15
2 S U M Á R I O Introdução............................................................................................................................... 03 O Estado unitário.................................................................................................................... 04 O Estado unitário simples...................................................................................................... 05 O estado unitário desconcentrado e o descentralizado........................................................ 06 Estado unitário Brasil.......................................................................................................... 08 O Estado federalista................................................................................................................ 09 Origem do federalismo no Brasil........................................................................................... 12 Sua evolução............................................................................................................................ 13 O federalismo na Constituição de 88..................................................................................... 14 Bibliografia............................................................................................................................... 16

Estado Unitario e Federativo - TGE

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Texto elucidativo para entender o Estado brasileiro.

Citation preview

Page 1: Estado Unitario e Federativo - TGE

2

S U M Á R I O

Introdução................................................................................................................... ............ 03

O Estado unitário.................................................................................................................... 04

O Estado unitário simples...................................................................................................... 05

O estado unitário desconcentrado e o descentralizado........................................................ 06

Estado unitário – Brasil.......................................................................................................... 08

O Estado federalista................................................................................................................ 09

Origem do federalismo no Brasil........................................................................................... 12

Sua evolução............................................................................................................................ 13

O federalismo na Constituição de 88..................................................................................... 14

Bibliografia............................................................................................................................... 16

Page 2: Estado Unitario e Federativo - TGE

3

I N T R O D U Ç Ã O

O presente trabalho, apresentado em sala de aula, na cadeira de Teoria Geral e Estado e

Ciência Política, ministrada pelo professor Mestre Espedito Pinheiro de Sousa, do curso de

direito da faculdade de direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tem por finalidade

descrever as diferenças entre Estado unitário e Estado federativo, apontando suas diferenças e

descrevendo as características de cada modelo.

Page 3: Estado Unitario e Federativo - TGE

4

O ESTADO UNITÁRIO

O Estado Unitário, entendido como aquele que possui apenas uma esfera de poder

legislativo, executivo e judiciário tem hoje três configurações diferentes: O Estado Unitário

simples, o Estado Unitário desconcentrado e o Estado Unitário descentralizado.

O modelo simples de Estado Unitário, não divididos em regiões administrativas

desconcentradas ou descentralizadas, não é encontrado, devido ao grau acentuado de

centralização que dificulta ou na maioria das vezes impossibilita a administração do território,

centralizando de maneira excessiva e pouco democrática, as questões relativas ao judiciário, ao

legislativo, distantes do povo e das realidades locais, e, principalmente, ao governo e a

administração pública. Desta forma, o modelo de Estado Unitário simples foi um modelo teórico

criado para a lógica do estado nacional soberano em processo de formação e adequado a um

conceito de soberania do Estado que não mais pode ser aceito, onde se imagina a soberania como

sendo una; indivisível; inalienável e imprescritível. Este Estado Unitário simples, por motivos

óbvios (se pensarmos em termos de evolução das comunicações e transportes na época) é

possível apenas em micro estados, e mesmo nestes não vão existir de fato. A delegação de

poderes a entes territoriais menores é inevitável.

Embora os modelos desconcentrados de Estados Unitários não tenham diferentes esferas

de poder em nível central, regional e local, a existência de uma divisão territorial onde haja um

representante do poder central sem poder de decisão autônoma, mas que funcione como um

consultor e representante, do mesmo poder central ou mesmo atue por delegação de competência

em nome do poder central (desconcentração) possibilita o exercício do poder e a resolução de

problemas nos diversos níveis com maior eficiência.

Já, a descentralização dos Estados Unitários democráticos atuais, com a existência de

entes territoriais autônomos, com personalidade jurídica própria e com capacidade de decisão em

determinada questões, sem a interferência do poder central, democratiza a administração pública,

aproximando-a da população das regiões e das cidades, assim como agiliza os serviços prestados.

Importante ressaltar que, além da desconcentração e a descentralização territorial da

administração pública, e, logo, das competências administrativas, também ocorre a

desconcentração (e não a descentralização) da jurisdição no Estado Unitário. A existência de

juízes nas localidades e de tribunais de segunda instância nas regiões, por exemplo, representa

uma forma de simplificar, agilizar e aproximar o judiciário da população. Isto significa que,

permanecendo apenas um poder judiciário nacional, o que é uma característica do Estado

Unitário, este terá órgãos que podem ter estrutura administrativa desconcentrada nas localidades e

nas regiões.

Com relação ao poder legislativo, não há a possibilidade de descentralização, conferindo

autonomia legislativa, sem eliminar o Estado Unitário e o transformar em um Estado regional,

autonômico ou federal. A autonomia legislativa das regiões ou das localidades representa a

superação do Estado Unitário. Desta forma, o que se encontra no Estado Unitário pode ser a

experiência de um legislativo itinerante, que, desta forma, procura aproximação com a população

Page 4: Estado Unitario e Federativo - TGE

5

de diferentes regiões e localidades, sem, entretanto, conferir a estas mesmas alguma espécie de

autonomia legislativa.

O Estado Unitário simples

O Estado Unitário simples, sem a existência de regiões administrativas autônomas ou

meramente desconcentradas, e sem nenhuma espécie de desconcentração ou descentralização da

administração e da jurisdição, está hoje completamente superado.

Entretanto, estudando as Constituições dos Estados membros da Federação brasileira,

iremos perceber que os mesmos, que possuem territórios, na grande maioria dos casos, superiores

a dimensão a vários Estados Nacionais Europeus, mantêm ainda, de maneira inadequada, um

grau de centralização muito grande.

Entretanto alguns Estados da federação começam a sofisticar a administração do seu

território no âmbito de suas competências. Experiência rica ocorre, por exemplo, no Estado de

Minas Gerais, onde a Constituição de 1989 abre o caminho para um Estado Unitário

desconcentrado ou mesmo descentralizado, regionalizado. A lei estadual de Minas Gerais, nº

11.962, de 31 de outubro de 1995, instituiu as regiões administrativas no Estado, em número de

vinte e cinco. É um importante passo para a democratização da administração pública e da gestão

governamental até então extremamente descentralizada. Temos, neste caso, uma Federação, que é

o Brasil, podendo ser constituída de Estados membros unitários simples, unitários

desconcentrados (como Minas Gerais), podendo existir, inclusive, Estados membros unitários

descentralizados.

O Estado Unitário Simples é um modelo idealizado, mas que só pode ser possível em

microestados ou então em Estados membros de uma federação de três níveis, por existir uma

descentralização dos municípios como entes federados por determinação da Constituição Federal,

como ocorre no Brasil. Nos modelos federais de dois níveis (modelo clássico), os Estados

membros descentralizam competências através de leis estaduais, que organizam os municípios

como entidades autônomas, como ocorreu na Alemanha e como ocorreu no Brasil antes da

Constituição de 1988.

Page 5: Estado Unitario e Federativo - TGE

6

O Estado Unitário desconcentrado e o Estado Unitário descentralizado

O Estado Unitário desconcentrado é caracterizado pela divisão do território do Estado em

diversas regiões, ou em regiões e outras divisões territoriais menores, como departamentos ou

províncias, comunas ou municipalidades e arrondissements ou regionais. A terminologia é

diferenciada de país para país mas em geral encontramos quatro níveis administrativos.

Havendo apenas a desconcentração, em cada divisão territorial haverá um representante

do poder central, sendo que podem haver divisões territoriais, uma dentro da outra.

Desta forma, o Estado nacional pode ser dividido em regiões, que, por sua vez, podem ser

divididas em departamentos ou províncias, estes em comunas ou municipalidades, estas, de

acordo com a dimensão, em regionais, distritos, arrondissementes ou qualquer outro nome que

possa ser adotado para designar está última subdivisão. Entretanto, havendo apenas a

desconcentração, em cada uma destas divisões para finalidades administrativas haverá um

representante do poder central, que não poderá tomar nenhuma decisão autônoma, tendo a função

de levar ao Poder central as questões que sejam de interesse das diversas esferas de divisão

territorial, para a decisão final, permitindo, assim, que a decisão central possa ocorrer sobre bases

de informações e verdadeiras reivindicações de cada divisão territorial, aproximando o Poder

central da população. Entretanto, por outro lado, a criação de diversas esferas apenas

desconcentradas, ou seja sem autonomia de decisão, sobrecarrega o poder central, criando uma

imensa burocracia, o que torna a decisões lentas, tomadas fora do tempo adequado.

Importante lembrar que o território pode ter diversas divisões, com finalidades diferentes.

Desta forma, uma divisão territorial que tenha a finalidade de desconcentrar ou mesmo

descentralizar a administração pública territorial pode ser diferente da adotada para a finalidade

jurisdicional ou para a desconcentração dos tribunais com a sua regionalização. Obviamente, num

Estado Unitário, haverá sempre uma ultima instância central, uniformizadora, de acordo com a

organização judiciária adotada e com a legislação processual.

Percebemos que, hoje, no mundo, os Estados nacionais tem caminhado para a

descentralização, sendo que aqueles que ainda não adotaram tipos de Estados federais, regionais

ou autonômicos, adotam a forma de Estado Unitário descentralizado nas mais recentes

legislações (como a França), caminhando com passos largos em direção a uma descentralização

cada vez maior, caracterizada pelo Estado Regional no modelo italiano ou pelo Estado

Autonômico no modelo Espanhol, que veremos a seguir. Podemos ainda ressaltar o caso da

Bélgica, que, de Estado Unitário, transformou-se em Estado federal em 1993.

Devido a motivações as mais variadas, como distância, diversidade cultural, diferença de

grau de desenvolvimento, alguns Estados Nacionais como Portugal e França, que podem ser

classificados como Estados Unitários descentralizados, apresentam tratamento diferente para

determinadas regiões, que recebem grau de autonomia maior, semelhante, por exemplo, à

autonomia das regiões italianas no seu modelo de estado regional. Nestes casos, estas regiões

Page 6: Estado Unitario e Federativo - TGE

7

especiais recebem não apenas competências administrativas mas também legislativas, o que

caracteriza a descentralização legislativa e administrativa. Este é o caso das Ilhas de Açores e

Madeira, em Portugal, classificadas como regiões autônomas pela Constituição portuguesa de

1976, e as regiões e departamentos de além mar da França, como a Guiana Francesa, na América

do Sul, que é um departamento do Estado francês. Diante do que foi exposto podemos sintetizar:

a) Estado Unitário Desconcentrado: neste modelo, ocorre apenas a desconcentração

administrativa territorial, o que significa que são criados órgãos territoriais desconcentrados que

não têm personalidade jurídica própria, logo, não têm autonomia, não podendo tomar decisões

sem o Poder central. Esta desconcentração pode ocorrer em nível apenas municipal ou também

em nível regional e/ou departamental (provincial), ou qualquer outra esfera de organização

territorial que se entenda necessário criar para possibilitar uma melhor administração do

território. O modelo meramente desconcentrado aproxima a administração da população e dos

diversos problemas comuns as esferas territoriais diferentes. Entretanto, como toda decisão

depende do Poder central, torna-se lento. Os Estados democráticos avançados não mais adotam

este modelo, que permanece apenas em estados autoritários.

b) Estado Unitário Descentralizado: para permitir maior agilidade e eficiência na

administração territorial, gradualmente os Estados Unitários desconcentrados passaram a adotar

descentralização territorial, conferindo a estes entes territoriais descentralizados (regiões,

departamentos ou provincias, comunas ou municípios, etc.) personalidade jurídica própria,

transferindo competências administrativas que foram transferidas por lei nacional a estes entes.

Desta forma não é necessário se reportar ao Poder central, não sendo nem mesmo possível a

intervenção do Poder central na competência dos entes descentralizados. Importante notar que o

Poder central mantém a estrutura desconcentrada ao lado estrutura descentralizada para o

exercício de suas competências. Quanto mais competências forem transferidas para os entes

descentralizados, mais ágil e mais democrática a administração. A doutrina européia tem

ressaltado a necessidade da eleição de órgãos dirigentes dos entes territoriais descentralizados

como característica essencial de sua autonomia em relação ao poder central.

Page 7: Estado Unitario e Federativo - TGE

8

Estado Unitário- Brasil

Durante trezentos e oitenta e nove anos,o Brasil foi um Estado unitário e centralizado.

Neste o poder unitário é absoluto. O Estado unitário se compõe de um centro único gerador de

todas as necessidades do Estado como legislação,execução e administração. Embora com regiões

diferenciadas,as ordens e relações do Estado unitário continuavam e manando do órgão

central.Persistia na era Imperial o Estado unitário. Em seu primeiro artigo, a Constituição de

l.824 determinava que a união brasileira se faz pela “...associação de todos os Cidadãos

Brasileiros. Eles formam uma nação livre,que não admite qualquer outro laço algum,que se

oponha `a sua independência.” Propositadamente o legislador dispôs em seu texto que a forma

do Estado era a “união dos brasileiros”.para expressar a união popular e não a união de entes

territoriais. Não toca no elemento geográfico,senão no segundo momento para refutá-lo.

Em nosso país,as reivindicações de auto-governo resultaram numa vertente de relativa

descentralização unitária,que é o provincianismo,caraterizado pela criação de províncias,dotadas

de assembléias de competência para produzir leis para nelas vigorarem. Então foi a política

estatal da era imperial. Na continuidade, as reivindicações de auto-governo das células do

Estado nacional encaminharam-se para a formulação federalista. Tais reivindicações tomaram

forma concreta na cláusula de federalismo no programa da Convenção Republicana de

Itu(l.881).A principal reivindicação do sistema provincial é a possibilidade das próprias

províncias reterem parte da arrecadação tributária e destinarem as sobras ao poder central E as

Câmaras Municipais são a subdivisão da divisão do Estado unitário.

É de se ressaltar a tendência separatista,reacionária,manifestada notadamente por

constituintes do Sul que buscavam conferir SOBERANIA aos Estados-Membros. Alguns

parlamentares desejavam conceder-lhes a liberdade de estabelecer uma religião oficial,o poder

de cunhar sua própria moeda.Só faltou,considera Agenor de Roure,”uma emenda `a

Constituição,permitindo a livre escolha da linguagem ou do idioma oficial.” Por fim,tensa e

traumática foi a passagem do Estado unitário imperial para o Estado federal republicano,

inaugurado com a Proclamação em l.889. Nesse acontecimento que foi o de maior importância

histórica da pátria brasileira,o poder passou do campo para a cidade,numa revolução das classes

urbanas provocando violenta reação contra a derrocada da monarquia,contra o Federalismo e a

República,que levou o país `a guerra civil. Então foi necessária a intervenção federal visando a

preservação da unidade nacional federativa.Não só defesa da República e do Federalismo,mas

uma ação essencial à sobrevivência da Pátria`a União dos Estados, foi a intervenção federal no

Governo do Marechal Floriano Peixoto.

Page 8: Estado Unitario e Federativo - TGE

9

O ESTADO FEDERALISTA

O Federalismo é a corrente ideológica que preconiza a federação ou união de Estados ou

unidades políticas autônomas, formando um sistema nacional comum, em contraposição à idéia

de um poder unitário ou centralista, considerado propenso ao despotismo. Nessa estrutura

política, a União constitui um poder complexo, no qual se integram os estados ou territórios

federados e que com ela coexiste e possuem esferas de decisão totalmente autônomas. Ao mesmo

tempo, as unidades da federação compartilham outras esferas de ação ou de poder a União, que

exerce a função supra-ordenadora.

Trata-se de uma forma composta de organização política, em que os estados federados

matem sua diversidade característica e integridade política dentro da unidade representada pela

União, que assuma a soberania nacional em relação ao exterior, esse incube de manter as relações

com os outros estados. Cada unidade da federação deve gerir seus assuntos internos, e os assuntos

cujo interesse ultrapassa os limites de cada uma delas, são geridos pela União, que atua como

coordenadora.

São grandes as diferenças genéricas entre o Estado unitário e o Estado Federativo.

Enquanto no Estado centralista ou unitário todos os poderes emana de um único centro de

decisão, e as determinações que partem dos centros periféricos não passam de meras delegações

do poder unitário. Nos Estados federativos existe entre o poder central e os Estados federados

uma distribuição de competências, que assumem diversas formas e gera freqüentes conflitos de

jurisdição.

A organização federal é o primeiro princípio fundamental abordado pela constituição

brasileira. Pressupõe a união indissolúvel de estados autônomos e a existência de municípios

também autônomos, peculiaridade que distingue a federação brasileira da americana, por

exemplo, na qual a questão da autonomia municipal é deixada à livre regulação dos Estados

federados. Verifica-se ainda que no Brasil a federação se exprime juridicamente pelo

ordenamento da personalidade estatal nacional, na tríplice ordem de pessoas jurídicas de direito

público constitucional: União, estados e municípios. O Distrito Federal, sede do governo da

União, tem caráter especial.

Tendo em vista a multiplicidade de Federações que existem atualmente e a rica elaboração

teórica sobre o assunto, é difícil precisar, posto que não há unanimidade, quais as características

essenciais do Estado Federal, embora seja possível identificar, no mínimo, quatro atributos

básicos:

Page 9: Estado Unitario e Federativo - TGE

10

a) repartição de competências;

b) autonomia política das unidades federadas;

c) participação dos membros nas decisões das unidades federadas;

c) participação dos membros nas decisões da União;

d) atribuição de renda própria às esferas de competência‟

Além das já citadas existem outras cabíveis, vejamos:

-Existência de uma Constituição como base jurídica do Estado: esta representa no Estado

Federal, o pacto ou a aliança firmada pelas entidades que o integram, sendo a base jurídica

comum de todas as entidades federativas, que encontram na Constituição todos os principais

elementos relativos às suas inter-relações recíprocas. O ajuste federalista tem como base uma

Constituição. Enquanto uma confederação tem em um Tratado seu instrumento jurídico de

criação, o Estado Federal tem sua sede em uma Constituição".

-Repartição constitucional de competências: o núcleo, a própria razão de ser do Estado

Federal reside na característica da descentralização política, onde diferentes níveis de governo ou

de centros decisórios possuem a faculdade, delegada pela constituição, de emitir, criar ou editar

as normas jurídicas necessárias para controlar a conduta humana em determinado espaço

territorial.

- Autonomia das entidades federadas: trata-se de aspecto característico e essencial do

regime federativo, vez residir na autonomia das coletividades parciais integrantes do Estado

nacional, o que nos faz ver o Estado Federal como união de coletividades políticas autônomas,

onde existem vários centros decisórios, por haver a consagração da existência de duas ou mais

ordens governamentais distintas e autônomas entre si. A autonomia das unidades federadas é um

dos principais característicos da Federação. "Não basta que exista uma Constituição. Ela deve ser

escrita e rígida, de forma que evite a mudança de critérios fixados pelo pacto inaugural do Estado

Federativo".

-A soberania pertence ao Estado Federal: Os Estados-membros, dispõem de autonomia e

não soberania. No momento em que o pacto federativo se viabiliza, com a promulgação e

publicação da constituição, perdem os Estados a soberania que lhes era característica, para cedê-

la ao Estado Federal, que passa a ser o único a deter capacidade de pessoa jurídica de direito

internacional público, reunindo parcelas de poderes que não são superados por nenhum outro

poder ou Estado.

- Ausência do direito de secessão: em virtude de os Estados-membros não mais possuírem

soberania (para legitimação de uma decisão separatista) é que os mesmos não mais poderão se

retirar do pacto federativo, que dizer, no Estado Federal a união de coletividades políticas

autônomas se dá em caráter perpétuo, sendo a indissolubilidade do vínculo criado uma de suas

marcas características, ao contrário, como se vê, das Confederações, onde o Tratado criado pelos

Estados permite a secessão."A união que envolve os entes federais é indissolúvel. Não pode, sob

qualquer pretexto, deixar a Federação".

Page 10: Estado Unitario e Federativo - TGE

11

-Rendas próprias para as entidades federadas: detentoras de competências

administrativas e legislativas, as entidades federadas necessitam de recursos financeiros para dar

cumprimento às missões ou deveres que a constituição impõe. (33)

- Existência de uma Corte Suprema Nacional: ponto característico do Estado Federal é a

existência de uma corte Jurídica que seja suprema e superior, em termos de competência

decisória, a todas as outras esferas do Poder Judiciário, para que sua atuação sirva de elemento

estabilizador da sociedade, principalmente por atuar como legítima guardiã da Constituição

Federal, que é o documento revelador dos aspectos funcionais do regime federativo.

-Existência de um dispositivo de segurança: além dos atributos já apontados,apresenta-se

este aduzindo ser necessário à sobrevivência do Estado federal. Este dispositivo constitui, na

realidade, numa forma de mantença do federalismo diante de graves ameaças. Trata-se da

intervenção federal. Pela intervenção federal, a União, em nome dos demais Estados-membros,

intervém em um ou alguns estados onde se verifiquem graves violações dos princípios

federativos. A intervenção federal "é forma extrema, necessária para que se evite a desagregação

do Estado Federal.

Page 11: Estado Unitario e Federativo - TGE

12

Origem do federalismo brasileiro

A origem do federalismo brasileiro se deveu à derrubada da monarquia, em 15 de

novembro de 1889, com a edição do Decreto nº 1 que adotou a república federativa como forma

de governo e de Estado, ganhando estrutura definitiva somente com a Constituição de 1891. A

Constituição de 1891, corresponde ao período clássico do Estado federal brasileiro, consagrou a

autonomia dos Estados-federados dando-lhes ampla competência da qual somente se excetuavam

as matérias que a União reservou para si na própria Constituição. E fez mais, ao prever a

Federação e República, sagrou-os como princípios fundamentais ao sistema, sobrepujando todos

os demais.

Todavia, sustenta Paulo Bonavides ser "errôneo supor que a Federação no Brasil foi

produzida unicamente pelo Decreto nº 1, do Governo provisório de 1889. Se o presidencialismo

colhe de surpresa o País, desconhecido que era a todas as tradições de embate doutrinário em que

nos havíamos empenhado durante a fase anterior à República, tal não se deu, porém, com a

Federação. Esta, ou já se desejava, no sentir de monarquistas abalizados, da índole liberal de

Nabuco e Rui, ou já aguardava, por solução lógica e idônea aos antagonismos e crises que desde

muito dilaceravam o corpo político da Monarquia. O Decreto 1 foi apenas o coroamento vitorioso

de velhas aspirações autonomistas que, não se podendo fazer nos quadros institucionais do

Império por um ato reformista, se fizeram via improvisa da ação revolucionária de 15 de

novembro de 1889, resultando, assim, na implantação dos sistema republicano.

Há que se destacar, que o federalismo entre nós possui uma diferença básica do modelo

norte-americano. Estado federal brasileiro formou-se a partir de um Estado Unitário, que se

desmembrou e não de uma confederação que se dissolveu, como nos Estados Unidos, paradigma

de todos os sistemas federativos constitucionais. Talvez pelo fato de Rui Barbosa ter se inspirado

fielmente no modelo norte-americano, para introduzir na constituição Republicana a forma

federativa, é que tenha havido o desencontro da realidade com a lei, pois a diversidade de

situação era profunda. A federação americana resultara da agregação de Estados já independentes

que, para o benefício comum, concordaram em ceder o mínimo de suas competências em favor

do Poder central, conservando ciosamente as restantes. Entre nós, a federação resultara de uma

segregação, de uma ampliação da autonomia provincial, por decisão política do Poder Central.

Tomando como dogmas as soluções adotadas pelos americanos, a federação brasileira

nasceu dualista: 1) estabeleceu a absoluta igualdade jurídica entre os Estados, que passaram a ter

idêntica competência, com igual representação no Senado; 2) exclui expressamente a

interferência da União nas competências dos Estados, reservado-lhes os mesmo tributos, apesar

da extrema diversidade de rendas em vista do desnível de desenvolvimento entre os Estados.

Page 12: Estado Unitario e Federativo - TGE

13

Sua evolução

Assevera Janice Helena Ferreri Morbidelli, que "faltou ao federalismo brasileiro, já na sua

origem, um elemento essencial, ou seja, a existência anterior de Estados soberanos, como ocorreu

nas 13 colônias americanas. Apesar de ter sido o federalismo brasileiro adotado a exemplo do

modelo americano, as diferenças entre os dois países eram acentuadas, ocasionando um

federalismo absolutamente irreal entre nós".

No raciocínio evolutivo do federalismo no Brasil, com muita perspicácia e clareza sobre o

tema, a citada jurista traça a linha evolutiva, onde demonstra que o "instituto constitucional da

intervenção federal marcou a primeira fase do federalismo brasileiro. Com a Revolução de 1930,

em face da crise política e das mudanças de caráter socioeconômico, sofre o federalismo o

impacto de um autoritarismo, ainda pior que o do império. Surgiu uma outra fase, chamada de

federalismo pátrio, onde os estados passaram a cortejar o poder central para dele receber auxílio

para os investimentos, subsídios, incentivos, fazendo com que os mesmo, em razão disso,

perdessem por completo a autonomia constitucional e federativa. Dessa fase resultou uma espécie

de guerra econômica entre as regiões e os Estados-membros, posto que somente a autoridade

executiva da federação detinha o alto poder decisório, o que acabou por fazer ruir de vez com o

sistema federativo”.

Veio então as Constituições de 1934, 1937, 1946 e 1967 onde o federalismo, ora era

suprimido, ora era restaurado, com destaque à supressão deste princípio do nosso sistema

constitucional.

Page 13: Estado Unitario e Federativo - TGE

14

O Federalismo na CF/88.

Luiz Felipe D‟avila, aduz ser o "federalismo a bússola que deve orientar o processo da

descentralização do Estado brasileiro".

Acreditamos que nessa vertente trilhou o constituinte de 1988 quando inseriu no Artigo 1º

da CF/88 ser o Brasil uma "República Federativa" e o enalteceu como um Princípio Fundamental.

Destaca-se, outrossim, a petrificação dessa forma de Estado entre nós. O § 4º do Artigo

60 da CF/88, dispõe que a forma federativa de Estado não poderá ser abolida e nem tampouco

será objeto de projeto que delibere tal assunto, idem para a forma republicana do governo.

O constituinte de 1988 vislumbrava que o federalismo deveria ser reformulado,

principalmente no aspecto relativo à distribuição de competências legislativas e tributárias, para

que se fortalecessem os Estados membros e os Municípios, descentralizando o exercício do poder

político-tributário, que estava em maior número nas mãos da União.

Embora este fosse o anseio do constituinte, na prática ainda o que vemos é a União

concentrando inúmeras competências, tendo os Estados e Municípios como súditos. Em vista

disso, talvez seja a indignação de Paulo Bonavides pelo atual modelo federalista no Brasil quando

assevera que o "chamado "federalismo cooperativo" tem sido uma palavra amena e esperançosa,

de emprego habitual pelos publicistas que ainda acreditam comodamente na sobrevivência do

velho federalismo dualista, batizando como outro nome, posto que esteja a encobrir realidade

nova. Mas não se trata de dar nome novo a realidades extintas. Urge primeiro reconhecer o

desaparecimento da velha ordem federativa, esteada no binômio Estado autônomo e poder

federal. Com efeito, a intervenção econômica da União, já institucionalizada, cassou praticamente

a autonomia dos Estados, desfazendo a ilusão que publicistas de boa-fé e inocência vêm desde

muito acalentando, mercê de um eufemismo corrente – o "federalismo cooperativo" -, expressão

confortável, mas ingênua e nem sempre bem-arrazoada, com que se busca dissimular a verdade

rude da morte do federalismo das autonomias estaduais.

A esse federalismo há de suceder, decerto, um federalismo sobre novos pressupostos

ontológicos, alternativa que cuidamos plenamente exeqüível com o federalismo das Regiões. A

não ser assim, descambaremos, debaixo da capa do "federalismo cooperativo" no Estado Unitário

monolítico, desenvolvimentista, tecnocrático, autoritário, superintendente dos objetivos

econômicos permanentes, que nada deixaria ocioso ou autônomo às esferas intermediárias.

Examinem-se os reflexos da política unificada de promoção do desenvolvimento, de que

resulta um impiedoso Estado centralizador. Tudo, aí, patenteará que estamos vivendo uma idade

antifederativa, que já se não deixa prender aos moldes das autonomias estaduais. Se não

cogitarmos, de imediato, de reformular o federalismo com alternativas democráticas e abertas,

que não sejam simplesmente a conservação rebuçada do modelo federativo do passado, ainda

hoje de vigência formal, a saber, Estado autônomo e União, acabaremos inevitavelmente, com o

gigantismo descomunal desta última, por institucionalizar o Estado Leviatã, cujos braços já nos

apertam e cuja sobrevivência não seria a resposta que as gerações de amanha aguardam das

Page 14: Estado Unitario e Federativo - TGE

15

promessas generosas e recentes de quantos hoje se emprenham na modernização política e social

do Estado brasileiro".

Todavia, em que pese as críticas existentes quanto ao federalismo hoje existente,

coadunamos com o pensamento André Luiz Borges Netto quando diz que "a despeito dessa

reconhecida centralização, julgamos ser possível demonstrar que os estados-membros foram

aquinhoados com parcela considerável de competências legislativas, que poderão ser

desenvolvidas de forma a solucionar problemas regionais, tudo a depender como é óbvio, da

capacidade e da criatividade do legislador local". Reforçando o asseverado, buscamos em Luiz

Alberto David Araújo que citando Herculano de Freitas aduz: "„Desde que a Constituição

investiu os Estados de uma personalidade autonômica, dando-lhes a também de organização, deu-

lhes implicitamente (aliás também expressamente, como vereis depois), o poder de angariar os

recursos indispensáveis para a sua vida e seu desenvolvimento.

Os Estados têm, numa esfera limitada que a Constituição Federal traçou, o poder de

taxação; eles podem procurar, em contribuições obrigatórias, os meios de que precisam para a sua

vida e o seu desenvolvimento‟".

No tocante ao federalismo cooperativo, essa também é a posição de Janice Helena Ferreri

Morbidelli ao escrever que "a tese sobre o federalismo atual fundamenta-se na cooperação, que

dá sustentação à teoria do federalismo intergovernamental ou solidário. No dizer de Raul

Machado Horta: „A concepção do dual federalism, que se expandiu nos Estados Unidos,

fundando nas relações de justaposição entre os ordenamentos da União dos Estados, recebeu a

contribuição do novo federalismo, a partir do governo Roosevelt, que intensificou a forma de

programas e convênios‟.

Inspirando-se na cooperação, muitos Estados federais adotaram a técnica da legislação

concorrente, que atenua a separação dualista e favorece o desenvolvimento de relações

intergovernamentais. A tese da descentralização em maior ou menor intensidade, é discutida com

fundamento na cooperação, na interação federal-estadual em benefício do interesse da

coletividade. A descentralização legislativa permite o respeito às peculiaridades sócio-

econômicas e culturais dos entes federados.

O federalismo cooperativo contemporâneo firma-se nas relações de colaboração. Seu

objetivo é estimular a ação conjunta da União e dos Estados-membros, que atuam como parceiros

na solução dos problemas sociais e econômicos. Tércio Sampaio Ferraz Júnior prevê, como

exigência fundamental e condição de efetividade da cooperação dos entes federados, o "contrato

fechado", para regular as relações entre as unidades. Diz ele: „Esta cooperação, entretanto, tem

outro fundamento. Em verdade, as relações interindividuais entre as entidades que compõem a

federação possuem um sentido jurídico-político que transcende a aparência das vinculações

consensuais: (...) não se trata de contrato, mas de status. A federação não une contratualmente

seus membros, mas altera-lhes o status’."

Como se denota, os posicionamentos antagônicos fazem escola. Tanto o pensamento de

Paulo Bonavides como o de Janice Morbidelli, parecem coerentes, todavia, nos filiamos à esta

última, pelo fato de ser esta a tendência brasileira e porque não dizer mundial.

Page 15: Estado Unitario e Federativo - TGE

16

Bibliografia

BONAVIDES, Paulo. A Constituição Aberta. 2ª ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda,

1996.

FERRERI, Janice Helena. Por uma nova Federação. Coordenador: Celso Bastos. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995.

BORGES NETTO, André Luiz. Competências Legislativas dos Estados-Membros. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.

D’AVILA, Luiz Felipe. Por uma nova Federação. Coordenador: Celso Bastos. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria Do Estado e Ciência Política. 6. ed. São

Paulo: Celso Bastos Editora, 2004.

MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.