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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Setor de Tecnologia Departamento de Engenharia Elétrica MARCOS ISSAO NAKAGUISHI PAULO DIEGO HERMES ESTUDO COMPARATIVO TÉCNICO/FINANCEIRO PARA IMPLANTAÇÃO DE REDES DE DISTRIBUIÇÃO SUBTERRÂNEAS CURITIBA 2011

ESTUDO COMPARATIVO TÉCNICO/FINANCEIRO … · marcos issao nakaguishi paulo diego hermes estudo comparativo tÉcnico/financeiro para implantaÇÃo de redes de distribuiÇÃo subterrÂneas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Setor de Tecnologia

Departamento de Engenharia Elétrica

MARCOS ISSAO NAKAGUISHI PAULO DIEGO HERMES

ESTUDO COMPARATIVO TÉCNICO/FINANCEIRO PARA IMPLANTAÇÃO DE REDES DE DISTRIBUIÇÃO SUBTERRÂNEAS

CURITIBA 2011

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MARCOS ISSAO NAKAGUISHI PAULO DIEGO HERMES

ESTUDO COMPARATIVO TÉCNICO/FINANCEIRO PARA IMPLANTAÇÃO DE REDES DE DISTRIBUIÇÃO SUBTERRÂNEAS

Trabalho de conclusão de curso apresentado à disciplina TE105 – Projeto de Graduação, como requisito parcial à conclusão do Curso de Graduação de Engenharia Elétrica, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná.

Orientador: Prof. Eng.º Joaquim Antonio Dalledone Neto

CURITIBA 2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

MARCOS ISSAO NAKAGUISHI PAULO DIEGO HERMES

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Eletricista no Curso de Engenharia Elétrica, Departamento de Engenharia Elétrica, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná, pela banca examinadora:

_____________________________________________________ PROF. ENG.º JOAQUIM ANTONIO DALLEDONE NETO – UFPR

_____________________________________________________ PROF. ENG.º JOÃO ROBERTO RICOBOM – UFPR

_____________________________________________________ ENG.º CARLOS NAKAGUISHI – LACTEC

Curitiba, 21 de dezembro de 2011.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus pelas nossas vidas e oportunidade de vencermos mais

essa etapa. A nossas famílias que torcem pelo nosso sucesso e nos dão suporte

nesta caminhada, vivenciando junto cada dificuldade que nos são impostas.

Ao professor Joaquim Antonio Dalledone Neto, pelas orientações, amizade e

conhecimentos repassados durante esse período de realização do trabalho de

conclusão de curso. Aos engenheiros Fabrício Salmazo e Marcelo Alvares

Fernandes da Companhia Paranaense de Energia (Copel), pelo tempo dedicado a

nós, pelas informações atualizadas e materiais bibliográficos nos disponibilizados.

Aos nossos amigos pelos momentos de descontração e apoio nos

momentos mais difíceis ao longo desta jornada e a cada um em especial que

contribuiu para a realização deste trabalho.

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RESUMO

A necessidade crescente de energia elétrica para um estilo de vida confortável tem aumentado a pressão da sociedade a favor de um atendimento de energia sem interrupções. Surge então a necessidade de uma rede confiável que possa atender a essas novas demandas, e uma maneira de alcançar esse objetivo tranquilamente é a instalação de redes subterrâneas de distribuição. Essa forma de estrutura possui elevados índices de confiabilidade, porém seu investimento inicial é bem mais elevado do que as redes aéreas convencionais. Este trabalho busca ratificar as vantagens técnicas das redes enterradas, através de dados obtidos das concessionárias, e realizar um comparativo financeiro a fim de se obter uma forma de viabilizar a instalação de redes subterrâneas em detrimento das convencionais redes aéreas.

Palavras chave: Energia elétrica, Sistema reticulado de distribuição subterrânea, Índices de confiabilidade, Transformador tipo pedestal, Custos de implantação das redes subterrâneas.

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ABSTRACT

The growing need of electricity for a comfortable lifestyle has been increased the public pressure in favor of a nonstop service of energy. Thus, comes the need of a reliable network which meets these new demands, and this goal can be achieved with underground network of energy. This form of structure has high levels of reliability, however, the initial investment is much more expensive than conventional aerial network. This paper aims to confirm technical vantages of undergrounded networks through information obtained from power distribution companies, make a financial comparative with the purpose of facilitate undergrounded network installation and substitute conventional aerial networks.

Key words: Electric energy, Network system of electric energy distribution, Levels of reliability, Pad mount transformers, Installation costs for underground network.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Av. Visconde de Guarapuava com grande quantidade de condutores de

distribuição ................................................................................................................ 15

Figura 2 – Rua Oscar Freire em São Paulo antes e depois ...................................... 17

Figura 3 – Rede Convencional Aérea ....................................................................... 24

Figura 4 – Rede Convenciona Aérea Compacta ....................................................... 26

Figura 5 – Rede Convencional Aérea Isolada ........................................................... 27

Figura 6 – Rede Subterrânea .................................................................................... 28

Figura 7 – Sistema Radial Simples [6]....................................................................... 31

Figura 8 – Sistema Radial com Primário em Anel [7] ................................................ 32

Figura 9 – Sistema Radial com Primário Seletivo [6]................................................. 34

Figura 10 – Sistema Radial com Secundário Seletivo [6] .......................................... 35

Figura 11 – Sistema Reticulado Simples [6] .............................................................. 36

Figura 12 – Sistema Reticulado Dedicado [6] ........................................................... 37

Figura 13 – Sistema Reticulado com Primário Seletivo [6] ........................................ 38

Figura 14 – Sistema Híbrido [7] ................................................................................. 39

Figura 15 – Sistema de Distribuição Residencial Subterrânea [7] ............................. 40

Figura 16 – Infraestrutura padrão da Rede Subterrânea [19] .................................... 43

Figura 17 – Condutores da rede subterrânea da Copel em Curitiba [20] .................. 44

Figura 18 – Banco de dutos típico [7] ........................................................................ 45

Figura 19 – Câmara transformadora em construção [12] .......................................... 46

Figura 20 – Caixa de Inspeção [12] ........................................................................... 47

Figura 21 – Transformador do tipo pedestal em meio a paisagem urbana [12] ........ 48

Figura 22 – Evolução da carga de energia elétrica no Brasil [21] ............................. 50

Figura 23 – Sistema Reticulado em Grade (Network) [16] ........................................ 59

Figura 24 – Sistema Reticulado Pontual (Spot) [16] .................................................. 60

Figura 25 – Transformador de Distribuição Submersível [12] ................................... 62

Figura 26 – Transformador de Distribuição tipo pedestal [10] ................................... 62

Figura 27 – Protetor de Rede (Network Protector) [16] ............................................. 63

Figura 28 – Esquema de atuação de um Protetor de Rede [8] ................................. 65

Figura 29 – Acessórios Terminais [22] ...................................................................... 67

Figura 30 – Acessórios para Emendas [22]............................................................... 68

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Figura 31 – Barramento Múltiplo Isolado [20] ............................................................ 69

Figura 32 – Cabine Metálica tipo pedesetal [13] ....................................................... 69

Figura 33 – Quadro de Distribuição tipo pedestal [14] .............................................. 70

Figura 34 – Ligações clandestinas [23] ..................................................................... 71

Figura 35 – Homens trabalhando próximos à rede de distribuição [12] .................... 72

Figura 36 – Evolução das multas e compensações pagas por transgressões dos

indicadores de continuidade de 2007 a 2010 [2] ....................................................... 77

Figura 37 – Montante pago em compensações pelas concessionárias no ano de

2010 dividido por região [2] ....................................................................................... 78

Figura 38 – Média brasileira do indicador FEC ao longo dos anos [1] ...................... 78

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Utilização das Redes de Distribuição [7] ................................................. 23

Tabela 2 – Níveis de Tensão utilizados no Brasil [18] ............................................... 29

Tabela 3 – Dados da rede subterrânea da LIGHT [19] ............................................. 75

Tabela 4 – Conjuntos e seus respectivos consumidores - LIGHT [1] ........................ 80

Tabela 5 – Conjuntos e seus respectivos consumidores - COPEL [1] ...................... 82

Tabela 6 – Custos das redes totalmente enterradas [12] .......................................... 84

Tabela 7 – Custos das redes parcialmente enterradas [12] ...................................... 85

Tabela 8 – Custos estimados para Rede Subterrânea Reticulada ............................ 86

Tabela 9 – Custos estimados para Rede Subterrânea Radial................................... 86

Tabela 10 – Custos estimados para Rede Subterrânea com Equipamentos em

Pedestal .................................................................................................................... 87

Tabela 11 – Custos Estimados para Rede Subterrânea com Equipamentos em Poste

.................................................................................................................................. 87

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LISTA DE SIGLAS

AMFORP – American & Foreign Power Co.

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica

CEMIG – Companhia Elétrica de Minas Gerais

CHESF – Companhia Hidroelétrica Do São Francisco

CA – Corrente Alternada

CC – Corrente Contínua

CI – Caixa de Inspeção

COPEL – Companhia Paranaense de Energia

CP – Caixa de Passagem

CT – Câmara Transformadora

DEC – Duração Equivalente de Interrupção por unidade Consumidora

DIC – Duração de Interrupção por Unidade Consumidora

DMIC – Duração Máxima de Interrupção por Unidade Consumidora

DNAEE – Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica

DRC – Duração Relativa da transgressão máxima de tensão Crítica

DRS – Distribuição Residencial Subterrânea

DRP – Duração Relativa da transgressão máxima de tensão Precária

ELETROBRÁS – Centrais Elétricas Brasileiras

ERP – Etilenopropileno

FEC – Frequência Equivalente de Interrupção por unidade Consumidora

FIC – Frequência de Interrupção por Unidade Consumidora

IEE – Institute of Electrical and Electronics Engineers

ICC – Índice de unidade Consumidoras com tensão Crítica

ONS – Operador Nacional do Sistema

PNIE – Percentual do Número de ocorrências emergenciais com Interrupção de

Energia

PPNEs – Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais

PRODIST – Procedimentos de Distribuição de energia elétrica no sistema elétrico

nacional

SIN – Sistema Interligado Nacional

TMD – Tempo Médio de Deslocamento

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TMP – Tempo Médio de Preparação

URD – Underground Residential Distribution

XLPE – Polietileno Termofixo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14

1.1 CONTEXTO ................................................................................................. 14

1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 15

1.3 OBJETIVOS ................................................................................................. 17

1.4 METODOLOGIA ........................................................................................... 18

2 REDES DE DISTRIBUIÇÃO .............................................................................. 20

2.1 HISTÓRICO ................................................................................................. 20

2.2 CLASSIFICAÇÃO ......................................................................................... 23

2.2.1 Redes Convencionais Aéreas................................................................ 23

2.2.2 Redes Convencionais Aéreas Compactas............................................. 25

2.2.3 Redes Convencionais Aéreas Isoladas ................................................. 27

2.2.4 Redes Subterrâneas .............................................................................. 27

2.3 CONFIGURAÇÃO ........................................................................................ 29

2.3.1 Sistema Radial Simples ......................................................................... 31

2.3.2 Sistema Radial com Primário em Anel .................................................. 32

2.3.3 Sistema Radial com Primário Seletivo ................................................... 33

2.3.4 Sistema Radial com Secundário Seletivo .............................................. 34

2.3.5 Sistema Reticulado Simples .................................................................. 35

2.3.6 Sistema Reticulado com Primário Seletivo ............................................ 38

2.3.7 Sistema Híbrido ..................................................................................... 38

2.3.8 Sistema de Distribuição Residencial Subterrânea ................................. 39

2.4 INFRAESTRUTURA CIVIL ........................................................................... 40

2.4.1 Rede de distribuição aérea .................................................................... 40

2.4.2 Rede de distribuição subterrânea .......................................................... 42

2.5 QUALIDADE DA ENERGIA.......................................................................... 48

2.5.1 Histórico da avaliação da qualidade de energia no Brasil ..................... 48

2.5.2 Indicadores de qualidade ....................................................................... 50

2.6 CUSTOS ...................................................................................................... 54

3 SISTEMA RETICULADO SUBTERRÂNEO DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA 56

3.1 HISTÓRICO ................................................................................................. 56

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3.2 TOPOLOGIAS .............................................................................................. 58

3.3 EQUIPAMENTOS ........................................................................................ 60

3.3.1 Transformadores de Distribuição ........................................................... 61

3.3.2 Protetores de Rede (Network Protector) ................................................ 63

3.3.3 Chaves primárias de média tensão ....................................................... 65

3.3.4 Cabos alimentadores de média e baixa tensão ..................................... 66

3.3.5 Caixas de derivação .............................................................................. 66

3.3.6 Acessórios para cabos .......................................................................... 67

3.3.7 Barramentos múltiplos isolados ............................................................. 68

3.3.8 Cabines metálicas de média tensão tipo pedestal ................................. 69

3.3.9 Quadro de distribuição de baixa tensão tipo pedestal ........................... 70

3.4 VANTAGENS ............................................................................................... 70

3.5 INCIDENTES E ACIDENTES ....................................................................... 72

3.6 REDE COPEL .............................................................................................. 74

3.7 REDE LIGHT ................................................................................................ 75

4 COMPARATIVO TÉCNICO ................................................................................ 76

4.1 O VALOR DA CONFIABILIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ......... 76

4.2 ESTUDO DE CASO – LIGHT ....................................................................... 79

4.3 ESTUDO DE CASO – COPEL ..................................................................... 82

5 COMPARATIVO FINANCEIRO .......................................................................... 84

5.1 ESTUDO DE CASO – COPEL ..................................................................... 84

5.1.1 Rede totalmente enterrada – Sistema Reticulado ................................. 86

5.1.2 Rede totalmente enterrada – Sistema Radial ........................................ 86

5.1.3 Rede parcialmente enterrada – Equipamentos tipo pedestal ................ 87

5.1.4 Rede parcialmente enterrada – Equipamentos em poste ...................... 87

5.1.5 Análise de Resultados ........................................................................... 88

6 CONCLUSÃO .................................................................................................... 90

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92

ANEXOS ................................................................................................................... 94

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTO

Devido ao constante crescimento das grandes cidades, e por consequência,

o acréscimo progressivo da demanda energética nesses centros urbanos, ao longo

dos anos será cada vez mais imprescindível um sistema de distribuição de energia

resistente e eficiente para estas circunstâncias.

Porém, como nestas regiões a densidade demográfica se torna altamente

elevada, a utilização de linhas de distribuição aérea se torna cada vez mais onerosa

e de difícil instalação e manutenção do ponto de vista técnico. É comum em muitos

lugares as concessionárias terem dificuldades em abrir caminhos para implantação

das linhas de distribuição.

Um visível problema atrelado à grande utilização da rede aérea é a questão

urbanística, como pode ser observado na figura 1 abaixo, que mostra a Av. Visconde

de Guarapuava, em Curitiba, com sua grande “teia” de condutores atravessando a

paisagem urbana. Os postes, cabos e demais equipamentos dividem espaço com

árvores, construções, fachadas de prédios e calçadas causando intensa poluição

visual e interferindo na mobilidade e acessibilidade urbana.

As improvisações e muitas vezes precárias redes de distribuição aéreas

geram também problemas de confiabilidade e continuidade de serviço. É comum,

por exemplo, concessionárias necessitarem fazer podas frequentes de árvores que

poderiam vir a danificar os condutores, causar curto-circuito e consequentemente

interrupções no fornecimento de energia.

Diante dessas dificuldades tornou-se necessário achar outra solução para a

distribuição urbana de energia. Esta deveria apresentar caminhos alternativos para a

colocação dos cabos e demais infraestruturas de distribuição que solucionem o

problema da rede tradicional, que necessita elevado espaço físico para sua

instalação. Com isso, surge a discussão sobre a possibilidade da construção de

redes subterrâneas de distribuição.

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Figura 1 – Av. Visconde de Guarapuava com grande quantidade de condutores de distribuição

1.2 JUSTIFICATIVA

Com a aproximação de um grande evento como a Copa do Mundo de

futebol em 2014 ao Brasil, surgiu um grande consenso do poder e opinião pública

sobre a necessidade de expandir e revitalizar a infraestrutura das principais cidades

brasileiras. De tal maneira pode-se aproveitar o grande volume de investimento

disponível para concomitantemente solucionar alguns problemas.

Sendo as redes de distribuição uma infraestrutura essencial para a

qualidade da energia fornecida e visto a importância dessa energia no dia a dia, o

desempenho dessas redes é fator importante na qualidade de vida atual.

Entretanto, existem inúmeras dificuldades encontradas na utilização da rede

de distribuição de energia predominante no Brasil, a aérea. Elas podem ser

superadas se sua instalação for substituída pela rede subterrânea, mais segura,

eficiente, moderna, entretanto com grande disparidade de custo se comparada à

tradicional.

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16

Atualmente, em grande maioria, a implantação de novas redes subterrâneas

para distribuição de energia elétrica é motivada pela solicitação das prefeituras em

projetos de revitalização urbana, em empreendimentos de loteamentos residenciais

e por grupos empresariais com a finalidade de criar um diferencial atrativo em

regiões comerciais ou turísticas.

Legalmente, a implantação ou expansão das redes subterrâneas no Brasil

são regulamentadas pela ANEEL, ou seja, sua utilização está condicionada ao

cumprimento de requisitos pré-estabelecidos em normas técnicas, resoluções e leis

federais.

Existe a resolução nº 250 (ANEEL, 2007), que no Art. 9º afirma que em

casos de melhorias estéticas o custeio das obras deve ser integralmente repassado

ao solicitante [3]. Entretanto outra resolução, nº 456 (ANEEL, 2010) Art. 95,

estabelece que as concessionárias sejam responsáveis pela prestação de serviço

adequado a todos os consumidores satisfazendo as condições de regularidade,

generalidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, modicidade das tarifas

e cortesia no atendimento, assim como prestando informações para a defesa de

interesses individuais e coletivos [5].

Desta forma, um sistema subterrâneo de distribuição de energia elétrica

somente pode ser implantado se for devidamente justificável técnica e

economicamente. Existe uma grande falta no Brasil de estudos que tragam a

viabilidade de instalação, ou não, de uma rede subterrânea analisada por estes

pontos.

Há também um grande déficit de material bibliográfico sobre o assunto no

mercado, por ser uma configuração não tão difundida e de pouca utilização até o

momento no Brasil. Fato que acaba dificultando a aceitação deste tipo de rede,

como por exemplo, em uma negociação entre uma concessionária e prefeitura sobre

a implantação ou não de uma rede enterrada. Assim sendo, este trabalho pretende

suprir a falta de dados e informações sobre o assunto.

Uma experiência recente de instalação de redes subterrâneas no Brasil é a

Rua Oscar Freire, em São Paulo. O projeto contemplou aproximadamente 750 m,

equivalente a cinco quadras, com uso de cerca de 9 km de cabos, dez

transformadores e dez câmaras transformadoras.

A configuração utilizada foi a de anel aberto. Por ser uma pequena rua

comercial, a estrutura apresentou algumas peculiaridades mais complexas do que

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alguns projetos de maiores extensões. O espaço era reduzido, havia intenso tráfego

de veículos e houve muita reclamação da vizinhança devido ao elevado barulho das

obras.

A instalação levou aproximadamente um ano para ser concluída e teve um

custo total de R$ 8,5 milhões, com cerca R$ 4,5 milhões de investimento da

prefeitura local. A foto abaixo mostra foto da rua antes e depois das obras.

Figura 2 – Rua Oscar Freire em São Paulo antes e depois

1.3 OBJETIVOS

Diante de tais situações, este trabalho tem por objetivo realizar um estudo

comparativo entre a rede aérea e a rede subterrânea de distribuição. Dessa forma

espera-se analisar a situação atual dos custos de implantação de uma rede

subterrânea e obter dados atualizados que comprovem as conhecidas vantagens

técnicas dessas redes em comparação com as redes aéreas, mais largamente

utilizadas no Brasil.

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Como objetivo específico, espera-se chegar a uma forma de viabilizar

técnica e economicamente a instalação de uma rede subterrânea de distribuição de

energia elétrica. Para tal finalidade serão analisados os seguintes pontos:

Com o consumo cada vez mais elevado de energia elétrica no país,

órgãos controladores do governo como a ANEEL vêm exigindo das

concessionárias índices de qualidade cada vez mais elevados. É senso

comum a enorme superioridade de confiabilidade das redes

subterrâneas sobre as aéreas. Desta forma se buscará apenas ratificar

esta afirmação com dados operacionais atualizados que proporcionem

uma visível comparação técnica entre elas.

A grande confiabilidade das redes enterradas é refletida nos seus

custos de instalação, que segundo estudos já realizados podem chegar

a até dez vezes maiores que das aéreas. Será analisada a realidade

desta informação nos dias de hoje, pois com o desenvolvimento de

novas tecnologias esse valor vem diminuindo, ainda que de forma

lenta.

Através de alguns custos de manutenção serão analisados onde estão

os maiores gastos em uma rede subterrânea.

As vantagens e desvantagens urbanísticas, os impactos ambientais e a

segurança de cada infraestrutura.

1.4 METODOLOGIA

Em um primeiro momento será realizada uma pesquisa bibliográfica para

uma maior fundamentação teórica e um melhor domínio sobre o assunto. Essa

análise será baseada principalmente em livros, artigos científicos, trabalhos de

conclusão já realizados por outros autores e pesquisa pela internet.

As informações obtidas durante pesquisa bibliográfica serão filtradas através

de entrevistas com profissionais de engenharia que possuam experiência na área e

possam contribuir com informações técnicas mais precisas e contemporâneas.

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Simultaneamente, contatos serão realizados com pessoas ligadas às

concessionárias de distribuição de energia, como COPEL e LIGHT, para obtenção

de dados técnicos, como número de interrupções em determinado período, arranjos

utilizados e principais equipamentos. E também informações de custo da instalação

e manutenção de redes aéreas e subterrâneas.

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20

2 REDES DE DISTRIBUIÇÃO

2.1 HISTÓRICO

A energia elétrica começou a ter importante papel na economia mundial

quando na segunda metade do século XIX, as máquinas elétricas atingiram certo

grau de desenvolvimento que possibilitaram sua utilização como força motriz nas

indústrias e meios de transportes. No que se diz a respeito à iluminação pública,

porém, a energia primária utilizada era na grande maioria máquinas a vapor, que

queimavam carvão ou lenha.

Apenas no final deste século, mais especificamente em 1882, foi que a

primeira empresa para gerar e vender energia elétrica foi fundada. Isso ocorreu

impulsionado pela invenção da lâmpada por Thomas Edison, que facilitou o uso da

energia elétrica para iluminação.

Edison criou um sistema localizado na Rua Pearl, em Nova Iorque, cujos

motores eram acionados por máquinas a vapor e toda energia distribuída por barras

de cobre. A rede abrangia uma área aproximada de 1500 m de raio em torno da

usina e chegou a distribuir energia em corrente contínua (110 V) para até 400

clientes. Inicialmente voltada para a iluminação pública e residências, a rede logo

obteve grande aceitação e necessitou ser expandida. Porém, as limitações

econômicas e técnicas da época impediram a expansão até grandes distâncias [15].

Foi apenas quando George Westinghouse investiu na fabricação dos

primeiros transformadores de corrente alternada que aconteceram os primeiros

passos para o desenvolvimento de uma tecnologia que possibilitasse a distribuição

da energia elétrica em maiores potências e para maiores distâncias.

Apesar disso, em 1886, já existiam cerca de 60 centrais de corrente contínua

alimentando cerca de 150.000 lâmpadas. Porém, ao mesmo tempo é colocada em

operação a primeira central em corrente alternada, locada em Massachussets, com

apoio de Westinghouse.

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21

Quando Nikola Tesla, em 1892, desenvolve o primeiro motor de indução CA,

é que um passo fundamental é dado para a definição de um sistema de transmissão

e distribuição de energia predominante. A partir de então, os sistemas CA se

multiplicam rapidamente, chegando a incomodar Thomas Edison, que passa a

atacar duramente os sistemas em corrente alternada.

A primeira grande aplicação da tecnologia CA aconteceu na construção do

complexo de Niagara Falls, localizado na América do Norte, quando o grupo

defensor da tecnologia CA vence a concorrência sobre os defensores da geração,

transmissão e distribuição CC liderados por Edison, e inaugura o sistema de energia

de corrente alternada que atingiu uma distância considerável até então improvável

para o sistema em corrente contínua.

Na mesma época na Alemanha, é colocado em operação um sistema de 100

HP com transmissão de 160 km, em corrente alternada com tensão de 30.000 V.

A partir de então, as visíveis vantagens sobre o sistema CC fizeram com que

as redes CA passassem a ter um desenvolvimento ainda maior, principalmente em

países da Europa e Estados Unidos. Desta forma se consolidou a vitória dos

sistemas CA sobre o CC para a interligação entre a geração de energia e os pontos

consumidores.

No Brasil, a primeira usina elétrica instalada foi em Campos, RJ, em 1883.

Em Juiz de Fora, MG, por volta de 1889 já se encontrava em construção uma usina

hidrelétrica. Em 1920, por volta de 300 empresas serviam a 430 localidades com

uma capacidade instalada de 354.980 kW. Nesta época, mais de 70% de toda a

capacidade instalada no Brasil pertencia a duas empresas: a LIGHT (Brazilian

Traction & Light Eletric Company) que atendia parte de São Paulo e Rio de Janeiro e

a AMFORP (American & Foreign Power Co.) no restante do país [7].

Em 1948, acontece a criação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco

(CHESF) para construir a usina de Paulo Afonso e marca o inicio da intervenção

estatal no setor. Seguindo esta tendência, é criada a CEMIG em Minas Gerais,

COPEL no Paraná e FURNAS na região Centro-Sul. Finalmente em 1961 é criada a

ELETROBRAS, responsável pela política de energia elétrica no país.

Entretanto, todo esse rápido desenvolvimento e benefícios trazidos pelo

modo de transporte da energia foram acompanhados por diversos problemas. As

redes elétricas foram construídas sobre postes de forma desordenada e as redes

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aéreas com seus equipamentos, fios, conectores, isoladores e transformadores

passaram a serem vistos com outros olhos.

Em Londres, por exemplo, já em 1890 as redes aéreas de distribuição em

expansão seriam consideradas inaceitáveis, devendo assim ser modificadas

gradualmente para outra forma de transporte [7]. Nesta época, fabricantes britânicos

de cabos desenvolveram técnicas para isolação de cabos de alta tensão e meios

menos onerosos para enterrar cabos nas ruas, iniciando assim um maior interesse

na implantação dos sistemas subterrâneos de distribuição.

Em Nova Iorque, durante a primeira metade do século 20, a maior parte dos

sistemas de distribuição era aérea. Porém, com a expansão dessa rede e o aumento

constante dos cabos telefônicos e telegráficos, formaram-se grandes labirintos

aéreos pelas calçadas da cidade. Isso fez com que a configuração subterrânea se

tornasse também esteticamente desejável [7].

Durante a Segunda Guerra Mundial aconteceu um grande salto no

desenvolvimento dos materiais plásticos e de algumas redes subterrâneas em áreas

essenciais para atendimento foram construídas. Aliado a isto, nesta época também

se desenvolveram os primeiros transformadores para instalação sob as ruas, o

transformador de pedestal e as cabines metálicas instaladas ao nível do solo para

abrigar equipamentos de seccionamento e proteção, trazendo mais flexibilidade,

confiabilidade e relativo baixo custo. Isso possibilitou a expansão e maior aceitação

das redes subterrâneas.

Por fim, o atendimento de energia chegava cada vez mais a grandes centros

de carga como centros comerciais, loteamentos residenciais e parques industriais,

aumentando cada vez mais a necessidade de uma alimentação elétrica sem

interrupções. Ponto que começava a colocar em xeque as redes aéreas.

O apoio da opinião, necessitando entendimento sobre a confiabilidade no

fornecimento de energia, os impactos ambientais, os riscos de acidentes em redes

aéreas, as podas de árvores necessárias para manutenção, geraram maior pressão

para a substituição das tradicionais redes pelas subterrâneas.

No Brasil, no inicio do século XX, a concessionária LIGHT já transformava

parte da sua rede aérea em subterrânea na cidade do Rio de Janeiro. Entretanto,

esses sistemas tiveram pouca expansão desde sua implantação devido aos altos

custos iniciais quando comparados com as redes aéreas de distribuição [7].

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Em 2010, segundo dados dos relatórios de revisão tarifária das

concessionárias, fornecidos pela ANEEL e mostrados na tabela 1, a utilização das

redes subterrâneas de distribuição não chegava a 2% do total das redes urbanas de

baixa e média tensão.

Tabela 1 – Utilização das Redes de Distribuição [7]

Tipo MT (km) % BT (km) % MT+BT (km) %

Aérea 293.625.860 98,15 488.724.430 98.63 782.350.290 98.45

Subterrânea 5.541.350 1,85 6.806.980 1.38 12.348.330 1.55

Total 299.167.210 100 495.531.410 100 794.698.620 100

2.2 CLASSIFICAÇÃO

As redes de distribuição podem ser classificadas de algumas formas

diferentes dependendo do critério ou característica considerada. Uma das formas de

classificá-las são em função da tensão de operação, dessa forma elas ficam

divididas em redes secundárias, que possuem tensão de até 1.000 V e as redes

primárias de distribuição nas tensões maiores que 1 kV até 25 kV [7].

Outro critério importante utilizado é em função do tipo de isolamento do

condutor, podendo este ser nu, protegido ou isolado. Quanto à forma de instalação

das redes, devem ser consideradas a aérea, semi-enterrada e subterrânea [7].

De uma maneira mais geral, são considerados quatro tipos de redes de

distribuição que serão abordadas com mais informações nos próximos itens.

2.2.1 Redes Convencionais Aéreas

As redes convencionais aéreas são altamente utilizadas no Brasil e

caracterizadas por condutores nus, apoiados sobre isoladores de vidro ou porcelana,

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fixados horizontalmente sobre cruzetas de madeiras nos circuitos de média tensão

(primário) e verticalmente nos de baixa (secundário). Outros equipamentos que

compõem esse sistema são pára-raios, braços de iluminação pública,

transformadores de distribuição, bancos de capacitores, chaves seccionadoras e

infraestrutura de comunicação [17].

Este sistema foi desenvolvido há aproximadamente 60 anos e hoje já

apresenta uma saturação tecnológica, o que propicia um baixo nível de

confiabilidade na distribuição, já que como os condutores não são isolados ou

protegidos, qualquer contato com elementos externos ao sistema pode provocar o

desligamento da rede. Além disso, a proximidade dessa rede com marquises,

sacadas, painéis, andaimes, facilita o contato acidental de pessoas com os

condutores, ocasionando possíveis descargas elétricas que causam acidentes

graves e até mesmo fatais.

Como a rede fica totalmente desprotegida contra as influências do ambiente,

isso incrementa a taxa de falhas e exige podas drásticas nas árvores próximas, uma

das principais causas de desligamentos no sistema aéreo convencional.

Devido à exposição dos cabos, as intervenções para consertos são

frequentes. Os principais danos são causados por acidentes com veículos que

atingem os postes, raios, chuvas, poluição, salinidade, ventos e pássaros.

Figura 3 Figura 3 – Rede Convencional Aérea

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Apesar de serem mais baratas, as redes aéreas tem um custo de

manutenção de operação bem elevado, devido à frequência e caracterização de

ocorrências.

Essa disputa do espaço aéreo entre as redes elétricas e os elementos

externos, como árvores, causam prejuízos a vários setores da sociedade, dentre

eles:

curto-circuito na média e na baixa tensão;

queima de transformadores, devido a constante de ocorrência de

curtos;

afrouxamento de conexões que ligam condutores aos demais

componentes da rede;

desligamento da rede;

queima de aparelhos domésticos e equipamentos industriais;

prejuízos decorrentes da falta de energia;

transtorno em hospitais e estabelecimentos de utilidade pública;

perdas de faturamento;

gastos acentuados com manutenções e podas emergenciais e

corretivas.

2.2.2 Redes Convencionais Aéreas Compactas

As redes com cabos protegidos, chamadas de redes compactas, começaram

a ser utilizadas devido à necessidade das concessionárias de distribuição alcançar

um padrão de qualidade cada vez maior. Os estudos e a construção das primeiras

redes compactas ocorreram no Estado de Minas Gerais, realizados pela CEMIG –

Companhia Energética de Minas Gerais - em 1991. A partir de 1992, a COPEL –

Companhia Paranaense de Energia – iniciou seus estudos e em 1994 foram

instaladas as primeiras redes compactas protegidas, na cidade de Maringá, sendo

que atualmente a cidade possui 100% de sua rede urbana no sistema compacto.

Essas redes são constituídas de três condutores cobertos por uma camada

de polietileno não reticulado (XLPE), sustentados por um cabo mensageiro de aço,

que por sua vez, sustenta espaçadores poliméricos. Esses espaçadores são

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instalados a cada 10 m, apoiando os condutores que ficam dispostos em um arranjo

triangular compacto [17].

Importante ressaltar que esses cabos são apenas protegidos, não podendo

ser considerados isolados eletricamente. Na figura 6 abaixo, pode-se observar um

espaçador e o arranjo dos condutores de uma rede compacta.

Outros materiais utilizados nesse sistema são os isoladores de pino e de

ancoragem, feitos em material polimérico, com o objetivo de fazer o isolamento dos

condutores da rede, em conjunto com os espaçadores, braços suportes e pára-raios

para proteção contra descargas atmosféricas, chaves blindadas para seccionamento

e manobra da rede e transformadores autoprotegidos, com proteção interna contra

curto-circuito [24].

Entre as vantagens do sistema compacto está a redução dos custos

operacionais, redução dos riscos de acidentes, diminuição nas interrupções e

preservação da arborização, pois elas reduzem substancialmente a poda de árvores

devido a menor área que os condutores ocupam.

As principais vantagens da rede aérea protegida em comparação com a rede

aérea convencional são:

redução drástica na taxa de falhas, com consequente redução nas

intervenções na rede;

Figura 4 Figura 4 – Rede Convenciona Aérea Compacta

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redução substancial no DEC (duração equivalente de interrupções);

redução substancial no FEC (frequência equivalente de interrupções);

redução das manutenções de redes, liberando mão de obra;

aumento de segurança para eletricistas e público geral;

redução do nível das podas de árvores, em frequência e intensidade;

melhoria de imagem da Empresa Distribuidora.

2.2.3 Redes Convencionais Aéreas Isoladas

Nas redes aéreas isoladas, de baixa e média tensão, são utilizados três

condutores isolados, blindados, trançados e reunidos em torno de um cabo

mensageiro de sustentação, conforme a figura 7. Para isso, são necessários

condutores isolados para a devida classe de tensão, acessórios desconectáveis

utilizados em conexões e derivações, e terminações para promover a transição entre

os condutores isolados e os condutores das redes nuas ou protegidas [24].

2.2.4 Redes Subterrâneas

As redes subterrâneas podem ser divididas em semi-enterradas e totalmente

enterradas.

Figura 5 Figura 5 – Rede Convencional Aérea Isolada

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As semi enterradas são sistemas subterrâneos que possuem os cabos

enterrados e os equipamentos instalados sobre o solo. Este arranjo é possível

quando existe uma área suficiente para instalação de painéis e cabines destinados a

abrigar o transformador de distribuição e demais acessórios [7].

Já os sistemas subterrâneos de distribuição de energia elétrica são

caracterizados pelo uso de cabos e demais equipamentos elétricos totalmente

enterrados. Sua utilização é indicada em áreas urbanas com alta densidade de

carga, em que a rede aérea é inviável [7].

Os cabos podem ser instalados diretamente enterrados ou protegidos por

uma estrutura civil composta por bancos de dutos, caixas de passagem e câmaras

subterrâneas, que serão mais detalhadamente analisadas no decorrer deste

trabalho.

Apesar do custo mais elevado, os sistemas subterrâneos são justificados em

áreas com grande densidade de carga, locais com congestionamento de

equipamentos aéreos e locais onde os fatores estéticos têm de ser levados em

conta, como cidades históricas, turísticas, bairros típicos, loteamentos e bairros de

alto poder aquisitivo. Algumas outras vantagens em relação aos outros sistemas

são:

menor possibilidade de falhas;

alto nível de segurança;

melhor convivência com o meio ambiente;

Figura 6 Figura 6 – Rede Subterrânea

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necessidade quase inexistente de podas de árvores;

redução nos custos de manutenção;

continuidade de serviço.

2.3 CONFIGURAÇÃO

O sistema de distribuição é a parte dos sistemas de potência que está mais

próximo da unidade consumidora, sendo encarregado de rebaixar o nível de tensão

e distribuir a energia proveniente da transmissão para o consumidor individualizado

(residências, indústrias e comércios). Nas subestações de distribuição, a tensão da

subtransmissão é rebaixada a níveis de distribuição primária ou média tensão. As

redes primárias suprem os transformadores de distribuição, dos quais derivam as

redes secundárias em baixa tensão [17]. Os níveis de tensão de distribuição

utilizados no Brasil são fixados por um decreto do Ministério de Minas e Energia, e

estão apresentados a seguir.

Os sistemas de distribuição são frequentemente selecionados unicamente

com base na perspectiva de um menor investimento inicial. Isso pode ser

considerado muitas vezes como uma prática imediatista, resultando na implantação

de sistemas que não se caracterizam como os mais tecnicamente adequados e nem

como os mais econômicos [6].

Tabela 2 – Níveis de Tensão utilizados no Brasil [18]

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Durante a fase de projeto básico de uma rede de distribuição, é importante

selecionar com critério o arranjo mais aplicável, analisando as características com

base nos blocos de carga a serem alimentados. Os principais fatores avaliados

geralmente são: investimento inicial, flexibilidade, continuidade de serviço, regulação

de tensão, custos operacionais e custos com manutenção. O sistema que melhor

proporcionar um equilíbrio destes fatores será o mais adequado. Isso pode

representar que o melhor sistema para uma determinada aplicação não será sempre

o mais barato [6].

Em um sistema de distribuição, dois fatores são considerados principais para

garantir os níveis de qualidade. A tensão de suprimento, que dever ser mantida em

limites estreitos em relação a sua tensão nominal e a continuidade de serviço, que

significa reduzir ao mínimo o número de desligamentos.

A continuidade, que é comumente chamada de confiabilidade, tem um custo

inerente ao grau desejado, quanto mais complexo um determinado sistema maior

será sua qualidade. Esta regra é válida para qualquer sistema elétrico

independentemente da tensão de operação, carga demandada ou distância a ser

atendida. O essencial é determinar a melhor maneira de realizar o menor

investimento na infraestrutura em função da importância ou complexidade da carga

atendida e recursos disponíveis [7].

Um sistema de distribuição em condição de restabelecer o mais rápido

possível o atendimento em caso de defeito faz crescer o consumo da área e, como

consequência, corresponde a um aumento de receita quem vem contrabalancear os

investimentos necessários para aumentar a continuidade de serviço.

As linhas de transmissão ou distribuição são caracterizadas por ser uma

linha direta entre a fonte e um determinado centro de carga e sem ramificações. A

simplicidade destas linhas, sem ramificações ou conexões a carga ao longo de sua

extensão, permite a utilização das configurações que serão apresentadas a seguir.

Cada tipo de arranjo tem uma determinada finalidade, condição de utilização

e podem requerer equipamentos e dispositivos de proteção diferentes. Os principais

arranjos utilizados serão apresentados a seguir.

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2.3.1 Sistema Radial Simples

Esse sistema de distribuição de energia, como o próprio nome diz, é o mais

simples de todos. Possui uma linha principal instalada da subestação até as cargas,

podendo ou não ter derivações, e que não possui recursos de manobras, chaves ou

seccionadoras [7]. Esse arranjo pode ser observado na figura 9, possui pequeno

investimento inicial e é mais comum ser usado em sistemas aéreos.

Ele é mais encontrado nas redes secundárias e apenas em alguns casos

específicos em rede primária. O radial simples é indicado para ser aplicado em

sistemas de muita baixa densidade de carga, como por exemplo, áreas rurais e

locais em que os circuitos tomam direções distintas, devido as próprias

características de distribuição da carga, tornando pouco econômico o

estabelecimento de pontos de interligação.

Pode-se aumentar a confiabilidade desses sistemas utilizando alguns

recursos, um deles é utilizar uma alimentação reserva. Como uma grande parte dos

defeitos ocorre nos cabos de saída das linhas aéreas, coloca-se um cabo reserva

com potencial e sem carga que possua recursos entre todas as linhas da

subestação, que possa substituir o cabo de saída de qualquer alimentador em caso

de defeito [20].

Figura 7 Figura 7 – Sistema Radial Simples [6]

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Outro método utilizado, mais comum para consumidores ligados diretamente

à rede primária, o atendimento de energia é provido de dupla alimentação, a normal

e a reserva, provenientes de linhas primárias diferentes. No caso de defeito no

alimentador principal realiza-se a transferência automática da alimentação para a

barra reserva.

2.3.2 Sistema Radial com Primário em Anel

Neste sistema é fornecida uma distribuição de energia composta por dois ou

mais percursos, de forma que, se um alimentador falha, toda a carga do mesmo é

suprida por outra, sem interromper qualquer consumidor. Todos os alimentadores

deste arranjo devem ter capacidade reserva suficiente para alimentar toda a carga

do outro em caso de defeito neste [7].

Muitas vezes os alimentadores radiais podem ser interligados através de

uma chave de seccionamento normalmente aberta (NA) que em caso de

necessidade de executar manobras no circuito para reparos ou execução de

serviços com a rede não energizada permite a separação de pequenos trechos da

rede. Com esta estrutura o sistema recebeu o nome de anel aberto, ou também de

Open-Loop Systems, e pode ser visto na figura 10 abaixo.

Com esta estrutura adicional diminui-se o impacto de desligamentos sobre

todos os consumidores durante os serviços de manutenção necessários. Cada

alimentador tem sua própria área de atendimento, devendo ser dimensionado para

assumir toda a carga do anel por um período de tempo.

Figura 8 Figura 8 – Sistema Radial com Primário em Anel [7]

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Porém em caso de manobras nos alimentadores por tempo indefinido, há a

necessidade de se avaliar a condição da carga durante o período envolvido, sendo

necessário efetuar o corte de algumas cargas sob pena de se incorrer em violação

dos parâmetros de tensões mínimos estabelecidos pela ANEEL.

Em caso de necessidade de manter um elevado nível de confiabilidade, o

anel pode operar com a chave NA continuamente fechada, mantendo assim o anel

fechado. É apenas necessário que a proteção elétrica seja projetada e ajustada para

minimizar os efeitos do desligamento em caso de defeitos no sistema de

distribuição.

O sistema em anel aberto é a configuração mais simples que é utilizada em

uma rede subterrânea, sendo os pontos consumidores as câmaras subterrâneas que

abrigam os transformadores de distribuição. Sua aplicação é indicada para o

atendimento em áreas com média densidade.

2.3.3 Sistema Radial com Primário Seletivo

Neste sistema a carga é provida por, no mínimo, dois circuitos alimentadores

primários para cada centro de cargas. Ele é constituído de forma que quando um

circuito primário está fora de serviço, o alimentador restante tem capacidade

suficiente para receber a carga total por tempo indeterminado. Apesar de três ou

mais alimentadores de entrada possam ser utilizados, normalmente apenas dois são

previstos. Pode ocorrer de metade dos transformadores estarem conectados a cada

um dos dois alimentadores.

Os sistemas primários seletivos, figura 11, no passado eram mais

comumente construídos para transferência de carga de forma manual. Com o

desenvolvimento tecnológico, avanço da automatização, redução de custos,

confiabilidade dos sistemas de comunicação e criação de novas tecnologias, é

possível nos dias de hoje implantar sistemas de transferência automática [7].

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Quando uma falta ocorre em um dos alimentadores primários, somente

metade dos transformadores da instalação é desenergizada. As chaves

comutadoras, usadas em todos os transformadores, realizam o chaveamento para o

alimentador reserva.

2.3.4 Sistema Radial com Secundário Seletivo

Esse sistema utiliza o mesmo princípio de alimentadores duplicados a partir

da fonte de potência, assim como no sistema com primário seletivo. Porém, a

duplicação ocorre também ao longo de cada barramento de carga no lado do

secundário do transformador. Esse arranjo proporciona uma restauração de serviço

de maneira mais rápida para todas as cargas quando ocorre um defeito em um

alimentador primário ou transformado [6].

Na figura 12 observa-se que cada centro de carga é suprido por dois

alimentadores primários através de dois transformadores. A capacidade de cada um

deles deve ser tal que possa seguramente alimentar toda a carga total.

Figura 9 Figura 9 – Sistema Radial com Primário Seletivo [6]

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Uma falta no circuito de um dos alimentadores primários causa a interrupção

de metade dos transformadores, assim como no sistema primário seletivo. O serviço

pode ser restabelecido com a abertura dos disjuntores secundários associados ao

alimentador sob falta e ao fechamento de todos os disjuntores de interligação. Dessa

forma, toda carga é alimentada pelo outro alimentador primário e pela metade dos

transformadores da instalação.

O custo do sistema com secundário seletivo tem custo mais elevado dos que

os apresentados anteriormente. Isto em grande parte é devido aos transformadores

que requerem elevada capacidade total para fornecimento duplicado de potência em

situações extremas. Entretanto, por causa da grande capacidade de reserva que

possuem, a regulação de tensão sob condições normais é melhor que a encontrada

nos demais arranjos.

2.3.5 Sistema Reticulado Simples

Pesquisas para melhorias dos sistemas de transporte de energia elétrica

concluíram que um sistema com os secundários interligados só seria confiável se

tivesse o suprimento por mais de um alimentador primário, se a proteção secundária

tivesse disjuntores sob comando de relés e se os transformadores fossem ligados

rigidamente ao primário eliminando-se a proteção com fusíveis no primário [20].

Figura 10 Figura 10 – Sistema Radial com Secundário Seletivo [6]

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Desses estudos surgiu o sistema reticulado, também chamado de Network

ou reticulado generalizado, apresentado na figura 13. Esse arranjo tem sido utilizado

há algumas décadas para a distribuição de energia em locais de alta densidade e

que necessitam elevadíssima confiabilidade.

Esse sistema é praticamente imune a defeitos. Cada transformador é ligado

à rede secundária através de um protetor de rede (network protector), que nada

mais é que um disjuntor comandado por relés de reversão de potência. Eles

desligam o disjuntor se a energia vier no sentido da rede secundária para a primária.

Ele é composto por duas partes. A média tensão é conectada desde a

subestação por alimentadores radiais até os transformadores de distribuição e a

baixa tensão é um único circuito secundário distribuído pelas ruas formando uma

grande malha secundária. Os consumidores são supridos em baixa tensão através

de ligações feitas ao reticulado secundário [7].

Adotou-se o número mínimo de dois alimentadores, pois, somente com um

grande número de alimentadores no lado primário, pode-se garantir uma rede

secundária sem desligamentos.

Também como neste sistema a rede trabalha em paralelo continuamente, as

falhas no lado primário de um respectivo alimentador não afetam o lado secundário

devido a permanência dos demais alimentadores. E os desligamentos na rede

secundária são restritos a defeitos nos ramais e conexões de baixa tensão. Para

Figura 11 Figura 11 – Sistema Reticulado Simples [6]

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isso, cada ramo da rede de baixa tensão é protegido por fusíveis, permitindo em

caso de defeito que ele fique isolado somente ao respectivo trecho secundário [7].

Desta forma a continuidade de serviço fica garantida, e é esse baixo número

de interrupções a maior vantagem do sistema secundário reticulado. Nenhuma falta

em qualquer ponto do sistema irá causar a queda de serviço para mais do que uma

pequena parcela das cargas.

Esse arranjo com elevada confiabilidade é altamente recomendado para

atendimento de regiões com alta densidade de carga e é utilizado com frequência no

sistema de distribuição de energia elétrica subterrâneo.

O sistema primário de alimentação do sistema Network até os

transformadores pode também ser utilizado para atendimentos de prédios com alta

densidade de carga, através do sistema reticulado dedicado. Este também é

composto por duas seções, sendo a média tensão conectada desde a subestação

através de alimentadores radiais até os transformadores de distribuição e a baixa

tensão é um barramento que atende uma única edificação.

Chamado também de Spot Network, esse arranjo, assim como o reticulado

generalizado, têm alta confiabilidade, pois devido à quantidade de alimentadores

primários, obtêm-se um barramento quase sem desligamentos. Da mesma maneira

que um sistema secundário reticulado, esse sistema trabalha com as entradas

primárias continuamente em paralelo. Porém, em caso de falhas no barramento

secundário, há comprometimento no atendimento de toda a sua carga [7].

O sistema reticulado dedicado, mostrado na figura 14, é indicado para

atender altas concentrações de carga, como por exemplo, prédios comerciais e

grandes consumidores em uma região de alta densidade de carga já atendida por

um arranjo reticulado generalizado de distribuição.

Figura 12 Figura 12 – Sistema Reticulado Dedicado [6]

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2.3.6 Sistema Reticulado com Primário Seletivo

Este sistema apresenta os mesmos princípios do reticulado simples, porém

a alimentação dos transformadores é feita de forma seletiva, através de dois

alimentadores primários, conforme se observa na figura 15. Cada transformador

possui uma chave comutadora primária, que irá selecionar qual alimentador será

utilizado [6].

Em uma instalação que requeira dois alimentadores primários, cada qual

deve ser capaz de suprir toda a carga da instalação. Assim como no reticulado

simples, o transformador é conectado a um barramento de cargas através de um

protetor de rede.

2.3.7 Sistema Híbrido

Sistemas híbridos são os que operam simultaneamente com diferentes

formas de arranjos de distribuição. Eles surgiram diante de melhor atender as

necessidades dos clientes e manter constantes e altos os níveis de qualidade [7].

Um exemplo é o ilustrado na figura 16, em que temos um sistema de

distribuição com arranjo em secundário reticulado. Além desse, também são ligados

Figura 13 Figura 13 – Sistema Reticulado com Primário Seletivo [6]

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consumidores com atendimento por meio do reticulado dedicado e através de

sistema primário.

Esse tipo de sistema é utilizado pela COPEL para atender o centro da

cidade de Curitiba, onde o atendimento é feito por uma rede subterrânea. Alguns

prédios no local apresentam maior diversidade de carga, ou seja, requerem

diferentes níveis de continuidade de serviço, como hotéis, centros empresariais,

apartamentos e lojas. As cargas são subdivididas de acordo com a confiabilidade

adequada e, então, atendidas por um sistema que proporcione custo e confiabilidade

compatíveis.

Assim, são alimentadas por um sistema de transferência automática as

cargas com menor necessidade de continuidade como circuitos de ar condicionado

central, iluminação e apartamentos. Os escritórios, casa de máquinas de elevadores,

hotéis e sistemas de informação são conectados através dos arranjos Network ou

Spot Network que garantem maior continuidade.

2.3.8 Sistema de Distribuição Residencial Subterrânea

Sistema originário dos Estados Unidos e lá conhecido como URD,

Underground Residential Distribution, é implantado com redes do tipo semi-

enterradas, onde os transformadores e câmaras de baixa tensão são colocados

sobre o solo, figura 17.

Figura 14 Figura 14 – Sistema Híbrido [7]

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Nesses sistemas de distribuição o arranjo primário é do tipo anel aberto, que

se estende conectando-se através dos transformadores. Eles não são

dimensionados para atender toda a carga por qualquer lado do anel aberto por

tempo indefinido e geralmente são conectados com um único alimentador aéreo,

não oferecendo desta maneira grande confiabilidade, sendo mais utilizada por

razões estéticas em loteamentos residenciais de baixa densidade [7].

Os transformadores que equipam esta estrutura são do tipo pedestal. Eles

são projetados para serem montados sobre uma base de concreto e aptos para

instalações externas onde estão sujeitos a intempéries. São pintados na cor verde

como segurança de acordo com norma.

2.4 INFRAESTRUTURA CIVIL

2.4.1 Rede de distribuição aérea

O projeto de redes aéreas de distribuição deve atender a um planejamento

básico, que possibilite um desenvolvimento progressivo compatível com a área em

Figura 15 Figura 15 – Sistema de Distribuição Residencial Subterrânea [7]

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41

estudo. Dever ser levado em conta as condições locais, o grau de urbanização das

ruas, a dimensão dos loteamentos, tendências regionais e comparações podem ser

realizadas com regiões que possuam dados de carga e taxas de crescimento

conhecidas.

No início do projeto deverão ser determinados a quantidade e o traçado dos

alimentadores primários e secundários de acordo com a demanda requerida.

Definem-se os centros de carga e locam-se os postes necessários para a

sustentação e funcionamento eficiente da rede de distribuição.

Na locação dos postes deve-se cuidar com a distância à construções e

fachadas, aconselha-se também não locá-los em curvas das ruas e avenidas a fim

de evitar acidentes e futuros prejuízos das instalações. A iluminação pública deve

ser adequada nos locais de maiores concentrações.

Os condutores são o meio pelo qual se transporta potência de um

determinado ponto até um terminal consumidor. Nas redes aéreas, os cabos

utilizados são nus ou protegidos, que são constituídos apenas por condutor e

isolação. Praticamente apenas dois metais se destinam a fabricação de condutores

elétricos, o alumínio e o cobre.

Os de alumínio normalmente dominam o mercado nas aplicações de redes

de transmissão e distribuição não localizadas próximos a orla marítima. Seu baixo

custo comparado com os de cobre, sua relação peso por área e sua ótima

resistência aos esforços mecânicos são algumas das suas várias vantagens.

Os transformadores utilizados são instalados nos postes de distribuição e

são sempre dimensionados em função do crescimento da carga e de forma a

minimizar os custos anuais de manutenção. As potências nominais são 15, 30, 45,

75, 112,5, 150 e 250 kVA.

Basicamente eles devem se localizar o mais próximo possível dos centros

de carga e nos locais que possuem alta concentração de carga, como centros

comerciais e industriais, onde é comum a ocorrência de pequenos distúrbios e

cintilações no fornecimento.

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42

2.4.2 Rede de distribuição subterrânea

Em projeto de redes de distribuição subterrânea, deverão ser realizados

alguns estudos preliminares com o levantamento de algumas informações e

execução do mesmo de forma segura e planejada. É importante para este tipo de

projeto observar as etapas que se seguem:

Estudos preliminares;

Pesquisas de mercado (tipo de consumidor e taxas de crescimento);

Estimativa da demanda total e projeto elétrico;

Características da região (tipo de solo, condições climáticas);

Planejamento da futura iluminação pública;

Planejamento das calçadas e estudo da acessibilidade a pessoas

portadoras de necessidades especiais;

Planejamento do trânsito;

Análise de projetos já existentes;

Planejamento da infraestrutura urbana;

Estudo do possível enterramento das redes de energia e demais

equipamentos;

Execução do projeto;

Fiscalização e gerenciamento das obras.

O adequado planejamento das etapas acima citadas e o gerenciamento do

cronograma de implantação das redes subterrâneas são imprescindíveis para evitar

ao máximo o transtorno à população próxima às regiões em obras.

Diante de tantos critérios a serem analisados, existe uma diversa variedade

de padrões construtivos e configurações utilizadas na infraestrutura dessas redes.

Elas possuem ainda elevada complexidade de instalações e equipamentos. Neste

projeto, será analisada mais detalhadamente a infraestrutura padrão ilustrada na

figura 18.

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43

Figura 16 – Infraestrutura padrão da Rede Subterrânea [19]

Diferentemente dos condutores utilizados nas redes aéreas, que são em

geral cabos nus e protegidos, os da rede subterrânea possuem isolação plena, ou

seja, os cabos possuem uma blindagem metálica circundando a isolação do cabo

que garante uma menor taxa de falhas.

Os materiais mais utilizados na isolação dos cabos da rede secundária são

normalmente o Polietileno Termofixo (XLPE) e a borracha Etilenopropileno (EPR).

Ambos possuem bom desempenho, a diferença principal é que os cabos isolados

em EPR têm maior capacidade de resistir a umidade. Entretanto o custo benefício

dos cabos XLPE ainda é melhor, fazendo com que seu uso seja mais difundido.

Os condutores devem ser dimensionados para a pior condição, ou seja,

situações que reduzem ao máximo a capacidade de condução de corrente e elevam

a queda de tensão do cabo. No dimensionamento também deve ser levado em conta

os cálculos de curto-circuito, e caso seja necessário, a bitola da blindagem do

condutor deverá ser alterada.

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44

Figura 17 – Condutores da rede subterrânea da Copel em Curitiba [20]

Uma das maiores dificuldades no projeto de redes subterrâneas é o

enterramento dos condutores em um solo recheado de tubulações de serviços

essenciais (rede de esgoto, água, galerias pluviais) e de outras concessionárias

como de telefonia, TV a cabo e fibra óptica. Dessa forma há um enorme cruzamento

de redes, diminuindo os espaços no subsolo, gerando contratempos e elevando

ainda mais os custos de instalação [12].

Em parte este problema é amenizado com a utilização de uma estrutura

chamada banco de dutos. Tanto os condutores de energia da rede primária e

secundária, que compõem toda a rede subterrânea, são instalados nestes bancos

que são compostos por dutos de tamanhos variados, cada um com uma

determinada finalidade como mostra a figura 20.

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45

Figura 18 – Banco de dutos típico [7]

Os dutos localizados na parte inferior são destinados aos cabos de baixa

tensão, os intermediários com maior diâmetro podem ser reservados para os de

média tensão, e os localizados na parte superior designados à instalação de cabos

de comunicação e fibra óptica [12].

Os bancos de dutos são geralmente dispostos sob o leito da rua, em

calçadas ou mesmo em áreas verdes de canteiros, e interligam toda a estrutura da

rede subterrânea as câmaras transformadoras [12].

As câmaras transformadoras (CTs) são construídas em concreto armado e

são destinados a alojar os equipamentos de transformação (entrada de média

tensão, chaves seccionadoras, transformador, network protector, saída de baixa

tensão). Eles são situados sob vias públicas, são providas de tampas para inspeção

de fácil acesso para funcionários em caso de manutenções e circuito interno

exclusivo para iluminação.

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46

Figura 19 – Câmara transformadora em construção [12]

É de extrema importância também, uma eficiente ventilação interna da

câmara para manter a temperatura do ambiente adequada e assim garantir um bom

funcionamento dos equipamentos elétricos. É possível também a instalação de um

sistema de drenagem interno a fim de evitar o acúmulo de água de qualquer

procedência.

Existem ainda as caixas de inspeção (CIs) que também são de concreto,

porém menores que as CTs, destinadas a alojar acessórios (emendas e derivações)

e equipamentos (chaves e medidores), assim como possibilitar a passagem de

cabos (mudança de direção, fim de linhas), cujas dimensões possibilitem a

movimentação interna de pessoas para a execução de serviços e facilite a

realização de manutenções [12].

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47

Figura 20 – Caixa de Inspeção [12]

Outra estrutura importante são as caixas de passagem (CPs). São menores

que as CTs e CIs, e sua função principal é abrigar as emendas das derivações dos

ramais que atendem os clientes da concessionária. As CPs construídas sob o leito

da rua deverão ter tampas de ferro fundido com diâmetro aproximado de 600 mm.

As estruturas apresentadas acima caracterizam a composição de uma rede

de distribuição de energia totalmente enterrada. Nele, como foi visto, existem

câmaras subterrâneas para abrigo dos transformadores e demais equipamentos que

interligam a média e baixa tensão.

Existe porém, outra configuração subterrânea sendo altamente utilizada

pelas concessionárias brasileiras como a Copel, as redes subterrâneas parcialmente

enterradas. Elas possuem índices de qualidade um pouco piores comparadas às

totalmente enterradas, porém seus custos de implantação e manutenção podem os

tornar viáveis em determinadas situações.

Nestas redes os cabos são enterrados, porém alguns equipamentos de rede

são instalados sobre o solo em gabinetes, câmaras ou mesmo postes externos

localizados em locais públicos ou privados. Independentemente, é importante

ressaltar que a concessionária deve ter livre acesso a essas áreas para realizar

operações e manutenções necessárias.

Esse tipo de configuração tem se tornado bastante comum em condomínios

residenciais, que por questões estéticas optam pela rede subterrânea e que

possuem área externa suficiente para a disposição destas estruturas [12].

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48

O transformador mais utilizado nas redes parcialmente enterradas é o do

tipo pedestal, que será melhor descrito no próximo capítulo. Ele é selado, podendo

ser utilizados ao tempo ou dentro de construções, fixado sobre uma base de

concreto, com compartimentos blindados para conexão de condutores de média e

baixa tensão.

Figura 21 – Transformador do tipo pedestal em meio a paisagem urbana [12]

2.5 QUALIDADE DA ENERGIA

2.5.1 Histórico da avaliação da qualidade de energia no Brasil

O setor elétrico brasileiro desde sua origem se expandiu por meio de

incentivos da iniciativa privada, assim o mercado estabelecia diretrizes de expansão

e até parâmetros de operação. Foi apenas em meados de 1973, com a equalização

das tarifas de energia elétrica, que a intervenção econômica do Estado começou a

impactar a área.

O objetivo destas intervenções era estimular o desenvolvimento de áreas

distantes e carentes, atendidas por concessionárias menos rentáveis. Essa prática,

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49

porém foi ineficiente, já que o regime tarifário estava centrado no custo dos serviços

prestados e uma remuneração mínima passou a ser garantida, desestimulando o

estudo para otimização dos gastos, maior eficiência e melhores índices de

qualidade.

O processo de estatização progrediu com a venda da LIGHT para a

ELETROBRÁS em 1978 e ao longo dos anos aconteceram planos econômicos,

onde as tarifas dos serviços tornaram-se instrumentos de combate a inflação,

reduzindo mais ainda as chances de investimento em modernização das redes de

distribuição.

Em 1995 foi implantado no Brasil o Plano Real, com objetivo de controlar a

inflação e que acabou proporcionando avanços econômicos e sociais. A qualidade

de vida aumentou e causou um acréscimo do consumo per capita de energia, tanto

por consumidores residenciais como industriais e também aumento considerável no

numero de novas residências.

Neste mesmo ano iniciou-se uma nova fase do setor elétrico brasileiro com

as privatizações. O capital privado voltava a gerenciar a operação e expansão do

setor sob supervisão da então recém-criada ANEEL. As empresas privadas

assumiram o controle de redes de distribuição debilitadas devido aos anos sem

investimentos e que com o aumento da demanda passaram a operar próximas aos

seus limites. Tudo isso diminuiu rapidamente a segurança dessas redes e degradou

seus níveis de confiabilidade [7].

O gráfico abaixo ilustra esse aumento, mostrando a evolução da carga de

energia no sistema interligado nacional (SIN) no período de 1991 até agosto de

2011. Esses valores foram obtidos considerando a geração de energia de todas as

usinas centralizadas pelo Operados Nacional do Sistema (ONS).

A queda apontada nos gráficos entre os anos de 2000 e 2002 se deve a

crise do apagão ocorrida nesta época que afetou o fornecimento e distribuição de

energia. Ela foi causada devido à falta de chuvas, impossibilitando a geração de

energia, e a falta de planejamento e investimento na rede brasileira. Ficaram

cogitados na época cortes forçados de energia elétrica, os “apagões”, nos grandes

centros urbanos. Porém com medidas de incentivo à eficiência energética e

racionamento de energia, geraram mudanças de hábitos na população e diminuição

da demanda nacional.

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50

Entretanto nos anos posteriores a carga voltou a aumentar. Isso porque,

apesar de uma maior consciência da população no gasto da energia elétrica, cada

vez mais pessoas passaram a contar com suprimento de energia elétrica em suas

residências por meios dos programas de inclusão social e cidadania do governo.

E também se observou uma dependência cada vez maior da energia elétrica

pelos consumidores, que trocam fontes de energia pela eletricidade por ser mais

limpa, segura e eficiente. Tanto clientes residenciais como industriais passaram a

utilizar equipamentos sensíveis a interrupções momentâneas de fornecimento,

mesmo que por pequenos intervalos de tempo. A qualidade do serviço prestado

passa a ser questionada e níveis mínimos de operação passam a ser exigidos aos

órgãos regulatórios.

2.5.2 Indicadores de qualidade

Inicialmente bastava ter acesso ao suprimento de energia, mesmo que com

distorções e interrupções. Agora a sociedade é preocupada com a continuidade de

serviço e vê o fornecimento de energia elétrica como fundamental para o conforto e

qualidade de vida.

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

400000

450000

500000

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

*201

1

GW

h

Ano

Carga de Energia - SIN

Figura 22 – Evolução da carga de energia elétrica no Brasil [21]

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51

A primeira medida do governo na história a mencionar a qualidade para o

fornecimento de energia elétrica foi o chamado de Código das Águas (Decreto

nº24.643) em 1934, que buscava incentivar o melhor aproveitamento industrial das

águas, até então regida por legislações obsoletas [8]. Ela inseria pela primeira vez

na legislação brasileira a preocupação com a qualidade de fornecimento de energia.

Os artigos 178 e 179 citam:

“Art. 178. No desempenho das atribuições que lhe são

conferidas, a Divisão de Águas do Departamento Nacional da

Produção Mineral fiscalizará a produção, a transmissão, a

transformação e a distribuição de energia hidroelétrica, com o

tríplice objetivo de:

a) Assegurar serviço adequado;

b) Fixar tarifas razoáveis;

c) Garantir a estabilidade financeira das empresas.”

“Art. 179. Quanto ao serviço adequado a que se refere a alínea

“a” do artigo precedente, resolverá a administração, sobre:

d) Qualidade e quantidade de serviço;

e) Extensões;

f) Melhoramentos e renovação das instalações;

g) Processos mais econômicos de operações.”

Desde então diversos outros decretos foram elaborados a fim de

regulamentar a distribuição de energia no país e que resultaram no atual PRODIST

(Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional).

Eles são normas que disciplinam o relacionamento entre as concessionárias de

distribuição com unidades consumidoras e centrais geradoras. Regulamentam

também a relação entre as distribuidoras e a ANEEL, no que diz respeito ao

intercâmbio de informações.

Por meio do controle das interrupções, do cálculo e da divulgação dos

indicadores de continuidade de serviço, as distribuidoras, os consumidores e a

ANEEL podem avaliar o desempenho do sistema e a qualidade do serviço prestado.

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Os indicadores de qualidade existentes analisam a duração e frequência das

interrupções e devem ser calculados em intervalos mensais, trimestrais e anuais.

Eles podem ser indicadores coletivos e individuais. Este assunto está regulamentado

no módulo 8 dos Procedimentos de Distribuição (PRODIST) [1].

Os individuais são o DIC, FIC e o DMIC que são apurados para todas as

unidades consumidoras atendida pela concessionária. O primeiro indica a duração,

em horas, de interrupção individual para a unidade e o FIC mostra a frequência de

interrupção individual para a mesma. O DMIC calcula a duração máxima de

interrupção contínua, desta forma limita o tempo máximo de cada interrupção,

impedindo que a concessionária deixe o consumidor sem abastecimento de energia

por longos períodos. Eles podem ser assim calculados:

n

i

itDIC1

)( nFIC max)(itDMIC

onde:

n = número de interrupções da unidade considerada;

i = índice de interrupções da unidade no período de apuração;

t(i) = tempo de duração da interrupção;

t(i)max = valor correspondente ao tempo da máxima duração

de interrupção contínua, expresso em horas e centésimos de

hora.

Conjunto elétrico de unidades consumidoras são subdivisões da área

atendida pela concessionária com características semelhantes de atendimento,

sobre a qual também são avaliados os eventos relacionados aos índices de

qualidade. Um conjunto pode ter abrangência variada. Podem englobar mais de um

município, ao mesmo tempo em que um município pode ter mais de um conjunto.

O DEC e o FEC são os indicadores de continuidade coletivos, e são

analisados pela ANEEL através dessas subdivisões. O DEC significa Duração

Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora, indica o número de horas em

média que um consumidor fica sem energia elétrica durante um período, que pode

ser o mês ou ano.

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O indicador FEC, Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade

Consumidora, representa o número de interrupções que cada consumidor sofreu em

média em um determinado período. As fórmulas são apresentadas abaixo:

Cc

iDIC

DEC

Cc

i

1

)(

Cc

iFIC

FEC

n

i

1

)(

onde:

i = índice de unidades consumidoras atendidas no conjunto;

Cc = número total de unidades consumidoras faturadas do

conjunto no período de apuração.

A definição dos valores desses índices depende ainda dos dados enviados

pelas próprias empresas concessionárias em cada mês de operação. Além dos

índices de continuidade coletivos e individuais, existem os índices de conformidade,

que quantificam as transgressões de qualidade no tocante aos níveis de tensão

contratada pelo consumidor.

São eles o DRP (Duração Relativa da transgressão máxima de tensão

Precária), o DRC (Duração Relativa da transgressão máxima de tensão Crítica) e o

ICC (Índice de Unidades Consumidoras com Tensão Crítica). A tensão é

considerada adequada pela ANEEL se está entre 95% e 105% da tensão

contratada, precária se estiver entre 93% e 95% e crítica se estiver abaixo de 93%

ou acima de 105% da tensão contratada pelo consumidor [1].

O DRC é um indicador individual referente à duração relativa das leituras de

tensão, nas faixas críticas e o DRP é o equivalente nas tensões precárias no período

de observação definido. O ICC é o percentual da amostra analisada que possui

transgressões de tensão crítica.

Existem também vários indicadores que calculam a qualidade no

atendimento às ocorrências emergenciais. Os principais são o TMP (Tempo Médio

de Preparação), TMD (Tempo Médio de Deslocamento) e o PNIE (Percentual do

Número de Ocorrências Emergenciais com Interrupção de Energia).

O TMP é o valor médio correspondente ao tempo de preparação das

equipes de emergência, para o atendimento às ocorrências emergenciais verificadas

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em um determinado conjunto de unidades consumidoras. O TMD mensura o tempo

de deslocamento médio dessas equipes até o local de atendimento. Por fim o PNIE

é o quociente percentual do número de ocorrências verificadas em um conjunto que

registraram interrupção no fornecimento de energia elétrica.

2.6 CUSTOS

Dentre os custos totais de um sistema elétrico de potência, que é composto

por geração, transmissão e distribuição, cerca de 40% correspondem ao sistema de

distribuição [20].

Existem três custos que podem ser considerados os principais para o estudo

financeiro das redes de distribuição, sendo eles: investimento inicial, custos

operacionais e custos por energia não distribuída [9].

O investimento inicial, ou custo de implantação da rede, considera todos os

materiais adquiridos, a mão de obra (incluindo serviços de topografia, projeto e

execução) e as despesas administrativas [19].

Os custos operacionais podem ser divididos em duas parcelas,

correspondentes à manutenção preventiva e manutenção corretiva [19].

A função da manutenção preventiva é manter um fornecimento contínuo de

energia elétrica aos clientes, atendendo as legislações vigentes. Ela atua de forma a

reduzir ou evitar falhas ou defeitos, ou ainda corrigindo desgastes naturais e

previsíveis, seguindo uma programação previamente elaborada e baseada em

intervalos de tempo. Os equipamentos que passarão por manutenções podem variar

de acordo com o tipo de rede.

A manutenção corretiva é necessária para restabelecer o sistema em caso

de interrupções acidentais. Seu objetivo é corrigir ou restaurar as condições de

funcionamento de determinado equipamento, visando eliminar defeitos ou falhas, e

podendo ser de forma programada ou emergencial. Quando é programada, exige

menos tempo, é mais segura e de melhor qualidade. Quando é de caráter

emergencial, demanda maior tempo, aumento dos custos e perdas de qualidade e

fornecimento.

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55

Os custos por energia não distribuída, caracterizados por interrupções de

energia elétrica, acarretam em perdas de processo e decréscimo das atividades.

Para a concessionária, além de não faturar, são contabilizados também

ressarcimentos aos clientes por perdas e danos em eletrodomésticos ou outros

aparelhos devido a uma falha na rede. Vale também considerar que mesmo com o

retorno do fornecimento da energia, o faturamento da concessionária sofre um

atraso em virtude do tempo necessário para os consumidores retomares suas

atividades.

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56

3 SISTEMA RETICULADO SUBTERRÂNEO DE DISTRIBUIÇÃO DE

ENERGIA

3.1 HISTÓRICO

Segundo o Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE), a primeira

rede reticulada de baixa tensão em corrente alternada que se tem informações, foi

implantada em Memphis (Estado do Tenessee, Estados Unidos) em torno de 1907.

Os transformadores de rede eram supridos por alimentadores primários lançados em

valetas, conectados a uma rede de cabos de baixa tensão cujos circuitos eram

protegidos por fusíveis. Em 1921, na cidade de Seattle (Estado de Washington,

Estados Unidos), foram implementadas melhorias no sistema através da conexão

dos secundários dos transformadores aos cabos da malha passando por protetores

de rede (Network Protectors), que desarmavam automaticamente quando eram

submetidos a uma potência reversa, mas tinham de ser rearmados manualmente a

cada ocorrência [8].

Em meados de 1922, os primeiros protetores de rede completamente

automáticos (desarmavam e rearmavam sob condições pré-estabelecidas) foram

utilizados na cidade de Nova Iorque (Estado de Nova Iorque, Estados Unidos) pela

United Electric Light and Power Company. Tratava-se de uma malha trifásica (4 fios)

e operava na tensão de 208/120 V ligação estrela. Foi somente a partir de 1925 que

esse sistema começou a ganhar aceitação para distribuição e iluminação.

Ainda hoje os princípios de funcionamento são os mesmos, porém houve um

acréscimo na precisão dos parâmetros de abertura e fechamento e em velocidade

de comutação, aumentando sua capacidade de corrente e tensão à medida que as

cargas aumentavam.

Os sistemas reticulados de distribuição utilizados hoje em dia são muito

similares ao sistema instalado em 1922, porém atualmente trabalham com tensões

variadas (de primário e secundário). Existe ainda uma variação da topologia,

chamada de reticulado exclusivo (Spot Network), que já foi comentada no capítulo

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57

anterior e será novamente apresentada a seguir. Os protetores de rede também

evoluíram e hoje são controlados por microprocessadores ao invés dos comandos

eletromecânicos originais.

Atualmente existem poucos fabricantes do equipamento protetor de rede. Os

que mais se destacam são a Eaton/Cutler-Hammer e a ETI/Richards Manufacturing

Company, ambos nos Estados Unidos. Estes equipamentos utilizam relés de

proteção digitais que possuem algumas funções de monitoramento da rede de baixa

tensão. A fabricante GE vendeu sua fábrica de protetores de rede para a Richards,

enquanto a Westinghouse Co. vendeu sua fábrica para a Eaton/Cutler-Hamer.

O alto custo dos protetores de rede importados e a dificuldade de

gerenciamento da rede têm onerado a manutenção dos sistemas reticulados já

instalados em países em desenvolvimento, questionando-se por vezes sua

continuidade e fazendo com que as concessionárias busquem alternativas que vão

em sentidos opostos: tanto a verificação de alternativas ao sistema reticulado como

também alternativas que garantam sua viabilidade.

Um fato histórico que também auxiliou no desenvolvimento das redes

subterrâneas foi a Segunda Guerra Mundial, onde a implementação de novos

materiais plásticos possibilitou a construção de redes em áreas essenciais para

atendimento às finalidades e sobrevivência, e também em loteamentos nos

subúrbios das cidades, devido ao menor risco e exposição aos ataques aéreos [7].

O atendimento de centros comerciais, shopping centers, loteamentos

residenciais e a expansão industrial associados com a necessidade de mais

confiabilidade tornaram os projetos de redes aéreas não tão econômicos.

As novas técnicas de construção, os novos materiais, cabos e emendas

mais econômicas e de fácil execução, trazidos durante o desenvolvimento da

Segunda Guerra Mundial, ajudaram a mudar esta situação, tornando mais atrativas

as redes subterrâneas. O desenvolvimento de transformadores subterrâneos para

instalação em câmaras sob as ruas, transformadores em pedestal e as cabines

metálicas instaladas no nível do solo, trouxeram mais flexibilidade, confiabilidade e

relativo baixo custo tornaram as construções mais atrativas e deram mais condições

para a expansão das redes subterrâneas [7].

Através do apoio da opinião pública, o entendimento sobre maior

confiabilidade do fornecimento de energia, o impacto ambiental, a poda de árvores,

o risco de choques elétricos e o aumento do volume de obras ocasionaram maior

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58

pressão sobre a redução de preços e sobre a administração das empresas de

distribuição. Deve-se lembrar que com a implementação normativa da ANEEL, as

empresas de energia estão restritas a aplicação de investimentos na rede quando

analisados sob uma taxa de crescimento da região em estudo e horizonte de

planejamento de sete anos, sob pena de comprometer a premissa básica de

garantia da modicidade tarifária.

No Brasil, a topologia de distribuição subterrânea reticulada de baixa tensão

foi trazida de forma pioneira pela empresa LIGHT na década de 1930, seguindo o

conceito das metrópoles nos Estados Unidos, que como já foi visto anteriormente,

começou a ser utilizado apenas alguns anos antes. Essa implementação

representou um avanço tecnológico para o mercado brasileiro da época e propiciou

um incremento na qualidade de serviço, especialmente no tocante à continuidade de

fornecimento. Após a LIGHT, outras empresas como COPEL, CEMIG e

ELETROPAULO também começaram a implementar suas redes subterrâneas em

áreas de alta densidade de carga e em casos específicos como cidades históricas e

condomínios residenciais [8].

Estes sistemas tiveram pouca expansão desde a sua implantação inicial,

geralmente devido aos altos custos do modelo quando comparados com as redes

aéreas de distribuição. Estes custos são justificados pela utilização de equipamentos

exclusivos, que serão apresentados a seguir, e também pela complexa infraestrutura

civil.

3.2 TOPOLOGIAS

Como já visto anteriormente, atualmente existem duas estruturas básicas de

distribuição de baixa tensão em redes: o reticulado em grade (grid network), também

conhecido como reticulado simples, e o reticulado pontual (spot network), também

chamado de reticulado concentrado.

Um diagrama esquemático de um sistema reticulado tipo grade pode ser

visto na figura 25, onde se verifica a presença de alimentadores primários de MT

(média tensão) independentes para os transformadores da rede, além de seus

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secundários de BT (baixa tensão) ligados em paralelo na mesma rede em pontos

distintos, fornecendo energia para uma malha de baixa tensão onde estão ligados os

consumidores. A quantidade e localização dos transformadores vão depender da

demanda de potência em cada setor da rede. Cada subestação de BT abriga um

transformador [16].

Para o sistema reticulado pontual, figura 26, encontram-se alimentadores

primários independentes para os transformadores da rede, além de seus

secundários de baixa tensão ligados em paralelo na mesma rede. Porém, neste

sistema os secundários dos transformadores estão ligados no mesmo ponto da rede,

diferentemente do sistema em grade. Uma única subestação de BT pode abrigar

todos os transformadores do reticulado. Esta configuração geralmente é utilizada

para atender uma parte isolada da rede, como um consumidor com grande

densidade de carga (grandes edifícios) [8].

Figura 23 – Sistema Reticulado em Grade (Network) [16]

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Ambas as configurações de reticulado oferecem opção de fornecimento de

energia elétrica em contingência, o que garante ótimos índices de qualidade de

energia. Isso faz com que o sistema reticulado apresente índice de interrupções de

fornecimento muito baixo quando comparado com outras topologias, entre elas a

rede aérea. Exemplos práticos dessa vantagem serão mostrados no próximo

capítulo, que tratará sobre o comparativo técnico.

3.3 EQUIPAMENTOS

Os principais equipamentos utilizados nos sistemas reticulados, para as

duas topologias, e que os caracterizam como caros e confiáveis, são os seguintes:

Transformadores de Distribuição, tipo submersível e tipo pedestal;

Protetores de Rede (Network Protector);

Chaves primárias de média tensão;

Cabos alimentadores de baixa e média tensão;

Figura 24 – Sistema Reticulado Pontual (Spot) [16]

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Caixas de derivação;

Acessórios para cabos;

Barramentos múltiplos isolados;

Cabines metálicas de média tensão tipo pedestal;

Quadros de distribuição de baixa tensão tipo pedestal;

3.3.1 Transformadores de Distribuição

Os transformadores dedicados a sistemas reticulados são aqueles

construídos para obter maior flexibilidade e confiabilidade aos sistemas reticulados,

devendo atender aos requisitos do meio físico de instalação [16].

Com relação ao sistema elétrico, por trabalharem em contingência, estão

sujeitos a sobrecargas de curta duração, necessitando desta forma possuir um

sistema de proteção adequado a esta característica. Suas potências variam de 75

kVA até 2500 kVA, com tensões primárias variando de 2,5 kV até 34,5 kV. Suas

classes de isolação são geralmente de 65ºC (temperatura de 110ºC para o ponto

quente no núcleo para 30ºC de temperatura ambiente).

Os transformadores submersíveis são aqueles adequados para ser

instalados em câmaras, em qualquer nível, podendo ser prevista sua utilização onde

haja possibilidade de submersão de qualquer natureza. Os transformadores, quando

instalados em câmaras subterrâneas, são diretamente acoplados no lado de baixa

tensão através de um flange e possuem a chave primária acoplada no lado de média

tensão.

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Já os transformadores do tipo pedestal, são selados e desenvolvidos para

aplicações onde o espaço físico é insuficiente para a instalação de uma subestação

abrigada convencional. A compactação aliada a proteções integradas garante a

instalação ao tempo ou subterrânea. É montado sobre uma base de concreto e

apresenta compartimento blindado para as conexões de alta e baixa tensão. Além

da segurança propiciada, ele pode ficar mais próximo do centro de cargas e otimizar

as instalações elétricas [10].

A partir da nova norma brasileira de instalações elétricas de alta tensão,

NBR 14.039 (ABNT, 2005), foi definido que não podem ser aplicados

transformadores isolados a óleo na área interna de edificações. Dessa maneira, as

Figura 25 – Transformador de Distribuição Submersível [12]

Figura 26 – Transformador de Distribuição tipo pedestal [10]

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instalações em cabines spot devem utilizar transformadores a seco com protetores

de rede ventilados [7].

3.3.2 Protetores de Rede (Network Protector)

Um protetor de rede é composto por uma parte de potência que funciona

basicamente como um seccionador de baixa tensão de comutação automática, que

é comandado por um relé. Ele é pré-ajustado e configurado para perceber o fluxo

reverso de potência, do lado dos consumidores para o lado da concessionária, que

atravessa os protetores, atuando então na abertura do disjuntor [8].

No sistema reticulado um fluxo reverso de potência pode ser gerado se

acontecer uma falha nos alimentadores primários de média tensão. Os outros

circuitos paralelos continuarão alimentando os pontos consumidores e os

transformadores do circuito em falha passarão a levar o fluxo para o lado da

concessionária. Essa energia pode alimentar uma linha em curto, e assim danificar

equipamentos ou causar acidentes em linhas sob manutenção.

Os Network Protectors realizam o monitoramento em tempo real do estado

da rede (tensão, corrente e fase) a qual estão ligados, operando adequadamente

sob condições pré-programadas, para conectar ou desconectar o respectivo

Figura 27 – Protetor de Rede (Network Protector) [16]

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transformador à rede de baixa tensão. A programação do relé se dá por meios

mecânicos em relés eletromecânicos, e por meio da entrada de parâmetros

numéricos em relés eletrônicos [8].

A norma “IEEE Standard Requirements for Secondary Network Protectors”

(IEEE Std. C57.12.44, 2005) especifica os requisitos de funcionamento dos

protetores de rede. Tal norma trata basicamente da performance elétrica, mecânica

e de segurança, que os protetores como um todo devem satisfazer.

São instalados em terminais de baixa tensão dos transformadores e ao

barramento de baixa tensão dos consumidores. Durante a operação normal há um

fluxo direto de energia, do transformador para a rede de baixa tensão, e assim o

protetor se mantém fechado, neste estado o relé encontra-se em estado de

flutuação. Os contatos devem abrir automaticamente se o fluxo se inverter. Deverá

operar também em falhas no circuito primário e no transformador correspondente

[16].

Após a abertura, enquanto as condições de tensão no lado primário não

atingirem os parâmetros pré-estabelecidos, o relé continua atuando e a chave em

estado aberto. No momento em que os níveis de tensão e demais normalidades no

lado de entrada do protetor de rede permitam a alimentação da rede através de fluxo

direto de corrente para rede secundária o relé envia o comando de fechamento para

o protetor.

A figura 30 mostra um sistema reticulado com três alimentadores e nela é

possível observar o diagrama esquemático de uma falha em um alimentador de

média tensão. A contribuição dos outros dois alimentadores para a falha através da

transformação e do barramento de baixa tensão é indicado pelas setas. O desenho

evidencia a importância da pronta atuação dos protetores de rede em curtos

circuitos [8].

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No Brasil esses dispositivos começaram a ser importados desde 1930 e é

comum encontrar algumas unidades com muitos anos de uso e que, apesar de

envelhecidas, têm sua função disjuntora em estado operacional. Entretanto outros

estão comprometidos em suas funções de comando, e provavelmente apresentação

defeitos em uma situação que for altamente requisitado [8].

3.3.3 Chaves primárias de média tensão

As chaves de média tensão (ou chaves primárias) são chaves instaladas no

lado primário dos transformadores. Podem ser a óleo (mais antigas e ultrapassadas)

ou a gás SF6, possuindo tensões primárias desde 2,5 kV até 34,5 kV. Essas chaves

não operam sob carga e sua função é isolar o transformador da rede primária [16].

Figura 28 – Esquema de atuação de um Protetor de Rede [8]

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3.3.4 Cabos alimentadores de média e baixa tensão

A rede primária de um sistema reticulado de distribuição é composta de

cabos de média tensão com isolação integral, sendo esta dependente da classe de

tensão. Diferentes dos cabos utilizados em redes aéreas e compactas protegidas, os

cabos para redes subterrâneas possuem isolação plena, ou seja, os cabos possuem

uma blindagem metálica circundando a isolação do cabo, a qual é diretamente

ligada a terra, mantendo o potencial nulo no seu exterior [7].

Os cabos instalados nos bancos de dutos são dispostos em formação

tripolar por duto ou em quadrifólio. Os parâmetros elétricos de um cabo de energia

são determinados pelo arranjo físico de instalação, pelas características do material

condutor, frequência do sistema, da construção do condutor e sua isolação.

As redes secundárias são constituídas por cabos de isolação 0,6/1 kV,

podendo ser de cobre ou alumínio, de acordo com o projeto e as características o

sistema elétrico. Algumas redes são construídas com aplicação de cabos de

diferentes seções que são aplicados em função do fluxo de potência indicado em

cada trecho [7].

Em função dos critérios de proteção, a rede secundária também pode ser

tipificada pela existência de fusíveis de proteção ou pode ser considerada uma rede

de “queima livre”, onde em caso de falha da isolação, os condutores devem manter

o curto-circuito até a extinção dele próprio pela queima, ou fusão, de todo o material

condutor até a isolação do defeito.

Da mesma forma que a rede primária, a secundária também é instalada em

bancos de dutos com circuitos em quadrifólio. Os ramos da rede de baixa tensão e

os ramais para atendimento dos consumidores são conectados nas caixas de

passagem através de conectores isolados, que serão explicados a seguir.

3.3.5 Caixas de derivação

A distribuição geralmente é feita por via subterrânea, garantindo uma menor

taxa de falhas dos alimentadores e diminuição do número de operações dos

protetores de rede. As caixas de derivação são caixas instaladas ao longo da

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distribuição dos alimentadores com a finalidade de ramificação de ramais

secundários para alimentação das câmaras situadas ao longo de seu percurso, onde

ficam instalados os transformadores [16].

Nestas caixas ficam instalados os derivadores acopláveis de média tensão,

que serão apresentados a seguir. Geralmente são nessas caixas que ocorrem os

problemas de falha dos alimentadores devido a problemas de falta de isolação na

conexão, seja por excesso de umidade ou até mesmo alagamento das mesmas.

3.3.6 Acessórios para cabos

Os acessórios de cabos são utilizados para conectar cabos isolados em

redes subterrâneas, em podem ser classificados em terminais e emendas [22].

Os acessórios terminais são utilizados para conectar o final de um cabo a

outro elemento da rede, transformador, célula, chaves, linhas aéreas e outros. Essas

terminações podem ser classificadas em: terminais internos, terminais externos e

acessórios desconectáveis.

Os acessórios para emenda são utilizados para conectar cabos entre si, e

podem ser divididos em: emenda reta para conectar cabos idênticos, transição para

conectar diferentes tipos de cabos e emenda de derivação para unir cabos e gerar

uma derivação.

Figura 29 – Acessórios Terminais [22]

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68

Esses acessórios são partes integrantes de uma rede de distribuição e

devem executar o mesmo serviço do cabo em que eles estão conectados, ou seja:

Transmitir a energia elétrica através do condutor, de carga ou de curto-

circuito, sem superaquecimento, o que poderia reduzir o tempo de vida

da conexão;

Isolar o condutor contra contato direto para o terra (isolamento);

Fornecer controle de campo elétrico nos terminais ou dentro da

emenda;

Assegurar uma proteção mecânica do acessório enterrado;

Proteger contra ataques químicos ou eletroquímicos;

Proteção contra água;

Proteger os terminais, principalmente ao ar livre, contra o ambiente, ou

seja, chuvas, poluição, radiações UV, etc.

3.3.7 Barramentos múltiplos isolados

Os barramentos múltiplos isolados são utilizados na conexão dos condutores

da rede secundária para derivação dos ramais de atendimento dos consumidores.

São chamados de múltiplos pois uma entrada em baixa tensão é interligada a várias

saídas em baixa tensão, possibilitando o atendimento de diversos consumidores,

respeitando a capacidade de corrente de cada barramento.

A tensão de isolamento geralmente é de 0,6/1 kV, e também possuem

proteção contra os agentes nocivos do ambiente.

Figura 30 – Acessórios para Emendas [22]

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3.3.8 Cabines metálicas de média tensão tipo pedestal

As cabines de distribuição tipo pedestal são usadas em redes subterrâneas

de média tensão para derivar e conectar várias linhas de distribuição com cabos

blindados [13].

As ligações são do tipo desconectáveis, que oferecem uma rápida e prática

conexão elétrica dos ramais, além de proporcionar alta segurança para o sistema.

Figura 31 – Barramento Múltiplo Isolado [20]

Figura 32 – Cabine Metálica tipo pedesetal [13]

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70

3.3.9 Quadro de distribuição de baixa tensão tipo pedestal

Estes tipos de quadros são utilizados quando a rede de distribuição é

parcialmente enterrada e sua função é receber um alimentador secundário de um

transformador e derivar para vários alimentadores que atenderão os consumidores.

Geralmente esses quadros são constituídos de barramentos internos,

chaves seccionadoras, fusíveis e conectores. Suas características são: resistentes à

intempéries, isentos de corrosão, isolante elétrico, montagem modular e a prova de

chamas [14].

3.4 VANTAGENS

Como veremos quantitativamente no próximo capitulo a principal vantagem

dos sistemas de distribuição subterrânea é o aumento da confiabilidade e

continuidade de serviço. Entretanto a implantação dessas redes apresenta outros

benefícios associados tanto para a concessionária de energia quanto para a

população, com impactos visíveis ainda maiores quando estes enterramentos estão

ligados a reurbanização e revitalização da região.

Figura 33 – Quadro de Distribuição tipo pedestal [14]

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Ao contrário das redes aéreas, onde os cabos e demais equipamentos ficam

expostos e sujeitos a tempestades e fenômenos naturais, nas redes subterrâneas

eles ficam enterrados e mais protegidos. Isso resulta em menores custos de

operação, manutenção corretiva e melhores valores de confiabilidade.

Com equipamentos sob a terra, tem-se ainda a vantagem da diminuição de

perdas de energia por impedir ligações clandestinas, mais conhecidas como “gatos”.

Ao mesmo tempo evitam-se os furtos de condutores que ligam o poste de

distribuição as caixas de entrada das residências que trazem custos grandes aos

consumidores afetados.

Figura 34 – Ligações clandestinas [23]

Outra vantagem importante a ser comentada e de alta importância nos dias

de hoje é a questão ambiental. Com a inexistência de fios condutores atravessando

as ruas e avenidas das cidades, diminui-se a necessidade de podas ou até cortes de

árvores. De certa maneira isso também ajuda a diminuir os gastos com manutenção.

Uma importante vantagem aos consumidores é a valorização da região com

a implantação das redes subterrâneas. Sem condutores aéreos e menor número de

postes o impacto visual reduz consideravelmente, diminuindo o stress urbano e

elevando o padrão da região.

A segurança das redes subterrâneas é também superior do que nas aéreas.

Há uma maior integração com o ambiente, menor interferência das redes com

fachadas dos edifícios reduzindo o risco de acidentes (choques elétricos), com

trabalhadores de estejam trabalhando próximas as linhas ou estejam realizando

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manutenções nas mesmas. A gravidade de acidentes automobilísticos (colisões com

os postes de distribuição) é também reduzida [12].

Figura 35 – Homens trabalhando próximos à rede de distribuição [12]

Uma última vantagem que se pode citar é o aumento na mobilidade urbana.

Com uma infraestrutura enterrada há aumento de espaço e uma melhora

significativa da acessibilidade das Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais

(PPNEs) [12].

3.5 INCIDENTES E ACIDENTES

Em áreas de redes subterrâneas, a grande maioria dos incidentes

percebidos na superfície são eventos que não representam risco para a população,

embora possam preocupar transeuntes, principalmente depois de algum grande

acidente que tenha ocorrido [19].

É importante salientar que os cabos de baixa tensão do sistema reticulado

são projetados para se romperem, às vezes soltando fumaça, em situações de

curto-circuito. Os sintomas de problemas no sistema subterrâneo podem ser

divididos em presença de fumaça em câmaras e dutos subterrâneos, e presença de

fogo em câmaras subterrâneas.

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Como informado anteriormente, os cabos do sistema reticulado são

projetados para queima livre, podendo produzir fumaça. A fumaça também pode ser

emitida quando o calor gerado por um curto-circuito vaporiza a água presente nas

caixas de inspeção, a qual entra nas caixas depois de chuvas, pelo solo ou até

mesmo por tubulações comprometidas de saneamento. Como para a maioria das

pessoas é difícil distinguir esse tipo de incidente, a melhor maneira é contatar a

concessionária.

Já a presença de fogo em câmaras se deve pela formação de arcos elétricos

que podem ocorrer na malha de distribuição subterrânea, principalmente devido a

sobrecargas e curtos-circuitos. O furto de cabos também aumenta a taxa de

incidentes que envolvem fogo.

O deslocamento de tampas e bueiros das câmaras e caixas da rede

subterrânea pode ser separado em dois tipos: com e sem presença de combustível.

Quando não há combustível, um curto-circuito pode provocar o aquecimento

do ar ou da água, que vira vapor, resultando em pressão dentro do recinto maior do

que a atmosférica. Isso ocasiona um deslocamento da tampa, que por ser discreto,

não provoca transtornos para os transeuntes.

Porém quando há combustível nas instalações civis do sistema subterrâneo,

uma fagulha elétrica, que em situações normais não provocaria maiores problemas,

pode provocar explosões que deslocam abrupta e fortemente a tampa da câmara.

Esse combustível pode ser o gás canalizado, os gases provenientes da rede de

esgoto ou da decomposição de resíduos ou o óleo isolante dos transformadores. As

câmaras transformadoras são dotadas de sistema de ventilação e exaustão para

evitar o acúmulo de gases em seu interior. Entretanto, entupimento de bueiros, o

depósito e acúmulo de resíduos nas tampas, a urbanização desordenada das vias

públicas e a ocupação indevida de calçadas por estabelecimentos comerciais às

vezes impedem o funcionamento correto do sistema.

Recentemente, problemas semelhantes aos citados acima ocorreram na

rede subterrânea da LIGHT. O caso mais grave envolveu dois turistas que foram

atingidos pela tampa de uma câmara transformadora, ocasionando sérias

queimaduras em ambos. Essa frequência de ocorrências fez com que a LIGHT,

além de ser multada pela ANEEL, criasse um plano de modernização e

mapeamento da rede subterrânea, possibilitando obter a posição e o monitoramento

em tempo real.

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3.6 REDE COPEL

A Copel, criada em 1954, é a maior empresa do Estado e atende atualmente

aproximadamente 3.884.489 unidades consumidoras em 393 municípios e 1.115

localidades (distritos, vilas e povoados).

Sua rede de distribuição subterrânea foi implantada em 1973, inicialmente

com 560 edificações ligadas. Em 1978 foi executada uma extensão de rede onde

foram acrescentadas 123 novas edificações e, finalmente, entre janeiro de 1981 e

maio de 1982 o projeto foi concluído com a construção da 2ª etapa, quando foram

acrescidas mais 897 edificações. Hoje, existem cerca de 15 mil consumidores, com

diferentes características. A rede estende sob as ruas, avenidas e praças do centro,

totalizando aproximadamente 1,1km2, definido pela área compreendida entre as ruas

Visconde de Nácar, André de Barros, João Negrão, Alfredo Bufrem, Prof. Moreira

Garcês, Largo da Ordem e Augusto Stellfeld. No ano de 2003 foi anexada a rede

mais uma ampliação que compreende as ruas Barão do Serro Azul e Comendador

Araújo [11].

A rede é atendida a partir da Subestação Centro, localizada na rua Visconde

de Nácar esquina com a rua Augusto Stellfeld, onde estão instalados dois

transformadores de 41 MVA, que alimentam dois barramentos de 13,8 kV que,

então, atendem os circuitos da rede subterrânea. A alimentação da subestação é

proveniente de duas linhas de 69 kV das Subestações Pilarzinho e Campo

Comprido, que pertencem ao anel de transmissão da cidade.

A rede subterrânea de Curitiba é dividida em dois sistemas, denominados

Amarelo e Vermelho. Cada sistema é composto de cinco alimentadores radiais

simples em 13,8 kV, conectados ao barramento da subestação através de

disjuntores.

Os alimentadores estendem-se através de tubulações e caixas, sob as ruas,

até os transformadores situados em câmaras ou spots (transformadores ligados no

prédio do próprio consumidor). Estes, por sua vez, interligam-se através da rede de

baixa tensão, com valores de 216/125 V, configuração estrela aterrada.

Os sistemas de baixa tensão (Amarelo e Vermelho) são do tipo secundário

reticulado, formando cada um deles um grande barramento, ou seja, na saída dos

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transformadores no lado de baixa, são interligadas todas as fases “A” dos cinco

circuitos e assim consequentemente com as fases “B” e “C”. Finalmente, os ramais

que ligam as unidades consumidoras são conectados à rede de baixa tensão nas

caixas subterrâneas. Os dados mais detalhados do sistema da Copel estão

representados no anexo 1.

3.7 REDE LIGHT

Com mais de um século de atuação, a Light atualmente distribui energia

para 31 municípios do Rio de Janeiro, abrangendo 25% do território estadual,

cobrindo uma área de aproximadamente 12 km² e 3,9 milhões de clientes. Ela foi

uma das pioneiras na implantação de redes subterrâneas no Brasil, enterrando parte

de sua rede aérea já no início dos anos 40 [19].

Em razão desse pioneirismo a Light possui o maior sistema subterrâneo do

país, atendendo o Centro a Zona Sul e Zona Norte do Rio de Janeiro, regiões com

grandes densidades demográficas. Segundo relatório divulgado em 18 de abril de

2011 pela própria empresa, sua rede enterrada é fisicamente composta por

aproximadamente:

Tabela 3 – Dados da rede subterrânea da LIGHT [19]

Equipamentos Dados Físicos

Rede de média tensão (mil km) 3,2

Rede de baixa tensão (mil km) 2,4

Câmaras transformadoras 3.891

Caixas de inspeção 11.500

Transformadores 10.750

Chaves 4.007

Protetores de rede 2.560

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76

4 COMPARATIVO TÉCNICO

4.1 O VALOR DA CONFIABILIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA

Durante anos, o setor elétrico brasileiro teve controle verticalizado, com

gerência centralizada na geração, com a utilização do sistema de transmissão e

distribuição para a entrega ao consumidor final. Com as privatizações vieram as

reestruturações e o surgimento de um novo modelo, onde empresas estatais

passaram a controlar separadamente as atividade de geração, transmissão e

distribuição.

Iniciou-se a competição na geração e comercialização de energia entre as

concessionárias e a ANEEL passou a utilizar o termo “confiabilidade” nos contratos

de concessão de distribuição para regulamentar a qualidade dos serviços prestados

a toda a população.

Quando os indicadores de continuidade, individuais e coletivos citados no

segundo capítulo, foram criados pelo Departamento Nacional de Águas e Energia

Elétrica (DNAEE), precedente à ANEEL, em 17 de abril de 1978 através da Portaria

nº46, foram estabelecidos os primeiros limites. Entretanto no inicio não havia

punições financeiras para a concessionária em caso de extrapolação desses

índices.

Foi apenas em 2000 que uma nova resolução instituiu a compensação

financeira em caso de violação dos limites dos indicadores individuais (DIC, FIC e

DMIC). Assim, as distribuidoras que não respeitassem os valores definidos teriam a

obrigação de efetuar o pagamento de compensação aos seus consumidores na

forma de abatimento na fatura de energia.

Em relação aos indicadores coletivos (DEC e FEC), se as concessionárias

não atendessem tais limites, a penalidade era através de multa. Porém em 2009 a

Resolução Normativa nº 395 extinguiu essa penalidade da lei brasileira e também

alterou os limites dos indicadores individuais com o objetivo de incentivar as

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distribuidoras a promoverem melhorias no serviço prestado, já que a multa por

violação de DEC e FEC deixava de existir [4].

Figura 36 – Evolução das multas e compensações pagas por transgressões dos indicadores de continuidade de 2007 a 2010 [2]

A alteração significativa apontada no gráfico acima do montante pago pelas

distribuidoras de 2009 para 2010 se deve justamente a extinção da multa por

transgressão dos indicadores coletivos. De tal forma que os limites revisados de

continuidade individual assumiram integralmente a posição de sinalizador para

melhoria de qualidade.

Uma das vantagens da compensação individual é o fato de o valor pago pela

concessionária devido ao não atendimento dos limites de continuidade ser devido

diretamente ao consumidor que sofreu com a interrupção do serviço prestado.

A figura 39 mostra o montante pago pelas concessionárias por região no ano

de 2010. Observa-se que o montante ultrapassa o valor de 360 milhões de reais,

sendo as maiores contribuições da região Sudeste e Norte [2]. Ainda pelas

informações obtidas no portal da ANEEL pela internet, a Copel teve um total de

compensação paga no valor de pouco mais de 10 milhões de reais neste ano em

análise.

R$ -

R$ 50.000.000,00

R$ 100.000.000,00

R$ 150.000.000,00

R$ 200.000.000,00

R$ 250.000.000,00

R$ 300.000.000,00

R$ 350.000.000,00

R$ 400.000.000,00

2007 2008 2009 2010

Multas e Compensações Pagas

Multa

Compensação

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78

Figura 37 – Montante pago em compensações pelas concessionárias no ano de 2010 dividido por região [2]

Em 1996, ano da criação da ANEEL, o consumidor brasileiro ficava sem

energia elétrica em média 22 vezes por ano (FEC), que correspondiam em torno de

26 horas (DEC). Esses números caíram consideravam consideravelmente conforme

mostra a figura 40.

Figura 38 – Média brasileira do indicador FEC ao longo dos anos [1]

R$ 42.349.530

R$ 111.882.145

R$ 34.578.245 R$ 56.931.560

R$ 114.504.588

R$ 360.246.068

Sul Sudeste Centro-Oeste Nordeste Norte Total

Compensação Paga em 2010

0

5

10

15

20

25

Inte

rru

pçõ

es

Ano

FEC

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79

Esse desenvolvimento, em apenas 12 anos, representa o sucesso das

ações regulatórias para garantir a qualidade da energia distribuída. Os índices

contabilizados pela ANEEL têm evoluído e sugerem que a fiscalização será cada

vez mais acirrada e precisa [8].

4.2 ESTUDO DE CASO – LIGHT

Até o ano de 2009, os conjuntos consumidores eram definidos por um único

critério: deveriam ser formadas por áreas próximas. Dessa maneira as distribuidoras

possuíam grande liberdade na formação de suas divisões, o que geraram algumas

distorções. Com critérios não definidos, alguns conjuntos tornaram-se muitos

distintos, o que dificultava a comparação entre eles e a definição dos limites.

Assim estudos foram realizados e a Resolução Normativa nº 395 foi

publicada, onde ficaram estabelecidos alguns critérios com objetivo de

homogeneizar os conjuntos e tornar mais claro os comparativos de desempenho.

Essas regras estão presentes no PRODIST e não serão citados, pois fogem do

escopo deste trabalho [4].

Dessa maneira as concessionárias necessitaram modificar seus conjuntos a

fim de se adequar as novas normas, e enviar suas propostas à ANEEL até metade

do ano de 2010. Uma das empresas a realizar modificações foi a LIGHT atuante no

Sudeste do país.

Ela apresentou à ANEEL diversas alterações que foram submetidas a

consulta. Entre as propostas apresentadas foi a divisão de alguns conjuntos cujas

subestações possuem rede de distribuição aérea e subterrânea. Essa segregação

foi aceita devido as diferenças relevantes entre características de atendimento e

desempenho entre as duas configurações.

Diante deste cenário, parte do objetivo deste projeto poderá ser analisada.

Apesar de já existir um grande consenso em âmbito acadêmico, devido a existência

de muitos estudos e material bibliográfico, sobre a maior confiabilidade das redes

subterrâneas sobre as aéreas, este projeto irá apenas ratificar o assunto com dados

mais atuais.

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80

Após reformulação para atendimento da Resolução nº 395, a área de

distribuição da LIGHT ficou segregada em 102 conjuntos de unidades consumidoras

[4]. Porém para análise pretendida por este projeto serão comparados apenas

aqueles que são atendidos pela mesma subestação e possuem tanto rede de

distribuição aérea como subterrânea.

A tabela 4 abaixo lista esses conjuntos em estudo e respectivamente o

número de consumidores atendidos de acordo com dados obtidos da ANEEL em

setembro de 2011.

Tabela 4 – Conjuntos e seus respectivos consumidores - LIGHT [1]

Conjunto Consumidor Consumidores Atendidos

Baependi Aéreo 11.633

Baependi Subterrâneo 47.648

Barra Aéreo 29.493

Barra Subterrâneo 29.468

Botafogo Aéreo 4.717

Botafogo Subterrâneo 20.184

Camerino Aéreo 3.890

Camerino subterrâneo 8.290

Humaita Aéreo 8.214

Humaita Subterrâneo 11.863

Itapeba Aéreo 31.558

Itapeba Subterrâneo 10.461

Leme Aéreo 2.242

Leme Subterrâneo 21.541

Posto Seis Aéreo 2.233

Posto Seis Subterrâneo 51.130

Samaritano Aéreo 1.043

Samaritano Subterrâneo 27.085

São Conrado Aéreo 30.640

São Conrado Subterrâneo 4.384

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Pela tabela acima já é possível observar a grande diferença no número de

consumidores atendidos pelas duas redes, dos dez mais populosos conjuntos, sete

possuem distribuição de energia elétrica por uma rede subterrânea. Apenas os

conjuntos da Barra, Itapeba e São Conrado aéreos possuem um atendimento maior

em número de pessoas do que seus correspondentes da região com distribuição

subterrânea.

A principal razão disto tem fins econômicos, pois o elevado investimento

desse arranjo só se torna parcialmente rentável em regiões com elevadas

densidades de carga. A análise econômica será mais discutida no próximo capítulo.

Porém não é errôneo afirmar que outro fator para esta diferença na tabela é

justamente a garantia da continuidade e o baixo número de interrupções no

atendimento que esse arranjo pode proporcionar. Garantindo desta maneira melhor

qualidade de serviço da concessionária para uma maior parcela da população.

Essa maior qualidade pode ser quantitativamente comprovada pela tabela

presente no anexo 2. Ela apresenta dados coletados dos índices DEC e FEC para

estes conjuntos, obtidos junto à ANEEL do período de Janeiro até Setembro de

2011. A tabela não mostra os dados do mês de julho, pois eles não estavam

disponíveis no site da ANEEL nos meses da pesquisa deste trabalho.

Pelos dados da tabela observam-se os ótimos valores de confiabilidade dos

arranjos subterrâneos. Nos conjuntos do Leme e Posto Seis Subterrâneos, por

exemplo, os valores de DEC e FEC podem ser considerados praticamente nulos nos

oito meses analisados.

Seis conjuntos com características de redes subterrâneas (Baependi, Barra,

Camerino, Humaita, Leme e Posto Seis), tiverem indicadores de continuidade

menores quando comparados ao outro conjunto próximo, e de mesmo nome, de sua

região com rede de distribuição aérea.

Analisando apenas os valores de DEC na tabela, obtêm-se o maior valor

dentre todos os conjuntos com rede subterrânea, que foi de 1,87 horas, no mês de

março em Itapeba Subterrâneo. Já nos conjuntos aéreos o maior valor foi de 15,15

horas em janeiro na unidade consumidora Posto Seis Aéreo.

Olhando agora a frequência das interrupções o mais alto índice ocorrido em

uma rede aérea foi no conjunto consumidor Posto Seis Aéreo, também no mês de

janeiro. Já o maior FEC dentre as que possuem configurações subterrâneas foi no

São Conrado Subterrâneo com um número de 2,13 interrupções no mês.

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Pode-se ainda analisar que dos oito meses em estudo, em apenas dois

deles (janeiro e junho), o valor de DEC de ao menos um conjunto subterrâneo foi

maior que no aéreo. Quando se observa os indicadores de FEC, esse valor sobe

para quatro meses (janeiro, março, junho e setembro).

4.3 ESTUDO DE CASO – COPEL

Assim como a LIGHT, a rede atendida pela Copel também passou por uma

reformulação em seus conjuntos consumidores a partir do início desse ano (2011).

Ela possui um total de 125 conjuntos, porém ao contrário da LIGHT, apenas a

unidade denominada “Centro” é composta só por rede de distribuição subterrânea,

englobando o a rede enterrada do centro de Curitiba.

De um total de 125 conjuntos consumidores, englobando um total de quase

4 milhões de consumidores atendidos, serão analisados para nosso estudo apenas

6 deles. Eles são citados na tabela abaixo com seus respectivos número de

consumidores atendidos, de acordo com dados da ANEEL obtidos em dezembro de

2011:

Tabela 5 – Conjuntos e seus respectivos consumidores - COPEL [1]

Conjunto Consumidor Consumidores Atendidos

Boqueirão 78.911

Campo Largo 5.149

Capanema 28.816

Centro 15.770

Pinhais 20.702

Uberaba 60.703

A tabela presente no anexo 3 apresenta respectivamente para cada conjunto

o valor dos índices DEC e FEC nos meses de janeiro a junho do ano de 2011.

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Assim como no estudo de caso da LIGHT, percebe-se a grande diferença

nos valores entre os conjuntos com rede subterrânea e os que possuem outras

estruturas de rede. No período analisado, os consumidores do conjunto “Centro”

praticamente não passaram por interrupções no atendimento, os valores de DEC e

FEC no conjunto “Centro” é zero.

Este valor nulo deixa visível a grande confiabilidade proporcionada por uma

rede subterrânea de distribuição bem planejada. Entretanto no geral, não apenas no

“Centro”, os valores dos indicadores de continuidade da Copel são bem melhores

que os apresentados pela rede da LIGHT.

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5 COMPARATIVO FINANCEIRO

5.1 ESTUDO DE CASO – COPEL

A definição ou não da utilização de uma rede subterrânea é uma decisão

que gera uma grande quantidade de questionamentos. Visando proporcionar um

entendimento básico para prefeituras e empreendedores interessados em implantar

o sistema de distribuição subterrâneo, a Copel elaborou um guia com informações

sobre a utilização e aplicação das redes subterrâneas [12].

Um tópico interessante deste guia, e que será utilizado como referência para

o comparativo financeiro, é a apresentação dos custos referentes a várias tipologias

de sistemas subterrâneos, tanto totalmente enterrados quanto parcialmente

enterrados. As tabelas com essas informações estão apresentadas a seguir.

Tabela 6 – Custos das redes totalmente enterradas [12]

Redes totalmente enterradas

Tipo de rede Densidade de carga típica

Custo aprox./km Custo/kVA DEC e FEC qualitativo

Observações

Rede reticulada ou Network

Maior que 3000 kVA/km

ou 48 MVA/km2

R$ 12 milhões R$ 4.000,00 0 a 0,2

Rede com câmaras

subterrâneas para abrigo dos transformadores e rede de baixa

tensão interligada

Sistema Radial Maior que

1500 kVA/km ou 24 MVA/km

2

R$ 5 milhões R$ 3.400,00 0,5 a 1,0

Tipicamente construída com

cabos acomodados em dutos e

equipamentos acomodados

em câmaras e caixas

subterrâneas

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Tabela 7 – Custos das redes parcialmente enterradas [12]

Redes parcialmente enterradas

Tipo de rede Densidade de carga típica

Custo aprox./km Custo/kVA DEC e FEC qualitativo

Observações

Áreas urbanas com

equipamentos semienterrados ou tipo pedestal

Entre 400 e 1500 kVA/km ou

entre 6,4 e 24 MVA/km

2

R$ 3,2 milhões R$ 3.400,00 0,7 a 1,5

Necessidade de liberação de

espaços públicos e/ou privados para instalação de equipamentos

Áreas urbanas com

equipamentos em poste

Entre 200 e 1500 kVA/km ou

entre 6,4 e 24 MVA/km

2

R$ 2,5 milhões R$ 2.900,00 1,2 a 2,0

Necessidade de liberação de

espaços públicos para a instalação de postes com

equipamentos

A partir de outro estudo, realizado pela AES Eletropaulo [23], e que visava

buscar a viabilidade da implantação de redes de distribuição subterrâneas, pode-se

retirar informações essenciais para a conclusão do comparativo em questão, sendo

elas:

Para redes com densidade de carga até de 20 MVA/km2, o custo dos

equipamentos elétricos representa 50% dos investimentos iniciais,

enquanto a infraestrutura civil representa os outros 50%;

Para redes com densidade acima de 20 MVA/km2, o custo dos

equipamentos representa 60%, ficando a infraestrutura civil com os

40% restantes;

Quando a carga é dobrada, em uma mesma área, os custos dos

equipamentos elétricos sofrem um acréscimo de aproximadamente

40%;

Na infraestrutura civil, o dobro da carga acarreta em um aumento de

5% dos investimentos;

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Com base nestes dados e informações, serão feitas simulações de custos

de implantação para os quatro tipos de redes descritos nas tabelas acima,

considerando também vários valores de carga para uma rede típica de 1 km2.

5.1.1 Rede totalmente enterrada – Sistema Reticulado

Para este tipo de rede, considera-se que o custo/km é aproximadamente R$

12 milhões para uma carga de 48 MVA, sendo o custo elétrico (60%) R$ 7,2 milhões

e o custo civil (40%) R$ 4,8 milhões. Como sabe-se que o dobro de carga acarreta

em um acréscimo de 40% no custo elétrico e 5% no custo civil, pode-se chegar nos

valores apresentados na tabela a seguir:

Tabela 8 – Custos estimados para Rede Subterrânea Reticulada

Rede Subterrânea Reticulada

Carga (MVA)

Equipamentos Elétricos (R$/km)

Infraestrutura Civil

(R$/km)

Total (R$/km)

48 7,2 milhões 4,8 milhões 12 milhões

24 5 milhões 4,56 milhões 9,56 milhões

12 3,5 milhões 4,33 milhões 7,83 milhões

6 2,45 milhões 4,11 milhões 6,56 milhões

5.1.2 Rede totalmente enterrada – Sistema Radial

Neste tipo de rede, que tem como valor base R$ 5 milhões por quilômetro

linear considerando uma carga de 24 MVA, o custo elétrico (60%) é de R$ 3 milhões

e o custo civil (40%) é R$ 2 milhões. Partindo do mesmo princípio de acréscimo nos

custos quando a carga é dobrada, os resultados são os seguintes:

Tabela 9 – Custos estimados para Rede Subterrânea Radial

Rede Subterrânea Radial

Carga (MVA)

Equipamentos Elétricos (R$/km)

Infraestrutura Civil

(R$/km)

Total (R$/km)

48 4,2 milhões 2,1 milhões 6,3 milhões

24 3 milhões 2 milhões 5 milhões

12 2,1 milhões 1,9 milhões 4 milhões

6 1,47 milhões 1,81 milhões 3,28 milhões

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5.1.3 Rede parcialmente enterrada – Equipamentos tipo pedestal

Nesta tipologia, onde a densidade de carga é menor, os custos elétrico e

civil são divididos em partes iguais. Isso resulta em um custo elétrico de R$ 1,6

milhões e um custo civil também de R$ 1,6 milhões, sendo ambos os valores com

base em uma carga de 15 MVA. Através do mesmo princípio de acréscimo de preço

de acordo com o dobro da carga, os resultados são mostrados abaixo:

Tabela 10 – Custos estimados para Rede Subterrânea com Equipamentos em Pedestal

Rede Subterrânea Equipamentos em pedestal

Carga (MVA)

Equipamentos Elétricos (R$/km)

Infraestrutura Civil

(R$/km)

Total (R$/km)

45 3,14 milhões 1,76 milhões 4,9 milhões

30 2,24 milhões 1,68 milhões 3,92 milhões

15 1,6 milhões 1,6 milhões 3,2 milhões

7,5 1,12 milhões 1,52 milhões 2,64 milhões

5.1.4 Rede parcialmente enterrada – Equipamentos em poste

Neste outro tipo de rede utilizado para densidades de carga menores, os

custos elétrico e civil também representam partes iguais. A partir disso, chega-se em

valores de R$ 1,25 milhões para o custo elétrico e R$ 1,25 milhões para o custo civil,

referidos a uma carga de 13 MVA. Mais uma vez utilizando os acréscimos para cada

vez que a carga é dobrada, os valores obtidos são apresentados a seguir:

Tabela 11 – Custos Estimados para Rede Subterrânea com Equipamentos em Poste

Rede Subterrânea Equipamentos em poste

Carga (MVA)

Equipamentos Elétricos (R$/km)

Infraestrutura Civil

(R$/km)

Total (R$/km)

40 2,45 milhões 1,38 milhões 3,83 milhões

26 1,75 milhões 1,3 milhões 3,05 milhões

13 1,25 milhões 1,25 milhões 2,5 milhões

6 0,88 milhão 1,18 milhões 2,06 milhões

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5.1.5 Análise de Resultados

Considerando os dados obtidos nos tópicos anteriores, é possível chegar a

diversas considerações sobre a implantação dos diversos tipos de rede.

Os custos das redes subterrâneas tipo network são muito elevados em

relação aos outros sistemas, e isso se deve a complexidade de alguns de seus

equipamentos e também a ampla infraestrutura civil necessária, não importando a

densidade de carga. Sua utilização só será justificada em casos onde a densidade

seja elevada e os requisitos de confiabilidade precisem ser muito próximos a zero.

As redes totalmente enterradas com configuração radial podem ser uma

alternativa para as redes reticuladas, apresentando custos reduzidos em relação a

esta última, porém maiores que os sistemas parcialmente enterrados. São

justificáveis em áreas de densidade de carga alta, porém não elevada, e que

necessitem de bons níveis de qualidade. Seus equipamentos não exigem proteções

complexas, ao contrário do sistema network.

As redes parcialmente enterradas, tanto com equipamentos em poste quanto

equipamentos tipo pedestal, aparecem como sendo boas alternativas aos sistemas

totalmente enterrados. São opções para áreas de média e alta densidade de carga,

e necessitam de liberação de espaços públicos ou privados para a instalação dos

equipamentos no nível do solo. Estes equipamentos são mais simples que os

utilizados em sistemas enterrados, o que favorece a diminuição dos custos elétricos

e consequente queda nas receitas gastas em infraestrutura civil. Os indicadores de

confiabilidade apresentados por estas tipologias são aceitáveis, ficando entre os

sistemas totalmente enterrados e os sistemas aéreos.

Segundo a Copel, os custos dos sistemas aéreos convencionais giram em

torno de sete vezes menos que os sistemas reticulados. Esse valor possibilita uma

concorrência direta com os sistemas parcialmente enterrados, porém apresentando

índices de confiabilidade bem abaixo. Um ponto que pode ser comum entre as redes

aéreas e as parcialmente enterradas são a indisponibilidade de instalação para

áreas com elevada densidade de carga, já que o espaço demandado seria tal que

inviabilizaria a implantação, contrariando os fatores físicos e estéticos.

Uma análise dos custos gastos com manutenção em uma rede subterrânea

reticulada, dados estes disponibilizados pela Copel e disponíveis no anexo 4, pode

claramente mostrar que a maioria dos atendimentos de manutenção em uma rede

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subterrânea totalmente enterrada envolve atividades relacionadas aos elementos

instalados abaixo do nível do solo, ou seja, a grande quantidade de dinheiro gasto

com a manutenção da rede subterrânea poderia ser evitada caso fossem escolhidas

tipologias com equipamentos acima do nível do solo. Porém, é lógico que não se

pode somente levar em conta somente estes custos, mas sim a relação deles com

os arranjos e necessidades de demanda das áreas em estudo, pois em uma área

com elevada densidade de carga, as redes totalmente enterradas serão viáveis, mas

em uma área onde a densidade exija um estudo entre as tipologias enterradas e

parcialmente enterradas, essa ausência de custos de manutenção irá ponderar para

a escolha dos sistemas parcialmente enterrados.

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6 CONCLUSÃO

Após a crise do apagão ocorrida nos anos 2001 e 2002, aumentou-se no

Brasil a preocupação com a qualidade do fornecimento de energia aos

consumidores, ao mesmo tempo em que as interrupções passaram a expor as

grandes falhas no sistema elétrico brasileiro. Iniciou-se então a idéia de que

investimentos deveriam ser feitos nas concessionárias de energia nos anos

seguintes.

Entretanto falta ainda uma conscientização de que investimentos bem feitos

e obras bem planejadas garantem menor prejuízo no futuro e maior qualidade de

serviço ao longo dos anos, mesmo que para isso seja necessário um maior gasto

inicial.

Na distribuição de energia, uma forma de melhorar consideravelmente a

qualidade de serviço é a implantação de redes subterrâneas em substituição às

convencionais aéreas. Se forem analisados os índices DEC e FEC de conjuntos

consumidores atendidos por essas redes enterradas, é possível perceber o baixo

valor de seus indicadores, bem inferiores aos dos atendidos por redes aéreas. No

estudo de caso da Copel, esses valores chegaram a ser nulos no período analisado.

O ideal de confiabilidade é a implantação do sistema subterrâneo reticulado,

que apesar de complexo, é bastante seguro contra interrupções de serviço. Outras

topologias subterrâneas do tipo parcialmente enterradas, em pedestal ou poste, são

soluções mais baratas, mas que não possuem o mesmo nível de confiabilidade dos

sistemas reticulado. Ainda assim seus valores são melhores do que os das redes

aéreas, podendo ser solução em casos de alta densidade.

Um caso que pode ser tomado como exemplo é o da Avenida Visconde de

Guarapuava, na cidade de Curitiba. Nessa região, a densidade de carga não é

elevada o bastante a ponto da primeira alternativa ser uma rede reticulada. Talvez o

sistema mais viável seja o parcialmente enterrado com equipamentos do tipo

pedestal ou instalados em poste, já que a avenida apresenta um canteiro central que

poderia abrigar tais equipamentos, evitando um gasto desnecessário com a ampla

infraestrutura civil e custos de manutenção exigidos pela rede totalmente enterrada.

Em relação aos níveis de confiabilidade deste exemplo, qualquer solução

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subterrânea adotada apresentaria ótimos índices em relação aos atuais, já que

atualmente a área é atendida pelo sistema aéreo da Copel, e que conforme foi

mostrado no trabalho, apresenta índices de interrupções mais elevados que os

sistemas subterrâneos.

Alguns estudos passados chegaram a afirmar que o valor para se instalar

uma rede subterrânea de distribuição poderia ser de até dez vezes maior que o de

uma rede aérea. O presente trabalho mostra também que o avanço tecnológico

empregado tem reduzido consideravelmente esta diferença. O sistema reticulado é

atualmente cerca de sete vezes mais caro e existem ainda outras soluções que

diminuem mais ainda este valor, como as redes parcialmente enterradas, que

podem chegar a ser pouco mais de duas vezes mais cara que a aérea. Vale lembrar

também que em redes de distribuição para atendimento de áreas com alta e elevada

densidade de carga, os custos de implantação não podem ser o fator mais

importante, e sim uma combinação entre eles, custos de manutenção, níveis de

confiabilidade, espaço disponível, segurança, complexidade de equipamentos e

outros, que no final representarão um bom faturamento para a concessionária e uma

qualidade de serviço ótima para o consumidor.

A viabilidade técnica aliada à financeira pode ser observada através dos

valores das compensações pagas pelas concessionárias por ultrapassarem os

níveis de continuidade pré-estabelecidos. Em 2010, a Copel pagou cerca de R$ 10

milhões em compensações. Como a maior parte da rede é aérea, se em algumas

áreas ocorresse a substituição por redes subterrâneas, que apresentam índices de

interrupção baixíssimos, o valor da multa poderia diminuir a ponto de talvez viabilizar

a implantação dessas redes, com retorno de investimentos em um horizonte de

planejamento longo. Outro fator que pondera para essa implantação é o custo da

energia não distribuída, que pode ser alto em redes aéreas com interrupções

frequentes, algo que não ocorre nas redes subterrâneas.

Com os resultados alcançados, a proposta inicial do projeto foi atendida.

Entretanto as dificuldades foram encontradas ao se buscar material bibliográfico

para pesquisas e profissionais com experiência em implantação de redes

subterrâneas. Muito disso por causa da pouca utilização dessa configuração no

sistema brasileiro.

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REFERÊNCIAS

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93

[15]: FERNANDES, M.A. Estudo Comparativo Técnico/Financeiro entre Linhas de Transmissão Aéreas e Subterrâneas, em Grandes Centros Urbanos. 126 f. Trabalho de Graduação (Engenharia Elétrica), Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Curitiba, 2003. [16]: GARCIA, D.A.A. Metodologia de Diagnóstico Automático de Falhas de Curto-Circuito em Alimentadores Primários de Sistemas de Distribuição Reticulados tipo Spot. 205 f. Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. [17]: GOMES, H.J. Estudos de Viabilidades das Redes de Distribuição Secundárias Compactas no Sistema Elétrico da CELG D. 126 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica), Universidade de Goiás, Goiânia, 2010. [18]: KAGAN, N.; OLIVEIRA, C.C.B.; ROBBA, E.J. Introdução aos Sistemas de Distribuição de Energia Elétrica. 2 ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2010. [19]: LIGHT. Rede de Distribuição Subterrânea. Rio de Janeiro. 13 p. 2011. Relatório Técnico. [20]: NETO, J.A.D. Distribuição de Energia Elétrica. Universidade Federal do Paraná, Curso de Engenharia Elétrica, Curitiba, 2011. Anotações de Aula. [21]: ONS, Evolução da Carga de Energia. Disponível em: http://www.ons.org.br/historico/carga_propria_de_energia.aspx. Acesso em: 21/09/2011. [22]: PRYSMIAN CABLES ANS SYSTEMS. Acessórios Desconectáveis 600 A. São Paulo, 2011. Catálogo. [23]: ROBBA, E.J. Distribuição Subterrânea: é viável? Anais do II Encontro Técnico de Redes de Distribuição de Energia Elétrica, São Paulo, 2004. [24]: VELASCO, G.D.N. Arborização Viária x Sistemas de Distribuição de Energia Elétrica: Avaliação dos Custos, Estudo das Podas e Levantamento de Problemas Fitotécnicos. 117 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

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ANEXOS

Anexo 1 – Dados da rede subterrânea da COPEL [11] ............................................. 95

Anexo 2 – Indicadores DEC e FEC para conjuntos da LIGHT [1] ............................. 96

Anexo 3 – Indicadores DEC e FEC para conjuntos da COPEL [1] ............................ 97

Anexo 4 – Custos gastos com manutenção da rede subterrânea da COPEL no ano

de 2010 ..................................................................................................................... 98

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Anexo 1 – Dados da rede subterrânea da COPEL [11]

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Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Agosto Setembro

Conjunto Consumidor DEC FEC DEC FEC DEC FEC DEC FEC DEC FEC DEC FEC DEC FEC DEC FEC

Baependi aéreo 1,88 0,75 0,77 0,91 0,87 0,82 0,64 0,12 0,56 0,3 0,33 0,06 1,23 0,64 0,44 0,07

Baependi subterrâneo 0,39 0,2 0,07 0,08 0,17 0,13 0,11 0,05 0,01 0 0,05 0,01 0,17 0,08 0,03 0,02

Barra aéreo 4,86 0,96 3,7 0,84 4,06 1,82 1,77 0,71 1,42 0,66 2,79 1,52 0,9 0,41 0,58 0,25

Barra subterrâneo 0,2 0,14 0,07 0,06 0,21 0,12 0 0 0,58 0,41 0,24 0,22 0,27 0,13 0,1 0,16

Botafogo aéreo 0,09 0,01 1,06 1,06 1,99 1,37 0,23 0,07 0,84 0,51 1,96 0,41 0,9 0,41 1,54 0,48

Botafogo subterrâneo 0,08 0,05 0,88 0,97 1,04 1,01 0,02 0,01 0,06 0,03 0,02 0,02 0,27 0,13 0,06 0,03

Camerino aéreo 1,05 0,94 0,3 0,1 0,39 0,09 1 0,41 0,82 0,26 1,58 1,41 2,85 1,08 0,22 0,08

Camerino subterrâneo 0,17 0,26 0,02 0,01 0 0 0 0 0,04 0,03 0,06 0,01 0,12 0,19 0,01 0

Humaita aéreo 1,26 0,6 1,1 0,21 0,8 0,35 0,67 0,17 1,13 0,81 0,8 0,51 1,5 0,79 0,47 0,31

Humaita subterrâneo 0,87 0,55 0,27 0,12 0,01 0 0,08 0,03 0,06 0,06 0,03 0,07 0,04 0,03 0,01 0,03

Itapeba aéreo 0,57 0,37 5,93 2,55 1,87 1,06 1,37 0,61 0,42 0,35 1,19 0,96 1,54 0,73 1,89 0,47

Itapeba subterrâneo 0,72 0,32 1,59 1,21 1,87 1,4 0,26 0,2 0,32 0,27 0,8 0,58 0,13 0,04 0,07 0,54

Leme aéreo 0 0 0,05 0 0,13 0,11 0 0 0,01 0 2,45 0,55 0,21 0 0 0

Leme subterrâneo 0 0 0,01 0 0,01 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Posto seis aéreo 15,15 2,76 7,47 1,62 0,57 0,2 0,44 0,11 0,03 0 0,02 0 2,69 0,29 7,58 0,65

Posto seis subterrâneo 0,01 0 0,01 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,01 0 0

Samaritano aéreo 0 0 0,03 0 0,01 0 0,08 0,01 0,64 1 0,03 0,02 0,68 0,2 0,09 0,01

Samaritano subterrâneo 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1,41 0,73 0,02 0,03 0 0

São Conrado aéreo 6,07 0,88 5,08 0,68 3,94 1 1,33 0,5 3,27 1,28 3,22 1,37 2,37 0,77 2,07 0,98

São Conrado subterrâneo 0,43 0,25 0,09 0,1 0,11 0,08 0,05 0,01 0,5 0,4 1,61 2,13 0,47 0,56 0,91 0,58

Anexo 2 – Indicadores DEC e FEC para conjuntos da LIGHT [1]

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Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

Conjunto DEC FEC DEC FEC DEC FEC DEC FEC DEC FEC DEC FEC

Boqueirão 6,1 0,54 0,45 0,48 0,46 0,46 0,34 0,29 0,57 0,57 0,24 0,22

Campo Largo 3,24 1,44 3,75 1,65 1,44 0,56 1,11 0,75 0,57 0,31 2,79 1,3

Capanema 0,52 0,36 0,37 0,52 0,51 0,89 0,48 0,61 0,02 0,03 0,28 0,26

Centro 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Pinhais 2,62 2,13 0,43 0,36 1,04 0,77 1,59 1,18 0,92 0,83 1,57 1,44

Uberaba 1,18 1,85 1,07 0,97 0,48 0,54 0,63 0,61 0,7 0,59 0,74 0,59

Anexo 3 – Indicadores DEC e FEC para conjuntos da COPEL [1]

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Anexo 4 – Custos gastos com manutenção da rede subterrânea da COPEL no ano de 2010

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