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Espiritualidade - Um Ponto de Vista!
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ESPIRITUALI-
DADE:
UM PONTO
DE VISTA!
Espiritualidade: um ponto de vista!
Jean Bartoli
Revista da ESPM, Volume 14, Ano 13, edição 1 janeiro/fevereiro 2007,
p.146
A espiritualidade pode ser vista como algo a adquirir, mais um penduricalho
para que o executivo seja cada vez mais movido a desafio, agregue cada vez mais
valor, seja cada vez mais focado... etc! Quem quiser, acrescente mais um dos
chavões que costumamos enfileirar quando conduzimos workshops ou damos
aula para executivos sedentos de sucesso! Portanto, a espiritualidade seria mais
uma obrigação para atingir o nirvana do sucesso!
Nirvana do sucesso? Contradição porque o nirvana é o ponto de chegada
de um processo de esvaziamento e de despojamento! Quando falamos de
espiritualidade, falamos de espírito e a palavra latina spiritus tem como primeiro
significado “sopro” e como segundo “ar”. Falamos do dom essencial que nos
permite viver e cuja perda (o último suspiro!) significa morrer. Espiritualidade
significa uma reflexão sobre o que vale realmente (por isso está ligada aos
valores) para que possamos fazer jus ao dom da vida e lidar com a essencial
fragilidade da morte.
Figuras tão diferentes e tão parecidas, Buda e Francisco de Assis, têm algo
em comum: ricos, poderosos e alienados, não conseguiram ou não quiserem
abafar a inquietação fundamental acerca do sentido da própria existência. Isso os
levou não a um processo de acumulação de conhecimentos mas a um processo
de despojamento para o reencontro consigo mesmo na sua dimensão mais
essencial. Essa busca foi inicialmente solitária, autentica e silenciosa. O fruto foi a
irradiação de uma solidariedade com a natureza e com seus irmãos em
humanidade: acabaram atraindo discípulos!
O que isso pode significar hoje? Resgatar algo que existe na nossa
essência mas que, talvez foi perdido por falta de cuidado. Higino escreveu essa
“fábula do cuidado” no primeiro século de nossa era:
1
2
"Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro.
Logo teve uma idéia inspirada. Tomou um pouco de barro e começou a dar-
lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.
Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom
grado. Quando, porém Cuidado quis dar um nome à criatura que havia
moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome. Enquanto
Júpiter e o Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela
conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da
terra. Originou-se então uma discussão generalizada. De comum acordo
pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte
decisão que pareceu justa:
"Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este
espírito por ocasião da morte dessa criatura.
Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o
seu corpo quando essa criatura morrer.
Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura,
ficará sob seus cuidados enquanto ela viver.
E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome,
decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus,
que significa terra fértil".
Tem ainda algum significado?