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UNIVERSIDADE PAULISTA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGIAS DA ASSOCIAÇÃO DE FRANQUEADOS NAS RELAÇÕES COM O FRANQUEADOR Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Administração da Universidade Paulista - UNIP, para a obtenção do título de Mestre em Administração. TELMO JOSÉ MAGALHÃES DA SILVA SÃO PAULO 2015

ESTRATÉGIAS DA ASSOCIAÇÃO DE FRANQUEADOS NAS ... - unip… · Revisão de Dinan Dhom Pimentel Sátyro – revisora autorizada pela UNIP. Autorizo a reprodução e divulgação

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UNIVERSIDADE PAULISTA

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO

ESTRATGIAS DA ASSOCIAO DE

FRANQUEADOS NAS RELAES COM O

FRANQUEADOR

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Paulista - UNIP, para a obteno do ttulo de Mestre em Administrao.

TELMO JOS MAGALHES DA SILVA

SO PAULO

2015

UNIVERSIDADE PAULISTA

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO

ESTRATGIAS DA ASSOCIAO DE

FRANQUEADOS NAS RELAES COM O

FRANQUEADOR

TELMO JOS MAGALHES DA SILVA

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Paulista - UNIP, para a obteno do ttulo de Mestre em Administrao.

Orientador: Prof. Dr. Pedro Lucas de Resende Melo

rea de Concentrao: Estratgia e seus Formatos Organizacionais

Linha de Pesquisa: Estratgia Empresarial.

SO PAULO

2015

Reviso de Dinan Dhom Pimentel Styro revisora autorizada pela UNIP.

Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Catalogao da Publicao

Silva, Telmo Jos Magalhes da. Estratgias da associao de franqueados nas relaes com o franqueador / Telmo Jos Magalhes da Silva. - 2015. 91 f. : il. color.

Dissertao de Mestrado apresentado ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Paulista, So Paulo, 2015. rea de concentrao: Estratgia e seus formatos organizacionais. Orientador: Prof. Dr. Pedro Lucas de Resende Melo. Coorientador: Prof. Dr. Roberto Bazanini.

1. Redes de franquias. 2. Associao de franqueados. 3. Estratgia. 4. Empreendedorismo. I. Melo, Pedro Lucas de Resende (orientador). II. Bazanini, Roberto (coorientador). III. Ttulo.

TELMO JOS MAGALHES DA SILVA

ESTRATGIAS DA ASSOCIAO DE

FRANQUEADOS NAS RELAES COM O

FRANQUEADOR

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Paulista - UNIP, para a obteno do ttulo de Mestre em Administrao.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

___________________________/___/______

Prof. Dr. Pedro Lucas de Resende Melo Orientador UNIP

___________________________/___/______

Prof. Dr. Giancarlo Gomes Universidade de Blumenau - FURB

___________________________/___/______

Prof. Dr. Roberto Bazanini UNIP

DEDICATRIA

A minha me Salvelina, nordestina guerreira que dedicou a sua vida criao

e educao dos filhos com vasta sabedoria.

Aos meus filhos Carol e Mateus, com admirao, estima, afeto e gratido pelo

seu apoio incondicional, carinho e presena sempre ao meu lado, principalmente

durante o perodo do mestrado.

AGRADECIMENTOS

quele que se tornou mais que um orientador, um verdadeiro amigo e

incentivador deste trabalho, professor Pedro Lucas de Resende Melo, estimulando e

encorajando sempre para que eu pudesse vencer mais esta etapa em minha vida.

Aos professores da UNIP pelas disciplinas ministradas.

Ao professor Roberto Bazanni, procurando que eu pudesse buscar fazer o

meu melhor.

Ao professor Giancarlo Gomes, no medindo distncia para dar a honra de

compor a banca de defesa, em um momento to importante para mim.

Aos meus colegas e amigos de mestrado, com quem tive a oportunidade de

conviver durante estes anos.

Ao SENAC Osasco, pelo apoio e incentivo com o custeio desta pesquisa.

Aos meus filhos, que tanto colaboraram para que este momento to precioso

da minha vida finalmente chegasse.

A todos, minha gratido.

Os grandes navegadores devem sua reputao

aos temporais e tempestades.

Epicuro (341-270 a.C.)

RESUMO

O objetivo desta dissertao consiste em identificar as estratgias e aes das associaes de franqueados nos relacionamentos entre franqueador e franqueados das redes de franquias, utilizando como exemplo a rede de organizaes no ramo de franquias de idiomas. O princpio orientador terico consiste na afirmativa de que a rede de negcios ordenada por relacionamentos sociais de diversas variveis. Assim, a pergunta a ser investigada : quais prticas de gesto so adotadas pelas associaes de franqueados por intermdio dos relacionamentos entre franqueador e franqueados? Considerando que sinais indicam uma literatura incipiente acerca do tema, justifica-se uma anlise mais aprofundada das fontes de autores, os quais afirmam a existncia de benefcios quando da aplicao do raciocnio das variveis sociais nas redes de negcios. O resultado final desta pesquisa indicou a existncia de confiana plena apenas em uma parte dos componentes da rede, assim como de cooperao parcial entre eles. Como principal ao da associao de franqueados destaca-se a representao dos diversos anseios expressados pelos franqueados junto aos franqueadores. Sob o foco da forma de governana exercida pela associao de franqueados, pode-se ver que as regras e as penalidades que compem seu estatuto so conhecidas e aplicadas. A influncia dos lderes que compem a Diretoria da associao e o processo de votao nas reunies da associao de franqueados so fatores determinantes na forma de soluo de conflitos. Como contribuio gerencial este trabalho procura trazer conhecimento aos empreendedores que desejam realizar investimentos no segmento de franchising, aos franqueados mostra a necessidade da utilizao de ferramentas de gesto no gerenciamento do seu negcio, e para os franqueadores apresenta contribuies para a gesto e expanso da marca da sua franquia.

Palavras-chaves: Redes de Franquias. Associao de Franqueados. Estratgia. Empreendedorismo.

ABSTRACT

The aim of this dissertation is to identify the strategies and actions of the franchisee associations in the relationship between franchiser and franchisee from the franchise network, having the network of organizations as an example in the trade of languages franchises. The theoretical guiding principle consists in the premise that the business network is guided through social relationships of different variables. Then, the question to be researched is: Which management actions are adopted by the franchisee associations through relationships between franchiser and franchisee? Considering that signals indicate a beginning literature about the subject, a deeper analysis of the authors is warranted, which affirms the existence of benefits when we apply the reasoning of social variables in the business network. The final result of this research indicated the existence of entire trust, but only from part of the network compounds and a partial cooperation. As a franchisee association main action we can mention the representation of different aspirations expressed by the franchisee with the franchisers, which indicated the rules that compose its by-law and the penalties are known and applied as a way of governance carried out by the franchisee association. The influence of the leaders that compose the association board of directors and the voting process in the franchisee association meetings are decisive factor to solve problems. As a managerial contribution this work seeks to bring knowledge to the entrepreneurs who wish to invest in the franchising trade, to the franchisees it shows the need for the use of management tools for the proper management of their business, and for the franchisers it presents contributions in the management and expansion of its franchise brand.

Keywords: Franchising network, Franchisee association, Strategy, Entrepreneurship.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Definies de empreendedorismo e o contexto do franchising .............. 18

Quadro 2 Processo empreendedor e o franchising ................................................ 19

Quadro 3 Tipos de Franquias ................................................................................. 30

Quadro 4 Evoluo das Franquias no mundo e no Brasil ...................................... 30

Quadro 5 Vantagens e Desvantagens dos Franqueados ....................................... 33

Quadro 6 Vantagens e Desvantagens do Franqueador ......................................... 34

Quadro 7 Convergncias e Divergncias entre Franqueados e Franqueador ....... 35

Quadro 8 Indicadores da varivel cooperao ....................................................... 46

Quadro 9 Formas de Governana .......................................................................... 49

Quadro 10 Unidades representadas pela associao ............................................ 56

Quadro 11 Variveis da Pesquisa .......................................................................... 59

Quadro 12 Resultado da Pesquisa ......................................................................... 69

Quadro 13 Resultado Agrupado da Pesquisa ........................................................ 75

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 Faturamento do Setor de Franchising Brasileiro ..................................... 20

Grfico 2 Nmero de unidades franqueadas do Setor de Franchising Brasileiro ... 21

Grfico 3 Comparativo entre o PIB Brasileiro x PIB do Franchising Brasileiro ....... 21

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Framework: Problema de Pesquisa ......................................................... 26

Figura 2 Framework: Referencial Terico .............................................................. 28

Figura 3 Governana .............................................................................................. 48

Figura 4 Organograma da Associao ................................................................... 55

Figura 5 Resultado da Pesquisa Diretoria Associao ........................................... 70

Figura 6 Resultado da Pesquisa Franqueados da Regio do ABC ........................ 71

Figura 7 Resultado da Pesquisa Franqueados SP Capital .................................... 72

Figura 8 Resultado da Pesquisa Franqueados Grande SP .................................... 73

Figura 9 Resultado da Pesquisa Franqueador ....................................................... 74

LISTA DE SIGLAS

ABF Associao Brasileira de Franchising

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

EBSCO Elton Bryson Stephens Company

SCIELO Scientific Electronic Library Online

http://www.scielo.org/

SUMRIO

1 INTRODUO ................................................................................................... 14

1.1 Estratgia e empreendedorismo ..................................................................... 15

1.2 O Sistema de Franchising .............................................................................. 19

1.3 Formulao do problema de pesquisa............................................................ 23

1.4 Estrutura de contedo .................................................................................... 26

2 REVISO BIBLIOGRFICA.............................................................................. 28

2.1 Redes de franquias: Conceitos centrais ......................................................... 28

2.2 Associao de franqueados ........................................................................... 35

2.3 Relacionamentos em redes de franquias ....................................................... 38

2.4 Conflitos e cooperao ................................................................................... 43

2.5 Governana .................................................................................................... 47

2.6 Governana formal e informal ........................................................................ 49

3 METODOLOGIA ................................................................................................ 52

3.1 Objeto de estudo ............................................................................................ 53

3.2 Perfil e caracterizao da associao de franqueados................................... 53

3.3 Seleo da amostra ........................................................................................ 55

3.4 Coleta de dados ............................................................................................. 57

3.5 Construo das variveis de pesquisa ........................................................... 59

4 APRESENTAO E ANLISE INTRA-CASOS ............................................... 60

4.1 Confiana ....................................................................................................... 60

4.2 Cooperao .................................................................................................... 61

4.3 Conflitos .......................................................................................................... 62

4.4 Soluo de conflitos........................................................................................ 63

4.5 Governana .................................................................................................... 65

4.6 Aes da associao de franqueados ............................................................ 66

5 ANLISE DOS RESULTADOS ......................................................................... 68

5.1 Diretoria da associao de franqueados ........................................................ 70

5.2 Franqueados regio do ABC .......................................................................... 70

5.3 Franqueados SP Capital ................................................................................. 71

5.4 Franqueados Grande SP ................................................................................ 72

5.5 Franqueador ................................................................................................... 73

6 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 75

6.1 Contribuies .................................................................................................. 77

6.2 Limitaes da pesquisa .................................................................................. 77

6.3 Sugestes de pesquisas futuras ..................................................................... 78

REFERNCIAS......................................................................................................... 79

APNDICE ................................................................................................................ 89

14

1 INTRODUO

A base do sistema de franchising a relao do franqueador e franqueado,

sendo esta relao sustentada por contratos entre as duas partes. O franchising

pode ser considerado uma forma de estratgia cooperativa, pois a sua adoo

possibilita o compartilhamento das competncias e a dissipao dos riscos

envolvidos no negcio que envolve recursos tangveis e intangveis para o

franqueador e franqueado; por exemplo: suporte financeiro e de marketing,

treinamentos, comercializao dos produtos ou servios. (MAHONEY & PANDIAN,

1992; COMBS & KETCHEN, 1999; SHANE, 2005; GILLIS, 2007).

No sistema de negcios o sistema de franchising possui diversas perspectivas.

Para Shane (2005) uma forma de fomentar a postura empreendedora na relao

franqueador e franqueado; baixa fonte de recursos financeiros para o franqueador

(NORTON, 1995).

Empreendedores so incentivados utilizao do franchising como estratgia

de expanso de seus negcios, bem como crescimento veloz e aprofundamento em

novos mercados (SHANE,1996)

Por sua vez, o mercado de franquias no Brasil vem apresentando contnuo

crescimento nos ltimos anos. No ano de 2013 o setor obteve faturamento acima de

R$ 115 bilhes, com uma taxa de crescimento de 11,9% em relao ao ano de 2012.

No item postos de trabalho gerados pelo sistema de franchising no Brasil, este

representa aproximadamente 1,029 milhes de empregos diretos, com uma taxa de

crescimento de 9,4% em relao ao ano de 2012. (ASSOCIAO BRASILEIRA DE

FRANCHISING, 2014 a).

O crescimento vivenciado pelo sistema de franchising tem despertado a

ateno acadmica, que aponta o segmento como um campo a ser explorado nas

pesquisas brasileiras, uma vez que o mesmo apresenta uma baixa insero de

publicaes (MELO & ANDREASSI, 2010).

Nas publicaes internacionais sobre franchising, por sua vez, nota-se uma

crescente insero das associaes de franqueados, que so reconhecidas como

15

estruturas com a capacidade de mediao das relaes entre franqueador e

franqueado (LAWRENCE e KAUFMANN, 2010; 2013).

Esses estudos internacionais representam avanos do sistema de franchising,

ao abordar a importncia da associao de fraqueados nas relaes franqueador e

franqueado. No existem, at o momento, estudos acadmicos brasileiros

especficos sobre a relao das associaes de franqueados dentro do sistema de

franchising no segmento de educao.

A proposta desta dissertao consiste na pesquisa da estratgia inserida em

um contexto de criao de negcios, e posteriormente, a gesto desta rede.

1.1 Estratgia e empreendedorismo

Estratgia uma palavra de origem grega, que possui diversos significados.

Strategus para o povo grego significava o general superior; strategia significava a

arte deste general. A sua epistemologia tem sido objeto de vrios estudos

acadmicos, como por exemplo, a estratgia como uma ideia unificadora que

relaciona as atividades internas de uma organizao com o ambiente externo. Esta

uma viso que se formou no incio dos anos 60, a partir do trabalho de Kenneth R.

Andrews e C. Roland Christensen. Posteriormente, Igor Ansoff, Alfred D. Chandler,

Jr. e Peter Drucker aplicaram este conceito de estratgia para as prticas gerenciais.

(MONTGOMERY; PORTER 1998).

Mintzberg (1987) identificou cinco definies para a palavra estratgia no

campo dos negcios: um plano, uma manobra, um padro, um posicionamento, uma

perspectiva.

Dentro das organizaes observou-se um crescimento da importncia da

estratgia a partir dos anos 80, fato caracterstico de um mundo com um elevado

grau de concorrncia, que coloca os gestores das organizaes na busca por formas

de adequao ao mercado e ao ambiente externo, de maneira a assegurar a

rentabilidade e at a sobrevivncia da sua organizao. (BOAVENTURA; SIQUEIRA

1998).

16

Mintzberg (1973) destaca a existncia de trs tipos de processos mais

utilizados na formulao de estratgias: o empreendedor, o adaptativo e o planejado;

no existindo um processo ideal para uma determinada situao, e sendo difcil uma

organizao utilizar apenas um nico processo para a tomada de decises

estratgicas.

A combinao destes processos pode acontecer de quatro formas:

a) Misturando os processos puros;

b) Misturando os processos por funes;

c) Misturando os processos entre matriz e filial;

d) Misturando os processos por fases de desenvolvimento.

Como processo de formulao de estratgias para esta dissertao adotou-se

o processo empreendedor, que segundo Mintzberg (1973), possui um

comportamento de proatividade, afastando a resoluo de problemas rotineiros para

um segundo plano.

A estratgia geralmente prpria, com uma nica perspectiva, e tem como

ateno principal a consolidao, a expanso e a construo da empresa. Esse tipo

de processo frequente em empresas controladas diretamente por seus

proprietrios. (MINTZBERG; WATERS, 1994).

A ao empreendedora na busca de novas oportunidades de lucratividade

admite o surgimento de riscos e o comportamento de forma proativa. (HITT;

IRELAND; HOSKISSON, 2003).

No processo empreendedor observa-se a existncia de um fundador com

concentrao do poder, e suas principais decises so tomadas de forma audaciosa,

arriscada e com comportamento intuitivo, e as estratgias formuladas revelam seus

desejos, convices e crenas. (CANCELLIER 2001; ORSSATTO 2002).

Wheelen e Hunger (2003) identificam as caractersticas do processo

empreendedor da seguinte maneira:

a) Formulao de estratgias elaborada exclusivamente por um indivduo;

17

b) Pelo poder concentrado;

c) Pelo foco nas oportunidades;

d) Por conceituar os problemas como secundrios;

e) Pela expanso da empresa como meta principal.

Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) destacam dois pontos relevantes para a

formulao de estratgias a partir das premissas da viso empreendedora. O

primeiro refere-se estratgia como perspectiva, ou seja, est no pensamento do

estrategista que idealiza o futuro; e o segundo, que o processo de formao da

estratgia baseia-se na percepo que o estrategista tem do ambiente. Cancellier

(2001) observou esses pontos ao destacar que a estratgia concebida pela viso

do principal executivo, que passa a aumentar seu controle pessoal sobre as pessoas

e a organizao.

O empreendedorismo possui ampla abordagem, sendo a mais recorrente na

literatura de gesto o estudo das habilidades e competncias, e as relaes com o

negcio (COSTA; BARROS; CARVALHO, 2011). A principal caracterstica na

abordagem por competncias so as particularidades do individuo, caractersticas

estas que podem ser analisadas desde atribuies de um cargo, ao desempenho de

uma organizao. Quando o empreendedor utiliza suas competncias, poder obter

maiores percepes sobre estratgias, identificar oportunidades de inovaes e

desenvolvimento do seu negcio atravs de novos produtos ou servios (MAN; LAU,

2000; MAN; LAN; SNAPE, 2008). Ao processo empreendedor so atribudas

caractersticas importantes: inovao, capacidade de criao, deciso de novos

negcios, independncia e assumir riscos (BIRLEY e MUZYKA, 2001; HISRICH e

PETERS, 2004).

Shane e Venkataraman (2000) destacam em suas pesquisas duas premissas

bsicas do processo empreendedor: a) a existncia de uma oportunidade lucrativa e

b) a existncia do indivduo empreendedor. Kaufmann e Dant (1998) apresentam no

Quadro 1 a juno dessas premissas no mbito do sistema de franchising,

elaborando uma relao entre o franchising, o franqueador e franqueado e o ato

empreendedor.

18

Quadro 1 Definies de empreendedorismo e o contexto do franchising

Definies de Empreendedorismo Franqueador Franqueado

Assumir riscos, habilidade de resolver crises (Liebenstein,1968)

Sim Sim

Iinvestimentos incertos e baixa averso a risco (Knight, 1921) Sim Sim

Criao de um novo negcio (Low e MacMillan, 1988) Sim (Conceito) Sim (Mercado)

A criao de novas empresas (Gartner, 1985) Sim (Conceito) Sim (Mercado)

Combinaes de fatores de produo, quebram o equilbrio esttico do fluxo da economia (Schumpeter, 1934)

Sim No

lucro de uma combinao nova, nica em um ambiente incerto e ambguo (Amit, Glostein e Muller, 1993)

Sim Sim (Ambiente ambguo)

Desempenha uma ou mais das seguintes atividades: (1) conecta diferentes mercados; (2) supre deficincias do mercado; (3) cria e gerencia arranjos contratuais e transformadores de insumos; (4) fornece recursos ausentes no mercado (Leibenstein, 1968)

Sim

(1,2,3 e 4)

Sim

(2 e 4)

Manter e desenvolver um negcio voltado ao lucro (Cole, 1968)

Sim Sim

Identificam oportunidades e iniciam aes para suprir demandas insatisfeitas ou de forma mais eficiente (Kirziner, 1985)

Sim

Sim

Lucro e controle operacional do negcio (Shane e Cable, 1997)

Sim Sim

Fonte: Espinha, Machado e Rodrigues (2005), baseado em Kaufmann e Dant (1998)

O Quadro 1 ilustra as definies do empreendedorismo relacionadas sua

aplicabilidade na percepo do franqueador e franqueado. Para Shane (2005) o

sistema de franchising uma alternativa que pode ser considerada como estratgia

cooperativa; outros autores consideram como um segmento do empreendedorismo,

utilizado para reduzir as incertezas ao se constituir um negcio (UCBASARAN;

WESTHEAD; WRIGHT, 2001; HOELTEGEBAUM; CORREA e MACHADO; LUIZ et

al., 2006). Deste modo, alm da reduo dos riscos quando da opo pelo sistema

de franchising, que possui as caractersticas do empreendedorismo, desenvolve-se

um processo empreendedor descrito por Filion (1999b).

As atividades necessrias gesto do franchising, de acordo com Combs e

Ketchen Jr, (2003), Dahab (1996), Falbe, Dandridge e Kumar (1998), Hisrich e

Peters(2004), Holmberg e Morgan (2003), Hoy & Shane, (1998), Pl (2001) e

Williams (1998) so destacadas no Quadro 2, assim como os elementos do

processo empreendedor, suas atividades e presena no sistema de franchising.

19

Quadro 2 Processo empreendedor e o franchising

Elementos Atividades Presena no Franchising

Visualizar

Identificar um interesse num setor de negcios;

Detectar uma oportunidade;

Sim

Sim (mercado)

Gerenciar

Ligar as tarefas aos recursos humanos;

Recrutar, dirigir e contratar recursos humanos;

Comunicar, motivar; liderar.

Sim

Sim

Sim

Aprender

Questionar o que foi feito e como foi feito;

Considerar alternativas; raciocinar; imaginar;

Definir e redefinir a viso central e as vises complementares.

Sim

Sim

Sim

Sim

Fonte: Espinha, Machado e Rodrigues (2005) baseado em Combs e Ketchen Jr, (2003), Dahab (1996), Falbe, Dandridge e Kumar (1998), Filion (1999b), Hisrich e Peters (2004), Holmberg (2003),

Hoy & Shane, (1998), Pl (2001) e Williams (1998).

1.2 O Sistema de Franchising

Para Hoy e Shane (1998) o sistema de franchising uma forma de

empreendedorismo que possui dois empreendedores, o franqueador e o franqueado,

que realizam o ato de empreender quando exploram as oportunidades e utilizam o

processo empreendedor na gesto dos seus negcios. O principal ator no sistema

de franchising o franqueador, que responde pela criao e desenvolvimento da

marca e seus produtos, pelo know-how da operao e, consequentemente, pela

transferncia por meio do treinamento e capacitao dos seus franqueados. O

amparo recebido por parte do franqueador deixa o franqueado em uma situao de

menor risco, pois transmite a ele um conhecimento mais slido, o qual poder

reduzir os riscos em relao ao fracasso de um negcio independente. O franqueado,

entretanto, por receber toda essa assistncia, compensar o franqueador por meio

dos pagamentos de taxas da franquia, publicidade e royalties acordados em

contratos (DANT; GRUNHAGE; WINDSPERGER, 2011; COMBS; MICHAEL;

CASTROGIOVANNI, 2004; COMBS; KETCHEN JR. 2003).

No Brasil o sistema de franchising obteve no ano de 2013 um crescimento de

11,9%, com faturamento de R$ 115 bilhes, com 2.703 redes de franquias,

colocando-o na terceira posio no ranking mundial, liderado pela China e Coreia do

Sul, em nmeros de unidades. O franchising brasileiro obteve um desempenho

20

positivo, diversas vezes superior ao PIB Nacional, que nesse perodo cresceu 2,3%,

segundo dados do IBGE (ASSOCIAO BRASILEIRA DE FRANCHISING, 2014 a).

O franchising contribui com a criao de mais de 88 mil novos postos de

trabalho, um crescimento de 9,4% em relao ao ano de 2012, sendo responsvel

por ampla parcela do primeiro emprego. As redes de franquias possuem

investimentos em programas de treinamento e de capacitao profissional.

Em 2013 o segmento de Educao e Treinamento obteve um crescimento de

16,6% em relao ao ano de 2012, tendo como destaque o ensino de idiomas e

cursos profissionalizantes (ASSOCIAO BRASILEIRA DE FRANCHISING, 2014 b).

Segundo a Associao Brasileira de Franchising - ABF, 95% da populao

brasileira ainda no fala um segundo idioma. Com a ascenso da classe C,

composta por 108 milhes de pessoas, as quais gastaram mais de R$ 1,17 trilhes

em 2013, que representou 58% do crdito no Brasil, os cursos de idiomas tero um

aumento na capacidade de expanso.

A representatividade do sistema de franquias contribui e mostra-se

sobremodo significativa na economia brasileira. Para constatar essa afirmao,

abaixo os grficos com dados e informaes acerca desse ambiente e sua presena

no pas. O Grfico 1 mostra o crescimento do faturamento no sistema de franchising

na ltima dcada.

Grfico 1 Faturamento do Setor de Franchising Brasileiro

Fonte: ABF Associao Brasileira de Franchising, 2014.

O Grfico 2 mostra o crescimento do nmero de unidades franqueadas em

operaes no Brasil na ltima dcada.

21

Grfico 2 Nmero de unidades franqueadas do Setor de Franchising Brasileiro

Fonte: ABF Associao Brasileira de Franchising, 2014.

O Grfico 3 compara a evoluo do setor de franchising em relao

variao do Produto Interno Bruto PIB, em porcentagem, destacando assim a fora

do sistema de franchising.

No ano de 2013 as redes franqueadoras registraram um crescimento de

11,9% nas vendas; j a mdia da economia brasileira no mesmo perodo foi de 2,3%.

Grfico 3 Comparativo entre o PIB Brasileiro x PIB do Franchising Brasileiro

Fonte: ABF Associao Brasileira de Franchising, 2014.

H escassez das publicaes nacionais cujas anlises centram-se nas

franquias no que tangem s questes sociais e, dessa forma, abordam to somente

questes estratgicas e econmicas. A Tabela 1 apresenta as publicaes nacionais

sobre franquias; na primeira coluna destaca-se o tema principal e observa-se um

destaque dos temas de Empreendedorismo e Estratgia, com cinco publicaes de

cada, correspondendo a 41,6% do total das publicaes. Os estudos relativos a

22

conflitos representam apenas 8,3%, com duas publicaes. A concluso de que

so raras, ou at mesmo inexistentes, as publicaes nacionais sobre as questes

sociais. (MELO; ANDREASSI, 2010).

Tabela 1 Publicaes nacionais sobre franquias

TEMA PRINCIPAL INCIDNCIA %

Empreendedorismo 05 20,8

Estratgia 05 20,8

Internacionalizao 04 16,6

Contratos 03 12,5

Conflitos 02 8,3

Gesto Social 02 8,3

Marketing 01 4,1

Finanas 01 4,1

Padronizao 01 4,1

TOTAL 24 100

Fonte: Melo e Andreassi (2010)

Com o significativo crescimento do sistema de franchising e as relaes de

conflitos existentes entre franqueadores e franqueados, as associaes de

franqueados se destacam como o ator responsvel pela sustentabilidade nas

relaes dentro do sistema de franchising (LAWRENCE; KAUFMANN, 2010).

A investigao da literatura sobre o desenvolvimento e conceito de

associao de franqueados teve incio consultando-se as publicaes internacionais.

Nota-se o trabalho de Dandridge e Falbe (1994) como marco inicial, em que se

apresenta um grupo de franqueados atuando como um conselho de franqueados e

representantes das franquias, para prestar aconselhamento sobre questes de

importncia para todos os franqueados. J as pesquisas de Cochet e Ehrmann

(2007) fornecem apontamentos de sugestes e possveis solues de conflitos entre

franqueador e franqueados. Lawrence e Kaufmann (2010, 2013) reconhecem as

associaes de franqueados como estruturas formais que medem as relaes entre

franqueador e franqueados, destacando em suas pesquisas as formas de

funcionamento das associaes de franqueados dentro do sistema de franchising.

23

A Tabela 2 mostra os resultados da pesquisa sobre as principais publicaes

internacionais abordando o tema associao de franqueados dentro do estudo de

franchising. Nota-se, na literatura internacional, uma emergente demanda de

publicaes sobre associaes de franqueados, indita, contudo, nas publicaes

brasileiras, em que se explicita um novo campo a ser explorado pelos pesquisadores

brasileiros (MELO; ANDREASSI, 2010).

Tabela 2 Publicaes Internacionais Sobre Associaes de Franqueados

ANO AUTOR TTULO JOURNAL CONTRIBUIO

1986 Knight R. Franchising from the

franchisor and franchisee points of view.

Journal of Small Business Management

Apontamentos das percepes de conflitos entre franqueador

e franqueados

1994 Dandridge

e Falbe The influence of franchisees beyond their local domain.

International Journal of

Small Business

Grupos de franqueados atuam como representantes das

franquias para aconselhamento sobre

questes de importncia para todos os franqueados.

2007 Cochet e Ehrmann

Preliminary Evidence on the Appointment of Institutional

Solutions to Franchisor Moral Hazard - the Case of Franchisee Councils.

Managerial and Decision Economics

Sugestes e possveis solues de conflitos entre franqueador e franqueados

2010 Lawrence

e Kaufmann

Franchisee Associations: Strategic Focus or Response to Franchisor Opportunism.

Journal of Marketing Channels

O papel significativo das associaes de franqueados na mediao nas relaes de

uma franquia

2012 Lawrence

e Kaufmann

Identity in Franchise Systems: The Role of

Franchisee Associations

Journal of

Retailing

Regras de associao de franqueados

Fonte: Elaborao do autor (2014).

1.3 Formulao do problema de pesquisa

Mello e Andreassi (2010) destacam oportunidades de pesquisas relacionadas

ao segmento de franchising. Lawrence e Kaufmann (2010, 2012) reconhecem as

associaes de franqueados como estruturas formais que mediam as relaes entre

franqueador e franqueados. Evidencia-se internacionalmente o avano das

pesquisas sobre as associaes de franqueados dentro do sistema de franchising,

reforando a necessidade de estudos mais abrangentes envolvendo as associaes

de franqueados no franchising brasileiro.

24

A proposta da pesquisa abrange a rede de franquias do segmento de idiomas,

com a atuao da associao de franqueados nas relaes entre o franqueador e os

franqueados desta rede de idiomas. Trata-se de uma anlise dos trs atores desta

rede composta pelo franqueador, franqueados e associao de franqueados.

H uma srie de variveis que podem ser determinantes para o

relacionamento na rede de franquias. Estas variveis contemplam: (a) os conflitos

que surgem a partir das assimetrias; (b) a cooperao na soluo conjunta de

problemas e diviso de tarefas; (c) a governana atravs de regras e controles; (d) o

papel da associao de franqueados na percepo do franqueador e franqueados.

A relao do franqueador e franqueados na gesto do sistema de franquias

tem como base o compromisso de cooperao, podendo desenvolver conflitos, o

que caracterstico ao modelo do sistema (ROCHA, 2010).

As aes dos atores envolvidos em uma rede so mais do que uma

adaptao passiva, uma vez que esses relacionamentos embutem o enfrentamento

de dificuldades comuns e a busca de solues em conjunto por meio das diversas

capacidades reunidas, entre elas a cooperao, e aquelas originadas pela sinergia

coletiva (VERSCHOORE e BALESTRIN, 2006).

A varivel cooperao relevante nas diversas conexes de uma rede, pois

facilita e consolida essas conexes, porquanto a ausncia dessa varivel contribuiria

para um conflito no aspecto de distribuio de informaes da rede

(GRANOVETTER, 1985; PERROW, 1992).

Nas relaes entre franqueador e franqueado, ambos reconhecem a posio

nica e a interdependncia desenvolvida por meio de um acordo de parceria, no qual

se estabelece formalmente regras de governana, o modo pelo qual cada membro

contribuir para a relao (TICHY, 2002).

Na viso de Tichy, Tushman e Fombrun (1979), a abordagem pela rede social

entende as organizaes na sociedade como sistema de objetos (pessoas, grupos

ou empresas) unidos por uma diversidade de relacionamentos. O tema redes de

negcios tem ganhado destaque nos debates acadmicos e empresariais.

As redes decorrem de transformaes, dentre as quais estratgicas,

estruturais e de competitividade. Com isso, o desenvolvimento de aes conjuntas

25

pelas organizaes poder viabilizar a sua sobrevivncia (FACCIN, GENARI,

DORION, 2009).

A presente pesquisa busca identificar a atuao da associao de

franqueados nos relacionamentos entre franqueador e franqueado

(LAWRENCE e KAUFMANN 2010; 2012), reforando a necessidade de pesquisas

com maior abrangncia no franchising brasileiro sobre as funes de uma

associao de franqueados.

Com base nas questes tericas relacionadas com o estudo de estratgias e

redes apresentadas anteriormente e, diante desse contexto, como objetivo geral a

seguinte questo de pesquisa foi formulada: quais prticas de gesto so

adotadas pelas associaes de franqueados por intermdio dos

relacionamentos entre o franqueador e franqueados?

Assim essa pesquisa procura responder como objetivos especficos:

Compreender as prticas de relacionamentos e resoluo de conflitos

por intermdio da associao de franqueados com os franqueadores;

Identificar o papel da associao de franqueados nos relacionamentos

com os franqueadores;

Identificar a capacidade da associao de franqueados exercer o papel de

governana nos relacionamentos e resoluo de conflitos entre

franqueados e franqueadores.

Esta pesquisa espera contribuir primariamente para a literatura de

franchising, destacando o papel das associaes de franquias como agente

norteador das relaes entre franqueados e franqueador.

A segunda contribuio aos estudos sobre franchising reside na mudana do

foco das questes estratgicas e econmicas em redes de franquias para um

enfoque social em redes de negcios, com vista a despertar e promover o

desenvolvimento de novas pesquisas acadmicas.

26

A terceira contribuio propiciar a gesto da rede de franquias na criao de

associaes de franqueados, como oportunidades de crescimento e diferenciao

nos negcios de franquias.

A Figura 1 representa um framework sobre o problema de pesquisa.

Figura 1 Framework: Problema de Pesquisa

Fonte: Elaborao do Autor, 2014.

1.4 Estrutura de contedo

Para o desenvolvimento deste trabalho estrutura-se o mesmo em cinco

captulos, sendo o Captulo 1 a presente introduo do trabalho.

No Captulo 2 apresentada a reviso conceitual da literatura sobre redes de

franquias, associaes de franqueados, relacionamentos em redes, conflitos,

cooperao, e governana formal e informal.

No Captulo 3 apresentada a metodologia de pesquisa que foi empregada,

de forma a poder desenvolver o trabalho de coleta de dados em campo, com o

objetivo de responder ao problema de pesquisa. Neste captulo so tecidas

consideraes sobre a seleo da amostra, coletas de dados, e construo das

variveis.

27

No Captulo 4 realizada a apresentao dos resultados e a anlise inter-

casos.

No Captulo 5 realizada a apresentao dos resultados e a anlise intra-

casos.

No Captulo 6 so apresentadas as contribuies da pesquisa realizada, suas

limitaes, sugestes para pesquisas futuras, e tecidas as consideraes finais.

28

2 REVISO BIBLIOGRFICA

O objetivo desse captulo aprofundar a base terica sobre as redes de

franquias e seus relacionamentos entre franqueado, franqueador e associao de

franqueados. A primeira parte abrange os conceitos centrais das redes de franquias

e a modelo de funcionamento do sistema de uma rede de franquias.

Sero discutidas as questes sobre a associao de franqueados e os seus

relacionamentos com franqueados e franqueadores, com destaque para os conflitos,

a cooperao e a governana. A seguir, a Figura 2 apresenta-se o framework

envolvendo o referencial terico.

Figura 2 Framework: Referencial Terico

Fonte: Elaborao do autor, 2014.

2.1 Redes de franquias: Conceitos centrais

A traduo do termo ingls franchising significa franquia; essa, por sua vez,

originou-se do francs antigo franc, que significa transferncia legal de um direito.

Assim, interpreta-se o termo como a concesso atravs da qual um fornecedor

outorga a um interessado qualquer o direito de fabricar, comercializar um produto,

29

servio ou exposio da marca, cuja exclusividade dever ser estabelecida por meio

de um contrato, no qual sero firmados os direitos e as obrigaes das partes. Jair

(1999) distingue quatro formas de franquias:

Franquia fabricante-varejista. Exemplo: Concessionrias de veculos e

postos de combustveis;

Franquia fabricante-atacadista. Exemplo: Engarrafadora de Coca-Cola;

Franquia atacadista-varejista. Exemplo: Redes de drogarias, criadas por

atacadistas de remdios;

Franquia varejista patrocinada por uma empresa de servios. Exemplo:

McDonalds.

Para outros autores (ELANGO; FRIED, 1997; BERMAN; EVANS, 1998;

COUGHLAN, 2002) existem apenas dois tipos bsicos de franquias: a de produto-

marca ( um sistema de distribuio, no qual os fabricantes firmam contrato com o

franqueado para que este venda seus produtos ou atue com sua marca), a de

negcio caracteriza-se por um relacionamento entre o franqueador e o franqueado, o

qual envolve, alm do produto e da marca, sobretudo, o gerenciamento detalhado do

negcio, o Quadro 3 detalhamos os tipo de franquias. Para Simo (1993), a franquia

de negcios utilizada em segmentos variados de mercado com as seguintes

finalidades:

a) Comercializar servios idealizados pelo franqueador;

b) Estimular um canal de distribuio de seus produtos;

c) Desenvolver um canal de distribuio, mesmo no sendo de sua

produo.

30

Quadro 3 Tipos de Franquias

TIPO DE FRANQUIA FINALIDADE EXEMPLO

De servios

Envolvem franquias de prestao de servios, requerem treinamentos constantes aos franqueados e s suas equipes, cujo objetivo visa manuteno dos padres de atendimento e do formato do negcio.

Hotelaria (Accor);

Tinturaria (Sapataria e Tinturaria do Futuro);

Manuteno de Veculos (Martelinho de Ouro);

Aluguel de Carros (Localiza);

Academias de Ginstica (Curves).

De produo e distribuio

O franqueador fabrica todos os produtos que sero comercializados pela rede. A funo do franqueado a de revenda.

Cosmticos e perfumaria (O Boticrio);

Alimentao (McDonalds);

Vesturio e acessrios (Hering).

De distribuio

O franqueador desenvolve as suas franquias com a inteno de utiliz-las como um canal de distribuio de produtos. Esses so, em grande parte, de fabricao terceirizada. Os franqueados assumem o papel de revendedor de produtos, em que o franqueador possui um papel de atacadista.

Vesturio e Acessrios (Chilli Beans),

Mveis e Decorao (Portobello),

Entretenimento (UZ Games)

Fonte: Melo et al. (2013) adaptado de Simo (1993).

Melo et al. (2013) destacam a maturidade de uma rede de franquias, na qual

existem diferentes nveis de desenvolvimento de uma rede de franquias. Mauro

(1999) identifica cinco fases de desenvolvimento das redes de franquias, destacadas

no Quadro 4.

Quadro 4 Evoluo das Franquias no mundo e no Brasil

FASE ASSESSORAMENTO

1 Gerao

o sistema mais rstico de franchising; passado pouco conhecimento ao franqueado. O franqueador preocupa-se mais com o desenvolvimento de produtos e servios, deixando de lado as necessidades dos franqueados.

2 Gerao

Apesar de possuir poucos servios disponveis rede, o franqueador procura transferir alguma tecnologia de implantao e operao. A distribuio de produtos de relevncia. Entretanto, ainda precria a relao existente entre franqueador e franqueado.

3 Gerao

O nvel de relacionamento entre franqueado e franqueador assume um nvel relevante. H treinamentos, assessorias na escolha do ponto comercial, superviso, suporte e controle das unidades, estabelecimento de unidades-piloto.

4 Gerao

A diferena entre essa gerao e a anterior reside no nvel dos servios prestados aos franqueados, como: reciclagem do treinamento inicial, pelo menos uma vez por ano, reunies regionais e nacionais, relatrios de avaliao, canal de comunicao, etc.

5 Gerao

Fatores determinantes nessa gerao so diferenciaes no suporte ao franqueado em relao 3 e 4 geraes, alm de possuir conselho de administrao de franqueados, existncia da figura de ombudsman, deter linhas de financiamento para expanso do franqueado, e a criao de sistemas de recompra/revenda de unidades com mau desempenho.

Fonte: Melo (2013) Adaptado de Mauro (1999).

31

O sistema de franquias possui como base uma relao contratual entre duas

partes, cujo envolvimento, entre franqueador e franqueados, circunda uma relao

de recursos tangveis e intangveis. Cabe ao franqueador a transferncia de know-

how e a experincia desenvolvida no negcio, e em troca, o franqueado o

remunerar por meio das taxas de royalties (COMBS e KETCHEN, 1999b; GILLIS,

2007).

Franquias so modelos reconhecidos por seu constante crescimento nos

ltimos anos, embora seja um sistema muito antigo. A Tabela 3 apresenta um

cronograma histrico do sistema de franchising nas ltimas dcadas.

Tabela 3 Cronograma histrico do franchising brasileiro

DCADA ACONTECIMENTO

50 Grandes redes como: Burger King, KFC, McDonald`s e Dunkin Donuts.

60 Brasil teve sua primeira franquia, com a escola de idiomas Yzigi.

70 As franquias americanas so difundidas pelo mundo e o McDonald`s chega ao Brasil.

80 Surge ABF Associao Brasileira de Franchising, O Boticrio, gua de Cheiro e o Bobs adotam o sistema de franquias e estas crescem no Brasil.

90 Aprovao no congresso da Lei 8955, a globalizao e a internet passam a ter efeitos cada vez maiores sobre as franquias no Brasil e no mundo.

2000 Os franqueados e as franquias esto cada vez mais preparados, crescendo de forma lenta, porm estruturada. Nvel de profissionalizao e capacitao.

2013 Crescimento das microfranquias dentro do sistema de franquias.

Fonte: Cartilha O que Franquia Ministrio do Desenvolvimento da Indstria e Comrcio e Atualizao do autor (2014).

Conforme Melo e Andreassi (2010) raras so as publicaes nacionais que

analisam as franquias nas questes sociais; elas se concentram, to somente, nas

questes estratgicas e econmicas.

O principal ator no sistema de franquias o franqueador, o qual responde

pela criao e pelo desenvolvimento da marca e de seus produtos, do know-how da

operao e, consequentemente, da transferncia por meio do treinamento e da

capacitao dos seus franqueados.

32

A assistncia recebida do franqueador deixa o franqueado em uma situao

de menor risco, cujo objetivo centra-se na transferncia de conhecimento mais

slido; este, por sua vez, abrandar os riscos que podero corroborar com o

fracasso de um negcio independente. Em contrapartida, o franqueado compensar

o franqueador por meio dos pagamentos de taxas da franquia, publicidade e

royalties acordados em contratos (DANT, GRUNHAGE e WINDSPERGER, 2011;

COMBS, MICHAEL e CASTROGIOVANNI, 2004; COMBS e KETCHEN JR. 2003).

O sistema de franchising composto pelos atores: franqueado e franqueador,

os quais, apesar de serem membros de uma mesma rede de negcios, podero

possuir objetivos comuns e concorrentes, acordos de franchising, ou ainda, criar

uma relao nica entre franqueador e franqueado (REVE; STERN 1979). Para

outros atores, fora da rede, o franqueado assemelha-se figura de quase um

empregado, cuja identidade desprezada, e assume-se a do franqueador (CAVES;

MURPHY 1976).

A relao franqueador e franqueado baseada em parceria formalizada por

meio de contrato com clusulas de direitos e obrigaes mtuas. Porm, no se

limitando apenas ao cumprimento contratual, coexistindo as relaes interpessoais

focadas no gerenciamento do negcio do franqueado, na soluo de problemas, no

compartilhamento de valores e de objetivos, e nos aspectos psicolgicos e sociais

que perpassam as relaes entre partes.

Mauro (1994) destaca que o franqueador no exerce apenas o papel de

orientador e controlador, outrossim, atua em parceria com o seu franqueado, tendo

de compartilhar seu poder e negociao na tomada de decises, cuja busca centra-

se no objetivo de atingir o equilbrio entre cooperao e conflito.

Considerando que as partes envolvidas nessa relao propiciam vantagens e

desvantagens, o Quadro 5 descreve as vantagens e desvantagens dos franqueados.

Por ser operada por padres preestabelecidos, a liberdade do franqueado limitada

(NEVES, 2005; LEVY; WEITZ, 2000; SCHNEIDER, 1991).

33

Quadro 5 Vantagens e Desvantagens dos Franqueados

FRANQUEADO

VANTAGENS DESVANTAGENS

Maior chance de sucesso: o franqueado contar,

em muitos casos, com uma marca reconhecida e

um modelo de negcios e know-how de mercado

estabelecido.

Maiores controles: h auditorias constantes,

a fim de detectar falhas e o no cumprimento

de acordos. Isso poder reduzir a liberdade do

franqueado.

Plano de negcios: o franqueador possui uma

equipe tcnica responsvel pelo planejamento das

franquias, instrumento nem sempre existente em

pequenos negcios.

Autonomia parcial: devem-se seguir as

diretrizes traadas pelo franqueador. Limita-se,

dessa forma, o esprito empreendedor e

inovador do franqueado.

Reconhecimento de marca: desenvolvimento de

marca realizado com maiores recursos do que em

pequenos negcios independentes.

Risco de descumprimento de contrato: o

franqueador poder falhar no cumprimento do

contrato. Como no fornecimento dos produtos,

nveis de estoque, mix de produtos, servios

inadequados. Poder resultar no desejo de o

franqueado rescindir o contrato.

Economia de escala: maior poder de barganha

com fornecedores reduzindo o preo dos insumos.

Taxas de franquias: o franqueador poder

cobrar taxas abusivas. Uma relao positiva

nas taxas cobradas dever ser percebida pelos

resultados obtidos e servios prestados ao

franqueado.

Facilidade de crdito: existncia de linhas de

crdito especiais s redes de franquias, em virtude

da menor taxa de mortalidade do que em negcios

independentes.

Seleo ineficiente: o franqueado poder

adquirir uma franquia que no corresponde ao

seu perfil profissional, uma vez que ser

atrado pela taxa de retorno do investimento.

Treinamentos: capacitao com frequncia, tanto

do franqueado como dos funcionrios das

franquias.

Acesso a inovaes: desenvolvimento de novos

produtos e servios pelo franqueador.

Fonte: Melo (2013) Adaptado de Neves (2005); Levy & Weitz (2000); Schneider (1991).

No Quadro 6 so descritas as vantagens e desvantagens do franqueador

dentro do sistema de franchising. Para o franqueador, as desvantagens ocorrem

devido ao compartilhamento do seu know-how, ao aumento de custos de superviso,

e ao compartilhamento das decises com os conselhos ou associaes de

franqueados (DAHAB, 1996; ROSSINI, 1997; NEVES, 2005).

34

Quadro 6 Vantagens e Desvantagens do Franqueador

FRANQUEADOR

VANTAGENS DESVANTAGENS

Rapidez de expanso: maior facilidade de

expanso ante outras estratgias de crescimento.

Perda parcial do controle: por haver muitas

unidades, exige-se uma dedicao maior para

o controle dos franqueados.

Captao de recursos: captao de recursos

financeiros a baixo custo.

Perda do sigilo: mediante a transferncia de

know-how ao franqueado, esse aprender com

o franqueador e poder se tornar um

concorrente.

Ganho em escala: maior poder de barganha com

fornecedores.

Seleo inadequada: a seleo de

franqueados que no contenha o perfil da rede

acarretar problemas na imagem e padres.

Marca: maior capacidade de desenvolvimento e

propagao de uma marca.

Perda de padronizao: atitudes

independentes de franqueados podero

corromper os padres traados pelo

franqueador.

Capacidade de atualizao: maior capacidade de

atualizao tecnolgica em virtude do aumento da

estrutura.

Autonomia limitada: dever compartilhar com

o conselho de franqueados as principais

decises da rede.

Motivao dos franqueados: por ser dono do

negcio, a motivao do franqueado por vezes

maior do que de um gerente local.

Plano de expanso: passa a ser

extremamente criterioso a fim de no gerar

concorrncia entre franqueados com atuao

em uma mesma regio.

Conhecimento local: franqueados conhecem o

mercado local, os quais so fontes de informaes

sobre particularidades regionais.

Menores responsabilidades: o franqueado

responsvel pelas despesas trabalhistas e folha de

pagamento dos funcionrios das unidades

franqueadas.

Fonte: Melo (2013) Adaptado de Dahab (1996); Rossini (1997); Neves (2005).

Os conflitos podem ser compreendidos pela Teoria da Agncia, enfoque mais

utilizado nas publicaes de franchising (BARKER e DANT, 2008), em que o

franqueador e o franqueado possuem interesses divergentes, os quais propiciaro

comportamentos oportunistas. O Quadro 7 apresenta as convergncias e

divergncias entre franqueador e franqueado; a relao pactuada por meio do

contrato de franquia, havendo compartilhamento dos riscos, e a no convergncia de

interesses entre as partes por ser uma relao de negcios.

35

Quadro 7 Convergncias e Divergncias entre Franqueados e Franqueador

Franqueador Franqueado Alinhamento

Reduo dos custos em relao s

lojas;

Atrair capital de terceiros;

Busca por indivduos com informaes

ou talentos privilegiados.

Averso ao risco dos

pequenos investidores;

Beneficiar-se de uma marca j

desenvolvida;

Receber know-how do

franqueador.

Convergentes

Aumentar o nmero de unidades;

Aumentar o faturamento da rede;

Royalties sobre o resultado e taxa de

franquia;

Aumento descontrolado do nmero de

lojas e sua competio;

Produtos e servios prejudiciais ao

franqueado.

Extrair lucro da sua unidade;

Crescer dentro da rede;

Lucro da unidade;

Aes que possam prejudicar

a imagem da marca.

Divergentes

Fonte: Elaborao do autor (2014) baseado em Melo e Andreassi 2010.

Nas relaes entre franqueador e franqueados, ambos reconhecem a posio

nica e de interdependncia desenvolvidas por um acordo de parceria estabelecido

para que cada membro contribua com a relao (TICHY, 2002). As relaes de

franqueadores e associaes de franqueados podero afetar o sistema de

franchising, resultando em aumento ou reduo dos conflitos, confiana e

cooperao (LAWRENCE e KAUFMANN, 2010).

2.2 Associao de franqueados

Albuquerque (2003) salienta que entidades como as cooperativas, sindicatos

e associaes so organizaes sem fins lucrativos, as quais possuem diferenas

quanto sua finalidade:

As associaes so a representao e a defesa dos interesses dos

associados, buscando melhor desenvolvimento tecnolgico, profissional e

social dos associados;

As cooperativas so o desenvolvimento das atividades de consumo,

produo, crdito, prestao de servios, e comercializao dos

cooperados;

36

Cabe aos sindicatos a busca pela defesa dos direitos e interesses

individuais e coletivos de uma categoria de trabalhadores, que os

sindicatos representam, especialmente, nas questes judiciais.

Albuquerque (2003) destaca o associativismo como um conjunto de aes

realizadas por um grupo mobilizado, buscando a superao das dificuldades pelo

interesse de todos, cujo resultado almejado a possibilidade de continuidade do

grupo. Um conjunto de prticas sociais realizadas por um grupo organizado buscar

os mesmos benefcios, que poderiam ser mais difceis de serem alcanados de

forma isolada.

Para Barros (1994) a organizao associativa possui algumas funes:

melhorar a eficincia do esforo do grupo, ampliar o seu rendimento, reduzir o

esforo dos participantes, fazer a diviso do trabalho, melhorar a integrao, e

incentivar a interdependncia de cada indivduo dentro de uma organizao.

Cartwright e Zander (1968) definem grupo como indivduos que tm relaes

um com o outro, tornando-se interdependentes em grau significativo, tendo em

comum a propriedade da interdependncia entre os seus membros. Os membros do

grupo envolvem-se em interaes frequentes; definem-se e so definidos por outros

como partcipes do grupo; criam suas normas, papis e funes e tm uma

percepo coletiva. Quando os grupos so deliberadamente formados, h existncia

de uma causa e algum propsito, o qual ser exemplificado com o sistema de

franquia.

Com base na nossa pesquisa no portal EBSCO, no Brasil ainda no uma

prtica a existncia de associaes de franqueados. Em todo o sistema de franquias,

prtica comum nos EUA, a presena de associaes de franqueados se faz em dois

nveis: a) as associaes, compostas por franqueador e franqueados, que so

grupos financiados e apoiados; b) corporativos, normalmente, de franqueados

nomeados ou aprovados que esto totalmente sancionados e, muitas vezes,

financiados pelo franqueador.

As associaes compostas apenas por franqueados so organizaes sem

fins lucrativos, independentes, criadas pelos franqueados para promover a

associao e ganhar poder no sistema. Embora ambos os modelos de associaes

37

representem os interesses dos franqueados, so significativamente diferentes, no

existindo a forma ideal de associao; por outro lado, existe a tendncia de a maioria

das associaes evolurem para se transformarem em entidades totalmente

independentes, sem vnculos de qualquer natureza com o franqueador, e sua

governana completamente livre da entrada do franqueador (LAWRENCE;

KAUFMANN 2012).

As associaes de franqueados, quando so independentes da presena do

franqueador, possuem um estgio diferenciado de unio e coeso; essa

independncia poder exercer um poder de compensao suficiente para garantir

que a associao receba um tratamento mais justo de seus franqueadores

(DEUTSCH, 1988).

As associaes de franqueados atuam tambm quando o franqueador

demonstra um comportamento oportunista em suas aes, outorgando associao

o fornecimento de um mecanismo de proteo dos direitos dos franqueados.

Acordos de contratos enganosos, falsidade ideolgica da franquia, cancelamento de

contratos, injusta distribuio de lucros, e o uso de fora coerciva so exemplos de

comportamentos oportunistas por parte do franqueador (LAWRENCE; KAUFMANN

2010).

As associaes de franqueados, conscientemente, fortalecero a identidade

entre franqueado e franqueador, e a construo da cooperao entre os seus

membros; quando as associaes de franqueados no conseguem conduzir esse

vis, o conflito entre franqueador e franqueado poder ficar fora de controle e

destruir qualquer esperana de trabalhar em conjunto para a sustentabilidade do

sistema de franquias (LAWRENCE; KAUFMANN 2012).

Lawrence e Kaufmann (2012) afirmam que uma associao de franqueados

bem sucedida capaz de se sustentar ao longo do tempo, quando possui

capacidade de adaptao aos relacionamentos, no permanece em uma posio

esttica de cooperao ou de conflitos, no deixa de representar os interesses dos

franqueados, ou se torna irrelevante, uma vez que a fonte de conflito seja resolvida.

O franqueador, ao reconhecer uma associao de franqueados, ter seu

poder e sua autoridade divididos, deciso crtica a ser tomada. Se optar por legitimar

a associao de franqueados, poder ter ou no sucesso com os franqueados,

38

dependendo do foco da associao na sustentabilidade dos relacionamentos.

Quando o franqueador legitima uma associao de franqueados com foco em

divergncias estratgicas, os conflitos devero ser reduzidos, e o franqueado se

sentir mais uma parte do sistema de franquia. Caso a associao de franqueados

esteja focada em comportamento oportunista, os conflitos no sero reduzidos e os

esforos de legitimao tornar-se-o inteis por parte do franqueador (LAWRENCE;

KAUFMANN 2010).

O sucesso de uma associao de franqueados centra-se no desenvolvimento

da sua independncia financeira, na criao e manuteno de canais que

proporcionam a comunicao sem restries, na aquisio de artefatos que

estabelecem a base para o sentimento de comunidade, e por fim, em manter um

desenvolvimento sustentvel das suas aes e papel como associao.

importante a capacidade de criar uma identidade para o franqueado associado, de

forma que seja percebida pelos seus membros como uma organizao, cujos

valores centrais representem os interesses coletivos dos franqueados dentro de uma

rede dinmica (LAWRENCE; KAUFMANN 2012).

2.3 Relacionamentos em redes de franquias

Para Granovetter (1985), o comportamento e as organizaes esto imersos

em processos de relaes sociais, e trat-los como aspectos isolados contribuiria

com limitaes na apreenso da dinmica das atividades das redes de negcios.

Ainda segundo Granovetter (1985), caso o conceito de imbricamento social,

presente nas transaes econmicas, esteja focado na reduo do comportamento

oportunista, ao contribuir para a produo de confiana, tende a facilitar a

complementaridade de recursos por meio dos contedos trocados nas relaes de

cooperao, especialmente os recursos intangveis e com elevada ambiguidade

causal.

Para Uzzi (1997), deve haver uma diferenciao entre as formas de imerso

social: imerso na estrutura da rede e no contexto social. A imerso estrutural

centra-se no modo pelo qual a qualidade e a arquitetura da rede de relacionamentos

de trocas materiais afetam a atividade econmica. Com relao s imerses

39

cognitiva, poltica e cultural, elas tm suas bases em perspectivas construcionistas e

contingenciais da ao econmica.

Existem dois tipos de imerso: estrutural e relacional. O primeiro enfatiza

como a posio estrutural de um ator na rede afeta seu comportamento, e o

segundo ressalta a dependncia do comportamento dos atores com a estrutura de

mtuas expectativas (GRANOVETTER, 1985). A anlise relacional (envolve pares),

nesse caso, permite compreender a influncia de certos atores no desempenho e no

comportamento de outros da rede. O objeto de anlise adotado neste trabalho

circunda este ltimo conceito.

O ponto central da rede o embeddedness, definido como entrelaamento

dos atores da rede; atribuem-se outras expresses, como confiana,

comprometimento, lealdade, dependncia, coeso e obrigao (UZZI 1997). Para

Dimaggio (1992) o embeddedness possui uma caracterstica de simultaneidade,

porquanto facilita a relao, mas restringe e controla o comportamento.

Granovetter (1973, 1985, 1992, 2005 e 2007), em seus trabalhos relaciona

imerso com laos fortes e fracos, os quais significam a frequncia e a natureza das

ligaes entre os atores. Um lao forte cria a varivel cooperao, entendida como

um dos fatores de imerso, ao passo que os laos fracos (pouco repetidos e de

outra natureza) propiciam contatos com outras organizaes distintas do negcio.

Nos relacionamentos com os franqueados Melo et al. (2012) destacam alguns

fatores que devero ser gerenciados: mudana da padronizao sem autorizao do

franqueador, dificuldade de atingir as expectativas do franqueado, limitao da

expanso geogrfica do franqueado, auditorias pelo franqueado e consultoria

jurdica.

As constantes reclamaes dos franqueados so relacionadas ao baixo apoio

do franqueador, ao excesso de taxas e de royalties, divulgao de dados

incoerentes sobre o investimento e ao retorno do capital investido. Por outro lado, os

franqueadores apontam a ausncia de preparo, de estrutura e de sobriedade dos

franqueados (COHEN; SILVA, 2000).

A gesto de conflitos um dos obstculos que um franqueador poder

enfrentar na conduo do negcio de franchising. O de maior frequncia o

40

descontentamento do franqueado quanto ao investimento realizado no negcio (PLA,

2001).

A responsabilidade do franqueador ser de proporcionar um ambiente

interativo, com a maior realidade possvel vivida pelo franqueador, com o intuito de

reduzir os conflitos e propiciar credibilidade, inovaes, confiana e estmulo para a

criao de conselho ou associao de franqueados.

As associaes de franqueados, cujo foco est na governana dos atos

oportunistas do franqueador, enfatizaro os conflitos de interesses entre o

franqueador e os franqueados, fortalecendo as relaes dos franqueados com a

associao. Quando o foco da associao de franqueados alicerado na

sustentabilidade geral da rede de franquias, seu objetivo conduzir os franqueados

e o franqueador em um maior alinhamento de interesses e solues de conflitos

(LAWRENCE; KAUFMANN 2010).

Gartner et al. (2000) identificam a possibilidade de reduo do conflito entre

grupos por meio da descategorizao e da recategorizao. Significa, portanto, o

desenvolvimento de uma hierarquia superior, por exemplo, o reconhecimento de que

uma ameaa servir para reduzir os conflitos, no qual se enfatizar que franqueado

e franqueador so membros do sistema de franquia, assim, ambos estaro sob

ameaa.

J a descategorizao envolve a substituio das caractersticas com as

quais se identifica o grupo, passa-se a visualiz-los como indivduos separados. A

descategorizao ativada quando indivduos interagem em um nvel pessoal e

cooperam de forma interdependente com outros grupos (BETTENCOURT, BREWER,

CROAK, MILLER, 1992).

Hewstone e Brown (1986) destacam a diferenciao mtua que enfatiza as

diferenas mais marcantes do grupo, e ressaltam que a interdependncia

cooperativa centra-se em objetivos comuns, sendo os pontos fortes de cada grupo

contribuintes para essa situao, onde todos ganham.

No contexto de franchising h o reconhecimento da contribuio individual de

cada membro para o sistema de franquia, por exemplo, reconhecendo o

41

conhecimento do franqueado sobre mercados e clientes, e a capacidade do

franqueador relacionada eficincia da franquia.

O nvel de distoro intergrupal entre membros de uma associao de

franqueados e seu franqueador sero afetados, medida que os franqueados

percebem uma hierarquia superior e objetivos comuns com o franqueador,

interagindo com o franqueador como indivduos, ou percebendo a interdependncia

com o franqueador. Assim, os franqueadores empregaro, ativamente, essas

tcnicas de reduo de vis para impactar a identificao social de seus

franqueados.

A adaptabilidade da associao de franqueados no processo de tomada de

decises estratgicas da franquia colabora com a unificao e o entendimento das

misses do franqueador. O franqueador trabalhar para individualizar o

relacionamento com franqueados membros da associao, atravs de comunicao

direta com membros. Aumentaro a comunicao por meio de conferncias e do

desenvolvimento de canais de comunicao legtimos.

O aumento da comunicao para integrar a associao de franqueados,

dentro do sistema de franquia, contribuir como um ato de compromisso, por meio

do franqueador como forma de reduzir a ciso percebida entre a associao e a

franquia. Caso obtenha-se xito, aumentar a identificao dos membros da

associao de franqueados com o franqueador e, por sua vez, reduzir o vis

intergrupal (LAWRENCE; KAUFMANN 2010).

Franqueadores so mais propensos a agir de forma a legitimar as

associaes de franqueados que possuam uma representatividade de uma

proporo significativa de seus franqueados, que ocorre quando os franqueados,

membros da associao, reconhecem-se como um grupo diferente dentro do prprio

sistema de franquia.

No contexto de franchising identifica-se que os lderes e os membros de

pequenas associaes de franqueados so mais suscetveis s aes punitivas por

parte do franqueador, ao passo que os membros de associaes maiores, os quais

gozam de uma boa organizao, possuem menor risco de perseguio por parte do

franqueador. Em muitos sistemas de franquias evidencia-se essa afirmativa quando

42

a inscrio obrigatria em associaes exigida pelo contrato de franquia

(LAWRENCE; KAUFMANN 2010).

Para reforar a interdependncia dos franqueados e franqueadores

desenvolvido um acordo de parceria, estabelecido formalmente, como cada membro

contribuir para a relao, e o reconhecimento de uma nica posio do franqueador

e do franqueado. O desenvolvimento de um acordo prev um mecanismo atravs do

qual os objetivos gerais se mantm e so promovidos entre as associaes, seus

franqueados e o franqueador (TICHY, 2002).

O surgimento e a permanncia de uma associao de franqueados oferecem

uma oportunidade valiosa para investigar o franqueado, a franquia e o franqueador,

a trade da relao, e os efeitos dos relacionamentos do grupo sobre o sistema de

franquia. Uma associao de franqueados, a formao, o foco e a reao

subsequentes do franqueador para a sua existncia traro resultados, os quais

impactariam o sistema de franquia (LAWRENCE; KAUFMANN 2010).

A instabilidade do franqueador, na gesto dos negcios da franquia, reflete

nos resultados e nas relaes com os franqueados. Mudanas na propriedade ou na

gesto da franqueadora produziro instabilidade nos franqueados, quando as

mudanas no so as esperadas pelo grupo, mas tambm sero afetadas pelo

posicionamento adotado pela associao de franqueados (LAWRENCE;

KAUFMANN 2012).

Franqueados no so atores econmicos individuais, os quais simplesmente

reagem aos mecanismos de incentivos econmicos; so, em contrapartida,

incorporados dentro de um complexo conjunto de relaes interpessoais. As

relaes entre franqueador e franqueados tm implicaes relevantes para a gesto

e para a pesquisa do sistema de franquias. A formalizao dessas em estruturas

sustentveis, tais como as associaes de franqueados, implica na existncia de

atores adicionais dentro do sistema de franquias, os quais exercem uma posio de

interpretao e de enquadramento dos incentivos, e a monitorao dos

comportamentos do franqueador e seus membros franqueados. Isso tambm

implicar que, em sistemas maduros, a ao coletiva obter mais sucesso do que a

ao individual ao reagir a iniciativas do franqueador (LAWRENCE; KAUFMANN

2012).

43

2.4 Conflitos e cooperao

O conflito em uma rede tem suas origens em processos que abrangem a

relao entre a dependncia e a vontade de possuir a independncia (OLIVER,

1996; AHUJA; POLIDORO JR.; MITCHELL, 2009); percebido como um

comportamento declarado e surge dentro de um processo no qual uma das partes

busca o desenvolvimento de seus prprios interesses no relacionamento com a

outra (HABIB, 1987, p. 808).

A ordenao do conflito, geralmente, se estabelece em estgios, surgindo de

modo gil em quatro fases: conflito latente, conflito percebido, conflito afetivo e

conflito manifestado.

Na sua primeira fase, o conflito (AHUJA; POLIDORO JR.; MITCHELL, 2009)

considerado latente em virtude de envolver desobedincia s normas, destinao de

recursos escassos, objetivos incompatveis, problemas de comunicao e busca por

independncia.

O conflito converte-se em percebido a partir de um simples sentimento

estabelecido e observado de uma parte para com a outra.

Em sua terceira fase o conflito caracterizado como afetivo, o qual se

centraliza em fatores como estresse, rivalidade, tenso e irritao.

E em sua ltima fase, ser manifestado com a presena de aes verbais,

fsicas e escritas (PONDY, 1967).

As causas mais comuns para o conflito ocorrer so as divergncias dos

objetivos, a falta de entendimento quanto gesto do negcio, o comportamento

oportunista e a percepo de incoerncias (REVE; STERN, 1979). O conflito no

um evento insupervel aos esforos de controle e de gesto em redes estratgicas.

Zaheer, McEvily e Perrone (1998) pressupem a confiana como um dos principais

fatores com os quais se reduzem os conflitos. Relacionamentos baseados na

confiana so caracterizados pela simetria do conflito, conservam as normas sociais,

dentro das quais atuam no sentido de conservar e manter as conexes entre

variados agentes da rede.

44

Dificilmente existir o conflito entre franqueado e franqueador quando

disponibilizado treinamento, exclusividade de atuao em uma determinada regio e

o cumprimento das obrigaes acordadas no contrato de franchising (STEVEN,

2000).

O sistema de franchising tem documentado casos de conflitos entre

franqueados e franqueadores, como a de suplementos e vitaminas GNC (HAYS,

2001); as de lanches Blimpie (HAYES, 2004) e Burger King (BERG, 1988); e

Blockbuster (DEUTSCH, 1988), cujos franqueados tm levado franqueadores ao

tribunal para lutar por seus direitos. No entanto, tambm retrata um crescimento

cada vez mais perceptvel no sistema de franquias e no da associao de

franqueados, que representa os direitos dos franqueados durante esse conflito.

As associaes de franqueados podero atuar como um poder de

compensao, pois quando confrontados com o poder esmagador do franqueador,

sentem-se motivados a formar uma fora positiva de mitigao (GALBRAITH, 1956).

O poder de compensao assumir mltiplas formas, incluindo aes judiciais

coletivas, organizaes sindicais, grupos de presso e organizaes de cidados

que trabalham para compensar a vantagem de poder da organizao. No sistema de

franchising, pode-se atingir formas de poder compensatrio, alcanado via

franchising de mltiplas unidades, em que a posse de um nmero significativo de

lojas, muitas vezes, fornece a um nico franqueado maior poder e influncia dentro

do sistema (GRUNHAGEN; MITTELSTAEDT, 2002); ou por entre medidas

legislativas, como os estatutos de franquia de relacionamentos, promulgados em

vrias redes (BRICKLEY, MISRA, HORN, 2003). O poder compensatrio tambm

ser alcanado por meio das associaes de franqueados que oferecem um

potencial para uma resistncia coordenada entre franqueados contra a fora da

franqueadora.

Entre os problemas que surgem em um sistema de franquias e, influenciaro

a resoluo de problemas j existentes, as associaes de franqueados devero

atuar em duas premissas: (a) divergncias sobre a direo estratgica do sistema de

franquia; (b) divergncias envolvendo a percepo do franqueador, as quais atuam

de forma prejudicial ou destrutiva e desconsideram os interesses dos franqueados, e

45

que corroboram para que as relaes entre o franqueador e franqueado sejam

conflituosas (LAWRENCE e KAUFMANN 2010).

As associaes de franqueados tm como propsito a representao dos

direitos dos franqueados durante as relaes de conflitos que se manifestam. As

associaes de franqueados trabalham para manter a solidariedade entre seus

membros por meio do desenvolvimento de uma identidade organizacional distinta da

franqueadora, a fim de proporcionar benefcios aos seus associados (LAWRENCE e

KAUFMANN 2012).

A abordagem social a maior responsvel pela investigao das variveis de

relacionamentos que caracterizam as redes, dentre as quais, a cooperao.

O estudo sobre a cooperao entre redes tem recebido crescente ateno

nas ltimas trs dcadas (NOHRIA; ECCLES, 1992). As redes de cooperao

constituem um fenmeno presente na teoria organizacional e tm sido

reiteradamente estudadas a partir de diferentes abordagens tericas (GRANDORI;

SODA, 1995).

Dentre as principais correntes tericas sobre redes de cooperao destacam-

se a economia industrial, a abordagem de dependncia de recursos, as teorias

crticas, a teoria institucional, a teoria dos custos de transao, a abordagem de

estratgias organizacionais e a teoria de redes sociais, a qual ser objeto de estudo.

Para Granovetter (1981) os comportamentos e as instituies so afetados

pelas relaes sociais. Analisa, sobretudo, at que ponto a ao econmica est

imersa nas estruturas das relaes sociais (Granovetter, 2007).

Embora criar tipologias sobre redes, conforme afirmam Grandori e Soda

(1995) e Belussi e Arcangeli (1998) seja uma tarefa importante, este trabalho no se

preocupar em encontrar variveis que determinam tipos ou formao de redes.

Zawislak (2000) investigou algumas variveis a serem utilizadas. Havendo a

presena da varivel cooperao entre os atores, poder haver um aprendizado e

uma formao de competncias coletivas. Passam a existir trocas de ativos

tangveis e intangveis, com as quais geraro novas competncias e contribuiro

para que os atores desempenhem melhor suas funes e desenvolvam suas

qualidades.

46

Consoante Kerlinger (1980) a definio operacional de variveis importante

para se escolher os indicadores da presena ou da ausncia dessas em uma

pesquisa. No caso de variveis qualitativas, a tarefa torna-se mais enredada,

porquanto algumas variveis, tais como cooperao, so constitudas de muitas

definies e, ao final, no so observadas diretamente. Sua presena inferida a

partir de alguns sinais, que so destacados no Quadro 8 na coluna indicadores, para

facilitar a compreenso e a anlise.

Quadro 8 Indicadores da varivel cooperao

VARIVEL CONCEITO

DOMINANTE

CONTEDO A

SER OBSERVADO ALGUNS INDICADORES

Cooperao

Realizar atividades

conjuntas, ou por

dependncia

(recursos precisam

ser compartilhados),

ou por iniciativa.

Aes realizadas

em conjunto, com

trocas de recursos

e capacidades.

1) Transferir conhecimentos, sem os

quais as tarefas no se realizam;

2) Aes e de decises conjuntas;

3) Mostrar atitude positiva quanto ao

trabalho em conjunto;

4) Ajuda mtua na diviso de

trabalho;

5) Compartilhar os recursos entre os

atores, conforme necessidades do

grupo.

Fonte: Elaborado pelo autor, (2014).

Para Jesus e Tiriba (2003) cooperao significa o ato de cooperar, ou atuar

simultaneamente, trabalhar em comum, colaborar, sempre em oposio ao

individualismo, indicando uma direo de coletividade.

Por meio das relaes de cooperao, cuja base reside nas relaes sociais,

as empresas buscam, conjuntamente, uma melhoria no desempenho da rede,

compartilhando recursos e comprometendo-se com os objetivos comuns

(GNYAWALI; MADHAVAN, 2001).

A cooperao uma forma de organizao de trabalho, observada em

diversos estratos sociais, como modo de produo comunal primitivo, escravista

feudal, capitalista e socialista, observando a cooperao como resultado do capital

cultural existente nas organizaes (ZAMBERLAM; FRONCHETI 1992).

47

Para Morgan e Hunt (1994) a confiana e o comprometimento so os

principais fatores para garantir o sucesso de uma aliana, criando as condies para

a cooperao e impedindo os comportamentos oportunistas. As variveis:

comprometimento, confiana e poder contribuem intensamente para facilitar ou

dificultar a complementaridade de recursos por meio das trocas nas relaes de

cooperao, especialmente dos recursos intangveis (REED; DEFILLIPPI, 1990).

A existncia de uma relao de confiana possui a capacidade de gerar

grande benefcio para ambas as partes em um relacionamento dentro de uma rede

de franquias. O esforo cooperativo, entre a franquia e os franqueados, resulta na

criao de associaes, geradoras de aquisio de matrias-primas e outros bens

para a franquia (ANNIMO, 2007).

2.5 Governana

O estudo da governana em redes tem crescido e demonstrado interesse pela

sua importncia e seu papel nas redes organizacionais, como mostra o estudo

bibliomtrico de Lima e Campo Filho (2009).

Para uma correta reflexo sobre governana de redes, primeiramente,

pretende-se diferenciar o conceito de governana corporativa dos demais conceitos

atribudos a governana.

A governana corporativa tem sua essncia nas relaes de poder dentro das

corporaes, com sua base na teoria da agncia (JENSEN e MECKLING, 1976;

IBGC, 2014).

O termo governana apresenta-se com diversos sentidos. Williamson (1979,

1996) apresenta uma perspectiva econmica, ainda que no seja objeto de estudo,

uma vez que se adotou a perspectiva social conforme Gulati (1998), em que as

relaes sociais, as organizaes e seus indivduos esto imersos.

Para Wegner e Padula (2010) a governana, na perspectiva organizacional,

so regras de estrutura, elementos de coordenao e de organizao interna da

rede. Dentro das regras, residem os procedimentos para cooperao, tomada de

deciso e resoluo de conflitos.

48

A estrutura de controle de uma rede apresentar a governana bilateral ou

trilateral e possui, como principal caracterstica, a gesto e a monitorao do

comportamento de uma entidade autnoma, na qual administra o processo de

deciso coletiva (PARK 1996). Estudiosos, que baseiam seu ponto de vista na vox

populi, argumentam que sindicatos podem, de fato, ser benficos para a empresa,

porquanto resultar em aumento da motivao, de comportamento cooperativo e,

concomitante, ao da produtividade e da gesto (BOK; DUNLOP, 1970; SLICHTER,

1960).

A governana um dos mecanismos necessrios em um cenrio, no qual

existe a complexidade de tarefas e busca-se a unio entre parceiros (JONES;

HESTERLY; BORGATTI, 1997). Contudo, em uma rede de negcios, a governana

nem sempre visvel diretamente e manifesta-se de forma implcita ou explcita,

uma vez que a mesma se d com empresas independentes (ZACARELI et al., 2008).

A Figura 3 mostra a funo da governana cujo intuito o de controlar as regras e

os comportamentos.

Figura 3 Governana

Fonte: Elaborao do Autor, 2014.

Uma das definies de governana, segundo Das e Teng (2001), um

conjunto de regras norteadoras que controla os comportamentos, devido aos

conflitos de interesses surgidos das relaes entre os atores de uma rede. Sua

presena inferida a partir de alguns sinais, destacados no Quadro 9, e

relacionados na coluna alguns indicadores a fim de facilitar a compreenso e

anlise.

49

Quadro 9 Formas de Governana

VARIVEL CONCEITO

DOMINANTE CONTEDO A SER

OBSERVADO ALGUNS INDICADORES

Formas de Governana

Regras de proteo de recursos e de controle do comportamento.

Pode ser formal, ou informal.

Toda e qualquer regra explcita ou implcita, que coloque restries ao comportamento e proteja os recursos, sejam coletivos ou individuais.

1) Regras sobre admisso e excluso de atores do grupo mais restrito;

2) Regras sobre penalidades;

3) Controle por autoridade, ou reputao (de um ator mais poderoso, por exemplo);

4) Controles sociais (por exemplo, existncia de blogs, sites comunitrios e outros, com informaes sobre os participantes);

5) Regras sobre igualdade entre atores;

6) Regras para compras de bens e de servios junto aos parceiros;

7) Regras na distribuio ou entrega dos bens produzidos, ou adquiridos.

Fonte: Elaborao do autor, 2014, adaptado de Gamba (2014).

Quando um franqueador utiliza o poder para punir os franqueados que

formam uma associao, ou para recompensar os franqueados que se afastam do

grupo, ambas so posturas de coao e, consideradas abuso de poder. A utilizao

desses tipos de aes so canais que contribuem para aumentar a insatisfao

(DWYER, 1980; HUNT & NEVIN 1972; WILKINSON, 1974).

Como uma forma compensatria de governana, as associaes de

franqueados em alguns aspectos se assemelham aos sindicatos, com a tarefa de

negociar com o franqueador e o propsito de proteger os interesses dos

franqueados.

2.6 Governana formal e informal

A governana formal so instrumentos utilizados para pactuar regras

estabelecendo garantias, antecipando possveis divergncias e comportamentos

oportunistas de uma das partes. (WILLIAMSON, 1979,1996).

Balestrin e Vargas (2004) apresentam uma tipologia de rede estruturada em

quatro quadrantes, baseada em caractersticas dominantes de cada espcie de

rede. As redes formais so baseadas em contratos, normas, procedimentos, direitos

e obrigaes, e as franquias podem ser classificadas nesse tipo de rede.

50

A adoo de contratos pode se antecipar a comportamentos oportunistas com

a adoo de multas ou penalidades e reduzindo os custos, quando definem de

maneira transparente os itens a serem controlados (LUI e NGO 2004)

Klijn et al. (2010) identificam em sua pesquisa que os custos so maiores

quando h ausncia de confiana nos relacionamentos, exigindo a adoo de

contratos formais.

Para Grnhagen & Mittelstaedt (2002) quando um franqueado possui um

nmero significativo de unidades, existe uma forma de governana, de poder e de

influncia compensatrios ao franqueado dentro do sistema de franquias.

Segundo Melo (2012), o contrato de franquia uma forma de governana

formal, que envolve risco de negcio e risco moral do franqueado. Risco moral pelo

lado do franqueado, e assimetria de informao em ambos os lados, em uma tpica

relao principal-agente.

Ao transferir a operao de uma unidade ao franqueado, o franqueador fica

enfraquecido com respei