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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA DECO José Weverton Santos de Souza Estrutura da taxocenose dos anelídeos poliquetas do complexo estuarino do rio São Francisco São Cristóvão 2016

Estrutura da taxocenose dos anelídeos poliquetas do complexo …© Weverton... · 2017-11-01 · UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA – DECO

José Weverton Santos de Souza

Estrutura da taxocenose dos anelídeos poliquetas do complexo

estuarino do rio São Francisco

São Cristóvão

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA – DECO

José Weverton Santos de Souza

Estrutura da taxocenose dos anelídeos poliquetas do complexo

estuarino do rio São Francisco

Trabalho de conclusão de curso apresentado

ao Departamento de Ecologia da

Universidade Federal de Sergipe como

parte dos requisitos para obtenção do título

de Bacharel em Ecologia, desenvolvido sob

a orientação da Profa. Dra. Carmen Regina

Parisotto Guimarães e Co-orientação de

Andrezza Ribeiro Menezes Moura.

São Cristóvão

2016

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 10

2. OBJETIVOS .......................................................................................................................................... 12

2.1. Geral ............................................................................................................................................... 12

2.2. Específicos ...................................................................................................................................... 12

3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................................. 12

3.1. Área de Estudo ............................................................................................................................... 12

3.2. Procedimento de Campo ............................................................................................................... 13

3.3. Procedimento de Laboratório ....................................................................................................... 14

3.3.1. Procedimentos para Fauna ................................................................................................... 14

3.3.2. Procedimentos para variáveis da água e do sedimento ...................................................... 15

3.3.3. Identificação da Fauna e Categorização Trófica ................................................................ 15

3.3.4. Análise Estatística .................................................................................................................. 15

3.3.4.1. Abundância e Frequência Relativa .................................................................................. 15

3.3.4.2. Frequência de Ocorrência ................................................................................................. 16

3.3.4.3. Índices de Riqueza, Diversidade, Equidade e Dominância ............................................ 16

3.3.4.4. Análise da variabilidade espaço-temporal e Relação da fauna com variáveis

ambientais 16

3.3.4.5. Softwares ............................................................................................................................ 17

4. RESULTADOS ...................................................................................................................................... 17

4.1. Caracterização dos sedimentos e da água ................................................................................... 17

4.2. Composição da poliquetofauna .................................................................................................... 20

4.3. Distribuição espacial da Poliquetofauna ..................................................................................... 24

4.4. Distribuição temporal da Poliquetofauna ................................................................................... 29

4.5. Descritores Ecológicos da Poliquetofauna ................................................................................... 29

5. DISCUSSÃO .......................................................................................................................................... 33

5.1. Caracterização dos sedimentos e da água ................................................................................... 33

5.2. Composição da Poliquetofauna .................................................................................................... 34

5.3. Distribuição Espacial da Poliquetofauna .................................................................................... 35

5.4. Distribuição temporal da poliquetofauna .................................................................................... 37

5.5. Descritores Ecológicos da Poliquetofauna ................................................................................... 38

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................ 38

7. REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 39

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Localização da área de estudo no Brasil (A); e localização do Canal do Parapuca na foz

do São Francisco, com demarcação das estações amostrais (B). ....................................................... 14

Figura 2 - Variáveis ambientais mensuradas em ambos períodos sazonais (chuvoso em agosto de

2008 e seco em fevereiro de 2009), no complexo estuarino do rio São Francisco – SE. .................. 19

Figura 3 - Distribuição dos valores de pH, Salinidade, Matéria orgânica e Carbonato de cálcio

(CaCO3) pelas estações de amostragem, no complexo estuarino do rio São Francisco – SE. .......... 19

Figura 4 - Representante da família Spionidae (A) e Capitellidae (B), grupos taxonômicos

dominantes em ambos os períodos sazonais, coletados em Agosto de 2008 e Fevereiro de 2009 no

Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São Francisco. ......................................................... 21

Figura 5 - Abundância das famílias de poliquetas obtidas no Canal do Parapuca, complexo estuarino

do rio São Francisco – SE, durante o período chuvoso (agosto de 2008) e seco (fevereiro de 2009).

............................................................................................................................................................ 21

Figura 6 - Proporção da contribuição (%) de cada família de poliquetas por período sazonal

(chuvoso –agosto de 2008 e seco – fevereiro de 2009) obtida no Canal do Parapuca, complexo

estuarino do rio São Francisco - SE. .................................................................................................. 22

Figura 7 - Guildas funcionais (%) poliquetofauna do Canal do Parapuca, estuário do rio São

Francisco – SE. Legenda: CDS = comedores de depósito de superfície; CDSS = comedores de

depósito de sub superfície; C = carnívoro; H = herbívoro; F = filtrador. .......................................... 24

Figura 8 - Distribuição espacial da abundância dos poliquetas obtidos no Canal do Parapuca,

complexo estuarino do rio São Francisco – SE, nos períodos chuvoso (agosto de 2008) e seco

(fevereiro de 2009). ............................................................................................................................ 25

Figura 9 - Frequência de ocorrência (Fo%) das famílias de poliquetas obtidas no Canal do Parapuca,

complexo estuarino do rio São Francisco – SE, durante os períodos chuvoso (agosto de 2008) e seco

(fevereiro de 2009). ............................................................................................................................ 27

Figura 10 - Diagrama de ordenação nMDS das estações de coleta da macrofauna poliquetológica e

das variáveis ambientais no Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São Francisco, durante

os período chuvoso (agosto de 2008) e seco (fevereiro de 2009). ..................................................... 28

Figura 11 - Descritores ecológicos da taxocenose poliquetológica do Canal do Parapuca, complexo

estuarino do rio São Francisco – SE, durante os períodos chuvoso e seco. ....................................... 29

Figura 12 - Riqueza das estações ao longo do Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São

Francisco – SE, durante os períodos chuvoso (agosto de 2008) e seco (fevereiro de 2009). ............ 30

Figura 13 - Diversidade das estações ao longo do Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São

Francisco - SE, durante os períodos chuvoso e seco.......................................................................... 31

Figura 14 - Equitatividade das estações ao longo do Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio

São Francisco – SE, durante os períodos chuvoso e seco. ................................................................. 32

Figura 15 - Dominância das estações ao longo do Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio

São Francisco – SE, durante os períodos chuvoso e seco. ................................................................. 32

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação dos sedimentos obtidos no Canal do Parapuca em Agosto de 2008 (PC) e

Fevereiro de 2009 (PS) quanto ao grau de seleção e tamanho do grão. ............................................ 18

Tabela 2 - Lista taxonômica, baseada em Rouse & Pleijel (2001) da Poliquetofauna obtida no Canal

do Parapuca, complexo estuarino do rio São Francisco – SE, em agosto de 2008 e fevereiro de

2009. ................................................................................................................................................... 20

Tabela 3 - Tabela Modo de vida das famílias de poliquetas amostradas no Canal do Parapuca,

complexo estuarino do rio São Francisco – SE, durante os períodos chuvoso (agosto de 2008) e seco

(fevereiro de 2009) segundo Fauchald & Jumars (1979). .................................................................. 23

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela força diária; pelo dom da vida me concedido; pela saúde me

fornecida; e por me proporcionar a capacidade de seguir frente à distúrbios,

sobressaindo-se dos processos de seleção natural.

À minha família, principalmente à minha Avó (Josefa Souza), Mãe (Ducilene

Souza), Tia (Iraildes Sousa), Irmã (Ducimare Andrade) e irmão (Eronildo Andrade)

pelo amor, apoio e incentivos diários; amparo nos momentos de dificuldade ao longo

da vida; e pelos sacrifícios realizados para que eu pudesse chegar até aqui.

A Ilminha (Ilma Cordeiro Castro) técnica do Laboratório de Bentos pelos

primeiros ensinamentos e “bronquinhas” necessárias que me fizeram crescer

enquanto pessoa e profissional.

À minha fã nº 1, Luana Marina, por sanar minhas dúvidas, “pegar no meu

pé” e corrigir meus textos em meus passos iniciais na bentologia. E pelo

processamento das amostras sedimentológicas.

Aos estagiários e amigos envolvidos no PIBIC - 2013-2016 (Juliana Souza,

Jéssica Oliveira, Luiza Maria, Wesley Carvalho, Anderson Costa, Pedro Guilherme,

Luciano Júnior) pelo auxílio com a triagem do material sedimentológico; risos e

distrações.

À todos os estagiários do LABEC pelo convívio diário, momentos descontraídos

e tensos juntos. Em especial à Gazolinha (Raul Soares), Galdênia Menezes, Alfred

Briso, Rô Ferrari e Leandro Rocha pelos momentos extraordinários pós LABEC.

A Juliana Matos pelas sabias palavras diárias e pelo carinho demonstrado e

atenção em todos os momentos;

A Guilherme Parisotto pela elaboração dos mapas.

Aos professores do Departamento de Ecologia Leandro Souto e Adriana

Bocchiglieri por serem sempre solícitos e dispostos a tirarem todas as minhas

dúvidas com estatística.

À minha amiga e ecóloga favorita, Nayara Gomes, pela amizade, conversas na

“madruga”; diálogos ecológicos e por me ajudar nos momentos em que a solicitei.

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Aos meus amigos Erivelton Nascimento, Tainara Farias, Alexandre Aguiar e

August’s Santana pela longa jornada que traçamos juntos, sobrevivendo aos

intemperes ecológicos e auxílios mútuos que nos fizeram crescer.

A Yane Regyna pela amizade construída durante os quatro anos de curso;

pela cumplicidade nos trabalhos, por me ajudar com dúvidas, dificuldades e se fazer

sempre presente.

A Mariely Santos e Maiara Cruz pela amizade, apoio e diversões com direitos

à risos, muuuuitos risos e gargalhadas.

Aos meus amigos Denisson Santos e Ricardo Costa por terem me recebido em

Aracaju de braços abertos; pela amizade ao longo desses anos; pelas sábias

conversas/palavras; apoios constantes e incentivos sempre que se faziam necessários.

A minha queridíssima Andrezza Ribeiro Menezes Moura por ter me acolhido

como orientando ao longo da graduação; pelo conhecimento taxonômico fornecido;

pela amizade; pelos cafés regrados a boas conversas; por ter tido a paciência

necessária em me ensinar o que eu acreditava ser impossível: taxonomia (rsrs).

A minha orientadora Profª Drª Carmen R. Parisotto (Soberana) por ter me

dado à oportunidade de ter um caminho a seguir profissionalmente; pelos conselhos

e ensinamentos diários; por sempre exigir mais na busca pelo meu melhor; por ter

acreditado em meu potencial enquanto estagiário e profissional; por me deixar de

“cabelos em pé” diversas vezes; pela incessante paciência em corrigir meus

relatórios, resumos, artigos, TCC; pelas boas gargalhadas durante as correções (afinal

não é todo dia que se pode ter o aluno que criava palavras (rsrs); por me auxiliar

na estatística sempre que necessário; pela amizade e confiança depositada;

Agradeço a todos que de alguma forma se fizeram presentes, seja direta ou

indiretamente. Muito obrigado a todos vocês.

“O rio atinge seus objetivos porque aprendeu a contornar seus obstáculos” – Lao Zi

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RESUMO

Polychaeta compreende uma classe de vermes metamerizados, portadores de parapódios e cerdas,

que juntamente com os Clitellata (Oligochaeta e Hirundinea), integra o Filo Annelida. A

poliquetofauna brasileira distribui-se por diversos ecossistemas e reflete uma vasta diversidade de

ambientes, pois podem ser encontrados em recifes de corais, costões rochosos, manguezais e

estuários. Embora este grupo tenha começado a ser estudado no Brasil a partir da década de 1970,

tais estudos concentram-se principalmente nas regiões sul e sudeste do país, mesmo nos últimos

anos tendo ocorrido uma intensificação das pesquisas, alguns estados, a exemplo de Sergipe,

continuam a ter sua fauna poliquetológica pobremente conhecida. Diante disto, este estudo teve

como objetivo caracterizar as assembleias estruturais e funcionais dos poliquetas que vivem nos

sedimentos inconsolidados do Canal do Parapuca, estuário do rio São Francisco, Sergipe; (i)

Identificar as famílias de poliquetas do Canal do Parapuca; (ii) Categorizar a poliquetofauna em

guildas tróficas e mobilidade; (iii) Calcular os descritores ecológicos de diversidade, equitatividade,

dominância, riqueza e abundância; (iv) Descrever os padrões de distribuição espacial e temporal; e

(v) Relacionar a poliquetofauna às variáveis ambientais da água e do sedimento. Para isso, foram

realizadas duas campanhas amostrais (período chuvoso (PC) e seco (PS)). Para coleta do material

foi utilizado um van Veen de 3,6 litros, sendo as amostras obtidas em triplicata abrangendo 22

estações. Em laboratório o material foi lavado (sob peneira de 500µm) e triado (sob lupa Leica MZ8

e Motic). A poliquetofauna totalizou uma abundância de 9.111 indivíduos envolvendo 3 Subclasses,

2 Ordens, 5 subordens e 21 famílias. A família mais abundante foi Spionidae (N = 1.268 e Fr =

44,6% no PC; e N = 4.097 e Fr = 65,3% no PS), seguido por Capitellidae (N = 923 e Fr = 32,4% no

PC; e N = 1.642 e Fr = 26,1% no PS). A taxocenose apresentou predomínio de Carnívoros (Fr =

28% no PC e 27% no PS) e consumidores de depósitos de subsuperfície (Fr = 26% no PC e 27% no

PS), com padrão de mobilidade errante (Fr = 80,9%). Foi observado em ambos os períodos sazonais

um padrão de distribuição multimodal, com picos de abundância em 7 estações do PC e 5 estações

no PS. As maiores riquezas foram encontradas nas estações 14 (S = 7), 17 (S = 7) e 22 (S = 10) do

PC e nas 14 (S = 7), 15 (S = 7) e 16 (S = 11). Em ambos períodos apenas Spionidae (Fo = 68% no

PC e 63,6% no PS) foi considerada constante (Fo > 50%). Observou-se 3 associações (A1, A2 e

A3) em ambos períodos sazonais - A1: Spionidae e Capitellidae em grandes abundâncias; altos

níveis de MO e CaCO3. A2: altos níveis de salinidade e pH e baixa abundância de Spionidae e

Capitellidae. A3: grande área azoica. A variação da poliquetofauna no tempo, não foi significativa

(p < 0,05). A partir dos resultados, foi possível inferir que o Canal do Parapuca apresenta baixa

riqueza de famílias, onde as mais expressivas são os Spionidae e Capitellidae, fazendo com que a

diversidade da área fosse considerada moderada (H’ > 1 ≤ 3 bits/ind-1

) além de baixa equitatividade

e elevada dominância.

PALAVRAS-CHAVE: Bentologia; Macrozoobentos; Laguna; Desembocadura

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10

1. INTRODUÇÃO

Os estuários são ecossistemas costeiros e dinâmicos, que apresentam diversas definições, dentre

as quais, uma das mais completas e utilizadas é a de Pritchard (1955), no qual ele diz que “estuário

é um corpo de água costeiro semifechado, com uma livre ligação com o oceano aberto, no interior

do qual a água do mar é mensuravelmente diluída pela água doce oriunda da drenagem continental”.

Em outro contexto, Miranda et al. (2002) classificam estuários como ecossistemas de transição

entre o oceano e o continente os quais em condições naturais são mais produtivos que os rios e o

oceano, por apresentarem altas concentrações de nutrientes.

Este ambiente, de acordo com Pritchard (1967) pode ser classificado através da estrutura salina,

como: a) Verticalmente homogêneo – quando não há diferença entre a salinidade de fundo com a de

superfície, caracterizando assim, ausência de haloclina; b) Parcialmente misturado – quando a

estratificação de salinidade é moderada, com a haloclina menos pronunciada; c) Cunha Salina –

quando há uma interface distinta entre a água da descarga fluvial e a água do mar, com grande

diferença entre a salinidade da superfície e do fundo. O estuário do rio São Francisco por sua vez,

segundo Medeiros et al. (2010), se comporta predominantemente como cunha salina apresentando

intrusão salina máxima de 6.000 metros a partir da foz.

Do ponto de vista ecológico, os estuários são de extrema importância, pois se constituem em

locais de desova, alimentação e crescimento de vários organismos, dentre os quais podemos

destacar os poliquetas (MEDEIROS et al. 2008).

Os poliquetas são anelídeos e foram classificados por Rizzo et al. (2011) como vermes

marinhos muito comuns, distribuídos em 86 famílias conhecidas e 8.000 espécies descritas que

apresentam um distinto corpo segmentado e apêndices laterais, chamados parapódios, que podem

ser birremes ou unirremes e que comumente apresentam cerdas quitinosas.

O corpo destes anelídeos são fascinantes pelas cores, variedade de formas e estratégias

relacionadas aos diferentes estilos de vida que levaram a modificações no plano corporal (LANA et

al. 2009). Isso de fato, resultou em diversas adaptações, pois estes animais podem ser errantes,

movendo-se livremente, ou sedentários. Os errantes incluem espécies estritamente pelágicas,

espécies que rastejam por baixo de rochas, escavadoras de areia ou lama, e também as que ocupam

tubos estacionários. Já as espécies sedentárias constroem buracos, galerias ou tubos (RIZZO et al.

2011).

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11

Devido às vastas adaptações adquiridas por este grupo, a fauna brasileira de poliquetas reflete

uma grande diversidade de habitats, podendo ser encontrada em recifes de corais, costões rochosos,

estuários, manguezais, fundos lamosos, arenosos ou areno-lamosos (AMARAL et al. 2013).

E, por isso, os anelídeos poliquetas se constituem em um dos taxa de invertebrados mais

abundantes e diversificados em ambientes marinhos (PAIVA, 2006). Esse fato, de acordo com

Paiva (1993), se deve à resposta de diversas populações de poliquetas às condições abióticas e

bióticas que refletem na variabilidade espaço-temporal de densidade e diversidade desses

organismos. Esses fatores, como suprimento alimentar, predação, competição, crescimento

populacional, entre outros, tendem a modificar o ambiente e a estrutura das comunidades marinhas.

Paiva (2006) relata que existe uma forte relação entre os hábitos de vida e a forma de

alimentação, pois, segundo esse autor, os poliquetas sedentários são suspensívoros; os que vivem

em fundos lodosos, como o de estuários e manguezais, são em geral detritívoros; os que possuem

mandíbulas, maxilas e dentes, são carnívoros; e os herbívoros embora pouco frequentes, habitam

regiões costeiras ricas em algas.

Os poliquetas detritívoros, ainda facilitam a recuperação de restos orgânicos que, de outra

forma, ficariam retidos nos sedimentos marinhos. Esses animais incorporam os detritos orgânicos,

que são transformados em biomassa animal. Ao serem ingeridos por peixes e outros animais que se

alimentam no fundo, esse material orgânico retorna para o ciclo de nutrientes dos oceanos (PAIVA,

2006).

Atrelado às formas de alimentação da poliquetofauna, Elías et al. (2004; 2005) evidenciaram

que esses organismos destacam-se dentre os grupos biológicos bentônicos, por serem considerados

bons bioindicadores da qualidade do habitat, devido ao fato de algumas espécies serem

oportunistas, como os representantes das famílias Capitellidae, Cirratulidae e Spionidae, uma vez

que estes grupos apresentam resistência e elevada tolerância a níveis altos de poluição, fazendo com

que suas populações atinjam abundâncias muito grandes e consequentemente tornem-se

dominantes.

Por outro lado, a família Nereididae apresenta ainda duas espécies (Hediste diversicolor e

Platynereis dumerilii), que conseguem concentrar altos níveis de metais pesados, tais como

Cádmio, Cromo, Cobre, Manganês e Chumbo e acumulá-los em seus tecidos, possibilitando assim

que sejam utilizados como uma ferramenta para avaliar a qualidade da água e sedimento em relação

à poluição industrial em testes de ecotoxicologia (HUTCHINSON et al. 1998; DEAN, 2008).

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Contudo, embora os poliquetas segundo Amaral et al. (2013) compreenderem um grupo de

grande relevância ecológica, que começou a ser estudado no Brasil a partir da década de 1970. Os

registros da fauna poliquetológica brasileira é proveniente da região Sudeste, principalmente da

região norte do Estado de São Paulo, devido à infraestrutura proporcionada pelos laboratórios

costeiros e de pesquisas desenvolvidas na região entremarés e na plataforma continental.

De acordo com Aguirrezabalaga & Gil (2009), existem poucas informações acerca dos

poliquetas em regiões de planícies abissais, continentais e cânions. Em muitas ocasiões, o material é

obtido como produto de outros estudos, estando em condições precárias ou fragmentados, sendo útil

para um levantamento faunístico geral, mas não para pesquisas mais profundas. Devido a isso, os

poliquetas são animais pobremente conhecidos (LANA et al. 2009), o que de fato requer o

desenvolvimento de novas pesquisas envolvendo o grupo, principalmente no Brasil, onde a maioria

dos estados conhece muito pouco sobre os poliquetas que habitam suas províncias, a exemplo de

Sergipe, onde o levantamento da poliquetofauna acusou apenas 8 trabalhos.

2. OBJETIVOS

2.1. Geral

Caracterizar as assembleias estruturais e funcionais dos poliquetas que vivem nos

sedimentos inconsolidados do Canal do Parapuca, estuário do rio São Francisco, Sergipe.

2.2. Específicos

Identificar as famílias de poliquetas do Canal do Parapuca;

Categorizar a poliquetofauna em guildas tróficas e mobilidade;

Calcular os descritores ecológicos de diversidade, equitatividade, dominância, riqueza e

abundância;

Descrever os padrões de distribuição espacial e temporal;

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Área de Estudo

O rio São Francisco possui 2.660 km de extensão e nasce na Serra da Canastra, situada no

estado de Minas Gerais e percorre por diversos Estados (Goiás, Bahia, Pernambuco) até desaguar

no Oceano Atlântico entre os Estados de Sergipe e Alagoas (SUASSUNA, 1999).

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Atualmente a Bacia do rio São Francisco apresenta quatro divisões de acordo com as regiões

fisiográficas, sendo elas: Alto São Francisco, que vai da nascente até a cidade de Pirapora (MG);

Médio São Francisco, que se estende de Pirapora a Remanso (BA); Submédio São Francisco, de

Remanso até Paulo Afonso (BA); e Baixo São Francisco, que vai de Paulo Afonso até a foz

(PEREIRA et al. 2007), sendo este último, um ambiente estuarino tipo vale inundado e que se

comporta predominantemente como cunha salina, com intrusão máxima de 6.000 metros a partir da

foz (MEDEIROS et al. 2010).

A área de estudo está localizada no Baixo São Francisco (Figura 1A) e compreendeu o Canal

do Parapuca, região caracterizada por apresentar um gradiente ambiental bastante heterogêneo com

denso bosque de mangue em seu entorno.

3.2. Procedimento de Campo

Em campo, foram estabelecidas 22 estações no Canal do Parapuca (Figura 1B), onde se

realizou a coleta do material sedimentológico em tréplica em dois períodos sazonais: chuvoso

(agosto de 2008) - PC e seco (fevereiro de 2009) - PS. A área de coleta foi dividida em regiões

ambientais, sendo estas: entrada (estações 1 a 3); mediana 1 (estações 4 a 12); mediana 2 (estações

13 a 19) e saída (estações 20 a 22).

A coleta foi realizada com o auxílio de uma draga de fundo do tipo van Veen de aço inox

onde, para a coleta da fauna o material sedimentológico foi acondicionado em sacos plásticos com

formol a 10% para fixação da fauna, acrescido do corante rosa de bengala, sendo posteriormente

depositados em bombonas plásticas com tampa e transportados ao Laboratório de Bentos Costeiro

do Departamento de Biologia da UFS. Para o material destinado a análise sedimentológica, o

material foi acondicionado em sacos plásticos e colocado em gelo.

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Figura 1 - Localização da área de estudo no Brasil (A); e localização do Canal do Parapuca na foz do São Francisco,

com demarcação das estações amostrais (B).

3.3. Procedimento de Laboratório

3.3.1. Procedimentos para Fauna

Em laboratório, o material foi lavado sobre uma peneira de 500µm, para reter somente

organismos com tamanho de macrofauna. Posteriormente, esse material sedimentológico foi

acondicionado em potes de vidro contendo álcool 70% para conservação dos organismos.

Sequencialmente, todas as amostras foram triadas sob microscópio estereoscópico Leica

MZ8 e Motic e a poliquetofauna obtida foi separada do restante da fauna e conservada em álcool

70% para posterior identificação.

B

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3.3.2. Procedimentos para variáveis da água e do sedimento

As amostras da água e do sedimento foram processadas de acordo com os procedimentos a

seguir expostos pela equipe do Laboratório de Bentos na época da coleta e cedidas para uso nesta

monografia.

As amostras sedimentológicas foram descongeladas e uma alíquota de 10 g foi separa para

análise dos teores de matéria orgânica (MO) e carbonato de cálcio (CaCO3) e outra de

aproximadamente 100 g para análise granulométrica e de pipetagem.

Os teores de MO e CaCO3 foram obtidos por combustão do sedimento em forno mufla a 550

ºC e 1000 ºC, respectivamente (DEAN, 1973).

As mostras para análise granulométrica foram dessalinizadas com água destilada até a

eliminação total dos sais e posteriormente secadas em estufa a 60 ºC. Após, o material foi lavado

sob peneira de 62µm para separação da fração lamosa e arenosa, e a análise granulométrica se deu

de acordo com os procedimentos de peneiramento e pipetagem (SUGUIO, 1973).

Para análise do pH e salinidade, a água foi coletada através de uma garrafa de Van Dorn,

sendo o pH mensurado através de pHmetro e a salinidade com refratômetro.

3.3.3. Identificação da Fauna e Categorização Trófica

Os espécimes foram identificados sob microscópio estereoscópico e óptico, em nível

taxonômico de família, com o uso de bibliografia especializada (AMARAL, 1996; ROUSE &

PLEIJEL, 2001).

Após a classificação taxonômica, os taxa obtidos foram categorizados em níveis tróficos

(guildas), seguindo a classificação proposta por Fauchald & Jumars (1979).

3.3.4. Análise Estatística

3.3.4.1. Abundância e Frequência Relativa

A abundância foi definida como o número total de cada taxa dentro da assembleia. A

frequência relativa é a razão entre a abundância de um táxon de interesse (n) e o somatório de

indivíduos de todos os taxa na amostra (T), expressos em percentagem, a qual foi calculada a partir

da seguinte fórmula: Fr = n/T×100.

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3.3.4.2. Frequência de Ocorrência

O número de ocorrências de um táxon (p) em relação ao número total de amostras (P),

expresso em percentagem: Fo = p/P×100, é denominado frequência de ocorrência ou constância

(TINOCO, 1989), no qual adotou-se para avaliação dessa frequência (Fo) a classificação proposta

por Dajoz (1983):

a) Constantes – as espécies presentes em mais de 50% das amostras;

b) Acessórias ou Comuns – as espécies que ocorrem entre 25 a 50% das amostras;

c) Acidentais ou Raras – as espécies presentes em menos de 25% das amostras;

3.3.4.3. Índices de Riqueza, Diversidade, Equidade e Dominância

A riqueza foi considerada como o número de taxa presentes em cada amostra (NIBBAKEN,

1982) e para análise de diversidade, foi aplicado o índice de diversidade de Shannon-Winner (H’),

aliando a riqueza das espécies e a equidade. A medida de H’ é expressa por: H’ = -∑(pi*lnpi) onde

pi é a proporção de indivíduos da primeira espécie, ou seja, ni/N e N é o número total de indivíduos

da amostra. A diversidade é considerada elevada quando maior que 3bits/ind. e baixa quando menor

que 1bits/ind..

A equitatividade (J), definida como a distribuição do número de indivíduos por espécie foi

analisada pelo índice de Pielou (1975), que tem a seguinte expressão: J = H’/lnS, onde H’ é a

diversidade expressa pelo índice de Shannon-Winner e S é o número de espécies. Seus valores

variam de 0 a 1 e resultados próximos a um significam distribuição equitativa do número de

indivíduos nas espécies presentes. A dominância é considerada como função da equidade, obtida

através da seguinte equação: D = 1 – J.

3.3.4.4. Análise da variabilidade espaço-temporal e Relação da fauna com

variáveis ambientais

O teste T de Student, utilizado para comparar até duas variáveis categóricas foi utilizado

para verificar variabilidade temporal, adotando-se o mesmo valor de significância (5%).

A normalidade dos dados foi calculada através do teste de Shapiro-Wilk. Os dados foram

considerados normais por apresentarem p-valor maior que 0,05.

Foi realizada também uma análise nMDS utilizando o Índice de Bray-Curtis e o Coeficiente

de Variação UPGMA. De acordo com Gong & Richman (1995) esta análise consiste em um

conjunto de técnicas estatísticas que reúne um conjunto de dados em grupos, tipos ou classes,

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baseando-se em medidas do conjunto de variáveis ou atributos de cada variável. Sendo assim, os

elementos de um mesmo conjunto devem apresentar as maiores semelhanças, enquanto os

elementos de grupos distintos devem ser os mais diferentes possíveis.

3.3.4.5.Softwares

Para a Análise Multivariada e cálculo de todos os descritores ecológicos da assembleia

(Riqueza, Diversidade, Dominância e Equitatividade) foi utilizado o pacote estatístico Past. Já a

normalidade dos dados, Test t foi feito através do Software Graph PadPrism 5.0.1.

4. RESULTADOS

4.1. Caracterização dos sedimentos e da água

Os tamanhos dos grãos no Canal do Parapuca variaram de silte médio à areia grossa,

havendo predomínio de grãos com tamanho de silte no período chuvoso e areia durante o período

seco. Observou-se também que na região de entrada em ambos os períodos há predomínio de areia

média, enquanto nas regiões mediana 1 e 2, durante o período chuvoso o predomínio é de silte e, no

período seco, areia. Já na região de saída do Canal de ambos os períodos houve predomínio de silte

(Tabela 1).

Já o grau de seleção dos grãos se mostrou bastante homogêneo, variando pouco na maioria

das estações entre muito pobremente a pobremente selecionado. Nas estações de entrada variou de

pobremente selecionado no período chuvoso para predominantemente, moderadamente selecionado

no período seco. Nas regiões mediana 1 e 2 os grãos variaram de muito pobremente selecionado

para moderadamente selecionado enquanto nas estações de saída o predomínio foi de grãos muito

pobremente selecionado (PC) e pobremente selecionado (PS) (Tabela 1).

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Tabela 1 - Classificação dos sedimentos obtidos no Canal do Parapuca em Agosto de 2008 (PC) e Fevereiro de 2009

(PS) quanto ao grau de seleção e tamanho do grão.

Localização Estação Tamanho do Grão Grau de Seleção

PC PS PC PS 1 Silte muito fino Areia fina Pobremente selecionado Pobremente selecionado

Entrada 2 Areia média Areia média Pobremente selecionado Moderadamente selecionado

3 Areia média Areia média Pobremente selecionado Moderadamente selecionado

4 Areia grossa Areia média Moderadamente selecionado Moderadamente selecionado

5 Silte médio Areia média Muito pobremente selecionado Moderadamente selecionado

6 - Areia fina - Bem selecionado

7 Silte muito fino Silte grosso Pobremente selecionado Muito pobremente selecionado

8 Silte muito fino Silte muito fino Pobremente selecionado Pobremente selecionado

Mediana 1 9 Silte médio Silte muito fino Muito pobremente selecionado Pobremente selecionado

10 Silte fino Areia média Pobremente selecionado Pobremente selecionado

11 Silte médio Silte fino Muito pobremente selecionado Muito pobremente selecionado

12 - Silte fino - Muito pobremente selecionado

13 Silte médio Silte médio Muito pobremente selecionado Muito pobremente selecionado

14 Silte grosso Silte muito fino Muito pobremente selecionado Pobremente selecionado

15 Silte fino Silte médio Muito pobremente selecionado Muito pobremente selecionado

Mediana 2 16 Areia média Areia muito fina Pobremente selecionado Pobremente selecionado

17 Areia média Areia média Pobremente selecionado Pobremente selecionado

18 - Areia fina - Pobremente selecionado

19 - Areia fina - Pobremente selecionado

20 Areia fina Areia fina Pobremente selecionado Moderadamente selecionado

Saída 21 Silte grosso Silte médio Muito pobremente selecionado Pobremente selecionado

22 Silte fino Silte muito fino Muito pobremente selecionado Pobremente selecionado

Observou-se que o pH apresentou-se de forma bastante homogênea em todas as estações

amostrais. Por outro lado, a salinidade, matéria orgânica e CaCO3 apresentaram-se distribuídas de

forma bastante heterogênea ao longo do Canal do Parapuca (Figura 2).

A MO e o CaCO3 apresentam-se em baixas concentrações nas estações de entrada do Canal

(estações 1, 2 e 3). Esse valores começam a aumentar gradativamente nas regiões Mediana 1

(estações 4 a 12) e em algumas estações da região Mediana 2 (13 a 15), voltando a diminuir a partir

das ultimas estações da região Mediana 2 (estações (estações 16 a 19) e na primeira estação da

região de saída do Canal (estação 20). Nas estações 21 e 22 (que também compõem a região de

saída do Canal), estes valores voltam a aumentarem.

A salinidade apresentou um gradiente crescente em direção as estações de saída do Canal do

Parapuca. É possível perceber que nas regiões de entrada e mediana 1 os níveis de salinidade são

baixos, enquanto nas regiões mediana 2 e saída os níveis são bem mais elevados. Observa-se

também que na estação 8 (região mediana 2), há um pico de salinidade que pode estar relacionada a

esta estação ser uma antiga boca que pode ter rompido no período anterior a coleta, salinizando a

água.

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Figura 2 - Distribuição dos valores de pH, Salinidade, Matéria orgânica e Carbonato de cálcio (CaCO3) pelas estações

de amostragem, no complexo estuarino do rio São Francisco – SE.

As variáveis ambientais tanto da água (pH e Salinidade) como do sedimento (MO e CaCO3)

não apresentaram variação significativa (p < 0,05) ao longo do tempo (Figura 3).

Figura 3 - Variáveis ambientais mensuradas em ambos períodos sazonais (chuvoso em agosto de 2008 e seco em

fevereiro de 2009), no complexo estuarino do rio São Francisco – SE.

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4.2. Composição da poliquetofauna

Obteve-se uma abundância de 9.111 indivíduos que foram distribuídos em 3 Subclasses, 2

Ordens, 5 subordens e 21 famílias conforme pode ser observado na Tabela 2.

Tabela 2 - Lista taxonômica, baseada em Rouse & Pleijel (2001) da Poliquetofauna obtida no Canal do Parapuca,

complexo estuarino do rio São Francisco – SE, em agosto de 2008 e fevereiro de 2009.

FILO ANNELIDA

Classe Polychaeta

Subclasse Palpata

Ordem Canalipalpata

Subordem Sabellida

Família Sabellidae Latreille, 1825

Subordem Terebellida

Família Cirratulidae Carus, 1863

Família Ampharetidae Malmgren, 1866

Família Sternaspidae Carus, 1863

Subordem Spionida

Família Spionidae Grube, 1850

Ordem Aciculata

Subordem Phyllodocida

Família Phyllodocidae Örsted, 1843

Família Glyceridae Grube, 1850

Família Goniadidae Kinberg, 1866

Família Hesionidae Grube, 1850

Família Nereididae Blainville, 1818

Família Sigalionidae Malmgren, 1867

Família Syllidae Grube, 1850

Família Pilargidae Saint-Joseph, 1899

Subordem Eunicida

Família Dorvilleidae Chamberlin, 1919

Subclasse Scolecida

Família Capitellidae Grube, 1862

Família Maldanidae Malmgren, 1867

Família Opheliidae Malmgren, 1867

Família Orbiniidae Hartman, 1942

Família Cossuridae Day, 1963

Família Paraonidae Cerruti, 1909

Subclasse Polychaeta Incertae sedis

Família Saccocirridae Czerniavsky, 1881

Do total de indivíduos obtidos (9.111 ind.), 2.842 indivíduos dispostos em 20 famílias,

foram oriundos do período chuvoso, enquanto o período seco contribuiu com 6.269 indivíduos e 15

famílias. Em ambos os períodos, Spionidae (Figura 4A) foi a família mais abundante, com 1.268

indivíduos no período chuvoso (Fr = 44,6%) e 4.097 no seco (Fr = 65,3%), seguido pela família

Capitellidae (Figura 4B) (Fr = 32,4% PC e Fr = 26,1% PS) com abundância de 923 indivíduos no

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período chuvoso e 1.642 no período seco, enquanto que os demais grupos biológicos apresentaram

frequência relativa abaixo de 7% (Figura 5).

Figura 2 - Representante da família Spionidae (A) e Capitellidae (B), grupos taxonômicos dominantes em ambos os

períodos sazonais, coletados em Agosto de 2008 e Fevereiro de 2009 no Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio

São Francisco.

Figura 3 - Abundância das famílias de poliquetas obtidas no Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São

Francisco – SE, durante o período chuvoso (agosto de 2008) e seco (fevereiro de 2009).

Ainda, foi possível observar que o período seco contribuiu com 100% dos Maldanidae, 78%

dos Nereididae aproximadamente, 76% dos Spionidae, 75% dos Sigalionidae, enquanto que o

período chuvoso contribuiu com 100% dos Saccocirridae, Cirratulidae, Cossuridae, Sternaspidae,

Dorvilleidae, Phyllodocidae, 90% dos Glyceridae, 70% dos Syllidae e 66% dos Opheliidae (Figura

6).

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Figura 4 - Proporção da contribuição (%) de cada família de poliquetas por período sazonal (chuvoso –agosto de 2008 e

seco – fevereiro de 2009) obtida no Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São Francisco - SE.

Dentre as 21 famílias amostradas, treze apresentaram apenas uma guilda trófica dentre as

cinco guildas encontradas na taxocenose, havendo predomínio da guilda de carnívoros (PC - 28%;

PS - 27%), seguida pelas guildas de consumidores de depósito de subsuperfície (PC – 26% e PS –

27%) (Figura 7).

Além disso, houve predomínio de organismos errantes (80,9%) em relação aos sedentários

(14,2%) e discretamente móveis (4,76%). A tabela 3 lista as guildas tróficas e o padrão de

mobilidade de cada família que constitui a taxocenose poliquetológica encontrada no Canal do

Parapuca.

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Tabela 3 - Tabela Modo de vida das famílias de poliquetas amostradas no Canal do Parapuca, complexo estuarino do

rio São Francisco – SE, durante os períodos chuvoso (agosto de 2008) e seco (fevereiro de 2009) segundo Fauchald &

Jumars (1979).

Família Abreviação Modo de Vida

Categoria Trófica Mobilidade

Ampharetidae Amph CDS S

Capitellidae Cap CDS, CDSS, H M

Cirratulidae Cir CDS M

Cossuridae Coss CDSS M

Dorvilleidae Dorv CDS, C, H M

Glyceridae Gly CDS, CDSS, C M

Goniadidae Gon C M

Hesionidae Hesi CDS, CDSS, C, H M

Maldanidae Mald CDSS S

Nereididae Nerei CDS, CDSS, C, H, F M

Opheliidae Ophel CDSS M

Orbiniidae Orbi CDSS M

Paraonidae Paraon CDS, H M

Phyllodocidae Phyl C M

Pilargidae Pilar C M

Sabellidae Sabel F S

Saccocirridae Sacc CDS, H, C M

Sigalionidae Sigali C M

Spionidae Spio CDS, CDSS, C, F DM

Sternaspidae Ster CDSS M

Syllidae Syl C M

Legenda da categoria trófica: CDS = comedores de depósito de superfície; CDSS = comedores de depósito de sub

superfície; C = carnívoro; H = herbívoro; F = filtrador. Legenda da Mobilidade: M = móvel; DM = discretamente

móvel; S = séssil.

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Figura 5 - Guildas funcionais (%) poliquetofauna do Canal do Parapuca, estuário do rio São Francisco – SE. Legenda:

CDS = comedores de depósito de superfície; CDSS = comedores de depósito de sub superfície; C = carnívoro; H =

herbívoro; F = filtrador.

4.3. Distribuição espacial da Poliquetofauna

A abundância dos poliquetas ao longo do Canal (Figura 8) revelou, para ambos os períodos

sazonais, um padrão de distribuição multimodal.

Picos de abundância são observados em 7 estações durante o período chuvoso, sendo duas

na região de entrada do Canal: estações 1 e 3 com uma média de 76 e 109 indivíduos,

respectivamente; três estações na região mediana 2: estações 10 (�̅� = 76 indivíduos), 14 (�̅� =

171 indivíduos), 15 (�̅� = 123 indivíduos) e em duas posicionadas na saída do Canal: estações 21

(�̅� = 127 indivíduos) e 22 (�̅� = 111 indivíduos).

No período seco, foram encontrados picos de abundância para as estações na região mediana

2 do Canal: estações 13 ( �̅� = 510 indivíduuos , 14 ( �̅� = 669 indivíduos), 15 ( �̅� =

233 indivíduos), e 16 (�̅� = 373 indivíduos); e na saída: estação 21 (�̅� = 143 indivíduos). As

demais estações de ambos os períodos apresentaram baixa abundância.

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Figura 6 - Distribuição espacial da abundância dos poliquetas obtidos no Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio

São Francisco – SE, nos períodos chuvoso (agosto de 2008) e seco (fevereiro de 2009).

Espacialmente, foi possível perceber também que, no período chuvoso, as famílias

Spionidae, Capitellidae e Glyceridae estiveram mais amplamente distribuídas, presentes em mais de

sete das 22 estações amostradas. Essas famílias foram seguidas por Orbiniidae, Nereididae,

Paraonidae, Pilargidae e Goniadidae ocorrentes entre 5 e 6 estações. As demais famílias

(Ampharetidae, Saccocirridae, Sabellidae, Syllidae, Phyllodocidae, Hesionidae, Dorvilleidae,

Opheliidae, Sternaspidae, Sigalionidae, Cirratulidae, Cossuridae) tiveram distribuição espacial mais

restrita, ocorrendo em menos de 5 estações (Tabela 3).

Para o período seco, as famílias com maior amplitude de distribuição espacial foram os

Spionidae, Nereididae e Capitellidae. Seguido pelas famílias Ampharetidae, Pilargidae, Sabellidae e

Glyceridae presentes entre 5 e 7 estações. Os demais grupos taxonômicos, tais como os Hesionidae,

Paraonidae, Goniadidae, Sigalionidae, Syllidae, Maldanidae, Opheliidae e Orbiniidae, estiveram

mais restritos, ocorrendo em menos de 5 estações (Tabela 3).

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Tabela 3 – Ocorrência das famílias de poliquetas obtidas no Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São

Francisco – SE, durante os períodos chuvoso e seco.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Amph C A S A S A S S

Cap C A C A A S A A A S A A A

Cir C

Coss C

Dorv C C

Gly C C C A A A A A

Gon C S C A C S C

Hesi S C S A

Mald S

Nerei A S A A A A S S S S S A

Ophel S C C

Orbi C C C C A C

Paraon A C A A A

Phyl C C C

Pilar C C S C S S S A A

Sabel C S A S S A A

Sacc C C C C

Sigali S A

Spio A A A A A C C C S S A A A A S A A A

Ster C

Syl S C A C C

Legenda: A – Ambos períodos sazonais; C - Período chuvoso; S – Período seco; Amph – Ampharetidae; Cap –

Capitellidae; Cir – Cirratulidae; Coss – Cossuridae; Dorv – Dorvilleidae; Gly – Glyceridae; Gon – Goniadidae; Hesi –

Hesionidae; Mald – Maldanidae; Nerei – Nereididae; Ophel – Opheliidae; Orbi – Orbiniidae; Paraon – Paraonidae; Phyl

– Phyllodocidae; Pilar – Pilargidae; Sabel – Sabellidae; Sacc – Saccocirridae; Sigali – Sigalionidae; Spio – Spionidae;

Ster – Sternaspidae; Syl – Syllidae.

Ainda com relação à distribuição das famílias pelas estações, foi observado que, para ambos

os períodos sazonais, o número de famílias constantes (Fo > 50%) foi baixo, pois somente a família

Spionidae nos períodos chuvoso (Fo = 68%) e seco (Fo% = 63,6%) ocorreu em mais de 50% das

estações. Já as famílias acessórias (Fo ≥ 25 ≤ 50), foram 7 no período chuvoso e 5 no seco. Dentre

as famílias desta classificação, apenas os Capitellidae (PC - Fo = 50% e PS – Fo = 45,5%) e os

Nereididae (PC – Fo = 27% e PS – Fo = 50%) se mantiveram como acessórias em ambos os

períodos sazonais. Entretanto, em contraposição ao número de famílias constantes, o número de

famílias raras (Fo < 25%) foi elevado em ambos os períodos, sendo 15 para o período chuvoso e 9

para o período seco. A Figura 9 exibe a frequência de ocorrência para todas as famílias de ambos os

períodos sazonais.

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Figura 7 - Frequência de ocorrência (Fo%) das famílias de poliquetas obtidas no Canal do Parapuca, complexo

estuarino do rio São Francisco – SE, durante os períodos chuvoso (agosto de 2008) e seco (fevereiro de 2009).

A abundância dos poliquetas também foi agrupada por estações, em função das variáveis

ambientais amostradas, permitindo evidenciar a formação de 3 associações faunísticas em cada um

dos períodos sazonais.

Para o período chuvoso (Figura 10), a coordenada 1 explica 10% da variação dos dados,

enquanto 17% é explicado pela coordenada 2.

A primeira associação (A1) agrupa as estações 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 10, 12, 14, 15, 16, 18 e 22.

Esta associação refere-se às maiores abundâncias de Spionidae e Capitellidae associadas aos altos

níveis de MO e CaCO3. A segunda associação (A2) é composta pelas estações 11, 13, 17, 19, 20 e

21, nas quais se observa a maior influência da salinidade e pH atrelada às baixas abundâncias de

Spionidae e Capitellidae e abundância mais expressiva de Glyceridae. A terceira associação (A3) é

caracterizada pela junção das estações azoicas (8 e 9) e é uma região que recebe influência de MO

e CaCO3 em níveis menores em relação a associação 1.

Já no período seco (Figura 10), 15% da variação dos dados é explicada pela coordenada 1,

enquanto a coordenada 2 é responsável por 18%.

A primeira associação (A1) (estações 1, 2, 10, 12, 13, 14, 15, 16 e 21) sofre as maiores

influências de MO e CaCO3, além da elevada abundância de poliquetas consumidores de depósitos

como Spionidae e Capitellidae e abundância expressiva dos Ampharetidae (consumidor de

depósito) e dos Nereididae, grupo predominantemente carnívoro, embora apresente representantes

com outras formas de alimentação. A segunda associação (A2) é formada pelas estações 3, 4, 5, 11,

17, 18, 19, 20 e 22 que estão relacionadas a valores de altos de salinidade e presença de Spionidae,

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Capitellidae e Nereididae em menores abundâncias. A terceira associação (A3) é referente a uma

zona azoica e é caracterizada por receber influências de MO e CaCO3.

Figura 8 - Diagrama de ordenação nMDS das estações de coleta da macrofauna poliquetológica e das variáveis

ambientais no Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São Francisco, durante os período chuvoso (agosto de

2008) e seco (fevereiro de 2009).

A1

A2

A3

A1

A2

A3

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4.4. Distribuição temporal da Poliquetofauna

As variações nos parâmetros ecológicos da taxocenose poliquetológica, temporalmente não

apresentaram diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05) (Figura 11). Contudo,

numericamente o período seco apresentou uma maior abundância.

Figura 9 - Descritores ecológicos da taxocenose poliquetológica do Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São

Francisco – SE, durante os períodos chuvoso e seco.

4.5. Descritores Ecológicos da Poliquetofauna

A riqueza total da área foi de 21 famílias, sendo mais elevada nas estações 14 (S = 7;

Spionidae, Capitellidae, Ampharetidae, Sabellidae, Pilargidae, Orbiniidae, Phyllodocidae), 17 (S =

7; Capitellidae, Glyceridae, Orbiniidae, Phyllodocidae, Goniadidae, Syllidae, e Hesionidae) e 22 (S

= 10; Spionidae, Capitellidae, Paraonidae, Sabellidae, Orbiniidae, Pilargidae, Syllidae,

Sternaspidae, Cirratulidae e Cossuridae) do período chuvoso e nas estações 14 (S = 7; Spionidae,

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Nereididae, Capitellidae, Ampharetidae, Sabellidae, Paraonidae, Goniadidae), 15 (S = 7; Spionidae,

Nereididae, Capitellidae, Ampharetidae, Pilargidae, Sabellidae, Maldanidae) e 16 (S = 11;

Spionidae, Nereididae, Capitellidae, Ampharetidae, Pilargidae, Sabellidae, Glyceridae, Hesionidae,

Paraonidae, Goniadidae e Opheliidae) do período seco (Figura 12).

Figura 10 - Riqueza das estações ao longo do Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São Francisco – SE,

durante os períodos chuvoso (agosto de 2008) e seco (fevereiro de 2009).

Quanto à diversidade, somente as estações 7, 17, 18, 19 e 22 do período chuvoso,

apresentaram diversidade moderada, 1,36; 1,32; 1,12; 1,15 e 1,38 bits/ind-1

, respectivamente. No

período seco, as estações que apresentaram diversidade moderada foram 10 (H’ = 1,01), 17 (H’ =

1,2 bits/ind-1

), 18 (H’ = 1,1 bits/ind-1

), 19 (H’ = 1 bits/ind-1

), 21 (H’ = 1,6 bits/ind-1

) e 22 (H’ = 1,3

bits/ind-1

). As demais estações de ambos os períodos amostrais apresentaram baixa diversidade (H’

< 1 bits/ind-1

) (Figura 13).

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Figura 11 - Diversidade das estações ao longo do Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São Francisco - SE,

durante os períodos chuvoso e seco.

Ao longo do Canal, a equitatividade e a dominância oscilaram em conjunto de forma oposta,

evidenciando a forte relação existente entre as mesmas. Sendo assim, observou-se que durante o

período chuvoso o número de estações com baixa equitatividade foi elevado, sendo 8 estações

(estações 1, 2, 3, 4, 5, 14, 20 e 21), enquanto no período seco, somente 3 estações (estações 1, 13 e

14) apresentaram diversidade baixa (J < 0,4) (Figura 14).

As estações 7, 11, e 12 do período chuvoso e as 3, 5, 10, 17, 20 e 21 do período seco, foram

as mais equitativas (J > 0,90) e devido a isso observa-se redução da dominância nestes locais. Por

outro lado, as maiores dominâncias (D > 0,80) foram observadas para as estações de entrada do

Canal (estações 1, 2, 3, 4, 5 e 6 (excetuando-se a estação 7) durante o período chuvoso, enquanto

que para o período seco, apenas a estação 1 apresentou dominância acima de 0,80 (Figura 15).

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Figura 12 - Equitatividade das estações ao longo do Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São Francisco – SE,

durante os períodos chuvoso e seco.

Figura 13 - Dominância das estações ao longo do Canal do Parapuca, complexo estuarino do rio São Francisco – SE,

durante os períodos chuvoso e seco.

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5. DISCUSSÃO

5.1. Caracterização dos sedimentos e da água

O hidrodinamismo no canal do Parapuca possibilitou a ocorrência da variação no grau de

selecionamento dos grãos. Nas estações de entrada o hidrodinamismo é maior, impedindo que grãos

mais finos sejam acumulados.

Na região mediana 1 o hidrodinamismo é moderado, certamente devido à variações

geomorfológicas dessa área, pois encontram-se curvas subsequentes e áreas alagadas que dissipam

energia, e grão finos conseguem sedimentar nestes locais.

Na região mediana 2 o hidrodinamismo é moderado nas estações 13 a 15 e maior nas

estações 16 a 19. Nessa região, o aumento do hidrodinamismo ocorre devido a maior influência e

proximidade à boca que o conecta (estação 20) com a água do mar.

Na saída do canal o hidrodinamismo é maior na estação 20, pois é onde ocorre a entrada de

água do mar no canal. Já nas estações 21 e 22 da região de saída o hidrodinamismo é menor devido

ao fato desse local ser confinada, não recebendo influência direta das águas marinhas.

O padrão de acúmulo encontrado para MO e CaCO3 é explicado devido as diferenças no

hidrodinamismo em cada região do Canal do Parapuca, uma vez que a região de entrada recebe

influência direta das águas do São Francisco, enquanto as estações posicionadas na saída, recebem

influência das águas marinhas do Atlântico Sul.

Nas regiões medianas (1 e 2) com maior acumulo de MO, são locais mais calmos, onde não

é recebida influência do rio e do mar tão intensamente, se comparada as demais regiões. Além

disso, nestas regiões é onde se encontram as maiores concentrações de manguezais. Já na região

final da área mediana 2 e na primeira estação da saída do canal (na estação 20), os níveis tanto de

MO e CaCO3 decaem devido a entrada de água marinha. As demais estações da saída do Canal

apresentam valores mais elevados de MO e CaCO3 devido ao fato de estarem em áreas mais

protegidas, do embate direto das ondas.

Já o padrão crescente dos níveis de salinidade podem ser explicados devido a influência

marinha ser mais expressiva nas regiões mais próximas a saída do canal, fazendo com que os níveis

de salinidade aumentem gradativamente conforme a proximidade com o mar.

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5.2. Composição da Poliquetofauna

A poliquetofauna bêntica apresenta uma enorme diversidade de formas e pode ser

encontrada em diversos ambientes, porém poucas espécies são eurialinas, sendo raras as espécies

restritas a água doce (AMARAL; RIZZO; ARRUDA, 2013). Devido a isso, a diversidade em

ambientes estuarinos, varia de forma considerável conforme a heterogeneidade do ambiente,

proporcionado pela constante oscilação nos níveis de salinidade, dentre outros fatores (ALVES,

MUEHE; DOMINGUEZ, 2006).

A fauna poliquetológica no estado de Sergipe, ainda é pouco estudada, em trabalhos

realizados por Nonato & Luna (1970a, b); e por Luna (1967) evidenciaram 21 famílias para

Sergipe. Santos, Santos & Oliveira (1994) estudaram a poliquetofauna do estuário do rio Piauí e

encontraram riqueza de 20 famílias distribuídas em um total de 4.398 indivíduos. Já Guimarães

(2010) ampliou o número de famílias que ocorrem em Sergipe para 51. Este estudo amplia em 1

família, sendo agora 52 a riqueza deste grupo na costa sergipana, devido a nova ocorrência de

Saccocirridae. Atualmente, são descritas 85 famílias de poliquetas para o mundo (FAUCHALD &

ROUSE, 1997) e 68 famílias para a costa brasileira (AMARAL; RIZZO & ARRUDA, 2013), a

riqueza encontrada no Canal do Parapuca representa 24,70% e 30,88% das famílias ocorrentes no

mundo e para o Brasil, respectivamente, isso sugere que a riqueza desse estuário tipo vale inundado

é relativamente baixa.

Contudo, a composição dessa fauna revelou um ambiente de elevada abundância, devido ao

fato dos Spionidae e Capitellidae apresentarem abundância discrepante em relação aos demais

grupos biológicos, o que pode ser associado ao fato dessas famílias serem consumidoras de detritos

orgânicos, e possivelmente terem se beneficiado devido aos elevados níveis de MO em algumas

regiões do Canal do Parapuca. Em um estudo da taxocenose bêntica total, Santos et al. (2009)

analisaram somente as lagunas costeiras no complexo estuarino do rio São Francisco e reportaram

os poliquetas como um dos grupos mais abundantes.

A ocorrência desses organismos no tempo demonstrou que algumas famílias estiveram

restritas a apenas um dos períodos sazonais. Os Maldanidae estiveram presentes apenas no período

seco e segundo Day (1967) essa família apresenta habito escavador e alimenta-se de partículas

orgânicas de regiões lamosas da zona de entre marés. Neste estudo a família Maldanidae, foi

encontrada na estação 15, região caracterizada por sedimentos de fração silte médio, fração lamosa

que tende a acumular detritos organismos, porém o Canal do Parapuca apresenta composição

sedimentológica em geral pobremente selecionada, o que pode interferir na dinâmica de grupos

mais especialistas.

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Os Phyllodocidae, Dorvilleidae, Sternaspidae, Cossuridae, Cirratulidae e Saccocirridae

foram encontrados somente no período chuvoso. De acordo com Sousa (2006) a ocorrência de

famílias restritas a um dos períodos, atrelado ao fato de também não apresentarem abundância

expressivas pode estar relacionado à distribuição aleatória desses táxons no ambiente e isso pode

dificultar a coleta mais representativa destas famílias.

O predomínio de poliquetas carnívoros e consumidores de depósitos de subsuperfície pode

ser explicado devido ao fato do Canal do Parapuca ser local de grande abundância, e sedimentos

enriquecidos organicamente, possibilitando que tanto poliquetas carnívoros se alimentem de outros

poliquetas e animais que vivem no fundo, como poliquetas detritívoros se alimentem do material

orgânico depositado abaixo da superfície sedimentológica. Muito provavelmente essas guildas

funcionais conseguem coexistir de forma significativa, pois não competem pelo mesmo recurso

alimentar, impedindo dessa forma que ocorra exclusão competitiva e competição interespecífica.

Observou-se também que a assembleia dos poliquetas deste estuário é representada

predominantemente por poliquetas móveis (errantes). Guimarães (2010) encontrou esse mesmo

padrão para a poliquetofauna macrobêntica na Plataforma Continental de Sergipe. Barros-Júnior

(2009) analisando a comunidade poliquetológica da região sudeste também encontrou maior

diversidade entre os poliquetas móveis e discretamente móveis, sendo a maior amplitude de

distribuição reporta para estes grupos em relação aos sedentários, em seu estudo.

O número reduzido das famílias sedentárias Sabellidae, Maldanidae e Ampharetidae pode

estar relacionado com diversos fatores. Os Sabellidae são poliquetas filtradores comumente

encontrados em substratos sólidos, onde constroem seus tubos e a falta de substratos consolidados

pode ter inibido a ocorrência mais expressiva desta família. Além disso, é uma família filtradora, e

habita normalmente águas com menos material em suspensão, diferentemente dos estuários que

devido ao seu grande aporte de nutrientes, apresentam grandes quantidades de materiais

particulados em suspensão. Já os Maldanidae e Ampharetidae são depositívoros e competem

diretamente com os Spionidae e Capitellidae que são as famílias dominantes neste estudo e que

apresentam espécies oportunistas.

5.3. Distribuição Espacial da Poliquetofauna

Os Spionidae, Capitellidae, Ampharetidae e Paraonidae são as famílias determinantes do

padrão multimodal observado para esta assembleia.

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Hernández-Alcántara et al. (2014) estudando a diversidade de poliquetas em ambientes

estuarinos, reportaram os Spionidae e Capitellidae como os taxa mais representativos desse tipo de

ambiente. Bolívar (1986) menciona que os Spionidae compõe um grupo de organismos comuns à

todos os ambientes principalmente aquelas de águas rasas. Neste trabalho a maior profundidade

chega apenas a 5,6 m. Já os Capitellidae, de acordo com Amaral (1980) constituem uma família que

está dentre as mais frequentes nos ambientes de fundos inconsolidados.

Ambas famílias também são consideradas oportunistas, diante disso, mediante situação

favorável, estes grupos conseguem aumentar a abundâncias de suas populações. Durante o PS

notou-se que estes grupos ocorrem em ambientes com níveis de salinidade maior, tendendo a água

salgada. Barros-Júnior et al. (2009) mencionam que a salinidade é um dos principais fatores que

atuam sobre a distribuição da fauna bêntica geral de estuários. Entretanto, para a Baía de Todos os

Santos foi observado que a salinidade esteve correlacionada a outras variáveis ambientes,

reforçando que esta, não atua isoladamente, se fazendo necessário estudos que testem

individualmente a influência de cada uma delas.

Já para os Paraonidae e Ampharetidae, Morgado & Amaral (1989) evidenciaram espécies

ocorrendo em fundos siltilosos. Neste estudo estas famílias ocorreram expressivamente em

ambientes com as mesmas características de silte na fração fina, o que pode indicar seletividade do

tipo de fundo por estas famílias, para essa fração granulométrica.

Em ambos os períodos foi encontrada uma zona azoica (ausência de poliquetofauna), no

período chuvoso, composta por duas estações e no período seco por quatro.

Archetti, Bernia & Salvà-Catarineu (2010), analisando vetores ambientais da Baia Del

Fangar na Espanha através do índice AMBI, propõem que em ambientes não contaminados o estado

da comunidade macrobêntica é normal, enquanto regiões contaminadas apresentam espécies

indicadoras de contaminação e se o local for extremamente contaminado a área se apresenta como

azoica. Vale ressaltar que as zonas azoicas encontradas no Canal do Parapuca apresentam valores

altos de MO, o que pode estar reduzindo a quantidade de oxigênio dissolvido no meio pela

atividade microbiana agindo na decomposição desse vetor ambiental (matéria orgânica).

Fontes (1999) menciona que nas margens do Canal do Parapuca encontram-se bosques de

mangue compostos principalmente por Rhizophora mangle. Devido a isso, a presença desse

elemento, pode funcionar como uma fonte de nutrientes alóctone. Entretanto, Carvalho e Fontes

(2006) constataram que os manguezais dessa região estão sendo suprimidos e dando lugar a

fazendas de cultivo camaroneiro e piscicultura, fazendo com que haja mudanças no padrão

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hidrodinâmico do manguezal. Toledo et al. (2003) relatam que o uso de rações e fertilizantes em

viveiros de piscicultura aumentam a quantidade de nutrientes na água e que após serem despejados

em cursos de água adjacentes modificam a dinâmica desses ecossistemas.

Dentre as 21 famílias, apenas Spionidae (em ambos os períodos sazonais) foi considerado

constante, demostrando ser a única família típica do complexo estuarino do rio São Francisco,

enquanto a quantidade de famílias raras foi elevada (75% no PC e 60% no PS), indicando que o

ambiente pode apresentar uma grande heterogeneidade ambiental e com isso limitar ou restringir a

amplitude de ocorrência da maioria dos grupos. Silva et al. (2008) menciona que algumas espécies

de Sigalionidae, Dorvilleidae, Syllidae apresentam picos de abundância em área de até 22m de

profundidade. Fato que pode ter limitado a ocorrência desses indivíduos, pois, o Canal do Parapuca

apresenta profundidades não ultrapassando 5,6 metros, caracterizando-se como um ambiente de

águas rasas.

A família Saccocirridae, que está sendo reportada pela primeira vez para a costa de Sergipe e

para o Nordeste do Brasil, teve ocorrência restrita às estações mais ao sul (região de saída do Canal)

e somente no período chuvoso. Di Domenico (2012) relata a ocorrência de espécies dessa família

em regiões mais agitadas, tipicamente caracterizadas como de alta energia e com sedimentos mais

grossos e arenosos considerando que tais características são essenciais ao funcionamento do ciclo

reprodutivo desses indivíduos. Tais características foram encontradas nas estações de registro dessa

família, devido à proximidade com as águas marinhas.

5.4. Distribuição temporal da poliquetofauna

O estado de Sergipe não apresenta as quatro estações do ano muito bem definidas, sendo

seus períodos hidrológicos marcados por duas estações anuais, uma seca e outra chuvosa, ambas

quentes. Sebadini-Santos (2007) evidencia a falta de padrão sazonal no rio São Francisco devido à

influência das barragens construídas ao longo do médio e médio-baixo cursos sobre as descargas

fluviais. Este fato pode ter sido o causador da falta de variação sazonal na densidade total da

poliquetofauna entre as campanhas sazonais. Além disso, a homogeneidade da composição da

poliquetofauna em ambos os períodos pode estar relacionado ao fato de, tanto no período chuvoso

como no seco, as características ambientais da água e do sedimento não terem variado

significativamente, fazendo com que a fauna de poliqueta não responda a estes parâmetros.

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5.5. Descritores Ecológicos da Poliquetofauna

As maiores riquezas observadas para as estações 14, 17 e 22 no PC pode estar relacionado

ao fato dessas estações apresentarem sedimentos siltilosos (estação 14 (silte fino) e 22 (silte

grosso)) com mais de 6% de recurso alimentar (MO) em um ambiente considerado muito

pobremente selecionado. Já na estação 17, o predomínio sedimentológico é de areia média

pobremente selecionada, porém com níveis de MO inferior a 6%. Sousa (2006) menciona que a

heterogeneidade do ambiente proporciona uma maior quantidade de nichos e isso contribui para a

diversidade da fauna poliquetológica bêntica.

A diversidade no Canal não foi elevada, de forma geral, ela se comportou de moderada a

baixa. Isso pode estar relacionado a elevada abundância de poucos grupos dentro da taxocenose, o

que também favoreceu para que a dominância fosse elevada, principalmente no período chuvoso

nas estações de entrada. Essa alta dominância é explica pela salinidade baixa. Pois nas estações de 1

a 6, a salinidade é bastante reduzida. Semensatto-Jr (2006) demonstraram em seu estudo no Canal

do Parapuca, a influência da entrada de água proveniente do rio São Francisco. Segundo o mesmo

autor, a água doce adentra no Canal através da região próxima a foz, diluindo a água salgada.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos foi possível inferir que:

1) A riqueza do Canal do Parapuca foi de 21 famílias, sendo as mais representativas em termos

de abundância os Spionidae e Capitellidae;

2) Spionidae foi considerada a única família típica do complexo estuarino do rio São Francisco

por apresentar frequência de ocorrência superior a 50%.

3) A taxocenose é composta por um grande número de famílias raras, no conceito de Dajoz

(1983).

4) Os poliquetas desse estuário são predominantemente móveis, carnívoros e consumidores de

depósito de subsuperfície;

5) A variabilidade temporal não foi observada embora o período seco se apresente de forma

menos dominante e mais equitativo em relação ao chuvoso;

6) Para ambos os períodos sazonais a relação da poliquetofauna com as variáveis ambientais

mostrou a formação de três regiões com composição biótica e abiótica distintas;

7) O canal do Parapuca é um ambiente de diversidade moderada e elevada abundância;

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8) É um ambiente onde poucas famílias dominam, resultando em baixa equitatividade e alta

dominância na taxocenose;

7. REFERÊNCIAS

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