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8/6/2019 Estadio Do Espelho LucasCastro
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Estdio do Espelho: Uma breve pesquisa econsideraes
Lucas de Castro Horta Parisi
Faculdade de Cincias Humanas, Psicologia - FUMEC
Resumo
O presente artigo tem como objetivo apresentar de maneira breve oescrito de Jacques-Marie mile Lacan, que em 1931 iniciou o conceito deestdio de espelho a partir das experienicias de Henry Walon. Tal conceito tem
como funo observar e caracterizar a diferenciao que a criana faz de seucorpo e a imagem que projeta no espelho. Dessa maneira o estdio do espelhoser necessrio para afirmar a importancia da imagem desse prprio corpo naformao do eu, mas ao mesmo tempo fomentando um certo desconhecimentoe uma alienao deste prprio eu (Je).
Veremos ento que esse estdio, novo para o sujeito que experimenta,ser significante nesse processo de diferenciao do eu e do outro, o simblicoe o real.
O corpo do estdio do espelho ter tambm uma significantediferenciao do corpo Psicanalitico e do corpo Biolgico, fazendo-senecessrio ento, recorrer a outros constructos cientificos.
______________________________________________________
corpo e o eu em toda obra de Lacan, tem sua problemtica
revelada desde quando iniciou sua entrada na psicanalise. Sim,
preciso dizer entrada, por considerar que Lacan teve primeiro como formao
a Medicina, passando pela neurologia, psiquiatria, onde seu primeiro contato
com a psicanalise foi em funo do surrealismo, movimento artstico, com forte
influncia das teorias psicanaliticas de Sigmund Freud e que tem tambm
como caracteristica o papel do inconsciente na atividade criativa.
Ainda, sobre o corpo, este corpo no biologico, mas o corpo marcado
pelo significante e habitado pelo libido, corpo ergeno e singular. Corpo de
desejo e portanto, de gozo (...) (CUKIERT e PRISZKULNIK, 2007)
Iniciado na filosofia hegeliana, Lacan a partir de 1933 comea a
interrogar-se sobre a genese do eu, por intermdio de uma reflexo filosfica
concernente a conscincia de si (ROUDINESCO e PLON, 1998, p. 194). apartir ento desta anlise e dessa interrogao do princpio do eu, que surge a
O
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noo de estdio do espelho, conceito este que marca significativamente a
entrada de Lacan na psicanalise.
Com este conceito ento, sobre o qual tem-se a perspectiva de que o
eu se constri primeiramente a partir do outro, em especial a partir da imagem
que lhe devolvido pelo semelhante, Lacan marca o desconhecimento e a
alienao como constitutivo do eu. (CUKIERT e PRISZKULNIK, 2007).
Elaborado, portanto este conceito preciso ento firmar quais foram os
outros conceitos principais que Lacan utilizou para chegar concluso de que
o estdio do espelho era importante na constituio deste eu e o que isso afinal
significa.
Estdio do Espelho: Relaes com Henri Wallon
Henri Wallon, nascido em 13 de Junho de 1879, em Paris, passou pela
medicina e tambm pela filosofia antes de chegar na Psicologia. Um intelectual
de renome foi tambm convidado a participar como mdico do exrcito francs
em 1914, o que lhe possibilitou estudar leses cerebrais em ex-combatentes e
tambm o permitiu ficar at 1931 trabalhando como mdico de instituies
psiquitricas.
Com vasta dedicao pesquisa do desenvolvimento cognitivo da
criana, Wallon at 1937 trabalhou na organizao de conferncias sobre a
psicologia da criana em Sorbonne e outras, o que neste meio tempo, mais
precisamente em 1925 v-se estimulado a fundar um laboratrio de
Psicobiologia destinado pesquisa e ao atendimento de crianas com diversas
debilidades motoras e cerebrais. Lacan ento desenvolve uma das mais
relevantes contribuies no campo da psicologia da criana, relaciona omovimento ao afeto, emoo, ao meio ambiente e tambm aos hbitos da
criana e conclui que o desenvolvimento da personalidade em sua totalidade
no isolado das emoes. (LIMA, 2008)
Wallon, em 1934 publica sua obra mais importante, para o que mais
tarde viria a ser o Estdio do Espelho, o livro As Origens do Carter,
no qual j se encontram desenvolvidas as suas
principais teses sobre o desenvolvimento do eu e o
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papel da emoo e do movimento nesse
desenvolvimento. (...)
ali, que Wallon ir descrever o que vem a ser o
estdio do espelho, momento do desenvolvimento
infantil, por volta dos trs anos, em que a criana
constri uma imagem externa, um esquema
corporal de si. O eu no um dado original ou
inicial na psicologia humana. (SILVA, 2007)
Antes, em 1931, Wallon concebe a capacidade do ser humano de
observar-se diante do espelho e tomar a conscincia de si, e ele ento d o
nome de prova do espelho a uma experincia pela qual a criana, colocada
diante de um espelho, passa progressivamente a distinguir seu prprio corpoda imagem refletida. (FONTANARI, 2007)
Imaginrio, Simblico e Real
Na estrutura terica do Estdio do Espelho, precisamos conhecer antes
de forma breve, trs estruturas psquicas da obra lacaniana.
Cunhada e elaborada entre 1936 a 1953, o Imaginrio, ou a maneira de
pensar o corpo a partir do Imaginrio implica em considerar os primeiros
momentos da teoria lacaniana e a forma como a imagem do corpo prprio, a
partir do outro marca a constituio do subjetivo e a imagem assumida pelo
sujeito (CUKIERT e PRISZKULNIK, 2007)
J a segunda parte da obra, escrita entre 1953 a 1976, tem revelado o
corpo Simblico, que diz respeito ao corpo marcado pelo simblico, no qual as
diversas partes podem servir de significantes, isto , ir alm de sua funo no
corpo vivo. (CUKIERT e PRISZKULNIK, 2007). Vale ir um pouco mais alm e
tratar de um tema que voltaremos mais em breve numa descrio mais
complexa, sobre a origem da constituio do eu em Lacan quando, numa
perspectiva waloniana, a prova do espelho especificava a passagem do
especular para o imaginrio e em seguida, do imaginrio para o simblico.
(ROUDINESCO e PLON, 1998). Essa transformao se d num processo dual
entre criana e espelho, mais propriamente dito entre o eu e o outro, o que
revela extrema importncia no estdio do espelho por ento revelar as
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diferenas no mundo humano, ou mais precisamente a diferenciao do que se
imagina e finalmente do que real.
A terceira parte, de 1976 a 1980, demarcaria a entrada no Real e a
interrelao desses trs registros. (CESAROTTO e LEITE, 1993)
preciso compreender estas trs fases da obra lacaniana, firmando a
constituio do psiquismo humano, como uma estrutura, de maneira a
compreender cada um passando pela reviso dos outros demais. Por assim
pensar ao ler e compreender a obra de Lacan, em sua psicanlise, o corpo
pode ser pensado a partir de sua concepo dos trs registros fundamentais.
Nessa perspectiva, ele pode ser estudado por meio de trs pontos de vista
complementares: do ponto de vista do Imaginrio, o corpo como Imagem, do
ponto de vista Simblico, o corpo marcado pelo significante, e do ponto de vista
do Real, o corpo como sinnimo do gozo. (CUKIERT e PRISZKULNIK, 2007)
Je: o Estdio do Espelho e sua formao afinal
...o filhote do homem, numa idade em que, por um curto espao de
tempo, mas ainda assim por algum tempo, superado em inteligncia
instrumental pelos chimpanzs, j reconhece no obstante como tal suaimagem no espelho. (LACAN, 1949)
definitivamente no Estdio do Espelho, segundo Lacan onde o sujeito
(Je, eu) afinal se constitui, e que portanto uma nova dimenso, a dimenso
daquilo que sou se difere da dimenso daquilo que dizem que sou. Numa
importante obra, ascendendo-se ao seu sujeito (eu), que o pequeno beb aos
18 meses de idade v-se diante do espelho e a fim de superar-se, ou seja, a
fim de querer ser o que realmente , diferencia-se ento dos demais animais epondo-se de p, ainda sem ter o controle da marcha ou sequer da postura
ereta, mas totalmente estreitado por algum suporte humano ou artificial (...),
supera, numa azfama jubilatria, os entraves desse apoio, para sustentar sua
postura numa posio mais ou menos inclinada e resgatar, para fix-lo, um
aspecto instantneo da imagem. (LACAN, 1949)
Essa experincia soberana de uma Gestalt humana, ou seja, de uma
constituio integral de um sujeito (eu), antes desconhecido, que agora se
revela como conhecido ento tomada pela criana que experimenta este
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momento. A falta, aqui dizendo como a falta de uma completude coordenada
pela naturalidade do organismo humano, o corpo igual como tal apresentado
no espelho, da imago, que estabelecer uma relao do organismo com sua
realidade ou, como se costuma dizer, do Innenweltcom o Unwelt. (LACAN,
1949)
Com esse desenvolvimento, da perda seguida pelo ganho, a perda
daquele corpo despedaado para agora um corpo unificado frente
experincia de observao do outro, constitui a formao do indivduo integral,
o que no estdio do espelho revela como disse Lacan, um salto da insuficincia
para a antecipao, o que fabrica para o sujeito apanhado no engodo da
identificao espacial, as fantasias que se sucedem desde uma imagem
despedaada do corpo at uma forma de sua totalidade que chamaremos de
ortopdica e para a armadura enfim assumida de uma identidade alienante,
que marcar com sua estrutura rgida todo o seu desenvolvimento mental.
(LACAN, 1949)
Nesse jogo de disperso de suas partes para a unidade das mesmas, o
beb encontrado por uma angustia imediata, devido este
despedaamento e ento a fantasia de um corpo dividido. No primeiro
momento do estdio do espelho, a criana percebe o reflexo no espelho como
se fosse um ser real; essa imagem imaginada como sendo de outro. Numa
segunda fase, a criana percebe que o outro do espelho no um ser real, no
passa de uma imagem. E a terceira fase a criana sabe que o refletido uma
imagem dela prpria. Lacan tambm entende o espelho como uma metfora do
vinculo entre a me e o filho, progredindo desde a dimenso visual e imaginria
at a dimenso simblica, com a aquisio da linguagem verbal. (SANTOS et
al, 2007 apaud ZIMMERMAN, 1999)Pode-se ento considerar a importncia, por exemplo, do perodo de
amamentao. O encontro da me com a criana num insight de extremo
significado em que se contempla a beleza da afetividade, o beb pe-se diante
de um novo espelho, agora, o olhar da me. nesse momento que a criana
reconhece sua prpria imagem a partir da imagem do Outro diante do espelho,
ilustrando o aspecto conflituoso da relao dual. Quando a criana se
reconhece no espelho, ela tem uma representao do seu corpo diferente dapercepo que tinha antes da vinda de suas sensaes internas, e se volta
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para sua me pra lhe pedir confirmao do que se passa. O reconhecimento da
me , ento essencial para a criana perceber seu corpo. (SANTOS et al,
2007 apaud QUEIROZ, 2005)
Finalizando os escritos aqui apresentados sobre o estdio do espelho e
tambm procurando contemplar o ultimo estgio deste estdio, Crespin (2004),
sinaliza como importante considerar esse olhar, no como viso, mas a
questo a que se refere a da representao. Assim, a representao permite
ao beb se construir, enquanto que a ausncia de representao torna-se um
verdadeiro impasse, pois tudo transcorre como se o beb fosse confrontado
com um olhar que no o v, e por isso a identificao que cristaliza o eu no
possvel.
Temos ento a importncia do estdio do espelho para a formao do
psiquismo humano, para a passagem do (eu) especular para o (eu) social.
(SANTOS et al, 2007)
Fontanari, 2007, finalmente conclui:
A composio da propriocepo do corpo em
contraste com a imagem - imaginrio - a partir da
visualidade - espelhamento - com a impossibilidade
de ordenamento da motricidade e do
desordenamento da propriocepo inicia a
representao do sujeito no espao que ser
investida depois compondo o self - a representao
do corpo e do si-mesmo no ego.
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Referncias Bibliogrficas:
CUKIERT, Michele e PRISZKULNIK, Lia. Consideraes sobre eu e o corpo em Lacan. In
Estudos de Psicologia, 143-149. So Paulo, USP, 2002.
ROUDINESCO, E. & PLON, M. (1998). Dicionrio de Psicanlise Rio de Janeiro: Jorge Zahar.SILVA, D. L. Do gesto ao smbolo: a teoria de Henri Wallon sobre a formao simblica. In
Educar, Curitiba, n. 30, p. 145-163, 2007. Editora UFPR
FONTANARI, Juliano. Lhermitte, Clrambault, Capgras, Frgoli... E Lacan: Ensaio sobre a
histria da gnese da idia do Estdio do Espelho. In: Nature or Nurture: Sobre
os fundamentos da neuropsiquiatria do self: Neuropsicanlise. Porto Alegre,
2002.
Leite, M. P. de S. O lugar do corpo no tratamento analtico: Lacan e o esquema tico.
Trabalho apresentado no Seminrio Psicanlise e Linguagem. So Paulo: Pontifcia
Universidade Catlica. 1999
LACAN, Jacques. Escritos. So Paulo: Jorge Zahar, 1998. 937 p. (Campo freudiano no brasil)