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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS CAMPUS POÇOS DE CALDAS (MG) DAIANE CRISTINA BORGHESI MAÍRA FERNANDA MOLINA ESTUDO DA BIODEGRADAÇÃO DA PCL UTILIZANDO PALHA DE CAFÉ COMO CARGA Poços de Caldas/MG 2014

ESTUDO DA BIODEGRADAÇÃO DA PCL UTILIZANDO PALHA … · A professora Dra. Maria Gabriela Nogueira Campos, pela colaboração neste TCC. A nossa família por todos os ensinamentos,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

CAMPUS POÇOS DE CALDAS (MG)

DAIANE CRISTINA BORGHESI

MAÍRA FERNANDA MOLINA

ESTUDO DA BIODEGRADAÇÃO DA PCL

UTILIZANDO PALHA DE CAFÉ COMO CARGA

Poços de Caldas/MG

2014

DAIANE CRISTINA BORGHESI

MAÍRA FERNANDA MOLINA

ESTUDO DA BIODEGRADAÇÃO DA PCL

USANDO PALHA DE CAFÉ COMO CARGA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como parte dos requisitos para obtenção do

diploma de Engenharia Química pela

Universidade Federal campus Poços de Caldas.

Orientadora: Professora Doutora Maria Gabriela

Nogueira Campos.

Poços de Caldas/MG

2014

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaríamos de agradecer a Deus que nos permitiu a realização deste sonho e

por nos acompanhar e amparar a todo momento.

A professora Dra. Maria Gabriela Nogueira Campos, pela colaboração neste TCC.

A nossa família por todos os ensinamentos, pelo amparo e força dada para atingirmos nossos

objetivos, além do companheirismo e amor.

Agradecemos a Fábio e Juliano pela disposição em nos ajudar sempre que foi necessário e por

estarem sempre ao nosso lado.

As nossas companheiras de moradia Sabrina Sarkis, KesseTonon, Layara Ferreira, Eliane

Zaparolli e Maquely Vicente pela grande amizade construída e por todos os bons momentos

passados juntas.

Pelos amigos sempre presentes: Marcelo, Thiago, Paulo, Rodrigo, Jouber.

Ao Marcos Guerra, sua equipe e a empresa M&G Fibras Brasil S/A, do grupo

Mossi&Ghisolfique nos ajudou na confecção dos corpos de prova e nos ensaios de DSC.

A Senhora Ivanilda que nos cedeu seu terreno para realizar o teste de biodegradação.

A Profa. Rosana Siqueira, a aluna Bianca Cabello e a Faculdade Metrocamp de Campinas que

nos ajudou e permitiu que a análise microbiológica fosse realizada.

A toda turma de Bacharelado Interdisciplinar 2009/2011 e a turma de Engenharia Química

2009/2013, pela companhia diária e experiências obtidas durante o curso.

RESUMO

A produção mundial de plástico vem crescendo a cada ano, e este cenário se torna alarmante

quando se leva em consideração o longo tempo que estes levam para se degradarem no meio

ambiente. Frente à preocupação com o acúmulo destes nos lixões e aterros sanitários surgem

os polímeros ambientalmente degradáveis, que possuem vida útil compatível com os

polímeros convencionais, porém tempo de degradação mais curto no meio ambiente. Neste

trabalho, objetivou-se estudar a potencialidade da incorporação da palha de café a

policaprolactona com o intuito de aumentar sua taxa de degradação no solo. A fim de avaliar a

perda de massa dos corpos de prova aplicou-se o teste de biodegradação em solo. Utilizando

tratamentos estatísticos foi possível observar que tanto as amostras com 5% de Palha de Café

quanto na amostra com 1% de Palha de Café apresentaram perda de massa significativamente

diferente da policaprolactona pura. Além disso, foi realizada a análise granulométrica e

microbiológica do solo e através destas pode-se observar que o este apresentou condições

favoráveis a biodegradação das amostras.

Palavras-chave: Policaprolactona; Palha de Café; Biodegradação.

ABSTRACT

The world production of plastic is growing every year, and this scenario becomes alarming

when the long time this material takes to degrade in the environment is considered. Due the

accumulation of plastic in dumpsters and landfills, environmentally degradable polymers

emerge, with useful life compatible with conventional polymers, but shorter degradation in

the environment. In this research, we aimed to study the potential of incorporation of coffee

straw to polycaprolactone, aiming to increase its rate of degradation in soil. In order to

evaluate the mass loss of the specimens, a test of biodegradation in soil was applied. By

means of statistical treatments, it was observed that both the samples with 5 % and 1% of

coffee straw showed significantly mass loss, differently from pure polycaprolactone.

Additionally, both the microbiologic and granding examination of the soil were conducted,

and through these it can be seen that the soil showed favorable biodegradation of the samples.

Keywords :Polycaprolactone ; Coffee Straw ; Biodegradation .

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 9

2.1 Polímeros Ambientalmente Degradáveis ............................................................... 9

2.2 Policaprolactona ....................................................................................................... 9

2.3 Palha de Café .......................................................................................................... 10

2.4 Biodegradação ........................................................................................................ 11

2.4.1 Etapas do processo de biodegradação .................................................................... 12

2.5 Influência do solo na biodegradação .................................................................... 13

2.5.1 Distribuição Granulométrica .................................................................................. 13

2.5.2 Comunidade microbiana do solo ............................................................................ 13

3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 15

3.1 Corpos de Prova ..................................................................................................... 15

3.1.1 Composição e processamento dos corpos de prova ................................................ 15

3.1.2 Caracterização ......................................................................................................... 15

3.1.2.1 Análise Visual .......................................................................................................... 16

3.1.2.2 Calorimetria Exploratória Diferencial .................................................................... 16

3.1.3 Teste de biodegradação em solo ............................................................................. 16

3.1.3.1 Determinação da perda de massa dos filmes........................................................... 17

3.2 Análise do Solo ....................................................................................................... 17

3.2.1 Análise Granulométrica .......................................................................................... 17

3.2.2 Análise Microbiológica do solo .............................................................................. 17

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 19

4.1 Caracterização ........................................................................................................ 19

4.1.1 Análise Visual ......................................................................................................... 19

4.1.2 Calorimetria Exploratória Diferencial ................................................................... 19

4.2 Teste de biodegradação em solo ............................................................................ 20

4.3 Análise do Solo ....................................................................................................... 22

4.3.1 Análise Granulométrica .......................................................................................... 22

4.3.2 Análise Microbiológica ........................................................................................... 24

4.3.2.1 Contagem total de microrganismos – Plaqueamento de Profundidade .................. 24

4.3.2.2 Contagem de bolores e leveduras – Plaqueamento de Superfície ........................... 25

4.3.2.3 Contagem de coliformes totais, termotolerantes e E.coli ........................................ 25

4.3.2.4 Contagem de coliformes totais ................................................................................. 25

4.3.2.5 Contagem de termotolerantes e E.coli ..................................................................... 26

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 27

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 28

ANEXO A ................................................................................................................................ 30

ANEXO B ................................................................................................................................ 31

ANEXO C ................................................................................................................................ 33

ANEXO D ................................................................................................................................ 34

7

1 INTRODUÇÃO

Os plásticos são de fundamental importância na sociedade moderna, possuem inúmeras

aplicações, inclusive atuam substituindo diversos materiais como metais, vidros, madeira,

entre outros (CORDI, 2008).

O mercado de plásticos está em constante expansão nos dias atuais. Segundo dados da

ABIPLAST (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) em 2011 a produção mundial de

plástico chegou a ser de 280 milhões de toneladas, sendo que o Brasil é responsável por 6

milhões.

Os dados de produção mundial de plásticos chegam a ser preocupantes quando se leva em

consideração que estes materiais demoram em média cem anos para se decompor no meio

ambiente, implicando assim em um grave problema ambiental. O acúmulo destes em lixões e

aterros sanitários tem tornado estes locais de descarte limitados (MARIANI, 2010).

Uma das alternativas para a diminuição dos resíduos plásticos no ambiente é a reciclagem de

alguns destes materiais. No entanto mesmo com aplicação da reciclagem o problema dos

resíduos plásticos no meio ambiente ainda é preocupante, pois no Brasil, em 2011, reciclou-se

apenas 22% de todo plástico pós-consumo descartado de acordo com os dados da

ABIPLAST.

É neste cenário que surgem os polímeros ambientalmente degradáveis (PADs) que

apresentam a vantagem de se manterem estáveis durante sua vida útil e serem degradados em

um curto período de tempo após o descarte no meio ambiente (MARIANI, 2010).

Alguns PADs já são comercializados, no entanto, as suas aplicações ainda são limitadas por

apresentarem propriedades deficientes e alto custo quando comparados aos polímeros

convencionais. Entretanto, diversas pesquisas vêm sendo realizadas com o intuito de

desenvolver novos polímeros e melhorar os já existentes quanto às suas propriedades e

também diminuir seu custo de obtenção (CORDI, 2008).

Dentre os PADs existentes a poli (ε-caprolactona) tem despertado interesse quanto à

substituição de polímeros convencionais, visto que esta apresenta boas propriedades e

também compatibilidade com outros materiais (MARIANI, 2005).

Uma alternativa para aumentar a biodegradabilidade dos polímeros é a adição de cargas

orgânicas durante o processamento destes materiais. Sendo que este processo também acarreta

na diminuição do custo do produto final, pois com isto se utiliza menos material polimérico

na formulação deste. No entanto muitas das vezes o polímero não apresenta boa adesão entre

a carga adicionada e a estrutura polimérica, prejudicando assim as propriedades do material.

8

Por isso, muitas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o intuito de descobrir quais são as

cargas mais adequadas ao polímero e qual deve ser a porcentagem em massa utilizada das

mesmas.

A palha de café é uma opção de carga orgânica para ser incorporada em polímeros, pois é

totalmente biodegradável, no entanto, ainda não foram realizados estudos quanto à

incorporação deste resíduo em polímeros. Outro fator que potencializa a utilização da palha

de café como carga é o fato desta ser produzida em larga escala, visto que esta compõe cerca

de 50 % do grão de café (valor que pode variar dependendo do tipo de processamento do

grão) (BRAHAN, 1978) e segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Café

(ABIC) foram produzidos no Brasil em 2012 cerca de 3 mil toneladas de café. Deste modo,

este resíduo apresenta-se como uma potencial carga orgânica para ser incorporada em

polímeros, visto que não apresenta custos e não tem quase nenhum reaproveitamento.

Neste contexto em que se faz cada vez mais necessário o desenvolvimento de materiais que

não prejudiquem o meio ambiente propôs-se este trabalho. O objetivo geral deste foi estudar a

potencialidade de uso e incorporação da palha de café como carga orgânica à policaprolactona

com o intuito de aumentar sua taxa de degradação no solo. Os objetivos específicos foram:

Avaliar a biodegradação da policaprolactona após a adição da palha de café como carga

orgânica através da perda de massa por teste de biodegradação em solo. Uma vez que a

policaprolactona é um polímero biodegradável, o teste de biodegradação aplicado teve o

propósito de avaliar se a perda de massa dos corpos de prova com palha de café é

significativamente diferente em relação à policaprolactona pura.

Caracterização dos corpos de prova por Calorimetria Exploratória Diferencial a fim de

avaliar se há miscibilidade entre a palha de café e a policaprolactona.

Caracterização do solo em que será realizado o teste de biodegradação através de análises

granulométrica e microbiológica com intuito de se avaliar a influência deste no processo

de biodegradação das amostras.

9

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Polímeros Ambientalmente Degradáveis

O aumento no consumo de polímeros sintéticos vem despertando a atenção mundial quanto ao

acúmulo e a poluição ocasionada pelo descarte de lixo proveniente de materiais plásticos no

meio ambiente. O aumento descontrolado destes resíduos no ambiente causa a

impermeabilização do solo e aumento do volume de lixo. E diante deste contexto vem-se

buscando o desenvolvimento de polímeros ambientalmente degradáveis ou polímeros

biodegradáveis (MARIANI, 2010).

Os PADs se mostram como uma nova geração de polímeros ambientalmente sustentáveis.

Para ser um considerado um PAD o polímero deve apresentar após degradação significativa

produtos finais compatíveis com o ambiente, ou seja, gás carbônico água e biomassa

microbiana (MARIANI, 2010).

No entanto, as aplicações destes polímeros ainda são muito limitadas devido ao seu alto custo,

uma vez que possuem um baixo volume de produção e necessitam de altos investimentos à

pesquisa e desenvolvimento (MARIANI, 2010).

Os PADs podem ser classificados em duas categorias de acordo com a sua fonte de obtenção:

sintéticos ou naturais.

Os PADs sintéticos são aqueles sintetizados em laboratório pelo homem de modo a possuírem

grupos suscetíveis ao ataque de microrganismos (CORDI,2008). Os mais conhecidos são:

policaprolactona, poliesteramidas, copoliésteres alifáticos e copoliésteres aromáticos.

A segunda categoria traz os PADs naturais que são produzidos por algumas plantas e

microrganismos. Em relação aos polímeros provenientes das plantas podem ser citados o

amido e a celulose. Já o outro grupo possui polímeros sintetizados por bactérias a partir de

pequenas moléculas, citando como exemplo o polihidroxibutiratoe os polihidroxialcanoatos

(BRITO, 2011).

2.2 Policaprolactona

A poli(ε-caprolactona) também conhecida como PCL é um poliéster alifático, hidrofóbico e

semi-cristalino, podendo ser lentamente biodegradada por microorganismos presentes no solo

(CORDI,2008). A Figura1 ilustra a unidade de repetição da policaprolcatona.

10

Figura 1-Mero caprolactona.

Fonte: (CORDI, 2008)

Um dos processo para obtenção da policaprolactona consiste na polimerização por abertura do

anel do monômero ε-caprolactona, como ilustrado pela Figura 2. Esta polimerização requer

uso de um iniciador alcoólico em combinação com um ácido de Lewis (CORDI, 2008).

Figura 2-Reação de Obtenção da Policaprolactona.

Fonte: (CORDI,2008)

A PCL é um polímero termoplástico com peso molecular que pode variar entre 5000 e 80000

(BALZER, 2009). Possui baixa temperatura de fusão (Tm ≈ 60ºC) e temperatura de transição

vítrea abaixo da temperatura ambiente (Tg ≈-60º C) (MARIANI, 2005).

A policaprolactona é um polímero atóxico e devido a esta propriedade tem sido estudado para

a utilização como matriz de liberação de fármacos (BALZER, 2009). Além desta propriedade

este polímero ainda apresenta baixa viscosidade, propriedade que concede ao polímero a

característica de boa processabilidade (FREITAS Jr., 2004). Apresenta boas propriedades

mecânicas como tenacidade e flexibilidade além de possuir uma grande miscibilidade com

muitos tipos de polímeros (BALZER, 2009).

A biodegradação da PCL é realizada pela enzima lipase através da hidrólise das ligações éster.

Esta enzima é capaz de degradar tanto a fase amorfa como a fase cristalina deste

polímero(MARIANI, 2005).

2.3 Palha de Café

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) o Brasil é o maior

produtor, consumidor e exportador mundial de café, sendo que nos últimos 14 anos o

consumo de café registrou um incremento de 55,74%. Na produção o aumento registrado em

relação à área plantada em formação, entre os anos de 2011 e 2012, foi de 24%, e nos últimos

cinco anos constatou-se um crescimento nas exportações de 14,6%.

11

Existem duas formas de beneficiamento do café: por via úmida e por via seca, sendo a ultima

a técnica mais simples e mais utilizada. Na via seca, os frutos são secos ao sol ou em

secadores artificiais e após são levados a uma máquina descascadora para a remoção do

material que envolve os grãos de café, sendo a casca o resíduo sólido obtido (OLIVEIRA,

2001).

Já o processamento por via úmida pode ocorrer de três modos diferentes, sendo o descascado

quando se retira apenas a casca e parte da mucilagem, o desmucilado quando se remove a

casca e após toda a mucilagem mecanicamente e o despolpado quando se retira a casca

mecanicamente e a mucilagem por fermentação biológica, sendo a polpa o resíduo sólido

obtido (BOREM, 2004).

A polpa de café obtida através do processo úmido representa 29%, em base seca,do peso do

fruto inteiro. Já quando esta é processada através do beneficiamento a seco dos grãos de café,

aproximadamente 50% em massa destes são considerados resíduos (BRAHAN, 1978). Sendo

assim, pode-se notar a grande quantidade de resíduos gerados durante o processamento do

café, além do que, a polpa do café e a casca contêm cafeína, taninos e matéria orgânica, que

quando descartados indevidamente no meio ambiente se tornam um poluente.

O resíduo ainda é pouco aproveitado em outros processos, mesmo este apresentando grande

quantidade de matéria orgânica. A polpa e a casca de café ainda se limitam a aplicações como

alimentação de animais, fertilizantes, entre outras utilizações simples. Porém, estas aplicações

utilizam apenas uma fração pequena do resíduo e não são tão eficientes tecnicamente

(PANDEY, 2000).

2.4 Biodegradação

Materiais biodegradáveis são todos aqueles que podem sofrer decomposição em dióxido de

carbono, água, metano, compostos inorgânicos ou biomassa, onde a ação enzimática de

microrganismos é o mecanismo que predomina nadecomposição. Um material será

biodegradado quando este for utilizado como nutriente por um determinado conjunto de

microorganismos (fungo, bactérias e algas) (BRITO, 2011). Estes microrganismos podem

realizar a degradação na presença ou na ausência de oxigênio, processos admitidos como

aeróbico e anaeróbico, respectivamente (MARINI, 2005). Os processos são mostrados a

seguir.

12

Processo aeróbico

Cpolímero + O2 CO2 + H2O + Cresíduo + Cbiomassa + Sais

Processo anaeróbico

Cpolímero CO2 + CH4 + H2O + Cresíduo + Cbiomassa + Sais

A completa biodegradação ocorre quando não há mais nenhum resíduo, e a completa

mineralização é estabelecida quando o substrato original (Cpolímero) é completamente

convertido em gases e sais (BASTIOLI, 2005). O ambiente onde o processo será realizado

deverá ser propício para o crescimento de microrganismos, sendo fatores importantes

temperatura, umidade, pH e oxigênio (MARIANI, 2005).

2.4.1 Etapas do processo de biodegradação

A biodegradação pode ser antecedida de processos de degradação físicos e/ou químicos, como

ocorre com polímeros inertes ao ataque de microrganismos. Deste modo, para que o seu

carbono seja disponibilizado, inicialmente sua fragmentação é feita por reações abióticas, as

quais podem ser a fotodegradação por luz natural, a oxidação por aditivos químicos, a

degradação térmica e a degradação mecânica (MARIANI, 2005).

Quando não ocorre a fragmentação abiótica no início, ou seja, quando o processo é totalmente

biótico, dois passos principais ocorrem na degradação do polímero: a despolimerização ou

fragmentação, e a mineralização(MARIANI,2005).

O primeiro passo normalmente ocorre na superfície do polímero, devido o tamanho de sua

cadeia e da natureza insolúvel de muitos. As responsáveis por esta etapa são as enzimas

extracelulares liberadas pelos microrganismos, que podem ser classificadas como endo-

enzimas (que realizam a clivagem aleatória sobre as ligações internas da cadeia polimérica)

ou exo-enzimas (responsáveis pela clivagem sequencial nas unidades monoméricas terminais

da cadeia principal)(BASTIOLI, 2005).

Uma vez formados os fragmentos monoméricos, estes são transportados para dentro da célula,

onde serão mineralizados. Os produtos deste processo, além de triofosfato de adenosina

(ATP), são os gases (por exemplo, gás carbônico, metano, nitrogênio, hidrogênio), água, sais,

minerais e biomassa. Podem ocorrer muitas variações deste processo geral de biodegradação,

dependendo do polímero, do organismo, e do ambiente. No entanto, sempre haverá em um

estágio ou outro o envolvimento de enzimas (BASTIOLI, 2005).

13

2.5 Influência do solo na biodegradação

O solo pode variar muito de um local para o outro, uma vez que este é afetado por vários

parâmetros. Um destes é a temperatura que é diretamente dependente do clima da região.

Outro parâmetro é o quantidade de água no solo dependente das chuvas, irrigação (quando

aplicada) e também influenciada pela capacidade de retenção de água do solo. Além destes,

outros parâmetros a serem levados em consideração são a composição química do solo,

fatores geográficos e pH. Como consequência da ação destes diversos parâmetros, a atividade

microbiológica e consequentemente a atividade de biodegradação pode variar de região para

região (BASTIOLI, 2005).

Como o solo afeta diretamente na biodegradação faz-se necessário analisar algumas condições

deste para se obter resultados mais confiáveis quando se realiza testes de biodegradação em

solo.

2.5.1 Distribuição Granulométrica

A distribuição granulométrica de partículas do solo influencia diretamente na quantidade de

água que entra no solo, na difusão de gás na superfície do solo, na transferência de calor e na

porosidade.Todos esses fatores em ação conjunta influenciam no crescimento de

microrganismos e assim na atividade de biodegradação (BASTIOLI, 2005).

Em solos arenosos a difusão de gás é facilitada, deste modo neste estarão presentes

microrganismos aeróbios tais como fungos. No entanto, em solos argilosos ocorre a formação

de blocos, dificultando a areação do solo, o que também atrapalha o crescimento de

microrganismos aeróbios. Outro fator afetado pela distribuição granulométrica é a umidade do

solo, que pode favorecer ou não o desenvolvimento de vida microbiana, dependendo das

restrições necessárias para a sobrevivência de cada espécie (BASTIOLI, 2005).

Deve-se levar em consideração que a influência do solo na atividade de biodegradação não é

composta apenas de sua distribuição granulométrica, uma vez que as condições oferecidas

pelo solo ao crescimento de microrganismos dependem de diversos fatores como já citado

anteriormente (BASTIOLI, 2005).

2.5.2 Comunidade microbiana do solo

14

Os microrganismos que fazem parte da comunidade microbiana do solo pertencem aos

seguintes grupos: bactérias, fungos e protozoários. Sendo que as bactérias constituem uma

maior dominância (GENNARO, 2011).

Dentre os microrganismos citados, as bactérias e os fungos atuam na biodegradação de

plásticos biodegradáveis. As bactérias apresentam melhores possibilidades de colonização e

biodegradação, uma vez que são capazes de agir em ambientes aeróbios e anaeróbios, além de

apresentarem uma ampla escala de adaptação a temperatura (CORDI, 2008). Enquanto os

fungos na sua maioria são microrganismos aeróbios, mas mesmo assim tem uma alta

contribuição no processo de biodegradação.

É interessante realizar testes para analisar a população microbiológica do solo onde são feitos

os testes de biodegradação, visto que estes realizam a degradação dos polímeros

biodegradáveis.

15

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Corpos de Prova

3.1.1 Composição e processamento dos corpos de prova

Os corpos de prova foram confeccionados na empresa M&G Fibras Brasil S/A, localizada em

Poços de Caldas.

Para a incorporação da palha de café, primeiramente esta foi triturada e em seguida realizou-

se um peneiramento da mesma utilizando peneiras do tipo Tyler a fim de se realizar uma

separação granulométrica. A palha de café utilizada na incorporação a PCL possui

granulometria de 0,075mm.

A PCL utilizada foi da marca Sigma-Aldrich com as seguintes características: temperatura de

fusão de 60°C, peso molecular médio 14000 e densidade de 1,146 g/mL.

Utilizou-se uma micro extrusora monorosca da marca AX para o processamento e a

temperatura de trabalho em todas as 3 zonas de aquecimento foi de 100ºC. Para este trabalho

optou-se por utilizar as composições demonstradas na Tabela 1.

Tabela 1 -Composição dos corpos de prova

Sigla PCL (%) Palha de café (%)

PCL 100 100,0 0,0

PCL+1%PC 99,0 1,0

PCL+5% PC 95,0 5,0

Uma vez que não se encontrou na literatura trabalhos em que a palha de café é utilizada como

carga orgânica para a PCL, optou-se por utilizar as composições dos corpos de prova com as

porcentagens de 1 e 5% de palha de café. Com isto pretende-se avaliar se a palha de café

apresenta alguma compatibilidade com a PCL.

Após a extrusão utilizou-se uma prensa aquecida a 100°C para a confecção dos filmes de

prova com massa de 1g. Posteriormente estes filmes foram cortados para serem utilizados no

teste de biodegradação.

3.1.2 Caracterização

16

3.1.2.1 Análise Visual

Para analisar visualmente os efeitos da adição da palha de café a PCL utilizou-se um

Estereoscópio da marca Olympus.

3.1.2.2 Calorimetria Exploratória Diferencial

Os corpos de prova foram submetidos à técnica de calorimetria exploratória diferencial (DSC)

antes do teste de biodegradação. Esta técnica foi utilizada para a identificação da temperatura

de fusão (Tm) e entalpia de fusão (ΔHm) dos materiais obtidos. Os parâmetros térmicos foram

determinados com o auxilio de um calorímetro DSC marca TA modelo Q-100. As amostras

da ordem de 1g foram aquecidas de 30 a 120ºC com uma razão de aquecimento de 10ºC/min,

sob atmosfera de nitrogênio. O grau de cristalinidade (Xc) foi calculado a partir da Equação

1(MARIANI, 2010):

(1)

: cristalinidade da amostra

: entalpia e fusão experimental (Jg-1

)

: entalpia de fusão da PCL 100% cristalina = 136 Jg

-1

: fração mássica de PCL na composição do corpo de prova

3.1.3 Teste de biodegradação em solo

O teste de biodegradação está ocorrendo na cidade de Andradas no estado de Minas Gerais.

Na realização do teste os corpos de prova foram enterrados à profundidade de 3 a 5 cm e este

terá duração de 180 dias, sendo que os corpos de prova foram retirados de 30 em 30 dias,

porém neste trabalho são analisados apenas os resultados do teste de biodegradação das

amostras retiradas até 120 dias As amostragens são realizadas em triplicata para cada

composição.

O teste se iniciou em 01 de setembro de 2013, com previsão de término no dia 28 de fevereiro

de 2013.

17

3.1.3.1 Determinação da perda de massa dos filmes

Antes de serem enterrados, os corpos de prova foram mantidos em um dessecador até peso

constante e então pesados. Após serem retirados do solo estes foram lavados com água e

etanol 70% e em seguidas foram colocados no dessecador novamente, onde permaneceram até

apresentarem massa constante. A massa final dos corpos de prova foi aferida e anotada. O

cálculo de perda de massa utilizada é dada pela Equação 2.

Perda de massa

(2)

Onde:

: Massa inicial do corpo de prova (g)

: Massa final do corpo de prova (g)

Os dados de perda de massa foram submetidos a tratamentos estatísticos baseados na análise

de variância (ANOVA) e diferença entre médias pelo teste de Tukey com nível de

significância de 5%. Através deste tratamento estatístico objetivou-se analisar se há diferença

significativa entre a perda de massa das amostras.

3.2 Análise do Solo

A fim de caracterizar o solo onde as amostras foram enterradas, este foi submetido à análise

granulométrica e análise microbiológica.

3.2.1 Análise Granulométrica

A análise granulométrica foi realizada seguindo as normas NBR 6457, Amostras de solo –

Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização, do ano de 1986 e NBR

7181, Solo – Análise Granulométrica, do ano de 1984.Todas as equações utilizadas para obter

os resultados foram retiradas das normas e se encontram no Anexo A.

3.2.2 Análise Microbiológica do solo

Toda a análise microbiológica foi realizada no laboratório de análises clínicas na Faculdade

Metrocamp de Campinas, segunda a metodologia proposta por Neusely Silva et. al,2010, no

Manual de Métodos de Análise Microbiológica de Alimentos e Água. Foram feitas

18

inoculações para realizar a contagem de microrganismos totais, bolores e leveduras,

coliformes totais, termotolerantes e E.coli. Os métodos utilizados para cada contagem foram:

plaqueamento em profundidade com meio de cultura Ágar Padrão para Contagem

(PCA),plaqueamento em superfície, com meio de cultura Agar Sabouraud com cloranfenicol e

método do número mais provável (NMP) utilizando o caldo Lauril Sulfato Triptose (LST)

para inoculação das alíquotas, respectivamente.

19

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Caracterização

4.1.1 Análise Visual

A Figura 3 mostra as fotos feitas dos corpos de prova com ampliação de 25 vezes. Pode-se

observar que quanto maior é a porcentagem de palha de café adicionada a PCL mais escura é

a coloração apresentada pela amostra. Ainda é possível visualizar que quanto mais baixa é a

porcentagem de palha de café maior é a miscibilidade com a PCL, no entanto esta análise

visual não é suficiente para comprovar esta afirmação.

Figura 3-Fotos dos corpos de prova: (A) PCL; (B) PCL+1%PC; (C) PCL+5%PC

4.1.2 Calorimetria Exploratória Diferencial

A Tabela 2 apresenta os parâmetros térmicos obtidos via DSC e a cristalinidade dos corpos de

prova, sendo esta última calculada através da Equação 1. As curvas DSC obtidas se

encontram no Anexo B, Figuras 5 a 7.

(A) (B)

(C)

20

Tabela 2 -Parâmetros térmicos e cristalinidade das amostras

Amostra Tm (°C) ΔH (J/g) Xc (%)

PCL 60,95 59,47 43,73

PCL + 1% PC 60,81 60,76 45,13

PCL + 5% PC 59,30 68,17 52,76

Observa-se que a temperatura de fusão da PCL diminui com a adição de palha de café. Isto é

um fator importante, uma vez que para polímeros semicristalinos a diminuição do ponto de

fusão é um método muito utilizado para se estudar a miscibilidade entre os componentes do

polímero. Segundo Mariani (2010, p.60) uma vez que ocorra alguma miscibilidade entre os

componentes do polímero há uma diminuição da temperatura de fusão no equilíbrio.

Em relação à entalpia de fusão, pode-se notar que há indícios de que esta aumenta com a

adição de palha de café e consequente a isso a cristalinidade também apresenta o mesmo

comportamento. Sugere-se que este efeito esteja relacionado ao aumento da compatibilidade

da PCL e a palha de café. No entanto, os dados obtidos não são suficientes para suportar essa

afirmação, pois não foram feitas repetições do DSC, a fim de se avaliar se este

comportamento se repetiria.

De acordo com Canevarolo (2006) a cristalização pode ser favorecida devido a existência de

grupos capazes de formar fortes ligações intermoleculares secundárias, sendo assim seria

necessário um estudo mais detalhado da composição química da palha de café para se

identificar quais e como estes grupos influenciam na cristalinidade da PCL.

4.2 Teste de biodegradação em solo

As fotos dos corpos de prova antes e depois do teste de biodegradação se encontram no

Anexo C.

A análise estatística da perda de massa dos corpos de prova foi aplicada apenas ao teste de

biodegradação de 30, 60, 90 e 120 dias, pois este ainda está em andamento. A perda de massa

foi calculada a partir da Equação 2.

A partir das médias das triplicatas de perda de massa, observou-se através da análise de

variância (ANOVA) que há uma diferença significativa com intervalo de confiança de 95%

entre os três tipos de corpo de prova. Uma vez que o resultado da análise de variância foi

21

positivo realizou-se o teste de Tukey para identificar quais corpos de prova apresentam tal

diferença significativa de perda de massa. O resultado da análise estatística através do teste de

Tukey se encontra na Tabela 3.

Tabela 3 -Porcentagem de perda de massa médias dos corpos de prova em função do tempo de

incubação em solo

Amostra Perda de massa média do polímero (%)

30 dias 60 dias 90 dias 120 dias

PCL 1,56 ± 0,25A 2,56 ± 0,08

A 4,53 ± 1,76

A 6,18 ± 1,41

A

PCL + 1%PC 1,90 ± 0,10A 4,96 ± 0,73

A 9,14 ± 0,61

B 13,96 ± 2,16

B

PCL + 5%PC 3,25 ± 0,54B 7,45 ± 1,67

B 11,60 ± 1,21

B 14,80 ± 2,69

B

Médias com letras sobrescritas diferentes na mesma coluna diferem entre si (Teste Tukey, P<0,05)

Analisando os dados da Tabela2pode-se observar que desde o teste de biodegradação de 30

dias o filme PCL+ 5%PC foi o que apresentou a maior média de perda de massa. E isto se

evidencia quando se analisa os resultados do Teste de Tukey, pois uma vez em que em uma

mesma coluna uma das médias apresenta uma letra sobrescrita diferente das demais, esta é

considerada diferente. Assim, pode-se dizer que desde a primeira retirada do solo o corpo de

prova PCL+ 5%PC apresentou perda de massa média significativamente diferente dos outros.

Analisando a perda de massa média do polímero PCL + 1%PC, pode-se perceber que nos

testes de biodegradação de 30 e 60 dias este não apresentou perda de massa

significativamente diferente da PCL pura. Porém, nota-se que no teste de 90 dias este corpo

de prova apresentou uma alta perda de massa, e como resultado do Teste de Tukey apresentou

uma letra sobrescrita diferente da PCL pura, portanto a sua perda de massa foi

significativamente diferente, assim como o filme PCL+5%PC.

No teste de 120 dias, as amostras com palha de café incorporada em sua estrutura

apresentaram perda de massa significativamente diferente da PCL pura, assim como no teste

de 90 dias. No entanto pode-se observar nos dados da Tabela 3 que estas últimas amostras

retiradas do solo apresentam um alto desvio padrão quando comparadas as demais. Isto é

explicado pela dificuldade em se recuperar todos os fragmentos das amostras conforme passa-

se o tempo que estas ficam enterradas no solo.

Analisando todos os resultados de uma maneira geral, pode-se dizer que a incorporação da

palha de café aumentou a biodegradação da PCL.

22

A partir do teste de 90 dias é possível notar que não há mais diferença significativa entre as

duas amostras com palha de café em sua composição, o corpo de prova PCL+1%PC se mostra

como melhor opção por possuir uma coloração mais aceitável.

Visto que a PCL é um polímero biodegradável, analisou-se apenas se houve diferença

significativa entre as perdas de massa da PCL pura e com a incorporação carga a fim de se

avaliar se a palha de café influenciaria na perda de massa da PCL no teste de biodegradação

em solo.

4.3 Análise do Solo

4.3.1 Análise Granulométrica

Utilizando a Equação 3 do Anexo Afoi possível calcular a umidade higroscópica do solo

analisado, sendo que o valor encontrado foi de 18,28%. Os valores de massa do solo úmido e

do solo seco se encontram na Tabela 4.

Tabela 4 -Dados utlizados no cálculo da umidade higroscópica

Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3

Solo úmido 33,10 33,37 33,51

Solo seco 28,04 28,23 28,26

Umidade higroscópica (%) 18,05 18,21 18,58

Umidade higroscópica média (%) 18,28

Foram realizados dois peneiramentos, os dados obtidos a partir do peneiramento grosso estão

dispostos na Tabela 5. Os valores de porcentagem de massa de solo que passou por cada

peneira foi calculado a partir das Equações4 e 5 do Anexo A.

Tabela 5 -Dados obtidos através do peneiramento grosso

Abertura da

peneira (mm)

Massa de solo retido

acumulado (g)

% de massa que passa

pela peneira

50,00 0,00 100,00%

38,00 0,00 100,00%

25,00 0,00 100,00%

29,00 0,00 100,00%

9,50 5,70 99,39%

4,75 22,42 97,59%

23

Realizou-se também o peneiramento fino e assim como para o peneiramento grosso pode-se

calcular a porcentagem de massa de solo que passou por cada peneira utilizando a Equação 6

do Anexo A. Os dados calculados para este peneiramento podem ser encontrados na Tabela 6.

Tabela 6 -Dados obtidos através do peneiramento fino

Abertura da peneira (mm) Massa de solo retido

acumulado (g)

% que passa pela

peneira

1,180 11,42 80,72%

0,600 32,55 63,51%

0,425 45,16 53,24%

0,250 61,33 40,07%

0,150 71,87 31,49%

0,075 80,36 24,58%

< 0,075 81,98 23,26%

Através dos dados encontrados nos dois peneiramentos foi possível construir uma curva de

distribuição granulométrica (Figura 4) do solo analisado.

Figura 4-Curva de distribuição granulométrica do solo

24

A norma NBR 7181, 1984 propõe que além do peneiramento do solo seja realizado o ensaio

de sedimentação, a fim de caracterizar as partículas mais finas do solo. Porém, analisando a

curva de distribuição de análise granulométrica pode-se perceber que cerca de 65% do solo é

composto de areia, por esse motivo optou-se por realizar apenas o peneiramento do solo.

Analisando os dados obtidos através do peneiramento pode-se dizer que o solo analisado se

classifica como arenoso, o que significa dizer a fração de areia (cerca de 65%) é maior do que

as outras, sendo a maior parte dela (28%) do tipo média. A Tabela 7 dispõe a composição

granulométrica do solo em estudo

Tabela 7 -Composição granulométrica do solo

Classificação Porcentagem em massa

Pedregulho 11%

Areia

Fina 12%

Média 28%

Grossa 25%

Silte e Argila 24%

4.3.2 Análise Microbiológica

4.3.2.1 Contagem total de microrganismos – Plaqueamento de Profundidade

Nas placas com diluição menor (10-1

, 10-2

e 10-3

) cresceram colônias de microrganismos, só

que nestas foi impossível contar, já que houve espalhamento destes. Na diluição 10-4

foi

possível realizar a contagem de colônias, nas duas amostras utilizadas, sendo esta a diluição

utilizada para a contagem de microrganismos totais. Já nas placas com diluições 10-5

, 10-6

e

10-7

não houve crescimento de microrganismos. A Tabela 8 mostra a contagem de UFC/ml

(Unidades Formadoras de Colônia/ml)

Tabela 8 -Contagem de microrganismos totais

Número de colônias nas placas de diluição Contagem

UFC/ml 10-1

10-2

10-3

10-4

10-5

10-6

10-7

Amostras

1 e 2 Inc – Inc Inc – Inc Inc – Inc 77 – 30 0 – 0 0 – 0 0 – 0

[(77+30)/2]x104 =

53,5x104 =

5,4x105

Sendo assim, no solo analisado, notou-se a presença de 5,4x105 UFC (unidades formadoras de

colônias) de microrganismos totais/ml.

25

4.3.2.2 Contagem de bolores e leveduras – Plaqueamento de Superfície

Em relação aos bolores e leveduras, na placa de diluição 10-1

houve o crescimento de

colônias, porém estas estiveram incontáveis devido ao seu espalhamento.

As placas das amostras 1 e 2 de diluição 10-2

foram as únicas onde cresceram colônias

contáveis e a partir desta placa foi possível calcular as Unidades Formadoras de Colônias/ml

dos bolores e leveduras.

Nas diluições seguintes não houve formação de colônias. A Tabela 9 mostra a contagem de

UFC/ml (Unidades Formadoras de Colônia/ml) para os bolores e leveduras.

Tabela 9 -Contagem UFC para bolores e leveduras

Número de colônias nas placas de diluição

Contagem UFC/ml 10

-1 10

-2 10

-3 10

-4 10

-5 10

-6 10

-7

Amostras

1 e 2 Inc–Inc 19 – 13 0 – 0 0 – 0 0 – 0 0 – 0 0 – 0

[(19+13)/2]x102x10 =

16x103 =

1,6x104

Sendo assim, no solo analisado, notou-se a presença de 1,6x104 UFC de bolores e

leveduras/ml.

4.3.2.3 Contagem de coliformes totais, termotolerantes e E.coli

Todos os tubos tiveram produção de gás e turvação nos dois testes, sendo assim, foram

feitas as contagens para coliformes termotolerantes e E.coli separadamente.

4.3.2.4 Contagem de coliformes totais

Todos os tubos contendo caldo Verde Brilhante 2% tiveram resultados positivos, ou seja,

produção de gás e turvação do meio. Como a análise foi feita em triplicata, utilizou-se a tabela

do Anexo D para a contagem de coliformes totais. A Tabela 10 mostra os resultados obtidos.

26

Tabela 10 - Cálculo dos resultados para tubos VB usando a tabela NMP

Número de tubos positivos nas alíquotas (g ou ml) Combinação

considerada

Resultados

(NMP/ml) 0,1 0,01 0,001

3 3 3 3-3-3 >1100 =

>1,1x103

Sendo assim, para os coliformes totais encontrou-se uma quantidade maior do que 1,1x103

NMP/ml.

4.3.2.5 Contagem de termotolerantes e E.coli

Os tubos contendo caldo E.coli também tiveram detecção positiva em todos, ou seja, foi

produzido gás e houve turvação do meio. Sendo a análise feita em triplicata, utilizou-se a

tabela do Anexo D para contagem de coliformes termotolerantes e E.coli. A Tabela 11 traz os

resultados obtidos.

Tabela 11 - Cálculo dos resultados para tubos EC usando a tabela NMP

Número de tubos positivos nas alíquotas (g ou ml) Combinação

considerada Resultados

0,1 0,01 0,001

3 3 3 3-3-3 >1100

=>1,1x103

Sendo assim, para os coliformes termotolerantes encontrou-se uma quantidade maior do que

1,1x103 NMP/ml. Além de ser confirmada a presença de E.coli.

27

5 CONCLUSÃO

Através da Calorimetria Exploratória Diferencial foi possível observar indícios de que houve

miscibilidade entre a palha de café e a policaprolactona através da análise do ponto de fusão

das amostras. Além disso, a análise da cristalinidade das amostras também mostrou que este

parâmetro aumentou com a adição da palha de café, indicando a compatibilidade entre o

polímero e a carga.

O ensaio de biodegradação em solo mostrou que desde o teste de 30 dias a amostra

PCL+5%PC já apresentava perda de massa significativamente diferente da policaprolactona

pura, já a PCL+1%PC mostrou o mesmo comportamento apenas no teste de 90 dias. Mesmo

que o teste de biodegradação continue em andamento, obtiveram-se resultados positivos desde

a primeira retirada das amostras do solo. Assim, pode-se concluir que a incorporação da palha

de café como carga orgânica a PCL aumentou a sua taxa de biodegradação no solo. Visto que

ambas as composições com palha de café se mostraram mais biodegradáveis que a

policaprolactona pura, conclui-se que a PCL+1%PC é a opção mais viável, sendo que tal

composição não afeta tanto a coloração do polímero. Não foi possível realizar testes de

biodegradação a nível laboratorial, porém o teste de biodegradação em solo foi satisfatório

para este trabalho, apesar da policaprolactona já ser um polímero biodegradável, foi

verificado que esta apresentou maior perda de massa com a incorporação da palha de café.

A utilização da palha de café como carga orgânica para a PCL se mostrou uma opção viável,

uma vez que esta carga é encontrada em abundância e não apresenta custo algum. Além de

aumentar à perda de massa da PCL no meio ambiente a incorporação da palha de café

também proporciona uma diminuição do custo do polímero, sendo que utilizando a mesma a

quantidade de PCL empregada será menor. Outro ponto positivo na utilização da palha de

café é a retirada desta do meio ambiente, pois quando descartada inadequadamente se torna

um poluente.

Em relação ao solo, após a análise granulométrica e microbiológica classificou-se o solo

como um solo arenoso, e conforme dito no desenvolvimento do trabalho, nos solos arenosos a

difusão de gás é facilitada, sendo assim houve confirmação de uma grande quantidade de

microrganismos aeróbicos, como os bolores e leveduras (fungos) que são grandes

decompositores. Através da análise microbiológica foi possível notar uma grande quantidade

de bactérias presentes, que também são grandes decompositores. Assim pode-se dizer que

devido às características analisadas que o solo utilizado pode ter contribuído para os

resultados finais de biodegradação.

28

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Acesso em: 15 de agosto de 2013.

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Disponível em:

http://file.abiplast.org.br/download/estatistica/perfil2012_versao_eletronica.pdf. Acesso em:

15 de agosto de 2013.

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dioctilftalato em poli (cloreto de vinila). 2009. Dissertação (Doutorado em Engenharia

Química) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2009.

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engenheiros. 2. ed. São Paulo: Artliber, 2006.

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em

:<http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/12_09_11_16_41_03_prospeccao_1

2_13.pdf> Acesso em: 20 de Agosto de 20113.

29

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SILVA, N. et. al. Manual de Métodos de Análise Microbiológica de Alimentos e Água. 4

ed. São Paulo, 2010.

30

ANEXO A –Cálculos para Análise Granulométrica

Umidade higroscópica

(3)

h = umidade higroscópica (teor de umidade) em %

m1 = massa do solo úmido

m2 = massa do solo seco

Massa total da amostra seca

(4)

ms= massa total da amostra seca

mt = massa da amostra seca ao ar

mg = massa do material seco retido na peneira de 2,0 mm

h = umidade higroscópica do material passado na peneira de 2,0 mm

Porcentagem de materiais do peneiramento grosso

(5)

Qg = porcentagem de material passado em cada peneira

ms= massa total da amostra seca

mi = massa do material retido acumulado em cada peneira

Porcentagem de materiais do peneiramento fino

( )

(6)

Qf = porcentagem do material passado em cada peneira

mh = massa do material úmido submetido ao peneiramento

h = umidade higroscópica do material passado na peneira de 2,0 mm

mi = massa do material retido acumulado em cada peneira

Q2,0mm = porcentagem de material que passa na peneira de 2,0 mm calculado segundo a

Equação 5.

31

ANEXO B – Curvas de DSC

Figura 5-Curva DSC para PCL 100

Figura 6-Curva DSC para PCL+1%PC

32

Figura 7-Curva DSC para PCL+5%PC

33

ANEXO C – Fotos dos corpos de prova antes e depois do teste de biodegradação

PCL 100 PCL+1%PC PCL+5%PC

Antes do teste

de

biodegradação

Teste de

biodegradação

30 dias

Teste de

biodegradação

60 dias

Teste de

biodegradação

90 dias

Teste de

biodegradação

120 dias

34

ANEXO D–Tabelas de NMP

Tabela 12 -Número Mais Provável (NMP) e intervalo de confiança a nível de 95% de

probabilidade, para diversas combinações de tubos positivos em série de três tubos.

Quantidade inoculada da amostra: 0,1 – 0,01 – 0,001 ml.

Fonte: BacteriologicalAnalytical Manual (SILVA, 2010).