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INTRODUÇÃO
O presente trabalho trata das observações desenvolvidas ao longo do período de estágio
probatório numa Escola pública da rede estadual de ensino do Rio Grande do Norte,
Desembargador Floriano Cavalcanti (FLOCA), situado no bairro do Mirassol, em Natal. Este
processo constitui de um relatório de observação e o planejamento de um projeto de
intervenção a ser feito nesta mesma escola nos próximos estágios. Conforme previsto na
resolução CNE/CP (Conselho Nacional de Educação/ Conselho Pleno) Nº. 02/2002, bem
como na Portaria nº. 09/2008, de 10 de junho de 2008, este estágio permite aos alunos de
licenciatura vivenciar as relações sociais travadas em sala de aula, naquilo que chamamos de
experiência da docência, de fato, num processo que se constitui a partir da comunicação entre
alunos professores e outros dirigentes da Escola, buscando o aperfeiçoamento do profissional
da educação no espaço escolar.
Para tanto, o presente trabalho está divido em duas partes: no primeiro capítulo apresentamos
o levantamento de dados obtidos a partir da observação na Escola supracitada, com relação à
sua estrutura física, assim como o relato do dia-a-dia da observação do espaço escolar, ou
seja, as informações decorrentes das relações sociais desenvolvidas com agentes construtores,
alunos, professores, funcionários. No segundo capítulo, nos debruçamos sobre um projeto de
pesquisa elaborado a partir das nossas vivencias e leituras iniciais das aulas de história neste
espaço, notadamente, no que diz respeito ao que pretendemos fazer como forma de
possibilidade de intervenção na realidade escolar. O projeto, cujo título é Tecendo o saber: a
literatura como fonte para o ensino da História, onde usamos a literatura como meio de
proporcionar uma experiência diferenciada no processo de ensino-aprendizagem nas aulas de
História.
Por fim, nosso trabalho buscou enxergar este momento de exploração inicial sobre a prática
da docência como o começo de uma jornada, naquilo que se consolidará com mais intensidade
à medida que formos compreendendo o papel do educador, sobretudo, do professor de
história, na construção de uma estratégia de saber que nos permita olhar para além do lugar
comum. Iniciemos esta fantástica viagem!
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CAPÍTULO 1 - OBSERVAÇÃO DA ESCOLA: UM PRIMEIRO OLHAR SOBRE O ESPAÇO
A escola de campo para a realização do estágio I, no qual iniciamos as primeiras observações
e a realização do estudo etnográfico para a disciplina Estágio Supervisionado de Formação de
Professores I (História), foi a Escola Estadual Desembargador Floriano Cavalcanti, localizada
na Rua dos Manacás, S/N, Conjunto Mirassol, Capim Macio, Natal, sob CEP 59078050, no
estado do Rio Grande do Norte, CGC/MF nº 0884180410001-94.
Fundada em 8 de Fevereiro de 1979, pela portaria de autorização nº 7.548 nesta mesma data,
atendendo inicialmente 1600 estudantes. Eram oferecidas aulas para estudantes do 1º e 2º
grau, além de formação profissional básica, no qual sua distribuição se dava em 19 salas de
aulas. Além destas salas, havia uma biblioteca, outra sala para técnicas industriais, uma sala
para técnicas comerciais, uma sala para técnicas agrícolas e dois laboratórios de ciências.
Entre seus primeiros quadros administrativos, a escola teve como diretores: Maria da Salete,
Belo de Vasconcelos (1979-1989), José Nicodemus Filgueira (1990-1994), Terezinha Araújo
de Farias (1995-2000), José Roberto de Morais (2000-2004), Leila Bezerra da Silva (2004-
2005), José Roberto de Morais (2005-2006), Ohara Tereza da Silva Pacheco (2007-2010). A
atual diretora é Ana Mércia Belo de Carvalho
A escola tem passado por diversas reformas estruturais desde 2011, hoje consta com 26 salas
de aulas, oferecendo aulas do 6º ano do ensino fundamental à 3ª série do ensino médio, nos
turnos matutino e vespertino, além dos atendidos pelo= EJA (Educação de Jovens e Adultos)
no turno noturno. O FLOCA, como também é conhecida a referida Instituição, é uma
referencia na educação do município, tendo aproximadamente 80% dos seus estudantes
oriundos de bairros periféricos, tanto da zona norte quanto da zona oeste da cidade de Natal, e
também alunos vindos de cidades próximas à capital, como Parnamirim, Macaíba e São
Gonçalo do Amarante.
O Conjunto Mirassol, onde está localizada a referida escola, é considerado um bairro de
localização privilegiada, cuja população é formada por pessoas de classe média. Em sua
maioria funcionários públicos, trabalhadores autônomos.
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1.1 ESTRUTURA FÍSICA: CARACTERÍSTICAS E USOS
Sobre a estrutura física, por ser uma das maiores escolas públicas do Estado, com extensão
territorial que abarca todo o quarteirão do Conjunto Mirassol, a Escola Estadual
Desembargador Floriano Cavalcanti atende cerca de 2400 estudantes. O espaço físico está
dividido da seguinte forma: estacionamento, bloco administrativo, pátio, quadra poliesportiva,
bloco pedagógico, e blocos A, B, C, D, E de aulas. O estacionamento é um espaço que fica
entre o portão da entrada da Escola e o portão que dá acesso ao bloco administrativo, e outras
dependências. É um espaço amplo, usado pelos funcionários da Escola para guarda de
veículos pessoais, como carros e motocicletas.
No Bloco Administrativo, correspondente ao primeiro corredor, após o portão de acesso e o
estacionamento da Escola, fica um segurança (terceirizado), e no primeiro corredor à direita
fica a sala da Direção, o banheiro dos professores e funcionários, o almoxarifado, o arquivos
dos estudantes, a Secretaria, a biblioteca e o arquivo da Escola. A sala da direção é um
espaço climatizado, com ar condicionado, onde ficam troféus e outros prêmios da Escola. É
um espaço relativamente pequeno, onde ficam duas mesas (da diretora e do vice), e duas
pequenas estantes onde ficam materiais do expediente. O horário de funcionamento da direção
é das 7 h às 22h.
A Secretaria fica ao lado da sala da Direção. É divida por um grande balcão em forma de L.
Neste espaço há seis mesas, três cadeiras, três mesas nas quais ficam computadores, um
armário pequeno e dois armários grandes onde ficam acomodados documentos emitidos ou
recebidos pela Secretaria. Como a função da Secretaria é a de emissão de documentos, tais
como matriculas, transferências, declarações, históricos escolares, ou seja, documentos da
administração da Escola, o horário da Secretaria é das 7h às 22h.
Na Biblioteca, uma sala ao lado da Secretaria, consta um acervo de 13993 livros, todos
catalogados e organizados, distribuídos em 12 estantes de aço esmaltado. A biblioteca conta
com um bom acervo bibliográfico e muitos jornais antigos. O acesso a este acervo é
disponível para toda comunidade escola, além do espaço da biblioteca ser usado para estudos
em grupos, aulas e reunião. A biblioteca possui uma mesa grande, retangular, com uma
cadeira. Uma mesa retangular pequena e uma cadeira. Onze mesas redondas, pequenas,
acompanhadas de 4 cadeiras cada. O horário de funcionamento também é das 7h às 22h.
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Após a entrada no bloco administrativo fica o Arquivo da Escola. Neste local ficam
armazenados o Arquivo Permanente da escola, composto por documentos dos professores e
funcionários. Ao sair do “bloco administrativo” há uma escada que dá acesso ao Pátio. É um
espaço coberto e amplo com alguns bancos em suas extremidades. Neste Pátio ainda temos
acesso ao Grêmio estudantil, que não conhecemos porque nos dias em que estivemos na
escola, para realizar as observações de caracterização, o espaço encontrava-se fechado. Há
também Sala de cópias que encontra-se desativada, dois vestiários, masculino e femininos,
de acesso aos alunos.
Através do Pátio temos acesso à Cozinha da escola, espaço que está dividido em três
cômodos: no primeiro é distribuída a merenda escolar através da “janela”, há ainda dois
balcões de alvenaria e algumas cadeiras; na cozinha encontramos duas pias de inox, um fogão
industrial, uma mesa, duas geladeiras e dois freezers e uma dispensa. Atualmente, a escola
possui um Ginásio para práticas de atividades esportivas variadas. Ao lado esquerdo do Pátio
o bloco pedagógico, onde ficam a sala dos professores; a coordenação pedagógica e a
coordenação de esportes. Na Sala dos professores ficam dois cômodos: um primeiro onde
encontramos armários metálicos utilizados pelos professores para guardarem seus pertences e
uma mesa redonda acompanhada de cinco cadeiras. No segundo espaço há duas mesas com
cadeiras, um gelágua”, uma pia, e ao lado da pia espelho e toalha, uma mesa onde é servir
lanches aos professores e dois sofás.
A sala da Coordenação pedagógica fica à direita da sala dos professores, e também é
dividida em dois espaços: uma sala principal, onde essa equipe realiza suas atividades e
atende às demandas da comunidade escolar e uma sala secundária comporta armários, estantes
com livros, uma mesa, cadeira, uma mesa com microcomputador e mapas. A sala da
coordenação funciona das 7h às 22h e tem por objetivo orientar os professores nas fases de
planejamento e execução dos planos anuais de ensino, apoiar projetos e avaliar o processo
pedagógico na busca de um ensino eficiente viabilizando a formação integral dos estudantes.
No que diz respeito aos blocos de aula, em frente à sala de professores fica o Bloco “A” de
aulas, à esquerda deste, temos dois banheiros : masculino e feminino. Há uma sala de vídeos
e um laboratório de informática. Neste bloco A há quatro salas de aula, com uma média trinta
e cinco carteiras, um birô e uma cadeira para o professor, ventiladores, grupos de lâmpadas
florescentes e um quadro branco com uma pequena parte para giz.
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A sala de vídeo esta equipada com uma TV de 29p, um Retroprojetor Digital, o que
chamamos popularmente de “data show”, uma tela para projeção, um aparelho de DVD, um
aparelho de som, um microcomputador, um quadro branco e trinta e seis carteiras. Esta sala é
utilizada pelos professores que necessitem de recursos áudios-visuais, e para o acesso é
necessário marcar horários para utilizá-la.
O Laboratório de Informática tem aproximadamente vinte e cinco microcomputadores, mas
nem todos estão em condições de uso. Ainda há nessa sala um quadro branco para orientação.
Após descer uma escada seguindo a entrada do “bloco pedagógico”, acessamos o Bloco “B”
de aulas, que fica no corredor da esquerda. É composto por banheiros semelhantes aos do
Bloco A, onde há seis salas de aulas com uma média de quarenta carteiras por turma. À direita
deste mesmo corredor situa-se o Bloco “C” de aulas, que possui nove salas de aula, sendo o
maior da escola.
No final do corredor segue o Bloco “D” de aulas, sendo o menor da escola, composto por
duas salas de aula, que comporta cerca de cinquenta carteiras. No Bloco “D” também fica o
auditório da escola, de tamanho médio, com cem cadeiras acolchoadas, um pequeno palco
com um camarim por traz e um banheiro. Passando pelo D, subindo uma escada, temos o
Bloco “E” de aulas onde encontramos salas de aula que já foram laboratórios de ciências.
1.2 RECURSOS HUMANOS
Os Recursos Humanos da escola são divididos em cinco grupos: corpo docente, técnico-
administrativo, apoio, gestão da escola e corpo discente. A escola possui um corpo docente
constituído por 90 professores nos três turnos. A maioria destes profissionais são licenciados
em suas respectivas áreas de atuação, porém, também encontramos casos em que professores
ministram aulas nas áreas onde não possuem formação superior e algumas turmas com
professor, estagiários, contratados pela Secretaria Estadual de Educação, que assumiam as
turmas sem nenhum tipo de supervisão.
Em seu quadro de funcionários técnico-administrativos há cinco auxiliares de secretaria, no
turno vespertino. Todos possuem ensino médio completo. Não identificamos a quantidade de
auxiliares de secretaria nos demais turnos. Já a coordenação pedagógica é composta por dois
funcionários com formação superior em Pedagogia no matutino e duas funcionarias com
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formação superior em Pedagogia e uma licenciada em Letras com habilitação em Língua
Portuguesa no turno vespertino. O pessoal de apoio é formado por três merendeiras, cinco
ASGs e quatro porteiros de empresa terceirizada contratados pelo Estado, além de dois
policiais militares da Guarda Patrimonial, um inspetor de corredor, contratado pelo Estado.
A escola é gerida por uma diretora, um vice-diretor, um coordenador administrativo
financeiro e um secretário geral, além do conselho escolar que tem poder deliberativo. Sobre
o corpo discente, nos foi informado que a maioria dos alunos são provenientes de regiões
periféricas da cidade, em sua maioria das Zonas Norte e Oeste.
Como a escola atende aos estudantes do 6º ao 9º do ensino fundamental no turno matutino, e
1ª à 3ª série do ensino médio no vespertino, 1ª à 3ª série do ensino médio, e vários níveis da
EJA, no turno noturno, percebemos que, no que diz respeito a origem sócio- econômica
desses estudantes, há uma parcela significativa oriunda da classe média baixa. Mesmo sendo
uma escola destinada a ambos os gêneros, percebemos que em sua maioria é formada por
pessoas do gênero feminino.
A faixa etária é bastante diversificada, sendo sua maioria dos dez aos dezenove anos, assim
como também encontramos estudantes acima dos vinte anos, e alguns da terceira idade. Não
nos foi fornecida informações quanto ao índice correspondente a evasões e repetências dos
estudantes, contudo, tomando a sala observada como base, o índice de evasão gira em torno
de 8% no total, assim como o índice de alunos repetentes.
1.3 ESTRUTURA DE FUNCIONAMENTO
A instituição funciona nos três turnos mencionados, sendo que no matutino são oferecidas
aulas em 26 turmas, e destas cinco são turmas do 6º ano; seis do 7º ano, sete turmas do 8º ano
e oito turmas do 9º ano. No turno vespertino, onde também são oferecidas aulas a 26 turmas
destinados ao público do ensino médio, há 11 turmas da 1ª série, 8 turmas da 2ª série, 7
turmas da 3ª série. No turno noturno não pudemos acompanhar o cotidiano escolar, porém,
nos foi fornecido as seguintes informações: há demandas de oferta para o ensino médio e
também para o EJA, sendo oferecidas 3 turmas da 1ª série, 3 turmas da 2ª série, 4 turmas da 3ª
série. Do EJA são ofertadas 2 turmas para o 4º nível e 1 turma do 5º nível.
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Desde a decisão do conselho escolar , do ano de 2007, o limite das turmas ficou estabelecido
até no máximo 40 alunos por turma. As turmas em que realizamos a observação – 3ª série do
Ensino Médio, no turno vespertino, possuía 38 alunos matriculados, porém o número de
alunos havia sido reduzido no decorrer do ano letivo. A escola fica aberta das 7h às 22:20min,
porém, alguns setores como a direção, coordenação pedagógica e secretaria só funcionam das
7h às 22h.
1.4 DINÂMICA SOCIO-CULTURAL DA ESCOLA
A dinâmica sócio cultural especificada aqui consta da análise feita no FLOCA, referentes aos
dias 01 de Outubro de 2014, dia que comecei a observação da escola, ao dia 05 de Novembro
de 2014. Sobre a prática docente, assistimos aulas de três turmas da 3ª série do ensino Médio.
A escolha por assistir três turmas de uma mesma série se deu por motivos de não haver outro
horário compatível com as nossas responsabilidades acadêmicas, assim, por ter começado as
observações na escola num período já avançado da proposta inicial da disciplina, optamos,
juntamente com o professor e a coordenadora pedagógica responsável, por acompanhar as três
turmas do 3º ano, turmas D, B e A, no referido colégio.
Neste período, que contempla 5 dias de observação de aulas, e outros 5 de observação da
escola, fizemos desde a coleta de dados que compõe o presente relato etnográfico, como
também a observação em sala de aula, objetivo central da disciplina de Estágio 1. Sobre o que
observamos neste período, no que diz respeito ao corpo docente da instituição e suas relações
interpessoais, notamos que há disputas entre alguns membros, notadamente, no que diz
respeito aos aspectos ideológicos.
Como acompanhamos o cotidiano escolar num período eleitoral, havia conversas nos
corredores, assim como nas salas de aula, e na sala dos professores, sobre as disputas
presidenciais e também as disputas eleitorais locais. Inclusive, duas aulas nestas turmas do 3º
ano foram totalmente ocupadas por questões eleitorais, tendo o aval do professor para falar
abertamente sobre os jogos de interesses de políticos locais e de partidos de destaque
nacional.
Sobre os alunos, havia muita conversa em sala de aula, entre uma das turmas, a mais
problemática foi a turma do 3º ano A, onde os alunos estavam notadamente desmotivados, e
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parecem estar em sala de aula apenas para cumprir tabela. Numa das apresentações da turma,
da exposição do grupo sobre um determinado tema da História do Brasil, era visível o
desinteresse.
Nos corredores da escola também havia muita agitação. Muitos alunos saem com frequência
da escola, outros costumam sair da sala sem autorização do professor. O professor observado,
por mais que tenha tentado uma relação amistosa com estas turmas, deixava transparecer, por
diversas vezes, o esgotamento de ter que pedir paciência, concentração no que está sendo
discutido em sala. Sobre os grupos identitários que encontramos neste ambiente, sobretudo
nas turmas observadas, havia adeptos de seguimentos urbanos como skatistas, forrozeiros,
swigueiros, os que gostam de fazer brincadeiras e fazer a turma rir, os roqueiros, evangélicos
e alguns outros grupos que falavam abertamente sobre suas preferências sexuais em sala. Uma
miscelância de identidades que constituem a multiplicidade de lugares e sujeitos que compõe
aquele ambiente.
1.5 CARACTERIZAÇÃO DA TURMA
As turmas observadas, a saber: turmas D, B e A do 3º ano do ensino médio, onde foram feitas
nossas observações iniciais, no turno vespertino, possuía 38 alunos matriculados, sendo uma
presença maior de pessoas do gênero feminino, com exceção da turma do terceiro ano A, onde
este grupo é, em sua maioria, de meninos. Havia estudantes nas faixas etárias dos 16 aos 19
anos. Tentamos conseguir informações sobre alunos novatos, repetentes e transferidos destas
turmas, mas nos foi negada estas informações porque estes dados não estavam impressos, mas
em rede, no sistema usado digitalmente e a escola estava com problemas de acesso.
Nas observações que fizemos nestas turmas, percebemos que as duas primeiras turmas eram
as mais receptivas com relação ao assunto discutido em aula. Questionavam, tiravam dúvidas
com o professor sobre o conteúdo. Porém, nestas turmas, também ficou visível o desestimulo
dos alunos, sendo mais frequente a participação quando se falavam sobre assuntos do
cotidiano, ou brincadeirinhas que costumeiramente o professor fazia em sala. Nas tarefas
realizadas tanto em sala de aula quanto as que foram solicitadas para serem feitas em casa,
houve muitos casos de omissão. As turmas pareciam mais empenhadas em copiar as respostas
um dos outros que compreender o real objetivo daquela tarefa.
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Nas primeiras turmas, D e B, houve mais empenho e, de fato, o professor tinha mais
facilidade em controlar a turma, expondo o conteúdo. As turmas são barulhentas, inquietas, o
que compromete o trabalho do educador. Sobre os métodos avaliativos usados pelo professor
em sala de aula, basicamente ele seguia três critérios: 1) prova escrita; 2) Seminários e 3)
atividades avaliativas feitas com base em questões do próprio livro didático. Este último,
valendo como nota complementar.
1.6 OBSERVAÇÕES DAS AULAS
1.6.1 Observação nº 1. Data: 08/10/20141
Nossa primeira observação no âmbito escolar foi realizada na aula de História com as turmas
D, B e A do 3º ano, do ensino médio. Primeiramente o professor questionou os alunos sobre
as tarefas realizadas na aula passada, e pediu para que entregassem as respostas obtidas a
partir da leitura do livro didático, usando 3 capítulos do referido livro. Depois, ele solicitou
que alguns alunos lessem em voz alta suas respostas, e por seguinte, lessem o conteúdo
apresentado na primeira parte de cada um dos capítulos. Muitos alunos não responderam estas
questões e tiveram dificuldade de encontrar as partes mencionadas nos textos lidos por outros
alunos da turma. As aulas começaram às 13:00 horas, depois teve o momento de intervalo,
retomando as aulas com as duas turmas seguintes: B e A. Nestas turmas foram passadas este
mesmo tipo de avaliação, nos mesmos capítulos. Ao término da aula, o professor pediu para
que alguns alunos permanecessem em sala para discussão sobre as apresentações dos
seminários, cuja nota representaria a nota do terceiro bimestre.
1.6.2 Observação nº 2. Data: 15/10/2014
Essa segunda observação foi realizada na aula de História nas turmas D, B e A do 3º ano do
ensino médio, entre 13h e 17:30min. Neste dia, muitos alunos faltaram à aula. Os poucos
presentes, entre 10 e 15 alunos em cada uma das turmas, expuseram em seus seminários
alguns trechos de um dos capítulos usados no livro didático sobre a Guerra Fria. Por causa do
barulhos, algumas brincadeirinhas em sala, muitos não prestaram atenção no que os
componentes dos grupos falavam. Também era visível o esforço do professor em manter a
turma focada no que havia sido pedido por ele. Ao termino de uma das apresentações, o
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professor, chamou atenção não só da turma, mas de alguns componentes do grupo, assim
como refletiu sobre a seriedade do trabalho. Ao terminar as aulas, o professor entregou as
atividades corrigidas na aula passada.
1.6.3 Observação nº 3. Data: 22/10/2014
Em nossa terceira observação em sala de aula das turmas D, B e A, da 3ª série do ensino
médio, as aulas começaram às 13:00 e terminaram às 17:30. Na sala havia 30 alunos. A aula
iniciou com a exposição da revisão de conteúdos anteriores, como a Guerra Fria, depois
passou para o momento de apresentação do segundo grupo a expor os seminários. Os alunos
estavam visivelmente nervosos, não tinham domínio sobre aquilo que era exposto. O
professor fez algumas interferências em alguns momentos das apresentações. As aulas das
turmas B e A foram mais abertas. Não houve exposição de conteúdo. Pela proximidade das
eleições do segundo turno, o tom das discussões giraram em torno dos candidatos do Estado
ao governo e os representantes do cenário nacional à presidência da república. O professor
liberou as turmas mais cedo para resolver questões pessoais.
1.6.4 Observação nº 4. Data: 29/10/2014
A quarta observação em sala de aula aconteceu no dia 29 de Outubro, nas turmas D, B e A, da
3ª série do ensino médio, turno vespertino, entre 13h e 17:30min. Estavam presentes 25, 30 e
11 alunos em cada uma das turmas. A aula começou em tom de harmonia, onde o professor e
os alunos comentaram os resultados das eleições. Houve muitas questões sobre a
representação de alguns grupos sociais no fortalecimento da democracia do país. Uma das
alunas mencionou o fato de seus pais, evangélicos, proibirem que ela votasse nos candidatos
do PT porque acreditavam que eles tinham pacto com o demônio por serem comunistas. A
turma inteira caiu na gargalhada, incluindo o professor. A menina ficou visivelmente
incomodada com algumas piadas lançadas pela turma. Não houve qualquer menção mais séria
por parte do professor sobre as palavras da aluna.
No decorrer da aula, muitas dúvidas sobre algumas questões que seriam abordadas no ENEM
foram sendo feitas ao professor. Algumas respondidas de forma muito superficial. Houve a
retomada dos últimos grupos que faltavam apresentar o seminário. Este método de avaliação é
claramente falho, justamente porque expõe o aluno a uma situação desconfortável. Muitos
meninas e meninas da turma eram visivelmente tímidos. Tinham domínio sobre o assunto,
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mas não sabiam como expressar corretamente o que sabiam. Outro modelo se apresentação
poderia ser pensado. Na aula da turma A, nos último horários da tarde, foi passada questões
retiradas do livro didático. Ressaltou-se que os alunos deveriam copiar 7 questões do livro e
passar o caderno para um outro colega responder, sendo devolvido e corrido pelo próprio
aluno a partir da exposição posterior feita pelo professor em sala de aula.
1.6.5 Observação nº 5.Data: 05/11/2014
A quinta e última avaliação observação foi realizada na aula de História nas turmas D, B e A,
do 3º ano do ensino médio entre 13h e 17:30min, estando presentes 25 estudantes. O professor
deu continuidade as atividades da aula anterior, copiou mais cinco questões sobre a Era
Vargas. O professor respondeu alguns questionamentos sobre o ENEM. Quando as perguntas
feitas eram sobre o conteúdo exposto, o professor pediu para que os alunos lessem e
procurassem as respostas nos devidos capítulos do livro didático. Nesta aula, o professor
chamou atenção de alguns alunos que estavam usando o celular no momento da aula.
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CAPÍTULO 2 - TECENDO O SABER: A LITERATURA COMO FONTE PARA O ENSINO DA HISTÓRIA
I. APRESENTAÇÃO
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, eu me senti levado – e até gostosamente – a “reler” momentos fundamentais de minha prática, guardados na memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo. ”·.1
Paulo Freire
O presente projeto de pesquisa busca tratar os conteúdos acerca de sujeitos e conceitos
históricos a partir das múltiplas visões oferecidas pelo uso da literatura como instrumento de
compreensão destes enlaces. O surgimento do tema ocorreu a partir da necessidade de
elaboração de um processo de intervenção, objetivado na disciplina de Estágio 1, nas
observações feitas em campo, que demonstraram a necessidade de um recurso que abarcasse a
deficiência dos alunos na compreensão daquilo que era transmitido em sala de aula por meio
do uso do livro didático ou exposto oralmente nas aulas de História.
Inicialmente, quando pensamos neste trabalho, pretendíamos trabalhar com animes, filmes,
documentários como recurso didático para as discussões de gênero e sexualidade naquele
espaço, porém, diante da dificuldade das turmas observadas com relação à leitura, escrita e
interpretação, alteramos o produto inicial para melhor atender aquela realidade. Notadamente,
claro, foi preciso pensar numa proposta em que pudéssemos discutir questões de gênero,
sexualidade – os chamados temas transversais-, sob este novo prisma.
Se falarmos em problematizar o passado, ou melhor, a leitura que temos sobre o passado, é
mister mencionar que foi a partir da revolução concebida pela Escola dos Analles, nas
renovações no campo historiográfico no que diz respeito às suas abordagens, dimensões e
domínios, que tudo isso se tornou possível. Foi quando a nova escrita historiográfica voltou-
1 FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988.
12
se para outros sujeitos, objetos e fontes históricas, alargando seu campo de conhecimento, que
este leque de possibilidades de conhecimento foi aberto. A terceira geração da escola dos
Analles, mais conhecida como a “Nova História”, defendeu que a história incluía qualquer
traço ou vestígio do que o homem fez ou pensou desde o seu surgimento sobre a terra, o que
nos permite, na contemporaneidade, entender que toda atividade humana é História.
Nesta nova dimensão historiográfica, o presente projeto de pesquisa se enquadra na interface
de uma História Social e Cultural, uma vez que a problemática proposta diz respeito aos
processos de interpretação das transformações da sociedade, mas especificamente no que diz
respeito ao uso da literatura como meio de compreensão entre as diferentes realidades do
mundo na aula de História. Como expresso no título do trabalho, a nossa intenção é de tecer,
ou seja, ligar estes saberes que dialogam com o ensino de História, notadamente, no campo da
linguística, semiótica. Ao ler Machado de Assis, Monteiro Lobato, Kafka ou até mesmo
literatura de cordel, para citar alguns exemplos, queremos que o aluno se enxergue como
sujeito de um processo histórico, não como alguém que lê algo distante de sua vida, por isso
mesmo, toma como desinteressante e desestimulante o hábito de leitura ou do estudo da
História.
A ideia que tivemos, a partir desse projeto, é de estreitar os laços entre o saber e o fazer, ou
seja, é trazer para o aluno uma história problematizada e próxima de sua realidade. E, para
isso, a literatura terá como papel basilar o de inserir estas discussões dentro de perspectivas
históricas contextualizadas em obras de seu tempo, não necessariamente escritas para aquela
dada época.
II. JUSTIFICATIVA
13
Compreendemos que o processo ensino-aprendizado é uma construção, onde o aluno é
apresentando a diferentes realidades históricas, assim como seus diferentes grupos
socioculturais, e que este modelo ainda não é uma realidade em muitas escolas, na práxis de
muitos profissionais do ensino. O que se nota, por exemplo, é o compartilhar de perspectivas
historiográficas centradas ora num modelo de História única ora num modelo que busca se
alinhar aos conceitos de classe, raça, gênero e outras questões contemporâneas fixados numa
interpretação comprometida ideologicamente sem problematizar as várias leituras que se têm
sobre estes mesmos temas.
Situar estas referências, conceitos, numa perspectiva histórica, explicando ao aluno os
diferentes tipos de contextos, intencionalidades e engendramentos, mostrando que a História é
feita de recuos, avanços, acordos, tensões, continuidades, descontinuidades, é o que se espera
de uma boa aula de História, por isso, entendemos que o uso da literatura como fonte no
ensino de História servirá de aporte para atingir tais objetivos.
Por ser um discurso privilegiado, a literatura serve como um passaporte de acesso ao
imaginário de épocas distintas, como nos aponta Sandra Jatahy Pesavento em seu artigo sobre
a querela entre História e Literatura (PESAVENTO, 2006):
A literatura é, no caso, um discurso privilegiado de acesso ao imaginário das
diferentes épocas. No enunciado célebre de Aristóteles, em sua “Poética”, ela é o
discurso sobre o que poderia ter acontecido, ficando a história como a narrativa dos
fatos verídicos. Mas o que vemos hoje, nesta nossa contemporaneidade, são
historiadores que trabalham com o imaginário e que discutem não só o uso da
literatura como acesso privilegiado ao passado — logo, tomando o não-acontecido
para recuperar o que aconteceu! — como colocam em pauta a discussão do próprio
caráter da história como uma forma de literatura, ou seja, como narrativa portadora
de ficção!2
Neste sentido, muitos alunos, orquestrados pelo docente com um método de ensino limitado
ao uso do livro didático, como o caso observado, tende a ver o ensino de História como um
ensino “enfadonho”, que, por conseguinte, leva ao desinteresse. Como dito, a dificuldade do
aluno em fazer este gancho do passado com o presente, em assimilar o conteúdo de história
2 Sandra Jatahy Pesavento. História & literatura: uma velha-nova história, Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 28 janvier 2006, consulté le 30 Novembre 2014. URL : http://nuevomundo.revues.org/1560 ; DOI : 10.4000/nuevomundo.1560
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com o cotidiano, com suas vivências, torna clara a necessidade de auxílios metodológicos
para o aprendizado do aluno que contemplem estas particularidades, como no caso da
literatura.
Sobre isso, os textos iniciais dos PCN- História (5ª a 8ª série) apresentam “a necessidade de
se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos” (BRASIL, 1998, p. 5), em
cujos objetivos encontramos a compreensão da cidadania como participação social e política,
e o posicionamento de maneira crítica, responsável e construtiva como sendo fundamentais
para a efetivação dessa escola voltada para a cidadania. Oras como formar cidadãos críticos
sem o fortalecimento de recursos que possibilitem a leitura crítica e ampla sobre determinados
fatos da sociedade? É sobre esta reflexão que pautamos nosso objetivo.
A utilização de métodos diferenciados, sobretudo, de fontes variadas, tornam o aprendizado
mais dinâmico e efetivo. A literatura, por conter este leque de possibilidade sobre os vários
sentidos da história, representa uma oportunidade ímpar para trabalhar com o aluno uma visão
crítica sobre o mundo e aquilo que é exposto em sala de aula.
III. PROBLEMAS/HIPÓTESES
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Como exposto, a realidade escolar observada trouxe a nós uma serie de questionamentos,
entre eles, a de um envolvimento maior na participação do aluno em sala de aula. Ao
verificarmos o conhecimento histórico naturalizado, limitado ao uso do livro didático, e a
dificuldade de assimilação dos alunos para com o fazer histórico, a questão que nos
incomodou foi: de que forma o uso da literatura como fonte no ensino de História ajudará na
formação dos estudantes, no sentido de torna-los cidadãos críticos e plenamente capazes de
compreender aquilo que leem, que observam?
A nossa hipótese é que o uso deste recurso trará mais estimulo ao aluno nas discussões feitas
em sala, assim como contribuirá para atingir as propostas dos Parâmetros Curriculares
Nacionais, seja no Ensino fundamental, seja no Ensino Médio, auxiliando na formação, de
forma que estes alunos possam se comunicar, argumentar, compreender e agir criticamente
frente aos desafios da sua realidade social.
IV. OBJETIVOS
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Objetivos Gerais:
Pretende-se, a partir deste estudo e textos literários variados, como literatura de cordel, teatro
e poesias, apresentar categorias próximas à realidade social do aluno produzindo, assim, a
capacidade crítica de leitura do conteúdo programático do saber histórico.
Objetivos específicos:
Investigar o ensino de história a partir de uma abordagem com o uso da literatura
como fonte em sala de aula;
Contribuir para o reconhecimento dos alunos nas narrativas e identificando questões
do seu cotidiano nas fontes compartilhadas;
Analisar como o uso da literatura pode auxiliar no problema de déficit de interpretação
e coesão argumentativa nos textos de trabalhos feitos em sala;
V. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
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Na elaboração deste trabalho, situado no campo historiográfico da Nova História Cultural,
podemos detectar um alargamento das discussões e objetos para o trabalho historiográfico.
Muitos autores trabalham com a concepção de literatura e o ensino de História. Entre eles
podemos destacar os valorosos trabalhos de Sevcenko Literatura como Missão; Aline Lima
e Crislane Azevedo no artigo intitulado Leitura e Compreensão do mundo na Educação
Básica: o ensino de História e a utilização de diferentes linguagens em sala de aula, Jacques
Leehardt e Sandra Jatahy Pesavento Discurso histórico e narrativa literária e Antonio
Celso Ferreira: História e literatura: fronteiras móveis e desafios disciplinares.
As referidas leituras aqui apresentadas, ainda em fase de reflexão, servem para fundamentar o
aporte teórico que compõem a estrutura do nosso projeto de intervenção escolar. Sobre a
importância e validade argumentativa do uso da literatura em sala de aula, sobretudo nos
apoiamos nos trabalhos de autores como Sandra Jatahy Pesavento, que nos faz ter uma
dimensão sobre a importância e a maneira como devemos abordar a literatura como auxílio
em sala de aula.
VI. METODOLOGIA
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A partir da escolha do tema, detalhado neste projeto, buscamos bibliografias para amparar
teoricamente o desenvolvimento do mesmo, cuja leitura também amparou os conceitos que se
pretende utilizar - como representação, apropriação e linguagem. Depois disso, foram
formulados os problemas que norteiam o projeto. O processo de investigação e aplicação do
projeto em turma de escola do sistema público de ensino, em Natal/RN, durante dois meses,
será feito no decorrer do segundo estágio, onde será aplicado um questionário de sondagem,
cujo objetivo é saber os conhecimentos que os alunos já têm acerca do tema e conceitos, bem
como os interesses pessoais deles.
Após as aulas e atividades que serão desenvolvidas durante esses dois meses, cujas descrições
cabe ao plano de aula, será aplicado um novo questionário visando investigar os resultados da
aplicação do projeto. Utilizaremos também, como forma de detectar o desenvolvimento da
leitura crítica dos estudantes, performance artística feita com o conteúdo histórico que estará
sendo ministrada na unidade semestral. Também roda de conversa gravada em áudio com
intuído de análise qualitativa.
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VII. ELEMENTOS CONCEITUAIS
Para o desenvolvimento deste projeto, cujo tema é Tecendo o saber: a literatura como fonte
para o ensino da História serão usados conceitos como representação, apropriação e
linguagem. Tomando como base a definição de Roger Chartier sobre representação quando
diz:
“as representações do mundo social assim construída, embora aspirem a
universalidade de um diagnostico fundado [...] As percepções do social não são de
forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e praticas (sociais,
escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade a custa de outros, por elas
menosprezados, a legitimar um projecto reformador ou a justificar, para os
próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas. Por isso esta investigação sobre
as representações supõe-nas como estando sempre colocadas num campo de
concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e de
dominação. As lutas de representações têm tanta importância como as lutas
econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta
impor, a sua concepção do mundo social, os valores que são os seus, e o seu
domínio”
(CHARTIER, 1990,p.17)
No que toca ao conceito de apropriação, que também é empréstimo de Chartier, que enfatiza
a pluralidade dos usos e dos entendimentos, vê a apropriação como o momento em que a
"aplicação" de uma configuração narrativa particular à situação do sujeito transforma, pela
interpretação, a compreensão que este tem de si mesmo e do mundo, transformando assim,
também, sua experiência tida como universal. A apropriação tal como a entendemos visa
explicitar e reconhecer que nem as ideias nem as interpretações são desencarnadas, e que,
contrariamente ao que colocam os pensamentos universalizantes, as categorias dadas como
invariantes, sejam elas fenomenológicas ou filosóficas, devem ser pensadas em função da
descontinuidade das trajetórias históricas, ou melhor, que ao invés ordens de caráter natural,
universal, necessário e divino, são categorias contingentes, culturais, históricas, particulares e
humanas(CHARTIER, 1990).
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Por último, o problemático conceito de linguagem retomado a partir do trabalho de Mikhail
Bakhtin. Segundo o autor, a linguagem seria um fenômeno profundamente social e histórico,
portanto, ideológico. Para Bakhtin:
“Portanto, por trás de cada texto está o sistema da linguagem. A esse sistema
correspondem no texto tudo o que é repetido e reproduzido e tudo que pode ser
repetido e reproduzido, tudo o que pode ser dado fora de tal texto (o dado).
Concomitantemente, porém, cada texto (como enunciado) é algo individual, único e
singular, e nisso reside todo o seu sentido (a sua intenção em prol da qual ele foi
criado). É aquilo que nele tem relação com a verdade, com a bondade, com a beleza,
com a história.”3
A linguagem, portanto, perpassaria pelos usos e atribuições que os sujeitos, sejam estes
locutores ou interlocutores, fariam dela em situações de comunicação. O enunciado seria
sempre modulado de acordo com o contexto social, histórico, cultural e ideológico.
(BAKHTIN,1999).
3 Bakhtin. Mikhail. Estética da Criação Verbal. Tradução de Paulo Bezerra, edição eletrônica
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VIII. CRONOGRAMA
ATIVIDADES2º
SEMESTRE2014
1º SEMESTRE
2015
2ºSEMESTRE
2015
Observação de uma realidade escolar
X
Revisão teórico bibliográfica
X X X
Elaboração de projetoX
Elaboração de instrumentos de pesquisa
X
Execução a partir de intervenção na escola
campo de estágio
X
Reavaliação de projeto de pesquisa
X
Execução do projeto final em sala: Prática docente no
Ensino Fundamental
X
Execução do projeto final em sala: Prática docente no
Ensino Médio
X
Análise e reflexão do objeto de estudos e seus resultados
X
Escrita final do texto de análise da pesquisa
X
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo da notória frase apresentada onde Paulo Freire afirma a importância da educação,
esta como um ato político, quando diz: “se a educação sozinha não pode transformar a
sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”, é que finalizamos este primeiro momento do
trabalho. Até aqui, a realidade observada nos dá uma sensação de esperança, porque
descobrimos em sala de aula o prazer que é destinar um tempo de sua vida a guiar outros seres
humanos, ainda em sua formação cidadã, a construir-se e definir-se no mundo.
Confesso que iniciamos este Estágio com muitos receios. Primeiro achamos que não daríamos
conta de tanta responsabilidade num semestre que tende a ser o mais angustiante, quando nos
deparamos com a escrita do um ensaio monográfico para obtenção de uma etapa da
graduação. Segundo porque, por sermos ainda iniciantes neste processo de aprendizagem da
licenciatura, estávamos em estado de expectativa, e esta foi se confirmando aos poucos, a
cada questão respondida nos olhos daqueles a quem é reservada a missão do porvir.
Ainda que contemplados pela sensação reconfortante da esperança, também nos deparamos
com problemas que nos fugia do entendimento. Não imaginávamos que os problemas em sala
de aula perpassavam por tantas batalhas cotidianas. Acreditávamos, no alto de nossa
inexperiência, que o fazer-se educador de História constituía apenas em problematizar as
fontes, desnaturalizar conceitos, refletir sobre as narrativas apresentadas. Não sabíamos que
entre o problematizar e a realidade havia tantas margens segregando o entendimento de uma
educação formadora, a começar pela realidade do ensino básico no país. Alunos do 3º ano do
ensino médio, portanto, concluintes, sem um mínimo de compreensão sobre aquilo que é
apresentado. Sem uma perspectiva positiva do ensino de História como mestra para vida.
Em nosso projeto, como apresentado, buscaremos trazer os estudantes para próximo da
História. É fazê-los tomar o gosto pela palavra, àquela que nos liberta e amplia nossos
horizontes. Portanto, nossas expectativas sobre os próximos passos são as mais positivas,
tendo em vista que o destino deste projeto é apresentar-se enquanto corpo vivo, ávido por
tornar-se prática no cotidiano escolar.
Ao pensarmos na literatura enquanto fonte em sala de aula, refletimos a partir do olhar do
estudante, não apenas do educador que quer trazer aos alunos um ritmo conteudista. É por
pensarmos no ensino de História enquanto este devir político, que entendemos que o uso desta
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fonte, a literatura e seu leque expressivo de interpretações, poderá ser uma ferramenta útil no
cumprimento daquele que acreditamos ser o objetivo maior da educação: a de libertar.
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REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Crislane; LIMA, A.C.S. Leitura e compreensão do mundo na educação
básica: o ensino de História e a utilização de diferentes linguagens em sala de aula. Roteiro,
V.36, p. 55-80,2011.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1999.
_____. Estética da Criação Verbal. Tradução de Paulo Bezerra, edição eletrônica
CHARTIER, Roger. “Por uma sociologia histórica das práticas culturais”. In: Roger
Chartier. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990
FERREIRA, Antonio Celso. História e literatura: fronteiras móveis e desafios disciplinares.
Revista pós- História. São Paulo: UNESP, v.4, 1996.
FREIRE, Paulo. A importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22 ed. São
Paulo: Cortez, 1988.
LEEHARDT, Jacques; PESAVENTO, Sandra Jatahy. (Org). Discurso histórico e narrativa
literária. Campinas: Unicamp, 1998.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e literatura: uma velha-nova história, Nuevo Mundo
Mundos Nuevos, Debates 2006. Disponível em
htp://nuevomundo.revues.org/document1560.html. Acesso em 25 de Novembro de 2014.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na
Primeira República. 2ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
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