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1 DINÂMICA DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL: ESTUDO COMPARATIVO DE CASOS ENTRE ORGANIZAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA Eliton Luiz Moreira – UNICENTRO ([email protected]) Antônio João Hocayen-da-Silva – UNICENTRO ([email protected]) Resumo O presente artigo possui como objetivo a analise das estruturas de duas organizações: uma estabelecida no setor público, pertencente ao governo do estado do Paraná e a outra uma sociedade anônima, tentando verificar a existência de similaridades ou diferenças quanto as seus processos e relações de trabalho. A compreensão da estrutura organizacional torna-se um passo importante para o desenvolvimento organizacional. A partir dessa compreensão, o conhecimento das relações que ocorrem dentro da estrutura, torna-se possível à implementação de mudanças para que ela alcance de forma mais eficaz os seus objetivos. Classifica- se como estudo comparativo de caso, com enfoque qualitativo e explicativo. Foram realizadas 12 entrevistas semi-estruturas, e submetidas à análise de conteúdo. Destaca-se que a integração entre os departamentos deve ser trabalhada, para que as barreiras existentes sejam quebradas e a relação entre os departamentos seja maior, nos dois tipos de organização. Conclui-se que toda a estrutura organizacional é responsável pela realização dos processos e a caracterização das organizações permite perceber como os processos se desencadeiam dentro da dinâmica estrutural. A principal característica observada nas duas organizações foi a funcionalidade que cada departamento possui dentro do todo, sendo uma integração de trabalho. Palavras-Chave: Estrutura Organizacional; Organização Pública; Organização Privada. Abstract This article has aimed to analyze the structures of two organizations: one established in the public sector, belonging to the state of Paraná and the other a corporation trying to verify the existence of similarities or differences in the processes and working relationships. Understanding the organizational structure becomes an important step for organizational development. From this understanding, the knowledge of the relationships that occur within the structure, it becomes possible to

Estrutura Organizacional - Administração

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DINÂMICA DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL: ESTUDOCOMPARATIVO DE CASOS ENTRE ORGANIZAÇÃO PÚBLICA E

PRIVADA

Eliton Luiz Moreira – UNICENTRO ([email protected])Antônio João Hocayen-da-Silva – UNICENTRO ([email protected])

ResumoO presente artigo possui como objetivo a analise das estruturas de duas

organizações: uma estabelecida no setor público, pertencente ao governo do estado

do Paraná e a outra uma sociedade anônima, tentando verificar a existência de

similaridades ou diferenças quanto as seus processos e relações de trabalho. A

compreensão da estrutura organizacional torna-se um passo importante para o

desenvolvimento organizacional. A partir dessa compreensão, o conhecimento das

relações que ocorrem dentro da estrutura, torna-se possível à implementação de

mudanças para que ela alcance de forma mais eficaz os seus objetivos. Classifica-

se como estudo comparativo de caso, com enfoque qualitativo e explicativo. Foram

realizadas 12 entrevistas semi-estruturas, e submetidas à análise de conteúdo.

Destaca-se que a integração entre os departamentos deve ser trabalhada, para que

as barreiras existentes sejam quebradas e a relação entre os departamentos seja

maior, nos dois tipos de organização. Conclui-se que toda a estrutura organizacional

é responsável pela realização dos processos e a caracterização das organizações

permite perceber como os processos se desencadeiam dentro da dinâmica

estrutural. A principal característica observada nas duas organizações foi a

funcionalidade que cada departamento possui dentro do todo, sendo uma integração

de trabalho.

Palavras-Chave: Estrutura Organizacional; Organização Pública; Organização

Privada.

AbstractThis article has aimed to analyze the structures of two organizations: one established

in the public sector, belonging to the state of Paraná and the other a corporation

trying to verify the existence of similarities or differences in the processes and

working relationships. Understanding the organizational structure becomes an

important step for organizational development. From this understanding, the

knowledge of the relationships that occur within the structure, it becomes possible to

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implement changes to make it achieve more effectively their goals. It is classified as

a comparative case study, focusing on qualitative and explanatory. 12 interviews

were conducted semi-structured, and subjected to content analysis. It is noteworthy

that the integration between departments should be crafted so that they can break

down barriers between departments and the ratio is higher in both types of

organization. We conclude that the entire organizational structure is responsible for

conducting the processes and the characterization of organizations allows us to

understand how processes are triggered within the structural dynamics. The main

feature observed in both organizations was the feature that each department has

within the whole, being an integration of work.

Key Words: Organizational Structure; Public Organization, Private Organization.

1 INTRODUÇÃOO estudo da estrutura organizacional é realizado por diversos autores, que

definem o termo de diferentes formas, a partir destas definições utilizadas cada

organização tem sua estrutura e pode ser definida de diferente forma. Este trabalho

não teve como objetivo a definição do termo estrutura organizacional, mas teve a

ajuda de algumas definições para a compreensão do assunto.

A compreensão da estrutura organizacional torna-se um passo importante para

o desenvolvimento organizacional, sendo que alguns tipos de estruturas possuem

como vantagem à eficácia e o desenvolvimento. A partir dessa compreensão, o

conhecimento das relações que ocorrem dentro da estrutura, e também a relação

dos processos encontrados nas organizações, torna-se possível à implementação

de mudanças nessa estrutura para que ela alcance de forma mais eficaz os seus

objetivos, e a partir de um planejamento estratégico a organização possa alinhar

seus colaboradores em prol de sua missão organizacional.

O que se pretende com este artigo é realizar uma discussão quanto a

importância do estudo da estrutura das organizações, não somente no que diz

respeito aos processos, mas para que se compreenda a dinâmica e as relações de

trabalho existente dentro de uma estrutura organizacional, havendo a necessidade

de mudanças a compreensão da estrutura auxilie nesse processo. O presente artigo

possui como objetivo a análise das estruturas de duas organizações: uma

estabelecida no setor público, pertencente ao governo do estado do Paraná e a

outra uma sociedade anônima, tentando verificar a existência de similaridades ou

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diferenças quanto as seus processos e relações de trabalho. Este trabalho pode ser

aplicado a qualquer tipo de organização, escolheu-se os tipo de organizações devido

a facilidade de acesso e o interesse das mesmas na pesquisa. Para pesquisas em

outras organizações recomenda-se que se estabeleça outras categorias pertinentes

a organização e também um foco maior nas relações pessoais existentes.

Após breve introdução, sobre estrutura organizacional, o presente trabalho esta

estruturado da seguinte forma: i) revisão de literatura; ii) procedimentos

metodológicos; iii) apresentação e análise de resultados; iv) considerações finais e

v) referências bibliográficas.

2 REVISÃO DE LITERATURA2.1 ORGANIZAÇÕES

Em uma visão geral, as organizações são o aglomerado de pessoas realizando

determinadas tarefas, que sozinhas não conseguiriam realizá-las, para alcançar um

determinado objetivo. Dentro desse contexto, verifica-se que as pessoas são o

principal elemento de uma organização. As quais elas trabalham de forma

coordenada, com ajuda de sistemas estruturados, relacionando uns com os outros

(DAFT, 1999).

Existem diversas definições a respeito de organizações, onde o que mais se

evidencia é um grupo de pessoas trabalhando junto a fim de alcançar uma meta.

Conforme Barnard (1938 apud ETZIONI, 1978) ele destaca que a organização

caracteriza-se por um sistema cooperativo, onde existem componentes que se

relacionam sistematicamente, para o alcance de um determinado fim, sendo eles

físicos, biológicos, pessoais e sociais.

As pessoas trazem consigo um conjunto de hábitos e costumes, que fazem

parte de grupos externos à organização, “cada participante de um grupo leva para o

mesmo suas crenças, seus valores, suas atitudes enfim sua herança” (FARIA, 1997,

p. 57). Por meio disto, busca-se habilidades técnicas e administrativas para trabalhar

com tais influencias ambientais, destacando-se a liderança, tomada de decisão, a

comunicação, sendo todos destinados ao alcance de uma maior coordenação e

controle, dentro do sistema cooperativo (ETZIONI, 1978).

Dessa forma pode-se notar que a organização afeta a sociedade e os

indivíduos. Partindo do pressuposto de que as organizações interagem com o

ambiente externo, com as comunidades e os indivíduos, podendo gerar impactos

sobre os mesmos, isso pode ser evidenciado pelo fato de as pessoas estarem

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ligadas às organizações no alcance de metas, e também pelo fato de que o trabalho

pode exercer influência em ambos os casos. Essas pessoas também fazem parte do

mercado da empresa, sendo ele caracterizado como mercado interno, com os

próprios colaboradores da empresa retratando a imagem da organização, e o

mercado externo, com os clientes. Assim a estrutura organizacional, as relações

entre as pessoas podem se tornar um dos diferenciais que a organização pode ter

frente às mudanças ambientais.

As organizações existem desde os primórdios da sociedade e sempre

estiveram em constante interação com o seu ambiente, assim as formas de gestão

para o alcance de objetivos e metas acompanharam constantemente as mudanças

ambientais podendo se considerar que os processos organizacionais e os sistemas

estruturados estão em constante aprimoramento para possibilitar o desenvolvimento

da organização, das pessoas e da competitividade.

Dentro das organizações existem dois tipos de estruturas, a estrutura formal,

que as organizações a instituem para os indivíduos executarem suas funções

básicas. Esse tipo de estrutura esta vinculada em toda a organização, em todos os

níveis hierárquicos, “estabelece as relações de hierarquia e comando,

responsabilidade e papéis funcionais, visando como as interações devem proceder

para operacionalizar diversos processos [..]” (CRUZ, 2005, p. 112). As

características existentes dentro das organizações, divisão de trabalho,

especialização, hierarquia, autoridade, responsabilidade racionalismo e coordenação

fazem parte dos princípios da organização formal (FARIA, 1997).

O segundo tipo de estrutura organizacional é a estrutura informal, ela pode ser

definida de várias formas, vamos somente relatar quais são os comportamentos em

uma estrutura organizacional, devido ao vasto referencial teórico existente a respeito

de estrutura informal. Consiste num grupo informal de atores que compartilham

sentimento de pertença, algum grau de intimidade e reconhecidas normas de

comportamento, existindo um relacionamento afetivo entre seus membros, ainda

dentro dessa estrutura o que pode-se analisar como estrutura informal as

‘panelinhas’ que ocorrem dentro das empresas. Conforme Chanlat e Bédard (2007)

na estrutura informal e nas suas relações se identifica que cada pessoa pertencente

ao grupo informal sente-se como sujeito e enxerga no seu interlocutor o seu

verdadeiro significado, ou seja a satisfação de falar e poder ser ouvido.

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As constantes e rápidas evoluções do ambiente competitivo exigem o

desenvolvimento de posturas estratégicas mais eficientes para que as organizações

se mantenham competitivas no mercado. As organizações que se apresentam mais

preparadas para agir, em virtude das novas configurações ambientais,

possivelmente obtêm resultados mais eficazes, em virtude da conquista de

vantagens diferenciadas em relação aos concorrentes (HOCAYEN-DA-SILVA,

2007).

Para melhor entendimento do significado das organizações, existem a

Organização privada, que possui diversos objetivos de acordo com seu

planejamento, mas não podemos definir um objetivo principal desse tipo de

organização pois cada organização possui uma finalidade. Já na Organização

pública pode-se definir o seu objetivo conforme, Quintana (2009) a finalidade dessa

organização é atender ao cidadão, como um cliente dos serviços do Estado, que

paga seus impostos e cobra a contrapartida dos seus governantes. A principal

característica dos dois tipos de organizações é a missão de ambas, atender os seus

clientes, os quais são definidos de formas diferentes.

Assim compreender algumas das várias definições de organizações, se torna o

passo inicial, para se compreender a estrutura organizacional. A partir do

conhecimento das relações pessoais, processos de trabalho, funcionalidade dentro

de uma organização se constitui uma estrutura, a qual pode reger a maioria dos

fatos que ocorrem em um ambiente organizacional, mostrando dessa forma a

ligação direta entre os dois conceitos.

2.2 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

Conforme Hall (2004) as organizações variam de acordo com sua

complexidade, pois no mercado competitivo existem diversos tipos de organizações

e a estrutura torna-se um componente de grande importância nas relações das

mesmas com o ambiente.

Como pode ser destacada, com relação à hierarquia nas organizações, a

estruturação tem o objetivo de organizar e dispor as partes, mas segundo Hall

(2004) a definição de estrutura organizacional, implica na divisão de trabalho, na

definição de níveis hierárquicos, na elaboração de regras para a conduta das

pessoas, e nas interações das pessoas dentro das organizações.

A estrutura organizacional tem grande ligação com os processos

organizacionais, sendo que é a partir dela que os processos acontecem e as

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decisões são tomadas. Um elemento de destaque a respeito de estruturas

organizacionais é a complexidade, que envolve a hierarquia, a divisão de tarefas, os

departamentos e o controle.

Por meio dessas formas de avaliação de complexidade, pesquisas indicam que

a maioria das empresas é complexa, sendo que empresas que sobrevivem e se

desenvolvem ficam a cada momento mais complexas, dificultando a comunicação,

coordenação e controle (HALL, 2004).

A relação entre estrutura organizacional e processos organizacionais é

demasiadamente extensa, variando de acordo com a situação e o processo. Mas

dentro desse tema, pode-se destacar que toda a estrutura organizacional é

responsável pela realização dos processos, e a caracterização das organizações

permite perceber como os processos se desencadeiam dentro da dinâmica

estrutural.

Para que a organização tenha a sua gestão eficiente é preciso que todas essas

questões de complexidade, especificação, incerteza e etc. sejam analisadas para

que sua estrutura se adapte melhor com as questões do ambiente, por isso a análise

do ambiente permite que a estrutura esteja de acordo com o ambiente e os objetivos

organizacionais.

Assim sendo para que a empresa tenha uma estrutura adequada as suas

tarefas ela deve-se levar em consideração a situação atual da organização e

também alguns aspectos, como, natureza das atividades, controle interno, execução

e etc., para isso existem alguns tipos de estruturas que podem colaborar com todas

as questões de complexidade, especialização, tamanho da organização, grau de

incerteza e relações de funções.

2.3 MODELOS DE ESTRUTURAS

Dentro da classificação das estruturas organizacionais, podem ser destacados

cinco tipos, os quais são: estrutura funcional, estrutura divisional, estrutura

geográfica, estrutura híbrida e estrutura matricial.

O modelo de Estrutura Funcional se aplica as especializações das funções e

deriva suas origens de Taylor (CHIAVENATO, 2001). Neste tipo de estrutura

organizacional “as atividades são reunidas por funções comuns do nível mais baixo

até o topo da organização” (DAFT, 1999, p. 141).

Deste modo, as formas de coordenar e controlar a organização são

principalmente feitas por meio da hierarquia. As metas departamentais são a

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principal motivação que os funcionários possuem. Assim sendo uma estrutura

reunida em departamentos, tem os planejamentos e orçamentos elaborados por

função (DAFT, 1999).

Por sua vez, o modelo de Estrutura Divisional apresenta funções planejadas e

organizadas a partir dos produtos (DAFT, 1999). A partir da análise essas

características podem ser observadas facilmente, pois os produtos possuem os

mesmos departamentos, sendo que os produtos são diferentes, e separados.

Dentre as características principais dessa estrutura destaca-se, forma

piramidal, centralização das decisões, linhas formais de comunicação

(CHIAVENATO, 2001).

Essa estrutura também é chamada de estrutura de produtos, essa estrutura

tem maior capacidade de trabalhar com as mudanças ambientais, a tomada de

decisão é mais descentralizada, sendo a autoridade em nível mais baixo, dessa

forma interferindo nos processos de comunicação e relações de poder (DAFT,

1999).

A Estrutura Geográfica é baseada nos “usuários da organização ou clientes”

(DAFT, 1999, p. 145). A partir desta base percebe-se que em cada região existe um

grupo de crenças e valores, desejos, onde a organização que utiliza adota tal

modelo de estrutura tem a capacidade de produzir e comercializar seus produtos

(DAFT, 1999). Este tipo de estrutura é utilizado geralmente por empresas que

trabalham em grandes áreas e seus mercados são amplos.

Complementarmente, a Estrutura Híbrida caracteriza-se como uma mistura de

vários tipos de estruturas, da forma que o seu foco pode estar nos produtos, na

geografia e por funções, sendo que todas se manifestam simultaneamente.

Conforme Daft (1999, p. 146) o principal valor desse modelo de estrutura é que

“ela possibilita que a organização persiga a adaptabilidade e a eficácia dentro das

divisões de produto simultaneamente com a eficiência nos departamentos

funcionais”. Dentre outras vantagens destacadas por Daft (1999, p. 148), salienta-se

o fato de que por meio deste modelo estrutural “consegue a coordenação dentro e

entre as linhas de produto”.

Normalmente, este modelo estrutural é aplicado em um ambiente com

incertezas e em empresas que são classificadas como sendo de grande porte. As

desvantagens encontradas na aplicação da estrutura híbrida são a sobrecarga

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administrativa e a geração de conflito entre divisões de produtos e departamentos

(DAFT, 1999).

Por fim, destaca-se a Estrutura Matricial, como um modelo de estrutura

aplicada em um ambiente incerto, mas em empresas de médio porte. Essa estrutura

traz a organização flexibilidade, destacada por Cury (1990, p. 202):

A adoção da organização matricial proporciona à empresa condições deflexibilidade e de funcionalidade adequadas para atender às mudançasambientais e à sua própria dinâmica, possibilitando a adoção de umasistemática adaptável de utilização de recursos e de processos de trabalho,para a consecução de objetivos preestabelecidos.

Para se estabelecer qual a estrutura a ser utilizada por uma organização, a

primeira questão a ser observada é o ambiente global em que ela se encontra, a

partir dessa análise é possível estabelecer alguns parâmetros que se adaptam os

diversos tipos de estruturas existentes. Existem diversas estruturas, algumas da

antiguidade e outras mais contemporâneas, neste trabalho foram destacadas as

principais existentes.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSO trabalho foi realizado mediante um estudo comparativo de casos (YIN, 2005)

em uma instituição pública do estado do Paraná e uma organização privada, como

forma de compreender sua estrutura organizacional, tendo sido ambas selecionadas

em função de similaridade entre as estruturas organizacionais de ambas, e também

pelo acesso para a coleta de dados e pelo interesse da ambas na pesquisa.

Por se tratar de uma pesquisa que envolve diretamente a atividade das

pessoas e suas relações dentro da organização, a pesquisa classifica-se como

qualitativa “preocupa-se com um nível de realidade que não pode ser quantificado”

(MINAYO,1998, p. 20), em que se pondera a relação dinâmica entre o mundo real e

o sujeito, ou seja, uma relação integrada entre o mundo objetivo e a subjetividade do

sujeito em que não há quantificação ou mensuração em números (GIL, 1991 apud

SILVA, 2008, p. 14).

Conforme Gil (1991, p. 58) “pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de

poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento”

assim a pesquisa se classifica como estudo comparativo de casos, possibilitando

retratar uma realidade particular, mas que revela uma infinidade de aspectos

globais, comuns a diversos e diferentes participantes, pois ao reunir um número

significativo de dados com um maior cuidado no detalhamento, colabora para a

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compreensão de um determinado fato, e oportuniza desenvolvimento, ampliação e

reformulação de teorias já existentes, porém escassas a respeito do assunto

(CHIZZOTTI, 1995).

Esta pesquisa tem uma abordagem explicativa, sendo um relato do significado

das coisas, ou seja, “visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a

ocorrência dos fenômenos”. Ainda, de acordo com Silva (2008, p. 15) a pesquisa

explicativa é um “método de observação aplicado nas ciências sociais”.

A coleta e análise dos dados executaram-se de acordo com os princípios do

método de pesquisa qualitativa. Fachin (2002, p. 82) argumenta que este tipo de

pesquisa “é caracterizada pelos seus atributos e relaciona aspectos não somente

mensuráveis, mas também definidos descritivamente”.

Para a coleta de dados foram realizadas 12 entrevistas semi-estruturadas,

sendo 8 entrevistas com os diretores e gerentes de departamento da empresa

privada e 4 funcionários na empresa pública. Utilizou-se entrevista semi-estrutura

para que houvesse um roteiro a ser seguido, mas com um pouco de flexibilidade

para que os assuntos fossem coletados de forma coerente e explorados

amplamente. Vale destacar que os funcionários da organização pública pertencem a

um escritório regional.

Por uma questão de ética profissional, conforme solicitações dos funcionários

da instituição pública, não foram anexados os relatos dos servidores, pois os

mesmos não queriam a divulgação de suas falas. Dessa forma, para que a pesquisa

tivesse uma maior credibilidade, foram realizadas observações não participantes.

Conforme Dorigan de Matos (2005, p. 23), a observação é utilizada quando um

“pesquisador com o propósito de atender as necessidades especificas de

determinada pesquisa”, para que o objetivo da pesquisa fosse alcançado, ainda na

questão de observação Lakatos (1996, p. 79), complementa “a observação ajuda o

pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os

indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento”. A

observação caracterizou-se como não participante, onde o pesquisador toma

contato com a organização, mas sem integrar-se a ela (LAKATOS, 1996)

Já no que diz respeito à análise de dados, todas as entrevistas realizadas

forma gravadas e transcritas, para melhor compreensão e analise das mesmas. Os

dados forma submetidos à análise de conteúdo, segundo Vergara (2006, p. 15) a

análise de conteúdo serve para “identificar o que está sendo dito a respeito de

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determinado tema”, já Baptista (2007, p. 266) salienta que a análise de conteúdo

“tem um objetivo de primeiro que permite interpretar os significados dos fenômenos

apresentados ao pesquisador, os quais tanto a pessoa como a sociedade não

compreendem”.

Para a interpretação dos dados, conforme Laville e Dionne (1999 apud

VERGARA, 2006, p. 19) existem as seguintes formas “a interpretação dos

resultados pode ser realizada por meio do emparelhamento (pattern-matching) ou da

construção interativa de uma explicação”. Para este estudo foi adotada a primeira

modalidade, tendo em vista que se buscou promover a associação dos resultados

com o referencial teórico adotado.

Conforme Holsti (1969, p. 14) “a análise de conteúdo é a aplicação de métodos

científicos a uma evidência documentária”. Dessa forma a pesquisa utilizou a técnica

do emparelhamento sugerida por Vergara (2006). Dentro dessa forma de

interpretação de dados também se utilizou a técnica de análise temática sugerida

por Richardson (1999), utilizando alguns temas importantes de um texto de acordo

com a pesquisa, realizando operações de desmembramento do texto em unidades,

ou seja, descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação, e

posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes ou categorias de forma a

abarcar todo o conteúdo do discurso dos entrevistados em função do objetivo

proposto neste trabalho (BARDIN, 2002).

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS4.1 INSTITUIÇÃO PÚBLICA

Pode-se evidenciar que devido às características da estrutura organizacional

da instituição ela se classifica como híbrida. De acordo com Daft (1999, p. 146) o

principal valor desse modelo de estrutura é que “ela possibilita que a organização

persiga a adaptabilidade e a eficácia dentro das divisões de produto

simultaneamente com a eficiência nos departamentos funcionais”. Este modelo de

estrutura organizacional oferece vantagens que foram evidenciadas nos discursos

dos entrevistados, como a adaptabilidade e eficácia de cada departamento.

Contudo, em relação ao alcance da coordenação, aspecto também tido como uma

vantagem de tal estrutura, torna-se mais dificultosa, pela questão da existência de

departamentos isolados.

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Como toda estrutura oferece vantagens e desvantagens, a estrutura da

organização tem como desvantagens: conflito e sobrecarga administrativa. Na

questão do conflito o que foi evidenciado é que dentro de alguns níveis

organizacionais existem conflitos quanto à questão da legislação ambiental vigente e

também quanto aos interesses.

Conflito em relação à legislação ambiental ocorre pela existência de

departamentos que realizam funções similares, diferenciando-se somente por

interesse e nome. Algumas atividades exercidas por um departamento também são

exercidas por outro, acarretando assim conflitos de interesse.

Buscando-se evidenciar as características específicas de cada departamento

em relação ao todo organizacional, destaca-se que na tabela 1 é apresentada à

classificação de cada departamento quanto ao tipo de estrutura, levando-se em

considerações os modelos teóricos adotados.

Tabela 1 – Classificação dos departamentos da instituição.

Departamento Tipo de Estrutura

1. Diretoria Administrativa Financeira Híbrida

2. Diretoria de Estudos e Padrões Ambientais Híbrida

3. Diretoria de Controle de Recursos Ambientais Funcional

4. Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas Funcional

5. Diretoria de Desenvolvimento Florestal Funcional

Fonte: Site da intuição Pública (2011).

Nos departamentos predomina a estrutura funcional, que traz vantagens como

especialização, desenvolvimento da experiência e controle centralizado de decisões.

As desvantagens são conflitos funcionais, dificuldade de coordenação funcional e

limite de desenvolvimento interno (CERTO; PETER, 2005). Em função de suas

características, como funções rotineiras previamente estabelecidas e altamente

especializadas, justifica-se assim o predomínio do modelo funcional.

Os outros departamentos não possuem essa classificação devido às funções

exercidas e aos serviços oferecidos. A complexidade da estrutura da instituição é

grande, pois existem muitas subdivisões que exigem coordenação e controle e,

quanto mais complexa uma organização, mais difícil se torna coordenar e controlar,

sendo uma instituição pública sua complexidade ao longo do tempo aumenta.

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Pelas observações frente aos funcionários, devido ao tempo de trabalho de

cada um, a partir do conhecimento que cada pessoa tem sobre seu colega, observa-

se que devido ao conflito e a sobre-carga administrativa dos departamentos, esses

mesmos funcionários buscam a eficácia do seu trabalho a partir do isolamento, pois

para os funcionários, a resolução dos processos e do trabalho ocorre dentro do

escritório regional mesmo, assim os processos administrativos do escritório não

chegam a fazer parte das funções dos departamentos. Vale destacar que isso

acontece com a maioria dos processos administrativos, mas não com sua totalidade,

variando de acordo com o interesse e o tipo de processo.

4.2 INSTITUIÇÃO PRIVADA

Com o contato com os chefes de departamentos pode-se observar que todos

reconhecem a cultura da organização como sendo predominantemente familiar. Nas

conversas, para a obtenção de dados a respeito da estrutura da organização o

caráter familiar foi uma das características predominantes no modelo da

organização.

“A empresa é estritamente familiar, de todos os que compunham a parte administrativaera familiar depois aos poucos foi mudando um pouco, mas o critério de comandocontinua sempre familiar, então isso facilita a tomada de decisões, se você tem umadúvida você já consulta a diretoria então, automaticamente já entroso se é contrário jáesta decidido se você vai altera o plano ou não ou vai segui o plano” (GerenteFinanceiro).

Dessa forma observa-se que a empresa baseia-se na tradição da família,

principalmente devido ao processo de sucessão familiar que atualmente está em

andamento. Mas isso não quer dizer que a empresa seja uma organização

tradicional, por mais que apresente características deste tipo de organização. A

característica fundamental é a centralização na tomada de decisões, concentrada no

nível da diretoria.

Cabe também a partir desta estrutura destacar as vantagens que a

organização pode obter: promoção da especialização e aperfeiçoamento,

possibilidade de melhores salários e maior rendimento, maior facilidade de

adaptação das capacidades e aptidões à função e promoção da cooperação e o

trabalho em equipe. Sendo as desvantagens principais: difícil aplicação, requer

maior e mais difícil coordenação, difícil manutenção da disciplina, divisão de controle

e elevado custo (CURY, 2000, p. 231). Contrariando as características das

organizações tradicionais, a empresa é baseada na informalidade, o que permite

uma relação a partir do contato pessoal.

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“Existem reuniões informais, aqui uma empresa como essa não tem, tipo você vai perdermuito tempo na reunião, a turma conversa muito no escritório na hora do café, algumacoisa assim, mais que isso não é preciso, é mais informal” (Gerente de Qualidade).

As relações interpessoais da organização como um todo, são predominadas

por dois modelos: a horizontalidade e verticalidade. A horizontalidade é a grande

relação existente entre os diversos departamentos da organização, e a verticalidade

se dá a partir da presença constante da diretoria. O repasse de informações

cotidianas no ambiente organizacional ocorre primeiramente pela diretoria e

posteriormente a partir do setor responsável.

Destaca-se ainda que a estrutura organizacional é baseada principalmente na

questão da família, predominando a informalidade, “resultado da interação

espontânea dos membros da organização, o impacto das personalidades dos atores

sobre os papéis que lhes foram destinados” (CURY, 2000, p. 117).

5 CONSIDERAÇÕES FINAISO estudo da estrutura organizacional torna-se um auxílio para todo o

desenvolvimento organizacional, pois ajuda na questão das relações de trabalho,

planejamento estratégico e gestão de mudanças. O presente artigo cumpriu com o

seu objetivo em analisar as estruturas de 2 (duas) organizações de diferentes

origens. Dentro do trabalho se levantou vários aspectos e constructos que podem

Vale destacar que a integração entre os departamentos deve ser trabalhada, para

que as barreiras existentes sejam quebradas e a relação entre os departamentos

seja maior, nos dois tipos de organização. A relação entre estrutura organizacional e

processos organizacionais é demasiadamente extensa, variando de acordo com a

situação e o processo.

Destaca-se que toda a estrutura organizacional é responsável pela realização

dos processos e a caracterização das organizações permite perceber como os

processos se desencadeiam dentro da dinâmica estrutural.

A principal característica observada nas duas organizações foi a funcionalidade

que cada departamento possui dentro do todo, caracterizando-se como uma

integração informal de trabalho. Recomenda-se que para que a organização pública

aumente sua eficiência dentro da funcionalidade dos departamentos, realize-se um

levantamento detalhado de forma sumária da função de cada departamento, para

que se diminua o conflito e que todos tenham um maior foco dentro da missão/meta

da instituição. Na organização privada recomenda-se que as relações de trabalho

devem serem elevadas a um grau estratégico para que os processos de trabalho

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originem informações úteis a seu determinado público. Ainda que a estrutura da

organização continue com a mesma configuração, faz-se necessária atenção

especial com relação à integração e coordenação e para tanto podem ser aplicadas

técnicas como desenvolvimento de equipes e/ou gestão de projetos, gerando um

maior grau na formalidade nas relações existentes, para que se garante uma maior

segurança dentro das combinações informais estabelecidas na organização,

incluindo o estabelecimento de políticas proporcionadas pela direção, que segundo

O’Hair, Friedrich e Dixon (2002) apresentam como comunicação formal nas

empresas.

Importante destacar que, a empresa privada possui uma missão, que difere da

missão da organização pública, assim o estudo da estrutura organizacional permite

que a empresa, indiferentemente de sua origem, analise o seu desenvolvimento

frente às relações existentes na devida estrutura.

A pesquisa e a análise da estrutura não significa somente verificar a

característica da empresa, sua comunicação e formalidade, mas permite verificar

inúmeros aspectos que podem levar a melhoria contínua, destaca-se: visão dos

colaboradores, relações e integrações funcionais, possibilidade e caminha para

realização de mudanças e coordenação de trabalho.

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Área temática: Gestão (Processos).