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ESTUDO BIOMECÂNICO DAS TENSÕES EXERCIDAS PELAS MOLAS ORTODÔNTICAS SOBRE AS ESTRUTURAS DENTÁRIAS CLÁUDIA VANESSA BARROS BATISTA MACHADO 2008

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ESTUDO BIOMECÂNICO DAS TENSÕES EXERCIDAS PELAS MOLAS ORTODÔNTICAS SOBRE

AS ESTRUTURAS DENTÁRIAS

CLÁUDIA VANESSA BARROS BATISTA MACHADO

2008

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CLÁUDIA VANESSA BARROS BATISTA MACHADO

Tese submetida à Faculdade de Engenharia da Universidade do

Porto para a obtenção do grau de

Mestre em Engenharia Biomédica

Orientador: Professor Doutor Mário Pires Vaz

Co-Orientador: Professor Doutor José Carlos Reis Campos

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III

Agradecimentos

Dedico esta tese à minha família, que sempre me apoiou na sua elaboração.

Esta tese, transversal em termos de ciências e áreas que abarcou (engenharia

mecânica, medicina dentária, prótese dentária, óptica, materiais, elementos finitos...),

necessitou de uma estreita colaboração entre a autora, os orientadores, os

colaboradores do Laboratório de Óptica e Mecânica Experimental e os colegas das

diferentes entidades que tiveram uma acção importante no bom desenrolar deste

trabalho.

Ao Senhor Professor Doutor Mário Pires Vaz, Orientador responsável pela

realização desta tese, desejo agradecer todo o empenho e dedicação prestada e

manifestar toda a minha gratidão e amizade.

Ao Senhor Professor Doutor Reis Campos, Co-orientador desta tese, desejo

consignar o meu agradecimento pela orientação desta tese, e por toda a motivação e

disponibilidade.

Ao Mestre Jaime Monteiro desejo expressar a minha gratidão pela ajuda na

análise da interferometria holográfica. Ao Eng.º Nuno Viriato, agradeço com amizade, a sua intensa disponibilidade e

dedicação em me ajudar, na parte experimental do meu trabalho.

A todos os meus Amigos, pela força e motivação constante, o meu sincero

reconhecimento e amizade.

Aos meus colegas do Curso de Prótese Dentária, pelo constante estímulo, o

meu sincero reconhecimento.

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IV

Resumo

Esta dissertação descreve as tensões exercidas nas estruturas dentárias

através das molas ortodônticas e consequentemente todo o processo do complexo

dente /periodonto.

O tratamento ortodôntico é baseado no princípio do movimento dentário, no

qual podem ser usados, por exemplo, aparelhos removíveis, os quais por efeito de

molas ortodônticas vão gerar movimentos em conformidade com o objectivo do caso

clínico. Através destas molas ortodônticas é possível fazer movimentos de protrusão,

retrusão, mesialização, distalização e até algumas rotações.

A absorção e a aposição óssea são as principais responsáveis pelo movimento

dentário que se gera quando as molas fazem pressão. Como tal a resposta fisiológica

com remodelação do osso adjacente é dada em função da força prolongada, mesmo

de baixa magnitude.

Como os movimentos desejados dependem de mecanismos de remodelação e

estes, por sua vez, dependem da distribuição de tensões, uma simulação numérica

dos estados de tensão gerados no complexo dente/osso será realizada. A influência

da amplitude e orientação das cargas na geração dos estados de tensão e a

contribuição destes para a alteração na densidade do tecido ósseo será investigada

nestes modelos numéricos.

Palavras-chave: Molas ortodônticas, Movimento dentário, Forças ortodônticas

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V

Abstract

In this Thesis we will characterize the mechanical requests upon the teeth

structures by double T and double Z orthodontic springs. Furthermore, the mechanical

properties of both types of springs, individually or as a part of a removable orthodontic

brace. With these measurements we try to better understand the way these structures

interact with the complex tooth / periodont during dental treatments.

The orthodontic treatment is based upon the principle of dental movement. So

that this effect is obtained, long term mechanical requests are applied upon the dental

structures. These requests can be obtained in diverse different forms, such as with the

use of removable braces. These generate dental movements by effect of orthodontic

springs which are in accordance with the goals traced for the clinical case. With these

orthodontic springs it is possible to provoke protrusion, retrusion, mesialization,

distalization and even some rotations.

The mechanisms of absorption and bone apposition are responsible by the

dental movement which is generated when the springs act mechanically upon the

teeth. Thus, the physiological response with the remodelling of the adjacent bone is

obtained in function of the time of the force performance, even at low magnitudes.

Once the desired movements depend upon the remodelling mechanisms and

these, on their turn, depend upon the tension distribution, a numeric simulation of the

tension conditions generated in the complex tooth/bone is presented. The influence of

the amplitude and orientation of the forces in the generation of states of tension that

should contribute for the changing of the density of bone tissue will also be investigated

in these numeric models.

Keywords: Orthodontic springs, dental movement, orthodontic forces.

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INDÍCE

Agradecimentos .................................................................................................. III

Resumo .............................................................................................................. IV

Abstract ...............................................................................................................V

Lista de Figuras e Tabelas ................................................................................... 8

Lista de abreviaturas.......................................................................................... 12

1 Introdução ................................................................................................. 13

1.1 Ortodontia Fixa e Removível ................................................................. 18

1.2 Conceito de biomecânica....................................................................... 22

2 Fios Ortodônticos ...................................................................................... 24

2.1 Especificações ....................................................................................... 25

2.2 Propriedades dos fios ortodônticos ........................................................ 27

3 Molas Ortodônticas ................................................................................... 30

3.1 Componentes de uma mola ortodôntica ................................................ 30

4 Movimento Dentário .................................................................................. 35

4.1 Biologia do movimento dentário ............................................................. 36

4.1.1 Formação óssea ............................................................................. 39

4.1.2 Sobrecarga (Forças pesadas) ....................................................... 40

4.1.3 Carga reduzida (Forças leves) ........................................................ 41

4.2 Ligamento periodontal ........................................................................... 42

4.3 Osso alveolar ......................................................................................... 45

4.4 Forças Ortodônticas .............................................................................. 46

4.4.1 Tipos de forças ortodônticas ........................................................... 48

4.4.2 A magnitude das forças .................................................................. 49

4.5 Tipos de Movimentos e Forças Actuantes ............................................. 50

5 Materiais e Métodos .................................................................................. 51

5.1 Ensaios na Máquina Universal Tira test 2705 ........................................ 51

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5.2 Método de Elementos Finitos ................................................................ 61

5.3 Obtenção dos Modelos Numéricos ........................................................ 63

5.3.1 Molas Ortodônticas ......................................................................... 67

5.4 Interferometria Holográfica .................................................................... 72

5.4.1 Determinação dos Deslocamentos ................................................. 78

6 Resultados ................................................................................................ 79

6.1 Resultados dos ensaios na máquina universal ...................................... 79

6.2 Modelo numérico do Incisivo Central ..................................................... 96

6.3 Interferometria Holográfica .................................................................... 99

7 Conclusões ............................................................................................. 102

8 Referências Bibliográficas ....................................................................... 104

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8

Lista de Figuras e Tabelas

Figura 1 - Aparelho removível com as molas Z e T inseridas para rotação e protusão dos

incisivos centrais ..................................................................................................................... 17

Figura 2 - Aparelho removível com quatro molas Z simples para rotação dos incisivos centrais e

laterais .................................................................................................................................... 17

Figura 3 - Os vários componentes de um aparelho removível; A) Gancho de adams que faz a

parte retentiva; B) Arco vestibular que também faz alguma retenção ao aparelho e também é

uma parte activa; C) Mola T dupla que é apenas parte activa uma vez que gera movimento; D)

Parafuso expansor que também é uma parte activa; E) Parte acrílica do aparelho que é a base

de suporte ............................................................................................................................... 21

Figura 4 - Mola T dupla no incisivo lateral para ligeira protusão até alinhamento com os

incisivos centrais, os quais têm molas para fechar diastemas e fazer ligeira rotação ............... 21

Figura 5 - Mola modificada em que tem por função fechar diastemas e fazer rotação em

simultâneo .............................................................................................................................. 23

Figura 6 - O declínio gradativo da magnitude da força devido à movimentação dentária. ......... 27

Figura 7 - Gráfico da clássica curva tensão-deformação das ligas metálicas ilustrando aqui o

comportamento do aço inoxidável, evidenciando o limite elástico (LE) e limite da carga de

ruptura (CR). O limite elástico é o ponto demarcatório entre a fase elástica e a fase plástica ... 29

Figura 8 - A) Imagem do aparelho removível com as molas T inseridas; B) Fotografia intra-oral

do aparelho com as molas T para ligeira protusão dentária ..................................................... 31

Figura 9 - A) Imagem do aparelho removível com as molas Z modificadas inseridas; B)

Fotografia ............................................................................................................................... 32

Figura 10 - A) Imagem do aparelho removível com as molas de fechar diastemas inseridas nos

Incisivos centrais e uma mola Z simples no incisivo lateral para ligeira rotação; B) Fotografia

intra-oral do aparelho com as molas adaptadas aos dentes..................................................... 33

Figura 11 - Aparelho removível com mola Z simples para rotação no incisivo central e mola T

dupla para protusão no 2º Quadrante. É possível também visualizar, que a posição das molas

em relação ao dente é uma posição perpendicular, conseguindo assim exercer a força em toda

a sua magnitude ..................................................................................................................... 34

Figura 12 - Aparelho removível com mola Z dupla para rotação no incisivo central 1º

Quadrante, e mola T dupla para protusão no 2º Quadrante. .................................................... 34

Figura 13 - Esquema ilustrativo de um dente com lado de aposição e reabsorção (Roberts et

al., 2004)................................................................................................................................. 38

Figura 14 - - Vista intra-oral do aparelho ortodôntico removível com as molas de fechar

diastemas adaptadas aos incisivos centrais. Estas molas, para além de fechar o diastemas

também podem fazer ligeiras rotações .................................................................................... 39

Figura 15 - Imagem intra-oral de um aparelho removível adaptado em boca, com as molas de

fechar distemas nos incisivos centrais. É possível visualizar, uma leve reacção inflamatória,

devido à força exercida pelas molas nas coroas dentárias ...................................................... 41

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Figura 16 - Imagem intraoral de um aparelho removível adaptado em boca, com uma mola de

rotação (Mola Z modificada com uma extensão) no incisivo lateral. É possível visualizar, uma

leve reacção inflamatória, devido à força exercida pela mola na coroa dentária ....................... 42

Figura 17 – A) Aplicação de uma força à coroa de um dente. A pressão é sentida no ápice da

raiz e na crista alveolar; B) Imagem intra-oral de um aparelho removível com uma mola T dupla

para protusão dentária do incisivo lateral................................................................................. 50

Figura 18 - Máquina de ensaios universal Tira test 2705, cortesia do CEMACOM-INEGI......... 52

Figura 19 - Célula de carga até 20 N utilizada nos testes ........................................................ 52

Figura 20 - Provete em acrílico onde foi inserida a mola ortodôntica “T”dupla .......................... 53

Figura 21 - Provete em acrílico onde foi inserida a mola ortodôntica “Z” dupla ......................... 53

Figura 22 - Inicio do teste de flexão à mola T dupla, onde se verifica o encastramento do

provete. Também é visível a célula de carga encostada à mola............................................... 54

Figura 23 - Teste de flexão feito à mola T dupla. Fixação do suporte de acrílico e extremidade

da célula de carga. .................................................................................................................. 55

Figura 24 - Inicio do teste de flexão à mola Z dupla, onde se verifica o encastramento do

provete. Também é visível a célula de carga encostada à mola............................................... 55

Figura 25 - Teste de flexão feito à mola T dupla onde se verifica que forma atingidas

deformações elevadas para este comprimento de mola. ......................................................... 56

Figura 26 - Inicio do teste de compressão à mola T dupla, onde é visível a célula de carga

encostada à mola .................................................................................................................... 56

Figura 27 - Teste de compressão feito à mola T dupla onde se pode verificar a deformação

induzida no corpo da mola pela carga axial. ............................................................................ 57

Figura 28 - Inicio do teste de compressão à mola T dupla, onde é visível a célula de carga

encostada à mola .................................................................................................................... 57

Figura 29 - Teste de compressão feito à mola Z dupla numa situação em que a extremidade da

célula de carga encosta no segundo helicóide da mola. .......................................................... 58

Figura 30 - Imagem da mola Z inserida no aparelho, e em que a célula de carga está encostada

à mola ..................................................................................................................................... 59

Figura 31 - Imagem da mola Z em compressão inserida no aparelho ...................................... 59

Figura 32 - Imagem da mola Z inserida no aparelho, e em que a célula de carga está

encostada à mola .................................................................................................................... 60

Figura 33 - Imagem da mola Z em compressão inserida no aparelho ...................................... 60

Figura 34 – Vista em corte do modelo CAD realizado no software SolidWorks® 2009 ............. 65

Figura 35 – A) Vista global do modelo numérico importado para o software Ansys®; B) Zona

encastrada (superfície azul escura); C) Ponto de aplicação da carga ...................................... 65

Figura 36 - A) Imagem da malha do modelo numérico; B) Vista em corte do modelo numérico;

C) Zoom da vista em corte da malha, onde é possível visualizar o ligamento periodontal (zona

verde). .................................................................................................................................... 66

Figura 37 - Modelo numérico da mola T .................................................................................. 67

Figura 38 - Malha de elementos finitos da mola Z .................................................................... 68

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10

Figura 39 - Condições de fronteira e ponto de aplicação da força na mola T dupla. O eixo Y

corresponde à orientação da carga. ........................................................................................ 68

Figura 40 - Modelo numérico da mola Z .................................................................................. 69

Figura 41 - Malha de elementos finitos da mola Z .................................................................... 70

Figura 42 - Condições de fronteira e ponto de aplicação da força na mola Z no eixo Y ............ 70

Figura 43 - Condições de fronteira e ponto de aplicação da força na mola Z no eixo Z ............ 71

Figura 44 – Configurações das molas T e Z quando incluídas no aparelho. ............................. 71

Figura 45 - Diferença das representações entre a fotografia e a holografia. Nesta imagem é

possível visualizar que, a holografia produz uma representação tridimensional. Fonte:

http://www.colegio.com.br/fisica/holografia1 ............................................................................ 72

Figura 46 - Montagem óptica para A) gravação e B) reconstrução de uma imagem holográfica

............................................................................................................................................... 73

Figura 47 - Técnicas de correlação em interferometria holográfica. A) Dupla exposição e B)

Tempo real.............................................................................................................................. 74

Figura 48 - Imagens do modelo usado em que os dentes estão posicionados e inseridos em

cera para serem estudados pelo método de interferometria halográfica ................................... 75

Figura 49 - Lâmpada é usada como fonte de calor para amolecer ligeiramente a cera ............ 76

Figura 50 - Representação esquemática do sistema de holografia-tv utilizado neste trabalho .. 76

Figura 51 - Representação fotográfica do sistema de holografia–tv, zona de imagem e medição

com iluminação a laser utilizado neste trabalho ....................................................................... 77

Figura 52 - Imagens modelo utilizado nas medições com interferometria holográficaA) a zona

de medição pretendida para estudo, ou seja os dois incisivos centrais superiores e B) a

máscara de separação da zona de medição............................................................................ 78

Figura 53 - 1º Ensaio para a mola T em flexão ........................................................................ 80

Figura 54 - 2º Ensaio para a mola T em flexão ........................................................................ 81

Figura 55 - 3º Ensaio para a mola T em flexão ........................................................................ 81

Figura 56 - Mola T em flexão (Comparação dos 3 ensaios) ..................................................... 82

Figura 57 - Rigidez à flexão da mola T obtida a partir dos 3 ensaios ........................................ 82

Figura 58 - Deslocamento no eixo Y ........................................................................................ 83

Figura 59 - Comportamento da mola Z durante o 1º ensaio de flexão ...................................... 84

Figura 60 - Comportamento da mola Z durante o 3º ensaio de flexão ...................................... 84

Figura 61 - Mola Z em flexão (Comparação dos 3 ensaios) ..................................................... 85

Figura 62 - Deslocamento da mola Z no eixo Y ....................................................................... 86

Figura 63 - Comparação entre as molas T e Z em flexão ......................................................... 86

Figura 64 - Comportamento da mola T em compressão .......................................................... 87

Figura 65 - Comportamento da mola T em compressão (após activação) ................................ 88

Figura 66 - Comportamento da mola T em compressão (após activação), ensaio 2 ................. 89

Figura 67 - Deslocamento da mola T no eixo X ....................................................................... 90

Figura 68 - Comportamento da mola Z em compressão, deslocamento axial imposto (1mm e

2mm) ...................................................................................................................................... 90

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11

Figura 69 - Comportamento da mola Z em compressão, deslocamento axial imposto 2mm ..... 91

Figura 70 - Deslocamento da mola Z no eixo Z ....................................................................... 92

Figura 71 - Comportamento da mola T em compressão quando inserida no aparelho. É

possível verificar que existem não linearidades. ...................................................................... 93

Figura 72 – Verificam-se novamente não linearidades ............................................................. 93

Figura 73 - Comportamento da mola Z (inserida no aparelho) em compressão ........................ 94

Figura 74 - Comportamento da mola Z em compressão (inserida no aparelho), medição com

um curso de 1mm e de 2mm ................................................................................................... 94

Figura 75 - Deslocamento da mola T no eixo Y ....................................................................... 95

Figura 76 – Deslocamento da mola Z no eixo Y ...................................................................... 95

Figura 77 - Imagem de um modelo numérico na qual é visível a deformação que ocorre quando

é aplicada uma força. .............................................................................................................. 97

Figura 78 - Imagem em zoom da deformação que ocorre localizada no ligamento periodontal 98

Figura 79 - Imagem do modelo numérico em que é possível visualizar a sua deformação

provocada pelo deslocamento, principalmente na coroa dentária onde se localizam os maiores

valores .................................................................................................................................... 98

Figura 80 - Visualização da carga induzida devido à colocação do aparelho removível, em que

as molas ortodônticas provocam o movimento dentário como é notório nas imagens. ............. 99

Figura 81 – Representação pseudo 3D do campo de deslocamentos na colocação do aparelho

............................................................................................................................................. 100

Figura 82 - Visualização da carga induzida devido ao retiro do aparelho removível, em que as

molas ortodônticas deixam de exercer força e os dentes tendem a recidivar no movimento... 100

Figura 83 - Representação pseudo 3D do campo de deslocamentos no retiro do aparelho .... 101

Tabela 1 - Propriedades mecânicas dos materiais ................................................................... 64

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12

Lista de abreviaturas

FEUP - Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

LPD - Ligamento Periodontal

MEF - Método de Elementos finitos

CrNi – Cromo / Níquel

NiTi – Níquel / Titânio

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Introdução

13

1 INTRODUÇÃO

A Ortodontia é a especialidade da Medicina Dentária que tem como objectivo

realizar alterações na posição dos dentes para corrigir deficiências de oclusão. Os

principais tratamentos de ortodontia são baseados na aplicação de forças, de pequena

amplitude e longa duração, sobre os dentes para promover a sua movimentação. A

utilização de aparelhos removíveis é um exemplo dos vários dispositivos utilizados.

Estes dispõem de molas ortodônticas, com posições e geometrias apropriadas, e

permitem gerar os movimentos necessários às correcções dentárias prescritas para

cada caso clínico.

Diferentes tipos de dispositivos, gerando diferentes tipos de cargas, podem ser

seleccionados, dependendo da posição dos dentes e das características de cada

indivíduo. Com estes dispositivos é possível realizar diferentes tipos de movimentos,

tais como: protrusão, retrusão, mezialização, distalização e mesmo algumas rotações.

No entanto, devido às relações força/deslocamento das molas utilizadas os

movimentos são realizados com decréscimo das forças aplicadas. Para gerar

movimentos de maior amplitude é necessária a reactivação das molas através de

alterações na sua geometria.

Os processos de absorção e reposição do tecido ósseo gerados nas inserções

dentárias são os responsáveis pelos movimentos dos dentes. Isto é, a alteração na

distribuição de tensões no tecido ósseo, promovida pelos dispositivos ortodônticos,

activa mecanismos de remodelação tendentes ao estabelecimento de um novo

equilíbrio. Desta forma, a resposta fisiológica dos tecidos adjacentes é provocada pela

acção prolongada das forças sobre os dentes, mesmo que estas sejam de reduzida

amplitude.

O conhecimento das propriedades mecânicas dos dispositivos ortodônticos e a

caracterização da resposta fisiológica dos tecidos é de extrema importância para o

planeamento das intervenções em ortodontia.

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Introdução

14

Nesta tese da área da Engenharia Biomédica, onde trabalhos de Biomecânica

em Ortodontia começam a dar frutos, teve-se a intenção de correlacionar estas duas

áreas vocacionando para a Ortodontia Removível. Esta é uma vertente da Ortodontia,

ainda pouco investigada a nível biomecânico.

Este estudo tem então como objectivo caracterizar o comportamento

biomecânico das molas ortodônticas, assim como de aparelhos ortodônticos

removíveis onde as molas estão inseridas, de maneira a interpretar os seguintes

desempenhos: força vs geometria; rigidez vs flexibilidade; carga vs deslocamento;

força / deslocamento (mola T); momento / rotação (mola Z); magnitude das forças e

preparação de um modelo numérico que possa ser utilizado em trabalhos futuros.

Neste trabalho foram realizados ensaios para obter as relações

força/deslocamento de algumas molas ortodônticas. Os valores obtidos foram

analisados para melhor compreender o comportamento dos dispositivos ortodônticos

removíveis. Os resultados destes ensaios serão apresentados no capítulo 5.

O movimento ortodôntico é o resultado da aplicação de forças sobre os dentes.

Estes e as estruturas de apoio (osso alveolar, periodonto, etc.) respondem a estas

forças com uma reacção biológica complexa que em última instância resulta no

movimento dos dentes através do osso alveolar.

Para Ferreira, M.A 72 (2007) as alças ou molas retrácteis são meios auxiliares

na correcção das más oclusões dentárias. Elas são utilizadas para aproximar ou

afastar dentes entre si e produzem forças e momentos que são responsáveis pela

alteração da inclinação das raízes, provocando assim o fechamento dos espaços entre

os dentes, de maneira controlada.

Para alcançar uma resposta biológica adequada, têm que ser aplicados

estímulos mecânicos precisos. A complexidade e variabilidade associadas a sistemas

biológicos, são um estímulo à precisão clínica na aplicação de qualquer força.

Minimizando ou eliminando factores desconhecidos, relacionados com o tratamento,

pode reduzir-se a variabilidade nas respostas biológicas. São, por isso, necessários

bons conhecimentos sobre os princípios mecânicos para que haja um perfeito controlo

do tratamento ortodôntico.

Segundo Pulter 73 (2007), o conhecimento das forças produzidas versus a

activação dos componentes ortodônticos é de vital importância para a boa condução

do tratamento ortodôntico. A geometria dos componentes ortodônticos tem acção

directa nas suas constantes elásticas.

Apesar do ligamento periodontal estar adaptado para resistir às forças de curta

duração, perde rapidamente a capacidade adaptativa com a compressão e

extravasamento do fluído tecidular dessa área confinada. Força prolongada, mesmo

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Introdução

15

de baixa magnitude, produz uma resposta fisiológica diferente com remodelação do

osso adjacente. Por isso o movimento ortodôntico é possível graças à aplicação de

forças prolongadas.

Talaia 74 (2007) faz referência, que o ligamento periodontal numa situação in

vivo, influenciará decisivamente a forma de movimento dos dentes e respectiva

amplitude

Carvalho, L.75 (2007) relata como o Ligamento periodontal desempenha um

papel importante no mecanismo de transferência de carga, entre os dentes e o osso

alveolar circundante. Demonstrou também que o seu comportamento varia ao longo

da altura da raiz do dente.

De Angelis1 (1970) e Graber2 (1979), relataram que tensões de grandezas

diferentes no ligamento periodontal, dão início ao movimento dentário através de

mecanismos de reabsorção e aposição óssea. Já Interlandi8 (1994) afirmou que

quando a força é aplicada sobre o elemento dentário, este desloca-se no interior do

espaço alveolar, o que provoca o estiramento de algumas fibras periodontais e a

compressão de outras. Também as forças oclusais podem alterar a posição do dente,

principalmente no período de erupção, assim como pressões musculares anormais

resultantes de qualquer desequilíbrio funcional

Proffit3 (1991) relatou que o movimento do dente é mais facilmente provocado

por uma força constante do que por outra de maior intensidade e curta duração. Por

isso os dois elementos de controlo do movimento dentário ortodôntico possíveis são a

electricidade biológica ou piezoelectricidade e a pressão-tensão sobre o ligamento

periodontal, afectando o fluxo sanguíneo

Por outro lado, Burstone4 (1961) e Reitan5 (1964) afirmaram que no inicio da

aplicação da força, a raiz é deslocada contra o alvéolo, sendo impedida pelas fibras

periodontais e pelo efeito hidráulico. Burstone18 (1989) descreveu a distorção cristalina

como um gatilho mecânico, causado por forças ortodônticas. Devido à porosidade da

cortical alveolar, o fluido intersticial é drenado para os tecidos vizinhos, quando deixa

de exercer a pressão hidráulica que continha o deslocamento radicular. Desta forma, a

raiz aproxima-se do alvéolo e distende os ligamentos periodontais do lado onde foi

aplicada a força ao mesmo tempo em que comprime o sistema vascular ao aproximar-

-se, dificultando a irrigação sanguínea dos dois lados.

Kvam6 (1973) afirmou que a reacção subsequente se assemelha a um processo

inflamatório, neste caso asséptico, onde há libertação de histamina, formação de

prostagladinas e citocinas, que preservam a vasodilatação e aumentam a

vascularização local (resposta tardia). Dura até 4 horas após a aplicação da força e

permanece activa enquanto durar o estímulo. As alterações locais activarão

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Introdução

16

osteoclastos, no lado que houve pressão, responsáveis pela reabsorção da cortical

alveolar. Onde houve distensão dos ligamentos, há o estímulo de osteoblastos e

fibroblastos. Este período é acompanhado de dor suave, mas sem movimento

dentário.

Em essência, esta visão do movimento dentário mostra três estágios descritos

por Whilhen7 (1975): 1) Alteração no fluxo sanguíneo associado à pressão no

ligamento periodontal; 2) A formação e/ou libertação de mensageiros químicos e; 3)

Activação celular.

São necessárias, em média, 48 horas após a aplicação da força para que os

mecanismos descritos de remodelação óssea promovam o efectivo deslocamento do

alvéolo e consequentemente do dente no sentido da aplicação da força (movimento

ortodôntico). Graber2 (1979) relatou que nesta etapa, não deve haver continuação do

processo doloroso, o que nos permite concluir que a quantidade de força aplicada foi a

ideal para o movimento pretendido.

Os Factores que Interferem na Resposta Ortodôntica são: a Magnitude da Força

(Inócuas, ligeiras (Leves) e fortes (Pesadas), o Ritmo de aplicação (Contínuas e

Intermitentes – Interlandi8) (1993), Condições Anatómicas (Volume radicular,

Implantação óssea, Idade, Compleição óssea) e outros factores (hormonais,

nutricionais e vitamínicos).

Melsen9 (2001) também propôs uma teoria, sugerindo que a formação óssea

como reacção às cargas ortodônticas poderia ser induzida: pela carga exercida por

fibras esticadas do ligamento periodontal, que pode também induzir uma pequena

flexão da parede alveolar; por absorção directa pelo descarregamento da parede

alveolar no caso de forças de baixa intensidade; e pela reabsorção indirecta como

reparação devido à isquemia que segue à aplicação de forças elevadas (Cattaneo et

al., 2005)

Todavia a mecânica empregue pelo clínico e as reacções biológicas advindas,

estão inter-relacionadas. A força empregue para o movimento dentário foi definida a

partir da adaptabilidade dos tecidos, através das reacções histológicas observadas

nos mesmos. Os aparelhos ortodônticos usados na actualidade estão em perfeita

consonância com o conhecimento dos princípios biofísicos e biomecânicos que regem

a histofisiologia dos tecidos de suporte e protecção dos dentes.

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Introdução

17

Figura 1 - Aparelho removível com as molas Z e T inseridas para rotação e protusão dos incisivos centrais

Figura 2 - Aparelho removível com quatro molas Z simples para rotação dos incisivos centrais e laterais

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Introdução

18

1.1 Ortodontia Fixa e Removível

A Ortodontia é uma especialidade da Medicina Dentária, formalmente

reconhecida como aquela que estuda, diagnostica e trata as más oclusões dentárias.

Acontece que uma má oclusão dentária pode ser caracterizada por desvios do

alinhamento dentário, na relação entre as arcadas dentárias ou, ainda, envolver os

ossos basais maxilares e, assim, poderá envolver diferentes tipos de aparelhos no seu

tratamento.

Quando o procedimento diagnosticado visa corrigir as desarmonias ósseas,

além do alinhamento dentário, diz-se que o tratamento não é apenas ortodôntico, mas

também ortopédico, pois envolve problemas que implicam correcção da geometria

óssea basal.

O objectivo do tratamento ortodôntico / ortopédico é a correcção das más

posições dentárias para obter uma normoclusão. A utilização de aparelhos de

Ortodontia permite obter uma reestruturação dos tecidos associada a uma modificação

das funções musculares do sistema estomatognático. No inicio de um tratamento pode

corrigir-se a posição individual de alguns dentes, a posição de grupos de dentes ou de

uma arcada completa, assim como de uma oclusão inadequada, que pode resultar do

mau funcionamento da musculatura mastigatória. Sem a normalização da função

muscular, não é possível estabilizar as correcções das más posições dentárias e

esqueléticas.

De forma genérica e tendo em atenção a sua forma de actuação, os aparelhos

de Ortodontia podem ser classificados em activos e passivos, fixos e removíveis,

mecânicos e funcionais. Muitas vezes é difícil fazer uma distinção específica entre os

passivos e os activos, pois muitos dos aparelhos de concepção basicamente passiva,

podem também ser utilizados de forma activa, caso seja necessário.

São designados por aparelhos activos, aqueles cujas forças mecânicas incidem

directamente sobre os dentes, o ligamento periodontal, o osso alveolar, o osso basal,

as suturas ósseas e sobre a articulação temporomandibular. Na forma como é gerada

a força, podem encontrar-se elementos adicionais como os parafusos expansores, ou

elementos elásticos como as molas ortodônticas. Esses elementos activos, podem ser

de natureza fixa ou removível, isto é, aparelhos com bandas fixas e brackets ou

aparelhos removíveis de acrílico.

Diferentes dos anteriores, são denominados aparelhos de Ortodontia passivos,

aqueles que exercem o seu efeito através de forças funcionais, isto é, provenientes do

próprio complexo mastigatório. Nestes, as forças necessárias são geradas pelas

actividades musculares da mastigação, da língua, dos lábios ou das bochechas. Esses

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Introdução

19

aparelhos passivos são geralmente removíveis e não têm retenção quando inseridos

na cavidade oral. Actuam, não apenas sobre os dentes, ligamento periodontal, osso

alveolar, osso basal, suturas ósseas e na articulação temporomandibular, mas

também influenciam a musculatura de maneira indirecta, ao activar, aumentar, diminuir

ou normalizar a actividade da mesma. Por isso são chamados de aparelhos de

Ortodontia Funcionais.

Neste âmbito, e tendo em conta os aparelhos utilizados, pode dividir-se a

Ortodontia em Fixa, Removível e Funcional. Os diversos tipos de aparelhos, ainda que

de modo diferente, são utilizados para ajudar a movimentar os dentes, retrair os

músculos e direccionar o crescimento mandibular. O funcionamento destes aparelhos

consiste em aplicar uma leve pressão nos dentes e nos ossos maxilares. A gravidade

do problema é determina qual o procedimento ortodôntico mais adequado e mais

eficaz para sua resolução.

A Ortodontia fixa usa-se em casos mais complexos, onde sejam necessários

movimentos de maiores amplitudes. Para obter este efeito utilizam-se bandas, fios

e/ou brackets. As bandas são fixadas em volta de um ou vários dentes, e funcionam

como âncoras para o aparelho, enquanto que os brackets são presos na parte externa

do dente. Os fios em forma de arco podem ser de variadas espessuras e ligas,

passam através dos brackets e são ligados às bandas nos extremos. É muitas vezes

utilizada a liga de Nitinol com memória de forma, que faz com que os dentes sejam

traccionados, movendo-se gradualmente em direcção à posição correcta. Os

aparelhos fixos são geralmente activados a cada mês para obter os resultados

desejados, que podem ocorrer no prazo de alguns meses até alguns anos. O objectivo do tratamento de Ortodontia removível é colocar os dentes nas suas

posições correctas, melhorando a distribuição de forças durante a mastigação. Isso

protegerá as raízes dos dentes, o osso alveolar, o ligamento periodontal e a

articulação temporomandibular.

Os aparelhos ortodônticos removíveis são dispositivos destinados a manter o

desenvolvimento normal da oclusão ou a interferir na evolução de uma desarmonia, de

modo a restabelecer ou reverter o curso normal do desenvolvimento dentofacial.

Originalmente, C.A.Hawley introduziu o aparelho removível maxilar por volta de 1902

com o objectivo de utilizá-lo passivamente como contenção dos dentes movimentados

ortodonticamente13. Actualmente, ainda se utiliza o aparelho de contenção de Hawley,

mas com várias modificações, transformando o aparelho de Hawley num aparelho

activo para movimentações dentárias no qual se inserem diferentes componentes

como por exemplo, molas ortodônticas apresentadas anteriormente em que actuam

como elementos activos. Estas estão inseridas em aparelhos removíveis acrílicos e

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Introdução

20

podem ter variadas geometrias. Neste trabalho, será apresentado um estudo em que

se averigua, recorrendo a algumas técnicas experimentais, o movimento efectuado

pelas molas ortodônticas mediante as forças que exercem.

A Ortodontia removível utiliza-se em idades mais jovens e em casos em que os

aparelhos ortodônticos com molas ou parafusos de expansão consigam compensar e

corrigir as más oclusões. Quando o caso clínico justifique fazer grandes tracções, ou

seja, grandes movimentos dentários, provavelmente a Ortodontia Fixa será mais

indicada.

Os aparelhos ortodônticos removíveis são construídos por três componentes

básicos:

• Parte retentiva

• Parte activa

• Base de suporte

Parte Retentiva

É composta por elementos que têm a função de reter ou manter o aparelho na

cavidade oral. À medida que os aparelhos ortodônticos removíveis são activados,

libertam forças que, além de movimentar os dentes, têm o efeito de expulsar o

aparelho da boca11,12,13. Assim, a retenção deve sobrepor-se às forças activas do

aparelho quando em acção. Os principais elementos de retenção são os ganchos;

entretanto o arco vestibular e a base acrílica também desempenham função de

retenção.

Parte Activa

É constituída pelos elementos que geram a força para a movimentação

das coroas dentárias. Os vários tipos de molas ortodônticas, os parafusos, o arco

vestibular e os elásticos desempenham essa função.

Base de suporte

Construída em resina acrílica, geralmente quimicamente activada (pó de

resina acrílica e líquido de metacrilato de metilo) que, além de unir as várias partes do

aparelho, suportam os esforços provocados pela parte activa e pelos ganchos de

retenção quando activados.

A base acrílica também provoca retenção no colo dos dentes, dificultando

a passagem do aparelho no sentido cérvico-oclusal ao passar na região do equador

dentário.

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Introdução

21

Neste trabalho, apenas será abordada a Ortodontia Removível, com especial

incidência nas molas ortodônticas e nos movimentos que elas efectuam, assim como

na descrição de cada uma delas.

Figura 3 - Os vários componentes de um aparelho removível; A) Gancho de adams que faz a parte

retentiva; B) Arco vestibular que também faz alguma retenção ao aparelho e também é uma parte activa;

C) Mola T dupla que é apenas parte activa uma vez que gera movimento; D) Parafuso expansor que

também é uma parte activa; E) Parte acrílica do aparelho que é a base de suporte

Figura 4 - Mola T dupla no incisivo lateral para ligeira protusão até alinhamento com os incisivos centrais,

os quais têm molas para fechar diastemas e fazer ligeira rotação

C

D

A

B

E

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Introdução

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1.2 Conceito de biomecânica

A base de tratamento ortodôntico está na aplicação clínica dos princípios de

biomecânica. Mecânica é a disciplina da física que descreve o efeito das forças sobre

corpos; por sua vez a biomecânica refere-se à aplicação da mecânica a sistemas

biológicos. O tratamento ortodôntico aplica forças sobre os dentes, as quais são

geradas por uma grande variedade de aparelhos ortodônticos. Nesta base e segundo

Marcotte (2003) podemos dizer que a mecânica descreve os efeitos das forças sobre

os corpos (inclusive dentes e ossos) e geralmente pode ser dividida em três áreas:

estática, cinética e resistência dos materiais. A estática descreve os efeitos das forças

sobre os corpos que estão em repouso ou tem uma velocidade constante (linha recta).

A cinética geralmente descreve o comportamento dos corpos que possuem

velocidades variáveis (aceleração ou desaceleração). O terceiro campo, resistência

dos materiais, descreve a relação entre tensão e deformação de diferentes materiais,

permitindo seleccionar os materiais mais adequados para suportar uma determinada

força específica.

Meireles J.K.S. 77 (2007) refere que a compreensão da Física envolvida na confecção

e ajustes dos aparelhos ortodônticos permite um melhor domínio da mecânica

aplicada,

bem como a minimização dos efeitos colaterais inoportunos, eventualmente

produzidos durante o tratamento.

As grandezas mais utilizadas em Ortodontia são força e distância. A força é

definida como a acção de um corpo sobre outro (a mola ortodôntica sobre o dente, por

ex.) Portanto, força é definida como sendo a acção de um corpo (mola) sobre outro

corpo (o dente), que modifica ou tende a modificar a forma ou movimento deste

segundo corpo. Uma força pode empurrar ou puxar dependendo da forma como é

aplicada. No sistema métrico, a unidade de força é 1 N e é definida como sendo a

força que aplicada a uma massa de 1kg lhe impõe uma aceleração de 1m/s em cada

s. Trata-se pois de uma unidade derivada, definida a partir de três unidades

fundamentais, massa, distância e tempo. Da acção das forças sobre os materiais

resultam tensões, cuja unidade de SI é o N/m2 (Pa), correspondendo a uma força por

área (pressão).

Um meio de obter uma força controlada consiste na utilização de elementos

elásticos capazes de armazenar energia potencial elástica ao serem deformados.

Estes elementos são designados por molas e são caracterizados pela sua forma de

deformação e rigidez. A forma como são deformados permite distinguir molas de

flexão de molas de torção enquanto a rigidez caracteriza a forma como varia a força

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Introdução

23

aplicada à mola com o deslocamento que lhe provoca. Trata-se pois de elementos

elásticos que devolvem a energia neles armazenada através da sua deformação. Na

figura 5 mostra-se um exemplo de uma mola de flexão numa aplicação ortodôntica.

Figura 5 - Mola modificada em que tem por função fechar diastemas e fazer rotação em simultâneo

As molas são construídas de acordo com a função a que se destinam, quer a

geometria, quer o material utilizado são seleccionados de forma a obter um

determinado desempenho. Da mesma forma a colocação da mola pode provocar

esforços de compressão ou de tracção consoante se deseja empurrar ou puxar um

dado elemento.

A aplicação de uma força a um objecto provoca normalmente um deslocamento

na sua direcção e sentido. No caso de se desejar movimentos de rotação ou

combinações destes com translações deverão aplicar-se forças descentradas em

relação à fixação do objecto ou combinar duas ou mais forças com sentidos e

direcções diferentes.

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Fios Ortodônticos

24

2 FIOS ORTODÔNTICOS

A utilização de fios de aço para confeccionar aparelhos ortodônticos removíveis

até à década de 30 e inicio dos anos 40 era limitada, pela corrosão sofrida sob as

condições orais. Entretanto, quando era necessário aplicar forças sobre os dentes,

estranhava-se aqueles fios para poder atribuir-lhe uso bucal. A descoberta do aço

inoxidável (aço sem estanho – stainless steel) e a sua produção em fio e em fita na

Alemanha, Grã-Bretanha e USA, com propriedades para uso ortodôntico, proporcionou

um grande avanço para a Ortodontia, pois até aí os aparelhos ortodônticos fixos

(bandas, brackets e fios) eram construídos totalmente em ouro.

Os fios ortodônticos de aço inoxidável são fabricados com uma liga de cromo-

níquel (CrNi), resistentes à oxidação e à corrosão provocadas pela cavidade oral.

Estão disponíveis comercialmente em vários diâmetros e apresentam propriedades

mecânicas que permitem classificá-los em duros ou macios, de acordo com o

tratamento térmico aplicado na sua fabricação.

Na maioria dos aparelhos ortodônticos removíveis, são os fios ortodônticos que

executam a função de reter os aparelhos passivamente sobre os dentes e de movê-

los, quando elementos activos (molas) são adicionadas à sua confecção.

A liga usada na confecção das molas ortodônticas utilizadas neste trabalho foi a

liga remanium®. Trata-se de um aço inoxidável com uma percentagem da liga de

cromo-níquel (Cr-Ni) de 0,6 mm, da marca Dentaurum ®. Esta liga é caracterizada

pela sua resistência à oxidação e corrosão oral, biocompatibilidade e assim como pela

sua grande resistência e excelente ductilidade.

Estas ligas remanium® têm todas as propriedades específicas necessárias na

ortodontia e apresentam-se com diferentes propriedades físicas e mecânicas para

diferentes aplicações clínicas.

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Fios Ortodônticos

25

Propriedades físicas da liga de Remanium®:

resistência à tensão [MPa]

• suave: ≤ 800 N/mm2

• dura: 1400–1600 N/mm2

• dura elástica: 1800–2000 N/mm2

(usada no ensaio)

2.1 Especificações

A British Standard 3507 de 1962 estabelece que o fio ortodôntico deve ser de

aço inoxidável duro e polido. Os fios de aço duros e não polidos são de qualidade

inferior e não devem ser aplicados à Ortodontia para uso intraoral. São fabricados com

uma liga de cromo-niquel (CrNi) tipo 18:8, ou seja, 18% de níquel e 8% de crómio,

além do ferro como principais constituintes.

Estes fios duros de secção redonda são os especificados para a construção

dos ganchos de retenção e molas activas dos aparelhos ortodônticos removíveis.

Outras ligas de cromo-níquel (CrNi) são usadas em Ortodontia, podendo ir até

80% de níquel e 20% de crómio. Na actualidade estas ligas contêm alguns

modificadores, como carbono, manganês, silício, fósforo enxofre; e são altamente

resistentes à corrosão.

Os fios de aço inoxidável macios (recozidos) recebem um tratamento térmico

amolecedor e utilizam-se para colocar sobre os brackets nos aparelhos fixos.

Há outros fios ortodônticos de liga de cromo-niquel mais suaves (elgiloy),

contendo cobalto e molibdénio que os tornam mais maleáveis, suaves e mais

resistentes às dobras em ângulos agudos. Estão disponíveis em diferentes têmperas,

representadas por um código de cores (vermelho, azul, verde e amarela). O fio elgiloy

azul é indicado essencialmente para fins laboratoriais.

Na década de 60 um dos laboratórios da NASA, agência espacial norte-

americana, desenvolveu a partir de uma liga de níquel-titânio, o fio Nitinol. Estes fios

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Fios Ortodônticos

26

(55% Ni e 45% Ti) têm um alto coeficiente de elasticidade, elevada deformabilidade, e

apresentam memória de forma, isto é, voltam à sua forma original após uma

modificação no seu contorno inicial. Esta propriedade pode ser activada termicamente,

ou seja, os arcos termoactivados sofrem deformação ao serem inseridos nos brackets

dos aparelhos fixos instalados sobre os dentes mal posicionados e a temperatura

intraoral activa as suas moléculas, a posicionarem-se no formato inicial gerando a

força necessária para movimentar suavemente os dentes para o contorno morfológico

normal.

Cabrera14 (2000) admite que os fios ortodônticos constituem parte activa da

Ortodontia. Quando inseridos nos dispositivos ortodônticos libertam a força necessária

para que os dentes se movimentem dentro do tecido ósseo. Este é o princípio

mecânico da movimentação dentária induzida. A força é aplicada na coroa clínica do

dente e é transformada em tensões biológicas no ligamento periodontal, gerando um

ambiente propício para a remodelação óssea que, por sua vez, promove a

movimentação dentária induzida. Portanto, aplica-se força na coroa do dente,

esperando a reacção biológica nas estruturas periodontais adjacentes.

As características mecânicas de um fio ortodôntico devem favorecer a

movimentação dentária rápida e com um custo biológico reduzido, isto é, sem áreas

extensas de hialinização (necrose asséptica) do ligamento periodontal, sem dor

excessiva, sem reabsorção radicular e sem perda de crista óssea alveolar. Além deste

aspecto biomecânico específico da Ortodontia, o fio deve ser biocompatível, ou seja

não pode provocar reacções biológicas adversas para o indivíduo.

Existe actualmente um amplo conceito que admite que a força óptima em

Ortodontia deve ser de magnitude suave e de natureza dissipante. Suave, para induzir

a movimentação dentária com preservação da integridade do periodonto. Dissipante,

caracterizada pelo declínio gradativo a partir do movimento da aplicação da força até

um nível biologicamente inócuo, para permitir a recuperação biológica do periodonto

ao longo da movimentação dentária durante todo o tratamento ortodôntico. (Figura 6)

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Fios Ortodônticos

27

Figura 6 - O declínio gradativo da magnitude da força devido à movimentação dentária.

2.2 Propriedades dos fios ortodônticos

Entre as qualidades do fio para ortodontia destacam-se: a dureza, a fragilidade,

o brilho, o módulo de elasticidade, a flexibilidade, o tratamento térmico e resistência à

fadiga, as quais orientam sua aplicação clínica. Portanto, deve ser lembrado que não é

apenas o diâmetro, mas também o tipo de fio influenciam a sua acção ortodôntica.

Em relação à dureza do material; nas aplicações ortodônticas são evitados os

fios de aço extra-duros que, com frequência, são frágeis e quebradiços. O fio usado

em Ortodontia é normalmente construído numa liga de aço inoxidável cromoniquelada

de dureza média. Portanto, quando se quer obter uma maior força não é necessário

mudar a dureza do fio, pois basta aumentar seu diâmetro ou variar as dimensões da

mola.

Quanto à fragilidade; a capacidade do fio ortodôntico ser trabalhado sem

quebra é de grande importância clínica. Além de inconveniente, a repetição de

aparelhos por quebras constantes na boca do paciente, implica mais gasto de tempo,

desperta dúvidas sobre o profissional e acresce os custos operacionais.

Relativamente ao brilho; os fios de aço utilizados em Ortodontia devem ser

polidos. Esta característica confere-lhes uma superfície espelhada que dá um aspecto

de higiene e nobreza, pois evita que sejam impregnados por placa bacteriana na

Período de stress biológico

Período de reparo biológico

7 14 21 Período de tempo em dias

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Fios Ortodônticos

28

cavidade oral. Os fios polidos são de melhor qualidade; têm menos superfície exposta

e, portanto, sofrem menos ataque corrosivo dos fluidos intraorais.

A elasticidade; é a propriedade do fio que caracteriza a forma como pode ser

dobrado até ao limite que antecede uma deformação permanente (Figura 7). Quanto

maior o módulo de elasticidade melhor o fio e melhores as características da mola com

eles construída. Em oposição, um fio com maior flexibilidade, como ocorre com os fios

moles, terá menor acção de mola, tão necessária em Ortodontia.

A flexibilidade ou deflexão é a capacidade do fio se ajustar às manipulações

quando trabalhado e libertar forças sobre os dentes. A flexibilidade é a acção de mola

que o fio exerce sobre as estruturas dentárias e que varia com a espessura do fio e

com o número de helicóides introduzidos na mola.

Quanto ao tratamento térmico; o fio de aço inoxidável deve ser trabalhado e

usado no estado em que foi adquirido. Não é possível alterar as propriedades do metal

por tratamento térmico. O único tratamento térmico que pode ser feito pelo profissional

é o revenido – aquecimento do fio até que ele tome uma coloração amarelada ou

acastanhada (por volta dos 450 ºC), que tem como objectivo reorganizar as moléculas

do fio no novo formato adquirido e de aliviar as tensões introduzidas no fio em

consequência da manipulação e das dobras introduzidas, o que altera a

microestrutura. Se o fio for deformado em arco, terá uma certa tendência a recuperar a

forma anterior. O tratamento térmico revenido alivia as tensões residuais geradas pela

deformação e reorganiza a estrutura do metal na nova forma introduzida no fio. Trata-

se de uma operação útil nas molas utilizadas no Aparelhos ortodônticos removíveis;

contudo, estes aparelhos podem ser construídos e utilizados sem qualquer tratamento

térmico de alívio de tensões. Este tratamento térmico poderá ser efectuado em

máquinas de solda eléctrica ortodôntica, que dispõe de eléctrodos para a passagem

de uma corrente através do fio, ou directamente na chama de uma lâmpada a álcool.

Ao atingir a coloração amarelada significa que atingiu uma temperatura de

aproximadamente 450ºC.

Quanto à Fadiga; esta propriedade caracteriza a resistência do fio a deformações

cíclicas repetidas. O fio ortodôntico pode ser dobrado ou curvado e se a dobra for

colocada incorrectamente pode ser rectificado. No entanto, não pode ser curvado

novamente no mesmo ponto, pois existe o risco de rotura. A quebra do fio poderá não

acontecer no momento mas ocorrer após um curto período de uso na boca. Apesar da

resistência do fio as dobras repetidas num mesmo lugar, podem fazer com que

localmente seja ultrapassado o limite de elasticidade do fio. A deformação permanente

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Fios Ortodônticos

29

assim obtida poderá ser removida se o fio for rectificado. No entanto, para repetir o

procedimento remove-se a dobra, mas não se recupera a deformação. A repetição da

dobra leva o fio à fadiga por deformação plástica cíclica. Durante a deformação

plástica o fio aumenta a sua tensão limite elástico por deformação plástica a frio

(encruamento). Isto significa que deverá existir uma técnica para assegurar exactidão

na dobragem dos fios. Uma dobra só pode ser introduzida quando estiver decidido

sobre sua localização, ângulo e direcção.

Figura 7 - Gráfico da clássica curva tensão-deformação das ligas metálicas ilustrando aqui o

comportamento do aço inoxidável, evidenciando o limite elástico (LE) e limite da carga de ruptura (CR). O

limite elástico é o ponto demarcatório entre a fase elástica e a fase plástica

Fase elástica Fase plástica

LE

CR

Deformação

Tensão

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Movimento Dentário

30

3 MOLAS ORTODÔNTICAS

As molas ortodônticas, são os dispositivos que geram as forças que

actuam sobre os dentes, são por isso designadas por elementos activos. Em

Ortodontia preventiva a maior parte dos movimentos são conseguidos através de

aparelhos removíveis com molas que movimentam os dentes por inclinação11,12,13,65

Os tipos de molas que são mais usados na aplicação em aparelhos

removíveis são os seguintes:

1. Mola T simples

2. Mola T dupla

3. Mola Z simples

4. Mola Z dupla

5. Mola para fechar diastemas

3.1 Componentes de uma mola ortodôntica

Basicamente, uma mola ortodôntica é constituída por três partes: braço,

helicóide e cauda

Braço – fica em contacto com o dente e transmite a força imposta. Como um braço

rígido de alavanca, ao sofrer deflexão, exerce a força sobre o dente.

Helicóide – à excepção das molas T é a parte activa onde se origina a força da mola.

Ao ser activado, liberta pressão para o braço. A activação consiste na deformação

plástica do corpo da mola para lhe alterar as dimensões e, desta forma, aumentar a

força sobre o dente.

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Movimento Dentário

31

Cauda – é a parte da mola incluída na base acrílica e resiste à força libertada. Esta

parte da mola é utilizada para a fixar sobre a base de acrílico que é utilizada para obter

a sua retenção na cavidade bocal.

Figura 8 - A) Imagem do aparelho removível com as molas T inseridas; B) Fotografia intra-oral do

aparelho com as molas T para ligeira protusão dentária

A função das molas T simples ou T dupla é de protusão dentária ou seja

vestibularização da coroa clínica, inclinando o dente no sentido anterior, com a única

diferença, que a mola T dupla gera mais força do que a mola T simples.

B

A)

B)

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Movimento Dentário

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Figura 9 - A) Imagem do aparelho removível com as molas Z modificadas inseridas; B) Fotografia

intra-oral do aparelho com as molas adaptadas aos dentes

A função das molas Z simples ou Z dupla é de rotação dentária ou seja rotação

da coroa clínica, girando o dente no sentido pretendido, com a única diferença, que a

mola Z dupla gera mais força do que a mola Z simples.

Na (Figura 9), as molas Z estão modificadas devido ao facto de, para além da

necessidade de rotação do dente, também se justificava fechar o diastema. Portanto

acrescentou-se um braço à mola Z para efectuar esse movimento.

B

A

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Movimento Dentário

33

Figura 10 - A) Imagem do aparelho removível com as molas de fechar diastemas inseridas nos Incisivos

centrais e uma mola Z simples no incisivo lateral para ligeira rotação; B) Fotografia intra-oral do aparelho

com as molas adaptadas aos dentes

A função das molas de fechar diastemas é de fechar o espaço existente entre

os incisivos centrais, podendo também exercer ligeira rotação quando necessária para

os alinhar.

B

A

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Movimento Dentário

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Devido às relações tensão / deformação das molas utilizadas, os movimentos

são realizados com decréscimo das forças aplicadas. Para gerar movimentos de maior

amplitude é necessária a reactivação das molas através de alterações na sua

geometria.

Figura 11 - Aparelho removível com mola Z simples para rotação no incisivo central e mola T dupla para

protusão no 2º Quadrante. É possível também visualizar, que a posição das molas em relação ao dente é

uma posição perpendicular, conseguindo assim exercer a força em toda a sua magnitude

Figura 12 - Aparelho removível com mola Z dupla para rotação no incisivo central 1º Quadrante, e mola T

dupla para protusão no 2º Quadrante.

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Movimento Dentário

35

4 MOVIMENTO DENTÁRIO

O movimento dos dentes nas arcadas é resultado de fenómenos fisiológicos ou

de indução. O movimento dentário induzido ou ortodôntico ocorre como reacção à

aplicação de forças externas.

O tratamento ortodôntico é baseado no princípio do movimento dentário, ou

seja, se uma pressão prolongada é aplicada num dente, fatalmente ocorrerá o seu

deslocamento.

Quando o elemento dentário é submetido a cargas mais elevadas (pesadas), o

movimento rápido é evitado pelo fluído tecidular do LPD. Quando ocorre aplicação de

forças externas induzidas ou forças ortodônticas e a pressão contra um dente é

mantida, o fluído tecidular do PDL é escoado, comprimindo o ligamento contra o osso

adjacente e iniciando uma reacção tecidular. O estímulo mecânico de um aparelho

ortodôntico pode traduzir-se biologicamente na geração de proteínas no LPD

(Consolaro, 2002).

Segundo DeAngelis1, Reitan16 e Wilheln7, existem leis gerais que podem ser

aplicadas a todos os tipos de movimento dentário. O osso alveolar é absorvido, onde a

raiz comprime o ligamento periodontal durante certo tempo e deposita-se novo osso,

quando existem forças que traccionam este osso.

Para Proffit e Fields17, o dente move-se através do osso levando toda a

estrutura de suporte, como se a cavidade onde se insere migrasse. Como a resposta

óssea é mediada pelo ligamento periodontal, o movimento dentário é, antes de mais

nada, um fenómeno ligado ao mesmo.

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Movimento Dentário

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Sem dúvida, todas estas afirmações aparentemente óbvias estão sujeitas a

outras variações e excepções quando se introduzem factores como magnitude,

direcção e duração da força. Desta forma, este trabalho terá também como objectivo

referir certos aspectos referentes às reacções tecidulares frente às forças mecânicas

empregues pelos aparelhos ortodônticos.

Para Proffit17, os dentes e estruturas periodontais estão sujeitos as forças

elevadas (pesadas) e intermitentes durante a função mastigatória. O contacto entre os

dentes por fracções de segundo geram forças intensas, chegando a 10 ou 20 N

quando estruturas moles são mastigadas, e forças equivalentes a 500 N quando

objectos mais resistentes são mastigados.

Quando o dente é submetido a sobrecargas (cargas pesadas), o rápido

movimento do mesmo no espaço periodontal é evitado pelo fluído tecidular

incompressível. Contudo, se a pressão contra um dente é mantida, o fluxo é

rapidamente escoado e o dente movimenta-se no espaço periodontal, comprimindo o

ligamento contra o osso adjacente.

Apesar do ligamento periodontal ser adaptado para resistir às forças de curta

duração, perde rapidamente a capacidade adaptativa com a manutenção de uma

carga de compressão e extravasamento do fluído tecidular desta área confinado

4.1 Biologia do movimento dentário

Proffit (2002) relata no seu livro, que existem dois elementos de controlo do

movimento dentário ortodôntico: a electricidade biológica ou piezoelectricidade e a

pressão-tensão sobre o ligamento periodontal, afectando o fluxo sanguíneo.

A Teoria da bioeletricidade relaciona o movimento dentário, como fazendo parte

das mudanças no metabolismo ósseo controladas pelos sinais eléctricos que são

produzidos quando o osso alveolar é flectido e se dobra.

A teoria da pressão relaciona o movimento dentário com as mudanças celulares

produzidas pelos mensageiros químicos, tradicionalmente considerados como

geradores das alterações no fluxo sanguíneo através do ligamento periodontal. A

pressão no ligamento, pela redução (maior pressão) ou aumento (menor tensão) do

diâmetro dos vasos sanguíneos no espaço periodontal, podem, certamente, alterar o

fluxo sanguíneo. As duas teorias não são incompatíveis e nem se excluem

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Movimento Dentário

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mutuamente. Numa perspectiva actual, parece que ambos os mecanismos fazem

parte do controle biológico do movimento dentário.

Acerca da piezoeletricidade ou eletricidade biológica, DeAngelis1 (1970) sugere

que os elementos responsáveis pela coordenação das modificações ósseas podem

ser encontrados na piezoelectricidade natural do osso. É dito que o osso tem

piezoelectricidade (piezo = vem do grego com o significado de pressão), como

propriedade primária que se deve ao colágeno.

A teoria da pressão-tensão é clássica no que se refere ao movimento dentário

ortodôntico, e baseia-se mais na química do que nos sinais eléctricos como produtores

do estímulo para diferenciação e consequente movimento dentário. Para Burstone e

Norton18 (1961), Proffit17 (1995) não há dúvida de que os mensageiros químicos são

importantes na grande quantidade de eventos que levam à remodelação óssea

alveolar e movimento dentário. Nesta teoria, uma alteração no fluxo sanguíneo do

ligamento periodontal é provocada por acção de uma força aplicada, esta provoca

mudanças de posição do dente no espaço periodontal, comprimindo o ligamento em

algumas áreas, tensionando-as noutras. O fluxo sanguíneo diminui onde o ligamento é

comprimido, enquanto é estável ou aumenta ligeiramente onde o ligamento está sob

tracção.

No que trata à Fisiologia do Movimento Dentário, segundo Wilheln7 (1975), a

definição do termo movimento dentário fisiológico é fundamental. Este autor designa,

primariamente, o leve movimento de inclinação experimentado pelo dente durante a

função mastigatória e, secundariamente, o dente de um jovem durante e após a

erupção.

O novo tecido ósseo que se deposita no movimento de inclinação (migração

dentária), pode ser visto radiografica e histologicamente, apresentando 3 estágios de

evolução: osteóide; osso fasciculado e osso lamelar.

O osteóide é produzido pelos osteoblastos e é encontrado em todas as

superfícies ósseas onde existe nova deposição. Como não apresenta sinais de

calcificação, o tecido osteóide não sofre absorção. A partir do instante em que surgem

os primeiros sinais de calcificação, o tecido recebe a denominação de osso

fasciculado. Quando este alcança uma certa espessura e maturidade, as partes

constituintes deste osso fasciculado reorganizam-se e formam o osso lamelar.

Esta sequência é, em princípio, a mesma que se observa na formação óssea

durante o movimento ortodôntico. Neste caso a intensidade de força é maior quando

comparado com a migração dentária. A recuperação dos tecidos também se faz de

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Movimento Dentário

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maneira mais demorada, residindo aí a maior diferença entre movimento fisiológico e

movimento ortodôntico.7

Segundo Reitan 16, reacções tecidulares relacionadas com a Ortodontia indicam

tradicionalmente trocas histológicas ocorridas no ligamento periodontal, e,

particularmente, no osso alveolar em torno de um dente que tenha sido movimentado

ortodonticamente. Num sentido mais amplo, o termo reacções tecidulares abrange

modificações ocorridas também no tecido mole adjacente ao processo alveolar, ou

correspondente ao espaço percorrido pelo dente que foi movimentado.

Figura 13 - Esquema ilustrativo de um dente com lado de aposição e reabsorção (Roberts et al., 2004)

A mecânica empregue pelo ortodontista e as reacções biológicas advindas,

estão inter-relacionadas. A força empregue para o movimento dentário foi definida a

partir da adaptabilidade dos tecidos, através das reacções histológicas observadas

nos mesmos. Os aparelhos ortodônticos, usados na actualidade, estão em perfeita

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ressonância com o conhecimento dos princípios biofísicos e biomecânicos que regem

a histofisiologia dos tecidos de suporte e protecção dos dentes.

Figura 14 - - Vista intra-oral do aparelho ortodôntico removível com as molas de fechar diastemas

adaptadas aos incisivos centrais. Estas molas, para além de fechar o diastemas também podem fazer

ligeiras rotações

4.1.1 Formação óssea

Para Reitan16, simultaneamente à absorção óssea que ocorre no lado de

compressão, mudanças de carácter formativo ocorrem no lado de tensão tractiva. O

número de osteoblastos e fibroblastos aumenta devido ao aumento da actividade

mitótica. Ocorre uma proliferação celular incipiente na área marginal à zona de tensão

após 30 a 40 horas após a aplicação da carga. As novas células poderão ser

observadas ao longo dos feixes de fibras estiradas, e este arranjo é característico do

estágio inicial da formação óssea. Logo após a proliferação celular, tecido osteóide

será depositado no lado de tensão.

Segundo Langlade29, esta rápida formação de osteóide é especialmente

evidente durante o período secundário. As novas células no lado traccionado são

frequentemente arranjadas numa zona proliferativa, contendo cadeias ou fileiras de

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Movimento Dentário

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odontoblastos. A formação óssea é então o resultado da tensão exercida sobre as

fibras periodontais.

A calcificação do tecido osteóide inicia-se rapidamente porém, a camada mais

superficial continuará sem receber deposições de sais. Quando este novo osso

fascicular atingir uma certa espessura, haverá reorganização deste osso que é

relacionado, em alguma extensão, ao movimento fisiológico do dente.29

Devido a estas reacções tecidulares de remodelação óssea, que são

estimulados pela aplicação de forças aos dentes, ocorre movimento dentário sem que

haja perda da integridade entre dente e alvéolo.

Para que ocorra o movimento dentário a força aplicada ao dente deve superar o

tônus do ligamento periodontal (ou forças intrínsecas), que é a energia necessária

para colocar em movimento os fluidos intersticiais e para que as fibras periodontais

neutralizem estas forças.16

De acordo com Proffit17, quanto mais elevada for a pressão aplicada, maior será

a redução no fluxo sanguíneo através das áreas comprimidas do ligamento

periodontal, até o ponto em que os vasos se tornem totalmente colapsados e sem

fluxo sanguíneo. Tem sido demonstrado em animais que esta sequência teórica ocorre

onde o aumento da força cause diminuição da impregnação de corantes no ligamento

periodontal no lado comprimido.

4.1.2 Sobrecarga (Forças pesadas)

Segundo o trabalho publicado por Proffit17 (1995), designam-se por forças

pesadas as forças capazes de ocluir totalmente os vasos sanguíneos e interromper o

suprimento em determinadas áreas do ligamento periodontal. Quando isto acontece

inicia-se uma necrose estéril nesta área. As células das áreas adjacentes ao local

comprimido, são estimuladas para se transformarem em osteoclastos. Devido a esta

aparência histológica de desaparecimento das células a área avascular é

tradicionalmente chamada de hialinizada. Quando isto ocorre a remodelação do osso

adjacente à área necrótica tem que ser efectuada por células oriundas das áreas

adjacentes não danificadas.

Após um atraso de alguns dias os elementos celulares das áreas adjacentes não

danificadas do ligamento periodontal começam a invadir a área hialinizada. O mais

importante é que osteoclastos aparecem nos espaços medulares adjacentes e

começam um ataque por baixo do osso, imediatamente abaixo à área necrótica do

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Movimento Dentário

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ligamento periodontal. Este processo descrito como absorção repentina ataca a área

abaixo da lâmina dura.

4.1.3 Carga reduzida (Forças leves)

Para Proffit17 quando uma força leve e prolongada é aplicada a um dente o fluxo

sanguíneo através do ligamento periodontal parcialmente comprimido diminui, o fluído

é enviado para fora do espaço periodontal e o dente movimenta-se dentro do alvéolo.

Dentro de poucas horas após a aplicação da carga a alteração resultante no ambiente

químico produz um padrão diferente de actividade celular.

Já Reitan16 acha que áreas de hialinização deverão ocorrer sempre mesmo com

a utilização de forças leves. Contudo, a hialinização é causada, quer por factores

anatómicos, quer por factores mecânicos. Um dos factores anatómicos é a forma e

contorno da superfície óssea. Existindo fissuras e espaços medulares abertos é

provável que exista um curto período de hialinização. Deve salientar-se que zonas

hialinizadas, geradas por forças leves, são muito pequenas, cobrindo uma área não

maior que 1 a 2 mm da superfície radicular.

A aparência hialina uniforme de uma zona comprimida é causada principalmente

por certas alterações na substância fundamental. As fibras colágenas, gradualmente,

tendem a ser mais ou menos confluentes com a substância fundamental gelatinosa

que os rodeia.

Figura 15 - Imagem intra-oral de um aparelho removível adaptado em boca, com as molas de fechar

distemas nos incisivos centrais. É possível visualizar, uma leve reacção inflamatória, devido à força

exercida pelas molas nas coroas dentárias

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Movimento Dentário

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Como resultado da destruição de células e dano aos capilares, aparecerá uma

leve reacção inflamatória, seguida pela produção de novos capilares e células do

tecido conjuntivo em áreas ao redor da zona hialinizada.

Figura 16 - Imagem intraoral de um aparelho removível adaptado em boca, com uma mola de rotação

(Mola Z modificada com uma extensão) no incisivo lateral. É possível visualizar, uma leve reacção

inflamatória, devido à força exercida pela mola na coroa dentária

4.2 Ligamento periodontal

A movimentação dentária induzida é um processo biológico múltiplo,

caracterizado por reacções sequenciais do tecido periodontal em resposta às forças

aplicadas. Os estímulos provocados geram alterações tecidulares que, em conjunto

com a activação de mediadores químicos, resultam na remodelação óssea. Shirazi et

al.19 (2002) e Kohno et al.20 (2003) explicam que, durante o movimento dentário inicial,

as células do ligamento periodontal são comprimidas e o fluido extracelular do

periodonto é extravasado para os espaços medulares. Na zona de pressão, o tecido

de sustentação fibroso é reconstituído através da substituição, quase completa, das

fibras velhas por novos elementos fibrosos.

Rygh21 (1972) e Lew22 (1989) relatam que alterações vasculares precoces como

estase, isquemia, diminuição gradual de capilares, presença de trombos, completa

obliteração de vasos sanguíneos e degeneração vascular também são descritas no

lado de pressão do ligamento periodontal durante a movimentação ortodôntica.

Contudo, Lew22 (1989) e Tang23 (1993) afirmam que distensão e dilatação dos vasos

sanguíneos são experimentadas no lado de tracção do ligamento periodontal.

Segundo Consolaro15 (2002), o ligamento periodontal desempenha um papel

fundamental para que o processo de movimentação dentária ocorra. A sua

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compressão induz estímulos geradores de inflamação local, favorecendo o

aparecimento de um microambiente susceptível à reabsorção óssea.

Melsen9 (2001) complementa ao afirmar que a reabsorção óssea directa ou

indirecta é percebida como uma reacção tecidular à força aplicada.

No entanto, Carvalho, L.67 (2007) diz que, quando se aplica uma força constante

é desencadeada reabsorção óssea, enquanto que a aplicação de forças intermitentes

levam à formação de novo tecido ósseo.

De acordo com Proffit24 (2002), durante o tratamento ortodôntico, o osso é

selectivamente removido em algumas áreas e adicionado em outras, enquanto o dente

se move carregando os tecidos de sustentação.

Entretanto, Stains et al.25 (2005) acrescentaram que a remodelação óssea é um

processo dinâmico que envolve actividades celulares coordenadas entre osteoblastos,

osteócitos e osteoclastos.

Moraes et al.26 (2002) explicam que as unidades de reabsorção ou ósteo

remodelação são um conjunto caracterizado pelos osteoclastos, sob o comando de

osteoblastos e auxiliados pelos macrófagos. Nessas unidades, ressalta-se o

microambiente ácido, totalmente isolado do meio tecidular e proporcionado pela

interface de borda activa ou em escova dos osteoclastos e a superfície óssea em

reabsorção.

Ferreira27 (2002), por outro lado, afirma que na face oposta, onde existe

distensão dos ligamentos, o estímulo promoverá a diferenciação de células

mesenquimais em osteoblastos e fibroblastos. Cerca de dois dias após a aplicação da

força, as modificações locais irão permitir que os osteoclastos e os osteoblastos

iniciem o processo de remodelação óssea, com aposição no lado onde há tracção e

reabsorção na face em compressão.

Segundo Proffit24 (2002), a remodelação óssea pode ser explicada pela teoria da

pressão-tracção, na qual uma alteração no fluxo sanguíneo do ligamento periodontal é

produzida pela movimentação do dente no alvéolo. A passagem de sangue diminui

onde o ligamento é comprimido e é mantida ou aumentada onde é traccionado,

produzindo modificações locais nos níveis de oxigénio. Essas mudanças químicas,

agindo directamente ou por estímulo da libertação de outros agentes activos

biologicamente, poderiam estimular a diferenciação e a actividade celular. Para

Moraes et al.26 (2002), em função do pH ácido resultante do exsudato formado durante

a movimentação ortodôntica, os osteoclastos chegam ao local e instalam-se na

superfície óssea promovendo sua reabsorção.

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Movimento Dentário

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Entretanto, Proffit24 (2002) explica que quando a força aplicada contra o dente é

de intensidade suficiente para ocluir totalmente os vasos e interromper o suprimento

sanguíneo, antes do aparecimento normal de osteoclastos, uma necrose estéril é

produzida na área. Por causa da aparência histológica do desaparecimento de células,

essa região avascular é tradicionalmente chamada de hialinizada. Nesse caso, a

remodelação do osso próximo ao local necrótico, deve ser efectuada por células

derivadas de regiões adjacentes não danificadas.

Consolaro15 (1999) complementa ao explicar que a quantidade de hialinização

depende do grau de hipóxia gerado, o qual, por sua vez, é dependente da quantidade

de força aplicada.

De acordo com Reitan28, não existe grande diferença entre as reacções

tecidulares observadas nos movimentos dentários fisiológicos e ortodônticos. Apesar

de os dentes serem movidos mais rapidamente durante o tratamento, as mudanças

tecidulares produzidas por forças ortodônticas são, em consequência, mais marcadas

e extensas. Esta diferença também se reflecte no maior tempo requerido para que se

inicie a formação óssea nas áreas previamente absorvidas por forças ortodônticas.

DeAngelis1 (1970), relata que a resposta tecidular à mecanoterapia é um achado

fundamental na série de eventos que devem ser considerados no movimento dentário.

Princípios mecânicos (molas ortodônticas) podem ser aplicados com sucesso sobre a

dentição. A degradação osteoclástica do osso alveolar como resultado da pressão e a

concomitante deposição osteoblástica em resposta à tensão são achados consistentes

em estudos histológicos de movimento dentário.

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4.3 Osso alveolar

Osso alveolar ou lâmina dura é uma camada delgada de osso que circunda a

raiz ou raízes dos dentes e fornece inserção às fibras colágenas do ligamento

periodontal. É constituído por lamelas ósseas paralelas entre si e à superfície

radicular. É o único lugar do nosso organismo que apresenta osso primário. Nas

radiografias esse osso (primário), aparece radiopaco, por isso é chamado de lâmina

dura. Essa radiopacidade é devido a disposição desordenada das fibras colágenas

nas lamelas, concentração de cálcio e situação das estruturas no trajecto dos raios X.

O processo alveolar começa a ser formado cedo durante a vida fetal, com

deposição de mineral em pequenos focos da matriz mesenquimatosa que circunda os

germes dentários. Essas pequenas áreas calcificadas aumentam de tamanho, unem-

se, são reabsorvidas e remodeladas até que se forme uma massa contínua de osso

em torno dos dentes completamente erupcionados. A superfície externa do osso é

sempre revestida por uma zona de tecido não mineralizado osteóide que, por seu lado,

é coberto por periósteo. O periósteo contém fibras colágenas, osteoblastos e

osteoclastos. Os espaços medulares, no interior do osso, são revestidos por endósteo

que tem muitos aspectos em comum com o periósteo na superfície externa do osso.

A aposição de novo osso é sempre relacionada aos osteoblastos. Estas células

produzem um osteóide que, subsequentemente, sofre calcificação.

Os processos alveolares desenvolvem-se em conjunto com o desenvolvimento e

erupção dos dentes e são gradativamente reabsorvidos com a perda dos dentes.

Assim, os processos alveolares são estruturas dependentes dos dentes. Em conjunto

com o cimento radicular e as fibras do ligamento periodontal, o osso alveolar constitui

os tecidos de sustentação dos dentes e distribui as forças geradas durante a

mastigação e outras formas de contacto entre os dentes.

As paredes dos alvéolos são revestidas por osso compacto que

interproximalmente está em relação com o osso esponjoso. O osso esponjoso contém

trabéculas ósseas cujo tamanho e arquitectura são em parte, determinados

geneticamente, e de outra parte são o resultado das forças a que os dentes estão

expostos durante a sua função.

O osso compacto que reveste a parede dos alvéolos é frequentemente contínuo

com o osso compacto ou cortical das partes vestibular e palatina do processo alveolar.

O osso das partes vestibular e palatina do processo alveolar, varia de espessura de

uma região para outra. Nas regiões dos incisivos e pré-molares a tábua óssea cortical

da face vestibular dos dentes é consideravelmente mais fina, do que na parte palatina.

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Na região dos molares o osso é mais espesso na face vestibular do que na face

palatina

4.4 Forças Ortodônticas

A aplicação de forças ortodônticas sobre um dente produz reacções sobre o

periodonto, mas deveria ter pouco ou nenhum efeito sobre outros tecidos, como a

polpa e a estrutura radicular. No entanto, em algumas situações o tratamento

ortodôntico pode produzir efeitos deletérios sobre esses tecidos, como: necrose

pulpar, perda permanente de estrutura radicular, redução da altura da crista alveolar,

mobilidade e dor excessivas. As complicações do tratamento não ocorrem com

frequência e, na maioria das vezes, não acarretam grandes consequências.

Entretanto, é importante que os pacientes e seus responsáveis sejam esclarecidos

sobre os principais riscos do tratamento antes que ele seja iniciado. A fim de prevenir

um dano irreparável, o ortodontista deve ter um bom conhecimento dos princípios

biomecânicos, como também das reacções tecidulares que ocorrem em resposta à

aplicação de forças ortodônticas.

A movimentação dentária é uma resposta do organismo à força aplicada no

aparelho e, por isso, deve ser acompanhada de perto, e ser realizada de maneira que

não cause danos à estrutura de sustentação dos dentes. A manutenção ortodôntica é

o momento em que o ortodontista aplica essa força no aparelho.

Com os avanços conseguidos na produção de novas ligas metálicas, os fios

usados nos aparelhos fixos conseguem "gerar" força durante um período de 45 dias

(algumas ligas metálicas chegam a causar força até 60 dias). Para que os

ortodontistas possam acompanhar de perto a evolução de cada caso agendam as

"manutenções" de 30 em 30 dias. Desta forma poderão intervir no tratamento antes

que algum problema aconteça. Porém, é muito importante que conheçam qual a

activação da força em intervalos próximos ou que o uso de muita força pode prejudicar

a evolução do tratamento.

Tratamentos "apressados" podem dificultar a formação do novo osso causando

mobilidade nos dentes durante e, principalmente, depois do tratamento. Além disso, ao

utilizar muita força durante o tratamento, o processo de reabsorção do osso não

acontece, pois pressão em demasia causa isquemia, ou seja, falta de irrigação

sanguínea no local, e com isso o organismo não concretiza a sua função.

A biologia do movimento dentário envolve uma série de reacções tecidulares.

Após a aplicação de forças ortodônticas e de uma maneira ainda não totalmente

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Movimento Dentário

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esclarecida pode resultar uma reabsorção radicular. Inúmeras variáveis, incluindo

factores biológicos e mecânicos, parecem influenciar o grau e a ocorrência das

alterações radiculares durante o movimento dentário. Métodos de diagnóstico e

prevenção são descritos na literatura, assim como os possíveis factores de risco

associados a este problema. Um amplo conhecimento sobre a biologia dos tecidos

envolvidos durante o movimento dentário, bem como dos princípios biomecânicos e os

demais aspectos relacionados às reabsorções, parecem auxiliar o ortodontista durante

o controle deste efeito indesejado durante o tratamento ortodôntico. Conclui-se então

que algumas medidas preventivas devem ser consideradas para os pacientes que são

submetidos ao tratamento ortodôntico, tais como: anamnese e exame clínico

criterioso, acompanhamento radiográfico, utilização de forças leves, maior intervalo de

activação das forças ortodônticas, remoção de hábitos prejudiciais, ajuste oclusal,

contenção com aparelhos passivos e, em alguns casos, reavaliação ou interrupção do

tratamento.

Para o completo entendimento das forças que geram movimento dentário,

convém relembrar os conceitos básicos nesta área.

Força é uma carga que actua sobre um objecto, podendo ser expressa em

vários tipos de unidades. Tradicionalmente, os ortodontistas medem as forças em

gramas, mas na maioria das áreas científicas a unidade utilizada é o Newton (1

Newton = 100 gramas).

Pressão é a força exercida por unidade de superfície. Mudando o tamanho

de um objecto e perante a actuação de uma mesma força, podem ser criadas

diferentes situações de pressão. Neste caso utiliza-se como unidade o N/m2.

Segundo Silva.C 30 (2007), se aplicarmos uma mesma força de 100 g a um

incisivo inferior ou a um molar, intuitivamente percebemos que o dente mais pequeno

(com menor superfície radicular) é sujeito a uma maior pressão do que o dente maior,

o qual tem mais superfície para distribuir essa força ou carga.

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Movimento Dentário

48

4.4.1 Tipos de forças ortodônticas

Os tipos de forças usadas em ortodontia podem ser classificados, quanto à sua

forma de actuação, em contínuas ou intermitentes. No entanto, Moyers31 (1980),

baseando-se nas forças descritas por Reitan5 (1964), refere outros dois tipos de

forças, a força dissipante e a força funcional.

Quanto às forças contínuas, podem considerar-se as obtidas nos aparelhos fixos

quando se utilizam elásticos ou molas flexíveis que permitem uma acção contínua por

um período considerável de tempo e com uma magnitude relativamente constante. – É

o tipo de força característico da actuação dos aparelhos fixos.

As Forças intermitentes, como o próprio nome indica, são designadas pela

alternância de períodos de acção com períodos de inactividade, sendo por isso

associada ao uso de aparelhos removíveis, os quais se retiram da boca para comer e

para higienização, causando por isso forças intermitentes. Também se designam de

força intermitente, os aparelhos removíveis com molas relativamente rígidas que vão

perdendo acção durante o deslocamento do dente a que estejam aplicadas. Os

aparelhos extra-orais, que são usados somente em determinados períodos de tempo

(noite), são também exemplos de aplicação de forças intermitentes.

As Forças dissipantes representam uma modalidade de força contínua. A sua

acção é mais circunscrita no tempo, de forma a permitir algum grau de recuperação,

reorganização e proliferação celular antes de nova activação6. Este tipo de forças é

especialmente desejável e algumas técnicas mecânicas actuais foram pensadas, entre

outras coisas, para permitir este efeito.

As Forças funcionais são características principalmente dos aparelhos

funcionais, os quais são removíveis e não têm retenção na boca. A sua acção sobre

os dentes é intermitente e resulta de uma função muscular, por exemplo, a deglutição.

São forças difíceis de controlar, determinando um movimento dentário relativamente

mais lento do que os outros tipos de forças referidos. Contudo, este tipo de aparelho

tem por objectivo alterar o comportamento muscular e, se possível, restaurar o padrão

de crescimento do esqueleto craniofacial.

Para Consolaro61 (2006), nas primeiras horas da movimentação induzida, o

deslocamento dentário pode ir até 0,9mm, mas isto resulta da compressão do

ligamento periodontal, pela rotação radicular no alvéolo e pela deflexão óssea4. Em

1975, Andrews62 (1975) sugeriu um período mínimo de 10h para activar a reabsorção

óssea na superfície do alvéolo, durante a movimentação dentária induzida sob forças

constantes. A eliminação da tensão mecânica pela suspensão da força, mesmo após

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Movimento Dentário

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um curto período de tempo, seria suficiente para interromper a actividade

osteoclástica. Uma nova aplicação de forças requereria uma retomada do processo

desde o seu início. A “teoria das 10 horas” formulada por Andrews62 (1975) determinou

clinicamente a necessidade do uso contínuo de aparelhos ortodônticos removíveis, se

o objectivo fosse a movimentação dentária.

4.4.2 A magnitude das forças

A primeira distinção a efectuar neste âmbito é entre forças ortodônticas e

ortopédicas. A fronteira desta divisão segundo Silva C.30 (2007) situa-se classicamente

nos 400 g; sendo que as forças situadas abaixo deste limite são consideradas

ortodônticas e, acima dele, ortopédicas

Outro conceito a determinar, é o da força ortodôntica ideal, o qual é de

extrema importância para os ortodontistas.Para Moyers31 (1980) a força ortodôntica

ideal para qualquer movimento dentário é aquela que inicia a resposta tecidular

máxima, sem dor ou reabsorção radicular e mantém a saúde do ligamento periodontal

durante todo o movimento do dente.

Segundo Silva C.30 (2007) existindo um processo inflamatório subjacente

ao movimento e micro-reabsorções radiculares praticamente impossíveis de evitar,

mesmo em condições controladas, a definição proposta por Moyers31 (1980) parece

demasiado rígida no que a estes dois aspectos diz respeito. Assim sendo, é razoável

esperar alguma dor nas fases iniciais do movimento, em função do processo

inflamatório despoletado e também algumas micro-reabsorções radiculares laterais,

embora estas, se dentro de certos limites, possam ser totalmente recuperáveis.

Sendo também a força ortodôntica ideal condicionada por diversos

factores, tal como o dente implicado, o tipo de movimento a efectuar, o estado de

saúde periodontal, homeostasia humoral, hormonal e até a idade do paciente; a

definição de Moyers, em nossa opinião, seria vantajosamente substituída por outra: -

“a força ortodôntica ideal é, genericamente, a força que produz o movimento dentário

pretendido nas condições existente, com o mínimo de esforço celular e de efeitos

secundários”.

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Movimento Dentário

50

4.5 Tipos de Movimentos e Forças Actuantes

Os movimentos dentários são causados pela aplicação de forças nos

dentes através de aparelhos ortodônticos. Os movimentos dentários podem ser de

inclinação, translação, rotação, extrusão (verticais para cima, acompanhados de

inclinação) e intrusão (verticais para baixo, forças aplicadas numa pequena área do

ápice do dente) (Marcotte10 (2003)). De forma simplificada, o movimento dentário

depende basicamente da força aplicada na mola ortodôntica e da força de resistência

que se opõe a essa acção. Os mecanismos que definem esse movimento de oposição

estão directamente ligados a factores biológicos complexos das estruturas de cada

paciente onde o dente se encontra embutido.

As forças aplicadas são caracterizadas pela intensidade, direcção e ponto

de aplicação (Marcotte10 (2003)). Ao ser aplicada uma força sobre um dente num

ponto qualquer da sua superfície, este desloca-se a uma distância proporcional à força

aplicada no seu centro de resistência (1/3 a partir do ápice da raiz), podendo sofrer

uma translação e/ou rotação. Os carregamentos aplicados são automaticamente

gerados pela recuperação elástica de fios metálicos encostados aos dentes através

das molas inseridas nos aparelhos. Movimentos ortodônticos simples, como a

inclinação, ocorrem em torno do centro de resistência do dente. As translações são

modeladas pela aplicação de movimentos de corpo onde toda a estrutura do dente é

carregada uniformemente. Extrusões e Intrusões são movimentos modelados através

de translações verticais onde forças são utilizadas para deslocar o dente para fora ou

para dentro de sua estrutura óssea, respectivamente.

Figura 17 – A) Aplicação de uma força à coroa de um dente. A pressão é sentida no ápice da raiz e na

crista alveolar; B) Imagem intra-oral de um aparelho removível com uma mola T dupla para protusão

dentária do incisivo lateral.

A) B)

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Materiais e Métodos

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5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 Ensaios na Máquina Universal Tira test 2705

Neste estudo foram realizados testes às molas ortodônticas “T” e “Z” numa

máquina de testes universal Tira test 2705, propriedade da unidade de materiais

compósitos do INEGI, com capacidade de carga até 5kN.

Esta máquina, que está representada na Figura 18, permite aplicar axialmente

forças ou deslocamentos de forma controlada. Trata-se de uma estrutura rígida

constituída por dois montantes laterais onde, por acção de fusos roscados, se desloca

guiada paralelamente à mesa de suporte, uma travessa horizontal. A colocação de

uma amarra na mesa da máquina e outra na travessa horizontal permite aplicar carga

axial sobre qualquer objecto colocado entre estes dois componentes. A montagem de

uma célula de carga numa das travessas permite medir com rigor a força aplicada pela

máquina. Um software apropriado e uma célula de carga permitem controlar os

movimentos de subida e descida da travessa assim como medir a força aplicada em

cada instante.

A máquina de ensaio universal foi utilizada para realizar testes com os quais se

avaliaram os comportamentos mecânicos das molas estudadas. A medição das forças

de compressão e flexão e dos deslocamentos associados a cada uma delas permitiu

avaliar a resposta da cada mola em compressão e flexão.

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Materiais e Métodos

52

Figura 18 - Máquina de ensaios universal Tira test 2705, cortesia do CEMACOM-INEGI

Figura 19 - Célula de carga até 20 N utilizada nos testes

Dada a baixa amplitude esperada para as cargas geradas pela mola foi seleccionada

uma célula de carga com a capacidade máxima de 20 N. Esta célula de carga pode

ver-se na Figura 19 foi fornecida pela empresa HBM e permite ligação ao software de

controlo da máquina.

Para garantir um correcto posicionamento das molas durante os ensaios foram

confeccionados bases em acrílico onde se inseriram as molas ortodônticas, uma para

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a mola “T dupla” e outra para a mola “Z dupla”. Estas bases têm forma prismática para

facilitar a sua fixação.

Os dois provetes assim obtidos, mostrados nas figuras 20 e 21, foram depois

fixados na estrutura da máquina através de um suporte cuja fixação à mesa se fazia

por acção magnética. O sistema de fixação dos provetes, foi feito por encastramento

entre duas peças metálicas, como se pode ver na Figura 22

Figura 20 - Provete em acrílico onde foi inserida a mola ortodôntica “T”dupla

Figura 21 - Provete em acrílico onde foi inserida a mola ortodôntica “Z” dupla

22 mm

13 mm

13 mm

22 mm

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Na Figura 22 mostra-se em detalhe a fixação do provete obtido para a mola T

dupla. Como se pode ver na imagem a utilização da base de acrílico não só facilita a

sua fixação no suporte como garante que a distância entre o ponto de aplicação da

força e o encastramento permaneça constante. Deve referir-se que para os valores de

carga registados o acrílico possui uma rigidez suficiente para não interferir nos

deslocamentos medidos para a mola.

Figura 22 - Inicio do teste de flexão à mola T dupla, onde se verifica o encastramento do provete.

Também é visível a célula de carga encostada à mola

Nas figuras 23 a 29 mostram-se imagens obtidas para alguns dos ensaios

realizados em que se evidencia a versatilidade do suporte utilizado. Neste suporte a

base de acrílico é apertada entre duas réguas metálicas sendo uma delas móvel e

guiada por dois veios colocados lateralmente. Nesta régua existem dois parafusos que

permitem a sua imobilização. A régua fixa é apertada através de uma castanha a um

veio cilíndrico que se encontra roscado numa base magnética da marca Mitutoyo.

Esta solução para fixar os provetes é muito versátil e permite ajustar as

montagens de acordo com cada um dos testes realizados.

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Figura 23 - Teste de flexão feito à mola T dupla. Fixação do suporte de acrílico e extremidade da célula de

carga.

Figura 24 - Inicio do teste de flexão à mola Z dupla, onde se verifica o encastramento do provete.

Também é visível a célula de carga encostada à mola

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Figura 25 - Teste de flexão feito à mola T dupla onde se verifica que forma atingidas deformações

elevadas para este comprimento de mola.

Figura 26 - Inicio do teste de compressão à mola T dupla, onde é visível a célula de carga encostada à

mola

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Figura 27 - Teste de compressão feito à mola T dupla onde se pode verificar a deformação induzida no

corpo da mola pela carga axial.

Figura 28 - Inicio do teste de compressão à mola T dupla, onde é visível a célula de carga encostada à

mola

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Figura 29 - Teste de compressão feito à mola Z dupla numa situação em que a extremidade da célula de

carga encosta no segundo helicóide da mola.

Após ter ensaiado ambos os provetes e medidos os comportamentos mecânicos

de ambas as molas, quer em flexão, quer em compressão foi decidido proceder a

idênticas medições com as molas já integradas num aparelho ortodôntico. Para isso

recorreu-se a utilização de um molde representativo de uma utilização típica destas

molas e que se encontra representado na figura 30.

Para se poder realizar as medições foi necessário retirar os componentes de

gesso que representavam os dois dentes incisivos centrais Com esta configuração foi

possível fixar o molde de gesso com o aparelho devidamente montado na mesa da

máquina de ensaios universal. Deve referir-se que neste caso o molde de gesso foi

colado a uma barra perismática de aço que foi depois utilizada para fixar devidamente

a montagem com auxílio de uma base magnética da Mitutoyo.

Como se pode verificar nas figuras 31 a 33 o ensaio realizado permite conhecer

com elevado rigor a forças realizadas por ambas as molas quando colocadas em boca

e para o caso clínico que foi seleccionado. Deve ainda dizer-se que a colocação das

molas no aparelho ortodôntico altera significativamente as condições de fixação, não

só por alterar o comprimento da mola que se encontra fora do acrílico,

comparativamente aos provetes ensaiados, como implica alterações na geometria

desta.

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Figura 30 - Imagem da mola Z inserida no aparelho, e em que a célula de carga está encostada à mola

Figura 31 - Imagem da mola Z em compressão inserida no aparelho

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Figura 32 - Imagem da mola Z inserida no aparelho, e em que a célula de carga está encostada à mola

Figura 33 - Imagem da mola Z em compressão inserida no aparelho

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Materiais e Métodos

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5.2 Método de Elementos Finitos

A aplicação de forças externas ao dente para produzir movimento dentário

ortodôntico acarreta alguns riscos calculados. Um destes riscos é a reabsorção

irreversível da raíz. Os tipos de movimento ortodôntico que podem ser relatados como

de maior risco para a reabsorção da raiz incluem a intrusão assim como movimentos

contra o osso cortical da maxila.

Diferentes tipos de movimento dentário ortodôntico podem produzir tensões

(stress mecânico) diferentes localizadas na raiz.

O método de elementos finitos (MEF) é uma técnica numérica de cálculo

aproximado que pode ser utilizada para analisar as tensões geradas no dente e sua

fixação. Usado em engenharia há aproximadamente 4 décadas, este método usa o

computador para resolver o largo número de equações que aproximam um dado

problema e calcular a tensões mecânicas com base na geometria, cargas e

propriedades das estruturas que estão a ser analisadas.

MEF tem algumas vantagens em relação a outros métodos de obtenção de

tensões, destacando-se a possibilidade de incluir a heterogeneidade do material do

dente e a complexidade da sua geometria no modelo de cálculo (“model design”),

assim como a relativa facilidade com que cargas podem ser aplicadas com

orientações e valores diferentes para uma análise mais completa.

Em ortodontia o MEF tem sido usado com sucesso em modelos de simulação

em que se aplicam forças individualmente em cada dente. No presente trabalho foi

utilizado um caso em que os incisivos centrais deveriam ser deslocados para estudar e

avaliar as forças exercidas pelas molas ortodônticas.

O desenvolvimento do MEF teve as suas origens no final do século XVIII,

quando Gauss propôs a utilização de funções de aproximação para a solução de

problemas matemáticos (Oliveira35 2000). Durante mais de um século diversos

matemáticos desenvolveram teorias e técnicas analíticas para a solução de

problemas. No entanto pouco se evoluiu devido às dificuldades de cálculo e à

limitação existente no processamento de equações algébricas6. O desenvolvimento

prático desta análise ocorreu somente muito mais tarde em consequência dos avanços

tecnológicos, por volta de 1950, com o advento da computação. Isto permitiu a

elaboração e a resolução de sistemas de equações complexas6. Em 1956, Turner,

Clough, Martins e Topp, trabalhando num projecto de aeronaves para a Boeing

propuseram um método de análise estrutural, similar ao MEF. Mais tarde, em 1960,

estes autores utilizaram pela primeira vez o nome de MEF, descrevendo-o de forma

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detalhada. A partir de então o seu desenvolvimento foi exponencial sendo actualmente

aplicado em diversas áreas da Engenharia, Medicina, Odontologia e áreas afins

(Oliveira35 2000), entre outras.

Em linhas gerais pode definir-se o MEF como um método matemático, no qual

um meio contínuo é discretizado (subdividido) em elementos que mantém as

propriedades do meio que os originou. Esses elementos são descritos por equações

diferenciais e resolvidos por modelos matemáticos para que sejam obtidos os

resultados desejados. O MEF é utilizado há algum tempo em experiências

relacionadas com a Odontologia, em diversas especialidades, sendo a sua aplicação

na Ortodontia de grande utilidade35,36,37,38,39,40,41,42,43.

O estudo do efeito das cargas (forças) aplicadas aos dentes apresenta grande

interesse científico e pode ser encontrado em diversos trabalhos, envolvendo

metodologias variadas36,38,44,45. Dentre as principais metodologias utilizadas podem

destacar-se: métodos experimentais para a análise de tensões na estrutura dentária,

como modelos fotoelásticos e estudos com interferometria holográfica; análises

experimentais in vivo em humanos e/ou animais, modelos matemáticos analíticos e

análises matemáticas como o MEF.

Os métodos de experimentação convencionais podem ser questionados

principalmente devido à capacidade de criar modelos in vitro semelhantes à estrutura

dentária, não só devido à diversidade de substâncias que compõem os dentes como à

complexidade da sua geometria. Esses estudos necessitam de laboratórios bem

equipados e instrumentos específicos, dificultando a realização das experiências e

aumentando o seu custo44,45. O recurso a modelos experimentais como os

fotoelásticos obriga também a algumas simplificações pois, muitas vezes, consideram

apenas um plano bidimensional, representam formas geométricas ideais e não reais, e

não consideram a mudança de direcção da força durante o deslocamento do dente44.

Além disso, Rubin et al.39 (1983) relataram também que os métodos fotoelásticos

podem ser complexos pelo que os resultados poderiam ser mais facilmente obtidos

por outros meios, como o MEF.

Os métodos experimentais envolvendo interferometria holográfica sobre modelos in

vitro consideram as propriedades não lineares do ligamento periodontal. No entanto,

estas serão diferentes do tecido in vivo, devido à forma como a estrutura é simulada

nesta técnica, não sendo fácil criar modelos que mimetizem, com elevado rigor, o

comportamento desta estrutura. Além disso, nesta técnica, não é fácil fazer variar as

formas geométricas utilizadas2 pois implicam a construção de novos modelo

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Materiais e Métodos

63

5.3 Obtenção dos Modelos Numéricos

Para a obtenção de um modelo numérico por meio do MEF é necessário definir o

objecto de pesquisa. Este poderá ser qualquer estrutura dento-maxilo-facial ou uma

mola T dupla. Num primeiro passo define-se a geometria da estrutura que se deseja

analisar, como por exemplo uma mola T dupla ou um incisivo central e seu suporte

alveolar (Figura 34). O objecto é desenhado num programa específico integrado num

pré-processador ou num programa de CAD, como por exemplo o SolidWorks

(SolidWorks Corporation, EUA) ou AutoCAD (Autodesk, EUA) (Figura 34). A

morfologia das estruturas modeladas pode ser baseada em imagens extraídas de um

Atlas de Anatomia, imagens médicas (tomografia axial, ressonância magnética),

crânios secos e/ou dentes extraídos.

Posteriormente, a estrutura obtida será discretizada (subdividida) em pequenos

elementos denominados elementos finitos num programa específico de MEF, como

por exemplo, o Patran®, Nastran®, Abaqus®, Ansys®, entre outros. Os elementos

representam coordenadas no espaço e podem assumir diversos formatos, sendo que

os tetraédricos e os hexaédricos são os mais comuns (Figura 35 A). Quanto maior o

número de elementos mais representativo será o modelo41.

Nas extremidades de cada elemento finito encontram-se pontos, designados por

nós, que ligam os elementos entre si, formando uma malha contínua em camadas bi

ou tri dimensionais (Figura 35B). Através dos nós as informações são passadas entre

os elementos. Cada nó possui um número definido de graus de liberdade,

deslocamentos e rotações, que caracterizam a forma como o nó irá comportar-se ao

longo do cálculo. Este deslocamento pode ser descrito em três dimensões espaciais

(X, Y e Z) no caso de modelos tri-dimensionais ou duas direcções (X e Y) em modelos

bi-dimensionais. A direcção e o sentido das coordenadas são determinados pelo

modelo inicial. Portanto, pode definir-se, por exemplo, o eixo X correspondente às

alterações no plano coronal (ântero-posteriores), o Y referente às mudanças no plano

sagital mediano (transversais) e o Z no plano axial (verticais). Estes serão os eixos

utilizados para a avaliação dos resultados.

O arranjo dos nós possui graus de liberdade que caracterizam os modelos como

tridimensionais ou bidimensionais. Modelos tridimensionais possuem vantagens sobre

os bidimensionais, uma vez que somente no primeiro é possível analisar

correctamente as estruturas dento-maxilo-faciais. Por exemplo, a irregularidade dos

dentes humanos, as cargas aplicadas sobre estes, a distribuição das tensões e

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Materiais e Métodos

64

deslocamentos sobre as várias estruturas que compõem o dente, como esmalte,

dentina e polpa, e os resultados nos três planos do espaço39.

Neste sistema as deformações da estrutura são directamente proporcionais às

forças aplicadas. A utilização destes tipos de modelos permite apenas a avaliação do

deslocamento inicial dos dentes (antes de ocorrerem os fenómenos celulares levando

à remodelação óssea), ou seja, sua tendência de movimento, não considerando o

factor tempo.

Alem das propriedades mecânicas, os materiais podem ser considerados como

isotrópicos, ortotrópicos ou anisotrópicos. Um material isotrópico significa que as suas

propriedades mecânicas são as mesmas em todas as direcções em qualquer ponto do

elemento estrutural. Num material ortotrópico, as propriedades mecânicas são as

mesmas em duas direcções e diferentes numa terceira, enquanto num material

anisotrópico, as propriedades diferem em todas as direcções.

Em materiais isotópicos o Coeficiente de Poisson e o Módulo de Young

(Elasticidade) das estruturas bastam para caracterizar o seu comportamento

mecânico. O Coeficiente de Poisson refere-se à relação entre as deformações

transversais e longitudinais num dado eixo e o Módulo de Young representa a

inclinação da porção linear do diagrama de tensão/deformação do material.

A Tabela 1 ilustra os valores destas propriedades nas principais estruturas

dentárias usada no modelo usado para o presente trabalho. Sendo as geometrias

definidas de acordo com o modelo que se mostra em corte na Figura 34. Trata-se de

um modelo de CAD que foi utilizado para gerar o modelo matemático de elementos

finitos que foi utilizado nos estudos que serão descritos mais adiante neste trabalho.

Nas figuras 35 e 36 mostra-se os modelos numéricos gerados com base no desenho

de CAD da figura 34 Modelo Numérico do Incisivo Central

Tabela 1 - Propriedades mecânicas dos materiais

Material Módulo de Young Coeficiente de Poisson

Dentina 1,86 x 1010 MPa 0,31

Osso cortical 1,3 x 1010 MPa 0,30

Osso esponjoso 1,5 x 109 MPa 0,30

Ligamento periodontal 6,9 x 107 MPa 0,45

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Materiais e Métodos

65

Figura 34 – Vista em corte do modelo CAD realizado no software SolidWorks® 2009

A)

B)

C)

Figura 35 – A) Vista global do modelo numérico importado para o software Ansys®; B) Zona encastrada

(superfície azul escura); C) Ponto de aplicação da carga

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Materiais e Métodos

66

Figura 36 - A) Imagem da malha do modelo numérico; B) Vista em corte do modelo numérico; C) Zoom da

vista em corte da malha, onde é possível visualizar o ligamento periodontal (zona verde).

A) B)

C)

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Materiais e Métodos

67

5.3.1 Molas Ortodônticas

Depois de seleccionar o caso de estudo e as molas envolvidas foram

construídos modelos de CAD representando as molas a utilizar. Numa primeira fase as

molas foram desenhadas com extremidades rectas embora a sua forma na

extremidade activa reproduzisse fielmente a geometria recomendada. Ambas as molas

foram desenhadas em SolidWorks sendo os desenhos inseridos no pré-processador

do código numérico de elementos finitos para geração dos modelos matemáticos.

Nas figuras 37 e 38 mostra-se o desenho da moda T dupla e a malha gerada

pelo programa Ansys com indicação do nº de nós e elementos assim como das

propriedades mecânicas consideradas para o material da mola (aço inoxidável CrNi).

A figura 39 mostra as condições de fronteira e carregamento utilizadas para simular a

flexão da mola. A região de fixação está colorida a azul enquanto a carga aplicada é

indicada pelo vector a vermelho.

Figura 37 - Modelo numérico da mola T

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68

Figura 38 - Malha de elementos finitos da mola Z

Figura 39 - Condições de fronteira e ponto de aplicação da força na mola T dupla. O eixo Y corresponde à

orientação da carga.

Números totais de nós = 9909

Números totais de elementos =4546

Módulo de Young = 210 Gpa

Coeficiente de Poisson = 0,3

Densidade = 7850 kg/m3

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Materiais e Métodos

69

Nas figuras 40 a 43 estão representados os desenhos em CAD 3D, malha de

elementos finitos e situações de fixação e carregamento utilizado com a mola Z dupla.

Como se pode verificar neste caso a utilização de uma geometria mais complexa

implicou que o programa que gera automaticamente a malha de elementos

propusesse um número de elementos bastante superior, 16737 em vez de 9909.

Foram realizados alguns cálculos com malhas diferentes que garantiram que os

modelos utilizados conduziam a uma solução suficientemente rigorosa.

Mostra-se também a solução de carregamento utilizada para simular uma carga

axial de compressão sobre a mola Z dupla. Esta carga é semelhante à utilizada com a

mola T dupla e não é aqui mostrada por se tratar de uma situação simétrica em que o

posicionamento da carga não levanta qualquer dúvida. Deve referir-se que o

carregamento da mola Z dupla poderia ocorrer na extremidade livre da mola ou com a

carga aplicada a meio como se mostra na figura 43.

Figura 40 - Modelo numérico da mola Z

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70

Figura 41 - Malha de elementos finitos da mola Z

Figura 42 - Condições de fronteira e ponto de aplicação da força na mola Z no eixo Y

Números totais de nós = 16737

Números totais de elementos =8209

Módulo de Young = 210 Gpa

Coeficiente de Poisson = 0,3

Densidade = 7850 kg/m3

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Materiais e Métodos

71

Figura 43 - Condições de fronteira e ponto de aplicação da força na mola Z no eixo Z

Finalmente foram desenhadas as molas nas configurações que assumem

quando inseridas no aparelho. Na figura 44 mostram-se os desenhos das molas já

orientadas de acordo com a sua configuração final. Deve lembra-se que a parte

exposta da mola, isto é, fora do acrílico, corresponde apenas a 2 a 3 mm pelo que no

modelo de elementos finitos não é importante a geometria da haste dentro do acrílico

pois corresponde a elementos com os movimentos completamente restringidos.

Figura 44 – Configurações das molas T e Z quando incluídas no aparelho.

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72

5.4 Interferometria Holográfica

Diversos métodos têm sido desenvolvidos para avaliar o comportamento dos

materiais em Medicina Dentária. A Holografia é uma das técnicas já utilizadas em

Ortodontia, tanto para gravar imagens 3D dos modelos dentários em hologramas,

como para a avaliação da distribuição das tensões nas estruturas crânio-faciais in

vitro.

Esta técnica recorre a um processo que permite gravar toda a informação

referente a uma frente de onda, isto é, às suas distribuições espaciais de amplitude e

fase. O registo obtido, designa-se por holograma, palavra que deriva do grego “holos”

que significa “o todo”. Uma das grandes vantagens desta técnica, prende-se com a

capacidade de gravar imagens a três dimensões e realizar medições precisas e sem

contacto das deformações do objecto em estudo.

Tal como a fotografia a holografia é uma técnica que regista em filme a

informação relativa a um objecto ou cena e pode ser transportada num feixe de luz. No

entanto, os mecanismos básicos utilizados bem como a natureza das imagens

produzidas, diferem bastante de uma para outra. A fotografia comum produz uma

representação bidimensional do objecto, na qual a profundidade da cena termina no

plano de impressão. A Holografia, pelo contrário, capta a informação em três

dimensões: incluindo a profundidade.

Figura 45 - Diferença das representações entre a fotografia e a holografia. Nesta imagem é possível

visualizar que, a holografia produz uma representação tridimensional. Fonte:

http://www.colegio.com.br/fisica/holografia1

As fontes de luz usadas nas fotografias convencionais (a luz do sol e a

iluminação artificial, por exemplo) emitem radiação com uma ampla gama de

frequências, visto que a luz branca abrange as frequências do ultravioleta até ao

infravermelho. Para se gravar a informação num registo holográfico é necessário que a

fonte de luz seja monocromática (tenha frequência única) e coerente, isto é, que as

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73

cristas de todas as ondas caminhem juntas (em fase) e tenham capacidade para

interferir entre si. Por isso, embora a holografia tenha sido idealizada em 1947 por

Dennis Gabor (10,11), a demonstração prática de seus efeitos só se tornou possível a

partir da década de 60, com o desenvolvimento da tecnologia do laser. Esta tecnologia

permitiu obter fontes de luz que por emissão estimulada que emitem raios luminosos

coerentes e monocromáticos sendo esta radiação designada por LASER.

Leith e Upatnieks 49,50,51 também contribuíram bastante para a crescente

utilização desta técnica, uma vez que apresentaram pela primeira vez, um método

para gravar hologramas de superfícies difusas.

Nesta técnica, um feixe de luz coerente proveniente de um laser é dividido em

dois para gerar duas frentes de onda, como se pode ver na Figura 46. Uma delas é

utilizada para iluminar o objecto, designada por feixe objecto, a outra é dirigida

directamente para o meio de registo, normalmente uma placa de vidro coberta por

uma emulsão fotográfica virgem, sendo designada por referência. Da sobreposição

das frentes de onda, de referência e difundida pela superfície do objecto, resulta um

padrão de interferência que é gravado na placa holográfica cuja resolução permite

registar até 3000 linhas/mm

Figura 46 - Montagem óptica para A) gravação e B) reconstrução de uma imagem holográfica

Após a revelação química da placa holográfica e do seu reposicionamento no

local de gravação (reposicionamento que deverá ser realizado com uma tolerância de

+ 0,1μm) se esta for iluminada com o feixe de referência inicial devolverá, por

difracção, a frente de onda difundida pelo objecto. É este fenómeno, que está

esquematicamente representado na Figura 46, que nos permite observar uma imagem

tridimensional quando nos colocamos em frente a um holograma. (Reis Campos

J.C..52 (2005)).

A) B)

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74

Para que esta técnica possa ser aplicada em metrologia é apenas

necessário que as frentes de onda gravadas em instantes diferentes sejam

comparadas numa técnica designada por interferometria holográfica.

A interferometria holográfica foi descoberta nos finais de 1964, por Robert Powell

e Karl Stetson 53,54. O princípio da interferometria holográfica consiste no facto de uma

frente de onda emitida por um objecto poder interferir com a frente de onda

proveniente do mesmo objecto mas emitida num instante diferente. Desta forma é

gerado um padrão de franjas de interferência, zonas escuras, nos pontos em que a

diferença de fase é um múltiplo impar de π.

Na Figura 47 estão esquematicamente representados ambos os processos de

medida com as técnicas de interferometria holográfica. No primeiro caso pode

observar-se como são obtidas as franjas de interferência no método da dupla

exposição. Este método tem a vantagem de não necessitar do reposicionamento do

holograma pois ambos os registos são efectuados antes da revelação. Ao iluminar o

holograma com o feixe de referência este devolve as duas frentes de onda gravadas e

a interferência entre elas. Se não for utilizada na reconstrução a mesma frente de

onda existirá a distorção na reconstrução de ambas as frentes de onda e o padrão de

interferência, correspondente à medida, será idêntico. A utilização da correlação em

tempo real é a mais indicada quando se pretende acompanhar a evolução dos

deslocamentos durante a aplicação da carga. Um holograma do objecto na sua

situação inicial é gravado e reposicionado para reconstruir a frente de onda inicial

simultaneamente o objecto é iluminado devolvendo a sua imagem. As duas frentes de

onda assim obtidas interferem mas enquanto a proveniente do holograma permanece

inalterada a frente de onda difundida pela superfície do objecto é alterada de acordo

com a deformação deste. Como principal dificuldade na utilização desta técnica de

correlação pode referir-se o reposicionamento do holograma após revelação.

Figura 47 - Técnicas de correlação em interferometria holográfica. A) Dupla exposição e B) Tempo real.

A) B)

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Materiais e Métodos

75

Para este trabalho foi preparada uma montagem experimental que permite

simular o comportamento mecânico das molas ortodônticas em estudo. Para isso foi

construído um modelo em gesso onde foram implantados em cera dois incisivos como

se mostra na figura 48.

Figura 48 - Imagens do modelo usado em que os dentes estão posicionados e inseridos em cera para

serem estudados pelo método de interferometria halográfica

Neste trabalho foi usado um modelo em gesso tipo III, no qual dois incisivos

centrais estão inseridos em cera rosa numa posição que é indicada para correcção

ortodôntica a realizar através de molas inseridas num aparelho ortodôntico removível.

Nesta situação as forças exercidas pelas molas provocam alterações de posição nos

dentes. Este deslocamento é devido ao facto de as molas terem sido activadas antes

de se iniciar a medição com holografia. Para se puder visualizar em tempo real o

movimento ocorrido nos dentes, utilizou-se uma fonte de calor, para aquecer a cera

cuja rigidez diminuiu ligeiramente. A activação que foi feita nas molas permitiu que

estas realizassem alguma carga sobe os dentes e os deslocassem quando a cera

amoleceu. Esta metodologia reproduz uma outra já utilizada em que o amolecimento

da cera é obtido por imersão em água quente. A utilização da holografia TV para este

efeito apresenta a vantagens dos movimentos dos dentes serem medidos em toda a

extensão visível com uma resolução de algumas décimas de micrómetro. Desta forma

é possível verificar se as molas ortodônticas estavam correctamente concebidas, Isto

é, se a mola Z faz rotação e a mola T provoca protusão.

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76

Figura 49 - Lâmpada é usada como fonte de calor para amolecer ligeiramente a cera

Figura 50 - Representação esquemática do sistema de holografia-tv utilizado neste trabalho

A caracterização dos deslocamentos de um objecto por interferometria

holográfica é obtida sem contacto através do registo de padrões de franjas de

interferência. Estes padrões têm uma variação sinusoidal de intensidade e cada franja

corresponde a um conjunto de pontos da superfície do objecto em que ocorreu o

mesmo deslocamento na direcção do vector de sensibilidade.

A substituição da emulsão fotográfica pela câmara vídeo no registo dos padrões

de interferência foi proposta de forma mais ou menos simultânea por três grupos

distintos. Butters e Leendertz55 em Inglaterra, Macovsky56 nos Estados Unidos e

Schowomma57 na Austria. Enquanto Macovsky e Schowomma desenvolveram esta

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Materiais e Métodos

77

técnica a partir da Holografia, o grupo inglês considerou-a como uma extensão das

técnicas de speckle (granitado laser) designando-a por Electronic Speckle Pattern

Interferometry (ESPI). Embora ESPI seja a designação mais vulgar, esta técnica é

também conhecida por Holografia-TV58. Neste trabalho será utilizada a designação de

Holografia-Tv.

Ao substituir a emulsão fotográfica, com uma resolução que pode ir até às 3000

linhas por mm, pelo alvo de uma câmara de vídeo cuja resolução é duas ordens de

grandeza inferior, são impostas algumas limitações. A necessidade de aumentar o

tamanho do speckle (granitado característico que surge quando superfícies rugosas

são iluminadas com radiação laser) para o tornar compatível com a resolução do

detector vídeo implica que o contraste das imagens obtidas seja muito inferior ao

obtido com a Holografia.

A informação registada é, no entanto, mais do que suficiente para a maioria das

aplicações onde é normalmente utilizada a interferometria holográfica. Mantendo a

maioria das características da Holografia, a holografia-tv tem como principal vantagem

a possibilidade de gravar hologramas com a frequência do vídeo (25 imagens/segundo

no sistema vídeo europeu ou 30 imagens/segundo no sistema americano) sem

necessidade de reposicionamento ou processamento químico. Na Figura 51

representa-se esquematicamente uma montagem convencional para realizar medições

com holografia-tv e mostra-se uma imagem do sistema utilizado para realizar as

medições apresentadas neste trabalho.

Figura 51 - Representação fotográfica do sistema de holografia–tv, zona de imagem e medição com

iluminação a laser utilizado neste trabalho

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78

5.4.1 Determinação dos Deslocamentos

Nas medições efectuadas foram utilizadas as técnicas de correlação em tempo

real e em dupla exposição. Com a primeira foi possível acompanhar a aplicação da

carga e visualizar o seu efeito sobre os incisivos centrais directamente no monitor de

vídeo. Com este tipo de correlação pode investigar-se quais as condições de fronteira

e de carregamento mais adequadas à medição que se pretendia. Neste caso as

franjas de interferência resultam de uma subtracção em tempo real, em que à imagem

de referência inicialmente gravada é subtraída, em contínuo, à imagem de vídeo que

está a ser obtida. O sistema disponível no LOME permite ainda actualizar a referência

sempre que necessário mantendo activa a subtracção em tempo real.

Figura 52 - Imagens modelo utilizado nas medições com interferometria holográficaA) a zona de medição

pretendida para estudo, ou seja os dois incisivos centrais superiores e B) a máscara de separação da

zona de medição.

A dupla exposição foi utilizada para obter o padrão de franjas final para cada

situação de carregamento. Neste tipo de correlação são gravadas duas imagens do

objecto, a imagem de referência, antes da aplicação da carga e a imagem final após

deformação. O par de imagens assim obtido é posteriormente processado para obter o

padrão de franjas que caracteriza o comportamento do objecto.

O sistema disponível no LOME tem ainda a possibilidade de utilizar um sistema

de modelação de fase do feixe de referência para calcular directamente a distribuição

3D dos deslocamentos ocorridos no objecto. Com esta ferramenta obtém-se

directamente a fase do padrão de interferência (Lopes H.M.R 76 (2007)).

A) B)

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Resultados

79

6 RESULTADOS

Sendo o principal objectivo deste trabalho a caracterização de um sistema

biomecânico típico de aplicações ortodônticas com aparelhos removíveis é necessário

conhecer com rigor o comportamento mecânico dos elementos activos. Nestes

aparelhos as principais forças de correcção são geradas por elementos elásticos do

tipo mola cujo comportamento mecânico pode ser facilmente medido. Para isso

recorreu-se a uma máquina de ensaios universal para obter os gráficos Carga vs

deslocamento.

6.1 Resultados dos ensaios na máquina universal

Os gráficos que se mostram em seguida foram obtidos directamente a partir da

informação retirada da máquina de ensaios e de acordo com as configurações

descritas no capítulo anterior. Dado que a carga é aplicada por encosto, sem recurso a

qualquer amarra de fixação do provete, em todos eles se verificam oscilações no início

do carregamento. Este comportamento resulta de alguns movimentos relativos entre o

sistema de carga e o objecto resultantes da adaptação do sistema de carregamento.

Em todos os gráficos foi detectada uma boa linearidade pelo que foi ajustada

uma recta ao conjunto de valores. A obtenção de valores de correlação próximos de 1

para a maior parte dos casos prova que os dados recolhidos evidenciam um

comportamento tipicamente linear para deslocamentos dentro da gama de medida. Na

Figura 53 mostra-se o gráfico obtido no ensaio de flexão para a mola T dupla.

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Resultados

80

Figura 53 - 1º Ensaio para a mola T em flexão

Neste primeiro ensaio, é notória a evolução linear da mola T e a oscilação no inicio do

carregamento. As oscilações para cargas muito baixas podem facilmente ser

eliminadas pela aplicação de uma pré-carga inicial. Este método não foi aplicado pois

verificou-se que tinha influência reduzida no resultado final.

Para verificar a repetibilidade do comportamento foram realizadas 3 medições

cujos gráficos se mostram nas figuras 53 a 55 partindo sempre da situação de carga

nula.

y = 0,6996x - 0,0541R² = 0,9993

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola T (Flexão)

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Resultados

81

Figura 54 - 2º Ensaio para a mola T em flexão

Figura 55 - 3º Ensaio para a mola T em flexão

Os três ensaios de flexão da mola T dupla foram reunidos no gráfico da figura

56. Como se pode verificar em todos existiu uma evolução semelhante sendo obtidas

rectas paralelas entre si. Deve referir-se que a rigidez da mola é obtida do declive da

recta pelo que não é afectada pelo facto destas não serem coincidentes, isto é, não

partirem todas do mesmo ponto inicial.

y = 0,7071x - 0,124R² = 0,999

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola T (Flexão)

y = 0,7024x - 0,1133R² = 0,9984

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola T (Flexão)

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Resultados

82

Figura 56 - Mola T em flexão (Comparação dos 3 ensaios)

A tabela que se mostra em seguida resume os três ensaios realizados e como se

pode observar mesmo no caso em que a correlação teve valores mais baixos o declive

da recta manteve-se próximo de 0,7. Daqui pode concluir-se da elevada repetibilidade

da medida e pelo ausência de ruído em todo o processo de medição.

Equação da recta Fac de Correlação

y = 0,6996x - 0,0541 R² = 0,9993 y = 0,7071x - 0,124 R² = 0,999 y = 0,7024x - 0,1133 R² = 0,9984 Rigidez à Flexão [N/mm] 0,70

Figura 57 - Rigidez à flexão da mola T obtida a partir dos 3 ensaios

Os valores que se obtiveram desta medição foram comparados com os cálculos

realizados pelo método dos elementos finitos. Recorreu-se ao modelo da mola T dupla

em flexão já apresentado e obtiveram-se os valores que se mostram na figura 58.

Nesta figura mostra-se a geometria inicial da mola e a sua deformada onde um código

de cores corresponde ao deslocamento segundo a direcção YY. Neste caso a uma

força aplicada de 2 N correspondeu uma amplitude de deslocamento de 3,17 mm.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola T em Flexão

Ensaio 1

Ensaio 2

Ensaio 3

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Resultados

83

Figura 58 - Deslocamento no eixo Y

Para comparar os resultados medidos com o valor calculado recorreu-se às

expressões que figuram na tabela anterior para obter a força correspondente a um

deslocamento de 3,17 mm. Admitindo que o valor de 2 N era o valor esperado verifica-

se que o erro cometido é inferior a 10 %, limite frequentemente admitido como

aceitável sempre que se recorre a medições experimentais.

Em seguida foi efectuado o ensaio de flexão da mola Z dupla. Para este ensaio

utilizou-se a montagem descrita no capítulo anterior e obteve-se o gráfico que se

representa na figura 59. Neste gráfico verifica-se a existência de três comportamentos

distintos evidenciados pelas três regiões lineares. Este comportamento é devido a

alterações nas condições de carregamento que são evidentes nas figuras 24 e 25 e

têm a ver com a geometria da mola. Neste primeiro ensaio ocorreu ainda um

escorregamento que justifica a existência da terceira região linear. Após ajuste da

montagem realizou-se um segundo ensaio que conduziu ao gráfico da figura 59 e um

terceiro que se mostra na figura 60 juntamente com os dois anteriores.

Deslocamento Força Erro (%)

3,17 2,16 0,083,17 2,12 0,063,17 2,11 0,06

F = 2 N

d = 3,17 mm

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Resultados

84

Figura 59 - Comportamento da mola Z durante o 1º ensaio de flexão

Figura 60 - Comportamento da mola Z durante o 3º ensaio de flexão

y = 0,2451x - 0,076R² = 0,9997

y = 0,6085x - 1,0532R² = 0,9991

y = 0,2827x - 0,1061R² = 1

0

0,5

1

1,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola Z (Flexão)

y = 0,2448x - 0,0929R² = 0,9997

y = 0,6267x - 1,143R² = 0,999

0

0,5

1

1,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola Z (Flexão)

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Resultados

85

Figura 61 - Mola Z em flexão (Comparação dos 3 ensaios)

Como se pode ver pelo gráfico da figura 61 existem nitidamente dois

comportamentos distintos. Uma primeira região linear que corresponde ao uma flexão

com braço máximo dado que o apoio ocorre na extremidade mais afastada do

encastramento. Após a flexão do elemento extremo da mola o contacto ocorre mais

próximo do encastramento e a rigidez aumenta.

Neste caso a simulação numérica para uma carga de 1 N, cujos resultados

podem ser vistos na figura 62, conduz à segunda etapa do comportamento da mola

pelo que foi simulada com o menor braço. Como se pode ver na figura anterior a uma

carga de 1 N corresponde um deslocamento muito próximo do calculado por via

numérica.

0

0,5

1

1,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola Z (flexão)

Ensaio 1

Ensaio 2

Ensaio 3

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Resultados

86

Figura 62 - Deslocamento da mola Z no eixo Y

O gráfico da figura 63 compara os comportamentos de ambas as molas em

flexão. Como se pode verificar a mola T, nesta solicitação, apresenta uma rigidez que

é um pouco mais do dobro da medida para a mola Z.

Figura 63 - Comparação entre as molas T e Z em flexão

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola T vs Mola Z

Mola Z

Mola T

F = 1 N

d = 3,3 mm

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Resultados

87

Foram depois realizados ensaios de compressão em ambas as molas. Para isso

recorreu-se às montagens que se mostram nas figuras 27 e 28 do capítulo anterior.

Dado que na solicitação de compressão era esperada uma maior rigidez e as

características de esbeltez (comprimento/área da secção) aumentavam o risco de

ocorrer encurvadura optou-se por utilizar menores amplitudes de deslocamento, isto é,

não mais de 2mm.

Na figura 64 mostra-se o gráfico do ensaio de compressão da mola T dupla.

Como se pode ver também aqui se verifica um comportamento linear ainda que para

valores de rigidez cerca de 20 vezes superior.

Figura 64 - Comportamento da mola T em compressão

A mola T dupla foi activada de acordo com o procedimento normalmente

utilizado e submetida a novo ensaio de compressão. Na figura 65 representa-se o

gráfico obtido. Verificou-se que após activação surgiram algumas irregularidades na

fase inicial do carregamento, talvez devidas ao atrito entre os braços da mola. Foi

ajustada uma recta a fase de instabilidade e outra após a estabilização do ensaio.

Aparentemente e de acordo com os resultados deste ensaio a activação da mola

altera-lhe as suas propriedades mecânicas.

y = 15,783x - 0,0259R² = 0,9996

0

5

10

15

0 0,25 0,5 0,75 1

Forç

a [N

]

Deslocamentos [mm]

Mola T compressão

Ensaio 1

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Resultados

88

No entanto, em ensaios posteriores de que se mostra, como exemplo, o gráfico

da Figura 65, não existem alterações óbvias no comportamento da mola após esta ter

sido activada. Como se previa a activação apenas altera a geometria da mola sem a

encruar significativamente. Por encruamento entenda-se o fenómeno que conduz ao

aumento de rigidez por deformação plástica.

Figura 65 - Comportamento da mola T em compressão (após activação)

y = 13,364x + 0,0347R² = 0,998

y = 14,177x - 0,5376R² = 0,9994

0

5

10

15

0 0,25 0,5 0,75 1

Forç

a [N

]

Deslocamentos [mm]

Mola T compressão (activada)

Ensaio 1

Linear

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Resultados

89

Figura 66 - Comportamento da mola T em compressão (após activação), ensaio 2

Também neste caso se recorreu ao MEF para avaliar o comportamento da mola.

Na figura 67 mostra-se os resultados obtidos para este caso. Como se pode verificar é

neste caso que se obtém a maior disparidade entre os valores medidos e os

calculados. Esta situação afigura-se normal dado que no modelo numérico, por

simetria e menor mobilidade transversal, será sempre obtida uma maior rigidez.

Quando na imposição das condições de fronteira e de carregamento se impõe uma

dada direcção o modelo matemático não irá considerar qualquer outra enquanto no

provete o atrito e pequenos desalinhamentos poderão resultar em solicitações

combinadas de compressão com flexão.

y = 15,202x - 0,0481R² = 0,9984

0

5

10

15

0 0,25 0,5 0,75 1

Forç

a [N

]

Deslocamentos [mm]

Mola T compressão (activada)

Ensaio 2

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Resultados

90

Figura 67 - Deslocamento da mola T no eixo X

A mola Z dupla foi também submetida a uma solicitação de compressão. Os

resultados obtidos nestes ensaios poderão ser observados na figura 68 e 69. Neste

caso voltam a verificar-se alterações de comportamento devidas a fenómenos de atrito

e alterações na geometria de carregamento. A observação das figuras 28 e 29

permitem compreender perfeitamente as causas deste comportamento.

Figura 68 - Comportamento da mola Z em compressão, deslocamento axial imposto (1mm e 2mm)

0

1

2

3

4

5

6

0 0,5 1 1,5 2 2,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola Z compressão

Ensaio 1 (1mm)

Ensaio 2 (2mm)

F = 10 N

d = 0,4 mm

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Resultados

91

Na figura 68 representaram-se simultaneamente os resultados obtidos com o 1º

e 2º ensaio. Como se pode ver mantém-se uma boa concordância no que à rigidez diz

respeito embora persistam algumas hesitações para cargas próximas de zero. Como

já se disse que estas oscilações na fase inicial do carregamento poderiam evitar-se

com a aplicação de uma pré-carga inicial.

Na figura 69 mostram-se os resultados obtidos da aproximação de uma recta a

um dos troços lineares do gráfico. Como se pode ver existe perfeita coincidência entre

os valores dos dois ensaios considerados e obtém-se uma rigidez aproximada de 3,26

N/mm.

Os resultados numéricos obtidos para este caso também não mostraram boa

aproximação com erros na casa dos 20%. Neste caso além das razões já apontadas

para a mola T existe ainda um maior risco de ocorrerem desalinhamentos dada a

inexistência de simetria.

Figura 69 - Comportamento da mola Z em compressão, deslocamento axial imposto 2mm

y = 3,2608x - 0,2244R² = 0,9993

0

1

2

3

4

5

6

0 0,5 1 1,5 2 2,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola Z compressão

Ensaio 2 (2mm)

Ensaio 2 (linear)

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Resultados

92

Figura 70 - Deslocamento da mola Z no eixo Z

Finalmente, foi colocado o aparelho na máquina de ensaios universal com as

molas devidamente orientadas. Para permitir o acesso da extremidade da célula de

carga às molas do aparelho foram removidos os dois incisivos centrais. Neste caso

esperavam-se comportamentos intermédios entre os dois modelos analisados

anteriormente. A inclinação das molas conduz à sua solicitação combinada em flexão

e compressão podendo a primeira ocorrer em dois planos. Além disso a inclusão das

molas no suporte de acrílico diminui o seu comprimento sem apoio o que contribui

para aumentar a rigidez em flexão.

Na figura 71 mostra-se o gráfico dos resultados obtidos no ensaio em

compressão para a mola T dupla incluída no aparelho. Como se pode observar nesta

situação a função que melhor se ajusta aos resultados é um polinómio de segundo

grau o que significa que o comportamento da mola é não linear. No entanto, para a

amplitude de deslocamentos que foi utilizada pode admitir-se com erro reduzido um

comportamento linear.

F = 4 N

d = 1,7 mm

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Resultados

93

Figura 71 - Comportamento da mola T em compressão quando inserida no aparelho. É possível verificar

que existem não linearidades.

Na figura 72 mostram-se os resultados obtidos para uma amplitude máxima de

deslocamento de 1,5 mm. Como se pode verificar o aumento da amplitude dos

deslocamentos torna mais evidente o comportamento não linear.

Figura 72 – Verificam-se novamente não linearidades

y = 9,7953x - 0,073R² = 0,9987

y = -1,3676x2 + 11,204x - 0,3263R² = 0,9999

0

2,5

5

7,5

10

0 0,5 1 1,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola T Compressão (aparelho)

Ensaio 1 (1mm)

y = -1,5809x2 + 11,61x - 0,7393R² = 0,9997

0

5

10

15

0 0,5 1 1,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola T Compressão (aparelho)

Ensaio 2 (1,5mm)

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Resultados

94

Figura 73 - Comportamento da mola Z (inserida no aparelho) em compressão

Finalmente, foi ensaiada a mola z em compressão. Neste caso não é evidente

qualquer comportamento não linear mesmo quando se aplicam deslocamentos de 2

mm de amplitude.

Figura 74 - Comportamento da mola Z em compressão (inserida no aparelho), medição com um curso de

1mm e de 2mm

y = 1,9112x - 0,0153R² = 0,9997

0

0,5

1

1,5

2

0 0,5 1 1,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola Z Compressão (aparelho)

Ensaio 1

y = 1,9112x - 0,0153R² = 0,9997

y = 1,842x - 0,0025R² = 0,9995

0

1

2

3

4

5

0 0,5 1 1,5 2 2,5

Forç

a [N

]

Deslocamento [mm]

Mola Z Compressão (aparelho)

Ensaio 1 (1mm)

Ensaio 2 (2mm)

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Resultados

95

Também para estes dois últimos casos foi efectuado um cálculo numérico. Para

isso foi devidamente ajustada a geometria das molas e a orientação do deslocamento

imposto. Em ambos os casos foram obtidos resultados com boa aproximação como se

poderá verificar por análise dos gráficos.

Figura 75 - Deslocamento da mola T no eixo Y

Figura 76 – Deslocamento da mola Z no eixo Y

F = 10 N

d = 0,7 mm

F = 4 N

d = 3,2 mm

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Resultados

96

6.2 Modelo numérico do Incisivo Central

De acordo com Rubin et al.39, o impacto do ligamento periodontal perante a

distribuição das tensões, nos cálculos com MEF, é pequeno, fazendo com que esta

estrutura possa ser desprezada durante a construção do modelo. Entretanto, quando o

objectivo é analisar as tensões geradas nesta membrana, a sua modelação é

indispensável. Estes mesmos autores relatam ainda que a polpa apresenta pequena

resistência à carga e os valores de suas propriedades poderiam não ser considerados

quando comparados com os outros tecidos. Portanto, a sua inclusão no modelo não

resultaria em diferenças significantes no resultado, não justificando sua inclusão na

maioria dos casos. A divisão entre osso cortical e esponjoso também já foi discutida na

literatura. Segundo Andersen, Pedersen e Melsen46, as alterações dos resultados,

considerando ou não esta divisão, são muito pequenas, permitindo a simplificação do

modelo em apenas um tipo de osso alveolar.

Quanto mais estruturas forem modeladas, mais precisos serão os resultados.

Porém a obtenção do modelo será mais difícil e a análise dos resultados mais

complexa. Entretanto, baseado no tipo de análise a ser elaborada, podem utilizar-se

modelos mais simplificados e obter os mesmos resultados qualitativos. Portanto, esta

modelação deverá ser avaliada criteriosamente a fim de simplificar o modelo de

acordo com suas reais necessidades e sem comprometer os resultados.

Para facilitar a análise de resultados a sua visualização é feita por uma escala de

cores em que cada tonalidade corresponde a uma quantidade de deslocamento ou

tensão gerada nas estruturas (Figura 74, 75 e 76) Desta forma, pode detectar-se como

ocorreu o deslocamento do dente (ou de qualquer estrutura estudada), o tipo de

movimento realizado, qual região se deslocou com maior magnitude, ou como as

tensões se distribuiriam sobre as estruturas analisadas (dentes, osso alveolar,

ligamento periodontal ou qualquer outro objecto de análise). Esta análise pode ser

feita nas três direcções do espaço (X, Y e Z), na presença de um modelo

tridimensional, ou somente em duas direcções (X e Y) em modelos bidimensionais.

Quando seleccionado um dos eixos da coordenada (X, Y ou Z), a escala de cores e

seus valores corresponderão à quantidade de tensão e/ou deslocamento presente na

direcção e no sentido do eixo avaliado, conforme previamente definido.

Ainda com este método, é possível obter o deslocamento em magnitude, ou

seja, o maior deslocamento de cada ponto em direcção à resultante dos

deslocamentos existentes, sendo independente de seu sentido (Figura 79).

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Resultados

97

Tanne e Sakuda47 utilizaram técnicas histológicas e matemáticas (MEF) num

mesmo objecto de estudo, com o intuito de comparar os resultados, e encontraram

similaridade entre as metodologias aplicadas. Além disso, os autores afirmaram que

os resultados de uma análise tridimensional, quando comparada com uma

bidimensional, são melhor ajustados. Um modelo tridimensional permite uma avaliação

dos três planos do espaço e, como os movimentos ortodônticos são muito complexos,

uma avaliação mais precisa dos resultados pode ser obtida.

Um exemplo interessante das aplicações do MEF pode ser constatado no

trabalho de Tanne, Burstone e Sakuda48. Os autores modelaram um incisivo central, o

seu respectivo ligamento periodontal e osso alveolar para o estudo da distribuição das

tensões nestas estruturas, após a aplicação de uma força. Por meio deste método foi

possível variar a altura do osso alveolar, simulando diferentes níveis de suporte

periodontal, e comparar os resultados com diferentes comprimentos de raiz do mesmo

elemento dentário, demonstrado a versatilidade do MEF em pesquisas científicas. Na

figura mostram-se os resultados obtidos no modelo do incisivo. Neste caso as

diferentes propriedades mecânicas entre os diversos tecidos envolvidos fazem com

que as tensões mais elevadas ocorram nos tecidos menos rígidos.

Figura 77 - Imagem de um modelo numérico na qual é visível a deformação que ocorre quando é aplicada

uma força.

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Resultados

98

Figura 78 - Imagem em zoom da deformação que ocorre localizada no ligamento periodontal

Deve referir-se que o código de cores pode ser utilizado para por em evidência

qualquer dos parâmetros calculados; tensões, deformações ou deslocamentos. Na

figura 79 o código de cores é utilizado para ilustrar a distribuição de deslocamentos

Figura 79 - Imagem do modelo numérico em que é possível visualizar a sua deformação provocada pelo

deslocamento, principalmente na coroa dentária onde se localizam os maiores valores

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Resultados

99

6.3 Interferometria Holográfica

Nas técnicas de interferometria holográfica os resultados aparecem sobre a

forma de padrões de franjas de interferência. Trata-se de um conjunto de bandas

apresentado transversalmente uma variação sinusoidal de intensidade. Estas franjas

correspondem a isocurvas de deslocamento, isto é, ao longo da franja todos os pontos

sofreram idêntico deslocamento. Dado que esta técnica é sensível a todo o tipo de

deslocamentos, quer sejam devidos a deformação, quer de corpo rígido.

Quando um dado objecto sofre uma rotação de corpo rígido fica normalmente

coberto por um conjunto de franjas paralelas e igualmente espaçadas cuja orientação

segue a direcção perpendicular ao eixo de rotação.

Tratando-se de franjas sinusoidais é possível, recorrendo a técnicas de

modelação de fase e processamento de imagem, obter directamente a fase das

franjas que corresponde aos deslocamentos. Na Figura 80 é possível visualizar as

franjas diagonais que demonstram a rotação do dente e as franjas horizontais a

protusão, portanto a função das molas é assim justificada.

Figura 80 - Visualização da carga induzida devido à colocação do aparelho removível, em que as molas

ortodônticas provocam o movimento dentário como é notório nas imagens.

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Resultados

100

Como se pode verificar existe uma ligeira rotação em ambos os dentes sendo

mais evidente no situado do lado esquerdo do leitor. Uma forma alternativa de mostrar

os resultados obtidos está ilustrada na Figura 81. Neste caso recorreu-se a uma

representação a 3 dimensões (pseudo 3D) para mostrar a distribuição de

deslocamentos.

Deforma ti on [µm]

LOME/INEGI

X6.87

11.9717.07

22.1727.27

32.38

Y

19.5516.14

12.749.34

5.93

2.53

Z

-0.77

-0.12

0.53

1.18

1.83

2.48

Figura 81 – Representação pseudo 3D do campo de deslocamentos na colocação do aparelho

Figura 82 - Visualização da carga induzida devido ao retiro do aparelho removível, em que as molas

ortodônticas deixam de exercer força e os dentes tendem a recidivar no movimento

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Resultados

101

Deformation [µm]

LOME/INEGI

X

6.8711.97

17.0722.17

27.2732.38

Y

19.5516.14

12.74

9.34

5.93

2.53

Z

-2.18-1.49-0.79-0.090.611.31

Figura 83 - Representação pseudo 3D do campo de deslocamentos no retiro do aparelho

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Conclusões

102

7 CONCLUSÕES

Com este trabalho pretendia-se caracterizar os mecanismos de movimentação

dentária com recurso a aparelhos ortodônticos removíveis. Embora já tratado por

outros investigadores este tema não está ainda completamente encerrado pelo que se

procurou que esta abordagem fosse feita em várias frentes procurando desenvolver

uma metodologia para utilizações futuras. Respeitadas as características do presente

estudo, os resultados observados possibilitam as seguintes conclusões:

- Recorrendo a um equipamento de ensaios universal caracterizou-se o

comportamento mecânico das molas T e Z duplas em flexão e compressão e permite-

se dizer que os seus resultados evidenciaram diferentes comportamentos. Estes

dependem da geometria das molas e da orientação do deslocamento imposto tendo

sido observados casos de linearidade nos provetes das molas T e Z em tensão e

compressão e não linearidade no caso das molas T quando incluídas no aparelho.

Contudo, neste caso para a amplitude de deslocamentos que foi utilizada pode admitir-

se, com erro reduzido, um comportamento linear.

- Verificou-se que a activação da mola não lhe altera as suas propriedades

mecânicas. Apenas modifica a sua geometria o que conduz a uma solicitação

diferente.

- As molas quando inseridas no aparelho ortodôntico removível, diminuem o seu

comprimento sem apoio o que contribui para aumentar a rigidez em flexão. A sua

geometria é também alterada pelo que estes elementos ficam normalmente

submetidos a solicitações mistas de flexão e compressão.

- Foi realizada uma montagem óptica por interferometria holográfica com a qual

foi possível medir os efeitos gerados por ambas as molas sobre os dentes. A medição

de elevada resolução e carácter global permitiu avaliar as elevadas capacidades

destas técnicas na simulação de casos clínicos in vitro.

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Conclusões

103

- Avaliou-se com rigor a relação força / deslocamento e foi criado um modelo

numérico que pode ser utilizado na simulação do processo ortodôntico. Os resultados

numéricos foram confrontados com os provenientes das medições com interferometria

holográfica para melhor ajuste do modelo.

- As técnicas utilizadas mostraram-se adequadas o que nos permite dizer que no

futuro possam ser utilizadas na evolução deste trabalho.

- Em trabalhos futuros pretende-se optimizar o modelo numérico em termos de

comportamento do Ligamento Periodontal e propriedades dos tecidos e introduzir a

remodelação óssea em consequência das alterações provocadas pelos aparelhos

ortodônticos.

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104

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