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2014 ESTUDO DE CENÁRIO: MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO DE 1964 Cirineu José da Costa – Engº - MSc

Cenario do movimento revolucionário de 1964

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Análise sumária de cenários em diversas épocas que culminaram com o movimento de 1964.

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2014

ESTUDO DE CENÁRIO: MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO DE 1964

Cirineu José da Costa – Engº - MSc

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ESTUDO DE CENÁRIO – 31 DE Março de 1964

GOLPE MILITAR? REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA? REVOLTA POPULAR OU

CONTRA A REVOLUÇÃO COMUNISTA?

1. INTRODUÇÃO

Os Fatos Históricos que envolveram os Militares e que culminaram na

instalação de um governo militar no nosso país só poderão ser analisados

com a devida isenção daqui a mais uns 50 anos. Os fatos históricos

necessitam de uma maturação temporal para que se transformem em

História. História a ser contada sem a influência de atores ainda vivos que

participaram, vencidos ou vencedores, dos eventos que compuseram os

acontecimentos do Movimento de 31 de Março 1964.

Trataremos dos fatos históricos com a devida isenção, estudando os

cenários desde a Revolução Russa de 1917 até a denominada Guerra Fria,

cenário dentro do qual ocorreram diversos movimentos revolucionários no

continente americano, asiático e africano.

O Movimento de 31 de Março de 1964 não pode ser compreendido se

analisado dentro do contexto atual, pois foi germinado dentro de um cenário

sombrio onde os objetivos eram bipolares e contrários.

2. A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917

O Império Russo sempre foi grandioso. Grandioso em extensão e em

ambição de poder. Entre 1904 e 1905 o Czar Nicolau II envolveu-se numa

guerra sangrenta contra os japoneses disputando a posse de territórios

chineses e a influência sobre áreas do continente. O Japão ganhou a guerra

e o Império Russo entrou numa crise econômica que gerou um

descontentamento geral do povo contra o Czar.

Os movimentos reivindicatórios foram reprimidos a tiro pelas tropas czarinas,

mas as reivindicações por melhores condições de vida e de trabalho

continuaram a crescer e transformaram-se num ambiente propício para a

difusão e a aceitação das ideias socialistas, sobretudo as elaboradas pelos

alemães Karl Marx e Friedrich Engels, entre os movimentos sociais e se

tornariam a base da Revolução Russa. Em 1905, surgiram os sovietes de

trabalhadores, conselhos que se encarregavam de coordenar o movimento

operário nas fábricas. Os sovietes teriam papel decisivo na revolução de

1917.

Em 1914 teve início da denominada Primeira Grande Guerra. De um lado a

Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha (a Itália passou para a outra

aliança em 1915) e do outro lado a Tríplice Entente, formada em 1907, com

a participação de França, Rússia e Reino Unido. O Czar tinha a esperança

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de expandir o Império Russo a acalmar os ânimos do público interno, ávido

por mudanças e melhorias nas condições de vida. Em dois anos e meio de

guerra, a Rússia perdeu 4 milhões de pessoas. A insatisfação popular e a

disseminação dos movimentos subversivos dos sovietes cresciam e o

objetivo de tomada do poder já era explicito. Os bolcheviques (maioria, em

russo), que defendiam o confisco das grandes propriedades, o controle das

indústrias pelos operários e a saída da Rússia da guerra tinham o controle

cada vez maior dos sovietes de operários e soldados, sua força crescia

continuamente sendo seus dois principais líderes Vladimir Lenin e Leon

Trotski. Tomaram o poder em 1917 e retiraram a Rússia da Guerra. As

medidas seguintes do governo revolucionário foram a supressão das

grandes propriedades rurais que foram confiadas à direção de comitês

agrários, o controle das fábricas pelos trabalhadores, a criação do Exército

Vermelho com a finalidade de defender o socialismo contra inimigos internos

e externos e logo depois os bolcheviques adotaram o sistema de partido

único: O Partido Comunista Soviético.

Lenin morreu em 1924 e a disputa pelo poder entre Stalin (secretário-geral

do Partido Comunista) e Trotski passou a dominar o cenário politico. Stalin

defendia que a União Soviética deveria construir o socialismo em seu país e

só depois tentar levá-lo a outros países. Trotski achava que a Revolução

Socialista deveria ocorrer em todo o mundo, pois enquanto houvesse países

capitalistas, o socialismo não teria condições de sobreviver isolado.

Stalin venceu a disputa. Trotski foi expulso da URSS. Josef Stalin foi o

dirigente máximo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) de

1929 a 1953. Governou por meio do terror, embora também tenha convertido

a URSS em uma das principais potências mundiais.

3. I GUERRA MUNDIAL E SUAS CONSEQUENCIAS

A Alemanha, derrotada na Primeira Guerra Mundial, assinou o acordo

conhecido como "O Tratado de Versalhes", com os Estados Unidos, Grã-

Bretanha, França e outros países aliados. Houve a exigência de pagamento

de reparações econômicas, militares e territoriais aos países atacados. A

Alemanha devolveu a região da Alsácia-Lorena à França, as cidades de

Eupen e Malmedy para a Bélgica, a região industrial de Sarre foi mantida

sob a administração da Liga das Nações por 15 anos, a região norte de

Schleswig foi para a Dinamarca e a Renânia foi desmilitarizada. Além disso,

a Polônia recebeu partes da Prússia Ocidental e da Silésia, a

Tchecoslováquia recebeu o distrito de Hultschin. A grande cidade alemã de

Danzig passou a ser uma cidade livre, sob a proteção da Liga das Nações.

Memel, uma pequena faixa territorial na Prússia Oriental, às margens do Mar

Báltico, foi entregue ao controle lituano. A Alemanha perdeu também todas

as suas colônias. No total, a Alemanha perdeu cerca de 70.000 quilômetros

quadrados e um décimo de sua população (entre 6.5 a 7 milhões de

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habitantes). Toda a humilhação a que foi submetida a Alemanha derrotada

fez surgir um ultranacionalismo e um líder: Adolf Hitler. O regime de Hitler

objetivava a formação de um vasto império cujo território unificasse sob o

domínio alemão toda a Europa. Era o conceito do "espaço vital"

(Lebensraum) para assegurar o crescimento germânico. Segundo os

idealizadores do projeto de domínio alemão sobre Europa, tal império

somente poderia ser construído através de uma guerra.

Após assegurar a neutralidade da União Soviética com um Pacto de Não-

Agressão Germano-Soviético de agosto de 1939, a Alemanha deu início ao

conflito invadindo a Polônia no dia 1 de setembro de 1939. No dia 3 de

setembro do mesmo ano, a Inglaterra e a França responderam à agressão

com declarações de guerra aos alemães. Em um mês, a Polônia foi

derrotada pela combinação das forças alemãs e soviéticas e seu território foi

dividido entre a Alemanha nazista e a União Soviética. Era também o início

do processo expansionista dos Soviéticos e do sonho de disseminar a

Revolução Comunista por todo o mundo.

4. A INTENTONA COMUNISTA DE 1935

As Esquerdas queriam dar um basta ao avanço do fascismo que já havia

dominado a Itália em 1922, a Alemanha em 1933 e a Áustria em 1934.

Segundo as decisões da Internacional Comunista de 1935 as alas

esquerdistas de todo o mundo deveriam aproximar-se dos partidos

democráticos de classe média e formar uma Frente Popular para enfrentar a

maré de vitorias nazifascista e direitista. Desta forma, os Socialistas, os

Comunistas (estalinistas e troskistas), os Anarquistas e Democratas liberais

deveriam unir-se para chegar e inverter a tendência mundial favorável aos

regimes direitistas. Aqui também nasceu a orientação para a deflagração

da Intentona Comunista de 1935, ocorrida no Brasil.

O conteúdo de amplo enfrentamento ideológico fez com que a Guerra Civil

Espanhola deixasse de ser um acontecimento puramente espanhol para

tornar-se numa prova de força entre forças que disputavam a hegemonia do

mundo. Nela envolveram-se a Alemanha nazista e a Itália fascista, que

apoiavam o golpe do Gen. Franco e a União Soviética que se solidarizou

com o governo Republicano que mais tarde poderia ser transformado em

socialista-comunista.

O Chile foi o único país latino-americano a conhecer a vitória eleitoral e o

estabelecimento de um governo baseado na política da Frente Popular,

adotada pela Internacional Comunista de 1935 (MCI), a partir de agosto de

1935, ao lado da França e da Espanha. A estratégia aprovada pela

Internacional Comunista foi a de impulsionar a unidade de ação entre os

comunistas e outras forças políticas, com o intuito de se fazer frente, política

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e ideologicamente, ao fascismo e ao nazismo, então em ascensão na

Europa Ocidental.

A América Latina figurava como ente secundário diante dos propósitos da

Internacional Comunista, mas Brasil e Chile, em virtude de suas posições

estrategicamente colocadas de frente ao Atlântico e ao Pacífico, passaram a

ser vistos como países importantes para que ali se estimulasse a nova linha

política adotada pelo Movimento Comunista Internacional (MCI).

A origem da Frente Popular no Chile foi posterior às experiências da França

e da Espanha, mas foi muito parecida. A Frente Popular Chilena articulou-se

como uma aliança político-eleitoral que abrigava amplas correntes

ideológicas disfarçando a característica marxista. A Frente Popular Chilena

foi composta essencialmente pelos partidos Radical, Socialista e Comunista,

que assumiram, gradativamente, a defesa da democracia política como

fundamento político, mas era na verdade um agrupamento

genuinamente esquerdista.

A Frente Popular na Espanha redundou, como se sabe, no banho de sangue

da Guerra Civil iniciada em 1936 e na França terminou sumariamente em

função da falta de apoio parlamentar.

No Chile, ao contrário da Espanha, não ocorreu guerra civil, mas a Frente

Popular Chilena, passados dois anos de sua chegada ao poder, não

conseguiu sustentar-se como aliança política. Isso não significou o colapso

do governo iniciado em 1938. Sustentado pelo presidencialismo da Carta

Constitucional de 1925, o governo prosseguiu após a ruptura da Frente

Popular tendo sido interrompido em virtude da morte do Presidente Chileno

em 1941.

O Brasil vivia o Governo Getúlio Vargas, colocado no poder através de um

golpe de estado após o fim da política do “café-com-leite” entre São Paulo e

Minas Gerais. A proposta de modernização do país proposta por Getúlio viria

por via autoritária, sem consultas eleitorais. Tendo em vista a deposição do

candidato proposto por São Paulo e a colocação de um governo autoritário,

os paulistas se rebelaram e promoveram a Revolução Constitucionalista de

1932 que resultou em violentos combates e mortes de ambos os lados.

Getúlio venceu e colocou o Partido Comunista na ilegalidade. Em março de

1935 foi criada no Brasil a Aliança Nacional Libertadora (ANL), presidida

pelo líder comunista Luís Carlos Prestes e inspirada no modelo das frentes

populares que surgiram na Europa para impedir o avanço do nazi-fascismo,

seguindo a orientação da Internacional Comunista. A ANL defendia

propostas nacionalistas e tinha como bandeira a luta pela reforma agrária e

a implantação do regime comunista no Brasil. Os setores mais esclarecidos

da sociedade brasileira não aprovavam as atividades desenvolvidas pelos

comunistas tais como a infiltração, a propaganda e o aliciamento. Nosso

país não estava preparado para uma revolução comunista, mas os dirigentes

da Internacional Comunista não levaram tal fato em consideração. O

Komintern exigiu uma ação imediata, aproveitando o ambiente da Guerra

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Civil Espanhola. O grupo chefiado por Luís Carlos Prestes tinha a missão de

implantar no Brasil uma ditadura comunista. Moscou enviou ordens para que

o PCB agisse o mais rápido possível. Luís Carlos Prestes concordou com o

desencadeamento do movimento armado que vitimou centenas de civis e

militares. O financiamento da revolução foi bancado por Moscou e as

remessas eram destinadas a Celestino Paraventi, amigo de Prestes no Café

Paraventi, na Rua Barão de Itapetininga, em São Paulo.

O movimento denominado depois Intentona Comunista, deveria explodir

simultaneamente no Rio, Rio Grande do Norte e Pernambuco onde as

células comunistas estavam melhor organizadas. O movimento começou

antecipadamente, por erro interno, no dia 23 de novembro de 1935 na

cidade de Natal. Dois sargentos, dois cabos e dois soldados do 21º Batalhão

de Caçadores (21º BC), cerca de 300 homens da extinta Guarda Civil e civis

assumiram o controle da cidade. Foram três dias e três noites de violência e

terror. A cidade ficou à mercê dos revoltosos e houve uma onda de saques

em estabelecimentos comerciais e bancários. No dia 24 de novembro o

“Comitê Popular Revolucionário” foi declarado como governo instituído e

entrava em pleno exercício de mandato. O primeiro ato desse comitê foi o

arrombamento dos cofres dos bancos, das repartições federais e das

companhias particulares para financiar a revolução.

Em Pernambuco, o movimento teve início dia 24 de novembro, pela manhã,

quando um sargento, comandando um grupo de civis, invadiu a Cadeia

Pública e roubou o armamento dos policiais. No Centro de Preparação de

Oficiais da Reserva o armamento foi roubado tendo sido um oficial morto em

combate. Os revoltosos tentaram tomar o Quartel General da 7ª Região

Militar e outras unidades do Exército, mas não o conseguiram, porque a

antecipação do movimento em Natal prejudicou a surpresa e colocou a

guarnição federal em alerta. As Delegacias de Polícia de Olinda, Torre e

Casa Amarela também foram atacadas. A reação partiu do 29º Batalhão de

Caçadores (29ºBC), auxiliado pelas forças federais e pela Polícia Militar de

Pernambuco. Esse foi o mais sangrento de todos os levantes da Intentona

Comunista sendo o número de vítimas estimado em torno de 720 pessoas

só em Recife.

Em 26 de novembro, o presidente Vargas, ciente da gravidade da situação,

decretou o estado de sítio em todo o País, após autorização do Congresso

Nacional. No Rio de Janeiro o movimento eclodiu no dia 27 de novembro às

duas horas da madrugada na Escola de Aviação no Campo dos Afonsos. O

plano era dominar primeiro a Escola de Aviação e logo após as células

comunistas de outros quartéis deveriam se insurgir enquanto civis aliciados

pelo Partido Comunista começariam os combates de rua.

Apesar da rigorosa prontidão militar, a ação dos revoltosos teve êxito

inicialmente na Escola de Aviação, mas o Comando da Guarnição da Vila

Militar desencadeou uma pronta reação, controlando o levante. No Rio de

Janeiro, o 3º Regimento de Infantaria (3ºRI) da Praia Vermelha possuía uma

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forte célula comunista entre os oficiais e praças da unidade e, às duas horas

da manhã os amotinados começaram a agir. O tiroteio foi intenso e muitos

militares foram mortos ainda dormindo. Às 13 horas do mesmo dia os

amotinados se renderam. Derrotados, mudaram o estilo, a técnica e a forma

de atuar, mas não se afastaram do desejo de implantar no Brasil um governo

marxista-leninista.

5. A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A Segunda Guerra Mundial surgiu devido a erros e imperfeições do Tratado

de Versalhes, pela depressão de 1929 e pelo conflito ideológico entre o

fascismo, o comunismo e a democracia.

A Alemanha Nazista começou cedo a treinar suas tropas. Sua Força Aérea

foi amplamente empregada na Guerra Civil Espanhola (1936-39) que foi o

acontecimento mais traumático que ocorreu antes da 2ª Guerra Mundial.

Nela estiveram presentes todos os elementos militares e ideológicos que

marcaram o século XX.

Treinados na Guerra Civil Espanhola, em de 1938, as tropas alemãs

invadem a Áustria. Hitler quis dominar uma parte

da Tchecoslováquia alegando que era habitada por pessoas de língua

alemã. Seu intento contou com a concordância da Grã-Bretanha e da

França. Essas nações esperavam satisfazer Hitler para que ele parasse de

fazer mais exigências, mas seu plano de apaziguamento foi um fracasso.

Em seis meses, a Alemanha tomou posse da Tchecoslováquia inteira.

Alemanha deu continuidade ao seu Plano de Expansão invadindo a Polônia

no dia 1 de setembro de 1939. A Alemanha nazista e a União Soviética

dividiram entre si o território da Polônia que foi derrotada numa guerra rápida

e moderna.

Após a derrota da Polônia, em Abril de 1940 as forças alemãs invadem a

Noruega e a Dinamarca e em maio do mesmo ano, iniciam uma série de

ataques contra a Europa ocidental, invadindo a Holanda, Bélgica,

Luxemburgo e a França. Franceses colaboracionistas assinaram um tratado

de cessar-fogo com a Alemanha, autorizando a ocupação da parte norte da

França e a costa mediterrânea, criando um regime pró-nazista na cidade de

Vichy.

Dando continuidade ao seu projeto de expansão do comunismo, em junho

de 1940 a União Soviética ocupa a Lituânia, Letônia e Estônia anexando-os

formalmente à URSS.

A Itália aderiu à guerra em 10 de junho de 1940 ao lado da Alemanha. Após

garantir sua posição na região dos Balcãs, através da invasão da Iugoslávia

e da Grécia em abril de 1941, os alemães e seus aliados invadem a União

Soviética em junho de 1941, violando os termos do Pacto de Não-Agressão

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Germano-Soviético. Em junho e julho de 1941, os alemães também ocupam

os estados bálticos.

Stalin opôs-se à Alemanha nazista e seus parceiros do “Eixo”, tornando-se a

partir daquele momento um importante líder das forças Aliadas. Durante o

verão e o outono de 1941, as tropas alemãs avançam sobre o território

soviético sofrendo forte resistência do Exército Vermelho. Em dezembro de

1941 as tropas soviéticas contra-atacam retirando as forças alemãs dos

arredores de Moscou. O Japão, em dezembro de 1941, bombardeia Pearl

Harbor, no estado norte-americano do Havaí. Os Estados Unidos declaram

guerra ao Japão. Em 11 de dezembro a Alemanha e a Itália declaram guerra

aos Estados Unidos. O conflito militar amplia-se através dos continentes. O

Brasil participou do conflito enviando tropas para o Teatro Operacional da

Itália tendo combatido em diversas batalhas importantes com o uso de

tropas terrestres, força aérea e marinha de guerra. O fim do conflito com a

rendição dos países do Eixo na Europa e com a rendição do Japão após ser

vitimado por duas Bombas Atômicas (armamento usado pela primeira vez

numa guerra) não trouxe o fim da tragédia. Havia aproximadamente 20

milhões de pessoas deslocadas de suas origens e demandavam questões

de repatriamento. A economia da Europa estava arrasada e os países de

Leste Europeu que se livraram do domínio alemão passaram a ficar sob o

domínio de regimes totalitários de esquerda, dominados pela Rússia.

O Mundo se transformara numa esfera bipolar entre Estados Unidos de

um lado e a União Soviética do outro lado.

Os povos colonizados começavam a reivindicar a sua libertação e a

Alemanha deixou de ser um Estado coeso, dando lugar a duas nações: a

República Federal da Alemanha (Ocidental) e a República Democrática

Alemã (leste). Nascia a Guerra Fria.

6. A Guerra Fria

A denominação de Guerra Fria é dada ao período histórico de disputas entre

os Estados Unidos e a União Soviética, do fim da Segunda Guerra Mundial,

em 1945 até a extinção da União Soviética em 1991.

Americanos e Russos foram aliados na luta contra os alemães de Hitler

durante a II Guerra Mundial. Após o inimigo ser derrotado, os antigos aliados

se transformaram em adversários devido à extrema diferença ideológica

existente entre as duas formas de governo que defendiam.

A Guerra Fria teve um viés político, militar, tecnológico, econômico, social e

ideológico entre as duas nações. Foi denominada Fria pelo fato de não ter

havido um confronto direto de tropas devido a inviabilidade de vitória de uma

das partes em um conflito nuclear. A corrida armamentista foi um dos

maiores objetivos da primeira metade da Guerra Fria.

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A rivalidade entre as duas nações nasceu da incompatibilidade entre as suas

ideologias. O sistema político e a organização da economia eram defendidos

de um modo diferente por cada um dos contendores. Os Norte-Americanos

defendiam o capitalismo, a democracia, princípios como a defesa da

propriedade privada e a livre iniciativa, enquanto os Russos defendiam o

socialismo, o fim da propriedade privada, a igualdade econômica e um

Estado forte capaz de garantir as necessidades básicas de todos os

cidadãos.

O confronto ideológico não podia ser resolvido pela via tradicional da guerra

aberta e direta. Então as duas nações passaram a disputar influência

política, econômica e ideológica em todo o mundo. A Guerra Fria terminou

por completo com a ruína do mundo socialista, uma vez que a URSS estava

destruída economicamente devido aos gastos com armamentos e com a

queda do Muro de Berlim em 1989.

Um símbolo da Guerra Fria foi o Muro de Berlim que dividiu a cidade em

duas e a divisão do país germânico em dois: República Federal da

Alemanha, de orientação capitalista e a República Democrática Alemã,

dominada pelos socialistas.

Em 1949 foi criada a OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte,

uma aliança militar com o objetivo de proteção internacional com a

participação inicial dos EUA, Canadá e países da Europa capitalista. A

URSS, em resposta à OTAN, juntou-se com seus aliados e criou o Pacto de

Varsóvia, unindo forças da Europa Oriental.

Durante a Guerra Fria, vários conflitos regionais aconteceram e, cada parte,

geralmente, recebia o apoio de um das duas nações, ou URSS ou EUA. Os

mais conhecidos foram a Guerra da Coreia, Guerra do Afeganistão e Guerra

do Vietnã.

A Guerra da Coréia aconteceu entre os anos de 1951 e 1953 quando, após

a Revolução Chinesa, a Coréia sofre pressões para adotar o sistema

socialista em todo seu território. A região sul da Coréia resiste e, com o

apoio militar dos Estados Unidos, defende seus interesses. A Coréia foi

dividida no paralelo “38”. O Norte ficou com orientação soviética e o Sul

manteve o sistema capitalista. Atualmente a divisão das Coreias persiste e

tecnicamente ainda estão em guerra, pois não foi assinado tratado de paz

entre os coreanos.

A Guerra do Vietnã ocorreu entre 1959 e 1975 e contou com a intervenção

direta dos EUA, China e URSS. Os soldados norte-americanos, apesar de

contar com todo um aparato tecnológico, tiveram dificuldades no

enfrentamento com os soldados vietcongs (apoiados e armados pelos

soviéticos e chineses) nas florestas tropicais do país. Milhares de pessoas,

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entre civis e militares morreram nos combates. Os EUA saíram derrotados e

tiveram que abandonar o território vietnamita de forma vergonhosa em 1975.

O Vietnã passou a ser socialista.

Um dos derradeiros eventos da Guerra Fria foi a invasão do Afeganistão pela

URSS em 1980 e nesta empreitada os Russos tiveram grandes perdas

materiais e humanas tendo abandonado o conflito sem nenhum resultado

positivo. A Região seria invadida depois pelas potencias ocidentais na busca

frenética pelo aniquilamento do movimento terrorista islâmico internacional e

neste embrolho se encontra até os dias de hoje.

7. SUBPRODUTOS DA GUERRA FRIA NAS AMÉRICAS

A Revolução Cubana foi um dos subprodutos da Guerra Fria. Embora

Cuba tenha se tornado independente em 1902, a ilha sempre ficou sob o

domínio econômico dos Estados Unidos. A ditadura de Fulgêncio Batista foi

apoiada pelos americanos em 1952. Em 1959 a capital Havana caiu sob o

domínio da guerrilha de Fidel e Che Guevara e foi instalado um governo

revolucionário. Assumindo o poder Fidel inicia sua política de

nacionalização atingindo várias empresas dos Estados Unidos instaladas em

Cuba. Em represália os EUA decretam em 1962 o bloqueio comercial (que

ainda está vigente). Fidel aproxima-se do eixo URSS-China e torna Cuba o

único país socialista da América e um centro de treinamento para a

disseminação da guerrilha de esquerda nos países latino-americanos. Na

manhã do dia 14 de outubro de 1962, um avião U-2 equipado com uma

câmara fotográfica de último tipo sobrevoou Cuba e avistou o que parecia

ser uma nova construção militar em San Cristóbal, na província de Pinar Del

Rio, no oeste de Cuba. Agora era certo: os soviéticos instalavam mísseis em

Cuba. As características das instalações identificadas pelos americanos

sinalizavam que esses mísseis seriam capazes de carregar ogivas

nucleares. Os soviéticos fincavam as primeiras bases para que, dentro de

pouco tempo, fossem capazes de disparar artefatos nucleares em qualquer

metrópole americana, inclusive Nova York e Washington.

A crise dos mísseis soviéticos em Cuba foi o incidente mais grave da Guerra

Fria e o que mais aproximou a humanidade da probabilidade de uma guerra

nuclear entre a URSS e os Estados Unidos.

O Governo Cubano implantou melhorias sociais, especialmente em saúde e

educação, mas a economia e a liberdade na ilha continuam precárias. A

ilha foi governada por Fidel até 2008 quando transferiu o poder para seu

irmão Raul Castro. Mesmo após o colapso do socialismo na União Soviética

o regime cubano se mantém. Cuba ainda é uma espinha atravessada na

garganta dos Estados Unidos que ainda mantém uma base militar na baía

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de Guantánamo por força de um Tratado assinado em 1903 e renovado em

1934.

O Movimento Guerrilheiro na Bolívia teve a participação direta de

combatentes estrangeiros vindos de Cuba e da Rússia. Por sua parceria

política e ideológica com URSS e China, Cuba era o principal foco de

temores dos Governos da América do Sul. Líder da Revolução Cubana, o

argentino Che Guevara participou ativamente da guerrilha na Bolívia

utilizando o codinome de Ramón. Sua participação foi confirmada em agosto

de 1967 e ele seria morto pelas forças bolivianas dois meses depois.

A Argentina sofreu com a guerrilha de esquerda. Enrique Gorriarán Merlo é

considerado um dos maiores terroristas do continente. Hoje, cumprindo

prisão perpetua em Buenos Aires, ele diz que caminho é a democracia,

contrariamente à ditadura de esquerda que defendia. Ele responde pelo

ataque ao quartel de La Tablada, em janeiro de 1989, durante o mandato de

Raúl Alfonsín, o primeiro presidente eleito no país depois do regime militar

(1976-1983). Em entrevista a uma revista o guerrilheiro fez diversas

declarações: "A esquerda deve buscar seus objetivos por meio da

participação nas instituições democráticas."; "As Forças Armadas latino-

americanas, depois da Guerra Fria, ficaram desmoralizadas. Atualmente, os

regimes democráticos são soluções mais estáveis para os grandes

investidores" e "Se o outro lado não faz a guerra, as armas não devem

substituir a política. A hora da rebelião só chega quando acaba a da

democracia". Ele só não explicita qual era o objetivo do movimento

guerrilheiro e, caso o movimento fosse vitorioso, se seria efetivada uma

“eleição direta” e qual seria o destino dos “vencidos na guerra”. A luta não

era nacionalista, pois após a morte em combate de líderes do movimento ele

tomou o rumo da Nicarágua para participar em 1979, da Revolução

Sandinista. Assumiu a direção do Departamento de Inteligência Exterior no

governo liderado por Daniel Ortega. Anastásio Somoza, ex-presidente da

Nicarágua, deposto pela guerrilha, fugiu para Assunção no Paraguai.

Enrique Gorriarán Merlo reuniu guerrilheiros do ERP argentino e planejaram

a morte do ex-presidente nicaraguense. Às 10h35 de 17 de setembro de

1980, com um tiro de bazuca chinesa chamada RPG-2. Morria Somoza na

capital paraguaia.

O Uruguai não ficou livre da ação guerrilheira que se alastrou por toda a

América Latina. O Movimento Tupamaro foi intenso no território uruguaio e o

nome veio de Tupac Amaru III, um cacique peruano, líder de um confronto

contra os espanhóis no século XVIII. O fundador do Movimento de Liberação

Nacional - Tupamaros (MLN-T) foi Raul Sendic, advogado, revolucionário

guerrilheiro e político do Uruguai. As primeiras ações do partido foram

investigações nas grandes corporações com o objetivo de comprovar a

corrupção governamental. O grupo tinha forte característica guerrilheira, o

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que incluía assaltos a clubes de armas e bancos, sequestros, propaganda

de guerrilha e assassinatos. Segundo divulgavam, o dinheiro que

conseguiam nas ações ilegais era distribuído para as camadas mais pobres

da população de Montevidéu. Os integrantes dos Tupamaros eram na sua

maioria universitários, técnicos e profissionais liberais. Com a prisão de Raul

Sendic em 1971 e com as ações de represália das Forças Armadas

uruguaias contra os Tupamaros o movimento perdeu sua força com a morte

e desaparecimento de muitos de seus integrantes. Em 1985, alguns

representantes dos Tupamaros voltam a assumir cargos políticos, pois,

naquele ano, a democracia uruguaia tinha sido reestabelecida com o fim da

ditadura militar. Atividades de guerrilha não foram mais detectadas no país.

Sendic acabou sendo internado em um sanatório da França e faleceu no ano

de 1989. Em 2004, José Mujica e Nora Castro, dois antigos representantes

do grupo, foram eleitos à presidência das duas Câmaras do Congresso.

Cinco anos depois, José Mujica foi eleito presidente do Uruguai. Não

havendo ambiente político e social para a implantação de uma ditadura de

esquerda no Uruguai, não houve outra saída para os Tupamaros do que

continuar com o regime democrático, para o qual não tiveram nenhuma

formação.

A Colômbia é outro país que sofreu e ainda sofre com a ação de

movimentos guerrilheiros. As Forças Armadas Revolucionárias da

Colômbia–Exército do Povo conhecidas como FARC ou FARC-EP, é uma

organização de inspiração comunista, autoproclamada guerrilha

revolucionária marxista-leninista, que opera mediante táticas de guerrilha.

Lutam pela implantação do socialismo na Colômbia e defende o direito dos

presos colombianos. Apesar de não ser membro do Foro de São Paulo, que

congrega partidos de esquerda da América Latina, as FARC já estiveram

presentes em suas reuniões. As FARC são consideradas uma organização

terrorista pelo governo da Colômbia, dos Estados Unidos, Canadá e pela

União Europeia. Equador, Bolívia, Brasil, Argentina e Chile não consideram

atualmente as FARC-EP como organização terrorista. O Governo

venezuelano recusou classificação em Janeiro de 2008 e apelou à Colômbia

e outros governos que reconhecessem a guerrilha como "força beligerante",

argumentando que elas estariam assim obrigadas a renunciar ao sequestro

e atos de terror a fim de respeitar a Convenção de Genebra. Cuba e

Venezuela adotam o termo “insurgente” para as FARC.

A Human Rights Watch estima que as FARC tenham a maioria das crianças-

soldados na Colômbia. Aproximadamente 20% a 30% dos guerrilheiros são

menores de 18 anos. Crianças que tentam escapar às fileiras podem ser

punidas com tortura e morte por um pelotão de fuzilamento. Já as mulheres

entram para a organização campesina para fugir dos abusos sexuais

praticados pelos combatentes. Mulheres guerrilheiras possuem as mesmas

Page 13: Cenario do movimento revolucionário de 1964

prerrogativas e chances de serem promovidas que os homens. Contudo,

meninas na guerrilha ainda estão submetidas às pressões sexuais. Mesmo

que a violação e o molestamento sexual não sejam tolerados, vários

comandantes homens usam seu poder para ter relações sexuais com

garotas de baixa idade. Meninas como de 12 anos são obrigadas a usar

contraceptivos e devem abortar caso fiquem grávidas. A Colômbia convive

até hoje com as atividades das FARC que, apesar de dividida, ainda

continua com suas atividades e teve seus negócios ampliados com a

produção, refino e tráfico de cocaína para o mundo.

No Brasil, o retorno das tropas ao país após o término da II Guerra Mundial

trouxe um ambiente de desconforto tendo em vista que as mesmas tinham

ido ao continente europeu lutar contra forças nazifascistas e o país

encontrava-se sob o comando de um regime forte chefiado por Getúlio

Vargas. O golpe de estado foi inevitável e José Linhares, então Presidente

do Supremo Tribunal Federal foi convocado pelas Forças Armadas para

exercer a Presidência da República tendo em vista a deposição do titular

Getúlio Vargas. Tomou posse em 29 de outubro de 1945 no Gabinete do

Ministro da Guerra, General Góis Monteiro e ficou no cargo até 1946. No

período seguinte foi eleito Eurico Gaspar Dutra que governou de 31.01.1946

a 31.01.1951. Getúlio Vargas volta ao poder, agora eleito pelo voto popular.

Toma posse em 31.01.1951, no Congresso Nacional, em sessão presidida

pelo Senhor Fernando de Melo Viana e suicida-se em 24 de agosto de 1954.

Tomou posse o seu vice, Café Filho que permaneceu até 11.11.1955.

Finalmente Juscelino Kubitschek de Oliveira foi eleito pelo voto direto,

assumiu o cargo e governou no período de 31.01.1956 a 31.01.1961. Jânio

da Silva Quadros sucedeu Juscelino e tomou posse em 31.01.196, tendo

encaminhado pedido de renúncia em 25.08.1961 que foi aceita pelo

Congresso Nacional. O Presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri

Mazzilli, assume o poder, como substituto legal, no dia 26.08.1961, no

Palácio do Planalto tendo em vista que o vice-presidente encontrava-se em

visita à República Popular da China. Segue o país em um período

conturbado com greves e revoltas militares que culminou com o Movimento

Revolucionário de 1964.

O Movimento de 1964 foi construído lentamente a partir de uma base

formada a partir da crescente ameaça de uma revolução comunista prestes

a eclodir no país. Para a construção dessa mentalidade do comunismo os

jornais exerceram um importante papel. Havia uma constante mobilização de

posseiros e campos de treinamento organizados pelas recém-formadas

Ligas Camponesas. O clima de Guerra Fria contribuiu para a construção

histórica do comunismo como um movimento que visava a anarquia, a

desordem, a negação de valores cristãos e o fim do instituto da propriedade

privada. As constantes matérias publicadas nos jornais davam e entender

Page 14: Cenario do movimento revolucionário de 1964

que se não houvesse uma ação rápida para conter os comunistas a

revolução seria uma questão de tempo. A imprensa muitas vezes

supervalorizava atuação dos movimentos socialista e de esquerda no Brasil,

atemorizando a sociedade.

As importantes mobilizações dos comunistas e dos movimentos de esquerda

no Brasil deram-se através das Ligas Camponesas com um projeto

assumidamente socialista e inclusive com ações concretas em prol da

revolução inclusive com a organização de campos de treinamento de

guerrilheiros nas regiões rurais.

A instabilidade política no nosso país vinha desde o suicídio de Getúlio

Vargas e da posse de Juscelino Kubistchek, que só assumiu a presidência

devido ao esforço de militares liderados pelo general Henrique Teixeira Lott.

O presidente Jânio Quadros em um trecho da sua carta de renúncia

escreveu: “Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é

pelos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram, dentro e fora do

governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar,

em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade.” Os rumores sobre a

ligação do seu vice-presidente João Goulart com o comunismo foram

aumentando e a possibilidade de um golpe de Estado que viesse impedir a

posse do Vice passou a ser mais forte. Argumentava-se ele agia teleguiado

pelos interesses de Moscou e de Pequim. Durante esse período o país viveu

uma grande instabilidade, pois não faltavam grupos políticos que

defendessem a ditadura de direita para conter o comunismo personificado

na figura de João Goulart.

A grande imprensa ligada a esses grupos começaram a fomentar a

necessidade histórica de um golpe de Estado para colocar ordem à situação

política do país. Essa posição foi adotada pelo jornal “O Estado de São

Paulo” que publicou vários editoriais pregando abertamente o golpe. Seria

melhor para o Brasil ficar sob um governo forte de direita do que correr o

risco de uma ditadura de esquerda.

Na madrugada do dia 13 se setembro de 1963 ocorreu em Brasília uma

revolta de sargentos da Marinha e Aeronáutica que tomaram as instalações

das corporações e os aeroportos civil e militar de Brasília. A Revolta foi

debelada no dia com a intervenção de forças do Exército.

No dia 13 de Março de 1964 foi marcado um comício do Presidente João

Goulart na Central do Brasil – RJ. Neste ato discursaram várias pessoas,

entre elas José Serra, à época Presidente da UNE, que atacou os

“reacionários” e os “gorilas da direita”. Na ocasião, Jango assinou dois

decretos baseado na Constituição de 1946. O primeiro deles era simbólico e

consistia na desapropriação das refinarias de petróleo que ainda não

estavam nas mãos da Petrobrás e o segundo foi denominado decreto da

Page 15: Cenario do movimento revolucionário de 1964

SUPRA (Superintendência da Reforma Agrária) onde declarava sujeitas a

desapropriação propriedades subutilizadas, especificando a localização e a

dimensão das que estariam sujeitas à medida. O presidente revelou também

que estava em preparo a reforma urbana. A classe média estava temerosa

de perder seus imóveis para os inquilinos. Outras propostas a serem

encaminhadas ao Congresso previam mudanças nos impostos, concessão

de voto aos analfabetos e aos quadros inferiores das Forças Armadas. A

notícia no “O Estado de São Paulo” do dia 14 de Março de 1964 era: Foi

farto o material subversivo no Comício... As faixas e cartazes que se viam na

assistência diziam que cunhado não é parente, Brizola para Presidente

ou então que as reformas de Jango seriam garantidas a bala.

No dia 19 de Março de 1964 aconteceu em São Paulo a denominada

Marcha em nome de Deus e em Prol da Liberdade com mais de meio milhão

de pessoas. O Movimento teve repercussão também em MInas Gerais. O

Gen Amaury Kruel, comandante do II Exército em nota publicada no dia 01

de abril disse: O intenso trabalho do Partido Comunista no seio do Exército,

Marinha e Aeronáutica, desenvolvido principalmente no círculo das praças e

objetivando induzi-las à indisciplina, traz em seu bojo um principio de divisão

de forças e reflete enfraquecimento do seu poder reparador, na garantia das

instituições.

Os governadores Leonel Brizola do Rio Grande do Sul e Mauro Borges

Teixeira de Goiás conduziram a Frente de Libertação Nacional para

mobilizar forças contra uma possível ofensiva da direita conservadora

capitaneada, sobretudo pela União Democrática Nacional (UDN), que tinha

como principal personagem dessa conspiração, o governador do Estado da

Guanabara, Carlos Lacerda.

Em Goiás o governador preparou a população civil para uma resistência

armada na tentativa de conter o iminente golpe de Estado. A esquerda

organizada tecia severas críticas à UDN e seus aliados por estarem

tentando um golpe de Estado para impedir a posse de João Goulart. No

Manifesto à Nação, documento lançado pelo chefe do executivo goiano, ele

argumenta que pela Constituição em vigor no país qualquer ação conduzida

no sentido de impedir a posse do vice-presidente João Goulart seria espúria

e caberia ao povo lutar contra ela: “Se os ministros militares ultrapassarem

as raias da legalidade, em que legitimaram suas determinações, estão os

subordinados exonerados do dever de obediência, pois a ordem legal difere

da inconsciência. Se a vontade do povo não for respeitada, se tentarem

mistificá-la e em seu nome ousarem lançar o País na degradação de uma

ditadura, sob a alegação já desmoralizada e a que falta de mérito da

originalidade, só nos resta um caminho fazer o apelo dos grandes momentos

e das grandes crises: a resistência legalista, democrática e patriótica”.

Page 16: Cenario do movimento revolucionário de 1964

A descoberta dos campos de treinamento guerrilheiro das Ligas

Camponesas no nordeste de Goiás, na cidade de Dianópolis, foi outro

evento que serviu para promover um alarde da atuação dos comunistas no

Brasil e indicavam a real iminência de uma tentativa de levar a cabo uma

revolução socialista, pois o objetivo deste e dos outros campos de

treinamento guerrilheiros idealizado pelas Ligas em outras regiões do Brasil

era a preparação para uma possível tomada do poder, partindo

principalmente da experiência da revolução cubana. Outro fator que agravou

a polêmica em torno da descoberta dos campos de treinamento, foi à

descoberta da participação direta de Cuba, patrocinando em dinheiro o

movimento para que pudessem comprar armas, munição e fornecer

treinamento de guerrilha para membros das Ligas Camponesas que por

diversas vezes foram a Cuba, no intuito de conhecer melhor sua realidade, o

que empolgou os membros desse movimento, pois a realidade em Cuba e o

processo revolucionário neste país tinham algumas semelhanças com a luta

dos camponeses do Brasil: economia agrário-exportadora baseada no

latifúndio, monocultura e relações de trabalho pré-capitalistas no campo.

A ALN - Ação Libertadora Nacional, organização criada por Carlos

Marighella para combater, com armas, o regime militar e implantar uma

ditadura de esquerda foi a organização terrorista que mais desenvolveu

ações de guerrilha urbana e rural. Carlos Eugênio Paz, o Clemente,

membro da cúpula da ALN, em entrevista na Globonews disse que

participou de uma decisão “colegiada”, uma ação para eliminar com

companheiro de lutas. A execução foi feita a tiros no dia 23 de março de

1971 nos Jardins, em São Paulo. O assassinado fazia parte da cúpula do

movimento e, pela quantidade de informações que tinha e pelo fato de que

estava abandonando companheiros à própria sorte em combates, colocava o

movimento em perigo. Márcio Leite de Toledo, ex-estudante de sociologia,

vinte e seis anos de idade, tinha sido enviado a Cuba para treinar guerrilha.

Voltou clandestino ao Brasil. A volta coincidiu com a morte de dirigentes da

ALN, capturados pelos órgãos de segurança. Márcio se tornou, então, uma

espécie de dissidente dentro da organização e foi assassinado.

Continuando a entrevista, Carlos Eugenio detalha outra decisão extrema

tomada pela ALN: a execução do empresário Henning Albert Boilesen, morto

a tiros no dia 15 de abril de 1971 em São Paulo. Boilesen foi condenado por

um “tribunal revolucionário” da ALN por ter supostamente financiado a

Operação Bandeirante (OBAN), organização criada pelo II Exército em São

Paulo para centralizar o combate à luta armada. Eugênio apertou o gatilho.

Carlos Eugênio Paz (Clemente) assumiu publicamente mais um assassinato.

Perguntou depois pelos amigos desaparecidos e disse: “Evidentemente,

mataram. Mas por que mataram? Onde mataram? Quem matou? Onde

está? Isso nos importa. Porque os livros de História precisam ter estas

Page 17: Cenario do movimento revolucionário de 1964

lacunas preenchidas. Você não pode entrar na História, causar tudo o

que causamos e, depois, não querer assumir as coisas. Eu assumo!”.

Para que a verdade seja dita, ela tem que ser dita por ambas as partes. Os

agentes públicos a serviço do Governo na época do Regime Militar podem

ter praticados atos que, se vistos no cenário de hoje, não abomináveis. Se

analisados levando-se em conta o ambiente de guerra revolucionária

existente à época, a pressão causada pelo clima de Guerra Fria que

envolvia a maioria dos países importantes das Américas, Europa e Ásia

eram simplesmente troca de chumbo grosso de ambos os lados.

A prática de tortura era comum, não só no Brasil, mas em todo o mundo

para obter informações dos prisioneiros. A tortura era praticada de ambos os

lados. Quando um agente do governo caia nas mãos dos guerrilheiros ele

também era torturado e muitas vezes morto. Nenhum agente público

aprisionado pela guerrilha foi libertado vivo.

Quantos soldados americanos foram mortos em sessões de tortura na

Guerra Vietname? Quantos agentes colombianos foram torturados e mortos

pelos guerrilheiros das FARC? Quantas pessoas foram sequestradas e

mortas pelos guerrilheiros no Brasil? Quantas pessoas inocentes (vigilantes

bancários principalmente) foram assassinadas em assaltos para “expropriar”

fundos para a guerrilha?

A verdade precisa ser dita, mas de ambos os lados. Onde estão os

documentos dos movimentos subversivos, as ordens, as relações de

condenados pelos tribunais revolucionários, as origens dos dinheiros

utilizados, de onde vieram as remessas de armas e munições, as

programações de “cursos de aperfeiçoamento” em Havana, Moscow e

Pequim?

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Poderíamos imaginar um CENÁRIO no qual o João Goulart tivesse ido até o

final de seu mandato devido a renúncia de Jânio Quadros e que sua

postulação à continuidade no poder tivesse sido aceita pela nação ou então

que Leonel Brizola, seu cunhado, tivesse sido eleito presidente da república.

Como seria nosso País?

-Ligas Camponesas em fazendas coletivas dirigindo a produção agrícola?

Vejam um trecho do discurso de J. V. Stálin denominado “Sobre os

Problemas da Política Agrária na URSS” pronunciado em 28 de Dezembro

de 1929 durante a Conferência dos Técnicos Agrários Marxistas: “Pode-se

afirmar que nossa pequena economia camponesa se desenvolve de acordo

com o princípio da reprodução em escala cada vez maior? Não, não se pode

Page 18: Cenario do movimento revolucionário de 1964

afirmar. Nossa pequena economia camponesa não só não realiza, em

termos gerais, o princípio da reprodução ampliada de ano para ano, como,

ao contrário, nem sequer tem a possibilidade de realizar o princípio da

reprodução simples. Cabe fazer avançar com ritmo acelerado nossa

indústria socialista, com uma base agrícola como a de nossa pequena

economia camponesa, incapaz de ampliar em escala progressiva a

reprodução e que representa força tão predominante dentro de nossa

economia nacional?... Cabe fazer avançar com ritmo acelerado nossa

indústria socialista, com uma base agrícola como a de nossa pequena

economia camponesa, incapaz de ampliar em escala progressiva a

reprodução e que representa força tão predominante dentro de nossa

economia nacional? Não, não cabe. Caberia, ao cabo de um período mais

ou menos longo de tempo, alicerçar o Poder Soviético e a edificação

socialista nestas duas bases distintas: a economia socialista em grande

escala e centralizada e a pequena economia camponesa, tão dispersa e

atrasada? Não; isto não seria possível. Isto teria de conduzir,

necessariamente, mais tarde ou mais cedo, à derrocada total de nossa

economia nacional. Onde está, pois, a solução?...”. Não teria dado certo,

como não deu na União Soviética.

-Fim da iniciativa privada e toda a economia nacionalizada, controlada e

dirigida por empresas estatais? Os militares mantiveram diversas empresas

estatais para cuidar de setores específicos e não deu certo. Nossos setores

de comunicações, energia e transportes, por exemplo, só conseguiram uma

pequena melhoria depois de privatizações realizadas. Viu-se a necessidade

inclusive de chamar o capital externo para participar do nosso mercado e

assim poder leva-lo a um patamar condizente com o tamanho do nosso país.

-Governo de um partido só como PC Soviético, o PC Chinês ou o PC

Cubano? O PC Soviético não conseguiu manter-se, o PC Cubano vive às

turras para conseguir manter o povo cubano pelo menos no limiar da

pobreza e o PC Chinês ainda se mantem, mas teve que fazer aliança com o

capitalismo e não se sabe por quanto tempo ele vai resistir mantendo aquele

mais de um bilhão de pessoas sob um regime forte e restritivo de liberdades.

O Governo Militar tentou manter um sistema de bipartidário (prós e contras),

mas não o conseguiu por muito tempo e teve que combater partidos e

organizações colocadas na clandestinidade e que partiram para a luta

armada. Podemos citar o PCB, o PC do B, a Popular (AP), a Vanguarda

Armada Revolucionária - Palmares (VAR - Palmares), o MR-8 e a Ação

Libertadora Nacional (ALN).

Podemos, pois ocorreu o Governo Militar, analisar os erros e os acertos de

um Movimento que nasceu da necessidade, à época, de uma maioria

expressiva da sociedade brasileira que temia um golpe da esquerda

marxista-leninista. Pode-se chamar de poder da burguesia, mas era a

maioria e a democracia pressupõe a vontade da maioria. As Forças

Page 19: Cenario do movimento revolucionário de 1964

Armadas não poderiam deixar que a maioria da população, contrária a um

governo marxista, fosse a ele sujeitada por força das armas.

Para os militares talvez tivesse sido até melhor apoiar uma revolução da

esquerda, pois, em todos os países onde impera a ditadura marxista-

leninista os militares possuíram e ainda possuem papel de destaque e não

estariam na situação de penúria que hoje se encontram.

O Movimento Revolucionário de 1964, hoje denominado Golpe Militar,

terminou com a desordem hierárquica que havia sido implantada pela

esquerda dentro dos quarteis e evitou a instalação de um regime comunista

no país. Implantou uma austeridade fiscal e criou instituições financeiras e

de crédito (Banco Central e BNDES) que até hoje são pilares da nossa

economia. O Governo Militar criou o Sistema Financeiro de Habitação e o

Banco nacional da Habitação que propiciou a oportunidade a muitos

brasileiros de possuir sua casa própria, o sistema PIS-PASEP para dar aos

trabalhadores um rendimento anual a mais, o Estatuto da Terra e a Lei do

Inquilinato disciplinando a relação entre locador e locatário.

O Brasil sofreu um colapso com os choques do petróleo- 1973 e 1979. A

crise mundial do petróleo de 1973, quando a OPEP aumentou

deliberadamente o preço do petróleo e atingiu o governo Geisel de surpresa,

obrigando-o a implementar medidas que visavam a diminuição do consumo

de combustíveis. A crise do petróleo foi desencadeada num processo de

nacionalizações da produção de petróleo e de uma série de conflitos

envolvendo os produtores árabes da OPEP, como a guerra dos Seis Dias

(1967), a guerra do Yom Kipur (1973), a revolução islâmica no Irã (1979) e a

guerra Irã-Iraque (a partir de 1980), além de uma excessiva especulação

financeira. Além do mais havia o contexto da Guerra Fria onde os Russos

influenciavam de maneira forte os governos árabes. Foi decretado o

racionamento de combustíveis e imposto o limite de velocidade de 80 Km/h

nas rodovias. Buscou-se o aumento da prospecção de petróleo através dos

contratos de risco e a busca de fontes alternativas de energia, surgindo o

Programa Nacional do Álcool (Proálcool) sendo o ETANOL hoje nosso

combustível alternativo e exemplo para o resto do mundo.

O choque do petróleo provocou uma retração no mercado financeiro

internacional, com consequências negativas para países em

desenvolvimento como o Brasil, gerou aumento dos juros da dívida externa,

períodos com queda do PIB e expressivo aumento da inflação.

O segundo choque ocorreu em 1979, durante o governo Figueiredo,

desacelerando o crescimento e gerando um quadro recessivo que marcou o

período 1981-1983 com uma espiral inflacionária descontrolada.

Na área da repressão, devido a opção feita pelas esquerdas de engendrar

uma luta armada e pela atuação na clandestinidade com a frequente

utilização de assaltos, assassinatos e sequestros o Estado foi forçado a criar

um aparato baseado nas polícias civil e militar e nos órgãos de informação

das Forças Armadas para o combate, principalmente, da guerrilha urbana.

Page 20: Cenario do movimento revolucionário de 1964

Após o período de 1968 a 1972 os focos de guerrilha urbana foram

perdendo sua força até serem extintos e a guerrilha rural, principalmente em

Xambioá-Pará foi neutralizada em 1974.

O Governo não pode eximir-se de erros cometidos por seus agentes. Não

podemos eximir responsabilidades ou minimizar erros cometidos, porque

erros foram cometidos de ambas as partes. Se a anistia vale para o lado

esquerdo, deve valer igualmente para o lado direito. Se exigem a verdade

do lado direito, a verdade deve ser dita também pelo lado esquerdo.

Vamos mostrar alguns dados apenas com o intuito de comparação:

Regime Militar no Brasil: 1964 a 1985 - 125 desaparecidos políticos de

acordo com o livro "Brasil Nunca Mais" da Arquidiocese de São Paulo.

Regime Militar na Argentina: 1976 a 1982 - 10 mil desaparecidos de

acordo com o Almanaque Abril.

Regime Militar no Chile: 1973 a 1988 - 2279 mortos de acordo com o

Almanaque Abril.

Comunismo na Coréia do Norte: 1958 a 1994 - governo de Kin Il Sung;

- mais de 28,6% do PIB em gastos com a defesa;

- Regime de Partido único;

-1995 a 1997 - três milhões de mortos pela fome.