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Estudo da Cadeia Produtiva da Carne Seca no Município da Chibia Província da Huíla Setembro 2014 Administração Municipal da Chibia Fundo de Apoio Social

Estudo da Cadeia Produtiva da Carne Seca no Município da ...fas.co.ao/.../uploads/2017/02/Cadeia-Produtiva_Carne-Seca_Chibia.pdf · Importação de carne seca de vaca (milhares $)

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Estudo da Cadeia Produtiva da

Carne Seca no Município da Chibia

Província da Huíla

Setembro 2014

Administração Municipal da Chibia

Fundo de Apoio Social

Ficha Técnica

Título: Estudo da Cadeia Produtiva da Carne Seca no Município da Chibia Organização: Fundo de Apoio Social (FAS) Coordenação Institucional: Santinho Filipe Figueira, Director Geral Helena Farinha, Directora Geral Adjunta Autoria: Impulso Angola Lda. Consultores: Hugo Lasala (Consultor Impulso Angola) João Pinto (Consultor Internacional) José M.L. Batuque (Consultor Nacional) Gestão e Colaboração Municipal: Frederico Sanumbutue - Director Provincial/FAS Huíla Maria Lourdes Faria – Especialista de Desenvolvimento Económico Local / FAS Huíla Fotografias: Hugo Lasala e João Pinto. Design da capa e composição das imagens: Impulso Angola Lda.

Índice 1. INTRODUÇÃO ...................................................................... 13

1.1. Contextualização .......................................................................... 13 1.2. Metodologia ................................................................................. 15

2. ENQUADRAMENTO SECTORIAL ................................... 19

2.1. Carne Seca: aspectos tecnológicos e culturais ....................................... 19 2.2. Contextualização do sector a nível mundial ......................................... 22 2.3. Contextualização do sector em Angola (Nacional, Provincial, Municipal .... 25 2.4. Exemplos de experiências de sucesso .................................................. 30

3. MAPEAMENTO DA CADEIA PRODUTIVA ................... 39

3.1. Segmento Fornecedores de Insumos .................................................. 40 3.2. Segmento Criação de Animais .......................................................... 41 3.3. Segmento Intermediários ................................................................ 45 3.4. Segmento Abate ............................................................................ 47 3.5. Segmento Comércio Retalho de Carne Fresca ...................................... 49 3.6. Segmento Transformação ............................................................... 51 3.7. Segmento Comércio Retalho de Carne Seca ......................................... 55 3.8. Segmento Consumo ....................................................................... 56 3.9. Ambiente Institucional ................................................................... 57 3.10. Ambiente político-normativo .......................................................... 60

4. ANÁLISE DA CADEIA ........................................................ 65

4.1. Visão sistémica da cadeia ................................................................ 65 4.2. Canais de Distribuição ................................................................... 66 4.3. Análise do Produto ........................................................................ 69 4.4. Análise económica/financeira ........................................................... 71 4.5. Análise crítica: desempenho e governança........................................... 78 4.6. Análise SWOT ............................................................................. 85

5. RECOMENDAÇÕES ESTRATÉGICAS ........................ 89

5.1. Acções estratégicas ........................................................................ 89 5.2. Priorização das intervenções ............................................................ 93

6. ANEXOS ................................................................................. 97

Índice de Figuras e Fotografias Figura 1 - Volume de exportações de carne seca no ano 2011 em $. ......................................... 22 Figura 2 - Volume de exportações de carne seca no ano 2011 em Kg. ....................................... 22 Figura 3 - Evolução da exportação de carne seca. ...................................................................... 23 Figura 4. Percentagem de importação (em USD) de carne seca por zona geográfica e por tipo de carne. ...................................................................................................................................... 24 Figura 5. Opção de Secador de Túnel de custo menor) ............................................................... 32 Figura 6. Opção de Secador de Túnel de custo menor ................................................................ 33 Figura 7. Mapeamento Cadeia Carne Seca do Município da Chibia ........................................... 39 Figura 8. Fluxograma do processo de secagem (tradicional e moderno) ................................... 53 Figura 9. Fluxograma da cadeia produtiva da carne seca no município da Chibia ..................... 65 Figura 10. Mapa de canais de distribuição da cadeia produtiva da carne seca no município da Chibia ........................................................................................................................................... 67

Fotografia 1. Secador Solar Directo: secador solar instalado por Oxfam ................................... 31 Fotografia 2. Secador Solar Directo multi-colector ..................................................................... 32 Fotografia 3. Construção de secador solar de baixo custo. Parte inferior feita de placa de aço ondulado pintado de preto. Viga de madeira como suporte da tela de plástico transparente para cobrir o secador. ................................................................................................................. 32 Fotografia 4. Secador solar simples coberto com tela transparente de plástico resistente. ...... 32 Fotografia 5. Secador solar de túnel funcional e simples. Parte dianteira do colector solar com uma entrada e dois ventiladores eléctricos para o reforço da circulação de ar. Painel fotovoltaico na parte superior da parte dianteira. Colector com chapa inferior ondul .............. 33 Fotografia 6. Secador de túnel de custo maior. Tecto em forma de colector solar, a parte superior é feita de metal e a parte inferior de painel de poliuretano coberto de metal. Comprimento 15 m ...................................................................................................................... 34

Índice de Tabelas Tabela 1.Fases do trabalho ......................................................................................................... 15 Tabela 2. Tipologia de actores entrevistados .............................................................................. 16 Tabela 3.Principais produtos cárneos desidratados .................................................................... 20 Tabela 4. Composição nutricional por 100 gr de alguns tipos de carne desidratada ................. 21 Tabela 5. Custo unitário de carne seca de acordo com o tipo de carne ($/Kg). .......................... 23 Tabela 6. Efectivos pecuários, produção e consumo de carne em Angola (Dados FAO)............. 25 Tabela 7. Efectivos pecuários, produção e consumo de carne em Angola (Dados Ministério da Agricultura) ................................................................................................................................. 25 Tabela 8. Importação de carne seca de vaca (milhares $). ......................................................... 27 Tabela 9. Efectivo pecuário, abate e produção de carne de bovino a nível provincial. .............. 29 Tabela 10. Efectivo pecuário estimado a nível municipal ........................................................... 30 Tabela 11. Principais insumos e serviços básicos da cadeia de carne seca ................................. 41 Tabela 12. Perfil climático e calendário criação e venda de bovinos .......................................... 44 Tabela 13. Principais características dos diferentes tipos de criadores de gado bovino ............ 44 Tabela 14. Tipologia de mercados de animais vivos ................................................................... 47 Tabela 15. Principais custos de abate ......................................................................................... 49 Tabela 16. Principais características dos operadores de venda de carne fresca a retalho ......... 50 Tabela 17. Análise de perigos durante o processo de transformação da carne seca ................. 54 Tabela 18. Ambiente institucional da cadeia produtiva de carne seca ....................................... 57 Tabela 19. Ambiente político-normativo da cadeia produtiva de carne seca ............................. 60 Tabela 20. Descrição dos canais de distribuição da cadeia de carne seca no município da Chibia ..................................................................................................................................................... 68 Tabela 21. Critérios para aferição da qualidade da carne seca .................................................. 69 Tabela 22. Preços de venda da carne seca ao consumidor final ................................................. 70 Tabela 23. Análise econômica financeira da micro-empresa de transformação ........................ 71 Tabela 24. Análise econômica financeira do transformador- retalhista de barraca de mercado ..................................................................................................................................................... 72 Tabela 25. Análise econômica financeira do transformador-grossista ....................................... 73 Tabela 26. Análise econômica financeira do 1º Intermediário ................................................... 73 Tabela 27. Análise econômica financeira da vendedora no mercado informal .......................... 74 Tabela 28. Resumo análise económica/financeira dos actores analisados ................................ 76 Tabela 29. Outros parâmetros económicos dos actores analisados ........................................... 78 Tabela 30. Principais pontos críticos da cadeia ........................................................................... 79 Tabela 31. Parâmetros de análise relacionados com os segmentos da cadeia .......................... 80 Tabela 32. Análise SWOT da cadeia produtiva de carne seca no município da Chibia ............... 85 Tabela 33. Proposta de acções estratégicas para a cadeia de carne seca.................................. 89 Tabela 34. Acções estratégicas para a cadeia de carne seca...................................................... 90 Tabela 35. Proposta de sistema de factores de ponderação ...................................................... 93

Introdução

I

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1. Introdução

1.1. Contextualização Este trabalho foi realizado pela empresa Impulso Angola em resposta a um concurso público do Fundo de Apoio Social (FAS) no âmbito do Projecto de Desenvolvimento Local (PDL) para a realização do estudo da cadeia produtiva de Carne Seca no Município da Chibia, Província da Huíla.

O FAS é uma agência governamental dotada de personalidade jurídica e autonomia financeira e administrativa, criada em 1994, que visa contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável e redução da pobreza no país. Até meados do ano transacto foi tutelado pelo então Ministério do Planeamento, agora Ministério do Planeamento e Desenvolvimento Territorial. Actualmente, é tutelado pelo Ministério da Administração do Território, estando a ser revisto o seu estatuto na perspectiva de que passe a ser uma instituição que financia iniciativas de desenvolvimento local dos municípios em Angola. O FAS possui actualmente 18 escritórios provinciais e um quadro de pessoal com funcionários efectivos e consultores.

O FAS focaliza a sua actuação através de abordagens participativas a partir das demandas das comunidades, dirigindo as suas actividades ao investimento social nas áreas de educação, água e saneamento, saúde, infra-estruturas básicas, desenvolvimento da economia local e ao reforço de capacidades das instituições locais.

O PDL tem como objectivo apoiar o Governo de Angola na implementação da estratégia de desenvolvimento de longo prazo Angola 2025, em complementaridade com as iniciativas das Províncias e Municípios, e estrutura-se em três componentes principais:

Componente 1 - Infra-estruturas sociais e económicas, visando desagravar as assimetrias territoriais e disparidades sociais no acesso aos bens públicos básicos.

Componente 2 - Desenvolvimento da Economia Local, visando melhorar o bem-estar social com base numa economia local diversificada.

Componente 3 - Fortalecimento de capacidades das instituições locais, visando a prestação de serviços de qualidade às famílias mais pobres.

Em particular, os estudos de cadeias produtivas inserem-se no âmbito da Componente 2, a qual apresenta os seguintes objectivos específicos:

• Gerar oportunidades de emprego e o aumento da renda familiar • Melhorar a capacidade empreendedora dos pequenos produtores, artesãos e

prestadores de serviço • Incentivar e apoiar a criação de pequenas indústrias de transformação • Revitalizar o mercado local • Estimular a produção local e vocações regionais

***

Em conformidade com os termos de referência, pretendeu-se com este trabalho realizar um estudo de cadeia produtiva visando identificar e caracterizar os diferentes segmentos existentes e actores intervenientes, bem como realizar uma análise crítica que permitisse identificar os principais obstáculos e potencialidades e as possíveis acções estratégicas para um melhor desempenho da cadeia numa perspectiva de desenvolvimento da economia local.

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Este relatório encontra-se dividido em cinco partes principais. Na Parte I faz-se uma breve contextualização da consultoria no âmbito do trabalho do FAS e descreve-se a metodologia utilizada para a realização do estudo. Na Parte II faz-se uma contextualização do sector produtivo a nível mundial, nacional, provincial e municipal. Alguns casos de sucesso e outras experiências com relevância para a cadeia produtiva são também descritas nesta parte. A Parte III consiste no mapeamento da cadeia por forma a identificar e caracterizar os diferentes segmentos existentes e os actores intervenientes. Na Parte IV inclui-se uma análise crítica da cadeia produtiva incluindo a caracterização dos principais canais de comercialização, análise do produto, análise de custos e margens, o desempenho e governança geral e a análise SWOT. Na Parte V identificam-se e caracterizam-se as acções estratégicas que podem ser levadas em consideração para melhorar o desempenho da cadeia produtiva.

***

Os estudos de cadeia produtiva solicitados pelo FAS foram precedidos pela elaboração de Diagnósticos de Perfil Municipal e de Relatórios de Linha de Base para cada município. O presente relatório da cadeia produtiva deve por isso ser lido em paralelo com esses relatórios nos quais consta informação relevante para a interpretação do contexto produtivo, social e económico do município em questão.

***

A Impulso Angola e a equipa de consultoria gostariam de expressar os seus agradecimentos à Administração Municipal da Chibia pela disponibilidade em acompanhar os trabalhos e apoiar nos contactos institucionais. Um agradecimento particular também à equipa central do FAS em Luanda e à equipa provincial do FAS na Huíla por todo o apoio prestado para a realização deste trabalho, incluindo o acompanhamento da maior parte das visitas de terreno. Por fim, um agradecimento a todos os actores entrevistados, incluindo a nível institucional e agentes da cadeia, os quais funcionaram como fontes de informação privilegiava para a realização deste estudo.

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1.2. Metodologia Este trabalho tomou como referência a proposta metodológica desenvolvida pelo SEBRAE para estudo sistemático de cadeias produtivas1. Entendeu-se que esta metodologia seria a mais adequada em função do contexto em análise e por possibilitar a incorporação de uma perspectiva de desenvolvimento económico local e superação da pobreza.

Esta abordagem privilegia o carácter sistémico das cadeias produtivas, considerando os diferentes agentes e as relações de interdependência que se geram entre si, bem como outros factores que afectam o seu desempenho e que podem estar localizados, no tempo ou no espaço, nos próprios segmentos da cadeia ou fora dela. Com base nesta perspectiva, analisar a cadeia produtiva significa compreender a sua estrutura e funcionamento, mas também o ambiente institucional e organizacional em que se insere, ou mesmo outros factores (ambientais, culturais, económicos ou tecnológicos) que a influenciam.

Esta abordagem assume características bastante práticas e orientadas para a acção que facilitam o processo de tomada de decisão por parte dos diferentes agentes e actores envolvidos. Por tal razão, o produto do estudo sistemático de cadeias produtivas deve orientar-se para a formulação de propostas de intervenção visando ultrapassar os obstáculos e aproveitar as potencialidades existentes, num contexto de desenvolvimento local.

O estudo desenvolveu-se entre os meses de Julho e Outubro 2014 e inclui uma missão de terreno, trabalho de gabinete e um workshop de validação final. A equipa de consultoria da Impulso Angola foi constituída por dois consultores internacionais e um consultor nacional, para além de pessoal técnico da empresa que apoiou a fase de trabalho em gabinete. A tabela seguinte resume as fases da elaboração deste trabalho.

Tabela 1. Fases do trabalho Julho/Agosto Agosto/Setembro Novembro

Preparação do trabalho

Missão de terreno (29/07 a 05/08): - Acção de Capacitação

- Colecta de Informação

- Restituição Preliminar

Análise e tratamento da informação Elaboração do Draft do Relatório

Workshop de Validação Elaboração do Relatório Final

No início da missão de terreno foi organizada uma acção de capacitação dirigida aos técnicos do FAS (Provincial), pessoal da Administração Municipal e outros actores relevantes convidados (agentes da cadeia, outras instituições). Esta capacitação visou apresentar a metodologia, discutir conceitos básicos e realizar um mapeamento preliminar da cadeia de forma participativa, com o intuito de orientar a equipa sobre as visitas de campo a realizar e os principais actores a entrevistar.

A colecta de informação baseou-se nos seguintes métodos: observação directa (visitas de campo), entrevistas semiestruturadas conduzidas por um processo não-probabilístico e intencional (agentes da cadeia, representantes institucionais, informantes-chave), focus group e análise documental (fontes secundárias: estatísticas, documentos oficiais, relatórios, diagnósticos disponíveis).

1 “Cadeias Produtivas Agroindustriais: Metodologia para Estudo Sistemático”. Brasília: SEBRAE/NA, 2000. 56pp.

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Foram entrevistados cerca de trinta pessoas, incluindo agentes da cadeia e informantes-chave de acordo com as tipologias identificadas na tabela seguinte:

Tabela 2. Tipologia de actores entrevistados Sector Estatal Agentes da Cadeia Mercados Informais Outros

Administração Municipal da Chibia (técnicos e responsáveis)

Direcção Provincial de Agricultura

Vice-Governadora Provincial

Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA)

Instituto de Serviços de Veterinária (ISV)

Camponeses

Intermediários de animais vivos

Casas de matança

Matadouro Industrial

Barracas de venda de carne

Vendedoras

Microempresa de transformação de carne seca

Lojas, talhos e supermercados

Restaurantes e Hotéis

Mercado do Hale

Mercado de Halunhanha

Mercado João de Almeida

Praça da Batata Doce

Cooperativa de Criadores de Gado do Sul de Angola (CCGA)

FAO

ADRA

A equipa local do FAS participou activamente e apoiou a equipa de consultores durante a missão de terreno facilitando assim a colecta de informação e os contactos locais. No final da missão de terreno realizou-se uma restituição à equipa local do FAS sobre os principais constrangimentos encontrados e algumas conclusões preliminares. O relatório preliminar contendo o tratamento e análise da informação foi objecto de discussão e validação num workshop final realizado no dia 18 de Novembro de 2014.

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Enquadramento Sectorial

II

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2. Enquadramento Sectorial

2.1. Carne Seca: aspectos tecnológicos e culturais O processo de secagem sob condições atmosféricas naturais (temperatura, humidade, circulação do ar e influência directa dos raios solares) é o método mais antigo de conservação da carne, sendo conhecido desde a antiguidade. A carne fresca é um produto de rápida perecibilidade. A secagem permite aumentar a vida útil do produto a um custo muito baixo e sem necessidade de energia eléctrica. Além disso, diminui os custos de armazenagem e transporte e permite a sua comercialização em mercados distantes.

O processo consiste na remoção de água da carne por desidratação, dado que a actividade microbiana diminuiu com a redução do teor de humidade. As condições ideais são temperaturas relativamente elevadas (calor), baixa humidade relativa (ar seco), boa circulação do ar (vento) e moderada variação da temperatura entre o dia e a noite. A adição de sal acelera o processo de remoção de água (desidratação) e introduz também propriedades antibacterianas.

Os pedaços de carne para secagem devem ser de tamanhos pequenos e iguais para que a secagem seja mais rápida e uniforme. A evaporação da água é muito rápida no primeiro dia de secagem, mas a partir daí torna-se mais lenta diminuindo de forma progressiva. Ao fim de três ou quatro dias a carne perde entre 50 a 70% do seu peso devido à evaporação da água. Durante o processo de secagem ocorrem também várias reacções bioquímicas, como o caso da oxidação da gordura que confere um sabor característico à carne seca. Se a carne tiver muita gordura o processo de oxidação torna-se mais intenso e a carne fica com sabor “rançoso” alterando as suas características organolépticas2.

Não existe uma classificação única para os produtos cárneos desidratados porque muitos destes produtos tradicionais ou industriais implicam uma mistura ou sequência de processos, entre os quais se inclui a secagem. No entanto, foi estabelecido que as carnes secas são as determinadas por uma estabilidade que se deve essencialmente à redução do seu conteúdo em água por secagem ao sol. As carnes de humidade intermédia dizem respeito às carnes estabilizadas através de uma combinação de técnicas que implica a desidratação. Estas são carnes desidratadas principalmente depois da cura; ou seja, a salga e/ou fermentação, cozedura e defumação.

Os produtos cárneos, elaborados a partir de peças ou aparas de carne, secos em condições naturais (ar e sol) e utilizando, no melhor dos casos, unicamente sal, costumam ser produtos autóctones, tradicionais, circunscritos a zonas muito concretas dentro dos distintos continentes. Este é o caso do biltong, do charque ou do tasajo.

Por outro lado, é possível encontrar produtos típicos que costumam conter, emboraapesar nem sempre, além do sal comum, também agentes da cura como nitratos, nitritos, etc., sendo a elaboração de forma mais industrializada. Exemplos destes produtos podem ser encontrados principalmente na Europa: Bindenfleisch, bresaola, presunto ou cecina. Na tabela seguinte podemos observar os principais produtos cárneos desidratados:

2 “Manual on simple methods of meat preservation”. Rome: Food and Agriculture Organization, 1990.

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Tabela 3. Principais produtos cárneos desidratados Produto Tipo Principais países produtores Carne utilizada

Kilishi Secagem e salga Países africanos do Sahel vaca, ovelha e cabra

Biltong Secagem e salga África do Sul vaca, caça, avestruz

Kaddid Secagem e salga Marrocos, Tunes ovelha ou cordeiro

Kundi Secagem e salga Nigéria camelo, vaca

Carne de Sol Secagem e salga Brasil Vaca

Unam inung Secagem e salga Nigéria Porco

Qwanta Secagem e salga Etiópia Vaca

Odka Secagem e salga Somália cordeiro

Chalona Secagem e salga Peru, Bolívia, Chile, Argentina cordeiro

Borts Secagem Ásia central (Mongólia, Tibete, Nepal, Índia e Butão)

iaque, vaca, camelo, cavalo, renas

Sukuti Secagem e defumação Nepal Cabra/bode ou búfalo

Charque Secagem e salga Brasil, Peru, Chile, Bolívia Porco, ovelha, vaca. Auquénidos (lama,

vicunha, etc.)

Tasajo Secagem e salga Cuba, México, Argentina, Brasil, Uruguai, Panamá

Vaca, cavalo, burro, mula, porco

Porco seco chinês Secagem e salga China porco

Pastirma Secagem e salga Mediterrâneo do Leste (Turquia,

Bósnia, Croácia, Bulgária, Arménia, etc.)

camelo, cordeiro, cabra e búfalo

Bresaola Secagem e salga Itália Vaca

Jerky Secagem e marinado Estados Unidos, Canadá,

Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido

Vaca e outros animais (gamo, veado, avestruz,

etc.)

Cecina Secagem, salga e defumação Espanha Vaca, cavalo, bode, coelho,

boi ,lebre

Boucané Secagem, salga e defumação Reunião porco

Bacon ou Entremeada

Secagem, salga e defumação

Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Irlanda, Austrália, Nova

Zelândia, Japão

Porco, vaca, cordeiro e outros

Balangu Secagem, salga e defumação Níger e Nigéria cordeiro

Tsire Secagem, salga e defumação Níger e Nigéria cordeiro, vaca, cabra

Kitoza Secagem, salga e defumação Madagáscar Vaca, porco

Banda Secagem, salga e defumação Países do Sahel Camelo, búfalo, macaco,

cavalos, elefantes, etc.

Pernil curado seco Secagem, salga e fermentação Espanha porco

Salchicha fermentada francesa

Secagem, salga e fermentação França porco

Skerpikjøt Secagem, salga e Dinamarca Cordeiro

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fermentação

Presunto curado Secagem, salga e fermentação

Espanha, Venezuela, Argentina, Itália, Portugal, Hungria porco

Bindenfleisch Secagem, salga e fermentação Suíça vaca

Zousoom Secagem e cozedura Taiwan e China porco

Mortadela Secagem e cozedura Itália, Argentina, Brasil, Chile e outros países Sul Americanos porco

Fonte:Elaboração própria, diversas fontes secundárias

Os produtos de carne seca em África são produtos tradicionais consumidos a nível local. As duas excepções são o Kilishi e o Biltong. O Kilishi é um produto tradicional de vaca da África Subsaariana (Nigéria, Camarões, Níger e outros) que se pode encontrar em grandes quantidades em mercados locais, ruas e lojas alimentícias e que é exportado para os países da sub-região. Além disso, os movimentos migratórios dos africanos até à Europa e à América representam um grande potencial de mercado para o produto como fonte de rendimentos nessa área de África. O Biltong consiste numa carne seca de vaca sul-africana muito solicitada para consumo interno. Inclusivamente, a sua popularidade tem vindo a crescer noutros países (Canadá, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia) graças à comunidade de sul-africanos. Uma das barreiras para a exportação destes produtos reside nas regulamentações nacionais dos vários países que impedem a comercialização destes produtos através de um controlo rigoroso.

O processo de secagem que pode durar dias, semanas, meses e inclusivamente anos apresenta como resultado um alimento básico de elevado valor nutricional. A título de exemplo, segue abaixo indicado o valor nutricional de alguns dos principais tipos de carne desidratada.

Tabela 4. Composição nutricional por 100 gr de alguns tipos de carne desidratada Produto Carbohidratos Proteínas Gorduras Energia (KCal)

Carne bovina seca crua - 19,7 25,4 312,8

Presunto com gordura 1,4 14,4 6,8 127,9

Toucinho cru - 11,5 60,3 592,5

Mortadela 5,8 12 21,7 268,8

Fonte: http://www.tabelanutricional.com.br/

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2.2. Contextualização do sector a nível mundial O mercado internacional de carne seca é muito heterogéneo no qual não existem estatísticas fiáveis de produção nem de consumo. Desta forma, existem produtos tradicionais que são consumidos pelos próprios produtores ou são vendidos em comércios locais e outros produtos com um mercado de ampla distribuição e elevada demanda. Por exemplo, o “jerky” tradicional, confeccionado a partir de tiras de carne magra, está muito presente nos Estados Unidos e no Canadá, em variadas carnes, marcas e qualidades, tanto embalado como a granel. Calcula-se que o mercado deste produto é de 1.000 milhões de Dólares americanos. Além de ser bastante comum nos Estados Unidos e no Canadá, o jerky também está a ganhar popularidade em supermercados, lojas de conveniência e retalhistas em linha. Na Austrália, na Nova Zelândia e no Reino Unido, o jerky está frequentemente disponível e é cada vez mais comum. Está presente em alguns grandes supermercados e em cada vez mais lojas de pequena dimensão.

O mercado internacional de carne seca foi no ano de 2011, último ano do qual se tem dados confirmados, de 2.108 milhões de Dólares americanos e de aproximadamente 640.000 toneladas. A carne seca bovina envolve aproximadamente cerca de 15% e 7% do mercado mundial, em valor e em peso respectivamente. Por outro lado, a carne seca suína pressupõe cerca de 25% e 37% do mercado mundial, em valor e em peso respectivamente. O resto do mercado da carne seca diz respeito a outros animais, tais como cordeiros, cabras, etc.3

Figura 1 - Volume de exportações de carne seca no ano 2011 em $.

Figura 2 - Volume de exportações de carne seca

no ano 2011 em Kg.

3 Elaboração própria com dados da United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade) e FAOSTAT.

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Fonte: Elaboração própria com dados da United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade) e FAOSTAT.

Figura 3 - Evolução das exportações da carne seca

Como é possível observar na Fonte: Elaboração própria com dados da United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade) e FAOSTAT.

Figura 3, a evolução das exportações de carne seca em peso tem sido crescente nos últimos anos, o que se traduziu num aumento do volume de venda, com excepção do ano de 2009. Neste sentido, importa dizer que o preço médio da carne seca sofreu uma queda desde o ano de 2007 até ao ano de 2009, passando dos 3,16 USD/Kg para os 2,84 USD/Kg, mas foi recuperando até alcançar os 3,22 USD/Kg no ano de 2011. A carne seca faz parte de um grupo de produtos muito heterogéneo, pelo que o custo depende em grande medida do tipo de produtos (ver tabela seguinte). Desta forma, o custo mais elevado diz respeito à carne seca bovina, com um custo de 7,24 USD/Kg no ano 2011, que reduziu significativamente nos dois anos anteriores. No caso da carne seca suína (com um custo médio de aproximadamente 2 USD/Kg), existem dois tipos de produto: os presuntos e as paletas com um custo de 3,53 USD/Kg no ano de 2011 com uma forte queda no ano de 2009 e o toucinho e a entremeada, com um custo de aproximadamente 0,9 USD/Kg, notando um forte aumento a partir do ano de 2007. Finalmente, o custo da carne seca de outros animais ronda os 3 USD/Kg.

Tabela 5. Custo unitário de carne seca de acordo com o tipo de carne (USD/Kg). Tipo de carne 2007 2008 2009 2010 2011

Vaca 7,48 9,84 11,30 7,29 7,24

Porco 2,25 2,07 2,02 2,13 2,12

Presuntos, paletas, etc. 5,94 7,23 3,72 3,27 3,53

Toucinho, entremeada e suas aparas 0,48 0,33 0,74 0,99 0,89

Outros animais 3,12 3,11 2,79 3,13 3,46

Total 3,16 3,13 2,84 2,98 3,22

Fonte: United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade). *Fonte. CountrySTAT (FAO).

No caso da carne seca de vaca, a maior percentagem de importação (87%) diz respeito aos países europeus, sendo a França, a Alemanha, a Holanda e a Dinamarca os principais países importadores. Na América Central e do Sul, a percentagem de importação de carne seca de vaca é de aproximadamente 2%, graças às importações da antiga colónia holandesa do Suriname e das pequenas ilhas do caribe. A Tailândia, por seu lado, é o principal país importador de carne de vaca seca na Ásia e no Médio Oriente. Em África, a percentagem chega

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aos 8%, devido às importações de carne de vaca seca realizadas por Angola que, no ano de 2011, alcançaram os 25 milhões de USD, situando o país como o quinto importador do mundo, atrás dos países europeus anteriormente nomeados. A Europa encabeça igualmente as exportações de carne seca de vaca, com cerca de 82%, sendo a Suíça, a Itália e a Holanda os países com maior exportação em volume de vendas (mais de 50% do mercado de exportação). No entanto, em quantidade de carne seca exportada destaca-se a Holanda que ocupa aproximadamente cerca de 50% do mercado. Há que referir o nível de exportação do Brasil, que ocupa o quarto posto a nível mundial em volume de vendas e o segundo posto em quantidade exportada com aproximadamente cerca de 10% do mercado; Estados Unidos e Canadá, que se situam em oitavo e nono lugar, respectivamente; e a Namíbia, enquanto primeiro país africano e décimo no ranking de exportações.

No caso da carne de porco seca tipo presunto e paleta, os países europeus são igualmente os principais importadores, principalmente pelas importações realizadas pelo Reino Unido e pela França.

As percentagens de importação em volume de vendas de carne de porco seca tipo toucinho e entremeada têm uma maior dispersão. Apesar da importação dos países europeus no seu conjunto ser de aproximadamente de cerca de 50%, os principais países importadores são os Estados Unidos e o México com aproximadamente cerca de 30% da importação deste tipo de carne a nível mundial. As exportações da União Europeia representam aproximadamente uns 65%, sendo a Holanda o principal país exportador com 17% da cota mundial. Sem embargo, Estados Unidos e Canadá ocupam o primeiro e quarto lugares, com cerca de 21% e 14% da cota de exportação, respectivamente.

A importação de carne seca de outros animais é realizada praticamente em exclusivo pelos países europeus, sendo a Holanda, o Reino Unido, a Alemanha e a França os maiores importadores. O Brasil é o principal exportador deste tipo de carne com cerca de 50% da cota de exportação.

Fonte: Elaboração própria com dados da United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade) e FAOSTAT.

Figura 4. Percentagem de importação (em USD) de carne seca por zona geográfica e por tipo de carne.

O volume de exportações de carne seca em África é muito reduzido. A exportação de carne seca bovina foi de aproximadamente 750 toneladas no ano de 2011, sendo a exportação do resto da carne seca praticamente nula. O país com maior exportação é a Namíbia, representando cerca de 50% das exportações ao nível africano, seguido pelo Senegal e pela

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África do Sul, ambas com uma cota de exportação de aproximadamente 20%. As importações de carne seca também são muito reduzidas, à excepção da carne seca bovina que representa quase cerca de 8% da cota de exportação mundial. Tal como foi comentado anteriormente, Angola é o principal país africano com importação deste tipo de carne, contribuindo com 97% das importações de África. Os países da África do Norte (Egipto e Argélia) são outros dos países importadores de carne de bovina, juntamente com o Gana e o Botswana.

2.3. Contextualização do sector em Angola

2.3.1 Nível nacional É conhecida a enorme dificuldade em obter dados fiáveis ou actualizados sobre as estatísticas agrícolas e pecuárias em Angola. Não existe um censo agro-pecuário actualizado e as estimativas são feitas com base em amostragens realizadas nas diferentes províncias e fornecidas pelos serviços descentralizados do Ministério da Agricultura. Em virtude disso, obter dados sobre os efectivos pecuários, produção e consumo de carne é uma tarefa muito difícil. As tabelas seguintes apresentam as estimativas com base nos dados fornecidos pela FAO (FAOSTAT) e Ministério da Agricultura (Campanha Agrícola 2008-2011) para o ano 2011.

Tabela 6. Efectivos pecuários, produção e consumo de carne em Angola (Dados FAO) Ano

2011

Efectivo

(Nº Cabeças)

Abate

(Nº Cabeças)

Produção (ton)

Rendimento (Kg/carcaça)

Importações 1 (ton)

Consumo (ton)

Consumo (%)

Consumo

per capita (Kg/pessoa/ano)

Caprino 3.948.595 1.185.000 17.775 15 0,5 2 17.776 2,5 % 0,88

Bovino 4.586.570 592.000 100.300 169 134.045 234.345 33,5 % 11,6

Ovino 1.009.756 252.000 3.780 15 0,5 2 3.781 0,5 % 0,187

Suíno 2.135.979 1.175.000 76.400 65 66.539 142.939 20,4 % 7,1

Frango 19.977.427 25.000.000 22.500 1 278.510 301.010 43,0 % 14,9

Total ... ... 220.755 ... 479.095 699.850 100 % 34,7

Fonte: Campanha Agrícola 2008-2011 1 Dados Ministério do Comércio 2 FAOSTAT

Tabela 7. Efectivos pecuários, produção e consumo de carne em Angola (Dados Ministério da Agricultura) Ano

2011

Efectivo

(Nº Cabeças)

Abate

(Nº Cabeças)

Produção (ton)

Rendimento (Kg/carcaça)

Importações1 (ton)

Consumo (ton)

Consumo (%)

Consumo

per capita (Kg/pessoa/ano)

Caprino 3.948.595 24.099 402 17 0,5 2 403 0,1 % 0,020

Bovino 4.586.570 63.249 10.005 158 134.045 144.050 28,6 % 7,1

Ovino 1.009.756 3.342 59 18 0,5 2 60 0,01 % 0,003

Suíno 2.135.979 27.635 863 31 66.539 67.402 13,4 % 3,3

Frango 19.977.427 9.947.912 13.658 1 278.510 292.168 58,0 % 14,5

Total ... ... 24.987 ... 479.095 504.082 100 % 25,0

Fonte: Campanha Agrícola 2008-2011 1 Dados Ministério do Comércio 2 FAOSTAT

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Os dados sobre número de efectivos pecuários apresentados pela FAO coincidem com os dados do Ministério da Agricultura, dado que são fornecidos por este organismo a nível oficial do país. Em termos oficiais, estima-se que existam cerca de quatro milhões e seiscentas mil cabeças de bovinos a nível nacional.

A maior diferença nos dados verifica-se em termos do número de animais abatidos. Mais uma vez, não existem registos oficiais sobre os dados do abate. Com excepção dos matadouros licenciados de grande dimensão, é muito difícil obter dados sobre o abate devido ao carácter informal desta actividade, seja considerando os abates privados ou realizados nos mercados informais (casas de matança). Embora as estimativas de rendimento de carne por carcaça sejam aproximadas comparando os dados da FAO e MINAGRI, as diferenças no número de animais abatidos é enorme. Por exemplo, o MINAGRI estima a produção de carne bovina em 10.000 ton, o que corresponde a um décimo das estimativas da FAO, que são de 100.000 ton.

Para estimar correctamente a disponibilidade alimentar de carne e o seu consumo a nível nacional precisamos também entrar em linha de conta com outros parâmetros como as exportações, importações e quantidade de produto que entra para a indústria de processamento. Não existem exportações de carne nem processamento deste produto em larga escala a nível nacional. Por tal razão, toda a quantidade produzida a nível nacional e importada entra directamente para o consumo. Relativamente aos valores de importações consideramos que a fonte mais fiável é o Ministério do Comércio. O Boletim do Comércio para o ano 2011 apresenta dados relativos às importações de carne (fresca, refrigerada e congelada) desagregados para a carne de bovino, suíno e frango. Contudo, não apresenta informação relativa à importação de carne seca.

Em face destes dados, verifica-se que a população angolana consome anualmente cerca de 35 Kg/pessoa de carne (com base nos dados da FAO) ou 25 Kg/pessoa (com base nos dados MINAGRI). Em termos proporcionais a carne de frango é a mais consumida (e também a mais barata), seguida da carne de bovino e suíno.

A carne de bovino representa um terço de todo o consumo de carne. De acordo com os dados da FAO, o consumo per capita de carne de bovino é de 11,6 Kg/pessoa/ano; de acordo com dados do MINAGRI, esse consumo é de 7,1 Kg/pessoa/ano.

Naturalmente que estes dados têm de ser analisados em perspectiva, pois como se verá ao longo do relatório, o consumo de carne concentra-se mais nas regiões do Sul e nos centros urbanos. Em todo o caso, a contribuição da carne de bovino para o consumo total de proteína de origem animal proveniente da carne é bastante razoável no padrão de alimentação em Angola.

Não existem estatísticas acerca da produção e do consumo de carne seca em Angola. Importa assinalar que nos mercados informais a carne seca é transformada a partir da carne que não é vendida como carne fresca, depois de 2-3 dias. Para além destes mercados tradicionais existem muito poucas referências à indústria transformadora de carne para obter carne seca.

Entre estas referências encontra-se um projecto agro-industrial financiado pelo Banco Chinês de Desenvolvimento em Manquete, município de Ombadja, província do Cunene, no qual entre outros produtos agro-alimentares, pretende-se produzir carne seca suína. Estava igualmente prevista a construção de uma fábrica de embalamento de carne seca em Bom Jesus, província do Bengo. Para a confecção da carne seca seria utilizada carne bovina de Angola, procedente das províncias da Huíla, do Namibe e do Cunene. Finalmente, é conhecida a existência de uma Fazenda em Dala, no município de Negage da província do Uíge, na qual está instalada uma unidade de processamento de carne seca.

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Na seguinte tabela apresenta-se o volume de importações (em milhares de USD) de carne seca em Angola nos últimos anos. Destaca-se o elevado volume de importação da carne seca de vaca e a evolução crescente da importação em todos os produtos4.

Tabela 8. Importação de carne seca de vaca (milhares USD)

Tipo de carne 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Carne seca de bovino 5.092 9.150 11.720 18.071 8.876 25.721 23.411

Carne seca suíno tipo presunto e paleta

1.380 1.674 2.395 1.729 1.456 2.202 3.310

Carne seca porco tipo entremeada 814 1.319 1.220 2.433 1.893 3.293 4.055

Fonte: INE - Angola

2.3.2 Contextualização do sector na Província A Província da Huíla encontra-se situada no Sudoeste da República de Angola. Conta com uma superfície de 78.879 km² e uma população estimada acima dos 3 milhões de habitantes, dos quais 1,4 milhões estão concentrados na sua capital, Lubango, com uma extensão de 3.140 km2. Administrativamente, a província da Huíla conta com um total de 14 municípios e 39 comunas (ver ANEXO II).

A província está integrada num vasto conjunto de superfícies planálticas do interior angolano, com altitudes que oscilam entre os 1.000 e os 2.300 metros. O seu clima varia entre o tropical de altitude da zona Centro-Norte e o semiárido nas áreas de menor altitude, com duas estações:

• Chuvosa de Outubro a Abril, com temperaturas entre 19-21ºC e precipitações entre 600 e 1.200 mm;

• Seca (Cacimbo), resto do ano, com temperaturas médias entre 15,5-19ºC, ausência de chuva e humidade relativa do ar bastante baixa.

A agricultura, a silvicultura e a pecuária são as principais actividades económicas da província, apesar de serem afectadas pela falta de meios e tecnologias modernas assim como pela irregularidade e escassez de chuvas, que condiciona de forma significativa a produção agrícola e a pecuária.

A contribuição da economia provincial da indústria é reduzida, centrada principalmente em materiais de construção, madeira e mobiliário. No entanto, a disponibilidade da Huíla em matéria mineral é muito importante com reservas de ouro, diamantes, granito, magnésio, etc.

Por último, importa referir que o potencial turístico da província é extremamente importante, com atractivos relevantes como a Fenda da Tundavala (acesso actualmente reabilitado), a Serra da Leba, O Cristo Rei, a Nossa Senhora do Monte, a Cascata da Huíla, etc.

Em matéria de comunicações, a província conta com uma rede de estradas principal identificada no Anexo III como rede principal de estradas já construídas, em fase de construção e/ou reabilitação ou previstas.

Em matéria de energia eléctrica na província, o fornecimento provém da central hidroeléctrica de Matala (Huíla) e das centrais térmicas do Lubango, Namibe e Tombwa, as duas primeiras em processo de ampliação. No entanto, para fortalecer este sistema é, neste momento, prioritária a criação do parque eólico da Baía dos Tigres assim como das linhas de distribuição

4 Fonte: INE. Dados de importação por províncias referente ao ano 2007 - 2013

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que unam todas estas centrais, acções todas elas contempladas entre os projectos prioritários do Plano de Acção de Energia e Águas 2013 -2017 do Ministério da Energia e Águas.

Em termos de electrificação rural, o Plano inclui projectos para estabelecer pequenos sistemas de distribuição de energia eléctrica que possam incluir pequenos sistemas de produção através de minicentrais hidráulicas.

No que toca à água, apenas 15% da população da Província tem acesso a água potável. Assim como 57% da população bebe água das cacimbas, 18% bebe água directamente dos rios, 6% de chafariz e 3% de lagos e lagoas, mas apenas 1% tem água provinda de rede de abastecimento. Por outro lado, a rede de saneamento é muito limitada.

Na questão social, de acordo com dados recolhidos no Plano de Desenvolvimento da Província da Huíla 2013 – 2017, a província dispõe de centros de diferentes níveis de ensino (geral, médio e superior), assim como de formação técnica profissional, distribuídos pelos municípios de forma muito desigual, concentrando-se maioritariamente no município do Lubango. Neste último, também se concentra a maioria das unidades hospitalares da província, apesar de dispor de uma rede sanitária de cuidados primários que abrange todos os municípios.

Com base nesta análise, o Governo Provincial, juntamente com o Nacional, estabeleceu uma série de áreas de intervenção prioritária nas quais incidem acções presentes e futuras que fazem parte da estratégia de combate à pobreza e que incluem: Segurança alimentar e desenvolvimento rural; Governação; Infra-estruturas Básicas; Emprego e Formação Profissional; Gestão Macroeconómica; Reinserção Social; Protecção Civil; Educação e Saúde

Particularmente, na área de Segurança Alimentar e desenvolvimento rural, procura-se uma revitalização da economia rural que ajudará a fixar a população no campo e conduzirá progressivamente a uma redução da dependência de produtos agrícolas provenientes do exterior.

Os municípios de Matala, Chicomba, Caconda e Caluquembe representam o celeiro da província. O potencial agrícola da região, com a existência de uma área de regadio de mais de 45 quilómetros, contribui para garantir o fornecimento de alimentos à província. A distribuição de sementes, fertilizantes e ferramentas por parte do Ministério, contribui para a diversificação e para o aumento da produção e das áreas de cultivo.

A Tabela 9 sintetiza os dados sobre o efectivo pecuário, abate e produção de carne de bovino a nível provincial. Relativamente ao sector dos bovinos, verifica-se que a região Sul detém mais de 90% do efectivo pecuário destes animais. A província da Huíla é a que apresenta maior efectivo de bovinos, respondendo por 36% do efectivo nacional e quase 40% do efectivo da região.

As províncias de Luanda e Benguela lideram o ranking de abate de bovinos a nível nacional com cerca de 27% e 25%, respectivamente, seguido da província de Huambo com quase 14%. A percentagem de bovinos abatidos na província da Huíla é relativamente baixa, com apenas 6,6%, o que evidencia que a maior parte dos animais aqui produzidos saem para abate e consumo noutras províncias. Naturalmente que Luanda, Benguela e Huambo são as províncias que mais contribuem para o abastecimento alimentar de carne fresca, em função do número de abates registados.

Contudo, para estimarmos a contribuição provincial real para a produção de carne, seria necessário conhecer também os dados relativos à quantidade exacta de animais vivos “exportados” para fora da província e abatidos fora deste território, dado que não é conhecido.

Não obstante, como se mostrará mais adiante neste relatório, a evidência empírica revela que a maioria dos bovinos que são abatidos em Luanda, assim como em outras províncias, provêm

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da região Sul, incluindo Huíla. Por tal razão, é razoável afirmar com bastante segurança que a Huíla é uma das províncias da região Sul que mais contribui para o abastecimento alimentar de carne de bovino a nível nacional. Infelizmente não foi possível encontrar dados sobre a quantidade de carne seca transformada a nível provincial.

Tabela 9. Efectivo pecuário, abate e produção de carne de bovino a nível provincial. Fonte: MINAGRI (Campanha Agrícola 2008-2011)

Ano 2011

Efectivo (Nº Cabeças)

Efectivo %

Abate (Nº Cabeças)

Abate %

Produção (ton)

Produção %

NORTE 69 542 1,5 20 678 32,7 3 222 32,2

Cabinda 3 827 0,1 179 0,3 28 0,3

Zaire 98 0,0 9 0,0 1 0,0

Uíge 3 229 0,1 659 1,0 101 1,0

Malange 6 945 0,2 737 1,2 118 1,2

Kwanza Norte 9 597 0,2 517 0,8 78 0,8

Bengo 15 971 0,3 1 055 1,7 175 1,8

Luanda 22 367 0,5 17 027 26,9 2 644 26,4

Lunda Norte 4 849 0,1 407 0,6 64 0,6

Lunda Sul 2 658 0,1 87 0,1 13 0,1

CENTRO 342 192 7,5 30 423 48,1 4 776 47,7

Kwanza Sul 9 597 0,2 5 190 8,2 841 8,4

Benguela 135 154 2,9 15 615 24,7 2 514 25,1

Huambo 96 649 2,1 8 742 13,8 1 290 12,9

Bié 57 990 1,3 542 0,9 81 0,8

Moxico 42 802 0,9 334 0,5 50 0,5

SUL 4 174 836 91,0 12 147 19,2 2 008 20,1

Huíla 1 656 845 36,1 3 943 6,2 658 6,6

Namibe 691 043 15,1 1 890 3,0 314 3,1

Cunene 1 518 775 33,1 5 376 8,5 887 8,9

Kuando Kubango 308 173 6,7 939 1,5 148 1,5

NACIONAL 4 586 570 100,0 63 249 100,0 10 005 100,0

2.3.3 Contextualização do sector no Município Relativamente ao sector de bovinos a nível municipal os dados foram obtidos junto do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) e encontram-se na tabela 10. Verificam-se algumas discrepâncias na soma dos municípios com os totais provinciais apresentados pelo Ministério da Agricultura. O efectivo bovino estimado pelo IDA a nível provincial é cerca de 1.242.700 cabeças, ou seja, aproximadamente 25% inferior ao efectivo bovino estimado pelo Ministério da Agricultura para a província da Huíla. A discrepância nos dados pode ser explicada pela fiabilidade na recolha de dados e processos de amostragem em função das limitações de recursos humanos e das debilidades do sistema de informação pecuária no país.

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Tabela 10. Efectivo pecuário estimado a nível municipal Municípios Caprinos Bovinos % Bovinos Ovinos Suínos Aves

Lubango 36.100 140.000 11,3 33.000 23.810 21.550 Humpata 15.000 36.000 2,9 10.000 9.000 15.500 Chibia 160.140 160.000 12,9 65.000 19.890 99.950 Gambos 260.300 180.000 14,5 45.000 25.000 50.300 Matala 250.000 150.000 12,1 40.000 90.000 35.000 Quipungo 220.000 201.000 16,2 25.000 60.000 30.000 Jamba 70.000 50.000 4,0 7.000 25.000 22.500 Kuvango 11.000 27.500 2,2 900 7.000 15.000 Chicomba 10.000 54.200 4,4 4.400 14.400 25.000 Chipindo 960 19.000 1,5 1.050 2.000 10.000 Quilengues 25.100 80.000 6,4 12.000 10.000 60.000 Cacula 11.000 70.000 5,6 6.200 8.000 60.000 Caluquembe 50.000 40.000 3,2 5.000 10.000 8.000 Caconda 7.500 35.000 2,8 7.150 12.000 20.000

Total 1.127.100 1.242.700 100,0 261.700 316.100 472.800 Fonte: IDA Provincial da Huíla, Relatórios Campanha Agrícola 2013/2014

Mesmo tendo em conta estas discrepâncias é possível perceber que, em termos relativos, a Chibia é um dos municípios que detém maior número de efectivos bovinos, juntamente com os Gambos, Quipungo, Matala e Lubango. Estes municípios em conjunto contribuem com quase 70% do efectivo de bovinos da província, sendo muito igualmente representativos também nas demais espécies pecuárias. Em termos proporcionais a Chibia detém 12,9% do efectivo provincial de bovinos. Não existem dados sobre a produção de carne seca a nível municipal.

De acordo com a classificação de zonagem agrícola do Ministério da Agricultura este município insere-se na Região IV – Zona Agro-ecológica de Baixa Pluviosidade (ver Anexo IV). Relativamente à classificação por Modos de Vida o município da Chibia insere-se na Região 04 – Região Sub-húmida/Produção de Gado e Milho (ver Anexo V).

2.4. Exemplos de experiências de sucesso Pretende-se neste ponto analisar algumas experiências de sucesso que possam servir de referência para possíveis intervenções na cadeia produtiva. Tais experiências – que podem ser um projecto bem-sucedido, uma inovação tecnológica, uma boa prática/metodologia, uma diferenciação de produto –, são úteis para apoiar os técnicos do FAS e das Administrações Municipais na definição de possíveis apoios para a cadeia.

2.4.1 Secadores solares de baixo custo Os secadores solares são uma opção simples e de baixo custo que possibilitam a introdução de melhorias significativas no processo de secagem, quer pela redução do tempo de desidratação e melhor qualidade do produto, como pela maior protecção contra insectos, animais e poeiras. Existem inúmeros tipos de secadores solares e a maior parte deles pode ser construída pelas próprias famílias com materiais simples (madeira, telas plásticas) e de custo reduzido. Outros exemplos um pouco mais sofisticados incluem sistemas de aquecimento e circulação do ar.

A FAO em Angola já realizou cursos de capacitação sobre secagem de carne na Província do Namibe e elaborou também o “Manual Básico de Secagem de Carne e Produtos da Pesca” que

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pode ser muito útil para o FAS e Administrações municipais nas suas acções de apoio à cadeia de carne seca5.

Dentro dos secadores solares simples podem distinguir-se basicamente dois tipos:

• Secador Solar Directo: possui uma câmara em que o feixe de luz solar incide sobre a carne. A câmara promove uma atmosfera com temperatura mais elevada e a sua abertura pode ser regulada para facilitar a circulação do ar. A câmara pode ser construída com tela de plástico resistente ou em vidro. É adequado para famílias que secam carne em quantidades menores (ver exemplos nas fotografias 1 e 2).

• Secador Solar Indirecto: possui uma câmara de secagem mas o ar é aquecido por um colector e a circulação do ar é feita mecanicamente. A carne não recebe luz solar directa. É mais adequado para associações, cooperativas ou grupos de transformadores que secam maiores quantidades de carne (ver exemplos nas fotografias 3 e 4).

Fotografia 1. Secador Solar Directo: Peter Abwell um secador solar instalado por Oxfam (Fotografia:

Alejandro Chaskielberg)

5 LORIO, Danilo. “Manual básico de secagem de carne e produtos da pesca”. FAO. Projecto SANGA. Refª. GCP/ANG/037/EC.

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Fotografia 2. Secador Solar Directo multi-colector

Figura 5. Opção de Secador de Túnel de custo menor (Ver exemplos nas fotografias 3, 4, 5)

Fotografia 3. Construção de secador solar de baixo custo. Parte inferior feita de placa de aço ondulado pintado de preto. Viga de madeira como suporte da tela de plástico transparente para cobrir o secador.

Fotografia 4. Secador solar simples coberto com tela

transparente de plástico resistente.

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Fotografia 5. Secador solar de túnel funcional e simples. Parte dianteira do colector solar com uma

entrada e dois ventiladores eléctricos para o reforço da circulação de ar. Painel fotovoltaico na parte superior da parte dianteira. Colector com chapa inferior ondulada e coberta de tela transparente. Câmara

de secagem situada no extremo do colector solar.

Figura 6. Opção de Secador de Túnel de custo menor (Ver exemplo na Fotografia 6)

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Fotografia 6. Secador de túnel de custo maior. Tecto em forma de colector solar, a parte superior é

feita de metal e a parte inferior de painel de poliuretano coberto de metal. Comprimento 15 m

35

2.4.2 Projectos de sucesso a nível internacional Em seguida apresentam-se exemplos de alguns projectos internacionais que podem servir de referência para intervenções na cadeia de carne seca. Os casos seleccionados centram-se em mudanças na dotação de activos de famílias de pequenos produtores, mas também em empresas da cadeia produtiva que matem relações directas com as famílias.

Projecto de investigação dos requisitos de produção e comercialização de carne seca solar no trópico húmido

País Camarões, Gana e Nigéria

Referência/Ano 1992-1995

Objectivos Estudo dos sistemas de produção de carne seca existentes e, através da adaptação dos resultados da investigação, melhorar e desenvolver ainda mais os produtos e os mercados.

Acções realizadas • Caracterização de produtos cárneos secos de África Ocidental durante e depois da elaboração e sob uma variedade de sistemas de produção, armazenamento e embalagem.

• Avaliação dos passos chave do processo. • Assessoria na gestão de todo o processo (desde os ingredientes até às embalagens). • Análises dos mercados aos produtos da carne seca na Nigéria e nos Camarões. • Desenvolvimento de uma oficina interactiva em Ngaoundere na qual serão

apresentados os resultados da investigação aos produtores, comerciantes e retalhistas (directrizes para a preparação de carne seca, relatórios de mercado, relatórios de marketing, etc.), e serão analisados projectos de futuro e oportunidades de negócio.

Resultados alcançados • Aumento da produção de carne seca nas zonas pecuárias ricas no Norte da África Ocidental.

• Aumento da qualidade da carne seca. • Aumento do tempo de conservação da carne seca nas zonas húmidas da África

Ocidental. • Suprir a escassez de carne nas cidades e em grandes localidades nas zonas húmidas do

Sul dos países da África ocidental. Chaves para o sucesso • A secagem da carne ao sol consiste numa tecnologia simples que requere pouca

participação financeira ou energia, o que a converte num sistema de conservação de carne adequada para a sua utilização em países menos desenvolvidos.

• Um trabalho anterior realizado na avaliação dos secadores solares no Gana e uma análise da produção de carne seca na Nigéria demostraram que as tecnologias existentes poderiam ser adaptadas à necessidade de carne seca noutros países da região. O potencial do Kilishi (carne seca com especiarias) era significativo nos mercados do Sul da Nigéria e nos Camarões, onde foram identificados os produtores, comerciantes e partes interessadas no desenvolvimento do mercado.

• A carne seca por meios tradicionais nas zonas áridas contribui para a resolução do deficit de proteínas nos mercados do Sul adequando as tecnologias de processamento às condições climáticas.

Projecto Camelídeos (PROCAME) “Promoção da Produção de Camelídeos nos Departamentos de Orujo e La Paz, para

melhorar a qualidade de vida das famílias aymaras” em 7 municípios (5 de Orujo e 2 de La Paz).

País Bolívia

Referência/Ano Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID))

Ano 2010-2012

Objectivos Melhorar as condições de vida das famílias aymaras da área rural de 7 municípios.

Acções realizadas • Construção de uma unidade processadora de subprodutos derivados da carne de camelídeos no município de Carahuara de Carqangas para a produção de charque (carne seca) e enchidos (cozidos, pré-cozidos e defumados).

• Construção de 3 secadores solares de carne de lama. • Formação das famílias campesinas para a transformação da carne de lama.

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• Desenvolvimento de uma estratégia de comercialização dos subprodutos da carne de lama.

• Desenvolvimento e implementação de um sistema de gestão de produção e manuseamento de recursos zoo genéticos.

Resultados alcançados • Melhoria nos processos da elaboração de derivados cárneos. • Melhoria da qualidade do charque (carne seca). • Aumento dos ingressos dos produtores de lamas. • Melhoria da qualidade de vida das famílias campesinas.

Chaves de sucesso • Formação às famílias produtoras para o uso da nova infra-estrutura para o processamento e secagem da carne.

• Em feiras e noutras ocasiões onde foi apresentada a estratégia de comercialização projectada, deu-se a conhecer os subprodutos da carne de lama (carne seca e enchidos) e as suas vantagens nutricionais (alta em proteínas e baixa em gorduras).

*Dentro do Projecto Camelídeos (PROCAME) foram realizadas outras acções direccionadas para melhorar as condições de vida das famílias aymaras: construção de currais de maternidade, fornecimento de equipamento para oficinas de artesanato para trabalhar a fibra de lama, etc.

Acções para uma elaboração segura de carne seca no Novo México

País Novo México

Referência/Ano 2008

Objectivos Evitar os casos de intoxicação alimentar originados por um mau processamento na elaboração comercial de carne seca.

Acções realizadas • Desenvolvimento de uma oficina de elaboração segura de carne seca. • Aplicação de duas guias para assegurar um bom processamento de carne seca e de

aves de capoeira, desenvolvidas anos atrás pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (siglas em inglês USDA) e pelo Serviço de Inocuidade e Inspecção alimentar pertencente ao referido departamento (siglas em inglês FSIS).

Resultados alcançados • Melhoria no processo adequado de elaboração de carne seca. • Redução da contaminação do produto, evitando o desenvolvimento de

microorganismos patogénicos. (Riscos biológicos da carne seca: Salmonela, E. coli, Staphylococcus aureu e Listeria monocytogenes).

Factores de fracasso • Perda de confiança por parte do consumidor na qualidade da carne seca processada, pelas intoxicações produzidas há anos atrás.

37

Mapeamento da Cadeia

Produtiva

III

39

3. Mapeamento da Cadeia Produtiva

Figura 7. Mapeamento Cadeia Carne Seca do Município da Chibia

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3.1. Segmento Fornecedores de Insumos Este segmento é responsável pelo fornecimento de insumos e serviços básicos necessários tanto para a criação de bovinos como para o processo de secagem da carne (Tabela 11). Na cadeia produtiva do município da Chibia é possível identificar as seguintes tipologias de agentes neste segmento:

• Sector Estatal: constituído pelo Instituto de Serviços de Veterinária (ISV) que é responsável pelo fomento e melhoramento zootécnico, fomento da produção pecuária e realização de campanhas de vacinação (sanidade animal). A intervenção a nível descentralizado ocorre através das Zonas Pecuárias e das Representações Provinciais e Municipais dos Serviços de Veterinária.

Inclui-se também nesta categoria o Instituto de Investigação Veterinária (IIV) que é responsável pela investigação e articulação com os serviços de veterinária procurando ligações com a extensão rural para levar tecnologias aos pequenos criadores de gado. A nível descentralizado o seu trabalho desenvolve-se através das Estações Zootécnicas e Laboratórios Regionais de Veterinária. Na província da Huíla existem Estações Zootécnicas nos municípios da Humpata e Quilengues e existe um Laboratório Regional de Veterinária no Lubango.

O ISV é também responsável pelos serviços de inspecção sanitária nas operações de abate, fiscalização aos operadores que comercializam carne fresca e inspecção e fiscalização aos produtos cárnicos processados.

Ambas as instituições possuem enormes debilidades em termos de recursos humanos e materiais, em particular a nível provincial e municipal, o que limita a sua acção junto dos beneficiários.

• Sector Privado: constituído pelas lojas e empresas especializadas que vendem insumos, rações e suplementos alimentares, bem como outros materiais e equipamentos necessários ao maneio dos animais. Não existem agentes deste tipo na Chibia. No Lubango existem 5 a 7 agentes deste tipo incluindo a Angovete, Fertiseme, e Fertiangol. As empresas relataram que por vezes têm rupturas de stock de insumos, incluindo equipamentos e medicamentos, devido a falhas no fornecimento por parte dos importadores.

Embora em pequena escala, o trabalho desenvolvido por algumas ONG também se incluiu no sector privado, em particular ao nível de fomento da criação de animais para as populações no meio rural. Ao contrário do sector agrícola, não existe no sector pecuário uma grande tradição de associativismo/cooperativismo. A excepção reside no trabalho da Cooperativa de Criadores de Gado de Angola (CCGA), cuja sede se localiza no Lubango, mas que articula basicamente fazendeiros com rebanhos de grande dimensão. Algumas das suas acções principais incluem o melhoramento genético e produtivo das raças, o fomento pecuário e a assistência técnica (mais detalhes serão descritos mais adiante neste relatório). A banca assume alguma relevância sobretudo na concessão de créditos, em particular aos fazendeiros.

O sector privado é igualmente um importante fornecedor de insumos necessários ao processo de secagem da carne. No caso da secagem tradicional estes insumos incluem basicamente os condimentos; no caso da secagem moderna, para além dos

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condimentos necessários, incluem também equipamentos específicos, embalagens e rótulos para acondicionamento do produto.

• Sector Informal: alguns insumos básicos estão também disponíveis no mercado informal, incluindo a compra e animais para reprodução ou reposição de efectivos pecuários para o segmento da criação de animais e alguns insumos básicos para o processo de secagem. Os mercados informais são fonte de insumos sobretudo para criadores tradicionais e camponeses (sector da criação de animais) e para as barracas de carne e vendedoras (sector da secagem de carne tradicional).

Tabela 11. Principais insumos e serviços básicos da cadeia de carne seca Criação de Animais

Insumos Serviços

Animais Reprodutores Sanidade Animal Rações e suplementos alimentares Fomento Zootécnico Materiais e equipamentos necessários ao maneio (cercas,

vedações, redes, bebedouros, tanques, etc.) Produtos veterinários para controlo de doenças e parasitas

Assistência Técnica Serviços Veterinária Crédito

Transformação Carne Seca

Insumos Serviços

Sal Condimentos Materiais e equipamentos necessários ao processo de

secagem (balança, mesas inox, misturador, toucas, máscaras, facas, câmaras de secagem, etc.)

Embalagens, rótulos, caixas

Inspecção Sanitária Fiscalização Veterinária

Fonte: Levantamento Directo

3.2. Segmento Criação de Animais Os agentes deste segmento têm como função a criação dos animais em sistemas pecuários produtivos realizando para esse efeito diferentes operações de maneio até à venda dos animais. Na cadeia da Chibia é possível identificar as seguintes tipologias principais de criadores de bovinos:

• Criadores tradicionais: Quando comparado com outros municípios e regiões da Huíla, verifica-se que no município da Chibia não existem muitos pastores tradicionais. Contudo, este município constitui um ponto importante de transacção de animais vivos para este tipo de criadores. Por tal razão, entendemos oportuno descrever aqui esta tipologia.

Estes criadores tradicionais são constituídos por etnias onde a criação de gado faz parte de um processo cultural e do seu modo de vida principal. Caracterizam-se por possuírem grandes rebanhos de gado com várias dezenas de animais. Pode ocorrer que nas comunidades pastoris os rebanhos sejam mistos, ou seja, integrem bovinos (espécie dominante) e pequenos ruminantes como caprinos e ovinos. Para as comunidades de pastores tradicionais a posse de gado constitui uma fonte de riqueza.

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Note-se que estas comunidades tradicionais não criam o gado com um objectivo primordial de comércio. Isto significa que o gado não é vendido no momento mais oportuno do ponto de vista de negócio (peso mais elevado ou valor de mercado mais favorável), mas sim quando surge uma necessidade. Os animais podem ser abatidos para consumo familiar em épocas de maior escassez ou maior vulnerabilidade alimentar da família. Podem também ser abatidos para cumprir rituais próprios de cerimónias tradicionais. Podem ainda ser vendidos para realizar dinheiro imediato para fazer face a uma despesa inesperada ou mais elevada (óbito, casamento, doença, etc.), entrando assim na cadeia produtiva. Em suma, para estas comunidades tradicionais os animais representam: i) status social; ii) fonte de subsistência; iii) caixa de poupança; iii) rituais culturais.

Os animais podem entrar no circuito de mercado em qualquer momento do ano, mas claramente é durante o período de seca que mais animais são vendidos dado que é este o período de maior escassez para as famílias. À medida que a seca se agrava, aumenta também a necessidade de venda de animais. Os animais são vendidos no período menos favorável, dado que estão muito magros e com frequência debilitados em termos de saúde, e por isso rendem muito pouco (baixo preço e baixo peso).

O sistema de produção é extensivo e baseado no pastoreio livre. Os animais comem pastagem natural. Alimentam-se também dos restos das culturas como milho, massango, massambala. Se os rebanhos não forem bem conduzidos pelo pastor podem causar prejuízos durante as épocas de cultivo porque comem as culturas.

A transumância é uma prática comum, tanto por necessidade como por questão cultural. A transumância ocorre durante a época seca quando os pastores levam os animais em busca de pontos de água.

Neste sistema de produção a mortalidade dos animais é muito elevada em função de várias causas: i) falta de água e pasto durante a época seca; ii) maneio sanitário deficiente – as campanhas de vacinação ainda têm uma taxa de cobertura territorial baixa; iii) maneio alimentar deficiente – não existe suplementação alimentar adequada à base de forragens ou suplementos minerais e vitamínicos; iv) ataques de predadores.

Os criadores tradicionais têm muita dificuldade de acesso ao mercado em função de várias causas: i) longas distâncias até aos mercados; ii) a idade avançada da maioria dos criadores não lhes permite longas caminhadas; iii) a falta de transparência dos mercados de gado; iv) o fraco domínio da língua portuguesa; v) os custos fixos (taxas municipais, taxas veterinárias) existentes nos mercados.

• Camponeses: São famílias camponesas que cultivam parcelas de terra de pequena dimensão e que possuem alguns animais. Em termos pecuários os sistemas produtivos são muito precários. A criação de animais representa uma fonte de subsistência e caixa de poupança. As famílias podem abater e consumir animais para ter acesso a proteína animal durante períodos de maior escassez. Podem também vender animais para realizar dinheiro e fazer face a despesas mais elevadas ou inesperadas, entrando acima na cadeia produtiva.

Os animais pastam livremente na própria comunidade e existem também pequenos currais onde são confinados junto às casas das famílias.

Os camponeses possuem baixas competências em termos pecuários, gestão e organização da produção animal, dado que esta é sobretudo uma actividade de subsistência. O seu nível de capitalização é muito baixo devido à condição de precariedade e pobreza em que vivem. Têm muita dificuldade de acesso aos

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mercados, sobretudo devido aos elevados custos de transporte e à sua descapitalização. A mão-de-obra provém da família.

Em virtude do baixo nível de capitalização e da pouca circulação de dinheiro vivo, podem também ocorrer sistemas de troca (escambo) de animais por outros produtos entre os camponeses. Quando os camponeses vendem os animais as transacções são feitas a pequenos intermediários que circulam pelas aldeias para comprar gado.

• Fazendeiros: São criadores de gado que possuem rebanhos de grande dimensão que podem mesmo ter centenas de animais. De acordo com as informações obtidas durante a missão de terreno, não existem agentes deste tipo no município da Chibia. Contudo, animais provenientes destes criadores podem entrar na cadeia da Chibia através das transacções de animais vivos no mercado.

A produção é orientada para o mercado e por isso os sistemas de produção são controlados e obedecem a questões técnicas importantes. Pode considerar-se que estes sistemas são semi-intensivos na medida em que utilizam raças melhoradas e mais produtivas e os animais recebem também alimentação adicional bem como suplementos minerais e vitamínicos. Estes criadores possuem infra-estruturas pecuárias melhoradas (currais) e diversos equipamentos de maneio.

Existem também fazendeiros que criam rebanhos de grande dimensão em outros municípios da Huíla. Muitos deles são associados da Cooperativa de Criadores de Gado de Angola (CCGA) e a maioria dedica-se à criação de gado bovino. Esta é a única associação do país que está a fazer fomento, caracterização zootécnica e melhoria de raças pecuárias.

Em entrevista com o director geral da CCGA foi sublinhado o desejo da cooperativa em avançar com a instalação de um matadouro industrial. O município da Chibia foi mencionado como uma possibilidade para a instalação desse matadouro. Pretendem também formar agrupamentos de defesa sanitária para melhor responder às debilidades do sistema de sanidade animal. Outro dado relevante mencionado foi o desejo de trabalharem em direcção à criação de uma denominação de origem geográfica para a carne. Esta pode ser uma iniciativa muito importante em termos de valorização do produto e um impulsionador para melhorar os sistemas de produção com uma visão mais comercial.

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Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

Precipitação (mm) 52,7 61,6 83,7 42,0 3,1 0 0 0 3 24,8 42,0 46,5

Temp. Méd (ºC) 21,6 22,2 22,8 22,2 19,9 17,6 16,7 18,1 19,4 20,7 21,4 21,3

Temp. Máx (ºC) 26,1 26,6 27,2 27,0 25,5 23,0 21,7 22,9 24,2 25,5 26,1 25,8

Temp. Min (ºC) 17,1 17,7 18,3 17,4 14,2 12,2 11,7 13,2 14,6 15,8 16,6 16,8

Estação Meteorológica do Lubango

Período Chuva

Período Seca

Época de Venda

Camponeses

Fazendeiros

Criadores Tradicionais

Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa e dados climáticos de INAMET

Tabela 13. Principais características dos diferentes tipos de criadores de gado bovino

Camponeses Fazendeiros Criadores Tradicionais

Dimensão do Rebanho < 5 animais > 50 animais Podem ser várias centenas

> 50 animais Podem ser rebanhos

mistos (bovinos e pequenos ruminantes)

Raças Raças locais Raças melhoradas importadas Raças locais

Sistema de Alimentação Pastagem natural Pastagem natural e/ou

melhorada Suplementação alimentar

Pastagem natural

Sistema de Pastoreio

Sem pastoreio Pastoreio controlado Transumância

Épocas de Cobrição/Parto

Indefinida Planificadas Indefinida

Principal objectivo da produção

Subsistência

Mercado

Subsistência Caixa de Poupança

Tabela 12. Perfil climático e calendário criação e venda de bovinos

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Caixa de Poupança

Fomento de reprodutores Status Social Rituais Culturais

Competências Pessoais

Alfabetização: baixa Competências

zootécnicas: baixa Competências de

gestão: baixa

Alfabetização: alta Competências zootécnicas:

alta Competências de gestão:

alta

Alfabetização: baixa Competências zootécnicas:

baixa Competências de gestão:

inexistente

Capitalização Baixa capitalização e

sem capacidade de acesso a crédito

Capitalização elevada e alta capacidade de acesso a crédito

Baixa capitalização

Nível de Tecnologia Inexistente

Alto: existência de tecnologia adequada em termos alimentares, reprodutivos e de maneio.

Inexistente

Mão-de-Obra

Familiar Contratada Familiar

Acesso a Assistência Técnica

Reduzida: apenas através do ISV nas campanhas de vacinação mas com muitas limitações

Alta: acesso através do ISV e assistência técnica e veterinária contínua

Reduzida: apenas através do ISV nas campanhas de vacinação mas com muitas limitações

Acesso a Mercado

Baixo: dificuldade em assumir custos de transporte e outras taxas; pouco acesso a informação

Alto: com frequência dispõe de transporte próprio; acesso a informação e contactos com muita facilidade

Baixo: dificuldade em assumir custos de transporte e outras taxas; pouco acesso a informação

Fonte: Levantamento Directo

3.3. Segmento Intermediários Os intermediários assumem a função de compra, venda e transporte de animais vivos. Pode ocorrer que estas transacções se realizem em mercados diferentes, mas com frequência decorrem no mesmo mercado. Os animais vivos podem por isso ser transaccionados uma, duas, três ou mais vezes até serem abatidos e a sua carne comercializada.

Na cadeia produtiva de bovinos da Chibia é possível identificar os seguintes tipos principais de intermediários6:

• 1º Intermediário: São os agentes que efectuam a primeira transacção do animal vivo junto do criador. Normalmente estas transacções ocorrem nos “mercados primários” que são espaços de interacção comercial entre criadores e intermediários próximos das comunidades. Os principais vendedores de animais vivos no mercado primário são os criadores tradicionais e os camponeses. Os principais compradores são os primeiros intermediários. Os primeiros intermediários também circulam pelas aldeias e kimbos e podem comprar os animais directamente aos camponeses e criadores tradicionais. Por esta razão, são também designados comerciantes ambulantes ou rurais.

6 Para um detalhe mais aprodundado sobre o segmento de intermediários de gado na região ver o estudo: Reischmann e Gonçalves. “Estudo de mercado de gado bovino e caprino”. Angola: projecto de melhoria de acesso à água ás pastagens para as commuidades de pastores nos corredores de transumância. Relatório de Consultoria, 2010. Número do Projecto: FOOD/2008/154277. As tipologias de mercado primário, intermédio e final derivam da análise do estudo referido.

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Estes intermediários são muito importantes pois constituem o principal agente de comercialização junto dos pequenos criadores. Note-se que na sua maioria estes intermediários são jovens que encontraram nesta actividade de compra e venda de animais vivos uma oportunidade de trabalho e geração de renda. Estes jovens conhecem bem o território e a cultura local e têm contactos directos com os camponeses e criadores tradicionais. Têm ainda a vantagem de dominar línguas locais o que lhes permite estabelecer relações comerciais mais próximas e de maior confiança com os criadores. Também conhecem bem os modos de vida rural e por isso sabem quando os criadores podem ter necessidade de vender os animais (por exemplo, alguma data festiva, cerimónia tradicional, etc.) e conhecem as dinâmicas da procura nos outros mercados.

• 2º Intermediário: São agentes que efectuam a segunda transacção de animais vivos junto ao 1º intermediário. Estas transacções ocorrem no “mercado intermédio” que é um espaço de interacção comercial de animais vivos de grande dimensão. Estes mercados estão localizados próximos de estradas principais com acessos facilitados. O Mercado de Halunhanha na Chibia é um exemplo deste tipo de mercado intermediário e é um dos maiores mercados de gado vivo de Angola.

As transacções de animais ocorrem em campo aberto onde os primeiros intermediários se localizam com os seus animais. Neste mercado existem espaços determinados para os diferentes tipos de animais (caprinos, bovinos, suínos). O processo de negociação decorre geralmente em língua local e os preços podem variar bastante em função das habilidades e capacidades de negociação de ambos os agentes.

Naturalmente pode ocorrer que estes agentes (2º Intermediário) também comprem animais directamente aos criadores, seja porque se deslocam eles próprios ao campo ou porque os próprios criadores se deslocam ao mercado intermediário. Contudo, este processo é menos frequente por forma a evitar conflitos de interesse com os primeiros agentes (1º Intermediário). Pode igualmente ocorrer que o 1º intermediário venda o animal vivo para ser abatido e comercializado no próprio mercado através de um agente de comércio a retalho (barraca de carne). O 1º intermediário paga uma taxa administrativa ao fiscal do mercado por cada animal vendido.

O 2º intermediário paga uma taxa aos serviços de veterinária pela verificação das vacinas e inspecção do animal em vivo e uma taxa à administração municipal pela emissão de uma guia de marcha que lhe permite circular com os animais em direcção a outros municípios ou províncias onde existem “mercados terminais”.

• Transportadores: Existem ainda outros agentes na cadeia que podem prestar um serviço de transporte aos diferentes intermediários de animais vivos. Estes transportadores podem ou não dispor de viatura própria. No primeiro caso os animais são transportados de carro, no segundo são transportados a pé.

Verifica-se que existem múltiplas possibilidades de transacção de animais vivos e diferentes tipos de intermediários. O preço de compra e venda é estabelecido entre os agentes de acordo com a apreciação visual dos animais. Não existem balanças e por isso os animais não são transaccionados e pagos em função do peso vivo. Note-se também que o mesmo mercado de animais vivos pode assumir diferentes funções em simultâneo (primário, intermédio, final)

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dependendo do tipo de transacção e do destino final do animal (revenda, abate, consumo). O Mercado de Halunhana na Chibia claramente assume os três tipos de função.

A tabela seguinte sintetiza o nível territorial típico, os agentes mais comuns e as transacções mais frequentes em cada tipo de mercado.

Tabela 14. Tipologia de mercados de animais vivos

Mercado Primário Mercado Intermédio Mercado Final

Nível Territorial Comunas Município Província

Intermediário

Compra:

Camponês/Criador Tradicional

Vende:

2º Intermediário

Barracas de Carne

Intermediário

Compra:

1º Intermediário

Camponês/Criador Tradicional

Vende:

Talhos Locais

Restaurantes

Supermercados Locais

Barracas de Carne

Transportadores Prestação de serviço de transporte com carro ou a pé

Exemplos

Mercados nas Comunidades

Mercado de Halunhanha- Chibia

Mercado João de Almeida -Lubango

Fonte: Levantamento Directo

3.4. Segmento Abate Este segmento tem como função o abate, processamento e distribuição de carne fresca para abastecimento das redes de comércio a retalho. Na cadeia da Chibia existem os seguintes tipos de agentes:

• Casas de Matança: São espaços de abate localizados nos mercados informais geridos por um proprietário que presta o serviço de matança e desmancha do animal. Este proprietário pode ter vários ajudantes que recebem uma quantia pelas diferentes tarefas realizadas. Não existe um registo oficial do número de casas de matança existentes no país. Estas casas de matança são espaços com condições muito precárias. Os animais são abatidos e desmanchados no chão, na maioria das vezes ao ar livre. Os riscos de contaminação da carne são muito elevados porque a higiene é inexistente. Os restos do abate (pele, tripas, sangue e outros resíduos) são deixados no chão e podem ser comidos por cães, aves ou outros animais.

Os abates realizam-se em função das demandas do mercado. Só é consumado o abate quando aparece um comprador interessado. Os compradores podem ser os donos das barracas de venda de carne ou consumidores finais (famílias, restaurantes, barracas dos mercados). Embora com menos frequência, pode também ocorrer que algum

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talho ou supermercado local mande abater animais para comercializar nas suas lojas. Os compradores pagam uma taxa de abate ao fiscal da administração municipal e uma taxa de serviço ao dono da casa de matança.

O abate e a desmancha são realizados de forma precária com recurso a catanas, facas e machados. Os serviços de veterinária têm tentado que as operações de abate sejam acompanhadas por profissionais especializados (veterinário) que procedem à inspecção sanitária do animal vivo (ante-mortem) e à inspecção sanitária da carcaça (post-mortem). Os serviços cobram uma taxa de inspecção e passam um certificado se a carcaça for aprovada para consumo. Se o animal for rejeitado o comprador assume os custos da perda.

• Matadouros Industriais: Os matadouros industriais têm condições higiénicas e sanitárias mais adequadas, assim como pessoal auxiliar com formação específica no abate e desmancha. Na província da Huíla existem dois matadouros industriais, ambos privados: o Matadouro da Chela localizado no município da Matala e o Matadouro Carnes & Frios da Huíla (ex-Matadouro de Benfica) localizado no Lubango. Ao contrário das transacções de animais vivos entre os diferentes intermediários, no caso dos matadouros estes pagam um preço pelos animais em função do seu peso vivo pois dispõem de balanças. Isso permite-lhes ter também um maior controlo e gestão de custos/margens em função dos rendimentos de carcaça que obtêm após o abate e desmancha.

Os matadouros dispõem de clientes fixos mediante contratos de fornecimento em larga escala previamente estabelecidos (redes de supermercados ou instituições públicas). Possuem também clientes regulares que se abastecem de carne nestes matadouros (talhos locais). Podem ainda prestar o serviço de abate para terceiros mediante o pagamento de uma taxa.

O Matadouro da Chela dispõe ainda de um talho próprio no município do Lubango. A maior parte dos talhos do Lubango abastecem-se de carcaças neste matadouro.

Durante a missão de terreno foi possível realizar uma visita ao Matadouro Carnes & Frios da Huíla. Este é o maior matadouro de Angola. Em 1999 deixou de ser Matadouro Municipal do Lubango quando um privado comprou a infra-estrutura à Administração Municipal. Este matadouro dispõe de 35 funcionários e abate diariamente. O maior cliente deste matadouro é o Estado em virtude de um contrato de fornecimento com o Ministério da Defesa para abastecer de carne as Forças Armadas. Contudo, está parado desde Setembro de 2013 devido a pagamentos em atraso por parte do ministério. O consumo institucional deste ministério absorvia 10 ton/ano de carne de cabrito, 420 ton/ano de carne de bovino e 8 ton/ano de carne de porco. Este matadouro também tem contrato de fornecimento para a rede de supermercados Martal, Kero e Jumbo. Para o exército a carne é desmanchada e imediatamente congelada para distribuição. Para os supermercados a carne é distribuída refrigerada.

Todo o processo é acompanhado por um veterinário do Estado que realiza inspecção sanitária do animal vivo (ante-mortem) e à inspecção sanitária da carcaça (post-mortem). Se o animal for rejeitado o matadouro assume os custos da perda. Toda a carne distribuída pelos matadouros sai com carimbo de inspecção veterinária e com uma guia sanitária a atestar a sua qualidade para consumo. Os matadouros são os únicos agentes que possuem transporte de distribuição de carne com condições de refrigeração. O Matadouro Carnes & Frios da Huíla dispõe de uma frota de vários camiões médios e pequenos e de seis camiões grandes com sistema de refrigeração.

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As peles dos animais constituem também um negócio para os matadouros que assim agregam valor ao animal pela venda de um subproduto. A pele de bovino é sobretudo vendida a chineses pelo preço de 1.400 Akz/pele; a pele de caprino é vendida a 500 Akz/pele.

Tabela 15. Principais custos de abate

Casas de Matança Matadouro Industrial

Taxa de Inspecção Veterinária

Instituto de Serviços de Veterinária

400 Akz/cabeça viva 1.000 Akz/cabeça

abatida

750 Akz/cabeça

abatida

Prestação de Serviços

Custos do Abate e Desmancha

500 Akz/cabeça

3.000 Akz/cabeça

Fonte: Levantamento Directo

3.5. Segmento Comércio Retalho de Carne Fresca Este segmento tem como função a venda de carne fresca a retalho para abastecimento dos transformadores. Podem diferenciar-se duas tipologias de comercialização de carne fresca: comércio informal (barracas de carne) e comércio formal (talhos e supermercados), conforme se descrevem a seguir.

• Barracas de Carne: Localizam-se nos mercados informais de grande dimensão. Estes mercados caracterizam-se por serem não especializados, ou seja, vendem todo o tipo de mercadorias. Nestes mercados normalmente existem zonas próprias para venda de produtos, sendo possível identificar a zona de produtos agrícolas (hortícolas, raízes e tubérculos, grãos e farinhas, etc.), zona de venda de animais vivos (currais), zona de venda de carne (barracas de carne).

As barracas de carne são pequenos espaços onde se vende carne de diferentes tipos (bovino, caprino, ovino, suíno). Os donos são geralmente homens e pagam à Administração Municipal uma taxa de 500 Akz/mês pela ocupação da barraca. A carne provém de animais que são comprados e abatidos no próprio mercado, assumindo os comerciantes das barracas os custos de abate e respectivas taxas.

As condições de venda de carne nestas barracas são muito precárias. Não existem condições de refrigeração. A carne é colocada em bancas de pedras ficando exposta ao sol (calor), poeiras e moscas. Note-se que se os animais forem abatidos de manhã cedo, a carne pode ficar várias horas a apanhar calor e sem qualquer conservação.

Normalmente estas barracas não possuem balança pelo que a carne é vendida em nacos/pedaços. Estes agentes podem vender carne para o consumo familiar (famílias) ou para o consumo privado, incluindo as barracas que vendem refeições prontas existentes nos próprios mercados, restaurantes e hotéis.

Os proprietários das barracas têm todo o interesse em vender a totalidade da carne no próprio dia para evitar perdas por degradação. Em alguns mercados, como o caso do Mercado João de Almeida no Lubango, existe possibilidade de conservação por refrigeração da carne não vendida para o dia seguinte, mas os custos são muito elevados. No caso da carne de bovino é frequente no final do dia os proprietários das

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barracas secarem a carne não vendida que será posteriormente vendida como carne seca. Este processo será descrito mais adiante.

• Talhos: Os talhos são espaços de comércio formal especializados em venda de carne. Não existem talhos na Chibia, mas existe a possibilidade de carne de bovinos criados ou transaccionados na Chibia ser comercializada nos talhos do Lubango.

No caso do Lubango existem vários talhos na cidade. No Mercado Municipal do Lubango existem cerca de cinco talhos. Estes agentes abastecem-se de carne nos matadouros industriais, em particular no Matadouro da Chela. No entanto, pode também ocorrer a compra de animais vivos e respectivo abate nos mercados intermédios e terminais (ver ponto 3.3) para posterior comercialização de carne nos talhos. Os talhos dispõem de condições de higiene adequadas e equipamentos de refrigeração e congelação. Estes agentes vendem carne para o consumo familiar (famílias) e privado (restaurantes e hotéis).

• Supermercados: Os supermercados de maior dimensão também possuem área para venda de carne. Não existem supermercados na Chibia. No Lubango existem vários supermercados que vendem carne. Estes podem vender carne nacional ou importada. No caso das grandes redes de supermercados (Martal, Kero e Jumbo), a carne nacional provém do Matadouro Carnes & Frios da Huíla. A venda de carne do Supermercado Shoprite está concessionada a um talho privado. Tal como os talhos, os supermercados também dispõem de condições de higiene adequadas e equipamentos de refrigeração e congelação. Estes agentes também vendem carne para o consumo familiar (famílias) e privado (restaurantes e hotéis). Os supermercados possuem diferentes formas de apresentação do produto ao consumidor, como se detalhará no ponto 4.2.

Tabela 16. Principais características dos operadores de venda de carne fresca a retalho

Barracas de Carne Talhos Supermercados

Condições de Higiene Baixa Elevada Elevada

Equipamentos de Conservação Inexistente Refrigeração

Congelação Refrigeração Congelação

Proximidade consumidor

Elevado (rurais) Baixo (urbanos)

Elevado (urbanos) Baixo (rurais)

Elevado (urbanos) Baixo (rurais)

Origem da Carne Casas de Matança Matadouros

Casas de Matança Matadouros

Apresentação do Produto Não diferenciada Não diferenciada Diferenciada

Taxa de Utilização Existente Inexistente Inexistente

Município da Chibia

Mercado do Hale Mercado de Halunhanha Praça da Batata Doce

Inexistente Inexistente

Município do Lubango

Mercado João de Almeida Mercado do Mutundo

Mercado Municipal Vários na Cidade

Casa Azul Marivel Shoprite

Fonte: Levantamento Directo

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3.6. Segmento Transformação Neste segmento a carne fresca é transformada em carne seca através do método de desidratação (secagem). Na cadeia produtiva da Chibia é possível distinguir dois tipos de processo de secagem que são realizados por operadores diferentes.

• Secagem Tradicional: No método de secagem tradicional a carne é disposta ao ar livre sendo desidratada pela acção do sol, temperatura e circulação do ar. Este é o método mais utilizado e é realizado pelos donos das barracas de carne dos mercados informais e pelas vendedoras de carne seca. No primeiro caso, os operadores secam a carne que não conseguiram vender durante o dia, pois de outra forma não teriam como conservá-la. No segundo caso, as vendedoras compram carne com o propósito específico de proceder à secagem para posterior revenda como carne seca.

A carne é cortada em fitas e colocada a secar pendurada. Em ambos os casos o método pode conter mais ou menos passos, dependendo dos cuidados do operador e também do tipo de produto final que pretendem obter (salgado, temperado, picante). O processo de secagem dura entre 3 a 5 dias dependendo das condições atmosféricas.

As condições de manuseamento e laboração da carne para secagem são muito precárias e nem sempre os operadores têm os cuidados adequados para minimizar riscos de contaminação no processo. O método tradicional (não industrial) per se contém enormes riscos. A matéria-prima (carne fresca) é muito perecível e o seu processo de degradação começa com o abate do animal. Na maior parte dos casos a carne fresca passa várias horas sem qualquer refrigeração até que entra para o processo de secagem. O manuseamento da carne fresca também é feito em condições de higiene precárias, em função da ausência de água no caso das barracas ou do uso de água com pouca qualidade. A secagem ao ar livre acarreta elevados riscos de contaminação, quer por microorganismos patogénicos, quer pela poeira, insectos ou contacto com outros animais.

Por outro lado, note-se que nem sempre a matéria-prima utilizada por estes operadores é de boa qualidade. No caso das barracas, muitas vezes são usadas peças de carne de menor valor comercial, ou que não conseguem vender porque a sua qualidade já não é adequada para os clientes que compram carne em fresco. Ocorre ainda com alguma frequência que carne de animais doentes, velhos, magros ou rejeitados possa entrar no processo de secagem. No caso das vendedoras, ocorre com frequência comprarem peças de carne de fraca qualidade, por ser mais barata. Isto influencia decisivamente a qualidade do produto final.

No momento da venda, a experiência do consumidor leva-o a escolher as fitas de carne que aparentam um aspecto mais saudável, sem estar demasiado secas e que apresentam aroma e cor mais apelativos (ver ponto 4.3. Análise do Produto).

As fitas de carne seca produzidas por estes operadores não são embaladas nem contêm qualquer indicação sobre data de transformação ou data de validade. Estes operadores possuem baixa capacidade de gestão e de visão de negócio. O processo de transformação que utilizam caracteriza-se pelo empirismo e é fruto do seu conhecimento tradicional e experiência acumulada (aprender-fazendo).

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• Secagem Moderna: Designamos este método por secagem moderna por se diferenciar do método tradicional de secagem ao ar livre. Este método é usado por operadores que constituíram microempresas de transformação de carne seca e que usam secadores melhorados e estufas de secagem, bem como vários outros equipamentos industriais para laboração da carne. Estas microempresas são do tipo familiar pois usam sobretudo mão-de-obra da família, embora possuam também alguns colaboradores que ajudam nas várias fases de processamento. São pequenos empreendedores que estão a aproveitar um nicho de mercado para a carne seca através da produção de um produto diferenciado que são os pequenos pacotes (50 gr e 100 gr) de tiras de carne tipo snack.

No município da Chibia existe apenas uma microempresa deste tipo, cujo proprietário é o Sr. João Carvalho. Este empreendedor decidiu avançar com o negócio depois de ter realizado uma visita à Namíbia onde conheceu essa experiência. O seu negócio está em funcionamento há doze anos e tem vindo progressivamente a fazer melhorias no processo de produção e nos produtos que elabora. Os seus produtos são comercializados com a marca “Mucuma”. Durante a missão de terreno foi possível fazer uma visita a este empreendedor.

Fora do Município da Chibia existem pelo menos mais duas microempresas que produzem snacks de carne seca: uma localizada no Namibe, propriedade de A.M.A. Aguiar & Filhos que comercializam a marca “Mamicha”; e outra microempresa localizada no Lubango que comercializa a marca “Birongu”.

Os produtos destes empreendedores são comercializados nas principais lojas, supermercados, postos de abastecimento de combustível da Província da Huíla. No caso da marca “Mucuma”, esta também já é comercializada em Luanda.

Estes empreendedores também produzem fitas de carne seca, mas o grande volume de negócio é constituído pelos snacks. A carne fresca para produzir os snacks é cortada em pequenas tiras (cerca de 5 cm X 1 cm) e disposta em tabuleiros para levar à estufa de secagem. A matéria-prima utilizada é de boa qualidade. Estes transformadores abastecem-se de carne fresca nos mercados informais (barracas de carne) ou nos talhos e têm cuidado na escolha da matéria-prima. Alguns, como o caso do Sr. João Carvalho da Chibia, também usa carne importada comprada nos supermercados do Lubango por considerar que é de melhor qualidade e mais tenra. A maciez da carne é muito importante no caso dos snacks. Enquanto que as fitas são demolhadas antes de serem utilizadas na confecção dos pratos, os snacks são produzidos para consumo directo, e por isso a carne tem que ser macia e de excelente qualidade.

As condições de manuseamento e laboração da carne para secagem obedecem a maiores cuidados de higiene e por isso os riscos de contaminação são menores. Por exemplo, no caso da unidade de transformação visitada, todos os operadores trabalham com luvas, aventais, toucas e máscaras para evitar riscos de contaminação. As salas de operação possuem redes mosquiteiras que permitem a circulação do ar evitando a entrada de insectos. Possuem também paredes revestidas a azulejo para mais facilidade de limpeza e higienização. As bancadas de trabalho são de inox e os equipamentos e ferramentas para laborar a carne são adequados ao manuseamento com higiene da carne fresca.

Os custos desta actividade económica são naturalmente mais elevados face ao método tradicional. Para além disso, estão dependentes do acesso a água de boa qualidade e de energia para o funcionamento dos equipamentos. Outro problema identificado por estes operadores diz respeito à dificuldade de encontrar pessoal qualificado para o processo de laboração e pessoal técnico para solucionar avarias dos equipamentos.

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O produto final tipo snack é embalado e contem indicação sobre marca, transformador, ingredientes, quantidade e data de validade. É também inspeccionado pelos serviços de veterinária antes de sair para o mercado. São os próprios transformadores que fazem a entrega do produto para os retalhistas (supermercados, lojas de conveniência, etc.).

Estes operadores possuem elevada capacidade de gestão e de visão de negócio, incluindo diferenciação de produto e uso de técnicas de marketing para a sua comercialização. O processo de transformação que utilizam caracteriza-se pelo uso de tecnologia moderna e vem sendo progressivamente melhorado por tentativa e erro e em função da maior ou menor capacidade financeira para acesso a equipamentos melhorados.

Não existem diferenças substanciais nas etapas de processamento por ambos os métodos de secagem. As principais diferenças centram-se na qualidade da matéria-prima, nos equipamentos utilizados e nos cuidados dos operadores, conforme se evidencia na figura seguinte. Na Tabela 17 sintetizam-se os principais riscos de ambos para os dois tipos de secagem.

Fluxograma Secagem Tradicional Secagem Moderna

Normalmente usa peças de carne de baixa qualidade

Usa peças de carne de melhor qualidade e também importada

A carne fresca pode não ser lavada sendo colocada

directamente a secar depois do corte das fitas

Passa por processo de lavagem antes da desossa e corte

A carne é cortada em fitas grandes

A carne é cortada em fitas ou tiras pequenas para formato snack

Pode não ocorrer a salga ou uso de temperos

São usados diferentes temperos em função do tipo de produto final desejado (picante /

não picante) e também equipamentos para a salmoura (misturador).

A secagem é realizada ao ar livre podendo as fitas ser penduradas

As fitas ou tiras pequenas de carne são colocadas em tabuleiros para secagem em

estufas

As fitas não são embaladas As tiras tipo snack são embaladas e rotuladas em pequenos sacos de 50 gr ou 100 gr

Figura 8. Fluxograma do processo de secagem (tradicional e moderno)

Recepção da Carcaça

Lavagem

Desossa e Corte

Salga e Temperos

Secagem

Embalagem

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Tabela 17. Análise de perigos durante o processo de transformação da carne seca.

Etapa Perigos

Risco

Causas Medidas de Controlo Secagem Tradicional

Secagem Moderna

Recepção da Carcaça

Microrganismos patogénicos Antibióticos e outros

medicamentos veterinários Pêlos e sujidade superficial na

carne

+ +

Práticas deficientes na produção pecuária e higiene dos animais Más condições de higiene nos processos

de abate, transporte e venda de carne fresca

Selecção de fornecedores de carne e exigência de sanidade do animal Melhoria dos processos de abate,

transporte e venda de carne fresca

Lavagem Resíduos de detergentes + + Contaminação no contacto com

utensílios de lavagem (bacias, bancas) Cuidados de higiene na operação de

lavagem

Desossa e Corte Microrganismos patogénicos Fragmentos de ossos

+ -

Elevado tempo de espera sem refrigeração pode favorecer a multiplicação de microrganismos patogénicos Manipulação deficiente dos utensílios de

corte e falta de cuidado do operador

Capacitação do pessoal em técnicas de corte e cuidados nas operações

Salga e Temperos

Microrganismos patogénicos Corpos estranhos no sal e

condimentos Fios de cabelo e outras impurezas

+ -

Elevado tempo de espera sem refrigeração pode favorecer a multiplicação de microrganismos patogénicos Falta de cuidado do operador

Capacitação e sensibilização do pessoal Aquisição de matérias-primas de boa

qualidade

Secagem

Microrganismos patogénicos Insectos, roedores e outros

animais Poeiras, lixo

+ -

Deficiente controlo das condições de secagem Exposição da carne ao ar livre, sem

protecção

Utilização de secadores melhorados Capacitação e sensibilização do

pessoal

Embalagem

Microrganismos patogénicos Contaminação por corpos ou

substâncias estranhas (cabelos, lixo, insectos...)

n.a -

Deficiente controlo das condições de embalagem Falta de higiene e protecção do

operador Processo de embalamento incorrecto

Capacitação e sensibilização do pessoal Utilização de embalagens de boa

qualidade

Fonte: Levantamento Directo

55

3.7. Segmento Comércio Retalho de Carne Seca O comércio a retalho de carne seca constitui o ponto de venda directa do produto ao consumidor final. Neste segmento podem diferenciar-se duas tipologias de comercialização de carne seca: comércio informal (barracas de carne e vendedoras que operam nos mercados informais) e comércio formal (talhos, supermercados, lojas e bombas de gasolina), conforme se descrevem a seguir.

• Comércio Informal: As barracas de carne e as vendedoras são os dois tipos de agentes principais que vendem carne seca no comércio informal. As barracas de carne foram descritas no Segmento Comércio Retalho de Carne Fresca, e vendem carne seca transformada a partir de peças de carne fresca que não foi comercializada. As vendedoras vendem carne seca que pode ter sido secada por elas próprias ou comprada a outras vendedoras, que nesse caso funcionaram como transformadoras-intermediárias. Existem também vendedoras-ambulantes que vendem carne seca nas ruas. A carne seca é vendida em “fitas” que consistem numa tira de carne seca dobrada (cerca de 100 cm) e com frequência ataca com um pequeno cordel. A carne seca é vendida à unidade (fita).

Em termos de infra-estruturas estes mercados são muito precários. Existem vendedoras que dispõem de bancas de madeira onde expõem as fitas para venda aos consumidores. A grande maioria das fitas de carne seca é de carne de bovino, mas pode ocorrer também a venda de carne seca de caprino. Na época chuvosa as condições nestes mercados tornam-se ainda mais precárias devido à formação de lamas. Na época seca, o calor e a poeira constituem as maiores dificuldades para os agentes de comércio e para os clientes.

• Comércio Formal: Há diferentes tipos de agentes que vendem carne seca no comércio formal. Alguns talhos e supermercados vendem fitas que eles próprios secam de forma tradicional, aproveitando assim alguma carne fresca não comercializada. Contudo, a maior proporção de carne seca vendida a retalho no comércio formal corresponde à carne seca embalada tipo snack que foi transformada pelas microempresas pelo método de secagem moderna. Muitos postos de abastecimento de combustível (bombas de gasolina) dispõem de pequenas lojas de conveniência que vendem diferentes produtos. Com frequência, estes operadores possuem expositores com embalagens de carne seca tipo snack, dado que são um produto de venda fácil para muitos clientes. Este é também o modo de exposição do produto usado pelos supermercados. No ponto 4.3. Análise do Produto descreve-se com mais detalhe as embalagens utilizadas para venda de carne seca bem como os preços de venda ao consumidor.

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3.8. Segmento Consumo O segmento de consumo constitui o último ponto da cadeia produtiva e é o principal direccionado de todo o sistema. Em última instância, a cadeia estrutura-se para satisfazer o mercado de consumo, o qual varia em função das necessidades e preferências dos consumidores. O mercado de consumo de carne seca é na sua totalidade nacional, dado que não existe de momento exportação deste produto. Contudo, importa sublinhar existe oportunidade de mercado externo para a carne seca tipo snack. Algumas microempresas de transformação já receberam manifestações de interesse de compra de produto de outros países, designadamente da Namíbia para abastecimento de hotéis e pequenas lojas de conveniência. Não obstante, exportação é dificultada devido ao facto de Angola ser considerado um país de risco em termos sanitários para produção de bovinos.

A nível nacional, a carne fresca não constitui um dos produtos base da alimentação para a maioria da população angolana. De um modo geral a carne fresca atinge um valor elevado e por isso não é acessível à maior parte da população de baixa renda. O seu consumo é mais elevado nas camadas de população de renda média e alta, em particular dos centros urbanos.

A carne seca já é um produto mais acessível para a população de baixa renda. Contudo, não existem dados disponíveis sobre o consumo per capita de carne seca no país. Importa ainda destacar que a carne seca faz parte de vários pratos tradicionais de Angola incluindo o “Calulu de Carne Seca” e o “Funge de Carne Seca”.

Do ponto de vista da cadeia produtiva é possível diferenciar-se duas tipologias de consumo:

• Consumo Familiar: constitui a maior parcela e refere-se ao consumo feito pelas famílias em casa. No seio da família a carne seca pode ser comprada tanto pelo homem como pela mulher. A carne seca é comprada maioritariamente nos mercados informais através das vendedoras de fitas. A carne seca tipo snack não é utilizada para preparo de refeições, sendo apenas consumida como aperitivo.

• Consumo Privado: refere-se ao consumo efectuado pelas unidades privadas como restaurantes e hotéis. Também se enquadram aqui as barracas dos mercados informais que vendem pratos confeccionados com carne seca. Naturalmente que, em última instância, são as famílias os destinatários finais deste consumo, mas entendemos oportuno fazer esta distinção porque o sector da restauração e hotelaria está em crescimento, tanto na província como a nível nacional, representando uma crescente fonte de consumo de produtos nacionais.

As características de aquisição são também diferentes. As barracas do mercado abastecem-se no próprio mercado. Os restaurantes e hotéis podem abastecer-se nos mercados informais ou nos talhos e supermercados.

Na Chibia não existem unidades de restauração ou hoteleiras, mas ocorre que as existentes no Lubango consomem também carne seca proveniente de animais criados ou transaccionados no município da Chibia, entrando assim no mercado de consumo desta cadeia.

57

3.9. Ambiente Institucional O ambiente institucional refere-se às dinâmicas que influenciam a cadeia produtiva em função da intervenção directa ou indirecta de diferentes instituições. Pode ocorrer que estas instituições integrem os próprios segmentos da cadeia enquanto agentes directos, embora normalmente a influenciem a partir de fora da cadeia por diferentes formas (organização dos agentes, fornecimento de informação, difusão de tecnologia, produção de conhecimento, regulação, fiscalização, etc.). A sua identificação é importante para melhor se compreender o contexto em que se insere a cadeia e também para perceber outros possíveis factores de estrangulamento ou oportunidade que devem ser tidos nas acções de monitoria ou intervenção. A tabela seguinte resume o quadro institucional mais significativo para esta cadeia produtiva.

Tabela 18. Ambiente institucional da cadeia produtiva de carne seca

Instituição Função na Cadeia Intervenção na Cadeia Nível de influência

Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural / Direcção Provincial Agricultura

Regulação

Fiscalização

Informação

A nível central o MINAGRI é responsável por formular, executar e controlar a política do Governo nos domínios da agricultura e pecuária, desenvolvimento rural e segurança alimentar. Assume funções de regulador e fiscalizador em função da diferente legislação aplicável ao sector. Assume funções de provedor de informação, em particular relativamente à sistematização de dados sobre mercados e preços, condições meteorológicas, campanhas agrícolas e normas técnicas. Os Governos Províncias, designadamente através da Direcção Provincial de Agricultura, assumem competências executivas, regulação e provimento de informação relativamente a nível provincial.

+

Instituto de Serviços de Veterinária (ISV)

Regulação

Assistência Técnica

Fiscalização

Informação

Tutelado pelo MINAGRI, o ISV é responsável por elaborar, promover, orientar e executar a nível nacional, programas de acção no domínio do fomento e melhoramento da produção pecuária, sanidade animal e saúde pública veterinária; assegurar o cumprimento das obrigações internacionais em matéria de sanidade animal e saúde pública veterinária e melhoramento zootécnico; contribuir para a preservação e valorização do património das espécies de interesse zoo-económico. A intervenção a nível descentralizado ocorre através das Zonas Pecuárias e das Representações Municipais de Veterinária.

+

Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) / Estações de Desenvolvimento Agrário (EDA)

Informação

Assistência Técnica

Tutelado pelo MINAGRI, o IDA é responsável pela coordenação e execução das políticas e estratégias para o sector agrário, assumindo funções de fomento agrícola, extensão rural/assistência técnica e provedor de informação. A intervenção a nível descentralizado ocorre através das EDA com presença nos Municípios. +

Administração Municipal Regulação As Administrações Municipais têm vindo a assumir maior autonomia, incluindo em termos financeiros, e assume

papel relevante na cadeia em termos de planificação e regulação no território dos municípios assim como no +

58

Informação provimento de informação. O provimento de serviços sociais básicos e de infra-estruturas, em particular rurais, tem igualmente impacto na cadeia. O incentivo à implementação de Conselhos de Auscultação e Concertação Social nos Municípios (CACs) constitui um mecanismo importante para a gestão territorial.

Ministério do Comércio / Direcção Provincial do Comércio

Regulação

Fiscalização

Informação

Responsável a nível central e provincial através da Direcção do Comércio pela execução, supervisão e controlo da política comercial, visando regular e disciplinar o exercício da actividade do comércio (incluindo importações e exportações), promover o desenvolvimento, ordenamento e a modernização das infra-estruturas comerciais, bem como assegurar a livre concorrência entre comerciantes, salvaguardando os direitos dos consumidores.

+

Instituto de Investigação Veterinária (IIV)

Investigação

Experimentação

Informação

Assume como funções a investigação e articulação com os serviços de veterinária procurando ligações com a extensão rural para levar tecnologias aos pequenos criadores de gado bovino, caprino, aves e suínos. Promove a capacitação de recursos humanos. Executa alguns projectos relevantes de análise bacteriológica de rações alimentares. A nível descentralizado o seu trabalho desenvolve-se através das Estações Zootécnicas e Laboratórios Regionais de Veterinária.

+

Cooperativa de Criadores de Gado de Angola (CCGA)

Experimentação

Informação

Fomento

A Cooperativa de Criadores de Gado do Sul de Angola foi criada em 2004. Em Agosto de 2014 mudou os seus estatutos para âmbito nacional. A cooperativa reúne mais de 120 associados, distribuídos pelas 18 províncias. Os associados são de grande dimensão (fazendeiros) e actualmente são, sobretudo, criadores de gado bovino, embora existam também criadores de pequenos ruminantes. Entre as suas atribuições destaca-se o melhoramento genético e produtivo das raças animais, fomento da criação de gado e defesa dos interesses dos produtores. São responsáveis pela organização de feiras pecuárias e outros tipos de eventos.

-

Codex Alimentarius de Angola

Informação

Regulação

O Codex Alimentarius é um programa conjunto FAO e OMS encarregue de preparar normas, códigos de uso, directrizes e recomendações em matéria alimentar. Angola aderiu ao Codex Alimentarius em 1990. A nível nacional o secretariado do Codex Alimentarius de Angola tem como função coordenar todas as actividades do código alimentar no país, auxiliando o executivo na tomada de decisões políticas e técnicas científicas, no quadro da legislação alimentar internacional e nacional. Prevê a harmonização das normas e códigos de uso internacionalmente aceite, por forma a proteger a saúde do consumidor, coordenando todos os trabalhos realizados no domínio das normas alimentares, por organizações internacionais, governamentais e não-governamentais.

+

Organizações Não-governamentais (ONG)

Informação

Assistência Técnica

Capacitação

Desenvolvem projectos junto dos beneficiários, com frequência camponeses e pequenos produtores, prestando assistência técnica, construindo capacidades e apoiando na organização produtiva (associações e cooperativas). Destaca-se o trabalho da ADRA que tem desenvolvido e aplicado metodologias de reforço associativo e facilitação de acesso ao crédito com sucesso. Pontualmente desenvolvem projectos específicos ligados com o desenvolvimento agro-alimentar.

±

Associações e Cooperativas (UNACA e outras)

Organização do Sector

Diferentes associações e cooperativas, variáveis em termos de dimensão e nível organizacional, desempenham papel relevante na organização do sector, designadamente ao nível dos camponeses e pequenos produtores. Destaca-se a UNACA que tem desenvolvido trabalho na legalização de associações e cooperativas, distribuição de insumos, assistência técnica e capacitação, bem como o acompanhamento da implementação de alguns programas públicos junto dos camponeses (PEDR, Programa Microcrédito, etc.).

±

59

Instituições de Ensino (Universidade e Institutos Médios Agrários)

Investigação

Produção de Conhecimento

Formação de Quadros

Desempenham função de formação de quadros de nível médio e superior, designadamente na área das ciências agrárias, ciências alimentares e veterinárias, que reforçarão as capacidades de assistência técnica e prestação de serviços do sector. Destaca-se o Instituto Médio Agrário do Tchivinguiro que em média forma anualmente 80 técnicos de agronomia em diferentes especialidades (Produção Animal, Produção Vegetal, e Gestão Agrária). Destaca ainda a UPRA – Universidade Privada de Angola e o Instituto Politécnico do Lubango que desenvolvem formação e investigação na área da veterinária, agronomia e ciências alimentares.

±

Agências Multilaterais (FAO)

Assistência Técnica

Capacitação

Apoio Financeiro

Projectos de doadores e agências podem influenciar a cadeia em virtude de iniciativas de assistência técnica, apoio financeiro (subvenções) ou capacitação a diferentes agentes. Destaca-se em particular a FAO que tem desenvolvido importantes projectos no domínio da pecuária, veterinária e gestão de pastagens. Já desenvolveu iniciativas de capacitação sobre secagem de carne incluindo a elaboração de manuais técnicos sobre este processo.

±

Fundo de Apoio Social (FAS)

Assistência Técnica

Capacitação

Apoio Financeiro

Agência governamental dotada de personalidade jurídica e autonomia financeira e administrativa que visa contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável e redução da pobreza no país. Tem em curso diferentes projectos, com destaque para o Projecto de Desenvolvimento Local (PDL), através do qual serão apoiadas intervenções na cadeia produtiva, entre outras, mediante apoio financeiro, assistência técnica e capacitação.

+

Instituições Bancárias

Crédito

Responsáveis pela concessão de crédito a alguns agentes da cadeia produtiva. -

Legenda: + Elevado ± Médio - Baixo Fonte: Levantamento Directo

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3.10. Ambiente político-normativo O ambiente político-normativo refere-se às dinâmicas que influenciam a cadeia produtiva em função da aplicação de instrumentos de política pública (políticas, programas, estratégias) e instrumentos legislativos e reguladores (leis, normas, regulamentos). Considera-se importante a sua identificação para perceber o contexto em que se insere a cadeia e o tipo de influência política-normativa gerado (regulamentação, resolução de disputas, ameaças ou oportunidades). A tabela seguinte resume o quadro político-normativo mais significativo para esta cadeia produtiva.

Tabela 19. Ambiente político-normativo da cadeia produtiva de carne seca

Instrumento Relevância na Cadeia Nível de influência

Programa de Desenvolvimento de Médio Prazo do Sector Agrário (2013-2017)

Instrumento político de orientação estratégica no âmbito do sector agrário visando a transformação sustentável da agricultura para alcançar a segurança alimentar e a dinamização da agro-indústria nacional. Inclui nos seus objectivos estratégicos a capacitação profissional e a transferência de tecnologias, o desenvolvimento da agricultura familiar e cooperativismo, reforço da coordenação e sinergias entre os diferentes sectores.

+

Programa Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza (PIDRCP)

Visa impulsionar o desenvolvimento rural e o combate a pobreza. Coordenado a nível central através do Ministério do Comércio é executado pelos municípios através da formulação de planos municipais que incluem intervenções nas áreas de organização territorial, acesso à alimentação e oportunidades no meio rural, fortalecimento da agricultura familiar, empreendedorismo, crédito rural, ampliação e promoção de serviços básicos, mobilização e concertação social.

+

Pauta Aduaneira Providencia informação relativa à classificação e tributação das mercadorias na importação, bem como outro tipo de

medidas como condições de desalfandegamento, restrições e proibições. A pauta aduaneira actualmente em vigor foi revista em 2012 e aprovada em 2013 introduzindo alterações com impacto muito relevante para a cadeia produtiva.

+

Legislação do Sector Agrário

Lei de Bases do Sector Agrário: estabelece as bases que devem assegurar o desenvolvimento e a modernização do sector agrário, criando para o efeito mecanismos de apoio e incentivos às actividades agrárias. ±

Lei de Terras: estabelece as bases gerais do regime jurídico das terras, bem como os direitos que podem incidir sobre as terras e o regime geral de concessão e constituição dos direitos fundiários. +

Lei de Sanidade Animal: estabelece as bases e regulamenta as actividades ligadas à produção, tráfico, importação e exportação de animais, os seus produtos e subprodutos em todo o território nacional. Estabelece as bases e regulamenta as actividades ligadas à sanidade, saúde pública, veterinária, tecnologia e indústria animal, importação, exportação de animais e armazenagem de produtos de origem animal.

+

Legislação do Sector do Comércio Lei das Actividades Comerciais: estabelece as regras de acesso e o exercício da actividade do comércio e contribui para o ordenamento e a modernização das infra-estruturas comerciais, a livre e leal concorrência entre comerciantes e salvaguarda os direitos dos consumidores.

+

61

Projecto de Regulamento sobre Organização, Exercício e Funcionamento da Actividade Comercial a Retalho: estabelece o regime jurídico geral para a organização, exercício, disciplina e funcionamento da actividade de comércio a retalho, bem como as modalidades de promoção de vendas, modalidades de vendas e vendas especiais.

-

Regulamento sobre Afixação de Preços: estabelece as normas que regulamentam a venda a retalho referente à fixação de preços. -

Regulamento sobre a Inscrição e Actividade dos Importadores e Exportadores: Regula o processo de importação e exportação de mercadorias. -

Mercados Rurais: regula a actividade comercial exercida nos mercados rurais. + Comércio Ambulante: regula o exercício da actividade de comércio ambulante. +

Mercados Urbanos: regula o exercício da actividade de comércio nos mercados urbanos. +

Comércio Feirante: regula o exercício da actividade de comércio feirante. +

Outra Legislação

Lei das Associações: Regula o direito de associação previsto na Constituição. +

Lei das Cooperativas: Visa regular a constituição de cooperativas e o sector do cooperativismo (actualmente em discussão). +

Lei do Consumidor: A presente lei estabelece os princípios gerais da política de defesa do consumidor. -

Legenda: + Elevado ± Médio - Baixo

Fonte: Levantamento Directo

63

Análise da Cadeia

IV

65

4. Análise da Cadeia 4.1. Visão sistémica da cadeia

Figura 9. Fluxograma da cadeia produtiva da carne seca no município da Chibia

66

4.2. Canais de Distribuição Os canais de distribuição representam o fluxo do produto até ao consumidor final. Tendo em conta que a análise desta cadeia se centra na carne seca, vamos ignorar os canais de distribuição a montante do segmento de retalho de carne fresca, os quais fariam sentido evidenciar caso se analisasse com mais detalhe a cadeia completa de bovinos.

A Figura 10 apresenta o mapa dos canais de distribuição mais frequentes e a Tabela 20 escreve as suas principais características. Existem agentes da cadeia que podem assumir várias funções em simultâneo. Contudo, em função do número de agentes envolvidos e de transacções efectuadas, verifica-se que os canais de distribuição são do tipo curto, contendo no máximo três transacções. Existem dois circuitos de distribuição bem definidos:

i) Circuito da secagem tradicional, que corresponde ao escoamento do produto sob a forma de fitas e que é realizado pelas barracas de carne (tipo A) ou pelas vendedoras (tipo B);

ii) Circuito de secagem moderna, que corresponde ao escoamento do produto sob a

forma de snacks e que é realizado pelas microempresas de transformação (tipo C).

67

Figura 10. Mapa de canais de distribuição da cadeia produtiva da carne seca no município da Chibia

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Tabela 20. Descrição dos canais de distribuição da cadeia de carne seca no município da Chibia

Secagem Tradicional

Canal de Distribuição A1: Barracas de Carne (secagem tradicional) – Consumidores

Este é o canal de distribuição mais curto possível dado que contempla apenas uma transacção até ao consumidor final. Trata-se dos casos em que as barracas de venda de carne dos mercados informais realizam a secagem das peças de carne não vendidas, resultando assim num novo produto ofertado ao consumidor. Neste caso, as barracas de carne integram três funções distintas da cadeia: retalho de carne fresca, transformação e retalho de carne seca.

Canal de Distribuição A2: Barracas de Carne (secagem tradicional) – Vendedoras – Consumidores

Este canal é similar ao anterior, mas inclui mais um agente no circuito que são as vendedoras. A operação de secagem ocorre de igual modo nas barracas de venda de carne dos mercados informais. As vendedoras compram as fitas de carne seca nestas barracas para posterior revenda ao consumidor final. Essa revenda pode ocorrer no próprio mercado (vendedoras com banca própria) ou nas ruas (vendedoras ambulantes). Verificam-se assim duas transacções até ao consumidor final.

Canal de Distribuição B1: Barracas de Carne – Vendedoras (secagem tradicional) – Consumidores

No canal do tipo B o processo de secagem é realizado pelas vendedoras. Estas abastecem-se de carne fresca nas barracas de carne dos mercados informais e realizam elas próprias a secagem das fitas para posterior revenda ao consumidor final.

Canal de Distribuição B2: Barracas de Carne – Vendedoras (secagem tradicional) – Vendedoras – Consumidores

Este canal é similar ao anterior, mas inclui mais um agente no circuito que são outras vendedoras. A operação de secagem ocorre de igual modo nas vendedoras, mas estas vendem as fitas para outras vendedoras que são responsáveis pela revenda ao consumidor final. Essa revenda pode ocorrer no próprio mercado (vendedoras com banca própria) ou nas ruas (vendedoras ambulantes). Verificam-se assim três transacções até ao consumidor final.

Secagem Moderna

Canal de Distribuição C: Retalho (carne fresca) – Microempresas (secagem moderna) – Retalho (carne seca) – Consumidores

No canal do tipo C o processo a secagem da carne é efectuada por processos modernos pelas microempresas de transformação. Estas abastecem-se de carne fresca nacional nos mercados informais ou nos talhos e de carne importada nos supermercados (primeira transacção). A carne seca é vendida maioritariamente sob a forma de snacks para agentes de comércio a retalho (segunda transacção) que podem ser talhos, supermercados, lojas de conveniência, postos e abastecimento de combustível, os quais constituem o ponto de venda final ao consumidor (terceira transacção).

Fonte: Levantamento Directo

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4.3. Análise do Produto A forma mais comum de apresentação da carne seca ao consumidor é em “fitas”, ou seja, tiras de carne seca dobradas e normalmente atadas com um cordel. É desta forma que a carne seca se encontra disponível nos mercados informais (barracas de carne e vendedoras) e também em alguns talhos e supermercados. Não existe nenhum tipo de identificação do produto em termos de procedência da carne, data de fabrico ou data de validade.

Os principais critérios de aferição da qualidade da carne seca em fitas são os seguintes7:

Tabela 21. Critérios para aferição da qualidade da carne seca

Aparência A aparência deve ser mais uniforme possível. A ausência de buracos e rugas indica estabilidade e uniformidade no processo de secagem da carne.

Cor Uma camada periférica mais escura e o centro vermelho brilho são sinais de secagem demasiado rápida. Devido ao alto teor de água no centro, estas partes de carne podem ser susceptíveis do desenvolvimento de bactérias.

Textura

A textura adequada da carne seca deve ser dura, similar à carne congelada. Uma textura mais macia pode ser reconhecida pressionando a carne entre os dedos. Estas peças devem ser mantidas por um ou mais dias na secagem para completar o processo.

Sabor e Aroma

O sabor e aroma são critérios importantes para a aceitação de carne seca pelo consumidor A carne seca deve possuir um ligeiro sabor salgado que é a característica de carne seca sem adição de especiarias. Não devem ocorrer perdas de cheiro. Um ligeiro sabor de ranço derivado das alterações químicas durante a secagem e armazenamento pode ser encontrado na carne seca. Se for muito intenso já não é aceitável.

Fonte: Levantamento Directo

A carne seca tipo snack é apresentada em embalagens de 50 gr ou 100 gr, com rótulos de marca própria muito apelativos e com a indicação. Neste caso as embalagens contêm informação sobre a empresa responsável pela transformação (incluindo os seus contactos), os principais ingredientes e a data de validade. Nos supermercados e lojas de conveniência dos postos de abastecimento de combustível estas embalagens encontram-se em expositores próprios que conferem um maior destaque ao produto. Note-se que no caso de uma das microempresas da Chibia o próprio produtor, Sr. João Carvalho, constrói expositores com troncos de árvore e ganchos o que confere uma forma rústica e muito original de apresentação do produto nos pontos de venda.

Relativamente ao preço de venda ao público, as fitas de carne seca podem ser objecto de negociação entre vendedor e cliente no caso da compra nos mercados informais. As embalagens de carne seca tipo snack vendidas nos supermercados e lojas de conveniência têm preços tabelados. Na tabela seguinte sistematizam-se os preços médios de venda ao público em diferentes mercados.

7 LORIO, Danilo. “Manual básico de secagem de carne e produtos da pesca”. FAO. Projecto SANGA. Refª. GCP/ANG/037/EC.

70

Tabela 22. Preços de venda da carne seca ao consumidor final

Ponto de Venda Tipo Preço de Venda ao Público (Akz/Unidade)

Min Med Máx

Barracas de Carne (Chibia)

Mercado Halunhanha

Fitas

100

200

300

Vendedoras (Lubango)

Mercado João de Almeida

Fitas

300

325

350

Talhos (Lubango)

Mercado Municipal

Fitas

325

350

375

Supermercado (Lubango)

Casa Azul

Snack 50 gr “Mucuma”

400

Snack 100 gr “Mucuma” 800

Snack 50 gr “Birongu” 145

Snack 100 gr “Mamicha” 775

Fonte: Levantamento Directo

71

4.4. Análise económica/financeira Neste ponto pretende-se realizar uma análise de custos e margens de alguns dos principais actores da cadeia. Nas tabelas seguintes, vem analisada a estrutura de custos e lucro, assim como os dados de produtividade dos actores mais importantes da cadeia, ou seja, transformadores, intermediários e vendedores a retalho. Foram considerados valores médios, com base em dados de produtividade providenciados ou estimados.

Apesar de os valores absolutos poderem apresentar alguma imprecisão, considera-se mais relevante a comparação relativa entre os diferentes actores, que é bastante fiel à realidade e, sem dúvida, confere uma ordem de magnitude aos valores económicos e financeiros dos actores de cada segmento.

É necessário ter em conta que além dos dados em AKz/Kg de carne seca, foram calculados os valores totais anuais, já que mesmo que algum actor possa ter, por exemplo, um lucro líquido superior por Kg de carne seca, o seu nível de rendimento anual dependerá do volume de facturação e de um maior ou menor aproveitamento da economia de escala.

Tabela 23. Análise econômica financeira da micro-empresa de transformação

Micro-empresa transformação (vende tipo snacks)

Custos

Conceito Valor Nota Conversão para valores médios Akz/Kg carne seca

Carne importada

1300 Akz/Kg carne fresca Rdto. 35 % 3714 Akz/Kg

Bolsas empacotamento 5 Akz/ud 50 grs carne seca 100 Akz/Kg

Rótulo 20 Akz/ud 50 grs carne seca 400 Akz/Kg

Mão de obra 500 Akz/pessoa/dia

5 pessoas/7 dias por semana 121 Akz/Kg

Taxa veterinário 600 Akz/dia

produção 5 dias/semana 21 Akz/Kg Outros custos operacionais 1.000 Akz/Kg

Total 5.356 Akz/kg

Produtividade

Conceito Valor Nota Valor Médio Kg carne

procesada 120-170

Kg/semana Rdto. 35 % 145 Kg/semana Kg carne seca vendida ano 30 48 semanas/ano 2.436 Kg/ano

Receitas por venda

Conceito Valor médio de venda

Lucro líquido potencial/Kg carne seca

Lucro líquido potencial anual (Akz)

Fitas de 50 g 300 Akz 644 1.569.600

Fitas de 100 g 600 Akz 6.000 14.616.000

Média 3.322 8.092.800 Akz/ano Fonte: Levantamento Directo

72

Tabela 24. Análise econômica financeira do transformador- retalhista de barraca de mercado

Transformador-retalhista barraca de mercado informal

Custos

Conceito Valor Nota Conversão para valores médios Akz/Kg carne seca

Carne fresca 750-1.000 Akz/Kg carne fresca Rdto. 40 % 2.188

Total Custos

operacionais 1.820 Akz/dia Repercussão 5% 90

Aluger barraca 500 Akz/mês 24 dias/mês

Mão obra 1.500 Akz/dia 2 pessoas

Transporte até ao mercado 300 Akz/dia Taxi

Total 2.277 Akz/kg

Produtividade

Conceito Valor Nota Valor Médio

Metro carne seca aprox. 150 gr - -

5 metros dia 0,75 Kg -

200 dias/ano 150 Kg - 150 Kg/ano

Receitas por venda

Conceito Valor médio de venda

Lucro líquido potencial/Kg carne seca

Lucro líquido potencial anual (Akz)

Fita carne seca 350 Akz/1 metro (150 gr) 56 8.375 AKz/ano

Fonte: Levantamento Directo Comentários Tabela 24: O seu negócio principal é a venda em talhos de carne fresca na sua barraca, no entanto, a carne que não vende no dia e se se estiver a estragar, seca-a para a sua venda, apesar de ser com uma margem de lucro mínima.

73

Tabela 25. Análise econômica financeira do transformador-grossista

Transformador-grossista

Custos

Conceito Valor Nota Conversão para valores médios Akz/Kg carne seca

Carne fresca 300 Akz/Kg carne fresca Rdto. 40 % 875

Transporte até o mercado 300 Akz/dia Taxi 25

Total 900 Akz/kg

Produtividade

Conceito Valor Nota Valor Médio

Fita carne seca 150 gr -

50-100 fitas/dia 7,5 Kg-15 Kg /dia - 12 Kg/dia

200 dias/ano - 2.400 Kg/ano

Receitas por venda

Conceito Valor médio de venda

Lucro líquido potencial/Kg carne seca

Lucro líquido potencial anual (Akz)

Fita carne seca 150 Akz/1 metro (150 gr) 100 240.000 AKz/ano

Fonte: Levantamento Directo

Comentários Tabela 25: Compra carne fresca a preço baixo, provavelmente em início de descomposição, seca em casa e vende a intermediários ou directamente a vendedoras a grosso.

Tabela 26. Análise econômica financeira do 1º Intermediário

1º Intermediário

Custos

Conceito Valor Nota Conversão para valores médios Akz/Kg carne seca

Fita carne seca 100 Kz 1 m de fita 150 g 667 Taxa venda no

mercado 200 Akz/dia 17

Transporte até ao mercado 400 Akz/dia 33

Total 717 Akz/Kg

Produtividade

Conceito Valor Nota Valor Médio

Fita carne seca 150 gr -

50-100 fitas/dia 7,5 Kg-15 Kg /dia - 12 Kg/dia

200 dias/ano - 2.400 Kg/ano

Receitas por venda

Conceito Valor médio de venda

Lucro líquido potencial/Kg carne seca

Lucro líquido potencial anual (Akz)

Fita carne seca 150 Akz/1 metro (150 gr) 283 679.200 AKz/ano

Fonte: Levantamento Directo

Comentários

Tabela 26: Compra noutros mercados baratos e revende nos próximos aos núcleos urbanos. Em Lubango, é identificado este caso, que pode dar-se em Chibia apesar de ainda não ter sido identificado.

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Compram em Mutundo e vendem em João de Almeida, ou podem comprar em Halunhanha e revender no Lubango.

Tabela 27. Análise econômica financeira da vendedora no mercado informal

Vendedora no mercado informal

Custos

Conceito Valor Nota Conversão para valores médios Akz/Kg carne seca

Fita carne seca 150 Kz 1 m de fita 150 g 1.000 Caso 1: Taxa venda

no mercado 200 Akz/dia 167

Caso 1: Transporte até o mercado 400 Akz/dia 333

Caso 2: Taxa venda no mercado 200 Akz/dia 38

Caso 2: Transporte até o mercado 400 Akz/dia 76

Total caso 1: 1.500 Akz/Kg

Total caso 2: 1.115 Akz/Kg

Produtividade

Conceito Valor Nota Valor Médio

Fita carne seca 150 gr - Caso 1: 5-10

fitas/dia 0,75 Kg-1,5 Kg

/dia - 1,2 Kg/dia

Caso 2: 20-50 fitas/dia 3 Kg-7,5 Kg/dia 5,2 Kg/dia

200 dias/ano Caso 1: 240 Kg/ano

Caso 2: 1.040 Kg/ano

Receitas por venda

Conceito Valor médio de venda

Lucro líquido potencial/Kg carne seca

Lucro líquido potencial anual (Akz)

Caso 1: Fita carne seca

350 Akz/1 metro (150 gr) 833 200.000

Caso 2: Fita carne seca

300 Akz/1 metro (150 gr) 885 230.000

Fonte: Levantamento Directo

Comentários Tabela 27: Compra a uma intermediária e vende no mercado informal. Influência de economia de escala. No caso 1, uma vendedora apenas compra 1,2 Kg de carne seca por dia para revender. No caso 2, 4 vendedoras associam-se e compram 5,2 Kg de carne seca por dia para revender, beneficiando-se de uma economia de escala e portanto tendo uma menor repercusão dos custos de transporte e de taxa de mercado por Kg de carne, sendo o lucro obtido dividido entre as 4. Desta maneira, podem vender mais barato e, portanto, maior quantidade do que as suas competidoras individuais.

NaTabela 28 vem resumido para cada um dos actores analisados, o seu custo, os ingressos por venda e o lucro líquido no caso da comercialização de carne seca, vindo expresso em Akz por Kg de carne seca e em Akz / ano, e vem igualmente indicado o rendimento, calculado como o rácio lucro líquido/custo.

No segmento de transformação, o maior custo de produção, mas por sua vez o maior lucro líquido por Kg, corresponde a única microempresa familiar identificada em Chibia (Mucuma), que produz um produto bem diferenciado do resto dos actores do seu segmento e vende em

75

mercados formais e, portanto, a um preço Akz/Kg muito mais elevado do que o resto dos actores.

No caso do vendedor de barraca de talho de carne fresca, este vende a um preço superior por Kg de carne do que o transformador grossista, já que vende a retalho, no entanto, o seu lucro é muito menor do que o grossista assim como as suas receitas e lucros líquidos anuais, apesar de ser importante referir que o seu negócio principal consiste na venda de carne fresca e, portanto, a maior parte do seu rendimento anual provém da comercialização desta última.

O intermediário de carne seca obtém um lucro superior em relação ao transformador grossista, se comprar a 100 AKz/fita e revende a 150 Akz, apesar de isto depender da sua capacidade para obter carne seca a bom preço e de ter um bom conhecimento dos mercados, do seu volume de operação poder ser igualmente maior e, portanto, obtendo um lucro líquido anual superior.

Nos dois casos considerados é notável o efeito da economia de escala conseguido ao aumentar o volume de operação através da integração das funções de transformação e retalho no mesmo operador. As quatro vendedoras que se associam para comprar um maior volume de carne seca conseguem um custo inferior por Kg, permitindo-lhes vender mais barato a 2.000 Akz/Kg face aos 2.333 Akz/Kg da vendedora individual, e ainda assim obter um lucro líquido superior do que esta por Kg de carne seca vendida. Apesar de o lucro líquido total obtido ao longo do dia ou do ano ser dividido entre as quatro, cada uma acaba por receber mais 30.000 Akz/ano do que no caso da vendedora individual.

76

Tabela 28. Resumo análise económica/financeira dos actores analisados

Fonte: Levantamento Directo

Actor Akz/Kg carne seca

Akz/ano Actor Akz/Kg carne seca

Akz/ano Actor Akz/Kg carne seca

Akz/ano

Micro-empresa transformação (snacks) 5.356 13.046.400 1º Intermediário 717 1.720.000 Vendedora no mercado

informal - 11.500 360.000

Transformador-retalhista barraca de mercado informal 2.278 341.625 Vendedora no mercado

informal - 21.115 1.160.000

Transformador-grossista 900 2.160.000

Micro-empresa transformação (snacks) 6.000 14.616.000 1º Intermediário 1.000 2.400.000 Vendedora no mercado

informal - 12.333 560.000

Transformador-retalhista barraca de mercado informal 2.333 350.000 Vendedora no mercado

informal - 22.000 520.000

Transformador-grossista 1.000 2.400.000

Micro-empresa transformação (snacks) 3.322 8.092.800 1º Intermediário 283 679.200 Vendedora no mercado

informal - 1833 200.000

Transformador-retalhista barraca de mercado informal 56 8.375 Vendedora no mercado

informal - 2885 230.000

Transformador-grossista 100 240.000

Micro-empresa transformação (snacks) 1º Intermediário

Vendedora no mercado informal - 1

Transformador-retalhista barraca de mercado informal

Vendedora no mercado informal - 2

Transformador-grossista

Custos

Receitas por venda

RetalhoTransformação

55,56%

79,31%

11,11%

Rendimento

Lucro líquido

Intermediário

62,03%

2,45%

39,49%

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A percentagem de valor acrescentado representa a percentagem do valor da venda nas transacções intermédias face ao da venda ao consumidor final, que pode variar em função do canal de distribuição adoptado. Porém, na figura vem representada a percentagem do valor da venda, face ao máximo identificado entre os actores analisados, o que corresponde à venda de produto por parte da microempresa familiar (Mucuma) que é o actor que mais valor consegue garantir para um Kg de carne seca.

78

Fonte: Levantamento Directo

4.5. Análise crítica: desempenho e governança A carne seca faz parte dos hábitos alimentares da população angolana, incluindo da população de baixa renda, dado que é um produto mais barato do que a carne fresca. Por tal razão, a carne seca constitui uma boa fonte de acesso a proteína animal por parte das famílias mais vulneráveis.

Na cadeia produtiva da Chibia, a secagem tradicional constitui o método privilegiado de transformação da carne seca. Os principais operadores do segmento da transformação são as barracas de venda de carne e as vendedoras que operam nos mercados informais. De um modo geral, o produto apresenta baixa qualidade devido a dois factores principais: por um lado, a matéria-prima utilizada (carne fresca) é de fraca qualidade; por outro, o próprio processo de secagem e os cuidados do operador são precários.

A possibilidade de introduzir tecnologia simples e de baixo custo através de secadores solares é absolutamente crucial nesta cadeia, a par de sensibilização e capacitação aos diferentes operadores, em particular do segmento da transformação. Isso permitiria aumentar a qualidade do produto e também abrir a porta para o surgimento de diferenciação na cadeia, aumentando o leque de oferta de carne seca ao consumidor com possibilidade de geração de renda para os operadores.

A secagem moderna é ainda muito incipiente e restringe-se a um número reduzido de operadores que produzem carne seca tipo snack. Estes operadores estão a ter sucesso dado que identificaram um nicho de mercado e apostaram em iniciativas empreendedoras que lhes permitiram melhorar o negócio.

O mesmo princípio de organização pode ser aplicado no âmbito da secagem tradicional, designadamente através do apoio à constituição de grupos de transformadores em associações e cooperativas para a produção de fitas de carne seca de mais qualidade e com maior agregação de valor.

A influência do sector estatal na cadeia não é elevada. Os serviços de veterinária não dispõem de pessoal suficiente e qualificado que possa prestar serviço de fiscalização nos diferentes segmentos (produção pecuária, abate, transformação). Isso compromete a qualidade do produto final. Configura igualmente um cenário de risco para os consumidores dado que a qualidade da carne fresca e seca não é aferida.

Outro aspecto relevante no desempenho da cadeia é que não existe regulamentação técnica que defina critérios e padrões físico-químicos ou microbiológicos à carne seca ou do seu processo produtivo. Isso limita a possibilidade de agregação de valor e de aumento da

ActorValor agregado

(Akz/Kg carne seca)% Valor Agregado

Lucro líquido (Akz/Kg carne seca)

Receitas líquidas por ano (Akz)

Receitas dia(Akz)

Vendedora no mercado informal - 1 833 14 833 200.000 548

Vendedora no mercado informal - 2 885 15 885 230.000 630

Transformador-grossista 1.000 17 100 240.000 6581º Intermediário 1.000 17 283 679.200 1.861

Transformador-retalhista barraca de mercado informal 2.333 39 56 8.375 23

Micro-empresa transformação (snacks) 6.000 100 3.322 8.092.800 22.172

Tabela 29. Outros parâmetros económicos dos actores analisados

79

confiança dos consumidores para um produto com um valor nutricional interessante e de melhor qualidade.

Na Tabela 30 sintetizam-se os principais pontos críticos identificados em cada segmento da cadeia e na Tabela 31 sintetizam-se outros parâmetros de análise do desempenho desta cadeia.

Tabela 30. Principais pontos críticos da cadeia

Segmento Pontos Críticos

Fornecedores de Insumos

Debilidade da rede de assistência veterinária (estatal e privada), conformando um contexto favorável para o aumento da prevalência de parasitas e doenças e reduzida taxa de cobertura de vacinação, conformando um contexto favorável ao aumento de prevalência de doenças no sector pecuário.

Produção Pecuária Sistema de produção pecuária não garante carne de qualidade.

Maioria dos camponeses e criadores tradicionais não vende animais com propósito comercial mas sim como fundo de poupança.

Intermediários (animais vivos)

Elevado número de operadores e sem condições de transporte adequado de animais vivos.

Deficientes condições dos mercados de venda de animais vivos.

Abate Falta de condições de higiene nas casas de matança, deficientes capacidades técnicas dos operadores e serviços de inspecção veterinária/sanitária com debilidades.

Retalho

(carne fresca)

Ausência de condições de conservação nas barracas de carne dos mercados informais

Transformação A matéria-prima (carne fresca) utilizada pelas barracas de carne e vendedoras que transformam a carne seca é de baixa qualidade comprometendo a qualidade do produto final.

Ausência de tecnologia simples e de baixo custo no método de secagem tradicional

Ausência de diferenciação de produto.

Retalho

(carne seca)

Deficiente apresentação do produto ao consumidor (ausência de data fabrico, data validade, etc.)

Serviços de fiscalização e inspecção sanitária do produto final deficientes no sector informal.

Fonte: Levantamento Directo

80

Tabela 31. Parâmetros de análise relacionados com os segmentos da cadeia

Parâmetro Insumos Produção Pecuária

Intermediários Animais Vivos Abate Retalho

Carne Fresca Transformação Retalho Carne Seca

Números de Agentes

+ Informal e Privado - Estatal

+ Camponeses e Tradicionais

- Fazendeiros

+

+ Casas Matança

- Matadouros Industriais

+ Barracas Carne

- Talhos e Supermercados

+ Barracas Carne e

Vendedoras

- Microempresas

+ Barracas Carne e

Vendedoras

- Talhos, Supermercados ..

Nível Tecnológico - - Camponeses e Tradicionais

+ Fazendeiros - - Casas Matança

+ Matadouros Industriais - Barracas Carne

+ Talhos e Supermercados - Barracas Carne e Vendedoras

± Microempresas ...

Ambiente Institucional - + - - - - - Ambiente Político Normativo - + + + + + +

Incerteza - + + - - - Barracas Carne e Vendedoras

+ Microempresas +

Risco - + ± + - + - Competição - - + - ±

+ Barracas Carne e Vendedoras - Microempresas ±

Rendimento - - Camponeses e Tradicionais

+Fazendeiros -

- Casas Matança + Matadouros Industriais

± Barracas Carne + Talhos e Supermercados

- Barracas Carne e Vendedoras + Microempresas

- Barracas Carne e Vendedoras + Comércio formal

Capacidade de Gestão ± - Camponeses e Tradicionais

+ Fazendeiros - - Casas Matança

+ Matadouros Industriais - Barracas Carne

+ Talhos e Supermercados - Barracas Carne e Vendedoras

+ Microempresas - Barracas Carne e Vendedoras

+Talhos, Supermercados...

Poder de Negociação ...

- Camponeses e Tradicionais + Fazendeiros

+ + + + +

Racionalidade ... - Camponeses e Tradicionais

+ Fazendeiros + + + + +

Oportunismo ... - + - - + Barracas Carne e

Vendedoras - Microempresas

-

Condição Social ... - Camponeses e Tradicionais

+ Fazendeiros - - Casas Matança

+ Matadouros Industriais - Barracas Carne

+ Talhos e Supermercados - Barracas Carne e Vendedoras

+ Microempresas - Barracas Carne e Vendedoras

+ Talhos e Supermercados Geração de Emprego - + + + - + + Questão de Género ... H H H H H / M H / M

Legenda: + Elevado ± Médio - Baixo Fonte: Levantamento Directo

81

• Número de Agentes

- Elevado número de agentes no segmento de fornecimento de insumos através do sector informal e privado, constituído pelos mercados informais e pelas lojas e supermercados, respectivamente. Baixo número de agentes no sector público constituído apenas pelos serviços de veterinária no município da Chibia.

- Elevado número de agentes no segmento da produção pecuária relativamente aos camponeses e criadores tradicionais. Baixo número de agentes na tipologia de fazendeiros.

- Elevado número de agentes que funcionam como intermediários (1º e 2 nível). Os intermediários de 1º nível são na maioria provenientes do Município da Chibia. Os intermediários de 2º nível podem ser provenientes da Chibia ou de outros municípios da província.

- Elevado número de operadores de agentes de casas de matança e barracas de venda de carne fresca, distribuídas pelos diferentes tipos de mercados de animais vivos (primários, intermédios e finais). Baixo número de matadouros industriais e agentes de comércio a retalho formal de carne fresca (talhos e supermercados). Não existem matadouros, talhos ou supermercados na Chibia. Na província da Huíla existe matadouro na Matala (Matadouro da Chela) e Lubango (Matadouro Carnes & Frios da Huíla). No Lubango existem vários talhos e supermercados.

- Elevado número de agentes de transformação do tipo barracas de carne e vendedoras. Baixo número de microempresas de transformação, tendo apenas uma sido identificada no município da Chibia pertencente ao Sr. João Carvalho que comercializa a marca “Mucuma”.

• Nível tecnológico

- Baixo nível tecnológico no segmento de insumos, tanto em termos da oferta limitada de equipamentos e outra tecnologia, como em termos do nível tecnológico introduzido pela assistência técnica e veterinária dos serviços do ISV, no caso do sector estatal.

- Baixo nível tecnológico no segmento da pecuária ao nível dos camponeses e criadores tradicionais. Elevado junto aos fazendeiros com introdução de raças melhoradas, condições de alimentação e maneio dos rebanhos mais avançadas.

- Baixo nível tecnológico nos intermediários (1º e 2º nível) que não dispõem de condições de transporte de animais vivos muito adequadas.

- Baixo nível tecnológico nas casas de matança e barracas de mercado que vendem carne fresca, sem quaisquer condições de conservação do produto. Elevado nível tecnológico nos matadouros industriais, assim como nos talhos e supermercados, pois dispõem de tecnologia de refrigeração e congelação adequada, incluindo expositores de produtos (vitrines).

- Baixo nível tecnológico no segmento da transformação de carne seca pelo método tradicional. Médio nível tecnológico no caso das microempresas que já dispõem de alguma tecnologia como estufas de secagem, misturadores, entre outros equipamentos.

• Ambiente Institucional

- Elevada influência na cadeia por parte das instituições estatais vinculadas ao Ministério da Agricultura em termos de provimento de informação, assistência

82

técnica e regulação, sobretudo no segmento da criação. Baixo, contudo, nos demais segmentos.

- Baixo nível de influência das instituições bancárias, em particular pela ausência de mecanismos facilitados de apoio financeiro (crédito) aos diferentes agentes da cadeia.

- Potencial influência elevada do FAS em função da perspectiva de apoio diferenciado (assistência técnica, capacitação, investimento) a vários agentes da cadeia.

• Ambiente Político-normativo

- Elevada influência das políticas, programas públicos e legislação do sector pecuário e veterinário em todos os segmentos da cadeia.

- Elevada influência da legislação do sector comercial na regulação das actividades do comércio (afixação de preços, comércio rural, comércio ambulante, venda a retalho).

• Incerteza

- Elevada incerteza no segmento da pecuária em virtude das características da produção animal e sua dependência das condições naturais e climatéricas com influência na alimentação, acesso a água e saúde dos animais.

- Elevada incerteza junto dos intermediários (1º e 2º nível) em função da imprevisibilidade relativa da revenda dos animais vivos.

- Baixa incerteza nos demais segmentos dado que controlam melhor as condições da sua actividade e não estão sob influência de tantos factores externos e adversos que não podem controlar. Por exemplo, no caso do abate os agentes só laboram se houver serviço; no caso dos comerciantes de carne fresca e seca só compram carcaças ou produto transformado se tiverem previsibilidade de venda.

• Risco

- Elevado risco no segmento da produção animal em virtude da exposição a factores de risco da actividade pecuária (secas, inundações, parasitas, doenças), bem como da dificuldade de acesso aos mercados para venda dos animais.

- Médio risco da actividade dos intermediários (1º e 2º nível) em função da imprevisibilidade relativa da revenda dos animais vivos.

- Elevado risco no segmento do abate, pois a ausência de mercado pode comprometer a sua viabilidade do negócio.

- Baixo risco também no segmento de retalho de carne fresca em função da elevada concorrência com produtos substitutos (carne bovino, suíno e frango).

- Elevado risco no caso das microempresas de transformação, pois a ausência de mercado pode comprometer a sua viabilidade do negócio. Tal não se aplica ao caso da transformação tradicional realizada pelas vendedoras e barracas de carne, pelo que o risco da sua actividade neste caso é baixo.

• Competição

- Baixa competição no segmento da pecuária pois para os camponeses e criadores tradicionais a venda dos animais não tem como primeiro propósito a geração de

83

renda. No caso dos fazendeiros, onde a criação tem um propósito primordial de venda, existe baixa competição dado o reduzido número de agentes presentes.

- Elevada competição no segmento dos intermediários de 1º e 2º nível, dado o elevado número de agentes presentes.

- Baixo nível de competição no segmento de abate pois existem poucos matadouros industriais e as casas de matança não entram em competição entre si dado que se localizam em diferentes mercados.

- Médio nível de competição no segmento de venda de carne a retalho em função do maior número de agentes presentes na cadeia. No caso das barracas de venda de carne a competição gera-se dentro do mesmo mercado. No caso dos talhos e supermercados a competição gera-se no nível territorial do município. As mesmas características se aplicam a estes operadores no âmbito do segmento de retalho de carne seca.

• Rendimento

- Em geral, baixo rendimento dos actores no sector informal, com excepção dos operadores de barraca de venda de talhos, os quais apresentam rendimento médio na venda de carne fresca mas baixo na transformação e venda de carne seca, considerada por eles como um produto secundário.

- No caso das vendedoras de carne seca, nota-se um melhor rendimento quando elas se associam para comprar maior quantidade e reduzir os custos variáveis de transporte e taxa de mercado.

• Capacidade de Gestão

- Baixa capacidade de gestão dos agentes do sector informal (camponeses e criadores tradicionais, intermediários, casas de matança, barracas de carne, vendedoras) em termos de planificação da actividade, incluindo visão de negócio, controle de custos, percepção sobre margens de comercialização, contabilização de receitas e lucros.

- Elevada capacidade de gestão dos agentes do sector formal (fazendeiros, matadouros industriais, microempresas de transformação, talhos e supermercados), os quais adotam uma visão planificação da actividade, incluindo visão de negócio, controle de custos, percepção sobre margens de comercialização, contabilização de receitas e lucros.

• Poder de Negociação

- Baixo poder de negociação dos camponeses e criadores tradicionais relativamente à venda dos animais, dado que a formação dos preços é sobretudo definida pelos intermediários, razão pela qual estas assumem um elevado poder na cadeia produtiva de bovinos (animais vivos).

- Os fazendeiros já adquirem maior capacidade de negociação dado que o seu volume de produção proporciona maior margem de negociação na venda dos animais.

- Elevado poder de negociação nos demais agentes da cadeia, tanto do sector formal como informal.

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• Racionalidade

- Baixa racionalidade ao nível dos camponeses e criadores tradicionais, pois não dominam ou não conseguem processar toda a informação necessária à tomada de decisão, em particular a relativa à venda dos animais no melhor período e a preços de mercado mais elevados.

- Elevada racionalidade em todos os demais agentes da cadeia, pois estão na posse da informação completa relativamente às dinâmicas do mercado – incluindo a procura e a flutuação dos preços –, podendo assim tomar decisões mais racionais.

• Oportunismo

- Elevado oportunismo ao nível dos intermediários. Em virtude da maior posse de informação, estes incorrem com frequência em práticas oportunistas escondendo ou escamoteando os preços ou as tendências de mercado e com isso conseguindo tirar maior proveito próprio nas transacções.

- Baixo nível em todos os demais agentes da cadeia onde as práticas oportunistas não são comuns.

• Condição Social e questão de género

- A condição social dos agentes da cadeia que operam no sector informal é baixa, vivendo a maioria em situações de pobreza (camponeses e criadores tradicionais, intermediários de animais vivos, operadores das casas de matança e barracas de venda de carne e vendedoras dos mercados).

- Relativamente à questão de género, a maioria dos segmentos da cadeia de carne seca é altamente masculinizada, sendo o homem que assume um papel preponderante nas respectivas actividades. A excepção verifica-se no caso das vendedoras que operam no segmento da transformação e retalho de carne seca.

• Geração de Emprego

- Com excepção do segmento de comércio a retalho de carne fresca e carne seca, em particular do sector formal, todos os demais segmentos assumem relevância para a geração de emprego na cadeia produtiva.

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4.6. Análise SWOT

Tabela 32. Análise SWOT da cadeia produtiva de carne seca no município da Chibia

Forças Fraquezas

A carne seca faz parte da alimentação base da população e é um produto bem apreciado sendo inclusivamente utilizado em receitas tradicionais de grande visibilidade como caso do “Calulu”.

O processo de secagem da carne é uma boa alternativa para conservar e agregar valor a um produto de elevada perecibilidade.

Existência de conhecimento local sobre processo de secagem tradicional.

Existência de alguns operadores com espírito empreendedor que oferecem produtos diferenciados de carne seca (snacks).

A Chibia insere-se numa região com elevado potencial para a criação de gado, existindo por isso disponibilidade real de carne de outras espécies animais que pode ser transformada para carne seca (caprinos e ovinos).

Existência de poucos criadores com raças melhoradas e poucas acções de fomento pecuário em curso que limitam a qualidade da carne.

Elevada precariedade das condições de abate de animais (casas de matança) e venda de carne (barracas de carne) devido a falta de higiene e condições sanitárias.

Maior parte das fitas de carne seca é produzida com carne de fraca qualidade.

Inexistência de fiscalização e inspecção das fitas de carne seca que entram para o mercado de consumo, comprometendo as garantias de inocuidade para o consumidor.

As fitas de carne seca são apresentadas ao consumidor sem quaisquer referências à matéria-prima e ingredientes utilizados, data de fabrico e período de validade.

Taxa de cobertura de vacinação baixa, conformando um contexto favorável ao aumento de prevalência de doenças.

Fraca cobertura da rede de assistência veterinária (estatal e privada), conformando um contexto favorável para o aumento da prevalência de parasitas e doenças.

Nível de competências em gestão e visão de negócio muito baixo na maioria dos operadores da cadeia.

As microempresas de transformação consideram que a carne importada apresenta melhor qualidade para a produção dos snacks relativamente à carne nacional.

86

Oportunidades Ameaças

A transformação da carne seca pelo processo de desidratação é um processo simples e que pode ser facilmente melhorado através de secadores solares de baixo custo.

Existência de margem de mercado para aumentar a penetração de produto (em particular dos snacks) em mercados de outras províncias e internacionais.

Existe um claro potencial para agregar valor à carne seca através da diversificação de produtos e melhorias na sua qualidade, incluindo nos aspectos de embalagem e marketing.

Pauta aduaneira determina custos elevados à importação de carne e derivados.

Proximidade de instituições de ensino médio e superior na área produção animal e agro-indústria pode facilitar a construção de capacidades e investigação aplicada em diferentes segmentos da cadeia, bem como aumentar oferta de técnicos qualificados.

Perspectiva de instalação a médio prazo de um matadouro industrial na Chibia pela Cooperativa de Criadores de Gado de Angola (CCGA)

A CCGA tem discutido a possibilidade de trabalhar na criação de uma denominação de origem para a carne bovina.

Experiência acumulada na região em matéria de processos de reforço do associativismo e cooperativismo, bem como gestão de caixas comunitárias (metodologia da ADRA), pode facilitar a organização da produção pecuária e o acesso a linhas de crédito.

Experiência acumulada na região em matéria de capacitação e desenvolvimento de secadores solares para carne seca através de projectos com apoio da FAO.

Municípios circundantes são também grandes produtores de carne seca aumentando assim a concorrência entre diferentes agentes da cadeia.

Êxodo rural dos jovens do campo está em crescendo;

Possível impacto das alterações climáticas com implicações nos sistemas de produção animal.

Proximidade da Namíbia e potencial concorrência com carne seca importada.

Fonte: Levantamento Directo

Recomendações Estratégicas

V

89

5. Recomendações Estratégicas

5.1. Acções estratégicas Neste ponto apresenta-se algumas acções estratégicas que podem ajudar a melhorar o desempenho da cadeia produtiva da carne seca na sua globalidade, num específico ou alguns agentes principais. Excluem-se aqui as intervenções de âmbito mais geral que necessitam de uma intervenção governamental para o sector na maioria do país, tais como:

• Melhoria das infra-estruturas dos mercados informais (abate e venda) • Melhoria e ampliação de canais de distribuição • Melhoria de vias de acesso • Aumento dos serviços de extensão rural e de veterinária • Facilitação de mecanismos de acesso ao crédito • Medidas estratégicas a nível nacional para melhoria competitiva dos produtos

nacionais • Reforço de processos de industrialização rural de pequena e média escala • Melhoria no acesso à informação sobre preços e mercados em todos os segmentos • Melhoria do ambiente político e normativo nos aspectos mais influentes identificados

no ponto 3.9. Ambiente Institucional.

Sendo que as intervenções anteriores ajudarão a superar graves constrangimentos do sector, assim como a melhorar o desempenho e gestão da cadeia, são acções conhecidas por todos os organismos públicos, posto que o Governo avança progressivamente no sentido da sua melhoria.

Deste modo, incluem-se nas tabelas seguintes algumas acções que podem ser implementadas a curto prazo de forma relativamente independente da coordenação de múltiplos agentes ou entidades públicas e privadas. Considera-se que tais acções se enquadram nas competências do FAS e portanto podem formar parte da sua estratégia de desenvolvimento local como complemento ou integradas no seu PDL.

Tabela 33. Proposta de acções estratégicas para a cadeia de carne seca

A1 Promover upgrade tecnológico no segmento da transformação através do incentivo e apoio para o uso de secadores solares simples e de baixo custo.

A2 Promover a integração das funções de transformação e retalho de carne seca no mesmo operador através do reforço do associativismo entre as vendedoras para que adquiram economia de escala (ex.: Associação de Produtoras e Vendedoras de Carne Seca).

A3 Promover a diferenciação de produto no segmento da transformação através do incentivo à criação de novos produtos (ex.: charque) e diferentes formas apresentação ao consumidor (ex.: embalagem plástico e/ou vácuo, rotulagem, etc.).

A4 Reforçar as capacidades dos operadores no segmento da transformação a nível técnico, operacional e de gestão de negócio.

A5 Incentivar o empreendedorismo de grupo no segmento da transformação através do apoio à constituição de pequenas empresas com capacidade para abastecer mercados fora da província, incluindo o consumo institucional.

A6 Fortalecimento de sinergias entre agentes da cadeia e actores do território para maior aproveitamento dos mercados institucionais de merenda escolar.

90

Tabela 34. Descrição das propostas de acções estratégicas para a cadeia de carne seca

A.1 - Promover upgrade tecnológico no segmento da transformação através do incentivo e apoio para o uso de secadores solares simples e de baixo custo.

Informar e sensibilizar os pequenos transformadores (vendedoras e barracas de carne) sobre alternativas simples e de baixo custo de secadores solares e respectivas vantagens, incluindo em termos de qualidade do produto final. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente ONG locais.

O FAS poderia elaborar uma brochura técnica explicando o processo de construção, instalação e funcionamento do secador solar para disseminação junto de potenciais beneficiários.

O FAS poderia junto com a Administração Municipal da Chibia montar um secador solar numa comuna seleccionada, ou junto a um operador que funcionasse como exemplo demonstrativo. Visitas ao secador podem ser organizadas pela Administração Municipal. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente com a FAO.

Apoio financeiro, assistência técnica e capacitação (Matching Grant) para pequenos operadores que desejem investir em secadores solares simples e de baixo custo para melhorar o processo tecnológico. Esta iniciativa pode incluir de forma transversal as acções A.2, A.3 e A.5.

Potenciais Beneficiários

Pequenos operadores do segmento da transformação (vendedoras e barracas de carne)

Jovens do Município com espírito empreendedor

Possíveis Parceiros

Administração Municipal

ONG locais

IDA/EDA

FAO

Indicadores

Número de secadores solares simples e de baixo custo instalados no Município da Chibia.

Número de beneficiários (desagregado por género) apoiados.

Aumento crescente da oferta de produtos de carne seca de qualidade diferenciada e de formas de apresentação do produto ao consumidor.

A.2 - Promover a integração das funções de transformação e retalho de carne seca no mesmo operador através do reforço do associativismo entre as vendedoras para que adquiram economia

de escala (ex.: Associação de Produtoras e Vendedoras de Carne Seca).

Informar e sensibilizar as vendedoras sobre as vantagens da organização em grupos locais promovendo a divisão de tarefas e a especialização/profissionalização da actividade de transformação e venda de carne seca.

Apoio a processos organizativos (associações/cooperativas) entre as vendedoras. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente ONG locais.

Apoio financeiro, assistência técnica e capacitação (Matching Grant) para vendedoras que desejem constituir-se em grupos e produção local. Esta iniciativa pode incluir de forma transversal as acções A.1, A.3 e A.5.

Beneficiários

Vendedoras que operam como pequenos transformadores de carne seca e vendedoras de carne seca dos mercados informais

Parceiros

Administração Municipal

ONG locais

FAO

Indicadores

Número de grupos de produção local organizados em associações e cooperativas para transformação e venda de carne seca constituídos no Município da Chibia.

91

Número de beneficiários (vendedoras) apoiados.

Aumento crescente da oferta de produtos de carne seca de qualidade diferenciada e de formas de apresentação do produto ao consumidor.

A.3 - Promover a diferenciação de produto no segmento da transformação através do incentivo à criação de novos produtos (ex.: charque) e diferentes formas apresentação ao consumidor (ex.:

embalagem plástico e/ou vácuo, rotulagem, etc.).

Informar e sensibilizar os operadores do segmento da transformação sobre as alternativas e respectivas vantagens da diferenciação de produto e das formas de apresentação ao consumidor.

O FAS poderia elaborar uma brochura técnica com a sistematização de exemplos de diferenciação do produto carne seca para disseminação junto de potenciais beneficiários. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente ONG locais.

Apoio financeiro, assistência técnica e capacitação (Matching Grant) para operadores que desejem ofertar produtos diferenciados de carne seca. Esta iniciativa pode contribuir de forma transversal para as acções A.1, A.2 e A.5.

Beneficiários

Pequenos operadores do segmento da transformação (vendedoras e barracas de carne)

Jovens do Município com espírito empreendedor

Parceiros

Administração Municipal

ONG locais

IDA/EDA

Indicadores

Número de beneficiários (desagregado por género) apoiados.

Aumento crescente da oferta de produtos de carne seca de qualidade diferenciada e de formas de apresentação do produto ao consumidor.

A.4 - Reforçar as capacidades dos operadores no segmento da transformação a nível técnico, operacional e de gestão de negócio.

Elaboração e disseminação de brochuras técnicas ou materiais informativos sobre aspectos produtivos (incluindo cuidados do operador), gestão de negócio, planos de marketing. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente ONG locais.

Organização de acções de capacitação de curta duração dirigidas a operadores específicos dos diferentes segmentos da cadeia. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente ONG locais ou com microempresas de transformação de carne seca com mais experiência. Esta iniciativa pode contribuir de forma transversal para as acções A.1, A.2, A.3 e A.5.

Beneficiários

Pequenos operadores do segmento da transformação e venda de carne seca

Jovens do Município com espírito empreendedor

Parceiros

Administração Municipal

ONG locais

IDA/EDA

Empresas privadas especializadas

Indicadores

Número de acções de capacitação organizadas.

Número de beneficiários (desagregado por género) participantes nas acções e capacitação.

92

A.5 - Incentivar o empreendedorismo de grupo no segmento da transformação através do apoio à constituição de pequenas empresas com capacidade para abastecer mercados fora da província,

incluindo o consumo institucional.

Apoio financeiro, assistência técnica e capacitação (Matching Grant) para operadores do segmento da transformação ou jovens empreendedores do município que desejem instalar-se como agentes económicos da cadeia de carne seca em grupos de produção local ou em pequenas empresas.

Beneficiários

Operadores do segmento da transformação de carne seca

Jovens do Município com espírito empreendedor

Parceiros

Administração Municipal

Empresas privadas especializadas

Indicadores

Número de pequenas empresas de transformação de carne seca apoiadas.

Número de beneficiários (desagregado por género) apoiados.

A.6 - Fortalecimento de sinergias entre agentes da cadeia e actores do território para maior aproveitamento dos mercados institucionais de merenda escolar.

Pretende-se com esta acção um duplo objectivo: i) facilitar o escoamento da produção para os operadores do segmento da transformação e venda de carne seca; ii) aumentar o valor nutricional das dietas escolares incorporando proteína animal.

Trata-se de uma iniciativa a desenvolver conjuntamente entre FAS, Administração Municipal, FAO e operadores seleccionados visando a montagem de esquemas locais de abastecimento regular de carne seca às escolas do município.

A FAO dispõe de experiência nesta matéria desenvolvida na Província do Bié. É necessário trabalho de sensibilização junto das escolas (incluindo com os pais, professores e futuras cozinheiras) em termos de logística de abastecimento e regularidade na entrega, armazenamento do produto, mecanismos de pagamento, definição das receitas e preparação das refeições.

Beneficiários

Operadores do segmento da transformação e venda de carne seca

Crianças das escolas (beneficiários indirectos).

Parceiros

Administração Municipal

FAO

ONG locais

Indicadores

Número de escolas abrangidas por mecanismos de abastecimento de carne seca para preparo de refeições.

Número de beneficiários dos segmentos da transformação e venda de carne seca (desagregado por género) integrados nas iniciativas.

Número de crianças (beneficiários indirectos) com acesso regular a proteína animal proveniente da carne seca através da merenda escolar.

93

5.2. Priorização das intervenções As acções podem ser priorizadas em função de múltiplos parâmetros. Na seguinte tabela propõe-se um sistema com alguns factores de ponderação que pode ser usado como ferramenta de tomada de decisões. Os valores de ponderação são indicados por defeito e deverão ser validados pelo FAS e revistos periodicamente em função de alterações significativas que afectem a cadeia. Outros indicadores podem ser incluídos em função de parâmetros de avaliação que o FAS considerar mais pertinentes.

Tabela 35. Proposta de sistema de factores de ponderação

A aplicação desta ferramenta às acções propostas resulta na seguinte tabela de priorização:

Factores Peso

(0-1)

Valor

(0-3) Resultado

A

Impacto social

0,15

0 Valor nulo

- 1 Gera valor dentro da comunidade 2 Diminui a vulnerabilidade social dentro de uma comunidade 3 Gera valor e diminui a vulnerabilidade dentro de uma comunidade

B

Dependência

0,15

0 O avanço do projecto depende da contribuição de meios externos, não pode ser auto-sustentável

- 1 Em caso de êxito do projecto, o mesmo permitirá o acesso ao crédito para a

sua continuidade

2 Em caso de êxito, o projecto conseguirá gerar fundos para a sua auto sustentabilidade

3 O projecto em si mesmo é auto-sustentável desde o início C

Criação de emprego digno

0,14

0 Valor nulo

- 1 Nos membros de uma mesma família

2 Excluindo os próprios beneficiários, permitirá gerar tantos postos de trabalho como número de beneficiários do projecto

3 Permitirá criar mais empregos do que o dobro de número de beneficiários D

Custo económico

0,13

0 Mais de 50.000 USD

- 1 Entre 30.000 e 50.000 USD 2 Inferior ou igual a 30.000 USD 3 Apenas recursos humanos do FAS

E

Geração de renda

0,13

0 Valor nulo

- 1 Permitirá manter o nível de renda actual no beneficiário 2 Permitirá aumentar o rendimento do beneficiário 3 Permitirá duplicar o rendimento do beneficiário ou mais

F

Tempo de implementação

0,10

0 Superior a dois anos

- 1 Entre 1 e 2 anos 2 Inferior a um ano 3 Imediato

G

Potencial de replicação

0,10

0 Valor nulo

- 1 Projecto replicável no mesmo município 2 Projecto replicável na província 3 Projecto replicável no país

H Necessidade de parceiros para

o FAS

0,10

0 Necessária coordenação do Governo a nível central

- 1 Necessário apoio de outras Instituições Públicas ou Privadas 2 Necessário apenas apoio das Direcções Provinciais 3 Não é necessário, ou é suficiente o apoio das Administrações Municipais

TOTAL -

94

Acção Factores

Resultado A B C D E F G H

A.2 - Promover a integração das funções de transformação e retalho de carne seca no mesmo operador através do reforço do associativismo entre as vendedoras para que adquiram economia de escala (ex.: Associação de Produtoras e Vendedoras de Carne Seca).

2 2 3 3 2 2 2 3 2,37

A.1 - Promover upgrade tecnológico no segmento da transformação através do incentivo e apoio para o uso de secadores solares simples e de baixo custo.

3 2 1 2 3 2 3 3 2,34

A.6 - Fortalecimento de sinergias entre agentes da cadeia e actores do território para maior aproveitamento dos mercados institucionais de merenda escolar.

2 2 2 2 1 1 3 3 1,97

A.5 - Incentivar o empreendedorismo de grupo no segmento da transformação através do apoio à constituição de pequenas empresas com capacidade para abastecer mercados fora da província, incluindo o consumo institucional.

3 1 3 0 3 2 2 1 1,91

A.3 - Promover a diferenciação de produto no segmento da transformação através do incentivo à criação de novos produtos (ex.: charque) e diferentes formas apresentação ao consumidor (ex.: embalagem plástico e/ou vácuo, rotulagem, etc.).

1 2 0 3 2 1 3 3 1,80

A.4 - Reforçar as capacidades dos operadores no segmento da transformação a nível técnico, operacional e de gestão de negócio.

0 2 0 2 0 2 3 1 1,16

95

Anexos

VI

6. Anexos

ANEXO I Lista de contactos e entrevistas

Data Nome Lugar Entrevistados

29-07-2014 Administração Municipal da Chibia Chibia Técnicos da Administração Municipal e FAS 29-07-2014 FAS Huíla Lubango Direcção e Equipa Técnica do FAS 29-07-2014 Direcção Provincial de Agricultura Lubango Director Provincial de Agricultura 29-07-2014 Instituto de Serviços Veterinários

(ISV) Lubango Director Instituto de Serviços Veterinários

30-07-2014 Acção de Capacitação - Chibia Chibia Técnicos das Administrações Municipais, Equipa Técnica do FAS, agentes da cadeia

31-07-2014 Vice-Governadora Provincial Lubango Vice Governadora Provincial 31-07-2014 Direcção Provincial de Agricultura,

Área Económica / PIDRCP Lubango Assessor para a Área Económica

31-07-2014 Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA)

Lubango Director do IDA

31-07-2014 FAO-Huíla Lubango Coordenador Projectos 31-07-2014 Restaurante Lubango Gerente 02-08-2014 Mercado de Halunhanha Chibia Intermediários, casas de matança, barracas

de venda de carne, vendedoras 02-08-2014 Mercado do Hale Chibia Intermediários, casas de matança, barracas

de venda de carne, vendedoras 02-08-2014 Camponeses da Chibia Chibia Famílias camponesas 02-08-2014 Microempresa de transformação de

carne seca (Sr. João Carvalho) Chibia Proprietário

02-08-2014 Restaurante Chibia Responsável 02-08-2014 Praça da Batata Doce Chibia Vendedoras e outros operadores 02-08-2014 Mercado João de Almeida Lubango Vendedoras e outros operadores 03-08-2014 Supermercado Marivel Lubango Responsável de vendas 03-08-2014 Supermercado Casa Azul Lubango Responsável de vendas 03-08-2014 Supermercado Shoprite Lubango Responsável de vendas 03-08-2014 Hotel Lubango Responsável 03-08-2014 Cooperativa de Criadores de Gado do

Sul de Angola (CCGSA) Lubango Director-Geral

04-08-2014 Mercado Municipal do Lubango (Talho Bambocha)

Lubango Gerente de Loja

04-08-2014 Carnes & Frios da Huíla (ex-Matadouro de Benfica)

Lubango Gerente do Matadouro

04-08-2014 Reunião de restituição preliminar da missão

Lubango Direcção e Equipa Técnica do FAS / ADRA

ANEXO II Mapa dos Municípios da Província da Huíla

ANEXO III Rede viária da Província da Huíla

Fonte de dados: Instituto Nacional de Estradas de Angola - INEA

ANEXO IV Zonas Agro-ecológicas de Angola

Região IV: Zona de características agro-pastoris onde predomina a pecuária extensiva. As chuvas são muito irregulares. A produção agrícola é dominada pelos cereais, em particular para auto-consumo, havendo nas zonas planálticas alguns excedentes de produção. A região possui solos maioritariamente arenosos e profundos que acumulam pouca água. Na época seca os rios costmam secar e por isso a agricultura de irrigação é limitada. A transumânica é uma prática frequente durante a época seca para conseguir obter pontos de abeberamento para o gado e pastagens. As principais espécies agrícolas são o milho, milheto, sorgo, muitas vezes consociado com feijão ou amendoim. Algumas horticolas e fruticolas pontualmente em determinadas sub-regiões. As principais espécies de gado são o bovino, caprino suíno e aves.

ANEXO V Zonagem de Angola por Modos de Vida

Fonte: Ministério da Agricultura e FEWSNET/USAID

Região 04 – Região Sub-húmida/Produção de Gado e Milho

A pecuária extensiva e a pequena agricultura caracterizam os modos de vida principais e por isso o número de cabeças de gado e a área das parcelas são os dois factores principais que determinam uma maior resiliência por parte das famílias. Os principais factores de risco incluem secas e inundações, pragas e doenças nas culturas agrícolas, sanidade animal descontrolada e flutuação de preços nos mercados locais. A venda da força de trabalho e a colecta de produtos florestais também é freqüente para mutas famílias.

ANEXO VI Localização das Estações Zootécnicas e Laboratórios Regionais do Instituto de Investigação Veterinária (IIV)

ANEXO VII - Fotografias

Vendedor de carne fresca na barraca no mercado informal de Halunhanha (Chibia)

Vendedor de carne fresca na barraca no mercado informal de Halunhanha (Chibia)

Carne fresca para venda em Halunhanha

Vista sobre barracas de venda de carne em Halunhanha (Chibia)

Vista sobre barracas de venda de carne em Halunhanha (Chibia)

Cabeça de boi desmanchado em

Halunhanha

Vista geral sobre o mercado informal de Halunhanha (Chibia)

Talhos de carne fresca de bovino num supermercado do Lubango

Visita às instalações da micro-empresa de produção moderna de carne seca em Chibia

Reunião de lançamento do estudo

com a Administração Municipal de Chibia

Workshop de capacitação com as Administrações municipais de Chibia e do Lubango