18
ESQUIZOFRENIA TEÓRICA: OS EFEITOS DOS GOVERNOS DE FRENTE POPUPAR EM PARTE DA VANGUARDA COMUNISTA Menezes, Jean Paulo Pereira de. Doutorado em Ciências Sociais, UNESP Marília. RESUMO: neste texto procuro apresentar alguns dos trágicos efeitos da frágil formação política partidária da esquerda socialista diante do apoio aos governos de frente popular na América Latina (chavismo na Venezuela e lulismo no Brasil). Tal situação histórica possibilita o que chamo de esquizofrenia 1 teórica, dificultadora de uma caracterização sobre as “frentes populares”, levando parte da vanguarda socialista à capitulação diante de um programa revolucionário que algumas ainda postulam. Assim, esta parte da esquerda se constrói diante de uma variável que vai desde o discurso vazio à defesa de um capitalismo humanizado. Fato que me parece bem típico da herança da Segunda Internacional e da Terceira Internacional degenerada pelo stalinismo. A priori, como síntese destes elementos citados acima, elenco como características esquizofrênicas: 1)- incapacidade de caracterização diante do próprio Programa que se auto define como revolucionário; 2)- incapacidade de um debate sincero diante da vanguarda revolucionária marxista; 3)- incapacidade de assumir o papel que cabe a vanguarda da classe trabalhadora; 4)- incapacidade de avançar no diálogo de unidade de ação contra o capital; e, 5)- imaturidade diante da crítica sincera, “magoando-se”, na maior tradição da moral judaico-cristã com a inferência direta de seus críticos. Não tenho a pretensão aqui de constituir um artigo acadêmico, embora alguns recursos de exposição sejam utilizados. Produzir um texto com determinada acidez e como o caráter de classe requer do autor a preocupação de não se transformar em produtor de instrumentos para a classe 1 Embora muitos camaradas entendam que este tipo de expressão faça parte de uma tradição conservadora, ligando-se até mesmo a um pensamento neopositivista, ou mesmo higienista, não o utilizo aqui nesta perspectiva. A figuração da palavra esquizofrenia, aqui, é utilizada para fazer a crítica da própria ideia de estandarte que carrega parte da esquerda socialista, acreditando que são os verdadeiros caracterizadores da conjuntura, o que os levam a sustentar a participação e o apoio as frentes populares.

ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

ESQUIZOFRENIA TEÓRICA: OS EFEITOS DOS GOVERNOS DE FRENTE POPUPAR EM PARTE DA VANGUARDA COMUNISTA

Menezes, Jean Paulo Pereira de. Doutorado em Ciências Sociais, UNESP Marília.

RESUMO: neste texto procuro apresentar alguns dos trágicos efeitos da frágil formação política partidária da esquerda socialista diante do apoio aos governos de frente popular na América Latina (chavismo na Venezuela e lulismo no Brasil). Tal situação histórica possibilita o que chamo de esquizofrenia1 teórica, dificultadora de uma caracterização sobre as “frentes populares”, levando parte da vanguarda socialista à capitulação diante de um programa revolucionário que algumas ainda postulam. Assim, esta parte da esquerda se constrói diante de uma variável que vai desde o discurso vazio à defesa de um capitalismo humanizado. Fato que me parece bem típico da herança da Segunda Internacional e da Terceira Internacional degenerada pelo stalinismo. A priori, como síntese destes elementos citados acima, elenco como características esquizofrênicas: 1)- incapacidade de caracterização diante do próprio Programa que se auto define como revolucionário; 2)- incapacidade de um debate sincero diante da vanguarda revolucionária marxista; 3)- incapacidade de assumir o papel que cabe a vanguarda da classe trabalhadora; 4)- incapacidade de avançar no diálogo de unidade de ação contra o capital; e, 5)- imaturidade diante da crítica sincera, “magoando-se”, na maior tradição da moral judaico-cristã com a inferência direta de seus críticos. Não tenho a pretensão aqui de constituir um artigo acadêmico, embora alguns recursos de exposição sejam utilizados.

Produzir um texto com determinada acidez e como o caráter de classe

requer do autor a preocupação de não se transformar em produtor de

instrumentos para a classe oposta. Ao se escrever para parte da esquerda,

mesmo que o texto seja claramente direcionado a esta parte, este continua

sendo um texto. E como todo texto, está sujeito a perca de toda pretensão de

domínio sobre ele. E é nesta fatalidade que inicialmente reside uma das

preocupações do autor.

Não pretendo aqui alimentar os porcos, os vampiros e os lacaios. Mesmo

que isso ocorra, é da mais absoluta importância que se afirme: este texto não

1 Embora muitos camaradas entendam que este tipo de expressão faça parte de uma tradição conservadora, ligando-se até mesmo a um pensamento neopositivista, ou mesmo higienista, não o utilizo aqui nesta perspectiva. A figuração da palavra esquizofrenia, aqui, é utilizada para fazer a crítica da própria ideia de estandarte que carrega parte da esquerda socialista, acreditando que são os verdadeiros caracterizadores da conjuntura, o que os levam a sustentar a participação e o apoio as frentes populares.

Page 2: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

faz coro a qualquer pensamento da classe burguesa e de seus serviçais. Trata-

se de preocupações no âmbito da própria esquerda, fundantes para a

continuação da luta na “Pré-história” que ainda vivemos. E esta luta é toda luta

da classe trabalhadora contra a classe burguesa. Todavia, se o que se escreve

aqui for objeto instrumental dos lacaios da burguesia só estaremos constatando

o oportunismo que marca o papel vampiresco dos intelectuais da burguesia em

ação no cotidiano. Uma vez demarcado esta fatalidade, passo ao que mais nos

interessa.

Esquizofrenia é uma psicose que proporciona aos seus portadores a

capacidade de enxergarem coisas que os restantes não enxergam.

Precisamente, apenas o psicótico é capaz de ver o que não existe para os

outros, sobretudo porque esta visão é fruto da sua imaginação, da sua psicose.

É importante notar que o esquizofrênico não é necessariamente um retardado

mental e que esta situação não invalida, necessariamente, a vida. A grande

problemática que se coloca a este psicótico é a dificuldade, em muitos casos,

de conseguir distinguir, ao caracterizar o cotidiano, a realidade social e

“realidade” fruto da sua esquizofrenia.

Sobre a esquizofrenia, o que tudo indica, as ciências vêm cada vez mais

avançando na caracterização desta situação psicótica, o que proporciona aos

esquizofrênicos maiores perspectivas de entendimento sobre o seu

comportamento e mesmo uma fração de respeito social, distanciando o

esquizofrênico do preconceito ainda marcante na sociedade capitalista.

Colocado desta maneira, apresento aqui alguns apontamentos sobre a

esquizofrenia teoria de parte da vanguarda socialista que se reivindica

revolucionária e defensora de um programa partidário revolucionário.

Marcadamente, com uma figuração de linguagem, a partir de

semelhanças entre a esquizofrenia objeto de estudo das ciências e a

esquizofrenia teórica como objeto de crítica de outra parte da vanguarda

socialista que postulam a reconstrução da Quarta Internacional. Não

apresento aqui apontamentos desrespeitosos aos esquizofrênicos dos dois

tipos (reais e teóricos figurativos da esquerda), mas também não escrevo para

amaciar o que é duro ou mesmo acariciar o que é agressivo. Escrevo aos

camaradas de unidade contra o capital na mais direta e franca tradição crítica

fundada por Marx e Engels. Assim, se as palavras parecerem pesadas,

Page 3: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

acertadamente a serão, mas se parecerem desrespeitosas, e se de fato forem,

estou disposto a assumir sinceramente o erro das palavras. Mas apenas se

forem reais as acusações de desrespeito!

Parte da vanguarda de esquerda, há tempos, vem sendo atormentada por

uma espécie de esquizofrenia teórica que, na melhor das situações, fragiliza a

leitura do tempo presente diante da constituição do Programa Revolucionário.

Refiro-me, sobretudo, aos militantes dos PCs no interior da vanguarda de

esquerda. Nem mesmo o PCB foge esta situação esquizofrênica2. Vejamos o

que é publicizado em um dos seus meios de comunicação sob o título “O

legado de Chávez”:

“Comentários de intelectuais que atuam na Venezuela e dirigidos a todos aqueles que acompanham a Revolução Bolivariana da Venezuela e estão curiosos de saber o que acontecerá a esse país depois do imenso impacto emocional causado pela morte prematura (e ainda não bem esclarecida) do Comandante Hugo Rafael Chávez Frías, líder inconteste dessa original revolução que possui um caráter heterodoxo” (O Legado de Chávez, 2013).

Revolução original? Qual? Sinceramente, Marx quando se refere ao

conceito de Revolução, detidamente Revolução Social, não se refere a

reformas atreladas ao capital e ao imperialismo (não esqueçamos que Chávez

jamais rompeu o fornecimento de petróleo ao tão criticado EUA) e a

perseguições aos líderes sindicais. Inconteste? Esta sentença é bem típica de

um finalismo historicista que encontramos facilmente como elementos que

ajudam a compor o stalinismo. Heterodoxo, realmente, bem heterodoxa e isso

é um elemento firme da frente popular e exatamente uma característica que a

limita ao jogo do capital.

Em outro documento fica ainda mais nítido o posicionamento desta

organização (repito, com muitos camaradas comprometidos) em relação ao seu

apoio ao chavismo:

“O secretário-geral do PCB, Ivan Pinheiro, encontra-se em Caracas para as manifestações de despedida do povo venezuelano de seu presidente Hugo Chávez. Ao lado da militância do Partido Comunista da Venezuela (PCV), Ivan participa dos importantes atos públicos populares, que deixam

2 É certo que muitos militantes desta organização não sofrem desta psicose e que travam uma luta interna contra a esquizofrenia teórica nas suas fileiras. Entretanto não me deterei a escrever desta luta interna. Cabendo aos camaradas a manifestação de suas barricadas na fraternal crítica aos companheiros de organização.

Page 4: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

claro ao imperialismo e à oposição de extrema-direita daquele país que o legado de democratização e participação popular na vida política da Venezuela não serão facilmente esquecidos pelo povo. Com agenda no país vizinho até domingo, Ivan também representa o PCB em reuniões das forças progressistas e revolucionárias da Venezuela, externando nosso internacionalismo proletário e desejo de que a classe trabalhadora venezuelana prossiga com as conquistas até agora obtidas no período chavista e aprofunde seu processo revolucionário para a transição ao socialismo” (PCB presente à despedida de Chávez, 2013).

Embora o documento informativo do PCB3 faça alusão ao processo

revolucionário rumo à transição para o socialismo, ainda é muito vaga a ideia

de socialismo na plataforma de frente popular do chavismo. Sem serrar os

olhos à luta dos trabalhadores venezuelanos neste momento histórico e de

toda a sua busca de organização para avanços revolucionários, reafirmo que

sem Programa Revolucionário não é possível avançar à revolução social. E é

evidente aqui que não penso no Programa apenas como um formal documento,

mas sim em objetivações pré-ideadas a partir do mundo real e inicialmente

caótico como apreende parte dos camaradas comunistas.

Esse comportamento psicótico pode ser plenamente identificado em

relação às frentes populares. O apoio aos governos de frente popular é

apenas o fenômeno do que pretendo aqui escrever: o problema da

esquizofrenia teórica no interior da esquerda comunista, com efeito, a parte

estalinista desta esquerda4.

Sem a pretensão de apresentar uma caracterização única do que é uma

frente popular e o governo de frente popular, é, assim mesmo, necessário

apontar algumas características desta composição que conspira contra a

classe trabalhadora e que arrasta parte da esquerda para o seu universo

3 Evidentemente a totalidade dos documentos do PCB apresentam muito mais do que apresento aqui. Noto desta forma para não ser desleal na crítica fraterna, embora ácida.4 Estas preocupações apontadas neste texto também são extensivas, gritantemente, a uma fração trotskista que se apresentam mais como seitas idiotizantes da Quarta Internacional. Estes se apresentam como os únicos revolucionários, os donos da IV-Internacional, a vanguarda da vanguarda, os mais puros representantes da Oposição de Esquerda. Evidentemente não passam de esquerdistas da pior espécie, pois colaboram mais para a classe burguesa do que para a construção da unidade de ação contra o capital. Estes “trotskistas” mais expressam o comportamento da classe média que se lambuza brincando de revolucionários, distantes da classe trabalhadora. Estes estão mais vinculados as “baladinhas” do que as responsabilidades de um militante. Ou seja, a crítica que aponto aqui é plenamente extensiva à parte dos trotskistas também, pois não estão imunes a este comportamento psicótico marcante em parte da vanguarda socialista. Em outro momento me deterei a essa fração que reivindicam o trotskismo em nosso tempo presente.

Page 5: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

dissipador da realidade da classe trabalhadora como o faz o vento com a

neblina pantanosa que afoga o ser humano na mais clara visão daquilo que

não existe: a segurança, a claridade e a beleza que não há na maioria dos

pântanos.

A frente popular não é uma manifestação inédita, também não é um

fenômeno homogênio que se possa tratar indiscriminadamente. Isso não

impossibilita tratar de suas linhas gerais, compartilhadas em suas mais

diversas manifestações, desde 1936 na França e Espanha até 2013 no Brasil e

Venezuela (para ficarmos apenas com um breve recorte temporal, por motivos

óbvios de um artigo).

León Trotsky, já se manifestava em relação à frente popular na Espanha

em seu texto “Menchevismo e Bolchevismo na Espanha” de 1936:

Seria, no entanto, ingenuidade pensar que, na base da política do Comintern) na Espanha estivessem alguns "erros" teóricos. O stalinismo não se guia pela teoria marxista, nem por qualquer teoria que seja, mas, empiricamente, pelos interesses da burocracia soviética. Entre eles mesmos, os cínicos de Moscou riem-se da "filosofia" da Frente Popular à la Dimitrov. Eles têm, porém, à sua disposição, para enganar as massas, numerosos quadros de propagandistas desta fórmula sagrada, sinceros ou canalhas, ingênuos ou charlatães. Louis Fischer, com sua ignorância e auto-suficiência, seu estado de espírito de argumentador provinciano organicamente surdo para a revolução, é o representante mais repugnante desta confraria pouco atraente. A "união das forças progressistas", o "triunfo das idéias da Frente Popular", o "dano causado pelos trotskistas à unidade das fileiras antifascistas"... Quem acreditaria que o Manifesto Comunista foi escrito há 90 anos? (TROTSKY, 1936).

O texto, além de apontar enfaticamente a existência da problemática da

burocracia stalinista (ainda hoje marcante no interior de parte da esquerda),

evidencia a crítica de León em relação e esse fenômeno que nos ocupamos.

Trotsky também coloca aqui uma questão importante que é a estética da crítica

sincera no interior da esquerda mundial, sem poupar palavras que poderiam

incomodar ouvidos selados pela esquizofrenia teórica.

Sobre esse recurso da frente popular, a Liga Internacional dos

Trabalhadores, em seu VIII Congresso Mundial de 2005, apresenta a seguinte

consideração:

Page 6: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

“Nas teses sobre América Latina dizemos que ‘a combinação de pelo menos quatro fatores: o atual caráter da crise econômica, a debilidade e crise dos regimes, o Ascenso do movimento de massas e a crise de direção, fortalece a tendência a construir projetos de colaboração de classes’. Hoje isso já não é apenas uma tendência: os governos de Frente Popular são uma realidade da América Latina” (Marxismo Vivo, 2005: 19).

Esta caracterização se mostrou acertada e poderia reafirmar com

segurança neste presente imediato ao observar a conjuntura política no Brasil

com o Lulismo, na Venezuela com o Chavismo e há pouco no Paraguay com o

Luguismo (que não deixou de existir com a queda de Fernando Lugo). Nestes

países parte da esquerda colaboraram com a composição de frente popular,

apoiando e se engajando nas campanhas eleitorais e no cotidiano de luta

deformada e contraditória a um programa revolucionário internacional

proletário.

Uma vez constituído estes governos de frente popular, todo o discurso

anti-imperialista se desmorona ao passo que a colaboração de classe envolve

a classe burguesa em toda “governabilidade”, comprovando como é vazia toda

crítica que possam apresentar fenomenicamente à classe trabalhadora. Logo

ao poder do Estado o governo de Frente trata de se mostrar para o que veio:

conciliação de classes, mediação covarde diante dos movimentos sociais e

sindicais, buscando conter qualquer avanço de organizações partidárias

revolucionárias.

À parte da esquerda utilizada como cabo eleitoral no processo eleitoral,

destina-se algumas migalhas atreladas a tal governabilidade no Estado.

Quando não, destina-se apenas o discurso de aliados e promessas de

reformas, distante de um caráter classista, internacional e revolucionário,

embora insistam em continuar defendendo esses pontos de luta. O que vemos,

facilmente, é a criação de uma caricatura de parte da esquerda comprometida

até o pescoço com os interesses da classe dominante, se fazendo donas da

capacidade de confusão de parte da vanguarda e da classe trabalhadora. O

que em última instância pode sem sombra de dúvidas ser caracterizado como

traição a um programa revolucionário, sobretudo se se trata de parte da

esquerda que se reivindica internacionalista.

Page 7: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

Presos a um programa burguês, taticamente desenhado pela burguesia

internacional, terminam por colaborar para a reprodução do capital e para o

retardamento da organização da classe trabalhadora rumo à estratégia

revolucionária. Assim, a parte da vanguarda de esquerda passa a sustentar

que “nosso governo” é o menos pior; que o “nosso governo” é o que é possível

neste momento da história; que o “nosso governo” é um governo dos

trabalhadores; que a frente popular deu vida ao “nosso governo”!

Por Marx! O que isso significa? Não tenho a resposta única. Entretanto

tenho uma resposta (há que se dar a devida atenção ao artigo indefinido aqui)

para esses fenômenos no interior da esquerda. Esta situação coloca muitos

militantes em posicionamentos brutalmente equivocados com caracterizações

que só existem para eles mesmos e suas organizações reformadas. E as

manifestações dessa esquizofrenia teorica criam, mesmo que não sejam

eternas, uma série de incapacidades em parte da esquerda, acirrando a crise

de suas organizações, e, principalmente, provocando grave confusão na classe

trabalhadora. Como León Trotsky ainda coloca no texto já citado:

Estas verdades não são, de modo algum, o fruto de uma análise puramente teórica. Ao contrário, elas representam a conclusão irrefutável de toda a experiência histórica, ao menos a partir de 1848. A história moderna das sociedades burguesas está repleta de frentes populares de todos os tipos, quer dizer, combinações políticas as mais diversas para enganar os trabalhadores. A experiência espanhola é um novo elo trágico (TROTSKY, 1936).

Estas incapacidades5 não devem ser entendidas como eternas, mas

podem durar toda uma vida e a vida dos trabalhadores não está hipotecada

pelo reino dos céus, o que nos coloca a tarefa da crítica sincera aos

esquizofrênicos de nosso presente imediato. Passo assim para o

desenvolvimento dos pontos elencados no resumo deste texto:

1)- Incapacidade de caracterização diante do próprio Programa que

se auto define como revolucionário. Se determinada organização postula um

programa internacionalista da classe trabalhadora, como pode ser possível a

conciliação de classes? Resposta direta: não pode. Ao postularem este

posicionamento se auto-declaram como traidores do movimento

5 Incapacidades no sentido de não conseguir, de ser insuficiente, de não ser capaz e de não ter competência de distinguir para além do fenômeno.

Page 8: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

internacionalista, restando o desespero para sustentar suas falácias com

discursos fortemente contraditórios aos interesses da classe explorada pelo

capital. Exemplo claro (e objetivo) disso é o degenerado PC do B, que a há

tempos deixou de se preocupar com um Programa Revolucionário, mesmo que

vomite em suas propagandas (bem timidamente) algo sobre um socialismo

democrático que mais expressa o liberalismo econômico ao lado de uma noção

de democracia amplamente defendido pela burguesia mais reacionária e

charlatã que a história pode nos servir. Como podemos ler:

“O PCdoB quer um Brasil socialista, um país verdadeiramente democrático e soberano. A conquista deste objetivo estratégico passa pela vitória da linha política aprovada na sua 9ª Conferência Nacional: atuar pelo êxito do governo Lula na realização das mudanças.Desde a posse de Lula, novas forças políticas e sociais estão à frente do governo da República brasileira. A partir de então elas têm diante de si um difícil desafio: o de governar um grande país diante da insurgência do grande capital nesses últimos anos. O novo governo tem a tarefa de superar seus limites para que seja possível a realização do projeto de mudanças com crescimento da economia, a afirmação da soberania nacional, valorização do trabalho e distribuição de renda, abrindo assim caminho para a construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento superando as limitações do governo Lula” (Quem é e o que quer o Partido Comunista do Brasil ,2013).

E ainda:

“Tendo sido uma dos construtores da histórica vitória, os comunistas decidiram apoiar e participar do governo Lula e integram a sua base de sustentação política. Julgam que têm a responsabilidade de contribuir para que o governo resgate os compromissos que assumiu com a nação. Esta é a primeira vez que participam diretamente no ministério do governo federal e exercem a liderança da bancada do governo na Câmara dos Deputados” (Ibidem).

A integração à frente popular, inevitavelmente, não corresponde a

unidade de ação na luta pela construção revolucionária junto a classe

trabalhadora, pelo contrário, representa a capitulação brutal de organizações

que possuem inserção na classe trabalhadora, instrumentalizando suas ações

no sentido de convergir com os interesses da classe burguesa no interior do

Estado gerenciador do capital em benefício da classe dominante. Jamais

Page 9: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

atendendo os interesses da classe trabalhadora, internacionalmente explorada

e ideologizada por seus cretinos esquizofrênicos que se empenham

verdadeiramente em disseminar o estado psicótico que vivem (muito bem

financiados pelo capital), buscam se sustentar freneticamente junto aos

trabalhadores com propagandas vazias e falsas como se pode ver em cadeia

nacional da data de 28.03. 2013.

2)- Incapacidade de um debate sincero diante da vanguarda

revolucionária marxista. O esquizofrênico não pode participar de forma

sincera do debate em relação à construção da direção revolucionária, pois isto

lhe custaria assumir o papel de capituladores o que custaria o afastamento de

parte da vanguarda da classe trabalhadora que ainda acredita nas visões do

psicótico teórico. Assim, preferem se refugiar nas baias do estado que lhe

financia para não fazerem nada do que o “patrão” não deseje. Não há

possibilidade do debate sincero pelo fato de já não existir sinceridade no

comportamento desta parte da esquerda. Não há um posicionamento entre

camaradas divergentes, mas sim de cretinos traidores de classe e resistentes

anti-internacionalistas. Nesta situação o que mais repudiam é o debate, pois

suas ideologias não se sustentariam a crítica revolucionária, por isso preferem

a caricaturarização a distância da crítica sincera. Preferem os jantares com a

burguesia, a aristocracia rural e o capital financeiro, pois se sentem mais a

vontade entre os seus verdadeiros parceiros de classe. Aterrorizam-se quando

se deparam com a crítica anti-esquizofrênica, pois isso se limitam a construção

de tautologias para os seus.

3)- Incapacidade de assumir o papel que cabe a vanguarda da classe

trabalhadora. Tomaram um posicionamento de classe que os impedem de

levar a cabo o projeto revolucionário, pois seu papel de condutor não é rumo à

revolução e sim a reforma, mesmo quando não se há reformas6. Não podem

conduzir a lugar algum que não seja as contas bancárias do capital financeiro,

ao crédito que cada vez mais aliena a classe trabalhadora. O único papel que

assumem é o de charlatões, de gigolôs a serviço do capital. Provocando a mais

violenta confusão entre os militantes que ainda possam se encontrar nestas

fileiras nefastas da frente popular. Por mais que sapateiem, seus dias não

6 Uma leitura que colabora com esta questão é o livro publicado pela Editora do Instituto José Luis e Rosa Sundermann em 2011: “Um reformismo quase sem reformas, uma crítica marxista do governo Lula em defesa da revolução brasileira” de Valério Arcary.

Page 10: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

serão eternos, pois a prova da história (assim como todo comportamento

stalinista) o movimento se apresenta preso a múltiplas possibilidades, e, entre

elas, o seu próprio desmascaramento.

4)- Incapacidade de avançar no diálogo de unidade de ação contra o

capital. Os frentistas populescos não são capazes desta tarefa, mais uma vez,

pelo simples fato de esta não ser sua estratégia. Convergem com a classe

burguesa, negam a abolição da propriedade privada, o internacionalismo

proletário. Defendem a democracia burguesa, não a operária, seu método de

ação é o burocratismo, não o centralismo democrático. Defraudam a melhor

tradição marxista ao demolirem os princípios do materialismo histórico e

dialético. Filiam-se a pior tradição socialista, aos capituladores da Segunda

Internacional e aos burocratas degenerados da Terceira Internacional

stalinizada. O capital não é o seu problema, pois seu maior problema são os

meios para sustentarem seus discursos para continuarem galgando o apoio da

classe trabalhadora para os seus patrões: a burguesia. E neste intento, os

quartistas sempre serão um empecilho que dever ser ignorado, caricaturizado,

tratorado em nome da coalizão conciliadora e sua participação nas migalhas do

Estado.

5) Imaturidade diante da crítica sincera, “magoando-se”, na maior

tradição da moral judaico-cristã com a inferência direta de seus críticos.

Este pondo se direciona, assim como os demais, a organizações que no seu

seio ainda se encontram militantes que devem ser entendidos como

camaradas, sinceros, militantes sérios, comprometidos com o internacionalismo

proletário, entretanto, confusos e contraditórios por conta da mais absoluta

crise de suas direções. Muitos camaradas fazem a defesa mais ingênua

possível da frente de popular, pois também não estão isentos da psicose

disseminada por suas organizações. Com toda sinceridade, este camarada não

foge a regra da esquizofrenia aqui anunciada rapidamente. A crise de direção

revolucionária e a falência da formação política no interior de suas

organizações acabam por gerar em suas fileiras o mais deplorável militante: é

aquele que, ironicamente, não milita. Uma característica forte em boa parte da

esquerda de nosso presente imediato. Este “militante”, normalmente é muito

bem intencionado, mas absolutamente perdido no meio da perdição. Não

poderia ser diferente. Aqui a esquizofrenia teoria se faz gritar para todo mundo

Page 11: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

ouvir, pois não sabem o que de fato é uma frente popular, limitam-se ao

significado mais imediato das palavras e da reprodução da mentalidade

pequeno-burguesa. Entendendo que a frente popular se trata da união do povo,

das massas, todos juntos rumo a um mundo melhor, mais justo, mais honesto,

mais humano e mais feliz. Nada mais revelador da brutal destruição que essas

organizações conseguem provocar em parte da vanguarda e dos simpatizantes

de um Programa que realmente seja Revolucionário.

Tratando-se desse último psicótico é memorável algumas situações em

que se apresentam como militantes, como internacionalistas, postuladores do

fim da propriedade privada e das classes, entretanto, quando questionados

acerca do chavismo, do lunismo, do evomoralismo, do luguismo (...) quase

vomitam o pâncreas. Apavoram-se e se refugiam no mais absorto

comportamento judaico cristão, despido de qualquer crítica a este

comportamento moral que todos nós somos criados (ao menos nos últimos

milênios). Ficam tristes ao receberem a crítica sincera como nos ensina Marx e

Engels, apelando até mesmo por ficarem de “mal” o que revela a mais absoluta

falta de formação teórica para compreender o papel da crítica entre os

revolucionários bolcheviques.

Essa imaturidade esquizofrênica não pode nos distanciar destes últimos

esquizofrênicos que fiz referência, pois este é a expressão mais fenomênica da

capitulação das organizações pelegas que insistem em falar em nome da

classe trabalhadora, negligentes na formação política de seus militantes e que

morrem na praia do idealismo. Estes camaradas esquizofrenizados

teoricamente presos ao mais vulgar idealismo apresentam-se como parte da

síntese de nossas tarefas como bolcheviques: desenvolver a crítica em todas

as instâncias como constitutiva da luta prática concreta no tempo presente e

não apenas como uma manifestação de diletantismo intelectualizante junto a

esta parte da vanguarda equivocada.

Espero, até aqui, ter incomodado os capituladores conciliadores de

classes e não ter desrespeitado os camaradas confundidos por suas

organizações já degeneradas ou em estado de decadência e plena confusão

organizativa. Que seja contínuo o debate sincero entre os camaradas e que se

apresente a crítica da crítica, também sem se esconder nas baias da

burocracia e da meritocracia acadêmica. Com a palavra: os frentistas.

Page 12: ESQUISOFRENIA TEÓRICA - chavismo e lulismo

Referências citadas no texto:

ARCARY, VALÉRIO. Um reformismo quase sem reformas: uma crítica marxista do governo Lula em defesa da revolução brasileira. Editora Sundermann – São Paulo-SP, 2011.

MARXISMO VIVO. Leste Europeu: Restauração e Revolução. Revista de Teoria e Política Internacional. N. 12 – Ano 2005.

O LEGADO DE CHAVEZ. PCB. Disponível em: <http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=5698:o-legado-de-chavez&catid=54:venezuela>. Acesso em: 28.03.13.

QUEM É O QUE QUER O PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (Parte 1). PC do B. Disponível em: <http://www.pcdob.org.br/texto.php?id_texto_fixo=4&id_secao=145>. Acesso em : 28.03.2013.

TROTSKY, LEÓN. Menchevismo e Bolchevismo na Espanha. Disponível em: < http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1936/mes/espanha.htm>. Acesso em: 28.03.2013.