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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE ENSINO SUPERIOR ENGENHARIA ELÉTRICA ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA Henrique de Lara Morais 09/02/2015

estudo da viabilidade econômica da implantação de um ...€¦ · dos Smart Grids, ou Redes Inteligentes. Apesar de ser um conceito relativamente novo no Brasil, o governo tem tomado

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO

TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE ENSINO SUPERIOR

ENGENHARIA ELÉTRICA

ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO DE

GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

Henrique de Lara Morais

09/02/2015

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE ENSINO SUPERIOR Av. Amazonas, 5253 – Nova Suíça – Belo Horizonte/MG –Brasil CEP: 30.421-169 Telefone: +55 (31) 3319-7000

Henrique de Lara Morais

ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO DE

GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

Trabalho de Conclusão de Curso submetido

à banca examinadora designada pelo

Colegiado do Departamento de Engenharia

Elétrica do Centro Federal de Educação

Tecnológica de Minas Gerais, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do

grau de bacharel em Engenharia Elétrica.

Orientadora: Patrícia Romeiro da Silva Jota.

Centro Federal de Educação Tecnológica de

Minas Gerais.

Belo Horizonte

CEFET-MG

2015

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Aos meus pais, Eugênia e Sebastião,

e familiares.

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Agradecimentos

Primeiramente gostaria de agradecer aos meus pais, Eugênia e Sebastião por sempre

estarem ao meu lado.

Ao CEFET por mais uma vez ter me proporcionado evoluir profissional e academicamente.

À professora orientadora Patrícia Romeiro da Silva Jota por toda paciência, apoio e

contribuições durante o trabalho.

Aos amigos(as) da GAL por todos os momentos de suporte e colaboração.

À minha namorada Aline Lopes pela inestimável ajuda nos textos, compreensão e incentivo.

Ao Euler, por disponibilizar os dados para análise.

A todos que direta ou indiretamente ajudaram na elaboração deste trabalho.

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Resumo

A evolução dos sistemas de distribuição de energia elétrica não acompanhou a

exponencial evolução da eletrônica, ficando algumas décadas parada no tempo. O setor

carece, a cada dia, de melhoramento, uma vez que a solicitação e demanda incrementam

o estresse causado no sistema, onerando os custos de manutenção, expansão e

funcionamento.

A fim de reduzir estes custos, melhorar a confiabilidade e segurança da rede, bem

como contribuir para um ambiente sustentável e limpo, desenvolve-se então o conceito

dos Smart Grids, ou Redes Inteligentes.

Apesar de ser um conceito relativamente novo no Brasil, o governo tem tomado

ações, muitas delas espelhadas em estratégias bem sucedidas desenvolvidas fora do

país, no sentido de criar uma matriz energética mais limpa, robusta e confiável.

Por meio da análise das mais atuais legislações federais e estaduais a respeito do

tema, este trabalho realiza uma investigação da viabilidade econômica da implantação

de sistemas de micro e minigeração distribuída em um ambiente de compensação de

energia, através do manuseio de curvas de demanda, incidência de radiação solar e

outros artefatos necessários na construção do entendimento das reais possibilidades da

instalação do sistema, bem como o cálculo do tempo de retorno do investimento.

Dada a complexidade do problema, uma vez que há o envolvimento de diversas

variáveis para o cálculo do melhor projeto a ser implantado, a metodologia utilizada

possibilita a conclusão de qual o melhor sistema a ser instalado para determinados tipos

de usuários.

Para tanto, o ambiente escolhido foi a RMBH - Região Metropolitana de Belo

Horizonte, localizada no estado de Minas Gerais, no qual a concessão para fornecimento

de energia é de responsabilidade da CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais. O

consumidor tratado é aquele atendido em baixa tensão (B1, na classificação dada pela

ANEEL).

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Abstract

The evolution of electric power distribution systems did not follow the

exponential evolution of electronics, being stuck some decades. The sector lacks of

improvement every day, since the request and demand increment the stress in the

system, burdening the costs of maintenance, expansion and operation.

In order to reduce costs, improve reliability and network security, as well as

contribute to sustainable and clean environment, come along the concept of Smart Grids.

Despite being a new concept in Brazil, the government has taken actions, many of

them mirrored in successful strategies developed outside the country, in order to create

a cleaner, more robust and reliable energy matrix.

Through the analysis of the most current federal and state laws on the subject,

this paper conducts an investigation of the technical and economic feasibility of

installing a system of distributed micro generation, introduced in an energy

compensation environment, through the handling of demand curves, with sunlight and

other required artifacts for a complete view of the real possibilities to introduce this

system, as well as the time required to return the investment.

To this end, the environment chosen for the study is the RMBH – Região

Metropolitana de Belo Horizonte, located in the state of Minas Gerais, in which the

concession to supply residential power is the responsibility of CEMIG - Companhia

Energética de Minas Gerais. The treaty consumer is the one served at low voltage (B1, in

ANEEL classification).

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Sumário

Resumo ................................................................................................................................................. 5

Abstract ................................................................................................................................................ 6

Sumário ................................................................................................................................................ 7

Lista de Figuras .............................................................................................................................. 10

Lista de Tabelas .............................................................................................................................. 11

Lista de Abreviações ..................................................................................................................... 12

Capítulo 1 ......................................................................................................................................... 13

1.1. Relevância do Tema em Investigação ........................................................................................ 13

1.2. Objetivos do Trabalho ....................................................................................................................... 14

1.3. Metodologia ........................................................................................................................................... 14

1.4. Organização do Trabalho ................................................................................................................. 14

Capítulo 2 ......................................................................................................................................... 16

2.1. Smart Grid .............................................................................................................................................. 16

2.1.1. Conceitos ...................................................................................................................................................... 17

2.1.2. Smart Grid no Âmbito Global ............................................................................................................... 18

2.1.2.1. Japão ...................................................................................................................................................... 18

2.1.2.2. China ...................................................................................................................................................... 19

2.1.2.3. Europa ................................................................................................................................................... 19

2.1.2.4. Estados Unidos .................................................................................................................................. 21

2.1.2.5. Visão Global ........................................................................................................................................ 24

Capítulo 3 ......................................................................................................................................... 26

3.1. Tarifação da Energia .......................................................................................................................... 26

3.1.1. Modelo Tarifário Atual ........................................................................................................................... 26

3.1.2. Modelo de Tarifação Horosazonal ..................................................................................................... 27

3.1.2.1. Tarifa Branca ...................................................................................................................................... 28

Capítulo 4 ......................................................................................................................................... 31

4.1. Micro e Minigeração Distribuída .................................................................................................. 31

4.1.1. Conceituação ............................................................................................................................................... 31

4.1.2. Rotina Para Aquisição de Acesso ........................................................................................................ 32

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4.1.3. Sistema de Medição .................................................................................................................................. 33

4.1.4. Tributação Federal e Estadual ............................................................................................................. 33

4.1.4.1. Tributos Federais: PIS/COFINS .................................................................................................. 33

4.1.4.2. Tributação Estadual: ICMS ........................................................................................................... 34

4.1.4.2.1. Incentivo do Governo de Minas Gerais ........................................................................... 34

4.1.4.3. Visão da ANEEL Sobre o Sistema de Tributação ................................................................. 35

4.2. O Sistema de Compensação de Energia Elétrica .................................................................... 35

Capítulo 5 ......................................................................................................................................... 37

5.1. O Sistema de Geração Fotovoltaico ............................................................................................. 37

5.1.1. Bloco Gerador ............................................................................................................................................. 38

5.1.1.1. Módulos Fotovoltaicos ................................................................................................................... 38

5.1.1.1.1. Características Construtivas ............................................................................................... 38

5.1.1.1.2. Características Elétricas ....................................................................................................... 39

5.1.2. Bloco Condicionador ............................................................................................................................... 40

5.1.2.1. Inversores de Frequência ............................................................................................................. 41

Capítulo 6 ......................................................................................................................................... 42

6.1. Atlas Brasileiro de Energia Solar .................................................................................................. 42

Capítulo 7 ......................................................................................................................................... 45

7.1. Relação Custo x Disponibilidade .................................................................................................. 46

7.2. Preço dos Módulos Fotovoltaicos no Mercado Internacional .......................................... 46

7.3. Preço dos Inversores de Linha no Mercado Internacional ............................................... 47

7.4. Demais Custos ...................................................................................................................................... 48

7.5. Metodologia Aplicada para Apuração dos Custos de Implantação de um SGFV no

Brasil ................................................................................................................................................................. 48

Capítulo 8 ......................................................................................................................................... 50

8.1. Determinação do Consumidor Alvo ............................................................................................ 51

8.2. Análise das Curvas de Demanda ................................................................................................... 52

8.3. Avaliação do Recurso Solar Disponível na Região de Interesse ..................................... 55

8.4. Energia Gerada e Potência Instalada .......................................................................................... 56

8.5. Análise da Fatura Mensal de Energia ......................................................................................... 58

8.6. Sobreposição da Curva de Demanda e da Curva de Geração ........................................... 60

8.7. Análise Econômica .............................................................................................................................. 63

8.7.1. Dados Preliminares .................................................................................................................................. 63

8.7.2. Informações Técnicas ............................................................................................................................. 64

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8.7.3. Potência a Instalar .................................................................................................................................... 64

8.7.4. Custo de Cada Sistema ............................................................................................................................ 65

8.7.5. Fluxo de Caixa............................................................................................................................................. 66

8.7.6. Prazo de Retorno de Investimento (PRI) ........................................................................................ 68

8.7.7. Análise dos Resultados ........................................................................................................................... 69

Capítulo 9 ......................................................................................................................................... 70

Bibliografia ...................................................................................................................................... 72

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Lista de Figuras

Figura 2.1 - Quantitativo de projetos e suas respectivas faixas de custo. ..................................................................... 20

Figura 2.2 - Quantitativo de projetos P&D e Experimentação/Implantação por país (Covrig, et al., 2014). 20

Figura 2.3 - Localização geográfica dos projetos que fazem parte do programa SGIG (U.S Department of

Energy, 2013). ............................................................................................................................................................................. 22

Figura 2.4 - Percentual de trabalhos realizados (U.S Department of Energy, 2013). .............................................. 23

Figura 2.5 - Custos realizados e planejados aos cofres públicos (U.S Department of Energy, 2013). ............. 23

Figura 2.6 - Implementação de redes inteligentes e integradas pelo mundo (Google Inc., 2014). ................... 25

Figura 3.1 - Gráfico comparativo entre diferentes modalidades tarifárias (ANEEL, s.d.). .................................... 29

Figura 4.1 - Procedimentos para acesso à rede de distribuição (ANEEL, 2014). ...................................................... 32

Figura 4.2 - Ciclo de faturamento no SISCEE. Elaboração própria. .................................................................................. 36

Figura 5.1 - Modelos de módulos fotovoltaicos comerciais (LEVAH, 2015). .............................................................. 38

Figura 5.2 - Curva característica IxV de uma célula fotovoltaica. Adaptada de (CRESESB, 2015). .................... 39

Figura 5.3 – Curvas IxV para diferentes temperaturas. Adaptada de (ITACA, 2015). ............................................. 40

Figura 5.4 - Curvas IxV para diferentes valores de irradiância solar. Adaptada de (NABCEP, 2005). ............. 40

Figura 6.1 - Mapa da Radiação Solar Horizontal. Retirado de (Pereira, Martins, Abreu, & Rüter, 2006). ...... 43

Figura 7.1 - Curva do preço médio dos painéis de 2000 a 2011. Adaptada de (EPIA, 2011). ............................. 47

Figura 8.1 – Diagrama de organização das atividades a serem realizadas. ................................................................. 50

Figura 8.2 - Classificação dos consumidores atendidos pela rede CEMIG. Retirado de (ESCHER, 2012). ..... 51

Figura 8.3 - Curva de demanda do consumidor Faixa 3 - Tipo 12. Tipologia que representa 19,19% dos

consumidores na faixa de consumo de 221 a 350 kWh. Elaboração própria a partir de dados de

(ESCHER, 2012). ......................................................................................................................................................................... 54

Figura 8.4 - Curva de demanda do consumidor Faixa 4 - Tipo 13. Tipologia que representa 15,31% dos

consumidores na faixa de consumo de 351 a 500 kWh. Elaboração própria a partir de dados de

(ESCHER, 2012). ......................................................................................................................................................................... 54

Figura 8.5 - Radiação Solar Média Diária Anual para o estado de Minas Gerais. Adaptada de (CEMIG, 2012).

............................................................................................................................................................................................................ 55

Figura 8.6 - Energia Gerada (kWh/mês) em função da área total dos módulos. ....................................................... 56

Figura 8.7 - Energia gerada em função da potência instalada. Valores adotados conforme ................................ 58

Figura 8.8 – Fatura real de um consumidor, optante pelo SISCEE, atendido pela CEMIG. Os dados pessoais

foram omitidos a pedido do cliente. .................................................................................................................................. 59

Figura 8.9 - Curva de geração de um sistema real. ................................................................................................................. 61

Figura 8.10 - Sobreposição das Curvas de Demanda e Geração. ....................................................................................... 61

Figura 8.11 - Diferença entre energia gerada e da energia requisitada da rede. ...................................................... 62

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Referência para consulta de tributos aplicáveis nos componentes de um SGFV. Elaboração

própria através de dados retirados de (ABINEE, 2012). .......................................................................................... 49

Tabela 2 - Custo de investimento em sistemas fotovoltaicos - R$/Wp. Elaboração própria a partir de dados

retirados de (EPE, 2012), com o valor do dólar atualizado para 2015. ............................................................. 49

Tabela 3 - Participação percentual por faixa de consumo. Elaboração própria através de dados de

(ESCHER, 2012). ......................................................................................................................................................................... 52

Tabela 4 - Potência demandada por hora para consumidores típicos. Elaboração própria através de dados

retirados de (ESCHER, 2012). ............................................................................................................................................... 53

Tabela 5 - Características construtivas de módulos fotovoltaicos comerciais. Elaboração própria a partir

de pesquisa realizada em Janeiro/2015. ......................................................................................................................... 57

Tabela 6 - Dados preliminares para análise dos cenários. .................................................................................................. 64

Tabela 7 - Valores adotados para o cálculo da geração de energia. ................................................................................ 64

Tabela 8 - Potência do sistema a ser instalado em cada cenário. ..................................................................................... 65

Tabela 9 - Custo final de cada projeto. .......................................................................................................................................... 65

Tabela 10 - Economia mensal realizada para o consumidor presente no Cenário 1. .............................................. 66

Tabela 11 - Economia mensal realizada para o consumidor presente no Cenário 2. .............................................. 67

Tabela 12 - Economia mensal realizada para o consumidor presente no Cenário 3. .............................................. 67

Tabela 13 - Economia mensal realizada para o consumidor presente no Cenário 4. .............................................. 68

Tabela 14 - PRI calculado para cada cenário estudado. ........................................................................................................ 69

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Lista de Abreviações

ABINEE - Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica

BNEF - Bloomberg New Energy Finance

CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais

COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CONFAZ – Conselho Nacional de Política Fazendária

DOE - Department of Energy

EPE - Empresa de Pesquisa Energética

EPIA - European Photovoltaic Industry Association

GSEP - Global Sustainable Electricity Partnership

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

JRC – Joint Research Centre

MME - Ministério de Minas e Energia

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PIB - Produto Interno Bruto

PIS – Programa de Integração Social

PRODIST – Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico

Nacional

RFB – Receita Federal do Brasil

RMBH - Região Metropolitana de Belo Horizonte

SGFV – Sistema de Geração Fotovoltaica

SGIG - Smart Grid Investment Grant

SISCEE – Sistema de Compensação de Energia Elétrica

TEPCO - Tokyo Electric Power Company

U.E - União Europeia

12

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Capítulo 1

Introdução

1.1. Relevância do Tema em Investigação

O sistema elétrico brasileiro cada dia mais carece de evoluções e otimizações.

Com o avanço exponencial da tecnologia, o acesso a produtos e serviços mais eficientes

(com custos reduzidos) se torna possível e necessário. Devido a fatos que ocorreram na

última década, como exemplos os "apagões" e o racionamento, vê-se a clara

inevitabilidade de melhorias no sistema.

Representando uma grande parcela do consumo da energia elétrica no país, os

consumidores residenciais, diferentemente dos industriais, não possuem a opção de

escolherem por “quem” a mesma será ofertada, levando-os a se submeterem às tarifas

estipuladas pela ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. A modificação na forma

como a energia é cobrada, ampliando o leque de opções disponíveis a esse consumidor,

pode levar a uma significativa reviravolta na atmosfera energética do Brasil.

Campanhas educativas, instruindo o consumidor residencial a como utilizar a

energia elétrica podem não ser suficientes para que haja real redução no consumo e

consequente diminuição do valor pago pelos mesmos ao fim do mês. Baseando-se neste

preceito, este trabalho apresentará um estudo sobre a viabilidade econômica da

instalação de sistemas de micro e minigeração distribuída via uso da energia

fotovoltaica, em um ambiente de compensação de energia, regulamentado pela ANEEL

através de sua resolução nº 482/2012.

A busca por uma matriz limpa é tema de discussão global, e já é realidade em

diversos países como Alemanha, China, Estados Unidos e Japão. Apesar de embrionária

no Brasil, a inserção de modelos aplicados no exterior deve se tornar uma realidade para

os próximos anos. Para isso, diversas ações devem ser tomadas, e uma delas é analisar a

viabilidade de implantação deste sistema no presente momento.

13

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1.2. Objetivos do Trabalho

Dado o atual cenário energético do Brasil (supracitado), este trabalho terá como

objetivo principal, apresentar a avaliação da viabilidade econômica da implantação de

sistemas de geração fotovoltaica inseridos em um ambiente de compensação de energia,

especificamente para consumidores residenciais, da RMBH, atendidos em baixa tensão

(B1), cuja concessão de fornecimento é da CEMIG.

1.3. Metodologia

As premissas básicas para que os objetivos propostos sejam cumpridos consistem

em:

• Estudo das diversas tarifas dispostas (inclusive as ainda não implementadas)

pela ANEEL;

• Análise da atual legislação acerca do tema (resolução normativa nº 482/2012);

• Estudo qualitativo dos elementos que compõem os sistemas de micro e

minigeração distribuída, através do uso de módulos fotovoltaicas;

• Análise do custo de implantação do sistema proposto;

• Estudo da viabilidade econômica de implantação;

• Propostas de estudos futuros.

1.4. Organização do Trabalho

Incluindo este capítulo introdutório, este trabalho consiste em 9 capítulos:

No Capítulo 2, após a presente introdução, encontra-se um estudo geral sobre as

atuais iniciativas relacionadas aos Smart Grids implementados pelo mundo, de forma a

fornceder ao leitor um panorama geral.

No Capítulo 3 são apresentados os tipos de tarifação de energia vigentes no

Brasil, bem como da futura tarifa Branca, a ser implantada, e as modalidades de

consumidores na classificação da ANEEL.

14

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No Capítulo 4 é feita uma análise da resolução normativa nº 482/2012, foco de

estudo deste trabalho, conceituando os sistemas de micro e minigeração distribuída

assim como a modalidade de compensação de energia, formas de acesso, tributações e

incentivos governamentais.

No Capítulo 5 é feita uma breve análise dos dois principais componentes do

sistema de geração fotovoltaica conectada na rede: os módulos e o inversor.

No Capítulo 6 é apresentado o Atlas Brasileiro de Energia Solar, e como seu uso e

correto manuseio pode se tornar uma fundamental ferramenta na avaliação da

implantação de um sistema de geração fotovoltaica.

No Capítulo 7, objetivando encontrar um custo médio praticado, é feita uma

análise dos fatores que compõem o valor de um sistema de geração fotovoltaico,

tomando como base pesquisas de mercado, e internalização de preços.

No Capítulo 8 é feita a análise da implantação do sistema em dois casos genéricos,

de forma minuciosa mas ao mesmo tempo prática. Procura-se calcular o custo de

implantação em cada caso, bem como o tempo necessário para retorno do investimento.

Para tanto, são feitas diversas premissas, dada a complexidade e alta variabilidade de

preços, incidência solar, consumo médio mensal, etc.

Finalmente, no Capítulo 9, é feita a conclusão deste trabalho, fazendo uma breve

análise de tudo que foi estudado, bem como a apresentação de propostas de temas a

serem estudados futuramente.

15

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Capítulo 2

Revisão Bibliográfica

2.1. Smart Grid

Desde a criação da primeira rede de energia, poucas inovações tecnológicas

foram incorporadas no modo como a energia elétrica é fornecida para os usuários.

Muitas metodologias se mantiveram de modos semelhantes, e até mesmo iguais às

daquela época.

Fatores como a possibilidade de uso de energia alternativa, redução de picos de

demanda, aumento da confiabilidade, capacidade do sistema de se auto reestabelecer,

dentre outros são desafios encarados nos anos seguintes.

A ocorrência mais delicada e indesejada em uma rede elétrica é a descontinuação

do fornecimento. De acordo com a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, a

média de perdas elétricas no Brasil chega a 16%. Os impactos gerados por estas falhas

atingem milhares e, dependendo do tempo de falta, os prejuízos econômicos podem ser

significantes. Sendo assim, a busca por uma rede mais confiável e de maior segurança

deve ser uma busca constante.

Nesse cenário, ações corretivas podem representar a transferência de

investimentos em geração para infraestrutura, aperfeiçoando a qualidade do

fornecimento.

Apesar de possuir uma matriz de geração limpa, cresce a cada ano a quantidade

de usinas térmicas no Brasil, visto a dificuldade de implantação de grandes hidrelétricas.

Isso indica a necessidade de investimento em pequenas centrais geradoras, próximas

aos centros de carga, ampliando as possibilidades do comércio de energia.

É nesse ambiente, que à primeira vista parece não ter uma solução, que entra o

conceito de Smart Grid, ou Redes Inteligentes.

16

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2.1.1. Conceitos

O nome Smart Grid vem do inglês e, em sua tradução literal, significa Rede

Inteligente. Apesar de ser um termo simples, seu conceito possui diversas

interpretações, podendo variar dependendo do local onde a terminologia é utilizada.

De acordo com o DOE – Department of Energy (Estados Unidos), o Smart Grid

pode ser entendido não como algo, mas sim como um conceito, uma ideia a ser

alcançada, na qual a rede deixa de ser centralizada e controlada pelas grandes

concessionárias e passa a se descentralizar, acarretando em uma maior interação com os

consumidores. Esta participação mais ativa dos usuários está correlacionada com a

aceitação e acondicionamento de sistemas de micro e minigeração distribuída,

implicando em uma melhora na qualidade da energia, bem como na segurança e

confiabilidade das redes (U.S Department of Energy).

Dada a definição supracitada, pode-se observar que, para Governo dos Estados

Unidos, a instalação de redes mais inteligentes ocorre quando há uma melhora no

fornecimento dos serviços de eletricidade, extrapolando-os do âmbito energético e

passando a integrá-los em contextos sociais, econômicos e ambientais. Portanto não

seria suficiente apenas a introdução de adventos físicos (i.e. equipamentos e materiais),

mas sim de uma mudança comportamental e cultural da população.

Outra exposição é dada em um estudo japonês, no qual o Smart Grid é descrito

como uma rede de transmissão e distribuição, cuja finalidade é proporcionar uma maior

estabilidade no fornecimento da energia elétrica. Essa otimização no sistema se dá

através do uso das tecnologias da informação e comunicação, sendo primordial o uso de

fontes renováveis em larga escala (Ling, Kokichi, & Masao, 2012).

Haja vista a escassa e limitada disponibilidade de recursos naturais (sendo um

dos fatores suas reduzidas dimensões geográficas), os autores nipônicos são mais

“práticos” ao conceituar uma rede inteligente, sendo incisivos quanto ao uso abundante

de recursos renováveis. Diferente dos americanos, o conceito japonês não supera o

cunho “serviços de eletricidade” tendo assim uma visão menos global e mais técnica do

sistema.

A fim de estudar o tema, o MME – Ministério de Minas e Energia reuniu diversos

profissionais, e criou uma equipe denominada Grupo de Trabalho de Redes Elétricas

Inteligentes. O relatório produzido define que uma rede é caracterizada como 17

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inteligente, quando esta é capaz de realizar as seguintes funções: medir variáveis,

transmitir e processar as informações recebidas e atuar sobre o sistema, seja de forma

remota (automática) ou auxiliando o operador em suas decisões (MME, 2010)

Na definição utilizada pelo MME, as redes inteligentes são tratadas como sistemas

de alta confiabilidade, que só são possíveis através da modernização e/ou substituição

de equipamentos, agregada à implementação de sistemas de informática e comunicação.

Apesar dos diversos conceitos e entendimentos acerca do tema, todos confluem

para o uso de ferramentas digitais em conjunto com à informatização da rede elétrica,

possibilitando a troca de informações em tempo real. Alguns ainda vão além, e colocam o

consumidor não mais apenas como um usuário, mas sim um participante ativo no que se

refere aos serviços de fornecimento de eletricidade, revelando um novo perfil

classificado como prossumidor, ou seja, aquele que está na mesma esfera do produtor e

do consumidor, independente da hora ou local (Gerhardt, 2008).

2.1.2. Smart Grid no Âmbito Global

2.1.2.1. Japão

Após um terremoto seguido de um tsunami, ocorrido em Março de 2011, o

governo japonês constatou a fragilidade de seu sistema energético. Apesar de ser o

terceiro maior produtor de energia do mundo, o crescimento do setor no período de

2012 a 2017, é estimado em 1,2%, sendo a economia prevista para crescer em cerca de

2% (ZPRYME, 2012).

Tendo em vista uma possível crise energética, a TEPCO - Tokyo Electric Power

Company, operadora da usina nuclear de Fukushima, lançou em 2012 um plano para que

sejam instalados cerca de 17 milhões de medidores inteligentes residenciais até Março

de 2019, abrindo a concorrência para empresas nacionais e estrangeiras. O investimento

esperado é de cerca de U$2,6 bilhões, sendo o preço de cada unidade medidora previsto

em U$98,49. Aliado à uma política de regulação do setor, o governo japonês caminha no

sentido de minimizar perdas como as ocorridas em 2011 e evitar um futuro colapso no

sistema (Kyodo, 2012).

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2.1.2.2. China

De acordo com a BNEF - Bloomberg New Energy Finance, o governo Chinês

investiu, em 2013, cerca de U$4,3 bilhões em iniciativas para o desenvolvimento das

redes inteligentes no país, ultrapassando pela primeira vez os gastos realizados pelos

Estados Unidos no mesmo período. Devido ao seu sistema político, o setor elétrico do

país asiático é controlado, em sua grande maioria, pela State Grid Corporation, o que

desburocratiza de maneira significante a regularização dos métodos de medição e

controle das redes elétricas, tornando a mobilidade entre os sistemas mais rápida, o que

não ocorre em mercados cujo setor não é dominado por uma só companhia (Tweed,

2014).

2.1.2.3. Europa

Em um âmbito global, a Europa é onde a implantação de redes inteligentes

encontra-se mais avançada. Vislumbrando uma futura independência energética, uma

vez que atualmente há grande demanda por importação de insumos energéticos como

gás e petróleo, os países europeus caminham em busca da sustentabilidade, reduzindo

danos ambientais e o consumo de energia.

O banco de dados de 2013-14 do JRC – Joint Research Centre contém um total de

211 projetos de P&D, orçados em cerca de € 830 milhões, e 248 projetos de

Experimentação/Implantação, com um custo de € 2,32 bilhões, totalizando 459 projetos

com um investimento de aproximadamente € 3,15 bilhões, em todos os 28 países da U.E

- União Europeia, incluindo Suíça e Noruega. Os projetos possuem um orçamento médio

de € 7,5 milhões e duração média de 33 meses. Até o último relatório da JRC, em 2014,

48% ainda estavam em curso (com um orçamento total de € 2 bilhões), sendo a maioria

com término previsto para 2017 (Covrig, et al., 2014).

A Figura 2.1 apresenta o quantitativo de projetos contidos nas faixas financeiras

abaixo:

• Projetos de micro escala: até € 2,5 milhões;

• Projetos de pequena escala: entre € 2,5 milhões e € 7.5 milhões;

• Projetos de média escala: entre € 7,5 milhões e € 20 milhões;

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• Projetos de grande escala: entre € 20 milhões e € 30 milhões;

• Projetos de escalas muito grandes: acima de € 30 milhões.

Figura 2.1 - Quantitativo de projetos e suas respectivas faixas de custo.

O número médio de projetos por país da União Europeia gira em torno de 40,

escondendo grandes disparidades.

Como se vê na Figura 2.2, sete países estão envolvidos em uma série de projetos,

cujo total é maior que o dobro da média, estando a Alemanha envolvida no maior

número deles.

Figura 2.2 - Quantitativo de projetos P&D e Experimentação/Implantação por país (Covrig, et al., 2014).

Do ponto de vista geográfico, nota-se que os projetos de Smart Grid e

investimentos não são distribuídos uniformemente entre toda a Europa, uma vez que,

apenas alguns países se destacam em termos de investimentos. No entanto, esse fato

pode ser contestado em alguns casos, trazendo fatores adicionais para a equação como:

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população, PIB - Produto Interno Bruto, a área, geração e consumo de energia elétrica do

país etc.

Na maioria dos países, existe uma relação equilibrada entre a participação em

atividades de projetos de P&D e Experimentação/Implantação, com a notável exceção da

Dinamarca, onde o número de projetos P&D é quase três vezes maior do que o número

de projetos de Experimentação/Implantação. Esse caso mostra a posição da Dinamarca

líder em pesquisa e inovação no domínio das redes inteligentes, especialmente nos

estágios iniciais. Em situação semelhante está a Finlândia, embora não com uma

diferença tão grande entre os tipos de projetos. Este número está intimamente

relacionado à alta concentração de investimentos para P&D pelas Universidades e

entidades de pesquisa nesses países.

2.1.2.4. Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a regulação da eletricidade é feita de forma independente

para cada estado, ou seja, não há uma regulação de âmbito nacional. Apesar desse fato, o

governo americano julgou a implantação da instalação de redes inteligentes como uma

ação estratégica e lançou, em 2009, o SGIG - Smart Grid Investment Grant. Esse projeto

que, até o relatório do DOE de Outubro de 2013, tem custado em torno de U$3,4 bi aos

cofres federais e U$4,5 bi advindos de investidores privados, totalizando U$7,9 bi,

evolvendo mais de 200 participantes, como concessionárias e organizações que

vislumbram a modernização da rede. De acordo com o relatório, estes fundos estão

ajudando a consolidar as prioridades econômicas, energéticas e ambientais mais

importantes do país.

É prevista a instalação de 15,5 milhões de medidores inteligentes, sendo 92%

(14,2 mi) já instalados desde Março de 2013. O programa visa não só a instalação de

medidores inteligentes em residências, mas existem também projetos para a

implementação de unidades medidoras de fasor (cerca de 830 já foram instaladas,

ultrapassando as 800 previstas), bancos de capacitores automatizados, alimentadores

chaveados, reguladores de tensão, sistemas de controle, dentre outros. Um ponto crítico

de que trata o programa, é a solidificação de um sistema seguro e imune a ataques

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virtuais, uma vez que toda a rede é interligada, gerando grande preocupação por parte

das autoridades competentes.

De acordo com os estudos realizados, apenas com a integração entre medidores e

softwares de controle inteligente, pode-se observar a redução que excedem até 30% da

demanda de pico (U.S Department of Energy, 2013)

A Figura 2.3 apresenta um mapa com a localização geográfica dos 99 projetos que

fazem parte do SGIG. Como pode ser visto, a maior concentração de projetos se encontra

na costa leste dos Estados Unidos, sendo essa uma localização geograficamente

estratégica, onde 36% da população se faz presente, além do fato de ser um polo

financeiro-tecnológico do país (U.S Census Bureau, 2010)

Figura 2.3 - Localização geográfica dos projetos que fazem parte do programa SGIG (U.S Department of Energy, 2013).

A Figura 2.4 exibe a quantidade de projetos e seus atuais percentuais de

trabalhos ocorridos. Fica claro que a maioria dos projetos (76%) encontra-se em fase

final, ou seja, estão com mais de 70% de avanço.

A Figura 2.5 contêm dois gráficos superpostos, cujo objetivo é a comparação

entre os custos previstos (valores acumulados temporalmente) e dos custos

efetivamente realizados (série histórica mensal). Como visto, ambos indicadores exibem

alta proximidade, representando um planejamento assertivo, sem desperdícios.

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Figura 2.4 - Percentual de trabalhos realizados (U.S Department of Energy, 2013).

Figura 2.5 - Custos realizados e planejados aos cofres públicos (U.S Department of Energy, 2013).

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O governo americano trata do assunto de forma extremamente prioritária e de

absoluta importância para o desenvolvimento do país, uma vez que não apenas aquece o

setor energético, fornecendo energia de forma inteligente, segura e limpa, mas sim

diversos outros, como o mercado digital, fundamental para o desenvolvimento dos

sistemas integrados. Além das iniciativas de modernização, fica perceptível o papel do

consumidor, já que agora este é livre para fazer suas escolhas de quando e como

utilizará a energia, tornando-o ativo no mercado energético.

2.1.2.5. Visão Global

O GSEP - Global Sustainable Electricity Partnership, cujos membros são compostos

pelas maiores concessionárias de energia do planeta, é uma organização sem fins

lucrativos, que promove o desenvolvimento sustentável do setor elétrico pelo mundo. A

cada ano, um membro assume o cargo de “presidente” da organização. Esse membro,

pertencente a uma dessas companhias, tem o poder de escolher o tema a ser debatido

durante o período de seu mandato, sendo esse relacionado com as atividades

desenvolvidas por sua empresa. O assunto é então debatido por diversos especialistas

em uma reunião anual.

No período compreendido entre 2014 e 2015, a empresa-membro, eleita para

este cargo, foi a brasileira Eletrobrás, representada por José da Costa Carvalho Neto

(GSEP, 2014).

Em reunião realizada no mês de Maio de 2014, em Moscou, os membros da GSEP

divulgaram ações a serem praticadas, de forma a encarar o desafio de atender à

crescente demanda dos países por energia elétrica. O tema de grande foco foi o

desenvolvimento e aperfeiçoamento dos sistemas de transmissão inteligente, integrados

aos sistemas de geração e distribuição.

Para que seja possível tal evolução, as empresas pertencentes à organização se

propuseram a investir em grupos de trabalho de P&D – Pesquisa e Desenvolvimento, e

trabalhar junto aos governos locais para promover melhores políticas de regulação do

mercado (GSEP, 2014)

Na Figura 2.6, é possível visualizar um mapa global com as atuais iniciativas

espalhadas pelo mundo, cuja finalidade é a implantação de sistemas inteligentes de

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eletricidade, água e gás. Os ícones em vermelho são referentes às ações no setor elétrico,

enquanto as azuis são para água e verde gás.

Figura 2.6 - Implementação de redes inteligentes e integradas pelo mundo (Google Inc., 2014).

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Capítulo 3

Tarifação da Energia Elétrica

3.1. Tarifação da Energia

De maneira sucinta, a tarifa de energia para o consumidor de baixa tensão é o

valor cobrado (R$) por unidade de energia vendida (kWh). Desta forma, estão inclusos

neste valor, todos os custos incidentes desde a geração até sua entrega aos

consumidores. Esses custos devem ser capazes de abonar os investimentos realizados,

bem como a operação diária do sistema, oferecendo um serviço de alta confiabilidade e

eficiência. Vale ressaltar que a energia elétrica é um bem essencial, portanto paga-se não

apenas pelo seu consumo, mas também por sua disponibilidade a qualquer instante. É

de responsabilidade da ANEEL estabelecer o valor dessas tarifas, certificando-se de que

o consumidor pague um valor justo, assegurando o equilíbrio econômico-financeiro da

concessionária de distribuição.

3.1.1. Modelo Tarifário Atual

Em sua Resolução nº. 414/2010, que trata das Condições Gerais de Fornecimento

de Energia Elétrica, a ANEEL divide as unidades consumidoras em dois grandes grupos,

denominados “A” e “B”. No grupo “A”, encontram-se os usuários em alta tensão, e que

recebem energia em tensão igual ou superior a 2,3 kV. Estão presentes neste grupo as

indústrias e os estabelecimentos comerciais de médio e grande porte. O grupo “B” é

caracterizado pelos consumidores atendidos em tensões inferiores à 2,3 kV (baixa

tensão), e é divido em quatro subgrupos: B1 (consumidores residenciais), B2

(consumidores rurais), B3 (estabelecimentos comerciais e indústrias de pequeno porte)

e B4 (iluminação pública). Os modelos tarifários variam de acordo com o grupo no qual

o usuário se enquadra (ANEEL, 2010)

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Em seu Caderno Temático nº 4, a ANEEL dispõe o atual modelo tarifário aplicado

no Brasil. As tarifas são definidas com base em dois componentes: demanda de potência

e consumo de energia. A primeira é medida em kW, e equivale à média da potência

elétrica requisitada pelo consumidor à concessionária, no decorrer de um período de

tempo fixo (normalmente 15 minutos). Para questões de faturamento, utiliza-se o maior

valor encontrado durante o período de fornecimento (usualmente 30 dias). O segundo,

medido em kWh ou em MWh, representa o valor acumulado do consumo de energia ao

longo de um período de fornecimento (comumente 30 dias).

As tarifas de demanda de potência são fixadas em R$/kW, já as tarifas de

consumo de energia são fixadas em R$/MW e descritas nas faturas mensais do

consumidor em R$/kWh. O método utilizado varia de acordo com o grupo/subgrupo em

que o consumidor se enquadra (ANEEL, 2005).

O consumidor alvo é aquele enquadrado no subgrupo B1, cujo método aplicável é

o de consumo de energia, afastando-se do escopo deste trabalho a tratativa das

metodologias aplicáveis aos outros grupos e subgrupos.

3.1.2. Modelo de Tarifação Horosazonal

A fim de se obter desempenho ótimo no fornecimento da energia elétrica, o

sistema disponível deve ser tal que seja capaz de suprir a demanda máxima, mesmo que

ela ocorra esporadicamente, causando picos de consumo. A expansão da cadeia geração-

transmissão-distribuição tende a ser causada pelo conjunto de consumidores que

elevam o seu consumo nos períodos de maior esforço do sistema. Sendo assim, mais

preparado deve ser este sistema e, de forma inerente, maior o custo do serviço prestado

(ANEEL, 2010).

Segundo o economista holandês Hendrik S. Houthakker, esse uso exacerbado da

energia nos períodos de maior demanda é financiado pelos demais consumidores,

mesmo que estes não a tenham utilizado nos horários de ponta (Houthakker, 1951).

Quando o usuário é inserido em um ambiente no qual a energia é tarifada de

maneira linear, ou seja, seu valor é invariante no tempo, gera-se uma limitação, de modo

que este não tenha escolha sobre a maneira como deve utilizar os recursos a ele

ofertados.

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O ideal é ampliar o conjunto de modalidades tarifárias para tentar capturar, via

escolha dos consumidores, efeitos positivos sobre o uso do sistema, promovidos por um

deslocamento temporal do consumo. A consequência seria a redução do custo médio

para o consumidor e respectivo aumento da eficiência no uso das redes de distribuição

de energia elétrica, que podem resultar, assim, em postergação de investimentos,

obtendo então um equilíbrio entre ganhos individuais e coletivos (ANEEL, 2010).

Os efeitos da aplicação de tarifas horárias vão além da resposta imediata ao

preço. Assim que a modalidade tarifária horária é aplicada, alguns usuários terão

capacidade de reduzir ou reagendar o consumo em resposta a essas variações. No longo

prazo, o custo médio da energia afetará o nível de consumo total. Em outras palavras, a

aplicação de tarifas horárias resulta imediatamente em um melhor comportamento dos

consumidores e em uma redução do consumo total no longo prazo.

No Brasil, desde Março de 2014, a ANEEL divulgou aos seus consumidores a

possibilidade de migração para este modelo tarifário, conhecido como Tarifa Branca.

3.1.2.1. Tarifa Branca

A Tarifa Branca é opção tarifária para os consumidores atendidos em baixa

tensão, disponibilizada desde Março de 2014. Através da opção pela mesma, o

consumidor passa a pagar valores diferentes para a energia consumida em função do

horário do dia, bem como dia da semana.

A Figura 3.1 apresenta de forma gráfica a diferença entre a tarifa convencional

(cobrada de forma linear, independente da hora e do dia), e da tarifa branca.

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Figura 3.1 - Gráfico comparativo entre diferentes modalidades tarifárias (ANEEL, s.d.).

Caso o consumidor tenha a possibilidade de adotar hábitos que vislumbrem o uso

da energia em horários fora de ponta e intermediários, a opção pela tarifa branca pode

reduzir o valor da conta, incentivando o uso consciente da energia.

Nos dias úteis, o valor da tarifa flutua em três horários: ponta, intermediário e

fora de ponta. Nos horários de ponta e no intermediário, a energia é mais cara. Fora de

ponta, é mais barata. Em feriados nacionais e finais de semana, o valor é sempre fora de

ponta.

Em Audiência Pública, realizada em 2013, foram propostas regras para a adesão

do consumidor a esta modalidade tarifária.

• a adesão será uma opção do consumidor, e a solicitação deverá ser

atendida pela distribuidora em até 30 dias;

• a opção pela modalidade tarifária Branca poderá ser exercida por todos os

titulares de unidades atendidas em baixa tensão, exceto aquelas

classificadas como iluminação pública ou que façam uso do sistema de

pré-pagamento;

• a adesão de uma nova ligação, no caso de o consumidor querer iniciar o

fornecimento com aplicação da modalidade tarifária Branca, deve ser

atendida pela distribuidora dentro dos prazos definidos pela Resolução

Normativa nº 414/2010 (máximo de 5 dias em área urbana e 10 dias em

área rural);

• o consumidor poderá retornar à Tarifa Convencional a qualquer tempo,

devendo ser atendido pela distribuidora em até 30 dias. Na hipótese desse

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retorno à Convencional, uma nova adesão à Tarifa Branca só seria possível

após o decurso de 180 dias;

• os custos relativos ao medidor e à sua instalação são de responsabilidade

da distribuidora; eventuais custos para alterações no padrão de entrada

da unidade consumidora competem ao solicitante;

• o consumidor poderá solicitar um medidor com funcionalidades

adicionais, devendo porém arcar com a diferença de preço desse

equipamento em relação ao medidor normal;

• a fatura deverá discriminar os valores de consumo em cada período

(ponta, fora de ponta e intermediário);

• os descontos da Tarifa Social devem ser concedidos de forma progressiva,

observados os respectivos períodos em que tenha ocorrido o consumo e

aplicados os descontos da faixa de consumo seguinte somente quando

ultrapassado o limite máximo de consumo da faixa anterior (ANEEL,

2013).

Por meio do incentivo à adesão pelo posto tarifário branco, pretende-se

desenvolver um ambiente favorável ao consumidor, objetivando e instigando-o a utilizar

os recursos energéticos de maneira racional.

Diferente da tarifa Branca, no Capítulo 4 são apresentadas as disposições feitas

pela ANEEL, a fim de que o consumidor possa acessar a rede de distribuição através da

micro e minigeração de energia que dá início a uma nova forma de consumo, consciente

e limpa, carregando consigo benefícios ambientais, econômicos e sociais.

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Capítulo 4

Micro e Minigeração Distribuída e o Sistema de Compensação de Energia Elétrica

4.1. Micro e Minigeração Distribuída

Em sua resolução normativa nº 482/2012, a ANEEL publicou e estabeleceu as

condições gerais para o acesso da micro e minigeração distribuídas aos sistemas de

distribuição de energia elétrica, bem como a regulação do sistema de compensação de

energia elétrica. De forma complementar, é especificado na seção 3.7 do Módulo 3 do

PRODIST – Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico

Nacional, os procedimentos a serem adotadas para acesso de micro e minigeradores ao

sistema de distribuição.

Essas ações foram extremamente importantes para o processo de evolução do

sistema elétrico brasileiro, que agora passa a agregar os conceitos integrados ao Smart

Grid em sua rede, caminhando para uma matriz energética mais limpa, confiável e

diversificada.

4.1.1. Conceituação

Como disposto nesses regulamentos, a micro e minigeração distribuída consistem

na produção de energia através de pequenas centrais geradoras, cujas fontes possuem

suas bases nas energias solar, hidráulica, eólica, biomassa ou cogeração qualificada,

conectadas à rede de distribuição via instalações de unidades consumidoras.

A conceituação dos termos microgeração e minigeração são pautadas nas

quantias de potência instalada, definidas como:

Microgeração: Central geradora de energia elétrica, com potência instalada

menor ou igual a 100kW;

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Minigeração: Central geradora de energia elétrica, com potência instalada

superior a 100 kW e menor ou igual a 1MW.

4.1.2. Rotina Para Aquisição de Acesso

Atendidos os pré-requisitos necessários para que se caracterize uma micro ou

minigeração, o consumidor deve realizar uma série de procedimentos a fim de obter a

permissão de acesso à rede.

Na Figura 4.1, estas etapas, bem como os prazos necessários e responsabilidades

(consumidor ou concessionária) são ilustrados.

A responsabilidade do acessante (consumidor) é de fornecer à acessada

(concessionária) toda a documentação necessária, como projetos, localização, memoriais

descritivos, etc, a fim de que haja liberação de acesso.

Por parte da acessada, fica a obrigação de coletar os dados, protocolá-los e enviá-

los à ANEEL, a fim de registrar o consumidor.

Figura 4.1 - Procedimentos para acesso à rede de distribuição (ANEEL, 2014).

* Caso seja minigeração e houver necessidade de

obras na rede de distribuição, este prazo é de 60 dias

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4.1.3. Sistema de Medição

Como visto na seção 2.1.1, é inerente à toda e qualquer rede inteligente o uso de

medidores eletrônicos, que é a interface principal entre a concessionária e o

consumidor. O medidor deve atender às especificações de nível de tensão compatível

com sua classificação, bem como terem a funcionalidade de medição bidirecional, ou

seja, medir o consumo e a geração paralelamente. Nesse caso, faz-se uma ressalva

importante, uma vez que, para consumidores enquadrados como baixa tensão, não há

obrigatoriedade do uso de medidores bidirecionais, é suficiente o uso de dois medidores

distintos (um para medição e outro para geração).

Inicialmente, os custos de implantação do(s) medidor(es) é de responsabilidade

do acessante, sendo posteriormente ressarcidos pela acessada. É da distribuidora a

obrigação de manutenção e correta operação do sistema, bem como sua eventual

substituição.

4.1.4. Tributação Federal e Estadual

Não cabe à ANEEL definir a cobrança dos tributos federais e estaduais, cujas

competências são da RFB – Receita Federal do Brasil, e da SEFAZ – Secretaria da

Fazenda de cada Estado.

É de fundamental importância, na análise de viabilidade do projeto de micro ou

minigeração, o conhecimento das alíquotas (apresentadas posteriormente) bem como

da metodologia de incidência tributária.

4.1.4.1. Tributos Federais: PIS/COFINS

O PIS – Programa de Integração Social e o COFINS – Contribuição para o

Financiamento da Seguridade Social, após a publicação das Leis nº 10.637/02 e

10.833/03, foram inseridos no regime de tributação não cumulativo, ou seja, cada

estágio da cadeia de produção se apropria dos créditos incorridos nas etapas anteriores

(Receita Federal do Brasil, 2014).

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Tendo em vista as atividades realizadas pelo micro e miniprodutor, as alíquotas

estabelecidas são:

PIS: 1,65%

COFINS: 7,60%

ALÍQUOTA TOTAL: 9,25%

Em seu caderno temático “Micro e Minigeração Distribuída”, a ANEEL estipulou

para as concessionárias de energia uma nova metodologia de cálculo para as

contribuições federais, já que as alíquotas efetivas passaram a ter seus valores alterados

mensalmente, devido aos créditos obtidos nas etapas prévias da cadeia. O objetivo desta

ação é de repassar aos usuários, de forma precisa, os custos sustentados pelas

concessionárias em razão destes tributos (ANEEL, 2014).

4.1.4.2. Tributação Estadual: ICMS

O ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, é um tributo de

competência estadual, passível de aplicação sobre a energia elétrica. É de suma

importância ressaltar que, para a micro e minigeração distribuída, o CONFAZ – Conselho

Nacional de Política Fazendária aprovou o Convênio ICMS 6, decretando como sua base

de cálculo (valor no qual será aplicado a alíquota) toda energia que chega ao

consumidor, independente de quaisquer sistemas de compensação. Desta forma, a

alíquota do ICMS incide sobre toda energia consumida no mês (Ministério da Fazenda,

2013).

4.1.4.2.1. Incentivo do Governo de Minas Gerais

Um importante passo foi dado pelo Governo do Estado de Minas Gerais, ao

publicar a Lei nº 20.824/13, cujo objetivo é de incentivar o uso do sistema de

compensação de energia através do fomento fiscal.

Em seu Art. 13, § 32, é estabelecido que, pelo prazo de cinco anos, a contar da

data de início da geração, a base de cálculo do ICMS será reduzida para diferença

positiva entre a entrada de energia elétrica fornecida pela distribuidora e a saída de

energia elétrica com destino a esta (Assembléia Legislativa de Minas Gerais, 2013). 34

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4.1.4.3. Visão da ANEEL Sobre o Sistema de Tributação

Apesar de não ser de sua competência, no entendimento da ANEEL a tributação

deveria ser feita apenas sobre a diferença positiva, entre consumo e produção (assim

como discorre a Lei nº 20.824/13, editada pelo Estado de Minas Gerais). Em caso de

diferença negativa (produção maior que consumo), a base de cálculo dos três tributos

(PIS/COFINS e ICMS) deveria ser somente o valor do custo de disponibilidade (ANEEL,

2014).

4.2. O Sistema de Compensação de Energia Elétrica

O SISCEE – Sistema de Compensação de Energia Elétrica é um sistema que

permite ao consumidor injetar a energia excedente produzida, na rede de distribuição.

Esta injeção excedente é feita até que a unidade consumidora requisite energia elétrica,

oriunda da concessionária. Sendo assim, a energia produzida pelo consumidor é cedida à

distribuidora, e futuramente compensada pelo consumo desta mesma unidade.

Na prática, este ciclo ocorre mensalmente, com acúmulo horário de energia

(computado através dos medidores bidirecionais ou dos dois medidores, no caso dos

consumidores em baixa tensão, como visto na seção 4.1.2).

A figura 4.2 ilustra resumidamente as seis etapas contidas neste processo de

compensação (ciclo de faturamento).

ETAPA 1: A energia gerada em um posto horário deverá ser utilizada para

compensar a energia consumida nesse mesmo horário;

ETAPA 2: Havendo excedente, este deverá ser utilizado a fim de compensar o

consumo em outro posto horário, em uma mesma unidade consumidora e mesmo ciclo

de faturamento;

ETAPA 3: Caso haja excedente, o mesmo deverá ser utilizado para abater o

consumo de energia em outra unidade consumidora escolhida pelo prossumidor (no

mesmo horário em que foi gerada e mesmo ciclo de faturamento);

ETAPA 4: Se houver excedente, este deverá ser utilizado para abater o consumo

da unidade da etapa 3, no mesmo ciclo de faturamento, porém em outro posto horário;

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ETAPA 5: Existindo excedente, as etapas 3 e 4 serão repetidas, até que se esgote

as unidades consumidoras cadastradas pelo prossumidor, seguindo a ordem prioritária

escolhida por ele;

ETAPA 6: Esgotadas as unidades, e havendo excedentes, cria-se um crédito que

deverá ser utilizado no próximo ciclo de faturamento, repetindo as etapas de 1 à 5. Este

crédito tem validade de 36 meses.

Figura 4.2 - Ciclo de faturamento no SISCEE. Elaboração própria.

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Capítulo 5

Sistema de Geração Fotovoltaica e seus Elementos

Para melhor compreensão da análise feita no Capítulo 7, é válida a apresentação

dos componentes que integram um Sistema de Geração Fotovoltaica – SGFV.

É importante frisar que não compete ao escopo deste trabalho a descrição

minuciosa do funcionamento dos componentes de um SGFV, sendo primordial apenas o

entendimento dos fenômenos envolvidos.

5.1. O Sistema de Geração Fotovoltaico

Um SGFV genérico pode ser subdivido em três blocos, sendo eles: o bloco

gerador, o bloco de condicionamento e, facultativamente, o bloco de armazenamento.

Em uma visão macro, o bloco gerador é aquele composto pelos módulos

fotovoltaicos, bem como suas interconexões e estruturas de suporte. Por sua vez, o bloco

de condicionamento, é formado pela integração de conversores, inversores,

controladores de cargas (para sistemas em que haja armazenamento) e mecanismos de

supervisão, controle e proteção. Por fim, o bloco de armazenamento (como supracitado,

facultativo) tem como elemento básico os acumuladores de energia (i.e. baterias).

O detalhamento da aplicação e dos mecanismos de funcionamento de cada

elemento dos blocos é feito qualitativamente nas seções subsequentes. É importante

ressaltar que, como o escopo deste trabalho trata especificamente de sistemas

conectados diretamente à rede de distribuição, não há de se considerar a utilização do

bloco armazenador (baterias) assim como dos controladores de carga, dado que todo

excedente de energia gerada é imediatamente injetado na rede, através do

procedimento detalhado no Capítulo 4, seção 4.2.

37

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5.1.1. Bloco Gerador

Como explicado anteriormente, este bloco é composto pelos módulos

fotovoltaicos, responsáveis pela geração de energia, bem como de suas estruturas de

suporte, cujas distribuições e posições são fundamentais para o melhor aproveitamento

da incidência solar.

5.1.1.1. Módulos Fotovoltaicos

5.1.1.1.1. Características Construtivas

Os módulos fotovoltaicos nada mais são do que o conjunto de células

fotovoltaicas interligadas, que têm como objetivo a conversão da energia solar em

energia elétrica. Tais células são feitas de materiais semicondutores, sendo o silício

monocristalino (99,9999% de pureza) o mais utilizado atualmente (Chaize, 2015).

Por serem muito finas, da ordem de 0,1 a 3,0mm, as células fotovoltaicas carecem

de proteção contra esforços mecânicos, bem como de agentes físico-químicos. A fim de

protegê-las, é comum o uso de vidros transparentes com molduras de alumínio,

garantindo não só a proteção, mas também o isolamento elétrico entre elas (Barros,

2011).

Na Figura 5.1 é possível visualizar diferentes modelos de módulos fotovoltaicos

comerciais, cujo número de células e formatos variam de acordo com a necessidade da

instalação.

Figura 5.1 - Modelos de módulos fotovoltaicos comerciais (LEVAH, 2015).

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5.1.1.1.2. Características Elétricas

A interconexão entre as células é feita de modo a atender as características do

projeto, uma vez que ligadas em série (ligação mais comum) produzem uma tensão

maior (individualmente, a tensão das células é baixa, variando de 0,5 a 0,6V), ao passo

que conectadas em paralelo a corrente será maior.

Por ser didática, apresenta-se na Figura 5.2 a curva característica da relação entre

corrente e tensão de uma célula fotovoltaica típica.

Figura 5.2 - Curva característica IxV de uma célula fotovoltaica. Adaptada de (CRESESB, 2015).

Em cada ponto da curva é estabelecida a potência gerada (produto da tensão pela

corrente), sendo os módulos fotovoltaicos identificados por sua potência de pico (Wp),

obtida em condições padrões de ensaio.

É oportuno mencionar que o perfil elétrico dos módulos fotovoltaicos não é fixo,

ou seja, varia de acordo com características externas, como a temperatura e a irradiância

solar.

Na Figura 5.3 verifica-se como se dá o comportamento da curva IxV em diferentes

temperaturas. Já na Figura 5.4 é apresentada a relação dessa com a irradiância solar.

Na primeira, fica explícita a relação inversamente proporcional entre a

temperatura e o ponto de potência máxima.

Por sua vez, na segunda figura, a relação é de proporção direta entre a irradiância

e a corrente gerada no módulo. É um dado muito importante, já que pode ser utilizado

para cálculos de efeito de sombreamento, causado por qualquer fenômeno que impeça

total ou parcial bloqueio da incidência solar sobre os módulos.

Ponto de Potência Máxima

Tensão

Tensão (V)

Corrente (A)

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Figura 5.3 – Curvas IxV para diferentes temperaturas. Adaptada de (ITACA, 2015).

Figura 5.4 - Curvas IxV para diferentes valores de irradiância solar. Adaptada de (NABCEP, 2005).

5.1.2. Bloco Condicionador

No bloco condicionador, temos como elemento fundamental o inversor, cuja

função é de transformar a corrente contínua em corrente alternada, modificando sua

forma de onda. São utilizados, por exemplo, quando há necessidade de se alimentar uma

carga CA através de uma fonte CC. Em um SGFV o inversor é útil para casar as

características da energia gerada pelos painéis, com as características da rede básica.

Como os módulos fotovoltaicos geram tensão em CC (como pode ser visto através

da curva característica das células fotovoltaicas), para utilizar equipamentos como

bombas, motores, ou qualquer outro tipo de carga CA, deve-se utilizar um conversor

CC/CA.

Tensão (V)

Tensão (V)

Corrente (A)

Corrente (A)

40

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5.1.2.1. Inversores de Frequência

O inversor deve fornecer uma tensão (ou corrente) alternada, com frequência,

forma e amplitude definidas. A saída deve ser independente de alterações na

alimentação CC, na carga ou na rede CA.

Dado que a grande maioria das cargas é alimentada em corrente alternada, a

aplicação destes conversores se dá tanto em sistemas isolados quanto nos interligados

com a rede.

De acordo com (Pereira & Gonçalves, 2008) os inversores utilizados em SGFV têm

como principais funções:

• Rastreamento do Ponto de Máximo de Potência (MPPT – Maximum Power

Point Tracking) – Via controle da corrente e tensão, o sistema é capaz de

realizar ajustes a fim de manter os módulos operando perto do seu ponto

de maior potência (como visto na Seção 5.1.1.1.2);

• Conversão da corrente CA em CC: Esta é a função primordial do inversor.

Como a corrente gerada pelos módulos apresenta-se na forma contínua, o

inversor deve criar uma forma de onda alternada, buscando máxima

semelhança com a senoidal;

• Desconexão e isolamento: O inversor deve desconectar o arranjo da rede

básica caso os níveis de corrente, tensão e frequência não estejam dentro

da faixa aceitável. Deve ainda isolar os módulos da rede, quando a mesma

estiver desenergizada, seja por qualquer motivo, evitando possíveis

acidentes;

• Relatório de Status – Os inversores podem apresentar um display com

parâmetros de entrada e armazenamento das informações ou envio para

um computador. Podem ser registrados, por exemplo, a tensão e corrente

CA e CC, a potência e energia CA diária, energia CA acumulada entregue à

rede, frequência, e outros parâmetros, como irradiância e a temperatura

de operação dos módulos.

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Capítulo 6

Avaliação do Potencial Solar

Para a elaboração de um projeto de um SGFV, são necessárias diversas premissas

e avaliações, sendo crucial a análise do potencial solar do local de implantação do

sistema.

Diversos instrumentos são utilizados na aquisição desses dados de forma direta,

auferindo a irradiância solar (energia solar incidente por unidade de superfície), mas

existe também a possibilidade de estimar tais valores por meio da análise de variáveis

meteorológicas e modelagens matemáticas de dados obtidos por satélites. Embora o

volume de dados seja alto, ainda existem incertezas advinda dos modelos aplicáveis.

A insistência em modelos e dados cada vez mais precisos se baseia no fato de que,

como visto no Capítulo 5, seção 5.1.1.1, os módulos fotovoltaicos são, em sua maioria,

instalados em planos inclinados fixos e como há variação da posição do sol a todo

momento, existe constante mudança nos valores de irradiância, afetando diretamente a

curva característica IxV das células, influindo na energia produzida.

Buscando levantar informações de qualidade, e pautado na justificativa de que há

uma carência muito forte com relação ao valor das informações até então já coletadas, o

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, por meio de parcerias, publicou em

2006, o Atlas Brasileiro de Energia Solar, a mais atual ferramenta de análise neste

contexto (INPE, 2014).

6.1. Atlas Brasileiro de Energia Solar

Em sua última publicação, datada de 2006, o Atlas Brasileiro de Energia Solar

apresenta quatro diferentes mapas solarimétricos, sendo eles:

Radiação solar global horizontal;

Radiação solar PAR;

Radiação solar no plano inclinado; 42

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Radiação solar difusa.

A partir destas informações e de modelos teóricos conhecidos, pode-se

determinar escalas diárias e/ou horárias para a irradiância solar, sendo portanto

possível a determinação da possível energia a ser produzida pelos módulos.

Por ser didático, é exposto na Figura 6.1 o mapa da radiação solar horizontal

anual, retirados da última publicação do relatório.

Figura 6.1 - Mapa da Radiação Solar Horizontal. Retirado de (Pereira, Martins, Abreu, & Rüter, 2006).

Analisando o mapa disposto na Figura 6.1, é possível elencar algumas conclusões

acerca do potencial solar no Brasil:

• Em âmbito global, a irradiação é moderadamente bem distribuída no

território nacional;

• Os menores índices de irradiação são identificados na região do litoral

leste, na faixa que vai do estado do Rio Grande do Sul até uma parcela do

estado da Bahia;

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• Os mais altos índices de irradiação são encontrados na região Nordeste,

onde não só a média é maior, mas também a variabilidade é menor, sendo

o mais elevado índice do país situado na área central da Bahia e em parte

do norte de Minas Gerais. Pode-se atribuir a este fato, a baixa

nebulosidade na região durante todo ano (ABINEE, 2015).

• A região que registra os mais baixos índices médios de irradiação é a

região Sul, contemplando também parte do estado de São Paulo. Apesar de

suas dimensões geográficas reduzidas, apresenta a maior variabilidade de

irradiação.

A partir da análise dos mapas solarimétricos, fica claro o largo potencial solar

encontrado no país que, apesar de suas dimensões continentais, apresenta relativa

constância quanto aos índices médios de irradiância, valores notavelmente superiores

aos encontrados em países europeus, cujas grandezas variam entre 900 e

1.250kWh/m2/ano na Alemanha, entre 900 e 1.650kWh/m2/ano na França e entre

1.200 e 1.850kWh/m2/ano na Espanha (Pereira, Martins, Abreu, & Rüter, 2006).

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Capítulo 7

Custo de Implantação de um Sistema de Geração Fotovoltaico

O primeiro passo para avaliar a possibilidade de implantação de um SGFV, deve

ser a análise técnica, ou seja, apreciar o cenário no qual pretende-se instalar tal arranjo.

O projeto de um SGFV deve inicialmente considerar diversos elementos, dentre

eles, e não se limitando a:

• posição dos módulos;

• incidência solar no local;

• demanda a ser atendida.

É importante ressaltar que os projetos de SGFV para aqueles conectados na rede

guardam semelhanças com os de sistemas isolados, porém são diferentes. No primeiro,

não há necessidade de alta precisão, uma vez que, caso não haja geração suficiente para

satisfazer a demanda, a energia pode ser requisitada da rede na qual ele está conectado.

Já o segundo deve ser mais certeiro, dada a não existência de um fornecedor paralelo de

energia, salvo casos especiais.

Uma vez considerada a viabilidade técnica referente a implantação de um SGFV,

parte-se então para a análise dos fatores econômicos envolvidos, que compete ao escopo

deste trabalho. É nesta etapa que grande parte dos projetos encontram dificuldades, haja

visto o alto custo de investimento em comparação com outros métodos de geração, bem

como o tempo de retorno, amortização e operação e manutenção do sistema.

Apesar de ainda custosos, os avanços da tecnologia, em conjunto com o fomento

fiscal, têm reduzidos estes custos, incentivando a prática, cada vez mais comum, da

utilização de recursos naturais limpos para a produção de energia.

São apresentados neste Capítulo 7, os principais elementos que integram a

formação do custo de implantação do sistema alvo deste trabalho.

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7.1. Relação Custo x Disponibilidade

A fim de entender o comportamento dos preços dos componentes necessários

para a construção de um SGFV, é preciso ampliar o campo de análise, destacando a

tendência global.

Nos últimos anos, o crescente aumento da utilização da energia fotovoltaica -

principalmente na Europa (em especial na Alemanha), Estados Unidos, China e Japão,

vem barateando o custo dos componentes, já que seus preços são altamente impactados

pela capacidade já instalada, sendo esta uma das causas que levam países europeus a

praticarem preços abaixo daqueles praticados em outras regiões.

Genericamente, pode-se segregar o custo de implantação de um SGFV em três

componentes distintos, sendo eles: o custo dos painéis, do inversor de linha (inversor

grid-tie) e os demais custos, englobando o despendido de recursos em função das

estruturas de sustentação, equipamentos auxiliares, das regularizações, projetos,

miscelâneas, etc.

É importante ressaltar a impossibilidade de análise de todos os mercados globais,

dada a vasta variabilidade encontrada. Devido a isto, foi tomado como referência para o

estudo da composição de preços, o mercado europeu e americano, cuja inserção da

tecnologia está em fase avançada e a base de dados é rica, sólida e acessível.

7.2. Preço dos Módulos Fotovoltaicos no Mercado Internacional

Como citado anteriormente, em função do grande desenvolvimento da indústria e

das tecnologias associadas à fabricação dos painéis fotovoltaicos, vem se tornando cada

dia mais acessível a implementação destes sistemas. Recordando a máxima e já

conhecida “Lei da oferta e da procura”, quanto maior a procura, menores serão os preços

praticados, ressalvados os casos em que o mercado não consegue suprir tal demanda. O

que vem ocorrendo em um panorama global, com relação ao custo dos painéis

fotovoltaicos, é clara diminuição ao longo dos anos.

Na Figura 7.1 é possível ver a vertiginosa queda do preço em um curto espaço de

tempo, no mercado europeu.

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Figura 7.1 - Curva do preço médio dos painéis de 2000 a 2011. Adaptada de (EPIA, 2011).

Percebe-se que o valor de € 4,2/Wp teve uma queda de aproximadamente 71%,

atingindo o valor de € 1,2/Wp em um período de apenas onze anos. Apesar dessa ser

uma análise focada no maior mercado de tecnologia fotovoltaica no planeta, verifica-se a

mesma tendência nos mercados da China e dos EUA.

No site1 é possível acompanhar o preço médio dos módulos, bem como suas

variações mensais e anuais em diversas partes do globo. As informações trazidas por

estes quadros, corroboram e reforçam ainda mais a análise da Figura 7.1 .

7.3. Preço dos Inversores de Linha no Mercado Internacional

Por ser um equipamento de uso variado e, diferentemente dos painéis solares,

com um vasto rol de fabricantes, os inversores de linha possuem preços conhecidamente

praticados no mercado, e suas variações são tímidas quando comparadas às dos painéis.

Basicamente seu custo depende da potência do equipamento. Para aplicações

residenciais, cujo consumo encontra-se abaixo de 500kWh, como é o foco deste trabalho,

o preço encontra-se na faixa de U$ 0,30/Wp até U$ 0,50/Wp, de acordo com pesquisa

realizada pela empresa pvXchange, que fornece mensalmente as variações de preço de

determinados componentes de SGFV (pvXchange, 2015).

1 http://www.solarserver.com/service/pvx-spot-market-price-index-solar-pv-modules.html

Queda na produção de Silício

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Apesar de já existirem módulos fotovoltaicos com microinversores integrados,

além de serem mais caros, seu uso no Brasil ainda é embrionário, ressaltando que, até a

data da publicação deste trabalho, não existem normas técnicas nacionais aplicáveis a

esse modelo de sistema.

7.4. Demais Custos

De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética – EPE, estima-se que o custo

dos painéis seja equivalente a 60% do custo total, os inversores 10% e, finalmente, os

demais custos, que englobam todo aparato necessário à implantação do sistema,

represente 30% do valor global do sistema.

7.5. Metodologia Aplicada para Apuração dos Custos de Implantação de um SGFV no Brasil

Em 2012, a EPE veiculou uma nota técnica acerca da implantação da geração

solar no Brasil. Neste trabalho foi feito um levantamento de dados a fim de se analisar o

custo médio de um sistema de geração fotovoltaica em R$/Wp.

A metodologia aplicada para a determinação desses valores pode ser subdividida

em quatro momentos, descritos a seguir:

Em um primeiro estágio, foram coletados dados de valores médios praticados a

nível global, especificamente na Europa e Estados Unidos. O primeiro levantamento foi

outrora realizado pela European Photovoltaic Industry Association – EPIA, no ano de

2011, já o segundo pela própria EPE.

Em um momento seguinte, remove-se a carga tributária aplicável em seu país de

origem, considerada nesses dados levantados, o que retorna o custo do sistema sem a

incidência de impostos.

O terceiro passo é a aplicação da taxa de conversão cambial atual sobre o valor

encontrado no segundo item. Dessa forma, converte-se o valor em U$ (dólares) para R$

(reais).

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Finalmente, para internalizar o preço de um SGFV no Brasil, agrega-se ao valor

encontrado no terceiro estágio a tributação necessária em solo nacional. Como

referência, segue a Tabela 1 para consulta dos tributos incidentes:

Tabela 1 - Referência para consulta de tributos aplicáveis nos componentes de um SGFV. Elaboração própria através de dados retirados de (ABINEE, 2012).

ALÍQUOTA DO TRIBUTO

II IPI PIS COFINS ICMS ISS

Módulo Fotovoltaico 12% 0% 1,65% 7,60% 0% 0% Inversor de Linha 14% 15% 1,65% 7,60% 12% 0% Estruturas, cabos e miscelânias 0% 10% 1,65% 7,60% 18% 0% Serviços (projetos, registro, instalação, etc) 0% 0% 1,65% 7,60% 0% 5%

Como pode ser visto, já está sendo desconsiderado o ICMS que incidiria sobre o

Módulo Fotovoltaico, devido ao fomento fiscal do Governo.

Via de regra, por meio de estimativas, pode-se afirmar que o custo de

internalização de um SGFV no Brasil é da ordem de 25% superior aos custos praticados

nos mercados europeu e americano, como sugere (EPE, 2012).

Feitas essas considerações, para fins práticos, o custo de investimento em SGFV

no país, é encontrado na Tabela 2.

A cotação do dólar utilizado foi de R$ 2,64 (Banco Central do Brasil, 2015).

Tabela 2 - Custo de investimento em sistemas fotovoltaicos - R$/Wp. Elaboração própria a partir de dados retirados de (EPE, 2012), com o valor do dólar atualizado para 2015.

Custo de Investimento (R$/Wp) Painéis Inversores Demais Custos TOTAL

5,38 0,90 2,69 8,97

Para a avaliação da consistência das estimativas e cálculos feitos, é necessário

ressaltar que os baixos preços ofertados nos EUA e Europa são reflexos de um mercado

já aquecido, competitivo, em que existe sobre oferta de componentes, diferente do atual

cenário brasileiro, onde a curva de inserção da energia fotovoltaica na matriz energética

ainda está em fase de subida, podendo conduzir a valores superiores aos encontrados.

Apesar disso, há de se considerar também, que o mercado no Brasil tem enorme

potencial de crescimento, o que, invariavelmente, trará uma redução desses custos em

um futuro breve.

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Capítulo 8

Estudo de Caso: Consumidor residencial conectado na rede CEMIG

Neste Capítulo 8 será estudado o caso de consumidores genéricos atendidos em

baixa tensão, cujas curvas de demanda são conhecidas e, a partir dessas, serão feitas as

análises necessárias, para a determinação da viabilidade econômica da implantação de

um sistema de geração distribuída.

Em Outubro de 2012, a empresa de consultoria e engenharia ESCHER, realizou

um estudo denominado “O comportamento da carga dos consumidores e do sistema

elétrico da CEMIG. Campanha de medidas e tipologia”, em que foi feito um levantamento

do comportamento dos diversos usuários da rede CEMIG, de todos os grupos e

subgrupos atendidos por sua rede de distribuição. As mais atuais informações acerca

destes consumidores são encontradas nesse relatório, sendo portanto a fonte de dados

principal utilizada para a análise dos tópicos subsequentes.

Para que o leitor saiba exatamente quais procedimentos serão utilizados nesta

análise, é exibido na Figura 8.1 um diagrama das tarefas a serem concluídas para a

produção do resultado final.

Figura 8.1 – Diagrama de organização das atividades a serem realizadas.

Determinação do Consumidor

Análise da Curva de Demanda

Análise do Potencial de Geração Solar

Relação Energia Gerada e Potência

Instalada

Análise da Fatura Mensal (caso real)

Sobreposição da Curva de Demanda

e da Curva de Geração

Análise Econômica

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8.1. Determinação do Consumidor Alvo

Na Figura 8.2 é apresentada uma tabela da classificação dos consumidores

atendidos pela rede de Baixa Tensão (residencial, subgrupo B1) da CEMIG, e que será

utilizada para a identificação do consumidor alvo deste trabalho.

Figura 8.2 - Classificação dos consumidores atendidos pela rede CEMIG. Retirado de (ESCHER, 2012).

A primeira premissa para a determinação do consumidor alvo é a exclusão

daqueles classificados como baixa renda, uma vez que os mesmos já recebem subsídios

governamentais para atenuação de sua conta de energia. De acordo com a ANEEL, as

unidades residenciais que consomem até 80 kWh mensais; e as que consomem de 80 até

220 kWh, desde que estejam aptos a receber benefícios de programas sociais para baixa

renda do governo federal, têm direito à tarifa social de energia elétrica, estabelecida pela

lei 10.438/2002 e regulamentada pela ANEEL através das Resoluções 246/2002;

485/2002; e 253/2007. Os descontos na conta vão de 10% a 65% (ANEEL, 2015).

A segunda premissa para a identificação do consumidor alvo pode ser

subdividida em duas, sendo a primeira relacionada com a participação deste frente ao

consumo global de seu subgrupo, e a segunda referente ao número de consumidores

inseridos no rol deste mesmo subgrupo.

Por se tornar oportuno, na Tabela 3 é feita esta análise, pautada nos dados

fornecidos pelo relatório supracitado.

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Tabela 3 - Participação percentual por faixa de consumo. Elaboração própria através de dados de (ESCHER, 2012).

Faixa de Consumo Consumo (%) Nº de Clientes (%) > 1000 kWh 2,08% 0,17% 501 a 1000 kWh 3,91% 0,72% 351 a 500 kWh 6,28% 2,58% 221 a 350 kWh 18,35% 11,74% 101 a 220 kWh 45,95% 37,91% < 100 kWh 23,43% 46,88%

Apesar de representar 69,38% do consumo total e 84,79% dos usuários do

subgrupo B1, aqueles elencados na faixa de consumo de até 220 kWh não serão alvos

deste trabalho, por motivos justificados anteriormente. Por motivo diametralmente

oposto, figurando apenas 5,99% do consumo e 0,89% dos consumidores, também não

serão objetos deste estudo aqueles cujo consumo seja superior a 501 kWh.

Uma vez feitas as considerações e premissas acima, é possível determinar o

consumidor de interesse. Representando um total de 24,63% do consumo total e

14,32% dos usuários, o alvo deste trabalho serão aqueles compreendidos na faixa de

221 a 500 kWh/mês.

8.2. Análise das Curvas de Demanda

Para analisar a curva de demanda desses usuários, há de se ressaltar que o

relatório traçou diversas análises pautadas no comportamento de cada grupo de

consumidores. Isto significa que, para uma mesma faixa de consumo, existem múltiplas

curvas diferentes, sendo que cada uma representa um percentual dos consumidores

presentes naquela faixa. Dada essa extensa variedade, para a análise feita a seguir, serão

consideradas apenas aquelas curvas com maior representatividade dentro de sua faixa.

Como tratado na seção anterior, a primeira faixa de consumo a ser explorada vai

de 221 a 350 kWh (no relatório, denominada de Faixa 3). Representando 19,19% destes

consumidores, está o consumidor Tipo 12. Em seguida, na faixa compreendida entre 351

a 500 kWh (denominada Faixa 4) estão os consumidores tratados como Tipo 13, cuja

representatividade é de 15,31%.

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Na Tabela 4 estão compilados os dados do consumo horário de cada um desses

grupos de usuários, em P.U e em kW, sendo este último calculado. Para tanto, foi adotado

como consumo total máximo, o limite superior da faixa e um mês típico de 30 dias. Desta

forma, para a Faixa 3, o limite superior é 350 kWh ou 11,67 kWh/dia e, para a Faixa 4,

500kWh ou 16,67 kWh/dia. Feitas estas considerações, torna-se imediato o cálculo do

equivalente P.U – Demanda (kW), somando-se o total do consumo diário, em kWh e

dividindo-se pelo total em P.U, como apresentada na última linha desta mesma tabela.

Tabela 4 - Potência demandada por hora para consumidores típicos. Elaboração própria através de dados retirados de (ESCHER, 2012).

Faixa 3 Tipo 12

Faixa 4 Tipo 13

HORA P.U. MAX

DEMANDA (kW)

P.U. MAX

DEMANDA (kW)

01:00 0,340 0,35 0,268 0,53 02:00 0,265 0,28 0,225 0,45 03:00 0,239 0,25 0,182 0,36 04:00 0,204 0,21 0,165 0,33 05:00 0,187 0,20 0,167 0,33 06:00 0,239 0,25 0,158 0,31 07:00 0,907 0,95 0,209 0,41 08:00 1,000 1,04 0,259 0,51 09:00 0,949 0,99 0,180 0,36 10:00 0,419 0,44 0,216 0,43 11:00 0,458 0,48 0,333 0,66 12:00 0,618 0,65 0,544 1,08 13:00 0,358 0,37 0,389 0,77 14:00 0,407 0,42 0,382 0,76 15:00 0,340 0,35 0,268 0,53 16:00 0,337 0,35 0,239 0,47 17:00 0,421 0,44 0,293 0,58 18:00 0,384 0,40 0,391 0,77 19:00 0,451 0,47 1,000 1,98 20:00 0,487 0,51 0,730 1,45 21:00 0,604 0,63 0,648 1,28 22:00 0,534 0,56 0,514 1,02 23:00 0,533 0,56 0,353 0,70 00:00 0,487 0,51 0,302 0,60

kW/P.U 1,044 1,980

Na Figura 8.3 é possível visualizar a curva típica de demanda do primeiro caso.

53

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Figura 8.3 - Curva de demanda do consumidor Faixa 3 - Tipo 12. Tipologia que representa 19,19% dos consumidores na faixa de consumo de 221 a 350 kWh. Elaboração própria a partir de dados de (ESCHER,

2012).

De maneira análoga, porém para consumidores enquadrados na Faixa 4 (351 a

500kWh), traçou-se a curva exposta na Figura 8.4.

Figura 8.4 - Curva de demanda do consumidor Faixa 4 - Tipo 13. Tipologia que representa 15,31% dos consumidores na faixa de consumo de 351 a 500 kWh. Elaboração própria a partir de dados de (ESCHER,

2012).

0,000

0,100

0,200

0,300

0,400

0,500

0,600

0,700

0,800

0,900

1,000

01:0

0

02:0

0

03:0

0

04:0

0

05:0

0

06:0

0

07:0

0

08:0

0

09:0

0

10:0

0

11:0

0

12:0

0

13:0

0

14:0

0

15:0

0

16:0

0

17:0

0

18:0

0

19:0

0

20:0

0

21:0

0

22:0

0

23:0

0

00:0

0

Dem

anda

em

P.U

Hora

Curva de Demanda: Consumidor Faixa 3 - Tipo 12

Faixa 4 - Tipo 13

0,000

0,100

0,200

0,300

0,400

0,500

0,600

0,700

0,800

0,900

1,000

01:0

0

02:0

0

03:0

0

04:0

0

05:0

0

06:0

0

07:0

0

08:0

0

09:0

0

10:0

0

11:0

0

12:0

0

13:0

0

14:0

0

15:0

0

16:0

0

17:0

0

18:0

0

19:0

0

20:0

0

21:0

0

22:0

0

23:0

0

00:0

0

Dem

anda

em

P.U

Hora

Curva de Demanda: Consumidor Faixa 4 - Tipo 13

Faixa 4 - Tipo 13

54

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8.3. Avaliação do Recurso Solar Disponível na Região de Interesse

Para avaliar o potencial de geração de energia, através do uso de um sistema

fotovoltaico, é de suma importância a posição geográfica da localidade no qual esse será

instalado. Como mencionado anteriormente, o escopo deste trabalho restringe o estudo

à RMBH.

Semelhante ao “Atlas Solarimétrico” apresentado no Capítulo 6, no ano de 2012, a

CEMIG divulgou o “Atlas Solarimétrico de Minas Gerais”, cujo objetivo é analisar o

recurso solar no estado. Através desta publicação é possível determinar a irradiância

média na região de interesse, viabilizando o cálculo da energia a ser gerada.

Como pode ser verificado na Figura 8.5, a RMBH possui valores médios diários de

radiação solar praticamente idênticos, cujo valor típico é 5,5 kWh/m²/dia. Isto significa

que, para uma área qualquer de 1,0 m², incide uma radiação solar de 5,5 kWh por dia, ao

longo de um ano.

Figura 8.5 - Radiação Solar Média Diária Anual para o estado de Minas Gerais. Adaptada de (CEMIG, 2012).

RMBH

55

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8.4. Energia Gerada e Potência Instalada

A partir do valor típico encontrado na seção anterior, é possível calcular a

produção de energia ao longo de um mês. Para tanto, deve-se levar em consideração as

perdas incorridas no processo de conversão da energia fotovoltaica em energia elétrica

efetivamente utilizável. Assim, serão consideradas apenas a eficiência dos módulos e do

inversor, sendo desprezíveis portanto as perdas nos condutores.

Para a eficiência dos módulos, será adotado o valor de 14% (Classificação A, de

acordo com parâmetros do INMETRO), já para o inversor o valor é de 95% (valor médio

pesquisado). Sendo, assim, para o cálculo da energia gerada, utiliza-se a Equação 1:

𝐸𝐸𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔 = 𝐷𝐷 ∗ 𝑔𝑔𝑚𝑚 ∗ 𝜂𝜂𝑚𝑚 ∗ 𝜂𝜂𝑖𝑖 ∗ 𝐴𝐴 (1)

Egerada: Energia total gerada (kWh);

D: Quantidade de dias em um mês (usualmente 30);

rm: Radiação Média Diária (kWh/m²dia);

ηm: Eficiência do módulo fotovoltaico;

ηi: Eficiência do inversor de frequência;

A: Área do módulo fotovoltaico (m²).

Desta forma, o gráfico da Figura 8.6 mostra a relação da energia total gerada em

um mês, em função da área total dos módulos fotovoltaicos.

Figura 8.6 - Energia Gerada (kWh/mês) em função da área total dos módulos.

0

100

200

300

400

500

600

1 2,5 4 5,5 7 8,5 10 11,5 13 14,5 16 17,5 19 20,5 22 23,5 25

Ener

gia

Ger

ada

(kW

h/m

ês)

Área Total dos Módulos (m²)

Energia Gerada x Área Total dos Módulos

Energia Gerada (kWh/mês)

56

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Tipicamente, os painéis fotovoltaicos não são comercializados em função de sua

área, mas sim de sua potência máxima (Wp), sendo portanto necessária a análise de

valores comerciais. A fim de quantificar tais valores, foi realizada uma pesquisa de

mercado em dois grandes sites (Neosolar Energia e Minha Casa Solar) de venda de

produtos e equipamentos para instalação de SGFV.

Os dados coletados encontram-se na Tabela 5, e permitem calcular o valor médio

da potência máxima em função da área dos módulos. A constante que determina este

valor é dada pela Equação 2.

𝛼𝛼 = 𝑃𝑃𝑝𝑝𝐴𝐴

(2)

α: Constante Comercial [Wp/m²];

Pp: Potência nominal do painel [Wp];

A: Área do painel [m²]

Tabela 5 - Características construtivas de módulos fotovoltaicos comerciais. Elaboração própria a partir de pesquisa realizada em Janeiro/2015.

Marca Modelo Wp Área (m²) Wp/m² Yingli YL140P-17b 140 1,00 140,06 Solar World SW140 140 1,03 136,35 BYD 140P6-18 140 1,00 139,93 Kyocera KD140SX-UFBS 140 1,01 139,30 Solar Leading SL6P36 140 0,98 142,55 Avproject AVP-150p 150 1,03 145,69 Kyocera KD245GH-4FB2 245 1,64 149,08 Yingli YL 250P 29b 250 1,63 153,05 Kyocera KD250GH-4FB2 250 1,64 152,12

Para uma constante α, pode-se definir uma constante K que relaciona a energia

gerada com a potência instalada, dada pela Equação 3:

𝐾𝐾 =𝐷𝐷∗𝑔𝑔𝑚𝑚∗𝜂𝜂𝑚𝑚∗𝜂𝜂𝑖𝑖

𝛼𝛼 (3)

Para fins gráficos, além dos valores previamente adotados, será atribuído à

constante α o valor de 144,24 Wp/m². Para tanto, calculou-se a média dos módulos

comerciais encontrados na Tabela 5.

Por ser didático, a Equação 4 apresentada a seguir, que é a substituição da

Equação 3 na Equação 1, representa matematicamente a curva disposta na Figura 8.5.

𝐸𝐸𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔 = 𝐾𝐾 ∗ 𝑃𝑃𝑖𝑖 (4)

Pi: Potência instalada/a instalar [Wp]. 57

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Figura 8.7 - Energia gerada em função da potência instalada.

8.5. Análise da Fatura Mensal de Energia

A fim de analisar o melhor sistema a ser implementado para o consumidor alvo

deste trabalho, deve-se fazer uma ressalva quanto à fatura mensal de energia. Como

explicado anteriormente, mesmo que o consumidor gere energia suficiente para

compensar seu uso, ele ainda assim pagará pelo custo de disponibilidade.

Conforme o art. 98 da Resolução 414/2011 da ANEEL, o custo de disponibilidade

é o valor mínimo faturável, aplicável ao faturamento de unidades consumidoras do

Grupo “B”, de acordo com o tipo de ligação:

• monofásica: valor equivalente a 30 kWh;

• bifásica: valor equivalente a 50 kWh;

• trifásica: valor equivalente a 100 kWh.

Em um exemplo prático, caso um consumidor gere, ao longo de um mês, 350

kWh, mas só consuma 300 kWh, o mesmo não pagará efetivamente pela energia

consumida – ressalva feita posteriormente (gerando um crédito de 50 kWh para o mês

subsequente), mas tão somente pelo custo de disponibilidade, que para o caso de uma

ligação trifásica, por exemplo, é o equivalente a 100 kWh.

De forma direta, a geração ótima do sistema fotovoltaico deve suprir apenas a

energia efetivamente consumida, já que o custo de disponibilidade estará sempre

0

100

200

300

400

500

600

144,

2428

8,48

432,

7257

6,96

721,

286

5,44

1009

,68

1153

,92

1298

,16

1442

,415

86,6

417

30,8

818

75,1

220

19,3

621

63,6

2307

,84

2452

,08

2596

,32

2740

,56

2884

,830

29,0

431

73,2

833

17,5

234

61,7

636

06

Ener

gia

Ger

ada

(kW

h/m

ês)

Potência Instalada (Wp)

Energia Gerada x Potência InstaladaEnergia Gerada (kWh/mês)

58

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presente. Em suma, a cobrança de disponibilidade é sempre feita quando o saldo

(energia consumida – energia gerada) excede o valor típico estabelecido pela ANEEL,

para cada tipo de ligação, como supracitado.

Além do disposto acima, uma importante avaliação a ser feita é quanto a “venda”

da energia gerada para a concessionária. Para ilustrar este tema, segue a Figura 8.8, que

é uma fatura real de um consumidor optante pelo sistema de compensação de energia.

Figura 8.8 – Fatura real de um consumidor, optante pelo SISCEE, atendido pela CEMIG. Os dados pessoais foram omitidos a pedido do cliente.

59

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Como pode se perceber, fica clara a diferença de tarifas cobradas sobre a energia

injetada e consumida. Enquanto a primeira possui uma tarifa de R$ 0,56631429, a

segunda (bem como a tarifa de disponibilidade) possui um valor de R$ 0,61015853. Isso

se deve ao fato da concessionária zerar a alíquota do ICMS que incidiria sobre essa

energia injetada, como explicado em seção anterior. Desta forma, um consumidor que

consiga gerar energia suficiente para não só suprir sua demanda, mas também injetar na

rede, será prejudicado, uma vez que o limite a ser compensado é ditado pelo seu

consumo naquele mês, já que o excedente é acumulado para uso em faturas

subsequentes, não sendo possível vendê-la (troca de energia por moeda corrente).

Consequentemente, no caso do consumidor tratado anteriormente, o mesmo está

pagando R$ 5,83 a mais, já que as tarifas se distinguem em R$ 0,04384424, ou seja, um

acréscimo de 13,07% em sua conta.

8.6. Sobreposição da Curva de Demanda e da Curva de Geração

Objetivando atender as regras vigentes de compensação de energia, o

consumidor, antes de instalar o SGFV, deve lembrar que toda energia produzida deve

não somente suprir a demanda durante o período de geração, mas também excedê-

la, de modo que esta seja a mais próxima possível do consumo em horários em que

não haja geração.

Para ilustrar essa situação, o gráfico da Figura 8.9 mostra uma curva real de

geração, construída a partir de informações do inversor instalado na residência

exemplificada, aos 15/01/2015 (há de se considerar o horário de verão), cujo período

de amostragem é de dois minutos. Os dados foram fornecidos pelo mesmo consumidor

que cedeu sua fatura mensal para avaliação.

60

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Figura 8.9 - Curva de geração de um sistema real.

Uma vez que a curva de geração encontra-se em P.U, é possível transpô-la para

um dos sistemas estudados, para que seja dado entendimento acerca do tema. Optou-se

por sobrepô-la à curva tratada na Figura 8.3 (Faixa 3 - Tipo 12), e assume-se que toda

energia consumida será compensada pela geração fotovoltaica. Desta forma, expõe-se a

seguinte situação:

Figura 8.10 - Sobreposição das Curvas de Demanda e Geração.

Para compreensão do gráfico exposto, faz-se necessário separá-lo em cinco

momentos, denominados A, B, C, D e E. Os períodos A e E são de igual valor qualitativo,

assim como os períodos B e D.

61

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Períodos A e E: Nestes dois intervalos, por não ocorrer incidência solar, não há

geração, sendo toda energia consumida, requisitada da rede básica.

Períodos B e D: No período denominado de B, inicia-se o processo com baixa

geração (sol nascente), uma vez que a incidência solar sobre os módulos não favorece

máxima eficiência. Nesse intervalo ocorre o pico de consumo deste usuário, sendo

necessária a solicitação de energia da rede, já que a geração não é suficiente para suprir

tal demanda. Em D ocorre curso semelhante, mas por motivo diametralmente oposto, já

que neste período o sol está se pondo. Apesar de não ocorrer pico de demanda, ainda

sim o consumo excede a produção, sendo também inevitável a aquisição de energia da

rede.

Período C: Neste período, a geração de energia atinge seu máximo (dadas as

condições climáticas do dia), e não só sobrepõe o consumo, como também gera

excedentes a serem injetados na rede a fim de compensar a energia requisitada em

outros momentos.

Por ser didática, apresenta-se a Figura 8.11, na qual o gráfico ressalta a diferença

entre produção e consumo. Vê-se claramente os períodos A, B, D e E como negativos, ou

seja, há necessidade de consumo de energia fornecida pela rede, ao passo que,

representada pela área positiva do gráfico, está toda a energia excedente injetada na

rede.

Figura 8.11 - Diferença entre energia gerada e da energia requisitada da rede.

62

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8.7. Análise Econômica

Para avaliar os aspectos econômicos envolvidos na implantação do sistema de

geração fotovoltaico conectado na rede, é necessário organizar as informações de forma

a atingir o resultado esperado. Para tanto, esta seção será subdivida de forma a facilitar

a visualização e acompanhamento da estratégia adotada. Serão avaliados dois

consumidores genéricos simultaneamente. O primeiro, cujo consumo é de 350 kWh com

ligação bifásica, e o segundo, consumindo 500 kWh e ligação também bifásica. Os demais

dados necessários serão conforme adotados previamente ou apresentados quando

oportuno.

Serão analisados os seguintes cenários:

Cenário 1 (Consumidor Faixa 3 – Tipo 12) e Cenário 2 (Consumidor Faixa 4 –

Tipo 13):

• Caso em que a geração é igual ao consumo, ou seja, não há excedentes e o

consumidor paga pelo custo de disponibilidade. Há compensação total.

Cenário 3 (Consumidor Faixa 3 – Tipo 12) e Cenário 4 (Consumidor Faixa 4 –

Tipo 13):

• Caso em que a geração é suficientemente menor que o consumo, de tal

forma que o consumidor não seja cobrado pelo custo de disponibilidade.

Há portanto compensação parcial.

8.7.1. Dados Preliminares

O primeiro passo para a análise de cenários é o levantamento de dados

preliminares, isto é, elencar os valores das tarifas e do consumo/geração médio mensal.

Conforme informações anteriores, os consumidores analisados não se enquadram

no grupo baixa renda, portanto não recebem qualquer tipo de incentivo fiscal ou

descontos em suas faturas. De acordo com (CEMIG, 2015) , o ICMS incidente sobre a

tarifa de consumo é de 30% e, o valor desta tarifa, já com incidência tributária é de R$

0,6133684 (CEMIG, 2015). Desta forma, a tarifa de injeção será apenas 70% do valor

praticado.

63

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Outro ponto importante é no que concerne ao custo de disponibilidade. Nos

Cenários 3 e 4, a energia gerada é suficientemente menor que o consumo, de forma que

não seja cobrada tal exação.

Na Tabela 6 estão reunidas as informações preliminares.

Tabela 6 - Dados preliminares para análise dos cenários.

Consumo Mensal (kWh)

Geração Mensal (kWh)

Tarifa de Consumo (R$/kWh)

Tarifa de Injeção (kWh)

Cenário 1 350,00 350,00 0,6133684 0,4293579

Cenário 2 500,00 500,00 0,6133684 0,4293579

Cenário 3 350,00 300,00 0,6133684 0,4293579

Cenário 4 500,00 450,00 0,6133684 0,4293579

8.7.2. Informações Técnicas

Em um segundo momento é necessário a aquisição de informações técnicas

acerca dos painéis, bem como a adoção de determinadas premissas.

Como assumido anteriormente, para cálculo da energia gerada pelo sistema,

serão adotados os valores da Tabela 7, para todos os cenários. A constante α foi

calculada conforme Equação 2.

Tabela 7 - Valores adotados para o cálculo da geração de energia.

Dias de Geração

(dias)

Radiação Média Anual (kWh/m²dia)

Eficiência dos Módulos

(%)

Potência de Cada Painel

(Wp)

Área de Cada Painel (m²)

α (Wp/m²)

Eficiência do Inversor

(%) 30 5,50 14,00 144,24 1,00 144,24 95,00

8.7.3. Potência a Instalar

De posse das informações supracitadas, é possível calcular a potência a ser

instalada em cada cenário. Toma-se por premissa que toda energia gerada é totalmente

compensada, não havendo excedentes em nenhum dos casos estudados.

64

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Recorrendo à Equação 3, e dados prévios, é possível calcular a constante K, que

será igual para todos os cenários, já que os valores adotados são iguais. Desta forma,

para os dados da Tabela 7:

K = 0,15214 kWh/Wp

A partir destas informações, e utilizando a Equação 4, fica imediato o cálculo da

potência a ser instalada em cada sistema, como pode ser visto na Tabela 8.

Tabela 8 - Potência do sistema a ser instalado em cada cenário.

K

(kWh/Wp)

Geração Mensal (kWh)

Potência a Instalar (kWp)

Cenário 1 0,15214 350,00 2,30

Cenário 2 0,15214 500,00 3,29

Cenário 3 0,15214 300,00 1,97

Cenário 4 0,15214 450,00 2,96

8.7.4. Custo de Cada Sistema

Para calcular o custo final de cada projeto, serão utilizados os dados já coletados e

alocados na Tabela 2.

Uma vez conhecida a potência a instalar em cada sistema, basta multiplicar seu

valor pelo custo em Wp, obtendo portanto, o valor final do sistema instalado e

regularizado. Assim:

Tabela 9 - Custo final de cada projeto.

Potência a Instalar (kWp)

Custo (R$/Wp)

Custo Final (R$)

Cenário 1 2,30 8,97 20.635,60

Cenário 2 3,29 8,97 29.479,43

Cenário 3 1,97 8,97 17.687,66

Cenário 4 2,96 8,97 26.531,48

65

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8.7.5. Fluxo de Caixa

Para dar sequência ao cálculo da viabilidade econômica dos empreendimentos, é

de fundamental importância a análise do fluxo de caixa (montante que entra em um

projeto, deduzidos os custos) pós implantação do sistema. Apesar de não ocorrer

efetivamente entrada de caixa (dinheiro), o não desembolso é tratado como tal.

Uma vez realizadas todas as considerações anteriores, pode-se expressar os

resultados obtidos, para cada cenário, nas tabelas que seguem. É preciso observar que o

valor a ser pago não inclui taxas como a de Iluminação Pública, já que as mesmas são

cobradas independente de qualquer sistema de compensação (estão presentes em todos

os cenários analisados).

Tabela 10 - Economia mensal realizada para o consumidor presente no Cenário 1.

Pré Implantação SGFV

Pós Implantação SGFV

Tarifa de Consumo (R$/kWh) 0,6133684 0,6133684 Consumo (kWh) 350,00 350,00 Consumo (R$) 214,68 214,68 Disponibilidade (kWh) 0,00 50,00 Disponibilidade (R$) - 30,67 Despesa 214,68 245,35 Tarifa de Injeção (R$/kWh) 0,4293579 0,4293579 Energia Injetada (kWh) 0,00 350,00 Energia Injetada (R$) - 150,28 Receita - 150,28 Valor a ser Pago* R$ 214,68 R$ 95,07 Economia R$ 119,61

66

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Tabela 11 - Economia mensal realizada para o consumidor presente no Cenário 2.

Pré Implantação SGFV

Pós Implantação SGFV

Tarifa de Consumo (R$/kWh) 0,6133684 0,6133684 Consumo (kWh) 500,00 500,00 Consumo (R$) 306,68 306,68 Disponibilidade (kWh) 0,00 50,00 Disponibilidade (R$) - 30,67 Despesa 306,68 337,35 Tarifa de Injeção (R$/kWh) 0,4293579 0,4293579 Energia Injetada (kWh) 0,00 500,00 Energia Injetada (R$) - 214,68 Receita - 214,68 Valor a ser Pago* R$ 306,68 R$ 122,67 Economia R$ 184,01

Tabela 12 - Economia mensal realizada para o consumidor presente no Cenário 3.

Pré Implantação SGFV

Pós Implantação SGFV

Tarifa de Consumo (R$/kWh) 0,6133684 0,6133684 Consumo (kWh) 350,00 350,00 Consumo (R$) 214,68 214,68 Disponibilidade (kWh) 0,00 0,00 Disponibilidade (R$) - - Despesa 214,68 214,68 Tarifa de Injeção (R$/kWh) 0,4293579 0,4293579 Energia Injetada (kWh) 0,00 300,00 Energia Injetada (R$) - 128,81 Receita - 128,81 Valor a ser Pago* R$ 214,68 R$ 85,87 Economia R$ 128,81

67

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Tabela 13 - Economia mensal realizada para o consumidor presente no Cenário 4.

Pré Implantação SGFV

Pós Implantação SGFV

Tarifa de Consumo (R$/kWh) 0,6133684 0,6133684 Consumo (kWh) 500,00 500,00 Consumo (R$) 306,68 306,68 Disponibilidade (kWh) 0,00 0,00 Disponibilidade (R$) - - Despesa 306,68 306,68 Tarifa de Injeção (R$/kWh) 0,4293579 0,4293579 Energia Injetada (kWh) 0,00 450,00 Energia Injetada (R$) - 193,21 Receita - 193,21 Valor a ser Pago* R$ 306,68 R$ 113,47 Economia R$ 193,21

8.7.6. Prazo de Retorno de Investimento (PRI)

O PRI é um indicador simples, que mostra o tempo necessário para que o usuário

recupere tudo o que foi investido. Por sua simplicidade este é um método limitado, uma

vez que não é considerado risco, correção monetária, depreciação, etc. Apesar disso, sua

aplicabilidade é suficiente para a análise econômica dos projetos em questão.

De acordo com (SEBRAE, 2015), a fórmula para calcular o PRI é dada pela

Equação 5, abaixo:

𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 = 𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝑔𝑔𝐼𝐼𝐼𝐼𝑖𝑖𝐼𝐼𝑔𝑔𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼 𝑇𝑇𝐼𝐼𝐼𝐼𝑔𝑔𝑇𝑇𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝑔𝑔𝐼𝐼 𝐿𝐿í𝑞𝑞𝐿𝐿𝑖𝑖𝑔𝑔𝐼𝐼

(5)

Para a Equação 5, considera-se Lucro Líquido a economia anual feita por cada

usuário, ou seja, a economia mensal multiplicada por doze. Desta forma, os resultados

são encontrados na Tabela 14.

68

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Tabela 14 - PRI calculado para cada cenário estudado.

Investimento Total

(R$) Economia Mensal

(R$) Economia Anual

(R$) PRI

(anos) Cenário 1 20.635,60 119,61 1.435,32 14,4 Cenário 2 29.479,43 184,01 2.208,12 13,4 Cenário 3 17.687,66 128,81 1.545,72 11,4 Cenário 4 26.531,48 193,21 2.318,52 11,4

8.7.7. Análise dos Resultados

Analisando os resultados obtidos, percebe-se como pode ocorrer equívoco por

parte do consumidor caso não seja feita uma análise correta das variáveis envolvidas no

processo. Em uma leitura superficial da Resolução Normativa nº 482/2012, existe uma

forte tendência de se concluir que quanto maior a geração (desde que esta não tenha

excedentes) melhores serão os resultados obtidos na fatura ao fim do mês. Como não há

menção sobre o custo de disponibilidade, não fica evidenciado o fato de que, nestas

situações, o maior nem sempre é o melhor.

Confrontando os resultados dos Cenários 1 e 3 e dos Cenários 2 e 4 fica claro que,

para um mesmo consumidor, cuja tipologia de consumo não se altera após implantação

do sistema (consumo se mantêm o mesmo), a instalação de um arranjo no qual a geração

é igual ao seu consumo se torna economicamente inviável. Além do fato de que o

investimento inicial é maior (cerca de 17% maior no Cenário 1 em relação ao Cenário 3,

e de 11% maior entre o Cenário 2 e o Cenário 4), o prazo de retorno também o é (2 anos

para o Cenário 1 em relação ao Cenário 3, e 3 anos para o Cenário 2 para o Cenário 4).

Já na implantação de um sistema suficientemente menor, cuja geração seja capaz

de suprir parte da demanda, requisitando uma parte de seu consumo da rede, há clara

vantagem em relação ao sistema de compensação total, por motivo diametralmente

oposto, dado um menor investimento inicial, menor prazo de retorno bem como maior

economia anual causada pela eliminação do custo de disponibilidade.

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Capítulo 9

Conclusões

Ao término deste trabalho, foi possível realizar um amplo estudo das diversas

iniciativas espalhadas pelo mundo, no sentido de renovar a forma como é utilizada e

produzida a energia elétrica, através da integração dos consumidores à rede de

distribuição, o que possibilita um ambiente favorável à expansão dos Smart Grids.

Diversos países tratam o tema de forma extremamente prioritária, como é o caso da

Alemanha e dos Estados Unidos, que investem bilhões a fim de aprimorar o setor

energético.

Apesar de ser um tema relativamente novo no Brasil, já existem iniciativas

governamentais de agências como a ANEEL, com o objetivo de integrar o sistema, dando

passos importantes na construção de um sistema seguro, robusto e sustentável.

O estudo destas disposições, bem como das legislações atuais, permitiu traçar

diretrizes econômicas na construção de um sistema residencial de geração solar, locada

na RMBH, no estado de Minas Gerais.

Através destas diretrizes, e do estudo de viabilidade técnica de implantação deste

sistema cria-se a possibilidade de analisar o custo benefício, bem como o retorno

financeiro de tal aplicação.

Para possíveis estudos futuros, sugere-se:

• Utilização de concentradores fotovoltaicos para aumento da eficiência dos

módulos;

• Mecanismos para a redução da temperatura dos módulos;

• Aproveitamento térmico do calor gerado pelas placas;

• Avaliação do FDI (Fator de Dimensionamento de Inversores) para otimização do

custo do SGFV;

• Análise do impacto da mudança de um ambiente de compensação de energia para

um de tarifação tipo horosazonal (tarifa branca);

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• Desenvolvimento de sistemas de controle a fim de reduzir ao máximo o consumo

nas horas mais produtivas de geração, possibilitando uma maior injeção na rede;

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