri-tério é simplificado de acordo com cadacaso particular, podendo ser baseado emcritérios relacionados à planta, ao solo, acondições práticas limitantes ou, conjun-tamente, em mais de um critério.

O manejo de irrigação consiste numasérie de procedimentos para determinaro momento oportuno de se realizar asirrigações (quando?) e a quantidadesadequada de água a ser aplicada (quan-to?). Os objetivos do manejo sãomaximizar a produção por unidade de

área cultivada, maximizar a produçãopor unidade de água aplicada e conse-qüentemente maximizar lucros.

Para determinar o momento adequa-do da irrigação, os seguintes indicadorespodem ser usados para avaliar o “status”da água no solo: tato, aparência, análisegravimétrica, tensiômetros, blocos de re-sistência elétrica, entre outros.

A disponibilidade total de água no solopara as plantas depende basicamente dacapacidade de retenção do solo e da pro-fundidade do sistema radicular das plan-tas. O crescimento e a produtividade dasespécies vegetais, no entanto, respondemdiferentemente aos níveis de umidade dosolo compreendido entre a capacidade decampo e o ponto de murchamento. Dessamaneira, as irrigações devem ser realiza-das quando a umidade do solo estiver re-duzida a um nível crítico a partir do qualcomeça a prejudicar o desenvolvimentodas plantas. A umidade adequada do solopara promover a irrigação é obtida expe-rimentalmente, sendo função da espéciecultivada, clima, tipo de solo e até mesmoda cultivar.

Para o manejo da irrigação deve-seconhecer a profundidade efetiva do sis-tema radicular da mandioquinha-salsaa qual concentra-se nos primeiros 40 cm.

MÉTODOS DE MANEJO

Os métodos mais comumente em-pregados para o manejo da irrigação sãoos baseados no turno de rega calculado,no balanço de água no solo e na tensãode água no solo. O método do turno derega calculado, apesar de poucocriterioso, é um dos mais utilizados. Osmétodos do balanço e da tensão de águano solo são mais precisos, porém maistrabalhosos.

Método do balanço de água do soloO método do balanço de água no soloconsiste na realização de um controlesistemático da precipitaçãopluviométrica, evapotranspiração, lâmi-na de irrigação e perdas por percolaçãoprofunda e escoamento superficial. Pelométodo de balanço de água é possívelcontrolar a irrigação a partir de um tur-no de rega fixo ou predeterminado. Aadoção de um turno de rega fixo é ex-tremamente conveniente para fins decontrole da irrigação, uma vez que faci-

H.R. Silva, et al.

255Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

lita consideravelmente a programaçãodas irrigações, de pulverizações e ou-tros tratos culturais.

Método da tensão de água no soloNeste método a irrigação é efetuada atodo momento que a tensão atingir umvalor máximo que não prejudique o de-senvolvimento das plantas. Assim, énecessário o monitoramento contínuo datensão no campo, que pode ser feito comauxílio de tensiômetros.

Para a mandioquinha-salsa, a tensãocrítica de água no solo para se promo-ver a irrigação na fase inicial (31 a 180dias) é de 25-40 kPa e para a fase poste-rior, a partir de 180 dias até próximo acolheita, é de 40-70 kPa.

Para uma unidade de irrigação de-vem-se instalar os medidores de tensãoem pelo menos três pontos representa-tivos da área, com o controle da irriga-ção realizado pela média das leituras.Quanto à profundidade de instalação,sugere-se que sejam instalados em duasprofundidades: 1/3 e 2/3 da profundi-dade efetiva do sistema radicular dasplantas, com o controle das irrigaçõesbaseado na média das duas leituras.Quando os sensores são em número li-mitado, a profundidade de instalaçãopode ser igual a ½ da profundidade efe-tiva, que varia em função do estádio dedesenvolvimento. Quando a irrigação éfeita em sulcos, os sensores devem serinstalados a ¼ de distância do final dossulcos. Como o transplante é, geralmen-te, realizado em camalhões, omonitoramento da umidade deve ser fei-to às profundidades do solo entre 10 e15 cm e 20 e 30 cm, durante os primei-ros 42 dias após o transplante e após osprimeiros 42 dias até próximo à colhei-ta, respectivamente.

Método do turno de rega simplifi-cado A seguir é apresentada umametodologia prática, baseada no méto-do do turno de rega pré-calculado, para

manejo da irrigação da mandioquinha-salsa. Valores de evapotranspiração dacultura e turno de rega são obtidos nasTabelas 1 e 2, respectivamente a partirde dados históricos climáticos (tempe-ratura e umidade relativa média) para aregião de interesse, e observações locaissobre o tipo de solo e desenvolvimentoda cultura.

Para melhor entendimento do méto-do, é apresentado simultaneamente umexemplo de caso. Vamos supor que aumidade relativa média e a temperaturamédia do ar no mês mais seco em umadeterminada região sejam 50 % e 25 ºC,respectivamente, o tipo de solo III (tex-tura fina) e a profundidade de raízes de30 cm (aos 90 dias). Desejamos deter-minar o turno de rega e a quantidade deágua a aplicar em cada irrigação em cadaestádio de desenvolvimento damandioquinha-salsa.

De posse das informações climáticasacima, obtemos a ETc da Tabela 1 com aqual entramos na Tabela 2 e determina-mos o turno de rega. Arredondar os va-lores obtidos na Tabela 2 sempre para bai-xo. Por exemplo, entrando na tabela com4,1 mm/dia encontramos um turno derega de 8 dias para 4 mm/dia e 7 diaspara 5 mm/dia, escolher o valor de 7 dias.

Conhecidos a ETc e o turno de rega,podemos determinar a quantidade deágua a ser aplicada em cada irrigação,multiplicando-se a ETc pelo turno derega. Ainda, se conhecermos a precipi-tação do nosso aspersor, podemos deter-minar o tempo de irrigação (minutos).Vamos assumir que o produtor do nossoexemplo usa aspersores “do tipoAgropolo” com bocais 5,0 x 4,9 mm, queno espaçamento de 12 x 12 m e pressãode serviço de 25 m.c.a., tem uma intensi-dade de aplicação de 16,0 mm/hora.Como o sistema apresenta perdas, temosque assumir também, uma eficiência deirrigação média que, nesse caso, é de 70

% para a aspersão. Assim, basta dividir alâmina de água total necessária a ser apli-cada por 16 mm/hora e multiplicar por60 para se conhecer o tempo de irrigaçãoem minutos. A tabela abaixo resume osparâmetros para o manejo da irrigação edo sistema de irrigação durante todo ociclo de desenvolvimento da cultura.

CONCLUSÕES

Com base nos resultados dos expe-rimentos conduzidos na Embrapa Hor-taliças e a metodologia de irrigaçãoapresentada, pode-se concluir o seguin-te a respeito da irrigação damandioquinha-salsa:

• A irrigação da mandioquinha-salsa proporcionou aumentos de produ-tividade de até 80% em relação à médianacional (9 t/ha).

• A irrigação da mandioquinha-salsa, para a produção de mudas, pro-porciona a obtenção de maior númerode filhotes com características desejá-veis para o pré-enraizamento.

• Foi observado em tratamentosem que o solo era mantido com teoresde umidade mais elevados, uma menorocorrência e infestação de nematóidesem comparação com os mais secos.

• Durante os primeiros trinta diasa cultura (pegamento de mudas) as irri-gações devem ser realizadas a cada 2dias.

• Observou-se também que após opegamento de mudas pré-enraizadas,turnos de rega mais espaçados (4 a 5dias), favorecem o estabelecimento dosistema radicular.

• O manejo da irrigação na cultu-ra da mandioquinha-salsa, para obten-ção de maiores produtividades, deve serrealizado sempre que o potencialmatricial da água no solo acusar entre25-40 kPa na fase inicial que vai de 31

Inicial VegetativoCrescimento de

raízes Maturação

ETc (mm/dia) 4,1 5,6 7,5 5,6Turno de rega (dias) 7 6 4 6Lâmina real necessária (mm) 28,7 33,6 30,0 33,6Lâmina total necessária (mm) 41,0 48,0 42,8 48,0Tempo de irrigação (minutos) 154 180 160 180

Irrigação - exigências da cultura da mandioquinha-salsa.

256 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

Etc(mm/dia)

Profundidade efetiva de raízes (cm)10 30 50

Tipo de solo*I II III I II III I II III

1 4 7 12 202 2 3 6 6 10 17 10 163 1 2 4 4 7 11 7 11 184 1 2 3 3 5 8 5 8 145 1 1 2 2 4 7 4 7 116 1 1 2 2 3 6 3 5 97 1 1 2 2 3 5 3 5 88 1 1 1 2 2 4 3 4 79 1 2 4 2 4 6

10 1 2 3 2 3 6

Tabela 2. Turno de rega (dias) para mandioquinha-salsa em função da ETc (Tabela 1), profundidade efetiva de raízes e tipo de solo.

Tipo de solo I (textura grossa)Tipo de solo II (textura média e solos argilosos de cerrado)Tipo de solo III (textura fina)

H.R. Silva, et al.

Tabela 1. Evapotranspiração da cultura da mandioquinha-salsa (mm/dia).

UR (%) Temp. (oC) Inicial VegetativoCrescimento

raízesMaturação

30

10 2,8 3,9 5,1 3,915 3,7 5,0 6,7 5,020 4,7 6,4 8,5 6,425 5,8 7,9 10,5 7,930 7,0 9,5 12,7 9,5

40

10 2,4 3,3 4,4 3,315 3,2 4,3 5,8 4,320 4,0 5,5 7,3 5,525 5,0 6,8 9,0 6,830 6,0 8,2 10,9 8,2

50

10 2,0 2,8 3,7 2,815 2,6 3,6 4,8 3,620 3,3 4,6 6,1 4,625 4,1 5,6 7,5 5,630 5,0 6,8 9,1 6,8

60

10 1,6 2,2 2,9 2,215 2,1 2,9 3,8 2,920 2,7 3,6 4,9 3,625 3,3 4,5 6,0 4,530 4,0 5,4 7,3 5,4

70

10 1,2 1,7 2,2 1,715 1,6 2,2 2,9 2,220 2,0 2,7 3,6 2,725 2,5 3,4 4,5 3,430 3,0 4,1 5,4 4,1

80

10 0,8 1,1 1,5 1,115 1,1 1,4 1,9 1,420 1,3 1,8 2,4 1,825 1,7 2,3 3,0 2,330 2,0 2,7 3,6 2,7

Fonte: Computado a partir da equação de Ivanov (Jensen, 1973).

257Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

a 180 dias e 40-70 kPa na fase de cres-cimento de raízes que ocorre a partir de181 dias até a colheita.

• A profundidade efetiva máximado sistema radicular (ou seja, a profun-didade onde se concentram 80 % dasraízes efetivas) da mandioquinha-salsaconcentra-se nos primeiros 40 cm.Como, em geral, o transplante é reali-zado em camalhões, o monitoramentoda umidade deve ser feito às profundi-dades de solo entre 10 e 15 cm do trans-plante até 42 dias e entre 20 e 30 cm,após os primeiros 42 dias até a colheita.

• O método do turno de rega sim-plificado através do uso das Tabelas 1 e2, constitui-se em excelente ferramenta

para extensionistas e agricultores nomanejo da irrigação considerando queos parâmetros temperatura média do ar,umidade relativa média do ar, tipo desolo (textura) e profundidade efetiva dosistema radicular (medido localmente)podem ser facilmente obtidos.

LITERATURA CITADA

DOORENBOS, J. & PRUITT, W.O. Guidelinesfor predicting crop water requirements .Roma: FAO, 1977. 144p. (Irrigation andDrainage Paper, 24).

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SILVA, H.R., SANTOS, F.F. Determinação deparâmetros de irrigação para a produção demandioquinha-salsa. In: 40º CONGRESSOBRASILEIRO DE OLERICULTURA, 37,1997, Manaus. Resumo ... Manaus: SOB,1997. rs. 273.

SILVA, W.L.C.; MAROUELLI, W.A.; SILVA,H.R. Avaliação da fertirrigação comgotejamento na cultura de mandioquinha-sal-sa. In: 40º CONGRESSO BRASILEIRO DEOLERICULTURA, V.18, p.611-612, SãoPedro.Resumo...São Pedro, SP, SOB, 2000.

O fato da mandioquinha-salsa seruma espécie exótica e ter sido

introduzida no Brasil em fins do séculoXIX, ter ciclo longo (maior que 8 me-ses), ser propagada vegetativamente, sercultivada em pequenas propriedades,possuir variabilidade genética limitada(embora haja registro de heterozigose) ese desenvolver melhor em temperaturasentre 15-18ºC é determinante para seavaliar objetivamente sua interação comas diversas espécies de artrópodes a elaassociadas. A literatura é pródiga em de-monstrar que há significativa interaçãogenótipo-ambiente nos locais onde amandioquinha-salsa é cultivada e nesteaspecto podemos enfatizar que o aumentode luminosidade, teores de fósforo maisaltos e maior disponibilidade de águaconcorrem para a redução do ciclo da cul-tura e maior produtividade.

FRANÇA, F.H. A sustentabilidade de produção da cultura da mandioquinha-salsa numa pespectiva entomológica. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n.3, p. 257-258, novembro 2000. Palestra.

A sustentabilidade de produção da cultura da mandioquinha-salsa numapespectiva entomológicaProduction sustentability of the Peruvian carrot from an entomologicalperspectiveFélix H. FrançaEmbrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF. E-mail: [email protected]

Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza, pragas, controle

Key-words: Arracacia xanthorrhiza, pests, control

Estes fatores, além das práticas cul-turais próprias do sistema de produção,são determinantes para o estabelecimen-to ou não, das lagartas, brocas, pulgões,cochonilhas e ácaros. Estes, em geral,são relativamente pouco associados àcultura pelos agricultores devido prin-cipalmente ao sistema de produção atu-al, que enfatiza a rotação de culturas epolicultivos em pequenas áreas. Con-tudo, há forte tendência de mudança nasatuais condições de produção, que po-derão potencializar os problemas cau-sados por insetos e ácaros. Por exem-plo, os novos aportes tecnológicos comocultivares mais precoces e mais produ-tivas; monocultivos em grandes áreas;a intensificação do uso de fertilizantese das práticas de irrigação visandoincrementar a produtividade.

PRINCIPAIS ESPÉCIES DEARTRÓPODES E TÁTICAS DE

CONTROLE DISPONÍVEISAOS AGRICULTORES

Considerando a origem, os sistemasde produção atual e futuro e o fato deque os artrópodes associados à culturada mandioquinha-salsa conhecidos atéesta data são polífagos, se faz necessá-ria uma análise das táticas de controledisponíveis na tentativa de vislumbraras melhores alternativas possíveis paraserem utilizadas agora e em relação aofuturo do manejo de pragas desta cultu-ra no Brasil.

Melhoramento genético visando aresistência Existem dois problemas queprecisam ser superados para que se pos-

Irrigação - exigências da cultura da mandioquinha-salsa.

258 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

sa utilizar desta tática de modo eficiente.O primeiro deles é obter respostas às se-guintes perguntas: sob o ponto de vistade melhoramento genético, o desenvolvi-mento de resistência à insetos ou ácaros éprioritário? Há suficiente variabilidade ge-nética a ser explorada em mandioquinha-salsa visando incorporar resistência gené-tica a artrópodes nas cultivares mais pro-dutivas, mais precoces e que possuem me-lhor qualidade de mercado? A resistênciagenética dos genótipos selecionados serápermanente, considerando o longo ciclo dacultura, que potencialmente facilita a adap-tação de insetos e ácaros, que ocorrem emgeral em múltiplas gerações/ano e sobre-tudo, por serem polífagos? O segundo, ésuperar o entendimento comum entre osmelhoristas de plantas de que a ocorrênciade brocas, ácaros e pulgões emmandioquinha-salsa é errática e dependentede fatores climáticos, que não justificari-am o início de um programa de melhora-mento genético com tal fim.

Estudos sobre a bioecologia Não sãoconhecidas informações importantes so-bre a mandioquinha-salsa. São essenci-ais: um inventário entomológico nas re-giões onde a cultura é importanteeconômicamente; conhecer-se os aspec-tos fundamentais da dinâmicapopulacional das espécies de interesse,de modo a permitir responder questõesfundamentais como: Quando e comoamostrar que espécies de artrópodes?Qual o número de amostras e quantosindivíduos devem ser capturados paraque se defina o uso de determinada táti-ca de controle? Quais os fatores abióticosmais importantes e de que modo afetamde maneira decisiva a biologia das espé-cies de interesse? Quais os danos causa-dos pelas principais pragas e quais sãoas suas consequências biológicas e eco-nômicas à produção? Sem respostas aestas perguntas é quase impossível o es-tabelecimento de qualquer estratégia

racional de manejo integrado de pragas.Ênfase no controle cultural A per-

cepção de que insetos e ácaros são fatoresrelativamente pouco importantes à cultu-ra da mandioquinha-salsa provavelmenteé devido às características particulares dosistema de produção da cultura, que é so-lidamente edificado no binômio utiliza-ção de mudas sadias e rotação de cultu-ras. Ainda que possam ser antecipadaspara um futuro relativamente próximo mu-danças significativas no sistema de pro-dução, principalmente através da incorpo-ração de áreas extensivas de cultivo, aênfase em práticas de controle culturaldeve ser mantida, incluindo-se aquelas darotação de culturas e utilização da águade irrigação de modo a manter-se baixasas populações de insetos e ácaros, alémdo uso judicioso de fertilizantes.

O uso de inseticidas e acaricidasÉ importante avaliar a incorporação deinseticidas e acaricidas ao sistema deprodução de mandioquinha-salsa con-siderando-se as seguintes indagações:inseticidas e acaricidas são realmentenecessários? Existem alternativas decontrole que podem ser utilizadas efici-entemente? Existem produtosregistrados para a cultura considerandoa importância dos artrópodes de interes-se? Quais seriam os inseticidas eacaricidas preferencialmente recomen-dados: os específicos ou de amplo es-pectro?

Considerando-se o sistema integra-do de produção de milho, fumo emandioquinha-salsa, que é objeto deinteresse regional no Paraná e SantaCatarina vemos que, em agosto de 2000,é o seguinte o número de produtosregistrados no Ministério da Agricultu-ra e Abastecimento (Tabela 1).

Sob o ponto de vista da indústria dedesenvolvimento de inseticidas eacaricidas, sabemos que a importânciaeconômica da cultura da mandioquinha-

salsa é desconhecida. Em princípio, fal-tam informações quanto a área cultiva-da, problemas importantes, potencial demercado para seus produtos, de modo quea taxa de retorno para o seu investimentopossa ser estimada. A indústria tem inte-resse no registro de produtos para váriasculturas e não o faz, principalmente porconta das exigências da atual legislaçãoe pelo alto custo desta formalidade buro-crática e legal junto aos ministérios daAgricultura, Meio Ambiente e Saúde.

Assim, considerando-se que as ten-tativas do setor junto àqueles ministéri-os já foram formalizadas e que atualmen-te existe uma proposta de solução para aquestão de registro de produtos para cul-turas de menor valor econômico, e queestá à espera de parecer jurídico da CasaCivil da Presidência da República, espe-ra-se para breve uma solução para o atu-al impasse, por exemplo, via extensão deuso de produtos já registrados para ou-tras culturas da mesma família botânica.

Resolvido este impasse, restará queos interessados tomem assento à mesapara discussão de proposições de açõessegundo o campo de competência de cadaum. Por exemplo, os representantes daextensão rural e produtores devem auxi-liar pesquisadores e a indústria deagrotóxicos a definirem as espécies pra-gas mais importantes economicamente.,e a pesquisa assumir sua responsabilida-de e realizar os testes de eficiência agro-nômica necessários para que a indústriapossa patrocinar as iniciativas de regis-tro dos produtos mais adequados juntoaos Ministérios competentes.

LITERATURA CITADA

AGROTIS. Praguicidas registrados para as culturasdo milho, fumo e mandioquinha salsa. 2000.

BUSTAMANTE, P. G.; CASALI, V. W. D.;SEDIYAMA, M. A. N. Origem e botânica damandioquinha-salsa. Informe Agropecuário,v.19, n.190, p.16-18, 1997.

CASALI, V. W. D.; SEDIYAMA, M. A. N. Ori-gem e botânica da mandioquinha-salsa. Infor-me Agropecuário, v.19, n.190, p.13-16, 1997.

FORNAZIER, M. J.; SANTOS, F.F. Pragas damandioquinha-salsa. In: SANTOS, F.F.;SIMÕES DO CARMO, C.A. Mandioquinha-salsa: manejo cultural. Brasília: Embrapa,1998. p.44-49.

SANTOS, F. F. dos. A cultura da mandioquinha-salsa no Brasil. Informe Agropecuário, v.19,n.190, p.5-7, 1997.

VILLAS BÔAS, G.L.; SANTOS, F.F.; FRANÇA,F.H.; CASTELO BRANCO, M. Pragas damandioquinha-salsa. Informe Agropecuário,v.19, n.190, p.47-49, 1997.

CulturasNúmero de ingredientes ativos (i.a.) e

produtos comerciais (p.c.) Nº deartrópodes

(i.a.) (p.c.)Milho 49 100 28Fumo 34 65 16Mandioquinha-salsa 0 0 6

Tabela 1. Número de inseticidas e acaricidas registrados no Ministério da Agricultura eAbastecimento, relativo ao número de artrópodes presentes nas culturas do milho, fumo emandioquinha-salsa

Fonte: Agrotis (2000).

F.H. França.

259Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

HENZ, G.P. Doenças comuns da mandioquinha-salsa e do fumo. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. 3, p. 259-260, novembro 2000. Palestra.

Doenças comuns da mandioquinha-salsa e do fumoCommom diseases of the Peruvian carrot and tobacco cropsGilmar P. HenzEmbrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF. E-mail: [email protected]

Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza, fitopatologia, controle

Key-words: Arracacia xanthorrhiza, plant diseases, control

DOENÇAS E PRAGASREGISTRADAS EM

MANDIOQUINHA-SALSA

Devido ao seu ciclo relativamentelongo, dificilmente um cultivo com

mandioquinha-salsa chegará ao ponto decolheita sem apresentar problemas comalgum tipo de doença ou praga. De ummodo geral, a mandioquinha-salsa éconsiderada uma cultura rústica, comboa tolerância a doenças e pragas, sen-do que somente em alguns casos há re-latos de perdas severas.

A cultura da mandioquinha-salsatem aumentado de importância em al-gumas regiões brasileiras, com incre-mento da área plantada e do consumo.Mesmo assim o número de trabalhos depesquisa publicados sobre doenças epragas nos últimos anos é relativamen-te pequeno, mesmo nos países andinosonde também é cultivada. De acordocom a literatura consultada, os seguin-tes patógenos (fungos, bactérias, víruse nematóides, foram relatados para a cul-tura até o presente, sendo sublinhadosaqueles registrados no Brasil:

Fungos (20): Septoria sp. ,Cercospora sp., Sclerotium rolfsii,Sclerotinia sclerotiorum, Leveillulataurica (oídio), Erysiphe polygony(oídio), Albugo ipomea-panduranae(ferrugem branca), Alternaria sp. (alter-naria), Colletotrichum sp. (antracnose),Rosellinea sp., Tilletia sp. (carvão),Puccinia repentina (ferrugem),Macrophomina phaseolina,Lasiodiplodia theobromae; podridõespós-colheita (Rhizopus, Mucor, Phoma,Geotrichum, Aspergillus e Fusarium).

Bactérias (5): Xanthomonascampestris pv. arracaciae,Pseudomonas cichorii, Erwiniachrysanthemi , Erwinia carotovora

subsp. carotovora, E.c. subsp.atroseptica

Nematóides (4): Meloidogyneincognita, M. javanica, M. hapla,Pratylenchus penetrans

Vírus (4): “arracacha virus A”,“arracacha virus B”, “arracachacarlavirus latente”, “arracacha potyvirusY”

Muitos destes foram relatados deforma “oficiosa”, sem um registro for-mal da ocorrência ou menção a testesde patogenicidade e cumprimento dospostulados de Koch, devendo portantoser considerada como apenas uma lista.Nenhum vírus foi ainda oficialmente re-gistrado no Brasil.

PROBLEMASFITOSSANITÁRIOSCOMUNS ENTRE AS

CULTURAS DAMANDIOQUINHA-SALSA E

FUMO

Felizmente, os patógenos e pragascomuns as duas culturas são poucos,uma vez que pertencem a famílias botâ-nicas diferentes (fumo é da FamíliaSolanaceae e a mandioquinha-salsa daFamília Apiceae ou Umbelífera), alémde possuírem partes comercializáveisdistintas (folhas e raízes). Por ser maisimportante economicamente e mais es-tudada, existe maior registro de pragase patógenos para a cultura do fumo. Deum modo geral, os patógenos e pragasque causam problemas nestas duas cul-turas não possuem muita especificidadepor planta hospedeira (polífagos), e po-dem ser agrupados de acordo com a faseda cultura em que ocorrem com maiorfrequência: (1) fase de plântula ou muda,típicos de solo; (2) durante a fase

vegetativa; (3) em pós-colheita. Nestascategorias estão enquadrados patógenosmuito importantes, como os fungosSclerotium rolfsii, Sclerotiniasclerotiorum, podridões pós-colheita(Erwinia, Rhizopus e Fusarium); as bac-térias Erwinia chrysanthemi, Erwiniacarotovora subsp. carotovora, E.c.subsp. atroseptica; os nematóidesMeloidogyne incognita, M. javanica, M.hapla e Pratylenchus penetrans . Nocaso das pequenas propriedades doParaná e Santa Catarina que têm na cul-tura do fumo sua atividade principal, aintrodução ou aumento do cultivo damandioquinha-salsa deve considerar al-guns riscos com estes patógenos. Nestecaso, a rotação ou sucessão de culturasdeve levar em conta o histórico de inci-dência de doenças, muito importantepara estes patógenos polífagos. De umamaneira geral, este grupo de fungos,bactérias e nematóides possuem umagrande capacidade de sobrevivência ecompetição com outrosmicroorganismos, e assim aumentam ra-pidamente sua população em níveis crí-ticos, o que ocasiona surtos de doençacom graves prejuízos econômicos.

ESTRATÉGIAS DE MANEJOINTEGRADO

É difícil traçar estratégias de controlepara as doenças e pragas mais impor-tantes da mandioquinha-salsa pela faltade informações básicas. Até o presente,não existe nenhum produto químico re-gistrado oficialmente no Ministério daAgricultura para a cultura, o que limitamuito as medidas passíveis de seremadotadas. É provável que pelo menosalguns agroquímicos poderão ser indi-cados para a mandioquinha, inclusivepor extensão de uso. Nesta situação,

260 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

medidas tradicionais de controle, comouso de mudas com boa qualidade sani-tária, de preferência pré-enraizadas, aadoção de um sistema de rotação deculturas, eliminar plantas doentes ousuas partes, evitar irrigação e adubaçãoexcessivas, evitar cultivo em épocascom clima desfavorável, devem ser le-vadas em consideração para reduzir aocorrência de problemas fitossanitários.

A mandioquinha-salsa possui ummercado cativo e crescente, e uma repu-tação junto ao público consumidor de serum produto saudável, quase orgânico,que deve ser preservada e melhor explo-rada. Além disto, é importante a manu-tenção da visão positiva de produtores etécnicos, que a consideram uma culturarústica e tolerante a pragas e doençaslimitantes em outras hortaliças. Além docultivo orgânico, outras alternativas de-vem incluir novas cultivares para ampli-

ar as opções para produtores e consumi-dores e a caracterização da tolerância e/ou resistência para aqueles patógenos epragas mais relevantes.

LITERATURA CITADA

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STRADIOTTO, M.F. Doenças das umbelíferas.Informe Agropecuário, v.17, n.183, p.64-67,1995.

VENTURA, J.A.; COSTA, H. Doenças damandioquinha-salsa. In: SANTOS, F.F.;SIMÕES DO CARMO, C.A. Mandioquinha-salsa: manejo cultural. Brasília: Embrapa,1998. p.50-56.

VILLAS BOAS, G.L.; SANTOS, F.F.; FRANÇA,F.H.; CASTELO BRANCO, M. Pragas damandioquinha-salsa. Informe Agropecuário,v.19, n.190, p.47-49, 1997.

G.P. Henz.

261Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

IDENTIFICAÇÃO DO SISTEMA PRODUÇÃO MANDIOQUINHA-SALSA, FUMOE MILHO, NO MUNICÍPIO DE RIO NEGRO-PR. COSTA, G.P. (Emater-PR,Unidade Local de Rio Negro, Caixa Postal 191, 83880-000 Rio Negro-PR. E-mail: [email protected]). Identification of the production systemsof Peruvian carrot, tobaco and corn in Rio Negro, Paraná state, Brazil.

Utilizando o instrumental do projeto determinação da eficiência técnica-econômica da propriedade rural (EMATER-Paraná, 1991) o presente trabalhoobjetivou levantar a situação das três culturas. A pesquisa foi realizada nasafra 96/97. O critério de seleção dos entrevistados foi a semelhança detecnologia utilizada e tamanho das explorações. O instrumento de coleta dedados foi o questionário “lavouras temporárias diagnóstico/análise”. Foramutilizados como indicadores tecnológicos adubação de base e cobertura,produtividade, horas-homem, horas-animais e horas-máquina, e comoindicadores financeiros custo variável e margem bruta. Os níveis de adubaçãoe produtividade obtidos nas culturas de fumo e milho estão acima da médiaenquanto a cultura da mandioquinha-salsa apresenta valores médios. A culturado milho obteve margem bruta total/ha inferior a do fumo e mandioquinha-salsa. O custo variável/ha de milho é o mais baixo em relação às demais cultura.Na margem bruta por real aplicado, o fumo apresentou resultado superior(retorno de R$ 6,65). No item remuneração da mão-de-obra a cultura damandioquinha-salsa é a que remunera melhor, enquanto que o milho apresentao menor índice. A cultura do fumo, na medida em que se reduz a mão-de-obra,é a que apresenta maior volume de entrada de recursos na unidade de produção.A tecnologia preconizada pela Embrapa Hortaliças aumenta a produtividadeda mandioquinha-salsa tornando a cultura muito promissora.

AVALIAÇÃO DA PRECOCIDADE DE COLHEITA DE MANDIOQUINHA-SALSAEM LAVRAS-MG. MADEIRA, N.R., MALUF, L.E., RESENDE, T.V. (UniversidadeFederal de Lavras - UFLA, Depto. de Agricultura, C. Postal 37, 37200-000Lavras-MG. E-mail: [email protected]). Evaluation of harvest precocity ofPeruvian carrot in Lavras-MG, Brazil.

Alguns entraves à expansão da cultura da mandioquinha-salsa persistem;dentre eles, o longo ciclo de cultivo. Este trabalho objetivou avaliar a precocidadedo clone tradicional ‘Amarelo Comum’ e da cv. ‘Amarela de Senador Amaral’. Oexperimento foi conduzido na UFLA, Lavras-MG, de 07/1999 a 07/2000, nodelineamento em blocos casualizados, em parcelas subdivididas (épocas decolheita; 180, 210, 240, 270 e 300 dias após o transplantio - dat), com 3 blocos.Fez-se o plantio em canteiros de pré-enraizamento, transplantando-se as mudasaos 60 dias, no espaçamento de 80 x 30cm. Avaliou-se o porte das plantas e aprodução (peso e número) de raízes por classe. O porte das plantas atingiu omáximo aos 210 dias após o transplantio. O porte entre os dois clones diferiu;o ‘Amarelo Comum’ superou 82cm de largura, enquanto a cv. ‘Amarela deSenador Amaral’ apresentou largura máxima de 75cm. O menor porte dessacultivar permite o adensamento, elevando a produtividade e o fechamento dalavoura. Observou-se elevação da produção até a última época de colheitarealizada, aos 300 dat, não se atingindo o ponto de máxima produção. Contudo,o incremento produtivo já apresentou decréscimo em relação às épocasanteriores pela senescência das plantas e exaustão das reservas. O clone‘Amarelo Comum’ mostrou-se mais precoce, porém menos produtivo. Aviabilidade de realizar colheitas precoces, ainda que com menoresprodutividades, permite maior flexibilidade no fornecimento. Ainda, apossibilidade de aproveitar elevadas cotações ou a expectativa de quedasacentuadas de preços pela entrada de grandes volumes do produto pode levarà decisão de colher precocemente visando a maximizar o rendimento da cultura.

ARMAZENAMENT O DE MUDAS DE MANDIOQUINHA-SALSA SOBESTRESSE HÍDRICO E TÉRMICO. MADEIRA, N.R.; BENITES, F.R.G.; FARIA,M.V. (UNIVERSIDADE Federal de Lavras - UFLA, Depto. de Agricultura, C.Postal 37, 37200-000 Lavras-MG. E-mail: [email protected]). Storage ofPeruvian carrot plantlets under hydric and termic stresses.

A prática tem mostrado que o armazenamento de mudas vemacarretando grandes perdas, seja pela deterioração no galpão ou nocampo, seja pelo florescimento precoce. Este trabalho teve por objetivoestudar o comportamento de mudas submetidas a estresse, situaçãocomum em unidades de produção comercial. O experimento foi conduzidona UFLA, Lavras-MG, entre 11/1998 e 04/1999, no delineamentointeiramente casualizado, com 4 repetições. Utilizaram-se plantas comquinze meses do clone ‘Amarelo Comum’. As mudas foram submetidas aarmazenamento por 0, 30, 60 e 90 dias em câmara fria (6 ±± 2oC, 70 ±± 5 %UR) ou galpão arejado (ambiente). Após o armazenamento, fez-se o plantioem canteiros de pré-enraizamento. As mudas foram avaliadas 45 diasapós o plantio quanto ao comprimento e peso de raízes e altura e peso daparte aérea. Estimaram-se, ainda, os índices de apodrecimento, depegamento e de pendoamento precoce. O tempo de armazenamentoesteve diretamente relacionado ao índice de apodrecimento einversamente ao índice de pegamento de mudas, em função doressecamento e da ação de patógenos. Contudo, as mudas remanescentesapresentaram desenvolvimento satisfatório, indicando que aquelas queconseguiram superar o período de exposição ao estresse, apresentaram-se aptas ao plantio. Porém, os índices de pendoamento precoce aumentamcom a elevação do tempo de exposição ao estresse hídrico em galpão. Ouso do pré-enraizamento, porém, permite o descarte das mudaspendoadas. Dentre os tratamentos submetidos à câmara fria, não severificou pendoamento, sugerindo que o estresse hídrico assume papelpreponderante no florescimento, em relação ao frio. Conclui-se que oplantio deve ser o mais breve possível, entretanto é possível oarmazenamento em galpão por cerca de 60 a 90 dias, visando a escalonara produção.

FORMAS DE APRESENT AÇÃO DA MANDIOQUINHA-SALSA NO VAREJOEM SÃO PAULO-SP E BRASÍLIA-DF. HENZ, G.P.; VILELA, N.J. & SANTOS,F.F. (Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF, E-mail:[email protected]). Sort of packages of Peruvian carrot in the retailmarkets of São Paulo-SP and Brasília-DF.

A mandioquinha-salsa tradicionalmente é vendida a granel, mas atualmenteobserva-se uma maior variedade nas formas de apresentação e preços doproduto ao consumidor. Com o objetivo de avaliar as formas de apresentaçãoda mandioquinha-salsa e seus respectivos preços de venda no varejo, visitou-se no decorrer de 1999 diferentes supermercados, sacolões, quitandas e fei-ras-livres nas cidades de Brasília-DF e São Paulo-SP. As duas formas devenda mais comuns são raízes soltas, a granel, onde o consumidor selecionao produto (validade de 3-4 dias), e embaladas em bandejas de isopor recobertascom filme plástico de PVC, mantida ou não sob refrigeração (validade de 3-7dias). Na forma de produto minimamente processado, foram encontradas trêsformas de apresentação: (1) raízes descascadas, em bandejas de isopor em-baladas em filmes de PVC, mantida sob balcão frigorífico (validade de 4 dias);(2) cortada em fatias e embalada a vácuo em plástico de cinco camadas, mantidasob refrigeração (validade de 5 dias); (3) raízes descascadas e cortadas empedaços pré-cozidos, prontos para servir (validade de 90 dias). O produto or-gânico é vendido a granel ou embalado em bandejas de isopor recobertas comfilme de PVC. Outra maneira de apresentação da mandioquinha-salsa ao con-sumidor é vendê-la a granel, mantendo-se as raízes dentro de água até o mo-mento da venda, sendo o produto mantido constantemente sob refrigeração ousomente à noite. De acordo com a forma de apresentação do produto, o preçovariou de R$1,80 (granel) à R$9,75 (produto orgânico embalado em filme PVC).

VII ENCONTRO NACIONAL DA MANDIOQUINHA-SALSA E I SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃODO FUMO, MILHO E MANDIOQUINHA-SALSA

Rio Negro-PR, 23 a 25 de agosto de 2000.

RESUMOS

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262 Hortic. bras., v. 18, n. 3, nov. 2000.

ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA AVALIAÇÃO DE INJÚRIA MECÂNICA EMRAÍZES DE MANDIOQUINHA-SALSA. SOUZA, R.M. 1 & HENZ, G.P. 2

(1Mestrando da FAV-UnB, E-mail: [email protected], Brasília-DF;2Embrapa Hortaliças, Brasília-DF). A diagramatic scale for mechanicalinjury evaluation of Peruvian carrot roots.

A ocorrência de injúrias mecânicas em raízes de mandioquinha-salsaé um dos principais problemas na fase de pós-colheita, afetando suaaparência e qualidade. O objetivo deste trabalho foi a elaboração de umaescala para avaliação e quantificação de injúrias mecânicas nas raízesdesta hortaliça. A escala foi feita a partir de raízes coletadas ao acaso emcaixas tipo “K”, com diferentes níveis de lesões. A área lesionada foideterminada envolvendo-se as raízes em plástico transparente,reproduzindo-se as lesões com caneta para retroprojetor, e posteriorleitura em um medidor de área foliar Li-cor Inc., modelo 3100. A áreasuperficial total da raiz também foi determinada pelo mesmo método,porém usando-se plástico preto para envolver toda sua superfície eposterior mensuração. Com os dados das áreas superficial total elesionada de várias raízes, estabeleceu-se uma escala com cinco notas:0 (sem lesão); 1 (1%); 2 (5%); 3 (15%); 4 (40%). Para facilitar o uso daescala, considerou-se que cada raiz tinha duas faces e atribuiu-se umanota média. Para validação do método foram avaliadas cinco cargasprovenientes da CEAGESP, considerando-se três posições diferentes dasraízes na caixa: camada superior (“boca”), meio e fundo, coletando-se 30raízes/camada. Em todas as cargas analisadas as raízes mais injuriadasforam as do fundo da caixa, com área lesionada variando entre 15 e 25%(nota média= 3,0), seguidas das raízes da camada superior (“boca”) comárea lesionada de 5 a 10% (nota média= 2,3); as raízes do meioapresentaram menos injúria, com 1 a 5% (nota média= 1,3), de lesões emsua superfície total.

AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS PARA O CULTIVO DA MANDIOQUINHA-SALSA EM PIÊN. MOLETA1, A.; SANTOS2, F.F. dos (1Emater-PR, Piên-PR; 2EmbrapaHortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF, E-mail: [email protected]).

A cultura da mandioquinha-salsa no município de Piên-PR é consideradaa segunda principal atividade da pequena propriedade rural. Devido aimportância sócio-econômica dessa hortaliça no município, a Emater-PR iniciouum trabalho para divulgação de novas tecnologias para de manejo, em parceriacom a Embrapa Hortaliças. Foram avaliadas duas cultivares, a tradicional(‘Amarela Comum’) e a ‘Amarela de Senador Amaral’, lançada pela EmbrapaHortaliças, empregando-se o processo de enraizamento prévio das mudas. Aadubação de plantio foi efetuada conforme recomendação da 1a AproximaçãoEmbrapa Hortaliças. A colheita ocorreu 10 meses após o transplantio, tendocomo avaliadores alguns produtores locais. Foram amostradas um total de 830plantas de cada cultivar. A cultivar ‘Amarela Comum’ apresentou umaprodutividade 36% maior que a média do município, o que pode ser explicadopelo uso de adubação e irrigação. Quando comparou-se a média local com acultivar ‘Amarela de Senador Amaral’, esta superou em 2,3 vezes a ‘AmarelaComum’. Dentro do sistema avaliado, comparando-se as duas cultivares,‘Amarela de Senador Amaral’ produziu o equivalente a 20,99 t/ha, superandoem 1,7 vezes a ‘Amarela Comum’. A avaliação da qualidade das raízes foirealizada por um comprador local, atribuindo-se à ‘Amarela Comum’ umaprodutividade de apenas 57% de raízes de valor comercial (7,06 t/ha), enquantoque a ‘Amarela de Senador Amaral’ permitiu uma seleção de 94% de raízes devalor comercial (19,73 t/ha).

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