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i Marcelo Afonso Machado Estimativa de idade através de medidas em dentes e ossos do carpo: Precisão em uma amostra do sudeste brasileiro Piracicaba 2014

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Marcelo Afonso Machado

Estimativa de idade através de medidas em

dentes e ossos do carpo: Precisão em uma

amostra do sudeste brasileiro

Piracicaba

2014

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Universidade Estadual de Campinas

Faculdade de Odontologia de Piracicaba

Marcelo Afonso Machado

Estimativa de idade através de medidas em

dentes e ossos do carpo: Precisão em uma

amostra do sudeste brasileiro

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Daruge Júnior

__________________________

Assinatura do Orientador

Piracicaba

2014

Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Piracicaba

da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos

exigidos para obtenção do título de Mestre Biologia Buco-Dental na

Área de Odontologia Legal e Deontologia.

Este exemplar corresponde à versão final da

dissertação defendida por Marcelo Afonso Machado

e orientada pelo Prof. Dr. Eduardo Daruge Júnior.

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Universidade Estadual de Campinas

Faculdade de Odontologia de Piracicaba

Folha de Aprovação

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RESUMO

Introdução: As radiografias carpais e panorâmicas de crianças e adolescentes

são importantes em identificação humana por serem simples de obter e por conterem

quantidade significativa de estruturas que trazem informações relevantes sobre o

desenvolvimento corporal. Muitas vezes é necessário estimar a idade pelo envolvimento

dessas crianças em procedimentos cíveis e criminais. Várias técnicas existentes usam as

informações destas radiografias mas, nem todas foram testadas em brasileiros. Objetivo:

Este trabalho procurou validar em uma população brasileira três métodos que estimam a

idade de crianças e adolescentes a partir de medidas nos dentes permanentes em

desenvolvimento e nos ossos da região do carpo e compará-las. Material e método: Esse

estudo usou radiografias de 234 crianças e adolescentes (126 meninas e 108 meninos) para

validar o método numa população brasileira. Os dados obtidos a partir das radiografias

foram inseridos nas fórmulas propostas e comparados com a idade conhecida de cada

sujeito da pesquisa. A precisão dos métodos em estimar a idade foi analisada através do

teste de regressão linear estatística (ANOVA). Resultados: A partir da comparação entre as

três técnicas estudadas, foi encontrado um erro médio para a técnica da região dos dentes

(RD) de -0,21 anos, sendo -0,14 anos para meninas e -0,28 anos para os meninos havendo

tendência, então, de subestimar a idade. Para a técnica da região do carpo (RC) o erro

médio encontrado foi 1,61 anos, sendo 1,89 anos para meninas e 1,29 anos para os

meninos, superestimando a idade. Quando foram utilizadas informações dos ossos do carpo

e dos dentes (RCD) simultaneamente, o erro médio encontrado foi 0,39 anos, sendo 0,54

anos para meninas e 0,21 anos para meninos, havendo uma tendência a superestimar a

idade cronológica das crianças. Conclusão: As técnicas RD e RCD possuem boa acurácia

para estimativa da idade numa população do sudeste do Brasil. O método mais preciso foi o

RD, seguido pelo RCD e pelo RC.

Palavras-chave: Odontologia Legal. Antropologia Forense. Radiografia.

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ix

ABSTRACT

Introduction: Hand-wrist and panoramic radiographs of children and

adolescents are important in human identification because they are easily obtained and

contain a significant amount of structures that provide important information about the

body’s development. It is often necessary to estimate the age of children involved in civil

and criminal proceedings. Many methods use the information in these radiographs, but not

all of them have been tested in Brazilians. Objective: This study attempted to validate, in a

Brazilian population sample, three methods that estimate the ages of children and

adolescents using measurements of developing permanent teeth and wrist bones, and to

compare the methods. Materials and methods: This study used the radiographs of 234

children and adolescents (126 girls and 108 boys) to validate the methods in a Brazilian

population sample. Age was estimated using radiographic data and the pertinent formulas,

and compared with the known chronological age of each study subject. The methods’

accuracy for estimating age was determined by analysis of variance (ANOVA). Results:

The mean error for the tooth region method (TR) was -0.21 years, -0.14 for girls and -0.28

for boys; therefore, this method underestimated chronological age. The mean error for the

hand-wrist region method (HWR) was 1.61 years, 1.89 for girls and 1.29 for boys; hence,

this method overestimated chronological age. When the two methods were used

simultaneously (HWTR), the mean error was 0.39 years, 0.54 for girls and 0.21 for boys;

thus, both methods combined overestimated chronological age. Conclusion: The TR and

HWTR methods can estimate the chronological age of a population sample from Southeast

Brazil with good accuracy. The most accurate method was TR, followed by HWTR and

HWR.

Keywords: Forensic Dentistry. Forensic Anthropology. Radiography.

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xi

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ................................................................................................................ XIII

AGRADECIMENTOS ....................................................................................................... XV

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ............................................................................................ XVII

LISTA DE TABELAS ...................................................................................................... XIX

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1

2 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................... 4

3 PROPOSIÇÃO .................................................................................................................. 14

4 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 15

5 RESULTADOS ................................................................................................................. 24

6 DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 36

7 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 40

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 41

ANEXO 1 ............................................................................................................................. 46

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DEDICATÓRIA

À Deus, que ao prover desencantos e conquistas me ensina a permanecer firme

na minha fé e no meu caminho.

Aos meus pais Célio e Therezinha, pelo amor incondicional e pela total

dedicação na minha criação e incentivo nos meus estudos.

Ao meu irmão Rodrigo, pelo apoio nas horas incertas e pelo incentivo

contínuo.

À minha esposa e companheira Daniela, que suportou com amor a distância e

as ausências e que comemorou comigo cada pequena conquista.

À minha pequena Júlia, tão meiga e tão doce, capaz de despertar em mim um

amor e um instinto de cuidado jamais imaginado.

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AGRADECIMENTOS

À Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de

Campinas, representada por seu Diretor Prof. Dr. Guilherme Elias Pessanha Henriques,

pela oportunidade realização deste curso.

Ao meu orientador Prof. Dr. Eduardo Daruge Júnior, pelos ensinamentos e a

ajuda fundamental neste trabalho. Agradeço também pela confiança depositada em mim.

Ao mestre Prof. Dr. Eduardo Daruge, por compartilhar conosco sua sabedoria e

conhecimento. Sua dedicação à docência e a pesquisa é um exemplo para os iniciantes.

Ao Prof. Dr. João Sarmento Pereira Neto, pela ajuda na obtenção da amostra

deste estudo.

À funcionária Célia Regina Manesco, pela amizade e ajuda durante o período

do curso.

Ao amigo Prof. Dr. Marcelo Rocha Marques, por ter me apresentado a

oportunidade e pela recepção em Piracicaba.

Ao amigo Prof. Mário Marques Fernandes, pelo tempo despedido e colaboração

no desenvolvimento deste trabalho.

À amiga Profª. Maria Christina Mouta Rink, por todo o apoio, conselhos e

incentivos.

À todos os professores da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal

de Uberlândia, casa onde eu me formei e pela qual tenho muito admiração.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível superior (CAPES),

pela contribuição ao trabalho por meio de bolsa de estudos.

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Aos colegas do curso, pela saudável convivência durante todo o período.

Agradeço pela parceria, amizade e incentivo.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Fases do desenvolvimento dental, segundo Demirjian.. ....................................... 4

Figura 2 – Fases do desenvolvimento dental, segundo Nicodemo.. ....................................... 6

Figura 3 – Idade em meses de cada fase do desenvolvimento dental segundo Nicodemo..... 7

Figura 4 – Pontos identificados na radiografia panorâmicas para as técnicas de Mörnstad,

Liversidge e Mollesson e Carels. ............................................................................................ 9

Figura 5 - Medida horizontal "A" sendo calculada para os dentes uniradiculares. .............. 17

Figura 6 - Medida horizontal "A" sendo calculada para os dentes multiradiculares. ........... 18

Figura 7 - Medida vertical "L" sendo calculada para os dentes uniradiculares e

multiradiculares. ................................................................................................................... 18

Figura 8 – Obtenção da área óssea (Bo) por meio do contorno externo de cada osso do

carpo e das epífises do rádio e da ulna. ................................................................................ 20

Figura 9 – Obtenção da área carpal (Ca) por meio do contorno do perímetro em volta dos

ossos do carpo e das epífises do rádio e da ulna, perfazendo a área total da região do carpo.

.............................................................................................................................................. 21

Figura 10 - Detalhe em maior aumento da janela Histograma, utilizada para o cálculo das

áreas óssea e carpal. .............................................................................................................. 21

Figura 11 - Comparação da Idade Cronológica com a Idade Estimada a partir das

informações da região dos dentes ......................................................................................... 25

Figura 12 - Comparação da Idade Cronológica com a Idade Estimada a partir das

informações da região dos dentes, por gênero. ..................................................................... 27

Figura 13 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das

informações da região do carpo. ........................................................................................... 28

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Figura 14 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das

informações da região do carpo, por gênero. ....................................................................... 30

Figura 15 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das

informações da região do carpo e dentes. ............................................................................. 31

Figura 16 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das

informações da região do carpo e dentes, idade e gênero. ................................................... 33

Figura 17 - Comparação da diferença entre a Idade Estimada e a Idade Cronológica para a

região do carpo e dentes, considerando idade e gênero, por grupos. ................................... 34

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Divisão da amostra por faixas etárias. ................................................................. 16

Tabela 2 - Conversão das idades de meses para anos........................................................... 22

Tabela 3 - Descrição da amostra investigada de acordo com as variáveis: idade e gênero. . 24

Tabela 4 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das

informações da região dos dentes ......................................................................................... 25

Tabela 5 - Comparação da Idade Cronológica com a Idade Estimada a partir das

informações da região dos dentes, por gênero. ..................................................................... 26

Tabela 6 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das

informações da região do carpo. ........................................................................................... 28

Tabela 7 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das

informações da região do carpo, por gênero. ....................................................................... 29

Tabela 8 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das

informações da região do carpo e dentes. ............................................................................. 31

Tabela 9 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das

informações da região do carpo e dentes, por idade e gênero. ............................................. 32

Tabela 10 - Comparação entre Idade Estimada (IE) e a Idade Cronológica (IC) para a região

dos dentes (RD), carpo (RC) e carpo e dentes (RCD). ......................................................... 35

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xxi

“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei

para que o melhor fosse feito. Não sou o que deveria

ser, mas Graças a Deus, não sou o que era antes”.

(Marthin Luther King)

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1 INTRODUÇÃO

A estimativa de idade é a principal técnica para identificação humana em vivos,

a que tem uma aplicação mais destacada é a de estimativa de idade.

Dentre as técnicas para identificação humana em vivos, a que tem uma

aplicação mais destacada é a de estimativa de idade. Em diversas situações é primordial

para o poder judiciário o conhecimento da idade de pessoas que estejam envolvidas em

procedimentos cíveis ou criminais. Essa questão se torna ainda mais sensível, quando se

trabalha com a faixa etária correspondente à infância e adolescência (Cardozo e Silva,

1997).

Frequentemente a sociedade se vê diante de casos que envolvem indivíduos

nesta faixa etária, seja como autores ou como vítimas. De acordo com a legislação vigente

hoje no Brasil, existem salvaguardas quando da participação de crianças e adolescentes nos

crimes previstos em lei (Brasil, 1990). Da mesma forma, quando os crimes são cometidos

contra crianças, esta situação torna-se um agravante (Brasil, 1940). Em relação à área cível,

pode ser necessário conhecer a idade de uma criança ou adolescente para garantir o acesso

à escola e ao lazer ou ainda para fins de se realizar um processo de adoção.

O tema também é relevante nos países desenvolvidos, devido ao fluxo de

imigrantes ilegais e refugiados em seus territórios (Cameriere e Ferrante, 2008; Nuzzolese e

Di Vella, 2008; Santoro et al., 2009). Muitas vezes, ocorre o envolvimento dessas pessoas

em processos cíveis ou criminais e como também frequentemente não há documentos

oficiais para comprovar a idade, métodos para estimá-la precisam ser usados (Schmeling et

al., 2001; Pinchi et al., 2012).

Dada a importância do tema, diversos métodos têm sido desenvolvidos para se

estimar a idade de pessoas vivas na faixa etária que compreende a infância e a adolescência,

dentre os quais se destacam: exame físico para inspeção de sinais de maturação sexual,

exame radiográfico dos ossos da mão (carpal) e o estudo do desenvolvimento da dentição

(Schmeling et al., 2001). A análise da radiografia carpal e dos dentes tem sido bastante

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2

estudados pois as tomadas radiográficas dessas regiões, além de serem simples, exigem

uma dosagem baixa de radiação em comparação com outras estruturas. Além disso, o

número significativo de dentes e ossos na região do carpo facilita a análise (Cameriere e

Ferrante, 2008)

A região de mão e punho é um importante sítio para se conhecer a maturação

esquelética do individuo uma vez que possui vários centros de ossificação em uma área

relativamente pequena (Haiter-Neto et al., 2006). Vários são os métodos que estimam a

idade a partir dos ossos carpais. O mais difundido é o de Greulich-Pyle, publicado em 1959,

e que consiste em comparar a radiografia da mão esquerda do indivíduo com as imagens de

um atlas elaborado pelos pesquisadores (Lynnerup et al., 2008). Haiter-Neto et al. (2006)

mostraram que outros métodos de estimativa de idade desenvolvidos posteriormente, tais

como Eklöf and Ringertz e Tanner e Whitehouse, são bastante usados em Ortodontia para

análise do crescimento corporal. No entanto, todos estes métodos citados foram criados a

partir de populações da América do Norte e Europa, necessitando de estudos que validem o

seu uso numa população brasileira.

Em uma série de trabalhos na década de 1970, Demirjian apresentou quatro

sistemas para estimativa de idade baseado nos estágios de rizogênese dental (Eid et al.,

2002; Flood et al., 2011). Os estudos se basearam em indivíduos canadenses entre três e 17

anos. No Brasil, Nicodemo e colaboradores (1974) desenvolveram primeira tabela de

cronologia de mineralização dental com comprovada aplicabilidade na população local em

1974. Apesar destes dois métodos serem ainda hoje referência na Odontologia Legal e

Antropologia Forense, tratam-se de técnicas que dependem da interpretação do examinador,

tendo assim alto grau de subjetividade.

Kullman (1995) citou como deficiências dos métodos de estimativa de idade

por meio dos dentes, as variações biológicas entre as populações e os critérios subjetivos

dos métodos disponíveis. Assim, propôs que as medidas dos comprimentos das raízes

dentais em formação fossem realizadas por meio de programas de computador.

Nos últimos 20 anos, diversos estudos surgiram buscando incluir critérios

objetivos nos métodos de estimativa de idade, seja utilizando os elementos dentais ou os

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ossos do carpo (Cameriere et al., 2006b; Santoro et al., 2009). Cameriere et al. (2006a)

apresentaram uma técnica para medir a abertura dos ápices e o comprimento de sete dentes

mandibulares em formação usando um software editor de imagens. Os dados coletados são

então inseridos numa fórmula matemática, cujo resultado prediz a idade do indivíduo

estudado. Fernandes et al. (2011) validaram esta fórmula a partir de uma amostra brasileira.

Em outro estudo, Cameriere et al. (2006b) apresentaram uma outra fórmula matemática que

leva em conta a área ocupada na radiografia pelos ossos do carpo e pelas epífises do rádio e

da ulna. Em 2008, Cameriere et al. apresentaram outra formula matemática na qual são

inseridas ao mesmo tempo informações dos dentes permanentes em formação e dos ossos

do carpo.

Diversos estudos na literatura mostram que a avaliação da idade é mais precisa

quando se utiliza mais de um método de estimativa (Schmeling et al., 2001; Santoro et al.,

2009; Cameriere et al., 2012). Porém, tais estudos mostram a eficácia desses métodos

quando utilizados na população no qual foram desenvolvidos, não podendo, a princípio,

serem utilizados em outras populações (Cameriere e Ferrante, 2008). Complementarmente

a adoção de técnicas com critérios mais objetivos, torna-se necessário considerar as

diferenças inerentes ao diferentes grupos étnicos e populacionais (Santoro et al., 2009).

Um estudo foi realizado para avaliar aplicabilidade numa população australiana

de quatro métodos estimativa de idade desenvolvidos no Canadá (Flood et al., 2011). Ao

encontrar diferenças significativas, concluíram que essas técnicas são mais confiáveis

quando aplicadas diretamente na população do local aonde foram desenvolvidas. Lynnerup,

et al. (2008) em um estudo sobre a técnica de Greulich-Pyle, ressaltaram que esta e outras

técnicas podem não ser aplicáveis em populações diversas das quais foram desenvolvidas

devido à própria variabilidade étnica.

Assim, este trabalho teve como objetivo estimar a idade de crianças e

adolescentes brasileiros a partir da análise de radiografias carpais e panorâmicas e validar

um método de estimativa que combina as duas radiografias.

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4

2 REVISÃO DA LITERATURA

No ano de 1973 com uma modificação publicada em 1976 Demirjian et al.,

criaram um sistema para avaliar a maturidade dental baseado no desenvolvimento dos sete

dentes mandibulares permanentes esquerdos avaliados numa radiografia panorâmica.

Levando-se em conta o processo de formação dos dentes citados houve uma divisão deste

em oito etapas e, os critérios para as fases foram dados para cada dente em separado por

meio de descrição detalhada e ilustrações complementares (Figura 1). Assim, para cada um

dos sete dentes analisados é dada uma pontuação de acordo com um modelo estatístico.

Somando-se as pontuações dos sete dentes é obtida a maturidade dental que pode ser

convertida em idade dental através do uso de tabelas de conversão. A amostra utilizada para

desenvolvimento deste método de estimativa de idade foi 4.756 crianças e adolescentes

franco-canadenses com idade entre 2-20 anos.

Figura 1 – Fases do desenvolvimento dental, segundo Demirjian. Fonte: Araújo et al. 2010.1

1 Araújo AMM, Pontual MLA, França KP, Beltrão

RV, Pontual AA. Association between

mineralization of third molars and chronological age in a Brazilian sample. Rev. odonto ciênc.

(Online), 2010. 25(4).

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Nicodemo, Moraes e Medici Filho (1974) desenvolveram um método de estimativa

de idade em uma população brasileira criando uma tabela de cronologia de mineralização

dental analisando crianças e adolescentes a partir de radiografias panorâmicas. A técnica

consiste em escolher três dentes e classificar o estágio de formação deles de acordo com a

descrição que foi criada: primeiras evidências de mineralização da coroa, um terço da

coroa, dois terços da coroa, coroa completamente formada, início da formação radicular,

um terço da raiz, dois terços da raiz e término apical (Figura 2). De acordo com o estágio

em que os três dentes se encontram, é consultado numa tabela as idades máxima e mínima

em meses (Figura 3). Assim, encontrava-se uma faixa etária estimada separando a maior

idade mínima e a menor idade máxima.

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Figura 2 – Fases do desenvolvimento dental, segundo Nicodemo. Fonte: Oliveira, 2010.2

2 Oliveira FT. Estimativa de idade cronológica por meio de avaliação radiográfica da mineralização

de terceiros molares e altura do ramo da mandíbula. [tese]. Bauru: Faculdade de Odontologia,

Universidade de São Paulo; 2010.

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Figura 3 – Idade em meses de cada fase do desenvolvimento dental segundo Nicodemo. Fonte:

Oliveira, 2010.3

Kullman (1995) testou a precisão de dois métodos dentais de estimativa da

idade que se baseiam na análise radiográfica da raiz do terceiro molar inferior e os

comparou com um método que estima a idade por meio do estágio de desenvolvimento dos

ossos do carpo. Um dos métodos odontológicos envolvia uma avaliação subjetiva do

estágio de desenvolvimento da raiz. O outro era um novo método com uma medida métrica

de comprimento de raízes. A amostra analisada era composta de adolescentes suecos com

idades entre 12 e 19 anos. Todos os métodos analisados superestimaram a idade

cronológica, com a maior superestimação, em mais de um ano, para os dois métodos

odontológicos. A análise de regressão múltipla indicou que a idade esquelética sozinha

explica 48% da variação na idade cronológica estimada. O autor indica que há pouca

3 Oliveira FT. Estimativa de idade cronológica por meio de avaliação radiográfica da mineralização

de terceiros molares e altura do ramo da mandíbula. [tese]. Bauru: Faculdade de Odontologia,

Universidade de São Paulo; 2010.

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precisão da estimativa da idade com base nos terceiros molares inferiores durante a

adolescência e cita como deficiências dos métodos de estimativa de idade através dos

dentes as variações biológicas entre as populações e os critérios subjetivos dos métodos

disponíveis.

Liversidge et al. (1999) testaram o método de Demirjian em crianças inglesas

de dois grupos étnicos: caucasianos e bengalis. Não houve diferenças significativas entre os

dois grupos e, no geral, a amostra mostrou-se com a idade superestimada em relação ao

estudo original de Demirjian et al. (1973). Os autores acreditam que este resultado, assim

como o encontrado em outros estudos com outras populações, deve-se a uma tendência

secular positiva no crescimento e desenvolvimento corporal durante os últimos 25 anos.

Schmeling et al. (2001) discorreram sobre o uso de técnicas de estimativa de

idade em indivíduos respondendo a processos criminais na Europa. Para eles a globalização

da economia, o advento da União Europeia e os conflitos armados têm aumentado as ondas

migratórias para os países europeus, notadamente os de língua germânica. Eles relatam que

na Alemanha, em um período de cinco anos, houve um aumento de 185 para 500

solicitações de perícias de estimativa de idade em estrangeiros. Os autores informam que a

combinação de informações de vários sítios corporais trazem uma dispersão menor da idade

estimada, embora sejam necessários novos estudos para determinar a influencia étnica nas

estimativas de idade.

Eid et al. (2002) avaliaram o método Demirjian para estimar a idade em

crianças 6-14 anos em uma população brasileira. A técnica superestimou a idade dos

meninos em 0,681 anos e das meninas em 0,616. Estudos comparativos com outras

populações citados pelos autores também superestimaram a idade cronológica. Os autores

alertam para a heterogeneidade étnica da população estudada.

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Liversidge et al. (2003) investigaram três métodos de estimativa de idade

baseados no desenvolvimento dos dentes permanentes. A amostra continha 145 crianças

inglesas caucasianas com idades entre 8 e 13 anos. Foram marcados 31 pontos na

radiografia panorâmica registrando medidas da altura e abertura do ápice dos dentes

caninos, primeiro e segundo pré-molares e primeiro e segundo molares (Figura 4). Os

métodos testados foram os de Mörnstad, Liversidge e Mollesson e Carels. Todos os

métodos apresentaram tendência a subestimar a idade e tiveram melhor acurácia nas faixas

etárias mais novas. Os métodos de Liversidge e Mollesson foram os mais precisos para a

amostra estudada.

Figura 4 – Pontos identificados na radiografia panorâmicas para as técnicas de Mörnstad,

Liversidge e Mollesson e Carels. Fonte: Liversidge 20024

4 Liversidge HM, Lyons F, Hector MP. The accuracy of three methods of age estimation using

radiographic measurements of developing teeth. Forensic Sci Int. 2002; 131(1):p 22-29.

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Cameriere et al. (2006a) apresentaram um método para estimar a idade

cronológica com base na medição dos ápices abertos nos dentes. Os pesquisadores se

valeram de 455 crianças italianas entre 5 e 15 anos de idade, nas quais foram feitas uma

medida horizontal (largura do ápice aberto) e uma vertical (altura do dente em formação).

Os dados coletados foram então inseridos numa equação, intitulada pelos autores como

Fórmula Europa, cujo resultado era a estimativa de idade da amostra testada, apresentando

um erro médio residual de −0,035 anos. Foi notada uma maturidade dental avançada para

meninas de todas as idades e dentre todos os dentes medidos, o segundo pré-molar

contribuiu mais significativamente para os cálculos das idades.

Utilizando-se de uma amostra de 150 crianças italianas Cameriere et al. (2006b)

encontraram uma relação entre o desenvolvimento ósseo da área carpal e idade cronológica

em indivíduos de 5 a 17 anos. As áreas ocupadas pelos ossos do carpo nas radiografias

foram medidas com um software editor de imagens. Os resultados encontrados apontaram

um erro médio de 1,19 anos e uma tendência a superestimar a idade dos meninos em

relação à das meninas. Os autores destacam que ao contrário da análise subjetiva por meio

de atlas, ao analisar a maturidade esquelética da região do carpo por meios de programas de

computador são utilizados critérios mais objetivos.

Maber et al. (2006) buscaram comparar a acurácia de alguns métodos de

estimativa de idade baseados no desenvolvimento dental. Usando uma amostra de 946

crianças entre 3 e 17 anos de idade, divididas numericamente de maneira igual entre origem

inglesa e bengali, foram testados os métodos de Demirjian original, Nolla, Haavikko e o

método de Demirjian modificado por Willems. Os resultados mostraram que este último foi

o que teve maior acurácia, subestimando as idades dos meninos em 0,05 anos e das

meninas em 0,20 anos. O método de Demirjian sobrestimou a idade dos meninos em 0,25

anos e das meninas em 0,23 anos. Os autores encontraram que quando não houver

informação sobre o sexo, o método de Willems, seguido pelo de Demirjian são os que têm

maior acurácia.

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Cameriere e Ferrante (2008) realizaram um estudo piloto em que apresentaram

um método para estimar a idade de crianças e adolescentes utilizando, ao mesmo tempo,

informações dos ossos do carpo e da rizogênese. As idades das meninas ficaram

subestimadas em relação à dos meninos em 0,401 anos. O método mostrou-se eficaz numa

população italiana, apresentando um erro médio de 0,553 anos.

As novas recomendações para estimativa de idade em processos

criminais/penais do Grupo Europeu para Estimativa Forense da Idade foram apresentadas

por Schmeling et al. (2008). São elas: exame físico, medidas antropométricas e inspeção

dos caracteres de maturidade sexual; radiografia da mão esquerda; exame dos dentes e

radiografias dentais; um exame radiográfico adicional das clavículas pode ser realizado,

caso o desenvolvimento ósseo da mão esteja completado. Para os autores que fazem parte

do deste Grupo, a origem geográfica/etnia e as variações socioeconômicas podem influir de

maneira importante na estimativa de idade de um individuo e devem constar no laudo

emitido pelo perito responsável pelo exame.

Santoro et al. (2009) realizaram um estudo retrospectivo de 52 análises de

estimativa de idade em imigrantes ilegais sub-adultos realizados no serviço de Medicina

Legal da Universidade de Bari, Itália. As solicitações partiam das autoridades e se deviam a

razões diplomáticas ou pelo envolvimento destes ilegais em crimes. O protocolo do exame

consistia em um exame clínico e coleta de dados antropométricos e de maturidade sexual,

radiografia panorâmica e carpal. Em 23 indivíduos também foi realizada radiografia da

pelve. As estimativas de idade encontradas eram então confrontadas com a idade informada

pelos imigrantes, sendo que metade destes teria informado idade menor do que a idade

cronológica. Comparando as idades estimadas por meio das radiografias carpal e

panorâmica, os autores chamam a atenção para os resultados obtidos em cada indivíduo

indicando um padrão de crescimento similar entre os ossos da mão e dos dentes.

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Fernandes et al. (2011) buscaram validar a fórmula proposta por Cameriere et

al. (2006a) numa amostra de 160 crianças brasileiras. Foi encontrado que houve uma

tendência a superestimar a idade cronológica na faixa etária de 5 a 10 anos e subestimá-la

na faixa etária de 11 a 14 anos. Para a amostra estudada não houve diferença

estatisticamente significante no tocante ao gênero. O trabalho atestou a precisão do método,

com uma diferença média de -0,04 anos entre idade cronológica e estimada, o que

representa, proporcionalmente, 14,6 dias.

Em um estudo comparativo de técnicas para estimativa de idade por meio dos

dentes, Galić et al. (2011) analisaram os métodos de Cameriere, Haavikko e Willems em

1089 crianças de 6 a 13 anos de idade de origem Bósnia, Croata e Sérvia. O método de

Willems consiste no método de Demirjian's modificado. Os autores encontraram que o

método Cameriere foi o mais preciso seguindo método Haavikko e pelo método Willems.

Cameriere et al. (2012) compararam a acurácia de três técnicas para estimativa

de idade em crianças e adolescentes. Usando uma amostra de 288 crianças italianas entre 5

e 15 anos de idade, avaliaram radiografias carpais e panorâmicas. Como resultados,

encontraram um erro médio de 0,94 anos quando usadas somente as informações dos ossos

do carpo; 0,66 anos quando usadas somente as informações das raízes do dentes em

formação e; 0,52 anos quando se utilizou informações dos dois sítios. Os pesquisadores

concluíram que, dentre as avaliadas, esta última foi técnica mais precisa para estimar a

idade de crianças.

De Luca et al. (2012) testaram a Fórmula Europa numa amostra de crianças e

adolescentes mexicanos. Segundo os autores, devido à extensa fronteira entre este país e os

Estados Unidos, é elevado o número de imigrantes ilegais que vivem em terras norte-

americanas, inclusive crianças. A amostra era composta de 502 crianças e adolescentes

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entre 6 e 15 anos de idade. Para as meninas houve uma tendência em superestimar as

idades, com um erro médio de 0,63 anos. Já para os meninos, o erro encontrado foi 0,52

anos. Analisando por faixas etárias, até os 7 anos houve tendência a superestimar; acima

dos 14 houve forte tendência a subestimar, em mais de 1 ano de idade.

Considerando que imputabilidade penal na Itália encerra-se aos 14 anos, Pinchi

et al. (2012) realizaram um estudo de estimativa de idade em 501 crianças italianas entre 11

e 16 anos. Foram testados os métodos de Demirjian, Willems, Cameriere e Haavikko por

meio de radiografias panorâmicas analisando os dentes. O estudo mostrou que o método de

Cameriere não é aplicável para indivíduos acima de 14 anos e que o método de Haavikko

não é aplicável para os acima de 12 anos. Os métodos de Demirjian e Willems foram os de

maior acurácia, mas tenderam a superestimar a idade. O método de Demirjian seria o mais

indicado para as meninas e o de Willems para os meninos, sendo destacado pelos autores

que quando houver a necessidade de se fazer uma estimativa de idade em um indivíduo

supostamente com idade próxima aos 14 anos, não há um método que possa ser

considerado universal.

Pechníková et al. (2014) realizaram um estudo no qual compararam os

resultados da aplicação de quatro métodos de estimativa de idade dentais em irmãos

gêmeos. A amostra consistiu de 64 pares de gêmeos sendo 21 monozigóticos, 20

dizigóticos de mesmo sexo e 13 dizigóticos de sexo oposto com idades variando de 5 a 22

anos. Os métodos testados foram o de Demirjian, o de Mincer e dois de Cameriere. Os

autores encontraram que efeito do ambiente (fenótipo) tem um peso importante no

desenvolvimento dental, uma vez que mesmo entre os gêmeos monozigóticos o nível de

concordância variou de 33 a 60%. Também foram destacadas as diferenças na estimativa de

idade entre gêmeos dizigóticos de sexos opostos, demonstrando a tendência biológica

distinta para meninos e meninas.

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3 PROPOSIÇÃO

O presente estudo teve como objetivo a análise de radiografias carpais e

panorâmicas de crianças e adolescentes com o intuito de avaliar comparativamente três

métodos de estimativa de idade, sinalizando o mais indicado para a população estudada.

.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Critérios Éticos da Pesquisa

Antes da realização do presente estudo, o mesmo foi submetido ao Comitê de

Ética em Pesquisa da FOP/UNICAMP, aprovado sob o protocolo nº 026/2012, respeitando

assim todos os critérios éticos e legais (Anexo 1).

4.2 Tipo de estudo e caracterização da amostra

Trata-se de um estudo observacional analítico sobre 5500 prontuários oriundos

da Clínica de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade

Estadual de Campinas. Os prontuários datavam de 1990 a 2008 (18 anos).

Foram excluídos prontuários de indivíduos com menos de 5 anos de idade e

com mais de 14 anos e 11 meses. Só foram incluídos prontuários de crianças cujas

radiografias carpal e panorâmica tivessem a mesma data de realização. Indivíduos com

qualquer anomalia odontogênica ou que tivessem radiografias com qualidade que

comprometesse a interpretação foram eliminadas da amostra. Desta forma, resultou em 234

prontuários elegíveis para o referido estudo.

A amostra foi dividida em cinco grupos conforme Tabela 1.

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Tabela 1 - Divisão da amostra por faixas etárias.

Grupo 5-6 5 anos e 0 meses até 6 anos e 11 meses

Grupo 7-8 7 anos e 0 meses até 8 anos e 11 meses

Grupo 9-10 9 anos e 0 meses até 10 anos e 11 meses

Grupo 11-12 11 anos e 0 meses até 12 anos e 11 meses

Grupo 13-14 13 anos e 0 meses até 14 anos e 11 meses

Dos 234 prontuários selecionados, separou-se a panorâmica e carpal para serem

digitalizadas por meio do escâner Fotográfico HP (Scanjet G4050®, Estados Unidos), com

300dpi de resolução. Subsequentemente, as imagens foram exportadas para software Adobe

PhotoShop 7® (Versão 11.0, Estados Unidos), no qual foram realizadas as medições

conforme descrição a seguir.

4.3 Metodologia

A proposta do trabalho foi avaliar três métodos de estimativa de idade a partir

de informações de radiografias de duas regiões do corpo. Assim, a coleta dos dados foi feita

analisando-se as duas radiografias de cada sujeito da pesquisa por vez. Foi tomado o

cuidado para que as avaliações não excedessem 40 radiografias por dia para evitar fadiga

visual, melhorando a acurácia da avaliação. Todas as avaliações foram feitas pelo mesmo

operador, previamente treinado.

a) Radiografias Panorâmicas

Conforme a técnica descrita por Cameriere et al. (2006a) foram analisados sete

dentes mandibulares esquerdos permanentes, do incisivo central ao segundo molar. Os

dentes decíduos e os terceiros molares não foram avaliados.

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O arquivo com extensão JPEG gerado após a digitalização da radiografia

panorâmica foi aberto no software editor de imagens com zoom de 100%. O número de

dentes que apresentavam desenvolvimento radicular completo (fechamento do ápice

radicular) foi contado e anotado para cada criança como índice N0. Em seguida, foram

feitas duas medidas nos dentes com desenvolvimento radicular incompleto usando-se a

ferramenta “Linha” do software editor de imagens:

Horizontal (Ai), considerando as extremidades internas do ápice aberto e

sendo i= número do dente no arco. Essa medida para os dentes

multirradiculares será calculada a partir da soma da abertura dos dois ápices;

(Figuras 5 e 6).

Figura 5 - Medida horizontal "A" sendo calculada para os dentes uniradiculares.

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Figura 6 - Medida horizontal "A" sendo calculada para os dentes multiradiculares.

Vertical (Li), considerando a altura dos dentes e sendo i= número do dente

no arco. Esta medida foi calculada traçando-se uma reta que se iniciava

perpendicular à reta horizontal Ai, indo até a ponta da cúspide. (Figura 7)

Figura 7 - Medida vertical "L" sendo calculada para os dentes uniradiculares e multiradiculares.

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O software informa quantos pontos há em cada reta traçada. Para cada criança

era anotado na planilha as medidas correspondentes de cada dente. Em cada dente com

ápice aberto essas duas medidas foram então relacionadas (Ai/Li), para eliminar possíveis

distorções referentes a distanciamento e angulação das radiografias obtendo-se o índice Xi,

e posteriormente somadas (A1/L1 + A2/L2 + ... +A7/L7) obtendo-se o coeficiente s. As

idades dos sujeitos da pesquisa foram estimadas inserindo os dados coletados nas

radiografias na seguinte fórmula proposta por Cameriere et al. (2006a):

Idade Estimada - RD= 8,971 + 0,375g + 1,631X5 + 0,674 N0 - 1,034s - 0,176 s N0

Onde g é uma variável igual a 1 para meninos e igual a 0 para meninas e X5 é o

índice obtido a partir das medidas do segundo pré-molar.

b) Radiografias Carpais

Conforme a técnica descrita por Cameriere et al. (2006b) foram analisados os

ossos do carpo e epífises do rádio e da ulna da mão esquerda.

O arquivo com extensão JPEG gerado após a digitalização da radiografia carpal

foi aberto no software editor de imagens com zoom de 100%. Em seguida, foram feitas

duas medidas nos dentes com desenvolvimento radicular usando-se a ferramenta “Laço

Poligonal” do software editor de imagens. Esta ferramenta permite contornar

completamente uma ou mais partes da imagem e o editor de imagens então calculava a

quantidade de pontos na área que havia sido delimitada em pixels. Pixel é a menor unidade

de uma imagem digital. As medidas que foram realizadas foram as seguintes:

Área óssea (Bo), obtida por meio do contorno externo de cada osso do carpo

e das epífises do rádio e da ulna. Eventuais sobreposições de estruturas na

seleção não foram consideradas, somente o contorno externo. (Figura 8)

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Figura 8 – Obtenção da área óssea (Bo) por meio do contorno externo de cada osso do carpo e das

epífises do rádio e da ulna.

Área carpal (Ca), obtida por meio do contorno do perímetro em volta destas

mesmas estruturas perfazendo a área total da região do carpo. Eventuais

sobreposições de estruturas na seleção também não foram consideradas,

somente o contorno externo. (Figura 9)

O software informa na janela “Histograma” quantos pixels havia em cada

contorno que havia sido traçado (Figura 10). Para cada criança era anotado na planilha as

medidas correspondentes das áreas óssea e carpal. Essas medidas são consideradas na

fórmula em caráter relativo, usando a razão entre elas (Bo/Ca). As idades dos sujeitos da

pesquisa foram estimadas inserindo os dados coletados nas radiografias na seguinte fórmula

proposta por Cameriere et al. (2006b):

Idade Estimada-RC = -3,253 + 0,719g + 20,610Bo/Ca

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Figura 9 – Obtenção da área carpal (Ca) por meio do contorno do perímetro em volta dos ossos do

carpo e das epífises do rádio e da ulna, perfazendo a área total da região do carpo.

Figura 10 - Detalhe em maior aumento da janela Histograma, utilizada para o cálculo das áreas

óssea e carpal.

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O terceiro método de estimativa de idade analisado neste trabalho obteve as

idades dos sujeitos da pesquisa a partir das informações coletadas nas duas radiografias,

conforme fórmula proposta por Cameriere e Ferrante (2008):

Idade estimada - RCD = 4,619 + 0,401g + 0,551N0 – 0,647s + 7,163Bo/Ca – 0,123N0s

onde g é uma variável igual a 1 para meninos e igual a 0 para meninas. N0, s,

Bo e Ca são obtidos conforme explicado anteriormente.

Todos os dados obtidos foram inseridos em uma planilha confeccionada no

software Microsoft Excel® (versão 2007, Estados Unidos), juntamente com a idade

conhecida de cada paciente (idade cronológica registrada no exame radiográfico, laudo

radiográfico ou prontuário durante a ananmese). As idades cronológicas foram

transformadas de meses para anos conforme Tabela 2. Os resultados das fórmulas obtido

em anos foram então comparados com a idade cronológica. A idade estimada foi subtraída

da idade cronológica e, um resultado positivo indica uma subestimação ao passo que um

valor negativo uma superestimação.

Tabela 2 - Conversão das idades de meses para anos.

10 anos e 0 meses 10,0 anos

10 anos e 1 mês 10,1 anos

10 anos e 2 meses 10,2 anos

10 anos e 3 meses 10,3 anos

10 anos e 4 meses 10,3 anos

10 anos e 5 meses 10,4 anos

10 anos e 6 meses 10,5 anos

10 anos e 7 meses 10,6 anos

10 anos e 8 meses 10,7 anos

10 anos e 9 meses 10,8 anos

10 anos e 12 meses 10,8 anos

10 anos e 11 meses 10,9 anos

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4.4 Análise dos dados

Para a avaliação do erro do método foi realizada uma segunda avaliação sobre

20% das radiografias – selecionadas aleatoriamente. O intervalo aproximado entre a

primeira e a segunda avaliação foi de duas semanas. Para verificar o erro sistemático, foi

utilizado o teste t-Student para amostras pareadas adotando-se nível de significância de 5%.

Na determinação do erro casual, utilizou-se o cálculo de erro proposto por Dahlberg

(Houston, 1983): Erro = √∑d2/2n, onde d = diferença entre 1ª e 2ª medições e n = número

de radiografias reavaliadas.

As idades estimadas encontradas foram comparadas com a idade cronológica de

cada criança e os dados foram analisados através de tabelas estatísticas descritivas. Os

seguintes testes estatísticos foram realizados: testes t-Student para amostras pareadas, testes

t-Student para amostras independentes e testes Análise de Variância (ANOVA). Para todos

os testes acima citados o nível de significância máximo assumido foi de 5% (p0,05) e o

software utilizado para a análise estatística foi o SPSS versão 17.0 (IBM, Estados Unidos).

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5 RESULTADOS

Para a análise dos resultados a amostra estudada foi dividida por faixa etária em

cinco grupos, conforme descrito na Tabela 3. A idade cronológica média para o gênero

feminino foi 11,26 anos (desvio padrão 2,29) e para o masculino 11,28 anos (desvio padrão

2,28). No geral a amostra estudada teve idade cronológica média de 11,27 anos com

desvio-padrão de 2,27.

Tabela 3 - Descrição da amostra investigada de acordo com as variáveis: idade e gênero.

Grupos – por

idade

Gênero

Total Feminino Masculino

n % n % n %

5-6 7 5,6 3 2,8 10 4,3

7-8 20 15,9 19 17,6 39 16,7

9-10 23 18,3 23 21,3 46 19,7

11-12 40 31,7 36 33,3 76 32,5

13-14 36 28,6 27 25,0 63 26,9

Total 126 100 108 100 234 100

Para melhor apresentação dos resultados, estes foram divididos em três partes

de acordo com a região em que foi coletada a informação: região dos dentes (RD), região

do carpo (RC) e região do carpo e dentes (RCD).

a) Estimativa de idade a partir das informações da região dentes (RD)

A Tabela 4 e a Figura 11 apresentam a comparação da Idade Cronológica (IC) e a

Idade Estimada (IE) para cada grupo estudado. Para os grupos 5-6, 7-8 e 9-10 a idade foi

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25

superestimada e não houve diferença significativa entre IC e IE. Para os grupos 11-12 e 13-

14, subestimada apresentando diferença significativa entre IC e IE.

Tabela 4 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das informações da

região dos dentes

Grupo

IC IE

p Média DP Média DP

5-6 6,36 0,45 6,55 0,52 0,338NS

7-8 8,30 0,45 8,52 0,95 0,134NS

9-10 9,96 0,61 9,97 0,82 0,950NS

11-12 12,09 0,57 11,83 1,13 0,042*

13-14 13,86 0,59 13,23 1,07 0,000**

DP – desvio-padrão; ** significativo p≤0,01; * significativo p≤0,05; NS- não significativo.

Figura 11 - Comparação da Idade Cronológica com a Idade Estimada a partir das informações da

região dos dentes.

6,36

8,3

9,96

12,09

13,86

6,55

8,52

9,97

11,83

13,23

5 a 6 7 a 8 9 a 10 11 a 12 13 a 14

Idade Cronológica

Idade Estimada - RD -

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26

A Tabela 5 e o Figura 12 apresentam a comparação entre a Idade Cronológica

(IC) e a Idade Estimada (IE) para cada grupo estudado, separados por gênero. Nas meninas

a idade foi subestimada e nos meninos superestimada. Não houve diferença significativa

para as meninas nos grupos 5-6, 9-10 e 11-12. Para os meninos, não houve diferença

significativa nos grupos 7-8 e 9-10.

Tabela 5 - Comparação da Idade Cronológica com a Idade Estimada a partir das informações da

região dos dentes, por gênero.

Gênero Grupo

Idade Cronológica

Idade Estimada-

RD

p Média DP Média DP

Feminino 5-6 6,42 0,40 6,46 0,57 0,869NS

7-8 8,41 0,41 8,78 0,89 0,046*

9-10 9,97 0,60 9,85 0,83 0,385NS

11-12 12,00 0,58 11,89 1,07 0,531NS

13-14 13,79 0,60 13,27 0,88 0,001**

Masculino 5-6 6,22 0,64 6,75 0,40 NSA

7-8 8,18 0,48 8,24 0,95 0,805NS

9-10 9,95 0,62 10,09 0,81 0,291NS

11-12 12,19 0,54 11,76 1,20 0,026*

13-14 13,96 0,58 13,19 1,29 0,001**

DP – desvio-padrão; ** significativo p≤0,01; * significativo p≤0,05; NS- não significativo;

NSA – não se aplica devido ao número insuficiente de casos.

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27

Figura 12 - Comparação da Idade Cronológica com a Idade Estimada a partir das informações da

região dos dentes, por gênero.

b) Estimativa de idade a partir das informações da região do carpo (RC)

A Tabela 6 e o Figura 13 apresentam a comparação da Idade Cronológica (IC) e

a Idade Estimada (IE) para cada grupo estudado. Para todos os grupos a idade foi

superestimada. Não houve diferença significativa somente no grupo 5-6. Nos demais

grupos a diferença foi significativa para p≤0,01.

6,42

8,41

9,97

12

13,79

6,22

8,18

9,95

12,19

13,96

6,46

8,78 9,85

11,89 13,27

6,75 8,24

10,09

11,76 13,19

5 a 6 7 a 8 9 a 10 11 a 12 13 a 14 5 a 6 7 a 8 9 a 10 11 a 12 13 a 14

Feminino Masculino

Idade Cronológica

Idade Estimada - RD

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28

Tabela 6 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das informações da

região do carpo.

Grupo

Idade Cronológica Idade Estimada- RC

p Média DP Média DP

5-6 6,36 0,45 7,15 2,77 0,333NS

7-8 8,30 0,45 10,50 2,04 0,000**

9-10 9,96 0,61 12,12 1,59 0,000**

11-12 12,09 0,57 13,91 1,03 0,000**

13-14 13,86 0,59 14,58 0,72 0,000**

DP – desvio-padrão; ** significativo p≤0,01; * significativo p≤0,05; NS- não significativo.

Figura 13 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das informações da

região do carpo.

6,36

8,3

9,96

12,09

13,86

7,15

10,5

12,12

13,91 14,58

5 a 6 7 a 8 9 a 10 11 a 12 13 a 14

Idade Cronológica

Idade Estimada - RC

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29

A Tabela 7 e o Figura 14 apresentam a comparação entre a Idade Cronológica (IC) e

a Idade Estimada (IE) para cada grupo estudado, separados por gênero. Nas meninas a

idade foi superestimada e nos meninos subestimada. O único grupo no qual não houve

diferença significativa foi o 5-6 gênero feminino. Para este mesmo grupo no gênero

masculino o número de casos não foi suficiente para aplicação estatística. Para todos os

demais grupos a diferença foi estatisticamente significativa considerando p≤0,01.

Tabela 7 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das informações da

região do carpo, por gênero.

Gênero Grupo

Idade Cronológica Idade Estimada- RC

p Média DP Média DP

Feminino 5-6 6,42 0,40 7,57 2,51 0,224NS

7-8 8,41 0,41 11,39 1,48 0,000**

9-10 9,97 0,60 12,95 1,03 0,000**

11-12 12,00 0,58 14,04 0,66 0,000**

13-14 13,79 0,60 14,36 0,59 0,000**

Masculino 5-6 6,22 0,64 6,20 3,70 NSA

7-8 8,18 0,48 9,57 2,17 0,008**

9-10 9,95 0,62 11,28 1,63 0,001**

11-12 12,19 0,54 13,76 1,32 0,000**

13-14 13,96 0,58 14,88 0,77 0,000**

DP – desvio-padrão; ** significativo p≤0,01; * significativo p≤0,05; NS- não significativo;

NSA – não se aplica devido ao número insuficiente de casos

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30

Figura 14 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das informações da

região do carpo, por gênero.

c) Estimativa de idade a partir das informações da região do carpo e dentes

(RCD)

A Tabela 8 e o Figura 15 apresentam a comparação entre a Idade Cronológica

(IC) e a Idade Estimada (IE) para cada grupo estudado. Considerando os resultados do

Teste t-Student para amostras pareadas verifica-se que existe diferença significativa entre

IC e a IE para os grupos 7-8, 9-10 e 11-12 anos. Para estes grupos verifica-se que a idade

estimada é significativamente superior à idade cronológica. Já para os grupos 5-6 e 13-14

anos não houve diferença significativa.

6,42

8,41

9,97

12

13,79

6,22

8,18

9,95

12,19

13,96

7,57

11,39

12,95 14,04 14,36

6,2

9,57

11,28

13,76 14,88

5 a 6 7 a 8 9 a 10 11 a 12 13 a 14 5 a 6 7 a 8 9 a 10 11 a 12 13 a 14

Feminino Masculino

-

Idade Cronológica

Idade Estimada - RC

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31

Tabela 8 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das informações da

região do carpo e dentes.

Grupos – por

idade

Idade Cronológica Idade Estimada - RCD

p Média DP Média DP

5-6 6,36 0,45 5,50 1,64 0,111NS

7-8 8,30 0,45 8,73 1,24 0,017*

9-10 9,96 0,61 10,59 0,99 0,000**

11-12 12,09 0,57 12,71 0,96 0,000**

13-14 13,86 0,59 13,95 0,81 0,357NS

DP – desvio-padrão; ** significativo p≤0,01; * significativo p≤0,05; NS- não significativo.

Figura 15 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das informações da

região do carpo e dentes.

6,36

8,3

9,96

12,09

13,86

5,5

8,73

10,59

12,71

13,95

5 a 6 7 a 8 9 a 10 11 a 12 13 a 14

Idade Cronológica

Idade Estimada - RCD

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32

A Tabela 9 e o Figura 16 apresentam a comparação entre a Idade Cronológica e

a Idade Estimada para cada grupo estudado separados por gênero. Nota-se que o único

grupo em que houve comportamento diferente por gênero em relação à amostra total foi o

grupo 7-8. Nas meninas a idade foi superestimada e nos meninos subestimada. Não houve

diferença significativa para os grupos 5-6 e 13-14 nas meninas e nos grupos 7-8 e 13-14 nos

meninos. Nos demais grupos a diferença foi significativa.

Tabela 9 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das informações da

região do carpo e dentes, por idade e gênero.

Gênero Grupo

Idade Cronológica Idade Estimada-

RCD

p Média DP Média DP

Feminino 5-6 6,42 0,40 5,47 1,78 0,201NS

7-8 8,41 0,41 9,30 1,07 0,000**

9-10 9,97 0,60 10,80 0,95 0,000**

11-12 12,00 0,58 12,83 0,81 0,000**

13-14 13,79 0,60 13,90 0,68 0,333NS

Masculino 5-6 6,22 0,64 5,59 1,60 NSA

7-8 8,18 0,48 8,12 1,12 0,819NS

9-10 9,95 0,62 10,37 1,00 0,026*

11-12 12,19 0,54 12,58 1,09 0,010**

13-14 13,96 0,58 14,01 0,97 0,745NS

DP – desvio-padrão; ** significativo p≤0,01; * significativo p≤0,05; NS- não significativo;

NSA – não se aplica devido ao número insuficiente de casos

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33

Figura 16 - Comparação entre a Idade Cronológica e a Idade Estimada a partir das informações da

região do carpo e dentes, idade e gênero.

O teste de Análise de Variância (ANOVA) foi usado para comparar a diferença

entre as a IC e IE para RCD – Figura 17. Considerando toda a amostra e apenas o gênero

feminino, houve uma diferença significativa para p≤0,01. Para o gênero masculino, não

houve diferença significativa.

6,42

8,41

9,97

12

13,79

6,22

8,18

9,95

12,19

13,96

5,47

9,3 10,8

12,83 13,9

5,59

8,12

10,37

12,58 14,01

5 a 6 7 a 8 9 a 10 11 a 12 13 a 14 5 a 6 7 a 8 9 a 10 11 a 12 13 a 14

Feminino Masculino

Idade Cronológica

Idade Estimada - RCD

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34

Figura 17 - Comparação da diferença entre a Idade Estimada e a Idade Cronológica para a região do

carpo e dentes, considerando idade e gênero, por grupos.

0,85

- 0,43

- 0,62 - 0,63

- 0,09

0,95

- 0,90 - 0,83 - 0,83

- 0,11

0,64

0,06

- 0,42 - 0,40

- 0,05

5-6 7-8 9-10 11-12 13-14

Geral

Feminino

Masculino

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35

d) Estudo comparativo das três técnicas de estimativa de idade

A partir da comparação entre as três técnicas estudadas – Tabela 10 – este

estudo encontrou um erro médio para RD de -0,21 anos, sendo -0,14 anos para meninas e -

0,28 anos para os meninos havendo tendência, então, de subestimar a idade. Para RC o erro

médio encontrado foi 1,61 anos, sendo 1,89 anos para meninas e 1,29 anos para os

meninos, superestimando a idade. Quando foram utilizadas informações dos ossos do carpo

e dos dentes (RCD), o erro médio encontrado foi 0,39 anos, sendo 0,54 anos para meninas e

0,21 anos para meninos. A única técnica em que não houve diferença significativa entre IC

e IE foi a da região dos dentes (RD) no gênero feminino.

Tabela 10 - Comparação entre Idade Estimada (IE) e a Idade Cronológica (IC) para a região dos

dentes (RD), carpo (RC) e carpo e dentes (RCD).

Comparação

Geral Feminino Masculino

Média DP p Média DP p Média DP p

IC 11,27 2,28 0,001**

11,26 2,29 0,079

NS 11,28 2,28

0,006** IE-RD 11,06 2,16 11,12 2,18 11,00 2,15

IC 11,27 2,28 0,000**

11,26 2,29 0,000**

11,28 2,28 0,000**

IE-RC 12,88 2,35 13,15 1,99 12,57 2,69

IC 11,27 2,28 0,000**

11,26 2,29 0,000**

11,28 2,28 0,019*

IE-RCD 11,66 2,47 11,80 2,42 11,49 2,52

DP – desvio-padrão; ** significativo p≤0,01; * significativo p≤0,05; NS – não significativo.

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36

6 DISCUSSÃO

Para estimar a idade de crianças e adolescentes, vários métodos têm sido

desenvolvidos (Uysal et al., 2006; Camerire et al., 2012). A análise da maturação óssea por

meio de radiografias e a sua comparação com imagens pré-definidas de atlas e dados de

tabelas têm sido os métodos de escolha na Odontologia Legal para a identificação humana.

Sinais de maturação sexual, de altura e de peso corporal são também utilizados para

identificar estágios de crescimento (Uysa et al.l, 2006; Schmeling et al., 2008).

Um trabalho de Santoro et al. (2009) revelou que os padrões de crescimentos

dos dentes e dos ossos do carpo são semelhantes e que as radiografias são os métodos mais

objetivos para avaliar a maturidade dental e óssea.

Os métodos de estimativa de idade analisados no presente trabalho utilizam-se,

em separado ou em conjunto, de parâmetros morfológicos de dentes e ossos do carpo. Esses

métodos trabalham as informações das radiografias de uma forma quantitativa, sabidamente

mais precisa e objetiva do que as técnicas desenvolvidas anteriormente tais como Greulich-

Pyle, Demirjian ou Tanner. Além disso, possuem a vantagem de serem técnicas de fácil

execução, baixo custo e de relativa pouca exposição à radiação, em comparação com outras

técnicas radiográficas.

O tamanho da amostra analisado no presente trabalho além de ser maior que o

calculado estatisticamente colocar para validar o estudo, está próximo numericamente de

outro trabalho que já comparou estas mesmas técnicas (Cameriere et al., 2012). Já outros

trabalhos fizeram comparações entre outros métodos usando um número amostral maior

(Maber et al., 2006; Galić et al.; 2010; Pinchi et al., 2012).

A amostra utilizada no presente trabalho foi composta de crianças e

adolescentes brasileiros sem ascendência conhecida. A população brasileira, principalmente

na região sudeste, é conhecida por ser bastante heterogênea abrangendo pessoas de vários

grupos éticos (Eid et al., 2012). Assim, eventuais diferenças encontradas entre a amostra e

população geral podem ser atribuídas a muitas variáveis incluindo: a precisão do método, a

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37

estrutura etária da amostra, tamanho da amostra, a abordagem estatística e variação

biológica individual das crianças. Para este trabalho, precisão será definida como o quão

próximo à idade estimada se aproximou da idade cronológica.

Ao utilizar a fórmula matemática proposta por Cameriere et al. (2006a),

conhecida também como Fórmula Européia, este trabalho encontrou um erro médio de -

0,21 anos, equivalente a cerca de 75 dias a menos do que a idade cronológica da amostra.

Considerando os gêneros, o erro médio foi de -0,14 anos para as meninas e -0,28 anos para

os meninos. O artigo que apresentou esta fórmula trouxe um erro médio de -0.035 anos

(Cameriere et al., 2006a). De Luca et al. (2012) testaram a fórmula em uma amostra

oriunda do México e encontraram um erro médio 0,63 anos para meninas e 0,52 anos para

meninos. Fernandes et al. (2011) já haviam testado esta fórmula numa amostra brasileira e

encontraram um erro médio de 0,014 anos. Cameriere et al. (2012), analisando uma outra

população e comparando com outros métodos, encontraram um erro médio de 0,12 anos,

também subestimando as idades. Considerando os grupos estudados neste trabalho, no 5-6,

7-8 e 9-10 houve tendência a superestimar a idade; já para os grupos 11-12 e 13-14 houve

tendência a subestimar a idade cronológica. Somente no grupo 9-10 houve comportamento

diferente por gênero em relação à amostra total. Nas meninas a idade foi subestimada e nos

meninos superestimada

Em relação às estimativas de idade somente pelos ossos do carpo, há uma profusão

de métodos de natureza qualitativa, que usam de subjetividade. Neste trabalho, foi

encontrado um erro médio de 1,61 anos, tendendo a superestimar a idade em todos os

grupos estudados, sendo 1,89 anos para as meninas e 1,29 anos para os meninos. Nota-se

que o único grupo em que houve comportamento diferente por gênero em relação à amostra

total foi o grupo 5-6. Nas meninas a idade foi superestimada e nos meninos subestimada. O

artigo que apresentou a fórmula apresentou um erro médio de 1,19 anos, trabalhando com

uma amostra de crianças italianas (Cameriere et al., 2006b). Outro trabalho (Cameriere et

al., 2007) testou esta fórmula em 158 crianças eslovenas, tendo encontrado um erro médio

de 0,658 anos. Em novo levantamento de 2012, Cameriere et al. encontraram um erro

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38

médio de 0,94 anos, com tendência a subestimar, situação contrária ao nosso trabalho e a

outros citados aqui.

O terceiro método de estimativa de idade analisado no presente trabalho,

utilizando ao mesmo tempo parâmetros morfológicos de dentes e ossos do carpo de

crianças mostrou-se confiável também. Cameriere et al. (2008), introdutores desta fórmula,

analisando uma população italiana encontraram um erro médio de 0,553 anos e que as

idades estimadas para as meninas eram 0,401 anos abaixo da dos meninos. Em outro

trabalho, Cameriere et al. (2012), analisando uma outra população e comparando com

outros métodos, encontraram um erro médio de 0,520 anos, sendo que houve uma tendência

em superestimar a idade das meninas e subestimar a idade dos meninos.

No presente estudo o erro médio na estimativa da idade foi de 0,390 anos –

Tabela 10. A precisão do método foi menor para o grupo 5-6 anos e melhor para as faixas

etárias mais velhas – grupo 13-14 – e para os meninos. Considerando a amostra toda, houve

uma tendência a superestimar a idade cronológica das crianças. Na comparação por grupos

etários, o único em que a idade ficou subestimada foi o grupo 5-6 anos. Nos demais quatro

grupos a idade foi superestimada. Essa tendência estimar para menor os mais jovens e para

maior os mais velhos também foi encontrada no estudo original, e é atribuída a presença de

pontos fora da curva (Cameriere et al., 2012). No caso deste trabalho, considerando a que a

população é heterogênea, não é possível descartar que estes pontos fora da curva sejam

indivíduos cuja ascendência étnica esteja influenciando o resultado, marcadamente, para

mais ou para menos.

Quanto ao gênero, houve um comportamento diferente entre meninos e meninas

apenas no grupo 7-8 anos. Enquanto nas meninas a idade foi superestimada, nos meninos

ela foi subestimada. Nos demais grupos, o comportamento dos dois gêneros foi semelhante.

Sobre essas diferentes tendências em subestimar ou superestimar, Eid et al. (2002) e

Liversidge et al. (1999) citam uma propensão ao um maior crescimento e desenvolvimento

corporal na população nos últimos 40 anos.

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Kullman (1995) já citava a importância de utilizar mais de um sítio de coleta de

informações nas estimativas de idade. No presente trabalho, no entanto, considerando a

amostra como um todo, o método mais preciso foi o que utilizou somente informações dos

dentes (RD). Na sequencia, o mais preciso foi o que utilizou ao mesmo tempo informações

do carpo e dentes (RCD) e depois somente região do carpo (RC).

Como já citado, os resultados deste trabalho, assim como outros, está ligado às

características da amostra estudada. Considerando os grupos etários trabalhados, houve

uma distribuição desigual, com mais indivíduos nas faixas etárias mais velhas e menos nas

faixas etárias mais novas. Novos estudos conduzidos em populações brasileiras e com uma

estrutura etária da amostra mais homogênea poderiam contribuir com novos dados para

estimativa de idade em crianças e adolescentes.

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7 CONCLUSÃO

Os três métodos foram satisfatórios quando comparados entre si e com a idade cronológica.

No entanto, o método que estima a partir das radiografias panorâmicas foi o mais preciso.

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ANEXO 1