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ESTUDO DE TEXTOS NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO QUÍMICO
Elis Cristina Correr1
Flaveli Aparecida de Souza Almeida 2
RESUMO
O aprendizado significativo no ensino de Química implica o desenvolvimento de uma série de requisitos e habilidades, além da compreensão de conceitos específicos. Pensar, nesse campo específico do conhecimento, envolve raciocínios nos níveis do que é observável, do macroscópico e do microscópico. Além da articulação entre esses domínios, exige a aprendizagem de uma linguagem simbólica específica. Essa complexidade dificulta a aprendizagem de Química e conduz à sensação, bastante difundida socialmente, de que esta não seja uma disciplina de fácil compreensão. A maneira como a Química é abordada nas escolas pode ter contribuído para a difusão de concepções distorcidas dessa ciência, uma vez que os conceitos são apresentados na maioria das vezes aos nossos alunos de forma puramente teórica. Com o objetivo de investigar o conhecimento químico prévio do aluno do 1º ano do ensino médio, desmistificando a visão que eles têm da química, associada às coisas ruins e nocivas à saúde, relacionando o conteúdo químico de sala de aula, desenvolveu-se um projeto de leitura no Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa - Arapongas/PR. A metodologia consistiu no desenvolvimento de atividades de leitura e interpretação, utilizando-se de propagandas, rótulos e pesquisa. Buscou-se valorizar, por meio dos textos do cotidiano como principal recurso pedagógico, a leitura, a discussão, a mediação e o levantamento de questionamentos. Os resultados alcançados foram satisfatórios, indicando maior interesse e crescimento dos alunos em termos de aprendizagem dos conceitos químicos e a autonomia no desenvolvimento das atividades propostas. Este projeto ainda despertou, na maioria dos alunos, o interesse pela química como ciência e os fizeram perceber que esta ciência atua como um instrumento prático para a resolução de problema e conhecimento em muitas áreas da atuação da vida humana e questões relevantes e importantes do dia-a-dia. Assim a realização deste trabalho se caracterizou como uma oportunidade para repensarmos a educação química e buscarmos novos caminhos, os quais nos propiciaram também mudanças de concepções de ensino e aprendizagens em Química.
Palavras - chave: leitura; química; cotidiano; aprendizagem.
_______________________________1 Professora de Química do Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa – Arapongas (PR) -Especialista em Ensino de Química pela UNOPAR.2 Professora doutora do Departamento de Química/UEL
1 INTRODUÇÃO
A Química é uma ciência que está fortemente inserida em nosso cotidiano
exercendo uma influência muito grande no contexto político, social e econômico, sob
diversos ângulos e perspectivas em nossa sociedade.
"O dia-a-dia das pessoas é repleto de situações relacionadas à Química e
estas não podem ser analisadas de maneira restrita e disciplinar, visto que envolvem
conhecimentos das diversas áreas do conhecimento." (RICHETTI, 2008).
Segundo Ausubel (1992), a aprendizagem é muito mais significativa à
medida que o novo conteúdo é incorporado às estruturas de conhecimento do aluno
e adquire significado para ele a partir da relação com seu conhecimento prévio.
Ao contrário, ela se torna mecânica ou repetitiva, uma vez que se produziu
menos essa incorporação e atribuição de significado, e o novo conteúdo passa a ser
armazenado isoladamente ou por meio de associações arbitrárias na estrutura
cognitiva.
Considerando-se que a pesquisa científica e a aproximação da teoria
química à realidade do dia-a-dia contribuem para as atividades educativas, levando
os alunos a se interessar mais pelo aprendizado da Química.
Segundo Chassot (1995), é preciso destacar a função dos educadores não
apenas na divulgação dos benefícios que a Química traz para a sociedade, mas
também, e principalmente, analisar criticamente interferências (muitas vezes
nocivas) desta no meio ambiente. É preciso que as alunas e os alunos não apenas
aprendam a ler melhor o mundo com o conhecimento químico que adquirem, mas
também sejam responsáveis pela transformação para melhor de nossos ambientes
natural e artificial.
Os alunos recebem, diariamente, informações em particular da mídia que
criam expectativa negativa em relação à Química. As notícias, que envolvem
catástrofes ambientais, fabricação de armas, especialmente, criam a imagem de que
a Química polui, envenena, machuca e até mata, gerando a expectativa de “tudo
que é bom não contém Química”, sem deixar claro que os tais malefícios são
advindos do seu mau uso ou de negligência. (ANHAIA; NOGUEIRA, 2005).
Muitos alunos argumentam que não gostam e até tem rejeição da disciplina
por ser difícil e não enxergam o quanto a mesma faz parte do seu cotidiano. Sabe-se
que os mesmos já conhecem muitos conceitos químicos, só precisam aprender a
reconhecê-los, discutir o conhecimento científico e aplicá-los para resolução de
questões reais que fazem parte do seu dia-a-dia. Poder-se-ia afirmar que essa
rejeição é também porque o ensino não é prazeroso ou não útil. (CHASSOT, 1992).
De acordo com Bernardelli (2004), muitas pessoas resistem ao estudo da
Química pela falta de um método que contextualize seus conteúdos. Muitos
estudantes do Ensino Médio têm dificuldade de relacioná-los em situações
cotidianas, pois ainda se espera deles a excessiva memorização de fórmulas,
nomes e tabelas.
O mesmo autor destaca que:
devemos criar condições favoráveis e agradáveis para o ensino e aprendizagem da disciplina, aproveitando, no primeiro momento, a vivência dos alunos, os fatos do dia-a-dia, a tradição cultural e a mídia, buscando com isso reconstruir os conhecimentos químicos para que o aluno possa refazer a leitura do seu mundo (BERNARDELLI, 2004, p. 2).
Acredita-se numa abordagem de ensino de Química voltada à construção e
reconstrução de significados dos conceitos científicos nas atividades em sala de
aula (MALDANER, 2003, p. 144), para que isso possa implicar em compreender o
conhecimento científico e tecnológico para além do domínio estrito dos conceitos de
Química.
A respeito do tratamento que a química vem sofrendo, Sardella (2003, p. 13)
diz que: É comum ouvirmos comentários que depreciam essa ciência, relacionando-a
a desastres ecológicos (derramamento de petróleo no mar), poluição (fumaça das chaminés) e envenenamentos (agrotóxicos). Esses fatos, infelizmente, encobrem as importantes conquistas do homem pelo conhecimento químico. Na verdade, o problema não está na química, mas no seu uso – ela, em si não é boa nem má. Ainda são muitos aqueles que, movidos por interesses ou grupos, utilizam-na para conquistar ou manter privilégios. Mudar essa situação não é papel somente do químico, mas de toda sociedade, que deve ser crítica e participativa, exigindo que o conhecimento promova uma qualidade de vida cada vez melhor e que permita uma coexistência harmoniosa entre o homem e o ambiente.
Com a intenção de mudar essa visão negativa que a maioria dos alunos tem
pela Química, a proposta do projeto de trabalho pautou-se no desenvolvimento de
ações que motivassem o interesse do aluno. Iniciou-se o estudo das concepções
prévias dos alunos sobre o conhecimento químico e a partir de suas respostas,
discutia-se sobre o tema de forma contextualizada, para possibilitá-los fazer a
relação entre seu cotidiano e o conhecimento científico e ainda, despertar o
conhecimento do estudante para agir de forma crítica e informada como cidadão. A
metodologia utilizando a leitura em suas diversas apresentações, como rótulos,
propagandas e artigo científicos, propiciou ao aluno a compreensão tanto dos
processos químicos em si, quanto da construção de um conhecimento científico em
estreita relação com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais,
sociais, políticas e econômicas.
2 DESENVOLVIMENTO
As atividades foram desenvolvidas com 20 alunos do 1º Ano do Ensino
Médio, do Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa – Ensino Fundamental e
Médio, do município de Arapongas - Paraná. Construiu-se um caderno pedagógico
para nortear as ações que foram contempladas durante a implementação
pedagógica na escola. A metodologia utilizada constitui-se no desenvolvimento de
atividades de leitura e interpretação utilizando-se de propagandas, rótulos e
pesquisa, buscando a valorização da discussão, a mediação por meio dos textos do
cotidiano e levantamento de questionamentos, como principal recurso pedagógico.
As atividades desenvolvidas tiveram como objeto de investigação, o conhecimento
químico que o aluno disponibiliza e qual a sua ideia da Química, associando a
presença da química no cotidiano. O caderno pedagógico foi composto por cinco
unidades:
Unidade 1 - Elaborando e debatendo ideias sobre a química.
Unidade 2 - A Química no rótulo de um produto alimentar
Unidade 3 - A Química na limpeza de uma piscina.
Unidade 4 - “Pão com química ou pão sem química?”
Unidade 5 - A química em nossas casas.
Na unidade 1, foram apresentados aos alunos, recortes citando a palavra
“química” e dado especial atenção para alguns anúncios ou propagandas, que
retratam aspectos negativos passados pela Química:
“Piscina tratada sem produtos químicos”“Morangos saudáveis, sem química”“Alisamento sem química, não danifica seus cabelos”
“Limpeza sem química”
Os alunos foram instigados a pensar e discutirem sobre as frases que foram
apresentadas por meio de slides na TV pen drive da sala e alguns questionamentos
norteou as discussões sobre o tema, como: “Vocês já ouviram ou leram frases
assim?”, “É comum as pessoas dizerem que os produtos não tem química?”. Em
seguida, considerando a importância de valorizar os conhecimentos prévios dos
alunos, bem como sua participação no processo de ensino-aprendizagem, os alunos
responderam uma questão sobre as ideias que a palavra química lhe sugere quando
a lê ou a escuta.
Para a avaliação dos conceitos apresentados pelos alunos foram analisadas
as respostas apresentadas por eles, levando em consideração os conhecimentos
iniciais.
Figura 1. Opinião dos alunos sobre o que pensam sobre a química.
A grande maioria dos alunos associa a química a experiências e explosões
com fumaça, dando a impressão que a química esta diretamente ligada a
experimentos e grandes explosões, mostrando que o mundo está cercado de gases
poluentes, com materiais que podem destruir o ambiente, como a dinamite e o
planeta sendo destruído pela poluição. Portanto, consideram a química como sendo
na maioria das vezes a grande vilã dos desastres ocorridos no ambiente. Não
esquecendo que a figura do cientista em seu laboratório, dando a impressão que a
química está ligada somente a experimentos e descobertas realizadas por pessoas
malucas, é notória. Percebe-se que os alunos, na maioria das vezes, ou não
relacionam ou fazem pequenas associações com os assuntos de química com o seu
dia-a-dia, pois estão acostumados a trabalhar com os conceitos químicos distantes
de sua vida diária. Explosões, produtos tóxicos, cientista e radiação estão sempre
presentes nas colocações individuais e do grupo.
Essa etapa foi importante tanto para valorizar as respostas fornecidas pelos alunos, como também esclarecer algumas dúvidas. Após discutirmos sobre o que somos, consumimos ou utilizamos, os alunos concluíram que há intervenção da química em todos os aspectos, pois a própria vida é um complexo processo químico.
Após esta atividade, os alunos confeccionaram painéis usando ilustrações,
onde expressaram suas ideias e imagens sobre a química. As pesquisas foram em
casa ou no próprio ambiente escolar, coletando assim as informações solicitadas.
Figura 2- Representações dos alunos referentes às imagens da Química.
Algumas indicações dos alunos através de imagens destacam a Química
associada, na maioria das vezes, a materiais de laboratório, não esquecendo do
cientista fazendo uma experiência que resulta na liberação de gases que pode
provocar de alguma forma perigo, destacando também a representação de
substâncias corrosivas e perigosas, fumaças nas chaminés de indústrias que são as
principais imagens associadas à Química como fonte de poluição.
Outra pesquisa, objetivando o conhecimento químico foi o de procurar em
jornais, revistas, notícias ou entrevistas que revelam o que as pessoas pensam
sobre a Química. Em relação às respostas apresentadas, observa-se que a maioria
vê a química como uma Ciência e que está diretamente relacionada com a produção
de remédios e cosméticos, mas não deixam de colocá-la como prejudicial ao meio
ambiente. Reconheceram a importância de estudar a química e consideram que a
mesma, pode ajudar no dia-a-dia, seja para conhecer melhor os produtos que
consome, como também para conhecer a constituição da matéria de modo geral.
Também pode-se destacar o fornecimento de diversos produtos responsáveis pelo
nosso conforto e na produção de energia.
Os estudantes associam a química com a poluição e a contaminação do
meio ambiente, demonstrando em suas concepções certa dificuldade em distinguir a
química com a atividade da indústria ou os responsáveis pela aplicação desta
Ciência. Usam o argumento que Química pode melhorar a qualidade de vida do
homem, e que para isso é só saber usá-la.
Nas aulas seguintes, os alunos apresentaram oralmente seus trabalhos e
posteriormente os painéis foram expostos no pátio do colégio. Pelo depoimento dos
alunos, o fato de associar a ciência química ao cotidiano, ela se tornou de mais fácil
entendimento.
Na unidade 2, a atividade foi desenvolvida com o rótulo do produto
alimentício Granola e as questões, tiradas do livro “Aprender ciências um Mundo de
Materiais”, (LIMA e outros. p.13 e 14). Nesta etapa foram explorados os conceitos de
substâncias e misturas, composição de materiais, aditivos químicos, estudo da
matéria e sua natureza e a energia envolvida nas transformações, e a tabela
periódica, que pode ser considerada um grande mapa que permite descobertas
importantes sobre a matéria e sua natureza.
Foi solicitado aos alunos que a partir do rótulo da granola, eles analisassem
e interpretassem individualmente, questões como: a) Qual deve ser a intenção do
fabricante quando utiliza as frases: ”Sua saúde ao natural” e “isento de qualquer
produto químico”, no rótulo desse alimento? b) Você concorda com o fabricante ao
afirmar que “a granola não tem química?” c) Qual a composição da granola que está
indicada em seu rótulo? Entre outras.
Quanto a intenção do autor, como é bastante subjetiva, os alunos fizeram as
seguintes leituras:
Figura 3- Opinião dos alunos sobre os dizeres do rótulo “Sua saúde ao natural” e “isento de qualquer produto químico”
Figura 4- Respostas dos alunos sobre afirmar que “a granola não tem química?”
Observa-se pelas respostas dos alunos, que eles começam a fazer uma
nova leitura de rótulos. Conseguem diferenciar conceitos científicos do senso
comum conforme as atividades desenvolvidas a seguir.
Proponha um rótulo alternativo para a granola, que informe corretamente o consumidor . Aluno A- Granola, por uma vida mais saudável e prolongada, muito mais saúde
para você.
Aluno B- Granola: possui alguns produtos químicos e também é natural, mas ajuda
muito a manter seu corpo escultural.
No rótulo do produto alimentício granola é colocado a presença de elementos minerais. Quais são esses elementos? Todos os alunos: sódio, potássio, magnésio, cálcio, manganês, ferro, cobre, zinco,
fósforo, selênio, etc.
A granola é uma substância ou mistura? Por quê?Todos os alunos: Sim, é uma mistura, pois é formada por vários elementos.
Por que recomenda-se que o produto deve ser guardado sob refrigeração?Todos os alunos: Recomenda-se a refrigeração para aumentar o tempo de
conservação do produto.
Ao iniciar as atividades descritas anteriormente os alunos demonstraram
muito entusiasmo, pois puderam saborear o alimento granola. Alguns alunos
disseram que nunca tinham provado, mas foi lembrado que este alimento faz parte
do cardápio da merenda escolar, só assim alguns se recordaram do produto que já
haviam consumido sem conhecer o nome e seus benefícios para a saúde. O
alimento foi consumido com iogurte o que fez com que eles o aprovassem.
Com os questionamentos, nota-se que a maioria dos alunos, entende que
mesmo diante de um produto natural como a granola, ele possui substâncias
químicas, e entende que se trata de uma mistura, pois é formada por vários
elementos.
Os alunos desenvolveram outras atividades envolvendo o tema: Tabela
Periódica, onde trabalharam com a localização dos elementos na tabela e suas
propriedades. O interesse pelo tema foi maior, pois os elementos destacados foram
estudados no rótulo do produto granola.
Na unidade 3, com o uso de um panfleto de um produto de limpeza de
piscina e as questões, tiradas do livro “Aprender ciências um Mundo de Materiais”,
(LIMA e outros p.13 e 14) os alunos analisaram e interpretaram, individualmente,
algumas questões de modo a reelaborar ideias, sobre os diversos conceitos
abordados. Nesta etapa, explorou-se o processo de separação de misturas,
pesquisaram os métodos de separação de misturas homogêneas e heterogêneas,
usando como recurso o próprio livro didático e também outras fontes.
Os resultados dos questionamentos estão representados a seguir:
Figura 5- Opinião dos alunos sobre a possibilidade de limpeza de uma piscina sem produtos químicos.
Quando ao anunciante diz “livre-se de produtos químicos em sua piscina”
nota-se que os alunos, já entendem que mais uma vez, as colocações da mídia
fazem oposição aos produtos químicos, dizendo que o mesmo deve ser evitado. E
entendem que para limpeza de uma piscina é necessário o uso da química direta ou
indiretamente, caso contrário o processo de purificação não é satisfatório.
Ao verificar o rótulo do produto aparecem as informações: “Tecnologia
utilizada pela NASA. A água é tão pura que você pode bebê-la! O único do mercado
que contém eletrodo com cobre e prata”. Ao dizer que o produto utiliza íons de cobre
e prata, o anunciante faz antagonismos ao uso do cloro, esquecendo que prata e
cobre também são substâncias químicas. Estas observações são feitas pelos
alunos, que reconhecem as informações confusas que o anunciante quer passar.
Ao propor um anúncio alternativo que atraia os consumidores, sugeriram
menções, como: menos química em sua composição, com produtos químicos, sua
piscina bem tratada com a química, etc.
Outros conceitos referentes ao processo de purificação convencional e o
solicitado pela propaganda na purificação de água de uma piscina foi abordado com
os alunos, reforçando o tema de estudo e aprofundando mais o conhecimento sobre
o processo de purificação da água também nas estações de tratamento. A atividade
no laboratório de informática, foi destacada pelos alunos como muito interessante,
pois a internet é um recurso que vem sendo estendido, nos últimos tempos, a uma
parcela cada vez maior da população. Com o acesso a animação "Super
microscópio virtual", ampliaram o conhecimento de como ocorre a separação de
misturas e também os sistemas heterogêneos de maneira interativa e descontraída.
Ao pesquisar em jornais, revistas, folhetos de publicidade e nos rótulos de
produtos a presença de mensagens semelhantes àquelas apresentadas acima
(granola, sistema de limpeza de piscina), os alunos identificaram que muitas
propagandas veiculadas pela mídia, apresentam colocações que retratam a química
de forma prejudicial a saúde de modo geral.
Já conhecendo os conceitos, foram até o laboratório de informática e fizeram
o uso do recurso animado disponível no "Portal do professor. mec.gov.br",
conhecido como "Super microscópio virtual", onde através da interatividade vão
conhecendo as informações que lhes são fornecidas. Em uma das etapas, eles
escolheram diferentes materiais, onde clicaram sobre os mesmos e identificaram os
elementos que os formavam, conhecendo sua fórmula e se eram misturas de
substâncias ou substâncias puras.
Na unidade 4, utilizou-se o texto “Pão com química ou pão sem química”.
Frequentemente deparamos com informações impressas em saquinhos de
padaria com frases do tipo:
"Pão sem química""Produtos naturais que não contém química”"Pão fresquinho a toda hora, feito sem Química".
A utilização indevida dos conhecimentos químicos não deve ser confundida com a Química em si, cujas benéficas aplicações têm salvo vidas e aumentado o conforto de nossa civilização.
Essas frases revelam uma estranha ignorância por parte de seus autores.
Contudo, não fique revoltado caso já as tenha pronunciado ou concordado com elas!
O termo ignorância está sendo empregado, aqui, não num sentido
agressivo, mas sim em sua verdadeira acepção, como derivado do verbo ignorar,
que significa desconhecer. Assim, pode-se dizer que os autores de tais frases são
ignorantes, ou seja, desconhecedores de importantes informações acerca daquilo
que pretenderam dizer, não o conseguindo fazer, por uma escolha infeliz de
palavras.
Podemos dizer que três informações básicas faltam aos autores dessas
frases.
A primeira está relacionada ao fato de a Química ser uma Ciência, ou seja,
um ramo do conhecimento humano que busca compreender melhor alguns
acontecimentos que ocorrem na natureza e/ou em laboratório (acontecimentos estes
chamados de fenômeno), estudando-os através de uma linha organizada de trabalho
denominada método científico. Assim sendo, é difícil imaginar como seria um "pão
com Química", já que a Química não é um objeto, muito menos algum misterioso pó
que possa ser adicionado deliberadamente pelo padeiro.
Aqui surge um segundo ponto importante. Muito provavelmente, os autores
das frases citadas se valeram da palavra Química como sinônimo de "aditivo
alimentar artificial" ou "substância nociva à saúde" ou, ainda, "alguma porcaria que
faça o pão crescer mais que o normal". Usar “Química como substituto de “veneno”
é uma prática incorreta e muito frequente, que você já deve ter verificado em outras
frases do tipo”:
"Alimentos enlatados dão câncer devido à Química que os fabricantes adicionam"
"Instalei em casa uma piscina com um sistema que usa tratamento totalmente natural, isento de Química".
"Não tomo remédios, pois contém muita Química" Nesse contexto cabe então salientar que, embora muitas vezes o senso
comum relacione a palavra "Química" a fatos catastróficos, como a destruição da
camada de ozônio, a poluição do ar e das águas, o efeito estufa e, também, as de
substâncias tóxicas eventualmente presentes no que comemos ou bebemos, a
Química é uma Ciência cujas consequências fazem parte de nosso dia-a-dia mais
corriqueiro. A utilização indevida dos conhecimentos químicos motivada pela má-fé,
pela ganância, ou ainda, por ideologias duvidosas não deve ser confundida com
essa Ciência em si, cujas, benéficas aplicações têm salvo vidas e aumentado o nível
de conforto de nossa civilização.
Uma terceira informação, ignorada pelos autores das frases citadas, pode
ser melhor entendida se aprendermos algo sobre o processo de panificação. Após
fazer a massa com farinha, água, sal e fermento, o padeiro deixa-a repousar por
algum tempo antes de assá-la. É durante esse período de repouso que o fermento
de padaria, mais apropriadamente chamado de "fermento biológico" (comercializado,
por exemplo, com a marca Fleischmann, etc.), vai atuar. Nele há pequenos micro-
organismos chamados Saccharomyces cerevisiae, usados também na fabricação de
cerveja, que auxiliam o padeiro através de duas reações químicas executadas a
partir do amido da farinha:
Amido → glicose
Glicose → álcool + gás carbônico
Na primeira etapa, moléculas de amido são quebradas em unidades
menores, chamadas glicose. Essas, por sua vez, são transformadas numa segunda
etapa, em álcool e gás carbônico. É justamente a liberação desse gás dentro da
massa que faz o pão crescer e ficar fofinho.
Portanto, podemos dizer que os autores de frases do tipo "pão sem
Química" ignoram que todo padeiro, diariamente, produz reações químicas para
fabricar o pão. Assim sendo, seria mais conveniente dizer (embora sem impacto
publicitário) que o produto é "pão feito com o auxílio da Química, mas sem aditivos
artificiais". (CANTO, 2009).
Os alunos fizeram a leitura individual, seguido de debates. Os alunos
fizeram, em grupo, pesquisa nas padarias sobre os ingredientes utilizados na
fabricação do pão francês, e de pesquisa na internet sobre as reações que ocorrem
nesta fabricação e assistiram a um vídeo "O milagre das massas" tendo como
objetivo entenderem a diferença entre o fermento biológico e o químico além de
seus princípios.
No final dessa etapa, os alunos registraram, em seus cadernos, uma síntese
das atividades desenvolvidas nesta etapa.
O texto favoreceu, facilitou e aprofundou o entendimento do conteúdo
abordado. Quando foi pedido que fizessem um resumo sobre as ideias
desenvolvidas até o momento, abordando: a imagem da química que se tem,
observamos as seguintes colocações de alguns alunos da turma:
Aluno 1 - A palavra Química, muitas vezes, confunde a cabeça das pessoas
e faz com que elas pensem que Química é uma coisa ruim, ligada a poluição,
catástrofes e isso não é verdade. A química, muitas vezes, ajuda as pessoas de
várias maneiras e elas não dão conta disso. Quando a pessoa se tem uma visão
errada passa para outra da mesma forma e vai transformando a química em um
“bicho de sete cabeças”.
Aluno 2 - Química é uma palavra meio confusa para os seres humanos.
Química, que para entender, tem que ser bem estudada, pois cada um a vê de um
jeito: poluindo, explodindo... mas percebemos, em nossa visão e dos cientistas, que
existe um mistério ainda em torno dela.
Aluno 3 - A química é sempre colocada como tóxica, mas na verdade não é
assim, ela está nos agrotóxicos e em nossa comida também. A química não é só
algo que polui, mas também ajuda muito na sustentação do planeta.
Aluno 4 - As ideias que eu tinha sobre a química mudaram completamente,
eu pensava que a química somente fizesse mal, mas ela é uma aliada do ser
humano, pois está presente em nosso lazer, na comida, nos temperos entre outras
coisas.
Praticamente todos os alunos mostraram interesse em trabalhar com
situações do cotidiano para entender um assunto de química, principalmente por se
tratar daquilo que ele ingere diariamente, o pão nosso de cada dia.
A atividade on line, realizada no laboratório de informática foi motivadora,
aumentando o interesse dos alunos, que aprenderam a diferenciar o fermento
químico do biológico e identificar a aplicabilidade de cada tipo de fermento, com isso
relacionando ciência, tecnologia e sociedade.
Os alunos representaram a equação química que representa a reação de
decomposição do bromato de potássio e o nome do gás formado. Percebeu-se que
eles se sentem capazes de compreender e entender que a química não acontece
somente no laboratório e é representada apenas por meio de fórmulas, mas está
presente na sua vida e em todas as suas atividades diárias.
A partir do estudo realizado, os alunos mostraram-se mais atentos as
informações contidas nas embalagens dos produtos, e consequentemente irão saber
e decidir sobre a compra de um produto ou não, sobre a confiabilidade do mesmo
em termos de sua ação no organismo e também com o ambiente.
Na unidade 5, “A química em nossas casas” os alunos anotaram em uma
ficha entregue pelo professor, conforme Quadro 1, informações a partir dos rótulos
dos produtos que continham em casa.
QUADRO 1- A Química em nossas casas.
Finalidade Exemplo de um produto
Fonte: natural ou artificial (sintético)
Componentesindicados no rótulo
Alimentação
Para adicionar aos alimentos durante a confecção.Para conservar a comida
Limpeza
Para a higiene pessoal
Para a lavagem de roupa
Para a limpeza de superfícies (chão, paredes, janelas, etc.)
Cuidados pessoais
Para uso cosmético
Para coloração do cabelo
Farmácia
Para tratamento das doenças
Combustível (cozinhar, aquecer, transporte)Crescimento e proteção de plantasPara exterminação de pragas de insetos
Esta atividade de pesquisa desenvolvida permitiu ao aluno fazer um
levantamento dos produtos químicos existentes em sua casa, onde alguns alunos
colocaram que a química o acompanha 24 horas por dia. Puderam perceber que ela
está presente praticamente em todos os produtos que utilizamos no dia-a-dia, ou
que de alguma forma participa na produção de matérias que serão úteis ao seu
conforto.
Pelas colocações feitas pelos alunos, a maioria percebeu a importância da
química nas atividades de seu cotidiano.
3 CONCLUSÃO
É notória a existência de uma grande dificuldade no ensino de Química,
pois, geralmente os alunos têm uma grande aversão à disciplina, por considerarem
os conteúdos complexos ou desnecessários. Estas dificuldades apresentadas pelos
alunos podem ser minimizadas por metodologias que envolvam contextualização e
introdução de assuntos que sejam do interesse dos alunos, fazendo com que estes
reconheçam a utilidade e a validade ou o significado do que estudam.
As atividades de leitura e interpretação utilizando-se leituras de
propagandas, rótulos, pesquisas, desenvolvido com os alunos, buscaram-se
valorizar a discussão, a mediação por meio dos textos do cotidiano e fez com que os
alunos mostrassem maior interesse pelas aulas, participando, trazendo exemplos do
seu dia-a-dia relacionado aos conteúdos abordados durante as aulas. A abordagem
de questões cotidianas atuais ajudou o aluno a ser mais crítico, pois estratégias
diferenciadas de ensino como o incentivo a pesquisa, a leitura científica, permitem
que o aluno seja um sujeito ativo no seu processo de construção de conhecimento.
A realização deste trabalho se caracterizou como uma oportunidade para
repensarmos a educação química e buscarmos novos caminhos, os quais nos
propiciaram também mudanças de concepções de ensino e aprendizagens em
Química. A partir das análises dos registros dos alunos, foi possível constatar
resultados significativos como maior interesse e participação dos alunos nas
diferentes situações de aprendizagem, facilitando não só a construção dos
conhecimentos químicos por parte desses alunos, como também o desenvolvimento
de valores e atitudes para uma formação cidadã.
REFERÊNCIAS
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BERNARDELLI, M.S. Encantar para ensinar – um procedimento alternativo para o ensino de química. In: Convenção Brasil Latino América, Congresso Brasileiro e Encontro Paranaense de Psicoterapias Corporais. 1.,4.,9., Foz do Iguaçu. Anais... Centro Reichiano, 2004. CD-ROM.
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