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ESTUDO DE TEXTOS NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO QUÍMICO Elis Cristina Correr 1 Flaveli Aparecida de Souza Almeida 2 RESUMO O aprendizado significativo no ensino de Química implica o desenvolvimento de uma série de requisitos e habilidades, além da compreensão de conceitos específicos. Pensar, nesse campo específico do conhecimento, envolve raciocínios nos níveis do que é observável, do macroscópico e do microscópico. Além da articulação entre esses domínios, exige a aprendizagem de uma linguagem simbólica específica. Essa complexidade dificulta a aprendizagem de Química e conduz à sensação, bastante difundida socialmente, de que esta não seja uma disciplina de fácil compreensão. A maneira como a Química é abordada nas escolas pode ter contribuído para a difusão de concepções distorcidas dessa ciência, uma vez que os conceitos são apresentados na maioria das vezes aos nossos alunos de forma puramente teórica. Com o objetivo de investigar o conhecimento químico prévio do aluno do 1º ano do ensino médio, desmistificando a visão que eles têm da química, associada às coisas ruins e nocivas à saúde, relacionando o conteúdo químico de sala de aula, desenvolveu-se um projeto de leitura no Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa - Arapongas/PR. A metodologia consistiu no desenvolvimento de atividades de leitura e interpretação, utilizando-se de propagandas, rótulos e pesquisa. Buscou-se valorizar, por meio dos textos do cotidiano como principal recurso pedagógico, a leitura, a discussão, a mediação e o levantamento de questionamentos. Os resultados alcançados foram satisfatórios, indicando maior interesse e crescimento dos alunos em termos de aprendizagem dos conceitos químicos e a autonomia no desenvolvimento das atividades propostas. Este projeto ainda despertou, na maioria dos alunos, o interesse pela química como ciência e os fizeram perceber que esta ciência atua como um instrumento prático para a resolução de problema e conhecimento em muitas áreas da atuação da vida humana e questões relevantes e importantes do dia-a-dia. Assim a realização deste trabalho se caracterizou como uma oportunidade para repensarmos a educação química e buscarmos novos caminhos, os quais nos propiciaram também mudanças de concepções de ensino e aprendizagens em Química. Palavras - chave: leitura; química; cotidiano; aprendizagem. _______________________________ 1 Professora de Química do Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa – Arapongas (PR) - Especialista em Ensino de Química pela UNOPAR. 2 Professora doutora do Departamento de Química/UEL

ESTUDO DE TEXTOS NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO · criam expectativa negativa em relação à Química. As notícias, que envolvem catástrofes ambientais, fabricação de armas, especialmente,

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ESTUDO DE TEXTOS NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO QUÍMICO

Elis Cristina Correr1

Flaveli Aparecida de Souza Almeida 2

RESUMO

O aprendizado significativo no ensino de Química implica o desenvolvimento de uma série de requisitos e habilidades, além da compreensão de conceitos específicos. Pensar, nesse campo específico do conhecimento, envolve raciocínios nos níveis do que é observável, do macroscópico e do microscópico. Além da articulação entre esses domínios, exige a aprendizagem de uma linguagem simbólica específica. Essa complexidade dificulta a aprendizagem de Química e conduz à sensação, bastante difundida socialmente, de que esta não seja uma disciplina de fácil compreensão. A maneira como a Química é abordada nas escolas pode ter contribuído para a difusão de concepções distorcidas dessa ciência, uma vez que os conceitos são apresentados na maioria das vezes aos nossos alunos de forma puramente teórica. Com o objetivo de investigar o conhecimento químico prévio do aluno do 1º ano do ensino médio, desmistificando a visão que eles têm da química, associada às coisas ruins e nocivas à saúde, relacionando o conteúdo químico de sala de aula, desenvolveu-se um projeto de leitura no Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa - Arapongas/PR. A metodologia consistiu no desenvolvimento de atividades de leitura e interpretação, utilizando-se de propagandas, rótulos e pesquisa. Buscou-se valorizar, por meio dos textos do cotidiano como principal recurso pedagógico, a leitura, a discussão, a mediação e o levantamento de questionamentos. Os resultados alcançados foram satisfatórios, indicando maior interesse e crescimento dos alunos em termos de aprendizagem dos conceitos químicos e a autonomia no desenvolvimento das atividades propostas. Este projeto ainda despertou, na maioria dos alunos, o interesse pela química como ciência e os fizeram perceber que esta ciência atua como um instrumento prático para a resolução de problema e conhecimento em muitas áreas da atuação da vida humana e questões relevantes e importantes do dia-a-dia. Assim a realização deste trabalho se caracterizou como uma oportunidade para repensarmos a educação química e buscarmos novos caminhos, os quais nos propiciaram também mudanças de concepções de ensino e aprendizagens em Química.

Palavras - chave: leitura; química; cotidiano; aprendizagem.

_______________________________1 Professora de Química do Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa – Arapongas (PR) -Especialista em Ensino de Química pela UNOPAR.2 Professora doutora do Departamento de Química/UEL

1 INTRODUÇÃO

A Química é uma ciência que está fortemente inserida em nosso cotidiano

exercendo uma influência muito grande no contexto político, social e econômico, sob

diversos ângulos e perspectivas em nossa sociedade.

"O dia-a-dia das pessoas é repleto de situações relacionadas à Química e

estas não podem ser analisadas de maneira restrita e disciplinar, visto que envolvem

conhecimentos das diversas áreas do conhecimento." (RICHETTI, 2008).

Segundo Ausubel (1992), a aprendizagem é muito mais significativa à

medida que o novo conteúdo é incorporado às estruturas de conhecimento do aluno

e adquire significado para ele a partir da relação com seu conhecimento prévio.

Ao contrário, ela se torna mecânica ou repetitiva, uma vez que se produziu

menos essa incorporação e atribuição de significado, e o novo conteúdo passa a ser

armazenado isoladamente ou por meio de associações arbitrárias na estrutura

cognitiva.

Considerando-se que a pesquisa científica e a aproximação da teoria

química à realidade do dia-a-dia contribuem para as atividades educativas, levando

os alunos a se interessar mais pelo aprendizado da Química.

Segundo Chassot (1995), é preciso destacar a função dos educadores não

apenas na divulgação dos benefícios que a Química traz para a sociedade, mas

também, e principalmente, analisar criticamente interferências (muitas vezes

nocivas) desta no meio ambiente. É preciso que as alunas e os alunos não apenas

aprendam a ler melhor o mundo com o conhecimento químico que adquirem, mas

também sejam responsáveis pela transformação para melhor de nossos ambientes

natural e artificial.

Os alunos recebem, diariamente, informações em particular da mídia que

criam expectativa negativa em relação à Química. As notícias, que envolvem

catástrofes ambientais, fabricação de armas, especialmente, criam a imagem de que

a Química polui, envenena, machuca e até mata, gerando a expectativa de “tudo

que é bom não contém Química”, sem deixar claro que os tais malefícios são

advindos do seu mau uso ou de negligência. (ANHAIA; NOGUEIRA, 2005).

Muitos alunos argumentam que não gostam e até tem rejeição da disciplina

por ser difícil e não enxergam o quanto a mesma faz parte do seu cotidiano. Sabe-se

que os mesmos já conhecem muitos conceitos químicos, só precisam aprender a

reconhecê-los, discutir o conhecimento científico e aplicá-los para resolução de

questões reais que fazem parte do seu dia-a-dia. Poder-se-ia afirmar que essa

rejeição é também porque o ensino não é prazeroso ou não útil. (CHASSOT, 1992).

De acordo com Bernardelli (2004), muitas pessoas resistem ao estudo da

Química pela falta de um método que contextualize seus conteúdos. Muitos

estudantes do Ensino Médio têm dificuldade de relacioná-los em situações

cotidianas, pois ainda se espera deles a excessiva memorização de fórmulas,

nomes e tabelas.

O mesmo autor destaca que:

devemos criar condições favoráveis e agradáveis para o ensino e aprendizagem da disciplina, aproveitando, no primeiro momento, a vivência dos alunos, os fatos do dia-a-dia, a tradição cultural e a mídia, buscando com isso reconstruir os conhecimentos químicos para que o aluno possa refazer a leitura do seu mundo (BERNARDELLI, 2004, p. 2).

Acredita-se numa abordagem de ensino de Química voltada à construção e

reconstrução de significados dos conceitos científicos nas atividades em sala de

aula (MALDANER, 2003, p. 144), para que isso possa implicar em compreender o

conhecimento científico e tecnológico para além do domínio estrito dos conceitos de

Química.

A respeito do tratamento que a química vem sofrendo, Sardella (2003, p. 13)

diz que: É comum ouvirmos comentários que depreciam essa ciência, relacionando-a

a desastres ecológicos (derramamento de petróleo no mar), poluição (fumaça das chaminés) e envenenamentos (agrotóxicos). Esses fatos, infelizmente, encobrem as importantes conquistas do homem pelo conhecimento químico. Na verdade, o problema não está na química, mas no seu uso – ela, em si não é boa nem má. Ainda são muitos aqueles que, movidos por interesses ou grupos, utilizam-na para conquistar ou manter privilégios. Mudar essa situação não é papel somente do químico, mas de toda sociedade, que deve ser crítica e participativa, exigindo que o conhecimento promova uma qualidade de vida cada vez melhor e que permita uma coexistência harmoniosa entre o homem e o ambiente.

Com a intenção de mudar essa visão negativa que a maioria dos alunos tem

pela Química, a proposta do projeto de trabalho pautou-se no desenvolvimento de

ações que motivassem o interesse do aluno. Iniciou-se o estudo das concepções

prévias dos alunos sobre o conhecimento químico e a partir de suas respostas,

discutia-se sobre o tema de forma contextualizada, para possibilitá-los fazer a

relação entre seu cotidiano e o conhecimento científico e ainda, despertar o

conhecimento do estudante para agir de forma crítica e informada como cidadão. A

metodologia utilizando a leitura em suas diversas apresentações, como rótulos,

propagandas e artigo científicos, propiciou ao aluno a compreensão tanto dos

processos químicos em si, quanto da construção de um conhecimento científico em

estreita relação com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais,

sociais, políticas e econômicas.

2 DESENVOLVIMENTO

As atividades foram desenvolvidas com 20 alunos do 1º Ano do Ensino

Médio, do Colégio Estadual Walfredo Silveira Corrêa – Ensino Fundamental e

Médio, do município de Arapongas - Paraná. Construiu-se um caderno pedagógico

para nortear as ações que foram contempladas durante a implementação

pedagógica na escola. A metodologia utilizada constitui-se no desenvolvimento de

atividades de leitura e interpretação utilizando-se de propagandas, rótulos e

pesquisa, buscando a valorização da discussão, a mediação por meio dos textos do

cotidiano e levantamento de questionamentos, como principal recurso pedagógico.

As atividades desenvolvidas tiveram como objeto de investigação, o conhecimento

químico que o aluno disponibiliza e qual a sua ideia da Química, associando a

presença da química no cotidiano. O caderno pedagógico foi composto por cinco

unidades:

Unidade 1 - Elaborando e debatendo ideias sobre a química.

Unidade 2 - A Química no rótulo de um produto alimentar

Unidade 3 - A Química na limpeza de uma piscina.

Unidade 4 - “Pão com química ou pão sem química?”

Unidade 5 - A química em nossas casas.

Na unidade 1, foram apresentados aos alunos, recortes citando a palavra

“química” e dado especial atenção para alguns anúncios ou propagandas, que

retratam aspectos negativos passados pela Química:

“Piscina tratada sem produtos químicos”“Morangos saudáveis, sem química”“Alisamento sem química, não danifica seus cabelos”

“Limpeza sem química”

Os alunos foram instigados a pensar e discutirem sobre as frases que foram

apresentadas por meio de slides na TV pen drive da sala e alguns questionamentos

norteou as discussões sobre o tema, como: “Vocês já ouviram ou leram frases

assim?”, “É comum as pessoas dizerem que os produtos não tem química?”. Em

seguida, considerando a importância de valorizar os conhecimentos prévios dos

alunos, bem como sua participação no processo de ensino-aprendizagem, os alunos

responderam uma questão sobre as ideias que a palavra química lhe sugere quando

a lê ou a escuta.

Para a avaliação dos conceitos apresentados pelos alunos foram analisadas

as respostas apresentadas por eles, levando em consideração os conhecimentos

iniciais.

Figura 1. Opinião dos alunos sobre o que pensam sobre a química.

A grande maioria dos alunos associa a química a experiências e explosões

com fumaça, dando a impressão que a química esta diretamente ligada a

experimentos e grandes explosões, mostrando que o mundo está cercado de gases

poluentes, com materiais que podem destruir o ambiente, como a dinamite e o

planeta sendo destruído pela poluição. Portanto, consideram a química como sendo

na maioria das vezes a grande vilã dos desastres ocorridos no ambiente. Não

esquecendo que a figura do cientista em seu laboratório, dando a impressão que a

química está ligada somente a experimentos e descobertas realizadas por pessoas

malucas, é notória. Percebe-se que os alunos, na maioria das vezes, ou não

relacionam ou fazem pequenas associações com os assuntos de química com o seu

dia-a-dia, pois estão acostumados a trabalhar com os conceitos químicos distantes

de sua vida diária. Explosões, produtos tóxicos, cientista e radiação estão sempre

presentes nas colocações individuais e do grupo.

Essa etapa foi importante tanto para valorizar as respostas fornecidas pelos alunos, como também esclarecer algumas dúvidas. Após discutirmos sobre o que somos, consumimos ou utilizamos, os alunos concluíram que há intervenção da química em todos os aspectos, pois a própria vida é um complexo processo químico.

Após esta atividade, os alunos confeccionaram painéis usando ilustrações,

onde expressaram suas ideias e imagens sobre a química. As pesquisas foram em

casa ou no próprio ambiente escolar, coletando assim as informações solicitadas.

Figura 2- Representações dos alunos referentes às imagens da Química.

Algumas indicações dos alunos através de imagens destacam a Química

associada, na maioria das vezes, a materiais de laboratório, não esquecendo do

cientista fazendo uma experiência que resulta na liberação de gases que pode

provocar de alguma forma perigo, destacando também a representação de

substâncias corrosivas e perigosas, fumaças nas chaminés de indústrias que são as

principais imagens associadas à Química como fonte de poluição.

Outra pesquisa, objetivando o conhecimento químico foi o de procurar em

jornais, revistas, notícias ou entrevistas que revelam o que as pessoas pensam

sobre a Química. Em relação às respostas apresentadas, observa-se que a maioria

vê a química como uma Ciência e que está diretamente relacionada com a produção

de remédios e cosméticos, mas não deixam de colocá-la como prejudicial ao meio

ambiente. Reconheceram a importância de estudar a química e consideram que a

mesma, pode ajudar no dia-a-dia, seja para conhecer melhor os produtos que

consome, como também para conhecer a constituição da matéria de modo geral.

Também pode-se destacar o fornecimento de diversos produtos responsáveis pelo

nosso conforto e na produção de energia.

Os estudantes associam a química com a poluição e a contaminação do

meio ambiente, demonstrando em suas concepções certa dificuldade em distinguir a

química com a atividade da indústria ou os responsáveis pela aplicação desta

Ciência. Usam o argumento que Química pode melhorar a qualidade de vida do

homem, e que para isso é só saber usá-la.

Nas aulas seguintes, os alunos apresentaram oralmente seus trabalhos e

posteriormente os painéis foram expostos no pátio do colégio. Pelo depoimento dos

alunos, o fato de associar a ciência química ao cotidiano, ela se tornou de mais fácil

entendimento.

Na unidade 2, a atividade foi desenvolvida com o rótulo do produto

alimentício Granola e as questões, tiradas do livro “Aprender ciências um Mundo de

Materiais”, (LIMA e outros. p.13 e 14). Nesta etapa foram explorados os conceitos de

substâncias e misturas, composição de materiais, aditivos químicos, estudo da

matéria e sua natureza e a energia envolvida nas transformações, e a tabela

periódica, que pode ser considerada um grande mapa que permite descobertas

importantes sobre a matéria e sua natureza.

Foi solicitado aos alunos que a partir do rótulo da granola, eles analisassem

e interpretassem individualmente, questões como: a) Qual deve ser a intenção do

fabricante quando utiliza as frases: ”Sua saúde ao natural” e “isento de qualquer

produto químico”, no rótulo desse alimento? b) Você concorda com o fabricante ao

afirmar que “a granola não tem química?” c) Qual a composição da granola que está

indicada em seu rótulo? Entre outras.

Quanto a intenção do autor, como é bastante subjetiva, os alunos fizeram as

seguintes leituras:

Figura 3- Opinião dos alunos sobre os dizeres do rótulo “Sua saúde ao natural” e “isento de qualquer produto químico”

Figura 4- Respostas dos alunos sobre afirmar que “a granola não tem química?”

Observa-se pelas respostas dos alunos, que eles começam a fazer uma

nova leitura de rótulos. Conseguem diferenciar conceitos científicos do senso

comum conforme as atividades desenvolvidas a seguir.

Proponha um rótulo alternativo para a granola, que informe corretamente o consumidor . Aluno A- Granola, por uma vida mais saudável e prolongada, muito mais saúde

para você.

Aluno B- Granola: possui alguns produtos químicos e também é natural, mas ajuda

muito a manter seu corpo escultural.

No rótulo do produto alimentício granola é colocado a presença de elementos minerais. Quais são esses elementos? Todos os alunos: sódio, potássio, magnésio, cálcio, manganês, ferro, cobre, zinco,

fósforo, selênio, etc.

A granola é uma substância ou mistura? Por quê?Todos os alunos: Sim, é uma mistura, pois é formada por vários elementos.

Por que recomenda-se que o produto deve ser guardado sob refrigeração?Todos os alunos: Recomenda-se a refrigeração para aumentar o tempo de

conservação do produto.

Ao iniciar as atividades descritas anteriormente os alunos demonstraram

muito entusiasmo, pois puderam saborear o alimento granola. Alguns alunos

disseram que nunca tinham provado, mas foi lembrado que este alimento faz parte

do cardápio da merenda escolar, só assim alguns se recordaram do produto que já

haviam consumido sem conhecer o nome e seus benefícios para a saúde. O

alimento foi consumido com iogurte o que fez com que eles o aprovassem.

Com os questionamentos, nota-se que a maioria dos alunos, entende que

mesmo diante de um produto natural como a granola, ele possui substâncias

químicas, e entende que se trata de uma mistura, pois é formada por vários

elementos.

Os alunos desenvolveram outras atividades envolvendo o tema: Tabela

Periódica, onde trabalharam com a localização dos elementos na tabela e suas

propriedades. O interesse pelo tema foi maior, pois os elementos destacados foram

estudados no rótulo do produto granola.

Na unidade 3, com o uso de um panfleto de um produto de limpeza de

piscina e as questões, tiradas do livro “Aprender ciências um Mundo de Materiais”,

(LIMA e outros p.13 e 14) os alunos analisaram e interpretaram, individualmente,

algumas questões de modo a reelaborar ideias, sobre os diversos conceitos

abordados. Nesta etapa, explorou-se o processo de separação de misturas,

pesquisaram os métodos de separação de misturas homogêneas e heterogêneas,

usando como recurso o próprio livro didático e também outras fontes.

Os resultados dos questionamentos estão representados a seguir:

Figura 5- Opinião dos alunos sobre a possibilidade de limpeza de uma piscina sem produtos químicos.

Quando ao anunciante diz “livre-se de produtos químicos em sua piscina”

nota-se que os alunos, já entendem que mais uma vez, as colocações da mídia

fazem oposição aos produtos químicos, dizendo que o mesmo deve ser evitado. E

entendem que para limpeza de uma piscina é necessário o uso da química direta ou

indiretamente, caso contrário o processo de purificação não é satisfatório.

Ao verificar o rótulo do produto aparecem as informações: “Tecnologia

utilizada pela NASA. A água é tão pura que você pode bebê-la! O único do mercado

que contém eletrodo com cobre e prata”. Ao dizer que o produto utiliza íons de cobre

e prata, o anunciante faz antagonismos ao uso do cloro, esquecendo que prata e

cobre também são substâncias químicas. Estas observações são feitas pelos

alunos, que reconhecem as informações confusas que o anunciante quer passar.

Ao propor um anúncio alternativo que atraia os consumidores, sugeriram

menções, como: menos química em sua composição, com produtos químicos, sua

piscina bem tratada com a química, etc.

Outros conceitos referentes ao processo de purificação convencional e o

solicitado pela propaganda na purificação de água de uma piscina foi abordado com

os alunos, reforçando o tema de estudo e aprofundando mais o conhecimento sobre

o processo de purificação da água também nas estações de tratamento. A atividade

no laboratório de informática, foi destacada pelos alunos como muito interessante,

pois a internet é um recurso que vem sendo estendido, nos últimos tempos, a uma

parcela cada vez maior da população. Com o acesso a animação "Super

microscópio virtual", ampliaram o conhecimento de como ocorre a separação de

misturas e também os sistemas heterogêneos de maneira interativa e descontraída.

Ao pesquisar em jornais, revistas, folhetos de publicidade e nos rótulos de

produtos a presença de mensagens semelhantes àquelas apresentadas acima

(granola, sistema de limpeza de piscina), os alunos identificaram que muitas

propagandas veiculadas pela mídia, apresentam colocações que retratam a química

de forma prejudicial a saúde de modo geral.

Já conhecendo os conceitos, foram até o laboratório de informática e fizeram

o uso do recurso animado disponível no "Portal do professor. mec.gov.br",

conhecido como "Super microscópio virtual", onde através da interatividade vão

conhecendo as informações que lhes são fornecidas. Em uma das etapas, eles

escolheram diferentes materiais, onde clicaram sobre os mesmos e identificaram os

elementos que os formavam, conhecendo sua fórmula e se eram misturas de

substâncias ou substâncias puras.

Na unidade 4, utilizou-se o texto “Pão com química ou pão sem química”.

Frequentemente deparamos com informações impressas em saquinhos de

padaria com frases do tipo:

"Pão sem química""Produtos naturais que não contém química”"Pão fresquinho a toda hora, feito sem Química".

A utilização indevida dos conhecimentos químicos não deve ser confundida com a Química em si, cujas benéficas aplicações têm salvo vidas e aumentado o conforto de nossa civilização.

Essas frases revelam uma estranha ignorância por parte de seus autores.

Contudo, não fique revoltado caso já as tenha pronunciado ou concordado com elas!

O termo ignorância está sendo empregado, aqui, não num sentido

agressivo, mas sim em sua verdadeira acepção, como derivado do verbo ignorar,

que significa desconhecer. Assim, pode-se dizer que os autores de tais frases são

ignorantes, ou seja, desconhecedores de importantes informações acerca daquilo

que pretenderam dizer, não o conseguindo fazer, por uma escolha infeliz de

palavras.

Podemos dizer que três informações básicas faltam aos autores dessas

frases.

A primeira está relacionada ao fato de a Química ser uma Ciência, ou seja,

um ramo do conhecimento humano que busca compreender melhor alguns

acontecimentos que ocorrem na natureza e/ou em laboratório (acontecimentos estes

chamados de fenômeno), estudando-os através de uma linha organizada de trabalho

denominada método científico. Assim sendo, é difícil imaginar como seria um "pão

com Química", já que a Química não é um objeto, muito menos algum misterioso pó

que possa ser adicionado deliberadamente pelo padeiro.

Aqui surge um segundo ponto importante. Muito provavelmente, os autores

das frases citadas se valeram da palavra Química como sinônimo de "aditivo

alimentar artificial" ou "substância nociva à saúde" ou, ainda, "alguma porcaria que

faça o pão crescer mais que o normal". Usar “Química como substituto de “veneno”

é uma prática incorreta e muito frequente, que você já deve ter verificado em outras

frases do tipo”:

"Alimentos enlatados dão câncer devido à Química que os fabricantes adicionam"

"Instalei em casa uma piscina com um sistema que usa tratamento totalmente natural, isento de Química".

"Não tomo remédios, pois contém muita Química" Nesse contexto cabe então salientar que, embora muitas vezes o senso

comum relacione a palavra "Química" a fatos catastróficos, como a destruição da

camada de ozônio, a poluição do ar e das águas, o efeito estufa e, também, as de

substâncias tóxicas eventualmente presentes no que comemos ou bebemos, a

Química é uma Ciência cujas consequências fazem parte de nosso dia-a-dia mais

corriqueiro. A utilização indevida dos conhecimentos químicos motivada pela má-fé,

pela ganância, ou ainda, por ideologias duvidosas não deve ser confundida com

essa Ciência em si, cujas, benéficas aplicações têm salvo vidas e aumentado o nível

de conforto de nossa civilização.

Uma terceira informação, ignorada pelos autores das frases citadas, pode

ser melhor entendida se aprendermos algo sobre o processo de panificação. Após

fazer a massa com farinha, água, sal e fermento, o padeiro deixa-a repousar por

algum tempo antes de assá-la. É durante esse período de repouso que o fermento

de padaria, mais apropriadamente chamado de "fermento biológico" (comercializado,

por exemplo, com a marca Fleischmann, etc.), vai atuar. Nele há pequenos micro-

organismos chamados Saccharomyces cerevisiae, usados também na fabricação de

cerveja, que auxiliam o padeiro através de duas reações químicas executadas a

partir do amido da farinha:

Amido → glicose

Glicose → álcool + gás carbônico

Na primeira etapa, moléculas de amido são quebradas em unidades

menores, chamadas glicose. Essas, por sua vez, são transformadas numa segunda

etapa, em álcool e gás carbônico. É justamente a liberação desse gás dentro da

massa que faz o pão crescer e ficar fofinho.

Portanto, podemos dizer que os autores de frases do tipo "pão sem

Química" ignoram que todo padeiro, diariamente, produz reações químicas para

fabricar o pão. Assim sendo, seria mais conveniente dizer (embora sem impacto

publicitário) que o produto é "pão feito com o auxílio da Química, mas sem aditivos

artificiais". (CANTO, 2009).

Os alunos fizeram a leitura individual, seguido de debates. Os alunos

fizeram, em grupo, pesquisa nas padarias sobre os ingredientes utilizados na

fabricação do pão francês, e de pesquisa na internet sobre as reações que ocorrem

nesta fabricação e assistiram a um vídeo "O milagre das massas" tendo como

objetivo entenderem a diferença entre o fermento biológico e o químico além de

seus princípios.

No final dessa etapa, os alunos registraram, em seus cadernos, uma síntese

das atividades desenvolvidas nesta etapa.

O texto favoreceu, facilitou e aprofundou o entendimento do conteúdo

abordado. Quando foi pedido que fizessem um resumo sobre as ideias

desenvolvidas até o momento, abordando: a imagem da química que se tem,

observamos as seguintes colocações de alguns alunos da turma:

Aluno 1 - A palavra Química, muitas vezes, confunde a cabeça das pessoas

e faz com que elas pensem que Química é uma coisa ruim, ligada a poluição,

catástrofes e isso não é verdade. A química, muitas vezes, ajuda as pessoas de

várias maneiras e elas não dão conta disso. Quando a pessoa se tem uma visão

errada passa para outra da mesma forma e vai transformando a química em um

“bicho de sete cabeças”.

Aluno 2 - Química é uma palavra meio confusa para os seres humanos.

Química, que para entender, tem que ser bem estudada, pois cada um a vê de um

jeito: poluindo, explodindo... mas percebemos, em nossa visão e dos cientistas, que

existe um mistério ainda em torno dela.

Aluno 3 - A química é sempre colocada como tóxica, mas na verdade não é

assim, ela está nos agrotóxicos e em nossa comida também. A química não é só

algo que polui, mas também ajuda muito na sustentação do planeta.

Aluno 4 - As ideias que eu tinha sobre a química mudaram completamente,

eu pensava que a química somente fizesse mal, mas ela é uma aliada do ser

humano, pois está presente em nosso lazer, na comida, nos temperos entre outras

coisas.

Praticamente todos os alunos mostraram interesse em trabalhar com

situações do cotidiano para entender um assunto de química, principalmente por se

tratar daquilo que ele ingere diariamente, o pão nosso de cada dia.

A atividade on line, realizada no laboratório de informática foi motivadora,

aumentando o interesse dos alunos, que aprenderam a diferenciar o fermento

químico do biológico e identificar a aplicabilidade de cada tipo de fermento, com isso

relacionando ciência, tecnologia e sociedade.

Os alunos representaram a equação química que representa a reação de

decomposição do bromato de potássio e o nome do gás formado. Percebeu-se que

eles se sentem capazes de compreender e entender que a química não acontece

somente no laboratório e é representada apenas por meio de fórmulas, mas está

presente na sua vida e em todas as suas atividades diárias.

A partir do estudo realizado, os alunos mostraram-se mais atentos as

informações contidas nas embalagens dos produtos, e consequentemente irão saber

e decidir sobre a compra de um produto ou não, sobre a confiabilidade do mesmo

em termos de sua ação no organismo e também com o ambiente.

Na unidade 5, “A química em nossas casas” os alunos anotaram em uma

ficha entregue pelo professor, conforme Quadro 1, informações a partir dos rótulos

dos produtos que continham em casa.

QUADRO 1- A Química em nossas casas.

Finalidade Exemplo de um produto

Fonte: natural ou artificial (sintético)

Componentesindicados no rótulo

Alimentação

Para adicionar aos alimentos durante a confecção.Para conservar a comida

Limpeza

Para a higiene pessoal

Para a lavagem de roupa

Para a limpeza de superfícies (chão, paredes, janelas, etc.)

Cuidados pessoais

Para uso cosmético

Para coloração do cabelo

Farmácia

Para tratamento das doenças

Combustível (cozinhar, aquecer, transporte)Crescimento e proteção de plantasPara exterminação de pragas de insetos

Esta atividade de pesquisa desenvolvida permitiu ao aluno fazer um

levantamento dos produtos químicos existentes em sua casa, onde alguns alunos

colocaram que a química o acompanha 24 horas por dia. Puderam perceber que ela

está presente praticamente em todos os produtos que utilizamos no dia-a-dia, ou

que de alguma forma participa na produção de matérias que serão úteis ao seu

conforto.

Pelas colocações feitas pelos alunos, a maioria percebeu a importância da

química nas atividades de seu cotidiano.

3 CONCLUSÃO

É notória a existência de uma grande dificuldade no ensino de Química,

pois, geralmente os alunos têm uma grande aversão à disciplina, por considerarem

os conteúdos complexos ou desnecessários. Estas dificuldades apresentadas pelos

alunos podem ser minimizadas por metodologias que envolvam contextualização e

introdução de assuntos que sejam do interesse dos alunos, fazendo com que estes

reconheçam a utilidade e a validade ou o significado do que estudam.

As atividades de leitura e interpretação utilizando-se leituras de

propagandas, rótulos, pesquisas, desenvolvido com os alunos, buscaram-se

valorizar a discussão, a mediação por meio dos textos do cotidiano e fez com que os

alunos mostrassem maior interesse pelas aulas, participando, trazendo exemplos do

seu dia-a-dia relacionado aos conteúdos abordados durante as aulas. A abordagem

de questões cotidianas atuais ajudou o aluno a ser mais crítico, pois estratégias

diferenciadas de ensino como o incentivo a pesquisa, a leitura científica, permitem

que o aluno seja um sujeito ativo no seu processo de construção de conhecimento.

A realização deste trabalho se caracterizou como uma oportunidade para

repensarmos a educação química e buscarmos novos caminhos, os quais nos

propiciaram também mudanças de concepções de ensino e aprendizagens em

Química. A partir das análises dos registros dos alunos, foi possível constatar

resultados significativos como maior interesse e participação dos alunos nas

diferentes situações de aprendizagem, facilitando não só a construção dos

conhecimentos químicos por parte desses alunos, como também o desenvolvimento

de valores e atitudes para uma formação cidadã.

REFERÊNCIAS

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