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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ UFPI CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA CCN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA PPGF ESTUDO DAS PROPRIEDADES VIBRACIONAIS E ESTRUTURAIS DO MgMoO 4 E DO K 2 WO 4 EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA POR ESPECTROSCOPIA RAMAN José Cardoso Batista Dissertação de Mestrado TERESINA PIAUÍ NOVEMBRO DE 2011

ESTUDO DAS PROPRIEDADES VIBRACIONAIS E … · ii josé cardoso batista estudo das propriedades vibracionais e estruturais do mgmoo 4 e do k 2 wo 4 em funÇÃo da temperatura por espectroscopia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA – CCN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA – PPGF

ESTUDO DAS PROPRIEDADES VIBRACIONAIS E ESTRUTURAIS

DO MgMoO4 E DO K2WO4 EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA

POR ESPECTROSCOPIA RAMAN

José Cardoso Batista

Dissertação de Mestrado

TERESINA – PIAUÍ

NOVEMBRO DE 2011

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José Cardoso Batista

ESTUDO DAS PROPRIEDADES VIBRACIONAIS E ESTRUTURAIS

DO MgMoO4 E DO K2WO4 EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA

POR ESPECTROSCOPIA RAMAN

Orientador: Prof . Dr. Bartolomeu Cruz Viana Neto - UFPI

Co-orientador: Dr. Cleânio da Luz Lima - UFPI

Trabalho de dissertação de Mestrado apresentado ao

Programa de Pós-Graduação em Física (PPGF) da

Universidade Federal do Piauí (UFPI) como

requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em

Física da Matéria Condensada.

TERESINA – PIAUÍ

NOVEMBRO DE 2011

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Dedico este trabalho

ao meu irmão João Miguel (in memorian),

simplesmente por tudo.

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v

Agradecimentos

À Deus, por estar sempre me acompanhando em todos os momentos da vida;

Dedico também este trabalho de dissertação de mestrado a essas pessoas que direta ou

indiretamente contribuíram na sua realização:

À todos os professores do Departamento de Física da UFPI e em especial aos professores

Dr. Bartolomeu Cruz Viana Neto pela orientação, e ao Dr. Cleânio da Luz Lima pela co-

orientação.

À secretária do curso de pós-graduação, D. Eugênia;

Aos funcionários do Departamento de Física, especialmente ao Sr. Vidal e Sr. Aquiles pela

atenção que sempre me prestaram;

A minha amada esposa Iaponira Maria da Silva Linhares por todo apoio e compreensão

despendidos durante este curso;

Aos meus pais, Raimundo Cardoso Batista e Maria do Rosário Santos Batista, pela

confiança;

Aos meus irmãos e irmãs, pelo apoio incondicional;

Ao meu cunhado Iago César, pelo incentivo;

A todos os colegas do curso de pós – graduação, sem exceções, pela amizade estabelecida;

Aos meus amigos: Valderi (irmão por opção), Antônio Francisco (meu primo, Nenzão),

Antônio Filho ( in memorian) e Ivanísio Botelho, eles sabem devidamente o por quê;

Ao Departamento de Física da UFC, pela disponibilidade dos laboratórios para realização

dos experimentos;

A minha amiga Gardênia Pinheiro, pela ajuda nas realizações dos experimentos na UFC;

À SEDUC Piauí, pela licença remunerada concedida.

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Resumo

Os materiais da família dos molibidatos e tungstatos compreendem uma grande

classe de compostos inorgânicos que apresentam propriedades físicas e químicas de grande

interesse ao desenvolvimento de novas tecnologias. Propriedades estas como: detecção de

radiação ionizante, cintilação e expansão térmica negativa (ETN). O interesse na classe de

molibidatos e tungstatos aumentou recentemente devido a necessidade de fontes de deteção

e cintiladores diferentes dos usuais para experiências de física das partículas criogênicas.

No entanto, outras propriedades relacionadas ao comportamento termodinâmico em altas

temperaturas podem ser igualmente importantes, pois, estes materiais apresentam uma

grande quantidade de fases cristalográficas, sendo que muitas dessas fases são moduladas.

Alguns molibidatos e tungstatos como o MgMoO4 e K2WO4, por exemplo, apresentam um

comportamento diferente dos demais membros dessa família, uma vez que a fase modulada

nesses compostos a alta temperatura ocorre imediatamente abaixo da fase hexagonal, e não

abaixo da fase ortorrômbica. Sabe-se que estas fases moduladas nesses materiais podem

aparecer como resultado de transições de fase estruturais induzidas por variação de

temperatura e o que ocasiona essa modulação é uma rotação dos tetraedros BO4 (B = Mo,

W) que se comportam como corpos rígidos – acompanhados de pequenos deslocamentos

dos demais átomos.

Estudos realizados por espectroscopia Raman dependente da temperatura do

MgMoO4 no intervalo de 293-880 K e do K2WO4 no intervalo de 293 – 788 K indicaram

que esses materiais mantêm-se na fase monoclínica no intervalo de temperatura de 293-

580 K e 293-630 K, respectivamente. Ambos os materiais apresentaram duas transições de

fase, sendo que o molibidato de magnésio (MgMoO4) apresenta uma primeira transição em

torno de 640-690 K e uma segunda transição em torno de 770 K, enquanto o tungstato de

potássio (K2WO4) apresenta uma primeira transição em torno de 630 K seguido de uma

segunda transição em torno de 740 K. Embora não se tenham encontrados estudos

realizados com variação de temperatura para o MgMoO4, para o K2WO4 há na literatura

estudos de transição de fase que ocorre em torno de 630 K leva o K2WO4 há uma fase

modulada que se dá devido as rotações e inclinações do tetraedro WO4. Neste trabalho

apresentaremos os resultados das observações realizadas por espectroscopia Raman em

altas temperaturas para as transições de fase das estruturas dos compostos K2WO4 e

MgMoO4.

Palavras-chave: Molibidatos, Espectroscopia Raman, Transição de fase.

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Abstract

The molybdates and tungstates materials belong to a large class of inorganic

compounds, which exhibit physical and chemical properties of great interest to the

development new technologies, however, they also provide properties such as ionizing

radiation detectors, scintillation and negative thermal expansion (NTE). The interest in the

class of molybdates and tungstates increased recently, due to need of new detectors and

scintillation sources for different types of experiences in the cryogenic particle physics.

Nevertheless, other properties related to the thermodynamic behavior at high temperatures,

can also be important, since these materials exhibit a large amount of crystalline phases,

and many of these phases are modulated. Some molybdates and tungstates, for example:

MgMoO4 and K2WO4, exhibit different behavior from other family members, since the

phase modulation in these compounds, at high temperature, occurs immediately below the

hexagonal phase and not below the orthorhombic phase. It is known that these modulated

phases may appear as a result of the structural phase transitions, induced by temperature

changes, which causes a modulation from a rotation of the BO4 tetrahedron (B = Mo, W),

which behaving as rigid bodies - accompanied by small displacements of other atoms.

Studies performed with temperature-dependent Raman spectroscopy for MgMoO4, in

the range of 293-880 K and with K2WO4, in the range of 293-788 K, indicate that these

said materials remain in the monoclinic phase within the temperature range of 293-580 K

and 293-630 K, respectively. The MgMoO4 have two phase transitions: firstly around 640-

690 K and the other around 770 K, as well as K2WO4 around 630 K and the other around

740 K. There are no studies with temperature variations, in 293-800 K range, for MgMoO4.

However, concerning the K2WO4, there are results in the literature that the phase transition

that occurning around 630 K leads to a K2WO4 modulated phase, showing due to the

rotations and slopes of the WO4 tetrahedron. This dissertation we present the results of

observations performed by high temperatures of the Raman spectroscopy for phase

transitions in the structures of K2WO4 MgMoO4 compounds.

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Sumário

Lista de Tabelas ..............................................................................................................ix

Lista de Figuras ..............................................................................................................ix

CAPÍTULO 1 ................................................................................................................... 1

1.0 - Introdução ............................................................................................................ 1

1.1 – Propriedades gerais e aplicações dos molibidatos e tungstatos .......................... 1

CAPÍTULO 2 ................................................................................................................... 7

2.0 – Procedimentos experimentais. ........................................................................... 7

2.1 Molibidato de magnésio e tungstato de potássio. .................................................... 7

2.2 Espectroscopia Raman. ............................................................................................. 7

2.2.1 Sistema de medida em altas temperaturas. .......................................................... 8

2.3 - Medidas de calorimetria diferencial por varredura (DSC). ................................ 9

2.4- Difração de Raios-X. .............................................................................................. 10

3.0 Resultados e discussões. ....................................................................................... 11

3.1 Difração de Raios - X (DRX). ................................................................................. 11

3.2 Calorimetria diferencial por varredura (DSC)..................................................... 12

3.3 Espectroscopia Raman do MgMoO4 a temperatura ambiente. .......................... 13

3.4 Espectroscopia Raman do MgMoO4 em altas temperaturas. ............................ 16

3.5 Espectroscopia Raman do K2WO4 a temperatura ambiente. ............................. 22

3.6 Espectroscopia Raman do K2WO4 em altas temperaturas. ................................. 24

4.0 Conclusão .............................................................................................................. 28

5 Referências bibliográficas .................................................................................. 30

6 Anexos. ................................................................................................................. 33

6.1 - Espectroscopia Raman. ......................................................................................... 33

6.2 Teoria de Grupo dos Materiais. ............................................................................ 39

6.2.1 MgMoO4 ............................................................................................................... 39

6.2.2 K2WO4 .................................................................................................................. 42

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Dados cristalográficos para o MgMoO4 obtidos por difração de raios-X à

temperatura ambiente [11]. ................................................................................................... 5

Tabela 2. Dados cristalográficos para o K2WO4 obtidos por Difração de raios-X à

temperatura ambiente [12]. .................................................................................................... 5

Tabela 3. Classificação por comparação dos modos Raman do MgMoO4 à temperatura

ambiente. ............................................................................................................................. 14

Tabela 4. Classificação por tentativa dos modos Raman do K2WO4 à temperatura

ambiente. ............................................................................................................................. 22

Tabela 5. Número de pontos da rede (LP) que reduz a célula unitária cristalográfica para a

célula de Bravais [25]. ......................................................................................................... 41

Tabela 6. Caracteres do grupo C2h [25]. .............................................................................. 41

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Lista de Figuras

Figura 1. 1. Transições de fase observada para K2WO4 em processo de aquecimento [9]. .. 3

Figura 1. 2. Transições de fase observada para K2WO4 em processo de resfriamento [9]. .. 4

Figura 1. 3. Ilustração da estrutura cristalina monoclínica do a) MgMoO4 e b) K2WO4. ..... 5

Figura 2.1. Imagem do Espectrômetro modelo T64000 da Jobin Yvon, usado para

aquisição dos espectros Raman. ............................................................................................ 8

Figura 2. 2. Imagem do forno empregado nas medidas de espectroscopia Raman em altas

temperaturas........................................................................................................................... 9

Figura 2. 3. Imagem do equipamento utilizado nos experimentos de DSC. ....................... 10

Figura 2. 4. Imagem do difratômetro modelo XRD-6000 utilizado para medidas de difração

de raios-X nas amostras. ...................................................................................................... 10

Figura 3. 1. Difratograma em pó do MgMoO4 utilizado neste trabalho. ............................. 11

Figura 3. 2. Difratograma em pó do K2WO4 utilizado neste trabalho. ................................ 12

Figura 3. 3. Termograma de DSC do MgMoO4. ................................................................ 13

Figura 3. 4. Termograma de DSC do K2WO4. .................................................................... 13

Figura 3. 5. Espectro Raman à temperatura ambiente para o MgMoO4 em pó .................. 14

Figura 3. 6. Espectros Raman do MgMoO4 para diversas temperaturas da região entre 20

e 260 cm-1

. ........................................................................................................................... 18

Figura 3. 7. Gráfico do número de onda vs. temperatura dos modos Raman do MgMoO4

na região entre 20 e 260 cm-1

. ............................................................................................. 18

Figura 3. 8. Espectros Raman do MgMoO4 para diversas temperaturas no intervalo entre

250 cm-1

e 470 cm-1

. ............................................................................................................ 20

Figura 3. 9. Gráfico do número de onda vs. Temperatura dos modos Raman do MgMoO4

no intervalo de temperatura entre 250 e 470 cm-1

. .............................................................. 20

Figura 3. 10. Espectros Raman do MgMoO4 para diversas temperaturas no intervalo entre

820 e 1050 cm-1

. .................................................................................................................. 21

Figura 3. 11. Gráfico do número de onda vs. temperatura dos modos Raman do MgMoO4

no intervalo entre 820 e 1050 cm-1

. ..................................................................................... 21

Figura 3. 12. Espectro Raman para K2WO4 a temperatura ambiente. ................................. 22

Figura 3. 13. Espectros Raman do K2WO4 para diversas temperaturas no intervalo entre 30

cm-1

e 250 cm-1

. ................................................................................................................... 24

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Figura 3. 14. Gráfico do número de onda vs. temperatura dos modos Raman K2WO4 no

intervalo entre 30 e 250 cm-1

. .............................................................................................. 24

Figura 3. 15. Espectros Raman do K2WO4 para diversas temperaturas no intervalo entre

270 e 880 cm-1

. .................................................................................................................... 26

Figura 3. 16. Espectros Raman do K2WO4 para diversas temperaturas no intervalo entre

880 e 960 cm-1

. .................................................................................................................... 26

Figura 3. 17. Gráfico do número de onda vs. temperatura dos modos Raman do K2WO4 no

intervalo entre 280 e 960 cm-1

. ............................................................................................ 27

Figura 4. 1. Ilustrações dos diagramas de níveis de energia para o espalhamento elástico

Rayleigh, e espalhamentos inelásticos Raman em que as linhas horizontais representam

distintos estados vibracionais. ............................................................................................. 34

Figura 4. 2. Espalhamento de luz por um dipolo oscilante. ................................................ 35

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CAPÍTULO 1

1.0 - Introdução

Neste capítulo serão apresentadas algumas propriedades e aplicações de alguns

molibidatos e tungstatos; juntamente com as características estruturais específicas do

molibidato de magnésio e do tungstato de potássio que são os materiais de estudo neste

trabalho.

1.1 – Propriedades gerais e aplicações dos molibidatos e tungstatos

Materiais pertencentes às famílias dos molibidatos e tungstatos compreendem

uma classe de compostos inorgânicos que apresentam propriedades físicas e químicas de

importante interesse ao desenvolvimento de novas tecnologias. São propriedades como:

transições metal-isolante, cintilação, supercondutividade, expansão térmica negativa

(ETN), amorfização induzida por pressão etc. As diversas características peculiares dos

molibidatos e tungstatos fazem desses elementos, potenciais candidatos a aplicações em

células de eletrólitos sólidos, eletrodos de bateria, sensores de gases, fabricações de ligas,

etc. Como exemplo, estudos revelam que o tungstato de potássio pode ser aplicado como

retardador de sinterização do anodo de eletrólito que operam expostos a altas temperaturas,

como em células de combustíveis [1]. Entretanto outros estudos revelam que o molibidato

e o tungstato de magnésio, MgMoO4 e MgWO4, apresentam propriedades de detectoras por

cintilação no intervalo de temperatura de 8 a 295 K [2,3], isto é, esses materiais absorvem

radiações de altas energias e as convertem em radiações como ultravioleta e visível de

menores energias. Motivando assim o estudo em busca de propriedades ópticas voltadas à

família desses materiais a baixa temperatura. Estudos realizados com o molibidato de ítrio,

Y2Mo3O12 mostraram que este material apresenta ETN no intervalo de temperatura de 403

K até 1173 K, enquanto para o Al2Mo3O12 ocorre para temperaturas acima de 473 K. A

expansão térmica negativa destes materiais ocorre devido aos rearranjos dos tetraedros

girando e se aproximando uns dos outros ocupando um volume menor à medida que se

aumenta a temperatura [4].

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Investigações e caracterizações dos processos físicos induzidos por variação de

temperatura ou pressão hidrostática na pesquisa científica revelam novas propriedades

desses materiais e estimulam a formulação de modelos para descrever o comportamento

sob condições extremas, suas características e aplicações. Como supracitado, o interesse na

classe de molibidatos e tungstatos aumentou substancialmente devido a necessidade de se

ter diferentes fontes de detecção e cintiladores para experiências em física de partículas

criogênicas procurando eventos raros a baixa temperatura [2, 3, 5]. Um exemplo é o caso

de cintiladores contendo molibdênio, que são de grande interesse para deteção de neutrinos

exibindo boa intensidade da luminescência [3]. No entanto, outras propriedades

relacionadas à superfície do material e ao comportamento termodinâmico da estrutura

desses materiais, podem ser igualmente importantes [5]. Estudos por Raman em função da

temperatura realizado sobre o molibidato de sódio anídrico, Na2MoO4, para obter

informações sobre as mudanças estruturais foi observada uma transição de fase ocorrendo

em torno de 783 K [6], enquanto, análises por difração de raios-X e espectroscopia no

infravermelho (I.V.) da estrutura do MgMoO4 calcinado mostraram a formação de três

fases distintas a temperaturas inferiores a 823 K [7]. O estudo feito por espectroscopia

Raman do tungstato de potássio, K2WO4, em altas pressões de aproximadamente 45 Kbar

mostrou evidências de transições de fase induzidas por pressões a 13 Kbar e a fase a baixa

pressão parece ser mais compreensível do que a alta pressão [8]. Jayaram et al. sugeriram

que a posição do modo interno mais elevado do tetraedro WO4 pode ser usado como um

indicador da necessidade ou não do ânion tetraédrico ser contraído ou expandido,

imediatamente após uma transição de fase na região de alta pressão. Também por

espectroscopia Raman, efeitos de altas pressões sobre a estabilidade estrutural de vários

espinelos, X2MO4 (X=Na; M=Mo, W), e scheelites, YMO4 (Y=Ca, Ba, Sr, Pb) foram

investigados [8].

A família dos tungstatos cuja fórmula geral é X2MO4 apresenta uma grande

quantidade de fases cristalográficas, sendo que muitas dessas fases são moduladas. Fases

moduladas são caracterizadas pela variação espacial do parâmetro de ordem. Ou seja, a

posição dos átomos varia de uma célula unitária para a outra periodicamente [9]. Sabe-se

também, que estas fases moduladas podem aparecer como resultado de transições de fase

estruturais induzidas por variação de temperatura e o que ocasiona essa modulação é uma

rotação dos tetraedros MO4, que se comportam como corpos rígidos acompanhados de

pequenos deslocamentos dos demais átomos. É conhecido que os membros dos tungstatos

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a altas temperaturas, geralmente, apresentam uma fase hexagonal e uma ortorrômbica. Em

baixa temperatura, esses materiais se apresentam na fase monoclínica. Outra fase

modulada foi observada entre as fases ortorrômbica e monoclínica para esses materiais [9,

10]. Compostos desta família têm recebido atenção especial tanto de pesquisadores

teóricos quanto experimentais, e vem sendo estudados por diferentes técnicas

experimentais, como: difração de raios - X de monocristais de Sr2CeO4 [9] e

espectroscopia Raman do Na2MoO4 [6]. Diferentes formalismos teóricos têm sido

aplicados também, como por exemplo, cálculo dinâmico de rede do Na2MoO4 [6] e teorias

de energia livre, teoria de Landau e invariante de Lifshitz [9]. O propósito desses estudos é

entender a estrutura cristalina, as transições de fases, suas fases moduladas e as

propriedades físicas por eles apresentados [9].

Alguns molibidatos e tungstatos alcalinos, como o K2MoO4 e K2WO4 apresentam

um comportamento diferente dos demais membros, a fase modulada nesses compostos

ocorre imediatamente abaixo da fase hexagonal, e não abaixo da fase ortorrômbica. As

Figuras 1.1 e 1.2 ilustram as sequências de transições de fase observadas para esses

compostos em processos de aquecimento e de resfriamento, respectivamente, sendo que na

Figura 1.1, os compostos estão na fase monoclínica sendo aquecidos até a fase hexagonal e

na Figura 1.2, mostra-se o processo reverso [9].

Figura 1. 1. Transições de fase observada para K2WO4 em processo de aquecimento [9].

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4

Figura 1. 2. Transições de fase observada para K2WO4 em processo de resfriamento [9].

Em tais diagramas TII e TI valem, respectivamente, 593 K e 730 K para o

K2MoO4, e 640 K e 734K para o K2WO4. Nota-se que a sequência de transições de fase

observada é diferente nos processos de aquecimento e resfriamento. Nesse último, aparece

uma nova fase em temperatura ambiente [9]. Esta nova fase, ortorrômbica, provavelmente

aparece devido a não hidratação dos materiais.

Os materiais estudados neste trabalho são o MgMoO4 e o K2WO4, que sob

condições de temperatura e pressão ambiente apresentam simetria monoclínica

encontrando-se no grupo pontual C2/m [3, 5, 9, 10] com Z=8 e 4, respectivamente. Os

átomos Mo e W estão ligados aos átomos de oxigênio formando os ânions tetraédricos

MoO4 e WO4 [5]. Os íons Mg ocupam sítios com coordenação octaédrica com os ânions

MoO4 [5] e os íons K ocupam sítios formando um hexágono aproximadamente regular

com cada tetraedro aniônico WO4 [10]. As Figuras 1.3a e 1.3b representam as simetrias

monoclínicas do MgMoO4 e do K2WO4, respectivamente. Os parâmetros de rede obtidos

por difração de raios-X do MgMoO4 e do K2WO4 estão apresentados nas Tabelas 1 e 2,

respectivamente.

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Figura 1. 3. Ilustração da estrutura cristalina monoclínica do a) MgMoO4 e b) K2WO4.

Tabela 1. Dados cristalográficos para o MgMoO4 obtidos por difração de raios-X à

temperatura ambiente [11].

Parâmetros de rede a b c α, γ β

Medidas 10, 273 Ǻ 9, 288 Ǻ 7, 025 Ǻ 90o 106,96

o

Tabela 2. Dados cristalográficos para o K2WO4 obtidos por Difração de raios-X à

temperatura ambiente [12].

Parâmetros de rede a b c α, γ β

Medidas 12, 390 Ǻ 6, 105 Ǻ 7, 560 Ǻ 90o 115, 96

o

A temperatura está ligada intrinsecamente à estabilidade da fase estrutural do

material. Portanto, no presente trabalho propomos analisar os efeitos da variação de

temperatura nas características estruturais e vibracionais do molibidato de magnésio

(MgMoO4) e do tungstato de potássio (K2WO4). A caracterização dos modos vibracionais

em função da temperatura nestes materiais foi realizada através da espectroscopia Raman.

Por ser uma técnica muito sensível às variações nas ligações químicas, o estudo do

comportamento dos modos vibracionais desses cristais por espectroscopia Raman em

função da temperatura proporcionará a observação das propriedades estruturais, e

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principalmente da interação dos tetraedros MoO4 e WO4 sobre suas respectivas moléculas,

fornecendo elementos para compreender a estabilização das novas fases e os mecanismos

das eventuais transições de fase desses cristais.

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CAPÍTULO 2

2.0 – Procedimentos experimentais.

Apresentamos a seguir a forma como foram adquiridos os dois materiais

cristalinos, molibidato de magnésio e o tungstato de potássio, com intuito de se realizar os

estudos, bem como as descrições dos equipamentos utilizados nas diversas técnicas

empregadas neste trabalho.

2.1 Molibidato de magnésio e tungstato de potássio.

As amostras MgMoO4 e K2WO4 utilizadas neste trabalho foram adquiridas da

fabricante Sigma-Aldrich (99% de pureza) na fase anidra. Uma observação que deve ser

antecipada é que ambos materiais absorvem água do ambiente por isso foram colocados 20

mg dos referentes materiais macerados em um forno e aquecido até 413 K para a obtenção

da fase anidra, em seguida foram resfriados até a temperatura ambiente para iniciar a

caracterização por difração de raios-X (DRX). As análises de calorimetria por DSC e

espectroscopia Raman foram feitas sem realizar o procedimento de desidratação.

2.2 Espectroscopia Raman.

A instrumentação para a espectroscopia Raman consiste basicamente de três

componentes: uma fonte laser, um sistema ótico (microscópio) para iluminação e coleta de

luz espalhada pela amostra e um espectrômetro [13]. Foi utilizado nesse trabalho um

espectrômetro triplamente monocromado (sistema micro-Raman) modelo T64000 da Jobin

Yvon (Figura 2.1) pertencente ao laboratório de espectroscopia Raman do departamento de

Fisica da UFC. Esse espectrômetro opera uma configuração de tripla subtração e geometria

de retroespalhamento e está equipado com um detetor CCD (Coupled Charge Device)

resfriado à nitrogênio líquido. A fonte de radiação empregada para excitar o MgMO4 foi a

linha de laser de 532 nm de comprimento de onda e para excitar o K2WO4 foi utilizada

linha de laser de 514 nm ambos provenientes de um laser Verdi-V5 e um laser de argônio

(Ar), modelo Innova 70 da Coherent Inc., respectivamente. Os feixes dos lasers foram

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8

focalizados utilizando-se em ambos experimentos, um microscópio OLYMPUS BH2

equipado com uma lente de distância focal f = 20 mm. A potência de saída do laser

100mW e a potência de incidência foi de aproximadamente 7,07mW sobre o MgMoO4. A

potência de saída do laser foi de 200mW e a incidente no K2WO4 foi de aproximadamente

de 3 mW. As fendas do espectrômetro foram ajustadas de modo a fornecer uma resolução

espectral da ordem de 2 cm -1

. O sistema foi calibrado utilizando uma amostra padrão de

silício usando a sua banda Raman posicionada em 521 cm-1

. Detalhes da teoria da

espectroscopia Raman estão descritos no anexo 6.1.

Os dados coletados foram analisados com a ajuda dos softwares Origin da

OriginLab Corporation e PeakFit da SPSS Inc. Os espectros foram ajustados por somas de

picos, cada um descrito por uma função Gaussiana + Lorentziana, de onde foram extraídos

dados como posição, intensidade e largura de linha das bandas Raman observadas. Em

seguida a este processo fizemos a interpretação dos dados.

Figura 2.1. Imagem do Espectrômetro modelo T64000 da Jobin Yvon, usado para

aquisição dos espectros Raman.

2.2.1 Sistema de medida em altas temperaturas.

Um forno resistivo (Figura 2.2) foi empregado para fazermos medidas em alta

temperatura. Para controlar a temperatura e evitar aquecimento de sua parte exterior este

aparelho é equipado com sistema de refrigeração com água. O sistema de temperatura é

obtido com o uso de um termopar tipo S (Platina/Ródio-Platina) e um controlador modelo

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9

HW4200 da Coel Controles Elétricos LTDA. O intervalo de operação deste sistema está

entre 295 – 950 K.

Figura 2. 2. Imagem do forno empregado nas medidas de espectroscopia Raman em altas

temperaturas.

2.3 - Medidas de calorimetria diferencial por varredura (DSC).

As análise de DSC foram realizadas utilizando um equipamento DSC 200F3

(Figura 2.3) para o MgMoO4 e um outro equipamento DSC 204F1 para o K2WO4, ambos

da Netzsch, em atmosfera de nitrogênio (N2) com cadinhos de alumínio (Al). A amostra

com massa de 4,270 mg do MgMoO4 e a amostra com massa de 5,500 mg do K2WO4,

foram analisadas utilizando o intervalo de aquecimento: de 300 K a 830 K a uma taxa de

aquecimento de 5 K/min.

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10

Figura 2. 3. Imagem do equipamento utilizado nos experimentos de DSC.

2.4- Difração de Raios-X.

As medidas de difração de raios-X do pó (XRD) foram realizadas utilizando um

difratômetro de raios-X modelo XRD-6000 da marca SHIMADZU (Figura 2.4), usando

radiação monocromática do alvo CuKα de comprimento de onda 1,5418 Å. Os

experimentos foram realizados a uma configuração θ-2θ, com 2θ variando no intervalo de

10-60o , a uma taxa de varredura de 1

o /min com 40 KV de tensão e 30 mA de corrente no

Laboratório Interdisciplinar de Materiais Avançados (LIMAV) do Programa de Pós-

Graduação em Ciências dos Materiais da UFPI.

Figura 2. 4. Imagem do difratômetro modelo XRD-6000 utilizado para medidas de difração

de raios-X nas amostras.

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11

CAPÍTULO 3

3.0 Resultados e discussões.

Neste capítulo, discutiremos os resultados obtidos pela técnica de difração de

raios-X, DSC e de espectroscopia Raman em função da temperatura para cada uma das

amostras, MgMoO4 e K2WO4.

3.1 Difração de Raios - X (DRX).

Os difratogramas feitos por DRX à temperatura ambiente são mostrados nas

Figuras 3.1 e 3.2 para o MgMoO4 e o K2WO4, respectivamente. Observamos que o padrão

de difração das amostras em pó estão de acordo com as estruturas apresentadas pelas fichas

cristalográficas ICSD – 20418 para MgMoO4 [11] e ICSD – 26181 para o K2WO4 [12].

Essas fichas foram obtidas no banco de dados da CAPES. As amostras MgMoO4 e K2WO4

foram identificadas como estando ambas na fase cristalina monoclínica e no grupo pontual

C2/m.

20 40 60

Inte

nsi

dad

e (u

n.a

rb.)

2 (graus)

MgMoO4

Figura 3. 1. Difratograma em pó do MgMoO4 utilizado neste trabalho.

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12

20 40 60

Inte

nsid

ad

e (

un

.arb

.)

2 (graus)

K2WO

4

Figura 3. 2. Difratograma em pó do K2WO4 utilizado neste trabalho.

3.2 Calorimetria diferencial por varredura (DSC).

As Figuras 3.3 e 3.4 apresentam os termogramas de DSC para o MgMoO4 e para

o K2WO4, respectivamente, no intervalo entre 300 - 800 K indicando os possíveis eventos

térmicos. Em torno das temperaturas 400, 565, 680 e 770 K para o molibidato de

magnésio, e em torno de 400, 645 e 735 K para o tungstato de potássio observamos

eventos de modificação da estrutura dos compostos. As análises dos termogramas mostram

que o MgMoO4 e o K2WO4 sofrem transições estruturais que ocorrem nas temperaturas de

680 e 770 K para o MgMoO4, e de 645 e 735 K para o K2WO4. Os eventos que ocorrem

por volta de 400 K, para o MgMoO4, e para o K2WO4, são relacionados a perda de água

existente nos materiais. Comparamos o DSC com as medidas de espectroscopia Raman em

função da temperatura com o objetivo de correlacionar as direções das mudanças

estruturais ocorridas nesses materiais.

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13

300 400 500 600 700 8000,0

-0,5

-1,0

-1,5

-2,0

-2,5

500 600 700

-0,6

-0,9

-1,2

680

565

770

MgMoO4

680 En

do

term

ico

Flu

xo

de

Cal

or

(mW

)

Temperatura (K)

565

770

Figura 3. 3. Termograma de DSC do MgMoO4.

300 400 500 600 700 800

0,0

-0,5

-1,0

-1,5

-2,0

-2,5

-3,0

-3,5

En

do

term

ico735

Flu

xo

de

calo

r (m

W)

Temperatura (K)

K2WO

4

645

Figura 3. 4. Termograma de DSC do K2WO4.

3.3 Espectroscopia Raman do MgMoO4 a temperatura ambiente.

Na Figura 3.5 apresentamos os espectros Raman do MgMoO4 em pó a

temperatura e pressão ambiente, onde podemos observar alguns picos que indicam modos

vibracionais no intervalo espectral entre 40 cm-1

e 1100 cm-1

. Nesta região foram

observados 34 modos para fase monoclínica que estão listados e identificados na Tabela 3.

A tentativa de classificação dos modos encontrados foram procedidas por comparação com

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14

modos já classificados em outros cristais inorgânicos similares, dando-se ênfase a cristais

de molibidatos do tipo AMO4, onde A = (Na, K,...) e M = (Mo e W).

100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100

22 23 24

1

2

34

56

7

8

9

1011

1213

Inte

nsi

dad

e R

aman

(u

n.

arb

.)

Numero de onda (cm-1)

MgMoO4 (298 K)

14

15

16

17

18

19

20

21

25

26

27

2831

30

29

32

33

34

Figura 3. 5. Espectro Raman à temperatura ambiente para o MgMoO4 em pó

Tabela 3. Classificação por comparação dos modos Raman do MgMoO4 à temperatura

ambiente.

Espectros Raman encontrados para o MgMoO4

modos Número de

onda (cm-1

)

Classificação no

presente trabalho

Ref.[14]

Ref.[15] Ref.[16] Ref.[17]

1 42 rede - - - -

2 48 rede - - - -

3 57 rede - - - -

4 72 rede - - - -

5 90 rede - - - -

6 107 rede - - - -

7 122 rede - - - -

8 143 rede - - - -

9 155 rede - - - -

10 179 rede - - - -

11 190 rede - - - -

12 204 rede - - - -

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15

13 232 rede - - - -

14 277 δS - 277( δ) 281 (δS) -

15 325 δS 318(δS) - 320(δS) 325(δS)

16 335 δS 334(δS) 335( δ) - -

17 350 δAS - 349( δ) 345(δAS) 355(δAS)

18 371 δS - 371( δ) 376(δS) -

19 384 δAS - 385( δ) - 391(δAS)

20 400 δ - - - -

21 424 δ - 424( δ) - -

22 700 νAS - - 704(νAS) -

23 772 νAS - - - 776(νAS)

24 792 νAS - - - 793(νAS)

25 820 νAS 818(νAS) - 815(νAS) 818(νAS)

26 840 νAS 840(νAS) - - 843(νAS)

27 854 νAS - 855 863(νAS) -

28 875 νS - 874(νAS) - 875(νS)

29 905 νS - - 898(νS) -

30 910 νAS 909(νAS) 910(νAS) - -

31 934 νS - - 929(νS) -

32 957 νS - 958(νS) - -

33 968 νS - 970(νS) - -

34 993 νS 994(νS) - - -

vS Estiramento simétrico, νAS Estiramento assimétrico, δS Deformação simétrica, e δAS

Deformação assimétrica.

Os modos vibracionais da região espectral inferior a 250 cm-1

foram classificados

neste trabalho como modos externos de vibração, ou modos da rede. Na região acima de

250 cm-1

, observamos os modos internos. Os modos identificados pelos números entre 14 e

34 na Tabela 3 referem-se aos modos de vibração do íon (MoO4)-2

[14, 15, 16, 17],

enquanto os modos entre 14 e 19 foram identificados correspondendo a deformações dos

tetraedros, sendo que os modos 14, 15 e 16 são deformações simétricas e os modos 17, 18

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16

e 19 são deformações assimétricas. Os modos enumerados entre 22 e 28, e o modo 30

foram identificados como estiramentos assimétricos. Os modos 29, 31, 32, 33 e 34 foram

identificados como estiramentos simétricos.

Na análise de teoria de grupo para MgMoO4, descrita em maiores detalhes no

apêndice 6.2.1, observamos os 72 modos de vibração previstos para a célula unitária ficam

distribuídos entre as representações irredutíveis do grupo pontual C2/m como segue:

Γvib = 19Ag + 15Au + 17Bg +21Bu Representação (1)

Sendo que destes 72 modos de vibração, pela regra de seleção, são ativos no Raman: 19Ag

+ 17Bg. Os ativos no infravermelho são: 14Au + 19Bu. Retirando os 3 modos translacionais

da representação (1), teremos a representação irredutível dos modos ópticos: Γóticos = 19Ag

+ 14Au + 17Bg +19Bu.

Observamos que o número de modos apresentados no espectro Raman a

temperatura ambiente é inferior ao número de modos óticos ativos previstos pela teoria de

grupo (36 modos ativos no Raman, 19 Ag +17 Bg). Os possíveis motivos pelos quais isto

acontece, é o fato de termos degenerescências, bem como alguns modos de pequena

intensidade podem não aparecer no Raman do pó da amostra.

3.4 Espectroscopia Raman do MgMoO4 em altas temperaturas.

Com objetivo de auxiliar a discussão do espectro Raman em função da

temperatura para MgMoO4 subdividimos os espectros obtidos em três regiões que são

mostradas nas Figuras 3.6a (região 20 a 260 cm-1

), 3.7a (região 260 a 470 cm-1

) e 3.8a (

região 820 a 1050 cm-1

) onde apresentamos a evolução dos espectros Raman no intervalo

entre 300 - 843 K. Algumas mudanças nos modos vibracionais devem ocorrer nestas

regiões se alguma transição de fase acontecer no material conforme se pressupõe no

termograma de DSC da Figura 3.3.

A Figura 3.6 apresenta a evolução dos espectros Raman com o aumento da

temperatura na região do espectro compreendido entre 20 e 260 cm-1

para dez diferentes

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17

temperaturas. Na Figura 3.7 estão apresentados números de ondas de todos os modos

exibidos entre 20 e 260 cm-1

em função da temperatura onde as mudanças observadas são

relativamente fracas nesse intervalo, e somente são devidos aos efeitos anarmônicos

introduzidos pela temperatura. Se houver transições de fase na amostra, as mudanças

significativas observadas nos espectros são verificadas nessa região, pois ela está

relacionada intrinsecamente com a estabilidade estrutural do material, pois representa os

modos da rede. Ao aumentarmos a temperatura, notamos que os modos Raman nesta

região permanecem, em sua maioria, qualitativamente os mesmos no intervalo de

temperatura entre 300-470 K, com exceção os modos 1, 8 e 13, que desaparecem. A

modificação desses modos entre 300-470 K de temperatura indica que está ocorrendo um

pequeno rearranjo estrutural devido à perda de água adsorvida no material.

Observamos que em torno de 480 K ocorrem modificações nos modos 2, 3, 5, 7 e

12, deslocando-se os mesmos para menores números de onda. Estas modificações são

atribuídas, provavelmente, a perda de água estrutural e o rearranjo da rede. A eliminação

de água da estrutura acontece até aproximadamente 590 K, similar ao descrito no K2MoO4

[9].

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18

50 100 150 200 250

In

tens

idad

e R

aman

(un

. arb

.)

Numero de onda (cm-1)

300K

353

373

478

618

758

798

818

833

843

1

2

34

5

67

8

910

11

12

13

Figura 3. 6. Espectros Raman do

MgMoO4 para diversas temperaturas da

região entre 20 e 260 cm-1

.

300 400 500 600 700 80020

40

60

80

100

120

140

160

180

200

220

240

260

Num

ero

de o

nda

(cm

-1)

Temperatura (K)

12

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

Figura 3. 7. Gráfico do número de onda

vs. temperatura dos modos Raman do

MgMoO4 na região entre 20 e 260 cm-1

.

Os espectros apresentados nessa região espectral mostram que aproximadamente

à temperaturas em torno de 640-690 K, os modos 2 e 10 reduzem sua intensidade, os

modos 2, 5, 9, 12 e 13 são deslocados para números de onda mais baixos, os modos 4, 7, 9,

10 e 12 alargam-se, porém o modo 4 desloca-se para número de onda mais alto. A todas

essas alterações nos modos são indícios de que o MgMoO4 sofre transições de fase

estrutural de forma gradual. A causa dessas alterações pode ser atribuída aos movimentos

dos íons Mg na estrutura da rede e dos movimentos relativos dos tetraedros na célula

unitária ocupando posições que antes eram ocupadas por moléculas de água antes da

desidratação. Quando a temperatura atinge 770 K, os modos 3, 5, 9, 10 e 12 deslocam-se

levemente para números de onda menores, os modos 2, 11 e 13 desaparecem e o modo 4

diminuem a intensidade. Esses efeitos são atribuídos as variações das posições dos íons Mg

que se afastam dos tetraedros da estrutura do material devido o aquecimento da amostra,

causando uma segunda transição de fase.

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19

A Figura 3.8 apresenta a evolução dos espectros Raman do MgMoO4 no intervalo

espectral de 250 cm-1

a 470 cm-1

para as dez diferentes temperaturas. Essa região apresenta

modos vibracionais relacionados a deformações das unidades tetraédricas. A Figura 3.9

apresenta o gráfico de número de onda vs. temperatura neste intervalo espectral.

Igualmente ao que ocorre na região dos modos externos, a análise dos espectros da Figura

3.8 nos mostra mudanças significativas nessa região. Dentre as mudanças, podemos

observar deslocamentos para menores números de onda dos modos 15, 19, 20 e 21 em

torno de 373 K, atribuídos ao início da saída da água da estrutura. Por volta de 480 K

observamos mudanças significativas no modo 20 (descontinuidade) e mudanças no número

de onda para os modos 14, 15, 16, 17, 19e 21. Além disso, observamos o aparecimento de

um modo por volta de 364 cm-1

. Entre 480 e 590 K as mudanças acontecem de forma

gradual em quase todos os modos, com exceção do 18 e 19. Essas mudanças novamente

podem ser atribuídas aos rearranjos dos tetraedros MoO4 ocupando posições antes

ocupadas por água estrutural.

Por volta de 640-690 K, observamos mudanças significativas, como alargamento

dos modos 14, 16 e 18, sendo que o modo 14 se desloca para maior número de onda e o

modo 15 para menor número de onda, e o desaparecimento do modo 19. Evidenciando

uma transição de fase após a saída total da água estrutural.

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20

250 300 350 400 450

In

tens

idad

e R

aman

(un

.arb

.)

Numero de onda ( cm-1)

300K

353

373

478

618

758

798

818

833

843

14 15

16

17

18

19

20 21

Figura 3. 8. Espectros Raman do

MgMoO4 para diversas temperaturas no

intervalo entre 250 cm-1

e 470 cm-1

.

300 400 500 600 700 800

280

300

320

340

360

380

400

420

440

Num

ero

de o

nda

(cm

-1)

Temperatura (K)

14

15

16

17

18

19

20

21

Figura 3. 9. Gráfico do número de onda

vs. Temperatura dos modos Raman do

MgMoO4 no intervalo de temperatura

entre 250 e 470 cm-1

.

A análise dos espectros da Figura 3.8 revela ainda que a temperatura de 770 K os

modos 15, 18 e 21 se deslocam para número de onda menor, enquanto os modos 14 e 17

deslocam-se para número de onda maior. Essas alterações nos modos dessa região se deve

a reordenação das estruturas dos tetraedros que tem suas posições modificadas, provocando

deformações nos tetraedros causando afastamento ou aproximação dos átomos de oxigênio

com os átomos de molibdênios implicando na formação de ligações de átomos dos

oxigênios individuais de um determinado tetraedro com outros átomos de tetraedros

vizinhos ou mesmo com íons Mg em virtude do aquecimento, o que provoca diminuição

dos números de onda desses modos.

A Figura 3.10 apresenta a evolução dos espectros Raman do MgMoO4 com a

temperatura no intervalo espectral entre 820 cm-1

e 1050 cm-1

. A Figura 3.11 apresenta o

gráfico de número de onda vs. temperatura nesta região para os modos ativos no Raman.,

Os tetraedros MoO4 desta região encontram-se parcialmente livres e se observa claramente,

a existência de 8 modos a 300 K. Os espectros Raman mostram que os estiramentos dos

tetraedros são afetados pelo início da saída de água estrutural, em torno de 480 K, nos

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21

mostrando deslocamentos para menor número de onda em todos os modos. Em torno de

640-690 K, os modos 27, 28, 32, 33 e 34 diminuem de intensidade e os modos 27, 29, 30,

32, 33 e 34 são deslocados para menores números de onda e o modo 32 sofre alargamento.

O deslocamento para menores números de onda pode estar associado a formação de

ligações de alguns átomos de oxigênio a mais de um átomo de molibdênio diminuindo o

volume da célula unitária ou a diminuição do volume do tetraedro MoO4 [8]. O modo 31

desaparece, por causa do efeito da temperatura que provoca o alargamento das bandas.

Essas alterações nos modos evidenciam uma transição de fase estrutural. Próximo a

temperatura de 770 K os modos 28 e 34 desaparecem evidenciando a segunda transição de

fase que modifica os estiramentos do tetraedro MoO4 de forma significativa. As mudanças

nos modos internos demonstram claramente uma dilatação dos tetraedros, com uma

possível formação de novas ligações entre tetraedros ou entre tetraedros e molibdênios,

corroborando para a formação de novas fases com o aumento da temperatura.

850 900 950 1000 1050

Inte

nsid

ade

Ram

an (

un. a

rb.)

Numero de onda ( cm-1)

300K

353

373

478

618

758

798

818

833

843

34

3332

31

30

29

2827

Figura 3. 10. Espectros Raman do

MgMoO4 para diversas temperaturas no

intervalo entre 820 e 1050 cm-1

.

300 400 500 600 700 800 900

840

880

920

960

1000

Num

ero

de o

nda

(cm

-1)

Temperatura (K)

27

28

29

30

31

32

33

34

Figura 3. 11. Gráfico do número de onda

vs. temperatura dos modos Raman do

MgMoO4 no intervalo entre 820 e 1050

cm-1

.

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22

3.5 Espectroscopia Raman do K2WO4 a temperatura ambiente.

Apresentamos na figura 3.12, o espectro Raman do K2WO4 em pó a temperatura e

pressão ambiente, onde foram enumerados 14 picos que indicam os modos de vibrações no

intervalo espectral entre 48 e 924 cm-1

. Esses modos estão listados e identificados na tabela

4. A classificação dos modos encontrados foi realizada comparando-se com modos já

classificados em outros cristais inorgânicos, com ênfase a cristais de tungstatos.

200 400 600 800 1000

90 180 270

8470

8540

8610

90 180 270

8470

8540

8610

90 180 270

8470

8540

8610

90 180 270

8470

8540

8610

90 180 270

8470

8540

8610

90 180 270

8470

8540

8610

90 180 270

8470

8540

8610

90 180 270

8470

8540

8610

90 180 270

8470

8540

8610

90 180 270

8470

8540

8610

8

9

10

1150 100 150 200 250

12345

67

Inte

nsi

dad

e R

aman

(u

n.a

rb.)

Numero de onda (cm-1)

K2WO

4 (293 K)

12

9

8 10

13

14

11

Figura 3. 12. Espectro Raman para K2WO4 a temperatura ambiente.

Tabela 4. Classificação por tentativa dos modos Raman do K2WO4 à temperatura

ambiente.

Espectros vibracionais encontrados do K2WO4

Modos Número

de onda

(cm-1

)

Classificação

no presente

Trabalho

Ref. 8 Ref. 18 Ref. 19

1 48 rede - - -

2 61 rede - - -

3 75 rede - - -

4 85 rede - - -

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23

5 100 rede - - -

6 132 rede - - -

7 145 rede - - -

8 318 δS 320 (δS)

9 324 δS 325(δS) - 325(δ)

10 331 δ - - -

11 356 δAS 356(δAS) - -

12 823 νAS 823(νAS) 825(νAS) 822(νAS)

13 848 νAS 849(νAS) 854(νAS) 848

14 924 νS 925(νS) 923(νS) 924(νS)

Neste trabalho, os modos vibracionais (enumerados de 1 a 7 na figura 3.12 e

tabela 4) de baixo número de onda foram classificados como modos externos, enquanto

que os modos de 8 a 14 na tabela 4 [8, 18, 19], referem-se aos modos internos de vibração

do tetraedro (WO4)-2

.

Na análise de teoria de grupo para K2WO4, descrita em maiores detalhes no

apêndice 6.2.2, os 42 modos de vibração previstos para a célula unitária do tungstato

K2WO4 à temperatura e pressão ambiente ficam distribuídos entre as representações

irredutíveis do grupo pontual C2/m como segue:

Γvib = 13Ag + 8Au + 8Bg +13Bu Representação (2)

Sendo que destes 42 modos de vibração, pela regra de seleção, os modos ativos no Raman

são: 13Ag + 8Bg. E os modos ativos no infravermelho são: 8Au +13Bu. Retirando ainda os

3 modos translacionais da representação (2) teremos a representação irredutível dos modos

ópticos: Γóticos = 13Ag + 7Au + 8Bg +11Bu.

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24

3.6 Espectroscopia Raman do K2WO4 em altas temperaturas.

Para discutir os espectros Raman em função da temperatura obtidos para K2WO4

subdividimos os espectros em três regiões que são mostradas nas figuras 3.13 (região de 30

a 250 cm-1

), 3.15 (região de 280 a 880 cm-1

) e 3.16 (região 900 a 960 cm-1

).

A figura 3.13 apresenta a evolução dos espectros Raman no intervalo espectral de

30 a 250 cm-1

, para onze diferentes temperaturas que variam de 295 a 893 K. A figura 3.14

apresenta o gráfico de número de onda vs. temperatura com os modos ativos no Raman

nesta região.

30 60 90 120 150 180 210 240

893

813

738

723

708

663

633

618

483

Inte

nsi

dad

e R

aman

(u

n. a

rb.)

Numero de Onda (cm-1)

295 K

373

1 2 34 5 6 7

Figura 3. 13. Espectros Raman do

K2WO4 para diversas temperaturas no

intervalo entre 30 cm-1

e 250 cm-1

.

300 400 500 600 700 800 90040

50

60

70

80

90

100

130

140

150

Num

ero

de O

nda

(cm

-1)

Temperatura (K)

1

2

3

4

5

6

7

Figura 3. 14. Gráfico do número de onda

vs. temperatura dos modos Raman

K2WO4 no intervalo entre 30 e 250 cm-1

.

Uma análise dos modos que representam vibrações externas da estrutura do

K2WO4 indica que a estrutura desse material começa a ser alterada no início do

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25

aquecimento o que provoca a saída de água. Observamos, similarmente ao MgMoO4, que a

saída de água da estrutura provocada pelo aumento da temperatura causa modificações que

acontecem de forma gradual e contínua. Essas modificações são evidenciadas desde a

temperatura ambiente até por volta de 633 K, onde observamos diminuição de intensidade

do modo 3, deslocamento para menor número de onda dos modos 6 e 7, bem como,

algumas oscilações nas posições dos modos de 4 a 7 em torno de 475 K e 600 K. Por volta

de 660 K, após a total saída de água da estrutura, podemos observar uma estabilização dos

modos que permanecem até abaixo da temperatura de 738 K. Uma vez que o material sofre

total desidratação, os íons de potássio aumentam sua mobilidade ocupando novas posições

na estrutura da molécula diminuindo a intensidade da força de ligação desses íons na

estrutura do tungstato o que causa adicionalmente um rearranjo dos tetraedros no material.

Em torno de 738 K, surge um novo modo vibracional que está centrado em torno

de 101 cm-1

, enquanto os demais modos apresentados nessa região desaparecem. Atribui-se

a origem desse novo modo como resultado das interações dos tetraedros que se deslocam

provocando uma reordenação dos mesmos entre si e os íons de potássio.

A evolução dos espectros Raman do K2WO4 para as diferentes temperaturas

experimentadas no intervalo espectral de 280 a 960 cm-1

, está apresentada nas figuras 3.15

(-região 280 - 880 cm

-1) e 3.16 (região 900 e 960 cm

-1).

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26

280 320 360 400 760 800 840 880

Inte

nsid

ade

Ram

an (

un.a

rb.)

Numero de Onda (cm-1)

893

813

738

723

708

663

633

618

483

295 K

373

8

910

11

1213

Figura 3. 15. Espectros Raman do

K2WO4 para diversas temperaturas no

intervalo entre 270 e 880 cm-1

.

900 920 940 960

Inte

nsid

ade

Ram

an (

un.a

rb.)

Numero de Onda (cm-1)

893813738

723

708

663

633

618

483

295 K

373

14

Figura 3. 16. Espectros Raman do

K2WO4 para diversas temperaturas no

intervalo entre 880 e 960 cm-1

.

A figura 3.17 apresenta o gráfico de número de onda vs. temperatura para os

modos ativos no Raman para as duas regiões acima. Essas regiões compreendem os modos

internos de vibrações dos tetraedros do material. A aproximadamente 660 K, verifica-se na

figura 3.15, que o modo 8 desloca-se para número de onda mais alto, o modo 10

desaparece e os modos 11, 12 e 13 deslocam-se para números de onda mais baixo. O modo

14, na figura 3.16, desloca-se também para números de onda mais baixos, sendo que este

modo sofre um significativo alargamento. As alterações sofridas pelos modos nessas duas

regiões são atribuídas a desidratação do material, o que causa uma reordenação das

estruturas dos tetraedros provocando deformações e estiramentos na sua geometria

aumentando a interação dos átomos de oxigênio com os átomos tungstênio.

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27

300 400 500 600 700 800 900

320

330

340

350

360810

840

870

900

930

Num

ero

de O

nda

(cm

-1)

Temperatura (K)

89

10

11

12

13

14

Figura 3. 17. Gráfico do número de onda vs. temperatura dos modos Raman do K2WO4 no

intervalo entre 280 e 960 cm-1

.

A aproximadamente 738 K notamos que os modos 8 e 11 desaparecem. Enquanto

os modos 9, 12 e 13 diminuem de intensidade drasticamente, o modo 12 desloca-se para

número de onda mais baixo. Observa-se na figura 3.16, que o modo 14 diminui de

intensidade deslocando-se para número de onda mais alto. Verifica-se ainda nessa

temperatura uma descontinuidade do modo vibracional 13. Atribui-se as modificações

nesses modos, aos movimentos relativos dos tetraedros, causando modificações entre

ligações de átomos de oxigênios com os átomos de tungstênio. A diminuição no número de

modos vibracionais internos pode ser uma conseqüência da ligação ou compartilhamento

de oxigênios dos tetraedros. Concordando com as transições de fase já observados para o

K2WO4 [9] levando a uma estrutura final hexagonal.

Uma análise dos eventos endotérmicos mostrados nas figura 3.3 e 3.4, em torno

da temperatura 400 K e 565 para o MgMoO4, e 400 K para o K2WO4, comparados com

espectro Raman, podem ser atribuídos a adsorção de água encontrada nas amostras.

Enquanto que para os eventos endotérmicos observados em torno das temperaturas de 680

e 770 K para MgMoO4, e de 645 e 735 K para o K2WO4 podem supostamente atribuir a

transições de fase de primeira ordem, uma vez que nessas temperaturas as amostras devem

estar anidras.

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28

CAPÍTULO 4

4.0 Conclusão

As propriedades vibracionais e estruturais do MgMoO4 e K2WO4 foram

investigadas por espectroscopia Raman em função da temperatura. Isto nos permitiu

analisar as transições de fase ocorridas nos materiais e fazer o detalhamento das mudanças

estruturais envolvidas nestas transições. O comportamento das estruturas do MgMoO4 e do

K2WO4, com o aquecimento é semelhante e as transições de fase ocorridas têm

características comuns entre os dois materiais.

Das análises realizadas, podemos observar as seguintes modificações estruturais

para o MgMoO4: a partir de 373 K a água contida na estrutura começa a ser liberada e

causa modificações graduais nos modos vibracionais, o aumento da temperatura provoca

também, efeitos anarmônicos na maioria dos modos vibracionais. Por volta de 590 K a

água estrutural é totalmente liberada e as posições dos tetraedros (MO4)- começam a ser

rearranjadas; próximo a 640-690 K, com toda a água da estrutura liberada, o MgMoO4

sofre uma primeira transição para uma fase modulada incomensurável e permanece na

mesma até por volta de 770 K, onde notamos a presença de uma segunda transição que

leva o MgMoO4 para uma fase hexagonal (P63/mmc), por comparação com o K2MoO4 [5].

Já para o K2WO4, as modificações estruturais são similares ao MgMoO4, com diferenças

nas temperaturas das transições, e são descritas a seguir: modificações na estrutura (modos

vibracionais) devido a saída de água a partir de 370 K até por volta de 630 K, onde após a

saída total da água da estrutura ocorre um rearranjo dos tetraedros (WO4)-2

permanecendo

em uma fase modulada até aproximadamente 740 K, onde ocorre uma segunda transição

para a fase hexagonal (P63/mmc) [5]. Observa-se que os modos relacionados com

deformações nos tetraedros são aqueles que sofrem deslocamentos para números de ondas

mais baixos. Isso acontece, provavelmente, devido à aproximação dos átomos de oxigênio

com os átomos de molibidênio e/ou tungstênio como efeito da temperatura causando a

ETN dos tetraedros.

Assim, as análises dos espectros Raman em função da temperatura concordam

com os termogramas de DSC dos materiais estudados (MgMoO4 e K2WO4), pois as

temperaturas das mudanças estruturais devido a perda de água (acontecem continuamente)

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29

e as transições de fase estão coerentes com as mudanças nos modos vibracionais

observados na espectroscopia Raman. Fazendo com que possamos elucidar com maior

clareza como se dão e quais são as modificações na estrutura dos MgMoO4 e K2WO4 com

a evolução da temperatura.

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30

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31

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33

6 Anexos.

6.1 - Espectroscopia Raman.

A espectroscopia Raman é uma técnica de alta resolução que proporciona de

forma rápida e não invasiva a obtenção de informações sobre a estrutura molecular e

cristalina de quaisquer materiais orgânicos ou inorgânicos [13]. Pode-se definir a

espectroscopia Raman como sendo uma técnica de análise onde se faz estudos das

correlações entre as propriedades de um feixe de luz monocromático que incide sobre uma

dada amostra com a porção de luz que sofre espalhamento inelástico após sua incidência

[20, 21]. Geralmente, os parâmetros utilizados para caracterizar o feixe incidente e o

espalhado na espectroscopia Raman são quatro: freqüências, vetores de onda, polarizações

e intensidades de luz [20]. Sendo que a interpretação de um experimento do efeito Raman

consiste em analisar a relação desses parâmetros com as propriedades intrínsecas do

material examinado. Assim as freqüências dos modos vibracionais da estrutura do material

são determinadas através da diferença entre as freqüências das radiações incidente e

espalhada.

Experimentalmente, quando a luz interage com um determinado meio material ela

é momentaneamente absorvida de maneira que podem ocorrer três fenômenos de

espalhamento: um em que a radiação espalhada tem a mesma freqüência da radiação

incidente chamado de espalhamento elástico ou espalhamento Rayleigh, e dois

espalhamentos chamados de espalhamentos inelásticos ou espalhamento Raman, em que

dependendo da interação com o material, a luz espalhada pode ter freqüência superior

(espalhamento anti-Stokes) ou inferior (espalhamento Stokes) a incidente [13, 20, 22].

Nessa última forma de espalhamento, um fóton é espalhado inelasticamente por um cristal,

com a criação ou aniquilação de um fônon. No espectro Raman, os espalhamentos Stokes

e anti-Stokes aparecem simetricamente espaçados em relação à linha Rayleigh (cm-1

) em

termos das suas bandas de altas e baixas freqüências [22,20]. Para uma melhor

compreensão do fenômeno de espalhamento a figura 4 esquematiza os três processos

citados.

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34

Figura 4. 1. Ilustrações dos diagramas de níveis de energia para o espalhamento elástico

Rayleigh, e espalhamentos inelásticos Raman em que as linhas horizontais representam

distintos estados vibracionais.

A diferença fenomenológica entre os dois tipos de espalhamentos, elásticos e

inelásticos, está estruturada no comportamento das freqüências dos fótons durante e depois

da incidência da radiação sobre o material. De maneira que no espalhamento elástico, a

interação do fóton da radiação incidente de energia hωo com a estrutura molecular do

material se faz sem perda ou ganho de energia por parte deste fóton que quando espalhado

possui a mesma freqüência que incidira sobre a amostra. Por outro lado, no espalhamento

inelástico, o fóton espalhado terá uma frequência alterada para um valor superior ou

inferior àquela que havia incidido sobre a amostra, uma vez que a energia do fóton

espalhado terá o valor dado por hωo ± hω. Onde hω é a energia quantizada entre os níveis

vibracionais da estrutura do material antes da incidência da radiação.

Observe que no caso (a) a molécula vibra em um determinado nível; absorve o

fóton incidente; vai para o estado intermediário (virtual) momentaneamente e não retorna

para o nível em que se encontrava anteriormente, ficando então em um nível superior ao

inicial. Este processo é chamado de efeito Raman Stokes. No caso (b) que a energia de

vibração da molécula está em um determinado nível e ao absorver a radiação incidente a

molécula passa para um estado intermediário voltando ao estado inicial do nível da

vibração. Esse espalhamento é denominado espalhamento Rayleigh. Já no caso (c) a

molécula já estava em um estado excitado e ao ser incidida pelo fóton a molécula alcança

um estado intermediário aonde perde toda a energia e decai para o estado fundamental.

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35

Este último modo de espalhamento recebe o nome de efeito Raman anti-Stokes. No caso

(b), a radiação espalhada tem a mesma freqüência que incidira e nos outros dois casos,

pode-se perceber que a freqüência da radiação espalhada foi alterada.

Apresentar-se-á a seguir apenas uma abordagem simplificada dos princípios

fundamentais que regem o processo de espalhamento Raman de maneira que se torna

possível a compreensão dos objetivos direcionados deste trabalho. Então, como se sabe, o

espectro Raman tem sua origem no espalhamento inelástico de uma radiação de natureza

monocromática seja ela ultravioleta; visível ou infravermelho próximo [23], incidente

sobre uma molécula ou cristal quando uma mudança em sua polarizabilidade que passa de

um estado vibracional definido para outro [21]. Buscando uma metodologia prática e

eficiente da compreensão do processo de espalhamento, vejamos primeiramente o caso de

uma molécula diatômica livre (figura 4. 2) com momento de dipolo característico dado por

M = qr, sob a ação de um campo elétrico oscilante E dado por Eocosωot, sendo ωo a

frequência da radiação incidente.

Figura 4. 2. Espalhamento de luz por um dipolo oscilante.

O campo elétrico da radiação incidente induzirá um momento de dipolo sobre

essa molécula fazendo-a vibrar com sua mesma frequência de oscilação e polarizando-a na

direção de sua polarização. Podemos representar matematicamente esse momento dipolar

induzido da molécula por conta do campo elétrico pela equação:

M = αE Equação (1)

em que M é o momento de dipolo induzido na molécula livre e α é a polarizabilidade que

caracteriza a resposta do material ao campo incidente. Neste caso em que a molécula está

livre, α tem a natureza de uma constante, pois M e E têm a mesma direção.

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Por seguinte, analisemos o caso de uma molécula em uma estrutura cristalina.

Neste caso, diferentemente da situação em que a molécula está livre, inicialmente, já há

influências das forças intermoleculares que comprometem os modos vibracionais e o

momento de dipolo da molécula tratada aqui, quando esta está sob influência de um campo

elétrico externo oscilante dado por Eke-iωt

, de maneira que este campo e o momento de

dipolo induzido M já não ficarão mais alinhados como o caso da molécula livre. Do

mesmo modo a polarização da radiação espalhada dependerá da simetria a que o dipolo da

molécula está submetido [24]. Como se pode perceber, a resposta da molécula a este

campo, isto é, sua polarizabilidade α, agora tem natureza tensorial.

Pelo o fato de que, agora, a polarizabilidade α da molécula sofre variações com as

vibrações do sistema, digamos, os átomos estão em constante agitação térmica, as suas

componentes αij passam a ser uma função de ω´ (frequência de vibrações dos átomos) e das

coordenadas normais Xlm(t), para m coordenadas normais localizando o átomo l no instante

t, do sistema. Entretanto, para temperaturas próximas ou mesmo inferior à temperatura

ambiente, os átomos dos sistemas não se afastam significantemente das posições de

equilíbrio, pode-se expressar então, cada componente αij em série de Taylor em relação às

coordenadas normais de vibrações da seguinte forma:

α ij = (αij)o + ∑k(∂αij/∂Xlm)oXlm(t) +... Eq. (2)

onde j e k assumem os valores 1, 2 e 3 e os termos de ordem mais elevadas das derivadas

são desprezíveis devido à pequena variação da coordenada Xlm(t) [21, 24].

Assim, considerando um único modo excitado (espalhamento de primeira ordem)

obtém-se para a coordenada Xlm(t):

Xlm(t) = Almcosω’t = (1/2)Alm{e

iω’t + e

-iω’t} Eq. (3)

Em que Alm trata-se da amplitude de oscilação do modo.

Se substituirmos a equação (3) em (2) obtém-se:

αij = (αij)o + (½)(∂αij/∂Xlm)o Alm{ eiω’t

+ e-iω’t

} +... Eq. (4)

Substituindo esta última na expressão abaixo

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Mj(t) = αjkEke-iωt

Eq. (5)

Obtemos:

Mj(t) = (αjk)oEike-iωt

+ (∂αjk/∂Xlm)oAlm{ eiω’t

+e-iω’t

}Eike-iωt

+... Eq. (6)

Subtendendo-se que ½ está dentro de Eik.

Reorganizando temos:

Mj(t) = (αjk)oEike-iωt

+ (∂αjk/∂Xlm)oAlmEik {e-i(ω – ω’)t

+ e-i(ω + ω’)t

} Eq. (7)

Onde Mj(t) é a resposta da componente j do momento de dipolo à componente k do campo.

Pode se interpretar aqui, que para haver observação de vibração molecular no espectro

Raman é imprescindível uma modulação da polarizabilidade molecular pela vibração, ou

seja:

(∂αjk/∂Xlm) ≠ 0. Essa quantidade é chamada de tensor Raman cuja intensidade depende

da simetria do sistema [23].

O primeiro termo do segundo membro da equação (7) trata-se de um dipolo

oscilante com freqüência ω. Esse dipolo elétrico oscila emitindo radiação com freqüência

própria de modo que este termo é responsável pelo espalhamento Rayleigh. No segundo

termo do segundo membro da equação (7) temos a origem de dois tipos de radiações (ω ±

ω’). Como se pode perceber, este termo é proporcional à derivada da polarizabilidade

(tensor Raman) e é responsável pelo espalhamento Raman de primeira ordem, onde a

freqüência da radiação espalhada é a soma ou a diferença da freqüência da luz incidente e

da freqüência do fônon (ou modo normal de vibração da rede molecular ou cristalina).

Os fônons são modos normais de vibração em que ao se propagarem carregam as

propriedades de polarização para todo o material.

No espalhamento Raman de primeira ordem, há criação ou aniquilação de um

fônon da rede. Para ωs = ω+ω0, o fóton espalhado absorve energia de um fônon da rede e

este é o processo denominado de anti-Stokes. No processo Stokes, porém, a luz incidente

excita um fônon da rede, e a freqüência espalhada é ωs = ω - ω0. As leis de conservações de

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energia e de momento são também válidas nos processos de espalhamento Raman de

primeira ordem. O que se observa para uma radiação incidente de momento ħki e energia

Ei após interagir com a amostra é que a radiação espalhada possui momento ħke e energia

Ee. Matematicamente vamos ter para esses dois princípios de conservação as expressões:

ħki = ħke ± ħq Eq. (8)

em que ki e ke são os vetores de onda das radiações incidente e espalhada respectivamente

e q é o vetor de onda do fônon. Os sinais ± aparecem na lei de conservação do momento

por conta de que no processo de espalhamento Raman há a criação (Raman Stokes) ou

aniquilação de fônons (Raman anti-Stokes).

Ei = Ee ± Ef Eq. (9)

Onde Ei e Ee são as energias das radiações incidentes e espalhadas respectivamente, e Ef é

a energia do fônon [23].

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6.2 Teoria de Grupo dos Materiais.

6.2.1 MgMoO4

Conforme já foi antecipado, o grupo espacial do MgMoO4 é C (2/m) que pode ser

identificado por de difração de raios-x. E é exatamente dessa análise que a estrutura

cristalográfica e o número de moléculas por célula unitária à temperatura ambiente foram

obtidos. Como o MgMoO4 tem uma estrutura cristalina, a disposição dos átomos ocupam

posições específicas definindo então seus sítios de simetria. Assim a análise de difração de

raios-x permitiu além da obtenção do grupo espacial, identificar os respectivos sítios de

simetria para os átomos do cristal MgMoO4 para então fazermos a teoria de grupo desse

material. As informações necessárias para a análise por teoria de grupos do MgMoO4

obtidas são: o do grupo espacial ser o C2/m { C3

2h} e Z=8, ou seja, oito moléculas por

célula unitária [12].

Os possíveis sítios Wyckoff que a célula unitária do MgMoO4 apresenta para a

estrutura C (2/m) { C3

2h} [25] são:

C32h = ∞[jC1(8)] + ∞[iCs(4)] + ∞[(h +g)C2(4)] + (f +e)Ci(4) + (d + c + b +a)C2h(2) eq. 10

Na equação eq. 10, temos os sítios cristalográficos com suas respectivas simetrias

equivalentes, onde a multiplicidade dos sítios Cs, C2 e Ci é 4, a do sítio C1 é 8 e do sítio C2h

é 2 (número entre parêntese à direita do símbolo de simetria do sítio). Os elementos

obtidos por difração de raios-x apresentam as seguintes distribuição de simetrias para os

átomos do MgMoO4:

1conjunto de átomos de magnésio1 com simetria 4g

1 conjunto de átomos de molibidênio1 com simetria 4h

1 conjunto de átomos de magnésio2 com simetria 4i

1 conjunto de átomos de molibidênio2 com simetria 4i

1 conjunto de átomos de oxigênio3 com simetria 4i

1 conjunto de átomos de oxigênio5 com simetria 4i

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1 conjunto de átomos de oxigênio1 com simetria 8j

1 conjunto de átomos de oxigênio2 com simetria 8j

1 conjunto de átomos de oxigênio4 com simetria 8j

Correlacionando os elementos de simetrias obtidos para o MgMoO4 com os sítios Wyckoff

possíveis identificamos para o molibidato de magnésio os sítios:

C32h = 3[jC1(8)] + 4[iCs(4)] + [(h +g)C2(4)] eq. 11

Em que cada sítio Wyckoff que a célula unitária apresenta, contém sua respectiva

representação irredutível [25]:

Para o 1conj. de átomos de magnésio1 em 4g C2(4): Ag + Au + 2Bg +2Bu

Para o1 conj. de átomos molibidênio1 em 4h C2(4): Ag + Au + 2Bg +2Bu

Para o 1 conj. de átomos de magnésio2 em 4i Cs(4): 2Ag + Au + Bg +2Bu

Para o 1 conj. de átomos de molibidênio2 4i Cs(4): 2Ag + Au + Bg +2Bu

Para o 1 conj. de átomos oxigênio3 em 4i Cs(4): 2Ag + Au + Bg +2Bu

Para o 1 conj. de átomos de oxigênio5 em 4i Cs(4): 2Ag + Au + Bg +2Bu

Para o 1 conj. de átomos de oxigênio1 em 8j C1(8): 3Ag + 3Au + 3Bg + 3Bu

Para o 1 conj. de átomos de oxigênio2 em 8j C1(8): 3Ag + 3Au + 3Bg + 3Bu

Para o 1 conj. de átomos de oxigênio4 em 8j C1(8): 3Ag + 3Au + 3Bg + 3Bu

Então temos:

Para Cs: 8Ag + 4Au + 4Bg +8Bu

Para C2: 2Ag + 2Au + 4Bg +4Bu

Para C1: 9Ag + 9Au + 9Bg + 9Bu

Resultando para a célula unitária do MgMoO4, um total de 72 modos vibracionais

representados por

Γvib = 19Ag + 15Au + 17Bg +21Bu.

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O número de modos encontrados anteriormente foi calculado para a célula de

Bravais que consta dentro da célula unitária. A célula unitária e a célula de Bravais se

relacionam da seguinte maneira:

ZB = Z/LP Eq. 12

Em que ZB é o número de moléculas dentro célula de Bravais, Z é o numero de moléculas

na célula unitária e LP corresponde ao número de pontos da rede. A tabela 5 descreve a

relação entre o tipo de estrutura cristalina e o número LP.

Tabela 5. Número de pontos da rede (LP) que reduz a célula unitária cristalográfica para a

célula de Bravais [25].

Tipo de estrutura cristalina Número de (LP)

A 2

B 2

C 2

F 4

I 2

P 1

R 3a ou 1

3a quando Z for divisível por 3.

Então, fazendo uso da tabela de caracteres do grupo de ponto C2h, tabela 6, para

obtermos quais simetrias são ativas no Raman. Temos então que as vibrações ativas no

Raman são: 19Ag + 17Bg. E os modos 14Au + 18Bu são ativos no infravermelho.

Tabela 6. Caracteres do grupo C2h [25].

C2h E CZ

2 i σh Regra de seleção

Ag 1 1 1 1 Rz σxx, σyy, σzz, σxy

Au 1 1 -1 -1 Tz

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Bg 1 -1 1 -1 Rx, Ry σxz, σyz

Bu 1 -1 -1 1 Tx, Ty

χT 3 -1 -3 1

Ainda fazendo uso da tabela 6, encontramos os modos ópticos retirando os modos

translacionais, resultando na seguinte representação irredutível para os modos ópticos:

Γopt = 19Ag + 14Au + 17Bg +18Bu.

6.2.2 K2WO4

Análises de difração de raios-x caracteriza o grupo espacial do K2WO4 como

sendo C2/m {C32h}. Dessa análise obteve-se a estrutura cristalográfica, o número de

moléculas por célula unitária (a temperatura ambiente) para o tungstato de potássio e os

respectivos sítios de simetria para se fazer a teoria de grupo desse material. Assim, as

informações necessárias para se fazer a análise por teoria de grupo para o K2WO4 são o

grupo espacial C2/m {C32h}e Z=4, ou seja quatro moléculas por célula unitária [13].

Os possíveis sítios Wyckoff que a célula unitária do K2WO4 apresenta para a

estrutura C2h(2/m) {C3

2h) [25] são:

C32h = ∞[jC1(8)] + ∞[iCs(4)] + ∞[(h +g)C2(4)] + (f +e)Ci(4) + (d + c + b +a)C2h(2) eq.13

Na equação eq.13 estão os sítios cristalográficos com suas respectivas simetrias

equivalentes, onde a multiplicidade dos sítios Cs, C2 e Ci é 4, a do sítio C1 é 8 e do sítio C2h

é 2 (número entre parêntese à direita do símbolo de simetria do sítio). Os elementos

obtidos por difração de raios-x apresentam as seguintes distribuição de simetrias para os

átomos do K2WO4:

1conjunto de átomos de tungstênio1 com simetria 4i;

1 conjunto de átomos de potássio1 com simetria 4i;

1 conjunto de átomos de potássio2 com simetria 4i

1 conjunto de átomos de oxigênio1 com simetria 4i

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1 conjunto de átomos de oxigênio2 com simetria 4i

1 conjunto de átomos de oxigênio3 com simetria 8j

Correlacionando os elementos de simetrias obtidos para o K2WO4 com os sítios

Wyckoff possíveis identificamos para o K2WO4:

C32h = 1[jC1(8)] + 5[iCs(4)] eq.14

A representação irredutível para cada sítio Wyckoff que a célula unitária do K2WO4

apresenta:

Para o conjunto de átomos de tungstênio1 com simetria 4i; Cs(4): 2Ag+ Au+ Bg+2Bu

Para o conjunto de átomos de potássio1 com simetria 4i; Cs(4): 2Ag+Au+Bg +2Bu

Para o conjunto de átomos de potássio2 com simetria 4i Cs(4): 2Ag+Au+Bg+2Bu

Para o conjunto de átomos de oxigênio1 com simetria 4i Cs(4): 2Ag+Au+Bg +2Bu

Para o conjunto de átomos de oxigênio2 com simetria 4i Cs(4): 2Ag+Au+Bg +2Bu

Para o conjunto de átomos de oxigênio3 com simetria 8j C1(8): Ag+3Au+3Bg+3Bu

Então temos:

Para Cs: 10Ag + 5Au + 5Bg +10Bu

Para C1: 3Ag + 3Au + 3Bg + 3Bu

Resultando em 42 modos vibracionais representados por

Γvib = 13Ag + 8Au + 8Bg +13Bu.

Estes são os modos vibracionais para as células de Bravais que consta dentro da

célula unitária. A relação entre célula unitária e célula de Bravais está na equação 12.

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Fazendo uso da tabela de caracteres do grupo de ponto C2h, tabela 6, para

obtermos quais simetrias são ativas no Raman obtemos os modos: 13Ag + 8Bg. E os modos

13Au +8Bu são os modos ativos no infravermelho.

Ainda fazendo uso da tabela 6 encontramos os modos ópticos retirando todos os

modos translacionais, resultando na seguinte representação irredutível para os modos

ópticos: Γopt = 13Ag + 12Au + 8Bg +6Bu.