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ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE DA ACESSIBILIDADE NO CAMPUS CENTRO
POLITÉCNICO DA UFPR
Diego Fernandes Neris Universidade de São Paulo – Escola de Engenharia de São Carlos
Márcia de Andrade Pereira Bernardinis Universidade Federal do Paraná
Conrado Vidotte Plaza
Antonio Clóvis Pinto Ferraz Universidade de São Paulo – Escola de Engenharia de São Carlos
RESUMO
Problemas de acessibilidade restringem o deslocamento das pessoas acarretando um aumento na utilização de
meios motorizados pela diminuição no tempo de deslocamento. O presente trabalho trata-se de uma investigação
do nível de acessibilidade em um campus universitário da Universidade Federal do Paraná, onde houve um
grande crescimento na utilização de meios motorizados, facilmente perceptível por estudantes e funcionários.
Após levantamentos de dados em campo, foi utilizado um critério multivariado auxiliado pela ferramenta SIG e
elaborados mapas com base no nível de utilização dos blocos e acessos. Após a análise dos resultados, foi
verificado uma alta movimentação de pessoas principalmente no entorno de blocos didáticos e a possibilidade de
abertura de portão que, atualmente, se mantém fechado. Todo o material resultante poderá servir como base para
tomadas de decisão em projetos realizados no campus, procurando diminuir distâncias de deslocamentos e
melhorando acessos a fim de um possível aumento de usuários de meios não motorizados ou de transporte
público.
ABSTRACT
Accessibility problems restrict the movement of people, resulting an increase in the use of motorized to decrease
the travel time. This paper is related to an investigation of the level of accessibility in a campus of Federal
University of Paraná, where there was a large increase in the use of motorized modes, easily noticeable by
students and staff. After surveying field data, a multivariate test tool aided by a GIS software, and maps prepared
based on the level of use of the builds and access was used. After analyzing the results, it was found a high
movement of people especially in didatic buildings, and the possibility of opening gate which currently remains
closed. All the resulting material can serve as a basis for decision making on projects conducted on campus,
trying to reduce distances of displacements and improving access to a possible increase in users of non-
motorized modes and public transport.
1. INTRODUÇÃO
Todos os dias inúmeros deslocamentos acontecem em muitos lugares do país decorrentes da
necessidade da locomoção de pessoas, por fatores como estudo, trabalho e lazer. Assim,
muitos pesquisadores estão na busca de métodos adequados para se obter uma mobilidade
urbana com sustentabilidade. Segundo Bertini, apud Resende e Souza (2009), nos últimos
anos milhões de pessoas perdem tempo e dinheiro em congestionamentos.
Atualmente os investimentos em infraestrutura são quase que exclusivos para os automóveis.
Deste modo há a necessidade de difundir o conceito de mobilidade visando orientar as cidades
para um desenvolvimento mais sustentável, adotando medidas de estímulo ao uso dos modais
não motorizados.
A mobilidade sustentável, segundo Litman e Burwell (2006) é aquela em que se procura criar
um sistema de transporte equilibrado, com o uso de cada modo destinado ao que ele faz
melhor. Segundo Parra (2006), na União Européia (Mobily Management - MM) e nos Estados
Unidos (Transportation Demand Manangement –TDM) vem-se consolidando estes princípios
onde se incentiva o uso de meios de transporte que gerem um menor impacto ambiental e
viário, se restringe o uso de carro privado e se organiza de uma melhor forma alguns lugares
das cidades, tentando diminuir congestionamentos, acidentes, otimizando os Tempos de
viagens e dando a importância que o pedestre requer, traduzindo isto em aumento da
qualidade de vida.
Em uma cidade um campus universitário se torna um ponto a chamar a atenção quando se fala
em mobilidade urbana, visto que este é visto como pólo gerador de viagens, exigindo um
tratamento especial do ponto de vista de planejamento de transportes. Isto é, um campus
universitário, muitas vezes, é visto como um lugar de conflitos entre pedestres e motoristas,
que lutam por espaço, tornando a convivência bastante conflituosa. Diante disto, o presente
trabalho apresenta estratégias para uma melhor acessibilidade dentro de um campus
universitário em prol de uma mobilidade sustentável, assunto que está em crescente relevância
como em trabalhos de Rodrigues et al. (2002) e Stein (2013), com aplicações na Universidade
do Minho em Braga e Universidade de São Paulo em São Carlos, respectivamente.
2. METODOLOGIA
A avaliação multicritério realizada no presente trabalho segue a metodologia desenvolvida
para aplicação em campus universitário por Rodrigues et al. (2002): a avaliação da
acessibilidade é baseada em função das distâncias até um destino-chave que têm diferentes
pesos, conforme a equação 1.
Aonde: f(cij) é a distância entre a origem “i” e o destino-chave “j” após a aplicação de uma
função para normalização, wj é o peso atribuído ao destino chave “j” e Ai é o índice de
acessibilidade. Esse critério de avaliação de acessibilidade, conhecido como Combinação
Linear Ponderado, permite a compensação entre critérios, ou seja, uma característica
considerada pobre em um espaço pode ser compensada por outra característica melhor
(Rodrigues et al., 2002).
Existe também o critério de Média Ponderada Ordenada aonde as características são
colocadas em ordem crescente de qualidade para então ser aplicado outro critério de
ponderação ordenado (ANDness) para avaliar outros cenários com diferentes compensações
(Trade-off). Por exemplo: em um sistema com três características, para verificar um cenário
pessimista (com menores riscos) de compensação de qualidades, deve-se ordenar os três
índices (referentes às três características) em ordem crescente e aplicar um conjunto de
ponderação ordenado [1 0 0], ou seja, a qualidade considerada para aquele espaço será apenas
aquela com o menor índice. Já para um cenário otimista (com maiores riscos) será
considerado o conjunto de ponderação ordenado [0 0 1]. Quando a compensação é máxima
[0,33 0,33 0,33] o resultado será o mesmo do critério anteriormente citado (Ramos, 2000).
2.1 Caracterização do campus
A área em estudo é no campus III da Universidade Federal do Paraná, local que é composto
pelo Centro Politécnico, Jardim Botânico e Setor de Educação Profissional e Tecnológica.
Como essas áreas são isoladas umas das outras, o presente trabalho teve abrangência,
conforme a Figura 1, apenas na área do Centro Politécnico onde se localizam quatro setores:
Setor de Ciências Biológicas, Setor de Ciências da Terra, Setor de Ciências Exatas e Setor de
Tecnologia. As áreas do Jardim Botânico e Setor de Educação Profissional e Tecnológica
estão indicados em branco.
Figura 1: Campus III da UFPR e a área a ser estudada
Fonte: Google Earth (2012)
A área em estudo é composta pelos seguintes cursos: Arquitetura e Urbanismo, Biomedicina,
Ciências Biológicas, Ciência da Computação, Educação Física, Engenharia Ambiental,
Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, Engenharia Cartográfica, Engenharia Civil,
Engenharia de Produção, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Química,
Estatística, Expressão Gráfica, Física, Geografia, Geologia, Informática Biomédica,
Matemática, Matemática Industrial e Química. São quase dez mil alunos nesses cursos além
dos alunos de outros cursos que tem parte de sua grade curricular no campus em estudo (como
do Setor de Saúde e Setor de Agrárias) e de funcionários.
2.2 Ferramentas
A avaliação multicritério foi realizada a partir do levantamento de dados realizado no campus
Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná e com o auxílio da ferramenta de
Sistema de Informações Geográficas.
De acordo com Malczewski (1999), a funcionalidade de um sistema de informação geográfica
– SIG é composta em quatro partes: dados de entrada (levantamentos de dados em campo,
mapas, localização, etc.), armazenamento e gerenciamento de dados (correta interpretação e
organização dos dados, de acordo com o método escolhido, dentro do ambiente SIG),
manipulação e análise de dados (realização de cálculos úteis para a aplicação e julgamento
crítico dos dados resultantes) e dados de saída (resultado da análise em forma de mapas,
diagramas, entre outros processos que facilitem as tomadas de decisão).
No levantamento de dados, foi questionada a distância máxima que os entrevistados estão
dispostos a percorrer a pé dentro do campus, sendo o valor médio resultante de 630 metros.
Após o traçado da rede na ferramenta SIG, foi feita uma normalização de valor 0 a 1 das
distâncias entre pontos, atribuindo o valor 0 para a distância máxima (630 metros) e valor 1
para a distância mínima (0 metros). Os valores intermediários foram considerados através de
uma aproximação de função linear.
Após a normalização das distâncias, estas foram multiplicadas pelos pesos de cada ponto de
referência, baseado na frequência de utilização. A etapa seguinte foi a aplicação do método de
Combinação Linear Ponderada através dos scores obtidos em cada classe (blocos didáticos,
blocos pedagógicos e acessos) baseados também na frequência de utilização. Para o critério
da Média Ponderada Ordenada, foram utilizados, ao total, 12 conjuntos de ponderação
ordenada, variando entre compensação máxima [0,33 0,33 0,33] – conjunto A, compensação
com risco máximo [0 0 1] – conjunto B e compensação com risco mínimo [1 0 0] – conjunto
C, conforme a Figura 2 que relaciona o Trade-off (nível de compensação) e ANDness (nível
de risco).
Figura 2: Conjuntos de ponderação
Fonte: Ramos, 2000
3. DADOS
Foi feita uma pesquisa com o objetivo de saber a origem e destino das pessoas na vivência
diária dentro do campus. Esses locais foram divididos em três: Blocos Didáticos, Blocos de
Serviços e Acessos. Além de identificar o deslocamento diário das pessoas, foi questionado
sobre a disponibilidade de caminhada delas, ou seja, quanto que elas definiriam como uma
distância máxima apropriada de caminhada. Foram entrevistadas 219 pessoas dentro da área
em estudo em locais diferentes, a fim de coletar dados mais diversificados possíveis e
verificar os pesos para os polos atrativos dentro do campus.
Uma questão foi saber o meio pelo qual o entrevistado tem acesso ao campus. Os modos
citados foram: carro, a pé, bicicleta, motocicleta e ônibus. Importante citar que a questão é o
modo pelo qual a pessoa entra no campus, ou seja, se ela pega ônibus e desce fora do campus,
o acesso é considerado a pé. O modo ônibus, citado aqui, são as linhas que param dentro do
campus. O resultado foi conforme a Figura 3.
Figura 3: Distribuição modal de acesso ao campus
Os pontos estudados nas entrevistas foram separados em blocos didáticos, blocos de serviços
e acessos. Como o estudo era saber sobre o deslocamento a pé dentro do campus, os acessos
foram considerados os portões de entrada para quem chega a pé ou de bicicleta, os
estacionamentos para quem chega de carro ou motocicleta e os pontos de ônibus para quem
chega por esse meio.
Cada bloco e acessos foram identificados e classificados em: blocos didáticos, blocos de
serviço e acessos. Como o objetivo é avaliar a acessibilidade pelo meio não motorizado,
foram considerados também os estacionamentos e pontos de ônibus existentes dentro do
campus, pois são locais a partir de onde algumas pessoas iniciam o deslocamento a pé. A
distribuição dos pontos considerados é conforme a Figura 4.
Figura 4: Localização dos pontos em estudo
A frequência de uso de cada bloco/acesso foi utilizada como critério de ponderação da
importância de cada local. A classe de pontos com maiores frequências de deslocamentos a pé
são os blocos didáticos, conforme a Figura 5.
Figura 5: Comparação de utilização dos pontos estudados
Os pontos mais utilizados pelos entrevistados, dividido entre as três categorias citadas
anteriormente, são conforme a Figura 6.
Figura 6: Pontos mais utilizados por categoria
Para a classe “Blocos de serviço” o restaurante universitário é o mais utilizado (88% em
comparação com os outros blocos), já entre os “Blocos didáticos” a biblioteca do setor de
tecnologia e de exatas é o mais utilizado (21% em comparação com os outros da mesma
categoria) e entre os acessos o mais utilizado foi o ponto 3 da figura anterior que equivale a
42% em comparação aos outros. Importante salientar que este acesso é exclusivo de pedestres
e região com grande número de pontos de paradas do transporte público.
4. RESULTADOS
Para o critério de combinação linear ponderada, foi gerado um mapa (Figura 7) que demostra
o perfil de acessibilidade no campus, onde a área mais clara dentro da poligonal indica a
região do campus com a maior movimentação de pessoas, seja pelo grande peso dos destinos-
chave próximos ou por ser caminho para os mesmos. Esse material é uma ferramenta útil para
qualquer tomada de decisão por parte da prefeitura do campus para indicar prioridades em
planejamento de obras.
Figura 7: Mapa de acessibilidade no campus
Para o critério de média ponderada ordenada, foram avaliados os doze conjuntos de
ponderação (identificados pelas letras de A a L) e gerados mapas conforme indicados nas
Figuras 8 e 9.
Figura 8: Mapa de acessibilidade segundo o critério de média ponderada ordenada para
os conjuntos A (máximo trade-off), B (risco máximo) e C (risco mínimo)
A B C
Figura 9: Mapa de acessibilidade segundo o critério de média ponderada ordenada para
os conjuntos D a L.
5. CONCLUSÕES
Em geral, os critérios analisados resultaram em uma mesma área de grande acessibilidade, na
região dos blocos didáticos. Esse fator é verificado, pois, em geral, os alunos necessitam
trocar de bloco a cada aula. Outra característica do campus verificada foi a possibilidade de
instalação de portão de entrada de alunos na face oeste, aonde existe apenas o acesso pela
passarela que vem do próprio campus que é cortado por uma rodovia. A existência de uma
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G H I
J K L
entrada ao oeste do campus facilitaria a mobilidade de muita gente devido a existência de um
ponto de parada de uma linha BRT (sistema com um relativo bom nível de serviço e com alta
demanda de usuários).
A abertura de uma entrada de pessoas ao oeste do campus poderia acarretar uma melhor
distribuição de índice de acessibilidade no campus, já que a entrada exclusiva de pedestres ao
leste é o acesso com a maior demanda de pessoas devido às linhas de ônibus que têm a região
como ponto de parada, ou seja, aumenta a distância de caminhada dos usuários do transporte
público.
Além da possibilidade de implantação de novos acessos, os mapas de acessibilidade auxiliam
a verificar as regiões do campus com maiores prioridades de melhorias da infraestrutura.
Essas melhorias podem ser desde mudanças nas dimensões de calçadas, redução de
impedâncias até obras complementares que possibilitam a diminuição da sensação de uma
relativa longa caminhada.
Agradecimentos
Ao professor Antônio Nélson Rodrigues da Silva pela orientação na elaboração da análise de acessibilidade em
campi universitários.
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