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Texto elucidativo para entender o Estado brasileiro.
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S U M Á R I O
Introdução................................................................................................................... ............ 03
O Estado unitário.................................................................................................................... 04
O Estado unitário simples...................................................................................................... 05
O estado unitário desconcentrado e o descentralizado........................................................ 06
Estado unitário – Brasil.......................................................................................................... 08
O Estado federalista................................................................................................................ 09
Origem do federalismo no Brasil........................................................................................... 12
Sua evolução............................................................................................................................ 13
O federalismo na Constituição de 88..................................................................................... 14
Bibliografia............................................................................................................................... 16
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I N T R O D U Ç Ã O
O presente trabalho, apresentado em sala de aula, na cadeira de Teoria Geral e Estado e
Ciência Política, ministrada pelo professor Mestre Espedito Pinheiro de Sousa, do curso de
direito da faculdade de direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tem por finalidade
descrever as diferenças entre Estado unitário e Estado federativo, apontando suas diferenças e
descrevendo as características de cada modelo.
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O ESTADO UNITÁRIO
O Estado Unitário, entendido como aquele que possui apenas uma esfera de poder
legislativo, executivo e judiciário tem hoje três configurações diferentes: O Estado Unitário
simples, o Estado Unitário desconcentrado e o Estado Unitário descentralizado.
O modelo simples de Estado Unitário, não divididos em regiões administrativas
desconcentradas ou descentralizadas, não é encontrado, devido ao grau acentuado de
centralização que dificulta ou na maioria das vezes impossibilita a administração do território,
centralizando de maneira excessiva e pouco democrática, as questões relativas ao judiciário, ao
legislativo, distantes do povo e das realidades locais, e, principalmente, ao governo e a
administração pública. Desta forma, o modelo de Estado Unitário simples foi um modelo teórico
criado para a lógica do estado nacional soberano em processo de formação e adequado a um
conceito de soberania do Estado que não mais pode ser aceito, onde se imagina a soberania como
sendo una; indivisível; inalienável e imprescritível. Este Estado Unitário simples, por motivos
óbvios (se pensarmos em termos de evolução das comunicações e transportes na época) é
possível apenas em micro estados, e mesmo nestes não vão existir de fato. A delegação de
poderes a entes territoriais menores é inevitável.
Embora os modelos desconcentrados de Estados Unitários não tenham diferentes esferas
de poder em nível central, regional e local, a existência de uma divisão territorial onde haja um
representante do poder central sem poder de decisão autônoma, mas que funcione como um
consultor e representante, do mesmo poder central ou mesmo atue por delegação de competência
em nome do poder central (desconcentração) possibilita o exercício do poder e a resolução de
problemas nos diversos níveis com maior eficiência.
Já, a descentralização dos Estados Unitários democráticos atuais, com a existência de
entes territoriais autônomos, com personalidade jurídica própria e com capacidade de decisão em
determinada questões, sem a interferência do poder central, democratiza a administração pública,
aproximando-a da população das regiões e das cidades, assim como agiliza os serviços prestados.
Importante ressaltar que, além da desconcentração e a descentralização territorial da
administração pública, e, logo, das competências administrativas, também ocorre a
desconcentração (e não a descentralização) da jurisdição no Estado Unitário. A existência de
juízes nas localidades e de tribunais de segunda instância nas regiões, por exemplo, representa
uma forma de simplificar, agilizar e aproximar o judiciário da população. Isto significa que,
permanecendo apenas um poder judiciário nacional, o que é uma característica do Estado
Unitário, este terá órgãos que podem ter estrutura administrativa desconcentrada nas localidades e
nas regiões.
Com relação ao poder legislativo, não há a possibilidade de descentralização, conferindo
autonomia legislativa, sem eliminar o Estado Unitário e o transformar em um Estado regional,
autonômico ou federal. A autonomia legislativa das regiões ou das localidades representa a
superação do Estado Unitário. Desta forma, o que se encontra no Estado Unitário pode ser a
experiência de um legislativo itinerante, que, desta forma, procura aproximação com a população
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de diferentes regiões e localidades, sem, entretanto, conferir a estas mesmas alguma espécie de
autonomia legislativa.
O Estado Unitário simples
O Estado Unitário simples, sem a existência de regiões administrativas autônomas ou
meramente desconcentradas, e sem nenhuma espécie de desconcentração ou descentralização da
administração e da jurisdição, está hoje completamente superado.
Entretanto, estudando as Constituições dos Estados membros da Federação brasileira,
iremos perceber que os mesmos, que possuem territórios, na grande maioria dos casos, superiores
a dimensão a vários Estados Nacionais Europeus, mantêm ainda, de maneira inadequada, um
grau de centralização muito grande.
Entretanto alguns Estados da federação começam a sofisticar a administração do seu
território no âmbito de suas competências. Experiência rica ocorre, por exemplo, no Estado de
Minas Gerais, onde a Constituição de 1989 abre o caminho para um Estado Unitário
desconcentrado ou mesmo descentralizado, regionalizado. A lei estadual de Minas Gerais, nº
11.962, de 31 de outubro de 1995, instituiu as regiões administrativas no Estado, em número de
vinte e cinco. É um importante passo para a democratização da administração pública e da gestão
governamental até então extremamente descentralizada. Temos, neste caso, uma Federação, que é
o Brasil, podendo ser constituída de Estados membros unitários simples, unitários
desconcentrados (como Minas Gerais), podendo existir, inclusive, Estados membros unitários
descentralizados.
O Estado Unitário Simples é um modelo idealizado, mas que só pode ser possível em
microestados ou então em Estados membros de uma federação de três níveis, por existir uma
descentralização dos municípios como entes federados por determinação da Constituição Federal,
como ocorre no Brasil. Nos modelos federais de dois níveis (modelo clássico), os Estados
membros descentralizam competências através de leis estaduais, que organizam os municípios
como entidades autônomas, como ocorreu na Alemanha e como ocorreu no Brasil antes da
Constituição de 1988.
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O Estado Unitário desconcentrado e o Estado Unitário descentralizado
O Estado Unitário desconcentrado é caracterizado pela divisão do território do Estado em
diversas regiões, ou em regiões e outras divisões territoriais menores, como departamentos ou
províncias, comunas ou municipalidades e arrondissements ou regionais. A terminologia é
diferenciada de país para país mas em geral encontramos quatro níveis administrativos.
Havendo apenas a desconcentração, em cada divisão territorial haverá um representante
do poder central, sendo que podem haver divisões territoriais, uma dentro da outra.
Desta forma, o Estado nacional pode ser dividido em regiões, que, por sua vez, podem ser
divididas em departamentos ou províncias, estes em comunas ou municipalidades, estas, de
acordo com a dimensão, em regionais, distritos, arrondissementes ou qualquer outro nome que
possa ser adotado para designar está última subdivisão. Entretanto, havendo apenas a
desconcentração, em cada uma destas divisões para finalidades administrativas haverá um
representante do poder central, que não poderá tomar nenhuma decisão autônoma, tendo a função
de levar ao Poder central as questões que sejam de interesse das diversas esferas de divisão
territorial, para a decisão final, permitindo, assim, que a decisão central possa ocorrer sobre bases
de informações e verdadeiras reivindicações de cada divisão territorial, aproximando o Poder
central da população. Entretanto, por outro lado, a criação de diversas esferas apenas
desconcentradas, ou seja sem autonomia de decisão, sobrecarrega o poder central, criando uma
imensa burocracia, o que torna a decisões lentas, tomadas fora do tempo adequado.
Importante lembrar que o território pode ter diversas divisões, com finalidades diferentes.
Desta forma, uma divisão territorial que tenha a finalidade de desconcentrar ou mesmo
descentralizar a administração pública territorial pode ser diferente da adotada para a finalidade
jurisdicional ou para a desconcentração dos tribunais com a sua regionalização. Obviamente, num
Estado Unitário, haverá sempre uma ultima instância central, uniformizadora, de acordo com a
organização judiciária adotada e com a legislação processual.
Percebemos que, hoje, no mundo, os Estados nacionais tem caminhado para a
descentralização, sendo que aqueles que ainda não adotaram tipos de Estados federais, regionais
ou autonômicos, adotam a forma de Estado Unitário descentralizado nas mais recentes
legislações (como a França), caminhando com passos largos em direção a uma descentralização
cada vez maior, caracterizada pelo Estado Regional no modelo italiano ou pelo Estado
Autonômico no modelo Espanhol, que veremos a seguir. Podemos ainda ressaltar o caso da
Bélgica, que, de Estado Unitário, transformou-se em Estado federal em 1993.
Devido a motivações as mais variadas, como distância, diversidade cultural, diferença de
grau de desenvolvimento, alguns Estados Nacionais como Portugal e França, que podem ser
classificados como Estados Unitários descentralizados, apresentam tratamento diferente para
determinadas regiões, que recebem grau de autonomia maior, semelhante, por exemplo, à
autonomia das regiões italianas no seu modelo de estado regional. Nestes casos, estas regiões
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especiais recebem não apenas competências administrativas mas também legislativas, o que
caracteriza a descentralização legislativa e administrativa. Este é o caso das Ilhas de Açores e
Madeira, em Portugal, classificadas como regiões autônomas pela Constituição portuguesa de
1976, e as regiões e departamentos de além mar da França, como a Guiana Francesa, na América
do Sul, que é um departamento do Estado francês. Diante do que foi exposto podemos sintetizar:
a) Estado Unitário Desconcentrado: neste modelo, ocorre apenas a desconcentração
administrativa territorial, o que significa que são criados órgãos territoriais desconcentrados que
não têm personalidade jurídica própria, logo, não têm autonomia, não podendo tomar decisões
sem o Poder central. Esta desconcentração pode ocorrer em nível apenas municipal ou também
em nível regional e/ou departamental (provincial), ou qualquer outra esfera de organização
territorial que se entenda necessário criar para possibilitar uma melhor administração do
território. O modelo meramente desconcentrado aproxima a administração da população e dos
diversos problemas comuns as esferas territoriais diferentes. Entretanto, como toda decisão
depende do Poder central, torna-se lento. Os Estados democráticos avançados não mais adotam
este modelo, que permanece apenas em estados autoritários.
b) Estado Unitário Descentralizado: para permitir maior agilidade e eficiência na
administração territorial, gradualmente os Estados Unitários desconcentrados passaram a adotar
descentralização territorial, conferindo a estes entes territoriais descentralizados (regiões,
departamentos ou provincias, comunas ou municípios, etc.) personalidade jurídica própria,
transferindo competências administrativas que foram transferidas por lei nacional a estes entes.
Desta forma não é necessário se reportar ao Poder central, não sendo nem mesmo possível a
intervenção do Poder central na competência dos entes descentralizados. Importante notar que o
Poder central mantém a estrutura desconcentrada ao lado estrutura descentralizada para o
exercício de suas competências. Quanto mais competências forem transferidas para os entes
descentralizados, mais ágil e mais democrática a administração. A doutrina européia tem
ressaltado a necessidade da eleição de órgãos dirigentes dos entes territoriais descentralizados
como característica essencial de sua autonomia em relação ao poder central.
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Estado Unitário- Brasil
Durante trezentos e oitenta e nove anos,o Brasil foi um Estado unitário e centralizado.
Neste o poder unitário é absoluto. O Estado unitário se compõe de um centro único gerador de
todas as necessidades do Estado como legislação,execução e administração. Embora com regiões
diferenciadas,as ordens e relações do Estado unitário continuavam e manando do órgão
central.Persistia na era Imperial o Estado unitário. Em seu primeiro artigo, a Constituição de
l.824 determinava que a união brasileira se faz pela “...associação de todos os Cidadãos
Brasileiros. Eles formam uma nação livre,que não admite qualquer outro laço algum,que se
oponha `a sua independência.” Propositadamente o legislador dispôs em seu texto que a forma
do Estado era a “união dos brasileiros”.para expressar a união popular e não a união de entes
territoriais. Não toca no elemento geográfico,senão no segundo momento para refutá-lo.
Em nosso país,as reivindicações de auto-governo resultaram numa vertente de relativa
descentralização unitária,que é o provincianismo,caraterizado pela criação de províncias,dotadas
de assembléias de competência para produzir leis para nelas vigorarem. Então foi a política
estatal da era imperial. Na continuidade, as reivindicações de auto-governo das células do
Estado nacional encaminharam-se para a formulação federalista. Tais reivindicações tomaram
forma concreta na cláusula de federalismo no programa da Convenção Republicana de
Itu(l.881).A principal reivindicação do sistema provincial é a possibilidade das próprias
províncias reterem parte da arrecadação tributária e destinarem as sobras ao poder central E as
Câmaras Municipais são a subdivisão da divisão do Estado unitário.
É de se ressaltar a tendência separatista,reacionária,manifestada notadamente por
constituintes do Sul que buscavam conferir SOBERANIA aos Estados-Membros. Alguns
parlamentares desejavam conceder-lhes a liberdade de estabelecer uma religião oficial,o poder
de cunhar sua própria moeda.Só faltou,considera Agenor de Roure,”uma emenda `a
Constituição,permitindo a livre escolha da linguagem ou do idioma oficial.” Por fim,tensa e
traumática foi a passagem do Estado unitário imperial para o Estado federal republicano,
inaugurado com a Proclamação em l.889. Nesse acontecimento que foi o de maior importância
histórica da pátria brasileira,o poder passou do campo para a cidade,numa revolução das classes
urbanas provocando violenta reação contra a derrocada da monarquia,contra o Federalismo e a
República,que levou o país `a guerra civil. Então foi necessária a intervenção federal visando a
preservação da unidade nacional federativa.Não só defesa da República e do Federalismo,mas
uma ação essencial à sobrevivência da Pátria`a União dos Estados, foi a intervenção federal no
Governo do Marechal Floriano Peixoto.
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O ESTADO FEDERALISTA
O Federalismo é a corrente ideológica que preconiza a federação ou união de Estados ou
unidades políticas autônomas, formando um sistema nacional comum, em contraposição à idéia
de um poder unitário ou centralista, considerado propenso ao despotismo. Nessa estrutura
política, a União constitui um poder complexo, no qual se integram os estados ou territórios
federados e que com ela coexiste e possuem esferas de decisão totalmente autônomas. Ao mesmo
tempo, as unidades da federação compartilham outras esferas de ação ou de poder a União, que
exerce a função supra-ordenadora.
Trata-se de uma forma composta de organização política, em que os estados federados
matem sua diversidade característica e integridade política dentro da unidade representada pela
União, que assuma a soberania nacional em relação ao exterior, esse incube de manter as relações
com os outros estados. Cada unidade da federação deve gerir seus assuntos internos, e os assuntos
cujo interesse ultrapassa os limites de cada uma delas, são geridos pela União, que atua como
coordenadora.
São grandes as diferenças genéricas entre o Estado unitário e o Estado Federativo.
Enquanto no Estado centralista ou unitário todos os poderes emana de um único centro de
decisão, e as determinações que partem dos centros periféricos não passam de meras delegações
do poder unitário. Nos Estados federativos existe entre o poder central e os Estados federados
uma distribuição de competências, que assumem diversas formas e gera freqüentes conflitos de
jurisdição.
A organização federal é o primeiro princípio fundamental abordado pela constituição
brasileira. Pressupõe a união indissolúvel de estados autônomos e a existência de municípios
também autônomos, peculiaridade que distingue a federação brasileira da americana, por
exemplo, na qual a questão da autonomia municipal é deixada à livre regulação dos Estados
federados. Verifica-se ainda que no Brasil a federação se exprime juridicamente pelo
ordenamento da personalidade estatal nacional, na tríplice ordem de pessoas jurídicas de direito
público constitucional: União, estados e municípios. O Distrito Federal, sede do governo da
União, tem caráter especial.
Tendo em vista a multiplicidade de Federações que existem atualmente e a rica elaboração
teórica sobre o assunto, é difícil precisar, posto que não há unanimidade, quais as características
essenciais do Estado Federal, embora seja possível identificar, no mínimo, quatro atributos
básicos:
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a) repartição de competências;
b) autonomia política das unidades federadas;
c) participação dos membros nas decisões das unidades federadas;
c) participação dos membros nas decisões da União;
d) atribuição de renda própria às esferas de competência‟
Além das já citadas existem outras cabíveis, vejamos:
-Existência de uma Constituição como base jurídica do Estado: esta representa no Estado
Federal, o pacto ou a aliança firmada pelas entidades que o integram, sendo a base jurídica
comum de todas as entidades federativas, que encontram na Constituição todos os principais
elementos relativos às suas inter-relações recíprocas. O ajuste federalista tem como base uma
Constituição. Enquanto uma confederação tem em um Tratado seu instrumento jurídico de
criação, o Estado Federal tem sua sede em uma Constituição".
-Repartição constitucional de competências: o núcleo, a própria razão de ser do Estado
Federal reside na característica da descentralização política, onde diferentes níveis de governo ou
de centros decisórios possuem a faculdade, delegada pela constituição, de emitir, criar ou editar
as normas jurídicas necessárias para controlar a conduta humana em determinado espaço
territorial.
- Autonomia das entidades federadas: trata-se de aspecto característico e essencial do
regime federativo, vez residir na autonomia das coletividades parciais integrantes do Estado
nacional, o que nos faz ver o Estado Federal como união de coletividades políticas autônomas,
onde existem vários centros decisórios, por haver a consagração da existência de duas ou mais
ordens governamentais distintas e autônomas entre si. A autonomia das unidades federadas é um
dos principais característicos da Federação. "Não basta que exista uma Constituição. Ela deve ser
escrita e rígida, de forma que evite a mudança de critérios fixados pelo pacto inaugural do Estado
Federativo".
-A soberania pertence ao Estado Federal: Os Estados-membros, dispõem de autonomia e
não soberania. No momento em que o pacto federativo se viabiliza, com a promulgação e
publicação da constituição, perdem os Estados a soberania que lhes era característica, para cedê-
la ao Estado Federal, que passa a ser o único a deter capacidade de pessoa jurídica de direito
internacional público, reunindo parcelas de poderes que não são superados por nenhum outro
poder ou Estado.
- Ausência do direito de secessão: em virtude de os Estados-membros não mais possuírem
soberania (para legitimação de uma decisão separatista) é que os mesmos não mais poderão se
retirar do pacto federativo, que dizer, no Estado Federal a união de coletividades políticas
autônomas se dá em caráter perpétuo, sendo a indissolubilidade do vínculo criado uma de suas
marcas características, ao contrário, como se vê, das Confederações, onde o Tratado criado pelos
Estados permite a secessão."A união que envolve os entes federais é indissolúvel. Não pode, sob
qualquer pretexto, deixar a Federação".
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-Rendas próprias para as entidades federadas: detentoras de competências
administrativas e legislativas, as entidades federadas necessitam de recursos financeiros para dar
cumprimento às missões ou deveres que a constituição impõe. (33)
- Existência de uma Corte Suprema Nacional: ponto característico do Estado Federal é a
existência de uma corte Jurídica que seja suprema e superior, em termos de competência
decisória, a todas as outras esferas do Poder Judiciário, para que sua atuação sirva de elemento
estabilizador da sociedade, principalmente por atuar como legítima guardiã da Constituição
Federal, que é o documento revelador dos aspectos funcionais do regime federativo.
-Existência de um dispositivo de segurança: além dos atributos já apontados,apresenta-se
este aduzindo ser necessário à sobrevivência do Estado federal. Este dispositivo constitui, na
realidade, numa forma de mantença do federalismo diante de graves ameaças. Trata-se da
intervenção federal. Pela intervenção federal, a União, em nome dos demais Estados-membros,
intervém em um ou alguns estados onde se verifiquem graves violações dos princípios
federativos. A intervenção federal "é forma extrema, necessária para que se evite a desagregação
do Estado Federal.
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Origem do federalismo brasileiro
A origem do federalismo brasileiro se deveu à derrubada da monarquia, em 15 de
novembro de 1889, com a edição do Decreto nº 1 que adotou a república federativa como forma
de governo e de Estado, ganhando estrutura definitiva somente com a Constituição de 1891. A
Constituição de 1891, corresponde ao período clássico do Estado federal brasileiro, consagrou a
autonomia dos Estados-federados dando-lhes ampla competência da qual somente se excetuavam
as matérias que a União reservou para si na própria Constituição. E fez mais, ao prever a
Federação e República, sagrou-os como princípios fundamentais ao sistema, sobrepujando todos
os demais.
Todavia, sustenta Paulo Bonavides ser "errôneo supor que a Federação no Brasil foi
produzida unicamente pelo Decreto nº 1, do Governo provisório de 1889. Se o presidencialismo
colhe de surpresa o País, desconhecido que era a todas as tradições de embate doutrinário em que
nos havíamos empenhado durante a fase anterior à República, tal não se deu, porém, com a
Federação. Esta, ou já se desejava, no sentir de monarquistas abalizados, da índole liberal de
Nabuco e Rui, ou já aguardava, por solução lógica e idônea aos antagonismos e crises que desde
muito dilaceravam o corpo político da Monarquia. O Decreto 1 foi apenas o coroamento vitorioso
de velhas aspirações autonomistas que, não se podendo fazer nos quadros institucionais do
Império por um ato reformista, se fizeram via improvisa da ação revolucionária de 15 de
novembro de 1889, resultando, assim, na implantação dos sistema republicano.
Há que se destacar, que o federalismo entre nós possui uma diferença básica do modelo
norte-americano. Estado federal brasileiro formou-se a partir de um Estado Unitário, que se
desmembrou e não de uma confederação que se dissolveu, como nos Estados Unidos, paradigma
de todos os sistemas federativos constitucionais. Talvez pelo fato de Rui Barbosa ter se inspirado
fielmente no modelo norte-americano, para introduzir na constituição Republicana a forma
federativa, é que tenha havido o desencontro da realidade com a lei, pois a diversidade de
situação era profunda. A federação americana resultara da agregação de Estados já independentes
que, para o benefício comum, concordaram em ceder o mínimo de suas competências em favor
do Poder central, conservando ciosamente as restantes. Entre nós, a federação resultara de uma
segregação, de uma ampliação da autonomia provincial, por decisão política do Poder Central.
Tomando como dogmas as soluções adotadas pelos americanos, a federação brasileira
nasceu dualista: 1) estabeleceu a absoluta igualdade jurídica entre os Estados, que passaram a ter
idêntica competência, com igual representação no Senado; 2) exclui expressamente a
interferência da União nas competências dos Estados, reservado-lhes os mesmo tributos, apesar
da extrema diversidade de rendas em vista do desnível de desenvolvimento entre os Estados.
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Sua evolução
Assevera Janice Helena Ferreri Morbidelli, que "faltou ao federalismo brasileiro, já na sua
origem, um elemento essencial, ou seja, a existência anterior de Estados soberanos, como ocorreu
nas 13 colônias americanas. Apesar de ter sido o federalismo brasileiro adotado a exemplo do
modelo americano, as diferenças entre os dois países eram acentuadas, ocasionando um
federalismo absolutamente irreal entre nós".
No raciocínio evolutivo do federalismo no Brasil, com muita perspicácia e clareza sobre o
tema, a citada jurista traça a linha evolutiva, onde demonstra que o "instituto constitucional da
intervenção federal marcou a primeira fase do federalismo brasileiro. Com a Revolução de 1930,
em face da crise política e das mudanças de caráter socioeconômico, sofre o federalismo o
impacto de um autoritarismo, ainda pior que o do império. Surgiu uma outra fase, chamada de
federalismo pátrio, onde os estados passaram a cortejar o poder central para dele receber auxílio
para os investimentos, subsídios, incentivos, fazendo com que os mesmo, em razão disso,
perdessem por completo a autonomia constitucional e federativa. Dessa fase resultou uma espécie
de guerra econômica entre as regiões e os Estados-membros, posto que somente a autoridade
executiva da federação detinha o alto poder decisório, o que acabou por fazer ruir de vez com o
sistema federativo”.
Veio então as Constituições de 1934, 1937, 1946 e 1967 onde o federalismo, ora era
suprimido, ora era restaurado, com destaque à supressão deste princípio do nosso sistema
constitucional.
14
O Federalismo na CF/88.
Luiz Felipe D‟avila, aduz ser o "federalismo a bússola que deve orientar o processo da
descentralização do Estado brasileiro".
Acreditamos que nessa vertente trilhou o constituinte de 1988 quando inseriu no Artigo 1º
da CF/88 ser o Brasil uma "República Federativa" e o enalteceu como um Princípio Fundamental.
Destaca-se, outrossim, a petrificação dessa forma de Estado entre nós. O § 4º do Artigo
60 da CF/88, dispõe que a forma federativa de Estado não poderá ser abolida e nem tampouco
será objeto de projeto que delibere tal assunto, idem para a forma republicana do governo.
O constituinte de 1988 vislumbrava que o federalismo deveria ser reformulado,
principalmente no aspecto relativo à distribuição de competências legislativas e tributárias, para
que se fortalecessem os Estados membros e os Municípios, descentralizando o exercício do poder
político-tributário, que estava em maior número nas mãos da União.
Embora este fosse o anseio do constituinte, na prática ainda o que vemos é a União
concentrando inúmeras competências, tendo os Estados e Municípios como súditos. Em vista
disso, talvez seja a indignação de Paulo Bonavides pelo atual modelo federalista no Brasil quando
assevera que o "chamado "federalismo cooperativo" tem sido uma palavra amena e esperançosa,
de emprego habitual pelos publicistas que ainda acreditam comodamente na sobrevivência do
velho federalismo dualista, batizando como outro nome, posto que esteja a encobrir realidade
nova. Mas não se trata de dar nome novo a realidades extintas. Urge primeiro reconhecer o
desaparecimento da velha ordem federativa, esteada no binômio Estado autônomo e poder
federal. Com efeito, a intervenção econômica da União, já institucionalizada, cassou praticamente
a autonomia dos Estados, desfazendo a ilusão que publicistas de boa-fé e inocência vêm desde
muito acalentando, mercê de um eufemismo corrente – o "federalismo cooperativo" -, expressão
confortável, mas ingênua e nem sempre bem-arrazoada, com que se busca dissimular a verdade
rude da morte do federalismo das autonomias estaduais.
A esse federalismo há de suceder, decerto, um federalismo sobre novos pressupostos
ontológicos, alternativa que cuidamos plenamente exeqüível com o federalismo das Regiões. A
não ser assim, descambaremos, debaixo da capa do "federalismo cooperativo" no Estado Unitário
monolítico, desenvolvimentista, tecnocrático, autoritário, superintendente dos objetivos
econômicos permanentes, que nada deixaria ocioso ou autônomo às esferas intermediárias.
Examinem-se os reflexos da política unificada de promoção do desenvolvimento, de que
resulta um impiedoso Estado centralizador. Tudo, aí, patenteará que estamos vivendo uma idade
antifederativa, que já se não deixa prender aos moldes das autonomias estaduais. Se não
cogitarmos, de imediato, de reformular o federalismo com alternativas democráticas e abertas,
que não sejam simplesmente a conservação rebuçada do modelo federativo do passado, ainda
hoje de vigência formal, a saber, Estado autônomo e União, acabaremos inevitavelmente, com o
gigantismo descomunal desta última, por institucionalizar o Estado Leviatã, cujos braços já nos
apertam e cuja sobrevivência não seria a resposta que as gerações de amanha aguardam das
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promessas generosas e recentes de quantos hoje se emprenham na modernização política e social
do Estado brasileiro".
Todavia, em que pese as críticas existentes quanto ao federalismo hoje existente,
coadunamos com o pensamento André Luiz Borges Netto quando diz que "a despeito dessa
reconhecida centralização, julgamos ser possível demonstrar que os estados-membros foram
aquinhoados com parcela considerável de competências legislativas, que poderão ser
desenvolvidas de forma a solucionar problemas regionais, tudo a depender como é óbvio, da
capacidade e da criatividade do legislador local". Reforçando o asseverado, buscamos em Luiz
Alberto David Araújo que citando Herculano de Freitas aduz: "„Desde que a Constituição
investiu os Estados de uma personalidade autonômica, dando-lhes a também de organização, deu-
lhes implicitamente (aliás também expressamente, como vereis depois), o poder de angariar os
recursos indispensáveis para a sua vida e seu desenvolvimento.
Os Estados têm, numa esfera limitada que a Constituição Federal traçou, o poder de
taxação; eles podem procurar, em contribuições obrigatórias, os meios de que precisam para a sua
vida e o seu desenvolvimento‟".
No tocante ao federalismo cooperativo, essa também é a posição de Janice Helena Ferreri
Morbidelli ao escrever que "a tese sobre o federalismo atual fundamenta-se na cooperação, que
dá sustentação à teoria do federalismo intergovernamental ou solidário. No dizer de Raul
Machado Horta: „A concepção do dual federalism, que se expandiu nos Estados Unidos,
fundando nas relações de justaposição entre os ordenamentos da União dos Estados, recebeu a
contribuição do novo federalismo, a partir do governo Roosevelt, que intensificou a forma de
programas e convênios‟.
Inspirando-se na cooperação, muitos Estados federais adotaram a técnica da legislação
concorrente, que atenua a separação dualista e favorece o desenvolvimento de relações
intergovernamentais. A tese da descentralização em maior ou menor intensidade, é discutida com
fundamento na cooperação, na interação federal-estadual em benefício do interesse da
coletividade. A descentralização legislativa permite o respeito às peculiaridades sócio-
econômicas e culturais dos entes federados.
O federalismo cooperativo contemporâneo firma-se nas relações de colaboração. Seu
objetivo é estimular a ação conjunta da União e dos Estados-membros, que atuam como parceiros
na solução dos problemas sociais e econômicos. Tércio Sampaio Ferraz Júnior prevê, como
exigência fundamental e condição de efetividade da cooperação dos entes federados, o "contrato
fechado", para regular as relações entre as unidades. Diz ele: „Esta cooperação, entretanto, tem
outro fundamento. Em verdade, as relações interindividuais entre as entidades que compõem a
federação possuem um sentido jurídico-político que transcende a aparência das vinculações
consensuais: (...) não se trata de contrato, mas de status. A federação não une contratualmente
seus membros, mas altera-lhes o status’."
Como se denota, os posicionamentos antagônicos fazem escola. Tanto o pensamento de
Paulo Bonavides como o de Janice Morbidelli, parecem coerentes, todavia, nos filiamos à esta
última, pelo fato de ser esta a tendência brasileira e porque não dizer mundial.
16
Bibliografia
BONAVIDES, Paulo. A Constituição Aberta. 2ª ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda,
1996.
FERRERI, Janice Helena. Por uma nova Federação. Coordenador: Celso Bastos. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995.
BORGES NETTO, André Luiz. Competências Legislativas dos Estados-Membros. São
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