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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE/SC DIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA GERÊNCIA DE ATENÇÃO BÁSICA DIVISÃO DE POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL Relatório Avaliação Centros de Atenção Psicossocial – CAPS Elaboração: Coordenação Estadual Saúde Mental Elisia Puel – Assistente Social - coordenadora Maria Cecília R. Heckrath - Enfermeira Maria Cristina Riesinger - Psiquiatra

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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE/SC DIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA GERÊNCIA DE ATENÇÃO BÁSICA

DIVISÃO DE POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL

Relatório

Avaliação Centros de Atenção Psicossocial – CAPS

Elaboração: Coordenação Estadual Saúde Mental

Elisia Puel – Assistente Social - coordenadoraMaria Cecília R. Heckrath - Enfermeira

Maria Cristina Riesinger - Psiquiatra

Florianópolis, dezembro/2006

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1 – IntroduçãoNo Brasil, a atenção à saúde mental passa por importantes transformações

conceituais e operacionais, reorientando o modelo historicamente centrado na

referência hospitalar para um novo modelo de atenção descentralizado e de base

comunitária.

Surge assim, no cenário brasileiro, no final da década de 80, dois modelos

assistenciais que hoje, se encontram incorporados como política pública de saúde

mental de referência para todo o país: saúde mental na atenção básica e Centro de

Atenção Psicossocial (CAPS). Ambos se inscrevem em um contexto que pretende

desenvolver novas tecnologias em saúde mental que respeitem o usuário no seu

direito de cidadania e que se diferencie do modelo manicomial excludente dominante.

Neste sentido, a política de saúde mental está sendo implementada a partir de uma

agenda comprometida com a promoção, prevenção e tratamento, na perspectiva da

integração social e na produção de autonomia das pessoas.

Na atual política de saúde mental do Ministério da Saúde, os CAPS, são

dispositivos estratégicos para a organização da rede de atenção em saúde mental.

Como tais, devem ser territorializados, ou seja, devem ser circunscritos no espaço de

convívio social (família, escola, trabalho, igreja, etc.) daqueles usuários que os

freqüentam. Além disso, devem ser um serviço que resgate as potencialidades dos

recursos comunitários à sua volta, pois estes devem participar da rede de cuidados em

saúde mental. Os CAPS foram pensados como agentes de inclusão social,

mobilizadores de forças sociais de inclusão e reabilitação psicossocial, inclusive pelo

trabalho, através de oficinas de geração de renda.

O objetivo dos CAPS é, portanto, oferecer, uma outra opção à população de sua

área de abrangência; um espaço terapêutico, onde novos laços sociais – familiares e

comunitários, subjetividades e relações sejam construídos e exercitados através de

múltiplos recursos de cuidado psicossocial: atendimento clínico, psicoterapia,

atividades coletivas como grupos terapêuticos, oficinas de terapia ocupacional, atelier

de artes, atividades na comunidade, etc.

A legislação que trata do funcionamento dos CAPS – Portarias GM nº 336/2002 e

189/2002 definem que esses serviços devem se responsabilizar pela organização da

demanda e da rede de cuidados em saúde mental no âmbito do seu território e o

financiamento com base nos procedimentos definidos em cada modalidade de CAPS.

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O Plano Estadual de Saúde Mental: 2005/2006, define dentre as diretrizes

elencadas, a implementação de mecanismos de supervisão, monitoramento e

avaliação da rede de atenção psicossocial.

Por outro lado, compete à Divisão de Políticas de Saúde Mental:

• Prestar assessoria técnica aos municípios para a implantação e/ou implementação

da rede de atenção integral em saúde mental;

• Atualizar periodicamente o perfil da rede de atenção à saúde mental no Estado;

• Mapear o perfil epidemiológico em saúde mental visando à implantação de serviços

específicos conforme o novo modelo de atenção;

• Emitir relatórios técnicos contendo análises, avaliações e acompanhamentos

realizados e propondo medidas de resolutividade e de aperfeiçoamento do sistema de

assistência em saúde mental;

• Elaborar planos de trabalho, bem como consolidar e analisar dados e informações

referentes à área da saúde mental.

Supervisão e avaliação são processos imbricados e interdependentes. Segundo

Pitta (apud CARVALHO et al, 1996) a avaliação em saúde mental significa mais que a

discussão de custo-benefício, pois contempla modelos de assistência, que envolvam,

a diferença, destacando o conceito de qualidade como mais indicado, pois inclui

aspectos da vida interpessoal.

Ressalta-se, que o processo de supervisão proporciona a identificação de

problemas relacionados ao funcionamento do serviço, permite o suporte

teórico/técnico às equipes de trabalho e possibilita a resolução de problemas que

estejam interferindo no processo de trabalho.

A avaliação está baseada na coleta de dados durante as supervisões realizadas

em 32 CAPS em 2005, complementados por dados de produção e comentários sobre

eventos ocorridos em 2006.

Justifica-se, portanto, a realização da supervisão na rede CAPS, com o propósito

principal de conhecer o funcionamento desses serviços, no que se refere à proposta

terapêutica, mecanismos de reinserção social, articulação com a rede básica de

saúde, dentre outras estratégias, importantes e necessárias para a consolidação do

novo modelo de atenção psicossocial.

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2 – Procedimentos metodológicos O processo de supervisão da rede CAPS foi realizado no período de junho a

dezembro de 2005. Na época, a rede CAPS era composta de 34 serviços, tendo sido

supervisionados 32 CAPS. Utilizou-se um instrumento, o roteiro de supervisão, semi-

estruturado, com perguntas abertas e fechadas e agrupadas em três categorias:

estrutura, processo e resultados. O instrumento foi construído pela equipe da

coordenação estadual saúde mental, tendo como referências, instrumentos utilizados

pela Coordenação Saúde Mental/MS e pela Coordenação Estadual de Saúde Mental

do Estado do Espírito Santo.

As supervisões - que se constituíram também de orientações técnico-operacionais -

foram realizadas com a participação de profissionais das equipes dos CAPS. Após as

supervisões, elaborou-se um relatório contendo as principais informações referentes às

categorias estrutura, processo e resultados, bem como as dificuldades e sugestões

apontadas pela equipe e as recomendações do supervisor. Foram enviadas cópias dos

relatórios de supervisão à Gerência Regional de Saúde do respectivo município, ao

gestor municipal de saúde e à coordenação do CAPS.

Na etapa seguinte, foram elaboradas planilhas e agrupados os dados, obtidos nas

supervisões, de acordo com as categorias: estrutura, processo e resultado.

Estrutura: diz respeito às características relativamente estáveis dos serviços, incluindo

os recursos disponíveis e o contexto físico e organizacional. Refere-se à categoria e

número de trabalhadores de saúde, equipamentos, às características que determinam

o acesso e a continuidade da assistência. Nesta pesquisa, contempla informações

referentes à modalidade de CAPS, disponibilidade de recursos de infra estrutura para

realização das ações, como material de escritório, de higiene, de oficinas, veículo,

Internet/email, número e categoria dos profissionais do CAPS e formação dessas

equipes (cursos de pós graduação ou similares);

Processo: a avaliação do processo mostra como o sistema realmente funciona,

através da interação entre os profissionais e os usuários, tendo como suporte o projeto

terapêutico do serviço. Contempla informações referentes à assistência prestada,

mediante um conjunto diversificado de atividades terapêuticas, rede de saúde mental

municipal, recursos comunitários, ações de inserção social dos usuários, atividades

intersetoriais.

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Resultado: apresenta informações referentes aos principais problemas e/ou

diagnósticos dos usuários que foram atendidos nos CAPS, faixa etária, produção

(valores e quantidade de APACs).

Neste relatório foram utilizados, também, dados de produção ambulatorial

(SIA/SUS) referentes ao primeiro semestre de 2006, com a finalidade de apresentar

dados de produção, mais atuais. A sistematização desses dados serviu para se

proceder a análise, com base na legislação vigente.

3 – Análise e discussão dos resultadosOs resultados serão apresentados seguindo-se o roteiro de supervisão, cujos dados

foram sistematizados em planilhas diferenciadas, conforme segue:

3.1 O contexto físico e organizacional dos CAPS: A tabela abaixo mostra o universo de CAPS, supervisionados no segundo semestre

do ano de 2005, totalizando 32 CAPS. Não houve tempo hábil naquele período, para

realizar supervisão nos 34 CAPS existentes.

Quadro 1 – CAPS, segundo a modalidade e porcentagem – ano 2005

Modalidade Quantidade %

I

II

Ad

i

Total

14

12

02

04

32

43,7

37,5

6,3

12,5

100

Importante mencionar o critério populacional disposto na Portaria GM nº 336/2002

que limita a criação de CAPS específicos para crianças e adolescentes (CAPS i) para

municípios com população acima de 200 mil habitantes. No Estado de Santa Catarina,

há somente três municípios com população acima de 200 mil habitantes, sendo que,

cinco já possuem CAPS i.

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Equipamentos:Quanto à disponibilidade de veículo para a realização de trabalhos externos, como

por exemplo, para as visitas domiciliares, a maioria (22 CAPS) relatou que não conta

regularmente com veículo.

Outro equipamento também necessário para a realização do trabalho é o

microcomputador. Apenas um CAPS relatou que não dispõe desse equipamento. No

entanto, 11 (onze) não possuem Internet.

Recursos humanos: Conforme Portaria GM nº 336/2002 a equipe técnica mínima para atuação nos CAPS

é: CAPS I: 05 profissionais de nível superior e 04 de nível médio; CAPS II: 06

profissionais de nível superior e 06 de nível médio; CAPS i: 06 profissionais de nível

superior e 05 de nível médio; CAPS ad: 07 profissionais de nível superior e 06 de nível

médio.

Quadro 2 - CAPS – recursos humanos por categorias profissionais – ano 2005

Nível superior Quantidade Nível médio Quantidade

EnfermeiroPsicólogoPsiquiatraAssistente SocialMédico clínicoTerapeuta OcupacionalOutros

Total

61514229230429239

AdministrativoEnfermagemOutros

574724

128

Identificou-se que todos os CAPS contam com uma equipe multiprofissional,

representada por quatro ou mais categorias profissionais, e também, com o número de

profissionais preconizado na Portaria. No entanto, na maioria dos CAPS, os

profissionais têm carga horária de 30 horas semanais, com exceção do psiquiatra, com

carga horária menor. Isto significa que, nos CAPS com equipe mínima, os profissionais

se dividem para cobrir os dois turnos. Observou-se que dois CAPS têm sua equipe

completa conforme preconizado pela Portaria 336/2002, mas formada por apenas 03

categorias profissionais, dificultando portanto, diversidade de propostas e perspectivas

terapêuticas.

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Um CAPS tem a proposta de acompanhante terapêutico (AT) na equipe e esta

categoria, inclusive, não entrou como possibilidade de pergunta no roteiro de

supervisão. Contudo, o acompanhante terapêutico é um recurso de grande importância

para as mais diversas situações que surgem para atendimento nos serviços de atenção

psicossocial e sua presença em uma equipe amplia as possibilidades de uma

abordagem singularizada aos usuários. Assim, por exemplo, o AT pode assumir o

papel de um “ego auxiliar” para um portador de esquizofrenia que necessita

treinamento de novas habilidades de relacionamento com ele mesmo e com o mundo

de relações. Ou, então, o AT pode acompanhar o usuário em situações cotidianas, fora

do CAPS, como por exemplo, na casa do usuário, em passeios, atividades, etc. Não há

cursos de formação para acompanhantes terapêuticos no Estado de Santa Catarina. O

CAPS Ponta Coral (Fpolis) conta com AT em sua equipe.

Destacam-se, pela maior quantidade, os profissionais das áreas de: enfermagem

(61), psicologia (51), psiquiatra (42) e assistente social (29). Profissionais de Terapia

Ocupacional são apenas quatro. Especificamente em relação ao reduzido número de

terapeutas ocupacionais nas equipes de CAPS de Santa Catarina, o quadro reflete um

dado estrutural das leis municipais que, em sua maioria, não contemplam em seus

planos de cargos a categoria terapeuta ocupacional. Há casos, como o de Itajaí, em

que a coordenadora municipal de saúde mental, no presente ano de 2006, exerceu seu

poder de convencimento junto ao gestor municipal para que este criasse a lei geradora

do cargo mencionado.

Outro fator a ser considerado é que no Estado de Santa Catarina existem apenas

duas faculdades de Terapia Ocupacional, sendo uma delas recente e que ainda não

formou nenhuma turma.

Quanto aos profissionais de nível médio, a maioria dos CAPS atende o requisito

número de profissionais definido na Portaria. No entanto, 01 CAPS contava com

apenas 01 profissional da categoria de enfermagem e outros 02 CAPS, com 02

profissionais em cada serviço. Nestes casos de reduzido número de profissionais de

nível médio, os profissionais de nível superior, em algumas situações, passam a

assumir tarefas de limpeza e manutenção dos CAPS o que lhes diminui o tempo hábil

para realizarem as tarefas que lhes competem, prejudicando os atendimentos dos

usuários.

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Formação da equipe:

A formação da equipe multiprofissional mostrou-se bastante diversificada no que se

refere a cursos de pós graduação (especializações e outros), os quais destacamos:

atenção psicossocial, saúde pública/comunitária, gestão em políticas públicas, terapia

familiar, dependência química, psicopedagogia, educação infantil. Através da

supervisão tornou-se visível à presença de profissionais que já possuem

especialização em atenção psicossocial, contudo este número ainda é reduzido devido

à oferta reduzida de cursos de especialização específicos para esta área, no Estado de

Santa Catarina.

No ano de 2002, a UDESC/Florianópolis ofereceu um curso de especialização em

atenção psicossocial. Essa mesma universidade recebeu em 2005, recursos do

Ministério da Saúde para realizar um novo curso dessa modalidade. No entanto, por

problemas relacionados à gestão do curso, não conseguiu efetivá-lo no prazo, o que

resultou na devolução dos recursos ao Fundo Nacional de Saúde.

Considerando a importância do curso para os profissionais de nosso Estado, a

coordenação estadual de saúde mental, em conjunto com a Escola de Saúde Pública

da Secretaria de Estado da Saúde/SC, em fevereiro/2006 elaborou um novo projeto e

encaminhou ao Ministério da Saúde, com a finalidade de garantir recursos para o

Estado. Entretanto, este projeto não foi aprovado.

Conforme a política do Ministério de Saúde, os Pólos de Educação Permanente

devem ser as instâncias responsáveis por capacitações. No Estado, contamos com

doze Pólos de Educação Permanente.

No período de 2002 a 2005 foram realizados cinco cursos, por alguns Pólos, sendo

um de especialização em atenção psicossocial e os demais, para a atenção básica,

com a participação de 240 profissionais.

Outra forma de aperfeiçoamento das equipes ocorreu mediante as supervisões

clínico-institucionais, com disponibilidade de recursos financeiros do Ministério da

Saúde, através da Portaria GM nº 1174 de 7/07/2005, incentivo financeiro emergencial

para programa de qualificação dos CAPS. Em nosso Estado foram contemplados os

CAPS, dos municípios de Blumenau, Criciúma, Florianópolis, Itajaí, Joinville, Palhoça e

Tubarão.

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3.2 Os CAPS na rede de atenção psicossocial: De acordo com a Portaria nº 336/GM de 2002, as três modalidades de serviços

CAPS I, CAPS II (adultos, infanto-juvenil e álcool e outras drogas) e CAPS III cumprem

a mesma função no atendimento público em saúde mental, ou seja, deverão estar

capacitados para: realizar prioritariamente o atendimento de pessoas com transtornos

mentais severos e persistentes de sua área territorial, em regime de atendimento

intensivo, semi-intensivo e não-intensivo; responsabilizar-se pela ordenação da

demanda e da rede de cuidados em saúde mental no contexto do seu território; possuir

capacidade técnica para desempenhar o papel de regulador da porta de entrada da

rede assistencial em saúde mental; coordenar as atividades de supervisão de unidades

hospitalares em sua região da atuação; supervisionar as equipes de atenção básica,

serviços e programas de saúde mental; realizar e manter cadastro atualizado de

usuários que utilizam os medicamentos essenciais (regulamentados pela

portaria/GM/MS nº1077 de 1999) para a saúde mental e medicamentos excepcionais

(regulamentados pela portaria/SAS/MS nº 341 de 2001). Por outro lado, em relação à

assistência prestada, a Portaria 336, dispõe que deve compreender: atendimento

individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, etc.); atendimentos em grupos

(psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, etc); atendimento em

oficinas terapêuticas; visitas domiciliares; atendimento à família; atividades

comunitárias enfocando a integração do usuário na comunidade e sua inserção social e

familiar; refeição diária aos assistidos em um turno e duas refeições aos usuários que

freqüentam o serviço durante dois turnos. Em relação à assistência prestada pelos

CAPS I, esta deverá ainda incluir a desintoxicação ambulatorial e o atendimento a

crianças e adolescentes, conforme a demanda. A Portaria GM nº 384 de 05/07/2005,

define que devem ser realizados procedimentos de atenção a usuários de álcool e

outras drogas.

Da especificidade da população assistida na modalidade CAPS i decorre a

indicação, apontada pela Portaria nº 336/2002, de que no projeto terapêutico, além dos

itens já mencionados, sejam contempladas ações inter-setoriais, especialmente com as

áreas de assistência social, educação e justiça. Em relação ao CAPS ad, o projeto

terapêutico deve incluir ações de redução de danos (Portaria GM nº 1.059 de

4/7/2005). Praticamente todas as atividades terapêuticas preconizadas pelas portarias

que dispõem sobre os serviços de saúde mental são abordagens psicossociais, ou

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seja, cuidados de saúde mental que se ancoram nos recursos individuais e coletivos

(subjetivos e intersubjetivos) e no potencial criativo dos usuários para intervir de uma

maneira ampla ou focal na experiência de sofrimento. As abordagens psicossociais

buscam promover a reabilitação psicossocial que é o processo facilitador da melhor re-

estruturação de autonomia e reinserção social de cada usuário em suas funções na

comunidade. A reabilitação psicossocial precisa contemplar três dimensões da vida de

qualquer cidadão: casa, trabalho e lazer e fundamenta-se na idéia de que o trabalho e

o fazer com intenção são instrumentos de reabilitação. São abordagens psicossociais:

atendimentos em grupos, oficinas terapêuticas, atendimentos ao grupo familiar,

aconselhamentos e orientações, grupos de auto-ajuda, atividades e reuniões

comunitárias, atividades de suporte social, visitas domiciliares, etc.

A práxis, constituída pelo conjunto de atividades diversificadas e implementadas

pelas oficinas, grupos operativos e terapêuticos, assembléias, feiras e eventos buscam

transcender a dificuldade presente entre as pessoas que sofrem de transtornos graves

e persistentes em vincularem-se ao real através da fala, da linguagem. O objetivo

socializante do CAPS, assim, é concretizado em ações predominantemente coletivas

as quais almejam o aprendizado em geral, a promoção da experimentação de novas

experiências no plano das relações interpessoais, o diagnóstico de dificuldades através

da focalização em atividades coletivas em detrimento dos atendimentos individuais. As

atividades coletivas nas oficinas, como já foi dito antes, têm o foco no fazer e no não-

verbal com o intuito de estimular a expressão em diferentes linguagens para além da

linguagem falada.

Por outro lado, no espaço do CAPS forma-se um grupo - um coletivo - composto por

uma nova porção da comunidade com uma força social e política própria, que resulta

em ações conscientes de seus objetivos de inclusão social. Este coletivo é um respaldo

seguro para que se vençam os preconceitos relacionados aos doentes mentais e para

que estes resgatem seu espaço social como cidadãos. Nesse sentido, entre os

objetivos do CAPS inclui-se a criação de espaços de discussão e reflexão sobre

cidadania que resultam, freqüentemente, em associações de usuários e familiares.

É importante enfatizar que todo o processo terapêutico e as abordagens no interior

da praxis do CAPS, desenvolvem-se através de um trabalho interdisciplinar e

intersetorial. A dinâmica interdisciplinar favorece a compreensão do indivíduo em sua

totalidade e a realização de ações integrais.

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Nessa perspectiva, na categoria Processo, o roteiro de supervisão aplicado na rede

de CAPS, abordou os seguintes itens para avaliar o projeto terapêutico e a assistência

prestada: acolhimento; atendimento individual; atendimento grupal; atividades de

reinserção social; participação da família no processo terapêutico; oficinas terapêuticas;

desintoxicação ambulatorial; visita domiciliar; reunião de equipe; projeto terapêutico

individual; prontuário único.

Para avaliar a relação dos CAPS com a rede e território o roteiro incluiu dados

sobre o número de Serviços de Saúde Mental (SSM), o número de CAPS e de leitos

psiquiátricos em hospitais gerais; ações em conjunto com rede básica; organização da

demanda de saúde mental no território. E para avaliar o processo de inserção social e

familiar do usuário e a intersetorialidade, o roteiro questionou sobre a utilização pelas

equipes de recursos comunitários para a realização de atividades fora do espaço do

CAPS; presença de associação de usuários e familiares; projetos de geração de renda.

Finalmente, para mapear as regiões de vulnerabilidade social, o roteiro perguntou

sobre origem geográfica da demanda.

Assistência Prestada: Em relação ao acolhimento, a maioria das equipes já está qualificada para prestar

atendimento com escuta diferenciada e responsabilização qualificada pela demanda.

Há diferentes formas de realizar o acolhimento entre os CAPS: em alguns casos,

existe um profissional (nível superior ou médio), em cada turno, à disposição da

demanda nova, em outros casos, há grupos de acolhimento por turno, compostos por

profissionais de nível médio e ainda em outros, os acolhimentos são feitos, inclusive,

por agentes de saúde com capacitação em atenção psicossocial.

No que se refere aos atendimentos individuais, todas as equipes os contemplam

seja em atendimentos do serviço social; de psicoterapia; de consultas e orientações

com enfermeira (o); de consulta médica com psiquiatra ou clínico (a) geral; de

atendimento de terapeuta ocupacional e de acompanhante terapêutico.

Os atendimentos em grupo também são realizados pela grande maioria dos

serviços, com exceção do CAPS de um único município, cujas equipes, durante o

decorrer de 2005, ainda não se sentiam qualificadas para trabalharem com grupo.

Contudo, durante o ano de 2006, esta situação se modificou, naquele município, e

essas equipes já se tornaram habilitadas e mais confiantes para realizarem

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atendimentos coletivos. Entre os grupos citados nas supervisões destacamos: grupo

de retorno (medicamentos); roda de conversa; grupo de familiares; de terapia

ocupacional; protagonismo juvenil; de cuidadores; de adolescentes; terapêutico;

psicoeducativo; de alfabetização; assembléia com usuários; grupo de transtornos

depressivos; de ansiosos; de psicóticos; de orientação para mulheres; de orientação

para homens; de cidadania; de leitura; de sentimentos; de avaliação para

desintoxicação ambulatorial; de controle de obesidade; de alcoolismo; de orientação

sobre medicamentos; comissão de manutenção e organização de materiais; grupo de

atividades externas; de auto-estima.

Praticamente todos os CAPS oferecem oficinas terapêuticas aos usuários e apenas

dois serviços ainda não realizam. Estas oficInas são realizadas por diferentes

profissionais: arte-educadores, terapeutas ocupacionais, artistas plásticos, psicólogos,

pedagogos. Entre as oficinas existentes nos CAPS, destacamos: arteterapia,

artesanato, jardinagem, atividades expressivas (pintura, desenho, modelagem em

argila), bordado, crochê, tricô, teatro, bijouterias, atelier aberto, cestaria, tapeçaria,

música, culinária, dança, esportes, mosaico, vídeo, hora do conto, colagens, biscui,

marcenaria, informática, salão de beleza, jogos, etc.

As atividades de reinserção social são uma peça-chave para a mudança do modelo

assistencial e procuram reintroduzir o usuário de CAPS no universo dos sentidos

compartilhados, isto é, no mundo sociocultural onde ele vive. Nesse sentido, são

atividades que visam lançar o usuário para além do universo dos processos

saúde/doença - e dos limites dos CAPS – e para tanto devem tecer contatos com

outros setores sociais: as atividades de reinserção social desenvolvem-se através de

atividades intersetoriais. Em relação a isto, pode-se afirmar que há uma grande

dificuldade entre os serviços para executar tal empreendimento o qual está

relacionado ao entendimento do trabalho intersetorial e em rede. Como esta tarefa

envolve diferentes segmentos sociais - outras secretarias municipais, instituições

públicas ou privadas, ongs, associações, etc. – torna-se necessária uma ação

conjunta coordenada pelos CAPS. Alguns serviços já iniciaram a fazer, por exemplo

reuniões periódicas com outras instituições e serviços envolvidos com as vidas de

seus usuários, entre eles, escolas, conselhos tutelares, abrigos, setores da justiça,

associações, etc.

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Por outro lado, ações de reinserção social mais consistentes, como por exemplo,

projetos de geração de renda - que promovem o aumento do poder contratual do

usuário possibilitando-lhe novas inserções sociais – ainda estão bastante incipientes.

As oficinas de geração de renda receberam amplo apoio do Ministério da Saúde

durante o ano de 2005 que reuniu-se com setores do Ministério do Trabalho e

Emprego em grupos de trabalho periódicos para reflexão e encaminhamentos sobre o

tema. Destas discussões surgiu à Portaria nº 1169 de 7/07/2005 que dispõe sobre

incentivo financeiro para projetos de inclusão social pelo trabalho, destinados à

pessoas portadoras de transtornos mentais e/ou de transtornos decorrentes do uso de

álcool e outras drogas.

Nessa direção, destacamos o trabalho que vem sendo realizado pelo município de

Joinville, através do Projeto SOIS, que criou oficinas de geração de renda

administradas por usuários. Atualmente, junto ao mencionado projeto SOIS e dentro

da proposta de inclusão social, formaram-se oficinas de alfabetização para os

usuários.

Apesar de haverem poucos projetos de reinserção social, como os de geração de

renda, a maioria das equipes de CAPS, com exceção de três serviços, busca de

alguma maneira contemplar, em seus projetos terapêuticos, passeios, festas

comemorativas, visitas a museus, ginástica e caminhadas, filmes, cursos, salão de

beleza, atividades da vida prática, comercialização dos produtos confeccionados nas

oficinas e outros.

Para que os usuários sejam abordados em sua integralidade como sujeitos

participantes de um grupo familiar e social, a participação das famílias no processo

terapêutico é fundamental. As famílias não somente devem se responsabilizar como

cuidadores de seus doentes - e para tanto precisam de orientações e de suporte

técnico - como elas mesmas necessitam de cuidados. Através das supervisões foi

possível perceber que este é um assunto difícil para as equipes, pois algumas delas

afirmaram que não sabem como trabalhar com famílias e outras consideram que o

trabalho com os familiares não está sendo efetivo. Contudo, muitas equipes

consideram que contemplam a participação das famílias no processo terapêutico

realizando grupos de familiares, em geral grupos mensais, e visitas domiciliares.

Somente um serviço relatou que faz encontros diários ou semanais com familiares

para avaliação do projeto terapêutico.

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Dentro da proposta de inclusão do universo sociocultural do usuário em sua

abordagem terapêutica, as visitas domiciliares adquirem importante papel já que

possibilitam contatos próximos com o contexto familiar, vizinhos, amigos, assim como

tornam possível à busca ativa de usuários faltosos, atendimentos de crises e outras

atividades de orientação e supervisão familiar. Em 2005, vinte e sete CAPS faziam

visitas domiciliares. Esta atividade conecta-se com um aspecto estrutural, o veículo,

que, na maioria dos casos, não está disponível aos serviços com a freqüência

necessária.

Em relação à desintoxicação ambulatorial, este ainda é um campo a ser aberto

entre os serviços: somente três CAPS a fazem. Importante mencionar que destes três,

um é um CAPS I – que, segundo a Portaria GM nº 384 de 5/7/2005, deve assumir a

demanda da população usuária de álcool e outras drogas, outro é um CAPS i e o

terceiro é um CAPS ad, especifico para usuários de álcool e outras drogas.

Todos os CAPS devem ter um projeto terapêutico coletivo, ou seja, as diretrizes e

propostas do programa de atenção psicossocial do serviço. Além deste, deve construir

para cada usuário um projeto terapêutico individual que buscará contemplar, de forma

singularizada, as suas necessidades, desejos e projetos de vida. Nesse sentido,

apenas três CAPS não faziam, em 2005, projeto terapêutico individual para os

usuários.

O trabalho do CAPS está pautado na interdisciplinaridade já que sua equipe é

multiprofissional e, sendo assim, as atividades, os atendimentos, decisões, os casos

devem ser refletidos em grupo, nas reuniões periódicas de equipe. Por outro lado, esta

prática, nos serviços de saúde, é bastante recente e ainda não está completamente

integrada no plano da experiência vivida. Observam-se aqui inúmeras resistências e

dificuldades, como por exemplo: compartilhar a responsabilidade dos casos entre as

diferentes disciplinas; transcender os limites das disciplinas e acolher o discurso de

outros campos do saber; abrir mão da idéia de que “trato o meu paciente”: discutir

abertamente e expor dúvidas; etc.

O setor saúde mental, dentro do conjunto do setor saúde, é reconhecido hoje no

país como o que mais avançou na direção da interdisciplinaridade. Segundo

Vasconcelos (2000, p.43): “campo da saúde mental é chamado a refazer-se por

inteiro, ampliando o seu foco de abordagem e procurando romper com as delimitações

dos saberes tradicionais na área, buscando uma nova recomposição de

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conhecimentos sustentados sobre um conjunto de rupturas e novas premissas, e que

portanto, não seja apenas um novo somatório ou rearranjo simples dos antigos

saberes parcializados”.

Observou-se que há diferentes maneiras dos serviços se organizarem para atender

- ou não - à necessidade de reflexão em conjunto. Do universo de 32 CAPS, cinco

serviços não fazem reuniões de equipe; quatro serviços, reúnem uma vez por mês

para discutirem em grupo; um serviço faz encontros quinzenais e os demais fazem

reuniões semanais. Entre estes, alguns fazem reuniões diárias para repasse de

informações entre os turnos de atendimento. Perguntas que surgem: como gerir um

serviço de saúde, com a complexidade de um CAPS, sem encontros freqüentes entre

os profissionais ali atuantes? O que provoca o afastamento dos profissionais de uma

equipe multiprofissional de saúde? Como são construídos os projetos terapêuticos

individuais dos usuários? Como estão sendo decididos, entre as equipes que não

realizam reuniões, os encaminhamentos e abordagens? Os estudos de caso não são

necessários em um serviço de atenção psicossocial?

Rede e Território:Rede e Território: A reorientação do modelo assistencial em saúde mental, com o viés do

cuidado na comunidade, é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde. De acordo com o Relatório de Saúde Mental da OMS, do ano de 2002, os cuidados de saúde mental devem ser inicialmente abordados na rede básica de saúde, devem garantir a atenção na comunidade e envolver as famílias e os usuários. No Brasil, a política de saúde mental está afinada com a atual política nacional de saúde já que o Ministério da Saúde preconiza que os cuidados de saúde sejam realizados no território e nas comunidades dos usuários envolvendo as equipes de atenção básica.

Nesse sentido, o trabalho em rede é a pedra de toque da atenção psicossocial. Desenvolver uma rede de cuidados deve ser a meta de todos os CAPS, pois sem esta teia de suporte o trabalho no serviço fica prejudicado devido a enorme demanda tanto de transtornos leves como os graves. Além disso, a complexidade dos problemas que surgem na atenção psicossocial é tão grande que requer um trabalho amplo, comunitário, territorializado e intersetorial.

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O estabelecimento de ações em conjunto entre a saúde mental e as Equipes de Saúde da Família – Atenção Básica – amplifica o potencial dos CAPS como agenciadores de novos modos de cuidado e estende para outros espaços a responsabilização pelo cuidado integral às pessoas em sofrimento psíquico. Os CAPS podem funcionar como unidades de apoio para as equipes da atenção básica, porém, são estas equipes que continuarão sendo referência para as pessoas.

Nessa direção, torna-se premente a formação de vínculos entre os CAPS e a rede básica. A capacitação em atenção psicossocial de profissionais da rede básica de saúde, ambulatórios, programas de saúde de família, programas de agentes comunitários e outros é um aspecto deste vínculo e deve ser promovida pelas coordenações municipais de saúde mental. A criação de equipes multiprofissionais matriciais que supervisione e dê suporte técnico às equipes de atenção básica, também entram neste campo de atribuições e responsabilidades dos CAPS e coordenações municipais de saúde mental. Por outro lado, ainda dentro do campo de atribuições, os CAPS, como organizadores da demanda de atenção psicossocial, devem estar próximos e atuantes junto às equipes dos hospitais gerais com leitos psiquiátricos e dos hospitais especializados em psiquiatria.

O quadro geral da rede de atenção psicossocial no Estado de Santa Catarina ainda é insuficiente e reduzido em termos de relacionamento e vínculo entre CAPS, rede básica, hospitais gerais com leitos psiquiátricos e especializados em psiquiatria. Assim, cerca de treze municípios responderam que possuem Serviços de Saúde Mental (SSM) na rede básica, dentre os CAPS supervisionados em 2005. Alguns municípios tinham SSM até o momento em que cadastraram o CAPS, inclusive, muitas vezes, repassando os profissionais daquelas equipes para a nova equipe de CAPS. Trata-se de vestir um serviço para desvestir outro. De acordo com os dados obtidos, onze equipes de CAPS realizam ações em conjunto com a rede básica; três, referiram que há poucas ações em conjunto e uma equipe relatou que está iniciando trabalho conjunto com a atenção básica. Destacamos os municípios de Florianópolis e de Joinville como os municípios

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que mais investiram, até 2006, na estruturação de uma rede de atenção psicossocial na atenção básica.

Em relação aos leitos psiquiátricos, a distribuição de leitos pelo Estado ainda não é a ideal e os leitos estão concentrados em algumas regiões havendo total ausência em outras. Atenta a esse quadro de concentração de leitos psiquiátricos em algumas regiões, a coordenação estadual de saúde mental elaborou uma proposta de redistribuição de leitos a qual deverá ser submetida à apreciação da Comissão Intergestores Bipartite (CIB). Por outro lado, no Plano de Metas de Saúde Mental, para 2005 e 2006, a coordenação estadual já estabeleceu os desenhos para a implementação de leitos psiquiátricos em cada microrregião do Estado os quais têm sido discutidos com os gestores locais. Esta negociação, contudo, é demorada, complexa. Entrementes, enquanto o problema da ausência de leitos psiquiátricos não se resolve, ocorrem diversas situações no cotidiano da sociedade que sofre as conseqüências dessa lacuna existente no interior da rede de atenção psicossocial. Por exemplo, pessoas em surto psicótico grave, não têm para onde serem encaminhadas em seu próprio território e internam em municípios longe de sua origem. Como conseqüência disso, o isolamento e a exclusão social do usuário em sofrimento é amplificado, as famílias não podem visitar seus familiares com a freqüência que desejariam e as equipes não podem fazer atendimentos consistentes e que incluam os familiares. Um outro exemplo, usuários e dependentes de álcool e outras drogas (adolescentes e adultos) não são acolhidos em hospitais gerais que não possuem leitos psiquiátricos para realizarem desintoxicação, em casos graves de abstinência ou uso prolongado de substâncias, o que leva a um perverso jogo de empurra-empurra e ao agravamento do quadro clínico. Muitas vezes, as equipes de CAPS ou os Conselhos Tutelares sentem-se obrigados a recorrem ao Ministério Público para obterem ordem judicial para internações compulsórias. Em outras ocasiões, no caso de dependência de substâncias psicoativas, as internações de adolescentes e adultos são realizadas, por fim, em comunidades terapêuticas (CT). Estas instituições têm assumido o papel de realizarem tratamento de dependência química já

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que, historicamente, a saúde pública tem se mostrado omissa, neste campo. Algumas CT já vistoriadas pela Vigilância Sanitária Estadual também foram visitadas pela coordenação estadual de saúde mental para selecionar algumas delas, por macrorregião, a fim de formarem parcerias com o Estado. Ao Estado caberá a responsabilidade de capacitar e supervisionar os projetos terapêuticos e abordagens. As comunidades terapêuticas têm se colocado para além do controle estatal e, portanto, científico e humanista.

Uma pesquisa – Perfil Situacional das Comunidades Terapêuticas do Estado de Santa Catarina – realizada pela Vigilância Sanitária/SES em 2004, constatou que muitos profissionais não conhecem o projeto terapêutico da CT onde trabalham. Há relatos também de usuários que trabalham (muitas vezes obrigados) em obras para igrejas, reforma das próprias comunidades terapêuticas, sem qualquer tipo de remuneração.

Nas vistorias realizadas em algumas CT pela Coordenação Estadual de Saúde Mental, foi relatado por alguns coordenadores, que os internos que não cumprem o regulamento, como medidas reeducativas, executam tarefas que geralmente não gostam de realizar e/ou trabalham até mais tarde. As correspondências, em geral são abertas pelo técnico, na presença do interno; identificou-se, no entanto, uma situação em que as correspondências são abertas sem a presença e/ou conhecimento do interno. No projeto terapêutico, em geral não são abordadas questões relativas à sexualidade dos internos; não trabalham com a ótica de redução de danos e oferecem tratamentos prolongados (6 a 9 meses). A composição de uma rede de cuidados não envolve, como já foi dito, somente a

relação com outros setores da saúde, mas requer a composição de contatos

dinâmicos com os recursos comunitários do território do usuário. Nesta perspectiva,

observou-se que onze CAPS não realizam ações em recursos comunitários. Os

demais usufruem espaços sociais diversos e realizam diversas atividades na

comunidade, entre elas destacamos: passeios na casa da cultura, museus, praça,

mercados públicos, quadra pública de esportes, núcleos de formação profissional,

biblioteca municipal, sedes de clubes, salão de festas da comunidade, rádio

comunitária, atividades extra CAPS no salão da igreja.

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Como elemento de promoção de cidadania e sociabilidade, as associações de

usuários e familiares são mais uma das múltiplas atribuições das equipes de CAPS,

como já foi comentado. As equipes devem, assim, fomentar a criação de grupos de

discussão entre seus usuários e familiares para que neles possam ser geradas as

associações. Até o ano de 2005, havia doze Associações de Usuários e Familiares

nos CAPS e atualmente, há um incipiente movimento para a criação de uma

associação estadual.

Para finalizar este quadro geral sobre a rede e território, apontamos que a origem

geográfica da demanda de usuários de CAPS do Estado localiza-se, em sua maioria,

na periferia, em bairros urbanos, em áreas de violência e exclusão social. Este dado

aponta a grande necessidade de abordagens multidisciplinares amplas, que envolvam

ações intersetoriais, junto a essas populações que vivem em zonas de risco social.

3.3 Alguns dados produzidos:Problemas e/ou diagnósticos:

Dentre os principais problemas e/ou diagnósticos dos usuários, mencionados nas

supervisões, destacam-se os transtornos de humor, apontados pela totalidade dos

CAPS, predominando depressão e transtornos bipolar.

Quadro 3

Problemas / Diagnósticos CAPS que referiram Transtornos de humor 32

Esquizofrenia 17Dependência Química 11

Transtornos Psicóticos 09Transtornos Ansiedade 04

Causas externas (tentativa suicídio, violência doméstica, exclusão social) 09

Importante lembrar que os CAPS modalidade I, a partir da Portaria GM nº 384 de

05/07/2005 foram autorizados a realizarem procedimentos de atenção a usuários de

álcool e outras drogas, caracterizados pelos códigos diagnósticos F10 até F19 do CID-

10. No entanto, esse problema não foi mencionado pela maioria dos CAPS I.

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Valor médio mensal de APACs obtido no mês anterior à supervisão: apenas 21

CAPS souberam informar o valor mensal. Deste total, constatamos que somente 08

CAPS produziram pelo menos 70% do valor conforme definido na Portaria GM º

189/2002.

Para complementar a informação, apresentamos o quadro abaixo, construído com

dados do relatório de produção ambulatorial – SIA/SUS – SES, 2006.

Quadro 4 - CAPS – segundo a modalidade e produção por trimestre – ano 2006.

PRODUÇÃO AMBULATORIAL (R$) - CAPS - 2006CAPS I 1º Trimestre Média Mensal 2º Trimestre Média Mensal

Abelardo Luz 6.116,00 2.038,70 36.264,70 12.088,35Xanxerê (1) xxxx xxxx 19.583,85 6.527,95Xaxim 59.025,95 19.675,20 52.033,95 17.344,65Curitibanos 7.759,65 2.586,55 23.004,05 7.668,00Concórdia 44.793,45 14.931,15 40.110,65 13.370,20Rio do Sul 27.862,50 9.287,50 19.740,30 6.580,00Araranguá 38.995,90 12.998,60 34.221,45 11.407,15Campos Novos 12.125,05 4.041,70 9.479,70 3.160,00Herval do Oeste 6.072,90 2.024,30 29.464,75 9.821,60Joaçaba 2.810,20 936,7 61.640,85 20.546,95Brusque 19.485,75 6.495,25 14.173,60 4.724,55Gaspar (2) xxxx xxxx 1.733,25 577,75Indaial 22.138,05 7.379,35 21.069,50 7.023,15Timbó 10.611,80 3.537,25 1.313,70 437,9Palmitos 42.901,00 14.300,30 61.562,60 20.528,85Quilombo 67.560,00 22.520,00 68.751,20 22.917,00Itaiópolis 1.872,75 624,25 20.007,55 6.669,20Papanduva 46.621,50 15.540,50 49.445,45 16.481,80Cocal do Sul 67.487,90 22.495,95 64.735,40 21.578,45Içara 64.864,60 21.621,35 66.551,90 22.183,95Imbituba 68.787,05 22.929,00 72.443,05 24.147,70Laguna 25.172,75 8.390,90 19.302,50 6.434,15Orleans 37.468,30 12.495,45 42.015,15 14.005,00

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São Joaquim 41.779,40 13.926,45 45.244,05 15.081,35Canoinhas 60.356,30 20.118,75 56.145,50 18.715,15

CAPS IICaçador 44.379,45 14.793,15 55.487,45 18.495,80Balneário Camboriú 8.984,05 2.994,70 18.789,50 6.263,15Itajaí 5.534,15 1.844,70 4.741,40 1.580,45Blumenau 16.196,55 5.398,85 9.384,20 3.128,00Chapecó 52.252,40 17.417,45 86.179,43 28.726,45Criciúma 49.174,45 16.391,50 86.645,45 28.881,80Joinville 66.135,35 22.045,10 55.458,05 18.486,00Tubarão 9.949,95 3.316,65 23.083,40 7.694,45Lages 49.294,15 16.431,40 136.532,25 45.510,75Jaraguá do Sul 23.006,65 7.668,90 15.774,20 5.528,00Florianópolis 20.366,05 6.788,70 16.422,00 5.474,00Fpolis / Policlínica 6.106,25 2.035,40 6.123,95 2.041,30Palhoça 21.966,90 7.323,30 23.672,00 7.890,65

CAPS adItajaí 354,85 118,30 604,00 201.40Blumenau 18.706,50 6.235,50 5.503,65 1.834,55Joinville 28.637,70 9.545.90 30.461,00 10.153,70

CAPS iBlumenau 4.423,40 1.474,50 2.117,60 705,7Chapecó 9.158,04 3.052.70 17.310,75 5.770,25Florianópolis 10.262,30 3.420,80 13.032,55 4.344,20Itajaí (2) xxxx xxxx 1.808,30 602,8 Fonte: SIA/SUS SES/SC DIRE – 29/07/2006

Legenda: (1) CAPS não cadastrado no 1º trimestre (2) sem produção no trimestre

No quadro abaixo os valores foram calculados com base na produção do segundo

trimestre do ano de 2006. Mostram-se os valores máximos e os equivalentes a 70%

com base na Portaria GM º 189/2002.

Quadro 5 - CAPS – produção (R$) de APACs e por modalidade – 2º trimestre/2006

Valor Mensal Produzido R$

CAPS I - R$ 24.862 (máx.) 17.403 (70%)

CAPS II - R$ 39.127 (máx.) 27.389 (70%)

CAPS ad - R$ 31.385 (máx.) 21.969 (70%)

CAPS i - R$ 27.314 (máx.)19.120 (70%)

até 2.000,00 Gaspar, Timbó Itajaí Itajaí, Blumenau Itajaí, Blumenau

2001,00 a 5.000,00 Campos Novos Blumenau   FlorianópolisBrusque Fpolis (políclinica)    

5.001,00 a 10.000,00

Xanxerê Balneário Camboriú   Chapecó Curitibanos Tubarão    Rio do Sul Jaraguá do Sul    

Herval do Oeste Fpolis (Ponta Coral)    Indaial Palhoça    

Itaiópolis      

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Laguna      

10.001,00 a 15.000,00

Abelardo Luz   Joinville  Concórdia      Araranguá      

Orleans      

15.001,00 a 20.000,00

Xaxim Caçador    Papanduva Joinville    

São Joaquim      Canoinhas      

20.001,00 a 25.000,00

Joaçaba      Palmitos      Quilombo      

Cocal do Sul      Içara      

Imbituba      

25.001,00 a 30.000,00   Chapecó      Criciúma    

Acima 30.000,00   Lages    

Observa-se no quadro 5 que mais de 50% dos CAPS modalidade I não atingiram a

produção de 70%; na modalidade II, ainda mais distante. Apenas 03 CAPS (Chapecó,

Criciúma e Lages) produziram valor igual ou maior do que o equivalente a 70%. Os

CAPS modalidades ad e i, tiveram produções extremamente baixas.

Os CAPS i (infanto/juvenil) apresentam algumas peculiaridades que possivelmente

podem contribuir para a baixa freqüência no serviço e, inclusive na modalidade

intensiva, que são: usuários (criança/adolescente) freqüentam escola em um turno,

pais/responsáveis que acompanham o menor, têm dificuldades para ausentar-se do

trabalho, problemas financeiros (pagamento de passagem de ônibus) que dificulta

maior assiduidade ao CAPS. Outro fator a ser considerado é que criança/adolescente

tem indicação para freqüentar outros dispositivos e/ou recursos comunitários,

considerados importantes no processo de tratamento.

Para os CAPS com produção na faixa de R$ 2.000,00 a 5.000,00 isto equivale a

produção gerada na modalidade não intensiva, que compreende 03

atendimentos/paciente/mês (90 usuários/mês).

Considerando que a maioria dos CAPS referiu realizar atendimentos grupais, faz-

se necessário rever a forma de registro de APACs, devendo contemplar cada

participante do grupo.

Faz-se necessário também ressaltar que o procedimento - APAC é um instrumento

complexo, facilmente ocorrem erros no preenchimento do formulário, gerando assim,

muitas glosas.

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Número de usuários atendidos no último mês tendo como referência a data de realização da supervisão: 2º semestre/2005.

Quadro 6 CAPS – capacidade de usuários/mês nas modalidades: intensiva, semi intensiva e não intensiva

CAPS MODALIDADES / USUÁRIOS Municípios I (165) II (220) ad (190) i (165)Quilombo ...      Chapecó   ...   78Xaxim 156      Concórdia 65      Campos Novos 126      Caçador   92    Blumenau   156 143 76Indaial 65      Timbó 21      Brusque ...      Balneário Camboriú   69    Itajaí ...     78Florianópolis   ...   135Palhoça   149    Imbituba 113      Orleans 79      Tubarão   129    Cocal do Sul ...      Criciúma   138    Içara 165      Joinville   218 120  Jaraguá do Sul   110    Papanduva 165      Lages   209    Palmitos 150      

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A Portaria GM nº 189/2002 estabelece um número máximo de usuários por mês: CAPS

I e CAPS i = 165; CAPS II = 220; CAPS ad = 190. No quadro 6, os números em

negrito, referem-se aos CAPS que atenderam pelo menos 70% da capacidade

usuários/mês. As reticências (...) são os CAPS que não souberam responder. Verifica-

se, portanto que a maioria dos CAPS não está operando com a capacidade que é

autorizada pela Portaria acima mencionada, gerando, conseqüentemente, a baixa

produção financeira.

Quadro 7 CAPS – capacidade de usuários mês – intensivo

CAPS MODALIDADES / USUÁRIOS Municípios I (25) II (45) ad (40) i (25)Quilombo ...      Chapecó   ...   ...Xaxim 24      Concórdia 13      Campos Novos 19      Caçador   45    Blumenau   12 4 1Indaial ...      Timbó ...      Brusque ...      Balneário Camboriú   1    Itajaí ...     ...Florianópolis   18 (Pta Coral)   2Palhoça   ...    Imbituba 19      Orleans 1      Tubarão   25    Cocal do Sul 25      Criciúma   45    Içara ...      Joinville   43 24  Jaraguá do Sul ...      Papanduva ...      Lages   44    Palmitos 11      

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O atendimento intensivo (Portaria GM nº 189/2002) destina-se aos pacientes que,

em função de seu quadro clínico atual, necessitam de acompanhamento diário.

Também neste quadro, identifica-se que a minoria dos CAPS atingiu 70% da

capacidade. Deduz-se portanto, que há espaço para atendimento de um número maior

de usuários, conseqüentemente, possibilitar o aumento da produção financeira, que é

gerada por APACs (recurso extra teto) ou as APACs não estão sendo preenchidas

corretamente.

Há que se considerar, no entanto, que alguns usuários não têm acesso ao serviço,

para a freqüência que lhe é definida, tendo em vista fatores de ordem financeira (falta

de passe ônibus ou outro) e/ou algum familiar que o acompanhe quando necessário.

Os quadros seguintes referem-se às freqüências nos CAPS, por diagnósticos, por

gênero e por faixa etária, no primeiro semestre de 2006.

Quadro 8

Fonte: SIA/SUS - SES / SC, 2006

No quadro acima os diagnósticos foram agrupados em três grupos.

Observa-se que a maior freqüência concentra-se no grupo diagnóstico transtornos

mentais (92,27%). A freqüência no grupo diagnóstico – alcoolismo – mostrou-se baixa,

se considerarmos que os CAPS modalidade I, que são 25, estão autorizados a gerar

produção de APACs, pelo atendimento de dependentes químicos (Portaria GM

384/2005).

Os profissionais de CAPS I em geral apresentam dificuldades em atender os

usuários portadores de problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas.

Sentem-se inseguros e com pouca qualificação nessa área. Os mitos e as crenças a

respeito das drogas também aparecem como dificuldades.

Quadro 9

CAPS – Freqüência segundo sexo – 2006

CAPS: Frequência por diagnóstico - 2006Grupos Diagnósticos 1º Trim 2º Trim Total %

Alcoolismo (F10) 653 676 1.329 5,42Outras Drogas ( F11 a F19) 341 226 567 2,31

Transtornos Mentais ( F00 a F 09 e F 20 a F99)

10.598 12.024 22.622 92,27

Total 11.592 12.926 24.518 100

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Sexo Trimestre Total %1º 2º

Masculino 4.952 5.230 10.182 41,52Feminino 6.640 7.696 14.336 58,48

Total 11.592 12.926 24.518 100Fonte: SIA/SUS – SES/SC, 2006

Observa-se no quadro 9 freqüência maior de usuários do sexo feminino, com

58,48%.

Quadro 10

CAPS - Frequência por Faixa Etária - 2006Faixa Etária 1° Trim 2° Trim Total %

0 - 6 anos 91 111 195 0,86 - 12 anos 509 648 1.157 4,7

12 - 15 anos 219 314 533 2,215 - 21 anos 618 689 1.307 5,421 - 25 anos 545 574 1.119 4,625 - 30 anos 966 1048 2.014 8,230 - 35 anos 1.211 1.281 2.492 10,235 - 40 anos 1.646 1.723 3.369 13,740 - 45 anos 1.581 1.747 3.328 13,545 - 50 anos 1.510 1.761 3.271 13,350 - 55 anos 1.065 1.191 2.256 9,255 - 60 anos 661 740 1.401 5,7

acima 60 anos 977 1.099 2.076 8,5Total 11.599 12.926 24.518 100

Fonte: SIA/SUS - SES/SC, 2006

Quanto à freqüência por faixa etária, a concentração maior está no grupo de 30 a

50 anos, representando cerca de 40%.

4 – Problemas referenciados pelas equipesDurante o processo de supervisão tivemos oportunidade de ouvir dos profissionais

as dificuldades e sugestões que consideram importantes solucionar e/ou implementar.

Agrupamos os comentários conforme segue:

Infra estrutura: - material insuficiente e pouco diversificado para as oficinas terapêuticas

- falta de veículo para realizar trabalhos externos

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- vários CAPS não oferecem refeições para os usuários

- pouco conhecimento sobre APACs ( valores, acesso ao recurso, preenchimento

formulários )

- CAPS com espaço físico limitado

- falta Internet e email no CAPS

- falta medicação de emergência

- falta disponibilizar material educativo

Rede: referência e contra – referência: - ausência de ações / trabalho integrado com a rede básica

- maioria dos CAPS não assume o papel de organizador da rede de cuidados, que

implica na definição do fluxo de referência e contra referência

- CAPS atende toda demanda de saúde mental

- faltam leitos psiquiátricos em hospital geral

- implantar CAPS III no município, como estratégia importante para evitar

internações.

- dificuldades no atendimento de emergência e contra - referência

- organizar saúde mental regionalmente

- realizar ações sócio-educativas

- dificuldades de acesso dos usuários ao CAPS, pela falta de transporte e/ou passe

de ônibus aos mais carentes financeiramente.

Recursos Humanos:- falta psiquiatra e terapeuta ocupacional na rede

- necessidade de concurso público e criação de novas categorias profissionais

(terapeuta ocupacional, acompanhante terapêutico, etc)

- equipe técnica e de apoio insuficientes

- rotatividade de profissionais devido à forma de contratação

- falta de coordenador municipal de Saúde Mental

- psiquiatra com carga horária reduzida

- salários baixos com diferenças acentuadas entre as categorias

- mudança de profissionais relacionada à mudança de gestor municipal de saúde

Formação / Capacitação da equipe:- necessidades de capacitações mais freqüentes

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- necessidade de supervisão para as equipes

- Pólos Educação Permanente: oferecer capacitações na área de saúde mental,

principalmente, atenção básica

- necessidade de inclusão de conteúdos de atenção psicossocial nos currículos

universitários

- cursos de especialização em atenção psicossocial.

Outros:- dificuldades de integração das políticas públicas (mun / Est / fed)

- inexistência de política municipal de saúde mental

- necessidade de maior aproximação com a coordenação estadual de saúde

mental

- continuidade do monitoramento e avaliação dos CAPS

- curso para supervisores clínico-institucional (CAPS)

Esta avaliação, resultado do trabalho de supervisão que os técnicos da

coordenação estadual realizaram no segundo semestre de 2005, foi apresentada no II

Encontro Estadual de CAPS, realizado em Florianópolis nos dias 24 e 25 de agosto de

2006. Na oportunidade, os participantes apresentaram várias demandas, que

relatamos a seguir:

a) Medicamentos excepcionais: necessidade de ampliar as indicações para uso,

possibilitando indicar o uso para outros transtornos, como: transtorno bipolar,

autismo, transtorno psicótico, além da esquizofrenia. Por outro lado, que seja

ampliado o espectro de medicamentos excepcionais em relação às substâncias

psicoativas. Assim, além da risperidona, clozapina e olanzapina, inclua

aripripazol e outros;

b) Profissionais que trabalham nos CAPS geralmente, são contratados e não

efetivos por concurso público. Essa forma de vínculo compromete o trabalho e o

vínculo com os usuários do serviço, devido a mudanças constantes de

profissionais. Os profissionais solicitam que o Estado apresente o problema aos

gestores municipais de saúde, com o propósito de solucioná-lo;

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c) Consideram que a baixa produtividade dos CAPS é devida, entre outros

motivos, ao número reduzido de profissionais, isto é, equipes reduzidas. Nesse

sentido, os profissionais questionaram como fica a relação estrutura x

produção;

d) Preocupam-se com a nova modalidade de financiamento dos CAPS, a partir da

implementação do Pacto de Gestão;

e) Digitação de APACs: sugerem que o programa seja modernizado, que a

gravação dos dados seja em CD e não mais em disquetes;

f) Técnicos das Gerências de Saúde com pouco conhecimento de APACs,

portanto, sem condições de prestar informações. Na Secretaria de Estado da

Saúde – Gerência de Processamento de APACs – nos últimos dois meses, os

profissionais dos CAPS que solicitam orientações e esclarecimentos, não têm

obtido respostas às dúvidas, não são orientados quanto às glosas de APACs,

dentre outros;

g) Consideram que os gestores não valorizam o trabalho realizado nos CAPS pois,

não há incentivo municipal para capacitações, cursos, etc. Em algumas

situações passam por humilhações para conseguirem o recurso financeiro e os

meios necessários para deslocarem-se de suas cidades, para estudarem,

atualizarem-se. Há inclusive, o sentimento entre os profissionais da saúde

mental, de que todas essas dificuldades vão adoecer os profissionais dos

CAPS;

h) Sugerido orçamento da saúde, com previsão de verba para a realização de um

encontro estadual de usuários da saúde mental para o próximo ano;

i) Sugerem que a descentralização seja realmente efetivada e que as Gerências

de Saúde assumam mais e melhor, a função de monitoramento da rede de

saúde mental;

j) Consideram que os gestores municipais de saúde precisam ser sensibilizados

para os temas e problemas relativos à saúde mental.

5 – ComentáriosA supervisão técnico-operacional tem como característica principal, o

acompanhamento das ações em um serviço de saúde; neste caso – os CAPS.

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Como resultado do processo da supervisão realizada na rede CAPS, este trabalho

pretendeu apresentar os principais aspectos relacionados ao projeto terapêutico,

estrutura de recursos humanos, interação com a rede intersetorial, dentre outros,

considerados importantes e indispensáveis para a consolidação do atual modelo de

atenção psicossocial.

Destacamos a seguir nossas recomendações:

a) A produção dos recursos gerados por APACs, na maioria dos CAPS não

atingiu a média de 70% de produção potencial de APACs. Os dados indicam

um faturamento aquém do esperado, 70% do valor máximo. Duas causas

podem explicar essa situação: não preenchimento correto, das APACs e

efetiva baixa produtividade (baixa freqüência de usuários). Visando superar o

problema, recomenda-se ao setor responsável pela análise e processamento de

APACs, que oriente melhor as equipes dos CAPS quanto ao preenchimento dos

formulários, bem como capacite técnicos nas Gerências de Saúde para prestar

assessoria in loco;

b) Considerando a importância do trabalho articulado – CAPS e atenção básica –

e considerando que a maioria (80%) dos municípios (total 293 municípios) do

Estado de Santa Catarina possui população inferior a 20.000 habitantes,

portanto sem potencial para implantar CAPS, recomenda-se a SES, um aporte

de recurso financeiro a esses municípios, para que possam implantar e

estruturar adequadamente, serviços de saúde mental na atenção básica;

c) O município ao implantar um CAPS e, ao iniciar o atendimento dos usuários,

aguarda aproximadamente três meses, entre o processo de vistoria, aprovação

na CIB e emissão de portaria ministerial, para gerar APACs. Recomenda-se

portanto, que a SES destine recurso mensal (a ser definido) a esses serviços,

até que recebam, o recurso extra teto do Ministério da Saúde. Informamos que

essa experiência foi adotada no Estado do Mato Grosso;

d) A capacitação em atenção psicossocial é fundamental aos profissionais que

trabalham na área da saúde mental, possibilitando a eles um melhor preparo

teórico/técnico para lidar com os usuários. Os Pólos de Educação Permanente

(12 no Estado) devem priorizar mais o campo da saúde mental;

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Preocupa também, uma possível conseqüência: com a unificação dos repasses

financeiros do Ministério da Saúde proposto no Pacto de Gestão (05 blocos) é possível

que o valor atual seja tomado como base para ser incluído no teto municipal, criando

dificuldades para os municípios.

Visando garantir os recursos que hoje são financiados conforme Portaria

189/2002, elaboramos uma planilha para análise de custos – CAPS – e encaminhamos

aos gestores municipais de saúde, para preenchimento. Posteriormente, serão

encaminhadas ao Ministério da Saúde/Coordenação Nacional Saúde Mental, que

servirão de subsídios para reivindicação da manutenção do atual financiamento.

5 – Referências Bibliográficas

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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Trata do financiamento dos CAPS. Portaria n. 189/SAS de 20 de março de 2002. Brasília, 2002.

OPAS – OMS. Relatório sobre a Saúde Mental no Mundo – 2001. Saúde Mental: nova concepção, nova esperança. Gráfica do Brasil, 2001.

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Florianópolis, dezembro/2006.

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