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Estratégias para a Cultura

em LisboaJunho de 2009

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Os debates em torno das Estratégias para a Cultura em Lisboa representam um reconhecimento claro da importância da participação pública no planeamento da cidade, com a cultura como eixo de revitalização e de afirmação da sua centralidade no mundo de hoje.

Esta reflexão é indissociável de um enquadramento mais vasto – a Carta Estratégica de Lisboa 2010-2024, que se pretende uma síntese dos instrumentos estratégicos parcelares que definirão a forma como Lisboa se adaptará às condições da próxima década, ao nível da cultura, da demografia, do ambiente, da economia e da governação da cidade.

Auscultação pública, diagnóstico e análise resultaram num documento que agora se oferece ao debate público e à decisão política como um instrumento estratégico concebido num processo mobilizador, inovador e rigoroso.

Mobilizador na forma como foi capaz de reunir centenas de participantes num trabalho continuado e sistemático de reflexão, de que resultou um conjunto de contributos para uma visão estratégica da intervenção do município na área da cultura em Lisboa.

Inovador na forma como colocou frente a frente – ou lado a lado – cidadãos e técnicos do município, num diálogo franco e aberto, capaz de gerar consensos sobre o que há a fazer para melhorar os serviços culturais da autarquia e a sua interacção com a cidade.

Rigoroso na forma como estruturou opiniões, percepções e factos num relatório coerente, só possível pela intervenção de um centro de investigação científica, experiente nas ciências da sociedade e da economia e com trabalho reconhecido na área da cultura.

Estratégias para a Cultura em Lisboa é um documento de participação pública, uma outra forma de pensar e de fixar metas para a cidade, um exercício de democracia participada que queremos para a cidade de Lisboa.

António CostaPresidente da Câmara Municipal de Lisboa

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Diz-se de certas viagens que ofuscam os seus destinos, mesmos os mais brilhantes. Preferimos, por isso, deixar a avaliação destas Estratégias para a Cultura a quem as compete julgar, aos cidadãos que as vão discutir, aprofundar ou descartar. Este é um momento de intensificação do debate democrático: compete-nos sustentá-lo com conhecimento, diagnóstico, propostas e projectos.

É de prospectiva que falamos. E da promoção do conhecimento como uma das prioridades de uma cidade de futuro.

E é também da viagem que aqui nos conduziu que poderemos dar testemunho, das longas horas de confronto de ideias, da diversidade dos seus intervenientes – protagonistas da cultura e espectadores, criadores, profissionais e não profissionais – organizados em temas transversais, mais aglutinadores, menos dados a rivalidades.

Foi dada voz a quem muito tinha para dizer. Os técnicos, dirigentes e administradores – das estruturas municipais de cultura – escutaram com atenção, mas também interrogaram. E, assim, um exercício de auscultação pública transformou-se num exercício de democracia interna, tão raro quanto desejado.

Estas Estratégias dão-nos conta disto mesmo: um diálogo amistoso, mas duro, entre quem demanda a autarquia e quem faz do serviço público o seu trabalho, quotidiano, dedicado, mas nem sempre em condições de corresponder a expectativas de excelência.

Não nos oferecem uma fotografia do sector cultural de Lisboa, uma realidade demasiado dinâmica para resistir a simplificações. Mas dão-nos uma imagem, aproximada – limitada como uma radiografia, mas ainda assim sem precedentes – do que representa hoje a procura e a oferta de cultura na nossa cidade.

É sobre este diagnóstico da realidade da cultura em Lisboa que emerge uma visão estratégica, coerente, dos seus traços distintivos: uma Lisboa, capital aberta, cidade central e cosmopolita, com vocação internacional; de trânsitos e fluxos, entre culturas, entre espaços, entre tempos, uma cidade de viagens.

Rosalia VargasVereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa

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A equipa do Dinâmia/ISCTE, responsável pela elaboração deste trabalho e por mim coordenada, procurou desde o início apostar num processo de planeamento estratégico participado e mobilizador que envolvesse de forma abrangente e plural os agentes culturais de Lisboa nas estratégias para a cultura da sua cidade. Numa cidade com uma elevada e crescente dinâmica cultural como Lisboa, e mesmo atendendo às inevitáveis limitações e resistências que um trabalho deste tipo sempre levantam, o desafio das Estratégias para a Cultura em Lisboa foi para nós extremamente aliciante e motivador.

Não fazia sentido nem era possível, no curto espaço de tempo disponível para a elaboração destas estratégias, fazer um levantamento e uma caracterização exaustivos da vasta actividade cultural da cidade, nem de todos os projectos e dinâmicas existentes nos múltiplos equipamentos e instituições culturais, públicos e privados, que a cidade oferece. Optou-se assim pela elaboração de um diagnóstico de síntese baseado nos elementos de caracterização disponíveis e numa consulta, alargada e participada, aos agentes culturais da cidade e aos diversos serviços da autarquia. Da mesma forma, procurou-se uma consensualização alargada de eixos e objectivos estratégicos que permitissem uma ampla mobilização dos agentes culturais da cidade e das estruturas municipais na sua implementação, de forma a ultrapassar os constrangimentos institucionais e pessoais que usualmente afectam a concretização deste tipo de projectos e, em particular, a sempre difícil gestão dos calendários e ciclos político-eleitorais.

O resultado de todo este processo, que aqui se apresenta, não teria sido nunca possível sem o empenho de todos os membros da equipa técnica formada para o efeito, nem sem o precioso e dedicado apoio de uma criativa equipa de consultores, composta por António Pinto Ribeiro, Carlos Martins, Catarina Vaz Pinto, Delfim Sardo, Idalina Conde, João Seixas, Nuno Artur Silva e Rui Tavares, cujas experiências pessoais e profissionais, diversificadas, mas sempre plurais e enriquecedoras, foram fundamentais para o debate e a reflexão que efectuámos e para o resultado global do trabalho que aqui se apresenta. Este trabalho conjunto permitiu complementar o diagnóstico e sistematizar a reflexão sobre o sector, assim como definir uma visão estratégica e testar os diversos projectos a propor. Não queria deixar de lhes agradecer, pessoalmente e em nome da equipa do Dinâmia/ISCTE, por toda a sua colaboração e disponibilidade ao longo destes meses, não permitido no entanto que lhes seja imputada responsabilidade por quaisquer lapsos ou incorrecções patentes no documento final.

Da mesma forma gostaria de salientar e agradecer o apoio da vereação da cultura da Câmara Municipal de Lisboa, nomeadamente da vereadora Rosalia Vargas, promotora destas Estratégias para a Cultura em Lisboa, que sempre apoiou o decorrer dos trabalhos, garantindo o apoio logístico para os vários momentos e formas de auscultação dos cidadãos e a ampla divulgação do projecto, bem como facultando-nos o acesso e a liberdade

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necessária junto dos vários serviços e estruturas orgânicas da Direcção Municipal de Cultura. Gostaria igualmente de agradecer a preciosa colaboração do Director Municipal, Francisco da Motta Veiga, e da assessora da vereadora da cultura, Isabel Rodrigues, assim como a todos os que, pelos construtivos e enriquecedores diálogos e participações que connosco mantiveram, contribuíram indubitavelmente para este projecto, mas que será impossível identificar e agradecer individualmente aqui.

Queria apenas findar lembrando que o processo de reflexão estratégica, iniciado com este projecto, não termina obviamente com a entrega e publicação deste documento. Efectivamente, este relatório deverá ser um ponto de partida para uma imprescindível actuação na cultura em Lisboa, a partir da desejada implementação, monitorização e avaliação permanente destas orientações estratégicas e das respectivas medidas e projectos estruturantes. E, para isto, a mobilização e participação de todos continua a ser fundamental.

Pedro CostaCoordenador da equipa (Dinâmia/ISCTE)

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21 Sumário Executivo

25 1 I n t R o d u ç ã o

27 1.1 Princípios Orientadores30 1.2 Metodologia

33 2 S í n t e S e d e d I A g n ó S t I C o

35 2.1 Introdução37 2.2 Sete Temas para Pensar a Cultura na Cidade37 Conhecer38 Criar39 Distribuir41 Lembrar41 Participar42 Planear43 Representar44 2.3 Uma Abordagem Sectorial44 Artes Visuais e Mercado de Arte46 Artes Performativas48 Livro e Publicações50 Audiovisual e Cinema 51 Música e Edição Fonográfica53 Design, Arquitectura, Criação Publicitária e Software de Entretenimento56 Bibliotecas e Arquivos58 Museus e Património60 Cultura Popular e Tradição61 Turismo Cultural, Jogo, Animação Nocturna e Convivialidade 63 2.4 Oferta, Procura e Mecanismos de Mediação Cultural63 A Oferta Cultural71 A Procura para as Actividades Culturais Lisboetas73 Os Processos de Mediação Cultural76 2.5 Duas Questões Transversais 76 A – Economia, Empreendedorismo, Organizações e Emprego78 B – Governança, Cooperação em Rede, Auto-Regulação e Acção Colectiva80 2.6 Os Territórios Culturais de Lisboa80 Lisboa, Capital Nacional, no Centro da Área Metropolitana de Lisboa81 A Distribuição Geográfica das Actividades Culturais Intra-Concelho de Lisboa84 Algumas Realidades em Aberto e Projectos a ter em conta

89 3 A n á l I S e S W o t

90 Pontos Fortes90 Pontos Fracos91 Oportunidades91 Ameaças

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93 4 I d e n t I f I C A ç ã o d A V I S ã o

95 4.1 Os Fundamentos de uma Visão Estratégica para a Cidade 95 Os Estrangulamentos Fundamentais 97 Os Aspectos Diferenciadores e Factores Distintivos a Potenciar101 4.2 Enunciado da Visão: Lisboa – Capital Aberta

103 5 I d e n t I f I C A ç ã o d o S e I x o S e S t R A t é g I C o S e d o S o b j e C t I V o S

105 5.1 Identificação dos Eixos Estratégicos 108 ee1. Promoção das Competências Cosmopolitas e da Vocação Internacional da Cidade109 ee2. Desenvolvimentos das Condições Facilitadoras da Criação e da Produção Cultural110 ee3. Reforço da Vivência da Cidade e da(s) sua(s) Memória(s) e Promoção do Conhecimento111 ee4. Revisão do Modelo de Governança Cultural da Cidade112 5.2 Identificação dos Objectivos e Sub-objectivos 123 6 I d e n t I f I C A ç ã o d A S M e d I d A S e d o S P R o j e C t o S 129 6.1 M e d I d A S

150 6.2 P R o j e C t o S

179 Nota Conclusiva

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Medidas

129 M1 Reestruturar a orgânica da Direcção Municipal de Cultura (DMC)130 M2 Reequacionar a missão e estruturação orgânica da EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamento e Animação Cultural131 M3 Dotar os serviços de condições financeiras adequadas ao seu 131 M4 Instituir reuniões regulares de coordenação132 M5 Instituir concurso público obrigatório para a nomeação de directores artísticos e programadores132 M6 Promover o ajustamento dos equipamentos municipais às características das comunidades locais133 M7 Definir o quadro regulamentar de apoio financeiro municipal aos agentes culturais133 M8 Definir o quadro regulamentar de cedências de espaços municipais, para criação e produção cultural134 M9 Definir e clarificar o quadro regulamentar para afixação de cartazes e o uso de mupis e outdoors134 M10 Manter um mapeamento actualizado dos equipamentos, das actividades e das práticas culturais em Lisboa 135 M11 Instituir uma rede informal para a definição de estratégias para a promoção e visibilidade internacional da produção cultural de Lisboa135 M12 Instituir um grupo de reflexão e acompanhamento das estratégias para a cultura136 M13 Criar um grupo de trabalho para a avaliação e monitorização das externalidades das actividades culturais e criativas137 M14 Disponibilizar o Portal da Cultura da CML137 M15 Promover plataformas de interoperabilidade e a compatibilização dos sistemas de gestão de informação da CML e da DMC138 M16 Publicar um livro branco e atribuir um prémio anual de boas práticas139 M17 Apoiar a auto-organização e a mobilização dos agentes privados para o desenvolvimento do sector das indústrias criativas na cidade140 M18 Criar a Lisbon Film Commission140 M19 Candidatar a Baixa Pombalina a Património da Humanidade141 M20 Instituir a atribuição de um prémio anual para projectos inovadores de intervenção em bairros críticos142 M21 Instituir um fórum informal para articulação do sector museológico de Lisboa143 M22 Criar um mecanismo integrado de qualificação e dinamização cultural de espaços públicos 144 M23 Criar um programa integrado de apoio técnico e logístico às pequenas estruturas culturais e artísticas145 M24 Fomentar a dinamização de projectos para a disseminação da cultura científica145 M25 Implementar e difundir o programa Lisboa - Cidade Erasmus146 M26 Reequacionar e reestruturar a divulgação e comunicação cultural municipal147 M27 Estruturar a rede de bibliotecas municipais 148 M28 Racionalizar a rede municipal de arquivos e repensar a sua orgânica149 M29 Equacionar, clarificar e concretizar a missão e a situação orgânica de outros equipamentos e instituições culturais municipais ou participados pelo município149 M30 Desenvolver o MUDE – Museu do Design e da Moda e equacionar o seu estatuto jurídico

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Projectos

150 P1 Lisboa Aproxima _ Implementação de Centros Culturais de Proximidade152 P2 Lisboa Acolhe _ Programa de dinamização de espaços para a criatividade e a criação154 P3 Lisboa Integra _ Fórum da Interculturalidade156 P4 Lx Web TV _ Canal web para Lisboa158 P5 Centro de Arte Contemporânea de Lisboa (Künsthalle Lisboa)160 P6 Lisboa Educa _ Programa integrado de contacto com a arte e a cultura nas escolas da cidade162 P7 Estudar Lisboa _ Programa de fomento à colaboração com instituições do ensino superior e centros de investigação da cidade164 P8 @Lx _ Gabinete de Informação e Contacto com a Cultura166 P9 Renovar o conceito de Museu da Cidade168 P10 Lisboa Promove _ Programa de promoção internacional das artes e dos bens culturais de Lisboa170 P11 Criação do Centro de Paisagem e Cultura Urbana de Lisboa172 P12 Wireless Lx _ Acesso gratuito à internet sem fios em espaços públicos174 P13 Grupo de trabalho para o desenvolvimento do turismo cultural em Lisboa176 P14 Lisbon Summer of Arts _ Programa Internacional de Formação de Jovens Artistas

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Sumário executivo

A realização do projecto Estratégias para a Cultura em Lisboa, promovido pela vereação da cultura da Câmara Municipal de Lisboa, surge num momento em que a cultura assume definitivamente uma importância incontornável na vida das cidades e na sua economia, assim como na vida das pessoas que nela habitam. Este projecto promoveu e alimentou um processo de reflexão estratégica sobre o sector cultural em Lisboa, mobilizando inúmeros agentes culturais e permitindo, após um diagnóstico transversal e realista, delinear linhas estratégicas de actuação para a cultura de Lisboa, numa perspectiva muito prática, concretizadas em medidas e projectos estruturantes concretos.

O diagnóstico aqui realizado não efectuou uma nova caracterização do sector cultural da cidade de Lisboa, nem era esse o seu objectivo. Comprovou, inclusivamente, a inexistência de levantamentos de fundo, completos e rigorosos, das actividades, equipamentos e agentes culturais da cidade. De facto, nem a própria Câmara Municipal de Lisboa, nem nenhuma das outras instituições contactadas possuem informação actualizada, detalhada e estruturada sobre o sector cultural em Lisboa. Informação de qualidade é indispensável para se tomarem decisões fundamentadas e definir políticas consistentes.

Com base no diagnóstico efectuado, conclui-se que Lisboa tem uma oferta cultural variada e significativa, em termos quantitativos, e que tem crescido substancial e sustentadamente ao longo dos últimos anos, embora haja situações muito diferenciadas nas várias áreas culturais, exprimindo no entanto, e nalguns casos, um dinamismo que aparenta ser mais quantitativo do que propriamente qualitativo. Relativamente à oferta cultural municipal, há que fazer uma séria reflexão, incidente não só sobre a especificidade e qualidade da oferta, mas sobre os moldes e pertinência da sua existência. A questão basilar prende- -se com o papel que a própria Câmara Municipal de Lisboa deve ter no sector cultural, sendo consensual que não deve exercer funções de programadora, mas antes apostar em melhorar o seu papel de facilitadora, catalisadora e articuladora.

Relativamente aos equipamentos e espaços culturais da cidade de Lisboa, quer públicos quer privados, é consensual que existe uma oferta numerosa, diversificada e com qualidade, de espaços expositivos e para espectáculos, sendo que se verifica ainda uma carência de espaços de ensaio e de ateliês. Uma vez que a Câmara Municipal de Lisboa é proprietária de inúmeros imóveis e responsável por promover e autorizar a utilização do património edificado em Lisboa, deverá ter aqui uma acção muito concreta e com resultados a curto prazo.

A procura cultural demonstra uma evolução menos auspiciosa, dado que após anos de acções democratizadoras no acesso à cultura, nomeadamente através da generalização da acção dos serviços educativos, na multiplicação de equipamentos culturais com ofertas diversificadas, os públicos continuam tendencialmente a pertencer a classes socioeconómicas médias-altas, com educação superior. Contudo, há que louvar a evolução

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positiva em algumas áreas artísticas, não só pela atracção de novos públicos como na cativação dos mesmos, como é o caso da música ao vivo, onde se registou um aumento muito significativo nos últimos anos.

Dada a exígua visibilidade internacional e a incipiente mobilidade dos artistas e dos agentes culturais de Lisboa nos mercados internacionais, é crucial aumentar os incentivos para criação e desenvolvimento de mecanismos e redes de mediação cultural, de modo a que Lisboa se possa definitivamente afirmar a nível nacional e internacional.

Como não se pode pensar na cultura nem fazer um diagnóstico sério e realista sem olhar atentamente para um conjunto de questões transversais que cruzam outros sectores de actividade, conceitos e problemáticas, efectuou-se uma análise cuidada atenta aos seguintes temas: criatividade e criação artística e cultural; acessibilidades, públicos, mercados e difusão; património e memória; ensino, conhecimento e literacia; diversidade, espaço público e cidadania; vitalidade, proximidades, bairros e equipamentos; identidade, imagem e imaginários; economia, empreendedorismo e governança; territórios e geografias da cultura na cidade.

O diagnóstico efectuado permitiu realizar, de forma bastante completa, sistemática e transversal, uma análise SWOT realista e consistente do sector da cultura em Lisboa, identificando-se de seguida um conjunto mais restrito de estrangulamentos fundamentais e de aspectos diferenciadores e factores distintivos a potenciar na cidade, que poderão ajudar ou perturbar a prossecução das estratégias para a cultura em Lisboa. Relativamente aos estrangulamentos, importa apontar os desequilíbrios existentes entre a cidade e sua área metropolitana, a débil internacionalização e a fraca aposta na qualidade, na excelência e na diferenciação, a falta de comunicação, articulação e trabalho em rede e, por último, a falta de assunção de estratégias claras e duradouras. No que toca aos aspectos diferenciadores e distintivos, importa potenciar a(s) identidade(s) e memória(s) da cidade, a diversidade e a multiculturalidade, bem como a capitalidade e a densidade das relações sociais.

É nestas condições que se enunciou a visão para estas estratégias para a cultura em Lisboa, que serve de mote para a definição de eixos de actuação estratégicos, para a identificação de objectivos a atingir e para a concretização de uma selecção de medidas e projectos estruturantes: Lisboa capital aberta: cidade central e cosmopolita, com vocação internacional; cidade vivida quotidianamente e experienciada por todos, cidade de trânsitos e fluxos, entre culturas, entre espaços, entre tempos; cidade de memórias e da contemporaneidade; cidade que promove as condições para a expressão cultural e para o desenvolvimento da criatividade e que moderniza e adapta o funcionamento das suas instituições para assumir o seu lugar no mundo global da contemporaneidade.

Formularam-se quatro eixos, sintetizadores da actuação estratégica pretendida e enquadrantes dos objectivos e sub-objectivos a atingir com estas estratégias: > EE1 Promoção das competências cosmopolitas e da vocação internacional da cidade; > EE2 Desenvolvimento de condições facilitadoras da criação e da produção cultural; > EE3 Reforço da vivência da cidade e da(s) sua(s) memória(s) e promoção do

conhecimento; > EE4 Revisão do modelo de governança cultural da cidade.

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Para prossecução dos objectivos e sub-objectivos estipulados, desenhou-se, segundo os princípios defendidos para estas estratégias, um conjunto de medidas e projectos estruturantes que a Câmara Municipal de Lisboa deverá implementar no âmbito da sua acção na cultura. As 30 medidas sugeridas são acções mais genéricas, que derivam, na sua maioria, das competências actuais e das responsabilidades correntes do pelouro da cultura, mas que se consideraram ser objecto de urgente actuação. Os 14 projectos propostos são programas mais estruturados e transversais, sendo que, para além de uma descrição, cada ficha de projecto identifica as entidades que devem assumir a responsabilidade e dinamização desse projecto, os mecanismos e fontes de financiamento possíveis, assim como os inconvenientes da não realização desse mesmo projecto.

É importante realçar que as estratégias propostas não se esgotam neste documento e que, por isso, devem servir de estímulo para um exercício de permanente reflexão e de planeamento estratégico sobre a natureza da vida cultural da cidade de Lisboa.

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A equipa e o grupo de consultores concordaram, desde o início, com um conjunto de princípios orientadores, de que não se afastariam; e procuraram que este fosse um estudo com propostas de acção, que pudesse ser efectivamente concretizável, reflectindo um diagnóstico consensualizado sobre a realidade e sobre as expectativas e anseios reais da comunidade, que ultrapassam as vontades individuais e os ciclos político-eleitorais.

Introdução

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1.1 Princípios orientadores

Por solicitação do pelouro da cultura da Câmara Municipal de Lisboa, uma equipa do Dinâmia – Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica, centro de investigação associado do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, dinamizou entre Setembro de 2008 e Junho de 2009 o projecto Estratégias para a Cultura em Lisboa.

Este projecto visou promover e alimentar um processo de reflexão estratégica sobre o sector cultural em Lisboa. Partindo de uma auscultação abrangente e participada dos diversos agentes culturais e de uma análise detalhada sobre a situação da vivência cultural na cidade, pretendeu-se definir e consensualizar um conjunto de linhas estruturantes de actuação, no campo cultural, para o município de Lisboa.

A proposta do Dinâmia assentou em três pilares distintos mas complementares:> elaborar um diagnóstico de síntese da situação de Lisboa relativamente à produção

e consumo culturais que não passasse por uma caracterização muito aprofundada e detalhada do sector, antes indo beber da muita informação existente e de uma ampla auscultação dos agentes culturais;

> definir as principais linhas estratégicas de actuação no campo cultural, bem como programas de actuação concretos, tendo particular atenção com a definição de um pequeno conjunto de projectos estruturantes e com efeitos de arrasto, de demonstração e de mobilização significativos;

> procurar a mobilização dos diversos actores, internos ou externos à CML, para uma actuação comum, coerente e consistente em torno de objectivos para a cidade que possam ser consensualizados entre si.

A partir destes três vectores estruturou-se o quadro metodológico que se apresenta no ponto seguinte e que foi seguido ao longo destes meses, permitindo-nos chegar ao resultado que se expõe neste documento final.

A equipa e o grupo de consultores concordaram, desde o início, com um conjunto de princípios orientadores de que não se afastariam; e procuraram que este fosse um estudo com propostas de acção, que pudesse ser efectivamente concretizável, reflectindo um diagnóstico consensualizado sobre a realidade e sobre as expectativas e anseios reais da comunidade, que ultrapassam as vontades individuais e os ciclos político-eleitorais. São esses princípios de base que nos remetem para uma posição realista e pragmática e que enunciamos de seguida:

não fazer tabula rasa do passado

Trabalhar com o muito que já existe, com o know-how acumulado, não querendo voltar a “inventar a roda”, antes trabalhando em cima do que já foi projectado e pensado para a cidade, nomeadamente tendo em consideração os diversos estudos e diagnósticos já previamente elaborados sobre o sector e a cidade.

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Assumir que a actuação na cultura não se faz só através de políticas explicitamente orientadas para o sector cultural

O planeamento e a actuação pública não podem entender a acção na cultura de forma isolada. Esta tem de ser cada vez mais transectorial e multi-escalas, para fazer face aos novos dilemas das actividades culturais e respectivos agentes e entidades. O conceito de cultural planning subjacente a este projecto assenta na noção de transversalidade, passando tanto pela actuação nas diversas condições de contexto para o desenvolvimento cultural e criativo da cidade (que passa pela formação, os espaços públicos, o estacionamento, os transportes, a habitação e atractividade residencial, o turismo, o licenciamento das diversas facetas da actividade, etc.) como pela actuação na área cultural propriamente dita. Realisticamente, muita da actuação possível ao nível municipal para promover a cultura na cidade passa, mais do que pelos responsáveis políticos e estruturas orgânicas do pelouro da cultura, pela acção directa da presidência, do urbanismo, ou de outras esferas de actuação, sendo portanto imprescindível o seu envolvimento na concretização destas Estratégias.

Reconhecer que a Câmara Municipal não está isolada na cidade

A Câmara Municipal de Lisboa, pese embora a sua importância na oferta e na promoção da actividade cultural e criativa da cidade, não está de todo isolada nesse papel, devendo procurar uma articulação com a actividade desenvolvida pelos outros agentes culturais da cidade, que com ela co-existem e actuam, a diferentes escalas. A CML pode e deve trabalhar em colaboração e parceria com o que já existe na cidade e aproveitar e potenciar as múltiplas dinâmicas existentes e latentes. Além do mais, a CML não pode nem deve ter a ambição de actuar em tudo directamente; importa é dar sinais aos agentes e com estes partilhar uma visão estratégica para a cidade; actuar em domínios onde não possa ser substituída e fomentar os restantes. Numa perspectiva bottom-up, importa perceber, apoiar e fomentar o que os outros já fazem na cidade, em termos de programação, criação, produção, exibição, formação, empreendedorismo, alargamento de públicos, etc., bem como dotar a cidade das condições necessárias para que estes floresçam e se multipliquem.

ter consciência das limitações institucionais, mas não ficar bloqueado por elas

Muitas das dificuldades identificadas neste e noutros diagnósticos, e muitos dos problemas na implementação de projectos, como os aqui sugeridos, passam por questões e dimensões cuja resolução não está (nem poderia estar) ao alcance de um trabalho deste tipo, nem daquilo que nos foi proposto. Por muito que possa ser necessário, por exemplo, alterações estruturais ao nível do funcionamento das instituições ou dos próprios comportamentos, mentalidades e valores, é certo que não será um trabalho deste tipo que as poderá efectuar. Não será do âmbito destas Estratégias a implementação de um processo de revisão ou modernização administrativa (por consensual que seja), nem se pretende uma substituição daquele que será o papel dos decisores políticos (legitimados para tal pelo voto). Teremos, no entanto, de estar atentos e de ter em conta estas diversas limitações institucionais e procurar ultrapassá-las, em cada caso concreto, nas propostas de actuação desenvolvidas.

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Procurar assegurar a exequibilidade das propostas e ser selectivo nas intervenções previstas

Importa, em particular no actual contexto económico, pensar em intervenções realistas e criativas, e não em projectos faraónicos, de grande escala, decerto emblemáticos e mediáticos, mas eventualmente demasiado concentradores dos recursos escassos disponíveis e não auto-sustentáveis no longo prazo. Importa sim ancorar solidamente a intervenção no terreno, partindo do que existe e construindo com base nas dinâmicas geradas pela actuação dos agentes culturais (municipais e outros), já que o nosso objectivo é proporcionar uma selecção de actuações realizáveis num futuro próximo e não uma lista de tudo o que seria importante e possível fazer na cidade com recursos e capacidade de decisão ilimitados.

ter consciência da imprescindibilidade de não esquecer tudo o resto, o quotidiano da cidade

Por último, importa realçar que se pretende identificar linhas estratégicas de fundo consensualizadas, que ultrapassem ciclos eleitorais e temperamentos individuais, e a def inição de um conjunto limitado de projectos estruturantes que não esgotem de todo a actuação da Câmara Municipal de Lisboa neste campo. Como pretendido, estes projectos não entrarão pelo essencial daquela que será a actuação regular e quotidiana da CML, não se substituindo a decisões correntes associadas à missão de cada uma das unidades municipais no campo da cultura, que obviamente devem ser dotadas de capacidade financeira que lhes permita, quotidianamente, alcançar os seus objectivos.

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1.2 Metodologia

O trabalho desenvolvido para as Estratégias para a Cultura em Lisboa seguiu uma metodologia deliberadamente simples mas eficaz. Através de um conjunto de procedimentos objectivos, partindo da análise de outras caracterizações e diagnósticos pré-existentes, de nova informação empírica e de um contacto intenso com os agentes culturais, construiu-se um diagnóstico de síntese da situação do sector cultural em Lisboa. A partir deste diagnóstico, mantendo um contacto profundo com os agentes culturais da cidade e com a estrutura municipal respectiva, foi discutida uma visão estratégica para a sua evolução e definido um conjunto de projectos estruturantes e medidas estratégicas que se propõem como fundamentais para o desenvolvimento da intervenção municipal no sector.

Na fase de diagnóstico, procedeu-se a uma recolha intensiva e panorâmica da informação existente (bibliográfica, estatística, cartográfica, etc.), ao seu tratamento através de métodos quantitativos e qualitativos e à subsequente análise. Em paralelo ao estudo aprofundado da cidade de Lisboa, analisaram-se algumas experiências e estudos de caso de sucesso recentes de dinâmicas territoriais associadas às actividades culturais e criativas, um pouco por todo o mundo.

Para além destas diversas vertentes, no entanto, uma dimensão fundamental da obtenção e tratamento de informação relacionou-se com o contacto directo com os agentes culturais e institucionais da cidade. 12 sessões de grupos de trabalho alargados, realizadas em dois momentos distintos, que reuniram mais de 235 pessoas, cerca de 30 entrevistas individuais, múltiplas reuniões e 145 opiniões e sugestões obtidas através de questionário permitiram não só solidificar o diagnóstico sobre a oferta e a procura cultural no concelho de Lisboa, mas acima de tudo auscultar e interpretar as experiências e opiniões pessoais de diversos agentes culturais da cidade, não só artistas, jovens e consagrados, nacionais e estrangeiros, mas também programadores, produtores, distribuidores, profissionais técnicos, assim como responsáveis por instituições, quer públicas quer privadas, de âmbito local, regional e nacional, entre outros.

De forma simplificada, o repto inicialmente lançado procurava mobilizar os diversos actores culturais, económicos e institucionais da cidade em torno de um conjunto de questões, que serviram de fio condutor às diversas fases destas Estratégias para a Cultura em Lisboa: (i) Que problemas identificam na cidade?; (ii) Que medidas e soluções sugerem?; e (iii) O que estariam eles próprios e as suas instituições dispostos a fazer nesse sentido?

Este processo de mobilização e reflexão incluiu a realização de dois conjuntos de sessões públicas, um primeiro no Palácio da Mitra, no dia 22 de Novembro de 2008, e um segundo no Cinema São Jorge, nos dias 29 e 31 de Janeiro de 2009, bem como a presença em diversos encontros que floresceram nestes meses, em vários sectores e temáticas (relacionados por exemplo com teatro, dança, indústrias criativas, multiculturalidade, estratégias de desenvolvimento urbano…).

As sínteses dessas sessões foram na altura divulgadas no site do projecto, cultura.cm-lisboa.pt, criado igualmente como plataforma de comunicação e participação, e estão disponíveis no CD que se apresenta em anexo a este texto.

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Na fase de formulação da estratégia foi desenvolvido um conjunto de procedimentos com vista à definição de uma visão estratégica e de objectivos muito concretos para a cultura em Lisboa, seguindo uma abordagem dialogante, quer entre a equipa técnica e a equipa de consultores, quer com os agentes culturais, quer com a própria vereação da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa e estrutura técnica municipal. Foi identificado um conjunto restrito de projectos estruturantes, bem como um conjunto de medidas fundamentais a serem levados a cabo pela autarquia, no sentido de implementar os eixos estratégicos definidos.

e S t R A t é g I A S P A R A A C u l t u R A e M l I S b o A

M e t o d o l o g I A d o P R o j e C t o

Levantamento de equipamentos, actividades e agentes culturais e de projectos previstos ou em curso

Auscultação de agentes: > Entrevistas > Grupos de trabalho > Inquéritos/ Opinião

Levantamento de estudos e benchmarking internacional

Apuramento estatístico do peso do sector

Análise fundamentada: > Oferta, Procura e Mediação Cultural > Diferentes “Sectores” Culturais > Questões Transversais

Análise Swot > Pontos Fortes > Pontos Fracos > Oportunidades > Ameaças

Identificação de Estrangulamentos e Aspectos Diferenciadores

Definição de uma visão estratégica

Identificação Preliminar dos Eixos Estratégicos

Sugestão de projectos para discussão

Relatório Intermédio

Discussão com CML

d I A g n ó S t I C o I M P l e M e n t A ç ã o f o R M u l A ç ã o d A e S t R A t é g I A

Continuação da Auscultação de Agentes Culturais

(Re)Definição dos Eixos Estratégicos das linhas estratégicas

Identificação de Objectivos e Sub-Objectivos

Identificação de Medidas e Projectos

Aprofundamento dos Projectos Estruturantes

Apresentação à CML

Relatório Final

Apresentação Pública

Execução dos procedimentos relativos à Implementação e monitorização

equipa do Dinâmia / equipa de consultores

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Síntese de diagnóstico

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O diagnóstico da actividade cultural na cidade de Lisboa pretendeu, desde logo, evitar uma abordagem exclusivamente sectorial, já que se considerou que uma análise dessa natureza seria estanque e redutora, não correspondendo a uma visão realista das múltiplas dimensões da actividade cultural da cidade.

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2.1 Introdução

Na elaboração de qualquer plano com carácter estratégico, é imprescindível partir-se de um diagnóstico fundamentado da situação existente; isto é, de uma avaliação das principais vertentes de caracterização do sector, com base na análise do que já tiver sido feito, do que já existe e do que está em curso, bem como do que está previsto ou planeado. Atendendo ao objectivo específico deste projecto – traçar as estratégias para a cultura de Lisboa numa perspectiva muito pragmática e consubstanciada na proposta de projectos muito concretos e exequíveis –, o diagnóstico não poderia ser uma caracterização detalhada e aprofundada do sector cultural da cidade, nem a tal ambicionou. De facto, seria de todo impossível identificar e analisar a situação e evolução de todos os agentes, de todas as actividades ou de todos os equipamentos do concelho de Lisboa, num período tão limitado, quanto o deste projecto (veja-se cronograma no CD anexo). Esta tarefa, não obstante ser indispensável e desejável a curto prazo, terá de ser realizada noutro âmbito que não o deste trabalho.

Para a formulação deste diagnóstico foi recolhida e examinada informação existente e tratada pelos diversos serviços da CML, especialmente no que diz respeito ao levantamento dos equipamentos, espaços, agentes e actividades culturais em Lisboa. Também se recorreu a estudos elaborados na academia e nos centros de investigação, bem como em instituições com responsabilidades específicas na recolha, tratamento e análise da informação estatística e dados quantitativos que permitiram o apuramento do peso do sector cultural e criativo. Além destes, consultaram-se outros estudos e monografias sobre a cidade ou sobre os diversos sectores culturais e criativos. Os resultados da análise destes diversos elementos de caracterização do sector cultural de Lisboa estão sinteticamente tratados e disponíveis no CD anexo a este relatório (cf. Caixa 1).

Elementos de diagnóstico disponíveis em anexo

No cD-rom anexo a este relatório descrevem-se de forma sintética os diferentes elementos disponíveis que contribuíram para concretizar o nosso diagnóstico da cultura na cidade de lisboa e que se encontram subdivididos nos seguintes capítulos:leitura de alguns elementos de caracterização do sector cultural em lisboa;identificação do peso do sector cultural/criativo;levantamento de equipamentos, actividades e agentes culturais;retrato estatísticobibliografia seleccionadasíntese de ideias-base dos grupos de trabalho;síntese de ideias-base do inquérito e das opiniões no site;elementos sobre a orgânica municipal.

Refira-se que no âmbito do levantamento de equipamentos, actividades e agentes culturais se pretendia analisar um conjunto de inputs a serem, no essencial, providenciados pela CML. Verificou-se contudo que a informação existente e disponibilizada é demasiado incompleta e dispersa para permitir um diagnóstico empiricamente bem sustentado da situação existente. Efectivamente, não nos foi apresentada, por exemplo, nenhuma relação que liste todos os equipamentos culturais da cidade de Lisboa, pertencentes à CML

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(que não os da Direcção Municipal de Cultura da Câmara Municipal de Lisboa), ou que pertençam ou estejam a ser explorados por entidades privadas.

Esta situação espelha uma realidade mencionada por variadíssimos agentes, de que muitos dos disfuncionamentos e incapacidades de acção da CML derivam de algum desconhecimento ou de um conhecimento apenas parcelar e não fundamentado do sector cultural da cidade de Lisboa, tornando difícil delinear e comunicar uma estratégica clara para o sector.

Neste sentido, considera-se desde já essencial consolidar este projecto com o levantamento estruturado, por parte dos serviços da CML, dos equipamentos, actividades e agentes culturais, por um lado e, por outro lado, da própria estrutura e organização interna da Câmara, analisando as missões e objectivos dos principais órgãos e instrumentos de acção cultural da autarquia, detectando sobreposição de competências e lacunas, e aferindo estrangulamentos e potencialidades nos respectivos recursos (humanos, materiais e financeiros).

Para além desta análise de back-office, de base mais quantitativa ou descritiva, entendeu-se neste projecto privilegiar uma análise mais qualitativa, com base em sessões de discussão aberta e em entrevistas, porque se considerou que seria a abordagem mais adequada para se obter um retrato mais realista, actual e objectivo do panorama cultural lisboeta. Outro dos motivos prendeu-se com a questão da duração prevista da execução do projecto. Tal como ficou expresso na proposta apresentada pelo Dinâmia à CML, pretendia-se elaborar um diagnóstico prospectivo que não poderia nem ambicionava ser uma caracterização detalhada e exaustiva de todos os aspectos relevantes para a análise do sector cultural em Lisboa – como referimos, algo de importante e fundamental a realizar pela autarquia, mas não no âmbito deste trabalho. De facto, seria impossível identificar e analisar a evolução de todos os agentes, actividades e equipamentos do concelho de Lisboa, num espaço de tempo tão limitado quanto o deste projecto.

Dito isto, o diagnóstico assenta essencialmente na auscultação representativa, alargada e participada de agentes-chave do sector cultural da cidade e do país, incluindo profissionais a trabalhar no estrangeiro. Assim, escutaram-se e inquiriram-se programadores, produtores, curadores, distribuidores, profissionais técnicos, artistas e, naturalmente, responsáveis das instituições, associações e equipamentos culturais que têm um papel preponderante nas actividades artísticas e culturais de Lisboa, sejam estas estruturas camarárias, públicas, privadas, de âmbito local, regional ou nacional.

Nas secções seguintes, e como resultado do estudo e da reflexão efectuada sobre estes elementos e sobre as ideias-base construídas a partir dos vários momentos de auscultação aos agentes culturais de Lisboa, apresenta-se uma síntese do diagnóstico do sector cultural de Lisboa, estruturada a partir de cinco perspectivas distintas:> através de uma leitura sintética das conclusões relativas aos sete temas que sugerimos

aos agentes como mote para pensar a cultura na cidade (secção 2.2); > através de uma breve panorâmica dos diferentes sectores culturais da cidade (secção 2.3.);> através de uma leitura integrada da oferta, da procura e dos mecanismos de mediação

cultural em Lisboa (secção 2.4);> através da análise complementar de duas questões fulcrais e transversais ao sector

cultural na cidade: a sua relação com a economia e o empreendedorismo e as suas formas de governança (secção 2.5);

> e, por fim, por uma abordagem mais territorial dos diversos espaços e escalas da actividade cultural da cidade (secção 2.6).

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2.2 Sete temas para pensar a cultura na cidade

O diagnóstico da actividade cultural na cidade de Lisboa pretendeu, desde logo, evitar uma abordagem exclusivamente sectorial, já que se considerou que uma análise dessa natureza seria estanque e redutora, não correspondendo a uma visão realista das múltiplas dimensões da actividade cultural da cidade. Procurou-se discutir não só o sector cultural e as suas dinâmicas, mas também dimensões emergentes e transversais da urbanidade contemporânea (culturais e muitas outras) que extravasam e recontextualizam a percepção sectorial da cultura.

Definiram-se assim inicialmente sete temas para pensar a “cultura na cidade” e a “cultura da cidade”, identificados por uma acção, seguindo uma organização e lógica transversal, que pretendemos compreensiva e inovadora, e permitindo romper com ideias e formas de organização sectorial mais cristalizadas. Assumindo novamente esses sete temas no enunciar das conclusões do nosso diagnóstico, vamos então sintetizar, para cada um deles, as principais questões que destacamos no final deste processo. Note-se que para uma visão mais abrangente das questões levantadas no âmbito de cada um dos temas e das conclusões retiradas do seu debate nas sessões públicas se podem consultar os textos respectivos, no CD Rom em anexo.

C o n H e C e R

> Ensino, conhecimentos, literacia

A principal premissa que subjaz ao diagnóstico feito desta área pressupõe a cidade como centro nevrálgico do conhecimento. Lisboa é a cidade portuguesa com o maior número de centros de conhecimento (universidades, escolas, arquivos, bibliotecas ou centros de investigação académicos e empresariais); contudo, esta rede não está suficientemente estruturada para a cidade beneficiar verdadeiramente dessa mais-valia. Numa perspectiva da cadeia de valor, há que identificar o carácter distintivo da cidade para que se identifiquem as vantagens comparativas de Lisboa.

É urgente transmitir a ideia de que uma cidade com as características de Lisboa deve ser um pólo central de produção cultural e de conhecimento, em sentido lato. Por exemplo, a criação de competências no sector cultural passa pela formação artística, mas também pela formação técnica, organizacional e de gestão. No entanto, têm igualmente que ser consideradas questões mais de fundo, como a literacia, a capacidade e mobilização para a participação e a acessibilidade de diferentes públicos.

CriarCriação / Criatividade / Artes

Lembrar Património / História / Memória

DistribuirAcessibilidades / Públicos / Mercados / Difusão

ConhecerEnsino / Conhecimento / Literacia

ParticiparDiversidade / Espaço Público / Cidadania

PlanearVitalidade / Proximidades / Bairros / Equipamentos

RepresentarIdentidade / Imagem / Imaginários

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A esta dimensão do conhecimento está também associada toda a questão da infra- -estruturação tecnológica, que ainda é precária e não corresponde às ambições de uma cidade como Lisboa. Foi frequentemente referida a possibilidade de existir o acesso gratuito à rede wireless em determinadas zonas, servindo de expediente para dinamizar a cidade, combater a sua desertificação ou mesmo como forma de rejuvenescer as suas populações. É necessário, também, no entanto, para actuar de forma mais abrangente sobre estes problemas, prestar atenção a várias outros aspectos que serão fundamentais para fomentar a vivência e a dinâmica criativa nas diversas zonas da cidade, como por exemplo os relacionados com o condicionamento do trânsito e o estacionamento, a rede de transportes, o estado das ruas e o seu impacto em termos da localização das escolas ou outros agentes culturais no centro da cidade.

Foi apontado várias vezes o afastamento crónico da autarquia e dos principais agentes culturais e centros de conhecimento, nomeadamente as universidades. Estas entidades não devem trabalhar de costas voltadas; pelo contrário, a autarquia deve beneficiar do trabalho desenvolvido pelos centros de conhecimento e deve ser um veículo de divulgação desse saber, designadamente quando se trata de matérias intimamente relacionadas com a cidade.

Por outro lado, a autarquia não se pode dispensar do papel de promotora do próprio conhecimento sobre a cidade. Para além da necessidade de dinamizar os estudos e as recolhas das memórias, deverá garantir a actualização das cartografias simbólicas da cidade e dos seus roteiros, reais e imaginados. A população estudantil da cidade, com particular ênfase na universitária, é outro aspecto fundamental e que surge recorrentemente, seja no seu papel de públicos, seja como agentes activos na criação e produção cultural. O reforço da comunidade Erasmus em Lisboa é igualmente apontado enquanto factor crítico de sucesso da cidade, como mecanismo hábil de internacionalização do conhecimento produzido localmente, assim como de exportação da sua produção cultural.

C R I A R

> Criação, criatividade, artes

O diagnóstico do CRIAR procurou debruçar-se sobre as actividades que transversalmente cobrem a criação artística, a criatividade e a sua promoção, assim como as artes em geral. Discutiu-se quais seriam os pressupostos para existir um contexto ideal para a criação artística e para a criatividade proliferar.

Algumas das questões levantadas incidiram em aspectos como os seguintes: como atrair e fixar a classe artística, nacional e internacional, na cidade de Lisboa; como conseguir transformar a cidade de Lisboa numa cidade aberta e propicia à criação; e que condições será necessário desenvolver a nível de espaços, dinâmicas, motivações e regulações.

O principal problema identificado, e sucessivamente reiterado, foi a falta de espaços para os artistas poderem trabalhar e desenvolver os seus projectos. Esta questão passa pela simples falta de espaços de ateliê ou de ensaio para jovens artistas, mas também pela vontade de dar um destino profícuo às centenas de espaços e edifícios vazios ou devolutos espalhados por toda Lisboa. Torna-se indispensável encontrar um destino para os espaços

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e edifícios vazios, de que a cidade dispõe em excesso, permitindo que um crescente número de artistas e estruturas utilizem espaços dignos a preços viáveis.

Outra das questões identificadas foi a da formação artística. Embora não esteja sob a tutela da Câmara Municipal de Lisboa, é igualmente consensual a necessidade de assegurar e promover mais e melhor formação, nomeadamente a formação artística avançada, como forma de promover eficazmente a criação artística na cidade, de atribuir espessura ao seu meio artístico e atrair mais artistas para Lisboa.

A questão da articulação entre os diferentes serviços e pelouros da Câmara Municipal de Lisboa, e desta com a população e com os agentes culturais e criativos, por um lado, e a questão do excesso de burocracia e de níveis hierárquicos, por outro lado, foram igualmente identificados como motivos para a complexidade e morosidade do relacionamento com a CML e, consequentemente, de entraves à criação e à criatividade. É crucial também definir a natureza das actividades da Câmara Municipal de Lisboa enquanto produtora cultural e equacionar mesmo o papel porventura excessivo que tem por vezes desempenhado neste campo. Foi razoavelmente consensual que a CML não pode nem deve ser curadora nem programadora, devendo sim apostar em ser catalisadora e facilitadora dos processos criativos, apoiando-os de outras formas que não a meramente financeira.

A sobreposição do papel da presidência da Câmara e da vereação da cultura, bem como a distribuição de competências e áreas de actuação entre a Direcção Municipal de Cultura e a EGEAC, foram também aspectos recorrentemente apontados, que urge resolver num futuro próximo, já que este aspecto é causa de muita da falta de articulação e eficiência na actividade cultural da autarquia.

Outra mais-valia identificada passa pela vocação intercultural da cidade, que importa promover, tornando-a mais atractiva à classe artística e criativa. O relacionamento mais intenso da classe artística com os novos habitantes é sintomático de uma certa permeabilidade entre as diferentes comunidades da cidade, factor essencial à criação.

d I S t R I b u I R

> Acessibilidades, públicos, mercados, difusão

Apesar da oferta cultural ter sido considerada, de forma mais ou menos unânime, bastante significativa (pelo menos em termos de quantidade), foram apontadas diversas lacunas, nomeadamente relacionadas com a sua divulgação.

A cidade parece estar bem servida, quer em termos de oferta mainstream quer de oferta mais experimental e vanguardista, seja nas artes visuais e performativas, seja no cinema, nas publicações, na arquitectura ou na animação nocturna, embora falte consolidar um meio-termo, isto é, qualquer coisa como o “mainstream qualificado”, nacional ou internacional.

A divulgação das propostas artísticas e culturais da cidade é feita ainda de forma deficiente, demonstrando-se não direccionada e não especializada. Há que segmentar os públicos e divulgar a oferta em consonância. Entre diversas outras segmentações, importa

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distinguir e actuar em lógicas diferenciadas, por exemplo, para o público infantil, o juvenil e a terceira idade, o público especializado e profissional, o público residente em Lisboa e o que vem dos concelhos limítrofes, os turistas e as novas comunidades.

A Câmara Municipal de Lisboa tem um papel muito relevante na divulgação da oferta cultural da cidade de Lisboa, uma vez que detém um conjunto de meios exclusivos –mupis, outdoors e a Agenda Cultural, em papel e online –, que poderiam funcionar mais eficientemente se os processos de disponibilização aos agentes culturais fossem mais expeditos e atempados. Por outro lado, a CML não dispõe de um site único (ou unificador) que cumpra eficazmente esta tarefa, sendo que a multiplicidade de sites gera usualmente confusão, sobreposição e incapacidade de comunicar eficientemente.

Outra questão bastante referida relaciona-se com a acessibilidade dos bens e equipamentos culturais, quer física, quer económica, quer sócio-cultural, afectiva e simbólica. Aqui, as insuficiências passam pelas ruas, indevidamente ocupadas, pelo trânsito, pela segurança e pelos transportes, mas também pelo funcionamento dos equipamentos, nomeadamente horários de abertura e encerramento ou de exibição dos espectáculos, pelas políticas de preços, pela falta de trabalho com os novos públicos, pelas lógicas específicas de apropriação social e cultural dos diferentes espaços, entre outros.

Admite-se que actualmente Lisboa tem, salvo raras excepções, circuitos e espaços de difusão suficientes e adequados, entre salas de espectáculos ou de cinema, espaços convencionais de exposição, museus ou bibliotecas. As excepções residem na falta de alguns espaços menos convencionais, para espectáculos de pequena e média dimensão, assim como para ensaio e para ateliê. Tais espaços deveriam servir áreas mais experimentais, por exemplo, como laboratórios de criação.

Ainda relativamente aos equipamentos culturais, detectou-se a vontade de rever as condições de sustentabilidade de muitas das estruturas da cidade, que necessitam de outro tipo de acompanhamento, que não exclusivamente financeiro. A questão da subvenção da autarquia às estruturas culturais e artísticas da cidade, de forma ad-hoc e pouco transparente, foi objecto de grande discussão, tendo sido expressas opiniões contraditórias quanto à bondade desta obrigação.

A internacionalização da oferta cultural da cidade apresenta-se ainda como tarefa complicada, embora o sucesso da exportação de alguns bens culturais (sejam mais mainstream, sejam sobretudo em nichos específicos ou áreas mais alternativas e independentes), assim como da organização de grandes eventos internacionais, sejam indícios muito positivos. Grande parte do esforço de internacionalização tem sido efectuado pelos próprios artistas e organizações, sem que haja um trabalho concertado com as grandes instituições nacionais competentes ou mesmo com a autarquia, o que contribui para mensagens contraditórias e inconsistentes.

Questões como a competitividade da oferta, em termos económicos, os direitos de autor ou o papel dos mediadores culturais na cena artística de Lisboa, apesar de muito debatidas internacionalmente e de terem grande relevância para a sua dinâmica, demonstraram não ser ainda aspectos considerados como essenciais para os agentes culturais lisboetas. Importará no entanto não esquecer a actuação nestes campos e a sensibilização de um conjunto mais alargado de agentes para a sua importância.

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l e M b R A R

> Património, história, memória

Em torno deste tema, analisaram-se as questões relacionadas com a herança cultural, o património tangível e intangível e a preservação versus promoção, bem como as questões relacionadas com o lado da procura dos bens patrimoniais e com a pressão turística.

A principal ideia que emergiu do diagnóstico desta área é a de falta de organização e coordenação entre os diversos agentes a trabalhar no terreno. Esta desarticulação reflecte-se não só na própria estrutura e organigrama camarários, mas também nas relações com e entre os agentes a trabalhar fora da esfera da autarquia. Dispersão de espólios, desconhecimento das actividades realizadas pelos pares, duplicação de motivos programáticos, nomeadamente em comemorações e efemérides, falta de articulação e sistematização nas iniciativas de digitalização, foram alguns dos exemplos encontrados para definir o corrente estado da situação em relação ao LEMBRAR. Falta, além do mais, uma visão de conjunto que relacione as expressões locais e as nacionais, sem a qual será difícil encontrar ou trabalhar uma estratégia para o sector.

Uma das ideias fortes que resultou deste projecto relaciona-se com a necessidade de reformular os conceitos de “lembrar” e de “memória”, excessivamente ancorados no passado e na história, ignorando o presente – e até o futuro – dessa relação.

É necessário encontrar mecanismos eficazes para fazer circular a informação, primeiramente entre serviços e organismos que estão sob a tutela da Câmara Municipal de Lisboa e os agentes que compõem o sector, nomeadamente os museus nacionais, localizados em Lisboa, os arquivos e as bibliotecas, públicas e privadas, os monumentos nacionais, o património pertencente à Igreja ou às universidades. É também essencial garantir que a informação chegue à população, aos investigadores, aos turistas, passando pelo comum dos cidadãos.

À semelhança do debatido em relação ao tema anterior, uma das ideias mais referidas passa pela necessidade de se redefinir o papel da Câmara Municipal de Lisboa. Uma vez mais, a autarquia deve surgir como catalisador, despoletador dos movimentos de transformação, pivô de plataformas de entendimentos, fio condutor das redes formais e informais que tanta falta fazem à cidade.

A questão da internacionalização foi igualmente muito discutida como algo que está praticamente por fazer. Qualquer discussão e definição estratégica tem de ser feita numa lógica que reflicta a importância de Lisboa na Europa e no mundo. Há a percepção de que a dimensão periférica da cidade, e do país, pode ser combatida através do sector cultural, a partir naturalmente da sua memória, do seu património e da sua história.

P A R t I C I P A R

> Diversidade, espaço público, cidadania

Do diagnóstico orientado para as múltiplas questões associadas à diversidade cultural, à participação cívica e à vivência da cidade, às potencialidades da expressão artística transcultural, ao papel da arte e da cultura como instrumentos de inclusão social, e ao significado das comunidades locais e das novas comunidades, emergiu claramente a

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constatação do peso e da importância do movimento associativo. Lisboa caracteriza-se por um fortíssimo e alargado movimento associativo, que não pode ser descurado. Às tradicionais associações e colectividades foram acrescentadas, em anos mais recentes, associações de comunidades imigrantes, instituições de cariz social e ONGs, para além de um movimento de dinâmica cultural e artística que se baseia em grande parte em associações de pequena e micro dimensão. Verifica-se um crescente movimento de representatividade da sociedade civil e cidadania, que vem, de certa forma, renovar o tecido associativo já existente e de base popular.

Qualquer análise destas temáticas tem de ter em conta toda a envolvente metropolitana da cidade, incluindo a Margem Sul. As dinâmicas de base territorial, bem como os movimentos pendulares das populações de Lisboa e dos concelhos envolventes, devem ser vistas e consideradas de forma global. Para compreender e atender às renovações demográficas, às novas populações da cidade, urge desenvolver um conjunto de competências cosmopolitas, que passa pela promoção da tolerância e pela capacidade de promover ou absorver a diversidade cultural.

À semelhança dos outros temas sugeridos para este diagnóstico, também aqui foi apontada a deficiente articulação entre os serviços camarários e entre estes e as organizações da cidade. Os processos camarários foram considerados excessivamente burocráticos. Numa área que depende muito do apoio logístico e administrativo da Câmara Municipal de Lisboa, o mau funcionamento da máquina autárquica, nomeadamente a excessiva burocracia, torna-se um problema muito palpável na vida destes agentes. Por outro lado, a dificuldade que as associações demonstram em encontrar parceiros com quem criar plataformas de trabalho ou colaborativas demonstra uma incapacidade significativa de se adaptarem às novas realidades.

Foi referida frequentemente a necessidade de alterar o paradigma relacional entre a autarquia e as comunidades, ou seja, inverter o movimento quase assistencialista que preside à actual relação, outorgando, desta feita, aos agentes locais uma crescente responsabilidade na condução dos desígnios da cidade e promovendo a sua capacitação. A grande vantagem desta mudança passaria por permitir a emancipação e independência desses agentes evitando a sua guetização.

Como nos momentos de diagnóstico paralelos a este, de novo nesta área foi apontada a necessidade e a capacidade de se dar uma utilização concreta ao património edificado devoluto ou vazio, assim como ao espaço público da cidade.

P l A n e A R

> Vitalidade, proximidades, bairros, equipamentos

Lisboa encontra-se numa fase de profunda transformação e é patente alguma desorientação na forma de interpretar os sinais dessas mutações. Qualquer abordagem que se faça no domínio do planeamento deverá incluir as diferentes dimensões que compõem a gestão de uma cidade contemporânea. Essa abordagem, quase holística, deverá ter em conta as realidades e desajustamentos demográficos (há por exemplo um claro desencontro entre a população que utiliza a cidade e a que nela habita), a gestão das proximidades, as escalas territoriais, os espaços de criatividade, a produção cultural, o turismo, o património edificado e o parque habitacional, a segurança e a rede de transportes, bem como uma noção de conjunto sobre os vários centros que compõem a área metropolitana.

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Um dos aspectos que recorrentemente surgiu na discussão aponta para a necessidade de alterar o modelo de governança da cidade, excessivamente centralizado e padecendo de graves patologias ao nível dos relacionamentos dos serviços camarários e da transparência dos procedimentos. A necessidade de encontrar mecanismos de monitorização permanente da cidade e das suas necessidades, e de encontrar formas de rápida resposta e actuação, tem de ser uma prioridade do poder político. Neste capítulo, sugeriu-se começar pelo transporte de informação e pela criação de redes que efectivamente funcionem e que estejam adaptadas à realidade.

As escalas de actuação têm de ser repensadas e bem definidas, pois a gestão de uma cidade com as características de Lisboa exige níveis de actuação múltiplos, claros e efectivamente capacitados para fazer face às diversas realidades. Importa que se distingam as múltiplas especificidades locais, os bairros e as suas identidades e vivências particulares, ao mesmo tempo que se articulam estas especificidades com as escalas metropolitana e global em que a cidade se move; e é neste contexto que deverão ser equacionadas as estruturas administrativas e até as tradições de actuação, pensando como se poderão estas diversas instituições relacionar com as necessidades das populações correspondentes no quadro da cidade. Novas e diversificadas formas de governança podem ser aqui exploradas, aproveitando dinâmicas da sociedade civil, em maior ou menor articulação com a actuação dos poderes públicos

Apesar de se reconhecer que a cidade está bem servida de equipamentos, da mais diversa natureza, os seus desígnios e vocações estão em muitos casos por definir ou por operacionalizar, havendo também necessidade de actuar neste campo.

R e P R e S e n t A R

> Identidade, imagem, imaginários

É francamente consensual que a multiplicidade de dimensões que constituem a cidade está em permanente mutação e que as estratégias para a cultura não podem ignorar este facto. Lisboa tem múltiplas identidades e memórias, e a elas podem ser associadas várias sub- -marcas que resultam da história e tradições da cidade, das suas populações e comunidades, das suas músicas e dos seus artistas, ou dos seus edifícios e monumentos, por exemplo. Entre estas múltiplas narrativas contam-se o mar e o rio Tejo, as Descobertas e o terramoto, Fernando Pessoa e Vieira da Silva, Almada Negreiros e Amália Rodrigues, o fado e o kuduro, África e o Brasil, a multiculturalidade intermitente e a imigração, entre tantas outras. Não foi contudo encontrada ainda (e será discutível que o seja, ou que possa sequer ser…) uma marca única que represente e articule as várias identidades e imaginários da cidade.

Este trabalho de concretização das representações da cidade embate de forma insistente na má divulgação da oferta cultural da cidade e na má articulação dos agentes culturais da cidade e destes com a Câmara Municipal de Lisboa. Esta desarticulação, mais do que logística, é muitas vezes conceptual, de desencontro e confusão de narrativas.

Qualquer abordagem às questões relacionadas com as representações da cidade deve também ir para além da cidade-concelho, atendendo a toda a envolvente territorial e aos seus contextos socioculturais e económicos metropolitanos. Afinal, Lisboa tem gentes e bairros muito distintos e muito ricos, em termos de vivências e imaginários, tem novas periferias, com relacionamentos muito diferentes com a cidade, e insere-se numa zona metropolitana, com a qual partilha diariamente todo o tipo de fluxos e experiências.

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A comparação com cidades europeias, que conseguiram criar um hype à sua volta, que conseguiram construir novos imaginários e vivências a partir de representações já existentes e de outras que foram conseguindo adicionar (Barcelona ou Berlim foram citadas de forma insistente), foi recorrente durante o diagnóstico. Não obstante, admitiu-se que estes fenómenos não são facilmente replicáveis, pois evoluíram de situações muito particulares, como por exemplo, de um mercado imobiliário acessível e atraente para jovens e artistas e de bons transportes públicos. Apesar de tudo, admite- -se que muito trabalho em relação aos circuitos de mediação globais possa ser feito neste campo da afirmação externa da imagem da cidade.

Há uma preocupação clara de que todo o trabalho de branding a realizar seja um pouco mais do que um exercício de marketing e de campanha turística, e que respeite, de facto, as características da cidade e expresse as identidades lisboetas, escapando a estereótipos fáceis ou rótulos preguiçosos. Mas mais do que tudo, importa que a cidade seja pensada e representada em função daqueles que a vivem quotidianamente e que não seja dela construída uma imagem turistificada e artificial, ligada a lugares comuns ou aspectos identitários não consensualmente partilhados, onde os seus residentes e utilizadores quotidianos não se reconheçam. As representações da cidade devem, num contexto de contemporaneidade e de expressão da diversidade sociocultural que hoje compõe Lisboa, estar intimamente ligadas àquilo que são as vivências quotidianas e as memórias dos seus “lisboetas”.

2.3 uma abordagem sectorial

2 . 3 . 1 A R t e S V I S u A I S e M e R C A d o d e A R t e

Por artes visuais entendemos a pintura, a escultura, new media e instalação e a fotografia. Todo o elenco e definição disciplinar, neste caso particular, são perigosos, já que é um sector em permanente mutação. O sector das artes visuais apresenta diversas dimensões, todas intimamente ligadas. Uma é a que diz respeito propriamente à criação, ou seja, aos artistas, sendo que a jusante temos todo o sistema legitimador: as galerias, os museus, o mercado coleccionista e investidor e a crítica de arte. Para além disto, e como transversal a todas estas disciplinas temos também a questão essencial da formação.

Nas artes visuais, em particular, Lisboa apresenta todos os sinais de um sector frágil, fragilidade essa que resulta do seu periferismo geográfico e do reduzido poder financeiro do sector e dos seus agentes, que não é comparável às principais cidades europeias. Isto nota-se, principalmente, na ausência de um mercado investidor relevante e activo. O principal evento do mundo da arte em Lisboa, o Arte Lisboa serve, a esse nível, de poderosa imagem do sector: um número crescente de agentes (artistas, galeristas, coleccionadores) coexistindo num tecido frágil e descontínuo.

Os últimos anos foram um período de grandes transformações, verificando-se a abertura de inúmeras novas galerias, a emergência de um conjunto de coleccionadores com um certo poder de compra (que viajam e estão atentos ao mercado internacional), o aparecimento de novos coleccionadores institucionais (grandes empresas, bancos, escritórios de advogados movidos por objectivos mistos de investimento, prestígio e responsabilidade social) assim como a consolidação de uma crítica especializada e o aumento de projectos editoriais dedicados à crítica e à reflexão. Paradoxalmente, Lisboa

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padece de uma sangria significativa (o que não é necessariamente mau, dada a necessidade de circulação da nossa criação e como forma de combate ao periferismo) dos seus mais promissores artistas que procuram em Berlim, Londres ou Nova Iorque contextos diferentes (sejam estes materiais ou imateriais) para desenvolverem e explorarem as suas carreiras. Os que ficam – e o processo de auscultação prosseguido neste exercício confirmou-nos isso – reclamam simultaneamente mais espaços de criação. Ambicionam espaços oficiais de ateliês atribuídos pela Câmara, mas reclamam também que esta intervenha na recuperação e ocupação de espaços e edifícios abandonados e devolutos, reconvertendo-os em espaços de criação (como vemos em vários pontos deste relatório, esta é uma exigência transversal a vários sectores). Estes espaços deverão servir não só os artistas de Lisboa, emergentes ou consagrados, e os estudantes, mas também artistas internacionais que pretendam realizar residências artísticas ou que se queiram fixar em Lisboa.

O papel da autarquia enquanto programador, curador, financiador, produtor ou mero promotor não tem estado claro e é objecto de acesa discussão. É particularmente muito discutível (e muito discutido) que a Câmara assuma ela própria directamente a programação regular de certos espaços, bem como que se constitua como curador ou mesmo agente comprador no mercado de arte contemporânea, não obstante o seu potencial papel de mediador e legitimador cultural, particularmente na promoção de jovens artistas. O apoio à produção de determinados acontecimentos artístico-culturais é uma expressão que a actuação da Câmara pode assumir, apesar de haver grande indefinição e avanços e recuos. O fim da Lisboa Photo por falta de financiamento da Câmara Municipal é sintomático, de certa forma, do desinvestimento da autarquia no sector, numa altura em que este evento começava a ter impacto não só em Portugal como no estrangeiro.

Uma preocupação comum aos diversos agentes das artes visuais é a questão do papel da Câmara Municipal como coleccionadora e “encomendante” de arte. Enquanto que no caso da encomenda de arte pública a questão parece relativamente consensual, assumindo-se que a autarquia deve ter um papel de promotor da criação na cidade (e de criação da cidade, - em articulação com o urbanismo e o turismo), já é mais polémica e menos consensual a questão de a Câmara, por intermédio dos seus museus e galerias, poder comprar obras aos artistas da cidade (constituindo uma colecção representativa da criação de Lisboa, ao longo do tempo).

É importante não esquecer o mercado das antiguidades e das artes decorativas, que apresenta algumas semelhanças estruturais com o das artes visuais. O peso deste mercado reflecte o crescimento estrutural da economia portuguesa e de uma classe de compradores e coleccionadores, não obstante a fragilidade do sector, constituído essencialmente por antiquários, leiloeiras, marchands e museus nacionais e municipais.

Ao nível da formação há diversos sinais de que esta, nos seus níveis mais avançados, padece de graves insuficiências e lacunas, o que explica, parcialmente (a par de uma crescente necessidade de reconhecimento e de proximidade a circuitos de legitimação globalizados), a necessidade dos jovens artistas, que fizeram a formação inicial e universitária na cidade, procurarem formação adicional noutras cidades. Parece inquestionável que há um trabalho grande a fazer ao nível da formação especializada e avançada, seja por intermédio de novos programas nas escolas existentes ou pela criação de programas e residências artísticas.

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Áreas de actuação da Câmara1

> apoio à produção de iniciativas privadas;> apoio à criação através de encomendas de arte pública;> apoio à criação através da actividade expositiva e coleccionadora dos seus museus e galerias;> cedência de espaços de atelier e expositivos/ recuperação de espaços vazios ou devolutos;> promoção de residências artísticas internacionais em parceria com instituições da cidade;> instituição de concursos públicos para a escolha das posições de Direcção das instituições sob a sua tutela;> promoção de uma maior e melhor divulgação dos acontecimentos culturais da cidade.

2 . 3 . 2 A R t e S P e R f o R M A t I VA S

Nas artes performativas, incluímos o teatro, a dança, a ópera, as artes circenses, bem como todo um conjunto de actividades especializadas em cada uma destas categorias (teatro infantil, de marionetas, etc.) ou pelo contrário iniciativas, cada vez mais frequentes, transdisciplinares e transversais a todas estas categorias, inevitavelmente redutoras. Note-se que não consideramos aqui a música ao vivo, nas suas varias vertentes, considerando-a antes na categoria “Música”).

Lisboa é, naturalmente, a cidade do país com mais oferta teatral. É a cidade com o maior número de salas, de companhias e empresários/promotores. Tem também um número significativo de escolas de formação (seja de base, seja ensino superior). À semelhança dos outros sectores aqui analisados, também o Teatro foi alvo de mutações significativas nos últimos anos. Lisboa, na sequência do 25 de Abril, viu nascer inúmeras companhias de teatro, mas na última década e meia este tecido tem vindo a regenerar-se significativamente. Se por um lado as principais companhias surgidas no período do 25 de Abril (a Cornucópia, a Comuna, o Teatro Aberto, por exemplo; uns antes e outros depois) consolidaram a sua actividade, fruto de uma estabilidade resultante da subvenção estatal, a maior parte das demais estruturas que partilhavam este período de fundação tem desaparecido progressivamente dando lugar a um conjunto de pequenas companhias emergentes. Este tipo de estrutura, que surge nos finais dos anos 90 tem-se multiplicado, racionalizando meios, no maior parte dos casos não dispõem salas próprias e as respectivas estruturas de produção e administrativas são minimais. Este estado de coisas resulta também do apoio estatal a projectos isolados e não à actividade dessas companhias ou projectos por períodos plurianuais.

É importante relembrar que o facto do Teatro Nacional D. Maria II estar em Lisboa – apesar da actividade um pouco intermitente da última década -, da Câmara dispor de dois teatros municipais com actividade regular (para além de alguns espaços cedidos a diversas outras companhias) e o facto da Culturgest e o CCB não só acolherem espectáculos como produzirem ou co-produzirem espectáculos regularmente – nacionais e internacionais –, dão uma estabilidade fundamental ao sector do teatro e da dança na área de Lisboa contribuindo para o regular funcionamento do sector, e para o peso crucial que a cidade nele tem a nível nacional e metropolitano.

1 em cada um dos diagnósticos sectoriais incluímos uma caixa final com a leitura da equipa em relação às principais potenciais atribuições e competências municipais em cada um destes campos culturais.

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Apesar de não haver um festival de teatro de grande dimensão (existindo no entanto um no município vizinho de Almada, com quem podem ser estabelecidas pontes…), a cidade acolhe regularmente espectáculos em digressão internacional, embora raras vezes estes sejam grandes produções. O Festival Internacional de Teatro de Marionetas (FIMFA) é, por sua vez, uma importante montra da produção internacional nesta área específica, embora seja um género sem grande peso no tecido teatral da cidade (apesar de Lisboa ter um bom Museu de Marionetas). As artes circenses têm no Chapitô o seu grande motor, tanto no que diz respeito à formação de artistas como produtor de espectáculos. Um género artístico que viu perder enorme influência e públicos, em termos estruturais, nas últimas décadas, é a revista. São vários os factores responsáveis por esta situação: o aumento da oferta cultural e de entretenimento na cidade de Lisboa (e até dos meios televisivos); um certo esgotamento da fórmula popular que durante anos se alimentou da crítica ao poder, mas que os últimos anos de estabilidade democrática tornaram um pouco obsoleta; e a decadência dos teatros do Parque Mayer. Este subsector específico não deixa no entanto de polarizar ainda uma procura significativa, de âmbito nacional (com afluxos consideráveis de públicos inter-regionais), que importa não descurar.

Esta decadência corresponde também ao fim de uma época de um tipo de produtores teatrais. Estes foram substituídos por promotores de espectáculos e há muito menos empresários, no campo da iniciativa privada, a produzir espectáculos de teatro. Há, naturalmente, algumas excepções, como o trabalho do Teatro Politeama, da UAU e alguns outros, com um peso e dinâmica significativos.

Um dos factos mais significativo dos últimos anos na área da dança no espaço geográfico de Lisboa terá sido o fim o Ballet Gulbenkian, se bem que o estudo sobre o impacto do seu encerramento esteja por fazer. Com excepção da Companhia Nacional de Bailado, agora associada organicamente ao Teatro Nacional de S. Carlos na figura do Opart (Organismo de Produção Artística, EPE) a Dança em Lisboa, tal como o Teatro, vive de recursos (ainda mais) exíguos, sendo que há vários coreógrafos a trabalhar a solo ou a desenvolver projectos coreográficos pontuais, muitas vezes sem qualquer estrutura de produção estável por trás. Apesar de tudo, e na sequência da actividade do Ballet Gulbenkian, desde os anos 80 que Portugal e Lisboa têm conseguido fazer circular os seus coreógrafos, bailarinos e obras. Um facto bastante positivo que emerge da análise ao sector da dança, para além da grande dinâmica destas pequenas estruturas, diz respeito à articulação entre os agentes do sector, nomeadamente redes de estruturas, organizadas e que procuram discutir e reflectir regularmente sobre a sua área, em todas as suas dimensões. É uma área que parece estar mais bem organizada do que o Teatro, por exemplo.

A cidade de Lisboa está, hoje em dia, bem servida de espectáculos internacionais de dança (mas não tão bem ao nível do teatro) em resultado da actividade prosseguida fundamentalmente pelo Centro Cultural de Belém, pela Culturgest ou por Festivais como o Alkantara. Apesar de Lisboa não apresentar uma oferta cultural como Paris ou Londres acaba por ver muitos dos principais espectáculos em circulação internacional. Apesar desta visão relativamente optimista persistem um conjunto de problemas graves na cidade de Lisboa ao nível do teatro e da dança, relacionados com a falta de espaços de ensaio (tema recorrente a todos os sectores), continuidade no financiamento público aos diversos projectos, uma persistente dificuldade em internacionalizar/circular os projectos (embora no caso da dança seja a situação menos gravosa do que no teatro). Resumindo, há um problema de falta de espaços, subfinanciamento crónico e estabilidade desse mesmo financiamento, bem como de internacionalização/exportação das criações portuguesas/de Lisboa.

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A ópera em Lisboa acontece, muito naturalmente, à volta do e por causa do Teatro Nacional de S. Carlos. Sendo a ópera uma das disciplinas artísticas mais caras, a sua actividade é bastante descontínua. A Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) realiza, no seio da sua temporada de música, algumas óperas não encenadas e o seu programa educativo inclui algumas óperas para os públicos mais jovens. Assiste-se nos últimos anos a uma tímida emergência de encomenda de óperas contemporâneas a compositores portugueses (encomendas da FCG ou da Culturgest, por exemplo), mas falta ainda um trabalho de promoção da circulação das óperas portuguesas encomendadas nos últimos anos, evitando apresentações únicas dessas mesmas encomendas.

A cidade de Lisboa, com o aumento da massa crítica, tanto do lado da oferta, como da procura (e até da formação artística), apresenta várias dinâmicas e uma certa efervescência criativa, na área das artes performativas, que ultrapassa a moldura institucional, pela sua natureza experimental, transdisciplinar e quase rudimentar. Esta efervescência, que torna a cidade muito atractiva, debate-se no entanto mais uma vez com a falta de espaços de criação – daí a reivindicação para o reaproveitamento e recuperação de espaços vazios e devolutos da cidade, como uma prioridade da acção da autarquia –, assim como com o seu desenquadramento das lógicas de financiamento instituídas.

À semelhança das artes visuais, a cidade está servida de várias instituições de ensino artístico profissionalizante e superior, mas padece de graves lacunas no que diz respeito à formação artística avançada, e, com a excepção de alguma dança, de contacto e exposição internacional.

Áreas de actuação da Câmara

> apoio à produção de iniciativas privadas> cedência de espaços de criação e de performance/recuperação de espaços vazios ou devolutos; > promoção de residências internacionais em parceria com instituições da cidade;> instituição de concursos públicos para a escolha das posições de Direcção das organizações sob a sua tutela; > promoção de uma maior e melhor divulgação dos acontecimentos culturais da cidade.

2 . 3 . 3 l I V R o e P u b l I C A ç õ e S

Nos últimos anos, o sector editorial sofreu uma significativa concentração nas mãos de dois ou três grandes grupos, sendo que alguns são multinacionais com sede em Espanha ou noutros países. Esta concentração absorveu não só grandes editoras mas também editoras de pequena dimensão. Paralelamente, surgiram vários pequenos projectos editoriais de sucesso variável que contrapuseram à dita concentração uma saudável fragmentação do mercado, contribuindo simultaneamente para a especialização do mercado. Este sector é um daqueles em que a cidade se confunde com o país, já que é em Lisboa que se encontram a maioria dos grupos editoriais e pequenas editoras, os seus serviços editoriais e administrativos e até as gráficas que suportam a sua produção estão localizadas na área metropolitana de Lisboa.

O país, e a cidade, continuam a apresentar uma limitada capacidade de exportação da sua produção literária. No entanto, os poucos autores que, apesar de tudo, vão penetrando nos mercados internacionais têm, de forma genérica, uma ligação grande à cidade de Lisboa, fazendo dela palco para muitas das suas obras. De Pessoa a Lobo Antunes, entre muitos outros, Lisboa desempenha regularmente um papel activo nas suas obras.

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A entrada da FNAC, no mercado português, e na cidade de Lisboa, ainda nos anos 90, veio transformar radicalmente o panorama do retalho (e com consequências significativas em todas as fases da cadeia de valor), agitando ainda mais o mercado, ainda abalado com a recente concorrência das grandes superfícies. Lisboa assistiu ao encerramento de várias livrarias emblemáticas e muitas das que resistiram enfrentam dificuldades permanentes. Ainda assim, é um mercado bem mais dinâmico que o resto do pais que vê capitais de distrito ficar sem praticamente nenhuma livraria. Surgiram, entretanto, algumas pequenas lojas especializadas (de filosofia, de livros de arte, de banda desenhada) que vão directamente de encontro ao seu público e que, apesar das dificuldades, conseguiram encontrar o seu espaço. A zona do Bairro Alto e Chiado permanece uma zona privilegiada para o mercado de alfarrabistas, constituindo, provavelmente a única aproximação a um cluster de actividade cultural e criativa que Lisboa dispõe (com mais de duas dezenas de livrarias na área, mesmo após o impacto da FNAC).

Ainda a propósito da FNAC, é de salientar a importância que a abertura da primeira loja em Portugal no Chiado, após a sua recuperação, teve para o caso de sucesso que esta zona representa. É unanimemente aceite, hoje em dia, que a abertura da FNAC nos Armazéns do Chiado em muito contribuiu para que as pessoas regressassem a esta zona transformando-a de novo numa área comercial por excelência e assim como um centro turístico. Da mesma forma, toda uma nova geração de livrarias (de grupos mais consolidados, como a Bulhosa, a Assírio e Alvim ou a Almedina, até lógicas mais “individuais”, como a da Ler Devagar, da Pó dos Livros ou da Trama, entre muitas outras) tem apostado na criação e dinamização de espaços de sociabilidade, convívio e organização de eventos culturais que contribuem claramente para uma maior ligação à cidade e para a promoção de uma nova dinâmica urbana a partir da multiplicidade de pontos de debate cultural que geram na cidade.

O maior evento livreiro do país realiza-se todos os anos no Parque Eduardo VII, em Lisboa, com apoio municipal. A Feira de Lisboa é a maior feira do país e um momento importante para livreiros e livrarias. Continua, no entanto, no centro de inúmeras polémicas entre associações de editores e livreiros rivais.

À semelhança do sector livreiro, também o mercado editorial de revistas e jornais tem sofrido uma concentração significativa, ao mesmo tempo, que padece de um decréscimo importante nos números em circulação. Esta quebra de exemplares vendidos afecta uniformemente jornais e revistas, generalistas e especializadas. Assim, praticamente todos os profissionais do sector, jornalistas, designers, apoio de produção e administrativos se encontram em Lisboa. Os principais grupos editoriais, seja de livros ou jornais e revistas podiam ser encontrados, há não muitos anos, tanto no Porto como em Lisboa. Hoje em dia, mesmo quando a sua propriedade reside no Porto, a realidade demonstra-nos que as redacções e os escritórios estão em Lisboa.

Áreas de actuação da Câmara

> promoção das memórias e imaginários, dos seus autores e da tradição literária da cidade, através das suas instituições (criação de roteiros, por exemplo);> promoção de uma maior e melhor divulgação dos acontecimentos culturais da cidade;> apoiar a realização da feira do livro.

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2 . 3 . 4 A u d I o V I S u A l e C I n e M A

O cinema é uma das áreas que está praticamente toda concentrada em Lisboa. Apesar de ser um sector especialmente frágil – é arriscado dizer que há uma indústria do cinema em Portugal –, é um daqueles casos em que a cidade se confunde com o país. Tradicionalmente, o cinema em Portugal é financiado quase exclusivamente pelo Ministério da Cultura, mas a recente criação do Fundo de Financiamento para o Cinema e Audiovisual Português poderá trazer novas dinâmicas ao sector. A ideia é complementar o financiamento estatal, permitindo a produção de filmes que não se enquadram nos objectivos prioritários desse financiamento, contribuindo simultaneamente para o fortalecimento do tecido de uma “indústria” do cinema em Portugal. É, no entanto, demasiado cedo para retirar conclusões dos seus efeitos. Os últimos anos também têm sido caracterizados por um crescente número de produtoras com objectivos puramente comerciais, em oposição ao financiamento público que promove o novo cinema, o cinema de autor ou o cinema mais experimental. Esta é uma discussão antiga, mas que em termos simplistas pode ser colocada nestes termos. De qualquer forma, em relação à produção de cinema nacional actualmente dominante, internacionalmente reputada e legitimada, com um grau interessante de circulação externa, mas claramente (e necessariamente, neste caso…) dependente do apoio estatal, a concentração da esmagadora parte da actividade associada à criação e produção na área metropolitana de Lisboa (e em particular na cidade) é evidente, e tem impactos significativos na cidade.

Outra discussão antiga diz respeito à criação de uma Lisbon Film Commission. Esta comissão, que, existindo ainda de forma incipiente, começa agora a ser dinamizada, tem o intuito de captar produções cinematográficas internacionais para a área de Lisboa, ao mesmo tempo que pode criar, facilitar ou apoiar as condições logísticas para que essas produções vejam o processo facilitado (meios locais de produção, location scouting, negociações para isenção de impostos, facilitar licenças para filmar em locais públicos, entre inúmeras outros apoios possíveis).

Nos últimos anos tem-se falado na imprensa, de forma mais ou menos recorrente na criação de uma cidade do cinema, a instalar na área metropolitana de Lisboa. Várias autarquias, como o Barreiro, Sintra ou Cascais, têm visto associado o seu nome a estes projectos que serão promovidos pelo sector privado. No entanto, nenhum deles saiu até agora do papel.

Do lado da exibição, a cidade e a área metropolitana em geral sofreram uma transformação radical. Um número elevado de salas de cinema foram encerradas, deslocando-se o grosso das salas de exibição para a periferia ou para centros comerciais, na forma de multiplexes. A par desta deslocalização, também o tempo de exibição de cada cópia diminuiu ao mesmo tempo que o número de cópias disponíveis de cada filme aumentou. Esta desertificação de salas de exibição no centro da cidade convive com um aumento de algumas fileiras de sucesso nas áreas mais “alternativas” e com o programa da Cinemateca Portuguesa.

Lisboa assistiu, nos últimos anos, ao aparecimento de inúmeros Festivais de Cinema especializado, tais como o Doc Lisboa e o Panorama, o Indie Lisboa, o Monstra, o QueerLisboa, a Mostra de Cinema Brasileiro, o festival de cinema Francês ou o dedicado ao cinema digital. Alguns deles, tais como o Indie o o Doc Lisboa, são autênticos case studies de sucesso e marcam uma mudança radical nas necessidades dos cinéfilos e do público em geral da cidade, pondo-os a par com praticamente toda a produção cinematográfica

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contemporânea internacional. É de destacar o importante papel desempenhado pela autarquia, e pela EGEAC em particular, no apoio a esta dinâmica de Festivais, com a cedência de espaços e com apoio de produção crucial ao bom funcionamento destes eventos.

A televisão, que pelo contrário não se concentra só em Lisboa embora aí esteja a grande fatia, tem um vigor que o cinema não apresenta. É importante realçar que os audiovisuais são de facto o principal motor de um sector das indústrias criativas e o facto desses estarem maioritariamente concentrados em Lisboa tornam esta cidade na única cidade em Portugal que pode afirmar que tem um sector das indústrias criativas. De facto, as televisões são a razão deste sector apresentar uma certa robustez em Lisboa, sendo que todos os principais canais terrestres ou por cabo estão a operar no concelho ou nos concelhos limítrofes. As externalidades provocadas assim como os seus efeitos multiplicadores são muito significativos. A actividade televisiva tem consequências ao nível das pequenas produtoras de audiovisuais, dos profissionais a actuarem no sector (desde meros carpinteiros de cena a especialistas de pós-produção digital), nas escolas e centros de formação especializada, na promoção de tecnologia digital, na dependência bidireccional com o sector da publicidade ou até com a imprensa escrita. Alguns efeitos da dinâmica do audiovisual são a profusão de empresas de serviços técnicos e especializados, nesta área, em toda a área metropolitana (de destacar que neste campo, o concelho de Lisboa sofre com a crescente concorrência dos concelhos limítrofes, aonde o espaço é mais barato). É importante realçar que a maior parte dos canais de televisão coexistem num quadro de concentração empresarial, de âmbito integrado (vertical e horizontal). O mesmo se aplica à área da rádio que, embora não disponha da importância social de outrora continua a ser um meio muito popular sendo que, de novo, as principais estações estejam localizadas em Lisboa.

Áreas de actuação da Câmara

> apoio aos festivais da cidade (logístico, cedência de equipamentos e das suas equipas, por exemplo);> apoio à produção cinematográfica através da sua Film commission (logístico, isenções fiscais, licenças, etc.) e acompanhamento e apoio a toda a produção audiovisual em geral que se faz na cidade (licenciamento, etc.);> atracção de produção cinematográfica internacional através da Film commission.

2 . 3 . 5 M ú S I C A e e d I ç ã o f o n o g R á f I C A

A área da música e da edição fonográfica tem sofrido significativas alterações, sendo que Lisboa naturalmente não escapa às mutações provocadas pelos mais recentes avanços tecnológicos. Nos últimos anos, as principais editoras discográficas multinacionais entraram num processo imparável de fusão para tentar combater a pirataria e a revolução digital que permite que a cadeia de valor seja subvertida por jovens músicos a trabalhar directamente dos seus estúdios caseiros para todo o mundo. Este processo teve o efeito de muitas dessas editoras terem saído do mercado português – e todas tinham base em Lisboa –, ou desinvestido significativamente em artistas portugueses, optando por gerir os catálogos existentes apenas. Isso criou espaço para novos artistas, editoras com características mais de acordo com o mundo digital em que vivemos e, provavelmente, mais próximos do mundo e menos periféricos do que na altura em que as multinacionais reinavam. É curioso ver o trabalho de algumas editoras com base em Lisboa, que são

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projectos de pequena dimensão, mas de vocação especializada, preocupadas em constituir um catálogo de propriedade intelectual robusto e totalmente projectadas para o mercado internacional. Fazem uso, para isso, de todas as ferramentas que as novas tecnologias digitais disponibilizam, em total sintonia com os mercados internacionais.

Simultaneamente, há um grupo grande de músicos, grupos e projectos da mais diversa índole (diversos tipos projectos de música electrónica orientados para as pistas de dança, alguns obedecendo às tendências mais contemporâneas e outros, como os Buraka Som sistema, que se apropriam de sonoridades de fora da Europa, mas que encontram em Lisboa uma primeira paragem europeia, jazz, algum rock entre outros), baseados em Lisboa que actuam no mercado global, que entraram nos circuitos especializados, e que actuam regularmente ao vivo nas principais cidades do mundo, e editam discos em nome próprio ou por editoras internacionais sem qualquer paragem obrigatória legitimadora pelos palcos ou imprensa nacional. Estas mutações são muito significativas e pela primeira vez ultrapassam a categoria de música “étnica” e world, um rótulo que os primeiros projectos que Lisboa exportou carregavam. É significativo, de qualquer das formas, o trabalho que a nova geração de jovens fadistas de Lisboa tem feito pelos palcos de todo o mundo, também conseguindo contribuir para uma imagem diferente da que Lisboa outrora exportava.

Lisboa tem hoje em dia uma oferta significativa de concertos, sejam das principais bandas internacionais ou das principais orquestras do mundo, assim como de projectos mais pequenos ou de projectos nacionais, embora essa oferta seja por vezes desequilibrada ou descontínua. Lisboa dispõe também de uma maior oferta de palcos do que há uns anos atrás. A principal lacuna parece ser, apesar de tudo, de espaços de média e pequena dimensão, embora já haja um grupo de pequenas salas (ZDB, Cabaret Maxime, Santiago Alquimista, MusicBox,…) que vai colmatando essa lacuna. Também ao nível da música clássica e do jazz, Lisboa conta com uma oferta interessante, mas igualmente desequilibrada. Muitos dos principais agrupamentos ou solistas mundiais tocam regularmente em Lisboa, mas depois falta alguma oferta “intermédia” que permita continuidade (da oferta, da formação dos públicos, etc.), de forma mais quotidiana.

Há também um grupo de promotores a fazer um trabalho muito interessante e altamente especializado, cujo grau de profissionalismo e o know-how acumulado têm crescido significativamente ao longo dos anos mais recentes, e vindo a ser difundido gradualmente a todo o sector de promoção e organização de espectáculos de música ao vivo (não obstante a grande concentração empresarial existente no sector, com um pequeno grupo de empresas/empresários claramente dominantes). Esta evolução, paradoxalmente, ajuda também a explicar alguns dos desequilíbrios referidos anteriormente. Lisboa parece ter uma oferta bastante boa ao nível de propostas musicais de renome (seja da música clássica ao jazz ou à música electrónica) e também de muitas das propostas mais exploratórias em praticamente em todos os estilos de música. Ao nível da música clássica, por exemplo, a oferta das grandes instituições, do CCB (na sua programação regular e nos Dias da Música), ou a temporada de música da Fundação Gulbenkian está em perfeita sintonia com os circuitos internacionais. Fica, assim por explorar de forma regular uma área intermédia (para a qual a existência de espaços e de um tecido institucional adequado se revelaria eventualmente importante).

É importante ainda destacar o mercado da música ligeira e popular que, embora com características diferentes do resto do país, é uma área altamente robusta, empregando muitíssimos profissionais (embora nem todos em regime full time). Esta área da Música

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é normalmente ignorada, mas tem uma certa dimensão, e cobre todo o território nacional, em todo o tipo de festas populares. É importante frisar que o circuito de música ligeira e popular ao vivo tem consequências muito concretas a outro nível, no sector da música, e que é o mercado das empresas fornecedoras de palcos e material de som e luz, e cujas principais empresas se encontram baseadas em Lisboa.

À semelhança das artes visuais, a música necessita de um trabalho mais exaustivo e continuado ao nível da formação mais avançada. Há várias escolas de boa qualidade, Lisboa é sede do Conservatório Nacional e tem uma Escola Superior de Música; mas também aqui o peso do periferismo da cidade e do país se faz sentir, e muitos jovens músicos sentem ainda necessidade de continuar a sua formação noutros países (e pelas mesmas razões, Lisboa não é um destino para estudantes de música provenientes de outros países). Destaque a esse respeito para a actividade prosseguida pela Associação Música – Educação e Cultura, entidade financiada pela Câmara Municipal, e que gere a actividade da Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra Académica Metropolitana, assim como a Academia Nacional Superior de Orquestra e o Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa, escolas de ensino superior e de ensino básico e secundário de música, respectivamente.

Áreas de actuação da Câmara

> apoio à produção de eventos e acontecimentos musicais;> cedência de espaços de ensaio e apresentação de concertos/recuperação de espaços vazios ou devolutos; > promoção de uma maior e melhor divulgação dos acontecimentos culturais da cidade.

2 . 3 . 6 d e S I g n , A R q u I t e C t u R A , C R I A ç ã o P u b l I C I t á R I A

e S o f t WA R e d e e n t R e t e n I M e n t o

Incluímos neste capítulo aqueles quatro conjuntos de actividades principais que caem no usual “Círculo 2” de algumas visões sobre as indústrias/actividades criativas; isto é, aquelas actividades que incorporam uma dimensão criativa, mas cuja actividade não é, em termos tradicionais, reconhecida directamente como artística e que na prática se traduz na produção de serviços, com conteúdo estético e simbólico, “vendidos” e incorporados noutros bens e serviços, de outros sectores económicos

d e S I g n

Esta área é provavelmente uma das actividades que mais profissionais terá ganho nos últimos anos. É, no entanto, uma actividade que só muito recentemente viu atribuído um código de actividade económica aos seus agentes, pelo que é de difícil quantificação (a isso acresce o facto de ser uma actividade em que as fronteiras entre determinados ramos de especialização se confundem, e onde a pluriactividade e a actividade a tempo parcial são também relevantes). Em termos genéricos e simplificados podemos elencar as principais áreas do design da seguinte forma: design de moda, design de jóias, design industrial e equipamento, design de comunicação e webdesign. O principal traço que caracteriza esta actividade é, apesar e tudo, uma certa informalidade. Isto não significa necessariamente que seja uma actividade cuja contabilidade dos seus profissionais não é feita de forma

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regular, mas é um que facto que grande parte dos profissionais do sector trabalha a “recibo verde”, conciliando trabalhos por conta de outrem com projectos pessoais. Esta é uma característica comum aos profissionais desta área em todo o país e não só Lisboa. Naturalmente, o design de comunicação, onde incluímos o webdesign, é o ramo que tem mais profissionais contra um menor número dos designers de equipamento e de moda. Apesar desta ser uma área onde a cidade poderia tentar internacionalizar os seus talentos tem sido mais frequente assistir à partida – à semelhança dos artistas plásticos – de alguns dos mais talentosos profissionais. Simultaneamente, tem havido um esforço levado a cabo tanto pela Experimenta Design como pela Moda Lisboa (que actualmente se realiza no Concelho de Cascais) para internacionalizar o design e a moda portuguesa. Este é um trabalho árduo e que tem de ser feito em parceria com a indústria. Deverá levar algum tempo até surgirem os primeiros resultados consistentes mas é um trabalho que tem de ser feito e que merece ser continuado. A colaboração de instituições como o MUDE – Museu do Design e da Moda pode ser muito interessante para sedimentar não só as representações e a visibilidade do sector, como igualmente para proporcionar um contacto mais fácil e frequente entre os diversos tipos de agentes do sector.

Como exemplo de iniciativas de base territorial interessantes a decorrer na cidade, foi constituída recentemente a Associação Empresarial do Bairro de Santos, com o objectivo de desenvolver o projecto Santos Design District, reunindo um grupo de comerciantes e agentes ligados ao Design na zona de Santos. Esta associação tem o intuito de promover o Design e os negócios localizados nessa zona. Juntamente com os antiquários da Rua de São Bento, da Rua da Misericórdia, da Rua de São Pedro de Alcântara e da Rua da Escola Politécnica, é um dos projectos de base territorial mais interessantes a decorrer na cidade.

A R q u I t e C t u R A

A arquitectura tem sido alvo de grandes mutações, internacionalmente, nos últimos anos, com a promoção a “quase celebridades” de alguns arquitectos, assim como a construção de flagship buildings, um pouco por todo o mundo, como motor de regeneração de cidades e regiões. A contratação de um arquitecto famoso permite ultrapassar mutas vezes determinados obstáculos que um projecto de envergadura poderia enfrentar, desde o financiamento ao seu licenciamento ou à aprovação popular. Portugal e Lisboa não são excepção, e nos últimos anos têm sido anunciados diversos projectos, muitos deles para equipamentos na área cultural (embora nenhum tenha ainda saído do papel), concebidos por grandes arquitectos mundiais: David Adjaye e o África.Cont, Frank Gehry e a renovação do Parque Mayer, Jean Nouvel em Alcântara, Paulo Mendes Rocha e o novo Museu dos Coches. Simultaneamente alguns arquitectos portugueses começam a ter projecção fora de Portugal (após as portas abertas por Siza Vieira e Souto Moura) sendo que vários arquitectos de Lisboa têm obras ou projectos a decorrer no estrangeiro – Promontório, Manuel Salgado, Gonçalo Byrne, Inês Lobo e Carrilho da Graça, Aires Mateus, entre outros.

A um nível mais ocupacional é de destacar o aumento significativo de arquitectos no activo no concelho de Lisboa, aumento cujas causas residem no aumento de cursos de arquitectura (não só em Lisboa, mas também no resto do país), assim como um aumento da procura destes profissionais em resultado do crescimento do mercado imobiliário e de investimentos em infra-estruturas dos últimos 20 anos. Este aumento de profissionais foi acompanhado, no entanto, por uma precariedade crescente das condições de trabalho. É de esperar no entanto uma regressão no crescimento do número de arquitectos assim como na absorção pelo mercado destes profissionais, dada a crise financeira e imobiliária em curso.

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É de destacar ainda a existência de um evento, já regular, de grande importância neste sector, a Trienal de Arquitectura de Lisboa, promovida pela Ordem dos Arquitectos, cuja última edição teve lugar em 2007 com o objectivo de promover a reflexão sobre as práticas arquitectónicas no quadro da Área Metropolitana de Lisboa.

C R I A ç ã o P u b l I C I t á R I A

Como foi referido anteriormente, o facto da maior parte dos canais de televisão estarem localizados em Lisboa ou nos concelhos limítrofes torna esta cidade no centro de todas as actividades relacionadas com publicidade. Ou seja, as agências de publicidade, as empresas de gestão de meios, as principais produtoras de filmes, as empresas de aluguer de material vídeo e cinema, os técnicos e produtores freelancers, as empresas de pós-produção digital, os estúdios de gravação, entre inúmeros outros agentes que trabalham directa ou indirectamente nesta área estão essencialmente em Lisboa. Inevitavelmente os pontos de contacto com várias outras actividades culturais e criativas acontecem, nomeadamente com o cinema.

A internacionalização da indústria da publicidade portuguesa ainda é muito incipiente, embora o mercado esteja em expansão, e haja alguma margem de crescimento e expansão. É importante destacar a actividade de algumas produtoras de filmes nacionais e estrangeiras, a trabalhar em Lisboa, com o mercado de publicidade internacional. Oferecendo todo o tipo de serviços, do location scouting a todas as fases do processo de filmagem de um filme publicitário, tiram partido dos décors naturais disponíveis na região de Lisboa, o grande número de horas de sol ao longo do Inverno, os preços relativamente acessíveis do país, os seus profissionais ou o material técnico disponível. Este é um tipo de trabalho levado a cabo na região de Lisboa muito interessante e que poderia ser mais explorado.

S o f t WA R e d e e n t R e t e n I M e n t o

A concepção e criação de jogos de computador e software de entretenimento é uma área de actividade bastante pequena embora haja algumas empresas a trabalhar na área de Lisboa. O mercado de jogos para consolas é um mercado que envolve milhões de euros, tendo uma estrutura muito semelhante às grandes indústrias de cinema. Por essa mesma razão, é uma actividade praticamente inexistente, apesar de um projecto com base em Cascais que prepara um jogo passado na cidade de Lisboa. É relevante destacar que o orçamento que envolve a criação e programação de um jogo destas características pode corresponder a vários milhões de euros.

Há algumas empresas a trabalhar na área dos jogos online e para telemóvel, mas é cedo para perceber qual o seu potencial de sucesso no mercado, que é, inevitavelmente, o internacional.

Áreas de actuação da Câmara

> realização de concursos de ideias para a produção de trabalhos nos espaços públicos urbanos;> apoio à produção das iniciativas, prosseguidas pelas associações de profissionais, de comerciantes ou de empresas, de promoção das suas actividades;> promoção de uma maior e melhor divulgação dos acontecimentos culturais da cidade;> utilização das suas estruturas neste campo (muDe) para a promoção do sector e facilitação das relações entre criadores e tecido económico.

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2 . 3 . 7 b I b l I o t e C A S e A R q u I V o S

Lisboa dispõe de uma importante rede de bibliotecas camarárias (Rede Municipal de Bibliotecas de Lisboa) bastante diversificada e descentralizada, que integra as bibliotecas generalistas, onde se inclui a Biblioteca Municipal Central no Palácio Galveias, as bibliotecas itinerantes e as bibliotecas especializadas, nomeadamente a Bedeteca e a Hemeroteca. Fora da actual rede, mas igualmente importantes, no sentido em que trabalham também com a memória da cidade, existem a Videoteca, a Fonoteca e o Gabinete de Estudos Olisoponenses (GEO), que constituem parte da Divisão de Gestão de Equipamentos Diversos. De facto, é relativamente consensual que alguns destes equipamentos poderiam estar integrados no Departamento de Bibliotecas e Arquivos, pois no fundo, não são mais do que bibliotecas especializadas. A Videoteca é especialmente relevante já que dispõe de um núcleo de produção, algo que confere uma dimensão de continuidade e de actualidade, fundamental à actividade de qualquer instituição contemporânea que lide com a memória. É importante também realçar a discussão actual que existe quanto ao papel e lugar do GEO no âmbito da DMC, sendo várias as personalidades que referiram a necessidade de se promover e dar mais visibilidade e coerência à sua actividade.

Apesar do gosto que a cidade aparenta ter pelas bibliotecas municipais, de elas (como resultou genericamente da auscultação aos agentes) serem bastante acarinhadas, e de terem em geral toda uma história e uma prática séria de trabalho continuado por parte dos seus staffs técnicos, existem algumas críticas quase unanimemente partilhadas por todos os agentes e cidadãos auscultados, sendo a principal, a falta de visão de conjunto e linhas estruturantes de acção entre Bibliotecas e Arquivos, ao invés de existir uma estratégia programática concertada entre eles. Outras críticas que prejudicam essencialmente o atendimento ao público e promovem a má imagem dos equipamentos e da oferta cultural municipal, prendem-se com o estado de degradação de alguns desses equipamentos, associado a problemas de segurança e manutenção; a escassez de recursos financeiros; o estado dos acervos, delapidados ou não actualizados; e a esgotada capacidade de armazenamento, em especial, da Hemeroteca e a Biblioteca Municipal Central, por serem beneficiárias de depósito legal. Esta imposição tem muitas vezes forçado a uma dispersão dos espólios por diversas estruturas precárias sem condições adequadas de conservação.

Torna-se então urgente encontrar soluções que visem dar razão às problemáticas enunciadas. Uma das soluções muito discutidas diz respeito ao retomar do projecto de construção de uma biblioteca central em Lisboa, que pudesse inclusive concentrar no mesmo edifício todo o Arquivo Municipal de Lisboa, que se encontra fisicamente dividido em três instalações distintas: Arquivo Histórico e Arquivo Intermédio, Arquivo do Arco do Cego e Arquivo Fotográfico. Contudo, são muitas as vozes que se levantam, discordando do projecto megalómano da autoria dos arquitectos Alberto Souza Oliveira e Manuel Aires Mateus, que começou a ser construído no Vale de Santo António, em Chelas. Entretanto abandonado, este complexo pretendia assumir-se como um pólo cultural numa zona em expansão da cidade e afirmar Lisboa na rede de bibliotecas do país, que sempre foi vista, pelos seus pares, como uma das piores a nível nacional. Esta questão é relevante, mas põe em causa a natureza de proximidade que o actual sistema permite aos cidadãos dos diferentes pontos da cidade. De qualquer das formas, é uma discussão a que urge dar continuidade.

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Existe igualmente discórdia quanto à manutenção das divisões de Arquivos e Bibliotecas sob o mesmo Departamento. Dado os Arquivos conterem e fazerem o acompanhamento processual do acervo documental de todos os departamentos da CML, além de apoiarem transversalmente vários serviços quanto à avaliação de espólios, metodologias e estratégias de conservação, restauro e arquivo, há quem defenda a ideia que a Divisão de Gestão de Arquivos possa sair do âmbito da DMC, colocando-se numa posição transversal à estrutura municipal, directamente dependente da Presidência.

A par das bibliotecas municipais, Lisboa é, naturalmente, sede da Biblioteca Nacional e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, dois equipamentos fundamentais a nível nacional. Também as numerosas universidades de Lisboa dispõem de bibliotecas de grau de especialização variável, muitas delas com um grau de qualidade dos seus acervos que lhe permitem uma área de influência nacional ou pelo menos regional, em muitas e variadas áreas do saber. Numerosas outras entidades, públicas e privadas, têm igualmente bibliotecas importantes, muitas delas com um grau de especialização e uma qualidade muito assinaláveis, a nível nacional. A Fundação Calouste Gulbenkian, por exemplo, tem a melhor biblioteca do país dedicada à arte. Para além disto, naturalmente, a rede de bibliotecas escolares, geralmente com hinterlands bem mais restritos, funcionando numa lógica de proximidade, tem uma distribuição significativa e interessante, que pode ser bem mais explorada e articulada com a oferta municipal (em particular num contexto em que os municípios ganham peso crescente na gestão do parque escolar, nos diferentes níveis de ensino). Um recente protocolo entre as áreas da Cultura e da Educação da CML (conjunturalmente juntas pela primeira vez sob a mesma tutela) permite criar expectativas em relação a uma progressiva articulação entre os dois sistemas.

Também no caso dos arquivos, a oferta existente, provida por uma miríade de entidades públicas e privadas, é múltipla na cidade, registando Lisboa uma situação mais uma vez invejável no conjunto do país neste campo, beneficiando para isso em grande parte da grande concentração de instituições consolidadas (seja da administração pública, sejam outras) com actividade a nível nacional, mas sedeadas na capital. Muito pode no entanto ser ainda feito neste campo ao nível da exploração de sinergias e na articulação entre todos estes agentes (em todas as áreas de actividade associadas à selecção, avaliação conservação, restauro e divulgação dos espólios respectivos).

Áreas de actuação da Câmara

> garantia de investimento financeiro suficiente nos equipamentos sob a tutela camarária, de forma a assegurar o seu funcionamento corrente e a sua manutenção; > promoção da articulação entre a rede de arquivos e a de bibliotecas;> criação de sinergias com as múltiplas entidades públicas e privadas com bibliotecas e arquivos na cidade> promoção de uma maior e melhor divulgação dos equipamentos e acontecimentos culturais da cidade.

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2 . 3 . 8 M u S e u S e P A t R I M ó n I o

Lisboa é uma cidade com quase 1000 anos de história, tendo sido a capital de um vasto império durante a época dos Descobrimentos. Assim, tem inevitavelmente uma importante herança cultural constituída por um património tangível (museus, monumentos, ruas e edifícios) mas também intangível (das tradições à história do grande terramoto e às suas revoluções). Reside neste sector uma dimensão fundamental para a compreensão da identidade desta cidade, sendo que qualquer estratégia a delinear para o sector da cultura deverá ter o património material e imaterial no centro da sua reflexão e das linhas de acção a propor.

Neste caso em particular, é preciso ter em conta que a maior parte dos museus nacionais, assim como os mais visitados do país (com excepção do Museu Serralves), se encontram em Lisboa. Espaços como o Museu Nacional de Arte Antiga, o Museu do Chiado, o Museu do Azulejo, o Museu dos Coches, o Museu de Arqueologia, ou o Museu de Etnologia, só para citar alguns dos mais emblemáticos e mais visitados, são pontos centrais da oferta museológica pública nacional. A par destes, muitos outros, constituem uma oferta relevante de âmbito nacional ou internacional (entre eles o Museu Gulbenkian, por exemplo), multiplicando-se a oferta museológica tematicamente (Museus da Electricidade, da Água, das Comunicações, da Farmácia, etc.) ou, também cada vez mais frequentemente, associada a espólios particulares ou a personalidades específicas (casas-museu, fundações, etc.). Esta oferta museológica, tal como a relevantíssima oferta da cidade ao nível dos monumentos e palácios nacionais, é fulcral na crescente procura turística de que a cidade é alvo, mas tem sido também fonte de estratégias diversificadas de angariação e crescimento de públicos, muito associadas a lógicas expositivas e gestões do espaço mais dinâmicas e atractivas para a população local e visitante. A todos esses deverão ser acrescentados os museus municipais, uns sob a tutela directa da DMC e outros sob tutela da EGEAC. Ao Departamento e Divisão de Património Cultural da DMC reportam um conjunto de equipamentos museológicos espalhados pela cidade, tais como o Museu da Cidade, o Museu do Teatro Romano e o Museu Antoniano ou o Museu Bordalo Pinheiro. O Museu da Marioneta e o Museu do Fado fazem parte da EGEAC. O que o processo de auscultação evidenciou foi a necessidade de articular estratégias entre os museus municipais e os nacionais, assim como com os privados. Simultaneamente, estão em curso os trabalhos preparatórios para o projecto África.Cont, espaço museológico dedicado à África contemporânea (as questões relacionadas com a interculturalidade e a relação de Portugal e da cidade de Lisboa com África começam, apenas agora, a ser consideradas nos planos estratégicos da cidade). Em Maio do presente ano abriu o MUDE, Museu do Design e da Moda, também na dependência da CML, que alberga a colecção de design Francisco Capelo. Está também em curso a discussão sobre a possibilidade do Museu dos Coches ver construído um novo edifício para o seu espólio, bem como a instalação, também em Belém, do futuro Museu da Língua no actual edifício do Museu de Arte Popular. Este aparente dinamismo da cidade em termos de oferta museológica não deixa de revelar, apesar de tudo, alguma desorientação e falta de planeamento estratégico, seja por parte da autarquia, seja por parte do governo central, seja ainda devido à falta de articulação entre estes. O diagnóstico que emergiu da análise deste sector é especialmente gravoso, em resultado da referida falta de planeamento estratégico e articulação, mas também dos limitados recursos financeiros com que todos os museus se debatem. A questão da

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atribuição de autonomia financeira dos museus é algo que recorrentemente está em cima da mesa, como possível contributo para a resolução de algumas dessas limitações.

Numa outra perspectiva, a nova cidade que nasceu na zona oriental da cidade dispõe de um equipamento que poderá ter vocação museológica e que tem uma carga simbólica que não deve ser subestimada: o Pavilhão de Portugal. Este importante edifício é recorrentemente citado como possível destino para um conjunto diverso de projectos a criar na cidade de Lisboa, de vocação museológica ou de preservação e devolução da memória.

Num quadro de actuação muito semelhante, encontramos os monumentos da cidade (é de facto difícil separar os municipais dos nacionais, em termos estratégicos), que incluem os palácios da cidade (alguns dos quais a precisar de urgentíssima intervenção, como o Palácio Pombal, sob tutela da EGEAC), o Castelo de São Jorge, o Padrão dos Descobrimentos, entre muitos outros.

Há questões complexas comuns à maior parte destes monumentos e museus, a referir: o estado de degradação de alguns deles, associado à escassez de recursos financeiros para a sua recuperação e manutenção; a não actualização do seu discurso museológico em termos dos seus conteúdos e abordagem linguística e interpretativa; as deficientes acessibilidades e sinalética; o não ajustamento do horário de funcionamento e serviços em função do público-alvo e das especificidades do local onde se inserem; e a ausência de uma definição clara de um desígnio para a sua existência, para lá da sua intrínseca importância histórica.

Uma questão muito polémica e que é recorrente em praticamente todas as conversas e reuniões havidas no âmbito do processo de auscultação é a de definição do papel que o Terreiro do Paço deverá reservar para si no âmbito da cidade. Sem que a importância, carga simbólica e a beleza do local jamais seja posta em causa, parece haver uma grande incerteza e discordância quanto a uma solução definitiva para a monumental praça. É certo, no entanto, que o Terreiro do Paço se encontra sempre no centro de todas as definições estratégicas para a cidade, estando inclusive em curso um projecto controverso de remodelação do Terreiro e zona envolvente, conduzido pelo arquitecto Bruno Soares.

A cidade tem ainda em curso a preparação de uma candidatura da zona da Baixa Pombalina (e Chiado) a património da Humanidade da UNESCO, processo esse, que passando por diversas vicissitudes (e transformações) ao longo dos últimos anos, se parece ter tornado agora mais consensual, prevendo-se uma resolução breve das questões mais associadas à necessidade de um projecto de gestão credível e sustentado (que passa por um plano urbanístico mas também por uma criação dos mecanismos de gestão e financiamento paralelos necessários à sua sustentabilidade), para que a candidatura possa enfim efectuar-se com condições de ser bem sucedida.

Seja especificamente neste campo (onde o foco da candidatura pode ser o urbanismo pombalino) seja noutros, a questão do património intangível é também cada vez mais relevante e tem de ser começada a ser explorada mais a sério, de forma a potenciar toda a sua virtualidade. Seja em torno das múltiplas marcas identitárias da cidade, mais imateriais, seja partindo das instituições e equipamentos já existentes na cidade (e a Casa Fernando Pessoa será um bom exemplo, municipal, neste caso), muito pode e deve ser feito ainda nesta área, preservando, valorizando e devolvendo à cidade essas suas memórias, de forma profissional e consequente.

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Duas notas especiais merecem ainda referência nesta breve panorâmica pelo sector. A primeira refere-se ao património sob alçada eclesiástica. A Igreja é detentora de um significativo número de igrejas e capelas que, na sua maioria, pela sua história, riqueza de espólio ou arquitectónico têm de ser considerados na definição estratégica para o conjunto de monumentos da cidade. É importante relembrar que durante muitos séculos o património da Igreja constituía o principal espólio arquitectónico da cidade, tanto em termos de número como de riqueza ou interesse artístico. Embora a articulação institucional nem sempre seja fácil, vários projectos concretos realizados nos últimos anos têm dado sinais que muito pode ser feito neste campo.

A segunda refere-se a todo o património edificado e urbano da cidade. Independentemente de naturalmente, a sua maioria não ser alvo de classificação e preservação (pelo menos, à luz dos cânones actuais), o facto é que muito dele não só tem algum valor simbólico, estético ou afectivo, como para além disso tem sido efectivamente recuperado ao longo dos últimos anos (particularmente nos bairros “históricos”), com apoio da autarquia. Não se tratando obviamente aqui de uma questão de conservação ou preservação ao mesmo nível da do património histórico e arquitectónico mais legitimado, há no entanto um conjunto de boas práticas, de conhecimento técnico e de saber-fazer acumulado ao longo dos anos mais recentes, que importa difundir para que possa ter um efeito multiplicador no mercado de restauro e reabilitação e para que tenha efeitos de arrasto na preservação do restante património edificado na cidade.

Áreas de actuação da Câmara

> coordenação entre os equipamentos museológicos e monumentos da câmara e destes com os demais equipamentos da cidade e da área metropolitana;> promoção de uma maior e melhor divulgação dos equipamentos e acontecimentos culturais da cidade;> garantia do investimento financeiro necessário ao bom funcionamento e à manutenção os equipamentos e elementos patrimoniais sob a tutela camarária, de forma a assegurar a sua actividades.

2 . 3 . 9 C u l t u R A P o P u l A R e t R A d I ç ã o

Apesar do factor capitalidade, da dimensão do concelho e das rápidas mutações que uma cidade como Lisboa está sujeita, as pressões imobiliárias, as alterações dos perfis demográficos, as novas comunidades migrantes entre tantas outras variáveis, esta cidade tem sabido manter traços muito perenes no que diz respeito à preservação da sua personalidade. Lisboa é uma cidade – como tantas outras – feita de tradições, de pequenas comunidades unidas por motivos geográficos, actividades recreativas e lúdicas, etnias ou religiões. Os seus quase 1000 anos de existência como que obrigam à preservação de uma personalidade. Tudo isto reflecte-se, por isso, num movimento associativo de dinâmica impressionante, com centenas de associações, grupos recreativos, grupos de moradores entre tantos outros pequenos núcleos de grau e forma de organização variável (estes grupos podem ir desde as múltiplas casas regionais até ao Grémio Literário). Estes são os principais guardiães da tradição e saberes da cidade, a par com os museus e arquivos.

Deve contudo notar-se que na condição contemporânea toda a suposta «genuinidade» do popular é resultante de (re)construções, processos de destradicionalização e

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retradicionalização (até pelo efeito turístico e por várias «nostalgias» do popular). O popular é como as «terceiras culturas»: nem local nem global, mas glo(c)al. O hip-hop e o graffiti são exemplos: híbridos com as mesclas de cultura mediática e global.

A actividade da empresa municipal EGEAC e a realização das Festas de Lisboa – celebrações que incluem os Santos Populares e as Marchas Populares –, neste aspecto em particular, revestem-se de especial importância. Os meses de Junho e Julho são a altura do ano em que as principais tradições da cidade são revisitadas ou celebradas, e em que muitas das associações e trabalho efectuado pelas freguesias se torna mais visível.

É importante não esquecer a actividade da Igreja, que lida com questões importantes de proximidade, de cariz social, ao mesmo tempo que é detentora de um conjunto de tradições, necessariamente de natureza confessional (as procissões, as histórias de cada paróquia e igreja, as práticas dos seus fiéis), mas que se cruzam com as tradições e práticas populares da cidade há várias centenas de anos.

O artesanato viu, nos últimos anos, renovado o interesse da população em geral. Este interesse resulta em parte da emergência de um novo tipo de artesanato “urbano” e uma classe de artistas que trabalha com materiais não nobres, recuperando e reciclando todo o tipo de materiais, mas que vão buscar à tradição, seja ao nível de técnicas como de objectos propostos, a sua inspiração e ethos. Em complemento às feiras de artesanato que tradicionalmente se realizam um pouco por toda Lisboa, com especial incidência no Verão, à Feira da Ladra e a algumas lojas orientadas para o mercado turístico, têm surgido novas feiras e lojas orientadas apenas para esta nova tendência do artesanato (sendo que em muitos casos convivem amigavelmente com o artesanato e com os artesãos tradicionais).

Áreas de actuação da Câmara

> apoiar nos limites das suas possibilidades o apoio à produção de eventos realizados pelo movimento associativo;> promoção de uma maior e melhor divulgação dos acontecimentos culturais da cidade;> assegurar, no âmbito dos objectivos prosseguidos pelos equipamentos e instituições sob a sua tutela, das memórias e tradições da cidade.

2 . 3 . 1 0 t u R I S M o C u l t u R A l , j o g o ,

A n I M A ç ã o n o C t u R n A e C o n V I V I A l I d A d e

Nos dias de hoje, nomeadamente na vida das grandes cidades contemporâneas, há um conjunto de actividade e áreas de negócio que, pelas suas dinâmicas intrínsecas e traços definidores, tocam no sector cultural e criativo, influenciando-se mutuamente. Entre essas áreas estão o Turismo (particularmente o turismo cultural e de eventos), o Jogo e o Entretenimento em geral (aonde temos de incluir o as manifestações desportivas assim como a tourada, para além de actividades de entidades como parques temáticos, etc.), bem como a animação nocturna e a convivialidade.

A Região de Lisboa, a par com o Algarve, é uma das zonas mais visitadas por turistas do país. Contudo, se no Algarve a praia é o principal atractivo em Lisboa há um conjunto

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de factores que ultrapassam a meteorologia e o produto sol-mar (se bem que o sol deverá sempre ser tido em conta no caso desta cidade) e que estão relacionados com o património e com a história da cidade assim como com as “experiências” que a cidade tem para oferecer. A existência, por isso, de uma zona como o Bairro Alto/Chiado, o local em Portugal que mais se aproxima ao que normalmente se define como um bairro cultural, incluindo as ofertas nocturnas e as dinâmicas de convivialidade de base territorial, ajudam a tornar Lisboa num destino apetecível para os turistas que procuram esse tipo de oferta, para além do parque patrimonial e monumental que a cidade tem para oferecer. Para além do Bairro Alto, também zonas como a Costa do Castelo ou, na proximidade de Lisboa, a Costa do Estoril, deverão ser tidas em conta como variáveis na avaliação do sector da cultura da cidade. Em termos de oferta nocturna, apesar do principal estar concentrado na dita zona do Bairro Alto/Chiado, Lisboa tem outros focos, nomeadamente na zona do Cais das Pedras, em Santa Apolónia, Santos e Alcântara (as Docas e mais recentemente a área ocupada pela Lx Factory). Também aqui, intimamente ligado ao sector a Música, a oferta de DJ’s e tipo de propostas é em tudo comparável às principais cidades europeias talvez pecando por abrandar significativamente durante a semana, concentrando-se em demasia nos fins-de-semana (isto está também relacionado com o recente fenómeno city break, associado ao advento e sucesso das companhias aéreas low cost).

Também o facto de Lisboa ter um casino, novo e com uma oferta de entretenimento em quantidade, assim como ter um outro de características semelhantes à distância de 30 km, deverá ser tido em conta nas dinâmicas oferecidas pela cidade. É bom relembrar que os casinos, juntos, serão provavelmente o maior empregador de artistas e pessoal de apoio a actividades artísticas do país. O Casino de Lisboa, apesar da controvérsia em que se viu envolvido em todo o processo de criação e construção, tornou-se numa importante fonte de financiamento da autarquia por via das contrapartidas entregues (da mesma maneira que o Casino do Estoril é importante para a autarquia de Cascais e para a Junta de Turismo da Costa do Estoril).

Se a tourada e o desporto, nomeadamente o futebol, bem como outros espaços de entretenimento, não são tão relevantes no que diz respeito ao turismo, há no entanto um conjunto de dinâmicas resultantes destas actividades que tocam no sector da cultura e que deverão ser sempre tidas em conta na definição de uma estratégia para esse sector. Há assim um conjunto de factores que reunidos colocam Lisboa numa posição muito interessante em termos de motivações periféricas à cultura para o turista e o visitante urbano contemporâneo.

Áreas de actuação da Câmara

> melhoramento das ruas e do trânsito e uma melhor rede de transportes públicos; > segurança;> regulamentos claros e territorialmente diferenciados para o funcionamento de negócios nocturnos;> promoção de uma maior e melhor divulgação dos acontecimentos culturais da cidade.

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2.4 oferta, procura e mecanismos de mediação cultural

2 . 4 . 1 A o f e R t A C u l t u R A l

A ) A o f e R t A C u l t u R A l n A C I d A d e d e l I S b o A

Dos vários elementos de caracterização e diagnóstico disponíveis e analisados ressalta uma ideia fundamental: Lisboa tem um dinamismo em termos de oferta cultural invejável, tanto a nível nacional, onde a posição da cidade é claramente ímpar (vejam-se os dados apresentados no CD ROM em anexo) como mesmo a nível internacional e europeu (com uma oferta muito interessante e variada, quando comparada com outras cidades da mesma dimensão e na mesma situação de capitais de países europeus com uma dimensão aproximada da portuguesa.2 Esta oferta tem crescido substancialmente e sustentadamente ao longo dos últimos anos, embora revele situações muito diferenciadas nas várias áreas culturais, exprimindo nalguns casos um dinamismo que aparenta ser mais quantitativo do que propriamente qualitativo. O aumento e o dinamismo ao nível da oferta não são no entanto, na maioria dos sectores, acompanhados por uma capacidade de criação, de exportação e de visibilidade nos mercados externos que lhe corresponda. Por outras palavras, é frequente termos acesso em Lisboa às produções e criações de topo a nível mundial em muitas áreas (grandes exposições, concertos, filmes, etc.), seja nos mercados mais generalistas, seja nos campos mais especializados ou eruditos dentro de cada área artística, mas isso não se repercute em geral na capacidade de os criadores lisboetas e portugueses conseguirem (com várias excepções, claro) uma visibilidade e inserção nestes circuitos mais globais, e mesmo, nalguns campos, de alcançarem uma posição de destaque no próprio circuito de programação e exibição nacional.

Para se ter uma visão mais aprofundada da oferta cultural da cidade de Lisboa, é necessário assim, em primeiro lugar, compreender que a cidade comporta e se move a diferentes escalas, e a sua oferta cultural se destina, caso a caso, a uma ou várias dessas escalas simultaneamente. Podemos olhar para Lisboa e a sua oferta cultural assumindo que Lisboa é uma cidade global, uma cidade capital, uma cidade metropolitana, a cidade-concelho ela própria, ou uma cidade de freguesias e de bairros, por exemplo.

Como qualquer outra cidade, Lisboa possui características muito singulares, respirando e transpirando diferentes graus de proximidade, de vivência e de experienciação cultural. Neste sentido, e com especial ênfase nos últimos anos, a oferta cultural de Lisboa tem vindo a procurar responder aos múltiplos imperativos e especificidades da sua própria orgânica, isto é, adaptando-se à sua lógica de diversidade e a realidades urbanas diferenciadas.

Em algumas áreas artísticas, no entanto, e comparativamente a outras cidades da mesma natureza, Lisboa é ainda uma cidade relativamente periférica no mapa de programação cultural mundial, tendo sido inclusivamente ultrapassada por cidades como o Porto em termos da qualidade e visibilidade da oferta cultural mais recente. Isto graças à acção de instituições como a Fundação Serralves e da Casa da Música e ao seu modus operandi: carácter vanguardista, projecção simultaneamente internacional e local – instituindo

2 pense-se em cidades como Viena, atenas, praga, budapeste, bruxelas ou estocolmo, por exemplo.

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políticas eficazes de proximidade com as comunidades onde se inserem – e capacidade de atrair sobretudo investimento privado. Embora seja inegável a importância destas estratégias na persecução de uma boa oferta cultural, é consensual que para Lisboa se afirmar necessita sobretudo de apostar em dois conceitos-chave: identidade e diferenciação. Por outras palavras, primar pela cultura da diferença, apostando na sua especificidade, na identidade multicultural e cosmopolita que tanto a caracteriza e no seu tradicional espírito de abertura ao mundo.

A análise de oferta cultural compreende o estudo de algumas dimensões e indicadores que importa identificar e individualizar de modo a sintetizar a informação e retirar conclusões práticas, como por exemplo o número e tipo de equipamentos ou associações e instituições culturais existentes na cidade, a sua localização e dispersão geográfica, o tipo de programação neles realizado, e a forma como se articulam como elementos integrantes da identidade cultural colectiva da cidade. Mas, numa outra perspectiva mais lata, importa também abordar as dinâmicas culturais que ocorrem na cidade enquanto fenómenos mais abrangentes de mobilização e produção cultural e criativa e de expressão das identidades.

Independentemente de poder ser interessante ter uma noção mais exacta e aprofundada da relevância do peso da oferta cultural na cidade (por exemplo, aprofundando quantitativamente as correlações entre o número de equipamentos existentes e o número de utilizadores e/ou a população residente), com base nos dados mais facilmente disponíveis e na percepção difundida pelos inquiridos, é opinião generalizada que, embora falte sempre alguma coisa, de uma forma global existem equipamentos suficientes na capital, sejam eles teatros, cinemas, museus, bibliotecas, salas de espectáculo, dos mais variados tipos, e espaços expositivos. Acresce também a ideia de que no plano da oferta cultural, ao invés de se criarem novos equipamentos, será hoje mais importante reflectir, potenciar e investir nos já existentes. No entanto, há sempre quem considere que ambas as abordagens são necessárias, pois diversificar a programação cultural é fundamental, devendo haver espaços para a cultura elitista, para a cultura de massas e para as culturas alternativas.

Em termos de perfil de oferta cultural, Lisboa, sendo capital, concentra muitas instituições culturais e artísticas de natureza e importância nacional, sejam privadas ou públicas, sendo algumas de reconhecida qualidade e valor internacional. Temos entre muitos outros exemplos a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a Culturgest, o Centro Cultural de Belém (CCB), o Museu Nacional de Arte Antiga (MNNA), o Museu dos Coches, bem como os recentes projectos Museu do Oriente e Museu Colecção Berardo, que têm tido efeitos mobilizadores na área da cultura. Embora a maior parte das estruturas culturais em Lisboa sejam de natureza muito formal e institucional, nos últimos anos tem havido um boom de associações culturais menos “institucionalizadas” e um número crescente de espaços e equipamentos culturais informais, com diversas dimensões e vocações, por vezes múltiplas, como o Braço de Prata e o LX Factory. Há quem considere que ainda assim a cidade careça de estruturas transdisciplinares, mais informais e de base territorial, com uma actividade muito dinâmica e regular (como são a ZDB, o Bacalhoeiro ou o Filho Único, por exemplo).

No plano inverso aos dos equipamentos mais vocacionados para a produção de eventos e exibição, existe uma enorme falta de espaços de criação, de experimentação, de ensaio e de partilha, onde se pudessem, por exemplo, fazer residências artísticas ou ensaiar. Este é, aliás, um dos assuntos mais debatidos na actual conjuntura cultural da cidade pois a

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questão da inexistência de espaços livres para a criação artística é um problema transversal a todas as artes. Como é do conhecimento geral, Lisboa concentra um vastíssimo número de potenciais espaços para criação, particularmente equipamentos camarários fechados ou devolutos que poderiam ser explorados. É relativamente consensual que é necessário alterar este cenário e incentivar a utilização desse património imobiliário, dando condições para que as indústrias criativas se desenvolvam, estimulando assim a qualidade e diversidade da oferta cultural. Subsequentemente, também as zonas e áreas urbanas poderiam ser revitalizadas e regeneradas face às novas dinâmicas culturais potenciadas por esses espaços de criação.

Da mesma forma, em termos de espaços de grande dimensão para actividades mais associadas à transformação ou mais espaço-intensivas, no âmbito do cluster das indústrias culturais (impressão, edição, estúdios de gravação, estações de televisão, etc.) ou para as actividades das indústrias criativas, não obstante a oferta relativamente grande de espaço imobiliário desocupado ou abandonado em zonas industriais e portuárias, por exemplo, o que é facto é que se tem notado uma clara saída para os diversos concelhos envolventes da AML, não conseguindo Lisboa continuar a fixar muitas destas actividades.

Em termos de localização e dispersão geográfica de equipamentos culturais dentro da cidade em Lisboa, a maior parte destes (pelo menos dos mais “institucionalizados”) concentram-se sobretudo no eixo central da cidade Campo Grande/Marquês de Pombal/Terreiro do Paço. Como é possível constatar nos mapas dos equipamentos culturais de Lisboa no CD anexo a este relatório, os museus localizam-se sobretudo no centro histórico e zona de Belém. As galerias encontram-se também no centro histórico mas inclusive nas avenidas novas, onde as salas de cinema sobretudo se concentram. Os teatros localizam-se principalmente no centro histórico mas também espalhados ao longo do eixo ribeirinho. Os auditórios e salas de espectáculo registam uma grande dispersão pela malha urbana, aglomerando-se para além do centro, nos pólos de Belém e Parque das Nações. Contudo, são as bibliotecas e arquivos que registam a maior descentralização e proximidade pela cidade de Lisboa. Esta distribuição nos equipamentos públicos e institucionais é também acompanhada por perfis de localização de práticas culturais, de actividades e de agentes privados do sector que, embora diversificados, tendem também a uma concentração elevada no centro da cidade e em particular na zona envolvente do Bairro Alto e Chiado (vejam-se os mapas apresentados no CD anexo, bem como a secção 2.6).

Como pode ser então verificado, existe um desequilíbrio territorial da oferta cultural, sendo o grosso das iniciativas e dinâmicas culturais excessivamente concentradas e orientadas para os eixos principais da cidade, quando confrontadas com a população residente nessas áreas. Verifica-se também que, apesar de o centro de Lisboa concentrar o maior número de equipamentos culturais, é a zona que tem vindo a registar maior perdas de população residente, especialmente em zonas como a Baixa Pombalina. É urgente combater e inverter a desertificação através da manutenção ou abertura de equipamentos nessa zona da cidade. É opinião comum que também se deve investir em zonas da cidade que habitualmente são mais desprovidas de dinâmicas e acções culturais, nomeadamente nos eixos ribeirinhos, nas freguesias mais periféricas e mesmo na área metropolitana de Lisboa (AML) em geral. Existe também algum desequilíbrio quanto à calendarização da oferta, uma vez que há excessiva concentração de iniciativas culturais nos meses de Verão.

A dimensão mais visível da oferta cultural, e que serve de barómetro mais imediato quanto ao estado da cultura em Lisboa, é a quantidade e qualidade da programação existente na

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capital. Ao existirem falhas na oferta em Lisboa, o problema está não nos equipamentos, mas sim na programação. Este problema agrava-se quando o sector político, em especial as autarquias, confundem política cultural com a construção pontual de novos equipamentos que lhes dê visibilidade pública. Para Lisboa se poder afirmar, não só a nível local mas também nacional e internacional, é crucial haver uma política de continuidade de projectos e programação, consubstanciada por uma estratégia bem delineada e concertada. A extinção do projecto Lisboa Photo, com a concomitante afirmação da Photo Espanha em Madrid, ou a intermitência do suporte municipal à Experimenta Design, são exemplos paradigmáticos de uma cidade que parece reconhecer que não tem uma estratégia e política cultural definida, nem massa crítica suficiente.

No entanto, verifica-se que está a surgir, numa micro-escala, uma nova dinâmica cultural e criativa, em especial no sector das artes performativas, mas não só. É nas margens, nos pequenos clusters e em torno de alguns projectos particulares e áreas culturais específicas, que se vai desenvolvendo hoje em Lisboa a mais estimulante programação cultural, através de uma forte e vibrante descentralização da oferta (essencialmente de cariz não público, embora por vezes apoiada por poderes públicos). Pense-se, mais uma vez, a título meramente exemplificativo, em entidades como a ZDB, a Filho Único, a Associação Bacalhoeiro, o CEM; em espaços como o Santiago Alquimista, o MusicBox, o Maxime ou o Lux; em projectos múltiplos e diversificados como o Braço de Prata ou a Lx Factory, entre outros exemplos.

Para além da programação regular de algumas estruturas, a oferta cultural de Lisboa é também pautada por alguns grandes eventos e festivais ao longo do tempo, como por exemplo a Trienal de Arquitectura, a Experimenta Design, a Moda Lisboa, o Indie Lisboa, o Doc Lisboa, o Queer Lisboa, o Rock in Rio, o Super Bock-Super Rock, entre muitos outros. A sua visibilidade e a sua capacidade de atrair e mobilizar público são indiscutíveis, embora se discuta e seja questionável nalguns casos a qualidade da fruição cultural e o enorme investimento neles feito (nomeadamente em projectos de cariz essencialmente privado que têm merecido forte apoio municipal, como o Rock in Rio, por exemplo). Dada a experiência na organização de grandes eventos culturais com impacto local, nacional e internacional, como a Expo’98, há quem defenda que se deva concentrar todos os esforços e dinheiro num único evento (a exemplo de experiências internacionais, como o Festival de Edimburgo), e garantir a sua continuidade, pois mais importante do que a questão da sua dimensão é a sua visibilidade e projecção. Numa perspectiva oposta, há quem defenda que não se deva investir num único evento, à imagem do que fazem algumas capitais culturais europeias, como Madrid (Arco) ou Berlim (Berlinale). Deve-se sim, pensar na cidade como um todo, e apostar na diversidade. Os eventos financiados por dinheiros públicos concentram em si muitos recursos que poderiam ser distribuídos por outros equipamentos ou actividades na cidade.

A questão da articulação dos equipamentos culturais é também crucial enquanto indicador da capacidade da oferta cultural de ir ao encontro de públicos de gostos e hábitos diferenciados e de estimular a procura em zonas e realidades urbanas diferenciadas. Tendo Lisboa um carácter simultaneamente bairrista e cosmopolita, muitos equipamentos, tais como bibliotecas, arquivos e museus (mas também auditórios e salas de exposição) deveriam orientar as suas actividades segundo lógicas e estratégias tanto globais e genéricas como de proximidade, ajustando-se às especificidades das diferentes zonas onde se localizam. A articulação de programação em rede permite desenvolver estratégias concertadas, agregar coerentemente espaços e equipamentos, e consequentemente, criar

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economias de escala e dinamizar zonas da cidade com menor custo financeiro. Tivemos como exemplo recente, o festival Super Rock em Stock, uma iniciativa privada que conseguiu activar um conjunto de equipamentos da Av. da Liberdade – zona hoje ainda bastante pouco dinamizada – tornando-a num pólo de atracção cultural temporário. No entanto, nem todos os agentes culturais são unânimes em promover este tipo de lógicas, pois embora considerem que seja uma solução viável para se rentabilizarem espaços e projectos, esta pode pecar por excesso, correndo o risco de todos os espaços programarem essencialmente o mesmo. No fundo, importa procurar um equilíbrio entre a programação em rede e a programação diferenciadora. Quanto mais concertada, planeada e unificada for a programação, mais eficaz será. Contudo, quanto mais autónoma, livre e dispersa for essa programação, mais lugares e hipóteses existirão para a produção cultural e a criação artística se exprimirem e mais espaço para a diferença e a diversidade. De qualquer forma, numa perspectiva geral, pode-se considerar que a articulação programática é praticamente inexistente entre as diversas escalas de Lisboa: cidade vs. capital, concelho vs. AML, centro vs. periferias, município vs. juntas de freguesia.

Directamente interligadas com a questão da articulação, importa também abordar as dinâmicas culturais que ocorrem na cidade enquanto fenómenos mais abrangentes de mobilização e produção cultural e criativa. Em Lisboa, tem-se verificado o desenvolvimento de pólos e bairros culturais que promovem dinâmicas culturais de sucesso com efeitos de arrasto. O Bairro Alto surge como modelo exemplar de uma zona urbana que soube potenciar os seus elementos distintivos e diferenciadores, tornando-se no pólo criativo com maior dinamismo, visibilidade e actividade cultural e artística de Lisboa. Encarnando o conceito de “unidade na diversidade”, este bairro deve o seu êxito ao predomínio de uma lógica de associativismo e de mobilização espontânea por parte dos agentes culturais locais, tendo por base interesses comuns, tais como a vida nocturna e o comércio. Assim, torna-se evidente a importância de se aproveitarem e fomentarem as dinâmicas culturais das associações, que tanto relevo tiveram no passado na cidade, enquanto agentes de proximidade fortemente territorializados, e que estão hoje na sua maioria esquecidas ou relegadas para segundo plano (pelo menos as mais tradicionais). São elas que podem contribuir para o desenvolvimento de uma cultura de mobilização da sociedade civil, assumindo o papel de criador de laços de solidariedade, união e pertença entre as comunidades locais, factores estes determinantes no enraizamento e manutenção de dinâmicas culturais na cidade. A sua importância é ainda mais valorizada se atendermos ao facto de que são estas as instituições que preservam o património imaterial da cidade, nomeadamente tradições e actividades emblemáticas da cultura popular lisboeta. De qualquer forma, o novo tecido associativo, seja de base mais territorial (associações de bairro, etc.) seja mais focado em vertentes especificamente culturais (nas artes performativas, nas indústrias criativas, nas novas culturas urbanas, etc.), é decididamente, a par de uma crescente iniciativa privada de micro-dimensão, o grande motor da grande vitalidade e criatividade que se respira em certas zonas da cidade.

Se Lisboa se quiser afirmar como uma cidade criativa e cultural competitiva, é preciso melhorar, não só a qualidade, mas também a própria sustentabilidade e continuidade da sua oferta cultural. Neste sentido, é prioritário fazer-se um mapeamento cultural de Lisboa numa lógica de actuação política, delineando áreas urbanas segundo critérios de ordem geográfica, urbanística e administrativa, mas também segundo o potencial que cada zona tem de se tornar um pólo cultural dinâmico, tendo em conta a sua identidade específica e os equipamentos e associações nela existentes. Torna-se igualmente urgente

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compreender e analisar rigorosamente que equipamentos culturais existem e onde estão localizados; que funções e competências têm; qual a qualidade da sua acção e programação; que tipo de público têm ou pretendem ter; e qual a sua especificidade e importância no contexto cultural onde se inserem. Estes (nomeadamente os públicos) dever-se-ão desejavelmente adaptar, não só ao contexto socioeconómico e cultural da cidade, mas também às especificidades históricas, geográficas, sociais e culturais do sítio onde se localizam. Assim, os equipamentos e pólos culturais deverão ser geridos, potenciados e desenvolvidos de acordo com uma estratégia cultural que tanto assente numa lógica global, como numa específica e localizada.

b ) A o f e R t A C u l t u R A l M u n I C I P A l

A oferta cultural da Câmara Municipal de Lisboa cobre um vasto conjunto de funções que se tem afirmado de forma consistente e regular ao longo dos anos, não obstante as frequentes preocupações conjunturais com as insuficiências da sua dotação orçamental e com os meios patrimoniais, financeiros e humanos disponíveis para fazer face a tão grande leque de atribuições e competências. Para além da oferta decorrente da Direcção Municipal da Cultura propriamente dita (e de todos os organismos e equipamentos que lhe estão dependentes), importa salientar o papel fundamental da empresa municipal na área da cultura, a EGEAC (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural), bem como de um conjunto diverso de projectos, actividades e estruturas transversais que têm origem e tutela noutros pontos da orgânica da Câmara, em geral reportando directamente à presidência.

Para além dos múltiplos equipamentos com actividade quotidiana que prestam funções culturais na autarquia (como, por exemplo, redes de bibliotecas e arquivos, museus municipais, teatros e espaços de espectáculo e exposição, uns explorados e programados directamente pela Câmara, outros cedidos regularmente a entidades diversas), a CML tem ainda uma importante, embora menos visível, actividade quotidiana em áreas como o acompanhamento, avaliação e classificação patrimonial e arqueológica, a gestão e preservação dos seus diversos espólios, de variados tipos, e a gestão documental e da informação associada à tramitação com toda a administração municipal, por exemplo. Além disso, tem importantes funções ao nível da divulgação e comunicação cultural em relação às actividades culturais da cidade (de que a face mais visível é a Agenda Cultural, editada pela autarquia), bem como actuação (mais restrita) em áreas como a programação cultural, o acolhimento de artistas em residências e ateliês, ou mesmo o apoio financeiro e logístico ao tecido cultural e associativo da cidade.

Alguma desta actividade é feita em unidades especializadas (por exemplo, Videoteca, Hemeroteca, Fonoteca, Bedeteca, Gabinete de Estudos Olisiponensses), criadas numa lógica que foi aprofundando a organização já muito sectorializada da sua orgânica (arquivos, bibliotecas, património cultural, galerias e ateliers, programação e divulgação cultural, etc.), que não é facilmente compatível com a articulação e coordenação de um conjunto de funções transversais (programação, organização de eventos e exposições, investigação, edição, divulgação, serviços educativos, etc.) que tendem normalmente a ser multiplicadas e replicadas em todos as unidades orgânicas, as quais em geral não se mostram muito disponíveis a colaborar entre si neste aspecto.

A par disto, todo um outro conjunto de estruturas mais autónomas ou transversais tem vindo a desenvolver-se (Casa Fernando Pessoa, MUDE, etc.) e a prestar novas funções aos

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cidadãos e utentes da cidade, com lógicas e modelos organizacionais distintos, embora muitas vezes com a mesma dificuldade de articulação e cooperação com os restantes.

No cerne desta análise e discussão sobre a oferta cultural municipal, existe uma séria reflexão que incide, não somente sobre a especificidade e qualidade da oferta, mas sobre os moldes e pertinência da sua existência, tendo em conta o contexto actual da provisão cultural da cidade de Lisboa. A questão basilar prende-se assim sobre o papel que a própria Câmara Municipal de Lisboa (CML) deve ter em relação à cultura. Neste âmbito, é consensual que a CML deve definir grandes linhas estratégicas culturais, mas evoluir para uma lógica de gestão e coordenação, onde assuma apenas o papel de facilitador, agilizador, dinamizador e não o de programador cultural. A CML deverá tender a apoiar a pluri-existência de espaços programadores de cultura, dado que quanto maior for essa proliferação e actividade, maior a vitalidade cultural de cidade.

A oferta cultural municipal traduz-se essencialmente numa série de eventos, estruturas e equipamentos tutelados na sua maioria, como já foi referido, pela Direcção Municipal de Cultura (DMC), sendo que outros estão sob a alçada da empresa municipal EGEAC. Embora a EGEAC utilize igualmente recursos financeiros municipais para a área da cultura, assume-se como uma entidade autónoma, constituindo-se numa estrutura mais ágil e flexível, capaz de gerir uma rede de equipamentos municipais de funções diferenciadas, mas importantes no contexto cultural da cidade. Na realidade, as competências e funções da DMC e da EGEAC nunca estiveram muito bem repartidas e diferenciadas, o que fomenta que ambas as entidades estejam muitas vezes de costas relativamente voltadas, no que toca sobretudo a potenciais articulações de programação na cidade. A título meramente exemplificativo, não é compreensível para o público em geral por que é que as Festas de Lisboa, por exemplo, sendo o maior e mais dispendioso evento organizado pela EGEAC anualmente, só integrem quase exclusivamente na sua programação os respectivos equipamentos culturais da empresa municipal.

Esta deficiente definição de atribuições e competências e lógicas de programação tendencialmente “autistas”3 é exemplo paradigmático de alguns dos principais problemas estruturais que afectam o funcionamento da CML, em geral, e da DMC, em particular. Aos problemas mencionados, juntam-se outros que merecem uma análise mais aprofundada: estrutura administrativa muito pesada e burocrática; inexistência de uma visão global estratégica; deficiente articulação entre departamentos, divisões e equipamentos; uma grave lacuna ao nível da comunicação, tanto interna como externa; e uma gestão financeira muito centralizada, que deixa sem qualquer autonomia os serviços.

É hoje bem reconhecido que parte muito significativa das problemáticas que afectam e condicionam a qualidade da oferta cultural municipal têm na sua base o actual e desactualizado modelo de governação da CML. Sendo consensual que sem se mexer profundamente na estrutura da câmara será muito difícil mudar, agilizar, simplificar e desburocratizar; torna-se então urgente repensar profundamente numa reorganização interna do modelo vigente, e em particular, rever a orgânica da DMC, indo ao encontro de uma cultura menos politizada e de maior gestão e de serviço público. Associada a esta problemática está uma outra, de extrema importância, que se traduz na ausência de

3 mas não só programação: pense-se em toda a duplicação de funções e na falta de interesse em colaboração entre serviços municipais em que todos eles querem gerir autonomamente (e de costas viradas para os outros) os seus espólios próprios, as suas áreas de investigação próprias, as suas edições, os seus serviços educativos, etc.

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assunção de uma clara visão estratégica cultural para a cidade de Lisboa. Ao longo dos anos não tem havido uma visão concertada sobre a cultura entre a própria Direcção da CML, Vereação da Cultura, DMC e respectivos chefes de divisão. Não tem predominado uma lógica de continuidade e sustentabilidade de projectos à margem de cores políticas e ciclos eleitorais, sendo muitos projectos lançados e abandonados casuisticamente ao sabor das tendências dos tempos, dos orçamentos e financiamentos disponíveis e vontades políticas ou pessoais díspares.

Na ausência de rumo definido e de uma coerência de planeamento e de acção, surgem indefinições e sobreposições ao nível das competências e programação dos equipamentos culturais. É uma realidade preocupante que algumas direcções de equipamentos ignorem ou desconheçam as programações, projectos e linhas de investigação que estão a ser tomadas pelos seus congéneres, mesmo quando se trata de equipamentos inseridos numa mesma divisão (pense-se nas sobreposições ao nível da digitalização de espólios, por exemplo, entre bibliotecas e arquivos. Ao invés de existir uma estratégia programática concertada entre as diversas unidades, eventos e iniciativas semelhantes concorrem entre si pelo mesmo público-alvo. Exemplos são os casos do Gabinete de Estudos Olisiponenses (GEO) e do Museu da Cidade, que organizam ambos em simultâneo roteiros sobre a muralha fernandina. Inserido num plano estratégico concertado, cada equipamento deverá compreender qual a sua missão e objectivos concretos, quais as valências e limitações, quais as condicionantes existentes, bem como perceber qual a sua área de influência local e qual a procura e oferta local existente nessa área. Não obstante, é opinião comum entre os cargos de direcção que uma maior autonomia não inviabilize a realização de projectos e programações transversais entre vários divisões e/ou equipamentos. Pelo contrário, consideram que o trabalho em rede na cultura é pouco estimulado e apoiado, sendo que há espaço e condições para a formação de mais equipas especializadas. De uma forma geral, têm funcionado muito bem, em especial na área dos arquivos, onde se tem promovido a circulação de pessoas e equipas que vão rodando entre os diferentes arquivos municipais, consoante as suas valências e necessidades. Este tipo de projectos são louvados por serem iniciativas que dão uma maior visibilidade aos equipamentos, implicam menores custos, e estimulam as pessoas, na medida em que são motivadas pela persecução de objectivos concretos, saem da rotina, e têm oportunidade de partilhar conhecimentos e know-how.

Verifica-se que este défice de articulação e transmissão de conhecimentos e informação é transversal a toda a orgânica da DMC (tal como, aliás, de toda a CML), também acontecendo entre divisões dentro de um mesmo departamento ou mesmo entre departamentos diferentes. Esta cultura de “cada um na sua quintinha” subsiste porque, de forma subjacente e consistentemente, existe uma grave lacuna ao nível da comunicação, essencialmente interna mas também externa. Aliás, o gap ao nível da comunicação entre os órgãos decisores e os seus subordinados é um dos principais problemas que impossibilitam ou condicionam um bom funcionamento da CML. De forma a colmatar essa lacuna e tentar agilizar a comunicação ao nível das decisões, tem sido muito defendida a instituição de reuniões regulares e obrigatórias de coordenação com as chefias. Deste modo, não só se envolvem mais as pessoas nos processos de decisão e implementação dos projectos e se potencia o espírito de equipa e de pertença, como também se inverte um pouco a lógica de decisão de cima para baixo, dando voz a quem é especialista e ciente do que se passa no terreno.

Outra questão fulcral que provoca uma deficiente comunicação interna e subsequente desarticulação e funcionamento dos equipamentos diz respeito aos inúmeros organismos

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afectos à DMC que têm a sua própria base de dados, não compatíveis com as restantes. Dado que existem cerca de 18 sistemas informáticos diferentes no seio da CML, será então prioritário uniformizar ou compatibilizar softwares de modo a que informação possa ser migrada e partilhada fluidamente entre equipamentos, divisões e departamentos. Apesar do atraso no processo face às constantes exigências tecnológicas e a dimensão da estrutura da CML, está em curso um projecto neste âmbito, co-financiado por fundos europeus, para o qual foi constituída uma comissão de trabalho supra-departamental.

Dada a grave conjuntura económica actual, associada à difícil situação financeira da CML, a oferta municipal ressente-se na qualidade do serviço prestado aos seus utentes e na programação disponibilizada aos seus públicos. De uma forma notória geral, mas com especial ênfase em diversas bibliotecas e arquivos, os equipamentos culturais encontram-se estrangulados em manifesta ruptura orçamental, funcionando num patamar mínimo de eficiência. Ao não disporem de autonomia e gestão financeira, vêem-se privados de recursos básicos como economato, o que prejudica essencialmente o atendimento ao público, promovendo assim uma má imagem do equipamento e da oferta cultural municipal (e impedindo-os até, nalguns casos, de gerar receitas, pela incapacidade de manterem a prestação de serviços cobrados ao público). O investimento feito nos equipamentos tem assim um grande peso no que diz respeito ao seu funcionamento e visibilidade.

De uma maneira geral, verifica-se que as estruturas que dependem ou reportam directamente à Presidência da CML e/ou à DMC funcionam tendencialmente melhor, por privilegiarem de soluções mais empenhadas e decisões mais céleres face à máquina burocrática do sistema camarário. São exemplos disso a recente Film Comission, o Museu do Design (MUDE) ou a Casa Fernando Pessoa. Assim, quanto mais um equipamento for reconhecido como organismo-chave na promoção da cultura em Lisboa, maior é o investimento nele feito, seja em termos de angariação de projectos e recursos financeiros, seja em termos de recursos humanos e visibilidade. No mesmo sentido, quanto maior capacidade, autonomia e investimento financeiro um equipamento tiver, tendencialmente maior será a variedade e a qualidade da sua programação, do seu serviço público. É o caso dos teatros São Luiz e Maria Matos, tutelados pela EGEAC, que usufruem de um orçamento muito superior a outros equipamentos tutelados pela Direcção Municipal da Cultura, como a Videoteca, a Fonoteca, o Museu da Cidade ou o GEO, por exemplo.

2 . 4 . 2 A P R o C u R A P A R A A S A C t I V I d A d e S C u l t u R A I S l I S b o e t A S

As dimensões da procura e oferta cultural funcionam em lógicas complementares no seio do mesmo contexto sociocultural, económico e urbano. Neste sentido, importa reforçar a ideia de que Lisboa, bem como as suas “procuras”, podem ser vistas a diferentes escalas, sendo esta a cidade global, capital, metropolitana, mas também cidade de freguesias e de bairros. A cidade comporta inclusive diferentes graus de proximidade, de vivência e de experiência cultural. A procura em Lisboa reflecte esta realidade diferenciada ao ser constituída por públicos com perfis diversos que frequentam os múltiplos espaços existentes, mas muitas vezes diferenciados, para a cultura mais “elitista”, para a cultura “de massas” ou para as culturas “alternativas”. No entanto, comparativamente a outras cidades da mesma natureza, de uma forma genérica, Lisboa é ainda uma capital relativamente pobre em termos de públicos, se atendermos à percentagem de população local que efectivamente consome cultura de forma regular. Este facto, decorrente não só do baixo nível de rendimento per capita da população, mas sobretudo de hábitos culturais

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muito pouco desenvolvidos, associados a um baixo capital escolar/habilitacional médio da população e a assimetrias sociais consideráveis, é aliás um problema transversal a todo o território continental, embora minorado pela crescente procura proveniente de turistas estrangeiros, fruto em parte do trabalho de promoção do Turismo de Portugal e da Associação de Turismo de Lisboa (ATL), que têm por objectivo atrair esse mercado internacional.

À escala nacional, Lisboa tem ainda assim uma procura significativa de eventos e equipamentos culturais por públicos diferenciados, quer em termos de faixa etária, quer em termos de poder económico. Embora estes continuem a pertencer na sua maioria (ou pelo menos, tenham um peso relativo maior) à classe média-alta, com educação superior (na linha das segmentações tradicionais dos públicos culturais, muito ligadas ao capital cultural, reflectido em variáveis como o nível de habilitações e o estrato socioeconómico, bem como a idade e posição no ciclo de vida), tem-se registado não só um aumento de frequência (embora sobretudo dos públicos mais habituais) mas também uma maior diferenciação de público devido a muitos anos de políticas de democratização da cultura. Para tal contribuíram o surgimento de estruturas transdisciplinares mais informais e percepcionadas como menos elitistas, como a ZDB e o Bacalhoeiro, por exemplo, ou os inúmeros festivais de música e cinema que se sedimentaram como pólos de atracção de um público mais heterogéneo e de massa, ou de públicos específicos ou especializados. Temos como exemplos os Dias da Música (ex-Festa da Música), o DocLisboa, o IndieLisboa, o QueerLisboa, a Monstra, o Optimus Alive, o Rock in Rio e o Super Bock-Super Rock, entre muitos outros. O aprofundamento e a implementação de estratégias de cativação de públicos permitiram igualmente ir ao encontro de outros nichos de mercado. No caso da Culturgest, por exemplo, a alteração da política de preços, com a introdução de bilhetes a 5 euros para menores de 30 anos, teve resultados muito positivos que se reflectiram no aumento significativo deste escalão. Os serviços educativos, por outro lado, que tiveram uma forte expansão nos últimos 10 anos, têm tido um papel cada vez mais fulcral na captação de um outro nicho, o público escolar, abrangendo crianças e jovens mais desfavorecidos economicamente, que não teriam, de outra forma, condições de usufruir da oferta cultural.

Em termos de procura, Lisboa polariza uma área envolvente significativamente maior do que o concelho, gerando limiares de procura bem mais amplos do que os associados ao seu meio milhão aproximado de residentes. De facto, são muitos os equipamentos em que a maior parte do público provém de concelhos limítrofes da AML. É o caso do CCB, que atrai maioritariamente espectadores de Oeiras e Cascais e até de Almada, e o caso de alguns eventos no Pavilhão Atlântico ou na área do Parque das Nações, cuja procura provem essencialmente de Loures. Conclui-se então que a localização geográfica dos equipamentos pode ter um peso considerável na escolha e motivação dos públicos, pelo menos em lógicas de procura de base mais regional e metropolitana. Outro tipo de eventos, seja grandes espectáculos ou exposições mais massificados (o caso do Rock in Rio ou outros festivais ou de certas exposições mais mediáticas) seja eventos muito especializados com públicos-alvo muito específicos (providos regularmente em múltiplos espaços e instituições da cidade), podem mobilizar áreas de influência bem maiores, muitas vezes de âmbito nacional e nalguns casos até ibérica. Pelo contrário, outro tipo de oferta, menos especializada (pense-se no caso de muitas bibliotecas, na exibição de cinema de massas, ou em animação cultural de bairro, por exemplo) mobiliza procuras que podem ter áreas de influência muito reduzidas, de âmbito muito localizado.

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Para além de tudo isto, note-se também que muitas são as pessoas que não trabalham no concelho de Lisboa mas que usufruem da oferta cultural que esta proporciona e vice-versa, num quadro de crescente integração metropolitana e de maior facilidade da mobilidade interna. Existe assim, claramente, um desfasamento entre a população que usufrui a cidade e a que nela habita, que faz com que questões sensíveis se coloquem a quem programa e gere a oferta cultural da cidade, em particular, no caso dos equipamentos e instituições municipais, por definição apostados em representar e defender o interesse colectivo territorial do seu território e dos “seus” munícipes.

Uma das questões incontornáveis quando se fala em procura, seja ao nível local, regional ou nacional, prende-se com a falta de estudos de público que possam caracterizar rigorosa e sistematicamente os públicos da cultura. Esta crónica falta de estudo e análise sistemática sobre públicos e práticas culturais é transversal a todos os sectores artísticos e culturais, incluindo o próprio Ministério da Cultura, a nível nacional, e a CML não é excepção (lembre-se que o estudo panorâmico mais recente data da Lisboa 94). Regra geral, a informação existente neste domínio é casuística, desestruturada e dispersa, sendo que, quando existe, são privilegiados indicadores e dados quantitativos mais imediatos em detrimento de dados mais sólidos ou com carácter mais qualitativo. Dito de outra forma, os estudos são essenciais para as instituições culturais conhecerem o perfil do seu público em termos de estrato socioeconómico, faixa etária, sexo, localização geográfica e taxa de frequência, entre outros, mas é vital não descurar o levantamento e compreensão dos seus gostos, hábitos, expectativas e motivações. Só através do conhecimento a fundo do mercado se poderá adequar a oferta à procura diferenciada e desenvolver coerentemente linhas estratégicas de programação bem ajustadas à realidade. Qualquer política cultural no seio da CML deveria, portanto, ser informada com estes aspectos e implementada tomando em consideração a dimensão do conhecimento aprofundado dos seus públicos, para se evitarem indefinições e sobreposições ao nível das programações e dos públicos-alvo pretendidos pelos diversos equipamentos culturais. Será também portanto prioritário um levantamento, tratamento e análise de fundo desta matéria.

Este conhecimento dos públicos é também fundamental para a actuação de fundo que permitirá a reprodução sustentada da procura no longo prazo: a formação de públicos. Importa conhecer os públicos actuais para sobre eles poder actuar, ao nível da dotação de competências, que é o principal travão à expansão das procuras (com a fraca escolaridade média da população em geral e dos públicos, em particular). Uma aposta numa formação de base, com um contacto mais íntimo e forte com as manifestações artísticas e culturais e com a criatividade, é decerto indispensável, havendo muito ainda a fazer nesta área, seja no campo da articulação das múltiplas e florescentes actividades dos muitos serviços educativos das instituições da cidade, seja, mais do que isso, na sua articulação com a actividade desenvolvida nas escolas do concelho, nos vários ciclos de ensino.

2 . 4 . 3 o S P R o C e S S o S d e M e d I A ç ã o C u l t u R A l

Nas actividades culturais e criativas, os processos de mediação e de legitimação são uma vertente fundamental. São eles a base da criação de reputação e da legitimação dos artistas e criadores (face aos seus públicos, face aos mundos da arte em que se movem, face à população em geral). São eles também que permitem a disseminação da informação em mercados, como é o caso dos mercados de bens culturais, em que esta é particularmente imperfeita, ou seja, nem do lado da oferta, nem do lado da procura há informação

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suficiente e segura para os intervenientes. Com efeito, num cenário caracterizado pela clara incerteza da oferta e da procura, face às características intrínsecas destes bens (por exemplo, o consumidor não sabe se vai gostar de um livro ou de um filme até o experienciar, mesmo que tenha tido contacto anteriormente com outras obras do mesmo autor) a importância de existir alguém ou alguma instituição ou algum mecanismo que permita legitimar, dar a conhecer, dar informação sobre, ou mesmo mostrar partes destes produtos, antes de o consumidor os experienciar na totalidade é fulcral. E são essas instâncias de intermediação, os mediadores culturais, de diversos tipos (críticos, média, programadores, curadores, circuitos de distribuição e exibição, as novas redes sociais na internet, etc.) que efectivamente fazem uma ligação entre oferta e procura e que podem, a várias escalas e níveis, ter um papel determinante ou condicionar fortemente o sucesso desses bens, artistas ou criadores culturais.

Neste quadro, as questões da disseminação da informação, das formas de acesso à informação, da legitimação artística e da construção de reputações (nacional e internacionalmente, nos mercados mais genéricos ou mais restritos), ou a questão da capacidade de internacionalização e entrada nos circuitos globais de distribuição, por exemplo, são fundamentais,

No entanto, na prática, juntamente com a má articulação interna dos serviços camarários e destes com a cidade, a deficiente capacidade de circulação de informação e de divulgação cultural emerge como um dos principais problemas referidos no funcionamento da actividade cultural da cidade de Lisboa.

Estes problemas são de diversas naturezas. Um diz respeito à insuficiente divulgação do que de facto acontece na cidade (agravada pela crescente multiplicidade de acontecimentos culturais, e em espaços não convencionais) e outros estão relacionados com a sobreposição de meios de circulação e de informação, camarários, mas não só. Isto é aliás aparentemente paradoxal num quadro em que nunca como agora tanta e tão boa e variada informação circulou sobre a actividade cultural da cidade: desde a informação institucional (programas, webpages, etc.) das múltiplas instituições, às agendas, programações e destaques da imprensa escrita e dos restantes média (nos jornais e revistas, nos programas de TV, na rádio), aos mais variados guias (pagos ou gratuitos, suportados por publicidade) sobre a cidade, os seus bairros ou as tendências da cultura urbana, aos guias e anuários de actividade mais profissionais e destinados a públicos específicos, às mais variadas newsletters e mailing lists, sem esquecer as mais institucionais publicações municipais, a Agenda Cultural, da DMC, e a Follow Me, da ATL.

Mas há uma franja significativa do público frequentador das actividades culturais para quem os meios de divulgação mais tradicionais, da rede de cartazes e circuito de mupis à Agenda Cultural da Câmara, é fundamental. E isto leva a que muito do que acontece na cidade hoje em dia não seja facilmente percepcionado por uma parte grande do seu público potencial.

Paradoxalmente, a um aumento significativo de oferta cultural na cidade, esta vê os meios de comunicação social tradicionais (jornais, revistas, televisão) a diminuírem o peso atribuído à cultura (divulgação e agenda, mas também crítica e reflexão) nas suas páginas ou programas. Por outro lado, há um conjunto de funcionalidades e de mecanismos de divulgação proporcionados pela internet e pelas tecnologias digitais e móveis que estão a causar uma pequena revolução na forma como a divulgação cultural acontece e em relação às quais

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poucas instituições e produtores culturais estão verdadeiramente atentos e adaptados (com a eventual excepção da área da criação e produção musical), e muito menos a autarquia.

Isto inclui desde logo uma melhor utilização das páginas de internet da Câmara, mas também as novas forma de sociabilização e de obtenção e procura de informação na internet (motores de busca, redes sociais, etc.). Estes mecanismos significam a possibilidade de explorar não só novos circuitos de promoção e mediação cultural, mas também novas formas de legitimação cultural para os bens e agentes culturais da cidade.

Mas, para além desta questão da circulação da informação na cidade, a importância dos processos de mediação revela-se igualmente fundamental a outro nível: o dos circuitos de legitimação e de visibilidade externas dos artistas e criadores lisboetas e das sua obras.

No contexto europeu e mundial, Lisboa é ainda uma cidade periférica em termos de mercado, programação e destino turístico cultural. Comparativamente a outras cidades da mesma natureza e dimensão, Lisboa apresenta uma grande dificuldade de afirmação e visibilidade externa, o que menoriza a sua importância e a sua legitimação cultural internacional. Esta dificuldade em internacionalizar a criação e demais produtos culturais provoca um desequilíbrio evidente entre o que se exporta e o que se importa, como entre o que se faz e o que se dá a conhecer no estrangeiro. Existe inclusive uma incipiente mobilidade de artistas e profissionais do sector cultural nas redes internacionais de criação, como também uma escassez de obras, eventos e estruturas com dimensão e projecção internacional, que atraiam ou alcancem regularmente agentes culturais mundiais. Contudo, Lisboa tem um crescente potencial de internacionalização gerado pelo recente sucesso de artistas portugueses em circuitos internacionais, bem como pela organização de grandes eventos em Portugal, nomeadamente a Expo’98.

Com base neste cenário, é crucial incentivar a criação e o desenvolvimento de mecanismos e redes de mediação culturais mais consequentes, com base numa estratégia bem delineada e concertada, de modo a que Lisboa se possa afirmar definitivamente a nível internacional. Assim, a capital deve apostar na exportação dos seus agentes e bens culturais para os circuitos globais de criação, produção e difusão, bem como na internacionalização dos seus artistas, ajudando-os a inserirem-se nos circuitos próprios e mercados de arte internacionais. No entanto, dado a CML não ter capacidade de divulgar sozinha a cultura do seu município, esta deve procurar uma maior articulação com o poder central, nomeadamente, com o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), o Ministério da Economia e da Inovação (MEI), o Ministério da Cultura (MC) e o Ministério da Educação (ME), no sentido de arranjar financiamento e clarificar esta oferta. Isto seria benéfico não só para a cidade como para o país. Promovendo sinergias com os agentes locais interessados, estas medidas deverão ser consubstanciadas por uma política pragmática, de continuidade e a longo prazo da exportação da cultura lisboeta e portuguesa. Esta promoção internacional passa por ajudar a criar equipas de profissionais que se desloquem ao estrangeiro para divulgarem, estabelecerem contactos, criarem pontes e servirem de interlocutores, permitindo, através de apoio institucional e/ou financeiro, reforçar o tão crucial networking.

Outra ferramenta essencial para se afirmar a imagem externa de Lisboa como cidade de forte intervenção cultural é uma boa comunicação internacional. Deste modo, é necessário apostar, por um lado, no turismo com as suas múltiplas dimensões, promovendo a oferta cultural de Lisboa; por outro, nas embaixadas portuguesas sediadas no estrangeiro. O investimento em Lisboa e a sua promoção fora do país são feitos essencialmente através

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do Turismo de Portugal (TP) e da Associação de Turismo de Lisboa (ATL), pois são as entidades a quem cabe tal competência e que têm o orçamento mais significativo. Entre outras medidas para atrair o mercado internacional, tais como a criação de agências de comunicação no exterior, estas entidades financiam os média estrangeiros a virem a Lisboa para respectiva divulgação de eventos culturais. Uma estratégia-chave para colmatar o fosso entre o que se faz e o que é divulgado é apostar na diplomacia. Os adidos culturais das embaixadas portuguesas no estrangeiro poderiam neste campo ter um papel mais preponderante e activo na divulgação da capital.

A comunicação internacional passa ainda pela escolha de mecanismos de divulgação e canais de informação mais eficazes, adequados à realidade dos dias de hoje. Embora as agências de viagem e postos de turismo tenham ainda um peso considerável na projecção de Lisboa, são meios de divulgação de carácter tradicional. Face às constantes exigências tecnológicas, são cada vez mais privilegiados meios de divulgação rápidos, eficientes, e especificamente orientados para os respectivos públicos-alvo. Assim, cada vez mais a internet surge como o principal circuito de comunicação e legitimação, através dos seus motores de busca, sites, blogues, portais e redes sociais. E isto é válido tanto para o turismo, como para a colocação de qualquer outro produto cultural local (um disco, uma música, um espectáculo, uma obra de artesanato) num mercado mais global.

De modo a promover a vocação capital e internacional da cidade, não basta apenas desenvolver mecanismos de exportação e circulação internacional. Importa também apostar na atracção e acolhimento de consumidores culturais estrangeiros, nomeadamente, estudantes internacionais, profissionais qualificados e artistas em processo de criação, bem como garantir a visita de mediadores culturais internacionais, tais como curadores, programadores e críticos de arte. Dada a escassez de massa crítica e a situação periférica de Lisboa no contexto cultural europeu e mundial, é essencial que a cidade, através de programas de convites instituídos por entidades que operam na área da cultura, cative de forma intensa e sistemática um conjunto de mediadores e opinion-makers de referência. Seria também proveitoso captar organizações internacionais relevantes, particularmente nos campos culturais e sociais, ou outras instituições com actuação supra-nacional, de modo a que pudessem ter a sua sede ou representação na cidade. Será então notório por tudo isto que para que Lisboa se afirme e se projecte internacionalmente no seio de um mundo cultural globalizado, é fundamental trabalhar para criar condições atractivas de acolhimento que permitam melhor agilizar e fortalecer os mecanismos de mediação cultural.

2.5 duas questões transversais fundamentais 2 . 5 . 1 e C o n o M I A , e M P R e e n d e d o R I S M o , o R g A n I z A ç õ e S e e M P R e g o

Uma visão de sector da economia da cultura tem vindo a ganhar nos últimos anos uma legitimidade, política, económica e social que há duas décadas se julgava impossível. Nisso, a emergência do conceito de indústrias culturais e criativas teve um papel crucial. Não obstante, há ainda um desconforto do sector cultural em lidar com a “economia”. Mas para uma cidade como Lisboa, que tem uma oferta artística e criativa considerável, que tem instituições culturais com uma actividade continuada e contemporânea e um património, uma história e tradições seculares, é arriscado ignorar o potencial económico da actividade cultural. Numa economia com as características da portuguesa, é significativa (e, aliás, fulcral…) a capacidade de as actividades culturais e criativas produzirem riqueza ou gerarem postos de

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trabalho qualificado. A criação de valor proporcionada pela inclusão de atributos estéticos e simbólicos e conteúdos culturais nos bens da economia convencional é não só enorme, como dificilmente esgotável, havendo criatividade para tal. É fundamental, por isso, perceber que pela capacidade de mostrar e promover a criação e a cultura da cidade passa uma parte importante do futuro político, económico e social da cidade e da sua sustentabilidade.

O empreendedorismo tem emergido nos últimos anos como a palavra mágica para a resolução de todos os problemas da economia em Portugal. No entanto, é correcto apontar ao sector cultural e criativo em especial uma ausência de cultura de risco e de empreendedorismo, bem como de predisposição para a inovação, apesar da existência de várias excepções. Em paralelo, a opção por uma carreira profissional na cultura, seja eminentemente artística seja administrativa, de produção ou de gestão, encontra ainda diversos obstáculos, apesar de Lisboa ser de longe a cidade portuguesa com mais oferta neste sector. O crescente número de instituições culturais, assim como eventos de grande dimensão, como foi a Lisboa, Capital Europeia da Cultura, ou a Expo 98, correspondeu a um aumento gradual de profissionais de cultura e das suas competências. Não obstante, o sector apresenta um grau deficiente – principalmente nas áreas da gestão e produção cultural – de especialização profissional. É um sector que, por razões históricas aliadas à relativa novidade destas profissões, ainda acolhe muitos profissionais impreparados para os desafios e para o grau de especialização que o sector cultural obriga. Lisboa não é excepção apesar de, a este nível, se distinguir largamente do resto do país. A este facto, não será alheio, naturalmente, a precariedade da generalidade das profissões deste sector (embora a falta de especialização e a precariedade acabem por estar relacionadas entre si).

As instituições culturais da cidade são, à semelhança das do resto do país, pouco inovadoras nas suas formas de se organizarem. No lado das organizações privadas, obedecem ao figurino legal administrativo mais comum, assumindo a forma de associações ou, nalguns casos, cooperativas. As dinâmicas internas encontradas são a maior parte das vezes muito estáticas e conservadoras. Do lado do sector público, tanto as instituições sob a tutela da Câmara como as grandes instituições sob a tutela do governo central padecem de graves limitações ao nível da sua autonomia administrativa e financeira (em especial as instituições museológicas), o que as impede de verdadeiramente conduzir os seus desígnios. É curioso por isso verificarmos que os modelos de organização mais evoluídos e, aparentemente, mais frutuosos, se encontram no Porto (Fundação de Serralves e Casa da Música), porque encontraram precisamente figurinos legais que lhes permitem gerir com independência e autonomia as suas missões, criando laços com os contextos sociais e económicos que os rodeiam.

É importante realçar que Lisboa tem o maior parque e população universitários do país. Ainda assim, a escolaridade da população da cidade é insuficiente e há graves lacunas ao nível da formação artística avançada. A cidade está apetrechada com um conjunto de instituições de ensino profissionalizante e superior artístico, mas mal preparada no que diz respeito à formação avançada e pós-graduada. Isto acaba por se reflectir não só na incapacidade da cidade de atrair artistas em formação e emergentes como é, em parte, responsável, pela sangria de jovens artistas da cidade para o estrangeiro, na expectativa de melhor formação e até de careiras profissionais mais completas e enriquecedoras.

É muito importante realçar ainda o pouco peso atribuído à propriedade intelectual. Vigora ainda a percepção de que a propriedade intelectual não é fonte de criação de valor, sendo o seu contributo continuamente negligenciado. As questões relacionadas com a propriedade

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intelectual estão intimamente relacionadas, hoje em dia, com o peso das tecnologias digitais e com a importância da internet. O potencial que resulta destas dimensões e a sua consequência na organização e gestão das actividades culturais e criativas (diferentes formas de conceber as cadeias de valor, o comércio electrónico, o mercado global e os nichos de mercado, etc.) é ainda francamente subestimado. Há algumas excepções de sucesso, no entanto, nomeadamente no mercado da edição fonográfica ou no mercado dos audiovisuais.

2 . 5 . 2 g o V e R n A n ç A , C o o P e R A ç ã o e M R e d e ,

A u t o - R e g u l A ç ã o e A C ç ã o C o l e C t I VA

A questão dos mecanismos de governança e a forma como eles permitem agilizar ou, pelo contrário, entorpecer os sistemas económicos, sociais, culturais e territoriais que são a base do funcionamento cultural da cidade é também ela fulcral e merece uma reflexão adicional. Estejamos a falar das mais imediatas formas de regulação destes sistemas (em particular a intervenção pública), ou estejamos a falar de outras formas de regulação ou mesmo auto-regulação de alguns destes subsistemas (com base em dinâmicas privadas ou de génese associativa, ou na articulação em rede e cooperação entre os seus agentes, por exemplo), importa destacar a situação verificada na cidade em relação a esta questão da governança. É apontada à Câmara, como um dos principais entraves ao seu bom funcionamento, um modelo de governança pouco democrático e transparente, desactualizado e insuficiente para uma cidade com as ambições de uma capital como Lisboa. Como já ficou patente ao longo das diversas vertentes deste diagnóstico, Lisboa apresenta vários problemas ao nível do seu modelo de governança municipal, com reflexos muito concretos ao nível dos seus processos de decisão internos, de garantia de transparência, de eficácia, participação dos cidadãos e agentes da cidade.

São vários os exemplos das formas de como a má governança da cidade se expressa: a má articulação entre serviços camarários, a duplicação de funções dos seus diversos organismos, a má prestação de serviços ou questões como a não abertura de concursos públicos para posições de direcção de organismos sob a tutela da Câmara, a inexistência de regulamentos de funcionamento ou, prática comum nas autarquias portuguesas, a procura de expedientes jurídico-administrativos para encontrar formas de contornar as limitações legais impostas pela lei do financiamento local e pela legislação administrativa, entre tantos vários outros exemplos.

Entre as questões relacionadas com a governança da cidade, encontram-se aquelas relacionadas com os modelos organizacionais e legais propostos para a prossecução de determinadas actividades sob a tutela da Câmara, tais como a EGEAC, ou a recente tendência para a constituição de fundações. Em vez de se procurar o melhor modelo legal para a prossecução mais eficaz e legítima de determinada missão institucional, o processo tem o sentido contrário. Como que se procura adaptar a missão institucional, distorcendo-a, em função do limitado leque de modelos legais disponíveis, instrumentalizando-se os objectivos que devem ser prosseguidos por determinada instituição. Também os modelos legais de organização propostos nem sempre são garantia de maior transparência, eficácia ou participação dos cidadãos. Em relação à EGEAC, é invocada a necessidade de clarificar o seu relacionamento com a Direcção Municipal de Cultura. É importante clarificar as responsabilidades que caem

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sob a alçada directa da vereação da cultura ou até mesmo aquelas que são chamadas a si pelo próprio presidente da Câmara e que são de natureza eminentemente cultural. Parece também haver uma grande instabilidade no elenco de responsabilidades que competem à direcção municipal. Desta análise emerge a ideia, invocada por vários agentes auscultados durante a fase de diagnóstico, de uma EGEAC com competências transversais, que abranjam áreas e dimensões que estão fora da criação artística, a gestão de equipamentos culturais e património da cidade.

Estão também identificadas questões complexas relacionadas com a má articulação da Câmara com instituições da cidade, sejam as instituições culturais nacionais, as entidades responsáveis pelo turismo, ou outras. O mau funcionamento desta relação acaba por explicar a ineficiência ou ausência de politicas sectoriais para determinadas áreas. A necessidade de reparar e, nalguns casos, construir de novo, as relações entre os diversos organismos da Câmara, assim como as relações entre esses organismos e a sociedade civil é apontada como uma das prioridades pelos cidadãos e criadores da cidade, assim como pelos funcionários da Câmara.

Lisboa tem obrigações e responsabilidades ímpares no seio das cidades portuguesas, e entre estas tem o dever de assegurar formas de governança que estejam de acordo com o seu estatuto de capital e de acordo com as suas necessidades.

Em paralelo a tudo isto, avultam na cidade diversas outras dinâmicas que nos dão sinais de alguns processos, ainda que embrionários, de auto-regulação e governança territorial que, pelo menos à micro-escala e para alguns sectores, têm funcionado como mecanismos de escape e de consolidação de dinâmicas sustentadas, através da auto-organização dos actores locais e da sua acção colectiva. Estes mecanismos alternativos, de vários tipos, podem assumir- -se como alternativas interessantes, pelo menos para algumas questões e problemas pontuais, seja à intervenção directa dos poderes públicos, seja ao puro funcionamento do mercado.

Entre as várias experiências que podem ser destacadas em Lisboa nos tempos mais recentes, com incidência cultural, avulta por exemplo o caso do Santos Design District, com a associação de um conjunto de agentes culturais e criativos (públicos e institucionais, do campo da formação, mas, sobretudo, privados, com declarados interesses comerciais) na promoção desse bairro da cidade como bairro do Design, desenvolvendo um conjunto de iniciativas nesse sentido. A uma escala mais restrita e apenas para ocasiões pontuais, os antiquários têm também criado, em torno da Rua de São Bento, iniciativas com lógicas deste tipo. Outro caso a destacar é o da Associação de Valorização do Chiado, organização de comerciantes que tem desenvolvido por sua própria iniciativa um conjunto de iniciativas bastante intenso e frutuoso de forma a promover a zona e a sua imagem, bem como, naturalmente, a actividade dos seus associados. A par destes exemplos, várias outras experiências e lógicas de coordenação podem ser estudadas e analisadas (desde algumas mais centralizadas, como a actuação de uma entidade pública autónoma, como a Parque Expo, na gestão de uma zona da cidade com as dimensões e a relevância do Parque das Nações, até dinâmicas bem mais complexas, difusas e intrincadas, como as que têm permitido a sustentabilidade e renovação de um bairro cultural como o Bairro Alto ao longo dos tempos), importando no entanto perceber que cada caso será um caso específico, e que a dinâmica específica que pode ser fomentada e a forma de articulação de actores em cada situação concreta pode e deve ser muito diversa. Mas é essa diversidade e flexibilidade que faz a força e a vitalidade destas formas de governança alternativas que importa equacionar e fomentar para dinamizar a actividade cultural da cidade.

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2.6 os territórios culturais de lisboa

2 . 6 . 1 l I S b o A , C A P I t A l n A C I o n A l , n o C e n t R o

d A A M l — à R e A M e t R o P o l I t A n A d e l I S b o A

Lisboa, sendo a capital nacional e o centro da maior área metropolitana do país, concentra naturalmente a grande maioria da oferta e da dinâmica cultural do país. Dependendo dos indicadores considerados, podemos andar em valores entre os 35% e os 80% do total do país, o que para uma população que representa apenas 25% do total da população nacional é bastante significativo. Por exemplo, num indicador crucial como o emprego na cultura, podemos considerar que cerca de metade do total nacional se encontra nesta área em que vive um quarto da população do país (vejam-se os dados disponíveis no CD e anexo, bem como Costa, 20074 para pormenores). Esta não será no entanto uma situação excepcional, verificando-se usualmente na maioria dos países europeus, com um peso macrocéfalo das grandes cidades, e em particular das capitais no mundo cultural desses países.

Mas mais do que isto (e também usual a nível internacional), é de destacar o facto de Lisboa polarizar fortemente a sua zona envolvente, em termos culturais. Novamente aqui a diferença entre a oferta cultural do concelho de Lisboa e dos concelhos envolventes da AML é abissal, não obstante o valor variar consideravelmente consoante os diferentes indicadores (voltando por exemplo o concelho de Lisboa a polarizar cerca de metade do emprego cultural da AML, face a apenas cerca de 20% da população respectiva). Os dados e mapas apresentados no CD em anexo mostram bem a distribuição geográfica da oferta cultural metropolitana (espectáculos eventos, equipamentos, serviços de apoio), com a clara predominância da cidade de Lisboa face à envolvente.

No entanto, note-se que ao longo das últimas décadas tem sido notória a progressiva descentralização geográfica de um conjunto de actividades culturais mais intensivas em necessidade de espaço (particularmente em sectores como a impressão, a edição, os estúdios de gravação, ou mesmo o aluguer de equipamentos), bem como as dinâmicas de valorização do património local e do turismo cultural em alguns dos concelhos envolventes (muitos deles com activos consideráveis neste campo, como Sintra, por exemplo). A par disto, no caso de práticas culturais mais massificadas (veja-se, por exemplo, o cinema mais generalista) e da venda de bens/conteúdos e suportes culturais menos especializados (venda de alguns bens culturais reprodutíveis ou equipamentos para a sua fruição, por exemplo), esta descentralização é também evidente, juntando-se a uma lógica de oferta cultural de proximidade cada vez mais robusta (livrarias, videoclubes, cinemas multiplexes), sobretudo associada a bens mais generalistas e banais, dentro de cada concelho.

Mas também noutras áreas, como nas actividades ligadas às novas tecnologias de informação (por exemplo, em Oeiras), ao audiovisual (particularmente as TVs e todos os serviços técnicos de apoio, sobretudo nos diversos concelhos mais ocidentais da AML Norte), ao teatro e artes performativas (em Almada, por exemplo), à formação artística e técnica (Amadora, Almada, …) ou na realização de eventos especializados, muitas vezes com áreas de influência consideráveis, em campos artísticos muito diversos (Cascais, Sintra, Almada) esta descentralização gradual tem vindo a alastrar, à medida que o centro

4 costa, p (2007), A cultura em Lisboa: competitividade e desenvolvimento territorial. lisboa: imprensa de ciências sociais.

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da área metropolitana perde população e emprego e esta se expande e vai funcionando de forma mais integrada. Por outro lado, a actividade municipal que se tem desenvolvido em todos estes concelhos tem permitido não só um elevar da dotação de equipamentos de proximidade (bibliotecas, galerias, centros culturais de escala local, etc.), como de uma oferta de eventos que se vai tornando gradualmente mais regular e consistente, e de lógicas de valorização do património local mais agressivas, bem como ainda de estratégias activas de atracção de actividades e agentes culturais e criativos.

De qualquer forma, apesar de tudo isto, a oferta cultural do concelho de Lisboa continua a polarizar em termos gerais a área metropolitana como um todo, ou em muitos casos hinterlands mais vastos, que importa aliás ter em conta. A análise e actuação para a cultura na cidade Lisboa não pode portanto ser desligada desta dimensão, e não obstante o nosso foco principal seja na capacidade de desenvolver a capacidade criativa e cultural no município que é o centro da área metropolitana, não podemos deixar de ter em conta não só os hinterlands em termos de procura que o resto desta área proporciona (associados aos seus 2,5 milhões de habitantes), como, para além disso, estas dinâmicas de fundo, de deslocalização de actividades culturais para a periferia, as quais serão aliás naturais face às dinâmicas sócio-demográficas, económicas e urbanísticas verificadas nas últimas décadas na região e previsivelmente serão ainda tendencialmente crescentes nos próximos anos.

2 . 6 . 2 A d I S t R I b u I ç ã o g e o g R á f I C A d A S A C t I V I d A d e S

C u l t u R A I S I n t R A - C o n C e l H o d e l I S b o A

Ao nível intra-concelhio, também se verifica um padrão claramente assimétrico na distribuição geográfica das actividades e práticas culturais. Por um lado, destaca-se uma oferta de proximidade, relativamente dispersa por todo o concelho. É o caso, por exemplo, das bibliotecas, públicas e privadas, ou das dinâmicas associadas ao comércio ou prestação de serviços culturais mais generalistas (por exemplo, livrarias, videoclubes, lojas de discos e suportes, cinema mainstream, etc. – muitas delas, aliás, em concentração progressiva nos principais espaços comerciais da cidade que se deslocam para as periferias). Mas, por outro lado, destaca-se também uma grande parte que é um tipo de oferta que polariza áreas bem mais abrangentes; embora se localize em Lisboa, parte dela em lugares relativamente dispersos (os pontos de localização das grandes instituições e grandes equipamentos, como o CCB, a FCG, a Culturgest, o São Carlos, os principais museus nacionais, as grandes escolas), outra parte está claramente focada em zonas específicas da cidade, beneficiando de economias de aglomeração, de ambientes e meios específicos e de condições particulares ao nível das representações sociais e da imagem. Como pode ser visto em Costa, 2007, por exemplo (e nalguns mapas reproduzidos no CD anexo), muitas das actividades culturais revelam um padrão geográfico genericamente marcado por uma concentração muito forte da oferta na zona central da cidade, mas muito em particular, na área polarizada pela zona Chiado-Bairro Alto (com variações e expansões para áreas limítrofes, consoante os sectores, ao Rato, ao Príncipe Real, à Bica, a Santos, ao Cais do Sodré, à Baixa, à Avenida da Liberdade, ou mesmo ao Castelo, à Graça, a Alfama e à Sé).

Um outro conjunto de dinâmicas revela-se muito polarizado não só nesta zona como ao longo de todo o eixo principal da cidade (salas de espectáculo, principais núcleos expositivos, mas também muita da actividade criativa associada a dinâmica empresarial privada), assumindo o seu lugar no centro económico e financeiro efectivo da cidade (eixo Marquês de Pombal, Saldanha, Campo Grande, bem como toda a zona das Avenidas Novas

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e sua envolvente em geral, da Praça de Espanha à Avenida de Roma). Outros pólos (Parque das Nações, Benfica, zona ocidental da cidade, etc.) são ainda relevantes, mas em geral associados a sectores, equipamentos ou instituições particulares.

Para além disto, destaca-se ainda o caso especial do património, naturalmente disperso, e do turismo cultural, que lhe está associado, com três grandes pólos na cidade, a zona monumental de Belém-Ajuda, a área da Baixa e Chiado (com extensão a toda a zona histórica, com particular destaque para Castelo, Alfama e Bairro Alto), e a renovada área do Parque das Nações.

São de salientar as diversas dinâmicas associadas à proximidade e à aglomeração, em muitos sectores, como, por exemplo, as concentrações de livrarias e alfarrabistas (com cerca de três dezenas só na zona do Chiado), de antiquários (Príncipe Real, Rua de São Bento) ou da animação nocturna e da convivialidade (relativamente segmentada mas com o peso muito significativo de áreas como o Bairro Alto ou Santos/Janelas Verdes), bem como experiências mais concretas de colaboração e actuação concertada entre agentes, de base territorializada (como o caso do Santos Design District), ou outras lógicas de desenvolvimento de actividades culturais muito ancoradas na territorialidade (no Bairro Alto, na Bica, no Chiado, em Alcântara, em Braço de Prata).

Importa ainda relevar as dinâmicas associadas ao trânsito cultural e à multiculturalidade (em particular em áreas como o Martim Moniz, Mouraria, Rossio, Praça da Figueira e Almirante Reis, mas também, e crescentemente, noutras zonas da cidade), que têm vindo a afirmar-se na cidade, e a desenvolver mecanismos interessantes de apropriação e uso do espaço público, a par, obviamente, da multiplicidade de usos culturais diversos que lhe estão adjacentes.

Nas principais áreas residenciais, registam-se dinâmicas relativamente bem mais reduzidas, face ao contingente populacional respectivo, embora em algumas zonas de urbanização mais recente ou de crescimento populacional mais forte (por exemplo, Carnide, Telheiras, Alta de Lisboa) se verifique um conjunto de experiências, projectos e dinâmicas locais assinaláveis, de origem tanto pública, como principalmente associativa.

Para além disto, tem um pouco por toda a cidade, nos seus diversos bairros e zonas, uma miríade de pequenas associações culturais e recreativas, associações juvenis e entidades de tipo semelhante, tem também um trabalho de fundo e de vulto, a nível cultural e de potenciação da expressão cívica e da participação, que importa não esquecer. Seja ao nível das práticas amadoras, da formação, do teatro amador, da organização de ciclos de cinema, etc., estas entidades têm um papel fundamental na dinamização cultural de proximidade.

Os diversos bairros sociais da cidade, de realojamento, normalmente registam uma actividade cultural “institucional” mais reduzida, mas, ao longo dos anos, iniciativas diversas da CML têm tentado inverter a situação, com a instalação de diversos equipamentos municipais (em particular bibliotecas e arquivos, mas também ateliês e espaços para artistas) nestes bairros. Embora, na prática, raramente se façam sentir efeitos de interligação fortes com as comunidades locais a nível cultural, isto não obsta no entanto a que em paralelo, em muitos destes bairros, tenham vindo a surgir fenómenos muito interessantes ao nível das novas culturas urbanas em áreas como a música ou outras.

Toda esta questão da geografia intra-concelhia das actividades culturais deverá ainda ser articulada com a questão das identidades locais (pense-se nos diversos bairros da cidade,

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cujas identidades são fortemente mobilizadas para eventos como as marchas, nas festas da cidade), bem como com a questão da actuação para a cultura a nível infra-municipal, e os problemas postos pela inadequação da divisão administrativa existente à eficiência dessa actuação. Com efeito, as fronteiras artificiais e desadequadas, e muitas vezes a grande limitação do contexto de acção (no caso das juntas de freguesia), ou as estruturas municipais sem autonomia, sem capacidade, e muitas vezes sem grande ligação às comunidades locais (dos gabinetes técnicos e unidades de projecto às SRUs) dificilmente se pode dizer que tenham permitido uma actuação minimamente consequente neste campo. Mesmo entidades com outra escala e outro nível de capacitação, como a Frente Tejo ou a Parque Expo, que nas áreas sob sua jurisdição vão actuando dentro das competências que lhe são atribuídas, revelam significativas dificuldades de diálogo com as estruturas municipais para a actuação na cidade.

De toda esta realidade, e não obstante a proximidade relativa e as boas acessibilidades, que fazem com que as pessoas efectivamente se desloquem dentro da cidade para as suas práticas culturais, mesmo as mais quotidianas e generalistas, é de destacar que a “Lisboa cultural” é composta de várias Lisboas, sendo que claramente se verifica um desequilíbrio que ao limite pode ser caricaturizado entre, por um lado, as zonas mais centrais e culturalmente dinâmicas (zonas históricas, centro económico e financeiro e administrativo da cidade), em geral privilegiadas na maior parte das práticas, actividades e equipamentos culturais e, por outro lado, as zonas de maior vivência residencial (não só as novas zonas de expansão, mas sobretudo as zonas mais consolidadas, com população mais idosa ou em faixas etárias e como modelos de vida eventualmente menos propensos a certas vivências culturais) onde a oferta cultural é claramente deficitária.

Não gostaríamos igualmente de deixar de destacar a forma como algumas das dinâmicas territorializadas que se verificam na cidade se associam a formas de governança específicas, que condicionam e marcam fortemente o seu desenvolvimento. Muitas vezes, para além das mais convencionais formas de governança e regulação dos sistemas económicos e sociais (por exemplo, a intervenção directa do estado, ou o puro funcionamento do mercado), várias outras formas de regulação destes sistemas acabam por surgir e ter um papel fundamental na gestão e promoção dos processos e dinâmicas culturais e urbanos. Da zona Bairro Alto – Chiado (com uma sustentabilidade baseada numa complexa teia de relações, mantidas há séculos), ao Parque das Nações (com uma forma de governança muito associada à estrutura pública centralizada que gere a zona), ao Santos Design District ou à Associação de Valorização do Chiado (com dinâmicas essencialmente associadas à cooperação entre agentes, essencialmente privados), ao caso da Lx Factory, em Alcântara (com uma vivência associada a um projecto imobiliário de uma empresa privada) ou ao trabalho de associações como a Fundação Aga Khan ou outras (na Alta de Lisboa, por exemplo) e grupos artísticos como o CEM ou outras (na Baixa, por exemplo) com as comunidades locais, a diversidade é a regra e a compreensão disto pode ser importante para a cidade encontrar soluções imaginativas e criativas para o seu desenvolvimento. Não há uma receita que seja replicável em todo o lado, mas em cada situação concreta, com os recursos (humanos, financeiro, técnicos,..) disponíveis e específicos, a forma de criar e manter dinâmicas culturais tem de ser pensada e equacionada em concreto, e o mais provável é que seja muito díspar e diversificada em relação às restantes.

Neste quadro, a sugestão de dinamização de diversos pólos culturais na cidade, através da intervenção pública e da implementação e gestão de equipamentos (veja-se o estudo que a Cassefaz elaborou para a CML a este respeito), podia ser obviamente uma via de actuação,

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assumindo que eles fossem centrados nas mais diversas actividades, mas também nas mais variadas formas de governança e de sustentação. Da mesma forma, a abertura a dinâmicas de proximidade nos diversos bairros (particularmente aqueles, mais residenciais, e mais carenciados de dinâmica cultural) também faria todo o sentido que partisse duma lógica bottom-up, com formas de governança diferenciadas em cada situação, intimamente ligadas ao seu contexto específico.

Finalmente, um último aspecto que gostaríamos de destacar associa-se a todo o potencial que as actividades culturais e criativas têm para a revitalização e regeneração urbana, como tem sido amplamente defendido pela academia, os policy makers e as principais instituições internacionais nos anos mais recentes (e efectivamente levado à prática em muitos países). Sem estar aqui a defender novamente esta ideia, gostaríamos apenas de destacar as diversas vias e áreas que podem ser exploradas neste quadro, que passam não só pela imediata e mais mediática revitalização das zonas históricas (e demograficamente débeis) como a Baixa ou outras; ou pela ampla possibilidade de explorar as vastas e interessantíssimas áreas industriais e portuárias abandonadas com a reestruturação do tecido económico da cidade (em particular na zona oriental, em Alcântara, e na frente ribeirinha, mas não só); mas também, de forma eventualmente menos notória, pela assunção da realidade multicultural da cidade e a exploração de dinâmicas e projectos criativos transculturais (nos bairros críticos, nas zonas centrais) ou pela assunção da criatividade nos bairros “normais”, onde a maior parte das pessoas vive o seu quotidiano, e onde o acesso mais directo à cultura e à arte (nos espaços públicos, em equipamentos de proximidade, nas suas casas) pode ser uma mais-valia significativa para o enriquecimento da qualidade de vida do seu dia-a-dia.

Em todas estas situações, a exploração dos recursos disponíveis, nomeadamente os espaços físicos em si e as suas características, os imaginários e as múltiplas memórias a eles associados, explorando criativamente a sua autenticidade e a sua carga vernacular (e afastando-se da estandardização e homogeneização global que não diferenciariam Lisboa nem as suas actividades) é um factor que não se pode menosprezar. Para isso, para além de todas as geografias e territórios que compõem a cidade, importa compreender e aproveitar a sua grande e múltipla riqueza cenográfica e as potencialidades de todos os seus espaços, numa metrópole que, para além de tudo o mais, tem o melhor dos cenários naturais no seu centro, que convém não esquecer: o Tejo.

2 . 6 . 3 A l g u M A S R e A l I d A d e S e M A b e R t o e P R o j e C t o S A t e R e M C o n t A

Em termos de síntese pró-activa, gostaríamos de terminar esta muito breve panorâmica pela geografia simplificada das actividades culturais na cidade com o levantamento e o enunciar de algumas zonas e projectos (em curso ou planeados, de iniciativas e géneses diversas) com características específicas que fará sentido destacarmos neste nosso diagnóstico, pela possibilidade de serem aproveitados num futuro próximo, bem como pelo potencial que revelam como espaços para o desenvolvimento dos projectos que se apresentam de seguida ou outros.

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A z o n A d e b e l é M - A j u d A

Para além do já bastante consistente núcleo turístico-museológico pré-existente (embora com fraca presença de equipamentos municipais – só o Padrão dos Descobrimentos), prevê-se a curto prazo um conjunto significativo de investimentos em projectos emblemáticos e com potenciais efeitos dinamizadores:> Novo Museu dos Coches> Museu da Língua/Descobrimentos> Potencial relocalização do Instituto e Museu de Arqueologia para a Cordoaria

b A I x A P o M b A l I n A / P R A ç A d o C o M é R C I o

> Plano de requalificação (e plano de gestão) da Baixa Pombalina, plano de pormenor respectivo e consequente candidatura a património mundial, com possibilidade de aproveitamento da solução institucional específica encontrada para dinamizar a zona> Fixação de novos equipamentos (MUDE, pólos de agências criativas)> Reestruturação da praça do Terreiro do Paço e libertação de espaços (com possibilidade de ligação ao Lisbon Welcome Center)> A par de novas dinâmicas bottom-up (Bacalhoeiro, CEM)

C H I A d o

> Pólo de equipamentos e de instituições culturais, zona de transição entre a Baixa e o Bairro Alto, influenciada pela evolução de qualquer uma delas> Zona em processo de gentrificação muito acentuado nos últimos anos, com resultados não totalmente previsíveis> Dinâmicas de governança interessantes, de iniciativa privada

b A I R R o A l t o ( e e x t e n S õ e S : b I C A , P R í n C I P e R e A l ,

P R A ç A d A A l e g R I A ) / ( 7 ª C o l I n A )

O Bairro Alto, apesar de se estar a tornar num espaço muito massificado e com pressões urbanas e sociais muito intensas, continua a ser o principal pólo de dinamismo criativo e convivialidade da cidade. Mas que estruturas de governança serão mais adequadas para a sua sustentabilidade? E que impactos gera a sua evolução nos bairros adjacentes?

P A R q u e M Ay e R / AV e n I d A

> Parque Mayer (e sul da Avenida da Liberdade), com projecto de reabilitação aprovado> Recuperação do teatro Capitólio> Ligação Avenida da Liberdade / Rua da Escola Politécnica, com potencial de ser aproveitada

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AV e n I d A d A l I b e R d A d e / e I x o C e n t R A l / AV e n I d A S n o VA S

> Centro do investimento em equipamentos, públicos e privados, da cidade> Espaços de espectáculo em recuperação e consolidação, nomeadamente no caso do

teatro mais generalista (Avenida da Liberdade)> Projecto de semi-pedonalização da Avenida Duque de Ávila, com potencial para o

desenvolvimento de actividades culturais e de convivialidade na zona

M A R t I M M o n I z , R o S S I o – P R A ç A d A f I g u e I R A /

M o u R A R I A / A l M I R A n t e R e I S

> Grande potencial multicultural (dinâmicas endógenas)> Mas ausência de projectos estruturantes > Em simultâneo, reapropriação da Baixa próxima por segmentos socioculturais muito

diversificados (Erasmus, diferentes segmentos de turismo de curta duração, imigrantes diversos)

á R e A S I n d u S t R I A I S e M R e C o n V e R S ã o

( A l C Â n t A R A , z o n A o R I e n t A l )

> Zonas industriais em reconversão, com espaços com muito potencial (e no caso de Alcântara, vários projectos imobiliários de vulto em curso)

> Casos de sucesso (Lx Factory, Braço de Prata), mas muitas outras pequenas dinâmicas> Localização de alguma actividade ligada a audiovisual e outras indústrias criativas> Consolidação de equipamentos culturais polarizadores (como o Museu do Oriente)

S A n t o S , j A n e l A S V e R d e S , b o AV I S t A , C A I S d o S o d R é

> África.Cont, previsto para as imediações do Museu Nacional de Arte Antiga > Expansão do Santos Design District?> Planos de reconversão diversos para o aterro da Boavista

P A R q u e d A S n A ç õ e S

> Equipamentos culturais recentes, atracção progressiva de indústrias e serviços qualificados, pólo urbano em crescimento

> Facilidade de explorar forma de governança específica

R e S t A n t e f R e n t e R I b e I R I n H A / P o R t u á R I A

Potencial de exploração de espaços livres ou da vivência múltipla do recurso rio/paisagem

á R e A S d e M A I o R e x P A n S ã o u R b A n A

Novas zonas em expansão, como Telheiras, Carnide, ou Alta de Lisboa, com dinâmicas muito interessantes

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b A I R R o S t R A d I C I o n A I S e H I S t ó R I C o S

Dinâmicas de recomposição populacional acentuada, com novos segmentos (diferenciados de bairro para bairro: Castelo, Graça, Alfama, Madragoa), e novas actividades comerciais e culturais

b A I R R o S C o n S o l I d A d o S / z o n A S R e S I d e n C I A I S

> Alguma dinâmica associativa a aproveitar > Vs. grande défice relativo de equipamentos e oferta cultural localizada

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Análise SWot

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O diagnóstico efectuado ao sector cultural da cidade de Lisboa permitiu, de uma forma bastante completa e transversal, realizar uma análise SWOT (Pontos Fortes, Pontos Fracos, Oportunidades, Ameaças), realista e consistente da cultura em Lisboa, identificando de forma sistemática os atributos positivos e os negativos do sector cultural de Lisboa, assim com as condições que poderão ajudar ou perturbar o seu desenvolvimento.

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Pontos fortes > lisboa polariza uma área envolvente significativamente maior do que o concelho, gerando limiares de procura mais amplos; > procura significativa de eventos e equipamentos culturais por diferentes públicos, quer em termos de faixa etária quer em termos de poder económico;> concentração expressiva da oferta de actividades culturais e artísticas na cidade e na região de lisboa, oferta essa vasta e crescente;> aparecimento de bairros culturais e de projectos de iniciativa privada dinâmicos e com efeitos de arrasto;> animação nocturna diversificada e dinâmica, particularmente em certas zonas da cidade;> experiência na organização de grandes eventos culturais com impacto local, nacional e internacional;> realização de um número já significativo de eventos, mostras e festivais, que, apesar de dimensão reduzida, apresentam alguma continuidade;> Número crescente de espaços e equipamentos culturais com diversas dimensões e vocações, alguns já muito bem equipados;> concentração em lisboa de instituições culturais e artísticas locais e nacionais, quer privadas quer públicas, algumas de reconhecida qualidade e valor internacional; > projectos concretizados recentemente com efeitos mobilizadores na área da cultura (i.e. museu do oriente, museu colecção berardo);> património museológico, arqueológico e imaterial vasto, que atrai visitantes nacionais e estrangeiros;> Número significativo de associações que assumem papel dinamizador de pertença, solidariedade e união entre habitantes dos bairros, e que preservam património imaterial da cidade, nomeadamente tradições e actividades emblemáticas da cultura popular lisboeta;> associações culturais com um papel de crescente importância na produção artística alternativa, bem como no ensino artístico;> aumento significativo de serviços educativos nas instituições e equipamentos culturais, bem como do número de projectos envolvendo populações desfavorecidas;> reconhecida vocação intercultural e desenvolvimento bem sucedido de nichos de mercado multiculturais; > agentes culturais em acordo na avaliação da situação actual do sector cultural, designadamente quanto às limitações existentes.

Pontos fracos > Desajustamento entre população que usa a cidade e a que nela habita;> insuficiente informação, análise e mecanismos de monitorização da actividade cultural da cidade, nomeadamente sobre oferta, públicos e práticas culturais;> limitações do mercado local e nacional inviabilizam a rentabilização de determinados bens culturais;> Dificuldade em internacionalizar a criação e demais produtos culturais; desequilíbrio evidente entre o que se exporta e o que se importa;> Falta de espaços de criação, de experimentação, de ensaio e de partilha;> presença deficiente de lisboa nas redes internacionais de criação; > incipiente mobilidade internacional de artistas e profissionais do sector cultural;> Fraca capacidade de atracção de artistas e profissionais estrangeiros;> ausência de estratégia de comunicação de lisboa, que resulta numa deficiente promoção da cidade, para além dos aspectos puramente turísticos, e numa incipiente divulgação da sua oferta cultural, que não atende aos diferentes públicos, especialmente aos profissionais do sector;> programação e promoção da criação institucional fragmentada, desenquadrada da oferta e feita por um crescente grupo de promotores/produtores independentes;> Falta de focagem estratégica e de continuidade dos projectos;> Deficiente comunicação e articulação dos agentes culturais com os serviços da câmara e entre os serviços da câmara; > excesso de burocratização e inexistência de lógica de serviço público;> má complementaridade entre as programações e equipamentos da cidade, dada a inexistência de gestão e comunicação concertada;> Falta de mobilizadores/facilitadores e de motivação para o diálogo entre os agentes culturais e institucionais da cidade;> Dispersão de espólios, com encargos elevados de conservação; > Desconhecimento do passado e da(s) identidade(s) da cidade;> confusão/indefinição das múltiplas marcas da cidade;> património imaterial e história oral pouco preservados e divulgados;> ausência de formação contínua dos profissionais do sector e reduzidos níveis de exigência no ensino artístico; > insuficiente valorização, manutenção e aproveitamento do espaço público;> Descapitalização e subfinanciamento das entidades culturais, nomeadamente das entidades públicas sem autonomia financeira;> asfixia orçamental do sector cultural, em particular da Direcção municipal de cultura da cml;> Difícil articulação entre gestão autárquica lisboeta e poder político central e instituições nacionais, maioritariamente sedeadas em lisboa;> Funcionamento da cml demasiado hierarquizado, que dificulta trabalho em rede e prolonga e atrasa a generalidade dos processos;> Falta de mecanismos que assegurem a transparência, responsabilização e prestação de contas por parte dos responsáveis municipais.

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oportunidades > possibilidade de explorar áreas de influência geográficas bem maiores do que a cidade, face ao efeito de capitalidade;> o turismo cultural está em crescimento acentuado, bem como a oferta hoteleira na cidade de lisboa;> crescente potencial de internacionalização gerado pelo recente sucesso de artistas portugueses em circuitos internacionais, bem como na organização de grandes eventos em portugal;> reforço de relações em áreas culturais e artísticas com países lusófonos em franco crescimento económico;> posição de centralidade de portugal e de lisboa face ao atlântico, África, mundo árabe e américas;> grande diversidade cultural potenciada pelas diversas comunidades migrantes e pelo crescente número de estudantes estrangeiros;> as diversas escalas da cidade que podem ser articuladas a seu favor: cidade vs capital, concelho vs Área metropolitana de lisboa, centro vs periferias, município vs juntas de freguesia;> existência de inúmeros espaços abandonados, devolutos ou vazios, quer privados quer municipais, potencialmente indicados para o desenvolvimento de actividades culturais e artísticas;> existência de salas de espectáculos e espaços de juntas de freguesia ou de associações subaproveitados;> Necessidade de criação e desenvolvimento de redes de mediadores culturais;> espaço para formar e impor determinados profissionais ligados ao sector cultural ainda não existentes em portugal;> lisboa tem ainda espaço para desenvolver as suas competências cosmopolitas, apesar de ser reconhecidamente uma capital hospitaleira, de trocas, babélia, de acolhimento, de visitantes e de residentes temporários;> realização de projectos em lisboa com efeitos mobilizadores e de arrasto, como por exemplo a reabilitação da frente ribeirinha e a dinamização da baixa-chiado;> reforço da centralidade política das actividades culturais e criativas.

Ameaças > articulação inexistente entre as diversas escalas de lisboa: cidade vs capital, concelho vs Área metropolitana de lisboa, centro vs. periferias, município vs. juntas de freguesia;> envelhecimento e esvaziamento populacional do centro da cidade;> especulação imobiliária generalizada, que torna incomportável o preço dos espaços potencialmente indicados para as actividades culturais e artísticas;> Degradação de espaços públicos e de edifícios e espaços destinados às actividades culturais e artísticas;> emergência do sector cultural noutras cidades do país com vantagens competitivas por se encontrarem em fase de lançamento ou crescimento e com acesso mais facilitado a financiamento público europeu;> entendimento restrito das actividades artísticas por parte dos responsáveis políticos;> Vulnerabilidade significativa do sector cultural face à conjuntura económica, acentuada pela crise financeira de instituições tipicamente patrocinadoras e mecenas da cultura;> influência significativa da acção de outras políticas públicas, nomeadamente relacionadas com o urbanismo, habitação, mobilidade e educação, nas políticas culturais;> existência de externalidades negativas associadas à animação nocturna e a outras actividades culturais, como por exemplo ruído, congestionamentos, sobrecarga de estruturas, conflitos com residentes, etc., que podem, no longo prazo, comprometer a sustentabilidade do sector cultural da cidade;> inexistência de assessoria e acompanhamento técnico em programas de âmbito nacional e estrangeiro, o que restringe o número e a diversidade de projectos; > iniciativa privada, em diversas áreas culturais e artísticas, incipiente e desprotegida; > Deficiente cultura de exploração e valorização da propriedade intelectual;> legislação relacionada com mecenato, patrocínio, propriedade intelectual e carreiras artísticas, bem como legislação fiscal aplicada às actividades culturais e artísticas, nem sempre benéfica ou estimuladora;> reestruturação do ensino artístico oficial, quer no regime geral quer no regime profissionalizante;> realização de um número significativo de eventos, mostras e festivais, que, apesar de apresentarem alguma continuidade, não têm dimensão significativa, nem projecção internacional;> Débil diferenciação da cidade de lisboa face a outras cidades, devido à falta de especialização das actividades e indústrias criativas.

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Identificação da Visão

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Lisboa, Capital aberta: cidade central e cosmopolita, com vocação internacional; cidade vivida quotidianamente e experienciada por todos, cidade de trânsitos e fluxos, entre culturas, entre espaços, entre tempos; cidade de memórias e da contemporaneidade; cidade que promove as condições para a expressão cultural e para o desenvolvimento da criatividade e que moderniza e adapta o funcionamento das suas instituições para assumir o seu lugar no mundo global da contemporaneidade.”

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4.1 os fundamentos de uma visão estratégica para a cidade

Com base no diagnóstico efectuado e no conjunto de potencialidades/debilidades e de oportunidades/ameaças identificadas e sintetizadas na matriz SWOT apresentada no ponto anterior, foi identificado um conjunto restrito de estrangulamentos fundamentais, que se assumem como obstáculos claramente limitativos para o desenvolvimento do sector cultural na cidade de Lisboa, bem como um conjunto de aspectos distintivos e diferenciadores que poderão ser mobilizados e potenciados na definição estratégica para o sector, nos quais interessará portanto apostar prioritariamente.

o S e S t R A n g u l A M e n t o S f u n d A M e n t A I S :

A

A d e S C o I n C I d ê n C I A C l A R A e n t R e A C I d A d e

e S u A á R e A M e t R o P o l I t A n A

A efectiva cidade de Lisboa é cada vez menos o concelho de Lisboa, mas sim uma área metropolitana fortemente polarizada por este município. As pessoas que vivem e usam culturalmente o centro desta área metropolitana não são só os residentes do concelho, nem a actividade cultural e criativa esbarra nas fronteiras administrativas da cidade. As lógicas da actuação municipal, naturalmente preocupadas com a defesa do seu interesse territorial próprio, não serão assim suficientes para actuar sobre todos os problemas, mas, de qualquer forma, a promoção das estratégias para a cultura na cidade tem de ter isto em conta e saber actuar com todos os seus destinatários, assumindo a capacidade de articular acções e cooperar com os actores envolventes da melhor forma para atingir esses seus objectivos.

b

A d é b I l I n t e R n A C I o n A l I z A ç ã o e A f R A C A A P o S t A n A q u A l I d A d e ,

n A e x C e l ê n C I A e n A d I f e R e n C I A ç ã o

Lisboa é uma cidade periférica, face à Europa, e relativamente pouco internacionalizada. A vida cultural da cidade e das suas instituições tende a estar muito segmentada em mundos relativamente fechados e delimitados, onde a vontade de cooperação, do confronto estético e simbólico e da superação dos limites tende a ser subestimada e pouco valorizada. Para se afirmar num mundo global, há que aproveitar a dimensão metropolitana da cidade e as sinergias possíveis pela cooperação e articulação entre os diversos actores culturais, económicos e institucionais da cidade, potenciando a diferenciação, a qualidade e a excelência que lhe permitam uma afirmação nos mercados externos e circuitos internacionais de legitimação e de afirmação cultural.

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C

A f A l t A d e C o M u n I C A ç ã o , A R t I C u l A ç ã o e t R A b A l H o e M R e d e

Aos vários níveis, é marcante a falta de predisposição generalizada para a colaboração e cooperação inter-institucional, para a articulação em rede, e mesmo para a comunicação, entre os agentes culturais, económicos e institucionais, de todos os tipos, tal como dentro das suas próprias instituições. Tirando excepções muito pontuais, os relacionamentos estabelecem-se essencialmente por imperativo burocrático ou hierárquico, ou por uma lógica de subsídio-dependência, não existindo uma cultura de cooperação, de transparência ou de responsabilização, nem uma lógica de partilha generalizada de informação e de trabalho conjunto para a construção e acumulação colectiva de know-how e conhecimento.

d

A f A l t A d e A S S u n ç ã o d e e S t R A t é g I A S C l A R A S e d u R A d o u R A S

Verifica-se a vários níveis, mas em particular no campo da actuação pública no sector, uma carência crónica de uma definição clara e precisa de objectivos de actuação e de uma continuidade na implementação dos mesmos. Por um lado, isto reflecte-se na falta de assunção de uma estratégia clara, amplamente partilhada e consensualizada, que descole dos ciclos político-partidários ou dos perfis e interesses pessoais dos responsáveis; por outro, resulta numa falta de continuidade de políticas e de responsabilização dos poderes intermédios, sem capacidade nem motivação para concretizar objectivos de curto prazo, frequentemente inflectidos, e cuja lógica muitas vezes não entendem. No fundo, não se tem procurado consensualizar nem implementar uma visão estratégica de longo prazo, amplamente partilhada, para a cultura em Lisboa.

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o S A S P e C t o S d I f e R e n C I A d o R e S e f A C t o R e S d I S t I n t I V o S A P o t e n C I A R :

A

A ( S ) I d e n t I d A d e ( S ) e M e M ó R I A ( S ) d A C I d A d e

Lisboa tem uma história riquíssima, patente no seu vasto património, tangível e intangível, e nos múltiplos e distintos traços identitários, espaços representacionais e experiências e vivências próprias de todos aqueles que vivem e usufruem a cidade. Para além disso, Lisboa, numa posição de inevitável centralidade histórica entre Europa, África e América (ou mais do que isso, entre a Europa e o mundo) tem aqui um espaço enorme a explorar, de diferenciação e de afirmação externa da sua especificidade. A cultura e a produção cultural da cidade estão imbuídas destes cruzamentos e destas especificidades que importa potenciar numa lógica não estática e passadista, mas de exploração da contemporaneidade e de afirmação das competências mais cosmopolitas da cidade actual e dos seus actores culturais.

b

A d I V e R S I d A d e e A M u l t I C u l t u R A l I d A d e

Lisboa é, e sempre foi, heterogénea e multicultural, uma cidade relativamente aberta à tolerância e à integração. Há que aproveitar e potenciar esse facto, tornando Lisboa num espaço de trocas e fluxos de ideias e de expressão e valorização da diversidade e da tolerância. Este facto não só pode capitalizar e potenciar uma actividade social, económica e culturalmente mais intensa na cidade, como fomentar novos e prometedores campos criativos, em áreas como a produção transcultural ou o cruzamento disciplinar.

C

A C A P I t A l I d A d e e A d e n S I d A d e d A S R e l A ç õ e S S o C I A I S

A cidade de Lisboa e a área metropolitana por ela polarizada são a única região do país com uma dimensão, densidade e heterogeneidade de práticas (sociais, económicas e culturais) que permite a existência de massa crítica para o surgimento de determinadas lógicas, tanto ao nível da oferta como da procura culturais, em particular nos campos mais criativos ou mais especializados. Há portanto que capitalizar e potenciar esta vantagem, valorizando a cooperação e articulação entre os seus agentes e recursos, de forma a potenciar a qualidade, a excelência e a capacidade de entrada em mercados globais, mais ou menos especializados, e de promover a afirmação e diferenciação externa da cidade e dos seus agentes culturais.

Tendo em conta estes estrangulamentos e estes aspectos diferenciadores, foi promovido um processo de reflexão pela equipa responsável por este projecto, com participação dos seus consultores e uma ampla auscultação dos agentes culturais e institucionais, nas sessões públicas e entrevistas realizadas, que permitiu estabelecer um quadro conceptual de enquadramento à visão proposta, que se esboça sinteticamente na figura seguinte:

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CriarCriatividade / Experimentação /

Criação / Articulação comregeneração, integração social, etc.

FruirPráticas culturais / Consumos / Distribuição / O “experienciar”

Gerar novos mercadosAproveitar oportunidades de negócio,

na produção, distribuição, intermediação cultural

Diversidade Memória(s) Identidade(s) Densidade

o(s) território(s):

O bairro

A cidade ( zona histórica / zona centro / zona ocidental / zona oriental / zona norte / frente ribeirinha )

A área metropolitana e as duas margens do Tejo

A capital

Condições para:

co

Ne

ct

iV

iDa

De

GovernançaBurocracia / Catalisador / Articulação /

Bottom-up / Cidadania / Sociedade / Articulação entre áreas de policy-making

CompetênciasFormação de públicos / Formação artística /

Crianças e adultos / Conhecimento

InternacionalizaçãoRedes / Erasmus / Exportação /

Residências artísticas / Promoção

Acesso / DivulgaçãoInformação / Promoção da cidade /

Programação integrada / Cidade multicêntrica

q u A d R o C o n C e P t u A l S u b j A C e n t e à V I S ã o P R o P o S t A

Lisboa capital abertaHospitaleira / Cosmopolita / Cidade de trocas / Babélia /

Acolhimento / Visitantes / Residentes temporários

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A ideia central deste modelo conceptual – lisboa, capital aberta – é constituída por um binómio que foca dois aspectos fulcrais: a capitalidade de Lisboa, como pólo de excelência, quer a nível regional e nacional, quer a nível cultural e artístico; e a abertura da cidade, hoje e desde sempre, espaço de trocas e fluxos, internacional e transcultural. É uma ideia que extravasa o posicionamento geoestratégico multissecular de Lisboa, que deve ser entendida na contemporaneidade, na era da globalização. É uma Lisboa plataforma político-administrativa, económica, logística e, inevitavelmente, cultural; multicultural e transcultural, sinónimo de diversidade e pluralidade; uma cidade cosmopolita, mas também familiar e hospitaleira, de acolhimento de imigrantes, estudantes, turistas e residentes temporários.

Em torno da ideia central lisboa, capital aberta gravitam quatro conceitos essenciais:

A aposta nas competências, quer artísticas, quer técnicas, quer organizacionais e sociais, é fulcral nos dias de hoje, apontando-se, por exemplo, a importância da aposta na formação (técnica, estética, organizacional) dos artistas e produtores culturais, por um lado, e na formação de públicos, por outro, assim como na promoção do conhecimento e na elevação da qualidade e da exigência a todos os níveis;

A importância do acesso/divulgação à cultura (seja para consumo e usufruto cultural, seja para a prática das actividades culturais e artísticas) e à informação, que parte de uma generalização de práticas democratizadoras, de políticas de comunicação, de programação integrada (como, por exemplo, com instituições de ensino não artístico) e da promoção da acessibilidade (física, económica, tecnológica, social, etc.) às actividades culturais e artísticas da cidade;

A criação de condições para a internacionalização, quer da cidade em si, atraindo artistas e mediadores culturais, realizando residências artísticas internacionais e recebendo estudantes Erasmus, quer dos seus artistas e das suas instituições, desenvolvendo redes internacionais, entrando nos circuitos de distribuição global e exportando e promovendo internacionalmente as suas criações e criadores; em suma, afirmando a excelência e qualidade dos recursos e actividades culturais da cidade, potenciando-os a uma escala internacional;

A governança, pelo seu papel desejavelmente catalisador, mas também frequentemente obstrutor, entendida aqui num sentido lato, incluindo as várias áreas de governo da cidade, com as suas escalas e poderes diversos e concorrentes, e também as práticas de administração, frequentemente burocráticas e avessas à partilha e à colaboração, e desejavelmente de transparência, participação, responsabilidade, eficácia e coerência. Incluem-se também aqui outras formas de regulação e articulação dos sistemas económicos e sociais, emanadas da sociedade civil ou de outras lógicas, que têm permitido potenciar e manter certas dinâmicas locais territorializadas em várias áreas da cidade.

A este núcleo central de preocupações junta-se um conceito transversal, o de conectividade. Efectivamente, para que todos os outros conceitos coexistam e funcionem, como um corpo jovem e saudável, estes conceitos não podem ser tratados separadamente, têm de ter elos em comum devidamente interligados e a trabalhar para fins comuns.

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Este contexto permitirá assim delinear uma actuação que encontrará os destinatários e propósitos finais a alcançar com estas Estratégias para a Cultura em Lisboa: > Desenvolver a criação e a criatividade na cidade de Lisboa, alimentando as diversas

condições, no lado da oferta cultural, para que esta se possa desenvolver e frutificar;> Promover a fruição cultural e a vivência da cidade, actuando no lado da procura, isto é,

junto dos públicos e dos seus comportamentos;> E garantir espaço para criar novos mercados e novas oportunidades de negócio e

intermediação, entre oferta e procura, estruturando actividades, práticas e relações que beneficiem e interliguem a produção e o consumo cultural na cidade e que potenciem a sua capacidade efectiva de funcionamento.

O terceiro objectivo é indispensável para a concretização dos dois primeiros. Afinal, só concebendo estruturas e lógicas organizacionais para o encontro entre a provisão e a procura é que se conseguirão impulsionar e manter, a médio e longo prazo, de forma sustentável, condições para criar e para fruir.

Por último, os territórios atestam a importância das dimensões territoriais e das diferentes escalas de análise e actuação sobre a cultura na cidade. Seja à escala metropolitana ou regional, seja à escala da cidade ou do município, seja à escala do bairro, da zona da cidade, da freguesia ou do conjunto de freguesias, a actuação estratégica tem de ser pensada com o território e para o território, tendo em conta as suas especificidades e atentando nos recursos, nas populações, nas formas de governança e na realidade concreta de cada um desses espaços.

É pois com base neste quadro conceptual que foi enunciada a visão estratégica para estas Estratégias para a Cultura em Lisboa, que se enuncia de forma sintética no ponto seguinte e que se assume como o mote global para a definição de eixos de actuação estratégicos, para a identificação de objectivos a atingir e para a concretização numa selecção de medidas e projectos estruturantes que se efectua nos pontos seguintes.

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4.2 enunciado da visão: lisboa, capital aberta

O primeiro nome oficial e documentado que Lisboa teve foi Felicitas Iulia Olisipo. O seu ponto de partida é, pois, a palavra latina para felicidade — uma intuição fundadora, e ao mesmo tempo perene, com a qual procurámos reatar através desta expressão “capital aberta”. A noção de capital transporta consigo um ideal de elevação, exigência e ambição. O ideal de abertura transporta consigo noções de humanidade, tolerância e diversidade. Lisboa, capital para o exercício da cidadania. Capital aberta para a expressão da criatividade. Ambas como instrumento de liberdade e possibilidade de realização pessoal. Lisboa, capital aberta como no seu primeiro nome, um lugar para a felicidade.

neste quadro, a visão assumida para a cidade pode ser sintetizada na proposição seguinte:lisboa Capital aberta: cidade central e cosmopolita, com vocação internacional; cidade vivida quotidianamente e experienciada por todos, cidade de trânsitos e fluxos, entre culturas, entre espaços, entre tempos; cidade de memórias e da contemporaneidade; cidade que promove as condições para a expressão cultural e para o desenvolvimento da criatividade e que moderniza e adapta o funcionamento das suas instituições para assumir o seu lugar no mundo global da contemporaneidade.

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Identificação dos eixos estratégicos e objectivos

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Quatro eixos estratégicos para a cidade:promoção das competências cosmopolitas e da vocação internacional da cidade;desenvolvimento de condições facilitadoras da criação e da produção cultural; reforço da vivência da cidade e da(s) sua(s) memória(s) e promoção do conhecimento; revisão do modelo de governança cultural da cidade.

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5.1 Identificação dos eixos estratégicos

Tendo em conta a reflexão efectuada pela equipa e com base na definição da visão estratégica enunciada no ponto anterior, a equipa formulou quatro eixos estratégicos de actuação, que de seguida se definem.

Cada um destes eixos enquadra um conjunto de objectivos e sub-objectivos a atingir com estas “Estratégias”, assim como um conjunto de medidas e projectos concretos que a eles estão associados.

e e 1

P R o M o ç ã o d A S C o M P e t ê n C I A S C o S M o P o l I t A S

e d A V o C A ç ã o I n t e R n A C I o n A l d A C I d A d e

Atendendo à inescapável dimensão intercultural crescente da cidade, Lisboa deverá encontrar formas de promoção das suas competências cosmopolitas. Por “competências cosmopolitas” entenda-se a promoção da tolerância, a compreensão da diversidade, o combate à exclusão social, a promoção de políticas de proximidade, o acesso à cultura, etc. Esta actuação deverá ser feita numa lógica bottom-up, atribuindo aos movimentos de cidadãos, ao movimento associativo, às comunidades locais, do centro histórico aos outros centros, um papel bem mais relevante na condução do futuro da cidade. Também as universidades e outras instituições de formação e investigação, a par dos agentes culturais e institucionais da cidade e da sociedade civil em geral, têm um papel fundamental na estruturação de uma Lisboa preparada para enfrentar as rápidas mutações que a cidade sofre e deverá sofrer.

A promoção da vocação internacional de Lisboa deverá subentender a abertura da cidade a todos os fluxos e dinâmicas que caracterizam a condição contemporânea de uma cidade: os diversos fluxos migratórios, o turismo nas suas múltiplas dimensões, o acolhimento de estudantes internacionais de diversos níveis de formação, a atracção de profissionais qualificados, a captação de organizações internacionais, o acolhimento temporário de artistas em processo de criação, o desenvolvimento de mecanismos de exportação e circulação internacional da criação e dos artistas de Lisboa, a inserção de Lisboa e dos seus agentes nos circuitos globais de criação, produção e difusão, a imagem externa de Lisboa, a criação de mecanismos de divulgação mais eficazes, entre outros. Tudo isto passa inevitavelmente pela afirmação da excelência e da qualidade na oferta cultural e patrimonial da cidade, afirmando a centralidade e a capitalidade da cidade, às várias escalas (metropolitana, regional, nacional, internacional).

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e e 2

d e S e n V o l V I M e n t o d e C o n d I ç õ e S f A C I l I t A d o R A S

d A C R I A ç ã o e d A P R o d u ç ã o C u l t u R A l

Reconhecendo que a Câmara Municipal de Lisboa não tem competências directas e/ou exclusivas na área da formação ou no apoio à criação, esta pode, no entanto, contribuir e servir de catalisador a diversos níveis, facilitando e elevando a qualidade da oferta cultural na cidade. Como desenvolvimento de condições facilitadoras, deve-se entender aspectos tão diversos como o estímulo à criatividade, a promoção de competências nos agentes e públicos da cultura, dos mais jovens aos mais seniores, o desenvolvimento de políticas integradas de programação dos equipamentos camarários e não só, ou a regulação e gestão de direitos e de externalidades, entre outros. Esta linha de acção deverá ter igualmente em conta as questões relacionadas com a revitalização urbana e com a regeneração, utilização e atribuição de espaços abandonados/devolutos ou criados para o efeito a criadores, estruturas artísticas ou associativas da cidade.

e e 3

R e f o R ç o d A V I V ê n C I A d A C I d A d e

e d A ( S ) S u A ( S ) M e M ó R I A ( S ) e P R o M o ç ã o d o C o n H e C I M e n t o

A cidade de Lisboa tem um potencial cultural enorme associado à sua própria experienciação, bem como às suas memórias. Este potencial, extremamente subaproveitado, não pode ser visto apenas à luz do turista, mas antes à luz do cidadão que quotidianamente vive, trabalha e percorre a cidade. O conhecimento e a vivência dos seus espaços, o contacto com a memória, o património histórico e arquitectónico, tangível e intangível, e a sua utilização e fruição são aspectos igualmente fulcrais numa efectiva afirmação da riqueza cultural da cidade. O dinamismo e a capacidade de afirmação externa de Lisboa passam, em primeiro lugar, pelas condições que os seus utilizadores mais quotidianos tenham de fruir, conhecer, e actuar criativamente na cidade. As universidades e centros de investigação deverão naturalmente desempenhar aqui um papel fulcral na criação das pontes necessárias, por um lado, como centros de conhecimento, mobilizados para estudar e dar a conhecer a cidade, a sua vida cultural, as suas memórias e a sua herança cultural, e por outro lado, empenhadas em divulgar o conhecimento que geram à sociedade envolvente e a promover a cultura científica através da cidade.

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e e 4

R e V I S ã o d o M o d e l o d e g o V e R n A n ç A C u l t u R A l d A C I d A d e

O processo de auscultação dos diversos agentes culturais ficou marcado por uma preocupação com as várias deficiências e ineficiências ao nível da governação da cidade de Lisboa e da articulação interinstitucional. A revisão do modelo de governação deverá ser estruturada, fundamentalmente, numa lógica bottom-up, de devolução de poder à sociedade, cidadãos e agentes culturais. Esta linha de acção deverá prosseguir a criação e o aperfeiçoamento de mecanismos de governação existentes a diversos níveis: desde o funcionamento da Câmara Municipal de Lisboa, no que diz respeito à burocracia (nomeadamente simplificar e eliminar barreiras entre criadores e estruturas de produção e a Câmara), à articulação entre serviços municipais, à integração das diversas áreas de policy-making (urbanismo, apoio social, turismo, educação, juventude, entre outras áreas) ou à clarificação de políticas claras de apoio e financiamento aos agentes culturais. Deverá igualmente equacionar-se a articulação com outras formas de governança que são actualmente relevantes para o dinamismo de certos subsectores e de zonas específicas da cidade. É fundamental, neste quadro, uma maior colaboração e comunicação com outros agentes, nomeadamente com estruturas culturais e institucionais de âmbito nacional, com os concelhos vizinhos e estruturas intermunicipais, com as juntas de freguesia e o tecido associativo da cidade, bem como com agentes culturais e económicos da cidade que ancorem formas de governança relevantes para a dinamização e o funcionamento das actividades culturais na cidade.

5.2 Identificação dos objectivos e sub-objectivos

Cada um dos eixos estratégicos identificados configura um conjunto de objectivos e sub-objectivos que concretizam um pouco mais a actuação proposta para o município de Lisboa no campo da cultura. Estes objectivos e sub-objectivos, aos quais estão naturalmente ligados os projectos e as medidas estruturantes que se apresentam na secção seguinte, remetem para resultados desejados não só pela autarquia, como por todo o sector cultural da cidade. Efectivamente, procurou-se delinear de forma clara uma lógica estratégica para a CML no que concerne à dimensão transversal de actuação usualmente associada às questões culturais. Sejam fruto directo da actuação do Pelouro da Cultura, sejam, em muitos casos, fruto directo da colaboração com outros níveis da administração municipal ou com agentes externos, públicos ou privados, os diferentes objectivos e sub-objectivos a atingir aqui apresentados procuram garantir não só um grau de exequibilidade considerável, mas também uma coerência interna e compatibilidade intrínseca elevados, como será requerido para o sucesso da sua implementação.

Decerto que alguns dos objectivos aqui identificados são já uma preocupação da actuação municipal, e outros extravasam a acção cultural da autarquia, sendo transversais a outras áreas, como as da educação, urbanismo, acção social, ou turismo, mas não deixam por isso de ser objectivos específicos e indispensáveis, que importa estruturar e contextualizar, no âmbito das estratégias para a cultura em Lisboa. Devem ser assumidos como prioridades estratégicas de médio/longo prazo para a autarquia, que não só não dispensam como antes se devem compatibilizar com a definição regular e quotidiana de objectivos (e de missões) por cada uma das unidades orgânicas da CML, na sua actividade regular.

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e s t r a t é g i a s p a r a a c u l t u r a e m l i s b o a

108 Objectivos estratégicos Sub-objectivos Projectos

e medidas mais relevantes

1.1 Promover dinâmicas culturais locais de proximidade

1.1.1 Promover dinâmicas de proximidade fortemente territorializadas associadas a equipamentos ou instituições-âncora, que conjuguem valências diversificadas1.1.2 Implementar a adaptação dos equipamentos municipais à realidade sociocultural dos territórios respectivos

P1 / M6 / M27 / M29

1.2 Promover o diálogo intercultural e a expressão identitária e explorar o potencial da cooperação transcultural

1.2.1 Impulsionar projectos de vocação intercultural1.2.2 Valorizar projectos de índole transcultural 1.2.3 Fomentar e apoiar a intervenção cultural em bairros críticos

P3 / M20 / M22

1.3 Apoiar iniciativas culturais de base local e comunitária

1.3.1 Apoiar e promover dinâmicas territorializadas e respectivas estruturas de governança 1.3.2 Apoiar iniciativas culturais de associações e outras instituições de base local

M7 / M8 / M23 / (P1) / (P3)

1.4 Garantir um amplo acesso a espaços e plataformas de sociabilidade e de produção e criação cultural

1.4.1 Proporcionar acesso a infra-estruturas tecnológicas/digitais como forma de dinamização do espaço público e de promoção de novas sociabilidades1.4.2 Promover as múltiplas acessibilidades (física, económica, socio-cultural) aos espaços culturais e de sociabilidades

P4 / P12 / M6 / (P1) / (P3) / M22

1.5 Atrair indivíduos e actividades criativas à cidade

1.5.1 Atrair criadores artísticos e empresas e instituições da área cultural e criativa1.5.2 Criar condições para atrair a “classe criativa” em geral, para residir e fruir o concelho

P2 / P10 / P14 / M17 / M18 / M25

1.6 Impulsionar a excelência e a qualidade, aproveitando as vantagens de massa crítica em termos nacionais

1.6.1 Afirmar eventos e espaços mobilizadores a nível supra-local1.6.2 Estimular a participação em redes, a nível local, nacional e internacional1.6.3 Promover a cooperação e a geração de sinergias nas indústrias criativas

M17 / P14(P10) / (P13)

1.7 Promover a internacionalização dos recursos culturais da cidade

1.7.1 Fomentar a internacionalização, exportação e visibilidades dos criadores e bens culturais lisboetas no exterior 1.7.2 Definir uma estratégia de promoção e visibilidade internacional (e nacional) dos principais acontecimentos e espaços artísticos da cidade1.7.3 Promover a cidade como destino turístico cultural

P8 / P10 / P13 / P14 / M14 / M18 / M19 / M29 / (P4) / (M25)

1.8 Afirmar Lisboa no cenário global como uma cidade de forte intervenção internacional a nível cultural

1.8.1 Recolocar Lisboa como plataforma cultural entre Europa, África e América e valorizar a relação com a Ásia1.8.2 Estimular a relação com as organizações internacionais, nomeadamente as que actuam nas áreas do Atlântico e Mediterrâneo 1.8.3 Intervir activamente nos territórios culturais e sociais transnacionais

P10 / M29 / (P2) / (P13) / (M25)

ee 1

Promoção das competências cosmopolitas e da vocação internacional da cidade

Eixo estratégico

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e s t r a t é g i a s p a r a a c u l t u r a e m l i s b o a

109 Objectivos estratégicos Sub-objectivos Projectos

e medidas mais relevantes

2.1 Clarificar o quadro regulamentar de apoio financeiro municipal aos agentes culturais e promover uma cultura de avaliação

2.1.1 Definir e implementar regras claras para o apoio financeiro e logístico aos agentes culturais e criativos2.1.2 Promover um sistema de avaliação e monitorização

M7 / (M16) / (M23)

2.2 Disponibilizar à cidade espaços para a criação e produção cultural

2.2.1 Clarificar as regras de cedência de espaços municipais para criação e produção cultural 2.2.2 Disponibilizar, temporária ou permanentemente, espaços culturais formais (para produção, criação, residência, …)2.2.3 Dinamizar e facilitar a disponibilização e utilização de espaços, públicos ou privados mais informais existentes na cidade2.2.4 Facilitar o desenvolvimento de espaços de grande dimensão para a consolidação de um cluster de indústrias criativas, numa lógica de articulação metropolitana/regional

P2 / P5 / M8 / M17 / (M18)

2.3 Aumentar o alcance e eficácia da informação e divulgação cultural

2.3.1 Promover e facilitar a difusão de informação cultural aos diversos tipos de públicos, nos diversos tipos de meios e suportes 2.3.2 Promover e facilitar a difusão de informação específica aos agentes culturais, nomeadamente técnica, logística e relativa a enquadramentos de financiamento2.3.3 Facilitar a articulação da informação existente nas múltiplas plataformas de divulgação das diversas instituições culturais públicas e privadas da cidade e fomentar experiências de colaboração

P4 / P8 / P13 / M9 / M14 / M26 / (M15)

2.4 Fomentar o empreendedorismo e o bom governo das organizações criativas

2.4.1 Disponibilizar apoio técnico e informação especializada aos agentes culturais e criativos 2.4.2 Facilitar a articulação e troca de experiências entre os agentes culturais e criativos 2.4.3 Promover a divulgação de boas práticas

P8 / M16 / M23

2.5 Favorecer a criação transversal de valor na economia através da incorporação de conteúdos criativos e simbólicos

2.5.1 Disponibilizar apoio técnico e informação especializada aos agentes culturais e criativos2.5.2 Facilitar e promover a localização de indústrias criativas e actividades intensivas em valor simbólico e criativo 2.5.3 Sensibilizar para o potencial económico associado à gestão da propriedade intelectual

P8 / P2 / M17 / M23 / (M18)

2.6 Estimular o contacto da população com a criatividade e os ambientes criativos

2.6.1 Promover o contacto de diferentes tipos de público especializados com a oferta cultural municipal, mobilizando e potenciando os múltiplos serviços educativos existentes2.6.2 Promover e facilitar a articulação da oferta de serviços educativos de instituições públicas e privadas com actividade no concelho com os seus públicos-alvo, em particular com os afectos a estabelecimentos de ensino e apoio social sob tutela municipal 2.6.2 Facilitar e promover as condições para o desenvolvimento do ensino (aos níveis artístico, técnico e organizacional) no concelho, cooperando activamente com os agentes públicos e privados do sector

P1 / P4 / P6 / M20 / (P2) / (P14) / (M25)

ee 2

desenvolvimento de condições facilitadoras da criação e da produção cultural

Eixo estratégico

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e s t r a t é g i a s p a r a a c u l t u r a e m l i s b o a

110 Objectivos estratégicos Sub-objectivos Projectos

e medidas mais relevantes

3.1 Promover a vivência e fruição da cidade

3.1.1 Promover a vivência do património e da(s) memória(s) da cidade3.1.2 Promover a vivência e fruição cultural dos espaços públicos 3 1.3 Promover, através das actividades culturais e criativas, a revitalização urbana (em particular no centro histórico) e a reapropriação de áreas abandonadas (nomeadamente ex-industriais ou portuárias)

P6 / P12 / M22 / M25 / (P1) / (P9) / (P11)

3.2 Garantir a preservação e requalificação do património, tangível e intangível, e o arquivo e depósito da memória, nos seus vários suportes e meios

3.2.1 Promover a candidatura da zona da Baixa Pombalina a Património da Humanidade3.2.2 Promover a preservação e (re)qualificação do património edificado e cultural da cidade, em estreita articulação com a actuação ao nível urbanístico, reequacionando procedimentos e centrando a actuação da DMC no acompanhamento técnico-científico3.2.3 Dinamizar, articular e dotar de meios as estruturas municipais responsáveis pela gestão da informação e da memória (arquivos, bibliotecas generalistas, Hemeroteca, Videoteca, Fonoteca, Bedeteca, museu(s), Casa Fernando Pessoa, etc.)3.2.4 Promover e garantir a articulação entre as múltiplas plataformas de gestão e divulgação de informação, de estudo e de análise dos diversos espólios e fundos patrimoniais dispersos pelas várias unidades orgânicas da DMC 3.2.5 Identificar, incentivar e divulgar boas práticas ao nível da recuperação do património edificado e urbanístico

M3 / M15 / M16 / M19 / M21 / M27 / M28 / M29 / P9 / (M1)

3.3 Preservar e devolver a memória e os imaginários da cidade e reflectir sobre a sua contemporaneidade

3.3.1 Preservar e devolver à cidade a(s) sua(s) múltipla(s) memória(s) 3.3.2 Promover a reflexão sobre a contemporaneidade na cidade, os seus imaginários e identidade3.3.3 Dinamizar os estudos sobre Lisboa, valorizar a olisipografia e reequacionar as funções e a orgânica do Gabinete de Estudos Olisiponenses

P7 / P9 / P11 / M10 / (P3) / (P13)

3.4 Impulsionar o conhecimento e o estudo das actividades culturais da cidade e das políticas que sobre elas incidem

3.4.1 Efectuar um levantamento e mapeamento sistemático e uma monitorização contínua da oferta e da procura cultural em Lisboa3.4.2 Garantir um acompanhamento alargado da implementação das estratégias e da actuação pública municipal para a cultura

P7 / M10 / M12 / (P13)

3.5 Contribuir para a democratização da cultura científica

3.5.1 Promover a ligação da cidade com o trabalho desenvolvido pelas universidades e centros de investigação3.5.2 Apoiar a disseminação da cultura científica

P7 / P11 / M24

3.6 Actuar sobre externalidades negativas associadas a algumas dinâmicas culturais territorializadas

3.6.1 Promover uma intervenção transversal para minimizar os impactos e as externalidades negativas decorrentes da actividade cultural e criativa e do turismo cultural 3.6.2 Direccionar prioritariamente a animação nocturna mais massificada para zonas não residenciais e com boas acessibilidades

M13 / M22 / (M9) / (M18)

ee 3

Reforço da vivência da cidade e da(s) sua(s) memória(s) e promoção do conhecimento

Eixo estratégico

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e s t r a t é g i a s p a r a a c u l t u r a e m l i s b o a

111 Objectivos estratégicos Sub-objectivos Projectos

e medidas mais relevantes

4.1 Melhorar a relação entre a CML e o consumidor/utente cultural

4.1.1 Estruturar o desenho da informação e as formas de contacto (presencial e à distância) com o munícipe e o consumidor cultural4.1.2 Repensar as redes municipais de equipamentos (bibliotecas, arquivos, museus, etc.)4.1.3 Promover a transparência, o acesso à informação e a prestação de contas ao cidadão e utente dos serviços culturais

M6 / M14 / M26 / M27 / M28 / (P1) / (P3) / (P4) / (P8) / (P13)

4.2 Melhorar a relação entre CML e os criadores e promotores culturais da cidade

4.2.1 Criar um interlocutor único, centralizado e identificável (frontdesk), para os agentes culturais 4.2.2 Impor transparência e clareza nos procedimentos de atribuição e de prestação de contas em todos os apoios ao tecido cultural e criativo da cidade 4.2.3 Promover a identidade específica dos diversos equipamentos municipais através da contratualização clara de programas plurianuais e da escolha dos seus responsáveis (directores e programadores) por concurso público

P8 / M5 / M7 / M8 / M9 / M18 / M22 / M23 / M26 / (P4) / (M1) / (M2)

4.3 Ampliar a articulação e promoção de parcerias com outras instituições culturais na cidade

4.3.1 Promover a relação e a colaboração com instituições de âmbito nacional localizadas no concelho, através de projectos concretos4.3.2 Dinamizar a relação com outras instituições culturais de referência da cidade (públicas, privadas com ou sem fins lucrativos, de grande e pequena dimensão)

M11 / M21 / (P1) / (P13) / (P14) / (M23) / (M30)

4.4 Promover projectos de articulação e colaboração entre os organismos da DMC e outras unidades orgânicas do universo CML

4.4.1 Promover a colaboração entre cultura e educação4.4.2 Promover a colaboração entre cultura e juventude4.4.3 Promover a colaboração entre cultura e urbanismo4.4.4 Promover a colaboração entre cultura e turismo e economia4.4.5 Promover a colaboração entre cultura e integração e acção social4.4.6 Promover a colaboração entre cultura e outros departamentos

P6 / M3 / M13 / M15 / M18 / M20 / M22(P8) / (P13) / (P14) / (M23) / (M25)

4.5 Incrementar relações de cooperação e a articulação entre os diversos organismos da CML com responsabilidades na área da cultura (dentro da DMC, na EGEAC, organismos autónomos)

4.5.1 Promover a colaboração e diálogo entre as diversas estruturas4.5.2 Consolidar boas práticas de colaboração inter-estruturas (grupos de trabalho por objectivos, etc.)4.5.3 Reequacionar a estrutura orgânica e missões da DMC e da EGEAC, bem como a respectiva repartição de atribuições4.5.3 Equacionar o estatuto orgânico e jurídico dos organismos autónomos com responsabilidade na área da cultura, na dependência directa do pelouro da cultura ou da presidência da CML

M1 / M2 / M4 / M15 / M16 / M20 / M22 / M23 / M27 / M28 / M29 / M30 / (P8) / (M3) / (M14)

4.6 Contribuir para o fortalecimento das relações entre os agentes culturais da cidade e capacitá-los para o desenvolvimento de outras formas de governança e regulação

4.6.1 Facilitar o diálogo e a cooperação, bem como a difusão de informação, entre os agentes culturais da cidade4.6.2 Apoiar o desenvolvimento de formas de governança e regulação, emanadas da sociedade civil (de base territorial, sectorial ou outra)

P8 / M16 / M17 / M21 / (M7) / (P14)

4.7 Promover a articulação da actuação municipal com a actuação desenvolvida por outras instâncias à escala intra-metropolitana

4.7.1 Promover a colaboração e articulação com outras instituições municipais da AML4.7.2 Promover a colaboração e articulação com a actividade cultural desenvolvida pelas juntas de freguesia do concelho ou outras da AML 4.7.3 Promover a colaboração e articulação com outros agentes, públicos e privados, que desenvolvam actividade cultural à escala metropolitana

P11 / P13 / M11 / M17 / (P1) / (M18) / (M19) / (M22) / (M25)

ee 4

Revisão do modelo de governança cultural da cidade

Eixo estratégico

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e s t r a t é g i a s p a r a a c u l t u r a e m l i s b o a

112

o b j e C t I V o 1 . 1

P R o M o V e R d I n  M I C A S C u l t u R A I S l o C A I S d e P R o x I M I d A d e

Um dos factores claramente identificados como insuficiente no diagnóstico realizado sobre a cidade relaciona-se com a falta de lógicas de prestação de serviços culturais de proximidade, de base local, em espaços abertos à participação e expressão da cidadania, em particular nas áreas mais marcadamente residenciais e populosas da cidade. É, além disso, um dever claro da CML garantir que os equipamentos municipais funcionem em prol dos cidadãos, das suas necessidades e expectativas, atendendo e reconhecendo as particularidades das várias comunidades locais e dos diferentes territórios de Lisboa. A fundação de centros de proximidade, fortemente ancorados nos contextos locais e fornecendo serviços diversificados que permitam cruzar e criar públicos, e a promoção da adaptação de alguns dos equipamentos existentes às realidades socioculturais das comunidades onde se inserem são formas de provocar as desejadas dinâmicas de coesão territorial e de integração social, económica e cultural.

o b j e C t I V o 1 . 2

P R o M o V e R o d I á l o g o I n t e R C u l t u R A l e A e x P R e S S ã o

I d e n t I t á R I A e e x P l o R A R o P o t e n C I A l d A C o o P e R A ç ã o t R A n S C u l t u R A l

Há que reconhecer que Lisboa é (e sempre foi) uma cidade de culturas várias, que se encontram, miscigenam e se individualizam, podendo criar um valor acrescentado e diferenciador para a cidade, mas também alguns atritos e complexidades. Pretende-se potenciar esta vocação e identidade multicultural de Lisboa através da promoção, por parte da CML ou de outras entidades, de projectos de índole intercultural ou transcultural que ofereçam espaços e oportunidades de encontro e de partilha cultural entre pessoas de nacionalidades, etnias, credos, idades e géneros diversos, bem como pela concepção de intervenções específicas em bairros críticos ou mais problemáticos. Entre outras formas, a valorização relativa destes projectos pode ser conseguida com critérios que permitam majorar candidaturas com estas características ou uma definição de prioridades claras em termos de investimento.

o b j e C t I V o 1 . 3

A P o I A R I n I C I A t I VA S C u l t u R A I S d e b A S e l o C A l e C o M u n I t á R I A

A CML deve assumir o compromisso de apoiar, numa lógica bottom-up, pequenas estruturas, nomeadamente associações culturais, recreativas, juvenis e de moradores, no desenvolvimento de iniciativas culturais, bem como no desenvolvimento de formas de governança capazes de gerar dinâmicas territorializadas, de base local e comunitária. Um apoio em termos técnicos, organizacionais e de recursos, não exclusivamente financeiro, que permitirá acesso a meios e conhecimentos anteriormente inalcançáveis para pequenas entidades culturais.

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e s t r a t é g i a s p a r a a c u l t u r a e m l i s b o a

113

o b j e C t I V o 1 . 4

g A R A n t I R u M A M P l o A C e S S o A e S P A ç o S e P l A t A f o R M A S d e S o C I A b I l I d A d e

e d e P R o d u ç ã o e C R I A ç ã o C u l t u R A l

Deseja-se assegurar uma democrática e ampla acessibilidade (física, económica, sociocultural, tecnológica) aos diversos espaços e plataformas de sociabilidade e de produção e criação cultural (desde os mais convencionais aos mais inovadores). As infra- -estruturas tecnológicas e digitais, e particularmente a internet, permitem o acesso a inúmeras fontes de informação, a locais de partilha de conhecimento, a espaços alargados para contactos, mas também a plataformas de disponibilização de conteúdos em formato digital que garantem novas formas de produção e criação cultural, bem como a respectiva divulgação e o desenvolvimento de novos processos de mediação e legitimação, crescentemente reconhecidos. Um acesso generalizado e facilitado a estes meios cria novas potencialidades para a criação e difusão cultural, para além de fomentar hábitos, competências e novos públicos.

o b j e C t I V o 1 . 5

A t R A I R I n d I V í d u o S e A C t I V I d A d e S C R I A t I VA S à C I d A d e

Nos dias de hoje é consensualmente reconhecido que a cultura e as “artes” contribuem por si só, e por uma diversidade de efeitos de arrasto, para o desenvolvimento da economia local e da qualidade de vida e bem-estar das populações, em muitos casos com efeitos multiplicadores noutros sectores. Daí ser uma meta obrigatória colocar Lisboa na rota, nacional e internacional, dos criadores e dos agentes culturais, assim como das instituições e empresas que desenvolvem actividades culturais que pertencem às indústrias culturais e criativas ou a actividades directamente relacionadas, como, por exemplo, o ensino e formação artística ou o turismo. Deseja-se atrair, com especial atenção, os estudantes e os jovens artistas e criadores, pela sua maior mobilidade, facilidade de adaptação e potencial de crescimento na cidade, tendo em atenção que estas classes criativas são particularmente sensíveis às amenidades e à oferta de qualidade de vida que a cidade lhes puder oferecer.

o b j e C t I V o 1 . 6

I M P u l S I o n A R A e x C e l ê n C I A e A q u A l I d A d e , A P R o V e I t A n d o

A S VA n t A g e n S d e M A S S A C R í t I C A e M t e R M o S n A C I o n A I S

Lisboa possui uma massa crítica invejável no contexto regional e nacional que pode ser aproveitada e potenciada pela cidade para desenvolver práticas e actividades que dificilmente ocorrerão noutros espaços e para fomentar a excelência e a qualidade. Importa pois aproveitar, estimular e consolidar os recursos e competências existentes, promovendo projectos, bens e serviços que garantam uma qualidade com capacidade de se afirmar e tornar competitiva a nível metropolitano, nacional e internacional. Pretende-se assim, em concreto, a um nível supra-local, afirmar eventos, projectos e espaços mobilizadores, estimular a participação crescente dos agentes locais em redes com agentes exteriores e promover a cooperação e a criação de sinergias entre os diversos agentes nas indústrias criativas.

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e s t r a t é g i a s p a r a a c u l t u r a e m l i s b o a

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o b j e C t I V o 1 . 7

P R o M o V e R A I n t e R n A C I o n A l I z A ç ã o d o S R e C u R S o S C u l t u R A I S d A C I d A d e

Dada a importância de conquistar um espaço no mercado global (seja em termos dos bens mais massificados ou dos mais restritos e alternativos), é forçoso investir na promoção internacional da cidade e do seu sector cultural e artístico, dotando-a das ferramentas e meios necessários para o efeito. Há que, portanto, promover a visibilidade internacional, os contactos externos, a capacidade de internacionalização e a entrada em mercados externos dos criadores e da oferta cultural lisboeta, assim como dos principais eventos e instituições culturais da cidade (controlando circuitos de distribuição, participando em processos de mediação e legitimação globalizados, etc.). Por outro lado, no mesmo sentido, há que reforçar Lisboa como destino turístico cultural, apostando na valorização externa da sua imagem e na melhoria da qualidade do produto oferecido.

o b j e C t I V o 1 . 8

A f I R M A R l I S b o A n o C e n á R I o g l o b A l C o M o u M A C I d A d e

d e f o R t e I n t e R V e n ç ã o I n t e R n A C I o n A l A n í V e l C u l t u R A l

Partindo do seu passado de centralidade inegável, tem de se reposicionar Lisboa face à Europa, África e América e valorizar a relação com a Ásia, bem como proporcionar formas de relacionamento mais efectivas com organizações internacionais, nomeadamente as que actuam na área do Atlântico e do Mediterrâneo. Deverá intervir-se mais activamente em territórios culturais e sociais transnacionais, reequacionando, nomeadamente, o papel e a acção de determinadas entidades municipais com competências nestas áreas em articulação com a sociedade civil e com as estratégias da diplomacia cultural de entidades como o Instituto Camões e o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

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e s t r a t é g i a s p a r a a c u l t u r a e m l i s b o a

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o b j e C t I V o 2 . 1

C l A R I f I C A R o q u A d R o R e g u l A M e n t A R d e A P o I o f I n A n C e I R o M u n I C I P A l

A o S A g e n t e S C u l t u R A I S e P R o M o V e R u M A C u l t u R A d e AVA l I A ç ã o

Face à diversidade, e até discricionariedade, de situações verificadas na prática ao longo das últimas décadas no sector, é indispensável realçar, no quadro de uma reforma administrativa e institucional mais ampla, a necessidade de definir e implementar urgentemente princípios claros e transparentes que regulem os apoios financeiros e logísticos concedidos pela autarquia, assim como instituir um sistema de monitorização e avaliação desses apoios, fomentando uma cultura de transparência e de prestação de contas em relação aos agentes culturais e aos públicos da cidade.

o b j e C t I V o 2 . 2

d I S P o n I b I l I z A R à C I d A d e e S P A ç o S P A R A A C R I A ç ã o e P R o d u ç ã o C u l t u R A l

Dada a realidade imobiliária da cidade de Lisboa e o seu impacto no desenvolvimento das condições facilitadoras da criação e produção cultural, estabelece-se um conjunto de quatro áreas para a actuação da CML ao nível da facilitação e disponibilização de espaços aos agentes culturais: (i) clarificar as regras e procedimentos de cedência de espaços municipais para produção e criação cultural; (ii) disponibilizar, temporária ou permanentemente, espaços culturais mais “formalizados” ou “instituídos”, como por exemplo ateliês, espaços de ensaio, de exibição ou exposição; (iii) dinamizar e facilitar a disponibilização e utilização de outros espaços, de propriedade pública ou privada, para actividades culturais, espaços esses com carácter mais “informal”, sem os requisitos técnicos e logísticos dos anteriores; e (iv) facilitar e promover o aproveitamento de espaços de grande dimensão para, à escala metropolitana, promover a consolidação de um cluster de indústrias criativas.

o b j e C t I V o 2 . 3

A u M e n t A R o A l C A n C e e e f I C á C I A d A I n f o R M A ç ã o

e d I V u l g A ç ã o C u l t u R A l

É fundamental facilitar ao público em geral e a certos públicos e utentes (consumidores, artistas, produtores e outros profissionais, turistas, etc.) mais especializados, o acesso aos diversos tipos de informação cultural, nomeadamente divulgação sobre a oferta cultural da cidade (em várias vertentes), bem como a facilitação aos criadores e agentes culturais do acesso a informação mais técnica e específica. A CML deve por isso utilizar as diferentes ferramentas, plataformas e meios ao seu dispor, em colaboração com outros agentes públicos e privados com actividade neste campo, para garantir o alcance e eficácia desta comunicação.

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e s t r a t é g i a s p a r a a c u l t u r a e m l i s b o a

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o b j e C t I V o 2 . 4

f o M e n t A R o e M P R e e n d e d o R I S M o e o b o M g o V e R n o

d A S o R g A n I z A ç õ e S C R I A t I VA S

A debilidade organizacional, a falta de competências e apetências técnico-organizacionais e de gestão e a aversão ao espírito empreendedor são algumas das características usualmente identificadas com a generalidade dos agentes culturais e artísticos, em particular os mais ligados à criação. Capacitar as organizações criativas e os agentes culturais a estes níveis, disponibilizando apoio técnico regular e informação especializada actualizada, assim como promovendo a partilha e troca de informação e experiências entre eles, e identificando e divulgando boas práticas e experiências de sucesso, é portanto um dos objectivos cruciais que a CML deve prosseguir activamente para robustecer o sector.

o b j e C t I V o 2 . 5

f AV o R e C e R A C R I A ç ã o t R A n S V e R S A l d e VA l o R n A e C o n o M I A

A t R AV é S d A I n C o R P o R A ç ã o d e C o n t e ú d o S C R I A t I V o S e S I M b ó l I C o S

A capacidade de estabelecer em Lisboa actividades e indústrias criativas e culturais que criem valor na economia através da incorporação de conteúdos estéticos e simbólicos, seja directamente, nos bens culturais ou na arte, seja indirectamente, através de uma panóplia de outros bens, mais ou menos tradicionais (por exemplo, o design ou a arquitectura, criando valor em actividades como o têxtil, a decoração, o mobiliário, a construção civil e o mercado imobiliário, etc.), é indubitavelmente um objectivo estratégico não só para Lisboa, como concelho, mas como área metropolitana no seu todo. A facilitação na localização destas actividades, a prestação de apoio técnico e informação especializada ou a sensibilização para a exploração dos direitos de autor e da propriedade intelectual serão algumas das vias possíveis para atingir esse objectivo.

o b j e C t I V o 2 . 6

e S t I M u l A R o C o n t A C t o d A P o P u l A ç ã o C o M A C R I A t I V I d A d e

e o S A M b I e n t e S C R I A t I V o S

É indispensável criar condições que despertem a curiosidade e o interesse de diferentes tipos de públicos (desde as crianças e jovens, aos menos “convencionais”), sobre a programação, os equipamentos e a oferta cultural da cidade, e que esse interesse possa ir para além da simples fruição pontual. Os serviços educativos dos diversos equipamentos municipais, que já o fazem muitas vezes de forma voluntarista e dispersa, necessitam de maior articulação e apoio para esta actividade. A articulação e facilitação da actividade destes serviços, potenciando os efeitos da sua acção na promoção do contacto de diferentes tipos de público, mais ou menos especializados, com a oferta cultural municipal, serão pois prioritárias. Da mesma forma, a promoção da articulação da oferta dos serviços educativos das instituições públicas e privadas do concelho com públicos-alvo que estejam afectos a estabelecimentos sob tutela municipal (escolas, creches, centros de dia, etc.) será particularmente útil e relativamente fácil de dinamizar. Finalmente, uma cooperação activa com os agentes públicos e privados do sistema de ensino, no sentido de facilitar e promover as condições para o desenvolvimento da educação e formação no concelho, quer ao nível artístico, quer técnico, quer organizacional, será igualmente de destacar.

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o b j e C t I V o 3 . 1

P R o M o V e R A V I V ê n C I A e f R u I ç ã o d A C I d A d e

Para que os residentes e visitantes de Lisboa possam experienciar e viver na sua plenitude a cidade, há que promover a vivência e fruição do seu património e das suas múltiplas memórias, melhorar o aproveitamento e usufruto cultural do espaço público, bem como ajudar à revitalização dos centros históricos e reapropriação das áreas abandonadas, nomeadamente industriais e portuárias, através do desenvolvimento de actividades artísticas e culturais.

o b j e C t I V o 3 . 2

g A R A n t I R A P R e S e R VA ç ã o e R e q u A l I f I C A ç ã o d o P A t R I M ó n I o ,

t A n g í V e l e I n t A n g í V e l , e o A R q u I V o e d e P ó S I t o d A M e M ó R I A ,

n o S S e u S Vá R I o S S u P o R t e S e M e I o S

A CML tem obrigação de garantir a preservação e requalificação do património cultural e todo o edificado da cidade, naturalmente em estreita colaboração entre cultura e urbanismo (onde o papel da cultura se deve centrar essencialmente no acompanhamento técnico-científico ao nível da validação do valor patrimonial histórico, arquitectónico ou cultural). Especial atenção neste quadro merece a zona da Baixa Pombalina (incluindo Baixa e Chiado), candidata a Património da Humanidade junto da UNESCO. Por outro lado, a Direcção Municipal da Cultura da CML tem à sua responsabilidade as estruturas responsáveis pela gestão da informação e memória a nível municipal, designadamente bibliotecas, Hemeroteca, Videoteca, Fonoteca, arquivos e museus, entre outras, cujas estruturas orgânicas, funcionamento em rede e dotação de meios necessitam urgentemente de ser revistas e reformuladas, no sentido de potenciar a sua dinamização e articulação. Entre outros aspectos, deve ser uma prioridade a garantia de articulação entre as múltiplas plataformas de gestão e divulgação de informação, de estudo e de análise dos diversos espólios e fundos patrimoniais dispersos pelas várias unidades orgânicas da DMC. Finalmente, deve ser igualmente um objectivo a alcançar a identificação e divulgação de boas práticas no que respeita à recuperação do património edificado e urbanístico da cidade (por exemplo, algumas operações de reabilitação e regeneração realizadas nos bairros históricos nas últimas décadas), como forma de as reconhecer e destacar internamente e de fomentar a sua reprodutibilidade, dentro e fora do âmbito da actuação municipal.

o b j e C t I V o 3 . 3

P R e S e R VA R e d e V o l V e R A M e M ó R I A e o S I M A g I n á R I o S d A C I d A d e

e R e f l e C t I R S o b R e A S u A C o n t e M P o R A n e I d A d e

Lisboa tem de ser capaz, por um lado, de desempenhar a sua função de preservar e devolver aos seus utilizadores as suas múltiplas memórias e, por outro, de reflectir sobre a sua contemporaneidade, problematizando e debatendo os seus imaginários e identidades actuais. Neste quadro, é fundamental promover e dinamizar o estudo sobre Lisboa, em colaboração com o meio universitário e de investigação da cidade, valorizando a olisipografia. O reequacionar da missão e objectivos do Gabinete de Estudos Olisiponenses, bem como dos meios e recursos que tem disponíveis e da sua posição orgânica, é neste campo uma prioridade, sendo necessário capacitar esta entidade para um conjunto de funções, práticas e competências, no campo da articulação com a comunidade de investigação da cidade actualmente inexistente.

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o b j e C t I V o 3 . 4

I M P u l S I o n A R o C o n H e C I M e n t o e o e S t u d o d A S A C t I V I d A d e S C u l t u R A I S

d A C I d A d e e d A S P o l í t I C A S q u e S o b R e e l A S I n C I d e M

Para se conhecer verdadeiramente o que Lisboa tem para oferecer em termos culturais, artísticos e criativos, e para que se possa garantir e apoiar uma actuação municipal consistente e eficaz neste campo, é necessário proceder ao mapeamento sistemático e à monitorização contínua da procura e da oferta cultural na cidade. Da mesma forma, a implementação de uma linha de rumo estratégica, amplamente discutida e consensualizada, capaz de sobreviver às variações conjunturais de poder e às rotinas dos círculos eleitorais, exige uma monitorização permanente e uma reflexão continuada, na qual se deverão envolver regularmente um conjunto de actores-chave do campo artístico e cultural da cidade. o b j e C t I V o 3 . 5

C o n t R I b u I R P A R A A d e M o C R A t I z A ç ã o d A C u l t u R A C I e n t í f I C A

Promover a ligação da cidade com a produção científica que se faz nas universidades e nos centros de investigação, dando a conhecer o seu trabalho e disseminando conhecimento científico e a sua aplicação prática na vida quotidiana da cidade, através não só de meios convencionais mas especialmente através de meios inovadores, permite chegar a diferentes públicos e estratos sociais, contribuindo decididamente para a democratização da cultura científica. o b j e C t I V o 3 . 6

A C t u A R S o b R e e x t e R n A l I d A d e S n e g A t I VA S A S S o C I A d A S

A A l g u M A S d I n  M I C A S C u l t u R A I S t e R R I t o R I A l I z A d A S

Para que a cidade apoie entusiasticamente o desenvolvimento do sector cultural e criativo e o turismo cultural, é indispensável intervir transversalmente de forma a procurar soluções para minimizar as externalidades negativas decorrentes destas actividades, nomeadamente no caso de actividades e intervenções com dinâmicas territoriais mais vincadas, sejam mais permanentes ou ocasionais, em campos como, por exemplo, a animação nocturna, os grandes eventos e festivais, ou as ocupações do espaço público. No caso de actividades com impactos mais permanente e com impactos claros em termos de conflitos de uso entre estas actividades e os residentes nesses mesmos espaços, devem ser encontradas soluções que permitam equacionar o direccionamento de alguma dessa actividade para outros espaços, procurando gerir de forma eficaz e pouco conflitual os diferentes interesses em jogo manifestados pelos diversos tipos de utentes desses espaços da cidade.

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o b j e C t I V o 4 . 1

M e l H o R A R A R e l A ç ã o e n t R e A C M l e o C o n S u M I d o R / u t e n t e C u l t u R A l

Para melhorar o relacionamento entre a CML e o consumidor/utente no que respeita à área cultural, há que actuar em três frentes: (i) estruturar a informação cultural e reequacionar as formas de contacto, presencial e à distância, com o consumidor cultural e o cidadão municipal; (ii) repensar as diversas redes de equipamentos municipais, nomeadamente quanto aos seus objectivos e lógicas de funcionamento, e à sua estruturação, de forma a assegurarem um equilíbrio entre uma garantia de proximidade às comunidades que servem e uma garantia de eficiência e eficácia na prestação das suas funções; (ii) promover uma abertura e transparência continuada nos processos, um amplo acesso à informação e uma cultura de prestação de contas por parte da autarquia aos seus munícipes. o b j e C t I V o 4 . 2

M e l H o R A R A R e l A ç ã o e n t R e C M l e o S C R I A d o R e S

e P R o M o t o R e S C u l t u R A I S d A C I d A d e

A multiplicidade de serviços e equipamentos culturais municipais e a dificuldade de os agentes culturais encontrarem um interlocutor na CML vocacionado para as questões da cultura tornam essencial a criação de um frontdesk que centralize informação e agilize os contactos dentro da autarquia. Por outro lado, são igualmente metas a alcançar neste campo a promoção da transparência e clareza dos procedimentos associados aos apoios municipais às actividades e às entidades culturais e artísticas da cidade, bem como a promoção da estabilidade e de uma dimensão crítica de actividade dos diversos equipamentos culturais municipais, através de procedimentos claros de contratualização plurianual da programação das suas actividades, através da realização de concurso para o recrutamento dos seus dirigentes (recrutamento esse que deve ser associado ao programa de actividades e não a decisões casuísticas ou excessivamente personalizadas).

o b j e C t I V o 4 . 3

A M P l I A R A A R t I C u l A ç ã o e P R o M o ç ã o d e P A R C e R I A S

C o M o u t R A S I n S t I t u I ç õ e S C u l t u R A I S n A C I d A d e

A CML deve assumir um papel mais dinâmico na articulação e promoção de parcerias com instituições culturais de referência, de grande e de pequena dimensão, localizadas ou com actividade no concelho de Lisboa. Para além disso, sendo Lisboa a capital de Portugal, muitas instituições de âmbito nacional, quer públicas quer privadas, têm a sua localização no concelho, importando por isso promover um relacionamento mais estreito, assim como a colaboração em projectos concretos, também com estas entidades.

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o b j e C t I V o 4 . 4

P R o M o V e R P R o j e C t o S d e A R t I C u l A ç ã o e C o l A b o R A ç ã o e n t R e o S

o R g A n I S M o S d A d M C e o u t R A S u n I d A d e S o R g  n I C A S d o u n I V e R S o C M l

A acção cultural da CML atravessa, interage com, e depende de um conjunto muito alargado de poderes, sectores e serviços autárquicos, e daí ser consensual a necessidade urgente de uma articulação mais efectiva entre os serviços associados a diferentes pelouros (e estruturas departamentais) da CML. Nomeadamente, importa potenciar a cooperação entre os serviços tutelados pelo pelouro da cultura e áreas como as da educação, da juventude, do urbanismo, do turismo e economia e da integração e acção social, entre outras. Promover, valorizar e premiar projectos que promovam a colaboração e articulação entre estes pelouros é por isso um objectivo a prosseguir imprescindivelmente. o b j e C t I V o 4 . 5

I n C R e M e n t A R R e l A ç õ e S d e C o o P e R A ç ã o e A A R t I C u l A ç ã o e n t R e

o S d I V e R S o S o R g A n I S M o S d A C M l C o M R e S P o n S A b I l I d A d e S n A á R e A

d A C u l t u R A ( d e n t R o d A d M C , n A e g e A C , o R g A n I S M o S A u t ó n o M o S )

A necessidade de articular e coordenar acções, promover o diálogo e consolidar e difundir boas práticas verifica-se igualmente no seio do pelouro da cultura, quer entre serviços e equipamentos da própria Direcção Municipal de Cultura, quer com organismos autónomos com responsabilidades na área da cultura na dependência mais directa do pelouro da cultura, como é o caso da empresa municipal EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, quer com organismos na dependência da presidência da CML ou com tutelas associadas a outros pelouros. Para além de uma clarificação da estrutura orgânica e missões da DMC e da EGEAC, bem como da respectiva repartição de atribuições, importará equacionar o estatuto orgânico e jurídico dos diversos organismos autónomos (e os diversos projectos) com responsabilidade na área da cultura, na dependência directa de outras áreas e da própria presidência, de forma a clarificar situações e promover a articulação e cooperação entre os diversos organismos.

o b j e C t I V o 4 . 6

C o n t R I b u I R P A R A o f o R t A l e C I M e n t o d A S R e l A ç õ e S e n t R e

o S A g e n t e S C u l t u R A I S d A C I d A d e e C A P A C I t á - l o S P A R A o

d e S e n V o l V I M e n t o d e o u t R A S f o R M A S d e g o V e R n A n ç A e R e g u l A ç ã o

A CML deve proporcionar plataformas de encontro, físicas e virtuais, que promovam o diálogo e a cooperação entre os diversos agentes culturais da cidade, dos mais variados tipos e dimensões, facilitar e apoiar plataformas de colaboração que permitam consubstanciar o desenvolvimento de novas formas de governança e regulação associadas ao desenvolvimento destas actividades e de dinâmicas criativas, emanadas da sociedade civil, sejam estas de base territorial (associações de agentes em determinados bairros ou áreas da cidade, por exemplo), de base sectorial (associações de agentes ou entidades de determinados campos artísticos ou criativos), ou outras.

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o b j e C t I V o 4 . 7

P R o M o V e R A A R t I C u l A ç ã o d A A C t u A ç ã o M u n I C I P A l C o M A A C t u A ç ã o

d e S e n V o l V I d A P o R o u t R A S I n S t  n C I A S à e S C A l A I n t R A - M e t R o P o l I t A n A

Reconhecendo a importância da actuação e da articulação inter-institucional às várias escalas e com diversos territórios, a CML não pode resignar-se a actuar apenas atendendo à dimensão municipal. Efectivamente, tem de reconhecer e actuar nas restantes dimensões, particularmente com as juntas de freguesia ou ao nível da colaboração com as autarquias da Área Metropolitana de Lisboa. Neste sentido, pode e deve promover a colaboração e a articulação com a actividade cultural desenvolvida pelas juntas de freguesia do concelho de Lisboa, ou de outros concelhos limítrofes, quando assim se justificar, ou com os municípios envolventes, bem como com instituições culturais, sejam públicas, municipais ou privadas, com actuação relevante ao nível da Área Metropolitana de Lisboa.

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06

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Identificação das medidas e dos projectos

06

As medidas aqui apontadas são acções concretas e definidas, realizáveis, na sua maioria, no quadro das competências actuais e das responsabilidades correntes do pelouro da cultura.(...) Os projectos propostos são programas transversais mais estruturados (...) que têm maior poder catalisador e maior potencial de demonstração e mobilização.

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Para a prossecução dos objectivos enumerados e descritos no capítulo anterior, desenhou-se, segundo os princípios defendidos para estas Estratégias, um conjunto de medidas e projectos que a Câmara Municipal de Lisboa deverá implementar no âmbito da sua acção na cultura. Estas medidas e projectos resultam de um processo de discussão e maturação da informação consolidada após o diagnóstico efectuado, assim como das várias ideias e propostas, partilhadas pela equipa técnica e pela equipa de consultores ao longo deste processo de planeamento estratégico.

As medidas aqui apontadas são acções concretas e definidas, urgentes e realizáveis, na sua maioria, no quadro das competências actuais e das responsabilidades correntes do pelouro da cultura. Efectivamente, não se deve esperar por uma reforma administrativa e orgânica, que tarda, ou uma que comece do topo, quando o pelouro da cultura, e a Direcção Municipal de Cultura em particular, podem ser motores e exemplos dessa mesma reforma no que respeita às suas áreas de actuação. A CML deverá ser pró-activa e até mesmo criativa na resolução de falhas e de incongruências e no melhoramento do seu funcionamento e do seu desempenho.

É comum à maioria das medidas, descritas em seguida, a vontade de a CML encontrar plataformas de comunicação e de coordenação, no fundo, plataformas de encontro, entre os diversos interlocutores, assim como proporcionar um ambiente dinâmico e uma relação de conforto com os artistas e agentes culturais da cidade.

Os projectos propostos são programas transversais, mais estruturados e estruturantes, sendo que, para além de uma descrição, cada ficha de projecto propõe já as entidades que devem assumir a responsabilidade e dinamização desse projecto, os mecanismos e fontes de financiamento possíveis e a identificação dos inconvenientes da não realização desse mesmo projecto. Desenharam-se catorze projectos que, não deixando de ser acções tendencialmente mais dispendiosas do que as medidas elencadas, quer em termos de tempo quer de recursos financeiros e humanos, têm também maior poder catalisador e maior potencial de arrasto, demonstração e mobilização. Apesar de incluírem maior pormenor, não dispensam, de maneira alguma, um aprofundamento cuidado e uma concretização criteriosa antes de se iniciar a fase de implementação.

Listam-se de seguida as medidas e os projectos estratégicos propostos, os quais se apresentam devidamente descritos nas páginas seguintes.

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Medidas

M 1 Reestruturar a orgânica da Direcção Municipal de Cultura (DMC) M 2 Reequacionar a missão e estruturação orgânica da EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural M 3 Dotar os serviços de condições financeiras adequadas ao seu funcionamento regular M 4 Instituir reuniões regulares de coordenação M 5 Instituir concurso público obrigatório para a nomeação de directores artísticos e programadores M 6 Promover o ajustamento dos equipamentos municipais às características das comunidades locais M 7 Definir o quadro regulamentar de apoio financeiro municipal aos agentes culturais M 8 Definir o quadro regulamentar de cedências de espaços municipais, para criação e produção cultural M 9 Definir e clarificar o quadro regulamentar para afixação de cartazes e o uso de mupis e outdoors M 1 0 Manter um mapeamento actualizado dos equipamentos, das actividades e das práticas culturais em Lisboa M 1 1 Instituir uma rede informal para a definição de estratégias para a promoção e visibilidade internacional da produção cultural de Lisboa M 1 2 Instituir um grupo de reflexão e acompanhamento das estratégias para a cultura M 1 3 Criar um grupo de trabalho para a avaliação e monitorização das externalidades das actividades culturais e criativas M 1 4 Disponibilizar o Portal da Cultura da CML M 1 5 Promover plataformas de interoperabilidade e a compatibilização dos sistemas de gestão de informação da CML e da DMC M 1 6 Publicar um livro branco e atribuir um prémio anual de boas práticas M 1 7 Apoiar a auto-organização e a mobilização dos agentes privados para o desenvolvimento do sector das indústrias criativas na cidade M 1 8 Criar a Lisbon Film Commission M 1 9 Candidatar a Baixa Pombalina a Património da Humanidade M 2 0 Instituir a atribuição de um prémio anual para projectos inovadores de intervenção em bairros críticos M 2 1 Instituir um fórum informal para articulação do sector museológico de Lisboa M 2 2 Criar um mecanismo integrado de qualificação e dinamização cultural de espaços públicos M 2 3 Criar um programa integrado de apoio técnico e logístico às pequenas estruturas culturais e artísticas M 2 4 Fomentar a dinamização de projectos para a disseminação da cultura científica M 2 5 Implementar e difundir o programa Lisboa – Cidade Erasmus M 2 6 Reequacionar e reestruturar a divulgação e comunicação cultural municipal M 2 7 Estruturar a rede de bibliotecas municipais M 2 8 Racionalizar a rede municipal de arquivos e repensar a sua orgânica M 2 9 Equacionar, clarificar e concretizar a missão e a situação orgânica de outros equipamentos e instituições culturais municipais ou participados pelo município M 3 0 Desenvolver o MUDE – Museu do Design e da Moda e equacionar o seu estatuto jurídico

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Projectos

P 1 lisboa Aproxima _ Implementação de Centros Culturais de Proximidade P 2 lisboa Acolhe _ Programa de dinamização de espaços para a criatividade e a criação P 3 lisboa Integra _ Fórum da Interculturalidade P 4 lx Web tV _ Canal web para Lisboa P 5 Centro de Arte Contemporânea de lisboa (Künsthalle Lisboa) P 6 lisboa educa _ Programa integrado de contacto com a arte e a cultura nas escolas da cidade P 7 estudar lisboa _ Programa de fomento à colaboração com instituições do ensino superior e centros de investigação da cidade P 8 @lx _ Gabinete de Informação e Contacto com a Cultura P 9 Renovar o conceito de Museu da Cidade P 1 0 lisboa Promove _ Programa de promoção internacional das artes e dos bens culturais de Lisboa P 1 1 Criação do Centro de Paisagem e Cultura urbana de lisboa P 1 2 Wireless lx _ Acesso gratuito à internet sem fios em espaços públicos P 1 3 grupo de trabalho para o desenvolvimento do turismo cultural em lisboa P 1 4 lisbon Summer of Arts _ Programa internacional de formação de jovens artistas

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6.1 Medidas

M 1

R e e S t R u t u R A R A o R g  n I C A d A d I R e C ç ã o M u n I C I P A l d e C u l t u R A ( d M C )

A reestruturação orgânica da Direcção Municipal da Cultura é uma prioridade face às diversas disfuncionalidades identificadas. Uma DMC mais ágil, com organismos menos hierarquizados e com mais autonomia, mas com maior articulação de funções e de actividades e coordenação mais forte, será desejável e imprescindível para implementar muitas das restantes medidas aqui sugeridas. A convencional organização por sectores (património, museus, bibliotecas, arquivos, etc.) cruza-se inevitavelmente com uma lógica de funções desempenhadas (programação, exposição, serviços educativos, investigação, divulgação, etc.), que acabam por se multiplicar e muitas vezes sobrepor-se nas diversas unidades. Mesmo sem alterar esta lógica de fundo, os respectivos responsáveis deverão equacionar uma reestruturação profunda e, sem prejuízo de estudos posteriores mais aprofundados, sugere-se desde já que se tomem em conta, entre outros aspectos: (i) a extinção da lógica dos “equipamentos diversos” (que incluem, por exemplo, Videoteca, Fonoteca, GEO — Gabinete de Estudos Olissiponenses), associando-os às funções respectivas; (ii) a reorganização da área da divulgação, imagem e comunicação, dando-lhe mais abrangência e eficácia; (iii) a reorganização da área de galerias e ateliês, tendo em conta o seu peso efectivo e a articulação com novos equipamentos e formas de actuação; (iv) a possibilidade de autonomizar o núcleo de arqueologia (Centro de Arqueologia de Lisboa) do Museu da Cidade (em particular num cenário em que a parte expositiva e de programação poderia ser transferida para a EGEAC — Empresa de Gestão e Animação Cultural, como se sugere no projecto 9); (v) uma profunda reestruturação do GEO, tornando-o no principal interlocutor e dinamizador da relação com a investigação e a comunidade universitária da cidade (ou mesmo na integração no sistema científico nacional); e (vi) a possibilidade de passagem de certas funções para fora da DMC (por exemplo, ligar a intervenção em termos de arte pública que ultrapasse os pareceres técnicos com a área do urbanismo; equacionar a transversalidade dos arquivos à estrutura global da CML, etc.). Sugere-se ainda que todos estes aspectos sejam igualmente equacionados à luz das mudanças também propostas para as redes de bibliotecas e arquivos (cf. medidas 27 e 28) e do repensar de outros organismos paralelos da CML na área cultural (cf. medidas 29 e 30), bem como, evidentemente, do equacionar da estrutura e funções da EGEAC – medida 2).

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M 2

R e e q u A C I o n A R A M I S S ã o e e S t R u t u R A ç ã o o R g  n I C A d A e g e A C –

e M P R e S A d e g e S t ã o d e e q u I P A M e n t o S e A n I M A ç ã o C u l t u R A l

A EGEAC (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural) tem tido desde a sua origem (ainda como EBAHL) um percurso que, pese embora diversas atribulações e inflexões, lhe tem garantido um crescimento sustentado e uma agilidade processual que a torna particularmente eficaz na gestão de alguns equipamentos municipais. No entanto, também desde início, uma certa indefinição na linha programática associada à sua missão e um crescimento ao sabor dos equipamentos que muitas vezes casuisticamente lhe foram sendo atribuídos (normalmente em busca dessa maior agilidade, para ultrapassar obstáculos quotidianos na “pesada” gestão corrente municipal) não permitiram uma lógica coerente e clara na repartição de funções e competências entre DMC e EGEAC (por exemplo, com alguns museus ou elementos patrimoniais dentro e outros fora desta estrutura municipal). Importa pois que a CML discuta e clarifique o mais rapidamente possível qual o papel de fundo da empresa municipal na área cultural e que associe a esta decisão uma adequada repartição de equipamentos, funções e meios financeiros e humanos para fazer face a essas atribuições.

A esta discussão está naturalmente associada a clarificação da missão dos equipamentos e eventos respectivos, que, não obstante as evoluções claras nos tempos mais recentes (por exemplo, assumindo a vocação de “espaço público” do cinema São Jorge para acolhimento ou co-organização de festivais de cinema ou outros eventos por agentes culturais da cidade, ou clarificando as missões dos teatros São Luiz, Maria Matos e Taborda), não deixa de estar muitas vezes ao sabor da conjuntura e da personalidade dos seus directores ou programadores. A contratualização de quadros plurianuais de gestão e programação neste campo será uma vertente importante, mas não dispensa uma clarificação estrutural da visão e missão definidas para cada um destes equipamentos e para os eventos da responsabilidade da EGEAC (por exemplo, as Festas de Lisboa).

No âmbito deste reequacionamento do papel e da estrutura da EGEAC, será importante ter em conta alguns dos princípios subjacentes a diversas das nossas propostas, seja na assunção clara do papel desta estrutura na programação cultural municipal na cidade (por contraponto à DMC), seja em particular na proposta concreta de equacionar a passagem de um Museu da Cidade polinucleado para a EGEAC, pelo menos na vertente de exposição e programação, permitindo dessa forma uma integração coerente de todo o núcleo museológico municipal nesta entidade. Isto implicaria necessariamente um reforço das actuais valências museolópgicas da EGEAC.

Por outro lado, assumimos também a centralidade da EGEAC na gestão do programa de dinamização dos Centros Culturais de Proximidade (projecto 1), ou seja, da organização e dinamização dos concursos para as parcerias locais que serão responsáveis pela gestão de cada um destes centros.

Este tipo de funções, bem como outras necessidades identificadas para actuar no campo cultural de forma mais transversal e ágil (associando-se a competências na gestão e licenciamento dos espaços públicos, no urbanismo, na inclusão social, na educação e formação, etc.), levam-nos ainda a sugerir a hipótese de a CML equacionar fortemente a possibilidade de esta empresa municipal ter atribuições mais transversais (sempre no campo da gestão dos equipamentos e actividades culturais), ligando diversos pelouros municipais, e que fosse neste caso repensada a sua situação orgânica de forma mais ampla, considerando

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a hipótese de poder vir a desligar-se da relação exclusiva com a área da cultura, potenciando meios e recursos importantes para esta actividade transversal.

M 3

d o t A R o S S e R V I ç o S d e C o n d I ç õ e S f I n A n C e I R A S A d e q u A d A S

A o S e u f u n C I o n A M e n t o R e g u l A R

Torna-se necessário encontrar formas de dotar os serviços sob a tutela da vereação da cultura dos meios financeiros para o seu normal funcionamento, em termos da sua actividade corrente. Por vezes o problema está relacionado “apenas” com sub-orçamentação. Frequentemente, porém, o estrangulamento financeiro em que alguns serviços e equipamentos sobrevivem está também relacionado com a ausência de mecanismos para gerarem receitas ou, quando estes existem, por não lhes ser facultada a possibilidade de as gerir de forma autónoma. Esta questão prende-se com limitações administrativas e legais que, embora não sejam fáceis de resolver, podem ser atenuadas pela Câmara e por uma revisão do seu funcionamento e da sua orgânica. As dificuldades financeiras destes serviços ou equipamentos passam por questões relacionadas com a gestão corrente, mas também por necessidades mais complexas e estruturais relacionadas, entre várias outras coisas, com a recuperação e manutenção dos respectivos patrimónios edificados e equipamentos.

M 4

I n S t I t u I R R e u n I õ e S R e g u l A R e S d e C o o R d e n A ç ã o

De forma a promover uma efectiva circulação de informação e uma verdadeira actuação transversal nas estruturas da CML pertencentes ao Pelouro da Cultura, é imprescindível promover uma rotina de reuniões entre diferentes chefias de divisão, departamento, equipamentos da CML e da EGEAC. De facto, o desconhecimento das actividades e projectos de cada divisão, a desarticulação generalizada de actuações e procedimentos, projectos e situações sem resposta por parte da CML, por falta de coordenação entre departamentos, foram problemas repetidamente apontados durante o diagnóstico ao sector cultural. A realização de reuniões regulares, com ordens de trabalho claramente definidas, será um princípio para o estabelecimento de hábitos de articulação, colaboração e partilha entre serviços. Contudo, a partilha de informação dentro do universo camarário não é suficiente para ultrapassar os constrangimentos identificados. Neste sentido, recomenda-se que os responsáveis municipais do pelouro da cultura organizem igualmente de forma regular (sugere-se trimestralmente) reuniões com os responsáveis de outras áreas intimamente ligadas à cultura, nomeadamente, educação, juventude, urbanismo, turismo e integração social, bem como com responsáveis das instituições de âmbito nacional, públicas e privadas, localizadas no concelho. Não se pretende com estas reuniões condicionar programações ou actividades, mas sim fomentar a partilha de informação e de conhecimento, potenciar sinergias e rentabilizar determinados recursos através de formas inovadoras de colaboração e coordenação.

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M 5

I n S t I t u I R C o n C u R S o P ú b l I C o P A R A A n o M e A ç ã o

d e d I R e C t o R e S A R t í S t I C o S e P R o g R A M A d o R e S

A reformulação dos mecanismos de nomeação dos responsáveis pelas diversas organizações e projectos da Câmara Municipal é crucial para o desenvolvimento de um novo e mais transparente modelo de governança. Um dos primeiros passos nesse sentido diz respeito à necessidade de criar um sistema de concurso público – aberto naturalmente a colaboradores internos – para as posições de chefia dos equipamentos e organizações da Câmara. Esta medida, para além dos óbvios benefícios para a transparência do funcionamento interno da Câmara, tem como objectivo fundamental assegurar a contratação e selecção dos melhores profissionais disponíveis para dirigirem esses equipamentos (com base na sua proposta de plano de actividades plurianual para o período em causa), numa altura em que a especialização das áreas artísticas se agudiza, em que os desafios colocados pelas novas formas de distribuição, consumo e recepção cultural sofrem mutações radicais e em que Lisboa ambiciona colocar-se ao lado das principais cidades europeias na qualidade da sua oferta cultural. É também fundamental libertar o processo de selecção desses cargos de chefia de pressões e suspeitas de favorecimento ou proximidade políticas, bem como da sua ligação aos ciclos eleitorais. Deve ser elaborado, assim, um regulamento que assegure a correcta e transparente selecção de profissionais, em linha com a revisão profunda do modelo de governança da Câmara Municipal.

M 6

P R o M o V e R o A j u S t A M e n t o d o S e q u I P A M e n t o S M u n I C I P A I S

à S C A R A C t e R í S t I C A S d A S C o M u n I d A d e S l o C A I S

Os diferentes contextos socioeconómicos e culturais dos vários territórios da cidade e a necessidade de atrair novos públicos aos equipamentos culturais justificam a adaptação dos equipamentos municipais, nomeadamente das bibliotecas, arquivos e espaços expositivos municipais, às características das comunidades locais onde se inserem, quer em termos de funcionamento, quer em termos de oferta de conteúdos. Por funcionamento entende-se, por exemplo, os horários de funcionamento, as acessibilidades físicas e tipos de serviços disponibilizados (incluindo serviços educativos); por oferta de conteúdos entende-se a política de programação ou a política de aquisições diferenciadas, que privilegiem, por exemplo, a representatividade de determinados temas, de determinados idiomas, ou de promoção de um conjunto de actividades paralelas adaptadas às comunidades territoriais. Este projecto desenvolver-se-á numa lógica bottom-up, isto é, será liderado pelos responsáveis por cada equipamento, em colaboração com todos os que trabalham nesses equipamentos, uma vez que conhecem bem os seus frequentadores e as necessidades por eles sentidas, assim como os territórios onde os equipamentos se localizam. Contudo, insiste-se na necessidade e na importância de articular os diversos equipamentos, nomeadamente os que se localizam no mesmo território, como forma de partilhar conhecimento e garantir a optimização das soluções encontradas.

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M 7

d e f I n I R o q u A d R o R e g u l A M e n t A R d e A P o I o f I n A n C e I R o

M u n I C I P A l A o S A g e n t e S C u l t u R A I S

O apoio financeiro da Câmara Municipal aos agentes culturais não deve onerar excessivamente o erário da autarquia, já que não constitui missão ou objectivo da Câmara a subvenção da actividade cultural da cidade. Não obstante, há um conjunto de actividades prosseguidas por algumas instituições da cidade que, pela sua importância estratégica ou oportunidade em termos do interesse público municipal, merecem o apoio financeiro da Câmara. Nestes casos, deve-se definir claramente as situações, muito particulares, em que deve haver lugar à subvenção financeira, directa ou indirecta, da actividade cultural. De igual forma, este apoio financeiro nunca deve constituir a principal parcela para a existência ou realização da dita actividade, ou para o funcionamento da instituição. A subvenção camarária deve surgir sempre a título subsidiário e ser associada a um plano de actividades concreto, cujo cumprimento tem de ser rigorosamente avaliado e monitorizado. Daí tornar-se necessária e urgente a definição o mais concreta possível de um quadro regulamentar em que este tipo de apoio deverá ter lugar.

M 8

d e f I n I R o q u A d R o R e g u l A M e n t A R d e C e d ê n C I A S d e e S P A ç o S

M u n I C I P A I S , P A R A C R I A ç ã o e P R o d u ç ã o C u l t u R A l

É prioritária a definição do quadro regulamentar dos espaços municipais para a criação e produção cultural. Este quadro regulamentar deve definir não só as condições de cedência dos ateliês municipais (Regulamento de Ateliês Municipais para as Artes), como as condições de cedência dos espaços municipais abandonados ou devolutos existentes e que possam ser usados temporariamente como espaços de ateliê, de apresentação de trabalho artístico, de residência artística e de ensaio. Este quadro regulamentar da utilização dos espaços e equipamentos camarários tem ainda de incluir a necessidade urgente de definir as normas de cedência dos equipamentos culturais da cidade (nomeadamente os seus teatros e salas de espectáculos), reduzindo a discricionariedade que ainda vigora nesse campo. Torna-se necessário, simultaneamente, fazer um levantamento, actualizado regularmente, de espaços devolutos e abandonados, que possam ser usados por um tempo limitado, por uma renda simbólica. Estes ateliês servirão não só para atracção e fixação de artistas, mas também como espaços de criatividade e de manifestações artísticas abertas à cidade, estabelecendo, nomeadamente, critérios de abertura à comunidade.

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M 9

d e f I n I R e C l A R I f I C A R o q u A d R o R e g u l A M e n t A R

P A R A A f I x A ç ã o d e C A R t A z e S e o u S o d e M u P I S e o u t d o o R S

Em resultado das inúmeras solicitações de que a Câmara é alvo, e com o intuito de combater as insuficiências ao nível da divulgação das actividades de cariz cultural, é necessário definir um quadro regulamentar – exequível e equitativo – para o uso das redes de divulgação da Câmara. Esta rede inclui (para além da página de internet da autarquia e da Agenda Cultural) um circuito de mupis e outdoors que devem ser disponibilizados às instituições culturais (mas não exclusivamente) para a promoção das suas actividades e eventos. À urgência de regular a cedência desta rede (e de promover a sua expansão e requalificação, em particular no caso dos espaços outdoors para fixação de cartazes, actualmente praticamente extinta), deve ser acrescentada a actualização das normas que regulam a afixação de cartazes na cidade, de forma a encontrar o equilíbrio entre a necessidade natural de divulgação dos eventos e o respeito pelo património e pela propriedade privada, num quadro de utilização da cidade como veículo de promoção sustentável.

M 1 0

M A n t e R u M M A P e A M e n t o A C t u A l I z A d o d o S e q u I P A M e n t o S ,

d A S A C t I V I d A d e S e d A S P R á t I C A S C u l t u R A I S e M l I S b o A

A multiplicidade de actividades que constitui a vida cultural da cidade de Lisboa, assim como a necessidade de as divulgar e interpretar correctamente, obrigam a um exercício de mapeamento e monitorização permanente. A leitura permanente da oferta e da procura cultural da cidade é uma tarefa que deve ser prosseguida e alimentada pela autarquia, por intermédio dos seus organismos: por exemplo, o Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL) ou a estrutura responsável pela divulgação cultural e a comunicação dentro da DMC terão aqui um papel fundamental, propondo-se que trabalhem em íntimo contacto com o reformulado Gabinete de Estudos Olisiponenses, numa lógica em que este centro se afirme como pólo da investigação sobre Lisboa na autarquia e pivô da relação com os centros de investigação e universidades da cidade e com os diversos núcleos que desenvolvem investigação sobre Lisboa na DMC e na autarquia em geral. O trabalho deste último organismo permite acrescentar uma dimensão na análise e mapeamento da actividade cultural da cidade que ultrapasse a sua mera monitorização e divulgação. Deverá, por isso, ser o foco fundamental da constituição de uma instância, na lógica de um observatório (local ou metropolitano), com a participação destes três organismos (e outros que se julguem pertinentes), que concilie não só a recolha de informação sobre todas as actividades que têm lugar na cidade, mas que também as analise e interprete, em estreita articulação com outras unidades de investigação da cidade, com o intuito de perceber aprofundadamente as dinâmicas culturais, de natureza territorial e socioeconómica, que compõem e marcam Lisboa.

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M 1 1

I n S t I t u I R u M A R e d e I n f o R M A l P A R A A d e f I n I ç ã o d e e S t R A t é g I A S

P A R A A P R o M o ç ã o e V I S I b I l I d A d e I n t e R n A C I o n A l d A P R o d u ç ã o

C u l t u R A l d e l I S b o A

A estratégia de internacionalização da cidade de Lisboa assume nestes dias uma importância incontornável, mas não pode ser prosseguida apenas pela autarquia. Sugere-se, por isso, a constituição de uma rede informal de entidades culturais, públicas e privadas, com o objectivo de articular uma estratégia para a promoção e visibilidade externa da criação e produção artística e cultural de Lisboa e dos seus agentes. Esta estratégia inclui não só a mera divulgação da produção local, mas também a participação da cidade e dos seus agentes nos principais eventos internacionais, assim como encontrar formas de optimizar a circulação internacional da criação lisboeta. A rede pretende ainda fomentar a troca de informação e potenciar a colaboração e articulação entre as programações das diversas entidades culturais da cidade. Uma rede desta natureza, e mobilizada pela CML, deve incluir ainda a participação de representantes das organizações que gerem e promovem o turismo da cidade e do país, assim como as entidades do governo central que prosseguem acções da mesma natureza, a nível nacional.

M 1 2

I n S t I t u I R u M g R u P o d e R e f l e x ã o e A C o M P A n H A M e n t o

d A S e S t R A t é g I A S P A R A A C u l t u R A

Criação de um grupo de trabalho, de natureza informal, composto por um conselho de consultores, rotativo e não remunerado, provenientes do universo camarário, das universidades, das instituições culturais e do tecido empresarial da cidade, com o objectivo de reflectir acerca da natureza da “marca” Lisboa e das múltiplas identidades e imaginários da cidade, e discutir e monitorizar a implementação das estratégias culturais da cidade. Este grupo de trabalho, que deve trabalhar em articulação íntima com a rede para a promoção internacional da produção cultural da cidade, bem como com a instância responsável pelo mapeamento das actividades culturais de Lisboa, deve procurar sentir o pulso à cidade e, no âmbito da sua actividade, deve proporcionar um levantamento e mapeamento da iconografia da cidade, da(s) sua(s) identidade(s), históricas e contemporâneas, em permanente construção e mutação, das suas representações e mitologias, bem como o delinear de novos roteiros e linhas para a sua compreensão, entre várias outras actividades. Deste grupo esperam-se sugestões estratégicas que informem e contribuam para auxiliar as decisões dos responsáveis políticos por esta área.

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M 1 3

C R I A R u M g R u P o d e t R A b A l H o P A R A A AVA l I A ç ã o e M o n I t o R I z A ç ã o

d A S e x t e R n A l I d A d e S d A S A C t I V I d A d e S C u l t u R A I S e C R I A t I VA S

Criação de um grupo de trabalho interdepartamental, a nível municipal, com participação de representantes de várias unidades orgânicas da autarquia com responsabilidade em áreas mobilizadas ou afectadas pela actividade artística e cultural na cidade (licenciamentos vários, urbanismo, trânsito, estacionamento, espaços verdes, cargas e descargas, ruído, fiscalização horária, higiene urbana, etc.), com o objectivo de procurar encontrar soluções e propor medidas para minimizar as externalidades negativas decorrentes destas actividades. Numa altura em que as actividades culturais e criativas tanto se vêem legitimadas no domínio da análise económica e financeira, é importante, não obstante, aferir os seus impactos em termos das externalidades (negativas e positivas) que provocam nos residentes e usufruidores da cidade. Sendo o habitat preferencial da maioria das actividades (e sociabilidades) culturais e criativas a malha urbana, a avaliação do seu impacto é crucial para compreender as dinâmicas da cidade e minimizar, nuns casos, as externalidades negativas que provocam sobre outros agentes que actuam nesses espaços (congestionamento de infra-estruturas, ruído, poluição, etc.) e optimizar, noutros, aqueles aspectos que resultam em externalidades positivas (por exemplo, efeitos em termos de segurança, de revitalização urbana de certas áreas, de criação de valor imobiliário, etc.). Em particular, torna-se muito urgente discutir e implementar medidas concretas (medidas restritivas e dissuasoras para certas actividades ou, alternativamente, compensatórias, em relação aos lesados por essas mesmas actividades) para fazer face a situações que se agravam tendencialmente a par do crescente dinamismo cultural da cidade. Entre outras, são de destacar, a título de exemplo, situações como a eliminação frequente de espaços de estacionamento para filmagens, em certas zonas da cidade, o congestionamento de trânsito face à circulação e paragem sem condições de autocarros turísticos, ou os problemas associados ao ruído, congestionamento de infra-estruturas e higiene urbana nas zonas de maior pressão de animação nocturna ou junto de alguns espaços de espectáculos. A implementação de projectos-piloto em áreas mais pressionadas pela actividade cultural e turística ou pela animação nocturna (como a zona Bairro Alto- -Chiado ou Santos, ou até a generalidade da zona histórica, por exemplo) poderia ser interessante.

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M 1 4

d I S P o n I b I l I z A R o P o R t A l d A C u l t u R A d A C M l

Os diversos organismos culturais da CML dispõem de uma diversidade de páginas web que, tendo naturalmente necessidades distintas e sendo também naturalmente geridas e alimentadas de forma descentralizada, não estão no entanto minimamente articuladas num todo coerente para quem, externamente, procure informação sobre a actividade cultural municipal. Para além de uma página muito actualizada e exaustiva respeitante à divulgação cultural e à informação sobre a actividade cultural da cidade (a da Agenda Cultural), com alguns pontos de contacto, aliás, com a página autónoma do Turismo de Lisboa, vocacionada essencialmente para a procura turística, a CML desmultiplica-se numa diversidade de páginas, algumas mais centradas na informação institucional, outras na prestação de informação mais técnica e na divulgação da actividade específica de cada organismo, outras ainda com poderosas funcionalidades ao nível da disponibilização de conteúdos, bases de dados, ou espólios documentais (para além de muitas delas estarem em sistemas informáticos e plataformas distintos e não facilmente compatibilizáveis). Sendo discutível a necessidade de normalizar e centralizar toda esta diversidade, é no entanto fundamental criar um portal único da Cultura da CML que funcione como entrada para todos estes sites diferenciados, permitindo buscas simples e um mapeamento eficiente da informação disponível nos diversos sites dos organismos da DMC, da EGEAC e dos diversos organismos mais autónomos com actividade na área cultural.

Esta medida é de crucial importância para promover a comunicação cultural na cidade, devendo articular-se com o proposto na Medida 26 (em relação a toda área de comunicação da DMC) e com o previsto nos projectos 4 (Web TV) e 8 (ponto de contacto e informação). Pretende-se ter um ponto de contacto virtual para as diversas estruturas da cidade, fornecendo informação institucional e conteúdos de cariz técnico e profissional, a par da disponibilização de informação genérica sobre a vida cultural da cidade, incluindo iniciativas desenvolvidas pelo sector público e pelo sector privado.

M 1 5

P R o M o V e R P l A t A f o R M A S d e I n t e R o P e R A b I l I d A d e e A C o M P A t I b I l I z A ç ã o

d o S S I S t e M A S d e g e S t ã o d e I n f o R M A ç ã o d A C M l e d A d M C

Uma das principais questões estruturais que afectam o funcionamento da CML, em geral, e da DMC, em particular, que proporciona deficiente articulação entre departamentos, divisões e equipamentos, prende-se com uma grave lacuna ao nível da comunicação interna. Um dos problemas específicos detectados diz respeito aos inúmeros organismos afectos à DMC que têm a sua própria base de dados e sistema de gestão de informação, incompatíveis com as restantes. Para além disso, existem cerca de 18 sistemas informáticos diferentes no seio da CML. Torna-se então urgente promover plataformas de interoperabilidade e uma compatibilização de sistemas de gestão de informação, de modo a que esta possa ser migrada e partilhada eficiente e fluidamente entre equipamentos, divisões e departamentos. Apesar das constantes exigências tecnológicas evolutivas e da enorme dimensão da estrutura da CML, é necessário recuperar o atraso existente neste processo e apostar em sucessivos projectos de compatibilização, como o actualmente em curso, co-financiado por fundos europeus (Sistemas de Apoios à Modernização Administrativa do QREN), para o qual foi constituída uma comissão de trabalho supra-departamental, cuja equipa técnica é chefiada pela Divisão de Gestão de Arquivos da DMC.

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M 1 6

P u b l I C A R u M l I V R o b R A n C o e A t R I b u I R u M P R é M I o A n u A l

d e b o A S P R á t I C A S

No âmbito dos processos de modernização administrativa em curso na CML, seria útil publicar um livro branco de boas práticas, onde se compilassem e identificassem as melhores técnicas, procedimentos e abordagens para realizar determinadas tarefas ou projectos. Isto permitiria promover a partilha de conhecimentos, facilitar a cooperação, o diálogo e a difusão de informação entre equipas e entidades em situações similares, e consolidar boas práticas de colaboração inter-estruturas. Para além desta publicação, será interessante que, à imagem do que existe para diversos sectores comerciais públicos e privados, seja atribuído um prémio anual de boas práticas. Repetidas vezes o discurso público desprestigia a imagem da CML, uma vez que o que tem êxito por vezes não chega ao conhecimento público. O Prémio das Boas Práticas pode assim contribuir para corrigir essa injustiça e combater o espírito de auto-flagelação, podendo ser repartido segundo diversas categorias de acção, nomeadamente, Gestão Financeira, Melhoria de Processos, Capital Humano e Serviço ao Cidadão, entre outros. Esta iniciativa visa reconhecer e divulgar publicamente os projectos, divisões e equipamentos candidatos que, independentemente da sua dimensão, volume de recursos envolvidos, tempo ou custo de implementação, apostem na iniciativa, qualidade e inovação e gerem um benefício evidente face à sua situação inicial. O prémio, para além de prestigiar e dar visibilidade aos vencedores, permitirá também promover a auto-estima e motivação dos profissionais, bem como contagiar e estimular futuras boas práticas no seio da CML.

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M 1 7

A P o I A R A A u t o - o R g A n I z A ç ã o e A M o b I l I z A ç ã o

d o S A g e n t e S P R I VA d o S P A R A o d e S e n V o l V I M e n t o

d o S e C t o R d A S I n d ú S t R I A S C R I A t I VA S n A C I d A d e

As indústrias criativas, muitas delas espaço-intensivas, necessitam frequentemente de espaços de grande dimensão e com características específicas que se tornam difíceis de encontrar e financiar no centro das cidades, tendendo portanto a procurar soluções alternativas de localização em grandes áreas disponíveis nas periferias metropolitanas. A disponibilização de espaços de grande dimensão (zonas industriais ou portuárias abandonadas, por exemplo) para a localização de indústrias culturais e actividades intensivas em valor simbólico e criativo será portanto a melhor forma de a cidade conseguir reter algumas destas actividades. Sendo esta questão do espaço transversal a todas as artes e actividades criativas, ganha particular destaque também no caso específico das indústrias criativas, à escala de uma competição intra-metropolitana pela captação destas actividades. Lisboa concentra um vastíssimo número de potenciais espaços para criação e para instalação de actividades deste tipo (em particular na zona oriental e ribeirinha, mas não só), que poderiam ser explorados neste sentido, sejam equipamentos camarários devolutos, sejam imóveis desocupados em bairros históricos ou em áreas ex-industriais expectantes. Em estreita ligação com algumas das vertentes de disponibilização de espaços previstas no projecto P2 (Lisboa Acolhe), importa ainda apoiar institucional e logisticamente (no licenciamento, na facilitação de condições de contexto, etc.) as diversas iniciativas privadas que surjam no sentido de promover a articulação entre os diversos agentes e o desenvolvimento de um cluster mais integrado destas actividades. Em particular, será de acarinhar e apoiar decisivamente a existência de uma ou mais plataformas congregadoras de agentes, privados e públicos, a nível metropolitano, para o desenvolvimento das indústrias criativas. Facilitar o desenvolvimento de um cluster de indústrias criativas é uma medida crucial, no sentido em que permite não só estimular a qualidade e diversidade da oferta cultural em valor simbólico e criativo, mas também potenciar a revitalização e regeneração de zonas e áreas urbanas, face às novas dinâmicas culturais de largo espectro potenciadas por esses espaços de criação. A medida permitirá contrariar a tendência da desertificação de Lisboa, gerar emprego e riqueza e contribuir para a geração de sinergias entre agentes culturais.

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C R I A R A l I S b o n f I l M C o M M I S S I o n

À imagem das Film Comission locais que existem já no Algarve e no Porto, é pertinente apostar-se no desenvolvimento da Lisbon Film Commission (com base no desenvolvimento do actual Gabinete de Apoio ao Cinema e Audiovisual), com o intuito de posicionar e promover a capital e respectiva área metropolitana como local de rodagem de produções nacionais e internacionais, potenciando e reforçando o cariz cultural internacional de Lisboa e a sua situação ímpar a nível nacional no que concerne ao sector audiovisual e do cinema. A Lisbon Film Comission deverá afirmar-se como gabinete transversal à CML, interlocutor entre o município e o sector do cinema, desburocratizando e agilizando os processos que dificultam a priori a atracção de possíveis investimentos e rodagens na cidade (licenciamentos, policiamento, cortes de tráfego, etc.). Concretamente, deve ter por objectivo o apoio aos profissionais do sector no que diz respeito, por exemplo, à produção e logística, à promoção e cooperação entre empresas de produção, à dinamização de redes de parcerias públicas e privadas, à articulação e mediação entre contactos profissionais da indústria, ao aconselhamento das melhores localizações para filmagens em Lisboa, à cedência de espaços públicos para filmagens e para estreias e à inserção de publicidade na rede de mupis e outdoors. Acima de tudo, a Lisbon Film Comission não pretende ser mais uma instância para subvencionar o sector cinematográfico; pelo contrário, deve, através do seu apoio institucional, reduzir os seus custos de produção e divulgação. Por outras palavras, a intenção não é criar uma fonte de financiamento suplementar, mas sim dar o auxílio necessário de modo a diminuir as despesas, bem como facilitar todo o trabalho organizacional inerente aos projectos.

M 1 9

C A n d I d A t A R A b A I x A P o M b A l I n A A P A t R I M ó n I o d A H u M A n I d A d e

É importante consolidar e dar continuidade à candidatura da Baixa Pombalina a Património Mundial da Humanidade, em curso desde 2004. Embora tenha sido constituída uma segunda comissão de acompanhamento do processo de formalização da candidatura a Património da UNESCO, a mesma ainda não foi oficialmente apresentada, sendo que a proposta necessita de maior fundamentação e, sobretudo, carece de um documento que pode ser determinante no processo de classificação: o plano de gestão da Baixa Pombalina. Tem que ser definida em concreto qual a zona a candidatar e a zona de protecção adjacente, bem como o foco (mais tangível ou intangível) do processo de classificação. A candidatura, e respectiva classificação, é uma oportunidade única de preservar e requalificar o grandioso e visionário Plano da Baixa de 1758. Não só dará protagonismo e visibilidade à zona da Baixa e áreas adjacentes como também promoverá internacionalmente a cidade de Lisboa e Portugal enquanto destino turístico cultural. A preservação e a requalificação do património deveriam ser pensadas tanto a nível do tangível (património edificado e urbanístico) como do intangível (espaço de memória e herança cultural). Dinamizar culturalmente a Baixa e aumentar a fruição do seu património e espaços públicos deverão ser alguns dos principais objectivos a atingir com a candidatura. Sendo esta uma zona central e simbólica da capital, contribuir-se-á assim para o enriquecimento e enaltecimento da identidade de Lisboa, promovendo a sua visibilidade e atractividade internacional e preservando os activos patrimoniais respectivos.

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M 2 0

I n S t I t u I R A A t R I b u I ç ã o d e u M P R é M I o A n u A l P A R A P R o j e C t o S

I n o VA d o R e S d e I n t e R V e n ç ã o e M b A I R R o S C R í t I C o S

A DMC, bem como muitos outros serviços municipais, tem entre as suas responsabilidades quotidianas a realização de actividades e projectos de intervenção em bairros problemáticos ou em outros espaços com realidades socioeconómicas e urbanísticas mais desfavorecidas. Para além disso, existem mesmo vários equipamentos culturais municipais localizados em bairros críticos da cidade de Lisboa, em particular no caso das bibliotecas e arquivos, que registam uma maior dispersão pela malha urbana, descentralizando a oferta para as áreas limítrofes da cidade. Por exemplo, várias são as bibliotecas localizadas em bairros afectos ao Programa Especial de Realojamento (PER), que, apesar das muitas adversidades diárias a que estão sujeitas, como problemas de segurança e manutenção do equipamento, tentam integrar e criar hábitos de leitura e convívio entre as comunidades e culturas urbanas locais.

Tendo em conta esta realidade, sugere-se a criação de um concurso anual, aberto aos serviços da DMC, em particular, e à CML, em geral, em que fosse atribuído um prémio a projectos e iniciativas pontuais de intervenção cultural nos bairros críticos. Esta medida visa premiar em especial os projectos e actividades mais inovadores e as experiências- -piloto (de preferência, que promovam a colaboração entre cultura e educação/juventude, entre cultura e acção social, ou entre cultura e turismo, para além de parcerias com entidades, públicas e privadas, no exterior da CML). Apoiar o trabalho específico de cada organismo com os seus utentes e estimular a articulação dos múltiplos serviços educativos dos respectivos equipamentos municipais com as comunidades, bem como potenciar o contacto com diferentes tipos de públicos (indo para além das crianças e dos jovens) e promover a expressão identitária multicultural, são outros dos objectivos a concretizar com esta iniciativa. O prémio, para além de prestigiar e reconhecer projectos de sucesso (dando visibilidade a boas práticas), permitirá também promover a auto-estima e motivação dos profissionais neles envolvidos, bem como estimular projectos direccionados para as expectativas das comunidades locais e fomentar a implementação de equipamentos culturais em bairros críticos.

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I n S t I t u I R u M f ó R u M I n f o R M A l P A R A A R t I C u l A ç ã o d o S e C t o R

M u S e o l ó g I C o d e l I S b o A

Lisboa, enquanto capital do país, concentra não só inúmeros museus nacionais, privados e públicos, alguns de reconhecida qualidade internacional, como também diversos museus de âmbito mais local, onde se incluem os municipais. Tendo este sector cultural particular escassez de público, é prioritário pensar-se na questão da sua articulação em rede. Uma solução seria agregar coerentemente museus, não segundo a sua tipologia e natureza institucional, mas segundo áreas geográficas da cidade, desenvolvendo estratégias de programação concertadas e dinamizando pólos em certas zonas da cidade com menor custo financeiro. Como é possível constatar nos mapas dos equipamentos culturais de Lisboa, no CD anexo a este relatório, os museus lisboetas localizam-se sobretudo no centro histórico e na zona de Belém, embora nesta zona os equipamentos distem bastante uns dos outros, impedindo a fácil deslocação entre museus. Assim, com base no conceito de “Museum Island”, e apoiados numa forte estratégia de promoção conjunta, sugere-se em especial a criação de um roteiro museológico que agregue os equipamentos que se localizam no eixo Santos-Ajuda-Belém. A implementação de medidas como a circulação de um autocarro/eléctrico exclusivo que circule pelos museus ou a instituição de um bilhete único para a rede são medidas importantes para concentrar e canalizar públicos, e para promover uma imagem coesa e articulada da museologia em Lisboa. Tendo a cidade um carácter simultaneamente bairrista e cosmopolita, os museus deveriam orientar as suas actividades segundo lógicas e estratégias não somente globais, como também de proximidade, ajustando-se às especificidades das diferentes zonas e públicos onde se localizam. No caso específico do eixo museológico Santos-Ajuda-Belém, frequentado sobretudo por turistas, é necessário que a oferta vá igualmente ao encontro do perfil, hábitos e motivações da procura diferenciada local, ajustando e adaptando em conformidade horários de funcionamento e serviços existentes, bem como o seu discurso museológico em termos da sua abordagem linguística e interpretativa.

Todas estas questões, bem como a própria dimensão da reflexão e da discussão temática em torno de áreas de investigação e áreas técnicas concretas, serão o foco prioritário da instituição de um espaço permanente de diálogo entre os diversos museus (nacionais, municipais, privados, etc.) existentes na cidade, consubstanciado na organização de um encontro de reflexão semestral, a ser dinamizado pela CML.

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C R I A R u M M e C A n I S M o I n t e g R A d o d e q u A l I f I C A ç ã o

e d I n A M I z A ç ã o C u l t u R A l d e e S P A ç o S P ú b l I C o S

Criação de um grupo de trabalho específico, com participação de elementos de diversas unidades orgânicas da DMC e de outros departamentos da CML relevantes para o efeito, com o objectivo concreto de desenvolver um programa integrado para a qualificação e dinamização cultural dos espaços públicos da cidade. De entre a actividade a considerar por parte deste grupo de trabalho sugerem-se desde já as seguintes quatro vertentes: > (i) lançamento de um programa de concursos anuais para apoio a projectos

transdisciplinares (cruzando artes performativas, visuais, audiovisual, música e outras áreas) de utilização e dinamização de espaços públicos na cidade (programa a ser gerido eventualmente pela EGEAC, seleccionando e contratualizando anualmente um conjunto de projectos de entre os propostos no concurso);

> (ii) lançamento de concursos de ideias para a requalificação de espaços públicos e para a ocupação temporária de espaços expectantes, envolvendo as escolas e universidades artísticas do concelho;

> (iii) lançamento de um programa de promoção de arte pública, com particular foco na promoção e protecção do espaço público em zonas críticas, com o envolvimento compulsivo de privados (promotores imobiliários) na sua implementação;

> (iv) lançamento de um projecto de simplificação (e atenuação) das regras e condições de licenciamento de esplanadas em pontos estratégicos da cidade e das regras e condições (e taxas) de ocupação de espaços públicos, no sentido de discriminar positivamente a sua utilização por actividades com carácter cultural e criativo.

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M 2 3

C R I A R u M P R o g R A M A I n t e g R A d o d e A P o I o t é C n I C o e l o g í S t I C o

à S P e q u e n A S e S t R u t u R A S C u l t u R A I S e A R t í S t I C A S

Criação de um programa integrado de apoio técnico e logístico às pequenas estruturas culturais e artísticas da cidade que tenham necessidade de apoio pontual a este nível para promover as suas actividades correntes.

Neste quadro, pretende-se que a CML possa disponibilizar aos pequenos agentes culturais da cidade um conjunto de condições e conhecimentos técnicos (pequenas sessões de informação e apoio jurídico, apoio ao nível da estruturação económica e financeira da actividade, da estruturação de candidaturas e projectos, da gestão de direitos de propriedade, etc.), e de meios logísticos (palcos, projectores, equipamento de som, equipamento técnico especializado) que elas necessitem para desenvolver a sua actividade e que face à sua pequena dimensão não estejam capacitados para obter por outra forma. Pretende-se estimular o desenvolvimento dos agentes culturais e criativos da cidade (em actividades que já desenvolvam, bem como novos projectos), em questões como a formalização jurídica, a captação de apoios, o apoio no desenvolvimento de planos de actividades, o aconselhamento, o apoio nas estratégias de divulgação e comunicação, a facilitação de sinergias com outros agentes ou projectos ou o envolvimento em redes que facilitem a comunicação ou permitam o contacto com agentes culturais mais experientes.

Este programa integrado, conciliando várias valências e estruturas da CML dentro da DMC e no seu exterior (em particular em áreas como a Juventude), será implementado a partir do frontdesk que mobiliza o atendimento municipal aos agentes culturais (Projecto 8) e tem duas vertentes principais: (i) a criação de uma bolsa de consultores (mobilizando entidades e personalidades externas e internas à CML que se associem a esta iniciativa, e que poderão evoluir mais tarde para business angels, centrados no apoio técnico a estas pequenas estruturas culturais e artísticas), e (ii) a dinamização de uma bolsa de material municipal (envolvendo as várias unidades orgânicas que na CML têm a seu cargo a manutenção e gestão destes materiais e equipamentos).

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M 2 4

f o M e n t A R A d I n A M I z A ç ã o d e P R o j e C t o S P A R A A d I S S e M I n A ç ã o

d A C u l t u R A C I e n t í f I C A

A componente da divulgação científica tem naturalmente um peso significativo na actividade cultural de Lisboa, como forma de promoção da vivência da cidade e das suas memórias, mas também, e principalmente, como forma de promoção do conhecimento. O objectivo desta medida passa por promover a divulgação dos pontos e marcos importantes da cultura científica na cidade de Lisboa, através da criação de roteiros, da elaboração de sinalética específica, da organização de eventos temáticos, e em geral da sensibilização para a investigação científica na (e da) cidade. A colaboração da DMC (em particular, a partir de um renovado GEO, mas não só, face à investigação que se desenvolve em diversas áreas) com as universidades e centros de investigação da cidade é aqui fundamental, podendo-se instituir um fórum informal de debate e troca regular de experiências neste campo.

A promoção do conhecimento científico na cidade e através da cidade será então implementada, a partir deste fórum de discussão, através da actuação específica das diversas entidades municipais em relação a uma miríade de projectos concretos, com base na solução específica encontrada para essa divulgação (pense-se por exemplo, na implementação do protocolo já assinado em relação às simetrias matemáticas nas calçadas de Lisboa). Para além deste tipo de actuações concretas, sugere-se igualmente o desenvolvimento de um roteiro da ciência na cidade, com capacidade de promover a divulgação científica de forma mais atractiva para um grande público, ou roteiros mais específicos adaptados a procuras especializadas ou à criação de novos públicos.

M 2 5

I M P l e M e n t A R e d I f u n d I R o P R o g R A M A l I S b o A – C I d A d e e R A S M u S

O programa Erasmus tem vindo a revelar inequivocamente impactos positivos na vida das cidades com pólos universitários. Não sendo excepção, Lisboa tem um grande potencial de exploração deste programa enquanto cidade capital, com condições climatéricas e uma vida cultural invejável, acabando todos os anos por ser o destino de quase dois milhares de estudantes. A presença destes estudantes na cidade tem sido além do mais um factor importante na vitalização do centro da cidade e uma fonte de procura interessante para muita da actividade cultural da cidade.

A implementação efectiva e a expansão do protocolo estabelecido entre a CML e as universidades de Lisboa em relação aos estudantes Erasmus na cidade é pois uma medida prioritária em termos da dinamização cultural da cidade e da sua promoção internacional, a partir do envolvimento de estudantes estrangeiros na vivência quotidiana da cidade, proporcionando-lhes uma experiência de vida rica, que se tem revelado um importante veículo de promoção da cidade na Europa, de consolidação da sua imagem externa e da fixação de agentes criativos.

Será portanto desejável um envolvimento e articulação crescente dos diversos agentes culturais, criativos e científicos da cidade de Lisboa com a CML na implementação desta medida (em particular as instituições de ensino e respectivas residências, mas também promotores culturais ou institutos culturais externos, por exemplo).

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M 2 6

R e e q u A C I o n A R e R e e S t R u t u R A R A d I V u l g A ç ã o e C o M u n I C A ç ã o

C u l t u R A l M u n I C I P A l

A comunicação externa e a divulgação cultural na CML passam por vários veículos e meios, consoante o tipo de informação (divulgação de actividades e programações, municipais ou outras, informação técnica, informação institucional, comunicação com a imprensa, etc.), de destinatários (público em geral, artistas e agentes culturais, turistas, média, etc.) e de origens (os vários organismos do DMC, a EGEAC, etc.). O seu instrumento mais visível e consistente é a Agenda Cultural de Lisboa (em suporte papel e online), da responsabilidade da Divisão de Programação e Divulgação Cultural, que se tem revelado o instrumento de divulgação mais exaustivo sobre a oferta cultural na cidade.

Importa no entanto equacionar esta multiplicidade de meios e recursos e ter uma visão abrangente e geral da função de comunicação e imagem da cultura na CML, com uma actuação de fundo em termos de desenho de comunicação que permita estruturar de forma mais integrada esta área. Para além do sugerido em relação ao Portal da Cultura (Medida 14) e à criação do frontdesk cultural (Projecto 8) e da Web TV (Projecto 4), importa repensar e questionar os objectivos, meios e recursos actualmente utilizados pela DMC, nas suas múltiplas dimensões (agenda, páginas web, mailing lists, mais ou menos genéricas, comunicação com a imprensa, meios de divulgação exteriores, etc.), e em particular as múltiplas sobreposições e ineficiências verificadas.

Note-se que a eficiência da comunicação da CML para o exterior sobre a vasta vida cultural e criativa da cidade de Lisboa deve passar pela exploração das articulações e complementaridades com a multiplicidade de outros agentes que produzem e divulgam quotidianamente essa informação na cidade (jornais, revistas e guias culturais, programas específicos das diversas instituições culturais da cidade, anuários culturais e outra informação de carácter profissional, etc.), sejam estes públicos ou privados, tenham ou não objectivos mercantis.

É pois importante reequacionar toda a estratégia de comunicação e divulgação cultural por parte da CML (bem como a sua orgânica), encontrando o equilíbrio entre os diversos objectivos a que esta tem de corresponder, e a articulação com os meios, competências e recursos existentes na cidade para o efeito. Em particular, a principal fonte de divulgação, a Agenda Cultural, deverá ser pensada, em complementaridade com outras publicações existentes na cidade e na própria CML (por exemplo, a Follow me, da ATL), de forma a posicionar-se o mais eficientemente possível face ao seu mercado-alvo (equacionando, por exemplo, aspectos como a expansão das actuais tiragens e pontos de distribuição, o papel da versão online, a possibilidade da passagem a edição bilingue, etc.).

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M 2 7

e S t R u t u R A R A R e d e d e b I b l I o t e C A S M u n I C I P A I S

A rede de bibliotecas municipais tem crescido e tem-se consolidado na cidade essencialmente a partir de decisões casuísticas e voluntaristas, muitas vezes tecnicamente pouco fundamentadas. Não obstante o resultado prático de proporcionarem novos espaços de contacto com o livro, a leitura e outros serviços em novas zonas de expansão da cidade, estas decisões não têm geralmente dado coerência, articulação e lógica estratégica global à rede no seu conjunto. Com poucas excepções (por exemplo, a biblioteca Orlando Ribeiro, em Telheiras), estes espaços, muitos em bairros PER, reúnem em geral condições relativamente deficientes (em termos da edificação, das condições de conservação, da possibilidade de se articularem com outros serviços de apoio, etc.), que agravam os já muito graves problemas de capacidade de manutenção e recuperação das bibliotecas mais antigas da rede e não resolvem o problema geral de falta de espaço (para depósito e serviços de apoio) e o sub-dimensionamento da biblioteca municipal central.

Importa pois equacionar um plano de longo prazo de consolidação e reestruturação da rede de bibliotecas municipais. Com base nos trabalhos já efectuados e em novos levantamentos, este programa de reestruturação deve equacionar quais os equipamentos que faz sentido manter, encerrar ou abrir, bem como as prioridades em termos dos investimentos necessários para manutenção e reabilitação do parque existente. O essencial é definir objectivos de longo/médio prazo, que possam ser assumidos politicamente e que evitem a discricionariedade de decisões estratégicas e possibilitem um planeamento e uma acção sustentada no longo prazo. Tem de passar por uma decisão clara sobre a aposta ou não na construção de uma (nova) biblioteca central, pela estabilização e programação das redes de bibliotecas de bairro e de proximidade (incluindo estudos sobre a sua hipotética expansão), pela análise da relevância da actuação das bibliotecas itinerantes, e pelo perfil dos diversos equipamentos especializados (Hemeroteca, Bedeteca, Biblioteca-Museu República e Resistência, Biblioteca PorTimor). A forma de articulação com um conjunto de equipamentos actualmente fora da rede (em particular Videoteca e Fonoteca municipais) tem igualmente de ser equacionada.

Este plano deve ainda considerar as possibilidades de articulação com as múltiplas bibliotecas não municipais (escolares, universitárias, de outras instituições públicas e privadas) existentes na cidade e a forma como em conjunto poderão melhor servir os interesses dos munícipes (na articulação dos seus catálogos, nos serviços que prestam, etc.).

Deverá ainda equacionar os diversos aspectos da missão da rede e dos serviços por ela prestados (por exemplo, tipos de serviços educativos que prestam, horários e regimes de funcionamento, etc.), seja em geral, seja em cada equipamento específico, adequando-o à comunidade destinatária, bem como a articulação dos serviços prestados (educativos, acesso à net, apoio à inclusão social, etc.) com a actividade de outros departamentos camarários (juventude e educação, apoio social, etc.), evitando as frequentes duplicações de iniciativas e projectos e potenciando actuações conjuntas onde claras sinergias podem ser obtidas.

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M 2 8

R A C I o n A l I z A R A R e d e M u n I C I P A l d e A R q u I V o S

e R e P e n S A R A S u A o R g  n I C A

A rede municipal de arquivos (actualmente, Arquivo Histórico e Intermédio, no Bairro da Liberdade, Arquivo do Arco do Cego e Arquivo Fotográfico Municipal) presta um conjunto de funções e serviços muito variados, relacionados com a gestão dos espólios respectivos e a gestão documental e da informação associada à tramitação com toda a administração municipal (na prática, todos os documentos produzidos e recebidos pela administração municipal, seja qual for a data, tipo ou suporte, desde a sua produção até ao destino final). Esta actividade inclui, para além da gestão documental e da informação, todo um conjunto de outras funções em campos como a avaliação, selecção e eliminação documental, a conservação e restauro, a digitalização e microfilmagem, a investigação histórica e os serviços educativos.

Em termos físicos, a gestão dos espaços e infra-estruturas disponíveis para a actividade tem também neste sector sido problemática ao longo dos anos e andado um pouco ao rumo de soluções casuísticas (ou de emergência) para fazer face a problemas concretos de necessidade de espaço, de condições adequadas de preservação ou mesmo de saúde pública. Importa portanto equacionar um plano de longo prazo de consolidação da rede municipal de arquivos que defina as prioridades em termos dos investimentos necessários para manutenção e reabilitação das infra-estruturas e equipamentos existentes. Este, em paralelo com a conclusão dos actuais investimentos nas instalações do Bairro da Liberdade (que permitirão a deslocação muito urgente do espólio ainda no Alto da Eira), tem de passar por uma decisão clara sobre a aposta ou não no projecto de construção de um novo edifício (que congregue os diversos espólios e serviços actualmente existentes), bem como pela prioritização dos investimentos estruturais, em termos materiais e imateriais, no sector, de forma a permitir um planeamento estratégico de fundo que ultrapasse as decisões casuísticas e os ciclos político-eleitorais.

Por outro lado, no âmbito desta lógica de racionalização, deve ser igualmente equacionada e discutida uma questão de fundo, associada à inserção orgânica e institucional da actual Divisão de Gestão de Arquivos na DMC, podendo ser reflectidas as vantagens e desvantagens de o Arquivo Municipal, com as funções transversais que actualmente desempenha, poder vir a configurar-se, ou não, como uma estrutura externa à Direcção Municipal de Cultura, transversal à orgânica departamental da CML (o que por outro lado, levantaria também questões quanto ao desempenho de funções mais directamente culturais nos arquivos histórico e fotográfico, por exemplo).

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M 2 9

e q u A C I o n A R , C l A R I f I C A R e C o n C R e t I z A R A M I S S ã o e

A S I t u A ç ã o o R g  n I C A d e o u t R o S e q u I P A M e n t o S e I n S t I t u I ç õ e S

C u l t u R A I S M u n I C I P A I S o u P A R t I C I P A d o S P e l o M u n I C í P I o

Importa equacionar e tornar clara a missão e a situação orgânica de muitos dos equipamentos e instituições culturais municipais ou participados pelo município, muitos dos quais foram surgindo de forma pontual, casuística e descoordenada, e posteriormente foram perdendo visibilidade e recursos aquando deixaram de ser uma prioridade política, por alterações na composição do governo municipal ou por simples reorientações estratégicas. Muitos destes equipamentos ou unidades orgânicas necessitam (ao nível do pelouro da cultura, ou, nalguns casos, ao nível da presidência ou da co-tutela de outros pelouros) de um debate e uma sistematização quanto à sua missão, objectivos e formas de sustentabilidade. É fundamental uma clarificação neste campo, de forma a fomentar a transparência, a aumentar a eficácia na gestão de longo prazo e a promover a motivação e empenho dos profissionais das estruturas camarárias. Entre muitos outros exemplos com actuação no campo cultural (UCCLA; Casa da América Latina; Fundação José Saramago; Africa.cont) importará equacionar uma redefinição estratégica e organizativa de estruturas como a Casa Fernando Pessoa, avaliando, por exemplo, a possibilidade de passagem a entidade públicas (ou público-privadas) auto-sustentáveis, na base de parcerias com agentes externos e na captação de mecenato e apoio financeiro privado (através de um modelo fundacional ou outro).

Da mesma forma, importa debater e clarificar opções estratégicas de fundo quanto ao perfil desejado para estruturas e espaços previstos em diversos outros projectos de reconversão urbana ou equipamentos municipais actualmente planeados ou em curso (por exemplo, Parque Mayer, nomeadamente o teatro Capitólio e outros espaços; Terreiro do Paço, nomeadamente o Pateo da Galé e outros espaços; etc.).

M 3 0

d e S e n V o l V e R o M u S e u d o d e S I g n e d A M o d A ( M u d e ) e e q u A C I o n A R

o S e u e S t A t u t o j u R í d I C o

O Museu do Design e da Moda necessita, como será natural, que lhe sejam garantidas no curto/médio prazo as condições para o crescimento sustentado ao longo dos próximos anos, nomeadamente em termos da instalação no edifício actual e da expansão correspondente ao resto do plano de investimentos previsto para este projecto (edifício e sua recuperação, desenvolvimento do plano expositivo, serviços de apoio, espólio, relação com a comunidade envolvente). No entanto, também como previsto no projecto original, prevê-se que esta estrutura deixe a médio prazo de ser fonte de encargos para o município, e que, pelo contrário, se venha a tornar financeiramente auto-sustentável, num quadro de colaboração estreita com o universo dos agentes culturais dos sectores do design e da moda na cidade, ou de captação de receitas pela via do mecenato e do interesse económico no sector. Neste contexto, importará equacionar o estatuto jurídico e o modelo orgânico e institucional do MUDE, considerando a hipótese de se vir a tornar uma entidade baseada numa ampla parceria público-privada (com estatuto fundacional ou outro que se venha a revelar adequado), auto-sustentável e fortemente ancorada na relação e na colaboração com parceiros externos, públicos e privados, no campo das indústrias culturais, particularmente do design e da moda.

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Projecto P1 lisboa Aproxima I M P l e M e n t A ç ã o d e C e n t R o S C u l t u R A I S d e P R o x I M I d A d e

o b j e C t I V o S A A t I n g I R

1.1 promover dinâmicas culturais locais de proximidade.1.3 apoiar iniciativas culturais de base local e comunitária.2.6 estimular o contacto da população com a criatividade e os ambientes criativos.3.1 promover a vivência e fruição da cidade.4.3 ampliar a articulação e promoção de parcerias com outras instituições culturais na cidade.

d e S C R I ç ã o

É indispensável criar em Lisboa uma rede de centros culturais de base local, espaços para experimentação e manifestações culturais descentralizadas de qualidade, assim como para o desenvolvimento de projectos de intervenção e animação urbana. Estes espaços de proximidade incluirão não só uma dimensão cultural mas também de participação cívica e de educação, atendendo à realidade socioeconómica onde estão inseridos. Serão assim espaços para actividades lúdicas e de ocupação do tempo livre, como também espaços de participação activa na vida social e cultural, que reforçarão a coesão social das comunidades.

O modelo de gestão destes centros de proximidade social e cultural assentará essencialmente em parcerias estabelecidas para o efeito entre agentes locais, os quais ficarão responsáveis pela gestão e programação do centro, através de concurso público, procurando-se uma não excessiva “institucionalização” dos mesmos. A parceria de agentes (com actuação no local) que se formar para concorrer à gestão de cada um destes centros de proximidade terá de ser constituída pelo menos por três entidades distintas (não havendo número máximo de parceiros), sendo que:a) pelo menos uma terá de ser uma associação cultural ou empresa da área cultural ou

criativa, com valências nos campos da criação, da produção cultural ou da exibição (em qualquer vertente disciplinar das áreas culturais e criativas);

b) pelo menos uma terá de ser um equipamento municipal na área da cultura, como, por exemplo, biblioteca geral ou especializada, núcleo museológico, núcleo de arquivo, galeria, espaço teatral, etc.;

c) pelo menos uma terá de ser uma entidade (pública, privada ou do 3º sector, cuja actividade principal seja a prestação de serviços à comunidade nos campo da acção social, do desporto, ou do lazer; por exemplo, instituição privada de solidariedade social, junta de freguesia, associação juvenil, recreativa ou desportiva, ginásio, equipamento desportivo, etc.).

O envolvimento com a comunidade envolvente será um critério fundamental na avaliação das candidaturas, consoante regulamento a ser definido em parceria pela DMC e a EGEAC. Reconhecendo que os equipamentos municipais existentes devem desenvolver um trabalho de proximidade com as comunidades locais envolventes, estes poderão ser locais preferenciais para ser o núcleo de alguns dos centros de proximidade. Caso não seja possível ou adequado, poder-se-á usar espaços pertencentes a juntas de freguesia ou a

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associações, desde que sejam espaços de cariz identitário (grassroots ou community talent) e abertos à comunidade em geral. Poderão ainda ser utilizados espaços expectantes ou abandonados, de propriedade pública ou privada, os quais poderão nalguns casos vir a ser cedidos pela autarquia no caso de estarem em condições para tal. Em qualquer dos casos, a adequação das infra-estruturas físicas ao plano de actividades previsto será igualmente determinante para a selecção das candidaturas.

A Câmara Municipal de Lisboa promoverá concursos para escolher os melhores programas plurianuais de intervenção (aconselha-se um máximo de 10 anos) e de seguida atribuirá, através de protocolo, a concessão dos centros às parcerias respectivas, que assumirão a gestão desse espaço de proximidade durante o período acordado. Findo esse período, a CML poderá lançar novo concurso para um novo programa plurianual de intervenção, ao qual poderão concorrer a mesma parceria ou outras, em igualdade de circunstâncias.

Prevê-se que o concelho de Lisboa possa comportar cerca de 10 a 12 centros deste tipo, atendendo às tipologias sócio-urbanísticas (por exemplo, Centro Cultural de Benfica, Centro Cultural dos Olivais, Centro Cultural de Campo de Ourique, Centro Cultural de Marvila, Centro Cultural de Alcântara, etc.). Contudo, numa primeira fase, dever-se-á começar com apenas quatro centros como projectos-piloto nos territórios que apresentarem as melhores candidaturas, para que se possa testar soluções e retirar ensinamentos para a extensão a uma rede alargada. Aconselha-se o lançamento de um segundo concurso para novos espaços dois anos após este primeiro.

Inconvenientes da não realização

> Distanciamento irreversível dos cidadãos na participação social e cultural na vida do bairro, da cidade e do país.

> inexistência na cidade de lisboa de espaços relacionais e de intercâmbio que promovam a participação cultural e combatam a exclusão social e cultural, em particular nos grupos de risco (jovens, imigrantes, população idosa, info-excluídos, desempregados, etc.).

> inabilidade da câmara municipal de lisboa em promover uma descentralização e funcionamento em rede.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – a egeac – empresa de gestão de equipamentos e animação cultural, e.m. será responsável pela dinamização e gestão do programa; a Direcção municipal de cultura será responsável por elaborar o regulamento, conjuntamente com a egeac.Entidades Parceiras – candidatas às parcerias locais: equipamentos culturais municipais, estruturas municipais nas áreas da acção social, educação e desporto, juntas de freguesia, instituições culturais com actividade local, associações culturais e recreativas, agentes culturais, assim como outras entidades interessadas em participar nas parcerias para gerir o centro de proximidade.Entidades Beneficiárias – comunidade em geral.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial e financiamento continuado – o plano de financiamento e auto-sustentação financeira de longo prazo de cada um destes centros deve estar previsto na respectiva candidatura. prevê-se que as estruturas parceiras entre si assegurem a maior parte do financiamento corrente necessário à manutenção dos centros. em termos do investimento inicial, poderá ser interessante explorarem-se as hipóteses previstas no por lisboa e prevê-se um apoio da câmara municipal de lisboa, nomeadamente na contrapartida municipal para o arranque do centro de proximidade (ou cedência espaços, caso se justifique). em termos de financiamento continuado, para além da hipótese de recurso ao mesmo (ou outro) programa de financiamento comunitário com fundos estruturais e de a câmara municipal de lisboa instituir uma contrapartida municipal para manutenção do centro de proximidade (no âmbito da parceria específica definida em cada caso), cada centro deve captar receitas, não só através da actividade gerada e das contribuições das entidades parceiras, como captando fundos através do apoio de entidades públicas e privadas diversas, no âmbito do mecenato, bem como patrocínios do tecido económico com interesse no local, nomeadamente para a realização das suas iniciativas e actividades.

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e s t r a t é g i a s p a r a a c u l t u r a e m l i s b o a

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Projecto P2

lisboa Acolhe P R o g R A M A d e d I n A M I z A ç ã o d e e S P A ç o S

P A R A A C R I A t I V I d A d e e A C R I A ç ã o

o b j e C t I V o S A A t I n g I R

1.5 atrair indivíduos e actividades criativas.1.8 afirmar lisboa no cenário global como cidade de forte intervenção internacional a nível cultural.2.2 Disponibilizar à cidade espaços para a criação e produção cultural.2.5 Favorecer a criação transversal de valor na economia através da incorporação de conteúdos criativos e simbólicos.2.6 estimular o contacto da população com a criatividade e os ambientes criativos.

d e S C R I ç ã o

Para atrair e fixar artistas e criadores, nacionais e estrangeiros, e para que estes façam de Lisboa a sua cidade de acolhimento, residência e trabalho, é essencial a existência de espaços de criatividade e de criação, em quantidade e a preços acessíveis, a existência de uma base dinâmica e de uma rede de artistas e de criadores expressiva e sustentada, bem como a possibilidade de realizar e participar em residências artísticas.

A Câmara Municipal de Lisboa, sendo não só proprietária de um património muito alargado, mas também responsável pela definição de normas relativas ao uso do solo e às formas de utilização do espaço e do imobiliário da cidade, através do planeamento urbano e do licenciamento, poderá actuar em quatro vertentes distintas, que compõem o programa municipal de dinamização de espaços para a criação e criatividade:> dinamização e gestão de uma bolsa de espaços devolutos e abandonados, através do

levantamento (actualizado regularmente) de espaços, não só propriedade da própria CML, como do estado e de privados, que possam ser usados temporariamente como ateliês, locais de apresentação de trabalho artístico e de ensaio, por um tempo limitado, e compensados apenas por uma renda simbólica (a CML prestará um serviço de sinalização, facilitação e mediação entre a oferta e a procura de espaços, atendendo às diferentes características e valências dos espaços e dos projectos);

> cedência de imóveis municipais por períodos alargados, para desenvolvimento de actividades artísticas, culturais e criativas, com a contrapartida de obrigação de recuperação e manutenção física dos espaços pelos seus utilizadores (algumas zonas ex-industriais, bem como os bairros históricos e os bairros de realojamento social têm diversos imóveis desocupados, alguns em avançado estado de degradação, ideais para este propósito);

> dinamização e facilitação da disponibilização e utilização de espaço industrial para localização de indústrias culturais e actividades intensivas em valor simbólico e criativo (as áreas expectantes pós-industriais e portuárias, onde a CML possui diversos imóveis, são particularmente interessantes e estimulantes, inclusive para criar dinâmicas urbanas de mais largo espectro);

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> implementação de um programa internacional de residências artísticas multidisciplinar, que será desenvolvido através de protocolos com entidades que se encontrem vocacionadas e possuam know-how específico, ficando a CML responsável, em primeiro lugar, por disponibilizar espaços e condições logísticas para as residências, em segundo lugar, por permitir o uso de equipamento técnico municipal e, em terceiro, por encontrar formas de divulgação dos trabalhos finais dessas residências (as residências artísticas promovem novas formas de convivência e colaboração entre artistas e criam pontes com as instituições).

Este programa, no conjunto das suas quatro dimensões, deve ser gerido por uma comissão que junte elementos da EGEAC e da DMC, que estabelecerá regulamento e normas claras para atribuição dos espaços tendo em conta os equipamentos, espaços e ateliers municipais actualmente já existentes e distribuídos.

Inconvenientes da não realização

> incapacidade de ultrapassar o problema do mercado imobiliário em oferecer por si só, pelo menos a preços comportáveis, espaços para a criação e produção artística.

> reforço da desertificação do centro da cidade e do desaproveitamento de áreas industriais expectantes.

> reforço do periferismo crónico da cidade enquanto local de criação, enquanto ponto de passagem e destino de uma comunidade artística contemporânea e em permanente mobilidade.

> reforço da fragilidade de um sector e de um mercado que se pretende sólido e de vocação internacional.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – Direcção municipal de cultura e egeac.Entidades Parceiras – entidades financeiras, nomeadamente bancos e seguradoras, instituto da segurança social, instituto de Habitação e reabilitação urbana (iHru), sociedade Frente tejo, administração do porto de lisboa, assim como outras entidades proprietárias de terrenos e imóveis desocupados e expectantes na cidade de lisboa, Faculdade de belas artes de lisboa, escola superior de teatro e cinema, conservatório Nacional, arco, mau-maus, etic, restart, Fundação calouste gulbenkian, ZDb, bem como outras entidades, públicas ou privadas, interessadas em dinamizar espaços e residências artísticas. Entidades Beneficiárias – estudantes, artistas e agentes culturais, nacionais e estrangeiros, especialmente em início de carreira; empresas das indústrias culturais e criativas.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

A - Financiamento do programa Investimento inicial + financiamento continuado: orçamento da Dmc/cml e da egeac (incluindo a criação e manutenção de uma base de dados de suporte à bolsa de espaços de criatividade); receitas provenientes de rendas simbólicas nalguns dos tipos de equipamentos e espaços cedidos/atribuídos. B - Financiamento da reconversão e manutenção dos espaços.Investimento inicial: câmara municipal de lisboa, no caso de espaços mais “formais” (ateliês, espaços para residências, equipamentos cedidos), nalguns casos em parceria com as entidades respectivas; parceiros e destinatários finais, nos restantes casos.Financiamento continuado – as entidades destinatárias devem encontrar financiamentos e ter capacidade para gerar receitas próprias que lhes permitam a manutenção dos espaços. esta capacidade será particularmente importante no caso das cedências de espaços de longa duração, bem como na reconversão de espaços industriais para indústrias criativas, onde as mesmas entidades devem ainda assegurar as condições requeridas e adequadas ao funcionamento da sua actividade. entre outras hipóteses de financiamento, as entidades destinatárias poderão recorrer a fundos comunitários, programas específicos de entidades como a Direcção geral das artes ou o programa ciência Viva, bem como patrocínios e mecenato, para as actividades e eventos com mais visibilidade mediática, e receitas próprias da sua actividade.

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Projecto P3

lisboa Integra f ó R u M d A I n t e R C u l t u R A l I d A d e

o b j e C t I V o S A A t I n g I R

1.2 promover o diálogo intercultural e a expressão identitária e explorar o potencial da cooperação transcultural.1.3 apoiar iniciativas culturais de base local e comunitária.3.3 preservar e devolver a memória e os imaginários da cidade e reflectir sobre a sua contemporaneidade. 4.1 melhorar a relação entre a cml e o consumidor/utente cultural.

d e S C R I ç ã o

Lisboa é uma cidade de encontros de vários povos, religiões e culturas, mas também de diferentes habitantes, visitantes e gerações, com uma indubitável vocação intercultural, factor caracterizador e diferenciador da sua história e da sua contemporaneidade.

O Fórum da Interculturalidade será um espaço com a função de desenvolver uma rede entre associações, comunidades e pessoas dedicadas a promover o diálogo intercultural e transcultural. O Fórum deverá acolher um centro de informação e intercâmbio e de cooperação cultural e técnica, de forma a contribuir para um melhor conhecimento e visibilidade das expressões culturais artísticas, dos eventos sociais e religiosos, das várias comunidades que coabitam na cidade.

Esta entidade será também responsável por um serviço de mediação da oferta e procura de eventos, relações ou intercâmbios e residências artísticas, e lançará periodicamente concursos para projectos de criação e produção artística que estejam interessados em utilizar determinado espaço público ou o espaço do próprio Fórum.

Numa fase inicial deverá ser dada a primazia aos jovens na apresentação de projectos, estabelecendo estes um vínculo com as suas comunidades, escolas e associações.

O envolvimento das estruturas locais, nomeadamente na gestão e programação do centro, é particularmente interessante e estimulante para este projecto, inclusive para criar dinâmicas urbanas de mais largo espectro e para a promoção de novas sociabilidades.

Este fórum deverá ter um conselho consultivo rotativo, com representação obrigatória da autarquia, que analisará e proporá, após levantamento sobre organizações locais e internacionais com interesse para o projecto, novos caminhos para uma relação intercultural ou transcultural. Uma zona de Lisboa sugerida para albergar este projecto é a do Martim Moniz.

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155 Inconvenientes da não realização

> Desaproveitamento do trabalho das comunidades, assim como de associações que habitam a cidade, e incapacidade de criar um elo entre projectos mais elitistas e os de cariz mais popular.

> perpetuar a incapacidade de comunicar e explorar a vertente multicultural fundadora da cidade, e consequente inviabilização da definição e exportação da imagem “real” de lisboa.

> impossibilidade de estabelecer redes de trabalho relacionando as vertentes artística, criativa e pedagógica com uma vertente social diversificada e de dinamização do espaço público.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – Dmc (em colaboração com a egeac).Entidades Parceiras – aciDi – alto comissariado para a imigração e Diálogo intercultural, associações culturais e recreativas, associações de moradores, representações de minorias, assim como outras organizações, nacionais e internacionais, que queiram participar neste projecto.Entidades Beneficiárias – população em geral, jovens, imigrantes, minorias étnicas e grupos desfavorecidos.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – cml, nomeadamente para a cedência e infra-estruturação do espaço de acolhimento do Fórum. Financiamento continuado – cml, em colaboração com entidades parceiras, na realização de projectos concretos; possibilidade de recurso a financiamento do instituto do turismo e a programas de diversos ministérios (economia, Negócios estrangeiros, cultura, trabalho e solidariedade social, etc.), bem como dos programas operacionais do QreN (por lisboa, po potencial Humano) e outras entidades e instituições associadas às diferentes comunidades estrangeiras em portugal (institutos culturais, embaixadas, associações, etc.)

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Projecto P4

lx Web tV C A n A l W e b P A R A l I S b o A

o b j e C t I V o S A A t I n g I R

1.4 garantir um amplo acesso a espaços e plataformas de sociabilidade e de produção e criação cultural.1.7 promover a internacionalização dos recursos culturais da cidade.2.3 aumentar o alcance e eficácia da informação e divulgação cultural.2.6 estimular o contacto da população com a criatividade e os ambientes criativos.4.1 melhorar a relação entre cml e o consumidor/utente cultural.

d e S C R I ç ã o

Lisboa necessita de um canal de comunicação audiovisual e interactivo, não só para divulgação da oferta cultural da cidade, mas especialmente para a divulgação de conteúdos artísticos, destinado a públicos diversificados, nacionais e estrangeiros, que procuram saber o que de melhor se faz em Lisboa em termos culturais e artísticos.

Este canal dedicar-se-á a assuntos de alguma forma relacionados com Lisboa, que interessarão não só a habitantes, estudantes e trabalhadores de Lisboa, mas também a visitantes ocasionais e turistas, nacionais e estrangeiros.

Deverá ser gerido por um gabinete editorial, com a colaboração permanente de web-designers, de forma a garantir-se critérios editoriais de qualidade, assim como capacidade de receber e editar os conteúdos enviados por artistas.

Será um espaço para divulgação do rico espólio tratado pelos diversos equipamentos municipais, nomeadamente pela Videoteca, Fonoteca e Arquivo Fotográfico, assim como para divulgação de propostas e produções independentes, como por exemplo, curtas-metragens, vídeo-arte e vídeo-dança.

A mobilização e colaboração da Associação de Turismo de Lisboa será imprescindível para que este site chegue mais longe e permita transmitir nos mercados internacionais e nos turistas que nos visitam uma imagem de Lisboa e da sua oferta cultural mais dinâmica e contemporânea.

Pretende-se que os conteúdos que alimentam a Lx Web Tv sejam igualmente divulgados em diversos canais de promoção da cidade (como por exemplo, canais internos de hotéis, redes de táxis, placares electrónicos da ATL, plataformas de embarque dos transportes públicos, espaços culturais da cidade, municipais ou outros, postos de turismo, transportadoras aéreas, etc.), pelo que o envolvimento de um conjunto de agentes diversificados numa parceria mobilizada pela ATL e pela entidade gestora da Lx Web TV será fulcral (congregando os operadores de transportes da cidade, os principais hotéis e operadores turísticos, os equipamentos culturais, municipais, públicos e privados, alguns produtores de conteúdos, etc.).

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157 Inconvenientes da não realização

> Desaproveitamento das novas formas de comunicação, nomeadamente da internet, para informar e interagir com os cidadãos, disponibilizando não só informação cultural como permitindo alojar demonstrações artísticas, em si.

> perca de uma oportunidade única para mostrar e divulgar o património material e imaterial, vasto e interessante, na posse dos diversos equipamentos e serviços municipais.

> Desaproveitamento dos canais de comunicação actualmente disponíveis para divulgação cultural a residentes, visitantes e turistas.

Entidades a envolver

Entidade Responsável pela implementação – entidade seleccionada para gerir a lx Web tV, através de um concurso coordenado pela cml, com participação da atl e da Dmc.Entidades Parceiras – atl, cml, através nomeadamente de organismos como a Divisão de programação e Divulgação cultural da Dmc, Videoteca municipal de lisboa, Fonoteca municipal de lisboa ou arquivo Fotográfico de lisboa, assim como outras entidades, empresas e artistas interessados em contribuir com informação e conteúdos artísticos; operadores de transportes e operadores turísticos e hoteleiros com actividade na cidade; principais equipamentos e instituições culturais da cidade.Entidades Beneficiárias – artistas e criadores, entidades culturais e artísticas da cidade, comunidade em geral, visitantes e turistas.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – cml (Dmc, turismo) e atl.Financiamento continuado – associação de turismo de lisboa; acordo com empresa de telecomunicações que albergará o site; receitas próprias provenientes da gestão da publicidade a incluir no site, patrocínios e mecenato.

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Projecto P5

Centro de Arte Contemporânea de lisboa ( K ü n S t H A l l e l I S b o A )

o b j e C t I V o S A A t I n g I R

2.2 Disponibilizar à cidade espaços para a criação e produção cultural.

d e S C R I ç ã o

Lisboa não possui estruturas públicas de pequena dimensão no campo das artes visuais e esse é um dos motivos da dificuldade em desenvolver um panorama artístico consistente. A existência de um centro de arte contemporânea, criado à semelhança de um “Künsthalle”, responderá a essa necessidade.

Será uma estrutura de pequena/média dimensão que cobre o campo não tratado pelas grandes estruturas mais institucionais (Museu do Chiado, Centro Cultural de Belém – Colecção Berardo, Fundação Calouste Gulbenkian, Culturgest), ou seja, votado a projectos experimentais de jovens artistas. Um projecto destes assegurará a apresentação de determinados projectos artísticos e expositivos, de cariz mais experimental, menos comercial, permitindo a mostra de artistas e projectos cuja natureza do seu trabalho encontra mais dificuldades em ser exposto, garantindo assim formas novas de legitimação artística.

O Centro de Arte Contemporânea de Lisboa possuirá um modelo de governo radicalmente novo em relação aos vigentes. A equipa que comporá a estrutura de funcionamento será minimal e os cargos de direcção (director e curador) serão escolhidos por concurso público e por períodos reduzidos de tempo (máximo dois anos), procurando-se deliberadamente fomentar uma elevada rotatividade ao nível da posição de curador. O orçamento de funcionamento de um projecto com estas características será relativamente reduzido, mas consentâneo com as suas ambições.

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159 Inconvenientes da não realização

> concentração dos mecanismos de legitimação artística nas grandes instituições, ou em instituições privadas, instituições estas que não têm muitas vezes capacidade para atentar a determinado tipo de artistas emergentes e ao carácter experimental de alguns projectos.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – egeac – empresa de gestão de equipamentos e animação cultural.Potenciais Entidades Parceiras – mecenas, galerias, fundações e instituições públicas nacionais e internacionais, coleccionadores privados, turismo de portugal, atl.Entidades Beneficiárias – artistas nacionais e estrangeiros, público em geral.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – cml (egeac), na criação ou adaptação do equipamento, podendo para o efeito recorrer a financiamento no quadro do por lisboa ou de outros programas nacionais ou internacionais, ou ao estabelecimento de parcerias com potenciais investidores privados (promotores imobiliários ou outros).Financiamento continuado – cml, receitas próprias, mecenas.

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Projecto P6

lisboa educa P R o g R A M A I n t e g R A d o d e C o n t A C t o C o M A A R t e

e A C u l t u R A n A S e S C o l A S d A C I d A d e

o b j e C t I V o S A A t I n g I R

2.6 estimular o contacto da população com a criatividade e os ambientes criativos.3.1 promover a vivência e fruição da cidade.4.3 ampliar a articulação e promoção de parcerias com outras instituições culturais na cidade.4.4 promover projectos de articulação e colaboração entre os organismos da Dmc e outras unidades orgânicas do universo cml.

d e S C R I ç ã o

É essencial organizar no âmbito das escolas dos 1º, 2º e 3º ciclos um programa de actividades regulares e continuadas de conhecimento, prática e fruição das artes e da cultura que promova quer melhores condições de acesso e de recepção das obras artísticas e culturais, quer o desenvolvimento pessoal de cada um dos seus participantes, estimulando neles a curiosidade, a imaginação, a criatividade, a capacidade de expressão, o sentido crítico, a auto-estima, o conhecimento do “outro” e do mundo que o rodeia.

O programa deverá ser multifacetado, envolvendo actividades diversificadas, nomeadamente trabalho em parceria entre artistas e professores no âmbito da actividade curricular, prática e experimentação artísticas no contexto da actividade extra-curricular, visitas a museus, exposições temporárias, espectáculos, itinerários, frequência de iniciativas de promoção da leitura, de divulgação da história da cidade e outras desenvolvidas pelas diversas instituições culturais municipais.

A concepção do programa deverá ser precedida de um mapeamento e avaliação das diversas iniciativas dispersas já existentes neste âmbito, quer de iniciativa das instituições da própria autarquia, quer da iniciativa de agentes culturais privados, de forma a identificar a existências de “boas práticas” às quais devam ser concedidas melhores condições de trabalho e funcionamento. Por outro lado, a implementação do programa deverá implicar um reforço do estatuto e dos meios dos serviços educativos das várias instituições culturais municipais, bem como um esforço de monitorização e avaliação permanente.

O programa deverá ser operacionalizado através de uma estrutura de coordenação leve e flexível, criada a partir das direcções municipais de cultura e de educação, a qual deverá funcionar como motor de uma rede com múltiplos actores – escolas, agrupamentos escolares, artistas, professores, instituições culturais e artísticas, instituições municipais – e de um projecto global de educação para as artes e para a cidadania que, embora a implementar faseadamente, deve ser equacionado no médio/longo prazo. Esta estrutura deve ser ainda responsável pela articulação e coordenação transversal do trabalho das diversas estruturas orgânicas responsáveis por questões logísticas e operacionais (por exemplo, transportes, apoio social escolar, apoio às associações juvenis, etc.).

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161 Inconvenientes da não realização

> perda significativa na formação de públicos da cultura, bem como na divulgação do que a cml tem para oferecer em termos de equipamentos e serviços culturais.

> Desincentivo ao aparecimento de jovens criadores e à promoção da criatividade e das artes.

> Desaproveitamento do potencial da cultura como forma de integração cultural e social.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – Dmc, pela dinamização do programa; grupo de trabalho conjunto com elementos da Dmc e Departamento de educação e Juventude (DeJ) da Direcção municipal de acção social, educação, Juventude e Desporto, pela implementação e coordenação.Entidades Parceiras – outras direcções municipais da cml, ministério da educação, estabelecimentos de ensino privados e sem fins lucrativos, assim como todas as entidades artísticas e culturais interessadas em aderir ao programa (e serviços educativos respectivos).Entidades Beneficiárias – alunos do 1º ao 3º ciclo.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – cml (orçamento corrente dos diversos serviços envolvidos).Financiamento continuado – cml (orçamento corrente dos diversos organismos envolvidos), ministério da educação e outras entidades parceiras.

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Projecto P7

estudar lisboa P R o g R A M A d e f o M e n t o à C o l A b o R A ç ã o C o M I n S t I t u I ç õ e S d o

e n S I n o S u P e R I o R e C e n t R o S d e I n V e S t I g A ç ã o d A C I d A d e

o b j e C t I V o S A A t I n g I R

3.1 promover a vivência e fruição da cidade.3.3 preservar e devolver a memória e os imaginários da cidade e reflectir sobre a sua contemporaneidade.3.4 impulsionar o conhecimento e o estudo das actividades culturais da cidade e das políticas que sobre elas incidem.3.5 contribuir para a democratização da cultura científica.

d e S C R I ç ã o

A colaboração com as universidades e com os centros de investigação pode ser desenvolvida em várias frentes e em diversas áreas, aproveitando, por um lado, os recursos humanos aí existentes para desenvolver ideias e projectos e, por outro lado, divulgando, alavancando e utilizando o conhecimento por eles gerado. Estas entidades podem contribuir, de uma forma mais abrangente, para a disseminação da cultura científica, o estudo sobre a cidade, a sua memória, a sua história, a sua arquitectura, a sua vida social, e para a produção de estudos e informação sobre a cultura e actividades culturais, entre muitos outros campos.

Esta cooperação será promovida por um Gabinete de Estudos Olisiponenses (GEO) reestruturado, que se afirme como o centro claro de coordenação da investigação sobre Lisboa na autarquia, em estreita colaboração com as restantes unidades orgânicas da Direcção Municipal de Cultura (DMC) com actividade nesta área. O necessário reequacionamento da missão e objectivos do GEO, bem como a redefinição do seu posicionamento na estrutura orgânica municipal, devem ser efectuados à luz de um conjunto de pressupostos, que passem, entre outros aspectos, pelo facto de esta entidade ser o núcleo fundamental da colaboração entre CML e instituições universitárias e de investigação da cidade, pelo menos, em relação aos seguintes aspectos:> estabelecendo as prioridades e os interesses de investigação para a DMC e sinalizando-os

junto das instituições de ensino superior e centros de investigação da cidade;> permitindo e agilizando o acesso aos serviços e à informação para realização de estudos,

de investigação aplicada e teses académicas;> promovendo o acolhimento de estágios curriculares, de cursos tão abrangentes quanto

as possíveis áreas de intervenção e de interesse da DMC; > promovendo a realização de estudos sobre temas específicos, efectuados internamente

ou no exterior, com participação de entidades de investigação que se dediquem ao estudo da cidade;

> promovendo parcerias e colaborações entre os diversos serviços municipais que organizam actividades de investigação, divulgação e publicação sobre Lisboa;

> editando teses e trabalhos académicos sobre Lisboa, sobre a sua história e passado, mas também sobre a cidade contemporânea e suas vivências, e promovendo a respectiva divulgação;

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> promovendo seminários, conferências e sessões de divulgação para públicos muito diversos sobre temáticas associadas a Lisboa e à olisipografia.

O programa reforçará o interesse e o conhecimento dos estudantes e dos investigadores pela cidade, assim como exercerá uma pressão transformadora nos serviços da autarquia, ao contactarem com visões diferentes e, desejavelmente, inovadoras e construtivas.

Inconvenientes da não realização

> Desaproveitamento do potencial da experiência e conhecimento do ensino superior e dos centros de estudos, assim como dos seus investigadores e estudantes.

> Desperdício do potencial da ciência para a promoção do património e do espaço público da cidade.

> incapacidade em gerar e aproveitar o interesse dos estudos olisiponenses.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – geo, pela dinamização e condução do programa, num contexto de profunda reestruturação da sua missão, valências e capacidade orçamental.Entidades Parceiras – Dmc, museu da cidade, arquivos e bibliotecas municipais, outras unidades da Dmc com funções e competências de investigação, observatório das actividades culturais, centro Nacional da cultura, bem como todos os centros de investigação e instituições de ensino superior que estejam interessados neste programa; outras entidades, nacionais e estrangeiras, interessadas na investigação sobre a cidade de lisboa. Entidades Beneficiárias – investigadores, estudantes do ensino superior e comunidade em geral.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – Direcção municipal de cultura, gabinete de estudos olisiponenses (não significativo).Financiamento continuado – geo (orçamento corrente), outras unidades da cml, Fundação para a ciência e tecnologia, programas comunitários de apoio à investigação; patrocinadores e apoiantes da realização de estágios curriculares e de edições específicas, mecenas, orçamentos próprios das unidades de i&D aderentes, para cada projecto concreto.

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Projecto P8

@lx g A b I n e t e d e I n f o R M A ç ã o e C o n t A C t o C o M A C u l t u R A

o b j e C t I V o S A A t I n g I R

1.7 promover a internacionalização dos recursos culturais da cidade.2.3 aumentar o alcance e eficácia da informação e divulgação cultural.2.4 Fomentar o empreendedorismo e o bom governo das organizações criativas.2.5 Favorecer a criação transversal de valor na economia através da incorporação de conteúdos criativos e simbólicos.4.2 melhorar a relação entre cml e os criadores e promotores culturais da cidade.4.5 incrementar as relações de cooperação e a articulação entre os diversos organismos com responsabilidades na área da cultura na cml (dentro da Dmc, na egeac, organismos autónomos).4.6 contribuir para o fortalecimento das relações entre os agentes culturais da cidade e a capacitá-los para o desenvolvimento de outras formas de governança e regulação.

d e S C R I ç ã o

A circulação de informação cultural, nomeadamente entre profissionais, quer nacionais quer estrangeiros, é claramente insuficiente, por não existir em Lisboa nenhuma entidade que reúna, trate e divulgue informação técnica sobre os agentes culturais e sobre as suas actividades. Por outro lado, a orgânica e os procedimentos administrativos da Câmara Municipal de Lisboa, associados a incipientes estruturas da maioria das entidades artísticas e culturais, levam a uma dificuldade na identificação e contacto permanente com interlocutores fixos e continuados na CML e a uma morosidade excessiva no relacionamento entre CML e agentes culturais, com consequente perda de oportunidades.

De forma a agilizar e potenciar a relação da CML com os agentes culturais, nacionais e estrangeiros, é necessário criar uma estrutura de interlocução, um frontdesk, sobretudo “virtual” (isto é, baseado na internet e nas comunicações electrónicas), embora também com uma componente presencial, vocacionado para estimular e desenvolver os contactos entre as estruturas da cidade, fornecer informações aos profissionais, prestar assistência na apresentação e acompanhamento de projectos, tratando informação, articulando contactos e promovendo ligações. O frontdesk, presencial, destinado a promover contactos mais personalizados, deverá situar-se em local de fácil acesso, numa zona turística e cultural.

A circulação de informação, que deverá ser em português e em inglês ou castelhano, não só contribuirá para desenvolver uma rede entre os agentes culturais nacionais como servirá para reforçar laços internacionais, proporcionando a entrada em redes internacionais.

O Gabinete de Informação Cultural deverá ser igualmente responsável por dinamizar uma bolsa de consultores, profissionais disponíveis para prestar apoio técnico e formação às pequenas estruturas culturais e artísticas.

Assim, para além de facilitar e estimular o desenvolvimento dos agentes culturais e criativos da cidade, fomentará o aparecimento de novos projectos, apoiando-os, numa lógica de “ponto de contacto”, em questões como a da sua formalização jurídica, a captação de apoios, a divulgação do seu projecto, ou a facilitação da comunicação e interlocução com

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outros agentes e projectos que com eles possam ser articulados, potenciando sinergias.Este gabinete deverá trabalhar em estreita colaboração com outras entidades públicas, designadamente com o Ministério da Economia, com o Ministério da Cultura e com o Ministério dos Negócios Estrangeiros (aproveitando e potenciando colaborações e articulações com entidades como o Turismo de Portugal, o IACEP, a DGArtes, o Instituto Camões, etc.), bem como com instituições privadas de reconhecida importância no sector cultural e os diversos programas da União Europeia com relevância para o sector.

Inconvenientes da não realização

> Dificuldade em diferenciar lisboa, a sua oferta cultural e os seus artistas.

> inabilidade em informar e atrair profissionais estrangeiros, nomeadamente mediadores culturais.

> perda de competitividade e de oportunidades de negócio do sector cultural de lisboa.

> incapacidade da cml em se adaptar às novas realidades de comunicação e informação, oferecendo um verdadeiro serviço público.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – Dmc(Divisão de programação e Divulgação e cultural ou entidade que a substitua numa nova orgânica, capacitada com meios e recursos para este fim).Entidades Parceiras – entidades da administração pública central diversas (nas áreas da cultura, economia e turismo, negócios estrangeiros, emprego, educação e formação, desenvolvimento regional, etc.), pontos de contacto nacionais dos diversos programas europeus, bem como outras entidades de reconhecida importância no sector cultural.Entidades Beneficiárias – comunidade em geral, artistas, entidades culturais e artísticas, nomeadamente associações culturais e recreativas, agentes culturais e empresas do sector cultural, quer nacionais quer estrangeiros.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – Dmc, geo (não significativo).Financiamento continuado – geo (orçamento corrente), outras unidades da cml, Fct, programas comunitários de apoio à investigação; patrocinadores e apoiantes da realização de estágios curriculares e de edições específicas, mecenas, orçamentos próprios das unidades de i&D aderentes, para cada projecto concreto.

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Projecto P9

Renovar o Conceito de Museu da Cidade

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3.1 promover a vivência e fruição da cidade.3.2 garantir a preservação e requalificação do património, tangível e intangível, e o arquivo e depósito da memória, nos seus vários suportes e meios.3.3 preservar e devolver a memória e os imaginários da cidade e reflectir sobre a sua contemporaneidade.

d e S C R I ç ã o

É indispensável repensar o Museu da Cidade, desenvolvendo um novo conceito e projecto museológico que retrate não só o passado da cidade, mas igualmente a cidade na sua contemporaneidade, mostrando o seu património material e imaterial e a sua identidade.

O Museu da Cidade deverá representar Lisboa para além da Implementação da República, evitando um discurso estático e institucionalizado que impede uma representação interpretativa e comunicativa da cidade e que afasta o público, quer lisboetas quer turistas. O Museu da Cidade deverá reequacionar seriamente os seus objectivos, métodos e percursos expositivos, reestruturando o seu discurso museológico, tanto ao nível do alargamento da sua colecção como ao nível da representação da cidade, expondo igualmente elementos que, apesar de imateriais e efémeros, contribuem fortemente para a identidade da cidade de Lisboa.

Esta reestruturação deverá contemplar igualmente a assunção da integração efectiva dos restantes museus municipais da responsabilidade do DMC num conjunto polinucleado e coerente, nomeadamente o Museu Antoniano, o Museu do Teatro Romano e o Museu Rafael Bordalo Pinheiro, assumindo-os como núcleos expositivos do Museu da Cidade, bem como a criação de um Centro Interpretativo de Lisboa, num local central, designadamente no Terreiro do Paço, que funcione como a nova “porta” cultural da cidade, não só em termos turísticos mas também históricos e culturais, e suscitando o interesse para visitar os restantes núcleos expositivos do Museu da Cidade. Outros núcleos actualmente existentes ou previstos (na Casa dos Bicos, nas galerias romanas da Baixa, etc.) serão igualmente importantes para consolidar esta estrutura múltipla e diversa em torno de um conceito mais abrangente e contemporâneo de Museu da Cidade.

Em paralelo, será necessário um investimento urgente na recuperação do Palácio Pimenta, edifício onde se manterá o núcleo principal do Museu da Cidade, garantindo igualmente uma expansão física do mesmo para as imediações (o financiamento está já assegurado).

Dever-se-á equacionar fortemente a passagem do Museu da Cidade para a alçada da EGEAC, tal como acontece com os restantes espaços museológicos do município, o que permitirá agilizar a estruturação da exposição e da programação, bem como dinamizar a prestação de serviços e o merchandising do museu. Esta alteração implicará necessariamente uma autonomização do serviço de arqueologia, actualmente no âmbito do museu, que presta serviços transversais à CML e que fará sentido manter na dependência da DMC, e não da EGEAC.

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Será igualmente indispensável atender e melhorar aspectos funcionais do Museu da Cidade, de grande impacto para o visitante:> dispor de um site actualizado que promova e divulgue convenientemente o Museu da

Cidade;> melhorar e modernizar a sinalética e a informação disponibilizada ao longo do percurso

expositivo, fazendo uso de meios audiovisuais interactivos;> garantir a disponibilização do material informativo em inglês e castelhano;> criar um pequeno espaço de lazer, com cafetaria, loja e acesso à internet, e com projecção de

imagens do imaginário de Lisboa.

Inconvenientes da não realização

> incapacidade em potenciar a projecção de lisboa, da sua história e das suas vivências, na própria cidade, no território nacional e no estrangeiro.

> continuar a espelhar uma realidade e uma identidade lisboetas estáticas e incompletas por não acolher e divulgar a vivência contemporânea.

> incapacidade da cml em dinamizar e explorar os seus principais recursos e equipamentos culturais.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – museu da cidade: Dmc e egeac, na revisão do estatuto e da dependência orgânica; museu da cidade, na reorganização interna e dos diferentes núcleos.Entidades Parceiras – Diversas unidades da Dmc com responsabilidades e actuação concreta na preservação e estudo da memória da cidade e na reflexão sobre a sua contemporaneidade, como, por exemplo, o geo, Videoteca, Fonoteca e arquivo Fotográfico de lisboa, assim como outras entidades, públicas e privadas, de âmbito local ou nacional, interessadas em contribuir para este projecto. Entidades Beneficiárias – lisboetas, visitantes, turistas e comunidade em geral.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – cml(montante já previsto para a recuperação e expansão do núcleo do campo grande); cml (com participação da atl e de outras parcerias), para um novo núcleo da praça do comércio.Financiamento continuado – cml, atl, receitas próprias, patrocínios e mecenato.

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Projecto P10

lisboa Promove P R o g R A M A d e P R o M o ç ã o I n t e R n A C I o n A l d A S A R t e S

e d o S b e n S C u l t u R A I S d e l I S b o A

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1.5 atrair indivíduos e actividades criativas à cidade.1.6 impulsionar a excelência e a qualidade, aproveitando as vantagens da massa crítica em termos nacionais.1.7 promover a internacionalização dos recursos culturais da cidade.1.8 afirmar lisboa no cenário global como uma cidade de forte intervenção a nível cultural.

d e S C R I ç ã o

A reduzida dimensão do mercado português e a situação periférica de Lisboa no contexto europeu e mundial, quer em termos geográficos quer em termos da sua visibilidade e importância económica, provoca uma escassez de obras, eventos e estruturas artísticos e culturais de dimensão internacional que atraiam ou alcancem regularmente agentes culturais mundiais, assim como torna o sector cultural e os seus artistas frágeis e pouco preparados para enfrentar os desafios que a globalização lhes impõe (há excepções pontuais na literatura, cinema e música, entre outras áreas criativas, mas que não deixam de ser efectivamente excepções). Neste contexto, é essencial que Lisboa aposte, por um lado, na internacionalização dos seus artistas e na exportação dos seus bens culturais, junto dos circuitos artísticos e mercados de arte internacionais, e, por outro lado, na atracção e vinda de consumidores e intermediários culturais estrangeiros, particularmente profissionais do sector.

Este programa actuará em três campos de acção:> promover a vinda regular e organizada de mediadores, provenientes das mais diversas

áreas artísticas e com áreas de interesse e especialização diferenciados, através de um programa de convites sistemático e continuado a mediadores culturais, em parceria com outras entidades (do sector público, mas também do sector privado, não só da área cultural mas também dos média, da promoção de eventos, etc.) que operam na área da cultura (alguns dos quais já trazem aliás regularmente a Lisboa mediadores), garantindo assim economias de escala e notoriedade;

> desenvolver uma política de convite e de atribuição de espaços municipais a representações de organizações culturais e sociais internacionais, nomeadamente as que actuam na área do Mediterrâneo e do Atlântico, para que tenham a sua sede ou representações em Lisboa, permitindo assim tornar Lisboa numa cidade de forte intervenção internacional, estimulando o contacto e a presença nos territórios culturais e sociais transnacionais;

> permitir aos agentes culturais e artísticos de Lisboa, através de suporte institucional e/ou financeiro, deslocarem-se em representação ao estrangeiro, nomeadamente para estarem presentes em determinadas feiras e eventos internacionais, efectuarem digressões ou mostrarem o seu trabalho em instituições internacionais de renome, desde que demonstrem uma clara ligação a Lisboa.

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Este programa, conduzido pela Direcção Municipal de Cultura, que elaborará os respectivos regulamentos e se encarregará da gestão operacional quotidiana, contribuirá não só para promover o sector cultural de Lisboa como também a própria cidade, dinamizando e prestigiando os seus agentes e instituições, assim como as suas actividades e eventos culturais, e reforçando Lisboa como destino cultural e turístico. Neste sentido, será importante que este projecto seja desenvolvido em estreita colaboração com a Associação de Turismo de Lisboa, ao nível das suas orientações estratégicas e da sua formulação e gestão.

Inconvenientes da não realização

> Dificuldade em diferenciar a oferta artística e cultural, assim como os artistas de lisboa dos de outras cidades.

> incapacidade de chegar a potenciais consumidores culturais estrangeiros.

> lisboa mais longe do mundo, dos centros de decisões e do reconhecimento como parceira nas decisões transnacionais.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – Direcção municipal de cultura.Entidades Parceiras – associação de turismo de lisboa, ministério dos Negócios estrangeiros, ministério da cultura, ministério da economia, Direcção geral das artes, entidades que regularmente acolhem residências internacionais e convidam mediadores destacados a nível mundial, como por exemplo a Fundação calouste gulbenkian, Fundação luso-americana, Zé dos bois, centro cultural de belém, arte lisboa, assim como qualquer outra entidade, pública ou privada, interessada em promover a internacionalização da cidade de lisboa.Entidades Beneficiárias – artistas, agentes culturais e entidades culturais e artísticas que pretendam e tenham capacidade para se internacionalizarem, assim como organizações culturais e sociais internacionais que pretendam ter uma representação em lisboa.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – câmara municipal de lisboa (Dmc), através do seu orçamento corrente e da disponibilização de espaços municipais para as organizações internacionais.Financiamento continuado – cml (Dmc) e parceiros, através dos seus orçamentos correntes; associação de turismo de lisboa, assim como patrocínios e mecenato, para a vinda de mediadores internacionais e para a deslocação dos agentes lisboetas ao estrangeiro; as próprias organizações internacionais, na gestão corrente das suas representações locais; instituto camões, para acções de divulgação no estrangeiro da cultura portuguesa.

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Projecto P11

Criação do Centro de Paisagem e Cultura urbana de lisboa

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3.1 promover a vivência e fruição da cidade.3.3 preservar e devolver a memória e os imaginários da cidade e reflectir sobre a sua contemporaneidade.3.5 contribuir para a democratização da cultura científica.

d e S C R I ç ã o

Lisboa necessita de um espaço dedicado ao debate da urbanidade contemporânea, e do seu futuro, nas suas múltiplas vertentes: urbanismo e arquitectura, paisagem urbana, ecologia urbana, economia e geografia urbanas, sociologia e política urbanas, antropologia urbana, pensamento em torno das cidades, ficções urbanas. Este centro deverá ser também um think tank, afirmando a enorme relevância do lugar da cidade na civilização, na sustentabilidade, na filosofia, na política, e, para tal, deverá apoiar, de forma muito firme, projectos, mostras, exposições, debates e formação nestas áreas.

Este centro de reflexão deverá albergar uma estrutura operacional de acção pública em torno destes temas, dando apoio aos mais diversos projectos no âmbito da cultura urbana, não só de âmbito metropolitano, mas também nacional.

O Centro de Paisagem e Cultura Urbana de Lisboa terá a missão de promover, planear, debater e divulgar projectos que afectem a cidade contemporânea e a sua população e ocupará um lugar fundamental na construção de cidadania ao ser um pólo essencial no debate público sobre estas questões. O centro incluirá uma biblioteca especializada e deverá ter uma forte ligação às universidades e centros de investigação. Por outro lado, este centro deverá incluir-se igualmente nos roteiros internacionais dos eventos ligados à cultura e pensamento urbano.

A escolha do Pavilhão de Portugal para este projecto teria uma carga simbólica muito importante.

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Inconvenientes da não realização

> Distanciamento irreversível dos cidadãos na participação cívica, social e cultural na vida da cidade e do país.

> incapacidade em articular as diversas escalas de lisboa: cidade versus capital, concelho versus aml, centro versus periferias, município versus juntas de freguesia.

> Desaproveitamento da aprendizagem, assim como dos efeitos mobilizadores e de arrasto de projectos de grande impacto na cidade de lisboa, como por exemplo a reabilitação da frente ribeirinha e a dinamização da baixa-chiado.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – câmara municipal de lisboa (egeac), na dinamização e mobilização do projecto, angariando possíveis parceiros. a partir daí, deveria ser gerido por um conselho de representantes públicos e privados, multidisciplinar, nomeado para o efeito, mas independente da estrutura da cml. Entidades Parceiras – ordem dos arquitectos, ministério das obras públicas, transportes e comunicações, ministério do ambiente, ordenamento do território e Desenvolvimento regional, universidades e centros de investigação com valências nestas matérias, assim como outras entidades interessadas em participar neste centro. Entidades Beneficiárias – comunidade em geral.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – cml (e restantes parceiros), nomeadamente na adaptação do edifício que albergará o centro. Financiamento continuado – cml, parceiros, Direcção geral das artes, ministério da economia e da inovação, ministério do ambiente, ordenamento do território do Desenvolvimento regional (DgotDu), turismo de portugal, mecenas, patrocinadores, candidatura de projectos concretos a programas internacionais de apoio à investigação e ao estudo das cidades.

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Projecto P12

Wireless lx A C e S S o g R A t u I t o à I n t e R n e t S e M f I o S e M e S P A ç o S P ú b l I C o S

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1.4 garantir um amplo acesso a espaços e plataformas de sociabilidade e de produção e criação cultural.3.1 promover a vivência e fruição da cidade.

d e S C R I ç ã o

Para que se promova o desenvolvimento cultural e social em determinadas zonas da cidade, é importante que se criem dinâmicas que fomentem novos hábitos culturais, de lazer e consumo e uma maior vivência dos espaços públicos da cidade, potenciando novas sociabilidades e formas de convivialidade.

O acesso à internet é nos dias hoje uma ferramenta essencial e eficaz na dinamização de espaços e, simultaneamente, de democratização nas acessibilidades, razão pela qual a Câmara Municipal de Lisboa deverá promover o acesso gratuito à internet sem fios em determinados espaços da cidade.

Este projecto terá duas vertentes. Numa primeira vertente, disponibilizar-se-á internet wireless gratuita em espaços de acesso público concessionados pela autarquia, nomeadamente miradouros, cafés e quiosques, bem como em todos os equipamentos culturais municipais. Numa segunda vertente, procurar-se-á disponibilizar internet gratuita em espaços públicos de outro tipo, em particular em praças e jardins de grande afluência. Pretende-se que inicialmente esta disponibilização seja feita em algumas zonas mais centrais e frequentadas da cidade, e posteriormente descentralizar, abarcando zonas menos centrais, mas que importa igualmente dinamizar, como ruas, praças e jardins dos mais variados bairros e periferias da cidade de Lisboa.

A CML deverá incluir nos novos contratos de concessão municipais de espaços públicos uma cláusula que obrigará o concessionário à disponibilização de acesso à internet sem fios de forma gratuita aos seus utentes. Nos casos em que os espaços já se encontrem concessionados, a CML poderá tentar chegar a acordo com os responsáveis pela concessão e com a empresa que disponibilizará o serviço de internet. Disponibilizar o acesso wireless à internet implica cada vez menos menor investimento e comprova-se um rápido retorno pelo aumento da frequência dos espaços.

A CML disponibilizará também, nos diversos equipamentos culturais municipais espalhados pela cidade, acesso gratuito à internet wireless.

No que diz respeito a ruas, praças e jardins, sem espaços explorados ou concessionados pelo município, a CML poderá funcionar como agente facilitador, motivando e ajudando associações de comerciantes e de moradores, juntas de freguesia e unidades municipais desconcentradas a disponibilizar esta acessibilidade.

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173 Inconvenientes da não realização

> Desaproveitamento do potencial que as novas tecnologias têm para permitir um aumento da qualidade e frequência da vivência dos espaços da cidade de lisboa.

> Desajustamento de lisboa em relação ao novo estilo de vida urbano e de outras capitais europeias e a novas formas de promoção da sociabilidade.

> reforço da desertificação do centro da cidade.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – cml, numa parceria entre a cultura (Dmc) e os espaços públicos Entidades Parceiras – Diversas orgânicas unidades da cml com responsabilidades nos espaços públicos, equipamentos culturais da Dmc e da egeac, associações de comerciantes, associações de moradores, sociedades de reabilitação urbana, juntas de freguesia, operadores de comunicações electrónicas.Entidades Beneficiárias – população em geral, artistas e criadores, produtores e mediadores culturais, estudantes, nacionais, estudantes erasmus e turistas.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – cml, com possibilidade de candidatura ao por lisboa ou a outros quadros de apoio para as novas tecnologias; parceiro na área das comunicações electrónicas e infra-estruturas digitais.Financiamento continuado – cml, atl, empresas concessionárias, associações de comerciantes, associações de moradores, acordos com empresas que disponibilizam acesso à internet; patrocinadores.

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Projecto P13

grupo de trabalho para o desenvolvimento do turismo Cultural em lisboa

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1.7 promover a internacionalização dos recursos culturais da cidade1.8 afirmar lisboa no cenário global como uma cidade de forte intervenção internacional a nível cultural2.3 aumentar o alcance e eficácia da informação e divulgação cultural3.3 preservar e devolver a memória e os imaginários da cidade e reflectir sobre a sua contemporaneidade4.4 promover projectos de articulação e colaboração entre os organismos da Dmc e outras unidades orgânicas do universo cml

d e S C R I ç ã o

Apesar da Associação de Turismo de Lisboa ser responsável pela promoção e informação turística da cidade de Lisboa, assim como pelo desenvolvimento turístico sustentado quer da cidade de Lisboa, quer da região de Lisboa, e a presidência da direcção desta associação pertencer à Câmara Municipal de Lisboa, a importância do turismo, nomeadamente do turismo cultural, para a cidade de Lisboa exige uma coordenação mais activa e efectiva entre estas duas entidades.

A definição da identidade de Lisboa e do território simbólico, a preservação e recuperação do património material e imaterial, o dinamismo e vitalidade do sector cultural, o estado e aproveitamento do espaço público são questões fundamentais na vida de uma cidade e, como tal, da responsabilidade da CML.

Dada a actual falta de coordenação efectiva entre a área da cultura da CML e a ATL, é indispensável a criação de um grupo transitório de trabalho que deverá começar por fazer um ponto de situação da informação disponível e dos assuntos pendentes, de ambas as partes, e por debruçar-se sobre as questões mais prementes e resolvê-las. O legado deste grupo será a instituição de práticas de articulação entre a área da cultura da CML e a ATL, nomeadamente na definição de actuações comuns, no estabelecimento de prioridades e na partilha de instrumentos e meios disponíveis.

Existem diversas áreas que exigem rápida atenção deste grupo de trabalho, designadamente: debilidade da sinalética e instrumentos informativos relativos aos recursos culturais da cidade, o mau estado dos acessos a monumentos e património cultural classificado, os espaços públicos mal cuidados, a inexistência de roteiros do simbólico da cidade e da sua contemporaneidade, a inexistência ou má qualidade de sites institucionais na internet, ou o funcionamento de equipamentos culturais desadequado aos ritmos e horários de vida actuais.

Este projecto contribuirá não só para reforçar Lisboa como destino turístico, como para dignificar o sector cultural da cidade, identificando e actuando rapidamente sobre os principais estrangulamentos e problemas associados ao usufruto cultural da cidade por parte dos seus turistas e visitantes, aspectos esses cuja responsabilidade se encontra dispersa por uma multiplicidade de organismos e unidades orgânicas ligadas à CML (e, nalguns casos, também outras entidades).

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175 Inconvenientes da não realização

> incapacidade de competir no mercado do turismo cultural, nacional e internacional.

> Desaproveitamento do potencial do património cultural e dos espaços públicos lisboetas.

> promoção de uma realidade e identidade lisboeta incompleta e desajustada, que não acolhe a vivência contemporânea.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – grupo de trabalho bilateral cml – Direcção municipal de cultura e associação de turismo de lisboa.Entidades Parceiras – outras entidades municipais com competências específicas nas áreas identificadas como problemáticas; as instituições culturais da cidade (as públicas, municipais e as nacionais, assim como as privadas), consultadas e envolvidas no apuramento dos problemas e constrangimentos, assim como nas formas e contributos para a sua resolução.Entidades Beneficiárias – turistas, nacionais e estrangeiros, e comunidade em geral.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

Investimento inicial – cml, atl (não significativo);Financiamento continuado – não aplicável. a partir da finalização da actividade do grupo de trabalho temporário e da implementação das boas práticas e mecanismos de articulação convenientes, o financiamento da actuação fica por conta dos orçamentos correntes das entidades com as competências respectivas.

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Projecto P14

lisbon Summer of Arts P R o g R A M A I n t e R n A C I o n A l d e f o R M A ç ã o d e j o V e n S A R t I S t A S

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1.5 atrair indivíduos e actividades criativas.1.6 impulsionar a excelência e a qualidade, aproveitando as vantagens de massa crítica em termos nacionais. 1.7 promover a internacionalização dos recursos culturais da cidade.2.6 estimular o contacto da população com a criatividade e os ambientes criativos.4.4 promover projectos de articulação e colaboração entre os organismos da Dmc e outras unidades orgânicas do universo cml.

d e S C R I ç ã o

Aproveitando o facto de Lisboa ser um destino internacional de Verão, reconhecido quer pelo clima quer pela proximidade do mar, e de Agosto ser um mês em que a cidade se encontra vazia e com grande parte das suas instituições e equipamentos praticamente fechados, propõe-se a realização anual, durante o mês de Agosto, de um programa internacional de formação avançada de alta qualidade destinada a jovens estudantes de artes. Este programa será mais do que um complemento à formação artística e técnica convencional, pois proporcionará, para além de formação avançada de topo, a partilha de experiências pessoais e profissionais e um alargar da rede de contactos pessoais dos jovens artistas e profissionais internacionais que nele participem. Funcionará na prática como uma residência artística em contexto de estágio profissionalizante, através do desenvolvimento de projectos individuais ou de grupo pelos participantes, aproveitando o contacto com artistas e especialistas consagrados a nível internacional, que serão convidados para conduzirem os trabalhos e orientarem esta formação. Em cada ano será convidado um conjunto muito restrito de personalidades de renome (artistas, técnicos, professores, curadores, etc.), consagradas a nível mundial, que serão responsáveis pela formação e orientação dos jovens que se candidatarem para frequentar este programa, potenciando que desta forma se atraiam os melhores estudantes e jovens artistas mundiais.

Em cada ano a Lisbon Summer of Arts será dedicada a uma área artística específica (mais ou menos abrangente: por exemplo, dança contemporânea, teatro, música clássica, bailado, jazz, fotografia, artes visuais, cinema, multimédia, cinema de animação, etc.), sendo nomeada uma pequena equipa (director e programador) para, durante o ano precedente, preparar e organizar o evento, em colaboração com representantes das escolas artísticas e das estruturas e equipamentos culturais locais mais relevantes para o efeito.

Este programa será promovido em parceria estreita com as principais instituições de ensino artístico, técnico, profissional e superior da cidade e será coordenado e organizado por uma reduzida equipa mista, de que farão parte esse director e programador, bem como artistas e pedagogos de reconhecido mérito, nacionais e estrangeiros. Esta equipa mista de coordenação anual será responsável pelo planeamento de conteúdos, definição do corpo de formadores convidados, definição de regulamentos de funcionamento, assim como pela selecção dos alunos participantes. O regime de formação deve ser misto, conciliando

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alguma formação em sala com um sistema de sessões tutoriais e de projecto intenso. O grupo de estudantes deve ter uma proveniência geográfica tendencialmente diversificada e deve ser caracterizado pela excelência.

O programa incluirá apresentações públicas dos trabalhos finais a realizar durante o curso, o que permitirá aos estudantes dar a conhecer ao público da cidade as suas criações e permitir o contacto com uma amostra da produção internacional emergente nessa área.

A Câmara Municipal de Lisboa disponibilizará os equipamentos municipais considerados indispensáveis para este programa, em cada ano, nomeadamente salas de ensaio e de espectáculo, gabinetes e auditórios, e providenciará, através de acordos com os serviços de acção social das universidades de Lisboa, alojamento e alimentação para os estudantes e formadores convidados, nas residências e refeitórios universitários, respectivamente. As escolas envolvidas disponibilizarão igualmente as instalações e meios necessários para o desenvolvimento das actividades de formação.

Inconvenientes da não realização

> incapacidade de colocar lisboa na rota dos estudantes e profissionais de artes estrangeiros.

> Desaproveitamento dos equipamentos culturais e artísticos, nomeadamente os municipais, no mês de agosto.

> incapacidade de promover a imagem de excelência e atrair ou fixar temporariamente artistas e mediadores culturais de topo a nível internacional.

> Desperdício da imagem positiva conseguida por lisboa na organização de eventos de nível internacional.

Entidades a envolver

Entidade Responsável – Dmc, que será responsável pela selecção da área artística e do director e programador anuais; comissão mista constituída pelo director e programador e por representantes das entidades envolvidas, que será responsável pela implementação do programa anual. Entidades Parceiras – escolas de artes, universidades, serviços sociais das universidades, egeac, atl. Entidades Beneficiárias – estudantes de artes, nacionais e estrangeiros, e comunidade em geral.

Mecanismos e possibilidades de financiamento

A _ Com a manutenção do programaInvestimento inicial + financiamento continuado: cml (parceria Dmc/egeac), atl, patrocínios e mecenato (incluindo manutenção anual do director e programador).B _ Com a organização de cada sessão anualFinanciamento continuado: cml, atl, patrocínios, mecenato e receitas provenientes de propinas de valor simbólico, para além da disponibilização de recursos materiais e equipamentos por parte das instituições (instituições de ensino, residências, equipamentos culturais, etc.) envolvidas em cada ano.

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7 nota conclusiva

O projecto Estratégias para a Cultura em Lisboa promoveu e alimentou um processo de reflexão estratégica sobre o sector cultural em Lisboa. Partindo da auscultação abrangente e participada dos diversos agentes culturais e da análise detalhada sobre a situação da vivência cultural na cidade, definiu-se e consensualizou-se um conjunto de linhas estruturantes de actuação, no campo cultural, para o município de Lisboa. Estipulou-se de seguida um conjunto de objectivos e sub-objectivos e desenhou-se um conjunto de medidas e de projectos estruturantes para o sector cultural da cidade.

As Estratégias para a Cultura em Lisboa não se esgotam contudo neste documento – pelo contrário, abrem portas para um trabalho mais árduo e complexo, o da sua implementação. Efectivamente, o trabalho desenvolvido por esta equipa, e aqui relatado, lega um conjunto de medidas e projectos estruturantes que clamam por continuidade, que deverá ser proporcionada pelos respectivos responsáveis políticos.

A implementação das estratégias deverá ser, indubitavelmente, apoiada pelo topo, mas desenvolvida numa lógica de bottom-up, sem esquecer contudo a importância de uma consensualização e a imprescindibilidade de uma mobilização alargada.

Na prática, espera-se que a Câmara Municipal de Lisboa, designadamente o pelouro da cultura, possa a partir deste documento estabelecer prioridades, alocar recursos (não só financeiros mas também humanos, tecnológicos e organizacionais), rever processos e estruturas, atribuir tarefas e responsabilidades e, por último, monitorizar, de forma contínua, a implementação e os resultados obtidos.

Será com certeza incontornável rever o orçamento da Câmara Municipal de Lisboa no que concerne à área de intervenção cultural, designadamente da Direcção Municipal de Cultura, não se traduzindo isto implicitamente por um aumento directo das dotações, mas sim por uma importante revisão das mesmas, e da sua evolução e estabilidade a médio e longo prazo, que terão de ser consentâneas com as ambições e competências propostas e desejadas para uma reformulada acção cultural da Câmara Municipal de Lisboa.

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8 Intervenientes

A equipa agradece a todas as pessoas intervenientes, assim como às instituições que se fizeram representar, pela participação e colaboração aos mais diversos níveis, das mais diversas formas e nos mais diversos momentos, ao longo dos meses em que se desenrolou o trabalho das Estratégias para a Cultura em Lisboa.

Aida Tavares, Alda Goes Alessandro Zauli, Alexandre Cortez, Alexandre Melo, Alexandre Pomar, Álvaro Covões, Álvaro Matos, Ana Gonçalves, Ana Santiago, Ana Silva Dias, Ana Tostões, André Guerreiro Rodrigues, André Maranha, António Cunha, António Firmino da Costa, António Gomes da Costa, António Jorge Gonçalves, António Mega Ferreira, António Nunes Pereira, António Pinto Ribeiro, Bárbara Coutinho, Bruno Cunha, Bruno Vasconcelos, Carla Bolito, Carlos Alberto Miranda Duarte, Carlos Catalão, Carlos Filipe Maia, Carlos Martins, Carlos Pessoa, Carlos Salgueiro de Oliveira, Carmo Gregório, Catarina Saraiva, Catarina Vaz Pinto, Cecília Folgado, Cecília Gonçalves, Christiane Coêlho, Clara Camacho, Clara Pinto, Cláudia Marques Santos, Cláudia Taborda, Cristina Leite, Cynthia Nakama, Delfim Sardo, Duarte Gonçalves, Elias Macovela, Elizabete Fragoso, Emílio Rui Vilar, Fabrizio Campoli, Filipa Sanchez, Filipe Crawford, Filipe Oliveira, Francisco Lima Costa, Francisco Motta Veiga, Francisco Vaz Fernandes, Giles Teixeira, Guilherme d’Oliveira Martins, Guta Moura Guedes, Helena Barreiros, Helena Gelpi, Helena Pais da Costa, Hugo Seabra, Hugo Sousa, Idalina Conde, Ilídio Nunes, Inês Pedrosa, Inês Viegas, Irene Nunes Barata, Isabel Corte-Real, Isabel Rodrigues, Joana Botelho, Joana Mayer, Joana Vasconcelos, João Belo Rodeia, João Cabral, João Caraça, João Cepeda, João Fiadeiro, João Guerra, João MacDonald, João Moreira dos Santos, João Mourão, João Pedro Filipe, João Pedro Silva Nunes, João Queiroz, João Seixas, João Tovar, Jorge Barreto Xavier, Jorge Carvalho, Jorge Ramos de Carvalho, Jorge Salavisa, Jorge Silva Melo, Jorge Vieira, José Afonso Furtado, José Leitão, José Pinho, José Reis Santos, José Sá Fernandes, José Sarmento de Matos, José Soares Neves, Leonel Moura, Leonor Gaspar Pinto, Lino Fernandes, Lucélia do Valle Monteiro, Lúcia Sigalho, Luís Castro, Luís Correia, Luís Madureira, Luís Santiago Baptista, Luís Serpa, Luísa Mellid Monteiro, Luísa Nora, Lurdes Júdice, Madalena Tavares, Manuel Castro Caldas, Manuel Costa Cabral, Manuel Murteira, Manuel Salgado, Manuela Carlos, Manuela Júdice, Marcelo Costa, Marco Alexandre Saias, Margarida Antunes da Silva, Maria Calado, Maria Helena Barreiros, Maria João Gamito, Maria João Lima, Maria João Mendes, Maria João Vicente, Maria Manuel Viana, Maria Teresa Bispo, Maria Vlachou, Maria Xavier, Marina Uva, Mário Vale, Mark Deputter, Marta Furtado, Marta Martins, Marta Mateus, Miguel Abreu, Miguel Gomes Martins, Miguel Honrado, Miguel Lobo Antunes, Miguel Magalhães, Miguel Santos, Miguel Seabra, Mónica Almeida, Mónica Calle, Nádia Bartolucci, Natália Luiza, Natasha Marjanovic, Nathalie Verelst, Natxo Checa, Nelson Gomes, Nuno Artur Silva, Nuno Crato, Nuno Nabais, Nuno Pinto Teixeira, Nuno Ricou Salgado, Paula Brito Medori, Paula Moura, Paulo Matos, Paulo Meireles, Pedro Cardim, Pedro Costa, Pedro Fidalgo, Pedro Gomes, Pedro Moreira, Pedro Penim, Pedro Portugal, Raquel Freire, Ricardo Bak Gordon, Rita Correia, Rita Fabiana, Rita Novas Miranda, Rogério Santos, Rolando Borges Martins, Rosa Barreto, Rosalia Vargas, Rui Pereira, Rui Tavares, Sara Faria Santos, Sérgio Mah, Simonetta Luz Afonso, Sofia Borges, Sofia Campos, Sofia Neuparth, Susana Ferreira, Susy Silva, Tânia Guerreiro, Tânia Jerónimo Teixeira, Teresa Alves, Teresa Duarte Martinho, Teresa Fradique, Teresa Heitor, Teresa Monteiro, Teresa Ricou, Tiago Bartolomeu Costa, Tiago Ivo Cruz, Tiago Outeiro, Vanda Lourenço, Vera Borges, Vera Prokic, Vitor Agostinho, Vitor Belanciano, Vitor Branco, Vítor Costa, Vítor Pereira da Silva, Vitória Horta, Vitória Pinheiro, Vladimir de Semir, Walter Rossa.

Tal como a todos os participantes das seguintes sessões realizadas em paralelo a estas “Estratégias”, onde tivemos oportunidade de participar: Sessão “Teatro em Lisboa: Que Estratégias” realizada no Teatro São Luiz; Encontro “Difusão Nacional e os Públicos da Dança Contemporânea” organizado pela associação REDE, Sessões da “AMLisboa: Plataforma Transcultural para o Século XXI”, realizada na Culturgest, Sessões da “Carta Estratégica Lisboa 2010/24”; Projecto “Creatcity – A Governance Culture for the Creative Cities: Urban Vitality and International Networks” do Dinâmia/ISCTE.

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Estratégias para a Cultura

em Lisboa

Câmara Municipal de lisboa — Pelouro da CulturaRosalia Vargas, VereadoraFrancisco Motta Veiga, Director Municipal Carlos Catalão Alves, AdjuntoIsabel Castelão Rodrigues, Assessora

equipa técnicaPedro Costa (Coordenador)Miguel MagalhãesTânia Jerónimo TeixeiraGiles TeixeiraBruno Vasconcelos

Consultores António Pinto RibeiroCarlos MartinsCatarina Vaz PintoDelfim SardoIdalina CondeJoão SeixasNuno Artur SilvaRui Tavares

R e l A t ó R I o f I n A l

Autores Pedro Costa (Coordenador)Miguel MagalhãesTânia Jerónimo TeixeiraGiles TeixeiraBruno Vasconcelos

ConsultoresAntónio Pinto RibeiroCarlos MartinsCatarina Vaz PintoDelfim SardoIdalina CondeJoão SeixasNuno Artur SilvaRui Tavares

ediçãoCâmara Municipal de Lisboa — Pelouro da Cultura

design+2 mais2designers.com

RevisãoGonçalo Praça

Impressão Gráfica Maiadouro

tipos usados Cultura AkkuratBD Mother

tiragem 500 exemplares

junho de 2009

depósito legal296 167/09

ISbn978-989-96300-0-0