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i ROGÉRIO DE SOUSA BICALHO ESTUDO DA ANATOMIA INTERNA DE PRÉ- MOLARES INFERIORES ATRAVÉS DE MICROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA 2015

Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

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Page 1: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

i

ROGÉRIO DE SOUSA BICALHO

ESTUDO DA ANATOMIA INTERNA DE PRÉ-

MOLARES INFERIORES ATRAVÉS DE

MICROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

2015

ANO

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ii

ROGÉRIO DE SOUSA BICALHO

ESTUDO DA ANATOMIA INTERNA DE PRÉ-MOLARES INFERIORES

ATRAVÉS DE MICROTOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

Dissertação apresentada à

Faculdade de Odontologia da

Universidade Estácio de Sá, como

parte dos requisitos para obtenção

do grau de Mestre em Odontologia

(Endodontia).

Orientador:

Prof. Dr. Flávio Ferreira Alves

Co-Orientador:

Prof. Dr. Bernardo Camargo

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

RIO DE JANEIRO

2015

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iii

“De tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estamos começando

A certeza de que é preciso continuar

A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar.

Façamos da interrupção um caminho novo

Da queda, um passo de dança

Do medo, uma escada

Do sonho, uma ponte

Da procura, um encontro!”

(Fernando Sabino)

Page 4: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha esposa, Ilma, e meu filho, Rogério, que sempre

estiveram me apoiando e incentivando nas etapas mais difíceis e que, com muita

paciência e amor, me ajudaram a tornar esse sonho realidade.

Aos queridos Professores do projeto, merecedores tanto dos

agradecimentos quanto dos nossos elogios, em especial, o professor Flávio

Alves, meu orientador, que teve muita paciência nesta caminhada. Sempre muito

gentil e companheiro. Obrigado por fazer desta, uma experiência incomparável.

Ao Professor José Freitas Siqueira Júnior, por representar um exemplo de

dedicação profissional, que em sua busca constante pela excelência, coloca a

Endodontia brasileira em evidência mundial. É uma honra ser seu aluno.

Em especial, meu agradecimento ao amigo e co-orientador Bernardo

Camargo, por ter sido um guia na confecção deste trabalho. Sua orientação,

paciência e esclarecimentos, foram imprescindíveis para sua realização.

À minha colega de trabalho, colega de curso de mestrado e amiga,

Professora Stéphane Vianna, que sempre esteve ao meu lado em todas as

dificuldades que encontramos na nossa jornada. Muito obrigado pelo

companheirismo.

Ao professor Jayme Ribeiro, que sempre com muito carinho me estimulou

a continuar nessa caminhada.

A Angélica, que com maestria, carinho e presteza nos assessora em todas

as incontáveis questões burocráticas e aos colegas de curso, que, pelo convívio

harmonioso, tornaram o curso ainda mais prazeroso.

Page 5: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

v

ÍNDICE

Página

Resumo

Abstract

Lista de figuras

Lista de tabelas

1. Introdução

2. Revisão da Literatura

3. Justificativa

4. Hipótese

5. Proposição

6. Materiais e Métodos

7. Resultados

8. Discussão

9. Conclusão

10. Referências Bibliográficas

vi

viii

x

xii

1

3

41

42

43

44

50

58

65

66

Page 6: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

vi

RESUMO

Objetivo: Observar a morfologia do sistema de canais de primeiros e segundos

pré-molares inferiores utilizando a microtomografia computadorizada sob a

óptica das classificações vigentes.

Métodos: 48 primeiro pré-molares inferiores e 56 segundo pré-molares

inferiores foram escaneadas pelo microtomógrafo Skyscan 1173, com pixel de

tamanho 14,8 µm e resolução espacial de 21,39 µm. As imagens tridimensionais

foram analisadas quanto ao número de canais, assim como a presença de

canais acessórios nos diferentes terços e o número de forames, considerando-

se a possibilidade em classificar as configurações de canais sob a proposição

de VERTUCCI (1984) e SERT & BAYIRLI (2004)

Resultados: Observou-se que, no grupo 1 (n=48), relativo aos primeiros pré-

molares inferiores, 79,14% e 83,35% das amostras puderam ser classificadas,

e 20,86% e 16,65% não se enquadraram nas classificações de VERTUCCI

(1984) e SERT & BAYIRLI (2004), respectivamente e em relação ao grupo 2

(n=56), dos segundos pré-molares inferiores, 91,02% e 94,65% das amostras

puderam ser classificadas, e 8,98% e 5,35% não se enquadraram nas

classificações de VERTUCCI (1984) ou SERT & BAYIRLI (2004),

respectivamente. Canais acessórios foram quantificados nos diferentes terços,

sendo o terço apical o que apresentou o maior número tanto no grupo 1 quanto

no 2. O grupo 1 apresentou 105 canais acessórios no terço apical distribuídos

em 43 amostras, enquanto o grupo 2 apresentou 78 canais acessórios

distribuídos em 35 amostras. No grupo 1, o terço médio apresentou 73 canais

Page 7: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

vii

acessórios em 32 espécimes, enquanto que o grupo 2 apresentou 21 canais

acessórios em 14 amostras. A morfologia apical do canal radicular de 14,58%

espécimes do grupo 1 foi classificada como Delta apical, enquanto que 21,42%

das amostras do grupo 2 apresentaram esta configuração. 35,42% das

amostras do grupo 1 apresentaram 2 forames apicais enquanto que 50% das

amostras do grupo 2 apresentaram apenas 1 forame apical.

Conclusão: As diferentes apresentações anatômicas do sistema de canais

radiculares de pré-molares inferiores visualizadas através da microtomografia

não puderam ser classificadas em sua totalidade através das proposições

vigentes.

Palavras-chave: microtomografia, primeiro pré-molar inferior, segundo pré-

molar inferior, anatomia interna

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viii

ABSTRACT

Aim: To observe the morphology of the first mandibular premolar and second

mandibular premolar root canal configurations using computed

microtomography from the perspective of current ratings.

Methods: 48 first mandibular premolars and 56 second mandibular premolars

were scanned by Skyscan 1173 micro- computed tomography, with 14.8 microns

pixel size and spatial resolution of 21.39 micrometers. Three-dimensional

images were analyzed for number of canals, as well as the presence of

accessory canals in different thirds and the number of foramina, considering the

possibility of classifying the canals according to VERTUCCI (1984) and SERT &

BAYIRLI (2004).

Results: It was observed that, in group 1 (n = 48) on the first mandibular

premolars, 79.14% and 83.35% of the samples were classified, and 20.86% and

16.65% did not classified according to VERTUCCI (1984) and SERT & BAYIRLI

(2004), respectively, and compared to group 2 (n = 56), the second mandibular

premolars, 91.02% and 94.65% of the samples could be classified, and 8.98%

and 5.35% did not classified in VERTUCCI (1984) or SERT & BAYIRLI (2004)

configurations, respectively. Accessory canals were quantified in different thirds,

with the apical third presented the highest number in both group 1 and 2 in Group

1 showed 105 accessory canals in the apical third distributed in 43 samples,

while group 2 had 78 canals distributed accessories in 35 samples. In group 1,

the middle third had 73 accessory canals in 32 specimens, while group 2 had 21

accessory canals in 14 samples. The apical root canal morphology of 14.58%

specimens of Group 1 was classified as apical Delta, while 21.42% of group 2

Page 9: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

ix

samples showed this configuration. 35.42% of group 1 samples showed apical

foramen 2 while 50% of group 2 samples showed only one apical foramen.

Conclusion: The different anatomical presentations of the root canal system of

mandibular premolars visualized by micro-computed tomography could not be

classified in its entirety through the existing propositions.

Keywords: micro-computed tomography, first mandibular premolar, second

mandibular premolar, internal anatomy

Page 10: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

x

LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1 - Classificação esquemática da proposta de WEINE

(1969).

Figura 2 - Classificação esquemática da proposta de VERTUCCI

(1984).

Figura 3 - Classificação esquemática da proposta de SERT &

BAYIRLI (2004).

Figura 4 - Ilustração do efeito do tamanho do foco na qualidade

da imagem.

Figura 5 - Imagem em tons de cinza após reconstrução,

visualizada no software DataViewer, referente ao dente n° 14.

Figura 6- Gráfico demonstrando a distribuição das amostras do

grupo 1 de acordo com a proposta de VERTUCCI (1984).

Figura 7- Gráfico demonstrando as amostras do grupo 1 que se

enquadraram nos tipos adicionais propostos por SERT & BAYIRLI

(2004), acrescidas das que se enquadraram na proposta de

VERTUCCI (1984).

Figura 8- Gráfico demonstrando a distribuição das amostras do

grupo 2 de acordo com a proposta de VERTUCCI (1984).

Figura 9- Gráfico demonstrando as amostras do grupo 2 que se

enquadraram nos tipos adicionais propostos por SERT & BAYIRLI

12

15

17

33

47

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52

53

53

Page 11: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

xi

(2004), acrescidas das que se enquadraram na proposta de

VERTUCCI (1984).

Figura 10 – Gráfico correlacionando o número de canais acessórios

nos diferentes terços com o número de amostras que os continham

- Grupo 1

Figura 11 – Gráfico correlacionando o número de canais acessórios

nos diferentes terços com o número de amostras que os continham

- Grupo 2.

Figura 12- Gráfico da distribuição percentual das amostras do grupo

1 de acordo com o número de forames que apresentam.

Figura 13– Gráfico da distribuição percentual das amostras do grupo

2 de acordo com o número de forames que apresentam.

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LISTA DE TABELAS

Página

Tabela 1 - Distribuição das amostras do grupo 1 (n = 48) de acordo

com a classificação proposta por VERTUCCI (1984).

Tabela 2- Distribuição das amostras do grupo 1 (n = 48) de acordo

com os tipos adicionais propostos por SERT & BAYIRLY (2004).

Tabela 3- Distribuição das amostras do grupo 2 (n = 56) de acordo

com a classificação proposta por VERTUCCI (1984).

Tabela 4- Distribuição das amostras do grupo 2 (n = 56) de acordo

com os tipos adicionais propostos por SERT & BAYIRLI (2004).

Tabela 5- Número e percentuais de forames apicais detectados nas

raízes do grupo 1.

Tabela 6-Número e percentuais de forames apicais detectados nas

raízes do grupo 2.

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51

51

51

56

56

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1

1.INTRODUÇÃO

Um dos principais objetivos do tratamento endodôntico não-cirúrgico bem

sucedido é a obturação dos sistemas de canais radiculares. Um fator para

alcançar este objetivo é o conhecimento de possíveis morfologias dos canais

radiculares. A morfologia do canal radicular pode apresentar variação como

resultado de muitos fatores, incluindo a origem étnica (SERT & BAYIRLI, 2004).

Normalmente, os dentes com raízes únicas apresentam canais

individuais como em caninos inferiores e dentes anteriores superiores. No

entanto, dois canais radiculares em dentes unirradiculares podem estar

presentes em incisivos inferiores e pré-molares (ORDINOLA-ZAPATA et al.,

2013). Uma grande variação pode ser encontrada na literatura com relação à

morfologia da raiz e do canal radicular dos diferentes grupos de dentes, e o

segundo pré-molar inferior humano não é exceção (CLEGHORN et al., 2007a).

CLEGHORN et al. (2007a) sugeriram que os pré-molares inferiores

podem apresentar a maior dificuldade anatômica de todos os dentes com vistas

a realização do tratamento endodôntico. Um estudo da Universidade de

Washington, em 1955, avaliou a taxa de insucesso de tratamentos endodônticos

não-cirúrgicos em todos os grupos dentários. O primeiro pré-molar inferior teve

a maior taxa de insucesso no estudo, 11,45% no caso. As possíveis razões para

esta conclusão são as inúmeras variações na morfologia do canal radicular

(CLEGHORN et al., 2007a).

A anatomia interna e externa do segundo pré-molar inferior é bem

documentada, mas há uma grande variação quanto à incidência de anomalias.

Page 14: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

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O número de raízes e o número de canais relatados em estudos anatômicos

variam muito na literatura (CLEGHORN et al., 2007b).

A complexidade da morfologia do canal radicular e raiz do primeiro pré-

molar inferior pode ter sido subestimada ao longo do tempo. Uma revisão

completa da literatura revela a complexa morfologia da raiz e do sistema de

canais radiculares desse elemento (CLEGHORN et al., 2007a).

Inúmeros fatores contribuem para as possíveis variações anatômicas

nos pré-molares inferiores. Esses fatores incluem a etnia, idade, sexo, o viés

não intencional na seleção das amostras clínicas de dentes (especialidade

prática endodôntica versus prática odontológica geral) e desenho dos estudos

(in vitro ou in vivo) (CLEGHORN et al., 2007a).

Em um estudo recente, utilizando a microtomografia computadorizada

como método de avaliação, a ocorrência relatada de um único canal variou de

54% a 88,5% e de múltiplos canais de 11,5% a 46%, dependendo da raça e

gênero. (LI et al., 2012).

O objetivo do presente estudo foi avaliar, através de microtomografia

computadorizada (µCT) a morfologia interna de pré-molares inferiores,

confrontando os resultados obtidos com os dados existentes na literatura.

Page 15: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.2. Técnicas para estudo da morfologia do sistema de canais radiculares

(SCR)

Pode-se verificar na literatura que até 1925, quando da divulgação dos

trabalhos de HESS (1925), as pesquisas e observações sobre a topografia da

cavidade pulpar eram baseadas em métodos precários e muitas vezes com

material inadequado (DE DEUS, 1992). Ao longo dos anos, várias técnicas

foram formuladas e empregadas no estudo anatômico do SCR, conforme

veremos a seguir. Alguns autores associaram mais de uma técnica com o intuito

de melhoras a avaliação.

2.2.1. Através de moldagem do SCR

Um dos primeiros métodos de estudo da anatomia dos canais

radiculares foi chamado de vulcanização, sendo a técnica utilizada por HESS

(1925), em que o autor duplicou a anatomia da cavidade pulpar através da

vulcanite. Os moldes feitos de vulcanite eram então estudados e classificados

segundo o objetivo proposto, porém, não poderiam ser considerados como

réplicas fiéis ao SCR devido à vulcanite não penetrar em todas as ramificações

do canal, além de ser levada a pequenas trincas e defeitos produzidos durante

o procedimento de secagem, processamento e vulcanização propriamente dita

(SKIDMORE & BJORNDAL, 1971).

Após a metade do século XX, novas técnicas alternativas foram

propostas para moldar o SCR através de diferentes materiais, como a que

Page 16: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

4

emprega a resina de poliéster (SKIDMORE & BJORNDAL, 1971) e a que

emprega o silicone de impressão (DAVIS et al., 1972). Assim como o método de

vulcanização, estas técnicas necessitam da manipulação prévia dos canais

radiculares através de limagem, e, após este procedimento, os canais são

preenchidos com o material de moldagem (SKIDMORE & BJORNDAL, 1971;

DAVIS et al., 1972).

DAVIS et al. (1972) após utilizarem o silicone de impressão, utilizaram

a técnica de dentes diafanizados e analisaram as irregularidades através de

microscópio. Este estudo pode demonstrar a presença de irregularidades nos

canais, canais laterais, detalhes da câmara pulpar, as redes entre canais, os

forames de formato irregular, assim como canais acessórios. Em diversos

espécimes foi relatado que os canais acessórios eram por demais finos para

serem observados sem magnificação.

Na técnica em que se utiliza a resina de poliéster corada com pigmentos

vermelhos para a moldagem do SCR, esta é inserida através do acesso

coronário por meio de um dispositivo a vácuo. Após este procedimento, o dente

é diafanizado e analisado quanto ao número de canais por dente e por raiz

(SKIDMORE & BJORNDAL, 1971).

A maior parte dos trabalhos produzidos intitulados como “estudo da

morfologia interna” utilizou-se de métodos que necessitam de alargamento

prévio do conduto para injeção de produtos na cavidade endodôntica.

Subsequentemente, a estrutura dentária era dissolvida pelo uso de ácidos, e o

formato resultante era considerado como o formato original do canal (GREEN,

1973). Desta forma, técnicas que necessitam de preparos do canal radicular ou

Page 17: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

5

debridamento prévio, como a moldagem com vulcanite, silicone de impressão e

resina de poliéster, modificam o SCR e desta forma, qualquer descrição,

avaliação ou conclusão relatadas por estes trabalhos não devem ser

consideradas precisas (GREEN, 1960). Esta mesma limitação é vista em

estudos com tinturas (SKIDMORE & BJORNDAL, 1971).

2.2.2. Técnica de Diafanização

Dois anos após o estudo de HESS (1925) utilizando a vulcanização,

OKUMURA (1927) propôs uma técnica chamada de diafanização. Neste

método, considerado como não destrutivo, utiliza-se ácido clorídrico, ácido

nítrico ou ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA) para a descalcificação do

espécime, tornando a estrutura dentinária translúcida. Antes da descalcificação,

impregna-se o canal radicular com tintas, via acesso coronário, permitindo a

avaliação do espécime por uma visão tridimensional, mantendo o formato, a

relação entre os canais radiculares e a morfologia externa da amostra. Nesta

técnica não é necessária à utilização de instrumentos no interior do canal para

a penetração de tintas, o que preserva a anatomia original do canal (VERTUCCI,

1984).

Ao longo dos anos, a Técnica de Diafanização foi utilizada por diversos

autores, sendo considerada por alguns como o padrão ouro no estudo da

anatomia interna (GULABIVALA et al., 2001; ALAVI et al., 2002). Esta técnica

tem sido associada a diferentes formas de impregnação do canal radicular a fim

de se realçar a anatomia interna, como o seu emprego com tinta Indiana

(OKUMURA, 1927; ÇALISKAN et al., 1995; IMURA et al., 1998; GULABIVALA

Page 18: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

6

et al., 2001), ou com a tinta Chinesa (YANG et al., 1988; DE DEUS, 1992). Por

vezes também foi empregada junto à microscopia óptica, em diferentes graus

de magnificação, para uma avaliação mais precisa (VERTUCCI, 1984;

ÇALISKAN et al., 1995; GUABILAVA et al., 2001; SMADI & KHRAISAT, 2007)

ou até mesmo à microscopia eletrônica de varredura (SEM) (GILLES &

READER, 1990).

As críticas ao Método de Diafanização se baseiam na sua sensibilidade

à penetração da tinta, pois esta pode penetrar em pequenas ranhuras e

rachaduras, assim como não penetrar em canais devido à presença de

barreiras, como calcificações e materiais orgânicos (SKIDMORE & BJORNDAL,

1971; VIGOUROUX & BOSAANS, 1978; GULABIVALA et al., 2001).

2.2.3. Técnica de Secção

Uma das técnicas mais utilizadas ao longo dos anos, devido

principalmente a sua facilidade de realização, é a Técnica de Secção, que pode

ser utilizada tanto com cortes seriais no sentido longitudinal (GREEN, 1955;

GREEN, 1973; WEINE, 1969), quanto transversal (KULILD & PETERS, 1990;

DEGERNESS & BOWLES, 2008; DEGERNESS & BOWLES, 2010) ou até

acompanhando o trajeto dos canais (WEINE, 1969).

Alguns autores utilizaram o Método de Secção com o intuito de se

verificar a correspondência entre os achados de outros métodos, como quando

da utilização de microscópio clínico (GÖRDUYSUS et al., 2001; BALDASSARI-

CRUZ et al., 2002).

Page 19: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

7

2.2.4. Técnica Histológica

Cortes histológicos também foram utilizados no estudo da anatomia

interna por SELTZER et al. (1966) para avaliação de calcificações distróficas,

forames acessórios e canais laterais, assim como para o estudo de reabsorções.

Esta técnica, porém, apresenta limitações similares às técnicas que se utilizam

de secção ou corte do espécime, tendo como desvantagem a influência da

angulação e a espessura do corte, além da destruição do espécime (GILLES &

READER, 1990).

2.2.5. Técnica da Microscopia Eletrônica de Varredura (SEM)

A SEM também foi utilizada por estudos que visaram a avaliação da

anatomia do SCR, fornecendo dados como o diâmetro do orifício de entrada dos

canais radiculares. Este método, porém, também é sensível ao corte e

apresenta limitações similares aos métodos de secção e histológico (GILLES &

READER, 1990).

2.2.6. Avaliações Clínicas

A maioria das publicações, entretanto, utilizou metodologias clínicas,

fornecendo grandes contribuições ao longo da história da Endodontia, sendo

muitas vezes associados a radiografias ou algum tipo de magnificação. Nesta

metodologia também se incluem os relatos de caso clínico (BOND et al., 1988)

além da utilização de cones absorventes para auxiliar na diferenciação entre um

ou dois canais. Ao inserir cones de papel em um dos canais, caso o nível de

Page 20: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

8

hipoclorito de sódio não se modificasse no outro canal, estes seriam

classificados como canais separados (STROPKO, 1999).

2.2.7. Técnica Radiográfica

A avaliação da anatomia interna também foi relatada com base em

imagens radiográficas, tanto in vitro (WEINE et al., 1999) quanto in vivo

(PEIKOFF et al., 1996). Seu uso foi combinado com fotografias e avaliações

através de softwares de imagem (IQBAL et al., 2007), além do uso de

radiografias digitais com e sem solução de contraste (PATTANSHETTI et al.,

2008).

Estes métodos são considerados não destrutivos e possibilitam a

avaliação no sentido vestíbulo-palatino dos dentes, assim como no sentido

mésio-distal, em estudos in vitro. Apresentam, porém, limitações como a

distorção e sobreposição de estruturas, que são inevitáveis mesmo com o uso

de plataformas específicas. Desta forma, informações significativas podem se

perder e comprometer os resultados, além das informações obtidas não serem

precisas, permitindo a avaliação somente em um plano e, portanto fornecendo

uma imagem não real, uma projeção bidimensional de um objeto tridimensional

(SKIDMORE & BJORNDAL, 1971; WEINE et al., 1999; PETERS et al., 2000;

PATTANSHETTI et al., 2008; PATEL et al., 2009).

PINEDA & KUTTLER (1972) consideravam este método o mais

vantajoso, pois seria o método utilizado durante o tratamento endodôntico, o que

permitiria demonstrar de maneira mais completa e detalhada possível a visão

do clínico em radiografias intraorais de rotina. Estes autores indicaram duas

Page 21: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

9

incidências para o estudo anatômico dos canais radiculares, uma mésio-distal e

uma vestíbulo-palatina, seccionando a raiz de interesse, no caso dos molares

superiores, a fim de se evitar a sobreposição.

A angulação da tomada radiográfica também pode ser considerada um

dos motivos para tamanha discrepância de percentual entre os estudos de

anatomia interna, devido à dificuldade de se manter a mesma angulação,

principalmente em trabalhos in vivo (STROPKO, 1999). STROPKO (1999)

também mencionou que alguns espécimes tiveram sua classificação modificada

após nova tomada radiográfica em diferente angulação.

Outra dificuldade encontrada neste método é diferenciar dois canais em

istmo de um canal em forma de fita, no qual duas limas podem ser inseridas em

suas extremidades, o que leva a uma classificação errônea como dois canais,

ao invés de um (GREEN, 1973). Além disto, as radiografias revelam uma perda

de alguns milímetros da estrutura do ápice na presença de lesões

perirradiculares (NEAVERTH et al., 1987).

Alguns autores associaram ao Método Radiográfico a inserção de

solução de contraste no canal radicular (THOMAS et al., 1993). A associação a

géis de contraste permitiu o estudo sobre o volume do SCR. Ao se juntar as

aquisições de uma série de tomadas radiográficas em diferentes ângulos pré-

determinados, as imagens foram levadas a um computador que permitiu o

cálculo do volume do canal (MAYO et al., 1986).

Page 22: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

10

2.2.8. Técnica da Tomografia Computadorizada

TACHIBANA & MATSUMOTO (1990) foram os primeiros pesquisadores

a propor a utilização da Tomografia Computadorizada para estudos em

Endodontia. A Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (CBCT ou

Tomografia Computadorizada Cone-Beam, ou ainda no original em Inglês: Cone

Beam Computed Tomography), segundo os autores pode oferecer uma imagem

mais fidedigna da anatomia interna das raízes dentais do que as radiografias

convencionais.

Segundo NEELAKANTAN et al. (2010), a técnica ideal para estudo da

anatomia interna de dentes extraídos deve ser precisa, simples, não destrutiva

e, o mais importante, possível de ser empregada in vivo. De todas as técnicas

até então desenvolvidas, a µCT é a que mais se aproxima destas

características, com a única limitação de ainda não permitir o emprego in vivo.

O acesso não-destrutivo do qual a tecnologia µCT permite, torna

possível o estudo da morfologia de maneira mais precisa, sem as deficiências

das técnicas anteriores. Outra vantagem deste método é a possibilidade da

anatomia interna do dente ser reconstruída e observada sob várias angulações

diferentes (VERMA & LOVE, 2011), além da obtenção de imagens com

resolução espacial da ordem de micrômetros.

A técnica de µCT permite a análise geométrica de variáveis como

volume, área de superfície, forma de seção transversal, conicidade e percentual

de superfície preparada, de forma não destrutiva (GAO et al., 2009; PAQUÉ et

al., 2009). Sua principal vantagem é o estudo de características morfológicas,

com resolução espacial micrométrica, de maneira rápida, não invasiva e não-

Page 23: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

11

destrutiva (RHODES et al., 2000; GAO et al., 2009). Com auxílio do

processamento computacional das imagens é possível obter inúmeras formas

de estudo e classificação, tais como valores numéricos da área do canal,

superfícies não tocadas, espessura de dentina removida, erros na

instrumentação como zips, rasgos e degraus (GAO et al., 2009). Pode-se avaliar

também o número e o tipo de canais, localização e número de forames apicais,

presença de deltas apicais, ramificações do canal principal como a presença de

canais acessórios, canais recorrentes, laterais e acessórios, prevalência de

istmos e sua localização, assim como medir o maior e o menor diâmetro 1 mm

aquém do limite apical (SOMMA et al., 2009; PAQUÉ et al., 2010; VERMA &

LOVE, 2011).

2.3. Classificação dos canais

Segundo GREEN (1955), no estudo da anatomia humana, a morfologia

do canal radicular deve ser a mais apaixonante, assim como a mais difícil de

classificar.

Ao longo dos anos várias classificações foram propostas no estudo da

anatomia interna de dentes humanos, advindas da necessidade de se

enquadrar as morfologias não usuais, oferecendo melhores condições para o

sucesso clínico do endodontista. A primeira proposta de classificação foi

proposta por WEINE et al. (1969), em estudo que utilizou a técnica de secção

transversal e analisou a anatomia interna da raiz MV de molares superiores,

dividindo-a em três tipos:

Tipo I - Um único canal com extensão da câmara pulpar ao ápice;

Page 24: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

12

Tipo II - Um largo CMV, e um pequeno CMP localizado à palatina, que se

fusionariam de 1 a 4 mm do ápice;

Tipo III - Dois canais distintos e dois forames distintos, com o CMV mais largo e

normalmente mais longo da câmara pulpar ao ápice radicular;

Tipo IV - Um único canal deixando a câmara e se dividindo em dois canais

separados (WEINE et al., 1999) - Figura 1.

Figura 1 - Classificação esquemática da proposta de Weine (1969).

De maneira bem simples, esta proposta teve o intuito de definir a

frequência encontrada para cada tipo, pois este conhecimento influenciaria na

clínica e, consequentemente, no sucesso da terapia endodôntica. Por exemplo,

em raízes tipo II da classificação de WEINE et al. (1969), um possível CMP não

identificado, e consequentemente não tratado, pode ser isolado dos tecidos

perirradiculares por confluir com o CMV e terminar em forame único. Porém, os

autores ressaltam que, em caso de apicectomia, este canal se tornaria exposto,

aumentando a chance de insucesso. O mesmo não pode ser dito para raízes

Tipo II Tipo III Tipo IV Tipo I

Page 25: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

13

com polpa viva do tipo III, nas quais, caso o tratamento seja feito somente no

CMV, não tratando o CMP, a sintomatologia pode persistir (WEINE et al., 1969).

PINEDA & KUTTLER (1972), em estudo radiográfico in vitro que utilizou

2.015 raízes de molares superiores, relataram seus achados de divisões e

fusões através de números que indicavam a quantidade de canais visualizados,

através do modelo a seguir:

“1” - para um canal em toda extensão;

“2-1” - em casos de dois orifícios de entrada e um único forame;

“1-2-1” - para um canal no nível da câmara pulpar que se dividia em dois e se

fusionava, para desembocar em um único forame;

“2” - para dois canais independentes;

“1-2” - começando em um canal que desemboca em dois forames distintos;

“2-1-2” - para dois canais na câmara pulpar que se fusionavam e voltavam a se

dividir, terminando em dois forames distintos.

Este mesmo estudo relatou a possível ocorrência de 3, 4 e 5 canais na

raiz mésio-vestibular do primeiro molar superior (PINEDA & KUTTLER, 1972).

GREEN (1973), em estudo que utilizou a técnica de secção vertical,

propôs uma classificação dividindo as variações anatômicas dos canais da raiz

MV em seis grupos de “A” a “F”, sendo que os quatro primeiros corresponderiam

à classificação proposta por WEINE (1969), porém não seguiram a mesma

ordem. Os dois últimos grupos são classificações de canais que apresentariam

septos e istmos. Esta foi a primeira classificação a considerar não somente o

número que canais em si, como também suas características, ao levar em

consideração a presença de septos e istmos.

Page 26: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

14

PINNEDA (1973) propôs uma classificação em seis grupos, modificando

a classificação de seu estudo anterior (PINEDA & KUTTLER, 1972), removendo

o grupo “1-2-1” e incluindo o grupo de número 6. Este novo grupo, na opinião

do autor, não poderia ser limpo de maneira conservadora (PINEDA, 1973). Esta

foi a única classificação ao longo da história a considerar a existência de canais

reticulares.

Uma nova classificação, um pouco mais complexa, se comparada à

proposta por WEINE et al. (1969), porém muito utilizada na literatura, foi

proposta por VERTUCCI (1984), descrevendo o SCR e identificando oito

configurações distintas possíveis. Esta classificação foi considerada mais

aplicável em estudos de laboratório (CLEGHORN et al., 2006) e propôs a divisão

da anatomia interna em oito tipos:

Tipo I - Um único canal com extensão da câmara pulpar ao ápice;

Tipo II - Dois canais separados deixam a câmara pulpar que se juntam próximo

ao ápice e formam um canal;

Tipo III - Um canal deixa a câmara pulpar, se divide em dois e antes do ápice se

junta novamente para um forame único;

Tipo IV - Dois canais separados e distintos em toda extensão da câmara pulpar

ao ápice;

Tipo V - Um canal deixa a câmara pulpar e se divide antes do ápice em dois

canais separados e distintos, terminando em forames apicais separados;

Tipo VI - Dois canais separados deixam a câmara pulpar, se juntam e se dividem

novamente aquém do ápice, terminando em dois forames distintos;

Page 27: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

15

Tipo VII - Um canal deixa a câmara pulpar, se divide e se juntam durante o

trajeto, e finalmente se dividem novamente aquém do ápice em dois forames

distintos;

Tipo VIII - Três canais separados e distintos em toda extensão, da câmara pulpar

ao ápice radicular. (VERTUCCI, 1984) - Figura 2.

Figura 2 - Classificação esquemática da proposta de Vertucci (1984).

Devido à classificação proposta por VERTUCCI (1984) somente abordar

SCRs que iniciam com três orifícios de entrada e não se juntam ao longo de

trajeto, ALAVI et al. (2002), através da observação de outras possibilidades

morfológicas, propôs a inclusão de mais cinco tipos, sendo nomeados de acordo

com a proposta de PINEDA & KUTTLER (1972), a qual utiliza números de canais

a partir do orifício de entrada, seguindo com suas subdivisões.

Page 28: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

16

O primeiro tipo relatado foi nomeado como “1-3-1”, cujo significado é:

possui um canal de entrada que se subdivide em três canais, voltando a se

agrupar para terminarem em um único forame. Para este novo tipo, foram

relatadas incidências de 1,9% e 1,5%, para primeiros e segundos molares

respectivamente. Outros quatro tipos foram nomeados como: “3-1”; “3-2”; “2-3”;

e “3-4”. Estes últimos somente foram visualizados em terceiros molares

superiores (ALAVI et al., 2002).

Utilizando esta mesma técnica de nomenclatura, outros sete tipos foram

descritos com relação à morfologia de molares inferiores, sendo eles: “3-1”; “2-

1-2-1”; “4-2”; “3-2”; “2-3”; “4”; e “5-4” (GULABIVALA et al., 2001).

Ao longo da história, diversos estudos propuseram classificações

“extras” à classificação de VERTUCCI (1984), sendo que todos utilizaram a

metodologia de nomeação, através de números, proposta por PINEDA &

KUTTLER (1972).

Em 1990, KULILD & PETERS, propuseram mais uma nova

classificação, baseada na classificação de WEINE et al. (1969), dividindo em

subtipos os tipos propostos por estes últimos.

Utilizando a classificação proposta por VERTUCCI (1984) como base,

SERT & BAYIRLI (2004) analisou 2800 dentes através da técnica de

diafanização e encontrou quatorze novos tipos de morfologia, como mostra a

figura 3, tendo ao total 23 tipos em sua classificação.

Page 29: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

17

Figura 3. Classificação esquemática da proposta de Sert & Bayirli (2004).

Page 30: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

18

2.4. Anatomia dos pré-molares inferiores

Foi relatado por INGLE (1976) que a anatomia interna dos pré-molares

inferiores é normalmente, de forma oval no terço cervical, arredondada a oval no

terço médio e redonda no terço apical. Estudos posteriores confirmaram esta

descrição, porém, afirmaram que canais adicionais e bifurcações são

dominantes no terço médio e apical, e estão relacionados com a presença de

depressões ou fendas radiculares (FAN et al., 2008; ORDINOLA-ZAPATA et al.,

2013). Desta forma, é extremamente difícil definir com exatidão a configuração

morfológica do canal nos terços médio e apical somente através da configuração

cervical (FAN et al., 2008).

Os pré-molares inferiores são descritos na literatura em dois grupos: um

grupo que apresenta a raiz em formato de "C", chamado de grupo dos C-shape,

e o grupo dos dentes que apresentam de forma mais aproximada a anatomia

descrita por INGLE (1976), sendo chamados de o grupo dos não-C-shape.

Estudo posterior indicou que esta fenda frequentemente está localizada no terço

médio da raiz, fazendo com que não haja diferença significativa na configuração

do canal no terço cervical entre estes dois grupos, porém, há diferença

significativa nos terços médio e apical (FAN et al., 2008).

Devido a esta desafiante morfologia, o canal em C-shape aumenta a

dificuldade na terapia e pode ser o responsável pela frequente ocorrência de

fracasso endodôntico deste dente (FAN et al., 2008).

Raízes contendo um canal em forma de C em segundos pré-molares

inferiores, muitas vezes apresentam formato de raiz fusionada cônica ou

quadrada, tendo um sulco longitudinal na superfície. Esta fenda radicular pode

Page 31: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

19

ser considerada como uma invaginação, sendo mais comumente encontrada na

superfície medial (78,5%), porém, também pode ser encontrada na superfície

distal (FAN et al., 2008).

O grupo do C-shape apresentam formato com variações morfológicas

relevantes e aumentam a dificuldade de tratamento do canal radicular

(ORDINOLA-ZAPATA et al., 2013). O reconhecimento da existência desta fenda,

portanto, é primordial para o clínico (FAN et al., 2008). Comparativamente, a

anatomia interna de pré-molares não C-shape, no que tange ao número de

canais e variedade, é considerada simples.

Estudo anterior que avaliou canais C-shape através da µCT, relataram

que alguns istmos foram encontrados próximos a fenda, o que, segundo os

autores, indica uma região de perigo durante a instrumentação (FAN et al.,

2008).

A prevalência de dentes C-shape em primeiros pré-molares inferiores

varia entre 10,7% e 24%, dependendo da população étnica analisada (FAN et

al., 2008)

O endodontista deve sempre procurar pela existência de um canal

adicional durante todo o tratamento endodôntico de pré-molares inferiores,

sendo muito importante ter a convicção que o canal lingual pode estar presente

em dentes que, radiograficamente, aparentem ter somente uma raiz.

(STROPKO, 1999).

Page 32: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

20

2.4.1. Localização do canal lingual

Clinicamente, em uma visão oclusal através do acesso coronário, os pré-

molares inferiores raramente apresentam assoalho ou câmara pulpar, mesmo

quando uma bifurcação é suspeitada em uma radiografia. O microscópio

operatório, em alguns casos, permite a visualização de ramificações do canal

principal, porém, o senso táctil com uma lima fina de aço e a destreza do

profissional podem ser o melhor parâmetro para a detecção de canais acessórios

e do canal lingual (CLEGHORN et al., 2007a).

Em estudos de laboratório, este canal está presente entre 18% e 32%

dos pré-molares inferiores (LI et al., 2012). Recentemente, utilizando a

tomografia cone-beam, foi relatado 11,8% de pré-molares inferiores com canais

múltiplos em uma população da China (ORDINOLA-ZAPATA et al., 2013).

Um estudo que avaliou a localização do orifício de entrada do canal

lingual, através de µCT, em canais classificados como tipo V de VERTUCCI

(1984), relatou que este orifício se encontra no terço médio da raiz.

Radiograficamente, 81% dos canais linguais foram totalmente encobertos pelo

canal vestibular, indicando que a visão ortorradial pode influenciar no diagnóstico

clínico, visto que o pré-molar tipo V de VERTUCCI (1984) pode erroneamente,

ser classificado como possuindo somente um canal (LI et al., 2012).

Para se diminuir a incidência de falso-negativo na interpretação deste

tipo de dente, CLEGHORN et al. (2007a) preconizam a tomada de pelo menos

duas radiografias, uma ortorradial e uma sendo segunda com 15° a 20° no eixo

horizontal, seja mesial ou distal.

Page 33: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

21

2.4.2. Primeiro pré-molar inferior

A maior parte dos primeiros pré-molares (97,9%) apresenta somente

uma raiz; duas raízes são encontradas em 1,8%; três em 0,2%; e quatro é,

extremamente raro (0,1%) segundo uma vasta revisão de literatura (CLEGHORN

et al., 2007a).

Em relação a anatomia interna, este dente apresenta um canal radicular

em 75,8% e dois canais ou mais em 24,4%. Um forame apical é considerado

como o mais comum, ocorrendo em 78,9% dos casos; sendo que praticamente

um quarto (24,2%) apresentam dois ou mais forames (CLEGHORN et al.,

2007b).

2.4.3. Segundo pré-molar inferior

O segundo pré-molar inferior é normalmente descrito como um dente

que apresenta tipicamente uma única raiz e um único canal. Sua forma

oval normalmente causa a formação de depressões e fendas em suas faces

mesial e distal. A incidência de duas ou mais raízes é de aproximadamente 0,4%,

e de dois ou mais canais é de 9,0% (CLEGHORN et al., 2007b).

Um único forame é encontrado em 90% dos casos, porém, mais de dois

forames são encontrados em 8,2% dos casos (CLEGHORN et al., 2007b).

A incidência de mais de uma raiz, canal e forame, é menos frequente em

segundos pré-molares inferiores em comparação com os primeiros pré-molares

inferiores, entretanto, há inúmeros relatos de variações e anomalias anatômicas

que podem ocorrer (CLEGHORN et al., 2007b).

Page 34: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

22

2.4.4. Classificação dos pré-molares inferiores baseada nas classificações

vigentes

Certamente, a configuração mais presente em pré-molares inferiores é

canal único, chamado de tipo I de VERTUCCI (1984). Após esta, o tipo V de

VERTUCCI (1984), em que o canal único deixa a câmara pulpar e, no terço

cervical ou médio, se divide em dois é considerada a mais frequente. (LI et al.,

2012; ORDINOLA- ZAPATA et al., 2013).

A presença de 3 canais radiculares tem sido raramente descrita em

comparação com o tipo V, entretanto, os clínicos devem ficar atentos a esta

variação anatômica. Nestes raros casos, as câmaras pulpares apresentam um

formato de triângulo, no qual a distância entre os orifícios mésio-vestibular e

lingual é maior (ORDINOLA-ZAPATA et al., 2013).

Quando o canal principal se divide em 3 no terço cervical ou apical, é

chamada de tipo IX, que também é raramente descrita, havendo falta de

descrição anatômica desta variação na literatura. ORDINOLA-ZAPATA et al.

(2013) descrevem que a combinação de canais de pequenos diâmetros torna um

verdadeiro desafio ao tratamento endodôntico.

Neste grupo anatômico, muitos pesquisadores têm relatado a presença

de canais C-shape. Entretanto, somente um estudo que utilizou a µCT relatou a

presença de canais do tipo IX em pré-molares inferiores. Neste estudo, em que

foram avaliados 115 dentes, encontrou-se um percentual de 7,8% com esta

configuração. Em outro estudo, em que somente pré-molares inferiores que

apresentavam fendas radiculares foram selecionados, este percentual subiu a

15,2% das amostras, mostrando uma possível relação entre a presença desta

Page 35: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

23

fenda e o aumento de múltiplos canais. Um total de 105 pré-molares foram

analisados, sendo que 16 apresentaram esta configuração (ORDINOLA-

ZAPATA et al., 2013).

Embora apenas relatadas em alguns estudos, as variações de incidência

de canais individuais contra dois ou mais canais podem ocorrer por causa da

raça ou sexo (CLEGHORN et al., 2007a). Embora tenham sido relatadas em

apenas alguns estudos, as variações na incidência de canal único contra 2 ou

mais canais podem ocorrer como resultado de etnia ou gênero. A pesquisa

adicional na área de gênero e as diferenças étnicas se justifica (CLEGHORN et

al., 2007b).

2.4.5. Forames apicais

Um estudo em primeiros pré-molares inferiores encontrou um único

forame em 4 de 5 casos, apresentando 20% dos dentes com dois ou mais

forames (CLEGHORN et al., 2007a).

Segundo CLEGHORN et al. (2007b), em revisão de literatura que avaliou

8 estudos em segundos pré-molares, um único forame foi encontrado em 91,8%,

e dois ou mais forames em 8,2% dos dentes.

2.5. Discrepância entre estudos e as definições utilizadas

Existe uma grande diferença entre os percentuais de canais

identificados, não somente entre estudos com diferentes técnicas de análise,

como também entre estudos que utilizaram a mesma técnica (POMERANZ &

Page 36: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

24

FISHELBERG, 1974; WELLER & HARTWELL, 1989; CLEGHORN et al., 2006).

Da mesma forma existe muita divergência nas diferentes classificações, com

relação a deltas apicais, istmos e conexões entre canais. Isto se deve a

diferentes definições utilizadas como parâmetro (NEAVERTH et al., 1987;

CLEGHORN et al., 2006).

Além destas diferenças ocasionadas pelas definições, observa-se uma

grande diferença entre estudos laboratoriais e clínicos, não somente devido a

melhor visibilidade e acesso irrestrito proporcionada pelas condições de

laboratório, como também pela metodologia utilizada em cada estudo (FOGEL

et al., 1994).

Esta discrepância pode ser atribuída ao fato de estas técnicas não

revelarem de maneira tão detalhada a anatomia quanto a µCT permite (VERMA

& LOVE, 2011).

2.5.1. Influência de diferenças étnicas

Segundo ALAVI et al. (2002), estas diferenças podem ser devido à

origem da amostra. Em trabalho desses autores, que avaliou o número de raízes

apresentadas por molares inferiores em caucasianos, africanos e eurasianos, foi

encontrada percentagem de 5% para dentes com três raízes, enquanto que em

Chineses, indianos e índios americanos esta percentagem foi de 40%

(GUABILAVA et al., 2001).

Outra variação marcante foi relatada em relação ao número de canais

C-shaped, na qual foi detectada uma incidência de 52% em Chineses enquanto

Page 37: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

25

que em caucasianos esta condição é considerada rara (GUABILAVA et al., 2001;

FAN et al., 2012).

Segundo TROPE et al. (1986), somente os primeiros pré-molares

inferiores, em estudos que compararam número de raízes e canais,

apresentaram diferença significativa entre diferentes populações étnicas

(CLEGHORN 2007b).

TROPE et al. (1986) encontraram diferenças étnicas significativas em

estudo com pré-molares inferiores entre populações de americanos negros e

caucasianos, tanto em número de raízes quanto em canais. A incidência de dois

ou mais canais em americanos negros foi de 32,8%, enquanto que no grupo de

caucasianos foi de 13,7%. Em relação a raízes, 16,2% dos negros americanos

apresentaram duas raízes, em comparação com 5,5% dos caucasianos (FAN,

2008).

Em relação à anatomia interna, também foram encontradas diferenças.

Estudo de SERT & BAYIRLI (2004) e CALISKAN et al. (1995) encontraram

incidência de (39.5% e 36% respectivamente) de dois ou mais canais em uma

população de turcos.

A prevalência de canais C-shape em primeiros pré-molares inferiores

varia entre diferentes grupos étnicos (FAN et al., 2008). Três estudos com os

métodos de secção relataram a incidência de canais C-shape em diferentes

populações: no primeiro, avaliaram uma população chinesa, encontrando 18%,

em estudo com 106 dentes em uma população dos Estados Unidos, encontrou

14%; enquanto que em população Indiana, encontraram 10,7% (FAN et al.,

2008).

Page 38: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

26

Recentemente um estudo com tomografia cone-beam em uma

população chinesa, mostrou um percentual de 11,8% de pré-molares com canais

múltiplos (ORDINOLA-ZAPATA et al., 2013).

2.5.2. A influência do sexo na morfologia dos canais radiculares

Em estudo com 45 pré-molares humanos os autores especularam que o

cromossomo X pode estar envolvido na regulação da morfologia radicular, o que

resultaria no desenvolvimento de pré-molares multi-radicularres (FAN et al.,

2008).

Diferenças relacionadas ao gênero também foram relatadas por SERT

& BAYIRLI (2004), que encontraram 44% dos dentes de mulheres em

comparação com 35% com dentes de homens com dois ou mais canais, em uma

população turca.

Outro estudo nesta mesma população, revelou um resultado oposto

anteriormente descrito, a incidência maior de canais nas raízes de homens,

assim como SERT & BAYIRLI (2004) que relatam maior incidência de mais de

um canal em homens.

2.5.3. Diferença nos percentuais e definições dos forames apicais

Verificou-se que 27% dos espécimes analisados apresentaram diâmetro

menor a 2 mm do que a 1 mm do ápice, demonstrando, segundo os autores,

uma constrição apical anatômica múltipla (PAQUÉ et al., 2010).

WEINE (1969) descreveu que 86% das raízes terminavam em um único

forame, porém, estudos mais recentes com emprego de µCT mostraram que

Page 39: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

27

esta incidência se situa entre 30 e 37% (SOMMA et al., 2009; VERMA & LOVE,

2011).

Outra característica importante é o relato que, frequentemente, o forame

apical desemboca aquém do ápice (GREEN, 1955), e quando há presença de

dois canais, estes nem sempre tem suas terminações ao mesmo nível no terço

apical (PINEDA, 1973). DEGERNEES & BOWLES (2010) observaram que em

71,8% dos espécimes não havia canais a 0,5mm do ápice anatômico, sugerindo

que o canal pode sair antes do ápice anatômico.

2.5.3.1. Definição de deltas apicais, canais acessórios e laterais

Deltas apicais são definidos como um complexo de ramificações da

polpa, localizadas próxima ao ápice anatômico, em que o canal principal não é

discernível (VERTUCCI, 2005). Outros autores conceituaram de forma mais

consensual, definindo-o como um canal que apresenta mais do que três forames

apicais (SOMMA et al., 2009).

Canais acessórios são definidos como ramificações do canal principal

que divergem em ângulos retos ou oblíquos, para desembocar na superfície

lateral da raiz (ALAVI et al., 2002).

2.6. Tomografia Computadorizada (CT)

A teoria para a reconstrução da imagem tomográfica tem seu início

quando RADON (1971) estabeleceu que objetos tridimensionais pudessem ser

reconstruídos por uma série de imagens bidimensionais em diferentes

Page 40: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

28

angulações (BUSH, 1938; GRAY, 1942; BROOKS et al., RADON et al., 1971;

SUKOVIC, 2003; COTTI & CAMPISI, 2004).

Criada no final dos anos 60 e patenteada por Hounsfield & Comark, a

Tomografia Auxiliada por Computador, ou simplesmente Tomografia

Computadorizada (Computer Assisted Tomography ou Computed Tomography

- CT) gerou um imediato e profundo impacto no diagnóstico radiográfico na

medicina (RADON et al., 1971; GRODZINS et al., 1983; ELLIOTT et al., 1984;

FLANNERY et al., 1987; MORTON et al., 1990), por permitir a reconstrução bi

e tridimensional da estrutura interna de sistemas e órgãos do corpo humano

(FELDKAMP et al., 1984; HERMAN et al., 1995; KUDO et al., 1998). Esta

invenção propiciou o prêmio Nobel de medicina de 1979 para o inglês Godfrey

Newbold Hounsfield e o sul-africano Allan MacLeod Cormack (PATEL et al.,

2009).

Esta grande repercussão da invenção da CT foi devido às suas

propriedades de avaliação de tecidos, até então difícil de serem demonstradas

possibilitando três grandes vantagens sobre as radiografias convencionais: a

não sobreposição de imagens, a habilidade de se distinguir objetos de

densidade semelhantes e o fornecimento de dados digitais, que permitem

grande flexibilidade no processamento, análise e arquivamento de informações

(COHENCA et al., 2007). A característica mais relevante, porém, é o fato de se

ser livre de distorção (PETERS et al., 2000).

O prefixo grego tomo significa “corte” ou “seção”, desta forma tomografia

é a técnica para se cortar, de modo virtual, o espécime, utilizando a energia dos

raios X para se revelar os detalhes interiores. Cada corte da imagem em CT é

Page 41: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

29

chamada de slice (fatia) e corresponde a certa espessura do objeto escaneado.

A imagem formada é representada por uma escala de cinza que irá permitir a

informação do objeto corresponde à atenuação dos raios X e reflete a proporção

de raios dispersos ou absorvidos à medida que passam por cada voxel1. Esta

atenuação depende primariamente da energia dos raios X, assim como da

densidade e do número atômico do objeto escaneado (KETCHAM & CARLSON,

2001).

Da mesma forma que uma imagem bidimensional é dividida em pixels,

a imagem tomográfica (tridimensional) é dividida em voxels. Essencialmente,

um voxel na CBCT é um pixel tridimensional isotrópico, ou seja, uma figura de

lados geométricos iguais, permitindo assim que um objeto seja medido de

maneira precisa em diferentes direções (COTTON et al., 2007); além de a

possibilidade de todo o volume poder ser reorientado em cortes, sem distorções,

de acordo com o que se deseja avaliar, ou seja, o parâmetro de estudo

(SCARFE et al., 2006).

A CBCT foi elaborada a partir de algoritmos (sequência de

procedimentos computacionais) que possibilitaram a aquisição da imagem

tomográfica por meio de dados coletados com um feixe de radiação em forma

de cone, de largura suficiente para abranger toda a região de interesse, e com

auxílio de um detector plano. Sendo, desta forma, diferente do princípio clássico

de aquisição da tomografia espiral que se baseia em um feixe de aquisição em

forma de leque (CAVALCANTI, 2010).

1 Voxel: elemento de volume que representa um valor em uma grade regular no espaço

tridimensional. É análogo ao pixel, que representa os dados de imagem bidimensional (plana).

Page 42: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

30

TACHIBANA & MATSUMOTO (1990) estudaram a aplicação da CT em

Endodontia concluindo que a reconstrução tridimensional era possível. A

resolução utilizada na época era de 0,6 mm (ou 600 µm) e não possibilitava uma

análise detalhada das estruturas da anatomia dentária interna.

GAMBILL et al. (1996) avaliaram dois sistemas de instrumentação

endodôntica utilizando a tecnologia de CT, utilizando aparelho que oferecia um

tamanho de pixel de 1,5 mm. Empregando como parâmetros de comparação o

transporte do canal, a remoção de dentina, o tempo de instrumentação e a

qualidade do preparo, verificando qual sistema produziu preparos mais

centralizados e circulares, este estudo concluiu que o método é passível de

repetição e não invasivo, sendo indicado ao estudo de certos aspectos da

instrumentação endodôntica.

2.6.1. Microtomografia computadorizada (µCT)

A microtomografia computadorizada é uma técnica de ensaio não-

destrutivo que combina o uso dos raios-X obtidos por tubos de alta potência com

computadores adaptados para processar grande volume de informação e

produzir imagens com alto grau de resolução. A µCT tem sido especialmente

desenvolvida para a inspeção de pequenas estruturas, tendo o mesmo princípio

da CT. Entretanto algumas adaptações foram realizadas para permitir uma

melhora na resolução espacial (LOPES et al., 1997; OLIVEIRA, 2012).

Dentro do aparelho de µCT existem dois componentes principais fixos,

em uma relação simples e direta, posicionados em extremos opostos: o tubo de

raios-X e um detector, permitindo a colocação de filtros em frente à fonte de

Page 43: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

31

raios-X e/ou detector. A haste para alocação do corpo de prova se encontra

entre o tubo e o detector, e pode realizar tanto um giro de 360˚ quanto de 180˚.

Com esta configuração as projeções podem ser feitas com menos vibrações,

além de obter um número maior de projeções, permitindo uma melhora na

resolução (OLIVEIRA, 2012).

A cada passo de rotação (determinado grau de giro) o aparelho adquire

uma ou mais imagens-base, tendo ao final do processo, diversas imagens sob

diferentes ângulos e perspectivas. Este grau de giro é determinado ao se inserir

os parâmetros de aquisição. Ao término do giro, essa sequência de imagens-

base (raw data) é reconstruída em um computador acoplado ao microtomógrafo

(COHENCA et al., 2007; PATEL et al., 2009). Nesta tecnologia, todos os

algoritmos são computados e somente após toda aquisição são reformatados

em imagens (VANNIER, 2003).

Existem duas configurações geométricas possíveis nos aparelhos de

µCT. A mais comum é a mesma encontrada nos equipamentos médicos de TC

em que o paciente permanece “imóvel” enquanto o conjunto fonte de raios X e

detector se movem sincronizadamente durante o escaneamento. A grande parte

dos equipamentos para investigação in vitro existentes em laboratório utiliza

uma configuração diferente em que o objeto a ser inspecionado gira em torno

de seu eixo z e o conjunto fonte-detector permanece imóvel. Algumas vantagens

podem ser obtidas nesse tipo de configuração, uma vez que não há limitação

de dose de radiação durante o escaneamento, já que se trata de inspeção in

vitro, e há apenas o movimento do espécime. Dessa forma, podem ser utilizadas

fontes de raios X mais potentes (com maiores energias e consequentemente

Page 44: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

32

com maior poder de penetração) e menores tamanhos focais dos tubos de raios

X, o que fornece uma melhor resolução espacial (KETCHAM & CARLSON,

2001; LIMA, 2002; LIMA, 2006).

A redução no diâmetro do foco no tubo de raios-X, é um atributo muito

importante do ensaio de μCT, pois quanto menor for esse parâmetro melhor

será a focalização das estruturas inspecionadas, pois está relacionada com a

qualidade da imagem adquirida. O tamanho do foco pode variar desde 4 a 1 mm

(foco normal) até 100 a 1 μm (micro foco), passando pelas dimensões de 1 a

0,1 mm (minifoco) (LIMA, 2002). Os tubos de raios X microfoco, por possuírem

um tamanho focal pequeno, apresentam mais outras duas vantagens que são:

uma alta produção de radiação e uma boa estabilidade na energia máxima

(NABEL et al., 1986).

A resolução espacial fornece a capacidade do sistema tomográfico em

conseguir o melhor reconhecimento possível das características do corpo de

prova. Este parâmetro operacional é afetado pela precisão do sistema mecânico

de µCT e pelo algoritmo de reconstrução (LIMA, 2002). Ao considerar a

resolução espacial de um sistema, devemos considerar um aspecto conhecido

como nitidez. Nitidez representa a capacidade que um sistema tem em definir a

borda do objeto, e é avaliada de acordo com o borramento gerado na imagem

em um sistema (KETCHAM & CARLSON, 2001; ROMANS, 2013). O

borramento pode ser causado por fatores extrínsecos, tais como o movimento

do paciente, o que não ocorre na microtomografia, pois o objeto de estudo é

estático; ou pode resultar de fatores intrínsecos à técnica radiográfica, uma vez

que a interação da radiação com a matéria ocorre de forma probabilística.

Page 45: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

33

Entretanto, é importante se ter em mente que como a resolução é determinada

primariamente pelo sistema de detecção, é possível obter uma melhor resolução

espacial para as amostras com uma menor dimensão da seção transversal

através do aumento da distância entre a amostra e a fonte de raios X.

A Figura 4 apresenta um esquema didático da geometria envolvida no

processo de borramento, também conhecido como penumbra geométrica, de

forma que esse efeito é um problema normalmente encontrado nos sistemas de

raios X convencionais, cujo foco é da ordem dos milímetros. Nessa figura, os

raios-X são atenuados por uma amostra que está representada no detector a

partir de “d” até “e”. À direita de “f” não há atenuação pela amostra, mas a

intensidade dos raios-X acaba sendo quantificada. Entre “e” e “f” somente parte

dos raios-X serão atenuados. Isto é chamado de intervalo de penumbra e esta

transição do máximo de atenuação para nenhuma atenuação, cria um

borramento na imagem. Em resumo, reduzindo o tamanho do foco reduz-se

também a penumbra, assim como o borramento.

Figura 4 - Ilustração do efeito do tamanho do foco na qualidade da imagem (OLIVEIRA, 2012).

Page 46: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

34

Desta forma, haverá um ganho na qualidade da imagem, pois as

características que determinam uma melhora na imagem são: nitidez (clareza

da imagem) e contraste (reconhecimento entre as diversas estruturas da

imagem ou os diferentes tons de cinza da imagem). A nitidez da imagem está

ligada a desfocagem geométrica (penumbra) e à ampliação da imagem; já o

contraste está relacionado com o coeficiente de atenuação. Pode-se entender

então que quanto menor o diâmetro do tubo de raios-X, menor será a

desfocagem geométrica e, portanto, melhor será a qualidade da imagem. A

vantagem de tamanha alta resolução é uma melhor identificação das pequenas

estruturas, resultando em uma melhor exposição de pequenos istmos,

comunicações intercanais, canais acessórios e múltiplos forames apicais

(VERMA & LOVE, 2011).

2.6.1.1. Resolução espacial e a influência do tamanho do pixel

Toda imagem digital é mostrada em forma de uma matriz (N x M), sendo

o elemento de imagem formado pela interseção das linhas e colunas

denominado pixel (forma derivada da expressão “picture element”). Quanto

maior o número de linhas e colunas melhor será a resolução da imagem

(KETCHAM & CARLSON, 2001).

Para criar uma imagem, o sistema deve segmentar os dados brutos (raw

data) em seções pequenas, sendo a matriz uma grade utilizada para quebrar os

dados em linhas e colunas de quadrados pequenos. Cada quadrado é um

elemento de imagem, um pixel. O tamanho da matriz refere-se à quantidade de

Page 47: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

35

pixels que estão presentes na rede. A matriz 1024x1024 terá 1024 pixels ao

longo das linhas e 1024 pixels para as colunas. Portanto, o tamanho da matriz

é um dos fatores que controlam o tamanho do pixel (ROMANS, 2013).

Cada pixel tem uma largura X e um comprimento Y. O pixel é a menor

unidade bidimensional de uma imagem digital. Tendo em vista que cada pixel

representa um pedaço da imagem, quanto menor o pixel (e, portanto mais pixels

de mesmo tamanho), melhor será a definição da imagem. Seu valor representa

uma quantidade proporcional à atenuação dos raios X após interagirem com o

objeto e serem registrados pelo detector. Para cada valor do pixel designa-se

um valor de cinza que é proporcional a densidade do material inspecionado,

ponto a ponto, formando-se assim imagens com diferentes tons de cinza, que

por sua vez, correspondem as diferentes densidades dos material. Se um objeto

ou parte deste, um poro ou um canalículo do SCR, for menor do que um pixel,

sua densidade será calculada como a média das informações do objeto

restantes no espaço do pixel. Este fenômeno é referido como “Partial Volume

Effect” (efeito do volume parcial) ou “Volume Averaging” (nivelamento de

volume), resultando em uma imagem menos precisa (ROMANS, 2013).

Quanto maior o pixel, mais provável que diferentes objetos estejam

contidos dentro de um mesmo pixel, sendo o valor deste, uma média de seu

volume. Uma vez que nenhum objeto menor que um pixel pode ser apresentado

com precisão devido à média de volume, o tamanho do pixel afeta a resolução

espacial. Desta forma, quando os pixels são menores, é menos provável que

eles contenham diferentes objetos e densidades, portanto, diminuem a

probabilidade do Partial Volume Effect, melhorando a resolução espacial. Uma

Page 48: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

36

vez que nenhum objeto menor do que um pixel pode ser acuradamente exibido

devido à média de volume (e o tamanho da matriz influencia o tamanho do pixel),

segue-se que o tamanho da matriz afeta a resolução espacial (ROMANS, 2013).

O tamanho do pixel, nos estudos que utilizaram μCT na avaliação do

SCR, sofreu mudanças desde os primeiros estudos. Os primeiros aparelhos de

μCT permitiam um tamanho de pixel de 127 µm (NIELSEN et al., 1995). Ao longo

dos anos, com a melhora tecnológica, o tamanho do pixel, assim como o tempo

de aquisição/reconstrução diminuíram e, em 1999, RHODES et al. já

apresentavam imagens com resolução de 81 µm, seguido dos estudos de

PETERS et al. (2001) e GEKELMAN et al. (2009) com 34 µm, SOMMA et al.

(2009) 19,1 µm e PAQUÉ et al. (2010) 10 µm.

A vantagem destas resoluções espaciais tão altas é a ótima qualidade

das imagens geradas, resultando em imagens mais nítidas de pequenos istmos,

conexões entre canais, canais acessórios e múltiplos forames apicais (VERMA

& LOVE, 2011).

A resolução espacial, portanto, afeta diretamente resultados de estudos,

como visto no trabalho de PETERS & PAQUÉ (2011), que compararam a

quantidade de área tocada do canal principal por diferentes sistemas de

instrumentação, em diferentes resoluções. Este estudo mostrou que quando foi

utilizado um pixel de 20 µm, apresentava-se como 25,2% de área do canal não

tocada, mas quando se recalculou a mesma área com pixel de 34 µm, o

resultado foi de 38,8% de área não tocada pelos instrumentos (PETERS &

PAQUÉ, 2011).

Page 49: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

37

2.6.2. - Microtomografia em Endodontia

No início da década de 90 a CT despertou o interesse de pesquisadores

no campo da Endodontia. Entretanto, a resolução dos tomógrafos era pequena

para análises do SCR. Com o desenvolvimento da µCT, além da resolução de

imagem, ferramentas tridimensionais em Imaginologia e ferramentas de

manipulação e aprimoramento de imagens, possibilitaram um maior

conhecimento da morfologia do dente, assim como a visualização da área de

interesse em volume tridimensional (VERMA & LOVE, 2011).

Visto que o tecido dentário é composto por tecidos com diferentes

densidades, tornou-se possível o uso da técnica de µCT em Odontologia

(NIELSEN et al., 1995), sendo utilizada para avaliação do preparo de canais

radiculares em experimentos endodônticos há mais de uma década, permitindo

uma avaliação quantitativa, qualitativa e em três dimensões, do desempenho de

vários sistemas e técnicas de instrumentação e obturação, além do estudo da

anatomia interna. Os diversos estudos diferem apenas pelo tipo de aparelho de

µCT, pela resolução espacial e pelo software de avaliação das imagens

adquiridas (PETERS & PAQUÉ, 2011).

Desta forma, por permitir a reconstrução tridimensional a partir de dados

em escala micrométrica, a µCT tem se tornado popular (GAO et al., 2009).

Previamente à introdução desta técnica, os parâmetros de estudo

somente poderiam ser avaliados de maneira individual, não sendo possível a

avaliação de diversos parâmetros no mesmo espécime já que cada parâmetro

necessitava da destruição do espécime. Com isto, perdiam-se todos os dados

Page 50: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

38

junto à destruição do espécime, não permitindo assim o estudo de outros

parâmetros no mesmo espécime (NIELSEN et al., 1995).

A precisão e reprodutibilidade da µCT foram avaliadas por PETERS et

al. (2000, 2001) demonstrando a habilidade da µCT em visualizar características

morfológicas do canal radicular de maneira precisa, detalhada e sem a

destruição do dente, fornecendo dados reprodutíveis e mensuráveis em três

dimensões (RHODES et al., 1999).

Com a utilização desta tecnologia, a análise do SCR pode ser feita tanto

quantitativamente quanto qualitativamente. Tanto a anatomia interna como a

externa podem ser demonstradas e analisadas simultaneamente ou em

separado, assim como suas relações (SOMMA et al., 2009).

NIELSEN et al. (1995) instrumentaram e obturaram molares superiores

calcificados, avaliando alguns parâmetros, como: a possibilidade do uso desta

ferramenta para o estudo da morfologia interna e externa, sem a destruição do

espécime; a possibilidade de se mostrar mudanças na área de superfície e

volume tecidual através do tempo; a habilidade de se obter áreas e volumes

após a instrumentação ou obturação; assim como a capacidade de avaliação do

transporte do canal após a instrumentação e a obturação. Neste trabalho o

tamanho do pixel foi de 127 µm e abriu a possibilidade da investigação e estudo

de calcificações patológicas, dentina regular e irregular. Não sendo possível,

entretanto, o estudo da anatomia apical, tão importante para o sucesso da

terapia endodôntica devido à baixa resolução obtida à época.

RHODES et al. (1999), compararam a precisão da µCT com voxel

cúbico e resolução isotrópica de 81 µm, com imagens fotográficas de resolução

Page 51: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

39

de 25 µm. Verificaram uma correlação altamente significativa entre os dois

métodos, concluindo que a µCT é precisa para a utilização em experimentos

endodônticos. Neste trabalho, os autores utilizaram a subtração de imagens

verde-vermelho, demonstrando claramente em quais áreas do SCR a dentina

foi removida durante a instrumentação. Estas imagens puderam ser utilizadas

para medir o transporte do canal após diferentes técnicas de instrumentação,

qualitativamente e quantitativamente (RHODES et al., 1999).

PETERS et al. (2000) propuseram o estudo da curvatura do canal

radicular através da conexão do centro de gravidade de cada fatia da µCT, ao

longo do eixo “z”. Pôde-se assim estudar dois parâmetros: o ângulo e o raio de

curvatura da raiz.

PAQUÉ et al. (2010) avaliaram a anatomia original do terço apical dos

canais de molares superiores e sua relação com primeiro instrumento

endodôntico que se ajustou ao comprimento de trabalho, por sensação tátil. Os

autores observaram que a sensação de ajuste percebida não correspondeu a

um ajuste anatômico real, devido à complexidade da anatomia radicular.

PETERS & PAQUÉ (2011) analisaram as propriedades de modelagem

da SAF (Self-Adjusting File) em 20 molares superiores através da µCT,

utilizando um pixel de tamanho de 20 µm. O estudo demonstrou que o preparo

realizado por estes instrumentos resulta em canais circunferenciais,

homogêneos e com pouco transporte (PETERS & PAQUÉ, 2011).

GAO et al. (2009) propuseram um framework para utilização em

software gratuito, de avaliação e manipulação das imagens tomográficas, o que

possibilitaria realizar a instrumentação virtualmente, além de simular a utilização

Page 52: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

40

de instrumentos, como por exemplo, o Kit Masseran para remoção de

instrumentos fraturados, assim como procedimentos clínicos, selecionando os

melhores instrumentos e técnicas, avalia também a relação risco/benefício de

cada um antes da remoção de instrumentos fraturados. Os autores expõem as

possibilidades de avaliação da espessura dentinária após o preparo. O software

também permite a simulação do risco de perfuração e mostra a espessura

dentinária após a instrumentação.

A grande evolução da µCT, já vista em alguns trabalhos recentes,

mostra a mudança na forma de avaliação de imagens tomográficas. Muitos

trabalhos avaliam com ferramentas lineares imagens tridimensionais, não

extraindo desta forma todo potencial de informações. Este paradoxo está sendo

superado com a utilização de cores que codificam a espessura dentinária de

forma intuitiva, abrindo-se novas possibilidades de avaliação e,

consequentemente, de resultados (GAO et al., 2009).

Page 53: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

41

3. JUSTIFICATIVA

O tratamento endodôntico dos canais de primeiros e segundos pré-

molares inferiores representa um desafio clínico devido às variações que podem

ser observadas neste acidente anatômico. Dados relativos ao número de canais,

suas interações e número de forames, são cruciais para um adequado manejo

clínico desta raiz, de forma a favorecer o sucesso do tratamento endodôntico.

Há relatos na literatura que sugerem importantes diferenças regionais

nas características anatômicas do SCR e não há dados precisos sobre a

população Brasileira quanto à morfologia dos canais de primeiros e segundos

pré-molares inferiores.

Page 54: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

42

4. HIPÓTESE

O estudo da anatomia interna de primeiros e segundos pré-molares

inferiores de uma amostra da população brasileira deve comprovar a

diversidade anatômica mostrada por estudos anteriores em outros países

devido à diversidade étnica presente nesta região.

Page 55: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

43

5. PROPOSIÇÃO

Objetivo Geral:

1. Analisar qualitativamente a morfologia interna de primeiros e segundos

pré-molares inferiores de dentes extraídos, de uma população da Cidade

do Rio de Janeiro, utilizando a técnica de microtomografia

computadorizada (µCT).

Objetivos Específicos:

1. Classificar a anatomia dos espécimes do estudo de acordo com a

classificação proposta por VERTUCCI (1984) e SERT & BAYIRLI (2004).

2. Quantificar o número de canais acessórios nos diferentes terços da raiz.

3. Quantificar o número de forames apicais, classificando a morfologia

interna do terço apical em uma das seguintes situações:

- término em delta apical;

- término em forame principal com canais acessórios.

Page 56: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

44

6. MATERIAIS E MÉTODOS

6.1. Seleção e preparo da amostra

O estudo foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Estácio de

Sá.

Foram utilizados 110 pré-molares inferiores humanos, sendo 50

primeiros e 60 segundos pré-molares, com rizogênese completa, coroa e

estrutura radicular hígida, sem restaurações ou cáries, e extraídos por motivo

periodontal ou ortodôntico.

Os dentes foram obtidos no Banco de Dentes da Faculdade de

Odontologia da Universidade Estácio de Sá, desta forma, a idade, sexo e raça

dos pacientes são desconhecidos.

Todo tecido mole aderido e cálculos dentários foram removidos com a

utilização de curetas periodontais e solução de hipoclorito de sódio a 2,5%.

Os espécimes foram divididos em dois grupos, sendo o grupo 1 relativo

aos primeiros e o grupo 2, relativo aos segundos pré-molares inferiores. Os

dentes foram estocados a seco em recipientes unitários, juntos as suas

respectivas bases acrílicas, confeccionadas em resina acrílica, individualizadas

para cada espécime ser posicionado no interior do aparelho de µCT, de acordo

com estudos anteriores (PETERS et al., 2000; SOMA et al., 2009). 2 amostras

foram perdidas do grupo 1 e 4 amostras foram excluídas do grupo 2.

Para aquisição das imagens foi utilizado o microtomógrafo

Skyscan 1173 (Bruker Co., Kontich, Bélgica) pertencente ao Laboratório de

Instrumentação Nuclear (LIN) do PEN/COPPE/UFRJ (Programa de Engenharia

Page 57: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

45

Nuclear/Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de

Engenharia/Universidade Federal do Rio de Janeiro). Esse equipamento possui

um tubo de raios-X microfocado com ânodo de tungstênio, tamanho focal ≤ 5µm

e potência de 8 W, podendo ser calibrado para operar desde 40 kV até 130 kV.

O detector utilizado é do tipo flat panel podendo operar com tamanhos de

matrizes de até 2240x2240 pixels, sendo um dos mais modernos empregados

em aparelhos de µCT (MACHADO, 2012).

6.2 Aquisição das imagens

Anteriormente a aquisição, os espécimes foram imersos por 30 minutos

em solução de soro fisiológico, sendo então levados, ainda úmidos, ao µCT.

Imediatamente após a aquisição os dentes foram recolocados nos respectivos

recipientes de estoque.

No interior do µCT, o espécime foi posicionado sobre um dispositivo de

alumínio e mantido em posição através de uma base individual de resina acrílica,

de acordo com estudos anteriores (PETERS et al., 2000; SOMA et al., 2009). A

base de resina acrílica é ligada ao dispositivo de alumínio do aparelho por

encaixe macho-fêmea em forma de “T”.

Uma vez posicionados no interior do µCT, foi iniciada a aquisição com

energia de 70 kV, corrente de 114 µA e filtro de alumínio de 1,0 mm de

espessura. Foi utilizada uma matriz de 1024 x 1024 pixels, o que forneceu um

tamanho de pixel igual a 14,8 µm. As amostras foram rotacionadas a 360˚, cada

passo de 0,30˚, e a cada imagem foi tomada uma quantidade de cinco frames

tomada com random moviment (movimento aleatório) igual a 10. Esse último

Page 58: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

46

parâmetro possui a vantagem de minimizar artefatos da imagem devido a

possíveis movimentos da amostra. Desta forma, o tempo de escaneamento

médio foi de 30 minutos por amostra. Esse tamanho de pixel corresponde a uma

resolução espacial de 21,39 µm, de acordo com a norma EN14784-1

(EUROPEAN STANDARD, 2004).

As projeções bidimensionais das imagens foram arquivadas em formato

16 bits-TIFF e utilizadas para a reconstrução.

6.3 Reconstrução tridimensional

A etapa seguinte à aquisição consistiu na reconstrução das secções

transversais a partir das imagens das projeções angulares. Foi utilizado para

isto o software NRecon 1.6.5.8 (Bruker Co.), baseado no algoritmo (FELDKAMP,

1989), aplicando-se Ring Artifact de 9; Beam Hardening de 40%, Smoothing de

1 e intervalo de coeficiente de atenuação variando de 0,0021 a 0,0533 mm-1.

Uma explicação detalhada de cada um dos parâmetros de reconstrução pode

ser encontrada em outros trabalhos (MACHADO, 2012; OLIVEIRA, 2011). As

imagens foram salvas em formato bitmap (BMP).

Page 59: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

47

Figura 5 - Imagem em tons de cinza após reconstrução, visualizada no software DataViewer

(Bruker Co., Kontich, Bélgica), referente ao dente n° 14.

6.4 Processamento e análise das imagens

Através do software CTAn® (Bruker Co., Kontich, Bélgica), foi escolhido

um volume de interesse (VOI) cilíndrico. A junção cemento-esmalte será

escolhida como referência para o início do VOI visto que o(s) orifício(s) de

entrada do(s) canal(is) em pré-molares inferiores não pode(m) ser confirmado(s)

de maneira precisa. O término do VOI foi definido como a primeira fatia após o

término do ápice radicular (PETERS et al., 2000; FAN, 2008).

A primeira etapa após a definição do VOI foi chamada de binarização.

O processo consiste em separar a toda a imagem reconstruída em duas regiões

(branco e preto) a partir de um ponto de corte que também pode ser chamado

como nível de limiar (threshold-TH). Essas regiões foram representadas por

pixels brancos e pretos, sendo definido como pixel preto qualquer pixel com

800µm

Page 60: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

48

intensidade menor ou igual a ponto de corte (o valor de TH), e branco qualquer

pixel com intensidade maior que o ponto de corte. Para tal, foi utilizado o Método

Otsu (NOBUYUKI, 1979) personalizando o valor de TH para cada amostra, visto

que o grau de atenuação da dentina não é igual em todos os dentes,

aperfeiçoando assim a segmentação (LI et al., 2012).

Após a binarização foi utilizada uma ferramenta de processamento de

imagem chamada de shrink-wrap, que define o volume do VOI como sendo

exatamente a borda do objeto analisado. Nesta etapa, os pixels brancos

representam a matriz dentinária enquanto os pixels pretos, os vazios, ou seja, o

sistema de canais radiculares.

Após o procedimento de quantificação, as imagens foram gravadas em

arquivos *.BMP e os programas CTVol® (Bruker Co., Kontich, Bélgica) e CTVox®

(Bruker Co., Kontich, Bélgica) foram utilizados para a realização dos modelos

3Ds.

As avaliações das imagens foram realizadas por três observadores,

sendo que dois realizaram a avaliação e categorização das raízes segundo a

classificação proposta por VERTUCCI (1984) e SERT & BAYIRLI (2004) e a

qualificação e quantificação do número de canais acessórios nos diferentes

terços. Em caso de divergência de opinião entre estes dois primeiros

observadores, o terceiro observador definiu a classificação que mais lhe fez

sentido entre as duas opiniões.

Uma observação importante diz respeito aos espécimes que não se

enquadraram nas classificações propostas por VERTUCCI (1984) e SERT &

BAYIRLI (2004). Estes foram nomeados de acordo com a proposta numérica de

Page 61: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

49

PINEDA & KUTTLER (1972) e classificados como “inclassificáveis” (VERMA &

LOVE, 2011).

A qualificação e quantificação dos forames apicais foi realizada através

das imagens reconstruídas sem o processo de binarização, através dos

softwares CTVox® e DataViewer®. O número de canais acessórios e forames

foram descritos por numeral arábico, sendo o término apical classificado em:

forame único, múltiplo ou em deltas, de acordo como proposto por DE DEUS

(1992).

A raiz foi dividida em três terços: cervical, médio e apical; sendo o

comprimento de cada “terço” definido no software CTAn®, dividindo o número

de fatias da amostra por três.

6.4.1 Definições utilizadas

Canais acessórios foram definidos como qualquer ramificação do canal

radicular que se comunica com a superfície externa (VERTUCCI, 2005).

O número de forames apicais presentes foi definido como término

circular ou oval, como um funil ou cratera, que marca o término do canal

cementário com a superfície externa (VERTUCCI, 2005).

Deltas apicais foram definidos como um complexo de ramificações,

localizado próximo ao ápice anatômico, em que o canal principal não pode ser

discernível (VERTUCCI, 2005).

Page 62: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

50

7. RESULTADOS

7.1 Classificação

Nas tabelas 1, 2, 3 e 4 estão dispostos os dados relativos à

classificação do SCR em relação às classificações propostas por VERTUCCI

(1984) e SERT & BAYIRLI (2004), a partir da análise tridimensional nos

softwares CTVox® e DataViewer®.

Como visto nas Tabelas 1 e 2, no grupo 1 (n=48), relativo aos primeiros

pré-molares inferiores, 79,14% e 83,35% das amostras puderam ser

classificadas, e 20,86% e 16,65% não se enquadraram nas classificações de

VERTUCCI (1984) ou SERT & BAYIRLI (2004), respectivamente.

As Tabelas 3 e 4, relativas ao grupo 2 (n=56), dos segundos pré-

molares inferiores, 91,02% e 94,65% das amostras puderam ser classificadas,

e 8,98% e 5,35% não se enquadraram nas classificações de VERTUCCI (1984)

ou SERT & BAYIRLI (2004), respectivamente.

Tabela 1: Distribuição das amostras do grupo 1 (n = 48) de acordo com a classificação proposta por

VERTUCCI (1984).

Tipo

morfológico

Tipo

I

Tipo

II

Tipo

III

Tipo

IV

Tipo

V

Tipo

VI

Tipo

VII

Tipo

VIII

Inclas-

sificáveis

Quantidade

de dentes

12 1 2 4 14 0 5 0 10

Percentual 25,00% 2,08% 4,16% 8,33% 29,16% 0% 10,41% 0% 20,86%

Page 63: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

51

Tabela 2: Distribuição das amostras do grupo 1 (n = 48) de acordo com os tipos adicionais propostos por

SERT & BAYIRLY (2004).

Tipo

morfológico

Tipo

XI

Tipo

XVI

Tipos:

IX, X, XII, XIII, XIV, XV, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI,

XXII e XXIII

Inclassificáveis

Quantidade

de dentes

1 1 0 8

Percentual 2,08% 2,08% 0% 16,65%

Tabela 3: Distribuição das amostras do grupo 2 (n = 56) de acordo com a classificação proposta por

VERTUCCI (1984).

Tipo

morfológico

Tipo

I

Tipo

II

Tipo

III

Tipo

IV

Tipo

V

Tipo

VI

Tipo

VII

Tipo

VIII

Inclas-

sificáveis

Quantidade

de dentes

39 1 1 2 6 0 2 0 5

Percentual 69,61% 1,78% 1,78% 3,57% 10,71 % 0% 3,57% 0% 8,98%

Tabela 4: Distribuição das amostras do grupo 2 (n = 56) de acordo com os tipos adicionais propostos por

SERT & BAYIRLI (2004).

Tipo

morfológico

Tipo

XVI

Tipo

XIX

Tipos:

IX, X,XI, XII, XIII, XIV, XV, XVII, XVIII, XX, XXI,

XXII e XXIII

Inclassificáveis

Quantidade

de dentes

1 1 0 3

Percentual 1,78% 1,78% 0% 5,35%

Page 64: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

52

Figura 6 – Gráfico demonstrando a distribuição das amostras do grupo 1 de acordo com a

proposta de VERTUCCI (1984).

Figura 7 – Gráfico demonstrando as amostras do grupo 1 que se enquadraram nos tipos

adicionais propostos por SERT(2004), acrescidas das que se enquadraram na proposta de

VERTUCCI (1984).

25,00%

2,08%4,16%

8,33%29,16%

0%

10,41%

0%

20,86%

Classificação VERTUCCI (1984)

Tipo I

Tipo II

Tipo III

Tipo IV

Tipo V

Tipo VI

Tipo VII

Tipo VIII

Inclassif.

2,08%

2,08%%

79,14%

16,65%

Classificação SERT & BAYIRLI (2004)

Tipo XI

Tipo XVI

Classificados porVertucci

Inclassif.

Page 65: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

53

Figura 8 – Gráfico demonstrando a distribuição das amostras do grupo 2 de acordo com a

proposta de VERTUCCI (1984).

Figura 9 – Gráfico demonstrando as amostras do grupo 2 que se enquadraram nos tipos

adicionais propostos por SERT & BAYIRLI (2004), acrescidas das que se enquadraram na

proposta de VERTUCCI (1984).

69,61%

1,78%

1,78%

3,57%10,71%0,00%

3,57%0%

8,98%

Classificação VERTUCCI (1984)

Tipo I Tipo II Tipo III

Tipo IV Tipo V Tipo VI

Tipo VII Tipo VIII Inclassificáveis

2,08%

2,08%%

79,14%

16,65%

Classificação Sert & Bayirli (2004)

Tipo XI

Tipo XVI

Classificados porVertucci

Inclassif.

Page 66: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

54

7.2 Canais acessórios

Canais acessórios foram quantificados nos diferentes terços, sendo o

terço apical o que apresentou o maior número tanto no grupo 1 quanto no 2. O

grupo 1 apresentou 105 canais acessórios no terço apical distribuídos em 43

amostras, enquanto o grupo 2 apresentou 78 canais acessórios distribuídos em

35 amostras.

No grupo 1, o terço médio apresentou 73 canais acessórios em 32

espécimes, enquanto que o grupo 2 apresentou 21 canais acessórios em 14

amostras.

O terço cervical não apresentou canais acessórios em nenhum dos dois

grupos.

Figura 10 – Gráfico correlacionando o número de canais acessórios nos diferentes

terços com o número de amostras que os continham - Grupo 1.

0

73

105

0

32

43

0

20

40

60

80

100

120

Cervical Médio Apical

Nº Canais

Page 67: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

55

Figura 11 – Gráfico correlacionando o número de canais acessórios nos diferentes

terços com o número de amostras que os continham - Grupo 2.

7.3 Forames e deltas apicais

Independente do número de forames apresentados, a morfologia apical

do canal radicular de apenas 7 espécimes do grupo 1 (14,58%) foi classificada

como delta apical, enquanto que 12 amostras do grupo 2 (21,42%)

apresentaram esta configuração.

As sete amostras que apresentaram em seu terço apical morfologias

classificadas como deltas apicais no grupo 1 foram as de nº: 3, 6, 24, 28, 32, 33

e 47; enquanto que as amostras do grupo 2 foram as de n˚: 2, 7, 8, 9, 24, 25,

30, 31, 38, 44, 51 e 60.

O número de forames apicais dos grupos 1 e 2 estão relatados nas

tabelas 5 e 6 e nas figuras 12 e 13 respectivamente.

0

21

78

0

14

35

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Cervical Médio Apical

Nº Canais Nº Amostras

Page 68: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

56

Tabela 5: Número e percentuais de forames apicais detectados nas raízes do grupo 1.

Quantidade de forames

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Quantidade de dentes

Percentual

9 17 11 8 1 0 0 1 1

18,75% 35,42% 22,92% 16,67%

2,08% 0% 0% 2,08% 2,08%

Mais de 4 forames: 3 (6,24%)

Tabela 6: Número e percentuais de forames apicais detectados nas raízes do grupo 2.

Quantidade de forames

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Quantidade de dentes

Percentual

28 11 6 7 1 2 1 0 0

50% 19,64% 10,71% 12,50% 1,78% 3,57% 1,78% 0% 0%

Mais de 4 forames: 4 (7,12%)

Figura 12- Gráfico da distribuição percentual das amostras do grupo 1 de acordo com o

número de forames que apresentam.

18,75%

35,42%

22,92%

16,67%

3

1 forame

2 Forames

3 Forames

4 Forames

> 4 Forames

Page 69: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

57

Figura 13– Gráfico da distribuição percentual das amostras do grupo 2 de acordo com o

número de forames que apresentam.

50,00%

19,64%

10,71%

12,50% 4

1 forame

2 Forames

3 Forames

4 Forames

> 4 Forames

Page 70: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

58

8. DISCUSSÃO

A anatomia do canal radicular pode variar no número de raízes e de

canais. Na literatura endodôntica, muitas variações anatômicas dos pré-molares

inferiores foram relatadas (ORDINOLA-ZAPATA et al., 2013). Um dos fatores

para alcançar o sucesso no tratamento endodôntico é o conhecimento de

possíveis morfologias dos canais radiculares (SERT & BAYIRLI, 2004).

Os dentes com raízes únicas geralmente apresentam canais únicos, no

entanto, dois canais radiculares em dentes unirradiculares podem estar

presentes em incisivos inferiores e pré-molares (ORDINOLA-ZAPATA et al.,

2013).

A complexidade da morfologia do canal radicular e raiz do primeiro pré-

molar inferior parece ter sido subestimada no passado. Uma revisão completa

da literatura revela tanto a complexa morfologia radicular, bem como a

morfologia interna. Este achado merece maior destaque nos livros didáticos de

endodontia (CLEGHORN et al.,2007a).

Em vasta revisão de literatura realizada por CLEGHORN et al. (2007a)

utilizando oito estudos anatômicos que incluíram 4.462 dentes, estes autores

relataram dados variáveis para o número de raízes no primeiro pré-molar

inferior. A maioria dos dentes nestes estudos (97,9%) teve uma única raiz. Duas

raízes foram encontradas em 1,8% dos dentes estudados. Três (0,2%) e quatro

raízes (0,1%) foram bastante raras. ORDINOLA-ZAPATA et al. (2013)

realizaram estudo em 105 pré-molares inferiores humanos utilizando µCT. A

Page 71: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

59

análise da anatomia externa mostrou que a maior parte dos espécimes tinha

apenas 1 raiz com sulcos radiculares nas faces lingual e proximal.

No estudo de CLEGHORN et al. (2007a) um canal estava presente em

3586 (75,8%) dos dentes estudados. Dois ou mais sistemas de canais foram

encontrados em 1147 (24,2%) dos dentes estudados, discordando no nosso

estudo onde apenas 25% dos primeiros pré-molares inferiores estudados foram

classificados com canal único ou tipo I de VERTUCCI (1984).

Um único forame apical foi encontrado em 2054 (78,9%) dos dentes, ao

passo que dois ou mais forames foram encontradas em 550 (21,1%) dentes

(CLEGHORN et al.,2007a).

A anatomia do canal radicular e da raiz do segundo pré-molar inferior é

bem documentada em livros, mas há uma grande variação no relato de

incidência de anomalias. Como resultado, não há consenso sobre as variações

ou possíveis anomalias (CLEGHORN et al., 2007b). A incidência do número de

raízes e do número de canais relatados em estudos anatômicos varia muito na

literatura.

De acordo com CLEGHORN et al. (2007b), em revisão de literatura,

incluindo 4019 dentes, o segundo pré-molar inferior foi classificado quanto ao

número de raízes. A maioria dos dentes nos estudos incluídos na revisão

(99,6%) teve uma única raiz. Duas raízes foram encontradas em apenas 0,3%

dos dentes estudados. Três raízes (0,1%) eram extremamente raras nos

estudos anatômicos relatados, mas foram documentadas em relatos de casos.

O primeiro pré-molar inferior humano, em comparação, teve uma maior

Page 72: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

60

incidência de mais de 1 raiz (2,1%) nos estudos revisados (CLEGHORN et

al.,2007a).

A morfologia interna do segundo pré-molar inferior foi avaliada em 11

estudos que incluíram 3063 dentes na revisão realizada por CLEGHORN et al.

(2007b). Um canal estava presente em 2788 (91,0%) dos dentes estudados e

dois ou mais sistemas de canais estavam presentes em 275 (9,0%) dos dentes,

corroborando com o nosso estudo, onde 69,1% da amostra total apresentou um

único canal, ou seja, classificada como tipo I de VERTUCCI (1984).

A maioria dos segundo pré-molares inferiores do presente estudo

apresentou canal único (69,61%), porém, comparado ao estudo de CLEGHORN

et al. (2007b) não teve uma percentagem elevada. Essa diferença pode ser

atribuída ao tamanho da amostra do presente estudo ter sido menor. Outro fato

importante a ser levado em consideração, é que CLEGHORN et al. (2007b)

realizaram um estudo de revisão e várias classificações podem ter sido

adotadas pelos diferentes autores. Oito estudos anatômicos examinaram a

anatomia apical. Um único forame apical foi encontrado em 1882 (91,8%) dos

dentes, ao passo que dois ou mais forames foram encontrados em 168 (8,2%)

dos dentes. O primeiro pré-molar inferior, em comparação, teve uma maior

incidência de mais de um canal (24,2%) e mais do que 1 forame apical (21,1%)

em estudos revisados por CLEGHORN et al. (2007 a).

Em relação ao número de forames, a incidência de dois forames foi maior

no grupo dos primeiros pré-molares (35,42%), seguida por três forames

(22,92%). Um único forame foi visualizado em somente 18,75% das amostras

deste grupo. Já no grupo dos segundos pré-molares, 50% das amostras

Page 73: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

61

apresentaram um único forame, seguido por 19,64% com dois e 12,50% com

quatro.

No estudo de ORDINOLA-ZAPATA et al. (2013) a análise anatômica

mostrou que em 3 dentes havia divisões da raiz principal em raízes mesial e

distal no nível médio, com fusão a nível apical. Em outros 3 espécimes, esta

divisão ocorreu no terço apical na face vestibular da raiz. Apenas 1 dente tinha

3 raízes independentes. A análise interna revelou canais mésio-vestibulares,

disto-vestibulares, e linguais em 15 dentes e uma amostra tinha um canal

vestibular e 2 linguais (mésio-lingual e disto-lingual). Bifurcações e deltas apicais

foram observadas em 10 dentes e 4, respectivamente. Modelos 3D confirmaram

a presença de uma configuração de tipo IX do sistema de canais em 16 pré-

molares inferiores. No estudo de LIU et al. (2013), a avaliação da anatomia

interna de 115 primeiros pré-molares inferiores mostrou que 7,8% da amostra

teve o tipo IX de configuração do canal radicular. No estudo de ORDINOLA-

ZAPATA et al., 2013, um maior percentual de configuração do tipo IX (16%)

encontrada na amostra analisada pode ser explicado porque apenas pré-

molares inferiores com ranhuras radiculares foram selecionados, o que

aumentou a chance para a seleção de dentes com vários canais. O presente

estudo não revelou a configuração tipo IX proposta por SERT & BAYIRLI em

nenhum dos dois grupos estudados de pré-molares inferiores.

Embora a presença de três canais radiculares em pré-molares inferiores

tem sido raramente relatada em comparação com a configuração VERTUCCI

(1984) tipo V, endodontistas devem estar cientes dessa variação anatômica

(ORDINOLA-ZAPATA et al.,2013). Nosso estudo revelou que 29,16% de dentes

Page 74: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

62

classificados como tipo V de VERTUCCI no grupo 1 e 10,71% dos segundo pré-

molares foram descritos como tipo V.

Diferenças na prevalência de configurações do canal de pré-molares

inferiores na literatura tem sido explicada por diferenças raciais. Nos últimos

anos, µCT tem sido usada para o estudo pormenorizado das variações

anatômicas dos sistemas de canais radiculares, incluindo pré-molares inferiores

(ORDINOLA-ZAPATA et al., 2013). Neste grupo de dentes, muitos

pesquisadores relataram a presença de canais em forma de C, no entanto, com

exceção de relatos de casos, apenas um estudo que utilizou micro-CT (LIU et

al.,2013) relatou a presença deste tipo de configuração do sistema de canais

radiculares em pré-molares inferiores.

Inúmeros fatores contribuem para variações encontradas nos estudos de

anatomia interna e externa de dentes. Esses fatores incluem a etnia, idade,

sexo, o viés não intencional na seleção de amostras clínicas de dentes

(especialista em endodontia versus clínico geral) e desenho do estudo (in vitro

versus in vivo) (CLEGHORN et al., 2007b)

A ocorrência relatada de um único canal varia de 54% a 88,5%; múltiplos

canais são relatados em 11,5% a 46% dos casos, dependendo da raça, gênero

e método de pesquisa (LI et al., 2012).

TROPE et al. ,1986 encontraram diferenças étnicas significativas em

estudo de pré-molares inferiores comparando afro-americanos e pacientes

caucasianos, tanto no que diz respeito ao número de raízes e número de canais.

A incidência de dois ou mais canais em pacientes afro-americanos foi de 32,8%,

enquanto a incidência dos pacientes caucasianos foi de 13,7% a incidência de

Page 75: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

63

duas raízes em pacientes afro-americanos neste estudo foi de 16,2%, em

comparação para 5,5% em pacientes caucasianos. AMOS (1955) já relatou

diferenças entre os pacientes americanos caucasianos e africanos em sua

revisão de 1000 exames radiográficos completos. 16 % dos pacientes

caucasianos exibiu canais bifurcados em comparação com 21,6% de pacientes

afro-americanos. Estudos realizados pela SERT & BAYIRLI (2004) e CALISKAN

et al.,1995 encontraram incidência elevada (39,5% e 36% respectivamente) de

dois ou mais canais em estudos da população turca.

ZAATAR et al. (1997) também encontraram uma incidência elevada de

dois ou mais canais (40%) em uma população do Kuwait, embora o estudo tenha

sido relativamente num pequeno número de dentes. WALKER (1988) estudou a

morfologia do canal em pacientes chineses e encontrou uma incidência de dois

ou mais canais em 36% dos dentes no seu estudo.

O único estudo que tentou comparar as diferenças étnicas para número

de raízes e número de canais do segundo pré-molar inferior em um tamanho de

amostra significativa foi o trabalho de TROPE et al. (1986), porém não mostra

diferença estatisticamente significativa. Apenas o primeiro pré-molar inferior

demonstrou diferenças estatisticamente significativas para essas

características.

Não há na literatura trabalhos com tamanha precisão, possibilitada pela

micro-CT, cujo o objetivo foi analisar e quantificar a anatomia interna dos

primeiros e segundos pré-molares inferiores da população brasileira. Os dados

advindos deste estudo não corroboram dados de nenhum outro feito em etnia

diferente. Isto pode ser justificado devido a população brasileira apresentar uma

Page 76: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

64

grande variedade étnica e racial. Desta forma, a implicação antropológica

gerada por este estudo ajudará na fomentação de dados sobre esta população

na literatura internacional.

Page 77: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

65

9. CONCLUSÃO

Este estudo confirma a complexidade da anatomia interna de pré-

molares inferiores e revela que as classificações vigentes não refletem

plenamente as configurações apresentadas pelos pré-molares inferiores. No

grupo 1, as configurações mais predominantes apresentadas de acordo com a

classificação de VERTUCCI (1984) foram os tipos V, I e VII. No grupo 2, a

configuração mais predominante foi tipo I de VERTUCCI (1984) seguida do tipo

V.

A incidência de canais acessórios foi maior no terço apical, seguido pelo

terço médio e terço cervical, em ambos os grupos.

A maior parte das amostras analisadas do grupo 1 apresentou 2 ou mais

forames apicais enquanto que 50% das amostras do grupo 2 apresentou 2 ou

mais forames apicais.

Page 78: Estudo da anatomia interna de pré-molares inferiores através de

66

10. REFERÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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