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Onda de calor de Julho de 2006:
Efeitos na mortalidade
Estimativas preliminares para Portugal Continental
Eleonora de Jesus Paixão (estatista) Paulo Jorge Nogueira (estatista)
Ana Raquel Reis Nunes (especialista em saúde pública) Baltazar Emanuel Nunes (estatista)
José Marinho Falcão (epidemiologista)
31 de Agosto de 2006
AGRADECIMENTOS Os autores desejam exprimir o seu agradecimento às seguintes instituições e pessoas
que permitiram que o presente trabalho fosse realizado:
Direcção Geral dos Registos e do Notariado e Conservatórias do Registo Civil
participantes no sistema de Vigilância da Mortalidade Diária (VMD), pela excelente
colaboração prestada no funcionamento diário desse sistema;
Instituto de Meteorologia pela sempre agradável, profícua e exemplar parceria no
sistema de vigilância ÍCARO;
Centro de Vigilância, Previsão e Informação do Instituto de Meteorologia pela
disponibilização dos dados de temperatura, em especial à Drª Clara Freitas;
Inês Batista e Anysabel Afonso, do ONSA, pela forma como gerem, todos os dias, a
colheita de dados sobre óbitos, destinados a VMD.
ÍNDICE 1. RESUMO..................................................................................................................5
2. INTRODUÇÃO..........................................................................................................7
3. MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................................8
3.1. ORIGEM DOS DADOS ......................................................................................8
3.1.1. TEMPERATURAS.......................................................................................8
3.1.2. REGISTOS DE ÓBITO................................................................................8
3.1.3. ÓBITOS ......................................................................................................8
3.2. MÉTODOS.........................................................................................................9
3.2.1. DEFINIÇÃO DO NÚMERO DE DIAS COM EXCESSO DE CALOR ............9
3.2.2. ESTIMATIVA DO EXCESSO DE ÓBITOS ..................................................9
3.2.2.1. Definição do período em que houve excesso de registos de óbito
nas CRC........................................................................................... 10
3.2.2.2. Cálculo da razão OCRC / ECRC .............................................................. 10
3.2.2.3. Número de óbitos esperados em Portugal Continental (E) ................. 11
3.2.2.4. Estimativa do excesso de óbitos ocorridos em Portugal Continental .. 11
3.2.2.5. Estimativas dos intervalos de confiança ............................................. 12
3.2.2.6. Períodos de comparação.................................................................... 12
4. RESULTADOS ....................................................................................................... 13
4.1. TEMPERATURAS............................................................................................ 13
4.2. VARIAÇÃO DO ÍNDICE ÍCARO....................................................................... 15
4.3. PERÍODOS EM QUE HOUVE EXCESSO DE REGISTOS DE ÓBITO NAS
CRC…………………………………………………………………………………...17
4.4. EXCESSO DE MORTALIDADE ASSOCIADO AO PERÍODO DE CALOR DE
7 A 17 DE JULHO............................................................................................ 19
4.4.1. REGISTOS DE ÓBITO OBSERVADOS, ESPERADOS E RAZÃO OCRC /
ECRC EM PORTUGAL CONTINENTAL ...................................................... 19
4.4.2. ESTIMATIVAS DO EXCESSO DE ÓBITOS, EM PORTUGAL
CONTINENTAL ......................................................................................... 21
5. DISCUSSÃO........................................................................................................... 23
6. REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 29
5
1. RESUMO
Introdução
Durante o mês de Julho de 2006 ocorreu em Portugal uma onda de calor que afectou
a maior parte do território do Continente. O período com temperaturas muito elevadas
durou onze dias, tendo tido início no dia 7 e cessando no dia 17. O sistema ÍCARO
identificou a possibilidade da ocorrência de excesso de mortalidade associada ao
calor, com especial relevo para algumas regiões. Por outro lado, o sistema VMD
(Vigilância da Mortalidade Diária) assinalou, a partir do dia 10 de Julho, a ocorrência
de um excesso de óbitos em relação ao esperado. Reconhecida, deste modo, a
existência de efeitos relevantes sobre a mortalidade julgou-se apropriado realizar
estimativas preliminares desse excesso de óbitos.
Material e Métodos
O excesso de registos de óbito durante o período 10 a 27 de Julho de 2006 foi obtido
com base no cálculo de 3 razões registos observados / registos esperados referentes
às 67 Conservatórias do Registo Civil que participam em VMD. Os valores esperados
corresponderam ao número de registos de óbito verificados em 3 períodos de
comparação: Junho19 – Julho5_2006, Julho4-29_2005 e Junho1-30_2006, excepto semana Junho12-
18_2006. Aquelas razões foram aplicadas à estimativa do número de óbitos esperados,
caso não tivesse ocorrido onda de calor, que foi calculada a partir da média diária de
óbitos ocorridos durante o mês de Julho de 2004, obtidos da base de dados da
mortalidade de 2004.
Resultados
As estimativas da percentagem de óbitos em excesso associados à onda de calor
tiveram os valores de 26,9%, 28,1% e 29,0%, consoante os períodos de comparação
utilizados. Para os indivíduos com 75 ou mais anos, esses valores foram mais
elevados (36,4%, 36,5% e 40,1%).
Para o período de comparação que se julga mais adequado (Junho19 – Julho5_2006) o
número de óbitos em excesso foi de +1123 (IC95% : 876 - 1381 ) para o conjunto da
população do Continente e de +898 (IC95% : 694 - 1114) para os indivíduos com 75 ou
mais anos.
6
Para os outros dois períodos de comparação os valores foram da mesma ordem de
grandeza (Julho4-29_2005 : total=1171; 75 ou mais anos =986 - Junho1-30_2006, excepto semana
Junho12-18_2006 : total = 1208; 75 ou mais anos = 895 ).
Discussão
As estimativas calculadas podem estar afectadas por algumas distorções originadas,
sobretudo, pelo facto de estarem baseadas numa amostra de CRC e não na sua
totalidade e, também, por o sistema VMD não permitir utilizar as datas dos óbitos mas
apenas as datas dos registos de óbito. Apesar disso, os resultados apresentados
constituem evidência segura de que a ocorrência da onda de calor esteve associada a
um aumento muito substancial da mortalidade da população. A confirmação das
estimativas agora apresentadas e a descrição do excesso de óbitos por outros grupos
etários, por sexo, por causa de morte e por região só será possível quando estiver
disponível a base de dados da mortalidade para o ano de 2006.
7
2. INTRODUÇÃO
Desde 1981, ocorreram em Portugal várias ondas de calor com repercussões
apreciáveis sobre a mortalidade da população: Junho de 1981, Julho de 1991, Agosto
de 2003 e Agosto de 2005. Essas repercussões foram estudadas e estão publicadas
(Garcia, Nogueira e Falcão, 1999; Paixão e Nogueira, 2003; Calado et al, 2004b;
Nogueira et al, 2005b).
Em consequência da relevância que as ondas de calor têm na saúde e na mortalidade
da população, o ONSA e o Instituto de Meteorologia desenvolveram desde 1999 o
sistema ÍCARO (Nogueira et al, 1999) destinado a prever com 3 dias de antecedência
as possíveis consequências de cada onda de calor.
Depois da grande onda de calor ocorrida em Agosto de 2003, o ONSA, a Direcção
Geral dos Registos e do Notariado e 67 Conservatórias do Registo Civil do Continente
criaram um sistema designado VMD (Vigilância da Mortalidade Diária) que reúne, em
cada dia, o número de óbitos registados no dia anterior nessas CRC.
ÍCARO e VMD estão assim em operação diária.
Durante o mês de Julho de 2006 ocorreu em Portugal uma onda de calor que afectou
a maior parte do território do Continente. O período com temperaturas muito elevadas
durou onze dias, tendo tido início no dia 7 e cessado no dia 17. O sistema ÍCARO
identificou a possibilidade da ocorrência de excesso de mortalidade associada ao
calor, com especial relevo para algumas das regiões. A partir do dia 10 de Julho, o
sistema VMD assinalou a ocorrência de excesso de óbitos em relação ao esperado.
Reconhecida, deste modo, a existência de uma situação grave julgou-se apropriado
realizar, como em situações anteriores, estimativas preliminares do eventual excesso
de óbitos associado à onda de calor.
O presente relatório apresenta as estimativas preliminares dos efeitos da onda de
calor na mortalidade da população do Continente.
8
3. MATERIAL E MÉTODOS
33..11.. OORRIIGGEEMM DDOOSS DDAADDOOSS
3.1.1. TEMPERATURAS
Foram usadas as temperaturas máximas diárias, por distrito, de Portugal Continental,
disponibilizadas pelo Instituto de Meteorologia, Centro de Vigilância Previsão e
Informação.
3.1.2. REGISTOS DE ÓBITO
Para o cálculo do número de registos de óbito observados (OCRC) e do número de
registos de óbito esperados (ECRC) foi utilizada informação dos assentos de óbito
fornecidos diariamente por uma amostra de 67 Conservatórias do Registo Civil,
distribuídas por todos os distritos de Portugal Continental, que participam no sistema
de Vigilância da Mortalidade Diária (VMD).
3.1.3. ÓBITOS
Para estimar o número de óbitos esperados (E), em Portugal Continental, foi utilizada
a base de dados da mortalidade do Instituto Nacional de Estatística, referente ao ano
de 2004.
9
33..22.. MMÉÉTTOODDOOSS A metodologia aplicada para o cálculo das estimativas preliminares foi a aplicada na
onda de calor de Julho de 2004, para estimar o excesso de mortalidade na Região do
Algarve (Falcão, et al., 2004) e na onda de calor de Agosto de 2005 em Portugal
Continental (Nogueira, et al., 2005), sendo estas metodologias um aperfeiçoamento da
que foi utilizada nas estimativas preliminares da onda de calor de Agosto de 2003
(Falcão, et al., 2003; Nogueira, 2003; Nogueira et al, 2005a; Nogueira et al, 2005b).
3.2.1. DEFINIÇÃO DO NÚMERO DE DIAS COM EXCESSO DE CALOR
O número de dias com excesso de calor foi definido com base nas temperaturas
máximas observadas e nos valores do índice ÍCARO emitidos diariamente para o
distrito de Lisboa e para as quatro Regiões1 definidas.
3.2.2. ESTIMATIVA DO EXCESSO DE ÓBITOS
Não estando ainda disponíveis dados sobre o número total de óbitos ocorridos em
Portugal, o cálculo do excesso de óbitos associado aos períodos de calor em Julho de
2006 foi realizado a partir de dois parâmetros, ambos obtidos por estimativa:
a) a proporção de excesso de registos de óbito (p);
b) o número de óbitos esperado (E) na população portuguesa durante um período de
comparação adequado.
Estes parâmetros foram calculados para toda a população e para a população com 75
ou mais anos para Portugal Continental.
Para tal foram adoptados os seguintes passos:
1. Definição do período em que se observou excesso de registos de óbito, feito
através dos dados obtidos pelo sistema de vigilância da mortalidade diária
(VMD) que inclui 67 Conservatórias do Registo Civil (CRC);
1 Regiões: Interior Norte – composto pelos distritos Bragança, Guarda, Vila Real e Viseu. Litoral Norte – composto pelos distritos Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Leiria. Litoral Sul – composto pelos distritos Lisboa, Santarém e Setúbal. Interior Sul – composto pelos distritos Castelo Branco, Portalegre, Évora, Beja e Faro.
10
2. Cálculo da razão OCRC / ECRC, feito com base nos dados das CRC, para o
período em estudo, como forma de estimar a razão O/E em Portugal
Continental;
3. Estimativa do número esperado de registo de óbitos (E) em Portugal
Continental durante o período em estudo, se a onda de calor não tivesse
ocorrido, utilizando um período de comparação adequado;
4. Estimativa do excesso de óbitos ocorrido em Portugal Continental no período
em estudo, através da aplicação da estimativa da proporção de óbitos em
excesso p obtido para as CRC ((OCRC / ECRC) -1) ao número de óbitos que teria
ocorrido em Portugal se a onda de calor não tivesse tido lugar (E).
3.2.2.1. Definição do período em que houve excesso de registos de óbito
nas CRC
O período foi definido como “o conjunto de dias consecutivos em que o número de
registos de óbito no conjunto das 67 CRC participantes em VMD, estiveram acima da
média referente ao mesmo dia da semana”.
Esta média foi calculada para o período de 8 de Junho a 6 de Julho de 2006, retirando
a semana dos feriados (12 a 18 de Junho). A necessidade de utilizar as médias de
cada um dos dias da semana, deve-se ao facto de o número de óbitos registados nas
CRC terem uma tendência geral decrescente de 2ª até 6ª feira, em grande parte
devido ao encerramento das CRC durante o sábado e o domingo.
3.2.2.2. Cálculo da razão OCRC / ECRC
A razão OCRC / ECRC foi calculada através da comparação entre o número de registos
de óbito nas 67 CRC, durante os períodos em estudo (OCRC) e o número esperado de
registos óbito (ECRC), no mesmo período, caso a onda de calor não tivesse ocorrido.
11
Registos de óbito observados nas 67 CRC (OCRC)
Os óbitos observados (dentro do sistema VMD) foram calculados pelo somatório de
todos os registos de óbito nas 67 CRC durante o período em estudo (10.06 a
26.06.2006).
Registos de óbito esperados nas 67 CRC (ECRC)
Ao contrário do número de óbitos observados, o número esperado de óbitos nos
períodos em estudo nas CRC, caso as ondas de calor não tivessem ocorrido, não
pode ser calculado directamente, necessitando de ser estimado.
Para permitir a comparação com OCRC, foi utilizado o número total de registos de óbito
no conjunto das 67 CRC em períodos de comparação diferentes com o mesmo
número de dias do período em estudo, obtendo-se assim o ECRC.
3.2.2.3. Número de óbitos esperados em Portugal Continental (E)
Não estando disponíveis dados da mortalidade de 2006, foram calculadas estimativas
de E, com base no número de óbitos ocorridos. Para tal foi utilizada a base de dados
da mortalidade mais recente (ano de 2004), e considerou-se o período de comparação
de 1.7 – 31.7.2004 (Jul1-31_2004).
As estimativas do número de óbitos (E) foram calculadas através do produto do
número de dias dos períodos em estudo pelo número médio diário de óbitos que
ocorreram em Portugal Continental, no período de comparação Jul1-31_2004 (259.1).
3.2.2.4. Estimativa do excesso de óbitos ocorridos em Portugal
Continental
A razão (OCRC / ECRC) é um bom ponto de partida para chegar à estimativa do excesso
de óbitos ocorridos em Portugal Continental enquanto os dados da mortalidade de
2006 não estiverem disponíveis.
A proporção de óbitos em excesso será assim p = ((OCRC - ECRC) / ECRC), ou seja
p = ((OCRC / ECRC) -1).
12
A estimativa do excesso de óbitos ocorrido foi, então, calculada directamente por
EXC_ÓB = E * ((OCRC/ ECRC) -1)
3.2.2.5. Estimativas dos intervalos de confiança
Os intervalos de confiança a 95% para o excesso de óbitos, para cada período de
comparação, foram obtidos através dos intervalos de confiança a 95% para a razão
observados / esperados (OCRC / ECRC), calculados através do “Método Exacto” descrito
por Silcocks, que usa a relação entre as distribuições de probabilidade Beta e
Binomial.
3.2.2.6. Períodos de comparação
Para cálculo da razão OCRC / ECRC obtida como explicado em 3.2.2.2, os óbitos
esperados (ECRC), para o primeiro período que se define adiante para o cálculo das
estimativas, foi obtido através de 3 períodos de comparação:
1) 4.07 a 29.07.2005 (Jul4 – Jul29_2005), período de 26 dias, de 2ª feira a 6ª feira;
2) 19.06 a 5.07.2006 (Jun19 – Jul5_2006), refere-se a um período de 17 dias,
imediatamente anterior ao eventual inicio da onda de calor;
3) 1.06 a 30.06.2006 com excepção da semana de 12.06 a 18.06.2006 onde os
registos de óbito sofreram alterações devido aos feriados municipais (13.06) e
nacionais (10.06 e 15.06) (Jun1-30_2006 excepto semana Jun12-18_2006), referente a um período
de 23 dias.
O cálculo do número esperado de óbitos (E) e a estimativa do excesso de óbitos em
Portugal Continental foi obtido como referido em 3.2.2.3 e 3.2.2.4 respectivamente,
tendo sido obtidas três estimativas do excesso, uma por cada proporção calculada
(p = ( (OCRC / ECRC) -1)).
13
4. RESULTADOS
44..11.. TTEEMMPPEERRAATTUURRAASS As temperaturas máximas diárias para o período de 1 a 31 de Julho de 2006, dos
distritos de Portugal Continental constam do Quadro 1.
Verificou-se que o valor da temperatura começou a aumentar a partir do dia 7 de
Julho, e mantiveram-se temperaturas elevadas até dia 18 de Julho. As cidades de
Beja e Évora, foram as que tiveram mais dias acima de 32ºC (13 dias), seguidas de
Castelo Branco, Portalegre e Setúbal com 12 dias acima de 32º C. Lisboa, Santarém e
Vila Real estiveram 10 dias com temperaturas acima de 32 ºC.
Os distritos da Guarda e Viana do Castelo registaram entre 2 a 4 dias temperaturas
elevadas.
Santarém registou durante 6 dias consecutivos temperaturas iguais ou superiores a
40ºC. Évora e Beja registaram também 5 dias com temperaturas iguais ou superiores
a 40ºC, não tendo estes sido consecutivos.
14
Quadro 1: Temperaturas máximas diárias nos distritos de Portugal continental (1 a 26 de Julho
de 2006)
Dat
a
Ave
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Bej
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Bra
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01-07-2006 nd 29 25 31 29 24 30 24 26 25 24 30 22 nd nd 23 28 25 02-07-2006 nd 27 23 28 26 23 28 24 22 26 24 25 22 25 25 21 23 20 03-07-2006 24 30 nd 27 28 26 31 23 25 28 24 27 23 28 26 22 26 25 04-07-2006 22 28 nd 26 27 25 29 24 21 26 25 26 22 28 26 22 24 23 05-07-2006 21 30 25 27 29 23 29 29 22 25 25 28 22 27 27 22 24 24 06-07-2006 22 34 30 30 33 27 33 25 26 26 26 33 24 29 29 23 30 29 07-07-2006 24 37 32 31 35 30 38 29 29 30 31 35 26 33 34 26 31 32 08-07-2006 22 37 31 33 36 29 38 28 30 27 28 35 23 30 32 23 32 31 09-07-2006 22 39 33 35 37 30 40 29 33 28 32 39 24 33 35 24 35 34 10-07-2006 23 38 31 36 37 29 38 35 32 27 33 34 23 32 35 22 35 34 11-07-2006 27 40 36 37 38 36 40 37 33 35 34 38 30 33 36 29 36 36 12-07-2006 28 39 37 35 38 35 40 33 33 33 36 39 31 40 39 31 36 36 13-07-2006 33 40 37 34 37 38 39 34 29 38 35 36 35 40 36 34 35 35 14-07-2006 35 39 37 33 36 38 39 32 31 38 36 37 36 41 37 37 35 34 15-07-2006 32 40 36 31 36 37 39 34 31 38 37 36 33 41 37 30 34 35 16-07-2006 32 41 38 34 38 39 40 33 33 39 35 38 35 41 37 32 36 37 17-07-2006 32 41 38 34 38 39 40 33 33 37 35 38 35 41 37 32 36 37 18-07-2006 33 34 27 28 29 33 32 33 25 33 32 31 30 35 33 28 26 28 19-07-2006 25 31 27 29 30 28 31 27 26 28 27 29 26 30 29 26 28 26 20-07-2006 24 36 28 30 33 28 35 27 28 30 30 33 25 32 32 24 30 29 21-07-2006 24 35 26 31 32 27 34 29 28 28 28 31 23 30 31 23 28 26 22-07-2006 24 34 27 30 33 28 34 36 26 29 28 32 24 30 31 24 28 28 23-07-2006 24 35 31 33 35 29 nd 29 30 30 29 34 23 32 32 23 33 32 24-07-2006 23 34 25 33 33 26 34 27 27 28 28 31 23 29 31 22 28 26 25-07-2006 25 35 nd 31 34 29 35 28 28 30 29 32 24 31 32 23 29 29 26-07-2006 23 34 nd 30 32 25 33 29 27 28 27 30 24 29 30 24 29 27 27-07-2006 23 31 28 27 29 25 31 33 22 26 26 29 24 28 29 24 26 25 28-07-2006 23 31 28 27 29 25 31 33 22 26 26 29 24 28 29 24 26 25 29-07-2006 25 36 29 nd 35 28 37 29 nd 29 29 35 26 31 32 26 32 31 30-07-2006 26 36 28 30 35 29 36 31 28 30 29 34 26 31 32 24 29 29 31-07-2006 24 34 nd 30 32 27 34 33 25 29 28 32 24 30 31 23 27 28
Fonte: Instituto de Meteorologia Valores a negrito: temperaturas iguais ou superiores a 32ºC Valores a azul: temperaturas iguais ou superiores a 35ºC Valores a vermelho: temperaturas iguais ou superiores a 40ºC nd – Temperaturas máximas não disponíveis
15
44..22.. VVAARRIIAAÇÇÃÃOO DDOO ÍÍNNDDIICCEE ÍÍCCAARROO
No quadro 2, podem observar-se os valores dos Índices ÍCARO emitidos diariamente
de 1 a 31 de Julho de 2006 para o distrito de Lisboa e para as Regiões Interior Norte,
Litoral Norte, Litoral Sul e Interior Sul.
No distrito de Lisboa verificaram-se cinco dias consecutivos (12 a 16 de Julho de
2006) com valores do Índice ÍCARO superior a zero. Os dias 15 e 16 de Julho
registaram os índices mais elevado de 0.26 (total da população) e de 0.28 (população
com 75 ou mais anos), tendo sido a mensagem associada a este valor “Efeito não
significativo na mortalidade nos próximos 3 dias”.
No Interior Sul, o Índice ÍCARO esteve dez dias consecutivos com valores superiores a
zero. No dia 17 de Julho o índice atingiu o valor mais elevado na região, sendo de 0.80
para o total da população e de 1.16 para a população com 75 ou mais anos, estando
por isso esta Região em “Alerta de Onda de Calor”.
No Litoral Sul, verificou-se que em nove dias consecutivos (10 a 18 de Julho de 2006)
o Índice de Ícaro apresentou valores superiores a zero. O dia 15 de Julho registou o
índice mais elevado, 0.85 (total da população) e 0.72 (população com 75 ou mais
anos).
Também se registaram no Litoral Norte nove dias consecutivos com valores do Índice
Ícaro superiores a zero. O dia 17 de Julho registou o índice mais elevado, 1.67 (total
da população) e 1.92 (população com 75 ou mais anos).
No Interior Norte, registaram-se 6 dias consecutivos com valores dos índices
superiores a zero, sendo o valor mais elevado registado no dia 12 de Julho (0.18, para
o total da população e 0,31 para os indivíduos de 75 ou mais anos).
16
Quadro 2: Valores do Índice ÍCARO diário emitidos de 1 a 31 de Julho de 2006, no distrito de
Lisboa e nas Regiões Interior Norte, Litoral Norte, Litoral Sul e Interior Sul
Lisboa Interior
Norte Litoral Norte Litoral Sul Interior Sul
Total 75+ Total 75+ Total 75+ Total 75+ Total 75+
01-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 02-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 03-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 04-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 05-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 06-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 07-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 08-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,03 09-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0,24 0,28 10-07-2006 0 0 0,05 0,13 0 0 0,08 0,01 0,36 0,55 11-07-2006 0 0 0,08 0,19 0,05 0,04 0,1 0 0,36 0,66 12-07-2006 0,02 0,02 0,18 0,31 0,21 0,2 0,26 0 0,6 0,84 13-07-2006 0,03 0,04 0,13 0,11 0,46 0,54 0,21 0,32 0,27 0,46 14-07-2006 0,06 0,06 0,1 0,09 0,84 0,87 0,32 0,24 0,36 0,41 15-07-2006 0,26 0,27 0,06 0,05 0,76 0,92 0,85 0,72 0,21 0,42 16-07-2006 0,26 0,28 0 0,08 1 0,97 0,44 0,9 0,54 0,9 17-07-2006 0 0 0,12 0,23 1,67 1,92 0,03 0,06 0,8 1,16 18-07-2006 0 0 0,14 0,12 1,02 1,37 0,34 0,34 0,33 0 19-07-2006 0 0 0 0 0,09 0,16 0 0 0 0 20-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,11 21-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 22-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,13
23-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,31
24-07-2006 0 0 0,03 0,03 0 0 0 0 0 0
25-07-2006 0 0 0,04 0,04 0 0 0 0 0 0,19
26-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
27-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
28-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
29-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,47
30-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,12
31-07-2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Interior Norte – composto pelos distritos Bragança, Guarda, Vila Real e Viseu. Litoral Norte – composto pelos distritos Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Leiria. Litoral Sul– composto pelos distritos Lisboa, Santarém e Setúbal. Interior Sul – composto pelos distritos Castelo Branco, Portalegre, Évora, Beja e Faro.
17
44..33.. PPEERRÍÍOODDOOSS EEMM QQUUEE HHOOUUVVEE EEXXCCEESSSSOO DDEE RREEGGIISSTTOOSS DDEE
ÓÓBBIITTOO NNAASS CCRRCC
O período definido foi estabelecido segundo a média calculada para cada dia da
semana para o total de registos de óbito e para os registos de óbito dos indivíduos
com 75 ou mais anos (Quadro 3).
Quadro 3: Número médio diário de registos de óbito (em toda a população e nos indivíduos
com 75 ou mais anos) por dia da semana, no conjunto das 67 CRC, de 8 de Junho a 6 de Julho
de 2006, retirando a semana dos feriados (12 a 18 Junho de 2006)
2.ª Feira 3.ª Feira 4.ª Feira 5.ª Feira 6.ª Feira Portugal Continental (Total Óbitos) 329 213.3 200.3 197.5 210.3 Portugal Continental (Óbitos indivíduos com idade � 75 anos)
194 117 115.3 111.5 117.3
Através deste critério, pode observar-se um excesso de registos de óbito nas 67 CRC,
que se iniciou no dia 10 de Julho, 3 dias depois do dia em que a temperatura começou
a aumentar e que esse número se manteve elevado até ao dia 26 de Julho (Quadro 4).
18
Quadro 4: Registos de óbito (em toda a população e em indivíduos de 75 ou mais anos), nas
67 CRC, em Portugal Continental no período 01.07 a 31.07.2006
Total Diferença**
Indivíduos de 75 ou
mais anos
Diferença**
01-07-2006* 8 -1,7 5 1,0 02-07-2006* 10 -0,3 6 -0,3 03-07-2006 307 -22,0 172 -22,0 04-07-2006 204 -9,3 113 -4,0 05-07-2006 194 -6,3 114 -1,3 06-07-2006 193 -4,5 105 -6,5 07-07-2006 216 5,7 118 0,7 08-07-2006* 1 -8,7 1 -3,0 09-07-2006* 0 -10,3 0 -6,3 10-07-2006 391 62,0 232 38,0 11-07-2006 233 19,7 129 12,0 12-07-2006 231 30,7 131 15,7 13-07-2006 251 53,5 140 28,5 14-07-2006 239 28,7 134 16,7 15-07-2006* 16 6,3 11 7,0 16-07-2006* 19 8,7 12 5,7 17-07-2006 416 87,0 279 85,0 18-07-2006 368 154,7 246 129,0 19-07-2006 297 96,7 185 69,7 20-07-2006 271 73,5 159 47,5 21-07-2006 254 43,7 153 35,7 22-07-2006* 12 2,3 5 1,0 23-07-2006* 17 6,7 7 0,7 24-07-2006 355 26,0 225 31,0 25-07-2006 277 63,7 166 49,0 26-07-2006 229 28,7 145 29,7 27-07-2006 184 -13,5 98 -13,5 28-07-2006 213 2,7 134 16,7 29-07-2006* 0 -9,7 0 -4,0 30-07-2006* 21 10,7 11 4,7 31-07-2006 320 -9,0 189 -5,0
* corresponderam a sábados e domingos. ** Diferença entre o número total de registos de óbito e o número médio de registos de óbito por dia da semana de 8 de Junho a 6 de Julho de 2006, retirando a semana dos feriados (12 a 18 Junho de 2006) (Quadro 3).
19
44..44.. EEXXCCEESSSSOO DDEE MMOORRTTAALLIIDDAADDEE AASSSSOOCCIIAADDOO AAOO PPEERRÍÍOODDOO
DDEE CCAALLOORR DDEE 77 AA 1177 DDEE JJUULLHHOO
4.4.1. REGISTOS DE ÓBITO OBSERVADOS, ESPERADOS E RAZÃO OCRC /
ECRC EM PORTUGAL CONTINENTAL
O número total de registos de óbito (3876) no conjunto das 67 CRC no período em
estudo (10.7 a 26.7.2006) foi superior ao número de óbitos esperados (Quadro 5),
usando qualquer um dos três períodos de comparação Jul4-29_2005 ; Jun19 – Jul5_2006 e
Jun1-30_2006 excepto semana Jun12-18_2006 (3025,3; 3053,0 e 3004,6 respectivamente).
O número total de registos de óbito (indivíduos com 75 ou mais anos) no conjunto das
67 CRC foi de 2359, no período em estudo (10.7 a 26.7.2006). Este valor foi superior
ao número de registos de óbito esperados (indivíduos com 75 ou mais anos), nos três
períodos de comparação (1683,6; 1728,0 e 1729,6 respectivamente) (Quadro 5).
20
Quadro 5: Número de registos de óbito observados, esperados, excesso de registos de óbito,
razão observados/esperados e seu intervalo de confiança a 95% e proporção de registos de
óbito em excesso (p) no sistema VMD, no período em que se registaram efeitos do calor na
mortalidade (10.07 a 26.07), segundo três períodos de comparação (Jul4 – Jul29_2005; Jun19 –
Jul5_2006 e Jun1-30_2006 excepto semana Jun12-18_2006)
Período de comparação
Jul4 – Jul29_2005
Período de comparação
Jun19 – Jul5_2006
Período de comparação
Jun1-30_2006 excepto
semana Jun12-18_2006
Portugal Continental
Total
Indivíduos de 75 ou
mais anos Total
Indivíduos de 75 ou
mais anos Total
Indivíduos de 75 ou
mais anos Nº de registos de óbito observados (OCRC) de 10.07 a 26.07.2006
3876 2359 3876 2359 3876 2359
Nº de registos de óbito esperados em 17 dias (ECRC)*
3025,3 1683,6 3053,0 1728,0 3004,6 1729,6
Excesso de registos de óbito (OCRC -ECRC) 850,7 675,4 823,0 631,0 871,4 629,4
Razão OCRC/ECRC
1,281
(1,221;1,344)
1,401
(1,316;1,492)
1,269
(1,210;1,332)
1,365
(1,282;1,453)
1,290
(1,230;1,353)
1,364
(1,281;1,452)
p = (OCRC / ECRC ) -1 0,281 0,401 0,269 0,365 0,290 0,364
Período em que decorreram efeitos da onda de calor no registo de óbitos: 10.7 a 26.7.2006 (17 dias) *O nº de registos de óbito esperados foi calculado: (Média Nº de registos de óbito observados Jul 4-29 2005 * 17 dias) **O nº de registos de óbito esperados foi calculado: (Média Nº de registos de óbito observados Jun 19 - Jul 5_2006 * 17 dias) ***O nº de registos de óbito esperados foi calculado: (Média Nº de registos de óbito observados Jun1-30_2006 excepto semana
Jun12-18_2006 * 17 dias) (.;.) IC 95% da estimativa
Dos três períodos de comparação utilizados a razão observados / esperados
(OCRC/ECRC) foi mais elevada para Portugal Continental, quando utilizado o período de
Jun1-30_2006 excepto semana Jun12-18_2006 onde se obteve a razão de 1,290 , ou seja com uma
estimativa de p de 0,29.
Pelo contrário, a menor razão observados / esperados (OCRC/ECRC) para Portugal
Continental foi obtida através do período de comparação Jun19 – Jul5_2006, com o valor
de 1,269, sendo a respectiva proporção 0,269.
Para os registos de óbito nos indivíduos com 75 ou mais anos em Portugal
Continental, a razão observados / esperados (OCRC/ECRC) foi mais elevada quando
21
utilizado o período de comparação Jul4 – Jul29_2005, obtendo-se uma razão de 1,401, ou
seja com uma estimativa de p de 0,401. No entanto, a menor razão observados /
esperados (OCRC/ECRC), foi obtida através do período de comparação de Jun1-30_2006
excepto semana Jun12-18_2006, tendo-se estimado uma proporção p de 0,364.
4.4.2. ESTIMATIVAS DO EXCESSO DE ÓBITOS, EM PORTUGAL
CONTINENTAL
Depois de calculadas as proporções de excesso de registos de óbito, pode-se então
estimar o excesso de óbitos ocorrido em Portugal Continental, associados ao calor no
período de 7 a 17 de Julho de 2006.
As estimativas foram calculadas com base no período de comparação Jul1-31 2004,
tendo em atenção as três estimativas calculadas para a proporção (p). O valor máximo
obtido para o total de excesso de óbitos em Portugal Continental foi +1207,7 óbitos,
obtido pela proporção calculada com o período de comparação Jun1-30_2006 excepto semana
Jun12-18_2006 (Quadro 6).
Para os indivíduos com 75 e mais anos, o valor máximo obtido para a estimativa do
excesso de óbitos foi de +985,9 óbitos, obtido pela proporção calculada com o período
de comparação Jul4 – Jul29_2005 (Quadro 6).
22
Quadro 6: Estimativas do excesso de óbitos total e em indivíduos com 75 ou mais anos,
associados ao período de calor de 7 a 17 de Julho de 2006, em Portugal Continental, utilizando
os três períodos de comparação.
Período de comparação Jul4 – Jul29_2005
Período de comparação Jun19 – Jul5_2006
Período de comparação Jun1-30_2006 excepto semana
Jun12-18 2006
Portugal Continental
Total Indivíduos de 75 ou
mais anos Total
Indivíduos de 75 ou
mais anos Total
Indivíduos de 75 ou
mais anos p=(OCRC / ECRC ) -1 0,281 0,401 0,269 0,365 0,290 0,364
Excesso de óbitos *
1170,8
(921,7;1432,4)
985,9
(775,8;1210,3)
1122,5
(876,3;1381,0)
897,5
(694,3;1114,4)
1207,7
(956,5;1471,7)
894,5
(691,5;1111,1)
Nº médio diário de óbitos total ocorridos em Portugal Continental de Jul1-31 2004 = 244,9; Nº médio diário de óbitos em indivíduos de 75 ou mais anos, ocorridos em Portugal Continental de Jul1-31 2004 = 144,6 Nº total de óbitos esperados em Portugal Continental no período da onda de calor: 244,9 × 17 dias = 4163,9 Nº de óbitos esperados para os indivíduos de 75 ou mais anos em Portugal Continental no período da onda de calor: 144,6 × 17 dias = 2457,9 * Estimativa do excesso de óbitos atribuíveis à onda de calor de 7 a 17 de Julho, em Portugal Continental: Nº óbitos esperados x p (.;.) IC 95% da estimativa Considerou-se que as melhores estimativas do excesso de óbitos (Total: +1123 óbitos;
75 ou mais anos: +898) são as resultantes da utilização do período Jun 19 - Jul 5_2006
já que este é o período de comparação imediatamente anterior ao início da onda de
calor.
23
5. DISCUSSÃO Entre 7 e 17 de Julho de 2006 uma onda de calor de apreciável intensidade afectou o
território do Continente. A ocorrência de um excesso de óbitos associado a esse
fenómeno foi prevista pelos valores do índice ÍCARO, sobretudo ao nível de cada uma
das quatro regiões a que ele se aplica.
Os conhecimentos adquiridos com o estudo dos efeitos na mortalidade de anteriores
ondas de calor, especialmente as de Junho de 1981, Julho de 1991 e Agosto de 2003,
tornaram viável o cálculo de estimativas preliminares e precoces sobre o número total
de óbitos que poderão ter estado associados a esta onda de calor.
Por outro lado o sistema VMD (Vigilância da Mortalidade Diária), resultante de uma
colaboração entre a Direcção Geral do Registos e do Notariado e 67 das
Conservatórias do Registo Civil e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge,
através do ONSA, está em funcionamento desde 2004 e os seus dados diários
constituíram a base para o cálculo das estimativas, como aliás tinha já acontecido nas
ondas de calor de Agosto de 2004, circunscrita ao Algarve, e de Agosto de 2005.
As estimativas preliminares obtidas indicam um excesso de cerca de 1123 óbitos, dos
quais mais de 898 ocorreram em pessoas com 75 anos ou mais.
Importa discutir alguns aspectos relevantes relacionados com estas estimativas
preliminares.
1. As causas de óbito associadas ao calor
A exposição intensa e prolongada ao calor pode causar a morte de forma directa,
sobretudo através do designado “golpe de calor”. No entanto estes óbitos são apenas
uma pequeníssima percentagem da totalidade dos óbitos que uma onda de calor
intensa pode originar. Por exemplo, apenas 0,07% (14) dos cerca de 1953 óbitos
associados à onda de calor de Agosto de 2003 foram provocados por “Golpe de calor”.
Pelo contrário, o excesso de óbitos por doenças cérebro-vasculares atingiu 850,
correspondente a 43,5% do total de óbitos. (Calado R. et al, 2004a; Calado R. et al,
2004b)
24
Torna-se, assim, muito claro que a contagem do número de óbitos associados
directamente ao calor constitui uma estimativa enormemente afastada da realidade e
que não deve ser utilizada para estabelecer o impacto de uma onda de calor na
mortalidade.
A única forma adequada para calcular a totalidade do efeito de uma onda de calor na
mortalidade de uma população consiste em comparar o número de óbitos observados
durante o período em que a onda de calor origina óbitos e o número de óbitos
esperados nesse período, caso a onda de calor não tivesse ocorrido.
2. Estimativas precoces e tardias do efeito na mortalidade
Por razões óbvias, a base de dados, oficial, completa e validada, da mortalidade para
cada ano só pode ser disponibilizada pelo Instituto Nacional de Estatística durante o
ano seguinte àquele em que o fenómeno ocorreu. Por isso, as estimativas muito
precoces, como as que se divulgam neste relatório, exigem a utilização de outras
fontes de dados, ainda que de menor qualidade.
As estimativas precoces podem ser calculadas com dados obtidos diariamente de uma
amostra de Conservatórias do Registo Civil (CRC).
O sistema VMD permite estimar em simultâneo, o número de registos de óbitos
efectuados durante o período em que a onda de calor tem efeitos na mortalidade e o
número de registos que tiveram lugar em períodos de referência adequados nos quais
não ocorreu onda de calor.
As estimativas assim obtidas têm a enorme vantagem de serem muito precoces,
podendo ser calculadas assim que os efeitos da onda de calor, comprovadamente,
tenham cessado. Porém, e como é natural, estão condicionadas por um certo número
de limitações que se descrevem a seguir.
a. A rede VMD inclui apenas 67 CRC, embora estas representem cerca de 2/3 da
totalidade dos óbitos do Continente. Por isso, as estimativas calculadas para o
nível regional são frágeis e, em geral, não são utilizadas.
b. Os dados obtidos apenas permitem estimar o número total de óbitos e os que
ocorrem em indivíduos com 75 anos e mais. De facto o VMD não colhe dados
sobre o sexo e as causas de morte dos indivíduos. Estas limitações resultam
25
da necessidade de obter os dados diariamente, com o necessário sacrifício de
informação mais detalhada.
c. Pela mesma necessidade de rapidez, os dados colhidos diariamente não
incluem a data do óbito mas apenas a data do registo do óbito. Este facto torna
mais difícil identificar o período durante o qual se verificou a ocorrência de
excesso de óbitos.
3. As causas que poderiam estar na origem do excesso de óbitos estimado
Apesar das limitações apontadas, e face à experiência anteriormente adquirida com a
utilização deste tipo de dados, considera-se que as estimativas preliminares agora
apresentadas correspondem bem ao excesso de óbitos efectivamente ocorrido.
No entanto, esta associação temporal entre a onda de calor e o excesso de
mortalidade poderia não ser de natureza causal e o excesso de óbitos ter,
efectivamente, origem noutro tipo de fenómeno, como os que se indicam adiante.
a. Os incêndios e as suas consequências
Como é frequente, a onda de calor em estudo ocorreu em simultâneo com uma vaga
de incêndios. Sabe-se que algumas das mortes verificadas no período em estudo
poderão ter resultado da acção directa do fogo. De facto, e de acordo com a
comunicação social, 6 óbitos por carbonização verificaram-se no dia 9 de Julho. Esses
óbitos poderão não ter sido registados em nenhuma das CRC participantes em VMD.
Contudo, mesmo que o tenham sido o seu pequeno número não influencia, de modo
relevante, as estimativas calculadas.
Por outro lado não está disponível informação sobre eventuais mortes provocadas
pela ocorrência de outros fenómenos ligados a incêndios, como inalação de fumos ou
acidentes durante as operações de combate ao fogo. Contudo, julga-se que a
comunicação social não relatou casos graves causados por tais fenómenos no período
em causa. Assim, afigura-se que tais ocorrências não terão contribuído para o excesso
de óbitos estimado.
26
b. O aumento da população durante o mês de Julho
A população presente no Continente durante o mês de Julho poderá ser superior à do
mês de Junho, onde estão incluídos dois dos períodos de comparação ( a. 19 de
Junho a 6 de Julho e b. todo o mês de Junho, excepto a semana de 12 a 18.6 devido
à existência de feriados) que foram utilizados para calcular a razão O/E. Esse aumento
da população presente poderá ser responsável pelo aumento do número de óbitos em
Julho. No entanto, o provável aumento da população em Julho, em relação a Junho,
será provocado, sobretudo, pela presença de turistas e pelas férias de emigrantes. As
características destes dois grupos não deverão estar na origem de um aumento
relevante do número de óbitos ocorridos em Julho em relação aos ocorridos nos
períodos de comparação que incluem Junho. De facto, esses grupos são constituídos
essencialmente por pessoas jovens ou de meia-idade e não por pessoas idosas que,
essas sim, têm um risco mais elevado de morrer pelo calor.
Esta afirmação é apoiada pelos resultados obtidos por VMD no mês de Julho de 2005,
no período (4.7 a 29.7) utilizado como período de comparação no estudo da onda de
calor de Agosto de 2005. De facto o número médio diário de registos de óbito
efectuados pelas CRC participantes em VMD foi de 178. O número médio diário de
registos nos períodos de comparação que incluíram Junho de 2006, foram
respectivamente 180 (período: 19.6 a 1.7.2006) e 177 (período: mês de Junho,
excepto a semana de 12 a 18, devido aos feriados).
Uma situação equivalente verifica-se quando se consideraram apenas os óbitos
ocorridos em indivíduos com 75 anos ou mais. Assim, o número médio diário de
registos de óbito nesse grupo etário foi da mesma ordem de grandeza nos três
períodos referidos: 102 (período: 19.6 a 5.7.2006), 102 (período: mês de Junho,
excepto a semana de 12 a 18, devido aos feriados) e 99 (4.7 a 29.7.2005).
Estes dados geram forte evidência de que, apesar do provável aumento da população,
o número médio diário de óbitos ocorridos fora dos períodos com ondas de calor é
semelhante em Junho e em Julho.
c. Outros eventos
Um excesso de mortalidade tão elevado poderia ocorrer devido a várias hipotéticas
causas como, por exemplo, terramoto, cheias ou outras catástrofes naturais muito
27
violentas, acidentes aéreos, ferroviários, rodoviários ou marítimos de grandes
dimensões, actos terroristas com graves consequências ou epidemia de doença com
elevada letalidade. Não há conhecimento de que tenham ocorrido fenómenos desta
natureza durante o período em estudo.
Nestas condições, considera-se que ocorreu um apreciável excesso de mortalidade de
cerca de 1123 óbitos, num período que começou três dias após o inicio da onda de
calor e que se prolongou até alguns dias depois dela ter terminado. Essa onda de
calor é a explicação mais plausível para o excesso de óbitos registado.
4. Razões para as estimativas de excesso de mortalidade serem mais elevadas
do que o previsto pelo sistema de vigilância ÍCARO
O excesso de óbitos estimado neste relatório foi superior ao excesso de mortalidade
prevista pelos índices ÍCARO em cerca de 30%. Que razões podem estar na base
desta diferença?
a) O Instituto de Meteorologia (IM) considerou oficialmente esta ocorrência de
calor como a maior onda de calor ocorrida em Julho desde 1941 dando
relevo à extensão territorial do fenómeno e ao elevado número de noites
tropicais (temperaturas mínimas acima de 20ºC) consecutivas. Existem na
literatura científica sobre efeitos de ondas de calor referências a casos onde a
temperatura mínima parece ter um papel relevante. Da experiência ÍCARO
para Portugal Continental o uso da temperatura máxima demonstrou ser
sempre mais relevante para a modelação do fenómeno. Pode acontecer que o
facto de se tratar de uma ocorrência de calor que não faz parte da experiência
do sistema de vigilância ÍCARO e dos seus modelos, que se baseiam
essencialmente nos dados dos últimos 26 anos, explique estas aparentes
diferenças de impacto.
b) A reduzida actividade gripal sazonal observada no Inverno de 2005/2006,
numa situação similar ao ocorrido em 2002/2003, poderá ter gerado um
número não habitual de indivíduos susceptíveis à ocorrência de calor e
consequentemente gerado um maior número de óbitos.
28
Estas razões parecem indiciar que investigação adicional terá de ser feita, para
averiguar a exacta dimensão do fenómeno ocorrido.
Estimativas mais exactas sobre a dimensão dos efeitos na mortalidade, a sua
distribuição por outros grupos etários, por género, por região e por causa serão
calculadas assim que a base de dados da mortalidade para 2006 estiver disponível
para análise.
29
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