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COMUNICACÃO VIDA DE EXPATRIADO: OS PROFISSIONAIS BRASILEIROS E ESTRANGEIROS COM CARREIRAS MOBILE empresaria ANO 24 2014 9 771809 950001 9 1 50 5 ISSN 95 99 0 8 1 BIG DATA NA COMUNICAÇÃO: INSIGHTS E OPORTUNIDADES 90 REPUTAÇÃO, IMAGEM E OPINIÃO A TRÍADE SAGRADA DO RELACIONAMENTO DAS EMPRESAS COM SEUS PÚBLICOS

Espiritualidade nos Negócios an Revista Comunicação Empresarial 90

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COMUNICACÃO

VIDA DE EXPATRIADO: OS PROFISSIONAIS BRASILEIROS E ESTRANGEIROS COM CARREIRAS MOBILE

empresaria ANO 24

2014 9771809

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BIG DATA NA COMUNICAÇÃO: INSIGHTS E OPORTUNIDADES

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REPUTAÇÃO, IMAGEM E OPINIÃOA TRÍADE SAGRADA DO RELACIONAMENTO DAS EMPRESAS COM SEUS PÚBLICOS

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AUGUSTO CUGINOTTI, DA ELOS

TRAZIDA AO NOSSO país no começo dos anos 2000, essa ideia englo-ba várias noções que hoje são uma busca das empresas e estarão cada vez mais presentes no ambiente corporativo. “Aqui no Brasil (essa no-ção) surgiu porque existia uma casa referência de negócios, que era a representação no Brasil da World Business Academy (WBA), um grupo de empresários que trabalha novas formas de gestão e negócios. Esse grupo acabou criando o ELOS – Espiritualidade e Liderança para Orga-nizações Saudáveis”, afirma Augusto Cuginotti, um dos fundadores da instituição e especialista em treinamento de lideranças. A ideia era injetar uma percepção de espiritualidade nos negócios en-tre os líderes interessados, para criar uma nova cultura de gestão e re-lacionamento interno e externo: “Fizemos grupos de treinamento, de processo; as pessoas que participavam eram muito diversas. Tinha ex--presidentes de empresas, consultores de negócios. Era a nata da nata do desenvolvimento organizacional”, afirma Cuginotti.

MAS QUAL É A essência desse conceito? O que significa levar a espi-ritualidade ao mundo dos negócios? Em primeiro lugar, talvez seja ne-cessário entender o que esse termo não é. “A espiritualidade geralmente é associada ao misticismo, ao sobrenatural, a coisas que estão além da compreensão humana”, define Luiz Fernando de Araújo Brandão, mem-bro do Conselho Deliberativo da Aberje e é diplomado pelo Yoga Ins-titute de Bombaim. Alexandre Caldini Neto, CEO do Valor Econômico, explica: “O que não é: não é religião. Tem empresas que têm uma prática religiosa, mas não é disso que se trata aqui”. Mario E. René Schweriner, líder da área de humanidades e direito da Escola Superior de Propa-ganda e Marketing (ESPM), detalha a distinção entre religião e espiri-tualidade: “É importante ressaltar que esse termo é mal-empregado. As organizações muitas vezes confundem trabalho em grupo, orações pela manhã, com alguma atividade espiritual”. O central, continua Caldini, é levar valores para o ambiente da empresa: “É trazer para a organização uma postura mais humana, mais moral, mas ética, na relação com pa-res, chefes e subordinados. Isso é a espiritualidade numa organização”.

“ISSO É CUIDAR DAS RELAÇÕES E DE SI MESMO. AS PESSOAS ESTÃO ENTENDENDO MAIS AS FERRAMENTAS DO SABER SE RELACIONAR”AUGUSTO CUGINOTTI, FUNDADOR DA ELOS

A ideia de espiritualidade

entre profissionais e na cultura

corporativa se revela a partir da

demanda por transcendência

nos negócios

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CULTURA

LUIZ FERNANDO BRANDÃO

“ACHO QUE A ESPIRITUALIDADE TEM A VER COM A RAZÃO SOCIAL DA EMPRESA, NO SENTIDO ESTRITO, QUE FOI ESQUECIDO AO LONGO DO TEMPO. O QUE IMPORTA AFINAL, É O PAPEL QUE A EMPRESA PRESTA PARA A SOCIEDADE”LUIZ FERNANDO DE ARAÚJO BRANDÃO, MEMBRO DO CONSELHO DELIBERATIVO DA ABERJE

“A riqueza deveria gerar educação, emprego, oportunidades, bem--estar para todo mundo. A riqueza de um deveria ser usada para o bem de todos. Não tem problema ganhar dinheiro, mas como você usa esse dinheiro?”, completa ele.EM OUTRAS palavras, as prioridades devem ser revistas, como mostra Schweriner: “Muitas vezes as empresas demitem funcioná-rios para satisfazer aos acionistas, ao conselho, porque o lucro caiu de 12.4 para 9.5. Não é razão para demitir. Essa empresa está colo-cando o material como prioridade única.”E como fazer isso? Como identificar os valores e compromissos que uma organização deve ter com a sociedade de maneira a trans-formar seus processos?Esses valores devem ser encontrados através de um processo de autoconhecimento a ser operado internamente, para que se encon-tre um senso de propósito mais profundo: “O que a gente trazia era muito autodesenvolvimento, de perceber a si mesmo, e a relação com o outro. Tinham várias práticas dialógi-cas, trabalhos com diálogo, autopercepção e ferramentas, formas de estruturar conversas, rotinas de gestão de pessoas”, relata Cuginotti. E parece que a busca única pelo valor financeiro está fadada à obsoles-cência nos tempos atuais. “Acho que a espiritualidade tem a ver com a razão social da empresa, no sentido estrito, que foi esquecido ao longo do tempo. O que importa afinal, é o papel que a empresa presta para a sociedade. Muitas empresas ainda estão naquele velho paradigma de que o que importa mesmo é gerar valor para o acionista, o que é ultrapassado, avalia Brandão. Os motivos disso são vários, mas vêm se apresentando claramen-te ao longo dos anos. “As pessoas não estão aguentando mais um ambiente muito duro e muito pesado. Tem uma expressão da qual eu desgosto bastante, que se usava antigamente: ‘sangue nos olhos,

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faca nos dentes’. É o oposto disso. Tem empresa que é assim? Tem. E tem gente que gosta de trabalhar nessa empresa? Tem. Cada em-presa é um ambiente distinto e a liderança tem muito a ver com isso e dá, em grande medida, o tom; as pessoas se adaptam aos perfis das organizações”, diz Caldini.

E MUITO DISSO tem a ver com a mudança de perfil das pessoas e da sociedade, de uma maneira geral. O tipo de gestão da Revolução Industrial não era mais adequado ao século XX, por isso uma série de mudanças aconteceram para dar mais direitos ao trabalhador. E o século XXI se vê às voltas com uma nova mudança, onde a simples busca pelo resultado e o crescimento não pode mais ser a única baliza. “Há 30, 40 anos, você era regido pelo lema ‘time is money’. Ele é exatamente o oposto de qualquer conduta espiritual”, diagnostica Schweriner. Brandão vê atualmente um cenário cheio de incertezas que ajuda a colocar em xeque as ideias antigas e a abrir novas possibilidades. Para ele, “ameaças concretas no ar com relação ao nosso futuro no planeta, a questão ambiental, a questão social, o terrorismo, a insegurança da sociedade em relação à capacidade das empresas de cumprirem o que elas prometem” são o pano de fundo para um desejo de mudança. Esses elementos “vêm gerando um questiona-mento maior do porquê de estarmos fazendo o que fazemos e isso se transfere para as empresas”, avalia ele. Caldini também vê uma mudança de perfil em quem trabalha nas empresas. As mulheres têm um papel importante nessa virada: “A chegada delas ao poder muda muito (o ambiente). Elas têm um jeito diferente de enxergar o mundo. São mais comunicativas, mais holísticas, mais compreensivas, então acabam tendo um olhar di-ferente sobre o que é a gestão, o que é liderança”.

ALEXANDRE CALDINI NETO,

DO VALOR ECONÔMICO

“AS EMPRESAS VÃO PRECISAR SE REIVENTAR PARA PODER ATENDER A ESSA DEMANDA, QUE AINDA É MUITO DIFUSA”ALEXANDRE CALDINI NETO, CEO DO VALOR ECONÔMICO

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CULTURA

MARIO SCHWERINER, DA ESPM

MUITO SE FALA sobre a geração Y e o im-pacto de sua entrada no mercado de traba-lho, muitas vezes de forma negativa. Mas a ideia de uma empresa espiritualizada agrada muito a essa geração, mais ciosa dos prin-cípios na vida de trabalho, e corresponde aos seus interesses. “Essa geração mais nova procura não só um bom emprego, mas ela procura um emprego que tenha um pro-pósito ideal, que seja mais parecido com os ideais dela. Acho que as empresas já perce-beram isso em todos os escalões. Desde os mais operacionais até a alta gestão, as em-

presas que têm propostas mais bacanas do ponto de vista social são mais procuradas”, Brandão observa. Chegam a fim de traba-lhar, mas não apenas. Caldini identifica as aspirações dos jovens profissionais: “(Eles dizem) ‘Vou trabalhar, mas não sou que nem meu pai e meu avô, não quero me acabar aqui dentro’. ‘Como é que é o ambiente aí? É legal, é gostoso, tem uma prática bacana?’. É o cara que chega de bicicleta no trabalho. Esse cara tem uma outra visão e ele também está mudando a empresa”, diz o CEO do Valor. Em suma, uma empresa espiritualizada procura entender seu lu-gar na sociedade e se relacionar com ela de acordo com valores éticos e morais que ajudam a orientar sua atividade, e não limi-tam sua busca somente a números melhores a cada três meses. Para alcançar esse estado, é necessário olhar primeiro para den-tro: gestão, estrutura e funcionários, e depois entender melhor sua razão de ser frente à sociedade. No papel, tudo soa muito bonito, mas será que essa ideia é pos-sível num ambiente cada vez mais competitivo e que cobra por melhores resultados a todo instante? Schweriner acredita que sim. “Vários autores defendem que es-piritualidade e uma empresa com fins lucrativos são incompatí-veis. Eu acho que é possível para empresas cuja uma das linhas de sua missão seja colocar o não material como prioridade”, especi-fica. Cuginotti não tem dúvidas: “Uma empresa que tem essa ca-racterística toma decisões melhores, eu vejo isso muito claro”. E isso pode ser medido, avisa Caldini. “Quando você cruza o ran-king (das melhores empresas), vê as mais bem-pontuadas como melhores empresas em termos de gestão, rentabilidade e tudo mais, e compara com as melhores empresas para se trabalhar na rentabilidade das duas, as melhores empresas para se trabalhar são muito mais rentáveis”.

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NUMA ESCALA menor, a das relações interpessoais no dia a dia do trabalho também há grandes vantagens, conforme relata Cuginotti: “Eu estava num treinamento numa grande empresa e uma meni-na disse que a ferramenta que ela usou para tomar a melhor deci-são dela foi yoga. Ela disse que tomava decisão muito estabanada, aprendeu a estruturar dados, mas o que tinha ajudado mesmo era a yoga, porque ela dava uma respirada e os trinta segundos faziam toda a diferença para saber se respondia na hora ou depois, se estava correta ou não. Isso é cuidar das relações e de si mesmo.”É bom deixar claro também que a busca por uma espiritualidade corporativa não significa impor nenhum método específico ligado a alguma religião em particular. A religiosidade individual pode, aliás, ser uma vantagem, se usada em prol do grupo. Espírita, Cal-dini crê que sua fé seja mais uma aliada na condução dos negócios. Quando questionado em que momentos o espiritismo o ajuda a es-piritualizar sua gestão, respondeu: “Cem por cento a todo momento. Até para evitar um conflito de mim comigo mesmo, não dá para ser duas pessoas. Tento ter uma coerência, um fio condutor. Tento trazer um traço do espiritismo, dessa espiritualidade, dessa honesti-dade de princípios também para as relações comerciais”, afirma Cal-dini que acaba de lançar o livro A Morte na Visão do Espiritismo. Ele faz também um alerta sobre sua conduta. Afirma que está sempre “tomando cuidado para não fazer proselitismo”. Essa parece ser uma tendência irreversível, de alcance global. Ape-sar de a maioria das organizações ainda estar longe desse ideal, o ca-minho em direção à espiritualidade está sendo trilhado aos poucos e de maneira firme. “As pessoas estão entendendo mais as ferramen-tas do saber se relacionar melhor consigo mesmo, perceber-se ner-voso, com raiva. A gente sempre vai ter raiva, medo, somos assim. Mas perceber-se com medo ou raiva é uma exploração. Sem mística

“VÁRIOS AUTORES DEFENDEM QUE ESPIRITUALIDADE E UMA EMPRESA COM FINS LUCRATIVOS SÃO INCOMPATÍVEIS”MARIO SCHWERINER, LÍDER DA ÁREA DE HUMANIDADES E DIREITO DA ESPM

nenhuma, só no processo de autoconhe-cimento, de estar com o outro e receber dicas, ideia, feedbacks”, analisa Cuginotti. “O que falta? Ninguém sabe muito bem. É isso o que nós estamos tentando desenhar agora. As empresas vão precisar se reiven-tar para poder atender a essa demanda, que ainda é muito difusa”, diz Caldini.

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