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INPE-16645-TDI/1608 ESTUDO DO DESALINHAMENTO DAS FIBRAS NAS PROPRIEDADES MEC ˆ ANICAS DE COMP ´ OSITOS ESTRUTURAIS DE P ´ AS E ´ OLICAS Andr´ e Santiago Barros Tese de Doutorado do Curso de P´ os-Gradua¸ ao em Engenharia e Tecnologia Espaciais/Ciˆ encia e Tecnologia de Materiais e Sensores, orientada pelos Drs. Mirabel Cerqueira Rezende, e Eduardo Abramof, aprovada em 27 de novembro de 2009. Registro do documento original: <http://urlib.net/sid.inpe.br/mtc-m19@80/2010/01.15.11.17> INPE ao Jos´ e dos Campos 2010

Estudo do desalinhamento das fibras nas propriedades ...mtc-m16d.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-m19@80/2010/01.15.11.17/... · defeitos de desalinhamento de fibra do tipo ondulação

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INPE-16645-TDI/1608

ESTUDO DO DESALINHAMENTO DAS FIBRAS NAS

PROPRIEDADES MECANICAS DE COMPOSITOS

ESTRUTURAIS DE PAS EOLICAS

Andre Santiago Barros

Tese de Doutorado do Curso de Pos-Graduacao em Engenharia e Tecnologia

Espaciais/Ciencia e Tecnologia de Materiais e Sensores, orientada pelos Drs.

Mirabel Cerqueira Rezende, e Eduardo Abramof, aprovada em 27 de novembro de

2009.

Registro do documento original:

<http://urlib.net/sid.inpe.br/mtc-m19@80/2010/01.15.11.17>

INPE

Sao Jose dos Campos

2010

PUBLICADO POR:

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

Gabinete do Diretor (GB)

Servico de Informacao e Documentacao (SID)

Caixa Postal 515 - CEP 12.245-970

Sao Jose dos Campos - SP - Brasil

Tel.:(012) 3945-6911/6923

Fax: (012) 3945-6919

E-mail: [email protected]

CONSELHO DE EDITORACAO:

Presidente:

Dr. Gerald Jean Francis Banon - Coordenacao Observacao da Terra (OBT)

Membros:

Dra Maria do Carmo de Andrade Nono - Conselho de Pos-Graduacao

Dr. Haroldo Fraga de Campos Velho - Centro de Tecnologias Especiais (CTE)

Dra Inez Staciarini Batista - Coordenacao Ciencias Espaciais e Atmosfericas (CEA)

Marciana Leite Ribeiro - Servico de Informacao e Documentacao (SID)

Dr. Ralf Gielow - Centro de Previsao de Tempo e Estudos Climaticos (CPT)

Dr. Wilson Yamaguti - Coordenacao Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE)

BIBLIOTECA DIGITAL:

Dr. Gerald Jean Francis Banon - Coordenacao de Observacao da Terra (OBT)

Marciana Leite Ribeiro - Servico de Informacao e Documentacao (SID)

Jefferson Andrade Ancelmo - Servico de Informacao e Documentacao (SID)

Simone A. Del-Ducca Barbedo - Servico de Informacao e Documentacao (SID)

REVISAO E NORMALIZACAO DOCUMENTARIA:

Marciana Leite Ribeiro - Servico de Informacao e Documentacao (SID)

Marilucia Santos Melo Cid - Servico de Informacao e Documentacao (SID)

Yolanda Ribeiro da Silva Souza - Servico de Informacao e Documentacao (SID)

EDITORACAO ELETRONICA:

Viveca Sant´Ana Lemos - Servico de Informacao e Documentacao (SID)

INPE-16645-TDI/1608

ESTUDO DO DESALINHAMENTO DAS FIBRAS NAS

PROPRIEDADES MECANICAS DE COMPOSITOS

ESTRUTURAIS DE PAS EOLICAS

Andre Santiago Barros

Tese de Doutorado do Curso de Pos-Graduacao em Engenharia e Tecnologia

Espaciais/Ciencia e Tecnologia de Materiais e Sensores, orientada pelos Drs.

Mirabel Cerqueira Rezende, e Eduardo Abramof, aprovada em 27 de novembro de

2009.

Registro do documento original:

<http://urlib.net/sid.inpe.br/mtc-m19@80/2010/01.15.11.17>

INPE

Sao Jose dos Campos

2010

Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacao (CIP)

Barros, Andre Santiago.B278es Estudo do desalinhamento das fibras nas propriedades meca-

nicas de compositos estruturais de pas eolicas / Andre SantiagoBarros. – Sao Jose dos Campos : INPE, 2010.

180 p. ; (INPE-16645-TDI/1608)

Tese (Doutorado em Engenharia e Tecnologia Espaci-ais/Ciencia e Tecnologia de Materiais e Sensores) – Instituto Na-cional de Pesquisas Espaciais, Sao Jose dos Campos, 2009.

Orientadores : Drs. Mirabel Cerqueira Rezende, e EduardoAbramof.

1. Compositos. 2. Propriedades mecanicas. 3. Pas eolicas. 4. Re-forco de vidro e carbono. 5. Matriz epoxi. I.Tıtulo.

CDU 620.179.12:620.172.25

Copyright c© 2010 do MCT/INPE. Nenhuma parte desta publicacao pode ser reproduzida, arma-zenada em um sistema de recuperacao, ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio,eletronico, mecanico, fotografico, reprografico, de microfilmagem ou outros, sem a permissao es-crita do INPE, com excecao de qualquer material fornecido especificamente com o proposito de serentrado e executado num sistema computacional, para o uso exclusivo do leitor da obra.

Copyright c© 2010 by MCT/INPE. No part of this publication may be reproduced, stored in aretrieval system, or transmitted in any form or by any means, electronic, mechanical, photocopying,recording, microfilming, or otherwise, without written permission from INPE, with the exceptionof any material supplied specifically for the purpose of being entered and executed on a computersystem, for exclusive use of the reader of the work.

ii

Aprovado (a) pela Banca Examinadora em cumprimento ao requisito exigido para obteneao do Titulo de Doutor(a) em

ETElCi~ncia e Tecnologia de Materiais e Sensores

;'

Dr. Chen Ying An

Dr. Eduardo Abramof

Ora. Mirabel Cerqueira Rezende

Ora. Neidenei Gomes Ferreira

Dr. Edson Cocchieri Botelho

Dr. Rogerio Scatena Biscaro

Convidado(a) I TECSIS I Sorocaba - SP

Presidente IINPE I SJCampos - SP

~

Convidac;;1?a) I UNESP I Guaratingu=-- 'SP

LiJ~~~ Aluno (a): Andre Santiago Barros

Sao Jose dos Campos, 27 de novembro de 2009

À minha esposa Priscila e nossos filhos Enzo, Hector e Lincoln,

à minha mãe Maria Suelena, ao meu pai Elpídio e à Dalva.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), pela oportunidade de estudos e utilização de suas instalações. À empresa Tecsis Tecnologia e Sistemas Avançados por ter acreditado no trabalho e fornecido recursos para o desenvolvimento da pesquisa. Ao grupo de pesquisas de Tecnologia de Materiais (TECMAT) do Laboratório Associados de Sensores e Materiais (LAS), pela atenção dedicada. À Divisão de materiais do IAE/CTA, especificamente ao Grupo MARE, pelo suporte dado em todas as etapas experimentais. Aos professores da Área de Concentração em Ciência e Tecnologia de Materiais e sensores (CMS) do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia Espaciais (ETE), pelo conhecimento compartilhado, em especial à Dra. Maria do Carmo Nono e ao Dr. Chen Ying An. À minha orientadora Dra. Mirabel Cerqueira Rezende pela sabedoria dividida, pela tranqüilidade e serenidade demonstrada nos momentos difíceis, e também pela alegria compartilhada durante todo o período da pesquisa. Ao meu orientador Dr. Eduardo Abramof pela experiência e motivação passada e pela atenção dedicada na realização deste trabalho. Ao Sr. Phillips A. da Costa Lemos, pela vontade de conhecer profundamente os materiais compósitos aplicados em pás eólicas. Ao Sr. Leo Ossanai, pelo conhecimento técnico repartido e pelo fornecimento de recursos para manufatura dos laminados. Ao Sr. Estácio Terui, pela tranqüilidade evidenciada nas questões mais complexas. Aos colegas do LAS/INPE, por compartilhar das dificuldades e vitórias: Francisco Augusto Souza Ferreira, José Vitor, Maria Lúcia Brison, Beatriz Leonila Diaz Moreno, Emílio Moreno, Stela Teixeira e Úrsula Mengui, Aos colegas do IAE/CTA pela colaboração: Carlos Eduardo de Souza, Fábio, Rodolfo Queiroz, Vanderlei Oliveira, João Fernandes e Pedro Laurindo. Aos colegas da Tecsis pela motivação proporcionada: Rodolfo Meleiro, José Henrique dos Santos, Rogério Schneider Cardoso, João Alves Feitoza Filho e Wagner Lapa.

RESUMO

Este trabalho apresenta o estudo da influência da ondulação nas propriedades mecânicas de componentes estruturais de pás eólicas processados por infusão a vácuo. Para isso, defeitos de desalinhamento de fibra do tipo ondulação fora do plano, comumente encontrados no processamento dos componentes, foram induzidos em laminados reforçados com fibras de vidro e carbono, para serem comparados com laminados de controle, sem a presença de defeitos. Com o desenvolvimento de um dispositivo especial, laminados com diferentes severidades (S = 2,5 até 20 %) foram fabricados e usinados para a obtenção de corpos-de-prova para ensaios estáticos de tração longitudinal (0o, carga aplicada na direção da fibra) e compressão longitudinal (0o), e para ensaios dinâmicos de fadiga em tração tração. As normas ISO 527-5, ISO 14126 e ASTM 3479 foram respectivamente utilizadas como referência para esses ensaios. Os ensaios estáticos e dinâmicos foram realizados em máquinas universais servo-hidráulicas e os dados de elongação, carga e número de ciclos adquiridos foram utilizados para determinar a resistência à tração, a resistência à compressão, a deformação na ruptura e a vida em fadiga. Durante o ensaio de tração longitudinal foi possível determinar o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson, utilizando dispositivos sensíveis à deformação na região elástica do tipo strain gauges. A presença de ondulação nos laminados de vidro e carbono afetou negativamente a resistência à tração, com 25 % de decréscimo para os laminados de vidro com S = 20 % e 13 % para os laminados de carbono com S = 12,5 %. A queda da resistência à compressão se mostrou bastante acentuada, devido ao desalinhamento da fibra favorecer o modo de falha por dobramento. Ao se comparar a família de controle com a de S = 20 %, essa redução chegou a 84 % para os laminados de vidro e a 70 % para os de carbono. A análise do ensaio de fadiga comprova o efeito deletério da ondulação sobre a vida útil do laminado em esforços severos. Para uma tensão aplicada no valor de 65 % da tensão de ruptura, a vida em fadiga da família de referência (S = 0) do laminado de vidro foi de 60.000 ciclos. Aplicando-se o mesmo valor de tensão, a vida foi reduzida para 30.000 ciclos para a família com S = 10 % e para 1.500 ciclos para S = 20 %. Os resultados dos ensaios mecânicos mostram que a ondulação da fibra influencia negativamente nas propriedades mecânicas do laminado, evidenciando uma fratura catastrófica e precoce, localizada na região central do defeito, resultando em um local propício ao início de trincas em um componente estrutural sob carregamento severo. Em suma, este estudo permitiu quantificar os efeitos do desalinhamento de fibra tipo ondulação fora do plano nas propriedades mecânicas dos componentes estruturais de pás eólicas.

STUDY OF FIBER MISALIGNMENT EFFECTS ON THE MECHANICAL PROPERTIES OF WIND BLADES

STRUCTURAL COMPOSITES

ABSTRACT

This work presents the study of waviness influence on the mechanical properties of wind blades structural components fabricated by vacuum infusion. For this purpose, out-of-plane waviness, which is a common manufacturing defect, was induced on glass and carbon reinforced plastics (GRP and CRP) and compared with control laminates without waviness (wave-free control specimens). With a special device, different severities varying from 2,5 to 20 % were intentionally induced in the laminates Specimen families with different severities were machined for statics longitudinal tensile test (0o, load applied on fiber direction) and longitudinal compression test (0o), and tensile-tensile fatigue dynamic test, R = 0,1. ISO 527-5, ISO 14126 and ASTM 3479 norms were respectively used for the tests. Both static and dynamic tests were performed on servo-hydraulic machines. Elongation, load and cycles number until brake were acquired and used to determine the tensile strength, the compression strength, the strain at break and fatigue life. During the longitudinal tensile test it was possible to determine the Young modulus and the Poisson coefficient using strain gauges extensometers. The waviness on GRP and CRP affects negatively the tensile strength, with a reduction of 25 % for GRP with S = 20 %, and of 13 % for CRP with S = 12,5 %. The drop of compression strength was significant due to the fact that the fiber misalignment leads to a buckling compression failure. Comparing the control laminate with the S = 20 % one, this reduction was 84 % for GRP and 70 % for CRP. The fatigue analysis proved that the out-of-plane waviness reduces substantially the composite life time under severe strengths. For an applied load of 65 % of control glass laminate tensile strength, the fatigue life for the control group was 60.000 cycles. Applying the same load, the fatigue life was reduced to 30.000 cycles for S = 10 % family and to 1.500 for S = 20 %. The mechanical tests results showed the negative influence of the waviness on the composite mechanical properties, and demonstrated the existence of a catastrophic and premature failure, localized on the central region of the wave, which can turns in a potential area for crack initiation of a structural component with severe load. In summary, this study allowed quantifying the effects of out-of-plane waviness on the mechanical properties of wind blade structural components.

SUMÁRIO

Pág. LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE SÍMBOLOS LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................27

2 TURBINAS EÓLICAS..........................................................................................31

2.1 Fabricação de pás................................................................................................... 37

3 MATERIAL COMPÓSITO..................................................................................43

3.1 Resina epóxi .......................................................................................................... 45 3.1.1 Região de gel...................................................................................................................................47 3.1.2 Temperatura de transição vítrea.....................................................................................................48 3.1.3 Viscosidade .....................................................................................................................................48 3.2 Reforço .................................................................................................................. 51 3.2.1 Fibra de vidro .................................................................................................................................54 3.2.2 Fibra de carbono ............................................................................................................................55 3.3 Processamento ....................................................................................................... 56 3.4 Ondulação.............................................................................................................. 59 3.4.1 Tipos de ondulação .........................................................................................................................63

4 CARACTERIZAÇÕES MECÂNICA E FRACTOGRÁFICA .........................67

4.1 Ensaios mecânicos................................................................................................. 67 4.1.1 Ensaio de tração .............................................................................................................................68 4.1.2 Ensaio de Compressão....................................................................................................................72 4.1.3 Ensaio dinâmico de fadiga..............................................................................................................74 4.2 Fractografia............................................................................................................ 78

5 PREPARAÇÃO DOS CORPOS-DE-PROVA ....................................................81

5.1 Materiais ................................................................................................................ 81 5.2 Preparação dos laminados compósitos .................................................................. 83 5.2.1 Preparação dos dispositivos para a indução do defeito .................................................................83 5.2.2 Preparação dos laminados .............................................................................................................84 5.2.3 Preparação dos corpos-de-prova ...................................................................................................88

6 RESULTADOS ......................................................................................................95

6.1 Avaliação da qualidade do laminado..................................................................... 95 6.2 Avaliação da temperatura de transição vítrea........................................................ 99 6.3 Ensaios de tração ................................................................................................. 100 6.3.1 Laminados reforçados com fibra de vidro ....................................................................................102

6.3.2 Laminados reforçados com fibra de carbono ...............................................................................113 6.4 Ensaios de compressão ........................................................................................ 124 6.4.1 Laminados reforçados com fibra de vidro ....................................................................................125 6.4.2 Laminados reforçados com fibra de carbono ...............................................................................133 6.5 Ensaios de Fadiga ................................................................................................ 139

7 CONCLUSÕES....................................................................................................149

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................153

ANEXO A - TRABALHOS APRESENTADOS EM EVENTOS ...........................159

ANEXO B – BOLETIM TÉCNICO DOS MATERIAIS UTILIZADOS...............161

ANEXO C – CURVAS DSC .......................................................................................173

LISTA DE FIGURAS

2.1 - Tradicional moinho de vento holandês utilizado na moagem de grãos e bombeamento de água................................................................................. 31

2.2 - Crescimento em tamanho das turbinas eólicas comerciais.......................... 32 2.3 - Turbina eólica da Bard VM de 5 MW instalada perto da costa (near

shore) em Wilhelmshaven – norte da Alemanha........................................ 35 2.4 - Seção transversal de uma pá eólica típica................................................... 36 . 2.5 - Tipos de carga e materiais em uma pá eólica.............................................. 37 2.6 - Seção longitudinal de um spar cap fabricado por (a) infusão e (b)

fabricado por laminação manual com defeito de ondulação fora do plano. 37 2.7 - Esquema do processamento de fabricação de pás eólicas........................... 38 2.8 - Posicionamento do reforço sobre o molde.................................................. 39 2.9 - Esquema da bolsa de vácuo utilizada no processo de infusão de uma pá

eólica............................................................................................................ 39 2.10 - Vista de um molde de infusão a vácuo na etapa de impregnação da

resina............................................................................................................ 40 2.11 - Vistas da (a) aplicação de adesivo estrutural em uma das cascas, (b)

fechamento do molde para a colagem das duas cascas, (c) pá desmoldada e (d) pá eólica embalada para transporte..................................................... 41

3.1 - Grupo funcional epóxi................................................................................. 45 3.2 - Esquema da estrutura molecular característica de um polímero

termorrígido................................................................................................. 46 3.3 - Viscosidade em função da temperatura para a resina epóxi MGS L135i.... 49 3.4 - Curvas de viscosidade da resina epóxi L135i versus tempo, curada por

dois endurecedores diferentes. Curva verde: mistura dos endurecedores (RIMH-137 (80 %) e RIMH – 134 (20 %) (m/m) e curva azul: RIMH – 137............................................................................................................... 50

3.5 - Esquema das possíveis distribuições do reforço no compósito em função dos parâmetros: (a) concentração, (b) tamanho, (c) forma, (d) distribuição e (e) orientação do reforço....................................................... 51

3.6 - Esquema da classificação de reforços em compósitos................................ 52 3.7 - Exemplo de uma máquina de tear utilizada na fabricação de tecidos......... 53 3.8 - Configurações de tecidos sem costura, denominados de (a) Plain Weave,

(b) Satin Weave e (c) Twill Weave.............................................................. 54 3.9 - Exemplo de alinhamento das fibras na fabricação de um tecido

-45/90/+45/90/0o.......................................................................................... 55 3.10 - Esquema do processo de infusão por resina................................................ 58 3.11 - Representação das ondulações das fibras em compósitos: (a) no plano e

(b) fora do plano.......................................................................................... 60 3.12 - Esquema de ondulação fora do plano avaliada neste estudo....................... 61 3.13 - Parâmetros δ e λ para caracterização da severidade de uma ondulação..... 61 3.14 - Ângulo máximo de desalinhamento da fibra............................................... 62 3.15 - Função senoidal que representa a ondulação............................................... 63 3.16 - Ondulação uniforme na direção transversal a fibra (a) e ondulação

uniforme com comprimento de onda unitário (b)........................................ 64 3.17 - Esquema de ondulação gradual................................................................... 64 3.18 - Ondulação no plano localizada em uma camada central............................. 65 4.1 - Esquema dos principais ensaios de caracterização mecânica, com

esforços de (a) tração, (b) compressão e (c) cisalhamento.......................... 68 4.2 - Curva típica de ensaio de tração para compósitos....................................... 71 4.3 - Máquina de ensaio mecânico Instron modelo 1332.................................... 72 4.4 - Modos de falha em compressão Fonte: Franco (2003)............................... 73 4.5 - Vistas dos dispositivo IITRI utilizado nos ensaios de resistência à

compressão.................................................................................................. 74

4.6 - Vista da máquina de ensaios Instron adaptada com o dispositivo IITRI durante um ensaio........................................................................................ 74

4.7 - Ciclo de fadiga para diferentes valores de R............................................... 76 4.8 - Curva típica de fadiga - tensão versus número de ciclos............................. 77 4.9 - Vista da máquina de ensaio de fadiga MTS 810 durante um ensaio de

fadiga........................................................................................................... 77 4.10 - Modos de falha característicos para os materiais compósitos: (a)

intralaminar, (b) interlaminar e (c) translaminar......................................... 79 5.1 - Vista dos reforços utilizados: (a) vidro e (b) carbono................................. 82 5.2 - Dispositivo utilizado para gerar a ondulação no laminado: (a) vista de

topo, (b) vista da lateral do dispositivo....................................................... 84 5.3 - Esquema do posicionamento do transfer, entrada de resina e bico de

vácuo utilizado na montagem de infusão dos laminados..................................................................................................... 86

5.4 - Ilustração das etapas de preparação dos laminados: (a) posicionamento

dos bicos de resina, (b) infusão em andamento........................................... 87 5.5 - Curva representativa de um ciclo de cura no processo de infusão dos

laminados..................................................................................................... 88 5.6 - Vista de (a) um laminado com ondulação e (b) da máquina de corte na

obtenção do corpo-de-prova........................................................................ 90 5.7 - Vista do laminado com tabs........................................................................ 90 5.8 - Vista da colagem de tabs no laminado em prensa hidráulica com

aquecimento................................................................................................. 91 5.9 - Esquema do corte do laminado com tabs.................................................... 91 5.10 - (a) Esquema dos corpos-de-prova dos ensaios de resistência à tração

longitudinal com dimensões em mm e (b) vistas frontal e lateral dos mesmos........................................................................................................ 92

5.11 - Vista do sistema de medição da deformação do corpo-de-prova com

strain gauge................................................................................................. 92

5.12 - (a) Esquema dos corpos-de-prova dos ensaios de resistência à compressão com dimensões em mm e (b) vistas frontal e lateral dos mesmos........................................................................................................ 93

5.13 - (a) Esquema dos corpos-de-prova dos ensaios de resistência à fadiga com

dimensões em mm e (b) vistas lateral e frontal dos mesmos...................... 94 6.1 - Microscopia eletrônica de varredura das seções transversais (a) da fibra

de vidro e (b) da fibra de carbono............................................................... 98 6.2 - Microscopia eletrônica de varredura das seções transversais (a) do

laminado de fibra de vidro e (b) do laminado de fibra de carbono............. 98 6.3 - Curvas típicas do comportamento de tensão-deformação para os

laminados de resina epóxi reforçada com fibra de vidro e fibra de carbono, com S = 0...................................................................................... 101

6.4 - Curvas de tensão-deformação representativas dos laminados fibra de

vidro / epóxi, com S = 0, 10 e 20 %............................................................ 103 6.5 - Resistência à tração e resistência à tração normalizada das famílias de

laminados fibra de vidro / epóxi com diferentes severidades..................... 105 6.6 - Variação do coeficiente de Poisson, módulo de elasticidade e

deformação de ruptura das famílias de laminados reforçados com fibra de vidro em função de diferentes níveis de severidade............................... 107

6.7 - Modo de falha tipo escova, observado nas superfícies de fratura da

família de laminados fibra de vidro / epóxi com S = 0............................... 108 6.8 - Modo de falha observado nas superfícies de fratura da família de

laminados epóxi/vidro com S = 20 %. (a) vista geral, (b) detalhe da ondulação após o ensaio mecânico.............................................................. 109

6.9 - Vista geral de um laminado de vidro (referência) (S = 0). Aumento de

750x............................................................................................................. 110 6.10 - Vista geral de laminados de vidro com (a) S = 12,5 % e (b) S = 15 %,

aumento de 1000x........................................................................................ 111 6.11 - Detalhe da interface fibra de vidro-resina de um laminado de vidro com

(a) S = 5 %, aumento 1500x e (b) S = 2,5 %, aumento 3500x.................... 112 6.12 - Detalhe da seção transversal de um filamento de vidro, com o ponto de

origem da falha e propagação da trinca, S = 0, aumento 5000x.................. 112

6.13 - Aspectos tipo marcas de rio, 1500x (a) e escarpas, 2000x (b) na região de fratura do laminado de vidro (S= 0)............................................................ 113

6.14 - Curva típicas de tensão-deformação dos laminados de

fibra de carbono / epóxi com (a) S= 0, (b) S = 10 % e (c) S= 20 %............ 115 6.15 - Variação da resistência à tração e resistência à tração normalizada de

laminados de fibra de carbono / epóxi com diferentes severidades............ 118 6.16 - Variação do coeficiente de Poisson, módulo de elasticidade e

deformação de ruptura das famílias de laminados reforçados com fibra de carbono em função de diferentes níveis de severidade........................... 120

6.17 - Modo de falha típico para as famílias de laminados de carbono com S

igual (a) 0, (b) 10 %, (c) 20 % e (d) detalhe de (c)..................................... 122 6.18 - Detalhes da interface entre as fibras de carbono e a resina epóxi, (a)

S = 10 %, 5000x e (b) 2,5 %, 3500x............................................................ 123 6.19 - Seção transversal de uma fibra de carbono, com o detalhe da origem da

falha e propagação da trinca (seta amarela), S = 10 %, 7500x.................... 123 6.20 - Região de fratura do laminado de fibra de carbono / epóxi (S= 0) sob

tração. Aspectos tipo (a) marcas de rio, 1500x e (b) escarpas, 2000x........................................................................................................... 124

6.21 - Curvas típicas de tensão - deformação em compressão dos laminados

fibra de vidro / epóxi, com (a) S= 0, (b) 10 % e (c) 20 %........................... 126 6.22 - Resistência à compressão e resistência à compressão normalizada das

famílias de laminados fibra de vidro / epóxi com diferentes severidades... 129 6.23 - Deformação em compressão das famílias de laminados

fibra de vidro / epóxi com diferentes severidades....................................... 130 6.24 - Vistas de laminados de vidro após o ensaio de compressão: (a) S = 0 % e

(b) S = 20 %................................................................................................. 131 6.25 - Vistas de um corpo-de-prova de laminado de vidro, com S = 0 %,

ensaiado em compressão............................................................................. 132 6.26 - (a) Imagem do corpo-de-prova de laminado de vidro com S = 10 % após

o ensaio em compressão. (b) Detalhe da região da microflambagem (500x).......................................................................................................... 132

6.27 - (a) Imagem do corpo-de-prova de laminado de vidro com S = 20 % após o ensaio em compressão. (b) Detalhe da região da microflambagem (500x).......................................................................................................... 133

6.28 - Curvas típicas de resistência à compressão dos laminados

fibra de carbono / epóxi, com (a) S = 0, (b) 10 % e (c) 20 %...................... 134 6.29 - Figura 6.30– Resistência à compressão e resistência à compressão

normalizada das famílias de laminados fibra de carbono / epóxi com diferentes severidades.................................................................................. 137

6.30 - Variação da deformação em compressão em função da severidade das

famílias de laminados fibra de carbono / epóxi com diferentes severidades.................................................................................................. 138

6.31 - Microscopia eletrônica de varredura de laminado de carbono após ensaio

de compressão, com S = 10 %, aumento de (a) 100x e (b) 500x................ 138 6.32 - Curva S-N e curva S-N com tensão normalizada do laminado de

fibra de vidro / epóxi com S = 0.................................................................. 142 6.33 - Curvas S-N dos laminados de epóxi/vidro com S = 0, 10 e 20 %.............. 143 6.34 - Imagem de uma região de fratura de um bordo de fuga de uma pá eólica.

Fonte: cortesia da empresa Tecsis............................................................... 144 6.35 - Imagem termográfica do corpo-de-prova com S = 20 % durante o ensaio

de fadiga em tração. A barra à esquerda mostra a variação de temperatura em ºC....................................................................................... 145

6.36 - Inspeção visual do laminado de vidro com S= 0 após o ensaio de fadiga... 146 6.37 - Inspeção visual do laminado de vidro com S= 10 após o ensaio de fadiga. 146 6.38 - Inspeção visual do grupo com S= 20 após o ensaio de fadiga.................... 147

LISTA DE TABELAS

2.1 - Os dez maiores fabricantes de turbinas eólicas em 2007............................. 33

2.2 - Principais fabricantes de turbinas eólicas com potência de 5 MW.............. 34

5.1 - Especificação da resina de infusão MGS RIM 135i.................................... 82

5.2 - Especificação dos endurecedores MGS RIMH 134 e MGS RIMH 137...... 82

5.3 Severidades induzidas nos laminados estudados....................................... 84

5.4 - Configuração dos laminados de compósitos com fibras de carbono e vidro........................................................................................................... 85

5.5 - Dimensões dos corpos-de-prova utilizados nos ensaios de tração,

compressão e fadiga................................................................................... 89

6.1 - Fração volumétrica de reforço, resina e vazios nos laminados de fibras de vidro e de carbono................................................................................. 97

6.2 - Valores de tensão de ruptura (σr), desvio padrão de σr (∆σr), σr máximos

e mínimos, coeficiente de Poisson (ν), módulo de Young (Ε) e deformação na ruptura (εr) das famílias de laminados de fibra de vidro / epóxi, com diferentes severidades.................................... 104

6.3 - Valores de tensão de ruptura (σr), desvio de σr (∆σr), σr máximos e

mínimos, coeficiente de Poisson (ν), módulo de Young (Ε) e deformação na ruptura (εr) das famílias de laminados de fibra de carbono / epóxi, com diferentes severidades.................................................................................. 116

6.4 - Valores de resistência à compressão (σr), desvio padrão (∆σr), valores

máximos e mínimos e deformação na ruptura (εr) das famílias de laminados de fibra de vidro / epóxi, em função da severidade.................... 127

6.5 - Valores de resistência à compressão (σr), desvio padrão (∆σr), valores

máximos e mínimos e deformação na ruptura (εr) das famílias de laminados de fibra de carbono / epóxi, em função da severidade................ 135

6.6 - Valores de tensão aplicadas nos ensaios de fadiga e número de ciclos até

a ruptura de laminados de fibra de vidro / epóxi, com S = 0, 10 e 20 %.............................................................................................................. 141

LISTA DE SÍMBOLOS

A - Área da seção transversal

F - Força

k - Permeabilidade

l - Distância de escoamento

L0 - Comprimento inicial da amostra

MA - Massa da amostra

M f - Massa de fibra

η - Viscosidade dinâmica da resina

p - Diferença de pressão

R - Razão entre tensão mínima e tensão máxima

S - Severidade

t - Tempo de preenchimento

Tg - Temperatura de transição vítrea

VA - Volume da amostra

Vf - Volume de fibras

Vr - Volume de resina

Vv - Volume de vazios

∆L - Elongação

∆σ - Faixa do ciclo de tensão

Ε - Módulo de elasticidade ou módulo de Young

Ν - Número de ciclos

δ - Amplitude

ε - Deformação

εn - Deformação transversal

ε1 - 0,0005 de deformação

ε2 - 0,0025 de deformação

λ - Comprimento de onda

ν - Coeficiente de Poisson

θ - Ângulo da fibra

ρf - Massa específica da fibra

ρL - Massa específica do laminado

ρr - Massa específica da resina

σ - Tensão

σa - Amplitude do ciclo de tensão

σm - Tensão média

σmax - Tensão mínima

σmin - Tensão máxima

σr - Tensão de ruptura

σ1 - Tensão em ε1

σ2 - Tensão em ε2

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AR - Aspect Ratio

ASTM - American Society for Testing and Materials

AWEA - American Wind Energy Association

CET - Coeficiente de expansão térmica

DSC - Differencial Scanning Calorimetry

EWEA - European Wind Energy Association

GE - General eletric

GL - Germanischer Lloyd

HBM - Hottinger Baldwing Messtechnick

HLU - Hand Lay Up

IITRI - Illinois Institute of Technology Research Institute

ISO - International Organization for Standardization

MEV - Microscopia Eletrônca de Varredura

PAN - Poliacrilonitrila

PVC - Poli(cloreto de vinila)

RTM - Resin Transfer Moulding

SCRIMP - Seeman Composite Resin Infusion Manufacturing Process

VIP - Vacuum Infusion Process

27

1 INTRODUÇÃO

Diante do esgotamento iminente das fontes de energia não renováveis, como os

combustíveis fósseis, e dos danos que este tipo de energia vem causando ao meio

ambiente, o interesse pelo uso de energias alternativas, provenientes de recursos

naturais renováveis, tem aumentado significativamente nas últimas décadas. A energia

eólica é uma forma de energia renovável, reabastecida diariamente quando parte da terra

é aquecida pelo sol e o ar arremete-se para preencher as áreas de baixa pressão, criando

o vento. Ela é considerada atualmente a fonte renovável com melhor relação

custo/benefício para a geração de eletricidade (Awea, 2007).

A energia eólica é transformada em eletricidade por uma turbina eólica, composta

tipicamente por um conjunto de três pás dispostas em sua frente, onde a energia cinética

do vento (energia do movimento das moléculas do ar) é convertida em movimento

rotacional do rotor. O rotor é conectado a um gerador por meio de um eixo, que

converte o movimento rotacional do eixo em energia elétrica.

As pás eólicas e alguns outros componentes da turbina eólica são fabricados com

materiais compósitos poliméricos. As dimensões das pás variam entre 30 e 60 metros,

com uma produção de energia que varia de 1 a 5 MW. As pás em materiais compósitos

são processadas pelo uso de diferentes materiais, como madeira balsa, espuma de

poli(cloreto de vinila) (PVC), fibras de carbono e de vidro e uma matriz polimérica

(Mastemberg, 2004; Bundy, 2005). Uma das mais atrativas características desses

materiais é a elevada razão resistência/peso. A fibra de carbono tem, por exemplo, a

resistência específica cinco vezes maior que a do alumínio (Mastemberg, 2004).

Usualmente, no setor de energia eólica, os materiais compósitos são obtidos em moldes

que atendem a perfis aerodinâmicos, de modo a maximizar o desempenho da pá no

aproveitamento da energia do vento. Desse modo, componentes estruturais, como hastes

e componentes próximos a regiões da raiz da pá, constituem-se em partes com elevado

carregamento mecânico, apresentando, assim, rígidos requisitos em serviço. Materiais

28

compósitos espessos, processados com fibras de vidro unidirecionais e resina epóxi, são

normalmente utilizados na fabricação de componentes estruturais de pás de geradores

eólicos. O processo de fabricação mais utilizado na obtenção desses componentes é a

infusão, pelo fato dessa técnica melhor se ajustar à obtenção de componentes de grande

porte e de geometria complexa.

Atualmente, os produtores de geradores eólicos estão procurando fornecer às

companhias de energia elétrica turbinas mais eficientes a um custo cada vez mais baixo

(Dawson, 2003). Desta forma, o aumento da potência de saída das atuais turbinas

eólicas está atrelado à necessidade de utilização de pás cada vez maiores (Bundy, 2005).

Enquanto a área de varredura da pá aumenta com o quadrado do comprimento da pá, o

seu peso cresce a um expoente de aproximadamente 2,35 de seu comprimento (Mason,

2007). Conforme as pás se tornam maiores, o reforço estrutural principal deve aumentar

proporcionalmente de tamanho (Bundy, 2005).

Na busca contínua de otimização dos materiais, a substituição seletiva da fibra de vidro

por fibra de carbono está disponibilizando estruturas híbridas mais complexas, que

podem alcançar a demanda estrutural de pás de geradores eólicos mais modernos

(Bundy, 2005). Estudos recentes de utilização de fibra de carbono e laminados híbridos

de carbono/vidro têm apresentado valores de resistência à compressão e tensões de

fratura, que são fronteiras no projeto de pás de geradores eólicos (Avery et al., 2004).

As resistências à tração e à compressão para laminados de fibra de vidro e resina epóxi

são da ordem de 480 e 420 MPa, respectivamente, enquanto que para um laminado de

fibra de carbono com resina epóxi encontram-se em torno de 2550 e 1470 MPa,

respectivamente (Hexion, 2009; Toray, 2008).

A ocorrência de defeitos em artefatos de materiais compósitos pode ser relativamente

significativa, dependendo de diferentes fatores, como geometria, tamanho, e técnica de

processamento. O controle da presença de defeitos é uma preocupação constante para

processadores e usuários, já que defeitos promovem, normalmente, o decréscimo das

propriedades mecânicas do material (Wang, 2001).

29

Atualmente, pás de geradores de energia eólica são fabricadas, em nível nacional, por

meio de projetos de clientes internacionais. Apesar da importância dessa área para o

Brasil, como exportadora de pás de geradores e, também, como incentivadora na

implantação de um maior número de geradores eólicos no país, poucos estudos têm sido

realizados na otimização dos parâmetros de processamento desses artefatos e no

entendimento de seus comportamentos mecânicos em função da presença de defeitos

gerados no seu processamento.

Considerando que para se tornar um produtor competitivo, o processador deve garantir a

qualidade de seu produto, a Tecsis - Tecnologia e Sistemas Avançados LTDA, empresa

brasileira de fabricação de pás eólicas, tem investido na otimização de seus produtos.

Neste enfoque, a referida empresa está ampliando os seus conhecimentos relativos à

influência da presença de defeitos no desempenho de componentes estruturais de pás e o

quanto eles afetam a vida útil do artefato. Para isto, estudos envolvendo a definição de

critérios de aceitação ou rejeição de componentes durante o seu processo de fabricação

estão sendo realizados. Este tipo de informação é estrategicamente fundamental para a

empresa Tecsis, que deu todo o suporte e apoio para a realização dessa pesquisa de

doutorado.

No processamento de componentes estruturais com fibras contínuas, um dos tipos de

defeitos que promovem a degradação das propriedades mecânicas do artefato é o

desalinhamento de fibras no plano e fora do plano. Considerando-se os possíveis efeitos

deletérios que a presença de desalinhamentos de fibras e ondulações em compósitos

estruturais pode promover no desempenho de pás de geradores eólicos e artefatos

aeroespaciais, o presente trabalho tem como motivação o estudo sistemático da presença

desses defeitos no comportamento mecânico de laminados.

Assim, esta lacuna tecnológica, referente ao conhecimento do efeito de desalinhamentos

de fibras nas propriedades mecânicas de compósitos, motivou a realização deste estudo

sistemático, que visa à otimização do processamento de compósitos estruturais para a

aplicação em geradores eólicos e artefatos de uso aeroespacial e o estabelecimento de

materiais de referência aplicados no processo de fabricação de pás para melhorar a vida

30

útil desses componentes e, também, fornecer subsídios para a indústria de asas rotativas,

que ainda é inexistente no Brasil.

Com isso, o objetivo principal deste trabalho de doutorado é investigar a influência de

defeitos do tipo desalinhamento de fibras nas propriedades mecânicas de compósitos

estruturais de fibras contínuas de vidro e de carbono em resina epóxi, utilizados no

processamento de componentes estruturais de pás de geradores eólicos. A investigação

foi realizada por meio de ensaios mecânicos específicos em corpos-de-prova, nos quais

o desalinhamento das fibras nos laminados foi induzido intencionalmente, com a

posterior comparação do comportamento mecânico dessas amostras com as de

referência, obtidas sem a presença de defeitos.

Além deste capítulo de Introdução, o conteúdo desta tese está estruturado em outros 7

capítulos. O Capítulo 2 apresenta o conceito de turbinas eólica e a fabricação de pás

eólicas. O Capítulo 3 discute o tema materiais compósitos, com ênfase no reforço e na

matriz, assim como a abordagem de aspectos de seu processamento e o desalinhamento

da fibra, e discorre sobre estudos feitos com diferentes ondulações de fibras contínuas.

O Capítulo 4 descreve os ensaios mecânicos realizados neste estudo e apresenta

algumas considerações sobre análise de fratura, de modo a apoiar as análises feitas neste

estudo. A preparação das amostras de laminados e as metodologias utilizadas na

caracterização dos corpos-de-prova são descritas no Capítulo 5. No Capítulo 6 são

apresentados e discutidos os resultados dos ensaios mecânicos e a correlação destes com

os aspectos morfológicos dos materiais e das superfícies de fratura. As conclusões finais

são relatadas no Capítulo 7.

31

2 TURBINAS EÓLICAS

A evolução das turbinas eólicas modernas é uma história de engenharia e conhecimento

científico, acoplada a um forte espírito empresarial. Nos últimos 20 anos, as turbinas

tiveram sua potência aumentada em pelo menos 100 vezes (de 25 kW para 2500 kW ou

superiores), o custo da energia foi reduzido em cerca de cinco vezes e a indústria passou

de uma atividade inicialmente idealista para um estabelecido setor da indústria de

geração de energia elétrica (Ewea, 2009).

A origem da turbina eólica se deve ao tradicional moinho de vento holandês (Figura

2.1), que se espalhou pela Europa a partir do século XIX e teve seu pico no final do

século XIX, com aproximadamente 100.000 máquinas. Essas máquinas foram

antecessoras ao surgimento da energia elétrica, e eram usadas para moer grãos e

bombear água pelo uso da energia do vento.

Figura 2.1 – Tradicional moinho de vento holandês utilizado na moagem de grãos e bombeamento de água. Fonte: Adaptada de Schefter (1982).

A tentativa mais recente de geração de energia comercial em grande escala foi a turbina

Smith Putnam, de 53 m de diâmetro e com 1,25 MW, erguida em 1939 nos EUA. Outro

marco foi a turbina Gedser de 24 m de diâmetro, 200 kW, instalada em 1956 na

Dinamarca. Já, no começo dos anos 80, muitos tópicos relativos à tecnologia de pás

eólicas foram investigados, sendo que o sistema madeira-epóxi foi desenvolvido nos

EUA e, a construção pelo uso do sistema fibra de vidro/poliéster se tornou consolidada

nos anos 80 na Dinamarca pela LM, empresa construtora de barcos (Ewea, 2009).

32

Pelo aspecto tecnológico, um resultado significativo e particularmente notável foi o

desenvolvimento realizado por fabricantes alemães, que propuseram alguns novos

conceitos, como a introdução da tecnologia inovadora de gerador com direct drive

(acoplamento entre rotor e gerador sem engrenagens) feito pela empresa Enercom.

Entretanto, o maior desafio nos anos recentes é o desenvolvimento de turbinas cada vez

maiores, para a geração comercial de máquinas multi-megawatts. Nesse sentido, já

existem geradores instalados no continente e fora dele (Ewea, 2009).

Figura 2.2 – Crescimento em tamanho das turbinas eólicas comerciais. Fonte: Adaptada de Ewea (2009).

A Figura 2.2 resume a história do aumento do tamanho das turbinas eólicas comerciais

até a data de 2008 e ilustra alguns conceitos das maiores turbinas para o futuro próximo.

Geradores eólicos aparecem em vários tamanhos, dependendo do uso da eletricidade.

Por exemplo, uma turbina com pás acima de 40 m de comprimento, com diâmetro do

rotor acima de 80 m, montada em uma torre de 80 m de altura pode gerar 1,8 MW de

potência. Esse sistema supre eletricidade suficiente para 600 casas, com um custo

superior a 1,5 milhão de dólares (Dawson, 2007).

Passado e presente das

turbinas eólicas

Futuro das turbinas eólicas?

e

33

Medido pela fatia de mercado global em 2007, a Tabela 2.1 mostra os dez maiores

fabricantes de turbinas eólicas, assim como as características técnicas das turbinas,

como potência gerada e o diâmetro do rotor (Ewea, 2009).

Tabela 2.1 – Os dez maiores fabricantes de turbinas eólicas em 2007. Fonte: Ewea (2009).

Fabricante Fatia de

mercado (%)

Modelo Potência

(kW)

Diâmetro

(m) Vestas 22,8 V90 3000 90

GE Energy 16,6 2.5XL 2500 100

Gamesa 15,4 G90 2000 90

Enercon 14,0 E82 2000 82

Suzlon 10,5 S88 2100 88

Siemens 7,1 3.6 SWT 3600 107

Acciona 4,4 AW-119/3000 3000 116

Goldwind 4,2 REpower 750 750 48

Nordex 3,4 N100 2500 99,8

Sinovel 3,4 1500 (Windtec) 1500 70

Em relação às três primeiras fabricantes líderes de mercado, destaca-se, há um longo

tempo, a empresa dinamarquesa Vestas, tendo como seus produtos-chave as turbinas

V80 e V90. Essa empresa tem como principal característica tecnológica o fornecimento

de turbinas mais leves, com pás em compósitos de elevada resistência, manufaturadas

pelo uso de pré-impregnados.

Atualmente, a empresa americana GE Energy está focada no aumento de produção das

suas turbinas para 2,5 MW, que já entraram em produção em série no início de 2008.

Essa produção já é tida como a próxima geração de turbinas, substituindo as bem

sucedidas máquinas de 1,5 MW (Ewea, 2009).

34

O último projeto da empresa espanhola Gamesa, o G10X, de 4,5 MW e 128 m de

diâmetro de rotor, está atualmente sendo desenvolvido, sendo que esse desenvolvimento

tem como características, pás de baixo peso, seccionadas em 2 partes.

Em relação às grandes turbinas, com potência gerada em torno de 5 MW, destacam-se

as fabricantes listadas na Tabela 2.2.

Tabela 2.2 – Principais fabricantes de turbinas eólicas com potência de 5 MW. Fonte: EWEA (2009).

Fabricante Modelo Diâmetro do rotor (m)

Comprimento da pá (m)

Massa

(103 kg)

Bard VM 5.0 122 59,4 26

Enercon E112 114 55,5 20

Multibrid M5000 116 56,5 17

REpower 5M 126,3 61,5 18

A empresa Bard VM inaugurou sua primeira turbina de 5 MW em agosto de 2008 em

Wilhelmshaven, no litoral norte da Alemanha (Figura 2.3). Destacam-se, também, as

turbinas E-112 da empresa Enercom, a M500 da empresa Multibrid e a REpower 5M da

empresa REpower.

O desafio do futuro é estender o conceito convencional de turbinas de três pás com

potência acima de 5 MW, como o projeto Upwind. Upwind é o maior projeto europeu

de pesquisa e desenvolvimento de energia eólica, iniciado em 2006, cujo objetivo é

projetar e fabricar um gerador eólico com capacidade de energia de saída de 8 a 10 MW

e com um diâmetro do rotor maior que 120 m (Ewea, 2006).

Nesse sentido, a otimização do uso de material compósito torna-se cada vez mais

necessária, especialmente para grandes geradores eólicos, considerando-se que o peso

da pá aumenta significativamente em relação à sua capacidade de geração de energia.

No entanto, sabe-se que pás muito compridas são praticamente inviáveis de serem

utilizadas, sem um conhecimento sólido do comportamento do material sob as cargas

35

dominantes geradas pelo peso da pá (Nijssen et al., 2003). O fator peso é crítico no

gerador eólico, principalmente, devido às cargas de curvatura induzidas pela gravidade.

Essas cargas são completamente revertidas a cada ciclo do rotor, estabelecendo-se,

assim, uma considerável deformação dinâmica da pá.

Figura 2.3 – Turbina eólica da Bard VM de 5 MW instalada perto da costa (near shore) em Wilhelmshaven – norte da Alemanha.

Pás para geradores eólicos são aplicações únicas de materiais compósitos, no sentido em

que esses sistemas são submetidos a um ambiente de carregamento incomum (Nijssen et

al., 2003), caracterizado pela variedade de condições ambientais externas, pelos

carregamentos severos e complexos , incluindo mais de 100 milhões de ciclos de fadiga,

e pelo complexo estado de tensões nas partes estruturais internas da pá.

Apesar de surgirem diferentes projetos de pás eólicas nesses últimos anos, a indústria

convergiu para uma estrutura universal (Mastemberg, 2004). A Figura 2.4 é

representativa dessa estrutura, que apresenta a seção transversal de uma pá típica de

gerador eólico.

36

Figura 2.4 – Seção transversal de uma pá eólica típica. Fonte: Adaptada de Mastemberg (2004).

Nessa estrutura, universalmente aceita, tem-se que a seção transversal é, essencialmente,

uma combinação de uma estrutura tipo viga em I, denominada de longarina, composta

de duas mesas de longarina (denominada em inglês de spar cap) e uma alma de

longarina (denominada em inglês de shear web), que promove um suporte adicional em

flexão e cisalhamento, com um envoltório aerodinâmico (casca) para o suporte

estrutural. Cargas de pressão na casca da pá são transmitidas como cargas significativas

na direção dos bordos, que são proporcionais à direção do vento. Cargas de gravidade

geram cargas cíclicas na direção da ponta da pá. O spar cap, o bordo de ataque e o

bordo de fuga são predominantemente fabricados com tecidos unidirecionais espessos

(Figura 2.5 e Figura 2.6). As almas da longarina são manufaturadas, principalmente, por

laminados compósitos multiaxiais. Para prevenir esforços em dobramento dos grandes

painéis da casca, espuma e madeira balsa são utilizadas em algumas áreas internas da pá

(Nijssen et al., 2007).

Raiz

Ponta

B. ataque

Bordo de fuga

AlmaFlange

MesaRaiz

Ponta

B. ataque

Bordo de fuga

AlmaFlange

Mesa

37

Figura 2.5 – Tipos de carga e materiais em uma pá eólica. Fonte: Adaptada de Nijssen et al. (2007).

(a) (b)

Figura 2.6 – Seção longitudinal de um spar cap fabricado por (a) infusão e (b) por laminação manual com defeito de ondulação fora do plano.

2.1 Fabricação de pás

As pás eólicas são predominantemente fabricadas pelo processo de infusão a vácuo.

Basicamente, este tipo de processamento é dividido em várias etapas, como ilustrado na

Figura 2.7. Primeiramente, duas metades de uma pá, denominadas de casca, são

fabricadas pelo processo de infusão (Figura 2.7a). Em seguida, um componente

estrutural pré-fabricado, denominado de alma da longarina, é colado nessas cascas

(Figura 2.7b). Posteriormente, faz-se a aplicação do adesivo estrutural nos bordos

(Figura 2.7c), o molde é fechado (Figura 2.7d) e, finalmente, as cascas são coladas,

Reforço

Multiaxial

Espumadireção do vento

Unidirecional

Reforço

Multiaxial

Espumadireção do vento

Unidirecional

38

formando o produto final (Figura 2.7e). A seguir, tem-se a descrição de cada uma das

etapas de fabricação de uma pá eólica:

- infusão das cascas: refere-se ao posicionamento de todo o reforço seco sobre o molde,

além dos materiais de preenchimento como madeira balsa e espuma de PVC, incluindo

peças estruturais pré-fabricadas como, por exemplo, a mesa de longarina (Figura 2.8).

- Após o posicionamento do reforço e acessórios, a bolsa de vácuo é selada utilizando-

se uma membrana, também conhecida como plástico de vácuo. A bolsa é, então,

evacuada a uma pressão de, aproximadamente, 10 mbar com o auxílio de uma bomba de

vácuo e o material acessório conhecido como espiral de vácuo (Figura 2.9).

- Em seguida, a resina é impregnada no reforço (Figura 2.10). A direção do fluxo de

resina é perpendicular ao comprimento da peça, iniciando no centro da bolsa, onde se

localiza a canaleta principal de entrada de resina e seguindo em direção às laterais do

molde, onde estão localizadas as canaletas de vácuo.

Figura 2.7 – Esquema do processamento de fabricação de pás eólicas. Fonte: Huntsman (2009).

a)

c)

e)

d)

b)

39

Figura 2.8 – Posicionamento do reforço sobre o molde. Fonte: cortesia da empresa Tecsis.

- Após a infusão e cura das cascas, todos os materiais auxiliares de processo, que não

fazem parte do laminado, são retirados, como, por exemplo, o plástico de vácuo.

Seguindo o processo, a alma de longarina é colada sobre a mesa de longarina em uma

das cascas, e após essa etapa, as cascas são preparadas para o fechamento da pá,

aplicando-se adesivo estrutural nos bordos de cada uma das cascas (Figura 2.11a).

Figura 2.9 – Esquema da bolsa de vácuo utilizada no processo de infusão de uma pá eólica.

Cubas

Bomba de vácuo

Canaleta para entrada de água

Espiral de Vácuo Perimetral

Tambor para água

resina

resina

Cubas

Bomba de vácuo

Canaleta para entrada de água

Espiral de Vácuo Perimetral

Tambor para água

resina

resina

40

Figura 2.10 – Vista de um molde de infusão a vácuo na etapa de impregnação da resina. Fonte: cortesia da empresa Tecsis.

Em seguida, o molde é fechado para que a pá seja finalmente colada (Figura 2.11b).

Após a cura do adesivo estrutural, o molde é aberto e a peça é desmoldada (Figura

2.11c). Em seguida, a pá eólica passa por processos de acabamento, como pós-cura,

realizada em estufa para completar a cura, de modo que a temperatura de transição

vítrea seja adequada com a temperatura de operação da turbina, rebarbação, corte,

furação e pintura. Para finalizar, outros componentes são montados na pá, como, por

exemplo, o sistema de para-raio. Finalmente, tem-se o produto final pronto para ser

entregue ao cliente, que, por fim, é acondicionado em embalagens adequadas para o

transporte por meio de caminhões e navio (Figura 2.10d).

41

(a) (b)

(c) (d)

Figura 2.11 – Vistas da (a) aplicação de adesivo estrutural em uma das cascas, (b) fechamento do molde para a colagem das duas cascas, (c) pá desmoldada e (d) pá eólica embalada para transporte. Fonte: cortesia da empresa Tecsis.

42

43

3 MATERIAL COMPÓSITO

Compósito é um material que consiste da combinação de dois ou mais componentes,

convenientemente arranjados e distribuídos, porém mantendo-se física e quimicamente

distintos, mas que juntos conferem propriedades diferenciadas ao produto resultante,

graças à formação da interface entre os componentes (Shackelford, 2008).

Os materiais compósitos caracterizam-se por serem formados por reforços, tipos fibras

ou partículas, aglomerados por uma matriz, que pode ser metálica, cerâmica ou

polimérica (Shackelford, 2008). No presente estudo, os materiais estudados encontram-

se na classe dos compósitos poliméricos. Os componentes principais desse tipo de

compósito são:

- matriz polimérica, que pode ser de dois tipos, termorrígida ou termoplástica,

responsável pela transferência dos esforços, pelo alinhamento das fibras e pela proteção

das mesmas da abrasão e da degradação ambiental. Este componente está diretamente

relacionado com as resistências à compressão e ao cisalhamento do compósito. A matriz

confere ainda rigidez, tornando este tipo de material susceptível ao dano (Mastemberg,

2004);

- reforço, que pode ser constituído por partículas, fibras picadas ou contínuas e

whiskers. Neste estudo são utilizadas fibras contínuas. Este componente é,

prioritariamente, responsável pela resistência mecânica aos esforços, principalmente, de

tração e fadiga.

Pelo fato do material compósito ser formado por dois ou mais componentes, existem

diferentes possibilidades de combinações. Devido a isso, os compósitos são

desenvolvidos pela engenharia para atender propriedades específicas, como rigidez,

resistência, tolerância a danos, resistência à corrosão, condutividade térmica, entre

outras, para uma aplicação particular (Mastemberg, 2004; Shackelford, 2008).

44

A área de materiais compósitos tem mostrado um desenvolvimento contínuo, motivado

pela sua crescente aplicação em setores que exigem produtos com elevados valores de

resistência e menor massa específica, em relação aos metais. A seleção entre as várias

opções de materiais, tanto a matriz polimérica quanto o reforço, está condicionada a

fatores como desempenho, custo, condições de processamento e disponibilidade

(Nogueira et al., 1999).

Uma característica de suma importância neste tipo de material é a razão

resistência/peso, onde os reforços de fibras de carbono têm se sobressaído. A fibra de

carbono, por exemplo, apresenta a razão resistência/peso 4 a 5 vezes maior que a do

alumínio (Mastemberg, 2004; Shackelford, 2008).

Esses materiais são denominados compósitos poliméricos avançados ou estruturais

(Nogueira et al., 1999; Ellis, 1993), quando a combinação do reforço contínuo com a

matriz polimérica confere ao compósito obtido baixos valores de massa específica, por

exemplo de 1,2 a 3,0 g/cm3, e elevados valores de resistência mecânica e rigidez, por

exemplo, resistência à tração de 700 e 2500 MPa para compósitos reforçados com fibras

de vidro e carbono, respectivamente.

Os materiais poliméricos para aplicação estrutural em aeronaves, por exemplo, utilizam

fibras de excelente qualidade e resina epóxi de elevada resistência, pertencentes a

gerações de polímeros de diferenciados desempenhos, que apresentam maior tolerância

a danos, resistência ao impacto e boas propriedades nas condições de temperatura e

umidade elevadas (Franco, 2003).

Nesse sentido, este capítulo apresenta conceitos básicos relativos aos dois componentes

do material compósito - matriz e reforço - e ao processamento desse material, de modo a

embasar conceitualmente o tema abordado nesta tese.

45

3.1 Resina epóxi

As resinas epóxi (também denominadas epoxídicas), poliéster, poliamida e éster-vinílica

são as matrizes poliméricas mais usadas no processamento de materiais compósitos.

Neste trabalho de compósitos para aplicações estruturais é estudada apenas a matriz

polimérica do tipo epóxi.

As resinas epóxi foram introduzidas no mercado após a segunda grande guerra e podem

ser consideradas como um avanço tecnológico sobre alguns termorrígidos existentes,

como, por exemplo, as resinas fenólica e poliéster (Costa, 1998).

As resinas epóxi são polímeros caracterizados pela presença de pelo menos dois anéis

de três membros (Figura 3.1), conhecidos como epóxi, epóxido, oxirano ou etano epóxi

(Almeida, 2005). A resina epóxi, que pode possuir um ou mais grupamentos epóxi, é

convertida em uma forma termorrígida pela formação de uma estrutura tridimensional

em rede (May, 1988; Costa, 1998).

O termo epóxi é comumente usado para descrever o anel de oxirane, representado por

um composto monocíclico com um átomo de oxigênio ligado a outros dois átomos,

formando um anel de 3 átomos (oxa + irane: o prefixo oxa representa o oxigênio de

valência 2 e a terminação irane representa um anel de 3 membros), sem nitrogênio e

saturado, isto é, sem dupla ligação entre estes 3 membros. O anel de três átomos é

formado por um átomo de oxigênio ligado a dois outros átomos de carbono, chamados

de -α ou grupos epóxi -1,2. Uma resina epóxi é definida por qualquer molécula que

contenha uma ou mais moléculas do grupo epóxi -1,2 (Costa, 1998).

Figura 3.1 – Grupo funcional epóxi.

As resinas epóxi são convertidas em polímeros termorrígidos por um processo chamado

reação de cura, pela ação de agentes de cura, que também são conhecidos por

46

endurecedores. O termo cura é usado para descrever o processo onde um ou mais tipos

de reagentes, isto é, um grupo epóxi e um agente de cura, são transformados de um

material de baixa massa molar em uma rede rica em ligações cruzadas (Figura 3.2) e de

maior massa molar (May, 1988; Shackelford, 2008). Esse mecanismo de crescimento

das cadeias moleculares é devido à presença de monômeros polifuncionais. Após esta

etapa de tratamento térmico, a resina termorrígida não mais se funde.

A reação química de cura é acelerada com o aumento da temperatura e é irreversível, ou

seja, a polimerização se mantém após o resfriamento. A rigidez e a maior estabilidade

térmica apresentada pelos polímeros termorrígidos, em particular as resinas epóxi,

tornam essas resinas atrativas para aplicações estruturais (Ancelotti Jr., 2006). Os

termorrígidos são também chamados de polímeros de engenharia, muito comuns na

substituição de determinados materiais metálicos (Shackelford, 2008). Apesar das

inúmeras vantagens deste tipo de polímero, vale mencionar que eles têm a desvantagem

de não serem reciclados e, em geral, apresentam as suas características finais

estreitamente dependentes dos parâmetros de processamento utilizados. A alteração de

poucos graus na temperatura de processamento pode produzir diferenças significativas

nas características finais do material obtido.

Figura 3.2 – Esquema da estrutura molecular característica de um polímero termorrígido. Fonte: Shackelford, (2008).

47

A utilização de agentes de cura (endurecedores) no processamento de resinas epóxi

torna esta estrutura com um arranjo tridimensional das cadeias, que confere ao material

propriedades como estabilidade, insolubilidade e infusibilidade.

A escolha do tipo e da proporção de endurecedor está ligada aos parâmetros de

processamento do produto, que, por sua vez, está relacionada ao tempo de trabalho da

matriz. Os parâmetros de mistura são normalmente definidos pelo fabricante, visando as

melhores propriedades do material final. Caso as proporções mais adequadas de

resina:endurecedor não sejam consideradas, não se pode garantir a cura completa da

resina e, consequentemente, as melhores propriedades finais do produto.

O aumento da viscosidade da resina no processamento de um material compósito está

diretamente relacionado com o tipo e a quantidade de endurecedor adicionado. Os tipos

de endurecedores são classificados como rápidos e lentos, de acordo com o tempo de

cura desejado.

3.1.1 Região de gel

A cura de um polímero termorrígido usualmente envolve complexas mudanças

químicas, que afetam o comportamento reológico do material, quando o monômero ou

oligômero é transformado do estado líquido para o estado sólido. Essa etapa envolve a

formação de uma estrutura molecular de rede com ligações cruzadas, resultantes de

reações químicas dos grupos reativos no sistema (May, 1988; Shackelford, 2008). Nesse

processo, a transição entre os dois estados da matéria mencionados passa por uma

região denominada de região de gelificação ou região de gel.

Na região de gel coexistem uma rede tridimensional infinita e numerosas cadeias livres.

Após essa região, a rede se densifica. Teoricamente, a região de gel corresponde ao

limiar de formação de uma molécula infinita, correspondente à formação de uma fração

de massa molar insolúvel em solventes polares e apolares (Costa, 1998).

48

3.1.2 Temperatura de transição vítrea

Diversas propriedades mecânicas importantes da resina epóxi, que incluem, por

exemplo, módulo e carga máxima de ruptura em cisalhamento, estão correlacionadas

intimamente com a composição química e a energia interna do polímero. Entretanto,

essas correlações estão restritas à resposta puramente elástica da resina curada, abaixo

de sua temperatura de transição vítrea (May, 1988; Shackelford, 2008).

Os polímeros amorfos, como é o caso de sistemas de resina epóxi após a polimerização,

são constituídos de macromoléculas com conformações desordenadas. A temperaturas

mais baixas, esses polímeros têm características vítreas e a temperaturas mais elevadas

apresentam comportamento viscoelástico. A transição entre estas duas condições tem

como referência a denominada temperatura de transição vítrea (Tg). Nessa temperatura

ocorre um aumento da mobilidade das macromoléculas, resultando no relaxamento do

material, sem, no entanto, apresentar alterações na sua integridade estrutural (Ortiz,

2008; Rocha, 2009).

Na Tg, o módulo e a resistência à tração, dureza, propriedades elétricas e resistência

química se alteram, enquanto que o alongamento e a flexibilidade aumentam

sensivelmente (Costa, 1998; Shackelford, 2008). As temperaturas de transição vítrea de

resinas e compósitos poliméricos de alto desempenho são frequentemente utilizadas

como uma medida da temperatura máxima de utilização do material. Portanto, a

temperatura de serviço do compósito é limitada à temperatura de transição vítrea da

resina (Ortiz, 2008; Rocha, 2009).

3.1.3 Viscosidade

A viscosidade é um parâmetro de particular importância nos sistemas poliméricos

líquidos, pois sendo função da temperatura determina os parâmetros de processamento.

Como exemplo, a Figura 3.3 mostra a variação da viscosidade em função da

temperatura da resina epóxi L135I da empresa MGS Hexion, aditada com os

endurecedores RIMH-137 (80 % m/m) e RIMH-134 (20 % m/m) (Hexion, 2009). O

49

perfil desta curva mostra que à medida que a temperatura aumenta, a viscosidade

diminui, como esperado para sistemas termorrígidos (Costa, 1998).

A Figura 3.4 mostra um gráfico de viscosidade versus tempo de uma resina epóxi

catalisada por dois diferentes tipos de endurecedores, indicando que os dois sistemas

apresentam tempos de cura diferentes. À medida que ocorre o aumento da densidade das

ligações cruzadas, a viscosidade da matriz aumenta exponencialmente (Hexion, 2009).

Figura 3.3 - Viscosidade em função da temperatura para a resina epóxi MGS L135i. Fonte: Hexion (2009).

Temperatura (oC)

Vis

cosi

dade

(m

Pas

)

50

Figura 3.4 – Curvas de viscosidade da resina epóxi L135i versus tempo, curada por dois endurecedores diferentes. Curva verde: mistura dos endurecedores (RIMH-137 (80 %) e RIMH – 134 (20 %) (m/m) e curva azul: RIMH – 137. Fonte: Hexion (2009).

O aumento da viscosidade da resina em função do tempo está diretamente relacionado

com o tipo e a quantidade de endurecedor utilizado. Os tipos de endurecedores podem

ser classificados como rápidos e lentos, de acordo com o tempo de cura. Pode-se

acrescentar um endurecedor lento quando busca-se um tempo de cura maior, ou um

endurecedor rápido para um tempo de cura menor, e, até mesmo, uma combinação entre

os endurecedores, na proporção 80 % do lento e 20 % do rápido, como mostra a Figura

3.4, por exemplo.

O tempo de processamento da matriz está diretamente atrelado ao tipo e à proporção de

endurecedor utilizado, que, por sua vez, está ligado à técnica de processamento e aos

parâmetros ambientais de processamento do produto como, por exemplo, a temperatura

ambiente. Os parâmetros de mistura são normalmente definidos pelo fabricante da

resina, pois a adição de uma maior ou menor quantidade de endurecedor não afeta a

velocidade da reação de cura, mas o grau de cura da resina e, consequentemente, as

propriedades finais do componente que está sendo fabricado.

Tempo (min)

Vis

cosi

dade

(m

Pas

)

51

3.2 Reforço

As propriedades estruturais de um compósito dependem primeiramente do tipo de

reforço utilizado, da sua porcentagem em volume no material, da orientação da fibra e o

quão efetivo o material é utilizado (May, 1988; Shackelford, 2008). Tipicamente, o

reforço é utilizado para conferir resistência aos esforços, ou seja, maiores valores de

rigidez e de resistência à tração ao material. O reforço, no caso de compósitos

estruturais, é constituído de fibras contínuas, as quais podem ser de diferentes tipos, por

exemplo, fibras de vidro, carbono e aramida.

Os compósitos são diferenciados de acordo com as características do reforço presente,

conforme esquematizado na Figura 3.5. Esta classificação envolve os parâmetros: (a)

concentração, (b) tamanho, (c) forma, (d) distribuição e (e) orientação do reforço.

Figura 3.5 – Esquema das possíveis distribuições do reforço no compósito em função dos parâmetros: (a) concentração, (b) tamanho, (c) forma, (d) distribuição e (e) orientação do reforço. Fonte: Shackelford (2008).

A classificação do reforço pode também ocorrer de acordo com a sua disposição na

matriz, conforme a Figura 3.6 (Ancelotti Jr., 2006; Shackelford, 2008):

• particulados: alta rigidez, baixa resistência, baixa tenacidade;

• fibras curtas (descontínuas): alta rigidez, baixa resistência, baixa tenacidade, e

• fibras longas (contínuas): alta rigidez, alta resistência, alta tenacidade.

52

Figura 3.6 – Esquema da classificação de reforços em compósitos. Fonte: Ancelotti Jr. (2006).

Reforços de mantas de fibras descontínuas têm as orientações das fibras dispostas

aleatoriamente e são conhecidos como nãotecidos. Alguns exemplos de nãotecidos são:

manta com gramatura de 240 g/m2 e véu com gramatura de 40 g/m2 (Seartex, 2009).

O reforço de fibra contínua pode ser obtido no mercado na forma de rolos de cabos com

diferentes números de filamentos contínuos, por exemplo, 3.000, 9.000 ou 12.000

filamentos, fitas unidirecionais ou como tecidos, com o arranjo dos filamentos em duas,

três e até quatro direções e diferentes gramaturas.

Os reforços na forma de tecidos são confeccionados em máquinas de tear, onde os

parâmetros orientação das camadas, gramatura e tipo de costura ou amarração são

definidos em função da aplicação final (Figura 3.7).

53

Figura 3.7 – Exemplo de uma máquina de tear utilizada na fabricação de tecidos. Fonte: Liba (2009).

Reforços com arranjo unidirecional e tecido bidirecional ±45o, preferencialmente de

fibras de vidro, são os tipos de reforços normalmente utilizados na área de fabricação de

pás para geradores eólicos. A seleção dos tecidos de reforço utilizados na fabricação de

pás de turbinas eólicas é historicamente focada em materiais utilizados na indústria

naval (Samborsky, 1999). Os reforços de fibra contínua podem ser classificados em dois

tipos: os trançados (tecidos) e os costurados pelo arranjo de fitas unidirecionais e tecido

biaxial.

Nos tecidos, uma mecha de fios passa sobre um outro, posicionando as mechas de fibras

nas direções 0o (urdume) e 90o (trama). A configuração do arranjo dos cabos define

vários tipos de tecidos, como ilustra a Figura 3.8. Nesta figura observam-se três tipos

diferentes de tecidos sem costura.

54

(a) (b) (c) Figura 3.8 – Configurações de tecidos sem costura, denominados de (a) Plain Weave,

(b) Satin Weave e (c) Twill Weave. Fonte: Hexcell (2009).

Nos tecidos, as fibras podem também ser mantidas em sua posição por meio de costura

com fios sintéticos (poliéster, poliamida), com o arranjo dos filamentos em uma, duas,

três e até quatro direções, na direção da trama ou do urdume, ou até mesmo a 45o. Para

aplicações estruturais de pás para geradores eólicos, normalmente são utilizados os

reforços unidirecionais na direção 0o (trama). A Figura 3.9 ilustra um tecido sendo

confeccionado pelo posicionamento de fibras unidirecionais nos ângulos de -

45/90/+45/90/0o (Saertex, 2009).

3.2.1 Fibra de vidro

O material mais comumente utilizado como reforço no processamento de compósitos

poliméricos é a fibra de vidro. O tipo denominado de E-glass é o mais amplamente

utilizado. O componente principal deste tipo de fibra é a sílica (SiO2, dióxido de silício)

(Mastenberg, 1994; May, 1988). O vidro é um material amorfo e a produção de

filamentos de fibra de vidro envolve a mistura de produtos de rochas (areia, caolin e

colmanita) a 1600 oC, produzindo o vidro líquido. Este líquido é bombeado através de

uma fieira com furos muito finos (na ordem de micrometros) e, simultaneamente, é

resfriado (Seartex, 2009). Posteriormente, o filamento é processado em diferentes

arranjos, fitas e tecidos.

55

Figura 3.9 – Exemplo de alinhamento das fibras na fabricação de um tecido -45/90/+45/90/0o. Fonte: Saertex (2009).

Existem dois tipos de vidro usados com resina epóxi, o vidro tipo E, borosilicato

alumínio-cal, e o vidro tipo S, uma combinação do dióxido de silício (SiO2), alumínio e

magnésio. O tipo E-glass, que possui o menor preço, é o mais amplamente utilizado em

compósitos estruturais. O tipo S-glass é aproximadamente duas vezes mais resistente,

tem maior módulo e elongação, e é selecionado quando necessita-se de melhor

desempenho do componente (May, 1988).

O vidro é considerado um material pobre, devido à presença quase que inerente de

defeitos e falhas, somada à sua menor rigidez. O vidro puro tem maior resistência, mas é

mais frágil. Qualquer tipo de defeito, principalmente os tipo fenda, rapidamente se

transforma em trinca, que se propaga com pouca carga (Mastenberg, 2004). O uso de

fibras curtas em uma matriz polimérica minimiza esse efeito, primeiramente pelo fato

de fibras mais curtas apresentarem um número menor de defeitos, somado ao fato da

falha na fibra ser isolada pela matriz polimérica.

3.2.2 Fibra de carbono

A fibra de carbono é produzida por meio da oxidação controlada, carbonização e

grafitização de materiais ricos em carbono, que já se encontram na forma de fibras. O

objetivo é remover, na forma gasosa, todos os elementos que não sejam carbono, apesar

de que fibras de alta resistência (4 GPa) podem conter até 5 % de nitrogênio (Morgan,

2005; Ortiz, 2008).

56

A matéria-prima mais frequentemente usada na produção de fibras de carbono de uso

estrutural é a poliacrilonitrila (PAN) (Seartex), embora a fibra de carbono possa também

ser obtida de precursores como celulose, piche de alcatrão de hulha e piche de petróleo.

Dependendo dos parâmetros de processamento, as fibras podem ter inúmeras variações

de propriedades mecânicas. As fibras podem ser classificadas quanto ao tipo de

precursor, propriedades mecânicas (resistência e módulo), e temperatura de tratamento

final. Uma classificação comercial bastante utilizada diz respeito às propriedades de

resistência e módulo, podendo então ser classificadas como fibras de alta resistência (4

GPa), ultra-alta resistência (>4 GPa), módulo padrão (230 GPa) , módulo intermediário

(~270 GPa), alto módulo (350 GPa) e ultra-alto módulo (>370 GPa) (Ancelotti Jr.,

2006; Ortiz, 2008).

De todos os materiais precursores disponíveis para a preparação de fibras de carbono de

boa qualidade, a PAN é a matéria-prima mais adequada. A qualidade final das fibras de

carbono depende fortemente da composição e da qualidade da PAN, das condições do

processo de estabilização oxidativa, bem como das condições de carbonização (Costa,

1998).

3.3 Processamento

Atualmente, existem muitos processos disponíveis para o processamento de compósitos

termorrígidos. Os mais utilizados são: laminação manual ou hand lay up, infusão por

vácuo (Vacuum Infusion Process, VIP), o Resin Transfer Moulding (RTM) e a

laminação pelo uso de pré-impregnados.

Alguns processos são bem simples e envolvem pouca tecnologia e intenso trabalho

manual, enquanto outros fazem uso de ferramentas sofisticadas e controles

computacionais. No entanto, todas as técnicas de processamento possuem um ponto em

comum, que é o uso de ferramentas, denominadas de moldes, para manter o reforço na

posição desejada enquanto a resina é curada. O processamento de materiais compósitos

necessita, ainda, de alguma maneira, do uso de algum artifício para forçar a migração da

matriz polimérica para dentro do reforço (Mastemberg, 2004). A qualidade final da

57

peça, limitações em tamanho e geometria, custo do ferramental e o tempo de

processamento são as diferenças principais nas técnicas de processamento.

A fabricação de um compósito polimérico termorrígido, não importando o tipo de

molde utilizado, é realizada em três etapas principais (Barros, 2006): adaptação do

material de reforço ao molde, obtendo-se desse modo, a forma e dimensão desejadas;

impregnação do reforço pela matriz polimérica; e cura da resina, com o enrijecimento

do material compósito e desmoldagem da peça final.

A técnica de processamento envolvida neste estudo refere-se à infusão por vácuo, que é

relativamente simples e com a vantagem de reduzir a emissão de voláteis, pois o

processamento do compósito faz uso de moldes fechados. Na tentativa de diminuir os

custos no uso de moldes fechados, inúmeras tentativas têm sido avaliadas desde a

década de 50, de modo a introduzir sistemas mais simples e mais competitivos

economicamente, em relação à laminação manual.

A primeira proposição de sucesso real foi o SCRIMP (Seeman Composite Resin

Infusion Manufacturing Process), desenvolvido por Bill Seeman nos EUA (Owen,

2000). Nesse processo, também denominado de infusão por vácuo, tem-se um menor

custo na fabricação do molde, em comparação com outros processos que utilizam

moldes fechados, como por exemplo, a técnica de RTM. A técnica de infusão por vácuo

mostra-se bastante adequada, principalmente no processamento de componentes de

grandes dimensões, pelo fato do reforço ser posicionado sobre um molde, no formato

desejado para o produto final. Neste caso, a conformação da parte superior do

componente é realizada pela combinação de vácuo e uma membrana flexível, que se

ajusta ao formato da peça pela ação do vácuo. Esse processo vem sendo aplicado com

êxito no mercado marítimo na fabricação de barcos e de pás para energia eólica, onde

outros processos, como o RTM, não são comercialmente atrativos (Owen, 2000).

No processo de infusão por vácuo, as camadas de reforço de fibra são mantidas entre

um molde rígido e uma membrana flexível, perifericamente selada ao molde. O espaço

da cavidade formada é parcialmente evacuado para comprimir e compactar o reforço. A

resina é, então, introduzida na cavidade do molde, que se encontra sob a influência do

58

vácuo, favorecendo, assim, a criação de um fluxo da matriz polimérica através do

molde, com a conseqüente impregnação do reforço (Figura 3.10). Após a cura, a

membrana é retirada e o laminado é desmoldado (Owen, 2000).

Figura 3.10 – Esquema do processo de infusão por resina. Fonte: Adapatada de Owen (2000).

No formato de membrana flexível, o processo de infusão pode ser comparado com a

consolidação por bolsa de vácuo adotada em pré-impregnados e laminados de elevado

desempenho.

Alguns benefícios como qualidade e reprodutibilidade são verificados na infusão por

vácuo, em comparação à laminação manual, assim como melhores propriedades

mecânicas do laminado produzido. Neste caso, o compósito apresenta uma distribuição

mais homogênea fibra-resina, o tempo de processamento é menor que o verificado na

laminação manual, além de promover um ambiente de trabalho mais limpo e menos

agressivo à saúde.

O escoamento da resina na infusão é regido pelas leis de fenômeno de transporte para

escoamento laminar, obedecendo a Lei de Darcy (Equação 3.1) (Owen, 2000):

pk

lt

..2

.η= , (3.1)

onde t é o tempo de preenchimento (s), k é a permeabilidade, ou porosidade da camada

de tecido (m2), η é a viscosidade da resina (mPa.s), e l é a distância de escoamento (m),

ou seja, o comprimento da camada de tecido, e p é diferença de pressão (Pa), mantida

constante durante a infusão.

Canaleta de vácuo

Plástico de vácuo

Fita selante

Canaleta de resina Acelerador

Nylon

Reforço seco

59

Apesar dos benefícios que a técnica de infusão por vácuo confere ao processamento de

compósitos estruturais com fibras contínuas, observam-se alguns tipos de defeitos

possíveis, que promovem a degradação das propriedades mecânicas do artefato. Dentre

esses, destacam-se o desalinhamento de fibras e ondulações no plano e fora do plano,

que podem promover a degradação do desempenho mecânico do laminado compósito.

3.4 Ondulação

A presença de ondulações do reforço ou desalinhamento de fibras é ocorrência comum

em materiais compósitos, principalmente em laminados estruturais espessos, e

caracteriza-se como um defeito que promove o decréscimo das propriedades mecânicas

do material, constituindo-se em um local com maior probabilidade de iniciação de

falhas em componentes estruturais (Chan, 1994; Highsmith, 1992; Joyce, 1997; Kluger,

2002).

Um estudo realizado por Wang (Wang, 2001) sugere que corpos-de-prova submetidos a

ensaios de fadiga em compressão, com poucas camadas de ondulação (0,05 < S < 0,06)

exibem perda de vida útil de fadiga em compressão de uma ordem e meia de grandeza,

em comparação com amostras sem ondulação.

Observa-se ainda que, imperfeições de alinhamento apresentam um impacto muito

maior nas propriedades mecânicas de laminados de carbono, do que nas propriedades de

laminados de vidro (Mason, 2004). Sabendo-se que, componentes estruturais, como

hastes e regiões próximas da raiz da pá, constituem-se em partes com elevado

carregamento mecânico, onde a fibra de carbono tem sido utilizada como elemento de

reforço em projetos atuais de pás, a presença de ondulação neste tipo de reforço passa a

ser um defeito de significativa importância.

Nesse sentido, tem-se observado que o estudo do desalinhamento de fibras, com a

ondulação da camada, tem sido assunto em recentes estudos de materiais de pás pelo

uso de laminados pré-impregnados de uso aeroespacial (Avery et al., 2004). Avery

mostra que o esforço em compressão é conhecido por ser sensível ao alinhamento das

60

fibras, onde um pequeno grau de desalinhamento ou ondulação causa um decréscimo

significativo nas propriedades de compressão.

Este tipo de defeito pode ser induzido não intencionalmente durante o processo de

manufatura do compósito, ou estar presente em função da arquitetura do arranjo de

tecidos. A ondulação pode também ser causada e agravada pela deformação térmica

residual gerada, devido ao descasamento dos coeficientes de expansão térmica (CET)

entre o reforço e a matriz (Chan, 1994; Kluger, 2002).

O compósito é livre de tensões acima da temperatura de transição vítrea da resina, ou da

temperatura de processamento, se esta for menor que a temperatura de transição vítrea.

No entanto, o descasamento do CET reforço-matriz pode promover o desenvolvimento

de tensões durante o resfriamento após a cura (Kluger, 2002). O CET de matrizes

poliméricas é da ordem de 50 x 10-6 oC-1 (Hexion, 2009), enquanto que o da fibra de

carbono é de – 0,38 x 10-6 oC-1 (Toray, 2009) e o da fibra de vidro é da ordem de

5x10–6 oC-1 (Hexion, 2009).

Ondulação no plano, ou ondulação da fibra, e ondulação fora do plano, ou ondulação da

camada, são os dois tipos de desalinhamentos de fibras. A Figura 3.11 representa esses

dois tipos de ondulações.

Figura 3.11 – Representação das ondulações das fibras em compósitos: (a) no plano e (b) fora do plano. Fonte: Wang (2001).

Quando a ondulação ocorre, a orientação principal da fibra normalmente se mantém

paralela à direção desejada para o reforço, mas com uma curvatura periódica,

freqüentemente modelada como senoidal (Garnich et al., 2005; Highsmith, 1992; Joyce,

1997; Kluger, 2002; Piggot, 1981).

61

A ondulação fora do plano induzida no laminado para este estudo tem formato senoidal,

estendendo-se continuamente na direção transversal (na direção da espessura do

laminado) com comprimento de onda unitário (Figura 3.12).

Figura 3.12 – Esquema de ondulação fora do plano avaliada neste estudo.

Uma questão importante é como quantificar a ondulação da fibra. Para uma curva no

formato senoidal, sua caracterização está relacionada com dois parâmetros, o

comprimento de onda (λ) e a amplitude (δ), como mostrado na Figura 3.13 (Adams et

al., 1994). A ondulação da fibra é caracterizada pela razão dos parâmetros δ e λ

(Equação 3.2), denominada de severidade (S) da ondulação (Highsmith, 1992).

λδ=S , (3.2)

onde δ é a amplitude pico a pico da onda e λ é o comprimento de onda.

Intuitivamente, uma ondulação mais severa implica em um comprimento de onda

menor, somado a uma amplitude de onda maior, resultando em maiores valores de S.

Figura 3.13 – Parâmetros δ e λ para caracterização da severidade de uma ondulação.

X

Y

x Z

62

O formato da ondulação da fibra é idealizado como uma função senoidal. O parâmetro y

da equação que rege o formato da curva é definido pela Equação 3.3 (Adams et al.,

1994):

=λπδ x

seny2

2 . (3.3)

As propriedades de um material compósito com relação à ondulação da fibra, para um

determinado comprimento de onda, estão relacionadas ao ângulo da fibra θ e aos

parâmetros δ e λ. O ângulo θ ao longo do eixo x pode ser expresso pela Equação 3.4:

=λπ

λδπθ x2

cosarctan. (3.4)

Simplificando, o ângulo máximo da Equação 3.4 ocorre quando o │cos (2πx/λ)│ = 1,

obtendo-se a Equação 3.5 (Figura 3.14):

=λδπθ arctan . (3.5)

A Figura 3.15 é representativa de curvas da função senoidal, que representam a

ondulação.

Figura 3.14 – Ângulo máximo de desalinhamento da fibra. Fonte: Adams et al. (1994).

63

0 5 10 15 20

-2,0

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

S = 5% S = 10% S = 15% S = 20%

Am

plitu

de (

mm

)

Comprimento de onda (mm)

Figura 3.15 – Função senoidal que representa a ondulação.

Outro método de quantificar a ondulação é a determinação da razão de aspecto (AR),

sendo este parâmetro o inverso da severidade.

3.4.1 Tipos de ondulação

Considerando-se o escopo deste estudo são apresentados, a seguir, os três tipos básicos

de modelos de ondulação (Garnich et al., 2005):

1 - ondulação uniforme na direção transversal à fibra, que pode ser contínua (Figura

3.16a) ou limitada a um comprimento de onda (Figura 3.16b).

64

(a) (b) Figura 3.16 – (a) Ondulação uniforme na direção transversal à fibra e (b) ondulação

uniforme com comprimento de onda unitário. Fonte: Garnich et al. (2005).

2 - Ondulação gradativa ou gradual, onde a amplitude é considerada como um declive

linear na direção transversal (espessura), com um máximo na superfície média e o zero,

a uma certa distância no interior do laminado (Figura 3.17).

Figura 3.17 – Esquema de ondulação gradual. Fonte: Adapatada de Garnich et al. (2005).

3 – Ondulação localizada em uma camada central (Figura 3.18).

cam

ada

s

amplitude

cam

ada

s

amplitude

65

Figura 3.18 – Ondulação no plano localizada em uma camada central. Fonte: Garnich et al. (2005).

O impacto no decréscimo das propriedades mecânicas de compósitos, causado pela

presença de ondulação, é dependente da severidade da onda e da extensão da região da

ondulação da fibra (Garnich et al., 2005). Geralmente, a influência de defeitos da

ondulação de fibras no comportamento mecânico de materiais compósitos é ignorada

em análises estruturais, que assumem propriedades ideais associadas com materiais sem

defeitos, ou seja, o reforço apresenta somente fibras alinhadas, sem ondulação. A

aplicação de modelos micromecânicos é considerada efetiva para a caracterização de

materiais com reforço de fibra com ondas periódicas (Garnich et al., 2005).

66

67

4 CARACTERIZAÇÕES MECÂNICA E FRACTOGRÁFICA

Este capítulo descreve os ensaios mecânicos de tração, compressão e fadiga que foram

realizados nos corpos-de-prova dos laminados em estudo nesta tese, juntamente com a

técnica de fractografia utilizada na análise dos danos ou falhas após os ensaios.

4.1 Ensaios mecânicos

Estruturas laminadas fabricadas com compósitos poliméricos termorrígidos, quando

utilizadas em serviço, podem estar sujeitas a uma série de carregamentos mecânicos. Os

esforços podem ser tanto de natureza estática como cíclica e estarem relacionados com

impactos ou fadiga, que podem facilitar o surgimento de delaminações por trincas

interlaminares (Cândido, 2001).

Em relação às pás de geradores eólicos em funcionamento, as cargas predominantes são

cíclicas. A cada giro completo de uma pá, ela está sujeita à ação da gravidade, ora de

um lado, quando está subindo e ora do outro lado, quando está descendo. Se for

considerada uma pá de 60 m de comprimento, com a massa de, aproximadamente,

18.000 kg, têm-se momentos de flexão elevados nas partes internas da pá, devido às

cargas gravitacionais (Kenshe, 2006). Kenshe estima que 100 milhões de ciclos de carga

aconteçam em um tempo de vida útil de 20 anos de uma turbina eólica (Kenshe, 2006).

Considerando-se, então, os esforços mecânicos em pás eólicas, faz-se necessário

realizar ensaios mecânicos durante todas as etapas do desenvolvimento do projeto deste

tipo de produto – desde a nanométrica, na avaliação da interface fibra-resina, por

exemplo, até a escala real, considerando o comprimento total da pá (Nijssen et al.,

2007).

O projeto da geometria aerodinâmica de uma pá está relacionado ao (Nijssen et al.,

2007) desempenho da pá e suas cargas (razão entre produção de potência do gerador e o

68

custo de aquisição da pá com duração de 20 anos), aos desempenho e barulho gerado, e

às propriedades mecânicas de resistência, como tração, compressão, fadiga e módulo de

elasticidade, sendo esta última propriedade muito importante no projeto de estruturas de

compósitos poliméricos. Vale ainda considerar que essas propriedades estáticas

normalmente decrescem com o desalinhamento das fibras do reforço.

Os principais ensaios mecânicos destrutivos na caracterização mecânica de materiais

são tração, compressão e cisalhamento, esquematizados na Figura 4.1 (Shackelford,

2008):

Figura 4.1 – Esquema dos principais ensaios de caracterização mecânica, com esforços de (a) tração, (b) compressão e (c) cisalhamento. Fonte: Shackelford (2008).

4.1.1 Ensaio de tração

O ensaio estático de tração é um dos testes mais comuns utilizados para avaliar

materiais. Em sua forma mais simples, o teste de tração consiste em fixar os extremos

opostos de um corpo-de-prova a uma estrutura de carga de uma máquina de teste. Em

seguida, uma força de tração é aplicada pela máquina, resultando em uma deformação

gradual e eventual fratura do corpo-de-prova. Durante esse processo, dados de

deformação e força são obtidos, sendo medidas quantitativas de quanto o material se

deforma sob a aplicação de força. Quando realizado adequadamente, o teste de tração

resulta em dados de tensão – deformação, que podem quantificar propriedades

mecânicas importantes de um material, como por exemplo, o módulo de elasticidade (Ε)

69

e o coeficiente de Poisson (ν). Essas características do teste de tração são usadas para o

controle de especificações técnicas e de requisitos de qualidade de projetos e de

produção, para avaliar o desempenho de materiais estruturais e para apoiar o

desenvolvimento de processos e produtos (Shackelford, 2008; Paiva et al., 2006).

Durante ensaios de tração, a força aplicada no corpo-de-prova e a deformação da peça

são medidas simultaneamente. O ensaio de tração longitudinal apresenta uma maior

concentração de esforços nas fibras de reforço, que estão alinhadas no sentido de

carregamento da máquina. Com a aplicação da carga, as deformações que ocorrem no

corpo-de-prova são uniformemente distribuídas, pelo menos até atingir a carga máxima

permitindo medir satisfatoriamente a resistência do laminado. A força aplicada é medida

pela máquina e a deformação pode ser medida com um extensômetro. Para calcular os

valores de tensão utiliza-se a Equação 4.1 (Callister, 2008; Paiva et al., 2006):

A

F=σ, (4.1)

onde σ é a resistência à tração (MPa), F a força medida (N) e A a área da seção

transversal (mm2).

Para calcular os valores de deformação ε utiliza-se a Equação 4.2 ou a Equação 4.3

(Callister, 2008; Paiva et al., 2006):

0L

L∆=ε

, (4.2)

ou

( )0

100%L

L∆×=ε

(4.3)

onde ε é a deformação na direção do esforço axial (%), ∆L a elongação (mm) e L0 o

comprimento inicial da amostra (mm).

70

Para se calcular o módulo de elasticidade, tem-se as Equações 4.4 e 4.5:

εσ ⋅Ε= , (4.4)

onde E é o módulo de elasticidade (GPa),

ou

12

12

εεσσ

−−

=Ε (4.5)

onde σ1 é a tensão medida quando ε1 = 0,0005 e σ2 a tensão medida quando ε2 = 0,0025,

conforme a norma ISO 527-5.

Para calcular o coeficiente de Poisson (ν), tem-se a Equação 4.6:

εεν n−= , (4.6)

onde εn é a deformação transversal do corpo-de-prova.

A Figura 4.2 mostra uma curva típica de tensão versus deformação obtida em um ensaio

de tração de um compósito e, separadamente, da fibra (reforço) e da matriz

(Shackelford, 2008; Callister, 2008). A análise desta figura mostra duas regiões distintas

nas curvas. A primeira refere-se à região de deformação elástica, onde a inclinação da

curva fornece o módulo de elasticidade do material e a segunda região é indicativa de

deformação plástica.

De acordo com órgãos certificadores de geradores eólicos, a resistência à tração

longitudinal (paralela à direção da fibra) de materiais compósitos unidirecionais deve

ser baseada na norma ISO 527-5, tipo A, com um mínimo de 6 amostras para

71

determinar a resistência à tração, tensão máxima de ruptura, o módulo de elasticidade e

o coeficiente de Poisson (ISO 527-5, 1997; Germanischer Lloyd, 2001).

Figura 4.2 – Curva típica de ensaio de tração para compósitos. Fonte: Callister (2008).

Os corpos-de-prova deste estudo foram ensaiados em uma máquina universal Instron

modelo 1332, com capacidade de 25 kN e uma célula de carga de 25 kN, alocadas no

Laboratório de Ensaios Mecânicos da Divisão de Materiais do IAE/CTA conforme

mostra a Figura 4.3. Os ensaios foram realizados à temperatura ambiente com

velocidade de 1 mm/min.

72

Figura 4.3 - Máquina de ensaio mecânico Instron modelo 1332.

Os dados de deformação foram monitorados com um sistema de aquisição de dados

fornecido pela empresa Tecsis.

4.1.2 Ensaio de Compressão

Em geral, materiais compósitos submetidos ao carregamento na direção axial

apresentam menores valores de resistência à compressão, quando comparados à

resistência à tração. Enquanto que, a resistência à tração de compósitos laminados é

influenciada principalmente pelas propriedades mecânicas e orientações das fibras de

reforço, a resistência à compressão é determinada prioritariamente pelas propriedades

da matriz polimérica e, também, influenciada pela orientação das fibras de reforço

(Callister, 2008; Nogueira, 2005).

A resistência à compressão é conhecida por ser influenciada pelo alinhamento da fibra.

Pequenos graus de ondulação ou desalinhamento podem causar um decréscimo

significativo nas propriedades de compressão (Mandell et al., 2003). A presença de

ondulação pode reduzir a resistência em compressão, devido a dois fatores principais:

(1) a fibra pode estar posicionada em uma geometria que agrava ou intensifica o modo

73

de falha em dobramento do reforço, e (2) a ondulação desloca a orientação da fibra para

fora do eixo da direção longitudinal da camada, induzindo falhas, que prioritariamente

deveriam ocorrer na matriz, para camadas nominalmente orientadas na direção 0o. O

segundo fator também afeta a resistência à tração em diversos casos (Mandell et al.,

2003).

A falha em compressão ocorre em três modos principais, como mostra a Figura 4.4: (a)

compressão e falha das fibras, (b) separação longitudinal na matriz (spliting) e (c)

cisalhamento (Agarwal, 1980; Scheirs, 2000). A resistência à compressão decresce com

a presença de defeitos de fabricação, tais como porosidade, delaminações e microtrincas

internas no laminado (Franco, 2003; Costa, 1999; Rezende, 2000;).

De acordo com órgãos certificadores de geradores eólicos, a compressão longitudinal de

materiais compósitos unidirecionais deve ser baseada na norma ISO 14126, com um

mínimo de 6 amostras para determinar a resistência à compressão, a tensão máxima de

ruptura e o módulo de elasticidade.

SEPARAÇÃO LONGITUDINAL (SPLITTING)

CISALHAMENTO

COMPRESSÃO

Figura 4.4 - Modos de falha em compressão. Fonte: Franco (2003).

A medida de resistência à compressão de laminados é sensível à montagem do corpo-

de-prova utilizada no carregamento. Neste estudo, os corpos-de-prova foram montados

em um dispositivo IITRI (Figura 4.5), em uma máquina universal Instron modelo 1332,

(Figura 4.6), alocada no Laboratório de Ensaios Mecânicos da Divisão de Materiais do

74

IAE/CTA. Os ensaios foram realizados à temperatura ambiente, com velocidade de 1

mm/min, conforme a norma ISO 14126.

Figura 4.5 – Vistas do dispositivo IITRI utilizado nos ensaios de resistência à compressão.

Figura 4.6 – Vista da máquina de ensaios Instron adaptada com o dispositivo IITRI durante um ensaio.

4.1.3 Ensaio dinâmico de fadiga

Fadiga é um tipo de falha que ocorre em níveis de tensão mais baixos que a tensão

máxima de ruptura e tensão de escoamento, após um período de tensão repetitiva ou

deformação cíclica. Este tipo de falha ocorre de repente e sem aviso.

75

O ensaio de fadiga é resultante da repetição cíclica do efeito de histerese tensão -

deformação na linha do tempo de um material sólido. O ciclo de fadiga é usualmente

representado como uma senóide. A tensão máxima, σmax, é o maior valor algébrico da

tensão no ciclo de tensão (normalmente chamado de pico) e a tensão mínima, σmin, é a

menor tensão (também chamada de vale). Valores de tensão de tração são tidos como

valores positivos, e os de tensão de compressão são tomados com negativos

(Shuterland, 1999).

A tensão média é a média algébrica entre σmax e σmin dada pela Equação 4.7:

2minmax σσσ +=m

. (4.7)

A faixa do ciclo de tensão, ∆σ, é definido pela Equação 4.8:

minmax σσσ −=∆ . (4.8)

E a amplitude do ciclo de tensão, σa, é igual à metade da faixa e é dada pela Equação

4.9:

22minmax σσσ

σ ∆=−

=a. (4.9)

A razão entre σmin e σmax é a chamada de razão R,

max

minσσ=R

. (4.10)

O ciclo de fadiga para várias tensões médias e valores de R são apresentados na Figura

4.7.

76

Figura 4.7 – Ciclo de fadiga para diferentes valores de R. Fonte: Shuterland (1999).

Tipicamente, as características de fadiga de um material são determinadas pela

contagem do número de ciclos até a ruptura de um corpo-de-prova. Em testes de fadiga

em amplitudes constantes, os dados são tipicamente chamados de curva S x N,

refletindo o número de ciclos N, em um determinado nível de tensão requerido para a

fratura da amostra (Shuterland, 1999). Os procedimentos experimentais levam a

registrar o número de ciclos de ruptura em função da amplitude cíclica, enquanto se

mantém constante a média ou a razão R. Este procedimento de teste resulta em uma

família de curvas que descreve o comportamento em fadiga do material. As informações

contidas nessas curvas são tipicamente caracterizadas usando algumas técnicas

normalizadas.

A Figura 4.8 é representativa de uma curva típica obtida em ensaios de fadiga (curva

S x N), que correlaciona tensão versus número de ciclos (Mandell et al., 2003;

Shackelford, 2008).

77

Figura 4.8 – Curva típica de fadiga - tensão versus número de ciclos

Fonte: Adapatada de Shackelford (2008).

Neste trabalho de tese os ensaios de fadiga em tração foram realizados baseados na

norma ASTM D3479, no Laboratório de Ensaios Mecânicos da Divisão de Aeronáutica

do IAE, utilizando uma máquina MTS 810 (Figura 4.9).

Figura 4.9 – Vista da máquina de ensaio de fadiga MTS 810 durante um ensaio de fadiga.

Ciclos até a falha, N (escala logarítmica)

Am

plit

ud

e d

e te

nsã

o, N

Resistência à fadiga em N1

Vida em fadiga na tensão S1

78

4.2 Fractografia

A fractografia é uma das principais ferramentas utilizadas no processo de análise de

superfícies oriundas de danos ou falhas. A superfície de fratura é a principal fonte de

referência para se determinar a causa da falha. Nela está registrada de forma detalhada a

história dos danos ou de parte dela, contendo as evidências do tipo de carregamento, os

efeitos envolvidos e a qualidade do material (Franco, 2003; Purslow, 1988; Rezende,

2007).

Esta análise consiste em identificar aspectos fractográficos e estabelecer relações entre a

presença do aspecto observado e o tipo de dano obtido, ou ainda, estabelecer correlação

entre a ausência desses aspectos com a seqüência de eventos de fratura, que pode

contribuir para a elucidação do tipo de carregamento e condições dos esforços no

momento da falha. A fractografia confirma ou remove as suspeitas que possam recair

sobre os modos de falha ocorridos (Purslow, 1988; Rezende, 2007).

Esta ferramenta é a chave para se determinar a seqüência de eventos ocorridos durante

um processo de fratura e para identificar o estado de tensões atuantes no momento da

falha. Outros fatores como condições ambientais, defeitos do material e outras

anomalias que possam contribuir para o início, crescimento e término da fratura também

podem ser avaliados pelo uso da fractografia. A observação deve atentar não somente

para a identificação e documentação da morfologia da falha, mas também para

informações que ajudem a determinar a causa da falha (Franco, 2003; Purslow, 1988;

Rezende, 2007).

É importante notar que, os diferentes tipos de falhas estão relacionados com o tipo de

matriz e fibras e com a interface existente entre esses elementos. Devido à construção

anisotrópica dos compósitos, os danos podem ocorrer de várias maneiras. Os tipos e

modos desses danos estão diretamente relacionados com a orientação das fibras e com a

direção de aplicação do carregamento. Os modos de fratura podem ser dos tipos

interlaminar, intralaminar e translaminar (Figura 4.10) (Franco, 2003; Rezende, 2007).

79

Figura 4.10 - Modos de falha característicos para os materiais compósitos: (a) intralaminar, (b) interlaminar e (c) translaminar. Fonte: Franco (2003).

As falhas em materiais compósitos podem ser descritas pelos mecanismos de danos que

ocorrem na fratura. Esses podem ser identificados por quebras das fibras, trinca da

matriz ou delaminações interlaminares. A quebra de fibras e a trinca da matriz são

dependentes das propriedades de resistência dos constituintes, enquanto que a

delaminação pode ser causada por anomalias durante a fabricação, sequência de

empilhamento de camadas e processo de cura ou impactos que ocorrem na vida em

serviço. Com a progressão do carregamento, o acúmulo de danos ou de falhas locais no

laminado provoca a falha final do compósito. A falha catastrófica raramente acontece na

carga correspondente à da falha inicial ou da falha da primeira camada.

Cada tipo de carregamento ao qual está submetida, a região fraturada gera um tipo

específico de superfície de fratura. Como, por exemplo, pode-se citar que o

carregamento em tração pode gerar o arrancamento das fibras (fiber pull-out), enquanto

que o carregamento em cisalhamento interlaminar pode promover delaminações. Do

mesmo modo, estruturas finas sob compressão geralmente falham por flambagem ou

por crescimento de delaminações ao longo das interfaces interlaminares fracas

(Purslow, 1988; Franco, 2003).

80

Estruturas em materiais compósitos podem falhar prematuramente, devido a vários tipos

de danos, como trinca longitudinal, trinca transversal, ruptura de fibras, dano no núcleo,

absorção de água, vazios, porosidades, deslocamento e delaminações. Muitas vezes

esses danos são originados por erros de projeto, ou durante o processo de fabricação ou

ainda na utilização em serviço (Franco, 2003).

Em se tratando de falhas em pás eólicas, observa-se a ocorrência de fraturas em

laminados estruturais, onde a falha translaminar ocorre exatamente na região onde

existiam defeitos de fabricação, como por exemplo, ondulação da fibra fora do plano,

levando a peça a uma falha catastrófica. A inclinação transversal de propagação da

trinca no laminado defeituoso é diretamente proporcional ao grau de desalinhamento

das fibras, sendo o caso mais crítico o que ocorre na direção de propagação

perpendicular às camadas (Adams et al., 1994).

Neste trabalho pretende-se observar os aspectos da superfície da fratura e o modo de

falha, bem como sua direção de propagação e ponto de origem, utilizando análise

macroscópica, microscopia óptica e a microscopia eletrônica de varredura.

Para esta última, as análises foram realizadas em um microscópio eletrônico de

varredura da marca JEOL, modelo JSM-5310, instalado no LAS/INPE. Para realizar as

micrografias, as superfícies de fratura das amostras foram previamente metalizadas em

vácuo com um filme fino de ouro (~10 nm), sem alterar a topografia do plano de falha

do laminado.

A análise microestrutural da interface fibra/resina no plano de falha dos laminados

ensaiados em tração envolveu análises em um estereoscópio da marca Zeiss, modelo

Stemi SV-11, com aumento de até 66 vezes, na Divisão de Materiais/IAE.

81

5 PREPARAÇÃO DOS CORPOS-DE-PROVA

Este capítulo apresenta os materiais utilizados e os procedimentos experimentais

adotados na preparação dos laminados compósitos e dos corpos-de-prova utilizados nos

ensaios mecânicos.

5.1 Materiais

Para a realização deste trabalho foram escolhidos materiais atualmente utilizados no

setor produtivo de componentes estruturais para pás eólicas. No caso dos laminados de

fibra de vidro foi utilizado o tecido unidirecional e-glass de 600 g/m2 woven roving tipo

plain weave, fornecido pela empresa Ahlstrom (Figura 5.1a). Este tipo de reforço é

atualmente utilizado no processamento de componente estrutural para o reforço de

bordo de fuga de pás eólicas. Os laminados de fibra de carbono foram preparados pelo

uso de reforço unidirecional de 405 g/m2, fornecido pela empresa Saertex, obtido pelo

uso de fibras de carbono T700S (6K) da empresa Toray (Figura 5.1b).

O sistema de matriz polimérica utilizado para impregnar ambos os reforços foi uma

resina epóxi de infusão, código MGS RIM 135 e os endurecedores MGS RIMH 137

(80 %) e RIMH 134 (20 %), fornecidos pela empresa Hexion. As Tabelas 5.1 e 5.2

mostram um maior detalhamento das especificações da resina e dos endurecedores

utilizados neste trabalho.

82

(a) (b) Figura 5.1. – Vista dos reforços utilizados: (a) vidro e (b) carbono.

Tabela 5.1 – Especificação da resina de infusão MGS RIM 135i.

Fonte: Hexion (2009).

Massa específica

(g/m3)

Viscosidade dinâmica

(mPa.s)

1,13 – 1,17 700 – 1100

Tabela 5.2 – Especificação dos endurecedores MGS RIMH 134 e MGS RIMH 137.

Fonte: Hexion (2009).

Endurecedor Massa específica

(g/m3)

Viscosidade dinâmica

(mPa.s)

MGS RIMH 134 0,93 - 1,00 10 - 80

MGS RIMH 137 0,93 - 0,98 10 - 50

83

5.2 Preparação dos laminados compósitos

5.2.1 Preparação dos dispositivos para a indução do defeito

Durante o processo de infusão dos laminados com ondulações, o desalinhamento da

fibra foi obtido com a utilização de dispositivos especiais, projetados e preparados para

este estudo. Esta metodologia se mostrou, em ensaios preliminares, adequada e

reprodutível, sendo então utilizada para a preparação de todos os lotes de amostras com

ondulação.

A fabricação dos dispositivos foi realizada em madeira tipo MDF com dimensões de

(250 x 250 x 15) mm, e com a ondulação modelada na parte central da placa, conforme

ilustra a Figura 5.2. Assim, foram fabricados 8 tipos de dispositivos para obter

laminados com diferentes severidades (S (%) = 0; 2,5; 5; 7,5; 10; 12,5; 15 e 20). A

Tabela 5.3 mostra os tipos de dispositivos fabricados e os parâmetros de amplitude e

comprimento de onda, classificados pelas diferentes severidades da ondulação.

A geometria do defeito (ondulação) tem um formato senoidal, como já apresentado na

Figuras 3.13 e 3.15, estendendo-se continuamente na direção transversal do laminado,

com um comprimento de onda unitário de 20 mm. A variação da amplitude da onda foi

de 0,5 a 4,0 mm, obtida pela utilização de 7 diferentes dispositivos (Tabela 5.3). O lote

de controle foi fabricado em uma placa plana, com o objetivo de não induzir defeito na

fibra (S = 0 %).

84

(a) (b) Figura 5.2 – Dispositivo utilizado para gerar a ondulação no laminado: (a) vista de topo,

(b) vista da lateral do dispositivo.

Tabela 5.3 – Severidades induzidas nos laminados estudados.

Severidade

(%)

δ

(mm)

λ

(mm)

0 0 0

2,5 0,5

5 1,0

7,5 1,5

10 2,0

12,5 2,5

15 3,0

20 4,0

20

5.2.2 Preparação dos laminados

O processo de fabricação dos laminados foi baseado na técnica de infusão por vácuo,

utilizando parâmetros semelhantes aos já usados no processamento de acessórios

estruturais de pás industriais ou comerciais.

A espessura dos laminados foi definida pelos requisitos exigidos nas normas utilizadas

nesta tese para a caracterização mecânica dos corpos-de-prova. A Tabela 5.4 mostra a

espessura exigida nas normas para os ensaios de tração, compressão e fadiga e o número

85

de camadas de reforço utilizado para atingir a espessura especificada para cada um

desses ensaios mecânicos.

Tabela 5.4 – Configuração dos laminados de compósitos com fibras de carbono e vidro.

Número de camadas Ensaio

Espessura

(mm) Vidro Carbono

Tração 1 2 3

Compressão 3 6 9

Fadiga 3 6 9

A orientação das camadas nos laminados, ou seja, a orientação das fibras de carbono e

de vidro foi baseada nos processos de fabricação de peças estruturais reais da indústria

de processamentos de pás. As camadas de reforço foram cortadas nas direções 0º e

empilhadas sempre na seqüência 0º.

Utilizando-se os dispositivos de indução de defeitos, foram preparadas as famílias de

laminados com fibras de vidro e carbono, totalizando 16 grupos de laminados com

diferentes severidades para os ensaios de tração (8 grupos com fibra de vidro e 8 grupos

com fibra de carbono), 11 grupos para os ensaios de compressão (8 grupos com fibra de

vidro e 3 grupos com fibra de carbono) e 3 grupos com fibra de vidro para os ensaios de

fadiga. Em seguida, esses laminados foram cortados de acordo com o tipo de ensaio a

ser realizado.

A seguir é descrito o procedimento utilizado no processo de infusão na obtenção dos

laminados:

- limpar o dispositivo para indução de defeito e posicioná-lo sobre a bancada de teste

pré-aquecida a 40 oC;

86

- aplicar duas camadas de desmoldante semi-permanente (tipo Frekote 700NC) e duas

camadas de desmoldante de sacrifício (cera desmoldante) sobre toda a superfície do

dispositivo;

- identificar cada família de laminado;

- posicionar as camadas de reforço, observando o alinhamento da fibra na posição 0o.

- cobrir todo o reforço com uma camada de filme de nylon (também conhecida como

peel ply);

- posicionar uma camada de media transfer (acelerador para a infusão), observando os

pontos onde termina o transfer (ver Figura 5.3). Não cobrir totalmente as camadas;

- posicionar a espiral de entrada de resina e de vácuo utilizando os tees de PVC de ¾”

para fazer a conexão com a mangueiras;

Figura 5.3 – Esquema do posicionamento do transfer, entrada de resina e bico de vácuo utilizado na montagem de infusão dos laminados.

- posicionar a fita selante (também denominada de butil tape ou ‘banban’) ao redor do

dispositivo;

87

- montar o saco de vácuo e fazer o fechamento com fita selante (a Figura 5.4

exemplifica a preparação da bolsa de vácuo);

- montar as mangueiras de infusão de ¾”de para a entrada de resina e a saída de vácuo

nos tees de PVC de ¾”, utilizando fita selante para vedação e válvulas de PVC de ¾”;

- aplicar vácuo de 10 mbar;

- fazer o teste de estanqueidade para validar a bolsa de vácuo;

- iniciar a infusão, abrindo a válvula de entrada de resina;

- após a impregnação de todo o tecido, fechar a válvula de entrada de resina;

(a) (b) Figura 5.4 – Ilustração das etapas de preparação dos laminados: (a) posicionamento dos

bicos de resina, (b) infusão em andamento.

- após uma hora do fechamento da válvula de entrada de resina, elevar a temperatura da

mesa para 50 oC. A Figura 5.5 é representativa da curva de cura (temperatura do

termopar posicionado na mesa de infusão versus tempo) na preparação dos laminados;

88

0 1 2 3 4 5 6 7 820

25

30

35

40

45

50

55

Tem

pera

tura

(o C

)

Tempo (h)

Figura 5.5 – Curva representativa de um ciclo de cura no processo de infusão dos laminados.

- desligar o aquecimento da mesa após 5 horas;

- retirar o saco de vácuo e desmoldar os laminados.

Tanto os laminados de controle, como os laminados que tiveram a introdução de

ondulações não foram pós-curados para evitar a deformação dos defeitos gerados.

5.2.3 Preparação dos corpos-de-prova

Após a obtenção das diferentes famílias de laminados, esses foram cortados e usinados

nas dimensões especificadas em cada uma das normas utilizadas nos ensaios mecânicos

(Tabela 5.5). As normas utilizadas para os ensaios de tração, compressão e fadiga são a

ISO 527-5, ISO 14126 e ASTM D 3479, respectivamente.

89

Tabela 5.5 – Dimensões dos corpos-de-prova utilizados nos ensaios de tração, compressão e fadiga.

Corpo de prova Tab

Ensaio Norma Comp. (mm)

Largura (mm)

Espessura (mm)

Comp. (mm)

Espessura (mm)

Tração ISO 527-5 250 15 1 50 2

Compressão ISO 14126 110 10 3 40* 2

Fadiga ASTM D3479 210 25 3 55 2

*Para as amostras de controle da família de laminado de fibra de vidro e carbono, o tab foi utilizado com comprimento de 50 mm.

A obtenção dos corpos-de-prova envolveu, inicialmente, o corte das laterais dos

laminados, ajustando os seus comprimentos nas dimensões previstas nas normas

adotadas neste estudo (Tabela 5.5). Para isto, fez-se uso de uma retífica com disco

adiamantado e refrigeração a água. A Figura 5.6 ilustra um laminado com ondulação e o

corte do mesmo.

Em seguida, todos os laminados foram preparados para a colagem de tabs

(denominação dada ao laminado, normalmente de fibra de vidro, colado na parte final

do corpo-de-prova), que ficará presa na máquina de ensaios mecânicos, conforme

sugerem as normas utilizadas. O tab auxilia o posicionamento do corpo-de-prova na

máquina de ensaios e, também, previne possíveis danos no material pela garra da

máquina durante o ensaio. Nesse sentido, os tabs foram colados nas duas extremidades

dos laminados utilizando um filme adesivo, código FM 261, da empresa 3M (Figura

5.7). Em seguida, os laminados com os tabs foram transferidos para uma prensa

hidráulica com sistema de aquecimento (Figura 5.8). A região de colagem (com o filme

adesivo) dos tabs foi, então, curada à pressão de 3 x 103 kg, sob o seguinte ciclo de

cura: elevar a temperatura da ambiente até 130 oC, à taxa de 30 ºC/min, mantendo-se a

essa temperatura por 2 horas.

90

Figura 5.6 – Vista de (a) um laminado com ondulação e (b) da máquina de corte na obtenção do corpo-de-prova.

Figura 5.7 – Vista do laminado com tabs.

Em seguida, após o resfriamento do laminado, a placa de compósito com tabs foi

cortada, resultando nos corpos-de-prova a serem utilizados nos ensaios mecânicos,

conforme ilustra a Figura 5.9. Finalizando, os corpos-de-prova foram identificados e

numerados conforme sua severidade, e suas dimensões foram medidas com o auxilio de

um paquímetro digital modelo 500-136 e de um micrômetro digital 0,25 – 0,001 mm,

modelo 293-265, ambos da Mytutoyo.

TAB

TAB

91

Figura 5.8 – Vista da colagem de tabs no laminado em prensa hidráulica com aquecimento.

Figura 5.9 – Esquema do corte do laminado com tabs. Fonte: ISO 527-5 (1997)

A Figura 5.10 ilustra os corpos-de-prova preparados para os ensaios de tração, conforme

as dimensões especificadas na Tabela 5.5. Três corpos-de-prova de cada família foram

instrumentados com strain gauges da empresa Excell, para a determinação do módulo

de elasticidade e do coeficiente de Poisson. Para as amostras com ondulação, os strain

gauges foram posicionados deslocados 15 mm do centro da amostra. Para isto, foram

utilizados strain gauges (0o/90o rosette PA-06-125TG-350, da Excell Sensors). A

aquisição de dados dos strain gauge foi realizada simultaneamente à execução dos

ensaios de tração, utilizando um sistema de medição da deformação do corpo-de-prova

via medidas precisas da variação de resistência elétrica do strain gauge (Hoffmann,

1989), pelo uso de um equipamento modelo Spider 8, da empresa Hottinger Baldwin

Messtechnick (HBM) (Figura 5.11).

92

(a)

(b) Figura 5.10 – (a) Esquema dos corpos-de-prova dos ensaios de resistência à tração

longitudinal com dimensões em mm e (b) vistas frontal e lateral dos mesmos.

Figura 5.11 – Vista do sistema de medição da deformação do corpo-de-prova com strain gauge.

93

A Figura 5.12 mostra os corpos-de-prova preparados para os ensaios de compressão, de

acordo com a norma ISO 14126, conforme as especificações da Tabela 5.5.

(a)

(b)

Figura 5.12 – (a) Esquema dos corpos-de-prova dos ensaios de resistência à compressão com dimensões em mm e (b) vistas frontal e lateral dos mesmos.

Os corpos-de-prova utilizados nos ensaio de fadiga foram fabricados de acordo com a

norma ASTM D3479 (dimensões detalhadas na Tabela 5.5), como ilustra a Figura 5.13.

94

(a)

(b)

Figura 5.13 – (a) Esquema dos corpos-de-prova dos ensaios de resistência à fadiga com dimensões em mm e (b) vistas lateral e frontal dos mesmos.

95

6 RESULTADOS

Este capítulo apresenta e discute os resultados experimentais das caracterizações

mecânica e fractográfica das amostras de compósitos laminados de resina epóxi

reforçada com fibras de vidro e carbono, com e sem a introdução de defeitos, tipo

ondulação fora do plano. Foi dada ênfase à análise de resultados de resistências à tração,

compressão e fadiga das famílias de laminados com diferentes níveis de severidade na

ondulação induzida.

6.1 Avaliação da qualidade do laminado

A verificação do padrão da qualidade das diferentes famílias de compósitos laminados

processadas foi realizada quantitativamente pelo ensaio de digestão ácida da resina

epóxi, obtendo-se os teores de fibra e resina no material e por análises morfológicas via

microscopia eletrônica de varredura.

A digestão química da matriz é um método padronizado pela norma ASTM D 3171 que

permite determinar o conteúdo de fibras de um laminado. É um método simples que

consiste em degradar a resina em um meio de digestão a quente, sem atacar fortemente

as fibras. O ácido sulfúrico concentrado é o meio de digestão selecionado para os

laminados, especificado pelo Procedimento B da norma.

Este ensaio foi realizado em 6 amostras de laminados, reforçados com fibra de vidro e

de carbono, com (17 x 10) mm no Laboratório de Química da Divisão de

Materiais/IAE, utilizando uma balança analítica com 0,0001 g de precisão. Após a

digestão da matriz, os resíduos foram filtrados, lavados, secos e pesados e os conteúdos

de fibras e resina determinados. A fração em volume de fibras e resina é calculada a

partir da massa de fibras obtida após o ensaio de digestão e da massa específica dos

constituintes, e o conteúdo de vazios é obtido por diferença conforme especificado pela

norma.

As frações em volume de fibras (Vf), resina (Vr) e vazios (Vv) foram utilizadas as

Equações 6.1, 6.2 e 6.3, respectivamente:

96

( ) 100⋅

⋅−=

f

LfAf MMV

ρρ , (6.1)

( )100⋅

−=

r

L

A

fAr M

MMV

ρρ , (6.2)

( )rfv VVV +−=100 , (6.3)

onde MA e Mf são as massas (g) da amostra e de fibra no laminado, respectivamente, e

ρL, ρf, e ρr são as massas específicas (g/cm³) do laminado, da fibra e da resina,

respectivamente.

A massa específica do laminado foi obtida por ρL = MA / VA, onde VA (cm3) é o volume

medido da amostra de laminado (largura x comprimento x espessura). Após a

determinação de VA e MA para as respectivas amostras de laminados, o valor médio de

ρL determinado foi de 1,63 g/cm3 para o laminado reforçado com fibra de vidro e de

1,39 g/cm3 para o laminado com fibra de carbono. Os valores de ρf e ρr foram

adquiridos de dados dos fabricantes, sendo ρf = 2,55 g/cm3 para a fibra de vidro, ρf =

1,80 g/cm3 para a fibra de carbono, e ρr = 1,18 g/cm3 para a resina epóxi. Através das

Equações 6.1, 6.2 e 6.3, os valores médios de fração volumétrica de reforço, de resina e

de vazios foram determinados e encontram-se dispostos na Tabela 6.1.

Os resultados da Tabela 6.1 mostram que o laminado de vidro possui 62,7 ± 0,2 % em

massa de reforço, correspondendo a 41 % do volume total, enquanto que o laminado

reforçado com fibras de carbono tem 69,9 ± 0,2 %, em massa de reforço, que

corresponde a 45 % de fração volumétrica. Estes valores mostram que os laminados de

carbono encontram-se, proporcionalmente, com uma maior fração em massa de reforço

que os de vidro, sugerindo que o menor diâmetro das fibras de carbono e o seu maior

empacotamento no cabo, oferecem uma maior resistência à impregnação. Este resultado

é concordante com resultados de inspeção visual, que mostram que os laminados de

97

carbono apresentam regiões pobres em resina, ou seja, o reforço está com falhas de

impregnação, expondo visivelmente regiões de fibras sem impregnação.

Tabela 6.1 – Fração volumétrica de reforço, resina e vazios nos laminados de fibras de

vidro e de carbono.

Amostras Fração Volumétrica de

Reforço (%)

Fração Volumétrica de

Resina (%)

Fração Volumétrica de

Vazios (%)

Laminado de Vidro 41 43 16

Laminado de Carbono 45 40 15

As frações em volume de reforço e matriz polimérica obtidas encontram-se dentro da

faixa esperada (40-45 %), mencionada na literatura para laminados obtidos pelo

processo de infusão a vácuo (Ewea, 2009; Mandell et al., 1997). Porém, são mais baixas

que as observadas para laminados obtidos pelo uso de pré-impregnados processados em

autoclave, que mantém a sua relação em torno de 60:40 para reforço:resina (Cândido,

2001). No caso dos laminados processados, o conteúdo de vazios é relativamente alto

(~15 %) em comparação ao encontrado em laminados de uso aeronáutico (~2 %) (Ewea,

2009; Mandell et al., 1997).

Análises por microscopia eletrônica de varredura confirmam que os filamentos de

carbono são mais finos (~7,0 µm) (Figura 6.1) e apresentam-se mais densos no

laminado que os de vidro (Figura 6.2). O filamento de vidro apresenta o diâmetro médio

em torno de aproximadamente 19 µm (Figura 6.1).

98

(a) (b) Figura 6.1 – Microscopia eletrônica de varredura das seções transversais (a) da fibra de

vidro e (b) da fibra de carbono.

A análise das superfícies de fratura dos laminados por meio de microscopia eletrônica

de varredura mostra, de uma maneira geral, uma distribuição homogênea entre fibra e

resina no interior dos laminados (Figura 6.2). Observa-se, ainda, uma superfície

relativamente plana, resultante da rigidez das fibras, que se comporta como materiais

frágeis e, também, devido à boa interface entre o reforço e a fibra. A planeza da

superfície de fratura é melhor observada nos laminados de carbono, devido ao aspecto

mais frágil deste tipo de reforço (Purslow, 1988).

(a) (b) Figura 6.2 – Microscopia eletrônica de varredura das seções transversais (a) do

laminado de fibra de vidro e (b) do laminado de fibra de carbono.

16 µm

99

6.2 Avaliação da temperatura de transição vítrea

A determinação da temperatura de transição vítrea (Tg) foi realizada pelo uso da técnica

termoanalítica denominada de calorimetria exploratória diferencial (DSC), que tem

como princípio a avaliação de mudanças entálpicas que ocorrem nos materiais. Nesta

técnica, o fluxo de calor que entra e sai de uma amostra e de uma referência é medido

em função da temperatura ou do tempo (Costa, 1999).

Para a determinação da Tg dos laminados fabricados foram realizadas análises por DSC,

conforme a norma ASTM 3418, utilizando um equipamento da marca

Netzsch DSC 200 F3, em atmosfera de nitrogênio, com fluxo de 20 mL/min. Essas

análises foram realizadas na Divisão de Materiais/IAE. As massas utilizadas para as

medidas foram de 5,0 mg e a taxa de aquecimento utilizada foi de 10 ºC/min.

O valor médio de Tg das amostras de laminados utilizadas para a fabricação dos corpos-

de-prova deste trabalho foi de 78,5 oC para o laminado reforçado com fibra de vidro e

85,4 oC para o reforçado com fibra de carbono.

Apesar dos laminados de vidro e carbono terem sido submetidos ao mesmo ciclo

térmico (Figura 5.4), com temperatura máxima de tratamento igual a 50 ºC, por cerca de

200 min, observa-se que os laminados apresentam diferentes temperaturas de transição

vítrea. Tal comportamento é atribuído às diferentes condutividades térmicas das fibras

de vidro (1,5x10-4 (cal/s.cm.ºC) (Young, 2000) e de carbono (2,24x10-2 (cal/s.cm.ºC))

(Toray, 2008). No caso do laminado reforçado com fibra de carbono observa-se um

maior valor de Tg, promovido, provavelmente, por uma melhor distribuição do calor no

processo de cura da resina termorrígida, levando a uma maior reticulação da resina

epóxi. Sabendo-se que a Tg está associada à temperatura de serviço do componente,

pode-se concluir que o laminado reforçado com fibras de carbono amplia em cerca de

8 oC este requisito. Conclui-se ainda que as Tg dos laminados processados neste estudo

atendem aos requisitos de projeto de componentes estruturais de pás eólicas, que

exigem valores de temperatura de transição vítrea mínima em torno de 75ºC (Kensche,

2006).

100

6.3 Ensaios de tração

Neste estudo, a influência da ondulação em compósitos estruturais de resina epóxi

reforçados com fibras de vidro e carbono foi avaliada via ensaios de resistência à tração.

As tensões de ruptura foram calculadas a partir da razão entre a carga medida, lida

diretamente na máquina de ensaios, e a área da seção transversal inicial do corpo-de-

prova, calculada com base na espessura e na largura médias medida em cada corpo-de-

prova.

Uma média da espessura foi obtida a partir de dois pontos tomados ao longo da seção de

testes do corpo-de-prova. Este procedimento foi adotado para calcular a tensão real de

cada amostra, visto que o processamento pode provocar pequenas variações na

espessura do laminado. Vale lembrar, também, que os laminados de fibra de vidro e

fibra de carbono foram processados com reforços de diferentes gramaturas (item 5.1). A

medida da largura foi também obtida em dois pontos ao longo do corpo-de-prova com

um paquímetro digital, visto que este parâmetro pode variar durante o processo de corte

das amostras. Em média, o valor da espessura medida encontrada para os laminados de

fibra de vidro foi de 0,85 ± 0,04 mm e para os laminados de fibra de carbono igual a

1,14 ± 0,02 mm, enquanto que a especificada pela norma ISO 527-5 é de 1,0 ± 0,2 mm.

Portanto, os valores de espessura dos corpos-de-prova encontram-se no intervalo

especificado em norma. Os valores médios de largura encontrados para os laminados de

fibras de vidro e de carbono foram iguais a 14,90 ± 0,11 e 14,91 ± 0,06 mm,

respectivamente, enquanto que o especificado pela norma ISO 527-5 é de 15 ± 0,5 mm.

Assim, os valores médios de área da seção transversal para as famílias de laminados de

fibras de vidro e de carbono são iguais a 12,7 e 16,9 mm2, respectivamente.

Neste estudo, a resistência à tração, a deformação na ruptura, o módulo de Young e o

coeficiente de Poisson foram determinados para os laminados, utilizando-se sempre a

família sem defeito induzido (S = 0) como referência. Para isto, dados de carga e

deformação foram obtidos nos ensaios de tração longitudinal dos compósitos

unidirecionais de fibra de vidro e fibra de carbono pelo uso de strain gauges e na

própria máquina de ensaios.

101

Curvas típicas de tensão-deformação de amostras de laminados de fibra de vidro e de

fibra de carbono sem ondulação são apresentadas na Figura 6.3. Por meio destas curvas,

comparando-se o tipo de reforço utilizado, observa-se um comportamento característico

dos laminados em estudo, qual seja, os laminados com fibras de carbono apresentam

maior resistência e menor deformação que os laminados reforçados com fibras de vidro,

comportamento este já citado na literatura (Shackelford, 2008; Callister, 2008).

Particularizando a análise das curvas da Figura 6.3 observa-se que o laminado com

reforço de fibra de carbono de referência (S = 0) apresenta resistência máxima à tração

em torno de 2000 MPa, superior ao valor de 500 MPa determinado para o laminado de

fibra de vidro com S = 0. Estes valores de resistência máxima à tração estão próximos

aos disponibilizados na literatura para laminados de fibra de carbono / epóxi (2500 MPa

(Toray, 2009)) e fibra de vidro / epóxi (750-880 MPa (Mandell et al., 1997)), com

reforços e matriz polimérica similares, processadas por infusão a vácuo.

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,00

400

800

1200

1600

2000S = 0

Vidro / epóxi Carbono / epóxi

Res

istê

ncia

à T

raçã

o (M

Pa)

Deformação (%)

Figura 6.3 – Curvas típicas do comportamento de tensão-deformação para os laminados

de resina epóxi reforçada com fibra de vidro e fibra de carbono, com S = 0.

Por sua vez, o laminado com reforço de fibra de vidro apresenta uma deformação na

ruptura maior, em torno de 2,65 %, que a observada para o laminado com fibra de

102

carbono (~1,8 %), comprovando a característica da fibra de carbono em se deformar

menos em relação à fibra de vidro, devido à sua maior rigidez (Shackelford, 2008;

Callister, 2008). Verifica-se, ainda, nesta figura, que a curva do laminado de carbono

apresenta pequenos picos que representam provavelmente a presença de quebra do

reforço e de início de delaminação, antes da ruptura total do laminado.

6.3.1 Laminados reforçados com fibra de vidro

A seguir são apresentadas curvas de tensão-deformação representativas dos ensaios de

tração dos laminados fibra de vidro / epóxi. Neste caso, são exemplificadas curvas de

amostras com as severidades das ondulações introduzidas iguais a 0, 10 e 20 % (Figura

6.4). A comparação das curvas desta figura mostra claramente que a tensão de ruptura

máxima e a deformação na ruptura decrescem com o aumento da severidade. Têm-se

valores de σr máximos iguais a 748; 628 e 540 MPa e valores médios de deformação

iguais a ~2,7; 2,2 e 2,5 %, para valores de S iguais a 0, 10 e 20 %, respectivamente. A

análise da região elástica desta figura mostra também que as diferentes famílias

apresentam comportamentos distintos, quais sejam, a família sem a introdução de

severidade (S = 0), para um mesmo valor de deformação, por exemplo, 0,25 %, a

resistência à tração é aproximadamente 140 MPa e este valor diminui com o aumento da

severidade, de aproximadamente 100 MPa para S = 10 e 60 MPa para S = 20. Este

comportamento é atribuído à maior elongação da região de defeito, ou seja, da

ondulação, com menores valores de resistência à tração na região elástica.

A partir da análise das curvas obtidas para todas as famílias de laminados epóxi/vidro

caracterizadas (S = 0; 2,5; 5; 7,5; 10; 12,5; 15 e 20 %) foram determinados diferentes

parâmetros mecânicos, como mostra a Tabela 6.2. Assim, para cada família de laminado

de fibra de vidro são apresentados resultados médios de resistência à tração

longitudinal, com seus respectivos desvios padrão e valores máximos e mínimos e os

valores de deformação na ruptura. Os valores de módulo de Young e coeficiente de

103

Poisson foram calculados pela média de três amostras de cada família, instrumentadas

com strain gauges.

0 1 2 3 4

0

150

300

450

600

750

0

150

300

450

600

750

0 1 2 3 4

0

150

300

450

600

750

Fibra de vidro / EpóxiS = 0%

Res

istê

ncia

à T

raçã

o (M

Pa)

Fibra de vidro / EpóxiS = 10%

Deformação (%)

Fibra de vidro / EpóxiS = 20%

Figura 6.4 – Curvas de tensão-deformação representativas dos laminados fibra de vidro / epóxi, com S = 0, 10 e 20 %.

104

Tabela 6.2 – Valores de tensão de ruptura (σr), desvio padrão de σr (∆σr), σr máximos e mínimos, coeficiente de Poisson (ν), módulo de Young (Ε) e deformação na ruptura (εr) das famílias de laminados fibra de vidro / epóxi, com diferentes severidades.

Severidade σr ∆σr σr máximo σr mínimo ν E εr

(%) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (GPa) (%)

0 625 103 748 489 0,29 36,3 2,7

2,5 599 87,5 684 470 0,32 * 3,1

5,0 602 70,1 667 446 0,30 36,5 2,5

7,5 533 78,9 593 376 0,28 * 1,9

10,0 528 70,2 628 404 0,28 47,0 2,2

12,5 542 44,9 596 494 0,29 * 2,2

15,0 488 31,0 541 442 0,36 44,9 2,1

20,0 470 49,4 540 398 0,25 46,2 2,5

*Aquisição de dados da máquina não aproveitados

Comparando-se os valores de resistência à tração das amostras de todas as famílias de

laminados reforçados com fibra de vidro, confirma-se que a ondulação (desalinhamento

da fibra) causa efeito deletério no comportamento em tração dos laminados. Observa-se

ainda que, os desvios destas medidas, de uma maneira geral, diminuem com o aumento

da severidade (Tabela 6.2). Já, o coeficiente de Poisson mostra a tendência de

decréscimo, exceto para a amostra com S = 15 % (ν = 0,36). A análise dos valores de

módulo de Young mostra a tendência de aumento, enquanto que o parâmetro

deformação na ruptura mostra a tendência de decréscimo.

A Figura 6.5 ilustra o comportamento dos valores de tensão de ruptura com suas

respectivas barras de erro, obtidas pelo desvio padrão da medida, e a tensão de ruptura

normalizada de todas as famílias de laminados reforçados com fibra de vidro, em função

das diferentes severidades. Vale ressaltar que, neste trabalho, a normalização dos

valores de tensão foi realizada sempre em relação ao valor médio da família com S = 0

105

(σr/σr(S=0)). A análise desta figura mostra que a tensão de ruptura decresce, chegando a

uma redução de, aproximadamente, 25 % na sua resistência à tração para a família com

S = 20 %, em comparação ao lote de controle sem ondulação (S = 0). Verifica-se, ainda,

que o desvio padrão mostra a tendência de diminuir com o aumento da severidade nas

diferentes famílias de laminados analisadas, como já observado por Mandell (Mandell et

al., 2003). Este comportamento sugere que o aumento da ondulação da fibra na região

mediana do corpo-de-prova é um defeito com influência preponderante no decréscimo

da propriedade, e os menores desvios indicam que a indução de ondulações mais

severas nos laminados apresenta maior influência sobre outros possíveis defeitos

oriundos do processamento, como falhas de interface e porosidades, no espalhamento

dos dados obtidos experimentalmente.

0 5 10 15 20

0

150

300

450

600

750

0 5 10 15 200,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Res

istê

ncia

à tr

ação

(M

Pa)

Fibra de vidro / Epóxi

Severidade (%)

Res

istê

ncia

à tr

ação

nor

mal

izad

a

Fibra de vidro / Epóxi

Figura 6.5 – Resistência à tração e resistência à tração normalizada das famílias de laminados fibra de vidro / epóxi com diferentes severidades.

106

Observa-se, ainda, que o decréscimo da resistência, em comparação ao laminado sem

defeito, para S = 2,5 e 5 % é cerca de 4 %, para S variando entre 7,5 e 12,5 % é cerca de

15 % e, finalmente, para S = 15 e 20 %, a queda da propriedade é de, aproximadamente,

24 %. Estes dados mostram que a partir de 5 % de severidade o decréscimo da

propriedade é mais acentuado.

A Figura 6.6 apresenta mais claramente a variação do coeficiente de Poisson, do

módulo de elasticidade e da deformação na ruptura em função da severidade. A análise

desta figura mostra o ligeiro decréscimo do coeficiente de Poisson em função do

aumento da severidade, como observado por Adams (Adams et al., 1994). Para S = 0, o

coeficiente de Poisson é igual a 0,29 e para S = 20 % esse parâmetro torna-se igual a

0,25. Exceto para alguns pontos que não se ajustam à curva (S = 2,5 e 15 %), este

comportamento é esperado, considerando-se a Equação 4.6 e o fato do corpo-de-prova

com ondulação ter a tendência de se alongar na longitudinal, com a aplicação do

esforço. Este comportamento é favorecido nos laminados de fibra de vidro, em função

da menor rigidez desta fibra em comparação à fibra de carbono. O desvio de

comportamento observado para alguns corpos-de-prova pode ser atribuído ao

deslocamento da colagem do strain gauge em relação à região mediana do corpo-de-

prova, devido à presença da ondulação.

Como apresentado anteriormente na Tabela 6.2, observa-se na Figura 6.6 que o módulo

de Young para a família de referência (S = 0) é igual a 36 GPa e para S = 20 % o

módulo é igual a 45 GPa. Deste modo, verifica-se que este parâmetro tende a aumentar

com o aumento da severidade. Os valores de Ε para as famílias com S = 2,5; 7,5 e

12,5 % não foram adquiridos.

A análise da curva de deformação na ruptura em função da severidade (Figura 6.6)

mostra que o aumento da severidade promove o rompimento do corpo-de-prova em

valores menores de deformação e com menores cargas (Tabela 6.2), mostrando

claramente o efeito deletério da ondulação no comportamento mecânico do laminado.

107

0,00

0,08

0,16

0,24

0,32

0,400 5 10 15 20

0

10

20

30

40

50

0 5 10 15 20

0,0

0,6

1,2

1,8

2,4

3,0

3,6

Coe

ficie

nte

de P

oiss

on

Fibra de vidro / Epóxi

Mód

ulo

de e

last

icid

ade

(GP

a)

Fibra de vidro / Epóxi

Def

orm

ação

na

rupt

ura

(%)

Severidade (%)

Fibra de vidro / Epóxi

Figura 6.6 – Variação do coeficiente de Poisson, módulo de elasticidade e deformação de ruptura das famílias de laminados reforçados com fibra de vidro em função de diferentes níveis de severidade.

Em complementação à avaliação do comportamento mecânico dos laminados com a

severidade, foram realizadas análises fractográficas das superfícies de fratura dos

108

corpos-de-prova com reforço de fibra de vidro ensaiados em tração. A realização destas

análises visou complementar o estudo dos efeitos deletérios das ondulações nos

laminados compósitos, buscando definir quais os prováveis modos de falha que

promovem a queda na propriedade de resistência à tração longitudinal e os tipos de

fratura resultantes na ruptura.

Após os ensaios mecânicos, a primeira análise das superfícies de fratura refere-se à

inspeção visual, para identificar os aspectos macroscópicos revelados pelo material.

Nesta análise observa-se claramente que as amostras sem defeito ou com defeitos menos

severos (S = 0 e 2,5 %) apresentam aspectos de fraturas diferentes em relação às

amostras com ondulações mais severas (S = 5; 7,5; 10; 12,5; 15 e 20 %) (Figuras 6.7 e

6.8).

Para a família de laminados com S= 0 e 2,5 %, o modo de fratura apresenta uma

aparência de escova (brush like appearance) (Purslow, 1988; Asm, 2001). A Figura 6.7

mostra corpos-de-prova com S = 0 % ensaiados até a ruptura total. Estes modos de falha

são também representativos da família de laminados de vidro com S = 2,5 %.

Figura 6.7 – Modo de falha tipo escova, observado nas superfícies de fratura da família de laminados fibra de vidro / epóxi com S = 0.

Já, as famílias com ondulações mais severas (S ≥ 5 %), a fratura se dá,

preferencialmente, na região de ondulação da fibra, passando pelo ponto de inflexão da

curva, exibindo uma fratura mais plana (Figura 6.8), como também observado por

Avery (Avery et al., 2004). A Figura 6.8 mostra o modo de fratura típico da família de

laminados com S = 20 %, representativo dos laminados com S ≥ 5 %.

109

(a) (b) Figura 6.8 – Modo de falha observado nas superfícies de fratura da família de laminados

epóxi/vidro com S = 20 %. (a) vista geral, (b) detalhe da ondulação após o ensaio mecânico.

A análise das superfícies de fratura dos laminados com S ≥ 5 % mostra claramente que a

propagação da trinca que leva à fratura da amostra se inicia na região do defeito

(ondulação) do laminado (Figura 6.8b).

O segundo passo é a observação em microscópio eletrônica de varredura, onde são

alcançados aumentos maiores, de modo que podem ser visualizados os caminhos e

mecanismos da falha no laminado.

Como já verificado na inspeção visual, as amostras de controle e com severidade baixa

apresentam uma ruptura de difícil análise do ponto de vista fractográfico, uma vez que

se fragmentaram. Os fragmentos restantes da amostra, na forma de varetas, e os

recolhidos no local apresentam a superfície de análise danificada, devido ao impacto

entre os próprios fragmentos do corpo-de-prova, durante a quebra do reforço. A Figura

6.9 é representativa da análise realizada em uma porção da amostra recuperada (uma

vareta) e mostra uma vista geral da família de controle (S = 0). Um aspecto interessante

desta família e das demais com baixa severidade S = 2,5 % é a quebra do reforço em

diferentes planos, devido ao impacto na ruptura. Observa-se, ainda, a presença do efeito

de pullout (arrancamento da fibra), atribuído a falhas na interface resina-fibra e regiões

110

mais ricas em resina, provavelmente associada à presença de poros, em função do

aspecto dessa região.

Figura 6.9 – Vista geral de um laminado de vidro (referência) (S = 0). Aumento de 750x.

O segundo tipo de fratura, observado para as famílias com maiores severidades, revela

uma fratura frágil e uniforme na seção transversal da amostra, com uma região limpa,

plana e sem aspectos muito diferenciados, permitindo a visualização das fibras de topo,

como que em um corte a 90º, como apresentado por Franco (Franco, 2003). Este tipo de

fratura pode ser observado na Figura 6.10, referente às famílias com S = 12,5 e 15 %.

Nesta figura observa-se ainda que, a interface entre as fibras e a resina é boa, uma vez

que as fibras apresentam-se recobertas pela resina e aderidas a esta (Figuras 6.10a e

6.11). Observa-se, no entanto, a presença de regiões ricas em resina (Figura 6.10b). Este

tipo de aspecto é característico do processo de infusão, já que este não favorece uma

impregnação homogênea do reforço em função da ausência de pressão durante o

processamento, como apresenta a literatura (Cândido, 2001). Observa-se, também, a

ocorrência de arrancamento de fibras, porém em menor quantidade. A fratura observada

Pullout

Região rica em resina

111

é translaminar e deve-se ao fato da superfície de fratura ser praticamente perpendicular

ao carregamento, com o ponto de propagação da falha localizado na região mediana do

corpo-de-prova, na ondulação, como se espera na teoria (Mandell et al., 2003). A Figura

6.12 ilustra o topo de uma fibra, revelando as marcas radiais (estrias) no filamento e o

ponto de origem da falha transversal (região inferior do filamento).

(a) (b) Figura 6.10 – Vista geral de laminados de vidro com (a) S = 12,5 % e (b) S = 15 %,

aumento de 1000x.

40 µm

Resina

40 µm

Região rica em resina

112

(a) (b) Figura 6.11 – Detalhe da interface fibra de vidro-resina de um laminado de vidro com (a) S

= 5 %, aumento 1500x e (b) S = 2,5 %, aumento 3500x.

Figura 6.12 – Detalhe da seção transversal de um filamento de vidro, com o ponto de origem da falha e propagação da trinca, S = 0, aumento 5000x.

21 µm Resina

7 µm

Ponto de início de propagação da falha

9 µm

Resina

113

A Figura 6.13a ilustra o aspecto de falha denominado marcas de rio em uma região rica

em resina e a Figura 6.13b a presença dos aspectos conhecidos como escarpas, ao redor

de um filamento de vidro. Estes aspectos são característicos de matrizes termorrígidas

sob carregamento em tração (Franco, 2003). A Figura 6.13b também ilustra, mais uma

vez, a boa ancoragem da resina no reforço de vidro e em alguns pontos de falhas na

adesão. Entre os dois filamentos observa-se também a ocorrência da propagação de uma

trinca, que pode levar à ocorrência do defeito de delaminação.

(a) (b) Figura 6.13 – Aspectos tipo marcas de rio, 1500x (a) e escarpas, 2000x (b) na região de

fratura do laminado de vidro (S= 0).

6.3.2 Laminados reforçados com fibra de carbono

A Figura 6.14 ilustra curvas típicas de tensão-deformação das famílias de laminados de

fibra de carbono de referência (S = 0) e com severidades iguais a 10 e 20 %,

respectivamente. A análise destas curvas mostra que a família de referência, com

severidade S = 0, possui maior resistência à tração (σr = 2007 MPa), que a observada

para o laminando com severidade igual a 10 % (σr = 1830 MPa), porém ligeiramente

menor que o determinado para S = 20 % (σr = 2188 MPa). Deve-se ressaltar que este

último valor obtido não era esperado.

21 µm

Marcas de rio

16 µm

Trinca

Escarpas

Defeitos

114

Outra observação importante refere-se à deformação na ruptura, que para a família de

controle (S = 0) é maior em relação às outras duas amostras. A análise da região elástica

desta figura mostra também que a família com S = 10 % apresenta comportamento

diferente do observado para a família sem a introdução de severidade (S = 0). Assim,

para um mesmo valor de deformação, por exemplo, 0,25 %, a resistência à tração da

família com S = 10 % é menor. Este comportamento, de maneira similar ao apresentado

para os laminados com reforço de vidro, é atribuído à maior elongação da região de

defeito, ou seja, da ondulação, com um menor valor de resistência à tração. No entanto,

os laminados de maior severidade (S = 20 %) não apresentam este comportamento,

assemelhando-se ao desempenho da família de referência, sem defeito. A análise da

Figura 6.14 mostra também que a família com S = 10 % apresenta um típico

comportamento de material com fratura frágil, com falha catastrófica, como menciona a

literatura (Mandell et al., 2003). Já, a família com S = 20 % indica que a ruptura do

corpo-de-prova se deu com o rompimento parcial do material, ou seja, do reforço, antes

da falha total do material.

A partir da análise das curvas obtidas para todas as famílias de laminados

fibra de carbono / epóxi caracterizadas (S = 0; 2,5; 5,0; 7,5; 10; 12,5; 15 e 20 %) foram

determinados diferentes parâmetros mecânicos, como mostra a Tabela 6.3. Assim, para

cada família de laminado de fibra de carbono são apresentados resultados médios de

resistência à tração longitudinal, com seus respectivos desvios padrão e valores

máximos e mínimos e os valores de deformação na ruptura. Os valores de módulo de

Young e coeficiente de Poisson foram calculados pela média de três amostras de cada

família, instrumentadas com strain gauges.

115

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0

0

400

800

1200

1600

2000

0

400

800

1200

1600

2000

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0

0

400

800

1200

1600

2000

Fibra de Carbono / EpóxiS = 0%

Res

istê

ncia

à T

raçã

o (M

Pa)

Fibra de Carbono / EpóxiS = 10%

Deformação (%)

Fibra de Carbono / EpóxiS = 20%

Figura 6.14 – Curva típicas de tensão-deformação dos laminados de fibra de carbono / epóxi com (a) S= 0, (b) S = 10 % e (c) S= 20 %.

116

Tabela 6.3 – Valores de tensão de ruptura (σr), desvio padrão de σr (∆σr), σr máximos e mínimos, coeficiente de Poisson (ν), módulo de Young (Ε) e deformação na ruptura (εr) das famílias de laminados fibra de carbono / epóxi, com diferentes severidades.

Severidade σr ∆σr σr máximo σr mínimo ν Ε εr

(%) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (GPa) (%)

0 2011 145 2226 1825 0,25 142 1,8

2,5 2174 205 2327 1809 0,29 104 2,0

5,0 1872 182 2227 1692 * * 1,5

7,5 1904 154 2162 1672 * * 1,4

10,0 1830 16,7 1946 1703 0,39 66,3 1,3

12,5 1755 46,8 1783 1701 * * 1,4

15,0 1934 28,3 1966 1912 * 30,6 1,5

20,0 2188 164 2526 2018 0,55 18,7 1,5

*Aquisição de dados da máquina não aproveitados

Inicialmente, comparando-se os valores de resistência à tração e de módulo de Young

dos laminados de carbono e vidro, de referência (S = 0), verifica-se que os laminados de

carbono apresentam estas propriedades sensivelmente superiores, 2007 MPa e 142 GPa,

respectivamente, em relação às dos laminados de vidro, 624 MPa e 36,3 GPa,

respectivamente. As atrativas propriedades mecânicas dos laminados de carbono são

acrescidas de sua menor massa específica (1,39 g/cm3) em relação à dos laminados de

vidro (1,63 g/cm3).

Comparando-se os valores de resistência à tração das famílias de laminados reforçados

com fibra de carbono, verifica-se que a ondulação (desalinhamento da fibra), de maneira

similar ao observado para os laminados reforçados com fibra de vidro, degrada o

comportamento em tração dos laminados, exceto para os laminados com S = 15 e 20 %,

que apresentam comportamento não esperado. Observa-se ainda que, os desvios destas

medidas, de uma maneira geral, diminuem com o aumento da severidade. Já, o

coeficiente de Poisson mostra a tendência de aumentar, provavelmente, devido à maior

117

rigidez da fibra de carbono e, conseqüentemente, a sua maior resistência em se

deformar. A análise dos valores de módulo de Young mostra a tendência de decréscimo,

juntamente com a deformação na ruptura.

A Figura 6.15 apresenta os valores de tensão de ruptura e de tensão de ruptura

normalizados (σr/σr(S=0)) de todas as famílias de laminados reforçados com fibra de

carbono, em função da severidade de cada família. A análise desta figura mostra que a

tensão de ruptura decresce, chegando a uma redução de, aproximadamente, 13 % na sua

resistência à tração para a família com S = 12,5 %, em comparação ao lote de controle

sem ondulação (S = 0). Verifica-se, ainda, que o desvio padrão apresenta a tendência de

diminuir com o aumento da severidade nas diferentes famílias de laminados analisadas,

como já observado por Mandell (Mandell et al., 2003). No entanto, a família com

S = 20 % mostra, de maneira não esperada, um aumento desta propriedade em cerca de

9 %. Os comportamentos anômalos para os laminados com 15 e 20 % podem ser

oriundos do processamento deste lote de laminado ou de problemas na aquisição de

dados da máquina de ensaio. Outro aspecto não esperado é o alto desvio padrão para os

laminados com S = 20 %. Considerando-se as severidades de 0; 2,5; 5; 7,5; 10 e 12,5 %

pode-se afirmar que o aumento da ondulação da fibra na região mediana do corpo-de-

prova é um defeito com influência preponderante no decréscimo da propriedade, e os

menores desvios sugerem que a indução de ondulações mais severas nos laminados tem

influência sobre outros possíveis defeitos oriundos do processamento, como falhas de

interface e porosidades. Observa-se, ainda, que o decréscimo da resistência, em

comparação ao laminado sem defeito, para S = 5 e 7,5 % é cerca de 7 %, para S = 10 %

o decréscimo desta propriedade é cerca de 8,9 %. Estes dados mostram que a partir de

5 % de severidade o decréscimo da propriedade é mais acentuado. Para severidades

iguais ou superiores a 15 % verifica-se o aumento da propriedade sugerindo que novas

investigações devam ser realizadas para confirmar esta tendência.

Em resumo, comparando-se os resultados dos corpos-de-prova de todos os grupos de

laminados reforçados com fibra de carbono, verifica-se que a ondulação

(desalinhamento) da fibra, de maneira geral, causa efeito deletério no comportamento

em tração dos laminados, como já observado para os laminados de fibra de vidro.

118

0

500

1000

1500

2000

25000 5 10 15 20

0 5 10 15 200,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Res

istê

ncia

à tr

ação

(M

Pa)

Fibra de carbono / Epóxi

Severidade (%)

Res

istê

ncia

à tr

ação

nor

mal

izad

a

Fibra de carbono / Epóxi

Figura 6.15 – Variação da resistência à tração e resistência à tração normalizada de laminados de fibra de carbono / epóxi com diferentes severidades.

A Figura 6.16 apresenta mais claramente a variação do coeficiente de Poisson, do

módulo de elasticidade e da deformação dos laminados de fibra de carbono / epóxi com

diferentes severidades. A análise desta figura mostra que o coeficiente de Poisson

aumenta com o aumento da severidade. Para S = 0, o coeficiente de Poisson é igual a

0,25 e para S = 20 % esse parâmetro torna-se igual a 0,55. Em princípio este valor de

ν > 0,5 não é aceito, como prevê a literatura sobre comportamento mecânico de

compósitos (Asm, 2001). No entanto, Hsiao e Daniel (Hsiao et al., 1996) e Garnich e

Karami (Garnich et al., 2005) mostram valores de coeficiente de Poisson em laminados

119

com ondulação variando de 0,22 a 0,48, citando que o coeficiente de Poisson é

extremamente afetado na direção longitudinal em laminados com ondulação. Esta

tendência de aumento do coeficiente de Poisson é contrária à observada para os

laminados de fibra de vidro, em função da menor rigidez desta fibra em comparação à

fibra de carbono. O desvio de comportamento observado para alguns corpos-de-prova

pode ser atribuído ao deslocamento da colagem do strain gauge em relação à região

mediana do corpo-de-prova, devido à presença da ondulação.

Como apresentado anteriormente, observa-se na Figura 6.16 e na Tabela 6.3 que o

módulo de Young para a família de referência (S = 0) é igual a 142 GPa, e para S =

20 % o módulo é igual a 18,7 GPa. Deste modo, verifica-se que este parâmetro tende a

diminuir com o aumento da severidade. Este comportamento mostra claramente o efeito

deletério da ondulação no módulo de Young do material com o aumento da severidade.

120

0 5 10 15 20

0,00

0,15

0,30

0,45

0,60

0

30

60

90

120

150

0 5 10 15 20

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Coe

ficie

nte

de P

oiss

on

Fibra de carbono / Epóxi

Mód

ulo

de e

last

icid

ade

(GP

a)

Fibra de carbono / Epóxi

Def

orm

ação

na

rupt

ura

(%)

Severidade (%)

Fibra de carbono / Epóxi

Figura 6.16 – Variação do coeficiente de Poisson, módulo de elasticidade e deformação de ruptura das famílias de laminados reforçados com fibra de carbono em função de diferentes níveis de severidade

121

A análise da curva de deformação na ruptura em função da severidade (Figura 6.16)

mostra que o aumento da severidade promove o rompimento do corpo-de-prova em

valores menores de deformação e com menores cargas (Tabela 6.3), indicando

claramente o efeito deletério da ondulação no comportamento mecânico do laminado

até a severidade de 15 %.

De maneira similar às análises fractográficas realizadas para os laminados de vidro, fez-

se a caracterização microscópica das superfícies de fratura dos corpos-de-prova da

família reforçada com fibra de carbono, após os ensaios em tração.

A inspeção visual dos corpos-de-prova dos laminados de carbono fraturados mostra que

as amostras com S = 0 (Figura 6.17a) e 2,5 % apresenta modo de falha tipo escova

(brush like appearance) (Franco, 2003; Purslow, 1988). Já, as famílias com ondulação

mais severa, a fratura ocorre preferencialmente na região de ondulação da fibra, tipo

frágil, passando pelo ponto de inflexão da curva (Figura 6.17b-c), como observado por

Adams (Adams et al., 1994). Verifica-se ainda que, o aspecto tipo escova diminui com

o aumento da severidade, migrando para fraturas mais típicas de materiais frágeis. A

Figura 6.17d mostra o detalhe da região de fratura de um laminado com 20 %, onde se

observa um strain gauge colado ao lado da severidade, deslocado da região mediana do

corpo-de-prova.

As análises por microscopia eletrônica de varredura mostram que a interface entre as

fibras e a resina apresenta regiões com adesão entre as fibras e a resina (Figura 6.18a),

mas, também, muitas regiões com interface pobre (fibras lisas e sem resina), sugerindo

que a compatibilidade entre a fibra e a resina precisa ser melhorada (Figura 6.18b).

Estas observações são concordantes com o comportamento mecânico apresentado na

Figura 6.14, que sugere a ocorrência de delaminação do compósito ou problemas na

interface.

122

(a) (b)

(c) (c)

Figura 6.17 – Modo de falha típico para as famílias de laminados de carbono com S igual (a) 0, (b) 10 %, (c) 20 % e (d) detalhe de (c).

123

(a) (b)

Figura 6.18 – Detalhes da interface entre as fibras de carbono e a resina epóxi, (a) S = 10 %, 5000x e (b) 2,5 %, 3500x.

A Figura 6.19 mostra o topo de uma fibra, com evidências das marcas radiais (estrias) e

do local de origem da falha. A seta amarela indica a propagação da trinca através do

filamento de carbono. Nesta imagem observa-se também que a resina está bem ancorada

no reforço.

Figura 6.19 – Seção transversal de uma fibra de carbono, com o detalhe da origem da falha e propagação da trinca (seta amarela), S = 10 %, aumento de 7500x.

7 µm

Boa ancoragem da resina

16 µm

Falha na interface

Fibras lisas que indicam ausência de interface

Origem da falha

5 µm

124

A Figura 6.20a ilustra o aspecto de falha denominado marcas de rio em uma região rica

em resina, com os filamentos de carbono bem ancorados na matriz e a Figura 6.20b a

presença de escarpas, características de matrizes termorrígidas sob carregamento em

tração (Franco, 2003).

(a) (b) Figura 6.20 – Região de fratura do laminado de fibra de carbono / epóxi (S= 0) sob

tração. Aspectos tipo (a) marcas de rio, 1500x e (b) escarpas, 2000x.

6.4 Ensaios de compressão

Neste estudo, a influência da ondulação em compósitos estruturais de resina epóxi

reforçados com fibras de vidro e carbono unidirecionais foi também avaliada via ensaios

de resistência à compressão. As propriedades de resistência à compressão e deformação

na ruptura dos laminados em estudo foram avaliadas, utilizando-se sempre a família

sem defeito induzido (S = 0) como referência. Para isto, dados de carga e deformação

foram obtidos na própria máquina de ensaios.

21 µm 16 µm

125

6.4.1 Laminados reforçados com fibra de vidro

Curvas típicas de tensão-deformação em compressão para amostras com severidades de

0, 10 e 20 % de laminados fibra de vidro são apresentadas na Figura 6.21. Por meio

destas curvas observa-se o comportamento característico destas famílias de laminados.

Particularizando a análise das curvas observa-se que o laminado com reforço de fibra de

vidro sem defeito induzido (S = 0) apresenta resistência máxima à compressão igual a

673 MPa, valor superior aos determinados para os laminados de fibra de vidro com

S = 10 e 20 %, que mostram resistências de 144 e 107 MPa, respectivamente.

Comparando-se os valores de resistências à compressão obtidos para a família de vidro

com S = 0, com dados da literatura de laminados similares, têm-se valores próximos

(396-593 MPa) (Ewea, 2009).

Observa-se também que a deformação na ruptura do corpo-de-prova diminui

sensivelmente com a introdução da ondulação, diminuindo de 4,3 % para o laminado

com S = 0, para, aproximadamente, 1,4 e 1,3 % para as famílias com S = 10 e 20 %,

respectivamente. Verifica-se ainda que os perfis da curvas dos laminados com e sem

defeitos são bastante distintos. Nos casos dos laminados com severidades de 10 e 20 %

tem-se que, desde o início do ensaio, já se observa uma influência maior do esforço

sobre o comportamento de deformação do corpo-de-prova, levando-o à ruptura em

menor valor de deformação e com menores valores de resistência.

126

0 1 2 3 4 5

0

150

300

450

600

750

0

40

80

120

160

200

0 1 2 3 4 5

0

40

80

120

160

200

Fibra de vidro / EpóxiS = 0%

Res

istê

ncia

à C

ompr

essã

o (M

Pa)

Fibra de vidro / EpóxiS = 10%

Deformação (%)

Fibra de vidro / EpóxiS = 20%

Figura 6.21 – Curvas típicas de tensão - deformação em compressão dos laminados fibra de vidro / epóxi, com (a) S= 0, (b) 10 % e (c) 20 %.

127

A partir da análise das curvas obtidas para todas as famílias de laminados epóxi/vidro

caracterizadas (S = 0; 2,5; 5,0; 7,5; 10; 12,5; 15 e 20 %) foram determinados diferentes

parâmetros mecânicos, como mostra a Tabela 6.4. Assim, para cada família de laminado

de fibra de vidro são apresentados resultados médios de resistência à compressão, com

seus respectivos desvios padrão e valores máximos e mínimos, e os valores de

deformação na ruptura.

Tabela 6.4 - Valores de resistência à compressão (σr), desvio padrão (∆σr), valores máximos e mínimos e deformação na ruptura (εr) das famílias de laminados de fibra de vidro / epóxi, em função da severidade.

Severidade σr ∆σr σr máximo σr mínimo εr

% (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (%)

0 673 91 839 511 4,3

2,5 287 34 330 228 2,2

5,0 288 14 307 269 2,2

7,5 210 30 249 169 1,8

10 144 16 164 116 1,4

12,5 137 12 159 122 1,6

15 161 20 183 129 1,6

20 107 12 130 92 1,3

Comparando-se os valores de resistência à compressão e deformação das amostras de

todas as famílias de laminados reforçados com fibra de vidro, verifica-se que a

ondulação (desalinhamento da fibra) causa uma queda acentuada nesta propriedade.

Observa-se ainda que, os desvios destas medidas, de uma maneira geral, diminuem com

o aumento da severidade.

A Figura 6.22 apresenta o comportamento dos valores de resistência à compressão de

todas as famílias de laminados reforçados com fibra de vidro, em função da severidade

128

de cada família. A análise desta figura mostra que a tensão de ruptura decresce de

maneira acentuada, chegando a uma redução de, aproximadamente, 84 % na sua

resistência à compressão para a família com S = 20 %, em comparação ao lote de

controle sem ondulação (S = 0). Verifica-se, ainda, que o desvio padrão mostra a

tendência de diminuir com o aumento da severidade nas diferentes famílias de

laminados analisadas, como já observado por Mandell (Mandell et al., 2003).

Comparando-se os resultados de tração e compressão observa-se que a ondulação é mais

deletéria para o esforço em compressão e que esta redução aumenta com o aumento da

severidade da fibra na região mediana do corpo-de-prova. Assim, tem-se que os

laminados com S = 2,5 e 5 % tem a sua resistência à compressão reduzida em cerca de

57 %, com a tendência deste decréscimo aumentar significativamente para severidades

maiores, como mostram os laminados com S = 7,5 % nos quais a resistência cai para

cerca de 69 % e para S = 7,5 e 10 % a queda chega a 80 %. Estes dados mostram que a

partir de 2,5 % de severidade o decréscimo da propriedade é acentuado e muito danoso

ao comportamento mecânico em compressão do material.

Um aspecto que provavelmente influenciou nesta queda abrupta da resistência em

compressão do laminado é o fato do desalinhamento de fibras induzido na amostra ter

promovido o efeito de dobramento (buckling) do laminado durante o ensaio,

característica de fratura não desejada para ensaios de compressão, como já menciona a

norma ISO 14126 (ISO 14126, 2000). Esta norma rejeita dados de amostras fraturadas

por dobramento.

129

0

150

300

450

600

750

0 5 10 15 20

0 5 10 15 200,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Res

istê

ncia

à c

ompr

essã

o (M

Pa)

Fibra de vidro / Epóxi

Severidade (%)

Res

istê

ncia

à c

ompr

essã

o no

rmal

izad

a

Fibra de vidro / Epóxi

Figura 6.22 – Resistência à compressão e resistência à compressão normalizada das famílias de laminados fibra de vidro / epóxi com diferentes severidades.

A Figura 6.23 mostra o comportamento dos valores de deformação na ruptura em

compressão de todas as famílias de laminados reforçados com fibra de vidro, em função

da severidade de cada família. A análise desta figura é concordante com o observado na

Figura 6.22, com uma queda acentuada deste parâmetro em função do aumento da

severidade, confirmando que a severidade de 2,5 % já compromete de maneira decisiva

o desempenho do material.

130

0 5 10 15 200

1

2

3

4D

efor

maç

ão n

a ru

ptur

a (%

)

Severidade (%)

Fibra de vidro / Epóxi

Figura 6.23 – Deformação em compressão das famílias de laminados fibra de vidro / epóxi com diferentes severidades.

A análise fractográfica das superfícies de fratura dos corpos-de-prova com reforço de

fibra de vidro, ensaiados em compressão, apresenta diferentes aspectos de fratura para

as diversas famílias. A Figura 6.24 mostra a região de deformação de corpos-de-prova

com e sem ondulação. Verifica-se que as amostras com ondulações romperam

preferencialmente na região de inflexão da ondulação e as sem severidade apresentam

rompimento próximo ao tab.

131

(a) (b) Figura 6.24 – Vistas de laminados de vidro após o ensaio de compressão: (a) S = 0 % e

(b) S = 20 %.

A Figura 6.25 é representativa de análises por estereoscopia de corpos-de-prova com

S = 0 %, onde observa-se a presença de falha por microflambagem (microbuckling)

próxima à região do tab (região esbranquiçada em forma de S). Esta deformação é na

realidade uma flambagem ou dobra da fibra. Observa-se também a presença de

delaminações que se propagam para dentro do tab. Este aspecto é representativo das

famílias com S = 0 e 2,5 %. Já, as amostras com severidades iguais a 10 % (Figura 6.26)

e 20 % (Figura 6.27) mostram dobramento na região mediana da senóide da ondulação

(região esbranquiçada).

132

(a) (b) Figura 6.25 – Vistas de um corpo-de-prova de laminado de vidro, com S = 0 %, ensaiado

em compressão.

(a) (b) Figura 6.26 – (a) Imagem do corpo-de-prova de laminado de vidro com S = 10 % após o

ensaio em compressão. (b) Detalhe da região da microflambagem (aumento de 500x).

Tab

Dobramento

Delaminação

70 µm

133

(a) (b) Figura 6.27 – (a) Imagem do corpo-de-prova de laminado de vidro com S = 20 % após o

ensaio em compressão. (b) Detalhe da região da microflambagem (aumento de 500x).

As Figuras 6.26b e 6.27b mostram detalhes da região de deformação com a presença de

fibras quebradas e de resina que se deformou com o esforço em compressão.

A Figura 6.25b mostra a região que ocorreu a microflambagem, próxima ao tab (região

esbranquiçada em forma de S, onde se observa a delaminação das camadas. Aspectos

semelhantes são observados para os laminados com S = 10 e 20 %, porém com a

ocorrência na região central do corpo-de-prova.

6.4.2 Laminados reforçados com fibra de carbono

A Figura 6.28 apresenta o comportamento das famílias de laminados carbono/epóxi sob

esforço em compressão. A análise destas curvas mostra que o laminado com S = 0

possui resistência máxima à compressão igual a 307 MPa, valor superior aos

determinados para os laminados de fibra de carbono com S = 10 e 20 %, que têm

resistências de 217 e 91 MPa, respectivamente. Comparando-se os valores de

resistências à compressão obtidos para a família de carbono com S = 0, com dados da

literatura de laminados similares, têm-se valores similares (460-510 MPa) (Hexion,

2009).

70 µm

134

0 1 2 3 4

0

60

120

180

240

300

360

0

60

120

180

240

300

360

0 1 2 3 4

0

40

80

120

160

200

Fibra de carbono / EpóxiS = 0%

Res

istê

ncia

à C

ompr

essã

o (M

Pa)

Fibra de carbono / EpóxiS = 10%

Deformação (%)

Fibra de carbono / EpóxiS = 20%

Figura 6.28 – Curvas típicas de resistência à compressão dos laminados fibra de carbono / epóxi, com (a) S = 0, (b) 10 % e (c) 20 %.

135

Observa-se também que, a deformação na ruptura do corpo-de-prova diminui

sensivelmente com a introdução da ondulação diminuindo de 3,2 % para o laminado

com S = 0 para, aproximadamente, 2,9 e 1,6 % para as famílias com S = 10 e 20 %,

respectivamente. Verifica-se também que os perfis das curvas dos laminados com e sem

defeitos são bastante distintos. No caso do laminado com severidade de 20 %, de

maneira similar ao apresentado pelos laminados de vidro, observa-se uma influência

mais acentuada do esforço sobre o comportamento de deformação do corpo-de-prova,

levando-o à ruptura em menor valor de deformação e com menores valores de

resistência.

A partir da análise das curvas obtidas para as famílias de laminados epóxi/carbono

caracterizadas (S = 0; 10 e 20 %) foram determinados diferentes parâmetros mecânicos,

como mostra a Tabela 6.5. Assim, para cada família de laminado de fibra de carbono

são apresentados resultados médios de resistência à compressão, com seus respectivos

desvios padrão e valores máximos e mínimos, e a deformação na ruptura.

Tabela 6.5 - Valores de resistência à compressão (σr), desvio padrão (∆σr), valores máximos e mínimos de σr e deformação na ruptura (εr) das famílias de laminados de fibra de carbono / epóxi, em função da severidade.

Severidade σr ∆σr σr máximo σr mínimo ε r

% (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (%)

0 307 60 411 220 3,6

10 217 21 242 187 2,9

20 91 11 106 77 1,6

Comparando-se os valores de resistência à compressão e deformação dos laminados

reforçados com fibra de carbono, verifica-se que a ondulação (desalinhamento da fibra)

diminui, de maneira similar às outras famílias de laminados analisadas, acentuadamente

136

o comportamento em compressão. Observa-se ainda que, os desvios destas medidas, de

uma maneira geral, diminuem com o aumento da severidade.

A Figura 6.29 apresenta o comportamento dos valores de resistência à compressão e de

resistência à compressão normalizada de todas as famílias de laminados de carbono em

função da severidade de cada família. A análise desta figura mostra que a tensão de

ruptura decresce de maneira acentuada, chegando a uma redução de cerca de 30 % para

S = 10 % e de aproximadamente 70 % para S = 20 %, em comparação ao lote de

controle sem ondulação. Verifica-se, ainda, que o desvio padrão mostra a tendência de

diminuir com o aumento da severidade nas diferentes famílias de laminados analisadas,

como já observado por Mandell (Mandell et al., 2003). Este comportamento confirma o

efeito negativo do aumento da ondulação da fibra no laminado.

137

0

80

160

240

320

4000 5 10 15 20

0 5 10 15 200,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Res

istê

ncia

à c

ompr

essã

o (M

Pa)

Fibra de carbono / Epóxi

Severidade (%)

Res

istê

ncia

à c

ompr

essã

o no

rmal

izad

a

Fibra de carbono / Epóxi

Figura 6.29– Resistência à compressão e resistência à compressão normalizada das famílias de laminados fibra de carbono / epóxi com diferentes severidades.

A Figura 6.30 mostra o comportamento dos valores de deformação em compressão das

famílias de laminados com S = 0, 10 e 20 % reforçados com fibra de carbono, em

função da severidade de cada família. A análise desta figura mostra o decréscimo deste

parâmetro em função do aumento da severidade, em concordância com as observações

feitas para as outras famílias e com o comportamento da resistência à compressão.

138

0 5 10 15 200

1

2

3

4D

efor

maç

ão n

a ru

ptur

a (%

)

Severidade (%)

Fibra de carbono / Epóxi

Figura 6.30 – Variação da deformação na ruptura em compressão das famílias de

laminados fibra de carbono / epóxi em função da severidade.

Os aspectos da região de compressão dos laminados de carbono são semelhantes aos

observados para os laminados de vidro. A Figura 6.31a ilustra a presença de bandas de

flambagem e a imagem da Figura 6.31b mostra escarpas no interior dos vazios da banda

de flambagem em detalhe.

(a) (b)

Figura 6.31 – Microscopia eletrônica de varredura de laminado de carbono após ensaio de compressão, com S = 10 %, aumento de (a) 100x e (b) 500x.

70 µm

139

6.5 Ensaios de Fadiga

Como citado na literatura (Hsiao et al., 1996), a ondulação é crítica para as propriedades

de fadiga em compressão de laminados compósitos, assim, ensaios de fadiga em

compressão são sugeridos. Nesse caso, para evitar o dobramento do corpo-de-prova

durante este tipo de ensaio, alguns dispositivos mecânicos são necessários. Como para

este estudo não existiu esta disponibilidade de utilizar ou fabricar este tipo de

dispositivo, decidiu-se por realizar os ensaios de fadiga em tração.

Assim, corpos-de-prova das famílias de laminados de epóxi/fibra de vidro, com

severidades iguais a 0, 10 e 20 %, foram submetidos a ensaios dinâmicos de resistência

à fadiga do tipo tração-tração com razão de tensão máxima e mínima R = 0,1 e

frequência de ciclagem de 10 Hz, em forma de onda senoidal. Somente estas famílias

com reforço de vidro foram avaliadas, devido a problemas de tempo de alocação da

máquina de ensaios e perdas que ocorreram nos ensaios preliminares para ajustar a

metodologia utilizada.

A caracterização dos laminados de carbono não foi realizada, devido à indisponibilidade

deste tipo de material e, também, devido à elevada carga necessária para efetuar o

ensaio de fadiga em tração neste tipo de compósito para as dimensões de corpo-de-

prova fabricado, maior que o limite de carga da garra da máquina disponível.

Ensaios de fadiga, de uma maneira geral, necessitam de cuidados especiais na seleção

da freqüência a ser utilizada, pois elevadas taxas de ciclagem podem causar a variação

na temperatura da amostra, que pode afetar as características térmicas da matriz

polimérica, como apresenta a norma ASTM D3479. Assim, a freqüência deve ser baixa

o bastante para não promover variações significativas na amostra e também não

influenciar na resposta dinâmica da mesma. A literatura menciona que para

determinados compósitos poliméricos variações de aproximadamente 20 oC podem

proporcionar alterações prejudiciais nas propriedades da matriz polimérica e,

conseqüentemente, no comportamento do material compósito (Adams et al., 1994).

140

Neste sentido, durante a execução dos ensaios realizados neste estudo, fez-se o controle

da temperatura das amostras por meio de um termômetro digital e um imageador

térmico de infravermelho da marca Fluke.

Para o levantamento dos dados da vida em fadiga (curva S-N) das amostras de controle

(S = 0) e das amostras com ondulação (S = 10 e 20 %) foram aplicadas tensões entre 50

e 80 % do valor médio da resistência à tração da família de referência do laminado de

fibra de vidro / epóxi. Este procedimento adotado visou obter o número de ciclos até a

ruptura de cada amostra, de modo a comparar o efeito deletério da ondulação para

carregamentos próximos ou iguais aos aplicados para laminados compósitos

supostamente sem defeitos.

Todas as amostras foram ensaiadas até a ruptura ou até atingir 1 milhão de ciclos, valor

considerado neste estudo como vida infinita para os laminados. Para a família de

controle (referência) foram ensaiadas 8 amostras, enquanto que para as famílias com

S = 10 e 20 % foram ensaiadas 5 amostras, respectivamente. Para ensaios dinâmicos

preliminares e exploratórios, a norma ASTM D3479 recomenda a utilização de 6

corpos-de-prova. Neste ensaio, alguns corpos-de-prova foram descartados devido ao

descolamento de tab, por exemplo. Os valores de tensão aplicada e o número de ciclos

até a ruptura para cada amostra de laminado ensaiada (S = 0, 10 e 20 %) encontram-se

apresentados na Tabela 6.6.

141

Tabela 6.6 – Valores de tensão aplicadas nos ensaios de fadiga e número de ciclos até a ruptura de laminados de fibra de vidro / epóxi, com S = 0, 10 e 20 %.

σ/σr(S=0) σ Número de ciclos

(%) (MPa) S = 0 % S = 10 % S = 20 %

50 313 1000000 - -

60 376 301240 - -

33535 65 407 60268

28536 1557

6063 70 438

5355 58512 1192

1872 6334 75 470

3904 6453 4856

80 501 569 - 48

A curva de vida em fadiga (Curva S-N) da família de referência (S = 0) é apresentada na

Figura 6.32, com o número de ciclos em escala logarítmica. A análise desta figura

mostra que a curva de ajuste tem formato linear, sendo uma curva típica de simulação

de vida em fadiga (Curva S-N) para um compósito de fibra de epóxi/vidro. A literatura

relata comportamento semelhante para outras famílias de laminados compósitos fibra de

vidro / epóxi (Mandell et al., 1997). A inclinação obtida a partir do ajuste linear

realizado mostra uma queda gradual da vida em fadiga para o material sem defeito

(S = 0) com o aumento do número de ciclos. Observa-se nesta curva que, o laminado

com S = 0 apresenta vida em fadiga igual ou superior a 106 ciclos para carregamento

igual a 50 % da carga em tração do laminado de referência. Para 80 % da carga, o

laminado apresenta vida em fadiga de cerca de 500 ciclos. Para facilitar a comparação

dos resultados em fadiga obtidos, a Figura 6.32 apresenta a curva S-N do laminado de

referência com a tensão normalizada

O ajuste realizado na curva da Figura 6.33 é expresso pela Equação 6.4, a seguir:

142

σ = 644 – 52.log(N), (6.4)

A utilização desta equação permite predizer a vida em fadiga de amostras de laminados

sob um determinado esforço aplicado.

0

120

240

360

480

600

100 101 102 103 104 105 1060,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

S = 0% Ajuste Linear σ

r(S=0)

Ten

são

(MP

a)

S = 0% σ

r (S=0)

σ /

σ r (S

=0)

Número de ciclos até a falha

Figura 6.32 – Curva S-N e curva S-N com tensão normalizada do laminado de fibra de vidro / epóxi com S = 0.

É de se esperar que laminados com defeitos (ondulação) apresentem valores menores de

vida em fadiga em comparação à família de referência. A Figura 6.33 apresenta as

143

curvas S-N das três famílias de laminados fibra de vidro / epóxi analisadas. De uma

maneira geral, observa-se que a vida em fadiga diminui, em relação ao laminado de

referência, com o aumento da carga e também com o aumento da severidade (Tabela

6.6). Assim, o laminado com S = 10 % apresenta seu limite em fadiga, para 65 % da

carga aplicada (em relação à carga do laminado com S = 0), em cerca 30.000 ciclos. E o

laminado com S = 20 % tem a sua vida em fadiga reduzida para, aproximadamente,

1.000 ciclos, com 65 % da carga aplicada. O laminado com S = 0 apresenta vida infinita

(o laminado não se rompeu com 106 ciclos e o ensaio foi interrompido) para 50 % da

carga aplicada. Deste modo, esta figura mostra que os laminados com ondulação falham

com um menor número de ciclos para um mesmo valor de carga aplicada.

100 101 102 103 104 105 1060

100

200

300

400

500

600

- S = 0% - σ

r (S=0)

- S = 10% - σ

r (S=10)

- S = 20% - σ

r (S=20)

Ten

são

(MP

a)

Número de ciclos até a falha

Figura 6.33 – Curvas S-N dos laminados de epóxi/vidro com S = 0, 10 e 20 %.

A partir da análise dos resultados obtidos com os laminados preparados conclui-se que a

presença de ondulação em componentes estruturais de pás leva à fratura catastrófica e

precoce do artefato, com um menor número de ciclos que o projetado pelo fabricante.

144

Neste sentido, pode-se citar como ilustração o ensaio dinâmico de uma pá em escala

real na empresa Tecsis. Nesse ensaio foi identificada uma fratura no bordo de fuga da pá

ocasionada pela trinca do reforço estrutural, que continha defeitos de ondulação fora do

plano (Figura 6.34). Esses defeitos só foram identificados após a perda do artefato no

ensaio de fadiga. O detalhe da trinca mostra que ela se iniciou no reforço estrutural do

bordo de fuga e se propagou em direção à região de colagem do bordo e em direção à

casca.

Figura 6.34 – Imagens de uma região de fratura de um bordo de fuga de uma pá eólica. Fonte: cortesia da empresa Tecsis.

A temperatura ao longo dos corpos-de-prova sem severidade (S = 0), durante os ensaios

dinâmicos, foi monitorada manualmente com um termômetro digital. Os resultados

obtidos nesta inspeção mostram que a temperatura do laminado, na região próxima à

garra da máquina de ensaios, aumentou, atingindo um valor máximo de 34oC. Esse

valor está cerca de 13oC acima da temperatura ambiente do laboratório (21oC).

Considerando-se que este aumento de temperatura está dentro da faixa aceita em

literatura (Mandell et al., 2003), não foi necessário ajustar a freqüência de ciclagem do

ensaio de fadiga.

O monitoramento da temperatura dos laminados com severidade igual a 20 % durante o

ensaio de fadiga, pelo uso do termoimageador, mostrou uma variação mais acentuada

deste parâmetro ao longo do ensaio (Figura 6.35). Neste caso, verifica-se que a

temperatura na região central da amostra (região da ondulação) alcançou valores entre

42,6 e 46,8 oC. Nas regiões próximas do tab, a temperatura manteve-se mais baixa, na

145

faixa entre 29,8-33,2 oC. E, o monitoramento da garra da máquina revelou que esta

manteve a sua temperatura próxima à ambiente, ou seja, em torno de 22 ºC. Apesar da

elevação da temperatura do corpo-de-prova com ondulação durante o ensaio de fadiga,

esta ficou abaixo da temperatura de transição vítrea (78,5oC), como apresentado no item

6.1. Assim, a freqüência de ensaio não foi diminuída.

Figura 6.35 – Imagem termográfica do corpo-de-prova com S = 20 % durante o ensaio de fadiga em tração. A barra à esquerda mostra, em escala de cor, a variação de temperatura em ºC.

A região de maior aquecimento concentrou-se em torno da ondulação, como resultado

de maior concentração de tensões no material, enquanto que para as amostras sem

defeito, S = 0, este efeito não foi detectado.

Ao se realizar a inspeção visual nas amostras ensaiadas por fadiga observou-se que

alguns laminados com S = 0 apresentaram a fratura na região próxima ao tab (Figura

6.36), região que também mostrou aumento de temperatura na inspeção por termômetro

digital. Comportamento similar, quanto à região que apresentou o aumento de

146

temperatura e também a ruptura, foi observado para as amostras com ondulação (S = 10

e 20 %). No caso da família com S = 10 %, as fraturas ocorreram predominantemente

na região mediana do corpo-de-prova (ondulação) (Figura 6.37) e para os laminados

com S = 20 %, a região de fratura se deu na ondulação (Figura 6.38).

Figura 6.36 – Inspeção visual do laminado de vidro com S= 0 após o ensaio de fadiga.

(a) (b) Figura 6.37 – Inspeção visual do laminado de vidro com S = 10 % após o ensaio de

fadiga.

147

(a) (b) Figura 6.38 – Inspeção visual do grupo com S = 20 % após o ensaio de fadiga.

148

149

7 CONCLUSÕES

Este trabalho destinou-se ao estudo da influência do desalinhamento de fibras nas

propriedades mecânicas de compósitos unidirecionais de resina epóxi com reforço de

fibras de vidro e de carbono, com configurações semelhantes às de componentes

estruturais de pás eólicas.

Os defeitos tipo ondulação fora do plano foram induzidos intencionalmente durante o

processamento dos laminados, por meio de um dispositivo desenvolvido especialmente

para este trabalho. Laminados com severidade da ondulação variando de 2,5 % até

20 %, com passos de 2,5 %, foram fabricados pelo processo de infusão a vácuo, para

serem comparados com laminados sem defeito.

Ensaios estáticos de tração e compressão e dinâmico de fadiga em tração-tração foram

realizados nos corpos-de-prova com diferentes severidades e comparados com as

propriedades dos laminados de referência, obtidos sem a presença de defeitos. Através

dos resultados desses ensaios foi possível determinar as propriedades de resistência à

tração longitudinal, resistência à compressão longitudinal, deformação na ruptura em

tração e compressão, módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson. Após os ensaios,

os corpos-de-prova foram submetidos à análise fractográfica para investigar as

superfícies oriundas de danos ou falhas, e levar ao melhor entendimento das causas dos

defeitos. A análise global dos resultados obtidos pelos ensaios permite chegar às

conclusões apresentadas a seguir.

A presença de desalinhamento de fibras, do tipo ondulação fora do plano, em laminados

de resina epóxi reforçada com fibras de vidro e fibras de carbono afeta negativamente o

comportamento mecânico dos respectivos materiais compósitos, degradando em até

25 % a propriedade de resistência à tração de laminados de vidro com severidade de

20 %, em relação ao material sem ondulação. No caso dos laminados reforçados com

150

carbono esta propriedade é reduzida em até 13 % para a família com severidade de

12,5 %.

A resistência à compressão decresce de maneira acentuada, chegando a uma redução de

aproximadamente 84 % para laminados de vidro com severidade de 20 %, em

comparação ao lote sem ondulação. Já, laminados reforçados com fibra de carbono com

severidade de 10 % têm a sua propriedade reduzida em 30 % e com severidade de 20 %

diminui em até 70 %. Estes resultados mostram que a presença de ondulação fora do

plano afeta mais significativamente a resistência em compressão do que em tração.

O comportamento da fadiga em tração de laminados de vidro sem severidade mostra

que esses apresentam vida em fadiga igual ou superior a 106 ciclos para carregamentos

de 50 % da carga em tração do laminado de referência, considerado vida infinita para

este ensaio. Para 80 % da carga, o laminado passa a apresentar vida em fadiga de cerca

de 500 ciclos. Já, laminados com severidade de 10 % apresentam seu limite em fadiga

em cerca 30.000 ciclos, para 65 % da carga aplicada, e amostras com severidade de

20 % têm a sua vida em fadiga reduzida para perto de 1000 ciclos, com 65 % da carga

aplicada.

Os laminados com ondulação fora do plano apresentaram propriedades mecânicas

(resistência a tração, compressão e vida em fadiga) inferiores aos laminados sem

defeito. Para as amostras com defeito, ficou evidente que a fratura é catastrófica e

precoce, localizada na região central do defeito (ponto de inflexão da curva), além de

comprovar que a região com defeito é uma região de concentração de tensões (devido

ao aumento de temperatura observado) e potencialmente um local de iniciação de trinca

em um componente estrutural sob carregamento severo.

Em suma, os resultados deste estudo permitiram quantificar os efeitos da ondulação fora

do plano nas propriedades mecânicas dos componentes estruturais de pás eólicas, e

podem ser utilizados para definir critérios de aceitação destes componentes na indústria

de fabricação de pás para geradores eólicos.

151

Algumas sugestões para trabalhos futuros são: estudo da influência das ondulações fora

do plano, com ondulações do tipo gradual e ondulações no plano (na camada), nas

propriedades mecânicas de componentes estruturais de pás eólicas; pesquisa da

influência de ondulação no plano e fora do plano em fadiga em compressão (R = 10) e

em tração-compressão (R = -1) para laminados de fibra de vidro/epóxi e fibra de

carbono/epóxi.

152

153

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158

159

ANEXO A - TRABALHOS APRESENTADOS EM EVENTOS

Barros, A.S.; Rezende, M.C.; Abramof, E. Out-of-plane waviness influence on tensile

properties of unidirectional composites. Proceedings: DEWEK 08 –, Bremem

November 2008.

160

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ANEXO B – BOLETIM TÉCNICO DOS MATERIAIS UTILIZADOS

162

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172

173

ANEXO C – CURVAS DE DSC

1º aquecimento – corpos-de-prova de carbono/epóxi utilizados nos ensaios de

resistência à compressão.

174

2º aquecimento – corpos-de-prova de carbono/epóxi utilizados nos ensaios de

resistência à compressão.

175

1º aquecimento – corpos-de-prova de vidro/epóxi utilizados nos ensaios de resistência à

compressão.

176

2º aquecimento – corpos-de-prova de vidro/epóxi utilizados nos ensaios de resistência à

compressão.

177

1º aquecimento – corpos-de-prova de carbono/epóxi utilizados nos ensaios de

resistência à tração.

178

2º aquecimento – corpos-de-prova de carbono/epóxi utilizados nos ensaios de

resistência à tração.

179

1º aquecimento – corpos-de-prova de vidro/epóxi utilizados nos ensaios de resistência à

tração.

180

2º aquecimento – corpos-de-prova de vidro/epóxi utilizados nos ensaios de resistência à

tração.