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44ªRAPvREUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO E 18ºENACOR ENCONTRO NACIONAL DE CONSERVAÇÃO RODOVIÁRIA ISSN 1807-5568 RAPv Foz do Iguaçu, PR de 18 a 21 de Agosto de 2015 ESTUDO DE CASO DE PREVISÃO DE VIDA ÚTIL DE PONTES E VIADUTOS NA REGIÃO DE CURITIBA PELO MÉTODO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA E DO POTENCIAL DE CORROSÃO THOMÁS BEDUSQUE VERDERESI 1 ; DIEGO JESUS SOUZA 2 ; GIOVANA C. RÉUS 3 ; IGOR RODEGHIERO FERREIRA 4 ; MARCELO HENRIQUE FARIAS DE MEDEIROS 5 1 Graduando em Engenharia Civil, UFPR. ([email protected]) 2 Engenheiro Civil, UFPR. ([email protected]) 3 Engenheira Civil, UFPR. ([email protected]) 4 Graduando em Engenheira Civil, UFPR. ([email protected]) 5 Doutor em Engenharia Civil, UFPR. ([email protected]) RESUMO A resistividade elétrica é um dos parâmetros dos quais possuem influência direta no desenvolvimento da corrosão de armaduras de concreto armado. Pois, caracteriza a capacidade do material em resistir à passagem de corrente, fundamentalmente relacionada à sua difusividade e sua permeabilidade. O potencial de corrosão registra a diferença de potencial entre o sistema armadura- concreto e o eletrodo de referência, sendo possível, deste modo, avaliar a probabilidade de corrosão da armadura. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência da resistividade elétrica no potencial de corrosão, bem como, apresentar uma previsão de vida útil de Obras de Arte Especiais localizadas na RMC (Região Metropolitana de Curitiba), com intuito de gerar um perfil do estado de conservação das obras. Para medição de resistividade foi utilizado o método da Sonda Wenner, enquanto o método de potencial de corrosão seguiu os critérios estabelecidos pela ASTM C 876. Os resultados obtidos permitiram uma correlação entre a resistividade e o potencial de corrosão, e mostraram ainda, que eles, intrinsecamente, se complementam, de modo que variáveis dependentes do meio de exposição, como a carbonatação e a presença de íons cloreto, não mascarem o real estado o elemento estudado. Palavras-chave: Potencial de corrosão; Resistividade elétrica; Vida útil; Obras de arte especiais.

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44ªRAPv–REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO

E

18ºENACOR –ENCONTRO NACIONAL DE CONSERVAÇÃO RODOVIÁRIA

ISSN 1807-5568 RAPv

Foz do Iguaçu, PR –de 18 a 21 de Agosto de 2015

ESTUDO DE CASO DE PREVISÃO DE VIDA ÚTIL DE PONTES E

VIADUTOS NA REGIÃO DE CURITIBA PELO MÉTODO DA

RESISTIVIDADE ELÉTRICA E DO POTENCIAL DE CORROSÃO

THOMÁS BEDUSQUE VERDERESI 1; DIEGO JESUS SOUZA 2; GIOVANA C. RÉUS 3; IGOR

RODEGHIERO FERREIRA 4; MARCELO HENRIQUE FARIAS DE MEDEIROS 5

1 Graduando em Engenharia Civil, UFPR. ([email protected])

2 Engenheiro Civil, UFPR. ([email protected])

3 Engenheira Civil, UFPR. ([email protected])

4 Graduando em Engenheira Civil, UFPR. ([email protected])

5 Doutor em Engenharia Civil, UFPR. ([email protected])

RESUMO

A resistividade elétrica é um dos parâmetros dos quais possuem influência direta no

desenvolvimento da corrosão de armaduras de concreto armado. Pois, caracteriza a capacidade do

material em resistir à passagem de corrente, fundamentalmente relacionada à sua difusividade e sua

permeabilidade. O potencial de corrosão registra a diferença de potencial entre o sistema armadura-

concreto e o eletrodo de referência, sendo possível, deste modo, avaliar a probabilidade de corrosão

da armadura. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência da resistividade elétrica no

potencial de corrosão, bem como, apresentar uma previsão de vida útil de Obras de Arte Especiais

localizadas na RMC (Região Metropolitana de Curitiba), com intuito de gerar um perfil do estado

de conservação das obras. Para medição de resistividade foi utilizado o método da Sonda Wenner,

enquanto o método de potencial de corrosão seguiu os critérios estabelecidos pela ASTM C 876. Os

resultados obtidos permitiram uma correlação entre a resistividade e o potencial de corrosão, e

mostraram ainda, que eles, intrinsecamente, se complementam, de modo que variáveis dependentes

do meio de exposição, como a carbonatação e a presença de íons cloreto, não mascarem o real

estado o elemento estudado.

Palavras-chave: Potencial de corrosão; Resistividade elétrica; Vida útil; Obras de arte especiais.

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ABSTRACT

Electrical resistivity is an influential parameter in corrosion of steel-reinforced concrete,

characterizing its capacity to resist electrical current and it has an intrinsic relation to its

permeability and its diffusion capabilities, and corrosion potential shows the diference between

armed concrete and the measuring electrode making it capable to measure the corrosion probability.

This work has the objective to measure the influence of electrical resistivity in corrosion potential,

and make a life-cycle analysis of two viaducts located in the RMC (Região Metropolitana de

Curitiba). The methods utilized to measure electrical resistivity and corrosion potential were the

Wenner four-pin method and ASTM C 876 respectively. The results showed a correlation between

the two and the fact that they complete each other, allowing a measurement without external

interferences.

Key words: Potencial de corrosão; Resistividade elétrica; Vida útil; Obras de arte especiais.

INTRODUÇÃO

A corrosão de armaduras é um dos principais mecanismos de degradação que afetam

estruturas de concreto armado e protendido. É um processo espontâneo que ocorre no metal e o qual

é evitado, em princípio, pelo cobrimento de concreto que forma uma barreira física contra agentes

agressivos e pela proteção química devido à alta alcalinidade do concreto. As causas que podem

levar à corrosão das barras de aço estão diretamente ligadas com a ruptura ou perda dessa proteção

como a carbonatação, o ataque por cloretos e a aberturas de fissuras, dentre outros. É possível

observar a grande incidência de corrosão em estruturas de concreto armado brasileiras (Helene,

1992; Rocha, 2012).

Em estruturas de grande porte, como pontes e viadutos, as manifestações patológicas

causadas pela corrosão de armaduras são frequentes, como citado por Helene (1992). As manchas

de corrosão e desplacamento de cobrimento são os principais sintomas causadas pelo mecanismo da

corrosão.

O monitoramento e cálculo da vida útil é ainda mais importante para obras de arte especiais,

pois estes são pontos críticos dos sistemas de transporte rodoviário e ferroviário brasileiro. A

interdição destas estruturas acarreta perdas sociais, ambientais e econômicos. Nesse contexto, a

estimativa da vida útil, ou seja, a previsão do intervalo de duração das condições funcionais e

estruturais aceitáveis dessas obras, permitiria a implantação de um plano de manutenção preventiva,

bem como a priorização das atividades de manutenção e recuperação de obras.

O processo corrosivo é difícil de ser avaliado precocemente pois os sintomas da corrosão

aparecem depois de o processo já estar em estágio avançado. Diversas técnicas podem ser

empregadas para a avaliação da presença de corrosão ou ainda da proteção à corrosão nas

estruturas, como o ensaio de resistividade elétrica, ensaio de potencial de corrosão, ensaio de

migração de cloretos, profundidade de carbonatação, tomografia computadorizada, dentre outros.

No caso de inspeções de obras de arte especiais, devido às condições adversas do terreno e da

localização das obras, alguns ensaios possuem execução dificultada, acredita-se que seja um dos

motivos para as normas brasileiras de inspeções de pontes DNIT 010 e ABNT NBR 9452

priorizarem as inspeções visuais. Porém, no caso da identificação de processos corrosivos as

inspeções visuais se mostram falhas já que os identificam apenas em graus avançados.

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Dessa forma, o presente trabalho estuda dois métodos de avaliação do processo corrosivo e

os aplica em inspeções de obras de arte especiais e em ensaios de laboratório, a resistividade

elétrica e o potencial de corrosão. A resistividade elétrica caracteriza a capacidade do concreto de

resistir à passagem de corrente elétrica no seu interior e está muito relacionada com a velocidade do

processo de corrosão das armaduras. Já o potencial de corrosão está relacionado com a relação

eletroquímica entre o concreto e o aço e permite mapear o potencial de corrosão ao longo de peças

estruturais, porém pode-se dizer que é apenas qualitativo e pode indicar apenas uma probabilidade

de que haja corrosão e não fornece dados sobre intensidade de corrosão ou velocidade.

No presente trabalho foram realizados ensaios de potencial de corrosão conforme prescreve

a norma ASTM C-876 e o de resistividade elétrica usando o método de Wenner ou método dos

quatro eletrodos, utilizados por Missau (2004) e Hoppe (2005), por exemplo, em corpos de prova

em laboratório e em 2 inspeções de viadutos localizados na região metropolitana de Curitiba-PR

com o objetivo de observar as relações entre os dois ensaios e calcular a estimativa de vida útil das

obras.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este programa experimental envolve, de modo geral, dois ensaios como base para discussão

dos resultados, que são os de avaliação da resistividade elétrica, e determinação do potencial de

corrosão com eletrodo de referência. Deste modo, tornaram-se possíveis as medições de vida útil

com a determinação do período de propagação da corrosão nas armaduras das barras estudadas.

Materiais

Para o início deste estudo, os testes de calibração de equipamentos e de base para análise em

campo foram realizados em laboratório com a utilização de seis barras prismáticas de concreto

armado, tendo em vista o controle tecnológico quanto à elaboração dos mesmos, o que influi

diretamente no ruído estatístico da pesquisa. Tais prismas são produções excedentes de outros

trabalhos da universidade. Visando evitar o desperdício de materiais e, como as propriedades dos

blocos eram conhecidas, optou-se pelo uso dos mesmos. Os quatro elementos são identificados na

Tabela 1 juntamente com suas propriedades:

Tabela 1. Propriedades das barras prismáticas de concreto armado estudadas em laboratório.

Elemento Traço Consumo de

cimento

(kg/m³)

Resist. Comp.

(MPa)

Teor de

Cloretos

(%) c a b a/c

V1 1 1,08 1,92 0,43 540 50 0

V2 1 1,08 1,92 0,43 540 50 1

V3 1 1,6 2,4 0,5 421 41 1

V4 1 2,12 2,88 0,59 346 30 1

V5 1 2,12 2,88 0,59 346 30 0

V6 1 2,12 2,88 0,59 346 30 0

Vale ressaltar que os blocos possuíam aproximadamente 5 anos de idade, garantindo assim a

resistência desejada, inicialmente projetada. Vale ressaltar, que algumas das barras prismáticas,

pegas aleatoriamente, dentro de um universo com o dobro de elementos a serem selecionados,

apresentavam adição de cloreto de sódio em sua composição, o que, teoricamente deveria facilitar o

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processo de corrosão para estes elementos. Outro fator, é que, alguns dos prismas já apresentavam

fissuração superficial, possivelmente causada pelo processo de corrosão das mesmas. Assim como,

dentre as quatro armaduras distribuídas dentro de um elemento de concreto, duas possuíam

cobrimento de 1 cm e duas possuíam cobrimento de 3 cm (Figura 1), portanto, foi possível avaliar

também, a influência do cobrimento das armaduras.

Figura 1. Representação esquemática dos corpos de prova prismáticos.

Resistividade

A resistividade elétrica do concreto varia com a permeabilidade e com o grau de ionização

do concreto. Alguns autores observaram que a velocidade de corrosão é inversamente proporcional

à resistividade do concreto e, por isso, pode ser considerado fator controlador da reação

eletroquímica (Cascudo, 1997).

A medida da resistividade é realizada por meio da leitura da corrente elétrica gerada por uma

diferença de potencial aplicada entre eletrodos colocados sobre a superfície ou embutidos no

concreto. Ela indica a habilidade relativa de um determinado meio em transportar correntes

elétricas. Quando os eletrodos não forem embutidos no concreto, a medida da resistividade pode ser

feita posicionando-se dois eletrodos em faces opostas do concreto ou utilizando quatro eletrodos

igualmente espaçados entre si, pressionados sobre uma das faces da amostra (Santos, 2006).

Dentre os métodos propostos de medição, destaca-se o de Wenner dos quatro eletrodos.

Originalmente era utilizado para solos e mais tarde foi adaptado para uso no concreto. O princípio

do ensaio consiste em induzir a passagem de corrente entre os eletrodos. Mede-se a diferença de

potencial entre eles e o valor da resistividade é calculado pelas equações (1) e (2) (Torres, 2011):

(1)

(2)

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Sendo:

: resistividade calculada do concreto em ohm.cm;

R: resistência medida pelo instrumento, em ohm.

a: distância entre eletrodos em cm;

b: profundidade de penetração dos eletrodos na superfície, em cm.

A interpretação dos dados é realizada com base nos intervalos propostos pelo CEB 192

(1988), indicados na Tabela 2 (Rocha, 2012):

Tabela 2. Interpretação dos resultados de ensaio de resistividade (ROCHA, 2012).

Potencial de corrosão

O potencial de corrosão é um dos métodos eletroquímicos mais utilizados para monitorar e

avaliar a corrosão de armaduras. Nesse é feita uma avaliação qualitativa do processo de corrosão,

através de mapas de potencial de corrosão da estrutura, que revelam as áreas mais prováveis que o

processo de degradação ocorra (Rodriguez et al., 1994 apud Silva, 2010).

Segundo Rocha (2012), é comum que as medidas de potencial de corrosão sejam realizadas

utilizando um eletrodo de cobre/sulfato de cobre. Esse consiste em um tubo plástico ou de vidro e

seu interior é formado por uma haste de cobre imersa em uma solução aquosa saturada de sulfato de

cobre. A extremidade de contato do eletrodo é formada por uma ponta porosa, proporcionando,

assim, a continuidade elétrica do eletrodo de referência com o eletrodo de trabalho - sistema

aço/concreto. A Figura 2 apresenta um esquema de um eletrodo de referência de cobre/sulfato de

cobre.

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Figura 2. Esquema de um eletrodo de referência de cobre/sulfato de cobre saturado (Gentil, 2003 apud Polito, 2006).

O método consiste em medir a diferença de potencial elétrico entre o aço da peça de

concreto armado em análise e um eletrodo de referência, capaz de manter seu potencial elétrico

estável. Ao conectar o eletrodo de referência e o eletrodo de trabalho (barra de aço do concreto)

surge um fluxo de elétrons da armadura em direção ao eletrodo de referência, mais nobre e com

potencial mais positivo, passando pelo voltímetro de alta impedância e indicando a intensidade da

diferença de potencial de eletrodo entre as semi-pilhas (eletrodo de referência e eletrodo de

trabalho). Para o fechamento do circuito é necessário uma interface condutiva entre o eletrodo de

referência e o eletrodo de trabalho (Figura 3) e isso é feito usando uma esponja saturada colocada

no contato elétrico entre o eletrodo de referência e a superfície do concreto (Cascudo, 1991 apud

Rocha, 2012).

Figura 3. Método de avaliação do potencial de corrosão ASTM C 876 (2009) apud Rocha (2012)

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Como critério de avaliação do fenômeno da corrosão, a ASTM C-876 (2009) apresenta uma

correlação entre intervalos de potenciais e a probabilidade da ocorrência da mesma, conforme

apresenta a Tabela 3 (Pereira, 2006).

Tabela 3. Critérios de avaliação dos resultados obtidos de potenciais de acordo com a ASTM C 876 (Pereira, 2006).

Metodologia

A metodologia desenvolvida foi dividida em duas etapas, a primeira, para calibração dos

equipamentos, realizada em laboratório, na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba/PR, em

barras prismáticas de concreto armado excedentes de outros trabalhos da universidade.

Vale ressaltar, que alguns dos prismas, pegos aleatoriamente, dentro de um universo com o

dobro de elementos a serem selecionados, apresentavam adição de cloreto de sódio em sua

composição, o que, em tese, deveria facilitar o processo de corrosão para estes elementos. O

objetivo dessas medições foi conhecer melhor o funcionamento dos equipamentos, o entendimento

de suas leituras e o estabelecimento da precisão das medidas.

As amostras de concreto armado foram todas saturadas antes da realização dos ensaios da

seguinte forma: despejava-se água em quantidade suficiente para formar uma lâmina d’água na

superfície do elemento, assim sendo, esperava-se 10 segundos e então se iniciava o mesmo processo

para saturação de outra face do mesmo elemento, isto se repetia para as demais faces. Após esta

pré-saturação das faces de um elemento, o método era realizado nas demais amostras, ao fim de

todas as barras prismáticas iniciava-se o processo, até uma repetição de cinco vezes para cada

elemento.

Assim sendo, primeiramente eram coletados os resultados de resistividade elétrica nas

quatro faces da amostra de acordo com os métodos dos quatro eletrodos, e, posteriormente as

leituras do potencial de corrosão nas armaduras seguindo os critérios estabelecidos pela a ASTM C-

876 (2009). Cabe ressaltar que foram efetuadas três leituras de potencial em cada barra de aço do

elemento de concreto armado com as distâncias de 5 cm, 20 cm e 35 cm do ponto de exposição da

armadura como indicado na Figura 4.

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Figura 4. Representação esquemática dos pontos de leitura de potencial de corrosão.

A última etapa do trabalho consistiu na realização de leituras em quatro pilares de dois

viadutos localizados na região de Curitiba, situados na zona industrial da cidade. As medições

foram realizadas a uma altura de 15 cm do solo, tendo em vista que esta é uma região com alta

probabilidade de corrosão devido à absorção de umidade do solo pelo concreto. As leituras de

resistividade elétrica foram realizadas tanto com o elemento saturado quanto seco. O processo de

saturação do pilar de concreto armado foi o mesmo utilizado nas amostras em laboratório.

Apresentação e escolha das obras de arte especiais estudadas

As obras em questão são dois viadutos da rodovia BR-277, localizadas em Curitiba,

compondo o chamado Contorno Sul do município, onde há um intenso tráfego de cargas pesadas.

Nomeadas nos arquivos nos projetos de engenharia do DNIT como Viadutos da Estaca 640, a

natureza da transposição é a passagem sobre a Rua Ciro Pereira. De acordo com registros

encontrados foram construídas no ano de 1977, sendo assim possuem 38 anos. Durante sua vida útil

passaram por obras de manutenção. Possuem comprimento de 50,0 metros de comprimento e

largura total de 12,5 metros, duas pistas com sentido único de tráfego, acostamento e barreiras de

concreto. Seus sistemas estruturais característicos são viga caixão de concreto protendido e são

moldadas no local.

A classe de agressividade ambiental foi classificada como nível II de acordo com a NBR-

6118/2014, meio urbano. De acordo com memorial de cálculo encontrado, classe é 36 de acordo

com a norma ABNT NB 6/1960, vigente na época do projeto, ou seja, veículo tipo de projeto foi de

360 kN, a norma atual ABNT NBR 7188/2013 estabeleceria para uma obra com essa configuração a

classe 45, ou seja, veículo tipo de projeto de 450 kN. A seguir são apresentadas algumas imagens

que compõe o registro fotográfico das inspeções. A identificação utilizada pelo DNIT e também no

presente trabalho, para identificar cada um dos viadutos é 83.a e 83.b, de acordo com as Figuras 5, 6

e 7.

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Figura 5. Imagem de satélite, com identificação das obras. (Google Earth, 2012.)

Figura 6. Vista Geral, viaduto 83.a.

Figura 7. Vista Geral, viaduto 83.b.

Região Metropolitana de Curitiba

Cidade Industrial de Curitiba (C.I.C.)

83.b

83.a

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Determinação da vida útil para as obras de arte especiais

A determinação da vida útil das estruturas estudadas se ateve a previsão de deterioração do

elemento a partir da detecção da alta probabilidade de corrosão da armadura dos pilares. Ou seja, a

partir do momento em que foi detectado o inicio da corrosão, com probabilidade acima de 50%,

segundo os métodos de potencial de corrosão, foi calculado o período de propagação da corrosão

até o ponto de perda de 10% da seção da armadura com a equação (3), conforme Andrade (2004)

C

xTp

lim

(3)

Onde:

Tp = Período de propagação (anos)

xlim = Valor limite de perda de seção (cm)

= resistividade elétrica do concreto (k.cm)

C = constante = 3.104 (A/cm².k.cm)

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Resistividade elétrica nos ensaios em laboratório

A corrosão está associada à exposição do metal num meio no qual

existem moléculas de água, juntamente com movimentos eletroquímicos, num meio condutor. Deste

modo, a resistividade eléctrica, que é uma medida da oposição de um material ao fluxo de corrente

eléctrica, é de extrema relevância, pois, quanto mais baixa for a resistividade, mais facilmente o

material permite a passagem de uma corrente, ou seja, esta mensuração caracteriza se o concreto

facilita, ou não, o processo de corrosão, em termos de movimentação de elétrons entre componente

de redução e componente oxidante. A Tabela 4 mostra os resultados obtidos.

Tabela 4. Resultados obtidos com as leituras de resistividade elétrica.

RESISTIVIDADE ELÉTRICA

Elemento Face Resultado (kcm Elemento Face Resultado (kcm

V1

F1 32,3

V4

F1 5,7

F2 36,5 F2 6,4

F3 33,2 F3 6,1

F4 30,8 F4 5,9

Média 33,2 Média 6,0

V2

F1 14,3

V5

F1 9,1

F2 18,1 F2 9,9

F3 17,6 F3 10,5

F4 12,8 F4 9,0

Média 15,7 Média 9,6

V3

F1 11,9

V6

F1 8,5

F2 10,6 F2 5,3

F3 9,3 F3 8,9

F4 11,4 F4 9,9

Média 10,8 Média 8,2

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Assim sendo, os resultados mostram que as leituras realizadas na amostra V1, apresentaram

a maior resistividade à corrente elétrica, portanto, estariam, em primeira estância, proporcionando

maior proteção às barras de aço quanto à corrosão. Resultado oposto obtido pela amostra V4 que

apresentou a menor resistividade, ou seja, possui menor proteção às barras de aço por possuir,

consequentemente, uma maior condutividade, esta que é inversamente proporcional ao valor

mensurado.

A Tabela 5 apresenta a variação da resistividade entre as amostras testadas em função do

melhor resultado obtido, ou seja, V1.

Tabela 5. Variação da resistividade elétrica entre as amostras testadas.

Elemento

Resistividade

média

(kcm)

Variação

V1 33,2 0%

V2 15,7 53%

V3 10,8 67%

V4 6,0 82%

V5 9,6 71%

V6 8,2 75%

A seguir, serão discutidas, detalhadamente, as variáveis relacionadas a cada uma das

amostras, que estão relacionadas intrinsecamente aos resultados obtidos.

- Composição do concreto (Traço e Relação água/cimento): A relação água/cimento e o traço do

concreto possuem influência direta nas características do concreto, como por exemplo, resistência

mecânica e propriedades ligadas à durabilidade. E, para a resistividade elétrica isto também ocorre,

pois uma elevada relação a/c e um baixo consumo de cimento podem aumentar significativamente a

rede de poros, e, até mesmo a interconectividade entre os mesmos, o que, entre outros fatores,

permite uma passagem de corrente de forma mais simplificada. E os resultados obtidos mostram

uma tendência semelhante à afirmação supracitada, ou seja, quanto maior a relação a/c e mais pobre

é o traço menor foi a resistividade elétrica do concreto.

Observando os resultados de V1, V5 e V6 que, são amostras que não possuem adição de

cloretos, torna-se possível uma melhor avaliação da influência do traço e da relação a/c nos

resultados de leituras de resistividade elétrica. Neste caso, V1 possui a menor relação a/c e é o traço

mais rico em cimento, ao mesmo tempo, apresentou o melhor resultado dentre todos os observados,

já as amostras V5 e V6, que tiveram resultados semelhantes entre si, todavia, apresentaram uma

queda de 71% e 75%, respectivamente, quanto à resistividade em comparação com a amostra V1.

Isto mostra que o aumento da relação água/cimento e a consequente diminuição do consumo de

cimento do traço deixam o concreto mais permeável e tangível à baixa resistividade. Isso ocorre

porque de um lado têm-se o aumento da porosidade devido ao elevado a/c e, do outro, um possível

aumento da interconectividade dos mesmos, juntamente com o aumento também da porosidade,

devido ao baixo consumo de cimento e, consequentemente, um menor teor de partículas finas que

enriquecem o empacotamento das mesmas. Portanto, vê-se que a relação a/c e o traço do concreto,

possuem influência direta nos resultados obtidos quanto à resistividade elétrica.

- Teor de cloretos (Cl-): Os resultados mostram que a adição de cloretos no concreto influência

diretamente os resultados, pois, amostras que continham cloretos apresentaram diminuição na

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resistividade elétrica, e isto fica mais evidente quando comparado os resultados entre V1 e V2,

assim como de V4, V5 e V6. Sendo que V1 e V2 possuem o mesmo traço e mesma relação a/c,

cabendo a única diferença entre estas duas amostras, a adição de 1% de cloreto em relação à massa

de cimento em V2. O mesmo ocorre com V4, V5 e V6, que possuem a mesma composição quanto

ao traço e relação a/c, porém, V4, assim como V2, possui adição de 1% de cloreto em relação a

massa de cimento do traço.

Estes resultados estão compatíveis com a afirmação de Andrade (2004), cuja autora afirma

que a contaminação por íons cloretos reduz a resistividade elétrica, pelo fato de o íon influenciar na

condutividade de soluções alcalinas, como as presentes nos poros do concreto.

Potencial de corrosão

Os dados relativos ao potencial de corrosão estão resumidos na Tabela 6. Pode-se inferir que

os fatores que favoreceram uma maior resistividade geraram, consequentemente, uma menor

condutividade elétrica, assim sendo, influem diretamente, também nos resultados de potencial de

corrosão.

Tabela 6. Resultados de potencial de corrosão com o eletrodo de cobre/sulfato de cobre.

POTENCIAL DE CORROSÃO

Elemento Armadura Cobrimento

(cm)

Resultado

5 cm 20 cm 35 cm

V1

A1 3 -34 -22 -32

A2 3 - - -

A3 1 -95 -105 -98

A4 1 -120 -115 -125

V2

A1 3 -69 -88 -81

A2 3 -151 -172 -180

A3 1 -285 -280 -270

A4 1 -215 -217 -204

V3

A1 3 -230 -240 -167

A2 3 -255 -256 -211

A3 1 -360 -295 -263

A4 1 -340 -309 -270

V4

A1 3 -280 -274 -214

A2 3 -350 -346 -318

A3 1 -329 -360 -350

A4 1 -350 -430 -380

V5

A1 3 -230 -255 -245

A2 3 -208 -218 -211

A3 1 -241 -265 -275

A4 1 -256 -281 -295

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POTENCIAL DE CORROSÃO

Elemento Armadura Cobrimento

(cm)

Resultado

5 cm 20 cm 35 cm

V6

A1 3 -134 -146 -125

A2 3 -133 -130 -132

A3 1 -174 -164 -164

A4 1 -116 -146 -140

Observa-se que a amostra V1, a qual apresentou a maior resistividade elétrica possui uma

menor condutividade elétrica, consequentemente, uma menor corrente foi lida pelo eletrodo, assim

sendo, um baixo potencial de corrosão, conforme o esperado, com todas as suas leituras se

enquadrando no intervalo que há menos de 10% de probabilidade de corrosão das armaduras. Já a

amostra V4 obteve 3 resultados entre os 12 que estão no intervalo com mais de 90% de

probabilidade de corrosão de amostras, sendo o pior dentre os resultados obtidos. Pode-se sintetizar

a discussão feita no item anterior, adaptada para a condutividade elétrica nos seguintes itens abaixo:

- Composição do concreto (Traço e Relação água/cimento):

Elevadas relações a/c com baixos consumos de cimento geram traços mais pobres e

concretos mais porosos e, portanto, com maior potencial de corrosão

V1 possui a menor relação a/c e o traço mais rico em cimento, apresentando o melhor

desempenho.

- Teor de cloretos (Cl-):

A adição do íon Cl-, juntamente com a presença de umidade, facilita a propagação dos

elétrons, portanto, aumentando a condutividade elétrica;

V4 tem o mesmo a/c que V5 e V6 e apresenta valores de potencial de corrosão muito

superiores pois possui adição de cloretos enquanto V5 e V6 não apresentam;

V1 e V2 também possuem o mesmo a/c, no entanto V2, que possui adição de cloretos,

também apresenta valores superiores de potencial devido à presença dos íons também.

É válido notar que o cobrimento influência na leitura dos valores de potencial de corrosão.

Observa-se que na maioria das amostras estudadas, os valores com menores cobrimentos são os que

possuem mais potencial, enquanto os que possuem maior cobrimento possuem menos

condutividade elétrica, compatível com o resultado da resistividade elétrica.

Resistividade elétrica nos ensaios em campo

A partir da análise dos resultados obtidos, conforme os critérios propostos pelo CEB 192,

observa-se que os pilares numerados com o número 2 dos viadutos inspecionados apresentam risco

alto de corrosão, já o pilar 3 apresenta risco muito alto de corrosão. Os resultados são apresentados

na Tabela 7.

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Tabela 7. Resultados dos ensaios de resistividade elétrica.

VIADUTO 83.A VIADUTO 83.B

Pilar Resist. Elétrica (kcm) Pilar Resist. Elétrica (kcm)

P2 67 P2 59

P3 42 P3 16,3

Vale comentar que as leituras de resistividade elétrica foram coletadas na face externa dos

pilares em questão, ou seja, regiões com probabilidade alta de interferência das intempéries, como

contato direto com chuva, sol, etc. A partir disso, algumas discussões podem ser levantadas:

- Pilar P2 e P3, viaduto 83, e, Pilar P2 viaduto 83.b: estes elementos estudados, inicialmente, não

apresentavam nenhuma manifestação patológica, como fissuras, desplacamento, manchamento,

entre outros, os poucos danos que apresentavam eram superficiais, como por exemplo,

descascamento da pintura (Figura 8), apresentavam também, cobrimento de aproximadamente 35

mm. Estes resultados, quando comparados com os obtidos em laboratório, trazem a impressão de

possuírem uma resistividade significativamente superior, o que, de fato são. Logo, considera-se que

o concreto possui uma qualidade muito superior, mas, é verdade também que a resistividade elétrica

pode ser influenciada pela presença de carbonatação, que colmatam os poros do concreto,

interferindo diretamente no percurso da corrente elétrica.

Figura 8. Região estudada do Pilar P2 do viaduto 83.a.

- Pilar P3 viaduto 83.b: este elemento estrutural apresentou, dentre os estudados, o pior resultado de

resistividade elétrica, portanto, com maior condutividade. Mas cabe comentar que o pilar P3

apresentava fissuração mapeada, causada por fogo localizado no pé do pilar, conforme a Figura 9.

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Figura 9. Região do Pilar P3 do viaduto 83.b com fissuração mapeada.

Assim sendo, esta manifestação patológica pode ter interferido diretamente nos resultados,

pois a mesma era localizada na região onde as leituras foram realizadas. As fissuras, além de

permitir a percolação de água e umidade mais facilmente para o interior da estrutura, também

facilitam o percurso da corrente elétrica, assim como, demais agentes de deterioração.

Potencial de corrosão nos ensaios em campo

Conforme os critérios de avaliação da norma ASTM C 876, os resultados obtidos nos

ensaios no viaduto 83.a são demonstrados na Tabela 8.

Tabela 8. Resultados do ensaio de potencial de corrosão no viaduto 83.a.

83. a

PILAR COTA

(cm)

POTENCIAL DE CORROSÃO

(mV)

P2

0 -80

50 -15

100 -30

150 -41

P3

0 -50

50 -37

100 -55

150 -57

Os resultados mostram que as armaduras dos pilares testados estão com resultados

superiores a -200 mV, portanto, com probabilidade de corrosão abaixo de 10%, deste modo, no

presente trabalho tomou-se como decisão, que estes pilares estão seguros quanto à corrosão de

armaduras, até o presente momento.

Já os pilares do viaduto 83.b apresentaram pontos nos quais a probabilidade de corrosão está

entre acima de 90% por apresentarem resultados inferiores a -350 mV, conforme demonstrado com

a Tabela 9.

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Tabela 9. Resultados do ensaio de potencial de corrosão no viaduto 83.b.

83. b

PILAR COTA

(cm)

POTENCIAL DE CORROSÃO

(mV)

P2

0 -500

50 -115

100 -200

150 -50

P3

0 -450

50 -130

100 -100

150 -50

Previsão de Vida útil das Obras de Arte Especiais estudadas

Como comentado na metodologia do presente trabalho, apenas foram calculadas as

previsões de vida útil dos elementos que apresentaram uma probabilidade maior que 50% de

corrosão, assim sendo, apenas aquelas que apresentaram leituras de potencial de corrosão abaixo de

-200 mV, portanto, apenas P2 e P3 do viaduto 83.b, conforme apresentado na Tabela 10.

Tabela 10. Resultados de previsão de vida útil para elementos que apresentaram mais que 50% de probabilidade de

corrosão.

Elemento Resistividade

média (cm)

Vida Útil

(anos)

P2 83.b 59,0 25,23

P3 83.b 16,3 6,97

Com os resultados obtidos, observa-se um valor crítico quanto à durabilidade do pilar P3 do

viaduto 83.b, pois o concreto apresenta baixa resistividade elétrica e alta probabilidade de corrosão,

assim sendo, a manutenção deste elemento torna-se crucial para bom desempenho da estrutura

como um todo.

Cabe ressaltar ainda, que este pilar, conforme demonstrado anteriormente, apresenta

fissuração mapeada devido a um ponto de incêndio, o que facilita a permeação de umidade que é

crucial para a propagação da corrosão, pois essa funciona como eletrólito para os pontos que atuam

como agente redutor e oxidante.

Já o pilar P2, apresentou um tempo de vida útil quanto à perda de seção ocasionada pela

corrosão de aproximadamente 25 anos, o que pode ser considerado um valor bom, todavia, deve-se

ater ao fato de que o pé deste pilar apresentou uma elevada probabilidade de corrosão, portanto,

torna-se interessante uma manutenção de forma preventiva a este elemento, o que, em condições

gerais, aumentará sua vida útil, e atuando de forma preventiva, o custo desta interação, torna-se

menor. Além disso, é importante destacar que 25 anos de vida útil para uma obra de arte que é de

uso de toda a sociedade não é tanto tempo assim, de modo que estender a vida de serviço deste tipo

de obra é uma tomada de decisão inteligente em termos de beneficiamento da sociedade que usa as

pontes e viadutos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação dos ensaios em inspeções de obras de arte especiais se mostra pertinente, pois,

para que haja um planejamento de manutenção e recuperação de longo prazo destas obras, é

necessário um método eficaz de estimativa de vida útil de cada obra do sistema. Assim sendo, a

conclusão do presente trabalhoestá dividida em cinco partes, as duas primeiras destinadas às

características intrínsecas ao concreto de modo geral, e, as demais, quanto à previsão de vida útil:

A presença de íons cloretos influi na diminuição da resistividade e aumento da

condutividade elétrica, assim como, no aumento da probabilidade de corrosão das

armaduras;

A composição do concreto, como traço e relação água/cimento, são de extrema importância

quanto à corrosão, ou seja, uma diminuição dos espaços vazios, com uma menor relação a/c,

um teor mais elevado de cimento e finos, melhoram na proteção das armaduras, pois,

dificultam a conditibilidade tornando o concreto mais resistivo;

O pilar 3 do viaduto 83.b estaria, segundo o método utilizado, com seção de armadura

extremamente comprometida dentro de aproximadamente 7 anos. Se tratando de um viaduto

que se caracteriza como um ponto importante de tráfego e com o objetivo de estender sua

vida útil, seriam necessárias algumas medidas para a mitigação do processo corrosivo.;

Como contribuição para os gerenciadores de obras de artes especiais, a estimativa auxiliaria

nos processos de tomada de decisão. Ou seja, seria uma ferramenta para a solução do

problema econômico presente também no gerenciamento dos sistemas de transporte.

Vale ressaltar que a corrosão de armaduras, apesar de ter grande incidência em obras de

concreto armado e poder provocar danos críticos às estruturas, não é o principal foco das inspeções

realizadas atualmente, há manifestações patológicas que são mais nocivas, principalmente

relacionados à insuficiência estrutural. Porém, pode-se dizer que para que os processos de

gerenciamento evoluam, as análises executadas também devem ser mais minuciosas. Por fim,

tratando-se de uma Obra de Arte Especial, como as estudadas, que são de uso de toda a sociedade,

quando se age, em função de estender a vida de serviço trata-se de uma tomada de decisão

inteligente em termos financeiros e de beneficiamento da sociedade que usa as pontes e viadutos.

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