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Estado Novo foi o momento mais revolucionário da História do Brasil Desesperada com as derrotas em 30 e 32, a oligarquia tramava a volta ao poder e a derrocada da revolução. O Estado Novo quebrou a contra-revolução e fez as mudanças que transformaram o Brasil num país industrial com operariado forte e empresariado empreendedor A Revolução de 30, o maior movimento revolucionário da História do nosso país, teve sua vitória definitiva assegurada pelo Estado Novo. Esse foi exatamente o motivo de sua instauração. É inevitável que as forças reacionárias, depostas pelas revoluções, tentem voltar ao poder, isto é, tentem empreender a contra-revolução. Para isso, a reação conta com o fato de que, mesmo deposta, ela continua, por um tempo mais ou menos longo, mais forte do que a revolução que acaba de nascer. As relações econômicas, sociais e políticas forjadas em décadas de domínio reacionário não são fáceis de ser superadas pelo novo poder, que ainda não teve tempo de mudá- las, isto é, mudar a sociedade e o país. Foi assim em 1937. Derrotados em 1930, e outra vez em 1932, quando tentaram a contra- revolução armada, os carcomidos, a decadente e corrupta oligarquia cafeeira - cujas principais características eram a subserviência aos bancos ingleses e o parasitismo espoliador sobre o conjunto da Nação – tramava a volta ao poder, dessa vez manipulando e falsificando os próprios instrumentos formalmente democráticos, deformando-os e transformando-os num simulacro. Era preciso que a revolução impedisse e esmagasse o golpe. Em 10 de novembro de 1937, falando em cadeia de rádio para todo o país, o presidente declarou: “quando os meios de governo não correspondem mais às condições de existência de um povo, não há outra solução senão mudá-los”. Getúlio apontou a farsa em que se transformara a vida político-institucional, manipulada pelos decrépitos derrotados em 1930, para colocar no poder, outra vez, à revelia do povo e da Nação, um soba da oligarquia: “Tanto os velhos partidos, como os novos em que os velhos se transformaram sob novos rótulos, nada exprimiam ideologicamente, mantendo-se à sombra de ambições pessoais ou de predomínios localistas, a serviço de grupos empenhados na partilha dos despojos e nas combinações oportunistas em torno de objetivos subalternos. Aí está o problema da sucessão presidencial, transformado em irrisória competição de grupos, obrigados a operar pelo suborno e pelas promessas demagógicas, diante do completo desinteresse e total indiferença das forças vivas da Nação. Chefes de governos, capitaneando desassossegos e oportunismos, transformaram-se, de um dia para outro, à revelia da vontade popular, em centros de decisão, cada qual decretando uma candidatura, como se a vida do país, na sua significação coletiva, fosse simples convencionalismo, destinado a legitimar as ambições do caudilhismo provinciano”. Mais do que isso, Getúlio denuncia: “Os preparativos eleitorais foram substituídos, em alguns Estados, pelos preparativos militares, agravando os prejuízos que já vinha sofrendo a Nação. O caudilhismo regional, dissimulado sob aparências de organização partidária regional, armava-se para impor à Nação as suas decisões, constituindo-se, assim, em ameaça ofensiva à unidade nacional”. Nessas condições, o próprio voto, por fraudado, passava a ser um embuste anti- democrático: “O sufrágio universal passa, assim, a ser instrumento dos mais audazes e máscara que mal dissimula o conluio dos apetites pessoais e de corrilhos. Resulta daí não ser a economia nacional organizada que influi ou prepondera nas decisões

Estado Novo Foi o Momento Mais Revolucionário Da História Do Brasil

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Estado Novo foi o momento mais revolucionrio da Histria do Brasil Desesperada com as derrotas em 30 e 32, a oligarquia tramava a volta ao poder e a derrocada da revoluo. O Estado Novo quebrou a contra-revoluo e fez as mudanas que transformaram o Brasil num pas industrial com operariado forte e empresariado empreendedorA Revoluo de 30, o maiormovimento revolucionrioda Histria do nosso pas,teve sua vitria definitiva assegurada pelo Estado Novo. Esse foi exatamente o motivo de sua instaurao. inevitvel que as foras reacionrias, depostas pelas revolues, tentem voltar ao poder, isto , tentem empreender a contra-revoluo. Para isso, a reao conta com o fato de que, mesmo deposta, ela continua, por um tempo mais ou menos longo, mais forte do que a revoluo que acaba de nascer. As relaes econmicas, sociais e polticas forjadas em dcadas de domnio reacionrio no so fceis de ser superadas pelo novo poder, que ainda no teve tempo de mud-las, isto , mudar a sociedade e o pas.Foi assim em 1937. Derrotados em 1930, e outra vez em 1932, quando tentaram a contra-revoluo armada, os carcomidos, a decadente e corrupta oligarquia cafeeira - cujas principais caractersticas eram a subservincia aos bancos ingleses e o parasitismo espoliador sobre o conjunto da Nao tramava a volta ao poder, dessa vez manipulando e falsificando os prprios instrumentos formalmente democrticos, deformando-os e transformando-os num simulacro.Era preciso que a revoluo impedisse e esmagasse o golpe. Em 10 de novembro de 1937, falando em cadeia de rdio para todo o pas, o presidente declarou: quando os meios de governo no correspondem mais s condies de existncia de um povo, no h outra soluo seno mud-los.Getlio apontou a farsa em que se transformara a vida poltico-institucional, manipulada pelos decrpitos derrotados em 1930, para colocar no poder, outra vez, revelia do povo e da Nao, um soba da oligarquia: Tanto os velhos partidos, como os novos em que os velhos se transformaram sob novos rtulos, nada exprimiam ideologicamente, mantendo-se sombra de ambies pessoais ou de predomnios localistas, a servio de grupos empenhados na partilha dos despojos e nas combinaes oportunistas em torno de objetivos subalternos. A est o problema da sucesso presidencial, transformado em irrisria competio de grupos, obrigados a operar pelo suborno e pelas promessas demaggicas, diante do completo desinteresse e total indiferena das foras vivas da Nao. Chefes de governos, capitaneando desassossegos e oportunismos, transformaram-se, de um dia para outro, revelia da vontade popular, em centros de deciso, cada qual decretando uma candidatura, como se a vida do pas, na sua significao coletiva, fosse simples convencionalismo, destinado a legitimar as ambies do caudilhismo provinciano.Mais do que isso, Getlio denuncia: Os preparativos eleitorais foram substitudos, em alguns Estados, pelos preparativos militares, agravando os prejuzos que j vinha sofrendo a Nao. O caudilhismo regional, dissimulado sob aparncias de organizao partidria regional, armava-se para impor Nao as suas decises, constituindo-se, assim, em ameaa ofensiva unidade nacional.Nessas condies, o prprio voto, por fraudado, passava a ser um embuste anti-democrtico: O sufrgio universal passa, assim, a ser instrumento dos mais audazes e mscara que mal dissimula o conluio dos apetites pessoais e de corrilhos. Resulta da no ser a economia nacional organizada que influi ou prepondera nas decises governamentais, mas as foras econmicas de carter privado, insinuadas no poder e dele se servindo em prejuzo dos legtimos interesses da comunidade.E, por fim, o golpismo aberto, diante da resistncia da revoluo: Ainda ontem, culminando nos propsitos demaggicos, um dos candidatos presidenciais mandava ler da tribuna da Cmara dos Deputados documento francamente sedicioso e o fazia distribuir nos quartis das corporaes militares, que, num movimento de saudvel reao s incurses facciosas, souberam repelir to aleivosa explorao, discernindo, com admirvel clareza, de que lado estavam, no momento, os legtimos reclamos da conscincia brasileira. SABOTADORES O candidato referido era Armando Salles de Oliveira, rebento da oligarquia cafeeira que j o tinha posto no governo de So Paulo. Agora, continuando a contra-revoluo, queria-o na Presidncia da Repblica. Tratava-se de impedir que a Revoluo de 30 avanasse e, mais, acabar com as suas conquistas a comear pela industrializao em curso, que era financiada, exatamente, por um imposto cambial sobre as exportaes de caf; a esse imposto, os carcomidos chamavam confisco: para eles, contribuir com o pas era ser confiscado. Quanto ao pas inteiro pagar os seus prejuzos, como acontecera de 1906 a 1930, isso eles achavam muito justo. Para que existia o pas seno para pagar os emprstimos aos bancos ingleses, que eles tomavam para cobrir os rombos em suas contas?Assim, primeiro recorreram tentativa armada de derrubar o governo revolucionrio. Depois, recorreram sabotagem, a partir da Constituinte de 1934; agora, recorriam ao suborno, fraude, coao do eleitorado e em ltimo caso preparavam outra vez um putsch contra o governo. Como toda classe decadente derrotada, o desespero fazia com que recorresse a qualquer recurso, por mais torpe que fosse inclusive, logo no incio do Estado Novo, tentativa de assassinato de Getlio, em conluio com os nazistas locais, os integralistas.Mas a revoluo e seu lder no permitiriam que a reao triunfasse e retroagisse o pas outra vez quele deserto atrasado de famintos de antes de 1930. Era preciso avanar, realizar o programa da revoluo, mudar o pas irreversivelmente. Mas, como disse Getlio naquele dia 10 de novembro de 1937, numa atmosfera privada de esprito pblico, como essa em que temos vivido, onde as instituies se reduzem s aparncias e aos formalismos, no era possvel realizar reformas radicais sem a preparao prvia dos diversos fatores da vida social.O Estado Novo garantiu essas reformas. A moratria da dvida externa; a Consolidao das Leis do Trabalho; a Previdncia; o impulso poderoso industrializao; a resoluo do problema do ao, com a fundao da Companhia Siderrgica Nacional; a nacionalizao do subsolo e de suas riquezas; os primrdios da indstria do petrleo; a Marcha para o Oeste, para integrar o interior do pas; as indstrias de base mquinas, equipamentos e insumos; a remodelao da Defesa Nacional; a planificao da economia; a proteo ao desenvolvimento da indstria nacional; o aumento da renda do povo, com o aumento exponencial do mercado interno; o salrio-mnimo; o plano da casa prpria para os operrios; a qualificao do trabalhador brasileiro; o combate ao nazismo, dentro e fora do pas.O Estado Novo foi, portanto, a fase em que a revoluo quebrou a contra-revoluo e levou a prtica as medidas que mudaram o Brasil. As duas primeiras foram anunciadas por Getlio no prprio discurso do dia 10 de novembro: a primeira foi a suspenso das transferncias de recursos aos bancos externos que sangravam o pas: A situao impe, no momento, a suspenso do pagamento de juros e amortizaes, at que seja possvel reajustar os compromissos sem dessangrar e empobrecer o nosso organismo econmico. No podemos por mais tempo continuar a solver dvidas antigas pelo processo ruinoso de contrair outras mais vultosas, o que nos levaria, dentro de pouco, dura contingncia de adotar soluo mais radical. As nossas disponibilidades no estrangeiro, absorvidas, na sua totalidade, pelo servio da dvida e no bastando, ainda assim, s suas exigncias, do, em resultado, nada nos sobrar para a renovao do aparelhamento econmico, do qual depende todo o progresso nacional.A segunda medida foi o fim dos privilgios aos cafeicultores, isto , oligarquia cafeeira, privilgios que sangravam o Tesouro e constituam, como a outra sangria, a externa, um freio a que o Estado pudesse atuar em prol da coletividade.O Estado Novo foi, portanto, o perodo mais revolucionrio da revoluo que transformou o Brasil, ou seja, foi o perodo mais revolucionrio da Histria do pas. Naturalmente, inevitvel que os perodos mais intensamente revolucionrios no agradem aos reacionrios; e que, portanto, eles os chamem de ditadura e outros nomes que s revelam que consideram um absurdo que sua pilhagem sobre o povo tenha acabado, que consideram o fim da picada que o povo tenha sido beneficiado com os recursos que so de propriedade do prprio povo, isto , os do Estado, que esses cadveres sociais consideravam uma capitania hereditria deles. E que consideram que acabar com a sua ditadura a coisa mais ditatorial que pode existir. Mas, como disse Getlio, era necessrio e urgente optar pela continuao desse estado de coisas ou pela continuao do Brasil. DEMOCRACIA Exatamente por isso porque foi nele que a tirania sobre o povo foi completamente derrotada - o Estado Novo foi, tambm, o perodo mais democrtico da Histria do Brasil. Quem se queixou da suposta ditadura foram os reacionrios, a ganga antidemocrtica, oligrquica, o restolho que desde o governo de Prudente de Moraes tinha estabelecido um regime antipopular cujo voto bico de pena era um insulto, cujos currais eleitorais e eleies fraudadas eram afrontosamente legendrias, onde mesmo depois de eleito um deputado s tomava posse se fosse aprovado por uma comisso de verificao, que alijava qualquer progressista que tivesse escapado do assassinato eleitoral pela fraude. O aplastamento dos inimigos do povo foi a grande tarefa poltica do Estado Novo. Da a intensa participao popular que acompanhou todo o Estado Novo.Evidentemente, no a aparncia formal que a essncia da democracia. Se fosse assim, Stroessner, que foi reeleito infinitas vezes, seria um democrata e o Paraguai da sua poca, uma democracia exemplar. O que interessa o poder que efetivamente o povo tem. O Estado Novo no teve tempo de estabelecer instituies que formalizassem a democracia que instituiu. Isso, como em outras revolues, somente foi feito em perodo posterior, em 1945/1946. E foi Getlio, mais uma vez, quem convocou as eleies presidenciais e para a Constituinte. interessante que, na tentativa de denegrir o Estado Novo, os mais raivosos anticomunistas afetassem pose de defensores dos comunistas contra Getlio. At mesmo foi forjada a asntica histria de que o pretexto para o Estado Novo teria sido um certo Plano Cohen, um falso plano de ao comunista, forjado pelo governo. No verdade. Jamais Getlio levantou qualquer Plano Cohen como razo para o Estado Novo. As razes, ele as declarou claramente: derrotar a oligarquia, que tentava a restaurao do antigo regime, para mudar o pas. Quanto ao Plano Cohen, era uma inveno sem importncia de um integralista, o mesmo que em 1 de abril de 1964 esteve frente do putsch urdido pelos inimigos de Getlio.O conflito dos comunistas com Getlio foi antes do Estado Novo. Segundo, j em 1942, isto , ainda em pleno Estado Novo, nas manifestaes pela entrada no Brasil na II Guerra, e depois, na prpria guerra, os comunistas e a revoluo de 30 estariam juntos contra o nazismo. Terceiro, evidente que os comunistas, em 1935, atacaram o inimigo errado e esse erro de sua inteira responsabilidade, e no de Getlio. Tentaram, equivocadamente, derrubar um governo revolucionrio, objetivamente colaborando com a oligarquia, o que a demonstrao cabal de que o movimento comunista, o marxismo, estava em sua infncia no Brasil, com todos os graves problemas da imaturidade que no se reconhece como imatura. Assim feita a Histria, que caminha atravs dos acertos, mas tambm dos erros dos homens. Para honra dos comunistas, antes que terminasse o Estado Novo, em 1943, na Conferncia da Mantiqueira, eles souberam reconhecer quem eram os verdadeiros inimigos do povo e quem eram os amigos, a comear por Getlio, a quem Prestes tacitamente se aliou contra o golpe pr-ianque de 1945. INDEPENDNCIA Da mesma forma estpida e sem-vergonha, oligarcas e outros bajuladores do imperialismo pretenderam que Getlio, ao romper com a dependncia Inglaterra, estava planejando entrar na rbita da Alemanha, isto , do nazismo. Trata-se de uma idiotice tpica de quem s consegue se ver e ao Brasil como dependente e subserviente a alguma potncia ou matriz imperialista externa. Tanto isso verdade, que, como mostra o seu dirio, publicado dcadas aps sua morte, Getlio espantou-se que em seu discurso de junho de 1940, que denunciava o imperialismo norte-americano, algum visse qualquer coisa de inclinao para o nazismo. Ele lutava por um pas independente e tinha uma mente independente. Quem no conseguia ver o pas independente e, portanto, via na denncia de um imperialismo, inclinao por outro imperialismo eram os oligarcas e apaniguados. Getlio, pelo contrrio, proibiu o Partido Nazista j antes da guerra e reprimiu seus servos internos, os integralistas com apoio explcito, por sinal, dos comunistas, que, presos, tomaram a iniciativa de se solidarizar com ele, reconhecendo-o como chefe da Nao brasileira.O Brasil jamais foi o mesmo aps o Estado Novo. Hoje, a maioria dos que nasceram depois nem mesmo imagina como ele era diferente antes. ramos, como disse Getlio no discurso de So Loureno, um pas que vivia de exportar sobremesas. Um pas de povo miservel e desempregado. Tornamo-nos um pas industrial, com um operariado numeroso, com um empresariado empreendedor. Em suma, com o Estado Novo, tornamo-nos o Brasil. CARLOS LOPES