3
V Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais ESTRUTURA DE FLORESTAS SECUNDÁRIAS EM ÁREAS DE AGRICULTURA FAMILIAR NO NORDESTE PARAENSE Rodrigues, Mauro Antônio Cavaleiro de Macedo\ Miranda, Izildinha de sousa", Kato, Maria do Socorro Andrade" 1Eng. Agrônomo mestrando em Ciências Florestais / UFRA - [email protected], 2Professora da Universidade Federal Rural da Amazônia, 3Pesquisadora da Embrapa/Cpatu. 1 Introdução A floresta secundária desempenha um papel de extrema relevância para a agricultura familiar do nordeste paraense, ela é utilizada como fonte de biomassa para a fertilização do solo antes da implantação de cultivos alimentares e pastos. Neste sistema de produção são identificadas algumas etapas: 1° - eliminação da cobertura florística com a utilização do fogo; 2°_ ciclo de cultivo de no máximo dezoito meses geralmente iniciado com uma cultura alimentar de ciclo curto e finalizado pelo cultivo da mandioca (Manihot esculenta); 3° - abandono da área seguido de um período de pousio curto, geralmente de dois a cinco anos; 4° - por último, o cultivo itinerante, que derruba e queima as florestas mais velhas para que o ciclo seja novamente iniciado. Os sistemas agroflorestais (SAF) de maior ocorrência consorciam espécies florestais com culturas e animais no mesmo tempo, contudo, devido a dependência orgânica do sistema agrícola em relação a floresta é perfeitamente confortável denominar tal sistema como sendo SAF sequencial. A centenária agricultura no nordeste paraense, em sua maioria de cunho familiar, enfrenta um grande problema, a insustentabilidade do método de derruba e queima. Esta insustentabilidade é devida, principalmente, ao binômio baixa fertilidade natural e degradação do solo, o que redunda em baixa produção agrícola, tal método será, denominado neste trabalho de sistema tradicional (S.T). Segundo Hólscher et aI., (1997) citado por Kato et aI., (1999). A diminuição da produção neste tipo de sistema de cultivo normalmente esta associada a redução da fertilidade do solo ocasionada pelas perdas de nutrientes por volatilização durante a queima da capoeira, no momento do preparo da área para plantio, e também pela lixiviação dos nutrientes do solo. A baixa sustentabilidade deste sistema é agravada com a ocorrência de fogo acidental descontrolado e uso de mecanização no preparo do solo para cultivo agrícola. Como já foi mencionado o sistema depende da quantidade de biomassa, contudo, o endurecimento da legislação e a escassez de florestas primárias forçam a diminuição do período de pousio (ínterim entre dos ciclos de cultivo), o que tem afetado a produção ainda mais. Preocupada com esse cenário, a Embrapa Amazônia Oriental, através do projeto Tipitamba, em parceria com a Universidade de Bonn e Universidade Góttingen (Alemanha), e do Programa SHIFT (Studies of Human Impact on Forests and Floodplains in the Tropics), está desenvolvendo uma tecnologia de preparo de área sem o uso do fogo, através da trituração da vegetação secundária (Kato et aI. 1999). Este método consiste na utilização de trituradores florestais em substituição ao fogo na eliminação da cobertura vegetal, doravante neste trabalho este método será chamado de sistema alternativo (S.A). O objetivo do experimento consiste em comparar a estrutura da floresta secundária de 4 anos, em áreas de pousio, em diferentes sistemas de produção (S.A e S.T). 2 Metodologia Para a realização do estudo foram selecionadas cinco áreas de produtores familiares, localizadas nas comunidades São João e São Matias, nos municípios de Marapanim e Igarapé Açu, respectivamente, no nordeste paraense (Tabela 1). Cada área selecionada, com tamanho de 50 X 50m (uma tarefa) foi submetida a dois sistemas de eliminação da cobertura vegetal. Metade de cada área (25 X 50m) foi submetida ao sistema tradicional (derruba e queima) e a outra metade ao sistema alternativo (trituração). Todas as áreas encontram-se em período de pousio de aproximadamente 4 anos, após um cultivo de arroz, milho e feijão (ciclo curto) e um cultivo posterior de mandioca, com esta idade as áreas estão no 189

ESTRUTURA DE FLORESTAS SECUNDÁRIAS EM ÁREAS DE …ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/176277/1/Estrutura... · V Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais o ST

  • Upload
    vanthuy

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

V Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais

ESTRUTURA DE FLORESTAS SECUNDÁRIAS EM ÁREAS DE AGRICULTURAFAMILIAR NO NORDESTE PARAENSE

Rodrigues, Mauro Antônio Cavaleiro de Macedo\ Miranda, Izildinha de sousa", Kato, Maria doSocorro Andrade"

1Eng. Agrônomo mestrando em Ciências Florestais / UFRA - [email protected], 2Professora daUniversidade Federal Rural da Amazônia, 3Pesquisadora da Embrapa/Cpatu.

1 Introdução

A floresta secundária desempenha um papel de extrema relevância para a agricultura familiar donordeste paraense, ela é utilizada como fonte de biomassa para a fertilização do solo antes daimplantação de cultivos alimentares e pastos. Neste sistema de produção são identificadas algumasetapas: 1° - eliminação da cobertura florística com a utilização do fogo; 2°_ ciclo de cultivo de no máximodezoito meses geralmente iniciado com uma cultura alimentar de ciclo curto e finalizado pelo cultivo damandioca (Manihot esculenta); 3° - abandono da área seguido de um período de pousio curto,geralmente de dois a cinco anos; 4° - por último, o cultivo itinerante, que derruba e queima as florestasmais velhas para que o ciclo seja novamente iniciado. Os sistemas agroflorestais (SAF) de maiorocorrência consorciam espécies florestais com culturas e animais no mesmo tempo, contudo, devido adependência orgânica do sistema agrícola em relação a floresta é perfeitamente confortável denominartal sistema como sendo SAF sequencial.

A centenária agricultura no nordeste paraense, em sua maioria de cunho familiar, enfrenta um grandeproblema, a insustentabilidade do método de derruba e queima. Esta insustentabilidade é devida,principalmente, ao binômio baixa fertilidade natural e degradação do solo, o que redunda em baixaprodução agrícola, tal método será, denominado neste trabalho de sistema tradicional (S.T).

Segundo Hólscher et aI., (1997) citado por Kato et aI., (1999). A diminuição da produção neste tipo desistema de cultivo normalmente esta associada a redução da fertilidade do solo ocasionada pelas perdasde nutrientes por volatilização durante a queima da capoeira, no momento do preparo da área paraplantio, e também pela lixiviação dos nutrientes do solo.

A baixa sustentabilidade deste sistema é agravada com a ocorrência de fogo acidental descontrolado euso de mecanização no preparo do solo para cultivo agrícola. Como já foi mencionado o sistemadepende da quantidade de biomassa, contudo, o endurecimento da legislação e a escassez de florestasprimárias forçam a diminuição do período de pousio (ínterim entre dos ciclos de cultivo), o que temafetado a produção ainda mais.

Preocupada com esse cenário, a Embrapa Amazônia Oriental, através do projeto Tipitamba, em parceriacom a Universidade de Bonn e Universidade Góttingen (Alemanha), e do Programa SHIFT (Studies ofHuman Impact on Forests and Floodplains in the Tropics), está desenvolvendo uma tecnologia depreparo de área sem o uso do fogo, através da trituração da vegetação secundária (Kato et aI. 1999).Este método consiste na utilização de trituradores florestais em substituição ao fogo na eliminação dacobertura vegetal, doravante neste trabalho este método será chamado de sistema alternativo (S.A).

O objetivo do experimento consiste em comparar a estrutura da floresta secundária de 4 anos, em áreasde pousio, em diferentes sistemas de produção (S.A e S.T).

2 Metodologia

Para a realização do estudo foram selecionadas cinco áreas de produtores familiares, localizadas nascomunidades São João e São Matias, nos municípios de Marapanim e Igarapé Açu, respectivamente, nonordeste paraense (Tabela 1). Cada área selecionada, com tamanho de 50 X 50m (uma tarefa) foisubmetida a dois sistemas de eliminação da cobertura vegetal. Metade de cada área (25 X 50m) foisubmetida ao sistema tradicional (derruba e queima) e a outra metade ao sistema alternativo (trituração).

Todas as áreas encontram-se em período de pousio de aproximadamente 4 anos, após um cultivo dearroz, milho e feijão (ciclo curto) e um cultivo posterior de mandioca, com esta idade as áreas estão no

189

V Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais

estágio inicial de sucessão, apresentando uma vegetação secundária, popularmente chamada decapoeirinha.

Em cada área foram implantadas oito parcelas de 5 x 3m (15m2), totalizando 120 m2 de área amostrada

em cada área de estudo e 600m2 na total (Tabela 1). A distribuição das parcelas na área ocorreu daseguinte forma: quatro parcelas (60m2

) no sistema tradicional e as outras quatro no sistema alternativo(Figura 1).

Em cada parcela foram mensuradas as seguintes variáveis: Altura, diâmetro e identificação da espécie.As espécies foram identificadas por comparações no Herbário da Embrapa Amazônia Oriental.

Os estratos da estrutura vertical foram estabelecidos através da alocação dos indivíduos, obedecendo-secritérios baseados na altura, diâmetro e hábito de vida (Tabela 2).Os dados foram analisados segundo Brower et aI. (1998), através dos índices de densidade (O), índicede diversidade de Shannon-Weaver (H') e índice de equibilidade de Pie/ou (J).

T b I 1 L r id T - d ri" d d ' de estudo.a e a - oca rzaçao e I entí rcaçao o equipamento u I rza o em ca a areaUnidades amostrais

Município Localidade Área Sistema SistemaTradicional Alternativo

Área I 4 x (15m2) 4 x (15m2

)

Marapanim São João Área II 4 x (15m2) 4 x (15m2

)

Área 111 4 x (15m2) 4 x (15m2

)

Igarapé Açu São MatiasÁrea IV 4 x (15m2

) 4 x (15m2)

Área V 4 x (15m2) 4 x(15m2

)

TOTAL 300m2 300m2

1------:2=-=s-m---------::2:-::-s-m---- 3m

5m

.... 1 1Queima :1:1

1,:::':lli:::",)::Figura 1 - Esquema de distribuição das parcelas em cada uma das áreas que foram estudadas

Tabela 2 - Critérios para a alocação dos indivíduos nos estratos da estrutura vertical.

Estratos Ervas Cipó (diâmetro) Arbusto (Altura) Arvore (altura)Superior ôrnrn » 150 cm > 150 cm >

Intermediário 2> - 6mm 30> - 150 cm 30> - 150 cmInferior Todas 0-2mm 0- 30cm 0- 30cm

3 Resultados E Discussão

Nos 600m2 inventariados foram identificados 26.543 indivíduos pertencentes a 248 especres, 163gêneros e 66 famílias. As famílias com maior número de indivíduos foram Poaceae, com 5.781 (21,8%)indivíduos, Myrtaceae com 4.048 (15,3%) e Cyperaceae com 2.573 (9,7%). As ervas representaram39,1% dos indivíduos, os arbustos 29,2%, os cipós 16,8% e as árvores 14,8%.

O estrato inferior é o mais abundante com 63,3% dos indivíduos, seguido do intermediário com 26,3% edo superior com 10,2%.

190

V Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais

o ST possui uma diversidade maior que o SA, a média do ST para o índice de diversidade foi de 3,3108e a do S.A foi de 2,9048, este padrão é estendido para todos os estratos. Para o índice de equibilidade,que expressa, além da homogeneidade das densidades, o quanto da diversidade máxima foi atingida, amédia do ST (0,74) também se mostrou superior ao SA (0,65), o que também é constatado em todos osestratos. Na variável densidade, a média do SA (2.904 indivíduos) é superior ao ST (2.381 indivíduos),esta constatação estende-se apenas ao estrato inferior (Tabela 3 ).

A diversidade nos dois sistema é considerada alta quando comparadas a resultados de florestasprimárias não antropizadas que geralmente apresentam um valor para o índice de diversidade entre 3,0e 4,0. O sistema tradicional apresentou uma melhor equibilidade, o que indica que no sistema alternativoexiste uma maior dominância de algumas espécies, especialmente de Sclería pterota, sobre as outras;talvez o Mulch pode estar prejudicando a germinação de algumas espécies ou favorecendo outras.

T b 13M 'd· d d ld d di íd d ·bTd d d d das.a e a - e Ia a ensi a e, rversi a e e equi I I a e as CinCO areas estu a

EstratoDiversidade (H') Equibilidade (J) Densidade (ind./ 60m2

)

S.A S.T S.A S.T S.A S.T

Geral 2,90 3,31 0,65 0,74 2.904 2.381E.inferior 2,70 2,38 0,67 0,58 2.067 1.294

E.intermediário 2,92 3,01 0,74 0,74 689 711E.superior 2,96 3,00 0,82 0,81 243 302

4 Referências Bibliográficas

• BROWER, E.J.; ZAR, J.H.; VAN ENDE, C.N. Field and laboratory methods for general ecology. 4th ed,New York: WCB/ McGraw, 1998, 273p.• KATO, O.R.; KATO, M.S.A.; DENICH, M.; FOLSTER, H.; VLEK, P.L.G.Dinãmica de nutrientes nasolução do solo em sistemas de cultivo sem o u~o do fogo no preparo de área no nordeste paraense, In:SIMPOSIO SOBRE MANEJO DA VEGETAÇAO SECUNDARIA PARA A SUSTENTABILlDADE DAAGRICULTURA FAMILIAR DA AMAZÔNIA ORIENTAL, 1., 1999, Belém, PA. Anais. Belém: EmbrapaAmazônia Oriental / CNPq, 2000. p. 112-115,• KATO, M. do S. A.; KATO, O.R.; DENIIICH,M.; VLEK,P.L. Fire-free alternatives to slash-and-burn forshifting cultivation in the eastern Amazon region: the role of fertilizers. Field Crops Research, v.62, p.225-237,1999.

191