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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ESTUDO DA FAMÍLIA BRASILEIRA - UM ENFOQUE NA FAMÍLIA MONOPARENTAL Por: Amanda Pereira de Oliveira Orientador Prof. Celso Sanches Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ESTUDO DA FAMÍLIA BRASILEIRA - UM ENFOQUE NA

FAMÍLIA MONOPARENTAL

Por: Amanda Pereira de Oliveira

Orientador

Prof. Celso Sanches

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ESTUDO DA FAMÍLIA BRASILEIRA - UM ENFOQUE NA

FAMÍLIA MONOPARENTAL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Terapia de Família.

Por: Amanda Pereira de Oliveira

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AGRADECIMENTOS

Dedico e agradeço esta monografia a

minha mãe, pois sem ela nada disso

seria possível.

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RESUMO

O presente trabalho tem como propósito falar da família brasileira, sua

trajetória e diversificações dentro de um contexto político, social e econômico.

Dando enfoque nas famílias monoparentais femininas.

Nosso objetivo principal é identificar as mudanças ocorridas na estrutura

da família, mas precisamente nas famílias monoparentais femininas, à partir da

contextualização teórica e de dados pesquisados.

Buscamos através de leituras específicas sobre o tema e com

embasamento empírico respaldar nossas reflexões e hipóteses.

Esperamos que o presente trabalho colabore na discussão do desses

novos arranjos familiares, mais precisamente das famílias monoparentais que

trazem nesta nova composição novos questionamentos e enfretamentos, que

na formulação de novas políticas públicas há de se considerar.

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METODOLOGIA

Partindo da premissa que o objetivo desse trabalho é identificar as

mudanças ocorridas na estrutura da família, mais precisamente nas famílias

monoparentais, começarei pela análise da evolução da família mais

precisamente dentro de um contexto feminino e brasileiro para, posteriormente,

analisar a monoparentalidade dentro de um contexto de gênero e pobreza.

Buscamos através de leituras específicas sobre o tema e com

embasamento empírico respaldar nossas reflexões e hipóteses.

Abaixo relacionarei os procedimentos metodológicos utilizados para o

desenvolvimento dessa pesquisa:

1. Definição do material teórico.

2. Leitura de material e análise do conteúdo.

3. Fichamento do material teórico.

4. Elaboração da pesquisa à partir do conteúdo analisado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07 CAPITULO I

A FAMÍLIA ATRAVÉS DOS TEMPOS

1.1 Conceituando família

08

1.2 Alguns tipos de famílias

09

1.3 O papel da mulher no contexto histórico da família – breve levantamento

12

1.4 A Família Brasileira CAPITULO II

20

FAMÍLIA MONOPARENTAL 2.1

A Família monoparental e pobreza

26

2.2

Mulheres chefes de família

29

CONCLUSÃO

36

BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

O debate em torno da temática família vem colocando a importância de se

ampliar a discussão sobre o tema. O recorte em relação a família

monoparental, aquela cuja formação se dá por somente um dos genitores e

sua prole, visa esclarecer de que maneira este novo arranjo familiar se dá e

suas caracterizações, no que concerne gênero e renda.

No presente trabalho realizamos uma leitura específica em torno do tema,

onde dividimos esse trabalho em dois momentos.

O primeiro capítulo é feito uma conceituação e contextualização em torno

do tema família, especialmente nas últimas décadas, onde surgem os

chamados novos arranjos familiares e, particularmente as famílias

monoparentais e o contexto da mulher dentro dessa temática. Fechamos o

capítulo com uma breve exposição de alguns tipos de famílias.

No segundo e último momento do trabalho é feito uma análise mais

específica no tema monoparentalidade pobreza e gênero, onde discutiremos a

posição das mulheres chefes de família.

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CAPÍTULO I

A FAMÍLIA ATRAVÉS DOS TEMPOS

1.1 - Conceituando Família:

A família representa um grupo social primário que influencia e é

influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um

número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou

estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimónio ou adoção. Nesse

sentido o termo confunde-se com clã. Dentro de uma família existe sempre

algum grau de parentesco. Membros de uma família costumam compartilhar do

mesmo sobrenome, herdado dos ascendentes directos. A família é unida por

múltiplos laços capazes de manter os membros moralmente, materialmente e

reciprocamente durante uma vida e durante as gerações.

Podemos então, definir família como um conjunto invisível de exigências

funcionais que organiza a interacção dos membros da mesma, considerando-a,

igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transaccionais.

Assim, no interior da família, os indivíduos podem constituir subsistemas,

podendo estes ser formados pela geração, sexo, interesse e/ ou função,

havendo diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um membro

afetam e influenciam os outros membros. A família como unidade social,

enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, diferindo a nível dos

parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais

(MINUCHIN,1990).

Ao longo do tempo, tem evoluído no tempo em consonância com as

transformações da sociedade, sofreu modificações de acordo com a evolução

das relações políticas, econômicas e sociais ocorridas em todo o mundo

ocidental, inclusive no Brasil. Isso porque, apesar de constituir uma das

instituições mais antigas da humanidade, a família tem seu conceito

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reformulado de acordo com as mudanças de costumes, valores e ideais da

sociedade, de forma que seu conceito atual é totalmente diverso do conceito

outrora padrão.

1.2 - Alguns tipos de famílias:

Dentre os vários modelos de família, podemos citar:

• Família clássica,

Estruturada na hierarquia vertical, na rígida divisão de tarefas e centrada

no matrimônio como base para a procriação, ou seja, trata-se de uma família

enfocada no passado na árvore genealógica.

• Família nuclear,

É a típica família clássica, com nomenclatura e características nos

moldes atuais. Limita-se ao casal e aos descendentes menores, onde é

eliminada a hierarquia e a divisão de papéis, ganhando na qualidade do afeto,

pois, o afastamento da família tronco passou a permitir que a sociedade

conjugal passasse a ter prioridade, com a intensificação da vida erótica; tem-se

aqui uma família norteada para o futuro.

• Família monoparental:

É a família foco de nossa discussão. Dentre inúmeras mudanças que

ocorreram nas composições familiares, destaca-se a família monoparental que

configura-se por aqueles lares formados por um único progenitor com filhos. A

terminologia “família monoparental” só surge na França, em um estudo

desenvolvido em 1981 pelo Instituto Nacional de Estatística e de Estudos

Econômicos (INSEE), que utilizou o termo a fim de distinguir a comunidade

formada por qualquer dos pais e seus filhos das uniões constituídas por um

casal, tendo sido tal termo consagrado e mantido por toda Europa e outros

países ocidentais. (LEITE, 1997: 21 a 22)

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Segundo CAVALLIERI (1990), deve-se reconhecer que as famílias

monoparentais podem necessitar de ajuda de formas diversas, em razão de

sua situação pessoal e do cotexto jurídico social. Neste caso a Constituição de

1988 reconhece que a família é a base da sociedade e enumera três tipos de

famílias que merecem proteção jurídica e do Estado. São as famílias advindas

do casamento, da união estável e das relações de um dos pais com seu filho,

ou seja a família monoparental. Não há dúvidas alguma que a mãe ou o pai

solteiro, viúvo separado ou divorciado que vive com o seu filho ou filha é uma

família com direitos e deveres assegurados por lei como outra qualquer.

mas nem sempre foi assim. O antigo Código Civil de 1916 dizia que a família

era formada pelo casamento de um homem com uma mulher. Com isso as

pessoas que não eram casadas não eram consideradas família. Somente

depois da Constituição de 1988 houve alteração.

• Família monoparental extendida:

Há somente um responsável por um ou vários filhos e pessoas da família

• Família monoparental complexa:

Há um responsável por um ou vários filhos com pessoas sem parentesco

familiar

• Família reconstituída:

É uma família em que a separação do casal cada membro forma uma

nova família.

• Família unipessoal:

É uma família formada por um componente solteiro. Dentre as inúmeras

mudanças que vêm ocorrendo nas famílias nas últimas décadas, uma das mais

evidentes é o aumento do número de pessoas que moram sozinhas - as

chamadas famílias unipessoais.

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A família unipessoal - é o segundo tipo de composição mais freqüente,

após a tradicional.

No gráfico abaixo, segundo IBGE 2000, podemos observar o significativo

aumento deste segmento na sociedade brasileira. Cresce quase 33% entre os

dois últimos Censos.

Entre 1991 e 2000, o número de famílias cresceu 29% e passou de 37,5

milhões para 48,2 milhões, predominando o tipo com parentesco (91,2%)

(Gráfico1).

Entretanto, o número de famílias unipessoais foi o que mais cresceu no

mesmo período (32,5%), passando de 6,5% (2,4 milhões) do total de famílias,

em 1991, para 8,6% (4,1 milhões), em 2000. Já aquelas famílias constituídas

por duas ou mais pessoas não-aparentadas representavam, em 2000, apenas

0,3% (142 mil) de todo o conjunto (Gráfico 2).

Gráfico 1 Gráfico2

Aumento do número de famílias no Brasil Família Unipessoal - aumento

48,2

37,5

0

10

20

30

40

50

60

1991 2000

Em

mil

es

2,4

4,1

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

1991 2000

Ano

Mil

es

IBGE Censo 2000 IBGE Censo 2000

Grande parte das famílias unipessoais era constituída por mulheres. Do

total de famílias cuja pessoa de referência era do sexo feminino, 15,5% eram

unipessoais. Entre os homens, essa proporção era de 5,7%. Regionalmente,

Sudeste (9,4%), Centro-Oeste (9,3%) e Sul (9,2%) tinham as maiores

proporções de famílias unipessoais, e Norte (5,9%) e Nordeste (5,9%), as

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menores (Tabela 2). Segundo as Unidades de Federação, as maiores

proporções foram do Rio de Janeiro (11,2%), Rio Grande do Sul (10,9%) e

Goiás (9,6%), e as menores, do Pará (5,2%) e do Amazonas e Maranhão

(ambas com 5,3%).

• Família extendida:

É uma família que partilha moradia com outros familiares

• Família homossexual

Dois homens ou duas mulheres que mantém relacionamento longo,

coabitando na mesma casa, muitas destas novas famílias alternativas têm

filhos, nestes casos, frutos de casamentos/relacionamentos anteriores,

inseminação artificial e adoção.

1.3 – O PAPEL DA MULHER NO CONTEXTO HISTÓRICO DA

FAMÍLIA

A família traz em sua estrutura uma herança cultural que vem se

adaptando através dos tempos, assumindo novas formas. Porém, por ser uma

instituição resistente às mudanças, ainda cultiva traços que já foram decisivos

para formação de sua característica. Contudo, há que se considerar também

que as transformações ocorridas na sociedade, em todos os aspectos, têm

alterado as representações sociais, valores, conduta, forma de organização e

sobrevivência, inserção social e consciência política dos membros que

constituem uma família, que por sua vez se manifestam nessa mesma

sociedade mediante as transformações que vem sofrendo.

Quando se fala em família, considerando os aspectos históricos e

tradicionais, tem-se em mente o modelo hegemônico de família nuclear.

Porém, este modelo de família não é único para todas as sociedades. Isto

porque cada sociedade tem a sua história, seu grau de desenvolvimento

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econômico, político-social, suas normas e valores diferenciados das outras,

fato que possibilita perceber a dinâmica das organizações sociais e familiares.

A sociedade tradicional passou por um processo gradativo de

socialização onde a visão de família era difundida do alto da pirâmide para

baixo. Tratando da França, e considerando a forma pela qual as crianças eram

tratadas, era difundido a necessidade de educá-las e estruturá-las para o

futuro, fazendo com que os pais as entregassem à privacidade da escola, isto

para os meninos, as meninas somente a partir do século XVIII.

Gradativamente, a nova visão da família tornou-se o símbolo da burguesia,

dividindo o espaço da criança entre a vida social em torno da família nuclear e

a escola.

Já nos grupos populares, a organização familiar se deu de forma distinta

em comparação com a burguesia. A partir da Revolução Industrial a Europa

pré-moderna passou por uma redução no seu quadro de costumes variados.

As uniões consensuais, o índice elevado de bastardia e crianças em circulação,

casamentos precoces, gravidez pré-nupcial eram a realidade desse grupo

social. Em relação aos sentimentos paternos, esses se distinguiam do modelo

contemporâneo, na França e na Inglaterra, crianças de 06 e 07 anos eram

socializadas através do trabalho, ou seja, os pais obrigavam as crianças a

aprenderem um ofício. Isto caracterizava o surgimento de uma nova classe que

detinha formas distintas de organização social. Assim, a cultura popular seria a

cultura das camadas pobres da classe trabalhadora.

A forma de exercer a autoridade, de impor a obediência no modelo

patriarcal era através do castigo, havendo semelhança no comportamento

familiar de certas populações da Europa pré-moderna com a do Brasil. Neste

último, somente após a década de 60 que ocorreu o movimento de impor

limites aos pais, até então eram excessivamente punitivos com seus filhos. Nos

dias de hoje, se pode perceber que o Brasil ainda faz uma ponte com a época

medieval, quando insiste na ideologia de que na classe baixa as crianças

devem aprender um ofício, dificultando o acesso à educação.

Há que se registrar, que quando houve a implantação do modelo nuclear

burguês entre os grupos populares europeus essa medida não se deu de forma

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pacífica entre os séculos XVIII e XIX, e somente no século XX a família

conjugal se consolidou através de estratégias de persuasão. Esse modelo, que

foi dado como forma única, desconsiderava que havia dinâmicas familiares

específicas às camadas populares urbanas.

No Brasil, o modelo hegemônico de família no início do século estava

calcado nos valores da elite colonial. Nessa norma oficial as mulheres

ocupariam o espaço da vida doméstica (casa), se responsabilizando pelas

questões vinculadas à família e a sua reprodução. Em contrapartida, aos

homens caberia a vida pública, relacionada aos negócios e à realização da

cultura e de suas leis. A partir deste pensamento se percebia a situação de

exclusão social das mulheres.

Esta ideologia segundo FONSECA (1995) era um instrumento para

estabelecer o distanciamento entre as burguesas e as mulheres pobres.

Porém, a realidade do cotidiano dessas mulheres pobres constatava a

necessidade de que tinham que trabalhar fora do território doméstico, devido o

salário de seus maridos serem insuficientes. A industrialização absorvia um

contigente de mão de obra feminina e infantil que chegava a compor mais da

metade da força de trabalho em determinadas industrias, especificamente de

tecidos. Contudo, pode-se constatar que as mulheres pobres trabalhavam em

serviços domésticos, nas artes e ofícios, na indústria manufatureira ou no setor

agrícola.

Fica assim registrado, que essa realidade da mulher inserida no

mercado de trabalho e em muitos casos trazendo o sustendo do lar, não é algo

recente promovido pelos "desajustes sociais". Há tempos já existia a

necessidade financeira da mulher pobre trabalhar, embora não fosse

reconhecido como profissão, sofrer preconceitos em comparação de um

trabalho para o outro (indústria X tarefas caseiras tradicionalmente femininas) e

ainda por em risco a sua reputação de "boa mãe".

As mulheres das camadas populares ainda tinham que dar conta dos

afazeres domésticos e do cuidado com a prole, estabelecendo a dupla jornada

como ainda é percebido até hoje. Quer dizer, a mulher trabalha, assume ou

divide as despesas da casa, mas as tarefas domésticas é ainda algo atribuído

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a sua condição de gênero, pois o homem quando colabora nas atividades

domésticas não assume como tarefa sua também, mas no simples gesto da

"ajuda".

A história da mulher pobre e a sua inserção no mercado de trabalho

está mais relacionada à sua situação de miséria, o que a diferencia das

mulheres das camadas médias que têm em seu contexto o movimento

feminista e a discussão de sua autonomia.

No início do século XX, a mulher abandonada não tinha outra alternativa

senão trabalhar e correr o risco de ser chamada de "mulher pública" para

escapar da miséria. Semelhante a atualidade, no que se refere às posições

construídas socialmente para homens e mulheres que tem como argumento a

diferença de sexo para justificar o comportamento diferenciado para cada um

deles, e assim naturalizar ao longo da história as desigualdades sociais, a

mulher naquela época era uma mão de obra que valia 30% menos em relação

aos homens. Essa realidade financeira dificultava a possibilidade de manter os

filhos e a si mesma no tocante a ter um local para morar, não restando mais

que os velhos cortiços.

No início do século o modelo de família conjugal não foi aderido de

imediato, considerando a presença dos imigrantes e migrantes rurais que

traziam consigo as tradições de suas terras de origem. Era neste quadro que

se dava as dinâmicas familiares adaptadas ao contexto de trabalhadores

urbanos.

Nesta época a classe trabalhadora assumia em sua realidade um alto

índice, em certas cidades, de mulheres chefes-de-famílias, muitas uniões

consensuais, crianças sem certidão de nascimento e separações sem divórcio.

Quanto aos confrontos entre marido e mulher pela guarda dos filhos era

seguida de acusações - quanto ao homem por não manter a sua obrigação de

sustentar o lar e quanto a mulher - de não manter inabalável a sua reputação

moral. Tanto o homem como a mulher abandonavam o lar, mudando de cidade

com o objetivo de desafiar a autoridade do marido ou para assumir um projeto

de vida pessoal. Surge então essa nova está nova responsabilidade feminina:

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(...) as mulheres chefes-de-família costumam ser também

‘mães de família’ : acumulam uma dupla responsabilidade,

ao assumir o cuidado da casa e das crianças juntamente

com o sustento material de seus dependentes. Essa dupla

jornada de trabalho geralmente vem acompanhada de uma

dupla carga de culpa por suas insuficiências tanto no

cuidado das crianças quanto na sua manutenção

econômica (...). (VITALLE apud BARROSO e

BRUSCHINI,1981:40)

Apesar desse movimento, a mulher nesse momento tinha sobre si a

opinião pública limitando o seu espaço e estabelecendo uma frágil situação

legal. A mulher casada dependia da autorização de seu marido perante

qualquer ato legal, em relação ao abandono, a mulher teria que enfrentar

maiores dificuldades para recomeçar a vida do que o homem.

A presença do homem servia para impor respeito e proteger a família e a

integridade da mulher, fator condicionado pelas relações de gênero. Logo, a

mulher sozinha por um lado era submetida às pressões culturais, econômicas e

políticas que exigiam a presença do marido, por outro, a opinião pública que

condenava a mulher recasada, a gravidez pré-nupcial - como transgressões

morais - a moralidade oficial era um meio pelo qual os burgueses

estigmatizavam os pobres e os homens às mulheres.

Até mesmo para discutir a maternidade como prática vivida no cotidiano

das mulheres pobres se faz necessário ampliar a discussão do âmbito da

família conjugal para o interior de redes sociais, considerando para essa

discussão a presença de outros personagens.

Como ainda é constatado, nos grupos populares o casal mora com os

pais ou sogros e as crianças, fruto de famílias extensas, ficam também sob a

responsabilidade dos avós como forma de sobrevivência quando os pais se

ausentam. As instituições filantrópicas ou estaduais também eram recorridas,

pois a responsabilidade de zelar pelo bem dos filhos não significava conviver

com eles. Havia assim a necessidade de não romper com os laços de sangue

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considerando a ausência de proteção aos idosos e aos inválido, os filhos

significavam a garantia de um mínimo de conforto nesses casos.

Embora os valores morais fossem considerados pilares da estrutura da

sociedade brasileira colonial, segundo Fonseca havia ainda no século XIX um

índice considerável (maioria da população) de uniões consensuais,

experiências sexuais antes do casamento e mulher chefe-de-família. Realidade

essa que não se limitava somente a população negra e seus descendentes. A

moralidade oficial reagia contra as mulheres pobres; às separadas o mercado

de trabalho não lhes dava alternativas, considerando ainda a origem humilde e

o baixo nível de escolaridade. As profissões de cunho doméstico não garantiam

o sustento mínimo e como qualquer fato que não correspondesse ao ideal

estabelecido desvalorizava a mulher, muitas acabavam recorrendo a

prostituição.

O que se percebe ainda hoje é a tentativa de estabelecer o conceito de

que as famílias estão desorganizadas e a prova disso é o fato de serem

chefiadas por mulheres, ou seja, a constatação da ausência do pai. Porém,

esse fato sempre fez parte da realidade da sociedade brasileira, devendo ser

este mais um modelo de família e não um modelo estigmatizado. Ao longo da

história pode-se constatar que gradativamente vem ocorrendo uma mudança

no papel sócio-econômico da mulher, e que a sociedade ao invés de tentar

resgatar valores tradicionais que não foram absorvidos nem pela própria

burguesia moralista, precisa construir um aparato sócio-institucional

privilegiando essas famílias chefiadas por mulheres nos programas sociais,

investindo na escolarização, etc.

Segundo FONSECA (1995), a imagem da mulher ideal era uma mescla

de perfeitas imagens, a mãe piedosa, a mãe educadora do Estado positivista e

a esposa companheira do aparato médico-higienista. Ainda devendo registrar

que a virgindade era algo tão valorizado que a constatação se sua ausência

garantia ao Código Civil a anulação do casamento, embora significasse ainda

um mecanismo de real valor considerando a possibilidade de barganhar um

bom casamento. A ideologia burguesa, que ditava as normas da moralidade

oficial, prescrevia na rigidez de seus valores a dicotomia entre os preceitos

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oficiais e a realidade vivenciada pela maioria da população da época, moral

esta conhecida e imposta aos grupos populares.

O discurso sobre o modelo de família patriarcal, monogâmica e nuclear

como único modelo de família no Brasil a resistir os tempos e as mudanças

sociais, se restringe a uma pequena parcela da população. Imaginava-se que

todos os valores morais da burguesia seriam absorvidos por toda a sociedade

de forma homogênea, desconsiderando assim as diferentes classes sociais.

Porém, o que pode ser percebido é que cada camada social corresponde a um

dinâmica familiar própria que está articulada aos meios de sobrevivência do

núcleo familiar, ao grau de escolaridade, etc. Assim, as famílias das classes

trabalhadoras, mesmo sofrendo influências dos padrões da burguesia,

possuíam características intrínsecas à sua realidade cotidiana.

Mesmo diante das mudanças ocorridas como a maciça urbanização, a

legislação trabalhista, a legalização do divórcio, o sistema educacional, os

movimentos sociais e dentre outros, ainda há a permanência da força simbólica

dos valores tradicionais, dos padrões patriarcais e da hierarquia entre homem,

mulher e crianças norteando os relacionamentos familiares das classes

trabalhadoras atuais, tais como: a valorização da autoridade da figura

masculina reconhecendo no homem o provedor responsável pela moral e

sustento da família, a mãe responsável pela educação dos filhos.

Segundo SARTI, em sua análise a respeito da família como universo

moral, discute a força simbólica que esta ainda exerce sobre os seus membros.

É válido registrar a hierarquia familiar, onde o homem ocupa o lugar de

autoridade; ter uma casa como projeto de família, na qual é demarcado o

desempenho dos papéis socialmente construídos - a mulher dona de casa zela

pela unidade exercendo a sua autoridade no universo simbólico da

maternidade, gerencia o orçamento doméstico controlando o consumo e o

homem de prover o alimento, o teto, espaço também para o exercício de sua

autoridade. Na divisão das atribuições há a expectativa que o homem cumpra

com seus deveres de provedor e quando isso não acontece, implica na

fragilidade conjugal. Porém, a força simbólica de sua autoridade tende a

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permanecer mesmo quando a mulher assume esse papel de sustentar a

família.

Contudo que vem sendo discutido, percebe-se que o interesse em inserir

os padrões da cultura burguesa nos segmentos populares de forma a tomar

medidas para adequar homens e mulheres aos valores e formas de

comportamento burgueses, partia da preocupação em transformar as capitais

em metrópoles com hábitos civilizados, regras sólidas, instaurando a

modernização e a higienização. Para tanto, das camadas populares era

esperada uma força de trabalho adequada e disciplinada. Em relação às

mulheres era esperado um comportamento pessoal e familiar condizentes com

as convenções.

A organização familiar das camadas populares não correspondia ao

esperado pela burguesia moralista. Isto porque, assumia uma multiplicidade de

formas, sendo várias as famílias que eram chefiadas por mulheres sem

maridos. Esta realidade não devia apenas as condições financeiras, aos meios

de sobrevivência, mas também as normas e valores próprios da cultura

popular.

Segundo SOIBET, a ordem burguesa tinha o respaldo da medicina

social que assegurava que homens e mulheres tinham diferentes

características por razões biológicas. O primeiro, articulado a sua força física

estava a sua capacidade de vivenciar a sua sexualidade sem limites, devendo

considerar o respaldo que o Código Penal de 1890 concedia ao homem desde

que não colocasse em risco o patrimônio familiar, ainda era característica sua

impor autoridade, ser racional, ao passo que as características das mulheres

as concediam ser frágeis, ter vocação maternal, suficientes para justificar um

comportamento de submissão.

No início do século considerando os aspectos políticos da época, em

relação ao Rio de Janeiro, capital da República, havia a urgência de acelerar o

projeto de modernização. Sobre os cortiços das áreas do centro incidia a

urgência de derrubá-los, até porque eram considerados focos de epidemias.

Neste processo as camadas populares foram as mais prejudicadas tendo em

vista que tiveram que deixar suas moradias e as mulheres, os meios de

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subsistência que eram realizados em casa, passando cada vez mais a transitar

no espaço público.

Segundo SOIBET, as mulheres das camadas populares possuíam

características próprias, padrões específicos articulados às suas condições de

sobrevivência. Inseridas no mercado de trabalho à margem da sociedade,

essas mulheres não correspondiam ao padrão de comportamento estipulado

ao universo feminino, pois eram mulheres que trabalhavam em demasia; viviam

em concubinato; eram vítimas da violência estrutural, onde a sociedade via a

agressão sexual como própria do homem, ao passo que desconfiavam da

mulher que se deixava possuir, outras vezes era originada da própria

incapacidade do homem de exercer o seu poder sobre a mulher e específicas

da sua condição de gênero, contudo, rebelavam-se contra os maus tratos de

seus companheiros; não correspondiam à fragilidade e delicadeza em voga;

brigavam nas ruas e falavam palavrões. Essas atitudes eram provenientes da

própria maneira de viver com maior liberdade em comparação as mulheres de

outra classe social.

Apesar disso, não estavam livres das pressões, das idéias, das

influências difundidas pela cultura dominante. Assim, mesmo diante de toda

iniciativa, cultivavam a aspiração ao casamento formal, mesmo reagindo

aceitavam o domínio masculino, assumiam a responsabilidade pelas atividades

domésticas e o cuidado com os filhos. O casamento formal tornava-se um

sonho distante para as mulheres das camadas mais pobres devido o alto custo

das despesas matrimoniais.

1.4 - A família brasileira

Ao pensar na família brasileira vê-se que ela é extremamente complexa.

Um passeio pela história permite entrever que a colonização do Brasil foi multi

cultural, multi racial e ainda hoje permanecem as conseqüências dessa

formação. Não existe uma família brasileira com características específicas,

mas inúmeras famílias brasileiras de acordo com sua localização geográfica,

origem étnica e cultural.

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Um segundo aspecto que também caracteriza a família brasileira, e que

de alguma forma todos nós vivemos, é a evolução do grupo familiar. No início

do século havia a família extensa, que transformou-se em família nuclear,

depois na família monoparental e, de acordo com as definições mais

modernas na família unipessoal, passando pela família do re-casamento.

Assim como é afirmado por GOLDANI E PEREIRA:

(...) ocorreram mudanças radicais na organização da

família, dentre as quais se observam, por um lado,

processos de empobrecimento acelerado e de (des)

territorialização gerada pelos movimentos migratórios,

além da perda gradativa da eficiência do setor público na

prestação de serviços. Por outro, houve um enxugamento

do grupo familiar (família menor), um aumento das

variedades de arranjos familiares (monoparentais,

reconstituídas). MIOTO apud GOLDANI, 1994;PEREIRA

1995

O perfil das famílias brasileiras é brevemente demonstrado em pesquisa

realizada pelo IBGE. Segundo dados do IBGE, nas duas últimas décadas

houve uma queda substancial do tamanho da família. O tamanho da família

brasileira diminuiu em todas as regiões: de 4,3 pessoas por família em 1981,

chegou a 3,3 pessoas em 2001. O número médio de filhos por família é de 1,6

filhos.

Em 2002, o número médio de pessoas na família se manteve o mesmo

em quase todas as regiões e por isso a média para o país se manteve em 3,3

pessoas, segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2003. O número médio de

filhos apresentou uma diferença mínima em relação do ano anterior: de 1,6

para 1,5 filhos na família em domicílios particulares.

Veja a seguir o gráfico da situação em 2001:

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Aumentou o número de famílias do tipo mulheres sem cônjuge com filhos.

Mas ainda predomina o padrão histórico de família, casal com filhos. Veja o gráfico abaixo.

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23

Os dados revelam que enquanto cresce a proporção das famílias

monoparentais femininas - de 15,1% em 1992 para 17,9% em 2002 -, diminui a

proporção daquelas compostas apenas pelo casal com filhos.

O novo padrão de família, mulheres sem cônjuge com filhos, definiu-se

mais claramente no Norte e Nordeste durante os anos 90.

• Norte – 20,4% das famílias eram famílias de mulheres sem cônjuge com

filhos

• Nordeste – 18,5% das famílias eram famílias de mulheres sem cônjuge

com filhos Veja no gráfico.

O gráfico abaixo elucida melhor essa afirmação:

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24

Porém, esse novo padrão apresentou, no mesmo período (1992-1999),

um crescimento relativo maior no Sudeste e no Centro-Oeste.

Crescimento relativo do tipo "mulheres sem cônjuge com filhos"

Grandes Regiões Crescimento Norte 9,68% Nordeste 12,20% Sudeste 15,33% Sul 7,50% Centro-Oeste 13,91%

Cresceu o número de famílias cujas pessoas de referência são

mulheres.

Desde a década de 80 vem crescendo continuamente a proporção de

mulheres como pessoa de referência da família. Essa é uma tendência que

pode ser observada no gráfico a seguir.

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25

Nesta análise o IBGE demonstra que as famílias chefiadas por mulheres

têm crescido nas últimas décadas. Sendo que a maioria das mulheres

responsáveis pelo domicílio está em situação monoparental.

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CAPÍTULO II

UM ESTUDO DA FAMÍLIA BRASILEIRA UM ENFOQUE

NA FAMÍLIA MONOPARENTAL

2.1 - A família monoparental e pobreza

Segundo BARROS1, a pobreza consiste em situações de carência em que

os indivíduos não conseguem manter um padrão mínimo de vida, condizente

com as referências socialmente estabelecidas em cada contexto histórico, no

caso, a sociedade brasileira no início do século XXI. Esse padrão é muitas

vezes definido com referência a uma linha de pobreza, estabelecida em termos

de renda familiar.

O conceito que se tem hoje de pobreza no Brasil, difere significativamente

das concepções que predominaram nas décadas passadas. As transformações

ocorridas na dinâmica da urbanização e do mercado de trabalho urbano, ao

mesmo tempo que elevaram o país à oitava economia mundial, produziram

alterações profundas na vida econômica, social, política e cultural de toda

população brasileira, gerando índices alarmantes de desigualdade social.

Estudos realizados pelo IPEA2 revelam que, em 2001, 34% da população

brasileira vivia em famílias com renda inferior à linha de pobreza, o que

correspondia a cerca de 55 milhões de habitantes.

Mas, definir a pobreza apenas como a insuficiência de renda para que

uma família satisfaça suas necessidades básicas é uma abordagem

simplificadora. Trata-se, na realidade, de um fenômeno de várias dimensões

que inclui também a privação do acesso aos serviços essenciais (educação,

saúde, transporte coletivo, por exemplo) e aos direitos sociais básicos

(trabalho, seguridade social, entre outros).

1Ricardo Paes de Barros e outros - A estabilidade inaceitável: desigualdade e pobreza no Brasil, in: Ricardo Henrique

(organizador) - “Desigualdade e Pobreza no Brasil”, IPEA, Rio de Janeiro, dez. 2000, p. 21.

2 IPEA –Instituto de Pesquisas e Estudos Aplicados.

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Os dados da nossa sociedade fortalecem essa afirmação quanto ao poder

de compra e acesso, depende de um lado de políticas públicas, de outro uma

renda mínima digna. Segundo dados do IBGE Censo 2000 aponta que a média

da renda dos homens chefes de família é de R$827,00, enquanto a das

mulheres é R$591,00. Mas para 5,5 milhões de mulheres chefes de família o

rendimento mensal não ultrapassa R$276,00. Em 2002 a situação não se

difere, demonstra que o rendimento do gênero feminino é abaixo do masculino.

As diferenças por gênero foram mais significativas na comparação com os

rendimentos mensais de homens e mulheres ocupados. Os resultados

mostraram que, em 2002, a situação era bem mais favorável para os homens,

cujo rendimento médio era de R$719,90, enquanto as mulheres recebiam

apenas 70% desse valor (R$505,90). Entre os ocupados com mais de 11 anos

de estudo, as mulheres recebiam R$829,20, ou seja, 58% do valor recebido

pelos homens (R$1416,30). (Tabela 10.5 e Gráficos 10.3 e 10.4). Quanto à

posição na ocupação, a situação entre homens e mulheres era bastante

diferenciada. Em 2002, apenas 0,8% das mulheres ocupadas trabalhavam

como empregadoras, enquanto entre os homens ocupados, essa proporção era

de 5,5%. Chamou atenção também, a participação das mulheres no mercado

de trabalho como trabalhadoras domésticas: 14,5% contra 1,0 dos homens. No

caso dos ocupados não-remunerados, o percentual das mulheres era superior

ao dos homens (13,4% contra 5,8%).

O número de famílias monoparentais femininas, nas últimas décadas,

aumentou significativamente.

Outro fator determinante da monoparentalidade ao qual a maioria das

pesquisas envolvendo esta forma de família tem focado suas atenções é a

questão da maternidade celibatária voluntária, ou melhor, as mães sozinhas

por opção.

O destaque a esse fator ou categoria de famílias monoparentais tem

ocorrido não só porque representa uma das mais significativas causas de

propagação da monoparentalidade, mas, sobretudo, porque inova ao retirar o

estigma de que a família monoparental decorre de circunstâncias impostas na

vida de seus elementos, sendo considerado como uma situação que pretende

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ser transitória, uma vez que indesejada. Isso porque, nessa categoria de mães

sozinhas, encontramos a formação da família monoparental por opção dessas

mulheres, como algo desejado e que, a princípio, não é visto como uma forma

de família transitória, pois não se almeja a formação de uma relação de casal

posteriormente.

No seio desta categoria de famílias monoparentais, encontram-se mães

sozinhas voluntárias que realizam o desejo de ser mãe através da adoção, ou

de um relacionamento sexual descompromissado do qual resulta gravidez, ou

de um romance em que o parceiro não se dispôs a assumir e exercer a

paternidade, ou mesmo através da utilização de técnicas de inseminação

artificial.

A “mãe solteira”, ou melhor, sozinha (porque pode se tratar de uma mulher

solteira, separada, divorciada ou viúva que, após o término desta relação de

casal, deseja ter um filho independentemente do pai biológico deste), que

deseja utilizar-se da adoção para concretização de seu sonho, encontra, na

legislação brasileira, a possibilidade e os caminhos para fazê-lo.

Isso porque, a Lei nº 8069/90, denominada Estatuto da Criança e do

Adolescente, permite a adoção por pessoas maiores e capazes,

independentemente do estado civil, bem como do fato de manterem ou não

uma relação de casal. É nesse instituto consagrado na referida lei que vemos o

reconhecimento, pelo Direito brasileiro, da paternidade e maternidade

socioafetiva, a qual já nos referimos e em que se vê mais claramente que a

paternidade e a maternidade não são fatos biológicos ou jurídicos, mas fatos

culturais. É na adoção que se consagra que os vínculos biológicos nada

interferem para efeito do vínculo de filiação, o qual se estabelece através da

opção e do exercício das funções de pai e/ou mãe com o filho, o qual é 40

desligado, salvo para efeitos de impedimento matrimonial, dos laços com a

família natural.

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2.2 - Mulheres chefes de família

Nos últimos vinte anos, várias mudanças ocorridas no plano sócio-político-

econômico relacionadas ao processo de globalização da economia capitalista

vem interferindo na dinâmica e estrutura familiar e possibilitando mudanças em

seu padrão tradicional de organização. Conforme Pereira (1995), as mais

evidentes são:

-queda da taxa de fecundidade, devido ao acesso aos métodos

contraceptivos e de esterilização;

-tendência de envelhecimento populacional;

-declínio do número de casamentos e aumento da dissolução dos

vínculos matrimoniais constituídos, com crescimento das taxas de

pessoas vivendo sozinhas;

-aumento da taxa de coabitações, o que permite que as crianças

recebam outros valores; menos tradicionais;

-aumento do número de famílias chefiadas por uma só pessoa,

principalmente por mulheres, que trabalham fora e têm menos

tempo para cuidar da casa e dos filhos.

No Brasil, o Censo Demográfico de 1980 categoriza ‘Chefe’ a pessoa

(homem e mulher) responsável pelo domicílio ou pela família. Deste último

pode-se analisar que as mulheres mudaram suas vidas em ritmo acelerado,

compartilharam com os homens a responsabilidade de prover a família e,

quando necessário, assumiram esta tarefa sozinha. Os homens, as famílias, a

sociedade e o Estado não acompanharam o ritmo deste movimento.

Sob o ponto de vista das tarefas reprodutivos, os problemas enfrentados

por uma mulher chefe de família monoparental parecem ser os mesmos vividos

por outra mulher chefe de família, ou por qualquer mulher que ocupe também

um lugar no mercado de trabalho. É o problema da dupla jornada.

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Mas quando se trata de uma família monoparental, não é só a dupla

jornada que não encontra apoio. A manutenção da casa se faz com a

remuneração de uma única pessoa. E se ela for do sexo feminino e negra, a

sua remuneração corresponderá a ¼ da de outra pessoa do sexo masculino e

branca. Premidas pela dupla jornada, dificilmente as mulheres que chefiam as

suas famílias encontram tempo para encaixar mais uma atividade que lhe

acrescente renda; muito menos para investir em sua carreira profissional. Há

que se garantir direitos e desenvolver políticas públicas para superar tais

iniqüidades, mas não é só isto. Também, é necessário que se opere uma

mudança cultural sobre a irresponsabilidade paterna e sua função social, que

vai desde o estímulo e a abertura de possibilidades para o compartilhamento,

entre homens e mulheres, das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos

até a condenação do abandono paterno. Tal mudança favorece especialmente

às chefes de família monoparentais, dado que em sua maior parte elas são

separadas, divorciadas ou desquitadas e têm filhos.

A monoparentalidade feminina é parte de um processo contínuo de

transformação da família que se inscreve, necessariamente, no conjunto das

questões atuais do estudo das famílias em situação de vulnerabilidade social.

As mudanças observadas no mercado de trabalho são paralelas a

mudanças socioculturais importantes. Além da redefinição de papéis entre

homens e mulheres, instituições e comportamentos também vêm mudando. A

forma como a sociedade vê a manutenção do casamento e a possibilidade de

mulheres morarem sozinhas, sem a presença do marido ou companheiro,

também tem mudado.

Um indicador dessas mudanças é o perfil de composição dos domicílios

no Brasil. Em 1991, 81,9% dos domicílios estavam sob a responsabilidade de

homens. Essa proporção caiu para 75,1% em 2000. Vale ressaltar que muitas

vezes a mulher é a responsável pelo sustento econômico do domicílio e tem

que arcar sozinha com a sua manutenção, mas sua responsabilidade pode ser

também a “administração” do domicílio, mesmo que seu rendimento seja

inferior àquele do seu companheiro, quando presente, ou de seus filhos. A

declaração de que uma mulher é a responsável pelo domicílio, mesmo que o

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seu rendimento não seja o principal, passou a ser mais comum com as

mudanças comportamentais das mulheres e em relação a elas na sociedade.

A Fundação SEADE3 também fornece informações interessantes:

mulheres jovens e adultas que moram sozinhas têm maior participação no

mercado de trabalho, a taxa do desemprego é bastante inferior - o que revela

maior necessidade de sobrevivência e manutenção do domicílio - e ainda

revela que o salário médio dessas mulheres teve o menor decréscimo no

período entre 1988 e 2001, chegando a ultrapassar os salários dos homens.

Estatísticas nada ruins, considerando-se que há 30 anos, as mulheres ainda

lutavam pela igualdade de direitos.

Vários fatores provocaram todo esse crescimento: aumento da

expectativa de vida; maior número de divórcios; avanço na urbanização, que

proporcionou melhoria na infra-estrutura e na qualidade de vida; a crescente

escolaridade das mulheres, que trouxe melhores condições para a disputa do

mercado de trabalho e também a autonomia financeira.

Nas famílias pobres uma das principais causas da monoparentalidade

feminina são: o divórcio, casamento/união precoce,violência intra-familiar entre

outras.

Já nas famílias mais bastadas, muitas mulheres vão morar sozinhas após

o divórcio ou depois de adquirirem certa estabilidade na carreira. Em termos

etários, isso está por volta, em média, dos 30 anos, o que não exclui as viúvas

ou divorciadas cujos filhos já saíram de casa.

Mas há outras razões que mobilizam uma mulher a buscar seu próprio

espaço, que vão desde a necessidade de diferenciação da família de origem

(pais e irmãos), projetos pessoais, desejo de mais liberdade e de um espaço só

seu, até a mudança de cidade para estudar ou trabalhar.

Segundo VITALLE, uma em cada quatro famílias brasileiras são chefiadas

por mulheres. Nas estatísticas do IBGE 1991 e 2000 observa-se o crescente

número de família chefiadas por mulheres no Município do Rio de Janeiro vide

tabela abaixo.

3 Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. http://www.seade.gov.br

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Embora com peso decrescente, a família típica carioca é composta

pelo casal com filhos, que constituíam 61% das famílias em 2000, proporção

quase cinco pontos percentuais mais baixa do que a observada nove anos

antes. Na verdade, a redução foi na proporção de casais com filhos em famílias

nucleares (composta por apenas um núcleo, pais e filhos), pois nas extensas,

esta aumentou. As famílias monoparentais (apenas pai ou apenas mãe) e os

indivíduos vivendo sozinhos aumentaram sua participação no total de famílias

cariocas. O aumento foi relativamente mais expressivo nas famílias chefiadas

por homens, embora essa proporção ainda seja bastante baixa.

ESTRUTURA DAS FAMÍLIAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO - 1991 E 2000

CARACTERÍSTICAS DAS FAMÍLIAS 1991 2000 PERFIL DAS FAMÍLIAS * Tamanho médio 3,50 3,24

* Nº médio de filhos 1,30 1,21

* Rendimento Médio familiar per capita 1 2,55 3,93

* Proporção média da renda que depende do chefe 70,6 68,1

* Nº médio de pessoas que trabalham 1,42 1,30

CARACTERÍSTICAS DOS CHEFES DE FAMÍLIA

* Idade média do chefe (Anos) 47,1 48,5

* Proporção de chefes homens 73,5 64,7

* Proporção de chefes mulheres 26,5 35,3

* Número médio de anos de estudo dos chefes 7,9 8,4

DISTRIBUIÇÃO DOS TIPOS DE FAMÍLIAS (%)

Total 100,00 100,00

Nucleares 70,36 67,63 Casal sem filhos 7,60 7,86

Casal com filhos 51,24 45,55

Mulher sozinha 1,83 2,50

Mãe com filhos 7,56 9,07

Homem sozinho 1,26 1,68

Pai com filhos 0,88 0,97

Extensas 29,64 32,37 Casal sem filhos 1,91 2,08

Casal com filhos 14,44 15,34

Mulher sozinha 2,89 2,97

Mãe com filhos 7,35 9,11

Homem sozinho 2,13 1,81

Pai com filhos 0,93 1,06

Fonte dos dados brutos: IBGE, Censo Demográfico de 1991 e 2000.Elaboração: IPEA.Nota: (1) O rendimento médio domiciliar per capita é a razão entre a renda domiciliar e o número de componentes do domicílio,calculados em número de salários mínimos na data de referência da pesquisa, cujo valor era de Cr$36.161,60 em 1991e R$ 151,00 em 2000.

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Famílias nucleares

10,80

72,83

2,6010,74

1,79 1,2511,62

67,35

3,7013,41

2,48 1,430,00

20,00

40,00

60,00

80,00

Em

%

1991 10,80 72,83 2,60 10,74 1,79 1,25

2000 11,62 67,35 3,70 13,41 2,48 1,43

casal sem f ilhos casal com filhos mulher sozinha mãe com filhos homem sozinho pai com filhos

Famílias extensas

6,44

48,72

9,75

24,80

7,193,146,43

47,39

9,18

28,14

5,59 3,27

0,00

20,00

40,00

60,00

Em

%

1991 6,44 48,72 9,75 24,80 7,19 3,14

2000 6,43 47,39 9,18 28,14 5,59 3,27

casal sem filhos casal com filhos mulher sozinha mãe com filhos homem sozinho pai com filhos

A proporção da renda familiar que depende do chefe decresceu no

período, o que pode ser atribuído ao menor tamanho de família e, em

particular, à maior proporção de famílias unipessoais. O Rio de Janeiro possui

a mais elevada proporção de homens e mulheres vivendo sozinhos de todo o

país. O número equivale a quase o dobro da média nacional–provavelmente

um reflexo do envelhecimento populacional, do peso das viúvas na cena

demográfica carioca e do padrão migratório entre os indivíduos em idade ativa.

Referência dados CENSO 1991 e 2000 IBGE

Referência dados CENSO 1991 e 2000 IBGE

Embora as famílias nucleares representem a maioria da família carioca, a

sua proporção diminuiu no período considerado de 70,4% para 67,6%. Isto se

deu em prol do crescimento de outros parentes vivendo com o núcleo, o que

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Nucleares x Extensas 1991

Extensas29,64

Nucleares70,36

Proporção entre os chefes de família

35,3

73,564,7

26,5

0

20

40

60

80

Em

%

Mulheres como chefes 26,5 35,3

Homens como chefes 73,5 64,7

Em 1991 Em 2000

caracteriza as famílias extensas. Dentre as extensas, o maior crescimento

ocorreu no tipo composto por mães, filhos e outros parentes.

Outro dado importante é o crescimento de mulheres como chefes de

família entre 1991 e 2000, já o homens chefes de família houve um decréscimo

no mesmo período.

Referência dados CENSO 1991 e 2000 IBGE

Já explicitamos anteriormente a relação da renda e gênero nas famílias

monoparentais, a relação íntima entre a condição de chefia de família pela

mulher e a pobreza se verifica quando observamos que, esta categoria que por

muitas vezes ocupa a mesma função no mercado de trabalho é menor

Nucleares x Extensas 2000

Extensas32,37%

Nucleares67,63%

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remunerada, ou seja, há um alto percentual de trabalhadores com renda de até

um salário mínimo está na mão-de-obra feminina.

Associada com função econômica no interior da família o homem, quando

sai de casa por evasão ou por morte, coloca a questão da sobrevivência e

continuidade da família sob a responsabilidade da mulher, especialmente

aqueles que não podem proporcionar uma pensão razoável.

As mulheres neste final de século XX enfrentam o duplo

desafio de “cuidar” e “prover” as suas famílias. Tudo isto

no contexto de mudança do perfil de inserção da mulher

em um mercado de trabalho nada favorável. No Brasil

observa-se uma queda na taxa de atividade das

mulheres mais jovens e uma forte expansão nas idades

mais elevadas, estas situadas, em geral, em empregos

precários com menor segurança e baixa proteção social.

(LAVINAS, 1997; BRUSCHINI E LOMBARDI, 1997 APUD

GOLDANI, 2002).

A mulher quando está só com os filhos assume a responsabilidade pelo

grupo familiar em todos os sentidos. Segue o que é esperado e exigido pela

sociedade, assume o papel de socializadora dos filhos em conjunção com o

papel de provedora, garantindo o sustento do grupo familar. Ou seja, duas

questões básicas estão relacionadas a situação da mulher sob tais

circunstâncias : maternidade e trabalho.

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CONCLUSÃO

Conforme explicitado, o conceito de família sofreu várias transformações

ao longo da evolução das sociedades ocidentais, o que, conseqüentemente,

implicou na formação de novos arranjos familiares, como as famílias

monoparentais. Nesta pesquisa constatamos que houve aumento dessa classe

de família, bem como a caracterização marcante do gênero feminino como

maioria deste segmento. A questão da monoparentalidade, também, foi

evidenciada neste trabalhado como atrelada a baixa condição econômica,

evidenciando a característica marcante do segmento feminino, com as

chamadas mulheres chefes de família. Através de análise dos dados do Censo 1991 e 2000 IBGE, comprovamos

também aumento do segmento de mulheres chefes de família e o decréscimo

do segmento masculino.

Vários fatores provocaram todo esse crescimento: aumento da expectativa

de vida; casamento e união precoce; maior número de divórcios; violência intra-

familiar, avanço na urbanização, que proporcionou melhoria na infra-estrutura e

na qualidade de vida; a crescente escolaridade das mulheres, que trouxe

melhores condições para a disputa do mercado de trabalho e também a

autonomia financeira.

Buscamos com este trabalho aprofundar um pouco mais na temática da

monoparentalidade e acabamos por evidenciar o perfil desse tipo de família,

que nos mostrou que é um segmento que vem crescendo cada vez mais e por

isso, ainda carece de muitos estudos e pesquisas acadêmicas.

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BIBLIOGRAFIA

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ANEXOS