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Cenario Rural v3

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ISSN 1807-8486 2008 | n. 3

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL – SENAR

Presidente do Conselho Deliberativo

Fábio de Salles Meirelles

Entidades Integrantes do Conselho Deliberativo

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA

Confederação dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG – NACIONAL

Ministério do Trabalho e Emprego – MTE

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA

Ministério da Educação – MEC

Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB

Agroindústrias / indicação da Confederação Nacional da Indústria – CNI

Secretário Executivo

Daniel Klüppel Carrara

Chefe do Departamento de Educação Profissional

Andréa Barbosa Alves

EDITORAAndréa Barbosa Alves

CONSELHO EDITORIALProf.ª Dr.ª Patricia Lupion Torres – PUCPR

Prof.ª Dr.ª Marilda Aparecida Behrens – PUCPRProf.ª Dr.ª Elisete Lúcia de Moreira Matos – PUCPR

Prof. Dr. Marco Silva – UERJ e UNISAProf. Dr. Ângelo José da Silva – UFPR

CONSELHO CIENTÍFICOProf. Dr. Bento Silva – Universidade do Minho – Braga – Portugal

Prof.ª Dr.ª Edméa Santos – UERJ – BrasilProf.ª Dr.ª Ana Maria Silva – Universidade do Minho – Portugal

Prof.ª Dr.ª Sonia Ana Leszczynski – UTFPR – BrasilProf.ª Dr.ª Maria Amélia Sabbag Zainko – UFPR – Brasil

Prof. Dr. Cleverson Andreoli – UNIFAE – BrasilProf.ª Mestre Rita Marriott – Universidade de Birmingham – UK

Prof.ª Dr.ª Ademilde Sartori – UDESC – BrasilProf.ª Dr.ª Sonia Allegretti – PUCSP – Brasil

Prof. Dr. João Vianney – Unisul – BrasilProf. Dr. Francisco A. Fialho – UFSC – Brasil

Prof.ª Dr.ª Lucia Giraffa – PUCRS – Brasil

COMITê EDITORIAL – SENARAndréa Barbosa Alves

Áurea Maria Guedes de AraújoDeimiluce Lopes Fontes

Fabiana Márcia de Rezende YehiaKesthiane Cinira Almeida Carvalho

Leilane Lopes Ribeiro OliveiraPatrícia Machado Gomes

Valéria Gedanken

S491Revista Cenário Rural / Serviço Nacional de

Aprendizagem Rural. Ano 3, n. 1. Brasília : SENAR, 2008.

122p; il.

ISSN n.º 1807-8486

1. Agricultura - educação. 2. Educação Rural. 3. Agricultura - formação profissional. I. Título.

CDU 373.68

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APRESENTAÇãO

As ações educativas realizadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem

Rural – SENAR contribuem para o avanço do setor produtivo agropecuário de

nosso país e para o necessário e adequado aperfeiçoamento profissional e social

de milhares de brasileiros, ligados diretamente às atividades de produção.

Ao longo de 15 anos de trabalho, a Instituição amadureceu, disseminou

a sua metodologia de ensino e reuniu experiências ricas nas áreas de Formação

Profissional Rural – FPR, Promoção Social – PS e Programas Especiais

desenvolvidos pelas Administrações Regionais.

O Cenário Rural, cuja primeira versão foi publicada em 2003,

originariamente surgiu da necessidade de se produzir um livro que refletisse

sobre a educação profissional rural. Ele registrou os diferentes aspectos do

processo educativo implementado em um convênio entre SENAR e SEBRAE,

que teve como objetivo desenvolver ações de FPR direcionadas aos profissionais

envolvidos nas operações de produção e processamento dos produtos

agropecuários relacionados a diversas cadeias produtivas agroindustriais.

Em 2005, foi editada uma segunda publicação, já sistematizada como

revista, trazendo artigos que ofereciam subsídios para reflexão sobre o processo

de FPR e PS e apresentando experiências desenvolvidas pelo SENAR em

diferentes Administrações Regionais.

Nesta edição de 2008, pretendemos que o Cenário Rural seja fonte de

pesquisa e reflexão a todos aqueles envolvidos na educação dos cidadãos e

cidadãs do campo, promovendo o contínuo aperfeiçoamento das práticas

educativas empreendidas diretamente aos homens e mulheres que contribuem

significativamente para o avanço do Brasil agrícola.

Fábio de Salles MeirellesPresidente do Conselho Deliberativo do SENAR

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EDITORIAL

Este terceiro número da Revista Cenário Rural está composto por seis

artigos sobre temáticas diversas da área de educação, que podem servir como

subsídios teóricos para os profissionais do SENAR envolvidos nos diversos tipos

de processos formativos na reflexão e revisão de suas práticas de ensino.

Os artigos apresentam uma breve contextualização que permite ao leitor

informar-se sobre as recentes tendências de construção do conhecimento com

ou sem o uso de tecnologias da informação e comunicação. Adiantamos aqui

que em alguns dos artigos os termos instrutor, professor e educador são

utilizados indistintamente, para referir-se ao docente das ações de FPR e PS.

Os termos participantes e aluno também são utilizados indistintamente, nos

diversos artigos, para aludir aos sujeitos que vivenciam o papel de discente.

Destacamos, ainda, que o termo sala de aula quando utilizado nos artigos

refere-se a qualquer espaço ou ambiente em que acontece uma situação de

ensino-aprendizagem de Formação Profissional Rural (FPR) ou de Promoção

Social (PS). Assim sendo, o termo pode ser empregado a um salão paroquial, a

uma sala de um sindicato rural, cooperativa ou centro de treinamento, ou ainda

a um curral, uma mangueira, um canavial, uma cozinha, uma pocilga, ou qualquer

outro lugar onde possa acontecer uma ação de FPR ou PS.

A escolha criteriosa de autores e o cuidado com a forma e conteúdo do

material escolhido demonstram a intenção do SENAR de compilar artigos que

não só informem, mas também motivem as pessoas que trabalham com a

educação profissional rural em nosso país – instrutores, mobilizadores e

supervisores; técnicos e gestores, do SENAR e de outras instituições.

No artigo Aprendizagem ao longo da vida, a professora Evelise Labatut

Portilho discute a formação continuada, destacando a aprendizagem como

um processo inerente ao ser humano que ocorre durante toda a vida.

O artigo “Ensaios sobre a técnica dos mapas conceituais e a pedagogia

interativa’, cujos autores são Edméa Santos, Marco Silva, Patrícia Lupion Torres

e Rita Marriott”, apresenta a técnica de mapas conceituais – MC, suas

possibilidades de uso na formação profissional e o passo a passo para a

construção de um MC.

“A formação do instrutor e do aluno pesquisador na metodologia de

projetos”, de autoria das professoras Marilda Aparecida Behrens, Patrícia

Lupion Torres e Rita Andréia Moro Senco Zen, é artigo que trata de uma

técnica muito utilizada na formação profissional desde o início do século XX,

que permanece atual e relevante até os dias de hoje. O texto aponta também

a necessidade de formação de instrutores do SENAR com vista à adoção de

paradigmas inovadores.

Os professores Lilia Maria Marques Siqueira e Paulo Roberto Alcântara,

da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, que assinam o artigo “Propondo

Aprendizagem Colaborativa para a formação Profissional Rural”, apresentam

uma metodologia de trabalho em grupo que pode ser explorada nas ações

de FPR e PS.

No artigo Características, Mídias e Gestão da Educação a Distância, a

professora Jucimara Roesler aborda alguns princípios e características da

Educação a Distância. Apresenta ainda um modelo de gestão desta modalidade

de ensino. Este artigo pode servir como um bom roteiro de discussão, para técnicos,

supervisores, instrutores e gestores de regionais do SENAR que desejem desenvolver

projetos de implantação de ações nesta modalidade de ensino.

No relato de pesquisa “O planejamento de cursos a distância: uma

proposta de formação visando ao desenvolvimento de competências

profissionais”, a autora Dilmeire Sant’anna Ramos Vosgerau traz um estudo

sobre uma proposta de planejamento de cursos a distância, fundamentada no

desenvolvimento de competências. Embora a pesquisa tenha se desenvolvido

no âmbito de uma Instituição de Ensino Superior, o modelo pode ser facilmente

adaptado a uma Instituição de Formação Profissional. Algumas temáticas e

seus pressupostos teóricos apresentados neste artigo, tais como formação por

competência, educação a distância, modulação de conteúdos e cursos, são

fundamentais para o momento histórico em que se encontra o SENAR e podem

ser muito utilizados para uma reflexão. Para além desse processo reflexivo, é

possível ainda fazer uma transposição do modelo proposto para a modalidade

presencial, para a realidade de estruturação e planejamento de um curso ou

programa, considerando a concepção do modelo de competências, a gestão

do processo ensino-aprendizagem, o contrato pedagógico, a produção de

material didático, a modulação etc....

Promover e contribuir para a reflexão e o debate sobre os temas são

obrigação de todos nós envolvidos no processo educativo do campo, e isso

fazemos com muita energia e dedicação.

Desfrutem da leitura!

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SUMÁRIO

APRESENTAÇãO ................................................................................................ 5

Fábio de Salles Meirelles

EDITORIAL .......................................................................................................... 7

APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA ........................................................ 13

Evelise Maria Labatut Portilho

ENSAIOS SOBRE A TÉCNICA DOS MAPAS CONCEITUAIS E A

PEDAGOGIA INTERATIVA ................................................................................ 25

Edméa Santos, Marco Silva, Patrícia Torres, Rita Marriott

A FORMAÇãO DO INSTRUTOR E DO ALUNO PESQUISADOR NA

METODOLOGIA DE PROJETOS ...................................................................... 53

Marilda Aparecida Behrens, Patrícia Lupion Torres, Rita Andréia Moro Senco Zem

PROPONDO APRENDIZAGEM COLABORATIVA PARA A FORMAÇãO

PROFISSIONAL RURAL ..................................................................................... 69

Lilia Maria Marques Siqueira, Paulo Roberto Alcântara

O PLANEJAMENTO DE CURSOS A DISTÂNCIA: UMA PROPOSTA DE

FORMAÇãO VISANDO AO DESENVOLVIMENTO DE COMPETêNCIAS

PROFISSIONAIS .................................................................................................. 85

Dilmeire Sant’Anna Ramos Vosgerau

CARACTERÍSTICAS, MÍDIAS E GESTãO DA EDUCAÇãO A DISTÂNCIA 105

Jucimara Roesler

INSTRUÇõES AOS COLABORADORES DO CENÁRIO RURAL ................. 119

APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA

EVELISE MARIA LABATUT PORTILHO

Doutora em Educação pela Universidade

Complutense de Madri – ES. Professora do

Mestrado em Educação da PUCPR. (e-mail:

[email protected])

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Resumo: Este artigo apresenta algumas

considerações sobre o significado de ser um

bom aprendiz e a maneira de estimular o cultivo

de uma boa aprendizagem durante a vida.

Inicialmente foi realizada uma revisão do

conceito de aprendizagem, destacando-a como

um processo essencialmente humano construído

ao longo de toda a vida, que só pode ser

entendida a partir da superação da dicotomia

natureza e criação. Na busca da boa

aprendizagem, o ensino baseado nas estratégias

é uma das possibilidades de o professor ajudar

o aluno a tornar-se especialista, a partilhar

sua compreensão, tomando-a como ponto de

partida, corrigindo as inadequações,

observando e envolvendo-se com ele durante

o processo de aprendizagem.

Palavras-Chave: aprendizagem; estratégias

de aprendizagem; aprendiz especialista.

Life-long learning

Abstract: This article presents some

considerations on the meaning of being a

good learner and how to stimulate a life-long

learning experience. Initially, the concept of

learning was reviewed, which proved it an

essentially human process that is built

throughout life, and that may only be understood

when the dichotomy between nature and

creation is prevail over. In the quest for good

learning, strategy-based teaching is one of the

options for the teacher to help students become

experts based on their understanding, using it

as a starting point, correcting inadequacies,

and by observing and becoming involved with

them during the learning process.

Keywords: learning; learning strategies;

expert learner.

Já é fato que as pessoas diferem na maneira como aprendem e nas

estratégias e nos estilos que desenvolvem durante o seu aprendizado. Mas o

que pretendemos neste artigo é destacar alguns aspectos importantes sobre o

significado de ser um bom aprendiz e a maneira de estimular o cultivo de uma

boa aprendizagem durante a vida.

Estar aberto, disponível e flexível às novidades e surpresas diárias, em

casa, na escola, no trabalho e no lazer, é atitude fundamental para continuar

aprendendo ao longo de toda a vida.

Desde pequena ouço que existem pessoas inteligentes ou esforçadas.

As primeiras geralmente são aquelas que não precisam investir muito para fazer

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algo, porque já nasceram com facilidade para realizarem o que desejar.

As pessoas esforçadas, ao contrário, por serem desprovidas de habilidades, dons

e inteligência têm que se dedicar mais em tudo o que querem alcançar.

Hoje, percebo que as coisas não são assim. Todos são capazes de aprender

algo novo, de mudar diante dos novos desafios e oportunidades. Todos são

inteligentes! A diferença está na maneira como ampliamos nosso potencial de

aprendizagem e no desenvolvimento da habilidade reflexiva que utilizamos

para monitorar a nossa própria aprendizagem.

O bom das experiências da vida é percebermos que tudo pode ser

retomado e ressignificado, como é o caso do conceito de aprendizagem.

APRENDIZAGEM: NATUREZA VIA CRIAÇãO

As propostas do paradigma comportamental da aprendizagem

valorizam, de maneira geral, o comportamento ou a conduta, excluindo os

processos mentais, considerando que o indivíduo é o resultado dos estímulos

propiciados pelo meio, não levando em consideração suas características e

até mesmos seus desejos e crenças pessoais.

A pessoa, segundo os adeptos dessa visão, desenvolve-se mediante

as modificações do comportamento influenciado pelas demandas do meio,

restringindo o campo de ação da conduta observável, isto é, a aprendizagem

interpretada em termos de conexões entre estímulo e resposta, ou entre

resposta e reforço.

Por outro lado, encontramos quem defenda que o ser humano, ao

nascer, está equipado com padrões de reações, impulsos e sentimentos que

a genética e a evolução instalaram em nossa espécie, como explicita Pinker,

em sua obra Tábula Rasa:

a mente é equipada com uma bateria de emoções, impulsos e faculdades para

raciocinar e comunicar, que têm uma lógica comum a todas as culturas, são

16

difíceis de apagar ou redesenhar a partir do zero, foram moldados pela seleção

natural atuando ao longo da evolução humana e devem parte de sua estrutura

básica (e parte de sua variação) a informações no genoma (p. 111).

Essa concepção nos leva a conceber a aprendizagem quase como um

“dom”, ou seja, o sujeito ao nascer já traz definido em sua estrutura humana

as possibilidades e as limitações. É o que diz o velho ditado: “pau que nasce

torto, morre torto”. Podemos relacionar essa idéia com algumas conversas

presentes na escola e fora dela: Pedro é assim... porque é irmão do João, que

por sua vez é filho do José, que não deu certo na vida e muito menos na escola.

Das duas, uma: ou é uma questão genética, ou uma fatalidade, do tipo ‘Deus

quis assim’.

Até hoje encontramos na escola a presença dessas duas concepções de

aprendizagem, tanto nos discursos dos professores como na prática da sala de

aula. O inatismo, ao valorizar apenas os dados hereditários e o ambiente, reduz

sua preocupação ao que é evidente nas condutas, deixando de lado aspectos

importantes, como a modificabilidade do sujeito capaz de aprender e os recursos

internos que utiliza para ser consciente de seu processo de aprendizagem.

O diálogo entre hereditariedade e ambiente, natureza e criação nos

permite perceber que as diferenças entre as duas visões de aprendizagem

levam-nos a descobrir sua convergência e, conseqüentemente, encontrar

uma outra maneira de considerar a mesma questão. É nas palavras de Matt

Ridley que encontro apoio às minhas crenças atuais:

Não é mais uma questão de natureza versus criação, mas de natureza via criação.

[...] Para apreciar o que tem acontecido, você terá de abandonar concepções que

lhe são caras e abrir sua mente. Você terá de entrar em um mundo em que seus

genes não são mestres manipulando as cordinhas de seu comportamento, mas

marionetes à mercê de seu comportamento; um mundo em que instinto não é

oposto de aprendizado, em que as influências ambientais são às vezes menos

reversíveis que as genéticas, e que a natureza é projetada pela criação (p. 12).

17

Toda essa discussão nos incita a pensar que a aprendizagem, um processo

essencialmente humano construído ao longo de toda nossa vida, só pode ser

entendida a partir da superação da dicotomia natureza e criação. Tanto um lado

como o outro são importantes, o que nos impele a considerar além do que é

visível e já evidenciado. Por isso, estamos hoje prestando atenção aos estudos

realizados pelos adeptos da concepção interacionista da aprendizagem,

justamente porque propõem a interação entre aquele que aprende, suas heranças

genéticas, suas potencialidades e sua mente, e a influência e o movimento que

o meio ambiente pode produzir nele. Destacamos aqui a interação ativa do

sujeito da aprendizagem sobre o meio físico ou social. É importante considerarmos

a maneira singular como cada sujeito interpreta e dá sentido ao seu meio,

confirmando a constatação de Ortega y Gasset (1973) de que “eu sou eu e minha

circunstância”. Chegou, pois, a hora de privilegiarmos um olhar que considera

o indivíduo e sua subjetividade, seus interesses, suas qualidades e suas

habilidades. E a educação, por sua vez, deveria favorecer e estimular esse

movimento, buscando cada vez mais a qualidade e a eficácia em sua ação.

Quando a revolução cognitiva se consolidou, na década de 1950, a

preocupação pelo processamento da informação se focalizou nos estudos

e estratégias sobre a memória, para se distanciar da concepção condutivista

sobre a aprendizagem. Até a década de 1970 aconteceu uma virada nas

propostas cognitivistas, orientando as pesquisas para o significado na

aquisição dos conhecimentos. Um exemplo disso é a distinção que faz

Ausubel (1983) entre aprendizagem arbitrária, mecânica ou memorística

e aprendizagem significativa, na qual a aprendizagem acontece pela

organização das estruturas de conhecimento.

Ausubel (1983) afirma que a aprendizagem se integra a conhecimentos

preexistentes no indivíduo de tal maneira que, quanto maior é o grau de

organização, clareza e estabilidade do novo conhecimento, mais dificilmente

se poderá acomodar e reter por meio dos pontos de referência e transferir

mais a situações novas de aprendizagem. Comparada com a memorização

1�

mecânica, a aprendizagem significativa será retida por mais tempo,

integrar-se-á melhor com outro conhecimento e estará disponível com mais

facilidade para sua aplicação.

É importante frisarmos que, para essa concepção de aprendizagem, a

estrutura cognitiva de cada aprendente é única. Sendo assim, todos os novos

significados que se adquirem são únicos em si mesmos (AUSUBEL, 1983).

ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM

A aplicação da aprendizagem significativa dá lugar ao desenvolvimento

das estratégias de aprendizagem, buscando a assimilação compreensiva dos

conhecimentos como meio de potenciar a aprendizagem e não mais se fixar

na dificuldade ou no erro.

Um conceito bem divulgado de estratégias de aprendizagem é o

exposto por Pozo Municio (2000), que afirma que “podemos considerar uma

estratégia como um uso deliberado e planejado de uma seqüência composta

de procedimentos dirigida a alcançar uma meta estabelecida” (p. 300). Essa

idéia destaca o conjunto de procedimentos que formam as estratégias que,

por sua vez, são diferentes para cada pessoa.

No estudo de Monereo Font (2000) encontramos um consenso entre

diferentes autores sobre a definição de estratégias de aprendizagem que se

referem a elas “como processos ou atividades mentais deliberadas,

intencionais, propositivas, isto é, conscientes” (p. 30).

O aprendente, segundo esse autor, quando coloca em funcionamento uma

estratégia, deve parar, pensar e planejar suas ações, antecipando, em parte, os

efeitos que podem ter em relação ao que se quer alcançar. Assim que der início

à estratégia, deve regular sua conduta, tendo a oportunidade de fazer mudanças

quando achar oportuno ou quando o seu objetivo estiver ameaçado. Por fim, é

importante saber parar, e isto implica avaliar a proximidade ou distância existente

entre os resultados que se obteve e o objetivo que se queria atingir.

1�

Estes três momentos de toda atuação estratégica: planejamento, regulação e

avaliação, pedem um constante controle consciente da atividade mental que se

está realizando, um controle “on line” que precisa ainda de uma capacidade

especificamente humana a partir da qual somos capazes de darmos conta do que

estamos pensando em um momento dado: a capacidade metacognitica (p. 30).

As estratégias de aprendizagem podem ser diferenciadas em dois tipos

(Flavell, 1981): as cognitivas e as metacognitivas. As estratégias são cognitivas

quando executam uma ação mediante o conjunto de atividades ou técnicas a seu

serviço (correspondentes a sete processos de aprendizagem: sensibilização,

atenção, aquisição, personalização, recuperação, transferência e avaliação). As

estratégias são metacognitivas quando regulam tudo o que está relacionado com

o conhecimento, decidindo quando e como utilizar esta ou aquela estratégia.

Moreno (1989) destaca que a dificuldade que, em muitas ocasiões, as

pessoas têm com relação a seus estados mentais, reside no fato de elas não

serem capazes de detectar lacunas e contradições nos próprios conhecimentos,

o que pode representar um sério problema para a aprendizagem de novas

informações. Portanto, uma das barreiras mais sérias que alguns alunos

enfrentam para assimilar novos conhecimentos não está em sua ignorância,

mas na falta de consciência da ignorância e, possivelmente, na falta de

compreensão da aprendizagem como atividade mental.

Um dos caminhos viáveis para que a pessoa mude para aprender e

aprenda para mudar é pela metacognição, ou seja, aquele que permite que

a pessoa conheça o seu próprio conhecimento. Ao conhecer-se cada vez

um pouco mais, a pessoa adquire a habilidade de analisar as exigências

das tarefas e relacioná-las com a realidade que se apresenta. Pode refletir

sobre a informação, averiguar o objetivo da atividade que deve cumprir,

observar o que há de novo e familiar e detectar os níveis de dificuldade,

tornando-se assim autônoma em suas aprendizagens.

Portilho e Tescarolo (2006, p. 1) complementam a idéia afirmando que

“quando temos consciência do que sabemos, pensamos e sentimos tornamo-

nos virtualmente aptos a exercer controle sobre nossa experiência, processo

denominado metacognição”.

20

No entanto, Mayor (1995) propôs um modelo de componentes

metacognitivos que, além de conter os dois elementos básicos de todos os

outros modelos existentes – quer dizer, a consciência ou regulação e o

controle –, incorporou um terceiro que, na verdade, é o que realiza a

articulação entre os primeiros: a autopoiese.

A autopoiese é entendida como o conjunto das propriedades

autoconstrututivas e auto-organizativas dos seres vivos. Por sua vez, os seres

humanos se constroem estrutural e funcionalmente, por meio de seletivas

transações informais, materiais e energéticas com seu ambiente e de

processos construtivos internos. Mayor (1995) ressalta que um dos subsistemas

que apresenta maior capacidade autoconstrutiva é, precisamente, o

subsistema cognitivo, graças a seu mecanismo metacognitivo.

A tomada de consciência inclui toda a atividade metacognitiva, desde

a consciência, passando pela intencionalidade e chegando à introspecção,

admitindo diferentes níveis de consciência com diversas funções, como é o

caso da consciência vaga ou meramente funcional e a consciência reflexiva

ou penetrante. O controle incorpora a ação dirigida às metas, ao autocontrole

e à auto-regulação, nos quais o sujeito utiliza determinadas estratégias com

o propósito de otimizar sua aprendizagem.

Mateos (2001), ao fazer uma diferenciação entre aqueles que obtêm,

ou não, sucesso em suas atividades, reforça a importância de incentivarmos

o trabalho direcionado à metacognição.

Os aprendizes mais competentes planejam as estratégias que consideram

mais adequadas para alcançar as metas desejadas, partindo do conhecimento

que possuem sobre seus próprios recursos para aprender, as demandas da

tarefa e a efetividade das estratégias alternativas, dando-se conta de quando

não estão aprendendo e buscando soluções para superar as dificuldades

detectadas, e avaliando os resultados de seus esforços. Ao contrário, os

aprendizes menos competentes, raramente planejam e avaliam sua própria

aprendizagem para poder ajustá-la às demandas da tarefa e conseguir, assim,

um rendimento mais satisfatório (p. 71).

21

Nas palavras da autora podemos observar uma das diferenças entre

os aprendizes mais ou menos competentes, ou melhor, especialistas e

principiantes. A seguir nos deteremos um pouco mais nesta questão,

convidando o leitor a refletir sobre uma de nossas características mais

distintiva – a de sermos aprendizes sempre.

APRENDIZ ESPECIALISTA

A aprendizagem não é algo que fazemos de vez em quando, em locais

especiais ou em períodos determinados da nossa vida. Ela faz parte de nossa

natureza e os desafios que enfrentamos no cotidiano de nossas vidas ajudam

a ampliar o seu potencial.

A aprendizagem permite-nos prever o que combina com o que, o que vai

acontecer em seguida, o que pode ocorrer se fizermos isso em vez de fazer

aquilo. Portanto, a aprendizagem intervém no fluxo dos eventos para a nossa

própria vantagem, de maneiras sempre mais sofisticadas e confiantes

(CLAxTON, 2005, p. 16).

Aprendemos muitas coisas diferentes durante a vida, como: distinguir

pessoas e coisas – o ritmo de uma música, o sabor de um condimento, o

estado de humor das pessoas; aprender novas preferências com amigos e

com a própria idade – o gosto por uma comida diferente, um tipo de filme

ou livro; temos novas disposições – aprender a ter mais ou menos paciência

com determinadas pessoas, atividades e diversões; aprender a desenvolver

novos papéis – ora como filha, mãe, neta, amiga, colega etc. E como é possível

perceber, a aprendizagem movimenta e reorganiza a nossa estrutura cognitiva

de maneira integral, – ela remexe com o nosso ser.

Como diz Claxton (2005, p. 16), “Estar vivo é estar aprendendo”. Mas o

que faz diferença em nossas aprendizagens?

Ao compreendermos que a aprendizagem integra tanto os aspectos

inatos como os ambientais num movimento de interação constante e

22

construtivo, também entendemos que para sabermos fazer algo temos

que desenvolver habilidades específicas de aprendizagem, como: saber

andar, contar, escrever, somar, tocar um instrumento, cozinhar etc. Mas

também nos damos conta que apenas saber fazer algo não garante sua

eficiência e eficácia. Para sermos competentes em determinadas habilidades

temos que ter muito conhecimento sobre a situação ou assunto, além de

obtermos resultados positivos na aprendizagem, tornando-nos bem-

sucedidos e especialistas naquele assunto ou atividade.

Ao nos referimos ao desenvolvimento de competências em

determinada área, estamos enfatizando a diferença que existe entre aquele

que memoriza e manipula uma determinada regra e aquele que raciocina

em torno de grandes idéias ou conceitos. É o que a literatura contemporânea

denomina por principiante e especialista.

O grupo de pesquisadores liderados por Bransford, Brown e Cocking

(2007, p. 51) destaca alguns princípios fundamentais do conhecimento dos

especialistas e suas implicações para a aprendizagem e o ensino:

• Os especialistas percebem características e padrões significativos

de informação que não são percebidos pelos principiantes – eles

se detêm no substrato do conteúdo;

• Os especialistas adquiriram muito conhecimento de conteúdo,

organizado de maneira que refletisse uma compreensão profunda de

seus assuntos – vão além do superficial, do apenas memorizado;

• O conhecimento dos especialistas reflete contextos de

aplicabilidade, isto é, o conhecimento depende de um conjunto

de circunstâncias, de relações e explicações alternativas. O fato

em si não leva ao entendimento.

Se a diferença na qualidade das nossas aprendizagens está no fato de

sabermos usar nossas informações e vivências, qual o papel das instituições

neste processo?

23

Para Bransford e colegas (2007), o problema está em muitos ambientes

institucionais, porque “interrompem a instrução antes que todos os alunos

consigam desenvolver a fluência necessária para desempenhar com sucesso

as tarefas cognitivas” (p. 67).

Em outras palavras, o ensino tem se preocupado pouco com a

aprendizagem do aluno, suas elaborações, construções, articulações,

associações e (ou) transferências mentais. Em geral, a avaliação se detém ao

que se consegue reter na memória. É a diferença de quem ao pegar uma

receita, segue exatamente o proposto e aquele que vai além, acrescentando

novos ingredientes ou até mesmo eliminando o sugerido.

Aprender bem ao longo da vida desperta a necessidade de

monitorarmos constantemente o nosso nível de compreensão, observando

quando é preciso mudar o rumo das nossas estratégias, o que o grupo de

Bransford (2007) denomina competência adaptativa

Os especialistas adaptáveis são capazes tanto de abordar novas situações

com flexibilidade como de aprender por toda a vida. Não apenas utilizam

o que aprenderam, mas são metacognitivos e questionam continuamente

seus níveis atuais de competência, procurando ir além deles. Não tentam

simplesmente fazer as mesmas coisas de modo mais eficiente; tentam

fazer as coisas melhor (p. 71).

Como é possível observar, todos podem ser aprendizes especialistas,

independente do tempo, espaço e habilidade. Sempre é hora de aprender!

E isso não significa que todos vão se dar bem em todas as áreas e situações.

Temos nossas diferenças, facilidades e preferências. É importante saber

que aprender ao longo da vida incluiu a abertura a novas possibilidades,

novos caminhos e novas tentativas. É darmos conta de nós mesmos, como

alguém que ao aprender se percebe, se constrói, se transforma.

24

REFERêNCIAS

AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D.; HANESIAN, H. Psicologia Educativa, un punto de vista cognoscitivo. México: Trillas, 1983.

BRANSFORD, J.; BROWN, A.; COCKING, R. Como as pessoas aprendem. Cérebro, mente, experiência e escola. São Paulo: Senac, 2007.

CLAxTON, G. O Desafio de Aprender ao Longo da Vida. Porto Alegre: Artmed, 2005.

FLAVELL, J.H. Cognitive Monitoring. In: W. Dickson (ed.). Children’s oral communication skills. New York: Academic, 1981.

MAYOR, J.; SUENGAS, A.; MARQUES, J.G. Estrategias Metacognitivas. Aprender a aprender y aprender a pensar. Madrid: Síntesis, 1993.

MATEOS, M. Metacognición y educación. Buenos Aires: Aique, 2001.

MONEREO FONT, C. Estrategias de aprendizaje. Madrid: Visor, 2000.

MORENO, A. Metaconhecimento y aprendizaje escolar. Cuadernos de Pedagogía, 173: 53-58, 1989.

ORTEGA Y GASSET, J. O Homem e a gente. Intercomunicação humana. Rio de Janeiro: LIAL, 1973.

PINKER, S. Tábula Rasa. São Paulo: Companhia das Letras, 2004

PORTILHO, EML; TESCAROLO, Ricardo. Metacognição e Ética Planetária. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA EM EDUCAÇãO DA REGIãO SUL, VI ANPED, Santa Maria – RS. Anais. Junho 2006. PA329. Disponível em CD-ROM.

POZO MUNICIO, I. Aprendices y Maestros: la nueva cultura del aprendizaje. Madrid: Alianza, 2000.

RIDLEY, M. O que nos faz humanos. Genes, natureza e experiência. Rio de Janeiro: Record, 2004.

ENSAIOS SOBRE A TÉCNICA DOS MAPAS

CONCEITUAIS E A PEDAGOGIA INTERATIVA

EDMÉA SANTOS – UFJF

Doutora em Educação pela UFBA. Professora

da UERJ. (e-mail: [email protected]. Fone para

contato (21) 9139-3437).

MARCO SILVA – UERJ E UNESA

Doutor em Educação pela USP. Professor

da Licenciatura da UERJ e do Programa de

Mestrado em Educação da UNESA. (e-mail:

[email protected]. Fone para contato

(21) 9377-1920).

PATRÍCIA TORRES – PUCPR

Doutora em Engenharia de Produção – Mídia

e Conhecimento pela UFSC, professora do

mestrado e doutorado em Educação e Diretora

de Educação a Distância da PUCPR. (e-mail:

[email protected])

RITA MARRIOTT – PUCPR

Mestre em Educação pela PUCPR, doutoranda

em Educação pela Universidade de Birmingham–

UK. Professora do Center for Modern Languages

da Universidade de Birmingham – UK. (e-mail:

[email protected])

26

Resumo: Este artigo apresenta uma breve

revisão sobre as teorias que fundamentam a

técnica de mapas conceituais. Descreve como

se constrói um mapa conceitual, com alguns

comentários e sugestões sobre esta construção.

Relata, também, algumas vantagens do uso

desta técnica para o processo de construção

do conhecimento. Apresenta, ainda, algumas

notas sobre a pedagogia interativa.

Palavras-chave: Mapas Conceituais, Formação

Profissional, Tecnologias Educacionais.

Abstract: This article provides a brief review

on the theories underlying the technique

of conceptual maps. It describes how to

build a conceptual map, with some comments

and suggestions on this construction.

Reporting also some advantages of using

this technique to the process of construction

of knowledge. It also presents, some notes

on the interactive pedagogy.

Keywords: Conceptual Maps, Professional

Instruction, Education Technologies.

INTRODUÇãO

Os avanços tecnológicos ocorridos na sociedade do conhecimento

e da informação têm facilitado amplamente tanto o acesso ao conhecimento

quanto a sua divulgação. Entretanto, apesar de esse ter sido um avanço

extraordinário no setor das comunicações em todas as áreas do saber, o

enorme volume de informações disponível tem feito aflorar preocupações

e inquietações nos diversos profissionais envolvidos nos processos de

Formação Profissional Rural e de Promoção Social do Serviço Nacional de

Aprendizagem Rural: como compreender e apreender o conteúdo veiculado

e utilizá-lo na construção do conhecimento?

Instrutores e supervisores têm buscado técnicas de ensino/aprendizagem

que auxiliem o aluno a captar com mais facilidade o significado de um texto,

que o ajudem a resumir e a representar a informação com maior agilidade, que

permitam não só uma reflexão sobre suas vivências, mas também a construção

de significados novos e completos além de propiciarem o desenvolvimento de

estratégias de pensamento criativo e inteligente. Organizações como NASA,

nos Estados Unidos, e o ProInfo (Programa Nacional de Informática na

Educação), aqui no Brasil, que também compartilham desses desafios

27

pedagógicos e almejam alcançar um nível cada vez mais elevado de excelência

e qualidade educacional, acreditam terem encontrado uma técnica que pode

auxiliá-los nessa procura: a construção de mapas conceituais.

Neste texto esboçamos um breve panorama da sociedade da informação

e como esta vem desafiando a construção do conhecimento em nosso tempo.

Apresentamos a técnica dos mapas conceituais e a pedagogia interativa como

dispositivos estratégicos para que instrutores e alunos possam lançar mão da

multiplicidade de informações disponíveis, transformando-as em conhecimentos

significativos e contextualizados em suas práticas.

SOCIEDADE DA INFORMAÇãO E OS DESAFIOS PARA A

CONSTRUÇãO DO CONHECIMENTO

A sociedade contemporânea se caracteriza pela convergência dos

modos e meios de produção das sociedades anteriores. Convivemos numa

sociedade multifacetada que incorpora as marcas e os processos das

sociedades agrícola, industrial e da sociedade da informática, também

chamada de sociedade da informação e do conhecimento.

A complexa realidade em que vivemos requer de nós, profissionais da

educação, uma compreensão profunda das mudanças e das transformações

sociotécnicas e como estas nos convocam a ressignificar a nossa relação com

a construção do conhecimento, que requer novas práxis ante os desafios

epistemológicos, técnicos e metodológicos do nosso tempo.

Para mobilizar novas situações de aprendizagem coerentes às

dinâmicas do nosso tempo, é fundamental articular os aspectos conceituais

e metodológicos dessas dinâmicas mais amplas da sociedade da

informação, com os referenciais epistemológicos que estejam sintonizados

com os processos dessa mesma sociedade.

Não podemos mais exercer a docência a partir de referências de uma

sociedade que não existe mais. Contudo, precisamos ter clareza de que a sociedade

2�

contemporânea é uma sociedade de transição que carrega a historicidade dos

limites e das potencialidades de toda a história da humanidade, seja em relação

aos modos e aos meios de produção de bens e serviços, seja em relação aos

processos de produção de saberes e conhecimentos. É importante ressaltar aqui

que na sociedade da informação os processos de produção são diretamente

imbricados com os processos de produção de saberes e conhecimentos.

É exatamente esse processo de imbricação entre trabalho e aprendizagem

que, dentre outros fatores, vem caracterizando a sociedade da informação. Nas

sociedades anteriores, principalmente na sociedade industrial, trabalho e

aprendizagem eram pólos distintos e raramente articulados.

Estamos até aqui chamando a sociedade contemporânea de sociedade da

informação, mas por quê? Será que a informação também não estava presente

nas outras sociedades? Se entendermos que as informações são processos/

produtos da significação da humanidade, e que esta humanidade ao longo da

sua história sempre produziu informações a partir de sua evolução pela e com

a linguagem, não tem sentido nomearmos a sociedade contemporânea como

“sociedade da informação”. Contudo, o que justifica tal denominação é uma

especificidade marcada por um profundo corte epistemológico, socioeconômico

e cultural do nosso tempo.

A informação é em nosso tempo a principal matéria-prima da cena

sociotécnica. Além de matéria-prima, é também infra-estrutura a partir do

momento em que é produzida, armazenada e difundida digitalmente por

uma rede global de tecnologias estruturadas pela convergência das

tecnologias da informática com as tecnologias das telecomunicações. Por

esse motivo é que alguns teóricos, a exemplo do Castells (1999), chamam a

sociedade contemporânea de “sociedade em rede”.

Rede aqui não é apenas uma metáfora para ilustrar as dinâmicas

meramente técnicas e artificiais. Concordamos com Lévy (1996), Castells

(1999) e tantos outros pensadores do nosso tempo, que as tecnologias são

constructos humanos e sociais, são autorias implicadas e resultantes da

2�

inteligência coletiva da humanidade. Por isso, quando falamos de rede não

reduzimos o conceito à infra-estrutura técnica da internet, que é a rede

mundial de computadores interconectados.

Rede é um conjunto de “nós” e feixes de relações sociotécnicas, onde

seres humanos hibridizam-se com as tecnologias. No caso da rede mundial

de computadores, Internet, esta dinâmica interativa é também chamada

de ciberespaço. O ciberespaço é a articulação produtiva da infra-estrutura

própria da internet, com os indivíduos e sujeitos culturais que se comunicam

e se desenvolvem a partir desta nova configuração espaço-temporal. Nesse

contexto, saberes, conhecimentos e informação são produzidos, armazenados,

reconfigurados e compartilhados em rede por todo o mundo.

O processo de produção de conhecimentos variados no ciberespaço vem

provocando, ao longo dos últimos anos, a emergência de novas técnicas,

atitudes; comportamentos, modos de aprender, produzir bens e serviços,

conhecimento a partir de novas dinâmicas. Dinâmicas completamente

diferenciadas das recorrentes tanto na sociedade agrícola quanto na sociedade

30

meramente industrial. Este processo produtivo que emerge ciberespaço,

impactando e interagindo com as cidades, é hoje denominado cibercultura.

A cibercultura é para muitos – Lemos (2003), Lévy (1999), Castells

(1999), Santaella (2002) entre outros – a cultura do nosso tempo. Tempo

marcado pela produção veloz de informações e conhecimentos que circulam

em redes dinâmicas. É exatamente neste cenário sociotécnico e cultural que

se encontram os instrutores e instrutoras muitas vezes formados pelas

dinâmicas dos processos de produção industrial estruturado pela epistemologia

da Ciência Moderna e pela lógica do currículo disciplinar e fragmentado dos

espaços formais e legítimos de aprendizagem da sociedade moderna. Vivemos

na interface entre processos de transição que exigem de nós educadores

atuantes na formação profissional novas dinâmicas epistemológicas, técnicas

e metodológicas.

A cibercultura, ou sociedade do conhecimento, difere da sociedade

industrial principalmente por causa da estreita relação entre trabalho e

aprendizagem. O conhecimento não é mais uma categoria restrita à escolarização,

muitas vezes desarticulada do processo produtivo fabril, seja ele rural ou urbano.

A sociedade da informação, que hoje é condicionada pelas tecnologias digitais

em rede, pode vir a ser, a partir de diversos agenciamentos, de fato uma sociedade

do conhecimento e, quiçá, uma sociedade da aprendizagem.

O excesso de informação que é produzido, armazenado e compartilhado

na sociedade da informação não é sinônimo de conhecimento. Cabe aqui

diferenciarmos informação de conhecimento para avançarmos em nossas

discussões acerca do processo de formação e educação de professores.

A informação é a sistematização de dados advindos de processos

variados de produção. Quando lemos um livro, navegamos na Internet ou

acessamos um recurso ou material didático, estamos diante da informação,

que muitas vezes é uma coleção de dados agrupados ou produto de um

processo de construção de conhecimentos de seus autores. Por exemplo,

um livro de Paulo Freire, só para citar uma grande referência, é conhecimento

31

para Paulo Freire, que é o autor da obra. Para o leitor, a obra de Paulo Freire

em princípio é apenas informação. Para que o leitor construa o conhecimento

a partir da obra é preciso que ele adentre no texto, compreenda, analise,

compartilhe com outros sujeitos seus entendimentos iniciais, produzindo

sua própria síntese, a partir da sua história de leitura e de aprendizagem. É

neste processo inteligente de tratamento de informações pertinentes ao estudo

do objeto do conhecimento que este é construído.

Nesse sentido, a sociedade da informação desafia sobremaneira os

processos de construção do conhecimento. Nas sociedades anteriores e,

infelizmente, em algumas práticas da sociedade atual, informação ainda é

sinônimo de conhecimento. Com o intuito de contribuir para a resolução

desse problema, apresentamos a seguir a técnica dos mapas conceituais

como dispositivo de construção de conhecimentos.

A TÉCNICA DOS MAPAS CONCEITUAIS. QUAIS SãO OS SEUS

FUNDAMENTOS EDUCACIONAIS?

Os Mapas Conceituais encontram originalmente fundamentação nas

teorias de Ausubel e Vygotsky. Novak nos conta ter sido influenciado pelas

idéias de Ausubel quanto ao desenvolvimento cognitivo e que o princípio

fundamental tomado por ele e sua equipe encontra-se na epígrafe do livro

escrito por Ausubel em 1968:

Se eu tivesse que resumir toda a psicologia educacional em um só princípio,

eu diria o seguinte: o fator único mais importante que influencia a

aprendizagem é o que o aluno já sabe. Descubra isso e o ensine de acordo.

Dessa forma, o primeiro princípio da Teoria de Assimilação de Ausubel,

que norteou os trabalhos desenvolvidos por Novak, é de que o desenvolvimento

de novos significados seja construído sobre conceitos e proposições relevantes

preexistentes. O segundo princípio é o da crença de que a estrutura cognitiva

32

seja organizada hierarquicamente, com conceitos mais gerais e inclusivos em

níveis mais altos da hierarquia e os mais específicos e menos inclusivos abaixo

daqueles. E o terceiro é que, quando o aluno aprende de uma maneira significativa

(isto é, quando ele consegue relacionar os novos conhecimentos – idéias,

conceitos – com os conceitos e proposições que já conhece), as relações entre

os conceitos se tornam mais precisas e melhor integradas com outros conceitos

e proposições (NOVAK, 2004, p. 460).

Com base nesses princípios, existem três condições para que a

Aprendizagem Significativa ocorra: 1. os tópicos do conteúdo a ser estudado

devem ser desenvolvidos e relacionados entre si numa seqüência organizada,

isto é, não arbitrária; 2. o aluno deve querer aprender, tem que ter algum motivo

pelo qual se esforçar; e 3. o material deve ser potencialmente significativo, isto

é, não deve estar num nível muito acima ou abordar um assunto totalmente

desconhecido que impeça a ancoragem na sua estrutura cognitiva (NOVAK,

2004). Conseqüentemente, para que a técnica da construção de mapas conceituais

promova a aprendizagem significativa, ela necessita ir ao encontro de três

condições: 1. os conceitos da matéria a ser aprendida devem ser apresentados

claramente, relacionando a linguagem e os exemplos ao conhecimento prévio

do aprendiz; 2. o aprendiz precisa já possuir conhecimento prévio relevante; e

3. o aprendiz precisa optar por aprender de maneira significativa para que possa

incorporar novos sentidos e não apenas memorizá-los (NOVAK 2003).

Com relação às idéias de Vygotsky que dão sustentação ao uso dos

mapas conceituais, temos a construção do conhecimento e a influência da

interação social para o desenvolvimento potencial do aluno. Mesquida (2000)

nos explica que no processo de aprendizagem a construção do conhecimento

é uma atividade interativa, “pois a criança ao compreender não incorpora

simplesmente conteúdos prontos, mas age e reage em um processo de

redescoberta, de re-criação, de reconstrução” (p. 104). Para que isso aconteça

e promova a construção do conhecimento, os mapas conceituais devem ter

por base um material potencialmente significativo, isto é, capaz de ser

relacionado e incorporado à base de conhecimento do aprendiz.

33

Com relação à influência da interação social para o desenvolvimento

das capacidades dos alunos, Vygotsky acredita na existência da Zona

Desenvolvimento Potencial (ZPD), que ele define como

a distância entre o nível de desenvolvimento cognitivo real do indivíduo, tal

como medido por sua capacidade de resolver problemas independentemente,

e o seu nível de desenvolvimento potencial, tal como medido através da

solução de problemas sob orientação (de um adulto, no caso de uma criança)

ou em colaboração de companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1988, p. 97

citado por MOREIRA, 2003, p. 116)

Assim, o instrutor, atuando como mediador, deve identificar o

conhecimento prévio do aluno e oferecer oportunidades para que a aprendizagem

pela interação ocorra pelo relacionamento com colegas com habilidade,

compreensão ou conhecimento num nível acima do seu, incentivando-o e

ajudando-o a ir além, desenvolvendo sua autoconsciência e autonomia.

Recentemente, alguns trabalhos têm associado a construção de Mapas

Conceituais à Epistemologia Genética de Piaget (teoria então desconhecida de

Novak por ocasião do início de seu projeto em 1965). Para Piaget, o processo

de conceitualização implica uma construção bem mais complexa a ser explicada:

o novo conceito não apenas “ancora” no conceito subsunçor (estrutura cognitiva

preexistente) do aluno, mas pode gerar “desequilíbrios nos sistemas de

significação do sujeito” (DUTRA, FAGUNDES & CAÑAS, 2004) num processo

que exige busca de novas relações que integram e modificam as anteriores.

Dessa forma, a organização hierárquica é, também, um resultado desse processo

e não um requisito a priori, como parecem acreditar Ausubel e Novak.

Assim, a construção de mapas conceituais, fundamentada nas teorias

de Ausubel, Vygotsky e mais recentemente na de Piaget, é uma atividade que

tem o potencial de ativar o uso do conhecimento prévio e estimular o

desenvolvimento cognitivo e criativo dos alunos. Ela atribui aos alunos maior

responsabilidade no processo de construção do conhecimento ao requerer

34

tomadas de decisão sobre que conceitos incluir no mapa, em que ordem, como

eles devem ser ligados, e propicia a interação e o desenvolvimento de trabalhos

colaborativos. Não obstante, e de fundamental importância, é a sua contribuição

para a mudança do paradigma da aprendizagem mecânica para o da

aprendizagem significativa.

COMO CONSTRUIR UM MAPA CONCEITUAL?

Os mapas conceituais são relativamente fáceis de construir: eles são

compostos por substantivos ou conceitos escritos em diagramas, como

retângulos ou círculos, que são organizados de uma maneira hierárquica

(do mais geral em cima ou no centro para o mais específico embaixo ou

nas pontas) e ligados entre si por uma palavra ou frase de ligação, verbo,

locução verbal ou preposição, revelando o vínculo entre eles. Entretanto, para

construí-los, os alunos devem se esforçar para (a) identificar os conceitos

importantes, (b) explicá-los e (c) relacioná-los entre si, de uma forma

organizada e hierárquica, usando sua criatividade.

Os mapas conceituais podem ser construídos utilizando vários tipos

de recursos: (a) usando uma folha de papel A4 (ou A3) e lápis; (b) escrevendo

os conceitos em pedaços de papel1 para facilitar a recolocação e reestruturação,

organizando-os e colando-os em uma folha de folha de papel A4 ou A3; (c)

usando a função “autoformas” do seu editor de textos; ou (d) usando um

software dedicado, como será visto mais adiante.

Vejamos, então, quais são os passos para sua construção:

• Fazer a leitura do texto2 de estudo para a compreensão geral (ou

selecionar o conteúdo a ser mapeado se o mapa for gerado a partir de

uma tempestade de idéias);

1 Ou usar “Post It Notes” – bloco de papel com uma faixa adesiva em um dos lados.

2 O termo genérico “texto” foi adotado indistintamente para todo e qualquer gênero textual.

35

• Escolher e destacar no texto e (ou) elaborar uma lista (se estiver

fazendo o mapa a partir de uma tempestade de idéias) de cerca de 15

conceitos3 principais do texto, conceitos que, na opinião do aluno,

não poderiam faltar se estivessem fazendo um resumo do texto (como

alternativa, pode-se pedir que os alunos listem de memória os

conceitos principais e secundários, sem consultarem o texto);

• Agrupar os conceitos (que devem ser compostos por mais ou menos

três palavras) de acordo com uma lógica semântica e organizá-los

em uma estrutura hierárquica, do mais geral para o mais específico.

O conceito mais inclusor deve ser selecionado para título/ponto de

partida do mapa, pois todos os outros conceitos irão se desdobrar

dele (se a questão/problema a ser respondida não for muito extensa

poderá ser usada como o conceito mais inclusor);

• Avaliar o agrupamento e a hierarquização desses conceitos quando

considerar o resultado satisfatório; deve-se uni-los com palavras

ou frases de ligação que explicam a relação entre eles, prestando

atenção para que os conceitos não sejam repetidos. As unidades

de significado formadas por CONCEITO + PALAVRA/FRASE DE LIGAÇãO

+ CONCEITO são chamadas de proposições;

• Procurar ramificar os galhos/pernas a cada nível hierárquico, sem

a preocupação com a simetria do mapa;

• Procurar estabelecer ligações cruzadas, isto é, ligar conceitos de

galhos diferentes;

• Usar setas para indicar se uma ligação cruzada deve ser lida da

direita para a esquerda (ou vice-versa) ou para indicar uma ligação

em sentido/fluxo contrário, isto é, de baixo para cima;

• Finalizar avaliando seu próprio mapa lendo-o em voz alta, prestando

atenção à clareza dos conceitos, ao significado expressado pelas ligações

estabelecidas entre os conceitos, bem como ao fluxo das idéias.

3 Para Moreira, seis a 10 conceitos (MOREIRA, 1997), para Garcia et al., 12 a 20 conceitos (GARCIA et al., 2000)

36

Se o mapa estiver sendo criado a partir de um texto escrito, o professor

pode pedir ao aluno que acrescente cerca de cinco conceitos seus ao mapa,

relacionando-os aos conceitos já mapeados, promovendo assim maior ancoragem

e integração do conhecimento novo com o conhecimento prévio.

É natural que no início alguns alunos se sintam desconfortáveis com a

construção de mapas conceituais, pois eles promovem uma mudança na

maneira de estudar. Ao invés de os alunos lerem um texto de uma maneira

linear, eles agora devem explorá-lo de forma a organizar a informação em

grupos semânticos. Eles também precisam pensar em uma forma de hierarquizar

as informações do texto, buscando os conceitos principais e detalhes de apoio,

e aprender a fazer ligações entre conceitos que se encontram longe uns dos

outros no texto (reconciliação integrativa). Na realidade, a construção de um

mapa a partir de um texto transforma a leitura desse texto em uma tarefa ativa,

promovendo seu criador “de leitor passivo a descobridor” (PELLEY, 2004).

Isto porque esse leitor, além de se esforçar para compreender o texto na sua

micro-estrutura (como palavras novas, verbos, preposições e sintagmas

nominais), precisa buscar compreendê-lo na sua macroestrutura para formar

grupos semânticos e estabelecer relações cruzadas. Por isso, é natural que os

primeiros mapas dos alunos sejam mais simples e tenham uma forma linear

sem ramificações interessantes. À medida que essa técnica for praticada, os

mapas tenderão a se expandir tanto na vertical quanto na horizontal.

Após o mapa ter sido construído individualmente, ele pode ser

trabalhado colaborativamente. Reunindo-se em grupos de dois ou três

colegas, os alunos devem ser incentivados a trocar idéias, comparar

proposições, questionar uns aos outros sobre a inclusão ou não de

determinados conceitos, pois a “argumentação favorece o desenvolvimento

da estrutura cognitiva do aluno, contribuindo para que a aprendizagem

significativa aconteça” (CONLON, 2004, p. 164).

É importante lembrar que um mapa representa o conhecimento de

quem o faz num determinado instante. Moreira nos diz que “mapas conceituais

– tanto do aluno como do professor – têm significados pessoais” e explica

que “um mapa conceitual é um instrumento dinâmico” (1997, p. 5). À medida

37

que ocorre a compreensão de novos conteúdos, o mapa deve ser revisto

para que esses novos conceitos possam ser incorporados.

Vejamos, então, o que é um mapa conceitual. Após fazer a leitura do

texto abaixo, em que temos uma introdução a alguns conceitos e aspectos

importantes sobre a Formação Profissional Rural (FPR) e a Promoção Social

(PS) (COSTA, 2005, p.33),

III- FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL (FPR) E PROMOÇÃO SOCIAL (PS)

1 - CONCEITOS E ASPECTOS IMPORTANTES

A FPR é um processo educativo, não-formal, participativo e sistematizado, que possibilita a aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes ao indivíduo, para o desempenho de uma ocupação.

A PS é um processo educativo, não-formal, participativo e sistematizado, que visa ao desenvolvimento das aptidões pessoais e sociais do trabalhador, do produtor rural e de suas famílias, possibilitando melhor qualidade de vida, consciência crítica e participação na vida da comunidade.

Sendo a FPR e a PS processos educativos, não-formais, participativos e sistematizados, devem, portanto:

Instrumentalizar o indivíduo para sua maior participação na vida em sociedade e/ou inserção no mercado de trabalho – A FPR e a PS devem contemplar, em seus conteúdos, aspectos técnicos associados a uma ampliação de reflexão e visão crítica, contribuindo para a obtenção de ganhos sociais e econômicos. Também promovem a socialização do indivíduo, gerando, como resultado, sua identificação com as preocupações e aspirações do seu grupo, exercendo funções não apenas lucrativas, mas que também representam papel de importância para a vida comum. O indivíduo passa a ter a compreensão de si mesmo, do seu grupo social e da realidade que o cerca.

sugerimos o seguinte mapa conceitual:

3�

Como podemos observar, o apelo visual do mapa é maior que o do

texto corrido. Os conceitos (nas caixas) são ligados por preposições, verbos

ou frases de ligações (nas linhas) e se organizam de uma forma hierárquica

partindo basicamente do centro superior para baixo e extremidades,

desenvolvendo-se a partir dos conceitos principais FPR e PS. Desses dois

conceitos principais partem quatro ramificações (galhos ou pernas). As duas

ramificações centrais, “é um processo” e “devem instrumentalizar o indivíduo

para”, partem de ambos os conceitos e indicam características comuns entre

eles. A terceira ramificação “possibilita aquisição de” (a primeira à esquerda),

revela características apenas da FPR, enquanto a quarta ramificação “visa ao

desenvolvimento das aptidões”, enuncia as características que são apenas

PS. Apenas uma ramificação é simples, isto é, não possui nenhuma bifurcação

(o galho que se desenvolve para cima). As demais possuem duas ramificações

que por sua vez se ramificam, dando origem aos outros conceitos. Esse mapa

apresenta uma hierarquia (tópicos principais como: “conhecimentos”,

“atitudes”, “inserção no mercado de trabalho”, “maior participação da vida

em sociedade”, “pessoais” e “sociais” seguidos de detalhes de apoio como

“desempenho de uma ocupação”, “aspectos técnicos”, “socialização”),

entretanto não possui nenhuma ligação cruzada e repete os conceitos

“sociais” (1), “indivíduo” / “produtor rural” (2), “participação da vida em

sociedade” e “participação da vida em comunidade” (3) e grupo (4). Vejamos

como poderíamos construir esse mapa integrando melhor esses conceitos

pelo estabelecimento de ligações cruzadas:

3�

O aparecimento de ligações cruzadas no Mapa 2 enriquece esse mapa.

Essa versão, além de demonstrar maior criatividade na sua construção pela

integração de conceitos criando ligações cruzadas para evitar a repetição

desses conceitos, revela uma maior compreensão do texto, não apenas pelo

estabelecimento dessas ligações cruzadas, mas também pela sugestão de

uma nova ligação demonstrada pela linha pontilhada. A construção de mapas

com ligações cruzadas deve ser incentivada. Ela é mais laboriosa, entretanto

proporciona maior prazer e leva o nível de cognição do aluno a um patamar

mais elevado.

Quanto à leitura do mapa, ela é feita com base nos conceitos principais.

Apesar de a maneira de exibição sugerir uma ordem de leitura do mapa (“é

um processo”, “possibilita aquisição de”, “devem instrumentalizar”, “visa o

desenvolvimento das aptidões”), não existe uma maneira “fixa” ou “correta”

de lê-lo. Deve-se apenas tomar o cuidado de ler cada galho até o final antes

de se passar para a próxima ramificação. Em sala de aula, sempre que possível,

a leitura deve ser feita em voz alta pelo seu criador.

40

Quando conceitos importantes não são incluídos num mapa, os

motivos podem ser: seu criador pode não ter considerado a informação

importante ou tê-la julgado redundante por já dominá-la (ou não); por não

ter compreendido tal conceito/informação; ou por pressa, cansaço e até

mesmo dificuldade em encontrar a palavra de ligação correta para ligá-la a

um conceito, pois, como vimos anteriormente, as palavras/frases de ligação

revelam a compreensão de como esses conceitos estão relacionados.

QUAIS OS BENEFÍCIOS DOS MAPAS CONCEITUAIS NO

PROCESSO DE CONSTRUÇãO O CONHECIMENTO?

São vários os benefícios do uso dos mapas conceituais, tanto no uso

pedagógico quanto empresarial. No âmbito da formação profissional

(enfoque deste trabalho), eles podem ser usados por instrutores e alunos, e

está amplamente reconhecido na literatura que eles:

• Promovem a aprendizagem ativa – julgamento, reflexão, revisão e

pensamento crítico;

• Ajudam os alunos a atingir um nível mais alto de cognição.

O conhecimento organizado (e não amontoado) facilita a

assimilação, a retenção e a recuperação da informação;

• Proporcionam uma maneira fácil de verificar o que está sendo ensinado/

aprendido, ajudando os alunos a avaliar sua aprendizagem;

• Ajudam a identificar concepções equivocadas, revelando falhas

na compreensão;

• Promovem o pensamento reflexivo e a metacognição;

• Facilitam a comunicação e o compartilhamento de compreensões/

conhecimento entre alunos ou grupo de alunos;

• Permitem a criação de estruturas de conhecimento facilitando a

utilização deste conhecimento em novos contextos;

41

• Promovem a aprendizagem visual, ajudando a processar a

informação para a memória de longo prazo (A representação visual

ordenada e estruturada [desenho de caixas e setas] contribui para

a retenção do conteúdo ajudando significativamente no processo

de aprendizagem dos alunos, pois possibilita que a informação

passe da memória de curto prazo – ou memória imediata [que tem

um limite de capacidade de processamento de apenas cinco a nove

unidades], para a memória de longo prazo);

• Proporcionam prática em análise ordenada da informação: conceito

inclusor mais importante x tópicos principais x detalhes de apoio;

• Proporcionam desenvolvimento lingüístico: conceitos/substantivos

nas caixas x verbos, locuções verbais, preposições e palavras/frases

de ligações nas linhas (os advérbios podem ser incluídos tanto nas

caixas quanto nas linhas);

• Promovem o ensino baseado em tarefas, o ensino baseado em

resolução de problemas (ou descobertas), o ensino com pesquisa,

a aprendizagem significativa, a construção do conhecimento e a

aprendizagem colaborativa (quando usados colaborativamente);

• Promovem o desenvolvimento das habilidades intelectuais e estratégicas

para o aluno aprender a aprender, a aplicar conhecimentos em contextos

diversos (saber solucionar problemas), aprender a pensar, tornando-se

um aluno independente, autônomo, criativo e responsável;

• Promovem mudança do paradigma da aprendizagem memorística

ou mecânica para o da aprendizagem significativa.

A lista acima não pretende ser exaustiva e as idéias relacionadas não

estão em ordem de importância. Entretanto, observamos que o uso dos

mapas conceituais vem se consolidando cada vez mais no âmbito educacional

e empresarial, e a cada pesquisa e trabalho publicado torna-se mais evidente

a dimensão de seus benefícios.

42

TRANSFORMAR INFORMAÇãO EM CONHECIMENTO? SIM,

MAS COM QUE CONCEITO DE COMUNICAÇãO? NOTAS

SOBRE A PEDAGOGIA INTERATIVA.

Vimos que a técnica dos mapas conceituais pode promover novas e

melhores situações de aprendizagem, a partir do tratamento crítico da informação

e das diversas possibilidades de relação entre conceitos, frutos de processos

significativos de aprendizagem. Contudo, além do uso de técnicas como a

construção de mapas conceituais, precisamos modificar nossa atitude

comunicacional pedagógica em sala de aula. É preciso romper com o paradigma

da educação bancária e da comunicação de massa que separa emissor de receptor

e aluno de instrutor. A seguir mapearemos alguns princípios e estratégias para

a promoção da pedagogia interativa, que, associada à técnica dos mapas

conceituais, poderá promover mais e melhores situações de aprendizagem em

sala de aula, seja esta presencial ou a distância.

A pedagogia interativa presencial e online é demanda da sociedade da

informação e da cibercultura. É demanda do novo ambiente sociotécnico e

comunicacional que emerge com as tecnologias digitais e as diversas redes

sociotécnicas. A pedagogia interativa é demanda do novo espaço de comunicação,

de sociabilidade, de organização, de informação e de conhecimento.

Acostumado ao primado da transmissão na educação e na mídia de

massa, o instrutor tem agora o desafio de educar em nosso tempo. Ele terá

que desenvolver sua imaginação criadora para atender às novas demandas

sociais de aprendizagem interativa.

A interatividade é a modalidade comunicacional que ganha centralidade

na era digital e na cibercultura. O conceito exprime a disponibilização consciente

de um mais comunicacional de modo expressamente complexo presente na

mensagem e previsto pelo emissor, que abre ao receptor possibilidades de

responder ao sistema de expressão e de dialogar com ele. A interatividade

representa um salto qualitativo em relação ao modo de comunicação de massa

43

que prevaleceu até o final do século xx e cuja lógica unívoca agora se encontra

ameaçada, num contexto em que também se espera a superação do

constrangimento da recepção passiva.

Menos pelo narcisismo oral e mais pelo peso de cinco mil anos de

prevalência do modelo de ensino baseado no falar-ditar do mestre,

continuamos guardiões e transmissores da cultura, transmissores de pacotes

fechados de informações em sala de aula presencial e a distância. Educamos

para arquivar o que depositamos nas mentes dos aprendizes. Como se

quiséssemos cristalizar na recepção a crença de que quanto mais se transmite

mais o outro se apropria do conhecimento.

Permanecemos apegados ao modelo da transmissão que faz repetir

informações e não construir o conhecimento. Não desenvolvemos uma

atitude comunicacional capaz de promover as participações e a dialógica

como condição sine qua non da aprendizagem. Não desenvolvemos uma

atitude comunicacional que não apenas atente idealmente para a participação

e para a dialógica, mas que também as promova concretamente no cotidiano

da sala de aula presencial e a distância. Essa atitude comunicacional supõe

técnicas específicas, mas requer também a percepção crítica de uma mudança

paradigmática em curso em nosso tempo.

Em sintonia com nosso tempo o instrutor disponibiliza aos aprendizes a

participação na construção do conhecimento e da própria comunicação entendida

como colaboração da emissão e da recepção. Diferentemente de transmitir para

o receptor massificado, o instrutor aprende com a dinâmica das tecnologias

digitais e com a conectividade online e libera ao aprendiz “inforrico” e

“infopobre” a comunicação personalizada, operativa e colaborativa.

Embora consciente dessa necessidade de uma nova postura, muitas

vezes o instrutor permanece no limite da transmissão. Não por má fé, mas

pelo peso da tradição do falar-ditar do mestre. Em alguns casos, corremos

risco de banalizarmos o termo interatividade em decorrência da ideologia

publicitária, da estratégia de marketing, da fabricação de adesão e da

produção de opinião pública. Isto decorre do fato que acompanhamos

44

uma crescente utilização do adjetivo “interativo” para qualificar qualquer

coisa (computador e derivados, brinquedos eletrônicos, vestuário,

eletrodomésticos, sistema bancário online, shows, teatro, estratégias de

propaganda e marketing, programas de rádio e TV etc.), cujo funcionamento

permita ao usuário-consumidor-espectador-receptor algum nível de

participação, de troca de ações e de controle sobre acontecimentos.

Precisaremos fazer a crítica à indústria da interatividade em franco

progresso. Não podemos nos conformar somente com o carro, o game, a

geladeira e o microondas interativos. Isso significa mais banalização do termo

“interatividade”, tomado como excelente argumento de venda, como

promessa de diálogo enriquecedor que faz engolir a pílula.

A despeito dessa banalização, podemos verificar a emergência histórica

da interatividade como novo paradigma em comunicação. A transmissão,

emissão que não prevê mais do que uma recepção passiva, perde sua força

na era digital, na cibercultura, na sociedade da informação, quando é cada

vez mais evidente a imbricação de pelo menos três fatores:

• Tecnológico. A tela do computador não é espaço de irradiação, mas

de adentramento e manipulação, com janelas móveis, abertas a

múltiplas conexões off-line e online, além de permitirem

interferências e modificações nos conteúdos.

• Mercadológico. Estratégias dialógicas de oferta e consumo

envolvendo cliente-produto-produtor são valorizadas pelos

especialistas em propaganda e marketing.

• Social. Há um novo espectador, menos passivo diante da mensagem

mais aberta a sua intervenção, que aprendeu com o controle remoto da

TV, com o joystick do videogame e agora aprende como o mouse.

Trata-se de um novo cenário comunicacional que ganha centralidade na

imbricação dos cenários tecnológico, mercadológico e social. Ocorre a transição

da lógica da distribuição para a lógica da comunicação. Isso significa modificação

radical no esquema clássico da informação baseado na ligação unilateral

45

emissor-mensagem-receptor. A educação ganha com essa mudança. Sua função

social de socialibilizar o cidadão ganha com o feliz impulso do novo cenário

comunicacional. Temos um cenário favorável ao seguinte reposicionamento

da autoria do instrutor:

• O instrutor não emite mais o que se entende habitualmente como uma

mensagem fechada. Ele oferece um leque de elementos e possibilidades

a manipulação e operatividade criativa do aprendiz.

• Sua mensagem não é mais “emitida”, não é mais um mundo fechado,

paralisado, imutável, intocável, sagrado. É um mundo aberto,

modificável na medida em que responde às solicitações daquele

que a consulta. O aprendiz não está mais em posição de recepção

clássica. Ele é o novo espectador convidado à livre criação. A

mensagem do professor ganha sentido sob sua intervenção.

• A educação, em sua função social de socializar e de promover a

participação e a colaboração, se beneficia com essa mudança

paradigmática na teoria e na prática comunicacionais. A mensagem

só toma todo o seu significado sob a intervenção do receptor que

se torna, de certa maneira, criador. Isso é extremamente bem-vindo

como ambiência comunicacional que doravante influenciará mais

e mais os sistemas educacionais.

46

Diante desse quadro, nós professores ou instrutores precisamos nos

preparar para o fato de que nossa mensagem agora pode ser recomposta,

reorganizada, modificada sob o impacto das intervenções do aprendiz.

Devemos nos preparar para perder a hegemonia da mensagem fechada.

Precisamos nos preparar para revitalizar nosso ofício quando ocorre a

mudança no esquema clássico da informação baseado na ligação unilateral

ou unidirecional emissor-mensagem-receptor.

Precisamos nos dar conta de que pedagogia interativa deverá

construir em cada situação de aprendizagem a livre expressão dos fundamentos

da interatividade:

• Participação-intervenção. O professor pressupõe a participação-

intervenção do receptor. Esta participação não se limita a responder

“sim” ou “não”, é muito mais que escolher uma opção dada, é muito

mais que fazer uma pergunta. Participar é interferir na sua mensagem,

é construir coletivamente a aprendizagem e a comunicação.

• Bidirecionalidade-hibridação. Comunicar pressupõe bidirecionalidade

entre professor e aprendizes. A comunicação é produção conjunta de

todos. Diante dos conteúdos de aprendizagem, o professor é aprendiz

em potencial e o aprendiz é professor em potencial. Os dois pólos

codificam e decodificam.

• Permutabilidade-potencialidade. O professor disponibiliza a

possibilidade de múltiplas redes articulatórias entre conteúdos de

aprendizagem. Ele não propõe um conteúdo fechado, ao contrário,

oferece informações em redes de conexões permitindo ao aprendiz ampla

liberdade de permutar, virtualizar, simular, associar e significar.

Temos a oportunidade do espírito do tempo para engendrar uma nova

ambiência comunicacional com os aprendizes em sala de aula presencial e

virtual. Na sociedade da informação, na cibercultura podemos aprender que

comunicar não é simplesmente transmitir, mas disponibilizar múltiplas

47

disposições para a intervenção do aprendiz, uma vez que a comunicação só se

realiza mediante sua participação. Assim criamos oportunidade para a educação

da participação e da colaboração, atitudes essenciais em cidadania. A pedagogia

interativa é desafio para todos nós acostumados ao paradigma da transmissão.

Trata-se de um desafio que, em verdade, se desdobra em três. Ao mesmo tempo

em que o professor precisa se dar conta do hipertexto; precisa fazê-lo potenciar

sua ação pedagógica sem perder sua autoria; e finalmente precisa perceber ainda

que não se trata de invalidar o paradigma clássico.

O instrutor precisará trabalhar conteúdos de aprendizagem como

hipertexto, isto é, como uma escritura não seqüencial, uma montagem de

conexões em rede que, ao permitir e exigir uma multiplicidade de recorrências,

transforme a leitura em escritura.

O instrutor precisará saber que o hipertexto vem potenciar sua figura e

seu ofício. De mero transmissor de saberes, precisará converter-se em formulador

de problemas, provocador de interrogações, coordenador de equipes de trabalho,

sistematizador de experiências, e memória viva de uma educação que, em lugar

de aferrar-se à pedagogia da transmissão, valoriza e possibilita o diálogo e a

colaboração entre os participantes da aprendizagem.

Precisamos nos dar conta de que esta modificação em nossa prática

comunicativa está sintonizada com a emergência de um novo leitor ou novo

espectador. Não mais aquele que segue as páginas do livro de modo unitário

e contínuo, mas aquele que salta de um ponto a outro fazendo seu próprio

roteiro de leitura. Não mais o que se submete às récitas da emissão, mas o

que, não se identificando apenas como receptor, interfere, manipula, modifica

e, assim, reinventa mensagem.

O instrutor pode perceber nessa distinção que ter a experiência de

intervenção na mensagem difere da recepção passiva de informações. E, ao se

dar conta disso, ele pode redimensionar sua sala de aula, modificar sua base

comunicacional em sintonia com o espírito do tempo. Ele modifica o modelo

centrado no seu falar-ditar e passa a disponibilizar ao aluno autoria, participação,

4�

manipulação, co-autoria e informações o mais variadas possível, facilitando

permutas, associações, formulações e modificações na mensagem.

Não devemos meramente transmitir, precisamos disponibilizar. Não

devemos meramente distribuir, precisamos promover, ensejar, predispor,

urdir, arquitetar teias. Como vimos, disponibilizar em sua sala de aula requer

basicamente três investimentos:

• Oferecer múltiplas informações em imagens, sons, textos etc.,

empregando ou não tecnologias digitais, mas sabendo que estas,

utilizadas de modo interativo, potencializam consideravelmente

ações que resultam em conhecimento.

• Ensejar, oferecer ocasião para, urdir, dispor entrelaçados os fios da

teia, enredar múltiplos percursos para conexões e expressões com

o que os aprendizes possam expressar no ato de manipular as

informações e percorrer percursos arquitetados.

• Estimular cada aprendiz a contribuir com novas informações e a

criar e oferecer mais e melhores percursos, participando como

co-autor do processo.

Assim o instrutor constrói uma rede e não uma rota. Ele define um

conjunto de territórios a explorar. E a aprendizagem se dá na exploração –

ter a experiência de participar, de colaborar, de criar, de co-criar – realizada

pelos aprendizes e não a partir da sua récita, do seu falar-ditar. Isso significa

modificação em seu tradicional posicionamento na sala de aula.

CONSIDERAÇõES FINAIS

Para realizarmos um salto qualitativo em educação, precisamos

colocar em questão uma velha atitude rançosa de detentores do monopólio

do saber. Para tanto, devemos aprender como disponibilizar a experiência

do conhecimento dispondo teias, criando possibilidades de envolvimento,

4�

oferecendo ocasião de engendramentos, de agenciamentos, estimulando

a intervenção dos aprendizes como co-autores de suas ações.

Assim, modificaremos nossa ação e nosso modo de comunicar em

sala de aula. Na perspectiva da interatividade, deixaremos de ser os

locutores que imobilizam o conhecimento e o transfere aos alunos-

receptores em nossa récita.

Em nossa autoria interativa seremos mais do que apenas conselheiros

ou pontes entre as informações e o conhecimento. Seremos mais do que

apenas parceiros, mais do que facilitadores. Nossa autoria interativa requer

o sistematizador de experiências, que oferece ocasião de aprendizagem,

dispõe os fios da teia e tece junto.

Disponibilizar possibilidades de múltiplas experimentações e de

múltiplas expressões. De meros transmissores de saberes, parceiros ou

conselheiros, podemos nos tornar formuladores de problemas, provocadores

de situações, arquitetos de percursos; em suma, agenciadores da construção

do conhecimento na experiência viva da sala de aula.

E essa mudança pode ocorrer em sala de aula presencial ou a distância,

“inforrica” ou “infopobre”, porque a expressão da interatividade, como vimos,

não depende de tecnologias digitais e da internet, pois se trata de um

conceito do campo da comunicação e não da área de informática.

Seja na sala de aula entre quatro paredes, seja na sala de aula online

precisaremos garantir participação colaborativa, bidirecionalidade, dialógica

e conexão de teias abertas como elos que traçam a trama das relações.

REFERêNCIAS

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A FORMAÇãO DO INSTRUTOR E DO ALUNO

PESQUISADOR NA METODOLOGIA DE

PROJETOS

PROF.ª DR.ª MARILDA APARECIDA

BEHRENSDoutora em Educação pela PUCSP. Professora e coordenadora do mestrado e doutorado em Educação da PUCPR. (e-mail: [email protected]).

PROF.ª DR.ª PATRÍCIA LUPION TORRES

Doutora em Engenharia de Produção – Mídia

e Conhecimento pela UFSC, professora

do mestrado e doutorado em Educação e

Diretora de Educação a Distância da PUCPR.

(e-mail: [email protected]).

PROF.ª MS. RITA ANDRÉIA MORO

SENCO ZEMMestre em Educação pela PUCPR. Professora e Diretora da Escola Pública no Paraná.

54

Resumo: Este artigo apresenta algumas

cons iderações sobre o paradigma

conservador e sua influência na prática do

instrutor como docente do SENAR. Destaca

a importância de adoção de paradigmas

inovadores na formação de instrutores.

Apresenta, ainda, a metodologia de projetos

como um dos caminhos para a formação de

instrutores e alunos pesquisadores.

Palavras-chave: Paradigma Inovador, Formação

docente, Metodologia de Projetos.

Abstract: This article presents some thoughts

on the conservative paradigm and its

influence in practice the instructor as a teacher

of SENAR. Emphasizes the importance of the

adoption of innovative paradigms in the

training of instructors. It also presents the

methodology of projects as one of the paths

for the training of instructors and students

researchers.

Keywords: Innovative Paradigm, Teacher

Education, Projects’ Methodology.

A educação é influenciada pela comunidade científica e ao mesmo tempo

exerce influência sobre a mesma. Assim podemos ver a evolução do pensar

científico e em paralelo a transformação da sociedade, da agricultura, da

educação. A evolução histórica mostra que os paradigmas científicos influenciam

a sociedade como um todo e vão constantemente se modificando. Segundo

Khun (1996), não há paradigma permanente, eles são historicamente relativos

e naturalmente seletivos.

Nesse contexto, a denúncia e o anúncio de que existe um paradigma

caracterizando todos os segmentos da sociedade e, por conseqüência, a prática

pedagógica do instrutor nos impulsiona a refletir sobre a proposição de

superação do paradigma conservador por meio de metodologias capazes de

responder às demandas da realidade atual. As investigações em autores que

apresentam contribuições sobre um paradigma inovador como Capra (1997),

Gutierrez (1999), Freire (1992,1997) e Freire e Freire (2000, 2001), Behrens

(1999, 2000, 2005) Moraes (1997), Morin (2000), Boaventura Santos

(1989,1997), Bochniak (1996), Torres (2003, 2007), Hernandez (1999) e

Boutinet (2002) apontam a formação de pesquisadores por meio da metodologia

de projetos como uma proposta relevante. Neste trabalho apresentaremos a

formação de instrutores e de alunos pesquisadores, fazedores da história atual

(TORRES e BOCHNIAK, 2003) por meio da metodologia de projetos.

55

O PARADIGMA CONSERVADOR E SUA INFLUêNCIA NA PRÁTICA DOCENTE DO INSTRUTOR

O paradigma conservador presente no universo durante os últimos

quatro séculos, denominado newtoniano-cartesiano, tem sua origem no

movimento da ciência moderna, presente desde o século xVIII, tomou mais

força com o pensamento positivista e contaminou a humanidade com essa

proposta. A focalização dessa proposta foi a supervalorização da visão racional,

isto é, a primazia da razão sobre a emoção.

A abordagem tradicional do paradigma conservador deixou

marcas profundas na formação dos profissionais das diversas áreas do

conhecimento, em especial, por que valorizou a visão objetiva e passou

a ignorar a dimensão subjetiva.

Os paradigmas científicos afetam todos os campos do conhecimento,

mas de modo muito especial, o da Educação. Segundo Alarção (2001, p.98),

o paradigma tradicional influencia os docentes/instrutores que “ensinam,

transmitem e explicam aos seus alunos a ciência normal disponível, não

investigam propriamente”. Além disso, seria possível concluir que, “na base

de sua atuação, está uma epistemologia de transmissão e aquisição de

conhecimentos”. E acrescenta: “Tratava-se de um processo de modelagem

em que a passividade, a docilidade e a disponibilidade por parte do aluno

era essencial e determinante” (p.99).

56

Desde as últimas décadas do século xx, a educação luta para sair dos

paradigmas conservadores. Estes permeiam há muito tempo a educação

brasileira, do ensino não-formal ao ensino universitário. Os paradigmas

conservadores não preenchem satisfatoriamente as necessidades vigentes na

sociedade. As mudanças ocorridas no mundo e as demandas sociais têm

pressionado os profissionais que atuam na docência em todos os níveis e

modalidades de ensino no sentido de superar a visão conservadora de transmissão

pura e simples dos conteúdos e da atitude de passividade imposta aos alunos.

Os participantes de ações de Formação Profissional Rural (FPR) e da

Promoção Social (PS) precisam ser preparados para uma nova sociedade que

exige deles muito mais que memorização e respostas prontas. Behrens (2006, p.

316) alerta que o paradigma conservador está presente na docência na educação

formal e não-formal sendo possível afirmar que “uma grande parcela de docentes

ainda não conseguiu superar o paradigma conservador na ação docente”. Na

realidade, pode-se afirmar que a mudança na prática pedagógica dos professores/

instrutores depende da visão paradigmática da ciência (KHUN, 1996). Porém, para

mudá-la, não bastam os discursos, as discussões, os cursos esporádicos ofertados

na comunidade, a realização de leituras, mas a reunião de variadas situações que

levam a estabelecer um grau de convencimento de que o novo paradigma é mais

relevante que o anterior (KHUN,1996). As ações metodológicas, segundo Behrens

(2005 a), assentadas no “ escute, leia, decore e repita” precisam dar lugar a ações

que envolvam a discussão, a argumentação, a tolerância ao pensamento divergente,

a sensibilidade de avaliação e seleção entre múltiplos determinantes.

O PARADIGMA INOVADOR E A FORMAÇãO DOCENTE DO

INSTRUTOR

As transformações ocorridas na sociedade com as rápidas mudanças

científicas e tecnológicas fizeram com que se verificasse a necessidade de formar

indivíduos capazes de produzir e desenvolver novos conhecimentos. Nesse

processo, as instituições de formação profissional não podem ficar alheias,

57

especialmente diante da necessidade de superação das formas metodológicas que

levaram à reprodução dos conhecimentos. A busca de mudança recai em um

paradigma inovador que promova a produção de conhecimentos.

Para enfrentar esse mundo em constante evolução, o professor/

instrutor e o aluno precisam desenvolver a capacidade de migrar e mudar,

buscando novas competências, habilidades e atitudes (MACHADO, 1994).

Nesse sentido, a essência do ato de aprender torna-se a capacidade de gerir

a mudança de si mesmo e da sociedade em sua totalidade. Nesse processo,

a reflexão deve ser orientada para o fato que se vive num mundo global e

que ao exercer a docência o professor/instrutor deve passar a ser responsável

pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

O novo paradigma da ciência vem sendo denominado emergente,

sistêmico, ecológico, ou nesta última década, paradigma da complexidade

(CAPRA, 1997, MORIN, 2000). Independente de sua denominação, apresenta-se

com características de rede, de teia, de sistema integrado de interconexão,

de inter-relacionamento, de superação da visão fragmentada do universo e

da busca da reaproximação das partes para reconstituir o todo nas variadas

áreas do conhecimento (BEHRENS, 2005). Trata-se da superação do paradigma

mecanicista, reducionista, que durante séculos caracterizou o conhecimento

fragmentado e separado em partes, para um paradigma holístico ou sistêmico

que tem como principal característica a ênfase no todo.

Esse movimento de transformação paradigmática da sociedade levou

a uma ruptura com a visão conservadora, que Moraes (1997, p.55) explica

como “... uma cisão, uma transformação na forma de compreender as coisas

e aceitar os fundamentos de uma construção teórica por parte da maioria

de uma comunidade científica”.

Nessa perspectiva, Behrens (2006) acredita que não há uma única

abordagem pedagógica a ser contemplada, para atender ao paradigma da

complexidade, mas a proposta, neste momento histórico, aponta para a

construção de uma aliança, de uma teia, de um grande encontro, dos

5�

pressupostos e referenciais de abordagens que possam atender às exigências

da sociedade do conhecimento.

No paradigma da complexidade, três tendências pedagógicas podem vir a

atender à aliança proposta, ou seja: a) sistêmica ou holística (CAPRA, 1996, MORAES

1997), que entende o mundo em sua totalidade; b) a progressista (FREIRE, 1992),

que leva em consideração o indivíduo como um ser que constrói sua própria história;

c) a do ensino com pesquisa (DEMO 1996, CUNHA 1999, BOCHNIAK, 1996, TORRES,

2003), que busca a superação de metodologias reprodutivistas e conservadoras,

assentando a metodologia do ensino na produção do conhecimento pelos alunos e

professores e no pressuposto de que ensino e pesquisa são indissociáveis.

A metodologia inovadora alicerçada no paradigma da complexidade que

contemple um ensino pela pesquisa, numa abordagem progressista com visão

holística, leva em conta a produção individual e coletiva do conhecimento

(BEHRENS, 2005b). Essa aliança metodológica com uma visão de rede precisa

atender às expectativas e necessidades do preparo do indivíduo para sua ação

na transformação da sociedade. Behrens (2006, p.317) alerta que: “O trabalho

de inovação e de parceria precisa ser alicerçado na produção de conhecimento,

o que implica modificar o fazer pedagógico e investigar metodologias adequadas

ao momento histórico” e acrescenta que cabe ao instrutor “a agilização dessa

busca, na tentativa de minimizar o descompasso da atual proposta pedagógica

da educação superior com as exigências do mundo em transformação”.

AS APRENDIZAGENS NO PARADIGMA DA COMPLExIDADE

Nas últimas décadas, com o advento da sociedade do conhecimento, os

professores/instrutores foram alertados para urgência em superar a prática

pedagógica centrada na memorização e na repetição. A argumentação do

instrutor de que ele ensina e os alunos aprendem se quiserem tende a ser

ultrapassada pela busca da competência para ensinar, tendo como meta que os

alunos aprendam de fato.

5�

A concepção de uma prática pedagógica que contemple o paradigma da

complexidade envolve uma visão crítica, reflexiva e transformadora; pressupõe uma

construção que priorize a aprendizagem e a produção do conhecimento. Segundo

Behrens (2006, p 318), “o atendimento a esse desafio passa pela necessidade de rever

a ação docente e a metodologia empregada em todos os níveis de ensino”.

A proposição apresentada no relatório Internacional da UNESCO para

Educação do Século xxI, apresentada por Delors (1998), tem como eixo central

a aprendizagem desdobrada em quatro grandes pilares: aprender a conviver,

aprender a ser, aprender a conhecer e aprender a fazer. Com a visão de que

essas aprendizagens não se apresentam separadamente, mas se interconectam

num todo harmonioso e complexo.

A prática pedagógica do professor/instrutor tem como essência a aprendizagem

e, em especial, a proposição de metodologias que concretizem o aprender a aprender.

Nas últimas décadas, a ampliação do volume de informação, numa sociedade

informatizada, aliada aos meios de comunicação impressa e televisada, desafia

homens e mulheres a buscarem novas maneiras de aprender. Assim, se o professor/

instrutor não pode oferecer todo o conhecimento disponibilizado nos variados

veículos de informação para o aluno, precisa ensiná-lo a pesquisar, a investigar, a

tentar caminhos que possibilitem a localização das informações, bem como criar

estratégias de análise e síntese para que o aluno possa posicionar-se no sentido de

argumentar com propriedade e fundamentação.

Os alunos precisam ser preparados para pesquisar a informação, selecionar,

analisar, elaborar e produzir conhecimento próprio. Portanto, há necessidade

de superar a cópia e a repetição restritas as cartilhas de FPR e PS e abrir novas

perspectivas de aprendizagem aos alunos. A ênfase no aprender a conhecer, o

aprender a aprender e o aprender a fazer, presente nas ações de FPR e PS, deve

aliar-se às possibilidades de aprender a conviver e de aprender a ser.

Para Torres (2007, p.12), na Pedagogia da Pesquisa “uma das premissas

fundamentais é a de provocar rupturas, desinstalar, colocar o sujeito diante

de situações sempre novas e conflitantes”.

60

De maneira geral, os cursos ofertados na comunidade urbana ou rural,

têm enfatizado informações desconectadas, descontextualizadas e isoladas.

Trata-se da informação pela informação, sem posicionamento crítico e reflexivo

e sem questionamento sobre a pertinência de trabalhar com certos conhecimentos.

Os conteúdos programáticos das disciplinas que compõem os cursos, muitas

vezes, não têm ligação entre si, apresentam um rol de informações que nem

sempre guardam conexão. Os cursos nem mesmo são avaliados quanto à

pertinência para a formação dos alunos daquele determinado curso.

Para que os cursos de FPR e PS possam satisfazer as demandas da

sociedade e dar conta das quatro aprendizagens necessárias à vida, faz-se

necessário, segundo Delors (1998), ter projetos que procurem responder a

estes desafios. Diante disso, o curso de FPR ou PS deve oferecer processos

que incluam o aprender a pesquisar, o aprender a conhecer, o aprender a

aprender, o aprender a atuar com espírito crítico, especialmente, o aprender

a ser e o aprender a conviver. Visando alcançar essas aprendizagens, o docente

instrutor precisa optar por metodologias que apresentem estas possibilidades.

Neste momento, acredita-se que a metodologia de projetos, além de garantir

as aprendizagens, pode apresentar-se como uma das possibilidades estratégicas

de inovação, especialmente quando incluem a tecnologia como recurso para

melhorar as condições de preparação do indivíduo para o novo cenário do

mundo do trabalho. Na visão de Behrens (2006, p.322), as justificativas que

apontam a falta de computadores no meio rural, as dificuldades para a

montagem e a manutenção dos laboratórios de informática, a ausência de

instrutores preparados para utilizarem a rede informatizada, não minimizam

a necessidade dos cursos de FPR e PS enfrentarem a realidade imposta pela

sociedade do conhecimento.

Os instrutores e os alunos precisam participar de um processo conjunto

para aprender de forma criativa, dinâmica, encorajadora e que tenha como essência

o diálogo e a descoberta (BEHRENS, 2005b). Com essa nova visão, resta aos

instrutores empreenderem projetos que contemplem uma relação dialógica, na

qual, ao ensinarem, aprendem; e os alunos, ao aprenderem, possam ensinar.

61

(FREIRE, 1997). Assim, os instrutores e alunos passam a ser parceiros solidários

que enfrentam desafios a partir das problematizações reais do mundo contemporâneo

e demandam ações conjuntas sustentadas na colaboração, na cooperação e na

criatividade, para tornar a aprendizagem crítica e transformadora.

CAMINHOS PARA TORNAR PESQUISADORES OS INSTRUTORES

E OS ALUNOS

Cada vez faz mais sentido a idéia de que o indivíduo precisa aprender

a aprender, isto é, “ser capaz de realizar aprendizagens significativas por si

mesmo em uma ampla gama de situações e circunstâncias” (COLL, 1992, p.41).

Aprender a observar, formular questões e hipóteses, discriminar o que é

relevante para o problema que está sendo abordado, localizar as fontes de

informação, utilizar instrumentos e estratégias que lhe permitam elaborar as

informações coletadas, dominar conceitos que lhe possibilitem processar essas

informações. Aprender a adquirir novos conhecimentos com autonomia, tendo

condições para enfrentar problemas e questões diversas, circulando com

fluência pelas diferentes formas de se conhecer. Para Coll (1992), essas

aprendizagens são essenciais na vida dos indivíduos.

O desafio que atinge diretamente a prática pedagógica busca propor

um ensino com pesquisa que tem como base as variadas aprendizagens,

em especial o aprender a aprender. O ensino em todos os níveis e,

principalmente, no ensino superior perdeu o caráter de terminalidade. O

mundo moderno não autoriza um profissional a ter sucesso e competência,

se não for um investigador/pesquisador permanente na sua área de conhecimento

(BEHRENS, 2006). Os conteúdos que os instrutores receberam na sua formação

não os tornam competentes e pronto para toda uma vida profissional.

A educação é um processo que nunca termina, pois é um caminho

onde as descobertas acontecem constantemente e as mudanças se fazem

necessárias. As novas perspectivas da educação no início do século xxI

62

devem possibilitar que os instrutores e os alunos tenham autonomia, sejam

criativos, capazes de inovar e superem a reprodução do conhecimento.

A formação continuada necessita da pesquisa que leve a aprender a

aprender, pois coloca o instrutor e o aluno como agentes na produção do

conhecimento, superando as perguntas com respostas prontas e sugerindo

a proposição de problematizações para as quais é preciso buscar as possíveis

respostas (BEHRENS, 2000). A pesquisa deve ser pensada não mais como

atividade desenvolvida em laboratório, que era lugar específico para isso,

mas sim como atividade cotidiana em qualquer ambiente de aprendizagem

ou local de prática que pode surgir e acontecer nas ações da FPR e PS.

Para Demo (1996), o professor deve encarar a produção do conhecimento

como um desafio e transmitir isso ao aluno, assim buscar na pesquisa as soluções

possíveis para o problema. Nesse processo questionador, deve buscar informações

em diversas fontes (literatura, profissionais da área, recursos tecnológicos) e na

posse deles passar a posicionar-se em discussões críticas e, conseqüentemente,

selecionar os conhecimentos relevantes para a aprendizagem significativa.

Diante dessa perspectiva, faz-se necessária a reflexão sobre a proposição

de novas metodologias que possam atender às necessidades da realidade rural.

METODOLOGIA DE PROJETOS: POSSIBILIDADES DE FORMAR

INSTRUTORES E ALUNOS COMO PESQUISADORES

As investigações em autores como Moran (2000), Behrens (2000),

Hernandez (2000), permitem apresentar como alternativa significativa a

Metodologia de Projetos como contribuição para atender ao paradigma emergente

ou da complexidade. Nesse sentido, cabe a reflexão de Behrens (2000, p.81):

A opção por um ensino baseado em projetos proporciona a possibilidade de uma

aprendizagem pluralista e permite articulações diferenciadas de cada aluno

envolvido no processo. Ao alicerçar projetos, o instrutor pode optar por um

ensino com pesquisa, com uma abordagem de discussão coletiva crítica e

63

reflexiva que oportunize aos alunos a convivência com a diversidade de opiniões,

convertendo as atividades metodológicas em situações de aprendizagem ricas e

significativas. Esses procedimentos metodológicos propiciam o acesso a maneiras

diferenciadas de aprender, e, especialmente, de aprender a aprender.

A metodologia de projetos fundamenta-se na aprendizagem que parte de

problematizações nas quais são apresentados pontos norteadores para o processo

de investigação. Essa metodologia permite apontar uma outra maneira de

representar o conhecimento escolar, baseado na aprendizagem, na interpretação

da realidade, pois os alunos passam a investigar com autonomia e dessa maneira

poderão discutir, elaborar e, especialmente, discernir durante o processo entre

o que é ou não importante para construir seu próprio conhecimento.

O ensino por projeto vem sendo proposto desde 1920 por Dewey junto

com Kilpatrick. Nessa época, segundo Boutinet (2002, p.18), “Dewey e Kilpatrick

tentaram opor à pedagogia tradicional, que se revelava muito onerosa em relação

aos ganhos obtidos, por uma pedagogia progressista, também chamada de

pedagogia aberta, na qual o aluno se tornava ator de sua formação através de

aprendizagens concretas e significativas para ele”. De acordo com Behrens

(2006, p.323), a proposta de Dewey (1993) permanece atual e relevante até os

nossos dias. Embora ao longo dos anos a proposição de Dewey tenha sido

aprimorada, continua pertinente e vem sendo utilizada, pois tem sido reconstruída

e reinventada, e, hoje, aparece reescrita por outros autores. Segundo Hernàndez

(2000, p.134-135), o projeto de trabalho:

É uma resposta à necessidade de realizar uma organização globalizada e

atualizada dos conhecimentos e das informações trabalhadas na escola. O sentido

da globalização não consiste em um somatório de informações disciplinares,

mas em encontrar o nexo, a estrutura cognoscitiva, o problema central, que

vincula os conhecimentos e possibilita aprendizagem. Os projetos fundamentam

sua concepção teórica em: a) Um sentido da aprendizagem que se pretende

construir de modo significativo para os alunos. b) Sua articulação a partir de

atitude favorável para o conhecimento por parte dos meninos e das meninas.

64

c) A previsão, por parte dos professores, da estrutura lógica e seqüencial dos

conhecimentos que pareça mais adequada para facilitar sua assimilação.

d) A funcionalidade do que se aprende como um elemento importante dos

conhecimentos que os alunos irão aprender.

Na concepção de Hernandez (2000, p.81), é por meio do trabalho com

Projeto que se torna possível entender o sentido da aprendizagem; assim propõe

uma primeira caracterização de um projeto de trabalho, apresentando os

seguintes passos:

• Parte-se de um tema ou de um problema negociado com a turma.

• Inicia-se um processo de pesquisa.

• Buscam-se e selecionam-se fontes de informação.

• Estabelecem-se critérios de ordenação e de interpretação das fontes.

• Recolhem-se novas dúvidas e perguntas.

• Estabelecem-se relações com outros problemas.

• Representa-se o processo de elaboração do conhecimento que

foi seguido.

• Recapitula-se (avalia-se) o que se aprendeu.

• Conecta-se com um novo tema ou problema.

O que se percebe nessa seqüência proposta por Hernandez (2000) é que

a aprendizagem e o ensino se realizam mediante um percurso que nunca é fixo,

mas serve de fio condutor para a atuação do instrutor com os participantes de

um curso de PFR ou PS.

Nessa perspectiva, Behrens (2006) aponta para alguns cuidados que

precisam ser considerados ao elaborar a Metodologia de Projetos, ou seja, o

posicionamento paradigmático do docente/instrutor sobre a visão de homem e

de mundo que ele deseja empreender com seus alunos. Neste momento,

acredita-se que esse novo posicionamento pode refletir o paradigma da

complexidade, especialmente se o instrutor conseguir optar pela metodologia

de projetos que parta de problematizações.

65

A Metodologia de Projeto proposta por Behrens (2006) envolve algumas

fases apresentadas como sugestões para os instrutores. Ressalta-se que não se

pretende que a proposta em fases seja entendida como um esquema fechado para

ser seguido, ao contrário, são sugestões para criar possibilidades metodológicas

que venham a contemplar a uma visão mais globalizada do ensinar e do aprender.

Portanto, cada instrutor, de acordo com sua realidade, pode e deve ampliar,

complementar, reelaborar ou adaptar a proposta. As fases proposta por Behrens

(2005) para metodologia de projetos de aprendizagem baseada em problemas

foram aqui adaptadas e compreendem: a) Plano ou proposta pedagógico do curso

de FPR ou PS; b) Contextualização; c) Problematização; d) Aulas teóricas ou

práticas introdutórias e exploratórias; e) Pesquisa individual; f) Produção de

texto individual ou realização de prática; g) Discussão crítica; h) Produção de

texto coletivo ou nova realização de prática; i) Produção final; j) Avaliação

contínua da aprendizagem; l) Avaliação do processo.

A metodologia de projetos pode levar o indivíduo a tomar consciência

do seu papel individual e social, para tanto, torna-se essencial que haja interação

no ambiente de aprendizam e o comprometimento por parte do instrutor do seu

papel como mediador e facilitador desse processo de aprendizagem.

66

Na Metodologia de Projetos percebe-se a necessidade de negociação, de

consenso e de envolvimento, que são características essenciais na proposição

desta proposta. Essa metodologia proporciona a possibilidade de uma

aprendizagem pluralista. O ensino com pesquisa, numa abordagem crítica,

envolve um processo individual e coletivo, em que os alunos aprendam a lidar

com a diversidade de atividades metodológicas e propiciar o acesso a maneiras

diferenciadas de aprender, e especialmente, de aprender a aprender.

Afinal, os cidadãos vivendo em sociedade estão sempre sendo desafiados

por problematizações que requerem seu discernimento, sua atuação, sua rapidez

de raciocínio, sua autonomia para tomar decisões. Os instrutores precisam

acreditar no seu dever de criar metodologias que propiciem a compreensão dos

seus alunos de FPR ou PS quanto às realidades políticas e históricas da sociedade.

Neste contexto, o instrutor precisa propor problemas que se aproximem da

realidade cotidiana, com intuito de que o aluno possa ser instrumentalizado

para resolver situações relevantes e significativas que se apresentam diariamente

em sua vida.

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PROPONDO APRENDIZAGEM COLABORATIVA

PARA A FORMAÇãO PROFISSIONAL RURAL

LILIA MARIA MARQUES SIQUEIRA

Mestre e doutoranda em Educação pela

PUCPR. Professora da Engenharia elétrica da

PUCPR. (e-mail: [email protected]).

PAULO ROBERTO ALCÂNTARA

Doutor em Educação e Desenvolvimento

Humano pela Universidade de Vanderbilt –

USA. Professor do mestrado e doutorado

em Educação da PUCPR. (e-mail: paulo.

[email protected]).

70

Resumo: Este artigo apresenta uma alternativa

metodológica para subsidiar os instrutores

que atuam na formação do profissional rural:

a aprendizagem colaborativa. Esta modalidade

de ensino baseia-se fundamentalmente em

utilizar a interação existente entre os

aprendizes na direção da aprendizagem. Como

a formação rural é um processo educativo

não-formal, participativo e sistematizado, as

aproximações de interesses comuns existentes

entre os indivíduos podem facilitar a aquisição

dos conhecimentos, das habilidades e atitudes

requeridas para o exercício de uma

determinada ocupação, pertinente aos

subsetores próprios da economia do meio

rural. As descrições relatadas neste artigo

decorrem de experiências instrucionais bem-

sucedidas utilizando a colaboração e

fortalecem-na como opção metodológica.

Palavras-chave: Aprendizagem Colaborativa,

Formação Profissional, Tecnologias Educacionais.

Abstract: This article presents a methodological

alternative providing support to the

instructors who act in the rural worker

professional development: collaborative

learning. This educational modality is based

fundamentally in the utilization of the existing

interaction among learners in the learning

route. As the rural development corresponds

to a non formal educative process, participative

and systematized, the common interests’

proximities among individuals may facilitate

knowledge acquisition, skills and required

attitudes for a certain occupation, pertinent

to the proper economic agricultural

environment sub sectors. The descriptions

presented in this article are a result of

successful instructional experiences using

collaboration, being strengthened as a

methodological option.

Keywords: Collaborative Learning, Professional

Instruction, Educacional Technologies.

A METODOLOGIA PREDOMINANTE NA FORMAÇãO PROFISSIONAL

Trabalhando de acordo com a realidade do mercado de trabalho, o SENAR

parte das ocupações da área rural, para ofertar os cursos de formação profissional.

Em cada um desses cursos, o instrutor verifica a modificação que, ano após

ano, vem ocorrendo em seu grupo de alunos, sem poder mais ficar alheio à

rápida e contínua transformação da sociedade, e à realidade ocupacional que

seus alunos enfrentam ao finalizarem os cursos escolhidos.

71

Os instrutores sabem da necessidade de atualizar a prática pedagógica

para evitar que se estabeleça uma distância entre o curso e a realidade

profissional. Em cursos de formação profissional, assim como em tantos

outros, o estilo de aula que muitas vezes predomina é tradicional. Embora

eficaz e indispensável em certos momentos da abordagem, a opção exclusiva

pela aula expositiva restrita aos conteúdos específicos e práticas repetitivas

não podem ser consideradas pois, revelam-se incompletas.

Paulo Freire, trabalhando em seu conhecido projeto de alfabetização de

adultos, levantou importantes aspectos que também são observados na sala de

aula tradicional. Se o instrutor se apresenta como único detentor do saber, a

educação exclusivamente tradicional assemelha-se à educação bancária, definida

por Freire (1978, p.67): “Na visão bancária da educação, o saber é uma doação

dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber.” Considera os alunos

recipientes vazios nos quais o instrutor irá depositar os conteúdos das disciplinas,

com pouca ou nenhuma reflexão, e com ênfase na memorização. A valorização

do aluno será feita pela sua docilidade em receber, sem argumentação, os

conhecimentos passados pelo instrutor e a avaliação será medida na capacidade

de armazenar esses conteúdos. O instrutor detém o curso da aula sob controle,

e toda a atenção está dirigida a ele, sendo o aluno parte da assistência, que

passivamente ouve e toma notas para depois memorizar. Não há espaço para a

dúvida, e o diálogo praticamente inexiste.

O método tradicional considera o aluno um ser passivo, ouvinte,

que tem contribuições individuais a fornecer, quando isto lhe for permitido

pelo instrutor, que é um transmissor do conteúdo, e o agente do processo

ensino-aprendizagem.

Conforme cita MIZUKAMI (1986):

Parte-se do pressuposto de que a inteligência, ou qualquer outro nome dado à

atividade mental, seja uma faculdade capaz de acumular/armazenar informações.

A atividade do ser humano é a de incorporar informações sobre o mundo (físico,

social, etc.), as quais devem ir das mais simples às mais complexas. (p.10)

72

Os alunos não se sentem à vontade para aprender e não conseguem se

concentrar durante todo o período que estão em sala de aula. Rapidamente a aula

se torna um fardo para eles, que começam a dispersar seu raciocínio, ou conversar

paralelamente, para desgosto dos colegas e do instrutor. Esse, por sua vez,

planejou a aula, revisou o conteúdo, preparou material, dimensionou o tempo

para que a duração da abordagem não ficasse incompleta, mas, antes mesmo

do término da aula, constata que seu objetivo não está sendo atingido.

Na escola tradicional, Dewey (1978) define motivo como: “motivo é,

assim, o nome que damos aos fins, em relação à sua capacidade ativa ou

dinâmica”, e mais adiante: “buscavam motivos para o estudo ou lições, em

vez de motivos nos estudos ou lições”. (p.95 e 96)

Assim, a preocupação dos instrutores em motivar seus alunos numa

perspectiva tradicional resume-se em encontrar os interesses de cada assunto e

expô-los à classe, na expectativa de convencê-los da importância de tratar daquele

tema. Nem sempre é suficiente estar bem preparado e articulado em relação aos

assuntos que se pretende desenvolver, aplicar as metodologias que se supõem

serem as mais adequadas e empreender as avaliações que parecem justas e

propícias. Centrado na capacidade de fazer a mediação entre o saber e o aluno,

arbitram-se os processos pedagógicos julgados pertinentes e deixa-se o aluno

– sem que ele próprio o saiba – encarregado de gerenciar sua aprendizagem.

Entretanto, as relações entre instrutor, aluno e conhecimento, vão além

de uma rápida análise da aprendizagem no nível prático. Requerem

uma pesquisa, talvez até não revelada como tal, do ambiente, das aspirações

dos alunos, de suas expectativas, de seus interesses, de suas fraquezas e

potencialidades. Urge uma aproximação do instrutor aos seus alunos, para

elucidar seus objetivos instrucionais, adaptá-los se julgar conveniente. A

colaboração pode ser auxiliar nesta tarefa de aproximação do aluno com o

conteúdo a ser aprendido, direcionado pelo professor e compartilhado pelos

demais alunos.

73

APRESENTANDO A APRENDIZAGEM COLABORATIVA

A base pedagógica da aprendizagem colaborativa reside na interação

entre os pares como condição para que aconteça a aprendizagem. Como

exemplo de aplicação, o instrutor pode propor um problema para ser

discutido em conjunto com todos os alunos, ou dentro dos grupos, e desta

discussão inserir os conteúdos teóricos. Pode ser vista como uma possibilidade

de superação à educação bancária, citada por Freire (1978):

Enquanto na concepção bancária o educador vai enchendo os educandos de falso

saber, que são os conteúdos impostos, na prática problematizadora, vão os

educandos desenvolvendo o seu poder de captação e de compreensão do mundo

que lhes aparece, em suas relações com ele, não mais como uma realidade

estática, mas como uma realidade em transformação, em processo. (p.82)

Enquanto na primeira modalidade se reconhecia como conhecimento

algo construído por outras pessoas, em determinadas épocas, e possuía a

característica estável e imutável, a prática problematizadora insere o aluno na

sua realidade e auxilia-o a compreender que o conhecimento foi construído por

essas pessoas de acordo com o período histórico em que viviam, suas bagagens

culturais, axiológicas, motivadas por uma necessidade social e mediada pela

sua capacidade intelectual. Assim, pouco a pouco, o aluno passa a se conscientizar

de que ele pode também construir (e não apenas repetir) o conhecimento. A

estratégia metodológica que o instrutor utiliza em sala de aula pode tornar o

aluno apto a conhecer o mundo em que vive, estabelecer relações entre a

realidade e as teorias, interpretar as transformações da sociedade.

Qual seria o caminho a ser trilhado pelo instrutor que deseja transformar

sua prática tradicional em uma prática problematizadora? Freire (1978) conclui

sua reflexão propondo uma forma de transformar os alunos receptivos em ativos

participantes da aula: “Enquanto na teoria da ação antidialógica a conquista,

como sua primeira característica, implica num sujeito que, conquistando o outro,

74

o transforma em quase ‘coisa’, na teoria dialógica da ação, os sujeitos se

encontram para a transformação do mundo em co-laboração” (p.196) e, mais

adiante: “O diálogo, que é sempre comunicação, funda a colaboração... o diálogo

não impõe, não maneja, não domestica, não sloganiza.” (p.197)

A comunicação entre os pares é justamente a base da aprendizagem

colaborativa. Os alunos são incentivados a acreditarem que podem ser

participantes da construção de um novo conhecimento, a partir daquele

conteúdo apresentado em classe, consensado por meio de um debate

mediado pelo instrutor e acrescentado das características próprias da

realidade e da disponibilidade tecnológica.

Bruffee (1999) também constatou a importância da comunicação, em

grupos étnicos que a privilegiam como costume cultural:

Observando estudantes estrangeiros e seus desempenhos diferentes em uma

Universidade da Califórnia, o prof. Uri Treisman constatou que aqueles que

vinham de uma cultura étnica que incentivava o trabalho em conjunto,

produziam melhor que os demais. Ao reunir os outros estrangeiros, cedendo

espaço para estudar e explanando como trabalhar juntos de maneira eficiente,

conseguiu melhorar os resultados de todos. (p.13)

75

O primeiro passo para se compreender a concepção de colaboração

é de que esta não ocorrerá se não houver uma mudança de cultura, uma

adaptação a essa nova cultura, que predomina na comunidade do

conhecimento, no meio acadêmico. Os estudos de Kenneth Bruffee

concentraram-se na universidade, todavia os princípios colaborativos são

muito usados também no Ensino Médio e Fundamental, assim como na

formação profissional, ajustando-se perfeitamente ao ambiente educacional

no qual se insere, auxiliando a atingir os propósitos instrucionais.

Dewey (1978) já afirmava: “a vida social se perpetua por intermédio

da educação” (p.19), e lembrava que a educação não é para a vida, ela é a

própria vida.

Na aprendizagem colaborativa, os alunos devem reconsiderar seus

conceitos, por meio da discussão uns com os outros. Esta interdependência tão

necessária na vida profissional é pouco incentivada na visão tradicional.

A colaboração busca os elementos facilitadores que são responsáveis

pela propagação da cultura popular entre os alunos, seus interesses comuns

pelo conteúdo, pela profissão a ser exercida. Pretende aproveitar a interação

entre os alunos, para que se atinjam as metas educacionais, e a aprendizagem

aconteça de forma leve e prazerosa.

Em seu livro Escola e Cultura, Forquin (1993) apresenta as bases do

conhecimento escolar e deixa clara a estreita conexão entre a educação e a

cultura. Pois ao trabalhar determinado conteúdo, às vezes sublimamos o fato

de que esse foi descoberto, experimentado, enunciado por algum ser

humano, em determinadas condições, em época precisa, com certas

ferramentas e a partir de certos pressupostos. Em suma, estamos nos expondo

à cultura que tornou necessária ou possível a descoberta deste fato; a cultura

que está impregnada neste conhecimento.

Em suas palavras:

Toda reflexão sobre educação e cultura pode assim partir da idéia segundo a

qual o que justifica fundamentalmente, e sempre, o empreendimento educativo

76

é a responsabilidade de ter que transmitir e perpetuar a experiência humana

considerada como cultura, isto é, não como a soma bruta (e, aliás, inimputável)

de tudo o que pode ser realmente vivido, pensado, produzido pelos homens

desde o começo dos tempos, mas como aquilo que, ao longo dos tempos, pode

aceder a uma existência pública, virtualmente comunicável e memorável,

cristalizando-se nos saberes cumulativos e controláveis, nos sistemas de

símbolos inteligíveis, nos instrumentos aperfeiçoáveis, nas obras admiráveis.

Neste sentido pode-se dizer perfeitamente que a cultura é o conteúdo substancial

da educação, sua fonte e sua justificação última: a educação não é nada fora

da cultura e sem ela. (FORQUIN, 1993, p.13-14)

Para esse mesmo autor, a cultura pode ou não ser cultivada. No primeiro

caso, para se apreender as características de uma nova cultura (um novo

curso de formação, por exemplo), devem-se deixar impregnar por uma troca

prolongada ou trabalho metódico, das referências cognitivas e dos modos

de pensamento que estão presentes neste novo ambiente cultural.

Bruffee (1999) também apresenta a importância de utilizar a convivência

entre os alunos para se conseguir atingir propósitos educacionais:

Embora aprendemos muito lendo, aprendemos mais ainda quando dizemos

uns aos outros o que lemos. Cada um de nós começa a mudar e descobrimos

que força transformadora poderosa é a influência de uns em relação aos

outros. (p.9)

Da mesma forma, Freire (1992) partilha dessa visão do conhecimento

construído: “É que a relação de conhecimento não termina no objeto, ou

seja, a relação não é exclusiva de um sujeito cognoscente com o objeto

cognoscível. Se prolonga a outro sujeito, tornando-se, no fundo, uma relação

sujeito-objeto-sujeito.” (p.120)

Dando continuidade a essa percepção, mesmo a resolução de exercícios

propostos pelo instrutor para desenvolvimento individual, serão passíveis de

mediação, ao conferir se a resposta está correta; nesse caso a mediação está

representada pelo autor do livro que forneceu a resposta esperada. Com essa

reflexão, verifica-se que ninguém aprende sozinho, mesmo quando aparentemente

77

se está realizando estudo individual, para a apreensão daquele conhecimento,

sempre existirá um outro sujeito, presente ou representado por sua obra,

aprovando a correta interpretação da análise ou estudo realizado.

De fato, se for utilizada a interação espontânea que existe entre os alunos

dentro da classe, na direção de desenvolvimento do conteúdo, execução dos

trabalhos e realização das experiências, poderá ser observada a força do trabalho

conjunto. Evidentemente, todo este processo é cuidadosamente planejado,

controlado e supervisionado pelo instrutor, porém a liberdade de discussão que

se dá, a abertura para expressar-se, modifica a postura dentro da sala, eliminando

a resistência encontrada pelo instrutor nestes mesmos alunos, se estiverem

assistindo a aulas exclusivamente tradicionais.

Na essência, a aprendizagem colaborativa, cuja base é a observação dos

grupos de pares, do estudo do processo de comunicação dentro do grupo e entre

os grupos, dos fundamentos do ensino com pesquisa, busca técnicas para inovar

e melhor alcançar o objetivo maior da educação: a aprendizagem.

Na aprendizagem colaborativa, os instrutores:

a) Incentivam a autonomia [do aluno] em perceber seu ritmo de

estudo e aprendizagem; redirecionam a autoridade da sala de aula

centrada no instrutor para os colegas, negociando as relações

dentro do grupo, e do grupo para com o instrutor;

b) Estimulam a interdependência;

c) Auxiliam os alunos a se tornarem autônomos, articulados e mais

amadurecidos socialmente;

d) Auxiliam os alunos a aprender a relevância de um assunto não

como um conjunto de fatos conclusivos, mas como construído

pelo processo da conversação, perguntas e negociação. (BRUFFEE,

1999, p.89, grifo nosso).

A exemplo de outras metodologias para facilitar aprendizagem, a

colaboração tem suas raízes na mais pura teoria de ensino: a significação. Ao

observar os grupos de jovens e como se comunicam, vê-se que se reúnem em

7�

torno de um ídolo, de uma causa, ou de um simples evento que seja do interesse

de todos. Além disso, o grupo possui, em torno deste elo que os mantém

reunidos, semelhantes expectativas e a mesma compreensão sobre sua natureza.

Em outras palavras, aquilo possui significado, possui uma mensagem, traduz

uma idéia. Com esse objetivo em comum, os jovens se organizam, debatem e

constroem, de modo colaborativo, a sua ação sobre o objetivo.

A APRENDIZAGEM COLABORATIVA ENVOLVENDO TECNOLOGIA

As habilidades de interdependência, troca de idéias, debates sobre

um tema que se deseja desenvolver com a estratégia da colaboração também

podem ser incentivadas pela mediação da tecnologia.

Andres (2000) assinala os benefícios para os alunos quando se utilizam

da colaboração mediada por sites educativos contidos na Internet:

Quando os educadores pensam sobre a Internet, eles tendem a enfatizar sua

utilidade para a pesquisa, mas sublimam seu papel na aprendizagem

colaborativa. Ela pode encorajar os alunos a trabalharem em conjunto,

formarem parcerias na sua comunidade, e usar sua criatividade para comunicar

entre si e informar à outros ao redor do mundo. (p.42)

Especialmente os jovens habituados à tecnologia podem também

subestimar a potencialidade da Internet. A maior parte dos sites visitados não

tem uma constante atualização e verificação dos pares. Uma boa fonte de consulta

inicial são as bibliotecas digitais, que contêm grande número de periódicos

disponível virtualmente, com permissão dos autores para impressão e utilização

particular dos alunos, contendo outras fontes de referência pertinentes ao assunto

pesquisado e que remeteria os alunos a uma pesquisa mais aprofundada.

Contudo, não se pode esperar que apenas disponibilizando listas de

contribuições, ou de e-mails, os alunos irão compartilhar do ponto de vista do

instrutor e utilizar a mídia porque auxilia e incentiva a aprendizagem.

É fundamental a participação ativa do instrutor durante o desenvolvimento da

atividade, mediando e agregando valor às contribuições, proporcionando novas

7�

visões e alternativas de análise. Nesse sentido, Cysneiros (2003) recomenda

cautela ao avaliar a pertinência em se utilizar recursos tecnológicos na educação,

porque “quando utilizamos um artefato tecnológico para conhecer algo, ocorre

uma seleção de aspectos do objeto em processo do conhecimento, resultando

em ampliação de determinados aspectos e redução de outros.” (p.9)

De forma semelhante, Alcântara (1999) apresenta alguns cuidados que o

instrutor deve tomar ao incorporar ao seu planejamento atividades no laboratório

de informática:

Professores devem proporcionar um contexto significativo para a tecnologia

de computadores, eliciar e discutir conhecimento anterior com estudantes,

ensinar estratégias cognitivas, desafiar estudantes e fornecer encorajamento

durante atividades que utilizam a tecnologia de computadores. (p.115)

A grande familiaridade que os alunos já possuem com a tecnologia, o

interesse em aprender novas ferramentas, facilita o trabalho do instrutor ao

propor atividades mediadas por computadores, pois essa já conta com uma

pré-aprovação dos alunos. Todavia, cabe observar que a interação entre os

alunos é pouco incentivada, pois ainda é pouco comum o uso de tecnologia

para atividades em grupo de alunos que já se encontram presencialmente; sem

esta orientação para a interação, a tecnologia pode vir a isolar o aluno.

Quando se propõe uma atividade que utiliza a colaboração, por exemplo,

na forma de contribuições por meio de listas de discussão, tem-se como intenção

que o computador gradualmente deixe de ocupar um papel secundário,

meramente auxiliar. Em geral visto como repositório de informações, comumente

é utilizado apenas para consultas a páginas de informações, ou acesso ao correio

eletrônico (e-mail). A nova dimensão que se deseja dar ao uso do computador

é que ele pode ser um encurtador de distância, sem limite de tempo, para

encontros virtuais nos quais se deseja saber a opinião de um ou mais elementos,

e a partir disso, estabelecer novas indagações e questões, aprimorando o

conhecimento existente.

Cysneiros (1999) assinala que:

�0

A atividade de ensinar exige continuamente ações e decisões que nenhuma

máquina poderá fazer, embora as máquinas possam ser muito úteis – algumas

vezes indispensáveis – em certas situações didáticas, pela materialização de

representações que exigem cálculos complexos, construção de imagens em

várias dimensões, de movimentos, de mudanças de escalas, de acesso a

bancos de informações. Tais questões são centrais em qualquer reflexão sobre

Tecnologia Educacional, envolvendo ou não computadores. (p.6)

Ampliando essa visão, citamos Bruffee (1999), quando lança um olhar

comunicativo para o computador, coerente com seu ponto de vista de que o

conhecimento é uma construção social continuamente inventada e reinventada:

Atualmente a observação de que computadores e colaboração estão

relacionados é consenso. Alunos que reúnem-se em torno de um computador

para explicar assuntos uns aos outros estão aprendendo de forma colaborativa.

Cientistas e engenheiros trabalhando para fixar robôs exploradores em Marte

estão aprendendo de forma colaborativa. A rede mundial de computadores

(world wide web) é colaborativa de um ponto a outro. (p.113)

Bruffee prossegue realizando um comparativo entre as linguagens

utilizadas em cada uma das situações, a linguagem pessoal e a linguagem

própria da comunicação mediada pela tecnologia. Por exemplo, ao usar um

e-mail, escrever artigos ou participar de listas de discussão, estamos utilizando

a rede de computadores como ferramenta de comunicação, síncrona ou

assíncrona. Nos programas dedicados, aplicativos com específica função

pedagógica, além da comunicação entre as pessoas que estão na frente do

computador, existem aquelas que estão virtualmente presentes, que são

aquelas que projetaram os softwares educativos e que se revelam por meio

das peculiaridades do programa, contribuindo para a aprendizagem.

Para alcançar êxito nas atividades mediadas por tecnologia, a ênfase

deve ser na troca entre os participantes acerca do que se aprendeu acessando

os recursos de informática, indo além da mera utilização da tecnologia como

recurso didático, e avançando para uma compreensão dos limites da

comunidade virtual do conhecimento.

�1

COLABORAÇãO E COOPERAÇãO

Alguns estudiosos em educação utilizam os termos cooperação e

colaboração indistintamente, outros, ao contrário, ressaltam as diferenças que

existem entre as duas abordagens. Para Bruffee (1999): “O que une o aprendizado

colaborativo e aprendizado cooperativo são as suas forças: a vantagem

educacional em se conduzir a influência entre os membros do grupo a enfatizar

as suas habilidades intelectuais e a essência do assunto tratado.” (p.92)

Dillenbourg (1999) ressalta a dificuldade de articular as contribuições de

vários autores que utilizam as mesmas palavras - cooperação e colaboração – de

maneira muito diferente, e propõe:

A mais ampla (mas insatisfatória) definição de aprendizagem colaborativa é que

ela se constitui em uma situação na qual duas ou mais pessoas aprendem ou

tentam aprender algo juntas. Cada elemento dessa definição pode ser interpretado

de diferentes modos: 1) duas pessoas ou mais pode ser interpretado como pares,

um pequeno grupo (3-5), uma classe (20-30); 2) aprendem algo pode ser

interpretado como acompanhar um curso, desenvolver situações de aprendizagem,

estudar o material de um curso; 3) juntas pode ser interpretado como as diferentes

formas de interação: face a face, mediado por computador, síncrono ou não,

freqüente no tempo ou não. (p.2)

Coordenando uma série de debates em aprendizagem colaborativa,

promovido pela European Science Foundation (ESF), entre 1994 e 1997, Pierre

Dillenbourg apresenta em seu livro descrição aprofundada dos vários significados

para a aprendizagem e para colaboração, e a multidisciplinaridade presente nos

estudos sobre aprendizagem colaborativa. Em outro capítulo do mesmo livro,

Dillenbourg, em conjunto com outros autores, realiza a seguinte comparação:

gravou as explicações de alunos para si mesmos quando liam determinados

trechos de um exercício de física, selecionando os quatro mais altos escores e

os quatro mais baixos. Registrou que os alunos com maiores escores tentavam

explicar para si mesmos as diferentes soluções dos exemplos apresentados antes

de passar à resolução dos problemas, e se detinham mais tempo nos detalhes

do exemplo e em sua própria compreensão. Também observou que explicar

�2

para outros colegas pode levar à aquisição de novo conhecimento, porque os

alunos necessitam elaborar suas justificativas um para o outro, para explicar o

que estão fazendo e por que estão fazendo:

Durante a construção das explicações, aprender deve residir tanto em sua própria

identificação do conhecimento que falta, mas também porque o receptor desta

explicação identifica a informação faltante, e requer esclarecimento do explanador

com pontos de vista alternativo. (DILLENBOURG, 1999, p.118)

Em seu artigo “Cooperação e Colaboração – uma perspectiva integradora”,

Neil Davidson, na qualidade de Presidente da International Association for the

Study of Cooperation in Education (IASCE), reuniu seis abordagens de

aprendizagem colaborativa e cooperativa e examinou similaridades e variações

entre as abordagens. As seis abordagens: a) aprendizagem por grupo de alunos;

b) aprendizagem juntos; c) investigação de grupo; d) abordagem estrutural; e)

instrução complexa; f) abordagem colaborativa; foram desenvolvidas por outros

instrutores que relataram como estabeleceram seu plano de ação em sala de

aula, a partir de uma tabela proposta por Davidson, contendo os atributos comuns

e os que variam em cada uma das aproximações.

O Quadro 1 ilustra a relação de atributos elaborada por Davidson:

Quadro 1:AtributoscomunsevAriáveisdentrodAsAbordAgensdeAprendizAgemcolAborAtivAecooperAtivA

Atributoscomunsatodasasabordagens

AtividadedeaprendizagemadequadaparatrabalhoemgrupoDefinição do tamanho do grupoComportamento de cooperaçãointerdependência(freqüentementereferidocomointerdependênciapositiva)registrodeprogressosindividuaiseresponsabilidade

1.2.3.4.5.

Atributosquevariamentreasmuitasabordagensprocedimentodogrupo(heterogêneo,aleatório,selecionadopeloaluno,interessecomum)Estruturação da interdependência (objetivos, tarefas, divisão de trabalho, recompensas)Ensino explícito das habilidades de colaboração, cooperação, interpessoal, relacionamentoReflexão das habilidades sociais, acadêmicas, ou dinâmica de grupoAjuste entre construção da turma, da equipe, da confiança ou normas de cooperaçãoestruturadegrupoAtenção ao status do aluno pelo instrutorLiderança de grupodesenvolvimentodoinstrutor

1.2.3.4.5.6.7.8.9.

FONTE: DAVIDSON (2001, p.14) tradução própria

�3

O comportamento cooperativo pode ser reconhecido quando os elementos

do grupo de estudo comparam suas respostas, expõem e corrigem erros ou

confusões de interpretação. Na cooperação, o instrutor intervém aleatoriamente

e com freqüencia no trabalho dos grupos. Realiza testes no fim das atividades,

e em algumas vezes escolhe aleatoriamente alguns alunos, testa-os e atribui a

nota daqueles para o grupo todo. Algumas vezes observa as freqüências das

participações individuais em cada grupo, e recompensa com uma nota igual

para o grupo que chegou a uma correta resposta ou solução. Na colaboração, o

grupo é responsável pela aprendizagem individual de cada componente. Os

instrutores que estão envolvidos com a formação profissional rural podem

cuidadosamente estabelecer os atributos adicionais em qualquer abordagem,

desde que se encaixem em seus objetivos instrucionais.

CONCLUSãO

Os estudos de Kenneth Bruffee sobre a colaboração concentraram-se

na universidade, todavia os princípios colaborativos são muito usados

também no Ensino Médio e Fundamental, assim como na formação

profissional, com as devidas adaptações, ajustando-se perfeitamente ao

ambiente educacional no qual se inserem, auxiliando instrutores e alunos

a ampliarem suas formas de estudar os conteúdos, debaterem, construírem

novas interpretações, estabelecerem relações e comparações, consolidando

uma aprendizagem significativa.

Considerando a dinâmica da realidade e a atualização constante de

técnicas e procedimentos no contexto rural, os instrutores podem formar grupos

colaborativos entre eles também, realimentando procedimentos, conteúdos,

planejamentos de atividades, contribuindo para um aperfeiçoamento de sua

ação, visando a uma maior qualidade na formação de novos profissionais.

�4

REFERêNCIAS

ALCÂNTARA, P. R. Tecnologia multimídia na escola regular e especial. In: Revista Educação e Tecnologia. Curitiba: CEFET, v.4, p.111-131, 1999.

ANDRES, Yvonne. EduNet. Students Benefit from collaborative learning in the classroom, in T.H.E. Journal. California, n.2, v.28, p.42-46, set 2000.

BRUFFEE, Kenneth A. Collaborative Learning. Higher education, Interdependence, and the authority of knowledge. 2nd edition. Baltimore: Johns Hopkins, 1999. (1ª edição 1993).

CYSNEIROS, Paulo G. Professores e máquinas: Uma concepção de informática na educação. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, NIE/NPD, 1999.

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DAVIDSON, Neil. Cooperative and Collaborative Learning – An integrative Perspective. In: Creativity and Collaborative learning: a practical guide to empowering students and teachers. Baltimore: Paul Brookes Publishing Co., 2001 (13-30).

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MIZUKAMI, Maria G.N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.

O PLANEJAMENTO DE CURSOS A DISTÂNCIA: UMA PROPOSTA DE FORMAÇãO VISANDO AO DESENVOLVIMENTO DE COMPETêNCIAS PROFISSIONAIS

DILMEIRE SANT’ANNA RAMOS

VOSGERAU

Doutora em Educação pela Universidade de

Montreal – Canadá. Professora do mestrado

em Educação da PUCPR. (e-mail: dilmeire.

[email protected]).

�6

Resumo: Este artigo apresenta uma

proposta de planejamento de cursos a

distância, fundamentada no desenvolvimento

de competências. Essa proposta utiliza como

base as noções de competências definidas

por LeBoterf (2003) e Paquette (2002). No

entanto, o modelo original foi revisado para

considerar a leitura da proposta de formação

por competências em contexto brasileiro,

apresentadas por Kuenzer (2003), tendo em

vista que a história social, política e econômica

do país leva a uma resistência natural

à absorção da proposta de competência,

diferente do que ocorre na Europa e na

América do Norte. Para o encaminhamento

da construção do planejamento, associamos

questionamentos inspirados nos trabalhos

de Baylor, Kitsantas e Chung (2001). A

associação destes questionamentos leva os

professores a uma reflexão sobre a relação

esperada entre os diversos saberes teóricos

trabalhados nos diferentes módulos de um

curso a distância, sobre a relação existente

entre os saberes de um mesmo módulo e o

material didático necessário para sua

a p r e n d i z a g e m , a l é m

da reflexão da importância destes saberes

t eór i cos n o d e s e n v o l v i m e n t o d a s

competências profissionais.

Palavras-chave: Formação de professores;

Educação a distância, Modelo pedagógico;

Abordagem por competências.

Planning distance learning courses: a proposal

to develop training with a view to developing

professional competencies

Abstract: This article introduces a proposal

for planning distance learning courses based

on the development of competencies. This

proposal is based in notions of competencies

as defined by LeBoterf (2003) and Paquette

(2002). However, the original model has been

revised to take into account competency

based training in the Brazilian context as

introduced by Kuenzer (2003), as the social,

political and economic history of the country

has shown a natural resistance to adopting

a competency based proposal, unlike the

Europeans and North Americans. To give rise

to the planning construction, we consider

questions inspired by the works of Baylor,

Kitsantas and Chung (2001). The association

of these questions leads teachers to reflect

on the relationship that is expected between

the different theories used in the different

modules of a distance learning course, the

relationship between different types of

knowledge in a given module and the didactic

material that is required for learning, in

addition to reflecting on the importance of

this technical knowledge in the development

of professional competencies.

Keywords: Teacher training, Distance learning,

Teaching Model, Competency based

�7

INTRODUÇãO

No âmbito do trabalho, as noções de competências já estão presentes no

Brasil desde a década de 1970, no entanto, no que se refere à educação, a

proposta de desenvolvimento de competências tem sido constantemente objeto

de discussões e críticas.

Segundo Kuenzer (2003), essas discussões devem-se em grande parte à

influência taylorista/fordista presente na concepção de competências ligadas

ao mundo do trabalho que, muitas vezes, privilegia o conhecimento tácito e

práticas laborais em detrimento do saber teórico.

Segundo a mesma autora (KUENZER, 2003a, p. 2), com o advento da

tecnologia, o “conhecimento de competência passa a supor domínio do

conhecimento científico-tecnológico e sócio-histórico em face da

complexificação dos processos de trabalho”, exigindo do trabalhador o

desenvolvimento de capacidades cognitivas complexas, domínio de diferentes

linguagens, raciocínio lógico-formal, enfim, competências que demandam

que o trabalhador seja capaz do sistematizar conhecimentos “através de

processos pedagógicos disponibilizados por escolas ou por cursos de educação

profissional” (ibidem).

Nesse sentido, no contexto brasileiro, as competências exigidas no mundo

do trabalho passam a ser mais excludentes ainda, considerando que muitas vezes

a base para o desenvolvimento das capacidades citadas acima são desenvolvidas

ainda na infância, nas relações sociais e familiares (ibidem).

Como então preparar o trabalhador para adentrar neste mundo tecnológico

em que a profissionalização deve ir além do saber fazer, aprendendo a ser e a

agir? “Cabe às escolas, portanto desempenharem seu papel na criação de

situações de aprendizagem que permitam ao aluno desenvolver as capacidades

cognitivas, afetivas e psicomotoras relativas ao trabalho intelectual” (KUENZER,

2003a, p. 18).

Ao retornar ao estudo, este aluno-trabalhador necessita ter uma educação

“sob medida”. Ou seja, com a flexibilidade necessária para que as atividades

��

acadêmicas interfiram o mínimo possível em seus compromissos profissionais

e sua vida cotidiana. Tendo esta finalidade, diversas instituições de ensino têm

investido na oferta de cursos na modalidade a distância.

Todavia, para que esta modalidade de ensino-aprendizagem não seja uma

atividade paralela da instituição, sem vínculo com seus próprios fundamentos

educacionais, observamos que, além de ter os instrumentos necessários para a

formação a distância, faz-se necessária a habilitação dos professores para

interagir com as ferramentas e metodologias empregadas em EAD, respeitando

os princípios pedagógicos privilegiados pela instituição e as necessidades

específicas do curso proposto.

Com a finalidade de auxiliar os professores a desenvolver seus cursos a

distância, desenvolvemos uma pesquisa-ação-formação em uma instituição

superior, na qual contamos com a participação de dez professores de um curso

de pós-graduação a distância, para aplicação do modelo proposto para o

planejamento de seus cursos. Esse modelo é composto por dois processos:

• a concepção do modelo de competências, que dá origem ao contrato

pedagógico;

• a concepção do cenário de ensino-aprendizagem, que apresenta

a execução do contrato pedagógico.

Neste trabalho, apresentamos uma visão geral da metodologia adotada

no trabalho de formação docente, visando à concepção de um curso baseado

na abordagem de competências. Embora o curso tenha sido desenvolvido no

âmbito de uma Instituição de Ensino Superior, o modelo pode ser facilmente

adaptado a uma Instituição de Formação Profissional.

1 OS PROCESSOS NO INTERIOR DE UM SISTEMA DE EAD

Quando nos referimos ao complexo processo que envolve a educação

a distância, utilizamos a expressão “Sistema de Ensino-Aprendizagem”.

��

Por sistema, compreendemos o “conjunto de elementos, concretos ou

abstratos, intelectualmente organizados” (HOUAISS, 2002). Dessa forma, o

termo “sistema” abrange os elementos humanos e tecnológicos (materiais,

equipamentos, programas) que a modalidade de ensino a distância necessita

no processo pedagógico. Esse termo também explicita a importância da

relação harmônica entre estes diversos componentes.

Optamos também por utilizar a expressão “Ensino-Aprendizagem” no

lugar das expressões “Sistema de Ensino” ou “Sistema de Aprendizagem”, pois

consideramos que a palavra “ensino” reforça a importância do papel do

professor-planejador do sistema de EAD, como o mentor e guia da

aprendizagem do aluno. Logo, a palavra “aprendizagem” nos remete à

preocupação de que as atividades de aprendizagem propostas pelo professor-

planejador direcionem os alunos para o desenvolvimento e gestão de sua

aprendizagem e conseqüente construção de seu conhecimento.

Paquette (2002) define quatro etapas pelas quais se passa para a

concepção de um Sistema de Ensino-Aprendizagem para a educação a

distância (Figura 1). São eles:

• a concepção do sistema: corresponde ao planejamento estrutural

e pedagógico do curso, do qual participam o gestor pedagógico,

o gestor de concepção e o professor;

• a produção do material didático: nesta etapa, o projeto pedagógico

se materializa, transformando-se em atividades, sites web, objetos

de aprendizagem e outros recursos que serão utilizados pelos

alunos durante sua formação;

• a difusão do curso em rede: corresponde à aplicação do projeto

estrutural e pedagógico;

• a manutenção e revisão do sistema: esta etapa é o momento de

resgate de todas as situações esperadas e inusitadas que ocorreram

durante a formação para que as arestas da formação sejam aparadas

e revistas, visando à melhoria de qualidade do curso.

�0

No modelo inicialmente proposto por Paquette (2002), o professor

participava da etapa de “Difusão do curso em rede”. Na nossa proposta,

incrementamos no modelo a participação do professor em todas as etapas

do processo, objetivando assegurar a qualidade da formação. Ele deixa de

ser um conteudista para assumir também a responsabilidade sobre o processo

de ensino-aprendizagem na produção do material, na difusão e na manutenção

do sistema. Além de responsável pelo conteúdo no qual ele é o especialista,

o professor se envolverá não apenas no planejamento de ensino de um

conteúdo, mas na compreensão da forma como este conteúdo será recebido

e transformado em conhecimento pelos aprendizes e as dificuldades

enfrentadas por eles, visando ao aperfeiçoamento de sua intervenção

pedagógica a distância.

�1

Em alguns cursos, o professor responsável pelo conteúdo pode, muitas

vezes, atuar como gestor de todas as etapas apresentadas na Figura 1, mas,

em outros, este papel de gestão pode ser ocupado pela equipe de EAD da

instituição por intermédio de sua equipe de designers instrucionais.

No caso de cursos mais complexos, compostos de vários módulos ou

disciplinas, alertamos para a importância da participação de uma equipe

multidisciplinar. Essa equipe se encarregará de garantir a harmonia entre os

conteúdos dos diversos módulos, bem como analisar de forma crítica e formativa

os componentes do ambiente educacional criado, visando harmonizar o processo

de ensino e o processo de aprendizagem ao longo de sua criação.

DETALHAMENTO DOS PROCESSOS

Na etapa “Concepção do Sistema de Ensino-Aprendizagem”, propomos

duas fases:

• a elaboração dos modelos de competências, capacidades,

habilidades e saberes teóricos necessários para que as metas

propostas pela formação sejam alcançadas;

• a definição dos cenários pedagógicos que permitirão aos aprendizes

o acesso aos conhecimentos e atividades de aprendizagem

necessárias para o desenvolvimento das competências, capacidades

e habilidades propostas.

Na etapa “Produção do Material Didático”, são realizadas as

seguintes tarefas:

• elaboração do material didático necessário ao curso, abrangendo o

material de aprendizagem e o guia de aprendizagem; o material de

suporte e avaliação, destinado aos professores, tutores e aprendizes;

• validação pedagógica do material, em que se verifica a adequação de

tempo e nível de dificuldades ao público ao qual o curso é destinado;

�2

• preparação midiática do material, que corresponde à adequação ou

produção do material segundo os critérios e as possibilidades dos

meios de difusão escolhidos;

• preparação de instrumentos que assegurem a manutenção e a

revisão do curso, visando garantir a qualidade do curso, como as

fichas de avaliação do processo destinadas aos aprendizes, tutores,

professores e gestores.

A etapa “Difusão do curso em rede” trata da difusão por meio de

qualquer um dos instrumentos de EAD utilizados atualmente. Seja a formação

disponibilizada pela internet, mediante a televisão, por material escrito, ou

ainda a combinação de dois ou mais instrumentos de difusão. Essa etapa

corresponde à aplicação do planejamento definido nas etapas anteriores.

Normalmente, essa aplicação se dá em dois momentos. Em um primeiro

momento, realiza-se o teste do protótipo do curso, com um número reduzido

de aprendizes, em que o objetivo é validar em situação experimental de ensino-

aprendizagem a relação entre o material e os cenários produzidos e os objetivos

estabelecidos. Para essa etapa experimental, pode-se contar com os tutores no

papel de aprendizes. Atuando como tal, utilizam o guia e o material de

aprendizagem produzidos pela equipe de formação. Tem-se, nessa participação

do tutor, dois propósitos: permitir que ele perceba as dificuldades dos aprendizes

e, ao mesmo tempo, que tome ciência do material de aprendizagem utilizado.

Os professores no papel de tutores validam o guia de tutoria, assim como os

cenários de aprendizagem por eles planejados. O segundo momento corresponde

à aplicação, em situação real, do curso proposto. Os aprendizes utilizam o guia

e o material de aprendizagem produzidos pela equipe de formação. Os tutores

seguem o guia de tutoria, buscando sempre que necessário o auxílio do professor

e da equipe de formação.

�3

Na etapa “Manutenção e Revisão do Sistema”, a avaliação formativa

adaptativa1 tem sido um método sugerido por diversos autores (REIGELUTH e

FRICK, 1999; ROMISZOWSKI, 2000) na avaliação de sistemas de ensino-

aprendizagem. Segundo Reigeluth e Frick (1999, p. 636), a avaliação formativa

é uma metodologia que tem por objetivo a melhoria dos recursos de ensino e

do currículo. Ela comporta as seguintes questões: “O que funciona?”, “O que

é necessário aprimorar?” e “Como isso pode ser aprimorado?”.

Para que essa avaliação ocorra, pode ser utilizada a proposta sugerida

por Vosgerau (2007), que compreende a avaliação da consecução dos

objetivos da formação (constatação inicial), da análise da situação, da

comparação do modelo proposto com o retrato da formação realizada e,

enfim, a proposição de melhorias ao modelo.

2 CONCEPÇãO DO SISTEMA DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Antes da elaboração dos modelos sugeridos para a concepção do Sistema

de Ensino-Aprendizagem a distância, existem duas situações a considerar: se

partimos de um curso já existente na modalidade presencial e tentamos remodelá-

lo para a modalidade a distância ou se trata-se de um curso novo, ainda não

realizado na modalidade presencial. Existem preocupações inerentes a cada

uma das modalidades, que a equipe deverá considerar.

No caso de um curso novo, em que não existem ementas e materiais,

a adaptação a um novo modelo de concepção de sistemas de ensino e

aprendizagem deverá considerar alguns pontos importantes, tais como:

• a utilização de um material ainda não testado em situação real de

ensino: indicamos uma validação mais rigorosa do material, pois

não existem ainda parâmetros da dificuldade na aprendizagem do

conteúdo do curso;

1 Também denominada de pesquisa formativa por alguns autores (RUTMAN, 1982; REIGELUTH e FRICK, 1999).

�4

• as dificuldades de determinação do tempo de aprendizagem

necessário para cada módulo;

• as dificuldades de integração de uma equipe de professores que

estejam habituados a trabalhar de forma individual e que neste

caso deverão construir as ementas de seus módulos analisando

detalhadamente o conteúdo dos demais módulos.

No caso da remodelação de um curso, algumas das dificuldades citadas

acima não são experimentadas. Todavia, é necessário ressaltar que muitas vezes

temos dificuldades de abandonar modelos mentais preconcebidos, o que pode

dificultar a tomada de consciência de problemas existentes na formação

presencial e a busca de alternativas na resolução desses problemas.

A participação ativa do corpo docente nesta fase do projeto tem por

objetivo suavizar as dificuldades já esperadas e prever outras dificuldades

que poderão ocorrer na elaboração e validação dos modelos de competências

e cenários de aprendizagem que serão desenvolvidos.

3 MODELO DE COMPETêNCIAS, CAPACIDADES, HABILIDADES E

SABERES TEóRICOS

Lembramos aqui que esta proposta de encaminhamento de

planejamento de curso foi aplicada dentro de um contexto de formação

continuada em um curso lato sensu. Este curso era composto de diversos

módulos (Figura 2), e quando isto acontece se faz necessário considerar a

inter-relação entre os módulos do curso para que os objetivos propostos

pela formação possam ser atingidos, estimulando da melhor forma possível

a aprendizagem e evitando a redundância de conteúdos.

�5

3.1 UMA VISãO GLOBAL DO CURSO

Baseado nos estudos de Baylor, Kitsantas e Chung (2001), que propõem

a utilização de questionamentos dirigidos durante o planejamento de aulas

para alimentar o processo de reflexão, elaboramos para cada etapa questões

a serem respondidas pelo professor. A primeira questão (Q1) a ser respondida

é: “Qual a utilidade do curso para a vida e crescimento (pessoal, profissional

e acadêmico) do aluno?”. Com ela, pretende-se uma reflexão sobre a formação

num âmbito global, ou seja, um curso composto de diversos módulos, que

interajam entre si e que possam dar conta não apenas de procedimentos

operacionais, mas que permitam ao aluno ser capaz de avançar no seu

desenvolvimento psíquico, cognitivo social e afetivo, produzindo um

conhecimento que extrapole o espaço de formação.

Para cada um desses módulos, será desenvolvida uma proposta

específica de ensino-aprendizagem, em que as competências desenvolvidas

pelos alunos em cada um deles e a relação entre elas permitam atender ao

objetivo geral proposto pelo curso.

Para compreender melhor o modelo conceitual proposto neste artigo, à

medida que explicamos, apresentamos as etapas de elaboração, utilizando como

exemplo um curso de Gestão da Aprendizagem a Distância (Figura 3).

�6

No exemplo apresentado na Figura 3, para atender aos objetivos do

curso “Gestão da aprendizagem a distância” e, conseqüentemente, responder

à questão Q1, sugerimos a criação de três módulos:

• Auto-avaliação da Aprendizagem;

• Planejamento da Aprendizagem;

• Utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).

É importante lembrar que o modelo de competências de cada um dos

módulos, que será elaborado na etapa seguinte, é que determinará a

permanência ou não de cada um desses módulos ou a inclusão de outros.

3.2 A DEFINIÇãO DAS COMPETêNCIAS

No modelo conceitual da utilização que fazemos da abordagem de

competências (Figura 4) para a concepção do sistema de ensino-aprendizagem

de cada um dos módulos, associamos também questões de ordem reflexiva,

que levam progressivamente os professores ao desenvolvimento do seu

programa de ensino-aprendizagem.

�7

Para iniciar a concepção do módulo que permitirá alcançar os

objetivos do curso, descritos na resposta à questão 1, responde-se à questão

2 (Q2): “Quais as competências necessárias para esta atuação pessoal,

profissional ou acadêmica?”.

Lasnier (2000) define competência como um saber-agir complexo

resultante da integração, da mobilização e do agenciamento de um conjunto

de capacidades e de habilidades (podendo ser de ordem cognitiva, afetiva,

psicomotora ou social) e de conhecimentos (conhecimentos declarativos)

utilizados de forma eficaz, em situações similares.

Pela discussão apresentada por Kuenzer (2003), percebemos o quão

reducionista se torna esta definição se a ela não associarmos as experiências de

vida, experimentadas ao longo da história do educando, que se articulam com

seus saberes teóricos e habilidades cognitivas, psicomotoras e afetivas.

Portanto, “descrever a competência não pode limitar-se ao

estabelecimento de uma lista de conhecimentos ou de habilidades nem

mesmo à constatação de sua aplicação (LE BOTERF, 2003, p. 49).

Assim, a resposta à questão proposta que permitirá identificar as

competências que serão desenvolvidas nos diversos módulos, não deve

constituir apenas um conjunto de saberes e habilidades (LE BOETERF, 2003).

��

Continuando o exemplo proposto acima, focalizamos o módulo “Auto-

avaliação da Aprendizagem” e respondemos à questão 2: “Quais as

competências necessárias para esta atuação pessoal, profissional ou

acadêmica?”.

Conforme ilustrado na Figura 5, neste exemplo foram definidas duas

competências:

• auto-avaliar a progressão de sua aprendizagem e o nível de

aquisição da competência;

• engajar-se na construção individual e coletiva do seu

desenvolvimento acadêmico.

Pode-se determinar uma ou mais competências em cada um dos módulos.

Todavia, quando várias competências são identificadas, é importante certificar-se

de que se tratam de “saberes-agir” complexos, que podem ser reaplicados em

situações similares ou novas situações que necessitem a mobilização desta

competência associada a outras, e não apenas “capacidades” necessárias ao

desenvolvimento desta competência.

Em outras palavras, este profissional que sabe administrar situações

profissionais complexas, sabe agir e reagir com pertinência, sabe combinar

recursos e mobilizá-los em um contexto, sabe transpor, sabe aprender a

aprender e sabe envolver-se (LE BOETERF, 2003).

��

3.3 A DEFINIÇãO DAS CAPACIDADES

A identificação das capacidades vem como resposta à questão 3 (Q3):

“Do que o aluno deve ser capaz (fazer, agir, ser) para tornar-se competente?”.

Por “capacidade” entende-se um “saber-fazer” de média complexidade,

integrando habilidades (cognitiva, afetiva, psicomotora ou social) e de

conhecimentos declarativos (saberes teóricos ou do domínio de experiências

de vida) (LASNIER, 2000).

De acordo com as proposições do modelo, podem ser identificadas

diversas capacidades para cada uma das competências definidas na etapa

anterior. Para dar seqüência ao nosso exemplo, utilizamos a competência 1

“Auto-avaliar a progressão de sua aprendizagem e o nível de aquisição da

competência” e identificamos as capacidades necessárias para esta

competência. Em resposta, sugerimos três ações que contribuirão para o

desenvolvimento da competência definida:

• utilizar um instrumento de auto-avaliação;

• identificar suas necessidades e prioridades de aprendizagem;

• refletir sobre seu processo de auto-aprendizagem.

100

3.4 A DEFINIÇãO DOS SABERES E HABILIDADES

Dando seqüência à aplicação do modelo, procuramos agora identificar

os recursos (conhecimentos e habilidades) necessários ao desenvolvimento

da capacidade identificada. Esses recursos são respostas às questões 4 e

5, respectivamente: “Quais os saberes teóricos necessários para o exercício

desta capacidade?” e “Quais as habilidades necessárias para o exercício

desta capacidade?”.

Por “saber teórico” compreende-se a interconexão de conhecimentos

específicos a uma disciplina, ou o conjunto de conhecimentos profundos adquiridos

por um indivíduo, devido ao estudo ou à experiência (LEGENDRE, 1993).

Por “habilidade” compreende-se um saber-fazer simples, que integra

os conhecimentos declarados e que pode ser de natureza cognitiva, afetiva,

psicomotora ou social (LASNIER, 2000).

As respostas a essas questões compreendem os elementos associados

diretamente ao conteúdo que permitirão ao aluno o exercício das capacidades

em questão. Seguindo o exemplo, focalizamos a capacidade 1 “Utilizar um

instrumento de auto-avaliação” (Figura 7).

A Figura 7 identifica um conhecimento a ser construído e duas

habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos, respectivamente:

compreender critérios do instrumento utilizados pelo curso (conhecimento);

preencher o documento eletrônico (habilidade 1) e retornar o instrumento

ao professor-tutor (habilidade 2).

Observamos, na mesma figura, que existem retângulos que

correspondem aos saberes teóricos ou conhecimentos prévios necessários

para o desenvolvimento das habilidades ou construção de novos

conhecimentos.

101

Os conhecimentos correspondem aos fatos, informações, noções, princípios

que podem ser adquiridos graças ao estudo, à observação ou à experiência

(LEGENDRE, 1993, p. 240). A definição desses conhecimentos dará origem à busca

do material didático necessário para o desenvolvimento das competências que

foram definidas na primeira etapa do modelo proposto, como também auxiliará

na identificação dos módulos que possuem conteúdos curriculares semelhantes

e que poderão ser considerados redundantes na formação.

CONSIDERAÇõES FINAIS

O presente artigo apresentou uma proposta de encaminhamento para a

criação de cursos que em sua proposta se preocupam com o desenvolvimento

de competências profissionais de seus participantes.

Após a utilização desta proposta na elaboração de módulos de cursos

de pós-graduação lato sensu, cursos de extensão universitária e mesmo na

elaboração da proposta de trabalho de disciplinas de cursos de graduação,

observamos que, por meio das questões sugeridas, ela leva o professor a repensar

o seu planejamento e conseqüentemente sua prática pedagógica.

102

Esta reflexão leva o professor a preocupar-se em buscar os conhecimentos

prévios construídos em outras situações de aprendizagem para somar aos

conhecimentos que vão sendo construídos em sua proposta de trabalho.

Isso tudo encaminha o professor a buscar a contextualização das

aprendizagens, preocupando-se em oferecer caminhos para que o aluno consiga

perceber onde está, onde passará e onde será possível chegar.

REFERêNCIAS

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Reflective Tool: A Method for Promoting Effective Lesson Planning. Educational

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CARACTERÍSTICAS, MÍDIAS E GESTãO

DA EDUCAÇãO A DISTÂNCIA

JUCIMARA ROESLER

Mestre em Educação, Doutoranda em

Comunicação Social pela PUCRS,

Diretora Adjunta da UnisulVirtual.

(e-mail: [email protected]).

106

Resumo: O desenvolvimento da educação a

distância gera novos processos na organização,

no funcionamento e na gestão das instituições

educacionais convencionais, pois seu modelo

educativo tem como premissa a aprendizagem

ativa e autônoma. A EaD apresenta características

que primam pela democratização do ensino;

utilização das mídias para a execução das ações

dos alunos e dos professores; comunicação

bidirecional entre agentes emissores e receptores

das mensagens educativas; pois tem como

princípios educativos, a abertura; a flexibilidade;

a socialização e a interavidade; a motivação e

a auto-aprendizagem. Ao implementar suas

ações, os sistema de EaD utilizaram-se das mídias

como suporte para que diferentes relacionamentos

a distância pudessem ser potencializados; e ao

ao utilizar-se dos recursos de comunicação;

como o telefone, o correio postal, a

audioconferência, a internet ou ainda de forma

presencial; comunicação e socialidade se

constituiram então como meio de interlocução

entre docentes, estudantes e materiais de estudo.

Esta modalidade de educação requer novas

estratégias de gerenciamento acadêmico (serviços

aos estudantes e docentes) pedagógico (processos

e metodologias de ensino-aprendizagem que

potencializem a formação e a aprendizagem em

rede); tecnológico (softwares de apoio e de gestão

dos processos e dos serviços); articulação com

a estrutura da própria instituição; e; avaliação

permanente e integral do sistema

Palavras-chave: Educação a Distância; Mídias;

Gestão da EaD.

Abstract: Distance education (DE) development

entails new processes in terms of organization,

functioning and management of conventional

education institutions in that the DE model

premise is based on active and autonomous

learning. DE has characteristics which foster

teaching democratization; use of media to

carry out students and teachers’ actions;

bidirectional communication between senders

and receivers of the educational messages,

since its educational principles are openness,

flexibility, socialization, interactivity, motivation

and self-learning. When implementing their

actions, DE systems employed media as support

so as to enhance the potential of different

distance relationships. Communication and

sociability became a means of interlocution

between teachers, students and study materials

through the use of communication resources

such as the telephone, traditional mail,

audioconference, the Internet and even the

face-to-face mode. This mode of education

requires new management strategies in the

following spheres: academic (teaching-learning

processes and methodologies which enhance

the potential on-line qualification and learning);

technological (software for support and

management of processes and services);

integration of the structure with the institution

itself; permanent and thorough evaluation of

the system.

Keywords: Distance Education; Media; DE

Management.

107

1 EDUCAÇãO A DISTÂNCIA: PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS

A educação a distância – EaD se configura como modalidade educativa

capaz de atender alunos dispersos geograficamente por meio de metodologias

que pretendem o ensino-aprendizagem de forma autônoma. A autonomia se

constitui em uma das características centrais da EaD, oportunizando, por um

lado, que os aprendizes imprimam um ritmo de estudo de acordo com o que

lhes for mais conveniente e, por outro lado, que eles avancem no seu aprendizado

de acordo com o grau de maturidade, interesse e conhecimento prévio que detêm

sobre determinado objeto de estudo, garantindo a auto-gestão do conhecimento

e uma espécie de self-service sobre os conteúdos e a metodologia de ensino

disponibilizados, o que supõe autonomia na condução da vida estudantil.

Otto Peters (2001) caracteriza a autonomia em três dimensões.

A dimensão filosófica busca sua explicação no pensamento Kantiano, no

qual a liberdade do ser humano é conquistada a partir da plena consciência

de suas ações. Na dimensão pedagógica, a autonomia acontece quando os

seres humanos não são objetos de condução no processo ensino-

aprendizagem, mas sujeitos da sua própria educação. A dimensão didática

acontece no reconhecimento pelos estudantes de suas necessidades de

estudo, quando eles planejam e avaliam estratégias para o cumprimento

dos objetivos da sua aprendizagem.

Com modelos educativos que buscam a aprendizagem ativa e autônoma,

a EaD apresentou ao longo de sua história características como:

• assincronia entre as ações dos professores e estudantes, viabilizada

pela mediação humana e (ou) tecnológica;

• comunicação bidirecional, viabilizada por diversos recursos de

comunicação;

• autoria dos materiais didáticos por especialistas das respectivas

áreas de conhecimento;

• aprendizagem autônoma;

10�

• democratização do ensino, na medida em que alunos geograficamente

distantes de instituições educativas têm possibilidade de investir em

sua formação. (SARTORI, ROESLER, 2005, p. 27)

Aretio, Corbella e Figaredo (2007) destacam que a educação a

distância, tanto a convencional quanto a virtual, tem revelado princípios

similares historicamente, sendo que com as NTICs, houve a potencialização

de alguns deles.

• Princípio de abertura: a diversificação e a ampliação de cursos

para atender às necessidades de formação possibilitam que uma

mesma instituição seja capaz de ofertar muitos cursos a uma

grande quantidade de estudantes.

• Princípio de flexibilibidade: característica específica da educação

a distância desde suas origens, pois têm na flexibilidade de espaço

e tempo, ritmo e tempo de estudo os aspectos centrais que

oportunizam ao estudante consultar os materiais disponíveis de

acordo com sua conveniência. Além disso, a flexibilidade perpassa

pelo modelo de interação que permite ao estudante a escolha da

melhor forma de comunicar-se e interagir com seus pares.

• Princípio de democratização: o acesso à educação tem sido uma das

constantes desta modalidade de ensino, tanto nos aspectos

metodológicos quanto no âmbito institucional, uma vez que modelos

pedagógicos e organizacionais oportunizaram que a educação se

aproximasse cada vez mais dos estudantes. Com a democratização da

informação pela Internet possibilita mais proximidade do estudante

com o conhecimento, dadas as potencialidades de utilização de

conteúdos armazenados e disseminados pela rede.

• Princípio de socialização e interatividade: o uso de tecnologias

convencionais, como telefone, correio postal e audioconferência

10�

buscavam suprir a necessidade de interação e socialização entre

os estudantes. Com os ambientes virtuais de aprendizagem, a

interatividade ganha nuances que permitem uma comunicação

e socialização de muitos para muitos, de um para muitos ou vice-

versa, possibilitando que a imediatez e a freqüência dos

intercâmbios entre os agentes do processo de ensino-

aprendizagem se tornem ainda mais eficazes.

• Princípio da atividade: este princípio é substâncial para consolidar

a aprendizagem na educação a distância, pois é por meio das

tarefas e atividades propostas aos educandos que a aprendizagem

é incitada. Se com a utilização das mídias convencionais já era

possível propostas de atividades consideradas inovadoras, agora

com as mídias interativas as potencialidades são ainda maiores.

• Princípio da individualização: busca a auto-aprendizagem,

independência e liberdade no ritmo de estudos, bem como a

atenção às necessidades individuais dos alunos.

• Princípio da motivação: trata-se de utilizar os recursos da multimídia

para potencializar a fascinação e o interesse nos estudantes para

que estes persistam nos seus estudos a distância.

2 A UTILIZAÇãO DAS MÍDIAS NA EAD

Destaca-se historicamente na EaD a utilização de diferentes mídias para

a emissão e a recepção das mensagens educativas; para a comunicação e a

interação; para a disponibilização dos conteúdos e das formas de avaliação, ou

seja, as linguagens midiáticas serviram como alicerce para o desenvolvimento

de metodologias educativas de forma a privilegiar os inter-relacionamentos

socioeducativos. A EaD foi modificando sua forma de operar de acordo com a

identidade institucional de cada programa, dos modelos pedagógicos e do

110

desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação – TIC, seja por

meio de materiais impressos, rádio, TV, videoconferência, teleconferência, seja

mais recentemente por meio da internet.

As TICs serviram então de suporte para que diferentes relacionamentos

a distância pudessem ser potencializados e, ao utilizar-se dos recursos de

comunicação; como o telefone, o correio postal, a audioconferência, a internet

ou ainda de forma presencial, comunicação e socialidade se constituiram então

como meio de interlocução entre docentes, estudantes e materiais de estudo.

Caracterizada por gerações (GARRISON apud PETERS, 2001), num

primeiro momento a EaD utiliza-se de materiais impressos – livro-didáticos,

livros-texto, manuais, literatura científica –, de meios auditivos ou audiovisuais

– complemento das aulas com filmes e TV – e da comunicação pessoal –

entrevista e assessoria nos estudos com professores. Na segunda geração, a

EaD utiliza-se da teleconferência e de suas possibilidades de comunicação

pessoal e do discurso científico; atendimento a grandes contingentes de alunos

conectados em salas de aula remotas, possibilitando diálogo simultâneo com

o professor; e dinâmica própria da linguagem audiovisual própria desta mídia;

características não presentes na primeira geração.

A terceira geração surge a partir do desenvolvimento das novas

tecnologias de informação e Comunicação – TICs, portanto, integra as

possibilidades do computador, de softwares didáticos, de banco de dados e da

Internet e, principalmente, seus recursos de comunicação e informação que

proporcionam novos entornos e dinâmicas de interação entre os interlocutores

do processo de ensino.

Vianney, Torres e Farias (2003) ressaltam que em 1994, com a expansão

da Internet, surgem os primeiros Ambientes Virtuais de Aprendizagem como

possibilidade de as universidades investirem em pesquisa para a oferta de cursos

superiores com a utilização das NTIC na modalidade educativa a distância.

É o nascimento da tecnologia que possibilitaria o desenvolvimento da educação

111

on-line. Com a demarcação cronológica da origem da educação on-line, é

possível afirmar que sua viabilização nasce pela via da Internet e do

desenvolvimento de ambientes virtuais estruturados para o processo de ensino-

aprendizagem em rede.

A Internet se destaca como mídia que possibilita integrar num mesmo

espaço o texto, as imagens, o som, o diálogo em tempo real, o audiovisual, e

registram-se as possibilidades de interatividade próprias de ambientes on-line,

denotando enriquecimento das metodologias de ensino e dos inter-

relacionamentos a distância. Importante frisar que as diferentes gerações da

EaD não anularam a utilização de mídias da primeira ou da segunda geração,

pelo contrário, observa-se que o híbrido também se constituiu como estratégia

pedagógica e comunicativa dos Programas de Educação a Distância.

A utilização de diferentes mídias em contextos de ensino e aprendizagem

a distância perpassa pelo modelo pedagógico e comunicacional pretendido pela

instituição de ensino durante a definição de seu projeto de curso. Esta escolha

para Sartori e Roesler (2005) está vinculada ao desenho pedagógico definido

pela instituição para a oferta do Programa de EaD. Para as autoras, por meio

do desenho pedagógico são realizadas a previsão e a concepção dos dispositivos

pedagógicos e comunicacionais entre os agentes, tanto em nível de interação

entre os estudantes quanto de relação entre estes e os docentes, juntamente com

os responsáveis pelo andamento do curso de modo geral. Ao escolher as mídias

que irão compor o projeto do curso a distância, a instituição precisa ter claro

que está optando pelos modos de comunicação pretendidos para cada mídia,

por isso conhecer as funções e definir os objetivos que se pretende com cada

uma delas irá refletir na eficácia das relações comunicativas.

Na definição das funções midiáticas os objetos de comunicação e de

gestão da aprendizagem requeridos podem ser híbridos; um material

impresso, por exemplo, ser fonte de entrega dos conteúdos, porém

interações e interlocuções ocorrerem pela internet por meio de fóruns,

112

e-mails, listas de discussão, entre outros, e ainda, materiais audiovisuais,

servirem de complemento ou suplemento por meio de imagens e sons

para um determinado tema de estudo.

A educação a distância ao utilizar-se das diferentes mídias consolidou

modelos de gestão da comunicação, metodologias e práticas educacionais

que possibilitaram às instituições implementarem diferentes sistemas de ensino.

Ou seja, o desenvolvimento tecnológico e a utilização de diferentes mídias

impulsionaram a implementação de variadas propostas de gestão dos

sistemas de EaD ao longo de sua história, mantendo algumas características

similares ou apresentando variações, tanto na metodologia quanto na

comunicação e nas formas de interação.

3 A GESTãO DA EDUCAÇãO A DISTÂNCIA

O desenvolvimento da educação a distância gera novos processos na

organização, no funcionamento e na gestão das instituições educacionais

convencionais. Esta modalidade de educação requer novas estratégias de

gerenciamento acadêmico (serviços aos estudantes e docentes) pedagógico

(processos e metodologias de ensino-aprendizagem que potencializem a

formação e a aprendizagem em rede); tecnológico (softwares de apoio e de

gestão dos processos e dos serviços); articulação com a estrutura da própria

instituição; e avaliação permanente e integral do sistema. A instituição que

se propõe a atuar na educação a distância se depara com a necessidade de

mudanças em seus serviços educacionais para responder às diferentes facetas

de um ensino que atende alunos dispersos geograficamente.

De acordo com Bates (2001), os princípios para desenvolver um plano

estratégico para sistemas de educação a distância parte do atendimento das

especificidades do gerenciamento acadêmico, pedagógico e administrativo

da modalidade a distância. Dessa forma, a organização educacional que

113

pretende atender a alunos desta modalidade de ensino precisa apresentar

em seu modelo de gestão um atendimento eficaz e eficiente de forma a

consolidar os seus serviços educacionais com ações e estratégias que

respondam às necessidades dos estudantes e professores.

O sucesso de um projeto de educação a distância perpassa pelo

conhecimento e pela socialização das mudanças realizadas pelas diferentes

instituições; pelo atendimento à legislação vigente; pela inovação pedagógica

e tecnológica; por uma proposta curricular em sintonia com a sociedade da

informação e do conhecimento; por uma rede de cooperação e de intercâmbio

para estudantes e professores compartilharem com outras instituições; por

uma gestão descentralizada que preza pelo processo ágil de tomada de

decisões; pela prática e incentivo à pesquisa; pela disponibilização de serviços

educacionais qualitativos; por uma postura inovadora dos gestores e

colaboradores; pela oferta de serviços educacionais de forma eletrônica; pela

execução eficaz dos processos e serviços; e pela avaliação institucional como

ferramenta de tomada de decisão das ações das diferentes áreas dos

processos e serviços da educação a distância.

De acordo com Sartori e Roesler (2005), a estrutura organizacional de

um programa de educação a distância é composta por unidades responsáveis

pela administração financeira e acadêmica, pela produção e entrega de

materiais didáticos, pelo atendimento pedagógico aos alunos, pelo suporte

técnico e informacional, pela pesquisa e avaliação e pela elaboração de novos

projetos pedagógicos, entre outros. A configuração hierárquica pode agrupar

ou subdividir essas unidades, o que implica diferentes procedimentos

burocráticos e distribuições das funções e responsabilidades de uma maneira

mais ou menos flexível, conforme a opção por um modelo de gestão tradicional

ou colaborativa e integrada. Está baseada, portanto, nas ações a serem

desenvolvidas pela equipe, e estas podem ser identificadas em três grandes

114

campos: gestão da aprendizagem, gestão financeira e de pessoas e gestão de

conhecimento, como mostra a figura 1.

Ainda para as autoras, a gestão da aprendizagem é composta por ações

vinculadas ao desenho pedagógico, ao sistema tutorial e à produção de material

didático e é composta por estratégias de trabalho que visam garantir o

desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem de acordo com as

necessidades e expectativas dos alunos do curso. Estas ações estão relacionadas

umas com as outras de modo que a ineficácia na execução de uma implica a

ineficácia das outras, pois não podem ser entendidas ou executadas como ações

isoladas. As ações voltadas para a plena eficácia da aprendizagem apresentam

características e demandas próprias no planejamento, organização, controle,

coordenação das equipes e das atividades para seu desenvolvimento. Na gestão

da aprendizagem, diversificadas ações são colocadas em prática de forma a

atender às necessidades dos estudantes a distância, conforme descrito pelas

autoras na figura 2:

115

A gestão da aprendizagem apresenta funções e processos diferenciados,

o que por conseqüência, acarreta em tarefas específicas a serem desenvolvidas

por cada uma das áreas, mas extremamente inter-relacionadas, dadas as

especificidades dos processos de gestão da educação a distância.

Os diferentes serviços disponibilizados aos estudantes e professores

estão contidos no desenho pedagógico, no sistema tutorial e no atendimento

acadêmico e se constituem como pilares para o desenvolvimento do processo

de ensino e da gestão da aprendizagem a distância.

Para Sartori e Roesler (op cit, 2005), o desenho pedagógico é aquele que

diz respeito à definição dos objetivos educacionais; à concepção curricular; à

escolha das mídias educativas e de comunicação que serão colocados à

disposição de estudantes e de docentes/tutores; a concepção e execução dos

materiais didáticos; a definição da metodologia de ensino; a concepção dos

sistemas de avaliação; a elaboração da dinâmica do atendimento tutorial ao

aluno e as relações dos estudantes entre si. A escolha das mídias está vinculada

à decisão institucional sobre o grau de interação e de interatividade que os

interlocutores do processo ensino-aprendizagem terão acesso no espaço

116

midiático da aprendizagem. Esta escolha também perpassa pela análise do

público-alvo e de seu respectivo acesso às mídias definidas como instrumento

de entrega de conteúdos, de comunicação e de interação.

O desenho pedagógico é sustentado por uma concepção de educação, e

no caso da educação a distância, a autonomia surge como pressuposto para a

tomada de decisões das ações pertinentes ao processo de ensino já que se

vinculam aos objetivos do curso e da aprendizagem de jovens e adultos.

O sistema tutorial e o atendimento acadêmico se constituem como os

canais de interlocução entre os estudantes e os agentes (professores e corpo

administrativo), pois são eles que prestarão atendimento às necessidades

pedagógicas, de cunho administrativo ou acadêmico. Por meio desses agentes

os estudantes vivenciam diversificadas experiências pedagógicas; quando se

tratar de interlocução com os professores ou com os materiais de estudo, tanto

na sala de aula virtual como em seminários presenciais ou virtuais preparados

para esta interação; ou ainda, recebem atendimento de questões acadêmicas,

como ingresso, matrícula, diplomação, atendimento administrativo, dúvidas

tecnológicas, apoio na realização de avaliações presenciais, entre outros.

Na composição do sistema de educação a distância as formas de

comunicação entre estudantes, professores e corpo administrativo adquirem

capital importância para que os canais informacionais possam fluir com solidez

e constituir a interlocução. Dispositivos comunicacionais (fóruns, chats,

softwares de conversação, blogs, listas de discussão, vídeos, entre outros) por

meio de softwares especialmente desenvolvidos para a comunicação on-line

são disponibilizados nas plataformas virtuais para as diversificadas necessidades

e experiências socioeducativas. Ao compor a “forma do comunicar” definem-

se os tempos de atendimento docente e administrativo aos estudantes, os

espaços para a solicitação dos diferentes serviços e as áreas de convivência

da comunidade acadêmica. É importante responder e clarificar aos interlocutores

do processo de ensino os papéis e as funções dos diferentes agentes integrantes

da organização educacional.

117

O sentimento de pertença, a curso ou instituição que atue a distância se

efetiva na interação com os diferentes setores criados pela organização para

atender às especificidades de uma instituição educacional que opera de forma

virtual. O estudante ao ingressar em um curso a distância precisa encontrar a

sua disposição recursos tais como: a livraria virtual, a biblioteca virtual, os

espaços de convivência social ou pedagógico, entre outras áreas que constituem

a organização educacional a que ingressou. Desta forma o uso da tecnologia –

por meio de diferentes sistemas e softwares – canaliza o apoio e o suporte

acadêmico; o desenvolvimento de projetos multimídia; conteúdos em

diferentes formatos, sistemas de avaliação, docência por meio da tutoria

eletrônica, espaços de comunicação e convivência virtuais.

Nesse ínterim a avaliação institucional se destaca como forma de

diagnosticar os processos de implementação dos serviços educacionais

prestados pela instituição e serve como base para a tomada de decisão de

ações de inovação ou mudança, pois por meio dela um conjunto de

informações é coletado permitindo avaliar ou implementar novas ações

no que concerne ao perfil dos alunos, aos materiais didáticos, ao sistema

tutorial, ao suporte acadêmico, à comunicação, ao sistema de avaliação e

à metodologia da educação a distância.

Ao analisar as características da educação a distância percebe-se que ela

apresenta uma série de diferenciações em face da outras formas de ensino, entre

as quais se destacam: a disposição aos estudantes e aos docentes de amplo

volume de informação eletrônica; o armazenamento, a atualização e a recuperação

de conteúdos e informações produzidas por toda a comunidade acadêmica; os

tempos e os lugares da aprendizagem tanto para professores como para

estudantes; o deslocamento da informação e do conhecimento; a formação

multimidiática; a interatividade e a convivência nos diferentes âmbitos da

comunidade virtual de aprendizagem; os registros e controles das conversações

didáticas ou dos serviços acadêmicos prestados; e o inter-relacionamento virtual

entre pessoas geograficamente dispersas.

11�

A educação a distância transforma não só a gestão dos processos, mas

também os papéis dos que ensinam e dos que aprendem, pois a autogestão

do ensino e da aprendizagem se consolida como prática pautada na

interlocução e na convivência com o outro, como meios para um aprender

autônomo, seja de forma individual, seja de forma coletiva. A convivência

com o outro perpassa por uma interação com os sujeitos integrantes da

comunidade acadêmica que a instituição desenvolveu para o constituir, no

sentido literal da palavra, uma “Comunidade de Aprendizagem”.

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11�

INSTRUÇõES AOS COLABORADORES DO CENÁRIO RURAL

NORMAS PARA PUBLICAÇãO

1. A Revista Cenário Rural destina-se à publicação de trabalhos originais, de

natureza empírica ou teórica, relacionados direta ou indiretamente à

educação, à formação profissional rural e à promoção social.

2. Todas as informações prestadas no artigo serão de responsabilidade do(s)

autor(es).

3. Os originais deverão ser enviados ao Departamento de Educação Profissional

– DEP, Administração Central do SENAR, e serão apreciados pelo corpo

técnico, que opinará pela conveniência ou não de sua publicação.

4. Em caso de aceitação, os direitos de reprodução (copyright) dos trabalhos

aceitos serão de propriedade do SENAR, que os publicará em meios

impresso e digital.

5. Os trabalhos aceitos serão submetidos à revisão editorial, e qualquer

modificação substancial no texto será submetida ao autor ou ao primeiro

autor (no caso de o artigo ter mais de um autor).

6. Os artigos devem ser inéditos e ter no mínimo 12 e no máximo 25 laudas

de elementos textuais (corpo do texto, citações, notas, tabelas, quadros

e figuras). Os textos que forem de interesse para publicação e que

estiverem fora desta padronização receberão análise especial do DEP.

Nesse caso, o(s) autor(es) serão contatados para procederem às alterações

necessárias para inclusão do artigo na Revista.

7. O autor deverá adotar as seguintes normas na apresentação dos originais:

a. Todas as colaborações deverão ser enviadas, por e-mail (andréa.alves@

senar.org.br). O texto deverá ser editado em Microsoft Word for

Windows, em espaçamento 1,5, com margens de 3cm nos quatro lados

do texto e fonte Times New Roman.

b. O trabalho deve ser acompanhado de folha inicial de identificação,

com resumo em português e inglês, contendo até 700 caracteres

120

(contando espaços). A folha de identificação, além do resumo, deve

conter: título do trabalho, nome(s) do(s) autor(es) e breve currículo,

logo abaixo de cada nome, com a indicação da instituição a qual o(s)

autor(es) pertence(m), cargo ou função, título e formação acadêmica e

e-mail para contato.

c. Citações formais breves (transcrições de até três linhas) seguirão no

próprio texto, entre aspas. As citações formais longas (transcrições

com mais de três linhas) devem ser apresentadas em parágrafos

próprios, sem aspas, com espaçamento simples de entrelinha.

d. Toda e qualquer citação, seja ela transcrita (copiada de outros autores)

ou parafraseada (com explicação de um texto, conservando a idéia

original), deve ter a identificação da fonte, ou seja, nome do autor da

obra transcrita e ano de publicação. Além dessas informações, o número

da página deve ser mencionado no caso de citação transcrita.

e. As notas de rodapé devem ser evitadas. No entanto, caso necessárias

deverão ser numeradas consecutivamente na ordem que surgirem no

texto e listadas no final da página em que cada uma estiver.

f. As referências bibliográficas deverão ser aquelas contempladas pelas

citações formais (transcritas) ou conceituais (paráfrases) expressas no

corpo do trabalho, seguindo a NBR 6023:2002, da ABNT.

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